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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS
CULTIVO DE GIRASSOL SOB A PERSPECTIVA DA
AGROENERGIA: UMA ANÁLISE DOS PRODUTORES
FAMILIARES ASSENTADOS DE ABELARDO LUZ-SC
LIDO JOSÉ BORSUK
Florianópolis, dezembro de 2008
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LIDO JOSÉ BORSUK
CULTIVO DE GIRASSOL SOB A PERSPECTIVA DA
AGROENERGIA: UMA ANÁLISE DOS PRODUTORES
FAMILIARES ASSENTADOS DE ABELARDO LUZ-SC
Dissertação apresentada como requisito parcial
á obtenção do título de Mestre em
Agroecossistemas, Programa de Pós-Graduação
em Agroecossistemas, Centro de Ciências
Agrárias, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientador: Dr. Sandro Luís Schlindwein
Co-orientador: Dr. Sérgio Roberto Martins
FLORIANÓPOLIS
2008
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FICHA CATALOGRÁFICA
Borsuk, Lido José.
Cultivo de girassol sob a perspectiva da agroenergia: uma análise
de produtores familiares assentados de Abelardo Luz-SC / Lido José
Borsuk – Florianópolis, 2008.
xx, 99 f.: il., graf., tabs.
Orientador: Dr. Sandro Luís Schlindwein
Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) − Universidade
Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias.
Bibliografia: f. 87-92
1. Agricultores familiares assentados. 2. Energia renovável. 3.
Girassol. 4. Agroenergia. 5. Biomassa.
III
TERMO DE APROVAÇÃO
LIDO JOSÉ BORSUK
CULTIVO DE GIRASSOL SOB A PERSPECTIVA DA
AGROENERGIA: UMA ANÁLISE DOS PRODUTORES
FAMILIARES ASSENTADOS DE ABELARDO LUZ-SC
Dissertação aprovada em 15/12/2008 para obtenção do grau de Mestre no Programa de
Pós-Graduação em Agroecossistemas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal
de Santa Catarina.
__________________________ __________________________
Dr. Sandro Luís Schlindwein Dr. Sérgio Roberto Martins
Orientador (CCA/UFSC) o-orientador (PPGEA/UFSC)
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________
Prof. Dr. Alfredo Celso Fantini
Presidente (CCA/UFSC)
________________________ __________________________
DR. Valmir Stropasolas Dr. Álvaro Afonso Simon
(CAA/UFSC) (EPAGRI/CIRAM)
____________________________
Prof. Dr. Alfredo Celso Fantini
Coordenador do PGA
Florianópolis, 15 de dezembro de 2008.
IV
Dedico:
A minha companheira, Aline, com amor, carinho e admiração.
Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, meu reconhecimento por
seus princípios, sua luta e organização.
V
Agradecimentos
Meu agradecimento especial, ao Prof. Sandro Luís Schlindwein, pela confiança, apoio e
orientação, que foram decisivos para a realização desta dissertação.
Agradecimento especial também ao Prof. Sérgio Roberto Martins, pela co-orientação,
apoio e amizade.
Agradeço a todos os demais professores do Programa de Pós-Graduação em
Agroecossistemas, os quais pude obter valiosos conhecimentos.
Agradeço aos ilustres colegas do PGA, com carinho especial ao Luis Antônio, Jair,
Sebastián, Vitor Baiano, Medelen, Luiz Alejandro, Juan Carlos, Rosane, Guilherme,
Henrique, Manuela, Flávia, Júlio, Lícia, André, Marcos (Blumenau), Daiane e outros.
Agradeço ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pela oportunidade
de desenvolver este trabalho junto ás famílias assentadas e suas organizações.
Agradeço aos familiares que muito participaram nesta caminhada, em especial a Luiz
Carlos, pelo apoio, amizade e companheirismo.
VI
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
1.1 - Introdução 14
1.2 - Estrutura da dissertação 17
CAPÍTULO II
2.1 – Análise da atual situação da matriz energética 19
2.1.1 – Projeções para o setor energético 19
2.1.2 – Energias renováveis 22
2.1.3 – Matriz energética brasileira 22
2.1.4 – Mudanças climáticas e a agricultura brasileira 23
2.1.5 – Uso dos solos e as principais culturas da agroenergia 25
2.1.6 – Potencialidades da Biomassa 27
2.1.6.1 – Oleaginosas 29
2.1.6.2 – Etanol e seus índices de rendimento 30
2.1.6.3 - Resíduos florestais, pecuários e agrícolas 30
2.1.7 - Balanço energético e a agroenergia 32
2.1.8 - O biodiesel e a participação da agricultura familiar nesta cadeia produtiva 33
2.2 - O girassol como cultura energética 35
2.2.1 - Aspectos econômicos 35
2.2.2 - Principais características agronômicas do girassol 38
2.2.3 - Obtenção do óleo de girassol 40
2.2.4 - Potencialidades da torta de girassol 41
2.2.5 - Uso do óleo de girassol como combustível renovável 41
CAPÍTULO III – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1 - Localização, aspectos físicos e populacionais 43
3.2 - Estrutura fundiária 44
3.3 - Aspectos agrícolas 45
3.4 - Formação da Coopeal 46
CAPÍTULO IV – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 - Delineamento da pesquisa 48
4.2 - Coleta de dados 50
4.3 – Investigação de campo 52
4.4 - Análise dos dados 53
VII
CAPÍTULO V – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
5.1 - Dados dos agricultores familiares assentados 55
5.2 - Dados dos diretores da Coopeal e técnicos da Cooptrasc 60
5.3 - Aspectos agronômicos 61
5.3.1 - Arranjos produtivos que envolvem a cultura do girassol 61
5.3.2 - Produtividade e fatores limitantes 64
5.4 - Aspectos econômicos da produção de girassol 68
5.4.1 - O girassol frente a outras culturas 74
5.5 - Aspectos econômicos da industrialização do girassol pela Coopeal 76
5.5.1 - Alguns cenários 79
CAPÍTULO VI
CONCLUSÕES 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87
ANEXOS 93
VIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP – Agência Nacional de Petróleo
ATER - Assessoria Técnica de Extensão Rural
ATES – Assessoria Técnica Social e Ambiental
CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
CEPA – Instituto de Socioeconomia e Planejamento Agrícola
COOPEAL - Cooperativa de Produção, Industrialização e Comercialização Edson Adão
Lins
COOPTRASC – Cooperativa dos Trabalhadores da Reforma Agrária do Estado de Santa
Catarina
DESER - Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais
EIA - Agência Internacional de Energia
EJ - Exa Joules
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agrícola e Extensão Rural de Santa Catarina
GEEs – Gases de Efeito Estufa
GJ - Giga Joule
IAC – Instituto Agronômico de Campinas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
MME – Ministério das Minas e Energia
OIE – Oferta Interna de Energia
PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
PNUD - Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento
PRÓ-ALCOOL - Programa Nacional do Álcool
PROINFA - Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFV – Universidade Federal de Viçosa
IX
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Ilustração da evolução e uso de diferentes fontes de energia e as perspectivas
para o ano de 2100 com a participação das fontes de energias limpas................................20
Figura 02: Percentual de energia renovável no Brasil e em outros países...........................22
Figura 03: Evolução da Estrutura da Oferta Interna de Energia no Brasil...........................23
Figura 04: Processos de Conversão Energética da Biomassa..............................................28
Figura 05: Principais culturas produtoras de etanol de acordo com os maiores
produtores.............................................................................................................................30
Figura 06: Localização do município de Abelardo Luz/SC.................................................43
Figura 07: Idade e grau de escolaridade das pessoas que moram nos assentamentos onde
ocorreu a pesquisa................................................................................................................56
Figura 08: Principais fatores que motivaram os produtores introduzir o girassol nos
assentamentos rurais de Abelardo Luz – SC........................................................................57
Figura 09: Percepção dos produtores sobre os resultados obtidos com a produção do
girassol nos assentamentos rurais de Abelardo Luz – SC....................................................59
Figura 10: Arranjos produtivos de culturas anuais (em ha e culturas) de famílias assentadas
que cultivam girassol em Abelardo Luz- SC.......................................................................62
Figura 11: Receita líquida por hectare dos produtores nos arranjos produtivos dos
assentamentos de Abelardo Luz – SC..................................................................................74
LISTA DE QUADROS
Quadro 01: Principais diferenças entre o óleo vegetal natural e o biodiesel........................42
Quadro 02: Relação dos assentamentos rurais de Abelardo Luz/SC...................................44
LISTA DE FOTOS
Foto 01: Espaçamento do girassol cultivado em áreas sucedendo a cultura do fumo..........67
X
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Consumo por fontes de energia, em % em nível mundial..................................20
Tabela 02: Projeções mundiais para a Oferta e Demanda de Energia..................................21
Tabela 03: Dados nacionais sobre crescimento populacional e emissões de CO
2.......................
24
Tabela 04: Ocupação atual do solo do Brasil.......................................................................25
Tabela 05: Divisão da área plantada com grãos no Brasil - safra 2005/2006......................25
Tabela 06: Expansão da cana-de-açúcar e derivados no Brasil............................................26
Tabela 07: Conteúdo de óleos, colheitas e rendimentos de algumas culturas oleaginosas no
Brasil....................................................................................................................................29
Tabela 08: Produção de óleos vegetais usados em mistura direta de biodiesel no Brasil....33
Tabela 09: Evoluções da área, produção e produtividade de girassol no Brasil..................36
Tabela 10: Produtividade e teor de óleo de cultivares de girassol avaliados na Região Sul,
safra 2005/06 e safrinha 2006..............................................................................................38
Tabela 11: Idade dos familiares dos produtores de girassol entrevistados entre o sexo
masculino e feminino...........................................................................................................55
Tabela 12: Custo de produção do girassol cultivado na safrinha de 2007 por famílias
assentadas de Abelardo Luz – SC........................................................................................70
Tabela 13: Análise da sensibilidade da receita líquida em função da variação do custo de
produção do girassol.............................................................................................................72
Tabela 14: Receita obtida (ha) pelos produtores de girassol em Abelardo Luz – SC..........73
Tabela 15: Custo de produção (ha) dos principais cereais cultivados pelos agricultores
familiares assentadas de Abelardo Luz – SC.......................................................................75
Tabela 16: Receita líquida dos produtores de girassol entrevistados no município de
Abelardo Luz – SC.
Tabela 17: Indicadores de conversão e alíquotas de impostos para oleaginosas.................77
Tabela 18: Receita obtida através da industrialização do girassol a partir de dois cenários.
XI
RESUMO
O aumento da demanda por energia renovável e a pressão sobre o uso dos combustíveis fósseis
tornou-se a principal temática dos últimos anos, num momento em que indicadores
apontam para um aumento no consumo de energia e, conseqüentemente, para maiores
emissões de poluentes que provocam alterações no clima. Entre as fontes renováveis de
energia com destaque está a biomassa, com enorme potencial para a produção de matéria-
prima e geração de emprego. As recentes políticas governamentais, aliado a pesquisa e
demanda dos consumidores tem auxiliado a inserção da agricultura familiar neste
importante mercado, e dessa forma, este segmento tem ocupando espaço no fornecimento
de matéria-prima para a produção de biodiesel. Este trabalho analisa a produção de girassol
pelos agricultores familiares assentados de Abelardo Luz - SC e a industrialização dos
grãos pela Cooperativa Coopeal, numa estratégia de fortalecimento dos arranjos produtivos
locais e a inserção dos atores locais na cadeia produtiva do biodiesel. Para isto, neste
trabalho são discutidos aspectos relacionados aos atores sociais envolvidos, aspectos
agronômicos e econômicos do cultivo e industrialização do girassol. Os resultados
apontam que o girassol não tem substituído ás culturas principais, ocupando uma posição
marginal nas propriedades. Sob o aspecto agronômico, a maior limitação de produção está
relacionada a espaçamento inadequado, formação de “stand”, adubação e época de
semeadura. Do ponto de vista econômico, a incorporação da cultura do girassol como uma
safra adicional, dentro dos sistemas de produção vigentes, permitiu aumento de receita ás
famílias, sendo que a participação do girassol na formação desta renda para o grupo
entrevistado variou de 2,56% a 55%. Quanto à industrialização do girassol,
momentaneamente vender o óleo a granel é a opção mais sensata, pois com a atual escala
de produção os custos com embalagens e logística praticamente inviabilizam a atividade.
Atualmente, a comercialização da torta de girassol pela Coopeal amortiza em 47,68% das
despesas com a aquisição do grão, sendo este o elemento central para a viabilidade da
industrialização do girassol. Os benefícios decorrentes da inserção dos agricultores
familiares assentados nos sistemas de produção que envolvem o cultivo do girassol
refletem-se na oportunidade de diversificar renda, otimizando o uso dos solos e mão-de-
obra, podendo trazer importantes benefícios ao ambiente através do uso deste como fonte
energética.
Palavras-Chave: Agricultores familiares assentados, Energia renovável, Girassol,
Agroenergia, Biomassa.
XII
ABSTRACT
The increase of demand for renewable energy and pressure on the use of fossil fuels has
become the main theme of recent years, a time when indicators point to an increase in
energy consumption and, consequently, to higher emissions of pollutants that cause
changes on climate. Among renewable energy sources on evidence is the biomass, with
enormous potential for the production of raw materials and generation of employment.
Recent government policies, combined with research and consumer demand has helped the
integration of family farming in this important market, and thus, this segment is occupying
space in the supply of raw material for production of biodiesel. This work examines the
production of sunflower seeds by farmers settlers from Abelardo Luz and industrialization
of the grain by cooperative Coopeal, a strategy of strengthening local productive
arrangements and integration of local actors in the production chain of biodiesel. For this,
this paper discusses issues related to social actors involved, agronomic and economic
aspects of cultivation and industrialization of the sunflower. The results indicate that the
sunflower has not replaced the main crop, occupying a marginal position in the properties.
Under the agronomic aspect, the greatest limitation of production is related to inadequate
spacing, formation of "stand", fertilization and sowing date. From an economic
perspective, the incorporation of the culture of the sunflower as an additional crop within
the existing production systems, has increased income to families, with the share of the
sunflower in the income formation of the group interviewed ranging from 2.56 % to 55%.
As the industrialization of the sunflower, at the moment, selling the oil in bulk is the most
sensible option, because with the current scale of production the costs for packaging and
logistics practically prevents the activity. Currently, the marketing of sunflower pie by
Coopeal depreciates in 47.68% the costs of acquiring the grain, which is the central
element in the viability of sunflower industrialization. The benefits of integration of
farmers settled in production systems involving the cultivation of sunflower reflect on the
opportunity to diversify income, optimizing the use of land and labor, this can bring
important benefits to the environment through the use of this crop as an energy source.
Key-words: Settled farmers, renewable energy, Sunflower, Agroenergy, Biomass.
XIII
CAPÍTULO I
1.1 - INTRODUÇÃO
A produção de fontes de energia renovável para atender à demanda de consumo e
reduzir a pressão sobre o uso dos combustíveis fósseis tornou-se a principal temática dos
últimos anos, num momento em que indicadores apontam para um aumento no consumo de
energia e, conseqüentemente, para maiores emissões de poluentes que provocam alterações
no clima global.
O Brasil lidera a produção de energias limpas, principalmente por adotar o sistema
de geração hidráulico e pelo uso da biomassa. Conforme MME (2007), 43,9% da Oferta
Interna de Energia (OIE) é renovável, enquanto a média mundial é de 14% e nos países
desenvolvidos é de apenas 6%.
O país possui boas condições de produzir energia renovável a partir da biomassa,
pois a posição geográfica entre os trópicos, com solos, água e clima favoráveis permite
diferentes cultivos com finalidades alimentícias e energéticas em todas as regiões e
estações do ano. Conforme Gazzoni (2005, p. 150) prevê, ao tratar do conceito de
biomassa, três grandes vertentes dominarão o mercado da agricultura de energia: os
derivados de produtos intensivos em carboidratos e amiláceos, como o etanol; os derivados
de óleos vegetais, como o biodiesel e o ecodiesel; e os derivados de madeira e outras
formas de biomassa, como briquetes ou carvão vegetal.
A agricultura com vocação energética através do cultivo de vegetais teve
expressivo avanço nestes últimos anos, especialmente com ampliação de áreas com soja,
cana-de-açúcar, mamona, girassol e outras espécies perenes. Entre os fatores relacionados
está um conjunto de políticas públicas transversais, o aumento da demanda por
agrocombustível e a adoção no país do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
(PNPB) a partir do ano 2004. Conforme Monteiro (2007), o objetivo do PNPB é “fomentar
a produção e uso do biodiesel no Brasil e promover a inclusão social do agricultor familiar,
gerando renda e emprego, pela inserção do agricultor na cadeia produtiva do biodiesel”.
Junto com a criação do PNPB foram criados mecanismos para a participação da
agricultura familiar em etapas da cadeia produtiva, envolvendo inúmeros atores sociais,
desde agências financiadoras, organismos institucionais, entidades representativas da
agricultura e a sociedade civil organizada. Além disso, linhas de crédito para a produção
específicas nas modalidades custeio e investimento, ATER (Assessoria Técnica de
14
Extensão Rural), pesquisa e infra-estrutura buscam consolidar o cultivo das oleaginosas na
agricultura familiar.
Entre as oleaginosas com finalidade energética que mais se destacam está o
girassol, com capacidade de cultivo em todas as regiões do país, sendo considerado a
oleaginosa com maior condição de atender à demanda brasileira de biodiesel, depois da
soja. No mundo todo, o girassol encontra-se entre as cinco maiores culturas oleaginosas
produtoras de óleo vegetal.
O girassol possui um elevado teor de óleo, é resistente à falta de água, adapta-se
bem em praticamente todo o país e possui um custo de produção menor que outras
oleaginosas (CASTRO, 2007). Seu rendimento é pouco influenciado pela altitude e pelo
fotoperíodo, facilitando a sua introdução nas diferentes condições edafoclimáticas das
áreas tradicionais de produção.
As perspectivas para a produção do girassol são promissoras, pois esta cultura pode
ocupar principalmente áreas ociosas da safrinha e pode ser usada tanto para a alimentação
(humana e animal), bem como para a apicultura. Por outro lado, o cultivo do girassol
contribui para a diversificação das atividades agrícolas da agricultura familiar.
Conforme dados da Embrapa (2007), o cultivo do girassol no Brasil se em
época distinta da época de semeadura das principais culturas destinadas à produção de
alimentos; existe grande espaço para a produção de óleo/torta de girassol (alimentação
humana e animal); o girassol é uma opção de diversificação nos sistemas de rotação e
sucessão de cultivos de grãos; além de abrir nova perspectiva de cultivo e renda para o
agricultor, também permite romper o ciclo gramínea/leguminosa, com ganhos agronômicos
para o sistema; políticas públicas estratégicas poderão afetar fortemente o mercado de
óleos; a oferta global de óleos irá direcionar aqueles nutricionalmente mais adequados para
o mercado de óleo comestível, enquanto outros óleos serão dirigidos para o mercado de
energia; a produção de energia está diretamente relacionada ao custo de produção de cada
matéria-prima e à logística de transporte; o balanço de energia será determinante para o
sucesso de uma fonte de matéria-prima”.
Pelas regras atuais, o crescente mercado para biodiesel tende a usar cada vez mais a
produção de oleaginosas produzidas pela agricultura familiar, abrindo novas oportunidades
de trabalho e renda a este setor, visto que existe disponibilidade de mão-de-obra para o
cultivo. Além disto, sua inserção seria facilitada pela organização desses agricultores em
cooperativas, permitindo agregar resultados produtivos de muitos produtores, integrando-
15
os a uma escala de venda compatível com as demandas do mercado. Por meio destes
mecanismos, inclusive, é possível melhorar a receita das famílias produtoras de
oleaginosas se houver a extração do óleo com pequenas prensas, onde os subprodutos
retornam às famílias de agricultores para serem usados na alimentação animal. Conforme
Monteiro (2007, p. 4), “várias seriam as vantagens em inserir o agricultor familiar na
cadeia produtiva do biodiesel. Além da possibilidade de geração de renda e empregos
agrícolas, o apoio à inserção dos agricultores familiares na cadeia produtiva de biodiesel
tende a fomentar a diversificação de cultivos agrícolas regionais”.
Os agricultores familiares assentados de Abelardo Luz/SC pertencem ao maior
contingente de famílias em um único município em SC e a um dos maiores do Brasil. A
base produtiva está relacionada à produção de grãos (milho, soja e feijão), fumo e leite e,
mais recentemente, a produção de girassol que passou a ser industrializada pela
cooperativa Coopeal ou vendida a empresas de biodiesel. A Coopeal (Cooperativa de
Produção, Industrialização e Comercialização Edson Adão Lins) tem como finalidade
planejar, centralizar e canalizar os investimentos realizados nas áreas de reforma agrária,
buscando abranger o máximo número de famílias. Desta forma, a produção de girassol
com finalidade energética está associada a atividades agrícolas, pecuárias e agroindustriais,
integrando diretamente vários arranjos produtivos locais.
A inserção do agricultor familiar assentado na cadeia produtiva das energias
renováveis será analisada nesta dissertação tendo-se em foco o potencial de geração de
renda decorrente do cultivo do girassol no período da safrinha. Aliados a isto, também será
analisada a industrialização e comercialização do óleo e torta de girassol pela Coopeal.
O objetivo geral desta dissertação é analisar a viabilidade da produção de girassol
como uma alternativa de renda aos agricultores familiares assentados e sua cooperativa no
município de Abelardo Luz - SC.
Para atingir o objetivo proposto nesta dissertação foram estabelecidos os seguintes
objetivos específicos:
a) Identificar as motivações e percepção dos atores envolvidos na cadeia produtiva
do girassol em Abelardo Luz – SC;
b) Analisar indicadores agronômicos do girassol produzido por agricultores
familiares assentados;
c) Destacar aspectos econômicos relevantes dos sistemas de produção dos
agricultores familiares assentados que produzem girassol;
16
d) Analisar aspectos econômicos da produção de óleo e aproveitamento dos
subprodutos do girassol pela cooperativa Coopeal.
1.2 - Estrutura da dissertação
A dissertação es estruturada em seis capítulos. O capítulo 1 é composto da
introdução da dissertação propriamente dita, ressaltando-se a relevância do tema da
pesquisa, a hipótese, o objetivo geral e os objetivos específicos. Nesse capítulo é
apresentado o problema que será discutido no desenvolvimento da dissertação, ou seja,
diante da crescente demanda de energias renováveis, em que medida a produção de
girassol, como matéria prima para obtenção de biodiesel e também como matéria prima
para venda de óleo comestível com o aproveitamento local dos subprodutos, constitui-se
em alternativa viável para ser incorporada pela COOPEAL como eixo de produção e como
opção de geração de trabalho e renda para agricultores familiares assentados do município
de Abelardo Luz - SC.
O capítulo 2 está estruturado em duas etapas a fim de cumprir com os objetivos
propostos para a dissertação. Na primeira é realizada uma análise da atual situação da
matriz energética e as projeções para as próximas décadas, com destaque aos aspectos
relacionados à biomassa, agricultura e aspectos ambientais. Em seguida, discute-se as
potencialidades que a biomassa apresenta, contemplando-se aspectos relacionados às
principais fontes agrícolas, aos resíduos e ao balanço energético de diferentes
agrocombustíveis. Outro aspecto abordado e que está correlacionado é a perspectiva da
agricultura familiar frente ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB.
Na segunda etapa expõem-se elementos referentes à cultura do girassol como
possibilidade energética em arranjos produtivos. Neste aspecto são tratados temas
relacionados com a importância da cultura e com os aspectos agronômicos (produtividade,
vantagens, etc.). Também são apresentados aspectos referentes ao processo de obtenção do
óleo do girassol e da torta, bem como as possibilidades do seu uso. Por último, são
avaliados aspectos referentes à utilização do óleo de girassol para finalidade energética.
