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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – IFCH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
GISELE INÊS BALLER
ESPAÇOS DE MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES:
ESTUDO DE DOIS CASOS NA REGIÃO DE COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO RS
Porto Alegre
2008
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GISELE INÊS BALLER
ESPAÇOS DE MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES:
ESTUDO DE DOIS CASOS NA REGIÃO DE COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO RS
Dissertação de Mestrado em História
apresentada à banca avaliadora como
parte das exigências do curso de
Mestrado em História do Programa de
Pós-Graduação em História do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
Orientador: José Augusto Avancini
Porto Alegre
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – IFCH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Dissertação intitulada Espaços de Memória e construção de Identidades:
Estudo de dois casos na região de colonização alemã no RS”, de autoria da
mestranda Gisele Inês Baller, avaliada pela banca examinadora constituída pelos
seguintes professores:
_________________________________________________________
Profª. Dra. Zita Rosane Possamai
____________________________________________________
Profª. Dra. Maria Luiza Martini
____________________________________________________
Prof. Dr. Charles Monteiro
Porto Alegre, junho de 2008
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, irmãos, Luciano,
pelas angústias e preocupações que
passaram por minha causa, por terem
dedicado suas vidas a mim, pelo amor,
carinho e estímulo que me ofereceram,
dedico-lhes essa conquista com gratidão.
AGRADECIMENTO
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. José
Augusto Avancini pela paciência e auxílio
prestados durante a elaboração da dissertação.
Agradeço a meus professores e demais
colegas que dividiram comigo seus
conhecimentos.
Agradeço em especial, as professoras Zita
Possamai, Maria Luiza Martini e ao professor
Charles Monteiro que se dispuseram a integrar
esta banca e que acrescentaram seus
conhecimentos nesta dissertação.
Agradeço aos responsáveis pelo Museu
Henrique Uebel e pelo Parque Histórico de
Lajeado, por possibilitarem a elaboração desse
trabalho.
RESUMO
Neste trabalho buscamos verificar de que maneira dois diferentes espaços, vistos
como “lugares de memória”, podem colaborar no reforço e na legitimação da
identidade étnica teuto-brasileira. Partindo do pressuposto que a atual importância
que esses espaços possuem ou buscam possuir na sociedade está intimamente
relacionada com as questões referentes à globalização e conseqüentemente, a
relação dessa com a memória e a identidade. Os “lugares de memória” analisados
nesta dissertação são o Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel,
localizado na cidade de Teutônia e o Parque Histórico de Lajeado, ambos os
espaços localizados em municípios de colonização alemã no Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Identidade, Memória, Museu, Globalização, Imigração alemã
ABSTRACT
In this work, we attempt to verify how two different places, seen as "memory places",
may collaborate in the reinforcement and legitimacy of the teuto-Brazilian ethnic
identity.The current importance those places have our seek to have in society is
intimately related to the subjects related to globalization and, consequently, its
relation with the memory and identity. The "places of memory" analyzed in this work
are Henrique Uebel Museum and its Historical and Geographical Archive, located in
the town of Teutônia and the Historical Park of Lajeado, both located in towns of
German colonization in Rio Grande do Sul.
Keywords: Identity, Memory, Museum, Globalization, German immigration.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1) Localização do Município de Teutônia........................................................56
Figura 2) Contrato de Venda de Lotes da Colônia Teutônia......................................59
Figura 3) Sapato de Pau – Centro Administrativo de Teutônia..................................68
Figura 4) Confecção de Sapato de Pau – Rota Germânica.......................................68
Figura 5) Modelo de confecção de casa enxaimel.....................................................70
Figura 6) Detalhe de casa enxaimel...........................................................................71
Figura 7) Casa Enxaimel - Teutônia...........................................................................71
Figura 8) Módulos do C. A. de Teutônia – Estilização do enxaimel..........................72
Figura 9) Museu Henrique Uebel................................................................................77
Figura 10) Henrique Uebel e seu instrumento musical...............................................80
Figura 11) Instrumento musical criado por Henrique Uebel.......................................80
Figura 12) Imagem de instrumentos de trabalho........................................................85
Figura 13) Imagem de meios de comunicação e instrumentos musicais ..................85
Figura 14) Imagem de um equipamento odontológico...............................................86
Figura 15) Imagem de materiais escolares.................................................................86
Figura 16) Imagem de fotografias...............................................................................87
Figura 17) Imagem de utensílios domésticos.............................................................87
Figura 18) Localização de Lajeado - RS.....................................................................88
Figura 19) Folheto para campanha de arrecadação de acervo interno...................103
Figura 20) Pórtico de Entrada...................................................................................105
Figura 21) Folder-Mapa Parque Histórico de Lajeado..............................................106
Figura 22) Casa do Artesanato ................................................................................107
Figura 23) Café Colonial - Kafeehaus.......................................................................108
Figura 24) Associação Rural - Bauernverein............................................................108
Figura 25) Casa do Caixeiro-Viajante - Musterreiterhaus........................................109
Figura 26) Banco - Bauernsparkasse.......................................................................109
Figura 27) Placa indicativa do Banco........................................................................110
Figura 28) Ferraria.....................................................................................................110
Figura 29) Alfaiataria - Schneiverei...........................................................................111
Figura 30) Moinho.....................................................................................................111
Figura 31) Gasosaria.................................................................................................112
Figura 32) Casa-Cozinha-Galpão.............................................................................112
Figura 33) Galpão......................................................................................................113
Figura 34) Salão de Baile Troller .............................................................................113
Figura 35) Imagem do Parque Histórico de Lajeado................................................114
Figura 36) Labirinto...................................................................................................114
Figura 37) Ponte Pencil.............................................................................................115
Figura 38) Equipamento para a prática de Eisstock.................................................115
Figura 39) Eisstock....................................................................................................116
Figura 40) Folder de divulgação do Parque..............................................................119
LISTA DE TABELAS
Tabela 1) Diretores da Colônia Teutônia....................................................................62
Tabela 2) Pastores da Comunidade Paz de Teutônia................................................63
Tabela 3) Pastores da Comunidade Redentor...........................................................64
Tabela 4) Corais Mistos de Teutônia..........................................................................73
Tabela 5) Corais de Mulheres, Teutônia.....................................................................73
Tabela 6) Corais de Homens, Teutônia......................................................................74
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AHL – Arquivo Histórico de Lajeado
AHRS – Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul
APERS – Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
IBGE –Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOM – Conselho Internacional de Museus
IECEG – Instituto de Educação Cenecista General Canabarro
ILAM – Instituto Latino Americano de Museologia
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional
MHU – Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel
PHL – Parque Histórico de Lajeado
PMT- Prefeitura Municipal de Teutônia
PML – Prefeitura Municipal de Lajeado
SCER – Secretaria da Comunidade Evangélica Redentor
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................13
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA.....................................................................17
1.1 O mundo atual – Globalização ou Glocalização...................................................17
1.2 Memória e Identidade............................................................................................21
1.3 Imigração alemã no Rio Grande do Sul................................................................32
1.4 Museu – Espaço de Memória................................................................................41
2 TEUTÔNIA – UMA BREVE HISTÓRIA...................................................................56
2.1 Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel....................................77
3 LAJEADO – SUA HISTÓRIA...................................................................................88
3.1 Parque Histórico de Lajeado – Deutscher Kolonie Park.....................................100
4 OS ESPAÇOS DE MEMÓRIA E SUAS RELAÇÕES COM A IDENTIDADE........120
CONCLUSÃO...........................................................................................................140
REFERÊNCIAS: FONTES E BIBLIOGRAFIA.........................................................142
INTRODUÇÃO
O interesse em me dedicar aos estudos sobre identidades étnicas inicia-se
em 2002 quando realizei, para o trabalho de conclusão do curso de bacharelado em
História nesta universidade, pesquisa com uma comunidade, localizada no interior
do Estado, de descendentes vestfalianos que mantinham ainda muitas das
características de seus antepassados alemães, como, por exemplo, a manutenção
da língua e o casamento dentro do grupo. Esse trabalho fez com que me dedicasse
cada vez mais ao estudo de identidades étnicas e com que percebesse a possível
importância dos “lugares de memória” para a compreensão desse tema. Para tanto,
realizei o curso de Especialização em Museologia e Patrimônio Cultural (Instituto de
Artes UFRGS), o qual me aproximou do significado que esses espaços poderiam
possuir nas discussões sobre identidade e memória.
Com a entrada no Mestrado, em 2006, procurei elaborar um trabalho de
pesquisa que associasse as idéias que possuía a respeito de identidades étnicas e
memória com a possibilidade de análise de um espaço diferenciado como o museu.
Não queria que o trabalho se tornasse algo comum nos moldes dos estudos teuto-
brasileiros, cuja vastíssima gama de produção evidencia-se através da análise dos
Anais dos Simpósios de História e Colonização Alemãs no Rio Grande do Sul.
Nesse sentido acredito que o presente trabalho possa inserir-se em um novo
viés de pesquisa dentro dos estudos teuto-brasileiros, no qual se procura,
principalmente, estudar e analisar a identidade teuto-brasileira e as representações
desta nos mais variados âmbitos, especialmente culturais e simbólicos. Para tanto,
nesta dissertação, busco verificar de que maneira dois diferentes espaços, vistos
como “lugares de memória”, podem colaborar no reforço e na legitimação da
14
identidade étnica teuto-brasileira. Parto do pressuposto de que a atual importância que
esses espaços possuem ou buscam possuir na sociedade está intimamente relacionada
às questões referentes à globalização e, conseqüentemente, à relação desta com a
memória e a identidade.
Os “lugares de memória” analisados nesta dissertação são o Museu e Arquivo
Histórico e Geográfico Henrique Uebel, localizado na cidade de Teutônia, museu de
feições essencialmente tradicionais, e o Parque Histórico de Lajeado que, mesmo não se
intitulando “museu”, possui uma inserção diferenciada nas discussões relativas à
classificação museológica, pois pode ser classificado aparentemente como um “museu ao
ar livre”. A escolha desses dois locais foi efetuada devido à presença, em primeiro lugar,
de espaços que pudessem ser analisados, e em segundo lugar, de ambas as cidades
encontrarem-se localizadas em áreas comumente consideradas de imigração e
colonização alemã no Rio Grande do Sul. Mantive um contato mais prolongado com o
Museu Henrique Uebel, que havia sido o meu objeto de análise no curso de
especialização em Museologia. A escolha do segundo espaço também se deveu às suas
próprias peculiaridades, principalmente a de ser um parque, o que me instigou ainda mais
a optar por ele.
Este trabalho tem a sua validade e importância na medida em que nos possibilita
analisar a sociedade em que estamos inseridos e as relações que existem entre os
grupos pertencentes a ela. Acredito também que haja uma similaridade no processo de
formação dos elementos étnicos em outras regiões, o que valida ainda mais a realização
desta dissertação.
Em um primeiro momento, busquei evidenciar os conceitos norteadores deste
trabalho, para, em um segundo momento, propriamente conhecer os espaços a serem
analisados. Uma das primeiras dificuldades com que me deparei foi a carência de
informações relativas à colonização nestas duas cidades, o que me demandou ampla
pesquisa em arquivos, na qual mapeei principalmente os destinos dos imigrantes no Rio
Grande do Sul, documentos burocráticos e administrativos, além de uma série de fontes
referentes à esfera religiosa e escolar. Também foi necessária a pesquisa e consulta a
jornais, essencialmente locais, que fizessem referência aos espaços que estavam sendo
analisados. Não foram escolhidos jornais específicos, mas sim aqueles que contivessem
15
referências relativas a esses locais. As informações encontraram-se principalmente nos
jornais Informativo do Vale (Lajeado), Informativo (Teutônia) e Folha Popular (Teutônia),
sendo esporádica a referência em outros jornais. Essas fontes são importantes meios de
comunicação nesses municípios e devido a isso são válidas e merecem análise.
Muitos dos dados e informações neste trabalho foram colhidos através de
depoimentos e relatos de diversas pessoas que tivessem alguma relação direta com o
objeto de estudo. Para tanto, foram realizadas entrevistas com funcionários dos museus,
diretores, fundadores, autoridades locais, visitantes. Em muitas dessas conversas o
entrevistado indicava outros possíveis nomes que pudessem ajudar na busca por
informações ou referências. Os entrevistados sabiam antecipadamente do que tratava o
trabalho e se sentiam valorizados por serem procurados e consultados. Nem todas as
entrevistas puderam ser gravadas, pois alguns não se sentiram à vontade com o
gravador. Além das entrevistas propriamente ditas, nas quais apenas incentivei o
entrevistado a falar sobre o que soubesse a respeito do assunto pretendido, também
foram mantidas conversas informais com pessoas que freqüentavam esses espaços, na
tentativa de compreender como viam o lugar em que se encontravam, porque o
freqüentavam, dentre outros pontos importantes.
Essa dissertação se encontra dividida em quatro capítulos. Em um primeiro
momento, discutirei e analisarei os seguintes conceitos: globalização, identidade,
memória e museu. Esses elementos, abordados a seguir, serão os norteadores das
discussões posteriores. No segundo capítulo veremos um breve histórico da cidade de
Teutônia, local onde se encontra o primeiro espaço de análise, isto é, o Museu e Arquivo
Histórico e Geográfico Henrique Uebel. Busco neste histórico perceber as características
relacionadas com a identidade étnica teuto-brasileira nesta cidade, em especial a sua
relação com a origem, o trabalho, o associativismo e a educação, pois o poderemos
observar se o museu é ou não um espaço de relações identitárias se a cidade não
oferecer elementos que permitam essa definição. Em um segundo momento, partirei para
a descrição do objeto de estudo, o museu propriamente dito, apresentando sua formação,
acervo, exposições e público. No terceiro capítulo farei análise semelhante com referência
à cidade de Lajeado e conseqüentemente, ao Parque Histórico de Lajeado. Nesses dois
capítulos é relevante destacar que o trabalho em arquivos é de extrema importância, pois
as fontes bibliográficas que se encontram disponíveis são muito escassas e vagas. O fato
16
de não existir produção acadêmica sobre esses espaços dificulta, mas também instiga a
elaboração do presente trabalho de pesquisa. No quarto capítulo analisarei esses dois
espaços, de acordo com o proposto nesta dissertação: buscarei perceber especialmente,
as possíveis relações entre seus respectivos acervos e as questões de identidade e de
memória, valendo-me para isso, do embasamento teórico proporcionado pelos conceitos
vistos no primeiro capítulo.
Esse trabalho se insere nos estudos sobre identidades, em especial étnicas,
incorporando-se desta forma aos estudos de História Cultural, ao mesmo tempo em que
também se insere na temática de estudos sobre o tempo presente. É importante ressaltar
que, como qualquer tipo de abordagem histórica adotada, incorre-se em determinados
riscos e dificuldades, e nosso caso não é diverso. De todo modo, o historiador se encontra
no papel de figurante da história, ao mesmo tempo em que lhe cabe a tarefa de explicá-la.
Em termos metodológicos, não podemos deixar de destacar a importância dos
relatos orais para a realização desse trabalho, anteriormente mencionados. Sem eles,
seria impossível a realização dessa pesquisa. Recorro muito aos meios de obtenção de
informações e dados possibilitados pela história oral, mas vale ressaltar que é
fundamental a sua correta utilização, pois como assinalamos acima, por se tratarem de
momentos presentes, muitas informações podem ser suprimidas ou modificadas pelos
entrevistados ou informantes.
Entre as demais fontes utilizadas para este trabalho, em primeiro lugar, destacam-
se os jornais, listados acima. Essas fontes são de grande importância para entendermos a
atuação e muitas vezes a propagação de informações referentes aos espaços de análise
nos meios midiáticos. Em segundo lugar, destacam-se as fontes encontradas nos
arquivos e demais instituições pesquisadas para esse trabalho, que certamente trouxeram
uma gama de informações relevantes para a elaboração do segundo e terceiro capítulos.
Vale ressaltar que as fontes encontradas em arquivos, além dos jornais e das entrevistas,
serão indicadas integralmente nas notas de rodapé, possibilitando, dessa forma, um
melhor entendimento do conteúdo do presente trabalho.
Espero que a leitura desta dissertação seja agradável e que traga subsídios para
as discussões relativas à identidade e à memória em nossa sociedade atual.
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA
1.1 O mundo atual – Globalização ou Glocalização
O conceito de globalização
1
começa a ser amplamente utilizado a partir da
segunda metade da década de 80 e se torna um termo freqüente nos meios
intelectuais e, em especial, na esfera econômica. Diferentes pontos de vista existem
quanto à sua origem. Enquanto alguns autores, dentre os quais Immanuel
Wallerstein (2001), afirmam que o processo de globalização do mundo tem início no
século XVI com as grandes navegações, outros autores, como Renato Ortiz (1998),
Mike Featherstone (1997), Roland Robertson (1994), David Held e Anthony McGrew
(2001), apontam seu início no século XX, com o desenvolvimento tecnológico, mais
especificadamente nas áreas das comunicações, dos transportes e da informação.
Esses avanços têm propiciado um maior contato entre os povos e uma ampliação
das relações culturais, devido à “percepção da finitude e da ausência de limites do
planeta e da humanidade [...] familiarizando-nos com a maior diversidade, com a
grande amplitude das culturas locais” (FEATHERSTONE, 1997, p. 124).
No entanto, o que se questiona e o que se tem evidenciado é que o processo
de globalização não pode ser visto como causador de uma homogeneização
cultural, pois o que podemos perceber, através das palavras de Michel Agier (2001),
é que, ao invés de incentivar e ser determinante em um processo de
1
Existe atualmente um grande debate em torno do conceito de globalização, em especial, entre dois
grupos, os céticos e os globalistas. Eles possuem posições distintas em vários aspectos. Os céticos
definem o conceito não como globalização, mas como internacionalização; já os globalistas, como um
mundo, moldado por fluxos, movimentos, através das regiões e continentes. Em termos culturais,
os céticos destacam o ressurgimento da nacionalidade e da identidade nacional, os globalistas, o
desgaste das identidades políticas fixas, a hibridização (HELD; McGREW, 2001, p. 11-23; 37-47).
18
homogeneização da cultura, estimula a procura e a necessidade de outros contextos
identitários.
A circulação rápida das informações, das ideologias e das imagens acarreta
dissociações entre lugares e culturas. Nesse quadro, os sentimentos de perda de
identidade são compensados pela procura ou criação de novos contextos e
retóricas identitárias. Híbrida ou mestiça, como se diz agora, a cultura encontra-se
assim mais dominada do que nunca pela problemática da identidade, que se
enuncia cada vez mais como uma ‘identidade cultural’ (AGIER, 2001, p. 7).
Nesse sentido, para muitos autores, o mundo contemporâneo se caracteriza como
um mundo de culturas em movimento, de hibridização,
2
no qual objetos e sujeitos se
distanciam de locais particulares para se reconfigurarem em um tempo e espaço globais
(BAUDRILLARD apud ANICO, 2005, p. 2). Contudo, ao mesmo tempo em que o espaço
global incentiva os processos de contato entre culturas e economias diversificadas,
também contribui para o surgimento de diversas formas de localismo, que, muitas vezes,
resultam na construção de novas referências simbólicas ou mesmo na reelaboração de
antigas. Estaríamos falando de um “glocalismo” ou de uma “glocalização”.
3
Isso levaria a
uma aproximação visível dos indivíduos com o seu passado, com as suas origens, que
teria como conseqüência a elaboração de um sentimento de nostalgia em relação a esse
passado. De acordo com Anico, isso ocasionaria
o desenvolvimento de uma indústria da nostalgia em que o passado é resgatado,
idealizado, romantizado e não raras vezes inventado, mediante processos que
incluem a patrimonialização da cultura (ANICO, 2005, p. 2-3).
Hans Gumbrecht (1999, p. 467) destaca que o que nos orienta em direção ao
passado é, muitas vezes, o desejo de transpor o limite que separa nossas vidas atuais do
período anterior ao nosso nascimento. Desta forma, o homem busca conhecer esse
mundo e ter dele uma experiência direta, isto é, ter uma experiência sensorial. Esse
desejo de uma experiência imediata do passado surge dentro dessa nova e ampla
dimensão do presente, que Gumbrecht associa a uma crise na categoria do sujeito (1999,
2
Um exemplo de hibridização é o reggae, uma forma de música jamaicana originada na década de 70 e que
se espalhou pelo mundo. No entanto, ela possui elementos britânicos, africanos e norte-americanos. Outro
exemplo é o carnaval, “o uso de fantasias e máscaras era um costume tradicional europeu [...]. O desfile
das Escolas de Samba do Rio de hoje segue a tradição dos cortejos e carros alegóricos da Florença e da
Nuremberg do século XV” (BURKE, 2003, p. 34-35).
3
“Essa palavra descende, em linhas diretas, das teorias japonesas de administração pós-fordista.
Inicialmente ela foi utilizada pelos especialistas em marketing para designar a ‘segmentação’ dos alvos ou a
decupagem dos grandes segmentos transfronteiras de ‘comunidades de consumidores’ que reúnem os
mesmos sócio-estilos, os mesmos modelos de consumo” (MATTELART; NEVEU, 2004, p. 180).
19
p. 470). A origem desse presente mais amplo está situada na dificuldade em atravessar a
fronteira entre o presente e o futuro.
Tal situação, entretanto, como afirma o antropólogo Marc Augé, explica-se, na
verdade, por um desnorteamento dos indivíduos no mundo de hoje, acelerado em
suas transformações: vêem-se afetados por elas, num momento em que os
elementos de identificação coletiva disponíveis para o indivíduo estão mais
enfraquecidos do que nunca estiveram no passado (CARDOSO, 2005, p. 88).
François Hartog pontua esse momento como apresentando “falhas no presente”:
a economia (da mídia) do presente não pára de produzir e de consumir o
acontecimento. Mas com esta particularidade: o presente, no momento em que se
faz, deseja ver-se como histórico, como passado, voltando-se, de algum
modo, sobre si mesmo e antecipando o olhar que a ele será dirigido quando for
completamente passado (HARTOG, 1997, p. 14).
Em especial, a partir dos anos 70 pode-se perceber um movimento crescente de
“desmotivação” em relação ao futuro.
Os horizontes de expansão e o crescimento se contraíram de forma brusca: após
décadas sendo alimentadas com energia barata e abundante o suficiente para
criar e recriar incessantemente o mundo, as sociedades modernas teriam agora
de aprender com rapidez como utilizar suas limitadas fontes de energia para
proteger seus recursos em decréscimo e para evitar que todo o seu mundo ruísse
[...] as sociedades modernas da década de 70 foram forçadas a viver à sombra da
velocidade máxima e do sinal vermelho (BERMAN, 2005, p. 313-314).
Para Berman (2005, p. 315), a busca da recuperação de modos de vida passados
não é um projeto novo, mas assume uma nova urgência no momento em que a sociedade
moderna tem perdido a capacidade de criar um futuro novo. Da mesma maneira
Gumbrecht (1999, p. 469) destaca que o otimismo em relação ao progresso se encontra
frustrado e o futuro voltou a se tornar ameaçador. Nessa mesma linha, também Le Goff
(2003, p. 215) afirma que cada idade histórica busca valorizar uma determinada
temporalidade. Quanto mais seguro um indivíduo estiver das suas possibilidades, menor o
seu receio pelo futuro, mas, quanto mais inseguro for, maior será a valorização do
presente e maior o refúgio no passado. Isto é, podemos pensar que o atual
comportamento das pessoas e da sociedade demonstra as próprias inseguranças quanto
ao futuro. Essa angústia e receio em relação à temporalidade também são encontrados
em Deleuze:
20
Acreditamos que o presente passa quando um outro presente o substitui.
Reflitamos, porém: como adviria um novo presente se o antigo presente não
passasse ao mesmo tempo em que é presente? Como um presente qualquer
passaria, se ele não fosse passado ao mesmo tempo em que é presente? O
passado jamais se constituiria, se ele já não tivesse se constituído inicialmente, ao
mesmo tempo em que foi presente. como que uma posição fundamental do
tempo, e também o mais profundo paradoxo da memória: o passado é
contemporâneo do presente que ele foi (1999, p. 45-46).
Nesse sentido, as palavras de Hall (2005), segundo as quais “[...] as identidades
nacionais e outras identidades locais ou particularistas estão sendo reforçadas pela
resistência à globalização” (p. 73) fazem sentido e, intimamente relacionado a isso,
percebemos uma revalorização e um “resgate” do passado. Podemos perceber que
uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia.
4
Há, juntamente com o
impacto do global, um interesse pelo local. Desse modo, não existe uma separação clara
entre global e local, conforme se percebe nessa declaração da Coca-Cola: “Não somos
uma multinacional, somos uma multilocal” (FETHERSTONE, 1997, p. 162). Acredita-se
que o local e o global não se excluem mutuamente, mas se completam.
De acordo com Maria Cristina Simão (2001), a valorização das coisas locais, em
oposição à globalização, cobre de importância a manutenção de identidades que
possibilitem às pessoas a referência do seu lugar: “O passado e suas referências
marcadas no território [...] repassadas de geração em geração, as formas de fazer
objetos, alimentos, festas voltam, na virada do milênio, a ser valorizados” (SIMÃO,
2001, p. 15). Essas mudanças colocam em destaque as questões de identidade e a luta
pela sua afirmação e/ou manutenção. Conforme Woodward (2000):
O que é importante para nossos propósitos aqui é reconhecer que a luta e a
contestação estão concentradas na construção cultural de identidades, tratando-
se de um fenômeno que está ocorrendo em uma variedade de diferentes
contextos. Enquanto, nos anos 70 e 80, a luta política era descrita e teorizada em
termos de ideologias em conflito, ela se caracteriza agora, mais provavelmente,
pela competição e pelo conflito entre diferentes identidades, o que tende a
reforçar o argumento de que existe uma crise de identidade no mundo
contemporâneo (WOODWARD, 2000, p. 25).
4
Entende-se por mercantilização da etnia o processo de tornar algo referente a um determinado grupo, ou
mesmo um grupo, algo comercializável. A cidade de Locke, na Califórnia, foi vendida em 1977 a
empresários do setor de turismo, que a divulgaram como a única Chinatown intacta dos Estados Unidos.
Seus moradores, juntamente com a cidade, tornaram-se museificados (FETHERSTONE, 1997, p. 166) e
serviram como meio de obter lucro.
21
Essa crise se reflete no interesse e na revalorização do passado que se relaciona
com a criação de “lugares de memória”, locais de rememoração desse passado, como
monumentos, arquivos e especialmente museus, que buscam evitar o esquecimento e
impor a noção de um tempo estável à instantaneidade atual. Esses “lugares de memória”,
enquanto representações de um passado, procuram enfatizar uma noção de continuidade
e pertença. Pierre Nora (1993, p. 7) destaca que locais de memória porque não
mais meios de memória: “Se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos
necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares porque não haveria memória
transportada pela história” (NORA, 1993, p. 8). Esse movimento da sociedade é
considerado por ele como um exemplo da “aceleração da história”, fenômeno vivido
atualmente em que a possível ruptura com o passado em função da mundialização, da
massificação, criou a necessidade de elaborar arquivos, registrar celebrações, isto é, criar
“lugares da memória” (NORA, 1993).
1.2 Memória e Identidade
Nora caracteriza a memória como “vida, carregada por grupos vivos e, nesse
sentido, em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
sendo ela um fenômeno atual, um elo vivido no eterno presente” (1993, p. 9).
A priori, costumamos fazer referência ao conceito de memória como algo pessoal,
individual, mas ela também deve ser entendida como um fenômeno coletivo, construído
em conjunto e passível de sofrer alterações no decorrer do tempo. Maurice Halbwachs,
em sua obra, fazia referência às questões entre a memória individual e a coletiva.
5
Ele
parte do pressuposto de que não existe a memória interior de uma pessoa, que armazena
e relembra as próprias experiências ao longo dos anos, mas que toda a lembrança
significativa é um processo socialmente condicionado de reconstrução que se baseia na
estrutura social de relíquias culturais e rituais de comunicação de um dado grupo no
presente. Segundo Niethammer (1997),
5
Maurice Halbwachs, “que inventou, em meados da década de 20, a noção de uma memória coletiva e,
portanto, uma primeira versão daquilo que mais tarde seria reinventado como ‘construção social do
conhecimento’. As contribuições teóricas de Halbwachs sobre a natureza social, espacial e reconstrutiva da
memória cultural estiveram no ostracismo por um longo período e tiveram que esperar a virada cultural do
final dos anos 70 e a década de 80 para serem redescobertas e se tornarem assunto de debate”
(NIETHAMMER, 1997, p. 128).
22
a lembrança não é uma questão de experiência própria de alguém ou de tempo,
mas de espaço social em sua especificidade, mais depende dos símbolos,
relíquias e tabus da estrutura social do presente que da narração de coisas
passadas ou históricas. A lembrança reconstrói assim, uma visão de um passado
significativo computando partículas insignificantes da própria memória do
indivíduo com os símbolos e as estruturas comunicativas importantes no grupo
social ao qual pertence e, com isso, cria a ‘sensação de identidade’ que é
identidade social desde o início (1997, p. 128-129).
A memória, no entanto, não se mantém única, sempre igual, imutável. Ela sofre
momentos de mudanças, de alterações, pois ela, da mesma forma que a identidade, não
passa de uma construção. Construção essa elaborada e reelaborada inúmeras vezes
conforme a necessidade dos elementos aos quais faz referência. Nesse sentido, ela
também não deixa de ser seletiva, por priorizar determinados aspectos em detrimento de
outros, considerados mais importantes dentro de determinado grupo:
Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles nos
tragam seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de
concordar com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre ela
e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser
reconstruída sobre uma base comum (HALBWACHS apud POLLAK, 1989, p.
3-4).
A memória é um elemento formador da identidade, pois permite dar um sentimento
de continuidade e coerência para a pessoa ou coletividade. Além disso, ela reforça a
união pela própria adesão afetiva ao grupo, isto é, forma-se uma “comunidade afetiva”. A
memória busca reforçar sentimentos de pertencimento, nos quais a referência a um
passado serve como um meio de manter a união dentro de um determinado agrupamento.
Segundo Michael Pollak (1989, p. 9), “Manter a coesão interna e defender as fronteiras
daquilo que um grupo tem em comum, [...], eis as duas funções essenciais da memória
comum”. A memória pode então ser vista como resultante da gestão de determinados
grupos, que podem ser considerados como os “enquadradores da memória”. Conforme Le
Goff:
De fato o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas
uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal
do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e
do tempo que passa, os historiadores (2003, p. 435).
Não devemos deixar de destacar que, no momento em que a memória se encontra
constituída, ela também sofre processos de manutenção, de continuidade e de
23
reorganização, fundamentais para a sua existência. Assim, as permanências e as
ausências possuem um caráter de extrema importância, pois “é necessário compreender
as palavras que jamais foram ditas [...] é necessário fazer falar os silêncios da história,
estas terríveis pausas em que ela não diz mais nada e que são justamente seus acentos
mais trágicos” (RANCIÈRE, 1994, p. 70). Isto é, memórias e silêncios, lembranças e
esquecimentos convivem em um mesmo espaço e acabam dependendo uns dos outros
para sobreviverem: “A memória é constituída tanto de lembrança como de esquecimento,
pois esquecendo aprendemos e por conseguinte produzimos memória” (PINHEIRO,
2004, p. 91). O homem acaba por determinar o que deve ser recordado, e
conseqüentemente, determina o que deve ser esquecido. E,
[...] ao lado da emergência da memória, tão importante como testemunho das
rotinas necessárias para a sobrevivência étnica de um grupo, verifica-se a
necessidade da memória coletiva continuar a se desenvolver no âmbito social,
político, histórico e tecnológico. Entretanto, para esta evolução, muitas vezes o
homem lança mão do esquecimento como instrumento de condenação ao
desaparecimento de algo que lhe é contrário (PINHEIRO, 2004, p. 92).
Como a memória é um elemento essencial da identidade, tanto individual quanto
coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades
de hoje (LE GOFF, 2003, p. 469), é importante destacarmos o próprio significado da
identidade, em especial, da identidade étnica.
A identidade étnica, compreendida pela etnicidade, “refere-se ao grau de
conformidade dos membros da coletividade a normas compartilhadas no curso da
interação social” (COHEN, 1996, p. 370).
6
Uma de suas principais características é a idéia
de uma presumida origem comum. Essa suposta relação muitas vezes pode ser real ou
fictícia, inventada. A memória sobre a qual um grupo baseia a sua identidade pode
alimentar-se de lembranças de um passado glorioso ou mesmo de um período de
sofrimento. Conforme Hobsbawn (1998, p. 17), “O passado legitima. O passado fornece
um pano de fundo mais glorioso a um presente que não tem muito a comemorar”.
Exemplo disso encontramos no próprio autor:
Eu me lembro de ter visto em algum lugar um estudo sobre a civilização antiga
das cidades do vale dos Indus com o título Cinco mil anos de Paquistão. O
6
“The term ethnicity refers to the degree of conformity by members of the collectivity to these shared norms
in the course of social interaction” (COHEN, 1996, p. 370).
24
Paquistão nem mesmo era cogitado antes de 1932-3, quando o nome foi
inventado por alguns militantes estudantis (HOBSBAWN, 1998, p. 17).
Assim, pode-se considerar a memória e a identidade a partir de uma dimensão
cultural e, muitas vezes, imaginária, dos grupos e da sociedade, levando-se em
consideração o movimento de elaboração e reelaboração dessas representações do
passado, incorporadas em determinados espaços. A própria organização da memória
coletiva vem ao encontro da intenção de aumentar os sentimentos de pertencimento e as
fronteiras sociais entre as coletividades.
Também devemos destacar que é necessária a comprovação da própria
descendência para que os direitos étnicos possam ser reivindicados. Muitas tribos
indígenas americanas especificam a quantidade de sangue indígena necessária para o
reconhecimento como membro do grupo (KEYES apud POUTIGNAT; STREITT-FENART,
1998, p. 162). Mas, na maioria das vezes, as exibições de determinados atributos ligados
a esta origem são suficientes para presumir um laço genealógico. É justamente essa
crença que “justifica e corrobora as outras dimensões ou signos da identidade e assim o
próprio sentido da unicidade do grupo” (POUTIGNAT; STREITT-FENART, 1998, p. 162).
Max Weber (1994) afirmava que a crença na origem comum constitui um dos traços da
etnicidade:
Nem toda crença na afinidade de origem baseia-se na igualdade dos costumes e
do hábito. [...] semelhante crença pode existir e desenvolver uma força criadora
de comunidade, quando apoiada na lembrança de uma migração real: de uma
colonização ou emigração individual. De fato, os efeitos da adaptação ao habitual
e as recordações da juventude continuam atuando nos emigrantes, como fonte do
‘sentimento de apego à terra natal’, mesmo quando estes se adaptaram tão
completamente ao novo ambiente que um retorno ao país de origem lhes seria
insuportável. Nas colônias, a relação interna dos colonizadores para com o país
de origem sobrevive até a fortes misturas com os habitantes locais e a
consideráveis modificações tanto do patrimônio tradicional quanto do tipo
hereditária (1994, p. 270).
