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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL
GERALDO SIEMON DE OLIVEIRA
MÉTODOS DE MANEJO NO CONTROLE DE PRAGAS NA CULTURA
DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)
ALEGRE
2008
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GERALDO SIEMON DE OLIVEIRA
MÉTODOS DE MANEJO NO CONTROLE DE PRAGAS NA CULTURA
DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)
Dissertação apresentada ao programa
de Pós-Graduação em Produção Vegetal
do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para obtenção do
titulo de Mestre em Prodão Vegetal.
Orientador: Prof. Dr. Dirceu Pratissoli
Co-orientadores:
Prof. Dr. Ricardo Antônio Polanczyk
Prof. Dr. Frederico de Pina Matta
ALEGRE
2008
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GERALDO SIEMON DE OLIVEIRA
MÉTODOS DE MANEJO NO CONTROLE DE PRAGAS NA CULTURA
DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, como
requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Produção Vegetal.
Aprovada em 22 de agosto de 2008.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Dirceu Pratissoli
Universidade Federal do Espírito Santo
(Orientador)
Prof. Dr. Ricardo. Antônio Polanczyk
Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Dr. Frederico de Pina Matta
Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Dr. Anderson Mathias Holtz
Escola Agrotécnica Federal de Colatina
Prof. Dr. Edvaldo Fialho dos Reis
Universidade Federal do Espírito Santo
DEDICO
À minha mãe Vera Siemon de Oliveira
que mesmo com o pouco tempo que
tivemos me ensinou a superar desafios.
À minha avó Edwiges Aglair Siemon por
estar presente em todos os momentos
importantes de minha vida.
AGRADECIMENTOS
À minha esposa e companheira Maria Eliza que foi a primeira a me incentivar a
superar este desafio.
Aos meus filhos Laura, Brenda e Franz que tantos momentos felizes me
proporcionaram e me proporcionarão.
Ao meu pai Oduvaldo de Oliveira e aos meus irmãos Ana Aglair, Oduvaldo e Bertha
que, mesmo distantes, sempre estiveram muito próximos.
Ao Dr. Dirceu Pratissoli, Professor do Departamento de Produção Vegetal do CCA-
UFES, pela orientação, estímulo, confiança e amizade.
Ao Dr. Ricardo Antônio Polanczyk, Professor do Departamento de Produção Vegetal
do CCA-UFES, pela co-orientação e colaboração durante o desenvolvimento do
trabalho.
Ao Dr. Frederico de Pina Matta, Professor do Departamento de Produção Vegetal do
CCA-UFES, pela co-orientação, colaboração e empenho em ver este trabalho
realizado.
Ao Dr. Edvaldo Fialho dos Reis pela colaboração não só nas análises estatísticas,
como também pela confiaa depositada em mim.
Ao Dr. Anderson Mathias Holtz, Professor da Escola Agrotécnica Federal de
Colatina, pela ajuda e colaboração.
Ao Dr. Waldir Cintra de Jesus Júnior, Professor do Departamento de Produção
Vegetal do CCA-UFES, pela colaboração, estímulo e amizade.
Ao colega Robson Rizzo Machado pelo auxílio na condução dos campos de
experimento.
À dona Guilhermina, excelente profissional e um ser humano ímpar, que muito
contribuiu com sua sabedoria, inclusive no inglês.
Ao professor Mário Luiz Bonato pela sua amizade e ajuda na revisão de português,
sua especialidade.
Aos colegas do curso de Pós-Graduação Luciano Nazareth, Regina Gonçalves dos
Santos Oliveira, Pedro Quarto Junior, Karla Maria Pedra de Abreu Archanjo, pela
cooperação e pelos momentos felizes que passamos juntos.
À secretária da Pós-Graduação Madalena Capucho, pela ajuda e amizade.
Aos colegas da empresa Timac Agro que nos acompanhou nesta reta final.
A todos que direta ou indiretamente colaboraram para o êxito do presente trabalho.
BIOGRAFIA
GERALDO SIEMON DE OLIVEIRA, filho de Oduvaldo de Oliveira e Vera Siemon de
Oliveira, nasceu em Assis-SP, no dia 20 de agosto de 1963.
Em dezembro de 1985, concluiu o curso de Agronomia na Escola Superior de
Agronomia de Paraguaçu Paulista-SP.
Iniciou sua carreira profissional na Bayer do Brasil S.A. em abril de 1986 em Cuiabá-
MT, onde atuou como representante técnico de vendas por três anos, sendo depois
convidado a assumir o cargo de chefia na matriz da empresa emo Paulo.
A partir 1991 atuou na equipe da Shell Brasil S.A. na área agrícola, onde trabalhou
por dois anos nos estados de MG, RJ, ES, GO e regiões NO e NE do Brasil.
Em 1994, ingressou na equipe da Monsanto do Brasil Ltda., atuando nos mercados
de café e cana-de-açúcar nos estados do ES e norte do RJ.
Em 1996, atuou como gerente da divisão agropecuária da empresa Limaq.
Em 1998, passou a gerir sua própria empresa, onde trabalhou por oito anos,
principalmente na tomaticultura do estado do ES.
Em 2005, iniciou como aluno especial o curso de mestrado em Prodão Vegetal no
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo.
Em 2006, trabalhou como gerente técnico comercial na empresa Tecnobiol Brasil
Ltda.
A partir de 2007, iniciou sua atuação como professor universitário.
Em janeiro de 2008, passou a atuar na TIMAC Agro Brasil do grupo Roullier,
empresa do segmento de nutrição de plantas, como supervisor no estado do ES.
RESUMO GERAL
O tomateiro (Solanum lycopersicum L., sinônimo de Lycopersicon esculentum Mill.) é
cultivado convencionalmente usando uma grande quantidade de agrotóxicos, o que
é contrário ao desejo dos consumidores e produtores não só com relação à saúde
pessoal, como também com a preocupação ambiental. O uso de agrotóxicos, muitas
vezes em excesso por parte dos produtores, é devido principalmente ao medo de
perdas financeiras na cultura, seja pelo risco oferecido por se tratar de uma planta
suscepvel há muitas pragas e doenças, seja pelo desconhecimento de técnicas
modernas de produção por parte do produtor. Neste trabalho realizado em campo,
em diferentes épocas de cultivo, inverno e verão, e em diferentes regiões produtoras
do estado do ES, foram avaliadas duas técnicas de manejo na cultura do tomateiro:
a aplicação de um produto com características de indutor de resistência e o
sistema de manejo fitossanitário com monitoramento de pragas através de
amostragens. Como indutor de resistência foi usado um composto organomineral
sendo o monitoramento realizado com amostragens a campo a cada três dias. Foi
avaliada a incidência e a intensidade de pragas no ciclo da cultura e se haveria
redução de aplicações de agrotóxicos nas áreas que usaram o sistema de manejo
fitossanirio quando comparadas às áreas que usam o sistema de manejo
convencional de pragas. Foram obtidos como resultados uma redução no número de
aplicações de agrotóxicos de 37% no experimento realizado em Alto Caxixe, distrito
de Venda Nova do Imigrante e de 48% no experimento em Ibatiba. Não houve
interferência na incidência e na intensidade de pragas amostradas no sistema de
manejo fitossanitário quando comparados com o sistema de manejo convencional de
pragas. Ao analisar a eficácia do composto organomineral como “indutor de
resistência, conforme sugere o fabricante, verificou-se que, sob as condições
experimentais, não foi confirmada resposta positiva nas plantas tratadas com esse
produto, comparativamente às plantas testemunhas, mesmo quando usado em
diferentes doses ou intervalos de aplicações. Também não houve interferência na
quantidade ou qualidade dos tomates produzidos.
Palavraschave: Indução de resistência. Tomateiro. Monitoramento de pragas.
GENERAL ABSTRACT
MANAGEMENT METHODS TO CONTROL PLAGUES IN THE TOMATO CULTURE
(Solanum lycopersicum L.).
The tomato plant (Solanum lycopersicum L., synonymous with Lycopersicon
esculentum Mill.) is usually cultivated using a great amount of pesticides which goes
against the consumers and producersinterests as far as their personal health and
their environment are concerned. The often excessive use of pesticides is mainly due
to the fear of financial losses in a high-risk culture as well as to the lack of information
about modern production techniques. In this current field-based work, two different
techniques were evaluated in different periods of cultivation, winter and summer, and
in different productive regions in the state of Espírito Santo in Brazil: An “inducer
resistancewas applied pests were monitored through samplings. An organic mineral
fertilizer was used as the inducer resistance and the samples were taken from the
fields to be monitored every three days. A possible reduction on the number of
pesticide sprinklings on the monitored areas was studied as opposed to the number
of regular sprinklings in the conventional cultivation based on the agriculture
calendar, and the results showed a 37% cut at the Alto Caxixe, district of Venda
Nova do Imigrante experiment and a 48% reduction at the Ibatiba experiment. There
was no interference in the quantity or quality of the tomatoes when compared to the
standard yields. Checking how efficient the organic mineral fertilizer was while
working as an inducer resistanceaccording to the lab recommendations, a positive
response wasn’t gauged in the plants treated with such product under the experiment
conditions, if compared to the model plants, even when different doses or time
frequencies were used. There was no interference in the quantity or quality of the
tomatoes produced.
Keywords: Inducing resistance. Tomato plant. Pests monitoring.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Número médio de mosca-branca nos experimentos em fuão
dos tratamentos........................................................................... 40
Gráfico 2 Número médio de pulgão no experimento de Ibatiba em função
dos tratamentos........................................................................... 40
Gráfico 3 Número médio de traça-do-tomateiro no experimento de Alto
Caxixe em função dos tratamentos............................................. 41
Gráfico 4 Altura das plantas (cm) nos experimentos em função dos
tratamentos.................................................................................. 43
Gráfico 5 Espessura das hastes (cm) nos experimentos em função dos
tratamentos.................................................................................. 43
Gráfico 6 Peso total dos frutos (kg) aptos a comercializão nos
experimentos em função dos tratamentos................................... 43
Gráfico 7 Valores de °Brix dos frutos nos experimentos em função dos
tratamentos.................................................................................. 44
Gráfico 8 Número médio de mosca-branca por planta por amostragem
em fuão do sistema de manejo................................................ 58
Gráfico 9 Número médio de pulgão por planta por amostragem em
fuão do sistema de manejo...................................................... 59
Gráfico 10 Número médio de traça-do-tomateiro por planta por
amostragem em fuão do sistema de manejo........................... 59
Gráfico 11 Número de pulverizações com agrotóxicos em função do
sistema de manejo....................................................................... 60
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO GERAL................................................................................ 11
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................ 13
2.1 MANEJO FITOSSANITÁRIO NO TOMATEIRO........................................ 13
2.2 ETAPAS DE UM PROGRAMA DE MANEJO FITOSSANITÁRIO............. 14
2.2.1 Agroecossistemas................................................................................ 14
2.2.1.1 Pragas Chaves da Cultura do Tomateiro............................................. 14
2.2.2 Tomada de Decisão.............................................................................. 16
2.2.2.1 Monitoramento..................................................................................... 16
2.2.2.1.1 Amostragens............................……………………..…………….... 16
2.2.2.2 Nível de Dano Econômico e Nível de Controle.................................... 17
2.2.2.3 Amostragem e Nível de Controle das Pragas do Tomateiro............... 18
2.2.3 Escolha do Método de Manejo............................................................ 19
2.2.3.1 Controle Biológico................................................................................ 19
2.2.3.1.1 Preservação dos Inimigos Naturais.................................................. 20
2.2.3.2 Trofobiose............................................................................................ 21
2.2.3.3 Resistência Induzida a Insetos............................................................ 22
2.2.3.3.1 Resistência Sistêmica Adquirida e Resistência Sistêmica Induzida. 23
2.2.3.3.2 Indutores Bióticos e Abióticos........................................................... 23
2.2.3.3.3 Custo da Indução de Resistência para Planta.................................. 25
2.2.3.4 Manejo com Químicos......................................................................... 26
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGFICAS............................................................ 27
4 CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO DO COMPOSTO ORGANOMINERAL NA FERTILIDADE DO
TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)..................................................... 29
RESUMO.......................................................................................................... 29
ABSTRACT...................................................................................................... 30
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 31
4.2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................... 33
4.2.1 Produto Avaliado.................................................................................. 33
4.2.2 Locais e Material Genético................................................................... 33
4.2.3 Análises Químicas do Solo das Áreas Usadas nos Experimentos.. 34
4.2.4 Condução das Plantas e Tratos Culturais.......................................... 35
4.2.5 Avaliação da Indução de Resisncia................................................. 35
4.2.5.1 Incidência de Pragas........................................................................... 35
4.2.5.2 Características Fitotécnicas................................................................. 36
4.2.6 Delineamento Experimental e Análise de Variância.......................... 37
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................. 39
4.3.1 Efeito Indutor de Resistência.............................................................. 39
4.3.2 Características Fitotécnicas................................................................ 42
4.4 CONCLUSÕES.......................................................................................... 46
4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 47
5 CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO DE DOIS MÉTODOS DE MANEJO DE PRAGAS NA
CULTURA DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)............................. 49
RESUMO.......................................................................................................... 49
ABSTRACT...................................................................................................... 50
5.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 51
5.2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................... 53
5.2.1 Locais e Material Genético................................................................... 53
5.2.2 Condução das Plantas e Tratos Culturais.......................................... 54
5.2.3 Implantação das Unidades Experimentais......................................... 54
5.2.4 Avaliações da Incidência e Intensidade Infestação de Pragas nos
Dois Sistemas de Manejo............................................................................... 55
5.2.5 Avaliações do Número de Pulverizações........................................... 56
5.2.6 Delineamento Experimental e Análise de Variância.......................... 56
5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................. 57
5.4 CONCLUSÕES.......................................................................................... 63
5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 64
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 66
11
1 INTRODUÇÃO GERAL
Originário da América do Sul, o tomateiro (Solanum lycopersicum Linnaeus sinônimo
de Lycopersicon esculentum Miller) é cultivado praticamente em todo o mundo. A
utilização dessas duas nomenclaturas para o tomateiro é devido a mudanças que
estão sendo realizadas neste momento com base em estudos moleculares. Com as
modernas tecnologias de análise de DNA, diversos pesquisadores que trabalham no
Tomato Genome Project têm constatado que a similaridade genômica tanto nuclear
quanto mitocondrial e cloroplastidial é superior a 90% entre diferentes escies de
tomate e entre outras espécies representantes do gênero Solanum, não justificando
assim colocá-las em um gênero à parte como proposto por Miller, voltando, portanto,
a nomenclatura originalmente proposta por Linnaeus.
