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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUD
ORIENTADORA: CORA LUIZA
CO-
ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
BASE POPULACIONAL
DIOGO LUIS SCALCO
ORIENTADORA: CORA LUIZA
ARAÚJO
PELOTAS, NOVEMBRO DE 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUD
O DE
ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE
BASE POPULACIONAL
DIOGO LUIS SCALCO
ORIENTADORA: CORA LUIZA ARAÚJO
CO-ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
A apresentação desta dissertação é
requisito do Programa de Pós-Graduação
em Epidemiologia da Universidade
Federal de Pelotas para obtenção do
título de Mestre.
PELOTAS, NOVEMBRO DE 2008.
2
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DIOGO LUIS SCALCO
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE BASE
POPULACIONAL
Banca examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dra. Cora Luiza Araújo (Orientadora)
Presidente da Banca – Universidade Federal de Pelotas
_____________________________________________
Prof. Dr. Fernando Celso L. F. De Barros
Membro da Banca – Universidade Federal de Pelotas
_____________________________________________
Prof. Dr. Nelson Arns Neumann
Membro da Banca –
Pastoral da Criança
Pelotas, 17 de novembro de 2008
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a meus pais, Olímpio e Diva e, ao meu irmão, Gabriel, por
estarem sempre ao meu “lado”, mesmo quando distantes.
À Veri, minha “companheirinha”, que tanto me aturou nestes quase dois anos
de mestrado. Em especial ficará marcado o carinho que recebia todas as terças,
quando chegava de viagem, exausto e, muitas vezes, de mau humor. Obrigado,
linda!!!
A todos os colegas do mestrado, que sempre me apoiaram e quebraram
“galhos” para mim. Gostaria de citar dois em especial. Alan, parceiro que nunca se
negou a me ajudar em todos momentos que dele precisei e que se tornou um amigo.
Gisele, que, com sua família, me recebeu com muito carinho desde o primeiro dia
que pus meus pés em Pelotas.
A todos os professores e funcionários do Centro de Pesquisas
Epidemiológicas, pelo que com eles aprendi neste período de convívio.
Ao Hospital Nossa Senhora Conceição, instituição ao qual trabalho. Em
especial à equipe de saúde do Jardim Itu, que me apoiou muito nestes “quase dois
anos” árduos de conciliação trabalho-mestrado.
À minha orientadora, Cora, e meu co-orientador, João, pela paciência com
que me auxiliaram e construíram, conjuntamente, esse trabalho. Sou muito grato a
vocês, do fundo do coração.
4
SUMÁRIO
1. Apresentação ____________________________________ 06
2. Projeto de Pesquisa _______________________________ 07
3. Relatório de Trabalho de Campo _____________________ 46
4. Artigo __________________________________________ 57
5. Comunicado para a imprensa _______________________ 84
5
APRESENTAÇÃO
A presente Dissertação de Mestrado foi organizada conforme o regimento do
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas,
contendo as seguintes seções principais:
a) Projeto de Pesquisa: apresentado e defendido dia 21 de agosto de 2007.
b) Relatório do Trabalho de Campo: descrição das atividades realizadas
pelos mestrandos do Programa de Pós-Garduação em Epidemiologia da
Universidade Federal de Pelotas, no biênio 2007-2008.
c) Artigo: Autopercepção de felicidade e fatores associados em uma
população de adultos de uma cidade do sul do Brasil: estudo de base
populacional a ser submetido para a “Revista de Saúde Pública”.
d) Comunicado breve com os principais achados para a imprensa local.
6
Projeto de Pesquisa
7
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE
ORIENTADORA: CORA LUIZA PAVIN ARAÚJO
CO-
ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
PROJETO DE PESQUISA
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE
BASE POPULACIONAL
DIOGO LUIS SCALCO
ORIENTADORA: CORA LUIZA PAVIN ARAÚJO
ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
PELOTAS, OUTUBRO DE 2007.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE
ORIENTADORA: CORA LUIZA PAVIN ARAÚJO
ORIENTADOR: JOÃO LUIZ DORNELLES BASTOS
8
1. INTRODUÇÃO
Apesar de lhe faltar uma definição clara e da inexistência de um consenso
acerca de seu significado, é praticamente unanimidade entre as pessoas que
felicidade é algo positivo e que sua busca não deixa de ser um fim por si só.
A idéia de que felicidade é central na experiência de vida do homem vem
desde a antigüidade. Na Grécia antiga, quatro séculos antes de Cristo, o filósofo
Aristippus afirmava que “o objetivo central da vida de cada ser humano seria
maximizar seus prazeres”
1
. Na mesma linha, no século XIX, filósofos utilitaristas
*
reivindicavam que “o objetivo primordial das políticas sociais seria gerar mais
felicidade para um maior número de pessoas”.
No campo político, a discussão é atual. O governo do pequeno Reino de
Butão
recentemente anunciou que o objetivo a ser alcançado por suas políticas
públicas seria o aumento da “felicidade nacional bruta” ao invés do “produto nacional
bruto” (ou produto interno bruto PIB)
2
. Em países como a Inglaterra, a pretensão
não parece ser tão grande, mas planejadores de políticas de saúde discutem a
necessidade do uso de estimativas de satisfação de vida e felicidade da população
como indicadores de bem-estar populacional
3
.
Estudar felicidade, entretanto é um fio, a começar pela dificuldade em definí-
la. Veenhoven, procurando organizar o estudo do tema, traz as seguintes questões
para serem respondidas: 1) O que é felicidade? 2) Como medir felicidade? 3) Quão
felizes são/estão as pessoas? 4) O que faz alguém feliz ou infeliz? 5) A felicidade
pode ser alcançada duradouramente?
4
.
Apesar da falta de uma definição consensual sobre felicidade, editoriais em
revistas médicas de grande circulação
5
, informações e reportagens na mídia escrita,
falada e eletrônica têm dado crescente importância ao tema no Brasil
6
e em outros
países
7, 8
. Isto coincide com o fato de que pesquisadores da área da saúde
passaram a valorizar o tema a partir do momento em que estudos recentes vêm
*
Utilitarismo: filosofia moral, criada por Jeremy Bentham (1748-1832). O mesmo define o princípio da
utilidade da seguinte forma: “o princípio que aprova ou desaprova qualquer ão, segundo a
tendência que tem de aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou,
que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência a promover ou a compreender a
referida felicidade”. (Carvalho MCM. Por uma ética ilustrada e progressista: uma defesa do
utilitarismo. in Oliveira, MA. Correntes fundamentais da ética contemporânea. 2ed. Petrópolis: Vozes,
2000.).
Pequeno país localizado na cordilheira do Himaláia, na Ásia central, entre China e Índia.
9
demonstrando associação entre felicidade e estados correlatos com desfechos
positivos em saúde.
Barak
9
apresenta uma revisão mostrando associação de afeto positivo com
melhor reposta imune. Mais revelador ainda foi um estudo longitudinal com freiras
acompanhadas por décadas, o qual apontou que aquelas com mais afeto positivo
demonstrado, por meio da análise de anotações em seus diários quando novas,
tiveram uma expectativa de vida cerca de dez anos maior do que àquelas
classificadas com menor afeto positivo
10
. Com alguma semelhança, Koivumaa-
Honkanen et al
11
chegaram à conclusão de que um questionário com perguntas
sobre satisfação de vida foi capaz de predizer menores taxas de mortalidade numa
população de finlandeses adultos, especialmente os do sexo masculino.
No intuito de contribuir no avanço do tema o presente projeto objetiva estudar
a percepção de indivíduos adultos acerca de sua condição de felicidade em um
estudo de base populacional no município de Pelotas, RS.
1.1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1.1. Estratégias de busca bibliográfica
Realizou-se a revisão de literatura a partir das bases eletrônicas de dados
Pubmed e Lilacs. Ambas as pesquisas foram feitas com o termo happiness com a
procura estendendo-se a o dia 21 de abril de 2007. Para a base Lilacs, foram
usados também os termos felicidade e felicidad por incluir trabalhos em língua
espanhola e portuguesa. Foram encontrados 2592 títulos na base Pubmed e 163 na
Lilacs. Dentre estes, foram selecionados 563 resumos na Pubmed e 14 na Lilacs.
Destes, 53 foram inicialmente selecionados para leitura do texto na íntegra. Alguns
outros artigos, capítulos de livros e reportagens em jornais ainda foram encontrados
e lidos a partir das referências bibliográficas citadas pelos autores.
1.1.2. Conceito de felicidade
Felicidade, assim como inteligência, saúde mental e outros, é um conceito
com algum significado para quase todas as pessoas, mas extremamente difícil de
10
definir
12
. Apesar disso, definir felicidade é de suma importância para podermos
estudá-la em pesquisas epidemiológicas.
Na tentativa de identificar as definições mais utilizadas a revisão bibliográfica
é iniciada pela revisão do conceito de felicidade e de alguns construtos semelhantes.
Qualidade de vida, tal como definida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), é a “percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações”
13
. Ventegodt
14-16
, numa série de estudos, expõe o
processo de construção de uma escala para medição de qualidade de vida a ser
usada na Dinamarca. Segundo o autor, qualidade de vida seria “uma boa vida” e
para medi-la, três aspectos deveriam ser analisados: a porção subjetiva (o quanto o
indivíduo sente que sua vida é boa), existencial (o quanto sua vida é boa num nível
mais profundo, espiritual) e objetiva (percepção externa da qualidade de vida do
indivíduo)
17
.
Na fundamentação desse conceito, aparece implícito a avaliação de
condições presumivelmente necessárias para se ter uma boa vida. Condições
objetivas do domínio físico como sono, dor e cansaço ou mesmo ambiental, entre
elas os recursos financeiros e a segurança física aparecem como itens que pontuam
para obtenção de um melhor escore de qualidade de vida.
Bem-estar subjetivo (BES), segundo Diener
18
, constitui a porção subjetiva da
qualidade de vida. Refere-se à avaliação subjetiva, tanto afetiva como cognitiva, que
os indivíduos fazem de sua vida
18
. Engloba construtos como felicidade, satisfação de
vida, estado de espírito e afeto positivo
19
. Veenhoven assinala que o conceito de
BES ressalta a subjetividade da avaliação, mas não explicita o que está se
avaliando
4
.
Afeto positivo reflete a experiência de emoções prazerosas, estados de humor
positivos. Não parte de uma avaliação cognitiva, mas sim de um estado de bem-
estar momentâneo. Bradburn o descreve como “estados de sentimento subjetivo
(positivo) que os indivíduos experimentam em suas vidas diariamente”
12
.
Felicidade, considerado por Diener como um termo coloquial para BES
18
e
entendida como sinônimo de qualidade de vida para dois terços dos indivíduos em
um estudo com profissionais da saúde realizado na Inglaterra
20
, será no presente
estudo entendida de acordo com a definição de Veenhoven, como um construto
semelhante à satisfação de vida: “o grau ao qual uma pessoa avalia positivamente a
11
qualidade global de sua vida como um todo, no presente”
4
. Em outras palavras: o
quanto a pessoa está satisfeita com, ou gosta da vida que leva. Importante salientar
que este conceito implica que o objeto da avaliação é a vida como um todo, não
apenas de um domínio específico, como o trabalho, por exemplo. Também se atém
à apreciação que o indivíduo faz de sua vida no presente, ainda que esta possa
sofrer influências do afeto momentâneo, de eventos passados na vida ou de
perspectivas futuras.
1.1.2. Mensuração de felicidade
Da mesma forma que ainda não se chegou a um consenso sobre a definição
de felicidade e construtos correlatos, consequentemente também não
concordância quanto a melhor maneira de aferí-los. No entanto, várias medidas de
único-item (uma única pergunta) ou de múltiplos ítens foram desenvolvidas.
Entre as de único-item, em sua maioria desenvolvida para uso em grandes
inquéritos populacionais, McDowell
21
et al e Venhoven
4
, citam algumas escalas que
consideram de maior validade.
1. Delighted-Terrible scale: “How do you feel about your life-as-a-hole?
Resposta através de uma escala de Likert com sete pontos, variando de
terrible” a “delighted”.
2. Escala de faces: Here are some faces expressing various feelings…
Which faces come closest to expressing how you feel about your……
A resposta contém sete faces cujas expressões variam de muito positivo a
muito negativo. As reticências do final da frase sugerem a possibilidade de
cada investigador colocar aquilo que pretenda estudar: felicidade,
qualidade de vida, bem estar geral, entre outras.
3. Escala da escada: Here is a picture of a ladder. Suppose the top of the
ladder represents the best possible life for you and the bottom of the ladder
the worst possible life. Where on the ladder do you feel personally stand at
the present time?
Resposta apresenta uma escada de 10 degraus (composta por 11
números).
Apesar de críticas sobre a ausência de estudos de validade
19
para as escalas
supracitadas, McDowell et al e Veenhoven mostram uma confiabilidade teste-reteste
12
de 0,70
21
quando reaplicadas ao fim de uma mesma entrevista e de 0,60 quando
reaplicadas após uma semana
4
. Também observaram que 92% dos entrevistados
repetiram no reteste a mesma resposta, ou adjacente, dada a pergunta quando esta
foi realizada no mesmo dia
21
.
Conforme mencionado acima, críticas quanto à validade também existem.
Entre elas, a de que pessoas responderiam que são felizes baseadas no imaginário
de que esta seja a resposta correta (social desirability). Myers
22
argumenta que, em
termos populacionais as pessoas são de fato felizes, contrariando o pensamento de
muitos estudiosos e inclusive do senso comum.
Escalas com múltiplos itens vêm cada vez mais sendo usadas, na maioria
delas, com o intuito de obter medidas mais globais de BES, muitas vezes captando
dados referentes a vários construtos: felicidade, afeto positivo e ausência de afeto
negativo para obtenção de um escore único. Dentre os mais usados atualmente,
Giacomoni
19
cita a Escala de Satisfação de Vida (Diener, Emmons, Larsen e Griffin,
1985) e a Escala PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) de Watson, Clark
e Tellegen (1988). A primeira escala é do tipo Likert e contém cinco itens. Dentre
àquelas de múltiplos itens, é a única citada por Veenhoven como útil para estudos
de felicidade
4
.
Em comparação com a escala de faces, a escolhida para este estudo, a
Escala de Satisfação de Vida é mais longa e ainda não tem estudos publicados em
língua portuguesa. A escala de faces, ao contrário, já foi utilizada no Brasil ao menos
em dois estudos de base populacional na cidade de Pelotas
22, 23
, ainda que com
pequenas modificações na redação da pergunta. Além disto, considera-se que pela
apresentação visual, fornece uma representação mais direta de sentimentos que
uma tradução verbal da resposta para uma questão sobre felicidade
21
. Isto reforça a
adoção da escala de faces para uso no presente estudo.
1.1.3. Prevalência de felicidade
A relativa escassez de pesquisas epidemiológicas tratando do tema felicidade
ou de construtos semelhantes, em especial com base populacional, é evidente.
Como agravante, alguns estudos citados em bibliografias não foram publicados ou
então consistem em livros esgotados. Além disso, conforme citado anteriormente, a
13
falta de uniformidade na aferição de felicidade também dificulta a comparação entre
os raros estudos existentes.
