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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
Departamento de Ciências Humanas – DCH
Campus V – Santo Antônio de Jesus / BA
Mestrado em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional
JoAmândio Barbosa Júnior
A PRODUÇÃO DE FOGOS DE ARTÍFICIO NO MUNICÍPIO DE SANTO
ANTÔNIO DE JESUS / BA
UMA ANÁLISE DE SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL.
Dissertação apresentada à Universidade do
Estado da Bahia UNEB como pré-
requisito para obtenção do título de Mestre
em Cultura, Memória e Desenvolvimento
Regional.
Orientadora:
Prof
a
. Dr
a
. Rocio Castro Kustner
SANTO ANTÔNIO DE JESUS – BAHIA
2008
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
Departamento de Ciências Humanas – DCH
Campus V – Santo Antônio de Jesus / BA
Mestrado em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional
JoAmândio Barbosa Júnior
A PRODUÇÃO DE FOGOS DE ARTÍFICIO NO MUNICÍPIO DE SANTO
ANTÔNIO DE JESUS / BA
UMA ANÁLISE DE SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL.
Aprovada em___/___/___.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Orientadora. Prof
a
. Dr
a
. Rocio Castro Kustner
Universidade do Estado da Bahia – Campus V
__________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Janes Terezinha Lavoratti
Universidade do Estado da Bahia – Campus V
__________________________________________
Profa. Dra. Alba Regina Neves Ramos
Universidade Salvador
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Dedico este trabalho a minha esposa
Maristela pela dedicação e ao meu filho
Antonio meu maior motivo de orgulho e
alegria.
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AGRADECIMENTOS
À meu pai, Professor José Amândio Barbosa, que me fez herdar o gosto pela
educação;
À minha mãe, Maria da Conceição Ramos Barbosa, por ter me ensinado a gostar e
se preocupar com as pessoas;
À minha esposa, Maristela Vieira Silva Barbosa, pela paciência, companheirismo e
apoio para que eu chegasse até aqui;
Ao meu filho, Antônio Silva Barbosa, que, recém chegado a esse mundo, consegue
dar um sorriso que conforta a alma e me faz contemplar a beleza da vida;
À Profa. Dra. Rocio Castro Kustner, pela dedicação nos ensinamentos e pela
amizade;
À André Gustavo Barbosa, pelas informações prestadas e pelo empréstimo de
títulos importantes para a confecção deste trabalho;
À Ailton dos Santos pelas informões prestadas e pela preocupação para que eu
estivesse conhecimentos dos eventos;
À João Batista pelas informões prestadas e pelo apoio no trabalho de campo no
Bairro Irmã Dulce;
À Rosa Rocha que me ajudou com informações importantes;
À Sra. Maria Madalena, que pela sua garra consegue ser uma referência como
liderança comunitária;
Aos colegas e amigos construídos durante o mestrado, por momentos de alegrias,
angústias e vitórias que passamos juntos;
À Andréia Lemos Passos pela forma gentil e eficiente com que sempre atendeu as
demandas referentes ao mestrado;
Aos moradores das comunidades visitadas, pela boa vontade e carinho ao me
receber;
Aos meus amigos, pela compreensão das ausências necessárias devido o processo
de investigação e construção do conhecimento;
Finalmente, agradeço a Deus pela força, perseverança e pela manutenção da minha
saúde.
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“Pensar é mais interessante que saber e
menos interessante que observar”
Johann Wolfgang Von Goethe
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RESUMO
Essa dissertação intitulada, “A produção de fogos de artifício no município de Santo
Antônio de Jesus BA: uma análise de sua contribuição para o desenvolvimento
local”, busca retratar as relações e peculiaridades dessa atividade, se propondo a
avaliar as seguintes questões: De que forma o estabelecidas as relações de
produção, baseadas em grande parte, no mercado informal? Como se estrutura
esse mercado, baseado na obtenção de lucros extraordinários através da
exploração, sonegação de tributos e desrespeito as leis vigentes? E ainda, se essa
atividade é capaz de desencadear um processo de desenvolvimento local? A
abordagem inicial consiste em uma análise das contribuições teóricas acerca do
conceito de Desenvolvimento, a partir da sua evolução, alternativas e dos modelos
atuais. Dentre essas alternativas é apresentado o conceito de “Desenvolvimento
Local” e de que forma este vêm sendo utilizado, analisado e experimentado em
nosso país. Após uma breve caracterização socioeconômica do município de Santo
Antonio de Jesus, é realizada uma discussão sobre a informalidade, principal
característica da produção de fogos local, e a sua relação com o desenvolvimento.
Contempla tamm uma análise da questão da utilização de mulheres, crianças e
adolescentes, principalmente afrodescendente, que formam a maior parte do
contingente de trabalhadores informais e, que são levados a esse tipo de atividade
pela própria condição de pobreza. Por fim, a partir dos dados obtidos em pesquisa
de campo é retratada a realidade da produção de fogos, onda fica caracterizada a
triste realidade na quais as pessoas de baixa renda em nosso país estão expostas:
falta de justiça social e desrespeito aos direitos humanos. Contudo, registra-se que
após o acidente de 11 de dezembro de 1998 (que vitimou 64 pessoas) m surgido
iniciativas de organização popular, apoiadas por instituições nacionais e
internacionais, que tem favorecido um novo direcionamento na organização dessa
atividade, não só em Santo Antônio de Jesus mais em todo o ps.
Palavras-chave: Produção de fogos de artifício, Informalidade e Desenvolvimento
local.
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ABSTRACT
This dissertation, whose title is “the production of fireworks in the municipal district of
Santo Antônio de Jesus - BA: an analysis of its contribution for the local
development", aims to stablish the relationships and peculiarities of that activity,
intending to evaluate the following subjects: The way the production relationships,
which are based on informality, are established. How that market, which is based on
extraordinary profits obtained via exploration, withholding of tributes and disrespect
concerning the effective laws, is structured. Still, if that activity is capable of
unchaining a process of local development. The initial approach consists of an
analysis of the theoretical contributions concerning the concept of Development,
starting from its evolution, alternatives and current models. Among those alternatives
the concept of "Local Development" is presented, explained how it has been used,
analyzed and experienced in our country. After a brief socioeconomic
characterization of the municipal district of Santo Antonio de Jesus, a discussion on
informality, which is the main characteristic of the local production of fires, takes
place and we also focus on its link with the development. It also contemplates an
analysis of the subject of utilization of women, children and adolescents, most of
them afro-descendent, who make up the majority of the informal workers' contingent.
They are taken to that activity by their own poverty condition. Finally, starting from the
data obtained in field research the reality of the production of fires, wave is portrayed
a sad reality is characterized in the which the people of low income in our country are
exposed: lack of social justice and disrespect to the human rights. However, it enrolls
that after the accident of December 11, 1998 (that sacrificed 64 people) initiatives of
popular organization have been appearing, leaning for national and international
institutions, that it has been favoring a new way in the organization of that activity, not
only in Santo Antônio de Jesus more in the whole country.
Key word-: Production of fireworks, Informality and Local Development.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1
-
Elementos principais para a análise de um modelo de
desenvolvimento................................................................................................
22
Figura
2
-
Mapa da Região Econômica do Rencavo Sul da Bahia, com
destaque para Santo Antonio de Jesus............................................................
55
3
Gráfico
adolescentes x adultos
-
Bairro Irmã Dulce/Mutum……….
69
Figura 4
-
Gráfico adolescentes x adultos
-
Bairro São Paulo…………………
69
Figura 5
-
Gráfico pessoas que trabalham com produção de fogos – Traque
de bater/estalo – Bairro Irmã Dulce/Mutum........................................................
71
Figura 6
Gráfico pessoas que trabalham com produção de fogos
traque
de bater/estalo – por fase – Bairro São Paulo.....................................................
72
Figura 7 – Gráfico grau de escolaridade nos Bairros Irmã Dulce Mutum e São
Paulo..................................................................................................................
75
Figura 8
– Gráfico mulheres casadas ou que moram com companheiro x
mulheres solteiras ou viúvas – Bairro Irmã Dulce/Mutum...................................
76
Figura 9
Gráfico mulheres casadas ou que moram com companheiro x
mulheres solteiras ou viúvas – Bairro São Paulo...............................................
77
Figura 10
Gráfico
Situação profissional por gênero de pessoas em que a
produção de fogos não é a atividade principal – Bairro Irmã Dulce/Mutum….
78
Figura 11
– Gráfico Situação profissional por gênero de pessoas em que a
produção de fogos não é a atividade principal – Bairro São Paulo……………
79
Figura 12
Gráfico da situação profissional por gênero com a inclusão da
fabricação de fogos – Bairro Irmã Dulce/Mutum...............................................
80
Figura 13
Gráfico da situação profis
sional por gênero com a inclusão da
fabricação de fogos.............................................................................................
81
Figura 14
: Gráfico da renda mensal média obtida com a fabricação de fogos
Bairro São Paulo...............................................................................................
83
Figura 15
: Gráfico da renda mensal média obtida com a fabricação de fogos
Bairro Irmã Dulce...............................................................................................
83
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1
Pessoas que trabalham com produção de fogos
Traque de
bater/estalo – por fase e gênero – Bairro Irmã Dulce/Mutum.............................
70
TABELA 2
– Pessoas que trabalham com produção de fogos – Traque de
bater/estalo – por fase e gênero – Bairro São Paulo..........................................
71
TABELA 3
-
Índice de escolaridade por fase nos bairros Irmã Dulce/Mutum e
São Paulo.........................................................................................................
74
TABELA 4
Situação profissional por gênero de pessoas em que a produção
de fogos não é atividade principal – Bairro Irmã Dulce/Mutum...........................
78
TABELA 5
– Situação profissional por gênero de pessoas em que a produção
de fogos não é atividade principal – Bairro São Paulo........................................
79
TABELA 6
doenças mais comuns identificada nos
bairros Irmã Dulce/Mutum e São Paulo...............................................................
87
TABELA 7
Serviços essenciais sicos
infra
-
estrutura
................................
90
TABELA 8
– Posse de bens duráveis.................................................................
91
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LISTA DE SIGLAS
AACR2 – Anglo-American Cataloguing Rules
ABNTAssociação Brasileira de Normas Técnicas
CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing
IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalizão e Qualidade Industrial
ISO – International Organization for Standardization
NBR – Norma Brasileira Registrada
NUPP – Núcleo de Pesquisas e Publicações
PGE – Projeto de Graduação ESPM
PI Projeto Interdisciplinar
PIC – Programa de Iniciação Científica
PGD – Projeto de Graduão Design
RES – Relatório de Estágio Supervisionado
RTC – Relatório Final de Pesquisa do Programa ESPM de Apoio à pesquisa
Docente e
Discente
SBE – Sistema de Bibliotecas ESPM
TCC-M Trabalho de Conclusão de Curso – Monográfico
TCC-PE – Trabalho de Conclusão de Curso – Plano Estratégico
TCC-PN – Trabalho de Conclusão de Curso – Plano de Negócios
TES Tese
TGI – Trabalho de Graduação Interdisciplinar
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SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................... 13
1. A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E OS NOVOS
MODELOS.........................................................................................................
1.1. Crescimento X Desenvolvimento..............................................................
1.2. Desenvolvimento Local.............................................................................
19
19
28
2.
A INFORMALIDADE, A QUESTÃO GÊNERO E O TRABALHO
INFANTIL
...............................................................................
2.1. A Informalidade Como Conseqüência do Modelo de Desenvolvimento
Capitalista ........................................................................................................
2.2. Informalidade e a Questão da “Raça” e Do Gênero...................................
2.3. Informalidade e o Trabalho Infantil............................................................
40
40
46
49
3. O MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS E A INDÚSTRIA DE
FOGOS..............................................................................................................
3.1 Características do Município............... .......................................................
3.2 A Indústria de Fogos Características Principais E A Situação Pós-
Acidente...........................................................................................................
3.4 Mobilização E Resultados Do “Embate.................................................
54
54
56
64
4. COLETANDO INFORMAÇÕES, IMPRESSÕES E DADOS.........................
68
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
93
Referências Bibliográficas............................................................................
99
ANEXOS...........................................................................................................
Questionário.......................................................................................
Entrevistas........................................................................................
104
105
106
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13
INTRODUÇÃO
O termo desenvolvimento, associado ao modo de produção capitalista - com
ênfase na industrialização - surgido no pós-guerra, deixou um passivo de difícil
administração para toda a humanidade. Problemas relacionados à sustentabilidade
do planeta e, sobretudo da própria sustentabilidade da vida humana, vêm deixando
não a comunidade cientifica, mas todos, de uma forma geral, alarmados.
Independentemente da discussão de qual o melhor modelo de desenvolvimento, se
o denominado desenvolvimento local - tão pronunciado na atualidade - é uma
alternativa ou, se devemos enterrar o desenvolvimento como conhecemos até então,
conforme prenuncia Sachs (2000, p.11), devemos questionar os modelos que não
deram certo, enaltecer e reaproveitar as experiências bem sucedidas e finalmente,
construir os possíveis caminhos a serem trilhados.
O modelo conhecido como desenvolvimento local, aparece após os anos 70
como uma alternativa para a sobrevivência, não só das localidades - com a
constante interação, discussão conjunta e construção a partir dos agentes que
fazem parte das mesmas -, como também como uma forma de reprodução do
capital, a partir do momento em que a gestão local traz muitos benefícios e
economias na escala de produção. Esse processo iniciado a pouco tempo no
mundo e, mais recente ainda no Brasil, nos mostra o quanto a participação da
sociedade civil e a construção do capital social
1
, apesar de importante para a
validação e legitimidade do mesmo, é dificultada - principalmente pelas elites que
cresceram e acumularam seu capital à custa de informações privilegiadas, acordos
lucrativos e da utilização de mão de obra mal remunerada. A prática tem
demonstrado como é difícil à construção de um processo de desenvolvimento local
onde não existe liberdade de expressão ou ação, as oportunidades não aparecem e,
principalmente, ainda se vive sob a influência de uma relação de dominação
edificada no poder - sobretudo ecomico em uma sociedade com estratificação e
divisão de classes perversa.
O ideário e a argumentação dessa elite é tão forte que a questão da
desigualdade – não só econômica, mas racial, de gênero, dentre outras – vai
1
Diz respeito aos níveis de organização de uma sociedade e está diretamente relacionada com os
graus de associanismo, confiança e cooperação atingidos por uma sociedade democrática
organizada de ponto de vista cívico e cidadão e a boa governança e a prosperidades econômica.
Baixos níveis de capital social indicam baixos níveis de desenvolvimento social (Franco, 2000, p. 42).
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14
permanecendo e se perpetuando com o passar dos tempos. Um exemplo é o
discurso, bastante utilizado na atualidade, da geração de emprego e renda que é,
inclusive, utilizado por autores e correntes relacionadas ao desenvolvimento local.
Esse discurso tem contribuído para que os próprios governantes continuem
facilitando o processo concentrador de renda através da concessão de benefícios,
como a isenção fiscal, disponibilização de infra-estrutura e outras facilidades para
instalação de empresas, ou permitem, o que as atividades informais se
estabeleçam nas localidades, como as relações trabalhistas e garantias sociais
sejam desrespeitadas, ao evitar tomar medidas mais eficazes de controle e
fiscalização, deixando de ferir, assim, interesses de uma elite local do qual fazem
parte. Outro grande problema causado nesse processo de concessão de benefícios
é a disputa para atração de empresas, que acaba beneficiando, momentaneamente,
algumas localidades em detrimento de outras.
Este presente trabalho tem como objetivo traçar um retrato da indústria de
fogos de artifício em Santo Antônio de Jesus, a partir dos atores atualmente
envolvidos e das relações e peculiaridades existentes nesta atividade, atendendo às
seguintes questões norteadoras: de que forma são estabelecidas as relações de
produção, baseadas na informalidade? Como se estrutura esse mercado, baseado
na obtenção de lucros extraordinários através da exploração, sonegação de tributos
e desrespeito às leis vigentes? Quais os impactos causados na vida dos
trabalhadores? Essa atividade é capaz de desencadear um processo de
desenvolvimento local? Foram esses os questionamentos que nortearam a
dissertação.
No capítulo 1 foi discutido o conceito de Desenvolvimento. Como ele surge,
quais as suas características, como, e em que contexto ocorreu o processo de sua
evolução, e quais as alternativas e modelos atuais. Dentre essas alternativas é
apresentado o conceito de Desenvolvimento Local e a sua forma de utilização,
experimentação e análise, em nosso país e no resto do mundo.
No capítulo 2 foi realizada a discussão sobre a informalidade, principal
característica da produção de fogos em Santo Antônio de Jesus. Foi abordada qual
a sua relação com o desenvolvimento e as diferentes formas de enxergar esse
fenômeno. Foi efetuada também uma análise da questão da utilização da mulher,
crianças e adolescentes, principalmente da população afrodescendente, que formam
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15
a maior parte do contingente de trabalhadores informais e, que o levados a esse
tipo de atividade pela própria condição de pobreza.
No capítulo 3 são apresentadas a localizão do município e suas
características sócio-econômicas demonstradas através de índices. Neste capítulo é
efetuada também uma analise crítica sobre a utilização desses índices tradicionais
para a análise de aspectos sociais.
No capítulo 4 é analisado o mercado de fogos de Santo Antônio de Jesus a
partir de uma pesquisa de campo onde foi escolhido mais de um instrumento para o
levantamento de dados e informações, o que é plenamente justificável já que, este
trabalho atende a demanda de um mestrado multidisciplinar onde ocorre a interação
de profissionais de diferentes formações, que atuam em múltiplas áreas e, utilizam
diferentes instrumentos metodológicos.
Por se tratar de um fenômeno contemporâneo foi utilizado o estudo de caso
com propósitos exploratório e descritivo. Para atingir esse objetivo, além de efetuar
uma preparação através de coleta de informações através de pesquisa documental,
houve tamm a participação do autor em diversos eventos e discussões junto às
instituições e comunidade interessada (observação participante) e foram aplicadas
entrevistas estruturadas. Posteriormente foram aplicados questionários nos Bairros
São Paulo e Irmã Dulce (antigo bairro denominado Mutum). Os dados e informações
o apresentados através de tabelas e gráficos, e as entrevistas são apresentadas
em forma de impressões e relatos dos próprios envolvidos na indústria de fogos.
Foram entrevistadas pessoas de diversos perfis e de diferentes formações
especificadas a seguir: o responsável por uma brica que eslocalizada dentro do
condomínio Fênix, o Sr. Lucas Pereira; uma funcionária desta fábrica, a Sra. Neilma;
um representante do pólo sindical de Santo Antônio de Jesus, o Sr. lton dos
Santos; um representante de associação do bairro Irmã Dulce, o Sr. João Batista
Costa; um representante do Sebrae e Associação Comercial de Santo Antônio de
Jesus, o Sr. André Gustavo Barbosa e finalmente, a presidente do movimento 11 de
dezembro a Sra. Maria Madalena. A realização dessas entrevistas teve o objetivo de
aproximar o pesquisador dos problemas, situações e condições vividas pelas
pessoas que possuem uma história ligada à produção de fogos em Santo Antônio de
Jesus.
Os questionários - vinte e três no bairro Irmã Dulce/Mutum e dez no bairro
São Paulo, dois bairros onde essa atividade está mais disseminada foram
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16
aplicados no mês de novembro de 2007. Estes foram elaborados com questões com
características quantitativas. A análise dos dados destaca aspectos apresentados
neste trabalho, com o intuito de efetuar um registro das pessoas que trabalham na
produção de fogos, destacando a condição na qual as mesmas estão expostas.
Na aplicação dos questionários, é necessário destacar que houve uma
resistência inicial para prestar informões, principalmente no bairro São Paulo,
devido a dois motivos que foram explicados depois pelos moradores. O primeiro es
relacionado com a exposição de alguns moradores nas matérias que são produzidas
e veiculadas na imprensa falada, escrita e televisionada sobre a indústria de fogos.
Normalmente essas pessoas são punidas pelos empresários que deixam de
entregar a matéria-prima e efetuar a recompra dos fogos produzidos. O outro motivo
es relacionado à perda dos benefícios Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil - PETI que es atrelado ao programa Bolsa Família. Mesmo com o
recebimento desse benefício às crianças não deixam de participar da produção de
fogos. Apesar das dificuldades iniciais, com a ajuda de representantes dos bairros
pesquisados, foi possível dar andamento à aplicação do questionário.
Todos os entrevistados pertencem ao sexo feminino o numero de homens
adultos que trabalham na fabricação do traque é muito pequena -. O maior número
de questionários aplicados no Bairro Irmã Dulce se deve a uma maior colaboração
das pessoas dessa comunidade.
É importante destacar que quase a totalidade das respondentes se identificou
como pertencente às raças preta ou parda e, apenas uma pessoa no bairro Irmã
Dulce/Mutum disse que pertence à raça branca, confirmando que as atividades
informais, principalmente na produção de fogos, são ocupadas em sua maioria por
mulheres afrodescentes.
Os eventos e seminários também foram fonte de importantes informações.
Nestes foram discutidos temas relacionados à atividade que, vão desde a fabricação
e manipulação de fogos e suas conseqüências à saúde, a segurança na fabricação
e comercializão e a utilização de mão de obra de crianças e adolescentes. Os
mesmos estão especificados a seguir:
- III Seminário de Combate a Fabricação e Comercialização Clandestina de Fogos
de Artifício e Estampido realizado em junho de 2007, promovido pela própria
prefeitura de Santo Antônio de Jesus;
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17
- I Seminário de Combate ao Trabalho Infantil na Indústria de Confecção de Fogos
de Artifício realizado em Santo Antônio de Jesus em setembro de 2007, promovido
pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego,
Delegacia Regional do Trabalho na Bahia e Núcleo de Apoio a Programas Especiais
– NAPE;
- Encontro de representantes do Estado, município, outras instituições (Fórum de
Direitos Humanos, Superintendência de Direitos Humanos, Secretaria de Trabalho,
Emprego e Renda SETRE, Movimento 11 de Dezembro, Pólo Sindical, Rede de
Ação Solidária REDES, Sebrae, UNEB dentre outros) produtores e trabalhadores
desta indústria para discussão de possíveis soluções para a queso da fabricação
de fogos, realizada no dia 26 de setembro em Santo Antônio de Jesus.
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18
1 A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E OS
NOVOS MODELOS
1.1 CRESCIMENTO X DESENVOLVIMENTO
Apesar dos conceitos de desenvolvimento e crescimento serem bastante
debatidos desde a metade do século passado, nos últimos anos tem-se observado
um renovado e crescente interesse pelas questões relativas ao desenvolvimento no
âmbito regional e local, sobretudo devido a sua importância em suas múltiplas
dimensões ambiental, social, política e econômica - que m ocupado espaço de
destaque nos meios acadêmicos, políticos e empresariais. A preocupação com a
população e com os recursos das localidades, de forma ampla e sob diversos
aspectos que vão desde o crescimento econômico a cultura, cidadania, preservação
ambiental e justiça social, vem norteando a literatura mais recente relativa a este
tema.
É importante ressaltar que, apesar do termo desenvolvimento ter ficado
durante muito tempo associado à análise puramente econômica e até ser utilizado
como sinônimo de crescimento econômico ou crescimento por muitos autores, esses
termos possuem diferenças. “O crescimento econômico é conceituado como
aumento contínuo do produto nacional em termos globais e per capita, ao longo do
tempo (MILONE, 2006, p. 485), ou seja, este conceito utiliza uma medida de
riqueza interna, que pode ser tanto o produto interno bruto - PIB que é o valor
agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território
econômico do país ou o produto nacional bruto PNB que é o valor agregado de
todos os bens e serviços resultantes da mobilização de recursos nacionais
(pertencentes a residentes no país), independente do território econômico em que
esses recursos foram produzidos. A preocupação quanto ao crescimento econômico
coma a ser observado a partir do surgimento e evolução do capitalismo, pois,
antes as sociedades eram basicamente agrícolas e variavam pouco ao longo dos
anos. O sistema capitalista, ao trazer contínuas mudanças tecnológicas e a
acumulação do capital, alterou de forma abrupta as estruturas dessas sociedades.
O conceito de desenvolvimento econômico tamm está longe de atingir
unanimidade entre os autores, para Oliveira Junior, Amâncio e Alvim (2006, p. 2),
esse termo carrega este tipo de herança comum aos conceitos
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19
Oriundos das ciências humanas e pode variar a partir de uma
perspectiva positivista impondo uma forte restrição do ponto de vista
metodológico ao conceito – o termo restrição é usado aqui no sentido
de limitação do campo analítico. Dentro desta perspectiva, o campo
analítico é exclusivamente econômico e se refere às determinações
de preços, taxas e quantidades (OLIVEIRA Jr; AMÂNCIO; ALVIM,
2006, p. 2).
Motivo pelo qual acreditam que tenha surgido a confusão por parte de
muitos autores ao usar o termo crescimento econômico como sinônimo de
desenvolvimento econômico e vice versa.
Para confirmar a citação anterior, podemos analisar a conceituação de
desenvolvimento econômico a partir dos trabalhos de alguns autores como
Kindleberger e Herrick (apud MILONE, 2006, p. 485), que afirmam que
desenvolvimento econômico é “Um aumento na produção acompanhado de
modificações nas disposições técnicas e institucionais, isto é, mudanças nas
estruturas produtivas e na alocação dos insumos pelos diferentes setores da
produção”. Nesse conceito é percebida a diferença do conceito de crescimento
econômico anteriormente apresentado, ao contemplar as mudanças de cunho
tecnológico, de gestão e logística. Então, analisando este conceito, pode-se inferir
que, além de crescimento (econômico), o desenvolvimento econômico abrange
tamm os meios, formas e técnicas de atingi-lo, em uma visão muito próxima
apresentada por Furtado (1961, p.180) que afirma que a mola mestra do
desenvolvimento capitalista cssico é o avanço tecnológico que permite os
aumentos de produtividade que, por sua vez, “permitem multiplicar o excedente
(matéria-prima do desenvolvimento) e com isso acelerar os investimentos e a escala
de produção”, confirmando a visão focada na industrialização e reprodução do
sistema capitalista.
Para que se possa entender melhor a utilização do termo
desenvolvimento econômico, conforme apresentado anteriormente, é necesrio
compreender sua origem e o momento histórico em que este surge. De acordo com
Caporali (1997, p.1)
O conceito de desenvolvimento econômico começou a ser utilizado a
partir do final da 2a Guerra Mundial num contexto de formação de
instituições mundiais de harmonização de interesses e de práticas
econômicas, bem como de uma teoria econômica que depositava na
ação regulatória do Estado à possibilidade de manutenção de taxas
de crescimento mais elevadas.
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20
E importante ressaltar que a utilização do conceito de desenvolvimento
econômico está diretamente associada, nas primeiras décadas após a segunda
guerra, a consolidação do modelo fordista
2
de desenvolvimento que contemplava a
organização científica do trabalho (ou taylorismo
3
) com o estabelecimento de um
regime de acumulação e de modo de regulação keynesianos
4
, facilitadores do
consumo massivo mediante o fomento da demanda efetiva do sistema, fazendo com
que o acesso a melhores salários permitisse a ampliação dos mercados e, em
conseqüência, estímulo à produção e a continuidade dos lucros empresariais. É
importante observar, contudo que o desenvolvimento econômico não deve ser
considerado como um modelo de desenvolvimento e sim um conceito utilizado para
identificar políticas e estratégias relacionadas ao processo de desenvolvimento,
dentro do modelo fordista.
Para que um modelo de desenvolvimento, possa ser identificado
Albuquerque (1998, p. 15) utiliza a metodologia na qual são evidenciadas
características dos três principais elementos que devem ser considerados na análise
deste, a saber: “o paradigma cnico-econômico, o regime de acumulação e o modo
de regulação”. O paradigma técnico-econômico enfoca essencialmente os aspectos
substantivos em nível microeconômico, o regime de acumulação se refere à inter-
relação e à conquista dos grandes equilíbrios macroeconômicos entre as diversas
fases do processo econômico (produção, financiamento, distribuição, intercâmbio e
consumo) e o modo de regulação aponta para o marco social, institucional e de
negociação entre atores que buscam facilitar o funcionamento do modelo de
desenvolvimento a partir do âmbito sociopolítico, conforme pode ser verificado na
Figura 1.
2
Conjunto de métodos de racionalização da produção elaborados pelo industrial Henry Ford. Os
princípios do fordismo foram amplamente difundidos, tornando-se uma das bases da organização
industrial moderna (SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia, 3. ed., São Paulo, Best Seller, 1989,
p. 128).
3
Conjunto de teorias para aumento da produtividade do trabalho fabril, elaboradas pelo engenheiro
norte-americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Abrange um sistema de normas voltadas
para o controle dos movimentos do homem e da máquina no processo de produção, incluindo
propostas de pagamento pelo desempenho do operário (prêmios e remuneração extras conforme o
numero de peças produzidas) (Id., 1989,p. 306).
4
Modalidade de intervenção do Estado na vida econômica, sem atingir totalmente a autonomia da
empresa privada baseado na principal obra do economista John Maynard Keynes, A Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda de 1936 (Ibid, 1989, p. 162-163).
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21
Como pode ser verificado, apesar do crescimento econômico dentro de
um modelo estar contemplado, são consideradas e analisadas questões de ordem
social como a participação cidae a negociação estratégica entre os atores, que é
destacado por Albuquerque ao nível mesoeconômico.
Outra questão, também presente na visão pós-guerra, foi que o
desenvolvimento econômico seria a resposta à problematização da pobreza.
Escobar (apud LAGE, 2006 p. 2), argumenta que depois de 1945, a tarefa dos
governos foi tornar a pobreza útil, em complemento emergiu a concepção utilitária e
funcional de pobreza ligando-a infalivelmente às questões de trabalho e de
produção. Para esse autor além da idéia do desenvolvimento ter surgido para
MODO DE REGULAÇÃO
§ Marco social e institucional regulatório;
§ Tipo de intervenção do estado;
§ Descentralização regional e local;
§ Políticas educativas e de saúde;
§ Participação cidadã;
§ Negociação estratégica entre atores.
TIPO DE INSERÇÃO
EXTERNA
NÍVEL MACROECONÔMICO
REGIME DE ACUMULAÇÃO
§ Equilíbrios macroeconômicos
básicos (inter-relação do processo
econômico);
§ Políticas macroeconômicas
(monetária, fiscal, cambial);
§ Distribuição de renda e padrão de
consumo.
Paradigma Técnico-econômico
e
Estrutura Produtiva
§ Base tecnológica e energética;
§ Estrutura produtiva setorial e
territorial;
§ Articulação produtiva;
§ Áreas e setores industriais motrizes;
§ Tecido empresarial (tamanho e
localização);
§ Organização do trabalho (relação
salarial);
§ Gestão empresarial;
§ Gestão ambiental;
§ Políticas setoriais (rural, industrial,
serviços);
§ Infra-estruturas básicas (energia,
água, transportes,
telecomunicações).
NÍVEL MESOECONÔMICO
Figura 1:
Elementos principais para a análise de um modelo de desenvolvimento.
Fonte: ALBUQUERQUE, Francisco, 1998.
NÍVEL MICROECONÔMICO
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22
responder a questão da pobreza no pós-guerra, trouxe tamm a estruturação da
nova configuração de poder e de suas hierarquias, vinculada ao conhecimento
científico e a especialização, dentro do modelo fordista, o que tornou impossível
para o Terceiro Mundo refutar esse poderoso discurso, face ao conhecimento
técnico disponibilizado para a modernização do mundo, ancorado na promessa de
eliminação da pobreza.
Para atingir o desenvolvimento econômico, a partir de padrões das
nações desenvolvidas, surge o termo “subdesenvolvimento”, ou seja, seria
subdesenvolvido o país que estivesse em situação econômico-social inferior ao
padrão das nações industrializadas. Motivo pelo qual, o modelo fordista de
desenvolvimento deveria ser perseguido e seria o estágio posterior ao
subdesenvolvimento.
Nesse contexto, analisando o momento histórico na América Latina
convém citar os trabalhos da Comissão Econômica para a América Latina
CEPAL
5
, órgão regional das Nações Unidas que surge em 1948. A preocupação
básica da CEPAL era a de explicar o atraso da América Latina em relação aos
chamados centros desenvolvidos e encontrar as formas de superá-lo. Nesse
sentido, a análise enfocava, de um lado, as peculiaridades da estrutura sócio-
econômica dos países da periferia
6
, ressaltando os entraves ao desenvolvimento
econômico em contraste com o dinamismo das estruturas dos centros avançados
(MANTEGA, 1984, p. 34). Dentre esses entraves estava à caracterização da
América Latina como região fornecedora de produtos primários e consumidora de
produtos industrializados vindos do exterior, o que, de acordo com a CEPAL gerava
um crescimento desigual a partir da apropriação de renda global, que a demanda
5
A criação desta instituição está diretamente ligada aos esforços do economista Argentino Raúl
Prebisch, que foi o secretário executivo da CEPAL desde a sua fundação até 1962. Para formular
uma teoria de desenvolvimento econômico e social que partisse da realidade da América Latina e que
fornecesse os meios para superá-la sem recorrer ao modelo citado anteriormente e aos demais
modelos importados, este se aproximou de outros economistas latino-americanos em um esforço que
resultou na criação da CEPAL. As linhas que deram origem ao pensamento desta instituição surgiram
nas décadas de 30 e 40, a partir da experiência de Prebisch como organizador e primeiro diretor geral
do Banco Central da Argentina, entre 1935 a 1943, período que coincide com a industrialização da
Argentina, aonde o mesmo colheu importantes subsídios.
6
Relativo a teoria centro-periferia elaborada inicialmente por Prebisch na qual o centro são as
economias em que as técnicas capitalistas de produção penetraram primeiro e a periferia são as
economias cuja produção permanece inicialmente atrasada, do ponto de vista tecnológico e
organizativo. De acordo com essa teoria o progresso técnico na periferia ocorre localizadamente
em setores que produzem alimentos e matérias-primas a baixo custo, cujo destino o os grandes
centros industriais.
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23
por produtos industrializados cresce à medida que a renda da população aumenta, o
contrário acontece com a demanda por bens primários. Para resolver esse dilema, a
CEPAL defendia que,
para superar o estágio de subdesenvolvimento seria necessário
através da intervenção estatal, defender a promoção da
industrialização, com foco no mercado interno, como meio mais
eficiente para se conseguir o aumento da renda nacional e da
produtividade, para evitar a deterioração dos termos de intercâmbio
e, assim, reter-se os frutos do progresso técnico (CEPAL, 1984, p.
39).
