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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Liliane de Carvalho
ATENÇÃO BÁSICA: STRESS E ESTRESSORES
OCUPACIONAIS EM MÉDICOS E ENFERMEIROS
DE PARACAMBI / RJ
Rio de Janeiro
2007
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Liliane de Carvalho
ATENÇÃO BÁSICA: STRESS E ESTRESSORES
OCUPACIONAIS EM MÉDICOS E ENFERMEIROS
DE PARACAMBI / RJ
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de
Psicologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, beneficiada com bolsa Capes, para
obtenção do título de Mestre em Psicologia.
Orientadora: Profa. Dra. Lucia E. Novaes Malagris
Rio de Janeiro
2007
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Liliane de Carvalho
ATENÇÃO BÁSICA: STRESS E ESTRESSORES OCUPACIONAIS
EM MÉDICOS E ENFERMEIROS DE PARACAMBI / RJ
BANCA EXAMINADORA
Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2007
______________________________________________________________________
Orientadora: Profª. Drª. Lucia E. Novaes Malagris
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
______________________________________________________________________
Profª. Drª. Neide A. Micelli Domingos
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
______________________________________________________________________
Profª. Drª. Paula Rui Ventura
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Suplentes:
______________________________________________________________________
Profº. Drº. Francisco de P. Nunes Sobrinho
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
______________________________________________________________________
Profº. Drº. Bernard Range
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Sumário
Dedicatória............................................................................................................i
Agradecimento Especial.......................................................................................ii
Agradecimentos...................................................................................................iii
Lista de Figuras...................................................................................................v
Lista de Tabelas..................................................................................................vi
Lista de Quadros...............................................................................................viii
Resumo...............................................................................................................ix
Abstract ...............................................................................................................x
1. APRESENTAÇÃO...........................................................................................1
2. INTRODUÇÃO.................................................................................................3
3. STRESS...........................................................................................................6
3.1. O que é stress?..................................................................................6
3.2. Distress X eustress: quais as conseqüências do distress para a
saúde?....................................................................................................10
4. ESTRESSORES............................................................................................14
5. SAÚDE MENTAL E TRABALHO...................................................................17
5.1. Stress e estressores ocupacionais...................................................18
6. SAÚDE PÚBLICA..........................................................................................24
6.1. Organização dos Serviços Públicos de Saúde................................24
6.2. Sistema Único de Saúde (SUS).......................................................26
6.3. Atenção Básica: Estratégia de Saúde da Família (ESF).................30
7. PROFISSIONAIS DE MEDICINA E ENFERMAGEM....................................35
8. O MUNICÍPIO DE PARACAMBI....................................................................39
8.1. Localização, um pouco de história e realidade atual.......................39
8.2. A saúde no município: destaque para a Atenção Básica.................42
9. OBJETIVOS...................................................................................................45
10. MÉTODO.....................................................................................................46
10.1. Participantes..................................................................................46
10.2. Local...............................................................................................46
10.3. Instrumentos..................................................................................47
10.4. Procedimento.................................................................................49
10.5. Apresentação e Tratamento dos Dados........................................50
11. RESULTADOS.............................................................................................51
12. DISCUSSÃO................................................................................................71
13. LIMITAÇÕES DO ESTUDO.........................................................................80
14. CONCLUSÃO..............................................................................................82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................84
ANEXOS............................................................................................................91
Dedicatória
Aos meus pais, Rita e Ademir e aos meus irmãos, Rogerio, Leandro
e Viviane, pois sem eles nada seria possível.
i
Agradecimento Especial
À Profª Drª Lucia E. Novaes Malagris, que me apresentou a
pesquisa e todo seu encanto.
ii
Agradecimentos
À minha querida amiga e companheira de mestrado, Tama, por sua especial
contribuição em todas as etapas de realização deste trabalho e ao seu marido
Rodrigo, pela gentileza em me auxiliar em momento de bastante delicadeza no
decorrer dessa jornada.
À Silvia Cristina de Carvalho, grande incentivadora e auxiliar ao longo deste
caminho.
À minha querida família Carvalho, pelo amor e apoio em momentos
importantes de minha vida.
À Aline Cunha, Bárbara Fontes, Giselle Costa, Ivy Carvalho, Lívia Santos,
Milleny Carvalho, Priscila Silveira e Viviane Carvalho por todos esses anos de
companheirismo e amizade.
Ao Carlos Dário Moreira pela paciência e apoio.
À minha querida prima Pollyanna pela ajuda em momento crucial.
Ao Sr. Wagner Marino da Silva, Coordenador Municipal de Saúde Coletiva do
Município de Paracambi, pela gentileza e prontidão a mim dispensada. Muito
obrigada.
iii
À Ana Cristina e Giancarlo Mauro, secretários do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia, sempre prontos a ajudar a nós alunos, a trilhar pelos difíceis
caminhos do mestrado.
À CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual não seria possível continuar meu
percurso acadêmico.
Em especial, aos médicos e enfermeiros da Atenção Básica de Paracambi por
valorosa contribuição a este trabalho. Obrigada pela gentileza e atenção.
iv
Lista de Figuras
Figura 1. Fases do Stress...........................................................................12
Figura 2. Modelo Demanda-Controle de Karasek.......................................22
Figura 3. Localização Regional de Paracambi............................................39
v
Lista de Tabelas
Tabela 1. Dados do Questionário Informativo, de acordo com a amostra de
médicos (n=20) e enfermeiros (n=10)..........................................54
Tabela 2. Stress em médicos (n=20) e enfermeiros (n=10).........................55
Tabela 3. Sintomas de stress da fase de Resistência em médicos (n=9) e
enfermeiros (n=4).........................................................................55
Tabela 4. Sintomas de stress em médicos (n=9) e enfermeiros (n=4).........56
Tabela 5. Estressores Ocupacionais do QELT em médicos (n=20) e
enfermeiros (n=10).......................................................................57
Tabela 6. Estressores Ocupacionais do QELT agrupados por categorias
(médicos - n = 20 e enfermeiros - n = 10)....................................59
Tabela 7. Estressores Ocupacionais do QELT em médicos (n=9) e
enfermeiros (n=4) estressados....................................................60
Tabela 8. Estressores Ocupacionais do QELT agrupados por categoria
(médicos estressados - n = 9 e enfermeiros estressados - n =
4)..................................................................................................62
Tabela 9. Stress e estado civil em médicos (n=20) e enfermeiros
(n=10)...........................................................................................63
Tabela 10. Stress e filhos em médicos (n=20) e enfermeiros (n=10)............64
Tabela 11. Stress e tempo de serviço profissional em médicos (n=20) e
enfermeiros (n=10).......................................................................64
Tabela 12. Stress e tempo de serviço na Atenção Básica de Paracambi em
médicos (n=20) e enfermeiros (n=10)..........................................65
vi
Tabela 13. Stress e carga horária na Atenção Básica de Paracambi em
médicos (n=20) e enfermeiros (n=10)..........................................66
Tabela 14. Stress e atuação em outra ocupação em médicos (n=20) e
enfermeiros (n=10).......................................................................67
Tabela 15. Stress e gênero em médicos (n=20) e enfermeiros
(n=10)...........................................................................................68
Tabela 16. Stress e faixa etária em médicos (n=20) e enfermeiros
(n=10)...........................................................................................68
Tabela 17. Stress e profissão em médicos (n=20) e enfermeiros
(n=10)...........................................................................................69
Tabela 18. Stress e estressores.....................................................................70
vii
Lista de Quadros
Quadro 1. Estressores do QELT...................................................................48
viii
Resumo
O stress tem sido considerado um dos fatores contribuintes para prejuízos na qualidade
de vida, podendo, inclusive, se constituir em uma das causas do desenvolvimento e
manutenção de doenças. Mostram-se necessárias pesquisas que investiguem o stress
excessivo e, assim, contribuam para o desenvolvimento de modelos de prevenção e
tratamento. Este estudo teve como objetivos gerais avaliar o nível de stress de médicos
e enfermeiros da Atenção Básica (AB) de Paracambi, bem como identificar e analisar os
estressores ocupacionais mais freqüentes destas categorias profissionais. Como
objetivos específicos, buscou-se caracterizar a amostra investigada quanto aos dados
sociobiográficos e ocupacionais, relacionar os mesmos ao stress e verificar a existência
de relação entre stress e os estressores ocupacionais mais encontrados em cada categoria
profissional. Participaram da pesquisa 20 médicos e 10 enfermeiros, correspondendo a
71% dos médicos e 91% dos enfermeiros do total de profissionais destas categorias na
AB. Todos foram submetidos ao ISSL, a um Questionário Informativo (QI) e ao QELT.
No que se refere aos resultados, dentre os médicos, observou-se nove (45%) estressados
e 11 (55%) não estressados. Quanto aos enfermeiros, verificou-se que quatro (40%)
estavam estressados e seis (60%) não estressados. Todos os estressados na amostra de
médicos, nove (100%), e de enfermeiros, quatro (100%), encontravam-se na fase de
Resistência. No que tange à freqüência de sintomas, dentre os médicos constatou-se que
em seis (67%) predominaram sintomas psicológicos em detrimento dos físicos, que
foram apresentados por três (33%). Notou-se que em dois (50%) dos enfermeiros
estressados preponderou a sintomatologia psicológica, em um (25%) a sintomatologia
física e em um (25%) ambos os sintomas, físicos e psicológicos. Os estressores mais
apontados pelos médicos estressados referiram-se à necessidade de concentração
intensa, sete (78%); trabalho repetitivo, sete (78%); hora em que começa e pára de
trabalhar, cinco (71%); não tirar dias de folga quando deseja, cinco (71%) e falta de
perspectivas para o desenvolvimento de carreira, cinco (71%). Todos os enfermeiros
estressados, (100%), consideraram como estressores a interrupção de suas tarefas antes
delas serem completadas e falta de segurança do trabalho. O estressor “não tirar dias de
folga quando deseja” foi eleito por três (75%) dos estressados nesta categoria
profissional. A análise estatística mostrou que não relação de dependência entre
stress e os dados sociobiográficos, profissão e estressores. Conclui-se que o número de
estressados encontrado é preocupante, especialmente por estarem todos na fase de
Resistência, relacionada a sintomas como cansaço excessivo e problemas de memória,
os quais podem contribuir não para dificuldades pessoais, como também para
prejuízos no desempenho profissional. Quanto aos estressores, os médicos indicaram
dificuldades específicas das atividades profissionais, de ritmo, horário e falta de
perspectivas e os enfermeiros apontaram interrupções nas tarefas e falta de segurança
relacionada à permanência no emprego, eventos não diretamente relacionados às suas
ocupações específicas. Essa diferença, possivelmente, se deve ao fato dos enfermeiros
atuarem não só na assistência, mas também na administração. Sugere-se que os médicos
e enfermeiros da AB de Paracambi sejam submetidos a um treino de controle do stress,
a fim de que aprendam a manejá-lo, bem como a lidar com estressores picos da
profissão ou do sistema a que estão submetidos.
Palavras-chave: Atenção Básica; médicos e enfermeiros; stress; estressores
ocupacionais.
ix
Abstract
The stress has been considered a factor that contributes to the prejudice the quality of
life, which can also constitute as one of the many causes for the development and
maintenance of diseases. It is necessary then, researches to investigate the excessive
stress and, this way, contributing for the development of prevention and treatment
models. This study had as general purpose evaluate the stress level of physicians and
nurses of Basic Attention (BA) in the city council of Paracambi, as well as identify and
analyze the more frequent occupational stressors in these professionals’ classes. The
specifics goals were to characterize the investigated sample as for the sociobiographic
and occupational data, relate this data to the stress and verify the relation between stress
and more encountered occupational stressors of each professional class. Participated in
this study 20 physicians and 10 nurses. The number of physicians corresponded to 71%
of the total number of professionals in this class of BA and the number of nurses
corresponded to 91%. All of them were submitted to the LSSI, to an Informative
Questionnaire (IQ) and to the Stress in Workplace Questionnaire. In regard to the
results, among physicians, nine subjects were stressed (45%) and eleven (55%) were not
stressed. Among nurses, four (40%) were stressed and six (60%) were not stressed. All
stressed professionals, including both physicians (nine) and nurses (four) were in the
Resistance phase. In relation to the preponderance of symptoms, in the physicians
sample were evidenced that psychological symptoms were predominant over physical
symptoms, which were exhibit by three (33%) of them. Regarding the nurses, was
noticed that two (50%) of the stressed group expressed their stress mostly through
psychological symptoms; one (25%) through physical symptoms; and one (25%)
through both, physical and psychological. The most cited stressors by the stressed
physicians were: “need for intense concentration”, seven (78%); “repetitive work”,
seven (78%); “the time of beginning and ending of work”, five (71%); “not having
days-off when it wishes”, five (71%);lack of perspective of career development”, five
(71%). All the stressed nurses (100%) considered as stressor the interruption of their
tasks before it’s completed and lack of work security, related to remain in employment.
The stressor “not having days-off when it wishes” was pointed by three (75%) of them.
The statistic analysis showed no dependence relationship between stress level and
sociobiographic data, profession and stressors. Concluding, the number of stressed
professionals is alarming, especially because they are all in the resistance phase. Such
phase is related to symptoms as excessive fatigue and memory problems, which can
contribute not only for personal difficulties as also to damages of professional
performance. Regarding the stressors, while physicians pointed specifics difficulties
related to professional activities, time, schedule and lack of perspectives, nurses pointed
tasks interruptions and lack of security, events not directly related to their specific
occupations. It’s possible that this difference is due to the fact that nurses act on the
unity’s administration, besides assistance. It’s suggested that physicians and nurses
from BA of Paracambi to be submitted to a practice of stress management to learn how
to handle it, as well as to learn how to deal with the typical stressors of their profession
or of the system which they are subordinated.
Keywords: Basic Attention; physicians and nurses; stress; occupational stressors.
x
1. APRESENTAÇÃO
Em meus últimos períodos na Faculdade de Psicologia tive a oportunidade de
cursar disciplina eletiva que versava sobre Psicologia da Saúde, ministrada pela Profª
Drª Lucia Novaes. Nesta cadeira entrei em contato com diversos textos e participei de
discussões em sala de aula, que abordavam a respeito da contribuição da psicologia para
a área da saúde. Muito do que debatíamos, entretanto, estava voltado ao usuário do
sistema de saúde e, ao longo das aulas, fomos convidados a ampliar nosso olhar e focar
também o outro lado da relação profissional de saúde-cliente. Este tema interessou-me
bastante, pois passei a encará-lo como um problema de saúde pública, na medida em
que um procedimento pode ser seriamente comprometido caso o profissional não esteja
pleno em seus aspectos físicos e/ou emocionais.
A mobilização pelo tema foi tão intensa que meu trabalho de conclusão de curso
engendrou por este sentido e busquei avaliar o stress de profissionais de saúde de um
Posto de Assistência Médica (PAM) da cidade do Rio de Janeiro. Com este estudo,
embora limitado pelo número de participantes, pude corroborar minha hipótese de que
os profissionais de saúde encontravam-se estressados, com porcentagem maior que a
média da população brasileira, o que nos levou, a mim e minha orientadora, à
elaboração de artigo científico, já aprovado para publicação por Revista Nacional A
.
Meu próximo passo deu-se em direção ao mestrado, a fim de prosseguir o
trabalho a respeito do tema profissional de saúde x saúde física / mental.
Espero com este estudo contribuir para o entendimento da relação entre stress e
estressores dos profissionais estudados, assim como para elaboração de medidas
preventivas e de tratamento, se necessário, concernente ao stress, da amostra de
Revista Estudos e Pesquisas em Psicologia - UERJ
1
médicos e enfermeiros da Atenção Básica (AB) do município de Paracambi, cidade do
interior do Estado do Rio de Janeiro.
2
2. INTRODUÇÃO
Devido à peculiaridade de suas atividades, faz-se necessário que os profissionais
de saúde estejam atentos à sua saúde física e mental, pois disso depende a qualidade de
seus atendimentos. Estressores como falta de estrutura física para o desempenho de
atividades, alta demanda de atendimentos, dentre outros, aliados aos estressores da
sociedade contemporânea, podem levar a uma deterioração da qualidade de vida desses
profissionais, interferindo diretamente em seus trabalhos. Pesquisas que visem à
avaliação da saúde física e mental do profissional de saúde são extremamente
importantes para contribuir para a manutenção da qualidade dos serviços.
Neste sentido, o presente estudo pretendeu responder às seguintes perguntas: a)
Os médicos e enfermeiros da Atenção Básica do município de Paracambi estão
estressados? b) Quais são os estressores ocupacionais prevalentes? c) Existe relação
entre as variáveis stress e estressores prevalentes? Partiu-se da hipótese de que os
profissionais participantes estariam estressados e de que existiria relação de
dependência entre estressores e stress. Quanto aos estressores ocupacionais não foram
levantadas hipóteses, que se constituiu em um levantamento com base em uma
realidade específica.
O interesse em avaliar o nível de stress, bem como em levantar os estressores
ocupacionais de profissionais da Atenção Básica, mais especificamente de médicos e
enfermeiros, deu-se a partir do contato com a saúde pública, seja por meio de
bibliografias ou através da relação com a própria realidade. A aproximação com essas
questões fez emergir a dúvida sobre como anda a saúde do profissional “cuidador”, o
que motivou a busca do entendimento da dinâmica entre stress e estressores
ocupacionais nestes trabalhadores.
3
De igual modo, a saúde dos trabalhadores na referida área tem sido preocupação
crescente por parte do Sistema Único de Saúde (SUS), que através do HumanizaSUS,
política que engloba diferentes níveis e dimensões da Atenção e Gestão, considera a
importância de se voltar o olhar para o processo de trabalho em saúde, a fim de que este
não seja promotor de sofrimento e desgaste, mas sim local de promoção da saúde
(Ministério da Saúde, 2006).
Estudos atuais (Hernández, 2003; Lipp, 2004b; Lipp & Tanganelli, 2002)
demonstram que o nível de stress profissional tem sofrido um aumento vertiginoso nos
últimos anos, principalmente em virtude dos avanços tecnológicos, das inovações na
metodologia de trabalho, da competição entre trabalhadores, da sobrecarga de tarefas,
da pressão relativa ao tempo de execução das mesmas etc, além dos profissionais terem
de se defrontar com problemas específicos de suas áreas de atuação (Martins, 2003).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os locais de trabalho com um
número considerável de estressores, apresentam proporcionalmente um grande número
de trabalhadores estressados, sendo 5% a 10% com problemas graves (Mendes, 1995).
Ainda de acordo com a OMS, em documento sobre Saúde Ocupacional, da série
“Protección de la salud de los trabajadores” (Leka, Griffiths & Cox, 2004), o stress
afeta negativamente a saúde psicológica e física dos trabalhadores, bem como a eficácia
das entidades para as quais trabalham.
O profissional de saúde pública é um exemplo de categoria que possivelmente
está submetida à influência de estressores, pois necessita constantemente estar atento a
seus papéis e ao papel da instituição pública frente ao usuário, na tentativa de atender
aos desafios decorrentes da implementação do SUS, como: universalização,
regionalização, hierarquização dos serviços, dentre outros (Borges et al., 2002). Borges
et al. (2002) listam uma série de conseqüências importantes causadas pelas mudanças
4
advindas da necessidade de se aderir aos princípios do SUS, como, por exemplo,
repensar as atribuições de cargo, o dinamismo e a autonomia, para tornar tácita a idéia
de descentralização proposta por esse modelo.
Além disso, pode-se pensar que os trabalhadores da saúde enfrentem
cotidianamente outros problemas como, falta de infra-estrutura para o desempenho de
suas atividades, alta demanda, dificuldades de comunicação com gestores e com colegas
etc, que contribuem para a depauperação do processo de trabalho, aumentando suas
probabilidades de adoecimento.
Sabendo-se que o stress pode contribuir para o desenvolvimento de doenças
(Lipp, Malagris & Novais, 2007), faz-se necessário avaliar, prevenir e tratar o stress dos
profissionais atuantes na Atenção Básica, a fim de proporcionar melhorias, tanto em sua
qualidade de vida, quanto no que concerne ao atendimento aos clientes. Mais
importante ainda se torna tal avaliação, prevenção e tratamento, sabendo-se ser a
Atenção Básica a porta de entrada do usuário no serviço de saúde, onde um atendimento
efetivo resulta em menos gastos públicos, bem como redução de possíveis transtornos
àquele que busca o serviço público de saúde.
5
3. STRESS
3.1. O que é stress?
Desde a década de 30, a partir dos estudos iniciais do médico austríaco Hans
Selye sobre o fenômeno stress, suas possíveis causas e conseqüências, muitos
pesquisadores se voltaram à questão que inicia este capítulo. Inúmeras foram as
definições elaboradas ao longo dos anos, acarretando formas diferenciadas de
entendimento do fenômeno, concebido ora como estímulo, ora como estado, ou ainda
como ação, dentre outras acepções (Lipp & Malagris, 2001). Atualmente é ainda
bastante evidente na literatura a falta de consenso sobre a conceituação do stress,
entretanto, não é comum, dentre os estudiosos do assunto, uma preocupação em nomeá-
lo (Glina & Rocha, 2000).