O capítulo 3 apresenta a caracterização da área de estudo, abrangendo informações
referentes à localização e aos aspectos físicos e populacionais da região. A seguir é vista a
estrutura fundiária do município a partir da implantação dos projetos de assentamento da
reforma agrária e os principais aspectos agrícolas do município, com destaque para as
17
atividades de cultivo do milho, soja, fumo e produção leiteira. Também neste capítulo é
feita referência à formação e objetivos da Coopeal, demonstrando-se como esta
cooperativa articula e mobiliza diferentes arranjos produtivos locais, especialmente
relacionados à produção do girassol cultivado pelas famílias assentadas.
O capítulo 4 é caracterizado por detalhar a metodologia adotada nesta pesquisa e
foca-se em demonstrar como foi delineado o estudo, como foi a coleta de dados e como
foram realizadas as análises qualitativas e quantitativas destes dados coletados em campo
através das entrevistas com os agricultores familiares assentados, com os diretores da
Coopeal e com os técnicos da Cooptrasc.
No capítulo 5 são analisados e discutidos os dados coletados na pesquisa. Para isto,
inicialmente são apresentadas informações referentes aos agricultores familiares
assentados, seguidas das informações relativas aos diretores da Coopeal e técnicos da
Cooptrasc. Em seguida são examinados aspectos agronômicos do girassol cultivado pelo
conjunto das famílias assentadas, contemplando-se elementos de produtividade e os
principais fatores que interferiram no desempenho do girassol cultivado de 2007. Ainda
neste capítulo são analisados os principais aspectos econômicos da remuneração
proporcionada pela venda do girassol aos seis produtores entrevistados, confrontando com
a receita líquida das demais atividades produtivas de cada família frente a esta oleaginosa.
Em seguida, o autor apresenta dados econômicos da industrialização do girassol pela
Coopeal e a receita possível através da comercialização do óleo e da torta do girassol,
apresentando-se diferentes cenários para estes itens.
Por fim, no capítulo 6 desta dissertação o autor expõe as principais conclusões e
considerações finais da pesquisa referente à produção do girassol pelas famílias assentadas
e sua industrialização pela cooperativa, as quais estão relacionadas aos objetivos e hipótese
formulados para este trabalho.
18
CAPÍTULO II
2.1 - Análise da atual situação da matriz energética
2.1.1 - Projeções para o setor energético
O sol é a maior fonte de energia existente, considerado por Vidal e Vasconcelos
(1988, p. 162) “um grande reator nuclear a fusão, com diversas formas secundárias de
energia
1
”. A humanidade desenvolveu sua trajetória alicerçada em fontes de energia
2
que
tiveram e têm origem na biomassa através de um processo químico denominado
fotossíntese. Nos dias atuais, as principais fontes de energia usadas são de origem fóssil,
principalmente o petróleo, que é resultante de um conjunto de hidrocarbonetos
3
, compostos
de hidrogênio e carbono. A figura 01 ilustra a trajetória das principais fontes de energia
usadas pelo homem e faz uma previsão até o ano de 2100, apresentando a possível
evolução para o consumo de diferentes fontes de energia. Fica evidente o crescimento de
fontes de energia renovável, especialmente a solar e a biomassa, e um recuo das fontes
poluidoras como carvão mineral e petróleo. O Hidrogênio poderá ser uma grande
alternativa energética, porém os custos para a produção ainda são bastante elevados.
Nos últimos 30 anos o consumo mundial de energia vem apresentando pequenas e
significativas mudanças no que se refere à origem das fontes energéticas. Conforme dados
da tabela 01, no período que corresponde a 1975 até 2005 houve um aumento do consumo
de combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, uma diminuição proporcional frente a outras
fontes energéticas, ou seja, os combustíveis fósseis passaram a ter menos participação no
1
1
As diversas formas secundárias de energia, que têm como origem primária o Sol, podem ser divididas em
dois grupos; isto de acordo com as extensões dos períodos de tempo que são requeridos para adquirir a
conformação em que se encontram quando utilizadas pelo homem. As que exigem relativamente pouco
tempo, como aquelas responsáveis pela formação dos ventos, a energia gravitacional das águas e a biomassa,
são ditas renováveis. Contrariamente, outras formas exigem para sua formação ou renovação verdadeiros
períodos geológicos (dezenas ou centenas de milhões de anos para se formarem). Nesta categoria se
encontram os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão mineral, etc.). (VIDAL; VASCONCELOS,
1988, p.163).
2
Todas as fontes de energia usadas pelo homem são abastecidas pelo sol, especialmente por meio da
fotossíntese. Elas, quando usadas, reduzem os efeitos negativos predadores produzidos pela queima dos
fósseis, os quais aumentam artificialmente o estado entrópico do planeta levando-o à degradação pelo efeito
estufa, chuvas ácidas, entre outros. Ou seja, o Sol é um gigantesco e permanente reator à fusão nuclear, cujo
núcleo central emite energia em todas as direções constituindo-se na fonte original de todas as formas
energéticas usadas pelo homem e pela natureza em suas transformações. “Nada se move ou se transforma na
natureza física sem energia” diz o Princípio da Termodinâmica. três exceções que não dependem do
sol: a) a energia das marés, que resulta da atração gravitacional Terra - Lua; b) a geotermia que provém do
núcleo central da Terra composto de metais (Fe e Ni) fundidos e c) as energias nucleares, fissão e fusão.
Todas as demais fontes de energia têm origem no Sol (energias hidráulica, eólica, fóssil e as da biomassa).
(VIDAL; VASCONCELOS, 1988, p. 254).
3
São hidratos de carbono fossilizados em processo geológico de centenas de milhões de anos, quer dizer,
hidratos de carbono deixam de sê-lo ao perderem suas moléculas e se transformarem em petróleo, carvão, gás
natural e outros fósseis (VIDAL; VASCONCELOS, 1998, p.254).
19
contexto global. De outro lado, a energia produzida a partir da biomassa e as energias
hidroelétrica, solar e eólica conquistaram ainda mais importância no campo energético e,
gradativamente, deverão substituir fontes energéticas de maior potencial poluidor e com
estoques de baixo tempo de exploração de acordo com o atual ritmo de consumo.
Figura 01. Ilustração da evolução e uso de diferentes fontes de energia e as
perspectivas para o ano de 2100 com a participação das fontes de energias limpas
Tabela 01 - Consumo por fontes de energia, em % em nível mundial
Fonte energética 1975 2005
Petróleo 48,2 43,4
Gás natural 14,3 15,6
Carvão mineral 13,1 8,3
Fontes renováveis 13,5 12,9
Outras 10,9 19,8
Fonte: Agência Internacional de Energia (IEA)/MME, 2007.
A sociedade contemporânea será ainda mais dependente de fontes energéticas para
satisfazer seu padrão de consumo, o que implicará em desenvolver sistemas mais eficientes
de aproveitamento e conversão de energia, como por exemplo, veículos mais leves e com
menor consumo de combustível, desenvolvimento de vegetais com maior potencial para
produção de matéria prima com fins energéticos, co-geração e aproveitamento de resíduos.
Embora os sistemas energéticos caminhem na direção de aumentar sua eficiência, o
aumento no consumo de energia poderá levar à destruição de ecossistemas inteiros e uma
parcela significativa da população continuará excluída da utilização de recursos
energéticos.
20
A taxa de crescimento da população é menor do que a taxa de crescimento da
demanda por energia, o que implica maior pressão sobre o ambiente. A tabela 02 apresenta
a oferta e demanda energéticas desde 1990 e faz projeções para o ano de 2030. Como se
pode observar, todos os indicadores apontam para um aumento no consumo de energia e,
conseqüentemente, maiores emissões de poluentes que provocam alterações no clima
global, especialmente pelos aumentos na concentração de CO
2
e CH
4
.
Tabela 02 – Projeções mundiais para a Oferta e Demanda de Energia
Indicadores Globais 1990 2000 2010 2020 2030
População (milhões) 5.248 6.102 6.855 7.558 8.164
Consumo de energia per capita (tep) 1,7 1,6 1,8 1,9 2,1
% de renováveis no consumo 13 13 11 9 8
Consumo de eletricidade per capita - kWh 1,8 2,1 2,4 3 3,7
Emissões de CO
2
per capita (ton CO
2
) 4 3,9 4,3 4,9 6
Consumo de combustíveis per capita (tep) 0,26 0,28 0,3 0,32 0,34
Produção primária (Mtep) 8,53 9.953 12.110 14.611 17.213
Carvão, Linhito 1.901 2.389 2.931 3.723 4.757
Petróleo 3.258 3.517 4.250 5.099 5.878
Gás natural 1.754 2.129 2.860 3.693 4.340
Nuclear 509 663 799 792 872
Hidro, Geométrica 193 238 290 342 392
Madeira e Resíduos 904 1002 949 908 900
Eólica, Solar e PCH 11 15 30 54 73
Consumo interno total (Mtep) 8.668 9.980 12.043 14.514 17.065
Carvão, Linhito 2.168 2.371 2.913 3.704 4.739
Petróleo 3.104 3.591 4.250 5.099 5.878
Gás natural 1.747 2.127 2.859 3.689 4.323
Eletricidade primária 746 890 1.072 1.114 1.225
Madeira e Resíduos 904 1002 949 908 900
Consumo final de energia (Mtep) 6.270 7.124 8.682 10.425 12.132
Carvão, Linhito 882 762 1.100 1.371 1.626
Petróleo 2.540 2.998 3.609 4.339 5.041
Gás natural 960 1.102 1.423 1.704 1.859
Calor 179 234 235 236 238
Eletricidade 832 1.083 1.442 1.974 2.621
Madeira e Resíduos 865 945 872 800 748
Indústria 2.411 2.524 3.190 3.800 4.289
Transportes 1.459 1.733 2.056 2.413 2.796
Residencial, Serviços e Agricultura 2.437 2.867 3.437 4.213 5.047
Emissões de CO
2
(Mton), dos quais: 20.843 23.781 29.376 36.738 44.498
Geração de eletricidade 6.943 8.261 9.393 12.191 15.809
Indústria 4.752 4.390 5.674 6.665 7.302
Transportes 4.228 5.125 6.096 7.163 8.306
Residencial, Serviços e Agricultura 3.249 3.748 5.353 7.110 8.665
Nota: Taxa de Crescimento Mundial da Demanda de Energia: 1,8% a.a.
Fonte: MME (2005).
21
2.1.2 - Energias renováveis
Quanto ao campo das energias renováveis, pode-se afirmar que esta é uma área da
sociedade contemporânea na qual existirá uma fantástica concentração de poder,
principalmente político e econômico. De fato, está-se construindo um novo mercado
imensamente estratégico que deve substituir parcialmente a civilização do petróleo, com
impactos substanciais em todas as dimensões.
Energias renováveis são provenientes de ciclos naturais de conversão da radiação
solar, que é a fonte primária de quase toda energia disponível na terra. Por isso, são
praticamente inesgotáveis e não alteram o balanço térmico do planeta. As formas ou
manifestações mais conhecidas são: a energia solar, a energia eólica, a biomassa e a
hidroenergia (RODRIGUES, 2004). A figura abaixo apresenta a participação mundial em
energias renováveis, de acordo com os principais produtores. O Brasil lidera a produção de
energias limpas, principalmente por adotar o sistema de geração hidráulico e também da
biomassa (álcool da cana-de-açúcar).
Figura 02 – Percentual de energia renovável no Brasil e em outros países.
Fonte: D’ARCE, 2005.
2.1.3 - Matriz energética brasileira
O Brasil está entre os países que possuem os melhores indicadores de produção e
uso de energia renovável. Conforme o PROINFA (2007), 43,9% da Oferta Interna de
Energia (OIE) é renovável, enquanto a média mundial é de 14% e nos países
desenvolvidos é de apenas 6%. Até a década de 1970, o Brasil dependia da lenha e do
carvão vegetal em aproximadamente 50% no fornecimento energético.
Conforme a figura 03, as projeções para as próximas duas décadas no Brasil
apontam um aumento na participação de fontes renováveis de energia, com destaque para a
22
biomassa. No ano de 2030, é previsto que somente a cana-de-açúcar participe com 18,5%
no fornecimento energético brasileiro, superando, inclusive, a energia hidráulica,
atualmente a tecnologia mais barata e eficiente.
Figura 03 - Evolução da Estrutura da Oferta Interna de Energia no Brasil.
Fonte: MME, 2007.
A produção de energias renováveis através de biocombustíveis ganhou visibilidade
e reconhecimento no mundo inteiro nestes últimos anos, impulsionada pelos efeitos
negativos dos combustíveis fósseis ao ambiente, pela diminuição das reservas de petróleo e
pela entrada em vigor, em 2005, do Protocolo de Kyoto que estabelecia que até 2012 cada
país reduzisse em 5% o combustível de petróleo por combustível limpo, biodegradável e
oriundo de biomassa.
2.1.4 - Mudanças climáticas e a agricultura brasileira
Em nível global, as principais causas da emissão dos gases de efeito estufa (GEE),
e, consequentemente, do aquecimento global, são antropogênicas e estão relacionadas à
queima de combustíveis fósseis, desmatamentos, queimadas, mudanças no uso do solo,
alagamentos, entre outros. No Brasil, as queimadas, a pecuária, a queima de resíduos
agrícolas e uso dos solos são as atividades que mais produzem gases de efeito estufa.
Segundo dados da Embrapa (2007), somente as queimadas e o uso inadequado dos solos
representam 75% das emissões de CO
2
.
23
Na tabela abaixo são mostradas as perspectivas de crescimento populacional no
Brasil e a expectativa de aumento de CO
2
na atmosfera, evidenciando-se que as próximas
décadas deverão ser de climas mais quentes e adversos. Entretanto, outros gases além do
CO
2
que também são responsáveis pela mudança climática, como o metano (CH
4
),
monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N
2
O) e óxido de nitrogênio (NOx). Os reflexos
serão mudanças nos regimes de chuvas (enchentes e secas), perda de biodiversidade, erosão
dos solos, desertificação, alagamentos de áreas atualmente usadas para agricultura ou
mesmo ocupadas por moradias e agravamento dos problemas de saúde, especialmente as
doenças tropicais.
Tabela 03 - Dados nacionais sobre crescimento populacional e emissões de CO
2
Indicadores 2005 210 2020 2030
População (milhões) 184 198 220 239
CO
2
/População (t O
2
/hab.) 1,76 2,09 2,55 3,23
Fonte: MME, 2007.
A agricultura é altamente vulnerável às mudanças climáticas. Dados do PNUD
(2007) afirmam que “se o aquecimento global não for controlado, a capacidade de produção
agrícola deve cair 9% nos países em desenvolvimento até o ano de 2080”. As regiões
tropicais e subtropicais poderão ser as mais afetadas se as projeções de aumento da
temperatura no planeta se confirmarem, o que poderá desencadear uma série de eventos
desastrosos para a agricultura (produção de alimentos e geração de emprego).
[...] A América Latina está entre as regiões em que a agricultura mais sofrerá: o
potencial produtivo deve cair 13%, proporção menor que a da África (17%), maior
que a da Ásia (9%) e do Oriente Médio (9%). Nos países desenvolvidos, a tendência é
oposta: deve haver crescimento de 8%. (PNUD, 2007, p.2).
A percepção sobre o aquecimento global tende a aumentar muito com o aumento da
freqüência de eventos climáticos como secas, enchentes e outras catástrofes naturais.
Assim, os combustíveis derivados da biomassa poderão ocupar um papel importante como
atenuador da fase de transição para outra matriz energética que possivelmente apresentará
o predomínio de energia solar, eólica, de hidrogênio, nuclear e, complementarmente, de
biomassa.
24
2.1.5 - Uso dos solos e as principais culturas da agroenergia
O Brasil apresenta uma das maiores áreas do mundo ocupadas por sistemas
agrícolas, com destaque para produção de grãos, pecuária, silvicultura, cana-de-açúcar,
café e uma grande diversidade de frutas. A ocupação das áreas brasileiras está distribuída
na tabela 4, a seguir, com destaque para a área destinada a pastagens, na sua maioria para
gado de corte em sistema extensivo.
Tabela 04 – Ocupação atual do solo do Brasil
Tipo de uso ou ocupação 10
6
ha %
Floresta Amazônica e áreas de proteção ambiental 405 47,6
Áreas urbanas, vias, cursos d’água, e outros 20 2,4
Pastagens 210 24,7
Culturas temporárias e permanentes 61 7,2
Florestas cultivadas 5 0,6
Fronteira agrícola 90 10,6
Outros Usos 60 7,1
TOTAL 851 100
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (2006).
Nos últimos anos as culturas que tiveram maior expansão da área cultivada foram a
de soja e a de cana-de-açúcar, duas commodities com forte vínculo energético. A tabela 05
apresenta a distribuição da área de grãos cultivados em 2006, sendo que a soja representa
no Brasil quase metade da área cultivada, ou seja, 47% somente com esta oleaginosa.
Tabela 05 - Divisão da área plantada com grãos no Brasil - safra 2005/2006
Culturas Área (milhões de ha) Porcentagem (%)
Soja 22,2 47
Milho 12,9 27,3
Feijão 4,2 8,9
Arroz 3 6,4
Trigo 2,4 5,1
Algodão 0,8 1,7
Outros 1,7 3,6
Total 47,2 100
Fonte: Conab, 2006.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja com uma produção, em 2005,
de mais de 51 milhões/toneladas, o que corresponde a 24% do total. Os EUA são o maior
produtor com 85 milhões/toneladas e a Argentina está em terceiro lugar, com pouco mais
de 18 milhões de toneladas (SCHLESINGER; NORONHA, 2006).
A soja brasileira que não é exportada é destinada à produção de óleo (usado para
alimentação humana e biodiesel) e de farelo (ração para produção de proteína animal). Pela
25
abundância e qualidade nutricional, o farelo de soja passou a ser o componente mais
desejável de importantes concentrados proteicos.
Em 2003, o governo brasileiro criou o Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel, com um conjunto de políticas e ações para substituir parte do diesel consumido
por combustíveis de origem vegetal e animal - conhecidos como renováveis - por emitirem
menores índices de poluentes no ambiente. Neste cenário, a cultura da soja foi incorporada
para servir de matéria prima para a produção de biodiesel, apesar das críticas de que a soja
tem baixíssima eficiência energética, reduzida produção de óleo, privilegia os interesses do
agronegócio e apresenta maiores impactos para o ambiente.
A cana-de-açúcar ocupará ainda maior destaque, principalmente em função do
aumento do consumo de etanol e do desenvolvimento de novas tecnologias de utilização
do bagaço, palha e folhas. Estes passaram a ser recolhidos e transformados em etanol,
aumentando ainda mais a eficiência deste vegetal.
A ampliação da área com cana será bastante significativa, conforme demonstra a
tabela 07, passará de 5,6 milhões de hectares em 2005 para 13,9 milhões de hectares em
2030, o que corresponderá a um aumento de 248% em 25 anos. O setor de transportes será
majoritariamente o maior consumidor de etanol nas próximas décadas, tendo implicações
tanto de ordem ambiental como social.
Tabela 06 - Expansão da cana-de-açúcar e derivados no Brasil
Cana-de-açúcar 2005 2010 2020 2030
Produção (10
6
t) 431 518 849 1.140
Área plantada (10
6
ha) 5,6 6,7 10,6 13,9
Produtividade (t/ha) 77 77,3 80,1 81,4
Açúcar (10
6
t)
Produção 28,2 32 52 78
Exportação 17,8 21-23 28-30 31-37
Etanol (10
6
m
3
)
Produção 16 24 48 66,6
Exportação 2,5 4,4 14,2 12
Consumo em transportes 13,3 18,6 32,4 53,3
Biomassa (10
6
t)
Bagaço 58 70 119 154
Palha 60 73 119 160
Fonte: MME, 2007.
26
2.1.6 - Potencialidades da Biomassa
O Brasil possui boas condições de produzir energia renovável a partir da biomassa
4
,
pois a posição geográfica entre os trópicos, com solos, água e clima favoráveis permite
diferentes cultivos com finalidades alimentícias e energéticas em todas as regiões e
estações do ano. Conforme Gazzoni (2005, p.150), sob o conceito de biomassa, três
grandes vertentes dominarão o mercado da agricultura de energia: os derivados de produtos
intensivos em carboidratos e amiláceos, como o etanol; os derivados de óleos vegetais,
como o biodiesel e o ecodiesel; e os derivados de madeira e outras formas de biomassa,
como briquetes ou carvão vegetal.
Em regiões tropicais e subtropicais, as condições climáticas para produção vegetal
são superiores àquelas de regiões de clima temperado, onde a incidência do sol é menor,
fator que diminui a intensidade de energia do sol para a realização da fotossíntese. Nos
trópicos a radiação solar é intensa durante todas as estações do ano, proporcionando
melhores índices de produção de biomassa. É justamente nessas regiões, mais quentes e
com disponibilidade de recursos naturais, que o mundo volta os olhos para a produção de
energia a partir de vegetais, como é o caso dos agrocombustíveis, resíduos agrícolas,
florestas, entre outras. O Brasil apresenta enormes vantagens mesmo em relação aos países
situados nos trópicos, pois os países da África e da Austrália estão cobertos por extensos
desertos ou em fase de desertificação, fator limitante (até os dias atuais) para produzir
culturas energéticas.
Segundo Gazzoni (2005, p.151), através da agroenergia serão estabelecidas relações
complexas entre agropecuária, a agroindústria, a indústria energética e a indústria química,
permitindo um escalonamento no processo de agregação de valor dos produtos agrícolas.
Peres, Freitas Júnior e Gazzoni (2005) apontam que, além dos aspectos
econômicos e ambientais, a agricultura de energia pode também se tornar uma grande
alternativa para a agricultura familiar. Com base nas oleaginosas para a produção de óleo
diesel vegetal, podem-se derivar inúmeras outras cadeias produtivas, gerando empregos e
renda para esse segmento de agricultores.
4
O termo biomassa compreende a matéria vegetal gerada pela fotossíntese e seus diversos produtos e
subprodutos derivados, tais como florestas, culturas e resíduos agrícolas, dejetos animais e matéria orgânica,
contida nos rejeitos industrial e urbano. Essa matéria contém a energia química acumulada através da
transformação energética da radiação solar e pode ser diretamente liberada por meio da combustão, ou ser
convertida, através de diferentes processos, em produtos energéticos de natureza distinta, tais como carvão
vegetal, etanol, gases combustíveis e de síntese, óleos vegetais combustíveis e outros (MME, p.142).
27
Assim como a energia hidráulica e outras fontes renováveis, a biomassa também é
uma forma indireta de energia solar, pois resulta da conversão da energia solar em energia
química por meio da fotossíntese que é a base dos processos biológicos dos seres vivos.
Estima-se a existência de 2 trilhões de toneladas de biomassa no globo terrestre, ou seja,
cerca de 400 toneladas per capita, o que, em termos energéticos, corresponde a oito vezes o
consumo mundial de energia primária, hoje da ordem de 400 EJ por ano (MME, 2007).
As diferentes fontes de biomassa para fins energéticos podem ser convertidas
através de nove processos, conforme ilustrado na figura 04, originando também nove
fontes de energia aptas para serem consumidas. Cada processo de conversão apresenta
diferentes graus de eficiência e custos de obtenção final de energia, sendo que, no
momento, a esterificação é a mais cara e complexa.
Figura 04 - Processos de Conversão Energética da Biomassa
Fonte: Atlas de Energia Elétrica do Brasil (ANEEL, 2003).
A produção de energia a partir da biomassa não é nenhuma novidade. Mas foi na
década de 70 que o Brasil deu um passo importante ao adotar o programa Pró-álcool, o
qual passou a produzir etanol de cana-de-açúcar em grande escala, tanto para o mercado
interno como para o externo. Um novo salto de produção de energia de biomassa foi dado
28
a partir de 2004 com a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel
(PNPB), sendo que, desta vez, através do uso de oleaginosas e gorduras de animais. O
biodiesel passou a ser misturado ao diesel de petróleo obrigatoriamente a partir do ano de
2008, prevendo aumento progressivo.
A biomassa com finalidade energética desempenhará um papel estratégico em um
reduzido espaço de tempo e seu crescimento está diretamente relacionado a fatores como o
aumento de áreas cultivadas com vegetais de alta produtividade de matéria seca; o
desenvolvimento de sistemas de coleta, transporte, industrialização e armazenamento de
resíduos; as políticas públicas de fomento e apoio tecnológico e desenvolvimento de
tecnologias adaptadas a cada realidade.