O que se aproxima da visão de desenvolvimento apresentada
anteriormente, colocando a industrializão como mola-mestra do processo e a
renda nacional como principal indicador. Este modelo causou um forte impacto nos
chamados países subdesenvolvidos e estava baseado nas premissas de que o
mundo industrializado poderia trazer os benefícios gerados nesse processo. No
Brasil essas idéias foram precursoras do nacional-desenvolvimentismo, ideologia
que caracterizou os governos de Getúlio Vargas (1930/1945 e 1951/1954)
principalmente no segundo mandato e o de Juscelino Kubitschek (1956/61), onde é
marcada a transição do país de uma economia agroexportadora baseada no café
para uma economia urbano-industrial.
De acordo com Sposito (1988), no final da década de 50 e início da
década de 60, surge uma nova forma de denominar os países que possuíam um
processo de industrialização.
Como muitos países
viviam em processo de industrialização (no
caso do Brasil timidamente a partir da década de 30 e mais
definitivamente na época de 60), a dificuldade binária
(desenvolvimento ou subdesenvolvimento) foi solucionada
ideologicamente [...] através da criação de mais uma categoria de
classificação, a dos países em desenvolvimento (SPOSITO, 1988, p.
68).
Ou seja, dentro desta visão, o Brasil e outros países por estarem vivendo
um processo que representava a expressão máxima do desenvolvimento
econômico, a industrialização, não poderiam mais ser rotulados como
“subdesenvolvidos”.
Os anos 60 ficaram conhecidos como a “Década do Desenvolvimento”
devido à resolução n. 1.710 da XVI Assembléia Geral das Nações Unidas, cujo
objetivo quantitativo, visivelmente acentuado, era obter uma taxa mínima de
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24
crescimento da renda nacional agregada da ordem de 5% ao ano para todos ou a
maioria dos países em desenvolvimento. Esse percentual representava um nível de
crescimento significativamente acima dos verificados anteriormente nestes países.
No Brasil a década do desenvolvimento norteou os programas e planos de
desenvolvimento elaborados e executados durante o governo militar (1964/85) a
partir do governo de Castello Branco (1964/67) que tinham como principal objetivo,
seguindo a cartilha da ONU, acelerar o ritmo de desenvolvimento do país.
Diante do que foi apresentado é importante ressaltar que durante o
período pós-guerra toda utilização do termo desenvolvimento se refere a
desenvolvimento econômico, traduzido em um aumento do crescimento através de
um índice de valor agregado, no caso em referência o PIB ou PNB, através da
industrialização e no modo de produção capitalista como forma de resolver todos os
males da humanidade, inclusive a pobreza. Neste contexto o desenvolvimento
econômico era fundamentado na ideologia altamente otimista que previa o
crescimento econômico indefinido, visto como um processo de utilização cada vez
mais intensivo de capital, de redução do uso de mão de obra, e de utilizão
extensiva dos recursos naturais.
Infelizmente, como foi observado posteriormente, a falta de uma visão
mais ampla sobre a questão permitiu que esse projeto de desenvolvimento gerasse
inúmeras externalidades negativas
7
como a concentração de renda, aumento das
desigualdades sociais, favelização das cidades, poluição e destruição dos recursos
naturais, e redução da sustentabilidade no planeta.
De acordo com Lage (2006, p. 3)
O modelo de crescimento econômico fomentado a partir do século
XX, gerou grandes desequilíbrios e poucos valores genuínos de uso
na sociedade, para além de um consumo excessivo dos recursos
naturais. Se por um lado, uma pequena parcela da humanidade
acumulou enormes riquezas, facilidades tecnológicas e uma gama
imensa de conhecimentos adquiridos, pelo outro, deparou-se com
uma enorme desigualdade social, uma concentração de riqueza
histórica e um empobrecimento crescente e cruel nos países da
periferia e semi-periferia, além de graves problemas decorrentes da
degradação ambiental, problemas estes que não reconhecem
fronteiras políticas.
7
Esta expreso foi inicialmente cunhada por Alfred Marshall e, em seguida, de forma mais
aprofundada, por Pigou nos anos 20. Segundo esses autores a externalidade aparece quando existe
uma divergência entre a relação custo-benefício privada e social. Ela pode ser classificada em
negativa (quando gera um retorno social menor que o retorno privado) ou positiva (quando ocorre o
inverso) (PEARCE apud ANDRADE, 2000 p.28).
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25
É importante ressaltar também que, nesse modelo de desenvolvimento
econômico que prevê um crescimento econômico contínuo, é utilizado erroneamente
o termo sustentável como a capacidade de sustentação de altas taxas de
crescimento contínua o que, conforme pode ser averiguado, possui uma forte
conotação economicista, contudo, o termo sustentável merece uma abordagem mais
abrangente conforme será analisado posteriormente.
As políticas de desenvolvimento econômico, capitaneadas pelas grandes
instituições mundiais, comaram a ser questionadas ainda na década de 60,
quando se inicia, de forma mais destacada, a dúvida se o crescimento traria
realmente os benefícios sociais tão propagados. A falência da visão do
desenvolvimento através do crescimento econômico, além de ter se iniciado com as
conseqüências já citadas, levam também a outra questão de ordem metodológica,
que simplesmente o crescimento de atividades industriais não servem para medir o
bem estar da população e o PIB, como indicador, começa então a ser questionado.
Em 1972 Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores pertencentes
ao Clube de Roma
8
publicaram um estudo chamado “Limites do Crescimento”
(publicado nos EUA em 1972 e, no Brasil, em 1973), neste mesmo ano aconteceu a
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Humano em Estocolmo. As conclusões
contidas neste estudo sinalizavam para um eventual colapso na economia
mundial em um prazo máximo de cem anos, caso se preservassem as taxas de
crescimento populacional e de produção com todo o seu efeito nocivo e, sinalizou
para uma solão ao afirmar que era possível modificar estas tendências e formar
uma estabilidade ecológica e econômica com o planejamento global para que as
necessidades materiais sicas de cada pessoa na Terra fossem satisfeitas e, cada
uma destas pudessem ter igual oportunidade de realizar seu potencial humano. É
importante ressaltar que neste estudo, além da indicação da necessidade imediata
do congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, existe
uma preocupação com a satisfação das necessidades, pelo menos das materiais
básicas, da população mundial.
É importante ressaltar, contudo que, apesar da visão pós-guerra estar
associada a questão do crescimento constante, havia desde o início, pelo menos
8
Criado em 1968 congregou cientistas, economistas e altos funcionários governamentais com a
finalidade de interpretar o que foi denominado, sob uma perspectiva ecológica de “sistema global”.
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26
manifestada, uma preocupação com a questão social conforme podemos verificar no
objetivos da criação da ONU, explicitado na introdução da Carta das Nações Unidas,
assinada em 25 de outubro de 1945 em São Francisco nos Estados Unidos de
“promover o progresso social e elevar o nível de vida dentro de um conceito mais
amplo de liberdade”. Contudo no afã de obter esse progresso social, através do
crescimento, a própria ONU deixou de promover a discussão sobre o conceito mais
amplo de liberdade ou este foi deixado para o segundo plano.
Diante do que foi apresentado, é importante ressaltar que para dar
sentido ao conceito de desenvolvimento e necessário agregar o enfoque e as
preocupações de ordem social. Para Oliveira Júnior, Amâncio e Alvim (2006, p. 2):
De maneira inversa, outras perspectivas vão ao sentido de ampliar o
próprio campo analítico, fazendo que o “econômico” não se restrinja
meramente às questões de preços e quantidades, e abranja também
as relações sociais e seu contexto histórico-institucional. A ampliação
do conceito faz com que o termo “desenvolvimento econômico”
passe a ser estudado e redefinido como “desenvolvimento sócio-
econômico”. Tal redefinão parte de um pressuposto da
impossibilidade de dissolução analítica dos elementos econômicos
dos sociais.
Conforme verificado emrias citações anteriores, muitos autores utilizam
a expressão econômico, mas não deixam de citar a importância de levar em
consideração o aspecto social para obtenção do desenvolvimento, portanto a
questão/abordagem social esintrinsicamente considerada em diversos conceitos
que são intitulados ou denominados unicamente como desenvolvimento econômico.
O que parecia até então explicado começa a ganhar novos contornos com
as novas demandas e mudanças da sociedade e, o conceito de desenvolvimento
econômico começa a ter novos significados e formatos, para Colman e Nixson (apud
MILONE, 2006, p. 485), desenvolvimento econômico “é um processo de
aperfeiçoamento em relação a um conjunto de valores desejáveis pela sociedade”,
estes autores usam um conceito que é medido de forma diferente pelas diferentes
pessoas da sociedade. Apesar de muitos autores utilizarem o termo
desenvolvimento econômico como sinônimo de desenvolvimento e vice-versa.
Outra grande contribuição foi dada por Amartya Sen (2000, p. 17) ao
enxergar o desenvolvimento como “um processo de expansão das liberdades reais
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27
que as pessoas desfrutamo que torna a abordagem sobre o desenvolvimento uma
alternativa aos modelos já decadentes. Para este autor:
O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais
restritas de desenvolvimento, como as que identificam
desenvolvimento com crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB),
aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço tecnológico ou
modernização social. O crescimento do PNB ou das rendas
individuais obviamente pode ser muito importante como um meio de
expandir as liberdades desfrutadas pelos membros das sociedades.
Mas as liberdades dependem tamm de outros determinantes,
como as disposições sociais e econômicas (por exemplo, os serviços
de educação e saúde) e os direitos civis (por exemplo, a liberdade de
participar de discussões e averiguações públicas) (AMARTYA SEN,
2000, p. 17).
Contudo diante de obstáculos e desafios estabelecidos pela cultura
política nacional que ainda atingem com muita força muitos municípios brasileiros -
principalmente os das regiões norte e nordeste - onde o coronelismo obteve uma
sobrevida em relação aos demais estados, o clientelismo ainda se apresenta como
padrão de relação potica dominante, a cultura de passividade ainda permanece, a
segmentação das instituições governamentais e a tradição do corporativismo das
mesmas dificultam a gestão compartilhada e faz do protagonismo institucional um
obstáculo ao desenvolvimento do protagonismo local, as descontinuidades
associadas a mudanças político-administrativas, e a visão imediatista dos atores,
que dificulta a percepção do tempo de maturação requerido pela construção social
parece ser difícil falarmos em liberdade, ou essa fica sendo algo longe de ser
alcançada. Porém, devido a tudo que foi apresentado, essa deve ser o principal
objetivo a ser buscado, sob pena de o desenvolvimento continuar fazendo parte de
um ideário utilizado pelos defensores ardorosos das políticas de cunho liberal
desenvolvimentista que tem deixado um passivo de difícil gestão para toda a
humanidade.
1.2 DESENVOLVIMENTO LOCAL
Devido às mudanças ocorridas em todo mundo nestas últimas décadas,
decorrentes principalmente da crise do modo de produção capitalista realçado
através da utilização dos modelos de desenvolvimento com foco no crescimento
econômico, novas formas de promão do desenvolvimento foram surgindo. Entre
essas, a abordagem conhecida como desenvolvimento local que, começou a ser
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28
discutida a partir das experiências dos distritos industriais do Norte e Nordeste
italianos, que ganharam notoriedade na conjuntura de crise dos anos 70 devido,
sobretudo, aos resultados apresentados de forma surpreendente em termos de
dinamismo econômico e manutenção e elevão dos níveis de emprego e renda,
bem-estar e cidadania. A partir desse momento foi iniciada uma reorientação do
papel exercido pelos locais na Europa e Estados Unidos, onde a mais famosa
experiência e a do Vale do Silício
9
, e na década de 80, se expandiram para os
demais países.
Esta abordagem tamm não esta livre de divergências entre os
estudiosos sobre o tema. Existe discordância, sobretudo, em aspectos citados
anteriormente. Enquanto, a partir das experiências da década de 70, uma corrente
apresenta ênfase nos aspectos econômicos, no mercado, na globalização e na
dependência de recursos externos, denominando, inclusive, esse processo de
Desenvolvimento Econômico Local, outra, sem deixar de valorizar o aspecto
econômico, ressalta aspectos relacionados gestão social através das relações
existentes no espaço/local analisado. Apesar da segunda corrente ser o principal
foco desse subitem, a primeira também será analisada, para que aja uma melhor
compreensão e entendimento, através da comparação e discussão, para que sejam
averiguadas as principais divergências, ideologias e lacunas presentes em ambas.
Os autores que abordam o desenvolvimento econômico local apresentam
o mesmo no plano teórico como:
Constituído por um conjunto de reflexões sobre a centralidade do
Local como origem e objeto de ações e políticas voltadas para a
superação das desigualdades territoriais, inerentes ao
desenvolvimento capitalista. Trata-se de uma teorização marcada
pela espacialidade e pelas novas condições técnicas da dinâmica
9
Exemplo clássico de surgimento de um pólo de excelência industrial cuja precursora foi a
Universidade de Stanford quando, devido à necessidade de contratação de professores de prestígio
utilizou terras de sua propriedade criando um parque industrial próximo da universidade.
Em 1951 foi criado o Stanford Industrial Park. Mais tarde, surge o Stanford Research Park, um
mecanismo de transferência de conhecimento da universidade para as empresas do parque. Essa
iniciativa transformou radicalmente a morfologia urbana do local e se mostrou um êxito científico,
cultural e tecnológico. O número de empresas ali instaladas passou de 7 em 1955 para 90 em 1991,
com mais de 25.000 trabalhadores.
O Vale do Silício, termo surgido em 1971, se tornou o modelo para os parques tecnológicos em todo
o mundo, reformulando a relação entre universidade e empresas.
As principais características do fenômeno do Vale do Silício foram:
- a inovação se deu devido ao fato inédito de atrair indústrias para junto da universidade;
- a maioria das empresas era de pequeno porte e da área de tecnologia eletrônica;
- a formação de uma mão-de-obra técnica e especializada de alta qualificação que favoreceu o
desenvolvimento das empresas.
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29
capitalista. Seu objeto empírico é o conjunto de experiências bem-
sucedidas de dinamização econômica de localidades, municípios e
regiões, frente aos desafios colocados pela atual onda de
globalização e reestruturação produtivas (CRUZ, 2001, p. 2).
Essa corrente ressalta o desenvolvimento local como um processo de
adaptação do sistema capitalista ao âmbito local após crise econômica dos pses
industrializados e o processo de decomposição e de recomposição dos processos
produtivos, quando o nível local aparece como lugar privilegiado da regulação de
disfunções (BRITO; VIEIRA, 2006, p. 5), ou seja, no âmbito local a capacidade de
gerar resultados e maior devido a possibilidade de um melhor gerenciamento e
controle de variáveis existentes.
É importante destacar que as ações e políticas de desenvolvimento,
enquanto estratégias de superação da pobreza e do subdesenvolvimento, ou
estratégias de modernizão, empreendidas após a segunda guerra, sob os
incentivos dos organismos internacionais multilaterais, sempre tiveram que lidar com
o local, ou com os problemas do desenvolvimento no plano dos desequilíbrios ou
das desigualdades territoriais ou regionais, embora sem o sentido e a dimensão
estratégicos que o termo local adquiriu a partir dos anos 70 (CRUZ, 2001, p. 3).
De acordo com Buarque (apud, SOUZA, 2003), a corrente que destaca
aspectos sociais com preponderância identificando uma diferença quanto ao
interesses dos capitalistas e população local conceituando o Desenvolvimento Local
como
processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico
e a melhoria da qualidade de vida da população em pequenas
unidades territoriais e agrupamentos humanos. Deve mobilizar e
explorar as potencialidades locais e contribuir para elevar as
oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia
local; ao mesmo tempo que deve assegurar a conservação dos
recursos naturais locais (BUARQUE apud SOUZA, 2003, p. 5).
Para uma melhor compreensão do conceito de desenvolvimento local é
necessário, além do entendimento do que é desenvolvimento endógeno, do que é o
local nesta abordagem e do que trata a sustentabilidade, é importante compreender
tamm, as dimensões econômica, social, cultural, ambiental, sico-territorial,
político-institucional e científico-tecnológica destacadas e analisadas por Tenório
(2006, p.1), e de que forma estas se inserem neste conceito.
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30
O conceito de desenvolvimento endógeno é muitas vezes confundido com
o de desenvolvimento local devido ao fato de estarem intrinsicamente relacionados.
Não existe desenvolvimento local sem desenvolvimento endógeno, sob pena deste
não ser legítimo e, nem tampouco, representativo de uma localidade.
De acordo com Dallabrida (1999, p. 2)
O desenvolvimento endógeno, busca qualificar um processo de
desenvolvimento germinado no interior da região, que contemple as
necessidades e aspirações da coletividade regional [...] e resulte de
uma sólida e ativa consciência de territorialidade, o que exige a
participação consciente e ativa dos atores locais na construção de
um projeto socioeconômico-político e cultural próprio.
Fica claro que esse conceito exige, inicialmente, que sejam atendidas as
demandas da coletividade local, contudo, cabe ressaltar que os atores devem ser
capazes de tomar iniciativa, além da necessidade da existência de canais de
participação para que isso ocorra dentro de um processo legitimamente
democrático. Barquero (2001, p. 38) concorda que, “o desenvolvimento endógeno
propõe-se a atender às necessidades da população local através da participação
ativa da comunidade envolvida” e complementa “mais do que obter ganhos em
termos da posição ocupada pelo sistema produtivo local na divisão internacional ou
nacional do trabalho, o objetivo é buscar o bem-estar econômico, social e cultural da
comunidade local em seu conjunto”, ou seja, antes da possibilidade de exploração
econômica das potencialidades ou vocações das localidades, a busca pelo
desenvolvimento deve contemplar o bem-estar coletivo, sobre diversos aspectos, a
partir das aspirações da própria população.
Quando analisado apenas pelo aspecto preponderantemente ecomico,
o desenvolvimento local é apresentado como um receptáculo pronto para receber
recursos externos conforme podemos notar no conceito de desenvolvimento
econômico local, apresentado por Barquero (2001 p. 57) que o define como
Um processo de crescimento e mudança estrutural que ocorre em
razão da transferência de recursos das atividades tradicionais para
as modernas, bem como pelo aproveitamento das economias
externas e pela introdução de inovações, determinando a elevação
do bem-estar da população de uma cidade ou região.
Podemos questionar esse conceito sob vários aspectos, primeiro quem
o os agentes que estão acarretando a transferência de recursos de atividades
tradicionais para modernas e se isso traz benefícios para as localidades e para os
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31
que nela habitam? O que é o moderno e o tradicional nesse contexto? Teria o
moderno a capacidade de gerar bem-estar que o tradicional não possui? Conforme
citado anteriormente este tipo de miopia vêm carregada com uma enorme ideologia
de conotação liberal com foco no mercado globalizado, ou seja, o bom para a
localidade é estar pronta, consumir e viver o “moderno”, o que também causa sério
prejuízos para a cultura local, além de condicionar a elevação do bem-estar a esse
processo de acumulação capitalista. Para compreender melhor como essa ideologia
ainda norteia o pensamento de alguns autores e necessário compreender seu nexo
com o processo de globalização.
Independente de que aspecto do desenvolvimento local seja discutido é
de consenso geral que esse foi, e continua sendo, afetado diretamente pelo
processo de globalizão. Contudo, o tipo de consideração dada a esse fator difere
a depender a linha que o autor defenda, que globalização é até hoje, motivo de
discussão e controvérsias entre argumentos de representantes de diversas
correntes e ideologias, principalmente quanto aos aspectos políticos e econômicos.
Na visão liberal apresentada por Barquero (2001 p. 13) é apresentado um processo
de globalização onde “o Estado cede seu papel de protagonista e sua liderança às
empresas inovadoras (geralmente multinacionais)”, direcionando sua análise ao
equilíbrio sendo gerado pelo mercado. Diante desse raciocínio, esse mesmo autor
defende que o desenvolvimento endógeno, visto pela ótica de preparação do local
para receber investimentos mundiais, “desponta como um instrumento privilegiado
para a análise e ação”, ou seja nessa visão, o local seria dependente de
investimentos externos para dinamizar a sua economia, ou seja, a visão dos atores
locais estariam focadas para inserir-se no mercado global. Pintos (2007) concorda
ao afirmar que
El desarrollo local aparece como una nueva forma de mirar y de
actuar desde el territorio en este nuevo contexto de globalización. El
desafío para las sociedades está planteado en términos de Insertarse
en la globalidad, rescatando su identidad para capitalizar al máximo
sus capacidades locales y regionales, através de las estrategias de
los diferentes actores en juego.
Para este autor o desenvolvimento local tem a sua origem, existência e
sustentação geradas a partir do processo de globalização. O que parece ser um
paradoxo, contudo, e a afirmação relacionada ao resgate da identidade do território
para a inserção nesse processo.
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32
Berthoud (2000) alerta sobre essa tendência mundial que podemos
utilizar na nossa análise do Desenvolvimento Local
A tendência atual é buscar impor os mecanismos e princípios do
mercado a todos os países do globo, mas, acredita-se que o
desenvolvimento é viável para aqueles países que estejam
dispostos a libertar-se inteiramente de suas tradições e a dedicar-se
à busca do lucro econômico, em detrimento de todo um conjunto de
obrigações sociais e morais (BERTTHOUD, 2000, p. 133).
Portanto, dentro da visão de inserção ao mercado global, o
desenvolvimento local estaria intimamente ligado à promão de um ambiente, que
pode ser totalmente diferente e agressivo ao ambiente original, para que aconteça
esse processo.
Quanto ao resgate da identidade local, é importante ter muito cuidado
pois essa característica e utilizada por muitas empresas multinacionais ao utilizar a
estratégia de “pensar global e agir localmente” que nada mais é do uma forma de
aumentar os lucros utilizando de estratégias de marketing que se utilizam da cultura,
valores e características locais. Contudo, a maturidade no processo de construção
da identidade a partir de valores legítimos das localidades vai muito mais além e,
muitas vezes estes se tornam espaços de resistência a valores, hábitos e culturas
externas.
Em relão à captação de recursos externos, a prática tem demonstrado
que nem sempre estes estão associados ao bem-estar legítimo da população local e
sim aos interesses do capital. Quando verificada essa situação na prática observa-
se que a busca de capitais externos para os municípios além de gerar uma
competição, no que Boisier (apud FONSECA, 2005, p. 66-67) chama de city
marketing onde os lugares competem como se fossem empresas ou quase
empresas, o que, inicialmente, pode gerar uma movimentação na economia interna,
quando principalmente as empresas instaladas são intensivas de capital humano,
mas, ao abandonarem essas localidades - por diversos motivos, inclusive por
melhores condições apresentadas por outras - estas deixam um rastro de
decadência e empobrecimento. Essas políticas de atratividade acabam gerando um
resultado em um jogo de soma zero, pois, nesse jogo de forças sempre alguma
localidade acabará perdendo.
o conceito de local para Franco (2000a, p. 140) se refere à delimitação
do espaço onde ocorre esse processo de desenvolvimento, para o autor no Brasil,
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33
nas maiorias dos casos, tais espaços são municipais ou microrregionais (envolvendo
certa quantidade de municípios dentro de uma mesma unidade federativa), porém,
para o mesmo, a delimitação do local está diretamente relacionada com o processo
endógeno. Para Fernando Pintos (2007), o local não corresponde a um nível de
escala nem com um tipo de unidade administrativa e sim com um conceito
relacional, uma dimensão onde os atores intervêm para gerir um território que
constitui sua referência de atuação e identidade, ou seja, um conceito mais
apropriado a partir do momento em que não é dissociada a idéia de
desenvolvimento endógeno de construção da identidade e ação no local, o espaço,
a priori, não precisa ser um lugar especificamente determinado geograficamente,
mais sim um lugar delimitado a partir da ação do atores que possuam algum
interesse no mesmo. Neste trabalho apesar do município em estudo ser Santo
Antônio de Jesus, será analisado em alguns momentos regiões e municípios
circunvizinhos, que a produção de fogos e as relações existentes se estendem
para além deste município.
É importante ressaltar que nesse processo se destaca a relação entre os
atores que impulsionam o desenvolvimento local, a saber, Governo, empresários e
comunidade local. Nesse processo o desenvolvimento não se dá unicamente pelo
interesse do mercado/capital, nem pela intervenção estatal, mas sim através da
inter-relação entre esses atores.
Outra distinção importante a ser destacada, também motivo de confusão
na literatura, é quanto ao entendimento entre o que é desenvolvimento local e o que
é desenvolvimento regional. Desenvolvimento regional, conforme pode ser
constatada através de sua utilização ligada ao estudo, formulação e análise de
políticas de desenvolvimento, nada mais é que um conjunto de políticas ou ações
governamentais realizadas em determinadas regiões ou territórios, conforme
podemos verificar na afirmação dos autores Siqueira e Siffert Filho (2001, p. 83)
Se entendermos desenvolvimento regional como uma política para
melhorar as condições sociais da população e reduzir as diferenças
entre as regiões, pode-se inferir o grau de desenvolvimento de
determinada região a partir da avaliação do estoque de capital fixo
relacionado às empresas e à infra-estrutura física e social
disponível em determinada região, pelo nível educacional da
população e pelos índices sociais e de renda.
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34
Ou seja, são ões de cima para baixo, tendo o governo como principal
ator e planificador destas, cujo objetivo maior, conforme ressaltado anteriormente, é
melhorar as condições sociais da população e reduzir as diferenças entre as
regiões. Contudo alguns autores utilizam o termo desenvolvimento regional ao falar
de desenvolvimento local, atribuindo o conjunto de relações citados a escala
regional. É obvio que o desenvolvimento local contribui para redução de
desigualdades regionais, sobretudo quando não analisamos simplesmente aspectos
puramente econômicos e sim bem estar e qualidade de vida local.
Umas das principais diferenças entre os conceitos de desenvolvimento
regional e o de desenvolvimento local é a participação dos atores, tendo, neste
último uma participação ativa da população local na exposição de necessidades,
solicitação de serviços governamentais e ação na busca de condições que tornem o
local um espaço de geração de bem-estar coletivo. Evidente que, nesse conceito, a
participação da autoridade estatal não está fora do processo e sim, dentro dele
como mais um ator que colabora e contribui e, sobretudo, tem sua importância
destacada como gestor dos recursos públicos e provedor de serviços conforme
destaca Dowbor (2007, p. 2)
É um Estado que se apóia amplamente numa democracia inclusiva
na qual os poderes para administrar os problemas serão idealmente
manejados localmente, restituídos as unidades locais de governança
a ao próprio povo, organizado nas suas próprias comunidades.
Quanto ao Governo em suas diversas esferas, principalmente a Federal,
de acordo com Augusto de Franco (2007), estes podem ajudar no desenvolvimento
local, desde que invistam em capital humano
10
e em capital social, adotem
legislações adequadas, descentralizem políticas e recompensem
desinteressadamente esforços locais como, por exemplo, instituir concursos de
projetos locais de desenvolvimento e premiar com recursos sobretudo para
capacitação não os carecimentos e sim os esforços que forem feitos
endogenamente pelas populações locais para superar estes.
10
Refere-se mais diretamente ao conhecimento, ao know-how e à capacidade de criá-lo e recriá-lo
o que envolve a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação, a cultura e a pesquisa e rias outras
áreas. Pode ser observado a partir de indicadores como: expectativa de vida ao nascer e mortalidade
infantil, taxa de mortalidade, taxa de analfabetismo de jovens, concluintes do ensino fundamental e do
ensino médio e ingressantes no ensino superior (FRANCO, Augusto de. Além da renda A pobreza
brasileira como insuficiência de desenvolvimento, Brasília, Millennium, 2000, p. 31).
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35
É importante destacar que a sustentação desse Estado de acordo com
Brito e Vieira (2006, p. 3-4) decorre da eficácia dos atores sociais, do sistema
institucional, das redes de cooperação e dos projetos coletivos. Os atores sociais do
processo de desenvolvimento local são aqueles cujas qualificações e competências
os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de
desenvolvimento tais como diretores de serviços ou de agências de
desenvolvimento; representantes institucionais, encarregados de funções; gerentes
de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores (responsáveis de
colocar em prática as políticas); e representantes eleitos, independente de serem
incentivadores ou o das políticas de desenvolvimento (TEISSEREC, apud BRITO
& VIEIRA, 2006). O sistema institucional, ou a relação e funcionamento das
instituições, teriam como objetivo criar ou fortalecer as estruturas encarregadas de
promover as políticas de desenvolvimento local.
Para Putnam (2006, p. 23), “as instituições podem ser moldadas pelo
contexto social em que atuam”, ou ainda, de acordo com Fonseca (2005, p. 23) “as
instituições são criações humanas com o objetivo de dar forma às interações
sociais”.
Quanto às redes de cooperação, sabe-se que a cooperação e a
solidariedade são formas potenciais de realização humana e coletiva e que é
possível perceber, através destas características uma outra lógica empresarial,
através destas redes, articuladas por sujeitos conscientes e ativos, igualmente
atores e protagonistas da inovação e da cooperação, com vistas à construção de
novos ambientes, potenciais espaços para o empreendedorismo e o associativismo,
mecanismos estratégicos para fortalecer o capital social e auxiliar na
sustentabilidade e no desenvolvimento local (THESING, 2006).
Promove-se o exercício da cooperação econômica como direito e não
como dever, no qual é traduzido em não gerar e nem perpetuar as condições de
dependência naqueles que são beneficiários das ações solidárias. Ao invés disso,
propõem-se estratégias que possibilitem às pessoas ganharem autonomia e
capacidade de assumir papel ativo como gestores do próprio desenvolvimento. A
economia fundamentada na cooperação representa a recuperação do verdadeiro
sentido da economia, que possibilita o estabelecimento de um novo contrato social,
conciliando os imperativos econômicos e os valores humanistas necessários ao
verdadeiro desenvolvimento da sociedade (VALADARES, 2002). Esse mecanismo
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surge até mesmo como forma de sobrevivência no contexto internacional
globalizado, de alta competição e de desigualdades regionais e sociais.
A mudança de foco do nacional para o local, principalmente quando esse
local é o município, foi alterada, também, devido ao processo de descentralização
cujo debate vem ocupando papel de destaque em muitos países europeus desde os
anos de 1970 e, na América Latina e Brasil a partir dos anos 80.
Apesar do processo de descentralização estar presente em vários
campos disciplinares, cabe destacar sua utilização no campo das ciências políticas,
na qual esta é tratada como um mecanismo democrático que permite a autonomia
política dos níveis locais e regionais, com vistas ao aprofundamento da
democratizão; na sociologia como um mecanismo de autorização empowerment”
da sociedade civil, com o objetivo de incrementar a cidadania e finalmente, no
campo da administração pública onde se constitui uma política para se diluir o poder
decisório e administrativo dentro das agências públicas centrais, através da
desconcentração, ou seja, a transferência de responsabilidade administrativa sobre
os servos básicos públicos do nível nacional para governos regionais e locais
(PENFOLD-BECERRA, 2002), e possível perceber que todas essas abordagens se
interligam quanto ao aspectos de fortalecimento da democracia e apontam para uma
necessidade da participão da comunidade local envolvida a partir do momento
que é efetuada a transferência de responsabilidades para os governos regionais e
sobretudo para os governos locais.
Quanto à sustentabilidade citada no item anterior, essa não aborda
somente a questão ecológica, mas também a sustentabilidade política, social,
econômica espacial, cultural e ambiental e está relacionada diretamente a dois tipos
de solidariedade; a solidariedade com a geração a qual pertencemos e a
solidariedade com a geração futura, pois o bem-estar das gerações atuais não pode
ser obtido deixando um passivo, uma dívida para as gerações futuras. Outra questão
importante a ser analisada nesse processo e quanto ao bem-estar dos pobres e
excluídos de hoje, que não pode ser protelado em nome de um futuro melhor para
as próximas gerações. A questão de como aumentar a riqueza sem deixar esse
passivo para as próximas gerações a princípio, parece se tratar de um paradoxo,
mas é importante ressaltar que o processo de desenvolvimento conforme citado
anteriormente, não se trata apenas de aumento de riquezas, mas es diretamente
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relacionado à melhor distribuição e com a geração desta de forma responsável,
interligando as sustentabilidades já citadas.
Para Franco (2000a, p. 155-156), a sustentabilidade e mais fácil de ser
conseguida no âmbito local, pois este possui um contexto de comunidade e,
somente nesse contexto, se pode ascender à consciência do papel, vital para a
continuidade do sistema, que cumprem as múltiplas relações que se estabelecem
entre seus membros”, ou seja, é mais fácil sustentar ações e políticas a partir do
momento em que existem relações com o lugar e com as pessoas deste ou, o
sentimento de pertence, de pertencer à localidade. O termo comunidade e bem
utilizado neste contexto já que se refere ao que é comum a um grupo, de preferência
o bem comum.
A discussão sobre o desenvolvimento local foi introduzida no Brasil nos
meados dos anos 90, a partir de um conjunto de experiências localizadas que se
expandiram por diversas regiões. Surgiram a partir daí inúmeras iniciativas em forma
de ações e projetos relacionados ao combate à pobreza, à desigualdade ou à
exclusão, em campos estratégicos de políticas públicas. Tais experiências, em sua
maioria possuíam um eixo ou ponto de partida setorial: nutrição e saúde, educação,
trabalho e renda, meio ambiente, infra-estrutura e moradia ou, de forma combinada,
trabalhavam com segmentos específicos, principalmente a partir de critérios etários,
de gênero ou étnicos. Essas iniciativas foram implementadas, principalmente por
entidades não-governamentais e governos municipais (em alguns casos, associadas
a programas federais cuja execução era descentralizada).
Essas iniciativas foram, em boa parte, impulsionadas pelo processo de
descentralização que foi cujas bases de consolidação foram estabelecidas na
Constituição de 1988, e pela importância dada ao município a partir da autonomia
concedida aos mesmos. De acordo com Dowbor (2007, p. 2), a vantagem deste
processo e que “ao se deslocar boa parte das iniciativas do desenvolvimento para o
vel local, aproxima-se a decisão do espaço onde o cidadão pode efetivamente
participar”, ou seja, conforme citado anteriormente, o local e o rum ideal para a
discussão da comunidade e atores que dele dependem.
A partir de meados dos anos 90, ocorre o crescimento e a percepção da
necessidade de registrar e dar visibilidade a todo o leque de experiências locais
constituídas a partir de diferentes vetores e focos temáticos. Pesquisas e estudos de
caso, construção de bancos de dados de projetos, identificação de boas práticas e
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premiações de experiências locais (sobretudo de iniciativas municipais) começaram,
desde aquele período, a ganhar presença no cenário público brasileiro. Surgiram
tamm esforços de criação de ambientes e fóruns que entre seus objetivos incluem
a circulação e disseminação de práticas inovadoras como fator de aprendizagem e
construção de referências.
Ainda que não representassem o foco predominante e generalizado das
iniciativas que emergiram nos anos 90, tais elementos indicavam uma mudança em
face do padrão verticalista e centralizador que, no Brasil, ocupou praticamente todo
o cenário das décadas anteriores. Essas experiências que surgem tanto com apoio
e/ou idealizão do governo
11
como a partir de ações do terceiro setor
12
,
inaugurando o que Franco (2007) chama de terceira geração de política social, que
compartilha a criação de políticas públicas a partir da parceria entre o Estado e
sociedade para o desenvolvimento social, diferente da primeira geração, políticas de
intervenção centralizada, citado anteriormente, e a segunda geração, políticas
públicas de oferta governamental descentralizada.
