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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E TOXICOLOGIA APLICADA
Análise da Presença de Bombas de Efluxo e Mutações no Gene nat em
Mycobacterium tuberculosis Resistentes a Isoniazida
Millene Borges Coelho
Orientadora: Dr
a
. Maria Lucia Rosa Rossetti, PhD.
CANOAS
2008
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2
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E TOXICOLOGIA APLICADA
Análise da Presença de Bombas de Efluxo e Mutações no Gene nat em
Mycobacterium tuberculosis Resistentes a Isoniazida
Millene Borges Coelho
Orientadora: Dr
a
. Maria Lucia Rosa Rossetti, PhD.
CANOAS
2008
Dissertação de Mestrado
submetida à avaliação, como um
dos requisitos para a obtenção do
Título de Mestre em Genética e
Toxicologia Aplicada.
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FICHA CATALOGRÁFICA
Coelho, Millene Borges
Análise da Presença de Bombas de Efluxo e Mutações no
Gene nat em Mycobacterium tuberculosis resistentes a
Isoniazida / Millene Borges Coelho
Canoas, 2008.
xx Dissertação (Mestrado em Genética e Toxicologia
Aplicada) – Universidade Luterana do Brasil, Pós Graduação
em Genética e Toxicologia Aplicada / Laboratório de Biologia
Molecular, 2008
Orientadora: Maria Lúcia Rosa Rossetti
1. Bombas de Efluxo. 2. Resistência
3. Mycobacterium tuberculosis. 4. Arilamina N-
acetiltransferase. 5. Mutações – Dissertações.
Maria Lúcia Rosa Rossetti (Orient.).I
Universidade Luterana do Brasil. Pós-Graduação em Genética
e Toxicologia Aplicada. III. Título.
xx
4
RESUMO
Análise da Presença de Bombas de Efluxo e Mutações no Gene nat em
Mycobacterium tuberculosis Resistentes a Isoniazida
É relatada que a resistência intrínseca de M. tuberculosis à diversos fármacos deve-se
à sua exclusiva parede celular e outros determinantes genéticos. Foram analisados
neste estudo 47 isolados, sendo 41 deles considerados resistentes a isoniazida (R-INH)
e 06 sensíveis (S-INH) pelo método das proporções (MP-LJ). Dos 41 isolados R-INH,
68,29% deles não apresentaram mutações no códon 315 do gene katG e inhA, sendo
considerados WT para ambos. E em 31,71% foi observada mutação pontual no códon
315 de katG. Do grupo de isolados WT para katG e inhA, foi observado um mecanismo
de efluxo ativo em 14,29%, todos pertencentes à família genotípica “Latin Americam
and Mediterranean” (LAM), enquanto em apenas 23,08% dos isolados com mutação em
katG foi observado esse sistema, tendo perfis genotípicos definidos como subtipos
LAM9, X2 e U. As inibições em ambos os grupos foram alcançadas com o uso de 2
inibidores, o CCCP (um desacoplador de prótons da membrana plasmática) e o
verapamil (inibidor de proteínas transportadoras que utilizam a hidrólise de ATP),
demonstrando assim, que proteínas transportadoras de famílias distintas estão
envolvidas na resistência a INH. Todos os isolados tiveram o gene nat seqüenciado e
em 9,76% foi observada a variante mutada 619-A NAT SNP dos R-INH e WT para
katG, com perfis genotípicos caracterizados como subtipos LAM3 S/Convergente, T3 e
um perfil “novo”, ainda não depositado no SpolDB4. Em nosso estudo, essa mutação
não foi associada à família LAM e demais famílias (p=0,87 e OD=0,85 (0,07-9,76).
Adicionalmente, foram identificadas 3 mutações sinônimas e 3 não-sinônimas ainda não
descritas para nat de M. tuberculosis, sendo C276T, C375G, G501C e G202A, C373A e
T503G respectivamente, caracterizados com perfis das famílias LAM, Beijing, T e um
perfil novo. Essas novas mutações não mostraram associação com a família LAM e
demais famílias (p=0,31 ; OD=0,52 (0,11-2,29). Dois isolados R-INH mutados em nat
apresentaram simultaneamente um mecanismo de efluxo, sendo este o primeiro
trabalho a fazer tal constatação. Enquanto 39,02% dos isolados foram considerados
WT para todos os genes investigados e não apresentaram um mecanismo de efluxo,
com genótipos das família LAM, U, Beijing, T, X, Haarlem e 3 perfis novos, sugerindo
que outros genes ou mecanismos moleculares ainda não descritos podem estar
envolvidos na resistência; De outro lado, 46,15% dos isolados com mutação em katG e
WT para nat não apresentaram efluxo ativo, sugerindo que a resistência possa ser
atribuída à alteração em katG, e em adição a isto, a presença de perfis Haarlem, LAM e
um perfil novo, poderiam contribuir a este fato, via níveis distintos de resistência. A
possibilidade de existência de clusters (agrupamentos) entre os isolados foi descartada
pela presença de diferentes SIT's. Esses dados sugerem a importância da
caracterização de outros genes ou mecanismos moleculares ainda desconhecidos, que
podem contribuir com níveis de resistência do bacilo da TB ao tratamento com INH. Em
estudo prospectivo, a atividade das isoformas de NAT serão investigadas, usando
experimentos in silico, promovendo simulações de docking (acoplamento) da INH, por
exemplo, a fim de predizer a afinidade do fármaco à estas estruturas mutadas.
5
ABSTRACT
nat Gene Mutations and Efflux Pumps Presence Analysis in Isoniazid Resistant
Mycobacterium tuberculosis
It’s been reported that intrinsics resistance of M. tuberculosis to a wide range of drugs
happens due to its exclusive cell wall and others genetic determinants. In this study,
were investigated 47 isolates, 41 considered isoniazid-resistant (INH-R) and 06
isoniazid-sensitive (INH-S) by the method of proportions (MP-LJ). In the INH-R group,
68,29% had no mutations at codon 315 in katG and inhA genes, being considered WT
to both. And in 13 isolated INH-R (31,71%) was observed a punctual mutation at codon
315 of the katG gene. In 14,29% of the WT isolates group, were observed an active
efflux mechanism and these isolates were defined as belonging to Latin American and
Mediterranean” (LAM) family by Spoligotyping, however only 23,08% of the isolates with
punctual mutations showing an active efflux mechanism were defined as spoligotypes
(LAM9, X2 and U). The inhibition of these systems in both groups occurred by using
two efflux system inhibitors, CCCP and verapamil, showing that the transport proteins
involved in the INH resistance belongs to different families. All the isolates had the nat
gene completely sequenced, and the mutated variant 619-A NAT SNP was observed in
9,76% of the INH-R and WT for katG gene, characterized as LAM3 S/Convergent and
T3 spolidotypes, and a new profile not registered in the SpolDB4 yet. In this study we
did not find an association among this variant and the LAM or other families (p=0,87 ;
OD=0,85 (0,07-9,76). Additionally, 6 new SNP's were identified, being 3 synonymous
(C267T, C375G, G501C) and 3 non-synonymous (G202A, C373A, T503G) not
described for nat of M. tuberculosis yet; defined as LAM, Beijing and T genotypes,
besides a new profile. These new mutations did not show association with the LAM or
other families (p=0,31 ; OD=0,52 (0,11-2,29). Two isolates INH-R did demonstrate
mutation an efflux system in nat simultaneously, and this study was the first one to
describe this phenomenon. Meantime, 39,02% isolates was considered WT for all
investigated genes, and not showed efflux system with LAM, U, Beijing, T, X, Haarlem,
and the 3 new genotype profiles; suggesting that other genes or unknown molecular
mechanisms might be involved in the isoniazid-resistance; In other way, 46,15% of the
isolates mutated for katG and WT for nat genes had no active efflux, suggesting that the
resistance in these isolates might be ascribed to the katG mutation, meanwhile the
Haarlem, LAM and the new profile might partly explain resistance levels. The clustering
existence possibility among the isolates were discarded due to the different SIT's
presence. These data evoke the importance in the characterization of unknown genes or
molecular mechanisms, that might be involved in the TB bacillus resistance levels to the
INH treatment. In a prospective study, the NAT isoforms activity will be investigated by
using experiments in silico, for example, doing INH docking simulations to determine the
drug affinity to these mutated structures.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................... ................16
1.1. Um breve histórico..............................................................................................17
1.2. Epidemiologia da tuberculose..............................................................................19
1.3. Mycobacterium tuberculosis................................................................................20
1.4.Tratamento...........................................................................................................22
2.MECANISMOS DE RESISTÊNCIA............................................................................25
2.1. Resistência aos Antimicrobianos........................................................ ................26
2.1.1. Resistência do M. tuberculosis aos Antimicrobianos ................... ............27
2.1.1.1. Resistência Inata......................................................... ................27
2.1.1.2. Resistência Adquirida.................................................. ................27
2.1.2. Isoniazida (INH)........................................................................ ................28
2.1.2.1. Mecanismos de Ação e Resistência da INH................. ................28
2.1.2.2. O gene katG e a Resistência a INH.............................. ................30
2.1.2.3. O gene inhA e a Resistência a INH.............................. ................31
2.2. Sistema de Efluxo nas Bactérias...................................................... ................32
2.3. Arilamina N-acetiltransferase (NAT)................................................. ................39
2.3.1. Tríade Catalítica da NAT.......................................................... ................45
2.3.2. Ligação de isoniazida e coenzima-A com NAT ........................ ................46
3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................... ................48
4. OBJETIVOS ............................................................................................ ................49
4.1.Objetivos Gerais................................................................................. ................49
4.2.Objetivos Específicos......................................................................... ................49
5. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ ................50
5.1. Critérios de Elegibilidade................................................................... ................50
5.2. Critérios de Exclusão......................................................................... ................50
5.3. Local de Desenvolvimento do Estudo ............................................... ................50
5.4. Número Amostral .............................................................................. ................51
5.5. Origem dos Isolados Investigados .................................................... ................51
5.6. Cultura de M. tuberculosis ................................................................ ................52
5.7. Estimativa da Concentração Mínima Inibitória (CMI) com Inibidores de Efluxo..53
5.7.1. Preparação dos Inóculos.......................................................... ................53
5.7.1. Montagem das Placas de 96 poços ......................................... ................53
5.8. Extração de DNA Genômico............................................................. ................55
5.9. Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)......................................... ................56
5.9.1. Genes katG e inhA ................................................................. ................56
5.9.2. Gene nat ................................................................................. ................57
5.10. Os fragmentos amplificados por PCR ............................................ ................58
5.11. Seqüenciamento de DNA................................................................ ................59
5.11.1. Genes katG e inhA.............................................................. ................59
5.11.2. Gene nat.............................................................................. ................59
5.12. Seqüenciamento dos fragmentos.................................................... ................60
7
5.13. Análises das Seqüências Obtidas................................................... ...............60
5.14. Análise Estatística........................................................................... ...............62
5.15. Spoligotyping................................................................................... ...............63
6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ................................................................... ...............62
7. RESULTADOS ........................................................................................ ...............65
7.1. Perfil de suscetibilidade dos isolados de M. tuberculosis.................. ...............65
7.2. Análise do sequenciamento de genes de M. tuberculosis associados à
resistência a INH.......................................................................................... ...............65
7.3. Análise da presença de bomba de efluxo em isolados de M. tuberculosis........65
7.4. Análise do gene nat de isolados de M. tuberculosis ......................... ...............69
7.5. Genotipagem dos isolados de M. tuberculosis.................................. ...............74
7.6. Isolados WT no gene katG e efluxo ativo.......................................... ...............77
7.7. Isolados com mutação no gene katG e efluxo ativo.......................... ...............78
7.8. Isolados WT nos genes investigados e ausência de efluxo.............. ...............79
7.9. Isolados com mutação em katG e ausência de efluxo...................... ...............81
7.10. Isolados com mutação em nat e presença de efluxo ...................... ...............82
8. DISCUSSÃO ........................................................................................... ...............83
9. CONCLUSÕES ....................................................................................... .............101
10. PERSPECTIVAS .................................................................................. .............103
11. ANEXOS ............................................................................................... .............104
11.1 Anexo 1............................................................................................ .............104
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... .............106
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 As estruturas de isoniazida (1), radical hidrazil isonicotínico (2)
e o radical acil isonicotínico (3). (Timmins & Derectic, 2006)
Pág. 29
Figura 2 Diagrama comparando as cinco famílias de proteínas de
efluxo, adaptado de Piddock, 2006.
Pág. 35
Figura 3 Esquema que mostra a ativação e inativação da INH adaptado
de Sandy et al., 2005b.
Pág. 40
Figura 4 Orientação da INH no tio ativo da enzima NAT (Cys70
His110 Asp127). Figura gerada com o Programa DeepView
4.0.
Pág. 45
Figura 5 Mapa da América do Sul salientando a origem dos isolados
selecionados para o estudo.
Pág. 52
Figura 6 Esquema da microplaca de 96 poços para a estimativa da
CMI.
Pág. 55
Figura 7 Comparação entre eletroferogramas de um isolado com
mutação no códon 315 do gene katG e o outro sem essa
mutação.
Pág. 61
Figura 8 Comparação entre eletroferogramas de um isolado com
mutação no gene nat (G619A) e o outro sem essa mutação.
Pág. 62
Figura 9 Microplaca de 96 poços para a investigação de CMI. Em
verde, poços com água, em azul, poços onde ocorreu inibição
de crescimento, e em rosa onde ocorreu crescimento
bacteriano.
Pág. 66
Figura 10
Seqüências nucleotídica e traduzidas do gene nat de M. Pág. 73
9
tuberculosis H37Rv.
Figura 11
Comparação das estruturas secundárias da NAT de M.
tuberculosis H37Rv (selvagem) e com os resíduos de
aminoácidos mutados.
Pág. 105
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Esquemas de tratamentos da TB utilizados no Brasil desde
1979. ETH, etionamida; BEM, etambutol; SM,
estreptomicina; PZA pirazinamida; RMP, rifampicina.
Adaptado de Brasil, 2007.
Pág. 23
Tabela 2 Seqüência de oligonucleotídeos iniciadores utilizados nas
reações de PCR e Seqüenciamento dos genes
investigados.
Pág. 57
Tabela 3
Resultados de CMI dos isolados de M. tuberculosis na
presença e na ausência de inibidores de sistema de efluxo.
Pág. 68
Tabela 4 Mutações observadas no gene nat dos isolados de M.
tuberculosis.
Pág. 70
Tabela 5 Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com a
variante mutada 619 A.
Pág. 74
Tabela 6 Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com novos
SNPs em nat e sem mutação no códon 315 do gene katG.
Pág. 75
Tabela 7 Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com novos
SNPs em nat e com mutação no códon 315 do gene katG.
Pág. 77
Tabela 8 Genótipo dos isolados WT no gene katG e presença do
mecanismo de efluxo.
Pág. 78
Tabela 9 Genótipo dos isolados com mutação no códon 315 do gene
katG e presença do mecanismo de efluxo.
Pág. 79
11
Tabela
10
Genotipagem dos isolados WT para os genes investigados
e ausência de mecanismo de efluxo.
Pág. 80
Tabela
11
Genotipagem dos isolados mutados no don 315 do gene
katG e ausência de mecanismo de efluxo.
Pág. 81
12
LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES
Abreviatura Significado
A Argentina
Å
Angstron
ABC ATP Binding Cassette
Ac-CoA Acetil Coenzima A
ATB Antibiótico
ATP Adenosina Tri-Fosfato
ATS American Thoracic Society
BAAR Bacilo Álcool Ácido Resistente
BCG Bacilo de Calmette Guérin
BiE Bioinformática Estrutural
BK Bacilo de Koch
BLAST Basic Local Alignment Search Tool
CCCP Cianeto de Carbonila de M-Clorofenil Hidrazona
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CDCT Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CE Ceará
CMI Concentração Mínima Inibitória
CMTB Complexo Mycobacterium tuberculosis
CTAB Brometo Cetiltrimetilamônio
DMSO Dimetilsulfóxido
DNA Ácido desoxirribonucléico
dNTPs Desoxinucleotídeos trifosfatos
DRE-PCR Double-Repetitive-Element PCR
EDTA Ácido Etileno diaminotetracético
EMB Etambutol
et al., e colaboradores
ETH Etionamida
FEPPS Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde
FIOCRUZ Fundação Instituto Oswaldo Cruz
FURG Fundação Universidade Federal do Rio Grande
HIV Human Immunodeficiency Virus
INH Isoniazida
IOC Instituto Oswaldo Cruz
IS Seqüência de inserção
Kb Quilobase
kDa Quilo Dálton
K
m
Constante de Michaelis
LACEN-RS Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul
LJ Löwenstein-Jensen
M mol/L
MG Minas Gerais
Min
minuto
13
mM mmol/L
MMNAT NAT de Mycobacterium marinum
MP Método das Proporções
MSNAT NAT de Mycobacterium smegmatis
Mtb Mycobacterium tuberculosis = M. tuberculosis
NADH Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo
NAT Arilamina N-acetiltransferase
NCBI National Center for Biotechnology Information
NMR Nuclear Magnetic Resonance
Nt Nucleotídeo
OADC Ácido oléico, albumina, dextrose e catalase
OMS Organização Mundial da Saúde
ORF Sequência aberta de leitura
PA Pará
paba Ácido para-aminobenzóico
p-Abglu para-acetamidobenzoilglutamato
PAS Ácido p-aminosalicílico
Pb pares de bases
PB Pares de bases
PCR Reação em Cadeia da Polimerase
PCT Programa de Controle da Tuberculose
PDB Protein Data Bank
PE Perú
PEG polietilenoglicol
PGRs Seqüências Polimórficas Ricas em G e C
PPD Purified Protein Derivative
PZA Pirazinamida
q.s.p. Quantidade suficiente para
REMA Resazurin Microtiter Assay
RFLP Restriction Fragment Polymorphism
RJ Rio de Janeiro
RMP Rifampicina
RNA Ácido ribonucléico
RND Resistance-Nodulation-Cell Division
Rpm rotações por minuto
RS Rio Grande do Sul
SDS Dodecil sulfato de sódio
SM Estreptomicina
SMNAT NAT de Salmonella typhimurium
SMR Small Multidrug Resistence
SMS-POA Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre
SNP Single Nucleotide Polymorphism
SP São Paulo
Spoligotyping Spacer Oligotyping
Taq
Thermus aquaticus
14
TB Tuberculose
TB-MDR Tuberculose Multirresistente
TBNAT NAT de Mycobacterium tuberculosis
TB-XDR Tuberculose Extensivamente Resistente
TE Tris+EDTA
TS-DOTS Tratamento Supervisionado
U Unidade (atividade enzimática)
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
ULBRA Universidade Luterana do Brasil
UV Ultravioleta
Ver Verapamil
X Vezes
15
LISTA DE AMINOÁCIDOS
Lista dos aminoácidos e os códons no código genético. Adaptado de Bruce et al., 1997.
A Ala Alanina GCA GCC GCG GCU
C Cys Cisteína UGC UGU
D Asp
Ácido Aspartico GAC GAU
E Glu Ácido Glutâmico GAA GAG
F Phe
Fenilalanina UUC UUU
G Gly Glicina GGA GGC GGG GGU
H His Histidina CAC CAU
I Ile Isoleucina AUA AUC AUU
K Lys Lisina AAA AAG
L Leu
Leucina UUA UUG CUA CUC CUG CUU
M Met Metionina AUG
N Asn Asparagina AAC AAU
P Pro Prolina CCA CCC CCG CCU
Q Gln Glutamina CAA CAG
R Arg Arginina AGA AGG CGA CGC CGG CGU
S Ser Serina AGC AGU UCA UCC UCG UCU
T Thr Treonina ACA ACC ACG ACU
V Val Valina GUA GUC GUG GUU
W Trp Triptofano UGG
Y Tyr Tirosina UAC UAU
16
1. INTRODUÇÃO
A Tuberculose (TB), considerando como único agente infeccioso, é a maior
causa de doença e morte, especialmente na África e Ásia. Globalmente 9,2 milhões de
novos casos e 1,7 miles de mortes por TB ocorreram em 2006, dos quais 700 mil
casos e 200 mil mortes ocorreram em pessoas HIV-positivas (OMS, 2008 a).
O M. tuberculosis infecta um terço da população mundial. De acordo com os
últimos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2003, ocorreram
aproximadamente, 8 milhões e 800 mil novos casos de tuberculose e 1 milhão e 700 mil
mortes foram atribuídas à doença (Palomino, 2006).
O principal agente etiológico da TB é M. tuberculosis, mas outras espécies
dentro do Complexo M. tuberculosis (CMTB), tais como M. canettii (nome proposto), M.
africanum e M. bovis podem causar a TB em humanos (Lazzarini et al., 2007).
A doença ativa pode se desenvolver tanto devido a uma infecção recente (TB
primária ou doença rapidamente progressiva), quanto devido à reativação de uma
infecção latente, adquirida no passado (Sepkowits et al., 1995, Suffys et al., 1997). O
risco de infecção pelo bacilo é elevado, mas, em pessoas saudáveis, não ocorre a
manifestação de sintomas dessa infecção. Estima-se que em torno de 5 a 10% das
pessoas infectadas desenvolvem a doença dentro de um período de 2 anos (Rossetti &
Sperhacke, 2006).
A transmissão ocorre principalmente por via respiratória. Os doentes com a
forma pulmonar bacilífera, especialmente as cavitárias, constituem a principal fonte de
disseminação da doença, pois através da tosse, do espirro e da fala eliminam gotículas
que contêm bacilos (ATS, 2000). Na TB humana, as maiores populações estão nas
lesões cavitárias e mais de meio século, sabe-se que a resistência é mais freqüente
durante o tratamento de formas cavitárias, quando comparadas às o-cavitárias
(Barroso et al., 2003).
Os principais sintomas da TB pulmonar, a forma mais comum da doença, o
tosse inicialmente seca que persiste por mais de três semanas e leva à formação de
uma secreção purulenta; perda de apetite e conseqüente emagrecimento; além de
17
cansaço, febre baixa no final da tarde e sudorese noturna (Kritski, 2000). Nos casos de
TB extrapulmonar, os sinais e sintomas dependerão do órgão afetado. As localizações
mais feqüentes de infecção pelo bacilo são a pleura, linfonodos, sistema nervoso
central, rins e ossos (Rossetti & Sperhacke, 2006).