O grupo, no momento em que leva em consideração seu passado, sente que
permaneceu o mesmo e toma consciência de sua identidade através do tempo
(HALBWACHS, 1990, p. 87). Essa busca por uma origem comum muitas vezes se
encontra relacionada com a própria necessidade de ter constituído uma tradição, que
também pode ser inventada. Tradições que reivindicam ser antigas são, muitas vezes, de
origem bastante recente. Hobsbawn (2006) utiliza o conceito de “tradições inventadas”,
25
noção trazida à discussão quando o autor estuda os movimentos que se dão no âmbito do
que ele denomina de “fabricação das nações”:
‘Tradição inventada’ entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas
por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas de natureza ritual ou
simbólica visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da
repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao
passado (HOBSBAWN, 2006, p. 9).
Um exemplo de “tradição inventada” encontramos no trabalho de Wolff e Flores
(1994). As autoras destacam que a Oktoberfest, festa “típica” de comunidades
descendentes de alemães, é formada por dois componentes essenciais, a identidade
étnica teuto-brasileira construída a partir da colonização da região do Vale do Itajaí e a
valorização e crescimento do turismo. Segundo elas, a festa costuma ser apresentada
pelos meios de comunicação e pelas autoridades como um retorno da história e das
tradições da cultura germânica. No entanto, o real motivo de sua criação foi um esforço
em reerguer o ânimo da população depois das grandes cheias que se sucederam no
início da década de 90. “Era preciso tocar aquela musiquinha alemã para o cara chorar,
para o cara sentir no coração que é uma coisa dele que está sendo valorizada. Foi isso
que foi feito. Foi isso que deu certo”
7
(WOLFF; FLORES, 1994, p. 210). Nesse sentido, as
lembranças, recordações do passado são figuradas através de símbolos, práticas,
discursos que servem para legitimar e dar credibilidade ao presente e ao grupo.
Outro exemplo ilustrativo dessa questão é a própria idéia de gaúcho desenvolvida
pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, que, conforme Ruben Oliven (apud FEIX, 2006),
não passa de uma invenção de um grupo de jovens:
Quem via Paixão Côrtes, Barbosa Lessa, Glaucus Saraiva e outros guris de 18
anos sequer tinha idéia do que aqueles trajes representavam. Ou melhor, do que
os garotos pretendiam que os trajes representassem (FEIX, 2006, p. 6).
Podemos perceber que a identidade étnica não se define de maneira endógena,
mas ela é um produto de atos significativos de outros grupos.
8
Um grupo não tem como
7
Fala de um dos entrevistados na pesquisa das autoras.
8
de acordo com a concepção primordialista dos grupos étnicos, “aquela que procede pela identificação
prévia de populações às quais são atribuídos traços culturais específicos vistos como sua posse e cuja
manutenção é garantida de forma endógena pelo processo de socialização, independentemente de seus
efeitos na organização das interações sociais” (POUTIGNAT; STREITT-FENART, p. 176).
26
ignorar a maneira pela qual os não-membros o categorizam, e algumas vezes, a sua
própria autodefinição tem sentido através dessa denominação exterior. Em alguns
casos, quanto mais severo for o ato de dominação, mais as pessoas às quais se aplica
essa definição externa são forçadas a retomá-la por conta própria. O esquema de
rotulação étnica nunca pode ser resumido a uma pura imposição de identidade de
dominante a dominado. Os próprios dominantes retomam, às vezes por sua conta, os
nomes ou os sentimentos que lhes são atribuídos pelos dominados. Norbert Elias e
John Scotson nos trazem o exemplo de Winston Parva, uma pequena comunidade onde
é visível a diferenciação entre dois grupos, os estabelecidos, os antigos moradores, e os
outsiders, os recém-chegados. Baseando-se em um elevado grau de coesão, os antigos
moradores se conhecem várias gerações, em contraste aos recém-chegados, que
são estranhos não apenas entre os antigos residentes como também entre si.
Era graças a seu maior potencial de coesão, assim como à ativação deste pelo
controle social, que os antigos residentes conseguiam reservar para as pessoas
de seu tipo os cargos importantes das organizações locais [...] a exclusão e a
estigmatização dos outsiders pelo grupo estabelecido eram armas poderosas
para que este último preservasse sua identidade e afirmasse sua superioridade,
mantendo os outros firmemente em seu lugar (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 22).
Um grupo consegue rotular um outro com eficácia quando está bem colocado
em posições de poder das quais o grupo rotulado é excluído. Como se pode perceber,
os diferenciais de coesão podem ser vistos como fontes de diferenciais de poder.
Mas os sintomas de inferioridade humana que os grupos estabelecidos muito
poderosos mais tendem a identificar nos grupos outsiders de baixo poder e que
servem a seus membros como justificação de seu status elevado e prova de seu
valor superior costumam ser gerados nos membros do grupo inferior pelas
próprias condições de sua posição de outsiders e pela humilhação e opressão
que lhe são concomitantes (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 28).
Nesse caso, podemos ver a diluição da consciência individual na coletiva, quando
a auto-imagem e a auto-estima de uma pessoa estão ligadas ao que os outros membros
do grupo pensam dela. Um elemento de um grupo estabelecido pode ser indiferente ao
que os outsiders pensam dele, mas não vai ser indiferente à opinião de seus pares.
Dessa forma, a identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro
das pessoas, mas de uma falta de inteireza que se procura preencher a partir do
exterior, pelas formas através das quais se imagina ser visto pelos outros (HALL, 2005,
27
p. 39). Nesse sentido, no plano do indivíduo, a identidade se define pelo que é
subjetivamente reivindicado e pelo que é socialmente atribuído. Dessa forma, as
reivindicações identitárias de um indivíduo podem ser ou não aceitas pelo grupo. Para
que exista a formação de uma identidade étnica, são necessários determinados índices
e critérios definidores deste pertencimento. Assim, símbolos aos quais uma
determinada identidade se encontra ligada, como, por exemplo, a língua, traços
comportamentais e físicos.
Um dos mais importantes conceitos para o estudo da identidade étnica é a noção
de fronteira, introduzida por Fredrik Barth. Até então, não se dava importância em estudos
de etnicidade às relações e aos contatos em situações de fronteira.
9
Persistia uma visão
bastante simplista de que o isolamento geográfico e social tinham sido fatores
responsáveis pela sustentação da diversidade cultural (BARTH, 1998, p. 188). Segundo
Barth,
para que a noção de grupo étnico tenha um sentido, é preciso que os atores
possam dar conta das fronteiras que marcam o sistema social ao qual acham que
pertencem e para além dos quais eles identificam outros atores implicados em um
outro sistema social. [...] as identidades étnicas se mobilizam com referência a
uma alteridade (apud POUTIGNAT; STREITT-FENART, 1998, p. 152).
A identidade pode existir quando está em contato, em confronto com o “Outro”.
São na verdade essas fronteiras étnicas que definem o grupo e permitem a sua
manutenção. Com o tempo, essas delimitações podem reforçar-se, manter-se, ou mesmo
desaparecer, dependendo das próprias alterações internas, bem como das mudanças na
natureza da própria fronteira. Para que essa persista é necessária a participação de seus
membros na sua manutenção, pois ela se baseia no reconhecimento e na validação das
distinções étnicas decorrentes das interações sociais. Essas fronteiras são manipuláveis
pelos atores, elas aumentam ou diminuem conforme a escala de inclusividade na qual se
situam e da pertinência, localmente situada, do estabelecimento de uma distinção
Nós/Eles (POUTIGNAT; STREITT-FENART, 1998, p. 158). Essa diferença pode ser
construída negativamente, por meio da exclusão, ou pode ser vista como enriquecedora
por estar valorizando a heterogeneidade. Essa relação fronteiriça coloca em destaque a
própria instabilidade da identidade. As possibilidades de se transpor as fronteiras ou
9
Não estamos nos referindo a fronteiras em termos geográficos e políticos, mas sim a fronteiras culturais.
28
mesmo de se encontrar inserido nela são uma demonstração do caráter muitas vezes
artificial das identidades.
Outro conceito importante nas discussões sobre a etnicidade é a noção de realce,
que exprime a idéia de que a relação étnica é um modo de identificação em meio a outros
possíveis:
De acordo com as situações nas quais ele se localiza e as pessoas com que
interage, um indivíduo poderá assumir uma ou outra das identidades que lhe são
disponíveis, pois o contexto particular no qual ele se encontra determina as
identidades e as fidelidades num dado momento (POUTIGNAT; STREITT-
FENART, 1998, p. 166).
Os índios Tükuna, localizados nas fronteiras entre Brasil, Colômbia e Peru, têm
grande facilidade de transitar nas fronteiras onde a identidade indígena prepondera sobre
as outras, mas uma determinada pertença nacional pode ser reivindicada em situações
como, por exemplo, de assistência médica ou proteção (OLIVEIRA, 2000, p. 13). Assim,
eles manipulam as suas identidades conforme o interesse ou outra circunstância.
O realce da identidade étnica é expressa, em primeiro lugar, por um rótulo étnico.
Somente quando este rótulo se encontra selecionado é que os comportamentos e
características que se referem a um grupo passam a ser quase naturalmente vistos como
étnicos. A etnicidade pode ser realçada por meio de inúmeros signos, que podem ser
mobilizados para tipificar um determinado grupo. Conforme Lyman e Douglass,
os traços étnicos nunca são evocados, atribuídos ou exibidos por acaso, mas
manipulados estrategicamente pelos autores, como elementos de estratagema,
no decurso das interações sociais, por exemplo, para exprimir a solidariedade ou
a distância social, ou para as vantagens imediatas que o ator espera obter pela
apresentação de uma identidade étnica particular (apud PONTIGNAT; STREITT-
FENART, 1998, p. 168).
Existem atualmente amplas discussões e estudos sobre esses conceitos, em
especial, sobre a sua atuação em determinados grupos. Como se trata de um assunto
bastante amplo, suas possibilidades de análise podem ser variadas conforme o enfoque
de estudo utilizado. Em relação à identidade étnica teuto-brasileira, é necessário levar em
consideração determinados aspectos que foram e continuam sendo fundamentais para
29
sua formação. Podem-se visualizar alguns períodos, históricos inclusive, em que esta
identidade se manifestou e se fortaleceu.
Podemos perceber que o surgimento de uma identidade teuto-brasileira ocorre no
momento de emancipação das colônias, com o interesse mais direto de determinados
grupos nos direitos de cidadania, ou seja, no momento em que buscam participação
política (SEYFERTH, 2000b, p. 3). A emergência de uma identidade decorre do próprio
contato com a sociedade brasileira, quando se passa a buscar, para os colonos, uma
cidadania plena. Mas o que podemos denotar é que o nacionalismo brasileiro considerou
a noção de Deutschum (caráter nacional alemão) uma perigosa ameaça à unidade
brasileira. Os brasileiros buscavam uma assimilação, uma incorporação do imigrante aos
preceitos e características nacionais, além do mais, os europeus faziam parte de um
processo de “branqueamento” que estava ocorrendo no período.
A tentativa de assimilação forçada provocou, em algumas situações, o isolamento
étnico. Deve-se ressaltar que, em muitos casos, buscou-se vincular essa falta de
assimilação a um “enquistamento”; porém, isso pode ser relativizado, pois tais imigrantes
mantiveram contato com outros grupos, sendo que a própria situação geográfica permitia
a integração entre eles (próximos a rios e a centros comerciais importantes) (SEYFERTH,
2001, p. 3). O que se percebe é que, a princípio, tanto a identidade teuta, como as
demais, polonesa e italiana, por exemplo, serão construídas em oposição à dos
brasileiros, vistos, como analisaremos posteriormente, como inferiores em termos de
capacidade para o trabalho e pela falta de devoção religiosa.
Outro momento importante no reforço dessa identidade ocorre no período da
Campanha de Nacionalização entre os anos de 1939-1945, durante o qual podemos
destacar o fechamento das escolas-alemãs que não se enquadrassem às políticas
pregadas pelo governo brasileiro; proibição de falar alemão em lugares públicos;
obrigatoriedade do serviço militar para filhos de imigrantes; proibição de todas as
publicações e transmissões radiofônicas em língua alemã. Essa assimilação forçada não
obteve as conseqüências desejadas, pois, ao contrário, muitos grupos se mantiveram
ainda mais unidos e organizados.
30
No caso teuto-brasileiro, existem alguns critérios determinantes de pertencimento
ou não a esse grupo: o uso da língua, a preservação de costumes (comportamento
religioso, concepção de trabalho), a vida associativa (sociedades de tiro, de cantores, de
ginástica), o papel preponderante da escola particular alemã e a própria origem comum.
O primeiro item acima certamente possui um papel importantíssimo, pois é o
primeiro que se manifesta em um momento de contato. Os demais critérios de
identificação vão aparecer quando o teuto-brasileiro se coloca em confronto com
indivíduos de outra origem étnica. Muitas pessoas dominam mais de uma forma dialetal:
muitos descendentes vestfalianos, por exemplo, conhecem o dialeto plattdeutsch, mas
também o hunsrück e o português.
10
Conforme o momento e a situação em que se
encontram, expressam-se em determinada língua, português em ambientes públicos,
hunsrück com outras pessoas que não conhecem o seu dialeto e o plattdeutsh como uma
língua familiar e interna ao seu grupo. Semelhante fato foi percebido por Joana Bahia em
seu estudo sobre os descendentes pomeranos no Espírito Santo (BAHIA, 2001).
A preservação dos costumes é um outro elemento importante que determina uma
distinção teuta. Casas arrumadas, possuidoras de hortas, jardins, a própria questão do
trabalho muitas vezes vinculada à própria auto-suficiência dos imigrantes em zonas
pioneiras, reforça a idéia de superioridade no trabalho. O fator trabalho aparece como um
elemento essencial contra os casamentos interétnicos, em especial com os brasileiros,
como podemos perceber na fala abaixo:
O sentido da vida do trabalhador e colono brasileiro é não fazer nada. Os homens
ficam sentados diante da choupana até serem obrigados a fazer alguma coisa
para não morrer de fome; as mulheres igualmente desprezam o trabalho e ficam
os dias todos debruçadas nas janelas (SEYFERTH, 2004, p. 109).
Também com relação à impossibilidade do casamento, devemos destacar a difícil
ocorrência entre católicos e luteranos, mesmo dentro de grupos teuto-brasileiros. De
acordo com Seyferth, (1976, p.196):
Para a igreja protestante, o grupo étnico e o grupo religioso praticamente se
confundem e da sobrevivência de um depende a sobrevivência do outro; para os
10
Estudei uma comunidade de descendentes vestfalianos, localizados em uma localidade rural do município
de Imigrante RS, para a conclusão do curso de Bacharelado em História UFRGS, sob orientação da
professora Regina Weber (2002).
31
católicos, a religião vem em primeiro lugar, o que não impediu a manutenção de
valores do seu grupo étnico.
Desse modo, o comportamento religioso que não se conformava aos preceitos
familiares e de grupo acabava sendo evitado; devido a isso, podemos perceber um
número expressivo de casamentos dentro de um mesmo grupo, inclusive dentro da
mesma família. Esse fato também era significativo para a manutenção das terras entre as
famílias, evitando, dessa forma, a sua fragmentação.
A própria vida comunitária, com as inúmeras associações que foram criadas, bem
como a escola alemã com seu importante papel, colaboraram no reforço e na legitimação
de muitas características culturais alemãs, em especial, a música, as atividades
esportivas e, principalmente, a manutenção da língua alemã. Mesmo após a Campanha
de Nacionalização, em que ocorreu uma substancial diminuição do número de
associações e de escolas, muitos elementos continuaram sendo preservados
familiarmente ou em associações, muitas vezes, secretas.
Outro elemento já citado é a origem comum, pois teuto-brasileiro seria um indivíduo
nascido no Brasil, mas que possuiria sangue alemão, não importando o número de
gerações que o separam da Alemanha. A maioria das famílias descendentes de alemães
começa a traçar suas árvores genealógicas a partir de seu pioneiro, aquele que sai da
Alemanha e chega ao Brasil. É comum a fotografia do casal pioneiro em inúmeras dessas
famílias. Isso nos faz acreditar que no momento em que o pioneiro emigra da Alemanha e
assume uma nova Pátria como sendo sua, inicia-se uma nova fase familiar.
Podemos destacar, nos dias atuais, um novo momento dentro da afirmação da
identidade étnica, agora essencialmente marcado pelo movimento que há pouco
abordamos, a globalização. A partir dessa idéia e recorrendo à idéia de Barth (apud
POUTIGNAT; STREITT-FENART 1989, p. 158), segundo a qual a pressão exercida no
interior de um grupo para a manutenção da fronteira é máxima nas situações políticas em
que a violência e a insegurança dominam as relações, pode-se perceber que esse grupo
étnico possui atualmente algumas especificidades. Tais especificidades, a princípio, não
bastariam para descaracterizá-lo como grupo étnico, pois o grupo se adapta conforme o
contexto e as condições que lhe são impostas e não deixa de ser produto de um trabalho
32
de construção, constantemente negociado. A língua alemã, como elemento de
identificação desse grupo, está diminuindo de importância, devido em parte, ao aumento
dos casamentos interétnicos nas últimas décadas. A língua, de certo modo, está sendo
substituída pela “origem alemã” no quadro da identidade étnica. Verifica-se entre os teuto-
brasileiros um aumento expressivo e visível dos encontros de famílias, das “festas
típicas”,
11
da criação de grupos de danças e de corais que “resgatam” elementos
germânicos, além de um aumento do número de arquivos, monumentos e principalmente
museus que tratam desta temática. A questão da identidade, neste momento, está
relacionada aos locais onde se cristaliza e se refugia a memória, isto é, aos “lugares da
memória”.
No entanto, antes de analisarmos mais detidamente as questões relativas a esses
locais de memória e identidade, apresentaremos um breve painel do processo de
colonização alemã ocorrido no sul do país, em especial, no Rio Grande do Sul,
fundamental para o entendimento deste trabalho.
1.3 Imigração alemã no Rio Grande do Sul
Os primeiros imigrantes alemães chegam ao Brasil para participar dos três
primeiros projetos de colonização autorizados pelo governo português na Bahia, dos
quais a colônia Leopoldina costuma ser destacada com mais freqüência (SEYFERTH,
2000b). A ausência de sucesso nessas iniciativas e a pouca expressividade numérica de
imigrantes fizeram com que a fundação de São Leopoldo, em 1824, se tornasse o marco
inicial da imigração alemã no Brasil.
Entre 1824 e 1830 indicações de que aproximadamente sete mil alemães foram
destinados às colônias no sul pelo governo português e aos batalhões de estrangeiros
incorporados ao exército brasileiro, criados para lutar contra os portugueses e na Guerra
da Cisplatina (SEYFERTH, 2000b). Os principais fatores que levaram a coroa portuguesa
11
Incluem-se além dos tradicionais kerbs, as Oktoberfest, bem como outras festividades tais quais a
Chuchoppfest (Gaspar), Kegelfest (Rio do Sul), Schützenfest (Jaraguá do Sul), Festival do Chopp (Feliz,
Igrejinha), Festa do Chucrute (Estrela), etc.
33
a se voltar para o sul do Brasil são, certamente, o interesse econômico de aproveitamento
do gado e o interesse político-militar de expansão para o Prata, área fundamental em
termos econômicos e políticos (TRAMONTINI, 2003, p. 21). Um número significativo de
trabalhos sobre o projeto de imigração segue uma lógica que estabelece objetivos de
acordo com seus promotores. Segundo Marcos Tramontini (2003, p. 44), percebe-se um
ou outro aspecto ou objetivo específico “que vão do branqueamento e do
desenvolvimento da agricultura e do artesanato, à ocupação do Brasil Meridional”.
Conforme o autor, Guilhermino César destaca o papel de José Bonifácio, que
[...] defenderia a imigração tendo em vista o povoamento do território vislumbrando
a abolição da escravatura e o branqueamento, além da implantação da pequena
propriedade rural, projeto que teria como um de seus seguidores o futuro Visconde
de São Leopoldo (TRAMONTINI, 2003, p. 44).
O povoamento e a efetiva ocupação dessas terras era uma questão não apenas
brasileira, mas compartilhada pela maioria das jovens nações do continente americano no
início do século XIX, como meio de garantir valoração econômica e soberania. Procurava-
se instalar um sistema de subsistência agrícola subsidiária ao de exportação, exercido por
homens livres em pequenas propriedades (TRAMONTINI, 2003, p. 46).
Pelos dados apresentados por Tramontini (2003), com exceção dos comerciantes
fixados no Rio de Janeiro, não houve inicialmente um tipo de imigração espontânea de
alemães para o Brasil, pois o governo subsidiou os colonos e pagou agenciadores para
trazê-los ao país. O quadro social e econômico vivido na Europa naquele momento
possibilitou que muitas famílias atendessem ao “convite” do governo brasileiro, que
oferecia passagem e alimentação gratuita durante a viagem, doação de 77 hectares de
terras, seis anos de isenção de impostos e auxílio em ferramentas e animais
(WOORTMAN, 2000, p. 207). Dentre os que compunham essas famílias podemos
destacar aqueles que se encontravam inseguros em decorrência das crises ocorridas em
suas terras, como a grande fome de 1817, bem como os que eram vítimas da
desorganização social e econômica resultante de seguidas guerras e pesados impostos.
Os grupos de imigrantes que chegam ao Brasil são bastante heterogêneos, neles
encontraremos desde agricultores, artesãos, até intelectuais, médicos e pastores.
Segundo Woortman (2000),
34
o continente de imigrantes chegados ao Brasil incluía também uma elite, além de
camponeses. Essa elite não se destinou ao cultivo da terra; não fez parte de
comunidades rurais, mas contribuiu para acentuar a heterogeneidade da região de
colonização alemã de maneira geral (p. 208).
Essa heterogeneidade se amplia, segundo Haike da Silva (2006, p. 40), em regiões
de colonização mista, onde grupos não alemães, eram identificados pelos brasileiros
como se o fossem e, com o decorrer do tempo, passam a se identificar como sendo
também alemães.
A imigração não era um projeto individual, era um sistema que envolvia não apenas
a família, mas toda uma rede de relações que a circundavam. O governo brasileiro não
aceitava nos projetos de imigração, com exceção feita aos soldados mercenários,
pessoas solteiras. Era muito comum o casamento nos próprios navios que se dirigiam ao
Brasil, bem como o recasamento, pois era freqüente a mortandade nessas viagens e era
importante chegar ao Brasil tendo uma família formada (TRAMONTINI, 2003). Isso se
devia ao fato de que o governo destinava terras somente para os pais de família.
A imigração foi interrompida em 1830, com a promulgação de uma lei proibindo
gastos com a imigração, sendo retomada quase duas décadas depois com a fundação de
novas colônias no Rio de Janeiro. A ação dos agenciadores de imigrantes e a elaboração
da Lei de Terras, em 1850, que permitia o acesso a propriedade de terras públicas para
estrangeiros, originou um novo espaço para a formação de empresas particulares de
colonização, aumentando, dessa forma, o fluxo de imigrantes a partir desse período
(SEYFERTH, 2000b). De acordo com Seyferth,
Quase duas centenas de colônias alemãs, surgiram nos três estados do sul na
segunda metade do século XIX, concentradas em algumas regiões como os vales
dos rios Sinos, Jacuí, Taquari e Caí, e no Alto Uruguai; o vale do Itajaí e a região
noroeste de Santa Catarina; a região de Ponta Grossa e municípios próximos, no
Paraná [...] Além disso, colônias com preponderância de alemães surgiram no
Espírito Santo e, incipientemente, em alguns pontos de São Paulo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro (2000b).
O deslocamento dos primeiros alemães para os seus lotes de terra não foi tarefa
fácil, pois muitos destes lotes ou ainda não se encontravam demarcados, ou
apresentavam medições incorretas. Essas dificuldades, os conflitos, as necessidades de
35
superação de problemas, estariam na base da construção de uma identidade homogênea
para o grupo. Willems (1940, p. 85), desenvolve a idéia de que a organização
sociocultural dos imigrantes, com destaque para a ausência de comunicação e o
reforçamento dos efeitos de isolamento, constituiu em condições favoráveis à formação
de uma sociedade nova. Janaína Amado (1978, p. 28) destaca que o imigrante havia
passado por um duplo processo de adaptação, interno (em busca de identificação) e
externo (frente a uma sociedade e natureza desconhecidas). Jean Roche (1969) também
reforça a tese do isolamento e da solidariedade entre o grupo, que, a Guerra
Farroupilha permitiu que os colonos aprendessem a conhecer os rio-grandenses, de
forma alguma, em compensação, reduziu a distância que os separava” (1969, p. 18).
No entanto, acredita-se que o isolamento geográfico e social constantemente
evidenciado como fator determinante para a manutenção de grupos étnicos deva ser
revisto, como vimos acima. Isso porque se acredita que o relacionamento e o contato com
outros grupos foram mais importantes para a formação desse grupo étnico do que o
isolamento:
A emergência da identidade étnica nada tem a ver com uma situação de
isolamento/enquistamento; ao contrário, ela é decorrência do contato e do próprio
processo histórico de colonização, que produziram tanto uma cultura camponesa
compartilhada com outros grupos imigrantes, como uma cultura especificamente
teuto-brasileira. A etnicidade teuto-brasileira tem sido reafirmada de diferentes
formas ao longo deste século, sempre destacando um modo peculiar, diferente, de
ser brasileiro (SEYFERTH, 1994, p. 14).
Por sua vez, se a organização desses imigrantes baseou-se na etnicidade, isso
não anula o seu desejo de naturalização. Na articulação desses dois elementos, a
etnicidade e a cidadania, é que surgiria, na segunda metade do século XIX, o teuto-
brasileiro (TRAMONTINI, 2003, p. 308).
O contexto histórico, no âmbito da colonização, é o da consolidação da
emancipação política de algumas colônias importantes, com as lideranças locais e
regionais reivindicando a participação efetiva dos colonos no exercício da
cidadania. Ao mesmo tempo que se reivindica a participação dos colonos no
processo político, qualificando-os como cidadãos leais à nova pátria, afirmam-se
também as diferenças em relação aos brasileiros, através do postulado de
germanidade a qualidade étnica não compartilhada com os demais brasileiros
(SEYFERTH, 1994, p. 15).
A característica étnica desse grupo não tem como base o germanismo, elemento
que será abordado posteriormente, mas a necessidade de organização dos imigrantes no
36
sistema de colonização que aproveitasse também os espaços disponíveis na sociedade
brasileira.
Freqüentemente destaca-se a importância da Igreja como elemento valorativo
nesse grupo. Mas como podemos perceber, ela inexistia nos primeiros anos de
colonização. Segundo Airton Jungblut (1994, p. 141), os primeiros colonos encontravam-
se desprovidos de apoio religioso, o que os obrigava a conceder a manutenção de sua
religiosidade aos leigos. Essa precariedade conduzia-os a subsidiarem, muitas vezes, a
vinda de pastores da Alemanha, no caso dos protestantes. Destaca-se que, nesse
período inicial de ocupação, a religião foi um expressivo elemento de organização dos
imigrantes, desde o conforto de espírito até à formação de coros e festas.
Intimamente relacionada à organização religiosa estava a das escolas, onde, na
maioria das vezes, um dos colonos assumia as funções de professor e também de
religioso. Segundo Lúcio Kreutz (1994, p. 150), os imigrantes alemães dedicavam
especial atenção à questão escolar e nela insistiam fortemente. No entanto, na primeira
fase de ocupação, segundo o mesmo autor, que se estende de 1825 até 1850, surgiram
apenas escolas de emergência, com períodos escolares flexíveis e não diários (1994, p.
154).
Mesmo quando uma criança freqüentava a escola por um ou dois anos, o ensino
não era ministrado com regularidade. Muitas vezes necessitava-se das crianças
para o trabalho agrícola incipiente. Na época da colheita, as crianças, certamente,
não terão freqüentado a escola e nos dias de chuva não terá havido aula, pois
tendo-se em vista a longa caminhada que as crianças tinham que fazer para
chegar à escola e os ssimos caminhos, era impossível que elas chegassem à
escola em dias de chuva. Além disso, era bastante precária a formação dos
professores. Por isso, muitas vezes, as crianças mal aprendiam a ler e escrever
(DREHER, 1984, p. 65).
No período compreendido entre os anos de 1850 e 1875, a rede escolar se amplia,
destacando-se a importância dos Brummer, alemães-novos, que passam a exercer papel
fundamental no desenvolvimento da escola e demais áreas culturais, em especial como
incentivadores do associativismo e da participação política (KREUTZ, 1994, p. 155). “Em
1865, a maior parte dos professores das escolas de imigração alemã era Brummer
(KREUTZ, 1994, p. 155): Entre os anos de 1875 e 1890 triplica-se o número de escolas e
de 1900 até 1938 acontece o maior desenvolvimento da escola teuto-brasileira,
solidificando-se as estruturas de apoio, como, por exemplo, as associações de
37
professores teuto-brasileiros. As medidas tomadas pelo governo a partir de 1920, de abrir
escolas públicas juntamente às comunitárias para que fossem incorporando
gradativamente a clientela destas, e de passar a condicionar os auxílios às escolas
particulares ao ensino de duas horas de português (KREUTZ, 1994, p. 159), acabaram
por trazer problemas para as escolas. Com a Campanha de Nacionalização a partir da
segunda metade da década de 30, as escolas teuto-brasileiras sofrem um impacto ainda
maior. Surgem decretos estaduais e federais disciplinando a licença de professores, o
material didático e tornando o idioma nacional obrigatório para a instrução (KREUTZ,
1994, p. 160).
Tanto as associações educacionais como religiosas eram muito semelhantes em
seu funcionamento. As pessoas reuniam-se, construíam a escola e a igreja, mediante
trabalho e material doado por todos. Após escolhia-se um professor, cujo salário
geralmente era pago pelos moradores, que também se responsabilizava pela organização
religiosa (AMADO, 1979, p. 45).
Também é de fundamental importância, nos estudos sobre a imigração e
colonização alemãs, destacar a força do turnen, isto é, da ginástica. Silva (2006, p. 54)
destaca que as origens do turnen estão ligadas ao nacionalismo alemão, pois esta
atividade física fora gestada a partir de uma idéia de educação nacional. Jahn, o
idealizador do Turnen, estipulava exercícios ao ar livre, sendo que não havia nenhuma
espécie de obrigação. Existia, sim, um efervescente nacionalismo em suas idéias. O
espaço privilegiado para essas atividades não era a escola, mas as associações ou
sociedades de ginástica. De acordo com números apresentados por Silva (2006, p. 5), em
1869 havia 1546 associações teuto-brasileiras espalhadas pelas regiões de colonização
alemã.
Também é bastante comum, nos estudos sobre a colonização alemã, fazer
referência à organização dos teuto-brasileiros em associações recreativas, profissionais e
assistencialistas.
12
Roche (1969, p. 644) destaca que as sociedades somente aparecem
quando os comerciantes adquirem prosperidade e os Brummers despertam o
Deutschtum, o germanismo. Isso indica que o surgimento de associações desse tipo
12
Vale destacar que, nas áreas rurais, as modalidades de canto e de tiro eram mais difundidas (SILVA,
2006, p.134).
38
estava condicionado a conquistas de condições econômicas favoráveis, às influências de
idéias étnico-nacionalistas que chegavam com as novas levas de imigrantes, bem como
ao fato de essas associações serem formadas principalmente no meio urbano, onde o
contato inter-étnico era mais evidente do que em áreas rurais: “O associativismo teuto
como forma de bem ocupar o tempo livre e de demarcar fronteiras entre o Nós’ e os
‘Outros’” (SILVA, 2006, p. 126).
A partir de 1850 e nas primeiras décadas do século XX, veremos a proliferação de
sociedades entre os teutos espalhados pela zona colonial.
13
Esta substancial vida
associativa passa a ser assumida como característica própria da etnia: “Fala-se então no
conhecido ‘espírito associativo’ dos alemães, força motora da criação da sociabilidade
étnica dos teutos” (SILVA, 2006, p. 128). No entanto, a autora destaca três pontos
importantes: a fundação de associações não foi uma exclusividade alemã; mesmo não
sendo privilégio deste grupo, os alemães destacaram com mais freqüência o
pertencimento étnico da sociedade do que outras etnias e a difusão das sociedades na
década de 30 poderia ser uma resposta ao projeto nacional de construção de uma
identidade brasileira (SILVA, 2006, p. 138). O associativismo então pode ser entendido
como o resultado da necessidade própria a diferentes grupos de se agregarem para fins
diversos, e dessa forma definir fronteiras e limites, bem como um efeito da reprodução e
atualização de representações a respeito do que faz ou não parte da cultura na
construção da identidade teuto-brasileira (SILVA, 2006, p. 130).
Evidenciando algumas vezes as diferenças lingüísticas, outras vezes a aparência
física em comparação com a população local, ou mesmo as diferenças religiosas, as
relações familiares e de trabalho fizeram com que a população imigrante constituísse um
grupo distinto: “Muitas das características de distinção foram sendo substituídas com o
passar do tempo, outras sendo agregadas, algumas mais fortemente ressaltadas na
medida em que o grupo demarcava seus limites à integração” (SILVA, 2006, p. 111).
Desde o final do século XIX, as populações imigrantes do sul vinham sendo alvos
de propagandas provenientes da Alemanha. Surgem, dessa forma, várias instituições
13
A primeira associação a ser criada no Rio Grande do Sul foi a Gesellschaft Germânia, em Porto Alegre:
“Tinha como finalidade a conservação da língua, da arte e dos costumes alemães” (ROCHE, 1969, p. 644).
39
voltadas para os imigrantes, em especial a Liga para a Germanidade no Exterior e a Liga
Pangermânica. Segundo Silva (2006), a Liga Pangermânica,
criada em 1891, constituiu-se de uma entidade política nacionalista radical, racista
e expansionista, que buscou criar grupos locais (Ortsgruppe) responsáveis por
mobilizar a população brasileira a favor do Deutschum. [...] Aos ideólogos
germanistas que construíram a categoria Deutschbrasilianer integrando o
pertencimento étnico alemão à cidadania brasileira – a fidelidade exigida pela Liga
vai muito além do que propunham uma vinculação cultural, racial, étnica ou
afetiva (SILVA, 2006, p. 176).