2.1.6.1 - Oleaginosas
O Brasil apresenta uma grande diversidade de espécies vegetais para a produção de
óleos e biodiesel, sendo que as principais encontradas são: soja, mamona, dendê, girassol,
canola, palmiste, babaçu, amendoim, tucumã, caroço de algodão, pequi, tungue, semente
de gergelim, pinhão manso, buriti, nabo forrageiro, jojoba e linhaça. As principais culturas
exploradas atualmente e seu rendimento estão citadas na tabela 07. Como se observa, com
base na produção de óleo, as espécies com maior potencial energético são as perenes, com
destaque para o dendê, e nas culturas anuais o girassol lidera a lista das oleaginosas.
Tabela 07 - Conteúdo de óleos, colheitas e rendimentos de algumas culturas oleaginosas no
Brasil.
Espécie Conteúdo de óleo (%) Rendimento (ton/ha) Óleo (ton/ha)
Algodão 15 0.8 - 3 0.1 - 0.2
Amendoim 40 - 43 2.1 0.6 - 0.8
Babaçu 66 0.15 - 0.45 0.1 - 0.3
Coco 55 - 60 6.5 1.3 - 1.9
Canola/Colza 40 - 48 1.25 - 2.25 0.5 - 0.9
Dendê 20 9.1 3/jun
Girassol 38 - 48 1.3 0.5 - 1.9
Mamona 43 - 45 0.95 0.5 - 0.9
Soja 17 2.7 0.2 - 0.4
Fonte: Meireles (2003 apud Bizzo, 2007).
De acordo com Mantovani (2006), o Brasil tem potencial para utilizar diversas
culturas como fonte de agrocombustível. Estima-se uma área com aptidão para cultivo de
dendê de 30 milhões de hectares; já para o cultivo de babaçu nativo são 17 milhões e para
o cultivo de Buriti nativo são 2 milhões. Contudo, Fuchs (2006, p.79) é ainda mais otimista
29
ao afirmar que, “se plantássemos oleaginosas de alto rendimento em 3 a 5% da superfície
dos continentes de nosso planeta, poderíamos esquecer definitivamente o petróleo sem
deixar de produzir alimentos”.
2.1.6.2 - Etanol e seus índices de rendimento
O Brasil possui o maior índice de produtividade do mundo em etanol. A figura 05
demonstra a alta produtividade da cana-de-açúcar, líder entre todas as culturas que
apresentam aptidão para produzir etanol. No entanto, outras culturas como a mandioca e da
beterraba chamam a atenção, sendo estas duas espécies que apresentam bons índices de
rendimento para fins energéticos.
Produtividade de Etanol e Biodiesel
6.800
5.400
5.200
3.100
3.100
2.400
640
1.408
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
Etanol de
cana
Etanol de
beterraba
Etanol de
cana
Etanol de
m ilho
Etanol de
m andioca
Etanol de
trigo
Etanol de
celulos e*
Biodies el
de colza*
Litros por hectare
Brasil
UE- União Européia
UE
India
EUA
Tailândia
Figura 05 - Principais culturas produtoras de etanol de acordo com os maiores produtores
Fonte: Agência Internacional de Energia (2005).
2.1.6.3 - Resíduos florestais, pecuários e agrícolas
A oferta de biomassa a partir de resíduos tem crescido significativamente no Brasil
e desperta a atenção de pesquisadores, empresas e governos, todos interessados em usufruir
esse potencial energético ainda subutilizado. Toda atividade agrícola, pecuária e florestal
produz resíduos durante seu ciclo produtivo os quais apresentam potencialidades de uso
para determinados produtos que podem vir a servir como fontes de energia. Entre os
principais produtos estão o biogás, produzido pelo processo anaeróbio a partir de dejetos
animais, especialmente os dos suínos, bagaço e palha da cana-de-açúcar, restos da indústria
madeireira, caroços para geração de calor e assim por diante. O metano gerado a partir de
30
lixões, esgoto ou de outra fonte de matéria orgânica também apresenta grande potencial
energético.
Resíduos florestais - Estima-se que aproximadamente 20% de toda uma floresta
cultivada são deixadas no local (CERPCH, 2007). Todo esse material se constitui num
resíduo florestal
5
altamente importante para fins energéticos, seja carvão ou outra forma de
conversão desta biomassa. Outra importante fonte de resíduo tem origem na madeira
beneficiada pelas indústrias, sendo casca, costaneira, cavaco, maravalha, serragem e de
serra as mais importantes. Atualmente o uso de briquete
6
está em expansão e apresenta
grandes vantagens, tais como facilidade de armazenamento e transporte, maior poder
calorífico e facilidade de manejo.
Resíduos animais - O aproveitamento de resíduos animais, seja através do uso de
gordura ou através do biogás, apresenta um importante potencial para produção de energia
até o momento pouco explorado. Por outro lado, os resíduos dos animais atualmente
representam importante fonte de emissão de gases de efeito estufa, principalmente o
metano, devendo este ser adequadamente manejado para evitar danos ambientais.
A produção de biodiesel a partir de gorduras de animais ainda é recente no Brasil e
apresenta potencial para produção. Segundo afirma Biodieselbr (2007), somente “a
produção de sebo bovino brasileira é de cerca de 750 mil toneladas por ano”, o que
significa que as indústrias têm potencial de produzir 750 milhões de litros de biodiesel
derivado deste tipo de gordura.
Resíduos agrícolas Estima-se que, com apenas um terço do resíduo agrícola que
hoje é desperdiçado no mundo, possa-se gerar aproximadamente 10% da demanda mundial
de eletricidade. Com a introdução de tecnologias específicas para o aproveitamento da
biomassa, prevê-se que até o ano de 2050 a energia gerada com este material seja
equivalente à gerada com hidrelétricas e com usinas nucleares (INGHAM, 2000).
É possível ampliar a produção de energia a partir de resíduos através da hidrólise
7
e
de mecanismos de recolhimento do material deixado no campo. A energia gerada pela
hidrólise é também chamada de “segunda geração” e é possivelmente a grande aposta
5
São aqueles produzidos e deixados numa floresta resultados da extração ou derrubada de determinada
floresta.
6
Briquete é um bloco cilíndrico compacto, de alta densidade, composto por resíduos de madeiras em geral,
como pó de serra, maravalhas/fitinhas, cavacos ou pedaços de madeira picadas, sem o uso de aglutinantes. O
briquete é utilizado para a queima em fornos, caldeiras, aquecedores, torradores e outros similares, pois seu
poder calorífico é três vezes maior do que da lenha, cavaco ou biomassas diversas (CERPCH, 2007).
7
Hidrólise consiste no rompimento das ligações químicas existentes entre as unidades de glicose que
constituem a celulose presente nos vegetais.
31
tecnológica para substituir os combustíveis derivados de petróleo. A hidrólise poderá
corresponder a um aumento estrondoso na produção de etanol, pois, além dos resíduos
citados, será possível produzir etanol de qualquer vegetal.
2.1.7 - Balanço energético e a agroenergia
Em se tratando de agroenergia é necessário levar em conta o balanço energético,
sendo este caracterizado como a relação entre o total de energia contida no biocombustível
e o total de energia fóssil investida em todo o seu processo de produção, incluindo-se o
processo agrícola e industrial. Neste sentido, nos EUA e Europa vários trabalhos apontam
balanços energéticos negativos. Conforme Pimentel e Gover (2001 apud URQUIAGA;
ALVES; BOODEY, 2005), são necessários 1,65 GJ (Giga Joules) de energia fóssil para
produzir 1,0 GJ de energia na forma do etanol do milho nos Estados Unidos e 1,01 GJ de
energia fóssil para produzir 1,0 GJ de energia na forma de biodiesel de canola.
A produção de etanol de milho não faz muito sentido em lugar algum, pois o
balanço energético é muito baixo ou mesmo negativo. De acordo com Urquiaga (2005), o
uso do milho nos EUA para a produção de metanol apresenta balanço energético que varia
de 1,65 (positivo) a 0,78 (negativo) e baixa economia de carbono (13%), até casos de
déficit de 30% deste elemento.
Dados semelhantes calculados por Pimentel e Patzek (1996 apud GAZZONI et al,
2005) apontam que:
São necessários aproximadamente 6597 kcal de energia fóssil para produzir um
litro de etanol de milho nos Estados Unidos. Um litro de etanol tem valor
energético de 5130 kcal, resultando em um balanço energético negativo de 1467
kcal sem considerar a energia gasta no transporte para distribuição final que é
estimada em 331kcal. L
-1
. Sheehan et al (1998) relataram um saldo negativo na
conversão de soja em biodiesel, pois a obtenção de 1MJ de biodiesel exige 1,24
MJ de energia fóssil. [...] O biodiesel de soja, ao comparar-se a saída e a entrada
de energia durante o processo de produção, necessita 32% mais energia fóssil
do que a energia obtida.
A produção de álcool, oriundo da cana-de-açúcar, apresenta balanço energético
acima de 8,0 e poupança de carbono de mais de 80% e produções acima de 6000 l de
álcool/ha/ano. Um estudo conduzido por Urquiaga, Alves e Boodey (2005) em 1 ha com
cana-de-açúcar produziu 84 toneladas de matéria prima e permitiu a obtenção de 7224 l de
álcool, com valor energético de 161,1 GJ (uma caloria equivale a 4,18 joules). Para a
produção foram gastos 19,98 GJ sendo 7,23 GJ com fertilizantes e pesticidas; 5,62 GJ com
32
maquinário; 6,03 GJ com equipamentos e instalações industriais e o restante com mudas,
lubrificantes e reagentes, etc., resultando num balanço positivo de 8,06.
2.1.8 - O biodiesel e a participação da agricultura familiar nesta cadeia produtiva
O biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais e gordura animal, sendo que as
principais culturas de vegetais usadas no mundo são a canola, girassol, soja e palma. No
Brasil, o biodiesel é produzido quase exclusivamente com óleo de soja, devido à grande
oferta deste produto, a complexa rede de infra-estrutura disponível para esta cadeia
produtiva e à forte pressão das corporações do agronegócio. Segundo Abramovay e
Magalhães (2007), a soja oferece alguns importantes inconvenientes para que seja a matriz
produtiva do biodiesel: baixo teor de óleo, concorrência com o óleo comestível – o que traz
insegurança em sua oferta para a produção de combustíveis - e dependência, na valorização
do produto, dos preços do farelo, cujo mercado é totalmente independente daquele em que
se formam os preços do biodiesel. Por outro lado, o peso da soja na matriz produtiva de
óleos vegetais é tão grande que tornaria pouco provável na ausência de uma intervenção
governamental na organização do mercado - a afirmação produtiva de outros produtos que
lhe fossem alternativos.
O biodiesel será adicionado progressivamente no Diesel, e, de acordo com o MME
(2007), estará no mercado acima da mistura B5 a partir de 2010, chegará à mistura de B8
em 2020 e B12 em 2030. A exceção fica por conta do consumo agropecuário com
estimativa do B38 em 2020 e B60 em 2030, fazendo com que em 2030 o biodiesel
adicionado atinja a média de 18,9% (18,5 bilhões de litros por ano).
O biodiesel terá maior importância na matriz energética brasileira em curto espaço
de tempo e, de acordo com a tabela 08, no ano de 2030 passará a ter um volume produzido
cerca de 20 vezes superior a 2008, ano em que se tornou obrigatório a mistura de 2% no
óleo Diesel, volume que correspondeu a 800 milhões de litros.
Tabela 08 - Produção de óleos vegetais usados em mistura direta de biodiesel no Brasil
Biodiesel 2010 2020 2030
Consumo total de diesel (milhões m³) 51,2 69,1 97,9
% do consumo projetado de diesel 6,0 11,50 18,90
Produção de biodiesel (milhões m³) 3,1 7,9 18,5
Produção de biodiesel (mil m³/dia) 8,4 21,7 50,5
Fonte: MME, 2007
33
Por ser quase exclusivamente produzido por fontes vegetais e majoritariamente por
espécies de ciclo relativamente curto, o biodiesel tem apresentado diversas vantagens
ambientais em relação aos demais combustíveis de origem fóssil. De acordo com D’ARCE
(2005), o uso de biodiesel vai possibilitar que se estabeleça um ciclo fechado de carbono,
ou seja, a planta que será utilizada como matéria-prima, enquanto está em fase de
crescimento, absorve o CO
2
e o libera novamente quando o biodiesel é queimado na
combustão do motor. Segundo estudos deste autor, com esse ciclo fechado estabelecido, o
biodiesel reduz em até 78% as emissões líquidas de CO
2.
Além disso, o uso do biodiesel
reduz significativamente as emissões de enxofre (20%); anidrido carbônico (9,8%);
hidrocarbonetos não-queimados (35%); material não-particulado (55%); gases causadores
do efeito estufa (78 a 100%) e compostos sulfurados e aromáticos (100%).
No Brasil, a agricultura familiar aos poucos es se inserindo na produção de
matérias-primas para atender as metas do PNPB. Certamente a oportunidade existe, desde
que sejam garantidos preços, compra da produção, acesso à terra e preservação dos
recursos naturais. Programas de governo passaram a ser direcionados ao setor, envolvendo
inúmeros atores sociais, desde agências financiadoras, pesquisa e entidades representativas
da agricultura e a sociedade civil organizada. Políticas públicas têm sensibilizado diversos
atores sociais em torno do tema, aperfeiçoando as linhas de crédito como a criação do
Pronaf Biodiesel, nas modalidades custeio e investimento, ATER (Assessoria Técnica de
Extensão Rural) e infra-estrutura.
O programa do biodiesel vem sendo trabalhado em várias dimensões, desde a
adaptação aos marcos regulatórios do programa nacional de biodiesel, na inserção da
agricultura familiar e na produção e esmagamento dos grãos para a produção de óleo.
Conforme Cassel (2008), “o viés mais importante do Programa Nacional Produção e Uso
de Biodiesel (PNPB) talvez seja o fato de ele aliar a produção de um combustível verde,
ambientalmente sustentável, com inclusão social. O Programa incluiu 100 mil famílias
no cultivo de oleaginosas em todo o país, que tiveram suas rendas complementadas em até
R$ 3,5 mil ao ano, graças ao biodiesel”.
Do ponto de vista social, o PNPB articula uma série de ações visando à inclusão da
agricultura. Segundo Favareto, Schröder e Magalhães (2007), o pilar da inclusão social do
PNPB se traduz na combinação de diversos instrumentos no Programa para inserir os
agricultores familiares na cadeia do biodiesel, basicamente:
34
A política de aquisições por intermédio de leilões promovidos pela Agência Nacional de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP);
A Concessão do Selo Combustível Social, uma das mais importantes novidades do PNPB,
que estabelece um mecanismo de garantia de compra dos grãos de oleaginosas, a partir das
metas produtivas estabelecidas para as empresas vencedoras dos leilões da ANP;
A política tributária, com a desoneração total e/ou parcial dos tributos federais para as
empresas de biodiesel que adquirirem matérias-primas dos agricultores familiares;
A política de financiamento por intermédio de bancos públicos;
A política de suporte à organização da produção familiar, considerando apoio à capacitação
e à pesquisa, estímulo ao cooperativismo e implementação pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) do “Projeto Pólos de Biodiesel” nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-sul, em parceria com organizações como a Plural.
Para as empresas receberem desconto tributário (PIS/Pasep e Cofins) elas devem
obrigatoriamente se enquadrar nas diretrizes do PNPB. Segundo o MDA (2007), os
produtores de biodiesel que compram matéria-prima da agricultura familiar recebem o Selo
Combustível Social desde que obedeçam aos percentuais mínimos de: 50% no Nordeste e
Semi-Árido; 10% nas regiões Norte e Centro Oeste e 30% nas regiões Sudeste e Sul. Até o
início 2008, 59% do biodiesel produzido era proveniente da soja, 26% da mamona e o
restante (15%) de outras matérias-primas.
As empresas também são obrigadas a prestar assistência técnica, capacitação e
celebrar contratos com os agricultores familiares, negociados com a participação de uma
representação desses agricultores. De acordo com o MDA (2007), no ano de 2006 quatro
empresas trabalhavam com o Selo Combustível Social, em 2007 esse número passou
para 21, o que indica forte impacto da política voltada ao incentivo para empreendimentos
na produção de biodiesel com matéria prima e participação da agricultura familiar. A
participação das representações é uma condição requerida para a efetivação dos contratos
entre as empresas produtoras de biodiesel e os agricultores familiares.
2.2 - O girassol como cultura energética
2.2.1 - Aspectos econômicos
O girassol é a cultura que vem se destacando em todos os continentes, ocupando
novas áreas a cada ano. Segundo dados da Embrapa (2007), atualmente, o girassol é
cultivado em todos os continentes, em uma área que atinge aproximadamente 18 milhões
de hectares. Destaca-se como a quarta oleaginosa em produção de grãos e a quinta em área
cultivada no mundo.
35
O girassol está entre as oleaginosas para produção de energia que apresenta um dos
maiores potenciais. Atualmente encontra-se entre as cinco maiores culturas oleaginosas
produtoras de óleo vegetal comestível do mundo (7,88% da produção mundial de
oleaginosas na safra 2003/04), ficando atrás apenas da soja (56,3%), da canola (11,69%),
do algodão (10,46%) e do amendoim (9,58%). Os maiores produtores mundiais de girassol
são a Rússia, a Argentina e os Estados Unidos (OLIVEIRA; VIEIRA, 2004).
De acordo com a Embrapa (2007), no Brasil a pesquisa com o girassol como opção
energética teve início na década de 1980 na Embrapa Soja, com o Programa Nacional de
Pesquisa de Girassol (PNP Girassol). No mesmo período o governo criou o Programa de
Mobilização Energética (PME), destinando recursos para a pesquisa nesta área. No
entanto, em 1985 as pesquisas foram praticamente paralisadas e foram retomadas em
1989.
Embora o país apresente condições agroecológicas favoráveis para produzir
girassol na maioria do seu território, a produção ainda está bastante restrita e, como
apresenta a tabela a seguir, em 2004 a produção não atingiu 150 mil toneladas, quantidade
quase insignificante frente à soja, principal oleaginosa cultivada no país. Ainda muito a
ser feito para aumentar a área cultivada e a produtividade, possibilitando que o girassol
possa ser viável para a produção de biodiesel de forma a garantir a sustentabilidade desta
cadeia produtiva.
Tabela 09 – Evoluções da área, produção e produtividade de girassol no Brasil
Ano Área (ha) Produção (t) Produtividade (kg.ha
-
1
)
1999 70.000 116.000 1.506
2000 90.000 135.000 1.500
2001 97.000 141.000 1.454
2002 95.000 128.000 1.347
2003 93.000 121.000 1.301
2004 94.000 147.000 1.564
Fonte: Embrapa Soja e CONAB, 2004.
O Brasil é altamente dependente das importações de girassol. Para atender a
demanda nacional de grãos de girassol e derivados (farelo e óleo), em 2003 o Brasil
importou 79% do óleo de girassol consumido. Mesmo com toda esta demanda, a área
ocupada com girassol na safra 2005/06 foi de aproximadamente 93,6 mil hectares, sendo
os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul os principais
produtores, com 96% da produção nacional (MAPA, 2007; EMBRAPA, 2005).
36
O aumento da área cultivada com girassol no país nos últimos anos vem
demonstrando que esta oleaginosa pode ser uma boa alternativa para diferentes segmentos
da agricultura brasileira. Conforme aponta Vieira (2005, p.21), “falta-nos ainda tradição,
mas com pesquisa e um mercado sólido o girassol é a grande opção para composição de
sistemas de produção nas diversas regiões produtoras do Brasil, especialmente como fonte
energética”.
O potencial brasileiro para a produção de girassol com finalidade energética é
imenso e facilmente pode ser introduzido em todas as regiões do país. Atualmente é a
commodity com maior condição de atender a demanda brasileira de biodiesel, depois da
soja. O girassol possui um elevado teor de óleo, é resistente à falta de água, tem alto grau
de adaptabilidade em praticamente todo o país e possui um custo de produção menor que
outras oleaginosas (CASTRO, 2007).
Diante de um mercado imensamente estratégico é importante considerar que a
viabilidade do girassol ou mesmo de outras matérias-primas para a produção de biodiesel
dependerá de suas respectivas competitividades técnica, econômica e sócio-ambiental, e
passa, inclusive, por aspectos agronômicos, citados por Ramos (1999; 2003), tais como: o
teor em óleos vegetais; a produtividade por unidade de área; o equilíbrio agronômico e
demais aspectos relacionados com o ciclo de vida da planta; a atenção a diferentes sistemas
produtivos e o ciclo da planta (sazonalidade) e sua adaptação territorial, que deve ser tão
ampla quanto possível, atendendo a diferentes condições edafoclimáticas.
O rendimento na produção de girassol depende de fatores como a cultivar, as
condições ambientais, manejo do solo, adubação e etc. Segundo Beard (1981), em muitas
áreas de clima temperado, o girassol produz mais óleo por hectare do que qualquer outra
espécie. Existem cultivares cujos rendimentos de sementes ultrapassam os 3.000 kg/ha,
mas, em geral, o rendimento médio é menor que 1.500 kg/ha, devido a problemas
climáticos e à falta de controle adequado nas práticas culturais. O rendimento é pouco
influenciado pela altitude e pelo fotoperíodo, facilitando a sua introdução nas diferentes
condições edafoclimáticas das áreas tradicionais de produção.
O elevado teor de óleo é a característica mais desejada na cultura do girassol. Na
tabela 10 são apresentados índices de produtividade do girassol onde se verifica a
existência de informações técnicas atestando que esta cultura atinge até 49,9% de óleo no
grão, evidenciando esta oleaginosa como uma excelente fonte de biomassa para a produção
37
de biodiesel. Em relação à produtividade, a média verificada para os estados do sul foi
1925 kg/ha para a safra 2005/06.
Tabela 10 - Produtividade e teor de óleo de cultivares de girassol avaliados na Região Sul,
safra 2005/06 e safrinha 2006.
Municípios Produtividade (kg/ha) Teor de óleo (%)
nima Máxima Média Mínima Máxima Média
Campo Mourão - PR 1333 2723 2081 34,9 43,9 40
Londrina - PR 1384 2240 1818 39,2 49,9 44,5
Três de Maio - RS 1270 2299 1833 41,2 49,9 41,6
Passo Fundo - RS 1101 2464 1965 37,2 48,8 43,2
Fonte: Castro, 2007.
2.2.2 - Principais características agronômicas do girassol
O girassol é uma cultura produtora de grãos de fácil adaptabilidade e produtora de
óleo com propriedades organolépticas de excelente qualidade industrial e nutricional,
sendo o óleo comestível o mais importante. Assim sendo, o girassol poderá ser incluído no
sistema de sucessão de culturas logo após as espécies de verão, tais como soja e o milho
Dentre as fontes energéticas renováveis, a exploração racional da cultura do
girassol representa hoje uma alternativa de grande importância, não só pela renda que pode
agregar à atividade agrícola, mas como fonte de proteína de alto valor biológico para a
alimentação humana e animal. É uma cultura de comportamento rústico e seu índice de
adaptabilidade edafoclimático é excelente, por isso se encaixa perfeitamente na rotação de
culturas (CASVALIN JÚNIOR, 2001).
O girassol apresenta um conjunto de vantagens e complementaridades em relação a
outras culturas. De acordo com a Embrapa (2007, p.01):
A maior tolerância à seca do que o milho ou o sorgo, a baixa incidência de
pragas e doenças, além dos benefícios que o girassol proporciona às culturas
subseqüentes são alguns dos fatores que vêm conquistando os produtores
brasileiros. Em áreas onde se faz rotação de culturas com o girassol, observa-se
um aumento de produtividade de 10% nas lavouras de soja e entre 15 e 20% nas
de milho.