A produção mundial de tomate dobrou nos últimos 20 anos e ultrapassa 120
milhões de toneladas por ano (CARVALHO e PAGLIUCA, 2007). O aumento do
consumo mundial é conseqüência da consolidação das redes de fast food, pela
maior procura por alimentos semi-prontos, nos quais o tomate se destaca por ser
consumido nas formas processada e fresca, e pela crescente procura por alimentos
mais saudáveis. Isso se deve pelo fato de o tomate apresentar em sua composição
altos teores de vitaminas A e C, e, além disso, ser rico em licopeno, substância que
ajuda na redução de radicais livres e na prevenção de cânceres, principalmente o da
próstata.
A produção de tomate no Brasil teve um aumento maior que a média mundial, e
ocupa a nona colocão entre os países produtores, liderado pela China; e o terceiro
lugar em produtividade, perdendo somente para os EUA e a Espanha. O cultivo de
tomate voltado ao mercado in natura no Brasil ocupa cerca de 35.000 ha,
correspondente a 60% da área de tomate cultivada no país (CARVALHO e
PAGLIUCA, 2007).
O Espírito Santo planta somente tomate para o consumo in natura. É cultivado o ano
todo, principalmente na região serrana, que se tornou a mais tradicional produtora.
No verão, é plantado em regiões de maiores altitudes, onde o clima é mais ameno; e
no inverno, em regiões de menores altitudes.
12
Embora a tomaticultura seja uma atividade de grande importância econômica e
social para o Estado, a qual utiliza uma grande quantidade de mão-de-obra,
principalmente a familiar, gerando empregos e desenvolvimento regional, o aumento
desordenado das áreas cultivadas e o uso de técnicas inadequadas provocaram um
aumento das populações de pragas e doeas do tomateiro. Com base neste fato,
tentou-se combatê-las simplesmente utilizando uma quantidade cada vez maior de
agrotóxicos. Nesses locais é comum detectar lavouras de tomate com mais de três
pulverizações de agrotóxicos por semana. Entretanto, esta forma de cultivo agride o
meio ambiente, prejudica a saúde do agricultor e não condiz com a tendência do
mercado de consumir alimentos mais saudáveis.
Assim, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar a associação de métodos de
manejo sustentáveis na cultura do tomateiro: todo de manejo com o uso de um
produto “indutor de resistência e método de manejo fitossanitário com o uso de
monitoramento de pragas.
13
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 MANEJO FITOSSANITÁRIO NO TOMATEIRO
A cultura convencional do tomateiro recebe uma carga expressiva de produtos
químicos, seja para nutri-lo, seja para protegê-lo contra invasores que causem
danos. Portanto, objetivando a produção de alimentos mais saudáveis, protegendo o
produtor e o meio ambiente, pesquisadores desenvolveram o manejo de pragas e
doenças do tomateiro (GALLO et al., 2002).
Manejo refere-se à adoção de estratégias e táticas mais adequadas aos processos
de produção vegetal, não bastando ter produtos ou equipamentos eficientes. Neste
sentido, também há a necessidade de utilizá-los de forma adequada e racional,
evitando prejuízos ao ambiente (SILVA e CARVALHO, 2004).
Para obtermos um efetivo resultado, medidas de controle requerem estratégias
contínuas de manejo e integração de várias táticas. Embora seja uma medida
amplamente divulgada entre os tomaticultores, a eliminação de restos culturais, que
servem de abrigo a pragas e doenças, muitas vezes é negligenciada. Plantas
sobreviventes e voluntárias, assim como restos culturais, devem ser removidas das
áreas de plantio e/ou destrdos pela aração profunda e repetidas gradagens para
eliminar as fontes de iculo (VALE et al., 2004).
A utilização do manejo fitossanitário iniciou no final da década de cinqüenta, quando
se pensou primeiro no controle de pragas, usando a combinação do controle
biológico e dos métodos químicos para controle de insetos-praga. O conceito baseia-
se no fato de que as pragas fazem parte do ecossistema, as quais precisam ser
manejadas para evitar o desequilíbrio na cadeia trófica e, por conseqüência, impedir
o surgimento de novas pragas ou doenças que podem ser mais danosas à cultura.
Posteriormente, este conceito foi ampliado para doeas, e definido por VALE et al.
(2004) como a integração de medidas que visam a um controle racional das
doenças, de forma integrada, e à preservação dos recursos naturais e buscando,
principalmente, preservar a saúde do consumidor.
14
2.2 ETAPAS DE UM PROGRAMA DE MANEJO FITOSSANITÁRIO
2.2.1 Agroecossistemas
Para que possamos desenvolver estratégias que permitam a convivência com as
pragas e doeas do tomateiro, o ideal é conhecer ao máximo a cultura, suas
respectivas pragas e doenças e o ambiente de seu desenvolvimento. Portanto,
visando viabilizar o manejo fitossanirio, há a necessidade de conhecer a ecologia e
a biodiversidade local, avaliando a inter-relação existente entre os seres vivos
daquele local (SILVA e CARVALHO, 2004).
É importante que seja catalogada a vegetação nativa da área em questão e, se
posvel, mantê-la ao redor da área cultivada, visando sua proteção, uma vez que, a
interferência na harmonia dos seres vivos ali presentes, causa um desequilíbrio
ecológico, possibilitando a criação de um ambiente ideal para proliferação de
patógenos e insetos-praga. Na impossibilidade da manutenção da mata nativa ao
redor da cultura, recomenda-se a construção de quebra-ventos com plantas mais
altas que a cultura do tomateiro e que não sejam hospedeiras de insetos-praga e
doenças, além de atuarem como fonte de alimento e refúgio para os respectivos
inimigos naturais (SILVA e CARVALHO, 2004).
2.2.1.1 Pragas Chaves da Cultura do Tomateiro
As pragas que ocorrem na cultura do tomate podem sofrer a ão conjunta ou
isolada de fatores bticos e abióticos. Entre estes fatores se destacam as condições
climáticas da região (temperatura e umidade relativa), a falta de regio alimentar
alternativo pelo plantio de áreas muito extensas e o uso indiscriminado e excessivo
de agrotóxicos, o que pode diminuir a população de inimigos naturais ou induzir o
desenvolvimento de resistência do inseto-praga aos ingredientes ativos utilizados
(FERNANDES et al., 2001).
Podemos dividir as pragas-chaves da cultura do tomate em dois grupos:
15
a) Insetos vetores de patógenos;
- Trips: Thrips tabaci (Lindeman, 1888); Thrips palmi (Karny, 1925); Frankliniella
schulzei (Trybom, 1920) - Thysanoptera: Thripidae
Em geral são insetos pequenos de difícil identificação. São insetos raspadores-
sulgadores que se contaminam pelo vírus do “vira-cabeça” do tomateiro ao se
alimentar de plantas doentes e, dessa forma, passam a inocular o patógeno em
outras plantas sadias.
- Pulgões: Myzus persicae (Sulzer, 1776); Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878)
- Hemiptera: Aphididae
Durante o ciclo da cultura, essa praga ataca tanto folhas e brotos terminais, quanto o
caule. São responsáveis pela transmissão do vírus do “topo-amarelo do tomateiro
(PYPV), vírus Y da batata (PVY) e do vírus do mosaico do tomateiro (ToMV).
- Moscas-brancas: Bemisia tabaci (Gennadius, 1889); Bemisia argentifolii (Bellows &
Perring, 1994) - Hemiptera: Aleyrodidae
Além dos danos diretos causados pelo inseto ao sugarem a seiva das plantas,
podem transmitir o vírus do grupo geminivírus. Atualmente estas viroses
representam um dos mais sérios problemas na cultura do tomateiro no Brasil.
b) Insetos que causam danos diretos: Traças e brocas dos frutos.
- Traças: Tuta absoluta (Meyring, 1917) e Phthorimaea operculella (Zeller, 1873) -
Lepidoptera: Gelechiidae
Presentes em todo o ciclo da cultura, principalmente quando o clima é seco. A traça
de maior incidência na região é a Tuta absoluta, que ataca foolos, brotos apicais,
folhas, caule, botões florais, flores e até os frutos.
- Broca-pequena-do-fruto: Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854) - Lepidoptera:
Pyralidae
16
Após a eclosão, penetram nos frutos através de sua película, sendo seu orifício
quase imperceptível. O desenvolvimento da lagarta ocorre dentro do fruto do tomate
por um peodo de 30 dias em média, causando dano direto à produção.
- Broca-grande-do-fruto: Helicoverpa zea (Boddie, 1850) - Lepidoptera: Noctuidae
Também conhecida como lagarta-da-espiga-do-milho, atacam várias culturas. No
tomate, danificam consideravelmente os frutos, perfurando-os e destruindo a polpa
para sua alimentação, onde geralmente encontra-se uma lagarta por fruto atacado.
2.2.2 Tomada de Decisão
2.2.2.1 Monitoramento
É uma das principais etapas que antecedem o controle de pragas. Através de uma
amostragem bem feita é que o produtor terá uma estimativa populacional do inseto-
praga presente. Essa medida é essencial para tomada de decisão no momento mais
adequado. Além disto, oferecea oportunidade de avaliar a presença ou não de
inimigos naturais (SILVA e CARVALHO, 2004).
É importante a adoção de fichas de amostragens para facilitar o cotidiano do
produtor. Atras destas anotões, o produtor poderá saber qual a situação da
praga naquele dia de amostragem, bem como da situação de ocorrência de pragas e
dos inimigos naturais durante todo o desenvolvimento das plantas. Com o passar do
tempo, terá um histórico de suas áreas de plantio, permitindo aprimorar o processo
de tomada de decisão e adoção de melhores estratégias de controle (GALLO et al.,
2002).
2.2.2.1.1 Amostragens
Além da amostragem convencional que se baseia na coleta de um número fixo de
amostras por unidade de área, usando fichas de amostragens e depois calculadas a
17
porcentagem de infestação e os dados usados para indicar quais os veis de ação
a serem adotados, pode-se usar a amostragem seencial em que o número de
coletas de amostras é variável. Coleta-se um determinado número de amostras,
número este inferior ao da amostragem convencional, e lança os resultados obtidos
em uma planilha. Os resultados levam sempre a três posveis conclusões: se o
número de inseto-praga observado for inferior a um valor mínimo estabelecido, não
se deve controlar a praga; se o número de inseto-praga observado for superior a um
valor ximo estabelecido, deve-se controlar a praga; ou se o número de inseto-
praga observado ficar entre o valor mínimo e o máximo estabelecido deve-se
continuar amostrando, assim o número de amostras será aumentado. Novos
parâmetros de amostras e mínimos e máximos de inseto-praga deveram ser
adotados e continuam-se as contagens, voltando às três possíveis conclusões
iniciais. Este tipo de amostragem não tem preocupão em estimar parâmetros
populacionais, e sim facilitar o trabalho de amostragem, gerando uma economia de
tempo em média de 30% em relação à amostragem convencional (GALLO et al.,
2002).
