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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO EM DINÂMICAS DO ESPAÇO HABITADO
DEHA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
A IMAGEM DO LUGAR E SEUS REFLEXOS:
UM ESTUDO DO BAIRRO DA LEVADA.
Bárbara Thomaz Lins do Nascimento
Maceió
2008
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Bárbara Thomaz Lins do Nascimento
A IMAGEM DO LUGAR E SEUS REFLEXOS:
UM ESTUDO DO BAIRRO DA LEVADA.
DEHA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO EM DINÂMICAS DO ESPAÇO HABITADO
DEHA
Bárbara Thomaz Lins do Nascimento
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
A IMAGEM DO LUGAR E SEUS REFLEXOS:
UM ESTUDO DO BAIRRO DA LEVADA.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Emilia de Gusmão Couto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO EM DINÂMICAS DO ESPAÇO HABITADO
DEHA
Bárbara Thomaz Lins do Nascimento
A IMAGEM DO LUGAR E SEUS REFLEXOS:
UM ESTUDO DO BAIRRO DA LEVADA.
Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas, como requisito final para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e
Urbanismo.
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. MARIA EMÍLIA DE GUSMÃO COUTO
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFAL
Profa.Dra. GLEICE VIRGINIA MEDEIROS DE AZAMBUJA ELALI
Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) - UFRN
Profa. Dra. JOSEMARY DE OMENA PASSOS FERRARE
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UFAL
Prof. Dr. GERALDO MAJELA GAUDÊNCIO FARIA
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UFAL
A
GRADECIMENTOS
P
rimeiramente a Deus, cuja força superior colocou em meu caminho pessoas
que nos momentos mais complicados e difíceis me auxiliaram e apoiaram na
concretização desta dissertação.
À
minha família: meus pais e minha irmã, compreensivos e fies torcedores.
Agradeço por todas as horas de paciência e apoio necessários para o rmino da “nossa
dissertação”.
À
minha orientadora Maria Emília. A pessoa mais paciente e devotada do
mundo!Um modelo de inspiração! Agradeço todos os momentos de atenção e de apoio.
Uma pessoa iluminada que me fez acreditar que eu era capaz de superar tudo o que era
considerado um desafio. Muito obrigada por tudo!!!
A
os meus amigos do grupo Representações do Lugar RELÚ, que me
“suportaram” durante muitos momentos complicados: Elzinha, Fernando, Raquel,
Marcela, Vanessa e Vanine. Agradeço de coração todo o apoio, a preocupação e as
discussões acerca do meu plano de trabalho, qualificação e dissertação. Desculpem o
stress.
A
todas as pessoas que concordaram a participar das entrevistas. Neste sentido
agradeço principalmente aos moradores e comerciantes da Levada, meus novos amigos
que abriram não as portas de suas casas e estabelecimentos, mas também o coração.
Obrigada por estarem dispostos a responder minhas indagações em todas as horas que
precisei. Em especial Wilker Melo, morador da Levada que me apoiou nas pesquisas de
campo.
À
FAPEAL pelo incentivo que proporcionou a esta pesquisa. Obrigada pelo
apoio.
S
e podes olhar, vê. Se podes vê
repara”
.
José Saramago
R
ESUMO
Enquanto habitante da cidade, o indivíduo pode encontrar no bairro diversas
possibilidades de se relacionar com o meio. Tais possibilidades podem ser percebidas
através do simples cotidiano, expresso em práticas familiares que remetem tanto ao
espaço individual do morar, quanto ao coletivo das relações de vizinhança. No entanto,
estas possibilidades também revelam formas de domínio do ambiente, maneiras pelas
quais uma parcela do espaço urbano pode se tornar conhecida e até valorizada em meio
a um todo. É partindo deste princípio que este trabalho explora o bairro como uma
forma de compreender melhor as relações entre o homem e seu meio citadino. Para tal,
recorre-se a uma análise da imagem do lugar, cuja construção é relevante na
compreensão de elementos considerados fundamentais, principalmente para processos
de revalorização do espaço.
Neste sentido, este trabalho contempla o bairro da Levada, em Maceió, Alagoas.
Este lugar que durante quarenta anos esteve fortemente associado às principais
festividades da cidade, presencia hoje um período de decadência que se caracteriza,
sobretudo, pela degradação e desvalorização imobiliária. Entretanto, mesmo com as
mudanças, o bairro ainda possui uma dinâmica bastante ativa que o ressalta tanto para
seus moradores como para a cidade. Assim, enquanto estudo de caso ele se torna algo
de grande valia para a compreensão das inquietações coletivas acerca da imagem do
lugar.
Palavras chave: imagem, bairro, lugar.
A
BSTRACT
The city’s inhabitant is able to find in the quarter, different ways to know the
urban environment as individual. The quarter shows through simple actions the familiar
practices of living as collective neighborhood’s relationships. However these actions
also reveal different perspectives to valorize the places. Considering this presupposition
this research explore the quarter, as an important way to understand the relationship
between the man and his urban environment. At this sense, the research uses an image’s
mental analyses of the place. Through its construction is also explore the importance for
understand the fundamental elements for evaluative environments.
In order to illustrate this propose, the present research brings results based in the
Levada´s district, Maceió, Alagoas. This district passed for the last forty years through
transformations that caused the decadence of the area. Although the changes, its
presents, until today, an active dynamic that emphasizes to neighborhood as the city. At
the same way, shows its importance as an empirical study of the space’s elements of
the relationship between the man and his urban environment.
Key words: image, quarter, place.
