A satisfação real da qual Freud nos fala é, portanto, uma satisfação suposta no só-depois
de seu reencontro. Em outras palavras, ao contrário do que se poderia imaginar, é o
desejo que molda a Coisa, é a necessidade de seu reencontro que a estabelece em algum
lugar do passado. Essa situação é muito bem expressa por um tempo verbal da língua
francesa, o futuro anterior: é apenas após o sujeito ter reencontrado um objeto de
satisfação que a Coisa terá participado outrora de um suposto primeiro encontro.
Essa situação na qual um desejo é condição necessária para que algo seja
estabelecido, temos um curioso exemplo dela em um chiste hegeliano. Nele, um polonês
se dirige a um judeu, no intuito de descobrir qual é o segredo judaico de tirar das
pessoas até o último centavo, acumulando assim, muitas riquezas.
O judeu lhe responde: ‘Bem, eu lhe direi, mas não em troca de nada; dê-
me cinco zlotys.’ Depois de receber a moeda, ele começa: ‘Você tem que
pegar um peixe morto, cortar-lhe a cabeça e despejar as vísceras num
copo d’água. Quando a lua estiver cheia, tem que enterrar esse copo no
cemitério...’ ‘E aí?’, pergunta o polonês avidamente, ‘se eu fizer tudo
isso, vou enriquecer?’ ‘Não tão depressa’, responde o judeu, ‘isso ainda
não é tudo; mas se você quiser aprender o que vem depois, dê-me mais
cinco zlotys!’ Depois de receber novamente uma moeda, o judeu
continua sua história, e logo torna a pedir dinheiro etc, até que
finalmente o polonês se enfurece: ‘Você é mesquinho, está mesmo
pensando que não reparei no que quer de mim? Não há segredo nenhum,
você só quer é pegar todo o meu dinheiro!’ O judeu lhe responde
tranqüilamente: “Pois então, você compreendeu como é que os
judeus...’” (ZIZEK, 1991, p. 110).
Por meio dessa história podemos ver que a Coisa judaica, o segredo tão bem guardado
pelos membros dessa comunidade, só podia existir simultaneamente e a partir do desejo
do polonês. O principal aqui é que o Segredo só pode existir na busca ansiosa por ele;
em outros termos, das Ding é mais um produto dessa busca do que aquilo que a
motivou. Mas não é assim que nós, “poloneses”, a enxergamos: a ilusão retroativa nos
faz crer que a Coisa está lá, em algum lugar distante esperando por nós, e que um dia,
quando a reencontrarmos, daremos nossa busca por encerrada.
Mas essa busca não se encerra tão fácil e o princípio do prazer, por sua vez, não
age de modo muito econômico na realização da mesma. No lugar de, como se poderia
esperar, traçar uma linha reta até a consecução de seu objetivo, esse princípio impõe
rodeios que conservam uma certa distância com relação a esse fim que é o encontro com
o objeto. Tais rodeios, no entanto, são necessários para a manutenção da Coisa enquanto