A seguir serão mostrados somente estudos de base populacional realizados
em adultos. Excessão será feita ao apresentar um estudo de base populacional
desenvolvido com adolescentes que, além de ter ocorrido no Brasil, utilizou a escala
de faces. No quadro 1 apresentamos resumidamente os estudos que serão descritos
nos itens 1.1.3. e 1.1.4. dessa revisão bibliográfica. Algumas revisões não incluídas
no quadro serão igualmente citadas porque expõem opiniões de estudiosos do
assunto.
Myers
24
e Veenhoven
4
apresentam em seus artigos dados do World Values
Survey
e European Values Survey, grandes inquéritos realizados em vários países
do mundo (no Brasil, coordenados pelo Instituto Gallup) para medição de níveis de
bem-estar psicológico (BEP). Satisfação de vida e felicidade são avaliados a partir
das seguintes questões “Taking all together, how happy would you say you are?” 1-
Very happy; 2-Quite happy; 3-Not very happy; 4-Not at all happy” e How satisfied
are you with the life you lead? 1-Very satisfied; 2-Fairly satisfied; 3-Not very satisfied;
4-Not at all satisfied”. Através da transformação dos dados coletados num escore
calculado a partir da porcentagem do máximo da escala para cada indivíduo, achar-
se-ia um escore que variaria de zero a cem. Neste caso a fórmula seria: 100(4-S)/3,
onde S é o valor da resposta, variando de 4 (resposta mais positiva, quando o
escore é de 100) até 1 (resposta mais negativa, quando o escore é igual a zero). A
partir destes escores calcula-se uma média geral que representaria um suposto
índice de felicidade (IF) ou satisfação de vida populacional para comparação entre
países. Este índice variou para felicidade de 79,3 na Islândia até 48,7 na
Bielorrússia. No Brasil foi de 64,7. Myers faz questão de enfatizar que, ao contrário
do que muitos pregam, a maioria dos países apresenta altos índices de felicidade.
Taxas de resposta que variaram entre 24-75% nos diferentes países, entretanto,
limitam as conclusões com relação aos resultados encontrados.
Os últimos dados do World Values Survey disponíveis na mídia eletrônica
referentes ao ano de 1997 para o Brasil
25
, mostram que frente à pergunta de único-
item para felicidade, quase 83% responderam que são felizes ou muito felizes.
Uma organização composta por uma rede de cientistas sociais de várias universidades de todo o
mundo, que realiza periodicamente inquéritos populacionais para análise de vários indicadores
econômicos, de qualidade de vida, entre outros, visando contribuir para a investigação de mudanças
políticas e socioculturais em todo o mundo. (http://www.worldvaluessurvey.org)
14
Cummings
26
fez uma revisão com busca sistemática de mais de 2000 artigos
selecionando 206 de vários países que apresentavam dados sobre satisfação de
vida. A partir deles, formulou uma média mundial utilizando o mesmo índice (IF)
proposto para felicidade, por Myers e Veenhoven (já mencionado anteriormente),
chegando ao valor de 70% com desvio padrão de 5%. Assim, o autor conclui que o
grau de satisfação de vida da população entre os diferentes países teria uma
variação que estaria entre 60 e 80%, contando dois desvios padrão para mais ou
para menos. O fato das medidas terem sido coletadas por vezes com instrumentos
distintos em diferentes estudos não afeta a validade do estudo, mas os autores
alertam para que as interpretações e comparações sejam realizadas com cautela.
Num grande inquérito populacional realizado na Austrália, Dear et al
27
estimaram um IF de 70,4% (70,0-70,8%) para a população do país. O estudo adotou
a escala de faces de Andrews e a taxa de resposta foi de 78%, em uma amostra de
10.641 indivíduos.
Subramanian et al
28
, em estudo com 24.118 adultos representativos de 36
comunidades de vários estados norte-americanos encontraram uma prevalência de
felicidade de 94,7% (resposta happy ou very happy quando indagados: In
general, are you very happy, happy, not very happy and not hapy at all?”).
Na Coréia, Lee
29
, em um estudo cujo objetivo foi o de explorar o efeito da
situação conjugal e da idade sobre qualidade subjetiva de vida, foi elaborada uma
medida de único-item sobre felicidade com o seguinte instrumento: Taking all things
together, do you feel you are happy these days? 1. Very happy, 2. Somewhat happy,
3. So so, 4. Somewhat not happy, 5. Not happy at all”. Cerca de 35% dos
entrevistados responderam uma das duas primeiras opções.
Em Pelotas (Brasil), Silva et al
23
, utilizaram a escala de faces de Andrews
para medir o que chamaram de Bem-estar psicológico (BEP). Este estudo foi
realizado com uma amostra representativa da população de jovens da cidade.
Apesar do uso de uma terminologia diferente, a pergunta utilizada muito se
assemelha à pergunta a ser usada no presente estudo. Aproximadamente 90% dos
adolescentes entrevistados assinalaram as expressões que representam os dois
maiores níveis de BEP.
15
1.1.4. Fatores associados à felicidade
Inicialmente serão citadas duas revisões
4, 24
e um estudo original
26
que
abordam diferenças na autopercepção de felicidade entre diferentes nações. A
seguir serão apresentados estudos epidemiológicos citando associações
encontradas entre características individuais e autopercepção de felicidade.
Veenhoven
4
, em sua análise dos dados do World Values Survey e European
Values Survey, mostra associações entre maior nível de riqueza dos países e
maiores níveis de felicidade. Ainda no nível ecológico de análise, países com
maiores graus de liberdade política e de autopercepção de liberdade, maiores graus
de urbanização, menores graus de militarização da sociedade, menos insegurança
física (menos acidentes letais e homicídios), menores níveis de desemprego,
maiores níveis de credo em Deus, maiores acesso à informação (número de jornais
e revistas), menores desigualdade de gênero e classe e maiores graus de
seguridade social, apresentaram maiores índices de felicidade. Quando análise
ajustada para riqueza do país foi feita, persistiram associações de maior nível de
felicidade com menor desigualdade de classe, maior grau de autopercepção de
liberdade, maior credo em Deus e menor grau de militarização da sociedade.
Myers
24
, em sua revisão, atenta para a diferença dos níveis de felicidade
entre países ricos e pobres, mas que entre indivíduos elas aparecem com maior
freqüência em países mais pobres como a Índia, onde ter ou não renda é mais
importante do que em países desenvolvidos, mais igualitários.
Cummins
26
em um estudo ecológico, comparando níveis de satisfação de vida
e características culturais de cada país, relata que países mais ricos e com
sociedades mais individualistas apresentam índices mais altos de satisfação de vida.
Costa et al
30
, em uma amostra de homens adultos voluntários, sadios
demonstraram que traços de personalidade se correlacionam com satisfação de
vida. Pessoas com com maior extroversion” (que apresentam maior sociabilidade,
envolvimento com pessoas, participação social e que são mais ativas) são mais
satisfeitas com suas vidas do que aquelas com maior grau de “neuroticism”, ou seja,
com maior rigidez de ego, tendência à culpa, ansiedade, somatização e
preocupação.
Estudo realizado na China, com adultos, usando uma medida de satisfação
de vida de único-item e um questionário de 29 perguntas para felicidade (Oxford
16
happiness inventory que engloba medidas de afeto positivo, negativo e bem-estar
global), mostrou associação entre maior satisfação de vida e ser idoso, ter maior
nível educacional (anos de estudo), ter maior suporte social (medido pela escala de
Socially suportive behaviors), menor escore para neuroticism(Eysenck Personality
Questionnaire) e para estresse (Social Readjustment Rating Scale). Ter idade mais
avançada, maior suporte social, ter maiores escores para extroversione ter menor
escore para “neuroticism” também estiveram associados com maior felicidade
31
.
Dando continuidade ao estudo anterior, uma subamostra (38% dos
indivíduos) foi reavaliada cerca de trinta meses mais tarde. Os autores observaram
que tanto as medidas de satisfação de vida como de felicidade tiveram estabilidade
moderada neste intervalo de tempo. Controlando os níveis basais destas medidas
de BES e de traços de personalidade, suporte social foi capaz de predizer felicidade
global e, eventos de vida positivos, de predizer satisfação de vida. Por fim,
satisfação de vida e felicidade estiveram fortemente associadas, num sentido
bidirecional
32
.
Lykken et al
33
, em pesquisa realizada nos Estados Unidos da América (EUA),
comparando gêmeos dizigóticos com monozigóticos, educados juntos, ou
separados, apontaram que cerca de 40% da variância encontrada para felicidade
está associada com hereditariedade. Nível socioeconômico, educação, renda
familiar, situação conjugal e indicadores de religiosidade foram responsáveis por
somente 6% da variância.
Em estudo cujo propósito era averigüar efeito da situação conjugal e do
gênero sobre “qualidade de vida subjetiva” na Coréia, Lee
29
descreve que os
homens são mais felizes que as mulheres e que estar casado associa-se
positivamente com maior felicidade, especialmente entre as mulheres.
Estudo de Diener et al
34
, comparando grupo de estudantes universitários
muito felizes com muito tristes, evidenciou que os mais felizes eram mais sociáveis
(passavam menos tempo sós, tinham relações familiares mais prazerosas, mais
amigos e tinham relações amorosas mais fortes), eram mais “extrovertidos”
(extroverts), menos “neuróticos” (neurotics) e tinham menos psicopatologias.
Nenhuma variável foi suficiente para felicidade, no entanto ter boas relações sociais
foi necessário. Não houve diferença em termos de realização de atividades físicas,
prática de atividades religiosas ou presença de eventos de vida positivos entre os
grupos.
17
Dear et al
27
, num grande inquérito de base populacional na Austrália, revela
associações entre maior nível de satisfação de vida e ser adulto jovem, ter grau
superior completo, ter boa saúde física, não ter comorbidades psiquiátricas, beber
pequenas ou moderadas quantidades de álcool (não beber ou beber muito está
associado com escores mais baixos de satisfação de vida), ausência de
incapacidade física, menor número de consultas por problema psiquiátrico nos
últimos 15 dias, ser casado e não estar desempregado.
Pesquisa realizada na Alemanha com 3733 indivíduos que estiveram
desempregados ao menos uma vez durante um período de 15 anos, mostrou que o
desemprego fez diminuir fortemente o nível de satisfação de vida em período
próximo ao evento. No entanto, após um ano, constatou-se que os indivíduos
desempregados não voltaram ao nível de satisfação de vida prévio ao evento
negativo. Lucas et al
35
sugerem que, de encontro ao que é pregado pela Hedonic
Treadmill Theory
§
, eventos de vida podem ter uma forte influência nos níveis de
BES por tempo duradouro.
Estudo realizado por Subramanian et al
28
, com indivíduos de 36 comunidades
norte-americanas mostraram que após controle para variáveis demográficas, maior
renda e educação estiveram associados com felicidade. Tais correlações foram
ainda mais fortes quando comparadas no nível comunitário ao invés do individual.
Na Holanda, Stubbe et al
36
, num estudo comparando gêmeos monozigóticos
e dizigóticos, encontraram associação entre ser fisicamente ativo e ser tanto mais
mais feliz quanto mais satisfeito com a vida. No entanto os autores apontam que tal
relação não parece ser causal e sim mediada por fatores genéticos que influenciam
tanto o BES como o comportamento para prática de exercício.
Para finalizar, na cidade de Pelotas, Silva et al, em estudo realizado com
adolescentes entre 15-18 anos, encontrou associações entre maior BEP e maior
nível socioeconômico, sentimento de que Deus ajuda, rezar diariamente e não ter
tomado “porre” no último mês. Realizar atividade física esteve associado com maior
BEP no limite do que é considerado estatisticamente significativo
23
.
§
A “Hedonic Treadmill Theory” é uma teoria que afirma que os indivíduos só alterariam seus níveis de
felicidade momentaneamente ao se depararem com eventos de vida, sejam eles positivos ou
negativos, e que após um determinado momento voltariam ao seu patamar basal de felicidade. Deste
modo argumenta-se que a busca pela felicidade não teria fim e seria algo inútil. Para mais detalhes
ler: Diener E, Lucas RE, Scollon CN.Beyond the hedonic treadmill:revising the adapation theory of
well-being. Am Psychol. 2006 May-Jun;61(4):305-14.
18
Quadro 1. Resumo de estudos epidemiológicos sobre felicidade ou construtos correlatos.
Autor / ano
País
(Número da referência)
Amostra
Idade
Delineamento
Instrumento
Costa et al, 1980
EUA
(30)
N=1100
Homens voluntários sadios.
35-85 anos
Coorte 1.Afeto positivo (escala de
Bradburn)
2. Escala para satisfação de
vida
Lu, 1995
China
(31)
N=581
Adultos.
Representativo de uma cidade.
20 anos
Transversal 1.Felicidade (Oxford
happiness inventory)
2.Único-item sobre satisfação
de vida
Lyken et al, 1996
EUA
(33)
N=2310
Gêmeos nascidos em Minnesota
(estado dos EUA) durante um
período de 19 anos.
Representativo do Estado.
20-30 anos
Coorte 1.Único-ítem sobre felicidade
2. Escala MPQ-WB (escala
de bem-estar)
World values survey, 1997
Brasil
(25)
N=1149
Adolescentes e adultos.
Representativo do país.
15 anos Tranversal 1.Único-item sobre felicidade
Lee, 1998
Coréia
(29)
N=955
Adultos.
Representativo do país.
20 anos
Transversal 1.Único-item sobre felicidade
Lu, 1999
China
(32)
N=105
Adultos.
Representativo de uma cidade.
20 anos
Coorte 1.Felicidade (Oxford
happiness inventory)
2.Único-item sobre satisfação
de vida
Dear et al, 2002
Austrália
(27)
N=10641
Adultos.
Representativo do país.
18 anos Tranversal 1.Único-ítem sobre satisfação
de vida
19
Autor / ano
País
(Número da referência)
Amostra
Idade
Delineamento
Instrumento
Diener et al, 2002
EUA
(34)
N=222
Estudantes de graduação.
Não comentado sobre
representatividade.
Jovens? Transversal 1.Satisfação de vida (SWLS)
Lucas et al, 2004
(35)
N=3733
Indivíduos que ja estiveram
desempregados.
Representativo do país.
População
adulta?
Coorte 1.Único-item sobre satisfação
de vida
Subramanian et al, 2004
EUA
(28)
N=24118
Adultos.
Amostra representativa de 36
comunidades de vários estados
do país
18-89 anos
Transversal 1.Único-item sobre satisfação
de vida
Stubbe et al, 2006
Holanda
(36)
N=8306
Todos indivíduos participantes de
um estudo de saúde e estilo de
vida com famílias registradas
com gêmeos no país.
Representativo do país
16-65 anos
Transversal 1.Satisfação de vida (SWLS)
2.Felicidade (SHS adaptada)
Silva et al, 2007
Brasil
(23)
N=960
Adolescentes.
Representativo de uma cidade.
15-18 anos
Transversal 1.Único-item sobre bem-estar
psicologico (BEP)
**
**
Autor optou pelo termo BEP, no entanto o instrumento usado foi a escala de faces de Andrews, com questão muito semelhante a proposta para
aferição de autopercepção de felicidade no presente estudo.