S
UMÁRIO
INTRODUÇÃO
15
Considerações iniciais 15
1. SOBRE O PAPEL DA IMAGEM
20
1.1. Considerações teóricas
20
1.2. A imagem e seus processos formadores
24
1.2.1. A Sensação
26
1.2.2. A Percepção
28
1.2.3. A Cognição
31
1.3. Imagem, objeto e representação.
35
1.3.1. A representação da imagem: a semiótica
36
1.3.2. Imagem e a realidade contemporânea
40
1.4. A imagem no enfoque do espaço
44
1.4.1. Imagem e espaço
47
1.5. Outras considerações
50
1.5.1. Imagem e topofilia
50
1.5.2. A imagem e a atribuição de valor espacial
52
2. A IMAGEM E O BAIRRO
55
2.1. O espaço no entendimento do lugar
56
2.1.1. Um sentido para o espaço: o lugar
59
2.2. O conceito de bairro
62
2.3. O bairro da Levada: objeto empírico
65
2.3.1. A Levada de outrora
65
2.3.2. A Levada hoje
73
3. EXPLORANDO O BAIRRO DA LEVADA
81
3.1. As amostras
81
3.1.1. A pesquisa piloto: Bairro x Cidade
83
3.1.2. A pesquisa final: Morador x não-morador
84
3.2. A metodologia
86
3.2.1. As classificações múltiplas
89
3.2.2. Procedimentos
90
4. A IMAGEM DO BAIRRO
97
4.1. Resultados
97
4.1.1. A imagem da Levada: os usuários do bairro
97
4.1.2. A imagem da Levada para a Cidade
108
4.2. Resultados finais: A Imagem do Lugar
119
4.2.1. A questão do morador x não morador
121
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
127
REFERÊNCIAS
135
ANEXOS
139
ANEXO 01
140
Formulários de pesquisa: pesquisa piloto
141
Formulários de pesquisa: pesquisa final
147
Legenda 01: pesquisa piloto
151
Legenda 02: pesquisa final
154
ANEXO 02
158
Matriz 01: respostas dos entrevistados amostra 01: pesquisa piloto
159
Matriz 02: respostas dos entrevistados amostra 02: pesquisa piloto
172
Matriz 03: respostas dos entrevistados amostra 01: pesquisa final
182
Matriz 04: respostas dos entrevistados amostra 02: pesquisa final
186
ANEXO 03 191
Mapa de uso do solo da Levada
L
ISTA DE ILUSTRAÇÕES - FIGURAS
Figura 01
Imagem medieval: Santo Antonio em madeira século XIII
20
Figura 02
Imagem renascentista: Teto da capela Sistina
20
Figura 03
Desenhos na gruta de Lascaux.
21
Figura 04
Fotografia por Eadward Mudbridge.
21
Figura 05
Triangulação que representa a dinâmica do signo para a semiótica
38
Figura 06
O dia-a-dia no bairro da Levada.
38
Figura 07
Canal da Levada início do séc. XX.
66
Figura 08
Porto da Levada início do séc.XX.
66
Figura 09
Inauguração do Porto da Levada em 1912
68
Figura 10
Feira do Passarinho (dec. de 60): Avenida Celeste Bezerra.
69
Figura 11
Primeiro Mercado Público de Maceió década de 1920.
69
Figura 12
Segundo Mercado Público dec. De 1940.
69
Figura 13
Hidroavião no Porto da Levada, dec. de 1940.
70
Figura 14
Festa no Canal da Levada na década de 1920.
70
Figura 15
Praça Emílio de Maya em 1940
70
Figura 16
Vila Brejal
71
Figura 17
Foto do bairro da Levada com aterro integrado à paisagem
73
Figura 18
Atual Mercado Público circundado por ambulantes.
74
Figura 19
Atual Mercado do Artesanato com todos os seus produtos
74
Figura 20
Acesso CEASA-AL no bairro da Levada.
76
Figura 21
A Feira do Passarinho
76
Figura 22
O canal da Levada
76
Figura 23
Tipologia das residências da Levada (1)
78
Figura 24
Tipologia das residências da Levada (2)
78
Figura 25
Tipologia das residências da Levada (3)
78
Figura 26
Tipologia das residências da Levada (4)
78
Figura 27
Cartão utilizado no procedimento de associação livre
91
Figura 28
Material da pesquisa de campo – procedimento 2
93
Figura 29
Material da pesquisa de campo – procedimento 3
94
Figura 30
Seqüência de fotos que mostram a aplicação do procedimento 4
96
Figura 31
Fotos mais escolhidas na associação visual amostra 1
103
L
ISTA DE ILUSTRAÇÕES - FIGURAS
Figura 32
Fotos mais escolhidas na associação visual amostra 2
116
Figura 33
Igreja Nossa Senhora das Graças
123
Figura 34
Primeiro Centro de Saúde
123
Figura 35
Casarões na Levada
126
Figura 36
Seqüência de fotos sobre a Levada
127
L
ISTA DE ILUSTRAÇÕES - MAPAS
Mapa 01
Abairramento de Maceió: em detalhe a localização do bairro da
Levada
65
Mapa 02
Croqui exemplificativos da evolução do bairro: o canal da Levada
66
Mapa 03
Croqui exemplificativo da evolução do bairro: eixo de ocupação
da inicial da cidade
66
Mapa 04
Croqui exemplificativo que localiza a Rua Celeste Bezerra, o
Mercado Público e a Praça João Capristano.