“Síndrome geral de adaptação” (SAG) foi a definição dada por Selye em 1936
para as reações do corpo frente à influência de diferentes agentes externos. Ele observou
que tais reações acarretavam alterações no córtex da supra-renal, nos órgãos linfáticos,
estômago e duodeno. Essa síndrome significava uma tentativa do organismo de
restabelecer o equilíbrio perdido face a seu contato com um fator do ambiente que, de
certa forma, acionou algum grau de enfrentamento. A partir dessas conclusões Selye
definiu stress como um estado manifestado por uma síndrome específica, sendo,
todavia, induzida de forma não-específica (Selye, 1956/1965).
Segundo Jacques (2003) a perspectiva de Selye sobre os mecanismos do stress
privilegia basicamente a dimensão biológica do fenômeno, pois, o que ocorre são
respostas fisiológicas a demandas ambientais. Ainda nesta direção, Straub (2005)
ressaltou que a abordagem de Selye apontava para uma padronização das respostas de
6
stress frente a variados tipos de estressores, fato que tem sido refutado por pesquisas
recentes, cujos resultados têm demonstrado especificidade nas reações fisiológicas,
dependendo da interpretação dada pelo indivíduo ao evento estressante, como também
de sua forma de enfrentamento. Como exemplo pode-se mencionar o estudo de Mason
de 1975 (Straub, 2005), o qual encontrou que dependendo do estressor haveria padrões
diferenciados de secreção de epinefrina, norepinefrina e corticosteróides.
A concepção de Lazarus foi pioneira na questão da introdução dos aspectos
psicológicos no processo de stress. A proposta do autor data de 1966, quando introduziu
a variável “interpretação dos eventos” como importante fator para o desencadeamento
do stress (Lipp, 2004a). O interesse por aspectos individuais de enfrentamento ao stress
partiu de estudos com soldados da Guerra Mundial e guerra da Coréia. Observou-se
que o rendimento destes combatentes variava para mais ou para menos, mesmo estando
estes expostos a estressores bastante semelhantes. O ponto de vista simplista com o qual
era entendido o processo de stress, ou seja, estressor e rendimento como diretamente
proporcionais, é expandido e as diferenças psicológicas individuais passam a mediar e
interferir nessa relação, levando a formas de enfrentamento e rendimento diferenciadas
(Lazarus & Folkman, 1984/1986). Sob essa ótica deduz-se que, não são os eventos em
si os disparadores das reações de stress, pois uma mesma situação poderia ser altamente
estressante para uma pessoa e não para outra, mas sim a forma como se interpreta esses
eventos. Com isso, a variável cognitiva é inserida neste campo de estudo, orientando as
pesquisas subseqüentes.
A conceituação de stress que norteia esse trabalho, uma vez que não se pretende
aqui aprofundar as diferentes visões sobre o tema, foi elaborada por Lipp, com base nos
estudos pioneiros de Selye e Lazarus, a partir de suas pesquisas no Laboratório de
7
Estudos Psicofisiológicos do Stress, na PUC de Campinas. De acordo com esta autora,
stress é entendido como:
uma reação psicofisiológica muito complexa que tem em sua
gênese a necessidade do organismo fazer face a algo que ameace
sua homeostase interna. Isto pode ocorrer quando a pessoa se
confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a
irrite, amedronte, excite ou confunda ou mesmo que a faça
imensamente feliz (Lipp, 2003, p.18).
Essa definição, segundo Lipp, pretende abarcar todos os processos observados
na clínica do stress (Lipp & Malagris, 2001), isto é, os fatores fisiológicos, psicológicos
e comportamentais envolvidos, além de deixar claro o fato de o mesmo não ser um
processo pontual, mas dinâmico, composto por diferentes fases.
Em 1952, Selye propõe um modelo trifásico para o stress, descrevendo as fases
de alerta, resistência e exaustão como diferentes momentos pelos quais passa um
indivíduo exposto a um estressor, estando a evolução para outras fases ou recuperação
do equilíbrio, dependentes da intensidade, duração do evento estressante e/ou habilidade
por parte do indivíduo em manejá-lo. Em 2000, todavia, Lipp, a partir de suas análises
para a padronização do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp, re-
concebe o modelo trifásico de Selye e sugere o modelo quadrifásico, identificando a
fase de quase-exaustão, localizada entre a resistência e a exaustão (Camelo &
Angerami, 2004; Lipp & Malagris, 2001).
A primeira fase do stress, denominada alarme ou alerta, é deflagrada quando do
primeiro contato do indivíduo com o estressor. Este faz uma avaliação de perigo,
ameaça ou desafio da situação vivenciada, desencadeando uma série de reações
fisiológicas, dentre as quais, taquicardia, sudorese e hiperventilação, com o objetivo de
8
preparar o organismo para lutar ou fugir. Neste momento, substâncias como adrenalina
e noradrenalina se tornam fundamentais a esse complexo processo, que tem como
objetivo principal a preservação da vida do indivíduo. As mudanças hormonais
produzidas acarretam também aumento súbito de motivação, fazendo com que a pessoa
se sinta mais entusiasmada e enérgica para o desempenho de tarefas, aumentando,
conseqüentemente, sua produtividade (Lipp & Malagris, 2001).
Segundo Selye, o organismo não suportaria sobreviver por muito tempo sob
efeito da sintomatologia característica da fase de alerta, necessitando recuperar a
homeostase perdida. Esta busca pela homeostase, termo sugerido por Cannon em 1939
para designar o equilíbrio interno corporal (Lipp, Pereira & Sadir, 2005), é a principal
característica da segunda fase do stress, denominada resistência. A evolução para esse
estágio, conforme mencionado anteriormente, vai depender dos fatores intensidade e
duração do estressor, bem como inabilidade em superá-lo. Sintomas comuns são
problemas com a memória, cansaço constante, resfriados freqüentes, dúvidas quanto a si
próprio etc, evidenciando a fragilidade em que o organismo se encontra por utilizar suas
reservas de energia adaptativa. Importante salientar que o organismo consegue
recuperar-se do desequilíbrio sofrido na fase anterior, mas à custa de muito esforço, por
isso, sendo bastante aparentes os sintomas de desgaste físico e psicológico.
Se o estressor é eliminado ou a pessoa possui estratégias adequadas de
enfrentamento, o retorno do stress para uma linha de base, não obstante, isso não
ocorrendo, a fase de quase-exaustão é instaurada. Neste estágio o aparecimento da
sintomatologia de doenças, como picos de hipertensão, problemas dermatológicos,
gastrite etc, dependente da vulnerabilidade genética do organismo estressado. A pessoa
sente-se ainda mais desgastada e sem energia, oscilando estes períodos com momentos
de bem-estar. Essa flutuação ocorre devido à resistência ao estressor por parte do
9
organismo, que, ao mesmo tempo, sente suas reservas de energia se exaurirem. Esse
quadro pode ainda piorar, caso o indivíduo entre na fase de exaustão, pois, se o que
antes eram episódios esporádicos da manifestação de doenças, neste estágio a doença se
instala propriamente, podendo levar o indivíduo à morte. nesta fase o
reaparecimento dos sintomas ocorridos no alarme, no entanto, mais intensos e, por
conseguinte, mais prejudiciais (Lipp, 2003).
Faz-se mister esclarecer que o stress não deve ser considerado um fator causal
isolado de doenças, mas um dos fatores contribuintes para seu aparecimento. Diante
deste fato, torna-se sumariamente importante conhecer o processo de stress, seus
mecanismos, a fim de melhor manejá-lo e de não sucumbir perante seus efeitos (Lipp &
Malagris, 1995).
A cadeia fisiológica desencadeada no processo de stress é adaptativa e serviu
para a preservação da espécie humana. Foram aperfeiçoados ao longo do tempo
diversos mecanismos, cujo intuito era justamente o de mobilizar o homem das cavernas
a manejar os estressores a que estavam submetidos (feras, oscilações bruscas de
temperatura etc) e garantir sua sobrevivência. Entretanto, esse importante arsenal de
defesa tem se tornado uma forma de padecimento, devido às mudanças de estressores e
de foco: atualmente a luta não é mais pela sobrevivência física, mas também pela
sobrevivência social e afetiva tornando essas reações excessivas e descabidas nos
diferentes contextos, sendo extremamente importante, portanto, o aprendizado de
formas adequadas de lidar com essas reações na conjuntura a que os indivíduos estão
submetidos (Ballone, 2005).
3.2. Distress X eustress: quais as conseqüências do distress para a saúde?
10
Selye em seu livro Stress: a tensão da vida”, publicado em 1956 e traduzido
para o português em 1965, dedicou sua obra a todos “que não têm medo de gozar o
stress de uma vida plena, nem são tão ingênuos que imaginem poder fazê-lo sem
esforço intelectual” (Selye, 1956/1965, dedicatória).
Este pequeno trecho retrata a idéia de que todos os seres humanos estarão
submetidos a “doses” de stress ao longo de suas vidas e que isso é tão necessário quanto
se alimentar e dormir, pois os mobiliza a ação. Entretanto, é preciso “um esforço
intelectual”, para que algo positivo não se transforme em fator danoso e prejudicial
(Selye, 1956/1965).
A fim de classificar o stress de acordo com suas conseqüências para o
organismo, alguns autores têm usado o termo eustress para designar o nível de stress
ideal ao corpo, relacionado ao aumento da disposição e produtividade e distress para
quando o processo de stress é tão intenso que acaba por trazer prejuízos à qualidade de
vida do indivíduo (França & Rodrigues, 1996; Sparrenberger, Santos & Costa Lima,
2003).
Sparrenberger, Santos e Costa Lima (2003) atribuem essa classificação à
evolução do conceito de stress e afirmam serem os estressores os indutores de eustress
e/ou distress. Além da força do estressor, os autores colocam o aspecto psicológico
como importante fator para o resultado da resposta ao stress.
A Figura 1, retirada de Lipp (2004a, p. 22), mostra as diferentes fases pelas
quais passa o indivíduo ao longo do processo de stress.
11
Figura 1 – Fases do Stress
Levando-se em conta que o eixo das abscissas corresponde ao eixo do stress e o
das coordenadas ao da produtividade, observa-se que um aumento no nível do stress
leva a um proporcional aumento na produtividade, figurando a fase de alerta como
principal representante deste momento, caracterizado pelo eustress. Entretanto, a
produtividade em um determinado momento se estabiliza e conforme haja aumento no
nível de stress, ela se declina. As fases que representam o momento de queda na
produtividade são resistência, embora ainda haja subida na produtividade na resistência,
esta não é significativa, pois o corpo está resistindo ao estressor, quase-exaustão e
exaustão, nos quais o stress é excessivo e danoso, figurando o distress.
Quando o corpo es sob a influência do distress, muitas podem ser as
conseqüências nocivas, uma vez que vários sistemas são afetados neural, endócrino e
imunológico e forçados ao trabalho excessivo. Esse excesso ocasiona desgaste,
contribuindo grandemente para o aparecimento de doenças físicas e emocionais.
Sintomas como cansaço mental, dificuldade de concentração, perda da memória
imediata, apatia, hipersensibilidade emotiva, bem como tensão muscular, problemas
Alerta
Quase-Exaustão
Exaustão
P
R
O
D
U
T
I
V
I
D
A
D
E
STRESS
12
Resistência
dermatológicos, hipertensão arterial começam a se fazer presentes (de acordo com as
vulnerabilidades de cada organismo), debilitando o indivíduo e tolhendo-o de viver com
qualidade (Lipp, 2003).
Conforme questiona Lipp (2004b), o que esperar de uma pessoa que esteja
experimentando tais sensações? Possivelmente suas relações familiares, sociais, com a
comunidade, assim como seu interesse por questões de cidadania encontram-se
deterioradas por focar somente no restabelecimento do equilíbrio perdido, mesmo que
isso não seja totalmente consciente.
Para tanto, a fim de não correr riscos de gastos excessivos de energia, com
possibilidades de depauperação da saúde, é interessante que a pessoa mantenha seu
nível de stress stress ideal em um ponto anterior ao máximo de stress e
produtividade que ela pode experimentar (vide Figura 1) (Lipp, 2004a).
13
4. ESTRESSORES
Tal como o próprio conceito sugere, estressor é tudo o que estressa, isto é, todo
estímulo capaz de eliciar as reações de stress (Selye, 1956/1965).
Embora alguns autores utilizem o termo stress para designar as causas desse
processo, Selye os conceituou de forma diversa, a fim de deixar clara a diferença entre
ambos, a causa e o fenômeno. Para tanto, na página 63 de seu livro Stress: a tensão da
vida”, Selye pontua que “stress não é nada que cause uma reação de alarma. É um
agente de stress que causa tal reação” (Selye, 1956/1965, p. 63). Em seu entendimento
estressor é tudo o que produz stress, termo definido no item 4.1. do capítulo 4, e as
reações por ele produzidas serão mais ou menos intensas, de acordo com o grau de suas
capacidades em provocá-las.
Na visão de Lazarus e Folkman (1984/1986), entretanto, o agente estressante per
si não é fator produtor de stress; a maneira pela qual o indivíduo o interpreta é que será
fator decisivo no disparo ou não de tais reações. Para os autores, mesmo ocorrendo
situações que representem grande ameaça à maioria das pessoas, ainda assim haverá
variações individuais quanto ao grau de stress experimentado, bem como quanto aos
efeitos qualitativos e quantitativos da resposta. As diferenças observadas ocorrem
devido às crenças, padrões de comportamento, construídos ao longo da história de vida
de cada sujeito.
Seguindo este raciocínio, Lipp e Malagris (1995; 2001) definem estressor como
toda situação geradora de estado emocional forte, capaz de provocar uma quebra na
homeostase corporal, exigindo do corpo adaptação, visando o restabelecimento do
equilíbrio.
14
Alguns autores dividem os estressores em dois tipos, que se divergem quanto à
natureza: biogênicos e psicosociais. Os primeiros referem-se a estímulos como o frio, a
fome, a dor, o calor excessivo, potencialmente geradores do desequilíbrio da
homeostase interna, por ameaçarem a integridade corporal da pessoa. As reações
advindas a partir da influência desses estímulos são inatas e independem da avaliação
cognitiva (Everly, 1989, citado por Lipp & Malagris, 2001); os segundos, por sua vez,
dependem da avaliação do indivíduo e os autores em geral os dividem em externos e
internos, descritos a seguir.
Por estressores externos entende-se qualquer situação ou estímulo externo ao
organismo, potencialmente capaz de desencadear reações de stress. Ballone (2005) os
definiu como ameaças concretas do cotidiano, listadas por Holmes e Rahe em 1967 em
sua Escala de Reajustamento Social. Neste instrumento fatores como morte de ente
querido, separação conjugal, promoção profissional, dentre outros, são descritos como
indutores de stress e pontuados de acordo com sua gravidade. Os eventos listados são
inerentemente causadores de stress, independente do sujeito, diferenciando, portanto, da
visão proposta por Lazarus e Folkman (1984/1986), de que mesmo diante de
acontecimentos externos, a avaliação cognitiva atuará como mediadora entre estressores
e stress.
Importante ressaltar que tanto acontecimentos positivos como negativos podem
gerar stress, pois ambos estão relacionados a mudanças na vida do indivíduo, exigindo
adaptação e, por isso, demandando do corpo a recuperação da homeostase (Lipp, &
Malagris, 2001).
Embora possa haver a influência de eventos desafiadores externos gerando
stress, grande parte das vezes, entretanto, isso não ocorre, ou por não haver estressores
externos atuando na vida da pessoa ou por eles já terem sido eliminados. Apesar disso,
15
da ausência de tais estressores, o indivíduo pode continuar a experimentar stress e,
possivelmente, alguns dos sintomas por ele eliciados.
Uma explicação para isso encontra-se na definição de estressores internos, que
dizem respeito à forma como o indivíduo interpreta os acontecimentos externos,
moldada pelas crenças que estes têm a respeito de si, do mundo e do outro, bem como à
genética, padrões de comportamento, falta de assertividade e dificuldade na expressão
dos sentimentos, que se relacionam à forma com a qual este decifra e atua no mundo
(Lipp, 1999; Malagris, 2003). Segundo Malagris (2003) essas características explicam a
forma pela qual a pessoa pensa, sente e se comporta e influenciam diretamente no
desencadeamento e manutenção do fenômeno de stress. Como exemplo disso pode-se
citar um indivíduo que seja predisposto geneticamente à ansiedade, o qual poderia ter
uma crença de que o mundo seja extremamente perigoso; todas as vezes que ele sair de
casa, a crença pode ser ativada e isso ser um fator de grande stress, mesmo não tendo
tido nenhum fator ambiental intervindo no processo.
16
5. SAÚDE MENTAL E TRABALHO
Quanto mais se busca entender as relações entre o universo laboral e saúde, mais
os pesquisadores esbarram em questões relacionadas à saúde mental dos trabalhadores
(Palácios, Duarte & mara, 2002). Apesar disso, ainda é bastante obscura a relação
entre saúde mental e trabalho e, conseqüentemente, precariedade no que se refere a
programas de intervenção. Glina, Rocha, Batista e Mendonça (2001) chamam a atenção
para a especificidade do processo de adoecimento do indivíduo, fazendo-se imperioso
atentar para sua história de vida e também profissional a fim de que se possa estabelecer
nexo causal entre labor e saúde mental. As autoras também apontam para a necessidade
de descrição detalhada da situação de trabalho, do ambiente, da organização, bem como
da percepção do trabalhador frente à influência do trabalho no processo de adoecimento,
para o completo entendimento desta relação.
Além de toda complexidade acima citada, a falta de consenso entre os estudiosos
do assunto no que se refere à classificação das doenças relacionadas ao trabalho é mais
uma barreira a somar às dificuldades de compreensão do arrolamento entre o ramo de
atividades do indivíduo e sua saúde mental. Não na Classificação Internacional das
Doenças grupo diagnóstico voltado para os distúrbios psíquicos relacionados ao
trabalho (Glina et al., 2001). Ainda que o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais mencione os problemas mentais relacionados ao trabalho, tal
descrição ainda merece maior destaque, tendo em vista a complexidade do tema.
Embora existam tais dificuldades, muitos estudos têm sido produzidos e muito
se tem pensado a respeito do tema. São diversos os modelos teóricos que visam o
entendimento da conexão entre saúde mental e trabalho, dentre os quais se destaca a
Psicopatologia do Trabalho, advinda dos estudos de Dejours e os relacionados a stress e
17
trabalho. De acordo com a proposta desta pesquisa, o modelo norteador será o de stress
no trabalho, descrito no item 5.1.
5.1. Stress e estressores ocupacionais
atualmente um grande interesse por parte de pesquisadores em voltar seus
estudos sobre stress para a área do trabalho, por entenderem que o ambiente laboral
pode estar relacionado ao desencadeamento das reações de stress, acarretando
problemas de saúde grave aos trabalhadores, bem como gastos excessivos por parte de
empregadores, devido a absenteísmo, queda na produtividade, problemas de
relacionamento com os pares, dentre outros problemas, de seus empregados.
De igual modo, importante se faz considerar que o stress influi sobremaneira na
qualidade de vida do sujeito, originando possivelmente problemas em outros âmbitos
que não só o laboral, uma vez que o indivíduo é um ser único e as áreas de sua vida se
inter-relacionam, ocasionando prejuízos importantes em sua relação com os ambientes
nos quais está inserido, como também com as pessoas que o cercam. Para confirmar tal
assertiva cita-se a proposição de Lipp e Tanganelli (2002) de que os efeitos nocivos do
stress excessivo não se limitam a problemas de saúde, propiciando também a
deterioração da qualidade de vida.
Neste sentido, pode-se pensar que não o ambiente de trabalho sofre com o
trabalhador estressado, sendo observado tal prejuízo em todos os outros círculos em que
convive esse trabalhador. Mais grave se torna tal situação quando outros colegas
tornam-se estressados a partir da influência de seu próprio stress (Lipp & Malagris,
2001).
18
Não as empresas se preocupam com a saúde dos trabalhadores, as
Organizações Panamericana de Saúde (OPS) e Mundial de Saúde (OMS) na Resolução
CSP23.R14 da 23ª Conferência Sanitária Panamericana, ocorrida em 1990, sobre saúde
ocupacional, destacam, dentre outros aspectos, a importância de se incrementar o
desenvolvimento, pelos Estados, de diversas formas institucionais de atenção à saúde do
trabalhador. Esse cuidado se intensificou na década de 90, principalmente após a
preconização do modelo de Desenvolvimento Sustentável, que apregoa a satisfação de
necessidades básicas, melhora da qualidade de vida, proteção dos ecossistemas, a fim de
garantir não a população, mas também a seus descendentes, futuro mais seguro e
próspero. Dentro desta perspectiva, encontra-se a saúde dos trabalhadores, foco
importante para desenvolvimento e planejamento de ações que minimizem o mal-estar
sofrido a partir da relação do indivíduo com seu ramo de atividade (OPS/OMS, 1999).