Podemos entender o germanismo como um movimento intelectual que surge no
século XIX entre pessoas pertencentes ao grupo étnico alemão, tendo como anseio
principal a defesa de uma identidade étnico-nacional, liderado essencialmente pela elite,
que passa a criar uma identidade própria para esse grupo com base na diferenciação
étnica. Elaboraram-se então os conceitos de Volkstum (etnia, caráter nacional) e
Deutschtum (caráter nacional alemão) como incentivadores de uma unidade baseada na
língua.
Uma percepção culturalista, em que traços como a língua e costumes diferenciam
o grupo, é somada à percepção primordialista da etnicidade, em que a
descendência, os laços familiares, os vínculos de sangue distinguem quem faz
parte da etnia e, conseqüentemente, da nação alemã (SILVA, 2006, p. 231).
A luta pela germanidade configurava-se como resistência à assimilação, elemento
fundamental para a incorporação à nação brasileira. Buscava-se então a elaboração de
uma identidade teuto-brasileira. A porção teuta destacaria a ascendência, a origem étnica,
a língua, o modo de ser alemão. a porção brasileira caracterizaria a garantia e a
lealdade política (SILVA, 2006, p. 234). Ganz destaca a liderança de Karl von Koseritz,
que buscou dar respaldo à necessidade de integração política dos teutos, em especial da
população rural, procurando modificar a legislação brasileira para que participassem no
processo político: “Sua liderança foi ainda mais além. Como intelectual e jornalista,
propunha a formação de uma nova identidade para os alemães imigrantes, uma
identidade ‘genuinamente teuto-brasileira’, insistindo na dualidade cidadania brasileira e
nacionalidade alemã” (GANZ, 2004, p. 137). Silva também evidencia o papel de Wilhelm
Rotermund entre os luteranos, pois propunha o “atrelamento entre igreja e germanidade
como algo intrínseco aos dois elementos“ (2006, p. 113). Segundo Silva, para Rotermund,
“se os membros da comunidade luterana abdicassem da sua germanidade estariam
perdidos para a Igreja” (SILVA, 2006, p. 114).
40
Assim, a luta dos germanistas se dá no sentido de fortalecer a identidade ‘original’,
valorizar as características ‘intrínsecas’ aos ‘de origem’ alemã, evitar que o
imigrante ou o ‘brasileiro de sangue alemão’, abandone ou renegue sua essência.
Isso não deve implicar em desobediência ao Estado ou às instituições políticas:
graças às virtudes próprias à essência, ao caráter do povo (Volkstum), ele cultiva
a fidelidade à pátria. Da mesma forma, só será um bom cidadão brasileiro de
sangue alemão aquele que o devido valor ao seu Volkstum (SILVA, 2006, p.
240).
A manutenção da língua materna, juntamente com a laboriosidade, são tidos como
elementos fundamentais da identidade teuto-brasileira. A língua aparece de forma mais
evidente nos discursos germanistas, sendo considerada o meio de manter vivo o espírito
alemão: “A língua alemã tornou-se a principal forma de diferenciação da ‘comunidade
nacional alemã’ fora da Alemanha” (GANZ, 2004, p. 178). É importante frisar que, mesmo
depois da Campanha de Nacionalização e da significativa diminuição da prática desse
idioma pelas novas gerações, não houve uma perda de identidade, mas novos limites
passaram a ser constituídos, como vimos acima.
Costuma-se valorizar a laboriosidade dos imigrantes como uma de suas
características étnicas fundamentais. No entanto, essa visão de engrandecimento pelo
trabalho não era totalmente aceita pela população nas primeiras décadas de imigração.
Segundo Magda Ganz (2004, p. 190), a criação de um discurso valorativo dos alemães
enfocando a sua capacidade de trabalho passa a ser enfatizada essencialmente pelos
intelectuais alemães vindos ao Brasil a partir de 1850: “A imagem do imigrante na
província constituiu-se, portanto, inicialmente, de forma depreciativa. Somente na década
de 1850, quando o governo provincial assume o encargo do processo imigratório [...] tal
situação começa a mudar” (GANZ, 2004, p. 191).
É importante destacarmos que, a princípio, nada impedia a posse de escravos
pelos colonos, mas isso se tornaria uma incoerência, pois a chegada dos imigrantes se
inseria em um processo de transição do trabalho escravo para o livre. Segundo
Tramontini,
ao mesmo tempo que se passou a discutir mecanismos que limitassem acesso à
terra pelo imigrante, que culminaria com a Lei de Terras, implementaram-se
mecanismos que restringiriam e proibiriam a propriedade de escravos pelos
mesmos colonos, não como meio de drenar os valorizados cativos para os
setores preferenciais da economia (2003, p. 370-371).
41
É de meados do século XIX a legislação que passa a proibir o uso de escravos nas
terras destinadas à colonização e a introdução de escravos nas colônias. No entanto, a
escravidão continuou sendo praticada em cidades formadas por núcleos populacionais
alemães (GANZ, 2004, p. 99-100).
Para finalizar, é importante destacarmos que a partir da segunda metade do século
XX começam a ser publicados pequenos livros relativos aos antepassados alemães, bem
como às grandes festas e reuniões familiares. De acordo com Woortmann,
[...] essas festas marcam o contraste com a condição camponesa anterior,
enfatizando a ascensão social dos descendentes que se distinguem daqueles,
inclusive parentes, que ‘ainda andam de tamancos’.[...] Cultua-se o patriarca,
aquele que, pela capacidade de luta no passado, tornou-se exemplo das
qualidades germânicas (2000, p. 232).
Para os descendentes localizados nas áreas rurais, a “comunidade vivida” no
passado não deveria ser trazida para o Brasil. No entanto, para a elite urbana o que
deveria ser lembrado era dado pela Alemanha do presente e pela história que a formou.
Conforme Woortman (2000, p. 233), é “[...] em função dessa Alemanha do presente que
buscam raízes passadas para legitimar ideologicamente a posição social alcançada”,
raízes essas que podem ser encontradas nos “lugares de memória” por eles construídos,
como, por exemplo, nos museus.
1.4 Museu – Espaço de Memória
Museu é filho de Orfeu. Orfeu cujo mito é o mais complexo e extenso que há na
Grécia: Orfeu fundamentalmente foi poeta, aliás o protótipo do poeta. Com sua lira
encantada, amansava os animais, desceu ao inferno (em grego: a parte inferior)
para resgatar Eurídice, sua amada, e comoveu Prosérpina, olhou para trás e
assim transformou Eurídice numa estátua de sal. No fim da vida Orfeu foi
esfacelado pelas Eríneas e seu corpo espalhado através de um sopro, pelo
mundo, nas coisas. Entramos aqui em outra modalidade da identidade e ação do
Museu: Museu recompilou as obras do pai. Isto é, museu repropõe a ação
civilizadora de Orfeu (a lira que amansa os animais) que depois com sua civilidade
e olhar curioso e destacante, retira seu amor (Eurídice), da região dos mortos, da
inferioridade, transformando-a a seguir numa congelante (estátua), em objeto
símbolo da inteligência (sal). Finalmente, Museu recompila, reordena, recupera, o
espalhamento da poesia nas coisas, isto é, a matriz da ação (poiéo-fazer) em
cada coisa ou ainda o que determina o modo de ação de cada coisa no mundo! É
isto, entre outras coisas, que o Museu nos diz que é. O que será que isto nos
propõe a pensar? (GUIMARÃES; BARBANTI, 1991, p. 8).
42
A instituição Museu passou, durante a sua evolução, por diferentes concepções
quanto a sua função e espaço de atuação: casa das musas, gabinete de curiosidades,
espaço de deleite de uma elite, local de coisas velhas, “lugar de memória”. De templo do
patrimônio burguês para fórum, espaço de discussão e debate sobre a sociedade.
Segundo Gonçalves (1995, p. 64),
O museu é pensado não mais como ‘templo, espaço de representação de uma
cultura transcendente, trans-histórica, espaço de representação da ‘civilização’;
mas o museu como fórum [...], espaço de representação das diferenças e conflitos
entre os vários segmentos sociais e suas respectivas culturas. Enquanto fórum, o
museu retrata uma concepção de cultura cuja ênfase está menos na coerência e
na estabilidade e mais no caráter fragmentário e instável dos diversos sistemas
culturais. Na medida em que são fragmentários e instáveis, os sistemas culturais
constituem sistemas abertos e em permanente processo de reconstrução. Isso
significa dizer que as chamadas práticas museológicas não apenas refletem
sistemas culturais existentes e que vêm a ser legitimados no espaço do museu,
mas que na verdade, essas práticas, como qualquer prática cultural têm uma
dimensão de criatividade, de tal modo que podemos afirmar, até certo ponto elas
inventam as culturas representadas no museu (GONÇALVES, 1995, p. 64).
Os museus nacionais têm a sua origem na França oitocentista, no contexto de
formação do Estado Moderno. Com a Revolução Francesa e a conseqüente apropriação
pelo Estado dos bens da igreja, da nobreza e da burguesia, são fundados quatro museus:
Museu da República (Museu do Louvre), Museu de História Natural, Museu de
Monumentos Franceses e Museu de Artes e Ofícios (DIAS, 2006, p. 70). O Louvre foi o
depositário privilegiado de uma estratégia que buscava retirar a arte francesa de
propriedade exclusiva da realeza e da aristocracia, e expô-la ao interesse público
(SCHWARCZ, 1989, p. 22). Nesse contexto, os museus passaram a ter um papel
importante na consolidação e no fortalecimento dos Estados, por representar um valor
significativo na construção da identidade nacional, que necessitava ser fortalecida perante
o Antigo Regime. O patrimônio “em termos políticos, assumiu um novo papel simbólico, o
de representar a comunidade identificada com a nação” (DIAS, 2006, p. 70). As grandes
coleções passaram a ser exibidas ao público. Sendo que
[...] sua principal finalidade era de preservar e celebrar esse patrimônio para
conservar o passado nacional e manter uma mitologia das relíquias culturais
tradicionais a serem veneradas a fim de valorizar a nação e o status do homem
através de sua identidade cultural (NOVAES apud SANTOS, 1998, p. 180).
43
Durante os séculos XIX e XX, esse modelo de museu nacional espalhou-se por
toda a Europa, chegando inclusive ao Brasil. Durante o governo de D. João VI, são
estabelecidos, no Rio de Janeiro, o museu da Escola Nacional de Belas-Artes iniciado
com a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (1815), e o Museu Nacional
14
(1818)
(SANTOS, 1998, p. 180). No século XIX, entre os maiores expoentes encontraremos o
museu Goeldi
15
(1866), no Pará e, em 1894, o Museu Paulista,
16
em São Paulo. Durante o
século XX, surgem como principais nomes o Museu Histórico Nacional (1922), no Rio de
Janeiro; o Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro (1934); o Museu do Diamante
(1954), em Minas Gerais; o Museu Nacional da Imigração e Colonização (1957), em
Santa Catarina e o Museu da Abolição (1957), em Pernambuco.
Atualmente, conforme o Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Demu/Iphan), e de acordo com o seu
levantamento estatístico, existem 2.106
17
instituições museológicas no Brasil (IPHAN,
2006a). No Rio Grande do Sul, propriamente dito, foram mapeados 352 espaços, dos
quais 162 se encontram cadastrados, o que representa uma porcentagem de 45,86% do
total de museus. Vale destacar que o número de museus mapeados no Estado é
exatamente igual ao número existente em São Paulo (IPHAN, 2006b). Segundo Luciana
Vicente (2007), é o Rio Grande do Sul que tem o maior número de museus distribuídos
por suas cidades. Em termos financeiros, segundo o relatório “Política nacional de
museus” destaca-se que, entre 2003-2006, o investimento no setor de museus no país
pelo Ministério da Cultura foi de 300 milhões de reais (VICENTE, 2007). Nesse sentido,
podemos perceber a ampliação do interesse pelos museus e, conseqüentemente, seu
aumento numérico, uma verdadeira museomania (SEGALL, 2001, p. 129), visível na
propagação expressiva de museus em várias partes do mundo, em especial a partir da
década de 70. Tal perspectiva é exemplificada pela abertura de um museu a cada três
14
O museu contava com material oferecido por D. João VI, constituído de peças de arte, objetos de
mineralogia, animais empalhados, produtos naturais. Embora criado em 1818, o seu período de apogeu, no
que se refere à maior produção, se a partir dos anos 70, quando não faz circular uma revista como
monta cursos e realiza pesquisas. A revista Archivos (1876) foi vista como símbolo de cientificidade,
contribuindo para a divulgação do museu no Brasil e no mundo (SCHWARCZ, 1989, p. 29-39).
15
“O principal objetivo do recém-fundado museu seria o estudo da natureza amazônica, de sua flora e
fauna, da constituição geológica, rochas e minerais, da geografia da imensa região, bem como assuntos
correlatos com a história do Pará e da Amazônia” (SCHWARCZ, 1989, p. 48).
16
“Segundo a história oficial, a criação de um museu em São Paulo esteve a princípio ligada à idéia de se
erguer um monumentoescultural e grandioso em homenagem a Independência Nacional ’”; “Montava-se a
partir de 1895, em São Paulo, um projeto de ‘museu enciclopédico’ que buscaria reunir exemplares de todo
o conhecimento humano” (SCHWARCZ, 1989, p. 39, 41).
17
2045 instituições abertas ao público, 20 instituições em implantação e 41 instituições fechadas (IPHAN,
1996b).
44
semanas na Inglaterra, e de mais de quinhentos no Japão nos últimos quinze anos
(PINHEIRO, 2004, p. 109). Desde o surgimento dos primeiros museus, esses se
multiplicaram e se diversificaram: “Em 1997, 17,8% dos franceses freqüentavam museus,
enquanto que, em 1998, 32,6% declararam fazê-lo como lazer” (LEENHARDT, 1999, p.
1). De acordo com Huyssen (apud PINHEIRO, 2004, p. 98),
[...] o mundo es sendo musealizado e é como se todos nós tivéssemos como
objetivo a recordação total, o que o leva a questionar se algo a mais no desejo
de trazer tantos passados para o presente, algo que esteja de acordo com a
temporalidade atual e que não tenha sido experimentado da mesma forma em
outros tempos.
O museu não pode mais ser visto como uma instituição estável, seu espaço se
ampliou e se diversificou, o público se modificou tanto nos aspectos sociais quanto nos
culturais: “O museu deixa de ser uma instituição, um local onde estão preservadas
algumas coleções, para tornar-se uma atitude, a representação de um comportamento em
meio à fragmentação do mundo contemporâneo” (PINHEIRO, 2004, p. 173).
Existem diversas conceitualizações a respeito do Museu. De acordo com o ICOM
(Conselho Internacional dos Museus), ele é,
O ICOM reconhece a qualidade de museu a toda instituição permanente que
conserva e expõe coleções de objetos de caráter cultural ou científico com fins de
estudo, educação e deleite (ESTATUTOS DO ICOM, II, 3, Paris, 1969, apud
GIRAUDY; BOUILHET, 1990, p. 98).
Segundo a Conferência da Unesco realizada em Santiago do Chile, em 1972, o
museu pode ser compreendido como
[...] uma instituição a serviço da sociedade, que adquire, comunica e expõe,
especialmente para fins de estudo, conservação, educação e cultura, testemunhos
representativos da evolução da Natureza e do Homem (ILAM, 1972).
A partir da década de 80, depois de inúmeros congressos sobre patrimônio cultural
e sobre a prática e funções do museu, bem como da elaboração de diversos documentos,
especialmente aqueles produzidos no Seminário Regional da UNESCO sobre a Função
45
Educativa dos Museus,
18
ocorrido no Rio de Janeiro em 1958, na Mesa Redonda de
Santiago do Chile
19
em 1972, no I Atelier Internacional da Nova Museologia,
20
na cidade
de Quebec, no Canadá, realizado em 1984, na Reunião de Oaxtepec,
21
ocorrida no
México em 1984, e na Reunião de Caracas,
22
na Venezuela, em 1992, surge uma Nova
Museologia, um tipo de museologia diferente da tradicional na qual o museu era visto
como um
[...] modelo constituído no mundo ocidental ao longo do século XVIII, e
transformado em seguida por toda a parte em norma para o desenvolvimento da
instituição museológica – é profundamente marcado pelo projeto de construção de
uma cultura nacional baseado no mito da homogeneidade cultural segundo a
qual uma cultura dominante é selecionada e elevada ao estatuto de cultura oficial
em detrimento da variedade de culturas existentes ou que existiram no passado,
no território nacional (SOARES, 2006, p. 2).
Essa nova perspectiva da museologia busca ver o museu como um local que
possibilite crescimento social e cultural, de modo que as comunidades nas quais eles se
encontram inseridos passem a participar na formação desses espaços. Introduz-se a
noção de museu integral, isto é, leva-se em consideração a totalidade dos problemas da
sociedade e o museu como instrumento que possibilite alterações sociais:
18
O documento estabelece um objetivo de estudo para a museologia: o objeto museológico, entendido
como o objeto artístico, histórico e tridimensional. Além de enfatizar a função educativa dos museus,
também dedica grande atenção para a exposição museográfica, destacando o seu caráter didático (PRIMO,
1999b, p. 2).
19
O documento define um novo conceito de ação dos museus: o Museu Integral, destinado a proporcionar à
comunidade uma visão de conjunto de seu meio material e cultural. Ele passa a ser entendido enquanto
instrumento de mudança social e sua função passa a ser assimilada para além da recolha e conservação de
objetos, pois passa a ser visto como agente de desenvolvimento comunitário, exercendo um papel decisivo
na educação da comunidade (PRIMO, 1999b, p. 3; 1999a, p. 95-104), (ILAM, 1972).
20
Neste encontro se reconheceu um novo movimento museológico, isto é, o movimento da Nova
Museologia. O essencial para a Nova Museologia era aprofundar as questões da interdisciplinaridade. A
investigação e a interpretação assumiam importância no contexto museológico, sendo que o objetivo da
museologia deveria ser, a partir deste momento, o desenvolvimento comunitário e não a preservação de
artefatos materiais de civilizações passadas (PRIMO, 1999b), (ILAM, 1984b).
21
Neste documento é considerada indissolúvel a relação: território-patrimônio-comunidade. Além de propor
que a museologia, seja ela a Nova ou Tradicional, leve o homem a confrontar-se com a realidade por meio
de elementos tridimensionais, representativos e simbólicos. Para tanto é necessário o diálogo e participação
comunitária (PRIMO, 1999b), (ILAM, 1984a).
22
Analisa a atual situação dos museus da América Latina, estabelecendo um perfil das mudanças
sócio/políticas, econômicas e tecnológicas nos últimos 20 anos da América Latina e a transformação
conceitual e operacional nas instituições museológicas. Propõe que o museu assuma a sua
responsabilidade como gestor social, através de propostas museológicas que reflitam os interesses da
comunidade e utilizem uma linguagem comprometida com a realidade, sendo esta a única forma de
transformá-la (PRIMO, 1999b).
46
As comunidades protegem e afirmam a sua identidade cultural quando identificam,
valorizam e administram o seu patrimônio cultural e material. Por esta razão, os
museus podem demandar um maior compromisso com a comunidade e conhecer
as suas necessidades mediante a comunicação regular com ela, informando aos
cidadãos e outras organizações sobre seus programas, exibições e atividades
auxiliares. Se deve desenvolver um processo de avaliação para que a comunidade
possa julgar quão bem está respondendo o museu a suas expectativas (ILAM,
1998).
23
A Nova Museologia passa a perceber o museu como um instrumento capaz de
provocar mudanças sociais, baseando as suas atividades nos problemas e necessidades
da sociedade. No entanto, o museu sofre dois dilemas: precisa provar a sua importância
para sociedades com variadas opções de lazer, e como instituição pública, acredita
possuir responsabilidades para com a sociedade em que se encontra inserido (AIDAR,
2002, p. 52). Segundo Aidar,
As mudanças sociais que os museus podem provocar, e as esferas nas quais ele
atua são consideradas em três níveis: um individual, um comunitário e um
societário. O individual se refere às iniciativas desenvolvidas pelos museus que
podem trazer resultados positivos relacionados a esferas pessoais, psicológicas e
emocionais da vida de uma pessoa, como o desenvolvimento da auto-estima e da
confiança pessoal ou de um senso de identidade e pertença [...]. O nível
comunitário lida com as iniciativas que fortalecerão as comunidades, por meio da
aprendizagem de competências e do desenvolvimento da habilidade e confiança
para a mudança [...]. O nível societário refere-se ao papel que os museus podem
assumir como criadores de narrativas sociais dominantes, mediante suas práticas
de seleção e exposição, e dos discursos expositivos criados. Assim, os museus
podem ajudar a desenvolver um sentimento de pertença e afirmação de identidade
(2002, p. 57).
No mundo atual, nada escapa à lógica da musealização. Nesse sentido, os museus
parecem funcionar como vias que permitem uma negociação e articulação entre o
passado e o presente. Segundo Zita Possamai (2001, p. 89), a relação de representação
que se estabelece com um objeto material ou imagem presente e algo ausente e, por
outro lado, as representações mentais elaboradas no sentido de enunciar e definir uma
determinada realidade são processos mentais, pois em ambos pode estar ausente uma
relação de representação direta com um dado objeto ou imagem:
23
Las comunidades protegen y afirman su identidad cultural cuando identifican, valoran y administran su
patrimonio cultural y material. Por esta razón, los museos pueden demandar un mayor compromiso de la
comunidad y conocer sus necesidades mediante la comunicación regular con ella, al igual que informando a
los ciudadanos y otras organizaciones acerca de sus programas, exhibiciones y actividades auxiliares. Se
debe desarrollar un proceso de evaluación para que la comunidad pueda juzgar cuan bien está
respondiendo el museo a sus expectativas” (ILAM, 1998).
47
Quando, por exemplo, um conceito tenta definir o museu e o passado, pode não
estar ancorado em uma relação de representação com um dado objeto, mas
apenas em construções mentais de pressupostos que têm por estratégia
determinar a percepção das coisas que estão em jogo. [...] analisar essas
representações ajuda a compreender como a sociedade relaciona-se com o
museu (POSSAMAI, 2001, p. 89).
A museologia pode ser entendida como o estudo do fato museal, isto é,
[...] a relação profunda entre o Homem, sujeito que conhece, e o Objeto, parte da
Realidade à qual o Homem também pertence e sobre a qual tem o poder de agir,
relação esta que se processa num cenário institucionalizado, ou o museu
(GUARNIERI, 1990, p. 7).
O processo de musealização, entendido como “o conjunto de procedimentos que
viabiliza a comunicação de objetos interpretados (resultado de pesquisa), para olhares
interpretantes (público), no âmbito das instituições museológicas” (BRUNO, 1991, p. 17),
se efetua em uma rie de ações sobre os objetos, como, por exemplo, a sua obtenção
por compra, doação, a sua documentação, pesquisa, conservação, exposição e
comunicação. É importante destacar que nenhum objeto é aparentemente criado com a
função de se tornar peça de museu, mas no momento em que é escolhido por alguém, ou
por um grupo de pessoas, devido ao seu caráter único, ou mesmo como representante de
uma coletividade, passa a se tornar algo musealizável. Isto é, sendo representativo de um
recorte da realidade. Para Mário Chagas (1995, p. 58), a passagem do museável para o
musealizado é que se denomina musealização:
[...] uma coisa ou objeto se transforma em bem cultural quando alguém
(indivíduo ou coletividade) o diz e o valoriza de um modo diferenciado. [...] A
constituição do bem cultural passa através de um processo de atribuição
voluntária de valores (CHAGAS, 1995, p. 44).
Segundo Marília Xavier Cury (1999, p. 9), “os objetos selecionados para uma
exposição são, na verdade, escolhidos (valorados) duas vezes: a primeira para integrar o
acervo da instituição (ou in situ) e a segunda para associar-se a outros objetos também
escolhidos – para serem expostos ao público”:
Os objetos se convertem assim em suporte de significados culturais, em
portadores de idéias, em signos materiais de conteúdos conceituais; sendo
inicialmente documentos para a investigação científica se transformam,
48
posteriormente, em signos de comunicação, em linguagem codificada em chave
científica (BLANCO, 1999, p. 13).
24
É de grande importância ter em mente que, na maioria das vezes, as feições, as
características que um determinado museu possui, o seu acervo, isto é, os objetos
musealizados e a sua conseqüente exposição ao público o estabelecidos por uma
determinada pessoa ou pequeno grupo, como, por exemplo, em museus de pequeno
porte, o diretor ou funcionário responsável pelo espaço. Muitas vezes, para entendermos
a própria temática e a adoção de determinadas visões em um museu, é necessário
conhecer aqueles que selecionaram determinados aspectos em detrimento de outros.
Esses elementos, evidenciados por essa pessoa ou grupo de pessoas, acabam por se
tornar a imagem que o visitante poderá ter desse espaço. Nem sempre, e principalmente
quando o processo de obtenção do acervo não possui uma política estabelecida de
aquisição, essa imagem pretendida poderá ou não ser assimilada pelo público:
Os objetos que formam parte das coleções dos museus estão neles porque
alguém em algum momento reconheceu que teriam um valor, uma relevância ou
interesse que os distinguia de outros. Porém as razões desta relevância não têm
sido fixas e imóveis, mas tem evoluído ao compasso das mudanças de interesses
havidos na sociedade (BLANCO, 1999, p. 13).
25
O objeto do museu é visto a partir desse momento como documento capaz de fazer
referência a uma época histórica definida, a diferentes classes, a grupos, a gêneros ou a
idades, isto é, ele passa a ser representativo de uma determinada realidade que é
construída pelo próprio Homem e que é com ele posta em confronto através dos objetos e
das relações desses objetos dentro do museu. A memória e a identidade é trazida para o
espaço/tempo do museu, que lhe confere importância e legitimidade.
O objeto museológico enquanto documento jamais pode ser visto como algo
neutro. De acordo com Ulpiano Bezerra de Meneses (1994),
24
“Los objetos se convierten así en soporte de significados culturales, en portadores de ideas, en signos
materiales de contenidos conceptuales; siendo inicialmente documentos para la investigación científica se
transforman, posteriormente, en signos de comunicación, en lenguaje codificado en clave científica”
(BLANCO, 1999, p. 13).
25
“Los objetos que forman parte de las colecciones de los museos están en ellos porque alguien en algún
momento ha reconocido que tenían un valor, una relevancia o interés que los distinguia de otros. Pero las
razones de esta relevancia no han sido fijas e inamovibles, sino que han evolucionado al compás de los
cambios de intereses habidos en la sociedad” (BLANCO, 1999, p. 13).
49
[...] o artefato neutro, asséptico é ilusão, pelas múltiplas malhas de mediações
internas e externas que o envolvem, no museu, desde os processos, sistemas e
motivos de seleção (na coleta, nas diversificadas utilizações), passando pelas
classificações, arranjos, combinações e disposições que tecem a exposição, até o
caldo de cultura, as expectativas e valores dos visitantes e os referenciais dos
meios de comunicação de massa, a doxa e os critérios epistemológicos na moda,
sem esquecer aqueles das instituições que atuam na área (1994, p. 20).
O processo de musealização de um objeto está intimamente relacionado com a
necessidade de preservação. Os valores atribuídos a determinados objetos não se
encontram apenas nas suas características físicas ou nos períodos históricos a que
possam fazer referência, mas principalmente no conjunto de suas representações
identitárias.
Quando nos referimos ao espaço museológico sempre estamos fazendo referência
ao patrimônio. Esse conceito, intimamente relacionado com a identidade, pode ser
entendido como uma
Construção social, ou se quiser cultural, porque é uma idealização construída.
Aquilo que é ou não é patrimônio, depende do que, para um determinado coletivo
humano e num determinado lapso de tempo, se considera socialmente digno de
ser legado a gerações futuras. Trata-se de um processo simbólico de legitimação
social e cultural de determinados objetos que conferem a um grupo um
sentimento coletivo de identidade. Neste sentido, toda a construção patrimonial é
uma representação simbólica de uma dada versão da identidade, de uma
identidade “manufaturada” pelo presente que a idealiza. Assim sendo, o
patrimônio cultural compreenderá então todos aqueles elementos que fundam a
identidade de um grupo e que o diferenciam dos demais (SILVA, 2007).
O alargamento do conceito de patrimônio processou-se principalmente a partir da
década de 80 do século passado, quando este deixa de ser somente relacionado ao setor
tradicional dos monumentos históricos, passando também a levar em conta outras
manifestações culturais, artísticas e sociais do Brasil:
Desde fins dos anos de 1970, principalmente com a criação do Pró-Memória, a
categoria patrimônio expandiu-se e passou a incluir não somente monumentos
arquitetônicos e obras de arte erudita, mas também documentos, antigas
tecnologias, artesanato, festas, materiais etnográficos, arquitetura, arte e religiões
populares entre outras manifestações (MEC-SPHAN, 1980).
A ampliação do conceito de patrimônio implicou na extensão de sua tipologia.
Hoje podemos encontrar referências ao patrimônio natural, cultural, imaterial, urbano
50
(VADELORGE, 2006), em inúmeros trabalhos ligados à política de preservação de bens
culturais. O próprio uso do termo tem-se processado em um contexto que corresponde a
uma tendência global de “histeria do patrimônio”, marcada pelo sentimento de ameaça da
perda (GONÇALVES, 2002) de referenciais ligados à identidade e à memória.
A noção de patrimônio interessa neste estudo na medida em que a valorização e
divulgação desse conceito estão relacionadas com a construção de identidades e de
memórias. Isso porque o patrimônio evoca o sentido de vínculo com a identidade
individual e coletiva: “Falar de patrimônio é também falar de identidade, ou de afirmação
de identidades, e o desaparecimento do signo patrimonial pode colocar em risco ou
reforçar esses vínculos identitários” (FERREIRA, 2004, p. 30).
Além de possuírem um valor histórico ou artístico, os objetos expostos no museu
possuem outro papel de extrema importância, relacionado ao modo como eles se
apresentam. Essa importância é percebida através da relação desses objetos com o
público que visita o espaço museológico e que lhes confere aparentemente um
significado. É justamente nesse processo de comunicação entre público-objeto-museu
que se pode estabelecer uma relação de associação ou referência com determinado fato,
momento ou período. A comunicação pode se dar de diversas formas, pelos catálogos,
materiais didáticos, mas a principal é a exposição propriamente dita, pois é através dela
que o público entra em contato com o objeto e a partir desse contato constrói diferentes
concepções a respeito de questões pessoais, coletivas, que se referem a uma
determinada realidade. Segundo Cury (1999, p. 18), “[...] a exposição é a ponta do iceberg
que é o processo de musealização, é a parte que visualmente se manifesta para o público
e a grande possibilidade de experiência poética através do patrimônio cultural”. Isso quer
dizer que esses espaços não são somente fontes de informação, mas também lugares e
meios de comunicação que servem para estabelecer relações da comunidade com seu
patrimônio:
Participar de um processo de apreciação é existir por um momento através da
sensibilidade e valores do outro. Os autores criam através de quem eles são
pessoal e culturalmente, e o fruidor responde através de quem ele é, pessoal e
culturalmente. É um encontro profundo (RIZZI, 1998, p. 220).
51
A comunicação acontece no espaço de encontro entre a mensagem enviada pela
exposição, pelo objeto e a sua recepção pelo público. Todos os recursos museográficos,
como legendas, textos, fotografias, sons, cenários, colaboram no sentido de valorizar a
experiência do visitante, ampliando dessa forma a sua interação com o patrimônio. Assim,
mesmo que o Homem se depare com a certeza de que é impossível salvar o que se
perdeu, pode-se reforçar o entendimento de que os locais de preservação, construídos
como “lugares de memória”, são também produtores de renascimentos, porque permitem
negociar uma nova relação com o passado e com a morte (HUYSSEN, 1997). Se a
principal razão de ser de um “lugar de memória” é parar o tempo, tornar concreto o
imaterial, imortalizar a morte, é porque ele precisou suprir-se das mudanças e dos
significados a ele atribuídos pela história. De acordo com Pippi (2005),
A materialização da memória, é uma tendência do mundo contemporâneo de
reencontrar, imaginativamente, as suas origens, permitindo distender os sentidos
construídos pelo conceito e perceber os ‘lugares de memória’, através do
alargamento de fronteiras que esses mesmos lugares e seus significados
propiciam (2005, p. 25).
Segundo Henry-Pierre Jeudy (1999, p. 2) a museologia traria a solução ante o
desabamento das crenças nos grandes valores da humanidade, seria a reserva de
passagem do conhecimento, constituindo-se em um verdadeiro teatro das memórias, não
se tratando de descobrir o que o tempo encobriu, mas sim de entender a urgência do
perigo da perda de fragmentos ainda atuais, que comprovam um passado que não estaria
verdadeiramente morto. É justamente o distanciamento dos objetos no tempo e no espaço
que os transforma em objetos de desejo. Eles são considerados, ao mesmo tempo, como
uma presença e uma ausência. Esses objetos o usados para significar uma realidade
que nunca poderá ser trazida por eles, uma realidade que estará, como todo objeto de
desejo, para sempre ausente. Segundo Gonçalves (2002, p. 26), “as práticas de
apropriação, restauração e preservação desses objetos são estruturalmente articuladas
por um ‘desejo permanente e insaciável’ pela autenticidade, uma autenticidade que é o
efeito de sua própria perda”. É o distanciamento desses bens culturais no tempo e no
espaço, por meio da retórica da perda, que os transforma em objetos de desejo
autênticos, a mobilizar empreendimentos no sentido de buscá-los ou recuperá-los como
parte de um patrimônio nacional. Sob este aspecto, o patrimônio cultural jamais poderá
52
ser reelaborado em toda a sua totalidade, mas sempre por meio de seus fragmentos, que
buscam ser “resgatados” e preservados nestes espaços de memória e de identidade.
Os processos de musealização são responsáveis pela conscientização da
existência do patrimônio, enquanto o conjunto de signos possibilita a identificação do
indivíduo em relação a si mesmo e ao grupo que sente pertencer.
Esses processos partem de informações, como também tratam e geram
informações, impulsionando o conhecimento (afetivo/cognitivo), o registro do que é
apreendido (sensação/imagem/idéia) e a educação da memória (sistematização
de idéias e imagens) objetivando a percepção, a convivência e o uso qualificado
do patrimônio, com vistas a sua valorização e projeção como herança cultural
(BRUNO, 2002, p. 93).