69
Mapa 05
Croqui exemplificativo: localização da Vila Brejal
71
Mapa 06
Croqui exemplificativo: localização da Vila Brejal e traçado do
bairro
71
Mapa 07
O bairro da Levada hoje
73
Mapa 08
Mapa com localização das feiras
74
Mapa 09
Configuração da Levada
77
Mapa 10
Zoneamento das diferentes tipologias configuração da Levada
77
Mapa 11
Algumas das principais localizações da Levada:
80
Mapa 12
Localização entrevistas da amostra 1
82
Mapa 13
Localização das entrevistas da amostra 2
82
Mapa 14
Áreas das entrevistas - resultados
101
Mapa 15
Área delimitada pelos entrevistados com sendo o bairro da Levada
117
Mapa 16
Integração global – Bairro da Levada sobreposto ao mapa de
localização dos elementos
123
L
ISTA DE ILUSTRAÇÕES - GRÁFICOS
Gráfico 01
Porcentagem das amostras 1 e 2- pesquisa piloto
83
Gráfico 02
Grupos da amostra1-pesquisa piloto
83
Gráfico 03
Faixa etária da amostra 1- pesquisa piloto
83
Gráfico 04
Escolaridade da amostra 1- pesquisa piloto
83
Gráfico 05
Composição da amostra 2- pesquisa piloto
84
Gráfico 06
Faixa etária da amostra 2- pesquisa piloto
84
Gráfico 07
Grau de escolaridade da amostra 2 - pesquisa piloto
84
Gráfico 08
Porcentagem das amostras 1 e 2 - pesquisa final
85
Gráfico 09
Composição das amostras 1 e 2: pesquisa final
85
Gráfico 10
Perfil dos moradores entrevistados (amostra 1) pesquisa final
85
Gráfico 11
Análise da associação livre dos três grupos integrantes (amostra 1)
99
Gráfico 12
Associação livre – Amostra 1
101
Gráfico 13
Comparação entre os principais lugares do bairro (Amostra 1)
102
Gráfico 14
Resultados da associação visual (amostra 1)
104
Gráfico 15
Aspectos positivos e negativos do bairro da Levada (amostra 1)
105
Gráfico 16
Avaliação valorativa- Amostra 1
106
Gráfico 17
Resultados dos elementos localizados (mapa – amostra 1)
107
Gráfico 18
Aspectos positivos de um bairro segundo a amostra 2
111
Gráfico 19
Melhores bairros de Maceió, segundo a amostra 2
111
Gráfico 20
Aspectos negativos de um bairro segundo a amostra 2
112
Gráfico 21
Bairros considerados desagradáveis segundo a amostra 2
112
Gráfico 22
Associação livre (amostra 2)
113
Gráfico 23
Aspectos positivos de um bairro e da Levada (amostra 2)
113
Gráfico 24
Aspectos negativos de um bairro e da Levada (amostra 2)
115
Gráfico 25
Resultados da associação visual da amostra 2
116
Gráfico 26
Resultados da avaliação valorativa amostra 2
118
Gráfico 27
Resultados dos elementos localizados (mapa – amostra 2)
119
Gráfico 28
Resultado da associação livre: moradores e não moradores
122
Gráfico 29
Resultados da associação valorativa ( morador x não- morador)
124
Grafico 30
Aparência do bairro segundo moradores e não-moradores
126
15
I
NTRODUÇÃO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Enquanto lugar da coletividade, o bairro expõe a relação entre uma pessoa e sua
cidade em diferentes perspectivas. Neste sentido ele aparece associado diversas ações
cotidianas como, por exemplo, o ato de conversar com os vizinhos, jogar dominó com
os amigos na calçada e as brincadeiras das crianças na praça. No entanto, basta um olhar
mais atento para o bairro, para entender que além de descrevê-lo, estas ações também
são práticas que, quando analisadas, demonstram que a relação entre indivíduo e seu
meio constitui um campo vasto e complexo.
De fato, através da realidade do bairro se encontram as mais diferentes formas
pelas quais o homem estabelece contato com o meio. A possibilidade de conhecer
diferentes lugares, os trajetos realizados todos os dias e as relações de vizinhança trazem
à tona aspectos e elementos que, quando combinados e acumulados, produzem e
organizam um espaço. A realidade do bairro mostra de maneira evidente que o espaço
organizado, sobretudo aquele com o objetivo de se tornar habitado, não deve ser apenas
considerado através de seus elementos concretos. O espaço métrico traz em si também
aspectos invisíveis que correspondem os significados e os valores necessários ao
homem para ordenar e dar sentimento a sua cidade, ou seja, o espaço métrico torna
visível o que é simbólico. Estes aspectos, quando ausentes ou importantes, estariam
presentes principalmente nas necessidades e desejos transmitidos por determinado
habitante, pois são as principais informações através das quais os indivíduos
contextualizam o espaço (RIBEIRO, 2004). No caso do bairro, ao mesmo tempo em que
desperta sentimentos e sensações em meio à grandeza da cidade, estes aspectos também
“representam o que cada um cria para si como lugar de aconchego e itinerários para seu
uso e prazer” (CERTEAU, 1996: 23).
Entretanto, diante do contexto atual, cada vez mais tem se tornado difícil
entender as informações que contextualizam o espaço. As necessidades e desejos dos
indivíduos estão em constante evolução, principalmente por atualmente estarem
baseados em elementos de instabilidade próprios do capitalismo e da sua busca de
16
dinheiro e lucro. No caso da cidade, esta busca ocasionou o surgimento de novas
localidades que, com o objetivo de se tornarem atraentes, passassem a vincular a
importância do lugar a elementos e a conceitos que ressaltam muito mais o seu valor
financeiro. Assim se antes eram os antigos espaços que detinham os significados e os
valores dos lugares, em meio à globalização são idéias que constroem o espaço
concreto. Estas idéias não ocupam o espaço, mas o “circulam e o povoam deixando
rastros que embora o sejam concretos, são potencialmente reais” (FERRARA,
2000:55).
Conforme Ferrara (2000) quando qualquer espaço é considerado a partir da idéia
capitalista, ele se torna uma simples mercadoria, sendo visto apenas como uma
aglomeração puramente física, pois assim pode se propagar na direção indicada pelo
lucro. Neste contexto, o consumo muitas vezes provoca a adoção de padrões que
deixam em segundo plano, ou nem consideram os verdadeiros valores, significados e
elementos que são importantes para seus usuários (CONNOR, 1993). Assim, o espaço é
convertido em objeto, tornando-se suscetível às influências da moda, mídia ou mercado
imobiliário que impõem modelos convencionados de como as pessoas devem almejar
seus espaços. Diante desta realidade, a estrutura da vida urbana perde grande parte de
suas referências fundamentais para a identificação das necessidades, desejos e interesses
individuais e coletivos dos diferentes habitantes de um lugar (FERRARA 2000).
Em meio ao exposto, este trabalho parte do princípio de que privilegiar o modo
como as pessoas apreendem o meio urbano, aprendem com ele, e sobre ele, é de grande
importância. Como, em meio à contemporaneidade, tudo que é real é associado a um
modelo, uma idéia, fica evidente que o que emerge é um real construído por imagens e
que assim pode ser compreendido, pois faz sentido pela mediação das mesmas
(CONNOR, 1993). Desta forma, considerando-se que através da imagem seja possível
entender os principais elementos valorizados em um determinado espaço, pretende-se
lidar não com o objeto em si, isto é o lugar, mas a sua representação.
O lugar, neste sentido é atribuído ao bairro por ser um espaço que se configura
como externo em relação à casa e interno em relação à cidade, podendo assim trazer em
sua composição elementos que se relacionam tanto a uma realidade individual quanto
coletiva. Neste trabalho, o bairro estudado está localizado na cidade de Maceió,
Alagoas, e é conhecido como Levada. Esta localidade foi escolhida por sua variação de
atividades (comércio, moradia, feira livre), por sua relação histórica com a origem da
cidade e localização central. Considera-se que a existência de diversas atividades
17
somada a sua dinâmica disponibilize um grande número de elementos que possam
compor o que corresponde à imagem de um lugar. Além disso, esta localidade presencia
ainda hoje um período de decadência, ocorrência comum à realidade de outras cidades
do Brasil e do mundo, onde o surgimento de novas localidades atraiu parte das
atividades exercidas em outras áreas, tornando-se novas centralidades em meio à
desvalorização de outros lugares (CARDOSO; NASSAR, 2005).Entretanto, no caso
deste bairro, soma-se a fato o resultado de vários fatores, particularidades relacionadas à
dinâmica da cidade de Maceió.