Na esfera da saúde, Hernández (2003) desenvolveu um estudo com médicos e
enfermeiros dos níveis primários e secundários de atenção e observou que as fontes de
stress mais freqüentes relatadas por esses profissionais giraram em torno da necessidade
de constante atualização profissional, conflitos com superiores, responsabilidade pelos
resultados de sua atuação, baixo reconhecimento por parte da população atendida,
incerteza quanto ao manejo da informação com o paciente e seus familiares e cuidar das
necessidades emocionais dos pacientes.
Interessante observar que a análise de Hernández está consoante com o
levantamento feito por Lipp (2004b) a respeito de alguns estressores típicos de
trabalhadores brasileiros, como lidar com a chefia e autocobrança. Além destes, Lipp
aponta a sobrecarga no trabalho e na família, o sentimento de falta de união entre os
funcionários, salário insuficiente e lidar com colegas não cooperativos, como grandes
estressores ocupacionais dos trabalhadores em geral.
19
Os fatos mencionados acima foram grandes propulsores de pesquisas nesse
campo de conhecimento que, buscaram e buscam, ainda hoje, entender como a dinâmica
laboral pode interferir no desencadeamento do stress. Entretanto, não é unânime entre
estudiosos a definição do termo stress ocupacional, ocasionando discrepâncias relativas
a seu significado e formas de medição, o que levou Jex (1998, citado por Paschoal &
Tamayo, 2004) a dividir as conceituações de acordo com três aspectos: (1) relativo aos
estímulos estressores: o stress ocupacional estaria intimamente relacionado aos
estressores do ambiente de trabalho, independendo da avaliação dos indivíduos, isto é,
os estressores per si seriam suficientes para o desencadeamento do stress profissional;
(2) concernente às respostas eliciadas a partir de eventos estressantes: o stress
ocupacional se referiria às respostas físicas, psicológicas e comportamentais emitidas
pelos trabalhadores a partir de fatores estressantes relacionados ao trabalho; (3) relação
estressores-resposta: neste caso, o stress ocupacional é percebido como fenômeno
complexo, no qual inter-relação entre as demandas do trabalho e as variáveis dos
indivíduos.
De acordo com Paschoal e Tamayo (2004), há tendência por parte dos autores de
tratarem a questão do stress laboral de forma mais abrangente, relacionando as
exigências do trabalho às características individuais dos trabalhadores.
Um modelo bastante utilizado para explicar o stress decorrente do mundo do
trabalho é o modelo demanda-controle de Karasek. Segundo Araújo, Graça e Araújo
(2003), este autor ampliou o enfoque sobre estressores relacionados ao trabalho, até
então baseados no delineamento de Selye, que considerava apenas a relação stress e
demanda psicológica, e inseriu o grau de controle como importante nível de análise.
Karasek, junto a colaboradores, desenvolveu seu modelo a partir de estudos com
trabalhadores de dois países industrializados, Estados Unidos e Suécia, concluindo
20
haver relação causal entre trabalho e desgaste mental, estando este relacionado a
estressores organizacionais, os quais são divididos em duas dimensões: demanda
psicológica e controle do trabalho (Karasek, 1979), apontando este último como
importante fator para o desenvolvimento ou não de stress por parte do trabalhador.
Por demanda psicológica entendem-se as exigências psíquicas do ambiente
externo, estando o stress relacionado a situações nas quais a demanda exceda a
capacidade do indivíduo de responder adequadamente aos estímulos (Araújo, Aquino,
Menezes, Santos & Aguiar, 2003). No ambiente de trabalho as demandas podem ser
quantitativas arroladas ao tempo e velocidade e/ou qualitativas ligadas à dependência de
outras pessoas para o término de suas atividades, nível de concentração requerida e
conflito entre demandas contraditórias, por exemplo, (Karasek, 1979; Mello Alves,
Chor, Faerstein, Lopes & Werneck, 2004).
A dimensão controle do trabalho refere-se ao uso de habilidades, ou seja,
aprendizagem de conhecimentos, criatividade, repetição, tarefas variadas e
desenvolvimento de habilidades especiais, bem como a autoridade decisória,
envolvendo habilidade por parte do indivíduo para a tomada de decisões a respeito de
seu trabalho. Os dados encontrados na pesquisa de Karasek revelam ser esta a dimensão
mais relacionada ao stress, conforme mencionado acima. Segundo o autor: “a
oportunidade do trabalhador usar suas habilidades e tomar decisões a respeito de suas
atividades de trabalho, está associada à redução dos sintomas advindos a partir das
demandas laborais” (Karasek, 1979, p. 303). Diante dessas definições, Karasek
distingue quatro possibilidades de experiência no trabalho geradas pelas interações entre
os níveis de demanda psicológica e grau de controle, ilustradas na Figura 2 (Karasek,
1979, p. 288), quais sejam: alta exigência do trabalho (alta demanda e baixo controle),
21
trabalho ativo (alta demanda e alto controle), trabalho passivo (baixa demanda e baixo
controle) e baixa exigência (combinando baixa demanda e alto controle).
Figura 2 – Modelo Demanda-Controle de Karasek
Os maiores problemas psicológicos ocorrem, segundo o autor, quando alta
demanda psicológica e baixo controle sobre o trabalho, por gerar grande desgaste ao
trabalhador, influenciando negativamente em sua saúde, podendo surgir quadros de
depressão, fadiga, ansiedade e doenças físicas. Igualmente nociva é a combinação baixa
demanda e baixo controle (trabalho passivo), pois é possível que ocorra declínio na
atividade global do indivíduo e desinteresse pelo trabalho (Karasek, 1979; Araújo et al.,
2003; Mello Alves et al., 2004). Em contrapartida, quando alta demanda e alto
controle o trabalhador sente-se ativo, mesmo que as tarefas o exijam, pois pode decidir
como e quando desenvolvê-las, traçando estratégias para lidar com as dificuldades. A
situação “ideal” de trabalho conjuga baixa demanda e alto controle, na qual o
Baixa demanda Alta demanda
Baixo controle
Alto controle
Baixa exigência
Trabalho ativo
Trabalho passivo
Alta exigência
22
trabalhador é pouco exigido e possui grande domínio sobre seu trabalho (Mello Alves et
al., 2004).
Posteriormente, Johnson incluiu no modelo de Karasek uma terceira dimensão
psicológica, apoio social no ambiente de trabalho, definida como níveis de interação
social com chefes e colegas de trabalho, capaz de modificar as dimensões de ordem
individuais entre demanda e controle (Karasek & Theorell, 1990 citado por Mello Alves
et al., 2004; Reis, Carvalho, Araújo, Porto & Neto, 2005). Importante ressaltar que a
perspectiva do modelo idealizado por Karasek é sociológica, na medida em que
considera o local de trabalho como determinante do grau de demanda psicológica e
controle. Por conseguinte, para que haja minimização do stress laboral faz-se necessário
haver modificações no ambiente de trabalho (Reis, Araújo, Carvalho, Barbalho & Silva,
2006).
O modelo demanda-controle vem sendo amplamente utilizado em pesquisas
com a finalidade de testar sua validade para avaliação dos mais diversos efeitos do
trabalho sobre a saúde dos indivíduos. Tanto isso é verdadeiro que a própria OMS em
série intitulada “Protección de la salud de los trabajadores”, conceitua stress laboral
como resultado de desequilíbrio entre pressões enfrentadas pelos indivíduos e suas
capacidades e recursos para lidar com as mesmas por um lado e o grau de controle sobre
suas atividades por outro (OMS, 2004), conceitos utilizados por Karasek em seu modelo
explicativo de stress laboral.
23
6. SAÚDE PÚBLICA
6.1. Organização dos Serviços Públicos de Saúde
Até o meado da década de 80 a saúde brasileira, bem como as políticas
assistenciais adotadas pelo Governo, era caracterizada pela lógica centralizadora. A
partir de 1985 até 1988, ano da promulgação da Constituição Federal, foram propostas
diferentes maneiras de se lidar com as questões não só sociais, mas também econômicas
e políticas, que resultaram em mudanças significativas nestas áreas. Segundo Finkelman
(2002), do ponto de vista econômico, houve maior preocupação com o crescimento, ao
mesmo tempo em que, do ponto de vista social, a sociedade civil iniciava movimentos
de organização no sentido de intensificar sua participação nos conselhos de gestão,
relacionados às áreas da saúde, previdência, educação e trabalho.
No âmbito da saúde, as discussões e críticas culminaram no movimento de
“Reforma Sanitária”, cujo eixo principal era a transformação das condições de saúde e
de atenção à saúde da população brasileira, a partir da elaboração e instituição de um
sistema integrado, descentralizado e universal. Esta nova proposta era totalmente
inovadora e contrária ao modelo de saúde vigente no país, que centralizava e restringia
os serviços de saúde aos trabalhadores pertencentes ao mercado formal de trabalho
(Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, 1999).
A primeira forma de seguridade social surgida no Brasil data de 1923 e se deu a
partir da promulgação da Lei do então Deputado Eloy Chaves com a criação das Caixas
de Aposentadorias e Pensão (CAPs), órgãos responsáveis em oferecer a seus
assegurados assistência médica, fornecimento de medicamentos, além de benefícios de
natureza previdenciária. Cada categoria profissional possuía uma CAPs específica e,
24
cada qual, estabelecia seu regulamento e suas formas de distribuição de receitas. No
entanto, esta forma de organização trazia desigualdade ao sistema, por não possuir
regras comuns, levando a reclamações por parte dos usuários, fato que fez com que os
CAPs fossem substituídos, em 1926, pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs).
Estes Institutos tinham como objetivo amenizar a grande desigualdade de assistência, o
que na prática não ocorreu. Em resposta ao continuísmo da segmentação, surgiram
reivindicações em favor da unificação do sistema previdenciário, e de maior igualdade
na prestação dos serviços (Finkelman, 2002).
Na década de 60, a fim de solucionar a problemática da questão previdenciária,
que se encontrava caótica devido à “aceleração do processo de industrialização” e ao
aumento da massa assalariada e sua demanda por cuidados, o Estado uniu os IAPs e
criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). O funcionamento deste
Instituto dependia da arrecadação de seus contribuintes e tinha um papel de extrema
importância “na organização dos serviços de saúde, e conseqüentemente na Política
Nacional de Saúde” (Almeida & Pêgo, 1982, pp. 65-66).
De acordo com Almeida e Pêgo (1982) os serviços médicos disponibilizados
pela Previdência Social possuíam diferentes características, cuja distinção dava-se
segundo a forma de financiamento, a saber, através de serviços próprios e através da
compra de serviços de terceiros. No primeiro caso, alguns hospitais, ambulatórios e os
postos de assistência médica (PAMs) eram inteiramente financiados pela Previdência, o
que não ocorria com o segundo, cujo financiamento dependia do contrato com a
empresa privada.
Em 1977/78 uma nova ordenação ocorreu na Previdência Social, desdobrando o
INPS em Instituto de Administração da Previdência Social (IAPAS), Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS) e Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
25
Social (INAMPS), este último responsável pela assistência à saúde dos associados.
Neste período, foi ampliada a cobertura previdenciária para outras camadas da
população, para fins de captação de recursos, e intensificaram-se os contratos com
empresas privadas, levando o sistema à total falta de equilíbrio entre os serviços
prestados pelo INAMPS e os prestados por empresas privadas, cujo objetivo maior era o
lucro e não o bem estar da população. Este fato ocasionou grande insatisfação das
camadas populares e também da classe médica, surgindo movimentos de contestação,
denunciando as políticas adotadas e clamando por mudanças.
A questão saúde tornou-se tema central de discussão desde então, o que
culminou em algumas medidas piloto de descentralização e universalização, e,
posteriormente, na implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), cuja filosofia vai
de encontro às modernas concepções do processo saúde-doença e de formas de
intervenção.
6.2. Sistema Único de Saúde (SUS)
“(...) É uma organização
De âmbito nacional
Abrangendo a todo nível
Do lar profissional
Em termo de bom princípio
Nas áreas do Município
De Estado e Federal
Levando às populações
Das aldeias e cidades
Toda assistência à saúde
Daquelas comunidades
26
Curando e salvando vidas
Sendo todas atendidas
Em suas necessidades
(...)
O nosso povão precisa
De saúde em igualdade
Sem implorar de joelhos
Lhe atender por caridade
Rico e pobre tem direito
Receber do mesmo jeito
Trato com humanidade (...)”
Mestre Azulão
Os versos acima são parte integrante do livreto “O Cordel na Saúde: o SUS
resolve o problema” de autoria de João José dos Santos, mais conhecido como Mestre
Azulão, cujo objetivo é explicar o novo sistema vigente à luz da arte popular com
estrofes que abordam temas como os princípios do SUS, descentralização, dentre
outros. Nos versos acima, por exemplo, percebem-se dois vislumbres do Sistema,
descentralização e universalização dos serviços, que mostram as novidades do SUS em
relação à antiga organização da atenção em saúde.
O Ministério da Saúde define o SUS como o conjunto de ações e serviços de
saúde prestados por instituições e órgãos Federais, Estaduais e Municipais, cabendo à
iniciativa privada a complementaridade dos serviços (Ministério da Saúde, 2000).
Surgido recentemente, tal como referido no item 4.1., em contexto de redemocratização,
em resposta ao arcaico e excludente sistema de saúde de então.
As bases para concepção de saúde pautada nas ações primárias, privilegiadas
pelo SUS, bem como os princípios que atualmente o regem universalidade,
27
integralidade, eqüidade - foram lançadas no ano de 1978 na Conferência Internacional
sobre Cuidados Primários de Saúde, ocorrida em Alma-Ata, atual Cazaquistão, na qual
participaram sanitaristas de todo mundo a fim de discutir os insucessos da saúde pública
mundial e formas alternativas de promoção do bem-estar de todos os povos (Declaração
de Alma-Ata, 1978).
Desde Alma-Ata diversos segmentos sociais brasileiros se articularam para
pensar soluções para as principais questões de saúde, com o grande objetivo de
influenciar o Estado na formulação e implementação de políticas que proporcionassem
melhorias nesta esfera, mas não apenas isso, que estas fossem capazes de alcançar toda
população brasileira (Cohn & Elias, 2005). Tais negociações culminaram na VIII
Conferência Nacional de Saúde (VIII CNS) em 1986, que contou com a participação de
mais de quatro mil pessoas, cujos frutos foram extremamente importantes para a
reorientação do Sistema Nacional de Saúde. Neste evento foi estabelecida a criação da
Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS), responsável pela elaboração de
documentos técnicos a partir das discussões propostas em plenário, para que os mesmos
fossem apresentados à Assembléia Nacional Constituinte (ANC).
Como resultado, a Constituição Federal de outubro de 1988 corroborou as
principais idéias da VIII CNS, entretanto, foi somente nos anos 90 que as disposições
constitucionais foram, de fato, regulamentadas. A Lei Ordinária 8.080/90 de 19 de
setembro, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”, pontua os
princípios e diretrizes norteadores do novo sistema e institucionaliza a descentralização
e as relações entre União, Estados e Municípios no que tange à política de saúde
(Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, 1999). No
mesmo ano, é aprovada a Lei Ordinária 8.142/90 de 28 de dezembro, que “dispõe
28
sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde”.
O modelo implementado resultou em mudanças radicais no cenário da saúde
brasileira e em um dos mais modernos e abrangentes sistemas de saúde mundiais, no
qual as seguintes diretrizes são fundamentais para impetrar os princípios de
universalidade, integralidade e eqüidade, são elas: regionalização e hierarquização,
resolutividade, descentralização, participação dos cidadãos e complementaridade do
setor privado. A regionalização e hierarquização permitem maior conhecimento dos
problemas de saúde da população de uma área determinada, possibilitando ações que
envolvam desde a vigilância epidemiológica até a atenção de nível ambulatorial e
hospitalar. Importante ressaltar que o acesso da população deve ser irrestrito em todos
os níveis de atenção (primário, secundário e terciário). Por resolutividade entende-se a
capacitação do sistema a fim de que o mesmo possa resolver todas as questões trazidas
pelo usuário, inclusive se esta for de alta complexidade. A descentralização, diz respeito
à redistribuição das responsabilidades entre os vários níveis de governo, ao passo que a
participação popular garante aos usuários, através de suas entidades representativas, o
direito de decidir a respeito das questões de saúde. Por fim, a complementaridade do
setor privado acontecerá sempre que o setor público não conseguir suprir
suficientemente as necessidades de saúde da população (Almeida e Pêgo, 1982;
Cordeiro, 1982; Noronha & Levcovitz, 1984).
Desde sua implementação o SUS vem enfrentando inúmeros desafios para que
sua efetividade seja plena e seu alcance se estenda a toda população brasileira. Muitas
políticas foram adotadas pelo Ministério da Saúde, a fim de que seus princípios
doutrinários sejam atendidos. Dentre elas destaca-se a Estratégia de Saúde da Família
(ESF), elaborada com intuito de organizar e fortalecer a Atenção Básica e que incorpora
29
e reafirma os princípios básicos do SUS.
6.3. Atenção Básica: Estratégia de Saúde da Família (ESF)
O Ministério da Saúde entende ser a Atenção Básica o primeiro nível de atenção
à saúde, de acordo com o modelo adotado pelo SUS, englobando ações de promoção,
prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e garantindo aos usuários acesso aos
cuidados e às tecnologias necessárias para o prolongamento da vida. É o ponto de
contato preferencial do usuário com o Sistema Único de Saúde, abarcando as
especialidades de ginecologia, obstetrícia, pediatria, clínica médica e as emergências
referentes a essas áreas médicas, sendo de sua responsabilidade também o
encaminhamento dos usuários para atendimentos de média e alta complexidade, se
necessário. Conforme dito no item 7.2., a Estratégia de Saúde da Família foi adotada
como prioritária para organização da Atenção Básica (Ministério da Saúde, 2005;
2007).
As iniciativas nacionais de desenvolvimento da saúde básica basearam-se em
experiências estaduais e regionais bem-sucedidas, podendo ser citado como um dos
mais importantes o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), desenvolvido
no Estado do Ceará. Inicialmente este programa voltava-se ao atendimento de famílias
assoladas pela seca, no que tange a cuidados primários, e contava com recursos
financeiros dos fundos especiais de emergência, destinados pelo Governo Federal. Após
a fase de seca, bem como à suspensão do recurso federal, o PACS passou a ser mantido
pelo Estado, perdeu seu caráter emergencial e se expandiu para outras regiões do Ceará,
a fim de auxiliar às comunidades no cuidado com sua própria saúde. O trabalho era feito
através de visitas domiciliares às famílias, estando os Agentes Comunitários de Saúde
30
(ACS) responsáveis por 50 a 100 famílias na área rural e 150 a 250 famílias na área
urbana (Silva & Dalmaso, 2002, citado por Ministério da Saúde, 2002).
Diante do sucesso do PACS implementado pelo Estado do Ceará, o Ministério
da Saúde propôs o Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde (PNAS) para
os Estados do Norte e Nordeste do país, com o intuito de contribuir para a redução da
mortalidade infantil e materna nessas regiões. O PACS obteve êxito tal, que em 1993
cobria 987 municípios de 17 Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e
contava com total de 33.488 agentes comunitários (Ministério da Saúde, 2002).
Outra experiência de sucesso merece ser mencionada como precursora do que
mais tarde se denominaria Estratégia de Saúde da Família, esta desenvolvida na região
Sudeste do Brasil, na cidade de Niterói / RJ, denominada Programa Médico de Família,
cujos alicerces estavam pautados no modelo cubano de medicina da família (Ministério
da Saúde, 2002).
Em 1994 no primeiro documento divulgado sobre o Programa de Saúde da
Família (PSF), o Ministério da Saúde definia convênios entre os Governos Federais,
Estaduais e Municipais e estabelecia exigências para sua assinatura. Nesta época, o PSF
era mais um dos programas do MS direcionados às localidades de maior risco social.
Foi somente nos anos de 1997 e 1998 que ocorreu a apresentação do PSF como uma
alternativa à Atenção Básica nos moldes clássicos, objetivando maior dinamização do
SUS, diferindo-se do modelo tradicional, dentre outros aspectos, por sua inserção e
vinculação a uma determinada comunidade, pela preocupação com questões sócio-
ambientais e familiares, importantes para a manutenção da saúde comunitária e pela
estimulação da participação local e controle social nos assuntos relacionados à saúde
31
(Ministério da Saúde, 2007). Dessa forma, a saúde encontra-se mais próxima da família,
possibilitando melhorias na qualidade de vida dos brasileiros.
A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde 1996 (NOB-SUS
96) estabeleceu o Piso de Atenção Básica (PAB), recursos per capita / ano direcionados
à Atenção Básica, e o repasse automático dos recursos do Fundo Nacional de Saúde aos
Fundos Municipais de Saúde, proporcionando ao município maior autonomia no que
concerne à gestão da saúde dos munícipes.
A Saúde da Família (SF) concebida primeiramente como um programa,
transformou-se em estratégia fundamental para a estruturação dos sistemas municipais
de saúde possuindo como proposta a ampliação do acesso aos serviços, bem como
qualificação das ações de Atenção Básica, priorizando não o tratamento de
enfermidades como também a promoção e prevenção de doenças (Carvalho, 2000;
Silveira Filho, 2004). Nota-se neste modelo a abrangência do conceito de saúde, de
acordo com a definição proposta pela OMS, entendendo-a não apenas como ausência de
doença, mas como estado completo de bem-estar físico, mental e social.
