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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
A "política brasileira" no YouTube: conexões e registros intermidiáticos
Natália Moura Pacheco Cortez
Belo Horizonte
2009
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Natália Moura Pacheco Cortez
A “política brasileira” no YouTube: conexões e registros intermidiáticos
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Comunicação Social:
Interações Midiáticas da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Comunicação
Social.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Geane Carvalho Alzamora
Belo Horizonte
2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Cortez, Natália Moura Pacheco
C828p A “política brasileira” no YouTube : conexões e registros
intermidiáticos / Natália Moura Pacheco Cortez. – Belo Horizonte, 2009.
115 f. : il.
Orientadora: Geane Carvalho Alzamora
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
Bibliografia.
1. YouTube. 2. Interação social. 3. Mídia social. 4. Internet – Aspectos
sociais. I. Geane Carvalho Alzamora. II. Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Comunicação Social.
III. Título.
CDU: 659.3
Natália Moura Pacheco Cortez
A “política brasileira” no YouTube: conexões e registros intermidiáticos
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Comunicação Social:
Interações Midiáticas da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Comunicação
Social.
_________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Geane Carvalho Alzamora (Orientadora) – PUC Minas
_________________________________________________
Prof. PhD. Júlio César Machado Pinto – PUC Minas
_________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Coelho dos Santos - UFMG
Belo Horizonte, 17 de fevereiro de 2009
A meus pais
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente a Geane Alzamora pelo empenho com o qual se dedicou
à orientação dessa pesquisa e pelo incentivo nos momentos difíceis. Aos meus colegas
do mestrado pela amizade. À banca de qualificação, que impulsionou o
desenvolvimento da pesquisa com suas considerações, e a todos que, de alguma forma,
mostraram caminhos.
(...) O YouTube permite que as pessoas enviem e compartilhem facilmente videoclipes
no br.YouTube.com e na Internet por meio de sites, celulares, blogs e e-mail. Qualquer
pessoa pode assistir a um vídeo no YouTube. As pessoas podem ver relatos de eventos
atuais em primeira mão, localizar vídeos sobre seus passatempos prediletos e assuntos
de interesse, e até descobrir algumas pérolas. Cada vez mais pessoas estão capturando
momentos especiais em vídeo e o YouTube está cuidando de transformá-las nos
criadores da televisão do futuro.
Fragmento retirado de http://br.youtube.com/t/about
RESUMO
A busca através das palavras-chave “política brasileira” no YouTube retorna
com vídeos constituídos de fragmentos de programas televisivos de diferentes gêneros,
veiculados em diversas emissoras, que foram apropriados pelos colaboradores do site.
Esses vídeos compõem os contextos emergentes de visibilidade no YouTube, que, por
sua vez, são configurados por mediações diversificadas e de natureza distinta. A partir
dos registros das interações sociotécnicas são analisadas as formas de mediação sob o
enfoque da multimidialidade, que caracteriza a mediação videográfica e textual do
YouTube, e sob o enfoque da intermidialidade, referente à sobreposição de mediações
diversificadas que ocorre a partir dos fluxos que transportam a informação televisiva
para o YouTube. A visibilidade na “política brasileira” está relacionada às ações dos
colaboradores que, ao se apropriar desses fragmentos e interpretá-los, apresentam suas
posições em relação às diversas questões que ali são desenvolvidas por meio das
interações. Os contextos de visibilidade mediados refletem a compreensão colaborativa
da “política brasileira” a partir da mediação da TV, que é discutida nessa pesquisa como
uma espécie de resposta social aos produtos televisivos. A idéia de resposta social
apresenta-se pela apropriação social da informação que, reconfigurada pelas
intervenções colaborativas, torna-se visível no YouTube, registrando parte da dinâmica
de interação social que se desenvolve a partir dos produtos televisivos. A compreensão
colaborativa da“política brasileira” é analisada através dos vídeos mais vistos, suas tags,
categorias, seus tulos, links e comentários e é discutida como uma resposta social
midiatizada.
Palavras-chave: YouTube, interação sociotécnica, registro, intermidialidade,
resposta social, “política brasileira”
ABSTRACT
Searching the key-words “política brasileira” on YouTube comes back with
videos that are constituted of fragments from TV programs of varied genres, transmitted
in several broadcastings, appropriated by site’s collaborators. These videos compose the
emergent contexts of visibility in YouTube that, in its turn, are configured by diversified
mediations of different nature. Through the registrations of the socio-technical
interactions the mediation forms are analyzed under the focus of the multimediality,
which characterizes the video and textual mediation of YouTube, and under the focus of
the intermediality regarding the overlay of diversified mediations created by the flows
that transport TV information to YouTube. The visibility in “política brasileira” is
related with the collaborators’ actions that appropriate from these fragments and
interpret them, presenting their tendencies about the questions developed through the
interactions. The visibility contexts mediated reflect the collaborative understanding of
the “política brasileira” starting from the mediation of the TV, which is discussed in this
research as a kind of resposta social to the TV products. The idea of resposta social
comes from the social appropriation of the information that, reconfigured by
collaborative interventions, becomes visible in YouTube, registering part of the
dynamics of social interaction that grows starting from the TV products. Collaborative
understanding of “política brasileira” is analyzed through the most viewed videos, their
tags, links, titles, categories and comments and discussed as a resposta social
midiatizada.
Key-words: YouTube, socio-technical interaction, register, intermediality,
resposta social, “política brasileira”
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10
2. CONEXÕES E REGISTROS INTERMIDIÁTICOS NO YOUTUBE
2.1. Sobre o YouTube .....................................................................................13
2.2. Registros intermidiáticos da resposta social .........................................17
2.3. Participante e colaborador .....................................................................20
2.3.1. Interações sociotécnicas no YouTube....................................................23
2.4. Temporalidades expandidas: fluxos intermidiáticos ........................... 25
3. A POLÍTICA NO CONTEXTO COLABORATIVO DO YOUTUBE
3.1. Sobre a noção de política ........................................................................29
3.1.1. Política e visibilidade .............................................................................32
3.1.2. Política e midiatização .......................................................................... 34
3.1.3. Vínculos sensíveis em contextos de partilha ........................................ 39
3.2. Singularidades da cena política no YouTube ....................................... 42
3.2.1. Registros colaborativos sobre “política brasileira”: fluxos
intermidiáticos ................................................................................................ 45
3.2.2. Informação televisiva compartilhada: fragmentos ..............................50
4. REGISTROS INTERMIDIÁTICOS COMO RESPOSTA SOCIAL:
A “POLÍTICA BRASILEIRA” NO YOUTUBE
4.1. A “política brasileira” no YouTube: aspectos metodológicos .............53
4.2. Indexação colaborativa de conteúdo televisivo e arquitetura da
informação....................................................................................................... 62
4.3. Política governamental, escândalo e eleições: visibilidade ampliada 66
4.4. “Política brasileira” como resposta social midiatizada ....................... 85
5. CONCLUSÃO .............................................................................................89
REFERÊNCIAS ..............................................................................................
ANEXOS ...........................................................................................................
10
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa aborda, através da observação dos contextos de visibilidade da
cena “política brasileira” do YouTube, a compreensão colaborativa referente a essa
temática, aqui discutida como uma espécie de resposta social aos produtos televisivos,
que se registra de forma intermidiática. Trata-se de um estudo de caso, fundamentado
em observação sistemática e análise qualitativa dos dados coletados, cujo propósito é
verificar a compreensão colaborativa sobre a “política brasileira” a partir dos contextos
de visibilidade configurados por mediações diversificadas e de natureza distinta.
O recorte intermidiático proposto nessa pesquisa justifica-se pela presença, no
YouTube, de vídeos que são compostos por fragmentos de programas televisivos
veiculados anteriormente. Esses programas ou fragmentos deles - são transportados
para um ambiente colaborativo pela ação de seus colaboradores, onde são postados sob
o tema “política brasileira”, ficando disponíveis para serem comentados e respondidos.
A apropriação social da informação televisiva, que se abre à intervenção pública
através das formas de interação que o YouTube disponibiliza, expande e diversifica a
visibilidade dos referidos vídeos. Busca-se, então, compreender como a interação social
em torno de produtos televisivos, registrada através das interações sociotécnicas no
YouTube, revela aspectos da resposta social configurada pela dinâmica colaborativa e
multimidiática do site.
Os contextos de visibilidade que trazem à cena a resposta social são
configurados por formas diversificadas de mediações, tensionadas pelos movimentos
intermidiáticos e pelas características interacionais do site em questão. Por meio da
observação das interações sociotécnicas em torno da “política brasileira” é possível
perceber as formas diversificadas de mediações que determinam os contextos de
visibilidade. Esses contextos trazem os registros intermidiáticos da resposta social
através da compreensão colaborativa.
A resposta social manifestada no site em questão está relacionada à idéia de um
sistema de circulação interacional, que funciona como um componente da relação
sociedade-mídia desenvolvido por Braga (2006). Nesse sentido, o autor considera que a
circulação social dos estímulos e dos sentidos produzidos pela dia após a recepção é
o resultado do que a sociedade faz com sua mídia, ou seja, é uma resposta social.
11
Segundo Braga (2006), a sociedade age sobre os produtos midiáticos,
redirecionando-os e atribuindo-lhes sentido. A interação social que se desenvolve com
base nos produtos midiáticos ocorre de forma diferida e difusa e a resposta social
produzida a partir dessa relação é da mesma ordem.
A “política brasileira” no YouTube é um reflexo da compreensão colaborativa
acerca desse assunto, uma vez que os participantes criam e gerenciam esse conteúdo
através das interações. Para o desenvolvimento dessa pesquisa consideram-se os vídeos
postados, as tags utilizadas para indexá-los, seus títulos, as categorias nas quais foram
inscritos, seus links, comentários e respostas. Essas formas de interação, registradas no
YouTube, demonstram como diferentes idéias ligadas à temática “política brasileira”
tornam-se visíveis e passíveis de serem comentadas (através de listas de comentários)
e/ou respondidas (através de vídeos-resposta).
Através da análise das interações que se desenvolvem em torno dessa temática
pretende-se discutir o que se configura como a resposta social sobre a “política
brasileira” no YouTube a partir dos contextos de visibilidade mediados, assim como as
particularidades da interação determinada pela circulação intermidiática das
informações relacionadas a essa temática.
No capítulo 2 são apresentadas as noções de participante e colaborador, as
especificidades das interações sociotécnicas no YouTube, a discussão sobre o sistema
de resposta social e os tensionamentos sociocomunicacionais que emergem a partir dos
fluxos intermidiáticos, que se mostram pelas temporalidades expandidas das interações
e da visibilidade dos vídeos da “política brasileira”.
O capítulo 3 é dedicado à discussão sobre a noção de política e os processos de
midiatização que configuram essa noção e os regimes de visibilidade no YouTube,
além das singularidades da cena política no referido site. Também nesse capítulo são
discutidas as formas interacionais do YouTube, considerando, especialmente, sua
natureza multimidiática e hipertextual, e como essas formas interacionais, como níveis
operativos do processo mediador, como propõe Sodré (2002), determinam uma
sobreposição de mediações diversificadas e intermidiáticas, que delineiam os contextos
de visibilidade colaborativos criados a partir da mediação da TV.
Situam-se, no capítulo 4, os procedimentos metodológicos adotados para a
consecução do objetivo proposto nessa pesquisa e a compreensão colaborativa da
“política brasileira”, apresentada através da análise qualitativa dos registros das
12
interações sociotécnicas e discutida como uma espécie de resposta social aos produtos
televisivos.
13
CAPÍTULO 2 CONEXÕES E REGISTROS INTERMIDIÁTICOS NO
YOUTUBE
2.1. Sobre o YouTube
O site de compartilhamento de vídeos YouTube foi fundado em de fevereiro
de 2005, tornando-se, pouco tempo depois, líder de vídeos online e a primeira opção
para assistir e compartilhar vídeos por meio da internet. O YouTube recebeu
financiamento da Sequoia Capital em novembro de 2005, e foi oficialmente lançado um
mês depois, em dezembro.
Em novembro de 2006 o YouTube foi comprado pelo Google Inc. Seus
criadores ganharam 1.65 bilhões de dólares com sua venda. Após a venda, o site fez
diversos negócios em parceria com provedores de conteúdo, como CBS, BBC,
Universal Music Group, Sony Music Group, Warner Music Group, NBA, The Sundance
Channel e muitos outros
1
.
Segundo o USA Today, em matéria divulgada em julho de 2006
2
, apenas um ano
após seu lançamento o YouTube contava com mais de 100 milhões de exibições de
vídeos por dia, ostentando 20 milhões de acessos em um único mês. O mês de junho de
2006 registrou a marca de 65 mil vídeos postados. Nesse mesmo mês foram assistidos
2,5 bilhões de vídeos.
O Instituto de Pesquisa Nielsen Net Ratings
3
divulgou que o YouTube, em
março de 2008, teve 66 milhões de visitantes, totalizando 57 por cento dos 116.7
milhões mensais da audiência de vídeos online. Esses dados demonstram a capacidade
que esse site tem de agregar conexões e conferir visibilidade aos conteúdos ali postados.
Cheng, Dale e Liu (2007) apontam alguns aspectos relacionados à popularidade
do YouTube, que, segundo eles, deve-se à diversidade do conteúdo informacional; à
tecnologia playback video, que permite que o usuário poste (upload) seus vídeos com
mais facilidade e rapidez em função da conversão automática de diferentes formatos; à
organização dos vídeos através de palavras-chave; e à facilidade de download dos
vídeos, que pode ser feito através de conexão normal, não exigindo grande velocidade.
1
Disponível em: http://br.youtube.com/about. Acesso em: 01 mai. 2008.
2
YouTube serves up 100 million videos a day (online). Disponível em:
http://www.usatoday.com/tech/news/2006-07-16-youtubeviews_htm . Acesso em: 20 abr. 2008.
3
Disponível em www.nielsen-online.com/. Acesso em: 18 mai. 2008.
14
Todas essas características contribuíram decisivamente para a popularidade do
YouTube que, segundo Cheng, Dale e Liu (2007) compreende cerca de 10% de todo o
tráfego da internet, e que, em apenas dois anos, tornou-se o quarto site mais acessado.
A arquitetura da informação
4
no YouTube é estruturada através de quatro links
principais: vídeos, categorias, canais e comunidade. Por sua vez, esses se ramificam da
seguinte forma:
1 – Vídeos: mais vistos, com melhor avaliação, mais comentados, favoritos, com
mais links, recentemente destacados, mais respondidos (através de vídeos-resposta).
2 Categorias: Automóveis, comédia, educação, entretenimento, filmes e
animação, howto & style (como fazer algo), música, notícias e política, sem fins
lucrativos e ativismo, pessoas e blogs, animais, ciência e tecnologia, esportes, viagem e
lugares.
3 – Canais: Membros colaboradores do YouTube. Através dos canais esses
colaboradores apresentam seus grupos, vídeos postados, vídeos favoritos, inscritos em
seu canal, inscrições em outros canais e lista de amigos. Os canais são divididos em
comediantes, diretores, gurus, músicos, parceiros, patrocinadores, políticos e
YouChoose 08.
4 Comunidades: Grupos e competições. O link Comunidades se subdivide em:
Todas, Grupos, Concursos, Blog, TestTube e Ferramentas.
Além de permitir o registro do participante e autorizar sua interação com os
demais, o canal, que é criado a partir da abertura da conta, armazena o perfil do
colaborador e suas preferências através dos vídeos que posta, comenta e responde, dos
inscritos em seu canal, das inscrições realizadas em outros canais, dos vídeos eleitos
como favoritos e dos grupos a que pertence.
O usuário do site pode abrir sua conta, criar suas playlists, e traçar sua History
dentro do site, ou seja, seu percurso histórico com os vídeos assistidos, as buscas
realizadas e outras informações.
O YouTube configura-se, assim, como um ambiente sociocomunicacional
constituído por informações fragmentadas, multimidiáticas e hipertextuais, produzidas e
gerenciadas por diversos colaboradores, e que oferece, portanto, possibilidades de
interação de natureza multimidiática através de vídeos e textos.
4
A arquitetura de informação do YouTube é constantemente alterada. Alguns links são retirados, novos
são adicionados. Modificam-se também as opções de organização de conteúdo como ordenar os vídeos
segundo seus números de acesso, números de comentários, etc.
15
São também características hipermidiáticas marcantes a personalização e a
memória, observáveis no YouTube através dos recursos oferecidos na abertura da conta,
que registra todas as ações do membro colaborador nesse ambiente e cria o banco de
dados que é o registro de toda a interação colaborativa. O gerenciamento de playlists
também é característico da personalização, pois o participante tem a possibilidade de
salvar seus vídeos preferidos e, através do link History, armazenar as trilhas percorridas
no site.
No YouTube a interação colaborativa cria, além de conteúdo informacional, seus
próprios sistemas taxonômicos para identificá-lo, o que se denomina folksonomia, que é
um sistema de busca socialmente produzido (AQUINO, 2008). Ao postar um deo, os
colaboradores o indexam com as palavras-chave que desejam, podem incluir um texto
explicativo desse vídeo, categorizá-lo de acordo com as opções que o YouTube
disponibiliza e intitulá-lo de forma livre. O sistema de busca desse site é produzido
pelas relações entre esses metadados.
Fig.1 Informações sobre o vídeo: texto do colaborador, categoria e tags utilizadas.
16
Cada vídeo apresenta as seguintes informações em seu registro: quem o postou,
quando o fez, categoria, duração, número de vezes que foi assistido, sua avaliação,
número de comentários, menções honrosas, uma lista de vídeos relacionados, um texto
explicativo também postado pelo autor, as palavras-chave
5
utilizadas para indexá-lo e os
links. As menções honrosas são geradas pelo sistema, segundo o glossário do site,
através de acompanhamento de estatísticas. As menções honrosas são concedidas
automaticamente pelo sistema de vídeos que chegarem ao topo.
Fig.2 Estatísticas e dados do vídeo: data de postagem, exibições, avaliações, respostas, comentários,
número de vezes em que foi adotado como favorito e links.
Na página inicial do site os vídeos em destaque são escolhidos por editores e são
organizados através dos seguintes links: mais vistos, mais comentados e favoritos.
destaque também para os vídeos que estão sendo assistidos no mesmo momento por
outros internautas.
5
O YouTube considera tags e palavras-chave como sinônimos, segundo seu glossário.
17
A pesquisa através do link vídeos permite acessar os vídeos em destaque, os
mais comentados, mais recentes, mais respondidos, mais bem avaliados, mais vistos,
mais populares e mais adotados como favoritos. Através do link Canais, por exemplo,
podem ser acessados os vídeos mais inscritos e mais vistos a partir dos sub-links: hoje,
esta semana, este mês e desde o início.
A busca por palavras-chave, que é o sistema de busca analisado nessa pesquisa,
revela vídeos classificados (organizados em páginas) segundo os critérios de data de
postagem, relevância, mais vistos e avaliação.
Fig.3 Fragmento da página inicial do YouTube que mostra o espaço para busca através de palavras-chave
e as possibilidades de classificação do conteúdo de acordo com sua relevância, data de inclusão, mais
vistos e avaliação.
2.2. Registros intermidiáticos da resposta social
A ação colaborativa no YouTube, aqui observada a partir da apropriação social
da informação televisiva, cria contextos de visibilidade discutidos nessa pesquisa como
uma espécie de resposta social, como propôs Braga (2006), registrada de maneira
intermidiática. Após a veiculação numa mídia massiva, os fragmentos apropriados da
18
TV ganham visibilidade num contexto colaborativo, no qual podem gerar interlocução
entre os colaboradores.
Posteriormente à circulação das informações televisivas no corpo social ocorre,
através do YouTube, apropriação social dessas informações que são registradas e
abertas à intervenção blica. As interações sociotécnicas no YouTube em torno do
tema “política brasileira” registram parte da dinâmica da interação social que ocorre a
partir de diferentes produtos televisivos, e pode ser observada pela ação dos
colaboradores de indexar, postar, comentar e assistir aos vídeos criados a partir de
fragmentos televisivos.
Essas relações de apropriação e intervenção social na informação televisiva
estão relacionadas à idéia de um sistema de interação social - o sistema de resposta
como discute Braga (2006). Para o autor, o sistema de resposta relaciona-se ao modo
como a sociedade age e produz com os meios de comunicação gerando procedimentos
interpretativos como respostas aos produtos midiáticos, atribuindo-lhes sentido.
Segundo Braga (2001), a interação
6
social vai além de um contexto localizado
no tempo e no espaço no qual se usa e se reage a um produto midiático. A interação
social abarca essas ações, mas não se restringe a elas, sendo que esse processo deve ser
“percebido na sua amplitude, não se esgotando em uma ou outra instância
empiricamente capturável de interações (...)” (BRAGA, 2001, p.120), uma vez que as
interações envolvem mais do que relações diretas e bidirecionais entre produtores e
receptores.
O que caracteriza fundamentalmente a interação social é uma produção
objetivada e durável, que amplia o número de interlocutores e os diversifica. Em função
desse caráter, Braga (2006) propõe que seja ultrapassado o recorte “ações mútuas entre
produtor e receptor”, (BRAGA, 2001, p.119) baseado na interação face a face, como no
modelo conversacional.