1.1. Um breve histórico
cerca de 5000 a.C., o homem domesticou o gado e estabeleceu as
modificações ambientais que propiciaram as condições adequadas para o
aparecimento de algumas enfermidades infecciosas. A TB provavelmente tenha surgido
nessa época. Acredita-se que o ancestral do bacilo causador da doença tenha passado
dos bovinos ou caprinos para o homem (Taylor et al., 1999; Gómez i Prat & Souza,
2003).
A existência de TB na era pré-colombiana foi sugerida por deformidades
compatíveis com TB óssea encontradas em esqueletos de pessoas que viveram na
região de Ohio em 1275, tendo sido confirmada recentemente mediante análise do DNA
obtido de lesões pulmonares típicas da tuberculose encontradas em múmias do Peru
que datam do ano 1000 (Daniel, 2000; Salo, 1994; Gómez i Prat & Souza, 2003).
O aumento da incidência da tuberculose começou lentamente, junto com o
crescimento da densidade populacional. A infecção se expandiu por todo o mundo,
como resultado das viagens dos exploradores europeus, que, infectados, disseminavam
o bacilo por vários lugares (Daniel, 2000).
A demonstração formal que a tuberculose era uma doença contagiosa foi feita
em 1865 por Jean Antoine Villemin (Beck, 2000) e em 1882 o microbiologista alemão
Robert Koch publicou um artigo que fazia referência ao descobrimento de Villemin
(Daniel, 2006). Neste artigo, Robert Koch descreveu o agente etiológico da tuberculose,
o Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, e demonstrou que esse
microrganismo era a causa da doença (Kaufmann, 2003). Essa descoberta deu a
Robert Koch o Prêmio Nobel da Medicina em 1905. Os conhecimentos sobre o Bacillus
18
anthracis e o Mycobacterium tuberculosis serviram para a elaboração do notório
Postulado de Koch (Bloom & Murray, 1992).
Ainda em 1882, Paul Ehrlich descobriu que o bacilo da tuberculose tinha a
propriedade de resistir à descoloração por uma solução de álcool-ácido. Ehrlich propôs
então um método de coloração que mais tarde foi melhorado por Franz Ziehl e
modificado novamente por Friedrich Neelsen, resultando no método de coloração
conhecido por Ziehl-Neelsen (Beck, 2000). Essa cnica é um método laboratorial que
ainda é usado para o diagnóstico da tuberculose (Silva et al,. 2003b).
No início do século XX, a busca de uma terapia eficiente ou de uma vacina
protetora fazia parte do conjunto de esforços que a comunidade científica realizava para
controlar a tuberculose. Como resultado disso, em 1906 Albert Calmette e Camille
Guérin desenvolveram uma vacina de uma cepa de M. bovis com virulência atenuada
(Daniel, 2006).
No culo que se segue com a descoberta de Koch, testemunhou-se um firme
declínio da TB devido ao exame de raio-X em massa, o desenvolvimento da
quimioterapia, programa de imunização com BCG, melhorias nas condições
socioeconômicas e a pasteurização do leite. Estas novas tecnologias determinaram
uma sensível redução do número de casos de TB nos países economicamente
desenvolvidos. Entretanto, no final do século XX, houve um aumento no mero de
casos da doença, mesmo nas regiões economicamente desenvolvidas, culminando
com a TB sendo considerada uma emergência global em 1993, pela Organização
Mundial da Saúde (Taylor et al., 2003).
As razões identificadas inicialmente para este aumento foram a epidemia do HIV,
o crescimento da pobreza nas grandes áreas metropolitanas e o aumento da imigração
(Raviglione, 2003). Cabe salientar que a TB jamais deixou de ser um problema de
saúde blica nas regiões em desenvolvimento, onde as condições sócio-econômicas
são muitas vezes piores do que aquelas observadas na Europa do culo XIX (Silva et
al., 2003b).
Embora a tuberculose possa ser considerada uma doença reemergente em
alguns países europeus e nos Estados Unidos, no Brasil ela não é um problema de
19
saúde pública emergente e tampouco reemergente; Ela é um problema presente desde
muito tempo. A partir da década de 40 começa a utilização de tuberculostáticos:
estreptomicina (SM), a partir de 1948; ácido paramino-salicílico (PAS), a partir de 1949
e isoniazida (INH), a partir de 1952. A partir da década de 60 começa efetivamente a
utilização de esquemas terapêuticos padronizados (Ruffino-Netto, 2002).
1.2. Epidemiologia da tuberculose
No Brasil e em outros 21 países em desenvolvimento, a tuberculose é um grande
problema de saúde pública. Nesses países, encontram-se 80% dos casos mundiais da
doença. Todos os anos, são registrados mundialmente cerca de 8 milhões de novos
casos, com quase dois milhões de óbitos (Brasil, 2008).
Estimativas apontam que mais de 60 milhões de pessoas estejam infectadas
pelo bacilo da tuberculose. Em 2005, foram registrados 80.603 casos novos da doença
que causa, em média, 5 mil óbitos por ano Brasil. Cerca de 70 % dos casos estão entre
315 dos 5.570 municípios brasileiros, sendo considerada a 9 causa de internações, 7
causa em gastos com internações no Sistema Único de Saúde (SUS) e 4 causa de
mortes por doenças infecciosas. No mundo, estima-se que ocorram cerca de 500 mil
casos novos de Tuberculose resistente à multidroga (TB-MDR) por ano, em 114 países
de todos os continentes (Brasil, 2008).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2006 o Brasil
ocupava o 15º lugar no ranking entre os 22 países em desenvolvimento, tendo uma
incidência de 50/100.000 e de prevalência de 55/100.000. (OMS, 2008b).
Atualmente, o Brasil ocupa o 16 lugar no ranking mundial, tendo a Índia como
líder absoluto emmero de casos, ocupando o 1 lugar do grupo (OMS, 2008b).
20
No Rio Grande do Sul (RS), a incidência de TB varia conforme a região
geográfica. As taxas de TB registradas nas regiões norte e sul do estado são muito
diferentes e estão, provavelmente, relacionadas com a situação cio-econômica da
população (Ott & Gutierrez, 1993).
Mais de 65% dos casos de TB ocorrem na região metropolitana de Porto Alegre,
onde a incidência é de aproximadamente 94/100.000 habitante. Na região sul do
Estado, as taxas variam entre 35,2 e 54,3/100.000 habitantes; na região central, entre
18,3 e 35/100.000 habitante; na região norte, entre 9,2 e 26.3/100.000 habitantes (SES-
RS, 2001).
Até o mês de fevereiro de 2008, Porto Alegre teve um total de 377 casos
investigados e confirmados, destes, 254 foram confirmados como casos novos (SMS-
POA-RS, 2008).
1.3. M. tuberculosis
A disponibilidade da seqüência genômica completa do M. tuberculosis (Mtb) e as
particularidades obtidas através das análises detalhadas de bioinformática m nos
fornecido uma grande quantidade de novas informações, conhecimentos e
entendimentos da biologia deste patógeno humano (Cole et al., 1998).
O Mtb, também conhecido como Bacilo de Koch (BK), é um bacilo não formador
de esporos, sem flagelos, não produtor de toxina, espécie aeróbia estrita e intracelular
facultativo, de crescimento lento com tempo de geração de 15 a 20 horas, além de ser
uma micobactéria álcool-ácido resistente (BAAR). Devido a essas características, a
bactéria mostra preferência de ataque pelos pulmões devido à tensão de O
2
existente
nestes órgãos (Castro & Trabulski, 1991, Barrera, 2007).
21
A análise do genoma do Mtb mostrou que o genoma compreende 4.411.529 pb,
com 3.924 proteínas e com um conteúdo G+C de 65.6%, sendo relativamente
constante em todo o genoma. Entretanto, diversas regiões apresentaram um conteúdo
de G+C maior que a média, as quais correspondem a seqüências pertencentes a
grandes famílias gênicas que incluem seqüências polimórficas ricas em G e C (PGRs)
(Cole et al., 1998, Ducati et al., 2006).
O Mtb, pertencente à família Mycobacteriaceae, é um dos componentes do
complexo M. tuberculosis, junto com outros cinco membros: M. bovis, M. bovis BCG, M.
microti, M. africanum e M. canetti. Todos os membros desse complexo são bactérias de
multiplicação lenta com um tempo de geração próximo a 24 horas e levam de 3 a 4
semanas para formar colônias em meios de cultura sólidos (Cole, 2002). Entretanto, é
importante chamar a atenção para as características que diferenciam M. tuberculosis
de qualquer outra bactéria: a presença de um genoma com aproximadamente 4000
genes, a maioria codificando para enzimas envolvidas na lipólise (para a sobrevivência
da bactéria no hospedeiro) e lipogênese (para a síntese do envelope celular) (Ducati et
al., 2006).
O M. tuberculosis é um patógeno intracelular e sua parede tem baixa
permeabilidade, que possui uma estrutura e composição rica em lipídeos (De Rossi
et al., 2006). Essa baixa permeabilidade é devida à estrutura da parede celular
extremamente incomum. As micobactérias o caracterizadas por um envelope
altamente hidrofóbico que atua como uma barreira de permeabilidade para muitos
componentes e possui um sistema de efluxo de fármacos bem desenvolvido (Rossetti et
al., 2002).
O envelope é composto por uma membrana plasmática, uma parede celular e
uma cápsula externa. A membrana plasmática das micobactérias não parece ser
peculiar, exceto pela presença de alguns lipopolissacarídeos, que de alguma forma o
divididos por todos os actinomicetales. Essa membrana é rodeada por uma parede
celular que protege a célula, fornece apoio mecânico e é responsável pelas
características do formato da bactéria. Entretanto, essa parede é única entre os
22
procariotos. É formada por componentes não usuais como o arabinogalactano e ácidos
micólicos, que são tipicamente longos, formando cadeias com aproximadamente 60 a
90 átomos de carbono (Ducati et al., 2006, Barrera, 2007). As micobactérias possuem
proteínas de membrana que formam canais catiônicos seletivos chamados porinas, que
controlam ou retardam a difusão de pequenas moléculas hidrofílicas, conferindo baixa
permeabilidade à parede celular para os solutos hidrofílicos (Ducati et al.,2006).
M. tuberculosis tem a capacidade de entrar em períodos de latência com uma
atividade metabólica limitada, dificultando a ação dos antimicrobianos, contribuindo
para a natureza crônica da doença e impondo um regime de tratamento longo. Além
disso, existem, numa mesma infecção, populações de bacilos de comportamentos
diferentes em função de sua localização e atividade. Assim, os bacilos presentes nas
cavidades pulmonares multiplicam-se de forma ativa em um ambiente aeróbio, os
bacilos do interior dos macrófagos, o fazem em um ambiente microaerofílico, que induz
a latência, e os bacilos que se encontram no interior da lesão caseosa têm,
ocasionalmente, um ciclo replicativo. Por outro lado, se o Mtb pode multiplicar-se nos
tecidos, onde a penetração dos antibióticos é cil, no material caseoso a penetração
dos antibióticos é mais difícil. Os fármacos antituberculosos apresentam um perfil de
atividade diferenciado frente a cada uma dessas localizações e populações, e é
necessário assegurar-se que o tratamento prescrito seja ativo contra todas elas (Coll,
2003).
O estado de dormência, no qual o bacilo permanece quiescente sem infectar os
tecidos, pode ser resultado da ação de mediadores celulares da resposta imune que
podem conter, mas não erradicar a infecção. Quando a imunidade diminui, as bactérias
dormentes reativam-se, causando a deflagração da doença, mesmo cadas após a
infecção inicial (Cole et al., 1998).
1.4. Tratamento
O tratamento da TB é realizado com cinco drogas de primeira linha: Isoniazida
(INH), Rifampicina (RMP), Pirazinamida (PZA), Etambutol (EMB) e Estreptomicina (SM)
23
(Zhang, 2005). Na tabela 1 são expostos os esquemas de tratamento da TB utilizados
no Brasil desde 1979.
Atualmente, o tratamento recomendado pela OMS consiste na administração
combinada de INH, RMP, PZA e SM ou EMB durante os primeiros 2 meses, seguidos
pela combinação de INH e RMP por, no mínimo, 4 meses adicionais podendo levar à
cura em aproximadamente, 95% dos casos de TB (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997).
Tabela 1. Esquemas de tratamento da TB utilizados no Brasil desde 1979. ETH,
etionamida; EMB, etambutol; SM, estreptomicina; PZA, pirazinamida; RMP, rifampicina.
Adaptado de Brasil, 2007.
Esquemas de Tratamento da Tuberculose
Sem tratamento anterior, casos novos de
todas as formas exceto meningoencefalite
Esquema 1
2 meses: RMP / INH / PZA
4 meses: RMP / INH
Com tratamento anterior, casos de
retratamento em recidivas ou retorno após
abandono do esquema 1
Esquema 1
Reforçado
2 meses: RMP / INH / PZA / EMB
4 meses: RMP / INH / EMB
Meningoencefalite tuberculosa
Casos de meningite tuberculosa
Esquema 2
2 meses: RMP / INH / PZA
7 meses: RMP / INH
Falência do esquema 1 ou esquema 1
reforçado e casos de falência do 1, 1R ou 2
Esquema 3
3 meses: SM / ETH / PZA / EMB
9 meses: ETH / EMB
As drogas de primeira linha exibem atividade bactericida clara contra bacilos
metabolizadores ativos, e as drogas bacteriostáticas de segunda linha são reservadas
24
para fortalecer os tratamentos onde haja a presença de resistência, elas têm baixa
eficácia, e são geralmente mais tóxicas. Essas incluem o ácido p-aminosalicílico,
etionamida e cicloserina, entre outros (Ducati et al., 2006)
25
2. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA
O aparecimento de resistência em cepas vem acontecendo desde a introdução
dos fármacos antituberculose no tratamento, decorrente de rios fatores,
principalmente a pressão seletiva exercida pelo uso inadequado dos fármacos (OMS,
1997), o que determina uma ameaça no controle da doença, tendo em vista a pequena
quantidade de fármacos eficazes disponíveis contra esse agente infeccioso.
Segundo OMS, uma cepa de Mtb é considerada resistente à múltiplas drogas
(MDR), quando apresentar resistência a isoniazida e a rifampicina simultaneamente
(Cole & Telenti, 1995).
Recentemente, o Centro de Controle de Doenças nos Estados Unidos/CDC-
USA, definiu uma nova classe de MDR, nomeada como TB-XDR (“Extensively Drug-
Resistant”), cujos isolados são resistentes a isoniazida, rifampicina e, no mínimo à 3
drogas das 6 principais classes de drogas de segunda linha (aminoglicosídeos,
polipeptídios, fluoroquinolonas, tionamidas, cicloserinas e ácido p-aminosalicílico)
(Ducati et al. 2006).
Os fatores que afetam negativamente o Programa de Controle da Tuberculose
(PCT) incluem a deficiência na implementação e manutenção de um esquema
terapêutico padronizado, a escassez no fornecimento dos rmacos em áreas com
recursos inadequados. A instabilidade política e o uso de rmacos de baixa qualidade
são preocupações adicionais. O desenvolvimento da resistência pode ser, também,
devido a uma escolha inapropriada do esquema terapêutico, algumas vezes por
desconhecimento de um tratamento anterior, ausência de esquemas terapêuticos
padronizados e erros como a prescrição de um único fármaco (OMS, 1997; Espinal et
al., 2001).
Outro fator muito importante é a não adesão do paciente ao tratamento prescrito,
o que, freqüentemente, é uma fonte de isolados resistentes a drogas. O tratamento tem
duração de 6 meses e é considerado longo se comparado com o tratamento de outras
infecções bacterianas como Helicobacter pylori e infecções por pneumococos, cujos
tratamentos não duram mais de uma ou duas semanas (Zhang, 2005).
26
O desenvolvimento de resistência pelos microrganismos é uma resposta
evolucionária à pressão seletiva dos antibióticos. De modo geral, os microrganismos
vêm desenvolvendo inúmeros mecanismos de resistência que impossibilitam a ação
dos medicamentos (McKeegan et al., 2003). Análises genéticas e moleculares de
bacilos resistentes, sugerem que a resistência é usualmente adquirida por alterações
no alvo do fármaco como conseqüência de mutações no gene que codifica esse alvo
(Rossetti et al., 2002).
2.1. Resistência aos antimicrobianos
As bactérias usam um grande número de estratégias relacionadas com a
resistência às drogas. Essas podem ser resumidas em cinco categorias (Nikaido, 1998;
Zhang & Telenti, 2000):
1) Degradação ou inativação de drogas, quando o microrganismo produz enzimas que
destroem a droga ativa, por exemplo, a inativação de antibióticos β-lactâmicos, como a
penicilina, é mediada por penicilinases que catalisam a hidrólise do anel β-lactâmico;
2) Modificação do alvo da droga ou nos ativadores dos pró-fármacos: ocorre quando o
microrganismo altera a estrutura alvo da droga ou que ativaria este fármaco, por
exemplo, rpoB e resistência a rifampicina;
3) Modificação de vias metabólicas envolvidas na ativação da droga: quando o
microrganismo desenvolve uma via metabólica alterada que transpassa a outra reação
necessária para a ativação da droga, por exemplo, katG e resistência a INH;
4) Envoltório celular como uma barreira à entrada de drogas, ocorre quando a célula já
possui uma barreira à entrada de drogas ou quando o microrganismo altera sua
permeabilidade, diminuindo a permeabilidade às drogas, aparentemente devido a uma
mudança na membrana externa, como por exemplo, a parede celular de Pseudomonas;
27
5) Mecanismos de efluxo: o microrganismo desenvolve resistência, em razão de,
proteínas de membrana que causam a extrusão de drogas, como por exemplo, a TetC,
uma proteína de membrana em Escherichia coli.
2.1.1. Resistência do M. tuberculosis aos Antimicrobianos
2.1.1.1. Resistência Inata
O M. tuberculosis é naturalmente resistente a muitos antibióticos, devido
principalmente, ao envelope altamente hidrofóbico, que atua como uma barreira para
muitos compostos. Muitos determinantes do potencial de resistência são tamm
codificados pelo genoma. Isso inclui enzimas hidrolíticas ou modificadoras de drogas,
como as β- lactamases, acetil-aminoglicosideo-transferases e bombas de efluxo de
drogas (Cole et al., 1998).
2.1.1.2. Resistência Adquirida
A resistência adquirida às drogas pelo M. tuberculosis desenvolve-se,
principalmente, por mutações em genes alvo dos fármacos ou em genes que codificam
ativadores dos pró-fármacos. As mutações espontâneas são causadas devido à taxa
natural de mutação do DNA genômico, sendo selecionadas por subdosagem. A
resistência a isoniazida e estreptomicina é encontrada na taxa de 10
-7
, enquanto que a
resistência a rifampicina desenvolve-se, freqüentemente, a 10
-9
. Isso implica que cada
paciente com tuberculose pode abrigar bacilos que o separadamente resistentes a
drogas antituberculosas. Por essa razão, a tuberculose deve ser tratada com terapia
28
multidroga (Gillespie, 2002). Nenhum plasmídeo ou transposon transmissível conferindo
resistência foi identificado neste microrganismo (Riska et al, 2000).
Não se conhece uma alteração genética capaz de dar origem ao fenótipo de
multiresistência. O fenótipo multidroga resistente (MDR) observado em isolados clínicos
deve-se à aquisição seqüencial de mutações em diferentes genes. A detecção precoce
da resistência aos fármacos antituberculosos é essencial para o correto controle da
tuberculose resistente (Coll, 2003).
2.1.2. Isoniazida (INH)
2.1.2.1. Mecanismo de Ação e Resistência da INH
A isoniazida ou hidrazida do ácido isonicotínico (INH), conforme mostrado na
figura 1, é o mais antigo fármaco sintético efetivo contra a TB e um dos principais
quimioterápicos de primeira linha no tratamento da doença, sendo reconhecida, em
1952, como potente agente contra o M. tuberculosis (Zhang & Telenti, 2000, Rossetti et
al., 2002, Timmins & Deretic, 2006). A concentração inibitória mínima é muito baixa, o
que contribui para a eficácia (0,01 0,20 g/mL). O mecanismo de ação da INH, assim
como o que confere resistência, é complexo e ainda pouco entendido (Timmins &
Deretic, 2006).
29
Figura 1: Estruturas de isoniazida (1), radical hidrazil isonicotínico (2) e o radical acil
isonicotínico (3) (Timmins & Deretic, 2006).
A INH entra na célula por difusão passiva (Timmins & Deretic, 2006) e é ativa
somente nos bacilos em replicação ativa; é uma pró-droga que requer a ativação pela
enzima catalase-peroxidase da bactéria para gerar vários radicais reativos, que então
atuam em diversos alvos no bacilo (Zhang, 2005). Essa catalase-peroxidase é uma
enzima multifuncional que inclui outras atividades como peroxinitritase e NADH oxidase
(Timmins & Deretic, 2006).
O alvo mais conhecido da INH, é a via de síntese do ácido micólico da parede
celular, em que pelo menos duas enzimas, InhA e KasA, têm sido identificadas como
alvo da inibição pela INH (Zhang, 2005).
A INH tem múltiplos efeitos no bacilo da tuberculose e não é tarefa simples
localizar com precisão qual é o alvo mais essencial, cuja inibição levará a morte da
célula (Zhang & Telenti, 2000).
Isolados clínicos freqüentemente perdem a atividade da enzima catalase-
peroxidase e desenvolvem resistência a INH. Mutações no gene katG que codifica a
enzima catalase-peroxidase reduzem ou eliminam a habilidade de ativar a pró-droga
INH. Esse gene está localizado numa região altamente variável do genoma contendo
seqüências de DNA repetitivo que podem ser a causa da instabilidade desta região e
podem contribuir para a alta freqüência de mutações em katG em cepas resistentes a
INH (Zhang & Telenti, 2000).
30
A estrutura cristal da proteína KatG, e recentemente da variante S315T, forneceu
uma visão melhor do mecanismo de ativação da INH. O estreitamento do canal de
acesso ao sítio ativo na proteína, de 6 Å no tipo selvagem (WT) para 4,7 Å na variante
S315T, sugere que a diminuição do acesso da INH ao sítio oxidativo de KatG possa ser
a chave na resistência, de acordo com investigações espectroscópicas (Timmins &
Deretic, 2006).