Além dos fatores mencionados, a relevância do estudo deste bairro aumenta
principalmente porque foi estruturado em 2001 um projeto de requalificação para o
Centro de Maceió, o qual tem também como objetivo ações voltadas para o bairro da
Levada (PMM, 2001). Em discussão desde 2006 em torno de sua aplicabilidade no
bairro em estudo, o projeto vinha causando divergências de opiniões entre os habitantes
do lugar e da cidade. Entretanto, desde 2007 vem sendo reformulado com o objetivo de
contemplar principalmente mudanças que tenham também um impacto social o
apenas para o bairro, mas que tragam resultados benéficos para a requalificação do
bairro do Centro que foi finalizada. Nestas circunstâncias, a importância deste
trabalho consiste em valorizar o ponto de vista das pessoas, neste caso o habitante do
lugar e da cidade, para se entender os possíveis significados que são atribuídos e
vinculados ao meio. Considera-se que, por meio do confronto de diferentes pontos de
vista dos usuários, exista a possibilidade de extrair elementos basilares que constroem a
imagem de um lugar ao mesmo tempo em que são reflexos da mesma.
Diante da busca de entender tais elementos e sua importância para a
compreensão e construção da imagem do lugar, foi realizada no decorrer deste estudo
uma pesquisa de campo. Devido à necessidade de obter informações de natureza
subjetiva, para a pesquisa empírica se recorreu a diversas metodologias relacionadas ao
campo das ciências sociais. Dentre as mais exploradas, este trabalho fundamentou-se
nos resultados adquiridos através da aplicação da teoria das classificações múltiplas
(CANTER; BROWN; GROAT, 1985). A escolha foi ocasionada, sobretudo pela
possibilidade de elucidar diferentes procedimentos que são fundamentais para este
trabalho já que possibilitam explorar o conteúdo da “imagem do lugar”.
Enfim, em linhas gerais o que se pretende é entender quais os elementos
formadores da imagem de um lugar construída por seus usuários, os quais
compreendem tanto moradores como não-moradores. Para tal, foi necessária a análise
18
da imagem do lugar através de duas óticas, ou seja, uma ótica interna - dos usuários - e
externa - da cidade. Além disso, também foi necessário identificar os elementos
positivos e negativos na ancoragem da “imagem do lugar”, assim como investigar a
influência destes na consolidação de referenciais e sua forma de manifestação no
espaço. Para tal, a presente investigação é composta por cinco seções, algumas
divididos em subitens, nos quais estão contidos, de forma mais aprofundada, alguns
pontos necessários para a compreensão das inquietações já colocadas.
Na primeira seção é apresentado o papel da imagem que se subdivide em cinco
itens. O primeiro trata das considerações teóricas sobre a imagem e os diversos
significados atribuídos ao termo, evidenciando assim o enfoque deste trabalho. O
segundo trata da imagem e de seus processos formadores (sensação, percepção e
cognição). O terceiro intitulado “imagem, objeto e representação” explora a relação
entre um objeto e sua imagem, sendo considerado, neste sentido, a questão da semiótica
e da realidade. Todas estas colocações servem para o entendimento do quarto item que
explora a imagem da cidade, sendo subsidiado por outras considerações quinto item-
onde aparecem aspectos importantes que se relacionam ao estudo da imagem e do lugar.
Na segunda seção são focalizados alguns conceitos como bairro, lugar e espaço.
É neste momento que se contextualiza o objeto empírico: o bairro da Levada, através de
sua história, estrutura e significação.
Na terceira seção é apresentada a amostra e a metodologia, que consistem na
teoria das classificações múltiplas. Nesta seção também são explorados os
procedimentos que foram utilizados na pesquisa de campo, tanto piloto como final.
Salienta-se, neste momento, que como os resultados da pesquisa piloto foram essenciais
tanto quanto os da pesquisa final, ambos foram considerados e detalhados no
desenvolvimento desta dissertação.
Na quarta seção são apresentados, de forma detalhada, os dados coletados tanto
na pesquisa piloto como na pesquisa final e seus respectivos resultados. Tais resultados
são seguidos pela conclusão que por ser a seção final, a quinta, traz as últimas
considerações da investigação proposta. Após esta seção são apresentadas as referências
e os anexos. No anexo 1 são encontrados os formulários da pesquisa piloto que foram
utilizados nas visitas de campo. No anexo 2 estão as matrizes onde foram confrontados
os dados e os perfis dos entrevistados. O último anexo, o três, é referente às
informações referentes ao bairro em estudo, mais especificadamente o uso do solo.
19
Desta forma, é partindo do princípio que é importante a opinião do indivíduo,
sobretudo aquela que é derivada de suas relações com o meio que este trabalho explora
a relação entre imagem e espaço, principalmente sua relevância para processos de
revalorização de lugares. Espera-se, então, que esta investigação proporcione reflexões
acerca da importância da imagem para o planejamento e concretização de ações que
envolvam questões espaciais. Em se tratando especificadamente do bairro da Levada,
em meio às novas discussões suscitadas pelo seu projeto de requalificação que no
período atual passa por adequações que visam privilegiar também o contexto social,
pode-se dizer que este trabalho se apresenta também como uma possibilidade de
contribuir para futuras intervenções no lugar. Neste sentido, espera-se que por meio
deste se torne evidente a importância da compreensão dos principais elementos que
constroem a imagem do bairro diante de seus usuários de forma a auxiliar em mudanças
que o valorizem no contexto da cidade, mas sem esquecer dos desejos e necessidades de
seus habitantes.
20
1.
S
OBRE O PAPEL DA IMAGEM
1.1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
A imagem, cujo termo será tratado neste trabalho como fenômeno; pode se
apresentar em um primeiro momento como sendo de fácil definição. Entretanto, os
diversos campos disciplinares que lhe são subsidiários
demonstram a grande complexidade de sua abrangência.