20
1.2 JUSTIFICATIVA
A literatura em saúde tem historicamente enfatizado o estudo de condições
que refletem a ausência de saúde. O entendimento das causas das doenças e a
busca de prevenção e tratamentos adequados configuram-se como objetivos
importantes do setor saúde. Ser saudável, mais do que simplesmente não ter
doença, implica em alcançar o “perfeito bem estar físico, social e mental” – definição
estabelecida pela OMS
37
. A partir deste conceito, ainda que sob questionamento nos
dias atuais
38
, a subjetividade e sobretudo os aspectos positivos devem ser
abordados. A qualidade de vida passa a ter importância para o campo da saúde.
Autopercepção de felicidade pode ter, conseqüentemente, relação direta com “ser
saudável”. Entender o quanto a população se autopercebe feliz e que características
apresentam essas pessoas pode ter implicações diretas para o entendimento dos
níveis de saúde da população.
A valorização atual desse tema fez surgir na última década estudos
evidenciando uma associação possivelmente causal entre indicadores de BEP (entre
os quais, autopercepção de felicidade, satisfação de vida ou afeto positivo) e
desfechos positivos em saúde
39
. Felicidade ou construtos correlatos parecem atuar
como fatores preditores de maior longevidade
10, 11
, protetores para desfechos de
morbidade
40
ou mesmo através da indução de sistemas de defesa do organismo
9
.
Estudos epidemiológicos que apresentem informações a respeito dos níveis
de autopercepção de felicidade populacionais e de possíveis determinantes são
relativamente escassos na literatura mundial e quase inexistentes no Brasil. Esta
lacuna abre portas para o desenvolvimento de estudos de base populacional com
delineamento transversal que auxiliem na busca de respostas sobre quão felizes são
as pessoas e que fatores estão associados com esta condição. Tais estudos
poderiam servir de base para investigações com delineamentos mais sofisticados
para explorar melhor o componente temporal das associações. Deste modo, se
justifica a realização deste estudo que tem como objetivo estimar a prevalência de
felicidade autopercebida e a associação com alguns fatores de risco ou proteção,
na cidade de Pelotas, RS, extremo sul do Brasil.
21
1. 3 MARCO TEÓRICO
9DULiYHLVGHPRJUiILFDV
&RUGDSHOH,GDGH 6H[R
1tYHOHFRQ{PLFR (VFRODULGDGH
9DULiYHLVVRFLRHFRQrPLFDV³HVWiYHLV´
9DULiYHLVGHVXSRUWHVRFLDO
6LWXDomR
FRQMXJDO
1~PHURGH
KDELWDQWHVQR
GRPLFtOLR
5HOLJLRVLGDGH
9DULiYHLVFRPSRUWDPHQWDLV
$WLYLGDGHItVLFD8VRGHiOFRRO 7DEDJLVPR
9DULiYHLVVyFLRHFRQ{PLFDVGLQkPLFDV
'HVHPSUHJR5HQGDIDPLOLDU
$8723(5&(3d2'()(/,&,'$'(
Figura 1. Modelo teórico dos determinantes de autopercepção de felicidade.
Recomenda-se muita cautela quanto às possíveis inferências que poderão ser
feitas ao final deste estudo, referente ao achado de associações entre variáveis
independentes estudadas e felicidade. Por ser esta uma pesquisa com delineamento
do tipo transversal e que aborda um tema com escassez de estudos longitudinais,
afirmações que falem em causas de felicidade serão evitadas. No entanto, a escolha
das variáveis para análise, baseada na literatura, seguiu uma linha de pensamento
coerente com um modelo teórico de causalidade. Eis o marco teórico.
Felicidade vem sendo estudada como um construto que tem na sua cadeia
causal um importante componente: a personalidade. Esta é responsável por grande
parte de sua variância e inclusive de sua estabilidade no tempo, como mostram
22
vários estudos
41
. Segundo Lykken e Tellegen, 50% da variância na autopercepção
de felicidade seria explicada principalmente pelo fator genético
33
, fator
possivelmente associado com a personalidade. Deste modo outros 50% seriam
devidos a circunstâncias objetivas, variáveis demográficas e eventos de vida. Este
segundo grupo irá compor a série de variáveis escopo deste trabalho.
Na figura 1, observa-se que entre os determinantes mais distais (1º nível)
estão as variáveis demográficas (sexo, idade e cor da pele) e as variáveis
sócioeconômicas “estáveis”
††
(nível econômico e escolaridade). Ambos os grupos
determinam autopercepção de felicidade, tanto por ação direta como por meio de
influência sobre o segundo e o terceiro níveis do modelo. Atuam diretamente, por
meio da idade, onde idosos o excluídos e pouco valorizados na sociedade (caso
de países como o Brasil), determinando menores níveis de autopercepção de
felicidade. Sem exceção, todas variáveis do primeiro nível podem de alguma forma
interagir com as do tipo socioeconômicas dinâmicas
‡‡
(desemprego
§§
e renda
familiar), seja devido a preconceitos (mulheres, idosos, negros, baixo nível
econômico e menor escolaridade) ou mesmo pela ausência de qualificação
profissional (menor escolaridade). Menor renda familiar e desemprego podem
contribuir para baixos níveis de autopercepção de felicidade. Como exemplo de
atuação direta sobre os determinantes do terceiro nível, cita-se que homens
fumam
42
mais, assim como abusam mais do uso de álcool
43
e participam menos de
cultos religiosos; entre adultos, a idade também determina a realização de atividade
física
44
e idosos freqüentam mais cultos religiosos. Por outro lado, indivíduos com
menor nível econômico costumam viver em habitações com maior número de
moradores.
Os determinantes do segundo nível (renda e desemprego) estão tanto
diretamente associados com o desfecho do estudo - caso do desemprego que está
associado com menor autopercepção de felicidade - quanto agindo indiretamente
como determinantes das variáveis comportamentais ou de suporte social. Pessoas
††
Optar-se-á pela utilização do termo “estáveis” para aquelas variáveis socioeconômicas que têm
maior estabilidade ao longo do tempo; caso do nível econômico e escolaridade para a população
adulta de Pelotas, alvo do trabalho.
‡‡
Optar-se-á pela utilização do termo dinâmicas para aquelas variáveis socioeconômicas que são
mais instáveis ao longo do tempo: tempo de desemprego e renda familiar no último mês.
§§
Em alguns estudos desemprego é considerado como um evento de vida. Neste estudo, para efeito
de análise, será utilizado o modelo apresentado com o desemprego fazendo parte do grupo de
variáveis socioeconômicas “estáveis”.
23
com renda menor, por exemplo, praticam menos atividade física, são mais religiosos
e vivem em domicílio com maior número de pessoas.
As variáveis comportamentais (uso de álcool, tabagismo, atividade física) e as
de suporte social (religiosidade, situação conjugal
***
e número de habitantes no
domicílio
†††
) são consideradas determinantes proximais dos níveis de autopercepção
de felicidade, uma vez que se espera que tabagistas, usuários abusivos de álcool,
mais religiosos (têm religião e se consideram mais religiosos, além de
freqüentadores de cultos religios), casados ou morando com companheiro e
indivíduos com maior número de habitantes no domicílio se autoperceberão mais
felizes, após controle para os determinates distais.
***
Apesar de situação conjugal ser uma variável demográfica, para efeito de análise neste estudo,
optar-se-á por tratá-la como uma variável de suporte social por assim representar melhor sua ação
como determinante de autopercepção de felicidade. A mesma lógica se aplica para que não seja
tratada, como em alguns estudos, como um evento de vida (ocorrência de casamento).
†††
Apesar do número de habitantes no domicílio poder ser entendido como uma variável
demográfica, optar-se-á por tratá-la como uma variável de suporte social por assim representar
melhor sua ação como determinante de autopercepção de felicidade.
24
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
2.1.1. Estudar a prevalência de felicidade autopercebida e fatores associados em
adultos da zona urbana do município de Pelotas, RS.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.2.1. Estimar a prevalência de felicidade autopercebida em adultos.
2.2.2. Descrever a ocorrência de felicidade autopercebida segundo variáveis
demográficas (sexo, idade, cor da pele e situação conjugal), socioeconômicas
(escolaridade, renda familiar, nível socioeconômico, desemprego, número de
habitantes no domicílio) e comportamentais (tabagismo, uso de álcool, atividade
física e religiosidade).
2.2.3. Avaliar a associação entre felicidade autopercebida e as variáveis
supracitadas, ajustando-as para potenciais fatores de confusão.
25
3. HIPÓTESES
3.1. A prevalência de felicidade autopercebida encontra-se em torno de 70% na
população da cidade de Pelotas, RS.
3.2. Maior autopercepção de felicidade está associada com:
9 menor idade
9 ser de cor branca
9 estar casado ou viver com companheiro
9 maior renda familiar,
9 maior nível econômico
9 maior número de habitantes no domicílio
9 menores níveis de desemprego
9 ser usuário moderado de álcool
9 ser fisicamente ativo
9 não ser tabagista
9 ter maior religiosidade
26
4. MÉTODOS
4.1. DELINEAMENTO E JUSTIFICATIVA
O delineamento do estudo será do tipo transversal de base populacional.
Este tipo de estudo apresenta como principais vantagens o baixo custo e a
rapidez na execução e ainda a possibilidade de estudar amostras representativas da
população.
O principal objetivo do presente estudo é estimar a prevalência de felicidade
autopercebida e, para isso, o delineamento transversal é a melhor opção para tal
abordagem. Além disto, o delineamento mencionado será útil para investigar
exposições que são características individuais, como sexo, cor da pele, idade e nível
econômico e para identificar possíveis associações que poderão ser postas à prova,
posteriormente, em outros trabalhos com delineamentos mais adequados para a
investigação de relações causais.
4.2. DEFINIÇÃO DO DESFECHO
O desfecho a ser investigado é a autopercepção de felicidade. Considerar-se-
á como “felizes” as pessoas que apontarem as faces A e B da escala de faces de
Andrews e Whitey
21
(figura 2), como indicativas de seu estado de felicidade.
Qual dessas faces mostra melhor o jeito como o Sr(a) se sente, pensando em sua
vida como um todo?
Figura 2. Escala de faces de Andrews e Whitey
21
.
4.3. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS INDEPENDENTES
As variáveis independentes estão descritas no Quadro 1.
27
Quadro 1 - Descrição das variáveis independentes, características e tipo.
VARIÁVEL CARACTERÍSTICAS TIPO
Demográficas
Sexo*
Idade
Cor da pele
Situação conjugal
Masculino / Feminino
Anos completos
Branco / Pardo / Preto / Outras
Casado ou com companheiro / Solteiro /
Separado ou divorciado / Viúvo
Categórica dicotômica
Numérica contínua
Categórica nominal
Categórica nominal
Socioeconômicas
Renda familiar
Escolaridade
Nível econômico
(ABEP)
Número de habitantes
no domicílio
Desemprego
Soma de todos os rendimentos da família no
último mês
Anos completos de estudo
Classes A, B, C, D e E (A é categoria de maior
renda)
Número de residentes no mesmo domicílio
Tempo de desemprego
Numérica contínua
Numérica discreta
Categórica ordinal
Numérica discreta
Numérica discreta
Comportamentais
Tabagismo
Ingestão de álcool
Atividade física
Ter religião
Freqüência religiosa
Crença religiosa
Não fumante (nunca fumou) / Ex-fumante (já
fumou, mas parou de fumar há mais de um mês) /
Fumante atual (fumou pelo menos um cigarro/dia
no último mês, como média)
Não bebedor (não consumiu álcool nos últimos 30
dias) / bebedor leve (não classificado como não
bebedor ou bebedor pesado) / bebedor pesado
(consumo de mais de uma dose/dia para
mulheres ou de duas doses/dia para homens)
Fisicamente ativo (150 minutos/semana de
atividade física) / Sedentário (<150
minutos/semana de atividade física)
Sim/Não
Freqüência a culto religioso no último mês
Muito / Mais ou menos / Pouco / Nada
Categórica nominal
Categórica ordinal
Categórica dicotômica
Categórica dicotômica
Numérica discreta
Categórica ordinal
A variável sexo será obtida através da observação do entrevistador. Todas as
demais serão coletadas por meio de perguntas diretas aos indivíduos do estudo.
4.4. POPULAÇÃO ALVO
A população alvo deste estudo será composta pelos adultos residentes da
cidade de Pelotas, RS.
28
4.5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Adultos com idade maior ou igual a 20 anos residentes na zona urbana do
município de Pelotas, RS.
4.6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Não farão parte da amostra indivíduos institucionalizados (prisões, Instituições
de Longa Permanência para Idosos, pensões, entre outras) e aqueles que
apresentarem impedimento físico e/ou mental para responderem ao questionário.
4.7. TAMANHO DA AMOSTRA
Para o cálculo do tamanho da amostra foi utilizado o programa EPIINFO
45
,
considerando a estimativa da população de Pelotas para o ano de 2006
46
(346.452
habitantes) e a proporção de adultos segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) do ano de 2000 (65,7%), obtendo-se um número
estimado de 227.430 pessoas com 20 anos ou mais de idade (população-alvo).
Calculou-se o tamanho da amostra para estudo da prevalência do desfecho a
partir das seguintes estimativas (tabela 1).
Tabela 1. Cálculo do tamanho da amostra para as seguintes prevalências do
desfecho na população:
Prevalência
(%)
Nível de confiança
(%)
Erro aceitável
(pp) *
Subtotal Total **
60 95 4,0 575 949
70 95 3,0 893 1473
80 95 2,0 1525 2516
* Pontos percentuais
** Após acréscimo de 10% para perdas e recusas e mais 50% (Fator=1,5) para efeito de
delineamento.
Para avaliação das associações entre felicidade autopercebida e variáveis
independentes, utilizaram-se os seguintes parâmetros: prevalência na população de
70%, nível de confiança de 95%, poder de 80% e risco relativo tido como significante
para qualquer variável quando maior ou igual a 1,2. Foram acrescidos 10% para
29
perdas e/ou recusas, 15% para ajuste para fatores de confusão na análise
multivariável e 50% (fator = 1,5) para efeito de delineamento (Tabela 2).
Tabela 2. Cálculo do tamanho da amostra para possíveis associações entre
variáveis independentes e desfecho:
Variável independente Proporção de não
expostos/expostos
Risco
relativo
Prevalência de
doença nos não
expostos (%)
Sub
total
Total *
Sexo 54 / 46 1,2 64 454 861
Idade 73 / 27 1,2 66 500 949
Cor da pele 16 / 84 1,2 60 940 1784
Renda (quintis) 80 / 20 1,2 67 590 1120
Escolaridade 72 / 18 1,2 68 560 1063
Nível econômico 68 / 32 1,2 66 450 854
Número de habitantes
no domicílio
25 / 75 1,2 61 647 1228
Desemprego 15 / 85 1,2 60 991 1880
Tabagismo 48 / 52 1,2 63 450 854
Ingestão de álcool 30 / 70 1,2 61 580 1101
Atividade física 41 / 59 1,2 63 461 875
Prática religiosa 50 / 50 1,2 64 428 812
Situação conjugal 38 / 62 1,2 62 497 943
* Nível de confiança de 95% e poder de 80% para todas associações.