Uma enzima envolvida na ntese do ácido micólico da parede celular que é
codificada por inhA é provavelmente o principal alvo da INH. Mutações na região
codificadora ou promotora do inhA estão relacionadas com resistência a INH em baixos
níveis. Alterações no gene kasA, que codifica uma enzima relacionada com a síntese
de lipídeos, tamm m sido encontradas em cepas resistentes a INH (Rossetti et al.,
2002). Entretanto, o gene kasA não tem sido considerado um bom marcador de
resistência a INH, que ele pode estar alterado, tanto em cepas resistentes quanto
sensíveis. No entanto, 20-30% de todas as mutações associadas com a resistência a
INH, não ocorrem nos genes katG e inhA, indicando que nesses isolados a resistência
pode ser de outra natureza, como indução de bombas de efluxo (Viveiros et al., 2003),
e/ou outros genes podem estar envolvidos na resistência a INH (Rossetti et al., 2002).
Estudos prévios demonstraram que mutações na região a montante do gene
inhA resultam em níveis elevados de expressão da proteína InhA, aumentando, assim,
o número de alvos para a droga, produzindo resistência a INH via mecanismo de
titração (Ramaswamy et al., 2003).
2.1.2.2. O Gene katG e a Resistência a INH
O gene katG está localizado em uma região altamente variável do genoma
contendo seqüências repetidas de DNA, o que pode ser a possível causa para a
instabilidade desta rego, podendo contribuir para a alta freqüência de mutações neste
gene em cepas resistentes à INH (Zhang & Young, 1993).
31
A catalase-peroxidase (KatG) consiste de duas subunidades idênticas de 80 kDa
e, em Escherichia coli, desempenha um papel de proteção contra agentes oxidativos,
semelhante a H
2
O
2
, acumulado durante a respiração oxidativa. KatG, por ser uma
proteína com atividade catalítica bifuncional, converte 2H
2
O
2
para 2H
2
O através de sua
função catalase. A atividade peroxidase parece necessária na ativação da INH para
uma substância tóxica à lula bacteriana, porém o mecanismo como isto acontece é
ainda pouco compreendido (Zhang & Young, 1993).
As duas mutações predominantes em katG são encontradas nos códons 315 e
463 (van Doorn et al. 2001). Entre 53% a 96% das mutações responsáveis pela
resistência a INH ocorrem no códon 315 do gene katG, envolvendo a substituição de
SerThr (SerinaTreonina : ST), (Höfling et al., 2005, van Doorn et al., 2006). Já no
códon 463, ocorre a troca de ArgLeu (ArgininaLeucina : RL), numa freqüência de
25 – 45 %, porém a presença desta mutação não é associada à resistência à INH. Essa
mutação deve ser considerada um polimorfismo sem relação à pressão seletiva
induzida pelo tratamento com drogas. A atividade da catalase não difere entre os
isolados de M. tuberculosis, tanto com o aminoácido arginina ou leucina no códon 463
(van Doorn et al., 2001).
Isolados com inserções e deleções perdem a atividade da catalase, e as
Concentrações Mínimas Inibitórias (CMI) destes isolados são freqüentemente as mais
altas, confirmando observações prévias sobre a perda da atividade da catalase e um
alto nível de resistência a INH (Ramaswamy et al., 2003).
2.1.2.3. O Gene inhA e a Resistência a INH
A enzima enoil-ACP redutase (ACP) envolvida na biossíntese do ácido micólico
(InhA) é uma proteína transportadora de grupamentos acil, codificada pelo gene inhA.
Essa proteína é indispensável para a síntese normal dos ácidos micólicos, e que pode
ser diretamente inibida por uma toxina derivada da INH (Dessen et al. 1995). A enzima
32
InhA, catalisa uma etapa primária na síntese de ácido graxo, e quando alterada em
conseqüência da mutação no gene, modifica a afinidade pelo cofator, resultando na
expressão de um fenótipo resistente a INH (Rossetti et al., 2002). Apresenta uma
homologia de mais de 40% com a proteína EnvM de Escherichia coli (Rattan et al.,
1998) e sendo 87% idêntica à proteína InhA de M.smegmatis (McMurry et al., 1999).
Mutações na região estrutural e promotora do gene inhA m sido relacionadas
com a resistência. Aproximadamente 10 15% dos isolados resistentes a INH
apresentam mutações nesse gene (van Doorn et al., 2001).
A mutação mais freqüente, ocorre na posição S94A, trocando uma serina por
uma alanina na proteína, demonstrando níveis elevados de resistência a INH (McMurry
et al., 1999).
Geralmente, as mutações em inhA estão associadas com um baixo nível de
resistência a INH, ao contrário do que acontece com katG, onde as mutações podem
ser causadas tanto com um nível baixo ou alto de resistência, dependendo do efeito
das mutações na atividade da enzima catalase-peroxidase exigida para a ativação da
INH (Zhang & Telenti, 2000).
2.2. Sistema de Efluxo nas Bactérias
Bombas de efluxo são proteínas envolvidas na extrusão de substratos tóxicos de
dentro da célula para o meio externo incluindo, virtualmente, todas as classes de
antibióticos clinicamente relevantes. Essas proteínas são encontradas em bactérias
gram-positivas e negativas, assim como em organismos eucarióticos (Webber &
Piddock, 2003). Podem ser específicas para um substrato ou podem transportar uma
ampla gama de componentes estruturalmente similares (incluindo antibióticos de
múltiplas classes). Tais bombas podem estar associadas com a resistência MDR
(Piddock, 2006).
33
As micobactérias o, naturalmente, resistentes aos antibióticos mais
comumente utilizados devido à baixa passagem de drogas através de seu envelope
celular altamente hidrofóbico. A análise da seqüência genômica mostrou que as
micobactérias possuem múltiplas bombas de efluxo (Viveiros et al., 2003). Tem se
tornado evidente que a resistência intrínseca de muitas bactérias aos antibióticos
(ATB’s) depende da expressão induzida ou constitutiva de sistemas de efluxo ativos
(De Rossi et al., 2006) e evidências recentes sugerem que a resistência MDR de M.
tuberculosis se encaixa nesse perfil (Danilchanka et al., 2008).
O maior determinante na resistência intrínseca é a existência de uma membrana
externa única, a qual apresenta uma barreira na permeabilidade bastante eficaz, tanto
para solutos hidrofóbicos quanto hidrofílicos (Danilchanka et. al., 2008).
Os ATB’s podem servir como indutores, regulando a expressão dos sistemas de
efluxo em nível de transcrição de genes pela interação com os sistemas regulatórios.
Esses transportadores poderiam ser superexpressos como resultado de mutações
nesses reguladores e podem, entretanto, exercer um importante papel na resistência
intrínseca e adquirida (De Rossi et al., 2006).
Estudos sobre o mecanismo de regulação das bombas em mutantes de
laboratório, como por exemplo, E. coli, C. jejuni, P. aeruginosa e N. gonorrheae,
demonstram que os mecanismos de aumento de efluxo em isolados clínicos se
enquadram em quatro grupos: (1) mutações no gene repressor local, (2) mutações no
gene regulador global, (3) mutações na região promotora do gene transportador e (4)
elementos de inserção na região a montante do gene (Piddock, 2006).
É estimado que, aproximadamente 5 – 10% de todos os genes bacterianos estão
envolvidos em transporte, e uma grande parte desses genes codifiquem bombas de
efluxo (Webber & Piddock, 2003, De Rossi et al., 2006).
Os genes que codificam para as bombas podem ser encontrados nos
cromossomos, ou então, em elementos transponíveis, como os plasmídeos, como por
exemplo, os genes tet e qac, e grandes deleções têm sido preditas a render um
repressor inativo (Piddock, 2006).
34
As proteínas de transporte são agrupadas em famílias de acordo com a
homologia de seqüência de aminoácidos e similaridade de mecanismos (Moreira et al.,
2004).
essencialmente 5 famílias diferentes de proteínas de efluxo. Duas dessas
famílias são superfamílias de origem evolutiva antiga: ABC Superfamily (“ATP-binding
cassette”) e MFS (“Major Facilitator Superfamily”). As outras 3 famílias são menores e
evoluíram recentemente: SMR (“Small Drug Resistance Family”), RND (“Resistance-
Nodulation-Cell Division Family”) e a MATE (“The Multidrug and Toxic Compounds
Extrusion Family”). As proteínas das famílias MFS, SMR, RND e MATE são
transportadores secundários, nas quais o efluxo da droga é acoplado ao influxo de
prótons e íons sódio. Na figura 2, é mostrado um diagrama comparando o mecanismo
de ação das 5 famílias de proteínas de efluxo existentes. Nela são citados alguns dos
substratos utilizados por cada família, assim como seu mecanismo de ação. Essas
bombas utilizam, freqüentemente, a força motora do fluxo de prótons. Em contraste, os
membros da família ABC, que são freqüentemente consideradas transportadores
primários, fazem uso do ATP como fonte de energia. O genoma de M. tuberculosis
contém genes que codificam transportadores de efluxo de drogas de todas essas
famílias (http://www.membranetransport.org) (Webber & Piddock, 2003, Marquez,
2005, De Rossi et al., 2006, Piddock, 2006, Mahamoud et al., 2007).
As bombas das famílias MFS e RND são as mais abundantes. As MFS’s o
encontradas em bactérias gram-positivas e gram-negativas e são caracterizadas por um
espectro estreito, reconhecendo usualmente um ou alguns antibióticos de poucas
classes. Já as bombas RND são encontradas exclusivamente em bactérias gram-
negativas, e apresentam um amplo espectro de substratos (poliseletiva), incluindo não
apenas muitas classes de ATB’s, reconhecendo também, componentes antisépticos e
detergentes (Mahamoud et. al., 2007).
35
Figura 2: Diagrama comparando as cinco famílias de proteínas de efluxo, adaptado de
Piddock, 2006.
Estudos mostram que quando as bombas de efluxo são inibidas por seus
inibidores, o desempenho das drogas pode ser significativamente melhorado. É
esperado que a inibição de bombas de efluxo: (i) diminua o nível da resistência
intrínseca; (ii) reverta resistência adquirida significativamente; e (iii) diminua a
freqüência de emergência de mutantes altamente resistentes (Lomovskaya et al., 2001,
Marquez, 2005).
O estudo das bombas de efluxo tem seguido duas estratégias principais. Na
primeira delas, estas proteínas têm sido caracterizadas individualmente por clonagem e
expressão dos genes em micobactérias de crescimento rápido, especialmente o
Mycobacterium smegmatis, cepa mc
2
155. Alguns destes estudos têm mostrado que o
mecanismo de transporte ativo de drogas pode estar envolvido na resistência intrínseca
ou adquirida às drogas (Viveiros et al., 2003; Takiff et al., 1996). Nesse contexto,
foram caracterizadas algumas bombas de efluxo em M. tuberculosis, que conferem
resistência a tetraciclina (Tap) (Ainsa et al., 1998), aminoglicosídeos e tetraciclina (P55)
(Silva et al, 2001), tetraciclina, eritromicina, etambutol, norfloxacina, estreptomicina,
cloramfenicol e antraciclinas (DrrAB) (Chouduri et. al, 2002), rifampicina e ofloxacina
(Rv1258c) (Siddiqi et al., 2004), ciprofloxacina (Rv2686c-Rv2687-Rv2688c) (Pasca et
al, 2004).
Múltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
ltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
Múltiplas drogas
Múltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
Múltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
ltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
Múltiplas drogas
ltiplas drogas
Acriflavina
Cloreto de
benzalconio
Cetrimida
Aminoglicosídeos
Fluorquinolonas
Drogas catiônicas
Acriflavina
Cetrimida
Clorexidina
Cloreto de benzalconio
Múltiplas drogas
36
Na segunda estratégia, os estudos têm utilizado uma abordagem indireta,
procurando caracterizar o efluxo como mecanismo relacionado a resistência intrínseca
e adquirida em micobactérias. Nestes experimentos foram utilizadas substâncias, tais
como verapamil, reserpina e o ionóforo cianeto de carbonila de M-clorofenil hidrazona
(CCCP), que atuam como inibidores dos sistemas de efluxo, e observou-se um maior
acúmulo de droga ou uma diminuição dos níveis de resistência (Levy, 1992; Markham,
1999; Choudhuri et al., 1999; Banerjee et al., 1996, Poole, 2000).
O verapamil (C
27
H
38
N
2
O
4
) é um bloqueador de canais de cálcio utilizado como
substância ativa de medicamentos para hipertensão, pois tem a capacidade de relaxar
vasos sanguíneos (veias e artérias), diminuindo a pressão sanguínea, o que reduz o
esforço para o coração bombear o sangue. Também é utilizado no tratamento de
angina (dor no peito) e para controlar alguns tipos de batimentos cardíacos irregulares
(Lüllmann et al., 2008). Tem sido utilizado como bloqueador de transportadores de
drogas, causando a inibição do sistema de efluxo e aumentando a concentração
intracelular da droga provocando a morte da célula bacteriana (Banerjee et al., 1996;
Markham & Neyfakh, 1996).
Sabe-se tamm que o verapamil é um inibidor de bombas MDR de lulas
cancerosas e parasitas e tamm melhora a atividade da tobramicina. O verapamil e a
reserpina, um outro inibidor, são rotineiramente utilizados para avaliar a atividade de
bombas de efluxo em bactérias gram-positivas (Mahamoud et al., 2007).
Bombas de efluxo multidrogas (MDRs) m sido definidas como translocases de
membrana, com uma capacidade surpreendente de expulsar da célula uma variedade
de drogas não relacionadas (Moreira et al., 2004).
O CCCP vem sendo utilizado em estudos por dispersar o gradiente próton-motor
das membranas e por despolarizar a membrana energizada (Ainsa et al., 1998, Pasca
et al., 2004, Levy, 1992), inibindo assim as bombas de efluxo que utilizam a força do
próton-motor. Sua elevada toxicidade o torna inviável para o uso terapêutico (Diaz,
2003, Mahamoud et al., 2007). Ele tem sido utilizado em laboratório por abolir
totalmente o efluxo de rios tipos de moléculas. Esses componentes reduzem a
viabilidade da bactéria e causam a morte celular via dissipação da força próton-motora
da membrana. Conseqüentemente, sempre a questão se, é devido ao seu efeito
37
sobre a bomba de efluxo, o que causaria um aumento da penetração do antibiótico, ou
se é devido a uma alteração do envelope celular que resulta na morte da bactéria
(Mahamoud et al., 2007).
Derivados sintetizados quimicamente e produtos naturais, como a berberina ou
5-metoxihidnocarpina, possuem atividade contra as bombas de efluxo. Problemas na
síntese, purificação, estabilidade e solubilidade, assim como, sua toxicidade potencial,
tem reduzido o interesse em pesquisas adicionais para o desenvolvimento desses
promissores inibidores de bombas de efluxo (Mahamoud et al., 2007).
Progressos recentes na análise estrutural de uma série de proteínas soveis
multidroga transportadoras, demonstraram que elas possuem sítios de ligação
altamente hidrofóbicos aos seus substratos, por uma combinação entre interação
hidrofóbica e atração eletrostática, preferencialmente às ligações de hidrogênio e outras
interações específicas, o que é característica de enzima e receptores. A topologia dos
transportadores multidroga sugere sítios de ligação similares, com princípios
semelhantes de reconhecimento de substrato. Isto não explicaria somente a ampla
especificidade a substratos, mas tamm, sua relação evolucionária e aparente
multiplicidade em genomas de organismo de todos os reinos, embora estudos
adicionais sejam necessários para comprovar essa hipótese (Moreira et al., 2004).
A bomba de efluxo multidroga melhor caracterizada é a Glicoproteína-Permease
(P-gp), codificada pelo gene mdr1 (resistência multidroga), identificada em humanos e
roedores, responsável pela resistência de uma ampla gama de drogas citotóxicas via
efluxo dependente de ATP (Moreira et al., 2004).
Com o auxílio da bioinformática, foi revelada na seqüência genômica de M.
tuberculosis a presença de 13 proteínas transmembranares preditas a serem proteínas
transportadoras da superfamília RND. Desde então, essas proteínas que parecem fazer
parte das micobactérias, foram designadas como MmpL7 (proteínas de membrana
micobacteriana). A natureza hidrofóbica das proteínas MmpL e a íntima associação de
quatro dos genes delas com genes envolvidos no metabolismo de lipídeos, sugerem
que, elas possam estar naturalmente envolvidas no transporte de ácidos graxos. Dadas
às similaridades com outros transportadores RND, é possível que as proteínas MmpL
possam atuar no efluxo de drogas (Pasca et al., 2005).
38
Entretanto, até o momento, 26 transportadores completos, 11 incompletos da
superfamília ABC e 16 proteínas da famíla MFS foram identificados em M. tuberculosis
e o envolvimento de muitas dessas proteínas no transporte de aminoglicosídeos,
fluorquinolonas, cloranfenicol, isoniazida, rifampicina e tetraciclinas tem sido
demonstrado (De Rossi et al., 2006, Danichanka et al., 2008).
Pasca et al., (2005) investigaram o gene conhecido como MmpL7 na resistência
a INH, expressando-o em uma micobactéria de crescimento rápido e não patogênica, o
M. smegmatis. A sua superexpressão foi responsável pelo aumento da Concentração
Mínima Inibitória (CMI) para INH nessa micobactéria. Os níveis de CMI foram testados
na presença dos inibidores reserpina e CCCP. Quando adicionados ao meio,
apresentaram uma redução nos níveis da droga de até 8 vezes (512 g/mL versus 64
g/mL). o verapamil não apresentou redução, não tendo efeito na diminuição da
CMI. MmpL7 foi o primeiro exemplo de um transportador RND responsável pela
resistência a INH em M. smegmatis, e até então, essas proteínas haviam sido descritas
somente em bactérias gram-negativas (Pasca et al., 2005).
Observou-se em estudos de cultura celular que componentes das bombas de
efluxo RND o importantes na invasão, aderência e/ou colonização da célula
hospedeira. A diminuição da invasão celular foi observada com mutantes de
Pseudomonas aeruginosa PAO1 com a inativação da bomba conhecida por mexB.
Esses dados sugerem que, as bombas de efluxo m um papel importante na mediação
da aderência e captação da bactéria dentro da célula hospedeira alvo, assim como na
sobrevivência às substâncias nocivas no ambiente local (Piddock, 2006).
A superexpressão de bombas de efluxo MDR, sozinhas, freqüentemente, não
causa altos níveis de resistência que sejam significativamente relevante aos ATB’s
(Webber & Piddock, 2003), sendo possível que o influxo/efluxo atue de forma sinérgica
com mecanismos alternativos na diminuição eficaz da concentração intracelular de
drogas (Danilchanka et al., 2008). Entretanto, tal bactéria pode ser considerada mais
equipada para sobreviver à pressão antibiótica e desenvolver mutações adicionais em
genes que codificam para sítios alvos dos ATB’s. Mutantes e isolados clínicos que
superexpressam essas bombas são estáveis e comumente isolados. Pode ser que tais
39
mutantes acumulem mutações compensatórias que permitam a eles crescer assim
como a bactéria selvagem (WT) (Webber & Piddock, 2003).
Em um estudo recente, uma nova bomba de efluxo MDR em M. tuberculosis foi
identificada. Ela foi nomeada como Rv0194, codificada pelo gene rv0194 e
considerada a primeira proteína de efluxo descrita em M. tuberculosis que envolvida na
resistência aos antibióticos -lactâmicos (Danilchanka et al., 2008).
Análises de alinhamento de seqüências nucleotídicas (Blast), revelaram que o
gene rv0194 codifica uma proteína transportadora pertencente à família ATP-Binding
Cassette (ABC) (Danilchanka et al., 2008).
2.3. Arilamina N-acetiltransferase (NAT)
As enzimas arilamina N-acetiltranferases (NATs) são enzimas citosólicas que
acetilam arilaminas e hidrazinas pela transferência do grupo acetil da acetil Coenzima-A
(acetil-CoA) para um o grupo amino livre formando uma acetilamida. As mesmas
enzimas são capazes de catalisar a transferência de um grupo acetil para o oxigênio de
uma aril-hidroxilamina (Payton et al., 1999, Upton et al., 2001a, Upton et al., 2001b,
Sandy et al. 2002, Kawamura et al. 2003, Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005, Sandy et
al. 2005b). As enzimas NATs foram encontradas primeiramente em humanos como
uma enzima chave nas variações apresentadas no metabolismo da droga
antituberculose INH (Kawamura et al. 2003). De uma forma geral, variações
polimórficas de NATs podem ser encontradas tanto em organismos procariotos quanto
em eucariotos (Upton et al., 2001a, Upton et al. 2001b).
Tem sido descrito para a enzima NAT o mecanismo de acetilação do tipo bi-bi
ping-pong, em que um grupo acetil é transferido de uma Ac-CoA (doador) para a
enzima NAT, formando um intermediário acetilado e então para o substrato (aceptor)
(Brooke et al., 2003, Sandy et al., 2005b, Sim et al., 2007, Fullam et al., 2008).
40
É proposto que NAT em micobactérias possa atuar na acetilação de INH e, sua
conseqüente inativação, resultando assim, em cepas resistentes à droga (Payton et al.,
1999, Sim et al., 2000, Sandy et al., 2002, Sandy et al., 2005b). Se a INH for acetilada
pela enzima NAT, o produto acetilisoniazida não poderia ser oxidado à sua forma ativa
pelo produto de katG (Sandy et al., 2002, Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005). Esse
mecanismo de ativação e inativação da INH, realizado pelas enzimas KatG e NAT,
respectivamente, é mostrado no figura 3, segundo Sandy et al., (2005b).
Em humanos, uma das duas isoenzimas identificadas, a NAT2, inativa a droga
antituberculose isoniazida (INH) (Brooke et al., 2003).
Figura 3: Esquema que mostra a ativação e inativação da INH adaptado de Sandy et
al., 2005b.
Foi reportado que a NAT1 (humana) pode existir numa forma acetilada estável
antes da ligação do substrato, e que o nível de conservação de seqüências ao longo da
família NAT, apóia um mecanismo comum em procariotos e eucariotos homólogos,
porém, ainda o há evidências diretas de que isto ocorra nas enzimas NATs em
procariotos (Sandy et al., 2005b).