2.2.2.2 Nível de Dano Econômico e Nível de Controle
Um inseto pode se tornar uma praga em determinada cultura, dependendo de sua
intensidade de infestação e da injúria ocasionada à planta, sendo que muitas vezes
esta injúria não acarreta prejuízos na qualidade ou quantidade da produção. Há
situações, em que o inseto ou a doença afetam diretamente o produto final a ser
comercializado pelo produtor, atingindo diretamente a prodão (GALLO et al.,
2002).
O vel de dano econômico é definido pela intensidade de infestação do inseto-
praga capaz de causar dano econômico à lavoura igual ou maior que os custos de
controle deste inseto-praga. O nível de dano econômico não é o mesmo para
diferentes insetos-praga de uma cultura ou para o mesmo inseto-praga em
diferentes culturas.
18
A ausência de prejuízos é definida como uma medida de controle do inseto-praga ou
doença, realizada um pouco antes de se atingir o vel de dano econômico, o
chamado nível de controle, que pode variar dependendo de condições climáticas,
ambientais ou época do ano (GALLO et al., 2002).
Assim, uma vez conhecidas as características das pragas e doenças, realizadas
suas amostragens e atingido o nível de controle, deve-se decidir qual é o método de
controle a se adotar em cada caso.
2.2.2.3 Amostragem e Nível de Controle das Pragas do Tomateiro
Para o controle de vetores, que são os trips, pulgões e moscas-brancas, as
avaliações deverão ser feitas a sessenta dias após o transplantio das mudas,
batendo os ponteiros de cinco plantas em uma bandeja branca, num total de 20
pontos por talhão, totalizando, assim, 100 plantas por amostra. Deve-se fazer o
controle quando se encontrar, em média, um vetor por ponteiro (SILVA e
CARVALHO, 2004).
A traça-do-tomateiro deve ser avaliada durante todo ciclo do tomateiro, examinando
a presença de minas na terceira folha, a partir do ápice, ou verificando galeria nos
frutos das primeiras pencas. O controle deve ser efetuado quando 20% das folhas
estiverem minadas ou quando 1% dos frutos apresentarem sinais de ataque (SILVA
e CARVALHO, 2004).
A broca-pequena-do-fruto deve ser avaliada a partir da época de frutificação,
amostrando-se 20 pontos por talhão, sendo amostradas cinco plantas em cada
ponto. O controle deve ser realizado quando 5% dos frutos apresentarem sinais de
entrada de lagartas recém-eclodidas ou 1% de frutos com sinais de saídas de
lagartas completamente desenvolvidas (SILVA e CARVALHO, 2004).
Apesar de ser considerada praga secundária, a mosca-minadora deve ser avaliada
durante todo ciclo do tomateiro, examinando-se as folhas no terço superior da planta
(terceira ou quarta folha completamente desenvolvida a partir do ápice da planta),
avaliando 20 pontos por talhão, amostrando-se cinco plantas por ponto. O nível de
19
controle será atingido quando 20% das plantas apresentarem-se minadas (SILVA e
CARVALHO, 2004).
2.2.3 Escolha do Método de Manejo
2.2.3.1 Controle Biológico
O controle biológico consiste no emprego de um organismo que ataca um outro que
esteja causando danos econômicos às lavouras. Trata-se de uma estratégia muito
utilizada em sistemas agroecológicos, como também na agricultura convencional
que se vale do Manejo Integrado de Pragas (MIP). São considerados inimigos
naturais todos os insetos ou outros organismos presentes no campo de produção
sem causar dano à cultura e que estejam realizando um controle natural das pragas.
Esses organismos podem ser divididos em predadores, parasitóides e patógenos
(GALLO et al., 2002).
Predadores são organismos normalmente maiores do que os insetos-praga que se
alimentam de diversas presas para se desenvolver. Entre os principais predadores,
podem-se destacar joaninhas, bicho-lixeiro ou crisopídeo, caradeo, vespas,
aranhas, ácaro fitoseídeo (FERNANDES et al., 2001).
Parasitóides são organismos muito menores do que as pragas. Esses insetos
precisam normalmente de apenas uma presa para se desenvolverem. Os
parasitóides são, em geral, pequenas vespas ou moscas, cujas larvas se
desenvolvem no interior de praga. Temos como exemplos os Trichogramma spp.
(parasitóide de ovos de mariposas e borboletas), Cotesia flavipes (parasitóide de
lagartas) (FERNANDES et al., 2001).
Patógenos são microorganismos que causam doeas nas pragas. Os mais comuns
são as bactérias, os fungos e os vírus. Um dos patógenos mais conhecidos é o
Bacillus thuringiensis que causa a morte de lagartas (FERNANDES et al., 2001).
Como os inimigos naturais vivem livremente sobre todas as culturas, as aplicações
de inseticidas não seletivos podem afetar seriamente a sua população. Desta forma,
20
antes de adotar qualquer medida de controle, deve-se conhecer quais são os
agentes de controle biológico que ocorrem na lavoura e optar por medidas de
controle em que tais agentes sejam menos afetados (GALLO et al., 2002).
2.2.3.1.1 Preservação dos Inimigos Naturais
Os inimigos naturais de pragas de importância econômica devem ser preservados e,
se possível, aumentados através da manipulação do ambiente de forma favorável.
Para isso, são empregadas práticas culturais adequadas de preservação do habitat
e/ou de fontes de alimentão. Estas práticas são importantes por favorecer a ação
de agentes naturais na mortalidade de pragas nos agroecossistemas, mantendo o
equilíbrio entre as diferentes populações (PARRA et al., 2002).
A preservação dos inimigos naturais presentes nos locais de cultivo é de importância
prioritária em programas de manejo de pragas, pois a conservão, aliada à
melhoria, ou seja, o aumento da população de inimigos naturais pode reduzir ou
mesmo eliminar a necessidade de outras medidas de controle para algumas pragas
(CRUZ, 2002).
O controle biológico por conservação envolve a preservação dos inimigos naturais
no agroecossitema por oferecer condições favoráveis de sobrevivência e reprodão
e, conseqüentemente, aumentando sua efetividade. Assim, essa estratégia envolve
o manejo do habitat através de práticas agronômicas que visem o aumento e a
preservação dos inimigos naturais naquele local. Portanto, espécies vegetais que
proporcionem recursos vitais com abrigo, microclima, pólen, ctar ou hospedeiros
alternativos, devem ser incorporadas a esses agroecossistemas (MENEZES, 2006).
Cada sistema agrícola é único, o podendo ser generalizados os efeitos da
diversificação vegetal. Assim, é preciso a geração de conhecimento para realizar o
manejo de pragas através do controle biológico por conservação nos agrossistemas
brasileiros, sendo impossível a utilização de um modelo construído em outro país
(MENEZES, 2006).
21
2.2.3.2 Trofobiose
O francês CHABOUSSOU (1999) é o pioneiro de uma relevante contribuição
científica para uma agricultura sustentável: a teoria da trofobiose (trofo: alimento,
crescimento; biose: existência de vida). Seus experimentos, baseados na teoria da
trofobiose, mostraram uma correlação estreita entre a intensidade de ataques de
parasitos e o estado nutricional das plantas. Alerta, também, que, se aplicadas em
excesso, as adubões de N, K, Ca e Mg podem causar desequilíbrios metabólicos
nas plantas. A susceptibilidade da planta em desequilíbrio aumenta porque ocorre
uma inibão na síntese de proteínas, o que causa acúmulo de açúcares e
aminoácidos livres no suco celular e na seiva da planta, alimento que pragas e
patógenos utilizarão para se proliferar. Em resumo, seus trabalhos revelam que mais
importante do que combater as pragas e doeas é proporcionar às plantas uma
melhor nutrição e menos agressão química.
Fatores que determinam a resistência das plantas a pragas e doeas podem ser
classificados em fisiológicos, que são intimamente ligados ao protoplasma das
plantas, e/ou em morfológicos, que se relacionam às propriedades físicas e químicas
de seus tecidos, e ambos podem sofrer influência do ambiente devido a fatores
nutricionais. A nutrão mineral é um fator ambiental facilmente manipulável para
controle de pragas e doenças, mas, para isso, precisa-se de conhecimento profundo
sobre como os nutrientes aumentam ou diminuem a tolerância das plantas às pragas
e doenças. Sob condições de campo, as aplicações de fertilizantes afetam de duas
maneiras a incidência de pragas e doenças: diretamente por meio do estado
nutricional das plantas e indiretamente pela prodão de estandes densos, pelas
alterações na interceptação luminosa e pela umidade dentro da lavoura
(CARVALHO et al., 2004).
Diante da importância da relação entre nutrição de plantas e pragas e doeas,
devem-se destacar alguns pontos: i) nenhum nutriente por si só controla todas as
doenças em todas as culturas; ii) plantas com desequilíbrios nutricionais são mais
suscepveis comparativamente àquelas com nutrição equilibrada; iii) a forma como
certo nutriente esta disponível às plantas influencia o seu efeito sobre doenças,
como é o caso do nitrogênio que, na forma inorgânica de nitrato, aumenta a
22
suscetibilidade do tomateiro aos patógenos Pseudomonas solanacearum e
Colletotrichum phamoides, enquanto o mesmo, na forma de amônio diminui a
suscetibilidade do tomateiro; iv) as condições do ambiente, principalmente pH,
temperatura, rotão de cultura e atividade microbiana na rizosfera influenciam o
equilíbrio dos nutrientes no solo e seu efeito nas plantas; v) o nível de resistência do
hospedeiro em relação a determinados patógenos é importante na eficiência do
controle pela aplicação de nutrientes (CARVALHO et al., 2004).
2.2.3.3 Resistência Induzida a Insetos
Ao contrário de fungicidas, nematicidas ou inseticidas, os indutores de resistência
não atuam matando os organismos agressores e sim ativando mecanismos de
defesa latentes nas plantas (RESENDE et al., 2007).
Agente indutor é qualquer composto ou fator capaz de ativar mecanismo de defesa
da planta, e eliciador é a molécula presente em um indutor responsável direto pela
ativação dos mecanismos de defesa (BONALDO et al., 2005).
A indução de resistência consiste na utilização de um agente externo (eliciador) para
aumentar a resistência da planta sem nenhuma modificação genética, de maneira
não-específica, por meio da ativação de genes que codificam para diversas
respostas de defesa, tais como as proteínas relacionadas à patogênese (BONALDO
et al., 2005).
Toda planta possui mecanismos de defesa em forma de barreiras para conter a
entrada de seus inimigos, que podem ser herbívoros ou patógenos. Esses
mecanismos, já existentes antes de qualquer ataque ou ativação, são chamados de
defesas constitutivas e são representadas por estruturas como ceras, cuculas,
parede celular espessa, tricomas, fibras vasculares, adaptações em estômatos, bem
como substâncias químicas pré-formadas como fenóis, alcalóides, lactonas
insaturadas, glicodios fenólicos, glicodios cianogênicos, fototoxinas, inibidores
protéicos e enzimas hidrolíticas (PASCHOLATI e LEITE, 1995). Existem também
mecanismos que só se manifestam quando a planta é desafiada por um agressor.
Esses mecanismos envolvem a formação de halos, papila, lignificação, camada de
23
cortiça, formação de tiloses e formação de gomas, além de compostos como
fitoalexinas, proteínas relacionadas à patogênese (Proteínas-RP) e espécies reativas
a oxigênio (PASCHOLATI e LEITE, 1995).
Indução de resistência se traduz na ativação de mecanismos de defesa latentes das
plantas através da utilização de agentes bióticos ou abióticos. A indução de
resistência pode ser localizada ou sistêmica. É localizada quando se manifesta
somente nos tecidos onde se efetuou o tratamento com o agente indutor, e a
resistência sistêmica é aquela que se manifesta à distância do local de aplicação do
indutor (BONALDO et al., 2005).
2.2.3.3.1 Resistência Sistêmica Adquirida e Resistência Sistêmica Induzida
Embora se trate de dois processos diferentes, a resistência sistêmica adquirida
(RSA) e a resistência sistêmica induzida (RSI) são fenotipicamente semelhantes,
uma vez que as plantas têm seus mecanismos de defesa ativados após serem
desafiadas por um agente indutor, tanto no sítio de indução como em locais
distantes dele (BONALDO et al., 2005).