Neste sentido, desde os primórdios da história do
conhecimento os filósofos e pensadores se debruçaram
sobre a complexa relação que une imagem e realidade, bem
como sobre as suas respectivas definições. Platão (apud
JOLY, 2004) foi o primeiro a definir a imagem como “...
primeiramente as sombras depois os reflexos que se vêem
nas águas ou na superfície dos corpos opacos, polidos e
brilhantes, e a todas as representações semelhantes”.
Mais tarde, na época medieval a imagem passa a ser
definida como “aliquid stat pro aliquo” algo que está em
lugar de uma outra coisa
1
, apontando para algo que
pode ser produzido por alguém (figura 01). Mas foi na
Renascença (figura 02) que a imagem, através das
técnicas de pintura e com a introdução com a
perspectiva, passa a se configurar como “uma representação do real”, atribuição que a
acompanha até hoje (HAUSER, 1999).
Entende-se que em meio a diversas considerações e a distintos campos
disciplinares, o termo “imagem” adquiriu inúmeros significados devido a uma vasta
utilização. Porém, ao longo das últimas cinco décadas, o sentido comum e as utilizações
repetitivas e convencionais do termo têm associado o seu emprego, na maioria das
vezes, à idéia de mídia, sinônimo de televisão e publicidade.
1
Neste sentido, ressalta-se fortemente as representações religiosas que designavam a imagem como
estátua e deus. Foi a partir desta época que as esculturas passaram a ser associadas à noção de imagem e
consequentemente a algo que está no lugar de alguma coisa (BRACONS, 1992)
Figura 01: Santo Antonio em
madeira século XII – autor
desconhecido
Fonte: RAMALLO, 1992
Figura 02: Teto da capela
Sistina - autor: Miquelângelo
Fonte:www.google.com.br
21
Segundo Santaella (2003) a associação da imagem à televisão e à publicidade
provoca algumas confusões que são prejudiciais à própria imagem. Uma das confusões
diz respeito à origem da imagem contemporânea que mesmo aparentando ser uma
novidade não tem vínculo com a mídia e tampouco é
recente. Meio de expressão milênios, antes mesmo do
aparecimento do registro da palavra, a imagem tem se
destacado essencial, como forma figurativa, à natureza
humana no decorrer da história das civilizações. Por toda a
parte no mundo o homem deixou vestígios de suas
faculdades imaginativas, desde os tempos mais remotos do
paleolítico sob a forma de desenhos nas pedras (figura 03)
até chegar à modernidade com a fotografia (figura 04).
A outra confusão, que conforme Santaella (2003)
seria a mais grave, trata-se da distinção entre imagem fixa e
imagem animada. De fato considerar que a imagem
contemporânea é a imagem de mídia - e que esta é por
excelência a televisão e o vídeo – é levar em conta apenas
a imagem animada, sentido que delimita as possibilidades
e os campos de aplicação da imagem, pois ocasiona o esquecimento de outras espécies
de expressão visual que coexistem na própria mídia e que também são consideradas
imagens.
Embora, no campo da arte e da mídia a noção de imagem esteja vinculada
essencialmente à representação visual
2
, este não é o único aspecto que deve ser levado
em consideração em sua definição. Para Joly (2004) aprende-se a associar “imagem” a
noções complexas e contraditórias que podem ser percebidas tanto ao explorar certos
aspectos de utilização da palavra como por meio de simples expressões correntes que
empregam o termo. Um exemplo clássico é a expressão “Deus criou o homem à sua
imagem”, onde “imagem” se refere bem mais a evocação de uma semelhança do que
uma representação visual.
Ainda segundo Joly (2004) o termo também envolve certas atividades psíquicas
como as representações mentais que se configuram em visões, fantasias, esquemas,
imaginações e modelos. Elaborada de uma maneira quase que alucinatória este tipo de
2
As representações visuais são os objetos materiais que representam o nosso meio ambiente visual:
desenhos, pinturas, fotografias, gravuras, cinema, TV, info e holografia.
Figura 04:Fotografia: Eadward
Mudbridge
Fonte: www.google.com.br
Figura 03: Desenhos na
gruta de Lascaux
Fonte:www.google.com
22
representação parece tomar emprestado características da visão, formando uma imagem
mental que corresponde àquela impressão que se adquire quando se ou se ouve a
descrição de um lugar e o vê quase como se estivesse lá.
Devido a aparente facilidade de compreensão e por se relacionar ao psicológico
e ao sociológico, o termo “imagem” no sentido de representação mental, se tornou
bastante utilizado pelos mais diversos campos de conhecimento. No marketing e na
publicidade, por exemplo, quando se fala de “imagem de si” ou de “imagem de marca”
está se aludindo a operações mentais, individuais ou coletivas, que insistem muito mais
no aspecto construtivo e identitário da representação do que em seu aspecto visual de
semelhança. Nas ciências humanas também é natural estudar esse tipo de representação
através da “imagem da mulher” ou “do médico”, ou “da guerra” neste ou naquele
cineasta, isto é, nas imagens. Da mesma maneira é possível usar imagens (cartazes,
fotografias) para se construir a imagem de alguém por meio de procedimentos que
tratam de estudar ou provocar associações mentais sistemáticas que servem para
identificar esta ou aquela pessoa, fato muito comum nas campanhas eleitorais, ou até
este ou aquele objeto, atribuindo-lhes um certo número de qualidades
socioculturalmente elaboradas (JOLY, 2004).
A imagem mental também é relevante para a formação de metáforas (JOLY,
2004). Sabe-se que na linguagem, a metáfora verbal, uma forma de falar por imagens,
consiste no emprego uma palavra por outra em virtude de sua relação analógica ou de
comparação, ou seja, quando pensamos na expressão “fulano é um lesma” não está se
dizendo literalmente que “fulano” é uma lesma, mas que se move, fala ou atua com
lentidão. Entretanto a metáfora também pode ser um procedimento de expressão
extremamente rico, inesperado, criativo e cognitivo quando utilizado na comparação de
dois termos (o objeto que se e a idéia que representa), pois solicita a imaginação a
evocação de idéias que correspondem, no ponto de vista do observador, o significado do
que está sendo visto. A metáfora aplicada desta forma é um princípio bastante comum
nas obras surrealistas onde o representado não corresponde ao objeto visível e sim a
imagem do que significa subconscientemente para o autor da obra (ARGAN, 1999).