Encontramos o espaço museal como um local de reforço da coesão cultural e das
identidades, portanto como um espelho no qual as pessoas se enxergam e refletem sua
imagem para os outros. Isto é, os museus, enquanto lugares depositários de memória,
fazem-se representar por imagens, às quais se relacionam uma série de significados e
onde se produzem informações. Imaginário e imagens, no entanto são manifestações
diferentes:
Os lugares de memória se definem como espaços físicos e construídos através de
relações sociais em que o homem vive e produz informações e o imaginário
corresponde à necessidade que o homem tem de produzir conhecimento, de
atribuir ao lugar, significados que se acumulam e que acabam resultando em
outros significados (NAGEL, 2000, p. 287).
O ICOM apresenta nos seus Estatutos do ano de 1995 o seguinte:
Além dos "museus" designados como tais, são admitidos como correspondendo a
esta definição:
(I) os sítios e os monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos e os sítios e
monumentos históricos que possuam a natureza dum museu pelas suas
atividades de aquisição, de conservação e de transmissão dos testemunhos
materiais dos povos e do seu meio ambiente;
(II) as instituições que conservam coleções e que apresentam espécimes vivos de
vegetais e de animais tais como os jardins botânicos e zoológicos, aquários,
viveiros;
(III) os centros científicos e os planetários;
(IV) os institutos de conservação e galerias de exposição que dependem das
bibliotecas e dos centros de arquivo;
(V) os parques naturais;
(VI) as organizações nacionais, regionais ou locais de museu, as administrações
públicas de tutela dos museus tal como foram acima definidas;
53
(VII) as instituições ou organizações com fins não lucrativos que exercem
atividades de investigação, educativas, de formação, de documentação e outras
relacionadas com os museus ou a museologia;
(VIII) qualquer outra instituição que o Conselho executivo, segundo opinião da
Comissão consultiva, considere como detentoras de algumas ou da totalidade das
características de um museu, ou que possibilite aos museus e aos profissionais de
museu os meios de fazerem investigações nos domínios da museologia, da
educação ou da formação (apud PRIMO, 1999b).
Como destaca Costa (2004), com as novas definições propostas nos grupos de
trabalho nacionais e internacionais, o patrimônio cultural e os museus têm apresentado
uma noção ampliada e mais abrangente. Dessa forma, há instituições que se
assemelham aos museus sem estarem necessariamente inseridas em todas as
características que os identificam: centros de interpretação, centros científicos, casas
históricas, fazendas históricas em atividade, parques temáticos, conjuntos urbanos,
ambientes de culto, parques históricos, parques para safáris, centros de patrimônio,
jardins históricos, jardins botânicos. Dentre as tipologias propostas, a que merece um
destaque especial é a que diz respeito aos museus ao ar livre, pois acreditamos que o
Parque Histórico de Lajeado, espaço de análise nessa pesquisa, possa inserir-se nessa
conceitualização.
Os museus ao ar livre geralmente ocupam grandes extensões de terreno onde se
encontram construções nas quais os objetos da cultura material são dispostos da mesma
forma em que eram utilizados na época que se pretende retratar. O primeiro desses
museus surgiu na Suécia, em 1891, o parque Skansen. Seu objetivo era mostrar como as
pessoas viviam e onde moravam ao longo dos séculos, em todas as regiões da Suécia.
Nesse museu encontraremos cerca de 150 prédios históricos autênticos, trazidos de
todas as regiões do país, a maior parte dos séculos 18 e 19 (SKANSEN, 2007):
[...] no parque Skansen, este museu de nova tipologia, onde pode-se visitar
diversos tipos de construções rurais, uma igreja antiga, fazendas, moinhos,
ateliers espalhados no meio de um parque botânico e zoológico (SOARES, 2006,
p. 4).
Hoje é possível visitar inúmeros museus ao ar livre em todo o mundo.
Encontraremos o Mouséon Arlaten, de 1896, sediado na França, o Museu Basco, de
Baiona, na Espanha, criado em 1922. No Brasil surge, em 1978, o Museu Felícia Leirner,
54
em Campos do Jordão/SP, instalado em um terreno de 350 mil metros quadrados. Possui
cerca de cem esculturas da artista polonesa que lhe empresta o nome, radicada no Brasil
desde 1927. As esculturas estão localizadas em pontos estratégicos do parque e
integradas com o entorno:
Devido ao respeito à natureza, o local fez da paisagem uma forte aliada, que o
qualifica como museu ao ar livre. Esse quesito, no entanto, não é o único: devem
ser observadas ainda questões acerca da participação e valorização do espaço
em todos os segmentos da sociedade, a preservação ampla dos patrimônios
natural e construído, bem como a sedimentação e a divulgação das tradições e
rituais característicos do local, elementos estes frágeis e os primeiros a se
perderem quando não transmitidos (VERGOLINO, s/d).
Outro exemplo dessa tipologia de museu é o Chiltern Open Air Museum, localizado
na Inglaterra:
O museu ao ar livre de Chiltern preserva e interpreta o patrimônio construído pelos
Chilterns que de outra forma seria perdido. O museu foi fundado em 1976, com o
objetivo de resgatar construções ameaçadas e reerguê-las em nossos quarenta e
cinco acres de parque natural, prado e mata, preservando dessa forma uma
variedade de estruturas de interesse histórico ou vernacular que são típicos da
região. Nossa coleção de mais de 30 prédios está intencionalmente agrupada [...].
Os prédios, em seus locais apropriados, os artefatos que eles contêm e as
atividades relacionadas a eles, ilustram todas as influências que têm moldado a
distinta paisagem dos Chilterns. Os prédios são interpretados de várias maneiras,
alguns servem sua função original, alguns são equipados e mobiliados para
representarem períodos mais antigos em sua história, alguns são exibições de
casas sobre a vida nos Chilterns e outros foram adaptados para proporcionar
facilidades aos visitantes (CHILTERN OPEN AIR MUSEUM).
Mais um exemplo, também na Inglaterra, é o museu Beamish:
Beamish é um famoso museu mundial ao ar livre. Nós contamos a história das
pessoas do nordeste da Inglaterra em dois pontos importantes de sua história
(1825 e 1913). Em 1825 a região era rural e lpouco povoada. A revolução
industrial, especialmente a vinda das ferrovias, acelerou a mudança. Em 1913 as
indústrias fortes da região estavam no seu auge. Beamish não é um museu
tradicional. A maioria das casas, lojas e outros prédios foram "desconstruídas" de
algum outro lugar da região e reconstruídas aqui. Alguns, a Drift Mine, Home Farm
e Pockerly Manor estavam aqui. Todos são prédios ocupados com objetos,
mobília e maquinaria, coisas autênticas de nossas vastas coleções. Saber e
pesquisa detalhada estão por trás de tudo que fazemos (BEAMISH MUSEUM).
O museu ao ar livre de Weald e Downland, também na Grã-Bretanha, tem como
principal tema casas e edificações históricas que, por perigo de serem demolidas, foram
55
resgatadas e reconstruídas em um cenário campestre. Seu acervo inclui casas, celeiros e
cabanas desde épocas medievais até a era vitoriana (MURTA; ALBANO, 2005, p. 30).
As discussões relacionadas ao âmbito museológico são bastante amplas e atuais
e, devido a isso, merecem especial atenção nesta pesquisa, o que, evidentemente, não
encerra seu debate e análise.
Neste capítulo, buscou-se trazer à tona os principais conceitos norteadores dessa
pesquisa e, principalmente, a relação que existe entre eles. Percebemos que a
globalização é um fenômeno atual que possui uma ação direta sobre o surgimento ou
manutenção de identidades e de memórias, em especial, étnicas. Isso se deve ao fato
das pessoas sentirem cada vez mais, ante as mudanças que se efetuam, a necessidade
de reforçarem e reelaborarem as suas identidades e mediante essa necessidade,
construir “lugares de memória”. Esses “lugares de memória” são aqui representados pela
instituição Museu, que, a partir de seus acervos e das relações desses com o público que
freqüenta seus espaços, passa a ser fundamental e determinante para a construção de
identidades e de memórias.
2 TEUTÔNIA – UMA BREVE HISTÓRIA
O município de Teutônia se encontra localizado no Vale do Taquari, na região
nordeste do Rio Grande do Sul. A cidade possui uma população estimada, segundo
o IBGE-2007, de 25.105 habitantes, ocupando uma área de 179,17 km
2
. Faz divisa
com os municípios de Imigrante, Westfália, Estrela, Colinas, Fazenda Vilanova,
Paverama, Poço das Antas, Barão, Boa Vista do Sul e Maratá. Ocupa a terceira
posição como maior economia entre os 39 municípios pertencentes à Associação
dos Municípios do Vale do Taquari. Seu PIB corresponde a R$ 6.734.967,00 e seu
PIB per capita, a R$ 26.836,00 (IBGE/2007). Sua base econômica é formada
principalmente pela atividade industrial e pela produção agropecuária. Encontram-se
estabelecidas no município 1.454 empresas, dessas 173 são da área industrial, 603
estabelecimentos comerciais e 678 prestadoras de serviços. A taxa de desemprego
no município gira em torno de 7% a 10%. Destaca-se, no caso de Teutônia, a
proximidade com acessos rodoviários, o que acabou por facilitar o afluxo de
empresas para a cidade, em especial a BR 386.
Figura 1) Localização do município de Teutônia
26
26
Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:RioGrandedoSul_Municip_Teutonia.svg. Acesso
em: 20 jan. 2007.
57
O setor industrial tem como expoente a indústria alimentícia e a calçadista. Este
setor é responsável por 85,06% dos empregos (5.712), seguido pelo comércio com
12,75% (1.198), e os prestadores de serviços correspondem a 2,19% (215) (PMT, 2007).
A atividade agropecuária se caracteriza pelo minifúndio, sendo que as propriedades rurais
possuem em média oito hectares de terras e produzem os mais variados produtos,
destacando-se o milho, a cana-de-açúcar, a produção de leite, a suinocultura e a
avicultura (IBGE, 2006). Teutônia possui uma diversidade de cooperativas: a de
produtores,
27
a de eletrificação
28
e a de crédito rural.
Os aspectos que configuram a situação atual de Teutônia encontram-se
relacionados com elementos referentes à sua ocupação e conseqüente colonização por
imigrantes alemães, cujo estabelecimento foi fundamental para o surgimento de
determinadas características visíveis nessa cidade, como poderemos perceber nas
informações analisadas a seguir.
Quando nos referimos à ocupação e desenvolvimento desse município, em
especial da colônia Teutônia, encontraremos três obras principais que se referem ao
tema. Tratam-se fundamentalmente de obras escritas por o-acadêmicos, que buscam
fazer uma trajetória do surgimento e desenvolvimento de suas cidades de origem. No
entanto, os dados que oferecem são muito esparsos e o em boa parte inexistentes as
referências às fontes consultadas. Mas, mesmo assim, devemos ressaltar a sua
importância como fontes de pesquisa.
27
Em 13 de novembro de 1955 foi criada a Cooperativa Agrícola Mista Languiru Ltda, cuja fundação se deve
à necessidade de melhoramento na comercialização dos gêneros agrícolas produzidos nas comunidades. A
cooperativa utilizava-se de um pequeno armazém para fornecer insumos agrícolas e gêneros alimentícios,
bem como recebia a produção dos associados, que podia ser estocada ou vendida. Em 1957 ela aluga um
espaço de um frigorífico de suínos e bovinos, em uma de suas picadas. No mesmo ano inicia-se a
construção da primeira fábrica de rações. Seis anos depois, com o aumento da produção de leite, ela passa
à industrialização de laticínios da marca Mimi. A partir deste momento, outras cooperativas se incorporam à
Languiru, sendo ela, ainda hoje uma das empresas mais importantes do município. Dados disponíveis em:
http://languiru.com.br. Acesso em: 20 jan. 2007.
28
Em 1956 é fundada a Certel Cooperativa Regional de Eletrificação Regional de Teutônia Ltda, sendo a
mais antiga e a maior cooperativa no que se refere ao faturamento de energia elétrica. Ela fornece energia a
aproximadamente 47 municípios, atendendo a mais de 42 000 associados. As suas fontes geradoras de
energia elétrica são a Hidroelétrica Salto Forqueta, com um potencial de produção de 6.124 KW, e a
Hidroelétrica Boa Vista, com um potencial de 700 KW. Dados disponíveis em http://certel.com.br. Acesso
em: 20 jan. 2007.
58
Podemos citar três obras principais, “A Fundação e os Primeiros 30 anos de
Teutônia” (1963) de Klaus Becker, “Colônia Teutônia História e Crônica: 1898-1908”
(1995) de Guido Lang e “Colonização de Teutônia e Corvo” (2004) de Ruben Gerhardt. As
três obras buscam retratar o início da ocupação e formação da colônia, dando especial
destaque aos seus fundadores e aos imigrantes alemães que se estabeleceram na
colônia. São evidenciados elementos referentes à vida familiar, às moradias, ao ensino, à
religião, ao lazer, a sua evolução política e conseqüentemente ao seu desenvolvimento
econômico. Esses trabalhos possuem o seu mérito, pois nos oferecem as primeiras
referências à colonização nessa área. Como foram escritos por pessoas que
aparentemente não tinham a preocupação na indicação das fontes torna-se necessária a
sua verificação.
As principais referências sobre os primórdios da Colônia Teutônia podem ser
encontradas nos registros de entradas e saídas de imigrantes e o seu destino, disponíveis
no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. As fontes concernentes à compra e venda de
terras, isto é, Livros de Notas e demais documentos relativos às questões de posse,
podem ser encontradas no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Também se
encontram disponíveis, nas comunidades locais, inúmeras fontes eclesiásticas, com
informações sobre nascimento, batismo, casamento e falecimento, bem como dados
referentes aos aspectos educacionais e associativos, pois muitas entidades continuam
ainda em funcionamento, como, por exemplo, a Schutzenverein (Sociedade de
Atiradores), fundada em 1891.
A história do município de Teutônia se encontra intimamente relacionada com a
história da imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul. Sua sucessiva ocupação
e colonização inicia-se na segunda metade do século XIX, mais precisamente no ano de
1858, quando o comerciante atacadista Carlos Schilling adquire terras naquela região. No
entanto, antes de se iniciar a colonização de fato, Schilling adquire mais terras para
permitir o acesso até a colônia. Em 26 de novembro de 1861 o acesso é possibilitado pela
compra de um trecho de terras do casal José de Azambuja e Simiana Cândida Villa
Nova.
29
29
Livro de Notas do Cartório de Taquari, n. 5 (01.04.1861 – 15.12.1861), APERS.
59
Organiza-se a partir deste momento a “Empresa Colonizadora Carlos Schilling,
Lothar de la Rue, Jacob Rech, Guilherme Kopp & Companhia”, que fica responsável pela
medição dos lotes de terra e sua conseqüente comercialização. De acordo com o contrato
da companhia colonizadora, o comprador estava ciente das suas responsabilidades ao
adquirir lotes. Ele era obrigado a abrir na colônia uma estrada e conservá-la, de habitar a
área estipulada, de pagar todas as despesas da escritura, dentre outros deveres.
30
Figura 2) Contrato de Venda de lotes da Colônia Teutônia
Quando se analisa a venda de lotes destinados à Colônia Teutônia, percebe-se
que no principal período de vendas, que se estende até 1886, outras duas companhias
também atuaram na colônia, a “Sociedade Carlos Arnt e sua mulher Filippina Arnt,
Henrique Bier e sua mulher Joaquina Rita Bier e Luiz Bier” e a “Sociedade Huch e
Companhia”. Como vimos no capítulo anterior, o número de companhias colonizadoras
aumenta a partir de 1850 com a retomada da política de colonização pelo governo
brasileiro.
Carlos Arnt havia sido sócio de Carlos Schilling, e funda mais tarde, essa segunda
companhia colonizadora. Ele se uma figura de destaque, e, posteriormente, é inclusive
30
Contrato da Companhia Colonizadora. MHU.
60
considerado fundador da Colônia Teutônia. Conforme o documento “Síntese histórica da
Comunidade Redentor” (1973, p. 3), podemos ver que
[...] a colonização da Colônia Teutônia teve início no atual Canabarro, no ano de
1858, com o negociante Carlos Schilling. Infelizmente esta iniciativa não teve
êxito. Os primeiros resultados concretos tivemos um pouco depois com a vinda de
Karl Arnt, que deixou marcada a sua passagem, e até hoje é considerado o
fundador da colônia e que deu os primeiros frutos no desenvolvimento desta
região.
De acordo com Klaus Becker (1963, p. 226-227), em sua listagem sobre os
profissionais existentes em 1873, Carlos Arnt aparece como carreteiro, comerciante,
moleiro e açougueiro, isto é, era responsável pelas mais diversas áreas fundamentais
para o andamento da colônia. Também aparece referência a ele nos relatos de
Janfrüchte, imigrante alemão, professor na comunidade:
Este Diretor Arnt era verdadeiro cristão, disposto a auxiliar na construção do Reino
Divino. Por profissão era comerciante. Agrimensor e Comissário eram cargos que
exercia sem remuneração. Era ele que tinha de dedicar os lotes de terra aos
novos imigrantes.
31
A sociedade Huch e Companhia, conforme Gerhardt (2004, p. 35), surge em 1875,
quando a empresa que então colonizava Teutônia teria admitido novos sócios, mas
mantendo a administração de Carlos Arnt. Ela será responsável pela comercialização de
lotes mais distantes, próximos às ex-colônias Conde D´eu e D. Isabel. Em documento
existente no AHRS, encontramos referência à necessidade do acompanhamento de um
membro do “Escriptorio da Comissão de Discriminação de Terras e Medições de lote nos
Município de Taquary e Estrella” nas medições de terras naquela região,
32
sob a
responsabilidade da Companhia Huch.
Os primeiros lotes começam a ser comercializados em 1863 e aproximadamente
em 1886 aparecem as últimas referências à venda de terras naquela colônia. O número
de compradores de lotes é de aproximadamente 50 (MHU), sendo que grande parte das
31
Relatos do viajante Janfrüchte. Neste documento não referência à possível data de sua elaboração,
mas acredito ser posterior a 1873, pois aparece referência à chegada do pastor Hauser, que, conforme os
dados disponíveis, era o pastor das comunidades de Teutônia Norte e Sul durante o período de 1873-1890.
Esse relato foi encontrado por Hermana Fiegenbaum na Alemanha e traduzido em português pelo professor
Friedhold Altmann, em torno de 1926. MHU.
32
Comissão de Terras e Colonização Papéis Avulsos, ano 1885-1886, Taquary e Estrela, (maço 42,
caixa 22) 26 de maio de 1885, n. 17. AHRS.
61
áreas serão vendidas na primeira década de comercialização essencialmente para
colonos residentes no Brasil, em especial da região colonial de São Leopoldo, como
Dois Irmãos, Picada 48, Bom Jardim, Lomba Grande, Herval e outras. Somente no final
da década de 60 é que se percebe o fluxo de imigrantes vindos diretamente da
“Alemanha" para a colônia Teutônia, como podemos ver pelo Códice 299 (AHRS)
33
. De
acordo com ele, de março de 1865 até junho de 1871, 280 imigrantes tiveram como
destino essa colônia, sendo desses sete idosos,
34
cento e quarenta adultos
35
(80 homens
e 60 mulheres) e cento e trinta e três crianças. Eram de naturalidade prussiana, pois a
Alemanha ainda não existia como Estado unificado até a década de 70, e
fundamentalmente luteranos, havendo a indicação de apenas uma família católica.
36
Em junho de 1871 também encontramos referência à chegada de vinte colonos
procedentes de Hanover, mas, principalmente, ressalta-se a chegada de colonos
vestfalianos a partir desse período. O início da colonização por vestfalianos é visto como
um marco na história do município, pois teriam sido esses os que teriam dado impulso ao
desenvolvimento da colônia. Tanto Klaus Becker como Guido Lang (1995, p. 24), este
último valendo-se da referência de Becker (1963), indicam que a colonização por
vestfalianos tem início em 14 de agosto de 1868, com a chegada do vapor “Proteção”.
Pelas fontes disponíveis não foi possível confirmar esse dado, pois as primeiras
referências a colonos desta região ocorrem a partir de 08 de junho de 1871 até 07 de
janeiro de 1872, quando da chegada de 36 colonos vestfalianos, através dos vapores
Electric (08.06.1871), Margareth (20.10.1871), Mercur (25.11.1871) e Willy (07.01.1872).
Nesse último vapor encontramos também a presença de colonos procedentes da região
do Reno (17 pessoas), da Pomerânia (5 pessoas) e de Holstein (9 pessoas).
De acordo com a Lei Provincial n. 1044, de 20 de maio de 1876, sancionada pelo
Conselheiro Tristão de Alencar Araripe, cria-se o município de Estrela, do qual a colônia
Teutônia fará parte, juntamente com os atuais municípios de Lajeado, Encantado, parte
de Guaporé, Colinas e Imigrante. Suas divisas serão ao norte Passo Fundo, Santo
Antônio da Patrulha e Montenegro à leste, Taquari à sul e Rio Pardo e Soledade à oeste.
Pelo ato n. 58 do município de Estrela de 26 de abril de 1882, cria-se o 3º. Distrito de
33
Registro de colonos chegados e o destino que tiveram (1862-1876). C299, AHRS.
34
Considero idoso aquele que apresenta ter mais de 60 anos.
35
18-60 anos.
36
Refere-se à família de Carlos Augusto Dietze, sua esposa Christina e seus quatro filhos.
62
Teutônia e em 1885, pela Lei Provincial n. 1519 ele é elevado à categoria de freguesia
(MHU).
Devido aos dados acima destacados, levamos em consideração a chegada de
colonos também à Estrela, que, a partir de sua incorporação, possuía íntima relação com
Teutônia. Segundo os dados disponíveis pela Inspetoria de Terras e Colonização, através
do mapa estatístico dos imigrantes entrados na província e as localidades a que se
destinaram durante o ano de 1888, podemos perceber a entrada de poucos imigrantes
alemães com destino a Estrela (14) e apenas um imigrante com destino a Teutônia.
37
Em
outro mapa estatístico, agora referente ao período de 1891-1892,
38
encontramos a
chegada de 25 alemães com destino a Estrela. O que podemos perceber é que a maior
parte dos colonos que iniciaram a colonização em Teutônia adquire os lotes antes do final
da década de 80.
Quando comparamos os nomes dos compradores de terras com o dos imigrantes
que se destinaram à colônia Teutônia, encontramos 18 colonos alemães, chefes de
família, como compradores de terra, principalmente depois de 1869. Os nomes que
aparecem como compradores antes desse período fazem-nos acreditar que se tratava de
imigrantes que se encontravam no Rio Grande do Sul e que não se destinaram
exclusivamente para a colônia Teutônia, como havíamos afirmado acima.
A colônia possuiu seis diretores entre os anos de 1862 e 1902, sendo que durante
seus mandatos a colônia foi ocupada e passou a desenvolver-se nos mais variados
aspectos, mas principalmente, no sentido de proporcionar a melhoria de vida da
população colonial.
Diretor Ano
Lothar de la Rue 1862-1868
Carlos Arnt 1868-1872
Oscar Von Boronski 1872-1876
Jacob Kilpp 1876-1878
Roberto João Júlio Paulsen 1878-1889
Walter Wienandts 1889-1902
Tabela 1) Diretores da Colônia Teutônia (1862-1902)
39
37
Inspetoria de Terras e Colonização. Mapa Estatístico dos Imigrantes entrados na província e as
localidades que se destinaram (1888). C 193, AHRS.
38
Delegacia da Inspetoria Geral de Terras e Colonização: Mapa Estatístico dos Imigrantes entrados
na província e as localidades a que se destinaram (1891-1892). C197, AHRS.
63
Como podemos perceber pelos dados disponíveis, a grande massa da população
residente em Teutônia será de luteranos. A necessidade de atendimento religioso começa
logo no início da ocupação da colônia. A partir de 1865, ela passa a ser visitada pelo
pastor Wilhelm Kleingünther, pastor da Paróquia Evangélica de Porto Alegre. Em 1888,
através de relatório elaborado na época,
40
podemos perceber que o atendimento religioso
era efetuado por três pastores que atendiam diferentes áreas da colônia, o pastor Häuser,
que atendia em torno de 285 famílias e 1900 membros, o pastor Von Grasen, 110 famílias
e 670 membros e o pastor Beckmann, com 52 famílias e 310 membros. Esses dados nos
permitem verificar o número de habitantes naquele período, número em torno de 2880
pessoas. Em 1906, as comunidades são divididas em Teutônia Norte e Teutônia Sul e em
1911 ocorrem novas organizações, com algumas comunidades se incorporando a
Teutônia, outras se associando a outras comunidades, como, por exemplo, à comunidade
evangélica de Estrela e à de Corvo.
Conforme os dados disponíveis nos registros eclesiásticos, podemos destacar os
seguintes pastores, abaixo listados, como responsáveis pelo atendimento religioso na
comunidade Teutônia Norte, denominada Comunidade Evangélica Paz de Teutônia, que
atualmente conta com 2.345 membros.
41
Pastor Período de atuação
Wilhelm Kleingünther 1868-1872
Ferdinand Häuser 1873-1890
Wilhelm Hasenack 1890-1910
Emil Bartsch 1910-1921
Wilhelm Wolf 1921-1925
Eduard Leverenz 1925-1934
Bernhardt Theunert 1934-1946
Werner Walhäuser 1946-1955
Gerog Lecke 1955-1974
Edgar Hummes 1974-1986
Wili Becker 1986 -atual
Tabela 2) Pastores da comunidade Paz de Teutônia
39
As referências aos nomes dos diretores das colônias podem ser encontradas nos Livros de Notas do
Cartório de Taquari. APERS.
40
Relatório da Comunidade Redentor. (SCER).
41
Dados disponíveis pela Secretaria da Comunidade Evangélica Paz – Bairro Teutônia.
64
na comunidade de Teutônia Sul, denominada Comunidade Redentor,
42
que,
segundo sua secretária, conta atualmente com cerca de 1200 membros, foram os
seguintes pastores os responsáveis pelo atendimento:
Pastor Período de atuação
Wilhelm Kleingünther 1868-1872
Ferdinand Häuser 1873-1890
Albert Reinecke 1890-1909
Karl Sick 1909-1914
Gustav Schreiner 1914-1916
Ferdinand Mater 1916-1926
Jonathan Striebel 1927-1931
Wilhelm Ziebarth 1932-1965
Arno Wartschow 1965-1980
Martin Backhouse 1980-1983
Nelson Walbrinck 1983-1991
Iedo Brandenburg 1985-1991
Silvio Meincke 1991-2004
Mauri Biensfeldt 2004 -atual
Tabela 3) Pastores da Comunidade Redentor
Em 14 de outubro de 1998 foi criada a Paróquia Teutônia Centro, composta pelas
comunidades evangélicas Martin Luther e comunidade Evangélica Betânia. O
atendimento nessa comunidade foi realizado pelos pastores: Iedo Brandenburg
(1992-2004), Mônica Tesch Muller (fevereiro a julho de 2004), Enio Luis Fuchs (2004-
atual). A paróquia conta com 978 membros.
43
Pelos dados atuais disponíveis, segundo a Secretaria da Comunidade Redentor, a
paróquia de Teutônia compreende nove comunidades, incluídas as três acima listadas
que são as mais importantes e possuem aproximadamente 5000 membros. Trata-se de
um número expressivo, pois são os membros que pagam anualmente os encargos em
suas respectivas comunidades. Existe ainda um bom número de luteranos que não
mantêm vínculos diretos com essas comunidades devido principalmente à necessidade
de pagamento de taxas anuais. Em Teutônia, também é possível perceber um aumento
42
Os sócios fundadores da comunidade Redentor, fundada em 8 de maio de 1873, foram Bernardo Roberto
Greuner (colono alemão), Mathias Dienstmann (comerciante brasileiro), Fridolino Dienstmann (colono
brasileiro), Wilhelm Schneider Sobrinho (colono brasileiro), Ernesto Alberto Roloff (colono brasileiro),
Frederico Guilherme Windmoeller (colono alemão), Ricardo Güntzel (colono alemão), Johann Huether
(colono alemão) e Carlos Fett (colono brasileiro). Mesmo os fundadores considerados brasileiros eram
descendentes de alemães que haviam nascido no Brasil (SCER).
43
Dados fornecidos pela Secretaria da Comunidade Evangélica Martin Luther, Bairro Languirú.
65
expressivo de outros grupos religiosos, como os pentecostais, o que é um fator
responsável pela redução tanto do número de fiéis protestantes, quanto do de católicos.
44
É importante frisar que muitas comunidades passaram a ser incorporadas a outros
municípios no momento de suas emancipações políticas. Citamos os casos das
comunidades que formarão os municípios de Westfália, Imigrante, Colinas, Paverama e
Estrela. Ainda hoje, o número de luteranos no município é bastante expressivo, sendo que
é possível afirmar, de acordo com a Secretaria da Comunidade Redentor, que uma
grande parte da população ainda é de luteranos descendentes de alemães.
Nos primórdios da colonização em Teutônia, como nas demais colônias
espalhadas pelo Rio Grande do Sul, o ensino das crianças era ministrado por membros
pertencentes às próprias comunidades, como vimos acima. Geralmente se tratava de
pessoas com melhor instrução e que, muitas vezes, não possuíam aptidões para os
trabalhos agrícolas, ou se dedicavam a essa atividade nos momentos de descanso dos
afazeres na agricultura. Segundo os dados educacionais disponíveis, podemos destacar
que em 1867 funda-se a primeira escola, isto é, a Escola Evangélica General
Canabarro,
45
sendo seu primeiro professor o senhor Peters.
46
Encontra-se referência a
uma escola criada para o sexo masculino em 1873, através da lei 909, de 30 de abril, mas
os dados não permitem saber sua localização.
Segundo documentos da Escola Evangélica General Canabarro, em 1888 a colônia
Teutônia possuía 15 escolas, com uma freqüência superior a 700 crianças, não existindo
nenhuma escola pública. A partir daí, o número de escolas aumenta. Em 1910, segundo
Gerhardt (2004, p. 47), existiam na colônia 21 escolas particulares, todas ainda mantidas
pela Comunidade Evangélica de Confissão Luterana.
Quando analisamos a referência aos nomes dos primeiros professores que
lecionaram nessas escolas, encontramos os de muitos colonizadores que se dirigiram
44
Vale destacar que a fundação da comunidade católica é muito recente, ocorrendo apenas em 08 de abril
de 1984.
45
Ata da Escola Evangélica General Canabarro, de 6 de agosto de 1867. IECEG.
46
Os primeiros professores a serem referidos nos dados até meados do século XX são: Peters, 1867-1869,
Reunicke, 1870-1871, Wilhelm Matzenbacher, 1872-1874, Hopper, 1875-1886, Walter Raabe, 1886-1887,
Gustavo Robinson, 1887-1888, Max Beutler, 1889-1890, Philipp Geib, 1891-1905, Schmeeling, 1906-1907,
Arthur Böhme 1908-1911, Arwed Matzenbacher, 1912-1916, Alfons Rost, 1917-1919, Paul Ahrens,
1919-1920; Frederico P. Hätinger, 1921-1926, Ferdinand Lannaster, 1926-1927, Alfredo Rex, 1927-1937,
Walter Kabmann 1937-1939.
66
àquela região a partir da década de 80, bem como os de filhos desses imigrantes
nascidos no Brasil, como, por exemplo, Guilherme Sommer, filho de um dos primeiros
colonizadores, que se torna um dos professores mais conhecidos na colônia. Atualmente,
uma das escolas municipais da cidade recebe a denominação de Escola Municipal de
Ensino Fundamental Professor Guilherme Sommer, em homenagem a essa figura de
destaque no município.
Dessas escolas, muitas acabaram se desmembrando, pois se tratavam de escolas
rurais de pequeno porte e que acabaram se incorporando a escolas maiores, muitas
vezes na área urbana. Isso fez com que muitas crianças tivessem que se deslocar por
grandes distâncias para que chegassem até as escolas mais próximas. Conforme relatos
de moradores mais antigos, podia-se levar várias horas para chegar até as escolas, pois
as distâncias chegavam a mais de 6 km. Esses percursos eram feitos geralmente a pé, ou
para alguns, com cavalos ou carroças. Os materiais disponíveis eram bastante
rudimentares, comuns na maioria das escolas desses períodos. Somente décadas mais
tarde é que os materiais didáticos começaram a fazer parte do dia-a-dia dessas
populações. É importante frisar que pelo fato de essas aulas serem ministradas pelos
próprios imigrantes, obviamente se tratava de aulas no dialeto alemão. Como grande
parte dos alunos conhecia quase que unicamente essa língua, era comum que as aulas
fossem dessa forma, além de ser essa a língua falada cotidianamente pelas populações
coloniais da área.
Destacamos que, em Teutônia, a questão do idioma é de extrema importância, pois
desde o início de sua colonização, conforme pudemos ver nos dados acima expostos,
populações alemãs de diferentes regiões e características, especialmente lingüísticas, se
deslocaram. É o caso em especial dos vestfalianos. Como esse grupo chegou mais tarde,
no momento da venda dos lotes de terra acabaram por adquirir terras mais distantes do
“centro da colônia”, áreas muitas vezes de difícil acesso e localizadas nas divisas de
outras colônias. É o caso das picadas de Linha Clara, Berlim e Imhoff, colonizadas
fundamentalmente por colonos de origem vestfaliana. O dialeto vestfaliano difere muito do
hunsrück, dialeto falado pelos demais colonizadores, dificilmente entendido pelo segundo
grupo. A manutenção desses dialetos até os dias de hoje nessas localidades se deve aos
casamentos realizados entre as famílias dessas comunidades. Quando os casamentos
com pessoas de fora da comunidade ocorriam, a incorporação se dava através do
67
aprendizado do dialeto, fundamental para ser aceito dentro do grupo. Muitas crianças no
momento em que passavam a freqüentar escolas confrontavam-se com situações
bastante difíceis, pois em muitos casos não falavam português.
Atualmente, existem em Teutônia, conforme dados da Secretaria Municipal de
Educação de Teutônia, matriculados no ano de 2008, 6.992 alunos distribuídos em treze
escolas municipais (2620 alunos), três escolas estaduais (2559 alunos), duas particulares
(1041 alunos) e onze escolas de educação infantil (772 alunos). Foram desativadas, ao
longo da segunda metade do século passado, cinco escolas municipais: Escola Municipal
Daltro Filho (Linha Geralda), Escola Municipal Duque de Caxias (Linha Germana Frente),
Escola Municipal Carlos Arnt (Linha Catarina Alta), Escola Manuel Ribeiro Pontes (Linha
Pontes Filho) e Escola André Marcolino Mallmann (Linha Capivara). Todas essas escolas
pertenciam à zona rural e, devido ao número escasso de alunos, tiveram suas atividades
encerradas e a conseqüente realocação de seus alunos para escolas mais distantes, em
geral na área urbana.
