CAP
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ITULO 1. A COMPREENS
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AO DE TEXTO 11
Esse conhecimento ´e fundamental para a compreens˜ao, pois permite que o
sujeito perceba o que est´a impl´ıcito no texto (Kintsch & van Dijk, 1978).
Nesse sentido, ´e preciso que o leitor processe informa¸c˜oes tanto intra quanto
extratexto. Isto ´e poss´ıvel, porque a compreens˜ao ´e um processo que ocorre,
em diferentes n´ıveis de processamento da representa¸c˜ao do texto, exigindo
que o leitor construa, em cada n´ıvel, significados que permitam que ele avance
em sua compreens˜ao e integre essas v´arias demandas num processo final de
representa¸c˜ao daquilo que foi lido (Baker, 1986; Hacker,1997).
No modelo de processamento de texto sugerido por Kintsch e van Dijk
(1978), a compreens˜ao ocorre a partir da convergˆencia entre as id´eias do
autor, atrav´es do discurso, e as id´eias do leitor, por meio de seu conheci-
mento pr´evio. A compreens˜ao vai sendo processada e produzida, por meio
de de diferentes n´ıveis de representa¸c˜ao elaborados durante a leitura do texto,
para que, ao final do processo, o texto seja representado de forma global e
coerente (Vilaseca, 1999). Kintsch e van Dijk (1978) prop˜oem, ainda, que o
processamento de um texto ´e feito em ciclos, devido `as limita¸c˜oes da mem´oria
de trabalho, que n˜ao suporta operar com todo o volume de informa¸c˜oes numa
´unica vez. Para isso, o leitor vai construindo proposi¸c˜oes que cont´em as id´eias
principais obtidas das informa¸c˜oes extra´ıdas do texto. Essas informa¸c˜oes s˜ao
mantidas at´e o final de cada ciclo. Esses ciclos correspondem a uma s´erie de
proposi¸c˜oes que s˜ao ordenadas de acordo com seu surgimento no texto, for-
mando blocos. Os blocos contˆem uma unidade de linguagem mais resumida,
preservando as id´eias fundamentais da frase ou per´ıodo. As frases que contˆem
proposi¸c˜oes formam a microestrutura semˆantica do texto. Kintsch e van Dijk
(1978) sugerem que a microestrutura do texto ´e uma s´ıntese das id´eias princi-
pais, especificadas pelas rela¸c˜oes semˆanticas entre os diferentes componentes
e partes do texto, contidas em cada parte (n´ıvel local). Essas id´eias, contidas
nas proposi¸c˜oes, v˜ao sendo substitu´ıdas por outras, mais amplas e coerentes,
formando blocos, at´e que se construa o significado global do texto, ou seja,
a macroestrutura. Dessa forma, no ciclo subseq¨uente, as informa¸c˜oes novas
alteram as representa¸c˜oes anteriores, mudando e enriquecendo gradualmente
o texto que est´a sendo lido.
Al´em disso, para compreender o que est´a sendo lido, ´e necess´aria a cons-
tru¸c˜ao de um texto-base. De acordo com Kintsch (1988), nesses textos-
base, s˜ao combinadas informa¸c˜oes que se originam de duas fontes: o conhec-
imento sobre a linguagem e o conhecimento de mundo, que v˜ao tecendo, por
meio de uma hierarquia, a compreens˜ao do texto. Na tessitura do texto, as
proposi¸c˜oes nem s˜ao processadas com a mesma aten¸c˜ao, nem s˜ao lembradas