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Podemos afirmar que o indivíduo tem necessidade de procriar para conservar o
patrimônio genético, para continuar a linhagem e, principalmente, para dar continuidade
à sua história. Queremos, porém, destacar como motivo precípuo o desejo de ter filhos,
desejo esse inconsciente, marcando a submissão do sujeito à sexualidade, em cujo
espaço a fantasia ocupa um lugar central.
Voltando à configuração inconsciente do desejo de filhos, conforme nos afirma
Tort (2001, p.37): “A procriação, pela qual dois sujeitos dão origem a um outro, é uma
operação simbólica, organizada socialmente em todas as culturas.” O processo
biológico de gerar é submetido ao desejo.
Continuando Tort (op. cit): “Trata-se de ter e de ser, de dar, de guardar, de aceitar,
de preencher, de roubar, de faltar, de substituir: nada a ver com a reprodução de
nossos amigos animais.” As forças que sustentam o desejo, a concepção, a gravidez, o
nascimento e a procriação são outras relacionadas com a representação e com “o
objeto” (perdido) e pelas relações dos sexos identificados como masculino e feminino.
São da ordem do simbólico. Este simbólico que como afirma Tort (op.cit) é originário
tanto da Psicanálise como da Antropologia, referenciais que, às vezes, trabalham de
mãos dadas. Em relação à diferença de sexos têm em comum a valorização simbólica
da paternidade como dominação, tanto assim que, na interdição do incesto que a
Psicanálise destaca, utiliza o pensamento do antrópologo Claude Lévi-Strauss (apud
Tort, 2001, p.47), quando diz:
Pois a proibição do incesto garante o afastamento radical, para os dois sexos, da
origem uterina, vale dizer, o distanciamento que lança o desejo para um futuro e
e para uma outra direção, em busca de um conhecimento diferente
daquele, dessa forma vedado, da mãe. A exogamia, neste sentido, pelo menos
em nossa civilização, abre para as alianças, as trocas sociais e econômicas.
Esta interdição, que acusa a diferença das gerações, tem a vantagem de acasa-