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A Assistência Integral se caracteriza por ter o paciente como centro das ações, como
agente do processo de cuidado. Nesse sistema, o saber técnico tem a mesma dimensão do cuidado
humano, com respeito à individualidade e às necessidades próprias de cada paciente-pessoa,
numa dinâmica estruturada e gerenciada (WEBER; DEMENEGHI, 1997). A abordagem integral,
de acordo com Wilber (2006), é uma alegação de abrangência, de inclusão, na forma de
operacionalizar e organizar o saber.
Ou, como bem expressa Lichtenfels (2000):
O doente paciente, a palavra paciente vem do grego páschein e significa sofrer, aquele
que é passivo e dependente, o doente paciente praticamente não existe mais, esta época
está acabando. Uma equipe multidisciplinar dever ver um paciente como um livro vivo,
um livro que deve ser lido e relido e discutido constantemente; e para essa leitura que eu
devo fazer a cada dia de uma forma nova, e quem sabe até diferente, eu devo observar
pontos fundamentais. A partir da experiência que temos em nossa casa, eu diria que AI
exige, em primeiro lugar, a minha postura pessoal, o que é isso: exige os meus princípios
e valores que trago de minha família, da minha biografia, valores morais e éticos...
Entendemos assistência integral a partir de uma visão ecumênica, integral e holística,
portanto, entendemos o ser humano físico, psicológico, social, espiritual e transcendente,
o ser humano criado à imagem de Deus, que tem razão e sentimento. Mas importante
não é saber que ele tem razão e sentimento, importante é que ele sabe que pensa e sente,
nenhum outro ser vivo sabe isso
.
Assim, dentro deste contexto de integralidade, e entendendo que a AI poderia ser
traduzida em processos, direcionei o trabalho de construção e aplicação do modelo. Desde esse
momento inicial, contudo, passei a ter outra inquietação, fundada no contato diário com pacientes
e cuidadores, justamente os principais atores que sustentam a AI: passei a me questionar sobre
como esses atores, cada qual com suas especificidades, visualiza, atua e percebe este sistema,
hoje reconhecido como modelo de gestão assistencial de qualidade e praticado como método de
cuidado em nosso hospital. As questões que me surgiram então foram: existe, na percepção
desses atores, uma diferença entre o assistir e o atender? Em que aspectos percebem a assistência
integral recebida ou prestada? O que associam a essa assistência? Que aspectos valorizam ou
desprezam em sua experiência hospitalar?
Foi a procura de respostas a essas questões que motivou a presente dissertação: uma
oportunidade para refletir e reconstruir um modelo de gestão e assistência que, coerente com o