Importa destacar ainda que, no YouTube, a presença dos vídeos constituídos de
fragmentos veiculados anteriormente na TV faz parte do repertório de escolha dos
colaboradores, que trazem para esse site questões que julgam importantes a ponto de
6
Nesse trabalho Braga discute os três tipos de interação propostos por Thompson (1995): interação face
a face, interação mediada e quase-interação mediada. Braga direciona sua crítica a Thompson no sentido
de que a interação não deve ser pensada restritamente com base num modelo conversacional, dialógico,
pois “o processo de comunicação mediática é diferido no tempo e no espaço e difuso em relação aos
destinatários”, dessa forma não é “pertinente que o fluxo de retorno seja específico e não-diferido”
(BRAGA, 2001, p.119). Portanto, entender as relações sociais estabelecidas pelos meios de comunicação
de massa como quase-interação é uma postura equivocada uma vez que existe interação de fato, o que não
ocorre é retorno ponto a ponto do fluxo informacional.
19
conferir-lhes visibilidade, mais uma vez, e em outro meio, no qual podem ser
socialmente desenvolvidas através de comentários e vídeos-resposta.
Os fluxos intermidiáticos entre TV e internet se singularizam em fragmentos
televisivos em vídeos disponíveis no YouTube, aqui considerados uma espécie de
resposta social aos produtos televisivos. A mobilidade do conteúdo informacional, que
permite esses trânsitos intermidiáticos da informação, é garantida pelo ambiente de
conexões generalizadas e pelas características intermidiáticas e multimidiáticas que
configuram os ambientes colaborativos como o YouTube.
Nesse site, essas relações se especificam através da miscigenação de textos,
imagens e sons, que permite a circulação de conteúdo não apenas da TV para YouTube
e vice-versa, mas também do YouTube para outros ambientes sociocomunicacionais. A
intermidialidade, a multimidialidade e a hipertextualidade são características marcantes
do YouTube, que reconfigura e agrega conteúdo televisivo por meio das mais variadas
ações e produções de seus colaboradores, constituindo, assim, uma hiperarquitetura de
informações multimidiáticas e intermidiáticas.
A natureza híbrida do YouTube reflete a apropriação de características próprias
de outros meios que, recombinadas, geram a especificidade desse ambiente como um
espaço de interação. Afinal, o novo meio, conforme McLuhan (1964), emerge a partir
dos meios anteriores, estabelecendo assim
(...) novos índices relacionais, não apenas entre os nossos sentidos
particulares, como também entre si, na medida em que se inter-relacionam.
(...) O híbrido, ou encontro de dois meios, constitui um momento de verdade
e revelação, do qual nasce a forma nova. (...) O momento do encontro dos
meios é um momento de liberdade e libertação do entorpecimento e do transe
que eles impõem aos nossos sentidos
(MCLUHAN, 1964, p.73-75).
Todos os meios, não apenas os hipermidiáticos, coexistem e podem conformar
convergências ao promover a circulação de fluxos intermidiáticos. Esse processo
propicia a absorção e a redefinição das características próprias dos diversos meios,
culminando em “ecossistemas comunicativos” (OROZCO GÓMEZ, 2006) cada vez
mais complexos e plurais.
20
2.3. Participante e colaborador
A interação social que emerge a partir dos produtos televisivos registra-se, em
parte, através das interações sociotécnicas no YouTube no cenário “política brasileira”.
Para pensar a natureza do ambiente em que se registra a resposta social faz-se
necessário conhecer as possibilidades de interação que ele disponibiliza e como os
participantes da relação comunicativa que ele ambienta se apropriam desse espaço.
Segundo Primo (2003), interação mediada por computador é o que se passa entre
os sujeitos, entre esses e o computador e entre duas ou mais máquinas. Existem,
segundo ele, duas formas de interação
7
: a interação mútua, caracterizada por relações
interdependentes, em que os internautas negociam entre si, e constroem, de forma
cooperativa, sua relação, e a interação reativa, que se apresenta através de relações
determinísticas de estímulo e resposta.
A interação mútua prevê maior envolvimento e reciprocidade. Através dela os
internautas têm possibilidades de deixar suas marcas na interface, ultrapassando a
interação reativa, que prevê apenas a escolha de links dentre os programados e a
definição de um percurso dentro do site. Com base nesses dois tipos de interação, Primo
(2003) propõe três diferentes tipos de hipertextos: o potencial, o colaborativo e
cooperativo.
O hipertexto potencial é caracterizado pela pré-definição dos caminhos e
movimentos possíveis, o que impede a interação colaborativa. Nesse caso, o internauta
interage com o sistema digital diante da escolha entre certas alternativas, mas não
diretamente com outro internauta como ele.
No hipertexto colaborativo interação entre os internautas mediada pela
interface. A estrutura colaborativa permite que os colaboradores modifiquem o
hipertexto a partir de suas intervenções e através das interações com os outros
internautas. A colaboração constitui-se, assim, em uma “colagem” das diferentes vozes
incluídas na criação de um texto coletivo, e os internautas deixam suas marcas na
interface ao construir, disponibilizar e editar conteúdo.
Já o hipertexto cooperativo depende de debate. As interações constituem-se
como condutas que se modificam umas as outras e também ao próprio produto criado
pela relação comunicativa.
7
Interação é “uma ação entre os participantes do encontro” (Primo, 2003, p.38).
21
Primo (2003) denomina interagente o sujeito da interação mediada por
computador, seja ela reativa ou mútua, independente do tipo de hipertexto. Segundo o
autor, o termo interagente foi criado para pensar as questões relativas às formas de
interação considerando-se não apenas a interação do homem com a máquina e a
usabilidade das interfaces, mas a complexidade dos processos de interação mediada.
Primo (2003) refuta termos como “emissor” receptor” e “usuário”. Esse úlimo
termo é problemático porque, segundo ele, “usuário” é simplesmente o sujeito que faz
uso do que é pronto, extinguindo as possibilidades de construção cooperada ao defini-lo
como apenas um consumidor da tecnologia. Os termos emissor e receptor, relacionados
à lógica transmissiva da informação, não fazem sentido num ambiente
sociocomunicacional de interlocução como o YouTube.
Machado (2002) o nome de interator ao sujeito físico que interage com o
programa e com outros interatores como ele. O programa, por sua vez, determina os
eventos permitidos e as condições para que eles aconteçam, limitando o universo de
ações do interator. O interator experimenta o sentimento de agenciamento
(MACHADO, 2002), relação na qual ele, como agente, altera o ambiente através de sua
participação.
No YouTube, ao mesmo tempo em que o participante interage com a interface,
por exemplo, escolhendo um vídeo para assistir, interage também com outro
participante através do vídeo postado por ele, mesmo sem o registro de um retorno
direto, através de comentários e/ou vídeos-resposta.
Isso deve-se ao fato de que apenas algumas nuances dos elaborados processos de
interação social são registradas por meio dos vídeos intermidiáticos assistidos no
YouTube. A interação social, que emerge a partir da mediação televisiva, tem parte de
sua dinâmica exposta através dos registros das interações sociotécnicas que, por sua vez,
se desdobram em novas interações sociais. Portanto, a complexidade desse processo não
poder ser desconsiderada e as interações não podem ser pensadas apenas pelo viés da
mediação do computador. Os termos interagente e interator são pensados como sujeitos
das interações mediadas por computador.
No caso dessa pesquisa, frente aos diversos processos interacionais em jogo, não
apenas os que ocorrem pela mediação do computador, os termos interagente e interator
tornam-se inadequados para ocupar a posição do sujeito das interações intermidiáticas
do YouTube e por isso é adotado o termo participante, capaz de agregar a diversidade
das formas interacionais que configuram esse ambiente colaborativo.
22
Existem gradientes de interação e dois tipos de participantes no YouTube, que se
diferenciam pelo fato de serem ou não membros cadastrados. Os membros cadastrados,
também denominados colaboradores nessa pesquisa, podem, além de postar seus
próprios vídeos e assistir a outros, responder a um vídeo com outros vídeos ou comentá-
los através de listas.
Contam ainda com as possibilidades de compartilhar vídeos, (através do próprio
YouTube), adicioná-los às listas de favoritos, sinalizá-los como impróprios, avaliá-los
com estrelas e incorporá-los (links).
Podem ainda inscrever-se nos canais ou nas listas
de vídeos favoritos de outros colaboradores ou em uma palavra-chave, criar lista de
amigos visitando os canais de outros colaboradores e partilhar interesses e preferências
em comum se engajando em grupos. Essas ações podem ser realizadas por membros
cadastrados do site através de seus canais, uma vez que para realizá-las é necessário
estar logado.
O participante não cadastrado pode assistir aos vídeos, ler os comentários e
assistir aos vídeos-resposta, compartilhar os vídeos copiando e colando o link em e-mail
ou mensagem instantânea, mas não através do próprio site. Ele não cria e não intervém
no conteúdo publicado, mas sua ação de assistir vídeos interfere nos contextos de
visibilidade e na organização do conteúdo do site porque os números de exibições dos
vídeos são registrados, e os participantes, mesmo não sendo identificados através de um
canal, são responsáveis por parte da organização da informação, uma vez que ao assistir
aos vídeos aumentam seus números de exibição e lhes conferem destaque por serem os
vídeos mais vistos.
2.3.1 Interações sociotécnicas no YouTube
No YouTube, os participantes constroem os ambientes de interação à medida
que se relacionam, criando e recriando o hipertexto a partir de suas intervenções. As
interações entre os participantes do YouTube ocorrem como uma sobreposição de falas,
e os comentários são postados num período distante do post original ou não, o mesmo
ocorre com as respostas.
Por isso, o site caracteriza-se como espaço aberto para a colocação de opiniões
em perspectiva, uma vez que a postagem de um vídeo ou comentário fica registrada e
aberta para a nova exibição e/ou intervenção através de um novo comentário ou
resposta. Dessa forma, as questões podem ser continuamente desdobradas.
23
Os processos de interação nesse ambiente relacionam-se, assim, a uma soma de
vozes, sobre diversos assuntos, que abrem espaço para diferentes idéias, mas que nem
sempre prevêem interlocução entre os participantes no sentido de um desenvolvimento
racional no qual se ouvem e se replicam idéias sucessivamente.
Os participantes interagem assistindo vídeos, comentando-os, ampliando sua
visibilidade ao enviá-los para ambientes diversos, criando conexões para que sejam
acessados de outros lugares. Uma relação condizente com o que propõe Braga (2007)
sobre como o processo de mediatização interfere nas características comunicativas da
internet:
A Internet, na verdade, viabiliza e/ou acelera e amplia aquilo que assinalamos
como “interatividade difusa”: as “respostas” não são tipicamente de retorno
direto pontual (interatividade “conversacional”) – são antes repercussão
redirecionamento circulação de reações para âmbitos diferidos e difusos.
Nessa circulação, o pólo emissor acaba também entrando no circuito (e o faz
até no seu próprio interesse de sintonia); mas é claro que, aí, recebe as
respostas de um modo completamente diferente daquele que seria associado a
um retorno ponto a ponto. Trata-se, agora, de recebimento de alguma coisa
que se tornou “social” (disponível em modo diferido e difuso). Ou seja as
respostas desenvolvidas pelo sistema interacional mediático, mesmo com o
desenvolvimento de tecnologias digitais de retorno ponto a ponto, são
respostas potencialmente diferidas e difusas. A “impressão de
conversacionalidade é antes uma lógica de sistema para viabilização da
inserção de tipo individual (BRAGA, 2007, p.153).
Pode-se ver então que as interações no YouTube ultrapassam seus limites, uma
vez que a partilha de interesses, gostos e percepções registradas pelas ações
colaborativas no site vão além dele. Isso demonstra como as conexões que movimentam
o conteúdo informacional são pulverizadas, não existem limites precisos nos quais elas
se localizam.
A pulverização característica das formas interacionais no YouTube, o fluxo
intermídias das informações relacionadas à “política brasileira” e a própria lógica
colaborativa demonstram que os aspectos interacionais desse site devem ser observados
com base numa lógica de conexões
8
(KASTRUP, 2004). Ou seja, vale considerar a
possibilidade de que cada interação que se registra é uma conexão entre os diversos
8
No YouTube, ao mesmo tempo em que são criadas, as conexões interativas são também
desfeitas, elas são frágeis e não têm caráter forte de permanência e durabilidade, o que determina que elas
passem a ter um caráter contingente e temporário, podendo sempre ser rompidas. Essa natureza
mutante
relaciona-se com a lógica de conexões, que, de acordo com
Kastrup (2004), funda-se na idéia de que o nó
é o único elemento constitutivo da rede. A dimensão desses nós não é importante, uma vez que a rede por
ser aumentada ou diminuída
sem que ela perca
suas características de rede, “pois ela não é definida por
sua forma, por seus limites extremos, mas por suas conexões, por seus pontos de convergência e de
bifurcação” (Kastrup, 2004, p.80).
24
participantes (nós)
9
, e, na medida em que se realizam, essas conexões geram outras
conexões, e outras, e outras.
Como sistema aberto, que se modifica a todo tempo, e tendo a conexão como
elemento fundante, a dinâmica das interações no YouTube permite, sob alguns aspectos,
a analogia com a metáfora do rizoma (DELEUZE, GUATTARI, 2004). O rizoma
privilegia a horizontalidade, qualquer ponto pode ser conectado a qualquer outro. Como
aliança, respeita o princípio da autocriação, assim como a lógica colaborativa que
caracteriza o YouTube, que é criado e recriado na medida em que é produzido pela
interação entre os participantes.
As interações no YouTube movimentam os processos de criação e recriação de
seu conteúdo. Essas interações conectam pessoas diversas, em contextos diferentes,
distantes ou não geograficamente, unidas ou não por relações offline. Conexões
diversificadas, que ocorrem pelos mais variados motivos. Mas, diferente do rizoma, que
é descentralizado, a arquitetura da informação do site conforma processos volúveis de
centralização, com base na ação de seus colaboradores, que registram os vídeos mais
vistos, mais comentados etc. A homepage do YouTube pode, assim, ser considerada
uma espécie de nicho hierárquico do site.
2.4. Temporalidades expandidas: fluxos intermidiáticos
Os vídeos (constituídos de fragmentos de programas televisivos apropriados
pelos colaboradores) que retornam a busca pelas palavras-chave “política brasileira” dão
visibilidade a diversas questões pela segunda vez e em um meio distinto. A circulação
social da informação é registrada no YouTube e demonstra como os participantes
apresentam suas interpretações e a forma como vêem a “política brasileira” através da
escolha do que deve ser visível e que pode ser desdobrado através de comentários e
vídeos-resposta.
Esses vídeos intermidiáticos têm sua exposição expandida em função da
dinâmica reticular dos fluxos hipertextuais, que além de serem visíveis em dois meios
distintos, incorporam-se ao YouTube tornando-se disponíveis para a exibição em
qualquer momento e para qualquer pessoa, em períodos curtos ou distantes de sua
9
O YouTube configura-se como um espaço em constante transformação, que se modifica a partir das
interações que ambienta. Na medida em que isso ocorre, registram-se as marcas desse processo nas listas
de comentários e favoritos, vídeos-resposta, canais, etc, o que vale considerar cada participante como um
nó da extensa rede de interações que compõe o site.
25
veiculação inicial na TV. Com isso, podem também ser comentados e respondidos em
qualquer momento, sendo dessa forma recuperados para as interações entre os
participantes, que estendem a sua durabilidade para além do momento de transmissão
televisivo.
O conteúdo informativo perdura no YouTube porque o registro, que cria o banco
de dados, permite que o acesso à informação seja controlado individualmente e então os
participantes podem assistir aos vídeos a qualquer momento, e dessa forma, recuperar
um fato passado.
Os colaboradores podem postar vídeos com fragmentos apropriados da TV logo
após sua veiculação na TV ou muito tempo depois dessa veiculação. A resposta e o
comentário também independem do fator temporal para serem submetidos,
dependem de que o vídeo seja acessado no YouTube.
Dadas essas condições, pode-se perceber que os processos de recontextualização
das informações ocorrem no YouTube continuamente, pois a informação pode ser
retomada num período imediatamente posterior à veiculação televisiva, ou numa
situação distante do período em que ocorreu o fato transformado em produto televisivo.
Uma nova contextualização ocorre quando o colaborador recupera a transmissão
televisiva, a posta no YouTube e a disponibiliza para um novo processo de
contextualização, quando será assistida por outra pessoa, que, por sua vez, poderá
comentá-la e respondê-la.
Como o conteúdo informacional circula através das interações entre os
participantes, eles partilham a recriação dos contextos criados a partir dos fluxos
intermidiáticos que trazem as produções televisivas para o universo desse site que, em
função de suas características hipermidiáticas, estende o tempo das interações e a
visibilidade dos fragmentos televisivos apropriados.
Essa dinâmica remete à noção de que o universal totalizante é a essência
paradoxal da cibercultura (LÉVY, 2008). Essa noção é discutida por Lévy (2008)
mediante a passagem das culturas orais para as escritas. Segundo o autor, nas culturas
próprias das sociedades orais, as mensagens eram recebidas no momento e no local de
sua emissão. Emissores e receptores partilhavam o mesmo contexto espacial e temporal.
Com a escrita, segundo ele, tornou-se possível a recepção de mensagens nos
mais diversos contextos, e em períodos posteriores à sua criação. Os atores da
comunicação não se encontravam mais em interação direta nem na mesma situação
receptiva; estavam em contextos espaciais e temporais distintos.
26
O sentido do universal, fundado pela cultura escrita, é a tentativa de fechamento
do significado frente às investidas das traduções, interpretações e difusões para que o
significado seja mantido enquanto se movimentar pelos diversos contextos. Quando a
mensagem não leva em conta as singularidades de cada receptor e seu contexto próprio,
cria a idéia de um público indiferenciado. Com a pretensão de ser universalizante,
totaliza-se o significado para atingir a “massa” (LÉVY, 2008).
Mas, diferente do que ocorre nos meios massivos,
o maior evento cultural anunciado pela emergência do ciberespaço é o
desatrelamento entre esses dois operadores sociais ou máquinas abstratas
(muito mais que conceitos!) que a universalidade e a totalização são. A
causa é simples: o ciberespaço dissolve a pragmática de comunicação que,
desde a invenção da escrita, havia conjuntado o universal e a totalidade.
Com efeito, leva-nos de volta a essa situação anterior à escrita, porém, numa
outra escala e em outra órbita – na medida em que a interconexão e o
dinamismo em tempo real das memórias em linha fazem os parceiros da
comunicação partilharem novamente o mesmo contexto, o mesmo imenso
hipertexto vivo. Qualquer que seja a mensagem abordada, ela está conectada
com outras mensagens, com comentários, em gloses em constante evolução,
com pessoas que se interessam por elas, com os fóruns onde são debatidas,
aqui e agora. Qualquer texto é o fragmento que se ignora talvez do
hipertexto móvel que o envelopa, que o conecta com outros textos e serve
como mediador ou meio para uma comunicação recíproca, interativa,
ininterrupta (...) (LÉVY, 2008, p.3)
Dessa forma ocorrem as relações interacionais no YouTube, valendo-se da
apropriação social da informação, fazendo com que os fluxos informacionais circulem
intermidiaticamente pelas redes de relacionamentos criadas pelas ações colaborativas.
No YouTube as informações são recontextualizadas em exibições e em listas de
comentários e vídeos-resposta. Fatos que ocorreram em períodos anteriores são
resgatados e colocados numa nova situação e em outro contexto temporal através das
interações.
Os fragmentos televisivos, registrados no YouTube, podem ser assistidos a
qualquer momento, estendem os acontecimentos políticos brasileiros e ultrapassam os
limites televisivos porque o que não pode mais ser assistido na TV continua sendo no
YouTube. Observa-se, assim, o imbricamento entre as lógicas de oferta e demanda da
informação. A gica de comunicação hipermidiática, que é associativa, e a lógica de
comunicação de massa, que é transmissiva, referem-se, respectivamente, às lógicas de
demanda e oferta da informação (ALZAMORA, 2006). No caso da TV, -se a
transmissão efêmera da informação que, por sua vez, perdura no YouTube, ficando
disponível para ser acessada em qualquer momento.
27
A mensagem é dinamicamente recontextualizada no YouTube porque a
interação entre os participantes é contínua e o conteúdo, consequentemente,
continuamente reelaborado. Cria-se, nessa relação, um tempo diferido (WEISSBERG,
2004) que expande a visibilidade dos fatos.
Os regimes temporais do “tempo real” e do “tempo diferido” são misturados na
internet, segundo Weissberg (2004). De acordo com o autor, o “tempo real” exprime o
regime das telecomunicações, visto que a recepção acompanha o escoamento linear da
emissão. O “tempo diferido”, por sua vez, é próprio da escrita e da leitura e implica num
adiamento dos efeitos imediatos e exige uma duração, ao contrário de “tempo real”, que
implica numa afiliação a um fluxo.
De acordo com Weissberg (2004), a internet permite a coexistência de diferentes
temporalidades, pois comporta a emissão do fluxo televisual, a semi-instantaneidade,
através de uma conversação escrita, por exemplo, e uma outra temporalidade que
intercala formas clássicas de leitura com as formas hipermidiáticas como a
multimidialidade e a hipertextualidade.
No YouTube,
a coexistência de diferentes regimes temporais pode ser percebida
através da contínua atualização do tempo
da transmissão televisiva pelo tempo das
interações sociotécnicas registradas, e as questões ali lançadas, são recontextualizadas a
cada ação colaborativa que se registra.
28
CAPÍTULO 3 A POLÍTICA NO CONTEXTO COLABORATIVO DO
YOUTUBE
3.1. Sobre a noção de política
O termo política
10
é polissêmico, podendo designar várias coisas, dentre elas: a
doutrina do direito e da moral, a teoria do Estado, a arte ou a ciência do governo e o
estudo dos comportamentos intersubjetivos (BOBBIO, 2000). Derivado do adjetivo de
pólis (politikós), política significa tudo aquilo que se refere à cidade, e, portanto ao
cidadão, civil, público e também sociável e social. O termo foi transmitido por
influência da obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada o
primeiro tratado sobre a natureza, as funções, as divisões do Estado e sobre as várias
formas de governo (BOBBIO, 2000).