A cultura do girassol também apresenta outras vantagens, tais como redução de
plantas indesejáveis, melhoria da qualidade do solo (fertilidade e ecologia), possibilidade
de cultivar duas safras na mesma área em sistema de rotação ou sucessão de cultura e
menor uso de insumos em comparação aos cultivos de grãos tradicionais. O girassol
38
também se adapta bem a condições variáveis de temperatura, considerando-se a faixa entre
18°C e 24°C como a melhor para o desenvolvimento da cultura.
Durante as primeiras fases do seu ciclo a planta apresenta resistência às baixas
temperaturas e à seca, sendo que, nas fases seguintes, o frio excessivo e a falta de água
provocam alterações nas plantas, ocasionando perda na produção. Requer solos férteis,
profundos e com boa drenagem, para obter altos rendimentos. No entanto, a cultura
também tem a capacidade para se desenvolver em solos menos férteis e com características
físicas deficientes, desde que sejam feitas correções mínimas necessárias (REYES et al,
1999).
Pesquisas de Danutti (2002) apresentam um conjunto de vantagens referentes ao
girassol, tais como:
Pode ser plantado praticamente durante o ano todo, por ter boa
resistência à seca e à geada.
Tem a possibilidade de ser plantado no intervalo entre cultivos
comerciais, pois seu ciclo é curto, podendo ser deitado ou incorporado ao solo
sem dificuldade a partir de 60 dias da semeadura.
Produz de 4 a 15 toneladas de massa seca por hectare após 60 a 80 dias
da semeadura, dependendo da época de plantio e da fertilidade do solo.
Tem relação C/N favorável à sua rápida decomposição e pronta
disponibilização de seus nutrientes para a cultura seqüente.
Inibe a emergência de diversas plantas daninhas, principalmente as
gramíneas, diminuindo ou, em alguns casos, até mesmo dispensando a
necessidade do uso de herbicidas.
Por possuir sistema radicular pivotante e bastante profundo recicla
nutrientes, melhorando as qualidades química, física e biológica do solo.
Tem baixo custo de instalação, pois o gasto de sementes por hectare é
pequeno. Na maioria dos casos não necessita de adubação química, quando a
finalidade é a produção de massa para fins de adubação verde.
Para o girassol, a presença de insetos é indispensável para uma boa polinização e,
consequentemente, para obter um desempenho satisfatório da cultura. Durante a floração
do girassol é possível observar um grande conjunto de espécies de insetos, especialmente
as ordens dos hymenópteros e coleópteros. De acordo com Rossi (1998), uma boa
quantidade de abelhas polinizadoras pode incrementar os rendimentos do girassol entre 20
e 40% produzindo uma melhor qualidade de grãos, com aumento do conteúdo de óleo e
maior energia e poder germinativo das sementes. O vento é capaz de transportar o pólen
somente por alguns metros, sendo o efeito sobre a produção de sementes menor que 0,2%.
Outra característica inerente ao girassol é o grande potencial para produção de mel
ou pólen de excelente qualidade durante o período de florescimento e em curto espaço de
39
tempo. Para Angelini et al (1998) o aproveitamento dessa cultura para produção de até 40
kg de mel por hectare pode ocorrer numa florada de 15 a 30 dias.
2.2.3 - Obtenção do óleo de girassol
O girassol apresenta grande facilidade em seu processamento quando comparado às
demais oleaginosas, pois a extração do óleo pode ser realizada em temperatura ambiente e
com os grãos inteiros, conservando assim propriedades nutricionais importantes. Após a
extração, o óleo pode ser imediatamente consumido na alimentação, sendo necessária
somente a filtragem ou decantação para separar as impurezas oriundas do processo de
prensagem.
Existem vários métodos de extração de óleos, divididos basicamente em extração a
quente e extração a frio. No primeiro, além da extração mecânica utilizam-se solventes,
arrastando-se praticamente todo o óleo do farelo, porém com perda na qualidade
nutricional. na extração a frio, através da prensagem mecânica, as perdas de óleo na
torta geralmente são elevadas, devendo ser devidamente analisadas. No entanto, o óleo
permanece com melhor qualidade nutricional.
Conforme Turatti (2001, p.02):
Artesanalmente, em pequena escala, pode-se obter o óleo de girassol a partir de
prensagem contínua dos grãos, seguido de filtração ou decantação para
separação dos resíduos. O óleo pode ser estocado seguramente por cerca de 4
meses, em embalagem não metálica, escura, de preferência de vidro âmbar ou
de plástico, longe do calor e da luz. Esse óleo contém os antioxidantes naturais
presentes na semente de girassol, o que ajuda a preservá-lo sem o uso de
antioxidantes artificiais.
Os óleos vegetais apresentam uma grande diversidade de usos e, frequentemente,
passaram a ganhar destaque na produção de biodiesel, na indústria química e como
componente na formulação de centenas de novos produtos de uso cotidiano, abrindo outros
mercados e possibilidades diversas para inúmeras cadeias produtivas.
Os óleos vegetais apresentam inúmeras aplicações, dentre as quais se destacando
alimentação humana e ração animal, combustível, impermeabilizantes, lubrificantes, tintas
e vernizes, indústria química, cosméticos, na medicina natural e na formulação de
medicamentos diversos. Já os produtos secundários obtidos dos óleos vegetais apresentam
uma grande variedade, sendo eles os amaciantes, sabões, aditivos para combustíveis e
lubrificantes, glicerina, pasta de dentes, resinas, tintas e etc. (FUCHS, 2006).
40
2.2.4 - Potencialidades da torta de girassol
Outra característica importante do girassol é a produção de proteína, cujas
finalidades estão relacionadas principalmente à composição de rações para alimentação
animal. Segundo dados da Embrapa (2007), no beneficiamento de uma tonelada de grãos
obtém-se, em média, 300 kg de torta
8
com 48-50% de proteína, que pode ser utilizada na
avicultura, suinocultura e no confinamento e semiconfinamento de bovinos. No entanto,
outros autores apontam que em média, além de 400 kg de óleo de excelente qualidade, para
cada tonelada de grão são produzidos 250 kg de casca e 350 kg de torta, com 45% a 50%
de proteína bruta, sendo este subproduto basicamente aproveitado na produção de ração,
em misturas com outras fontes de proteína.
A torta de girassol possui baixos teores de lisina em sua composição, sendo
recomendado que se faça a combinação com o farelo de soja, compreendendo assim
concentrados protéicos de ótima qualidade nutricional, indicado para um grande número de
espécies de animais. De acordo com dados da Panizzi e Mandarino (2005, p. 53), as
proteínas de girassol têm um bom perfil de aminoácidos essenciais. Entretanto, os níveis de
lisina são baixos para que o girassol possa servir como um suplemento protéico às
proteínas dos cereais, os quais também apresentam baixo teor de lisina. A complementação
com soja é o ideal, pois esta apresenta 44% a mais de lisina. o farelo de girassol é uma
boa fonte de cálcio e fósforo.
Embora o girassol apresente maiores teores de óleo que a maioria das oleaginosas,
atualmente é a soja que compõe quase exclusivamente a oferta de óleos produzidos no
Brasil. A principal justificativa está relacionada à grande demanda pelo farelo de soja
usado na alimentação animal.
2.2.5 - Uso do óleo de girassol como combustível renovável
O biocombustível, na forma pura ou misturada ao óleo diesel, é utilizado em
larga escala em vários países, não restando mais dúvidas de que se trata de um excelente
combustível renovável que contribui para a redução dos níveis de poluição no meio
ambiente (PAES, 2005, p.34). A maioria do óleo usado para a produção de biodiesel tem
origem em grãos/sementes e o girassol também é utilizado para atender a demanda das
indústrias de biodiesel.
8
É o resultado do processo de prensagem a frio dos grãos de girassol, por meio de prensas mecânicas. O
outro produto resultante é o óleo de girassol bruto ou virgem (CÁCERES, 2003).
41
O quadro 01 apresenta comparativos sobre o uso de óleo vegetal natural e biodiesel,
produzidos a partir de oleaginosas. Os indicadores expostos apontam que o uso do óleo
vegetal natural apresenta vantagens, pois promove maior inclusão de trabalhadores no
processo produtivo, atende a critérios de desempenho ambiental e de sustentabilidade nos
sistemas. Em se tratando do uso de oleaginosas como fontes de combustíveis menos
poluentes o óleo vegetal natural e o biodiesel (ambos usados em motores ciclo Diesel)
ganham destaque e passam a ser produtos estratégicos para nações do mundo inteiro.
Caracterização Óleo vegetal natural Biodiesel
Extração A frio A frio ou a quente
Processo Simples Complexo
Usinas Pequenas, descentralizadas Médias e grandes centrais
Custo de Produção por litro > 1,05 > 1,70
Riscos de estocagem Nenhum, não-explosivo Alto, explosivo
Risco ambiental Nenhum Polui o ar, terra e água
Potência (em relação ao diesel) 93,50% 90%
Efic. Energ. (gasta x obtida) 85% 68%
Consistência Estável (estoc. longo tempo) Instável
Tipo de desenvolvimento
para o pequeno agricultor
Diversificação,
desenvolvimento local
Monocultura, dependência
de grandes usinas
Quadro 01 - Principais diferenças entre o óleo vegetal natural e o biodiesel.
Fonte: Fuchs, 2006.
Com a utilização de óleo vegetal natural como combustível ocorre uma redução
significativa de poluentes e os motores podem funcionar perfeitamente com adições de até
20% ao Diesel tradicional sem nenhum dano aos motores. para adições superiores são
necessárias pequenas modificações de baixo custo nos motores. Segundo a Embrapa (2005,
p.156), “o óleo vegetal sem transformação pode ser usado em motores de ciclo Diesel, pois
possui capacidade de auto-ignição sob altas taxas de compressão e valor calorífico
semelhante ao petrodiesel”. Diversas fábricas estão produzindo motores adaptados para
consumir óleo vegetal natural, o que permitirá maiores vantagens ambientais e a
possibilidade de independência das “complexas e milionárias” empresas de biodiesel e de
petróleo.
42
CAPÍTULO III - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1. Localização, aspectos físicos e populacionais
O município de Abelardo Luz está localizado na região Oeste do Estado de Santa
Catarina, na divisa com o estado do Paraná e distante 600 km da capital Florianópolis.
Pertence à microrregião de Xanxerê, situando-se entre a latitude 26°33'53" sul e longitude
52°19'42" oeste e entre as bacias hidrográficas do Rio Chapecó e Rio Irani. O município
apresenta altitude entre 760 e 850 metros acima do nível do mar. Pertence à Floresta
Ombrófila Mista, que se caracteriza pela presença do pinheiro-do-paraná, imbuias (Ocotea
porosa), canelas, sacopema (Sloanea lasiocoma), camboatás (Matayba elaegnoides), entre
outros. A localização do município de Abelardo Luz é indicada na figura 06.
Conforme dados de INCRA/VPCBrasil (2006), Abelardo Luz encontra-se na Zona
Agroecológica 3C, correspondente ao Noroeste Catarinense, classificada como de clima
Cfb, ou seja, clima temperado constantemente úmido, sem estação seca definida, com
verão ameno (temperatura média do mês mais quente < 22,0º C). Segundo BRAGA
(1987), o clima é mesotérmico brando (temperatura do mês mais frio entre 10 e 15º C).
A precipitação pluviométrica média anual de Abelardo Luz é de 2002,5mm, com
total anual de dias de chuva de aproximadamente 120 dias, distribuídas durante o ano
inteiro, com probabilidade de estiagem no mês de janeiro. Entretanto, as perdas
decorrentes de estiagem são de baixa ocorrência, o que possibilita boas safras agrícolas em
praticamente todos os anos.
Figura 06 – Localização do município de Abelardo Luz/SC
Fonte: http://www.mapainterativo.ciasc.gov.br
9
9
Acesso em 13 de agosto de 2007.
43
A colonização do município teve início no século XX e a população é composta por
descendentes de alemães, italianos, caboclos e indígenas. Em 2008 apresenta uma
população de 17.380 habitantes em uma área equivalente a 1.035,9 km
2
, correspondendo a
uma densidade demográfica de 19,8 hab/km
2
(IBGE, 2006). Sua principal atividade
econômica é a agropecuária, com destaque para a produção de milho e soja, cujos índices
de produtividade estão entre os maiores do país.
3.2 - Estrutura fundiária
A implantação de projetos de assentamentos rurais no município de Abelardo Luz é
decorrente das ocupações de terras ocorridas no ano de 1985. Em 2007, o número de
famílias assentadas era de 1410, em 23 assentamentos, totalizando 19.360,622 hectares,
conforme quadro 02. Todo este contingente de pessoas vindas de outros municípios, em
sua grande maioria, mudou definitivamente os aspectos sociais, políticos, institucionais e
econômicos do município.
Assentamento Área (ha) Distância da sede N.º de famílias
Serra dos Buracos 199,92 hectares 08 km 18 famílias
São Sebastião 321,9918 hectares 09 km 32 famílias
Nova Araçá 96,3964 hectares 08 km 07 famílias
Nova Aurora 719,5378 hectares 18 km 50 famílias
João Batista 418,7891 hectares 36 km 30 famílias
Roseli Nunes 1084,2079 hectares 20 km 84 famílias
Capão Grande 1285 hectares 15 km 91 famílias
Maria Silverston 87,848 hectares 17 km 07 famílias
Papua I 359,0311 hectares 22 km 27 famílias
Papua II 890, 82 hectares 22 km 63 famílias
Volta Grande 1.237,34 hectares 24 km 74 famílias
25 de Maio 1.058,40 hectares 25 km 59 famílias
Santa Rosa I 1.194,71 hectares 34 Km 82 famílias
Santa Rosa II 669,5105 hectares 50 km 52 famílias
Santa Rosa III 231,49 hectares 30 km 16 famílias
Bela Vista 1295,0771 hectares 34 km 95 famílias
Três Palmeiras 765,32 hectares 38 km 70 famílias
Novo Horizonte 760,3088 hectares 43 km 60 famílias
José Maria 3.956,7274 hectares 35 km 273 famílias
13 de Novembro 1.811,2912 hectares 40 km 105 famílias
Indianópolis 1.337,2775 hectares 45 km 90 famílias
Olho d’ Água 470,4472 hectares 28 km 25 famílias
Juruá 433,2671 hectares 24 km 40 famílias
TOTAL 19.360,622 hectares - 1410 famílias
Quadro 02 – Relação dos assentamentos rurais de Abelardo Luz/SC.
Fonte: Cooptrasc/Incra, 2007.
44
O estado de Santa Catarina representa pouco mais de 1% da área do território
brasileiro e, de acordo com o Levantamento Agropecuário Catarinense LAC (2003), o
estado possui 187.061 estabelecimentos agropecuários, sendo que destes, 89,3% possuem
uma área correspondente até 100 ha, o que demonstra forte predominância de minifúndios
rurais no estado. Ainda, conforme dados do LAC (2003), o município de Abelardo Luz
possui 1922 estabelecimentos agropecuários (E.A.) em seus 90.775,3 mil ha, com a
seguinte distribuição: 182 E.A. possuem até 10 ha (9,5%); 1630 E.A. possuem entre 10 ha
e 100 ha (84,7%); 92 E.A. possuem de 101 ha a 1.000 ha (4,8%) e 19 E.A. possuem de
1.001 ha a 10.000 ha (1%).
Embora 94% dos estabelecimentos agropecuários possuam até 100 ha, a maior
parte da área do município pertence a 110 estabelecimentos, o que evidencia a coexistência
da agricultura familiar com latifundiários, estes últimos com enorme poder político e
econômico.
3.3. Aspectos agrícolas
O município de Abelardo Luz se destaca na produção de milho - inclusive é
freqüente produtores atingirem mais de 200 sacas/ha (12 ton/ha), com uma área cultivada
em 2006 de 19.000 ha, produção esta que totalizou 87.350 toneladas, o que corresponde a
3,02% do que o Estado produz. A rentabilidade média no município nos últimos oito anos
foi de 5.981kg/ha, sendo 38% superior a média estadual, que foi de 4.077kg/ha.
A cultura do fumo também exerce grande importância no município. Conforme
dados do IBGE (2005), foram cultivados 1.026 hectares, totalizando 1.686 toneladas,
correspondente a 1.643kg/ha em média. Estes dados demonstram que a cultura do fumo é
determinante para um conjunto significativo de famílias do município, especialmente as
que moram nos assentamentos, visto que possuem na sua grande maioria, áreas que variam
de 12 a 15 hectares.
A produção de soja e leite está fortemente enraizada no município. A produção de
soja para sementes é destacada e é símbolo do município, sendo este conhecido como a
“Capital da Semente de Soja”, apresentando elevada qualidade dos grãos devido aos
fatores edafoclimáticos. a produção leiteira está em pleno desenvolvimento,
principalmente no conjunto da agricultura familiar, sendo a garantia da permanência e
reprodução à centenas de famílias.
45
Os 23 assentamentos rurais pertencentes ao município de Abelardo Luz apresentam
características edafológicas pouco variáveis, sendo que as áreas utilizadas pelas famílias
assentadas se destacam entre as de maior potencial produtivo dento dos projetos de
assentamento no Estado de Santa Catarina.
Segundo dados do INCRA/VPCBrasil (2006), os solos localizados nos
assentamentos onde se realizou a pesquisa apresentam a seguinte classificação: Latossolo
Vermelho Distroférrico e Latossolo Bruno Alumínico no topo, Nitossolo Vermelho
Distroférrico e o Neossolo Litólico Distrófico nas encostas erosionais e o Cambissolo
Háplico Alumínico e Gleissolo Melânico Alumínico estão nos fundos de vales.
Ainda conforme dados da INCRA/VPCBrasil (2006):
Somente no assentamento José Maria, que possui área de 3956 hectares, 81,05%
dos solos pertence ao tipo Latossolo Bruno Alumínico, com relevo ondulado. A
capacidade de uso dessas terras apresenta características importantes, como:
fertilidade natural muito forte; solo profundo e bem drenado, sem pedregosidade
e sem risco de inundação; apresenta declividade entre 10 e 15%, com moderada
suscetibilidade a erosão.
As áreas de terras onde moram e trabalham as famílias assentadas entrevistadas
apresentam relevo que permite a mecanização da agricultura na maioria das áreas
agrícolas, importante fator e que tem impulsionado o cultivo milho, fumo e soja por
praticamente todas as famílias. Nessas famílias freqüente a aplicação de calcário ao solo e
a adoção de pacotes tecnológicos baseados no modelo tradicional de produção, ou seja, na
aplicação de elevadas quantidade insumos externos, especialmente fertilizantes NPK,
sementes e agrotóxicos.
3.4 - Formação da Coopeal
Fundada no ano de 2006, com sede na cidade de Abelardo Luz, a Cooperativa de
Produção, Industrialização e Comercialização Edson Adão Lins (COOPEAL) tem como
finalidade planejar, centralizar e canalizar os investimentos realizados nas áreas de reforma
agrária, buscando abranger o máximo número de famílias. A cooperativa também
desenvolve diversos trabalhos que não estão relacionados ao quadro associativo,
especialmente a compra de produtos agrícolas e a venda de insumos. Quanto à sua
abrangência, pretende ela atuar em todo o estado de Santa Catarina, Sudoeste do Paraná e
Noroeste do Rio Grande do Sul, compreendendo cerca de 8 mil agricultores familiares e
mais de 4 mil famílias assentadas, com forte aptidão na produção de cereais e leite.
46
A cooperativa é uma entidade composta e administrada por agricultores familiares
assentados, técnicos, outras organizações de caráter jurídico dos assentamentos e
agricultores familiares não assentados. O processo administrativo da cooperativa sempre é
discutido com dirigentes da Coopeal, ATES e lideranças do MST, adotando instrumentos
participativos na tomada de decisões. Pelo estatuto, somente podem ser diretores da
Coopeal os agricultores familiares assentados.
A Coopeal é responsável pela administração de sete empreendimentos de pequeno e
grande porte, sendo eles: frigorífico de peixes; unidade de extração de óleo de girassol;
produção e certificação de sementes; agroindústria de conservas; fábrica de ração; unidade
de empacotamento de cereais e secador e silo para armazenamento de grãos. A cooperativa
também elabora e executa projetos de moradia rural nas áreas de assentamento
(financiamento de 960 casas em Abelardo Luz). também um mercado-agropecuária e
um posto de resfriamento de leite, estes administrados pela Cooperoeste, que possui sede
em São Miguel D´Oeste. É importante salientar que estes dois últimos são os
empreendimentos do MST que estão mais consolidados no município de Abelardo Luz
(ambos localizados nos assentamentos 25 de Maio e José Maria, respectivamente) e são
independentes da Coopeal do ponto de vista administrativo, mas de forma sinérgica atuam
no fortalecimento dos arranjos produtivos locais.
A produção de girassol com finalidade energética está associada a outras atividades
agrícolas e agroindustriais, integrando diretamente os seguintes arranjos produtivos da
Coopeal: matéria-prima para produção de biodiesel; produção de óleo (consumo e
comercialização); produção de rações para a piscicultura e atividade leiteira, tendo a torta
do girassol como a principal fonte de proteína.
47
CAPÍTULO IV - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 - Delineamento da pesquisa
A presente pesquisa se desenvolveu a partir de um enfoque teórico-metodológico
de caráter qualitativo e quantitativo. Ela transcorreu no período de março de 2007 a
fevereiro de 2008, com uma seqüência de etapas bem distintas: a definição do campo de
estudo e a formulação dos questionários; a aplicação dos questionários e análise e
sistematização dos dados coletados e registrados.
Para a classificação da metodologia utilizada, tomou-se como base a apresentada
por Vergara (1997 apud Muñoz, 2007), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto
aos fins e quanto aos meios.
Com relação aos fins, o estudo realizado pode ser considerado como exploratório e
descritivo. De acordo com Silva e Menezes (2001, p. 21):
“A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema
com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento
bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão”.
segundo Triviños (1987, p.109), através do estudo exploratório “pode-se
encontrar os elementos necessários que permitem ao pesquisador, em contato com
determinada população, obter os resultados que deseja”.
O estudo da fase exploratória foi necessário para a busca de informações sobre a
contextualização da questão energética (abordando aspectos de produção e consumo de
fontes de energia), as potencialidades que a biomassa apresenta, os impactos sociais do
avanço da agroenergia e o girassol, este visto como possibilidade de uso para biodiesel. O
instrumento utilizado foi a pesquisa documental e bibliográfica.
No estudo da fase descritiva foram observadas características dos sistemas de
produção que incluíram a cultura do girassol como possibilidade de matéria-prima para
fins energéticos. Assim, foi investigada a maneira pela qual os atores sociais que compõem
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Abelardo Luz estão implementando
ações e estratégias para que a produção desta oleaginosa atenda aos interesses de
diversificação de cultivos otimizando o uso do solo e recursos naturais, diversificação esta
que se concretiza na produção de grãos e óleo e no aproveitamento dos resíduos (torta), o
que contribui para a reprodução social dos agricultores familiares assentados do município.
48
Também foi descrito como a Coopeal foi formada e como estão estruturados e
relacionados os sistemas produtivos que a cooperativa coordena.
A pesquisa descritiva, segundo Silva e Menezes (2001, p.21):
“visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas
padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume,
em geral, a forma de levantamento.”
Em relação aos meios, conforme Muñoz (2007, p. 26), “esta pesquisa pode ser
considerada como uma pesquisa de campo, pois é uma investigação empírica realizada
onde ocorre o fenômeno”, neste caso, entre agricultores familiares assentados que cultivam
girassol e a Coopeal, todos localizados em Abelardo Luz - SC.
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa conduzida nesta
dissertação é um estudo de caso. Conforme Triviños (1987, p. 133), é uma categoria de
pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Esta definição
determina suas características que são dadas por duas circunstâncias, natureza e
abrangência da unidade. Para Silva e Menezes (2001) o estudo de caso envolve o estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e
detalhado conhecimento.
Em relação à amostra da pesquisa, Minayo (1994, p.43) afirma que, “a amostragem
boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas
múltiplas dimensões”. Dessa forma, foram coletados dados de diferentes atores sociais do
município de Abelardo Luz, entre eles agricultores familiares assentados, técnicos da
Cooptrasc envolvidos nos sistemas de produção que evolvam o cultivo do girassol e
diretores da Coopeal.