As iniciativas de desenvolvimento local em curso, no Brasil, o bastante
diferenciadas quanto às metodologias aplicadas, às ênfases temáticas e à
abrangência geográfica. Há experiências em andamento tanto em comunidades com
menos de mil moradores quanto em regiões com 400 mil habitantes. São utilizadas
tamm, uma variada gama de termos e designações em uso, segundo diversos
enfoques, ideologias e correntes, conforme citado anteriormente, ou núcleos de
fomento institucional.
11
Podemos destacar o programa Comunidade Ativa lançado no governo de Fernando Henrique
Cardoso em 1999 que tinha como objetivo induzir o chamado Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável – DELIS (grifo próprio).
12
Terceiro Setor é uma terminologia sociológica que significado a todas as iniciativas privadas de
utilidade blica com origem na sociedade civil. A palavra é uma tradução de Third Sector, um
vocábulo muito utilizado nos Estados Unidos para definir as diversas organizações sem vínculos
diretos com o Primeiro Setor (Estado) e o Segundo Setor (Mercado) (disponível em
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Terceiro_Setor> acesso em 02 jun. de 2007).
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39
2 A INFORMALIDADE, A QUESTÃO GÊNERO E O TRABALHO
INFANTIL
2.1 A INFORMALIDADE COMO CONSEQÜÊNCIA DO MODELO DE
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA
Apesar da utilização do termo informalidade ter surgido na década de 60
(SILVA, 2002) e comar ser definido oficialmente a partir da publicação de um
estudo desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Quênia
em 1972, esse termo, que surge em decorrência de uma disfunção do modo de
produção capitalista, é um problema muito antigo que, no Brasil, pode ser observado
desde o final do século XIX com o trabalho e atividades efetuadas principalmente
pelos negros após a abolição da escravatura. Muitas das atividades praticadas pelos
recém libertos nada mais foram que a perpetuação das desempenhadas
anteriormente pelos escravos de ganho
13
conforme cita Holthe (2003) ao descrever
o mercado de trabalho da cidade de Salvador do século XIX, em um período anterior
a abolição da escravatura
Em função da reduzida oferta de postos de trabalho na cidade, a
mesmo alguns dos ricos sobrados dependiam - em maior ou menor
grau - do pequeno comércio ambulante da cidade, realizado então
pelos “escravos de ganho” (
HOLTHE, 2003, p. 64
).
Esses escravos exerciam trabalho como carregadores, doceiras
efetuavam pequenos consertos e, conforme cita Holthe (2003), exerciam um
comércio ambulante, atividade hoje conhecida como pertencente ao setor informal.
Essa origem histórica desse processo conhecido posteriormente como
informalidade, inicia uma situação que se perpetua ahoje, sobretudo na Bahia e
inclusive no município de Santo Antônio de Jesus - no que se refere à ocupação do
negro, em quase sua totalidade, em atividades que estão fora do sistema e mercado
tradicional de trabalho em decorrência, inclusive do processo de divisão de
classes
14
.
Antes dessa denominação oficial, ou de acordo com Silva (2002, p. 81),
quando o uso dos termos informalidade, setor informal e economia informal se
tornam canônicos era muito utilizado o termo subemprego que caracteriza uma
13
Os escravos de ganho eram escravos que, no período colonial e no Império, realizavam tarefas
remuneradas, entregando ao senhor uma quota diária do pagamento recebido.
14
Ver Oliveira (1987).
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40
“situação sócio-econômica dos trabalhadores que se dedicam à prestação de
serviços avulsos de baixa remuneração, ou encontram trabalho em certos
períodos do ano”. E segundo Sandroni (1989), o conceito que apresenta similitude
com o de informalidade apesar deste último poder representar fenômenos muito
distintos que vão desde a evasão e sonegação fiscal até o trabalho em domicílio.
Ambos os termos são aplicados inicialmente à condição, ou estágio, de país
subdesenvolvido ou em desenvolvimento, que uma das principais bandeiras do
capitalismo industrial, no s-guerra, conforme verificado anteriormente, era que
ao proporcionar o desenvolvimento econômico, traria a solução para a questão do
mercado de trabalho, gerando oferta de vagas suficientes para todos que quisessem
fazer parte deste maravilhoso mundo novo.
O relatório da OIT de 1972 - citado por diversos autores em produções
relacionados ao mercado de trabalho e informalidade
15
- é o resultado de uma série
de estudos e encontros iniciados a partir de 1969 quando é lançado, por essa
mesma instituição, o Programa Mundial de Emprego que, além de avaliar os efeitos
causados pelas estratégias, decorrentes do pido crescimento sobre o emprego e
distribuição de renda, empreendidas pelos países retardatários no processo de
industrialização, também propunha estratégias alternativas focalizadas na criação de
empregos, no menor grau de concentração de renda e na diminuição dos níveis
absolutos de pobreza. A explicação encontrada para a insuficiência de oferta de
empregos em relação à população economicamente ativa nesses países era
decorrente do próprio padrão de crescimento econômico empreendido através do
rápido processo de substituição das importações
16
e da utilização intensiva de
capital. Esse processo, contudo, apesar de excludente, não gera um expressivo
excedente de mão-de-obra em forma de desemprego, mas sim, em trabalhos
realizados em atividades de pequena escala.
Mas como é identificado o setor informal e quais as atividades que estão
inseridas neste? A partir dos estudos realizados no âmbito do programa da OIT, o
setor fica restrito as características a seguir: (a) propriedade familiar do
empreendimento; (b) origem e aporte próprio dos recursos; (c) pequena escala de
produção; (f) facilidade de ingresso; (e) uso intensivo do fator trabalho e da
15
Ver Cacciamali (2000), Silva (2002) e Oliveira (1987).
16
O processo de substituição das importações ocorre quando se começa se produzir no próprio país,
produtos que antes eram obtidos através de importação.
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41
tecnologia adaptada; (f) aquisição de qualificações profissionais à parte do sistema
escolar de ensino; e (g) participação em mercados competitivos e não
regulamentados pelo Estado. A essas características, o Programa Regional de
Emprego para a América Latina (PREALC) acrescenta as atividades não
organizadas juridicamente ou suas relações capital-trabalho (CACCIAMALI, 2000,
p.155), ou seja, como a questão de não atender aos princípios legais afeta a relação
entre os detentores do capital e os trabalhadores, como por exemplo, o numero de
horas trabalhadas, as condições na qual o trabalho esta exposto entre outros. As
atividades do setor informal, portanto, estariam enquadradas nestas características
sem, contudo afirmar que todo e qualquer empreendimento que possua uma ou
mais dessas características estaria automaticamente incluído nesse setor, como, por
exemplo, quanto à propriedade familiar ou a utilização de recursos próprios, mas é
importante destacar a questão jurídico-legal como principal identificador dessas
atividades. Os empreendimentos ou atividades informais normalmente não possuem
registro em órgão próprio e não respeitam e muitas vezes até desconhecem a
legislação vigente.
De acordo com Cacciamali (2000, p. 157), “o setor informal, definido com
base na forma de organização da unidade produtiva, pode ser abordado através de
distintos marcos teóricos, gerando interpretações distintas”, contudo, a autora
destaca duas interpretações. A primeira trata o setor informal pela ótica da
empregabilidade e renda, aonde este “representa um conjunto de firmas,
caracterizadas por uma constituição incipiente, onde se ocupa a maior parte do
excedente da oferta de trabalho urbana, com o objetivo de gerar seu emprego e sua
renda” (idem, 2000, p.157) e pela ótica da escassez de capital como determinante
do baixo nível de produtividade decorrente de técnicas de produção obsoletas. A
autora complementa que essa abordagem detém um caráter microeconômico
17
na
qual a ótica dessas firmas seria atingir o lucro. Já a segunda abordagem “retoma os
conceitos de mudanças estruturais e de subordinação do setor informal ao processo
de acumulação, projetando-o para o processo histórico contemporâneo” (ibidem,
2000, p. 158), ou seja, o setor informal seria uma conseqüência natural das
transformações ocorridas nas últimas décadas onde, novamente, o modo de
17
O estudo de economia e dividido em micro e macroeconomia. Na microeconômicao estudados o
comportamento das unidades de consumo (indivíduos e famílias), das empresas ou firmas e suas
produções e custos, a produção e o preço dos diversos bens, serviços e fatores produtivos.
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42
produção capitalista, os processos decorrentes do mesmo juntamente com a
globalização seriam os fatores que geraram - e ainda geram - esse fenômeno.
Nessa segunda abordagem a ótica das firmas o seria apenas a lógica do lucro
mais a própria sobrevivência dos seus proprietários e todos os agentes pertencentes
a este setor.
Na primeira abordagem, para Cacciamali (2000, p. 158), a resposta da
política pública a esse tipo de segmentação com a finalidade de eliminá-lo ou
minimizar seus efeitos, seria a remoção dos obstáculos ao desenvolvimento das
micro e pequenas empresas (grifo próprio). Apesar da opinião da remão de
barreiras as micro e pequenas empresas ser defendida por muitos autores e
especialistas como solução para minimização ou até eliminação da informalidade -
devido a capacidade de geração de empregos
18
-, a questão da eliminação da
informalidade não é compartilhada por todos, inclusive aos que acreditam, conforme
citado por Sachs (2002, p.20) que este funciona como uma “válvula de segurança
para a economia moderna que o progresso técnico geraria pouquíssimos
empregos, num quadro de aumento de produtividade do produto”, ficando o mercado
informal como uma possibilidade aos que não forem absorvidos pelo mercado de
trabalho tradicional, ou seja, uma reprodução do pensamento burguês de que a
existência de mão de obra facilmente aproveitada no mercado informal contribui
para o processo de acumulação de capital e perpetuação da má-distribuição de
renda e desigualdades sociais.
A analise de Silva (2002) sobre a evolução histórica do capitalismo, mercado
de trabalho e o assalariamento, é bastante esclarecedora sobre a dinâmica do
desenvolvimento e as adaptações as mudanças de cenário e realidades que afetam
o processo de reprodução do sistema e modo de produção capitalista. Este autor
destaca os pressupostos compartilhados da noção de informalidade desde os anos
60. De acordo com o mesmo nos anos 60/70 com objetivo e a busca das nações
para atingir a situação de pleno emprego
19
, ficou traduzida no processo de
urbanização que foi concentrado na organização do trabalho nas cidades e a
18
Em todo o mundo, estes são responsáveis pela maioria das empresas e postos de trabalho. No
Brasil, das 5,1 milhões de empresas formais, 98% são de micro e pequeno porte, responsáveis por
67% do pessoal ocupado no setor privado (BEDÊ, 2006, p.3).
19
O pleno emprego acontece quando a demanda de trabalho é igual ou inferior a oferta. Isto significa
que todos os que desejam vender sua força de trabalho pelo salário corrente terão condições de
obter um emprego. Em termos globais pleno emprego significa o grau ximo de utilização dos
recursos produtivos (SANDRONI, 1998, p.241).
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43
indústria tornou-se o centro dinâmico que gerava o emprego assalariado esvel
(SILVA, 2002, p.88-91). Nessa lógica, se o pleno emprego o fosse atingido, a
existência do desemprego seria então algo normal e aceitável.
Quando os empregos ofertados pelo setor industrial o se esgotando na
segunda metade da cada de 1970 quanto à geração destes, o mercado de
trabalho não deixa de ser visto como
principal mecanismo que articula produção e reprodução social, e
que o emprego, como relação de longo prazo juridicamente regulada
e socialmente protegida, permaneça sendo considerada como sua
unidade básica [...] O assalariamento não reina sozinho como
parâmetro inquestionado, embora continue como uma referência
central (SILVA, 2002, p. 92).
Essa afirmão pode ser facilmente identificada, ainda hoje, no ideal da
busca por um trabalho aonde a carteira seja assinada, principalmente para as
classes menos favorecidas, por tudo que esta representa em relação à proteção
jurídica e social. Já o inverso, a questão da falta dessa proteção no mercado
informal e destacado por Oliveira (1987, p. 91) quando cita que as classes
dominantes e o Estado não enxergam nessas atividades nenhum atributo próprio e
nem uma relação qualquer que não seja a do puro acaso e, portanto, não são
merecedoras dessa proteção.
Nos anos 80, as rápidas mudanças decorrentes do processo de
globalização junto com o enxugamento do Estado, “afetaram profundamente o
mundo do trabalho, trazendo para o centro da agenda pública, inclusive nos pses
centrais, a questão do desemprego” (SILVA, 2002, p. 99-100). A informalidade se
universaliza e torna-se, em decorrência das mudanças ao nível global, sinônimo de
flexibilização, desregulação quando não simplesmente clandestinidade (idem, 2002,
p. 100). Processos como a terceirizão e a reestruturação produtiva tornam-se
usuais e fruto destas mudanças decorrentes da globalização e da nova ordem
mundial. A terceirização apesar de gerar emprego e renda ao informal através da
prestação de serviços a empresas que tanto podem ser formais ou não, reduz os
empregos diretos nas empresas
20
. O saldo de acordo com Sachs (2002, p. 28), é
“identificado na precarização das condições de trabalho e na redução dos salários”.
20
Como ocorreu em outras regiões ou em outros setores da economia brasileira, a reestruturação
produtiva levou a um processo de redução de funcionários. No auge das atividades, em meados da
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44
Além desses aspectos mencionados é importante destacar, também, a
questão dos impactos psicossociais do desemprego e da informalidade. Em artigo
de Lurdemir (2005), em uma pesquisa efetuada na região metropolitana de Recife
com trabalhadores informais, foi identificado que a informalidade apresenta algumas
características que podem ser maléficas para a saúde psicológica, como baixos
veis de poder de decisão e de controle pessoal sobre os vencimentos e a jornada
de trabalho, determinados pela própria demanda e dinâmica do mercado, no caso
dos trabalhadores autônomos, ou pela conveniência do empregador, no caso dos
subempregados. Para a autora, a incerteza sobre a situação de trabalho, os baixos
sarios, a ausência de benefícios sociais e de proteção da legislação trabalhista são
provavelmente os responsáveis pelo desenvolvimento de ansiedade e depressão
entre os trabalhadores informais (LURDEMIR, 2005, p. 203).
Outro estudo realizado por Lima e Borges (2002), com desempregados na
região metropolitana de Belo Horizonte, aponta o desemprego de longa duração
21
como fonte graves problemas psíquicos e sociais, principalmente pela
“desestruturação de laços afetivos e sociais causando impactos profundos na auto-
estima dos indiduos (Idem, 2002, p. 339). Como conseqüência, os impactos
causados pela reorganização mundial que acabam acarretando uma infinidade de
patologias de ordem psicossocial, geram um alto custo ao sistema de saúde pública
e com programas de assistência ao desempregado, devido, sobretudo, as
externalidades negativas geradas pelo modo de produção capitalista que, com o
passar dos anos, vêm gerando um grande contingente de atividades informais e um
alto índice de desemprego.
Assim, de acordo com Cacciamali (2000, p. 153), as constantes menções
a este tema no momento atual refletem as dificuldades que muitas organizações,
indivíduos e a coletividade vêm enfrentando para superar, com as regras legais
vigentes ou os procedimentos-padrão, as mudanças estruturais econômicas,
década de 1980, as empresas do pólo de Camaçari que chegavam a empregar 25 mil pessoas e três
vezes mais de terceirizados, numa relação de um trabalhador efetivo para três terceirizados ou
subcontratados, hoje o número de pessoas contratadas diretamente pelas empresas do setor
petroquímico no pólo não passa de sete mil, havendo, em contrapartida, um crescimento muito
grande da terceirização (Carta IEDI n. 201 - O Futuro do Pólo Petroquímico de Camaçari, disponível
em <http: www.iedi.org.br> acesso em 11 de junho de 2007).
21
As autoras consideram desempregados de longa duração “aqueles indivíduos que estão ou não
tentando uma inserção no mercado formal e que realizam esporadicamente, alguma atividade, mas
sobretudo, aqueles que desistiram de faze-lo, seja por desânimo de encontrar um novo emprego, seja
pela presença de alguma patologia mental” (Idem, 2005, p. 338).
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45
políticas e sociais em andamento. É evidente que, a questão da ilegalidade também
pode estar associada à cultura local que é catalisada pela falta de orientação,
fiscalização e acompanhamento das atividades. Sem considerar o mérito da
existência de atividades informais, no atual cenário em que vivemos, serem fator de
sobrevivência para as pessoas que estão excluídas do mercado tradicional e, que
acabam sendo utilizadas por “empresários” que no afã de atingirem uma margem de
lucro extraordinária, enxergam essa situação como uma forma de aproveitar as
carências de determinadas localidades junto com a incapacidade do poder público e
a sociedade de resolverem determinadas situações como, por exemplo, a questão
da geração e capacitação para o emprego. Dessa maneira, as diferentes situações
criadas pela economia informal, se por um lado podem responder as demandas e
encaminham possíveis soluções no âmbito da nova ordem econômica e social, por
outro constituem focos de tensões, desigualdades sociais e problemas
psicossociais.
2.2 INFORMALIDADE E A QUESTÃO DA “RAÇA
22
” E DO GÊNERO
O processo de discriminação não se de forma instantânea, que surge do
nada, este se encontra em um longo processo originado em bitos, costumes e
relações construídos ao longo da história. Como pertencente legitimo de um grupo
discriminado durante longo tempo podemos destacar o grupo das mulheres. Na
concepção usual da palavra este pertence ao grupo dos excluídos ou “minorias”. De
acordo com Roso et al. (2002, p.75), essas minorias não são definidas em relação
ao valor numérico, mas sim em termos de relações de poder e complementam, “[...]
podem ser definidas como segmentos das sociedades que possuem traços culturais
ou físicos específicos que são desvalorizados e não inseridos na cultura da maioria,
gerando um processo de exclusão e discriminação”, o que de imediato faz com que
a mulher, como grupo, em todo seu contexto histórico seja incluída nesse conceito.
22
De acordo com a enciclopédia virtual Wikipédia (pt.wikipedia.org), o conceito raças humanas foi
usado pelos regimes coloniais e pelo apartheid (na África do Sul), para perpetuar a submissão dos
colonizados. A definição de raças humanas é principalmente uma classificação de ordem social, onde
a cor da pele e origem social ganham, graças a uma cultura racista, sentidos, valores e significados
distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e
cranial, ancestralidade e, em algumas culturas, genética. Algumas vezes utiliza-se o termo raça para
identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico.
Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como população, etnia, ou mesmo cultura (acesso em
19 de dez. 2007).
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46
Para analise deste trabalho podemos destacar o termo exclusão social que,
de acordo com Kustner (1998, p. 4), tem sido muito utilizado, sobretudo, para se
referir ao contingente "restante" da população, à margem dos meios de produção e
sem possibilidades de se inserir, devido principalmente a incapacidade do
capitalismo na sua fase globalizada de criar mais emprego e absorver essa mão de
obra excluída. Ou seja, parte da população diretamente envolvida com o mercado
informal que atinge contingente considerável das mulheres sobretudo, no estrato
mais pobre da população.
Essa relação que distancia e discrimina a mulher em um mundo “projetado”
para o domínio, controle e valorização do masculino torna essa discussão bastante
pertinente, sobretudo no mundo do trabalho, como forma de análise e mudança da
ordem social vigente e a construção de uma sociedade mais justa. A condição de
subalternidade das mulheres, construída do decorrer do tempo, acabou sendo
incorporada às funções a serem exercidas e as relações e hierarquia no trabalho. A
questão da falta de uma atenção maior quanto às relações de gênero é evidenciada
inclusive nas analises estasticas oficiais, ao o ser dada à devida importância ao
trabalho doméstico, ou atividade doméstica, e o seu desdobramento na formação da
renda das famílias, que para o grupo de crianças e adolescentes - que será
discutido posteriormente a atividade domestica é computada nas estatísticas
referentes a trabalho.
Mas afinal, de que forma se dá a relação de gênero no mercado de trabalho?
De acordo com Yannoulas (2002)
Na sociedade capitalista moderna, o trabalho feminino remunerado
integrou–se à uma divisão sexual horizontal do mercado de trabalho,
segundo a qual as mulheres concentram–se em um determinado
setor de atividade [...]. Suas ocupações têm em comum o fato de
serem derivadas das funções de reprodução social e cultural,
tradicionalmente desempenhadas pelas mulheres. Quando não são
extensões diretas da domesticidade, requerem qualidades muito
estimuladas na socialização das meninas (paciência, docilidade,
meticulosidade, delicadeza, etc.), como por exemplo nas linhas de
montagem da indústria eletromecânica (YANNOULAS, 2002, p. 15).
Fato que pode ser evidenciado inclusive no recôncavo baiano onde maior
parte das mulheres atua na indústria do fumo - o no cultivo, mas tamm no
processo de separação de folhas e enrolando charutos - nas fábricas de calçados,
na linha de produção e na confecção de fogos de artifício, além das atividades
relacionadas ao artesanato local.
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47
Outro fato importante também destacado por Yannoulas (2002, p. 16), é o
fato do “trabalho das mulheres possuírem uma característica de descontinuidade -
caracterizado em seu ponto máximo pela maternidade e a atenção dispensada a
família - o que faz com que os trabalhos em tempo parcial, ocasionais ou sazonais”
serem mais freqüentes entre elas como resposta à necessidade de harmonizar o
desempenho doméstico e profissional. Kustner (1998, p. 4) concorda com essa
afirmação quando conclui que as mulheres se inserem melhor que os homens no
mercado de trabalho, devido as mesmas aceitarem a atividade remunerada a
qualquer custo, dado seu senso de responsabilidade para com a família. Por essa
característica, além das habilidades destacadas anteriormente, as mulheres ocupam
um grande espaço nas atividades informais devido a maior flexibilização quanto à
estrutura de horários, período de trabalho e falta de um compromisso formal,
traduzido, na maior parte das vezes, pela inexistência do contrato de trabalho.
Cabe destacar tamm que a inclusão da mulher no mercado de trabalho
não acontece única e exclusivamente pelos avanços e abertura da sociedade para
as habilidades e competências femininas, ocorre também, pelo fenômeno do
aumento das famílias chefiadas pela mulher, as chamadas famílias maternas. Esse
fenômeno, que de acordo com Kustner (1998) no Brasil possui raízes muito antigas,
surge como conseqüência da fragmentação familiar do negro sob a escravidão,
acentuada com a passagem da escravio para a liberdade e as migrações do
campo para a cidade. De acordo com autora
A estrutura familiar que o negro trazia da África, sua linhagem, foram
destruídos pela escravidão: os filhos dos escravos podiam saber qual
era a mãe, mas desconheciam o pai, o que no sistema patriarcal da
colônia era um grande ponto de desequilíbrio. Os filhos homens
cresciam muito ligados à mãe, mas careciam de referências sobre o
modelo paterno, e as filhas aprendiam a aceitar como natural o
aumento das responsabilidades maternas (KUSTNER, 1998, p.3).
O que resultou na imediata necessidade da busca por uma remuneração
e inserção no mercado de trabalho para o seu sustento e da sua família. Foi mais
fácil para a mulher negra do que para o homem se adaptar ao sistema de trabalho
pois a divisão sexual do trabalho na África era similar. Estas se incorporaram
inicialmente ao mercado de trabalho como empregadas domésticas, vendedoras de
alimentos e lavadeiras, ou seja, atividades anteriormente praticadas durante o
período de escravidão.
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48
Então nesse contexto, dentro de uma perspectiva que pouco evoluiu no
período pós escravidão, temos que analisar dois aspectos que condicionam não só
ao mercado informal como tamm para uma condição de pobreza, a questão de
pertencer ao gênero mulher e a raça negra. De acordo com Yannoulas (2002), no
Brasil
Tanto nas regiões mais pobres, como no conjunto do País, as
mulheres pardas ou negras vivem as piores condições de emprego,
marcadas sempre por uma grande instabilidade, padecendo de um
alto subemprego, ocupando os níveis mais baixos da escala
ocupacional e obtendo um salário médio inferior ao dos homens
(uma das distâncias salariais mais altas da América Latina)
(YANNOULAS, 2002, p. 24).
É importante destacar que a questão do trabalho do menor e do
adolescente acaba sendo um desdobramento dessa condição. Se em boa parte das
famílias de baixa renda os filhos trabalham como forma de aumentar a renda familiar
nas famílias maternas, além desse fator, existe um agravante que condiciona as
crianças ao trabalho, devido a impossibilidade de deixar os filhos com alguém, estas
levam os mesmos para o trabalho que acabam exercendo alguma atividade.
2.3 INFORMALIDADE E O TRABALHO INFANTIL
Outro ponto sensível e preocupante das atividades informais é a utilização
da mão-de-obra infantil. De acordo com a OIT, no mundo de hoje mais de 200
milhões crianças são trabalhadoras infantis e mais de 100 milhões atuam em
atividades bastante degradantes e insalubres (OIT, 2007). Não é possível afirmar
que todas estas crianças estão no setor informal, devido à flexibilidade relacionada à
legislação trabalhista e a permissividade deste tipo de trabalho em alguns países.
No Brasil de acordo com dados do levantados pela Pesquisa Nacional por
Amostragem Domiciliar (PNAD) revelam, em 2004, uma taxa de ocupação de 5,3
milhões de pessoas entre 5 a 17 anos, cerca de 11,80% do total de pessoas
economicamente ativa23. Em 2005, esse numero atinge 5,45 milhões, cerca de
12,20%, o que representa de um ano para o outro um acréscimo de 148 mil crianças
23
Pessoas “economicamente ativas são aquelas que estão ocupadas de alguma forma em
atividades de natureza econômica, ou que estão desocupadas mas procurando ativamente trabalho
no período de referência da pesquisa (ou seja, os desempregados, ou desocupados).
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49
e adolescentes no mercado de trabalho, o que revela nesse período que, apesar de
ter ocorrido uma avanço na criação e execução de projetos e políticas públicas
ligadas à infância e adolescência, sobretudo ao combate ao trabalho infantil,
demonstra que, de 2004 a 2005 essa chaga avançou pelo nosso país. Em estudo
mais recente, do PNAD 2006, pelo IPEA (2005, p. 17), no que se refere ao trabalho
infantil “crianças de 5 a 9 anos - foi observada uma redução absoluta do número
de crianças trabalhando entre 2005 e 2006: de 264.614, em 2005, para 213.822, em
2006”. Em termos relativos, a proporção passou de 1,6% para 1,3% de crianças
ocupadas nessa faixa etária.
Apesar do combate ao trabalho infantil estar totalmente alicerçado em
uma ampla legislação, tanto nacional como internacional, como o Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8069/90), Convenção sobre os Direitos da
Criança – Carta Magna para as crianças de todo o mundo – adotada em Assembléia
Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, e, inclusive na Constituição
Federal de 1988, que em seu artigo 7º, inciso XXXIII, proíbe o “trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”, sabe-se
que, principalmente no mercado informal, a utilização de menores faz parte dos
recursos utilizados pelo detentor do capital que atua direta ou indiretamente nesse
mercado, juntamente com o processo de exploração da miséria, para obtenção de
uma margem de lucro maior. Como informado anteriormente, é característica do
mercado informal desconhecer, desrespeitar, ou desconsiderar as questões legais.
A inserção da criança e do adolescente no mercado de trabalho
24
pode
ocorrer por diversas razões. Dentre estas podemos destacar aspectos que estão
contidos no pprio ciclo de pobreza e de concentração de renda característicos da
sociedade brasileira como, a necessidade da complementação da renda familiar
devido aos reduzidos salários ou ganhos dos adultos das classes menos
privilegiadas
25
, que, em sua grande maioria, estão inseridos no próprio mercado
24
De acordo com Schwartzman e Schwartzman (2004, p. 1-2), os números globais apresentados nas
estatísticas disponíveis cobrem situações distintas, que vão das formas mais abjetas de exploração à
participação limitada ou ocasional de crianças e adolescentes em atividades da família que, apesar
de o serem necessariamente prejudiciais cobrem tanto situações em que o trabalho impede que a
criança ou adolescente estude, como situações em que ele proporciona uma ocupação para os que,
por várias razões, abandonaram a escola.
25
No Brasil, há 20,6 milhões de crianças com idade até seis anos, o que equivale a 11% da
população. Trata-se da maior população das Américas nessa faixa etária. Desse total, 11,5 milhões
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50
informal. Nesse quadro, trabalhar durante a infância não é entendido pelas famílias e
população carente como algo nocivo, mas como algo necessário à própria
subsistência familiar (KUSTNER, 2005).
Outra questão, também com grande peso sobre a problemática do
trabalho infantil, e sua incompatibilidade com a educação e o aprendizado da criança
e do adolescente. Devido ao fato destes estarem exercendo uma atividade laboral,
quando não abandonam a escola, o rendimento escolar se torna muito baixo - dentro
de uma estrutura que possui muitas deficiências como é o ensino, principalmente
o blico, no Brasil fazendo com que a situação de pobreza, decorrente
principalmente do baixo nível de educação/formação, se perpetue na sociedade.
As analises de Schwartzman e Schwartzman (2004) sobre os dados da
PNAD do ano de 2002 apresentam três indicadores relativos ao desempenho
escolar que são, o analfabetismo, a presença ou ausência à escola e a defasagem
idade-série. Quanto ao analfabetismo, em 2002, apresentava que somente 3,4% da
população entre 10 e 17 anos de idade apareciam na PNAD como analfabeta, entre
os economicamente ativos neste grupo, esse indicador sobe para 4%
26
. Na
população entre 5 e 17 anos, 91,7% dos que não trabalhavam freqüentavam
escolas, em contraste com somente 80,7% dos que trabalhavam. Esses dados,
apesar de identificarem a redução do analfabetismo no país demonstram que ainda
existe um forte a impacto do trabalho da criança e adolescente em relação à
freqüência e aproveitamento escolar.
Quanto à defasagem idade-série, característica bastante generalizada da
educação brasileira, esta apresentava, conforme as informões da PNAD de 2002,
um dos piores índices de repetência escolar em todo o mundo, revelando um atraso
generalizado. Revelavam também que trabalhar significava um atraso adicional de
meio ano aos 10 anos de idade, subindo a um ano e meio aos 14 anos, e se
reduzindo depois, quando muitos dos que trabalhavam e estavam atrasados já
deixaram o sistema escolar. Para se ter uma idéia a respeito do impacto do
abandono dos estudos, a analise do IPEA do PNAD 2006 (2007, p. 18-19) revela
vivem em famílias com renda mensal per capita inferior a meio salário mínimo - mais da metade são
negras e 4,7 milhões integram famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família.
26
Os resultados divulgados pelo IBGE, relativos ao PNAD de 2006 evidenciam redução da taxa de
analfabetismo na faixa etária de 15 anos ou mais, apresentando uma queda de 0,7 p.p em relação a
2005, o que fez recuar o índice brasileiro para 10,2%. Foi na faixa entre os jovens de 15 a 24 anos
que a redução apresenta maiores impactos no médio prazo, reduzindo-se em 17% a taxa de 2005
para 2006 (IPEA, 2007).
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51
que a situação do mercado de trabalho no país, com largas sobras de mão-de-obra,
permite uma seletividade que está excluindo os que possuem menos escolaridade.
Por exemplo, a parcela da população ocupada com pelo menos 11 anos completos
de estudo (ensino básico concluído) praticamente triplicou entre 1992 e 2006,
passando de 11,9 milhões para 33,5 milhões de trabalhadores do início ao final do
período. Em 2006, eles representavam três em cada oito ocupados (37,5%). Em
contrapartida, os trabalhadores menos escolarizados (a3 anos de estudo, menos
que o antigo primário completo) vêm perdendo espaço no contingente total de
ocupados, ano após ano: em 1992 a participação desse grupo de pessoas era de
25,6%, reduzindo-se para 19,7% em 2006.
Contudo, a análise mais detalhada dos dados efetuada por Schwartzman
e Schwartzman (2004) permite identificar as situações mais associadas ao
abandono escolar. Em relação à ocupação, ela é maior entre os que trabalham em
atividades domésticas, e por conta própria. Em relação à atividade, o abandono é
maior entre os que trabalham em atividades industriais e de transportes. Do ponto
de vista regional, o Nordeste e o Sul têm percentagens maiores de abandono do que
as regiões Sudeste e Centro Oeste. O abandono é menor nas regiões
metropolitanas, e maior na zona rural e maior, ainda, entre a população que se
define como “preta”
27
do que entre as demais, identificando os aspectos
ressaltados na formação do povo brasileiro e sua relação de dominação, exploração,
formação do capital e distribuição de renda. No grupo de 15 a 17 anos,
aproximadamente um terço das pessoas já não freqüentavam as escola em 2002. Já
entre 2005 e 2006, identifica-se acréscimo de 27% para 35% da parcela de jovens
ocupados, de uma forma geral, que freqüentam o Ensino Médio (IPEA, 2007).
É importante salientar que apesar destes dados serem interpretados em
função do impacto do trabalho sobre a educação, os mesmos podem ser
interpretados de forma inversa, sobretudo para os grupos de menor idade, que a
ausência à escola leve ao trabalho
28
. Para Schwartzman e Schwartzman (2004, p.
31-32)
27
Em 2004, no Brasil, mais de 800 mil crianças de 7 a 14 anos estavam fora das salas de aula,
dessas, cerca de 500 mil eram negros. A proporção de crianças e adolescentes negros fora da escola
era, nessa época, 30% maior que a média nacional e duas vezes maior que a proporção de crianças
brancas que não estudam (UNICEF, 2005).
28
De acordo ainda com Schwartzman e Schwartzman (2004, p. 31) apesar do acesso à escola estar
praticamente generalizado no Brasil de hoje, a situação da oferta educacional ainda é precária nas
regiões rurais, sobretudo a partir da quinta série do ensino fundamental. Mesmo quando existe escola
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52
Seja pela ausência ou precariedade das escolas, seja pelo atraso
acumulado ao longo dos anos, seja pela desmotivação do meio, seja
pelo desejo de ter alguma renda ppria, o fato é que um grande
número de adolescentes abandona a escola ao redor dos 14 anos, e
a partir daí o trabalho passa a ser uma alternativa de ocupação
razoável, que traz benefícios monetários imediatos, e evita a
ociosidade. Na medida em que isto ocorre, é possível argumentar
que não faz sentido coibir o trabalho de crianças e adolescentes,
sem assegurar que eles tenham condições efetivas de freqüentar
uma escola que o motive e interesse.