** Após acréscimo de 10 % para perdas e recusas, 15 % para controle de fatores de confusão e mais
50% (Fator=1,5) para efeito de delineamento.
4.8. ESTUDO PRÉ-PILOTO
A escala de faces de Andrews, com as diferentes utilizações que a
abertura da questão proposta pelo autor permite
21
, foi originalmente testada em
países de língua inglesa. No Brasil, apesar da descrição de sua utilização ao menos
em dois estudos na cidade de Pelotas, diferentes traduções foram usadas com
propósito de uso para diferentes construtos, por mais que semelhantes entre si.
Um estudo pré-piloto foi realizado com o objetivo de adequar a tradução da
pergunta do desfecho desta pesquisa de modo que se torne de simples
entendimento e capte o que a pergunta originalmente proposta visava captar: o
quanto cada indivíduo de autopecebe feliz. Setenta e cinco questionários foram
aplicados a pacientes de duas Unidades Básicas de Saúde do Município de Porto
30
Alegre. O entendimento da questão final foi considerado bom e a prevalência de
autopercepção de felicidade esteve condizente com a esperada pela literatura.
4.9. AMOSTRAGEM
Cada mestrando participante do consórcio realizou cálculos de tamanho de
amostra que atendessem aos objetivos gerais e específicos de seus projetos,
incluindo estimativas de prevalências e associações. De forma a facilitar a logística
do trabalho de campo e, também para diminuir os custos deste processo, optou-se
por utilizar uma amostra por conglomerados. Para definição dos conglomerados, foi
utilizada a grade de setores censitários do Censo Demográfico de 2000.
A partir desses resultados, verificou-se que o número de domicílios que
atenderia aos objetivos de todos seria de cerca de 1400, considerando os
acréscimos de 10% para perdas e recusas e 15% para controle de fatores de
confusão. Com o intuito de minimizar os efeitos de delineamento, decidiu-se
amostrar 11 domicílios em cada um dos em 126 setores selecionados (total=1386
domicílios). Com isso, cada um dos 14 mestrandos participantes do consórcio ficou
responsável por nove setores.
A partir de uma tabela com todos os 404 setores da zona urbana do município
de Pelotas (foram excluídos cinco setores considerados como não domiciliares), foi
feita uma ordenação por renda média do chefe do domicílio para posterior seleção
dos domicílios de forma a garantir representatividade dos setores em relação a
situação econômica. O número total de domicílios (92407) foi dividido pelo número
de setores censitários (126), de forma a obter-se um pulo (de 733) para a seleção
sistemática a ser realizada. Dentre os números um e 733, foi selecionado,
aleatoriamente a partir do programa estatístico Stata 9.0, o número 196, que
determinou o primeiro setor a ser incluído na amostra. A este número foi adicionado
733, de forma que o segundo setor selecionado abrangia o domicílio 929 e assim
sucessivamente até que o número obtido superasse o total de domicílios. Nesse
ponto 126 setores haviam sido selecionados. Essa amostragem sistemática de
setores, ordenados pela renda média do conglomerado equivale a um processo de
estratificação.
31
4.10. INSTRUMENTO
As variáves independentes e o desfecho deste estudo serão coletados
mediante questões que fazem parte de um questionário maior, com todas as
perguntas que englobarão os temas de pesquisa de todos os participantes do
consórcio.
Aquela pergunta que objetiva avaliar a autopecepção de felicidade, assim
como as demais questões específicas deste projeto, são descritas nos Anexos um
(questionário) e dois (manual de instruções).
4.11. SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES
O recrutamento das candidatas a entrevistadora será realizado a partir de
cartazes colocados em instituições de ensino médio e superior, de indicações de
pesquisadores do Centro de Pesquisas Epidemiológicas, e se necessário, se
requerido ao Serviço Nacional de Empregos (SINE) candidatas com os requisitos
necessitados.
Serão treinadas aproximadamente 50 mulheres, com pelo menos dezoito
anos e ensino médio completo, para a aplicação de entrevistas domiciliares. A
seleção será baseada pelos seguintes critérios: disponibilidade de tempo,
experiência prévia em pesquisa, motivação para o trabalho de campo, carta de
indicação e letra legível.
O treinamento terá duração de 40 horas e será composto pelas seguintes
etapas:
apresentação de pesquisas;
ensino de técnicas de abordagem domiciliar e de entrevistas;
leitura e explicação do instrumento e do manual de instruções;
aplicação do instrumento entre as entrevistadoras (dramatização);
realização de um estudo-piloto.
32
4.12. ESTUDO-PILOTO
O estudo-piloto terá como finalidade o teste final do instrumento, a avaliação
do manual de instruções, a logística do trabalho de campo e a avaliação do
desempenho das entrevistadoras diante de situações reais de entrevista. Será
realizado em um setor censitário não selecionado na amostragem.
4.13. LOGÍSTICA
As entrevistadoras serão orientadas a efetuar entrevistas em uma média de
quatro domicílios por dia, de forma que em três dias todos os domicílios de um setor
tenham sido visitados. Estima-se que o trabalho de campo poderá ser concluído em
um prazo de 60 dias. Cada pesquisador do consórcio será responsável pela
supervisão de duas entrevistadoras. Serão agendadas reuniões semanais com as
entrevistadoras a fim de esclarecer eventuais dúvidas e proceder à entrega e
recolhimento dos questionários.
4.14. CONTROLE DE QUALIDADE
Todos os questionários serão revisados atentamente para verificação de
possíveis falhas no seu preenchimento. Se necessário, haverá o retorno imediato
para a confirmação de informações. Além disso, para o controle de qualidade, 10%
dos domicílios incluídos na amostra serão revisitados, selecionados aleatoriamente.
A aplicação de um questionário reduzido, contendo perguntas-chave possibilitará a
identificação de prováveis erros e/ou respostas falsas assim como confirmar que a
entrevista foi realmente realizada. Essa revisita será feita pelos próprios mestrandos.
4.15. COLETA, DIGITAÇÃO E ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA DOS DADOS
As entrevistadoras visitarão as casas sorteadas no processo de amostragem
e entrevistarão todos os indivíduos residentes naquele domicílio que preencham os
requisitos da amostra. Caso um ou mais possíveis entrevistados não estejam em
casa no momento, as entrevistas serão agendadas e as casas novamente visitadas.
33
Caso haja recusa, serão realizadas mais duas tentativas, em dias e horários
diferentes, pela entrevistadora. Caso a recusa persista, uma última tentativa será
feita pelo supervisor de campo do setor.
Os dados coletados serão digitados duas vezes com checagem automática
de amplitude e consistência através do programa Epi-Info 6.04.
4.16. ANÁLISE ESTATÍSTICA
O plano de análise proposto define as seguintes etapas: inicialmente será
realizada a análise descritiva de todos os dados coletados, com cálculo das medidas
de tendência central e dispersão para as variáveis contínuas e de proporção para as
variáveis categóricas. A seguir, processar-se-á a análise bivariada, subsidiada pelo
modelo de análise da pesquisa (figura 2), aplicando teste de Qui-quadrado e Qui-
quadrado para tendência linear para varíaveis categóricas ordinais.
Através da regressão de Poisson, serão avaliadas as possíveis associações
com autopercepção de felicidade, após ajuste para fatores de confusão.
A análise dos dados será realizada através do programa Stata 9.0.
34
Figura 2. Modelo de análise proposto para pesquisa dos fatores possivelmente
associados à autopercepção de felicidade.
4.17. ASPECTOS ÉTICOS
O projeto de pesquisa será submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Pelotas.
Os princípios éticos também serão resguardados aos indivíduos participantes
através dos seguintes aspectos: haverá necessidade do consentimento por escrito
para participação; será garantido o direito de não participação e o sigilo das
informações coletadas a nível individual.
4.18. ORÇAMENTO E FINANCIAMENTO
Este estudo está inserido em um consórcio de mestrado composto por 14
alunos do Programa de s-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal
35
de Pelotas do biênio 2007-2008. Será financiado pelo Centro de Pesquisas
Epidemiológicas da Faculdade de Medicina da mesma instituição e pelos próprios
mestrandos participantes.
4.19. DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
Este estudo será divulgado por meio de apresentação e confecção de um
volume da Dissertação para obtenção do título de mestre em Epidemiologia pela
Universidade Federal de Pelotas, pela publicação dos achados na forma de artigo
em periódicos científicos e por meio de um sumário com os principais achados para
a imprensa local.
4.20. CRONOGRAMA
ƚŝǀŝĚĂĚĞƐ
ϮϬϬϳ ϮϬϬϴ
D
 D
: :  ^ K
E  : & D
 D
: :  ^ K
E 
ZĞǀŝƐĆŽĚĞůŝƚĞƌĂƚƵƌĂ
ůĂďŽƌĂĕĆŽĚŽƉƌŽũĞƚŽ
WƌĞƉĂƌĂĕĆŽĚŽ
ŝŶƐƚƌƵŵĞŶƚŽ
ƐƚƵĚŽƉƌĠͲƉŝůŽƚŽ
ŵŽƐƚƌĂŐĞŵ
^ĞůĞĐĆŽĚŽƐ
ĞŶƚƌĞǀŝƐƚĂĚŽƌĞƐ
dƌĞŝŶĂŵĞŶƚŽĚŽƐ
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36
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39
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Prevention; 1994.
46 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2006/estimativa.shtm
40
ANEXO 1. Questionário
AGORA
VOU LHE MOSTRAR ALGUMAS FACES
QUE EXPRESSAM VÁRIOS
SENTIMENTOS, DESDE UMA PESSOA QUE SE SENTE MUITO FELIZ (APONTAR
PARA A PRIMEIRA FACE)
ATÉ UMA PESSOA QUE SE SENTE MUITO INFELIZ
(APONTAR PARA A ÚLTIMA FACE PASSANDO POR TODAS AS DEMAIS FACES
INTERMEDIÁRIAS)
A35)
Qual dessas faces
mostra melhor o jeito como o(a) Sr.(a) se sente,
pensando em sua vida como um todo?
( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 ) ( 7 )
A154) O(a) Sr.(a) está trabalhando atualmente?
(0) Não Æ
Desempregado
há __ __ meses __ __ anos
(1) Sim
(2) Aposentado
(3) Encostado
(4) Estudante
(5) Dona de casa
(6) Outro _______________________________________
(9) IGN
AGORA VAMOS FALAR SOBRE RELIGIÃO
A155) O(a) Sr.(a) se considera...
(0)
Muito religioso(a)
(1)
Mais ou menos religioso(a)
(2)
Pouco religioso(a)
(3)
Nada religioso(a)
(9) IGN
A156) O(A) Sr.(a) tem alguma religião?
(0) Não Æ Pule para a pergunta A157
(1) Sim
(9) IGN
41
A157) Qual?
(1) Católica
(2) Evangélica
(3) Espírita
(4) Afro-brasileira
(5) Testemunha de Jeová
(6) Outros ___________________
(8) NSA
(9) IGN
A158) Nos últimos 30 dias o Sr.(a) foi à missa, culto ou sessão religiosa?
(0) Não (1) Sim (9) IGN
Quantas vezes?
__ __ (88) NSA (99) IGN
AS PERGUNTAS QUE FAREI AGORA SÃO SOBRE FREQÜENCIA E A
QUANTIDADE DE BEBIDA ALCOÓLICA QUE O(A) SR.(A) CONSOME.
A159)
Nos últimos 30 dias, o(a) Sr.(a) consumiu alguma bebida alcoólica como cerveja,
vinho, cachaça, uísque, licores, ou qualquer outra bebida de álcool?
(0) Não Æ Pule para a pergunta A161 (1) Sim (9) IGN
A160)
Durante os últimos 30 dias, em quantos dias por semana ou por mês,
aproximadamente, o(a) Sr(a) consumiu bebidas alcoólicas?
__ __ Dias por semana
__ __ Dias por mês
(88) NSA
(99) IGN
CONSIDERAMOS QUE UMA DOSE DE BEBIDA ALCOÓLICA É IGUAL A UMA
LATA DE CERVEJA, OU UMA TAÇA DE VINHO, OU UM DRINQUE OU
COQUETEL OU UMA DOSE DE CACHAÇA OU DE UÍSQUE.
A161)
Sendo assim, nos dias em que o(a) Sr.(a) bebeu,
quantas doses, em média, o Sr(a)
ingeriu por dia?
__ __ Doses por dia
(88) NSA
(99) IGN
42
ANEXO 2. Manual de instruções
PERGUNTA A36. Qual dessas faces mostra melhor o jeito como o(a) Sr.(a) se sente,
pensando em sua vida como um todo?
Mostre o cartão com as faces ao fazer a pergunta e anote a resposta apontada pelo
entrevistado.
PERGUNTA A154. O(a) Sr(a) está trabalhando atualmente?
Não leia as opções de resposta para o entrevistado.
Quando a resposta for NÃO, pergunte se ele(a) realmente está desempregado(a) EX: uma
pessoa responde NÃO. Você então pergunta se está desempregado. Caso a pessoa diga que
está aposentada, anote (2) aposentado e coloque “88” para meses e para anos de
desempregado (a).
Caso a resposta for NÃO e o indivíduo confirmar que está desempregado(a), pergunte
quanto tempo. Se a resposta for em anos, anote o número de anos na margem do
questionário. Se a resposta for em meses, anote o número de meses.
Anote “00” em meses
caso a resposta tenha sido dada em anos.
Anote “00” em anos
caso a resposta tenha sido dada em meses.
Caso o entrevistado(a) uma resposta não contemplada nas alternativas, assinale “outros” e
anote a resposta.
PERGUNTA A155. O(A) Sr.(a) se considera ....? (LER OPÇÕES)
Leia as alternativas e anote a resposta.
PERGUNTA F156. O(a) Sr.(a) tem alguma religião?
Assinale a resposta.
Caso a resposta seja NÃO, pule para a pergunta A158.
PERGUNTA A156. Qual?
Assinale apenas uma opção.
Quando a resposta for umbanda, assinale a resposta afro-brasileira.
Se a resposta não estiver contemplada em alguma das alternativas, assinale a opção OUTROS
e anote o nome da religião informada pelo(a) entrevistado(a).
PERGUNTA A158. Nos últimos 30 dias o Sr.(a) foi à missa, culto ou sessão religiosa?
Se a resposta for NÃO, pule para a pergunta XX.
Se a resposta for SIM, pergunte quantos dias ele(a) freqüentou alguma missa, culto ou sessão
religiosa nos últimos 30 dias
.
Caso o entrevistado dê uma resposta em número médio de dias por semana, multiplique por 4
para dar o número de dias nos últimos 30 dias. Essa multiplicação deve ser feita ao final da
entrevista, depois de deixar a xasa do entrevistado
Ex: ”Fui à missa umas 2 vezes por semana nestes últimos 30 dias”. 4 x 2 = 08 (resposta a ser
anotada).
43
PERGUNTA A159. Nos últimos 30 dias, o(a) Sr.(a) consumiu alguma bebida alcoólica
como cerveja, vinho, cachaça, uísque, licores, ou alguma outra bebida de álcool?
Caso o(a) entrevistado(a) cite alguma outra bebida de álcool como bebidas do tipo “ice”,
“batidas”, “rum”, coloque SIM na resposta. Caso seja citada alguma bebida diferente das
apontadas acima, anote o nome desta bebida ao lado da pergunta.
