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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
A JAZIDA DE BENTONITA DE BAÑADO DE
MEDINA, MELO, URUGUAI.
GEOLOGIA, MINERALOGIA E APLICAÇÃO
INDUSTRIAL
LUIZ DELFINO TEIXEIRA ALBARNAZ
ORIENTADOR – Prof. Dr. André Sampaio Mexias
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Marcus Vinicius Dorneles Remus– Instituto de Geociências,
Universidade federal do Rio Grande do Sul
Profa. Dra.
Marcia Elisa Boscato Gomes Instituto de Geociências,
Universidade federal do Rio Grande do Sul
Prof. Dr. Carlos Otávio Petter - Departamento de Engenharia de Minas
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Dissertação de Mestrado apresentada
como requisito parcial para a obtenção
do Título de Mestre em Geociências.
Porto Alegre – 2009
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2
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i
À Giselda, Fabrício, Filipe e Alice
ii
Agradecimentos:
Ao Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, pela oportunidade de realizar este mestrado em um excelente ambiente de trabalho,
com todo o suporte humano e material para a pesquisa.
Ao pessoal docente do curso de Geologia pela dedicação e paciência.
Ao Professor Dr. André Sampaio Mexias, amigo e companheiro de início
de carreira profissional, que após 23 anos me acolheu como seu orientando, abrindo
para mim seu coração e sua casa, onde hoje me sinto como de sua família.
Ao Professor Dr. Norberto Dani, um verdadeiro mestre, que, com seus
ensinamentos e dedicação foi fundamental para a qualificação de meu mestrado. Sua
percepção de que a ciência deve ser suporte para o emprego racional dos recursos
minerais, ajudou muito para que este mestrado possa servir de base no planejamento da
utilização industrial do jazimento de Bañado de Medina .
Ao Professor Dr. Milton Formoso, um exemplo de vida e um balizador
de nosso caminho como pesquisador e ser humano.
Ao Professor Dr. Nelson Lisboa pelos conhecimentos transmitidos,
especialmente no campo, e pelas oportunidades de discussão, além das geológicas,
também das tradições culinárias gaúchas.
Ao Professor Dr. Marcus Remus ex-colega de Unisinos que me recebeu e
apoiou neste mestrado.
Ao pessoal do laboratório de Difração de raios x, Renato, Jorge e Paula.
Aos amigos do laboratório de Geoquímica: Ronaldo, Julio Rosa, Julio
Zeitter e Luiz Flores.
Aos graduandos Gabriel, Gustavo e Kellen.
Ao Engenheiro Regis Amaral do Laboratório de Fundição do Centro
Tecnológico da UFRGS e ao Engenheiro Tunas da empresa Drescon, da Paraíba, pela
colaboração na obtenção dos dados referentes às propriedades tecnológicas da bentonita
de Bañado de Medina.
iii
No Uruguai, onde durante muitos anos coletei dados que vieram a
compor esta dissertação, meu reconhecimento, em primeiro lugar, ao Engenheiro José
Pedro Argenzio (em memória) que foi um pioneiro no estudo das bentonitas de
Banhado de Medina e na busca de suas aplicações tecnológicas.
Ao Engenheiro Gustavo Eguren, de Melo, um amigo que durante todo
tempo foi meu suporte para o desenvolvimento do trabalho.
Ao amigo, proprietário da indústria de Calcário Vigor, Sr. Nelsis
Coradini que me proporciono às condições para meus primeiros trabalhos na área.
Aos proprietários da empresa Calcário Razzera, Srs. Mario Razzera,
Jeovane Razzera (em memória) e Ivan Razzera.
Ao grande amigo José (sondador, assador, um verdadeiro cavalheiro),
entusiasta e competente, a quem devemos a possibilidade de obter os dados que as
sondagens nos ofereceram.
E finalmente ao CNPq - processo: 481087/2007-9, Projeto
Fapergs/Pronex 408253 e o Programa de Bolsas de Pós-Graduação-REUNI da UFRGS.
iv
Resumo:
A Jazida Bañado de Medina localizada a sudoeste da cidade de Melo
(Uruguai) se constitui na primeira ocorrência na região com potencial para exploração
comercial de bentonita. Através de uma campanha de 31 furos de sondagem foi possível
delimitar um bloco cuja espessura da camada de bentonita atinge até 6,6 m. Os furos
permitiram visualizar um pacote dentro da seqüência permiana do Rio do Rasto
delimitada superiormente e inferiormente por arenitos, protegida de processos erosivos
devido aos falhamentos que mantiveram este material em blocos abatidos do terreno. A
cubagem realizada revelou nos 9,5 ha prospectados uma reserva medida de 580000
toneladas com distribuição contínua e apresentado cobertura de estéril do tipo
arenito/siltito da ordem de 1,60m até 11,60m de espessura. O objetivo deste trabalho é
mostrar os dados obtidos envolvendo o estudo da mineralogia, composição química,
contaminantes, fatores controladores da jazida e propriedades tecnológicas deste
material. Estratigraficamente a jazida situa-se dentro da Formação Rio do Rasto, porção
superior do Membro Serrinha (Formação Yaguari, Membro Vila Viñoles na
nomenclatura uruguaia). Foi possível compartimentar a bentonita em 4 camadas de
acordo com critérios texturais, estruturas sedimentares e cor. Mineralogicamente, as
camadas são compostas predominantemente por esmectita dioctaédrica cálcica e traços
de quartzo e feldspato. Os resultados químicos mostram uma esmectita com baixo teor
em ferro, com cerca de 76% da carga interfoliar proveniente da substituição a nível
octaédrico, classificando-se como uma alumínio montmorilonita. Foi avaliado a
capacidade de troca de cátions (valores entre 118 e 124 meq/100g) e sua correlação com
domínios 2EG, 1EG e 0EG. Os resultados mostram uma montmorilonita de baixa carga.
Seu uso tecnológico foi testado para a aplicação em moldes de fundição e como fluido
de perfuração. Os resultados apontaram índices adequados de estabilidade térmica,
Palavras chave: Bentonita, montmorilonita, gênese, aplicação tecnológica, Uruguai.
v
Abstract:
A bentonite deposit occurs in Bañado de Medina, Melo Uruguay and
seems be the first case of commercial occurrence in this region. 31 drill holes allowed
delimiting a thickness until 6,6 m and a reserve about 580.000 t of bentonite in this
deposit. The aim of this paper is to display the mineralogical, geochemical studies also
other factors which are important for the explotation of this clay material. The clay
deposit is in the Permian Rio do Rastro Formation, in the upper part of the Serrinha
Member (Yaguary formation, Vila Viñoles member – Uruguayan equivalent
stratigraphy). The bentonite consists of four beds according to sedimentary structure,
color and texture. The bentonite deposit is in contact (at the base and top) with fine
sandstones and a fault system preserved the bentonite from later erosive processes. X-
ray diffraction data show that the bentonite is formed by more than 90% of smectite and
is Ca-dioctahedral smectite. The chemical analysis displays a smectite with low content
of Fe
+3
and 76% of interfoliar charge mainly associated to an octahedral replacement of
AL
+3
by Mg
+2
constituting an Al-montmorillonite. The cation exchange charge is
between 118 and 124 meq/100mg. The montmorillonite is highly predominant low
charge type (2EG).The technological use was tested for foundry and drill hole fluid. The
results indicate adequate thermal stability, good swelling properties and green strength
for foundry use.
Keyworks: Bentonie, montmorillonite, genesis, techonological applications, Uruguay.
vi
Sumário
Agradecimentos: ....................................................................................... ii
Resumo: ................................................................................................... iv
Abstract: .................................................................................................... v
I - Introdução ............................................................................................. 1
II - Principais depósitos de bentonita na América do Sul ......................... 3
IV - Objetivos gerais do Trabalho .......................................................... 12
V- Metodologia ....................................................................................... 13
1 - Mapeamento regional .................................................................... 13
2 – Sondagem ...................................................................................... 13
3 - Descrição macroscópica ................................................................ 14
4 - Difratometria de raios X ................................................................ 14
5 - Capacidade de Troca Catiônica pelo Íon NH
4
+
............................. 15
7 - Ensaios tecnológicos ...................................................................... 16
Bibliografia: ............................................................................................ 18
Carta de encaminhamento do artigo ....................................................... 20
Artigo submetido à Revista Pesquisas .................................................... 22
Resumo: .................................................................................................. 23
Abstract ................................................................................................... 24
1 - Introdução .......................................................................................... 25
2 – Localização ....................................................................................... 27
3 - Trabalhos anteriores .......................................................................... 27
4 – Metodologia ...................................................................................... 28
5 – Geologia da área ............................................................................... 30
6 – Contexto geológico do depósito e cubagem ..................................... 33
7 – Mineralogia ....................................................................................... 38
vii
8 –Propriedades tecnológicas. ................................................................. 46
9 – Conclusões ........................................................................................ 49
10 - Agradecimentos ............................................................................... 50
11 – Bibliografia ..................................................................................... 51
Discussão e Conclusões : ........................................................................ 54
Bibliografia: ............................................................................................ 57
viii
Lista de Figuras
Figura1Representaçãoesquemáticadaestruturadaesmectita(DANA,1983)......................................2
Figura2‐PrincipaisocorrênciasdebentonitanaAméricadoSul.(1)AceguáMelo,(2)AbraDel
Despeñadero,(3)PenínsuladeSantaElena,(4)BaciadeCamposRJ(5),Neuquén,(6)Paraíba...................4
Figura3CamadadeBentonitaemAbraDelDespeñaderoFormaçãoTunas.........................................5
Figura4DiagramadeWinchester&Floyd(1977)mostrandooscamposdeclassificaçãodasbentonitas
doMarco“3dedos(círculos)edosbasaltosdaFormaçãoCabriúnas(quadrados)daBaciadeCampose
outrasrochasígneasmaisjovens(demaissímbolos)...................................................................................7
Figura5SeqüênciadecamadasnaFormaçãoColónCura(DepartamentodeZaballa)...........................8
Figura6‐DRXdedebentonitadasminas7deMaioeCerroBandera‐Nat./s.a:naturalsecaaoar
Mag/glic:homogeneizadacommagnésio/glicolada.................................................................................9
Lista de figuras do artigo:
Figura1MapageológicoedelocalizaçãodosCamposAeBnaregiãodeBañadodeMedinaUruguai,
adaptadodeGomezetal.(1980)eBossietal.(1998)...............................................................................26
Figura2ColunaestratigráficacomparativaentreasnomenclaturasusadasnoBrasilenoUruguai....32
Figura3Mapadospoçosdesondagemeespessuradascamadas.........................................................32
Figura4PerfilABmostrandooascamadasdebentonita...................................................................33
Figura5‐Contatoporfalhaentreabentonita(blocoabatido)eoarenitosiltoso(blocosoerguido),
evidenciandoofraturamentopróximoalinhadefalha.............................................................................35
Figura6ContatoentreoMembroMorroPeladoeomembroSerrinha(bentonita)..............................36
Figura7Característicasmacroscópicasdiferenciaisentreascamadasdebentonita............................37
Figura8‐(A)DifratogramasderaiosX(DRX)aolongodoperfildofurodesondagemBC12,amostra
total,modonatural,intervalodea32°2θ.Sm(esmectita),Qz(quartzo),Fk(Kfeldspato),Pl
(plagioclásio).(B)Oposicionamentodopico060étípicodeesmectitadioctaédrica...............................39
Figura9‐DifratogramasderaiosX(DRX)aolongodoperfildofurodesondagemBC12.Fração<2µm,
SaturadocomCa,modoglicolado.CuKa,intervalodea32°2θ.............................................................40
Figura10‐DifratogramasderaiosX(DRX)aolongodoperfildofurodesondagemBC12.Fração<2µm,
SaturadocomCa,KeKCanomodosecaaoareaoetilenoglicol.CuKa,intervalodea32°2θ...........42
Figura11‐DifratogramasdeamostrasKsaturadas,fração<2µm,saturadocomCaeposteriormente
comK,CuKa.(A)Padrõesdedifratogramasdasamostrasorientadasetratadascometilenoglicol,
coletadasaolongodoperfildofurodesondagemBC12,intervalodea24°2θ.(B)Decomposiçãodo
picod001do
difratogramadaamostra450A,secaaoarapóssaturaçãocomKCl.(C)Decomposiçãodo
picod001dodifratogramadaamostra450A,tratadacometilenoglicolapóssaturaçãocomKCl.........44
Figura12‐(A)Participaçãodosdomínios0EG,1EGe2EGnoempilhamentodasfolhasdaesmectita
BañadodeMedinaevaloresdecapacidadedetrocadecátions(CTC)dasamostrasemdiferentes
ix
profundidades(valoresemmeq/100g).(B)CorrelaçãopositivaentreoCTCeaproporçãodefolhasdo
tipo2EG.(C)CorrelaçãonegativaentreoCTCeaproporçãodefolhasdotipo0EG.................................45
x
Lista de Tabelas
Tabela1ComposiçãoquímicadabentonitacálcicadogrupoAncónpróximoaGuayaquil..................6
Tabela2AnálisesquímicaseCapacidadedetrocadecátions(CIC)dasbentonitasdeNeuquén
Argentina......................................................................................................................................................8
Tabela3‐ResultadodosensaiostecnológicosnasbentonitasdaProvínciadeNeuquén‐Argentina.......10
Tabela4‐AnálisesquímicasdasbentonitasdaRegiãodeBoaVistaedeWyoming................................11
Lista de tabelas do artigo:
Tabela1‐AnálisequímicadeamostratípicadabentonitaBañadodeMedinaevalorescalculadosparaa
fórmulaquímicaaproximada.....................................................................................................................46
Tabela2ResultadocomparativodeensaiostecnológicosentreabentonitadeBañadodeMedinae
umabentonitade NeuquénnaArgentina..................................................................................................48
xi
Sobre a estrutura desta dissertação:
Esta dissertação de Mestrado está estruturada em torno de um artigo
submetido a um periódico nacional. Sua organização compreende as seguintes partes
principais:
Introdução. Introdução ao tema, contendo descrição geral dos objetivos
e o estado da arte, além de metodologia, com uma ampla revisão bibliográfica.