A amostra utilizada nessa pesquisa foi intencional, que Silva e Menezes (2001,
p.32) determinam que devem ser “escolhidos casos para a amostra que representem o “bom
julgamento” da população/universo”. Assim, para que as informações coletadas permitam
alcançar os objetivos deste trabalho, foram analisados três grupos de atores:
Agricultores familiares assentados do município de Abelardo Luz produtores de
girassol que se enquadravam nos critérios estabelecidos pelo pesquisador (06
produtores);
Técnicos da Cooptrasc – equipe de ATES (Assistência Técnica Social e Ambiental)
que presta assessoria técnica para as famílias assentadas (02 técnicos);
49
Diretores da Coopeal que atuam junto às organizações dos agricultores familiares
assentados (04 pessoas).
A escolha das famílias pesquisadas ocorreu a partir de reuniões com técnicos da
Cooptrasc e diretores da Coopeal, onde buscou-se aplicar o questionário a agricultores
assentados obedecendo os seguintes critérios: agricultores que cultivaram o girassol
predominantemente na época da safrinha; agricultores que seguiram as recomendações
técnicas de preparo do solo e manejo durante todo o ciclo da cultura; agricultores que
haviam assinado contrato com a Coopeal para produção e comercialização do girassol e
aqueles que estavam enquadrados nas linhas de crédito do Pronaf. As famílias pesquisadas
residem em 5 assentamentos, sendo eles: José Maria, Santa Rosa III, Papuan II,
Indianópolis e Novo Horizonte.
Aqui é importante destacar que todos os agricultores familiares assentados são
oriundos de outros municípios da região oeste do Estado e foram assentados no período
que varia entre 10 e 18 anos, sendo que dois são os agricultores mais antigos e os outros
quatro pertencem aos assentamentos mais recentes. Outro aspecto importante a se destacar
é o fato de que dentre os seis produtores de girassol entrevistados, três são lideranças do
assentamento e da comunidade onde residem. Geralmente essas lideranças têm maiores
possibilidades de contato com diferentes realidades e atores sociais, fator que contribui
diretamente para a adoção de novos sistemas produtivos nas propriedades.
4.2 - Coleta de dados
Conforme Chizzotti (2001 apud Muñoz, 2007, p.27), “os dados são colhidos,
interativamente, num processo de idas e voltas, nas diversas etapas da pesquisa e na
interação com seus sujeitos”. Dessa maneira, foram pesquisados dados referentes à
caracterização e percepção dos atores sociais (agricultores familiares assentados, técnicos
da Cooptrasc e diretores da Coopeal) envolvidos na cadeia produtiva do girassol; dados
referentes aos aspectos agronômicos da cultura e referentes aos aspectos econômicos
relacionados à produção e industrialização do girassol. Esses dados foram coletados
através de entrevista com aplicação de questionário semi-estruturado e não-estruturado aos
grupos citados acima. É importante salientar que os questionários foram diferenciados para
cada grupo pesquisado.
50
Os dados sobre as motivações e percepção dos atores sociais foram extraídos a
partir de perguntas abertas a cada grupo pesquisado, ou seja, agricultores familiares
assentados, técnicos da Cooptrasc e diretores da Coopeal. os dados referentes aos
aspectos agronômicos da pesquisa foram coletados a partir de perguntas inseridas nos
questionários direcionados aos técnicos e aos agricultores consultados. Para os aspectos
econômicos relacionados à produção e industrialização do girassol as informações foram
coletadas a partir dos questionários aplicados aos agricultores, aos técnicos e aos diretores
da Coopeal.
As entrevistas foram realizadas em três momentos distintos. No primeiro momento,
foi aplicado o questionário no escritório da Cooptrasc, localizado na cidade de Abelardo
Luz, dirigido aos diretores da Coopeal. Para esse grupo (formado de 4 pessoas) as
perguntas foram aplicadas em forma de grupo, pois houve objeção ao questionário
individual, visto que as decisões são tomadas de forma coletiva entre esses atores. Para este
grupo o tempo da entrevista foi de 2,5 horas.
No segundo momento, também no escritório da Cooptrasc, foi aplicado o
questionário aos técnicos de ATES. A escolha pela aplicação em grupo partiu deles
próprios, uma vez que são os responsáveis pelo setor do girassol na cooperativa e
“visualizam” a cadeia do girassol de maneira semelhante. O tempo de duração da
entrevista deste grupo foi de 3 horas.
No terceiro momento foi realizada visita e aplicação do questionário, de forma
individualizada, na casa dos agricultores familiares assentados com o acompanhamento de
um técnico da Cooptrasc, responsável pelo deslocamento do pesquisador. Para cada
agricultor o tempo médio de entrevista foi de 3 horas, sendo necessários quatro dias para
coletar os dados de todos os componentes deste grupo. As informações foram anotadas
enquanto o agricultor e os membros da família respondiam e comentavam as perguntas.
Para a obtenção dos dados secundários desta dissertação foram feitas leituras
diversas de livros, revistas, trabalhos técnicos e científicos e cuja finalidade foi qualificar o
trabalho de pesquisa que se propôs para esta dissertação. Além disso, foram realizadas
diversas saídas de campo objetivando levantar informações necessárias para compor a
questão central desse estudo, correspondendo ao período de julho de 2006 a novembro de
2007. Durante esse período foi possível acompanhar algumas ações desenvolvidas
relacionadas à implementação da cultura do girassol, proporcionando, com isso, maior
51
integração entre o pesquisador e os agricultores, técnicos, lideranças locais e outras
organizações envolvidas.
As principais atividades acompanhadas foram:
Apresentação dos resultados do levantamento sócio-econômico dos assentamentos
rurais do município (convênio entre INCRA e Cooptrasc) onde a cultura do girassol
foi indicada como estratégica para os sistemas produtivos locais. Esses dados foram
utilizados como material bibliográfico para a pesquisa;
Visitas a produtores de girassol durante todas as fases do cultivo, ou seja, desde a
implantação das lavouras até a colheita;
Participação em Seminários e Conferência sobre Agroenergia. Entrevista com
técnicos e palestrantes e pesquisa bibliográfica;
Visita à indústria de biodiesel BSBios, em Passo Fundo(RS);
Curso de capacitação para usar a ferramenta BIOSOFT em projetos de biodiesel,
em Canguçu (RS), ferramenta importante para, posteriormente, realizar a análise
econômica.
4.3 – Investigação de campo
Um dos fatores que facilitou o diálogo com os grupos pesquisados foi a
aproximação do entrevistador com os mesmos, já que este trabalhou durante dois anos
como técnico de extensão rural no local. Essa aproximação, conforme Minayo (1994, p.
55), “é fundamental para criar uma relação de respeito efetivo pelas pessoas e pelas suas
manifestações no interior do grupo pesquisado” evitando gerar constrangimentos entre o
pesquisador e o grupo envolvido e provocando falsos depoimentos.
O pesquisador realizou uma conversa inicial com os entrevistados explicando os
objetivos da pesquisa e seu vínculo com a Universidade Federal de Santa Catarina.
Acordou com os entrevistados que seus nomes não seriam mencionados, garantindo
anonimidade e que, ao final da pesquisa, seus resultados seriam discutidos com a direção
local do MST. A ida a campo até a casa dos produtores familiares assentados permitiu
qualificar a pesquisa, interagir com os indivíduos entrevistados e obter elementos
importantes para o desenvolvimento desta dissertação. Ao longo do trabalho de campo,
adotou-se ainda a observação direta. As observações e anotações de campo se constituíram
um importante material que facilitou a triangulação dos dados coletados.
52
4.4 - Análise dos dados
Após a coleta dos dados, esses precisam ser corretamente analisados, de acordo
com os objetivos propostos no trabalho. Conforme Goldenberg (2000, p.37), “a interação
entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento
entre os resultados encontrados. Através da combinação de diferentes metodologias é
possível obter informações de diferentes fontes, o que permite a “triangulação” dos dados
coletados”. Desta forma, utilizar na mesma pesquisa mais de uma metodologia qualifica o
trabalho, possibilitando uma melhor interpretação dos dados obtidos.
A identificação das motivações e da percepção dos atores envolvidos na cadeia
produtiva do girassol em Abelardo Luz SC foi feita através da aplicação de questionário
com perguntas objetivas e abertas sobre o histórico da unidade de produção com a cultura e
qual a sua avaliação sobre este cultivo, além da satisfação ou não e pré-disposição ou não
em continuar a produzir girassol. Também se verificou a avaliação que possuem sobre a
proposta de agregar valor à produção local através do processamento.
Na existência de variadas respostas às perguntas abertas, escolheu-se as respostas
mais recorrentes. A sistematização dos dados assumiu formato de quadros, figuras e texto.
As transcrições e a sistematização, além de aprofundar as informações obtidas sobre os
sistemas produtivos em que o girassol está inserido, facilitaram o cruzamento destes dados
com aqueles obtidos de outras fontes.
Por opção do pesquisador e a pedido de dois agricultores optou-se em identificar os
agricultores familiares assentados apenas por um número, neste caso, de 01 a 06. Já os
técnicos da Cooptrasc e dirigentes da Coopeal serão, neste trabalho, mencionados como
“Técnicos da Cooptrasc ou Cooptrasc” e “diretores da Coopeal ou Coopeal”.
A análise dos indicadores agronômicos do girassol produzido por agricultores
familiares assentados foi feita a partir da sistematização dos dados coletados nas
entrevistas, confrontando-os com resultados de outras pesquisas. Assim, a análise foi feita
por intermédio da identificação de arranjos produtivos que envolvem a cultura do girassol,
pelo levantamento dos insumos usados e operações realizadas, pelo levantamento de
informações sobre o desenvolvimento da cultura (ciclo e problemas fitossanitários e outros
fatores limitantes encontrados) e pelo levantamento de dados de produtividade.
Em relação aos aspectos econômicos, os dados coletados foram analisados sob dois
aspectos: a) Análise econômica do custo de produção do girassol e demais atividades
53
produtivas de todos os agricultores familiares assentados entrevistados; b) Análise dos
aspectos econômicos da industrialização do girassol pela Coopeal.
A avaliação dos aspectos econômicos relevantes dos sistemas de produção dos
agricultores familiares assentados que produzem girassol foi feita com o levantamento dos
custos de produção do girassol cultivado na safrinha de 2007 por famílias assentadas, com
a análise da sensibilidade da receita líquida em função da variação do custo de produção do
girassol, com o cálculo da receita obtida (R$/ha) pelos produtores de girassol em Abelardo
Luz SC e, finalmente, com o cálculo da receita líquida por hectare obtida pelos
produtores nos arranjos produtivos dos assentamentos locais, permitindo-se, assim,
comparar a cultura do girassol com as demais opções em uso. Para o cálculo do custo de
produção de todas as atividades produtivas foi utilizada a ferramenta Software BioSoft.
A análise dos aspectos econômicos da produção de óleo e aproveitamento dos
subprodutos do girassol pela cooperativa Coopeal foi feita por meio do levantamento e
sistematização de dados referentes à quantidade de girassol processada, aos preços
praticados, aos custos operacionais, aos rendimentos obtidos (de torta e de óleo) e aos
problemas e oportunidades observados.
O levantamento do potencial de subprodutos foi feito por dados secundários como
produção de pólen e mel e aplicabilidade da torta na alimentação animal. As informações
sobre a quantidade de torta obtida por unidade de medida (kg torta/kg de grãos) foram
obtidas pelo desempenho da máquina em operação nas dependências da Coopeal.
Por meio da análise de cada elemento o pesquisador buscou cruzar os diferentes
dados e refletir sobre cada um deles. Desta forma, foram realizadas projeções da
remuneração obtida através da venda do óleo bruto e a granel, da venda do óleo envasado e
da venda da torta.
54
CAPÍTULO V - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seguir serão descritos, analisados e discutidos os dados coletados através dos
questionários aplicados aos agricultores assentados, técnicos da Cooptrasc e diretores da
Coopeal escolhidos para o estudo.
5.1 - Dados dos agricultores familiares assentados
Nas famílias entrevistadas há uma tendência de predomínio da população masculina
no campo, quadro este comumente encontrado no conjunto de toda a agricultura familiar
do país, no qual se percebe uma migração crescente de jovens para a cidade,
principalmente do sexo feminino. Abramovay e Camarano (1998, p.28), através do estudo
Êxodo Rural, Envelhecimento e Masculinização no Brasil: Panorama dos Últimos 50
Anos, tecem as seguintes considerações a este respeito: “A terceira novidade associada ao
estudo dos movimentos migratórios rurais está no envelhecimento e na masculinização da
população que vive no campo. São cada vez mais jovens os que vêm deixando o meio rural
e, entre estes, é preponderante a participação das mulheres”. Essa situação é comum
também em países europeus, como no caso da França, citado por (Stropasolas, 2004, p.
155), onde:
...o êxodo feminino, principalmente, é resultado do fato de as mulheres serem
hoje mais bem preparadas do que no passado para enfrentar a vida urbana,
passando, então, a questionar o que é visto como servidão na vida camponesa.
São menos ligadas à terra e parcialmente liberadas das restrições familiares em
razão do enfraquecimento das tradições, ou seja, mais prontas a adotar os
modelos de comportamento urbano.
Na tabela 11 apresenta-se a distribuição etária dos familiares dos produtores de
girassol, entre pessoas do sexo masculino e feminino. Utilizou-se na tabela acima a faixa
etária de 15 a 25 anos para caracterizar a juventude rural por ser este o intervalo de idade
mais utilizado na maior parte das pesquisas de âmbito nacional e internacional.
Tabela 11: Idade dos familiares dos produtores de girassol entrevistados entre o sexo
masculino e feminino
Categoria descrita: Idade Masculino % Feminino %
Até 14 anos 5 33,3 2 22,2
15 a 25 anos 2 13,3 1 11,1
26 a 40 anos 5 33,3 3 33,3
Maior de 41 anos 3 20 3 33,3
Total 15 100,0 9 100,0
55
Através dos dados obtidos nas entrevistas e também considerando que a
amostragem é restrita em termos numéricos, percebe-se que a população estudada é
predominantemente jovem, ou seja, 80% dos homens e 67% das mulheres têm idade até 40
anos. Para esta idade também se observa predomínio da população masculina,
corroborando com estudo desenvolvido por Stropasolas (2006) na região oeste do estado
de Santa Catarina.
Os produtores de girassol entrevistados pertencem a cinco assentamentos, sendo
que o somatório da população assentada é de 1803 indivíduos, divididos em 488 famílias.
Para o conjunto da população dessas cinco áreas ocorre um fenômeno contrário ao que
vem se consolidando na agricultura familiar onde a uma tendência de envelhecimento, ou
seja, a população assentada apresenta faixa etária relativamente baixa. Esta afirmação pode
ser visualizada na figura 07, onde o índice de jovens com idade até 20 anos de idade
alcança 45,59% da população dos cinco assentamentos, sendo que este índice aumenta a
60,34% para indivíduos com faixa etária até 30 anos e chega a 74,65% se a faixa etária for
de zero até 40 anos de idade.
Figura 07: Idade e grau de escolaridade das pessoas que moram nos assentamentos onde
ocorreu a pesquisa
Fonte: Incra, 2007.
56
Ainda em relação à população que reside nos cinco assentamentos, estas
apresentam os seguintes índices de escolaridade: 42,54% possuem ensino primário,
30,50% possuem ensino fundamental e no ensino médio este índice é de 7,82%.
Uma das razões para esse sensível avanço educacional pode estar relacionada ao
forte incentivo do Setor de Educação do MST no município. No período de 2003 a 2005
foi desenvolvido o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) cujo
objetivo foi a elevação de escolaridade de nível fundamental para jovens e adultos com
aulas nos finais de semana e em todos os assentamentos, facilitando às famílias o acesso à
educação. A facilidade de continuidade dos estudos dentro do próprio assentamento pode
significar um estímulo à permanência dos jovens no campo.
De outro lado, a população mais jovem e com nível educacional melhor é um fator
importante na adoção de novas tecnologias e está relacionado à habilidade de obter e
processar informações. Segundo Buainain, Souza Filho e Silveira (2002), produtores mais
jovens e que tiveram acesso à educação são mais facilmente atraídos por novidades e serão
os primeiros a adotá-las.
Com o objetivo de identificar e compreender a percepção dos agricultores frente à
introdução do cultivo do girassol, durante as entrevistas perguntou-se: O que motivou a
decisão de cultivar girassol? A partir das respostas, estas informações foram
sistematizadas e são apresentadas na figura a seguir.
Figura 08: Principais fatores que motivaram os produtores introduzir o girassol nos
assentamentos rurais de Abelardo Luz – SC
0 1 2 3 4 5 6 7
Menor custo de produção, risco e trabalho
Estímulo de técnicos e cooperativa
Garantia de venda através de contrato
Solo desocupado e fatores climáticos
Associado ao biodiesel
Produção de óleo e embelezamento da propriedade
Alternativa de cultivo na safrinha
Frequência
57
As motivações que levaram os agricultores familiares assentados a adotarem o
cultivo do girassol nos sistemas produtivos estão relacionadas a fatores como alternativa de
cultivo na safrinha, estímulo do extensionista rural e/ou da cooperativa, menor custo de
produção, menos trabalho na cultura e menor risco de perda da safra por eventos
climáticos.
A maioria dos agricultores passou a cultivar girassol em função da possibilidade de
aumentar a renda através de uma alternativa de cultivo na safrinha. De acordo com Müller
(2001) a renda obtida pelos primeiros agricultores a ingressarem na atividade pode servir
como propaganda e atrativo para estimular a entrada de novos produtores. Essa relação de
difusão de tecnologias a partir de pessoas próximas e de confiança dos agricultores
também é relatada por Souza Filho e Batalha (2005, p. 202):
Os agricultores preferem utilizar produtos com os quais estão familiarizados e
admitem optar por outros produtos desde que tenham sido indicados por um
amigo ou técnico. Em muitos casos, quando um novo produto ou mesmo nova
técnica de produção é indicada, o produtor normalmente testa sua eficiência em
uma área menor, antes de decidir definitivamente pelo novo insumo. Com essa
atitude, o produtor evita colocar em risco toda sua propriedade.
Outro aspecto importante na adoção dessa nova cultura foi o incentivo dos técnicos
e da cooperativa. O serviço de assistência técnica deve contribuir para o desenvolvimento
de atividades agrícolas viáveis economicamente. Para Flores (2002), o papel da assistência
técnica refere-se a um apoio não tecnológico, mas de inserção no mercado, que exige
conhecimentos sobre diversas atividades a serem desenvolvidas ao longo da cadeia
produtiva e de instrumentos para a sua consolidação.
Além da possibilidade de aumentar a renda da família, a garantia de venda através
de contrato com a cooperativa foi outro motivo importante na escolha dessa atividade. Para
Müller (2001, p.131), “este fator pode ser considerado como de suma importância na
tomada de decisão destes agricultores, uma vez que [...] a falta de canais adequados de
comercialização sempre foi uma preocupação constante para os agricultores”. Análise
semelhante em relação a contratos pode ser encontrada nos sistemas de integração
tradicionais e, de certa forma, é o que está ocorrendo com os produtores de girassol
vinculados a Coopeal (integração horizontal), tendo-se em vista que o preço do produto
é conhecido por todos anteriormente à semeadura, havendo, então, garantia de venda da
produção. Conforme DESER (2005, p.29), o sistema de integração ganhou estabilidade
58
também em função da definição antecipada dos preços mínimos a serem pagos aos
agricultores no final da safra.
Conhecidos os principais fatores que motivaram os produtores a introduzir o
girassol nas propriedades, o pesquisador fez a seguinte interrogação sobre os aspectos
relacionados aos resultados: O que vocês acharam dos resultados obtidos com o cultivo do
girassol? A partir das respostas obtidas, as informações foram sistematizadas e são
apresentadas na figura a seguir.
0 1 2 3 4 5 6 7
Opção para a safrinha e rotão de cultura
Muito satisfeito: produtividade e renda extra
Satisfeito: produtividade
Pouco trabalho em relação as demais atividades
Insatisfeito: com milho ou feijão a renda é maior
O preço recebido com a venda do grão é baixo
Acesso a renda em curto espo de tempo
Frequê ncia
Figura 09: Percepção dos produtores sobre os resultados obtidos com a produção do
girassol nos assentamentos rurais de Abelardo Luz – SC
Todos os agricultores relataram que o cultivo do girassol é uma boa opção na
safrinha, promove a rotação de culturas e o trabalho mobilizado no cultivo é inferior às
culturas tradicionais. No entanto, os produtores dizem estar insatisfeitos com o preço
fixado através de contrato entre os atores envolvidos, mesmo em casos de bons resultados
em termos de produtividade e receita líquida.
A insatisfação referente ao preço recebido pelos produtores de girassol pode estar
associada a dois fatores principais. O primeiro é que as culturas tradicionais, como milho e
soja, tiveram seus preços acima da média nos últimos anos e havia a mesma expectativa de
preços com o girassol. Conforme dados da Epagri/Cepa (2007), do primeiro trimestre de
2007 a dezembro do mesmo ano, os preços do milho e da soja tiveram, respectivamente,
aumento de R$ 17,50 para R$ 27,00 e R$ 29,00 para R$ 40,00. Em termos percentuais o
reajuste foi de 17,5% e 35,5% respectivamente, o que estimulou o cultivo das lavouras
tradicionais. Para o girassol não foi possível fazer referência aos preços para SC, pois se
59
tratava da primeira safra comercializada. O segundo aspecto está relacionado à presença de
uma única empresa compradora de girassol no momento da assinatura dos contratos, fator
este que contribuiu para os baixos preços.
5.2 - Dados referentes aos diretores da Coopeal e técnicos da Cooptrasc
Entre os quatro diretores da Coopeal entrevistados, três são filhos de assentados:
dois residem com os pais no assentamento do município, enquanto que o terceiro tem pais
morando em um assentamento da região central do estado. O quarto diretor pesquisado não
é assentado, mas trabalhou durante 5 anos como técnico agrícola nos assentamentos e
tornou-se liderança local.
Todos os diretores entrevistados possuem curso de nível técnico - concluído no
Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA) situado no
município de Veranópolis/RS – sendo eles: Técnico em Administração, Técnico em Gestão
de Cooperativa e Técnico Agrícola. É importante lembrar que os diretores da Coopeal
embora tenham formação técnica não atuam como técnicos nos assentamentos. Os cursos
desenvolvidos pelo ITERRA têm como função a socialização e a produção de
conhecimentos necessários para o trabalho no campo. Para Vendramini (2003, p.166) “não
dúvida hoje dentro do MST, de que a base da educação para os assentamentos está na
relação entre a escola e a produção”.
A educação é um elemento decisivo no horizonte profissional de qualquer jovem e
é uma promotora de autonomia. Para Silvestro e Abramovay (2001, p.48):
... A escolha profissional dos jovens agricultores é determinada por um conjunto
de fatores, dos quais os mais relevantes são suas expectativas de geração de renda
na unidade paterna comparadas com o que imaginam ser possível alcançar
inserindo-se em mercados de trabalho assalariado (SILVESTRO &
ABRAMOVAY, 2001, p.48).
Em relação à percepção dos diretores da Coopeal sobre a introdução do girassol nas
áreas de reforma agrária dois pontos que se destacam: em primeiro lugar, a Coopeal é
uma cooperativa do MST e está inserida num contexto de convivência com diversas
médias e grandes cooperativas que atuam no município e, portanto, oferecem todos os
serviços para a produção agropecuária, desde comercialização de insumos e assistência
técnica, até compra e venda de cereais, entre outros. A Coopeal é a única cooperativa da
região que es discutindo e implantando o cultivo de oleaginosas para fins energéticos,
60
além de estudos de viabilidade para uma indústria de biodiesel. Estes fatores têm atraído
diferentes atores sociais, influenciando politicamente as relações entre cooperativa,
produtores, sindicato, estudantes e outros.