Apesar de esforços do Estado brasileiro
29
, é possível observar que os
números apresentados não são nada animadores. O PETI, apesar de estar cheio de
boas intenções em seu bojo e, possuir uma série de instrumentos para sua
consecução como a complementação de renda das famílias através do inicialmente
Bolsa Escola, hoje agregado ao Bolsa Família, se esbarra - principalmente no
processo de descentralização que traz a responsabilidade e a operacionalização do
mesmo aos municípios - na falta ou pouca fiscalização, na cultura patrimonialista e
clientelista e na relação de poder existente entre os agentes que se beneficiam com
a cultura da pobreza
30
. E comum verificar, principalmente em Santo Antônio de
Jesus, crianças e adolescentes realizando atividades, principalmente com produção
de fogos, após o período de atividades escolares ou outra atividade relacionada ao
programa, o que, com certeza, afeta o rendimento escolar.
para adolescentes de 14 a 17 anos, é bastante freqüente, nas áreas rurais e nas periferias urbanas,
que estas escolas funcionem de forma precária, com todos os alunos reunidos em uma única sala de
aula, com professores desmotivados e despreparados, transmitindo conhecimentos que fazem pouco
ou nenhum sentido para os estudantes.
29
Principalmente a partir de 1996, quando foi criado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI) por iniciativa do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho infantil que foi
criado, por sua vez, em 1994 com o apoio da OIT e da UNICEF com o principal objetivo de retirar as
crianças e adolescentes do trabalho garantindo seu acesso, reingresso e permanência na escola.
30
Ver KUSTNER, Rocio C. O programa de erradicação do trabalho infantil na Bahia segundo o olhar
dos atores envolvidos (2005).
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53
3 O MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS E A INDÚSTRIA DE
FOGOS
3.1 CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO
O município de Santo Antônio de Jesus, localizado na Região do Recôncavo
Baiano, localiza-se a 185 km de Salvador (por via terrestre), à margem da BR-101,
limita-se com os municípios de Aratuípe, Conceição do Almeida, Dom Macedo
Costa, Elízio Medrado, Laje, Muniz Ferreira, Nazaré, São Felipe, São Miguel das
Matas e Varzedo (ver fig. 2).
Têm aproximadamente 252 km2 de área, e possui em torno de 84.256
habitantes (IBGE, 2007), sendo cerca de 90% a proporção urbana, (IBGE, 2000). De
acordo com a Superintendência de Recursos Econômicos e Sociais da Bahia SEI,
Santo Antônio de Jesus possui um PIB a preços correntes, com base 2005, de R$
511,65 milhões, o que o classifica como a 25º economia do Estado e o primeiro na
região econômica Recôncavo Sul. Este PIB possui o seguinte peso e importância de
acordo com a sua estrutura setorial, 81,91% o setor de serviços possui o maior
peso, ou seja, o município possui uma estrutura comercial e de serviços bastante
forte e diversificada, o que lhe possibilita assumir uma posição de ponta na região,
garantindo-lhe o papel de principal pólo regional. Em segundo lugar o setor industrial
com 15,93% e, finalmente, o setor agropecuário representa apenas 2,16%. O PIB
per capita a preços correntes é de R$ 5.981,69 atingindo a 38º posição em relação
aos demais municípios baianos. E possível observar que, se a renda fosse melhor
distribuída, Santo Antônio de Jesus teria uma posição de destaque no que se refere
ao desenvolvimento, mas, conforme ocorre em outros municípios baianos à renda e
extremamente concentrada.
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54
0 11 22 33Km
Fonte: SEI, 2006
Figura 02 - Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia, com destaque para Santo
Antonio de Jesus. Fonte: SEI, 2006
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55
3.2 A INDÚSTRIA DE FOGOS – CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS E A SITUAÇÃO
PÓS-ACIDENTE.
O Brasil é o segundo maior produtor de fogos de artifício no mundo, atrás
apenas da China
31
. A maior produção fica no município de Santo Antônio do Monte,
localizado em Minas Gerais, cidade que tem mais 60 fábricas de fogos de artifício
32
.
Outra grande produção está localizada no município de Santo Antônio de Jesus na
Bahia, considerada a maior da região Nordeste. Diferente do que ocorre no
município de Santo Antônio dos Montes em Minas Gerais, onde a produção está
centralizada em grandes empresas que utilizam elevado padrão tecnológico, em
Santo Antônio de Jesus a produção de fogos de artifício merece uma atenção
especial em termos econômico-sociais, não pelo numero de famílias e
trabalhadores envolvidos - mais de 15 mil pessoas trabalham nesta produção de
acordo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Santo Antônio
de Jesus, Aílton dos Santos - mas principalmente pelo elevado grau de
informalidade, utilização de mão de obra infantil, características essencialmente
artesanais e baixíssimo grau de incorporação tecnológica além da mesma se
constituir em uma atividade de alto risco como pôde ser constatado alguns anos
atrás, em dezembro de 1998 quando ocorreu um sério acidente em uma das
unidades produtivas locais, na qual morreram 64 pessoas envolvidas com a
atividade, dentre estas a 59 eram mulheres e 20 eram menores ou adolescentes
(SASAHARA, 2004).
Quanto à origem dessa atividade em Santo Antônio de Jesus, pressupõe-se
que, de acordo com relatos
33
dos moradores dos bairros o Paulo e Irmã Dulce,
essa já possua mais de cem anos de existência é importante destacar que não foi
encontrada nenhuma referência documental. Quanto à utilização dos fogos, em
1603 é noticiado por Frei Vicente do Salvador que no São João deste ano “não havia
faltado fogos
34
“.
Como a utilização de fogos está associada à comemoração de
31
OURIVIO, Marina Santos, Responsabilidade Social Empresarial em Indústrias do Arranjo Produtivo
de Fogos de Artifício de Santo Antônio do Monte/MG, RV Gis - Revista Virtual de Gestão de
Iniciativas Sociais. 2005.
32
Idem.
33
De acordo com essas pessoas, os avós, inclusive muitos desse já falecidos à mais de 10 anos,
fabricavam esses artefatos.
34
BENJAMIN e ARAÚJO, Fogueteiros, artesãos de efêmeros, disponível em
<www.jangadabrasil.com.br> acesso em 14 de junho de 2007.
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56
datas festivas relacionadas aos santos da igreja católica e, principalmente a São
João, tendo a cidade de Santo Antônio de Jesus sido fundada sob forte influência
desta instituição
35
provavelmente, da necessidade da utilizão desses artefatos, se
iniciou, de forma rudimentar, a fabricação de fogos neste município e região
circunvizinha.
A singular organização produtiva no segmento de fogos confere uma posição
de destaque a Santo Antônio de Jesus, constituindo-se no principal cleo produtivo
da Região Nordeste. Contudo, o grau de precariedade das condições de produção
desta atividade e a pouca atenção dispensada por parte do poder público ficou
exposta em acidente ocorrido no dia 11 dezembro de 1998. Este acidente mobilizou
a sociedade e alertou as autoridades em relação aos riscos inerentes à atividade
dando início a uma série de iniciativas que foram tomadas no sentido de melhorar as
condições da produção local e transformar esta atividade em algo rentável,
sinalizando para a possibilidade de geração de empregos com melhores condições
de segurança e garantias para os agentes envolvidos neste processo além de
colocar o Brasil e uma situação bastante comprometedora em relação ao resto do
mundo, ao se tornar réu frente à Comissão Interamericana de Direitos Humanos em
novembro de 2001 (ROCHA, 2008).
Quanto às iniciativas pós acidente, uma delas está relacionada à criação de
uma ONG, o Instituto de Desenvolvimento cio Econômico Sustentável do
Recôncavo Sul/Instituto Fênix, em 1999, uma sociedade civil sem fins lucrativos, que
nasceu a partir da mobilização da própria sociedade tendo como principal desafio
enfrentar as questões relacionadas às atividades pirotécnicas e a busca de
alternativas para revitalização da atividade de produção de fogos no município.
Tendo a partir daí iniciado um processo de desenvolvimento local que, a principio
provocado pela tragédia, deu os seus primeiros passos (entrevista n. 4).
Um dos principais resultados dessa iniciativa foi à implantação do Condomínio
de Produtores, Condomínio de Fogos Fênix/COFÊNIX em 2002, um conceito de
estrutura produtiva moderna que utilizou, para a sua construção, investimentos na
ordem de R$ 1,9 milhões feito pelo Governo do Estado, para compra de terreno,
35
O padre Mateus Vieira de Azevedo é uma das figuras que mais se destacou no processo de
desbravamento do município de Santo Antônio de Jesus. Sua residência, nas proximidades do rio
Sururu foi transformada no primeiro povoado do município (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros,
IBGE, 1958).
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57
construção civil, desenvolvimento tecnológico e consultoria. Este empreendimento
localiza-se numa área de 445 mil m
2
, possui 187 galpões (RAPOSO, 2002).
Após a implantação desse condomínio, ocorreram algumas tentativas de
ocupação que não obtiveram sucesso. A primeira experiência foi feita através da
criação da empresa Cosme e Damião, uma sociedade limitada, constituída a partir
de produtores locais que se associaram. A empresa que comou a operar com
setenta e cinco funcionários, enfrentou uma serie de problemas de natureza
gerencial e, em menos de um ano a empresa fechou.
A segunda tentativa foi com a Brunc, uma empresa de origem espanhola.
Esta empresa tinha como ponto forte à produção de fogos de artifício, inclusive
tendo certa experiência como uma das principais fornecedoras às prefeituras na
Região Nordeste. Trabalhava com uma linha produtiva bem diferente da
desenvolvida em Santo Antônio de Jesus, que sempre produziu fogos pequenos e
individuais. Foi constatado então que não havia mercado no âmbito regional para
demandar o volume de produção de fogos de artifício, na escala necessária para
viabilizar economicamente o negócio. Além disto, a mão-de-obra existente não
possuía a capacitação suficiente para trabalhar, manipular este tipo específico de
produção. Posteriormente a Brunchú tentou adequar-se à realidade regional,
passando a produzir fogos de consumo individual, fogos pequenos tipo traque de
riscar, estalo, bomba, etc., contudo o fato de não possuir experiência nessas linhas
de produção, terminou por inviabilizar o negócio. Até janeiro de 2008 a estrutura
estava subutilizada com apenas duas empresas instaladas no condomínio duas
empresas, a Big Fireworks e recentemente a Brazilian Fireworks ambas
pertencentes a empresários de Minas Gerais. A Big Fireworks produz traque, estalos
e bombas numeradas e, em 2006 empregava apenas trinta e oito funcionários
(entrevista n. 1).
Em linhas gerais, em relação à situação existente pré-acidente,
dezembro/1998, observa-se que ocorreu uma série de mudanças ao nível local em
função dos esforços empreendidos pelas instituições que atuam no município como,
por exemplo, as iniciativas de combate ao trabalho infantil. O PETI Programa de
erradicação do trabalho infantil que foi iniciado na época da explosão em 1998 e
conseguiu tirar algumas crianças que trabalhavam diretamente com a produção de
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58
fogos
36
, contudo não conseguiu resolver completamente o problema, pois o
programa apesar de vincular auxílio à freqüência escolar, por falta de fiscalização,
não impede que as crianças voltem a trabalhar para complementar a renda familiar,
fato que vêm ocorrendo em Santo Antônio de Jesus.
Outro avanço foi a criação Lei Municipal de Normas para Fiscalização e
Regularização das Indústrias de Fogos de Artifício e Produtos Pirotécnicos de Santo
Antônio de Jesus, LEI nº. 665/99 de 28/07/99 que é um conjunto de Leis criado pela
Prefeitura Municipal de Santo Antônio de Jesus juntamente com o Projeto nix e o
Sebrae através do PATME (Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas
Empresas), atualmente denominado de SEBRAETEC, para orientar os interessados
em montar uma empresa de produção de fogos que trata de assuntos semelhantes
ao R-105 - Regulamento para a Fiscalização de Produtos controlados pelo
Exército
37
, conseguindo, inclusive, complementá-lo (entrevista n.4).
Contudo em termos produtivos, observando à organização da produção, as
relações com fornecedores, à qualidade dos produtos, a segurança e as condições
de trabalho, a forma de funcionamento dos negócios, as mudanças efetivamente
ocorridas foram muito poucas, persistindo a mesma organizão produtiva e
mentalidade empresarial que se tinha antes da explosão.
O Instituto Fênix perdeu força e, em conseqüência do insucesso dos projetos
capitaneados por esta instituição, se encontrava inativo, até o mês de janeiro de
2008. Algumas instituições como o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio se
desvincularam desta ONG, alegando que esta não deu a devida atenção ao
problema da ilegalidade nas empresas e todos os problemas que essa situação
acarreta. Por outro lado, representantes de outras Instituições alegam que, devido
às ações iniciais terem sido apoiadas pelo grupo político de Antônio Carlos
Magalhães, acarretou em um boicote das ações, por parte dos grupos discordantes,
e assim, foi quebrado o processo inicial de busca das soluções em conjunto
(entrevista n.4). A falta de maturidade política, comum em maior parte dos
36
Ver KUSTNER, Rocio C. O programa de erradicação do trabalho infantil na Bahia segundo o olhar dos
atores envolvidos, 2005.
37
A legislação para a produção de fogos de artifício e orientação técnica para legalização de
uma empresa deste setor é encontrada no R-105, Regulamento para a Fiscalização de Produtos
controlados pelo Exército e no caso de Santo Antônio de Jesus, na Lei Municipal de Normas para
Fiscalização e Regularização das Indústrias de Fogos de Artifício e Produtos Pirotécnicos.
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59
municípios baianos fez com que, o até então processo de desenvolvimento local
iniciado sofresse uma grande derrota.
Quanto organização produtiva persiste a mesma que se tinha antigamente e
qualquer possibilidade para se pensar na dinamização dessa atividade no município,
em termos do universo de produtores, requer que seja repensada a sua forma de
organizar-se.
3.3 CICLO PRODUTIVO
Em termos do ciclo produtivo, a produção de fogos em SAJ ocorre o ano todo
para atender aos festejos juninos e as celebrações de final do ano, acontecem de
outubro a dezembro. Existem dificuldades para conseguir estocar o produto devido a
situação de informalidade, pouca capacidade de financiar a produção, estreiteza do
mercado, desinformação dos produtores. Toda a organização do processo produtivo
escentrada na forma como se estrutura a distribuição dos insumos e matérias
primas aos produtores e nas condições em que se recolhe o produto manufaturado.
Atualmente em SAJo elaborados os seguintes produtos: a) traque ou
estalo de salão; b) traque de riscar; c) bomba; d) cobrinha; e) chuvinha; f) Sputnik; e
g) vulcão (COOPWORK, 2003).
Para a fabricação desses produtos, utiliza-se uma serie de materiais. As
matérias-primas principais o clorato e perclorato. apenas dois fornecedores no
Brasil: um em São Paulo e outro em Formiga (MG), cidade próxima a SAM. Os
outros insumos e materiais em geral são comprados também na região Sudeste tais
como papel, cola, palito, óxido de ferro, álcool, breu, sulfureto, ácido nítrico, etc. Os
negócios em função do tipo de materiais utilizados e dos produtos manufaturados se
diferenciam em dois conjuntos: produtores de explosivos e produtores de traque de
salão. Os insumos listados acima, excetuando o ácido nítrico, são utilizados para
fabricar os explosivos tais como: bomba, traque de riscar, sputnik, vulcão, cobrinha e
chuvinha. O ácido nítrico só é utilizado para produzir estalo de salão. Em função da
natureza do material e do baixo risco, a produção de estalo de salão o é
controlada pelo Exército (idem, 2003).
Controlando a matéria prima necessária à produção de explosivos e traque de
salão, têm-se então condições de caracterizar como se estrutura a base produtiva
de Santo Antônio de Jesus. Contudo, apesar do controle da matéria prima, ser de
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60
atribuição do exército, também existe a produção de pólvora clandestina conforme
afirma Aílton, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Santo
Antônio de Jesus:
Foi efetuado um levantamento da produção de pólvora e fomos até
Teolândia em uma ação até muito arriscada juntamente com
pessoas fórum de direitos humanos. A mesma tática que é usada no
tráfico de drogas se usa com produção de fogos, para se ter um
idéia entramos dezoito quilômetros pelo município de Teolândia até
o arraial e depois mais quatro quilômetros dentro dos matos para
descobrir uma produção de pólvora que produzem de forma
clandestina que fazem para distribuir esta aqui na região (entrevista
n.2).
Em termos do processo produtivo, a primeira etapa do processo, está
relacionada com a produção da massa. Trata-se de uma operação em que se
combina alguns insumos e matérias primas, para se obter a pólvora e outros
preparados que irão dar vida aos produtos. Esta operação é conduzida pelos
trabalhadores fixos, chamados de manipuladores da massa. Trata-se de uma
operação de alto risco, em que as proporções de cada insumo e materiais a serem
misturados, tem de ser feitos de forma criteriosa e com exatidão. As empresas
locais, além de operarem produzindo diretamente os produtos, tendo toda uma
estruturação própria, tamm subcontratam boa parte da produção. Esta
subcontratação num primeiro momento ocorre com o fornecimento da massa aos
produtores. A maior empresa produtora local, por exemplo, fornece matéria-prima
para aproximadamente umas 500 pessoas. As pessoas de sua confiança pessoal,
recebem a matéria prima bruta. Outras recebem processada. Em geral esses
produtores, em torno do qual opera uma unidade familiar, são especializados por
produto. quem produza só cobrinha, outros produzem traque de riscar, outros
trabalham com estalo de salão, etc. uma singular divisão de trabalho no espaço
produtivo de Santo Antônio de Jesus. Segundo a opinião de alguns observadores
locais, a maior empresa de Santo Antônio de Jesus, articula em torno do seu
negócio, algo em torno de 500 produtores diretos, e estes organizam
aproximadamente entre sete a dez mil pessoas, pois cada produtor individual tem
seu grupo de trabalho formado, variando entre dez a vinte pessoas
aproximadamente, que desenvolvem suas atividades principalmente nas zonas
rurais (COOPWORK, 2003).
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61
Observando essa relação, entre a maior empresa local e os produtores,
pelo menos duas formas possíveis de funcionamento do sistema, considerando os
termos da relação comercial proposta referente à utilização da massa (idem, 2003):
a) O produtor compra a massa, manufatura os produtos, embala provisoriamente e
depois vende os fogos a qualquer comprador, inclusive comerciante de fogos.
Este produtor possui um grau de autonomia maior, pois vende o seu produto a
quem quiser;
b) um outro conjunto de produtores, que compram a massa “fiado” para pagar
depois. Neste caso, o valor da massa a ser paga é definida previamente e será
vinculada a quantidade de produtos que ele deverá produzir. Além disso o
produtor compromete-se a entregar toda a sua produção ao fornecedor da
massa. Em geral, em tal situação, se paga um valor mais alto pela massa,
enquanto que produto recebe um valor menor.
Além desse singular sistema operando, alguns produtores em Santo Antônio
de Jesus, que conseguem fugir desse esquema, comprando matérias primas e
insumos, diretamente de outros fornecedores quer localmente ou em Santo Antônio
dos Montes, no chamado mercado negro, pagando preços extremamente elevados
pelos produtos. Conseqüentemente sua capacidade produtiva e competitiva no
mercado de produtos, tende a ser bastante restrita.
Em síntese, tentando caracterizar uma tipologia produtiva local, pode-se afirmar
que há pelo menos quatro tipos de unidades produtivas (COOPWORK, 2003).
Existem empresas mães, quatro formalmente constituídas;
Identifica-se vinculados a essas empresas, aproximadamente quinhentos
produtores avulsos, que operam informalmente e se distribuem em dois sub-
conjuntos: a) Produtores Independentes, vendem o resultado da produção
para quem quer, e b) Produtores Subordinados, vendem o produto para o
fornecedor da massa;
Produtores locais que conseguem comprar a matéria prima de outras fontes.
Este conjunto de unidades produtivas, formais e informais, está estruturado de
forma bastante diferenciada. Provavelmente as empresas mães, devem possuir
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62
certa estrutura gerencial, são legalizadas, possuem relões diretas com
fornecedores e com o mercado consumidor, controlam de alguma forma a qualidade
dos produtos, assalariam parte da força de trabalho que utilizam, informalizam o
restante, etc. Os outros três conjuntos produtivos identificados operam em condições
bastante adversas. Além das dificuldades relacionadas com o fornecimento das
matérias primas e insumos, em sua grande maioria são negócios não legalizados,
informais, que dependem fundamentalmente das decisões da empresa mãe ou se
arriscam em operações com outros fornecedores que importa certo risco. Estas
unidades em geral, possuem uma limitada estrutura gerencial e a organização do
processo produtivo é quase todo informal, funcionado em geral de forma cooperativa
nas residências, nem sempre dispondo de meios de segurança, condições
ambientais adequadas e utilizam de trabalho infantil. Tamm esses produtores
possuem uma capacidade limitada de negociação e não tem visão estratégica do
negócio. Podem até apresentar uma elevada produtividade, considerando os
padrões técnicos locais, é possível até que alguns produtores possuam um elevado
espírito empreendedor, mas seguramente que as chances de conseguirem
aproveitar as oportunidades para se transformarem em empresas efetivas, são muito
difíceis (idem, 2003).
Os agentes sociais que participam e interferem nesta atividade são os
seguintes:
(a) os proprietários dos meios de produção;
(b) os produtores;
(c) o estado;
(d) os trabalhadores.
Com base nas entrevistas, foi possível distinguir três tipos de proprietários de
produção, o legalizado que contrata mão de obra legalizada para a fabricação de
fogos de artifício, o legalizado que além de usar mão de obra legalizada tamm
subcontrata e terceiriza com produtores e mão de obra informal e o informal, que
não possui registro e utiliza de mão de obra não legalizada.
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63
3.4 MOBILIZAÇÃO E RESULTADOS DO “EMBATE”
Nesses últimos anos uma série de eventos vêm sendo promovidos em Santo
Antônio de Jesus, no intuito de discutir a atividade de fogos em todo o seu processo
(fabricação, distribuição e venda)
38
. É importante destacar, contudo que todos esses
eventos foram provocados, devido a má impressão deixada pelo município de Santo
Antônio de Jesus, pelo Estado da Bahia e pela União respectivamente, ao tratar da
questão da explosão ocorrida em 1998. Devido à morosidade e do clima de
impunidade que havia se estabelecido até então, em novembro de 2001, o
Movimento 11 de Dezembro (formado por vítimas e familiares), juntamente com a
Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Subseção
Salvador, o rum de Direitos Humano de Santo Antonio de Jesus, Ailton José dos
Santos - coordenador do Pólo Sindical de Santo Antônio de Jesus -, o deputado
estadual Yulo Oiticica e o deputado federal Nelson Pellegrino apresentaram a
denúncia sobre o caso na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA). A partir desse momento o Brasil se
tornou réu frente à Comissão Interamericana no caso conhecido como Explosão de
Fábrica Clandestina de Fogos de Articio (Caso 12428). Em outubro do ano
passado, em audiência realizada em Washington (EUA), o Estado Brasileiro
assumiu a sua responsabilidade na explosão da fábrica e iniciou um processo de
solução amistosa junto aos peticionários se comprometendo a realizar a reparação
moral e material para as famílias das vítimas e sobreviventes (ROCHA, 2008).
A partir da posse do governador Jaques Wagner em janeiro de 2007, a
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República SEDH/PR
m mantendo contato com o Governo Estadual no sentido de estabelecer uma
articulação - que ficou prejudicada durante os governos anteriores sobre o controle
do grupo político de Antônio Carlos Magalhães - entre a União e o Estado da Bahia,
para que fosse iniciado um processo onde fosse viabilizada uma solução amistosa
relativa à explosão da fabrica de fogos em Santo Antônio de Jesus, nos termos do
38
Em 2007 ocorreram dois grandes eventos, o III Seminário de Combate a Fabricação e
Comercialização Clandestina de Fogos de Artifício e Estampido realizado em junho de 2007,
promovido pela própria prefeitura de Santo Antônio de Jesus e o I Seminário de Combate ao Trabalho
Infantil na Indústria de
Confecção de Fogos de Artifício realizado em Santo Antônio de Jesus em
setembro de 2007, promovido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, Ministério do Trabalho e
Emprego, Delegacia Regional do Trabalho na Bahia e Núcleo de Apoio a Programas Especiais
NAPE.
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64
conceito jurídico do Sistema Interamericano dos Direitos Humanos. Como resultados
dessas articulações vêm sendo realizados, desde maio de 2007, uma série de
encontros e reuniões com uma ampla e diversificada participação de diversos
órgãos estaduais, federais e do município de Santo Antônio de Jesus, familiares das
vítimas da explosão, integrantes do Movimento 11 de Dezembro, as entidades
peticionarias, parlamentares, organizações sociais, representantes do Ministério
Público, do Judiciário, dentre outros. Na primeira reunião foram constituídos dois
Grupos de Trabalho: um responsável pela integração dos órgãos federais e
estaduais que atuam nas áreas de Fiscalização, visando coibir as irregularidades e
ilegalidades verificadas na produção de fogos no município e um outro, a ser
coordenado conjuntamente pela SJCDH e a SICM, cujo objetivo seria construir
propostas e alternativas para a geração de trabalho e renda e a definição de
estratégias de desenvolvimento sustentável e inclusão produtiva das famílias e
pessoas envolvidas na produção clandestina de fogos de articio na região (idem,
2008).
O grupo de trabalho responsável pela elaboração de propostas de geração de
trabalho e renda reuniu-se pela primeira vez em junho de 2007, no auditório da
SICM, em Salvador, e, desde então, foram realizadas várias reuniões deste Grupo,
sendo duas no município de Santo Antônio de Jesus: a primeira no dia 24 de julho
de 2007, onde ocorreu uma visita ao Projeto nix e contato com produtores e a
segunda, em 26 de setembro de 2007, quando foi realizado um seminário que
mobilizou dezenas de produtores e trabalhadores envolvidos com a produção de
fogos e foi coletadas uma série de sugestões de todos os grupos envolvidos e,
posteriormente delineadas propostas para solução deste grande problema que é o
da indústria de fogos em Santo Antônio de Jesus e região circunvizinha (ibidem,
2008).
O maior desafio desse grupo de trabalho, após todo o processo de discussão
que envolveu representantes de diversos órgãos públicos e dos movimentos sociais,
nos debates realizados nas reuniões em Salvador ou nos eventos de Santo Antônio
de Jesus, é a conjugação das demandas e expectativas com os programas, projetos
e ações a serem desenvolvidas pelas múltiplas instituições que integram o grupo, na
perspectiva de uma estratégia de desenvolvimento local para a região, ancorada nos
pontos apresentados abaixo conforme consta no documento síntese do grupo de
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65
trabalho, “Alternativas de Inclusão Produtiva e Desenvolvimento Sustentável no
Município de Santo Antônio de Jesus”:
- Uma profunda redefinição da atividade pirotécnica na região, a partir de métodos
de gestão empresariais condizentes com as normas nacionais e internacionais de
segurança, proteção ao trabalho, legalização e controle dos processos de produção
e comercialização, bem como a coibição de quaisquer formas de precarização do
trabalho, sob a coordenação da SICM/SUDIC, em articulação com os demais órgãos
que podem atuar na modernização/formalização da atividade;
- a implementação de novos investimentos produtivos na região, em ações
integradas que articulem as políticas agrícolas, industriais e/ou de serviços a serem
desenvolvidas na região, as políticas educacionais, de formação e capacitação de
mão-de-obra, as ações de fortalecimento dos processos de gestão empresarial, a
expansão do microcrédito orientado, o desenvolvimento tecnológico, a difusão e o
fomento sistemático às diversas alternativas de organização de empreendimentos
econômicos solidários, dentre outros aspectos;
- a priorizão da região no que se refere às ações e serviços desenvolvidos pelas
diversas políticas sociais, direcionadas pela necessária integração dos esforços
entre as esferas federativas e a participação efetiva da sociedade civil;
- a identificação de alternativas produtivas agropecuárias e/ou agroindustriais que
possuam viabilidade econômica e possibilitem a estruturação de empreendimentos
organizados sob os princípios da economia solidária;
- a necessária integração das estratégias e ões construídas por este Grupo de
Trabalho com aquelas a serem elaboradas pelo grupo de trabalho responsável pelas
ões de Fiscalização, cumprindo alguns dos procedimentos que envolvem uma
solução amistosa relativo ao caso da explosão da fábrica de fogos em Santo Antônio
de Jesus.
Após diversas reuniões, realização de diagnóstico e realização de seminário
participativo com representação dos produtores e pessoas que direta ou
indiretamente estão envolvidas com a produção de fogos no município de Santo
Antônio de Jesus e região, os órgãos, instituições e entidades sugeriram uma rie
de propostas a serem apresentadas através de planejamento constando ação,
metas, parceiros e outros itens inerentes a este instrumento (ROCHA, 2008). Muitas
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destas sugestões apresentadas pelas instituições que participam dessa construção
coletiva já haviam sido apresentadas, anteriormente no processo inicial s-acidente
(entrevista n.4), contudo, nesse momento, devido inclusive ao compromisso firmado
pelas autoridades brasileiras, observa-se uma maior maturidade e seriedade do
grupo/instituições participantes.
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5 COLETANDO INFORMAÇÕES, IMPRESSÕES E DADOS
Conforme apresentado anteriormente, a pesquisa de campo além e buscar
retratar o mercado de fogos no município de Santo Antônio de Jesus e região
circunvizinha, e as pessoas que fazem parte dele, teve como objetivo a confirmão
das informações apresentadas na discussão bibliográfica, nessa população e
atividade específica. As análises estão disponibilizadas a seguir seguindo uma
seqüência lógica de apresentação.
ADOLESCENTES E ADULTOS QUE TRABALHAM NA PRODUÇÃO DE TRAQUE
DE BATER/ESTALO.
Propor que crianças e adolescentes trabalhem, representa aceitar,
passivamente, que o processo que agora vitimiza os pais de família
seja estendido para os seus filhos, transformando a miséria num
processo cíclico e com diminutas possibilidades de reversão”.
GERSON ESTRÊLA.
Para efeito de pesquisa - com foco crianças, adolescentes e mulheres que
trabalham nessa atividade -, inicialmente as respondentes por se tratar só de
mulheres - foram separadas em adolescentes
39
e adultos que são as pessoas acima
de 18 anos. Apesar de existirem pessoas com mais de 60 anos nessa atividade – foi
entrevistada um senhora de 67 anos –, para efeito de tabulação forma incluídas na
fase adulta. No bairro Irmã Dulce/Mutum da amostra foram entrevistadas apenas
duas adolescentes e o restante de mulheres adultas conforme representado na
figura 3.
39
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA/Lei 8069 de 1990, essa fase começa
aos 12 e vai até os 18 anos.
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68
Figura 3 Gráfico adolescentes x adultos - Bairro Irmã Dulce/Mutum
Fonte: Dados da pesquisa
No bairro São Paulo foi entrevistada apenas uma adolescente e o restante da
amostra de mulheres adultas representadas graficamente a seguir.
Figura 4 - Gráfico adolescentes x adultos - Bairro São Paulo
Fonte: Dados da pesquisa
É possível observar, portanto, que nas duas amostras, existe uma
similaridade quanto ao percentual de adolescentes e adultos que trabalham com a
produção de fogos traque de bater/estalo nas residências em ambos os bairros.
Esses dados acima poderiam parecer que uma minimização do trabalho infantil
devido à influência do PETI em Santo Antônio de Jesus, contudo esse estudo foi
Adolescentes x Adultos - Bairro São Paulo
10%
90%
Adolescentes
Adultos
Fonte: Dados da pesquisa
9%
91%
Adolescentes
Adultos
Adolescentes x Adultos
-
Bairro Irmã Dulce/Mutum
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69
realizado pela manhã, horário em que adolescentes e crianças estão, em sua
maioria, na escola. Para averiguar essa informação foi efetuada tamm a pergunta,
quantas pessoas em cada residência trabalham na produção de fogos? E, qual as
idades dessas pessoas? Apesar da forte resistência para responder a essas
perguntas - sobretudo quanto crianças e adolescentes na produção, devido ao
medo de perder os benefícios atrelados ao PETI/Bolsa Família - o que, a principio
poderia distorcer os dados, muitas entrevistadas responderam fazendo com que
houvesse uma alteração nos resultados apresentados inicialmente conforme
apresentado nas tabelas 1 e 2 e nas figuras 5 e 6.
TABELA 1 – Pessoas que trabalham com produção de fogos Traque
de bater/estalo – por fase e gênero – Bairro Irmã Dulce/Mutum
Gênero
Mulheres Homens
Crianças 9 1
Adolescentes 13 2
Adultos 31
Fonte: Dados da pesquisa
A partir desses dados pode se notar a inclusão de crianças
40
, e pessoas do
sexo masculino, o que modifica o gráfico inicial, conforme pode ser verificado na
figura 5. Durante a visita a este bairro foi possível averiguar alguns homens na idade
adulta nas residências, contudo, estes ficavam olhando as mulheres e crianças
trabalhando nessa atividade, mas se recusavam a fabricar, enrolar o traque. De
acordo ainda com as informações coletadas, alguns homens - como o marido da
Sra. Zenaide Braga, uma das respondentes do questionário -, trabalham na
produção da massa, matéria prima para a confecção do traque de bater/estalo de
salão.
40
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, criança é a fase que contempla a
pessoa até 12 anos de idade incompletos.
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70
Figura 5: Gráfico pessoas que trabalham com produção de fogos Traque de bater/estalo Bairro
Irmã Dulce/Mutum.
Fonte: Dados da pesquisa
A partir da inclusão dos demais moradores e possível verificar que é alto o
percentual de crianças e adolescentes nesta atividade - mesmo com a sonegação
de informação por parte de alguns respondentes.
TABELA 2 – Pessoas que trabalham com produção de fogos –
Traque de bater/estalo – por fase e gênero – Bairro São Paulo.
Fase
Gênero
Mulheres Homens
Crianças - -
Adolescentes 2 3
Adultos 18 1
Fonte: Dados da pesquisa
No bairro o Paulo, não foi informado a utilização de crianças na fabricação
de fogos, porém, é importante registrar o medo que as pessoas possuem em
decorrência do auxílio dado pelo PETI que é atrelado ao benefício do programa
Bolsa Família. Contudo, foi verificado - e acrescentado a esta nova tabulação - uma
maior participação de adultos e homens nesse bairro. Outro detalhe, também
observado nessa amostra, foi à existência de apenas um homem na fase adulta
Pessoas que trabalham com produção de fogos -
traque de bater/estalo - por fase -
bairro Irmã
Dulce/Mutum
18%
27%
55%
Crianças
Adolescentes
Adultos
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trabalhando com fogos, contudo essa fase adulta está bem próxima da
adolescência, já que esse adulto dessa pesquisa possui apenas 19 anos.
Figura 6 – Gráfico pessoas que trabalham com prodão de fogos – traque de bater/estalo – por fase
– Bairro São Paulo.
Fonte: Dados da pesquisa.
A partir dessas novas informações e possível averiguar, mesmo o sendo
informado o numero de crianças na amostra relativa a esse bairro, que a
participação de adolescentes aumenta em relação a figura 4 - onde são computadas
apenas as respondentes em uma quantidade muito próxima ao do bairro Irmã
Dulce/Mutum.