Neste sentido, percebe-se que o termo imagem pode designar inúmeros
entendimentos onde ela pode ser desde objetiva, perceptível, detectada por nossos
sentidos até subjetiva, mental, advinda de uma idéia, de um pensamento. Embora se
tenha mencionado até este ponto alguns dos empregos da palavra imagem que a
exemplifica, estes ainda não esgotam a sua abrangência conceitual. De fato, o termo é
23
tão utilizado, com tantos tipos de significação, muitos sem vínculo aparente, que parece
bem difícil dar uma definição simples que recubra todos os seus empregos. Desta forma,
o que vem a ser “imagem” poderia ser definido em termos gerais, pois se
compreende que é algo que utiliza traços do visual mesmo que não remeta ao visível e
que, independente de ser imaginária ou concreta, é produzida por um sujeito. (JOLY,
2004)
Compreendemos que a imagem depende da produção de um sujeito:
imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz e a
reconhece.(...) Parece que a imagem pode ser tudo e seu contrário visual e
imaterial, fabricada e ‘natural’, real e virtual, móvel e imóvel, sagrada e
profana, antiga e contemporânea, vinculada à vida e a morte, analógica,
comparativa, convencional, expressiva, comunicativa, construtora e
destrutiva, benéfica e ameaçadora . (JOLY:27, 2004.)
Entende-se assim que a compreensão do que vem a ser imagem é condicionada
por todo um sistema de significações, mais ou menos explícitos, vinculados ao termo.
Diante de seus inúmeros empregos e de seus sentidos comuns de utilização, a imagem
se torna parte dos inúmeros objetos oferecidos e produzidos pela cultura que contribuem
para formular o modo de se compreender o mundo, e o modo como se manifesta esta
compreensão. Aliás, é pelo fato de se entender que a imagem é também uma forma de
interpretação do mundo que seu emprego se tornou para a filosofia um núcleo de
reflexão. Em especial Platão e Aristóteles apresentaram estudos ainda hoje interessantes
acerca desse papel da imagem. Para Platão ela engana, pois desvia da verdade por ser
visualmente imitadora. para Aristóteles ela educa, pois leva ao conhecimento através
semelhança (JOLY, 2004). No entanto, apesar desta nítida divergência ambos
convergem no sentido de encontrar a representação do real por meio de uma imagem
padrão, ou seja, na idéia que se expressa em forma de construção mental.
Diante do exposto, acredita-se que a imagem mental constitua um parâmetro
importante neste trabalho, pois ela expressa pontos fundamentais, idéias que podem
representar, ou não, a realidade. No enfoque do espaço habitado este é um aspecto que
torna o estudo da imagem algo de grande importância quando diz respeito ao
planejamento e ao desenho urbano. Entender como as pessoas interpretam os lugares
onde vivem, passam ou visitam tem uma grande importância, sobretudo para aqueles
que se dedicam aos trabalhos de espaço, pois suas decisões deverão refletir os anseios e
desejos pautados na construção da imagem de quem experimenta tais espaços. Neste
24
contexto, o estudo da imagem corresponde na verdade uma evocação do espaço
percebido, ou seja, uma “imagem do lugar” que é construída com fundamento nas idéias
do indivíduo em relação a um meio. Assim, pode-se dizer que por meio desta imagem
se tem acesso aos elementos fundamentais, noções e impressões que constroem a
representação de um “lugar”, que no caso deste estudo corresponde ao bairro.
1.2. A IMAGEM E SEUS PROCESSOS FORMADORES
Conforme mencionado anteriormente, por ser produzida por um sujeito a
imagem se torna parte de diversos objetos que expressam a forma de compreender e de
se relacionar com o mundo. De forma consciente ou não ela adquire esta possibilidade
através de seus sentidos comuns de utilização, que diante de seus empregos estabelecem
vínculos entre o homem e os mais variados contextos.
Segundo Aumont (1997) é por esta relação tão próxima desenvolvida com o
homem que a imagem se torna uma via de acesso às suas atitudes e mentalidades, tanto
do presente quanto do passado. Na verdade ela mostra uma interpretação da realidade,
ou seja, tudo aquilo que foi assimilado. Quando o sujeito conhece algo ele apreende
esse algo através de uma idéia, um conceito que corresponde aquele algo. Assim,
quando o sujeito detém o conhecimento a imagem é a interpretação resultante:
O conhecimento é perceptível através da existência de três
elementos: o sujeito cognoscente (que conhece) o objeto (conhecido) e a
imagem. O sujeito é quem irá deter o conhecimento, o objeto é aquilo
que será conhecido, e a imagem é a interpretação do objeto pelo sujeito.
(...) Neste momento, o sujeito apropria-se, de certo modo do objeto
onde o conhecimento apresenta-se como uma transferência das
propriedades do objeto para o sujeito (AUMONT, 1997)
Embora o autor acima aludido explique que independente da forma de expressão
seja representação visual ou mental a imagem seja uma via de acesso, para filosofia
quando esse acesso está relacionado ao conhecimento de algo é em forma de
representação mental que ela se torna mais próxima da realidade e da verdade
(PLATÃO, apud JOLY, 2004). De fato, este argumento é comprovado ao longo do
processo de conhecimento que é associado a ações que significam uma posse da
25
realidade pelo pensamento como apropriação
3
e assimilação
4
. Esta posse intelectual tem
como finalidade não uma produção de uma nova realidade e sim uma reprodução da
existente, através da qual se expressa a idéia que se tem dela. Portanto conhecer
significa, de certa maneira, apropriar-se da realidade por meio do pensamento, que neste
se reproduz de forma explicada (KOHLSDORF, 1996).
O ato de conhecer é caracterizado como um processo permanente, e contínuo de
aproximação entre os indivíduos e a realidade, que pode envolver desde experiências
empíricas que representam o senso comum, visões de mundo que caracterizam de
ideologia até teorias que são a base da ciência. Na verdade, independente de sua
natureza de senso comum, ideologia ou ciência, o ato de conhecer é uma sucessão de
atividades que se processam em etapas sempre novas e mais próximas à realidade. São
estas etapas que caracterizam o processo cognitivo, explicado posteriormente, e que são
capazes de transformar as manifestações pelas quais o mundo se apresenta em
representações. É devido a este fato que a imagem pode ser também considerada uma
ação de posse da realidade, pois além de ser uma representação ela é “derivada de um
processo de apreensão
5
pelo indivíduo, que através e uma aproximação toma
mentalmente um objeto” (KOHLSDORF, 1996:55).