É entendida como estratégia de reorientação do modelo de assistência, mediante
a alocação de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde (UBS), estas
responsáveis por um número definido de famílias localizadas em determinada área
geográfica. O Ministério da Saúde estipula média de três mil a quatro mil e 500 pessoas
ou mil famílias por equipe, composta por pelo menos um médico, um enfermeiro, um
auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Quando ampliada conta
com um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental e,
atualmente, existem equipes compostas também por fisioterapeutas, psicólogos e outros
profissionais de saúde, de acordo com as necessidades comunitárias (Ministério da
Saúde, 2007).
32
Conforme acima mencionado, o trabalho dessas equipes junto às famílias é de
prevenção, promoção e recuperação da saúde de forma integral e contínua, visando a
manutenção do bem-estar da comunidade sobre a qual se encontra responsável (Silveira
Filho, 2004). Os atendimentos são prestados nas UBS, bem como nos domicílios das
famílias cadastradas pelos profissionais que compõem as equipes de Saúde da Família,
permitindo a criação de vínculos de co-responsabilidade entre estes e a população
acompanhada, o que facilita a identificação e a resolução do problema de saúde da
comunidade. Segundo o Ministério da Saúde, as equipes devem atuar também na
mobilização da comunidade, tendo como características definidoras ser a porta de
entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde, responsabilizar-se por
território e população definidos, intervir sobre fatores de risco da comunidade assistida,
prestar assistência integral, longitudinal e de qualidade e realizar trabalhos de educação
e promoção da saúde (Ministério da Saúde, 2007).
As atividades desenvolvidas pelas equipes abrangem consultas, domiciliares
inclusive, vacinação, rotina e nas campanhas, coleta de sangue para exame ambulatorial,
marcação de exames, marcação de consultas especializadas, exames preventivos e
orientações para prevenção do câncer cérvico-uterino e de mama, fisioterapia
domiciliar, quando a equipe possui profissional da referida área, internação domiciliar
de pacientes idosos e crônicos, dentre outras.
A Atenção Básica, pensada como a porta de entrada do usuário no SUS, torna-se
mais efetiva a partir da proposta da ESF, pois sugere permanente atenção dos
profissionais de saúde aos cidadãos por eles cobertos sem, entretanto, representar essa
entrada uma mera passagem aos outros níveis de atenção do sistema, a saber, média e
alta complexidade. A idéia é o cuidado longitudinal das famílias e mesmo estando estas
necessitando de cuidados especializados, que extrapolem a complexidade da Atenção
33
Básica, a referência sempre será a equipe da ESF (Ministério da Saúde, 2006; Silveira
Filho, 2004). De acordo com o Ministério da Saúde, o funcionamento adequado das
unidades básicas é capaz de resolver 85% dos problemas de saúde da comunidade, pois
estas se propõem à prestação de atendimento qualificado, prevenção de doenças,
minimização do número de internações desnecessárias, bem como melhora da qualidade
de vida da população.
Muito se tem discutido a respeito do processo de construção do Sistema Único
de Saúde, a fim de dinamizar sua implementação e reduzir o hiato existente entre os
direitos sociais garantidos por lei e a oferta real de serviços de saúde (Secretaria de
Políticas de Saúde, 2000). Diante disto, desde o surgimento da ESF, muitas mudanças
foram implantadas e reformulações feitas, com intuito de torná-la estratégia realmente
capaz de contribuir para o re-ordenamento do modelo de atenção, a partir da atenção
básica (Souza, 2000).
34
7. PROFISSIONAIS DE MEDICINA E ENFERMAGEM
As carreiras de medicina e enfermagem são extremamente relacionadas ao
cuidado do outro, estando este outro, freqüentemente, em estado de completa
vulnerabilidade, o que exige do profissional além de toda técnica, equilíbrio emocional
para lidar com as situações de dificuldade, encontradas não com paciente, mas
também com sua família.
De acordo com Soar Filho (1998) é desejável que o profissional de saúde possua
determinados atributos e atitudes, a fim de que a relação com seu cliente seja
plenamente estabelecida e com isso obtida eficácia terapêutica. Tais atributos e atitudes,
segundo o autor, dizem respeito à empatia, ou seja, à capacidade de colocar-se no lugar
do outro; continência, que quer dizer tolerar determinadas atitudes e pensamentos que
os clientes possam vir a ter durante o contato com o profissional; humildade, referente
ao respeito pelas verdades dos pacientes; respeitar as diferenças, não desqualificando o
que o cliente traz como queixa; curiosidade; capacidade de conotar positivamente, isto
é, trabalhar no sentido de entender determinado funcionamento de um paciente antes de
criticá-lo e, por fim, capacidade de comunicação, de estabelecer eficiente diálogo com o
cliente, com intuito de que o mesmo compreenda seu quadro e se engaje no tratamento.
Para que o profissional da área da saúde consiga lançar mão de todas as
características acima referidas, necessita estar estabilizado emocionalmente, pois, caso
contrário, a relação com seu cliente e possivelmente sua terapêutica serão ineficazes.
Lipp (2004b) considera que a pessoa excessivamente estressada passa a viver em
função de uma meta em exclusivo: sua sobrevivência. Questões não relacionadas ao
alívio do sofrimento, recuperação do equilíbrio de suas emoções e de sua força ficarão
em segundo plano até que indivíduo consiga restabelecer a homeostase perdida. Ainda
35
segundo a autora, a pessoa estressada apresenta com freqüência irritação, impaciência,
dificuldade de concentração, dentre outros sintomas, levando-a a um desgaste na relação
com outras pessoas (Lipp, 2004b).
Se a pessoa estressada trata-se de um profissional de saúde, os sentimentos por
ele experimentados poderão colocar em risco seu desempenho. Tal situação torna-se
ainda mais grave caso o stress seja crônico e arrolado ao mundo do trabalho, pois o
perigo de desenvolvimento da síndrome do burnout (Malagris, 2004).
O burnout está relacionado a comportamentos negativos frente aos clientes e à
empresa ou instituição na qual atua o trabalhador e ocorre em três fases bem
demarcadas, descritas por Christina Maslach e Susan Jackson, a saber: exaustão
emocional, despersonalização e redução da realização pessoal e profissional (Malagris,
2004).
A primeira fase corresponde ao esgotamento da energia, fazendo com que o
profissional apresente irritabilidade, falta de generosidade, falta de sensibilidade e
rigidez comportamental. Diante desses sentimentos o profissional não consegue lançar
mão de características importantes a uma boa relação terapêutica, pois o outro
representa uma carga a mais a ser suportada (Malagris, 2004).
Havendo exacerbação dos sintomas da primeira fase, o indivíduo passa à
segunda etapa, despersonalização, na qual ocorrem sentimentos de indiferença frente ao
outro, podendo gerar no profissional, culpa e angústia. Neste momento o paciente deixa
de ser uma pessoa e passa a ser encarado como objeto (Malagris, 2004).
Diante de todo esse quadro, o profissional experimenta queda em sua realização
pessoal e profissional, por não conseguir atuar de forma plena em seu trabalho
(Malagris, 2004).
Segundo Benevides-Pereira (2002) a síndrome do burnout é mais notada em
36
profissões voltadas ao cuidado com o outro. Profissionais de saúde, e se incluem os
médicos e enfermeiros, policias e professores são os trabalhadores que mais sofrem com
a síndrome segundo a autora, embora estudos atuais mostrem que outras profissões
também estão suscetíveis à síndrome.
Na literatura encontram-se muitos estudos a respeito da saúde mental do
enfermeiro, demonstrando estar essa categoria preocupada com tal questão, podendo o
contrário ser percebido com relação à categoria dos médicos, na qual pouco ainda se
observa a respeito de sua saúde emocional (Sobrinho, Carvalho, Bonfim, Cirino &
Ferreira, 2006). Entretanto, alguns autores têm se esforçado na tentativa de entender
melhor a questão, a fim de que essa categoria profissional também compreenda os
possíveis problemas relacionados à sua atividade e possa, com isso, desenvolver
estratégias de manejo.
Benevides-Pereira (2002) aponta que dentre os agentes estressores da atividade
médica podem ser apontados: demanda de atendimento, pouco reconhecimento,
reduzida participação nas decisões organizacionais, longa jornada de trabalho,
dificuldade de promoção, necessidade de atualização contínua, exposição constante a
risco, pressão do tempo e urgências burocracia na prática médica, problemas de
comunicação e competição laboral, relacionamento com superiores, ausência de local
privado para descanso nos intervalos, dentre outros fatores.
Em estudo realizado com médicos de Salvador, Sobrinho et al. (2006)
identificaram que os estressores mais freqüentemente relatados por esses profissionais
foram sobrecarga de trabalho, múltiplas inserções, contratação precária e baixa
remuneração.
Estes estressores, aliados às pressões pelas quais o médico já passou ao longo da
sua formação (vestibular para entrada na Universidade, concorrência por uma vaga na
37
Residência Médica, pressões sofridas ao longo da Residência, tida como atividade
altamente estressante por submeter o estudante residente a situações de dificuldade,
ligadas à natureza do treinamento) levam o profissional, muitas vezes, ao desgaste,
levando-o a apresentar uma série de problemas de saúde, bem como de desempenho no
trabalho.
Os profissionais de enfermagem também possuem estressores específicos de sua
atuação profissional, embora compartilhem com os médicos e demais trabalhadores da
área da saúde alguns agentes estressores.
Stacciarini e Tróccoli (2001) identificaram estressores de acordo com a
ocupação do enfermeiro: assistencial recursos inadequados, atendimento ao cliente,
relações interpessoais, carga emocional; administrativo – recursos inadequados,
assistência, relações interpessoais, cobranças, sobrecarga de trabalho, reconhecimento
profissional, poder de decisão; docente recursos inadequados, atividades com os
alunos, relações interpessoais, política universitária, sobrecarga de trabalho, questões
salariais e carga horária. Além destes pode-se citar a excessiva carga de tarefas,
dificuldades em delimitar e a diferença entre os papéis do enfermeiro, técnico e auxiliar
de enfermagem.
A especificidade de trabalho em comunidades gera mais uma série de agentes
estressantes, afora os que o profissional esbarra em seu campo de atuação, tal como se
expor continuamente a problemas de naturezas diversas, sendo freqüentemente
surpreendidos por eles (Camelo & Angerami, 2004).
A realidade acima exposta evidencia a importância de suporte para os
trabalhadores da saúde, pois os mesmos convivem continuamente com situações que o
exigem física e emocionalmente, a fim de que possam manter preservados sua qualidade
de vida e seu desempenho profissional.
38
8. O MUNICÍPIO DE PARACAMBI
8.1. Localização, um pouco de história e realidade atual
O município de Paracambi localiza-se na região metropolitana do Estado do Rio
de Janeiro, mais precisamente na Baixada Fluminense, e possui uma área territorial de
186,4 km
2
. Situado a 80 km da capital do Estado pela Via Dutra e a 70 km pela Estrada
de Ferro, tem como vizinhos os municípios de Engenheiro Paulo de Frontin e Mendes
(ao norte), Piraí (a noroeste), Seropédica e Itaguaí (ao sul) e Japeri (a sudoeste) (ver
Figura 3). O acesso à cidade é feito através da Estrada RJ 127 e / ou Rodovia RJ 093,
que liga Paracambi a Japeri, bem como pelo ramal ferroviário, unindo o município à
Central do Brasil (Natal & Natal, 1987; Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
Figura 3 – Localização Regional de Paracambi
Fonte: www.baixadafacil.com.br/cidades/paracambi.htm
Paracambi, que em Tupi Guarani significa “macaco pequeno”, nasceu a partir da
junção de dois distritos: o 7º de Vassouras, denominado Tairetá e o de Itaguaí,
39
chamado Paracamby, separados pelo principal afluente do Ribeirão das Lages, o Rio
dos Macacos, tendo essa separação um caráter mais político que social. Sua
emancipação política ocorreu no dia 08 de agosto de 1960, entretanto, sua história
remonta ao século XVIII com a fixação dos primeiros sesmeiros, dando início à sua
colonização. A região experimentou intenso progresso, quando da instalação da Estrada
de Ferro Dom Pedro II (REFSA) em 1861, como também da indústria de tecidos de
algodão Cia Têxtil Brasil Industrial, à época, a maior da América Latina (Abreu, 1994;
Natal & Natal, 1987; Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
O sucesso da Brasil Industrial atraiu outras indústrias para a região: a Cia
Tecelagem Santa Lusia, em 1891, mais tarde denominada Fábrica de Tecidos Maria
Cândida e a Cia Siderúrgica Lanari S/A na década de 50, dentre outras, proporcionando
à população local e das regiões vizinhas uma abundante oferta de empregos. Quando da
criação do município, a economia baseava-se na atividade industrial e grande parte dos
munícipes trabalhava na cidade. A partir dos anos 70, contudo, inicia-se um processo de
decadência das indústrias paracambienses, forçando seus habitantes a procurarem
trabalho fora das fronteiras municipais, dando a cidade a alcunha de “cidade
dormitório” (Abreu, 1994 ).
De todas as empresas instaladas na região nas décadas anteriores, apenas a
Fábrica de Arames e Parafusos e a Fábrica de Tecidos Maria Cândida continuam em
funcionamento, porém com quantidade reduzida de funcionários, o que denota as
dificuldades advindas a partir do esvaziamento econômico local e a própria crise
econômica nacional (Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
Apesar da proximidade com a Baixada Fluminense e com a Capital, Paracambi
tem como traço marcante a tranqüilidade, sendo um dos municípios com menor índice
de violência do Estado. Cercada de matas ainda preservadas, sua população guarda
40
hábitos e costumes típicos das famílias que migraram do Sul de Minas Gerais para a
cidade no apogeu da Fábrica de Tecidos que deu origem ao município (Prefeitura
Municipal de Paracambi, 2006).
Atualmente possui 42.936 mil habitantes distribuídos ao longo de sua extensão
territorial, grande parte localizada na zona rural. Apenas 8% de toda sua área
corresponde a zona urbana, dividida em diferentes bairros, nos quais localizam o maior
contingente populacional (Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
Embora o haja emprego a contento para todos e as perspectivas de
crescimento profissional sejam muito limitadas, a cidade buscou superar a crise
industrial ocorrida na década de 70, deslocando seu eixo econômico para as atividades
comerciais e de serviços, tornando-se referência aos municípios vizinhos pela variedade
adquirida nestes ramos de negócio, dinamizando a economia local. Trata-se de um
comércio de pequeno porte, situado, principalmente, no centro da cidade (Prefeitura
Municipal de Paracambi, 2006).
Por ser um município predominantemente rural, tem também nesta zona um
grande dinamizador de sua economia. Apesar do baixo número de trabalhadores com
carteira assinada desse segmento, sabe-se que muitas famílias vivem do cultivo da terra
e da criação de animais contribuindo para o desenvolvimento municipal (Prefeitura
Municipal de Paracambi, 2006).
São diversos os bairros rurais do município, cujas principais plantações
mesclam-se em torno de banana, coco e citros, tendo o cultivo da banana uma
importância ímpar, além das atividades agrícolas secundárias como, aipim, quiabo e
abóbora. As criações de bovinos de leite e corte, a piscicultura e a avicultura, por sua
vez, são largamente encontradas nesses bairros e auxiliam no desenvolvimento
econômico da cidade (Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
41
No que concerne ao lazer, o paracambiense usufrui suas praças, quadras, campos
de futebol e clubes recreativos espalhados pelos bairros, uma vez que a cidade não
possui cinema, teatro ou centro cultural. Entretanto, é uma cidade com grande potencial
turístico, pois possui sua Mata Atlântica praticamente intocada, propiciando o passeio
ecológico e também a prática de esportes radicais como canoagem, por exemplo. Além
disso, o município possui um calendário de festividades anuais, que incluem festa dos
padroeiros, carnaval, aniversário da cidade, dentre outros, que mobilizam toda a
população paracambiense. O símbolo da cidade, o curió, tem um campeonato dedicado
a ele, realizado em novembro, convergindo criadores de todo Estado (Prefeitura
Municipal de Paracambi, 2006).
A cidade de Paracambi ainda hoje se constitui como cidade dormitório onde a
maior parte dos trabalhadores sai para trabalhar na cidade do Rio de Janeiro e em outros
municípios. O cotidiano de seus munícipes é bastante simples, revelando uma
população tranqüila, com um modo de vida igualmente tranqüilo, tratando-se de “uma
dinâmica típica de cidade do interior, ainda não atropelada pela violência desenfreada”.
(Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006, p.9).
8.2. A saúde no município: destaque para a Atenção Básica
O município de Paracambi conta tanto com a rede pública quanto com a rede
privada para o atendimento de sua população. São dois hospitais e duas casas de saúde
privadas - os Hospitais Paracambi e Evangélico e as Casas de Saúde Dr. Eiras (sob
intervenção da prefeitura) e Nossa Senhora Aparecida - e dois hospitais públicos -
Hospitais Geral Municipal Dr. Adalberto da Graça e Maternidade, este último ainda em
construção (Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
42
A oferta de leitos, internações e cirurgias são em grande parte da rede privada
conveniada ao SUS. Do total geral de 1991 leitos, apenas 53 são municipais enquanto
976 são privados, dos quais 962 são conveniados com o Sistema Único de Saúde
(Prefeitura Municipal de Paracambi, 2006).
Com relação à saúde básica, a cidade dispõe de 17 unidades, sendo 09 Módulos
de Saúde Comunitário, Jardim Nova Era, Cascata, São José, Sabugo, Guarajuba, Km
09, Ponte Coberta, Saudoso e Centro, 02 Centros Municipais de Saúde Coletiva, os dois
localizados no bairro de Lages e 06 Postos de Saúde, Bom Jardim, Cabral, Vitória da
União – Mutirão, Amapá, 1º de Maio e Pacheco.
No que se refere aos programas e ações de assistência à saúde, Paracambi conta
com uma diversidade de estratégias que visam desde a promoção da saúde e prevenção
de doenças até o tratamento dos doentes. Devido ao escopo deste trabalho, será dado
destaque ao Programa de Saúde da Família (PSF), por este compor a Atenção Básica do
município.
A Estratégia de Saúde da Família em Paracambi foi antecedido pela implantação
do Projeto Médico de Família, em 1994, através de convênio firmado com o Governo
Estadual, cujo objetivo era a reprodução no Brasil do modelo cubano de atenção
primária a saúde. Esse processo, entretanto, não se deu de forma simples, pois os
recursos municipais para tal empreendimento eram bastante limitados, sendo necessário
o estabelecimento de parcerias. Para tanto, foi firmado em agosto de 1995 um convênio
de Cooperação Técnica e Científica com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), viabilizado pelo Projeto de Interiorização do Departamento de Enfermagem em
Saúde Pública da Faculdade de Enfermagem da UERJ “Criação de Modelos Locais de
Serviços de Saúde na Rede de Atenção Primária do município de Paracambi/RJ”, tendo
43
como objetivo ampliar a oferta de serviços de saúde na Atenção Básica, pautado na
perspectiva interdisciplinar de trabalho (Carvalho, 2000).
Embora possuindo os mesmos pressupostos do Programa Médico de Família, a
nova proposta advinda a partir da parceria entre Secretaria Municipal de Saúde/UERJ
denominada Saúde Comunitária o substituiu, a fim de se adequar à realidade municipal
no que concerne à equipe de trabalho, que não possuía um médico generalista, exigência
da coordenação estadual para reconhecimento do Médico de Família (Carvalho, 2000).
No início do ano de 1996, com o apoio da equipe da UERJ, foi elaborado um
projeto de implantação do Programa de Saúde da Família, com intuito de firmar
convênio com a Secretaria Estadual de Saúde, a fim de expandir a proposta para mais
três bairros do município. No 2º semestre do mesmo ano o Governo Federal reconheceu
o modelo de atenção desenvolvido pelo município, estando este de acordo com a nova
política do Ministério da Saúde para todo país, a saber, o Programa de Saúde da
Família, e estabelece convênio entre Secretaria Municipal de Saúde/ Secretaria Estadual
de Saúde/ Ministério da Saúde, sendo repassado um quantitativo em dinheiro para
compra de materiais (Carvalho, 2000).
Atualmente no município são 7.922 famílias atendidas pelas equipes da ESF,
segundo Sistema de Informação de Atenção Básica atualizado em maio de 2007, e a
perspectiva é que mais equipes sejam formadas a fim de que toda a população seja
contemplada.
44
9. OBJETIVOS
Com base no acima exposto, o presente estudo se justifica e teve como objetivos
gerais: a- Avaliar o nível de stress de médicos e enfermeiros da Atenção Básica do
município de Paracambi; b- Identificar e analisar os estressores ocupacionais
prevalentes de cada categoria profissional. Como objetivos específicos buscou-se
caracterizar a amostra investigada em relação aos dados sociobiográficos e
ocupacionais; relacionar os mesmos ao stress e verificar a existência de relação entre
stress e os estressores ocupacionais mais encontrados em cada categoria profissional.