Corpo principal: Artigo Científico submetido à Revista Pesquisas:
“A JAZIDA DE BENTONITA DE BAÑADO DE MEDINA, MELO, URUGUAI.
GEOLOGIA, MINERALOGIA, APLICAÇÃO TECNOLÓGICA”
Considerações Finais. Síntese dos resultados que serviram de base para
as conclusões e referências bibliográficas.
1
IIntrodução
Bentonita é uma rocha, constituída essencialmente por argilominerais do
grupo das esmectitas. Originam-se mais freqüentemente da desvitrificação e alteração
química de cinzas vulcânicas (Darley & Gray, 1988) e podem apresentar outros
componentes, tais como: outros argilominerais (caolinita, ilita), feldspatos, anfibólios,
cristobalita, quartzo, sendo que o total de componentes não argilosos dificilmente é
superior a 10%. Podem apresentar cores variadas, tais como: branco, cinza, amarelo,
marrom, verde e azul (GRIM, 1968). A origem do nome (KNIGHT, 1898) refere-se a
um depósito de argila esmectítica na região de Fort Benton, Wyoming (USA) composto
por rochas de idade Cretácea (100 m.a.), produto de alteração de cinza vulcânica
Estas cinzas vulcânicas, transportadas via atmosfera, teriam sido
depositadas em lagos, lagoas, zonas marinhas pouco profundas gerando esmectita
(bentonitas) ou em pântanos, gerando caolinita (tonstein).
As bentonitas normalmente formam camadas de poucos centímetros, mas
eventualmente podem gerar camadas de vários metros, como nos depósitos de
Wyoming, na província de Neuquén na Argentina e no depósito de Bañado de Medina
no Uruguai. A extensão lateral do depósito vai depender da energia da erupção e da
força das correntes aéreas.
Para a geração de bentonitas, é importante que o ambiente deposicional
seja de fraca energia. A origem vulcânica é evidenciada pela presença de quartzo-beta,
biotita, sanidina, plagioclásio e fragmentos vítreos.
As esmectitas apresentam-se como umsanduíche” formado por duas
folhas de tetraedros de sílica envolvendo uma folha de octaedros de alumínio, estrutura
de tipo 2:1 (Fig. 1). Na estrutura, podem ocorrer substituições de íons por outros de
mesmo ou diferente número de oxidação. Nos tetraedros, o íon Al
3+
pode aparecer
substituindo o Si
4+
, enquanto nos octaedros os íons Mg
2+
, Fe
3+
e/ou Fe
2+
podem substituir o
Al
3+
(GUNGOR, 2000; MURRAY, 2000). Esse tipo de substituição provoca um
desbalanceamento elétrico que é compensado por cátions, como Na
+1
e Ca
2+
, que se
posicionam entre as camadas e são intercambiáveis, dando origem às denominações de
bentonitas sódica e cálcica. Algumas bentonitas, menos comuns, podem apresentar íons
2
H
+
, K
+
e Mg
2+
como cátions de compensação. O desbalanceamento de carga na
superfície de uma esmectita pode variar de 0,2 a 0,6 por unidade de célula (GRIM,
1962).
Figura 1
– Representação esquemática da estrutura da esmectita (DANA, 1983).
As bentonitas, em geral, caracterizam-se por apresentar: (1) partículas
muito finas; (2) elevada carga superficial; (3) alta capacidade de troca catiônica; (4)
elevada área superficial e (5) inchamento (afastamento das camadas) quando em
presença de água. Nessas argilas, as superfícies das camadas estão disponíveis para
hidratação e troca de cátions (LUCKHAM & ROSSI, 1999). Essas características
resultam nas propriedades que determinam o seu aproveitamento industrial.
As bentonitas podem apresentar maior ou menor capacidade de
inchamento. Essa propriedade depende de muitos fatores, tais como: natureza do cátion
interplanar, carga da camada, natureza dos sítios geradores de carga, interestratificação
e presença de contaminantes (sais solúveis, substâncias orgânicas, etc.). De uma forma
geral, o fator mais importante costuma ser a natureza do cátion interplanar, uma vez que
se o cátion sódio, que se hidrata muito facilmente, estiver presente em quantidades
apreciáveis, a esmectita apresenta alta capacidade de inchamento, enquanto se outros
cátions estiverem presentes a hidratação será menos intensa (DARLEY E GRAY,
1988).
A bentonita possui características peculiares e importantes para um
diversificado campo de utilização industrial, destacando-se usos como: (a) componente
de fluidos utilizados para perfuração de poços de petróleo (b) aglomerante de areias de
moldagem usadas em fundição; (c) pelotização de minério de ferro; (d) descoramento de
3
óleos e clarificação de bebidas; (e) impermeabilizante de solos; (f) absorvente sanitário
para animais de estimação; (g) carga mineral, em produtos farmacêuticos, rações
animais, produtos cosméticos e outros; (h) agente plastificante para produtos cerâmicos,
(i) composição de cimento, entre outros (MURRAY, 2000).
IIPrincipaisdepósitosdebentonitanaAméricadoSul
Os principais depósitos de bentonita na América do Sul estão inseridos
em formações com idades desde o Permiano até o Terciário. Estas ocorrências serão
descritas a seguir segundo a ordem cronológica de sua formação (Fig. 02):
1 - Região de Aceguá, sul do Brasil, e região de Melo, norte do Uruguai.
Idade Permiana.
2 - Região de Abra Del Despeñadero – Sierras Australes – Província de
Buenos Aires. Idade Permiana.
3 - Península de Santa Elena, Equador. Idade Cretácea.
4 - Bacia de Campos, Rio de Janeiro. Idade Cretácea.
5 - Departamento de Zaballa, Província de Neuquén. Argentina – com
idade Mioceno – Pleistoceno.
6 - Região de Boa Vista, estado da Paraíba, de idade Terciária (Plioceno
– Oligoceno).
As bentonitas de Melo (Uruguay) e Aceguá (Brasil) são descritas por
Calarge (2001) como sendo composta por esmectita com cinco tipos diferentes de
folhas, segundo o grau de expansibilidade após saturação com K
+
e K
+
seguido de Ca
2+
.
Na bentonita há evidências de duas deposições de vidro vulcânico riodacítico. Também,
segundo a autora, as camadas seriam predominantemente de alta carga. Calarge et al.
(2003) posicionam as bentonitas da região de Aceguá (Brasil) e de Melo Uruguai como
de idade Permiana superior, incluídas dentro do pacote de rochas sedimentares da
Formação Rio do Rastro (Brasil) e Formação Yaguary (Uruguai). Nesse período o arco
vulcânico localizado no norte da Patagônia (Argentina) apresenta um episódio de
intensa atividade ligada ao choque de placas tectônicas. Estas erupções são
especialmente explosivas em função da natureza félsica de seu magma. Segundo os
4
autores, a relação entre as razões de Zr/TiO
2
X Nb/Y locados no diagrama de
Winchester and Floyd (1977) indicam que o vidro vulcânico possuía uma composição
dacítico-riodacítica.
Figura 2- Principais ocorrências de bentonita na América do Sul. (1)Aceguá-Melo,
(2)Abra Del Despeñadero, (3)Península de Santa Elena, (4)Bacia de Campos-RJ
(5), Neuquén, (6)Paraíba.
Segundo os autores, a formação Rio do Rastro e Yaguary são compostas
por arenitos fluviais associados com dunas eólicas e argilitos típicos de ambientes
lagunares relacionados com a transgressão durante o Permiano superior. Calarge et al.
(2006) ressaltam que a compactação durante o soterramento tornou a camada de
bentonita um sistema fechado empobrecida em potássio no qual a ilitização diagenética
foi inibida. As variações nas abundâncias em elementos maiores, menores e ETR no
depósito maciço de argila sugerem que este foi originado de duas quedas sucessivas de
cinza. A abundância de elementos incompatíveis é consistente com a de um vidro
vulcânico fracionado a partir de um ambiente geológico de subducção/colisão.
5
As bentonitas da região de Abra Del Despeñadero – Sierras Australes –
Província de Buenos Aires, Argentina, são descritas por Formoso et al. (2001), como
de idade Permiana (270 m.a.) e provêm das alterações de materiais piroclásticos
originado pelo evento que gerou o arco vulcânico localizado a SW da área. Sua origem
está associada à colisão entre a Placa Patagônica e a porção sul do continente
Gondwânico. As análises por difratometria de raios-X dessas bentonitas mostram a
presença de ilita e esmectita (montmorilonita). A reflexão 060 é 1,504 – 1,502 Å
(esmectita dioctaédrica).
As bentonitas estão incluídas dentro de um pacote que apresenta
alternância entre sucessões de arenitos e argilitos. Nessa sucessão sedimentar, materiais
piroclásticos alterados estão associados com sedimentos argilosos intercalados com
arenitos.(fig.3)
Figura 3 – Camada de Bentonita em Abra Del Despeñadero – Formação Tunas.
6
As camadas de argilitos ocorrem como dois tipos: argilas siliciclásticas e
variedades piroclásticas. As variedades piroclásticas apresentam fragmentos de vidro
em uma matriz de esmectita.
As bentonitas da Península de Santa Elena, Equador, são apresentadas
por Morales et al. (2004) como incluídas em sedimentos do grupo Ancón de idade
cretácea. Segundo os autores, estas argilas foram caracterizadas através de análises
químicas, DRX (figura 6), análise térmica diferencial e gravimétrica (ATD e ATG) e
capacidade de troca de cátions (CTC). Essas bentonitas têm predominantemente o cálcio
e o magnésio como cátions interfoliares trocáveis, sendo o teor de potássio indicativo da
presença de ilita (tabela 1).
Os teores de sílica (maior que 65%) sugerem a presença de quartzo e
feldspato (não especificado pelos autores). Morales et al. (2004) relatam que essa
bentonita, ativada com ácido sulfúrico (sem especificação pelos autores), deu boa
resposta para descoloração de óleos vegetais.
Tabela 1 – Composição química da bentonita cálcica do grupo Ancón – próximo a
Guayaquil.
