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Coggiola (2002:488), quando defende a manutenção do trabalho, afirmando que a
“precarização das condições trabalhistas” tem “o propósito de ampliar o trabalho
produtivo”, responsável direto da mais-valia. As privatizações de todo tipo de
atividades econômica têm como objetivo principal garantir a taxa de acumulação
capitalista, também nos setores de trabalho improdutivo
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, como é o caso da
educação, da saúde e da previdência social.
O desenvolvimento tecnológico atingido pela humanidade no período
vigente é significativamente inferior ao que poderíamos ter alcançado, caso não
houvesse o processo contraditório do choque entre o capital e o trabalho. Enquanto
o capital requer maior exploração do trabalhador e simultaneamente seu maior
envolvimento na produção de mercadoria, o regime social vigente barra a
possibilidade de elevar a produção para atender às necessidades reais dos
trabalhadores, como o acesso à educação e à saúde, não permitindo melhores
condições de vida muito menos um trabalho verdadeiramente emancipado, onde o
trabalhador mantenha o controle sobre o seu trabalho.
As atuais condições de produção flexível e emprego precarizado
eliminam, ademais, a possibilidade de aceitar o mito da “soberania do consumidor”,
pois a maioria da humanidade não pode participar em condições estáveis do
consumo da variedade de mercadorias (COGGIOLA, 2002:489).
A miséria social, o desemprego, a destruição de conquistas trabalhistas e o
aviltamento do trabalho, a flexibilidade e a precarização, a exploração ímpar
das nações oprimidas (via dívida externa e dezenas de outros mecanismos),
a tendência sistemática para crises internacionais cada vez mais freqüentes
e agudas, e para guerras imperialistas de conquista, o desenvolvimento da
criminalidade sob todas as suas formas e sua penetração até a medula dos
ossos do Estado, a tendência para Estados cada vez mais criminosos e
cada vez mais policiais, as ameaças e os ataques ao meio ambiente e às
próprias condições de sobrevivência da espécie humana, não são
tendências conjunturais, nem sua simultaneidade inédita um produto do
acaso, mas manifestações visíveis da crise mais profunda e duradoura do
capitalismo em toda sua história (COGGIOLA, 2002:491).
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“A informatização não constrói sociedades de classe média `, pois essa camada social deriva do
passado pré-monopolista, quando as camadas de profissionais mantinham uma posição intermediária
entre capitalistas e operários por sua vinculação ainda indireta com o processo de acumulação. O
proletariado e dominante e crescente porque também inclui os trabalhadores improdutivos, que não
geram diretamente mais-valia, mas são indispensáveis para a realização da mesma no mercado: no
passado, atuavam fora do alcance do capital, mas foram sendo integrados à acumulação, por serem
transformados em ramos capitalistas as atividades de distribuição, serviços, financiamento e
comercialização. O capitalismo impede que a redução da jornada de trabalho seja efetivada sem
afetar a remuneração do trabalhador” (Coggiola, 2002:483).