Experimentos prévios com a enzima NAT de S. typhimurium demonstraram que a
hidrólise da Ac-CoA catalisada pela NAT não pode ser detectada ao menos que um
Inativa
Ativa
41
substrato da classe arilamina ou hidrazina esteja presente (Delgoda et al., 2003). Foi
sugerido que a região C-terminal da proteína seja muito importante no controle da taxa
de hidrólise da Ac-CoA em ausência da INH ou de qualquer outro substrato. Esses
achados sugerem que ocorra uma mudança conformacional na NAT pela ligação da
INH, o que promoveria uma hidrólise da Ac-CoA de forma eficiente, e então, a
transferência da acetila para o ligante arilamina/hidrazina. Os resultados fornecem
evidências diretas da ligação da INH antes da Ac-CoA na enzima NAT de S.
typhimurium (Delgoda et al., 2003).
A formação de um complexo entre a INH e a NAT na ausência de acetilação ou
da Ac-CoA, é entretanto, surpreendente, mas consistente com os experimentos de
Ressonância Magnética Nuclear com a enzima NAT de S. typhimurium e pode
representar tanto um complexo de inibição de substrato ou um complexo que exista
antes do início do mecanismo ping-pong (Delgoda et al., 2003, Sandy et al., 2005b).
O gene nat de M. tuberculosis, conhecido tamm como tbnat, possui 852 pb e
codifica uma proteína de 284 aminoácidos.
Ambos, M. tuberculosis (TBNAT) e M. smegmatis (MSNAT), possuem o gene
nat, com as duas seqüências codificantes compartilhando 60% de identidade, sendo
que ambas enzimas são capazes de acetilar a INH (Payton et al., 1999, Sandy et al.,
2002, Sandy et al., 2005b).
evidências sugerindo que o gene tbnat codifica uma proteína importante para
o crescimento e desenvolvimento da bactéria, assim como para a síntese normal de
ácidos micólicos e, conseqüentemente, outros componentes derivados da parede
celular (Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005). É possível que essa função endógena da
NAT em micobactérias esteja relacionada ao metabolismo da acetil-CoA (Sandy et al.,
2002). De fato, estudos recentes indicaram que a enzima NAT é necessária para a
biossíntese da parede celular em M. tuberculosis (Madikane et al., 2007).
O genoma de M. tuberculosis codifica mais de 200 enzimas envolvidas no
metabolismo de lipídeos, sugerindo a importância desta rota neste organismo
(Madikane et al., 2007).
42
O gene tbnat recombinante de M. tuberculosis mostra-se eficiente na N-
acetilação de INH in vitro, e quando superexpresso em M. smegmatis, a resistência a
INH do organismo transformado aumenta em até 3 vezes. Esses resultados sugerem
que tbnat possa estar envolvido na suscetibilidade do bacilo à INH (Sholto-Douglas-
Vernon, et al. 2005).
É reportado que o gene nat faz parte de um operon envolvendo quatro outros
genes (Payton et al., 2001, Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005). Um quinto gene foi
posteriormente, adicionado a este operon (Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005). É
proposto que a região promotora situa-se a montante deste operon e que mais de um
fator esteja envolvido no controle da expressão de tbnat. Por exemplo, mais que um
promotor poderia estar envolvido na expressão de tbnat, assim como descoberto no
gene katG e operon de RNAr (Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005).
Sabe-se que a NAT metaboliza a INH em organismos em crescimento (Upton et
al., 2001b, Sandy et al., 2005b).
Bhatka et al., (2004) investigaram o papel deste gene na síntese dos ácidos
micólicos, como mencionado anteriormente, um dos principais componentes da parede
celular micobacteriana. Para isso, disruptou-se esse gene num isolado de M. bovis
BCG, uma cepa de M. bovis atenuada utilizada na produção de vacinas. Os autores
estudaram o crescimento, a morfologia celular, a composição da parede celular lipídica
e descobriram que a enzima NAT é essencial para a síntese normal de ácidos micólicos
em M. bovis BCG, sugerindo que a biossíntese dos ácidos micólicos envolva a NAT
numa rota ainda não identificada. Ainda nesse trabalho, perceberam que a perda da
atividade da NAT resultou num aumento da morte intracelular de isolados de M. bovis
BCG pelos macrófagos e que o crescimento desta cepa é mais lento quando o gene é
ausente. Isto foi observado tanto em cultura sólida quanto líquida. Em ágar, as colônias
nas quais o gene foi disrupto começam a aparecer em torno de 28 dias; na cepa
parental, em torno de 21 dias.
Em humanos, o gene nat está localizado no cromossomo 8p22, e apresenta 3
variantes: PNAT, NAT1 e NAT2. PNAT é um pseudogene e contém um códon de
parada que não é transcrito. NAT1 e NAT2 são funcionalmente polimórficos e os genes
43
são codificados num lócus multi-alélico. As proteínas NAT, em humanos, têm 290
aminoácidos cada e compartilham 87% de identidade entre elas, tendo porém, perfis de
substratos diferentes (Upton et al., 2001a).
Os substratos de NAT1 incluem ácido para-aminobenzóico (paba), que atua na
síntese do ácido fólico, ácido p-aminosalicílico (uma droga anti-TB da classe das
oxazolidinonas) e para-acetamidobenzoilglutamato (p-Abglu), um catabólito do folato.
os substratos de NAT2 incluem a droga antituberculose isoniazida e sulfametazina
(Upton et al., 2001a).
A N-acetilação de INH em humanos pela NAT2 produz um metabólito
terapeuticamente inativo, causando assim, uma excreção mais rápida (Upton et al.
2001b). Neste caso, a N-acetilação da INH em micobactérias pode competir com a
ativação da pró-droga pela catalase-peroxidase (produto do gene katG) (Payton et al.,
1999, Sandy et al., 2005b).
A ativação da INH pela catalase-peroxidase envolve a oxidação da hidralazina.
Essa reação não pode ocorrer se a hidralazina tiver participado de uma reação de N-
acetilação ou outras reações conjugadas. Conseqüentemente, as atividades
conjugadas da INH em M. tuberculosis, incluindo as atividades de N-acetilação,
previnem a ativação da INH (Upton et al., 2001b).
Quando um polimorfismo ocorre na região codificante do gene, pode afetar a
seqüência de aminoácidos da proteína e alterar a função da mesma. Assim, uma
variação na seqüência das bases nitrogenadas pode afetar tanto a estrutura da proteína
como suas propriedades físico-químicas ou, em alguns casos, alterar a síntese da
proteína envolvida no metabolismo do fármaco ou especificamente o próprio alvo do
fármaco, resultando em variação interindividual na resposta ao tratamento (Trotta et al.
2004).
Até o momento, dois polimorfismos de NAT são conhecidos: T529C e G619A
(Upton et al., 2001 a, Upton et al., 2001b, Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005).
A presença de uma mutação no nucleotídeo 619 da ORF (“open reading frame”)
confere à bactéria a mudança de nucleotídeo G619A, ou seja, a troca de uma guanina
por uma adenina no nucleotídeo 619, responsável pela alteração de um resíduo de
44
glicina por um resíduo de arginina na posição 207 da cadeia polipeptídica.
Conseqüentemente, as duas variantes NAT são designadas 207G NAT e 207R NAT.
Foi observado que a mutação G207R altera a atividade enzimática da NAT para a INH,
provavelmente em decorrência de uma alteração na estabilidade ou na estrutura do
sítio ativo da enzima (Upton et al., 2001b, Pompeo et al., 2002).
Foi proposto que, embora a mutação não ocorra em uma região muito próxima
do sítio-ativo, a presença da arginina, mais volumosa que a glicina, é capaz de alterar a
posição do resíduo Phe204, diminuindo assim, a interação com o anel aromático da
INH. Isto explicaria porque o valor de K
m
para INH no mutante G207R é aumentado em
relação à proteína selvagem (WT) (Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005).
Os resíduos de fenilalanina (Phe) são altamente conservados na família NAT.
Phe
38
está localizado na região conservada compostas pelos resíduos prolina,
fenilalanina, ácido glutâmico, asparagina e leucina (PFENL) das NATs, enquanto Phe
199
é conservada em todas as NATs com atividade de acetilação e o resíduo Phe
125
é
encontrado na NAT1 humana e é altamente conservado em NATs de procariotos. Em
estudos de enzimas quiméricas NAT1 e NAT2, em humanos, mostrou-se que o resíduo
Phe
125
tem sido relacionado como o causador de especificidade diferente de substrato
do aceptor entre as duas proteínas, e a presença do resíduo de Ser
125
(serina) na NAT2
pode permitir a acetilação de substratos maiores, como sulfametazina e procainamida.
Foi proposto que os resíduos conservados de fenilalanina teriam a função de excluir as
moléculas de água do sítio ativo, previnindo assim a hidrólise do intermediário acetil-
cisteína (Brooke et al., 2003).
O gene nat em M. tuberculosis está sendo considerado como parte de um
agrupamento de genes que codificam enzimas envolvidas em reações de
desintoxicação (Upton et al., 2001b, Pompeo et al., 2002).
A NAT2 humana apresenta especificidade por um substrato similar ao da NAT
em M. tuberculosis, ou seja, metaboliza arilhidralazina e xenobióticos arilamina (Sim et
al., 2000, Upton et al., 2001b). Conseqüentemente, a NAT em micobactérias pode
metabolizar componentes similares nos pulmões ou macrófagos. Se o papel endógeno
da NAT de M. tuberculosis é importante na desintoxicação de tais componentes, logo, a
45
competição de INH com essa função pode diminuir as chances de sobrevivência da
micobactéria (Upton et al., 2001b).
Estudos filogenéticos das enzimas NAT de várias espécies, levaram a teoria de
que a NAT tenha evoluído de um ancestral comum. Entretanto, as NATs de procariotos
divergiram de forma marcante das NATs dos mamíferos. Postula-se que o papel da
NAT possa diferir dependendo do organismo na qual é encontrada (Fullam et al., 2008).
2.3.1. Tríade catalítica da NAT
O sítio ativo da NAT consiste de um resíduo de cisteína (Cys
70
), um de histidina
(His
110
) e outro de ácido aspártico (Asp
127
), formando uma tríade catalítica, que se
mostra bastante conservada em homólogos de NAT, tanto em eucariotos quanto em
procariotos (Sim et al., 2000, Sandy et al., 2005a, Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005,
Sandy et al., 2005b). Na figura 4 é possível visualizar a tríade catalítica da TBNAT
gerada com o auxílio de Programa DeepView 4.0.
Figura 4: Orientação da INH no sítio ativo da enzima NAT (Cys
70
- His
110
- Asp
127
).
Figura gerada com o programa DeepView 4.0 (www.expasy.org/spdbv/).
Cys70
INH
His110
Asp127
46
Sandy et al., (2005a), investigaram, de forma individual a importância de cada
resíduo da tríade catalítica (Cys70, His110 e Asp127) para a ativiade de NATs de M.
smegmatis e S. typhimurium. Nenhuma das enzimas mutantes exibiu atividade de
acetilação, confirmando a importância destes resíduos para essa função.
quatro moculas de água bem definidas dentro do tio ativo da enzima, que
permanecem conservadas nas estruturas de apoenzima e cocristalizada da NAT. Cinco
outras moculas de água que são vistas na estrutura apo estão ausentes na estrutura
cocristalizada. Quatro dessas moculas ocupariam o mesmo espaço que a isoniazida.
As demais estão situadas adjacentes à cisteína do sítio ativo e é proposto que ocupe o
espaço do oxi-ânion (Sandy et al., 2002, Sandy et al., 2005b) encontrada em outras
cisteíno-proteases. Conseqüentemente, a ligação do substrato remove as moléculas de
água situadas na região do oxi-ânion, preparando a maquinaria catalítica para a reação
(Sandy et al., 2005b).
A cisteína é essencial para o sítio ativo da enzima. Experimentos de mutagênese
com a NAT1 humana sugeriram que este resíduo de cisteína possa existir numa forma
acetilada, embora nenhuma evidência tenha sido ainda encontrada nas NATs de
procariotos (Sandy et al., 2005a).
2.3.2. Ligação de isoniazida e coenzima-A com NAT
A INH liga-se numa fenda do sítio ativo adjacente ao resíduo de cisteína que é
fundamental para a atividade catalítica (figura 4). Essa ligação ocorre entre o átomo de
nitrogênio terminal do grupo hidrazil e o resíduo de cisteína (Cys
70
) à uma distância de
aproximadamente 2,4 Å da posição S desse resíduo (Sandy et al., 2005b).
A análise da INH ligado ao sítio ativo de NAT aponta para a formação de
interações hidrofóbicas do fármaco com a Phe
38
, Val
95
, Phe
130
e Phe
207
. Tamm são
47
observadas ligações de hidrogênio entre o grupo carbonila da Thr
109
e o grupo hidrazil
da INH (Sandy et al., 2005b).
Fullam et al., (2008) investigaram a orientação da ligação da CoA na enzima
NAT em Mycobacterium marinum (MMNAT) e verificaram que o grupo sulfidril terminal
da CoA fica posicionado 2,8 Å da posição S da Cys
70
, resíduo que comem a
tríade catalítica, num ambiente composto pelos resíduos aromáticos Phe
38
, Tyr
69
, Tyr
71
,
His
110
, Phe
130
e Phe
204
. Esses resíduos hidrofóbicos contribuem parcialmente na
escolha dos substratos aceptores de acetila, sendo complementares na característica
dos substratos preferenciais por arilaminas e arilhidrazinas pela enzima NAT. Eles
tamm formam interações com o grupo 2-mercaptoetilamino ligado através de uma
ligação amida com radical pantoteinato da CoA.
A estrutura da MMNAT com a CoA ligada confirma que o resíduo de His
110
,
membro central da tríade catalítica, está bem posicionado para efetuar a protonação,
tendo NE2 de His110 a uma distância de de 6 Å do grupo sufidril da CoA (Fullam et al.,
2008).
Uma comparação das estruturas da MMNAT ligada à CoA com a MSNAT ligada
à INH ( código Protein Data Bank PDB - 1w6f ), confirma que a INH divide um sítio de
ligação com o braço pantoteinico da CoA, assim a ligação produtiva da Ac-CoA e do
substrato aceptor da acetila parece ser mutualmente exclusiva, e isso explicaria a
cinética seqüencial da enzima. A superfície de ligação extendida entre a MMNAT e a
CoA, deixa aberta a possibilidade de que o grupo nucleosídeofosfato da CoA poderia
permanecer associado à MMNAT subseqüente à acetilação do resíduo da cisteína da
tríade catalítica, devendo o substrato apenas para deslocar o braço pantoteinico da
CoA para ter acesso ao intermediário acetilado (Fullam et al., 2008).
48
3. JUSTIFICATIVA
A TB tem se tornado um problema prioritário no Brasil contribuindo para que o
país parte faça parte do grupo de países responsáveis por 80 % dos casos mundiais da
doença.
Com o surgimento de isolados de M. tuberculosis com alta transmissibilidade e
virulência atribuídas a algumas famílias da bactéria, é de suma importância o
conhecimento dos mecanismos de ação e resistência de um dos fármacos mais
eficazes no tratamento da doença, a INH.
O conhecimento de tais mecanismos moleculares permitiriam a criação de
estratégias mais elaboradas de controle e desenvolvimento de kits de detecção mais
rápidos para o controle da doença, no auxílio no controle da disseminação de bacilos
resistentes, evitando gastos desnecessários para o sistema de saúde pública, assim
como, possíveis prejuízos à saúde do paciente.
49
4. OBJETIVO
4.1. Objetivos Gerais
Investigar a contribuição de sistemas de efluxo e de mutações no gene nat na
resistência a isoniazida (INH), em isolados de Mycobacterium tuberculosis.
4.2. Objetivos Específicos
Analisar por seqüenciamento as regiões dos genes katG, inhA e nat, envolvidas
com resistência a isoniazida em isolados clínicos de M. tuberculosis;
Avaliar a relação do sistema de efluxo como possível base molecular da
resistência a INH em isolados clínicos de M. tuberculosis utilizando inibidores
clássicos do sistema de efluxo, como verapamil e CCCP;
Estimar a Concentração Mínima Inibitória (CMI) de cepas de M. tuberculosis
frente à INH utilizando a técnica de Microdiluição com Resazurina (REMA);
Analisar o genótipo das amostras pela técnica de Spoligotyping;
Relacionar os dados obtidos do genótipo com a resistência a INH.
50
5. MATERIAL E MÉTODOS
5.1. Critérios de Elegibilidade
Foram consideradas elegíveis para esse estudo, as cepas de M. tuberculosis que
pelo método das proporções (MPLJ) mostraram-se resistentes a isoniazida em
concentração de 0,20 µg/mL.
5.2. Critérios de Exclusão
Os isolados que, devido a problemas técnicos ou de contaminação não tiveram
os resultados de CMI e/ou de seqüenciamento e/ou genotipagem, disponíveis para este
estudo.
5.3. Local de Desenvolvimento do Estudo
Este estudo foi realizado com parceria entre alguns Laboratórios.
O cultivo e a seleção dos isolados de M. tuberculosis, extração de DNA,
amplificação, seqüenciamento dos genes katG, inhA e “Spoligotyping foram realizados
no Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, na Fundação Estadual de
Produção e Pesquisa em Saúde do Estado do Rio Grande do Sul CDCT-FEPPS/RS,
em Porto Alegre. A estimativa da Concentração Mínima Inibitória (CMI) e a investigação
da presença de bombas de efluxo foram realizadas no Laboratório de Micobactérias da
Universidade Federal de Rio Grande FURG, em Rio Grande, RS. O seqüenciamento
do gene nat foram realizadas no Laboratório de Biologia Molecular Aplicada as
Micobactérias, Departamento de Micobacterioses IOC/FIOCRUZ, no Rio de Janeiro,
51
RJ, e as análises de Bioinformática e a Modelagem Molecular da enzima NAT,
selvagem (WT) e Isoformas, foram realizadas no Laboratório de Bioinformática
Estrutural (LaBie) da Pós-Graduação em Genética e Toxicologia Aplicada da ULBRA,
em Canoas, RS.
5.4. Número Amostral
Foram utilizadas 47 amostras selecionadas por conveniência, a partir de um
banco de dados existente. Vinte e oito cepas selvagens (WT), ou seja, sem mutação
nos genes katG (códon 315) e inhA, 13 cepas mutadas no códon 315 do gene katG e
06 cepas sensíveis a INH.
5.5. Origem dos Isolados Investigados
Foram selecionados para este estudo, 3 isolados do Instituto MALBRAN na
Argentina; 15 isolados do LACEN no Ceará; 1 isolado do Hospital Universitário de Belo
Horizonte UFMG, em Minas Gerais; 5 isolados do Instituto Evandro Chagas, no Pará;
3 isolados do Instituto Nacional de Salude no Peru; 10 isolados do Laboratório de
Micobacteriologia do Complexo Hospitalar HUCFF IDT da UFRJ e do Laboratório
Nacional Hélio Fraga Filho, no Rio de Janeiro; 8 isolados do LACEN do Rio Grande do
Sul e 2 isolados do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo (figura 5).
52
Figura 5: Mapa da América do Sul salientando a origem dos isolados selecionados para
o estudo.
5.6. Cultura de M. tuberculosis
Os isolados de M. tuberculosis foram cultivados em meio Ogawa e incubados a
37
o
C de 4 a 6 semanas. Posteriormente, foram mantidos por aproximadamente 3
meses na geladeira antes de serem repicados. Todos os isolados foram estocados em
tampão de Soerensen, 20 % de glicerol a -70
o
C.
10
2
3
1
8
15
5
3
53
5.7. Estimativa da Concentração Mínima Inibitória (CMI) com Inibidores de
Efluxo
Para a estimativa da CMI foi utilizado o Método REMA (“Resazurin Microdiluition
Assay”) (Palomino et al., 2002), com algumas adaptações. Consiste numa diluição
seriada em microplacas estéreis de 96 cavidades, com tampas estéreis, e fundo chato,
utilizando a resazurina como indicador de viabilidade celular.
Para serem utilizadas neste teste, as cepas foram colocadas para crescer em
tubos contendo meio sólido Ogawa. Esses tubos permaneceram na estufa a 37C,
durante 28 – 30 dias.
5.7.1. Preparação dos Inóculos
Passado o período de crescimento, foram preparadas suspensões bacterianas,
chamadas inóculos. Tubos contendo pérolas de vidro foram pesados (peso inicial= PI).
Com o auxílio de palitos estéreis, foram adicionadas colônias de M. tuberculosis em
seus respectivos tubos com rolas. Os tubos foram novamente pesados (peso final=
PF), e foi realizada a diferença PF-PI=PESO correspondente às colônias
acrescentadas, para cada 1,0 mg de colônias (PF-PI), foram adicionados 1,0 mL de
água destilada estéril. Primeiramente, foram adicionados 0,5 mL de água destilada
estéril, os tubos então, foram vortexados a fim de, desfazer os grumos. Logo após, foi
adicionado o restante da água completando o volume total. Esses tubos foram
vortexados novamente. A turbidez das suspensões foi equivalente à Escala 1,0 de
McFarland.
5.7.2. Montagem das Placas de 96 poços
54
Na figura 6 é mostrada em detalhes a montagem da placa.
Nos poços da periferia foram adicionados 200L de água destilada e estéril para
evitar a rápida evaporação do meio quido 7H9 OADC na estufa. Essa água foi
previamente colorida com corante alimentício em pó, para melhor visualização dos
poços periféricos durante o experimento.
Em cada placa, foi feita uma coluna de controles, onde o controle negativo teve
como objetivo, certificar a esterilidade do meio líquido, e o controle positivo, a
viabilidade do inóculo. Foram adicionados 200 L de meio de cultivo nos poços para
controles negativos e 100 L nos demais poços.
Em seguida, cada cepa foi testada com 100L de meio em uma coluna, 100L
de meio e verapamil a 100mM em outra coluna, e com 100L de meio e CCCP a 5mM
em outra coluna. Após, foram adicionados 100L de isoniazida nos primeiros poços de
MIC (nas concentrações de 32; 16; 8; 4; 2; 1; 0,5; 0,25 e 0,125 g/mL) , realizando
diluições seriadas 1:2 com o auxílio de uma pipeta multicanal, adicionando-se, em
seguida, 100L dos inóculos diluídos 1:20, nos devidos poços.