O depósito de bentonita da Bacia de Campos, Rio de Janeiro, Brasil é
descrito por Alves (2005) como uma seqüência sedimentar vulcanoclástica do Cretáceo
Superior (80 m.a.) Essa bentonita é definidora de dois marcos estratigráficos: o Marco
“3 dedos” e o Marco “3 B”. Segundo a autora, a bentonita foi observada em um furo de
sondagem com 2.700 metros de profundidade em camadas com 1 a 2 metros de
espessura. Dados de porosidade mostram valores altos em função da alta
microporosidade do arranjo cristalino das partículas do argilomineral. Sua baixa
resistividade é o resultado do alto teor de água e ausência de carbonatos. A DRX mostra
a predominância de camadas mistas ilita/esmectita que supõem uma atuação incipiente
da diagênese sobre os sedimentos em função do soterramento. A presença de esfoliação
esferoidal e ausência de fissilidade e bioturbação indicam que o argilomineral não é
detritico, mas produto de alteração ‘in situ’. Ainda segundo a autora, as altas
7
concentrações de Ti (5.660-9.000 ppm) e Zr (1.268 - 9.895 ppm) são típicas de rochas
alcalinas. As estruturas petrográficas e as análises químicas apontam para três grandes
episódios de suprimento de cinzas vulcânicas com composição equivalente aos
traquitos, distintas de outras rochas vulcânicas e ígneas presentes na bacia de Campos
(figura 4)
Figura 4 – Diagrama de Winchester & Floyd (1977) mostrando os campos de
classificação das bentonitas do Marco “3-dedos (círculos) e dos basaltos da
Formação Cabriúnas (quadrados) da Bacia de Campos e outras rochas ígneas mais
jovens (demais símbolos).
Os depósitos de bentonita do Departamento de Zaballa, Província de
Neuquén, Argentina, estão incluídas na formação Colón Cura, de idade Terciária
(Mioceno e Pleistoceno) segundo Impiccini et al. (2002). Segundo os autores, as
camadas de bentonita apresentam-se como estratos lenticulares de 2 a 15 metros de
espessura, sendo a maioria aflorantes. Estes estratos estão incluídos dentro de uma
seqüência continental com arenitos e argilitos (fig 5) e são produto da alteração de
materiais piroclásticos vítreos em ambiente úmido confinado. Neste caso, é possível
explicar as expressivas espessuras de bentonita em função da proximidade do centro
vulcânico localizado a SW da área. Sua origem esta associada à colisão entre a Placa
Patagônica e a porção sul do continente Gondwânico.
8
Figura 5 – Seqüência de camadas na Formação Colón Cura (Departamento de
Zaballa).
A tabela 2 mostra que as análises químicas dessa bentonita apresentam o
sódio como principal cátion trocável, sendo o cálcio, potássio e magnésio
secundariamente trocáveis. Os teores de Fe
2
O
3
, entre 4,9 e 7,3%, são comparáveis aos
da bentonita da Paraíba (tab. 4).
Tabela 2 – Análises químicas e Capacidade de troca de cátions (CIC) das
bentonitas de Neuquén – Argentina.
9
As análises dessa bentonita por DRX (fig. 6) mostram a predominância
de esmectita dioctaédrica com quartzo, feldspato potássico, plagioclásio e cristobalita
(opala CT) como acessórios.
Figura 6 - DRX de bentonita das minas 7 de Maio e Cerro Bandera - Nat./s.a:
natural seca ao ar – Mag/glic: homogeneizada com magnésio / glicolada.
Na Tabela 3 são mostrados os testes dessas bentonitas para utilização
como aglomerante de areias para moldes de fundição e para fluido de perfuração. Os
resultados indicam o uso dessas bentonitas para a fundição, especialmente pelos valores
dos testes de Resistência à compressão a verde, Resistência à compressão a seco e
Resistência à tração a úmido. O resultado obtido no teste de filtrado indica que essas
bentonitas não são aptas a serem utilizadas para fluídos de perfuração.
10
Tabela 3 - Resultado dos ensaios tecnológicos nas bentonitas da Província de
Neuquén -Argentina.
As bentonitas da região de Boa Vista, Paraíba, Brasil, são apresentadas
me um trabalho de Porto et al. (2002). Esses depósitos são identificadas pela
diversidade de cores que lhe dão o nome: “chocolate”, “bofe”, “chocobofe”, “lodo”. Sua
origem está ligada a rochas vulcânicas de idade Terciária (Mioceno e Oligoceno) que
apresenta estruturas vulcânicas bem preservadas como pillow lavas e pillow brechas.
Segundo Porto (op. cit.), o pacote seria composto por:
a) uma unidade vulcânica inferior (olivina-basalto);
b) uma unidade intermediária pelítica composta por argilas bentoníticas
sobrepostas por material siliciclástico;
c) um derrame de olivina basalto que capeia todo o pacote.
O resultado de análises por DRX mostra estratificados (sem
detalhamento pelo autor) entre argilominerais do grupo da esmectita e ilita, clorita e
eventualmente caolinita.
Os resultados das análises químicas (tab.4), análises termogravimétricas
e termodiferencial mostram que a esmectita é rica em Fe
+3
ou uma nontronita, sendo
que uma parte do ferro da “chocolate” está na forma de oxi-hidróxidos de ferro.
Segundo os autores, a homogeneidade das camadas argilosas, ausência de
estruturas de escorregamento e níveis oxidados sugere um ambiente lacustrino com
breves exposições subaéreas.
11
Diferentemente das bentonitas clássicas originadas de alteração de cinzas
vulcânicas transportadas via atmosfera, as bentonitas da Paraíba parecem ser originadas
da alteração de rochas vulcânicas extrusionadas em ambiente subaquático.
Tabela 4 - Análises químicas das bentonitas da Região de Boa Vista e de Wyoming.
O conteúdo de ferro é muito maior na bentonita da Paraíba (brasileira),
tipo verde-lodo e chocolate Bravo com relação à de Wyoming (americana).
- mais silício na americana que na brasileira.
- a americana apresentou o sódio 5 vezes mais elevado que a verde lodo e
3 vezes o teor da chocolate.
- o potássio mostrou-se muito superior nas bentonitas brasileiras (13 e 4
vezes).
Como a análise química foi realizada em rocha total, os teores devem
estar associados a outros minerais como quartzo, feldspato, ilita e caolinita.
12
Os municípios de Boa Vista e Campina Grande, ambos no estado da
Paraíba, são responsáveis por mais de 90% da comercialização da bentonita
bruta no país.
IVObjetivosgeraisdoTrabalho
Sob o enfoque da geologia da região o trabalho se propõe a buscar o
posicionamento da camada de bentonita, que integra a fase de deposição fluvio-lacustre
da Formação Rio do Rastro e de sua fácies Superior, Membro Serrinha, de idade
Permiana, criando desta forma um critério de prospecção para outros depósitos similares
na região.
Através do resultado de observações de campo e também de descrições
macroscópicas dos testemunhos de sondagem, buscou-se evidências de transporte dos
sedimentos e feições de acamadamento que indicassem uma origem detrítica para o
material original ou na ausência destas características, uma alteração “in situ” desses
materiais.
O trabalho buscou identificar feições estruturais, como falhas com
deslocamento de blocos, que estejam associadas a uma preservação de partes do
depósito, e erosão de outros setores, justificando a ocorrência de espessuras de 6,5 m de
bentonita.
O estudo também buscou identificar a assembléia de minerais presentes
na camada de bentonita, utilizando a difração de raios x.
Através das análises macroscópicas obtidas através dos testemunhos de
sondagens e DRX buscou-se caracterizar tipos diferenciados de camadas de bentonita
dentro do pacote total desta argila.
A existência de interestratificados, a sondagem das características das
folhas de esmectita e a identificação do tipo de carga presente, basearam-se na análise
detalhada de DRX, obtidos após saturação com CaCl
2
e KCl.
A pesquisa teve como objetivo também associar a medida de capacidade
de troca catiônica (CTC) dos argilominerais com suas propriedades tecnológicas.
13
Buscando integrar todos os dados obtidos com uma aplicação industrial
para esta bentonita, foram medidas suas características tecnológicas para utilização
como aglomerante de moldes de fundição.
VMetodologia
1 - Mapeamento regional
Embasado no trabalho de Bossi et al. (1998) foram realizados trabalhos
de campo na região de Melo com a finalidade de posicionar a camada de bentonita
dentro do pacote das rochas sedimentares gondwânicas que ocorrem na região. Estes
trabalhos de campo consistiram basicamente de perfis em afloramentos de cortes de
estrada entre as localidades de Aceguá e Bañado de Medina, passando pela cidade de
Melo. Também se avançou com o perfil cerca de 20 km no sentido Oeste, a partir da
área de estudo, em direção a localidade de Fraile Muerto.
Estes perfis permitiram observar a evolução do ambiente de
sedimentação das rochas desta região, que passa de ambiente marinho, redutor, para um
ambiente fluvial oxidante, com o concomitante aumento de energia. Segundo dados
obtidos neste trabalho, pode posicionar a camada de bentonita na transição desses dois
ambientes.
A concordância do controle estrutural do pacote de argila bentonítica
nesta área, observado pelo resultado das sondagens com as estruturas regionais também
pode ser observado através deste mapeamento.
2 – Sondagem
Foi executado um programa de sondagem rotativa na área de estudo
segundo uma malha regular de 50 metros, totalizando 31 furos de sondagem.
Estas perfurações foram realizadas com sonda mecânica, no diâmetro de
3 polegadas, sem injeção de água, com coroa de vídia e barrilete com capacidade de
recuperação de 70 cm de testemunho.
14
3 - Descrição macroscópica
As amostras dos testemunhos foram descritos no campo buscando
identificar a camada de bentonita e seu contato com o siltito superior e com o arennito
da base do depósito.
Três Poços de sondagem foram selecionados por sua representatividade
em relação ao depósito determinadas pelas características de campo. Os testemunhos
desses poços foram descritos com maior detalhe buscando identificar textura e
estruturas que indicassem as condições de formação da camada de bentonita. Estas
descrições macroscópicas também serviram para selecionar as amostras que foram
analisadas em laboratório.
4 - Difratometria de raios X
O equipamento utilizado foi um Difratômetro de Raios-X da marca
SIEMENS-BRUKER-AXS, Modelo D5000, ano 1989
, fabricado na Alemanha, com
goniômetro q-q. A radiação é Kα em tubo de Cobre nas condições de 40 kV e 25 mA.
Uma identificação mineralógica de rotina por difratometria de raios X
(DRX) foi realizada em amostras do pó da rocha, na forma não orientada, e em
preparações não orientadas na fração <2μm (seca ao ar -SA- e saturada com etileno-
glicol-EG-).
Para esta identificação mineralógica, foram utilizadas amostras obtidas
nos testemunhos de sondagem. Foram selecionados pontos no perfil que apresentavam
características macroscópicas que indicavam mudanças mineralógicas. O detalhamento
foi executado em 7 amostras do poço MED-BC1-2. Inicialmente, fez-se uma avaliação
utilizando o método do pó em amostras não orientadas. Para o estudo em amostra
orientada, a bentonita foi desagregada e dispersa em ultrassom com água deionizada. As
frações menores que 20 µm e 2 µm foram separadas através de técnicas de decantação e
centrifugação (Moore e Reynolds, 1997). As frações separadas foram saturadas com
Ca
2+
e K
+
por dispersão em soluções 1N de CaCl
2
e KCl. Amostras saturadas com KCl
foram novamente submetidas à troca de cátion com solução CaCl
2
1N (Meunier et al,
15
2004). Foram preparadas várias montagens de lâminas orientadas de cada amostra,
naturais e saturadas com Ca, K e K-Ca. As amostras orientadas foram submetidas a
tratamentos posteriores como a solvatação com etilenoglicol e o aquecimento por duas
horas na temperatura de 540°C. Para a determinação do parâmetro “b” (amostras dos
poços MED-BC1-2 e MED-B2) foram utilizadas frações <2 μm. Estas amostras foram
não orientadas através da passagem das partículas em uma peneira de abertura de 200
mesh, caindo sobre uma lâmina de vidro nas mais variadas posições (tipo “castelo de
cartas”).A partir da fração menor que 2 µm, procedeu-se a uma montagem não orientada
para a avaliação do parâmetro “b” da esmectita.