Na era moderna o termo perdeu esse significado original, sendo substituído por
outras expressões como Ciência do Estado, Doutrina do Estado, Ciência Política,
Filosofia Política para enfim ser empregado para indicar atividades que têm, de algum
modo, como termo de referência a polis, isto é, o Estado (BOBBIO, 2000).
De acordo com Weber (1999) política
11
é “(...) o conjunto de esforços feitos com
vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja
no interior de um único Estado” (WEBER, 1999, p. 56). Sodré (2006, p.130) argumenta
que a política “tem sempre a ver com poder, (...) embora a ele não se reduza todo o
alcance do conceito”. A relação com o poder, segundo esse autor, dá margem a dois
entendimentos sobre a ação política: uma atividade livre do cidadão, não sujeita à ordem
jurídica, e uma ação de poder organizado, relacionada ao Estado.
Para o antigo grego, o adjetivo politikon referia-se ao originário no poder
organizador da Polis (de pelo, pelei= morar), termo que reúne as acepções
(modernamente separadas) de sociedade urbana e Estado. Partiam daí as
condições para que os cidadãos pudessem adotar um ponto de vista crítico e
racional sobre as relações do indivíduo com a comunidade, o que dava à
política o estatuto de artede participar e intervir livremente na vida pública
10
Por derivação e extensão de sentido, segundo acepções do Houaiss (online), a política pode ser
entendida como a arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, pela
influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores etc; podendo também significar o conjunto de
princípios ou opiniões políticas; o conjunto de opiniões e/ou simpatias de uma pessoa com relação à arte
ou ciência política, a uma doutrina ou ação política etc.
11
Em Ciência e Política: Duas vocações Weber discute a política relacionada ao “Estado ou a influência
que se exerce em tal sentido” mas reconhece que o conceito política “é extraordinariamente amplo e
abrange todas as espécies de atividade diretiva autônoma” (WEBER, 1999, p.55).
29
da Polis finalisticamente voltada para a subsistência da cidade e para a
liberdade dos cidadãos. Embora houvesse também um entendimento negativo
da liberdade (não governar, nem ser governado), o livre-agir comportava
principalmente uma dimensão positiva, que era a de movimentar-se na
pluralidade dos iguais (SODRÉ, 2006, p.131).
Aristóteles distinguia três modos de vida (bios) o bios theoretikos (a vida
contemplativa), o bios politikos (a vida política) e o bios apolaustikos (a vida dos
sentidos e do prazer) que os homens podiam escolher. A expressão bios politikos, no
seu emprego aristotélico, denotava explicitamente a esfera dos assuntos humanos, com
ênfase na ação (ARENDT, 2001).
Com a expressão vida activa Hannah Arendt (2001) desiga três atividades
humanas relacionadas à política: labor, trabalho e ação. O labor está relacionado ao
processo biológico do corpo humano, seu metabolismo e consequente declínio. Essa
atividade está ligada às necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no
processo de vida. O trabalho correspondente ao artificialismo da existência humana.
Essa atividade produz um mundo artificial de coisas das quais os homens usufruem.
De acordo com a concepção aristotélica, o labor e o trabalho eram considerados
insuficientes para constituir um bios, ou seja, “um modo de vida autônomo e
autenticamente humano”, pois “serviam e produziam o que era necessário e útil”,
portanto, “não podiam ser livres e independentes das necessidades e privações
humanas” (ARENDT, 2001, p.21). Esta condição eliminava o modo de vida dedicado à
sobrevivência do indivíduo, no caso o labor, o modo de vida que implicava na
necessidade de permanecer vivo o modo de vida do escravo - e também a vida de
trabalho dos artesãos. Em resumo, excluía aqueles que não tinham liberdade dos seus
movimentos e ações.
Segundo Arendt (2001), com o desaparecimento da antiga cidade-estado, a
expressão vida activa perdeu o significado estritamente político e passou a denotar todo
tipo de engajamento ativo nas coisas desse mundo. A ação passou a ser considerada
como uma das necessidades da vida terrena, e apenas a contemplação, (o bios
theoretikos), era tido como único modo de vida realmente livre.
A ação, ao contrário do labor e do trabalho, é a única atividade que se exerce
diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, e corresponde à
condição humana da pluralidade, uma vez que todos são humanos, mas diferentes entre
si (ARENDT, 2001). Ao contrário da fabricação, a ação jamais é possível no
isolamento. Estar isolado é estar privado da capacidade de agir.
30
A ação e o discurso são circundados pela teia de atos e palavras de outros
homens. Pelo fato de que se movimenta sempre “entre” e “em relação a outros seres
atuantes” (ARENDT, 2001, p. 203), os homens agem e recebem influência das ações
alheias. A ação atua sobre os que também são capazes de agir, e a reação, mesmo sendo
uma resposta, é sempre uma nova ação com poder próprio de atingir e afetar os outros.
Para Arendt (2001), o menor dos atos, nas circunstâncias mais limitadas, se converte em
reação em cadeia, pois basta um ato ou uma palavra para mudar todo um conjunto.
A ão e o discurso ocorrem entre os homens, na medida em que a eles são
dirigidos e, através dos discursos, os homens se revelam e demonstram suas concepções
e interesses. Esses interesses movem os homens em suas ações e por isso mesmo,
constituem o elemento que os relaciona e interliga. Segundo Arendt (2001), ação e
discurso referem-se à mediação dos diversos grupos sociais, sendo que as palavras e
atos, além de revelar quem fala e age, referem-se a alguma realidade mundana e
objetiva.
Como esta revelação do sujeito é parte integrante de todo intercurso, até
mesmo do mais objetivo, a mediação física e mundana, juntamente com os
seus interesses, é revestida, por assim dizer, sobrelevada por outra mediação
inteiramente diferente, constituída de atos e palavras, cuja origem se deve
unicamente ao fato de que os homens agem e falam diretamente uns com os
outros. Esta segunda mediação subjetiva não é tangível, pois não objetos
tangíveis em que se possa materializar: o processo de agir e falar não produz
esse tipo de resultado. Mas, a despeito de toda a sua intangibilidade, esta
mediação é tão real quanto o mundo das coisas (ARENDT, 2001, p.195).
A ação, que define o homem como ser político, ou o livre-agir político, como
prefere Sodré (2006), é respaldado pela ética
12
(SODRÉ, 2006). A ética, nesse caso,
refere-se à reflexão sobre a relação entre indivíduo e comunidade, relacionada à
organização que visa o bem comum. Enquanto a ética antiga
13
diz respeito às virtudes
nos modos humanos, a política diz respeito ao governo da polis, ou seja, o controle e a
participação dos cidadãos nos meios cabíveis com o propósito de atingir o bem comum.
12
“Por um lado, a ética consiste em estratégias normativas, para o controle e o ajustamento do agir à
idealidade da polis; por outro, num nível muito mais complexo, em sinalizações para o limite (a morte)
inerente a toda forma de poder já construída e cristalizada. É que, no agir, no comandar uma ação
essencial (arkhein, em grego; agere, em latim), capaz de dar vida a uma nova forma, está a liberdade do
grupo” (SODRÉ, 2006, p.133).
13
Sodré discute a ética a partir do sentido grego (“vinculada ao desejo ancestral de equilíbrio
comunitário”) (2006, p.132), passando pela concepção ética moderna, relacionada a deontologia,
confundindo-se com a moral, até a ética relacionada ao universal, uma vez que trata de questões
relacionadas ao bem e ao mal, ao justo e ao injusto, “mistérios a ser sondados por todos os agrupamentos
humanos”. Mas, segundo esse autor, mesmo com todas as mudanças no conceito, a ética está sempre
relacionada à idéia de organização para o bem comum.
31
O exercício ético da política se legitima por uma virtude, ligada ao bem comum.
Sodré (2006) discute a vinculação da ética com a política no sentido de que a ação
política decorre da vocação humana para escolher em função do bem comum e do bem
individual:
O homem como “animal político” ou “animal social” (...) é esse ser que tem a
particularidade da busca de um “comum” inscrita em seu leque de
possibilidades e “naturalmente” dirigida para a relação harmoniosa com o
outro na polis, porque, diferentemente dos animais, é dotado de logos, ou
seja, de capacidade de tomar a palavra e decidir eticamente sobre o justo e o
injusto (SODRÉ, 2006, p.135).
Edgar Morin (2007) discute que não se pode separar nem confundir ética e
política, uma vez que as finalidades éticas exigem uma política, e a política, por sua vez,
exige um mínimo de meios e finalidades éticas. Segundo o autor, as relações entre ética
e política devem ser pensadas como complementares, concorrentes e antagônicas uma
vez que
não se pode aceitar a dissolução da ética na política, que se torna então puro
cinismo; não se pode sonhar com uma política serva da ética. A
complementaridade dialógica entre a ética e a política comporta a
dificuldade, a incerteza e, às vezes, a contradição. Quanto mais a política atua
no que a sociedade tem de complexo, mais são imperiosos os imperativos
éticos de liberdades e direitos; quanto mais se degradam as solidariedades e
comunidades, mais elas são necessárias. Nesse sentido, uma política da
complexidade carrega uma permanente aporia (MORIN, 2007, p.80-81).
3.1.1 Política e visibilidade
O bios politikos, segundo Arentd (2001), implicava que o homem vivia, além de
sua vida privada, uma segunda vida a vida política. Segundo essa autora, a partir do
surgimento da cidade-estado, considerava-se que o cidadão pertencia a duas ordens
distintas de existência e estabeleceu-se uma grande diferença entre o privado e o
comum. O espaço público, no qual os homens exercem suas ações políticas, se ocupa
dos assuntos da ordem do que é comum.
O termo público designa o “ordenamento estatal (direito e político) da vida
social” (SODRÉ, 2002, p.39) e também siginifica o espaço social no qual tudo que é
entendido como da ordem do comum torna-se visível. Segundo Arendt (2001),
32
tudo o que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior
divulgação possível. A aparência aquilo que é visto e ouvido pelos outros e
por nós mesmos constitui a realidade. A percepção da realidade depende
totalmente da aparência, e portanto, da existência de uma esfera pública na
qual as coisas possam emergir da trevas da existência resguardada
(ARENDT, 2001, p.59).
O exercício das atividades na polis considerava o discurso como meio de
persuasão fundamentado pelo princípio da publicidade de tornar públicas as questões,
em oposição à política de segredo. No espaço público tudo deveria ser decidido
mediante palavras e persuasão e não através da força e da violência (ARENDT, 2001).
Os espaços de visibilidade pública são palco de lutas ideológicas entre diversos
atores que agem segundo suas orientações e nele tentam presentificar-se de modo
privilegiado. Esses espaços são disputados por diferentes interesses, que tentam tornar-
se visíveis de forma positiva. Para alcançar visibilidade é preciso atrair, prender o olhar
do outros, seja pela razão ou pela emoção (WEBER, 2006).
A visibilidade num espaço público depende das estratégias e mecanismos que
constituem a imagem pública dos fatos e pessoas e também das significações culturais e
sociais desses fatos no corpo social, que ocorrem a partir das representações construídas
nas mediações simbólicas que atravessam o pensar, o falar, o sentir, como discute
Weber (2006).
Escolher o que é visível numa lógica hipermidiática da comunicação pressupõe a
diversificação dos processos de mediação, o tensionamento entre as instâncias da
emissão e recepção da relação comunicacional. reside a diferença entre a lógica
colaborativa, que configura o funcionamento do YouTube, e a lógica de comunicação
de massa, característica da TV, de onde provêem os fragmentos apropriados.
No YouTube, os colaboradores se apropriam de fragmentos de produtos
televisivos para dar visibilidade a determinados assuntos, e, em alguns casos, estender a
visibilidade através da interlocução. O ato de postar é, portanto, simultaneamente, uma
forma de interpretar, conferir visibilidade e propiciar formas de diálogo a partir do
fragmento de vídeo que o colaborador julga relevante.
A “política brasileira” poderia ser construída no YouTube de forma a explorar as
possibilidades de criação de conteúdo por parte daqueles que não têm acesso
privilegiado ao espaço de visibilidade pública dos meios de comunicação de massa.
Mas, mesmo com a possibilidade de criação de conteúdo, algumas questões
33
apresentadas pela TV continuam sendo importantes e recorrentes, tornando-se visíveis
em dois meios distintos, sendo que, no YouTube, a visibilidade é estendida.
Em função das características hipermidiáticas do YouTube, há a possibilidade de
que a partir da apropriação social das informações televisivas - transportadas para um
contexto colaborativo - exista interlocução entre os participantes num esquema direto,
que seria registrado através dos comentários e vídeos-resposta. Essas formas de
interação poderiam ser desenvolvidas no YouTube, mas não na televisão. Na maioria
dos casos os colaboradores não usufruem dessas possibilidades de interação, pois o que
fica registrado no YouTube, principalmente, é a audiência, o que é mais visível, e, em
menor escala, a interlocução registrada através de comentários e vídeos-resposta.
3.1.2. Política e midiatização
Considerando o poder da mídia e a simbiose que ela estabelece com a sociedade,
e, a partir das três dimensões atribuídas por Aristóteles à vida humana em sociedade: o
bios theoretikos (a vida contemplativa), o bios politikos (a vida política) e o bios
apolaustikos (a vida dos sentidos e do prazer), Sodré (2002) identifica na sociedade
contemporânea uma nova dimensão: o bios midiático.
A existência desse quarto bios determina um novo modo de presença no mundo,
uma vez que a mídia assume um papel incomensurável na vida social e ser
“midiatizado” significa estar incluído no tecido social. Essa quarta esfera existencial,
criada a partir da saturação midiática e de suas diversas implicações para a vida social, é
regida pela midiatização, definida por Sodré (2002) como
uma ordem de mediações socialmente realizadas no sentido da comunicação
entendida como processo informacional, a reboque das organizações
empresariais e com ênfase num tipo particular de interação – a tecnointeração
(SODRÉ, 2002, 21).
A tecnointeração caracteriza-se “por uma espécie de prótese tecnológica e
mercadológica da realidade sensível, denominada medium(SODRÉ, 2002, p.21), que,
por sua vez,
é o fluxo comunicacional, acoplado a um dispositivo técnico e socialmente
produzido pelo mercado capitalista, em tal extensão que o digo produtivo
pode tornar-se ambiência existencial (SODRÉ, 2002, p.20).
34
Com a midiatização, as formas tradicionais de sociabilização são alteradas,
assim como as formas de perceber e pensar a realidade. Surge, nesse contexto, um novo
tipo de relacionamento do homem com as referências que o cercam, reconfigurando as
diversas relações sociais.
Como propõe Sodré (2002), com a midiatização a política mostra-se de forma
autônoma em relação às outras práticas sociais e assim desvinculada da esfera pública.
Ela não ocupa mais o lugar central do espaço público e passou a ser vivida de modo
fragmentado pelos cidadãos.
No campo político, segundo Sodré (2002, p. 16), a tecnointeração faz com que a
“representação seja convertida em performance imagística dos atores políticos”. Esse
autor destaca o poder das imagens e a rapidez das transmissões nas sociedades
miditizadas e contrapõe essas relações com a escrita e a modernidade:
No sistema moderno de comunicação das sociedades ocidentais, seja baseado
na transmissão ou na escrita, as informações eram simplesmente
representadas, apresentadas ao receptor numa forma isenta de sua dinâmica
ou de seu fluxo original, o que implica como principais recursos de
linguagem, a palavra e o conceito. Nesta esfera movem-se o livro e a
imprensa clássica, caracterizada pela ideologia política das liberdades civis e
do discurso crítico (...). Com as tecnologias do som e da imagem constitui-se
o campo do audiovisual, e o receptor passou a acolher o mundo em seu fluxo,
ou seja, fatos e coisas reapresentados a partir da simulação de um tempo vivo
ou real, na verdade uma outra modalidade de representação, que supõe um
outro espaço-tempo-social (imaterialmente ancorado na velocidade do fluxo
eletrônico) um novo modo de auto representação social e, por certo, um novo
regime de visibilidade pública (SODRÉ, 2002, p.16).
Embora não se refira à midiatização, mas à mediatização, Braga (2007) propõe a
idéia de mediatização como processo interacional em marcha acelerada para se tornar o
processo de “referência”. Segundo esse autor, um processo interacional de referência,
em um determinado âmbito, o tom aos processos subsumidos, que passam a
funcionar segundo suas lógicas. Assim, dentro da lógica da mediatização, os processos
sociais de interação mediatizada passam a incluir, a abranger os demais, que se ajustam.
De acordo com Braga,
A situação em que nos encontramos, a partir dos desenvolvimentos
interacionais ocorridos substancialmente no século XX, poderia ser então
descrita como uma transição da escrita enquanto processo interacional de
referência (nos países centrais da instauração burguesa) para uma crescente
mediatização de base tecnológica. Com a mediatização, a processualidade
diferida e difusa adquiriu diferente amplitude e diversas qualidades
adicionais. Uma delas é a possibilidade de “mostrar”, por representação da
imagem e/ou do som, os objetos e situações. Tais processos, antes dos inícios
da mediatização tecnológica eram acessíveis através de total dependência da
35
palavra (ou seja por transposição); enquanto que, com a mediatização, a
palavra suporta, complementa e faz avançar os processos, mas não é
responsável pela “totalidade” de passagem da objetivação (do objeto ou da
experiência objetivada) (BRAGA, 2007, p.150).
Nessa perspectiva, um traço marcante do processo de midiatização é a
autolegitimação da imagem, principalmente da imagem em movimento acompanhada
pela palavra escrita ou falada, que se transformou em critério essencial de autoridade em
função da verossimilhança e registro do real, como discute Orozco Gómez (2006). Essa
questão é perceptível na ação colaborativa de postar fragmentos televisivos no
YouTube, referenciá-los no âmbito temático “política brasileira”, comentá-los e
respondê-los com outros vídeos.
Nas interações multimidiáticas do YouTube os vídeos têm papel de destaque
pois a maioria deles não tem comentários nem vídeo-resposta, e é só a partir da exibição
que as ações de comentar e responder se realizam. Os textos explicativos dos vídeos
servem como complemento, não faz sentido lê-los sem assistir aos deos. as tags e
as palavras dos títulos, próprias da mediação textual, dão acesso aos vídeos no sistema
de busca, são conceitos que apresentam a visão de seus colaboradores sobre a “política
brasileira” que precedem a mediação videográfica.
As imagens e os textos, que combinados, conformam a mediação videográfica e
textual do YouTube, são diferentes formas de linguagem, criadas a partir de duas
formas distintas de pensar – através de imagens e através de conceitos. Segundo Flusser
(2007), a realidade é contruída através de três reinos o reino da experiência imediata
o mundo dos fatos e os reinos das imagens e dos conceitos mundos da ficção, que,
por sua vez, “quase sempre finge representar os fatos, substituindo-os e apontando para
eles” (FLUSSER, 2007, p.113)
Há dois tipos de ficção: a conceitual e a imagética. As linhas escritas relacionam
seus símbolos a seus significados, concebem os fatos que significam, enquanto as
superfícies (imagens) os relacionam por meio de um contexto bidimensional, imaginam
os fatos que significam (FLUSSER, 2007). A imagem parece remeter necessariamente e
como que naturalmente àquilo que ela representa, pois uma relação de semelhança
entre a imagem e aparência da coisa representada. A palavra, por sua vez, remete,
convencional e arbitrariamente, àquilo que ela representa (WOLFF, 2005).
Códigos imagéticos são subjetivos, baseados em convenções que não precisam
ser aprendidas conscientemente, por isso a imagem tem caráter universal (WOLFF,
36
2005). Por sua vez, códigos conceituais são baseados em convenções que precisam ser
aprendidas e aceitas conscientemente, ou seja, se se domina o significado do código é
possível ler.
O pensamento linear tenta se mostrar coerente. As idéias são desdobradas
sequencialmente e a forma de pensar é justificada pela explicação dos fatos, o que
denota uma dinâmica processual. Essa idéia pode conduzir à interpretação de que a
ficção conceitual (pensamento em linha) é superior e posterior à ficção imagética
(pensamento em superfície) na medida em que torna objetivos e conscientes os fatos e
eventos. A premissa cartesiana de que pensar significa seguir a linha escrita não
crédito à imagem como maneira de pensar (FLUSSER, 2007).
De acordo com Woff (2005, p.26), como não dispõe de conceito, “a imagem não
pode raciocinar, comparar, induzir, ela não pode explicar”. Mas o que a escrita o é
capaz de descrever a imagem pode mostrar com um simples olhar. O que a imagem
mostra, “nada pode dizê-lo, e, sobretudo, aquilo que vemos, vivemos, experimentamos,
nós o vemos, vivemos, sentimos, experimentamos no singular” (WOLFF, 2005, p.26).
O poder das imagens também está relacionado a isso: elas são capazes de suscitar as
emoções e paixões humanas, tudo o que a imaginação de tornar o ser ausente presente é
capaz de criar.
No YouTube, as imagens e os conceitos estão interligados. Conjugados, são
responsáveis criação de uma linguagem híbrida, que se singulariza por meio das
mediações diversificadas, observadas pelas interações multimidiáticas. Os pensamentos
conceituais e imagéticos são tensionados, primeiramente, pela mediação audiovisual
(colocada em cena pela apropriação dos produtos televisivos) e num segundo momento
pela conjugação da mediação videográfica com a textual, num formato hipertextual.
Como discute Machado (2001), os produtos televisivos são fundados, em sua
maioria, num discurso oral, como por exemplo, as matérias jornalísticas, os
pronunciamentos, as entrevistas e outros. A representação por imagens é conjugada aos
textos que, nesses formatos apresentados, são oralizados e/ou escritos.
