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Logo, ao mesmo tempo em que discute o papel dos métodos e do
próprio professor no planejamento e prática de sala de aula, Joana reapresenta a
idéia da docência enquanto cuidado e afetividade. Novamente, aparecem sinais
de que o papel do professor está relacionado muito mais com aspectos inter-
relacionais do que com aspectos cognitivos. Além disso, demonstra também que
os professores contribuem significativamente para a formação de seus conceitos,
quando afirma que os professores sempre recomendavam leituras e o uso
cuidadoso dos computadores. Começa a se configurar aqui, para o pesquisador,
um terceiro núcleo organizador de sentidos subjetivos. Para ela, a prática docente
também envolve o preparar, o ensinar para a vida.
Quando questionada sobre o que realmente entende ser o papel dos
professores, afirma que é:
ensinar pra vida. Em todos os aspectos. Não é só questão de
conteúdo. É comportamento, crenças, tudo isso. É contribuir pra
formação do indivíduo. Você vai contribuir, não vai formar [risos].
Você vai contribuir pra formação do indivíduo em todos os
aspectos. Tudo aquilo que você ensinar pra ele, ele vai levar pra
vida dele. Em tudo. No que ele vai acreditar, no que ele vai ser
como pessoa, no que ele vai ser nos relacionamentos, tudo vai
refletir. Vai ser na reflexão do que ele recebeu quando ele estava
na sala de aula. Porque o maior contato de uma criança, que os
pais trabalham [...], maior contato em relação a valores, com
relação a comportamento, é com o professor, muitas vezes. Não
com os pais. Meus pais, mesmo, trabalhavam. E, [...] as coisas
que eu aprendi, que eu acredito, ou que acreditava, têm a ver com
a visão deles, eu absorvi aquilo pra mim. E muitas coisas me
influenciam até hoje, em vários aspectos. Eu imaginei isso
baseado na minha experiência. (grifos meus)
Aqui aparece a idéia de docência como missão, de educação para a
vida, para a formação do cidadão, do indivíduo. Diante da necessidade da
ausência dos pais, o professor assume o papel de alguém que vai influenciar
grandemente o aluno. Para Joana, baseada em sua experiência, o professor deve
também atuar na preparação e formação de valores, comportamentos adequados
e crenças dos alunos. Essa idéia de professor enquanto influência constante na
vida do aluno demonstra uma visão idealista da prática docente. Novamente,
parece que são ignoradas as características individuais, únicas de cada aluno. A
idéia da dificuldade dos mesmos de rejeitarem, de irem contra, de terem
pensamento crítico, muitas vezes não é unicamente dependente do que acontece