A decomposição dos difratogramas foi realizado nas amostras saturadas
com base na metodologia estabelecida por Lanson (1997), assumindo a substituição do
difratograma original por um difratograma modelado a partir de um número mínimo de
reflexões elementares Gaussianas e Lorentzianas, baseado na posição, intensidade e
largura do pico a meia altura. O grau de ajustamento entre o difratograma experimental
e o modelado nesta metodologia foi sempre superior a 99% de coincidência.
5 - Capacidade de Troca Catiônica pelo Íon NH
4
+
Os testes de capacidade de troca de cátions (CTC) foram executados no
laboratório de Geoquímica da UFRGS. Foram analisadas amostras naturais e a fração
<2µm.
Princípio do Método
Os argilominerais são filossilicatos que apresentam um déficit de carga
em seu edifício cristalino e para compensar atraem os elementos de carga positiva. Eles
podem adsorver de forma reversível os cátions como H
+
, K
+
Ca
2+
, Mg
2+
, NH
4
+
(com
exceção NH
4
+
) se apresentam nas águas naturais,tanto na superfície como igualmente no
espaço interfoliar.
A aptidão desses argilominerais de sorver os cátions dissolvidos reside na
dissociação dos grupamentos funcionais, fenômeno dependente do pH do meio. Sendo
assim, a fim de poder comparar os resultados obtidos pelos diferentes laboratórios, o pH
7 foi escolhido como referência para a determinação da capacidade de troca catiônica
(CTC)
A CTC é definida como o número de milequivalentes grama (meq. g) ou
cmole de carga /Kg (nova unidade oficial). Norma AFNOR X 31.130 (1985)
16
O objetivo é de fazer absorver um cátion determinado por contato entre
uma solução concentrada deste cátion e a argila estudada, posteriormente, é dosada a
quantidade deste cátion fixado pelas folhas deste mineral. Para isto, é removido o grupo
de cátions trocáveis por uma solução de sal de amônio.
Em uma etapa seguinte é avaliado o amônio absorvido por esta solução
por meio de uma destilação com MgO.
7 - Ensaios tecnológicos
Com a finalidade examinar seu potencial para aproveitamento industrial
foram enviadas 4 amostras, na forma natural, sem nenhum tipo de tratamento, ao
laboratório de controle de qualidade da DRESCON, empresa produtora de bentonita na
Paraíba. Três delas provenientes do poço MED-BC1-2 e correspondentes ao topo, parte
mediana e base da camada de bentonita e 1 amostra do poço MEB-B2 correspondente à
parte mediana da camada de bentonita.
O resultado apresentou os valores das principais propriedades para sua
utilização como aglomerantes de areia para moldes de fundição e como fluido para
perfuração de poços..
Também foi selecionada uma amostra representativa da bentonita do
jazimento, retirada da cava experimental aberta próxima ao poço BC-23. Esta amostra
foi ativada (método descrito) e enviada ao laboratório de fundição do Centro
Tecnológico da UFRGS para medir suas propriedades como aglomerante de areias para
fabricação de moldes de fundição.
Procedimento para ativação:
-Foram tratadas 2,5 Kg de amostra de bentonita natural;
- desagregação em britador de mandíbulas lisas;
- cominuição em pulverizador Reinald;
- secagem em estufa a 50º C durante 4 horas;
- ativação a úmido;
- 5% de Carbonato de Sódio comercial (barrilha leve);
- pesagem da amostra seca: 2,5 kg;
- prepara-se uma solução com 2,5 litros de água e 125 g de carbonato de
sódio;
17
- a solução é misturada à amostra seca com o auxílio de pá manual até
homogeneização;
- deixada em contato por 14 horas;
- após é seca em estufa a temperatura de 50º C, até umidade de 12 %.
- moagem em moinho de ágata.
O teste para moldes de fundição foi selecionado em função de o
jazimento estar relativamente próximo do mercado consumidor deste tipo de bentonita
(sul do Brasil).
18
Bibliografia:
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20
Cartadeencaminhamentodoartigo
21
22
ArtigosubmetidoàRevistaPesquisas
23
A jazida de Bentonita de Bañado de Medina, Melo,
Uruguai.
Geologia, mineralogia e utilização tecnológica.
ALBARNAZ, LUIZ DELFINO
1
; DANI, NORBERTO
1
; FORMOSO,
MILTON
1
; MEXIAS, ANDRÉ
1
; LISBOA, NELSON AMORETTI
1
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Geociências. Av.
Bento Gonçalves, 9500 – Porto Alegre – RS. CEP 91.540-900 – Brasil
Resumo:
A Jazida Bañado de Medina localizada a sudoeste da cidade de Melo
(Uruguai) se constitui na primeira ocorrência na região com potencial para
exploração comercial de bentonita. Através de uma campanha de 31 furos de
sondagem foi possível delimitar um bloco cuja espessura da camada de bentonita
atinge até 6,6 m. Os furos permitiram visualizar um pacote dentro da seqüência
permiana do Rio do Rasto delimitada superiormente e inferiormente por arenitos,
protegida de processos erosivos devido aos falhamentos que mantiveram este
material em blocos abatidos do terreno. A cubagem realizada revelou nos 9,5 ha
prospectados uma reserva medida de 580.000 toneladas com distribuição contínua e
apresentado cobertura de estéril do tipo arenito/siltito da ordem de 1,60m até
11,60m de espessura. O objetivo deste trabalho é mostrar os dados obtidos
envolvendo o estudo da mineralogia, composição química, contaminantes, fatores
controladores da jazida e propriedades tecnológicas deste material.
Estratigraficamente a jazida situa-se dentro da Formação Rio do Rasto, porção
superior do Membro Serrinha (Formação Yaguari, Membro Vila Viñoles na
nomenclatura uruguaia). Foi possível compartimentar a bentonita em 4 camadas de
acordo com critérios texturais, estruturas sedimentares e cor. Mineralogicamente, as
camadas são compostas predominantemente por esmectita dioctaédrica cálcica e
traços de quartzo e feldspato. Os resultados químicos mostram uma esmectita com
baixo teor em ferro, com cerca de 76% da carga interfoliar proveniente da
substituição a nível octaédrico de Al
3+
por Mg
2+
, classificando-se como uma
alumínio montmorilonita. Foi avaliada a capacidade de troca de cátions (valores
entre 101 e 116 meq/100g) e sua correlação com domínios 2EG, 1EG e 0EG. Os
resultados mostram uma montmorilonita de baixa carga. Seu uso tecnológico foi
testado para a aplicação em moldes de fundição e como fluido de perfuração. Os
24
resultados apontaram índices adequados de estabilidade térmica, inchamento e
Resistência a Tração a Úmido, quando ativada com 5% de carbonato de sódio.
Palavras chave: bentonita, montmorilonita, gênese, aplicação tecnológica, Uruguai
Abstract
A bentonite deposit occurs in Bañado de Medina, Melo Uruguay and
seems be the first case of commercial occurrence in this region. 31 drill holes
allowed to delimit a thickness until 6,6 m and a reserve about 580.000 t of bentonite
in this deposit. The aim of this paper is to display the mineralogical, geochemical
studies and also other factors which are important for the explotation of this clay
material. The clay deposit is in the Permian Rio do Rastro Formation, in the upper
part of the Serrinha Member (Yaguary Formation, Vila Viñoles Member –
Uruguayan equivalent stratigraphy). According to the sedimentary structure, color
and texture the bentonite consists of four beds. The bentonite deposit is in contact
(at the base and top) with fine sandstones and siltstones and a fault system preserved
the bentonite from later erosive processes. X-ray diffraction data show that the
bentonite is formed by more than 90% of smectite and is Ca-dioctahedral smectite.
The chemical analysis displays a smectite with low content of Fe
3+
and 76% of
interfoliar charge mainly associated to an octahedral replacement of Al
3+
by Mg
2+
constituting an Al-montmorillonite. The cation exchange charge is between 118 and
124 meq/100mg. The montmorillonite is highly predominant low charge type
(2EG). The technological use was tested for foundry and drill hole fluid. The results
indicate adequate thermal stability, good swelling properties and green strength for
foundry use.
Keywords: bentonite, montmorillonite, genesis, technological application, Uruguay.
25
1Introdução
Argilas associadas com a Formação Rio do Rasto no Rio Grande do Sul e
Uruguai tem sido objeto de interesse científico constante dentro do Instituto de
Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Associado a estudos
estratigráficos e paleontológicos locais, ocorrências de argilas na forma de lentes
centimétricas foram identificadas e classificadas como bentonita (Pintaude e Formoso,
1972). A possibilidade das argilas encontradas serem bentonitas aumentaram o interesse
de estudos mais detalhados nesta área, visando à caracterização da origem vulcânica
como a definição das propriedades dessas argilas, pois é conhecido que as reservas do
Brasil deste material são limitadas, não atendendo as necessidades do País nas suas
diversas aplicações industriais. Os trabalhos nesta linha sofreram um grande impulso
com os estudos realizados a partir do final da década de 90 (Calarge, 2001) que
mostraram a similaridade composicional entre a bentonita encontrada em Aceguá
(Brasil) com a existente em Melo (Uruguai), diferenciando-se principalmente na maior
espessura da camada de bentonita na região de Melo. Embora as bentonitas observadas
em Melo atingissem até 1 metro de espessura, a sua distribuição em área era muito
reduzida e sem interesse econômico. Neste contínuo estudo destes materiais,
estabeleceram-se duas linhas principais de atividades: 1) caracterização mineralógica e
química desses materiais; 2) levantamentos no terreno para estabelecer o
posicionamento estratigráfico dentro da Formação Rio do Rasto e para a localização de
novas ocorrências. Mais recentemente, baseado em informações de relatórios de
pesquisa realizados na década de 70 (Gómez et al. 1980, inédito), o projeto conseguiu
atrair o interesse de mineradores que patrocinaram uma nova campanha de sondagem na
região de Melo, mais precisamente na localidade de Bañado de Medina. Os dados
obtidos nessas perfurações mostram que a camada de bentonita possui espessuras da
ordem de mais de 5 metros, mudando totalmente as perspectivas até então existentes
para a região e ampliando a possibilidade de uma aplicação econômica. Assim, todo o
esforço da pesquisa se voltou para a Jazida de Bañado de Medina, cujos resultados
envolvendo a caracterização mineralógica e química, gênese, cubagem e propriedades
tecnológicas, se constituem no objetivo principal deste trabalho.
26
Figura 1 – Mapa geológico e de localização dos Campos A e B na região de
Bañado de Medina – Uruguai, adaptado de Gomez et al. (1980) e Bossi et al.
(1998).
27
2Localização
A Jazida Bañado de Medina localiza-se no norte do Uruguai, no
Departamento de Cerro Largo, município de Melo, tendo como coordenadas centrais
32º24’39” de latitude sul e 54º22’04” de longitude oeste. Este ponto pode ser atingido a
partir da cidade de Melo, rumando-se para leste pela Ruta 7 até atingir o povoado de
Bañado de Medina. A partir da intersecção com a Ruta 26 percorresse mais 2 km até a
jazida em estudo, Campo B (figura 01).
As bentonitas encontram-se inseridas na seqüência de estratos que
compõem a Formação Rio do Rasto, estando totalmente inclusas nesta formação, sendo
possível a sua identificação em apenas alguns pontos do terreno, como em cortes das
estradas principais da região. Este aspecto sempre dificultou a sua observação direta em
superfície, sendo que a melhor visualização da ocorrência é aquela realizada através de
furos de sondagens, como os que o projeto teve acesso neste estudo.
3Trabalhosanteriores
As argilas esmectíticas da região de Melo são conhecidas desde 1940,
sendo os primeiros trabalhos publicados por Goñi (1952). Posteriormente, Bossi (1960)
descreve detalhadamente as ocorrências. Neste período, as argilas chegaram a ser
empregadas como carga na fabricação de sabão doméstico. Melissari et al. (1966)
avaliaram o emprego desta argila para moldes de fundição mediante a ativação com sais
de sódio e apresentaram uma estimativa de reserva na ordem de 20.000 toneladas.