Como as esferas educacional e religiosa se encontram intimamente relacionadas,
as práticas e rituais religiosos também ocorriam no idioma alemão, inclusive os materiais,
bíblias, cancioneiros disponíveis aos membros da igreja encontravam-se nesse idioma.
Com a Campanha de Nacionalização efetuada na década de 30 do século passado, essa
prática diminuiu, mas não desapareceu, pois ainda hoje são comuns os cultos em língua
alemã, especialmente nas datas importantes como a Páscoa e o dia da Reforma
Protestante. Em toda a história educacional do município, a língua alemã não foi
abandonada. Ela sofreu momentos de decréscimo em seu uso, mas continuou sendo a
mais importante nas relações privadas de seus membros.
A participação dos grupos vestfalianos na formação do município sempre foi
extremamente valorizada, sendo considerados por alguns de seus descendentes como os
verdadeiros colonizadores de Teutônia. Sua importância e presença se encontram
evidenciadas e se relacionam no município com o “sapato de pau”. O uso do termo
“sapato de pau” tem o mesmo significado ao de “dialeto vestfaliano”. Devido a isso, muitos
elementos visíveis atualmente na cidade e em outras localidades vizinhas, como
Westfália, valorizam-no. Em Teutônia a escultura de um “sapato de pau” se encontra em
evidência no Centro Administrativo da cidade. O município também participa de uma rota
68
turística, denominada Rota Germânica, na qual um dos pontos mais importantes é o
momento da visita a um “escultor de sapatos de pau”. No município vizinho de Westfália,
área que fazia parte do município de Teutônia e de colonização exclusivamente
vestfaliana, podemos ver esse objeto inclusive como lixeira e sendo utilizado pelos
integrantes de um grupo de danças alemãs da cidade.
Figura 3) Sapato de pau – Centro Administrativo de Teutônia
Figura 4) Confecção de Sapato de pau – Rota Germânica
O sapato de pau costuma se encontrar relacionado com uma das características
geralmente associadas aos colonos alemães, a valorização do trabalho, virtude muito
69
prezada por essas populações. Trata-se de um calçado de confecção bastante
rudimentar, utilizado nas áreas rurais para a proteção contra possíveis animais e
ambientes enlamaçados. Por ser feito de madeira, era muito mais seguro na proteção do
que outros tipos de materiais, além de possibilitar uma melhor ventilação, facilidade de
colocação, retirada e principalmente durabilidade. Atualmente, pouquíssimas pessoas
usam esse tipo de calçado, ele aparece como elemento de decoração e de recordação
para a população.
Outro elemento que também aparece como referência ao município de Teutônia e
à sua história é a arquitetura enxaimel. Esse estilo arquitetônico foi analisado por Gunter
Weimer (2005), que destaca Teutônia com um dos sítios mais importantes do enxaimel no
Rio Grande do Sul:
Ainda que percebam algumas variações formais que talvez sejam conseqüências
externas ou da própria dinâmica do processo de adaptação, é em Teutônia que
encontramos os melhores exemplares daquilo que se poderia chamar de variante
vestfaliana do enxaimel no Rio Grande do Sul (WEIMER, 2005, p. 152).
Existe um certo tipo de padrão nas construções em enxaimel, sendo que o modelo
tradicional de moradia era composto de dois blocos separados, o primeiro constituído
pelos dormitórios e sala de estar, contando com um pequeno espaço que servia para
acomodar as visitas, e o outro formado pela cozinha e despensa. Também era importante
a presença de um porão, pois servia para depositar os grãos para a colheita e o plantio,
guardar alimentos e ferramentas para o uso agrícola. A uma distância aproximada de 80 a
100 metros da cozinha, era geralmente construído o abrigo para os animais (WEIMER,
2005).
O Enxaimel, ou Fachwerk, é uma técnica de construção que consiste em paredes
montadas com hastes de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais
ou inclinadas. Os espaços são preenchidos geralmente por pedras ou tijolos. Inicialmente
era construído o esqueleto da casa, todo de toras grossas de madeira. Entre as vigas
verticais eram colocadas as horizontais e, nas extremidades das paredes, algumas em
ângulo, para evitar inclinação. Pronta a "caixa", os espaços eram completados com tijolos
à vista, ou outro material que estivesse disponível.
70
Historicamente, o enxaimel se desenvolveu primeiramente onde havia, em grande
quantidade, “madeiras duras” como o carvalho, encontrado em especial no centro da
Alemanha. Na primeira fase da Idade Média, o enxaimel havia se difundido por toda a
Europa Central. A partir de 1700, a produção de madeira não conseguia mais atender
às demandas e houve a necessidade de se substituir a construção de madeira pela de
pedra. Surgiram, então, as construções mistas, em que o andar inferior era de pedra e os
superiores, de enxaimel. Paulatinamente, a pedra assumiu maior importância, até que, no
século XIX, a madeira se restringiu quase que exclusivamente ao telhado (WEIMER,
2005, p. 66-67).
Figura 5) Modelo de confecção de casa Enxaimel
47
As referências ao estilo enxaimel podem ser encontradas em grande parte das
cidades colonizadas pelos imigrantes alemães, principalmente no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina, berços da imigração alemã no Brasil, bem como na Alemanha.
47
WEIMER, 2004, p. 103.
71
Figura 6) Detalhe de casa Enxaimel
48
Figura 7) Casa Enxaimel – Teutônia
muitas casas no município em bom estado de conservação, algumas delas,
inclusive, depois de um processo de restauração acabaram por se tornar pontos turísticos
da Rota Germânica, que será analisada posteriormente. Como podemos ver na imagem
acima, essa antiga residência em estilo enxaimel foi transformada em um café colonial,
um dos pontos turístico dessa rota.
É importante frisar que existe uma diferença muito grande e visível entre o
verdadeiro enxaimel e a sua estilização. Em muitos locais, inclusive no Centro
Administrativo de Teutônia, encontraremos o segundo tipo. É muito mais fácil produzir
imitações de madeiras nas construções do que efetuá-las nos moldes antigos. Existe
inclusive uma regulamentação municipal que determina que nas imediações do Centro
48
WEIMER, 2004, p. 111.
72
Administrativo não devam existir construções que não obedeçam ao estilo enxaimel
(estilizado).
Figura 8) Módulos do Centro Administrativo de Teutônia- Estilização do Enxaimel
A Rota Germânica, criada em 26 de outubro de 2001, semelhante a outras rotas
turísticas do Rio Grande do Sul e de outras localidades, buscou aliar as peculiaridades e
as características dessas populações com a possibilidade de obtenção de renda
associada ao turismo. Atualmente, da Rota Germânica fazem parte pontos turísticos que
poderíamos relacionar com a colonização e formação do município, outros contudo, são
em essência e fundo econômico, pois não poderiam ser associados aos colonizadores.
De acordo com a Ata de Fundação da Rota Germânica, podemos entender que: ”A
Associação da Rota Germânica tem como objetivo difundir o turismo através de reuniões,
círculos de estudos [...] sempre buscando resgatar e difundir o turismo na região.
Colaborar no patrimônio turístico e cultural do município e das entidades afins”.
Nos últimos anos, o número de turistas que realizam esse passeio não é
considerado tão bom, segundo Ivo Feine,
49
integrante da diretoria da Rota Germânica.
Trata-se principalmente de excursões vindas de grandes cidades, em especial da grande
Porto Alegre, que buscam diferentes opções de lazer e divertimento, e encontram nesse
tipo de atrativo turístico algo diferenciado em relação ao que é oferecido nas cidades.
Teutônia também costuma estar associada ao canto coral, sendo considerada por
seus moradores a cidade com o maior número de corais do Brasil. A música sempre fez
49
FEINE, Ivo. Rota Germânica de Teutônia. Teutônia, 15 maio 2006. Entrevista concedida a Gisele Inês
Baller.
73
parte da vida dos colonizadores, era uma forma de lazer, de encontro com outras
pessoas, uma das únicas atividades disponíveis para algumas famílias. Em 1877,
encontramos referência à primeira sociedade de cantores, a Sociedade de Cantores da
Linha Frank e também à sociedade de cantores da Linha Schmidt, na década de 90
(PMT).
Os trinta e sete corais existentes no município atualmente organizaram-se entre o
final do século XIX e o final do século XX, de acordo com os dados expostos nos quadros
abaixo:
Nome do coral (mistos) Ano da Fundação
Sociedade de Cantores Lira 15.09.1900
Coro Misto da Linha Germano 03.04.1903
Coro Misto Sociedade de Cantores São Jacó 24.03.1906
Sociedade Aliança Linha Wink 03.01.1917
Sociedade de Canto Concórdia 15.03.1919
Sociedade de Cantores Linha Pontes Filho 14.02.1934
Coral Misto Ouro Branco 18.08.1938
Sociedade de Cantores Coro Misto 23.04.1949
Coro Misto Alegria de Boa Vista 01.12.1957
Coral Santa Cecília 09.05.1965
Coro Misto Castelo Forte 02.10.1986
Coro Nossa Senhora do Rosário 20.01.1988
Coral Primavera 01.09.1988
Coro do Grupo do Lar Aprender é Viver 10.03.1998
Coro Martin Luther 02.06.1998
Coro Misto Sociedade de Canto Cristo rei 29.06.1999
Coro Misto Sociedade de Cantores Inovação 22.02.2000
Tabela 4) Corais mistos de Teutônia
Nome do coral (mulheres) Ano de Fundação
Coro da OASE 19.06.1920
Coro de Senhoras 18.05.1946
Coral da OASE de Linha Clara 11.08.1946
Coro de Senhoras de Linha Germano 29.05.1950
Coro da OASE de Languiru 19.05.1953
Coro de Senhoras Evangélicas 10.1955
Coral da OASE da Linha Wink 05.1956
Coro de Senhoras de Pontes Filho 07.03.1959
Coro da OASE Linha Catarina 23.05.1965
Coro das Senhoras de Linha Geraldo 28.08.1969
Coro de Senhoras Boa Vista Fundos 20.01.1982
Coro de Senhoras de Linha Harmonia 10.11.1985
Associação Coro de Senhoras 22.06.1992
Coro de Senhoras Pastoral da Esperança 20.05.1998
Tabela 5) Corais de mulheres, Teutônia
74
Nome do Coral (homens) Ano de fundação
Sociedade Educacional e Cultural Boa Vista 15.11.1885
Sociedade Recreativa Concórdia 03.05.1903
Soc. Aliança Linha Wink Coro de Homens 03.11.1917
Sociedade de Cantores General Canabarro 06.06.1939
Tabela 6) Corais de homens, Teutônia
Como podemos perceber pelas denominações dos corais acima, a grande maioria
é de corais ligados à igreja luterana, em especial os das OASEs (Ordem Auxiliadora das
Senhoras Evangélicas). Muitos desses corais têm como função, além de participar dos
encontros desses grupos, cantar durante as atividades da igreja e também no momento
dos funerais.
O município também conta com grupos de danças alemãs, que buscam resgatar e
valorizar as características e a cultura dos primeiros colonizadores. O primeiro grupo de
danças alemãs surge a partir da metade do século XX, mais precisamente em 1985, na
então Escola Evangélica General Canabarro, quando a professora Líria Wiebusch
começa a trabalhar danças folclóricas com os alunos de 1ª a séries. O grande objetivo
de realizar esse tipo de dança, segundo a professora,
50
era “preservar, cultivar os
costumes dos imigrantes alemães que fundaram a colônia de Teutônia e dar a
oportunidade de conhecer algo sobre seus antepassados e dar momentos de lazer sadio”.
Esse grupo ainda existe atualmente e se denomina “Grupo Folclórico Teutônia” da
Associação Artística e Cultural Teutônia, localizada no bairro Canabarro. Os outros
grupos de danças existentes são o “Teutotanzgruppe” no bairro Languirú, o
“Kindertanzgruppe”, no bairro Teutônia. Nas escolas municipais do interior as danças
folclóricas alemãs fazem parte das atividades disponibilizadas aos alunos de forma
extraclasse.
Outro exemplo evidente do caráter associativo das populações de imigrantes são
as Sociedades de Tiro e Caça, sendo que ainda existe atualmente a Sociedade de Tiro da
Linha Clara, a Schutzenverein, fundada em 1891. Ela foi criada pelos moradores da
picada, além de outras pessoas que demonstraram interesse pela prática desse esporte.
Faziam-se competições, geralmente anuais, nas quais eram escolhidos os melhores
50
WIEBUSCH, Líria. Grupos de danças alemãs. Teutônia, 03 abr. 2007. Entrevista concedida a Gisele
Inês Baller.
75
atiradores. Essa sociedade, ainda em funcionamento, continua realizando disputas desse
tipo, mas segundo alguns membros, essa prática tende a diminuir, principalmente devido
às campanhas contra o uso de armas.
Uma das questões que também merece ser destacada é a possível presença de
negros na colônia Teutônia. Encontraremos referência a eles no relato de Janfrüchte e
também em dados de uma escritura de vendas de um escravo. Do relato de Janfrüchte
podemos destacar: “Ao entardecer chegamos à beira da mata virgem e a uma aldeia
habitada por negros” (p. 14). “Pensei que se tratava dos escravos de ‘Kimoreis’ que
morava nas proximidades e tinha 380 escravos” (p. 19). “Terminada a colheita,
normalmente oferecia uma semana de folga, quando os escravos podiam andar a cavalo
e divertir-se” (p. 20). “Com serviço de escravo o dono preparava buas para a venda”
(p.24). Através de relatos de pessoas idosas, temos informações de que era comum a
presença de escravos em Taquari, principalmente por se tratar de uma área de
colonização não alemã. Mas é possível que também tenha havido imigrantes,
especialmente com melhores condições, que pudessem adquirir escravos. No entanto, o
número de escravos citado pelo viajante talvez seja excessivo para a realidade da época
e da região. No livro de Notas n. 36 do Cartório de Taquari encontramos referência à
venda de um escravo, como podemos ver abaixo:
Escritura de venda de um escravo preto de nome Paulo, que Adão Zimmermann
faz a Jacob Arnt: Saibam quantos esta escritura de venda virem que sendo no ano
de nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta e um, aos
trinta e um dias do mês de março do dito ano, nesta vila de Taquari, em meu
cartório, compareceu presente Adão Zimmermann, morador do segundo distrito de
Estrela, e de outra parte Jacob Arnt, morador desta Vila, conhecido por mim
tabelião e das testemunhas no fim assinadas de que dou fé, perante as quais por
Adão Zimmermann foi dito que sendo senhor possuidor de um escravo preto de
nome Paulo, de trinta e dois anos de idade, solteiro, natural desta Província e
porque o possue livre e desempedido de qualquer embargo, penhor ou hipoteca,
como todos os achados novos e velhos, vendedor hoje para sempre a Jacob Arnt,
pela quantia de um conto de réis.
51
Pelas informações que temos disponíveis podemos acreditar que Jacob Arnt era
filho de Carlos Arnt e que Adão Zimmermann foi um dos primeiros colonos a adquirir lotes
na colônia Teutônia. No entanto, Teutônia era denominada terceiro distrito de Estrela e
não como aparece no texto. Existe a possibilidade de esse colono ter alterado a sua
residência para outra área após os primeiros anos de colonização. Muitas pessoas idosas
51
Documento publicado em LANG, 1995, p. 53-54.
76
do município afirmam que seus pais e avós contavam que Carlos Arnt havia sido um
proprietário de escravos na colônia.
52
Sem dúvida nenhuma, a história do município e sua atual situação se encontram
intimamente ligadas ao primeiro prefeito da cidade, o senhor Elton Klepker. Teutônia
torna-se independente de Estrela em 1981, depois de ampla campanha pelo “sim”. O
primeiro prefeito, Elton Klepker, foi responsável pelo estabelecimento das principais
indústrias do município, como, por exemplo, a Cooperativa Languiru, Elegê, e do primeiro
hospital do município. Ele foi responsável pela construção do Centro Administrativo do
município, sendo importante frisar que este passaria a se localizar em uma área ainda
desabitada entre os bairros de Canabarro e Languirú, que havia sido escolhida por
acordos políticos, mesmo antes da campanha emancipacionista, como o local ideal para a
sua construção. Tratava-se de uma área que não fazia parte de nenhum dos bairros, pois
não se podia agradar mais um bairro do que outro.
A então secretária de educação do município, Clisa Wallauer
53
(2006), destaca que
diariamente vinham levas de moradores de outras áreas do Estado, em especial da
cidade de Seberi, morar em Teutônia. Eles acreditavam que Teutônia tinha emprego para
todos, que não havia violência e analfabetismo. O número de pessoas que chegou ao
município foi tão grande que era impossível, segundo a secretária, ter escolas suficientes
para os alunos que passaram a residir. Cita o caso de aulas que foram realizadas
inclusive, em uma casa mortuária. Essas pessoas passaram a residir no “loteamento 8”,
área atualmente considerada como uma das mais “perigosas” do município. Conforme a
secretária, em pesquisa realizada durante a década de 80, na escola de tal loteamento
havia crianças de mais de vinte municípios diferentes.
Nesse breve relato, pudemos ter uma visão geral da formação do município de
Teutônia e das características ligadas à imigração e colonização alemãs que continuam a
ser determinantes para a cidade. Partiremos, agora, para a análise do museu Henrique
Uebel.
52
Esses dados ainda não foram confirmados devido à carência de fontes disponíveis sobre essa questão.
53
WALLAUER, Clisa. A educação no município de Teutônia. Teutônia, 17 mar. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
77
2.1 Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel
Figura 9) Museu Henrique Uebel
O Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel de Teutônia, com sede
no Centro Administrativo de Teutônia, foi criado pela Lei Municipal n˚. 731 de 06 de maio
de 1993. A história do museu está intimamente relacionada com a do Centro Cultural 25
de Julho, fundado em 27 de maio de 1987, que destaca em sua própria Ata de Fundação
54
que o “objetivo principal e inicial do Centro Cultural 25 de Julho será o de fundar o
Museu do Município”. Em seus estatutos
55
podemos destacar que, de acordo com o artigo
2, o Centro Cultural 25 de Julho de Teutônia tem por fim:
a) Cultivar, propagar, difundir, preservar e pesquisar a história riograndense e
brasileira em todos os seus aspectos, com ênfase nas suas relações e origens
teuto-brasileiras.
b) Promover cursos, conferências e outras atividades de caráter vicos e
culturais, sociais e desportivos que tenham por finalidade reviver as tradições
legadas pelos antepassados.
c) Estimular a coleção e guarda de objetos e documentos, como também a
preservação de monumentos, lápides tumulares e estilos arquitetônicos típicos do
Vale do Taquari, com a finalidade de conservar estes valores para a
posterioridade e manter intercâmbio cultural com sociedades congêneres.
Também encontramos referência à importância de um museu na Lei Orgânica do
município de 03 de abril de 1990, cujo artigo 166, 2 determina:
54
Ata de Fundação do Centro Cultural 25 de Julho (27.05.1987). MHU.
55
Estatutos do Centro Cultural 25 de Julho de Teutônia (25.05.1987). MHU.
78
Compete ao município a coleta dos fatos históricos e objetos antigos, relativos à
criação do Município, distritos e comunidades, para formação de um museu e
arquivo histórico e geográfico.
O museu e arquivo receberam essa denominação em homenagem ao homem-
orquestra Henrique Uebel, que tocava sete instrumentos simultaneamente em um
equipamento criado por ele mesmo. Henrique Uebel nasceu no ano de 1906, em Vila
Schmidt, picada pertencente ao município de Teutônia, atual Westfália. A idéia de
confeccionar um aparato que possibilitasse o uso de sete instrumentos simultaneamente
surge em uma cama de hospital, no momento em que se impossibilitando de colaborar
no sustento da família:
Eu toquei Bandoneon desde 15 anos e com 28 anos depois de ter sofrido três
operações, não sabia mais como poderia sustentar a família, no Hospital na cama,
me deu a idéia, de fazer um instrumento de 82 cordas na marcenaria de Adolfo
Hollmann, em Linha Schmidt coloquei Bombo Prata Gaitinha de Bocca e Pistão,
tocava quatro instrumentos ao mesmo tempo, com este instrumento toquei na
Rádio Diffusora em Porto Alegre e no Cine Coliceu, foi no ano de 38 [...], mais
tarde coloquei mais instrumentos, me lembrei da Flauta, tinha duas flautas, de
duas flautas fiz uma, tirei o teclado da outra flauta e coloquei nessa, para ser
possível de tocar a flauta com uma mão, com outra mão a gaita piano, mais
tarde coloquei os Baixos da Gaita, para tocar com os pés, fiz o mecanismo de
acordo e os foles da gaita com o joelho e com outro joelho faço as possições de
acordo com o instrumento de cordas de fazer os acordes maior menor e a septima
passei muitas noites sem dormir, estudando neste mecanismo, mais tarde, mais
instrumentos Violino e Violão Celo sempre lutando aperfeiçoando muitos anos, as
vezes passei mal, viajei quase todo Estado do Rio Grande do Sul.
56
Ele teve a iia de fazer um instrumento musical com 57 cordas movimentadas
com os pés, pouco depois o número de cordas era de 82, possibilitando o uso de quatro
instrumentos. Em 1944, com 38 anos, fez sua primeira apresentação para a rádio
Difusora de Porto Alegre, e mais sete apresentações no Cine Coliseu.
57
Sua estréia na
televisão brasileira se deu em 25 de outubro de 1954, em um programa onde se
apresentavam artistas com entrevistas e músicas, comandado pelo comunicador Airton
Rodrigues (UEBEL, 2007, p. 186).
Anos depois, o ex-diretor da Rádio Alto Taquari de Estrela, Oscar Chaves Garcia,
torna-se empresário de Henrique em uma série de apresentações em Caxias do Sul. No
56
Entrevista Henrique Uebel, p.1-2, 1959. MHU.
57
REABERTO Museu Henrique Uebel. O informativo, Teutônia, 16 ag. 2006, p. 3.
79
entanto, ele vive o auge de sua carreira quando realiza uma turnê pela Alemanha, entre
25 de julho e 25 de novembro de 1959. Fez inúmeras apresentações por todo o país,
destacando-se na Festa da Uva de Bockenheim, onde foi assistido por aproximadamente
5.000 pessoas. Depois desse grande sucesso, ainda na Alemanha, ele produz
aproximadamente 300 filmes como “homem-orquestra”, que foram vistos em vários
países. Estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas viram, ao vivo, pela televisão ou
no cinema, as aptidões musicais de Henrique Uebel.
A fama entre o povo também despertou o interesse da imprensa. A TV de Baden
Baden foi uma das primeiras a entrevistá-lo e abrir espaço para uma apresentação
ao vivo. Depois, Henrique Uebel concedeu entrevista coletiva para 13 repórteres
de diferentes veículos. Chama a atenção que até a TV de Köln (Colônia), na
época a maior rede da Alemanha, interessou-se, entrevistou e filmou o dom
peculiar do brasileiro.
58
Segundo Ademar Uebel (2007, p. 170), para ajustar os quatro primeiros
instrumentos e tocá-los simultaneamente, trabalhou cinco anos e para incorporar os sete
trabalhou mais dez anos. Henrique usava os dedos, as palmas das mãos, os pés (tendo
funções distintas os dedos e os calcanhares), os joelhos, a boca e o queixo.
O manejo da flauta, por exemplo, executo exclusivamente com os dedos da mão
esquerda. O manejo dos ventis do pistão, faço pelo transporte das alavancas, que
são servidas pelo dedão, polegar, enquanto com a mão toco ao mesmo tempo o
violino, o bandoneon ou o acordeon. Com os dedos do movimento os teclados
do piano especial, que é de minha própria invenção. Com o auxílio de um
mecanismo especial consigo ressoar todos os acordes em maior, menor e sétimos
dominantes. Com o joelho direito sirvo os pratos e os tambores. Com o joelho
esquerdo movimento o fole do acordeom. O arco do violoncelo é fixo na cadeira.
Desse modo fricciono o instrumento contra o arco, enquanto toco ao mesmo
tempo pistão e acordeom, onde manipulo os ventis do pistão com a mão direita.
Para fazer tudo isso é necessário uma concentração enorme e muito ensaio
(UEBEL, 2007, p. 244-245).
Henrique Uebel faleceu em 8 de janeiro de 1973, com 67 anos, vítima de ncer.
Acredita-se que tenha proferido a seguinte frase antes de morrer: “Quem conseguir tocar
os meus instrumentos os ganhará de presente”.
58
POUCO valorizado no Brasil, músico encantou milhões na Europa. Folha Popular, Teutônia, 15 ag. 2006.
80
Figura 10) Henrique Uebel e seu instrumento musical – MHU
A famosa peça de Henrique Uebel, encontrada no museu, foi recebida em 06 de
maio de 1987, antes mesmo de sua fundação. Atualmente, ela é a peça principal da
exposição, juntamente com outras que retratam os costumes e hábitos dos primeiros
imigrantes alemães que chegaram à região, como também da história do município de
Teutônia.
Figura 11) Instrumento musical criado por Henrique Uebel
A necessidade de ter um museu que retratasse a vida e os costumes dos
pioneiros da colonização em Teutônia partiu principalmente de um grupo de lideranças
políticas, encabeçado pelo então prefeito do município, Elton Klepker. De acordo com um
vereador da época,
59
ele buscava fazer campanhas positivas nos meios de comunicação
59
WALLAUER, Selbi. Fundação do museu Henrique Uebel. Teutônia, 17 mar. 2007. Entrevista concedida
a Gisele Inês Baller.
81
sobre a prosperidade do município, como vimos acima, e para aumentar ainda mais o seu
destaque e valorizar o papel dos colonizadores era importante ter um museu, pois muitos
municípios tinham e era relevante que Teutônia também tivesse. Segundo Elton Klepker,
60
“Eu acho que um povo deve honrar a sua cultura, nada mais significativo do que mostrar
essa cultura e por isso as peças estão lá”. O prefeito fez inúmeros apelos à comunidade,
em constantes campanhas no rádio, para que a população fizesse doações de objetos e
demais utensílios para a fundação de um museu. Essa campanha se inicia em 1983,
quando é adquirido um número substancial de peças que passaram a ser armazenadas
em duas salas, pois a sede do museu ainda não estava concluída. De acordo com Selbi
Wallauer, vereador na época, o prefeito achava essencial ter um museu para “resgatar a
memória dos antepassados, a cultura, a história e como todas as cidades tinham seu
museu, Teutônia também queria o seu.”
Uma das pessoas que mais se destacou nessa tarefa e que se tornaria um de
seus primeiros diretores foi o próprio Selbi Wallauer. Ele era bastante conhecido dentro da
comunidade, sendo inclusive eleito como vereador na primeira legislação. Ele havia se
tornado responsável pela aquisição das peças nas propriedades do interior. Quando
visitava as casas de possíveis doadores, muitos afirmavam que o possuíam objetos
que pudessem se tornar peças de um museu, mas Wallauer insistia e, juntamente com os
donos das propriedades, buscava possíveis objetos nos porões, nos sótãos. Quando essa
prática se tornou mais comum e a divulgação de um futuro museu se ampliou, muitas
pessoas começaram a perceber a importância de participar e ceder alguma peça. As
doações começaram a chegar em grande número, não havendo a preocupação de
delimitar o que seria exposto. Tudo era importante, desde que fizesse referência aos
antecedentes do município e aos primeiros colonizadores.
Nesse primeiro momento, as peças expostas em uma sala podiam ser visitadas
pela população local e, principalmente, pelos escolares. Não havia exposições
temporárias, apenas se expunha o material existente, fruto de doações. Somente a partir
da conclusão da obra do museu e, conseqüentemente, de sua inauguração em 1993
podemos encontrar algumas modificações em sua configuração.
60
KLEPKER, Elton. Museu Henrique Uebel. Teutônia, 04 out. 2007. Entrevista concedida a Gisele Inês
Baller.
82
A partir do momento em que o museu passou a ter uma sede própria era possível
expor os objetos de uma maneira que permitisse um melhor entendimento do cotidiano da
população alemã. Procurou-se delimitar um espaço para as atividades ligadas ao
trabalho, outro para o cotidiano das residências desses colonizadores e também outros
espaços ligados aos aspectos culturais e profissionais. Desde os primórdios da formação
do museu nunca houve uma política definida de aquisição de peças. Tudo que era doado
permanecia no museu, mas isso acabou por sobrecarregar o local de peças, muitas delas
semelhantes. Isso também se tornou um problema quando alguns doadores chegavam ao
museu e não admitiam que suas peças não estivessem expostas.
O museu teve até hoje cinco responsáveis efetivos, geralmente pessoas que
tinham alguma afinidade com questões históricas e que demonstravam interesse na
preservação dos costumes das populações alemãs. Segundo Paulo Lohmann,
61
muitas
vezes não se sabia o que fazer corretamente com as peças que chegavam, pois não se
tinha nem conhecimento sobre a burocracia ligada à obtenção de doações, nem acesso a
informações sobre o tombamento de peças.
É importante frisarmos que as mudanças ocorridas na direção do museu se
deram conforme o grupo político no poder. Essa prática é comum na grande maioria dos
museus públicos, em que, a cada eleição, esse tipo de cargo costuma ser alterado. A
partir de sua fundação até os dias de hoje os responsáveis foram Ledi Schneider, Selby
Wallauer, Helio Dahmer, Werno Lohmann e Paulo Lohmann.
Durante a década de 90, o museu praticamente manteve a mesma exposição de
peças. Somente a partir de 2000 começou a diversificar as exposições, mediante mostras
temporárias, que passaram a se encontrar, em grande parte, logo na entrada do museu,
devido à facilidade de colocação do acervo, pois esse espaço não costumava ser utilizado
pelas exposições permanentes. Podemos citar, de acordo com o atual responsável, Paulo
Lohmann,
62
uma exposição sobre o centenário de Henrique Uebel, de brinquedos antigos,
de implementos agrícolas, de uma sala de aula, de vestimentas antigas, dos primórdios
61
LOHMANN, Paulo. Fundação e principais características do Museu Henrique Uebel. Teutônia, 8 mar.
2007. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
62
LOHMANN, Paulo. Fundação e principais características do Museu Henrique Uebel. Teutônia, 8 mar.
2007. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
83
da telefonia no município. Como podemos perceber, essas exposições também buscam
se relacionar com a colonização e o passado do município de Teutônia.
Em termos de programações culturais realizadas pelo museu, não existe nenhuma
política específica. O museu, em toda a sua história, manteve-se apenas com a função de
local de exposição, não buscando outros meios de interferência cultural na comunidade.
As visitas recebidas costumam enquadrar-se nos momentos em que ocorrem grandes
programações no Centro Administrativo, em especial na Festa de Maio, quando se
comemora o aniversário do município, bem como em outras festividades que se realizem
no Centro Administrativo, como o Encontro de Carros Antigos.
No ano de 2006, o museu foi visitado por aproximadamente 10.000 pessoas. A
maioria das visitas (7.627, segundo os dados disponibilizados pelo responsável pelo
museu) se concentrou no mês de maio, época da festa do município.
63
Estima-se que em
2007 o número tenha chegado a aproximadamente 15.000 freqüentadores.
O museu Henrique Uebel possui um acervo de aproximadamente 500 peças. Não
existe um controle exato sobre o que se encontra, pois não um Livro Tombo que
registre o acervo. Atualmente, existe o interesse na catalogação das peças: durante o ano
de 2007 iniciou-se um trabalho de levantamento do acervo, isto é, começa-se a ter
preocupação com o controle desses materiais. Acredita-se, inclusive, que muitas peças
acabaram sendo perdidas durante todos esses anos em que não se teve a preocupação
de registrá-las.
O que podemos perceber é que existem principalmente utensílios domésticos,
como ferros a carvão, louças, roupas; instrumentos de comunicação, como rádios e
televisores; instrumentos de trabalho, como enxadas, foices; instrumentos musicais, como
violino, clarinete, acordeon; materiais escolares, como lousas, canetas tinteiro, carteiras
escolares. Também encontraremos referência a algumas profissões consideradas de
grande importância na comunidade por permitirem o progresso na cidade, especialmente
aquelas relacionadas com a agricultura. Além disso, encontramos também um
considerável acervo de fotografias que retratam o município e os seus pioneiros desde os
63
MUSEU Henrique Uebel recebe mais de dez mil visitas em 2006. O informativo, Teutônia, 31 jan. 2007,
p. 11.
84
primeiros momentos de sua história. Como a intenção do museu é ser, também, um
arquivo, podemos encontrar documentos referentes à colonização e aos primeiros
povoadores de Teutônia, bem como os demais documentos referentes à história da
cidade. O atual prefeito municipal, Silvério Luersen,
64
afirma que
o museu é de extrema importância para nossa cidade. Ele retrata parte da história
dos nossos antepassados, embora não se apresente de forma ideal, por ter pouco
espaço e uma certa falta de organização, manutenção e restauração, este é o
único museu do município, [...]. Com uma estrutura melhor e profissionais
adequados, atingirá cada vez mais e melhor os seus objetivos.
Como se percebe pelas imagens abaixo, os objetos são dispostos sem nenhum
ordenamento, simplesmente são postos no espaço ou pendurados nas paredes. Não
existe a preocupação com o armazenamento das peças de modo a conseqüentemente,
permitir sua conservação, sobretudo pela falta de esclarecimento e também de recursos
disponíveis para o museu. As etiquetas que se encontram nos objetos, que deveriam ser
uma das fontes principais de informação sobre as características e os doadores das
peças, estão extremamente danificadas ou são inexistentes. Vale destacar que, em
grande parte das peças, as etiquetas estão coladas diretamente sobre o objeto, o que
acaba aumentando o seu grau de deterioração e a sua não conservação.
Mediante as colocações acima expostas pretendemos ter trazido um painel sobre
as características gerais de formação do município de Teutônia e principalmente do
museu Henrique Uebel, que será analisado em maior profundidade no último capítulo do
presente trabalho, quando se buscará realizar associações entre esse espaço e uma
possível identidade teuto-brasileira.
64
LUERSEN, Silvério. Museu Henrique Uebel. Teutônia, 25 jul. 2005. Entrevista concedida a Gisele Inês
Baller.
85
Figura 12) Imagem de instrumentos de trabalho
Figura 13) Imagem de meios de comunicação e instrumentos musicais
86
Figura 14) Imagem de um equipamento odontológico
Figura 15) Imagem de materiais escolares
87
Figura 16) Imagem de fotografias
Figura 17) Imagem de utensílios domésticos
3 LAJEADO – SUA HISTÓRIA
O município de Lajeado situa-se na região centro-leste do estado do Rio
Grande do Sul e está inserido na região do Vale do Taquari. A cidade possui uma
população estimada, segundo o IBGE-2007, de 67.513 habitantes, abrangendo uma
área total de 90,14 km
2
. Lajeado faz divisa com as cidades de Arroio do Meio,
Marques de Sousa, Cruzeiro do Sul, Santa Clara do Sul, Forquetinha e Estrela. Seu
PIB corresponde a R$ 1.071.118,00 e seu PIB per capita é de R$ 16.430,00 (IBGE,
2004).