Após a apropriação social da informação, a mediação colaborativa deixa suas
marcas no conteúdo através da conjugação de textos e imagens, e das duas formas de
pensamento que lhes são próprias, expressas como mediações videográficas e textuais
diversificadas, específicas do YouTube. Os vídeos que se constituem de fragmentos
televisivos apropriados são produto das conjugações de imagens (paradas e em
movimento) e textos (falados, cantados e escritos), somados aos comentários (textos),
37
tags (conceitos que se apresentam como palavras-chave, responsáveis pelo acesso à
informação), categorias e palavras dos títulos.
O sistema de busca é criado por meio de textos (tags, títulos e categorias). Do
conceito da tag e dos títulos dos vídeos cria-se a automatização da mediação que se
através do sistema de busca, como discute Weissberg (2004).
Depois que o vídeo é acessado, ao contrário do sistema de busca, a mediação
videográfica tem mais poder que a mediação textual, pois é a partir do vídeo que se
desenvolvem as interações sociotécnicas através de comentários, respostas, etc.
O ato de recortar fragmentos televisivos e disponibilizá-los para interlocução no
YouTube ressalta a densidade simbólica desse procedimento intermidiático, típico do
ecossistema comunicativo contemporâneo. Como destaca Santaella (2008, 80-83) ao
integrar interativamente sons, imagens e textos escritos
14
, a hipermídia “hibridiza a
densidade simbólica, fazendo com que ocorra uma reintegração cultural da dimensão
sensível, (...) separada e desvalorizada pela racionalidade e pelo discurso lógico”.
A “emergência de um complexo ecossistema comunicativo” e a “explosão das
mediações” (OROZCO GÓMEZ, 2006, p.88) corresponde à multiplicação das
linguagens híbridas propiciada pela mediação tecnológica dos meios, através de
movimentos hipermidiáticos e intermidiáticos.
Na medida em que a tecnologia cria novas formas de produzir linguagem e
configura novas formas interacionais, os aparatos cognoscitivos humanos também
sofrem transformações. Segundo Orozco Gómez (2006), as mediações cognoscitivas,
como a própria capacidade de percepção, são alteradas devido às possibilidades
tecnológicas de transmissão da informação, conjugadas com o caráter híbrido das
linguagens que ordenam a mediação tecnológica. Com esses processos contemporâneos
de midiatização, as diversificadas formas de relações humanas e a própria compreensão
da realidade modificam-se.
Contrapondo razão e afeto, o racional e o sensível, Sodré (2006) propõe a leitura
de que com a mediação tecnológica e a multimidialidade, vive-se além do tempo
histórico no qual prevalecia o pensamento conceitual e seqüencial. Localizado num
contexto marcado pela imagem e pelo sensível, o homem ainda não é capaz de elaborar
14
Segundo Santaella (2008), as linguagens hipermidiáticas mudaram “o modo como não o
texto, mas também a imagem e o som costumavam ser entendidos” (SANTAELLA, 2008, p.84).
38
um entendimento coerente com a realidade que o cerca. Segundo esse autor, um
descompasso teórico, uma vez que
a nova temporalidade da técnica parece apontar para o que conforma
esteticamente a dimensão do “sensório”, isto é, a forma e o sensível, sem os
compromissos teleológicos extraídos da racionalização weberiana tomada ao
pé da letra (SODRÉ, 2006, p.15).
Esse autor elabora seu pensamento de forma a conceber uma realidade que está
além dos conceitos, que tem mais a ver com o sensível do que com a razão e que
contrapõe a cultura imagética e as mediações conceituais dos sistemas representativos.
Sodré (2006, p.24) observa que o poder dos afetos (e a imaginação imagética), “(...)
além de preceder a discursividade da representação, é capaz de negar sua centralidade
racionalista (...)”.
3.1.3. Vínculos sensíveis em contextos de partilha
Segundo Sodré (2006, p.125), a política foi a marca da modernidade, e “a
estética arrisca-se a ser a marca da pós-modernidade”. Estética no sentido de
experimentação conjunta de emoções. De acordo com o autor, a forma política atingiu
sua completa saturação, que indica a substituição de uma forma socialmente dominante
por outra, criando uma transfiguração do político. A forma dominante se mostra agora
através da efervescência ética de novas formas sociais, que se caracteriza pela
experiência comum, pelo imaginário coletivo e pela acentuação do tempo presente, o
que, segundo ele (2006), evoca a originariedade da estética.
Ou seja, estética e ética estariam interpenetrando-se de modo socialmente
dominante, o que deslocaria o cálculo utilitário como fundamento da ação
individual em favor de estilos de vida mais ligados às aparências, às formas
não produtivistas ou instrumentais (SODRÉ, 2006, p.166).
Freitas (2006) aborda a relação entre estética e política com base no pensamento
de Ranciére (2005). Esse autor discute o processo de dupla contaminação na relação
estética e política, e como se deve levar em conta que na base da política uma
estética primeira, “um modo de dividir e compartilhar a experiência sensível comum”
(FREITAS, 2006, p. 216). A partilha do sensível, por sua vez, é uma forma de
subjetividade política, uma distribuição de lugares e um modo negociado de visibilidade
(FREITAS, 2006).
39
Sodré (2006) concorda com o argumento de que na política uma estética
primeira e destaca que não há novidade na associação da política com a estética, uma
vez que na Grécia Antiga tornar-se visível no espaço comum, considerado pelo autor
um apelo aos sentidos, era a base da atividade política. Isso implicava uma estética
primeira, que determinava quem e o que seria visível ou invisível na cena pública.
A forma de partilhar, segundo Sodré (2006) determina a distribuição dos lugares
de visibilidade e quem participa nesses lugares. A política, por sua vez, diz respeito ao
que se e ao que se percebe, ou seja, o que é visível no âmbito da polis e o que se
pensa sobre o que é visível (SODRÉ, 2006).
Para Maffesoli (2005, p.16), “além das diversas racionalizações e legitimações
políticas, há no fundamento de todo estar junto, um conglomerado de emoções ou
sentimentos partilhados”. É a partir disso que ele analisa a emergência de uma cultura
do sentimento na qual predominam a vivacidade das emoções comuns e a necessária
abundância de supérfluo que orientam a socialidade pós-moderna. A “transfiguração do
político”, que esse autor propõe, ocorre quando a dimensão do emocional toma o lugar
da argumentação, quando o sentimento toma o lugar da convicção (MAFFESOLI,
2005).
Maffesoli (2005) entende que o homem, como ser simbólico, não pode ser
reduzido à gica racional e utilitária, nem ter desconsiderada sua dimensão mágica,
poética, sonhadora, da afetividade e do supérfluo. Sodré (2002, 66-70) se aproxima
dessa discussão e argumenta que, sob o pano de fundo de uma “estetização generalizada
da vida social”, as identidades pessoais, “os comportamentos e até mesmo os juízos de
natureza supostamente ética passam pelo crivo de uma comunidade do gosto”, e não da
racionalidade.
Criadas a partir da cultura colaborativa, as interações no YouTube se
desenvolvem com base na idéia da “partilha”, orientadas pelo afeto e pela sensibilidade
O afeto, que configura a estetização da vida social (SODRÉ, 2006), revela-se, um
mecanismo de compreensão, reorientando hábitos e percepções, que ganha legitimidade
assim como a racionalidade. Dessa forma, vários aspectos sociais são ressignificados,
colonizados pela lógica da imagem, do sensório.
Assim registram-se as interações em torno de temas políticos do Brasil no
YouTube, fundadas pela idéia de partilha de informações através de seus contextos de
visibilidade. Os participantes não negociam entendimentos políticos argumentando, mas
expressam-se superficialmente com base nos dizeres da TV, valendo-se da mediação
40
videográfica e textual que dispõem para alcançar visibilidade para as questões que
desejam divulgar.
O site configura-se como um espaço multimidiático de compartilhamento,
interação e integração simbólica. A colaboração e a partilha são as palavras de ordem na
estruturação desse ambiente sociocomunicacional. As interações multimidiáticas que ele
ambienta demonstram as formas de apresentação das posições adotadas pelos
participantes baseadas no gosto. Ao interagir de maneira colaborativa, os participantes
partilham concepções de fundo afetivo, que são representadas nas suas ações dentro do
YouTube, nas relações que demonstram com os deos a que assistem, que respondem,
que comentam etc.
No ambiente em questão, pode-se considerar que ocorre o que Sod (2006)
chama de “partilha social fortemente apoiada em emoções fragmentárias” (SODRÉ,
2006, p.85). Um lugar de interação mais centrado na sensibilidade do que no
racionalismo. Os colaboradores estão presentes no espaço YouTube para se representar
para o outro e também para acessar imagens do outro. Por alguns minutos assistem a um
vídeo e, caso sejam estimulados a retornar pontualmente a mensagem consumida o
farão através de um comentário ou resposta.
Os entendimentos da “política brasileira” não se mostram através da
racionalidade, mas sim pelas posições adotadas com base nos sentimentos. um agir-
político que demonstra a vontade dos participantes em denunciar, criticar políticos,
tornar públicas questões diversas, que eles consideram importantes no sentido de busca
do bem comum, mas que não se desenvolvem como uma discussão política.
Os participantes demonstram suas percepções como cidadãos em relação ao
governo, agem politicamente ao tornar públicas essas percepções. Mas esse agir-político
não está relacionado a uma livre discursividade, baseada numa troca razoável de
argumentos. As percepções dos participantes visíveis na cena “política brasileira” são
criadas a partir dos afetos, da dimensão sensível e sua relação com a política.
A presença marcante da imagem nas trocas comunicativas, que caracteriza a
mediação videográfica e textual do YouTube demonstra os vínculos entre os
participantes e a forma como se elabora a própria política - através das interações hiper
inter e multimidiáticas, nas quais os participantes expõem suas posições políticas.
diversas orientações em jogo num espaço plural como o YouTube, que abarca as mais
variadas questões e permite que sejam indexadas como questões “políticas”.
41
3.2. Singularidades da cena política do YouTube
A popularidade do YouTube demonstra como esse site se tornou um centro de
visibilidade privilegiado para assuntos diversos, inclusive para aqueles relacionados à
política. O site oferece espaço para que políticos tornem-se visíveis através de canais
especiais
15
. A política também tem espaço no YouTube através da categoria notícias e
política.
Além disso, o YouTube vem desenvolvendo recursos para se consolidar como
um local de interlocução de temas políticos, fomentando a participação de seus
colaboradores no desenvolvimento de questões dessa natureza através, por exemplo, de
dois canais específicos para tratar a questão política: o CitizenTube e o YouChoose, que
são destinados à apresentação e à interlocução de temas políticos. Esses dois canais dão
espaço para manifestação de idéias tornando públicas questões diversas através da
postagem de vídeos, disponibilizando informações para conhecimento público e
intervenção através de comentários e respostas.
O YouChoose é um espaço para a apresentação das plataformas eleitorais dos
candidatos à presidência dos EUA nas eleições de 2008 e também para a intervenção
dos eleitores. No YouChoose, políticos e cidadãos, candidatos e eleitores têm espaço
para apresentar suas idéias, discutir propostas e exigir prestação de contas, respondendo
afirmativamente aos pressupostos democráticos.
Nesse espaço, os políticos norte-americanos expõem suas causas, propostas de
governo, plataformas eleitorais e pronunciamentos, ao mesmo tempo em que os
eleitores se informam, fazem perguntas, criticam e/ou apóiam as questões levantadas, ou
seja, é um canal para comunicação direta entre eleitores e políticos.
Antes das eleições, que ocorreram no dia 04/11/2008, a disponibilização das
informações no YouChoose encontrava-se da seguinte maneira: divididos em
Republicanos e Democratas, os canais dos candidatos Barack Obama e John McCain.
No período anterior à definição dos candidatos pelos partidos, havia mais candidatos e
os vídeos estavam organizados de acordo com os temas Educação, Energia, Saúde,
Imigração, Guerra no Iraque e Economia e os canais dos candidatos divididos em duas
colunas: Republicanos e Democratas. Depois da definição dos candidatos McCain e
15
Os canais são dividos segundo a atuação dos colaboradores, e assim como os diretores, músicos, etc, há
os canais de políticos A grande maioria dos canais é de políticos dos EUA. Não há canais de políticos
brasileiros.
42
Obama, esses vídeos não estavam mais divididos em temas, mas misturados nos
favoritos, inscritos e inscrições.
O YouChoose, embora conte com mais links, se apresente com um layout mais
elaborado e tenha destaque no link canais da página inicial do YouTube, apresenta o
mesmo esquema de organização da informação dos outros canais: lista de deos
postados, de vídeos favoritos, de inscritos e de inscrições. Nos canais dos então
candidatos, Obama e McCain, há links para os sites oficiais de suas campanhas.
Os vídeos apresentados não diferem muito das propagandas eleitorais veiculadas
na TV, tratam de temas ligados às campanhas, e são, em sua maioria, pronunciamentos,
entrevistas, depoimentos de diversas pessoas que apóiam os candidatos, etc. Por
intermédio desses vídeos os eleitores podem dialogar diretamente com os políticos
através de comentários em texto ou respondendo com outros vídeos às postagens que
cada candidato faz.
A discussão nesse ambiente, especificamente, ocorreu numa perspectiva
intermidiática, visto que através de uma parceria com a CNN, o YouChoose
disponibilizou os debates televisivos e algumas questões lançadas no site migraram para
a TV e vice-versa. No YouChoose um link para CNN/YouTube Debates. Além de
mostrar os debates que foram veiculados na CNN, os eleitores podem também postar
seus próprios vídeos com perguntas e como repostas aos vídeos assistidos.
Os vídeos postados no YouTube foram exibidos em um telão nos debates que
definiram as prévias dos partidos, e as perguntas que os eleitores faziam através desses
vídeos eram respondidas pelos candidatos durante o debate.
o CitizenTube é um canal que fomenta a interlocução em torno de temas que
dizem respeito às eleições, aos políticos, mas também a questões relativas à cidadania,
às opiniões e concepções dos cidadãos e suas relações diversas com a coletividade.
O CitizenTube permite que os atores da sociedade civil apresentem questões que
julgam importantes, dando-lhes visibilidade e permitindo que sejam comentadas e
respondidas. Os temas levantados em discussões nesse canal são os mais diversos:
pedidos de ajuda humanitária para países pobres e em guerra, para vítimas de desastres
naturais, questões étnicas e xenofobia, problemas ambientais, problemas de imigração
ilegal, e muitos outros.
Portanto, nesse canal configura-se um entendimento amplo da política, que vai
além da política eleitoral do YouChoose, embora os temas relativos à eleição americana,
43
como as perguntas para os candidatos e os próprios pronunciamentos desses também
estejam presentes.
Considerando esses canais, pode-se perceber que o site em questão procura criar
espaços para interlocução de temas políticos, e que, em função dos elevados números de
acesso, firma-se como um centro de grande visibilidade.
A “política brasileira” no YouTube apresenta-se não apenas como um espaço de
interação em torno da política partidária e eleitoral como o YouChoose. Engloba essas
temáticas e estende as mais diversas designações do termo política, o que pôde ser visto
através da exploração do conteúdo relacionado.
3.2.1. Registros colaborativos sobre “política brasileira”: fluxos intermidiáticos
As interações sociotécnicas no YouTube, entendidas como níveis operativos do
processo mediador (SODRÉ, 2002), configuram os regimes de visibilidade da cena
“política brasileira”. Essas interações relacionam-se à colaboração e às trocas inter e
multimidiáticas próprias do YouTube, são, portanto, tecnointerações delimitadas pelas
especificidades do ambiente em que se localizam.
Pode-se dizer então que o YouTube é um ambiente midiatizado no qual uma
espécie de resposta social intermidiática aos produtos televisivos é registrada através
das interações. As interações no YouTube permitem observar as formas de mediações
que são analisadas nessa pesquisa sob o viés da multimidialidade, que caracteriza a
mediação videográfica e textual, e sob a perspectiva da intermidialidade, marcada pela
apropriação social da informação e pela intervenção colaborativa na informação
apropriada, ocasionando a sobreposição da mediação televisiva pelas mediações
sociotécnicas próprias do YouTube.
Não apenas a mediação dos meios, mas também as mediações simbólicas,
próprias das culturas, devem ser consideradas para entender as especificidades das
mediações tratadas nessa pesquisa. Sabe-se que, originalmente, a palavra mediação foi
apresentada como propriedade exclusiva dos meios de comunicação (OROZCO
GÓMEZ, 2006), mas deve-se considerar que “toda cultura implica mediações
simbólicas tais como linguagem, leis, artes, escola, etc” (SODRÉ, 2002, p.21) que são
bases materiais usadas pelas mediações para inscrever-se na ordem social. Estas bases
são as diversas instituições ou formas reguladoras da sociedade. “Valores e normas
44
institucionalizados legitimam e outorgam sentido social às mediações” (SODRÉ, 2002,
p.21).
As mediações devem ser consideradas “processos estruturantes provenientes de
diversas fontes” (OROZCO GÓMEZ, 2006, p.88), não apenas dos meios de
comunicação e das instituições, mas dos mais diversos locais que ambientam processos
de comunicação e conformam as interações.
Com este entendimento sobre as mediações, o que atualmente se mostra é um
jogo diferente de seus pesos específicos na comunicação social. Se antes as
mediações institucionais desempenhavam um papel muito importante na
definição e orientação das produções de sentido, na atualidade, essas
instituições picas da modernidade perderam sua força (OROZCO GÓMEZ,
2006, 89).
Desse modo, criam-se novas formas de mediação ao mesmo tempo em que
outras desaparecem. A resposta social que se registra no YouTube através dos contextos
de visibilidade mediados é produto de uma sobreposição de mediações de naturezas
diversas, marcadas por fluxos intermidiáticos, como será apresentado adiante.
Na cena “política brasileira” do YouTube, considerando o recorte intermidiático
proposto, as interações entre seus participantes configuram os regimes de visibilidade
que nela operam. Isso ocorre a partir da apropriação social da informação televisiva
(através de um fluxo intermídias) e das interações colaborativas, que geram um
conteúdo informativo aberto ao acesso e à intervenção públicos, portanto, em processo
de constante mutação.
Além da apropriação social da informação, registra-se também a ação dos
participantes através das intervenções no fragmento apropriado. Ocorre, nesse caso, o
que Lev Manovich (2008) chamou de collaborative remixability
16
, que se configura
como um processo de transformação no qual a informação, que é partilhada entre os
diversos participantes, é recriada através das interações, apresentando novas formas na
medida em que é mediada colaborativamente.
16
Manovich (2008) descreve esse processo da seguinte forma: a recepção é uma estação na qual a
informação permanece temporariamente. Ela chega, é misturada a outras informações, e então segue seu
curso até a próxima estação, quando o processo se repete.
45
Fig.4 A informação televisiva é apropriada e sofre as intervenções colaborativas gerando o novo produto:
o vídeo constituído de fragmentos televisivos.
As mediações colaborativas no YouTube são marcadas pela hibridização das
linguagens imagéticas e textuais que caracterizam as interações nesse ambiente.
Entretanto, deve-se considerar que essas mediações registram, através das interações
multimidiáticas, os entendimentos dos participantes do YouTube sobre a “política
brasileira” a partir da TV.
Os diversos entendimentos e percepções em jogo na cena “política brasileira”
emergem de relações complexas entre formas de mediações distintas. As mediações
diversificadas que determinam os regimes de visibilidade da cena “política brasileira”
resultam também das diversas mediações sociais que permeiam a formação dos sentidos
criados pela mediação da TV.
Essas mediações fazem parte do conjunto de mediações que configuram a cena
“política brasileira” porque se inserem na complexa rede de interações sociais que
emerge a partir dos produtos televisivos e que se registram, em parte, através das
interações sociotécnicas no YouTube.
46
Fig.5 A sobreposição de mediações ocorre a partir da mediação da TV. As diversas mediações
sociais orientam a construção dos sentidos que se mostram por meio do que é visível e como é visível na
“política brasileira” a partir da TV. As intervenções colaborativas registram-se mediante a sobreposição
da mediação audiovisual da TV pelas mediações sociotécnicas do YouTube. Ou seja, diversificadas
mediações sociais e sociotécnicas (próprias do YouTube) reconfiguram a mediação televisiva criando um
novo produto que demonstra a compreensão colaborativa da “política brasileira”.
Os processos de mediações no cenário “política brasileira” do YouTube têm
início a partir da mediação da TV, quando o conteúdo relacionado a esse tema é
apropriado dessa privilegiada instituição de mediação. Da mediação televisiva, ocorrem
mediações colaborativas, analisadas sob dois aspectos. O primeiro deles refere-se aos
aspectos das linguagens e das formas interacionais próprias de cada meio, ou seja,
relaciona a mediação audiovisual da TV sobreposta pela mediação videográfica e
textual do YouTube a partir das interações colaborativas.
A mediação videográfica conjugada com a textual da palavra escrita e/ou
oralizada/cantada faz com que textos e imagens, de todos os tipos, se misturem. Dessa
forma, cria-se a interação multimidiática no YouTube: caracteristicamente híbrida,
miscigenada, intermidiática. Sons, palavras escritas e oralizadas e imagens são
reconfigurados para, juntos, conformarem estruturas fluidas que ambientam e se
desenvolvem a partir das interações.
Após a circulação intermidiática, as informações apropriadas da TV passam por
uma reconfiguração através das interações colaborativas e são ajustadas de acordo com
as especificidades das formas de linguagem próprias do YouTube, meio para o qual
foram transpostas.