Gómez et al. (1980, inédito), trabalhando na área de Bañado de Medina, determinaram
duas áreas com interesse especial, denominando-as em Campo A e B (figura 1). Através
da análise térmica diferencial (ATD), esses autores identificaram as argilas como sendo
montmorilonitas (nome do grupo das esmectitas utilizado nesta época) e procederam
outros testes para avaliar as propriedades tecnológicas das argilas, além de estimarem a
existência na região de reservas da ordem de 100 000 a 1 000 000 de toneladas para o
campo B. Neste mesmo período, o material coletado próximo ao Campo B foi
parcialmente empregado pela empresa “Química San Fernando” estabelecida em
28
Montevidéu que produzia cerca de 300 toneladas/mês de bentonita ativada alcalina e
ácida, utilizada na clarificação de óleos e vinhos. A atual pesquisa utilizou as
informações desse relatório para reavaliar o Campo B através de uma malha de
sondagem.
A exposição parcial das argilas do Campo A permitiu a Calarge (2001)
amostrar e descrever aspectos estruturais e geoquímicos da esmectita, fazendo uma
comparação com as argilas com características similares encontradas na localidade de
Aceguá (Brasil). Os dados geoquímicos desse trabalho, principalmente envolvendo
elementos traços e terras raras permitiram relacionar a bentonita como sendo originada a
partir de material vulcânico de composição riolítica a dacítica em ambiente geológico
do tipo colisão/subducção (Calarge et al. 2003, Calarge et al. 2006).
4Metodologia
A metodologia empregada teve como objetivo fornecer dados para
caracterização da jazida a nível de terreno, permitindo a sua visualização espacial
através de um programa de sondagem no Campo B, cuja delimitação inicial foi baseada
em informações obtidas a partir do relatório inédito de Gómez et al. (1980). As
sondagens forneceram as amostras para estudos complementares em laboratório Os
furos de sondagens foram planejados para atingirem a camada de siltito inferior, onde
eram interrompidos. Posteriormente, os testemunhos foram enviados para o laboratório
visando à determinação da sua faciologia e para a coleta de amostras para estudos em
laboratório. Procedeu-se também levantamentos regionais visando à inserção da Jazida
Bañado de Medina no contexto estrutural e estratigráfico da área. Como resultados mais
importantes desta etapa, destacam-se a visualização espacial e a cubagem da jazida.
Os estudos envolvendo a composição das amostras de rochas
sedimentares e de bentonitas da Formação Rio do Rasto, compreenderam o emprego da
microscopia ótica e principalmente a difratometria de raios-X. Nesta ultima técnica,
inicialmente fez-se uma avaliação da mineralogia através de amostras coletadas ao
longo do perfil de sondagem utilizando o método do pó em amostras não orientadas.
Para o estudo em amostra orientada, a bentonita foi desagregada e dispersa em
29
ultrassom com água deionizada. As frações menores que 20 µm e 2 µm foram separadas
através de técnicas de decantação e centrifugação (Moore e Reynolds, 1997). As frações
separadas foram saturadas com Ca e K por dispersão em soluções 1N de CaCl
2
e KCl.
Amostras saturadas com KCl foram novamente submetidas à troca de cátion com
solução CaCl
2
1N (Meunier et al, 2004). Foram preparadas várias montagens de lâminas
orientadas de cada amostra, naturais e saturadas com Ca, K e K-Ca. As amostras
orientadas foram submetidas a tratamentos posteriores como a solvatação com
etilenoglicol e o aquecimento por duas horas na temperatura de 540°C. A partir da
fração menor que 2 µm, procedeu-se a uma montagem não orientada para a avaliação do
parâmetro “b” da esmectita.
A decomposição dos difratogramas foi realizado nas amostras saturadas
com base na metodologia estabelecida por Lanson (1997), assumindo a substituição do
difratograma original por um difratograma modelado a partir de um número mínimo de
reflexões elementares Gaussianas e Lorentzianas, baseado na posição, intensidade e
largura do pico a meia altura. O grau de ajustamento entre o difratograma experimental
e o modelado nesta metodologia foi sempre superior a 99% de coincidência.
Os testes de capacidade de troca de cátions (CTC) foram executados no
Laboratório de Geoquímica da UFRGS na fração <2µm a partir da troca dos cátions
interfoliares com NH
4
+
. A análise química envolvendo a concentração dos elementos
maiores foram feitas por espectrometria de fluorescência de raios –X a partir de
pastilhas fundidas e a perda ao fogo avaliada através da gravimetria, segundo
metodologia utilizada junto ao Laboratório de Geoquímica da UFRGS.
Os ensaios tecnológicos foram feitos em amostras significativas da jazida
de bentonita Bañado de Medina e direcionados para uma possível utilização em moldes
de fundição. As amostras foram previamente ativadas com carbonato de sódio na
proporção de 3% e 5% em peso da amostra seca no Laboratório de Controle de
Qualidade da Mineração Drescon (Paraíba) e no Laboratório de Fundição (LAFUN) do
Centro Tecnológico da UFRGS.
30
5Geologiadaárea
A jazida Bañado de Medina situa-se na unidade geomorfológica
Depressão Rio Ibicuí–Rio Negro, dentro do domínio da seqüência de rochas que
compõem a bacia intracratônica do Paraná (figura 01). A evolução estratigráfica e
estrutural da Bacia do Paraná evidencia um controle a partir das direções herdadas do
embasamento, estabelecendo um arcabouço formado por lineamentos orientados
preferencialmente na direção NE-SW, resultantes de suturas tectônicas ligadas a faixas
móveis neoproterozóicas–eopaleozóicas que circundam o cráton central da Bacia do
Paraná (Milani, 1997). Especificamente, em relação ao Paleozóico Superior da Bacia do
Paraná, as informações sugerem a existência de um processo de aproximação de
diferentes massas continentais, culminando com a consolidação do Pangea (Scotese et
al. 1979, apud Lavina, 1991). No Brasil, o Permiano Superior da Bacia do Paraná é
representado pelo Grupo Passa Dois, que compreende formações sedimentares
depositadas dominantemente em ambiente marinho como a Formação Irati, Serra Alta e
Teresina, culminando superiormente com a Formação Rio do Rasto, depositada em
ambiente transicional e continental (Menezes, 2000). A tendência de continentalização
observada durante o período de deposição do Grupo Passa Dois, se traduz num processo
de regressão do mar intracontinental associado à tectônica tardi-Herciniana, marcada
por processos como a elevação contínua do continente Pangea e pelo registro de um
intenso vulcanismo durante o Permiano Médio e Superior, provavelmente do tipo
explosivo e relacionado a zonas de subducção ativas nas margens dos continentes
(Ramos, 1988, Lavina, 1991, Kay et al., 1989, Calarge, 2001).
Embora as unidades estratigráficas tenham denominações diferenciadas
na coluna do Uruguai e na do Brasil, a correlação entre ambas é direta (Andreis et al.
1986), porém, algumas particularidades, envolvendo principalmente a Formação Rio do
Rasto, devem ser consideradas para evitar problemas de interpretação (figura 2 ). Na
estratigrafia brasileira, o Rio do Rasto foi identificado inicialmente por White (1908) e
elevado posteriormente à categoria de formação por Gordon Jr. (1947) subdividindo-a
numa unidade inferior denominada de Membro Serrinha, seguida superiormente pelo
Membro Morro Pelado. No contexto uruguaio, a Formação Rio do Rasto se distribui em
duas formações distintas, denominadas de Formação Yaguari e Formação Buena Vista.
A Formação Yaguari, que contêm as bentonitas, esta dividida no Uruguai numa unidade
inferior (Membro San Diego) e numa unidade superior (Membro Vila Viñoles), sendo
31
que esta última abriga as camadas de bentonita. Já a unidade denominada no Brasil de
Membro Morro Pelado, vem a se constituir no Uruguai numa formação isolada
denominada de Formação Buena Vista (figura 2). Observações no terreno, evolvendo
principalmente afloramentos no eixo formado pela estrada que une as cidades de Bagé
(RS) e Melo (Uruguai), e no que se refere ao posicionamento estratigráfico das camadas
de bentonita, estabelecem que a compartimentação estratigráfica adotada no Uruguai
seja a mais conveniente para o estudo das bentonitas, colocando-as dentro do Membro
Vila Viñoles da Formação Yaguari, que no Brasil seria equivalente a uma unidade
inexistente que poderia ser denominada de Membro Serrinha Superior da Formação Rio
do Rasto. Bossi e Navarro (1987) descrevem o Membro San Diego como sendo
formado por fácies predominantemente pelíticas com coloração escura, própria de um
ambiente redutor e de baixa energia, sendo que a passagem para o Membro Vila Viñoles
é gradativa e marcada por um aumento da participação de siltitos e arenitos com tons
dominantemente avermelhados, denotando uma crescente continentalização e o
predomínio de ambientes oxidantes.
A distribuição das unidades geológicas na área de estudo pode ser
visualizado na figura 01 (Bossi et al. 1998), sendo que a Jazida Bañado de Medina
encontra-se dentro da seqüência que compõe a Formação Yaguari. São expressivos os
contatos por falhamentos entre as unidades que afloram na área, seguindo
principalmente duas direções, a NE e a NW. Alguns desses falhamentos estão
identificados na figura 01 como lineamentos, sendo que outros não demarcados podem
ser inferidos através da observação da existência de contatos retilíneos entre as
formações. Próximo à Jazida de Bañado de Medina ocorrem diques com direção geral
NW e sill de diabásio, pertencentes provavelmente ao evento Serra Geral e associado a
reativações de antigas zonas de fraqueza do embasamento. Outra conseqüência da
tectônica rígida identificada na região é a perturbação na continuidade lateral das
camadas, sendo freqüente a existência de movimentos verticais, formando uma sucessão
de blocos soerguidos e rebaixados, que limitam a extensão lateral dos estratos, tanto na
escala regional como na escala local.
32
Membro Morro Pelado Formación Buena Vista
Membro Serrinha Formación Yaguari
Formação Irati Formacn Melo
Formação botucatu Formación Tacuarembó
Formação Rio Bonito Formacn Tres Islas
NOMENCLATURA BRASIL NOMENCLATURA URUGUAI
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Correlação entre as Colunas estratigráficas do Brasil e do Uruguai
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Superior (Bentonita) Membro Vila Viñoles
Inferior Membro San Diego
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Figura 2 – Coluna estratigráfica comparativa entre as nomenclaturas usadas no
Brasil e no Uruguai.
Figura 3 – Mapa dos poços de sondagem e espessura das camadas
33
6Contextogeológicododepósitoecubagem
A pesquisa da argila na região do Campo B (figura 1) foi realizada
através de uma malha de sondagem regular com células de 50 m de lado (figura 3).
Figura 7 – Perfil A – B mostrando o as camadas de bentonita.
Em superfície, não é observada a exposição direta da argila estando o
jazimento encaixado na parte baixa de um terreno caracterizado por uma morfologia em
coxilhas com declividades suaves. O solo é do tipo vertissolo a litossolo síltico argiloso
com abundante concentração de matéria orgânica, resultando numa cor, em geral preta.
Através das sondagens foi possível estabelecer para a Jazida Bañado de Medina uma
seqüência de camadas horizontalizadas ou levemente basculadas devido a processos
tectônicos posteriores. As camadas apresentam espessuras variadas, podendo o
jazimento ser compartimentado a partir do topo em solo orgânico (até 1 m de
34
espessura), camadas de siltito, camada de argilito e novamente, ao final dos poços,
camadas de arenito fino. Nos poços, a camada superior de siltito que capeia as camadas
de argilito apresenta espessuras que podem atingir até 8 m e possui cores desde cinzas
claras a avermelhadas, muito provavelmente relacionadas com diferentes níveis de
oxidação do ferro. A camada de argilito possui um contato superior com a camada de
siltito e inferior com o arenito fino do tipo nítido, demarcando uma passagem brusca. A
espessura do argilito no interior da jazida chega até 6,5 m (Figura 3 e 4) e apresenta
diferentes litofacies que foram descritas principalmente através de caracteres
macroscópicos como a cor e estruturas.
