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intuito” ou objetivo do locutor, “as formas típicas de estruturação do gênero” (BAKHTIN, 2000,
p. 299). Em outras palavras:
Em qualquer enunciado [...] captamos, compreendemos, sentimos o intuito
discursivo ou o querer-dizer do locutor que determina o todo do enunciado: sua
amplitude, suas fronteiras. Percebemos o que o locutor quer dizer e é em
comparação a esse intuito discursivo, a esse querer-dizer [...] que mediremos o
acabamento do enunciado. Esse intuito determina a escolha, enquanto tal, do
objeto, com suas fronteiras [...] e o tratamento exaustivo do objeto de sentido
que lhe é próprio. Tal intuito vai determinar também, claro, a escolha da forma
do gênero em que o enunciado será estruturado (Ibid., p. 300).
Portanto, de acordo como o intuito, objetivo ou intenção do locutor é que este seleciona o
gênero adequado para atingir os objetivos comunicacionais de seu enunciado. Sendo assim, os
enunciados concretizam-se na forma de gêneros do discurso.
Bakhtin propõe uma distinção entre os gêneros em primários e secundários.
Corresponderiam aos gêneros de discurso primário aqueles mais simples, espontâneos, de
linguagem cotidiana, familiar (orais, mas não exclusivamente). Enquanto os gêneros de discurso
secundário são gêneros mais complexos como o conto, o romance, o discurso científico, etc.
(escritos, mas não exclusivamente). Os gêneros secundários formam-se a partir dos gêneros
primários, que ao serem englobados nesta esfera transmutam-se e perdem seu contexto real e
imediato, tornando-se representações dos gêneros primários. Por exemplo, a apresentação de
uma conversa do tipo cotidiana em uma peça teatral é a representação desse gênero primário,
porque não há espontaneidade, nem o contexto real, fato que faz com que a peça seja um gênero
secundário. Há, portanto, a inter-relação entre os gêneros primários e secundários, sendo os
últimos a complexificação dos primeiros.
Em Bakhtin, os gêneros são “tipos relativamente estáveis de enunciados”, que apresentam
uma inesgotável variedade conforme a esfera social a que se vinculam (BAKHTIN, 2000, p.
279). São assimilados, assim como a língua materna, por meio das experiências sociais de
comunicação verbal: ouvindo e reproduzindo, pois sempre falamos por meio de gêneros do
discurso e não os aprendemos em manuais, mas na e pela interação com o social, assim
“aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de
imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gênero” (Ibid., p. 302).
Para o autor, “a comunicação verbal seria quase impossível” sem a existência e domínio
dos gêneros, pois o caráter normativo deles facilita a eficiência da comunicação (BAKHTIN,