Se a resposta for NÃO, pule para a pergunta A161.
PERGUNTA A160. Durante os últimos 30 dias, em quantos dias, por semana ou por
mês, aproximadamente, o(a) Sr(a) consumiu bebidas alcoólicas?
Preencha com o número de dias, por semana ou por mês, conforme a resposta dada pelo
entrevistado(a), que ele(a) consumiu bebidas alcoólicas. Caso ele(a) tenha respondido por
semana, preencher o espaço “por mês” com 00. Se, ao contrário, ele(a) responder por mês,
preencha o espaço por “por dia”
com 00.
PERGUNTA A161. Sendo assim, nos dias em que o(a) Sr.(a) bebeu, quantas doses, em
média, o Sr(a) ingeriu por dia?
Preencha com o número médio de doses ingeridas nos dias em que o(a) entrevistado(a) bebeu
bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias.
Caso o(a) entrevistado(a) não recorde o que é uma dose, releia o enunciado acima da questão
explicando o que é uma dose.
Se o entrevistado responder em garrafas de cerveja, leia novamente ao entrevistado o que é
uma dose. Caso ele ainda responda em garrafas de cerveja, só tenha a preocupação de ver que
tipo de garrafa e anote a resposta ao lado. EX: 2 garrafas de cerveja (grande, não long-neck)
por dia.
44
Relatório de Trabalho de Campo
45
1. INTRODUÇÃO
A coleta de dados da turma de mestrado 2007/2008 do Programa de Pós-
Graduação em Epidemiologia (PPGE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
foi realizada sob a forma de um consórcio de pesquisa. Isto é, em uma única
pesquisa, foram investigadas tanto questões gerais de saúde, quanto aspectos
específicos, relacionados ao objeto de estudo de cada um dos 14 mestrandos
envolvidos. A Tabela 1 apresenta os alunos do mestrado envolvidos no consórcio,
conforme suas áreas de graduação e o tema de suas dissertações.
A realização conjunta do trabalho teve como principal finalidade diminuir
custos e sistematizar a coleta de dados, viabilizando a conclusão dos estudos em
tempo relativamente curto.
Além dos 14 mestrandos, participaram da organização do trabalho de campo,
a professora coordenadora, Maria Cecília Assunção, o monitor da disciplina de
Prática de Pesquisa IV do PPGE, Ms. Samuel Dumith, e uma secretária contratada
para auxiliar no trabalho de campo, Graciela Kruger.
Tabela 1: Descrição dos mestrandos, área de graduação e tema de estudo no
mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia.
Nome
Área
profissional
Tema de estudo
Alan Knuth Educação Física Comparação da Atividade Física após 5 anos
Giovâni Del Duca Educação Física Incapacidade funcional em idosos
Suele Silva Educação Física Orientação para prática de atividade física
Suelen Cruz Psicologia Violência urbana
Vera Silva Medicina Artrite reumatóide
Leonardo Alves Medicina Angina pectoris
Diogo Scalco Medicina Autopercepção de felicidade
M
a
Aurora César Medicina Validação de hipertensão referida
Gisele Nader Medicina Comparação de uso de serviços médicos após 15 anos
Vanessa Collete Medicina Constipação intestinal
Victor Castagno Medicina Uso de serviços oftalmológicos
Alethea Zago Medicina Doação de sangue
Janaína Santos Nutrição Insegurança alimentar
M
a
Beatriz Camargo Odontologia Uso de serviços odontológicos
46
2. QUESTIONÁRIOS E MANUAL DE INSTRUÇÕES
O questionário final foi elaborado por todos os mestrandos em conjunto, tendo
sido subdividido em dois blocos, conforme explicitado abaixo:
Bloco A – Questionário Geral:
Aplicado a todos os indivíduos com 20 anos de idade ou mais residentes nos
domicílios visitados.
Continha algumas questões a serem observadas pela entrevistadora (sexo e
cor/raça do entrevistado), questões gerais como escolaridade e tabagismo, além de
outras perguntas, referentes aos temas específicos de cada mestrando.
Bloco B – Questionário Domiciliar:
Aplicado somente a um indivíduo por domicílio, preferencialmente a dona de casa.
Foi constituído por questões referentes à renda familiar, bens da família e telefone
para contato.
Paralelamente à confecção do questionário, um manual de instruções foi
elaborado com o objetivo de auxiliar as entrevistadoras na execução do trabalho de
campo. Este continha informações gerais sobre como proceder nas entrevistas
domiciliares, todos ideais de abordagem dos entrevistados, estratégias para
reversão de recusas e instruções específicas acerca da aplicação, preenchimento e
codificação de cada um dos itens do questionário. Além disto, também apresentava
uma escala de plantões dos mestrandos, com o telefone para contato de cada um
deles.
As questões específicas do presente projeto encontram-se no anexo do
Projeto de Pesquisa. Os blocos A e B, bem como o manual de instruções
encontram-se no site:
http://www.epidemio-ufpel.org.br/_projetos_de_pesquisas/consorcio2007/index.php
3. AMOSTRAGEM
O processo de amostragem incluiu dois estágios principais. Inicialmente, os
404 setores censitários domiciliares da zona urbana do município de Pelotas foram
47
listados em ordem decrescente de renda média do chefe da família de seus
domicílios, de acordo com o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Como descrito na seção 4.9 da metodologia do projeto de
pesquisa, determinou-se que seriam incluídos na pesquisa 126 setores censitários.
O número de setores a serem sorteados foi definido arbitrariamente, de forma a
reduzir o efeito de delineamento decorrente do processo de amostragem, mas
também não tornar o trabalho de campo demasiadamente custoso e demorado.
Para obter o intervalo para seleção sistemática dos setores, respeitando a
probabilidade proporcional ao tamanho, dividiu-se o número de domicílios da zona
urbana de Pelotas (92.407) pelos 126 setores a serem sorteados. O resultado
forneceu o valor do “pulo” entre os domicílios (733). Para a definição do primeiro
setor foi escolhido aleatoriamente o de número 196. Os setores subseqüentes foram
selecionados a partir da adição do valor do “pulo” (733) sucessivamente até se obter
os 126 setores. Como um setor foi sorteado duas vezes, o número de setores a ser
visitado ficou em 125, com um deles tendo o dobro de domicílios a visitar.
Tendo em vista o total aproximado de 3000 de indivíduos necessários para o
estudo, estimado pelo cálculo de tamanho de amostra de todos os mestrandos, e do
número médio de indivíduos elegíveis para o estudo por domicílio (2,1, segundo
IBGE), concluiu-se que seria necessária uma amostra com cerca de 1428 domicílios
(3000 / 2,1), divididos entre os 126 setores (11 domicílios por setor).
4. RECONHECIMENTO DOS SETORES CENSITÁRIOS
O processo de reconhecimento dos setores censitários consistiu em percorrê-
los a fim atualizar o número de domicílios realmente ocupados. Isto foi necessário
em virtude da possível desatualização do número de domicílios nos setores
censitários, uma vez que o processo de amostragem se baseou nos dados do censo
populacional do IBGE realizado no ano 2000.
Para essa tarefa, 30 mulheres visitaram todos os domicílios dos setores
censitários sorteados. Nesse momento, realizou-se a contagem de domicílios de
cada setor, sendo estes listados e identificados quanto à sua situação: residencial,
comercial ou desabitado.
48
O processo estendeu-se de 17 a 30 de setembro de 2007. Durante esse
período, os mestrandos (supervisores de campo) foram responsáveis pela revisita de
todos os setores, com o objetivo de fazer o controle de qualidade.
Todo este procedimento possibilitou que os endereços dos setores sorteados
fossem obtidos, facilitando a seleção dos domicílios e tornando, assim, mais simples
o trabalho das entrevistadoras.
5. ESCOLHA DOS DOMICÍLIOS A SEREM PESQUISADOS
De posse da listagem de domicílios de todos os setores censitários, foram
excluídos aqueles exclusivamente comerciais ou desocupados. O processo de
escolha dos domicílios a serem visitados em cada setor deu-se da seguinte forma:
1
o
passo: dividiu-se o número de domicílios do setor por 11 (número médio de
domicílios que se esperava visitar por setor), obtendo o número do “pulo” a ser
considerado para cada setor, que era proporcional ao tamanho do mesmo.
2
o
passo: com o pulo definido, o primeiro domicílio a ser visitado era escolhido
aleatoriamente. Para este procedimento, foi utilizado o programa Stata 9.
3
o
passo: para que todo setor fosse percorrido, somava-se ao domicílio inicial
o valor do pulo até que se chegasse ao fim do setor.
Ao final do processo de reconhecimento dos setores censitários e a
sistematização do sorteio dos domicílios a serem visitados pela pesquisa, foi
contabilizado o número final de 1522 domicílios incluídos no estudo.
6. RECONHECIMENTO DOS DOMICÍLIOS
Após a seleção dos domicílios que iriam compor a amostra, cada mestrando
visitou pessoalmente as residências selecionadas sob sua responsabilidade. Isso foi
feito com o objetivo de entregar uma carta de apresentação da pesquisa aos
moradores da casa, além de explicar os objetivos da mesma. Ainda, foram
coletados, nesta visita, nome, sexo, idade e telefone dos moradores, aproveitando-
se a oportunidade para agendar, quando possível, dias e horários para a visita da
entrevistadora e realização da entrevista.
49
7. DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO À POPULAÇÃO
Com o objetivo de informar a população sobre a realização do estudo, os
mestrandos solicitaram apoio aos principais meios de comunicação da cidade para
divulgar o trabalho por meio de artigos, reportagens e entrevistas em jornais,
programas de TV e de rádio. Como, exemplo, citamos:
- Diário Popular (
www.diariopopular.com.br/11_10_07/p0501.html);
- Endereço eletrônico do Centro de Pesquisas Epidemiológicas
(
www.epidemio-ufpel.org.br/noticias.php?id_noticias=325);
- Programa Pampa Meio-dia (TV Pampa).
8. ESTUDO PRÉ-PILOTO
Um estudo pré-piloto em setor censitário não selecionado para a amostra foi
realizado no dia 30/09/2007, com a aplicação de pelo menos um questionário geral
e um domiciliar a indivíduos com 20 ou mais anos de idade por cada mestrando.
Esta etapa teve como objetivo averigüar a aplicabilidade do instrumento, procurando
observar questões como o tempo de duração das entrevistas, entendimento das
questões e viabilidade do uso do esfigmomanômetro digital.
No dia seguinte à realização do estudo pré-piloto, foi realizada uma reunião
do grupo de mestrandos para apontar os principais problemas e fazer as últimas
modificações no questionário e no manual de instruçoes.
9. SELEÇÃO E TREINAMENTO DAS ENTREVISTADORAS
O processo seletivo para a contratação de entrevistadoras foi divulgado por
meio de cartazes afixados nas faculdades de Medicina, Odontologia e Educação
Física da UFPel e na Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Além disso, foram
também contactadas entrevistadoras que haviam participado de pesquisas
anteriores e com boas referências do PPGE/UFPel. Foi acordado entre os
mestrandos, que aquelas que tivessem participado do processo de reconhecimento
dos setores censitários com um bom desempenho seriam candidatas prioritárias à
função de entrevistadora.
50
Os critérios exigidos para a inscrição foram: ser do sexo feminino, ter segundo
grau completo e ter disponibilidade de ao menos 40 horas semanais.
Houve 54 candidatas a entrevistadoras. Todas foram submetidas a um
treinamento de 40 horas, realizado no período de 15 a 19 de outubro, no Anfiteatro
da Faculdade de Medicina da UFPel. Apenas 46 completaram o treinamento e
somente 30 foram selecionadas.
Segue abaixo um quadro com a descrição da sistemática adotada no
treinamento das entrevistadoras:
Quadro 1: Processo de treinamento de entrevistadores.
Horário
Seg (15/10)
Ter (16/10)
Qua (17/10)
Qui (18/10)
Sex (19/10)
8:00 – 9:00
Apresentação
dos mestrandos
e do trabalho de
entrevistador
(Cecília)
Atividade
Física (Alan)
Orientação para
Prática de
atividade física
(Suele)
Violência
(Suélen)
Prova teórica
(início às
8h30min)
9:00 – 9:45
Angina
(Leonardo)
Serviço médico
(Gisele)
Insegurança
alimentar
(Janaína)
Prova teórica
9:45 – 10:00
Intervalo para o
café
Intervalo para
o café
Intervalo para
o
café
Intervalo para o
café
Prova teórica
10:00 – 11:00
Bloco geral
(Vanessa)
Constipação
(Vanessa)
Serviço
oftalmológico
(Victor)
Bloco domiciliar
(Janaína)
Prova teórica
11:00 – 12:00
Dramatização
dos questionários
do turno
Dramatização
dos
questionár
ios
do turno
Dramatização
dos
questionários
do turno
Entrega de um
questionário
para cada
entrevistadora
Dramatização
dos
questionários
do turno
Discussão e
correção da
prova pelos
mestrandos
12:00 – 14:00
Intervalo para
almoço
Intervalo para
almoço
Intervalo para
almoço
Intervalo para
almoço
Intervalo para
almoço
14:00 – 15:00
Doação de
sangue (Alethea)
Hipertensão
arterial
sistêmica
(Aurora)
Estudo Piloto
Reunião dos
mestrandos no
CPE
15:00 – 15:45
Sintomas
articulares
Crônicos (Vera)
Hipertensão
arterial
sistêmica
(Aurora)
Serviço
odontológico
(Beatriz)
Estudo Piloto
15:45 – 16:00
Intervalo para o
café
Intervalo para
o café
Intervalo para o
café
Estudo Piloto
16:00 – 17:00
Incapacidade
funcional
(Giovâni)
Felicidade
(Diogo)
Discussão do
questionário
Estudo Piloto
17:00 – 18:00
Dramatização
dos questionários
do turno
Dramatização
dos
questionários
do turno
Discussão do
questionário
Estudo Piloto
Divulgação do
resultado de
aprovação por
telefone
(Graciela)
51
No primeiro turno de treinamento, a coordenadora do consórcio 2007/2008
apresentou o Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE), comentou sobre o
trabalho de entrevistadora, do valor a ser recebido pelo trabalho e do compromisso e
seriedade esperados para exercer tal função.
Após, cada mestrando responsabilizou-se em apresentar e explicar seu
instrumento de pesquisa, além de esclarecer as dúvidas que surgissem. Ao final de
cada turno eram realizadas dramatizações com o objetivo de simular situações
ocorridas durante a aplicação do pré-piloto e contribuir para familiarização com o
questionário.
Na tarde do penúltimo dia, foi realizado um estudo piloto que fez parte tanto
da avaliação como do treinamento das entrevistadoras, descrito no próximo tópico.
No último dia do treinamento, as entrevistadoras realizaram uma prova escrita
com 20 questões sobre situações de campo e perguntas específicas de cada
questionário. No mesmo dia, após correção da prova escrita, avaliação do
desempenho no estudo piloto e durante todo o treinamento, foram selecionadas as
30 entrevistadoras que iniciariam o trabalho de campo.