Em geral, a cor do argilito é rosada, estruturalmente maciço e por ser
formado em quase sua totalidade por argila esmectítica é denominado no jazimento
como camada de bentonita, termo aqui considerado na concepção mais ampla dada por
Grim & Guven (1978). O arenito inferior que baliza o final do argilito nesta seção pode
ser observado diretamente em afloramento circundante ao jazimento Bañado de Medina,
quando assume tonalidades com cores vermelhas sendo fortemente cimentado com
carbonato. Monitorando a espessura da camada de argilito (figura 3), observa-se que a
jazida esta compreendida numa área de aproximadamente 9,5 hectares acompanhando a
declividade de um flanco de uma coxilha. A espessura da camada de argilito diminui
bruscamente em direção as partes mais elevadas do terreno, onde desaparece, estando o
depósito confinado ao vale entre as duas coxilhas. Embora a espessura da camada de
argilito diminua na direção sul, o limite neste quadrante não ficou bem estabelecido. O
comportamento da camada de argilito indica uma descontinuidade que é atribuída à
existência de falhamentos com componente vertical de movimento, que controlam o
depósito. O falha mento F-F1 de direção NW, assinalado na figura 3, pode ser
observado diretamente no terreno através de trincheiras que interceptam o plano de
falha, permitindo a identificação do bloco abatido e do elevado como assinalado na
figura 5.
O perfil AB, abrangendo poços situados ao longo do eixo longitudinal do
jazimento evidencia que a camada de argilito encontra-se confinada entre uma camada
superior e inferior de siltito e arenito fino (figura 4). Observações dos testemunhos de
sondagens indicam que a camada superior de siltito é contínua ao longo de toda a jazida,
interpretando-se como uma deposição dentro do evento de sedimentação da Formação
Rio do Rasto. Desta forma, a disposição das camadas mostra que alguns dos
falhamentos que controlam o jazimento estavam ativos durante a sedimentação, tendo
35
este mecanismo propiciado a preservação da bentonita e muito provavelmente
promovido a acumulação através de processos de sedimentação subaquosa dos materiais
que teria originado as argilas (cinza vulcânica). A superfície entre o siltito superior e a
bentonita, exposta no flanco oeste e noroeste da jazida se constitui numa discordância
erosiva, marcada por uma mudança drástica no ambiente de sedimentação, que passa de
um regime de baixa energia, com capacidade apenas de depositar folhelhos e argilitos
para um regime de alta energia, evidenciado por marcas de onda e estratificação cruzada
acanalada. Na área da jazida, a discordância marca a passagem da Formação Yaguari
(Membro Vila Viñoles) para a Formação Buena Vista, sendo que dentro da
nomenclatura brasileira seria a passagem do Membro Serrinha para o Membro Morro
Pelado (figura 6).
Figura 5 - Contato por falha entre a bentonita (bloco abatido) e o arenito siltoso
(bloco soerguido), evidenciando o fraturamento próximo a linha de falha.
36
Figura 6– Contato entre o Membro Morro Pelado e o membro Serrinha (bentonita)
As observações na camada de bentonita indicam uma compartimentação
que inicia na parte basal com uma camada de 30 cm, diretamente em contato com o
arenito fino inferior. Texturalmente compacta e de cor violácea, estende-se por todo o
jazimento e demarca a base do pacote de bentonita, sendo denominada de bentonita V
(fig. 04). Sobreposta aparece uma camada de bentonita de cor rosada, com espessura de
até 2 m, porém, sua distribuição é irregular, estando ausente em alguns setores do
jazimento. Apresenta-se homogênea, não tendo sido observado laminações, recebendo a
denominação de bentonita A. Seguindo em direção ao topo, ocorre uma litofacies com
características diferenciadas, especialmente pelo surgimento de laminações
centimétricas a milimétricas, dando origem a uma estratificação paralela e horizontal na
forma de um ritmito com laminações com cores avermelhadas e creme. Esta camada é
denominada de bentonita B (figura 07), e caracteristicamente possui mais silte e uma
distribuição mais constante na jazida que a bentonita A, atingindo espessuras que
chegam até 1,5m. Por fim, na parte superior da camada de argilito, em contato direto
com o siltito superior, é possível a individualização de uma litofácies com colorações,
variando entre roxo e marrom avermelhado, freqüentemente com intraclastos
37
centimétricos de argilito tipo bentonita B. Esta camada foi denominada de bentonita C e
apresenta espessuras variáveis ao longo da jazida, não sendo incomum intervalo de até 3
m. A identificação de intraclastos de argilito dentro de uma matriz também argilosa é
interpretada como feições ligadas ao retrabalhamento intrabacial associado com a
reativação dos falhamentos, com conseqüente aumento da energia de transporte do
meio, promovendo a erosão dos blocos falhados elevados e uma remobilização e
possível concentração dos sedimentos em setores rebaixados do relevo.
Figura 7 – Características macroscópicas diferenciais entre as camadas de
bentonita
Os elementos levantados permitem correlacionar o ambiente de
sedimentação dos argilitos da seqüência de rochas que compõem o jazimento como do
tipo lagunar com uma taxa de aporte de terrígenos muito baixa. Como inferido em geral
para a parte intermediária e superior da Formação Rio do Rasto, as condições eram
38
oxidantes e associadas a um clima árido que favoreceu a transformação da cinza
vulcânica em esmectita. Acumulações de bentonita com a espessura observada neste
jazimento são difíceis de serem explicadas somente através do aporte direto da cinza
vulcânica, porém, a identificação de diferentes litofácies ao longo do perfil viabiliza um
modelo de deposição da cinza em diferentes episódios. A identificação de blocos
elevados e abatidos e de processos de retrabalhamento intrabacial permite admitir a
existência de mecanismos de transporte e acumulação de cinzas vulcânicas e material
fino num regime sedimentar, cuja fase final de deposição subaquosa estaria concentrada
em depressões, muito provavelmente lagos tectônicos, tornando plausível neste modelo
a existência de grandes espessuras de bentonita.
Este contexto caracteriza a jazida de bentonita como situada em um bloco
falhado abatido que a preservaram da atuação dos processos erosivos posteriores que
originaram os pacotes sedimentares da parte superior da Formação Rio do Rasto.
Utilizando os dados obtidos pelos 31 poços de sondagem na área de 9,5 ha, que foi
objeto deste estudo (fig. 4), foi possível medir a reserva de bentonita. O valor calculado
foi de 580.000 toneladas. Esta reserva está em subsuperfície, sendo que 44% do
jazimento possui de 1 a 5 metros de capeamento estéril, 44% possui de 5 a 10 metros de
capeamento e 12% do jazimento tem mais de 10 metros de material estéril sobrejacente.
Este material estéril sobre a camada de bentonita é um siltito argiloso pouco
consolidado e de fácil remoção.
7Mineralogia
Através da difratometria de raios-X (DRX), constata-se que ao longo dos
perfis, a mineralogia principal da bentonita é formada por esmectita, quartzo e
feldspato. Na difratometria, salienta-se em todos os níveis um pico com espaçamento
basal de 15Å, próprio de uma esmectita cujo cátion intercamada predominante é o
cálcio. Na porção superior da bentonita, aparecem linhas mais intensas do quartzo,
feldspato e plagioclásio, indicando uma maior concentração desses minerais, cuja
participação diminui em direção a parte inferior da camada (figura 8A).
39
Figura 8 -(A) Difratogramas de raios-X (DRX) ao longo do perfil do furo de
sondagem BC1-2, amostra total, modo natural, intervalo de 2° a 32°2θ. Sm
(esmectita), Qz (quartzo), Fk (K feldspato), Pl (plagioclásio). (B) O posicionamento
do pico 060 é típico de esmectita dioctaédrica.
40
A esmectita se constitui no único argilomineral identificado em todas as
amostras e se caracteriza por um pico d
001
intenso na região de 15Å em todas as
amostras coletadas ao longo do perfil. Outra característica constante da esmectita é a
posição do d
060
em 1.498 Å, indicando serem dioctaédricas (fig. 8B). A esmectita pode
ser classificada como dioctaédrica cálcica.
Figura 9 - Difratogramas de raios-X (DRX) ao longo do perfil do furo de sondagem
BC1-2. Fração <2µm, Saturado com Ca, modo glicolado. CuKa, intervalo de 2° a
32°2θ.
A pureza do argilomineral pode ser constatada através da análise dos
padrões de difração obtidos em amostras orientadas da fração menor que 2 µm, após
saturação com Ca e submetidas à glicolação (figura 9). Ao longo do perfil, a esmectita
nesta condição assume um espaçamento basal de 16,445 Å próprio de esmectitas que
admitem duas camadas de glicol no espaçamento intefoliar, com um pico d
001
intenso e
simétrico, indicando um elevado grau de cristalinidade. As demais reflexões basais
harmônicas ocorrem a 8.18Å (d
002
), 5.41Å (d
003
) e 4.11Å (d
004
), cuja comparação com o
posicionamento teórico dos picos (fig. 9), evidencia uma série racional com
41
posicionamentos muito próximos aos esperados para essas reflexões, caracterizando
uma esmectita pura, sem evidência de interestratificado tipo I/S.
As amostras saturadas com CaCl
2
(Cálcio – saturação 1) da fração menor
que 2µm foram submetidas à nova saturação com KCl (Potássio) e, posteriormente,
novamente saturadas com CaCl
2
(Cálcio – saturação 2), seguindo a metodologia de
Meunier et al. 2004. Os resultados obtidos ao longo do perfil de bentonita (poço BC1-2,
figura 3) se reproduziram de maneira similar em todas as amostras, demonstrando a
homogeneidade da esmecita. Para ilustrar o comportamento da esmectita de Bañado de
Medina, escolheu-se os resultados obtidos com a amostra 450A do poço BC1-2 (figura
10). Observa-se que os padrões de difração são drasticamente modificados após a
saturação com K (Fig. 10). A reflexão d
001
da esmectita nesta condição passa de 11,79Å,
seca ao ar para valores em torno de 13,50Å tratada com etileno glicol, com picos menos
intensos e mais abertos que os padrões de difração obtidos após a saturação com cálcio
(Cálcio – saturação 1). A linha de base do difratograma (background) se eleva em
direção aos baixos ângulos e as reflexões harmônicas d
002
e d
003
tendem a
desaparecerem indicando um empilhamento de domínios de duas ou mais camadas de
esmectita com arranjo caótico (Moore & Reynolds, 1989). A entrada do íon K no
espaçamento interfoliar possivelmente provocou na esmectita o aparecimento de
diferentes domínios com cargas e graus de hidratação contrastantes (Meunier et al.
2004). As modificações observadas no padrão de difração e principalmente a fixação do
potássio não são irreversíveis, pois, as amostras K-saturadas submetidas a uma nova
saturação com Ca
2+
(Cálcio – saturação 2), readquirem as propriedades iniciais da
esmectita (fig. 10), com apenas uma modificação quanto à maior largura do pico d
001
.
Este comportamento demonstra que a esmectita de Bañado de Medina permaneceu com
uma estrutura aberta e não apresentou em seu edifício cristalino a predominância de
setores mais evoluídos, que poderiam reter irreversivelmente o potássio. É
surpreendente que a ação da diagênese (considerando que este material tem
originalmente uma idade Permiana) não foi intensa o suficiente para transformar as
esmectitas em argilominerais do tipo interestratificado ilita/esmectita (IS), sendo que
provavelmente os seus efeitos se deram no sentido de influenciar na elevada
cristalinidade da esmectita. Em síntese, os resultados obtidos através das saturações com
CaCl
2
e KCl e principalmente pela dificuldade em fixar o K em sua estrutura mostram
que as esmectitas da Jazida Bañado de Medina são predominante do tipo baixa carga.