45
10. MÉTODO
10.1. Participantes
O estudo contou com uma amostra não probabilística e acidental, pois, de todos
os médicos e enfermeiros das 17 Unidades Básicas de Saúde do município de
Paracambi, 28 e 11 respectivamente, concordaram em participar 20 (71%) profissionais
de medicina e 10 (91%) profissionais de enfermagem. Observou-se, portanto, que 30
médicos e enfermeiros (77%) da população total fizeram parte da pesquisa.
Como se almejou investigar toda a classe médica das UBS, bem como todos os
enfermeiros, não houve critério de exclusão, estando aptos todos os profissionais das
duas categorias mediante aceitação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido por parte dos mesmos.
10.2. Local
A pesquisa se realizou em 17 Unidades Básicas de Saúde do município de
Paracambi, que se distribuem em diferentes bairros da cidade.
São 09 Módulos de Saúde Comunitário nos bairros Jardim Nova Era, Cascata,
São José, Sabugo, Guarajuba, Km 09, Ponte Coberta, Saudoso e Centro; 02 Centros
Municipais de Saúde Coletiva, os dois localizados no bairro de Lages e 06 Postos de
Saúde, localizados nos bairros Bom Jardim, Cabral, Vitória da União Mutirão,
Amapá, 1º de Maio e Pacheco.
46
10.3. Instrumentos
Foram utilizados no presente estudo os seguintes instrumentos:
a) Questionário Informativo (QI) (Anexo 1), elaborado pela autora, cujo objetivo
foi traçar o perfil biográfico e profissional da amostra e relacionar esses dados aos
obtidos nos demais instrumentos utilizados, descritos a seguir;
b) Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) (Lipp, 2000),
que visa investigar a presença ou não de stress, a fase do stress e a predominância de
sintomas, físicos e/ou psicológicos. O instrumento é composto por três quadros, estando
o primeiro deles (Quadro 1) relacionado à fase de Alerta, onde estão descritos quinze
sintomas, doze físicos e três psicológicos, os quais a pessoa identifica os
experimentados nas últimas 24 horas. O Quadro 2 diz respeito à Fase de Resistência e
de Quase-Exaustão, também formado por quinze sintomas, dez físicos e cinco
psicológicos, permitindo identificar a sintomatologia apresentada pelo indivíduo na
última semana. O terceiro e último quadro (Quadro 3) é constituído por vinte e três
sintomas, doze físicos e onze psicológicos, e refere-se à Fase de Exaustão, cujo intuito é
averiguar os sintomas apresentados no último mês;
c) Questionário sobre o Estresse no Local de Trabalho (QELT), de autoria de
Glina e Rocha (2000) (Anexo 2), cujo objetivo é avaliar o risco de desenvolvimento de
stress a partir do local de trabalho, possibilitando também a identificação e
quantificação de estressores ocupacionais. Em nota ao final do instrumento as autoras
enfatizam que os itens Requisitos do Trabalho, Autoridade Decisória (em parte),
Discriminação de Tarefas e Condições de Emprego (em parte) foram baseados no
Questionário sobre o Conteúdo das Tarefas desenvolvido por Karasek (1985). O QELT
47
é constituído por cinco itens - Requisitos do Trabalho, Autoridade Decisória,
Discriminação de Tarefas, Condições de Emprego e Apoio dos Chefes e Colegas. Cada
item é composto por subitens que possuem peso 0 ou 1, de acordo com seu potencial
estressor (Quadro 1).
No presente estudo o QELT, foi utilizado somente para a identificação dos
estressores ocupacionais, pois através do ISSL se verificaria a presença e nível de
stress.
Quadro 1 – Estressores do QELT
Subitens Estressor Não
Estressor
1) O seu trabalho requer muita rapidez? 1
2) O seu trabalho é muito árduo? 1
3) É solicitado a trabalhar excessivamente? 1
4) Tem tempo suficiente para realizar as suas tarefas? 0
5) É objeto de pedidos conflituosos por parte de outros? 1
6) O seu trabalho necessita de longos períodos de concentração intensa? 1
7) As suas tarefas são interrompidas freqüentemente antes de serem
completadas, necessitando de atenção posterior?
1
8) O volume e ritmo de trabalho são muito elevados? 1
9) A espera de trabalho proveniente de outras pessoas ou seções prejudica o
ritmo do seu trabalho?
1
10) O seu trabalho permite-lhe tomar muitas decisões individuais? 0
11) No âmbito das suas tarefas, tem pouca liberdade de escolher o modo de
trabalhar?
1
12) Tem bastante responsabilidade relativamente ao seu trabalho? 0
13) Pode determinar a ordem das suas tarefas? 0
14) Pode determinar o modo de realizar determinada tarefa? 0
15) Pode facilmente deixar o local de trabalho por um período breve? 0
16) Pode interromper o seu trabalho, se necessário? 0
17) Pode determinar o seu próprio ritmo de trabalho? 0
18) O seu trabalho necessita que aprenda coisas novas? 0
19) O seu trabalho é muito repetitivo? 1
20) O seu trabalho necessita de um espírito criativo? 0
21) O seu trabalho necessita de um nível elevado de destreza? 0
22) Realiza uma série de tarefas diferentes no seu trabalho? 0
23) Tem a oportunidade de desenvolver as suas próprias aptidões? 0
24) Pode determinar a altura em que começa e pára de trabalhar? 0
25) Pode determinar quando necessita de uma pausa? 0
26) Tem conhecimento do seu horário de trabalho com mais de um mês de
antecedência?
0
27) Pode tirar dias de folga quando deseja? 0
28) O seu trabalho é seguro? 0
29) As suas perspectivas para o desenvolvimento de carreira e de promoção
são boas?
0
30) Em cinco anos as suas qualificações ainda serão válidas? 0
31) A atmosfera do local de trabalho é boa? 0
32) Os seus colegas irritam-se freqüentemente? 1
33) Se necessário, pode pedir assistência a um ou mais colegas? 0
34) A gestão cotidiana do seu trabalho é eficaz? 0
35) A sua opinião é tomada suficientemente em conta na gestão cotidiana do
trabalho?
0
36) A gestão cotidiana tem uma idéia precisa do seu trabalho? 0
37) É suficientemente apoiado no seu trabalho pela gestão cotidiana? 0
38) Está suficientemente informado sobre o desenvolvimento na instituição? 0
48
10.4. Procedimento
Inicialmente foi solicitada e concedida autorização por escrito do Coordenador
Municipal de Saúde Coletiva para a realização da pesquisa com os médicos da Atenção
Básica do município (Anexo 3). A seguir, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética
em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CEP SMS/RJ),
aprovado sob número de protocolo 28/07 (Anexo 4). Após as devidas concordâncias, a
pesquisadora percorreu as Unidades Básicas de Saúde a fim de solicitar a autorização de
seus responsáveis para o desenvolvimento das atividades. Posteriormente, os
profissionais médicos das Unidades foram contatados, sendo informados do objetivo da
pesquisa e requerida assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo
5) daqueles que concordaram em participar do estudo. As aplicações ocorreram ao
longo dos meses abril, maio, junho, julho, agosto e setembro de 2007.
Ao longo da pesquisa de campo foi percebido interesse por parte dos
profissionais de enfermagem atuantes nas Unidades Básicas de Saúde em participarem
da pesquisa, o que levou a solicitação da inclusão de tais profissionais no estudo, tanto
por parte do Coordenador Municipal de Saúde Coletiva, quanto do CEP SMS/RJ,
número de protocolo 28/07, (Anexo 6), ambos aprovando a participação dos
enfermeiros. Os procedimentos adotados foram os mesmos usados para os profissionais
de medicina, salvo modificações feitas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Anexo 7), para acrescentar ao título da pesquisa os enfermeiros como participantes.
Além disso, foram feitas adaptações no Questionário Informativo (Anexo 8), a fim de
que o mesmo se adequasse à realidade dos profissionais de enfermagem.
Foi oferecida opção a cada participante de receber ou não o resultado do ISSL,
sendo entregue aos interessados um relatório individual. Todos os profissionais que
49
responderam aos instrumentos receberam um folheto informativo (Anexo 9) sobre as
causas, conseqüências e formas de manejo do stress excessivo. O objetivo desse último
procedimento foi contribuir com informações específicas sobre o tema, para que os
profissionais entendessem o que é o stress, a fim de implantar estratégias que pudessem
reduzir seu nível, caso estivesse estressado, melhorando sua qualidade de vida.
10.5. Apresentação e Tratamento dos Dados
A análise descritiva dos resultados do QI, ISSL e QELT foi realizada através do
programa Microsoft EXCEL. Para o estudo das possíveis relações de dependência entre
as variáveis dos instrumentos, utilizou-se o programa de computador GraphPad Prism
3.0, realizando-se tratamento dos dados através de estatística não paramétrica, mais
especificamente Prova Exata de Fisher. Importante ressaltar que em todas as análises o
nível de significância utilizado foi de 0.05 (= 5%).
50
11. RESULTADOS
A princípio, serão descritos os resultados obtidos a partir do Questionário
Informativo (QI) e da folha de rosto do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
de Lipp (ISSL), com fins de caracterização da amostra analisada. Em seguida serão
abordados os outros dois instrumentos utilizados na pesquisa, a saber, Inventário de
Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e Questionário sobre o Estresse no
Local de Trabalho (QELT). Terminada a descrição de tais dados, passar-se-á à análise
das possíveis relações entre as variáveis.
Embora a dia de idade e o gênero dos participantes tenham sido analisados
tanto para a amostra total como por profissão, os demais dados foram avaliados por
categorias profissionais em separado. Tal decisão se deu pelo fato de o objetivo da
presente pesquisa se fundamentar em análise por categoria. O exame dos resultados
obtidos a partir da amostra como um todo não se revelou relevante no momento, embora
possa se constituir em objetivo de futuros estudos.
Quanto ao QI, este abarcou uma variedade de questões como pode ser visto nos
Anexos 1 e 7. No entanto, em função do reduzido número da amostra e,
conseqüentemente, da distribuição das respostas, optou-se por investigar somente as
seguintes informações: estado civil, número de filhos, tempo de serviço profissional,
tempo de serviço na Atenção Básica de Paracambi, atuação em outro trabalho, carga
horária na Atenção Básica de Paracambi e tipo de vínculo empregatício.
Antes de discutir as informações obtidas, é importante relembrar as hipóteses
que embasaram este trabalho: os profissionais pesquisados estariam estressados e
haveria relação de dependência entre stress e estressores. Diante disso, descrevem-se as
51
análises dos resultados alcançados a fim de constatar se tais hipóteses correspondem ou
não à realidade pesquisada.
A média de idade dos participantes foi de 39,9 anos (DP = 11,05). Separando
por categorias, a média de idade dos médicos foi de 43,7 (DP = 10,32) e dos
enfermeiros 32,3 anos (DP = 8,47). No que concerne ao gênero dos 30 profissionais do
estudo, 21 (70%) eram homens e nove (30%) mulheres. Treze (65%) dos 20 médicos
eram do gênero masculino e sete (35%) do feminino. Com relação aos profissionais de
enfermagem oito (80%) eram enfermeiras e apenas dois (20%) eram enfermeiros.
Quanto ao estado civil dos profissionais de medicina, apreendeu-se que 14
(70%) eram casados (as), três (15%) solteiros (as) e três (15%) separados (as)
/divorciados (as). O número de casados (as) e solteiros (as) na amostra de enfermeiros
foi igual a quatro (40%); a categoria “separado (a) /divorciado (a)” conteve dois
representantes, o que corresponde a 20% dos enfermeiros analisados.
No que tange ao número de filhos, os resultados dos médicos revelou que dos 20
participantes, oito (40%) tinham um filho somente e seis (30%), dois filhos; as
categorias “nenhum filho” e 3 filhos ou mais” obtiveram o mesmo resultado, três
(15%). Analisando os enfermeiros, notou-se que cinco (50%) não tinham filhos, dois
(20%) tinham um filho, dois (20%) tinham dois filhos e apenas um (10%) tinha três
filhos ou mais.
No que concerne ao tempo de serviço profissional, a análise da categoria de
médicos mostrou que sete (35%) dos 20 estudados possuíam de seis a 10 anos de
carreira, cinco (25%), menos de cinco anos, quatro (20%), mais de 26 anos, três (15%),
de 21 a 15 anos e um (5%) apenas trabalhava na profissão de 16 a 20 anos. Os
52
profissionais de enfermagem se concentraram na classe “menos de 5 anos”,estes somam
um total de seis (60%); quatro (40%) tinham de seis a 10 anos de profissão.
Quanto ao tempo de atuação dos médicos na Atenção Básica de Paracambi,
observou-se que 11 (58%) estavam menos de cinco anos na AB de Paracambi. Os
que atuavam de seis a 10 anos, 11 a 15 anos, 16 a 20 anos e mais de 26 anos somam oito
(42%), cada classe com dois (10,5%) representantes. Cabe ressaltar, que o número de
participantes que responderam a este item foi igual a 19, pois um dos médicos
entrevistados não assinalou tal questão. Assim, como ocorrido na amostra de
profissionais de medicina, os enfermeiros em geral encontravam-se menos de cinco
anos no serviço, totalizando sete (70%). Os outros três (30%) faziam parte da classe “6
a 10 anos”.
Os dados relativos à carga horária do profissional médico na AB de Paracambi
revelaram que cinco (28%) trabalhavam menos de 11 horas. As classes “16 a 20”, “26 a
30” e “36 a 40” obtiveram cada qual três respostas, o que corresponde a 17% do total de
médicos pesquisados; apenas dois (11%) relataram trabalhar mais de 40 horas, um (5%)
de 11 a 15 horas e um (5%) de 31 a 35 horas. Convém enfatizar, que dos 20 médicos
apenas 18 responderam a este item. Dos 10 profissionais de enfermagem estudados,
nove (90%) disseram atuar de 36 a 40 horas na AB de Paracambi, somente um (10%)
relatou trabalhar mais de 40 horas.
No que diz respeito ao vínculo empregatício, todas as pessoas averiguadas
(100%) eram vinculadas à cooperativa de trabalho.
Para concluir, buscou-se saber se os profissionais médicos e enfermeiros da AB
de Paracambi possuíam outro trabalho além do que mantinham com a Prefeitura do
município em questão. Quando se analisou a categoria dos médicos, verificou-se que 17
53
(89%) possuíam outra ocupação, somente dois (11%) não tinham mais de um trabalho.
Ao contrário do exposto para os médicos, a maioria dos enfermeiros, seis (60%), relatou
não ter vinculação com outro emprego, ao passo que 4 (40%) dividem suas tarefas entre
AB de Paracambi e outras atividades relacionadas à profissão.
A Tabela 1 apresenta os dados coletados a partir do QI.
Tabela 1 - Dados do Questionário Informativo, de acordo com a amostra de médicos (n = 20) e
enfermeiros (n = 10)
DADOS Freqüência na
amostra de médicos
% Freqüência
na amostra de enfermeiros
%
Estado Civil
Solteiro (a)
Casado (a)
Separado (a) / Divorciado (a)
3
14
3
15%
70%
15%
4
4
2
40%
40%
20%
Filhos
Nenhum
1 filho
2 filhos
> 3 filhos
3
8
6
3
15%
40%
30%
15%
5
2
2
1
50%
20%
20%
10%
Tempo de Serviço Profissional
< 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
21 a 25 anos
> 26 anos
5
7
0
1
3
4
25%
35%
-
5%
15%
20%
6
4
0
0
0
0
60%
40%
-
-
-
-
Tempo de Serviço na AB de Paracambi*
< 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
21 a 25 anos
> 26 anos
11
2
2
2
0
2
58%
10,5%
10,5%
10,5%
-
10,5%
7
3
0
0
0
0
70%
30%
-
-
-
-
Carga Horária na AB de Paracambi**
< 11 horas
11 a 15 horas
16 a 20 horas
21 a 25 horas
26 a 30 horas
31 a 35 horas
36 a 40 horas
> 40 horas
5
1
3
0
3
1
3
2
28%
5%
17%
-
17%
5%
17%
11%
0
0
0
0
0
0
9
1
-
-
-
-
-
-
90%
10%
Tipo de Vínculo Empregatício
Cooperativa de Trabalho
Concurso
20
0
100%
-
10
0
100%
-
Possui outro trabalho?
Sim
Não
17
2
89%
11%
4
6
40%
60%
*Somente 19 médicos responderam a este item.
**Somente 18 médicos responderam a este item.
54
A seguir serão apresentados os dados obtidos a partir da aplicação do ISSL,
iniciando-se pela presença de stress nos profissionais analisados.
Dentre os médicos, observou-se nove (45%) estressados e 11 (55%) não
estressados. Quanto aos profissionais de enfermagem, verificou-se que quatro (40%)
estavam estressados e seis (60%) não estressados (Tabela 2).
Tabela 2 - Stress em médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
Todos os profissionais estressados na amostra de médicos, nove (100%), e de
enfermeiros, quatro (100%), encontravam-se na segunda fase do stress, denominada
Resistência. A Tabela 3 apresenta a freqüência da sintomatologia dos participantes.
Tabela 3 - Sintomas de stress da fase de Resistência em médicos (n = 9) e enfermeiros (n =
4)
Sintomas Freqüência na
amostra de
médicos
% Freqüência na
amostra de
enfermeiros
%
Problemas com a memória 5 55,5% 2 50%
Mal-estar generalizado, sem causa
específica
3 33% 3 75%
Formigamento das extremidades 2 22% 0 -
Sensação de desgaste físico constante 7 78% 3 75%
Mudança de apetite 2 22% 3 75%
Aparecimento de problemas
dermatológicos
1 11% 0 -
Hipertensão arterial 2 22% 0 -
Cansaço constante 6 67% 4 100%
Aparecimento de úlcera 0 - 0 -
Tontura/sensação de estar flutuando 1 11% 0 -
Sensibilidade emotiva excessiva 6 67% 4 100%
Dúvida quanto a si próprio 4 44% 2 50%
Pensar constantemente sobre um só
assunto
5 55,5% 2 50%
Irritabilidade excessiva 3 33% 4 100%
Diminuição da libido 3 33% 0 -
Presença de Stress Freqüência na
amostra de
médicos
% Freqüência na
amostra de
enfermeiros
%
Não estressados 11 55% 6 60%
Estressados 9 45% 4 40%
55
Nota-se que dentre os médicos estressados (9), os seguintes sintomas foram os
mais presentes: sensação de desgaste físico constante (7-78%), cansaço constante e
sensibilidade emotiva excessiva. Os dois últimos sintomas foram apontados por seis
(67%) participantes. Apesar de na amostra de enfermeiros estressados (4) ter
predominado dois sintomas comuns aos encontrados na amostra de médicos, cansaço
constante e sensibilidade emotiva excessiva, ambos apontados pelos quatro (100%)
enfermeiros estressados, um sintoma se diferenciou: irritabilidade excessiva, assinalado
por todos, quatro (100%), enfermeiros estressados.
No que tange à freqüência de sintomas na amostra de médicos, constatou-se que
em seis (67%) participantes prevaleceram os sintomas psicológicos em detrimento dos
físicos, que foram apresentados por três (33%) participantes. Com relação aos
enfermeiros, notou-se que em dois (50%) imperou a sintomatologia psicológica, em um
(25%) a sintomatologia física e em um (25%) ambos os sintomas, físicos e psicológicos
(Tabela 4).
Tabela 4 - Sintomas de stress em médicos (n = 9) e enfermeiros (n = 4)
Prevalência de Sintomas Freqüência na
amostra de
médicos
% Freqüência na
amostra de
enfermeiros
% TOTAL %
Sintomas Físicos 3 33% 1 25%
Sintomas Psicológicos 6 67% 2 50%
Sintomas Físicos e Psicológicos 0 - 1 25%
Uma vez apresentados os dados do ISSL, passar-se-á à análise dos dados do
QELT. Primeiramente, serão avaliadas as freqüências e respectivas porcentagens
obtidas pela amostra de médicos e enfermeiros frente aos estressores incluídos no
QELT (Tabela 5). Convém ressaltar, que nem todos os participantes responderam a
todos os itens do instrumento, logo, a análise da freqüência e porcentagem dos
56
resultados necessitou de ajustes, de acordo com o número de respondentes. Será dada
ênfase aos estressores que foram assinalados por no mínimo 50% dos profissionais.
Tabela 5 – Estressores ocupacionais do QELT de acordo com a categoria profissional (médicos - n =
20 e enfermeiros – n = 10)
Subitens Freq. na
amostra
de
médicos
% Freq. na
amostra de
enfermeiro
s
%
1) O seu trabalho requer muita rapidez? 7 35% 4 40%
2) O seu trabalho é muito árduo? 3 15% 3 30%
3) É solicitado a trabalhar excessivamente? 7 35% 3 30%
4) Tem tempo suficiente para realizar as suas tarefas? 1 5% 2 20%
5) É objeto de pedidos conflituosos por parte de outros? 9 45% 5 50%
6) O seu trabalho necessita de longos períodos de concentração
intensa?
11 55% 6 60%
7) As suas tarefas são interrompidas freqüentemente antes de serem
completadas, necessitando de atenção posterior?
