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— possibilita essa vasta abertura onde tudo se discute e tudo se questiona. Correntes políticas
antagônicas disputam, pela base e no campo superestrutural, a consciência das massas. Nesse
âmbito, a literatura nordestina de 30 e início de 40 desempenha papel importante, na medida
em que se reveste de um fundo ideológico esquerdizante para atacar as velhas estruturas e
também a nova ordem liberal imposta pelos Estados Unidos. São dessa época obras como
Jubiabá, de Jorge Amado, Vidas Secas, de Graciliano Ramos e O Quinze, de Rachel de
Queiroz.
É claro que não podemos esquecer que tais obras somente afloram porque, em 30,
ocorre uma fase de liberdade — fases essas que, no Brasil, além de serem seguidas por fases
de repressão, não são completas — que possibilita uma discussão mais acirrada no campo das
idéias. Daí também a militância de alguns de nossos principais escritores, que se digladiam
entre ideologias contraditórias. É uma fase de radicalismo tanto da direita quanto da esquerda
médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo
popular, deixando em aberto, porém, a definição sobre as vias pelas quais se chegaria a esse governo.
No mês de março, constituiu-se o diretório nacional provisório da ANL, composto, entre outros, por
Herculino Cascardo (presidente), Amoreti Osório (vice-presidente), Francisco Mangabeira, Roberto Sisson,
Benjamim Soares Cabello e Manuel Venâncio Campos da Paz. No final do mês, a ANL foi oficialmente
lançada em solenidade na capital federal à qual compareceram milhares de pessoas. Na ocasião, Luiz
Carlos Prestes, que se encontrava na União Soviética, foi aclamado presidente de honra da organização.
Prestes, que nessa época já aderira ao comunismo, desfrutava de enorme prestígio devido ao seu papel de
líder da Coluna Prestes, que na década anterior havia tentado derrubar o governo federal pelas armas.
Nos meses seguintes, calcula-se que dezenas de milhares de cidadãos filiaram-se formalmente à ANL,
embora o número exato dessas filiações jamais tenha sido conhecido. Houve adesões importantes, como as
de Miguel Costa, Maurício Lacerda e Abguar Bastos. Diversas personalidades, mesmo sem se filiar,
mostraram-se simpáticas à Aliança, como os ex-interventores Filipe Moreira Lima, do Ceará, e Magalhães
Barata, do Pará, o deputado federal Domingos Velasco e o prefeito do Distrito Federal, Pedro Hernesto. A
entidade promoveu concorridos comícios e manifestações públicas em diversas cidades e teve sua atuação
divulgada por dois jornais diários a ela diretamente ligados, um do Rio de Janeiro e outro de São Paulo.
Em abril de 1935 Luiz Carlos Prestes voltou clandestinamente ao Brasil. Incumbido pela direção da
Internacional Comunista de promover um levante armado que instaurasse no país um governo nacional-
revolucionário, recebia a colaboração de um pequeno mas experiente grupo de militantes estrangeiros,
entre os quais se incluía sua esposa, a alemã Olga Benário.
À medida que a ANL crescia, aumentava a tensão política no país, com freqüentes conflitos de rua entre
comunistas e integralistas. No dia 5 de julho, a ANL promoveu manifestações públicas para comemorar o
aniversário dos levantes tenentistas de 1922 e 1924. Nessa ocasião, contra a vontade de muitos dirigentes
aliancistas, foi lido um manifesto de Prestes propondo a derrubada do governo e exigindo "todo o poder à
ANL". Vargas aproveitou a grande repercussão do manifesto para, com base na Lei de Segurança Nacional,
promulgada em abril, ordenar o fechamento da organização.
Na ilegalidade, a ANL não podia mais realizar grandes manifestações públicas e perdeu o contato com a
massa popular que com ela se entusiasmava. Ganharam então força em seu interior os membros do Partido
Comunista e os "tenentes" dispostos a deflagrar um levante armado para depor o governo. Em novembro de
1935 estourou em Natal (RN) um levante militar em nome da ANL. Em seguida ao movimento em Natal, que
obteve apoio popular e chegou a assumir o controle da cidade por quatro dias, foram deflagrados levantes
em Recife e no Rio de Janeiro. O governo federal não teve dificuldade para dominar a situação, iniciando
logo a seguir intensa repressão contra os mais variados grupos de oposição atuantes no país, vinculados ou
não ao levante. A ANL, alvo principal dessa onda repressiva, foi inteiramente desarticulada.
Aliança Nacional Libertadora (ANL). Disponível em:
<http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos30-37/ev_radpol_anl.htm>, acesso em 01/11/2006.