10. ESTUDO PILOTO
Da mesma forma que no estudo pré-piloto, foram escolhidos dois setores
censitários não incluídos na amostra do estudo. Este foi realizado no dia 18/10/2007
e consistiu na condução de uma entrevista por cada candidata a entrevistadora,
supervisionada por um mestrando. No total, foram realizadas cerca de 46
entrevistas, com cada mestrando supervisionando três ou quatro candidatas.
Além de fazer parte da avaliação para escolha das entrevistadoras, esta
etapa teve como objetivo verificar possíveis falhas ainda existentes nas questões
e/ou manual de instruções.
11. COLETA DE DADOS
Com a divulgação da pesquisa já realizada, tanto por meio da imprensa
quanto por meio da entrega das cartas de apresentação pelos mestrandos, no dia 23
52
de outubro de 2007 as entrevistadoras iniciaram o trabalho de campo, que se
estendeu até o dia 15 de janeiro de 2008.
No primeiro dia de trabalho, as entrevistadoras receberam todo o material
necessário para suas atividades: questionários, manual de instruções,
esfigmomanômetro digital, termos de consentimento, instrumentos adicionais (escala
de faces, livro com fotografias dos postos de saúde e figura para estudo da angina
pectoris), lápis, borracha, apontador, pasta, crachá, carta de apresentação, planilha
dos setores com os domicílios a serem visitados, cartão telefônico para contato com
os supervisores de campo e vale-transporte.
As entrevistadoras eram orientadas a codificar o questionário ao final de cada
dia de trabalho, a fim de minimizar erros. A revisão da codificação dos questionários
ficou sob responsabilidade de cada mestrando que coordenava o campo naquele
setor. Além disso, os mestrandos que tinham questões abertas revisaram suas
respostas em todos os questionários da amostra.
Reuniões semanais entre cada entrevistadora e seu respectivo supervisor de
campo foram realizadas. Os questionários aplicados eram devolvidos e outros em
branco eram entregues. Além disso, eram abordadas vidas referentes a
codificações das variáveis, às respostas dos questionários, à logística do estudo ou
a outras questões que surgissem.
As atividades do consórcio de pesquisa foram centralizadas em uma sala
exclusivamente destinada para tal, onde era armazenado todo o material destinado
à pesquisa, assim como os questionários recebidos. Durante todo o período do
trabalho de campo, procurou-se avaliar e projetar o andamento do mesmo, por meio
da monitorização do número total de domicílios completos, parciais, contatados,
perdas e recusas.
Uma escala de plantão de finais de semana foi elaborada para que as
entrevistadoras dispusessem de um supervisor para a resolução de problemas mais
urgentes.
12. DIGITAÇÃO E LIMPEZA DOS DADOS
A digitação ocorreu concomitante ao trabalho de campo, com dupla entrada
por diferentes digitadores, através do programa Epi-info 6.04. Semanalmente, sete
53
lotes eram enviados para digitação e, nas sextas-feiras, era usada a função validate
do Epi-info, para checagem das inconsistências entre as duas digitações. Eventuais
dúvidas decorrentes de erros de preenchimento dos questionários eram
solucionadas pelos mestrandos.
Durante o mês de fevereiro, duas mestrandas ficaram responsáveis pela
limpeza do bloco geral do questionário. Após, cada mestrando ficou responsável
pela análise de consistência de suas questões no banco de dados. Para isso foi
utilizado o programa Stata 9.
13. CONTROLE DE QUALIDADE
O controle de qualidade consistiu na revisita aleatória a 10% de todos os
indivíduos da amostra identificados pelas entrevistadoras. No momento da revisita,
realizada pelos mestrandos, foram aplicadas algumas questões do bloco geral,
assim como algumas questões específicas do tema de pesquisa de cada mestrando.
Além dessa revisita para confirmação das entrevistas, a qualidade da coleta
dos dados também foi assegurada pelos mestrandos a partir do contato diário com
as entrevistadoras e constante supervisão de seu trabalho.
Próximo ao final do trabalho de campo, identificou-se fraude em cinco
entrevistas de uma mesma família e, ainda no mesmo setor, a realização de uma
entrevista por telefone. Essas seis entrevistas foram excluídas do banco de dados.
Houve certificação da realização das demais entrevistas do setor através de um
telefonema para cada domicílio restante, além da confirmação por um membro da
família do recebimento dessa entrevistadora e da resposta do questionário.
14. PERDAS E RECUSAS
Foram considerados como perdas/recusas os casos em que, mesmo com
insistência das entrevistadoras em dias e horários diferentes e, por último, novo
contato do mestrando, não foi possível realizar a entrevista.
Dos 3180 indivíduos sorteados para fazer parte da amostra, 2986 foram
entrevistados. O número total de perdas/recusas foi de 194 (6,1%), sendo a maior
parte do sexo masculino (57,2%).
54
Ao analisar a proporção de perdas/recusas conforme faixa etária, observou-se
que foi discretamente maior nos extratos da população com mais idade. Vide Tabela
2.
Tabela 2. Descrição do tamanho da amostra e percentual de perdas e recusas,
conforme a faixa etária.
Faixa etária
Tamanho da
amostra
Número de
perdas/recusas
Percentual de
perdas/recusas
20 - 39 anos 1344 72 5,4%
40 - 59 anos 1192 76 6,4%
60 anos ou mais 644 46 7,1%
Total
3180
194
6,1%
14. RELATÓRIO FINANCEIRO
Esse projeto de pesquisa foi financiado pelo CPE, através de recursos do
Programa de Apoio a s-Graduação (PROAP) da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelos 14 mestrandos que
dele participaram. O detalhamento financeiro das receitas e despesas encontra-se
descrito nas tabelas 3 e 4.
Tabela 3. Recursos obtidos para o Consórcio de Pesquisa do mestrado em
epidemiologia do PPGE/UFPel da turma 2007-2008.
Fonte
Receita (R$)
PPGE/UFPel 30.000,00
Mestrandos 21.000,00
Total
51.000,00
Tabela 4. Despesas do Consórcio de Pesquisa do mestrado em epidemiologia do
PPGE/UFPel da turma 2007-2008..
Descrição
Valor (R$)
Reconhecimento dos setores 3.860,00
Vale-transporte para “bateção” 170,00
Treinamento das entrevistadoras 1.542,53
Papel A4 2.200,00
Impressão: questionário e manual 2.910,00
Material de escritório 291,25
Cartões telefônicos 595,00
Vale-transporte para o campo 9.775,00
Entrevistas realizadas 24.104,00
Secretária 3.200,00
Digitação 1.600,00
Total
50.2
47,78
55
15. MODIFICAÇÕES
Durante a construção do artigo os autores optaram por reconsiderar o modelo
de análise proposto no projeto, abdicando do modelo hierárquico e fazendo uma
bivariada dos dados, exclusivamente. Esta modificação ocorreu a partir da
dificuldade de interpretar as relações entre algumas variáveis independentes e o
desfecho, devido à impossibilidade de afastar a causalidade reversa como provável
hipótese explicativa.
56
Artigo
57
AUTOPERCEPÇÃO DE FELICIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM
ADULTOS DE UMA CIDADE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE BASE
POPULACIONAL
SELF-PERCEPTION OF HAPPINESS AND ASSOCIATED FACTORS
IN ADULTS: A POPULATION-BASED STUDY IN SOUTHERN BRAZIL
Manuscrito a ser submetido aos Cadernos de Saúde Pública
Diogo Luis Scalco
1
Cora Luiza Araújo
1
João Luiz Bastos
1
1
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Departamento de Medicina Social,
Universidade Federal de Pelotas, RS.
Autor para correspondência:
Diogo Luis Scalco ([email protected])
Rua Carlos Silveira Martins Pacheco, 55. Bloco A, 1004.
Cristo Redentor - Porto Alegre, RS.
CEP: 91350-300.
Telefone: (51) 3207-7133
Fonte de auxílio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES)
58
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo avaliar os níveis de autopercepção de felicidade e sua
associação com algumas características demográficas, socioeconômicas e comportamentais
em uma população de adultos de uma cidade do sul do Brasil. Foi realizado um estudo
transversal, de base populacional, em indivíduos com idade igual ou superior a 20 anos
(n=2.942). No presente estudo, felicidade foi definida como sendo “o grau, segundo o qual
uma pessoa avalia positivamente a qualidade global de sua vida como um todo, no presente”.
Autopercepção de felicidade foi aferida por meio de uma única pergunta associada a uma
escala de faces. A prevalência de autopercepção de felicidade foi de 73,4%. Entre os
principais achados do estudo estão a associação positiva entre autopercepção de felicidade e
maior escolaridade e maior nível econômico e a associação negativa com estar desempregado.
Ser mais jovem, entre os homens, e religiosidade, entre as mulheres, também foram preditores
de maiores níveis de autopercepção de felicidade. Estar separada/divorciada ou ser viúva
esteve associado a menores prevalências de autopercepção de felicidade apenas entre as
mulheres. Partindo-se do pressuposto que felicidade é uma condição associada a desfechos
positivos em saúde, além de ser um fim por si só, torna-se importante identificar as
caraterísticas das pessoas que se autodefinem como felizes. Tal conhecimento poderia
contribuir para a formulação de políticas e estratégias que visem aumentar o bem estar
populacional, além de permitir a visualização de grupos populacionais mais vulneráveis em
termos de saúde.
Palavras-chave: felicidade; estudos transversais; fatores socioeconômicos.
59
ABSTRACT
This study aimed to evaluate self-perception of happiness and associated factors in a Southern
Brazilian city. A cross-sectional population-based study was carried out with individuals aged
20 years and over (N = 2,942). Self-perceived happiness was defined as the degree to which a
person evaluates the overall quality of his/her present life-as-a-whole positively, through a
single question with a “smiley-scale”. The prevalence of self-perceived happiness was 73.4%,
and it was positively associated with educational attainment and economic level, whereas it
was negatively associated with unemployment. Young men and religious women also showed
higher prevalence of happiness. Among women, being separated/divorced or widowed was
associated with a lower prevalence of happiness. Since happiness predicts better health, it is
important to know who is happy, in order to contribute to the formulation of public policies
and strategies to increase general well-being and detect people most vulnerable in terms of
health.
Keywords: happiness; cross-sectional studies; socioeconomic factors.
60
INTRODUÇÃO
A idéia de que felicidade é central na experiência de vida do homem remonta à
antigüidade. Na Grécia antiga, quatro séculos antes de Cristo, o filósofo Aristippus afirmava
que “o objetivo central da vida de cada ser humano seria maximizar seus prazeres”
1
. Na
mesma linha, no século XIX, filósofos utilitaristas reivindicavam que o “objetivo primordial
das políticas sociais seria gerar mais felicidade para um maior número de pessoas”
2
.
No campo político, a discussão é mais atual. O governo do pequeno Reino de Butão
recentemente anunciou que o objetivo a ser alcançado por suas políticas públicas seria o
aumento da “felicidade nacional bruta” ao invés do “produto nacional bruto” (ou produto
interno bruto PIB)
3
. Em países como a Inglaterra, a pretensão não parece ser tão grande,
mas planejadores de políticas de saúde discutem a necessidade do uso de estimativas de
satisfação de vida e felicidade da população como indicadores de bem-estar populacional
4
.
Crescente importância tem sido dado ao tema, no Brasil e em outros países, por meio
de editoriais em revistas médicas de grande circulação
5
, informações e reportagens na mídia
escrita, falada e eletrônica
6-8
. Tal fato pode ser ilustrado por meio de uma busca na base de
dados PubMed com os descritores “happiness”, “public health” e epidemiology” nos
períodos de 1980-1999 e 2000-2007. A produção científica localizada com “happiness” perfaz
14,1% (N = 448) e 17,1% (N = 731) de todos os trabalhos encontrados com “public health” e
“epidemiology” nos períodos destacados, respectivamente.
61
Paralelamente, passam a despontar estudos demonstrando associação entre felicidade
e estados correlatos com desfechos positivos em saúde. Barak
9
apresenta uma revisão de
literatura mostrando associação de afeto positivo com melhor resposta imune. De maior
relevância foi um estudo longitudinal com freiras acompanhadas por décadas, o qual apontou
que aquelas com mais afeto positivo, demonstrado por meio da análise de anotações em seus
diários quando jovens, tiveram uma expectativa de vida cerca de dez anos maior do que
aquelas classificadas com menos afeto positivo
10
. De modo semelhante, Koivumaa-Honkanen
et al.
11
concluíram que através de um questionário com perguntas sobre satisfação de vida foi
possível predizer menores taxas de mortalidade numa população de finlandeses adultos,
especialmente entre indivíduos do sexo masculino.
Estudar o tema felicidade, entretanto, é desafiador, a começar pela dificuldade em
definí-la. Considerada por Diener
12
como um termo coloquial para bem-estar subjetivo e
sinônimo de qualidade de vida para dois terços dos indivíduos, em um estudo com
profissionais de saúde realizado na Inglaterra
13
, felicidade será no presente trabalho entendida
de acordo com a definição de Veenhoven. Este autor a descreve como um construto
semelhante à satisfação de vida: “o grau, segundo o qual uma pessoa avalia positivamente a
qualidade global de sua vida como um todo, no presente”
14
. Em outras palavras, felicidade
será entendida como o quanto a pessoa está satisfeita com, ou gosta da vida que leva. Atem-se
à apreciação que o indivíduo faz de sua vida no presente, ainda que esta possa sofrer
influências do afeto momentâneo, de eventos passados na vida ou de perspectivas futuras.
Estudos apontam que, embora construtos como felicidade e afeto positivo apresentem
validade discriminatória entre si, representam medidas de bem estar com alto grau de
62
correlação
15, 16
. Tal afirmação, somada ao relatado no próximo parágrafo, justificam a opção
dos autores pela utilização de comparações dos achados desta pesquisa com os de outras, que
utilizaram diferentes desfechos de bem estar.
Estudos epidemiológicos que apresentem informações a respeito dos níveis de
autopercepção de felicidade populacionais e de fatores associados são relativamente escassos
no Brasil, ainda que no mundo venham crescendo nos últimos anos. Este estudo objetivou
estudar a percepção de indivíduos adultos acerca de sua condição de felicidade e verificar a
associação com algumas características demográficas, socioeconômicas e comportamentais.
MÉTODOS
Entre outubro de 2007 e janeiro de 2008, realizou-se um estudo transversal de base
populacional na zona urbana do município de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Esta
investigação foi conduzida por uma turma de mestrandos do Programa de Pós-Graduação em
Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas. Os dados foram coletados através de um
único questionário com questões gerais e itens específicos do interesse de cada pesquisador
17
.
Pelotas está situada ao sul do estado do Rio Grande do Sul e, segundo estimativa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possuia 339.934 habitantes no ano de
2007, sendo que 93,2% residiam na área urbana do município
18
. A população-alvo do
presente estudo incluiu os moradores da área urbana, de 20 anos ou mais de idade, excluídos
63
os indivíduos institucionalizados, residindo em prisões ou instituições de longa permanência
para idosos.