47
Como ambiente colaborativo, o YouTube estende as possibilidades interacionais
através dos comentários e vídeos-resposta, permitindo a interlocução direta entre os
participantes, o que o é possível na TV. As interações também expandem a
visibilidade dos fragmentos televisivos e permitem que eles estejam sempre abertos à
intervenção dos participantes.
As mediações configuradas pelas especificidades da TV e do YouTube,
relacionadas às formas de linguagens e às possibilidades de interação próprias de cada
meio, assim como as mediações sociais mais diversificadas que atuam na construção da
resposta social, todas sobrepostas pelos fluxos intermidiáticos, configuram as formas de
mediação que determinam os regimes de visibilidade da cena “política brasileira” do
YouTube.
A cena em questão reflete uma compreensão colaborativa da política brasileira a
partir do que a TV veicula. As ações de postar vídeos relacionados a esse tema,
identificá-los a partir de tags, comentá-los, respondê-los e partilhá-los dão origem a
contextos de visibilidade que demonstram as percepções dos participantes acerca desse
assunto.
Esses contextos de visibilidade são resultado de processos de mediação
elaborados, relacionados ao poder da mediação videográfica nas trocas comunicativas e
às possibilidades de expansão das formas interacionais multimidiáticas através dos
comentários e vídeos-resposta, o que permite um retorno direto, ponto a ponto, o que
não é possível na TV.
Na cena “política brasileira” do YouTube, considerando-se o registro
intermidiático da resposta social, a visibilidade é determinada, inicialmente, por
agendamento intermídias. Ou seja, as outras formas de mediações emergem a partir da
mediação da TV.
Após a mediação da TV e as intervenções colaborativas que determinam a
edição do vídeo do YouTube, a primeira forma de mediação que se apresenta está
relacionada ao acesso aos vídeos, ou seja, ao sistema de busca do site. Nessa mediação,
as tags desempenham um papel muito importante, pois sua relação com as palavras dos
títulos, com as categorias nas quais os vídeos foram postados e com os textos
explicativos determinam o retorno da busca.
48
Fig.6 A relação entre esses metadados determina o sistema de busca do YouTube.
Pode-se perceber também que a arquitetura da informação no YouTube se
constitui, ela própria, como mediação. No caso do recorte proposto nessa pesquisa, ou
seja, através da busca pelas palavras-chave “política brasileira” são acessados os vídeos
relacionados a esse tema, organizados em função de sua relevância, data de inclusão,
número de exibições e avaliação. O participante pode escolher assistir o que é mais
visível, ou relevante, segundo o YouTube.
3.2.2 Informação televisiva compartilhada: fragmentos
Os produtos televisivos apropriados socialmente pelos colaboradores do
YouTube são de diferentes gêneros televisivos. Programas humorísticos, telejornais,
debates, apresentações musicais e outros. Essa diversidade reflete uma das principais
características da própria TV: a diversidade de seu conteúdo.
A “TV generalista” segundo Wolton (2004) é a mídia mais adaptada à
heterogeneidade social. Como meio de massa, é mais adequada a sociedade
individualista que se caracteriza por uma frágil comunicação entre os diferentes grupos
sociais. Segundo esse autor, somente a TV generalista é capaz de oferecer igualdade de
acesso e um leque de programas que refletem a heterogeneidade social e cultural.
49
A programação diversificada da TV generalista oferece a possibilidade de
encontrar elementos indispensáveis para estar juntos”, o que obriga o reconhecimento
da existência do outro. Oferecendo um amplo leque de programas para satisfazer o
maior número possível de pessoas, a televisão, segundo Wolton (2004), é um meio de
religar as heterogeneidades culturais.
Refletindo a diversidade por intermédio de seus programas, a TV legitima os
diferentes componentes da sociedade, oferecendo possibilidade de coexistência e
limitando a dinâmica de exclusão. Dessa forma, segundo Wolton (2004), contribui para
a construção de espaços culturais coletivos e estabelece conexões entre as múltiplas
visões de mundo das diversas comunidades. Por isso, a TV tem um papel de identidade
coletiva e individual, que permite o movimento de abertura para o mundo e, ao mesmo
tempo, a preservação de uma identidade local.
Além da diversidade, Rossini (2007) discute que uma das maiores características
da TV é fragmentação de seus produtos, que, em geral são divididos em blocos
entremeados por outros produtos, como os VTs publicitários. Segundo a autora,
os programas televisivos não podem ser pensados como algo único, mas
como o resultado de cruzamentos de diferentes programas televisivos, pois
“num mesmo espaço televisivo, pode haver telejornal, tele-esporte,
teledramaturgia, telecinema, publicidades, cada uma dessas formas
demandando um tipo de atenção, de interação” (ROSSINI, 2007, p.173).
Por essa razões, segundo Machado (2001), a noção de programa tem sido
questionada porque é difícil de ser definida, uma vez que
a televisão costuma borrar os limites entre os programas, ou inserir um
programa dentro do outro, a ponto de tornar difícil a distinção de um
programa “continente” e um programa “conteúdo” (MACHADO, 2001,
p.28).
O autor discute o conceito de fluxo televisual, proposto por Raymond Williams
em contraposição ao conceito estático de programa por considerar que na televisão não
existem unidades fechadas que possam ser analisadas separadamente da programação.
Mas, mesmo com os questionamentos em torno da noção de programa Machado
(2001) defende que as investigações empíricas m demonstrado que os programas são
os modos mais estáveis de referência à televisão e que, ao contrário do conceito de
fluxo, que “empastela a programação num caldo homogêneo” (MACHADO, 2001,
p.29), permite distinguir diferenças.
50
CAPÍTULO 4 - REGISTROS INTERMIDIÁTICOS COMO RESPOSTA
SOCIAL: A “POLÍTICA BRASILEIRA” NO YOUTUBE
4.1. A “política brasileira” no YouTube: aspectos metodológicos
Em função da especificidade da cena “política brasileira” do YouTube como um
espaço de visibilidade configurado por mediações diversificadas e, considerando o
recorte proposto nesse trabalho, focado na circulação intermidiática de questões
referentes a essa temática, um estudo de caso mostra-se como o método mais adequado
para a consecução do objetivo proposto: verificar a compreensão colaborativa sobre a
“política brasileira” que emerge nos contextos de visibilidade configurados pela
sobreposição de mediações diversificadas e em que medida esta compreensão pode ser
considerada uma espécie de resposta social aos produtos televisivos.
O estudo de caso é uma inquirição empírica que se vale de múltiplas fontes de
evidência para levantar e organizar dados, preservando o caráter unitário do objeto
estudado, por isso, propõe novas interpretações e perspectivas (DUARTE, 2005). O
método se vale de informações numerosas e detalhadas para apreender a totalidade de
uma situação e, para tanto, diversificadas técnicas de coleta das informações são
utilizadas (DUARTE, 2005).
O estudo de caso é realizado especialmente quando o tema é pouco explorado e
é difícil formular hipóteses precisas e operacionalizáveis porque não parte de uma visão
predeterminada da realidade, mas, ao contrário, procura apreender e compreender os
múltiplos aspectos de uma situação (GIL, 1999). O percurso metodológico inicia-se,
assim, com uma pesquisa exploratória do site em análise.
A partir da busca por palavras-chave, que é o sistema de busca analisado nessa
pesquisa, os vídeos são classificados (organizados em páginas) segundo os critérios de
data de postagem, relevância, mais vistos e avaliação. Os vídeos mais vistos são
acessados através dos números de exibições, conformando a lógica da audiência que
opera no YouTube e a mediação que se realiza a partir da arquitetura da informação.
A primeira página do retorno da busca, ordenada a partir dos vídeos mais vistos,
apresenta 20 vídeos. Desses, 13 são compostos por fragmentos televisivos, o que
corresponde a 65% dos vídeos mais vistos.
A pesquisa exploratória desse estudo de caso, realizada com base na busca
“política brasileira”, teve início em setembro de 2007, e, em maio de 2008, apresentava
51
158 vídeos no total, incluindo os que foram produzidos exclusivamente pelos
colaboradores sem apropriação da informação televisiva. Foram postados 22 vídeos
nesse período de oito meses. Em outubro de 2008, a busca retornou com 237 vídeos.
Essa observação sistemática, na qual se realizou a coleta de dados em dois períodos
distintos, teve como objetivo verificar os espaços temporais em que novos vídeos foram
postados.
Em função de sua dinâmica reticular, o cenário da “política brasileira” no
YouTube caracteriza-se pela agilidade das mudanças de seu conteúdo e da organização
do mesmo, uma vez que o número de postagens, exibições e comentários dos vídeos
altera-se continuamente. Por essas razões, foi necessário estabelecer um recorte
temporal para determinar o corpus analítico composto por vídeos (seus links, tags,
títulos, categorias) suas respostas e comentários postados até o dia 23 de outubro de
2008.
Essa pesquisa foca-se nos vídeos que se constituem de fragmentos televisivos,
suas tags, seus links, categorias, títulos e comentários
17
que retornam à busca pelas
palavras-chave “política brasileira”. O uso de aspas para a busca “política brasileira”
tem como finalidade restringir o retorno da busca somente a esse tema, eliminando os
assuntos relativos a “Brasil”, “brasileiro” e “brasileira” que não têm ligação com a
política. O mesmo ocorre em relação à “política”, uma vez que a busca “política
brasileira” só traz assuntos do Brasil.
Esses deos criados a partir da apropriação social da informação apresentam
fragmentos de programas jornalísticos como entrevistas e matérias, programas
humorísticos, propagandas eleitorais e discursos de políticos no Congresso Nacional,
que são os tipos de programas mais recorrentes.
É importante considerar que uma parte considerável desses vídeos chega ao
YouTube apresentando diferentes níveis de intervenção realizados pelo membro
colaborador que o postou, portanto, mostram-se de forma diferente da edição veiculada
anteriormente na TV. Além da edição que determina o recorte do fragmento, a
intervenção dos membros colaboradores na edição inicial dos vídeos, ou seja, na forma
como foram veiculados na TV, se dá, principalmente, através da inclusão de uma trilha
17
Até o dia 23/10/08 havia apenas um vídeo-resposta na “política brasileira”, que, por ter sido postado
pela mesma colaboradora que postou o vídeo inicial não será analisado nessa pesquisa, uma vez que a
idéia de analisar os comentários e vídeos-resposta está relacionada à qualificação da visibilidade no
sentido de promover a multiplicação de pontos de vista e concepções de outros participantes através das
interlocuções.
52
sonora ao fundo e através da inserção de textos sobre as imagens com o intuito de
orientar uma leitura preferencial, sugerida pelo membro colaborador que posta.
Esse registro da circulação intermidiática e da intervenção do colaborador na
informação pode ser explicado através do vídeo postado pela colaboradora 2244Cristina
intitulado Reforma moral e ética da política já. Misturados às falas dos entrevistados, a
colaboradora inseriu textos, situando as questões levantadas e emitindo suas opiniões
sobre os assuntos em pauta. Enquanto o professor Otaciano Nogueira discute a decisão
do Supremo Tribunal Federal de considerar inconstitucional a cláusula de barreira,
2244Cristina pontua as falas desse entrevistado explicando de que se trata o caso e
lançando também suas opiniões.
Fig.7. Intervenção da colaboradora 2244Cristina através da inserção de texto sobre a imagem no vídeo
Reforma moral e ética na política já.
As intervenções nessa perspectiva intermidiática podem também ser vistas no
vídeo “Política brasileira”, matéria veiculada pela Rede Globo que relata um estudo
realizado pela Organização Transparência Brasil que concluiu que os parlamentares
brasileiros são os mais caros do mundo. A intervenção do colaborador flavioapu se
através da inclusão do seguinte texto, no início do vídeo: “Quando você ver um politico
vire as costa para ele, mas antes cuspa no chão de nojo. não cumprimente de o seu
53
despreso”. (sic) e através da inclusão da música “Cálice” de Chico Buarque e Gilberto
Gil, cantada por Milton Nascimento.
Na “política brasileira” 90% dos vídeos mais vistos foram postados um ano
ou mais. Em função da visibilidade expandida dos vídeos e da temporalidade diferida
(WEISSBERG, 2004) das interações, em maio de 2008, no contexto da “política
brasileira”, perduram os vídeos das propagandas políticas das eleições de 2006 e
escândalos políticos de 2006 e 2007.
O deputado eleito Clodovil Hernandes aparece como candidato em um vídeo
postado em 03/01/07, o caso Renan Calheiros atualizado em vídeo postado em
07/10/07, o esquema sanguessuga e a figura de Roberto Jefferson e o “mensalão”
18
visíveis e abertos à interação através de vídeos postados em 03/09/06 e 07/11/07.
Além de 2006, como o ano de 2008 também foi um ano eleitoral, foram
postados muitos vídeos que apresentam propagandas políticas dos diversos vereadores e
prefeitos. Além das temáticas referentes a escândalos e à política governamental,
destaca-se a postagem de vídeos cuja temática são as eleições.
Relacionados a essas temáticas, observa-se a presença de vídeos compostos a
partir de imagens paradas e em movimento apropriadas de diversos programas, mas que
não são identificados. Esses vídeos têm comum o fato de substituirem o áudio da edição
televisiva por uma música de fundo. Esse formato é recorrente, mas não será analisado
nessa pesquisa por não identificar os programas de origem no registro e as imagens são
usadas para criar uma nova produção que mescla diversos fragmentos apropriados de
diferentes programas.
Nesses casos, o nível de intervenção colaborativa é muito alto e, a proposta
dessa pesquisa está relacionada à apropriação social da informação que demonstra a
resposta social aos produtos televisivos. Considera-se especialmente que a apresentação
de um fragmento com o áudio original e a identificação do programa sinaliza a ação de
tornar visível sua primeira edição.
Os vídeos analisados são aqueles cujas intervenções colaborativas
recontextualizam os produtos televisivos. Nesses casos, a edição colaborativa confere
uma espécie de resposta social ao produto televisivo, que se desdobra a partir dele,
tornando visível, pela segunda vez, e em um outro ambiente, um fragmento que destaca
18
Fatos ocorridos em 2006 que geraram matérias veiculadas em diferentes emissoras e que foram
postadas no YouTube pelos colaboradores.
54
o foco central do vídeo na avaliação do colaborador, mantendo o sentido da edição
televisiva.
Os vídeos analisados, considerando o recorte segundo os níveis de intervenção
colaborativa no conteúdo apropriado, retornam à busca “política brasileira” nas páginas
de 1 a 7. Após a página 7, o link seguinte é próximo, que recarrega as páginas a partir da
página 8, como pode a ser visto a seguir:
Fig.8. A busca “política brasileira” retorna com o conteúdo relacionado a esse tema que é organizado
segundo os índices de visibilidade do vídeo através do link vídeos/mais vistos. O sistema organiza os
vídeos em sete páginas com 20 vídeos cada. O link próximo recarrega a partir da página 8.
Nesse caso, o que determina o recorte dessa pesquisa são as mediações criadas a
partir da arquitetura de informação, relacionadas à acessibilidade dos vídeos. Os
primeiros resultados da busca - os vídeos mais visíveis são os que têm os maiores
números de exibições e por isso ocupam as primeiras posições. A mediação criada a
partir da arquitetura de informação do site confirma a lógica da audiência e demonstra
que os vídeos mais vistos, destacados como os primeiros do retorno da busca, tendem a
aumentar ainda mais sua visibilidade quando se realiza esse tipo de busca.
Os 29 vídeos analisados nessa pesquisa constituem-se de fragmentos de
entrevistas, reportagens, programas humorísticos, um debate, propagandas políticas
eleitorais e discursos de senadores e deputados na TV Senado e TV Câmara. A maioria
desses vídeos, 34,48%, o que corresponde a 10 vídeos, é composta por reportagens
telejornalísticas veiculadas por diferentes emissoras. Além das matérias telejornalísticas
existem seis propagandas políticas eleitorais (20,68%), dois quadros de programas
humorísticos - Pânico na TV da Rede TV e Casseta e Planeta da Rede Globo, cinco
entrevistas (17,24%), um debate promovido pela Band entre os candidatos à presidência
55
da República em 2006 Lula e Alckmin e cinco pronunciamentos no Senado e na Câmara
(17,24%), o que demonstra certa diversificação dos formatos.
Fig. 9. Formatos televisivos apropriados que constituem os vídeos analisados.
São recorrentes as notícias sobre o presidente Lula, questões relativas a apoio
partidário, concessão de cargos nos ministérios, povo-fala sobre como os cidadãos vêem
a política brasileira, entrevistas com Roberto Jefferson, Carlos Vereza e outros, os
processos contra Renan Calheiros e algumas denúncias de desvio de dinheiro público,
superfaturamento de obras públicas e eleições.
Dos vídeos analisados, sete são de emissoras específicas do cenário político
nacional: TV Câmara e TV Senado. Da Rede TV são seis vídeos, da TV Globo três, da
TV Band dois, da TV Record três e a TV Cultura com um vídeo.
56
Fig.10. Relação das emissoras que compõem a “política brasileira” no YouTube e quantidade de vídeos
que se constituem de fragmentos apropriados de cada uma delas.
Na “política brasileira” há a recorrência da ação de uma colaboradora específica,
2244Cristina, que postou 51,72% do total de vídeos. A maioria dos colaboradores
postou apenas uma vez, com exceção de claudioalternativo e pedroekman, que postaram
duas e três vezes, respectivamente.
As interações no YouTube são observadas a partir da publicação e acesso aos
vídeos. dois diferentes níveis de interação que se relacionam com os níveis de
visibilidade: postagem e exibição dos vídeos e postagem, exibição e comentários ou
respostas ao vídeo assistido. Como a maioria dos vídeos não tem nenhum comentário
nem resposta, existem poucas interações no esquema postagem/exibição/comentário de
quem assiste/comentário-resposta de quem posta quando comparadas às interações que
se restringem ao esquema postagem/exibição.
O YouTube apresenta-se como um espaço de visibilidade, que permite a
divulgação e o acesso livre aos deos. A interlocução através de comentários e vídeos-
resposta ocorre em menor escala. Além disso, na cena “política brasileira”, o discurso
objetivista, argumentativo e racionalista é substituído pela troca de proposições afetivas
dos participantes.
57
Vídeos que retornam à busca "política
brasileira" veiculados na TV
Vídeos não comentados e não
respondidos
Vídeos comentados
Vídeos respondidos
Fig.11 Relação do número total de vídeos que compõem a “política brasileira” no YouTube e o número
de vídeos não comentados e não respondidos, vídeos comentados e vídeos respondidos.
As tags, responsáveis pela indexação do conteúdo, são analisadas considerando-
se dois tipos de tags: topical tags e ideological tags (LIN, HAUPTMANN, 2008). Lin e
Hauptmann (2008) apresentam no artigo Identifying ideological perspectives of web
video using patterns emerging from folksomomies um sistema computacional de
classificação que permite identificar as perspectivas ideológicas dos vídeos relacionados
a questões políticas e sociais.
Para tanto, eles desenvolvem um exemplo estatístico para capturar o padrão de
tags de uma determinada coleção de vídeos e suas tags relacionadas. O modelo
estatístico propõe a captura de um padrão expressivo empiricamente observado em
vários textos editoriais, transcrições de debates e vídeos televisivos. A hipótese dos
autores é que as tags utilizadas nos vídeos da web nas várias questões sociais e políticas
abordadas seguem o mesmo padrão dos textos analisados.
O modelo consiste em dois fatores que determinam o conteúdo do discurso
ideológico: topical e ideological. Como exemplo de topigal tags, Lin e Hauptamann
apresentam abortion e pregnancy e como exemplo de ideological tags, pro-choice e
pro-life. Os exemplos demonstram que as orientações ideológicas refletem-se nas
escolhas das tags, apresentadas anteriormente por autores e oradores de textos diversos.
As topical tags dizem respeito ao assunto tratado, independente da perspectiva
ideológica, as ideological tags demonstram as opiniões sobre o assunto abordado. A
58
ideological tag é relacionada ao assunto central, ou seja, está ligada a topical tag, que é
usada para abordar o assunto, enquanto a ideological tag representa a ênfase dada pelo
autor no assunto abordado.
No caso dessa pesquisa, as topical tags são político, política, Brasil, brasileiro,
brasileira. As tags relacionadas como “Brasil”, “brasileiro”, “brasileira” são as que mais
aparecem, seguidas de política. As ideological tags como “eleição”, as relacionadas
“deputado” e “câmara”, as relacionadas “corrupção”, “ladrão” e “roubo”, “senador” e
“senado”, “democracia” e “propina” aparecem uma vez cada, o que demonstra a
diversidade das questões abordadas e das opiniões dos colaboradores em relação a elas.
No YouTube, ao postar um vídeo, os colaboradores o indexam com as tags que
desejam, na categoria que julgam coerente e intitulados também de forma livre. O
sistema de busca desse site é produzido pelas relações desses metadados
19
. Nesse caso,
o procedimento metodológico empregado é a análise dos títulos desses vídeos em
consonância com o seu conteúdo, suas categorias e a análise de freqüências das
ideological tags utilizadas na postagem.
Além da organização do conteúdo que determina a mediação do sistema de
busca são analisados os temas dos vídeos, a maneira como esses temas são tratados, o
quanto são visíveis, observando-se o número de exibições. No caso de vídeos
comentados, primeiramente o número de comentários que o vídeo gera, o número de
participantes envolvidos e a perspectiva de seus prolongamentos.
Os comentários e respostas são formas de extensão da visibilidade, uma vez que
denotam uma forma de visibilidade qualificada, quando as questões são tensionadas
pelos colaboradores, que colocam em jogo diferentes pontos de vista em relação aos
assuntos abordados. Esses comentários são analisados como formas de desdobramento
dos temas, observando-se como os participantes manifestam suas percepções e a
natureza da interlocução colaborativa nessas listas.