Para investigar o comportamento da esmectita, optou-se por avaliar os difratogramas
42
através da técnica de desconvolução de picos (Lanson 1997), principalmente nos
padrões gerados após a saturação com potássio que apresentou um pico d
001
menos
intenso e com forte assimetria.
Figura 10 - Difratogramas de raios-X (DRX) ao longo do perfil do furo de
sondagem BC1-2. Fração <2µm, Saturado com Ca, K e K-Ca no modo seca ao ar e
ao etileno glicol. CuKa, intervalo de 2° a 32°2θ.
Na saturação com KCl, a esmectita da Jazida Bañado de Medina
apresentou um comportamento diferenciado a nível de domínios do mineral. O padrão
de difração nas amostras saturadas com K coletadas ao longo do nível de bentonita do
poço BC1-2 (figura 11A) evidencia que todas as amostras apresentaram modificações
acentuadas, com o pico d
001
se tornando assimétrico, em direção a região dos baixos
ângulos, sendo largo e sem os harmônicos. O processo de desconvolução do pico d
001
,
amostra seca ao ar (figura 11B), estabelece que a melhor coincidência do difratograma
experimental (d
001
=11,79Å), com o teórico se deu a partir de uma decomposição
englobando três curvas Gaussianas básicas. Uma delas, de maior intensidade (11,56Å) é
a determinante do posicionamento do pico principal e as outras duas com menor
intensidade relacionam-se com a assimetria do pico d
001
e produziram um espaçamento
de 14,11Å e 10,17Å. Na amostra tratada com etileno glicol (figura 11C), observa-se que
43
a melhor coincidência do difratograma experimental (d
001
=13,497Å), com o teórico se
deu a partir de uma decomposição em que a curva mais intensa teve um espaçamento
de 13,60Å, associada a outras duas curvas com menor intensidade com espaçamento de
17,12Å e 11,66Å.
O pico mais intenso na amostra seca ao ar, localizada a 11,66Å e no
tratamento com etileno glicol, localizado a 13,60Å, corresponderia a domínios do
edifício cristalino da esmectita com potássio interfoliar com uma camada de água na
amostra seca ao ar (11,66Å) e com uma camada de etilenoglicol (1EG) na amostra
tratada com etileno glicol (13,60Å). Adicionalmente, os picos localizados
respectivamente a 10,17 Å e 11,66 Å corresponderiam à proporção de esmectita que
devido à entrada de K no espaço interfoliar, se comportou como uma espécie de ilita
(illite like), ou 0EG. Por fim, o terceiro pico que na amostra seca ao ar e tratada com
etilenoglicol aparece a 14,11 e 17,12Å respectivamente é interpretado como sendo
domínios da montmorilonita em que muito provavelmente não houve a substituição do
Ca interfoliar pelo K, permanecendo com as características da esmectita original, dando
origem a domínios do tipo 2EG.
Procedendo a integração em área de cada uma das curvas que compõem
o pico experimental, pode-se avaliar a participação de cada um dos domínios de
esmectita no cômputo geral da amostra. Estes valores normalizados estão sumarizados
na figura 12A, podendo observar-se que existem variações entre as amostras de
diferentes profundidades do perfil, porém, sempre com a mesma tendência, ou seja,
predomínio de domínios no empilhamento da esmectita com folhas do tipo 1EG (em
média 69% das camadas), seguido de folhas que apresentaram comportamento 2EG
(15%) e 0EG (15%). As frações menores que 2µm, no modo natural (não saturadas),
foram submetidas à determinação da capacidade de troca de cátions (CTC), sendo que
os valores encontrados em meq/100g das amostra estão relacionados na figura 12A.
Observa-se que as variações encontradas no CTC das amostras têm uma tendência de se
correlacionar positivamente com a proporção de folhas do tipo 2EG (figura 10B) e
negativamente com folhas do tipo 0EG (figura 10C), podendo esta observação refletir
em variações das propriedades tecnológicas da bentonita ao longo do perfil.
44
Figura 11 - Difratogramas de amostras K-saturadas, fração <2µm, saturado com
Ca e posteriormente com K, CuKa. (A) Padrões de difratogramas das amostras
orientadas e tratadas com etilenoglicol, coletadas ao longo do perfil do furo de
sondagem BC1-2, intervalo de 2° a 24°2θ. (B) Decomposição do pico d001 do
difratograma da amostra 450 A, seca ao ar após saturação com KCl. (C)
Decomposição do pico d001 do difratograma da amostra 450 A, tratada com
etileno glicol após saturação com KCl.
45
Figura 12 - (A) Participação dos domínios 0EG, 1EG e 2EG no empilhamento das
folhas da esmectita Bañado de Medina e valores de capacidade de troca de cátions
(CTC) das amostras em diferentes profundidades(valores em meq/100g). (B)
Correlação positiva entre o CTC e a proporção de folhas do tipo 2EG. (C)
Correlação negativa entre o CTC e a proporção de folhas do tipo 0EG.
Quimicamente, foi analisada a amostra típica da bentonita de Bañado de
Medina (amostra MEDB2-970A, fração total) cujos valores encontrados estão na tabela
01. Com base nesses valores, calculou-se a fórmula química com base em meia célula
unitária, considerando-se O
10
(OH)
2
e o ferro total como Fe
3+
. Observa-se que 76% da
carga provém da folha octaédrica, sendo a substituição na folha tetraédrica muito pouco
significativa, sendo que a carga interfoliar em torno de 0,38 por O
10
(OH)
2
mostra que a
montmorilonita posiciona-se no pólo das esmectitas de baixa carga. Estas características
associadas com os dados de difração mostram que a esmectita da Jazida Bañado de
Medina é dioctaédrica e corresponde a uma Al-montmorilonita (Newman & Brown,
1987). Estas características posicionaria a montmorilonita, num modelo proposto por
Ddani et al (2005) como sendo bentonitas desenvolvidas a partir de cinza vulcânica
depositada em posição distal em relação ao centro vulcânico e transformadas em
condições de baixa profundidade e temperatura.
46
Tabela 1 - Análise química de amostra típica da bentonita Bañado de Medina e
valores calculados para a fórmula química aproximada.
8–Propriedadestecnológicas.
As bentonitas possuem características peculiares e importantes para um
diversificado campo de utilização industrial, destacando-se usos como: (a) componente
de fluidos utilizados para perfuração de poços de petróleo (b) aglomerante de areias de
moldagem usadas em fundição; (c) pelotização de minério de ferro; (d) descoramento de
óleos e clarificação de bebidas; (e) impermeabilizante de solos; (f) absorvente sanitário
para animais de estimação; (g) carga mineral, em produtos farmacêuticos, rações
animais, produtos cosméticos e outros; (h) agente plastificante para produtos cerâmicos,
(i) composição de cimento, entre outros (MURRAY, 2000).
No Brasil, os usos mais importantes das bentonitas são para aglomerante
de moldes de fundição, como componente em fluido de perfuração de poços e na
pelotização de minério de ferro.
Embora diversos trabalhos tenham sido feitos envolvendo a bentonita das
regiões de Melo (Uruguai) e Aceguá (Brasil), inclusive ressaltando as possíveis
aplicações tecnológicas desta argila, concretamente não foram encontrados dados ou
resultados de testes que pudessem mostrar estas propriedades. Neste item o objetivo é
divulgar os resultados de testes preliminares com a bentonita de Bañado de Medina,
comparando estes dados com os obtidos em bentonitas provenientes de outros
jazimentos, permitindo estabelecer o potencial destas argilas no campo da aplicação
industrial.
Em função da proximidade do jazimento de Bañado de Medina com
pólos importantes da indústria da fundição no Brasil (especialmente a região de
Joinville em Santa Catarina) e considerando que essas indústrias importam expressiva
quantidade de bentonita, da Argentina, os testes foram direcionados para este uso.
amostra MEDB297
0
SiO2 Al2O3 TiO2 Fe2O3 MnO MgO CaO K2O P.F. total
AnáliseQuímica 59.64 17.75 0.08 3.94 0.03 6.54 2.46 0.11 9.32 99.87
Si IVAl VIAl Fe+3 Mn VIMg VIcations Ca K
Fórmulaquímica
3.91 0.09 1.28 0.19 0.001 0.64
2.111
0.17 0.009
0.292
0.09
0.382
Cargaoctaédrica
Cargatetraedrica
Cargainterfoliar
47
A esmectita do jazimento de Bañado de Medina apresenta o cálcio como
cátion intrafoliar. Devido a esta característica, para seu uso na fundição, é necessário
proceder à ativação desta argila através da adição de carbonato de sódio que promove a
troca do cálcio pelo sódio , potencializando suas propriedades tecnológicas. Para medir
estas propriedades foram realizadas análises em laboratório após a ativação da
bentonita.
As amostras analisadas no laboratório da empresa Drescon, na Paraíba,
foram enviadas na forma natural e neste laboratório foram tratadas com 3% (em peso de
amostra seca) de carbonato de sódio e moídas (90% menor que 200 mesh). A amostra
analisada pelo laboratório de fundição do Centro de Tecnologia da UFRGS foi tratada
nos laboratórios do Instituto de Geociências da UFRGS com 5% (em peso de amostra
seca) de carbonato de sódio, sendo posteriormente seca e moída.
Na ativação industrial, os valores utilizados de carbonato variam de 2% a
5% em peso de argila seca. A quantidade de carbonato de sódio usada é em função da
aplicação que a bentonita terá após a ativação. Os resultados são mostrados na tabela 2.
As amostras testadas no laboratório da Drescon (ativada com 3% de
carbonato de sódio) apresentaram características que atendem, parcialmente, as
especificações das indústrias da fundição como: Resistência à Tração a Úmido e a
Resistência a Compressão a Verde (RTU e RCV), Absorção de Azul de Metileno
(AAM original), alta estabilidade térmica, porém baixo inchamento (mínimo de 27 ml).
Esta amostra também apresentou baixa viscosidade, inferior a (30 ml de L 600), e
filtrado acima de 18ml, não atendendo as normas da Petrobrás para fluidos de
perfuração de poços. (Tabela 3)
A amostra analisada no laboratório de fundição da UFRGS (ativada com
5% de carbonato de sódio) apresentou resultados dentro das exigências da indústria da
fundição (tabela 3). Com o aumento de concentração de carbonato de sódio (de 3% para
5%) na ativação, conseguiu-se otimizar propriedades como o inchamento e a resistência
à tração a úmido (RTU). Este incremento nos valores das propriedades analisadas,
especialmente do inchamento, deve-se, provavelmente, a concentração maior de
carbonato de sódio, estabelecendo uma maior efetividade da substituição do Ca
+2
pelo
Na
+2
(provavelmente pela maior facilidade de hidratação do sódio em relação ao cálcio,
Darley e Gray, 1998). Também o aumento do pH, com maior concentração de carbonato
de sódio, promove uma ataque mais efetivo na estrutura da esmectita, favorecendo sua
48
dispersão. Esta relação direta entre o aumento do teor de carbonato de sódio na ativação,
o aumento do pH da argila e o inchamento, foi observada por Alves et. al. (2008).
Na amostra analisada no laboratório de fundição da UFRGS, a
Resistência à Compressão a Verde (RCV) apresenta menor valor com relação ativada
com 3% de carbonato de sódio, possivelmente em função da deficiente moagem (35%
maior que 200 mesh) nesta amostra.
Tabela 2 – Resultado comparativo de ensaios tecnológicos entre a bentonita de
Bañado de Medina e uma bentonita de Neuquén na Argentina
O alto valor da Estabilidade Térmica vem corroborar com a análise
mineralógica que aponta ser esta bentonita, ao longo do perfil estudado, uma argila
constituída por montmorilonita pura, sem evidências de interestratificados, com alta
cristalinidade e alto grau de ordenamento. Quando comparada com a bentonita da
Argentina, sódica natural, de idade Terciária (tabela 3), a estabilidade térmica da
bentonita de Bañado de Medina, de idade Permiana, é bastante superior. Possivelmente
o maior tempo sob os efeitos da diagênese tenham organizado mais a estrutura da
bentonita de Bañado de Medina, resultando em sua estabilidade térmica mais elevada.