Outro dado importante é que o numero de mulheres por residência é maior,
destacando que, o desemprego nos bairros visitados atinge mais as mulheres e, a
única atividade que absorve a maioria, é a produção de fogos. Sem contar às
mulheres que possuem outra atividade e também produzem fogos para
complementar a renda.
De acordo com entrevistas e informões coletadas, o Programa de
Erradicação Infantil – PETI, que foi implantado em Santo Antônio de Jesus logo apos
o acidente ocorrido em 1998, reduziu essa incidência no primeiro momento, contudo,
devido aos diversos fatores que contribuem para a continuidade dessa situação, a
participação do trabalho da criança e adolescente voltou a se elevar. De acordo
com André Gustavo Barbosa, funcionário do Sebrae que foi, além gerente da
Pessoas que trabalham com produção de fogos
-
traque de bater/estalo
-
por fase
-
Bairro São Paulo
21%
79%
Adolescentes
Adultos
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72
Agência desta instituição em Santo Antônio de Jesus, um dos diretores do Instituto
Fênix:
Logo após a explosão nós começamos um trabalho junto com essas
crianças, foram mil e quinhentas crianças que foram tiradas da
atividade de fogos com o programa de erradicação do trabalho
infantil (PETI) que funcionou no centro de Santo Antônio de Jesus.
Então naquele momento nos conseguimos tirar essas crianças
dessa atividade, mas, com o passar do tempo às crianças
começaram a voltar à atividade de produção e hoje, têm muitas
dessas crianças que ainda estão nesse programa, muitos estão na
escola, outras saíram da faixa etária que é prevista no programa
mais, com certeza, ainda existe muita criança trabalhando porque é
uma atividade em que essas famílias que pegam essa matéria prima
para produzir, elas ganham por produção, por produtividade, então
quanto mais elas produzirem mais elas ganham (entrevista no. 4).
Essa informão indica que, a continuidade do trabalho infantil nessa
atividade é motivada pela necessidade do aumento da produção e conseqüente
aumento dos rendimentos familiares e que, portanto, não é visto como algo nocivo,
mas necessário à própria subsistência familiar conforme havia sido identificado
por Kustner (2005, p.1).
A informação sobre a eficiência do PETI nos primeiros anos de implantação é
confirmada por Aílton dos Santos, coordenador do Pólo Sindical e presidente do
sindicato dos trabalhadores do comércio em Santo Antônio de Jesus, “o PETI,
quando veio para na época da explosão [...], este consegue tirar algumas
crianças que trabalhavam diretamente com a produção de fogos, ajudou, mas não
resolveu, mas ajudou muito e amenizou a situação”, portanto a situação do trabalho
infantil ainda persiste conforme acrescenta o próprio Aílton:
As mães terminam incluindo seus filhos para trabalhar como forma
de compensar trabalhando muito para ver se ganha algum dinheiro.
Então ainda uma exploração do trabalho infantil. Acho que não
na mesma proporção do que se tinha antes mesmo porque na
fabrica clandestina as crianças iam junto, hoje as crianças não vão
mais, trabalham dentro de casa então, ainda essa exploração
(entrevista n. 2).
O que ratifica o argumento de que as crianças o levadas para o trabalho
pelas mães que os levam por não ter ninguém com quem deixa-los. Com isso, estes
acabam desenvolvendo alguma atividade, além de, é claro, de exercerem atividade
remunerada - no caso em questão a produção de fogos - para aumentar o
orçamento familiar ratificando trabalho de Kustner (2005).
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73
ESCOLARIDADE
O vel de escolaridade é um item analisado para a averiguação do acesso a
educação entre as faixas etárias/fases. A tabela 3 apresenta o resultado do perfil
dos respondentes e demais moradores de suas residências nos dois bairros que,
foram separados em quatro faixas de escolaridade; de analfabeto a fundamental
41
incompleto, do fundamental completo ao ensino médio
42
ou profissionalizante
43
incompleto, do ensino médio profissionalizante completo a nível superior incompleto
e a finalmente a faixa de nível superior completo. Posteriormente, para uma melhor
visualizão dessas informões nos dois bairros, foi elaborado o figura 7 a partir
dos dados da tabela 3.
TABELA 3 - Índice de escolaridade por fase nos bairros Irmã Dulce/Mutum e São Paulo.
Escolaridade
Bairro Irmã Dulce/Mutum
Bairro São Paulo
Total
Crianças
Adolescentes
Adultos
Crianças
Adolescentes
Adultos
Analfabeto / Fundamental
incompleto
10 4 2 - 1 2 18
Fundamental completo / Ensino
médio – profissionalizante
incompleto
- 8 27 - 3 15 53
Ensino médio
profissionalizante completo /
Nível superior incompleto
- 3 2 - 1 3 9
Nível superior completo
-
-
-
-
-
-
-
Fonte: Dados da pesquisa
41
O ensino fundamental é uma das etapas da educação básica no Brasil, tem duração de nove anos,
sendo a matrícula obrigatória para todas as crianças com idade entre seis e 14 anos. A
obrigatoriedade da matrícula nessa faixa etária implica na responsabilidade conjunta: dos pais ou
responsáveis, pela matrícula dos filhos; do Estado pela garantia de vagas nas escolas públicas; da
sociedade, por fazer valer a própria obrigatoriedade.
42
Desde 1996, no Brasil, corresponde ao ensino dio a etapa do sistema de ensino equivalente à
última fase da educação básica chamado de segundo grau, cuja finalidade é o aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, bem como a formação do cidadão para a vida
social e para o mercado de trabalho, oferecendo o conhecimento básico necessário para o estudante
ingressar no ensino superior.
43
O Ensino profissionalizante no Brasil é uma categoria de cursos escolares (chamados
freqüentemente de cursos técnicos) destinados a formar profissionais de nível técnico. Há a opção de
se fazer esses cursos integrados com o ensino médio ou separados, à partir do término do 2º ano do
ensino médio.
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74
Figura 7 Gráfico grau de escolaridade nos Bairros Irmã Dulce Mutum e São Paulo.
Fonte: Dados da pesquisa.
A partir da tabela 3 e a figura 7 é possível analisar que na amostra, a maior
parte dos adolescentes e adultos, residentes nos dois bairros trabalhados, ainda
esna faixa que abrange o ensino fundamental completo ao ensino médio e/ou
profissionalizante incompleto com um total de 66%. É importante destacar que parte
dos adolescentes ainda está cursando o ensino fundamental ou o médio, enquanto
os adultos que se encontram nessa faixa, aí estão devido ao abandono dos estudos
em uma dessas etapas. Nos dois bairros é possível verificar, também, que não
existe nenhum morador que esteja cursando o nível superior, evidenciando a
dificuldade que uma pessoa da classe mais baixa possui para chegar a uma
faculdade, na amostra em analise a possibilidade para que isso ocorresse foi de 0%,
ou seja, nenhuma chance. Foi observada tamm, a existência de adultos
analfabetos, tanto no bairro Irmã Dulce/ Mutum como no bairro São Paulo.
Essas informações confirmam que as pessoas das classes mais baixas,
devido à necessidade de ajudar no orçamento familiar, iniciam-se no trabalho
prematuramente e acabam abandonando os estudos, conforme verificado nas
analises do trabalho de Schwartzman e Schwartzman (2004). Outro fator também
que eleva a estatística da baixa escolaridade entre os adultos nesta amostra, é a
questão da existência poucas escolas na zona rural - de onde parte dessa
população que mora na periferia migrou - que, apesar de ser um grande problema
Grau de escolaridade nos Bairros Irmã
Dulce/Mutum e São Paulo
23%
66%
11%
Analfabeto / Fundamental
incompleto
Fundamental completo /
Ensino médio
profissionalizante incompleto
Ensino médio –
profissionalizante complete/
Nível superior incompleto
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75
ainda hoje com, inclusive maior índice de abandono, principalmente nas regiões
Nordeste e Sul, conforme verificado nas analises de Schwartzman e Schwartzman
(2004), já foi muito maior no passado.
Essa situação colaborou, e ainda colabora, para que muitas pessoas
permaneçam no trabalho informal devido à falta de uma boa formação profissional e
qualificação, conforme ressaltou o médico Gerson Estrela em sua apresentação
durante o I Seminário de Combate ao Trabalho Infantil na Indústria de Confeão de
Fogos de Artifício realizado em Santo Antônio de Jesus em setembro de 2007.
MULHERES CASADAS OU QUE VIVEM COM COMPANHEIRO
Este item foi adicionado para a verificação de que essas mulheres além de
permanecerem em suas casas para efetuarem a criação dos filhos e cuidado à
família, acabam complementando o orçamento familiar com a produção de traque de
bater/estalo de salão, devido à flexibilidade dessa atividade enquanto os maridos ou
companheiros fazem outro tipo de atividade.
Figura 8 – Gfico mulheres casadas ou que moram com companheiro x mulheres solteiras ou viúvas
– Bairro Irmã Dulce/Mutum
Fonte: Dados da pesquisa
Mulheres casadas ou que moram com companheiro x mulheres
solteiras ou viúvas -
Bairro Irmã Dulce/Mutum.
78%
22%
Casada ou vivem com
companheiro
Solteira ou Viuva
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76
Figura 9 – Gfico mulheres casadas ou que moram com companheiro x mulheres solteiras ou viúvas
– Bairro São Paulo.
Fonte: Dados da pesquisa
A situação é praticamente a mesma no bairro Irmã Dulce/Mutum e o bairro
São Paulo. Maior parte das mulheres é casada ou vivem com companheiro.
O que a principio poderia confirmar que as mulheres trabalham neste
mercado para manter as famílias na ausência masculina, ou na ausência de alguém
que cuide das crianças enquanto elas trabalham, o que não se confirma com os
números apresentados. Além de ser altamente necessário o trabalho da mulher para
manutenção do orçamento familiar, estas tem nesta atividade, a possibilidade de, ao
mesmo tempo em que trabalham, cuidar dos filhos que, nas classes mais baixas fica
sobre a responsabilidade da mulher. Além de ter que gerar renda, trabalhar, a
mulher é responsável pela manuenção da unidade familiar
44
.
Durante o processo de aplicação de questionários ocorreram inúmeros relatos
de mulheres que atribuem à criação dos filhos a atividade dos fogos como o de
Maurina Santos, moradora do bairro Irmã Dulce, que afirmou: “criei meus filhos
através do traque”.
Situação profissional por gênero.
Nas tabelas 4 e 5 e nas figura 10 e 11 o apresentados o número de
pessoas que trabalham de acordo com o gênero, mas não possuem na produção de
44
Conforme verificado nos trabalhos de Yannoulas (2002) e Kustner (1998).
80%
20%
Casada ou vivem
com companheiro
Solteira ou Viuva
Mulheres casadas ou com que moram com companheiro x
mulheres solteiras ou viúvas -
Bairro São Paulo.
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fogos a sua principal atividade e se trabalham no mercado formal/com carteira
assinada ou informal/sem carteira.
TABELA 4 – Situação profissional por gênero de pessoas em
que a produção de fogos não é atividade principal Bairro
Irmã Dulce/Mutum
Situação Profissional
Gênero
Homens Mulheres
Trabalho sem carteira
11 2
Trabalho com carteira
7
-
Desempregado
1
-
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 10 – Gfico Situação profissional por gênero de pessoas em que a produção de fogos não é
a atividade principal – Bairro Irmã Dulce/Mutum.
Fonte: Dados da pesquisa
Trabalho sem
carteira
Trabalho com
carteira
Desempregado
0
2
4
6
8
10
12
Mulheres
Homens
Situação pro
fissional por gênero de pessoas em que a
produção de fogos não é a atividade principal
Bairro Irmã Dulce/Mutum.
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TABELA 5 – Situação profissional por gênero de pessoas em que
a produção de fogos não é atividade principal Bairro o Paulo
Situação Profissional
Gênero
Homens Mulheres
Trabalho sem carteira
4 1
Trabalho com carteira
3 1
Desempregado
- -
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 11 – Gfico Situação profissional por gênero de pessoas em que a produção de fogos não é
a atividade principal – Bairro São Paulo.
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando esses gráficos e tabelas e possível confirmar, através dessa
amostra, que sem contar a produção de fogos, existe uma maior participação do
homem no mercado informal. Essa característica é encontrada tanto no bairro irmã
Dulce/Mutum como no bairro São Paulo. O trabalho exercido por essas mulheres, no
caso dessa amostra, se resume a atividade de diarista, no único caso informado
de carteira assinada, a pessoa trabalha como servente na prefeitura, ou seja,
depende de emprego público.
a situação dos homens, pode ser observada uma pequena diferença
percentual entre os bairros São Paulo e o Irmã Dulce, referente ao trabalho com
carteira/formal com o trabalho sem carteira/informal. No bairro irmã Dulce/Mutum,
Trabalho
sem
carteira
Trabalho
com
carteira
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Mulheres
Homens
Situação profissional por gênero de pess
oas em que a produção de fogos
não é a atividade principal – Bairro São Paulo
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levando em consideração, que foram considerados como informal os trabalhos
eventuais conhecidos como “bicos” ou “biscates”, ou outras atividade mais
constantes - em sua maioria pedreiro ou ajudante de pedreiro -, e que o
desempregado informado nessa pesquisa tamm exerce esse tipo de atividade,
que, quem acaba exercendo essas funções, em sua maioria, começa por falta de
oportunidade no mercado tradicional, este poderia estar incluído como trabalhador
informal. É importante destacar que, nas classes menos privilegiadas é difícil uma
pessoa adulta ficar sem trabalhar, sob risco de comprometer o orçamento familiar.
Por esse motivo todos acabam exercendo alguma atividade, mesmo que
temporária/eventual. Devido a esse fato, e tão difícil mensurar o tamanho e a
abrangência do trabalho informal, que muitas dessas pessoas citadas aparecem
nas estatísticas oficiais como desempregado.
O outro grupo de trabalhadores informais identificados nessas amostras, em
minoria, são aqueles que trabalham durante toda a semana, mas o possuem
carteira assinada.
Com a inclusão da fabricação de fogos a apresentação dos gráficos
apresentam nova configuração, revelando uma maior participação da mulher no
mercado informal conforme figuras 12 e 13.
Figura 12 – Gfico da situação profissional por gênero com a inclusão da fabricação de fogos
Bairro Irmã Dulce/Mutum
Fonte: Dados da pesquisa
Situação profissional por gênero com a inclusão da
fabricação de f
ogos
Bairro Irmã Dulce/Mutum
Trabalho
Sem carteira
Trabalho
com
carteira
Desempregado
0
5
10
15
20
25
30
35
Mulheres
Homens
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80
Figura 13 – Gfico da situação profissional por gênero com a inclusão da fabricação de fogos.
Fonte: Dados da pesquisa
Com a inclusão da fabricação de fogos e possível averiguar que o numero de
mulheres no mercado informal aumenta nos dois bairros, confirmando a literatura
utilizada (YANNOULAS, 2002; KUSTNER, 1998) que sinaliza para um maior numero
de mulheres nesse mercado, devido às características de descontinuidade que faz
com que os trabalhos em tempo parcial, ocasionais ou sazonais, típicos do mercado
informal sejam mais freqüentes entre elas como resposta à necessidade de
harmonizar o desempenho doméstico e profissional.
Outro fator também analisado a partir do trabalho de Yannoulas (2002), está
na característica de destreza e habilidade manual, presente na fabricação dessas
miudezas ou coisas da terra, como é conhecida a linha de produção de fogos em
Santo Antônio de Jesus.
São muitos os motivos apresentados para o grande desemprego,
principalmente para as pessoas que moram da periferia, em Santo Antônio de
Jesus. Além da baixa escolaridade apresentada e analisada anteriormente, inclusive
característica presente na analise do IPEA referente ao PNAD 2006 (2007)
45
, outro
grande problema registrado nas falas durante os eventos, entrevistas e aplicações
de questionários e quanto à discriminação com as pessoas que moram
45
Apresentada no capítulo 3.
Trabalho
sem
carteira
Trabalho
com carteira
Situação profissional por gênero com a inclusão da
fabricaçã
o de fogos
-
Bairro São Paulo
0
5
10
15
20
25
Homens
Mulheres
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principalmente no Bairro Irmã Dulce, antigo Mutum pela população de Santo Antônio
de Jesus. Foi verificado que as pessoas não conseguem emprego quando informam
que residem nesse bairro. Conforme relato de João Batista Costa:
O próprio comércio que é a fonte de emprego não aceita as pessoas
de periferia, são julgados, são sacrificados. Nós temos vários jovens
aqui formados, pessoas inteligentíssimas, concursadas e tudo, mas
quando chegam à cidade e perguntam, moram aonde? E quando
respondem que moram no Mutum então a resposta é, volte depois e
esse depois não existe (entrevista n. 5)
.
Durante o encontro realizado no dia 26 de setembro de 2007, foram muitos os
depoimentos sobre discriminação e falta de oportunidade no mercado de trabalho de
Santo Antônio de Jesus e municípios circunvizinhos. Marli, moradora do Bairro Irmã
Dulce, relatou que estava trabalhando a cerca de um mês em uma residência como
empregada doméstica quando foi divulgada a notícia de um homicídio de um vizinho
de bairro, logo após esse fato a mesma foi demitida, o que confirma a fala de João
Costa, sobre o preconceito, apresentada anteriormente. A discriminação identificada
neste trabalho confirma os argumentos e indicadores presentes nos trabalhos de
Kustner (1998) e Yannoulas (2002), que afeta em maior numero a mulher, negra
46
e
moradora de periferia.
Outro grande problema, contemplado no depoimento de Aílton dos Santos é a
falta de outra atividade que demande grande contingente de trabalhadores como a
atividade de produção de fogos mobiliza.
Os auxílios do governo, bolsa falia, bolsa escola ajuda muito em
função dos pouco que eles ganham então se torna uma
complementação para a sobrevivência deles, se não fosse à ajuda
do governo, estariam pior agora. Como é pouco também eles não
deixam de trabalhar na produção. Se desde 1998 existisse um
trabalho efetivo para as pessoas que não trabalham com fogos, ou
que trabalham e não queiram trabalhar mais conseguissem outra
forma de sobrevivência, como a agricultura na área rural, mais não
têm. Tem muita gente na área rural que trabalha com produção de
fogos (entrevista n.2).
46
É importante destacar que a maior parte dos moradores das periferias de Santo Antônio de Jesus
o afro-descendentes.
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82
REMUNERAÇÃO COM A ATIVIDADE
Este item foi adicionado para que seja analisada a remuneração das pessoas
que trabalham na produção de fogos nas casas. Os resultados são observados nos
gráficos e tabelas a seguir.
Figura 14: Gráfico da renda mensal média obtida com a fabricação de fogos – Bairro São Paulo.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 15: Gráfico da renda mensal média obtida com a fabricação de fogos – Bairro Irmã Dulce.
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando os dados informados nestes dois bairros podemos notar que,
apesar das diferenças entre as faixas maiores e menores - entre as pessoas
entrevistadas no bairro São Paulo, não existe ninguém que receba menos de
Renda mensal média obtida com a fabricação de
f
ogos/Bairro São Paulo
70%
10%
20%
De 50,00 a 100,00
De 100,00 a 150,00
De 150,00 a 200,00
Renda Mensal (em reais)
Renda men
sal média obtida com a fabricação de fogos
Bairro Irmã Dulce
35%
56%
9%
Menos de 50,00
Renda Mensal (em reais)
De 50,00 a 100,00
De 100,00 a 150,00
Fonte: Dados da pesquisa
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83
cinqüenta reais, que é a segunda maior faixa no bairro Irmã Dulce com 35%, em
torno de oito pessoas do total e, no bairro Irmã Dulce não foi registrado ninguém que
recebesse entre cento e cinqüenta e duzentos reais que é a segunda maior faixa no
bairro São Paulo onde foram identificadas duas pessoas do total dos questiorios
respondidos nesse bairro - a faixa com maior numero de pessoas nos dois bairros é
a de pessoas com a renda mensal entre cinqüenta e cem reais com 70% ou sete
pessoas no bairro São Paulo e 56%, em torno de treze pessoas no bairro Irmã
Dulce.
Estes dados servem para indicar que no total de pessoas da amostra
nenhuma família consegue um valor superior a um salário mínimo
47
.Esses dados
confirmam as informões contidas nas entrevistas e durante o encontro realizado
26 de setembro de 2007, quanto à queso da remuneração. Na situação informal
sem carteira assinada - foi informado nesse encontro e nas visitas feitas aos bairros
e entrevistas que o valor recebido por milheiro fabricado de traque de bater/estalo
fica entre cinqüenta e sessenta centavos. Para obter uma boa remuneração nesse
processo a maior parte das pessoas trabalha de domingo a domingo e faturam, de
acordo com a produção, cerca de vinte e cinco reais por semana, a depender de
quantas pessoas da família estão envolvidas neste processo, o que perfaz um valor
médio de cem reais por mês, fabricando cerca de quatro milheiros por dia.
Na visão de Jo Batista Costa, presidente de associação do bairro Irmã
Dulce, “a renda é fora do comum, uma renda que não existe, com famílias ganhando
dez reais por semana”, essa informação que tamm é confirmada pela Sra. Maria
Madalena, presidente do movimento 11 de dezembro em entrevista e também
moradora do bairro Irmã Dulce.
A questão de trabalhar em uma fábrica legalizada do setor de fogos, ou em
outro setor em Santo Antônio de Jesus e região circunvizinha, também não garante
para o trabalhador, na prática, o pagamento de um salário mínimo conforme
estabelece a legislação trabalhista brasileira. Apesar do Sr. Lucas Pereira, sócio de
uma empresa legalizada situada dentro do condomínio Cofênix, ter informado que
paga um salário, mais trinta por cento de periculosidade para quem trabalham na
área de risco obrigações legais desta atividade - e, um salário mínimo ou “outro
47
O valor de salário mínimo em novembro de 2007, período quando foi realizada a pesquisa era de
R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais). Até o fechamento desse trabalho, em fevereiro de 2008 o
salário mínimo permanecia com esse valor.
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tipo de gratificaçãopara quem não trabalha na área de risco, essa informação é
negada por muitas pessoas. O Sr. Ailton dos Santos, por exemplo, informou que
uma das fábricas instaladas no condomínio Cofênix:
Estava produzindo, depois parou, não paga ninguém, esse
proprietário e segundo o ministro do trabalho em Minas Gerais o
cara que mais causa problema com trabalhadores em Santo Antônio
dos Montes, eu estou dizendo que ele não paga direito porque eu
tive reunião com os trabalhadores , entramos inclusive na justiça
para que ele pague direito, para você ter uma idéia, trabalhadores
que ganhavam 162, 168 reais e assinavam contracheque como 368.
Imagine a diferença mês a mês (entrevista n. 2).
Essa informão sobre o valor pago nas empresas legalizadas é confirmada
pela Sra. Maria Madalena, que em relação aos negócios de Sr. Oswaldo
Prazeres, o “Vardo”:
Vardo tem uma tenda na boa vista tem gente que trabalha lá,
quando chega uma fiscalização eles mostram que tem carteira
assinada e o povo que trabalha chega aqui e falam que eles
assinam carteira e dão R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) por mês
(entrevista n. 6).
No seminário realizado no dia 26 de setembro também foi confirmado que os
empresários assinam carteira constando um salário mínimo, mas pagam pela
produção do funcionário.
Esse comportamento, em Santo Antônio de Jesus, não está localizado
somente na indústria de fogos, conforme informações prestadas pelas respondentes
dos questionários, foi identificada mais de uma empresa em Santo Antônio de Jesus
que paga, aos companheiros ou maridos das mesmas que trabalham nessas
organizações, menos do que o salário mínimo registrado na carteira.
DOENÇAS RELACIONADAS COM A PRODUÇÃO DE FOGOS
Para análise do impacto causado pela fabricação dos fogos, quer pela rapidez
em que são manuseados os fogos, pela longa carga de trabalho a que se expõem
diária e semanalmente, pelo contato com substâncias tóxicas ou pelo início precoce
na atividade foi incluída a pergunta “quais as principais doenças, problemas de
saúde encontrados na família?”. A partir das respostas apresentadas, com o total de
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questionários aplicados (n=33), conforme apresentado na tabela 6 podemos concluir
que, a maior parte dessas doenças apresenta uma relação muito próxima de
causalidade com a fabricação e o manuseio dos fogos, o que as enquadraria como
doenças ocupacionais, conforme identificado na apresentação da Dra. Ana Cristina
Wanderley, médica do trabalho, durante III Seminário de Combate a Fabricação e
Comercialização Clandestina de Fogos de Artifício e Estampido realizado em junho
de 2007 em Santo Antônio de Jesus. Foi informado por essa profissional, que os
trabalhadores dessa indústria estão expostos a quatro tipos de riscos; físicos,
químicos, ergonômicos e, evidente, de acidentes.
Os principais riscos para a saúde, ainda de acordo com apresentação da Dra.
Ana Wanderley, são:
irritação das vias aéreas superiores;
irritação ocular;
doenças pulmonares exposição à poeira do alumínio - aluminose;
ler/dort;
queimaduras.
Quanto aos riscos ergonômicos, essa profissional definiu este como, algumas
doenças que:
Resultam de uma relão inadequada do trabalhador com as
condições do ambiente de trabalho, com a tarefa a ser executada,
causando uma sobrecarga do sistema osteo-muscular podendo
ocasionar lesões por esforços repetitivos, conhecida como ler/dort.
A posição inadequada pode ser verificada, juntamente com a visualização de
uma trabalhadora efetuando uma tarefa de esforço repetitivo, nas FOTOS 1 e 2.:
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Em visita a fabrica de fogos Big Fireworks, localizada no condomínio
Coofênix, foi possível identificar à grande velocidade com que as trabalhadoras
produzem um traque comum e, em visita aos bairros, foi possível identificar,
tamm, a velocidade em que mulheres e crianças fabricam o traque de bater/estalo
de salão.
Tabela 6 – doenças mais comuns identificada nos
bairros Irmã Dulce/Mutum e São Paulo
DOENÇAS
QUANTIDADE DE RESPOSTAS
(Freqüência)
Alergia a massa/Outro produto presente
na fabricação
11
Dor nas articulações/Coluna 11
Dor nos olhos 3
Dor de cabeça constante 3
Outras doenças 5
Fonte: Dados da pesquisa
Como observado maior parte das doenças, problemas, doenças mais comuns
estão relacionadas à alergia dos produtos utilizados/manuseados, que estão
enquadrados nos riscos químicos e dor nas articulações/coluna, problemas
FOTO 2.
Mulher realizando
procedimento de retirada do traque que
acabou de secar após “banho” para
colorir.
Fonte: Ana Wanderley, 2007
FOTO 1.
Mulher se apoiando em bacia
contendo traques enquanto fabrica os
mesmos.
Fonte: Ana Wanderley, 2007
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causados geralmente pelos riscos ergonômicos, encontrados, conforme citado
anteriormente, tanto no setor formal como no informal da indústria de fogos.
Para minimizar esses riscos, além de seguir legislação específica para instalação
deste tipo de empresa que condiciona a uma série de medidas de segurança, os
trabalhadores tem que usar equipamentos de segurança individuais ou EPI que tem
de ser fornecido pela própria empresa no caso desta ser legalizada. De acordo com
Lucas Pereira, empresário e dono de empresa legalizada, os funcionários se
recusam a usar esse equipamentos, mesmo este sendo fornecido. Na situação
informal a condição apresentada é muito pior, com, no máximo - que foi constatado
durante as visitas aos bairros para aplicação do questionário - é a utilização de
creme protetor da pele por algumas pessoas que possuem algum tipo de reação
alérgica causada pelo contato com as substâncias químicas contidas na massa.
Esse item é obrigatório nas empresas legalizadas de acordo com NR-16 (norma
regulamentadora da indústria pirotécnica).
No encontro do dia 26 de setembro, ficou constatada que, quanto à
segurança, apesar da permissão do exército para fabricação do traque de bater ou
estalo de salão, existem relatos de acidentes gravíssimos com a fabricação de
fogos. De acordo com relato de Vera, que estava neste evento, mãe solteira de dois
filhos “trabalho com fogos porque preciso. O traque de bater é dinamite”. De acordo
com relatos de várias pessoas que produzem o traque, confirmado, inclusive,
pessoalmente durante a visita para aplicação de questionários, a massa para a
produção de fogos esquenta, podendo ocorrer combustão espontânea. A Sra.
Estelita Ferreira, moradora do bairro São Paulo que respondeu ao questionário,
relatou um situação onde o seu filho, responsável pela supervisão da produção de
fogos em uma das fábricas clandestinas, teve que amputar a mão ao sofrer um
acidente ao efetuar limpeza de uma mesa de fabricação de fogos que continha
restos de massa, além de vários outros relatos de problemas nas articulações,
alergias e outros gerados pela manipulação e fabrico dos fogos, conforme dados
apresentados.
Outro relato também muito importante e da Sra. Maria Madalena que perdeu
três filhas na explosão de 11 de dezembro de 1998, ao se referir as causa da
explosão:
A pecia dos Estados Unidos depois de oito anos, o povo disse que
foi pedra que jogaram, depois que a perícia saiu o promotor leu junto
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com o advogado, a responsabilidade dele foi grande existia no local
dinamite molhada, na “quintura que aquilo foi fermentando,
fermentando e estorou, a responsabilidade dele foi grande eu
andava na fábrica por causa das minhas meninas o povo sacudia
panelas, se uma panela daquela explodisse, explodia tudo também
(entrevista n. 6).
Contudo, é importante destacar tamm que muitas pessoas que trabalham
nessa atividade são gratas aos empresários ou donos do capital que exploram essa
atividade. De acordo com a Sra. Maria Madalena, Oswaldo Prazeres se intitula, e é
conhecido, como “pai dos pobres” por oferecer trabalho às pessoas humildes.
O Sr. Oswaldo Bastos Prazeres, conhecido tamm como “Vardo” destaca-se
individualmente como o maior produtor existente. O negócio de “Vardo” tem uma
estrutura de base familiar. A organização é dirigida pelos filhos, são ao todo sete,
sendo quatro do sexo masculino e três do sexo feminino, As diferentes unidades do
negócio, empregam aproximadamente oitenta trabalhadores fixos, considerados
formais, e articulam quinhentos informais que lhe prestam serviços, processando e
manipulando matérias primas e preparando produtos, etc. atualmente a família
possui duas empresas legalizadas a Buri que é de um dos filhos de Vardo que é
onde explodiu a fabrica de fogos e tem outra que é no Ronco Dágua que é de
Gilson, outro filho. Vinculados ao conjunto dos informais, agrega-se
aproximadamente entre dez (entrevista n. 4) e quinze mil pessoas (entrevista n.2),
que trabalham nas residências de forma cooperativa. o esposas, filhos, parentes
em geral, que manufaturam os produtos no domicilio, de forma organizada, sob a
coordenação do das mães, tendo uma jornada de trabalho nunca inferior a dez
horas dia. No período de maior pique esta jornada ultrapassa às doze horas diárias.
OUTROS ITENS ANALISADOS
Outros itens contemplados no questionário se referem à infra-estrutura na
qual a população tem acesso e, a posse de artigos de consumo duráveis. Estes
itens foram contemplados devido aos mesmos serem utilizados por inúmeras
instituições como a SEI e o IBGE, para mensuração de índices sociais. Os
resultados estão apresentados na tabela 7:
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Tabela 7Servos essenciais básicos – infra-estrutura
Água Encanada
Energ
ia Elétrica
Rede de
Esgoto
Possui Não
Possui
Possui Não
Possui
Possui
Não
Possui
Bairro Irmã
Dulce / Mutum
100% - 100% - 91% 8%
Bairros São
Paulo
90% 10% 90% 10% 100%
-
Fonte: Dados da pesquisa
A analise desses dados, nas amostras utilizadas, evidenciam índices,
razoáveis, sobretudo quanto à água encanada e energia elétrica no bairro Irmã
Dulce e Rede de Esgoto no bairro São Paulo. Estes números são superiores a
média nacional de acordo com o PNAD de 2006.
O índice nacional de água encanada, é de 91, 6%, é o da região do Nordeste
de 87,2%, portanto os dois bairros ficam acima da média da região. O índice de
acesso à energia elétrica nacional é de 99,7% e 99,4% do Nordeste, ficando apenas
o bairro São Paulo abaixo dos índices e, finalmente, o índice de esgotamento
sanitário, cuja média nacional é de 66,8% e o da região Nordeste de 41,6%,
portanto, nesse índice, os dois bairros estão muito acima da média nacional e
regional. Essas informações comprovam o esforço do poder público para oferecer
esses serviços, conhecidos como serviços essenciais, portanto nada mais justo que
estes atendam ao maior numero de habitantes possíveis.
Quanto à posse de itens de consumo durável, estes são apresentados na
tabela 8.
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Tabela 8 – Posse de bens duráveis
Televisão
Geladeira
Fogão
Possui Não
Possui
Possui
Não
Possui
Possui
Não
Possui
Bairro Irmã
Dulce / Mutum
96% 4% 69% 31% 100%
-
Bairros São
Paulo
80% 20% 90% 10% 100%
-
Fonte: Dados da pesquisa
Também quando comparados a dados nacionais e regionais, obtidos pelo
PNAD 2006, esses números obtidos nesta amostra, apresentam um bom resultado.
O índice nacional de possuidores de televisão é igual a 94,8%, ficando o bairro Irmã
Dulce acima e o São Paulo abaixo da média nacional. O índice da região Nordeste é
de 91%, ficando novamente o bairro São Paulo abaixo da média regional. Quanto à
posse de geladeira, o índice nacional é de 93,3% e o da região Nordeste é de 83%.
Nesse item, somente o bairro São Paulo ficou acima com 90% e o bairro irmã Dulce
com um índice de mais de 10% abaixo da média da região. Esse fato é bastante
estranho porque, inclusive nessas casas em que faltam geladeiras, foram
informados itens de menos importância como DVD, ou dio com CD. Uma causa
provável para a falta de geladeira nesses lares está associada diretamente a alto
custo de uma geladeira em relação aos demais eletrodomésticos, como também
pelo baixo volume de alimentos perecíveis manipulados por essa população. Quanto
a fogão, este não é contemplado nas estatísticas do PNAD de 2006.
Estes itens são contemplados em índices e estatísticas com abrangência
social em instituições como o IBGE e SEI, devido ao aumento do consumo dos
mesmos nestes últimos anos, devido tanto ao aumento da apropriação de renda da
população mais pobre devido, sobretudo, ao programa Bolsa Família e, também, à
facilidade de pagamento encontrada devido ao alongamento dos prazos para
adquirir estes itens e a outros como aparelhos de Dvds, que tamm foi um produto
bastante encontrado nas residências.