Para o cálculo do tamanho da amostra, foi utilizado o programa Epi-Info. Considerando
prevalências de autopercepção de felicidade de 60%, 70% e 80%, nível de confiança de 95%,
poder de 80% e erro aceitável de dois pontos percentuais, acréscimo de 10% para perdas e
recusas e mais 50% para compensar o efeito de delineamento amostral, a amostra necessária
deveria incluir 2.516 indivíduos. Num segundo momento, procedeu-se outro lculo para
verificar a associação entre autopercepção de felicidade e as variáveis independentes,
considerando os seguintes parâmetros: nível de confiança de 95%, poder de 80% e risco
relativo a ser detectado de 1,2, levando-se em conta as prevalências conhecidas ou estimadas
das variáveis independentes a serem estudadas na população de Pelotas. Após acréscimo de
10% para perdas ou recusas e 50 % para o efeito de delineamento amostral, estimou-se um
tamanho amostral de 1.635 indivíduos. O número final de entrevistados ultrapassou estes
valores, tendo em vista que uma amostra maior foi necessária para atender os objetivos de
estudos de outros pesquisadores envolvidos no trabalho.
A amostra foi selecionada em dois estágios. As unidades primárias de amostragem foram
os 404 setores censitários urbanos, residenciais, de Pelotas. Após estratificação pela renda
mensal média do chefe da família ( IBGE, Censo 2000), foram sorteados 126 setores, com
probabilidade proporcional ao tamanho. Uma vez que um setor foi sorteado duas vezes, o
número final de setores da amostra totalizou 125. Em cada setor censitário foram amostrados
de forma sistemática, aproximadamente 11 domicílios, com exceção do setor que foi sorteado
duas vezes, o qual teve o dobro de domicílios visitados.
64
Todos os domicílios foram previamente visitados pelos pesquisadores responsáveis, com
o intuito de convidar os moradores a participarem do estudo, além de identificar a idade, o
sexo e o número de moradores. A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação de
questionários padronizados por entrevistadoras treinadas que desconheciam os objetivos e as
hipóteses do estudo. Os questionários foram testados e aprimorados a partir da realização de
um estudo-piloto em um setor censitário não incluído na amostra.
Ao final do trabalho de campo, foram entrevistados 2.986 indivíduos entre os 3.180
elegíveis, o que corresponde a uma taxa de perdas/recusas de 6,1%. Dentre os entrevistados,
44 (1,5%) foram excluídos por não poderem responder por si mesmos ao questionário em
decorrência de impedimento físico (incluídos aqueles com dificuldade visual importante) ou
incapacidade mental relatada por co-habitantes do domicílio. Dessa forma, a amostra final
incluída na presente análise foi composta por 2.946 indivíduos.
O desfecho investigado foi autopercepção de felicidade, mensurada através de uma
pergunta acompanhada da escala de faces de Andrews e Whitey
19
(Figura 1). Foram
consideradas felizes as pessoas que apontaram as faces A ou B.
As variáveis independentes utilizadas foram:
Demográficas - sexo: masculino ou feminino; idade: 20-29, 30-39, 40-49, 50-59 ou 60
anos ou mais; cor/raça autoclassificada como branca, preta/parda (agrupadas em uma
única categoria por representarem, neste estudo, grupos populacionais semelhantes
quanto à freqüência do desfecho) e outros. Esta variável foi incluída no estudo com o
65
objetivo de captar alguma possível desigualdade no desfecho que não fosse contemplada
pelas demais variáveis; e, situação conjugal: casado/com companheiro, solteiro, separado
ou viúvo.
Socioeconômicas - escolaridade: 0, 1-4, 5-8, 9-11 ou 12 anos ou mais de estudo; nível
econômico: A, B, C, D/E (classificação da Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa
20
); situação de trabalho: trabalhando, desempregado, dona de casa,
aposentado/pensionista (agrupados em uma única categoria por representarem grupos
populacionais semelhantes entre si média de idade e prevalência do desfecho muito
semelhantes), outros; número de habitantes no domicílio: 1, 2, 3, 4 e 5 ou mais.
Comportamentais - tabagismo: não-fumante, ex-fumante ou fumante (uso de um ou mais
cigarros por dia no último mês); ingestão de álcool: abstêmio, uso moderado ou uso de
risco (uso de uma ou mais doses padronizadas/dia, para mulheres e duas ou mais doses
padronizadas/dia, para homens); atividade física: sedentário ou ativo (>150 minutos de
atividade física leve ou moderada ou 75 minutos de atividade física forte na última
semana, obtido através do IPAQ curto
21
); crença religiosa: muito, moderadamente, pouco
ou nada religioso (autopercepção); ter religião: sim ou não; freqüência religiosa: 0, 1-2, 3-
4 e 5 ou mais vezes que freqüentou missão/culto/sessão religiosa nos últimos 30 dias.
Os dados foram duplamente digitados no programa EpiInfo 6.04, com checagem
automática de consistência e amplitude. Para controle de qualidade, 10% das entrevistas
foram repetidas pelos pesquisadores com uma versão resumida do questionário.
A análise estatística foi realizada através do pacote estatístico Stata. Após análise
descritiva da amostra, foi feita análise bruta de associação do desfecho com as variáveis
66
independentes, utilizando o teste de Wald para heterogeneidade e de tendência linear, no caso
de variáveis categóricas ordinais. Para cada prevalência do desfecho foi calculado o intervalo
de confiança de 95% (IC95%), levando em consideração o efeito de delineamento.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Pelotas, tendo sido garantido sigilo das informações e obtido
consentimento por escrito de todos os participantes previamente à entrevista.
RESULTADOS
Foram entrevistados 2.946 adultos, porém quatro não forneceram informações sobre
autopercepção de felicidade, resultando numa amostra final de 2.942 indivíduos.
A Tabela 1 descreve a amostra total de acordo com as variáveis independentes
investigadas e segundo o sexo. Houve um predomínio da população feminina (56,8%). Para
ambos os sexos, a população estudada foi composta majoritariamente por indivíduos com cor
da pele branca (cerca de ¾ da população) e pelas categorias B e C da classificação econômica
da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, que representaram 80% da amostra,
aproximadamente. O grupo com faixa etária maior de 60 anos de idade foi ligeiramente maior
entre as mulheres, assim como o de indivíduos com nenhum ano de estudo, em comparação
aos homens. Em relação à situação de trabalho, o desemprego foi discretamente mais comum
entre as mulheres, ao passo que, diferentemente das mulheres, somente dois homens se
67
definiram na categoria de “donas de casa”. A proporção de mulheres que nunca fumou e que
não consumiu álcool nos últimos 30 dias superou a de homens sensivelmente. Mais homens
viviam na condição de casados/com companheira, enquanto o número de viúvas foi cerca de
cinco vezes maior entre as mulheres. De maneira geral, as mulheres diziam ter religião, se
consideravam mais religiosas e freqüentavam mais cultos/missas/sessões religiosas.
A distribuição quanto às faces apontadas, indicando níveis de autopercepção de
felicidade, está apresentada na Figura 2. A prevalência global de indivíduos felizes foi de
73,4% (IC95% 71,2;75,5), sendo 71,6% (IC95% 69,0;74,1) entre as mulheres e 75,7%
(IC95% 73,0;78,2) entre os homens.
A Tabela 1 também apresenta as prevalências de felicidade para cada categoria das
variáveis independentes, com seus respectivos IC95%. A Tabela 2 mostra as razões de
prevalência e respectivos valores-p.
Conforme a Tabela 2, é possível observar que, tanto entre os homens como entre as
mulheres, a prevalência de indivíduos felizes foi maior entre aqueles com maior escolaridade
e maior nível socioeconômico, assim como foi menor entre desempregados, aposentados e
fumantes. Maiores prevalências de felicidade estiveram associadas a cor da pele preta/parda e
com indivíduos mais jovens, entre os homens. Diferentemente, mulheres separadas ou viúvas
apresentaram menores prevalências de felicidade, enquanto que mulheres mais religiosas -
condição essa definida através da crença religiosa autopercebida e pela freqüência religiosa -
apresentaram maiores prevalências de felicidade. Nível de atividade física, consumo de álcool
68
e o número de habitantes de domicílio não se mostraram associados com o desfecho em
ambos os sexos.
DISCUSSÃO
A alta taxa de resposta observada neste estudo, bem como o caráter aleatório das perdas e
recusas identificadas contribuem para a representatividade da amostra. Além disso,
comparando-se a distribuição da amostra por sexo e faixa etária, com dados da população
residente em Pelotas, obtidos no Censo de 2000 do IBGE
18
e em estudos transversais de base
populacional realizados anteriormente
22
, não foram encontradas diferenças importantes, o que
reforça a validade interna do estudo.
Algumas possíveis limitações ou críticas ao presente estudo devem ser apontadas. As
associações observadas nas análises bivariáveis não devem ser interpretadas como relações de
causa e efeito. Pressupor causalidade é extremamente complexo e envolve algumas
considerações. A precedência temporal da causa em relação ao efeito e o entendimento de que
uma série de fatores pode interagir de modo bastante intrincado na determinação do desfecho
são dois exemplos. Desta forma, este estudo propõe-se tão somente a identificar grupos
populacionais cuja prevalência de felicidade autopercebida são maiores ou menores.
Um possível viés nas respostas poderia ser a contaminação pelo estado de ânimo ou
outros fatores situacionais momentâneos. No entanto, outros estudos têm mostrado que é
69
grande a estabilidade de autopercepção de felicidade e construtos correlatos ao longo do
tempo
23
. Eid e Diener
24
encontraram que fatores situacionais têm pouca influência em
comparação com fatores que influenciam medidas de bem estar subjetivo por longo tempo. A
padronização da coleta dos dados e o ordenamento das questões no questionário foram
realizados de modo a minimizar possíveis interferências.
A escolha do instrumento de único-item (uma única pergunta) para esta pesquisa tem
algumas implicações. Embora medidas de múltiplos itens tenham como suposta vantagem o
poder de captar os diversos componentes do construto felicidade, medidas de único-item,
como a utilizada neste estudo, são de fácil aplicação e, conseqüentemente, mais apropriadas
para uso em grandes inquéritos populacionais
25
. A opção de dicotomizar o desfecho, com a
escolha das duas faces mais “felizes” foi uma opção dos autores, baseada na análise de outros
estudos e antecedeu a realização da pesquisa.
Os principais achados do presente estudo foram: a alta prevalência de autopercepção de
felicidade na população estudada, a associação positiva entre ser feliz e ter maior escolaridade
e ser de nível econômico mais elevado e, a associação negativa entre ser feliz e estar
desempregado para ambos os sexos, o decréscimo da prevalência de felicidade com o
aumento da idade entre os homens e a associação negativa entre ser separada ou viúva e
autoperceber-se feliz entre as mulheres.
A prevalência encontrada de adultos felizes foi de 73% da população, resultado esse
que corrobora achados de outros estudos que indicam que a grande maioria dos indivíduos
70
consideram-se felizes. Cummins
19, 26
fez uma revisão com busca sistemática de mais de 2000
artigos selecionando 206 de vários países que apresentavam dados sobre satisfação de vida. A
partir desses construiu um índice, que utilizou para chegar a um valor médio mundial de
felicidade de 70% (erro padrão de 5%). Se aplicado o mesmo índice ao presente estudo, seu
valor seria de 81,0% (IC95% 80,2;81,8%), mais alto do que a média global. Como já
enfatizado, tais comparações devem ser cautelosas, o que não reduz a plausibilidade de que a
grande maioria das pessoas se autopercebe feliz.
A tendência de maior prevalência de pessoas felizes entre os homens mais jovens foi
marcante. No entanto, isto não se verificou entre as mulheres. Outros estudos não
demonstraram um padrão consistente de variação de felicidade com a idade. Em um estudo
transversal realizado na China, sem estratatificação por sexo, Lu
27
encontrou que a satisfação
de vida foi maior entre os idosos. Yang
28
, a partir da análise de uma série de inquéritos
consecutivos sobre felicidade, nos Estados Unidos da América, também mostrou um
incremento dos níveis de felicidade com o aumento da idade, após controle para efeitos de
coorte e de período, tanto entre homens como entre mulheres.
A associação entre felicidade e nível econômico, assim como com escolaridade, também
foi significativa. Resultados similares ao presente estudo, foi encontrado entre adolescentes
de Pelotas
29
: utilizando instrumento semelhante, a pesquisa mostrou que indivíduos
pertencentes a classes socias mais privilegiadas apresentaram maior prevalência de bem-estar
psicológico. Outros estudos realizados em diferentes países obtiveram achados semelhantes,
tanto para nível econômico como para escolaridade
30-32
. Os autores do presente estudo
compartilham a hipótese levantada por Myers
33
de que tal associação seja especialmente
71
importante em países com maior desigualdade social, nos quais as camadas mais pobres da
população não têm acesso a necessidades básicas como, por exemplo, a alimentação. Destaca-
se também, nesta pesquisa, os níveis comparativamente reduzidos de indivíduos felizes entre o
grupo com nenhum ano de escolaridade.
Assim como encontrado em outro estudo
32
, o desemprego esteve associado com menores
níveis de autopercepção de felicidade. Lucas et al
34
, através de uma análise prospectiva da
satisfação de vida informada por mais de 20.000 pessoas, na Alemanha, durante um período
de 15 anos, observou que o desemprego foi capaz de reduzir os níveis de satisfação de vida
por longos períodos. Ser aposentado/pensionista também mostrou comportamento semelhante
em relação à autopercepção de felicidade. Utilizando o mesmo banco de dados do estudo de
Lucas et al
34
, Pinquart e Schindler
35
concluíram que, embora a maioria dos adultos
experienciaram a aposentadoria com discreto aumento inicial nos níveis de satisfação de vida,
o comportamento para cada indivíduo foi muito dependente da interação com as
circunstâncias externas e fontes de recursos individuais como situação conjugal e estado de
saúde.
A situação conjugal, em relação às mulheres, mostrou forte associação com a felicidade
autopercebida. Outros estudos
36
têm mostrado que divórcio ou separação, assim como a
perda do companheiro(a), são considerados eventos de vida estressantes que impactam
negativamente na avaliação positiva que os indivíduos fazem de suas vidas. Curioso observar
que tais diferenças não ocorreram entre os homens. Entretanto, a ausência de tal associação,
ao menos entre o grupo de viúvos e casados/com companheiro, pode ter ocorrido devido a
baixa prevalência de viúvos.
72
Entre as mulheres, a crença religiosa e maior freqüência a cultos religiosos estiveram
associadas positivamente com felicidade, ainda que com razões de prevalência não muito
altas. Uma ampla revisão sistemática, conduzida por Moreira-Almeida et al
37
, aponta que
maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente a indicadores de
bem-estar psicológico.
Algumas outras associações com autopercepção de felicidade foram detectadas no
presente estudo. A ausência de destaque pelos autores é intencional, pois, ainda que existam,
refletem razões de prevalência relativamente baixas. Entre estas citam-se as associações
positivas de maiores prevalências de autopercepção de felicidade com ser do sexo masculino,
classificar-se nas categorias de cor da pele preta ou parda para os homens e, nunca ter
fumado, para ambos os sexos.. Esta última é a única destas associações reproduzida de forma
mais consistente em outros estudos
32
.