Desta forma, a imagem corresponde a uma construção mental que traz em si a
representação de características fundamentais, informações, que podem ter diferentes
graus de aproximação da realidade objetiva, podendo ser tanto de natureza sensível ou
abstrata. Em se tratando do espaço e do estudo da “imagem do lugar” este aspecto é
bem visível. Nesta pesquisa, por exemplo, percebe-se que no bairro da Levada a
imagem dos entrevistados é construída a partir de inúmeros pontos de vista aglutinados,
simultaneamente. que neste caso, estes pontos de vista convergem para a
reconstrução de uma estrutura modelo que tomará forma de representação visual bem
mais adaptada aos objetivos que se estabelecem na relação que se desenvolve com o
espaço (moradia, trabalho lazer). Isto é, nem sempre as imagens construídas pelos
usuários de um mesmo lugar são homogêneas, pois muitas vezes as construções das
mesmas são estabelecidas por aspectos completamente distintos. Além disso, por ser
uma interpretação, a imagem parece banhada de elementos que são resultantes da troca
de experiência no processo de conhecimento, como visões de mundo, recordações, ou
3
MARX apud Kolshdorf, 1996
4
PIAGET, 1978
5
A apreensão ocorre no senso comum, na ideologia e no conhecimento cientifico, e seu mecanismo,
constitui-se, portanto, em possível momento de encontro entre sujeito e produtos de diferentes modos de
conhecimento.
26
seja, tudo aquilo que é acumulado ao longo do ciclo vital das pessoas. Neste sentido,
torna-se evidente porque a imagem do bairro da Levada construída pelos passantes, por
exemplo, diverge da imagem construída pelos moradores que por sua vez apresenta
aspectos que são um pouco diferentes dos que estão presentes na imagem dos
comerciantes.
Assim o estudo da imagem constitui algo importante no entendimento de um
meio, pois sua formação envolve tanto aspectos relacionados à configuração dos lugares
quanto ao ponto de vista de seus usuários. Desta forma, ela constitui um “modo de
conhecer”, pois fornece noções, idéias e impressões acerca de um ambiente e de sua
realidade. Entende-se, assim, que sua construção é derivada de um processo complexo
que passa por vários estágios de assimilação, dentre eles o sensitivo, perceptivo e o
cognitivo, aspectos que são explorados a seguir, pois explicam clarificam o
entendimento e a relevância da produção da imagem de um lugar, aqui entendido como
o bairro da Levada.
1.2.1. A SENSAÇÃO
Embora aparentemente clara, a noção de sensação torna-se bastante complexa
por assumir inúmeras considerações. Primeiramente, poderia ser entendida como a
maneira pela qual o indivíduo é afetado pela experiência de um estado de espírito. “O
cinza dos olhos fechados que me envolve sem distância, os sons dos cochilos que
vibram em minha cabeça” são indicativos do puro sentir. A sensação pura corresponde a
uma “experiência de um ‘choque’ indiferenciado, instantâneo e pontual” de algo que se
encontra em um vazio físico (MERLEAU-PONTY, 1999: 23).
Entretanto neste trabalho a noção do “puro sentir” é algo que é cabível apenas na
esfera conceitual. Os lugares se apresentam, no ponto de partida de seu aprendizado, em
uma totalidade complexa formada por atividades, formas, significados e práticas sociais,
onde todas são sensivelmente captáveis (KOHLSDORF, 1996). Deste modo, um dado
perceptível isolado é inconcebível a menos que se induza em uma experiência mental a
finalidade de unicamente percebê-lo. Assim, para entender a relação da sensação no
processo de apreensão do espaço deve-se considerar que o “algo” perceptível está
sempre no meio de outra coisa. Neste contexto, pode-se dizer que uma definição que se
reporta a um estado de espírito se torna impensável como momento da percepção, pois
27
leva em conta apenas o objeto isolado, porém, serve de noção para o entendimento do
que vem a ser sensação
.
No caso do estudo de um bairro, entende-se que por ser porção de espaço, ele
está submetido, além de uma realidade condicionada por um contexto específico, a
parâmetros que o inserem em um contexto citadino (LYNCH, 1999). Assim, em se
tratando dos lugares, a sensação deve ser considerada enquanto definição que situa o
objeto no mundo, ou seja, que trate-o como um fragmento em meio a um universo
maior. Para Merleau-Ponty (1999) quando se quer relacionar sensação a um objeto
inserido em um contexto, é mais coerente uma definição que derive do senso comum,
pois só assim pode-se delimitar o sensível pelas condições humanas das quais ele
depende. De acordo com o mesmo, neste sentido a sensação é uma resposta direta e
imediata a um estímulo que por chegar ao indivíduo sem ser solicitado constrói objetos
limpos, sem significação. “Sabe-se muito bem o que é ouvir, ver e sentir porque desde
criança, através da percepção, aprende-se a diferenciar os objetos por sua cor, forma,
cheiro ou textura, ou seja, atribui-se qualidades ao que se sente, constrói-se a sensação
com a percepção”. No entanto, embora relacionada diretamente a percepção, a sensação
corresponde a um processo independente, com uma noção própria. Assim, neste sentido,
deve-se considerar que “sensação é tudo aquilo que é captado pelos sentidos”
(MERLEAU-PONTY; 1999:24).
Segundo Machado (apud DEL RIO, 1996) a sensação tem um grande
envolvimento no processo de conhecimento, sobretudo do ambiente. O meio é
aprendido pelos sentidos, que podem ser comuns (visão, audição, tato, olfato, paladar)
ou especiais, como o sentido das formas, de harmonia, de equilíbrio, de espaço, de
lugar. Assim, as sensações seriam as responsáveis pelo primeiro contato com o meio,
constituindo-se na relação mais próxima da consciência com a realidade objetiva. Neste
primeiro contato, é estabelecido um trajeto em que o mundo real confia aos órgãos dos
sentidos mensagens que devem então ser conduzidas, depois decifradas, de modo a
produzir no indivíduo informações que condizem exatamente com a realidade, ou seja,
um “texto original”.
Entretanto, existe uma série de fatores que não permitem que o texto seja
produzido de forma “original”. Por exemplo, quando a grandeza aparente de um objeto
varia com sua distância aparente, ou sua cor aparente ou ainda com as recordações que
temos dela, isto é, reconhece-se que o estímulo despertado será influenciado por meio
de sua qualidade de grandeza. Outro fator também seria o aparelho sensorial e as
28
possíveis lesões e limitações que este venha a apresentar e que também colaboram para
uma receptividade parcial. Desta forma, é devido a essas limitações que se deve
entender que através da sensação ocorre um processo de desintegração em que o mundo
exterior não é reproduzido e sim construído (TIEDEMANN E SIMÕES in
RAPPAPORT, 1985).