Figura 18) Localização de Lajeado – RS
65
As principais atividades econômicas de Lajeado estão ligadas à indústria
alimentícia. A cidade é conhecida como a "capital do Vale do Taquari", tendo em
vista sua importância sócio-econômica no Vale. Lajeado é considerado um pólo da
alimentação, contando com grandes empresas do setor, como Avipal e Minuano
(frangos), Monibel, Docile Alimentos e Florestal Alimentos (balas), e Fruki
65
Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:RioGrandedoSul_Municip_lajeado.svg. Acesso
em: 20 jan. 2007.
89
(refrigerantes). O setor industrial corresponde a 45% da receita do município, possuindo
em torno de 741 empresas (PML/2005). O comércio corresponde a 42% da receita e os
serviços a 13%, reunindo aproximadamente 544 estabelecimentos. A estrutura fundiária
do município está constituída por pequenas propriedades, semelhante à Teutônia,
estimando-se que existam cerca de 400 áreas rurais, que ocupam, em média, 10 hectares
de terras. Os principais produtos cultivados no município são o milho, o feijão, a soja e o
trigo (IBGE, 2006). No entanto, a participação deste setor na economia do município é
pequena, em torno de 11% da receita (PML, 2007).
A área rural do município tem diminuído seu grau de importância econômica devido
à impossibilidade de sobrevivência neste espaço sem o uso de meios modernos para o
trabalho com o solo, o que fez com que um grande número de pessoas se deslocasse
para o centro da cidade, isto é, gerou-se um êxodo rural, fenômeno comum em várias
cidades brasileiras.
Da mesma forma como percebemos no município de Teutônia, a imigração e
colonização alemãs também serão fundamentais para a cidade de Lajeado. Como muitos
dos aspectos referentes a esse processo foram mencionados e analisados nos
capítulos anteriores, apenas destacaremos as características referentes à esta cidade,
sem novamente pormenorizá-las, pois se repetem em grande parte neste segundo caso.
As referências bibliográficas referentes a essa cidade e à sua formação são, mais
numerosas, se comparadas com as disponíveis para Teutônia, pois Lajeado é uma cidade
com número mais expressivo de habitantes, é considerado pólo de desenvolvimento
dentro da região, e possui um centro universitário que por si só é um gerador de pesquisa
e conhecimento. O que se percebe é que os trabalhos, em sua maioria, são escritos nos
mesmos moldes daqueles encontrados para Teutônia, isto é, não uma produção
acadêmica disponível no momento que aborde elementos relevantes para essa pesquisa.
Trata-se, como vimos, de produções de não-acadêmicos dessas cidades, que resolvem
reconstruir as trajetórias de seus municípios. No entanto, esse tipo de trabalho é muito
importante por nos trazer referências fundamentais sobre o início da colonização nesses
municípios.
90
Devemos destacar o trabalho de José Alfredo Schierholdt, que possui uma
produção expressiva de livros que tratam sobre temas referentes aos primórdios da
história do vale do Taquari, em especial de Lajeado. Suas obras são muito importantes
pois são claras em suas constatações; além disso, em boa parte de seus textos
indicação das fontes de consulta. Não podemos deixar de assinalar a importância, para o
estudo da formação da cidade de Lajeado, das fontes encontradas em arquivos, tanto no
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, como também nos demais arquivos eclesiásticos
e escolares disponíveis. Ressalta-se a importância e a documentação existente no
Arquivo Municipal de Lajeado, onde encontramos vários documentos, em especial de
caráter administrativo, que se referem à trajetória de formação da cidade.
Fazer um estudo de uma cidade com as proporções de Lajeado não é tarefa fácil,
pois, como pudemos perceber ela ocupa posição importante na região e em âmbito
estadual. Se isto, por um lado, dificulta, por outro também instiga a realização deste
trabalho, que nos permite entender melhor o comportamento que as pessoas têm em
relação à sua identidade e memória, em especial teuto-brasileira.
Atualmente Lajeado comporta vários grupos étnicos e religiosos, no entanto, ainda
mantém muito das características de sua colonização alemã, visíveis principalmente em
sua arquitetura e costumes. Hoje se encontram na cidade pessoas de diversas regiões do
Estado, que se deslocaram para com o intuito de melhorar sua condição de vida, sem
que fossem, no entanto, descendentes de imigrantes alemães propriamente ditos. Esses
grupos aumentaram a massa da população na periferia da cidade, onde as condições
precárias de vida e também de violência tornam a sobrevivência penosa, levando,
inclusive, a atos ilegais, como, por exemplo, assaltos e homicídios.
Como veremos a seguir, a colonização em Lajeado não se dará exclusivamente
por alemães, mas também por luso-brasileiros e, mais tarde, por italianos. No entanto, as
áreas ocupadas por esses grupos serão diferentes. Posteriormente tais áreas serão
desmembradas e formarão novas cidades. Esse é o caso das áreas mais afastadas do
centro da colônia, localizadas em sua parte mais alta, nas quais se fixarão os imigrantes
italianos, pois as áreas mais privilegiadas e próximas ao rio Taquari se encontravam
ocupadas pelos primeiros grupos de imigrantes alemães.
91
A colonização de Lajeado inicia no ano de 1855, quando Antônio Fialho de Vargas
funda a Colônia Conventos:
Colônia fundada em 20 de março de 1855 por Baptista Fialho e Companhia na sua
fazenda denominada Conventos na margem direita do rio Taquary no município do
mesmo entre os arroios Forqueta, dos Moinhos ocupando uma área de 7.262.500
braças quadradas, divididas em 49 colônias cada povoadas com casais.
66
Estas terras são adquiridas de José Inácio Teixeira, que as havia comprado em
1830 (FALEIRO, 1996). Aparecem na documentação os registros da compra de dois lotes
de terras, no primeiro Fialho de Vargas compra uma área em nome da empresa
imobiliária Batista Fialho & Companhia,
67
e no segundo consta como proprietário
individual:
Declaração para registro de terras, Batista Fialho e Companhia possuem por título
de compra, nesta freguesia de Santo Amaro, duas fazendas unidas: uma,
denominada Conventos, [...] e com a referida segunda fazenda denominada do
Carneiro ou Lajeado.
68
Declaração para registro de terras que Antônio Fialho de Vargas possui por título
de compra, nesta freguesia de Santo Amaro uma data de terras com mil e
trezentas braças de superfície. [...] Freguesia de Santo Amaro, quinze de Julho de
mil oitocentos e cinqüenta e seis.
69
Fialho de Vargas inicia o processo definitivo de colonização dessas terras
demarcando e vendendo os lotes aos primeiros imigrantes que se deslocam para aquela
região. Segundo documentos referentes à colônia Conventos encontrados no AHRS,
podemos perceber que no início da década de 1860 a área achava-se quase toda dividida
em lotes coloniais, que eram vendidos a colonos tanto nacionais como estrangeiros.
Podemos perceber, mediante estas fontes, que ocorre um razoável crescimento do
66
Relatório ao Major João da Cunha Lobo Barreto. 24.08.1861. AHRS.
67
A empresa era formada por João Batista Soares da Silveira e Souza, casado com Ana Joaquina de Jesus;
Manuel Fialho de Vargas; Antônio Fialho de Vargas (SCHIERHOLDT, 1992 p. 65-66).
68
Documento referente à Colônia Conventos. 18.12.1863. AHRS.
69
Documento de compra de terras. AML.
92
número de habitantes durante as duas primeiras décadas, 231 pessoas (1855),
70
309
(1861),
71
386 (1863),
72
408 (1864),
73
500 (1869).
74
Nos documentos referentes à Colônia Conventos listados acima, encontramos
referência à existência de ferreiros, marceneiros, sapateiros e demais ofícios, mas os
colonos, em sua maioria eram agricultores que produziam principalmente feijão, milho,
batata, trigo e cevada, sendo que “a colônia somente tem exportado milho, feijão e batata
porque os mais gêneros que cultiva ainda não chegam para seu consumo”.
75
Em 1863 a
produção em sacas de feijão era de 2714, de milho, 4530, e de batata, de 950.
76
Em 1860 Fialho de Vargas envia relatório à Secretaria do Governo, em Porto
Alegre, destacando que:
A colônia prospera com a concorrência voluntária dos colonos nacionais e
estrangeiros que buscam a sua aquisição. De julho de 1859 a julho do corrente
ano, nasceram 9 e faleceu 1. A colônia foi aumentada neste período com mais de
10 fogos, compreendendo 40 colonos: ressente-se da necessidade de uma aula
de instrução e de uma pequena capela para o culto.
77
Quando analisamos os nomes dos primeiros imigrantes alemães que adquirem
terras em Lajeado nas fontes referentes à entrada de imigrantes para o Rio Grande do
Sul
78
podemos perceber que grande parte deles se deslocou de outras regiões
colonizadas por imigrantes alemães, caso semelhante ao encontrado em Teutônia, para
onde somente em um segundo momento imigrantes alemães passaram a se deslocar
diretamente. Ao contrário do que analisamos com relação à cidade de Teutônia, em
Lajeado encontraremos colonizadores que não serão unicamente alemães, mas o que
devemos ressaltar é que, devido à própria extensão das terras e à dificuldade de contato
com os demais grupos imigrantes, os imigrantes alemães que ocuparão o território de
Lajeado terão terras mais próximas uns dos outros. Dessa maneira, podiam ser melhor
70
Mapa Estatístico 1855. AHRS.
71
Relatório ao Major João da Cunha Lobo Barreto. Oficial Maior da Secretaria do Governo.
24.08.1861. AHRS.
72
Mapa Estatístico do ano de 1863. AHRS.
73
Mapa Estatístico 1864. 01.12.1864. AHRS.
74
Documento referente à Colônia Conventos. 05.05.1869.AHRS.
75
Documento referente à Colônia Conventos. 18.12.1863. AHRS.
76
Mapa Estatístico do ano de 1863. AHRS.
77
Mapa estatístico 1855. AHRS.
78
Refiro-me aos livros de entrada de colonos para o Rio Grande do Sul. AHRS.
93
organizadas a vida comunitária e social e a ajuda mútua necessária nas fases iniciais de
ocupação e desenvolvimento nessas terras.
Segundo Schierholdt (1992, p. 76), a colônia Conventos se encontrava dividida em
Picada dos Conventos, São José dos Conventos e Picada São José. Na primeira havia a
predominância de imigrantes alemães luteranos, sendo que nela também surge a primeira
escola da colônia, em 1861. As aulas eram ministradas por pessoas da própria
comunidade e, eventualmente, por pastores que realizavam visitas à colônia. Este dado
referente à organização do espaço educacional também pode ser percebido em Teutônia,
bem como nas demais áreas de imigração alemã, pois era a única forma de oferecer
educação na nova terra, visto que o ensino era considerado aparentemente importante
para esses imigrantes. Como podemos perceber, era nesse espaço que a aprendizagem
da língua alemã ocorria, bem como a propagação de características culturais alemãs, tão
importantes para a vida dessas populações.
Em São José dos Conventos havia a predominância de famílias católicas
(SCHIERHOLDT, 1992, p. 76). Ressalta-se que a maioria dos imigrantes que se
deslocam para a Colônia Conventos era protestante, vindos freqüentemente da Prússia,
área com predominância dessa religião. Os imigrantes católicos, por outro lado,
provinham das mais diversas áreas do futuro território alemão. Devemos destacar que
muitos imigrantes, mesmo residindo no Brasil, na colônia de o Leopoldo, por
exemplo, costumavam com freqüência adquirir terras próximas de alguém “conhecido”.
Isto é, muitos imigrantes que se deslocaram para Lajeado, mesmo não se dirigindo
diretamente da Alemanha para esta colônia, procuravam ocupar áreas com as quais
possuíssem alguma identificação, em especial lingüística e religiosa. Existe uma grande
possibilidade de que esses imigrantes preferissem comprar lotes próximos a outras
pessoas “iguais” a eles e não aos “outros”, o que contribuiu para a separação em
diferentes áreas quanto à opção religiosa e étnica.
Na colônia Conventos podemos perceber, como vimos acima, que existiam várias
atividades profissionais, mas a maioria dos colonizadores dedicava-se às atividades
agrícolas. Esse fato também aparece comumente em outras áreas, pois, na realidade, era
essa a intenção do governo ao adotar uma política de colonização: incentivar a pequena
propriedade de subsistência, bem como a substituição da mão-de-obra escrava pela livre.
94
No entanto, para a própria sobrevivência e crescimento dessas colônias era necessária a
presença desses profissionais (sapateiros, marceneiros, pedreiros, professores, etc.), que
certamente ocuparam posição importante na fundação dos primeiros núcleos urbanos.
Fialho de Vargas desde o início do processo de ocupação se defrontou com a
necessidade de um porto que escoasse a produção e facilitasse os transportes e as
comunicações, pois a colônia encontrava-se em local estratégico, na margem do rio
Taquari:
A necessidade maior da colônia são trez pontes, que podem ser de madeira; e
algumas estivas na margem direita do rio Taquary desde o arroio Moinho até o
Castelhano na distância de trez léguas pouco mais, cujo terreno se presta a
uma boa estrada de rodagem, facilitando por este meio as dificuldades que tem o
rio quando está muito seco, ou muito cheio. Esta necessidade foi reconhecida
pela Assembléia provincial em 1857; cujas obras foram arrematadas em praça,
porém ficarão na pasta da Repartição respectiva até o presente.
79
A ‘Cachoeira do Lajeado não permitia a passagem de barcos maiores para
atracar no ‘porto’ de Conventos Velho, a não ser em períodos de chuvas. Obrigava
a cachoeira o desembarque de passageiros em local mais abaixo, oferecendo
mais segurança às embarcações, abrigo às cargas e comodidade aos
passageiros. Surgiu assim o porto de Lajeado (SCHIERHOLDT, 1992, p. 78).
Com o surgimento do porto, o desenvolvimento tornava-se evidente. Embarcações
de vários locais, inclusive Teutônia e Estrela, atracavam no porto para efetuar suas
transações comerciais. Inúmeras companhias de comércio procuravam estabelecer
agências para armazenar fretes e depositar combustíveis (SCHIERHOLDT, 1992, p. 82).
Isto é, começava a se organizar e desenvolver o comércio fluvial entre as diversas
colônias próximas a Lajeado, e se buscava escoar a produção colonial para outras áreas,
em especial São Leopoldo. Como conseqüência do desenvolvimento comercial no Rio
Taquari, houve o aumento e desenvolvimento do núcleo urbano. O número de
construções começou a crescer e as atividades de organização administrativa e fiscal
passaram a se tornar cada vez mais necessárias para melhor organizar a colônia.
Ela é incorporada à freguesia de Estrela pela Lei 916 de 24 de abril de 1874.
Mediante o desenvolvimento da colônia Conventos e outras áreas coloniais na margem
direita do Rio Taquari, a freguesia de Estrela é dividida em dois distritos pela Lei 963 de
79
Mapa geral dos Conventos organizado de 1861 até o 1. de Maio de 1862. 15.05.1862. AHRS.
95
29 de março de 1875, sendo a sede do 2º. distrito estabelecida com o nome de Santo
Inácio de Lajeado. Pela Lei 1.044 de 20 de maio de 1876 é criado o município de Estrela,
dele fazendo parte o Distrito de Lajeado (PML).
Lajeado sempre se sobressaiu em relação a Estrela, o que evidenciava a
necessidade de uma separação e a formação de um município. No entanto, para Estrela,
a perda de Lajeado significava uma derrota muito grande em termos econômicos e
territoriais, que seria sentida fortemente nos cofres públicos. Segundo Schierholdt (1992,
p. 94), o número de eleitores em 1890 indicava a distribuição da população durante este
período: “No então extenso município de Estrela estavam registrados 2.608 eleitores, dos
quais 558 (23%) no . Distrito (Estrela), 1411 eleitores (54%) no 2º. Distrito (Lajeado) e
599 (23%) no 3º. Distrito de Paz (Teutônia).”
Mediante esse números podemos perceber a importância e a projeção que Lajeado
começava a possuir, tanto que em 25 de fevereiro de 1891, através do ato 57, é criada a
vila de Lajeado:
80
Conforme era muito esperado, foi elevado à categoria de vila o lugar
denominado Lajeado, segundo dstrito de Estrela. Com o desmembramento deste
distrito, o município de Estrela sofreu notável prejuízo, pois que era ele o de maior
importância de todo o seu território.
81
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Lajeado, a 20 de outubro de 1891 a
nova comunidade foi administrada por uma Junta Municipal, presidida por Frederico
Henrique Jaeger. Em 5 de novembro de 1891, foi empossado o primeiro Conselho
Municipal, e eleito o intendente Frederico Heineck. A 20 de fevereiro de 1892 foi
dissolvido o Conselho Municipal pelo então governador do Estado e nomeada uma
Comissão para gerir os negócios e os interesses da comunidade. Em 19 de agosto de
1892 tomou posse do cargo de Intendente Provisório Bento Rodrigues da Rosa, que
administrou o município a1894, quando foi substituído por Joaquim de Moraes Pereira.
Somente em 20 de dezembro de 1939 foi a Vila de Lajeado elevada à categoria de
cidade.
80
Prefeitura Municipal de Lajeado. Disponível em: http://www.lajeado-rs.com.br/indexbdl.html. Acesso em:
22 jan. 2008.
81
O TAQUARYENSE, 08.02.1891. (Apud SCHIERHOLDT, 1992, p. 96).
96
Devemos destacar que, durante o governo do intendente Francisco Oscar Karnal
(1902-1908), ocorre um estímulo à colonização italiana na zona mais alta de “Lajeado”,
criando o distrito de Vila Fão (SCHIERHOLDT, 1992, p. 129). Muitas dessas áreas
colonizadas por imigrantes italianos serão desmembradas e formarão novos municípios
como Encantado (1915) e Progresso (1989).
No início do século XX, na vila de Lajeado, havia várias escolas comunitárias. Em
1913 o número de alunos era de 4.656, sendo inclusive criada, em 1917, uma Escola
Noturna gratuita (SCHIERHOLDT, 1992). Em 1924 o número de escolas era de 98.
Durante o decorrer do século perceberemos um grande desenvolvimento no campo
educacional, ampliando-se cada vez mais o número de escolas e de alunos efetivamente
matriculados, o que demonstra claramente um acentuado crescimento da população nas
primeiras décadas do século. Em 2008, segundo dados da Secretaria de Educação,
encontram-se matriculados 14.406 alunos da educação infantil ao ensino dio, em um
total de 42 escolas. Ressalte-se que em 1969 começou a campanha para a formação de
uma faculdade com sede em Lajeado, mas que abrangeria os demais municípios da
região do Taquari. Através da Lei n. 2575, de 16:11:1972, foi instituída a Fundação Alto
Taquari de Ensino Superior, FATES, em 1999 surgiu a UNIVATES, que conta atualmente
com 39 cursos de graduação e com aproximadamente 7.000 alunos.
82
É importante destacarmos a importância da presença de escravos no início da
formação da colônia. Schierholdt destaca em suas pesquisas a presença de escravos.
Enfatiza inclusive que Antônio Fialho de Vargas fora padrinho de escravos e ao falecer
sua esposa em 1881, na lista de bens inventariados constavam 19 escravos.
83
A princípio,
quando analisamos os nomes de proprietários de escravos, percebemos que se tratam
em mais da metade dos casos de sobrenomes luso-brasileiros, o que não impedia que os
próprios colonos alemães também os possuíssem, ainda que não tivessem permissão
para adquiri-los, a não ser que se naturalizassem. O autor também indica que os escravos
foram responsáveis por inúmeras obras, como, por exemplo, muralhas de proteção,
calçamentos, bem como pela construção de barragens.
Da mesma forma que em Teutônia, as construções em estilo enxaimel também
serão encontradas em Lajeado, o que indica a importância desse tipo de construção no
82
Disponível em http://www.univates.br/. Acesso em: 22 jan. 2008.
83
Livro 239-M, 101 e 102, do Cartório de órfãos e Ausentes de Taquari. APRS.
97
início da formação dessas cidades. Algumas dessas residências ainda existem nos dias
de hoje, pois, como em Teutônia, sofreram processos de conservação e restauração, o
que permitiu a sua manutenção. No entanto, a maior parte dessas construções serão
encontradas no interior do município, onde a necessidade de terras para a construção de
novos empreendimentos imobiliários não fora tão determinante.
Este estilo arquitetônico de edificação certamente foi estimulado pela presença em
abundância de materiais necessários para sua construção, como madeiras e pedras. Tais
habitações certamente buscavam reforçar e determinar as características deste grupo
étnico, enquanto as casas de imigrantes italianos, por exemplo, se destacarão pelas
cores acentuadas e marcantes.
Quando analisamos essas edificações percebemos que existe uma diferença
importante entre as construções em enxaimel de Teutônia e as de Lajeado. Na primeira o
tamanho das casas é maior, bem como o direito, o que indica que havia, a princípio,
melhores condições financeiras para a construção de residências. Isso pode ser explicado
pelo fato de Teutônia ser principalmente colonizada por colonos vindos da região da
Vestfália. Já em Lajeado a região de predominância dos colonos será a do Hunsrück. Mas
qual a relação dessas regiões com a arquitetura enxaimel?
Desde o período medieval europeu, o maior desenvolvimento arquitetônico se deu
nas regiões em que os agricultores mais puderam-se impor à nobreza. Segundo Gunter
Weimer (2005), isso aconteceu basicamente no Tirol, Bavária, Alta Suábia, Vestfália e
Schleswig-Holstein:
Como o agricultor vivia da exploração da terra, o tamanho de seu lote era de
importância fundamental. A legislação sobre o direito hereditário da terra era um
fator decisivo. Nas regiões discrimindas, vigorava o Anerbenrecht, ou seja, o direito
de apenas um dos filhos herdar o lote o mais velho entre os católicos e o mais
moço entre os protestantes (2005, p. 72).
Nas regiões onde vigorava a Realteilung, ou seja, a divisão igualitária do lote entre
todos os filhos, o padrão de desenvolvimento não pôde ser atingido, é o caso das regiões
do Palatinado e do Hunsrück:
98
[...] a terra foi demasiadamente dividida em conseqüência da Realteilung,
transformando as propriedades no que poderíamos chamar de ‘microfúndios’. Isso
significa que as dificuldades econômicas sempre foram grandes na região e que a
Arquitetura não teve as chances de se desenvolver como noutras regiões
(WEIMER, 2005, p. 82).
As residências apresentam em grande parte a mesma disposição de casa, cozinha,
galpão. Nesta primeira construção encontraremos a sala para receber convidados,
realizar atividades de lazer com a família e os dormitórios. No segundo espaço, o fogão e
os demais materiais necessários para a preparação dos alimentos e refeições; esta parte
não mantinha ligação com a primeira a fim de evitar incêndios que pudessem destruir
totalmente a resincia. E em um terceiro espaço, o local para a guarda dos animais e
utensílios de trabalho. É importante frisar que, em alguns casos, a experiência teria
demonstrado a importância de abrigar os animais sob um anexo junto à cozinha, que o
calor do ambiente, transmitido através da parede ajudava a aquecê-los:
[...] logo a seguir, passou-se a construir um telhado sob o qual o fogo da
cozinha central aquecia o resto da moradia, por um dos lados e, pelo outro, os
animais. Em tempos bem mais recentes teria-se descoberto as vantagens de
anexar o celeiro à construção anterior, junto ao estábulo, visto que passaria a
desempenhar a função de isolante térmico da parede, a então, externa
(WEIMER, 2005, p. 83).
O problema do aquecimento certamente era muito mais determinante no clima
temperado europeu do que no subtropical brasileiro. Isso com certeza foi fundamental
para a incorporação de um telhado a tais espaços, que facilitava a ligação entre as
diferentes áreas, favorecendo, dessa forma, sua utilização pelos colonos, especialmente
em dias de chuva.
É importante frisarmos também o papel fundamental ocupado pelo pátio, pois nele
o colono realizará grande parte de suas atividades, e por isso deveria ser um local
agradável, que mantivesse, juntamente com as demais construções, uma certa harmonia.
Como a cidade de Teutônia, Lajeado também terá a presença de corais e grupos
de danças típicas alemãs. O grau de importância dos corais é mais evidente no interior da
cidade, nas áreas com feições rurais, enquanto que os grupos de danças são mais
evidentes no centro da cidade. Acredita-se que isso ocorra devido, em grande parte, ao
99
fato de os moradores das áreas rurais não disporem de recursos para adquirir a
indumentária necessária à participação nestes grupos folclóricos. Esse fator, pelo
contrário, não será determinante para a formação de corais, que participam de encontros
e festivais de músicas em várias regiões do estado e que são uma das únicas alternativas
de lazer para as populações rurais.
Lajeado possui os grupos de danças alemãs denominados Grupo Folclórico
Wilhelm Richter e Grupo Folclórico Tanzen macht Freunde. Ambos os grupos participam
de encontros de dança em várias cidades do Rio Grande do Sul e do país e buscam
reforçar as características ligadas à imigração alemã na região, em especial a sua
relação com a cultura. Muitas dessas atividades artísticas e culturais são realizadas no
próprio Parque Histórico de Lajeado:
O Parque Histórico de Lajeado está recebendo os últimos retoques para sediar
neste domingo, dia 27, o I Encontro Infantil de Danças Folclóricas Alemãs.[...] ‘O
evento promete movimentar a cidade e a comunidade está convidada a apreciar
essas belas danças e trajes que fazem a alegria de muita gente. Além disso, a
ação visa preservar a tradição e valorizar as raízes’, afirma a secretária.
84
Ligado a esse aspecto devemos destacar o papel desempenhado pelo Centro de
Cultura Alemã de Lajeado, fundado em 14 de julho de 1992, com o objetivo de preservar
e divulgar os valores culturais e a herança deixada pelos imigrantes alemães. A entidade
realiza trabalhos de apoio a grupos culturais que se destinam a valorizar as
características da colonização alemã no município. O centro cultural participa de trabalhos
relacionados com a história de Lajeado; tradução de documentos; organização de cursos
de danças folclóricas, além de realizar a Festa Anual de Dança Folclórica, denominada
“VOLKSTANZFEST”:
Tem como principal objetivo estatutário promover a cultura, especialmente no que
se refere aos seguintes aspectos:
organizar e promover intercâmbio de grupos artísticos, nacionais e estrangeiros;
incentivar o estudo, a pesquisa e a divulgação da contribuição da cultura alemã na
história de nosso país, de nosso Estado e de nosso município; fomentar a
restauração e conservação do patrimônio histórico e artístico do município;
transmitir, através do intercâmbio cultural os valores da cultura alemã do Rio
Grande do Sul e os da cultura brasileira aos países europeus de língua alemã;
proporcionar aos associados, oportunidades para vivência prática, através do
84
EVENTO regional reúne grupos do Vale do Taquari e Rio Pardo, em Lajeado. Disponível em:
http://www.lajeadors.com.br/Imprensa/D070525.html. 25.05.2007. Acesso em: 10 jan. 2008.
100
cultivo das tradições, folclore e todos os valores históricos e culturais, em busca
de sua identidade cultural; realizar cursos e conferências; manter biblioteca,
museu e equipamentos audiovisuais.
85
No entanto, pela própria dimensão da cidade e da sua formação, também
encontraremos em Lajeado outros centros culturais, representantes de outros grupos,
como os centros de tradições gaúchas,
86
a Societá Italiana Tutti Fratelli
87
e o Centro de
Cultura Afro-brasileira de Lajeado.
88
No entanto, essas associações não possuem uma
visibilidade muito grande no município, onde, pelo que se percebe, a imigração alemã é
mais valorizada e evidenciada.
A partir de Lajeado originaram-se os municípios de Guaporé, Encantado, Arroio do
Meio, Cruzeiro do Sul, Boqueirão do Leão, Progresso, Santa Clara do Sul, Sério, Marques
de Souza, Forquetinha e Canudos do Vale. Essas emancipações políticas levaram à
fragmentação da área, sendo que a cidade de Lajeado acabou concentrando-se na área
próxima ao rio Taquari e ao seu entorno, enquanto que as áreas periféricas acabaram
emancipando-se e formando novos municípios.
3.1 Parque Histórico de Lajeado – Deutscher Kolonie Park
A idéia de implementar um Parque Histórico da Colonização Alemã em Lajeado
surge em 1991, durante as festividades de aniversário de emancipação política do
município. O então vereador Waldemar Laurido Richter propôs a construção de um
parque, que em sua visão “nascia da necessidade de resgatar a história e a cultura da
comunidade lajeadense, constituída em sua maioria por descendentes de imigrantes
85
CULTURA Alemã. Disponível em: http://www.regiaodosvales.com.br/cidade.php?
pagina=cidadecanaisitem&id=293&idc=22 Acesso em: 27 jan. 2007.
86
CTG Galpão de Barro, CTG Bento Gonçalves, CTG Clube de Laço, CTG Entrevero Charrua, CTG Esteio
da Tradição, CTG Porteira do Vale, CTG Querência Nativa, CTG Tropilha Farrapa.
87
Criada em 1992, é uma entidade recreativa que busca promover os valores culturais da imigração italiana
através de danças, jogos, canto, gastronomia.
88
Uma conquista. Assim foi definida a inauguração do Centro de Cultura Afro-brasileira de Lajeado pelo
presidente da entidade [...] Lajeado agora sedia o primeiro Centro de Cultura Afro-brasileira da região do
Vale do Taquari, com o objetivo de cultivar os costumes e a cultura dos afro-descendentes e valorizar a
trajetória de lutas e vitórias do povo negro na construção do país. A prefeita Carmen Regina Pereira
Cardoso ressaltou a importância de apoiar e valorizar todas as etnias. ‘O município de Lajeado é grande e
cresce sempre mais por causa da miscigenação existente aqui. Esse centro é o exemplo de que juntos
podemos tornar um sonho realidade, proporcionando esse ponto de encontro para os afro-descendentes’,
declarou ela” (INAUGURADO, 2007).
101
alemães, que foram pioneiros na colonização do município” (COLLISCHONN, 2001, p.
20).
No entanto, somente em 1997 a idéia começa a sair do papel e é iniciada a sua
implementação. Segundo Wolfgang Collischonn,
89
neste ano se realiza um inventário
fotográfico que buscou cadastrar casas e prédios de antigos imigrantes pioneiros de
Lajeado, pois as casas em estilo enxaimel que existiam no município possuíam uma
importância cultural e histórica muito grande e por isso deveriam ser preservadas, além
de ser esse estilo de construção um exemplo representativo da cultura e dos hábitos dos
primeiros imigrantes alemães que se deslocaram para a região. Tais casas com certeza
eram facilmente identificadas como sendo casas de alemães.
Em um primeiro momento, com auxílio da administração municipal, foi realizado o
levantamento que durou aproximadamente um ano. Através dele foram encontradas 140
casas ou edificações que apresentavam as características deste estilo arquitetônico. Além
disso, as casas foram fotografadas e se procurou conhecer mais sobre a história de seus
moradores. Essa pesquisa deu origem ao livro “Enxaimel em Lajeado”, no qual aparecem
as imagens das casas com um breve histórico de sua utilização ao longo das décadas.
Vários donos dessas casas demonstravam o interesse de se desfazer delas,
muitas vezes por motivos financeiros ou pela necessidade de espaço para a construção
de outras obras. Segundo Collischonn,
90
freqüentemente afirmavam: ”Nós vamos demolir,
construir um chiqueiro, qualquer dinheiro serve para levar, é deixar o terreno limpo.”
Essas eram falas comuns que foram aparecendo no decorrer do levantamento e que
reforçaram ainda mais a idéia de transferir essas edificações, sob risco de demolição,
para um local único, que buscasse representar uma colônia típica de imigração alemã.
Surge naquele momento a idéia de implementar o Deutsche Kolonie Park. Como o próprio
nome destaca, uma colônia alemã, onde se pudesse encontrar todos os elementos típicos
representativos dos primeiros colonizadores que se deslocaram para a cidade de Lajeado:
Através do patrimônio natural e histórico-cultural e infra-estrutura existente em
Lajeado e região, legado pelos imigrantes alemães no Estado do Rio Grande do
Sul, especificadamente no Vale do Taquari, teremos todos os recursos
necessários para a implementação da atividade turística nesta região, que
89
COLLISCHONN, Wolgang Hans. Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 18 dez. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
90
COLLISCHONN, Wolgang Hans. Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 18 dez. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
102
planejada devidamente será capaz de atrair uma melhor qualidade de vida à
comunidade regional.Diante desta realidade promissora se faz necessário o
trabalho de resgate e valorização da história e cultura legada por nossos
antepassados alemães, que deixaram marcas visíveis até hoje encontradas no
território de Lajeado, que são identificadas na arquitetura, nas manifestações
artístico-culturais, na gastronomia típica e em outras manifestações, com o intuito
de desenvolver nos distintos receptores a auto-estima necessária para a sua
preservação. A partir daí, transformar essas riquezas num grande e audacioso
empreendimento turístico capaz de gerar renda e emprego à comunidade local,
que será refletido em âmbito regional (COLLISCHONN, 2001, p. 30).
Em 21 de setembro de 1997 surge a Associação dos Amigos do Parque Histórico
da Colonização Alemã Deutscher Kolonie Park. Essa associação tinha por finalidade o
resgate da história da imigração alemã e das primeiras comunidades teuto-brasileiras do
município, promovendo:
A reconstrução e recuperação de prédios antigos, típicos da arquitetura dos
imigrantes de origem germânica que colonizaram o município de Lajeado e região,
em parque público;
Instalação de museu de objetos utilizados pelos imigrantes germânicos, biblioteca
e de oficinas típicas do artesanato colonial da época da imigração;
Criação de espaços para atividades artísticas, culturais e de lazer, com salão para
danças folclóricas, restaurante típico, com finalidade de tornar o parque atração
turística regional, com incentivo ao próprio turismo cultural e histórico;
Realizar cursos e conferências;
Proporcionar aos associados, oportunidades para vivência prática através do
cultivo das tradições, folclore, enfim, todos os valores históricos e culturais em
busca de identidade cultural;
Incentivar o estudo e a pesquisa e divulgação da contribuição alemã no Rio
Grande do Sul, mantendo um arquivo histórico das famílias colonizadoras e
descendentes;
Incentivo às entidades do Município que se dedicam ao cultivo e preservação das
tradições dos imigrantes germânicos, oferecendo-lhes apoio e espaço para
desenvolverem suas atividades;
Elaboração e manutenção de um minucioso cadastro de todos os prédios
históricos da arquitetura teuto-brasileira da região e estimular seus proprietários a
preservá-los;
Manter um cadastro atualizado das entidades que se dedicam à cultura alemã na
região (COLLISCHONN, 2001, p. 19).