A resistência sistêmica adquirida, que é geralmente induzida por patógenos ou
ativadores químicos, envolve o acúmulo de proteína-RP como mecanismos
induzidos de defesa da planta, sendo sua indução salicilato-dependente. Isso pode
resultar em alterações visuais na planta que sofreu a indão, como, por exemplo,
necroses (BONALDO et al., 2005).
Na resistência sistêmica induzida, o agente indutor é usualmente um microrganismo
não-patogênico, não há acúmulo de proteínas-RP. A planta que sofreu indução não
exibe alterações e sua indão não é salicilato-dependente, parecendo haver outra
rota de sinalização associada a jasmonatos e etileno (BONALDO et al., 2005).
2.2.3.3.2 Indutores Bióticos e Abióticos
24
São considerados indutores de resistência bióticos todos os organismos vivos, ou
parte deles, capazes de ativar os mecanismos de defesa latentes das plantas.
Podem ser fungos, rus, bactérias, nematóides, insetos etc. Os abióticos são os
indutores químicos e físicos, como temperatura e radiações. Com o passar do
tempo, muitos indutores de origem biológica passaram a ser sintetizados em
laboratório e assim passaram a ser considerados indutores abióticos. Estes são
geralmente os indutores de resistência comercializados hoje pelas grandes
indústrias na agricultura (BONALDO et al., 2005).
A ativação de mecanismos de defesa induzidos por fungos, bactérias, vírus e
nematóides pode ser alcaada por diferentes vias, as quais podem ocorrer
isoladamente ou em conjunto. A velocidade com que a planta reconhece a presença
do indutor ou eliciador é que desencadeará uma ou mais respostas de defesa. A
percepção se dá quando moléculas de defesa em plantas se ligam a moléculas
receptoras situadas, provavelmente, na membrana plasmática da célula vegetal
(BONALDO et al., 2005).
Vários trabalhos já foram realizados mostrando que o processo de ativação de
resistência se inicia imediatamente após a indução. O processo todo é muitas vezes
lento e pode não dar tempo de a planta se proteger, tornando-se assim suscevel ao
ataque. A proteção induzida depende do intervalo de tempo entre o tratamento com
o indutor e a subseqüente inoculação da planta com tratamento provocador ou
desafiador (PASCHOLATI e LEITE, 1995). A velocidade com que a planta reconhece
a presença do agente eliciador determina o tempo de resposta à invasão,
desencadeando uma ou mais reações de defesa. Quando a resposta é mais rápida
que o processo de infecção, a planta pode conter o desenvolvimento do patógeno,
resultando na expressão de resistência (BONALDO et al., 2005).
Há de se levar em conta que, quando plantas são expostas a produtos considerados
indutores de resistência, bióticos ou abióticos, e ficam protegidas contra patógenos
ou pragas, não significa que as mesmas estejam com resistência induzida. O
produto pode ter, na verdade, efeito tóxico sobre o agressor e, na realidade,
funcionou como um agrotóxico e não como um indutor de resisncia. Para evitar
que qualquer outro fator, que não seja a resistência induzida, de alguma forma
contribua para reduzir a incidência ou severidade do ataque, foram criados por
25
STEINER & SCHÖNBECK (1995) os critérios básicos para confirmar a real
ocorrência de resistência induzida, que são: i) a ausência de efeito tóxico do agente
indutor sobre o patógeno desafiante; ii) a supressão da resistência induzida pela
exposição prévia da planta a substâncias que inibam a expressão de genes do
hospedeiro, como a actinomicina D; iii) a necessidade de um intervalo de tempo
entre a exposição da planta ao indutor e a expressão da resistência; iv) a ausência
de relão entre a magnitude da resistência expressa e a quantidade crescente do
indutor aplicado, à semelhaa do que se observa em casos picos de defensivos;
v) a inespecificidade de proteção; vi) a resistência deve ser local, sistêmica e ser
dependente do genótipo da planta.
2.2.3.3.3 Custo da Indão de Resistência para Planta
Vários estudos mostram que existem custos de energia para planta quando
submetida a um tratamento com indutores de resistência. Se, após a indução, a
planta sofrer um ataque de pragas ou doenças, os custos serão recompensados
pela proteção adquirida por ela. Se houver a indução, e a planta passar por rias
atividades metabólicas objetivando sua defesa, e se não houver um ataque, a
energia consumida por estas atividades metabólicas poderá custar caro ao
considerar possível queda de produtividade (KUHN e PASCHOLATI, 2007).
O custo não se resume somente a gasto energético, mas também pode afetar
negativamente as plantas através das propriedades autotóxicas dos mecanismos de
defesa ou a partir de influências negativas a organismos benéficos às plantas como
fungos micorrízicos (HEIL, 2001).
Esse efeito pôde ser comprovado por ROMEIRO et al. (2001) ao considerar um
experimento de campo, com pimentão, utilizando o indutor de resistência
Acibenzolar-S-metil (ASM), cujos nomes comerciais são Bion
®
ou Actigard
®
no
controle de Mancha bacteriana causada por Xanthomonas axonopodis pv.
vesicatoria. A resistência induzida foi expressa três dias após o tratamento,
evidenciando sua efetividade e se manteve por duas semanas. Na presença do
patógeno, a produção das plantas tratadas com ASM foi maior do que as não
26
tratadas, mas inferior à das que receberam tratamento com os fungicidas cobre +
maneb. A aplicação semanal de ASM a 35 g.ha
-1
provocou efeitos negativos à
produção em todas cultivares testadas, apesar do controle significativo da
bacteriose. Na ausência do patógeno, a aplicação quinzenal de ASM provocou
atraso na maturação dos frutos e a redução da produtividade, comprovando o custo
energético para planta quando tratada com um indutor de resistência. A redão de
produtividade das plantas, considerando sucessivas aplicações de indutores de
resistência, é devido ao alto requerimento energético, decorrente do aumento das
atividades bioquímicas envolvidas com reações de defesa (KUHN e PASCHOLATI,
2007).
2.2.3.4 Manejo com Químicos
A partir da Segunda Guerra Mundial com o descobrimento dos inseticidas sintéticos,
o controle de pragas foi feito quase que exclusivamente com o uso desses produtos.
Durante a década de 50, os trabalhos científicos sobre controle de pragas tratavam
basicamente do controle com o uso de agrotóxicos. Na verdade os inseticidas
químicos ofereciam a melhor resposta para o controle de pragas. Entretanto, o seu
uso indiscriminado acarretou sérios problemas, principalmente a indução de
resistências das pragas aos agrotóxicos inicialmente utilizados, como os clorados
diclorodifeniltricloroetano (DDT) e hexaclorociclohexano (BHC), além da toxidade ao
homem e meio-ambiente (CRUZ, 2002).
A sociedade, de maneira geral, tomou conhecimento dos sérios problemas causados
pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, quando CARSON (1962) publicou o livro
Primavera Silenciosa. Como este livro demonstrava os efeitos maléficos do uso
indiscriminado destes produtos, a comunidade científica passou a estudar métodos
mais adequados para sua utilização (CRUZ, 2002).
Portanto, quando for necessário o uso de um agrotóxico para controle de uma praga
ou doença, deve-se escolher aquele que for mais seletivo, de alguma maneira,
visando controlar somente a praga ou doea e provocar o nimo efeito sobre os
inimigos naturais, homem e meio-ambiente (CRUZ, 2002).
27
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Noções básicas e perspectivas. In: CAVALCANTI, L.S. et al. Indução de
resistência em plantas a patógenos e insetos, Piracicaba: FEALQ, 2005. p. 11-
27.
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adubação. In: ALVARENGA, M.A.R. Tomate: produção em campo, casa-de-
vegetação e em hidroponia. Lavras: Editora UFLA, 2004. p. 61-120.
CARVALHO, J.L.; PAGLIUCA, L.G. Tomate, um mercado que não pára de crescer
globalmente. Hortifruti Brasil / Cepea, Piracicaba, ano 6, n. 58, 2007. Edição
especial, p. 6-14.
CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da
trofobiose. Trad. Maria José Guazzelli. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1999. 272 p.
CRUZ, I. Controle biológico em manejo integrado de pragas. In PARRA, J.R.P et al.
Controle biológico no Brasil, São Paulo: Molone, 2002. p. 543-570.
FERNANDES, O.A.; CARDOSO, A.M., MARTINELLI, S. Manejo integrado de
pragas do tomate Manual de reconhecimento das pragas e táticas de
controle, Boletim cnico, Jaboticabal: UNESP, 2001.
GALLO, D. et al. Métodos de controle de pragas. In:______. Entomologia agrícola.
Piracicaba: FEALQ, 2002. cap.10, p. 243-359.
HEIL, M. The ecological concept of costs of induced systemic resistance. European
journal of plant pathology, 2001. v.107, p. 137-146.
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controle de fitopatógenos. In RODRIGUES, F.A.; ROMEIRO, R.S. Indução de
resistência em plantas a patógenos, Viçosa: UFV, 2007. p. 67-90.
MENEZES, E.L.A. Controle biológico: na busca pela sustentabilidade na
agricultura brasileira, Revista campo e negócio, ano III, agosto de 2006.
PASCHOLATI, S.F.; LEITE, B. Hospedeiros: mecanismos de resistência. In:
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de fitopatologia:
princípios e conceitos, Piracicaba: Agronômica Ceres, 1995. p. 417-453.
PARRA, J.R.P. et al. Controle biológico: Terminologia. In: PARRA, J.R.P. et al.
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cacaueiro, algodoeiro e tomateiro: perspectivas de utilização. In RODRIGUES, F.A.;
ROMEIRO, R.S. Indução de resistência em plantas a patógenos, Viçosa: UFV,
2007. p. 161-182.
28
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plantas a patógenos na Universidade Federal de Viçosa. In: Simpósio de biologia
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fitodoenças, 1., Lavras. Resumos. Lavras: UFLA, 2002.
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M.A.R. Tomate: produção em campo, casa-de-vegetação e em hidroponia.
Lavras: Editora UFLA, 2004. p. 309-366.
VALE, F.X.R. et al. Manejo integrado das doeas do tomateiro: Epidemiologia e
controle. In: ALVARENGA, M.A.R. Tomate: produção em campo, casa-de-
vegetação e em hidroponia. Lavras: Editora UFLA, 2004. p. 309-366.
29
4 CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO DO COMPOSTO ORGANOMINERAL NA FERTILIDADE
DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.).
RESUMO
Visando a redução do uso de agrotóxicos na cultura do tomateiro, além de uma
maior produtividade e obtenção de frutos de melhor qualidade, foi avaliada a
utilização de um composto organomineral como promotor de estimulação fisiológica
e como indutor de resistência”, conforme sugere o fabricante. Esse produto foi
estudado em dois locais no estado do Espírito Santo: a região de Alto Caxixe em
Venda Nova do Imigrante, onde se concentra o maior plantio de tomate do estado
com altitude em torno de 1.000 m, onde planta-se no peodo mais quente do ano e
na região de Ibatiba, uma nova fronteira para a tomaticultura com altitude em torno
de 700 m, com o plantio indicado para o inverno. No estudo, aplicou-se o produto,
em dois períodos distintos, em lavouras comerciais. Utilizaram-se, em cada um dos
experimentos, quatro doses do composto e quatro intervalos de aplicações, com três
repetições. Nas condições dos experimentos a utilização do composto
organomineral não induziu resistência nas plantas tratadas a nenhuma das pragas
registradas, pois as mesmas não apresentaram diferenças quando comparadas com
os tratamentos que não receberam aplicações do produto. Também não houve
interferência nas características fitocnicas das plantas, inclusive na quantidade ou
qualidade dos tomates produzidos e em seus teores de °Brix”.
Palavraschave: Indução de resistência. Tomateiro. Composto organomineral.
30
ABSTRACT
EVALUATION OF RESISTANCE INDUCING IN THE TOMATO
CULTURE (Solanum lycopersicum L.) USING AN ORGANIC
MINERAL FERTILIZER
Aiming at reducing the use of pesticides in the tomato culture, besides getting greater
and better yields, an organic mineral fertilizer was used and monitored as inducer
resistance”, following the lab recommendations. Besides the nutrients, the product is
made of active ingredients formed by fulvic and humic acids, proteins and enzymes
(TECNOBIOL, 2005). This product was studied in two field experiments regarding
commercial plantations in two different periods. The complete cultivation cycle was
evaluated and in each one of them the following sequence was used: four doses of
fertilizer in four sprinkling turns, repeated three times. Under the experiment
conditions, the use of the organic mineral fertilizer didnt develop any resistance on
the treated plants, for they weren’t any different from the model plants which hadn’t
been sprinkled with the product, even when different doses and sprinkling periods
were used. There was no interference in the quantity or quality of the tomatoes
produced, including their “°Brix levels.