Com relação ao inchamento a bentonita sódica natural da Argentina
apresenta valores semelhantes à bentonita de Bañado de Medina ativada com 3% de
carbonato de sódio e valores inferiores se comparada com a bentonita de Bañado de
Medina que foi ativada com 5% de carbonato de sódio. Este resultado apóia a
possibilidade de que o inchamento é favorecido não somente pela troca mais efetiva do
cálcio pelo sódio (e no caso da sódica natural, pela presença do sódio na posição
49
interfoliar) mas também pelo ataque que o carbonato de sódio promove na superfície do
argilomineral durante a ativação.
9Conclusões
Ocorrências de camadas de bentonita associadas com seqüências
sedimentares Permianas da Bacia do Paraná são descritas em vários trabalhos (Coutinho
et al. 1991; Ferrando e Andreis, 1986; Milani, 2000). A Jazida Bañado de Medina
(próximo a cidade de Melo, Uruguai) se destaca neste contexto pela espessura incomum
da camada de bentonita, com boas perspectivas de uma exploração comercial deste tipo
de rocha.
Estratigraficamente, a bentonita encontra-se dentro da Formação Rio do
Rasto, mais especificamente, na porção superior do Membro Serrinha. Utilizando a
nomenclatura uruguaia, a bentonita em estudo encontra-se no Membro Vila Viñoles da
Formação Yaguari (Permiano Superior). Além deste critério estratigráfico, os resultados
mostram uma forte correlação do depósito com falhamentos, encontrando-se a jazida em
blocos rebaixados do terreno e portanto, preservados de processos erosivos.
Numa área de 9,5 ha, foram realizados 31 furos de sondagens, espaçados
regularmente em 50 m que mostram que a bentonita encontra-se confinada entre uma
camada superior de silte e arenito fino e inferiormente por arenito fino, sendo os
contatos nítidos. As espessuras de bentonita registradas nos poços variaram de 6,6 m até
0,5 m, com uma cobertura de silte e arenito que variou entre 1,60m e 11,50m.
A bentonita apresenta diferenças quanto à coloração e estruturas
sedimentares e estes critérios foram utilizados para dividi-la em litofácies,
denominando-se de bentonita V, camada compacta e de cor violácea diretamente em
contato com o arenito inferior, seguido de camadas de bentonita denominadas de A, B e
C. A bentonita A é maciça e possui coloração rosada. A bentonita B apresenta
caracteristicamente finas laminações horizontais com aspecto de ritmito. A bentonita C
superior apresenta fortes evidências de retrabalhamento na forma de intraclastos
centimétricos de argilito tipo bentonita B. A identificação de blocos elevados e abatidos
e de processos de retrabalhamento intrabacial permite admitir a existência de
50
mecanismos de transporte e acumulação de cinzas vulcânicas e material fino num
regime sedimentar, cuja fase final de deposição subaquosa estaria concentrada em
depressões, muito provavelmente lagos tectônicos, tornando plausível neste modelo a
existência de grandes espessuras de bentonita.
Mineralogicamente, a bentonita de Bañado de Medina é composta por
camadas com elevada concentração de esmectita dioctaédrica cálcica. Quartzo e
feldspato ocorrem como minerais traços contaminantes com uma tendência de aumentar
a participação destes em direção ao topo da camada. Os resultados químicos mostram
uma esmectita com baixo teor em ferro, com cerca de 76% da carga interfoliar
proveniente da substituição a nível octaédrico, principalmente pela entrada do
magnésio, com baixa substituição a nível tetraédrico, classificando-se como uma
alumínio montmorilonita. Foi avaliada a capacidade de troca de cátions e os valores
encontrados para a esmectita na fração <2µm variou entre 101 e 116 meq/100g. Após
tratamento com KCl e CaCl
2
a montmorilonita de Bañado de Medina apresentou
modificações no espaçamento interfoliar, principalmente com a entrada de K, porém,
foram totalmente reversíveis, mostrando serem predominantemente esmectitas de baixa
carga, não apresentando em seu edifício cristalino a predominância de setores mais
evoluídos, que poderiam reter irreversivelmente o potássio.e sua correlação com
domínios 2EG, 1EG e 0EG.
Foram feitos testes para aplicação tecnológica da bentonita, levando em
consideração as necessidades do mercado consumidor do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Existe uma expressiva demanda por bentonita para aplicação em moldes de
fundição e os resultados neste campo foram promissores, atingindo índices adequados
de estabilidade térmica, inchamento e resistência a tração a úmido após um
procedimento de ativação com 5% de carbonato de sódio.
10Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq - processo: 481087/2007-9, Projeto
Fapergs/Pronex 408253 e o Programa de Bolsas de Pós-Graduação-REUNI da UFRGS.
51
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54
DiscussãoeConclusões:
Rochas sedimentares possuem um critério de prospecção ligado de forma
muito estreita a estratigrafia. A Jazida de bentonita de Bañado de Medina está inserida
dentro de um pacote de rochas sedimentares de idade Permiana da Formação Rio do
Rastro. Esta formação tem correspondência na coluna estratigráfica do Uruguai, porém
com algumas peculiaridades que tornam a coluna proposta por Bossi e Navarro (1997)
mais adequada por diferenciar as fácies que, no caso da nomenclatura brasileira, estão
incluídas dentro do Membro Serrinha. No contexto uruguaio, a Formação Rio do Rasto
se distribui em duas formações distintas, denominadas de Formação Yaguari e
Formação Buena Vista. A Formação Yaguari, que contém as bentonitas, esta dividida
no Uruguai numa unidade inferior (Membro San Diego) e numa unidade superior
(Membro Vila Viñoles), sendo que esta última abriga as camadas de bentonita. Já a
unidade denominada no Brasil de Membro Morro Pelado, vem a se constituir no
Uruguai numa formação isolada denominada de Formação Buena Vista.
A passagem do Membro San Diego, formado por fácies
predominantemente pelíticas com cor escura, próprio de um ambiente redutor e de baixa
energia, para o Membro Vila Viñoles é observada na área de estudo. Sua evolução é
gradativa e marcada por um aumento da participação de siltitos e arenitos com tons
dominantemente avermelhados, denotando uma crescente continentalização e o
predomínio de ambientes oxidantes.
Os trabalhos de campo evidenciaram que a ocorrência de bentonita na
região de Bañado de Medina está restrita a uma rocha bem definida, o Membro Vila
Viñoles da Formação Yaguari.
Nessa região da Jazida de Bañado de Medina, são também expressivos os
contatos por falhamentos entre as unidades que afloram na área, seguindo
principalmente duas direções, a NE e a NW. Estes falhamentos se expressam
freqüentemente na forma de movimentos verticais, formando uma sucessão de blocos
soerguidos e rebaixados, que limitam a extensão lateral dos estratos, tanto na escala
regional como na escala local. Este fator estrutural, com basculamento de blocos, pode
ter sido decisivo na preservação de pacotes de bentonita como o da jazida de Bañado de
55
Medina. Durante os trabalhos de descrição dos furos de sondagens e de mapeamento,
ficou evidente que os falhamentos identificados foram atuantes durante o processo de
deposição, gerando regiões rebaixadas no terreno e condições de retrabalhamento de
dentro das bacias de deposição. Também, estes sistemas de falhas foram decisivos para
propiciar a formação de blocos rebaixados no terreno que preservaram os pacotes
sedimentares que contem as bentonitas.
Embora não tenha sido o foco principal do trabalho, a origem da
bentonita de Bañado de Medina pela alteração de cinza vulcânica, transportada via
atmosfera, é apoiada em dados de campo e de laboratório.
O perfil que pode atingir mais de 6,0 metros da bentonita de Bañado de
Medina apresenta-se sem estruturas que indiquem um transporte importante. As
camadas basais são extremamente homogêneas, sem acamadamentos visíveis,
indicativos de uma sedimentação por precipitação. Apenas na parte superior da camada
de bentonita, aparecem intraclastos da própria argila indicando um transporte intrabacial
de pequena extensão.
Calarge (2001) analisando os elementos traços da bentonita de uma área
cerca de 2 km da área do presente trabalho sugeriu uma origem a partir de um vidro
riolítico que teria origem em vulcanismo Permiano, na região oeste da América do Sul.
Além disso, análises de laboratório por DRX mostram que a esmectita
que compõe o jazimento é muito pura, não apresentando diferenças cristaloquímicas ao
longo do perfil estudado. Estudos de detalhe dessa esmectita evidenciam sua
complexidade, pois Calarge (2001) encontrou evidências que essa esmectita apresenta
domínios que variam desde baixa até alta carga interfoliar, enquanto os estudos atuais
mostraram que a esmectita da jazida de Bañado de Medina no campo B, é
predominantemente de baixa carga.
Estudos mineralógicos apoiados nas analises químicas realizadas
permitem classificar a bentonita de Bañado de Medina como uma aluminio-
montmorilonita.
Foram feitos testes para aplicação tecnológica da bentonita, levando em
consideração as necessidades do mercado consumidor do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina.
Os resultados mostraram índices adequados de estabilidade térmica,
inchamento e resistência a tração a úmido após um procedimento de ativação com 5%
de carbonato de sódio. As propriedades tecnológicas foram otimizadas
56
significativamente quando sua ativação foi realizada com 5% de carbonato de sódio em
relação às amostras ativadas com 3% de carbonato de sódio. Este incremento nos
valores das propriedades analisadas, especialmente do inchamento, deve-se,
provavelmente, a concentração maior de carbonato de sódio, estabelecendo uma maior
efetividade da substituição do Ca
2+
pelo Na
2+
provavelmente pela maior facilidade de
hidratação do sódio em relação ao cálcio (Darley e Gray, 1998). Também o aumento do
pH, com maior concentração de carbonato de sódio, promove uma ataque mais efetivo
na estrutura da esmectita, favorecendo sua dispersão.
O alto valor da estabilidade térmica vem corroborar com a análise
mineralógica que aponta ser esta bentonita de Bañado de Medina, ao longo do perfil
estudado, uma argila constituída por montmorilonita pura, sem evidências de
interestratificados, com elevada cristalinidade e alto grau de ordenamento.
Também foi observado um desempenho melhor das propriedades
tecnológicas da bentonita de Bañado de Medina ativada com 5% de carbonato de sódio
em relação à bentonita, sódica natural, da Mina 7 de Mayo de Neuquén, Argentina, de
idade Terciária (Impiccini 2002). Com relação à estabilidade térmica, a bentonita de
Bañado de Medina, de idade Permiana, apresentou valores bastante superiores.
Possivelmente o maior grau de diagênese tenha organizado mais a estrutura da bentonita
de Bañado de Medina, resultando em sua estabilidade térmica mais elevada.
Com relação ao inchamento, a bentonita sódica natural da Argentina
apresenta valores semelhantes à bentonita de Bañado de Medina ativada com 3% de
carbonato de sódio e valores inferiores se comparada com a bentonita de Bañado de
Medina que foi ativada com 5% de carbonato de sódio. Este resultado apóia a
possibilidade de que o inchamento é favorecido não somente pela troca mais efetiva do
cálcio pelo sódio (e no caso da sódica natural, pela presença do sódio na posição
interfoliar) mas também pelo ataque que o carbonato de sódio promove na superfície do
argilomineral durante a ativação.
Os dados preliminares levantados neste trabalho indicam que esta jazida
de bentonita possui um potencial econômico que deve ser mais bem avaliado. A reserva
de 580.000 toneladas medida pelos resultados das sondagens, e a proximidade com
centros importantes de consumo de bentonita, especialmente para moldes de fundição,
justificam o aprofundamento da investigação sobre suas características de composição e
as implicações nas propriedades tecnológicas.
57
Bibliografia:
BOSSI, J.; NAVARRO, R. 1987. Esquema preliminar sobre la evolución geológica del
Uruguay durante el período Cámbrico. Actas X Congreso Geológico Argentino. I :346-
350. Tucumán. Argentina.
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do Paraná (Aceguá, Brasil e Melo, Uruguai). Tese de doutorado em Geociências. Porto
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IMPICCINI, Agnes; VALLÉS, Jorge. 2002. Los depósitos de Bentonita de Barda Negra
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