Muitos agricultores assentados que não eram simpáticos ao MST passaram a
freqüentar espaços de debate e capacitação sobre o tema. Da mesma forma,
pequenos, médios e grandes produtores fora dos assentamentos têm procurado a
cooperativa para assistência técnica, adquirir semente e firmar contrato. Isso até
poucos anos atrás era impensável, pois o Movimento Sem Terra era visto com
preconceito (Diretor da Coopeal, 33 anos).
Em segundo lugar, as frustrações decorrentes de fatores climáticos, a baixa
produtividade, a baixa capacidade de investimento nas lavouras e o aumento dos preços
dos produtos agrícolas são fatores considerados pela Coopeal como os principais limitantes
do avanço do cultivo desta oleaginosa.
Os dois técnicos da Cooptrasc entrevistados possuem formação de Técnico
Agrícola em escolas federais e atuam no serviço de extensão rural 4 anos na mesma
cooperativa. Os técnicos vêem boas expectativas com o cultivo do girassol. Apontam como
pontos fracos a dificuldade em os agricultores seguirem orientações técnicas,
aparentemente relacionadas às expectativas de retorno econômico, a não familiaridade com
a cultura e a baixa capacidade de investimento nas lavouras. A elevação dos preços das
culturas tradicionais foram fatores que influenciaram a tomada de decisão dos produtores
em cultivar ou não o girassol, pois para aquelas o mercado é estruturado, enquanto que,
com relação a este, a situação é contrária. Como pontos fortes no cultivo do girassol, os
técnicos apontam o melhor aproveitamento dos solos no período da safrinha, diversificação
de receita e cultivos e menor desembolso em comparação a outros cultivos de grãos.
5.3 - Aspectos agronômicos
5.3.1 - Arranjos produtivos que envolvem a cultura do girassol
Na safra de verão a diversificação das atividades agrícolas e pecuárias é a
característica principal dos arranjos produtivos das famílias assentadas de Abelardo Luz -
SC. No entanto, no período que compreende a safrinha uma redução da ocupação dos
solos e poucos cultivos de grãos são recomendados para uma nova safra.
De acordo com dados obtidos através do questionário aplicado à Coopeal, as
famílias assentadas possuem áreas que variam de 12 a 15 hectares, distribuindo as
atividades agrícolas e pecuárias de acordo com a época do ano e a capacidade de explorar a
61
área. Na figura 10 é possível observar que as famílias entrevistadas que cultivam girassol
ocupam o solo de forma intensa durante todo o ano. Todas essas famílias utilizam culturas
de cobertura no outono/inverno que servem para alimentação do rebanho bovino,
especialmente para as vacas em lactação e também para o plantio direto.
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
inveno verão safrinha
verão
inveno verão safrinha
verão
inveno verão safrinha
verão
inveno verão safrinha
verão
inveno verão safrinha
verão
inveno verão safrinha
verão
Produtor 1 Produtor 2 Produtor 3 Produtor 4 Produtor 5 Produtor 6
Área (Ha)
Feijão Fumo Milho Cultura de inverno* Girassol Soja Outros usos
Figura 10 - Arranjos produtivos de culturas anuais (em ha e culturas) de famílias
assentadas que cultivam girassol em Abelardo Luz - SC
* As culturas de inverno são usadas especialmente para a alimentação do rebanho leiteiro,
em menor proporção como cobertura de solo.
Com o aumento da demanda por grãos com fins energéticos, o girassol passou a ser
uma interessante alternativa, seja cultivado na safrinha, seja como rotação ou mesmo
sucessão de culturas. Segundo informações obtidas através da aplicação do questionário à
Cooptrasc e posteriormente confirmadas in loco com os produtores de girassol, o cultivo
desta oleaginosa ocorre majoritariamente na safrinha e está focado na estratégia de
diversificação das atividades agropecuárias, não substituindo cultivos tradicionais, ou seja,
é utilizado como cultivo complementar, proporcionando a realização de duas safras no
período de verão na mesma área agrícola e, deste modo, elevando a receita das famílias
assentadas. Contudo, as culturas tradicionais continuam sendo responsáveis pela maior
parcela da renda dos agricultores, como será visto no final deste capítulo.
Esse mesmo ponto de vista é discutido por Angelini:
Nas circunstâncias atuais, parece que apenas o cultivo do girassol, em fevereiro-
março, em sucessão a grandes culturas, pode vir a se tornar uma boa alternativa
para o agricultor, uma vez que não impõe riscos absolutos, por se destinar ao
62
aumento de renda da atividade agrícola e não à formação dessa renda, que fica a
cargo da grande cultura de verão (ANGELINI et al, 2000, p.02).
É importante salientar que apesar do girassol ser uma alternativa interessante de
renda, esta cultura pode não ser a mais indicada, sendo necessárias outras investigações
considerando a sustentabilidade deste modelo (que aqui não esta sendo considerada), pois
uma maior exportação de nutrientes durante o período da safrinha e maior uso do solo,
com riscos de degradação ambiental.
Em entrevista com técnicos da Cooptrasc ficou claro que, no conjunto de todos os
agricultores familiares assentados, a maioria absoluta realiza a semeadura do girassol em
sucessão às culturas de feijão, fumo, milho e pastagens nos meses de janeiro e fevereiro.
Porém, diversas lavouras que foram semeadas nos meses de agosto e também em março
apresentaram rendimentos satisfatórios. no questionário aplicado aos 6 agricultores,
todos afirmaram já ter cultivado o girassol na safrinha.
Para as famílias assentadas de Abelardo Luz que são produtoras de girassol, esta
cultura tem proporcionado maior disponibilidade de nutrientes para as culturas
subseqüentes. Com a colheita, a maior parte dos nutrientes não é exportada junto dos
grãos, ficando estes retidos nos restos culturais, sendo que logo são decompostos e
disponibilizados para as plantas sucessoras. Com referência a esta ocorrência, Denucci
(2002, p.03) atesta que os restos culturais do girassol têm relação C/N favorável à sua
rápida decomposição e pronta disponibilização de seus nutrientes para as culturas
subseqüentes”.
Através de relatos de produtores na pesquisa de campo verificou-se que o melhor
desenvolvimento e aumento no rendimento das culturas subseqüentes foram observados
(sem quantificação) pelos produtores que semearam milho, trigo, aveia e soja. Esta
informação é semelhante à encontrada em Embrapa (2007, p.01) que atesta que “em áreas
onde se faz rotação de culturas com o girassol, observa-se um aumento de produtividade de
10% nas lavouras de soja e entre 15 e 20% nas de milho”.
Além do aumento das culturas subseqüentes, o girassol também pode ser utilizado
como pasto apícola. Entretanto, os dados do questionário apontam que nenhum produtor
está aproveitando este potencial por causa dos poucos recursos financeiros para a aquisição
de colméias vazias, da falta de tempo para se dedicarem à atividade e do preço do mel que
apresentava valores pouco atrativos.
63
5.3.2 - Produtividade e fatores limitantes encontrados
Segundo informações verificadas junto a Coopeal, o girassol passou a ser cultivado
em Abelardo Luz no ano de 2005 e até o final do ano de 2007 mais de 250 famílias haviam
aderido a esta cultura, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro, ocupando áreas que
em média variam de 1 a 3 hectares e utilizando variedades de sementes fornecidas pela
Embrapa, IAC e CATI. De acordo com os dados disponibilizados pela Cooptrasc na
entrevista, no período que corresponde à safra 2006/2007 foram cultivados 200 hectares de
girassol por 85 famílias, somente em áreas de assentamento, sendo que após a colheita os
produtores foram classificados em três grupos: grupo de baixa produtividade, grupo de alta
produtividade e grupo que não obteve colheita decorrente de fatores climáticos. No
primeiro grupo de produtores a produtividade das lavouras colhidas ficou abaixo da
expectativa em aproximadamente 50% dos casos, com índices que variaram entre 770
kg/ha a 1500 kg/ha, sendo que a produtividade média neste grupo de produtores ficou em
850 kg/ha. Já o segundo grupo de produtores, sendo eles 30, obteve os melhores resultados,
com a produção situada entre 1500 kg/ha a 2500 kg/ha.
É possível fazer uma comparação semelhante com os dados que foram encontrados
em experimentos conduzidos em 2007 na Estação Experimental da Epagri de
Canoinhas/SC, citados por Backes et al (2007, p. 07).
A produção da média do girassol cultivado na primeira época (em janeiro) ficou
acima de 1.800 kg/ha, porém houve variedades que atingiram 2.290 kg/ha. No
entanto, para variedades cultivadas na segunda época (em fevereiro) a
produtividade média caiu para 618 kg/ha. A baixa produtividade desta segunda
época deve estar associada às condições climáticas e especialmente à ocorrência
da podridão branca
10
.
Também em SC, no Vale do Itajaí, os resultados da produtividade do girassol foram
semelhantes aos verificados nas famílias de agricultores familiares assentados. Segundo
Botega (2007), a Cooperativa Regional Agropecuária Vale do Itajaí (Cravil) fez
experimentos com girassol e os resultados ficaram dentro das expectativas. A maior
produtividade chegou a 3.048 kg/ha e na menor foram colhidos 1.701 kg/ha.
Em outro estudo, Lopes aponta resultados da produção de girassol no mesmo
período, confirmando a semelhança dos dados encontrados referentes aos agricultores
assentados que cultivam esta oleaginosa como cultura secundária.
10
Mais informações sobre o assunto no artigo “Desempenho de cultivares de girassol em duas épocas de
plantio de safrinha no planalto norte catarinense” de Backes et al (2007).
64
[...] tem-se observado grande potencial para essa cultura no cultivo em sucessão
(safrinha), com isso possibilitando uma segunda safra após a colheita da cultura
“principal”, aumentando a renda do produtor. Em ensaios realizados com
girassol na safrinha 2007 no município de Barreiras-BA, os melhores índices de
produtividade alcançaram 1.463 kg/ha, 1.680 kg/ha e 1.723 kg/ha. Os piores
resultados atingiram 1.263 kg/ha e 1.137 kg/ha (LOPES et al, 2007, p.04).
O terceiro grupo de produtores de girassol dos assentamentos não chegou a colher a
produção em decorrência de fatores climáticos adversos, sendo que a semeadura ocorreu a
partir de fevereiro de 2007. Para estes, segundo a Cooptrasc, os fatores climáticos
determinantes foram a forte ocorrência de geada no mês de abril quando as lavouras de
girassol estavam em plena floração e chuvas intensas nos meses de abril e maio,
ocasionando o aparecimento de doenças (a mais comum foi a Sclerotinia sclerotiorum
-podridão branca) e o apodrecimento dos capítulos ainda no campo, o que proporcionou
consequentemente a redução da produção e prejuízo aos produtores. Afirmação semelhante
pode ser verificada em estudo conduzido por Backes et al (2007, p.01) referente ao cultivo
do girassol na safrinha, no qual este autor afirma que “na primeira época (janeiro), 10,8%
dos capítulos foram infectados com Sclerotinia sclerotiorum, enquanto na segunda época
(fevereiro) este percentual aumentou para 45% de plantas infectadas”.
Outra citação que corrobora a afirmação acima mencionada é de Botega (2007,
p.17) quando assevera que:
(...) no período da safrinha do ano 2007 houve uma quebra de 50% nas lavouras
de girassol em SC. Um dos motivos foi o excesso de chuva no mês de maio, que
prejudicou o desenvolvimento das plantas e propiciou o surgimento de várias
doenças. Em virtude disso alguns produtores não cobriram os custos.
Além dos fatores climáticos citados, os resultados negativos para o conjunto de
agricultores familiares assentados em relação à produtividade das lavouras de girassol
também estão associados a aspectos técnicos inter-relacionados. Segundo observações dos
técnicos da Cooptrasc, estes aspectos são o baixo nível de conhecimento técnico em
relação à cultura, a desuniformidade entre plantas e entre linhas, o manejo inadequado do
solo e a precariedade no manejo de insetos e fitossanitário.
Com a aplicação do questionário aos técnicos da Cooptrasc pode-se constatar que
as lavouras apresentaram problemas semelhantes e que o cultivo de girassol ainda não é
familiar aos produtores e aos próprios técnicos, visto que as informações agronômicas de
adubação, espaçamento, tratos culturais e até mesmo a colheita são pouco conhecidas e
65
difundidas
11
em comparação a outras atividades agrícolas. A dificuldade de transferência
de conhecimento entre pesquisadores, técnicos e produtores é um fenômeno também
constatado por Castro (2007), quando declara que “os maiores entraves da produção do
girassol estão relacionados ao baixo nível de transferência de tecnologia, à falta de tradição
do agricultor com a cultura e à falta de zoneamento agroclimático e fitossanitário”.
Segundo entrevista com os técnicos da Cooptrasc, a deficiência nutricional dos
solos é um aspecto decisivo para os baixos rendimentos alcançados pelos produtores de
girassol, visto que a maioria dos produtores opta em utilizar os fertilizantes para a safra
principal, e somente em caso de “sobra” utilizam-nos na cultura do girassol. Isto justifica-
se pela expectativa de remuneração frente às demais culturas, que no período se
encontravam com preços bem superiores ao girassol e por ainda “desconfiarem” da
viabilidade desta oleaginosa. Além disso, a falta de recursos financeiros contribuiu
significativamente para os baixos investimentos em lavouras.
Segundo Buainain, Souza Filho e Silveira a decisão de adoção de uma nova
tecnologia, neste caso, o cultivo do girassol, é fortemente influenciada pelas incertezas que
a cercam. O risco é uma variável crucial para a tomada de decisão sobre a introdução de
uma cultivar, mesmo quando seus resultados potenciais são conhecidos. Segundo os
autores:
(...) os agricultores familiares são particularmente suscetíveis ao risco,
especialmente aqueles cuja sobrevivência imediata depende, diretamente, do
resultado da produção corrente. No Brasil, a grande maioria dos agricultores
familiares, mesmo aqueles mais capitalizados, não contam com mecanismos
endógenos ou institucionais de proteção para amortecer o impacto de resultados
produtivos negativos, e são mais resistentes às inovações tecnológicas. Isso
explica, pelo menos parcialmente, que produtores integrados às indústrias e aos
canais de comercialização mais estruturados, que provêem certas garantias de
mercado para a produção, sejam aqueles que adotam tecnologias mais intensivas
em capital (BUAINAIN; SOUZA FILHO; SILVEIRA, 2002, p.336).
Os problemas com a semeadura atingiram aproximadamente, conforme
informações obtidas em entrevista com técnicos da Cooptrasc, metade das áreas cultivadas
com girassol, provocando, assim, uma redução média entre 20 a 40% do número de plantas
de girassol recomendadas e que componham um bom “stand” (50 mil/ha). Ou seja, durante
a colheita as lavouras continham entre 60 e 80% das plantas recomendadas, o que reduziu a
11
Situação diferente da que ocorre com as demais atividades agrícolas, que possuem uma vasta bibliografia
com recomendações técnicas e um conjunto de atividades relacionadas como seminários, reuniões técnicas,
[...] além da própria experiência dos agricultores.
66
produtividade e diminuiu a remuneração dos produtores. Esta dificuldade está relacionada
principalmente aos aspectos de espaçamento entre plantas e entre linhas, sendo este último
o mais significativo. Segundo informações fornecidas pelo questionário aplicado a
Cooptrasc, geralmente o espaçamento entre linhas utilizado pelas famílias é superior ao
recomendado, ocasionando, com isto, redução de plantas por área cultivada (foto 01),
situação esta bastante comum nas lavouras onde o produtor cultivou girassol na área (linha/
fileira) ocupada anteriormente por fumo, que possui espaçamento de 1,0 a 1,2 metros.
Desta forma, confrontando dados da literatura com dados do questionário pode-se verificar
que em cada fileira/linha de fumo são deixados de cultivar entre 30 a 50 cm de área com
girassol, visto que o espaçamento recomendado para esta oleaginosa é de 70 cm, o que
provoca uma redução de 10 a 15 mil plantas por hectare. Silveira et al (2005, p. 402)
aponta que o espaçamento entre linhas de 0,70 m tem proporcionado os melhores
rendimentos de grãos para o girassol, no Brasil e no exterior.
O espaçamento inadequado entre plantas é decorrente do equipamento impróprio
utilizado na semeadura, ataque de insetos (corte das plântulas do girassol durante os
primeiros dias após a emergência) e fatores climáticos.
1,20 m
Foto 01: Espaçamento do girassol cultivado em áreas sucedendo a cultura do fumo
67
Por ser uma atividade agrícola que ainda está se concretizando nos assentamentos,
existem limitações em equipamentos ou peças de implementos agrícolas adequados para a
semeadura do girassol. De acordo com os seus produtores, são utilizados os mesmos discos
das plantadeiras para semear soja, milho e o girassol, embora as sementes dessas espécies
sejam completamente diferentes. Como resultado dessa situação, freqüentemente ocorre
má distribuição de sementes no terreno, limitando a formação do “stand” recomendado.
O outro fator que tem provocado desuniformidade das lavouras de girassol está
relacionado ao manejo inadequado do solo. Em relação a este aspecto, segundo dados do
Incra (2007), nos assentamentos de Abelardo Luz SC o sistema de manejo convencional
do solo prevalece em 45% dos produtores, os demais realizam o cultivo mínimo e plantio
direto. Os técnicos da Cooptrasc relataram que é comum a prática de arar os solos para o
cultivo do girassol e, desta forma, estes solos ficam sujeitos a fortes chuvas que, seguidas
de dias de sol têm dificultado a sua germinação em diversas lavouras, que as plântulas
têm dificuldade de romper a camada superficial compactada que se forma. Além disto,
com freqüência o girassol semeado na safrinha ocupa áreas compactadas pelo manejo
inadequado do solo. Para Silveira et al (2005, p. 404), em solo compactado a razão de
elongação da radícula pode ser diminuída, reduzindo a capacidade da planta em absorver
umidade para atender às necessidades e afetando o estabelecimento das plantas. Essas são
algumas das razões pelas quais a compactação adquire importância muito grande desde a
germinação e deve, portanto, ser observada no cultivo do girassol.
A única vez que se constatou algum dano pela presença de insetos nas lavouras de
girassol foi durante a fase de plântula e no final do ciclo vegetativo da cultura. Segundo
dados coletados na entrevista aos técnicos, durante a fase de plântula o girassol foi o alvo
preferido de insetos, principalmente a vaquinha (Diabrotica speciosa), o que causou
redução de plantas e diminuição da produtividade. No final do ciclo vegetativo do girassol,
foi observada a presença localizada da lagarta preta, porém sem danos econômicos às
lavouras.
5.4 - Aspectos econômicos da produção do girassol
Os produtores que foram entrevistados receberam assistência técnica durante todo o
ciclo produtivo do girassol, sendo que a semeadura ocorreu a partir do mês de janeiro e
fevereiro do ano de 2007, sucedendo as culturas do milho e fumo. Desta forma, o girassol
68
tem sido introduzido como cultura complementar, acrescentando renda às famílias e
proporcionando melhor uso do solo.
Para a venda do girassol, a Coopeal firmou contrato entre a empresa Brasil
Ecodiesel e os produtores, com garantia de preço fixo do produto, assistência técnica,
semente, Boro
12
e frete pago pela empresa da sede do município até a indústria de
biodiesel. A empresa compradora de girassol obteve o Selo Combustível Social (SCS),
garantindo desconto tributário ao adquirir a matéria-prima dos agricultores familiares
assentados que são beneficiários do Pronaf. O Selo foi concedido pelos técnicos do
Ministério do Desenvolvimento Agrário e está de acordo com as diretrizes do PNPB.
Produtores do semi-árido nordestino também cultivam oleaginosas com finalidade
energética e empresas compradoras da matéria-prima receberam o Selo Combustível
Social. Segundo Monteiro (2007, p.81):
A aquisição de matéria-prima do agricultor familiar é estabelecida por meio de
contrato com os agricultores familiares e produtores de biodiesel. Esses
contratos devem ser realizados, necessariamente, através de um representante da
associação de agricultores familiares, esclarecendo duração, valor total de
compras de matéria-prima, condições de ajustes de preços e condições de
entrega da matéria-prima (prazo). Os produtores de biodiesel detentores do SCS
devem também prover assistência técnica aos agricultores familiares e os
agricultores familiares devem entregar a matéria-prima contratada aos
produtores de biodiesel.
A seguir é apresentado o custo de produção do girassol dos agricultores familiares
assentados em Abelardo Luz/SC, sendo este constituído, conforme Richetti (2007, p.02)
“pela remuneração do capital mais as despesas com insumos, operações agrícolas e outras
utilizadas em um processo produtivo”. O custo total de produção é a soma dos custos fixo
e variável.
Os componentes dos custos de produção estão relacionados aos sistemas de
produção do girassol e são apresentados na tabela 12. No exemplo aqui apresentado foi
escolhido o produtor 04, onde a produção obtida foi de 1900 kg/ha, sendo que o custo de
produção foi R$ 609,70 e a receita líquida foi R$ 359,30. Os custos de produção de todos
os produtores estão descritos na tabela 14. Cabe ressaltar, para efeitos de comparação, que
no período em que a produção do girassol foi comercializada o salário mínimo estava em
R$ 380,00.
12
Micronutriente importante no crescimento e rigidez da planta, evitando quebra ou tombamento
(COOPTRASC, 2007).
69
Tabela 12 - Custo de produção do girassol cultivado na safrinha de 2007 por famílias
assentadas de Abelardo Luz – SC.
Girassol Unidade Valor
Unitário
Quantidade
(ha)
Total
(R$/ha)
Participação
(%)
A - Custo variável
1- Operações Manuais
Acompanhamento dh* 20,00 0,11 2,20 0,36
Colheita Dh 20,00 3 60,00 9,84
Subtotal (R$)
62,20 10,20
2 – Operações mecânicas
Aplicação de herbicida hm** 60,00 0,3 18,00 2,95
Plantio e adubação Hm 70,00 0,9 63,00 10,33
Aplicação de inseticida Hm 60,00 0,3 18,00 2,95
Subtotal (R$)
99,00 16,24
3 – Insumos
Sementes Kg 6,00 5 30,00 4,92
Fertilizante – base SC 42,16 3 126,48 20,74
Fertilizante – cobertura SC 50,00 2 100,00 16,40
Micronutriente – boro Kg 7,00 7 49,00 8,04
Secante L 9,00 2 18,00 2,95
Inseticida L 45,00 0,2 9,00 1,48
Tratamento de sementes L 94,80 0,07 6,64 1,09
Subtotal (R$)
339,12 55,62
B - Custo fixo
Remuneração da terra R$
(3% VT /2 )
45,00 7,38
Depreciação + juros +
previdência R$ 66,38 10,89
Subtotal (R$)
111,38 18,27
Total (R$)
609,7
0 100
* dias/homem: tempo utilizado para acompanhar o desenvolvimento da lavoura de girassol, ou seja, é o
tempo gasto para vistoriar a lavoura e o tempo lá permanecido.
** hora máquina
Segundo dados obtidos pela entrevista a diretores da Coopeal, a semente e o boro
são os únicos insumos fornecidos pela cooperativa aos produtores, a um valor de R$ 7,00 e
R$ 5,00 ao quilo, respectivamente (4-5 kg de semente/ha e 7kg de boro/ha). O pagamento
dos insumos é realizado durante a entrega da produção, quando são descontados todos os
custos, incluindo-se taxas e impostos. Desta forma, o preço pago ao produtor foi de R$
30,40/saca de 60 kg de girassol.
Pelos dados expostos, verificou-se que os insumos foram os elementos que
representaram maior desembolso, sendo que somente os fertilizantes impactaram em
70
37,14% dos custos totais de produção. Com esta produtividade de 1900 kg/ha, a saca de
60kg custou para o produtor R$ 19,25 e foi comercializada a R$ 30,40, ou seja, o retorno
com o cultivo de girassol para esta situação foi de 36,67%.
Dados semelhantes sobre estimativas do custo de produção de girassol foram
calculadas por Richetti (2005), onde o custo total com a cultura do girassol na safra 2006,
por hectare, foi de R$ 695,20. Os itens que mais oneraram o custo foram os fertilizantes
(34,81%) e as sementes (12,94%). Com a produtividade de 1.800 kg/ha, o custo total
médio, por saca de 60 kg foi de R$ 23,17.