Partindo-se do pressuposto de que estar feliz é uma condição associada a desfechos
positivos em saúde, além de ser um fim por si só, torna-se importante identificar quem são as
pessoas felizes e suas principais características. Tal conhecimento poderia ajudar na
elaboração de políticas e estratégias que visem aumentar o bem-estar populacional por
permitir a visualização de grupos populacionais mais vulneráveis em termos de saúde. Além
disso, os resultados deste estudo podem contribuir para a formulação de hipóteses sobre os
determinantes de felicidade, abrindo caminho para a realização de estudos epidemiológicos
com desenhos prospectivos, com maior capacidade de identificar adequadamente associações
causais.
73
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77
Figura 1
Instrumento utilizado para determinação de autoperpeção de felicidade.
Agora vou lhe mostrar algumas faces que expressam vários sentimentos, desde uma
pessoa que se sente muito feliz [apontar a primeira face] até uma pessoa que se sente
muito infeliz [apontar para a última face passando por todas a demais faces intermediárias].
Qual dessas faces mostra melhor o jeito como o (a) senhor (senhora) se sente, pensando
em sua vida como um todo?
Fonte: McDowell & Newell
19
.
78
Figura 2.
Ϭ
ϱ
ϭϬ
ϭϱ
ϮϬ
Ϯϱ
ϯϬ
ϯϱ
ϰϬ
ϰϱ
ƵƚŽƉĞƌĐĞƉĕĆŽĚĞĨĞůŝĐŝĚĂĚĞ;йͿ
ƐĐĂůĂĚĞĨĂĐĞƐ
ƵƚŽƉĞƌĐĞƉĕĆŽĚĞĨĞůŝĐŝĚĂĚĞƐĞŐƵŶĚŽƵŵĂĞƐĐĂůĂĚĞĨĂĐĞƐĞŵƵŵĂ
ƉŽƉƵůĂĕĆŽĚĞĂĚƵůƚŽƐ͘WĞůŽƚĂƐͲZ^͘ƌĂƐŝů͕ϮϬϬϴ͘
,ŽŵĞŶƐ
DƵůŚĞƌĞƐ
79
Tabela 1
Análise descritiva da amostra estudada e prevalência de autopercepção de felicidade em adultos.
Pelotas, RS, Brasil.
Homens Mulheres
Variável
Autopercepção
de felicidade
Autopercepção
de felicidade
N % % (IC 95%)
N % % (IC 95%)
Idade (anos) 1270
1672
20-29 326 25,7 82,8 (78,8-86,8)
385 23,0 73,2 (68,3-78,2)
30-39 243 19,1 79,4 (74,2-84,7)
306 18,3 75,8 (70,9-78,2)
40-49 260 20,5 74,6 (69,3-79,9)
331 19,8 70,1 (65,4-74,8)
50-59 222 17,5 71,2 (64,8-77,6)
292 17,5 68,2 (62,6-73,7)
60 ou mais 219 17,3 66,7 (60,2-73,1)
358 21,4 70,7 (65,5-75,8)
Cor da pele 1269
1669
Branca 948 74,7 74,8 (71,7-77,9)
1271
76,2 72,3 (69,5-75,1)
Preta/Parda 276 21,8 80,4 (76,0-84,9)
331 19,8 70,1 (64,2-76,0)
Outra 45 3,6 64,4 (50,8-78,0)
67 4,0 65,7 (52,2-79,0)
Nível econômico (ABEP) 1256
1657
A 72 5,7 79,1 (69,0-89,4)
89 5,4 79,8 (70,9-88,7)
B 414 33,0 78,0 (73,4-82,7)
512 30,9 75,8 (71,7-79,9)
C 577 45,9 76,4 (72,8-80,1)
779 47,0 70,7 (66,7-74,7)
D/E 193 15,4 66,8 (60,8-72,9)
277 16,7 63,5 (57,6-69,5)
Escolaridade (anos) 1270
1672
Zero 52 4,1 55,7 (43,4-68,1)
121 7,2 57,0 (48,0-66,0)
1-4 220 17,3 70,0 (63,4-76,6)
289 17,3 73,4 (67,8-78,9)
5-8 427 33,6 75,9 (71,7-80,0)
500 29,9 67,6 (63,2-72,0)
9-11 329 25,9 79,6 (74,9-84,4)
431 25,8 74,0 (69,1-78,9)
12 ou mais 242 19,1 79,3 (73,8-84,9)
331 19,8 78,5 (73,5-83,6)
Situação de trabalho 1270
1672
Desempregado 98 7,7 67,3 (58,4-76,3)
170 10,2 61,2 (53,1-69,2)
Trabalhando 929 73,2 78,1 (75,4-80,9)
823 49,2 75,7 (72,3-79,1)
Aposentado/pensionista† 178 14,0 65,7 (58,5-73,0)
262 15,7 66,0 (59,3-72,7)
Dona de casa‡
322 19,3 71,1 (66,8-75,4)
Outros 65 5,1 80,0 (70,4-89,6)
95 5,7 72,6 (62,7-82,6)
Tabagismo 1270
1672
Nunca fumou 580 45,7 78,7 (75,2-82,4)
960 57,4 74,6 (71,4-77,7)
Fumante 365 28,7 70,4 (65,6-75,2)
394 23,6 64,7 (59,8-69,6)
Ex-fumante 325 25,6 76,0 (71,7-80,3)
318 19,0 71,4 (66,5-76,3)
Consumo de álcool 1266
1663
Abstêmio 453 35,8 73,3 (68,8-77,8)
1023
61,5 70,3 (67,0-73,6)
Consumo moderado 724 57,2 77,3 (74,3-80,4)
587 35,3 74,6 (70,9-78,3)
Consumo de risco 89 7,0 76,4 (67,5-85,3)
53 3,2 66,0 (53,3-78,7)
Sedentarismo (150 min) 1264
1664
Não 645 51,0 77,2 (74,1-80,4)
773 46,4 71,9 (68,3-75,5)
Sim 619 49,0 74,3 (70,4-78,2)
891 53,6 71,5 (68,5-74,5)
80
Tabela 1 – continuação
Análise descritiva da amostra estudada e prevalência de autopercepção de felicidade em adultos.
Pelotas, RS, Brasil.
Homens Mulheres
Variável
Autopercepção
de felicidade
Autopercepção
de felicidade
N % % (IC 95%)
N % % (IC 95%)
Situação conjugal 1261
1671
Casado/com companheiro 871 68,6 75,9 (72,7-79,1)
928 55,5 75,0 (72,1-77,9)
Solteiro/sem companheiro 297 23,4 77,4 (73,2-81,7)
367 22,0 71,7 (66,4-77,0)
Separado 72 5,7 69,4 (59,4-79,5)
170 10,2 60,6 (52,8-68,4)
Viúvo 29 2,3 65,5 (48,2-82,8)
206 12,3 66,0 (59,1-72,9)
Religião 1269
1672
Não 343 27,0 72,9 (67,9-77,8)
296 17,7 67,2 (61,8-72,7)
Sim 926 73,0 76,7 (73,7-79,7)
1376
82,3 72,6 (70,0-75,3)
Crença religiosa 1268
Muito religioso 205 16,2 75,6 (69,8-81,4)
475 28,5 76,0 (71,5-80,5)
Mais ou menos religioso 509 40,1 77,8 (74,3-81,3)
727 43,6 71,3 (67,9-74,6)
Pouco religioso 381 30,0 73,0 (68,1-77,8)
342 20,5 68,4 (64,0-72,9)
Nada religioso 173 13,6 75,1 (68,3-82,0)
125 7,5 65,6 (56,9-74,2)
Freqüência religiosa nos últimos
30 dias (número de vezes) 1270
1669
Zero 848 66,8 76,1 (72,9-79,2)
843 50,5 69,8 (66,5-73,0)
1-2 216 17,0 72,2 (66,7-77,8)
326 19,5 68,7 (63,6-73,9)
3-4 115 9,1 74,8 (66,7-82,8)
304 18,2 73,3 (68,7-78,1)
5 ou mais 91 7,2 81,3 (73,0-89,9)
196 11,7 82,1 (77,2-87,1)
Número de habitantes no
domicílio 1264
1666
Um 77 6,1 68,8 (58,7-78,9)
155 9,3 71,0 (63,6-78,3)
Dois 249 19,7 76,7 (71,6-81,8)
350 21,0 68,9 (63,3-74,4)
Três 349 27,6 74,8 (69,6-80,0)
447 26,8 74,3 (70,0-78,5)
Quatro 297 23,5 77,1 (71,7-82,6)
367 22,0 74,4 (69,7-79,0)
Cinco ou mais 292 23,1 76,0 (70,9-81,2)
347 20,8 68,6 (63,2-74,0)
† Entre os homens não haviam pensionistas.
‡ Dois homens referiram ser “Dona de casa”, tendo sido categorizados como “Outros”.
81
Tabela 2
Análise bruta das razões de prevalência de autopercepção de felicidade e variáveis independentes em
adultos. Pelotas, RS, Brasil.
Variável
Homens Mulheres
RP (IC 95%) Valor p RP (IC 95%) Valor p
Idade (anos) <0,001 **
<0,165 **
20-29 Referência Referência
30-39 0,96 (0,88-1,04) 1,04 (0,95-1,13)
40-49 0,90 (0,83-0,98) 0,96 (0,87-1,05)
50-59 0,86 (0,78-0,95) 0,93 (0,84-1,04)
60 ou mais 0,80 (0,73-0,89) 0,96 (0,88-1,06)
Cor da pele 0,019 * 0,463 *
Branca Referência Referência
Preta/Parda 1,08 (1,00-1,15) 0,97 (0,88-1,06)
Outra 0,86 (0,69-1,07) 0,91 (0,74-1,11)
Nível econômico (ABEP) 0,008 ** <0,001 **
A 1,18 (1,01-1,38)
1,26 (1,08-1,46)
B 1,17 (1,05-1,30) 1,19 (1,07-1,33)
C 1,14 (1,03-1,27) 1,11 (0,99-1,25)
D/E Referência Referência
Escolaridade (anos) <0,001 **
<0,001 **
Zero Referência Referência
1-4 1,26 (0,99-1,58) 1,29 (1,08-1,53)
5-8 1,36 (1,10-1,69) 1,19 (1,01-1,40)
9-11 1,43 (1,13-1,80) 1,30 (1,10-1,54)
12 ou mais 1,42 (1,21-1,79) 1,38 (1,17-1,62)
Situação de trabalho 0,004 * 0,016 *
Trabalhando Referência Referência
Desempregado 0,86 (0,75-0,99) 0,80 (0,70-0,93)
Aposentado/pensionista† 0,84 (0,75-0,94) 0,87 (0,78-0,97)
Dona de casa‡ 0,94 (0,87-1,01)
Outros 1,02 (0,91-1,15) 0,96 (0,84-1,10)
Tabagismo <0,025 * 0,003 *
Nunca fumou Referência Referência
Fumante 0,89 (0,82-0,97) 0,87 (0,80-0,94)
Ex-fumante 0,96 (0,90-1,03) 0,96 (0,89-1,03)
Consumo de álcool 0,315 * 0,144 *
Abstêmio Referência Referência
Consumo moderado 1,06 (0,98-1,13) 1,06 (0,99-1,13)
Consumo de risco 1,04 (0,92-1,18) 0,94 (0,78-1,14)
Sedentarismo 0,229 * 0,839 *
Não Referência Referência
Sim 0,96 (0,90-1,02) 0,99 (0,94-1,05)
82
Tabela 2 – continuação
Análise bruta das razões de prevalência de autopercepção de felicidade e variáveis independentes em
adultos. Pelotas, RS, Brasil.
Variável
Homens Mulheres
RP (IC 95%) Valor p RP (IC 95%) Valor p
Situação conjugal 0,335 * 0,006 *
Casado/com companheiro Referência Referência
Solteiro/sem companheiro 1,02 (0,96-1,09) 0,96 (0,88-1,04)
Separado 0,92 (0,79-1,07) 0,81 (0,71-0,92)
Viúvo 0,86 (0,66-1,13) 0,88 (0,79-0,99)
Religião 0,199 * 0,064 *
Não Referência Referência
Sim 1,05 (0,97-1,14) 1,08 (1,00-1,17)
Crença religiosa 0,397* 0,005 **
Nada religioso Referência
Referência
Pouco religioso 1,01 (0,89-1,13) 1,04 (0,90-1,20)
Mais ou menos religioso 1,04 (0,93-1,15) 1,09 (0,94-1,25)
Muito religioso 0,97 (0,87-1,08) 1,16 (1,01-1,33)
Freqüência religiosa nos últimos
30 dias (número de vezes) 0,350* <0,001 **
Zero Referência
Referência
1-2 0,95 (0,87-1,03) 0,99 (0,91-1,06)
3-4 0,98 (0,88-1,10) 1,05 (0,97-1,13)
5 ou mais 1,07 (0,95-1,20) 1,18 (1,09-1,27)
Número de habitantes no
domicílio 0,732 *
0,203 *
Um 0,91 (0,77-1,07)
1,03 (0,92-1,17)
Dois 1,01 (0,92-1,11) 1,00 (0,89-1,13)
Três 0,98 (0,89-1,08) 1,08 (0,99-1,18)
Quatro 1,01 (0,92-1,12) 1,08 (0,98-1,20)
Cinco ou mais Referência Referência
* Teste de Wald para heterogeneidade.
** Teste de Wald para tendência linear.
† Entre os homens não haviam pensionistas.
83
Comunicado para a imprensa
84
O médico Diogo Luis Scalco, mestrando do Programa de Pós-Graduação de
Epidemiologia da UFPel, sob orientação da professora Cora Araújo, conduziu uma
pesquisa com adultos moradores da zona urbana de Pelotas durante o período de
outubro de 2007 a janeiro deste ano, no intuito de identificar quem são as pessoas
mais felizes, pois são escassas as pesquisas epidemiológicas sobre o tema.
Atualmente estudos apontam que pessoas felizes apresentam maior longevidade e
maior imunidade contra doenças.
Felicidade, definida no presente estudo como “o grau ao qual uma pessoa
avalia sua vida positivamente”, foi avaliada por meio de uma pergunta e uma escala
de faces, através de um questionário com varias outras questões, aplicado em cerca
de 3 mil pessoas.
Entre as respostas 73% das pessoas consideraram-se felizes. Entre os
principais achados, destaca-se que as pessoas de maior nível econômico e com
mais anos de estudos eram as mais felizes; indivíduos vivendo em situação de
desemprego mostraram-se menos felizes. Mulheres separadas/divorciadas ou
viúvas mostraram-se menos felizes e aquelas que freqüentavam mais
cultos/sessões religiosas apresentaram maior freqüência de autopercepção de
felicidade. Entre os homens, ser mais jovem foi preceptor de felicidade.
Outros estudos têm mostrado que se sentir feliz é um atributo associado a
condições positivas de saúde e, por isso, é importante identificar quem são as
pessoas felizes e quais são suas principais características. Tal conhecimento
poderia ajudar na elaboração de políticas e estratégias que visem, em última análise,
aumentar o bem-estar da população, além de permitir a visualização dos grupos
populacionais mais vulneráveis a terem problemas de saúde.
Deste modo, os resultados deste estudo podem contribuir para a formulação de
novas hipóteses sobre os determinantes da felicidade e abrir caminhos para a
realização de estudos epidemiológicos com capacidade de identificar mais
adequadamente as associações causais.
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