Os links são analisados porque quanto mais conectado for o vídeo, maior
mobilidade, e, consequentemente, mais visível ele será. São investigados os regimes de
visibilidade que operam na cena política brasileira sob o viés da pulverização da
19
Os textos explicativos dos vídeos não serão analisados nessa pesquisa em função da quantidade de
vídeos que compõem o corpus, de textos muito longos, como os da colaboradora 2244Cristina e também
porque não se sabe exatamente como o sistema articula tantas palavras com os demais metadados. Não
seria possível, nessa pesquisa, analisar esses dados e identificar as coincidências para análise como
ocorreu por meio das tags, das categorias e dos títulos.
59
informação pelas interações intermidiáticas, que indicam de quais sites os vídeos do
YouTube são acessados.
Essas análises, que serão apresentadas nos próximos tópicos, demonstram o que
se configura como “política brasileira” no YouTube a partir da TV através da análise
dos temas que os colaboradores lançaram. Serão apresentados no tópico 4.2 os registros
dos 29 vídeos mais vistos, considerando-se seus temas, como esses são tratados, as tags
utilizadas, seus links, títulos e as categorias nas quais foram inscritos.
Como será apresentada no tópico seguinte, a análise de conteúdo do corpus
destacado permitiu observar que a “política brasileira” caracteriza-se pela apresentação
de questões relacionadas a três grandes temáticas: política governamental, eleições e
escândalos políticos de grande repercussão. Foram selecionados dois vídeos,
relacionados a cada uma dessas três temáticas, de formatos diferentes, para análise das
mediações videográficas e textuais, que conjugadas, configuram as características
multimidiáticas do YouTube. Esses seis vídeos analisados estão na gina 1 do retorno
da busca, como pode ser visto no anexo A, e a delimitação do corpus, nesse caso, deve-
se mais uma vez à mediação da arquitetura da informação configurada pelos índices de
visibilidade. Essa discussão é apresentada no tópico 4.3.
4.2. Indexação colaborativa de conteúdo televisivo e arquitetura da informação
Do ponto de vista dos participantes que produzem os vídeos, as diversas
mediações foram apresentadas partindo-se da apropriação da informação televisiva
seguida pelas intervenções colaborativas que configuraram o novo produto híbrido o
vídeo do YouTube. Foram discutidas as diversas mediações sociais que também fazem
parte dos processos de interação social em torno dos produtos televisivos que
determinam o que é visível e como é visível a partir da mediação da TV na cena
“política brasileira”, conformando a resposta social aos produtos televisivos.
Criado o vídeo, para ele ser disponibilizado para acesso, registram-se outras
mediações sociotécnicas a partir das interações colaborativas como indexar, intitular e
categorizar esses vídeos. Essas interações conformam o sistema de busca do site, que é a
primeira forma de mediação que se apresenta para os participantes que acessam a
informação. Depois da mediação do sistema de busca, a mediação da arquitetura de
informação – os índices de visibilidade, o recorte dessa pesquisa.
60
Nesse tópico são apresentados os vídeos mais vistos colocados até gina 7 do
retorno da busca. São analisados os assuntos abordados nesses vídeos, as datas de
postagem, os números de exibições, as tags utilizadas na indexação, a categoria inscrita
e os títulos.
A categoria mais utilizada pelos colaboradores para a postagem dos vídeos é
pessoas e blogs, seguida de notícias e política e humor, essa última com apenas um
vídeo. Isso se deve, principalmente, à ão da colaboradora 2244Cristina que postou
50% dos vídeos analisados usando a categoria pessoas e blogs. As pessoas relacionadas
à política são mais visíveis que as notícias, de acordo com as escolhas colaborativas das
categorias.
Fig.12. Categorias usadas nas postagens e quantidade de vídeos inscritos em cada uma delas.
As tags mais utilizadas para a postagem dos vídeos são: “Brasil” em primeiro
lugar, em função, mais uma vez, de 2244Cristina que posta todos seus vídeos usando
apenas a tag “Brasil”. Depois de “Brasil” as tags mais recorrentes são “política” e
“eleição”, seguidas de “PSol”, “eleições”, “Lula”, “liberdade”, “socialismo”,
“esquerda”, “político”, “Ivan Valente”, “2008”, “programas” e “governo”, como pode
ser visto a seguir na nuvem de tags dos 29 vídeos mais visíveis.
61
Fig.13. Nuvem de tags dos 29 vídeos mais vistos.
Pela análise da nuvem de tags dos vídeos mais visíveis no âmbito da busca
“política brasileira” a política apresenta-se relacionada, principalmente, às eleições
(considerando também a palavra no singular, eleição), e as pessoas mais visíveis são
Lula e Ivan Valente. O partido político mais visível é o Psol e está relacionado a Ivan
Valente, pois essas tags foram postadas nos mesmos vídeos, o mesmo ocorre com as
palavras socialismo, esquerda e liberdade.
PPS e PCdoB também são visíveis, porém sem recorrência de palavras, assim
como FHC. Outras ideological tags, embora também não sejam recorrentes, apresentam
a diversidade de concepções e diferentes idéias que compõem a pluralidade da cena
“política brasileira”, como deputado, promessas, propina, comunicações, dicas e
sabedoria.
debate presidente 2006 alckmin brasileira subversão underground vj doga art
gordinho de Itu vota no ocimar prefeito 15 23888 PPS PCdoB comunista
comunistas igualdade ciência materialismo democracia povo operário
trabalhador
PSol
esquerda mudança eleitoral 2008 programa coerência
iguais
candidatos
eleições
portal castanhal pânico voto
política
Brasil
Carlos Vereza Jo Soares casseta planeta humor
Eleição
deputado candidato
Jair Marchesini César Conde câmera aberta política
JN ruth cardoso FHC notícia Jarbas Vasconcelos
Lula
PT Venezuela Hugo
Chávez
Liberdade
de Imprensa são paulo
socialismo
esquerda
político
promessas plínio
ivan valente
2008
eleitoral
programas governo
escândalo propina
mensalão dinheiro senador senado corrupção ladrão comunicações dicas sabedoria
aleatório pessoais encontros comunidade vídeos blog análise de comentários
conscientização popular
62
As palavras dos títulos, por sua vez, dão visibilidade a outras pessoas que não
tiveram seus nomes usados como tags como Heloísa Helena e Renan Calheiros. Ambos
têm seus nomes divulgados duas vezes nos títulos e Roberto Jefferson, Jefferson Perez,
Carlos Vereza, Stalin, Bush, Ruth Cardoso, César Maia, Álvaro Dias apenas uma vez.
Duas pessoas confirmam a visibilidade exposta pela análise das tags: Lula e Ivan
Valente, que têm seus nomes nos títulos dos vídeos analisados.
As palavras dos títulos que aparecem sem recorrência são: Reforma moral e
ética na política já, Casseta e planeta sanguessuga hits, Senador Pedro Simon
PMDB/RS A corrupção, Globalização, PCdoB 65, PSol, governo, Brasília ao vivo, As
greves no Brasil e as regras nos países de mundo, Pânico Deputado Coelho, A
navalha e o xeque mate, coerência de esquerda, Candidatos “figuras” no Horário
eleitoral da TV, chips, Morre a ex-primeira dama, Posse e eleição no congresso
nacional, Câmera aberta entrevista César Maia, ataques de Lula e do PT à imprensa
TV Senado, A injustiça tributária no Brasil parte, As eleições municipais 2008
parte, Programa, Projeto 10 elevado a 100 – Capacitação aos políticos. Além de
político e política, as palavras corrupção, governo, deputado e PSol aparecem nas tags e
nas palavras dos títulos.
63
4.3. Política governamental, escândalo e eleições: visibilidade ampliada
A análise de conteúdo desses vídeos permitiu observar que a “política brasileira”
é dividida em três grandes temáticas: política governamental, escândalos políticos e
eleições.
Fig.14. A “política brasileira” no YouTube é composta de três grandes temáticas que estão relacionadas.
Essas temáticas não estão totalmente separadas, pois em algumas situações, um mesmo vídeo aborda duas
temáticas, e em alguns casos, três.
Em alguns casos esses assuntos se misturam como no caso do vídeo Reforma
moral e ética na política no qual o professor Otaciano Nogueira discute a decisão do
Supremo Tribunal Federal de considerar inconstitucional a cláusula de barreira e a
colaboradora que se apropriou do fragmento da TV intervém através da inserção de um
texto sobre as imagens chamando atenção para o esquema do mensalão. No vídeo
Heloísa Helena eleita presidente do PSol, um discurso no plenário, a senadora fala de
“manipulação política” e “terrorismo eleitoral”.
O vídeo Senador Pedro Simon PMDB/RS A corrupção apresenta a fala do
senador sobre a necessidade de uma reforma política que imponha o fim da corrupção e
da impunidade. Aborda também a necessidade de reconstituição de um Estado de bases
voltadas para a democracia e para a cidadania, e defende leis que visem
verdadeiramente os interesses coletivos, como respostas às denúncias de escândalos.
64
A política governamental é apresentada na cena “política brasileira”
principalmente através de ações dos poderes legislativo e executivo, informações sobre
o governo Lula e economia. Essas questões emergem a partir da apropriação de cinco
reportagens, duas entrevistas e quatro pronunciamentos das sessões de trabalho do
Senado e da Câmara.
Fig.15. Na política governamental, os diversos assuntos abordados através de entrevistas,
pronunciamentos e reportagens.
As notícias relacionadas a temática do escândalo abordam o esquema
mensalão
20
, o sanguessuga
21
e a acusação de quebra de decoro parlamentar contra
Renan Calheiros
22
através de duas entrevistas, duas reportagens e um vídeo humorístico.
O que foi exaustivamente tratado nos principais telejornais aparece também no
20
Em meados de janeiro de 2006 o deputado Roberto Jefferson denunciou a Lula, na presença de
testemunhas, o esquema do mensalão, uma mesada de R$ 30.000,00 a parlamentares do PL e do PP para
que votassem assuntos de interesse do governo.
21
A máfia dos sanguessugas foi desmontada pela Polícia Federal em 4 de maio de 2006. O grupo atuava
no Congresso pagando propina por emendas parlamentares destinadas à compra de ambulâncias e
materiais hospitalares e também na licitação nos municípios beneficiados com as verbas. As ambulâncias
eram adquiridas de forma superfaturada.
22
No dia 26 de maio de 2007 a revista "Veja" publicou reportagem que revelava que Renan Calheiros
recebia recursos da empreiteira Mendes Júnior, por meio do lobista Cláudio Gontijo, para pagar pensão à
jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. No dia 6 de junho o Conselho de Ética do Senado
instaurou processo contra Renan por quebra de decoro parlamentar e no dia 13 de junho, o primeiro
relator do caso, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) apresentou parecer no qual sugeriu o arquivamento
do processo.
65
YouTube, e, vê-se que o agendamento midiático é determinado também pela
visibilidade de escândalos políticos.
Fig.16. A temática escândalos é apresentada através de quadro humorístico, reportagens e entrevistas
66
A temática eleições traz seis propagandas políticas eleitorais das eleições de
2006 e 2008, seis reportagens, uma entrevista, um debate e um quadro humorístico.
Fig.17. A temática eleições aparece através de entrevistas, reportagens, um quadro homorístico, e
propagandas políticas eleitorais.
Como a política governamental abarca diversos assuntos, não foi possível
perceber que ela se destaca como uma temática através da análise das tags, como no
caso da palavra eleições. com a análise de conteúdo dos vídeos tornou-se claro que a
compreensão colaborativa da “política brasileira” estava relacionada à política
governamental.
Pode-se perceber, então, que a mediação das tags, das palavras dos títulos e das
categorias refletem diferentes formas de interpretar os produtos televisivos e criam
diferentes formas de acesso ao conteúdo. Algumas nuances são perceptíveis através
das análises de conteúdos dos deos, como a visão negativa acerca do governo Lula,
por exemplo, que não se mostra claramente na mediação das tags nem dos títulos.
O mesmo ocorre com relação às eleições. A reportagem analisada critica o fato
de terem sido eleitos como vereadores artistas e jogadores de futebol e 50% das
propagandas políticas focam um aspecto cômico dos candidatos, ridicularizando-os,
como nos vídeos Isso não é um político e sim um personagem, Candidatos “figuras” do
67
horário eleitoral e Projeto 10 elevado a 100. Esse aspecto não é evidente na análise de
freqüência das tags como na análise de conteúdo e análise de palavras dos títulos.
A lógica de conexões generalizadas (KASTRUP, 2004) que delineia o hipertexto
colaborativo e as caracacterísticas intermidiáticas, que configuram o trânsito da
informação no YouTube, determinam que quanto mais um vídeo circular entre diversos
ambientes, mais visível ele será. A maior parte dos vídeos (95%) possuem links para o
Orkut, e dois deles para blogs de jornalistas relacionados à revista Veja da Editora Abril
e ao Portal Uol, ambos voltados para cobertura política, como “noblat” e o blog do
Josias de Souza.
Os vídeos das propagandas políticas têm links para os sites de seus respectivos
partidos ou outros sites relacionados. Os links que se repetem em dois ou mais vídeos
são www.truveo.com.br e www.videospidertv.com, sites de compartilhamento de
vídeos, e páginas pessoas do www.google.com/reader.
Os seis vídeos analisados nesse tópico têm como temática principal a política
governamental, escândalos e eleições. Como foi proposto, são analisados os dois vídeos
mais vistos de cada uma dessas temáticas, considerando-se dois formatos televisivos
diferentes. Os vídeos são: Reforma moral e ética na política , Carlos Vereza no
Soares, Notícias da semana no Brasil 19 de maio, Casseta e Planeta Sanguessuga hits,
Bastidores debate 2006 e Isso não é um político e sim um personagem.
O vídeo mais visto de toda a busca “política brasileira” é Reforma moral e ética
na política , com 30250 exibições, uma entrevista exibida na TV Câmara com os
cientistas sociais e professores Otaciano Nogueira e Walter Costa Porto, que aborda a
cláusula de barreira
23
, considerada incontitucional pelo Supremo Tribunal Federal em
07/12/2006.
A entrevista inicia-se com a fala do entrevistador sobre a necessidade de uma
reforma política no Brasil. A colaboradora 2244Cristina, que postou o vídeo, insere
então a frase: “Antes é necessário uma reforma moral e ética na política”. Essa é sua
segunda intervenção no fragmento apropriado. O primeiro texto que ela inseriu
apresentava o nome do programa, a emissora, a data e o assunto tratado.
23
No dia 07/12/2006o Supremo Tribunal Federal decidiu que a cláusula de barreira é inconstitucional.
(...) Os ministros do STF acataram a ação direta de inconstitucionalidade promovida pelo PC do B com o
apoio do PDT, PSB, PV, PSC, PSOL, PRB e PPS. (...) O argumento de defesa é que a lei 9.096, que criou
as regras da cláusula, (...) fere o direito de manifestação política das minorias. Dessa forma, os partidos
pequenos não teriam direito a funcionamento parlamentar: seus deputados e senadores poderiam falar e
votar no plenário, mas não teriam líderes nem estrutura de liderança. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u87526.shtml. Acesso em: 28 out. 2008.
68
Fig.18. Imagem do vídeo Reforma moral e ética na política já.
O professor Otaciano Nogueira discute a questão da cláusula de barreira e fala
que 44 democracias do mundo têm cláusula de barreira. Segundo ele, desde 1978, tenta-
se, no Brasil, implantar a claúsula, mas o STF declarou incontitucional por voto
unânime. Então ele lança a pergunta: “Será o Brasil sem claúsula de barreira mais
democrático que a Suécia, que a Dinamarca?”
2244Critina insere o seguinte texto: “O STF deferiu contra a claúsula de barreira
porque o Brasil é um sistema presidencialismo e não parlamentarismo como na
Alemanhã... (sic) e discute: “Primeiro a cláusula de exclusão deveria ser atribuída aos
partidos corruptos do Brasil, teríamos apenas PV e PSOL como representação partidária
por serem os únicos partidos que não há envolvimento em corrupção!!(sic) Na realidade
o Brasil ainda não é democrático!! Desde quando na democracia projetos da presidência
são aprovados com mensalão? O Brasil precisa de uma reforma moral e ética na
política. Com certeza não está em nenhuma constituição que os grande partidos são
envolvidos em corrupção e não são punidos!! Primeiro precisamos politizar a sociedade
69
tão distante da política...Tão descrente dos seus representantes por envolvimento em
corrupção!! Ensinar a ler os analfabetos para não venderem seus votos.”
Durante a entrevista, o professor fala que a origem do preceito da cláusula de
barreira é alemão, e que houve a necessidade de instituí-lo, em 1950, pelo fato de que
após a primeira guerra, os partidos não se entendiam e que como o regime era
parlamentarista, a situação tornou-se insustentável para a negociação política, o que
criou condições para o desenvolvimento do nazismo.
De acordo com o professor, em 1980, na Alemanha sem a restrição da cláusula
de barreira, a chegada de um quatro partido criou um conflito ideológico, pois a
esquerda se aliou à direita. Nesse momento, o entrevistador fala que na Europa esse tipo
de conflito ideológico não existe mais, e Otaciano Nogueira discute que esse tipo de
aliança entre as supostas oposições é natural em países democraticamente
desenvolvidos, mas não na América Latina.
Então, 2244Cristina intervém com o seguinte texto: “No Brasil é que não se tem
mais ideologias. As ideologias existem na divisão dos partidos, nas eleições esquerda
apoia direita e assim vai...(sic) Quando eleitos os representantes servem as elites do
Brasil e esquecem seus ideais! Nem se compara a política na Alemanhã com o que nós
temos no Brasil!!(sic). Primeiro o Brasil precisa consolidar os fundamentos da
democracia...Que vem sendo desrespeitada pelos três poderes. Essa cláusula de barreira
iria sacrificar apenas alguns partidos que ainda mantem sua ideologia, essa é a
verdade!”(sic). Esse vídeo não tem nenhum comentário.
O segundo vídeo mais visto é Carlos Vereza no Soares. É uma entrevista que
se insere na temática dos escândalos. Nesse vídeo, Carlos Vereza faz severas críticas ao
presidente Lula, ao PT e ao esquema do Mensalão, dizendo que esse esquema é a
“maior vergonha política” que, como brasileiro, ele já conheceu.
70
Fig.19. Imagem do vídeo Carlos Vereza no “Programa do Jô”.
Critica a “esquerda” brasileira como retrógada, e que Lula passou de “grande
líder metalúrgico” a uma figura que reflete a “glamourização da ignorância”, sendo
muito aplaudido pela platéia do programa durante sua entrevista. O ator elogia o
programa do como uma das raras tribunas a apresentar uma crítica pertinente sem
sectarismo e aborda o esquema mensalão como um “projeto de poder e de autoritarismo
que tentou e tenta se instalar no País”.
Soares pergunta para seu entrevistado sobre a declaração de apoio da atriz
Regina Duarte ao candidato do PSDB José Serra, que disputou com Lula as eleições
presidenciais de 2002. Na ocasião, a atriz gravou um depoimento sobre como se sentia
ameaçada em relação a uma possível eleição do presidente Lula, e sua fala “Eu estou
com medo” foi amplamente divulgada. Carlos Vereza então comenta que apoiou a atriz
em sua declaração e que também apoiou Serra nas eleições.
Segundo Vereza, Serra é a verdadeira esquerda progressista, “que não é viúva do
muro de Berlim”, que sabe que existe mercado, globalização e que sabe “trafegar entre
essas contradições”. Para ele, Lula representa uma esquerda histérica, que fica se
lamuriando, e, por isso, e leva ao atraso. Para o ator, Lula “é uma invenção da USP,
71
da UNICAMP e das comunidades eclesiais de base”, um sujeito “borderline”,
“fronteiriço”, que “dividiu a esquerda” que voltava do exílio como Brizola e Luís Carlos
Prestes, além de um megalômano que defendeu que nunca se viu no mundo um governo
como o dele, que criou tantos benefícios para o trabalhador.
Carlos Vereza fala que o PT nunca o enganou e que o partido foi a oposição
mais feroz, cruel e desonesta que impediu todas as boas tentativas de outros partidos de
serem colocadas em prática. Como oposição, segundo o ator, o PT era “um partido de
escoteiros”, sempre alerta em relação às ações do governo e apoiado num discurso de
ética, moralidade e virtude que não condiz com o que se apresentou quando foi eleito.
O ator finaliza com a fala de que “dizem que a América Latina deu uma guinada
para esquerda, mas deu uma guinada para o populismo e autoritarismo” e que que
Lula gosta de metáforas, ele sugere “Adivinha quem é o Ali Babá?”, em referência à
fala do promotor responsável pelo caso mensalão que havia indiciado 40, faltando
apenas Ali Babá.
O vídeo Carlos Vereza no Soares é um dos mais comentados de toda a
“política brasileria” e o mais comentado do recorte dessa pesquisa, com 20 comentários.
Nesse vídeo, como em muitos outros, mais uma vez é Lula que se torna o tema central
das interlocuções. Nos comentários, severas críticas a Lula e da mesma forma
críticas a Carlos Vereza, Jô Soares e à Rede Globo. Alguns colaboradores lançam
comentários sobre como a Rede Globo é poderosa porque mudou a opinião de uma
pessoa culta como Jô Soares, que enquanto estava no SBT era “de esquerda”.
Esse comentário também gera interlocução e coloca a Rede Globo como “câncer
do Brasil”. Outros comentaristas saem em defesa da Rede Globo indagando se a culpa
da epidemia de dengue também é da Globo. O ator Carlos Vereza é acusado de
“golpista”, “bandido” e “fracassado”.