Este aumento de consumo tem como objetivo aumentar a atividade produtiva
e o aumento da renda nacional através do crescimento econômico conforme o
conceito de desenvolvimento, bastante questionado, conforme analisado no
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capítulo 2. Esta lógica de consumo está presente na vio desenvolvimento em
mundo globalizado que é criticada por Berthoud (2000). Outro ponto, também
criticado neste modelo, é que maior parte destas empresas estão utilizando mão de
obra e capitalizando recursos em outras localidades, além de grande parte dessas
empresas serem multinacionais.
Contudo, a mensuração destes itens como ganho social tem uma
abrangência limitada, pois, apesar de terem acesso a serviços básicos que como
comentado anteriormente, é obrigação do Estado prover este tipo de serviço –, e
compras de produtos duráveis o torna o cidadão livre de exploração, muito
contrário, esse modelo bastante explorado no capítulo 2, muito pelo contrário, se for
analisada a questão da compra de itens duráveis, para poder pagar as prestações e
consumir os mesmos, as famílias acabam, devido à inexistência de postos de
trabalhos que os absorvam, como é o caso do município de Santo Antônio de Jesus,
estes acabam sendo direcionados para o mercado informal, que, neste estudo é
representado pela indústria de fogos, que mesmo pagando valores baixos, permitem
que os mesmos possam adquirir esses bens.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação foi norteada basicamente por três objetivos. O primeiro foi
analisar o processo conhecido como desenvolvimento local, modelo bastante
propagado nesses últimos anos como solução das localidades para sobrevivência
em um mudo globalizado. Para o entendimento desse modelo foi necessária à
análise do conceito de desenvolvimento e quais as conseqüências, transformações
e percepções do mesmo através dos tempos. O capítulo 2 buscou exatamente isso,
apresentar de que forma o conceito de desenvolvimento começa a ser construído,
como é percebido, como evolui e de que forma esse processo atinge o Brasil e quais
as transformações ocorridas a partir desse momento as transformações na
sociedade, e os motivos que levaram a essas mudanças foram contemplados, tendo
sempre o cuidado de apresentar uma construção dialética, ao apresentar diferentes
visões e percepções sobre o tema.
O conceito de desenvolvimento local foi apresentado, a partir de sua origem
recente na Europa, com os distritos Italianos e Estados Unidos com o Vale do Silício.
Após a apresentação deste conceito foi questionado se esse é, realmente, um
modelo ideal a ser aplicado a todos os lugares do planeta, a partir do momento em
que existem discordâncias - práticas e conceituais - entre autores, atores e agentes
e até ancias/organismos multilaterais e, tamm, diante das desigualdades e
complexidades existentes entre países e regiões. A partir do que foi apresentado
verifica-se que, o desenvolvimento local apesar de ser aparentemente viável para as
localidades, quando permite a participação de seus representantes - quando existe o
empoderamento e canais de participação e procura atender as demandas
legítimas dessas comunidades. Contudo, o desenvolvimento local pode acabar se
tornando um processo tão negativo e excludente como os outros modelos
anteriores, basta que, para isso, as localidades comecem a disputar recursos, o que
faz que algumas percam enquanto outras ganhem em um jogo de soma zero.
O segundo foi apresentar e discutir o mercado informal - que nada mais é do
que uma conseqüência do modelo de desenvolvimento baseado no capitalismo
industrial, ou melhor, de um modelo de exploração que remonta ao Brasil imperial,
conforme foi apresentada a similaridade das atividades atuais com as dos escravos
de ganho em época que o conceito de informalidade sequer existia o que foi feito
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no capítulo 3. Nesse capítulo foi informado ainda, de que forma esse mercado esta
estruturado, se alimentando, principalmente, da pobreza e das necessidades da
população de baixa renda, principalmente mulheres e crianças, para poder
movimentar uma estrutura de acumulação de lucros extraordinários baseado na
exploração, sonegação de tributos, desrespeito as leis vigentes e até a própria
condição humana.
O terceiro e último objetivo, o principal deste trabalho, foi retratar o mercado
de fogos de Santo Antônio de Jesus e região circunvizinha da forma mais próxima e
vivencial da realidade. Para atingir esse objetivo foi buscado, através do olhar de
pesquisador, um envolvimento e interação com as pessoas, empresas e instituições
que atuam direta ou indiretamente nesse mercado. Dessa relação e, baseado nos
estudos apresentados nos capítulos 2 e 3, foi possível perceber que, o mercado
informal associado ao mercado de fogos é uma instituição praticamente secular e
que, nesses últimos anos, é cultivada graças ao um emaranhado de condições,
relações e descaso que fazem com que ela ainda se perpetue.
A fagulha da mudança comou a ser acessa quando ocorreu um grave
acidente no final de 1998. Essa catástrofe o pode ser vista como uma infelicidade,
pois o que aconteceu era perfeitamente previsível diante das condições e situação
existente. Foi a partir daí que começou a ser construído algo parecido com um
processo de desenvolvimento local motivado através de comoção geral e
exposição da fragilidade dessa atividade no município – com a participação de
muitas organizações e pessoas ligadas à fabricação de fogos do município que, só
não aceitavam mais o processo de fabricação como ele ocorre até hoje, mais
tamm, clamavam por justiça e reparação devido à perda de familiares e amigos no
acidente. Esse processo inicial foi quase um processo de desenvolvimento local
devido - não este fenômeno ser recente e sujeito a interpretações errôneas - ao
fato de, o governo estadual ter assumido, em grande parte a condução e o crédito
do mesmo, através de representantes ligados a sua administração com o objetivo de
obter créditos políticos, como pelo condutor legitimo desse processo, a ONG
Instituto Fênix, não possuir em sua estrutura de direção nenhuma liderança popular
legítima ligada a produção de fogos. Os projetos capitaneados por esse Instituto,
com foco no mercado, se esqueceram ou o conseguiram - preparar as pessoas
para um trabalho com foco na cooperação com respeito às limitações e capacidades
de cada um, o que enfraqueceu o próprio Instituto.
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Contudo, os familiares das vítimas da explosão, através do Movimento 11 de
dezembro conseguiram fazer uma movimentação e uma mobilização tão grande
48
que conseguiu sensibilizar e agregar inúmeras instituições nacionais e internacionais
que culminou com a condenação do nosso país na Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, deixando-o em uma
posição bastante desagradável através de uma exposição muito negativa em nível
mundial. A partir daí foram reiniciadas - movidas por uma necessidade de dar uma
resposta e uma solão anteriormente pactuada junto a Comissão Interamericana a
este grande problema enraizado, principalmente, dentro do município de Santo
Antônio de Jesus as ações que eso mobilizando os principais atores e
instituições ligadas à produção de fogos, dando continuidade a um processo de
construção conjunta que representam, desta vez, um processo que podemos
chamar de desenvolvimento local pela grande participação das comunidades
envolvidas no processo.
A mobilização do Movimento 11 de dezembro, além de ter reiniciado as
discussões, conseguiu com que houvesse iniciado uma reparação em janeiro de
2008, através do pagamento de uma a pensão aos filhos das famílias vítimas da
explosão, através do Exército brasileiro, que foi acusado de negligência, que é
obrigado a efetuar, não só a permissão para as empresas fabricarem fogos, como
tamm pela fiscalização já que a maioria dos insumos envolvidos na fabricação são
produtos controlados pelo exercito devido, sobretudo, ao risco que estes
representam.
Apesar de uma parte dos problemas estarem sendo solucionadas, ainda
existem três grandes problemas a serem resolvidos que são, o afastamento de
crianças e adolescentes dessa atividade - apesar de existirem programas sociais
para isso, como o PETI atrelado ao Bolsa Família, foi verificado que este tem sua
eficácia limitada pela cultura local e, a possibilidade de transferência de parte
dessas pessoas para outras atividades, e, finalmente e a legalização das empresas
que hoje trabalham clandestinamente.
A questão de crianças e adolescentes trabalhando nessa atividade pode ser
resolvida de duas formas; a primeira, a proibição de estalos de salão/traque de bater
nas residências e uma maior fiscalização do programa. A questão da liberalização
48
Ver o o filme Salve Santo Antônio(SASAHARA, Aline, 2004).
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da fabricação desses artefatos nas residências - ratificada pelo poder público e
demais instituições ligadas à segurança em Santo Antônio de Jesus - apesar de ter
uma conotação positiva, de permitir o acesso à renda das famílias, condiciona
diretamente as crianças e adolescentes dessas pessoas à produção de fogos. É
evidente que, em residências aonde as mães trabalham nesse processo os filhos
destas acabam de alguma forma colaborando com estas. Quanto à fiscalização
sobre o trabalho da criança e adolescente, atrelado ao PETI, apesar de ser
praticamente inexistente, esta possui sua eficácia limitada. É necessário que, para
atingir melhores resultados, que seja efetuada uma política de esclarecimento e
envolvimento das mães e famílias sobre as conseqüências do trabalho infantil.
Um grande dilema sobre a existência não de crianças, mas também das
mães no trabalho de fogos e que, mesmo com os índices de evolução de aumento
da apropriação da renda pela classe mais baixa nos últimos anos, com os ganhos
transferidos pelo programa Bolsa Família, porque essas pessoas persistem nesta
atividade mesmo sujeitas a problemas de saúde e a receber uma remuneração tão
baixa por um trabalho tão desgastante e repetitivo? A explicação pode ser dada
devido, além do fato do Bolsa Família só atender famílias extremamente pobres ou
pobres
49
nos quais existam crianças de a 15 anos de idade e/ou mulheres
grávidas, o que limita o raio de cobertura já que, em algumas dessas famílias os pais
recebem um salário mínimo, o que ficou indicado neste trabalho foi o peso do
componente cultural nessa atividade, e que, pela força do hábito e da relação de
exploração do trabalho desgastante - enraizada desde os tempos da escravidão -,
ganhar uma renda adicional, mesmo exposta a essas condições, não parecer ser
nenhum problema para essas pessoas que já passam por uma série de privações.
Outra explicão a ser dada é que de acordo com Soares, Ribas e Osório (2007), ao
efetuarem a análise do programa, evidenciam que, apesar dos críticos do programa
alegarem que o mesmo tem um impacto negativo sobre a participação na força de
trabalho, as taxas de participação dos beneficiários adultos era
na verdade, 2,6
pontos percentuais maior e 4,3 pontos percentuais maior entre as mulheres, ou seja,
o Bolsa Família não impede que as pessoas exerçam atividade remunerada, mesmo
que, confirmado no caso em estudo, seja uma atividade informal.
49
Embora o Brasil não tenha uma linha de pobreza oficial, o programa define como extremamente
pobres as famílias cuja renda per capita é inferior a R$ 60, 00 mensais, e como pobres aquelas que
sobrevivem com menos de R$ 120,00 mensais (SOARES;RIBAS e OSÓRIO, 2007, p. 3)
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É importante destacar que o aspecto fiscalização é muito importante para a
ocorrência de mudanças
50
, contudo, diante das complexidades já apresentadas,
Quanto ao processo de fiscalização pelo ministério do trabalho e delegacia regional
do trabalho é verificado um aspecto discordante em relação à maioria das
instituições que tamm exercem fiscalização em outras áreas como o corpo de
bombeiros ou a policia civil. Esta instituição adota a mesma visão da OIT
51
, de
repudiar e autuar todo trabalho que não seja visto como trabalho decente
52
, o que
foi constatado durante o I Seminário de Combate ao Trabalho Infantil na Indústria de
Confecção de Fogos de Artifício realizado em Santo Antônio de Jesus em setembro
de 2007, promovido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, Ministério do Trabalho
e Emprego, Delegacia Regional do Trabalho na Bahia e Núcleo de Apoio a
Programas Especiais NAPE. Dentro desta visão, não só trabalho infantil tem de
ser combatido, mas toda produção de fogos em Santo Antônio de Jesus tem que ser
completamente abolida, algo não só difícil, como impossível de ser alcançado a
curto prazo devido, não a cultura local mas, sobretudo, a oferta de trabalho e
geração de renda oferecida por essa atividade.
A solução para esse problema passa diretamente pelo aumento da oferta de
emprego na região - o que tem ocorrido, mas ainda de forma mida e incremental
ou a substituição dessa produção por outro tipo de atividade menos insalubre e
perigosa como, por exemplo, o artesanato ou a confeão, na qual as pessoas
possam, inclusive, se associar em forma de cooperativa, após um longo período de
maturação e construção conjunta, e utilizar a mesma dinâmica e processo utilizado
hoje pela indústria de fogos - principalmente quanto a distribuição de matéria-prima
e produção nas próprias residências -, que, mesmo mostrando o lado obscuro dessa
atividade, torna-a bastante eficiente. Sugestões similares a essas estão
contempladas no documento Alternativas de Inclusão Produtiva e Desenvolvimento
Sustentável no Município de Santo Antônio de Jesus que faz parte do processo pós
enquadramento do Brasil como réu na Comissão Interamericana de Direitos
50
Aspecto destacado como fator de mudanças na indústria de fogos em Santo Antônio do Monte por
Ourivio (2005)
51
Em junho de 2003, a promoção do Trabalho Decente passou a ser um compromisso assumido
entre o governo brasileiro e a OIT. Nesta data, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e
o Diretor Geral da OIT, Juan Somavia, assinaram o Memorando de Entendimentos que prevê o
estabelecimento de um Programa Especial de Cooperação Técnica para a Promoção de uma Agenda
Nacional de Trabalho Decente (OIT - Secretaria Internacional do Trabalho, 2006, p. 9).
52
Entendido como uma ocupação produtiva adequadamente remunerada, exercida em condições de
liberdade, eqüidade e segurança e que seja capaz de garantir uma vida digna (Idem, 2006, p.8).
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Humanos, a de esperar, contudo - devido a condução do processo estar sendo
realizada por representantes das próprias comunidades - que essa grande questão
que, ainda continua aberta como uma grande ferida que nunca cicatriza, seja
resolvida sobre pena das autoridades e ao Governo Federal, Estadual e Municipal
mostrarem que são incapazes, para não dizer incompetentes, de conduzirem as
negociações relacionadas as políticas públicas. Salve Santo Antônio!!!
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ANEXOS
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104
ANEXO A
Questionário
Nome:
Endereço:
Data do Nascimento:
Escolaridade:
Casada ou vive com companheiro?
Quantas pessoas moram na residência:
Nome, idade e grau de parentesco dessas pessoas:
Quantas trabalham na produção de fogos:
Quantas trabalham em outra atividade e qual? Possui carteira assinada?
Nome, idade e grau de parentesco dessas pessoas:
Quantos freqüentam a escola? Que serie/período?
Renda diária:
Quantos dias trabalham na semana:
Possui água encanada:
( ) Sim ( ) Não
Energia elétrica:
( ) Sim ( ) Não
Rede de esgoto:
( ) Sim ( ) Não
Eletrodomésticos:
Televisão: ( ) Sim ( ) Não Quantas:
Geladeira: ( ) Sim ( ) Não
Fogão: ( ) Sim ( ) Não
Quais as doenças mais comuns entre os familiares:
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ANEXO B
ENTREVISTAS
Entrevista no 1
Data: 04/07/06
Nome – Lucas Pereira
Idade – 25
Sócio-Gerente da Big Fireworks Indústria e comércio de Fogos Ltda.
Profissão: Administrador
Qual a sua experiência com fogos?
Natural Japaraiba, o 2º maior pólo industrial de pirotecnia de Minas Gerais. 200 km
de BH e 60 km de Santo Antonio do Monte o maior pólo industrial. Trabalha com
fogos pirotécnicos desde os 14 anos começou a trabalhar em fábricas clandestinas,
com 15 anos trabalhava com carteira assinada nesse mesmo ramo em uma
linha de produção na manipulação de produtos pirotécnicos e explosivos.
Quando veio para Santo Antônio de Jesus e por quê?
Veio para Santo Antônio de Jesus a convite do governo da Bahia fez uma licitação e
ofereceu uma área do projeto Fênix, área que o estava sendo utilizada para que
fossem desenvolvidas atividades de pirotecnia e para gerar empregos fazem parte
de um consórcio de exportação em Santo Antônio do Monte e uma das empresas da
qual sou sócio faz parte com objetivo de reduzir e ate acabar com a clandestinidade
em Santo Antônio de Jesus.
Devido a sua experiência e a observação e vivência no mercado de fogos em Santo
Antônio de Jesus qual a sua expectativa do mercado de fogos em Santo Antônio de
Jesus?
A grande vantagem encontrada em Santo Antônio de Jesus foi o grande volume de
mão de obra, maior, inclusive do que a encontrada em Minas, contudo, apesar de
não poder dizer que não é qualificada mas mal instruída por não terem sido
acostumados a trabalhar de maneira correta. Grande volume de mão de obra mas
sem a qualificação necessária para a área pirotécnica.
Como você enxerga o mercado de produção de fogos em Santo Antônio de Jesus?
O mercado de produção de fogos, pelo lado de produção é qualitativo é vantajoso
compensa trabalhar por outro lado a distância da maneira prima e um fator negativo
para o negócio, pois, a maior parte da matéria prima vêm de São Paulo, Rio de
Janeiro e Santa Catarina, o os maiores pólos de produção de matéria-prima,
devido á região possuir muitas fábricas clandestinas, não possuem muitas nenhuma
fábrica próxima além de dificultar o processo de negociação de compra pois, devido
ao volume de vendas de MP for pequeno aumenta o custo da mercadoria se
houvessem mais fábrica registradas a compra conjunta ou através de consórcios,
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facilitaria bastante, tanto a instalação de fábricas de MP, como o processo de
negociação de compra de destas.Como lá, em Santo Antônio do Monte, as fábricas
o próximas eu posso juntar três ou quatro fábricas fretar um caminhão e trazer
tudo de uma vez não vou utilizar muito capital de giro não vou utilizar recursos em
estoque excessivo e toda que precisar de material eu vou ter sempre um giro ao
contrário daqui que não posso fazer isso que para compensar os meus custos com
transporte tenho que trabalhar com um comprometimento maior do meu giro para
compra de matéria-prima.
Você acha então que se o numero de fábricas regulares, diferente do cenário aqui
da região, cuja maior parte e de fábricas informais, irregulares ou clandestinas, seria
mais fácil para uma fábrica de matéria prima se instalar aqui na região?
Não exatamente se instalar aqui na região mas, a facilidade de adquirir matéria
prima que precisa seria mais fácil por que haveria mais compradores a empresa teria
mais facilidade de efetuar as entregas ou as próprias empresas comprarem fora.
Seria muito mais cil se tivessem cinco, seis ou sete empresas aqui, seria muito
mais fácil fazer uma compra lá fora do que eu, sozinho comprar.
Você acha que essa empresas ilegais atrapalham então esse processo. Elas
atrapalham o mercado. Qual a visão que você tem dessas empresas?
Pela minha experiência, tento aqui como em Minas, ela não afeta nem na compra
nem na venda. Essa clandestinidade se concentra aqui e atende aos vendedores
mais próximos em até um raio de 200 km como Salvador, Alagoinhas, então o raio
que eles atingem e pequeno. Como não possuem um poder de compra de matéria-
prima não afeta em nada muito pelo contrário, até atrapalha pois sem fossem
legalizados poderiam buscar uma forma de compra coletiva que reduzisse os custos
com compras de matéria-prima. Eles compram através de terceiros, escondidos,
driblando a lei, Por esse lado afeta devido aos mesmos não possuírem poder de
compra e nem autorização para comprar.
Aqui no condomínio Fênix além da Big Fireworks possui mais alguma fábrica?
Existe a Brazilian Fireworks.
O que você acha do investimento feito pelo poder público aqui no condomínio em na
indústria de fogos em Santo Antônio de Jesus?
A intenção foi muito boa é um espaço que desde a primeira vez que estive aqui
juntamente com outros empresários do ramo nós ficamos impressionados com a
dimensão e estrutura do espaço que foi muito bem estruturado, todos os materiais,
toda a construção de qualidade e material utilizado de primeira qualidade só que não
foi dimensionada para os pequenos produtores porque o pequeno produtor esta
acostumado a trabalhar no local aonde ele não pague imposto, que ele o tenha
nenhuma carga tributária, onde ele compra uma matéria prima mais cara onde em
cima desta matéria prima contudo em não possuir recolhimentos trabalhistas. Na
hora que eles saiam do processo que estavam acostumados e partiam para a
legalizão foi verificado o que a realidade então o governo foi bem intencionado
construiu uma potência desta, cujo espaço equivale a umas quatro fábricas de Santo
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Antônio do Monte então a estrutura é muito boa o governo foi bem intencionado
que não soube passar para os pequenos produtores a maneira certa de trabalhar o
jeito certo de trabalhar.
Quantos funcionários você emprega aqui?
Trinta e oito funcionários todos com carteira assinada, seguro de vida. Recebem um
sario mais trinta por cento de periculosidade para quem trabalham na área de
risco. Os que o trabalham na área de periculosidade salário mínimo ou outro tipo
de gratificação.
Estivemos um outro contato no início de 2005 e você comentava que não enxergava
a produção de Santo Antônio de Jesus como Fogos de Artifício, como você
denomina esta produção da região?
Nesta época pensava juntamente com outros sócios de transformar esse
empreendimento em uma empresa exportadora, com a grande dificuldade de
adaptação da mão de obra dos funcionários ser muito difícil então a empresa
resolveu ir mais devagar, capacitar alguns funcionários, e trabalhando com que eles
sabem trabalhar dando qualidade ao que lês sabem fazer, para depois, aos
poucos, aumentar e mudar a modalidade da classe pirotécnica trabalhada aqui
dentro da fábrica.
O que você produz aqui na fábrica?
Hoje é produzido, digamos, coisas da terra; traque, estalos e bombas numeradas.
Quais as perspectivas que você possui da sua empresa aqui em SAJ e como você
ver o retorno do capital investido?
A perspectiva e esperar o final do período junino e do período de chuva para colocar
70 funcionários aqui na empresa e o capital sempre investir o que der para investir
para oferecer um bom local de trabalho para os funcionários um bom retorno para a
empresa o que for necessário investir será investido.
Como você considera sua margem de lucro hoje?
A margem de lucro como empresa nova, com um pouco mais de uma ano, essa
margem de lucro e insignificante estamos pagando, plantando para colher no futuro.
O que agente esta plantando hoje agente quer colher daqui a 10 anos, 20 anos nada
hoje que você planta você vai ter o retorno imediato.
Você acredita que os funciorios da região possuem esta mesma visão?
Em termos de fogos alguns têm que não tem condição e incentivo para legalizar
uma não só incentivo, até existe, o governo aqui dá até algum incentivo, falta
planejamento por parte do governo para oferecer capacitação, formação,
informação, a criação de algum órgão que possam ajudá-los nesta formação e visão
de futuro.
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Como você enxerga esta relação de trabalho existente em SAJ aonde às pessoas
terceirizadas que atendem sobretudo as empresas informais trabalhando nos
próprios bairros, dentro, inclusive, de suas casas aonde trabalham praticamente
famílias inteiras, crianças manipulando explosivos?
Com base nas normas estabelecidas e sobre o controle do exercito a r 105 que
fiscaliza os produtos controlados e nas demais leis que regem esta atividade essa
situação é proibida então que fere a lei deve ser punido.
Sabemos que o Brasil e o 2º maior produtor de fogos de artifício do mundo, você
acha que SAJ vai se inserir neste mercado mundial?
Se existir incentivo e apoio para os pequenos produtores daqui se inserirem no meio
legal acho que sim. Se existir algum apoio SAJ dentro de algum tempo estaapto
para entrar neste mercado.
O que é que seria este incentivo. Redução de impostos, tributação diferenciada,
como seria esse tipo de incentivo?
Nem tanto redução de impostos mas algum incentivo técnico, alguma coisa que
possa mostrar ao pequeno produtor antes dele construir uma fábrica mostrar o que
uma fábrica como tem que ser trabalhado dentro de uma fábrica e como administrar
seu próprio negócio, quais as suas obrigações, quais são os seus deveres para
amanhar poder falar, hoje eu possuo uma fábrica conhecida mundialmente ou, no
país inteiro.
Você considera a sua tecnologia atual adequada para os produtos que você fabrica
atualmente?
Para os produtos que eu fabrico eu acho adequada porque quando tem alguma
duvida, recorremos a alguma fonte ou laboratório de Minas.
Além daqui você estão instalados aonde?
Possuímos uma fabrica em Japaraíba em uma distribuidora em BH.
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Entrevista no 2
05/07/2006
Aílton José dos Santos
Coordenador do pólo Sindical e Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do
Comércio.
36 Anos
Estudante Universitário.
Como você vê a questão da produção de fogos aqui em Santo Antônio de Jesus
após o acidente ocorrido em 1998 e qual sua atuação nesse processo?
Pelo pólo sindical fui indicado para ajudar as famílias das pessoas que morreram na
explosão da fabrica em 11 de dezembro de 1998 e garantir que os direitos destas
sejam cumpridos. Todos os processos trabalhistas vêm sendo acompanhados
houve indicação de advogados para proteção aos familiares tem acompanhado
todas as atividades seminários, caminhadas, a luta contra a exploração dos
trabalhadores nesta produção de fogos a luta para acabar com a clandestinidade e
formalização da atividade de produção de fogos, pois os trabalhadores são
explorados ser ter carteira assinada tem mais de 100 anos que se produz fogos em
Santo Antônio de Jesus e uma produção rentável, uma indústria rentável, muito
dinheiro isso em função do lucro cil à exploração de trabalhadores, as pessoas
que morreram na fabrica de fogos na fabrica que explodiu mesmo tinham mais de
350 pessoas trabalhando e não estavam todos trabalhando no período por isso que
a explosão matou apenas 64 e não todos 350. Nenhum destes tinham carteira
assinada, nunca tiveram direitos previdenciários e trabalhistas assegurados em 99
organizando as famílias foi criada uma entidade chamada 11 de dezembro criada no
intuito de organizar as famílias para lutarem pelos seus direitos dos sobreviventes e
da famílias dos falecidos. De para e uma entidade já hoje reconhecida
internacionalmente muitas das outras entidades vieram se agregando como Justiça
Global, Rede Social de Justiça, O movimento negro, O PT, a secretaria nacional de
direitos humanos. O ministério da justiça tem ajudado para lutar contra a exploração
na fabricação de fogos. O fórum de direitos Humanos também foi criado mais ou
menos nesta mesma época com intuito de ajudar as famílias.
Ainda uma grande exploração na fabricação de fogos por que ainda uma grande
fabricação de fogos em Santo Antônio de Jesus. E não em Santo Antônio de Jesus
porque o maior fabricante mora aqui que é Vardo dos fogos. Santo Antonio,
Teolandia, Muniz Ferreira, Nazaré, São Miguel das Matas, Dom Macedo Costa,
Conceição do Almeida, Sapeaçú, São Felipe, Castro Alves, Mutuípe, nessas cidades
todas se produz fogos. Foi feito um levantamento da produção de pólvora e fomos
até Teolândia em uma ão amuito arriscada porque juntamente com pessoas
fórum de direitos humanos a mesma tática que se usa no tráfico de drogas se usa
com produção de fogos, para se ter um idéia, entramos no município de Teolândia
o dezoito quilômetros para entrar no arraial e depois mais quatro quilômetros
dentro dos matos para descobrir uma produção de pólvora que produzem de forma
clandestina que fazem para distribuir esta aqui na região.
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110
três anos atrás juntamente com o Ministério do trabalho de Minas Gerais
descobriu que existe uma grande quantidade de pólvora clandestina entra em Santo
Antônio de Jesus que vem der Santo Antônio dos montes o numero de pessoas que
trabalham de forma clandestina ainda e muito grande e muitos gostariam de estar de
forma organizada e formal e o problema esta na falta de interesse político do
governo do estado por quê? Porque o Fênix foi criado com a intenção de agregar as
pessoas que trabalhavam de forma clandestina da a ele a condição de produzir de
vender tudo regularizado, era a intenção da criação do fênix e o que aconteceu que
a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado não deu essa atenção deu atribuição
a uma pessoa que tinha aqui na cidade chamada Marconi Trindade Sampaio essa
pessoa assim como outro da prefeitura não deram a atenção devida a isso só eles
se beneficiaram e que tinha uma Indústria que era de Argentinos e Espanhóis e
outra que eram de trabalhadores que anteriormente trabalhavam na produção
clandestina, esse dos Espanhóis conseguiam vender e dos trabalhadores
conseguiam produzir vendia só que nenhum trabalhador recebia dinheiro existem
52 trabalhadores com causa na justiça donos trabalhadores não receberam nada os
que produziram e que ficaram com dinheiro como explica que vende produz e não
ficou com dinheiro os possíveis donos também não sabem onde está o dinheiro
quando foi feito alguns devem ter ficado com dinheiro pois, ficou com caminhão,
venderam para Minas Gerais e Foz do Iguaçu o cheque ficou na mão deles nunca
conseguiram responder a essa pergunta se fez denuncia, trouxeram televisão,
ministério do trabalho, está com ação na justiça e até hoje não se tem uma solução
tem outra empresa que diziam que era de espanhóis quando essa empresa fechou
os dirigentes do fênix e que ficaram com o caminhão como é que você vai entender
que os caras o são sócio, primeiro e que sempre tinha um cara que sempre era
sócio das empresas que era um laranja que ia abrindo empresas para outros
administrarem não deu resultado o fênix, agora, não vai se falar agora que não
existe uma produção de fogos aqui na cidade que da para empregar, da para gerar
renda, emprego e ter lucro com isso, tranqüilamente mesmo formalizando as
empresas agora, se a produção clandestina ganhasse mais dinheiro então ninguém
quer regularizar, então o que e necessário fazer, que as autoridades e os poderes
públicos constituídos fiscalizem e obriguem a regulamentação do setor e que
fez essa foi o movimento 11 de dezembro, ano passado quando explodiu mais uma
fabrica foi que a policia civil prendeu pela primeira vez o Familiares de Oswaldo que
tinham caminhões e caminhões fazendo transporte clandestino de fogos e matéria
prima de lá para cá a policia civil tem se interessado tem feito seminário, a prefeitura
agora tem participado, mesmo assim o movimento 11 de dezembro vem
denunciando para combater a clandestinidade a uma grande exploração do trabalho
Infantil, porque se rende muito pouco do milheiro que se produz, e as mães
terminam incluindo seus filhos para trabalhar como forma de compensar trabalhando
muito para ver se ganha algum dinheiro. Então há ainda uma exploração do trabalho
infantil. Acho que não na mesma proporção do que se tinha antes mesmo porque na
fabrica clandestina as crianças iam junto hoje as crianças não vão mais trabalham
dentro de casa então ainda há essa exploração.
Qual o numero de pessoas envolvidas na fabricação de fogos em Santo Antônio de
Jesus e região circunvizinha e como se chegou a esse numero?
É difícil se fazer um levantamento do numero de pessoas que trabalham nesta
atividade aqui na região. Em 1998 eu e um Auditor do ministério do trabalho
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111
chamado Wellington Maciel que é de Feira de Santana fizemos um levantamento
nos bairros e nas fabricas clandestina quando explodiu a fabrica já havia sido
denunciado ao ministério do trabalho o numero de pessoas que estavam sofrendo o
risco ele dizia depois de dois meses de trabalho que existiam muito mais que quinze
mil pessoas trabalhando nesta atividade em Santo Antônio de Jesus e ele dizia e
impossível fiscalizar este numero de trabalhadores se houvesse uma equipe
grande depois ocorreu à explosão da fábrica de fogos. Mas hoje pelo numero de
pessoas que trabalham de forma informal nas casas e fabricas clandestina que
ainda existem muitas por aí, existem muito mais que sete, oito, nove mil pessoas
trabalhando nesta atividade. Porque se você tomar como exemplo o bairro são
Paulo, quase o bairro inteiro produz fogos, o bairro irmã Dulce, Nossa Senhora das
Graças quase inteiro produz fogos, Santa Madalena, o bairro inteiro produz fogos a
Jueirana, quando falo o Bairro inteiro e que a maioria das pessoas produz fogos,
quando não trabalha de dia trabalha a noite se chegar ao conjunto providência um
numero grande de pessoas produz fogos são bairros que a maioria das pessoas
produz fogos, isso na cidade, então você não tem então quantas pessoas moram no
bairro irmã Dulce sete mil, nos outros quase quatro mil se metade das pessoas ou
quase um terço destas o numero chega a mais de 10, 12 mil por falar por baixo as
pessoas que trabalham diretamente mais oito mil trabalham na produção de fogos
se contar Muniz Ferreira, Dom Macedo Costa, na área rural de Muniz Ferreira e Dom
Macedo Costa a produção de fogos desta região, a venda dela e não vende para
Santo Antônio e Região não, vende para toda esse rego, vende para o Paraná,
Brasília, Foz do Iguaçu, Rio Grande do Sul, Argentina, Uruguai, gente que compra
aqui então é grande essa produção de fogos aqui na Cidade quase todos eles,
que existem apenas duas fábricas de fogos regularizadas por aqui, trabalham de
forma clandestina alguns desse até para sobreviver desde seus pais, trabalham com
produção de fogos muitos deles com 45, 50 anos trabalhando que a mesma coisa de
produção e venda de fogos.
Quais são essas duas fabricas legalizadas?
Buri que é de um dos filhos de Vardo que é onde explodiu a fabrica de fogos e tem
outra que é no Ronco D’água que é de Gilson o outro filho dele que esta
regularizada aliás fabrica tem um negócio interessante porque explodiu a fabrica de
fogos explodiu no dia 11 de dezembro de 1998 e menos de 60 dias depois existia
uma solicitação de regularização de funcionamento encaminhada ao exercito e o
nome de quem seria os donos eram de menores, sendo que essas pessoas não
eram menores e essas duas que estão regularizadas não se explica porque se o
produto e controlado só entra com a autorização do exercito como e que entra tanta
pólvora em Santo Antônio de Jesus, cloreto de potássio, pólvora branca, pólvora
negra entra em Santo Antônio, então um outro trafego que é da matéria prima
que entra sem combate das fiscalizações nas fronteiras.
E quanto a fabricas localizadas no condomínio Cofênix, a Brazilian Fireworks e a Big
Fireworks estas estão legalizadas?
Esta Brazilian Fireworks estava produzindo, depois parou, o paga ninguém, esse
proprietário e segundo o ministro do trabalho em Minas Gerais o cara que mais
causa problema com trabalhadores em Santo Antônio dos Montes, eu estou dizendo
que ele não paga direito porque eu tive reunião com os trabalhadores , entramos
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112
inclusive na justiça para que ele pague direito, para você ter uma idéia,
trabalhadores que ganhavam 162, 168 reais e assinavam contracheque como 368.