A Associação teve uma grande importância nas primeiras fases de implementação
do projeto, pois buscava encontrar subsídios financeiros para a obtenção dessas
construções. As primeiras aquisições, inclusive, foram feitas pelos próprios associados. É
importante destacarmos que os membros dessa sociedade eram principalmente
descendentes de imigrantes alemães que acreditavam ser de extrema importância a
valorização e a divulgação desta etnia no município.
103
O local escolhido para o estabelecimento do futuro parque era um espaço de terra
pertencente à prefeitura municipal de Lajeado, localizado em região privilegiada da
cidade, ao lado do parque de eventos do município, o Parque do Imigrante, e a então
não estava sendo ocupado para outras finalidades.
A partir do levantamento feito se procurou elaborar um esboço do que seria a parte
física do parque, isto é, a definição dos prédios e a sua distribuição no espaço para a
formação de uma típica colônia alemã. Posteriormente confeccionou-se uma planta baixa
dos prováveis prédios a serem transferidos para a área do parque e futuramente
adquiridos mediante doações, patrocínios, ou compra. Buscava-se também inserir o
parque nos demais pontos turísticos da cidade, incrementando dessa maneira essa
atividade em Lajeado.
Durante aproximadamente dois anos as pessoas envolvidas no projeto, tanto da
sociedade de amigos como da secretaria de cultura e turismo, buscaram subsídios para a
aquisição dessas casas e de objetos que pudessem compor internamente essas
edificações. A idéia original era transformar cada uma das casas em locais que
representassem integralmente espaços de vivência dos imigrantes. Ou seja, na serraria,
dever-se-ia encontrar todo um contexto que fizesse referência a esse ofício, no entanto,
para isso eram necessárias doações e aquisição de vários tipos de acervos, objetos,
utensílios, móveis, livros e demais materiais.
Figura 19) Folheto para campanha de arrecadação de acervo interno, 1999
104
O primeiro prédio reconstruído no Parque Histórico foi uma escola comunitária,
viabilizado com fundos oriundos de doações. Posteriormente outros prédios foram sendo
reconstruídos no parque e se configurando no espaço.
91
É importante destacar que
algumas casas foram trocadas por quantias de tijolos, doadas, adquiridas pela própria
prefeitura ou por famílias que buscavam transformar essas edificações em futuros
museus familiares e representativos de diferentes profissões ligadas ao imigrante alemão,
e por outras instituições como a ACVAT (Associação dos Comerciários do Vale do
Taquari), que buscava implementar a idéia de uma casa do viajante, e como o banco
Sicredi, que intencionava expor seus acervos institucionais.
92
Richter salientava que o parque não iria beneficiar somente a etnia alemã: “Toda a
comunidade lajeadense e do Vale irá ganhar. Esta é apenas a primeira etapa visando ao
salvamento dos prédios históricos do município. Deverão surgir atividades idênticas de
outras etnias e que virão a fortalecer o nosso potencial turístico”.
93
Além da constituição física de uma colônia alemã, propunha-se que o parque
tivesse uma grande quantidade de atividades artístico-culturais e gastronômicas e
demonstrações de atividades efetivadas na época da colonização, servindo também como
local para a realização de eventos, congressos e demais atividades de lazer.
O parque recebeu essa denominação porque na linguagem dos imigrantes e seus
descendentes a pronúncia, em dialeto, de colônia alemã era “Deutsch Kolonie”. Devido a
isso, e por buscar ser uma reprodução dessa colônia, o poderia haver outra
denominação para sua identificação. Destaca-se que o então Ministro da Cultura,
Francisco Weffort, em visita ao parque em setembro de 2001, salientou a importância da
preservação da denominação original do parque, bem como elogiou a iniciativa de
implementá-lo:
Em visita ao parque histórico, o ministro elogiou a iniciativa e disse que a obra
deverá ser reconhecida em todo o país e no exterior. Falou com ênfase ao público
presente, destacando que Lajeado deve se orgulhar deste parque, um projeto que,
segundo ele, servirá de exemplo para outras etnias investirem no resgate histórico
de suas origens.
94
91
As casas eram desmontadas e numeradas para depois serem reconstruídas da mesma forma no parque.
92
RICHTER, Waldemar Laurido. Parque Histórico de Lajeado. Forquetinha, 6 fev. 2008. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
93
CONCLUÍDO projeto de Parque Histórico. O Informativo - Vale do Taquari, Lajeado, 05 nov. 1997, p. 5.
105
A localização do Parque Histórico de Lajeado, ao lado do Parque do Imigrante,
local dos grandes eventos do município, procurava engrandecer essa iniciativa, pois o
“Deutsche Kolonie Park” poderia inserir-se nesses momentos como mais uma opção de
visitação.
A única construção recente que se encontra no parque é o pórtico de entrada, onde
funciona sua administração, além de salas de eventos. O estilo do prédio também
representa a arquitetura enxaimel teuto-brasileira, e tal obra foi viabilizada mediante o
auxílio do Ministério da Cultura, que culminou com a visita do ministro ao parque em
2001.
Figura 20) Pórtico de Entrada
Quando se entra no Parque Histórico de Lajeado, logo nos deparamos com um
espaço agradável de ser apreciado e visitado, principalmente por sua qualidade
paisagística, pois conta com muitas árvores, flores, bancos, e um “ar de passado”,
segundo alguns freqüentadores. No parque encontraremos edificações que representam
um artesanato, salão de baile, cacolonial, ferraria, alfaiataria, moradia que compreende
casa/cozinha/galpão, praça central, pinguela, lago, moinho, gasosaria, labirinto e canchas
de Eisstock.
94
MINISTRO elogia atenção que Lajeado dispensa à sua história. O informativo – Vale do Taquari,
Lajeado, 29 jul. 2000, p. 9.
106
Figura 21) Folder-Mapa Parque Histórico de Lajeado
O parque é muito semelhante à Aldeia do Imigrante na cidade de Nova Petrópolis-
RS, onde também encontraremos esse tipo de construções, que busca fazer referência à
imigração alemã. O que nos chama a atenção é a presença de um labirinto, que procura
ser realmente uma cópia de Nova Petrópolis, e que se propõe a representar os grandes
jardins europeus, apresentando-se segundo Richter, como um atrativo a mais para a visita
ao parque.
O estado de conservação dessas edificações é bom, pois sofreram e continuam a
passar por constantes processos de reparações e manutenções. Grande parte das
construções são exemplos típicos do estilo enxaimel, no entanto, encontraremos algumas
adaptações desse estilo, o que se justifica devido à necessidade de reparos ao longo dos
anos pelos antigos proprietários, que não tiveram como substituir as partes deterioradas
ou danificadas por peças originais, muitas vezes pela própria falta de recursos ou de
conhecimento sobre preservação.
Entre as edificações existem caminhos que levam o visitante a percorrer um
determinado trajeto e a ter uma visão bastante clara sobre o espaço de exposição do
parque. Logo na entrada encontraremos uma construção representando um artesanato
107
(2),
95
96
no qual os imigrantes se dedicavam a elaborar os mais diversos produtos para a
comunidade. Descendo mais um pouco, encontramos o Ca Colonial (5),
97
que
representa a importância da culinária e da gastronomia alemã, além de uma associação
rural (6), casa do viajante (7)
98
e um banco (8),
99
atividades essas fundamentais para o
andamento e desenvolvimento da comunidade.
Figura 22) Casa do Artesanato
95
As numerações que se encontram logo após as referências indicam a posição desta edificação no folder-
mapa de divulgação do parque.
96
Ano de construção: 1860; Primeiro Proprietário: Irmãos Schütz. PHL.
97
Ano de construção: 1882; Primeiro Proprietário: Carlos Born. PHL.
98
Primeiro Proprietário: Jacob Taffe. PHL.
99
Primeiro Proprietário: Família Mallmann. PHL.
108
Figura 23) Café Colonial – Kaffeehaus
Figura 24) Associação Rural - Bauernverein
109
Figura 25) Casa do Caixeiro-Viajante – Musterreiterhaus
Figura 26) Banco - Bauernsparkasse
110
Figura 27) Placa indicativa do Banco
Além das construções acima mencionadas, também são encontradas casas que
representam os ofícios de ferreiro (9), alfaiate (10),
100
um moinho (22)
101
representando o
trabalho daqueles que se dedicavam a moer os cereais produzidos na colônia, bem como
uma gasosaria (24),
102
local onde se produziam refrigerantes, atualmente uma das
atividades econômicas mais importantes no município.
Figura 28) Ferraria
100
Ano de construção: 1900; Primeiro Proprietário: Leopold Auler. PHL.
101
Primeiro Proprietário: Harry Melchers. PHL.
102
Primeiro Proprietário: Kirst & Cia. PHL.
111
Figura 29) Alfaiataria – Schneiverei
Figura 30) Moinho
112
Figura 31) Gasosaria
As demais construções encontradas no parque são uma casa típica com a
separação entre casa/cozinha/galpão (15),
103
além de um salão de baile (3)
104
e outras
edificações representando as residências dos imigrantes (4),
105
(11),
106
(14),
107
(16).
108
Também encontraremos, conforme citamos acima, uma pinguela (20) e um labirinto (18),
bem como canchas de Eisstock (25).
Figura 32) Casa – Cozinha – Galpão
103
Ano de construção: 1910; Primeiro Proprietário: Peter Welter. PHL.
104
Ano de construção: 1920; Primeiro Proprietário: Christian Sebastiany. PHL.
105
Ano de construção: 1874; Primeiro Proprietário: Ant. Friedrich. PHL.
106
Ano de construção: 1870; Primeiro Proprietário: Jacob Fleck. PHL.
107
Ano de construção: 1880; Primeiro Proprietário: Christian Schwingel. PHL.
108
Ano de construção: 1910; Primeiro Proprietário: Wilhelm Wüst. PHL.
113
Figura 33) Galpão
Figura 34) Salão de Baile Troller
114
Figura 35) Imagem do Parque Histórico de Lajeado
Figura 36) Labirinto
115
Figura 37) Ponte Pencil
Figura 38) Equipamento para a prática do Eisstock
116
Figura 39) Eisstock
O jogo de Eisstock foi criado em 1830 nos Alpes e se desenvolveu na Europa,
onde é praticado sobre o gelo. A partida pode ser disputada em equipes de 5 pessoas ou
individualmente. O jogo é muito parecido com a bocha, porém, ao invés de bolas, os
jogadores utilizam discos (stocks) com um punho, que são atirados para que fiquem mais
próximos ao dalber, que é um disco menor. Cada cancha possui 30 metros de
comprimento por 6 metros de largura. Suas bases são formadas por saibro e brita e a
última camada possui concreto e cascalho, para o disco deslizar mais facilmente. Lajeado
é a segunda cidade a possuir quadras deste esporte, juntamente com Santa Cruz do Sul.
Os esportistas participam de campeonatos estaduais, nacionais e também internacionais,
na Suíça e Áustria:
O RS, representando o Brasil obteve bons resultados. No Eisstock Europa
Meisterchaft Nachwuchs (Campeonato Europeu de Eisstock de Jovens), em Flims,
na Suíça, os brasileiros ficaram com o terceiro lugar nas equipes [...].Já na disputa
individual da categoria U18 (até 18 anos) Douglas Specht, entre 21 finalistas,
passou à fase final, na qual faturou a oitava colocação, também muito
comemorada.[...] Em Weis, na Áustria, ocorreu a competição para adultos
(Eisstock Europa Meisterschaft Erwachsen), tanto individual como por equipes.
Por questões de custos a equipe masculina do Brasil foi representada por apenas
um adulto, além dos jovens que jogaram na Suíça. Mesmo assim o grupo
tupiniquim não fez feio. Na chave B ficou com a terceira posição entre 11
delegações, atrás apenas de Finlândia e Tchecoslováquia, mas à frente de suíços,
117
poloneses, croatas, e de países também sem muita tradição, como Quênia e
Paraguai. A chave A, a elite, é disputada por alemães, dinamarqueses e italianos,
entre outros.
109
Segundo Henrique Worm,
110
funcionário do Parque Histórico, o público do parque é
bastante diversificado, pessoas de várias idades, de várias cidades do estado e do Brasil,
bem como, estrangeiros, mas principalmente pessoas de Lajeado que ali passam com
freqüência algumas horas, em especial nos finais de semana. Cita também a presença de
escolas, aproximadamente quatro por mês, que passam o dia no parque e recebem
informações sobre ele e sobre as casas através de uma visita-guiada organizada pela
administração.
Aprender em meio à natureza e riquezas históricas. Os alunos da cidade contam
desde ontem com esta oportunidade. A prefeitura, por meio da Secretaria da
Educação, e o Parque Histórico assinaram pela manhã o protocolo de intenções a
fim de oportunizar aos educandários maior convivência e aprendizado junto ao
local que preserva a história dos colonizadores da região por aqui a partir de 1855.
o programa chama-se Aprendendo no Parque Histórico.
111
A partir de 2006, o parque passou a ser administrado exclusivamente pela
prefeitura municipal, sem a colaboração da associação de amigos, o que acarretou
mudanças estruturais e administrativas. Anteriormente era cobrado um ingresso de
R$1,00 para a visita ao parque, taxa esta inexiste no momento. Também o número de
funcionários foi ampliado. Antes da prefeitura assumir totalmente o espaço, cedia um
funcionário para trabalhar no parque. No entanto, devido ao funcionamento nos finais de
semana este arranjo se tornou inviável e pessoas da própria associação se dispunham a
permanecer nesses períodos. A necessidade de verbas para a manutenção do parque e
as críticas que afirmavam que o espaço divulgava apenas a etnia alemã, apesar de
Lajeado ser colonizado também por outros grupos, passaram a enfraquecer e dificultar o
trabalho no parque:
O vereador Antônio de Castro Schefer (PTB) foi o primeiro a criticar o Parque
Histórico. ’Parece que na época do ex-secretário da Cultura e Turismo, Waldemar
Richter, Lajeado tinha alemães. Foi investido um monte nesse parque e a sua
109
EISSTOCK Lajeadenses comemoram desempenho na Europa. Lajeado, Região dos Vales, 20 março
2007. Disponível em: “http://www.regiaodosvales.com.br/conteudos.php?p=4&id=12423”. Acesso em: 15
dez. 2007.
110
WORM, Henrique. Características e funcionamento do Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 05 jan.
2008. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
111
PARQUE histórico vai virar sala de aula. Folha Popular, Teutônia, 14 jun. 2006.b.
118
manutenção exige altos custos. Além disso, ano que vem os prédios terão que ser
reformados. Estamos com um pepino nas mãos. Não estou criticando, apenas
dizendo a realidade.’ Para Delmar Portz (PSDB), muito antes de criticar é preciso
elogiar o ex-secretário Waldemar Richter.
112
A solução encontrada para possibilitar a manutenção e o funcionamento do parque
foi o da prefeitura assumi-lo integralmente. Uma das primeiras medidas foi a alteração de
sua denominação para Parque Histórico Municipal, para assim evitar críticas de que este
se definiria como um parque de colonizadores alemães, mas sim de todas as etnias.
Mesmo alterando o nome, o conteúdo do espaço manteve-se o mesmo.
Devemos destacar que o momento de maior evidência do Parque Histórico se deu
quando abrigou grande parte das gravações do filme “A Paixão de Jacobina” (2002). O
filme narra a história de Jacobina Maurer, líder de um grupo messiânico denominado
Mucker, que passa a ser reprimido e temido pelas autoridades e pela população local:
Em 1871, na cidade de São Leopoldo, uma colônia de imigrantes alemães luta
para sobreviver em uma região marcada pelos efeitos da Guerra do Paraguai. É lá
que vive Jacobina Mentz (Letícia Spiller), líder de uma seita religiosa dissidente do
protestantismo que é conhecida como "os Mucker". Jacobina tem visões e recebe
mensagens que acredita serem de Jesus Cristo, passando então a cuidar dos
pobres e desválidos. Com o passar do tempo a comunidade de seguidores dos
Mucker aumenta cada vez mais, fazendo com que os líderes da sociedade local
passem a discutir meios de anular o poder cada vez maior que Jacobina possui
sobre a população.
113
Em Lajeado, no Vale do Taquari, as gravações movimentaram a cidade. Atores
globais protagonistas do filme circularam pelas ruas da cidade em meio a fãs
eufóricos. Na época, Lacerda foi visto cavalgando próximo ao parque e tomando
chimarrão com moradores. O Parque Histórico Municipal (Deutscher Kolonie
Park), que na época ainda estava em construção, serviu de cenário para diversas
cenas do longa-metragem, como o retorno de Jacobina a Sapiranga. Desde então,
o local se tornou atração turística em Lajeado. Com 17 prédios em estilo enxaimel,
o parque representa uma antiga colônia alemã e pretende remeter os visitantes a
um vilarejo do final do culo 19, com moinho, casas de moradia, salão de baile,
escola e igreja (MELO, 2004).
112
PARQUE histórico recebe críticas e elogios. Folha Popular, Teutônia, 22 mar. 2007, p. 22. c.
113
A PAIXÃO de Jacobina. Sinopse. Disponível em: http://www.interfilmes.com. Acesso em: 11 dez. 2007.
119
Figura 40) Folder de Divulgação do Parque
Atualmente são realizados vários encontros de grupos de danças alemãs no Salão
Troller, bem como casamentos e demais atividades culturais. As salas disponíveis no
parque também são utilizadas para conferências e congressos.
Muito ainda precisa ser feito no parque, principalmente com relação à configuração
do interior dessas residências. Algumas já contam com objetos e outros acervos, mas nas
demais eles ainda são inexistentes. Conforme Collischonn,
114
muitas pessoas se
dispuseram a ajudar e implementar algumas dessas casas, mas acabaram se
esquecendo delas.
Neste capítulo foi possível verificarmos as principais características da cidade de
Lajeado e do Parque Histórico, Deutscher Kolonie Park, associadas à imigração e
colonização na região, fundamentais para a compreensão dessa dissertação.
114
COLLISCHONN, Wolgang Hans. Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 18 dez. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
4 OS ESPAÇOS DE MEMÓRIA E SUAS RELAÇÕES COM A IDENTIDADE
No primeiro capítulo dessa dissertação pudemos conhecer os principais
conceitos norteadores dessa pesquisa. Vimos que as identidades são cada vez mais
reforçadas pelo movimento de globalização e a conseqüente falta de referenciais faz
com que as pessoas/coletividade procurem restabelecer ou estabelecer critérios de
pertencimento a determinados grupos. Mediante isso, percebemos que um possível
reflexo de tal situação será a criação de “lugares de memória”. No caso aqui
analisado, esses espaços de memória e identidade podendo ser representados
pelos museus.
O primeiro ponto que merece ser analisado é a conceitualização desses
espaços como museus. O exemplo do museu de Teutônia, Henrique Uebel, não
deixa dúvida sobre o uso do conceito, uma vez que sua própria denominação o
apresenta como museu; além disso, encontra-se inserido na conceitualização de
museu atribuída pelo ICOM.
O ICOM reconhece a qualidade de museu a toda instituição permanente
que conserva e expõe coleções de objetos de caráter cultural ou científico
com fins de estudo, educação e deleite (ESTATUTOS DO ICOM, II, 3, Paris,
1969, apud GIRAUDY; BOUILHET, 1990, p. 98).
A definição de museu, ou mesmo museu ao ar livre, desde o início deste
trabalho foi questionada em relação ao Parque Histórico de Lajeado. Acredita-se que
esse espaço possa ser considerado como um tipo de museu, mesmo não possuindo
tal denominação, pois o próprio ICOM destaca que
Além dos "museus" designados como tais, são admitidos como
correspondendo a esta definição:
(I) os sítios e os monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos e os
sítios e monumentos históricos que possuam a natureza dum museu pelas
121
suas actividades de aquisição, de conservação e de transmissão dos testemunhos
materiais dos povos e do seu meio ambiente;
(II) as instituições que conservam colecções e que apresentam espécimes vivos
de vegetais e de animais tais como os jardins botânicos e zoológicos, aquários,
viveiros;
(III) os centros científicos e os planetários;
(IV) os institutos de conservação e galerias de exposição que dependem das
bibliotecas e dos centros de arquivo;
(V) os parques naturais;
(VI) as organizações nacionais, regionais ou locais de museu, as administrações
públicas de tutela dos museus tal como foram acima definidas;
(VII) as instituições ou organizações com fins não lucrativos que exercem
actividades de investigação, educativas, de formação, de documentação e outras
relacionadas com os museus ou a museologia;
(VIII) qualquer outra instituição que o Conselho executivo, segundo opinião da
Comissão consultiva, considere como detentoras de algumas ou da totalidade das
características de um museu, ou que possibilite aos museus e aos profissionais de
museu os meios de fazerem investigações nos domínios da museologia, da
educação ou da formação (apud PRIMO, 1999b).
Dessa forma, o Parque Histórico de Lajeado também pode ser considerado como
um espaço museológico, bem como “lugar de memória”, pois se encontram elementos
referentes ao cotidiano de uma população específica, isto é, os imigrantes alemães.
Mesmo existindo uma política que busque valorizar e incentivar a manutenção dos
prédios em seus locais de origem, não devemos menosprezar as iniciativas de
restauração e recolocação dessas construções em outros espaços. Muitas vezes, se tais
atitudes não tivessem sido tomadas, vários desses prédios teriam sido abandonados ou
demolidos. Acredita-se que, da mesma forma que se doa um objeto para um museu,
também se possa doar uma casa, uma edificação, para fazer parte de um complexo
cultural que busque valorizar e transmitir determinadas características desse patrimônio.
Para tanto, no primeiro capítulo, pudemos ver alguns exemplos desse tipo de
empreendimento em rias partes do mundo, o que, dessa forma, não desmerece o
trabalho realizado no Parque Histórico de Lajeado e possibilita vê-lo e considerá-lo como
um espaço de identidade e de memória.
Nos capítulos dois e três pudemos ter um contato mais íntimo com as cidades nas
quais esses espaços se encontram localizados, bem como entender de que modo
surgiram e quais eram as intenções e objetivos de seus idealizadores. Percebemos que
tanto Teutônia como Lajeado apresentam características de cidades colonizadas por
imigrantes alemães, no entanto, em Teutônia, essas características são mais visíveis.
Nesta cidade podemos verificar que os elementos atribuídos ao grupo étnico teuto-
122
brasileiro são mais marcantes, como, por exemplo, a língua, a arquitetura e os bitos.
Será mais comum encontrar alguém falando um dialeto alemão em Teutônia do que em
Lajeado; encontraremos mais casamentos entre pessoas descendentes de alemães em
Teutônia, bem como mais protestantes teuto-brasileiros comparados com o número total
da população do que em Lajeado. Isso ocorre, ao nosso ver, porque Lajeado perdeu um
pouco de sua especificidade de colonização alemã ao longo do tempo, se comparada a
Teutônia. Devido ao fato de ela possuir uma população muito mais expressiva, o fluxo
populacional de outras regiões do Estado para o município foi maior. A perda de
especificidade se deu principalmente porque desde o início de sua colonização outros
grupos étnicos estiveram presentes, no caso italianos e luso-brasileiros, e por mais que se
reforçassem as características étnicas teuto-brasileiro, as relações com estes outros
grupos podiam ocorrer com mais facilidade.
Esses contatos com diferentes grupos étnicos, especialmente italianos e luso-
brasileiros, não será tão determinante e visível para Teutônia. Nesse caso, serão mais
expressivos os contatos e as relações entre os próprios teuto-brasileiros, principalmente
entre os descendentes de alemães que provinham da região da Vestfália e os do
Hunsrück. Em Teutônia existe uma divisão clara entre as regiões ocupadas pelos
diferentes grupos alemães, e é comum, como percebemos também em estudo feito no
caso dos vestfalianos na Linha Imhoff-Imigrante/RS (BALLER, 2002), que dentro do
grupo falem o seu dialeto (plattdeustch) sendo que todos o conhecem e tal
conhecimento é mesmo fator fundamental de incorporação; é comum ainda o uso do
hunsrück com os demais teuto-brasileiros, e mais contemporaneamente o uso do
português com aqueles que não são descendentes ou que desconhecem o dialeto.
É importante ressaltar que, quando existe um outro grupo “diferente” a deles, os
diversos grupos alemães se unem para evitar a ameaça externa, isto é, as diferenças
são esquecidas e se valoriza o fato de “nós” sermos descendentes alemães, não
importando nesse momento a região da Alemanha da qual provêm seus antepassados.
Aqui devemos destacar que o “Outro” pode ser entendido como o “brasileiro”. Mesmo
que Teutônia possua desde o início da década de 80 uma população oriunda de outras
regiões do Estado, ela não se encontra em posição dominante, isto é, seus membros,
segundo Elias (2000), são os outsiders; enquanto os antigos moradores se conhecem
várias gerações, os novos habitantes” são estranhos não apenas para os antigos
123
residentes como também entre si. Os teuto-brasileiros acabam vendo a si mesmos
como um grupo dominante em relação aos “de fora”, o que gera certo poder para eles.
Esse poder faz com que o grupo busque demarcar cada vez mais e com mais
intensidade as suas características étnicas e culturais, servindo-se, dessa forma, de
espaços como o museu para propagar e tornar essas característivas comuns e aceitas
pela maioria da população.
115
Essa situação não se verifica em Lajeado, pois outros grupos étnicos encontram-se
constituídos e organizados e buscam ocupar e demarcar espaços para também
expressar as suas características. Esse fato pode ser percebido na própria polêmica
existente no Parque Histórico de Lajeado, a de que ele o deveria ser apenas um
parque da etnia alemã, mas também referir-se aos demais grupos étnicos existentes no
município. Isto é, ao contrário de Teutônia, em Lajeado o confronto e a disputa entre
diferentes grupos étnicos, especialmente italianos, é visível, pois tais grupos se
encontram estabelecidos e buscam espaços para expor e demontrar as suas
características étnicas. Um elemento reforçador desse fato é a busca, por parte dos
descendentes de italianos, da incorporação de construções típicas de colonizadores
italianos no parque.
Em Teutônia, como o grupo outsider não se como um grupo único que
compartilha características comuns, não consegue demonstrar resistência e oposição às
características alemãs. Isso se verifica no próprio museu Henrique Uebel, que não é um
espaço disputado, nem muito menos questionado pelos outros moradores da cidade
não teuto-brasileiros como um local que privilegie apenas um grupo, uma etnia. Em
alguns momentos, inclusive, especialmente quando tais moradores visitam o espaço,
podemos perceber que existe a própria aceitação por parte delas das características
relacionadas ao grupo étnico teuto-brasileiro expressas no museu.
No entanto, o que podemos perceber é de que em ambos os locais se busca
demonstrar e evidenciar características usualmente associadas ao teuto-brasileiro,
especialmente elementos de valorização do trabalho e da cultura. Nesse caso, é de
115
Podemos ressaltar que um elemento importante nessa pesquisa é a especificidade das coleções
expostas. Enquanto um espaço privilegia inúmeras tipologias de acervo, no segundo encontraremos
essencialmente construções. Esse fato talvez possa ser responsável por uma maior diversidade de visitas
no primeiro local pesquisado.
124
fundamental importância ressaltarmos o papel desempenhado pelas pessoas que
trabalham nesses locais, bem como o de seus idealizadores, pois são os responsáveis
pela organização desses espaços e através da exposição de determinados acervos
procuram enfatizar elementos que visam reforçar determinadas características étnicas
teuto-brasileiras.
Podemos perceber que em Teutônia, segundo o responsável pelo museu
116
muitas
pessoas que doam peças procuram retornar constantemente ao local para visualizar o
objeto cedido e, dessa forma, reafirmar o seu valor e a memória atribuída a ele.
Memória essa muitas vezes relacionada com a infância, com a família, com a origem,
com uma vida que não mais está presente, mas que se procura novamente sentir e
reviver no museu. Diferentemente do caso do Museu Henrique Uebel de Teutônia, no
Parque Histórico de Lajeado, como muitas casas foram compradas e outras doadas não
exclusivamente com a função de preservação mas, muitas vezes, como meio de se
desfazer de algo que estava “atrapalhando”, não podemos destacar com tanta evidência
a necessidade de retorno ao espaço pelos que cederam suas casas. Esse fato faz com
que acreditemos que o museu de Teutônia possa ser entendido como um museu muito
mais “vivo” e significativo em termos étnicos, um possível espelho em que a
comunidade teuto-brasileira se enxerga e é vista pelos outros. em Lajeado
percebemos muito mais um “palco de espetáculos”, onde a valorização de
características étnicas em termos turísticos é de fundamental importância, e, em menor
grau, a disputa na afirmação de sua identidade étnica em relação aos demais grupos.
Elemento que reforça esse especto é o fato de que atualmente a Associação de Amigos
do Parque Histórico de Lajeado encontra-se desvinculada das atividades que ocorrem
no parque, sendo que ele passou a ser administrado pela prefeitura municipal, que
procurou tornar o parque não o local específico de apenas um grupo étnico, mas de
todos os existentes no município. No entanto, como averiguamos, mesmo alterando a
denominação do parque de Deustche Kolonie Park para Parque Municipal de Lajeado,
não houve mudanças em seu acervo, que continua enfatizando características ligadas
aos teuto-brasileiros.
116
LOHMANN, Paulo. Fundação e principais características do Museu Henrique Uebel. Teutônia, 8
mar. 2007. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
125
Como analisamos nos capítulos anteriores, determinadas características étnicas
são freqüentemente associadas aos teuto-brasileiros, em especial a valorização do
trabalho. O imigrante alemão se encontrava inserido em uma política nacional de
substituição de mão-de-obra escrava por livre, bem como, de incentivo à pequena
propriedade rural em detrimento aos latifúndios. Os elementos que nortearam essa
política colocaram o homem alemão no ponto mais alto da política de imigração, porque
se achava que ele estava mais adaptado a este tipo de trabalho. Formou-se, nesse
momento, uma representação que estabelecia um determinado valor social a este
elemento agricultor e que viria posteriormente a dar forma ao conceito de colono pioneiro,
que existe até os dias de hoje. No entanto, devemos destacar que os primeiros grupos de
imigrantes alemães que se deslocaram para o Brasil eram grupos muitas vezes
marginalizados e excluídos da sociedade. Meyer (2000, p. 170) destaca que
Pode-se, pois, supor que esta posição inicial de excluído tivesse sido uma razão
importante para que eles assumissem, de modo mais intenso, a identidade
socialmente valorizada de pequenos proprietários e agricultores diligentes que
sustentava a política de assentamento e sua implementação no país para o qual
migraram.
Com o fim da escravidão e a instituição de um sistema republicano, a noção de
imigração/pequena propriedade passou a ser alterada para uma política que visava a
modernização e o desenvolvimento do Estado brasileiro. Buscava-se um sujeito nacional
e o imigrante deveria aparecer como fruto desse movimento. No entanto, o traço de não
assimilação serviu para deslocar o imigrante da posição de agricultor bem-sucedido para
a de imigrante indesejável:
O sistema familiar de produção agrícola e o modo de vida que o viabilizava
também não se inseria mais, de forma tão fundamental, no projeto de
desenvolvimento nacional que orientava a política brasileira, mas, ao mesmo
tempo, era essa a identidade cultural que havia inscrito o grupo de modo positivo,
no Brasil. É, então, compreensível que essa identidade de colono continuasse a
constituir o núcleo do processo com que se busca costurar as diferenças internas
do grupo, de um modo tal que estas diferenças pudessem submergir quando se
apresentava, para o conjunto da sociedade brasileira, o sujeito teuto-brasileiro
(MEYER, 2000, p. 177).
Chama-nos a atenção um documento referente à colônia Conventos no qual Fialho
de Vargas demonstra arrependimento com a introdução de colonos europeus. Esse fato
demonstra que imigrantes alemães não eram tão dedicados às atividades e ao trabalho, e
126
que essa noção não passou de uma construção elaborada pelo grupo para melhorar a
sua imagem e legitimá-la socialmente:
[...] foi péssimo o negocio que fizemos com os colonos que mandávamos vir à
nossa custa da europa, que são quase todos desordeiros, pouco activos,
intrigantes e maus pagadores, a ponto de mui pouco terem pago a maior parte
delles por conta de suas dividas servindo-se até da imprensa para as suas intrigas
a fim de desacreditar o ex-socio gerente para com as autoridades, não obstante
ser elle de toda a probidade desde a infância que estou certo. Parece-me, em
minha humilde opinião, que quem quer colonizar não deve mandar vir colonos e
principalmente dos que nada tem como nós. Parte da população, muitas vezes
reos da polícia que em todos os países que aproveitão as ocassiones que tem
para se livrar deles, dando muito trabalho ao país que o recebe.
117
Hoje podemos perceber que o conceito de colono encontra-se associado à noção
de um sujeito dedicado, disciplinado, solidário, com vínculos familiares e religiosos, sendo
que a contenção, o trabalho, a economia, características associadas ao sistema
capitalista, fazem parte de seu mundo e de seu caráter ético. Para os descendentes
alemães “ser de origem” é ter um “algo a mais” comparado aos demais grupos sociais.
Eles se sentem tão “alemães” como se lá tivessem nascido, mas isso não deixa de ser um
paradoxo, pois a maioria deles nunca esteve na Alemanha. São brasileiros, mas o
“diferentes”, sabem acumular e construir ao seu favor elementos valorativos que os
diferenciam da maioria da população, isto é, possuem uma identidade coletiva positiva
que faz com que sejam suprimidos ou modificados os aspectos negativos e enfatizados
apenas os que lhes interessam. Essas pessoas inclusive passam tal imagem para os
demais grupos da sociedade e assim a legitimam e a tornam verdade para si próprias.
As relações de trabalho encontram-se evidentes em nossos espaços de análise,
tanto no museu Henrique Uebel como no Parque Histórico de Lajeado. Em ambos
podemos encontrar referências a esse aspecto. No primeiro, boa parte do acervo
constitui-se de artefatos que se relacionam com o “ato de trabalhar”, desde equipamentos
utilizados para esse fim, até vestimentas e demais instrumentos necessários para essas
atividades. No segundo, o trabalho é evidenciado pelas construções ali encontradas, que
remetem essencialmente a essas atividades (ferreiro, alfaiate, agricultor). Não se quer
aqui afirmar que elementos referentes ao trabalho apenas irão aparecer em espaços
117
Documento referente à Colônia Conventos (27.12.1864). Conventos, 1858-1864, maço 57, caixa 31.
AHRS.
127
dedicados aos imigrantes alemães; certamente aparecerão, por exemplo, em museus
sobre a imigração italiana, no entanto, ao que parece, os descendentes alemães
utilizaram com mais ênfase a questão do trabalho como elemento étnico característico do
que os italianos.