No ano seguinte, esse mesmo autor calculou valores ainda mais próximos aos
encontrados em Abelardo Luz SC. Conforme Richetti (2006, p.02), o custo para a safra
2007 foi de R$ 610,11 por hectare. Os itens que mais oneraram o custo são os fertilizantes
(35,7%) e a semente (9,8%). Com a produtividade de 1.800 kg/ha, o custo total médio por
saca de 60 kg é de R$ 20,34.
Botega, em matéria publicada pelo jornal Diário Catarinense (17 de julho de 2007),
afirma que foram feitos experimentos com girassol em propriedades rurais no interior do
estado de SC e a produtividade média atingiu 2.707 kg/ha, com custo médio direto de
implantação de R$ 637,00 por hectare.
Variações nos custos de produção, na produtividade e no preço de venda do produto
são determinantes para a viabilidade de qualquer cadeia produtiva, sendo que estas
variáveis estão inter-relacionadas, ou seja, qualquer mudança em apenas um destes itens
provoca alterações que tendem a viabilizar ou inviabilizar a atividade.
Desta forma, para qualificar a avaliação dos aspectos econômicos e verificar como
as modificações nas variáveis custo de produção versus receita líquida” se comportam
para a viabilidade da produção do girassol, foi realizada a análise de sensibilidade
13
com os
produtores entrevistados, sendo que foram escolhidos os produtores “1”, “2” e “3”(ver
tabela 13) em virtude de que, para estes, o custo de produção ficou em R$ 19,00 para a
saca de 60 kg.
Antes de iniciar a semeadura do girassol foram firmados contratos entre a empresa
compradora do girassol, a Coopeal, e os produtores no valor de R$ 30,40 para a saca de 60
13
A análise de sensibilidade constitui-se nas incertezas referentes à concretização das informações estimadas
para um projeto, uma vez que os tomadores de decisão não têm domínio sobre os acontecimentos futuros.
Dessa forma, para saber qual é o impacto dos indicadores frente às variáveis, sobre as quais os tomadores de
decisões têm controle de alterá-las, é que se faz análise de sensibilidade. A análise de sensibilidade parte da
premissa que somente uma variável será alterada, permanecendo as demais constantes (BIOSOFT, 2007).
71
kg. Para os produtores “1”, “2” e 3” a receita líquida ficou em R$ 11,40 por cada saca
comercializada.
Pela simulação de dados apresentados na tabela 12 observa-se a variação da receita
líquida em função da variação dos custos de produção do girassol comercializado durante o
período da safrinha 2006/2007. Nota-se que com esta configuração - através de variações
percentuais crescentes aumentando em 20% os custos de produção praticamente
inviabilizar-se-ia a atividade de produção do girassol, pois cada produtor receberia apenas
R$ 5,27 por saca de 60 kg de girassol ou R$ 158,10 por hectare.
Tabela 13 - Análise da sensibilidade da receita líquida em função da variação do custo de
produção do girassol
Variação do Custo (%)
Preço de venda Custo de produção Receita líquida
(saca de 60 kg) (saca de 60 kg) (saca de 60 kg)
35 30,4 31,66 -1,26
30 30,4 29,31 1,09
25 30,4 27,14 3,26
20 30,4 25,13 5,27
15 30,4 23,27 7,13
10 30,4 21,55 8,85
5 30,4 19,95 10,45
0 30,4 19 11,4
-5 30,4 18,05 12,35
-10 30,4 17,15 13,25
-15 30,4 16,29 14,11
-20 30,4 15,48 14,92
Há duas formas principais de aumentar a receita líquida dos produtores de girassol. A
primeira, ligada diretamente às práticas agrícolas dos produtores, está relacionada aos
aspectos técnicos internos à propriedade, como espaçamento, “stand”, manejo do solo,
época de semeadura e cultivar escolhida. O outro aspecto, mais complexo e dependente de
fatores externos à propriedade, está relacionado com o preço pago pelas empresas
compradoras do grão de girassol e o preço dos insumos para o cultivo do grão. Os insumos
são os componentes mais caros para produção do girassol, conforme literatura citada e
descrita na tabela 12. Segundo dados da Epagri/Cepa (2008), no período de fevereiro de
2007 a fevereiro de 2008 o preço da saca de 50 kg do fertilizante mais indicado na cultura
do girassol (NPK 5-20-20) passou de R$ 37,77 para R$ 53,71 respectivamente, ou seja, um
aumento de 40%. o preço pago pelas empresas de biodiesel passou de R$ 30,40 para R$
37,00 no mesmo período, ou seja, o girassol foi reajustado em 18%.
72
Na tabela 14 são apresentados os custos de produção do girassol cultivado pelos
seis agricultores familiares assentados. A diferença do maior para o menor custo de
produção entre os produtores foi de 17,79%, enquanto a diferença de produtividade entre o
maior e menor índice foi de 38%. No entanto, a composição dos custos de produção
verificados não é homogênea, devido a aspectos relacionados ao manejo dos solos,
fertilidade, relevo, pedregosidade, práticas agrícolas e insumos utilizados. A maior
produtividade e também o menor custo de produção foram constatados no produtor 06,
sendo que este bom índice, do ponto de vista técnico, é decorrente do solo de alta
fertilidade, uso do plantio direto, “stand” de plantas adequado e fatores climáticos
favoráveis durante todo o ciclo da cultura.
Tabela 14 - Receita obtida em ha pelos produtores de girassol em Abelardo Luz – SC
Produtores Área Custo Produti-
Preço
(R$/kg)
Valor
bruto
Valor
líquido
Ha x
R$**
de Cultivada (R$/ha) vidade* (R$/ha) (R$/ha)
Girassol (ha)
Produtor 1 10 567,2 1800 0,51 918 350,8 3580
Produtor 2 1,5 567,2 1800 0,51 918 350,8 526,2
Produtor 3 7 567,2 1800 0,51 918 350,8 2455,6
Produtor 4 2 609,7 1900 0,51 969 359,3 718,6
Produtor 5 1 609,7 1700 0,51 867 257,3 257,3
Produtor 6 5 501,72 2500 0,51 1275 773,28 3866,4
*Corresponde a produção obtida em 1ha
**Área cultivada versus receita líquida
A partir dos dados apresentados é possível afirmar que o cultivo de girassol
apresenta viabilidade econômica e pode oportunizar renda extra para as famílias
assentadas. Conforme constatado nas entrevistas com os produtores, cerca de 40% dos
solos no período da safrinha encontram-se desocupados após a colheita da cultura
principal. Desta forma, pode-se atestar que, do ponto de vista econômico, cultivar girassol
traz resultados positivos para as famílias assentadas de Abelardo Luz (SC), mesmo sendo
vendido à empresas que utilizam o grão para produção de biodiesel para atender o
Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB) .
73
5.4.2 - O girassol frente a outras culturas
A figura 11 apresenta a receita total das atividades agrícolas obtidas em 1,0 hectare
com os principais arranjos produtivos das famílias assentadas de Abelardo Luz.
Aparentemente o girassol apresenta remuneração inferior aos demais cultivos,
principalmente devido ao aumento dos preços dos outros produtos agrícolas nos últimos
anos o que diminuiu a competitividade. No entanto, elementos que são centrais em
relação ao girassol: a cultura ocupa áreas de sucessão de outros cultivos e, portanto, é uma
atividade complementar e o trabalho demandado durante todo o ciclo produtivo do girassol
(preparo do solo até a venda da produção) é inferior quando comparado com outros
cultivos, principalmente com fumo
14
e leite (possuindo ocupação de trabalho de 12 meses).
Figura 11 Receita líquida (R$) por hectare dos produtores nos arranjos produtivos dos
assentamentos de Abelardo Luz - SC
Uma das principais vantagens atribuídas ao girassol está relacionada a seu menor
custo de produção em relação às demais culturas agrícolas. Para as famílias assentadas de
Abelardo Luz e que foram entrevistadas foi possível comprovar esta afirmação. Na tabela
15 é apresentado o custo de produção dos cereais cultivados pelos produtores.
14
Carvalho (2006) constatou na pesquisa realizada sobre a produção de fumo no município de Sombrio/SC,
que o total apurado de horas trabalhadas ao longo do cultivo, colheita e preparação final do fumo resultou em
1111horas de trabalho por hectare.
74
Tabela 15 - Custo de produção em reais por hectare (R$/ha) dos principais cereais
cultivados pelos agricultores familiares assentadas de Abelardo Luz - SC.
Produtores Milho Soja Feijão Girassol
Produtor 01 1044,74 736,30 - 567,20
Produtor 02 1028,74 685,95 809,50 567,20
Produtor 03 575,20 - 622,20 567,20
Produtor 04 784,24 - 705,10 609,70
Produtor 05 757,20 - 686,10 609,70
Produtor 06 1020,00 700,00 815,00 501,72
Total 868,33 707,41 727,58 570,45
Segundo dados obtidos com os produtores que cultivaram girassol, estes
consideraram a cultura uma boa opção para a safrinha, possibilitando melhor uso do solo e
incremento de renda. Na tabela 16 está representada a receita líquida dos produtores
entrevistados e o quanto o girassol participa para esta receita. Para o agricultor assentado
03 o girassol contribuiu em 55% da receita líquida, tornando-se a receita principal desta
família. Este fenômeno pode estar associado à área ocupada com a cultura e à menor
capacidade de investimento na cultura principal (crédito, melhoria da qualidade do solo e
outros). com os produtores mais consolidados (01, 02, 05 e 06) ocorre o inverso,
possivelmente pela maior capacidade de investimento nas culturas principais (crédito,
implementos agrícolas e acesso à informação) e pela maior diversificação produtiva nas
propriedades rurais. O produtor 4 apresentou a menor receita líquida anual, ocorrência esta
relacionada a fatores como a capacidade de investimento em todas as culturas agrícolas e
sua descapitalização.
Tabela 16 Receita líquida dos produtores de girassol entrevistados no município de
Abelardo Luz – SC.
Produtores Receita líquida (R$)* % do girassol**
Produtor 1 5982,40 21,9
Produtor 2 10838,20 4,85
Produtor 3 4464,00 55
Produtor 4 3628,30 19,8
Produtor 5 9393,10 2,75
Produtor 6 32933,40 11,7
* Relacionada à receita líquida da propriedade.
**Participação do girassol frente à receita líquida.
75
5.5 - Aspectos econômicos da industrialização do girassol pela Coopeal
O cultivo de oleaginosas, especialmente do girassol para produção de óleo, torta e
comercialização dos grãos é uma das principais atividades de trabalho da Coopeal.
Segundo dados da Cooperativa, o girassol cultivado na safra 2006/2007 foi
majoritariamente destinado para a comercialização a empresas produtoras de biodiesel,
correspondendo a 60% da produção. O restante da produção, cerca de 40%, teve como
finalidade a extração de óleo para consumo das famílias e, em menor proporção, para
venda em feiras/mercados locais.
De acordo com os diretores da Coopeal entrevistados, até dezembro de 2007
aproximadamente 85% do óleo produzido na unidade de extração de óleo de girassol foi
utilizado na dieta alimentar das famílias assentadas. o óleo comercializado representou
outros 15%, sendo que durante este mesmo ano o volume estimado foi de 3000 litros, visto
que não um controle exato do quanto foi comercializado. A quantidade comercializada
do óleo comestível ainda é baixa e a planta industrial não está totalmente adequada às
condições sanitárias requeridas para seu funcionamento regularizado.
De acordo com relato dos técnicos da Cooptrasc, a extração do óleo em pequena
escala propicia diversas vantagens, dentre elas o consumo de óleo de melhor qualidade,
não necessidade de operadores especializados para manusear o equipamento e o baixo
custo de manutenção.
Segundo Ercitec (2003 apud OLIVEIRA; VIEIRA, 2004, p. 15):
As miniprensas têm como características a facilidade no transporte, o baixo
custo de energia, o baixo custo de investimento, a pequena área de ocupação, a
mão-de-obra não especializada (precisa de apenas uma ou duas pessoas para
fazê-la funcionar). É ideal para propriedades e pequenas cooperativas de
produtores.
Outras vantagens são citadas por Monteiro (2007, p.192) que afirma que:
A instalação de mini-prensas em nível de propriedade, também é uma
alternativa para agregar valor às oleaginosas, permitindo aos agricultores
produzir óleos vegetais na própria propriedade e promovendo a diversificação
de suas fontes de renda, com vantagens sobre os custos de carregamento de
estoque, ganhos com logística e organização, custos de financiamento agrícola,
pacotes tecnológicos de baixo custo, entre outros.
Para efeitos de análise econômica da produção do óleo e da torta, os dados foram
obtidos com o equipamento operando 10 horas/dia, o que corresponde a 1000 kg/dia de
76
grãos processados. A cada 100 kg de grãos processados na máquina extratora, são
produzidos 38 litros de óleo de girassol, sendo que a eficiência desta máquina, localizada
no assentamento José Maria, é de 90%, incluindo-se o coeficiente de conversão, conforme
a tabela 17. Ou seja, aproximadamente 10% do óleo permanecem retidos na torta do
girassol e não é possível sua recuperação, nesta pequena indústria, devido ao seu processo
de extração ser a frio. De outro lado, o processo de extração a frio conserva melhor as
propriedades nutricionais do óleo e da torta.
Tabela 17 - Indicadores de conversão e alíquotas de impostos para oleaginosas
Indicador Unidade Girassol Soja
Coeficiente de conversão kg (grão)/l (óleo) 2,56 - 2,78 5,26
Preço de venda R$/kg (produto) 0,51 0,47
Alíquota de impostos R$/l de óleo 0,086 0,086
Produtividade kg/ha 2000 2900
Fonte: UFV/MDA, 2007.
O coeficiente de conversão é um aspecto extremamente importante, pois através
dele é estimado o quanto de óleo é possível extrair de uma determinada cultura. De acordo
com a tabela acima, para a região sul o coeficiente de conversão do girassol é de 2,56 para
cultivos realizados na safra principal e 2,78 para as lavouras cultivadas na safrinha. A
diferença de coeficientes está relacionada principalmente a fatores climáticos e ao teor de
fibra dos grãos do girassol grãos com mais fibra apresentam menor teor de óleo e vice-
versa.
Segundo dados a partir do questionário, os produtores que vendem girassol para a
Coopeal recebem o mesmo preço praticado pelas empresas produtoras de biodiesel, ou
seja, 1 kg de girassol custa para a cooperativa R$ 0,51 ao qual são acrescidos outros R$
0,15 para o processamento do óleo. Desta forma, 1 kg de grão transformado em óleo bruto
tem um custo final para a cooperativa de R$ 0,66. Considerando o coeficiente de conversão
e o custo final de 1 kg de grão para a cooperativa, cada litro de óleo bruto de girassol
apresenta um custo de R$ 1,83.
De acordo com as instruções do fabricante da extratora e análises realizadas pela
Coopeal e Embrapa Soja
15
, as variedades de girassol usadas no município possuem teores
15
A Embrapa Soja auxilia a Cooptrasc e Coopeal na implantação das lavouras experimentais nas áreas de
assentamento de Abelardo Luz – SC.
77
de óleo de 42% e 40%, de acordo com a época de cultivo, sendo que a cada tonelada de
grãos processados são obtidos 360 litros de óleo e 640 kg de torta.
Para que a atividade de extração de óleo de girassol possa ter viabilidade
econômica é fundamental que a cooperativa comercialize a torta de girassol, pois somente
com a venda deste item é possível amortizar parcela dos custos da compra da matéria-
prima. A Coopeal comercializa a torta do girassol a R$ 0,38/kg, ou seja, cada tonelada de
torta é comercializada a R$ 380,00. Esse preço é superior ao da tabela de mercado, e
segundo Aboissa (2008), em dezembro de 2007 o farelo de girassol apresentava cotação de
R$ 350,00 por tonelada. Entre tanto, como cada tonelada de girassol produz 640 kg de
torta, então a receita com a venda desta torta oriunda de uma tonelada de grãos é de R$
243,20.
A partir destes dados é possível afirmar que somente com a comercialização de
uma tonelada de torta de girassol a cooperativa amortiza os custos com a compra dos grãos
em 47,68%. Em outras palavras, quase metade das despesas da Coopeal podem ser
abatidas pela venda da torta e o restante pode ser obtido com a venda do óleo, que é a
fração mais valiosa deste processo.
Atualmente é possível comprar torta de girassol somente com a Coopeal. A entrega
é realizada através do caminhão que transporta leite ou na própria unidade extratora.
Segundo informações da cooperativa, a procura por torta de girassol tem aumentado em
virtude da sua qualidade nutricional e pelo seu preço acessível, pois nas demais
cooperativas do município só é fornecido o farelo de soja ao custo de R$ 0,79/kg, valor
este bem superior ao que é cobrado pela torta em questão.
O aproveitamento da torta de girassol para a alimentação animal passou a ser
realizado a partir de 2007 pelos produtores vinculados a Coopeal, numa estratégia para
baixar custos de produção (pela substituição do farelo de soja), principalmente na produção
leiteira. Cabe ressaltar que o município es localizado numa região onde o inverno é
rigoroso e prolongado. Esse clima exerce influência diretamente na escassez de alimento
para os rebanhos em dois períodos do ano: o primeiro, nos meses de maio e junho e o
segundo, no mês de setembro até meados de outubro.
A produção de ração balanceada para a alimentação de peixes a partir da torta do
girassol é um resultado esperado para baixar os custos de produção na cadeia da
piscicultura. Conforme entrevista com a Coopeal, esta adquiriu equipamentos para a
fábrica de ração e, além do girassol, utilizará outros grãos produzidos pelas famílias
78
assentadas, como o milho, soja, trigo e triticale. Pelas estimativas, os custos ficarão de 15 a
25% inferiores aos da ração vendida no mercado, permitindo maior rentabilidade aos
produtores.
5.5.1 – Alguns cenários
A Coopeal estuda a melhor maneira de comercializar o óleo de girassol extraído na
sua indústria. No momento duas possibilidades de comercializá-lo, conforme é
demonstrado nos cenários da tabela abaixo.
Tabela 18 – Receita obtida através da industrialização do girassol a partir de dois cenários.
Cenário 01
Variável
Unidade Preço de venda Custo (R$)
Receita líquida
(R$/ton)(L ou kg) R$/ton MP* + extração
Óleo 360 1044
660
384
Torta 640 243,2 243,2
Total 627,20
Cenário 02
Variável
Unidade Preço de venda Custo (R$) – MP +
Receita líquida
(R$/ton)(L ou kg) R$/ton extração + embalagem
Óleo 360 1260
660,00 + 310,00
290
Torta 640 243,2 243,2
Total 533,20
*Aquisição da matéria-prima.
No primeiro cenário a venda do produto é a granel (em tanques). Conforme
mencionado, a cada tonelada de grãos de girassol são extraídos 360 litros de óleo bruto.
Tomando-se como referência que a cotação
16
do óleo de girassol bruto e a granel no
mercado em janeiro de 2008 estava em R$ 2,90 o litro, a receita bruta obtida com este óleo
é de R$ 1044,00 por tonelada de grão industrializado. O custo com a aquisição de uma
tonelada de matéria-prima e a extração do óleo é de R$ 660,00, ou seja, 63,21% da receita
bruta. Portanto, cada tonelada de grãos industrializados permite conferir R$ 384,00 de
receita líquida
17
sem a comercialização da torta.
Ao somar a receita líquida da comercialização da torta (R$ 243,20) e a receita
líquida do óleo (R$ 384,00), a cooperativa teria uma receita de R$ 627,20 por tonelada de
girassol, sem subtrair as despesas com logística e transporte.
A segunda opção para comercializar o óleo é envasar o produto. De acordo com
dados fornecidos pela cooperativa, os custos para colocá-lo no mercado são encarecidos
16
A cotação é fornecida pela empresa Agrovigna (óleo + impostos) com o dólar cotado a R$ 1,80 e a
tonelada de óleo com cotação em US$ 1620,00. http://www.mda.gov.br/saf/arquivos. Acesso em 20/06/08.
17
Valor já descontado do ICMS de 12%.
79
substancialmente pelas embalagens e rótulos. Cada litro, ao ser envasado, tem um custo de
R$ 0,86 somente com embalagem e rótulo. Este valor corresponde a 24,57% do preço do
óleo comercializado pela cooperativa que é R$ 3,50/l. Portanto, ao comercializar o óleo
envasado a receita da cooperativa é de R$ 533,20 para cada tonelada de grão
industrializado, incluindo a comercialização da torta.
Nestas condições, e momentaneamente, o melhor caminho para a Coopeal é
aumentar a produção e a capacidade de extração da cooperativa, vendendo o óleo bruto a
granel a empresas, seja de biodiesel ou outras empresas produtoras de óleo, para consumo
humano, cosméticos e fármacos, pois com esta escala de produção as despesas com
embalagens, rótulos, entre outras, praticamente inviabilizam a comercialização de óleo
envasado.
Uma das maneiras de reduzir os custos de produção poderá ser a consolidação da
produção própria de sementes e a busca de formas de obter ganhos de escala na aquisição
de insumos. Pode-se, por exemplo, verificar ganhos de escala com aquisição de macro e
micronutrientes de forma concentrada. Quanto à gestão, a cooperativa poderá optar entre
reinvestir as sobras e/ou redistribuir as mesmas para os associados e buscar dessa forma
maior remuneração dos agricultores.
80
CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES
O estudo presentemente realizado, cujo objetivo foi analisar a produção de girassol
como fonte de trabalho e renda dos agricultores familiares assentados e de sua cooperativa
no município de Abelardo Luz, permitiu fazer importantes conclusões sobre a viabilidade
da produção desta cultura.
Num cenário futuro, para o fortalecimento da agricultura familiar na cadeia
produtiva da agroenergia, deve-se estimular a inserção dos produtores de matéria-prima em
cooperativas como ocorre em Abelardo Luz, agregando valor na sua produção. Do
contrário, os agricultores serão meros fornecedores de matéria prima, coadjuvantes num
jogo difícil e complexo.
Concomitantemente, um conjunto de ações deve ser implementado para dar
sustentabilidade à produção de agroenergia como mecanismo de fortalecimento da
agricultura familiar. Para isto deve-se dar ênfase a alguns aspectos, tais como: definição de
espécies de oleaginosas e adaptação de seus cultivos para os diferentes climas e solos
zoneamento agroecológico; desenvolvimento de sistemas de produção em pequena escala,
permitindo aos pequenos agricultores a extração do óleo e sua utilização nas propriedades;
uso de co-produtos na alimentação de animais e na adubação como fertilizante em cultivos;
eliminação de riscos de degradação ambiental e preservação de áreas florestais;
impedimento de concentração de renda e da terra.
De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a cultura do girassol
apresenta viabilidade técnica e econômica. Entretanto, algumas considerações devem ser
feitas.
A população dos agricultores estudados é predominantemente jovem, visto que
75% das pessoas possuem idade até 40 anos de idade. Esse índice confere com os dados
do Incra (2006), em que 45,59% da população dos cinco assentamentos (1803 pessoas) se
encontra na faixa etária de zero até 20 anos de idade e 74,65% da população possui idade
entre zero e 40 anos de idade.
No aspecto da escolaridade, os membros das famílias entrevistadas e que são
produtoras de girassol apresentam melhores níveis quando comparados aos demais
moradores dos assentamentos estudados. Assim, a elevação da escolaridade e a população
jovem podem permitir melhor aceitação de alternativas produtivas para as famílias de
agricultores.
81
As principais motivações que levaram os agricultores familiares assentados a
adotarem o cultivo do girassol nos sistemas produtivos estão relacionadas à alternativa de
cultivo na safrinha, ao estímulo do extensionista rural e/ou da cooperativa, aos contratos
de venda, ao menor custo de produção, a menos trabalho na cultura e ao menor risco de
perda da safra por eventos climáticos. Em relação aos resultados, os agricultores
entrevistados consideram o girassol uma boa opção de cultivo na safrinha com múltiplas
vantagens relacionadas à renda, ocupação dos solos e trabalho. No entanto, o baixo preço
praticado durante a comercialização do grão é a maior insatisfação destes produtores.