Depois de preparadas, as placas foram tampadas e incubadas na estufa a 37C
por 7 dias. No sétimo dia, foram adicionados 30L de resazurina 0,02%, e as placas
foram novamente incubadas, a 37C, por mais 2 dias. Passados os 2 dias de
incubação, foi feita a leitura das placas pela oxi-redução da resazurina. A mudança da
cor azul para rosa indica a redução da resazurina e, entretanto, o crescimento
bacteriano. Logo, se ficar rosa, houve crescimento bacteriano, a INH não foi capaz de
inibir o crescimento bacteriano nesta concentração, ou a partir dela (Resazurina
reduzida). Se ficar azul, não houve crescimento bacteriano, a INH foi capaz de inibir o
crescimento nesta concentração (Resazurina oxidada).
A CMI foi definida como a menor concentração de INH capaz de impedir a
mudança de cor, ou seja, inibir o crescimento celular. Em cada placa foi utilizada a cepa
padrão H37Rv, como controle.
55
Figura 6– Esquema da preparação da microplaca para realizar o método REMA para a
estimativa da CMI.
5.8. Extração de DNA genômico
O DNA foi isolado de culturas conforme metodologia descrita por van Soolingen
et al., (1994), cuja aplicação serve para o isolamento de DNA genômico de alto peso
molecular.
De um cultivo de M. tuberculosis em meio sólido foram retiradas colônias com
ajuda de palito estéril e colocadas em um tubo de 1,5 mL com 400 µL de TE 1X. Essas
colônias foram inativadas durante 30 min a 80
o
C e depois foram adicionados 50 µL de
lisozima 10 mg/mL e incubados pelo menos 2 h a 37
o
C (preferencialmente overnight).
Após adicionar 70 µL de SDS 10% e 5 µL de solução de proteinase K a 10 mg/mL, os
tubos foram agitados em vortex e incubou-se a 65
o
C durante 10 min, foram adicionados
100 µL de NaCl 5M e 100 µL de solução de brometo de cetiltrimetilamônio e cloreto de
7H9
7H9 + CCCP 5mM
7H9 + verapamil 100mM
controles
INH
água
Legenda
56
sódio (CTAB/ NaCl) (10% CTAB e 4% NaCl) e agitados até obter um aspecto leitoso.
Foram incubados 10 min a 65
o
C, após adicionar 750 µL de clorofórmio/ álcool
isoamílico, vórtex durante 10 s e depois centrifugados a 12000 rpm a temperatura
ambiente durante 5 min. O sobrenadante foi passado para um tubo novo e adicionados
0.6 volumes de isopropanol e deixados a -20
o
C por pelo menos 30 min. Após
centrifugar a 12000 rpm a temperatura ambiente por 5 min e eliminar o isopropanol
virando o tubo, foi adicionado etanol 70% gelado e misturado suavemente rias vezes
e centrifugado a temperatura ambiente a 12000 rpm por 5 min. O tubo foi vertido para
dispensar o sobrenadante, e seco à temperatura ambiente para a posterior
ressuspensão em 50µL de TE 1X. O DNA extraído foi mantido a 4
o
C por dois dias para
suspensão completa. Após a suspensão, o DNA genômico foi quantificado e em
seguida estocado a -20
o
C.
O CTAB serve para remover restos de parede celular, proteínas desnaturadas e
polissacarídeos complexos , enquanto retém os ácidos nucléicos em solução. a
solução clorofórmio/álcool isoamílico serve para remover o complexo CTAB-
proteínas/polissacarídeos, por isso, uma interface branca deve se visualizada após a
centrifugação.
5.9. Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
5.9.1. Genes katG e inhA
Para a amplificação da região que possui o códon 315 do gene katG foram
utilizados os oligonucleotídeos iniciadores KatG FW_ 5’-CAT GAA CGA CGT CGA AAC
AG-3’ e KatG RV_ 5’-CGA GGA AAC TGT TGT CCC AT-3’, originando um produto
amplificado de 232pb. O gene inhA teve sua região estrutural (orf) e regulatória
amplificadas, com a utilização dos seguintes iniciadores: inhA (orf) FW _ 5’-GAA CTC
GAC GTG CAA AAC-3’ e inhA (orf) RV_ 5’-CAT CGA AGC ATA CGA ATA-3’, gerando
um produto de 206pb e inhA (reg) FW_ 5’-CCT CGG TGC CCA GAA AGG GA-3’ e inhA
57
(reg) RV_ 5’-ATC CCC CGG TTT CCT CCG GT-3’, que gera um produto de 248pb,
conforme citado na tabela 2. A reação de amplificação e os iniciadores utilizados para
katG e inhA foram feitos conforme descrito por Silva et al., (2003 a). O DNA foi
amplificado pela PCR em 50 µL de reação contendo; MgCl
2
3mM; 0,2 mM de cada
deoxirribonucleosídeo trifosfato (dNTPs), 40 pmol de cada iniciador, 150 ng de DNA e
2,5 U de Taq DNA Polimerase.
As reações foram realizadas em um termociclador (MiniCycler TM - Hot Bonnet
PTC - 100/MJ Research, INC, USA) nas seguintes condições: 94°C por 2 min, seguido
de 55°C por 1 min e 72°C por 2 min, repetidos por 30 vezes.
5.9.2. Gene nat
Para a amplificação do gene nat foram utilizados 40 pmol de cada um dos
iniciadores nat1 F_ 5’-ATC GGT GCG ACA TAG TTG G-3’ e nat4 R_ 5’-GCC TTC TGC
TCA AAG TTG CT-3’ numa reação contendo: 2,5 mM MgCl
2
, 0, 2 mM dNTPs, 1U Taq
DNA polimerase (Invitrogen-Brasil), tamo 1X (10 mM Tris-HCl, 1, 5 mM MgCl
2
, 50
mM KCl, pH 8, 3), 10 % glicerol e 10 ng de DNA alvo, em um volume final de 100 µL.
As condições de amplificação foram respectivamente: uma desnaturação inicial a 95°C
por 5 min., seguidos por 40 ciclos de 95°C por 1min., 65°C por 1,30 min., 72°C por 1
min. e um ciclo de extensão final a 72°C por 4 min gerando um produto de 1069 pb,
conforme descrito por Vasconcellos (2007) (Tabela 2).
Tabela 2: Seqüência de oligonucleotídeos iniciadores utilizados para as reações de
PCR e Seqüenciamento dos genes investigados.
Gene
Seqüência
Tamanho (pb)
Referência
KatG
katG F_ 5’-CAT GAA CGA CGT CGA AAC AG-3’
katG R_ 5’-CGA GGA AAC TGT TGT CCC AT-3
232 pb
Silva et al. 2003a
58
inhA (orf)
inhA (orf) F_ 5’-GAA CTC GAC GTG CAA AAC-3’
inhA (orf) R_ 5’-CAT CGA AGC ATA CGA ATA-3
206 pb
Silva et al. 2003a
inhA (reg)
inhA F_ 5’-CCT CGG TGC CCA GAA AGG GA-3’
inhA R_ 5’-ATC CCC CGG TTT CCT CCG GT-3’
248 pb
Silva et al. 2003a
nat
nat1 F_ 5’- ATC GGT GCG ACA TAG TTG G-3’
nat4 R_ 5’-GCC TTC TGC TCA AAG TTG CT-3’
1069 pb
Vasconcellos, 2007.
nat
nat2 R_ 5’-GTC CTC GAG CCG ATA AGG GTT-3’
nat3 F_ 5’-CAC CGA CCT CAC CGC TTC-3’
74 pb
Vasconcellos, 2007.
5.10. Os fragmentos amplificados por PCR
Após uma eletroforese, os fragmentos amplificados foram visualizados em gel de
agarose 1,5%, corados com brometo de etidio (EtBr), sob iluminação ultravioleta. O
marcador de tamanho molecular utilizado foi o 100 pb ladder (Invitrogen™ Life
technologies).
Após a amplificação e checagem, os produtos dos genes katG e inhA foram
purificados, para retirada de excesso de iniciadores, pelo método PEG (Neisseria MLST
home page, http://pubmlst.org/neisseria/mlst-info/nmeningitids/pcr.shtml), que consiste
na transferência do conteúdo dos tubos de PCR para tubos de 1,5 mL, adição de 60 µL
de PEG 8000/ 2,5M NaCl. Incubação por 15 min a 37
o
C e, após esse tempo,
centrifugação na velocidade máxima por 10 min e descarte do sobrenadante com o
auxilio de uma pipeta. Adição de 500 µL de etanol 70% e centrifugação novamente na
velocidade máxima por 5 min. O sobrenadante foi descartado e o “pellet” secou no
termobloco a 90
o
C por 2 a 4 min e ressuspendido em 30 µL de água. Foi mantido a 4
o
C
por 2 dias para suspensão total e, em seguida armazenado a -20
o
C.
59
Para a purificação dos produtos amplificados do gene nat, a cada produto
amplificado foi adicionado 50 µL de acetato de amônia 7,5M e 150 µL de isopropanol, e
em seguida a mistura foi agitada vigorosamente e incubada por 10 min a temperatura
ambiente. Após a centrifugação por 10 min na velocidade máxima, o sobrenadante foi
cuidadosamente retirado e 400 µL de etanol 75% foram adicionados e submetidos à
nova centrifugação. Feito o descarte do sobrenadante, o DNA foi seco a temperatura
ambiente e ressuspendido em 30 µL de TE 1X (10mM Tris-HCl, 1mM EDTA, pH 8,0).
5.11. Seqüenciamento de DNA
5.11.1. Genes katG e inhA
Foram utilizados os oligonucleotídeos iniciadores conforme descrito por Silva et
al., 2003a (Tabela 2).
5.11.2. Gene nat
Foram utilizados os iniciadores descritos por Vasconcellos (2007) (Tabela 2).
Para o seqüenciamento do gene nat, devido ao tamanho da região de interesse,
dois pares de iniciadores foram utilizados. Um par flanqueando toda a rego
codificante, 852pb sendo um direto, anelando no nucleotídeo 69 pb no gene Rv3566A
abaixo do sítio de iniciação da tradução ATG e um reverso, 110 pb acima do códon de
parada no gene spB (fragmento de 1069pb) e um par interno sendo um direto, anelando
nucleotídeo 401, e um reverso anelando no nucleotídeo 455 do gene nat de forma a
criar uma sobreposição entre os dois fragmentos e cobrir toda a região codificante. Os
iniciadores internos nat2 R_ 5’-GTC CTC GAG CCG ATA AGG GTT-3e nat3 F_ 5’-
CAC CGA CCT CAC CGC TTC-3’, foram usados na reação de seqüenciamento, para
garantir que todo o fragmento fosse seqüenciado.
60
5.12. Seqüenciamento dos fragmentos
A reação da PCR para o seqüenciamento dos genes investigados, foi realizada
utilizando-se BigDye® Terminator Sequencing Standard Version 1.1 (Applied
Biosystems).
Para um volume de 10 µL (uma reação) foram usados 0,5 µL de BigDye®; 1,5 µL
de tamo para diluição 5X (Applied Biosystems); 0,55 µL do iniciador (3,2 pmol/µL) e
200 ng de produto amplificado purificado dos genes katG e inhA e 5-20ng de DNA
purificado do gene nat e H
2
O q.s.p. 10µL. As condições da reação foram as seguintes:
96
o
C por 10 s (desnaturação), 50
o
C por 5 s para anelamento dos iniciadores, 60
o
C por
4 min para extensão, totalizando 40 ciclos.
Os produtos da reação de seqüenciamento foram precipitados com a adição de
30µl de isopropanol 75%. Após 15 min de incubação a temperatura ambiente, essa
mistura foi centrifugada a 4000 rpm por 45 min a 20
o
C. O sobrenadante foi desprezado
e, então foi adicionado a cada poço das placas 50 µl de etanol 75%. Logo após, foi feita
uma agitação e seguida de centrifugação a 4000 rpm por 15 min a 20
o
C. Após a
centrifugação, as placas foram invertidas em papel toalha para a retirada do
sobrenadante e submetidas à secagem em um bloco quente por 10 min a 60
o
C. Antes
do seqüenciamento, os DNAs referentes às diferentes amostras foram desnaturados
através da adição de 10 µl de formamida (Hi-Di
TM
Applied Biosystems), e incubação
em termociclador por 3 min a 95
o
C. Em seguida, foram rapidamente resfriados em gelo
até terem sido colocados no seqüenciador automático ABI Prism 3100 (Applied
Biosystems).
5.13. Análise das Seqüências Obtidas
As seqüências obtidas foram visualizadas no programa Chromas Lite 2.01, que
permite a visualização de arquivos dos cromatogramas (gráficos) gerados pelo
seqüenciador automático da Applied Biosystems. As seqüências encontradas para cada
isolado foram comparadas e alinhadas com a seqüência padrão de M. tuberculosis
61
H37Rv (GenBank AL 123456), por meio dos programas BLAST (“Basic Local
Alignment Search Tool”) (NCBI/Blast) que alinham a seqüência fornecida com
seqüências depositadas no GenBank (Figuras 7 e 8).
Na figura 7 podem ser visualizados eletroferogramas de dois isolados, um deles
apresenta a mutação no códon 315 do gene katG e outro apresenta o gene wild type”,
ou seja, sem a mutação.
A- Eletroferograma de uma seqüência de nucleotídeos da região do códon 315 do gene katG, com mutação AGC-ACC
B- Eletroferograma de uma seqüência de nucleotídeos da região do códon 315 do gene katG, sem mutação (H37RV)
Figura 7 - Eletroferogramas de um isolado com mutação no códon 315 do gene katG e
outro sem essa mutação.
Na figura 8 podem ser visualizados dois isolados e um deles apresenta a mutação no
nucleotídeo 619 do gene nat e outro apresenta o gene “wild type”, ou seja, sem a
mutação.
62
A- Eletroferograma de uma seqüência de nucleotídeos com o SNP no nucleotídeo 619 do gene nat, com mutação GGA-
AGA
B- Eletroferograma de uma seqüência de nucleotídeos do gene nat, sem mutação (H37RV)
Figura 8 - Comparação entre eletroferogramas de um isolado com mutação no gene nat
(G619A) e outro sem essa mutação.
5.14. Análise Estatística
Para análise dos resultados foi utilizado o programa Epi Info 3.5.1.
5.15. Spoligotyping
A técnica foi realizada conforme Kamerbeek et al., (1997). A técnica denominada
“Spoligotyping(de “Spacer Oligotyping”) é baseada no polimorfismo existente na região
63
DR (“Direct Repeat”) de M. tuberculosis. A região DR consiste de um mero variável de
cópias de uma repetição direta de 36 pb, itercalada com seqüências específicas de
espaçadores de 35 a 41 pb.
Os oligonucleotídeos iniciadores DRa e DRb que anelam nas extremidades da
seqüência DR visando amplificar as seqüências espaçadoras entre duas DRs
(Kamerbeek et al, 1997) que foram utilizados o:
DRa: (5’biotinilado) – 5’ GGTTTTGGGTCTGACGAC 3’
DRb: 5’ CCGAGAGGGGACGGAAAC 3’
Os produtos amplificados foram hibridizados com um conjunto de 43
oligonucleotídeos imobilizados em uma membrana comercial previamente preparada,
cada um correspondendo a uma das seqüências únicas dos espaçadores dentro do
cus DR (Isogen, bioscience BV, Holanda).
As amostras diluídas foram aplicadas em canais paralelos de um miniblotter”
(Isogen, BioscienceBV, Holanda), de modo que ficassem perpendiculares às linhas de
oligonucleotídeos previamente imobilizados. A hibridização foi realizada por 60 min a
60
o
C em forno giratório (Hybaid Instruments, Holbrook, NY).
A detecção foi realizada pela sensibilização de um filme auto-radiográfico através
de uma reação de quimioluminescência, utilizando o Kit ECL™(Amersham Biosciences,
Inglaterra).
64
6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Este estudo foi avaliado e aprovado pelo Plenário do Comi de Ética em
Pesquisa em Seres Humanos e Animais da Universidade Luterana do Brasil, sob o
número de parecer CEP-ULBRA 2007-353H, por estar de acordo com as normas
vigentes na Resolução n 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde,
e em suas complementares (Resoluções 240/97, 251/97, 292/99, 303/00 e 340/04 do
CNS/MS) que regulamentam a pesquisa envolvendo seres humanos.
65
7. RESULTADOS
7.1. Perfil de susceptibilidade dos isolados de M. tuberculosis
Dos 47 isolados de M. tuberculosis, 41 foram caracterizados como resistentes
(R) e 06 sensíveis (S) a isoniazida (INH), definidos pelo método das proporções (MPLJ),
conforme Canetti et al., 1969. Os 06 isolados sensíveis eram provenientes do Estado
do Rio de Janeiro e foram usados como controles.
7.2. Análise do seqüenciamento de genes de M. tuberculosis associados à
resistência a INH
Dos 41 isolados resistentes, 28 (68,29%) deles não apresentaram mutações nos
genes katG e inhA quando seqüenciados, sendo considerados wild type” (WT) nesses
dois genes, e 13 (31,71%) isolados apresentaram mutação pontual no códon 315 do
gene katG. Todos os isolados investigados haviam sido caracterizados por
seqüenciamento quanto às mutações no gene ahpC em trabalho anterior (Dalla Costa
et al., 2008) e foram considerados selvagens (WT), ou seja, sem mutações neste gene.
7.3. Análise da presença de bomba de efluxo em isolados de M.
tuberculosis
Na figura 9 é mostrada a placa de 96 poços utilizada para a estimativa de CMI e
teste de mecanismo de efluxo ativo de 03 isolados ao mesmo tempo, sendo que para
cada um deles, foram utilizadas 3 colunas a fim de estimarmos a CMI na primeira
coluna, a possível inibição de efluxo com verapamil na segunda coluna, e na terceira, o
teste de inibição de efluxo com CCCP.
66
Nas cepas resistentes foi utilizado um ponto de corte (cut-off) de <0,20 g/mL
(Palomino et al. 2006).
Figura 9: Microplaca de 96 poços para investigação de CMI. Em verde, poços com
água, em azul, poços onde ocorreu inibição de crescimento, e em rosa onde ocorreu
crescimento bacteriano.
No grupo de 28 isolados sem mutação nos genes katG e inhA, foi possível
estimar a CMI em meio líquido com fármacos descritos como inibidores de sistema de
efluxo. Assim em 4 isolados distintos (14,29%) (um proveniente do Pará, um do Rio
Grande do Sul e dois isolados do Estado do Ceará) foi possível verificar a possibilidade
de um mecanismo de efluxo atuante. Os demais isolados desse grupo não
apresentaram modificação de CMI quando os inibidores de efluxo foram adicionados
(Tabela 3).
No isolado oriundo do Estado do Pará, a estimativa da CMI foi de 8 g/mL de
INH. Esse isolado não teve o sistema de efluxo inibido com a adição de verapamil a
100mM, continuando com a CMI no valor de 8 g/mL; porém, ao adicionar o outro
inibidor cssico desse sistema, o CCCP a 5mM, a estimativa da CMI diminuiu para o
valor referente à metade do valor da CMI do fármaco, ficando em 4 g/mL.
67
No isolado proveniente do Rio Grande do Sul, a estimativa da CMI foi de 4
g/mL, pom, esse isolado teve o mecanismo de efluxo atuante inibido com a adição
dos dois inibidores cssicos, o verapamil 100mM e o CCCP 5mM, apresentando assim
uma diminuição da CMI para 2 g/mL de INH.
Dois isolados do Ceará também demonstraram a possível inibição de sistema de
efluxo, no primeiro, a CMI foi estimada em 2 g/mL. Com a adição do verapamil, não foi
observada alteração quanto à CMI, permanecendo no mesmo valor; porém, ao
adicionar o CCCP, a CMI apresentou uma redução para 0,25 g/mL de INH. No
segundo isolado, a CMI foi estimada em 0,2 g/mL e teve o sistema de efluxo inibido
com a utilização dos dois inibidores, tendo a CMI estimada em 0,1 g/mL de INH.
Dos 13 isolados mutados no códon 315 do gene katG, apenas 03 apresentaram
1 possível sistema de efluxo ativo [23,08 % (03/13)], sendo 2 isolados do Ceará e 01 do
Rio de Janeiro.
No isolado do Rio de Janeiro, a CMI foi estimada em 4 g/mL. Quando testado
frente aos inibidores de bombas de efluxo, teve sua CMI mantida sem alterações com o
uso do verapamil, porém, houve uma redução frente ao CCCP, tendo a CMI observada
em 2 g/mL.
Os sistemas de efluxo nos isolados do Ceará apresentaram um comportamento
diferente um do outro. Nos dois isolados oriundos desse Estado, a estimativa da CMI foi
de 4 g/mL. Quando testados frente ao verapamil, tiveram a CMI estimada em 2 g/mL,
porém, o comportamento deles frente ao CCCP diferiu.
No primeiro isolado (CE-966), a CMI não sofreu alteração frente ao CCCP,
permanecendo em 4 g/mL, para o segundo isolado (CE-2338), o CCCP se mostrou
mais eficiente, promovendo uma redução de CMI para 1 g/mL.
Dentre os isolados mutados no códon 315 do gene katG, 10 (76,92 %) deles não
apresentaram efluxo ativo (10/13), sendo 4 isolados do Ceará, 3 do Rio de Janeiro e 3
do Rio Grande do Sul. Desses, 9 isolados [90 % (09/10)] tiveram a CMI estimada em
2 g/mL de INH. Apenas um isolado proveniente do Rio Grande do Sul (RS-318)
apresentou uma CMI de 0,1 g/mL (Tabela 3).
68
Tabela 3: Tabela com os resultados de CMI dos isolados de M. tuberculosis na
presença e na ausência de inibidores de sistema de efluxo.