Da mesma forma, a escola também, como característica étnica do grupo teuto-
brasileiro, sempre aparece em destaque e algumas vezes é demasiadamente valorizada
pelos que estudam esse grupo. Acredita-se que a escola ocupou um espaço importante
no cotidiano dos imigrantes, mas a importância dada a ela pode ser relativizada, pois,
como vimos, no início do processo de ocupação eram praticamente inexistentes ou o seu
funcionamento se restringia aos momentos em que não havia atividades na agricultura.
No entanto, pode-se concordar com o fato de que alguns grupos de alemães
considerassem a educação uma prioridade, mas isso não permite tornar a escolarização
uma característica universal deste grupo: “Determinadas especificidades foram
universalizadas e passaram a funcionar como se fossem atributos naturais e imutáveis
compartilhados por todos os homens e mulheres do grupo ”(MEYER, 2000, p. 102).
Acredita-se que a ênfase dada ao ensino e à escolarização comece principalmente
com a chegada de imigrantes mais intelectualizados e urbanos, como foi o caso dos
Brummer,
118
que se tornaram grandes incentivadores do ensino, principalmente como
meio de manutenção da língua, considerada elemento étnico fundamental: “Em 1865, a
maior parte dos professores das escolas de imigração alemã era Brummer (KREUTZ,
1994, p. 155).
As referências ao ensino e à educação também aparecem nos espaços analisados.
Podemos encontrar muitos objetos que remetem a essa atividade no Museu Henrique
Uebel, como, por exemplo, canetas tinteiro, lousas, carteiras, livros, cadernos, uniformes,
além de uma série de fotografias que representam a educação e o ensino nessa cidade.
No exemplo de Lajeado, a primeira construção transferida para o parque foi a de uma
escola comunitária, sendo que ela se encontra em evidência na área inicial do parque.
Nesse sentido, devemos entender que o espaço educativo é como uma construção social
que se cria como “um produto de cada tempo e suas formas construtivas são, além dos
118
Alemães-novos, que passam a exercer papel fundamental no desenvolvimento da escola e demais áreas
culturais, em especial como incentivadores do associativismo e da participação política (KREUTZ, 1994, p.
155).
128
suportes da memória coletiva cultural, a expressão simbólica de valores dominantes em
cada época” (MEYER, 2000, p. 161). Dessa maneira, pode-se afirmar que o espaço pode
ser considerado como atribuído de valores porque cria e recria representações e, nesse
sentido, encontra-se relacionado com a produção da identidade e da memória. Como
afirma Jeudy (1990), o distanciamento dos objetos no tempo e no espaço os transforma
em objetos de desejo e de identificação.
Outro elemento que constantemente aparece nos estudos sobre identidades
étnicas e que muitas vezes é visto como uma de suas principais características é a língua.
Ela aparece, como pudemos perceber, como aspecto central para a manutenção de uma
“cultura germânica” e para isso a própria escola e também a religião possuem um papel
importante.
Nós precisamos ter escolas com língua, canto e religião alemãs, ou estaremos
serrando o galho sobre o qual estamos sentados (nós precisamos ter nossas
escolas comunitárias e confessionais se não quisermos fechar também as nossas
igrejas). Para nós, alemães evangélicos ou católicos, a fundação de escolas
particulares para os nossos filhos é uma questão de sobrevivência e nenhuma
família alemã deveria eximir de mantê-las (Deutsche Post, Apud MEYER, 2000, p.
108).
A língua é o primeiro aspecto que aparece em um momento de contato com esse
grupo e certamente o uso de determinado dialeto também é fator de separação em seu
interior. A língua aparece aqui como um elemento de separação entre um grupo e outro de
teuto-brasileiros. É importante salientar, contudo, que sempre que um outro grupo não
teuto-brasileiro se coloca em oposição aos grupos teuto-brasileiros, estes últimos se
juntam e passam a se ver como pertencentes a um mesmo grupo:
Eu sou vestfaliano, falo assim com a minha família, em casa. Quando vou pra
outro lugar até falo o outro alemão, mas quem eu sei que fala o vestfaliano, eu
falo. Eu só esqueço que eu sou vestfaliano e digo que eu sou alemão quando vem
esses brasileiros e gringos se mete com a gente.
119
A referência feita a “gringos”, diz respeito aos descendentes de imigrantes italianos,
que mantêm contato com os grupos teuto-brasileiros em diferentes ocasiões e situações.
Podemos ressaltar que talvez os descendentes de alemães utilizassem mais
119
Agricultor, 35 anos, Teutônia.
129
enfaticamente a ngua como distinção social do que os italianos, pois a língua italiana
podia ser melhor compreendida pelos brasileiros, ao contrário da alemã.
Como vimos, a manutenção da língua tem diminuído nos últimos anos,
principalmente devido aos casamentos interétnicos, à proibição da fala do alemão durante
a política de nacionalização do Estado Novo, mas também devido ao deslocamento de
muitas pessoas para a cidade, em busca de trabalho. Antigamente os jovens
permaneciam muito mais no interior, como trabalhadores rurais, do que hoje. É comum,
quando se percorre esses locais, encontrar propriedades em que os mais velhos,
geralmente pais ou avós, trabalham na terra e os seus filhos, nas fábricas da cidade. Esse
deslocamento levou muitas vezes à necessidade da aprendizagem do português e criou o
intento de perder o sotaque característico da condição rural. Isso é visível quando o
colono entra em contato com um ambiente diferente do habitual, no qual muitas vezes
existe a exigência do português ou de um tipo de alemão “mais correto” que terá como
conseqüência uma diferenciação entre o teuto rural e o urbano. Coradini (1996) analisou
essa questão em relação aos italianos, mas sua análise pode ser estendida para o grupo
teuto-brasileiro, em especial, quando confere a esse grupo
uma identidade [...] enquanto um determinado estilo de vida incorporado e
internalizado, decorrente de trajetórias e condições sociais nas ‘colônias’ e que no
limite, pode apresentar-se inclusive como uma espécie de ‘identidade
envergonhada’, onde o principal estigma é a noção de ‘colono’ (CORADINI, 1996,
p. 37-38).
Tanto no museu de Teutônia como em Lajeado a valorização da língua é
importante. No primeiro encontraremos inúmeros materiais escolares, musicais e também
documentos escritos em língua alemã, principalmente gótica. Além disso, muitos objetos
do acervo também se encontram assim denominados. No Parque Histórico de Lajeado as
próprias casas são identificadas pela sua nomenclatura alemã, e o próprio uso desse
recurso, como vimos, foi valorizado pelo ministro da cultura e também aparece nas
conversas com os freqüentadores do espaço:
Acho muito importante as casas estarem com os nomes em alemão, pois assim a
gente sabe como que era.
120
120
Comerciante, 30 anos, Lajeado.
130
Penso ser muito bom para as crianças que as casas tenham seus nomes em
alemão, assim eles aprendem isso, coisa que é muito importante.
121
Nos dois espaços é importante que as pessoas que trabalhem nesses locais
tenham algum conhecimento de “alemão”, pois são comuns as visitas de pessoas do
interior do município e de outras cidades que falam dialeto. Conforme o declarado tanto
pelos funcionários do Museu Henrique Uebel como pelos do Parque Histórico, muitos
alemães também visitam esses espaços, o que requer o domínio, ao menos razoável,
dessa língua.
Em ambas as cidades pudemos perceber referências à utilização de mão-de-obra
negra, e quem sabe por parte dos próprios imigrantes. O que se questiona neste
momento é se, uma vez que os museus buscam retratar o cotidiano da vida dos
imigrantes durante o início de sua ocupação e colonização, não seria necessário fazer
também referência à presença de negros, e sem dúvida nenhuma à de populações
indígenas, que também eram comumente encontradas nessas fases iniciais de
colonização. Em nenhum desses espaços aparece sequer uma única referência à
possível presença de negros e índios. Mas por que se omitiu este fato? Principalmente
porque a intenção da colonização era substituir o sistema escravagista no Brasil e, assim,
não se admitia que aqueles que vinham em substituição aos escravos também se
valessem da escravidão. Logo, podemos ver que esse dado é omitido pelos “lugares de
memória”, pois isso não interessa ser lembrado. O que veremos é que ocorre a
construção e invenção de uma passado (HOBSBAWN), no qual o aspecto entendido
como positivo é o valorizado. Muitas pessoas sequer têm conhecimento da possível
existência de negros durante as fases iniciais de ocupação:
Antigamente não tinha negro aqui, acho que tinha uns bugres, sabe índios. Os
negro vieram há poco tempo pra trabalha aqui.
122
Nunca fiquei sabendo que tinha negro aqui. A gente é que veio primeiro.
123
121
Professora, 38 anos, Lajeado.
122
Operário, 42 anos, Teutônia.
123
Pedreiro, 27 anos, Lajeado.
131
Outro elemento que aparece em evidência nos estudos sobre o grupo teuto-
brasileiro é o cuidado com o lar, a moradia. A casa é um ambiente de vivência e de
convivência, que costuma ligar os espaços com o tempo, os objetos e proporcionar uma
identidade comum, vivida entre os membros da família. A casa é um elo que liga a
memória e a cultura: “A casa é um dos pólos de integração entre pensamentos,
lembranças e sonhos” (LUCENA apud ROSSETO, p.115). Seus objetos, tanto internos
como externos, relacionam-se com a noção de pertencimento, de convivência, e, dessa
forma, criam a idéia de identidade.
Em ambos os espaços ocorre uma valorização do lar, da moradia. Percebe-se a
preocupação em manter os espaços limpos, arrumados, com flores. Ou seja, a questão
da aparência é muito importante. Isso não quer dizer que os demais grupos evitassem ou
desconsiderassem esse elemento, mas ele sempre é evidenciado como sendo uma das
características do grupo teuto-brasileiro. Em outras cidades igualmente ocupadas por
imigrantes alemães, como Nova Petrópolis, também percebemos esse tipo de ênfase
dada à questão da “beleza do lugar”. Como ressalta Seyferth (1990, p. 47),
Mas o que uma aparência específica à casa do colono, qualquer que seja sua
origem, é a presença de um jardim, por mais modesto que se apresente. O jardim
na parte da frente da casa e a horta nos fundos (ou quintal) costumam ser
recorrentes nas propriedades rurais. [...] Nos centros maiores a horta tende a
desaparecer, mas o estereótipo do jardim permanece, mesmo quando ele não
existe [...]na verdade, a presença de uma pequena área destinada ao cultivo de
flores, na frente da casa, é um costume mantido nas regiões de imigração,
costume particularmente cultivado por teuto-brasileiros.
Neste ponto também é fundamental destacarmos a importância do estilo enxaimel
que se encontra presente nos dois espaços de estudo. Tal fato destaca mais uma vez a
importância desse tipo de construção como característica desse grupo étnico e por esse
motivo, é visivelmente distinguido pelas demais pessoas. Mas se sabe que este estilo não
era o único tipo de construção empreendida pelos imigrantes. O enxaimel será mais
característico das regiões ocupadas por colonos vestfalianos. Mas, como constatamos,
não foi somente esse grupo que se deslocou para as regiões analisadas. No entanto, o
fato de que os outros grupos teuto-brasileiros não apresentavam, em suas construções,
características muito distintas das construções de outros grupos étnicos fez com que o
estilo enxaimel fosse mais valorizado e se tornasse determinante como identificador do
132
grupo teuto-brasileiro. Contudo, como ressalta Seyferth (1990, p. 47), nem mesmo o
enxaimel pode ser considerado um verdadeiro estilo de edificação:
Não existe no Sul do Brasil um estilo arquitetônico “alemão” ou “italiano”, e muito
menos “europeu”. Considerar Blumenau ou Joinville como cidades “alemãs”, ou
Caxias do Sul como cidade “italiana”, ou o Sul do Brasil como “europeu”, por
causa da intensidade da imigração, é exagero. São apenas cidades e regiões
diferentes do que costumamos considerar como “brasileiro”. A necessidade de
marcar a “origem” dos habitantes de certas cidades faz com que hoje, em nome
do turismo, sejam incentivadas construções em estilo supostamente “alemão” ou
“italiano”.
Para Ricoeur (1998), a memória não é necessariamente apenas analisada pelas
fontes escritas, mas também pelos monumentos. O autor destaca que a memória dos
monumentos (arquitetura/construção) se expressa tão bem quanto a memória dos textos.
Assim como a arquitetura não se limita ao espaço, a narrativa não se restringe ao texto. A
memória está presente em ambas, inscrita como testemunho, fundindo espaço e tempo
através da construção da narração. É importante destacar que o espaço da memória é
essencialmente um espaço de interação. Ribeiro (apud ROSSETO, 2005, p. 13) enfatiza
que
O homem e seu espaço têm entre si uma relação indissociável. O ambiente físico,
ou lugar, é onde estão impressas as marcas de construções da história pessoal e
também da história coletiva: saberes, usos e costumes, mitos, ritos, as formas de
manifestar tensões e aspirações.
A memória atribui valores na relação que se estabelece entre o objeto material e a
sua representação. Ela tem o poder de criar um imaginário que pode ser compartilhado
quando se evoca a sua dimensão simbólica, pois tem o poder de mexer com os
sentimentos das pessoas. Um grupo étnico não permanece com suas atribuições culturais
estáticas, elas se modificam conforme o contexto e os grupos em que se encontram
inseridos. As comemorações, os monumentos da memória e os próprios objetos auxiliam
na formação de uma identidade individual. Os objetos possuem esse grau de importância
pois, quando buscamos relembrar, estão sempre prontos, esperando nossas
interpretações de eventos passados. Meneses (1999, p. 93) destaca que:
Dissemos que o universo da cultura é o universo da escolha, da opção e, portanto,
do sentido, do valor. Mas conviria observar que os valores que qualificam os
objetos, práticas e idéias não são imanentes, não surgem a partir desses mesmos
133
objetos, práticas e idéias. Aquilo, por exemplo, que chamamos de bens culturais
não tem em si sua própria identidade, mas a identidade que os grupos sociais lhe
impõem.
Outro elemento geralmente associado ao grupo teuto-brasileiro é o aspecto
religioso. No caso das cidades analisadas, podemos perceber a predominância de
imigrantes luteranos, enquanto as comunidades católicas formam-se posteriormente, na
metade do século XX. A posição ocupada pelos imigrantes luteranos foi muito mais difícil
do que a dos católicos, pois ao menos estes últimos possuíam algo em comum com o
Brasil, isto é, confessavam a religião nacional oficial. Segundo Fauth,
Na chegada ao Brasil o alemão tornara-se, na melhor das hipóteses, um cidadão
de segunda classe, sendo católico. Se protestante, era quase nada!
Juridicamente, apenas um pouco acima do escravo, considerando-se que tinha o
direito de propriedade e de trabalhar livremente (2005, p. 67).
Talvez esse possa ser considerado mais um fator de identificação e de reafirmação
do grupo teuto-brasileiro evangélico, pois a religião nunca se encontrou dissociada dos
demais aspectos relacionados aos imigrantes alemães que ocuparam as regiões
analisadas. De acordo com Seyferth (1976, p. 196):
Para a igreja protestante, o grupo étnico e o grupo religioso praticamente se
confundem e da sobrevivência de um depende a sobrevivência do outro; para os
católicos, a religião vem em primeiro lugar, o que não impediu a manutenção de
valores do seu grupo étnico.
No Parque Histórico de Lajeado não aparecem características diretamente
relacionadas com a religião. Somente podemos fazer referência à utilização da
construção da gasosaria como igreja nas gravações do filme “A paixão de Jacobina”, no
entanto, aparece nos relatos dos entrevistados a proposta do estabelecimento futuro de
uma igreja na área do parque. O museu Henrique Uebel, por também possuir um acervo
diferente do exposto em Lajeado, apresenta mais elementos representativos deste
aspecto. Lá encontraremos fotografias, materiais utilizados para as atividades da igreja,
hinários e demais documentos relativos ao caráter religioso do município, sempre
enfatizando a importância da religião, fator fundamental para a formação e
desenvolvimento do município.
134
Certamente os elementos característicos mais visíveis serão as atividades
culturais, artísticas e associativas encontradas nestes espaços, que demonstram a sua
importância na formação de uma identidade comum para esse grupo. Elementos como a
dança, as festas, a música, as atividades esportivas são valorizados nesses “lugares de
memória”. Tanto em Teutônia como em Lajeado existe uma valorização deste aspecto,
destacando a importância destas atividades para a socialização dos colonos.
Encontraremos no primeiro caso inúmeras referências a instrumentos musicais, partituras,
grupos de tiro e caça, corais, grupos de danças. Bem como, no segundo caso, a própria
importância e destaque ocupado pelo salão Troller, um salão de bailes.
É importante destacar que os grupos de danças alemãs são criações recentes, ou
seja, não se tratava de atividade comumente realizada na colônia. Essa atividade cultural
pode ser considerada como uma nova característica do grupo e surge devido à
necessidade de demonstrar elementos culturais como fator de identificação e
diferenciação dos demais. Como vimos, a língua tem deixado de ser o elemento decisivo
de identificação desse grupo, sendo substituída em sua função de elemento étnico
determinante pela “origem alemã”.
Também devemos destacar a existência, no parque de Lajeado das canchas de
eisstock e de um labirinto. Esses dois espaços são vistos como incentivadores e
diferenciais em termos turísticos. Pois, segundo Waldemar Richter,
124
“sempre se pensou
em ter atrativos a mais para que as pessoas visitassem o parque”. Estes espaços
demonstram a necessidade da elaboração de novas características para esse grupo,
características que, grande parte das vezes, encontram-se associadas ao turismo, ao
aumento do poderio econômico. Isto é, o museu passa a ser um local para fixar as
identidades e também para gerar recursos financeiros, tornando-se, dessa forma, um
“bom negócio”.
Ambos os "lugares de memória" analisados encontram-se em áreas privilegiadas
nas respectivas cidades. O museu Henrique Uebel localiza-se no Centro Administrativo de
Teutônia, local onde se concentram as atividades administrativas do município e onde se
realizam as principais festas da cidade. Da mesma forma, o Parque Histórico de Lajeado
124
RICHTER, Waldemar Laurido. Parque Histórico de Lajeado. Forquetinha, 6 fev. 2008. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
135
situa-se em área nobre do município, próximo ao parque de eventos da cidade, o Parque
do Imigrante. Nos dois casos, podemos perceber que a posição geográfica determina a
importância que tais locais possuem e a facilidade de acesso a esses espaços.
Também é marcante nos dois casos, mas principalmente no Parque Histórico de
Lajeado, a importância atribuída ao turismo e a necessidade de adquirir dividendos
através do uso destes espaços. O museu Henrique Uebel encontra-se inserido na Rota
Germânica, rota turística existente no município e que busca demonstrar alguns dos
elementos típicos atribuídos aos imigrantes alemães. No entanto, de acordo com um de
seus organizadores,
125
atualmente o número de visitantes é inferior ao de outros anos,
quando eram comuns excursões semanais para visitar os principais pontos turísticos.
Também nos discursos de formação e instituição do Parque Histórico de Lajeado o
turismo foi sempre evidenciado e aparece continuamente como elemento importante na
fala dos entrevistados.
Através do patrimônio natural e histórico-cultural e infra-estrutura existente em
Lajeado e região, legado pelos imigrantes alemães no Estado do Rio Grande do
Sul, especificadamente no Vale do Taquari, teremos todos os recursos
necessários para a implementação da atividade turística nesta região, que
planejada devidamente será capaz de atrair uma melhor qualidade de vida à
comunidade regional.[...] A partir daí, transformar essas riquezas num grande e
audacioso empreendimento turístico capaz de gerar renda e emprego à
comunidade local, que será refletido em âmbito regional (COLLISCHONN, 2001).
Era importante ressaltar a importância que o parque teria como meio de gerar
renda com o seu turismo para Lajeado.
126
A questão do turismo sempre foi importante no parque histórico.
127
No parque histórico podemos perceber um fluxo maior de turistas devido, em parte,
à facilidade de acesso e, por outro lado, ao próprio incentivo da prefeitura em campanhas
de divulgação dos pontos turísticos de Lajeado. É interessante ressaltar que ambos os
espaços localizam-se próximos à BR 386, no entanto, o acesso ao Parque Histórico de
125
FEINE, Ivo. Rota Germânica de Teutônia. Teutônia, 15 maio 2006. Entrevista concedida a Gisele Inês
Baller.
126
RICHTER, Waldemar Laurido. Parque Histórico de Lajeado. Forquetinha, 6 fev. 2008. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
127
COLLISCHONN, Wolgang Hans. Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 18 dez. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
136
Lajeado é facilitado pelo fato de se encontrar a poucos metros da rodovia, enquanto o
acesso ao Museu Henrique Uebel de Teutônia se por uma rodovia secundária, o que
aparentemente pode dificultar deslocamento e visitas.
Segundo Castro (1999, p. 81), seria ingênuo pensar que um espaço possa ser
originalmente turístico. Seu reconhecimento como turístico é uma construção cultural, isto
é, envolve a criação de um sistema de significados através dos quais a realidade turística
de um lugar é estabelecida, mantida e negociada. Roswithia Weber (2006, p. 288)
destaca que “é nesse contexto de ameaça de perda das referências alemãs que estas
são mobilizadas, com o turismo agindo como propulsor nesse processo, na medida em
que é uma via para a ‘descoberta’ do patrimônio, a formatação de ‘lugares da memória’.”
Como pudemos perceber acima, características relacionadas com o grupo teuto-
brasileiro encontram-se representadas nestes espaços, nestes “lugares de memória” e
identidade. Mas estas características são percebidas de maneira diferente pelas pessoas
que visitam esses espaços. Mediante as entrevistas realizadas e analisando os dois
espaços escolhidos podemos perceber que existem diferenças entre os grupos de
pessoas que visitam ambos os locais. Vemos que, quando se trata de visitantes do interior
dos municípios, principalmente de agricultores, eles expressam, em um primeiro
momento, um pouco de “vergonha” em relação ao caráter rural encontrado nos espaços,
pois se relacionam com ele e sentem um certo grau de constrangimento com sua posição
de colonos.
Não gosto muito quando as pessoas dizem que a gente é do interior, é colono.
porque a gente fala diferente e trabalha na terra. Eu tenho vergonha.
128
Eu sei que minha filha não conta na escola de que a gente é agricultor, ela acha
feio.
129
A maioria das pessoas não valoriza o nosso trabalho, mas se a gente não
trabalhasse na terra, como que eles iam pode comer. Mas mesmo assim, eles nos
olham diferente, achando que somos menos.
130
Mas isto muda quando, muitas vezes depois das explicações dos guias, eles
passam a ver como é fundamental a atividade que desempenham e percebem como é
128
Agricultora, 52 anos, Teutônia;
129
Agricultor, 47 anos, Lajeado.
130
Agricultora, 31 anos, Teutônia.
137
importante que ela seja valorizada nesses espaços. Muitas pessoas não entendem como
pode ser importante valorizar a noção de colono, noção que, para os próprios colonos,
muitas vezes se torna constrangedora, assumindo, dessa forma, um viés negativo. Essa
mudança de opinião, além do papel daqueles que trabalham nos espaços, se deve
também à própria configuração do local, no qual muitas vezes parece que tudo está bom,
que funciona, que é o ideal.
Quando eu venho pro parque, eu vejo como foi importante o trabalho dos alemães
que chegaram aqui, eles não tinham nada e conseguiram construir tudo isso.
131
Acho que o Brasil seria muito pior se não tivessem chegado os imigrantes da
Alemanha, eles sim, organizaram o Brasil e fizeram ele crescer.
132
Acho que tudo aqui é bonito, limpo e mostra como é ser um alemão. Por que ele é
trabalhador e todo mundo sabe disso.
133
Esse caráter negativo não é tão evidente quando o grupo em questão não
pertence ao meio rural e, principalmente, quando possui um certo grau de instrução.
Essas pessoas buscam valorizar muito a identidade teuto-brasileira por elas incorporada.
Vêem que as características atribuídas ao grupo teuto-brasileiro foram e continuam sendo
fundamentais para o crescimento e desenvolvimento dos descendentes e também dos
municípios:
Faço questão em dizer que sou descendente de alemães, foram eles que fizeram
tudo isso. Chegaram aqui e não tinha nada, mato. E olha como é hoje. Tudo é
por causa deles.
134
Os alemães foram importantes pro Brasil, o Brasil cresceu com eles. O parque
mostra bem isso, como eles foram importantes.
135
Aqui no museu de Teutônia se pode ver que sem os imigrantes o município não
seria nada.
136
Como pudemos perceber, a valorização da identidade étnica teuto-brasileira é
muito mais evidente entre as pessoas que possuem uma determinada escolarização,
pertencem à classe média e residem no meio urbano. Isso se deve ao fato de que, no
131
Advogada, 33 anos, Lajeado.
132
Empresário, 40 anos, Teutônia.
133
Comerciante, 28 anos, Lajeado.
134
Técnico em Informática, 25 anos, Teutônia.
135
Atendente de Farmácia, 31 anos, Lajeado.
136
Músico, 56 anos, Teutônia,
138
meio urbano, o contato inter-étnico é mais presente do que em áreas rurais. Os teuto
urbanos percebem muito mais a importância de sua identidade do que aqueles que vivem
em um meio ainda muito parecido com o de seus antepassados. É necessária essa
identificação positiva dos teutos urbanos para que os teutos rurais, por sua vez, percebam
a própria importância. E certamente os “lugares de memória”, como os museus, auxiliam
nessa alteração de conceitos, pois evidenciam o seu caráter positivo.
Não é por acaso que cada vez mais encontraremos referências de encontros de
famílias, geralmente em localidades do interior nas quais o patriarca começou a sua
trajetória, organizadas sobretudo por pessoas que vivem no meio urbano e que são
escolarizadas. Pois essas pessoas buscam em sua origem a explicação de sua posição
atual: da mesma forma que seus antepassados, trabalham e prosperam. Talvez
possamos agregar a esse fato o viés da globalização, pois os seus efeitos são mais
presente no meio urbano do que no rural, e a isso se deveria a necessidade maior das
pessoas que vivem no espaço da cidade reforçarem e determinarem a sua identidade
com a criação de “lugares de memória”. Também devemos destacar que, em muitos
casos, são originários de tal contexto os idealizadores dos espaços de memória, que,
devido a isso, têm o intento de neles reproduzir as características que acreditam estar
relacionadas ao grupo teuto-brasileiro, isto é, são os “enquadradores da memória”. São
justamente essas pessoas que definirão a imagem que será vista pelos freqüentadores,
imagem esta que procurará identificar como importantes algumas características e
suprimir outras. Pois, como vimos, é na relação entre o público, o objeto e o museu que
ocorre a verdadeira comunicação e a formação das identidades e memórias.
O que podemos perceber é que se valoriza muito mais uma Alemanha imaginada
do que o Brasil, que lhes oferece tudo. Por isso, muitas vezes estar aqui é visto como algo
negativo, pois o presente é o prosaico, o cotidiano, enquanto o passado é heróico. Nesse
sentido, os espaços não comemoram apenas a pujança, eles buscam falar também de um
passado heróico, que vive das glórias dos avós e que mantém a tradição preservando a
memória e a identidade.
Nos dois municípios analisados podemos perceber que os descendentes
procuram, em alguns momentos, a identificação com a maioria, como quando, por
exemplo, freqüentam os bailes de CTGs, muitas vezes vestindo-se a caráter. Nem por
139
isso perdem a sua especificidade de descendentes alemães. Dessa forma, a vida é
considerada um grande espetáculo, no qual as pessoaso os atores principais e, como
vimos, não existe dificuldade em entender que um dia se possa freqüentar um fandango e
em outro um baile alemão, vestindo trajes típicos. Isto é, a identidade se modifica, a cada
momento podemos realçar alguma, pois ela se altera de acordo com a nossa necessidade
e é possível circular com certa facilidade por diferentes palcos em nossa sociedade do
espetáculo. O que podemos perceber é que existe, em um primeiro plano, uma identidade
local ligada à imigração alemã e às suas características, e em um segundo plano, a
necessidade, o desejo, mas também o ressentimento em pertencer a um grupo maior
(gaúcho/brasileiro), o que se verifica, na participação de muitos teutos em atividades
culturais gaúchas existentes nos dois municípios, uma identidade que muitas vezes
permite a inserção na cidade e no trabalho, e também uma identidade global, na qual a
facilidade das comunicações, das informações pode originar a noção de homogeneização
cultural, mas que, ao contrário, reforça cada vez mais as identidades locais e étnicas e a
disputa por elas.
Dessa forma, acreditamos que o estudo de locais de memória e identidade como
os museus é importante para entendermos a sociedade em que nos encontramos
inseridos, além de fornecer possíveis subsídios para que esses locais cada vez mais se
configurem como referências para a pesquisa de nossa história e de nosso patrimônio.
CONCLUSÃO
Nesta dissertação se procurou analisar dois diferentes espaços, entendidos
como “lugares de memória” e a relação desses com a formação de identidades e de
memórias. Num primeiro momento se buscou verificar o significado e a relação
existente entre os principais conceitos utilizados nesta discussão, pois se acredita
que a memória e a identidade, especialmente étnica, encontram-se reforçadas pelo
movimento de globalização, sendo que como conseqüência deste fato teremos o
surgimento de “lugares de memória”, locais onde se busca “recuperar” ou mesmo
“reviver” características e sentimentos relacionados com determinados grupos. Num
segundo momento, partimos para a análise das cidades em que esses “lugares de
memória” encontram-se estabelecidos, bem como, desses espaços propriamente
ditos. Pudemos perceber que ambas as cidades e conseqüentemente seus locais de
identidade e memória buscam enfatizar características comumente associadas aos
descendentes de imigrantes alemães: a laboriosidade, o caráter associativo,
religioso e educativo, a ngua e os seus aspectos culturais. No entanto, também
pudemos perceber que muitas dessas características sofreram constantes
mudanças no decorrer das décadas, especialmente o uso da língua alemã como
elemento de identificação étnica, esta passou a ser substituída pela idéia de “origem
alemã”, agregada muitas vezes à participação em corais e grupos de danças típicos.
Esse fato reforça a idéia de que as características identitárias são constantemente
redefinidas e estas se adaptam conforme a necessidade do meio em que se
encontram inseridos.
Pudemos perceber que a disputa pela afirmação de uma identidade étnica
teuto-brasileira encontra-se mais destacada em Lajeado, pois outros grupos
étnicos encontram-se constituídos e buscam ocupar e demarcar espaços para
também expressar as suas características. em Teutônia, o grupo de não teuto-
141
brasileiros não se como um grupo único que compartilha elementos comuns e desta
forma não conseguem demonstrar resistência ou mesmo oposição às características
associadas aos teuto-brasileiros. Essas disputas ou mesmo a sua ausência, também
podem ser vistas no âmbito dos museus, por exemplo, no Parque Histórico de Lajeado
existe todo um questionamento em torno do uso e denominação desse espaço, pois esse
é um local de disputa e de afirmação de grupos étnicos, especialmente teutos e ítalo-
brasileiros. Esse fato não parece visível no museu de Teutônia pois a população do local,
incluindo os o-descendentes, aparentemente aceita as características associadas aos
teuto-brasileiros encontradas nesses “locais de memória”.
Pudemos averiguar também a existência de diferenças entre os teuto-brasileiros
urbanos e os rurais. Vimos que os primeiros buscam reforçar com mais ênfase as suas
características de descendentes alemães, justificadas muitas vezes pela situação
econômica e social em que se encontram. Enquanto que os segundos, necessitam muitas
vezes de um “reavivamento” dessas características pelos teutos urbanos. Esse fato
também se verifica nos encontros de famílias que ocorrem constantemente nessas
regiões, onde o organizador do evento geralmente da área urbana, busca celebrar a
família e o patriarca alemão residente no meio rural, procurando dessa forma enfatizar as
características de pioneiro, desbravador e trabalhador, responsável muitas vezes pela
situação atual em que se encontram seus descendentes.
Pelo exposto acima e pelo que analisamos no decorrer dessa dissertação,
pudemos perceber que existem diferenças entre os locais de memória. Enquanto que o
Museu e Arquivo Histórico e Geográfico Henrique Uebel busca ser um espaço em que a
comunidade teuto-brasileira se e se configura socialmente e etnicamente, o Parque
Histórico de Lajeado se apresenta muito mais como um local de turismo, um “palco de
espetáculos” em que elementos característicos aos teuto-brasileiros encontram-se
configurados e servem para legitimar esse grupo em relação aos demais existentes no
município.
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146
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Conventos – Diretoria- encarregado, 1858-1864, maço 57, caixa 31. AHRS.
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Registro de colonos chegados e o destino que tiveram (1862-1876). C299, AHRS.
Registro de colonos chegados e destino que tiveram (1872-1873). C298, AHRS.
Relatório da Comunidade Redentor. s/d. SCER.
Relatório ao Major João da Cunha Lobo Barreto. 24.08.1861. Conventos Diretoria-
encarregado, 1858-1864, maço 57, caixa 31. AHRS.
Síntese Histórica da Comunidade Redentor. Paróquia Teutônia Sul. 1973, SCER.
ENTREVISTAS
COLLISCHONN, Wolgang Hans. Parque Histórico de Lajeado. Lajeado, 18 dez. 2007.
Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
FEINE, Ivo. Rota Germânica de Teutônia. Teutônia, 15 maio 2006. Entrevista concedida
a Gisele Inês Baller.
KLEPKER, Elton. Museu Henrique Uebel. Teutônia, 04 out. 2007. Entrevista concedida a
Gisele Inês Baller.
LANG, Guido. História de Teutônia. Teutônia, 05 fev. 2006. Entrevista concedida a
Gisele Inês Baller.
LUERSEN, Silvério. Museu Henrique Uebel. Teutônia, 25 jul. 2005. Entrevista concedida
a Gisele Inês Baller.
LOHMANN, Paulo. Fundação e principais características do Museu Henrique Uebel.
Teutônia, 8 mar. 2007. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
RICHTER, Waldemar Laurido. Parque Histórico de Lajeado. Forquetinha, 6 fev. 2008.
Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
147
WALLAUER, Clisa. A educação no município de Teutônia. Teutônia, 17 mar. 2007.
Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
WALLAUER, Selbi. Fundação do museu Henrique Uebel. Teutônia, 17 mar. 2007.
Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
WIEBUSCH, Líria. Grupos de danças alemãs. Teutônia, 03 abr. 2007. Entrevista
concedida a Gisele Inês Baller.
WORM, Henrique. Características e funcionamento do Parque Histórico de Lajeado.
Lajeado, 05 jan. 2008. Entrevista concedida a Gisele Inês Baller.
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