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torne um signo adequado às condições de uma situação concreta dada, não enquanto sinal estável
e sempre igual a si mesmo, mas somente enquanto signo sempre variável e flexível. Portanto, os
signos só emergem da interação:
A pura “sinalidade” não existe, mesmo nas primeiras fases da aquisição da linguagem.
Até mesmo ali, a forma é orientada pelo contexto, já constitui um signo, embora o
componente de “sinalidade” e de identificação que lhe é correlatada seja real. Assim, o
elemento que torna a forma lingüística um signo não é sua identidade como sinal, mas
sua mobilidade específica; da mesma forma que aquilo que constitui a descodificação da
forma lingüística não é o reconhecimento do sinal, mas a compreensão da palavra no seu
sentido particular, isto é, a apreensão da orientação que é conferida à palavra por um
contexto e uma situação precisos, uma orientação no sentido da evolução e não do
imobilismo. (BAKHTIN (VOLOCHÍNOV) 1995, p. 94).
Nessa vertente de pensamento, o processo de decodificação (compreensão) não deve, em
nenhum caso, ser confundido com o processo de identificação. O signo é decodificado e somente
o sinal é identificado, pois é uma entidade de caráter imutável, não podendo substituir, refletir ou
refratar nada.
Bakhtin (Volochínov) (1929/1995), com um propósito de originalmente investigar o
processo de aquisição de uma língua estrangeira, formula o conceito de polissemia. O autor
afirma que a unicidade da palavra não é assegurada pela unicidade de sua composição fonética,
havendo também uma unicidade inerente a todas as suas significações. Afirma também que uma
palavra é onisignificante, pois “se um complexo sonoro qualquer comportasse uma única
significação inerte e imutável, então esse complexo não seria uma palavra, não seria um signo,
mas apenas um sinal. A multiplicidade das significações é o índice que faz de uma palavra uma
palavra” (BAKHTIN (VOLOCHÍNOV), 1995, p. 130).
A partir de tal conceito, o autor afirma que o problema fundamental da semântica só pode
ser resolvido pela dialética, uma vez que a pluralidade de sentidos – as plurissignificações – só
ocorre durante a interação verbal, realizada através da enunciação ou nas enunciações, que é de
natureza social, constituindo assim a realidade fundamental da língua.
Flores e Teixeira (2005), tendo como referência Bakhtin (Volochínov) (1929/1995),
afirmam que o autor anunciou uma lingüística cujo “objeto não é nem a língua nem a fala, mas a
enunciação, evento de passagem do sinal ao signo, mediante o qual se dá a semantização da
língua” (p. 51).
Para viabilizar isso, Bakhtin (Volochínov) (1929/1995) procura explicar o que para ele
seria uma espécie de dupla articulação da enunciação. Com efeito, toda enunciação possui dois