Isolado
katG
CMI g/mL
CMI+ Vera 100mM** (g/mL)
CMI+CCCP 5mM (g/mL)
A-6906 WT
0,25 0,25 0,25
A-6972 WT 0,125 0,125 0,125
A-7390 WT
0,25 0,25 0,25
CE-3785 WT
1
1 1
CE-4067 WT 4 4 4
CE-4211 WT 1 1 1
CE-3159 WT 1 1 1
CE-3161 WT >32 >32 >32
CE-3478 WT
1 1 1
CE-588 * WT 0,2
0,1 0,1
CE-1602 * WT 2 2
0,25
CE-3920 WT 1 1 1
RS-361 WT 2 2 2
RS-363 WT 0,5 0,5 0,5
RS-345 WT 0,5 *** ***
RS-305 WT
1 1 1
RS-366 * WT 4 2 2
PA-861 * WT 8 8 4
PA-727 WT 16 *** ***
PA-988 WT >32 >32 >32
PA-694 WT
1 1 1
PE-114 WT >32 >32 >32
PE-143 WT
1 1 1
PE-144 WT 4 4 4
PA-1114 WT
0,1 0,1 0,1
MG-1795 WT 0,125 0,125 0,125
SP-40 (13411) WT >32 >32 >32
SP-53 WT 0,5 0,5 0,5
RJ-3669 S315I 4 4 4
RJ-3745 S315I 0,8 *** ***
69
RJ-3674 S315I 4 4 4
RJ-3666 * S315T 4 4 2
RS-302 S315T 2 2 2
RS-311 S315T >32 *** ***
RS-318 S315T
1 1 1
CE-1759 S315T
2 2 2
CE-3778 S315T
2 2 2
CE-4080 S315T
8 8 8
CE-3064 S315T
2 2 2
CE-966 * S315T 4 2 4
CE-2338 * S315T 4 2 1
* Isolados que tiveram o sistema de efluxo inibido;
** Vera: verapamil (inibidor de efluxo);
*** Indeterminado.
Dentre os vinte e quatro isolados R-INH sem mutação no códon 315 do gene
katG 85,71 % (24/28) não apresentaram um sistema de efluxo ativo, permanecendo a
CMI sem alterações com a adição dos inibidores. Desses, 15 [62,50 % (15/24)] isolados
apresentaram a CMI em 0,2 g/mL de INH. (Tabela 3).
7.4. Análise do gene nat de isolados de M. tuberculosis
Os 41 isolados de M. tuberculosis resistentes e sensíveis a INH tiveram o gene
nat analisado por sequenciamento. Dos que eram WT nos genes katG e inhA, em 4
(9,75 %) foi identificada a variante mutada 619
A, onde a substituição de uma
guanina (G) por uma adenina (A) no nucleotídeo 619 (Tabela 4). Esta é uma mutação
não sinônima, que promove a troca de um resíduo de glicina (G) por um resíduo de
arginina (R) na posição 207 da cadeia polipeptídica (G619A SNP : G207R; GlyArg :
GR). Foi identificada em dois isolados provenientes do estado do Pará, num isolado
oriundo do estado do Ceará e em outro isolado proveniente da Argentina.
70
A variante mutada 619 A não foi encontrada nos isolados considerados sensíveis
a INH pelo método das proporções. Neste trabalho, essa mutação não foi
observada em isolados com mutação pontual no códon 315 do gene katG.
Tabela 4: Mutações observadas no gene nat dos isolados de M. tuberculosis
Isolado
Sensibilidade
INH
Mutação
katG
Mutação
nat
Tipo de
mutação
Códon
nat
Alteração nat
A-6972
R
WT
G619A
Mutação não-
sinônima
GGA/AGA
GlyArg : glicinaarginina
(G207R)
PA-
727
R
WT
G619A
Mutação não-
sinônima
GGA/AGA
GlyArg : glicinaarginina
(G207R)
PA-
1114
R
WT
G619A
Mutação não-
sinônima
GGA/AGA
GlyArg : glicinaarginina
(G207R)
CE-588
R
WT
G619A
Mutação não-
sinônima
GGA/AGA
GlyArg : glicinaarginina
(G207R)
A-6906
R
WT
C276T *
Mutação
silenciosa
GCC/GCT
AlaAla :
alaninaalanina (A92A)
A-7390
R
WT
C373A *
C375G *
Mutação não-
sinônima
Mutação
silenciosa
CTC/ATG
AlaMet :
alaninametionina
(L125M)
71
CE-
3920
R
WT
C375G *
Mutação
silenciosa
CTC/CTG
LeuLeu :
leucinaleucina (L125L)
RS-345
R
WT
C375G *
T503G *
Mutação
silenciosa
Mutação não-
sinônima
CTC/CTG
ATG/AGG
LeuLeu :
leucinaleucina (L125L)
MetArg :
metioninaarginina
(M168R)
RS-363
R
WT
T503G *
Mutação não-
sinônima
ATG/AGG
MetArg :
metioninaarginina
(M168R)
CE-
4080
R
S315T
C375G *
Mutação
silenciosa
CTC/CTG
LeuLeu :
leucinaleucina (L125L)
RJ-3666
R
S315T
G501C *
Mutação
silenciosa
GCG/GCC
AlaAla : alaninaalanina
(A167A)
RJ-3669
R
S315I
G202A *
Mutação não-
sinônima
GGG/AGG
GlyArg : glicinaarginina
(G68R)
RJ-3745
R
S315I
G202A *
Mutação não-
sinônima
GGG/AGG
GlyArg : glicinaarginina
(G68R)
RS-311
R
S315T
C375G *
Mutação
silenciosa
CTC/CTG
LeuLeu :
leucinaleucina (L125L)
72
* Novas mutações identificadas no gene nat de M. tuberculosis ainda não descritas na literatura.
Foram identificadas mutações sinônimas (silenciosas) e não sinônimas ainda não
descritas na literatura. Dentre as silenciosas, foram observadas as mutações C276T,
C375G e G501C. No que se refere às mutações o-sinônimas, foram identificados os
SNPs G202A, C373A e T503G (Tabela 4).
Nos isolados resistentes a INH e WT nos demais genes investigados, foram
identificados dois SNPs sinônimos, ou seja, não troca de aminoácidos, e dois SNPs
não-sinônimos, que ocasiona a troca para um aminoácido diferente.
A mutação sinônina C276T (substituição de uma citosina por uma timina no
nucleotídeo 276) foi identificada em apenas um isolado (A-6906), e essa mutação não
promove a troca de aminoácidos (C276T SNP A92A ; AA : alaninaalanina).
A mutação C375G (substituição de uma citosina por uma guanina no nucleotídeo
375) tamm é considerada mutação silenciosa, pois não leva à troca de aminoácidos
na cadeia polipeptídica, tendo sido identificada em apenas dois isolados (CE-3920 e
RS-345).
No isolado A-7390 foram identificadas duas mutações simultâneas que
ocasionaram na troca de um resíduo de leucina por um resíduo de metionina na
posição 125 da cadeia polipeptídica, sendo a mutação não-sinônima C373A e a
mutação silenciosa C375G (C373A SNP + C375G SNP L125M ; LM :
leucinametionina).
Em dois isolados do Rio Grande do Sul (RS-345 ; RS-363) foi observada a
mutação não-sinônina T503G (substituição de uma timina por uma guanina no
nucleotídeo 503), a qual promoveu a troca de um resíduo de metionina por um resíduo
de arginina na posição 168 da cadeia polipeptídica (M168R ; MR :
metioninaarginina). Um deles (RS-345) apresentou a mutação sinônima C375G
simultaneamente à outra mutação.
Os isolados caracterizados como sensíveis a INH (S-INH) provenientes do Rio de
Janeiro, não apresentaram mutações no gene nat, sendo então, considerados
selvagens (WT) neste gene.
73
Nos isolados mutados no códon 315 do gene katG, foram identificadas duas
mutações silenciosas e uma mutação não-sinônima.
A mutação sinônima C375G (L125L) foi encontrada em dois isolados, um isolado
do Ceará (CE-4080) e o outro do Rio Grande do Sul (RS-311).
A outra mutação silenciosa foi observada em um isolado do Rio de Janeiro (RJ-
3666). A mutação G501C (substituição de uma guanina por uma citosina no nucleotídeo
501) não promoveu troca de resíduos de aminoácidos na cadeia polipeptídica (G501C
SNP; A167A).
Nos isolados RJ-3669 e RJ-3745 foi identificada uma mutação não-sinônima que
promove a troca de uma guanina por uma adenina no nucleotídeo 202, ocasionando a
troca de um resíduo de glicina por um resíduo de arginina na posição 68 da cadeia
polipeptídica (G202A SNP ; GlyArg : GR ; G68R). Essa mutação foi identificada nos
isolados nos quais foi observada a mutação S315I no gene katG, ou seja, com a troca
de um resíduo de serina por um resíduo de isoleucina na posição 315 da cadeia
polipeptídica.
Na figura 10 o mostradas as seqüências nucleotídica e traduzida do gene nat
de M. tuberculosis.
Seqüência traduzida :
Arilamina N-acetiltransferase – NAT – 284aa – (wt)
MALDLTAYFDRINYRGATDPTLDVLQDLVTVHSRTIPFENLDPLLGVPVDDLSPQALADKLVLRRRGGYCFEHNGLMGYVLAELG
YRVRRFAARVVWKLAPDAPLPPQTHTLLGVTFPGSGGCYLVDVGFGGQTPTSPLRLETGAVQPTTHEPYRLEDRVDGFVLQAM
VRDTWQTLYEFTTQTRPQIDLKVASWYASTHPASKVTGLTAAVITDDARWNLSGRDLAVHRAGGTEKIRLADAAAVVDTLSERF
GINVADIGERGALETRIDELLARQPGADAP
Seqüência codificante ( exons ) :
gene nat - 852 nt – (wt)
ATGGCACTGGATCTGACCGCGTACTTCGATCGCATCAACTATCGCGGCGCTACCGATCCAACCCTGGATGTTCTGCAGGA
TCTGGTGACCGTGCACAGTCGAACGATTCCGTTCGAGAACCTCGACCCGCTGCTGGGGGTGCCGGTCGACGACCTCAGT
CCACAGGCGCTGGCCGACAAGCTGGTACTTCGGCGCCGAGGCGGGTACTGCTTTGAGCACAACGGGCTGATGGGTTATG
TGCTGGCCGAACTCGGCTATCGGGTGCGCCGATTCGCCGCCCGCGTCGTCTGGAAGCTCGCGCCGGACGCGCCCCTGC
CGCCGCAGACGCACACCCTGCTGGGGGTCACGTTCCCCGGCTCGGGCGGATGCTATCTCGTCGACGTCGGATTCGGCG
GCCAAACACCGACCTCACCGCTTCGCCTCGAAACCGGCGCCGTCCAGCCGACAACGCACGAACCTTATCGGCTCGAGGA
CCGCGTCGACGGCTTTGTCTTGCAGGCGATGGTCCGGGACACATGGCAGACACTGTACGAATTCACCACCCAGACCCGC
CCGCAGATCGATCTGAAAGTGGCCAGCTGGTACGCCTCAACACACCCGGCATCGAAGTTCGTCACGGGACTGACCGCCG
CGGTGATCACCGACGACGCCCGGTGGAACCTATCTGGCCGCGACCTTGCCGTTCACCGTGCCGGTGGTACCGAGAAGAT
CCGCCTTGCCGATGCGGCAGCGGTTGTCGACACCCTGAGCGAACGGTTCGGGATCAACGTGGCAGATATCGGCGAGCGC
GGCGCGCTCGAGACGCGCATCGACGAGCTATTGGCTCGGCAGCCAGGAGCCGATGCGCCGTAA
74
Fonte:http://www.broad.mit.edu/annotation/genome/tbdb/GeneDetails.html?sp=S7000000635253893
Figura 10: Seqüências nucleotídica e traduzida do gene nat de M. tuberculosis H37Rv.
Os nucleotídeos assinalados correspondem às mutações encontradas.
7.5. Genotipagem dos isolados de M. tuberculosis
Todos os isolados resistentes a INH com ou sem mutação no gene katG, tiveram
seu perfil genotípico analisado pela técnica de Spoligotyping. Essas análises permitem
verificar a existência de famílias já descritas na literatura como predominantes em
determinadas regiões geográficas e relacionadas com a resistência (Rastogi & Sola,
2007).
Nos isolados R-INH com a variante mutada 619 A, a família genotípica “Latin
Americam and Mediterranean family” (LAM) teve uma freqüência de 50 % (02/04),
sendo um isolado da Argentina (A-6972) e um isolado do Ceará (CE-588). Dois isolados
do Pará (PA-727; PA-1114) foram caracterizadas como pertencentes às famílias T3 e
um spoligotipo “novo”, ou seja, um perfil ainda não depositado no banco mundial de
spoligos SpolDB4. Dois isolados, um da Argentina (A-6972) e do Cea (CE-588)
apresentaram o mesmo spoligotipo compartilhado internacionalmente (SIT), entretanto,
os outros dois isolados provenientes do Pará apresentaram SITs diferentes (tabela 5).
Tabela 5: Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com a variante mutada 619-
A.
Isolado
Sensibilidade INH
Mutação katG
Mutação nat
Spoligotyping
SIT
A-6972
R
WT
G619A
LAM3 S/ Convergente
4
R
WT
G619A
75
PA-727
T3 1655
PA-1114
R
WT
G619A
NOVO
Novo
CE-588
R
WT
G619A
LAM3 S/ Convergente
4
Nos 05 isolados R-INH sem mutação no códon 315 de katG, com novas
mutações identificadas em nat, ou seja, ainda não descritas, 4 famílias foram
observadas, entretanto, a família LAM foi a mais freqüente tendo (40 %)(Tabela 6).
Dois deles eram provenientes da Argentina (A-6906; A-7390) caracterizados
como pertencentes às famílias Beijing e um perfil genotípico “novo”, respectivamente.
Um isolado proveniente do Ceará (CE-3920) teve seu perfil genotípico definido como
LAM6.
Os isolados do Rio Grande do Sul apresentaram perfis genotípicos bem
diferentes um do outro. O isolado RS-345 teve o perfil definido como LAM9, enquanto o
isolado RS-363 apresentou o perfil da família T.
Tabela 6: Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com novos SNPs em nat
sem mutação no códon 315 do gene katG.
Isolado
Sensibilidade
INH
Mutação
katG
Mutação
nat
Tipo de mutação
Spoligotyping
SIT
A-6906
R
WT
C276T
Mutação silenciosa
BEIJING
1
A-7390
R
WT
C373A
Mutação não-
sinônima
NOVO
Novo
76
C375G
Mutação silenciosa
CE-
3920
R
WT
C375G
Mutação silenciosa
LAM6
64
RS-345
R
WT
C375G
T503G
Mutação silenciosa
Mutação não-
sinônima
LAM9
42
RS-363
R
WT
T503G
Mutação não-
sinônima
T4-
65
Os cinco isolados R-INH com mutação no códon 315 do gene katG, entre os
quais foram identificadas novas mutações em nat, pertenciam a duas diferentes
famílias, sendo que a família LAM foi a mais freqüente entre esses isolados (Tabela 7).
Os três isolados do Rio de Janeiro foram caracterizados com o perfil genotípico
referente à família LAM9, diferindo então, na mutação pontual no códon 315 do gene
katG e no gene nat. No isolado RJ-3666 foi observada a mutação S315T em katG
associada à mutação silenciosa G501C em nat, entretanto, nos outros 02 isolados RJ-
3669 e RJ-3745 foi observada a mutação S315I no gene katG associada à mutação
não-sinônima G202A no gene nat. Contudo, esses 2 isolados compartilharam o mesmo
SIT.
O isolado do RS-311 apresentou a mutação clássica em katG (S315T) e perfil da
família LAM5 e isolados CE-4080 apresentou perfil genotípico caracterizado como T1.
Apenas os dois isolados provenientes do Rio de Janeiro compartilharam o
mesmo SIT, os demais foram apresentaram SITs bem diferentes.
77
Tabela 7: Perfil genotípico dos isolados de M. tuberculosis com novos SNPs em nat
com mutação no códon 315 do gene katG.
Isolado
Sensibilidade INH
Mutação katG
Mutação nat
Tipo de mutação
Spoligotyping
SIT
CE-4080
R
S315T
C375G
Mutação silenciosa
T1
353
RJ-3666
R
S315T
G501C
Mutação silenciosa
LAM9
435
RJ-3669
R
S315I
G202A
Mutação não sinônima
LAM9
388
RJ-3745
R
S315I
G202A
Mutação não sinônima
LAM9
388
RS-311
R
S315T
C375G
Mutação silenciosa
LAM5
93
7.6. Isolados WT no gene katG e efluxo ativo
Dentre os 04 isolados sem mutação no códon 315 do gene katG e com
mecanismo de efluxo ativo, dois 02 eram provenientes do Estado do Ceará, 01 do Rio
Grande do Sul e 01 do Pará, sendo todos pertencentes família LAM. Dois isolados
compartilharam o mesmo SIT, um proveniente do Rio Grande do Sul (RS-366) e o outro
do Pará (PA-861), entretanto, os outros 2 isolados do grupo apresentaram SITs
diferentes. (Tabela 8).
78
Tabela 8: Genótipo dos isolados WT para o códon 315 do gene katG e presença de
mecanismo de efluxo.
Isolado
Mutação
katG
CMI
g/mL
CMI+Vera 100mM*
(g/mL)
CMI+ CCCP 5mM
(g/mL)
Spoligotyping
SIT
CE-
588
WT
0,2
0,1
0,1
LAM3
S/Convergente
4
CE-
1602
WT
2
2
0,25
LAM6
64
RS-366
WT
4
2
2
LAM3
33
PA-861
WT
8
8
4
LAM3
33
* Vera = verapamil (inibidor de efluxo).
7.7. Isolados com mutação no gene katG e efluxo ativo
No que se refere aos 13 isolados com mutação nodon 315 de katG, onde em
apenas 03 deles (23,08 %) foi observado um mecanismo de efluxo ativo, o perfil
genotípico foi caracterizado como pertencentes à 3 famílias distintas. Sendo um isolado
proveniente do Rio de Janeiro (RJ-3666) caracterizado como pertencente a família
LAM9, um isolado do Ceará (CE-966) caracterizado como X2 e outro também do Ceará
(CE-2338), como genotípico U.
Todos os isolados apresentaram SITs diferentes (Tabela 9).
79
Tabela 9: Genótipo dos isolados com mutação no códon 315 do gene katG e presença
de mecanismo de efluxo.
Isolado
Mutação katG
CMI g/mL
CMI+ Vera
100mM*
(g/mL)
CMI+CCCP
5mM (g/mL)
Spoligotyping
SIT
RJ-3666
S315T
4
4
2
LAM9
435
CE-966
S315T
4
2
4
X2
1341
CE-2338
S315T
4
2
1
U
1241
* Vera = verapamil (inibidor de efluxo).
7.8. Isolados WT nos genes investigados e ausência de efluxo
Dezesseis isolados R-INH considerados “wild type” nos genes katG, inhA e nat e
sem mecanismo de efluxo ativo foram genotipados.
No grupo composto por 16 isolados, 06 eram provenientes do Ceará, 1 de Minas
Gerais, 2 do Pará, 3 oriundos do Perú, 2 do Rio Grande do Sul e 2 de São Paulo, e a
família LAM foi a mais freqüente [31,25 % (05/16)], entretanto, alguns isolados
apresentaram perfis genéticos bem diferentes de LAM. (Tabela 10).
Sendo que os 02 isolados provenientes do Pará (PA-694 ; PA-988) apresentaram
perfis “novos”, ainda não depositados no SpolDB4.
Apenas os isolados provenientes do Estado do Rio Grande do Sul
compartilharam o mesmo SIT. Os demais apresentaram SITs diferentes.
80
Tabela 10: Genotipagem dos isolados WT para os genes investigados e ausência de
mecanismo de efluxo.
Isolado
Mutação
katG
Mutação
nat
CIM
(g/mL)
CIM+vera 100
mM* (g/mL)
CMI+CCCP 5
mM (g/mL)
Spoligotyping
SIT
CE-3159
WT
WT
1
1
1
NOVO
2342
CE-3161
WT
WT
>32
>32
>32
LAM3
1354
CE-3478
WT
WT
1
1
1
LAM6
64
CE-3785
WT
WT
1
1
1
LAM5
93
CE-4067
WT
WT
4
4
4
U
1241
CE-4211
WT
WT
1
1
1
LAM9
4211
MG-1795
WT
WT
1
1
1
LAM5
176
PA-694
WT
WT
1
1
1
NOVO
20
PA-988
WT
WT
>32
>32
>32
NOVO
60
PE-114
WT
WT
>32
>32
>32
T1
53
PE-143
WT
WT
1
1
1
BEIJING
1
PE-144
WT
WT
0,125
0,125
0,125
T1
508
RS-305
WT
WT
1
1
1
X2
119
RS-361
WT
WT
2
2
2
X1
119
SP 40
(13411)
WT
WT
>32
>32
>32
Haarlem3
335
81
SP-53
WT WT 0,5 0,5 0,5 Haarlem3 50
* Vera = verapamil (inibidor de efluxo).
7.9. Isolados com mutação em katG e ausência de efluxo
Seis isolados R-INH (46,15%), mutados no códon 315 de katG, sem alterações
observadas em outros genes, e com mecanismo de efluxo ausente, também foram
genotipados, sendo 3 deles eram provenientes do Ceará, 1 do Rio de Janeiro e 3 do
Rio Grande do Sul. Sendo, novamente a família LAM a mais freqüente, com os isolados
pertencendo a diferentes SIT (Tabela 11).
Tabela 11: Genotipagem dos isolados mutados no códon 315 do gene katG e ausência
de mecanismo de efluxo.
Isolado
Mutação
katG
Mutação
nat
CIM
(g/mL)
CIM+vera 100
mM * (g/mL)
CMI+CCCP 5 mM
(g/mL)
Spoligo
SIT
CE-1759
S315T
WT
2
2
2
Haarlem3
50
CE-3064
S315T
WT
2
2
2
LAM9
42
CE-3778
S315T
WT
2
2
2
LAM2
1691
RJ-3674
S315T
WT
4
4
4
LAM9
435
RS-302
S315T
WT
2
2
2
NOVO
novo
RS-318
S315T
WT
1
1
1
Haarlem3
50
*Vera: verapamil (inibidor de efluxo).