Imagine a diferença mês a mês. Essas empresas vêm para Santo Antônio de Jesus,
não tem fiscalização recebem incentivos do governo do Estado se estabelecem em
espaço público com financiamento de recursos da população baiana e depois
resolvem que vão embora então porque eu falo que não existe interesse do poder
público do estado porque se houvesse e quisessem realmente que a produção fosse
uma coisa rentável para o município começasse primeiro pela fiscalização no
combate a clandestinidade da produção de pólvora que entra no município depois
pegar essa pessoas que estão de forma clandestina no município e incluir ele no
Fênix contudo e tanta burocracia, tanta dificuldade que fica, alegando que não tem
condições do pessoal ficar lá porque o pessoal não têm forma técnica como produzir
e trabalhar e só dar capacitação a eles, colocar uma pessoa uma pessoa que tenha
capacidade de vender que tenha experiência de mercado porque, mercado para
vender têm falta interesse do poder público, porque senão vai continuar todo mundo
trabalhando de forma clandestina.
A que você atribui o insucesso dos investimentos realizados pelo poder público para
o incremento na produção de fogos em Santo Antônio de Jesus?
Eu atribuo à falta de interesse político do governo do estado, porque imagine você
quando explodiu a fábrica de fogos reuniram-se, salvo engano, 18 entidades para
criar o Cofênix e depois o Fênix com a intenção única de acabar com a
clandestinidade e melhorar as condições das pessoas trabalharem e tirarem seu
sustento de forma regular , carteira assinada, direitos trabalhistas e etc., os
interesses pessoais e individuais eram tantos que todas as entidades abandonaram
o cofênix o fênix esta lá que um elefante branco, têm duas empresas que não são da
cidade nem da região e de minas gerais de Santo Antônio dos montes, porque se
pergunta então porque tanta gente produz de forma clandestina não está no Cofênix
e a resposta e que eles não possuem experiência, não têm capacidade cnica, não
sabe como produzir como vender com a tutela do fênix e como esse pessoal
continua vendendo tanto tempo para outros, produzindo e vendendo? Você sabe
que todo produto tem uma qualificação 1,2, 10 e tal se aqui o têm a qualificação
10 mas deve ter a 2 a 3, sei lá, vai qualificar e vender aquela clientela que pode ser
vendido.existem aqui muitos trabalhadores que precisam disso trabalham com isso
muito tempo, outros produtores que trabalham com isso o tempo todo eu avisei
ao pessoal que possui uma associação dos produtores de fogos que tinham que
fazer como movimento social organizado fazem, tinham que ocupar aquilo ali, o
cofênix, ocupar que é dinheiro público , ocupar e produzir fogos e queria ver o
Governo do Estado botar para fora porque todo mundo da cidade e a favor que os
produtores de fogos da cidade ocupem o fênix e não é favor que o pessoal de fora
venha e ocupe
E o que é que impede essa ocupação?
Ta faltando é coragem mesmo de ir e ocupar porque eu digo para eles, que eu
sou membro do movimento do 11 de dezembro agente luta contra a clandestinidade
mas se eu fosse produtor de fogos tivesse alguma vinculação com produção de
fogos tinha ocupado arrumava uma turma e ocupava, o governo do estado não da
atenção , vai trazendo gente de outros estados e deixando o pessoal daqui, da
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região a mercê do sei o quê. Então se eles ocupassem fossem produzir fogos
regularizassem chamassem o exercito o ministério do trabalho para acompanhar as
ões deles que iria botar para fora ninguém ia botar para fora eno é isso ocupem
e vão trabalhar porque senão ocupam agente vai continuar fazendo o nosso papel
que é denunciar a clandestinidade porque agente não que outros trabalhadores
sejam mortos de para cá outros já forma mortos recentemente eu fui a Dom
Macedo costa ver um Rapaz que estava com o couro cabeludo e as costas toda
presa na parede se queimou todo morreu dois rapazes, acontecem explosões,
escondem agente descobre vai e vê, em quatro de maio aconteceu à mesma
coisa aqui no Amparo não si foi Deus porque senão tinha morrido outra grande
quantidade era um local, no fundo tinha casa criança menores velhos morando em
um bairro residencial, podia ter morrido outro tanto de pessoas o Governo isso e
não atua, o movimento 11 de dezembro depois de várias denúncias o governo
federal aprovou um curso de capacitação de pirotecnia o do Brasil que vai surgir
agora vai ser em Santo Antônio de Jesus estamos aí tentando ver de que forma o
movimento social possa participar disso para que essas pessoas que trabalham de
forma clandestina sejam os primeiros a ganhar esta formação técnica e eu acho
que tem que ocupar o Fênix, ocupa, vai trabalhar lá, ganha capacitação técnica eu
sei que clandestinidade não se acaba de um dia para o outro mas precisa comar.
E dito que estas pessoas que trabalham nas residências produzem estalos e traques
e que esta produção não possui nem a fiscalização do exercito nem causa nenhum
risco como é que você analisa essas afirmações?
E porque não têm um outro acompanhamento da secretaria da saúde, muitas
crianças que trabalham na produção de traques e estalos, só que a massa do traque
e estalos e seu uso constante e de outros produtos que faz a mistura causa falta de
ar dos meninos quando cheiram as mulheres possuem rios problemas pois, se
você acompanhar a velocidade com que elas fazem o traque e estalos e uma
velocidade que outro dia estive levando o pessoal da televisão pata fotografar e
filmar com um mês dois meses o pessoal esta com problema, tinha um processo
aqui que o menino ficou dois messes trabalhando e ficou com problema de LER,
ficou quase quatro meses lá, com dois meses o cara estava doente já.foram quatro
meses para comprovar que ele estava doente, nós ganhamos na justiça o numero
de pessoas que ficam doentes nesta produção é grande e como não possuem
carteira assinada ele tem que ficar em casa ou continuar a viver com dores na
coluna, no braço com ler com problemas de pulmão mais em função do produto e
sabe Deus como sobrevive porque não tem direito previdenciário nenhum. Quando
não há fiscalização e às vezes a incompreensão de quem trabalha com isso , porque
primeiro eles querem sobreviver, querem trabalhar e agente tentando combater a
clandestinidade determinados momentos exigem que agente sejam compreensivos
quando dizem vocês não estão permitindo que agente trabalhe, e tem que
convencer eles que agente está lutando pela saúde deles pela segurança., tamm
em um lugar aonde tem as oportunidades são poucas de emprego a produção de
fogos ainda é e a sobrevivência para muitos .
Alega-se que as pessoas, inclusive as crianças com a produção de fogos diária
consegue uma remuneração em torno de R$ 3,00. 4,00 por dia isto gera um
montante maior do que a bolsa escola ou a bolsa família qual a sua opinião sobre
isso, realmente esses auxilio conseguem reduzir o trabalho infantil?
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114
O PET Programa de erradicação do trabalho infantil quando veio para cá na
época da explosão 1998 quando o conselho conseguiu trazer o PET para cá,
este consegue tira algumas crianças que trabalhavam diretamente com a produção
de fogos, ajudou mas não resolveu, mas ajudou muito e amenizou a situação. E o
que eu te falei, existem pessoas que desde os seus avós já trabalhavam com fogos
e praticamente todo o tempo trabalharam com isso então você dizer que vai parar de
trabalhar com isso e difícil, não é uma coisa fácil. Os auxílios do governo, bolsa
família, bolsa escola ajuda muito em função dos pouco que eles ganham então se
torna uma complementação para a sobrevivência deles, se não fosse à ajuda do
governo, estariam pior agora, como e pouco também eles não deixam de trabalhar
na produção. Se desde 1998 existisse um trabalho efetivo para as pessoas que não
trabalham com fogos, ou que trabalham e não queiram trabalhar mais conseguissem
outra forma de sobrevivência, como a agricultura na área rural, mais não m. Tem
muita gente na área rural que trabalha com produção de fogos. Existem terrenos que
a pessoa vem para área urbana de Santo Antônio de Jesus, comprar um Jiló mais
não planta nada, Santo Antônio de Jesus possui uma zona rural grande, não maior
que Nazaré e compramos muita coisa de Jaguaquara se houvesse na política
pública municipal alguma ação para realocar essas pessoas que trabalham na
produção de fogos para trabalharem na área rural com agricultura, para sobreviver e
vender muita gente sairia da produção de fogos e melhoraria muito a qualidade de
vida da população, mas não há essa política e por motivos políticos. Santo Antônio
de Jesus perdeu uma escola Agrotécnica por briga dos dois, aonde vai ficar a
Universidade federal do recôncavo, naquele espaço ia ser construída uma escola
agrotécnica, a escola vinha o outro grupo não deixou e aquele espaço ficou
sucateado, então tudo isso é uma perda.
Como você enxerga o futuro da fabricação de fogos aqui em Santo Antônio de
Jesus?
Eu percebo que vindo o curso de pirotecnia vai dar uma revitalizada, eu acredito que
não vai acabar porque é cultural aqui no município porque tem muita gente que
trabalha com isso, gosta então, acho que vindo esse curso e até a importância que
essendo dada a esse curso a capacitação a própria UFRB vai dar importância
para isso não tenha dúvida, vai acabar ajudando com capacitação técnica, vai
comar a se interessar pelo setor. Não acredito que acabe não, acredito que, com
um pouco mais de tempo ela venha a se regularizar quanto à clandestinidade acho
que ela não vai acabar tão cedo porque existem pessoas que trabalham quase que
exclusivamente na ilegalidade porque na ilegalidade se ganha mais dinheiro,
existem pessoas que ficam apostando na ilegalidade para ganhar dinheiro e algo a
ser combatido mas acabar não vai acabar nunca, agora diminuir vai diminuir muito
porque as pessoas que morreram, outros que não querem morrer mais com isso ,
outros que estão irregulares que querem regularizar porque sabe que regularizando
consegue tomar empréstimo, financiamentos, conseguem vender melhor seu
produto, o próprio governo têm exigido a questão do selo de qualidade então esse
mercado esta ficando muito competitivo então se não entrar para se qualificar vai
perder espaço e mercado, então quem quiser entrar neste mercado e ganhar
dinheiro vai ter que se qualificar e nesse processo dentro de cinco, seis, setes ou
oito anos deve regularizar a situação.
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Você tem mais alguma consideração a fazer?
A consideração que faço e que temos lutando muito para que seja feito justiça em
relação às pessoas que morreram na fabrica porque morreram trabalhadoras e
trabalhadores, crianças e adolescentes que sempre foram explorados então essa e
uma luta da qual nos não vamos abrir mão, que seja feito justiça se não for feito isso
se vai passar por cima ou se vai se passar por cima ou se vai dar um atestado de
que todo mundo pode continuar de forma clandestina e não vai dar em nada então
que seja regularizada a situação, que seja agilizado o processo, o júri popular, que
sejam condenados os responsáveis pela explosão da fábrica de fogos aonde
aconteceu o acidente e o primeiro ponto acontecendo isso vai ajudar muito para que
os empresários e pessoas envolvidas neste setor assumam responsabilidades que
tem se produzir com mais cuidado e com responsabilidade, juntando esses fatores
que a própria sociedade civil vai pressionar o poder público para dar mais atenção a
esse setor vendo pessoas da região que queiram produzir fogos de forma
responsável o município sairá ganhando.
O poder público municipal como está inserido nesta situação?
O poder blico sempre foi omisso. Na época da explosão da fabrica, por exemplo,
depois da explosão e que providenciaram o alvade funcionamento. Nestes dois
últimos anos e que depois e em função das ões do movimento 11 de dezembro e
do ano passado quando foi preso o responsável pela fabrica aonde houve a
explosão, a principio a prefeitura buscou providenciar um advogado para defender o
dono da fabrica, arrumou pessoas e deputados para soltarem e depois participou de
seminários muito de forma de apoio nos seminários agora para combater a produção
clandestina não foi feito nada e quem está perdendo e a economia do município
então quando o poder público tomar alguma atitude para combater a clandestinidade
quem vai ganhar e o município.
E a fiscalização do exército como e que ela e feita?
O movimento 11 de dezembro sempre fiscalizou mais do que o exercito porque
somos nos que saímos procurando fabricas e levar o exercito para dizer esali à
produção clandestina. Então o exercito como ação planejada não fez nada. Quem
planejou sempre as ações foi o movimento. Quem combateu, lutou, visitou, efetuou
buscas pela zona rural, fez denuncia, ajudou as diversas fiscalizações foi o
movimento. Eu só te digo o seguinte, se o produto é controlado, existe uma lei que
diz todo produto explosivo tem que ser controlado pelo exercito e se produz essa
grande quantidade de fogos aqui na região, eu te afirmo que nem um teo, uma
quantidade ínfima deste material foi liberado pelo exercito então o exercito não está
fiscalizando nada.
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Entrevista no 3
04/07/2006
Nome: Neilma
Escolaridade: Cursando o nível médio, 8ª série
Há quanto tempo você trabalha com produção de fogos?
Há quase 20 anos.
Como foi o seu inicio na produção de fogos?
Comecei a trabalhar aos 12 anos no fundo de quintal mesmo aos 14 fui para minas e
trabalhei a34 anos. De para cá não parei mais não, sempre trabalhei com
fogos?
Você agora trabalha na Big Fireworks, desde quando trabalha aqui?
Desde o ano passado quando veio um outro grupo, os conhecia de e vim
trabalhar aqui. Aqui conheci o Lucas sócio gerente da empresa.- e vim trabalhar
com ele.
Como são as condições de trabalho aqui na empresa?
Boas, não são ruins não.
Você trabalha com carteira assinada, qual o seu regime de trabalho?
Tenho todos os direitos, carteira assinada e todos os benefícios, férias, 13º salário.
Você e natural de onde?
De Salvador
conhecia Santo Antônio de Jesus?
, morei aqui quando cheguei aqui aos 12 anos quando cheguei de Salvador e
depois de um ano fui viajar.
Chegou a trabalhar com fogos aqui anteriormente?
Cheguei. Trabalhei na produção de traque, chuvinha, Sputnik, essas coisas.
Qual o bairro que você morava aqui anteriormente?
O bairro são Paulo.
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Muitas pessoas produzem fogos ainda?
A é claro. A maioria das pessoas no bairro trabalham com fogos.
Qual a sua função aqui e qual a importância desta atividade sua para a produção?
Eu conto traque. Eu adoro minha profissão, não sei fazer outra coisa a não ser
trabalhar com fogos e gosto do que faço
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Entrevista no 4
Data: 04/07/06
Nome – André Gustavo de Araújo Barbosa
Idade – 35
Mestre em Administração de empresas, Funcionário do Sebrae, Gerente da agência
Sebrae Santo Antônio de Jesus de 2000 a 2005 e ex diretor do Instituto Fênix.
Relate um pouco da sua experiência e participação no processo de reativação da
indústria de fogos em Santo Antônio de Jesus?
Essa iniciativa de legalizar e disciplinar a indústria de fogos em Santo Antônio de
Jesus, ela se iniciou logo após a explosão, acidente ocorrido em 11 dezembro de
1998, devido, sobretudo a mobilização da sociedade, quase todas as entidades
públicas, privadas e ONGs da região que se reuniram para buscar para inicialmente
prestarem assistências às famílias das vítimas do acidente e depois buscar uma
proposta para organizar o setor da indústria pirotécnica da região, ou seja, houve de
imediato uma iniciativa assistencialista, urgente e imediata para as famílias,
lembrando que a maior parte da vítimas eram mulheres e muitas delas mães de
família. Logo depois capitaneado pela Associação Comercial e Industrial de Santo
Antônio de Jesus fizeram uma visita a Santo Antônio dos Montes localizada em
Minas Gerais cidade modelo na produção de fogos no país e em toda América
Latina. Nesses estudos tendo como base a ida a Santo Antônio dos Montes surgiu
uma proposta apoiada por uma consultoria de equipe de corpo de bombeiros de
Santo Antônio dos Montes e alguns empresários que vieram a Santo Antônio de
Jesus, ajudar a construir este projeto que era a idéia de uma estrutura coletiva de
um condomínio onde se abriga diversas empresas, diversos empresários que se
fizessem presente e servisse de modelo para a região e ao mesmo tempo ser um
empreendimento que desse um apoio de investimento fixo aos empresários que não
tivessem condições de investir na modernização de suas empresas na adequação a
legislação trabalhista a legislação do exercito e polícia e diversos órgãos que
fiscalizam essa atividade. Foram duas fases distintas, no primeiro momento houve
uma fase de ações emergenciais e um segundo momento que foi planejado que foi
discutido e que foi criado um Instituto uma ONG, o Instituto Fênix no qual fazem
parte de cerca de 20 instituições outras a exemplo da Associação Comercial, Rotary,
Monaria, Lions, Igreja Católica, Igreja Evangélica, Sebrae, Governo do Estado,
Prefeitura Municipal e outras, com objetivo de se envolver, legalizar, qualificar a
atividade de fogos de Santo Antônio de Jesus. Nesse segundo momento foi
construído um projeto que o projeto de se construir um condomínio de fogos, foram
dois projetos construídos, um de Muniz Ferreira e outro em Santo Antônio de Jesus.
se sabia desde o início que não se iria atender todos os produtores, pois,
segundo estimativas e dados levantados através de pesquisas efetuadas pelo
Instituto nix se chega a dez mil trabalhadores neste segmento aqui na região, ou
seja, uma atividade que se emprega muita mão de obra, muita atividade artesanal,
extremamente artesanal, não existem máquinas para fabricação de fogos, não
existem grandes formas de produção industrializada e uma atividade extremamente
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manual possuindo um pouco da características das atividades produtivas do
Recôncavo, sabe-se que a região possui a característica manuais da região como o
próprio artesanato, produtos cerâmicos e a indústria de fumo e a fabricação de fogos
tamm aproveitou dessa capacidade manual dos homens e mulheres do
recôncavo.
Esse projeto foi executado em Santo Antônio de Jesus, foi construído o condomínio
de fogos, um projeto para quatro indústrias, um projeto que tem algo em torno de
150 galpões dentro do condomínio foi financiado pelo Governo do Estado o Estado
desapropriou uma área, investiu na desapropriação de uma área, construiu os
galpões e esse estabelecimento foi cedido ao Instituto Fênix até o momento que o
instituto conseguisse incentivar e colocar em funcionamento as indústrias dentro do
condomínio de fogos e bom diferenciar o Instituto Fênix que é uma ONG e o
Condomínio de Fogos Fênix, que é um condomínio, uma estrutura física para que as
empresas possam estar construindo dentro daquela estrutura.
Você falou que cerca de dez mil pessoas trabalham com essa atividade aqui na
região, Santo Antônio de Jesus e regiões circunvizinhas, como se chegou a esse
numero?
Esse numero e um numero difícil, e uma estimativa, o temos dados concretos
porque e importante ressaltar que atividade de fogos na região não é só uma
atividade informal, mas ilegal, comparando-se com Santo Antonio dos Montes são
quase oitenta indústrias todas legalizadas e formalizadas, então a atividade é
legal e formal, aqui em nossa região infelizmente apesar de empregar muita gente
ela não e informal ela é ilegal, então e difícil atingir dados concretos. Chegamos
ao numero de dez mil através das prefeituras da região, pesquisamos nas
prefeituras fomos buscando estimativas, buscando com pessoas que são
empresários do setor e chegamos a esse numero, mas, e um numero que não tem
uma base concreta na pesquisa, foi um numero obtido através de estimativa
levantadas junto às prefeituras da região.
Qual o papel do Sebrae nesse processo?
O Sebrae no primeiro momento se uniu a todas aquelas instituições que surgiu como
apoio logo após a explosão, dando aqueles apoios emergenciais na presença física
dos seus colaboradores na participação e construção dessa iniciativa e logo depois
entrou como um dos principais atores nesse processo que o Sebrae possui o
papel de desenvolver e apoiar as micro e pequenas empresas, que se sabe que
nesse setor a maioria e micro e pequenas empresas. No primeiro momento o
Sebrae entrou com um programa chamado PATME, hoje se chama SEBRAETEC,
que e um programa de apoio tecnológico a micro e pequena empresa onde o Sebrae
investe até 90% de recursos do próprio Sebrae e exige uma contrapartida em média
de 10 a 30% para construção do projeto inicial dos condomínios de fogos. Então o
Sebrae entrou com esse programa, alocou recurso, foi buscar consultores em Minas
Gerais trouxemos estes consultores eles vieram e fizeram esses projetos da planta,
da proposta a forma de funcionamento, foram eles que escreveram a legislação
municipal de manuseio de produtos controlados inclusive essa lei que foi criada no
município foi anexada à lei nacional de produção de fogos e derivados dessa
produção. Então nesse primeiro momento foi mais um apoio na construção do
projeto, no segundo momento o Sebrae entrou com alguns produtos do seu mix,
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como cursos de empreendedorismo para os empresários, cursos de gestão,
treinamento de vendas conseguimos recursos através da secretaria do trabalho para
treinar mão de obra, então o Sebrae entrou nesse aspecto de capacitar mão de obra
trouxemos consultores de Minas Gerais para Santo Antônio de Jesus, treinamos
mais de duas mil pessoas em manuseio de produtos controlados, em segurança no
trabalho foram criadas rotas de fuga dentro das unidades de produção, foram
treinadas pessoas nesta situação de fuga quando houvesse uma necessidade então
essa parte de mão de obra o Sebrae capitaneou em parceria com a SETRAS. Além
disso, o Sebrae esta envolvido com todas as outras fases, muitas vezes não
diretamente e, mas, uma grande parte também executando. A equipe do Sebrae
sempre esteve envolvida nas ões do Instituto Fênix, seja nas articulações, nas
idas para negociar com o exército, para negociar com o CRA, para negociar com o
Governo do Estado recursos para a região, então houve uma participação muita
intensa do Sebrae nesse processo.
Passados oito anos (entrevista realizada em 2006) do acidente, como você analisa
esses investimentos que foram realizados, falasse em cifras de dois milhões, três
milhões de reais, ou ate mais que isso, como você analisa esses investimentos
aplicados nestes projetos e os resultados dos mesmos?
Foi um volume de recursos consideráveis investidos na região. Onde o SEBRAE
aportou com um volume de recursos considerável como também o governo do
Estado, a prefeitura, todos os atores. Claro que hoje agente chega a um momento
que não é o que agente esperava, o que agente procurou construir foi um projeto
sustentável duradouro mais que ainda não se concretizou.
Acho que tem dois grandes ganhos da sociedade, primeiro foi a mobilização da
sociedade em poucos momentos na história de Santo Antônio de Jesus, nos anos
em que moro aqui, ou até mesmo em outras cidades eu nunca vi uma sociedade se
reunir de uma forma o coordenada, tão intensa quanto a forma que se reuniu nos
momentos iniciais após a explosão. Foi criado o instituto (Fênix), foi captado recurso
houve um genuíno interesse de todas as instituições por uma causa. Acho que se
tornou um grande exemplo para a cidade que é possível agente mudar uma
realidade quando existe união. Acho que houve um ganho.
Um segundo fator foi a redução da mortalidade relacionada aos acidentes de fogos
agente fala muito desse acidente de 64 pessoas mas constantemente existiam
pequenas explosões nas fábricas clandestinas onde, inclusive quando havia, ou
quando ainda essas explosões, os trabalhadores ninguém relata que é da
explosão de fogos como medo da repressão policial da apreensão das mercadorias.
Isso até hoje deve estar acontecendo ainda mais, agente conseguiu nos hospitais da
região relatórios de mortalidade de acidentes por causa de fogos e agente chegou
ao ano de 2003 e 2004, os últimos anos em que foram feitos os registros a
mortalidade zero, o que não acontecia a muitos e muitos anos. O ápice que foi em
98 com 64 mortos, mas o treinamentos as orientações, mesmo as pessoas
trabalhando ainda na clandestinidade hoje, essas pessoas muitas delas sabem
como se proteger, manusear substâncias que eu acho que foi um grande ganho
para a sociedade.
Acho que fatores negativos o principal deles e o condomínio de fogos porque foi
um investimento muito alto, agente calcula que algo em torno de dois milhões
investido na construção daquele condomínio desde o projeto aa estrutura física,
compra da propriedade. O condomínio hoje tem sido subutilizado, praticamente
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funciona uma fábrica lá dentro, de 180 galpões apenas 30 ou 40 estão sendo
utilizados. O condomínio que era de gestão do Instituto Fênix, desde 2004 é de
gestão da SUDIC, foi devolvido a SUDIC, o Instituto Fênix hoje está em processo de
uma nova eleição, está desativado, desde o início do ano passado, do ano de 2005,
estamos preparando uma nova eleição e com certeza acredito que o Instituto Fênix
deve seguir um caminho não do fogos, o nome é Instituto de Desenvolvimento
Sustentável do Recôncavo e deve caminhar com outros projetos, outras iniciativas
bem como apoio aos fogos.
Mas acho que a grande frustração e esse investimento realizado no condomínio
porque agente esperava que os empresários estivessem evidentemente produzindo,
você sabe que muitos empresários ainda não se conscientizaram, estão produzindo
em suas fazendas na zona rural continuam produzindo de uma forma totalmente
ilegal, colocando em risco a vida de pessoas, mas acredito que foi a maior
dificuldade para essa industrialização acontecer como acontece em Santo Antônio
dos Montes, no México, na China, na Itália e nos grandes centros produtores de
fogos. Aqui tem um aspecto cultural muito forte e é difícil romper essa barreira.
Agente depois de alguns anos percebeu que não são empresários dos fogos, talvez
tenham muito poucos. Eles não são empresários o pessoas que ganham dinheiro
com fogos de uma forma totalmente ilegal, é totalmente ilegal a forma com que eles
trabalham e não querem sair porque é muito mais fácil ganhar. Só para ter uma idéia
agente conhece casos de relatos aí de empresas que compram a caixaria, as caixas
vazias como se fossem de Minas Gerais e chega a caixa vazia como produto
acabado, enchem as caixas aqui e volta para Minas Gerais como devolução de
produto que foi utilizado alguma coisa assim. É esse tipo de prática que ainda existe
aqui na região na produção de fogos.
Com certeza existe ainda outros pontos positivos como alguns empresários que
legalizaram suas fábricas, agente sabe que existem três ou quatro fábricas legais
funcionando não dentro do condomínio de fogos mais fora e esse é um resultado do
projeto pois quando começou esse projeto o existia nenhuma e hoje existem
essas quatro com, inclusive, projeto elaborado pelo instituto nix para que esse
empresário hoje possa trabalhar de forma legalizada, eu acho que é um grande
avao.
Outro ponto positivo que eu considero foi a lei de legalização de estalo de salão,
conhecido como traque de bater, que é uma atividade que conseguimos junto ao
exército que foi permitir que ela fosse fabricada dentro das casas. A produção de
fogos em Santo Antônio de Jesus é a chamada miudeza, é a bomba , é a cobrinha,
e o traque, esses produtos normalmente são entregue a matéria prima nas casas
das pessoas, as pessoas se traçam nas suas casas, ou vão para os quintais
produzir, colocando em risco toda uma vizinhança do bairro e a própria vida das
pessoas e, o estalo de salão agente provou junto ao exército que o um produto
que possa explodir, que corra o risco de explosão, é uma massa que preparada
mais ela não explode como a pólvora negra, o tem esse perigo, então o exército
liberou para que fosse produzido dentro da casa das pessoas, então agente vê nas
casa muita gente produzindo o estalo de salão de uma forma legal, informal ainda
mais legal porque tem autorização do exército para esse tipo de atividade.
Então existem fatores positivos que, ainda não se chegou ao que nós esperávamos,
agente acreditava que hoje teria o condomínio funcionando a pleno vapor, todas as
empresas legalizadas mais, acho que fica esse sentimento de frustração porque o
condomínio se tornou um grande símbolo do projeto, era um grande símbolo e a
expectativa nossa que aquilo iria se transformar no futuro e um grande centro
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tecnológico e um projeto que servisse para toda a região ter uma referência e hoje
não acontece isso e uma cobrança muito grande da sociedade devido ao
investimento que foi efetuado. Acho que é justa essa cobrança mais que
infelizmente se não conseguimos vitória no condomínio acho que em outros
aspectos nós conseguimos avançar bastante mas falta muito o que fazer ainda.
Você disse que foi legalizada a fabricação de traques de bater nas residências, nós
sabemos que existe um grande numero de menores trabalhando nessa atividade
mas, não só risco de explosão mais o risco também de doenças ocupacionais com a
fabricação desses fogos tem um risco muito grande, que é grande velocidade no
manuseio e fabricação desses fogos . Como é que você enxerga essa participação
do menor e as doenças ocupacionais dentro do processo de fabricação de fogos?
Isso é um fator extremamente grave porque logo após a explosão nos comamos
um trabalho junto com essas crianças, foram mil e quinhentas crianças que foram
tiradas da atividade de fogos com o programa de erradicação do trabalho infantil
(PETI) que funcionou no centro de Santo Antônio de Jesus. Então naquele momento
nos conseguimos tirar essas crianças dessa atividade mas com o passar do tempo
as crianças começaram a voltar a atividade da produção e hoje tem muitas dessas
crianças que ainda estão nesse programa, muitos estão na escola, outras saíram da
faixa eria que é prevista no programa mais com certeza ainda existe muita criança
trabalhando porque e uma atividade que essas famílias que pegam essa matéria
prima para produzir elas ganham por produção, por produtividade, então quanto
mais elas produzirem mais elas ganham, então é uma atividade que vira quase
como uma atividade familiar se reúnem os filhos, o marido, a mulher outros parentes
sentam numa sala da casa, ligam a televisão e vão produzir, ou sentam na porta da
casa, fazem um círculo e sentam um ao lado do outro e começam a produzir. Então
ainda é um problema grave.
A questão de ter legalizado o estralo de salão não tirou o problema das crianças
trabalhando nem o problema da possibilidade de doeas por esforço repetitivo ou
doenças alérgicas de intoxicação porque as matérias-primas são tóxicas e levam a
risco a saúde das pessoas. Nos treinamentos que nós realizamos nós orientamos
várias práticas e técnicas de como prevenir mais agente sabe que muitas delas não
o utilizadas no dia-a-dia, eu acho que ainda é um problema social, a atividade e
fogos foi muito esquecida nos últimos anos por talvez essa melhora em termo de
redução de acidentes mas eu acho que tem ser um trabalho contínuo ate mesmo
porque novos acidentes podem acontecer, agente sabe que a produção continua
com certo rigor na parte de comercialização, agente sabe que os órgãos têm
apreendido, tem fiscalizado, mas na produção por ser difícil a fiscalização, por ser
um produção dentro de casa, as pessoas trancam a porta e não tem como ter
acesso, as pessoas não falam sobre o assunto quando vão ser entrevistadas,
quando vão ser abordadas e, na pratica a produção ainda continua por toda a
região. Temos como focos principais Santo Antônio de Jesus, Muniz Ferreira, São
Felipe, Nazaré mais em toda região a produção de fogos então, realmente são
problemas graves que ainda existem mas eu acho que esse projeto essa iniciativa
tem que continuar, deu uma desaquecida esses últimos anos mais tem que
continuar porque se existe uma busca para que outros acidentes não ocorram igual
aquele, (o de 11 de dezembro) é preciso continuar agindo.
Qual foi sua participação no Instituto Fênix?
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Bem, cheguei aqui em Santo Antônio de Jesus - em 2000, o Instituto estava
criado, eu assumi no lugar do colega anterior, o Roger que participou ativamente da
constituição do Instituto, desta iniciativa e partir de 2000 eu fiz parte da diretoria, fui
tesoureiro durante quatro anos da gestão do Instituto, não como membro da
Diretoria, mas representando o Sebrae, que o Sebrae faz parte deste Instituto.
Como Diretor da Associação Comercial tamm fui à pessoa indicada para estar à
frente do Instituto, então representava o Sebrae e a Associação Comercial e
participação foi muito ativa com muitas reuniões com Instituições parceiras para
tentar recursos para o projeto, negociação com o exercito com a policia para
fiscalizar, cobrar fiscalização, para negociar a legislação municipal, negociação com
o Governo do Estado para os investimentos na construção do condomínio, o próprio
dia-a-dia da gestão do Instituto junto aos colegas, Irmã Benedita, Dra. Ana, Jaciara
da SETRAS, Marconi, Então foi uma época que tivemos uma atuação muito intensa
na busca de alternativas para o setor. Eu acho que não minha participação como
funcionário do Sebrae, como representante do Sebrae, instituição mas, como
cidadão de Santo Antônio de Jesus que está buscando da uma parcela de
contribuição na melhoria da qualidade de vida de todos nós da população da região.
Foi uma época muito intensa do dia-a-dia, de reuniões a noite de grupos de ir para
os bairros, de fazer palestras nos bairros de reunir com associação de moradores de
sentar com políticos da rego para negociar esforços para criar leis municipais, foi
uma época de muita participação mesmo.
Descreva um pouquinho da história do condomínio Fênix, do início, da empresa
Cosme e Damião porque não deu certo o que aconteceu, a Brunchú que dizia que ia
produzir artefatos pirotécnicos de alta qualidade, alta tecnologia, se comentou que
Santo Antônio de Jesus seria um grande lo de pirotecnia, porque isso não
aconteceu?
Eu acho que um dos erros, se avaliando todo esse processo, que hoje é cil se
falar em erros, mas na época agente esperava que essa iniciativa do condomínio
fosse a melhor mas, com o tempo agente percebe que talvez não tenha sido a
melhor estratégia. Eu falei um pouco antes que agente percebeu que o eram
empresários do setor de fogos, em Santo Antônio de Jesus o tem empresário do
setor de fogos, na verdade são poucos que agente pode chamar de emprerio,
aquele que tem uma visão empresarial do negócio, um dos grandes erros do projeto,
dizendo isso hoje depois de sete anos da iniciativa foi de tentar unir dentro do
condomínio, o condomínio dava espaço para quatro empresas por questões de
segurança, então não havia a possibilidade de ter mais empresas, então o grande
erro foi forçar a reuno de produtores de fogos para formarem empresas. Pessoas
que não eram amigos, pessoas que não tinham afinidade empresariais e comerciais,
pessoas que não possuíam nenhuma visão de negócio eles se unirem para criar
empresas. Então como se queria beneficiar um maior numero de pessoas agente
colocou essa proposta, não foi uma obrigação, o Instituto Fênix achou melhor adotar
essa estratégia de reunir essa quatro empresas e tentar beneficiar o maior numero
de empresários possíveis, então, por exemplo, tem empresa que tinham sete sócios
que não eram amigos que não tinham afinidade comerciais que estavam ali por uma
oportunidade, eles não queriam estar fora do projeto. Então se uniram para montar
uma empresa dentro do condomínio, uma empresa que estava recebendo cerca de
90% de tudo de graça porque você montar um negócio que você recebe a empresa
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pronta, as máquinas prontas, marketing pronto, mão de obra capacitada, energia,
recebe toda infra-estrutura, apoio de consultoria, do Sebrae, do Instituto Fênix e do
governo do Estado, você entrar apenas com a mão de obra e o dinheiro do capital
de giro para compra mercadorias e os restante das instalações, isso é muito bom,
não conheço outra iniciativa assim no Estado. Porém, esse empresários que se
reuniram não eram sócios, eram sócios no papel, no documento da empresa
como sócios, então um queria passar por cima do outro, um tinha um interesse,
outro tinha outro interesse, um pensava de uma forma outro de outra forma, não
existia um alinhamento empresarial. Então essa foi uma falha crucial do projeto.