Nesse caso, a interlocução através de comentários é superficial, condena-se com
base nos dizeres da TV sobre a corrupção, sobre comportamentos não éticos. As
concepções dos colaboradores não são tensionadas pelas concepções apresentadas por
outros colaboradores através da troca de argumentos. Não resposta do colaborador
que postou o vídeo.
As notícias da semana no Brasil 19 de maio 2007, o segundo vídeo analisado da
temática política governamental, é um bloco completo do jornal Rede TV News e traz
como principais notícias: “Lula cede a pressão do PMDB por mais cargos. Em troca, o
partido se compromete a não criar problemas no Congresso”. A intervenção da
72
colaboradora 2244Cristina nessa notícia se resume a inserção da frase Isso é uma
vergonha” e que “Que podre” sobre as imagens.
Fig.20. Imagem do vídeo As notícias da semana no Brasil 19 de maio.
A edição do jornal da Rede TV apresentada no YouTube conta ainda com o
depoimento de Luís Marinho, então Ministro da Previdência, falando sobre as mudanças
na aposentadoria dos servidores de São Paulo, procurando tranquilizar os atuais
servidores em relação às mudanças. A colaboradora insere a frase: “Impressionante o
que faz um cargo!! É contra teus filhos e netos, os velhos de amanhã!!” sobre as
mudanças nas regras da aposentadoria.
Ainda nesse vídeo uma denúncia sobre medicamentos de baixa qualidade
vendidos com o consentimento da Anvisa, mais uma notícia com caráter de denúncia
relatando que cinco projetos de lei sugeridos pelos parlamentares na CPI da exploração
sexual não saíram do papel, e notícia sobre uma liminar que obrigaria o INSS a manter
o benefício auxílio doença até que fosse realizada uma nova perícia nos trabalhadores
afastados por motivos de saúde. Até a liminar os benefícios tinham um prazo
determinado, independente da perícia.
73
A última notícia apresentada no fragmento, ao contrário das anteriores, é um
fragmento do programa SP no ar e não foi editada pela colaboradora como uma crítica à
política governamental. Trata-se de uma reportagem sobre nove vereadores de Torres,
região de Botucatu, que recebem um salário simbólico no valor de R$367,00. A Câmara
de Torres tem apenas três funcionários, segundo a reportagem, e até a secretária ganha
mais do que os vereadores, que não pensam em aumento salarial. No final da
reportagem, a colaboradora insere o texto: “Gostou?”. Esse vídeo não tem comentários.
O quarto vídeo mais exibido é um fragmento do programa Casseta e Planeta
intitulado Casseta e Planeta Sanguessuga Hits. Esse vídeo é o segundo analisado da
temática relacionada a escândalos. O quadro do programa humorístico é uma
propaganda de lançamento de um CD, das Organizações Tabajara: As melhores baladas
e as maiores boladas com duas apresentações musicais: a “Deputada Ivete Sangsugalo”
e a volta do “Deputado Sérgio Emendas” e sua banda “Jeca Peas”. O ator canta uma
paródia de uma música de mesmo ritmo da de Ivete Sangalo com a seguinte letra:
“Quando a emenda passar e a ambulância surgir vou encher de grana meu fiofó. Eu
sei mamar, só quero dindim, o meu negócio é meter a mão”.
A volta do deputado Sérgio Emendas e sua banda Jeca Peas cantam uma paródia
de uma música tocada por Sérgio Mendes e a banda Black Eyed Peas com a letra: “Não
vai dar em nada, mais uma emenda que eu vou aprovar. Tenho bons advogados e
ninguém vai me pegar. Ambulância pode dar grana pra chuchu, é mandar um carro
velho e embolsar o tutu.” Esse vídeo tem um comentário que elogia o vídeo como muito
bom.
74
Fig.21. Imagem do vídeo Casseta e Paneta Sanguessuga Hits.
O debate entre Lula e Alckmin nas eleições de 2006 é o quinto vídeo mais
assistido. Nesse deo, o áudio dos candidatos está trocado, e não é possível perceber o
desenvolvimento do debate porque o colaborador editou apenas algumas falas dos
candidatos, e não a sequência do debate como transcorrido. Muitas vezes falas
fragmentadas são respostas às perguntas feitas e ouve-se apenas uma parte das respostas
sem as perguntas.
O vídeo inicia-se com a fala de Lula de que Alckmin não deveria estar no Brasil
por não saber que ele salvou o País em 2003, que estava falido. Alckmin fala que
participou de todos os debates, ao contrário de Lula, e que o PT teve sua chance a a
deixou passar. Segundo Alckmin, o Brasil piorou depois do governo Lula e seu governo
foi um dos piores da história do País. O cadidato fala então, pela primeira vez, que seu
governo desenvolveu a educação tecnológica, pois criou 18 Fatecs. Lula então discute
que no governo do PSDB houve redução de vagas no ensino médio e pergunta qual a
proposta de Alckmin para a educação. Não há resposta.
75
Fig.22 Imagem do vídeo Debate 2006 Exclusivo!
Então Alckimin fala que Lula é mal informado e que o ENEM é um exame para
passar no vestibular, e não para avaliar o sistema de ensino. O cadidato fala mais uma
vez das Fatecs criadas em seu governo. Nesse momento um corte para uma fala de
Lula que diz que Alckmin ficou nervoso e o mediador pede que ele aja com respeito.
Alckmin diz então que Lula é omisso e Lula responde que o interesse do
governo do PSDB foi privatizar e que o seu governo é focado no investimento no social.
Com a edição, o colaborador destaca os erros de Alckmin e os momentos em que ele
não se expressou bem no debate. Ao falar sobre o imposto no Brasil, que é regressivo,
esse cadidato se confunde e diz que “40% do pacote de açúcar é esgoto”, sua intenção
era dizer que 40% do pacote de açúcar é imposto, e não esgoto. O colaborador edita essa
fala que se repete por três vezes, e apenas na última repetição é apresentada a correção
do candidato que diz, “perdão, é imposto”. O vídeo é finalizado com a fala de Lula
dizendo que em seu governo as pessoas estão comendo mais e trabalhando mais.
Esse vídeo tem nove comentários. um comentário do colaborador que postou
o vídeo, mas não está relacionado a nenhum outro comentário de outro colaborador.
Não há interlocução entre os comentaristas, que apenas expressam sua opinições. Um
76
colaborador considera que Alckmin se saiu melhor no debate. Dois criticam Lula pelo
aumento do salário dos deputados, sendo que, um deles, chama os eleitores de Lula de
burros. Outro critica Alckmin e sugere que ele deveria ter começado o debate abordando
a corrupção e não saneamento básico e um outro comenta que o áudio está trocado entre
os dois candidatos.
O último vídeo analisado, Isso não é um político e sim um personagem, é o
segundo vídeo da temática eleições e é a propaganda política de um candidato a
vereador da cidade de Itu. O candidato, apelidado Gordinho de Itu, aparece em cena
comendo uma melancia com seu jingle de campanha ao fundo que tem como letra:
“Vote no Gordinho de Itu”. Esse vídeo tem oito comentários. Não há interlocução entre
os comentaristas nem respostas aos comentários do colaborador que postou o
vídeo.
Fig. 23. Imagem do vídeo Isso não é um político e sim um personagem.
Na maior parte dos comentários, os colaboradores fazem referência à obesidade
do candidato, um expressa a opinião de que o Gordinho de Itu é melhor que Lula, e
outro diz que não se surpreenderia se ele fosse eleito. Outro comentarista ironiza que é
um grande projeto de campanha um candidato prometer que vai comer muita melancia.
Outro comentarista elogia: “Sensacional!”
77
Além dos vídeos postados pela colaboradora 2244Cristina, os quatro vídeos
restantes apresentam um nível mais baixo de intervenção colaborativa, pois não têm
textos inseridos sobre as imagens como os dessa colaboradora. Nesses quatro vídeos a
intervenção colaborativa apenas determina o recorte do fragmento.
A “política brasileira” é apresentada nos comentários principalmente através da
denúncia de comportamentos políticos não aceitos, e os colaboradores o questionam
de maneira racional, mas atacam e debocham das questões sem justificar os porquês.
Dessa forma, expressam-se mais através do que sentem, pelo que consideram a partir
dos sentidos que a TV e que as mediações sociais mais diversas constroem como
sentido social (do qual eles partilham), e menos através do que realmente pensam depois
de avaliar. Tudo é mostrado (quase sempre como denúncia), mas quase nada é
discutido, os colaboradores se apresentam assim como as suas posições através de suas
simpatias e antipatias, enfim, das emoções.
O presidente Lula, mais uma vez, tem destaque nos vídeos e comentários, pois
três dos seis vídeos analisados fazem referência e ele diretamente, sendo dois de forma
crítica. O terceiro vídeo, o debate das eleições presidenciais, tem comentários negativos.
A compreensão colaborativa da “política brasileira” se mostra de forma
negativa. Dos seis vídeos analisados, cinco abordam problemas como as dificuldades de
aprovação de leis em razão dos desentendimentos no Congresso, corrupção, morosidade
da justiça, falhas nas ações de órgãos estatais e candidatos em campanhas apelativas.
Essas questões demonstram o descrédito dos colaboradores em relação à política como
um todo, desde suas instituições, passando pelos representantes eleitos até os candidatos
aos cargos públicos.
Essa compreensão emerge através dos diversos assuntos colocados em pauta, de
forma fragmentada, e, muitas vezes descontextualizada, quando as reportagens são
recuperadas para remeter aos escândalos, quando se denuncia os problemas da política
governamental. Através dos comentários é possível perceber que essa tendência se
confirma, que a interação entre os colaboradores não se apresenta como uma discussão.
Seguindo a tendência de todo o sistema midiático, fala-se de tudo no Youtube.
Os mais diversos assuntos são abordados e variadas orientações políticas estão
disponíveis para o acesso público. A pluralidade da “política brasileira” no YouTube
reflete a TV generalista (WOLTON, 2004), caracterizada pela multiplicidade dos
discursos em concorrência, expressos pelos diversos pontos de vista e diferentes
enfoques, o que multiplica as oportunidades de comparação; que, como apontou
78
Lipovetsky (1989) contribui para individualização das opiniões e para diversificar os
valores de referência.
Como um espaço público que ambienta informações políticas, o YouTube
mostra-se como um espaço de conflitos, de luta entre os diversos participantes, que
agem em função de suas orientações políticas ao divulgar suas concepções nesse
ambiente. Há espaço tanto para a miliante do PSOL 2244Cristina, que busca o YouTube
para divulgar esse partido e seus políticos filiados e criticar o governo do PT, assim
como para fsuede 1 que, ridicularizando alguns candidatos, divulga a idéia de
conscientização popular através das ideological tags que usa.
Para compreender o YouTube como um espaço para a interação através de temas
políticos é válido desenvolver a idéia de como o lugar do “político” mudou nas formas
de representação social, perdendo “o lugar de respeito”, como apontou Lipovetsky
(1989). Adotando um aspecto mais leve e informal, as interações no site demonstram a
tendência da comunicação política, que como discute (GOMES, 1998, p.176)
“desapaixona” e “desidealiza” o próprio espaço político.
Na política-espetáculo, como foi chamada por Lipovetsky (1989), o político
perde sua “aura”, segundo ele,
Adotando uma forma espetacular, o discurso político torna-se menos
entediante, menos “estranho”; aqueles que não se interessam por ele podem
encontrar um certo interesse, ainda que seja não político (...). O grandes
duelos eleitorais, as declarações dos líderes nos diferentes tipos e
transmissões diretas de televisão são amplamente acompanhados pelo público
mesmo sendo apreendidos na ordem do jogo e da distração, nenhuma dúvida
de que o público, nessas ocasiões, esteja em situação de recepção e de
aquisição de informações (...) (Lipovetsky, 1989, p. 201)
Segundo a abordagem
24
do autor, tudo é apresentado e pouco é discutido.
várias orientações políticas em concorrência, o que segmenta e diversifica os quadros de
referência e valoriza a escolha individual. Nos espaços de abundância da informação
nos quais a imagem desempenha papel principal nas trocas comunicativas, trafega o
homem contemporâneo, que responde a essas demandas sendo relativista, realista,
aberto e tolerante e que tem sua individualidade valorizada por sua capacidade de juízo,
24
Como discutiu Lipovetsky (1989), nas sociedades regidas pela moda, a frivolidade desempenha um
papel importante no desenvolvimento das consciências críticas, tornando-as mais realistas e tolerantes.
Lipovetsky (1989) apresenta a tese de que os cidadãos estão mais informados, porém mais
desestruturados, menos “ideologizados”, mas mais tributários das modas. São mais abertos e
influenciáveis, menos extremistas e mais dispersos.
79
sendo capaz analisar as informações disponíveis e formar sua própria opinião (GOMES,
1998).
A “política brasileira” mostra-se como um espaço que favorece mais a expressão
do que a opinião raciocinada, que, como discute Wolton (2004), é uma característica da
comunicação política contemporânea. Segundo esse autor, a batalha pela democracia
consistiu em fazer reconhecer a relação entre expressão, comunicação e ação, pois não
política democrática sem capacidade de expressão das opiniões, e sem comunicação
entre os atores.
Se por um lado a liberdade de expressão facilita a circulação de inúmeras
opiniões e de vários os tipos, por outro deve-se considerar que nem todas essas opiniões
atendem aos critérios de uma opinião esclarecida por não serem construídas a partir da
reflexão. Wolton (2004) discute a simplificação das opiniões expressas em relação à
complexidade dos acontecimentos.
Como foi apresentado, o YouTube apresenta-se como um espaço de visibilidade,
que permite a divulgação e o acesso aos vídeos. A interação conversacional através de
comentários ocorre em menor escala e, predominantemente de forma não
argumentativa. O discurso objetivista, argumentativo e racionalista é substituído pela
interação que se dá através das proposições afetivas dos colaboradores, quando a paixão
determina as trocas das relações.
Ou seja, diferente da forma clássica de discussão
política, os participantes desse ambiente se unem a partir de afinidades estéticas, e não
com o intuito de argumentar criticamente esses temas.
As listas de comentários podem ser comparadas a um amontoado de vozes, sobre
diversos assuntos, que abrem espaço para diferentes idéias, mas que não caminham de
forma coerente na interlocução entre os colaboradores. Esse cenário é o mesmo descrito
por Wolton (2006) a sociedade da incomunicação. Existem cada vez mais trocas de
mensagens e cada vez mais receptores. Num universo de abundância de informação, os
riscos de “incomunicação” são crescentes.
Para Wolton (2006), não mais ligação direta entre crescimento do volume de
informação e crescimento da comunicação. Ao contrário, o que ocorre é um aumento da
disjunção entre informação e comunicação. Atualmente, os homens “comunicam-se”
mais facilmente do que no passado, “trocam” de maneira mais simples, mas a
comunicação intercompreensão não é proporcional à eficácia das técnicas. O autor
então questiona a qualidade das opiniões emitidas e indaga “E se todos se expressam
quem escuta?” (WOLTON, 2004).
80
No YouTube, quando ocorre interlocução, como no caso do vídeo Carlos Vereza
no Soares que é o mais comentado, os colaboradores não desenvolvem uma linha
argumentativa, não justificam suas opiniões, apenas as manifestam em resposta as
opiniões dos outros. A apresentação dos colaboradores e de suas posições são baseadas
no gosto, ou seja, os particpantes dessa relação partilham concepções criadas com base
no afeto, na representação de suas subjetividades.
Sabe-se que com a miditização, os espaços públicos da contemporaneidade
tendem a ser construídos, cada vez mais, pelas formas relativas ao entretenimento e à
estética, que provêm do imaginário social (SODRÉ, 2002). O discurso objetivista,
argumentativo e racionalista, próprio da imprensa clássica, é substituído pela interação
que se dá através do afeto, do que toca aos sujeitos.
Dessa forma, ocorre o que Sodré (2006) chama de “partilha social fortemente
apoiada em emoções fragmentárias” (SODRÉ, 2006, p.85). Um lugar de interação mais
centrado na sensibilidade do que no racionalismo. Mesmo as discussões de temas
relacionados à política são dessa ordem, pois a idéia de uma comunidade argumentativa
em livre discussão lugar a uma comunidade afetiva, na qual a paixão determina a
natureza das interações (SODRÉ, 2006).
Um traço marcante da compreensão colaborativa é a visão negativa do governo
Lula, expressa pelas reportagens e entrevistas da política governamental e pelos
escândalos. Lula, como foi apresentado, é um ator de grande visibilidade, mas sua
visibilidade é negativa, uma vez que na maioria absoluta das vezes, sua figura pública é
execrada nas listas de comentários.
Nas eleições, a compreensão colaborativa da “política brasileira” mostra-se, em
parte, de forma negativa, pois, grosso modo, a metade dos vídeos de propagandas
políticas ridiculariza os candidatos, enquanto a outra metade está relacionada à
divulgação dos partidos e candidatos pelos colaboradores interessados em dar-lhes
visibilidade. Observou-se que a única reportagem dessa temática critica a eleição de
jogadores de futebol e cantores.
Ao se valer da hibridização dos pensamentos conceituias e imagéticos,
tensionados pela multimidialidade que caracteriza as interações no YouTube, os
colaboradores mostram suas formas de interpretar e seu interesses em tornar visíveis
determinadas questões. A partir das mediações textuais (tags, títulos, etc) os
colaboradores expressam suas opiniões sobre o que consideram como um assunto
político do Brasil e que tipo de tags, relacionadas às topical tags apresentadas,
81
qualificam o assunto abordado. Assim como a análise de conteúdos apontou, a análise
das tags também apresenta a diversidade das concepções colaborativas sobre a política e
os diversos interesses em jogo.
As formas de interpretar os assuntos, registradas a partir das interações
colaborativas que determinam as mediações textuais ocasionam a automatização da
mediação, observada a partir do sistema de busca, conforme assinala Weissberg (2004).
Corroborando tais observações, a automatização da mediação está presente no
YouTube.
As análises das mediações videográficas e textuais identificaram alguns aspectos
que não se apresentam nas análises das tags e títulos, conforme foi discutido. Em alguns
casos, as mediações coincidem, como no caso das eleições, enquanto que em outros
referem-se ao mesmo conteúdo mas demonstram idéias diferentes. A análise dos
comentários demonstrou a qualificação da visibilidade criada a partir da multiplicação
dos pontos de vista de outros colaboradores que se somam ao ponto de vista do
colaborador que postou o vídeo.
Como foi destacado, a qualificação da visibilidade não está relacionada à
argumentação, à troca de razões entre os colaboradores; ao contrário, remete a uma
dinâmica de interações através das quais os colaboradores apresentam suas concepções,
e, salvo em poucos casos, estabelecem interlocução. E, quando há interlocução, os
colaboradores não testam as concepções alheias e não conduzem a “conversa” por meio
de tema central que se desenvolve através das falas colaborativas.
Através de deus vídeos, a colaboradora 2244Cristina sinaliza suas opiniões e
chama a atenção para questões relacionadas aos assuntos abordados que não têm
visibilidade quando se considera apenas a mediação audiovisual. Ela faz isso através de
textos inseridos sobre as imagens, o que reafirma a diversidade das formas de mediação
e natureza mulimidiática das trocas.
Os links, por sua vez, mostram que o Orkut e YouTube estão conectados através
da “política brasileira”, e que muitos vídeos são acessados desse ambiente. Mais uma
vez confirmando a tendência de partilha, vê-se que os vídeos do YouTube são acessados
de outros ambientes colaborativos, em especial, de redes sociais de compartilhamento
de vídeos.
82
4.4. A “política brasileira” como resposta social midiatizada
As interações sociotécnicas no YouTube demonstram as concepções dos
colaboradores em relação a “política brasileira”, uma vez que eles se expressam a partir
de um processo que parte da edição de um fragmento televisivo seguida da ação de
conferir-lhe visibilidade num ambiente colaborativo. Todas as ações, desde a
apropriação do fragmento televisivo até o uso de uma palavra para indexar o conteúdo
postado e comentar um vídeo demonstram as interpretações colaborativas.
Como foi discutido, a compreensão colaborativa da “política brasileira” mostra-
se a partir dos contextos de visibilidade mediados e posteriormente analisados nessa
pesquisa. As diversificadas formas de mediações mostram que o que se configura como
“política brasileira” sob a ótica colaborativa relaciona-se a três grandes temáticas: a
política governamental, os escândalos políticos e as eleições.
Essas temáticas abordadas na “política brasileira” refletem as principais funções
da mídia na comunicação política como identificou (NORRIS, 2000). Segundo a autora,
a mídia deve desempenhar o papel de um fórum cívico que reflete a diversidade cultural
e política da sociedade, no qual os cidadãos se informam e discutem os valores em jogo.
Prescreve ainda a possibilidade em atuar também como um agente mobilizador que,
oferecendo um ambiente informacional rico, fornece aos cidadãos conhecimento das
questões políticas para que eles reflitam e desenvolvam suas opiniões em relação aos
diversos assuntos; tem ainda como função a vigilância (watchdog), responsável por
escrutar aqueles que estão no poder, que foram eleitos como representantes e que devem
ser responsabilizados por seus atos.
Essas funções, desempenhadas pela TV, estão presentes também na “política
brasileira” do YouTube. As eleições determinam um maior número de vídeos postados
num curto período de tempo assim como os escândalos políticos, uma vez que são
amplamente divulgados pela TV, têm muita visibilidade durante o período em que
ocorrem. A política governamental, por sua vez, está presente no dia-a-dia da
programação televisiva. No YouTube, os vídeos que se enquadram nessa última
temática compõem o banco de dados com frequência de postagens mais ou menos
estável, na medida em que as informações que são divulgadas pela TV são apropriadas
pelos colaboradores.
Pode-se inferir então que a apropriação social da informação televisiva seguida
das mediações diversificadas que configuram os regimes de visibilidade da “política
83
brasileira” mostram que os colaboradores, através da escolha do que é visível e como se
torna visível, representam as funções da mídia no YouTube, que também é um espaço
de disputa de opiniões, vigilância das instâncias do poder e um ambiente que oferece
diversidade de informação para construção dos sentidos e formação da opinião em
relação aos assuntos tratados.
A resposta social que se inclui na compreensão colaborativa da “política
brasileira” pode ser considerada como uma resposta social midiatizada, que reflete a
midiatização da própria mídia por meio dos fluxos intermídias. Essa relação denota uma
dinâmica processual cíclica, pois o registros das interações sociais pelas interações
sociotécnicas redundam em novas interações sociais que podem ser convertidas em
interações sociotécnicas, registrando novas respostas.
Os processos de compartilhamento de fragmentos de vídeos televisivos no
YouTube, postados sob a temática “política brasileira”, são formas de agir-político, que
se fundam na idéia da partilha, dos vínculos sensíveis que unem os colaboradores e que
também permitem que eles se apresentem.
O agir-político dos colaboradores, visando divulgar causas, como no caso das
campanhas, ou questionar a atuação dos representantes eleitos, assim como ridicularizar
e achincalhar corruptos e outros candidatos, demonstra a resposta social fundada na
hegemonia das imagens, na descontextualização dos relatos e na crítica, que muitas
vezes se faz sem conhecimento sólido das questões. Os entendimentos dos
colaboradores são criados a partir de fragmentos daquilo que a TV produz como sendo
parte de suas funções, a vigilância, a denúncia e a diversidade de informações.
Ao contrário da efemeridade da TV, no YouTube as questões se prolongam, o
que aumenta seu período de duração na cena pública enquanto que na TV não seriam
mais visíveis. Esse registro é um dos principais traços da natureza midiatizada da
resposta social, porque o YouTube, como ambiente das interações, oferece essa
possibilidade – registrar parte da dinâmica da interação social.
As opiniões políticas apresentadas, tanto em sua diversidade como na natureza
de sua formação, demonstram como os processos de midiatização inauguram espaços a
exemplo do YouTube, que em função de suas particularidades, criam novas formas de
interação e percepção, e um modo próprio de tratar os assuntos considerados
“políticos”.
A resposta social, como dicute Braga (2006), ou seja, o que a sociedade faz com
sua mídia, apresenta a complexa dinâmica das interações sociais a partir dos produtos
84
televisivos assim como as interações sociais orientam essas produções. Através de seus
produtos midiáticos, a sociedade a si mesma, mas considerando-se, como demonstra
Sodré (2002), que o espelho” midiático não é uma cópia apenas, mas uma nova forma
de viver e “um novo espaço e modo de interpelação coletiva dos indivíduos (...)”
(SODRÉ, 2002, p.23).
Mesmo os participantes não cadastrados no Youtube participam da construção
dessa resposta ao assistir aos vídeos, ao manifestar seu interesse por determinadas
informações as quais consideram. O mais visível, que no Youtube tende a ser ainda
mais visível, é também o que muitos conhecem.
O fundamento da partilha, que rege a lógica colaborativa, mostra que a
circulação das informações se num amplo “ecossistema comunicativo”, que abarca
diversos meios com possibilidades interacionais variáveis, tensionando lógicas
sociocomunicacionais distintas e inaugurando formas de construção de sentidos. Em
resumo, novas formas de estar no mundo.
As possibilidades de trânsito das informações de um meio para outro, como
ocorre da TV para o YouTube, mostra uma espécie de resposta social à dia que é
possível através da própria mídia, pois é em função da intermidialialidade que ela se
apresenta e porque essa resposta social é configurada pelas características próprias do
meio que a ambienta, coerente com as formas de pensar e viver que se desenvolveram a
partir dos processos de midiatização.
85
5. CONCLUSÃO
A compreensão colaborativa da “política brasileira” foi analisada através dos
contextos de visibilidade mediados. Em razão das limitações desse trabalho e
conseqüentes dificuldades metodológicas que se imporiam se se pretendesse analisar
todas as formas de interação, optou-se por selecionar algumas, intencionalmente sob
determinados aspectos, e a partir desse marco, estabelecer o ponto de partida para se
pensar as formas de mediação.
Assim, a compreensão colaborativa da “política brasileira” no YouTube foi
discutida nessa pesquisa como uma espécide de resposta social midiatiatizada que se
registra no site em questão. Buscou-se demonstrar que os processos de midiatização
configuram essa resposta social através das posições demonstradas pelos participantes
em relação à política, da natureza de suas interações e dos fluxos intermídias que
permitem os trânsitos das informações e seu registro.
O conjunto dessas questões mostra que a partir da dia, e por meio dela os
colaboradores formam suas opiniões segundo o que a TV considera - e elege - como
assunto prioritário a ser tratado; de fato, esses atores valem-se desse tipo de ambiente
colaborativo para expor e formar suas opiniões.
Observou-se que os diversos colaboradores divulgam suas causas, procuram
alcançar visibilidade para aquilo que consideram que deva ser partilhado e, em meio à
diversidade de questões expostas pelos outros pares, selecionam o que parece ser mais
adequado para si próprio, dando sequência ao processo de formação de suas opiniões.
A própria forma de pensar a política demonstra os processos de midiatização,
uma vez que as interpretações dos colaboradores são criadas no complexo ecossistema
comunicativo, que se caracteriza pela abudância da informação, seu rápido trânsito
pelos fluxos que conectam os diversos meios e pela força da imagem, que sobressai na
organização multimidática do bios midiático.
As discussões em relação às especifidades das interações sociotécnicas, em
especial os aspectos relacionados à multimidialidade, procuraram demonstrar os
tensionamentos entre as duas formas de pensamento a imagética e a conceitual, como
propõe Flusser (2007) – criadas a partir dos movimentos de hibridização das linguagens,
expressas pelas relações entre os vídeos, suas tags, títulos, etc.
As mediações tecnológicas, considerando-se os traços intermidiáticos e
multimidiáticos que configuram as tecnointerações no YouTube, apontam para outras
86
formas de percepção da realidade, pois, como destacam Orozco Gómez (2006) e
Santaella (2008), as mediações cognoscitivas sofrem seus impactos.
No ambiente em questão, as interações mostram como a imagem híbrida tem
força na representação da “política”, que como discutem Sodré (2002, 2006) e
Lipovetsky (1989) não ocupa o lugar central do espaço público e não se fundamenta
na troca de razões públicas, que visa o entendimento consensual pela força do melhor
argumento. Ao contrário, as interações multimidiáticas e os vínculos sensíveis salientam
as emoções dos colaboradores quando se expressam em relação à “política brasileira”.
Essas caracterísiticas apóiam-se na lógica colaborativa, relacionada ao
fundamento do estar junto”, como propõe Maffesoli (2005). A partilha do comum,
como se sabe, se através de vínculos sensíveis entre os colaboradores, e a ação
política de cada um deles, manifesta através das interações, relaciona-se à apresentação
de suas posições com base nos juízos estéticos.
As mediações sociais também foram consideradas, pois fazem parte das diversas
mediações que se sobrepõem e configuram os contextos de visibilidade do YouTube,
assim como a automatização da mediação criada a partir das relações dos metadados
que se mostra através do sistema de busca do YouTube.
As diversificadas formas de mediação mostram diferentes “olhares” sobre o
mesmo conteúdo, pois alguns aspectos só são perceptíveis através das análises de
conteúdo, como foi apresentado. Alguns vídeos m ideological tags que apresentam as
orientações políticas dos colaboradores claramente, como foi o caso dos de Ivan Valente
com as tags “socialismo” e “esquerda”, que remetem diretamente ao candidato e seu
partido, o que confirma a hipótese de Lin e Hauptamn (2009) de que as tags utilizadas
nas postagens são palavras recorrentes em outros produtos midiáticos. Em outros casos,
como o da colaboradora 2244Cristina, é possível conhecer suas orientações através
da análise dos vídeos, pois ela só usa a topical tag “Brasil”.
Como foi abordado, a resposta social que se apresenta demonstra a pluralidade
de assuntos considerados “políticos” e as variadas concepções que se apresentam a
partir deles, o que reflete a diversidade da TV e caracteriza os processos de formação
das opiniões na atualidade, que, como mostram Wolton (2006) e Lipovetsky (1989),
ocorre de forma fragmentada e superficial. Mas, ambos autores argumentam que ao
aumentar as possibilidades de escolha frente às diversas orientações em circulação, os
homens tornam-se mais tolerantes e abertos a outras formas de pensar.
87
O trânsito intermidiático das informações e as possibilidades de registro das
interações sociais por meio das interações sociotécnicas salientam os aspectos da
midiatização que qualificam essa resposta social. A resposta social que emerge na
análise da compreensão colaborativa é uma resposta à mídia, através da própria mídia,
que se constitui de acordo com as características de cada meio pelos quais circula,
delimitada pelas formas interacionais de cada um deles, e continuamente reconstruída.
88
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92
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93
ANEXO A
Primeira página do retorno da busca “política brasileira” no dia 18/11/2008.
94
95
96
ANEXO B
Vídeos que retornaram a busca “política brasileira” até a página 7 no dia 18/11/2008.
Reforma moral e ética na política já
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Campanha Ivan Valente 50:coerência de esquerda
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Câmera aberta entrevista César Maia
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Jarbas critica ataques de Lula e do PT à imprensa TV Senado
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104
Jefferson Péres por Álvaro Dias 1ª parte
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A injustiça tributária no Brasil 1ª parte
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As eleições municipais 2008 2ª parte – é um vídeo-resposta
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Programa Ivan Valente
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Projeto 10 elevado a 100 – Capacitação aos políticos
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106
ANEXO C
Comentários dos vídeos analisados no tópico 4.3.
Isso não é um político e sim um personagem
danielmartinspedreir (1 mês atrás)
POdia trabalhar na "Praça é Nossa"...
prirds (2 meses atrás)
Já q gosta tanto de aparecer, pendura essa melância no pescoço!
Ordnaelv (2 meses atrás)
Não me espantaria se esse imbecil fosse eleito.
guaquino (2 meses atrás)
Melhor que o Lula ;)
Brujahsp (2 meses atrás)
se ele ganhar, vai ficar só comendo melancia....hahahhahaha
vtaube (2 meses atrás)
sensacional!!!
foxhowlett (2 meses atrás)
Gordinho O.o
gordinho sou eu antes de ir na acedemia, isso awe é uma Orca!
uhuashuashuashuas
murilopmoraes (2 meses atrás)
puta q pariu.
promete q vai comer mta melancia. grande projeto de campanha.
uahuahuauahuahaua
107
Carlos Vereza no Jô Soares
ottouro (2 anos atrás)
Veja o quanto é bom ouvir uma pessoa com tanta conciencia e conhecimento dizer de
uma política falsa que impera em nosso país... ainda sinto bem ouvir esta cultura
ambulante dizer sobre o nosso país... já estava pensando que não existia mais nenhum
patriota neste país... parabenizo a tão boa entrevista e explanações...
vitortaveira (2 anos atrás)
caraca o Serra é a esquerda progressista
putaquepariu
falo muita merda
vieira3501 (2 anos atrás)
Os comentários acima resumem bem os dois lados da moeda. O primeiro do senhor
"ottouro" Onde ele parece ser, no mínimo, bem informado. O outro do senhor
"vitortaveira". Onde, assim como o partido político que hoje se encontra no poder,
resume bem com o seu "jeito" de se espressar, os tipos que governam este país. Uma
dica. Como eu já fiz, envie este vídeo aos conhecidos. Obrigado. E que o bom senso
impere entre nós!
augustoalmeida (2 anos atrás)
organizações globo ele esqueceu, né!?
Vulgo, Câncer do Brasil
hack2yah (2 anos atrás)
Com o FHC era tão bom né. è tudio farinha do mesmo saco. Quando o povo fizer uma
revolução a gentye muda isso, o resto é política
iuribritish (2 anos atrás)
ta certo, aqueles que criticavam o FHC nada podem dizer do governo lula, pq é a
mesma politica, somado a isso o projeto de poder que foi citado
franciscobantoni (2 anos atrás)
Marcado como spam
Responder
E as Organizações Globo???
Eeeeee.... as Organizações Globo????????????????
108
jrthepower (2 anos atrás)
Conconrdo com vieira3501, as duas primeiras mensagens postadas mostraram
claramente a realidade brasileira CULTURA x IGNORÂNCIA. Fora LULA, fora
populismo barato. O Brasil não é um campo de futebol onde o Presidente faz
trocadilhos ridículos.
Bonngee (2 anos atrás)
O Lula só ganhou porque o governo FHC foi horrivel. e o povo acreditou nas
promessas do Lula PT, que infelizmente, traiu a todos, os eleitores e o proprio PT.E que
está idéias populista e ditaduras.
legiao1 (2 anos atrás)
só deixa eu ver se eu entendi os comentarios de vieira3501 e de jrthepower: quem fala
mal do lula está certo e tem cultura e quem acha que o lula foi um presidente razoável é
ignorante? um pouco determinista não?
henriquemsa (2 anos atrás)
Como a globo é poderosa. Mudou a opnião de uma pessoa culta como jô, que já apoiou
a esquerda na época de SBT onde convidava pessoas realmente interessantes. Agora
dispoe de uma parcialidade exagerada e convida somente quem a globo quer.
henriquemsa (2 anos atrás)
Como a globo é poderosa. Mudou a opnião de uma pessoa culta como jô, que já apoiou
a esquerda na época de SBT onde convidava pessoas realmente interessantes. Agora
dispoe de uma parcialidade exagerada e convida somente quem a globo quer.
WILSTEFANELI (2 meses atrás)
é impossivel discordar do pt sem ter uma armação orquestrada por tras
vai trabalhar vagabundo
julianadekassia (2 anos atrás)
é isso aí,Lula é incompetente, seu governo é ordinário e o PT é o partido mais corrupto
que existe. Só me resta um pergunta: como foi que paramos nessa situação?Será
porque os governos anteriores eram tão boms e não deixaram faltar nada?
JoaoSilvaBrasil (1 ano atrás)
Lixo, absoluto e óbvio.
109
marceufilho (8 meses atrás)
Porra de PT e petistas. O Câncer do Brasil. E ainda vem filha da puta aqui defender. E
a porra da DENGUE CARALHO!!!!????
Cadê o presidente do povo? Vão falar o que? Que essa epidemia de dengue é culpa da
globo também seus merdas???
vinisdemski
glamurizaçao da ignorancia... prazer Brasil...
em todos locais, todas classes...
simplesmente o reflexo do povo, e parem de reclamar
nillowiz (3 meses atrás)
Ator Bandido Golpista...Apresentador bandido golpista...filhos da Puta...vão queimar
no inferno!!!
WILSTEFANELI (2 meses atrás)
deve ter emprego pelo partido. fracassado
eletcop (2 meses atrás)
BRASIL NOVA POTÊNCIA GRAÇAS LULA
Banco Mundial: G-7 deve ser expandido e incluir Brasil(fOLHAONLINE 06/10/08)
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse hoje que o G-7 (grupo dos sete
países mais industrializados do mundo=EstadosUnidos Alemanha, Japão..) deve ser
expandido e incluir os principais países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil.
Zoellick afirmou que a atual estrutura de liderança mundial não está devidamente
equipada para lidar com a crise global.
Tonynardini (2 semanas atrás)
Potência de que?????? O país foi arrumado por FHC, Malan e Armínio Fraga, esse
governo não mexeu em nenhum milímetro o planos deles e está se aproveitando do que
os competentes fizeram. Um governo de mentira esse do PT, cheio de apaniguados,
encheu a máquina de "companheiros". Partido bancado pelas farc! Vcs. estarão vivos
pra ver o que essa corja fez com esse país.
110
Casseta e Planeta Sanguessuga Hits
mat2006 (1 ano atrás)
muito bom mesmo haaahahauahauahaua
Bastidores Debate 2006 - Exclusivo!!
snaporazsilva (2 anos atrás)
nósfa. Mó legal.
MerikKiron (2 anos atrás)
O Alkmin foi melhor no debate.
jeitolindo (2 anos atrás)
olha..talves e so eu mas o video nao e certo. trocou o voz da Lula e Alckmin, ne? pelo
menos o que to assistindo.
rhandu (2 anos atrás)
povo burro, fica fazendo gracinha aí
90% de aumento ae povao
24 mil por mes, vamos lá, vota no lula vota
fmackert (1 ano atrás)
sem graça
kamykovas (1 ano atrás)
babaquice
yuricontini (1 ano atrás)
o Lula aumentou o salário dos deputados? hauhauahua
stockerhelio (1 ano atrás)
ola
franprarod (2 meses atrás)
Huhauahua o Alckmin: "pq tá com a receita errada, inclusive no saneamento básico..."
Hahuahu ao invés de ele começar pela corrupção, etc, ele começou criticando
saneamento básico
111
ANEXO D
Resumos dos vídeos e formatos apropriados analisados no tópico 4.3.
Reforma moral e ética na política já – Entrevista
O professor Otaciano Nogueira discute a decisão do Supremo Tribunal Federal
de considerar inconstitucional a cláusula de barreira. Intervenção da colaboradora
através da denúncia de escândalo - mensalão.
Carlos Vereza no Jô Soares - Entrevista
Carlos Vereza, no Programa do Jô, critica Lula, o PT e o esquema mensalão.
Notícias da semana no Brasil 19 de maio – Reportagem
Lula cede a pressão do PMDB por mais cargos nos ministérios, depoimento de
Luís Marinho, então Ministro da Previdência, falando sobre as mudanças na
aposentadoria dos servidores de São Paulo, denúncia sobre medicamentos de baixa
qualidade vendidos com o consentimento da Anvisa.
Ainda na mesma reportagem: cinco projetos de lei sugeridos pelos parlamentares
na CPI da exploração sexual não saíram do papel, e liminar que obrigaria o INSS a
manter o benefício auxílio doença até que fosse realizada uma nova perícia nos
trabalhadores afastados por motivos de saúde e salários dos vereadores de Torres.
Casseta e planeta sanguessuga hits – Humorístico
Quadro do programa humorístico que aborda a máfia sanguessuga através de
música cantada pelos atores, parodiando outra versões.
O que dizem os invasores de terra - Reportagem
Déficit habitacional e as condições de vida dos invasores de terrenos e imóveis
da União.
112
Bastidores Debate 2006 – Exclusivo!!- Debate
Debate entre Lula e Alckmin nas eleições presidenciais de 2006, na Band.
Isso não é um político e sim um personagem - Propaganda política eleitoral
Propaganda política do Gordinho de Itu, candidato a vareador.
Carnaval 2008 Jornal da Band 2ª parte –Reportagem
Cobertura do carnaval
Senador Pedro Simon PMDB/RS A corrupção - Pronunciamento
Reforma política que imponha o fim da corrupção e da impunidade.
Heloísa Helena Globalização - Entrevista
Entrevista com Heloísa Helena sobre política e economia externa. A entrevistada
critica o governo Lula.
PCdoB 65Propaganda política eleitoral
Heloísa Helena eleita presidente do PSol - pronunciamento
Heloísa Helena, ainda senadora, discursando sobre manipulação política e
terrorismo eleitoral com relação às políticas compensatórias e o governo Lula.
113
O Brasil do governo Lula – Reportagem
Reforma ministerial, jovens comunicam-se principalmente através de mensagens
de celular. Número de empresas falidas diminui em função da mudança de lei que
prioriza o caráter social das empresas, o que determina que a recuperação da empresa
seja considerada mais importante que o seu fechamento, e os empregados recebem os
créditos da massa falida. Problema do desemprego e aumento do trabalho temporário.
Entrevista Roberto Jefferson Brasília ao vivo - Entrevista
Mensalão.
As greves no Brasil e as regras nos países de 1º mundo - Reportagem
Reportagem sobre a greve de servidores públicos no Brasil, que aborda a
proposta de lei que regulamente o direito de greve dos servidores. Frase de Lula: “Greve
de servidor público não é ferias”.
Pânico Deputado Coelho – quadro humorístico
Deputado vende votos.
A navalha em Renan Calheiros e o xeque mate no Lula - reportagem
Processo contra Renan Calheiros por quebra de decoro parlamentar.
Campanha Ivan Valente 50:coerência de esquerda - Propaganda política
eleitoral
Candidatos “figuras” no Horário eleitoral da TV - Propaganda política
eleitoral
114
De Stalin Bush, de Renan aos chips - Reportagem
Desdobramentos do caso Renan Calheiros.
Morre a ex-primeira dama Ruth Cardoso – Reportagem
Posse e eleição no congresso nacional – Reportagem
Eleição para as mesa diretora e comissão permanente da câmara.
Câmera aberta entrevista César MaiaEntrevista
Programas de governo.
Jarbas critica ataques de Lula e do PT à imprensa TV Senado -
Pronunciamento
Senador Jarbas Vasconcelos em discurso no senado sobre crítica ao PT Lula
sobre a posição da imprensa. O senador defende que Lula recebeu um bom tratamento
da imprensa.
Jefferson Péres por Álvaro Dias 1ª parte - Pronunciamento
O senador Álvaro Dias um trecho de um discurso do senador Jefférson Perez
em sua homenagem.
A injustiça tributária no Brasil 1ª parte - Pronunciamento
Discurso do senador Antônio Valadares sobre o assunto.
As eleições municipais 2008 2ª parte - Reportagem
Artista e jogadores de futebol eleitos e resultados de pesquisas de opinião sobre
os candidatos a prefeitos das capitais.
115
Programa Ivan Valente - Propaganda política eleitoral
Projeto 10 elevado a 100 Capacitação aos políticos - Propaganda política
eleitoral
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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