Com a introdução do girassol, a Coopeal tem conseguido atrair diferentes atores
sociais para debater a produção de oleaginosas para fins energéticos. A articulação com
instituições públicas, sejam elas ministérios, secretarias, órgãos de pesquisa, entre outros,
tem contribuído substancialmente para a consolidação da cooperativa como referência em
agroenergia. Para a Coopeal é necessário superar problemas de preço e de baixa
produtividade aliados ao conhecimento técnico, fatores climáticos e reduzida capacidade
de investimento nas lavouras.
A pesquisa demonstrou que os técnicos da Cooptrasc têm boas expectativas com o
cultivo do girassol, pois este promove melhor uso do solo na safrinha, tem menor custo de
produção e amplia a renda das famílias. De outro lado, a baixa familiaridade com a cultura
e baixa capacidade de investimento nas lavouras são fatores que inibem o avanço do
girassol em Abelardo Luz.
A assistência técnica e a garantia de comercialização do girassol com preço fixo
através de contrato entre empresa, produtor e cooperativa foram elementos centrais para a
introdução do girassol nas áreas de reforma agrária.
Por meio da pesquisa foi verificado que o cultivo do girassol ocorre
majoritariamente na safrinha, não substituindo, portanto, cultivos tradicionais, ou seja, é
utilizado como cultivo complementar. As culturas tradicionais continuam sendo
responsáveis pela maior parcela da formação da renda dos agricultores. No entanto, esses
dados são válidos para regiões onde as condições ambientais eram semelhantes, isto é,
onde havia dificuldades em cultivar duas culturas tradicionais de verão em sucessão, como
era a situação dos agricultores familiares assentados do município de Abelardo Luz. Nas
regiões onde é possível obter duas safras com outras culturas, como milho, soja e feijão
necessidade de se realizar avaliação mais criteriosa para verificar a competitividade da
cultura do girassol.
82
Todavia, o girassol ocupa posição de menor importância, quando comparado a
outras culturas, nas propriedades dos agricultores familiares assentados, visto que a área
média cultivada por produtor varia de 1 a 3 hectares. Pelos dados coletados e analisados
pode-se concluir que a produtividade tem variado drasticamente (semelhantemente a outros
estudos realizados) e, conseqüentemente, também têm variado a remuneração e satisfação
dos produtores. As principais causas estão relacionadas aos seguintes fatores:
A forte ocorrência de geada no mês de abril quando as lavouras de girassol
estavam em plena floração, e chuvas intensas nos meses de abril e maio,
ocasionando o aparecimento de doenças e o apodrecimento dos capítulos
ainda no campo;
As informações agronômicas de adubação, tratos culturais e até mesmo a
colheita são pouco conhecidas e difundidas entre agricultores e técnicos;
Baixos investimentos nas lavouras decorrentes da expectativa de retorno e
também da ausência de recursos para adquirir insumos necessários;
A não formação de um bom “stand” devido ao manejo inadequado dos
solos, uso de equipamentos agrícolas inadequados para semeadura,
espaçamento entre plantas e linhas incorreto e manejo de insetos na fase
inicial do cultivo.
Ao analisar os dados de produtividade e custos de produção é possível afirmar que
os produtores dos assentamentos de Abelardo Luz (SC) tenham apresentado índices
semelhantes aos verificados em outros estudos que trataram de cultivos ocorridos na
mesma época e em condições semelhantes. Isto significa que alguns produtores obtiveram
receita satisfatória enquanto outros amargaram prejuízos. Para o conjunto de todos os
produtores assentados que cultivaram girassol, a produtividade das lavouras colhidas
variou entre 770 kg/ha até 2500 kg/ha, sendo que a maioria ficou abaixo de 1500 kg/ha.
Entretanto, os agricultores têm condições de melhorar os índices de produtividade
e, conseqüentemente, elevarem a receita líquida com o cultivo do girassol. Para isto, é
preciso atuar diretamente em aspectos técnicos, como espaçamento, “stand”, manejo do
solo e fitossanitário, adubação, cultivar e época de semeadura.
A partir dos dados apresentados, referentes aos seis produtores entrevistados, é
possível afirmar que o cultivo de girassol na safrinha para as condições locais apresentou
viabilidade econômica, trazendo renda extra para as famílias assentadas. Em outras
83
palavras, a incorporação da cultura como uma safra adicional e não como a cultura
principal, dentro dos sistemas de produção vigentes, permite um aumento de renda das
famílias.
Através da análise dos aspectos econômicos dos produtores de girassol
entrevistados, verifica-se que esta cultura conferiu resultados diferenciados na formação da
receita líquida global da propriedade dos agricultores familiares assentados, ou seja, o
girassol foi responsável de 2,75% até 55% da receita líquida dos produtores. Os principais
fatores que justificam este fato estão relacionados à área cultivada com girassol e à
capacidade de investimento (insumos e implementos agrícolas) nas demais atividades
produtivas das propriedades. A atratividade econômica para o cultivo do girassol está
atrelada à expectativa de remuneração deste frente a outras culturas, sendo que, nesta
pesquisa, estas últimas superaram o girassol cultivado pelas famílias assentadas.
Embora o girassol apresente baixo custo de produção, a capacidade de investimento
é determinante, especialmente para os produtores empobrecidos. No caso do produtor 03, o
girassol contribuiu com 55% da receita líquida total da propriedade, especialmente em
função da área cultivada. nos produtores mais consolidados ocorre o inverso,
possivelmente pela maior capacidade de investimento nas culturas principais por meio do
maior volume de crédito recebido, de acesso à informação e pela maior diversificação
produtiva nas propriedades. Constatação semelhante é feita por Monteiro (2007, p.141),
quando afirma que “os agricultores mais consolidados estariam mais prontamente
habilitados a se inserir na cadeia produtiva do biodiesel. É também esperado, a médio
prazo, a inclusão dos agricultores menos capitalizados e intermediários, seja diretamente
pelo plantio de oleaginosas (em maior ou menor escala), principalmente se houver o apoio
necessário à inclusão dos menos favorecidos ou, indiretamente, pelo aumento da oferta de
empregos não agrícolas, em decorrência da organização da cadeia produtiva de biodiesel”.
O custo de produção do girassol observado no estudo realizado entre as famílias
assentadas é inferior à maioria dos cultivos de cereais, proporcionando assim, menor risco
de prejuízos em decorrência de problemas com produtividade baixa. Nas culturas
tradicionais pesquisadas a remuneração é superior à do girassol, principalmente por
aquelas serem cultivadas em períodos mais favoráveis, com maior aporte de insumos,
especialmente fertilizantes e por serem amplamente conhecidas pelos agricultores e
técnicos, e por possuir toda uma estrutura de logística e mercado definido.
84
O uso do óleo de girassol na dieta alimentar das famílias dos agricultores
assentados tem se mostrado viável e tem reduzido os gastos com aquisição de outra fonte
lipídica.
Para que se venda este óleo em escala comercial para alimentação humana são
necessários mais investimentos, com ganhos de escala e redução de custos operacionais,
adequação de planta industrial e investimentos em marketing do produto, como
embalagens, rótulos e divulgação.
A industrialização local da produção do girassol pela Coopeal proporciona novas
oportunidades com o aproveitamento de seus subprodutos, como a torta. O uso da torta
indica relações sinérgicas com outras atividades, como a produção leiteira e a criação de
peixes, demandando também aportes de conhecimentos específicos sobre os mesmos. Além
disto, a pesquisa aponta que o potencial de comercialização da torta é expressivo, sendo
que, nas atuais circunstâncias, este item amortiza 47,68% das despesas com a aquisição do
grão.
A possibilidade de comercializar girassol para servir como matéria-prima para
obtenção de biodiesel pode ser feita por meio do esmagamento local ou da venda de grãos
in natura. A opção do esmagamento local traz a vantagem de proporcionar agregação de
valor ao produto e de aproveitamento da torta. Mas na medida em que a escala de produção
da torta aumentar, haverá necessidade de consolidar mercado para este produto que
apresenta características inferiores devido ao alto teor de óleo residual. Momentaneamente,
a opção de venda da produção in natura mostra-se como uma opção sensata, pois minimiza
os riscos da cooperativa.
A hipótese de esmagar os grãos de girassol e vender o óleo bruto para indústrias de
biodiesel mostra-se viável, mas dependerá das cotações no mercado específico. Segundo
Aboissa (2008), a cotação do óleo bruto de girassol no dia 29/08/2008 foi de R$
2350,00/ton e a da torta foi de R$ 390,00/ton, ou seja, somente o óleo para produção de
biodiesel já custa mais do que o valor do óleo diesel de petróleo.
Considerando-se as vantagens ambientais da redução de poluentes se comparadas
ao petrodiesel, a necessidade de buscar alternativas energéticas e a geração de trabalho e
renda proporcionados com a produção de oleaginosas e o uso de biodiesel, há, ainda, a
necessidade de se compatibilizar a sustentabilidade ambiental (não discutida neste trabalho)
com as dimensões social e econômica. Os produtores de girassol de Abelardo Luz e a
Coopeal estão experimentando uma forma de produção e gestão dos arranjos produtivos
85
locais que exigirá reflexões sobre como o cultivo de oleaginosas, e neste caso o girassol,
pode gradativamente melhorar a renda das famílias assentadas e integrar-se em sistemas
produtivos que momentaneamente apresentam maior competitividade e mecanismos de
produção bem desenvolvidos.
Sem dúvida, o caminho da produção de biomassa com fins energéticos tende a
ganhar mais espaço à medida que os combustíveis fósseis encarecem e a agricultura de
base familiar poderá ter grande importância nesta produção. A experiência das famílias
assentadas e da Coopeal ajuda a refletir sobre a participação deste segmento em produzir
concomitantemente alimentos e matéria-prima para a agroenergia.
O cultivo de girassol pelos agricultores familiares assentados traduz-se em
benefícios que podem ultrapassar a questão de fornecer matéria-prima para biodiesel, uma
vez que, através da Coopeal, as famílias têm a possibilidade de melhorar a receita líquida,
podendo inclusive participar da renda gerada pela extração dos óleos vegetais e da venda
dos co-produtos pela cooperativa. Assim, é possível considerar que o girassol contemple
uma série de vantagens importantes para ser considerado como uma cultura recomendada a
ser cultivada para fins energéticos.
A agroenergia ainda está longe de ser uma resposta para os problemas de falta de
energia e, embora ocorra um aumento na produção de biomassa e de outras fontes de
energia renovável, a demanda energética continuará crescente a um nível superior à
capacidade de oferta, sendo imprescindível que se repense e que se reduzam os atuais
padrões de consumo. Através do possível aumento na freqüência de eventos climáticos,
como o aquecimento global, os combustíveis derivados da biomassa poderão ocupar um
papel importante como atenuador da fase de transição para outra matriz energética com
possível predomínio de energia solar, eólica, de hidrogênio, nuclear e complementarmente
biomassa.
86
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92
ANEXOS
Anexo 01 – Questionário
Dados dos agricultores
01 - Dados da família e propriedade
Nome e idade
dos membros
Escolaridade Área da
propriedade
Práticas
agrícolas e solo
Mão-de-obra e
maquinário
Acesso ao
Pronaf
02 - O que motivou a decisão de cultivar girassol? O que vocês acharam dos resultados
obtidos com o cultivo do girassol?
03 - Quais os custos de produção do girassol?
04 - Em que período do ano está sendo cultivado o girassol? Cultivado como cultura
principal ou subseqüente? A cultura está substituindo ou complementando outras
atividades agrícolas?
05 - Qual a produção de mel e pólen/ha? Se não explora tal atividade, quais os motivos?
06 - Foram observados efeitos residuais da cultura, ou seja, fixação de nutrientes para a
cultura subseqüente, manifestada através do aumento do rendimento? Foi observado efeito
alelopático no controle de plantas indesejadas? Em quais espécies?
07 - Quais as vantagens e desvantagens que o cultivo de girassol apresentou? Quais os
problemas observados com a implantação da cultura?
Dados dos diretores da Coopeal
01 - Como os atores participaram do processo de discussão e implantação da cultura do
girassol?
02 - A cultura faz parte das linhas estratégicas de produção definidas pelas famílias
assentadas?
03 - Quanto foi a remuneração que os assentados ganharam da Brasil Ecodiesel na venda
do girassol na última safra? Qual o volume comercializado? Houve participação do Selo
Combustível Social?
04 - Existem programas oficiais como o PAA no município de Abelardo Luz que
absorveriam a produção de girassol? Descrever.
93
05 - Os órgãos governamentais como MDA, BANCO DO BRASIL e EMBRAPA têm se
envolvido na discussão do sistema de produção que está sendo proposto pelos agricultores
familiares assentados?
06 - O MST teve a iniciativa de introduzir uma nova atividade agrícola no município.
Como os demais atores sociais estão aceitando esse fato?
07 - Há expectativa de instalar uma fábrica de biodiesel na região? Tem Marca e logística?
08 - Quais as perspectivas e articulações que estão sendo planejadas para o próximo
período em relação ao cultivo de girassol para fins energéticos?
Dados dos técnicos da Cooptrasc
01 - Qual o número de famílias envolvidas na produção?
02 - Qual a produção de grãos, torta e óleo/ha, observadas nas experiências existentes?
03 - Qual é o custo de obtenção do óleo de girassol? Quanto é consumido e quanto é
vendido/comercializado? Qual é o custo (em equivalência) do farelo de trigo, torta de soja
e torta de girassol?
04 - Qual a produção atual e potencial de óleo para a prensa instalada em Abelardo Luz?
Qual a eficiência do equipamento, ou seja, quanto óleo fica na torta após a extração?
05 - Quais as vantagens e desvantagens que o cultivo de girassol apresentou? Quais os
problemas observados com a implantação da cultura?
06 - O acompanhamento técnico, a capacitação e monitoramento são determinantes para o
sucesso da produção? Foram observadas limitações no cultivo do girassol devido à
presença de insetos e doenças?
07 - Foram observados ganhos ambientais com a produção do girassol?
94
Anexo 02 – Principais percepção e considerações dos atores entrevistados
Considerações sobre os agricultores
Questões
motivadoras
Respostas mais comuns
O que
motivou a
decisão de
cultivar
girassol?
- Decidi plantar girassol por que conseguia fazer uma safra no verão.
Aqui é alto e frio durante quase meio ano. Os técnicos passaram na minha
casa e falaram que o girassol agüenta o frio daqui. Testei e aprovei. Agora
ainda tem a máquina no assentamento José Maria que produz óleo. Acho
uma boa alternativa para os assentados daqui do assentamento
Indianópolis.
- As culturas tradicionais de grãos como o milho e soja apresentam custos
de produção elevados e retornos econômicos reduzidos na maioria das
vezes. Em caso de estiagem geralmente prejuízos, enquanto que com o
girassol o risco é menor, pois o custo é menor. (6 agricultores)
- O incentivo dos técnicos e da cooperativa Coopeal foi importante (5
agricultores)
- Acompanhamento técnico e garantia venda da produção através de
contrato. (3 agricultores)
- O solo estaria desocupado depois da colheita da cultura principal e devido
a fatores climáticos, pois outras culturas não são indicadas na safrinha (03
agricultores)
- O girassol pode ser tornar uma boa alternativa de cultivo no período da
safrinha. (05 agricultores)
- Cultivar girassol ocupa menos tempo de trabalho dos agricultores quando
comparado com outras atividades, principalmente o fumo. (06 agricultores)
- Muita gente fala que o girassol é bom para o biodiesel (2 agricultores)
- Óleo para consumo doméstico e embeleza a propriedade (3 produtores)
O que vocês
acharam dos
resultados
obtidos com
o cultivo do
girassol?
- O girassol é mais uma opção de cultivo na safrinha (6 produtores)
- Proporciona rotação de cultura e geração de renda em curto espaço de
tempo. (4 agricultores)
- Muito satisfeitos devido à alta produtividade e boa renda extra (03
agricultores)
- Satisfeitos com os resultados (produtividade) e acham que deviam cultivar
mais na safra seguinte (02 agricultores)
- Esperava maior produtividade e retorno. Se tivesse cultivado milho ou
feijão o resultado poderia ser melhor (1 agricultor)
- Pouco trabalho em relação às demais atividades (6 agricultores)
-O preço pago é baixo (6 agricultores)
Quais os
principais
problemas
encontrados?
- Colheita e secagem, não sabia como fazer (3 agricultores)
- Cultivar girassol na resteva do fumo, pois as fileiras são muito distantes (2
agricultores)
Faltam equipamentos que atendam as necessidades de semeadura adequada
( 3 agricultores)
A produtividade é baixa se comparada com outras culturas (3 agricultores)
Características
do solo
A maioria dos solos é caracterizada como argissolos. Em todos os
produtores foi relatada a ocorrência de forte acidez nos solos. Os produtores
03 e 06 apresentam solos levemente ondulados, enquanto os solos dos
produtores 01, 02, 04 e 05 são ondulados a fortemente ondulados e
pedregosos parcelas do terreno.
95
Práticas
agrícolas
Todos utilizam cobertura de inverno, especialmente aveia para é utilizada
como alimentação ao rebanho leiteiro e para plantio direto. No entanto, os
produtores de leite necessitam arar o solo após o fim do ciclo da cobertura
de inverno, pois os animais compactaram a camada superficial. Todos
utilizam agrotóxico nas lavouras, fertilizantes de formulação química,
calcário. No verão a rotação de cultura é seguida por todos os agricultores
visitados. As queimadas não é uma prática agrícola comum entre as
famílias.
Mão-de-obra Familiar, com trocas de dias de trabalho com outras famílias.
Maquinário
É freqüente os produtores 03, 04 e 05 contratarem maquinário agrícola para
todas as operações necessárias, entretanto, os produtores 01, 02 e 06
possuem trator, plantadeira e pulverizador conjuntamente com vizinhos ou
irmãos e somente contratam colheitadeira.
Acesso ao
Pronaf
O Pronaf é acessado anualmente por todos os agricultores. Os produtores 03
e 04 estão enquadrados na categoria do Pronaf C, os demais agricultores se
enquadram na categoria do Pronaf D.
Considerações sobre os Técnicos
Questões
motivadoras
Respostas mais comuns
Formação Ambos são técnicos agrícolas com idade de 22 anos.
Vínculo Atuam como técnicos 4 anos na Cooptrasc, sendo responsáveis pelo
planejamento e orientações técnicas as culturas de oleaginosas. Também são
sócios fundadores da Coopeal.
Percepção e
motivações
-Vêem com boas expectativas o cultivo do girassol. Afirmam dificuldade
em os agricultores seguirem orientações técnicas referentes ao girassol,
aparentemente relacionadas às expectativas de retorno econômico e não
familiaridade com a cultura. Entretanto, os agricultores que seguem as
orientações apresentam bons resultados, exceto por fatores climáticos.
- Os preços das culturas tradicionais vêm sendo um fator que influencia na
tomada de decisão dos produtores em cultivar ou não o girassol, pois para
aquelas o mercado já é estruturado, enquanto que com este a situação é
contrária.
- Melhor aproveitamento dos solos no período da safrinha, diversificação de
receita e cultivos.
- Menor desembolso em comparação a outros cultivos de grãos.
96
Considerações sobre os diretores da Coopeal
Questões
motivadoras
Respostas mais comuns
Formação Presidente da Coopeal/assentado, Técnico Agrícola, Técnico em
Administração/assentado, Técnico em Gestão de Cooperativa/assentado.
Todos com idade entre 23 a 33 anos.
Percepção e
motivações
-Com a introdução do girassol passaram a fazer um debate diferenciado com
a sociedade, pois somente a Coopeal está discutindo o cultivo do girassol e
uma indústria de biodiesel na região. Muitos agricultores que não eram
simpáticos ao MST passaram a freqüentar espaços de debate e capacitação
sobre o tema. Da mesma forma, pequenos, médios e grandes produtores fora
dos assentamentos têm procurado a cooperativa para assistência técnica,
para adquirir semente e firmar contrato. Isso até poucos anos atrás era
impensável, pois o Movimento Sem Terra era visto com preconceito.
-A atuação da cooperativa e dos próprios técnicos ainda é mida, sendo
necessário maior empenho para consolidar a produção do girassol, pois a
demanda é imensa. Outro aspecto é a produção de girassol agroecológico,
este deverá ser o maior diferencial e um grande marketing para a Coopeal.
-O aumento dos preços dos produtos agrícolas tradicionais tem sido um
fator que diminuiu a competitividade do girassol, mesmo sendo cultivado
majoritariamente na safrinha.
-Fatores climáticos e a baixa produtividade tem dificultado a consolidação
do girassol em muitos casos.
97
Anexo 03 - Cotação do preço do girassol dia 29/08/2007
Notas: Girassol
As cotações fornecidas pela Aboissa são feitas por telefonemas para Artur (Seeds & Grains
Unit)
A cotação foi fornecida pela Soyminas, via e-mail. Obs.: atualmente (01/08/2007 em diante)
a Soyminas trabalha atualizando suas cotações através da Aboissa Óleos Vegetais
Cotação de Preços de Girassol
Fonte: Agrovigna
Fonte: Soyminas Biodiesel
Site: www.combustivelsaudavel.com.br
Site: www.soyminas.ind.br
AGROVIGNA MINAS GERAIS
Data Valor (ton) Data Valor (saca 60kg)
12/7/2006 R$ 500,00 13/6/2007 $60,00
ABOISSA - (Saca 60 kg) - SP - 12% ICMS
6/6/2006 R$30,00
8/8/2006 R$ 32,00
4/4/2007 R$ 37,00
6/6/2007 R$ 39,00
8/8/2007 R$ 43,00
9/9/2007 R$ 48,00
12/12/2007 R$ 50,00
2/6/2008 R$ 55,00
12/6/2008 R$ 55,00
18/6/2008 R$ 55,00
1/7/2008 R$ 60,00
12/8/2008 R$ 55,00
22/8/2008 R$ 55,00
29/8/2008 R$ 55,00
Fonte: www.combustivelsaudavel.com.br. Acesso em 01/09/2008.
98
Anexo 04 - Evolução da cotação do óleo de girassol
Cotação de Preços de Óleo de Girassol
Fonte: Aboissa Óleos Vegetais
Fonte: Agrovina
Site: http://www.aboissa.com.br
ABOISSA ($/ton) Agrovigna
Data Crude sunflower oil Refined sunflower oil Data Valor (ton)
22/12/2006 $675,00 $725,00
11/12/2007 $1.330,00 $1.380,00
21/1/2008 $1.630,00 $1.680,00
25/2/2008 $1.385,00 $1.435,00
11/3/2008 $1.720,00 $1.770,00
24/3/2008 $1.710,00 $1.760,00
31/3/2008 $1.690,00 $1.740,00
18/4/2008 $1.645,00 $1.700,00
2/6/2008 $1.850,00 -
6/6/2008 $1.950,00 $2.000,00
Fonte: http://www.aboissa.com.br. Acesso em 01/09/2008.
Anexo 05 - Evolução da cotação do petróleo, nos meses de janeiro, entre 1987 e 2008 e
mês a mês no período janeiro de 2000 até agosto de 2008
Fonte: http://www.aboissa.com.br. Acesso em 01/09/2008.
Notas: Farelo de Girassol
A cotação de preços feita através da Aboissa é enviada por e-mail pela empresa. "Indicações
de Mercado - Unidade de Negócios Farelos e Volumosos". Os preços são FOB - SP.
A cotação é fornecida pela empresa Agrovigna. O valor refere-se ao preço do farelo em São
Paulo
Cotação de Preços de Farelo de Girassol
Fonte: Aboissa Óleos Vegetais
Site: http://www.aboissa.com.br
ABOISSA - 35%
Proteina
ABOISSA - 28%
Proteina Agrovigna MINAS GERAIS
Data
Valor
(ton) Data
Valor
(ton) Data
Valor
(ton) Data Valor
26/12/2006 R$ 250,00
18/12/2007 R$ 350,00
21/2/2008 R$ 350,00
11/3/2008 R$ 350,00
14/3/2008 R$ 350,00
12/8/2008 R$ 390,00
99
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