Keywords: Inducing resistance. Tomato plant. Organic mineral fertilizer.
31
4.1 INTRODUÇÃO
O tomate, com uma prodão mundial que ultrapassa os 120 milhões de
toneladas por ano, é cultivado em quase todo o mundo, sendo o Brasil o nono maior
produtor com a terceira maior produtividade mundial. Sua área plantada voltada ao
mercado in natura é de 35 mil ha, que representa 60% de todo tomate produzido no
país (CARVALHO e PAGLIUCA, 2007).
O Espírito Santo planta somente tomate para o consumo in natura, sendo cultivado o
ano todo principalmente na região serrana, que se tornou a mais tradicional
produtora. No verão, é plantado em regiões de maiores altitudes, onde o clima é
mais ameno; e no inverno, em regiões de menores altitudes.
Fruta rica em vitaminas e sais minerais, além de conter uma quantidade
considerável de licopeno, substância muito importante para sde humana por
ajudar no combate a radicais livres e cânceres como o de próstata, é muitas vezes
visto como vilão, dentre as hortaliças. Isso ocorre por conter elevados índices de
resíduos de agrotóxicos, transformando-se de alimento desejado para uma
alimentação saudável para um produto maléfico à saúde (CARVALHO e PAGLIUCA,
2007).
A utilização irresponsável de agrotóxicos realmente acarreta neste problema, o que
é ruim para todos, pois não havendo consumo de tomate, a população deixará de
contar com este grande aliado para uma dieta saudável, os produtores não terão
para quem vender sua produção e a própria indústria, que movimenta milhões de
reais por ano, perderá seus clientes (CARVALHO e PAGLIUCA, 2007).
Vários estudos feitos com tomaticultores demonstraram que há relação entre a
exposição crônica a agrotóxicos e as doeas, principalmente do sistema nervoso
(central e periférico). Além disso, também ocorrem episódios de intoxicação aguda, o
que coloca em risco a vida dos tomaticultores (MOREIRA et al., 2002).
Muito tem sido feito por pesquisadores visando à redução da utilização de produtos
tóxicos na agricultura, seja pela demanda da sociedade por alimentos mais
saudáveis, seja pela preocupação com a contaminação do meio ambiente, e do
32
manuseio deste tipo de produto pelo ser humano. Uma linha de pesquisa que tem
ganhado destaque é a do uso de indutores de resistência a pragas e doenças em
plantas. A indução de resistência consiste no aumento do vel de resistência da
planta por meio do uso de agentes externos (indutores), os quais utilizam dos
mecanismos de defesa latentes das plantas, que, quando desafiadas, desencadeiam
processos bioquímicos, tornando-as mais resistentes a pragas e doenças do que
eram anteriormente à indução (BONALDO et al., 2005).
O presente trabalho tem como objetivo avaliar o potencial de um composto
organomineral na fertilidade da cultura do tomateiro.
33
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
4.2.1 Produto Avaliado
Foi avaliado um composto organomineral, cuja composão contém: Nitrogênio (100
g.L
-1
), Fósforo (25 g.L
-1
), Potássio (50 g.L
-1
), Cálcio (13,75 g.L
-1
), Magnésio (6,87 g.L
-
1
), Enxofre (13,75 g.L
-1
), Zinco (0,069 g.L
-1
), Boro (0,475 g.L
-1
), Ferro (11,25 g.L
-1
,
54% quelatizado com EDTA), Manganês (0,375 g.L
-1
), Cloro (2,75 g.L
-1
), Cobre (0,75
g.L
-1
), Molibdênio (0,075 g.L
-1
), Silício (15 g.L
-1
), Cobalto (0,0875 g.L
-1
), Carbono
Orgânico (87,50 g.L
-1
), além de um núcleo ativo formado por ácidos húmicos e
fúlvicos, proteínas e enzimas, tais como: oxiredutase, transferase, hidroladese,
isomerase entre outras (TECNOBIOL, 2005).
A utilização desse produto foi devido à presea em sua composição de silício, que
é um promotor de indão de resistência, e de substâncias organominerais
promotoras de estimulação fisiológica no tomateiro.
4.2.2 Locais e Material Genético
Este trabalho foi desenvolvido em dois experimentos de campo, juntos a lavouras
comerciais, sendo o primeiro realizado em Alto Caxixe, distrito de Venda Nova do
Imigrante-ES, com o transplantio do tomate feito a campo em 08 de janeiro de 2006;
e o segundo, em Ibatiba-ES, com o transplantio feito a campo em 01 de maio de
2006.
Alto Caxixe está localizado na região serrana do estado do Esrito Santo e o
experimento foi conduzido a uma altitude média de 1.032 m, longitude de 41° 05
22’’a oeste do meridiano de Greenwich e latitude de 20° 25 11’’ ao Sul do equador,
região onde se encontra a maior concentração de plantio de tomate do Estado. Por
ser uma região de clima ameno, o cultivo de tomate é feito de agosto a abril,
regionalmente conhecido como plantio de “região fria”. Além disso, vale relatar que
34
essa região possui um relevo bastante irregular, o que limita o uso de mecanização
e dificulta o manejo da cultura.
Ibatiba localiza-se mais a oeste, e o experimento foi conduzido a uma altitude média
de 740 m, longitude de 4 31 05’’ a oeste do meridiano de Greenwich e latitude de
20° 14 36’’ ao Sul do equador. A região apresenta um relevo bastante acidentado, o
que justifica a predileção pela cultura cafeeira. Entretanto, mais recentemente, houve
um incremento na cultura do tomateiro. Este local tem um clima mais quente e, por
esta razão, este cultivo tem ocorrido no peodo de março a outubro.
Tradicionalmente, o controle de pragas e doeas é feito com base no sistema de
manejo convencional com o uso do calendário de pulverizações, que sugere duas ou
três aplicações semanais de agrotóxico, independentemente de sua real
necessidade.
A cultivar de tomate plantada foi o híbrido Alambra F1, da Clause, de crescimento
indeterminado, considerado tipo longa vida, quanto à duração pós-colheita e tipo
caqui, quanto ao tamanho e formato. As mudas foram produzidas por viveirista
profissional, semeadas em bandejas de poliestireno, sem alterações nos tratos
culturais recomendados para sua produção no viveiro.
4.2.3 Análises Químicas do Solo das Áreas Usadas nos Experimentos
Tabela 1 Análise química do solo utilizado nos experimentos, coletado na
profundidade de 0 a 20 cm.
MO pH P K Na Ca Mg Al H+Al SB t CTC V
Dag.kg
-1
mg.dm
-3
cmol
c
.dm
-3
A.Caxixe 3,5 6,3 30,0 114 - 4,0 1,3 0,0 2,3 5,59 5,59 7,87 70,8
Ibatiba 1,9 5,7 35,0 124 - 1,6 0,6 0,3 2,6 2,52 2,82 5,12 49,2
Os resultados das análises química dos solos apresentados na tabela 1, segundo
DADALTO e FULLIN (2001) para cultura do tomateiro, indicam:
Para o experimento de Alto Caxixe não houve necessidade de correção da
acidez do solo, pois a mesma foi considerada adequada; as quantidades dos
35
nutrientes: fósforo, potássio, cálcio e magnésio foram classificadas como
altas”; o teor de matéria orgânica e a soma de bases também classificadas
como “altas;
Para o experimento de Ibatiba houve necessidade de corrão da acidez do
solo com a aplicação de 1,0 ton.ha
-1
de calcário dolomítico (PRNT de 90%) 90
dias antes do transplantio das mudas, as quantidades de fósforo e potássio
foram classificadas como altas, o teor de matéria orgânica e a soma de
bases médias assim como a quantidade de cálcio e magnésio, antes da
corrão, era classificada commédias.
4.2.4 Condução das Plantas e Tratos Culturais
Os experimentos foram instalados dentro de áreas comerciais a campo, e utilizou-se
o mesmo manejo de uma lavoura de tomate de crescimento indeterminado,
conduzido com tutoramento, limitando somente o controle de pragas na área
experimental.
Os tratos culturais foram realizados conforme recomendões para a cultura, tais
como: adubação, transplantio, irrigação, amontoa, tutoramento, desbrota, etc.
Foi adotado o sistema de duas hastes por planta, conduzidas por estacas de bambu
em posão vertical, com fixação da planta na estaca conforme seu
desenvolvimento.
4.2.5 Avaliação da Indução de Resistência
4.2.5.1 Incidência de Pragas
A partir do sétimo dia, duas vezes por semana, fazia-se o monitoramento de pragas,
onde as mesmas eram observadas, acompanhadas e, a seguir, procedia-se o relato
em planilha. Só era permitida a utilização de controle químico na parcela quando as
36
infestações atingissem os respectivosveis de controle, adotando o seguinte critério
(SILVA e CARVALHO, 2004):
Vetores (trips, pulgões e mosca-branca): avaliação até sessenta dias após o
transplante, batendo os ponteiros das quatro plantas úteis de cada parcela
em uma bandeja branca e procedendo ao controle quando fosse encontrado
em média um vetor por planta.
Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta): monitoração do ciclo todo da cultura,
examinando a presença de minas na 3.ª folha, a partir do ápice, ou
verificando a presença de galerias nos frutos das primeiras pencas,
procedendo ao controle quando fossem encontrados uma folha minada ou um
fruto com sinal de ataque de lagarta por planta.
Broca-pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis): avaliação a partir da
frutificação procedendo ao controle quando um fruto apresentasse sinais de
entrada de lagartas recém-eclodidas por planta.
Mosca-minadora (Liriomyza huidobrensis): monitoração durante todo o ciclo
da cultura, examinando as folhas completamente desenvolvidas do teo
superior da planta, procedendo ao controle quando fossem encontradas 20%
das folhas minadas.
As doenças foram controladas quando apareciam os primeiros sintomas nas
plantas.
4.2.5.2 Características Fitotécnicas
As avaliações das plantas foram feitas a cada 21 dias até o final do período de
cultivo, sendo a medida da altura feita com o auxílio de uma trena graduada em
escala de 1 mm, medindo-se a distância entre o vel do solo e a gema apical da
planta. As medidas do diâmetro da haste das plantas foram realizadas tomando-se
como referência a região da haste localizada a 1 cm de altura em relação à
superfície do solo com o auxílio de um paqmetro graduado com escala de 0,1 mm.
Avaliaram-se também as dimensões dos frutos comprimento e largura com o
auxílio do paquímetro. O teor de sólidos solúveis (°Brix) foi determinado com o uso
37
de um refratômetro; e a produção, pesada em uma balança digital. Foram
considerados todos os frutos produzidos pelas plantas úteis, aptos para
comercialização.
4.2.6 Delineamento Experimental e Análise de Variância
Os experimentos foram instalados num delineamento em blocos casualisados (DBC)
com 17 tratamentos (16 tratamentos variando doses e intervalos de aplicações e 1
testemunha) e três repetições (figura 1).
Figura 1. Croqui da área do experimento, onde cada célula representa uma unidade experimental
com seu devido tratamento.
Cada unidade experimental foi constituída por três linhas com seis plantas cada,
totalizando 18 plantas, num espaçamento de 1,2 m x 0,6 m, o que é padrão para a
região. As plantas úteis, ou seja, aquelas que foram realmente analisadas são as
quatro plantas mais internas de cada unidade experimental, as quais eram
protegidas pelas plantas de bordaduras, evitando influências entre os tratamentos
(Figura 2).
Figura 2. Distribuição das plantas na unidade experimental, onde às plantas úteis estão destacadas
no centro.