Hoje agente observa que talvez fosse melhor um condomínio mais no sentido de
uma escola ou não um condomínio, uma estrutura de centro tecnológico para treinar
mão de obra, treinar os empresários e incentivar para que os empresários
investissem em seus próprio negócios aonde ele produzem em suas próprias
propriedade e investissem e melhorassem os seus negócios.
Então o condomínio foi um fracasso do projeto porque empresas como a Cosme e
Damião que tinha em torno de oito pessoas, sócios que nenhum tinha experiência
empresarial, nenhum entendia nada de legislação, nenhum entendia nada de
negócios. Eles entendiam de produzir fogos, eram excelentes em produzir mas não
entendiam nada de empresa. Quando se deparam com a situação de ter uma
empresa na mão de receber um financiamento do Banco do Nordeste a condições
extremamente favoráveis, no momento em que precisou de capacidade gerencial,
de empresários para gerir o negócio eles não tinham, tinham produtores. Então a
Cosme e Damião agente verifica que foi problema de capacidade gerencial. Eles
não tinham capacidade gerencial e nós do Instituto Fênix não percebemos isso no
momento. Agente achou que quando eles se reunissem, inclusive receberam
financiamento em torno de duzentos mil reais do Banco do Nordeste sem colocar
nada de garantia, a garantia foi o fundo de aval do Governo do Estado, o fundo de
aval do Sebrae, o fundo de aval do Governo federal. Então, eles conseguiram
financiamento sem nada de garantia, estrutura física de graça, segurança,
consultoria do exército, consultoria do Sebrae. Quer dizer, faltou um empresário no
momento. Esse foi o caso da Cosme e Damião que agente identificou isso.
Existem dois casos do Instituto Fênix que as bricas foram cedidas a grupo de
empresários que não quiseram se implantar no condomínio. Eles estavam em
situação muito boa produzindo na ilegalidade, eles conseguiram a área mas nunca
colocaram a empresa para funcionar. São empresários conhecidos da região,
empresários que possuem recursos financeiros para produzir, não precisavam de
empréstimo bancário, mesmo assim havia possibilidade deles conseguirem o
empréstimo mas não houve interesse desses empresários que garantiram a área
mas não quiseram implantar. Esse foi outro caso percebido no condomínio.
Então das quatro indústrias que tiveram posse da área, a Cosme e Damião teve um
fracasso gerencial, para se ter uma idéia eles venderam cerca de vinte mil reais para
um empresário de Sergipe e receberam um cheque do BANEB Banco do Estado
da Bahia quando o BANEB não existia a mais de um ano, só um exemplo de
má-gestão/vendas, então isso ocasionou um impacto do capital de giro grande e
diversos outros problemas que aconteceram, duas empresas não se instalaram
apesar de conseguir a posse da fábrica mas os empresários não quiseram se
instalar e uma quarta estava aguardando com projeto junto ao Banco do Nordeste,
contudo o empréstimo não foi liberado devido aos problemas no financiamento da
Cosme e Damião. Uma dessa empresas que agente conseguiu uma área de volta
para o Instituto nix, foi cedida à área para uma empresa brasileira mas que vinha
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com uma tecnologia espanhola que foi a Brunchú. A Brunchú chegou com uma
perspectiva diferente ela queria se implantar na região e produzir não a miudeza que
é produzida aqui mas fogos para shows pirotécnicos. Ela veio, se instalou e após um
ano resolveu sair pois percebeu que não teria sucesso na região e resolveu sair por
questões gerenciais. Eles perceberam que a legislação na Bahia estava muito
rigorosa, estava sendo muito visada à região de Santo Antônio de Jesus em termos
de produção, não conseguiram vender fogos para o Nordeste como eles esperavam.
Eles queriam vender muito para shows, aniversários, festas, eventos de futebol,
aqueles fogos usados em competições esportivas, o foco deles era esse. Eles
vieram, comaram a produzir, chegaram a vender foram um dos grandes
incentivadores a um festival que existe anualmente em Salvador, o Festival
Internacional de Fogos que é abertura do período festivo de Salvador que acontece
todo mês de novembro. Então foi uma estratégia gerencial, eles tinham uma
perspectiva muito boa e preferiram voltar para Santo Antônio dos Montes eram
sócios de Santo Antônio dos Montes e um empresário espanhol e foi a estratégia
deles. Eles vieram com uma perspectiva, obtiveram uma área de graça conseguiram
a mão de obra já capacitada mas tiveram dificuldades com o mercado local e
preferiram sair, devolveram a área a SUDIC, como estava previsto. Depois disso
venho outra empresa de Minas que a única empresa que esta funcionando no
condomínio, que não lembro o nome agora, mas que está produzindo lá trabalhando
com em torno de 30 a 40 funcionários que está lá a mais de um ano, quase dois
anos estão produzindo e ocupando em torno de 20 a 30 galpões que é de 20 a 30%
do complexo do condomínio de fogos.
Como você enxerga o futuro da produção de fogos e do mercado de fogos aqui em
Santo Antônio de Jesus?
Tem dois aspectos. Eu acho que questões mercadológicas de oportunidades, eu
que passei quase quatro anos trabalhando com o setor eu vejo com uma grande
oportunidade de negócio. Os fogos transmite alegria, é algo que está presente na
vida de quase todas as pessoas, nos momentos especiais, é muito usado nas
competições esportivas principalmente no futebol em festas eventos, eventos
políticos fora aqueles que é chamada a miudeza que é usado no dia a dia.
Para você ter uma idéia, eu visitei no Estado do Paraná, para conhecer a indústria
de fogos naquele Estado, como é o mercado. Visitei um distribuidor de fogos no
Paraná que possui dez mil clientes, nos temos fotos que no Para é permitido
vender fogos em supermercados, em armazéns, claro que dentro de algumas regras
e normas de segurança. Temos algumas fotos por exemplo de loja de caça e pesca
que vendem alguns tipos de fogos claro que em pequenas quantidades mas em
cima morando uma família no primeiro andar e em embaixo uma loja de caça e
pesca e nunca se ouviu falar em nenhum acidente neste tipo de estabelecimento
mesmo quando acontece acidente e algo mínimo porque as sessões são pequenas.
No norte e nordeste nós não temos essa cultura. Os fogos aqui são vendidos nas
esquinas sem nenhuma segurança, a produção existe sem nenhuma segurança e
tem um mercado fantástico. Nós temos a cultura de fogos no São João
praticamente. Nos outros estados nos vemos, nos estádios de futebol, nas lojas e
possível verificar que o pessoal vende fogos ano inteiro. A criança vai ao
supermercado e compra o saquinho de bomba que pode soltar qualquer dia do ano,
não é no São João, agente não tem essa cultura então acho que a
oportunidade muito grande no norte e nordeste de se criar outros caminhos para a
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utilização e comercialização de fogos. Esse é um lado positivo, o lado da
oportunidade.
O outro lado, negativo, e da nossa cultura da região, da forma de produzir que é
totalmente informal, ilegal e irresponsável colocando em risco a vida de muitas
pessoas as iniciativas que s tivemos acho que tiveram alguns pontos positivos, de
forma geral a iniciativa não foi bem sucedida, hoje a produção continua do mesmo
jeito ou pior porque hoje as pessoas sabem que precisam legalizar e não estão
legalizando, antigamente acredito que eles nem tinham essa visão que era possível
se produzir de forma legal, agente sabe que existem possibilidades mas, os
empresários não querem investir, não querem melhorar, então, eu vejo uma situação
pior pois, quando a pessoa esna ignorância ela o sabe nem que existe o outro
lado, pior e saber que existe uma forma legal como existe hoje essa fábrica de
Santo Antônio dos Montes que esta produzindo no condomínio, um exemplo aqui
perto, mais uma ou duas bricas de empresário que produzem legalmente e não
estão produzindo dessa forma. No futuro eu não vejo nenhuma perspectiva nesse
setor, a menos que a sociedade volte a se reunir e volte a cobrar. Agente sabe que
todo ano alguns movimentos sociais relembram a data da explosão da fábrica, se
manifestam, fazem passeatas nas ruas mas, durante o ano todo agente vê o
silêncio, a produção do mesmo jeito que estava, os fogos sendo vendidos de
qualquer jeito, nas esquinas e produzidos dentro das casas ainda. Não sei se estão
esperando outro acidente grave acontecer para voltar a se manifestar a voltar a sair
as ruas mas, não vejo perspectiva empresarial ou alguma política pública de
prefeitura ou do Governo do Estado, nenhuma iniciativa que esteja ganhando corpo
que possa resolver esse problema mas, eu acho que uma possibilidade muito
grande, até porque e um setor altamente gerador de empregos.
Agente tem como referência Santo Antônio dos Montes uma cidade que importa dez
mil pessoas de mão de obra, quer dizer, talvez um dos únicos casos do Brasil ou do
mundo em que vem gente de fora das cidades vizinha trabalhar na cidade, são
pessoas que vem de manha e voltam de tarde e, é um grande produtor, distribui
para o Brasil todo, inclusive aqui para nossa região e um grande exemplo de cluster,
um arranjo de empresas juntas. É claro que existem problema de ilegalidade lá,
como em todo setor existe, tem problemas de acidentes lá, tem pois é um setor que
sempre tem acidentes mas, tem uma organização, existe iniciativa para que o setor
seja legalizado, trabalhe de forma correta e etc.
Aqui na região do Recôncavo sul da Bahia, agente vê que depois que o Instituto
Fênix parou de atuar junto ao setor de fogos não surgiu mais nenhuma iniciativa.
Então acho que o futuro não aponta para boas iniciativas para o setor em termos de
crescimento, desenvolvimento ou legalização.
A que você atribui o enfraquecimento da sociedade civil nesse processo?
É difícil falar de um fator, são vários fatores. Houve inicialmente um desestímulo, das
pessoas que estavam a frente. Eu mesmo, como uma das pessoas que estavam a
frente me desestimulei bastante pois, durante os quatro anos em que trabalhei junto
ao projeto, agente não via uma reciprocidade dos empresários por mais que agente
lutasse para construir o condomínio, trazer os cursos, legalizar a atividade, agente
não via os empresários com a mesma preocupação, agente via apenas pessoas
querendo ganhar com a oportunidade e não tinham uma perspectiva de futuro. Eles
não queriam legalizar, o objetivo não era a legalização do setor, o objetivo era tentar
ganhar com aquela oportunidade, ver o que ele poderia ganhar mais com aquela
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oportunidade então, isso desestimulou, com várias pessoas do Instituto aconteceu a
mesma coisa, o desestímulo, o não apoio do outro lado, porque tudo que agente
imaginava, agente pensava. Agente pensava que os empresários queriam isso e na
verdade eles não queriam.
Segundo um briga de interesses muito grande, grupos políticos de diversos lados
brigando pelo apoio ao setor de fogos. Então tinham grupos que por achar que o
governo do Estado estar investindo no projeto do partido político do mesmo grupo do
governo do Estado, grupos ligados aos direitos humanos, partidos ligados aos
direitos humanos achavam que tinham que ser contra o Instituto Fênix porque tinha
apoio do governo. Pessoas que estavam no Instituto Fênix achavam que tinham de
ser contra os movimentos sociais, os movimentos sociais eram ligados aos direitos
humanos e criticavam a impunidade dos empresários responsáveis pela atividade no
lugar da explosão.
Então, houve muita briga política de interesses que sempre voltam na época da
eleição. Toda vez na época da eleição volta-se a falar de Instituto Fênix, voltam a
falar que os recursos foram mal aplicados, voltam a falar de corrupção, voltam a falar
de desvio de dinheiro, voltam a falar de empresários. Então isso é o que agente
sempre quando volta a falar em época de eleição. Quando o é ano de eleição
ninguém fala nada, ninguém participa, ninguém vai às reuniões, ninguém escom
nenhuma preocupação. É aquela mesma estória que agente conhece aqui no Brasil
como massa de manobra, como são pessoas pobres, humildes, e 99% das pessoas
que trabalham no setor são pessoas com baixíssima instrução, pessoas pobres,
humildes que são muitas vezes manipuladas pelos interesses políticos, com esse
disse me disse que não contribuiu em nada, muito pelo contrário, prejudicou essa
belíssima iniciativa que foi o Instituto Fênix, uma iniciativa única no país de vinte e
três Instituições se reunirem e criarem uma ONG que tem reconhecimento blico
Federal, Estadual e Municipal, que tem reconhecimento do Congresso Nacional, da
Câmara Legislativa, da Assembléia Legislativa, que tem um reconhecimento tão
grande que é elogiado em diversos runs fora do Estado e, aqui na cidade por
causa de brigas políticas prejudicou esse projeto.
Então acho que esses foram os dois principais fatores. O Sebrae mesmo, eu falo
pelo Sebrae, após seis anos investindo nesse projeto de fogos decidiu não mais
investir no setor por causa desses problemas locais, por falta do interesse do
empresariado, por causa dessas brigas que, em alguns casos acabou até
arranhando a imagem de algumas dessas instituições que se colocaram tão bem, de
uma forma tão proativa dentro desse projeto.
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Entrevista no 5
DATA: 06/11/07
Nome: João Batista Costa (conhecido como João Mutum)
Nascimento: 24/06/1957
Presidente da Associação da Criança e Adolescente, Gestante e Idosos do Bairro
Irmã Dulce. – ASCAGIA.
Conte-me um pouco da sua relação com a produção de fogos?
Como morador mais de 20 anos no bairro venho convivendo com a produção de
fogos. Aqui em Santo Antônio de Jesus, principalmente nos bairros periféricos, não
se encontra outra fonte de emprego, o emprego que tem hoje para essas pessoas e
traque de massa e a produção nas tendas aonde venho acontecer aquela tragédia
que as pessoas se afastaram mais um pouco mas, não deixam de trabalhar porque
precisam realmente, é a necessidade que faz as pessoas correrem atrás. Então, as
pessoas continuam fazendo seus traques, apesar de serem perseguidas por que
não querem que faça mas, não traz opção de emprego para essas pessoas.
Então a situação é muito difícil onde nós aqui da Associação estamos tentando
correr atrás de alguns cursos para trazer para essas pessoas mudarem a situação
mas é difícil porque quando as pessoas tentam fazer alguma coisa, o próprio
comércio que é a fonte de emprego não aceita as pessoas de periferia, são julgados,
o sacrificados. Nós temos vários jovens aqui formados, pessoas inteligentíssimas,
concursadas e tudo, mas quando chegam à cidade e perguntam, moram aonde? E
respondem que moram no Mutum então respondem, volte depois e esse depois não
existe. Então estamos tentando acabar com essa falta de entendimento ou talvez até
frescura do povo do comércio mesmo. Eles deviam respeitar essas pessoas mesmo
porque os pais dessas crianças, desses adolescentes trabalham para poder formar
seus filhos, dar um futuro melhor e, quando chega o recebidos, julgados como
se fossem marginais. Então isso é que nós queremos que acabe.
Então isso acontece também com nossos fogos, e as pessoas vivem disso, passam
por grandes dificuldades porque quando eso fazendo traque na porta, até a própria
polícia a mandado de quem, vem e tomam esses fogos. Então, as pessoas estão
sem saber o que é que fazem, passando necessidade. Quem possui familiares que
trabalham em outro setor não ficam com essa limitação existem pessoas que
vivem disso. A renda daqui é uma renda fora do comum, uma renda que não existe,
com famílias ganhando dez reais por semana, então é triste, é doloroso. Estamos
correndo atrás para ver se agente muda essa posição.
Estive aplicando questionários aqui no bairro Irmã Dulce (antigo Mutum) e pude
observar famílias que conseguem até vinte reais semanais. De que forma chega a
matéria prima, o material para fazer esses fogos, no caso daqui traque ou estalo de
bater. De onde vem a massa, os papelotes?
Essa massa, como nós sabemos, em todo tipo de fogos tem risco que essa
massa o tem tanto risco que venha acontecer de matar alguém. Pelo que sei não
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é só fogueteiro que tem essa massa, as pessoas que comam a trabalhar com
fogos começa a fazer essa massa e, ele tendo uma renda ou pega dinheiro no
banco, prepara a massa e distribui com as pessoas para fabricar traque e, é no
São João que ele vai cobrir os débitos dele de banco.
Sabemos que sempre se produziu fogos aqui em Santo Antônio de Jesus mas sem
as pessoas se importarem muito com isso, após o acidente ocorrido em 11 de
dezembro de 1998 que os governantes juntamente com a população começaram a
se preocupar com isso, inclusive foram iniciadas tentativas para melhorar a
produção de fogos aqui em Santo Antônio de Jesus. Como você enxerga a produção
antes e após o acidente?
Enxergo que, as pessoas que estavam trabalhando ali dentro e porque precisavam.
Não vejo culpa nenhuma em quem deu o trabalho. Existe muitas pessoas falando
que tem um culpado, o culpado foram muitas pessoas foi o exército, foi a prefeitura,
foi geral. Então não é um só que é o culpado e essa pessoa pelo que sei matava a
fome de muita gente, mesmo trabalhando, ganhando o seu dinheiro mas matava a
fome.
Não fui uma vítima porque minha esposa e duas filhas minhas uma semana antes
da exploo saíram dos fogos mas, perdi uma sobrinha que eu mais gostava por
sinal, mas eu acho que não existe um culpado. sei que as pessoas estavam
correndo atrás para ganhar o seu pão porque aqui não tem outra opção de emprego
e venho tanto projetos a respeito do Fênix e outros que vieram mas não teve
sucesso nenhum. Muitas vivem atravessando, lá no Fênix mesmo as pessoas botam
ganhando um salário e ganham metade do salário, isso existe, e até hoje não houve
nenhuma solução para o povo.
Então eu vejo que os fogos, nos bairros periféricos é a solução para a
sustentabilidade de algumas mães, de algumas pessoas que fazem para sobreviver
porque até agora nem o Governo estadual, nem o federal, nem o municipal tomou
atitude nenhuma em prol desse povo.
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Entrevista no. 6
DATA: 20/02/08
Nome: Maria Madalena Santos Rocha
Nascimento: 22/07/1952
Presidente do movimento 11 de dezembro
A senhora poderia explicar como foi a criação do movimento 11 de dezembro e sua
participação no processo de mudança após a explosão ocorrida em 1998 e com a
morte de suas filhas Fabiana, Adriana e Mônica na época com, respectivamente 14,
15 e 22 anos?
Esse movimento foi muito difícil, foi difícil até encontrar que ajudasse agente aqui em
Santo Antônio, porque o pessoal daqui diz que ele é pai do pobreza se referindo a
Oswaldo Prazeres, conhecido como Vardo, que explorava o local onde ocorreu a
explosão - , então foi muito difícil para gente que é uma turma de gente pobre.
Conseguimos estruturar o movimento porque conseguimos encontrar Manoel
conhecido como Manoel missionário – Aílton – Aílton José dos Santos, ver entrevista
n. 2 Ana do PT, o pessoal do PT lá, Nelson Pelegrino, Yulo que deu a maior força
para o movimento. E agente está lutando até hoje, já foi tirado o processo daqui
o processo no qual o Sr. Oswaldo é réu viajei para o Estados Unidos, já faz dois
anos em outubro de 2005 e lá foi feita uma reunião amistosa em que o Brasil
assumiu a responsabilidade se referindo a audiência realizada na Comissão
Interamericana Washington (EUA), na qual o Brasil se tornou réu frente à Comissão
Interamericana foi chamado o exercito que teve culpa, a prefeitura, na época era
Dr. Álvaro que era prefeito. Chegou lá o exército assumiu, que iam dar um salário as
crianças que ficaram órfãs, isso ficou de ser feito em 2006, passou 2006, passou
2007 e agora ele pediram para abrir um conta na Caixa Econômica Federal e ta
saindo R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais) dos meninos que ficaram órfãos. Esse
beneficio vai ser pago até a criança atingir 19 anos de idade.
E sobre fogos continua a mesma coisa, não tem diferença nenhuma, nenhuma,
nenhuma. É vendendo e carro andando, inclusive está entregando em caminhão
baú, e tanto que um amigo esteve lá e ele disse que tem muita mercadoria de fogos,
então é difícil uma mãe que perdeu três filhos ouvir e gostar.
No dia de dezembro teve uma reunião em Salvador e eu fui, com aquela Maria
Muricy se referindo a Marília Muricy, secretária da Justiça, Cidadania e Direitos
Humanos do Estado da Bahia - ele me garantiu que nunca tinha visto agente, nunca
tinha conhecido, ela ficou muito constrangida porque já tinha nove anos, ia fazer,
mas que ela garantia na justiça, que Deus tarda mais não falha, ele se comprometeu
a depois do carnaval para marcar o júri, porque o júri o ia ser mais em Santo
Antônio, que de ônibus, haviam três cheios de pessoas que ele pagou para todo
mundo para defender ele referindo-se ao julgamento que foi novamente adiado
devido à estratégia do Sr. Oswaldo dos Prazeres que compareceu, fazendo com
que, assim, fosse remarcada uma nova data.
Até a própria negociação com o exército foi muito difícil, depois de uma ano da conta
aberta no Banco do Brasil para receber as indenizações, ele pediram para abrir uma
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nova conta na Caixa Ecomica Federal. Então tem mais ou menos umas seis avós
recebendo desde os mês de janeiro e agora em fevereiro em torno de um salário
mínimo. Algumas pessoas receberam o valor retroativo, em torno de R$ 4.000,00
(quatro mil reais). O meu mesmo não está disponível.
Então e isso mesmo, mudança nenhuma nos fogos em Santo Antônio de Jesus não
teve.
Me conta um pouquinho do movimento 11 de dezembro e quais as vitórias
alcançadas nesse período de existência?
O movimento 11 de dezembro quando agente formou, agente comou fazendo
caminhadas todo dia 11 como um movimento. Foi fundado em 1999, que agente
conseguiu fundar esse movimento e esta até hoje. Tens uns que não se interessam,
na verdade tem uns que se interessam pelo dinheiro, no movimento tem uns que
acreditam no dinheiro. Inclusive teve um reunião nessa sexta-feira que eu disse
que ia desistir, e muitos disseram, não desista não, e eu não desistir porque a
primeira vitória é uma vitória muito certa,a vitória do Exército. Tinha algumas
pessoas que disseram vo não ganhou com Vardo (Osvaldo Prazeres) vai ganhar
com Exército, mais que Vardo tem poder mais que todo mundo,ele tem poder e tem
dinheiro, mais o dinheiro dele um dia acaba, eu o quero vingança não porque
morte pra mim não é vingança eu fui intimada, ele disse que eu queria matar
ele, mas o quero, pra mim o mal que desejo a ele desejo a meus filhos, Justiça
tem que ser feita, se não nós o íamos ter conseguido a ter a creche, o Padre Luis
nos ajudou muito, pra fundar a creche o Padre Luis mandou me chamar aqui com
10.000,00 (dez mil reais) que trouxe da Itália (não deu para arrumar mais), pra dividir
com todas as vítimas, eu mesmo o aceito, ele disse então eu tenho um terreno e
estes 10.000,00 (dez mil) vou fazer uma creche para o movimento 11 de dezembro
então fundou a creche, juntou a paróquia de São Benedito, o movimento ajudou, o
padre vendeu até o carro e passou a andar de táxi, então agora que saiu esta vitória
todo mundo deveria lutar, se unir, mas estou vendo muita desunião do movimento,
não são todos tens uns que não, tem um que até contra mim ta quando eu vou pedir
a nota para dar para o advogado, que o advogado chegou para gente e disse que o
prazo da gente ta vencendo numa reunião ai que tem Dr. Góes, Dr. Paulo e Luciano
da Global, ta vencendo o prazo da gente, já ta com 06 anos então eu vou lutar com
o exército e quando sair vocês vão dar uma quantia de 10% (dez por cento) cada
pessoa, ai todo mundo aceitou, com três anos começou a sair agora em Janeiro, ele
ligou procurando saber dando o número da conta dele do Banco do Brasil, quando
fui falar com o povo, o povo tava dizendo que teve gente quer era esperteza minha,
neste tipo de coisa eu mesmo não faço questão se eu acabar este movimento e não
receber um centavo eu estou satisfeita porque teve justiça e o movimento tava
seguro até a data de hoje, porque mesmo sem ter justiça nós temos que lutar pelo
outro,porque movimento tem que ser assim. Em Brasília mesmo teve caminhão e
caminhão chegando ônibus e mais ônibus, já movimentamos todas as pessoas
então acabou esta guerra, não? nós temos outro tamm se acaso acontecesse isto
com outras pessoas que não fossem minhas filhas, elas estavam lá dentro e a
qualquer momento poderia ter acontecido isto, porque eu tenho outros meios,
porque minhas filhas trabalhavam lá dentro quando ele disse que não conhece
ninguém, mas aqui não o povo trabalha anda em carros de fogos e fica zangado
comigo aqui eu tenho muitos inimigos por causa dos fogos, é difícil, aqui a gente ta
sentado e o carro de fogos passa pela porta.
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A senhora sabe que muita gente trabalha com fogos, não pela falta de
oportunidade de emprego aqui no bairro irmã Dulce, o Paulo e outros bairros
periféricos como a senhora enxerga esta situação da pessoa não ter trabalho e
comar a migrar para os fogos a fabricar fogos?
Resposta: A situação é difícil é uma coisa que os fogos devem ter uma
responsabilidade, não pode uma mulher grávida trabalhar com fogos, porque
morreram três pessoas morreram grávidas, não pode criança menor de idade
trabalhando porque depois foi dizer que não conhecia, com este povo que morreu
tem que ter responsabilidade, pois se você luta com fogos tem que ter uma fábrica
com gente responsável, porque cada um tem que assumir seu papel, porque se eu
trabalho para você depois você vira e diz que “não conheço o”, vo tem que
assumir sua responsabilidade, pois a pessoa pobre tem sua precisão, trabalha
porque precisa, e outra coisa como fica sem uma carteira assinada, vendo a hora de
acontecer alguma coisa, o filho de Vardo tem uma tenda lá na boa vista tem gente
que trabalha lá, quando chega uma fiscalizão eles mostram que tem carteira
assinada e o povo que trabalha lá chega aqui e falam que eles assinam carteira e
dão R$ 150,00 (cento e cinqüenta) por mês, pode isto? não é uma falta de
responsabilidade isto? Se eu trabalho com acarajé, tenho precisão tenho que ter
meu ponto organizado, se tem um negócio destes tem que fazer direitinho, falar que
não quer menor trabalhando, continua trabalhando vou assinar papel e pagar tudo
direitinho, porque tinha 104 pessoas? Porque o tinha um papel. Esta menina
minha que casou com 17 anos trabalha para eles e o pagamento dela e do pessoal
que trabalha aqui ganha R$ 0,50 (cinqüenta centavos) pelo milheiro, chega dia de
bado entrega 700 e ganha R$10,00, R$20,00, ai eu pergunto R$10,00 tira uma
feira por semana? E quem trabalha com a carteira ganha R$150,00 faz o que?
Arriscando sua vida, perdendo sua capacidade porque na hora que acontece um
acidente diz que não conhece ninguém. Depois ele disse ao delegado, dando queixa
de mim que eu queria matar os filhos dele, eu disse ao delegado Doutor vou dizer
um a coisa ao Senhor Minhas filhas foram três pessoas humildes criadas sem pai,
morreram trabalhando, não vale a pena matar um neto deste homem, minhas filhas
morreram derramando sangue dentro da tenda de fogos dele, pra depois ele olhar
pra cara da gente e dizer que não conhece é duro à dificuldade é grande ele é dono
dos fogos e se diz pai da pobreza, ele tem capacidade de abrir qualquer fábrica de
fogos em Santo Antonio de Jesus e dizer quem quer trabalhar comigo “assim e
quem não quer também ... não sou contra a pessoa que trabalha com fogos acho
que tem que ter responsabilidade pra não acontecer à mesma coisa que aconteceu
antes, te digo que com 55 anos se acontecer à mesma coisa de antes aqui em
Santo Antonio de Jesus eu luto a mesma coisa, porque é errado quem trabalha,
porque naquele tempo que morreu o pessoal ninguém sabia que podia acontecer
disso, saiu à perícia dos Estados Unidos depois de 8 anos, o povo disse que foi
pedra que jogaram,depois que a perícia saiu o promotor leu junto com o advogado, a
responsabilidade dele foi grande existia no local dinamite molhada, na “quintura” que
aquilo foi fermentando fermentando e estorou, a responsabilidade dele foi grande eu
andava na fábrica por causa das minhas meninas o povo sacudia panelas, se uma
panela daquela explodisse explodia tudo tamm, não sou contra quem trabalha
com fogos, mas aqui continua a mesma coisa em Santo Antonio de Jesus.
Me conta uma coisa logo depois da explosão houve um processo para ver se
melhorava a estrutura da fábrica de fogos, houve investimentos, houve abertura da
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ONG Instituto fênix, houve criação do condomínio, como a Senhora enxerga esta
mudança, porque o que na verdade o que aconteceu foi que o condomínio não foi
muito pra frente hoje só existe duas fábricas lá, a agente vê que o Instituto fênix
praticamente inexistente fechado, como a Senhora este processo de tentativa
mudança inicial e também o processo das passeatas o movimento 11 de dezembro
fazia parte do Instituto fênix?
Resposta: Não. Inclusive no dia que tava no fórum foi cancelada a reunião, fui
procurar saber da juíza porque foi cancelada a reunião ela disse que Antonio Carlos
Magalhães chegou e vocês o lá, eu queria ir, mas as outras mães não queriam ir
então deixou, conseguiu abrir o Projeto Fênix nada do movimento foi, inclusive disse
que dividiu um dinheiro com o povo dos fogos, meu povo do movimento não teve
nada haver com isto, inclusive no dia da inauguração usaram a imagem das minhas
filhas como a abertura do fênix, porque minha menina deixou um poema, minha
menina ia fazer crisma no dia 10/11 ela estava de férias e como chamava ela de
Binha (Fabiana) chamei para almoçar ela disse que não poderia ir porque estava
fazendo uma mensagem que o padre falou para fazer para o dia da crisma. Depois
esta mensagem ela guardou, quando ela morreu as meninas pediram que colocasse
a roupa da crisma , quando peguei a roupa que sacudi caiu o papel do poema, eles
pegaram e fizeram a abertura com esta mensagem que ela deixou, procurei o
responsável, gerente chamado de Marconi que nunca encontrei, nunca vi, achei isto
uma grande ousadia deles.Eles colocaram fábrica chamada Cosme e Damião
devendo ao povo que trabalhou e continua, no dia 11/12/2007 tive lá com o
Ministro, vi inclusive o genro de Vardo morando lá dentro e ai continua, sendo
morada do genro de Vardo dentro. A mensagem é linda você precisa vê, as
pessoas falavam que ela tinha feito no hospital, mas foi mentira, saiu no livro das 64
pessoas a mensagem dela. Não quer fazer tudo certinho, porque abrir tanta fábrica?
Porque te digo que luto com fogos, “fogos é pra fazer escada pros outros subir“
eu lhe digo que tem gente que faz fogos paga centavos pelo milheiro e é vendido por
R$40,00 R$50,00 ganha muito dinheiro e não quer acabar com fogos, minhas filhas
foram enterradas de noite a última foi enterrada 12 hs. da noite, porque vinham em
cima de caminhão e o sol era muito quente, eu o acreditava que minhas filhas
tinham morrido, eu só acreditava quando o caixão ia descendo do caminhão e o
povo falava a família de “fulano de tal” , eu reconheço que sou muito forte. Pergunta:
o processo que foi iniciado não obteve sucesso como a Sra. mesma falou, alguns
pagamentos forma iniciados pelo corpo de bombeiros por conta da indenização
das crianças que ficaram rfãos), porque o corpo de bombeiros não fez a parte
deles que era a fiscalização, assumiram o dano pagando, a senhora atribui ao
movimento 11 de Dezembro todas as vitórias em relação aos fogos hoje em dia, e
este processo da participação de suas filhas nesta rede de solidariedade, a Sra.
enxerga uma possível mudança neste enquadramento do Brasil como não tendo
tomado um atitudes. È uma grande vitória e não espevamos chegar onde chegou
então agora tivemos uma reunião sexta-feira e é uma grande vitória que andamos
com a justiça, que faz o que pode, estamos esperando ver o que ainda vai
acontecer, em conseguir achar o apoio que nós estamos achando é difícil pra
gente que é pobre, inclusive este projeto, é uma vitória triste, porque o que
aconteceu com nossas famílias nós não queríamos estar vivendo isto nem ter esta
viria, um pesar, mais pesar estaria se nós o lutássemos, quando o exército
comou a pagar eu fiquei pensando sozinha, como as pessoas estavam vendo
nossa luta, comerciantes do nosso bairro porque se fossem pessoas humildes como
a gente, eles não procuravam as famílias como se fossem bichos, várias reuniões no
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fórum e ele afirmando que não conhecia ninguém das vítimas, era doloroso, no dia
das mães vinham buscar na porta para trabalhar e prometiam que antes de meio dia
estariam de volta, eu perdi 03 filhas é doloroso, ouvir dele o que ouvir, a falta de
responsabilidade dele foi grande, nos Estados Unidos disse que o exército teve
culpa, a Prefeitura teve culpa, a Polícia Civil teve culpa, não sou eu o 09 anos,
agente andou foi um movimento, é uma satisfação boa, se não acontecer mais nada
a gente lutou, eu acho que não vai acabar nisso, agradeço satisfeita mesmo, porque
a justiça ta ai e a agente ta vendo, é dor é, não é vitória? é vitória, tem alguns que
estavam esperando o dinheiro te digo com franqueza, tem gente que vem
quando sabe do dinheiro, aconteceu em 91 aconteceu em 90 e tem gente cego
dentro de casa por causa de fogos. Pergunta como a senhora enxerga o futuro da
Indústria de fogos aqui em Santo Antonio as estas vitórias? Esta pergunta não
posso nem responder por que pode até ter mudança, mas o povo confia no dinheiro,
para organizar numa reunião gasta dinheiro para fazer uma tenda, eu acho que isto
nunca muda no mundo, pra mudar tinha que ter uma responsabilidade uma tenda
em dias com carteira assinada, e aqui em Santo Antonio não acontece. Pergunta: E
o futuro do movimento 11 de Dezembro? O futuro do movimento tem muitas
pessoas a presidente e a vice que ia lutar depois que houve a vitória do exercito
disse que ia continuar, o dinheiro do Exército é das vítimas e das crianças órfãos,
tem 06 avós que já recebem o salário das crianças inclusive os atrasados. O
movimento o pára, mas é difícil que tem reunião e tem mãe que perdeu filha que
nem no movimento vai, eu vejo muita ingratidão, as pessoas me dão muita foa. O
advogado que luta sem dinheiro é difícil e quando manda buscar o papel é uma luta,
eu espero que não pare que se uma, no fim de Março ou Abril vai ter o júri dele em
Salvador.
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