7 35% 8 80%
8) O volume e ritmo de trabalho são muito elevados? 11 55% 6 60%
9) A espera de trabalho proveniente de outras pessoas ou seções
prejudica o ritmo do seu trabalho?
3 15% 4 40%
10) O seu trabalho permite-lhe tomar muitas decisões individuais? 2 10% 3 30%
11) No âmbito das suas tarefas, tem pouca liberdade de escolher o
modo de trabalhar?
3 15% 5 50%
12) Tem bastante responsabilidade relativamente ao seu trabalho? 0 - 0 -
13) Pode determinar a ordem das suas tarefas? 1 5% 0 -
14) Pode determinar o modo de realizar determinada tarefa? 0 - 3 30%
15) Pode facilmente deixar o local de trabalho por um período
breve?
8 40% 4 40%
16) Pode interromper o seu trabalho, se necessário? 4 20% 4 40%
17) Pode determinar o seu próprio ritmo de trabalho? 4 20% 6 60%
18) O seu trabalho necessita que aprenda coisas novas? 0 - 0 -
19) O seu trabalho é muito repetitivo? 12 60% 4 40%
20) O seu trabalho necessita de um espírito criativo?* 5 28% 0 -
21) O seu trabalho necessita de um nível elevado de destreza?* 3 17% 3 30%
22) Realiza uma série de tarefas diferentes no seu trabalho?* 7 39% 1 10%
23) Tem a oportunidade de desenvolver as suas próprias aptidões?* 4 22% 4 40%
24) Pode determinar a altura em que começa e pára de trabalhar?* 7 39% 5 50%
25) Pode determinar quando necessita de uma pausa?* 3 17% 2 20%
26) Tem conhecimento do seu horário de trabalho com mais de um
mês de antecedência?*
1 5,5% 2 20%
27) Pode tirar dias de folga quando deseja?* 10 55,5
%
8 80%
28) O seu trabalho é seguro?** 5 29% 9 90%
29) As suas perspectivas para o desenvolvimento de carreira e de
promoção são boas?*
5 28% 5 50%
30) Em cinco anos as suas qualificações ainda serão válidas?* 5 28% 3 30%
31) A atmosfera do local de trabalho é boa?* 0 - 3 30%
32) Os seus colegas irritam-se freqüentemente?* 1 6% 3 30%
33) Se necessário, pode pedir assistência a um ou mais colegas?* 3 17% 0 -
34) A gestão cotidiana do seu trabalho é eficaz?* 1 5,5% 4 40%
35) A sua opinião é tomada suficientemente em conta na gestão
cotidiana do trabalho?**
1 6% 5 50%
36) A gestão cotidiana tem uma idéia precisa do seu trabalho?** 0 - 4 40%
37) É suficientemente apoiado no seu trabalho pela gestão
cotidiana?**
1 6% 6 60%
38) Está suficientemente informado sobre o desenvolvimento na
instituição?***
2 17% 2 25%
* Somente 18 médicos responderam a este item.
** Somente 17 médicos responderam a este item.
*** Somente 12 médicos e 8 enfermeiros responderam a este item.
57
De acordo com a tabela 5, os seguintes estressores foram os mais encontrados
entre os médicos: trabalho repetitivo, encontrado em 12 (60%), não tirar dias de folga
quando deseja, notável em 10 (55,5%), necessidade de concentração intensa,
visualizado em 11 (55%) e volume e ritmo de trabalho elevados, evidente em 11 (55%).
Considerando a avaliação dos estressores dos enfermeiros, notou-se que nove
(90%) destes assinalaram a falta de segurança do trabalho, oito (80%) a interrupção de
tarefas antes de serem completadas e oito (80%) não tirar dias de folga quando deseja.
Os estressores referentes à necessidade de concentração intensa, volume e ritmo de
trabalho elevados, não determinação do próprio ritmo de trabalho e insuficiência no
apoio pela gestão cotidiana, foram assinalados por seis (60%) dos enfermeiros cada um.
Foram considerados também por cinco (50%) dos enfermeiros os seguintes estressores:
ser objeto de pedidos conflituosos por parte de outros, pouca liberdade na escolha do
modo de trabalhar, hora em que começa e pára de trabalhar, falta de perspectivas para
desenvolvimento de carreira e opinião levada suficientemente em conta pela gestão
cotidiana do trabalho.
Considerando que no QELT os estressores se apresentam agrupados em cinco
categorias (Requisitos do Trabalho, Autoridade Decisória, Discriminação de Tarefas,
Condições de Emprego e Apoio dos Chefes e Colegas), optou-se por realizar também a
análise das respostas organizadas segundo as mesmas (Tabela 6).
58
Tabela 6 Estressores ocupacionais de médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10) agrupados
por categoria
Itens Freqüência na
amostra de médicos
% Freqüência na
amostra de
enfermeiros
%
Requisitos do Trabalho
1
59 33% 41 45%
Autoridade Decisória
2
22 14% 25 28%
Discriminação de Tarefas
3
31 28% 12 13%
Condições de Emprego
4
36 29% 34 38%
Apoio dos Chefes e Colegas
5
9 7% 27 17%
1 - Referente às questões de 1 a 9 do QELT.
2 - Referente às questões de 10 a 17 do QELT.
3 - Referente às questões 18 a 23 do QELT.
4 - Referente às questões 24 a 30 do QELT.
5 - Referente às questões 31 a 38 do QELT.
Observou-se que, tanto para médicos quanto para enfermeiros, as categorias de
estressores intituladas Requisitos do Trabalho e Condições de Emprego foram as mais
assinaladas. Quanto aos Requisitos do Trabalho a freqüência encontrada foi 59 (33%)
para médicos e 41 (45%) para enfermeiros, ao passo que para Condições de Emprego
obteve-se freqüência 36 (29%) para médicos e 34 (38%) para enfermeiros.
Interessante se fez analisar também os estressores do QELT, levando-se em
conta somente os profissionais estressados (Tabelas 7 e 8).
59
Tabela 7 – Estressores ocupacionais do QELT em médicos (n = 9) e enfermeiros estressados (n = 4)
Subitens Freq. na
amostra
de
médicos
estressad
os
% Freq. na
amostra de
enfermeiros
estressados
%
1) O seu trabalho requer muita rapidez? 4 44% 1 25%
2) O seu trabalho é muito árduo? 2 22% 2 50%
3) É solicitado a trabalhar excessivamente? 4 44% 2 50%
4) Tem tempo suficiente para realizar as suas tarefas? 1 11% 0 -
5) É objeto de pedidos conflituosos por parte de outros? 5 55,5% 2 50%
6) O seu trabalho necessita de longos períodos de concentração
intensa?
7 78% 2 50%
7) As suas tarefas são interrompidas freqüentemente antes de
serem completadas, necessitando de atenção posterior?
5 55,5% 4 100
%
8) O volume e ritmo de trabalho são muito elevados? 6 67% 2 50%
9) A espera de trabalho proveniente de outras pessoas ou seções
prejudica o ritmo do seu trabalho?
2 22% 2 50%
10) O seu trabalho permite-lhe tomar muitas decisões
individuais?
1 11% 1 25%
11) No âmbito das suas tarefas, tem pouca liberdade de escolher
o modo de trabalhar?
2 22% 2 50%
12) Tem bastante responsabilidade relativamente ao seu
trabalho?
0 - 0 -
13) Pode determinar a ordem das suas tarefas? 0 - 0 -
14) Pode determinar o modo de realizar determinada tarefa? 0 - 0 -
15) Pode facilmente deixar o local de trabalho por um período
breve?
6 67% 1 25%
16) Pode interromper o seu trabalho, se necessário? 3 33% 1 25%
17) Pode determinar o seu próprio ritmo de trabalho? 2 22% 2 50%
18) O seu trabalho necessita que aprenda coisas novas? 0 - 0 -
19) O seu trabalho é muito repetitivo? 7 78% 2 50%
20) O seu trabalho necessita de um espírito criativo?* 2 28,5% 0 -
21) O seu trabalho necessita de um nível elevado de destreza?* 1 14% 0 -
22) Realiza uma série de tarefas diferentes no seu trabalho?* 3 43% 1 25%
23) Tem a oportunidade de desenvolver as suas próprias
aptidões?*
3 43% 1 25%
24) Pode determinar a altura em que começa e pára de trabalhar?
*
5 71% 1 25%
25) Pode determinar quando necessita de uma pausa?* 2 28,5% 0 -
26) Tem conhecimento do seu horário de trabalho com mais de
um mês de antecedência?*
0 - 2 50%
27) Pode tirar dias de folga quando deseja?* 5 71% 3 75%
28) O seu trabalho é seguro?* 3 43% 4 100
%
29) As suas perspectivas para o desenvolvimento de carreira e de
promoção são boas?*
5 71% 2 50%
30) Em cinco anos as suas qualificações ainda serão válidas?* 2 28,5% 1 25%
31) A atmosfera do local de trabalho é boa?* 0 - 2 50%
32) Os seus colegas irritam-se freqüentemente?* 1 14% 2 50%
33) Se necessário, pode pedir assistência a um ou mais colegas?* 2 28,5% 0 -
34) A gestão cotidiana do seu trabalho é eficaz?* 1 14% 2 50%
35) A sua opinião é tomada suficientemente em conta na gestão
cotidiana do trabalho?**
1 17% 2 50%
36) A gestão cotidiana tem uma idéia precisa do seu trabalho?** 0 - 2 50%
37) É suficientemente apoiado no seu trabalho pela gestão
cotidiana?**
1 17% 2 50%
38) Está suficientemente informado sobre o desenvolvimento na
instituição?***
1 25% 1 33%
* Somente 7 médicos estressados responderam a este item.
** Somente 6 médicos estressados responderam a este item.
*** Somente 4 médicos estressados e 3 enfermeiros estressados responderam a este item.
60
Os estressores mais apresentados pelos médicos estressados referem-se à
necessidade de concentração intensa, sete (78%); trabalho repetitivo, sete (78%); hora
em que começa e pára de trabalhar, cinco (71%); não tirar dias de folga quando deseja,
cinco (71%); falta de perspectivas para o desenvolvimento de carreira, cinco (71%);
volume e ritmo de trabalho elevados, seis (67%); não poder deixar o local de trabalho
por período breve, seis (67%); ser objeto de pedidos conflituosos por parte de outros,
cinco (55,5%) e ter suas tarefas freqüentemente interrompidas, assinalado por cinco
(55,5%) dos nove médicos estressados.
Todos os enfermeiros estressados, (100%), consideraram como estressores a
interrupção de suas tarefas antes delas serem completadas e falta de segurança
relacionada à permanência no emprego. O estressor não tirar dias de folga quando
deseja foi eleito por três (75%) dos estressados nesta categoria profissional. Ressalta-se
a expressividade do número de agentes estressantes assinalados por metade (50%) dos
profissionais de enfermagem estressados: trabalho árduo, excesso de trabalho, ser objeto
de pedidos conflituosos por parte de outros, necessidade de concentração intensa,
volume e ritmo de trabalho elevados, depender do trabalho de outros, pouca liberdade
na escolha do modo de trabalhar, não determinação do próprio ritmo de trabalho,
trabalho repetitivo, não ter conhecimento do horário de trabalho com mais de um mês
de antecedência, falta de perspectiva para o desenvolvimento de carreira, atmosfera de
trabalho ruim, irritação freqüente de colegas, ineficácia da gestão cotidiana e falta de
valorização de suas opiniões, de idéia precisa pela chefia sobre seu trabalho e de apoio
da gestão cotidiana (Tabela 7).
Analisando os estressores do QELT agrupados em categorias, focando-se
somente os profissionais estressados, temos os seguintes resultados (Tabela 8):
61
Tabela 8 Estressores ocupacionais de médicos (n = 9) e enfermeiros (n = 4) estressados
agrupados por categoria
Itens Freqüência na
amostra de médicos
% Freqüência na
amostra de
enfermeiros
%
Requisitos do Trabalho
1
36 44% 17 47%
Autoridade Decisória
2
14 19% 7 22%
Discriminação de Tarefas
3
16 35% 4 17%
Condições de Emprego
4
22 45% 13 46%
Apoio dos Chefes e Colegas
5
7 14% 13 42%
1 - Referente às questões de 1 a 9 do QELT.
2 - Referente às questões de 10 a 17 do QELT.
3 - Referente às questões 18 a 23 do QELT.
4 - Referente às questões 24 a 30 do QELT.
5 - Referente às questões 31 a 38 do QELT.
Assim como observado nas duas amostras analisadas (de médicos e de
enfermeiros), os itens prevalentes dentre os estressados foram Requisitos do Trabalho e
Condições de Emprego (36 (44%) e 22 (45%) na de médicos; 17 (47%) e 13 (46%) na
de enfermeiros). Ressalva para o item Apoio dos Chefes e Colegas, também bastante
considerado pelos enfermeiros (13 - 42%).
Expostos os resultados gerais do estudo, parte-se para análise das possíveis
relações entre stress e os seguintes dados do QI: estado civil, número de filhos, tempo
de serviço profissional, tempo de serviço na Atenção Básica de Paracambi, carga
horária na Atenção Básica de Paracambi e atuação em outro trabalho. As variáveis
“gênero” e “faixa etária obtidas através da folha de rosto do ISSL também serão
relacionadas ao stress.
O primeiro item abarcado pelo QI diz respeito ao estado civil dos participantes,
cuja divisão em casados e não casados (solteiros e separados / divorciados) se deu com
intuito de facilitar a análise. Na amostra de médicos observou-se que 14 (70%) eram
casados e 6 (30%) não casados. O número de estressados entre os casados foi seis, o que
62
corresponde a 43% dos médicos matrimoniados. Dentre os não casados, observou-se
total de três (50%) estressados.
A análise dos profissionais de enfermagem nos permite assinalar que, em meio
aos 10 enfermeiros pesquisados, quatro (40%) eram casados, sendo identificado stress
em apenas um (25%) destes últimos. Entre os seis (60%) não matrimoniados observou-
se que três (50%) apresentaram significativo grau de stress. A Tabela 9 demonstra mais
claramente os resultados acima descritos.
Tabela 9 - Stress e estado civil em médicos (n = 20) e enfemeiros (n = 10)
ESTADO
CIVIL
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Nº de médicos casados
(n = 14)
8 57% 6 43%
Nº de médicos não casados
(n = 6)
3 50% 3 50%
Nº de enfermeiros casados
(n = 4)
3 75% 1 25%
Nº de enfermeiros não
casados (n = 6)
3 50% 3 50%
Ao se aplicar a Prova Exata de Fisher, a fim de testar hipóteses de dependência
entre as duas variáveis analisadas (stress e estado civil), obteve-se o valor de p > 0.05
para as duas amostras. Considerando tais valores, pode-se afirmar que não existe relação
de dependência entre o estado civil dos profissionais e o fato dos mesmos estarem
estressados ou não. Sendo assim, as diferenças percebidas são atribuídas ao acaso. Em
outras palavras, a presença de stress independe do estado civil dos profissionais nas
amostras acima referidas.
A categoria número de filhos foi também simplificada, tal como estado civil, a
fim de objetivar a relação dos dados. Tal categoria foi dividida da seguinte maneira:
com filhos e sem filhos. Levando-se em conta que o número de médicos com filhos é
igual a 17, o que corresponde a 85% da amostra destes profissionais, avaliou-se que
63
nove (53%) estavam estressados. Não houve número de estressados dentre os médicos
sem filhos.
Concernente aos enfermeiros, a metade, cinco (50%), da amostra tem filhos e a
metade, cinco (50%), não os tem. Dentre aqueles com filhos, apenas um (20%) estava
estressado, sendo observado nos sem prole três (60%) estressados (Tabela 10).
A utilização da Prova Exata de Fisher indicou que não existe relação de
dependência entre o fato de ter ou não filhos e estarem ou não estressados, ou seja, só se
pode atribuir essas diferenças ao acaso (p > 0.05).
Tabela 10 - Stress e filhos em médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
FILHOS
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Nº de médicos com filhos
(n = 17 )
8 47% 9 53%
Nº médicos sem filhos
(n = 3)
3 100% 0 -
Nº de enfermeiros com
filhos (n = 5)
4 80% 1 20%
Nº de enfermeiros sem
filhos (n = 5)
2 40% 3 60%
Em respeito à lógica analítica utilizada nos itens anteriores, a questão relativa ao
tempo de serviço profissional também foi dividida em dois grupos, para a amostra de
médicos e enfermeiros, grupos estes demonstrados na tabela 11.
Tabela 11 - Stress e tempo de serviço profissional de médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
AMOSTRAS TEMPO DE SERVIÇO PROFISSIONAL
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos (n = 20) < 15 anos (n = 12)
> 16 anos (n = 8)
7
4
64%
36%
5
4
55,5%
44,5%
Enfermeiros (n = 10)
< 15 anos (n = 10)
> 16 anos (n = 0)
6
0
100%
-
4
0
100%
-
64
Considerando-se a análise nos médicos, temos que 12 (60%) possuíam 15 anos
ou menos de carreira e oito (40%) 16 anos ou mais de atuação profissional. Dentre os
estressados, notou-se que cinco (55,5%) deles trabalhavam como médicos há 15 anos ou
menos, sendo observado menor número de profissionais de medicina na categoria> 16
anos”, quatro (44,5%).
Nos profissionais de enfermagem percebeu-se que a totalidade (100%)
encontrou-se na categoria “< 15 anos”. Destes, quatro (40%) apresentaram nível de
stress significativo.
A aplicação da Prova Exata de Fisher aos dados acima descritos revelou que as
diferenças encontradas são frutos do acaso, não existindo relação entre a presença de
stress e o tempo de serviço profissional (p > 0.05). Para a amostra de enfermeiros não
foi possível fazer o cálculo estatístico devido à distribuição dos dados.
Para exame do tempo de serviço na Atenção Básica de Paracambi, foi acatada a
mesma categorização do item tempo de serviço profissional (tabela 12).
Tabela 12 - Stress e tempo de serviço na Atenção Básica de Paracambi de médicos (n = 20) e
enfermeiros (n = 10)
AMOSTRAS TEMPO DE SERVIÇO NA ATENÇÃO
BÁSICA DE PARACAMBI
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos* (n = 19) < 15 anos (n = 15)
> 16 anos (n = 4)
7
3
70%
30%
8
1
89%
11%
Enfermeiros (n = 10)
< 15 anos (n = 10)
> 16 anos (n = 0)
6
0
100%
-
4
0
100%
-
*Somente 19 médicos responderam a esse item.
Decodificando a Tabela 13, percebe-se que 15 (79%) dos médicos compunham a
classe “< 15 anos” e quatro (21%) a classe> 16 anos ”. Dos profissionais de medicina
65
estressados, oito (89%) trabalhavam na AB de Paracambi 15 anos ou menos; apenas
um (11%) relatou estar há 16 anos ou mais.
Não houve enfermeiros que assinalaram atuar 16 anos ou mais na AB de
Paracambi, todos (100%) trabalhavam neste serviço 15 anos ou menos, o que leva a
concluir que, quatro (100%) dos estressados encontravam-se também nesta categoria.
Neste caso, a utilização da Prova Exata de Fisher também demonstrou a
ausência de relação de dependência entre o fato de atuar 15 anos ou menos ou 16
anos ou mais na Atenção Básica de Paracambi e a presença de stress (p > 0.05) para
médicos. Conforme descrito no item anterior, também não pôde ser feita a análise
estatística da relação entre stress e tempo de serviço na AB de Paracambi.
A Tabela 13 mostra a relação entre stress e carga horária dos profissionais da
AB de Paracambi.
Tabela 13 - Stress e carga horária na Atenção Básica de Paracambi de médicos (n =20) e
enfermeiros (n = 10)
AMOSTRAS CARGA HORÁRIA NA ATENÇÃO
BÁSICA DE PARACAMBI
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos* (n = 18) < 25 horas (n = 9)
> 26 horas (n = 9)
4
5
44,5%
55,5%
5
4
55,5%
44,5%
Enfermeiros (n = 10)
< 25 horas (n = 0)
> 26 horas (n = 10)
0
6
-
60%
0
4
-
40%
*Somente 18 médicos responderam a esse item.
Dos profissionais de medicina que responderam a este tópico (18), nove (50%)
trabalhavam 25 horas ou menos e nove (50%) trabalhavam 26 horas ou mais. Do total
de estressados dentre os médicos (nove), cinco (55,5%) compuseram a categoria < 25
anos” e quatro (44,5%) a classe “> 26 anos”.
66
Todos os 10 (100%) enfermeiros relataram trabalhar 26 horas ou mais na AB de
Paracambi, estando os estressados, portanto, inseridos também nesta categoria.
Importante ressaltar, que com intuito de facilitar o trabalho dos dados acima
demonstrados, dividiu-se a questão carga horária na AB de Paracambi em duas classes,
a saber, “< 25 anos” e “> 26 anos”.
Novamente a utilização da Prova Exata de Fisher não mostrou relação de
dependência entre as variáveis (p > 0.05). Para a amostra de enfermeiros não foi
possível tratar os resultados estatisticamente.