Os tratamentos foram:
“00” – testemunha, ou 0,00 L.ha
-1
;
“11” – tratamento usando 25 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 7 dias, ou 9,05 L.ha
-1
;
“12” – tratamento usando 25 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 14 dias, ou 4,55 L.ha
-1
;
41
32
23
24
42
43
32
21
14
43
22
42
12
13
12
13
13
42
Test
44
43
23
24
34
22
41
21
31
32
11
22
44
14
Test
44
33
34
14
24
41
13
31
11
33
31
12
11
Test
33
21
34
X X X X X X
X X X X X X
X X X X X X
38
“13” – tratamento usando 25 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 21 dias, ou 3,05 L.ha
-1
;
“14” – tratamento usando 25 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 28 dias, ou 2,30 L.ha
-1
;
“21” – tratamento usando 50 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 7 dias; ou 18,10 L.ha
-1
;
“22” – tratamento usando 50 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 14 dias; ou 9,10 L.ha
-1
;
“23” – tratamento usando 50 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 21 dias; ou 6,10 L.ha
-1
;
“24” – tratamento usando 50 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 28 dias; ou 4,60 L.ha
-1
;
“31” – tratamento usando 75 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 7 dias; ou 27,15 L.ha
-1
;
“32” – tratamento usando 75 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 14 dias; ou 13,65 L.ha
-1
;
“33” – tratamento usando 75 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 21 dias; ou 9,15 L.ha
-1
;
“34” – tratamento usando 75 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 28 dias; ou 6,90 L.ha
-1
;
“41” – tratamento usando 100 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 7 dias; ou 36,20 L.ha
-1
;
“42” – tratamento usando 100 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 14 dias; ou 18,20 L.ha
-1
;
“43” – tratamento usando 100 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 21 dias; ou 12,20 L.ha
-1
;
“44” – tratamento usando 100 mL.(20 L)
-1
aplicado a cada 28 dias; ou 9,20 L.ha
-1
;
As dosagens testadas variaram de 2,30 L.ha
-1
a 36,20 L.ha
-1
, sendo esta última o
dobro da recomendada para cultura (18,00 L.ha
-1
), para constatar se a dosagem
indicada pelo fabricante é realmente a ideal para o tomateiro. Os intervalos de
pulverizações foram testados porque o fabricante sugere que quanto mais
fracionado for o composto organomineral durante o ciclo da cultura, melhores serão
os resultados obtidos.
As aplicações do composto organomineral foram feitas com pulverizador costal de
capacidade de 20 L de calda. Inicialmente, foram feitas aplicações em esguicho” no
colo das mudas sem uso de bicos, num volume de 50 mL.planta
-1
. As demais
aplicações foram feitas usando o bico pulverizador tipo “cone cheio com volume de
800 a 1.000 L.ha
-1
, pulverizando toda área foliar da planta.
Os dados obtidos de incidência de pragas e análise fitotécnica foram submetidos à
análise de variância e as médias comparadas através do Teste de Tukey (P0,05),
utilizando o programa computacional SAEG versão 9.1 (2007).
39
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.3.1 Efeito Indutor de Resistência
Foi avaliado nos experimentos, o número médio de inseto-praga por planta por
amostragem, presente em cada tratamento durante todo o ciclo da cultura.
O inseto-praga mais comum nos dois experimentos foi a mosca-branca Bemisia
tabaci (Gennadius) (Hemiptera: Aleyrodidae) e mesmo depois de se usar o controle
químico, quando ultrapassavam o nível de controle, sua população se manteve
elevada, devido a sua alta capacidade reprodutiva e de migração, o que confirma
que este inseto vetor de virose está ocorrendo em veis alarmantes em algumas
regiões do Brasil (GALLO et al., 2002). Além de ser um inseto-praga de difícil
controle, seus danos, principalmente o indireto que é a transmissão de viroses,
causam grandes prejuízos aos tomaticultores.
No experimento de Alto Caxixe, o único inseto vetor de virose presente foi a mosca-
branca, sendo que sua intensidade de infestação foi em média de duas vezes e
meia acima do nível de controle, demonstrando se tratar de um sério problema na
região. Não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos, o que sugere não ter
havido indão de resistência para este inseto-praga (Gráfico 1).
Na região de Ibatiba, registrou-se a incidência de mosca-branca e de pulgão Myzus
persicae (Sulzer) (Hemiptera: Aphididae), outro inseto vetor de viroses. Embora a
intensidade de infestação de mosca-branca tenha sido menor que a população
encontrada no experimento de Alto Caxixe, seu índice se manteve acima de 1 vetor /
planta, que é o vel de controle, também não havendo diferenças estatísticas entre
os tratamentos (Gráfico 1). Para o vetor pulgão os dados de intensidade de
infestação variaram de 0 a 0,25, indicando que para esta praga não houve
necessidade de aplicações de inseticidas, pois sua presença se manteve abaixo do
nível de controle (Gfico 2).
40
Gráfico 1mero médio de mosca-branca nos experimentos em função dos tratamentos. Médias
seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%)
Gráfico 2mero médio de pulgão no experimento de Ibatiba em função dos tratamentos. Médias
seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
A busca de métodos alternativos de manejo da mosca-branca é devido ao controle
convencional resumir-se à aplicação de inseticidas, visando o controle populacional
deste inseto. Os tratamentos químicos são, na maioria dos casos, de caráter
preventivo e/ou curativo, não se baseando em critérios populacionais do inseto. De
forma geral, devido às aplicações serem sucessivas, sem rotão de ingredientes
ativos além dos plantios serem escalonados e em áreas próximas, m propiciado
que a mosca-branca se mantenha em altas populações no campo (PALUMBO et al.,
2001).
A intensidade de infestação da mosca-branca foi alta nos dois experimentos, sendo
sua menor população observada na região de Ibatiba justificada por se trata de um
cultivo de inverno onde a presença da mosca-branca é menor (GRAVENA e
41
BENVENGA, 2003) ou pode estar relacionado à região de Ibatiba ser uma nova
fronteira agrícola para o tomate.
Além desses insetos vetores de viroses, somente no experimento de Alto Caxixe foi
observada a incidência da traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyring) (Lepidoptera:
Gelechiidae), que manteve sua intensidade de infestação inferior ao vel de
controle, não havendo por sua causa, necessidade de interveão com outro
método de manejo. No entanto não foi constatada diferença estatística entre os
tratamentos, evidenciando não ter havido indução de resistência da planta do
tomateiro a esse inseto-praga com o uso desse composto organomineral (Gfico 3).
Gráfico 3mero médio de traça-do-tomateiro no experimento de Alto Caxixe em função dos
tratamentos. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
A intensidade de infestação da traça-do-tomateiro se manteve em índices abaixo do
nível de controle, provavelmente devido ao controle químico ter sido feito com tanto
vigor contra a mosca-branca, com inseticidas não específicos, que diminui a
população dos demais insetos-praga que por ventura pudessem se proliferar na
lavoura.
Nas condições dos experimentos, não se notou diferea significativa entre o
número de insetos-praga presentes nos diversos tratamentos, inclusive no
tratamento 41 onde a dose do composto organomineral é o dobro da dose
recomendada pelo fabricante para cultura do tomateiro, o que sugere que a
utilização deste composto organomineral não contribui para o manejo dos insetos-
praga presentes como um indutor de resistência.
42
Compostos organominerais e/ou biofertilizantes tem sido estudados como promotor
de indução de resistência em plantas e obteve-se êxito na utilização de
biofertilizante associado à calda viçosa ou a Bacillus thuringiensis, que reduziram
significativamente o ataque da traça-do-tomateiro e da broca pequena
Neoleucinodes elegantalis (Guenée) (Lepidoptera: Crambidae) em tomateiros
(PICANÇO et al., 1999; NUNES e LEAL, 2001).
Usando uma fonte de silício como indutor de resistência na cultura do trigo contra o
pulgão-verde Schizaphis graminum (Rondani) (Hemiptera:: Aphididae), COSTA
(2007) obteve resultado positivo, onde os dados do experimento com ácido silícico
revelaram que o número de pulgões na testemunha foi nove vezes maior que nas
plantas que receberam aplicação desta fonte de silício, se mostrando uma boa
opção para o controle daquele inseto-praga.
Esperava-se que o silício presente na composão do composto organomineral
estudado, estimulasse a produção de compostos tais como, fenólicos, quitinases,
peroxidases e acúmulo de lignina, os quais estão diretamente relacionados à
promoção de indão de resistência e poderiam interferir na biologia e
desenvolvimento de insetos-praga. A lignina, além de proporcionar suporte
mecânico, coíbe o consumo e reduz a digestibilidade das plantas para os herbívoros
(Taiz & Zeiger, 2004).
4.3.2 Características Fitotécnicas
Os resultados das avaliações fitotécnicas dos experimentos, demonstraram não
haver diferenças estatísticas entre os tratamentos em todas as características
fitotécnicas analisadas, o que indica que o uso do composto organomineral não
contribuiu na fertilidade do tomateiro (Gráficos 4, 5, 6 e 7).
43
Gráfico 4 Altura das plantas (cm) nos experimentos em função dos tratamentos. Médias seguidas da
mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
Gráfico 5 Espessura das hastes (cm) nos experimentos em função dos tratamentos. Médias seguidas
da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
Gráfico 6 Peso total dos frutos (kg) aptos a comercialização nos experimentos em função dos
tratamentos. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
44
Gráfico 7 Valores de °Brix dos frutos nos experimentos em fuão dos tratamentos.dias seguidas
da mesma letra não diferem estatisticamente (Tukey 5%).
O uso de parâmetros fitotécnicos deve ser empregado para se verificar efeitos de
compostos organominerais como promotor de indão de resistência, uma vez que
as plantas quando desafiadas por agentes indutores de resistência, desencadeiam
mecanismos de defesa, e isso pode resultar em alterões visuais e/ou apresentar
um custo energético para as mesmas. O sistema de defesa latente das plantas tem
como finalidade economizar energia e substrato, e quando ativado representa um
custo real para as plantas, uma vez que independente da presea do agressor, ela
investe seus limitados recursos na produção das defesas (KUHN e PASCHOLATI,
2007).
Em milho não se observaram aumentos na altura e na fitomassa fresca das plantas
adubadas com silício, porém observou-se maior diâmetro do caule de plantas
tratadas com este nutriente (NERI, 2006). No cultivo de batata inglesa, o uso do
ácido silícico não promoveu aumento da altura ou diâmetro das plantas tratadas,
mas teve efeito no número de folhas, que foram superiores ao das plantas
testemunhas (GOMES et al., 2008).
No experimento realizado por LANA et al. (2003) a respeito do efeito do silicato de
cálcio sobre a produtividade do tomateiro, não obteve-se resultado positivo de
incremento de produtividade nesta cultura, o que fortalece a hipótese do não
acréscimo de produção estar ligada a relação entre o silício e a cultura do tomateiro.
Plantas que investem recursos para se defender na ausência de pragas ou
patógenos terão um gasto de energia que irá se refletir na produtividade (DI PIERO
45
et al., 2005). Em experimentos realizados com acibenzolar-S-metil no controle de
Xanthomonas axonopodis pv. Vesicatoria na cultura de pimentão, a indução de
resistência foi expressa logo aos três dias após o tratamento e se manteve por pelo
menos duas semanas, mas houve efeito negativo para a produção em todas
cultivares testadas, apesar do controle significativo da bacteriose (ROMEIRO et al.,
2001).
Constatou-se neste trabalho que, independentemente das doses ou dos intervalos
de aplicações, as características fitotécnicas foram semelhantes, o que sugere que
não foram ativados os mecanismos de defesa da planta, pois segundo KUHN e
PASCHOLATI (2007) esta ativação requer energia e este custo é evidenciado na
produtividade e/ou na parte fitotécnica das plantas induzidas. Os resultados obtidos
nos dois experimentos mostram que não houve custo energético para as plantas
tratadas com o composto organomineral quando comparado com as testemunhas.
Provavelmente pelo fato do tomateiro ser uma planta, segundo EPSTEIN (1999),
não-acumuladora de silício, não obtivemos êxitos relacionados à indução de
resistência ou a melhoria das características fitotécnicas neste experimento. Novas
pesquisas deverão ser feitas neste sentido para se obter informações suficientes e
conclusivas.
46
4.4 CONCLUSÕES
Nas condições em que os experimentos foram conduzidos, os resultados permitem
as seguintes conclusões:
O composto organomineral usado nos experimentos não ativou os
mecanismos latentes de defesa das plantas tratadas para as pragas-chaves
do tomateiro;
O composto organomineral usado nos experimentos não contribuiu para uma
melhoria nas características fitotécnicas do tomateiro;
A cultura do tomateiro demonstrou ser uma planta não acumuladora de silício.
47
4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pulgão Schizaphis graminum (Rondani, 1852) (Hemiptera: Aphididae) por silício e
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Tomate. Jaboticabal: SP, 2003. 143p.
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TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 309-
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TECNOBIOL S.A. FERTILIZANTES DO BRASIL. Boletim técnico Ergofito
®
,
Departamento Técnico/Comercial. Vitória, Agosto 2005.
49
5 CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO DE DOIS MÉTODOS DE MANEJO DE PRAGAS NA
CULTURA DO TOMATEIRO (Solanum lycopersicum L.)