82
7.10. Isolados com mutação em nat e presença de efluxo
Em dois isolados foi observado os dois mecanismos, o efluxo ativo e mutação no
gene nat, sendo um proveniente do Ceará (CE-588) e outro do Rio de Janeiro (RJ-
3666).
No isolado CE-588, considerado WT para o códon 315 do gene katG, foi
identificada a presença da variante mutada 619-A e o mecanismo de efluxo. A inibição
desse sistema ocorreu com a adição dos 2 inibidores utilizados, o verapamil e o CCCP,
promovendo uma redução de CMI de 0,2 µg/mL para 0,1 µg/mL.
No entanto, no isolado RJ-3666 foram identificadas mutação em katG e nat, ou
seja, a alteração S315T e a mutação silenciosa G501C, respectivamente. A inibição do
efluxo ocorreu com o uso de CCCP, permanecendo a CMI sem alterações com o uso
do verapamil. Houve uma redução na CMI de 4 µg/mL para 2 µg/mL de INH.
83
8. DISCUSSÃO
Vários estudos têm sido conduzidos de forma a detectar mutações em genes
conhecidos ou mesmo outros genes envolvidos na resistência a INH, assim como a
descrição e pesquisa de outros mecanismos moleculares na resistência, como o
mecanismo de efluxo nas bactérias; entretanto, esses mecanismos ainda necessitam
de maiores estudos, mas sabe-se que alguns genes estão diretamente associados à
resistência a INH, como por exemplo, os genes katG, ahpC e inhA (Barnerjee et al.,
1994; Sherman et al., 1996; Wilson & Collins, 1996), gene nat (Payton et al., 1999,
Upton et al., 2001a, Upton et al., 2001b, Sandy et al. 2002, Kawamura et al. 2003,
Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005, Sandy et al. 2005b) e extrusão do fármaco pelo
mecanismo de efluxo (Piddock, 2006).
Estudos demonstram que esta enzima pode acetilar a INH in vitro (Payton et al.,
1999, Upton et al., 2001a, Upton et al., 2001b Sandy et al. 2002, Kawamura et al. 2003,
Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005, Sandy et al. 2005b), e, quando um isolado de M.
tuberculosis cresce in vitro na presença de INH, um aumento significativo da
expressão deste gene. (Sholto-Douglas-Vernon et al., 2005). Recentemente, foi
observado o envolvimento do gene nat na síntese de ácidos micólicos e derivados da
parede celular micobacteriana (Bhakta et al., 2004, Madikane et al., 2007). Em
humanos, a enzima NAT2 é responsável pela inativação da INH através da acetilação
(Upton et al., 2001b).
Conseqüentemente, o objetivo deste estudo foi investigar o papel desses dois
mecanismos moleculares na resistência a INH, ou seja, a presença de um sistema de
efluxo ativo e mutações no gene nat, investigando uma possível extrusão do fármaco
INH do meio intracelular, por meio de proteínas transportadoras, e a presença de
mutações no gene nat, que em estudo prospectivo, levarão à investigação de possíveis
mudanças na conformação da estrutura da enzima, assim como, uma possível
alteração na taxa de acetilação da INH pela enzima NAT, através de simulações in
silico.
Para tanto, a possível presença de sistema de efluxo ativo foi investigada através
84
da estimativa da Concentração Mínima Inibitória (CMI) em meio líquido, na presença de
INH, com posterior teste de inibição do mecanismo de efluxo utilizando-se de inibidores
clássicos desse sistema, como o verapamil e CCCP para cada isolado, e em cada
isolado o gene nat foi completamente seqüenciado.
No intuito de identificar associações entre tais fatores, cada isolado considerado
resistente ao fármaco pelo método das proporções teve descrito as características
moleculares dos genes envolvidos com a aquisição de resistência a isoniazida, o códon
315 do gene katG e a região regulatória ou promotora e a seqüência aberta de leitura
(orf) ou estrutural do gene inhA, por meio do seqüenciamento de DNA, considerado
padrão ouro”, assim como, seu perfil genotípico investigado pela cnica de
Spoligotyping.
O método de proporções (MP-LJ) (Canetti et al.,1969), é um método que
determina a relação proporcional de isolados resistentes e sensíveis, presentes numa
amostra clínica, através do cultivo em meio de cultura sólido com ou sem as drogas
usadas no tratamento da TB. Com base no número de unidades formadoras de colônia
no meio com droga em relação ao sem droga, se determina a fração da população
bacteriana resistente. Quando esse valor é maior do que a fração definida para a droga
(entre 1 e 10%), a população bacteriana é considerada resistente.
Para este estudo, foi selecionada uma população composta por 47 isolados de
M. tuberculosis, já caracterizados pelo método de proporções (MPLJ), sendo 41 deles
considerados resistentes e 06 sensíveis a INH. Os isolados sensíveis foram incluídos
para servirem como controle para a futura comparação com outros trabalhos
semelhantes.
Dentre os 41 isolados resistentes a INH (R-INH) pelo MPLJ, 28 isolados não
apresentaram alterações no códon 315 gene katG, sendo considerados então,
selvagens (WT); entretanto, em 13 deles foi observada a mutação pontual no códon
315 do gene katG, sendo que em 11 isolados ocorreu a troca de um resíduo de serina
por um resíduo de treonina (S315T) e em 02 isolados foi observada a mutação S315I,
ou seja, a troca de um resíduo de serina por um resíduo de isoleucina na cadeia
polipeptídica da enzima KatG.
85
Nenhuma mutação foi observada no gene inhA na amostragem de 41 isolados R-
INH.
Para a inferência das CMIs e investigação do mecanismo de efluxo dos 41
isolados R-INH investigados, foi utilizado o método REMA descrito por Palomino et al.,
(2002), em meio líquido.
A resistência devido ao efluxo é caracteristicamente dependente de energia, seja
aquela gerada pela força próton-motora ou da hidrólise de ATP (Silva et al., 2001),
portanto, dois inibidores clássicos de mecanismos de efluxo foram utilizados na
investigação, o CCCP e o verapamil, respectivamente.
Sabe-se que o CCCP atua inibindo proteínas de transporte que utilizam a força
próton-motora da membrana plasmática (famílias RND, SMR, MATE e MFS), enquanto
o verapamil, é considerado um inibidor mecânico, ou seja, atua inibindo bombas menos
seletivamente que o CCCP (De Rossi et al., 2006). Entretanto, é relatado na literatura
que o verapamil pode inibir bombas que utilizam a hidrólise de ATP (De Rossi et al.,
2006).
A primeira bomba de efluxo MDR caracterizada em humanos foi a Glicoproteína-
Permease (P-gp) e é considerada responsável pela resistência de uma grande
variedade de drogas citotóxicas via efluxo dependente de ATP. É classificada como
pertencente à família ABC, a única família cujo mecanismo utiliza a hidrólise de ATP
(Paulsen, 2003, Moreira et al., 2004) e o verapamil é um inibidor bem conhecido desta
bomba (De Rossi et al., 2006).
Os genes drrAB (do operon drrABC) de M. tuberculosis, da família ABC (ATP-
Binding Cassette) quando superexpressos em M. smegmatis, conferiram resistência à
uma gama de antibióticos clinicamente relevantes, incluindo, tetraciclina, eritromicina,
etambutol, norfloxacina, estreptomicina e cloranfenicol (Choudhuri et al., 2002).
Demonstraram ser possível reverter um fenótipo resistente com o uso de reserpina e
verapamil, sendo possível inferir que o verapamil atue, tamm, inibindo bombas MDR
dependentes de ATP (Choudhuri et al., 1999).
Neste estudo, dos 28 isolados R-INH sem mutação no códon 315 do gene katG
e inhA, apenas 04 deles apresentaram um mecanismo de efluxo, o que representou
14,29%. Um isolado (CE-588) mostrou uma redução na CMI de 0,2 µg/mL para 0,1
86
µg/mL de INH, com a utilização de ambos inibidores. Esses resultados sugerem que
exista neste isolado R-INH, uma possível participação de sistema de efluxo com
proteínas transportadoras via efluxo dependente de ATP e força próton-motora, ou seja,
possivelmente a participação de proteínas pertencentes a famílias diferentes, atuando
em sinergia.
Entretanto, outro isolado (CE-1602) apresentou um comportamento diferente,
demonstrando uma redução significativa de CMI somente na presença do CCCP, de 2
µg/mL para 0,25 µg/mL. Neste isolado é possível inferir que o sistema de efluxo atue
com o auxílio da força próton-motora, cuja inibição poderia ocorrer com a
despolarização da membrana plasmática, o que é promovida pelo uso de CCCP.
o isolado proveniente do Rio Grande do Sul (RS-366) teve o mecanismo de
efluxo inibido com a utilização dos dois inibidores, apresentando uma redução de CMI
de 4 µg/mL para 2 µg/mL de INH, ou seja, inibindo mecanismos de efluxo que atuavam
via efluxo dependente de hidrólise do ATP e via força próton-motora.
Entretanto, para o isolado proveniente do Pará (PA-861), houve uma redução de
CMI apenas com a adição de CCCP, podendo inferir que neste isolado, o mecanismo
de efluxo era ativo via força próton-motora, descartando a possibilidade de que
proteínas transportadoras da família ABC estivessem atuando. É relatado que as
proteínas da família ABC, utilizam a hidrólise de ATP e são consideradas as mais
antigas evolutivamente (De Rossi et al., 2006, Piddock, 2006).
Percebe-se que 2 isolados (CE-1602 ; PA-861) tiveram o possível mecanismo de
efluxo inibido apenas com a utilização do ionóforo CCCP, e os outros 2 (CE-588 ; RS-
366), com o uso dos 2 inibidores (Choudhuri et al., 2002).
O comportamento dos isolados CE-1602 e PA-861 de nosso estudo, estão em
conformidade com os dados relatados por Pasca et al., 2005, em que foi verificado que
o verapamil não apresenta efeito na redução dos níveis de CMI para INH em isolados
de M. smegmatis com o gene MmpL7 de M. tuberculosis expresso, sendo atribuído à
essas proteínas, altos níveis de resistência a INH quando superexpressas em M.
smegmatis.
Demonstraram uma redução de 8 vezes na taxa de CMI frente ao uso de CCCP
e classificaram esse gene como responsável pelo efluxo de INH por um mecanismo
87
dependente de energia, pertencente à família RND, que até então, haviam sido
descritas somente em bactérias gram-negativas (Pasca et al., 2005).
Já os isolados (CE-588 ; RS-366), tiveram o possível mecanismo de efluxo
inibido com a ação dos 2 inibidores, apresentando um comportamento semelhante ao
relatado por Choudhuri et al., (1999).
Choudhuri et al., (1999), demonstraram num estudo que o acúmulo de INH em
M. smegmatis é aumentado pela adição de um desacoplador de força próton-motora, e
por um inibidor de efluxo dependente de ATP, fornecendo assim, evidências de que
ambos os mecanismos de efluxo, seja dependente de energia ou dependente de ATP,
podem estar envolvidos no efluxo de INH neste microrganismo.
De acordo com nossos dados é possível inferir, então, que nestes dois isolados,
as proteínas transportadoras pertencem a famílias diferentes, devido à inibição de CMI
com um mecanismo de ação diferenciado, o que tornou o bacilo da TB mais suscetível
à ação do fármaco.
Dentre os isolados com mutação no códon 315 do gene katG, em 23,08%
(03/13) deles foi observado um possível um mecanismo de efluxo, Nestes isolados foi
observada a alteração clássica no códon 315 da cadeia polipeptídica, onde a troca
de um resíduo de serina por um resíduo de treonina.
O isolado proveniente do Rio de Janeiro (RJ-3666) apresentou sua CMI estimada
em 4 µg/mL de INH, e, com a adição do CCCP, foi observada uma redução para 2
µg/mL; entretanto, não houve alteração na CMI com o uso de verapamil, podendo inferir
que, neste isolado, as proteínas de extrusão de INH utilizam a força próton-motora para
atuar, porém, o é possível caracterizar uma família específica (famílias RND, SMR,
MATE e MFS).
No isolado CE-966, foi observado que o verapamil teve sucesso na inibição de
um possível mecanismo de efluxo, apresentando uma redução de 4 µg/mL para 2
µg/mL de INH, sendo provável que as proteínas de efluxo ativas neste isolado
pertençam à família ABC. Entretanto, no isolado CE-2338, o uso dos dois inibidores foi
eficaz, causando uma redução de CMI de 4 µg/mL para 2 µg/mL com o uso de
verapamil e, para 1 µg/mL com CCCP, sendo possível inferir, então, a participação de
88
várias proteínas de extrusão, estando mais uma vez em concordância com os dados
publicados por Choudhuri et al., (1999).
As mutações identificadas no gene katG, geralmente no códon 315 (S315T),
provocam uma diminuição na capacidade de ativar INH, ocorrendo assim, uma
diminuição na atividade da peroxidase (Wengenack et al., 1997). Entretanto, é relatado
que cerca de 30% a 40% da atividade inicial da catalase permanece mesmo quando
esta alteração é observada no gene katG (Rouse et al., 1996). Silva et al., (2003
a),
apontam a alteração S315T como a mais freqüentemente relacionada à resistência a
INH.
Sendo possível que esse percentual de atividade da enzima KatG ainda
permaneça ativando uma certa taxa de INH, o que tornaria o bacilo suscetível ao
fármaco, é possível pensar que esses isolados mutados no códon 315 do gene katG
que apresentaram um possível sistema de efluxo, tenham desenvolvido ou ativado esse
mecanismo ou superexpresso essas proteínas de extrusão na tentativa de proteger o
meio intracelular do bacilo de um ambiente hostil, que a INH estaria inibindo em
parte, a síntese dos ácidos micólicos da parede. Isso poderia ocorrer até que o
microrganismo desenvolvesse ou ativasse outras formas mais rápidas de resistência.
Em geral, as bombas de efluxo de drogas conferem baixos níveis de resistência,
em contraste com os altos níveis de resistência conferidos por mutações em genes que
codificam os alvos primários desses agentes (De Rossi et al, 2002).
Contudo, no que se refere aos isolados sem mutação nos genes relacionados à
resistência a INH, porém resistentes pelo MP-LJ, seria aceitável pensar que esses
isolados utilizariam o mecanismo de efluxo para a sobrevivência, até que isolados
mutantes com mutações adicionais ou outros mecanismos moleculares desenvolvidos
ou ativados fossem selecionados, com o intuito de desenvolver níveis de resistência
clinicamente relevantes (Webber & Piddock, 2003).
Spies (2007) investigou a possível contribuição de sistemas de efluxo em
isolados de M. tuberculosis na resistência a estreptomicina (R-SM) e verificou que entre
isolados que apresentaram diminuição na CMI frente ao uso de inibidores, 61% deles
89
não apresentaram mutações nos genes rpsL e rrs relacionados à resistência à essa
droga e 39 % dos isolados possuíam mutações nesses genes.
Em nosso trabalho, dentre os isolados que diminuíram a CMI com o uso de
inibidor, observamos uma freqüência de 14,29% de isolados sem mutações nos genes
relacionados com a resistência a INH (katG e inhA) e de 23,08% dos isolados com
mutação no códon 315 do gene katG.
No que se refere aos isolados que não tiveram um mecanismo de efluxo
observado, Spies (2007) observou que 32 % deles o apresentavam mutações nos
genes relacionados à resistência a SM e em 68 % foram observadas mutações.
Em nosso estudo, 76,92 % dos isolados apresentaram alteração no códon 315
do gene katG e em 85,70 % dos isolados não foram observadas mutações.
Dentre os isolados WT para o códon 315 do gene katG e com um sistema de
efluxo inibido, a família “The Latin American and Mediterranean Family” (LAM) se
mostrou prevalente, o que era esperado que a família LAM é considerada
predominante nas Américas (Gomes, 2006, Dalla Costa et al., 2008).
Os dois isolados provenientes do Ceará (CE-588 ; CE-1602) foram
caracterizados como pertencentes à família LAM, sendo classificados nos subtipos
LAM3 S/Convergente e LAM6, respectivamente. Entretanto, o fato de apresentarem
SITs (“shared international types”) diferentes deve ser levado em consideração.
O isolado CE-588 foi classificado como SIT 4 e o isolado CE-1602, como SIT 64.
Isso exclui a possibilidade de clonalidade entre esses dois isolados provenientes do
mesmo Estado.
os isolados RS-366 e PA-861 apresentaram o perfil genotípico do subtipo
LAM3 e compartilharam o mesmo SIT, número 33 e a possibilidade de clonalidade entre
eles deve ser investigada com o uso da técnica de DRE-PCR.
Os isolados com o mecanismo de efluxo inibido e mutação no don 315 do
gene katG (S315T), foram classificados com perfis genotípicos e SITs totalmente
diferentes, excluindo qualquer possibilidade de clonalidade entre eles, sendo o isolado
RJ-3666 com perfil LAM9 e SIT 435, o isolado CE-966, com perfil da família X, subtipo
X2 e SIT 1341 e o CE-2338, com perfil genotípico característico da família U e SIT
90
1241.
Neste estudo, não foi possível inferir a associação entre o possível mecanismo
de efluxo ativo e um determinado perfil genotípico, ou família. Para maiores conclusões,
se faz necessário, uma investigação com amostragem maior, na tentativa de pesquisar
a freqüência de determinada família em isolados com esse sistema ativo.
Dezesseis isolados R-INH [39,02 % (16/41)] considerados WT nos genes katG,
inhA e nat. Quando testados frente aos inibidores de efluxo, mantiveram sua CMI sem
alterações. Esse grupo é composto por 6 isolados do Ceará, 1 de Minas Gerais, 2
isolados do Pará, 3 provenientes do Peru, 2 do Rio Grande do Sul e 2 de São Paulo e a
família LAM foi a mais prevalente neste grupo.
Os isolados foram genotipados e apresentaram SITs diferentes, o que excluiu a
possibilidade de clonalidade entre eles, entretanto, os dois isolados provenientes do Rio
Grande do Sul, SIT 119, devem ser investigados por um método com poder
discriminatório maior, como por exemplo, DRE-PCR.
Sabe-se que determinados genótipos têm sido associados à resistência aos
fármacos usados no tratamento da tuberculose, como por exemplo, os genótipos
Beijing/W e Haarlem (Marais et al., 2006). Os isolados da família Beijing são descritos
como tendo uma grande capacidade de se disseminar mais rapidamente do que outras
linhagens (Rad et al., 2003).
O isolado proveniente do Perú (PE-143), teve a CMI estimada em 1 µg/mL de
INH e perfil genotípico foi caracterizado como Beijing. Não foram identificadas mutações
em nenhum dos genes investigados, tampouco, um mecanismo de efluxo ativo,
contudo, o seu perfil Beijing poderia estar contribuindo na resistência a INH. Ainda
neste caso, o se pode excluir a possibilidade de outro mecanismo molecular ou
mutações em outros genes ainda não relacionados com a resistência a INH estarem
atuando.
Dois isolados apresentaram o perfil característico da família Haarlem,
compartilhando SITs diferentes, excluindo assim a possibilidade de clonalidade.
O isolado SP-40(13411) teve sua CMI estimada em > 32 µg/mL de INH, um nível
91
considerado alto para resistência à esse fármaco, já o isolado SP-53 teve a CMI
estimada em 0,5 µg/mL. Segundo Ritacco et al., (1997), o genótipo Haarlem parece
favorecer o aparecimento de linhagens TB-MDR, e foi associada com surtos na
Argentina. É possível que esse genótipo possa ter uma contribuição na resistência.
De acordo com Heifets (2000), isolados de M tuberculosis com CMI a partir de
2,5 µg/mL são considerados de alta resistência.
Em 3 isolados (CE-3159 ; PA-694 ; PA-988) cujas CMIs correspondem a 1, 1 e
> 32 µg/mL de INH, respectivamente, tiveram o perfil genotípico definido como um perfil
“novo”, ainda não depositado no SpolDB4, tornando difícil uma associação desse perfil
com a resistência nesse momento, já que não se têm informações acerca dele.
Entretanto, não podemos excluir a possibilidade deste genótipo novo ter a capacidade
de influenciar de certa forma, os níveis de resistência a INH.
Cinco isolados foram caraterizados como LAM, todos com SITs diferentes, sem a
possibilidade de serem clones. Cabe ressaltar que os isolados CE-3161 e CE-4211
tiveram as CMIs estimadas em >32 µg/mL e 1 µg/mL, respectivamente, o pode ser
considerado altamente resistente. Os demais do grupo ficaram em 1 µg/mL.
Lazzarini et al., 2007, identificaram uma rego de deleção específica designada
RD
RIO
(Região de Deleção), considerada uma longa seqüência polimórfica (>26,3 kb),
que parece estar ligada a certos subtipos de família LAM, em isolados do Rio de
Janeiro, Brasil.
Sugerem que isolados portadores dessa região de deleção (RD) possam causar
uma forma de TB com uma apresentação clínica distinta, podendo estar relacionado
com alta virulência, transmissibilidade e/ou adaptação específica na população
hospedeira Euro-Latino-Americana. Ao interpretar os dados genéticos fornecidos, eles
sugerem que esse polimorfismo possa tornar o isolado de M. tuberculosis muito mais
patogênico e possivelmente mais infeccioso do que as cepas selvagens (Lazzarini et
al., 2007).
Dois isolados provenientes do Peru (PE-114 ; PE-144) com CMIs estimadas em
> 32 µg/mL e 0,125 µg/mL, respectivamente, sendo caraterizados como família T,
92
subtipo T1, porém compartiharam SITs diferentes, não sendo então considerados
clones. É considerada a família das cepas modernas de TB, entretanto, ainda o está
bem caracterizada, permanecendo com mais de 600 perfis (SITs) não agrupados. É
encontrada em quase todos os continentes, e quase 30 % das entradas no SpolDB4
são de isolados da família T (Brudey et al., 2006).
Dois isolados do Rio Grande do Sul (RS-305 ; RS-361) com CMIs estimadas em
1 µg/mL e 2 µg/mL de INH, respectivamente. Ambos os isolados foram agrupados na
família X, com subtipos X2 e X1. Segundo Rastogi & Sola (2007), a distribuição desta
família parece estar ligada aos países Anglo-Saxões. É altamente prevalente na África
do Sul e Estados Unidos da América.
Segundo Brudey et al., (2006), essa familia tem uma prevalência de 21,5 % nos
Estados Unidos e de 11, 9% na América Central.