O penúltimo item do QI a ser avaliado refere-se à atuação em outro trabalho
além do que os profissionais mantinham com a Prefeitura de Paracambi (Tabela 14). A
quase totalidade de médicos que responderam ao item “Possui outro trabalho?”, 17
(89,5%) dos 19, atuavam em outro serviço; apenas dois (10,5%) não trabalhavam em
outro lugar. Investigando os profissionais de medicina estressados, sete dos nove (78%)
se dividiam em outras atividades e dois (22%) não.
No que tange aos enfermeiros, a maioria, seis (60%), não trabalhava em outro
local e quatro (40%) possuíam outro tipo de vínculo profissional. Dentre os estressados,
três (75%) não trabalhavam em outro lugar e apenas um (25%) possuía outra ocupação.
O resultado da Prova Exata de Fisher revelou que as diferenças obtidas entre as
freqüências encontradas não refletem diferenças reais, mas são somente devidas à ação
do acaso (p > 0.05).
67
Tabela 14 - Stress e atuação em outra ocupação em médicos (n = 20) e enfermeiros (n =
10)
POSSUI OUTRO TRABALHO?
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
SIM (n = 17)
NÃO (n = 2)
10
0
100%
-
7
2
78%
22%
SIM (n = 4)
NÃO (n = 6)
3
3
50%
50%
1
3
25%
75%
*Somente 19 médicos responderam a esse item.
Terminada a análise do QI, verificar-se-á a relação do stress com as variáveis
“gênero” e “faixa etária”, obtidas a partir do preenchimento da folha de rosto do ISSL.
A Tabela 15 mostra os dados relativos ao gênero dos participantes.
Tabela 15 - Stress e gênero em médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
AMOSTRAS GÊNERO
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos Masculino (n = 13)
Feminino (n = 7)
8
3
73%
27%
5
4
55,5%
44,5%
Enfermeiros
Masculino (n = 2)
Feminino (n = 8)
1
5
17%
83%
1
3
25%
75%
Dentre os médicos, treze (65%) eram do gênero masculino, ao passo que sete
(35%) pertenciam ao gênero feminino. Deles, cinco (55,5%) homens e quatro (44,5%)
mulheres apresentavam stress.
na amostra de enfermeiros, observa-se um total de cinco (83%) pessoas do
gênero feminino e apenas uma (17%) do gênero masculino. Dos quatro enfermeiros
estressados, três (75%) eram mulheres e somente um (25%) homem.
68
Tabela 16 - Stress e faixa etária em médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
AMOSTRAS FAIXA ETÁRIA
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos > 40 anos (n = 12)
< 39 anos (n = 8)
6
5
54,5%
45,5%
6
3
67%
33%
Enfermeiros
> 40 anos (n = 2)
< 39 anos (n = 8)
2
4
33%
67%
0
4
-
100%
A Tabela 16 mostra os resultados obtidos a partir da relação entre stress e faixa
etária. A amostra de médicos ficou assim dividida: 12 (60%) possuíam idade igual ou
superior a 40 anos e oito (40%) igual ou inferior a 39 anos. Do total de estressados (9),
seis (67%) encontravam-se com 40 anos ou mais e três (33%) com 39 anos ou menos.
No que concerne aos profissionais de enfermagem, oito (80%) tinham idade
menor ou igual a 39 anos; somente dois (20%) tinham 40 anos ou mais. Todos os
estressados (100%) situavam-se na classe “< 39 anos”.
A aplicação da Prova Exata de Fisher para os dois itens acima descritos mostrou
que as diferenças são devidas ao acaso, não existindo relação de dependência entre as
variáveis (p>0.05).
Para concluir a apresentação dos resultados, mais duas investigações merecem
atenção, a saber, relação entre stress e profissão e entre número de estressores e nível de
stress.
Tabela 17 – Stress e profissão em médicos (n = 20) e enfermeiros (n = 10)
PROFISSIONAIS
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos 11 55% 9 45%
Enfermeiros 6 60% 4 40%
69
Ao analisar a Tabela 17, observa-se que a profissão com maior número de
estressados foi a de médicos, entretanto, ao aplicar a Prova Exata de Fisher não se
encontrou relação de dependência entre as variáveis acima descritas (p>0.05).
Por fim, foi feita a análise da relação entre os estressores ocupacionais
prevalentes e nível de stress (Tabela 18). Para tanto, dividiu-se o número de estressados
por quantidade de estressores em dois grupos: < a 18 estressores ou > a 19 estressores.
Dentre os médicos estressados, oito (89%) assinalaram 18 ou menos estressores;
somente um (11%) assinalou 19 estressores ou mais.
Nos enfermeiros também foi observado que a maior parte dos estressados
assinalou 18 estressores ou menos, três (75%); apenas um (25%) marcou 19 estressores
ou mais.
Tabela 18 - Stress e estressores
AMOSTRAS NÚMERO DE
ESTRESSORES
Não Estressados Estressados
Freq. % Freq. %
Médicos > 19 anos (n = )
< 18 anos (n = )
0
11
-
100%
1
8
11%
89%
Enfermeiros
> 19 anos (n = )
< 18 anos (n = )
1
5
17%
83%
1
3
25%
75%
Importante ressaltar, que neste caso também não foi encontrada relação de
dependência entre as variáveis, verificada através da Prova Exata de Fisher (p>0.05).
70
12. DISCUSSÃO
Os resultados descritos possibilitam tecer considerações acerca dos médicos e
enfermeiros do município de Paracambi no que tange à caracterização da amostra, ao
nível de stress detectado, assim como à quantidade e qualidade dos estressores
identificados. Relações entre as variáveis também foram feitas, a fim de avaliar se as
mesmas possuíam vinculação entre si ou se os resultados encontrados eram devido ao
acaso. Convém ressaltar, que, embora não tenha sido objetivo do estudo realizar análise
comparativa entre médicos e enfermeiros, em alguns momentos esta será feita por se
mostrar pertinente e interessante.
O município de Paracambi possui em sua totalidade 28 médicos e 11
enfermeiros na Atenção Básica. O presente estudo contou com 71% do total de médicos
e com 91% do total de enfermeiros. A quantidade de participantes revela-se
representativa da população, logo, os dados encontrados mostram-se relevantes para
caracterizar esses profissionais.
Quanto ao gênero dos profissionais, convém enfatizar que o número de médicos
do gênero masculino, 13 (65%), foi maior que do gênero feminino, sete (35%). O
contrário pôde ser observado na categoria de enfermeiros, sendo dominante o número
de enfermeiras, oito (80%), em detrimento da quantidade de enfermeiros, dois (20%). A
possível explicação para tal fato na categoria dos médicos é de que, embora o número
de mulheres tenha aumentado nos últimos anos, a profissão ainda é relativamente
masculina. Quanto à enfermagem, observa-se que grande parte dos profissionais é do
gênero feminino, não fugindo da realidade da profissão, cujo predomínio é de mulheres.
71
Analisando pormenorizadamente a questão da faixa etária, foi maior o número
de médicos mais velhos, 12 (60%), com 40 anos ou mais. Não foi constatado o mesmo
em relação aos enfermeiros, dentre os quais, oito (80%) tinham 39 anos ou menos. Em
pesquisa realizada com médicos do Brasil, verifica-se que a grande maioria dos médicos
possui menos de 45 anos de idade (65,8%), dado que contraria ao encontrado nesta
amostra (Machado, 1998). No caso dos enfermeiros, a média de idade se mostrou
semelhante com a encontrada para os enfermeiros brasileiros que atuam em Unidades
Básicas de Saúde (Ministério da Saúde, 2007).
Observou-se que na amostra de médicos preponderou-se o número de casados
(as), 14 (70%), não ocorrendo o mesmo com a amostra de enfermeiros, na qual foi
encontrada número igual para casados (as) e solteiros (as), quatro (40%). A explicação
para esse fato pode estar na média de idade dos participantes, pois a amostra de médicos
mostrou média de idade maior do que a de enfermeiros, 43,7 dos profissionais de
medicina contra 32,3 dos de enfermagem. A faixa etária dos médicos e a estabilidade
financeira talvez indique uma vida já mais definida em termos gerais, incluindo
casamento. Não se pode ignorar também a tendência que vem se estabelecendo relativa
a pessoas se casarem com mais de 30 anos (IBGE, 2007).
Resultado interessante e que corrobora com a mudança na questão da natalidade
dos dias atuais foi constatado na investigação do número de filhos dos participantes.
Predominaram na amostra de médicos aqueles que tinham apenas um filho,
correspondendo a oito (40%) pessoas e na amostra de enfermeiros os que não tinham,
até o momento da pesquisa, nenhum filho, cinco (50%). Dados do IBGE (2007) revelam
que entre 1996 e 2006 houve significativa redução no número de filhos dentre as
mulheres, sendo observado em 2006, 30,9% de mulheres com um filho; 33,3%, com
72
dois filhos e 35,8% com três filhos ou mais, ao passo que em 1996 esses percentuais
eram de 25,0%, 30,1% e 44,9%, respectivamente.
No que tange ao tempo de serviço profissional, observou-se que prevaleceu tanto
na categoria dos médicos quanto na dos enfermeiros os que atuavam 15 anos ou
menos no mercado de trabalho, sendo 12 (60%) médicos e 10 (100%) enfermeiros. A
profissão médica tem experimentado mudanças importantes no que concerne à sua
prática, tendo como um de seus fatores o rejuvenescimento do profissional de medicina.
Observa-se, atualmente, percentual elevado de médicos com menos de 15 anos de
formado, fato que pode explicar o maior número de profissionais desta área com 15
anos ou menos de carreira. Além disso, o perfil do médico e do enfermeiro que trabalha
na AB é de profissionais jovens, observando-se, nos médicos, predomínio de pessoas
com cinco a 14 anos de carreira e nos enfermeiros, pessoas com até quatro anos de
profissão (Ministério da Saúde, 2007).
No caso do tempo de serviço profissional na AB de Paracambi, a mesma
justificativa é cabível, pois na medida em que os profissionais possuem pouco tempo de
profissão, possuirão também pouco tempo de trabalho na AB. O número, que foi
predominante, de pessoas vinculadas ao município 15 anos ou menos foi de 15
(79%) dentre os médicos e 10 (100%) dentre os enfermeiros. Importante afirmar
também, que a AB tem sido porta de entrada para os profissionais da saúde no mundo
do trabalho, primeiro por não necessitar de profissionais especialistas, segundo por ter
cada vez mais ampliado seu serviço.
Quanto à questão da carga horária, nove (50%) dos 18 respondentes médicos
relataram trabalhar 25 horas ou menos na AB de Paracambi e nove (50%) 26 horas ou
mais, diferenciando-se dos enfermeiros, os quais todos (100%) afirmaram trabalhar
mais de 26 horas na AB de Paracambi. Devido à sua formação, o enfermeiro está
73
habilitado a desempenhar também atividades de administração, o que o leva a exercer
trabalhos não assistenciais dentro das Unidades Básicas, como também
administrativos, necessitando, portanto, de maior carga horária de trabalho.
A multiplicidade de vínculo empregatício do médico foi também detectada nesta
amostra, na qual 17 (89,5%) profissionais dos 19 que responderam a este item relataram
possuir outro trabalho além do que mantinham em Paracambi. Tal dado pode se dever à
precarização do trabalho, que é sob forma de cooperativa de serviços, e à baixa
remuneração, fazendo com que o profissional necessite aumentar seus vínculos
empregatícios, a fim de obter maiores rendimentos. O mesmo não foi observado dentre
os enfermeiros, revelando que quatro (40%) possuíam outro trabalho. Este fato nos
remete à carga horária, pois os médicos possuíam carga horária menor que os
enfermeiros, possibilitando, assim, a inserção em outras atividades.
No que diz respeito ao nível de stress, constatou-se que tanto no grupo dos
médicos quanto no dos enfermeiros houve considerável número de estressados, nove
(45%) e quatro (40%). O índice de stress nessas duas categorias profissionais se mostra
acima da média dos brasileiros, que é de 30% (Lipp, 2004a). Este fato gera preocupação
porque essas pessoas possivelmente apresentam prejuízos em sua qualidade de vida,
bem como comprometimento da qualidade de seus atendimentos. O usuário mal
atendido tenderá a buscar outros serviços, provocando inchaço nos mesmos, além da
possibilidade de ter seu problema mantido por falta de medidas de tratamento
adequadas.
Todos os profissionais estressados, nove (45%) médicos e quatro (40%)
enfermeiros, encontravam-se na segunda fase de stress, denominada Resistência, a qual
é considerada estágio de stress excessivo por afetar a vida do indivíduo. Segundo
Lipp e Malagris (2001), nesta fase o organismo tenta restabelecer a homeostase perdida
74
na fase de Alerta (primeira fase do stress) e com isso apresenta desgaste de suas
energias. Sintomas como sensação de desgaste físico constante, relatado por sete (78%)
dos nove médicos estressados, cansaço constante, relatado por seis (67%) e
sensibilidade emotiva excessiva, também apontado por seis (67%) participantes médicos
estressados, podem aparecer e minar a capacidade da pessoa de viver plenamente sua
qualidade de vida. Nos enfermeiros, a sintomatologia predominante foi semelhante à
encontrada dentre os médicos, cansaço constante e sensibilidade emotiva excessiva. Os
dois sintomas foram apontados por quatro (100%) dos enfermeiros estressados, porém
um sintoma se diferenciou: irritabilidade excessiva, assinalado por todos, quatro
(100%), os enfermeiros estressados. A partir da sintomatologia que predominou entre os
profissionais, imagina-se os prejuízos que os mesmos, possivelmente, estejam
vivenciando, incluindo problemas pessoais, como também os que afetam a terceiros,
através de relações profissionais de saúde-cliente deficitárias. O profissional irritado,
cansado, hipersensível, pode ter suas relações altamente comprometidas e,
conseqüentemente, seu desempenho profissional afetado. Considerando que estes
profissionais lidam com pessoas já debilitadas, em sua maioria, que buscam apoio
afetivo e técnico da instituição e de seus profissionais, a questão se mostra bastante
séria.
Conforme encontrado na avaliação do stress, a preponderância da
sintomatologia psicológica ocorreu em ambas as categorias, em seis (67%) participantes
médicos estressados e em dois (50%) dos enfermeiros estressados, o que pode se dever
às exigências do trabalho de ambos os profissionais, a saber, o cuidado com o outro.
Importante ressaltar, que um (25%) profissional de enfermagem apresentou como
dominantes ambas as sintomatologias, física e psicológica, o que engrossa a importância
do fator psicológico no modo como o stress é apresentado. A sintomatologia
75
psicológica compromete a auto-estima do indivíduo e muito pode influenciar em suas
relações e desempenho. Pode gerar desânimo, descrença no seu potencial de trabalho e
falta de motivação em suas atividades.
No que concerne aos estressores, percebeu-se que dentre os médicos
preponderaram estressores relativos às demandas do trabalho (Requisitos do Trabalho)
e às condições na qual ele acontece (Condições de Emprego), tais como, trabalho
repetitivo, 12 (60%); não tirar dias de folga quando deseja, 10 (55,5%); necessidade de
concentração intensa, 11 (55%) e volume e ritmo de trabalho elevados, 11 (55%). Nota-
se que as condições de trabalho oferecidas a estes profissionais, provavelmente,
contribuem para que as atividades sejam vivenciadas como estressantes, que, estes
profissionais atendem a um grande número de usuários, em geral, em condições
deficitárias por falta de recursos.
Na categoria dos enfermeiros observou-se também predominância de estressores
relacionados aos requisitos do trabalho e condições de emprego, são eles: falta de
segurança do trabalho, oito (80%), a interrupção de tarefas antes de serem completadas,
oito (80%) e não tirar dias de folga quando deseja. Os profissionais de enfermagem, por
atuarem também na administração das Unidades Básicas, são solicitados com
freqüência em outras esferas que não a assistencial, gerando interrupção de suas
atividades. O estressor relacionado à segurança corresponde à realidade do SUS no
município, cujo vínculo empregatício do trabalhador com a Prefeitura se através de
cooperativa de serviços, fato que gera dúvida quanto à permanência no emprego. a
ausência de folgas é, possivelmente, explicada pelo número reduzido de recursos
humanos.
Além dos estressores acima referidos, observou-se que a falta de autonomia
incomoda os enfermeiros, somando-se à essa dificuldade a carência de apoio. Tais
76
fatores podem minar a satisfação no emprego e gerar ausência de motivação,
contribuindo para falta de empenho. Segundo Karasek (1979), se o trabalhador é livre
no que concerne ao uso de suas habilidades, as demandas relativas ao trabalho podem
não gerar stress, devido ao controle do mesmo sobre suas atividades. Esse procedimento
não é utilizado no caso dos enfermeiros da AB de Paracambi, que, além de altas
demandas, possuem pouco domínio sobre o trabalho. Além disso, diante de tal quadro, a
falta de apoio é mais um fator que, somado aos outros, contribuem para o
desenvolvimento do stress.
Como mencionado, a comparação entre as categorias não foi objetivo
inicialmente proposto no presente estudo, no entanto, pareceu interessante buscar um
entendimento sobre a diferença no que se refere à quantidade de estressores entre os
profissionais. Tal ocorrência pode ser, possivelmente explicada pelo fato do enfermeiro
possuir relação muito mais intensa do que o médico no que se refere ao trabalho, devido
à carga horária, bem como ao comprometimento com atividades não assistenciais,
mas também administrativas. O tempo que o enfermeiro passa na Unidade Básica o
permite vivenciar de forma mais intensa os estressores, possibilitando, assim, sua
identificação.
Diante do quadro de agentes estressantes encontrados como mais freqüentes, as
categorias de estressores assinaladas tanto por médicos quanto por enfermeiros foram
Requisitos do Trabalho e Condições de Emprego, o que demonstra que as demandas
relativas ao trabalho, como também a condição na qual o trabalho acontece são,
possivelmente, as maiores causadoras de stress dentre os profissionais. Importante
enfatizar, que, apesar das mudanças implantadas no SUS e das propostas bastante
avançadas, como foi descrito no início do presente trabalho, ainda parece não se ter
alcançado o ideal em termos de condições de emprego. Fundamental se mostra tornar
77
real aquilo que se planejou para que os benefícios dos avanços ideológicos e
tecnológicos sejam usufruídos mais amplamente.
Considerando agora apenas os profissionais avaliados como estressados, de
modo geral, observa-se novamente que os estressores assinalados foram os relacionados
às demandas do trabalho, como também às condições de emprego.
Ainda que não se possa afirmar que os estressores das categorias acima
relacionadas sejam os desencadeadores do stress desses profissionais, interessante se faz
observar que as altas demandas e as condições na qual o trabalho ocorre, dentre os
outros itens do QELT, são os que mais contribuem para manutenção do nível de stress,
pois grande parte dos estressados apontaram estressores a eles relacionados.
Observou-se uma variedade de estressores na amostra de médicos estressados,
demonstrando que, tanto a tarefa com suas especificidades quanto às condições de
trabalho presentes, são consideradas por grande parte desses médicos como
desfavoráveis, o que pode gerar falta de motivação para o enfrentamento do dia-a-dia.
Analisando os estressores mais marcados pelos enfermeiros estressados, nota-se
que o mesmo ocorrido com os médicos pôde ser observado dentre os profissionais de
enfermagem, Condições de Emprego e Requisitos do Trabalho foram os itens mais
apontados por eles, embora se tenha visto nesta categoria profissional maior variedade
de estressores relacionados a outros itens do QELT, como, por exemplo, os arrolados ao
apoio de chefes e colegas. Isso pode se dever, conforme dito anteriormente, à múltipla
inserção deste profissional dentro das Unidades Básicas. Ele atua não
assistencialmente, como também na área administrativa.
Conforme dito, as categorias mais assinaladas por médicos e enfermeiros
estressados, Requisitos do Trabalho e Condições de Emprego, também corresponderam
78
aos estressores relatados pelas amostras totais de médicos e enfermeiros participantes da
pesquisa.
O fato de ter-se encontrado predominância de estressores relacionados às duas
categorias acima referidas, tanto na amostra de estressados quanto na de não
estressados, remete à questão do próprio Sistema Único de Saúde que ainda está muito
aquém de suas reais possibilidades no que tange à contratação de recursos humanos,
pois quanto menor o número de profissionais maior a demanda, e às condições de
trabalho, relacionadas à falta de estrutura com que, freqüentemente, o profissional se
esbarra.
A análise estatística dos dados obtidos no presente estudo mostrou que não
relação de dependência entre stress e os dados sociobiográficos, profissão e estressores.
Tal fato, possivelmente, se deve ao número reduzido de participantes da amostra, apesar
desta ser representativa da população local, 71% dos médicos e 91% dos enfermeiros da
Atenção Básica de Paracambi. É importante a realização de estudos em outros
municípios para que se possa fazer uma análise comparativa com os dados aqui
encontrados.
Embora este estudo tenha sido preliminar e o desenvolvimento de outros seja
necessário para explorar a questão do stress entre profissionais de saúde, o número de
trabalhadores estressados encontrados nesta pesquisa é preocupante, principalmente em
se tratando de profissionais desta área de atuação. A despeito do pequeno número de
profissionais aqui avaliados, percebe-se a necessidade do desenvolvimento de pesquisas
que elaborem estratégias de intervenção, a fim de amenizar as conseqüências negativas
trazidas pelo stress crônico e garantir a boa qualidade dos serviços prestados.