RESUMO
Por medo de ter perdas financeiras com a lavoura, o tomaticultor usa agrotóxicos
para controle de pragas e doeas, muitas vezes de forma exagerada, antecipando
aplicações ou repetindo-as sem necessidade. Esse fato além de aumentar os custos
de produção, agride o meio ambiente, a saúde do produtor e pode deixar reduos
indesejáveis nos frutos, prejudicando o consumidor. Visando amenizar este efeito,
foram desenvolvidos métodos alternativos de controle, cujo monitoramento de
pragas constitui parte integrante do sistema manejo fitossanitário da cultura do
tomateiro. Por esta razão, avaliou-se a existência do uso exagerado de agrotóxicos
na prodão de tomates no sistema de manejo convencional de pragas, tendo como
base o calendário de pulverizações. As constatações ocorreram a partir de dois
experimentos de campo, considerando plantios comerciais, na região de Venda
Nova do Imigrante-ES e na região de Ibatiba-ES, em duas épocas do ano. O
monitoramento foi feito com amostragens de campo a cada três dias. Da mesma
forma, foi observado se haveria redução no número de aplicações de agrotóxicos
nas áreas que usaram o sistema de manejo fitossanitário, ao comparar com o
número de aplicações no sistema de manejo convencional de pragas. Como
resultado, obteve-se uma redução de 34% no experimento realizado em Alto Caxixe
e de 52% no experimento de Ibatiba. Não houve interferência na incidência ou
intensidade de infestação de pragas.
Palavraschave: Monitoramento de pragas. Tomateiro. Agrotóxicos.
50
ABSTRACT
EVALUATION OF THE TWO PESTS MONITORING PROCESS IN THE
TOMATO CULTIVATION (Solanum lycopersicum L.)
For fear of financial losses in his tomato plantation, the tomato grower uses
pesticides to control pests, very often in an excessive way, sprinkling the plants
before the due time or repeating the sprinklings unnecessarily. This situation, besides
raising his costs, harms the environment and his own health, and it may also leave
unwanted residue in the tomatoes, thus harming the consumers as well. Aiming at
easing such effect alternative control methods were developed whose pests
monitoring process is an essential part of the phyto-sanitary management of the
tomato culture. That’s why the point evaluated in this work was if pesticides have
been overused in the conventional tomato production following the sprinkling
calendar. The data were collected from two field experiments as far as commercial
plantations are concerned, in the Venda Nova do Imigrante-ES region as in the
Ibatiba-ES region, in Brazil, both in two different periods of the year. The monitoring
process was carried out with field samplings every three days. Likewise, data were
evaluated to check if there would be any reduction in the number of pesticide
sprinklings on the monitored areas as compared to the number of sprinklings in
conventional cultivations following the sprinkling calendar. The results show a 34%
reduction at the Alto Caxixe area and a 52% reduction at Ibatiba. There was no
interference in the quantity and quality of the tomatoes produced.
Keywords: Pests monitoring. Tomato plant. Pesticides.
51
5.1 INTRODUÇÃO
A partir de meados do século passado, a população mundial começou a ter uma
maior preocupação com o uso indiscriminado de agrotóxicos que, até então, era tido
como a principal forma controle de pragas e doeas que atacavam as lavouras. A
comunidade científica passou a desenvolver e divulgar formas alternativas de
controle e, assim, diminuir os impactos negativos que os agrotóxicos estavam
provocando (CRUZ, 2002).
No sistema de manejo convencional de controle de pragas e doenças, o agricultor
segue uma determinada rotina de pulverizações de acordo com a lavoura cultivada,
o chamado “calenrio de pulverizações”. No caso do tomate, por se tratar de uma
cultura de alto custo e risco devido ao grande número de pragas e doenças, o
tomaticultor, por “segurança”, faz uso sistemático de agrotóxicos, muitas vezes sem
necessidade ou lógica. É comum na região tomaticultora do Espírito Santo, o
produtor ter como padrão três pulverizações por semana e, em cada uma, usar uma
mistura de vários princípios ativos, como inseticidas, fungicidas e bactericidas.
Quando aparecem surtos de pragas ou doenças, o número de pulverizões pode
passar a quatro ou cinco por semana.
Apesar das dificuldades encontradas no controle das principais pragas do tomateiro,
exigindo geralmente a adoção de controle químico, é possível associar medidas
culturais, biológicas e físicas que possibilitam uma convivência harmoniosa, sem
perdas financeiras com a lavoura (PRATISSOLI e PARRA, 2001).
Um dos métodos de manejo integrado de pragas é a utilização do monitoramento de
pragas. Essa estratégia consiste em utilizar amostragens visando avaliar a
incidência e a flutuação populacional das pragas, ou seja, sua intensidade de
infestação, e com isso determinar o vel de controle das mesmas (GRAVENA et al.,
1998).
O sistema manejo fitossanitário é importante no sistema de produção da cultura do
tomate, visto que o seu controle se fundamenta em amostragens para determinar a
intensidade do ataque da praga (GOMIDE et al., 2001; BENVENGA et al., 2007),
bem como na sua dinâmica populacional (BAVARESCO et al., 2005). Assim pode-se
52
criar um histórico da área identificando quais as pragas mais comuns, quando o seu
ataque se torna mais intenso, como é a flutuação populacional dos inimigos naturais
destas pragas e quais atitudes preventivas devem-se tomar. O uso do sistema
manejo fitossanitário contribui para um agronegócio-tomate mais sustentável,
levando-se em consideração medidas de menor impacto ambiental, tornando as
atividades relacionadas ao controle de pragas ecologicamente mais viável,
proporcionando, além da redução do custo de produção, uma maior segurança ao
produtor e ao consumidor (SILVA e CARVALHO, 2004).
O presente trabalho tem o objetivo de avaliar, num campo comercial de produção de
tomate, a incidência e a intensidade de infestação de pragas e comparar o número
de pulverizações com agrotóxicos em dois sistemas de manejo de pragas: sistema
de manejo convencional de pragas e sistema de manejo fitossanitário.
53
5.2 MATERIAIS E MÉTODOS
5.2.1 Locais e Material Genético
Este trabalho foi desenvolvido em dois experimentos de campo, juntos a lavouras
comerciais, sendo o primeiro realizado em Alto Caxixe, distrito de Venda Nova do
Imigrante-ES, com o transplantio do tomate feito a campo em 08 de janeiro de 2006;
e o segundo, em Ibatiba-ES, com o transplantio feito a campo em 01 de maio de
2006.
Alto Caxixe está localizado na região serrana do estado do Esrito Santo e o
experimento foi conduzido a uma altitude média de 1.032 m, longitude de 41° 05’
22’a oeste do meridiano de Greenwich e latitude de 20° 25’ 11’’ ao Sul do equador,
região onde se encontra a maior concentração de plantio de tomate do Estado. Por
ser uma região de clima ameno, o cultivo de tomate é feito de agosto a abril,
regionalmente conhecido como plantio de “região fria”. Além disso, vale relatar que
essa região possui um relevo bastante irregular, o que limita o uso de mecanização
e dificulta o manejo da cultura.
Ibatiba localiza-se mais a oeste, e o experimento foi conduzido a uma altitude média
de 740 m, longitude de 4 3105’’ a oeste do meridiano de Greenwich e latitude de
20° 14’ 36’’ ao Sul do equador. A região apresenta um relevo bastante acidentado, o
que justifica a predileção pela cultura cafeeira. Entretanto, mais recentemente, houve
um incremento na cultura do tomateiro. Este local tem um clima mais quente e, por
esta razão, este cultivo tem ocorrido no período de março a outubro.
A cultivar de tomate plantada foi o híbrido Alambra F1, da Clause, de crescimento
indeterminado, considerado tipo longa vida, quanto à duração pós-colheita e tipo
caqui, quanto ao tamanho e formato. As mudas foram produzidas por viveirista
profissional, semeadas em bandejas de poliestireno, sem alterações nos tratos
culturais recomendados para sua produção no viveiro.
54
5.2.2 Condução das Plantas e Tratos Culturais
Os experimentos foram instalados dentro de áreas comerciais, utilizando-se do
mesmo manejo de uma lavoura de tomate de crescimento indeterminado, conduzido
com tutoramento, limitando somente o controle de pragas na área experimental.
Os tratos culturais foram realizados conforme recomendações para a cultura do
tomateiro, tais como: adubação, transplantio, irrigação, amontoa, tutoramento,
desbrota, etc.
Foi adotado o sistema de duas hastes por planta, conduzidas por estacas de bambu
em posão vertical, com fixação da planta na estaca conforme seu
desenvolvimento.
5.2.3 Implantação das Unidades Experimentais
Cada unidade experimental foi constituída por 288 plantas. Avaliaram-se dois
sistemas de manejo de pragas, com três repetições, totalizando seis unidades
experimentais e 1.728 plantas.
Os sistemas de controle de pragas estudados foram: Sistema de Manejo
Convencional de Pragas e Sistema de Manejo Fitossanitário. Ambos monitorados e
acompanhados quanto à incidência e intensidade das pragas, e números de
pulverizações com agrotóxicos para pragas.
No sistema de manejo convencional de pragas, usou-se o controle químico a cada
dois dias. Quando verificava-se a incidência de algum inseto-praga vivo, mesmo
fazendo as pulverizações programadas, repetia-se o controle químico até que o
mesmo o fosse mais observado na unidade experimental, tal como se faz no
plantio comercial convencional naquelas regiões.
No sistema de manejo fitossanitário, só foi permitido à utilização de controle químico
quando a intensidade de infestação atingisse o respectivo vel de controle,
seguindo o critério descrito por SILVA e CARVALHO (2004).
55
A partir do sétimo dia do transplantio das mudas a campo, iniciaram as amostragens
feitas duas vezes por semana, e os dados coletados lançados em planilhas para
identificação, análise e tomada de decisão. O monitoramento de pragas foi realizado
nos dois sistemas de manejo.
5.2.4 Avaliações da Incidência e Intensidade Infestação de Pragas nos Dois
Sistemas de Manejo
O monitoramento foi feito com amostragens onde as pragas eram observadas,
acompanhadas e, a seguir, procedia-se o relato em planilha.
Mesmo não observando incidência de pragas nas amostragens do sistema de
manejo convencional, prosseguia-se com o controle químico de acordo com o
calendário programado.
No sistema de manejo fitossanitário só era permitida a utilização de controle químico
quando as infestações atingissem os respectivos níveis de controle, adotando o
seguinte cririo (SILVA e CARVALHO, 2004):
Vetores (trips, pulgões e mosca-branca): avalião até sessenta dias após o
transplante, batendo os ponteiros das quatro plantas úteis de cada parcela
em uma bandeja branca e procedendo ao controle quando fosse encontrado
em média um vetor por planta.
Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta): monitoração do ciclo todo da cultura,
examinando a presença de minas na 3.ª folha, a partir do ápice, ou
verificando a presença de galerias nos frutos das primeiras pencas,
procedendo ao controle quando fossem encontrados uma folha minada ou um
fruto com sinal de ataque de lagarta por planta.
Broca-pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis): avaliação a partir da
frutificação procedendo ao controle quando um fruto apresentasse sinais de
entrada de lagartas recém-eclodidas por planta.
Mosca-minadora (Liriomyza huidobrensis): monitoração durante todo o ciclo
da cultura, examinando as folhas completamente desenvolvidas do teo
56
superior da planta, procedendo ao controle quando fossem encontradas 20%
das folhas minadas.
As doenças foram controladas quando apareciam os primeiros sintomas nas
plantas.
5.2.5 Avaliações do Número de Pulverizações
No sistema de manejo convencional de pragas, seguiu-se o calendário de
pulverizações programado, ou aumentou-se este número de pulverizações de
acordo com a incidência de inseto-praga vivo observado nas amostragens.
No sistema de manejo fitossanitário, quando a intensidade de infestação de algum
inseto-praga atingisse o vel de controle, utilizava-se o controle químico através de
pulverizações com agrotóxicos para reduzir sua população. Os agrotóxicos utilizados
foram os mesmos usados nas áreas do sistema de manejo convencional de pragas.
Os meros de pulverizações foram registrados e as médias dos dois sistemas de
manejo foram comparadas entre si.
5.2.6 Delineamento Experimental e Análise de Variância
Os experimentos foram instalados num delineamento em blocos casualisados (DBC)
com dois tratamentos: Sistema de Manejo Convencional de Pragas e Sistema de
Manejo Fitossanitário e três repetições.