Em estudo realizado no Brasil (Silva et al., 2003a), 12,5% dos isolados dados
como resistentes a INH pelo MP-LJ não apresentavam mutações nos genes
relacionados à resistência. Segundo Viveiros et al., (2003), de 20-30% de todos os
isolados resistentes podem o apresentar mutações nos genes katG e inhA, indicando
que nesses isolados a resistência pode ocorrer por indução de bombas de efluxo.
Nossos resultados sugerem neste caso, que a resistência desses isolados, não
pode ser atribuída às mutações clássicas, tampouco, um sistema de efluxo ativo.
Salientam a idéia de investigações maiores na tentativa de identificar outros genes ou
mecanismos envolvidos na resistência a INH, associados à pesquisa na área da
Epidemiologia Molecular.
Seis isolados com mutação no don 315 do gene katG, não apresentaram
efluxo ativo, tampouco, mutações foram observadas nos outros genes investigados.
Isso correspondeu em 46,15 % dos isolados (06/13). Deste grupo fazem parte 3
isolados provenientes do Ceará, 1 do Rio de Janeiro e 2 do Rio Grande do Sul.
Silva et al., 2003 a, investigaram 69 isolados R-INH randomicamente
selecionados de 3 estados brasileiros, num período de 1996 a 1999, e observaram que
87,1 %, 60,9 % e 60 % de isolados, provenientes do RS, RJ e SP, respectivamente,
portavam a alteração S315T.
93
Os 3 isolados com perfil da família LAM (CE-3064 ; CE-3778 ; RJ-3674) tiveram
suas CMIs estimadas em 2 µg/mL, 2 µg/mL e 4 µg/mL de INH. Como citado
anteriormente, Lazzarini et al., (2007) sugerem que a presença da região de diferença
RD
RIO
pode estar associada ao desenvolvimento de altos níveis de resistência em
isolados do Rio de Janeiro. Seria de grande valia, investigar em estudo posterior, a
presença deste polimorfismo nestes isolados, já que entre eles, um proveniente
daquele Estado, o qual apresenta a maior estimativa de CMI de seu grupo.
Dois isolados provenientes do Rio Grande do Sul (RS-302 ; RS-318) também
fazem parte deste grupo.
No isolado RS-302 além da alteração S315T, teve CMI estimada em 2 µg/mL e
foi caracterizado como um perfil genotípico “novo”. Entretanto, são necessários maiores
estudos a fim de atribuir, ou não, a resistência a INH observada neste isolado à esse
perfil. Dessa forma, poderíamos sugerir que, a resistência observada, pode ser
atribuída em parte à alteração S315T.
Entretanto, nos isolados CE-1759 e RS-318 foi observada a alteração S315T e
perfil Haarlem, simultaneamente, e como citado anteriormente, o perfil Haarlem está
associado à resistência aos fármacos anti-TB, em isolados de M. tuberculosis R-INH, o
genótipo Haarlem foi associado à alta freqüência de mutação no codón 315 (Marais et
al., 2006). Sugere-se, então, que nestes isolados esses dois mecanismos de
resistência, a alteração e o genótipo, estejam atuando sinergicamente.
Upton et al. (2001
a e b) investigaram o papel do gene nat (NAT2) em humanos e
perceberam se tratar de um gene polimórfico genética e funcionalmente, e a partir
disso, começaram a investigar polimorfismos no gene nat de M. tuberculosis e sua
possível relação com a resistência a INH. Observaram o SNP G619A numa
amostragem randômica de 73 isolados provenientes da África do Sul. Essa mutação
promove a troca de um resíduo de glicina por um de arginina na posição 207 da cadeia
polipeptídica (G207R), sendo observada uma freqüência de 18% (13/73) e sugerem
que essa mutação esteja associada a pequenas alterações na CMI (Upton et al., 2001
a
e b).
Sholto-Douglas-Vernon et al., (2005) também identificaram esse SNP numa
94
amostragem randômica de 468 isolados, com freqüência de 20% (193/468)
provenientes, também, da África do Sul.
Em nosso estudo, o SNP G619A foi identificado em apenas 04 isolados (04/41) e
considerando o número geral de isolados R-INH, corresponde a uma freqüência de
9,76%, sendo bem menor do que as freqüências observadas por Upton et al., (2001b) e
Sholto-Douglas-Vernon et al., (2005), que correspondeu a 18% e 20%,
respectivamente. Difere tamm, em relação à freqüência encontrada por Vasconcellos
(2007), que foi de 13,2%, numa amostragem de 443 isolados de M. tuberculosis,
contudo, essa diferença em nosso estudo pode ter ocorrido pelo critério de seleção da
amostragem ou pelo perfil genético da população.
Em nosso trabalho, os 04 isolados R-INH com a variante mutada eram
provenientes de 02 estados brasileiros (Pará e Ceará) e da Argentina, país vizinho da
América do Sul, sendo 01 isolado da Argentina (A-6972), 02 isolados do Pará (PA-727 ;
PA-1114) e 01 isolado do Ceará (CE-588), e, nesses isolados, não foram observadas
alterações nos genes katG e inhA, considerados “wild type” para esses dois genes.
Segundo Sholto-Douglas-Vernon et al., (2005), a mutação G619A é restrita à
duas famílias caracterizadas por RFLP (“Restriction Fragment Length Polymorphism),
as famílias 3 e 28 (F3 e F28). Sugerem que a presença das variantes mutadas 529-C e
619-A poderiam ser usadas como marcadores moleculares em estudos
epidemiológicos, já que apresentam o mesmo perfil de RFLP IS6110.
À princípio, nossos resultados demonstram que a possibilidade de utilização do
SNP G619A como marcador molecular não é aplicável em nossa população.
Em nosso estudo, os isolados que apresentaram essa mutação representam 03
famílias bem diferentes, LAM, T e uma linhagem definida como nova , ou seja, ainda
não foi depositado no banco mundial de spoligotipos, conhecido como SpoDB4, e
foram definidas como spoligotipos LAM3 S/Convergente (A-6972 ; CE-588), mostrando
uma freqüência de 50 % (02/04), T3 (PA-727) e um perfil genotípico definido como
novo (PA-1114), demonstrando assim, que a probabilidade da variante 619-A
pertencer a um cluster pode ser descartada.
Nossos dados estão em conformidade com os resultados obtidos por
95
Vasconcellos (2007), que ao analisar uma amostragem de 443 isolados de M.
tuberculosis, identificou em 20 deles a presença da variante mutada, em famílias
diferentes, e quando investigados quanto ao perfil genotípico, foram classificados em 5
famílias diferentes, definidas como spoligotipos LAM, T, X e Haarlem, assim como,
tendo 2 isolados com spoligotipos novos”, cujos perfis genotípicos ainda não haviam
sido depositados no SpolDB4, descartando também a possibilidade de “cluster, ou
seja, um agrupamento. (Vasconcellos, 2007).
A família The Latin American and Mediterranean” (LAM) é definida pela
descoberta do desequilíbrio de ligação entre a ausência dos espaçadores 21-24 no
spoligotyping, sendo considerada a família mais diversa e mais complicada. É relatado
que as cepas pertencentes às famílias LAM3/F11 e S/F28 possuem spoligotipos
idênticos (tipo S.I.T. 4), revelando assim, a existência de convergência genética. O
clado LAM é freqüente nos países do Mediterrâneo e sua presença na América Latina
parece estar ligada à colonização Luso-Hispânica (Portugal-Espanha) (Brudey et al.,
2006, Rastogi & Sola, 2007).
Cabe ressaltar que, dois isolados com a variante mutada 619-A, um proveniente
da Argentina (A-6972) e outro do Ceará (CE-588), compartilharam o SIT 4, o que
segundo Rastogi & Sola (2007), os classificariam como pertencentes aos clados F11 e
F28, indicando uma possível convergência genética.
Levando-se em consideração os dados publicados por Sholto-Douglas-Vernon et
al., (2005) acerca da presença desta variante em 2 clados específicos (F3 e F28), seria
válido investigar um mero maior de isolados R-INH num estudo prospectivo.
Sabe-se que, na América Latina o genótipo LAM parece ser dominante (Ferrazoli
et al., 2000, Gomes, 2006, Dalla Costa et al., 2008), sendo o genótipo Beijing menos
comum (1-5%) (Ferrazoli et al., 2000).
Gomes (2006) verificou que 46,5 % dos isolados brasileiros pertencem à família
LAM, seguidos da família T (19,5 %) e S (1,7 %), entretanto, Sholto-Douglas-Vernon et
al., (2005) não descreveram informações acerca do perfil genotípico dos isolados
investigados em seu trabalho, com o uso de ferramentas como Spoligotyping e PCR-
DRE, tendo essa última, um maior poder discriminatório.
96
A possível restrição da variante mutada à somente 2 clados, definidos por PCR-
RFLP por Sholto-Douglas-Vernon et al., (2005) precisa ser investigada com o auxílio de
ferramentas de epidemiologia molecular, no intuito de conhecer o verdadeiro perfil dos
isolados brasileiros resistentes a INH portadores dessa mutação, investigando assim,
sua ocorrência e associação com clados ou famílias específicas.
Em nosso estudo, o foi encontrada nenhuma associação entre a presença da
mutação G619A e genótipo LAM e outras famílias (p= 0,87 ; OD = 0,85 (0,07 9,76), o
que pode ser explicado pelo fato de que em nosso estudo, a maioria dos isolados
pertencem à família LAM, o que reflete dados publicados que demonstram que no
Brasil e América Latina, em torno de 50 % das cepas circulantes pertencem à essa
família (Gomes, 2006, Dalla Costa et al., 2008).
Cabe ressaltar que, em nosso estudo, o isolado PA-727 teve a CMI estimada em
16 µg/mL. Este isolado não apresentou mutações nos genes associados à resistência a
INH e tampouco, um mecanismo de efluxo ativo. Porém, foi identificada a variante
mutada do gene nat 619-A. É possível que mutações em outros genes ou outros
mecanismos moleculares, ainda não descritos, porém, envolvidos na resistência a INH
estejam atuando, entretanto, é necessário uma investigação em amostragem maior ou,
um estudo enzimático neste isolado, a fim de excluir qualquer possibilidade desta
variante estar envolvida na resistência. Foi observado no isolado CE-588 um
mecanismo de efluxo ativo, assim como a presença da variante mutada,
simultaneamente. É possível que, esses dois mecanismos distintos estejam atuando em
sinergia, promovendo algum tipo de resistência. A identificação dos dois mecanismos,
num mesmo isolado, poderia sustentar a hipótese de que, de alguma forma a variante
619-A esteja ligada à resistência a qual seria amplificada quando somada à outro
mecanismo ou mutação.
Neste trabalho, foram identificadas mutações ainda não descritas no gene nat de
M. tuberculosis, sendo observadas 6 novas mutações, 3 silenciosas, sem troca de
aminoácidos e 3 não-sinônimas, onde ocorre a troca de aminoácidos na cadeia
polipeptídica.
Dentre as silenciosas, foram observadas as mutações C276T, C375G e G501G,
97
e para as não sinônimas, foram identificadas G202A, C373A e T503G, distribuídas em
10 isolados distintos.
Nos isolados R-INH considerados WT para os genes katG e inhA, foram
observadas 2 mutações silenciosas e 2 não-sinônimas.
A mutação C276T [troca de uma citosina (C) por uma timina (T) no nucleotídeo
276] foi identificada no isolado A-6906, proveniente da Argentina. Essa mutação não
promoveu troca de aminoácidos, permanecendo o resíduo de alanina (A) na posição 92
da cadeia; entretanto, foi caracterizada com o perfil Beijing, genótipo associado à
resistência aos fármacos usados no tratamento da tuberculose (Marais et al., 2006),
sugerindo, então, que esse genótipo possa estar influenciando o comportamento deste
isolado na resistência.
Um outro isolado, também proveniente da Argentina (A-7390) apresentou 2
mutações simultaneamente, C373A (não-sinônima) e C375G (silenciosa). Cabe
ressaltar que, a mutação C373A promove a troca de um resíduo de leucina (L) por um
resíduo de isoleucina (I), entretanto, a mesma ocorreu associada à uma mutação
silenciosa, promovendo então, a troca de um resíduo de leucina por um de metionina
na posição 125 da cadeia polipeptídica. Esse isolado teve seu genótipo definido como
“novo”, ou seja, ainda não depositado no SpolDB4.
Essa alteração ocorre próximo ao resíduo Asp127 da tríade catalítica do sítio
ativo da enzima NAT (Cys70 - His110 - Asp127).
A mutação C375G foi identificada em outros 2 isolados deste grupo (CE-3920 ;
RS-345), e foi considerada silenciosa por não promover troca de resíduo de leucina (L)
na posição 125.
O isolado CE-3920, teve sua CMI estimada em 1 µg/mL de INH, sem mecanismo
de efluxo e apresentou o perfil genotípico da família LAM, subtipo LAM6, no isolado
RS-345, a mutação C375G foi observada associada a outra não-sinônima T503G,
tamm de genótipo LAM, subtipo LAM9.
Cabe ressaltar que a mutação T503G, foi identificada tamm no isolado RS-
363, esse, com perfil da família T, subtipo T4-CE1 ancestor?, não possibilitando a
98
inferência de que essa mutação ocorra com maior freqüência em isolados de uma
determinada família ou região geográfica, para isso, será necessária uma investigação
em amostragem maior.
Esse SNP promove a troca de um resíduo de metionina (M) por um de arginina
(R) na posição 168.
O mecanismo de resistência presente no isolado CE-3920 necessita de maiores
esclarecimentos, pois o mecanismo de ação e resistência da INH ainda não está
totalmente esclarecido. É possível que outros genes estejam envolvidos ou rotas
secundárias ainda não descritas.
Lazzarini et al., (2007) sugerem que, cerca de 2 % dos isolados do subtipo LAM6
provenientes do Rio de Janeiro com a presença do polimorfismo RD
RIO
, apresentam
uma acentuada transmissibilidade e esse processo permanece em atividade contínua.
Entretanto, não podemos excluir o fato de que existe um forte intercâmbio cultural e
turístico entre esses 2 estados, e a possível presença desse polimorfismo no isolado
CE-3920 confirmaria esta hipótese de transmissão.
Cinco isolados com mutação no códon 315 do gene katG foram observadas
novas mutações e a família LAM foi a mais freqüente, no entanto, em dois deles, a
mutação silenciosa C375G foi observada, sendo os isolados RS-311 e CE-4080. Neles
não foi observado um mecanismo de efluxo, e foram classificados como tendo perfis
LAM e T1, com CMIs estimadas em > 32 µg/mL e 8 µg/mL de INH, respectivamente.
Segundo Heifets (2000), isolados de M. tuberculosis com CMI a partir de 2,5 µg/mL são
considerados de alta resistência.
No isolado RJ-3666, foi identificada a mutação silenciosa G501C, sem troca de
resíduos de Ala167, entretanto, foi observado um mecanismo de efluxo, cuja inibição
ocorreu com o uso de CCCP de 4 µg/mL para 2 µg/mL.
Segundo De Rossi et al., (2002), as bombas de efluxo de drogas conferem
baixos níveis de resistência, sendo atribuída a resistência de alto nível à mutações em
genes alvos.
Seria aceitável a hipótese de que, no isolado RJ-3666 a resistência pode ser
99
atribuída à alteração clássica S315T, e a presença do efluxo atuaria como um
mecanismo compensatório de defesa na tentativa de ativar outros mecanismos
moleculares, a fim de desenvolver níveis clínicos mais relevantes de resistência
(Webber & Piddock, 2003).
Dois isolados com a mesma alteração em katG (S315I), apresentaram a mutação
não-sinônima G202A, promovendo a troca de um resíduo de glicina (G) por um de
arginina (R) na posição 68, e cabe ressaltar a importância deste resíduo na cadeia
polipeptídica, que fica próximo ao resíduo de cisteína (Cys70) da tríade catalítica,
fundamental na formação do intermediário acetilado.
Esses isolados eram provenientes do Rio de Janeiro (RJ-3669 ; RJ-3745) e
tiveram suas CMIs em 4 µg/mL e 0,8 µg/mL, respectivamente. É possível inferir que a
resistência seja atribuída à troca de resíduos no códon 315, no entanto, foi verificado
que ambos os isolados pertencem ao subtipo LAM9, e de acordo com Lazzarini et al.,
(2007), 5 % isolados com o subtipo LAM9 e provenientes do Rio de Janeiro
apresentam a região de deleção RD
RIO
, o que torna esses portadores altamente
virulentos.
No entanto, a possibilidade de clonalidade entre esses 2 isolados deve ser
investigada, por meio de uma técnica com maior poder discriminatório, como por
exemplo DRE-PCR, já que ambos compartilharam o mesmo perfil, número 388 de
acordo com o SpolDB4.
No entanto, ainda não é possível atribuir à essas novas mutações em nat um
papel na resistência a INH, e de acordo com nossos dados não houve uma associação
entre a presença dessas novas mutações e a família LAM (p=0,31 ; OD=0,52 (0,11
2,29).
Para tanto, estudos in silico como simulações de docking (acoplagem) da INH
nas isoformas de NAT são necessárias, a fim de predizer a afinidade do fármaco à
NAT. É possível que esses níveis de resistência possam ter sido causados pela troca
de aminoácidos no códon 315 de katG, já que essa alteração foi apontada como a mais
freqüentemente relacionada à resistência a INH (Silva et al., 2003
a).
Nossos dados indicam como uma das limitações, a seleção de amostras
100
realizada por conveniência e o pequeno número amostral investigado, o que torna
imprescindível a realização de estudos prospectivos, a fim de conhecer a real
representatividade dos dados em isolados brasileiros de Mycobacterium tuberculosis.
Outra limitação é em relação à estimativa de CMI, que não é um método
padronizado, podendo ocorrer diferenças significativas nas inferências de acordo com o
laboratório onde foi realizada a técnica ou o pesquisador que a realizou, o que torna
difícil uma possível argüição ou comparação.
101
9. CONCLUSÕES
Nossos dados salientam a idéia da necessidade de investigações maiores na
tentativa de identificar outros genes ou mecanismos envolvidos na resistência a INH,
associados à pesquisa na área da Epidemiologia Molecular.
Foram identificadas mutações ainda não descritas para o gene nat de M.
tuberculosis, demonstrando que esse gene é polimórfico.
No entanto, não é possível atribuir à essas novas mutações um papel na
resistência. Para tanto, são necessários maiores estudos, como por exemplo,
simulações de docking da INH frente às isoformas encontradas, com o auxílio de
ferramentas de Bioinformática e Modelagem Molecular, na tentativa de predizer a
afinidade do fármaco pelas outras formas de NAT, assim como identificar possíveis
alterações na estrutura do sítio ativo da NAT e o seu real papel na resistência.
Este foi o primeiro trabalho a identificar mutações no gene nat atuando
simultaneamente com o mecanismo de efluxo, o que ocorreu em 2 isolados R-INH.
No isolado CE-588 foi identificada a presença da variante mutada 619-A
associada ao mecanismo de efluxo inibido pelo CCCP e verapamil, e no isolado RJ-
3666, com mutação no códon 315 do gene katG, foi identificada a mutação silenciosa
G501C e o mecanismo de efluxo foi inibido apenas pelo uso do CCCP, despolarizando
a membrana plasmática.
Esses dados apoiariam a hipótese de que o mecanismo de efluxo atue como um
mecanismo compensatório da bactéria, até que a mesma possa ter desenvolvido
mutações ou um mecanismo eficiente, ao ponto de elevar os níveis de resistência em
taxas clinicamente relevantes, pois, o isolado RJ-3666 não precisou dispor de fontes de
energia, como o ATP para a extrusão do fármaco, já que possuía a mutação que o
tornaria mais resistente ao ambiente hostil, ocorreu apenas um mecanismo de
despolarização, sem gasto de energia, para a sobrevivência.
É possível notar a inibição do sistema de efluxo por parte dos dois inibidores,
cujos mecanismos de ação o diferentes, um atuando por despolarização de
membrana plasmática e outro por hidrólise de ATP.
102
Dessa forma, podemos inferir a participação de várias proteínas transportadoras,
de famílias diferentes, atuando na resistência a INH, tornando imprescindível que se
façam estudos posteriores, na tentativa de caracterizar essas proteínas envolvidas na
extrusão da INH, assim tornaria possível, futuramente, que moléculas inibidoras dessas
proteínas fossem modeladas.
103
10. PERSPECTIVAS
Os mecanismos moleculares de resistência à isoniazida se mostram complexos e
pouco entendidos.
A TB no Brasil é considerada endêmica, e é de suma importância o
conhecimento dos fatores genéticos envolvidos na aquisição da resistência à um
fármaco considerado de primeira linha no tratamento.
A investigação de genes que promovam adaptabilidade à ambientes hostis,
assim como, a identificação e caracterização de genes que codificam para bombas de
efluxo em isolados resistente a INH, realizando testes de inibição de efluxo com o uso
de outros inibidores, como por exemplo, a reserpina, e clonagem, em microorganismos
não-patogênicos.
A caracterização dessas bombas pode levar, em estudo prospectivo, à
construção de inibidores úteis.
De acordo com os dados obtidos no seqüenciamento do gene nat, se faz
necessário um estudo da atividade de acetilação das isoformas NAT identificadas, com
estudos in silico, como por exemplo, simulações de docking da INH em cada enzima
mutada (G68R ; L125M ; M168R), na tentativa de predizer a afinidade da INH para a
enzima e sua possível associação com a resistência.
Estudos de mutagênese sítio-dirigida nos resíduos mutados podem ser úteis, na
tentativa de investigar a atividade dessas isoformas.
104
11. ANEXOS
11.1. Anexo 1
Bioinformática e Modelagem Molecular de Proteínas
Estrutura secundária da proteína NAT de M. tuberculosis H37Rv.
Gly68
Leu125
Met168
105
Estrutura secundária da proteína NAT de M. tuberculosis com os resíduos mutados.
Figura 11: Comparação das estruturas secundárias da NAT de M. tuberculosis H37Rv
(selvagem) e com os resíduos de aminoácidos mutados, geradas com o auxílio do
programa DeepView 4.0 (www.expasy.org/spdbv/).
Arg168
Met125
Arg68
106
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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