feminina na sexuação com a relação entre eles: no encontro entre os sexos, não está em
jogo a complementaridade, mas o semblante.
A lógica masculina na sexuação baseia-se na existência de uma exceção que funda a
regra, ou seja, do lado masculino, existe um para quem a castração não se inscreve, e que
funciona como ponto de identificação com a posição viril.
Para o menino, a posição viril se assegura como um título de propriedade virtual, a
ser usado posteriormente. Porém, no momento em que o encontro com o Outro sexo o
convoca a fazer uso desse título, ele descobre que o falo que ele acreditava estar do lado do
homem − representado pela figura do pai − não está lá.
Assim, a virilidade de um homem se conjuga no futuro do pretérito, ou seja, a
impostura masculina se garante através da crença de que o que foi perdido estivera lá. É de
um ‘agora eu era’ que se trata na corte masculina.
Frente à descoberta de que o falo, que ele acreditava estar do lado do pai, apresenta-
se por sua ausência, o homem se divide: na vertente do amor, faz semblante de ter o falo
que ele não tem; na vertente do desejo, busca na mulher aquilo que lhe falta.
A impostura masculina comporta o enigma do falo no nível do ter, ou seja, o
homem faz semblante de ter o falo para a mulher e, ao mesmo tempo, busca na mulher o
falo que ele não tem. Assim, a base da impostura é a crença de que, em algum momento, o
falo esteve lá, razão pela qual o homem continua a demandá-lo.
O homem dirige seu desejo para uma mulher embasado na crença de que o falo
perdido pode ser recuperado no corpo feminino. É nessa via que a mulher encarna a função
de objeto a para o desejo masculino. Contudo, no jogo dos semblantes, ele sabe que, para
despertar o interesse da mulher, é preciso fazer de conta que o falo está do lado dele.
O homem finge ter o que ele não tem e que, na verdade, deseja. Por esse motivo,
encarna o ideal masculino do herói. Como já dizia Chico Buarque, o homem se dirige à
mulher cantando “agora eu era o herói”, e demandando que ela lhe restitua a posição que
foi, no futuro do pretérito, perdida. Assim, a demanda masculina comporta a identificação
com a posição viril do herói, porém, como potência desde sempre perdida.
Para Lacan (1972/2003), a função do órgão é servir de isca para o significante.
Dessa maneira, o órgão, passado ao significante, adquire para o ser falante o efeito de
presentificar a inexistência da relação sexual.