79
13. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Como qualquer estudo, este possui também suas limitações. Um dos fatores que
restringe os resultados diz respeito ao fato de não ter sido possível uma análise mais
ampla sobre os estressores do indivíduo. O instrumento de estressores utilizado foca
somente na questão laboral em detrimento de outras áreas da vida dos indivíduos
analisados, o que pode estar colaborando para o possível aparecimento e manutenção
das reações de stress. Foi cogitado o emprego de uma ferramenta que englobasse as
quatro principais áreas de vida - social, familiar, saúde e profissional –, tendo sido,
entretanto, essa possibilidade logo descartada, devido ao fato da mesma possuir um
número demasiado de questões e não ser possível sua aplicação durante o cotidiano dos
médicos. Mesmo considerando que, além dos estressores ocupacionais, o nível de stress
dos médicos e enfermeiros possa estar relacionado também a estressores pessoais,
optou-se por uma restrição aos estressores vinculados ao trabalho para que o estudo
fosse viável. No entanto, os resultados deverão ser analisados levando-se em conta essa
limitação.
Outra questão que pode ser considerada um limite é o pequeno número da
amostra. No entanto, a mesma se mostrou representativa, pois o número destes
profissionais no município é, em si, pequeno. De todo modo, é importante cautela na
análise e nas conclusões sobre os resultados.
O fato de se constituir em pesquisa com seres humanos também leva a se refletir
sobre limites que são inerentes a tal proposta. As respostas dadas aos instrumentos
dependem do momento em que o profissional se encontrava no que se refere às suas
condições físicas e emocionais, sua capacidade de percepção sobre suas próprias
80
sensações, dentre outras questões. No entanto, este é um ponto polêmico que cabe a
praticamente todas as pesquisas experimentais com seres humanos.
Ainda que com seus limites, espera-se que este estudo possa contribuir para o
entendimento da questão do stress e estressores de médicos e enfermeiros da Atenção
Básica de Paracambi e sirva de base para outras formulações a respeito do tema e para
pesquisas mais abrangentes.
81
14. CONCLUSÃO
Importante se faz refletir sobre a porcentagem de stress encontrada dentre os
profissionais acima referidos, porcentagem esta bastante alta, principalmente em se
tratando de profissionais de saúde, a saber, nove (45%) médicos e quatro (40%)
enfermeiros. No entanto, importante se faz considerar que o stress não é processo
irreversível, sendo possível, em geral, uma volta à homeostase, caso a pessoa consiga
manejá-lo de forma eficiente. Para tanto, em alguns casos, o indivíduo não consegue
sozinho minimizar os efeitos do stress sobre seu corpo, necessitando de apoio
profissional para tal intento. São importantes, portanto, o desenvolvimento de estudos
para entender a questão do stress, neste caso, dos profissionais de saúde, a fim de que
sejam desenvolvidas técnicas para seu controle, com a especificidade requerida pelas
profissões.
Dentro dessa reflexão, importante se faz enfatizar os prejuízos na qualidade de
vida desses profissionais e no atendimento oferecido por eles à população que utiliza o
SUS. Todo o investimento no SUS pode ficar comprometido se os profissionais não se
sentem satisfeitos em seu dia-a-dia em função de estarem estressados, alguns já doentes,
percebendo seu desempenho deficitário. Além disso, os usuários dos serviços também
podem estar insatisfeitos pelo tipo de atendimento que recebem e por não encontrarem
apoio emocional e técnico na qualidade que necessitam e esperam.
Outro ponto importante, quando se reflete sobre os dados aqui encontrados, diz
respeito ao conhecimento dos estressores dos profissionais. O conhecimento acerca do
que os estressa contribui para que haja maior domínio sobre tais variáveis,
possibilitando redução de sua influência. O fato de se constatar que estressores ligados
às atividades específicas do trabalho e às condições para realização do mesmo estão tão
82
presentes leva-nos a refletir sobre a necessidade de mudanças estruturais em termos
institucionais, maior quantidade de profissionais contratados e mudanças na formação
dos profissionais, para que sejam mais capacitados para suas funções.
Outros fatores que merecem reflexão dizem respeito à independência das
variáveis sociobiográficas, das profissionais e dos estressores relativos ao stress, o que
leva a conjectura de que tal ausência de relação se deva ao pequeno número da amostra,
sugerindo-se, portanto, replicações do estudo para outras cidades, a fim de que se
investigue melhor a relação entre stress e estressores de médicos e enfermeiros da
Atenção Básica.
Com relação às hipóteses do presente estudo, pode-se dizer que a relativa aos
profissionais estarem estressados foi confirmada para uma importante parcela, tanto de
médicos quanto de enfermeiros. Não obstante, não foi corroborada a hipótese de
relações de dependência entre as variáveis. Novos estudos em outros municípios podem
contribuir para ampliação da amostra em profissionais da AB e, assim, ser possível
conhecer realidades diversas.
Apesar de pequeno alcance, este estudo contribui para o entendimento do perfil
de médicos e enfermeiros da Atenção Básica de uma cidade do interior do Rio de
Janeiro, bem como para o entendimento da presença de stress e de sua relação com
estressores destes profissionais, além de fornecer dados importantes para outras
pesquisas na área.
83
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Artmed.
ANEXOS
ANEXO 1
_____________________________________________________________________________________
QUESTIONÁRIO INFORMATIVO
1 – ESTADO CIVIL:
( ) SOLTEIRO (A)
( ) CASADO (A)/ VIVE COM COMPANHEIRO (A)
( ) SEPARADO (A)/ DIVORCIADO (A)
( ) VIÚVO (A)
2 – FILHOS:
( ) NENHUM ( ) 2 FILHOS
( ) 1 FILHO ( ) 3 FILHOS OU MAIS
3 – POSSUI RELIGIÃO? ( ) NÃO ( ) SIM QUAL? ____________________________________
4 – CIDADE E BAIRRO DE MORADIA:
CIDADE: _________________________
BAIRRO: _________________________
5 – MEIO DE LOCOMOÇÃO ATÉ O TRABALHO:
( ) CARRO PRÓPRIO ( ) TRANSPORTE ALTERNATIVO (VAN; KOMBI)
( ) CARRO CARONA ( ) ÔNIBUS
( ) MOTO ( ) TREM
( ) A PÉ ( ) OUTROS ______________________
( ) BICICLETA
6 – QUAL A ESPECIALIDADE DENTRO DA MEDICINA?
_____________________________________
7 – TEMPO DE SERVIÇO PROFISSIONAL:
( ) MENOS DE 5 ANOS ( ) DE 16 A 20 ANOS
( ) DE 6 A 10 ANOS ( ) DE 21 A 15 ANOS
( ) DE 11 A 15 ANOS ( ) MAIS DE 26 ANOS
8 – TEMPO DE SERVIÇO NA ATENÇÃO BÁSICA DE PARACAMBI:
( ) MENOS DE 5 ANOS ( ) DE 16 A 20 ANOS
( ) DE 6 A 10 ANOS ( ) DE 21 A 15 ANOS
( ) DE 11 A 15 ANOS ( ) MAIS DE 26 ANOS
9 – POSSUI OUTRO TRABALHO?
( ) SIM ( ) NÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
QUAL? ________________________________________
CARGA HORÁRIA POR SEMANA: ________________
10 – CARGA HORÁRIA DE TRABALHO NA ATENÇÃO BÁSICA POR SEMANA:
( ) MENOS DE 11 HORAS ( ) 26 A 30 HORAS
( ) 11-15 HORAS ( ) 31 – 35 HORAS
( ) 16 A 20 HORAS ( ) 36 A 40 HORAS
( ) 21- 25 HORAS ( ) MAIS DE 40 HORAS
11 – QUAL O TIPO DE VÍNCULO COM A SMS/ PARACAMBI?
( ) COOPERATIVADO ( ) CONCURSADO
ANEXO 2
________________________________________________________________________________
QUESTIONÁRIO SOBRE ESTRESSE NO LOCAL DE TRABALHO
Glina & Rocha (2000)
Fonte: Ferreira Junior, M. (Org.). (2000). Saúde no Trabalho: temas básicos para o profissional que
cuida da saúde dos trabalhadores. São Paulo: Roca.
Instruções
Responda a cada pergunta, marcando a resposta que melhor se aplique à sua situação de trabalho. Por
vezes nenhuma das respostas é exatamente aplicável. Neste caso, escolha a resposta mais aproximada.
Requisitos do trabalho
1. O seu trabalho requer muita rapidez? ( ) sim ( ) não
2. O seu trabalho é muito árduo? ( ) sim ( ) não
3. É solicitado a trabalhar excessivamente? ( ) sim ( ) não
4. Tem tempo suficiente para realizar suas tarefas? ( ) sim ( ) não
5. É objeto de pedidos conflituosos por parte de outros? ( ) sim ( ) não
6. O seu trabalho necessita de longos períodos de concentração intensa? ( ) sim ( )
não
7. As suas tarefas são interrompidas freqüentemente antes de serem completadas, ( ) sim ( )
não
necessitando de atenção posterior?
8. O volume e o ritmo do seu trabalho são muito elevados? ( ) sim ( ) não
9. A espera de trabalho proveniente de outras pessoas ou seções prejudica ( ) sim ( )
não
o ritmo do seu trabalho?
Autoridade decisória
10. O seu trabalho permite-lhe tomar muitas decisões individuais? ( ) sim ( ) não
11. No âmbito das suas tarefas, tem pouca liberdade de escolher ( ) sim ( ) não
o modo de trabalhar?
12. Tem bastante responsabilidade relativamente ao seu trabalho ( ) sim ( ) não
13. Pode determinar a ordem das suas tarefas? ( ) sim ( ) não
14. Pode determinar o modo de realizar determinada tarefa? ( ) sim ( ) não
15. Pode facilmente deixar o local de trabalho por um período breve? ( ) sim ( ) não
16. Pode interromper o seu trabalho, se necessário? ( ) sim ( ) não
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
17. Pode determinar o seu próprio ritmo de trabalho? ( ) sim ( ) não
Discriminação de tarefas
18. O seu trabalho necessita que aprenda coisas novas? ( ) sim ( ) não
19. O seu trabalho é muito repetitivo? ( ) sim ( ) não
20. O seu trabalho necessita de um espírito criativo? ( ) sim ( ) não
21. O seu trabalho necessita de um nível elevado de destreza? ( ) sim ( ) não
22. Realiza uma série de tarefas diferentes no seu trabalho? ( ) sim ( ) não
23. Tem a oportunidade de desenvolver suas próprias aptidões? ( ) sim ( ) não
Condições de emprego
24. Pode determinar a altura em que começa e pára de trabalhar? ( ) sim ( ) não
25. Pode determinar quando precisa de uma pausa? ( ) sim ( ) não
26. Tem conhecimento do seu horário de trabalho com mais de ( ) sim ( ) não
um mês de antecedência?
27. Pode tirar dias de folga quando deseja? ( ) sim ( ) não
28. O seu trabalho é seguro? ( ) sim ( ) não
29. As suas perspectivas para o desenvolvimento de carreira e ( ) sim ( ) não
de promoção são boas?
30. Em cinco anos as suas qualificações ainda serão válidas? ( ) sim ( ) não
Apoio dos chefes e colegas
31. A atmosfera do local de trabalho é boa? ( ) sim ( ) não
32. Os seus colegas irritam-se freqüentemente? ( ) sim ( ) não
33. Se necessário, pode pedir assistência a um ou mais colegas? ( ) sim ( ) não
34. A gestão cotidiana do seu trabalho é eficaz? ( ) sim ( ) não
35. A sua opinião é tomada suficientemente em conta na gestão cotidiana ( ) sim ( ) não
do trabalho?
36. A gestão cotidiana tem uma idéia precisa do seu trabalho? ( ) sim ( ) não
37. É suficientemente apoiado no seu trabalho pela gestão cotidiana? ( ) sim ( )
não
38. Está suficientemente informado sobre o desenvolvimento na instituição? ( ) sim ( ) não
ANEXO 5
_____________________________________________________________________________________
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(De acordo com as normas da Resolução nº196, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/96)
Título do estudo: Atenção Básica: Stress e Estressores Ocupacionais em Médicos de Paracambi / RJ
Investigador: Liliane de Carvalho
Local de realização: Atenção Básica do Município de Paracambi/RJ
Nome do participante:
Natureza do Estudo
Você está sendo convidado (a) a participar desta pesquisa que visa avaliar a presença ou não de
stress, bem como levantar os estressores ocupacionais de médicos da Atenção Básica do Município de
Paracambi / RJ. Esses dados serão utilizados na Dissertação de Mestrado da pesquisadora, como também
em eventos acadêmicos.
Participantes do Estudo
Participarão deste estudo médicos da Atenção Básica do Município de Paracambi/RJ.
A participação será voluntária, com o devido consentimento por escrito de cada um de vocês
para o uso dos dados coletados.
Envolvimento dos participantes do estudo
A participação neste estudo consiste em responder a uma ficha com seus dados pessoais
(Questionário Informativo), ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp ISSL e ao
Questionário sobre Estresse no Local de Trabalho - QELT.
Você tem a liberdade de recusar a participar e pode ainda se recusar a continuar participando em
qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você.
Riscos e desconforto
A participação nesta pesquisa não traz complicações e os procedimentos utilizados seguem
normas éticas, não oferecendo riscos de qualquer natureza.
Confidencialidade
Todas as informações coletadas neste estudo serão estritamente confidenciais sendo divulgados
apenas resultados gerais e não resultados individuais.
Benefícios
Ao participar desta pesquisa você receberá, caso queira, o resultado do Inventário de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp, bem como um folheto informativo tratando das causas, conseqüências e
formas de manejo do stress excessivo. Além disso, nós esperamos que esta pesquisa nos informações
importantes acerca da presença ou não de stress e também dos estressores em médicos da Atenção Básica
de Paracambi / RJ.
Pagamento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Você não terá nenhum tipo de despesa por participar desta pesquisa e também nada será pago por sua
participação.
Observação: Você receberá uma cópia deste Termo onde consta o telefone e o endereço da pesquisadora
responsável, bem como da orientadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação,
agora ou a qualquer momento. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa, cujos contatos também constam neste Termo.
PESQUISADORA RESPONSÁVEL: Liliane de Carvalho
ENDEREÇO: Av. Pasteur, 250 – Fundos – Urca, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 22290-240
TELEFONE: 2256-2745 e 9334-1139 E-MAIL: [email protected]
ORIENTADORA: Lucia Emmanoel Novaes Malagris
ENDEREÇO: Av. Pasteur, 250 – Fundos – Urca, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 22290-240
TELEFONE: 3873-5328 E-MAIL: [email protected]
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE
JANEIRO
ENDEREÇO: Rua Afonso Cavalcanti, 455, sala 701 – Cidade Nova, Rio de Janeiro – RJ
TELEFONES: 2503-2024 e 2503-2026 E-MAIL: [email protected]
______________________________
Visto do participante
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Tendo em vista todas as informações apresentadas anteriormente e atentamente lidas por
mim, eu, de forma livre e esclarecida, concordo em participar do estudo descrito:
_________________________________________________ Data: / /
Assinatura do participante
_________________________________________________ Data: / /
Assinatura do(a) investigador (a)
ANEXO 7
_____________________________________________________________________________________
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(De acordo com as normas da Resolução nº196, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/96)
Título do estudo: Atenção Básica: Stress e Estressores Ocupacionais em Médicos e Enfermeiros de
Paracambi / RJ
Investigador: Liliane de Carvalho
Local de realização: Atenção Básica do Município de Paracambi/RJ
Nome do participante:
Natureza do Estudo
Você está sendo convidado (a) a participar desta pesquisa que visa avaliar a presença ou não de
stress, bem como levantar os estressores ocupacionais de médicos e enfermeiros da Atenção Básica do
Município de Paracambi / RJ. Esses dados serão utilizados na Dissertação de Mestrado da pesquisadora,
como também em eventos acadêmicos.
Participantes do Estudo
Participarão deste estudo, médicos e enfermeiros da Atenção Básica do Município de Paracambi/
RJ.
A participação será voluntária, com o devido consentimento por escrito de cada um de vocês
para o uso dos dados coletados.
Envolvimento dos participantes do estudo
A participação neste estudo consiste em responder a uma ficha com seus dados pessoais
(Questionário Informativo), ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp ISSL e ao
Questionário sobre Estresse no Local de Trabalho - QELT.
Você tem a liberdade de recusar a participar e pode ainda se recusar a continuar participando em
qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você.
Riscos e desconforto
A participação nesta pesquisa não traz complicações e os procedimentos utilizados seguem
normas éticas, não oferecendo riscos de qualquer natureza.
Confidencialidade
Todas as informações coletadas neste estudo serão estritamente confidenciais sendo divulgados
apenas resultados gerais e não resultados individuais.
Benefícios
Ao participar desta pesquisa você receberá, caso queira, o resultado do Inventário de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp, bem como um folheto informativo tratando das causas, conseqüências e
formas de manejo do stress excessivo. Além disso, nós esperamos que esta pesquisa nos informações
importantes acerca da presença ou não de stress e também dos estressores em médicos da Atenção Básica
de Paracambi / RJ.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Pagamento
Você não terá nenhum tipo de despesa por participar desta pesquisa e também nada será pago por sua
participação.
Observação: Você receberá uma cópia deste Termo onde consta o telefone e o endereço da pesquisadora
responsável, bem como da orientadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação,
agora ou a qualquer momento. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa, cujos contatos também constam neste Termo.
PESQUISADORA RESPONSÁVEL: Liliane de Carvalho
ENDEREÇO: Av. Pasteur, 250 – Fundos – Urca, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 22290-240
TELEFONE: 2256-2745 e 9334-1139 E-MAIL: [email protected]
ORIENTADORA: Lucia Emmanoel Novaes Malagris
ENDEREÇO: Av. Pasteur, 250 – Fundos – Urca, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 22290-240
TELEFONE: 3873-5328 E-MAIL: [email protected]
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE
JANEIRO
ENDEREÇO: Rua Afonso Cavalcanti, 455, sala 701 – Cidade Nova, Rio de Janeiro – RJ
TELEFONES: 2503-2024 e 2503-2026 E-MAIL: [email protected]
______________________________
Visto do participante
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Tendo em vista todas as informações apresentadas anteriormente e atentamente lidas por
mim, eu, de forma livre e esclarecida, concordo em participar do estudo descrito:
_________________________________________________ Data: / /
Assinatura do participante
_________________________________________________ Data: / /
Assinatura do(a) investigador (a)
ANEXO 8
_____________________________________________________________________________________
QUESTIONÁRIO INFORMATIVO
1 – ESTADO CIVIL:
( ) SOLTEIRO (A)
( ) CASADO (A)/ VIVE COM COMPANHEIRO (A)
( ) SEPARADO (A)/ DIVORCIADO (A)
( ) VIÚVO (A)
2 – FILHOS:
( ) NENHUM ( ) 2 FILHOS
( ) 1 FILHO ( ) 3 FILHOS OU MAIS
3 – POSSUI RELIGIÃO? ( ) NÃO ( ) SIM QUAL? ____________________________________
4 – CIDADE E BAIRRO DE MORADIA:
CIDADE: _________________________
BAIRRO: _________________________
5 – MEIO DE LOCOMOÇÃO ATÉ O TRABALHO:
( ) CARRO PRÓPRIO ( ) TRANSPORTE ALTERNATIVO (VAN; KOMBI)
( ) CARRO CARONA ( ) ÔNIBUS
( ) MOTO ( ) TREM
( ) A PÉ ( ) OUTROS ______________________
( ) BICICLETA
6 – TEMPO DE SERVIÇO PROFISSIONAL:
( ) MENOS DE 5 ANOS ( ) DE 16 A 20 ANOS
( ) DE 6 A 10 ANOS ( ) DE 21 A 15 ANOS
( ) DE 11 A 15 ANOS ( ) MAIS DE 26 ANOS
7 – TEMPO DE SERVIÇO NA ATENÇÃO BÁSICA DE PARACAMBI:
( ) MENOS DE 5 ANOS ( ) DE 16 A 20 ANOS
( ) DE 6 A 10 ANOS ( ) DE 21 A 15 ANOS
( ) DE 11 A 15 ANOS ( ) MAIS DE 26 ANOS
8 – POSSUI OUTRO TRABALHO?
( ) SIM ( ) NÃO
QUAL? ________________________________________
CARGA HORÁRIA POR SEMANA: ________________
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
9 – CARGA HORÁRIA DE TRABALHO NA ATENÇÃO BÁSICA POR SEMANA:
( ) MENOS DE 11 HORAS ( ) 26 A 30 HORAS
( ) 11-15 HORAS ( ) 31 – 35 HORAS
( ) 16 A 20 HORAS ( ) 36 A 40 HORAS
( ) 21- 25 HORAS ( ) MAIS DE 40 HORAS
10 – QUAL O TIPO DE VÍNCULO COM A SMS/ PARACAMBI?
( ) COOPERATIVADO ( ) CONCURSADO
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
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Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo