213
pelo que já existe como também pelo que pode efetivamente existir. Nessa perspectiva,
é visto como um conjunto de possibilidades reais e concretas que, mesmo ainda não
realizadas, estariam presentes como tendência ou como “promessa de realização”. É no
espaço que essas promessas se dispõem e se realizam. Assim, afirma o autor, “o futuro
são muitos e resultarão de arranjos diferentes, segundo nosso grau de consciência, entre
o reino das possibilidades e o reino da vontade” (santos, 2000:161).
Assumir esse campo é também negar a inação, pois as possibilidades implícitas
no real são maiores do que a realidade em si e, nesse sentido, a utopia permite o
avançar. Konder, em entrevista feita a Bazílio (2001), enuncia a existência de duas
leituras do sentido da utopia. Uma primeira, em que a utopia é sinônimo do não-lugar, o
lugar inexistente e que nunca existirá, e outra, do lugar inexistente, mas que poder vir a
existir. Nesse caso, afirma o autor, “se ele pode existir, a utopia se torna um estímulo
muito valoroso para a ação, para o movimento”.
A utopia, portanto, pode dar início à ação na medida em que contém um projeto.
É nesse sentido que Ernest Bloch já afirmava conter a utopia o princípio da esperança e
antecipação daquilo que não é garantido de se viver, mas que se constitui como projeto
e, portanto, move a humanidade e dá real sentido ao viver. Assim, dirá o autor:
Somente ao se abandonar o conceito imóvel e fechado do ser surge a
real dimensão da esperança. O mundo está, antes, repleto de
disposição para algo, latência de algo, e o algo assim intencionado
significa planificação do que é intencionado. Significa um mundo
mais adequado a nós, sem dores indignas, angústia, auto-alienação,
nada. Esta tendência, porém, está em curso para aquele que justamente
tem o novum diante de si. É somente no novum que o para-onde do
real mostra a determinação mais fundamental do seu objeto, e esta
convoca o ser humano, em quem o novum tem os seus braços. (...) Se
o ser se compreende a partir do seu de-onde, então ele se compreende,
a partir daí, apenas como um para-onde igualmente tendencial, ainda
inconcluso. O ser que condiciona a consciência, assim como a
consciência que trabalha o ser, compreendem-se em última instância
somente a partir de onde e para onde tendem. A essência não é o que
foi, ao contrário: a essência mesma do mundo situa-se na linha de