INTRODUÇÃO
Conflitos de interesse são frequentemente observados entre os animais e decorrem da
competição e defesa de recursos limitados entre dois indivíduos (Eibl-Eibesfeldt, 1961). Essa
disputa de recursos é realizada por meio do comportamento agressivo (agonístico) que, por sua
vez, é caracterizado por interações de ameaça e luta (Eibl-Eibesfeldt, 1961; Becker et al.,
1993).
A função da interação agressiva varia entre as espécies e dependendo das condições
sociais e ambientais (Villars, 1983). Em peixes, as lutas podem definir o acesso a sítios de
alimentação e acasalamento (Gonçalves-de-Freitas & Nishida, 1998), a defesa de parceiros
(Yamamoto et al. 1999) e de prole (Fitzgerald & Keenleyside, 1978). A importância do
comportamento agonístico também é evidente nas espécies de peixes da Família Cichlidae
cuja organização social é baseada na hierarquia de dominância e territorialidade (Baerends &
Baerends Van Roon, 1950).
O desenvolvimento da interação agonística depende da associação entre o estado
interno do indivíduo e os estímulos externos que atuam sobre ele (Huntingford, 1991). Assim,
em peixes, os fatores que podem afetar a agressividade são: o isolamento social (Gómez-
Laplaza & Morgan 2000), o tamanho do grupo (Andries & Nelissen, 1990; Haller, 1992;
Quinn et al., 1996), a fase reprodutiva (Holder et al., 1991; Yamamoto et al., 1999;
Jaroensutasinee & Jaroensutasinee, 2003), os níveis hormonais (Villars, 1983; Munro &
Pitcher, 1985; Pitcher, 1993; Øverli et al., 2002; Summers & Wiberg, 2006; Trainor &
Hofman, 2006), a experiência social prévia (Nelissen & Andries, 1988), o sexo do animal
(Balshine-Earn & Lotem, 1998, Carvalho & Gonçalves-de-Freitas, 2008) e as condições
abióticas (Adams et al., 1998; Nicieza & Metcalfe, 1999; Sloman et al., 2001).
O comportamento agressivo pode ser modificado por fatores ambientais, tais como, a
disponibilidade de refúgios (Fischer & Ohl, 2005), variações estruturais do ambiente
(Hofmann et al., 1999; Blanchet et al., 2006), o fluxo e o nível de água (Sloman et al., 2001;
Sloman et al., 2002; Teresa, 2005), a turbulência (Sneddon, et al., 2006) a concentração de
oxigênio (Sneddon & Yerbury, 2004) e de poluentes (Sloman et al., 2003; Scott & Sloman,
2004), a temperatura (Olla et al., 1978; Fitzgerald et al., 1986) e a luminosidade (Sakakura &
Tsukamoto, 1997). De fato, a luminosidade regula muitas atividades e padrões
comportamentais em peixes, incluindo a agressividade (Helfman, 1993). No entanto, embora o
efeito desse fator abiótico sobre as interações agressivas seja observado, a resposta em
diferentes espécies e os mecanismos que desencadeiam essa relação são pouco conhecidos.