Os dados obtidos nos dois sistemas de manejo foram submetidos ao teste “t” para
duas amostras independentes, com a hipótese H
0
: µ sistema de manejo
convencional = µ sistema de manejo fitossanitário e a hipótese alternativa H
a
: µ
sistema de manejo convencional > µ sistema de manejo fitossanitário, uma vez que
os valores de µ sistema de manejo convencional sempre foram maiores que a µ
sistema de manejo fitossanitário. Os resultados de t calculado foram comparados ao
t tabelado ao nível de 1% de probabilidade. Utilizou-se o programa computacional
SAEG versão 9.1 (2007).
57
5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliadas nos experimentos a incidência e a intensidade de infestão de
pragas por planta por amostragem, presente em cada sistema de manejo e o
número de pulverizações com agrotóxicos para o controle destas pragas durante
todo o ciclo da cultura.
Seja no sistema de manejo convencional de pragas ou no sistema de manejo
fitossanirio, a mosca-branca Bemisia tabaci (Gennadius) (Hemiptera: Aleyrodidae)
foi o inseto-praga com incidência observada em todas as amostragens tanto no
experimento de Alto Caxixe como no experimento de Ibatiba.
Na maior parte das amostragens a intensidade de infestação de mosca-branca
esteve num índice superior ao determinado como nível de controle. No experimento
de Alto Caxixe, verificou-se somente na segunda e terceira amostragem, uma
intensidade de infestação abaixo do nível de controle, seja no sistema de manejo
convencional de pragas ou no sistema de manejo fitossanitário, ficando a partir da
quinta amostragem em níveis extremamente altos durante todo ciclo da cultura. Para
o experimento de Ibatiba, obteve-se em cinco amostragens para o sistema de
manejo fitossanirio, e quatro amostragens para o sistema de manejo convencional
de pragas, índices abaixo dovel de controle (Gráfico 8).
Outro inseto-praga vetor de virose, com incidência observada somente no
experimento de Ibatiba, foi o pulgão Myzus persicae (Sulzer) (Hemiptera: Aphididae),
que foi detectado nas primeiras quatro amostragens, não tendo incidência
observada nas quinta e sexta amostragens, voltando a ter incidência na sétima
amostragem nos dois sistemas de manejo. A partir desta amostragem, no sistema
de manejo convencional de pragas o pulgão não teve incidência observada até o
final do ciclo da cultura. No sistema de manejo fitossanitário o pulgão teve incidência
na oitava amostragem, não tendo incidência na nona e cima amostragens, com
incidência observada na cima primeira amostragem e depois não tendo incidência
observada até o final do ciclo da cultura (Gfico 9).
58
Embora com incidência observada no experimento de Ibatiba, o pulgão manteve a
intensidade de infestação abaixo do nível de controle em todas as amostragens nos
dois sistemas de manejo, sem a necessidade usar outro tipo de controle contra este
vetor (Gráfico 9).
A traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyring) (Lepidoptera: Gelechiidae) teve
incidência observada apenas no experimento de Alto Caxixe. Sua incidência ocorreu
nas segunda, terceira, nona, décima, décima quarta, cima quinta e cima sétima
amostragens, onde a partir deste ponto sua incidência foi observada até o final do
ciclo da cultura no sistema de manejo convencional de pragas. No sistema de
manejo fitossanitário, além destas amostragens, a traça-do-tomateiro teve também
incidência observada na quinta amostragem (Gfico 10).
A intensidade de infestação da traça-do-tomateiro manteve-se em índices abaixo do
nível de controle em todas as amostragens nos dois sistemas de manejo estudado
(Gráfico 10).
Gráfico 8mero médio de mosca-branca por planta por amostragem em função do sistema de
manejo (a linha em destaque representa o nível de controle).
59
Gráfico 9mero médio de pulgão por planta por amostragem em função do sistema de manejo (a
linha em destaque representa o nível de controle).
Gráfico 10 Número médio de traça-do-tomateiro por planta por amostragem em função do sistema de
manejo (a linha em destaque representa o nível de controle).
Usando-se o sistema de manejo fitossanitário, o mero de pulverizações com
agrotóxicos foram reduzidos nos dois experimentos deste trabalho, quando
comparados com o sistema de manejo convencional de pragas que usa o calendário
de pulverizações. No experimento de Alto Caxixe foram necessárias 23
pulverizações no sistema de manejo fitossanitário e realizou-se 35 pulverizações no
sistema de manejo convencional de pragas, o que resulta em uma redução de 34%.
No experimento de Ibatiba foram necessárias 11 pulverizações no sistema de
manejo fitossanitário e 23 pulverizações no sistema de manejo convencional de
pragas, resultando uma redução de 52% (Gráfico 11).
60
Gráfico 11 Número de pulverizações com agrotóxicos em função do sistema de manejo. Médias
seguidas da mesma letra em cada experimento não diferem estatisticamente (Teste t” 1%).
No experimento de Alto Caxixe a intensa presença da mosca-branca, possivelmente
é devido à região ser tradicional produtora de tomate, com plantios escalonados e
consecutivos, assim como, em cultivo de verão ocorrer maior incidência, devido a
condições cliticas favoráveis (GRAVENA, 2003).
Esperava-se no sistema de manejo convencional de pragas dos dois experimentos,
onde se fez uso de um mero maior de pulverizações com agrotóxicos, que a
intensidade de infestação de mosca-branca fosse menor, mas como se pode
observar (Gfico 8) isto não ocorreu, não havendo uma constante de nível
populacional mais baixo, e sim uma intensidade de infestação variando em algumas
amostragens menor no sistema de manejo convencional de pragas, em outras
menor no sistema de manejo fitossanitário. Este fato ocorreu possivelmente porque,
utilizando o sistema de manejo fitossanitário propiciamos que os objetivos do MIP
sejam atingidos, os quais são: i) redão da população de pragas; ii) quebra do ciclo
da praga; iii) incremento das populações de inimigos naturais; iv) redução da
infestação inicial de pragas; v) aumento da diversidade do agroecossistema.
A população do pulgão e da traça-do-tomateiro se manteve numa intensidade de
infestação abaixo dos níveis de controle, provavelmente devido ao controle químico
ter sido feito com freência contra a mosca-branca, com inseticidas o
específicos, que diminui a população dos demais insetos-praga que possivelmente
pudessem se proliferar na lavoura. Nestes casos observam-se também uma
intensidade de infestação hora menor no sistema de manejo convencional de pragas
61
onde se fez uso de um mero maior de pulverizações com agrotóxicos, hora menor
no sistema de manejo fitossanitário, não mantendo uma constância.
Para evitar perdas financeiras devido ao alto custo de implantão e condução da
cultura do tomate, os tomaticultores, na maioria das vezes, fazem uso de agrotóxicos
para controle de pragas e doeas, usando o calenrio de pulverizações conforme
relatado por VALE et al. (2004). Como demonstrado pelos resultados deste trabalho,
nas condições em que os experimentos foram conduzidos, o uso do sistema de
manejo fitossanitário reduz o mero de pulverizações com agrotóxicos, melhorando
assim a receita financeira do produtor, sua qualidade de vida, a qualidade dos
tomates produzidos, além de preservar o meio ambiente.
Nos experimentos deste estudo, obteve-se 34% e 52% de redução no número de
pulverizações nos trabalhos de Alto Caxixe e Ibatiba respectivamente, o é
confirmado pela afirmação de GRAVENA et al. (1998), que relataram ser posvel
diminuir em até 70% o número de pulverizações com agrotóxicos utilizando apenas
o monitoramento e escolha criteriosa de inseticidas.
Resultados semelhantes foram alcançados no Rio Grande do Sul na cultura do
pessegueiro, onde com o sistema de manejo fitossanitário fez-se nove pulverizações
com agrotóxicos e no sistema de manejo convencional de pragas dezessete. O
custo total de prodão foi maior no plantio convencional, e esta diferença se
destacou nos gastos com agrotóxicos, que no custo de total representou 70% no
sistema de manejo convencional de pragas e 46% no plantio o uso do sistema de
manejo fitossanitário (FARIAS et al., 2003)
Em trabalho realizado em Caçador - SC no ano agrícola 2005/06 houve redão de
71,4% nas aplicações de inseticidas para a traça-do-tomaterio, e na safra seguinte a
redução foi de 87,5%. SANTOS et al. (2008) descreve que o sistema de manejo
fitossanirio permitiu acompanhar o aumento e a diminuição da população da traça,
verificar as épocas de ocorrência e os picos populacionais e facilitar a orientação da
tomada de decisão sobre o momento mais adequado para a realização do controle.
Na tomaticultura tradicional com o uso do sistema de manejo convencional de
pragas, o número de pulverizações com agrotóxicos é maior que o necessário para
62
se obter os mesmos resultados com a cultura, pois independente da presença ou
não do inseto-praga, as pulverizações programadas são realizadas, e se for
percebido um ataque de invasores, aumenta-se o mero de aplicações. A adoção
do sistema de manejo fitossanitário pelo produtor demonstra ser uma alternativa
confiável, para racionalizar a utilização de agrotóxicos. Entretanto, segundo
WALKER et al. (1998) constitui-se, ainda, um obstáculo a ser superado, e para se
promover a expansão do sistema de manejo fitossanitário, é essencial a melhoria da
confiabilidade, para a tomada de decisão e da simplicidade no entendimento do
monitoramento pelos produtores.
63
5.4 CONCLUSÕES
Nas condições em que os experimentos foram conduzidos, os resultados permitem
concluir que a adoção do sistema de manejo fitossanirio possibilita a redução do
número de pulverizações com agrotóxicos na cultura do tomateiro quando
comparado com o uso do sistema de manejo convencional de pragas.
64
5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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monitoramento da flutuação populacional da traça-do-tomateiro Tuta absoluta no
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83-86, jul. 2005.
BENVENGA, S.R.; FERNANDES, O.A.; GRAVENA, S. Tomada de decisão de
controle da tra-do-tomateiro através de armadilhas com feromônio sexual.
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FARIAS, R.M. et al. Análise comparativa do custo anual de pomar de pessegueiro
conduzido no sistema integrado e convencional na região da depressão central do
RS. Revista da FZVA. Uruguaiana, v. 10, n. 1, p. 13-24. 2003.
GOMIDE, E.V.A.; VILELA, E.F.; PICANÇO, M. Comparação de procedimentos de
amostragem de Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) em tomateiro
estaqueado. Neotropical Entomology, Londrina, v. 30, n. 4, p. 697-705, 2001.
GRAVENA, S. et al. Manejo ecológico de pragas e doenças do tomate envarado:
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internacional de agricultura sustentável. Rio de Janeiro, 1998.
GRAVENA, S; BENVENGA, S. R. Manual Prático de Manejo de Pragas do
Tomate. Jaboticabal: SP, 2003. 143p.
PRATISSOLI, D.; PARRA, J.R.P. Seleção de linhagens de Trichogramma pretiosum
Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) para o controle das traças Tuta absoluta
(Meyrick) e Phithorimaea operculella (Zeller) (Lepidoptera: Gelechiidae). Neotropical
Entomology, Londrina, v. 30, n. 2, p. 277-282, 2001.
SAEG Sistema para análise estatística, Versão 9.1: Fundação Arthur Bernardes
UFV Viçosa, 2007.
SANTOS, J.P. et al. Incidência de machos adultos de traça-do-tomateiro nos
sistemas de produção convencional e integrada de tomates em Caçador, SC.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.21, n.1, mar. 2008.
SILVA, A.C.; CARVALHO, G.A. Manejo integrado de pragas. In: ALVARENGA,
M.A.R. Tomate: produção em campo, casa-de-vegetação e em hidroponia.
Lavras: Editora UFLA, 2004. p. 309-366.
VALE, F.X.R. et al. Manejo integrado das doenças do tomateiro: Epidemiologia e
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vegetação e em hidroponia. Lavras: Editora UFLA, 2004. p. 309-366.
65
WALKER, J.T.S. et al. Integrated Fruit Production (IFP) for New Zealand pipfruit:
evaluation of pests management recomendations. In: PLANT PROTECTION
CONFERENCE, 51. New Zealand. 1998. p.166-172.
66
6 CONSIDERÕES FINAIS
Novos estudos sobre métodos alternativos de controle de pragas para a cultura do
tomateiro tutorado deverão ser feitos e são de grande importância devido a fatos
como: tratar-se de um cultivo voltado à agricultura familiar; a forma mais consumida
desta fruta pelo ser humano ser na forma in natura; ser um alimento de grande
importância para uma dieta saudável.
Os resultados obtidos no presente trabalho nos permitem considerar que a
associação de métodos de manejo sustentável contribui para uma tomaticultura
sustentável, protegendo todo o sistema de produção desta cultura e propiciando, ao
mesmo tempo, uma maior rentabilidade ao produtor, bem como uma diminuição dos
efeitos impactantes ao meio ambiente.
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