Conforme Kohlsdorf (1996) essa construção e não reprodução se deve a natureza
subjetiva das sensações. Elas resultam de relações do organismo – órgãos dos sentidos
com o meio e por isso são subjetivas, pois derivam do que se sente, no entanto refletem
propriedades objetivas, que neste estudo correspondem às qualidades do espaço. Por
isso além de estabelecer uma unidade entre sujeito e objeto, ela permite fornecer certas
informações subjetivas que não se limitam em apenas desenhar paisagens, mas de
exercer também sobre os indivíduos um sentido de orientação (LYNCH, 1999). Assim é
exatamente por construir um mundo, uma interpretação, que as sensações adquirem
importância no conhecimento do espaço e consequentemente na formação da imagem.
Assim, reconhece-se que no estudo do espaço as sensações são imprescindíveis,
sobretudo por cumprirem a função de orientar o indivíduo em seu meio, e auxiliar na
identificação dos lugares. Esse papel articula o indivíduo nos processos de apreensão
segundo as condições de seu sistema sensorial e consequentemente exerce influência na
formação de uma imagem, aspecto imprescindível para o seu entendimento,
principalmente neste trabalho. Entretanto, considerando-se que as sensações captam
características do meio ambiente por meio dos sentidos, deve-se ressaltar que ela é
apenas o início de um processo no qual ela se torna matéria prima da percepção.
(KOHLSDORF, 1996).
1.2.2. A PERCEPÇÃO
Segundo as considerações de Merleau-Ponty (1999), entende-se que tudo que é
captado pelos sentidos é denominado sensação. Nesta perspectiva “ver é apenas obter
cores ou luzes, ouvir é apenas obter sons, elementos que nada são além de componentes
iniciais, informações dos órgãos dos sentidos; algo limpo: sensações” (MERLEAU-
PONTY, 1999: 25).
Conforme Del Rio (1996), as sensações apenas iniciam um contato a partir do
qual o mundo real se torna acessível ao indivíduo. Neste contato, as informações obtidas
29
pelos sentidos cores, luzes, sons são conduzidas ao cérebro e depois que são
decifradas expressam algum tipo de significado ou qualidade. Assim, para poder ver
uma luz, ouvir um som, sentir a temperatura de um objeto, o cheiro e o gosto de uma
substância é preciso que o estímulo não apenas alcance os sentidos, mas principalmente
o cérebro. No momento que se lê um texto, por exemplo, os sentidos estão recebendo
informações, dados do ambiente ao redor: os ruídos de um carro passando na rua, do
relógio mais próximo, a cor da pele da mão, a temperatura e o cheiro do ar, enfim, tudo
está sendo captado pelos sentidos, mas nem tudo está sendo considerado pelo cérebro,
isto é, percebido (TIEDEMANN & SIMÕES in RAPPAPORT, 1985). Assim, pode-se
afirmar que se sensação é tudo que se capta pelos sentidos, a percepção é a chegada
dessas informações ao cérebro.
Embora o exemplo mencionado forneça uma idéia do que venha a ser percepção,
esta ainda não é sua definição. Ao contrário da sensação, que tem noções contraditórias,
a percepção se define de forma bem direta e simples. A percepção é uma função
cerebral que consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações
obtidas pelos sentidos. É através dela que o indivíduo organiza e interpreta as suas
impressões sensoriais para atribuir significado ao meio. Em linhas gerais “percepção é
um processo de decodificação de estímulos recebidos” (TIEDEMANN & SIMÕES in
RAPPAPORT, 1985: 7).
Merleau-Ponty (1999) completa esta definição quando ressalta que mesmo
estando intrinsecamente relacionadas percepção se distingue da sensação por ser
seletiva, isto é “a sensação desperta uma informação e a percepção a compreende”
6
.
Aliás, o caráter seletivo é o principal aspecto a ser considerado na percepção, pois é por
meio da atenção, que o é mais do que um processo de observação seletiva, que estão
baseadas parte das observações efetuadas pelo indivíduo. O caso do leitor mencionado
anteriormente ilustra bem este fato. Existiam inúmeros estímulos, no entanto como a
atenção deveria estar primordialmente voltada ao texto, alguns deles passaram
despercebidos. (TIEDEMANN & SIMÕES in RAPPAPORT, 1985).
Pode-se dizer, assim, que a atenção é parcialmente determinada pelo que o
indivíduo deseja e pela importância que se dá. Este processo faz com que se percebam
alguns elementos em detrimento de outros. Contudo, esta percepção pode ser alterada à
medida que se adquire novas informações. Assim por meio da aquisição de
informações, da mesma forma que um objeto pode dar margem a múltiplas percepções,
6
MERLEAU-PONTY, 1999: 32
30
também pode ocorrer de um objeto não provocar percepção alguma, ou seja, se o objeto
percebido não tem embasamento na compreensão de vida de uma determinada pessoa,
esta pode, literalmente, não percebê-lo (TIEDEMANN in RAPPAPORT, 1985).
É neste sentido que a percepção se torna o mecanismo mais importante que
relaciona os homens com o seu meio ambiente. As pessoas experimentam o meio
ambiente da mesma forma que experimentam qualquer outro objeto, isto é, através dos
sentidos, onde qualquer dado que vem até elas é por meio da percepção. No caso do
estudo da “imagem do lugar” este se torna um aspecto de fundamental, pois se
subentende que os elementos percebidos no espaço têm um certo grau de importância
ou qualidade valorizada em detrimento dos não percebidos, que não despertam nenhum
significado:
Antes de que os indícios possam entender-se e obedecer-se, devem ser
notados; antes que o significado social se afirme; devem ser percebidos;
antes de que as mensagens, edifícios ou sinais possam avaliar-se, devem
diferenciar-se do que é ruído (DEL RIO, 1996)
A maioria dos campos de conhecimento que se dedicam ao estudo da percepção
7
reforçam o argumento de que existe uma relação entre o que se sente e o que se
conhece. No caso do espaço a percepção se destaca como a experiência sensitiva mais
direta e imediata derivada do conhecimento do meio ambiente, que neste caso ela
também é afetada pela memória e pela cognição. É por este motivo que, para este
trabalho, considera-se que a percepção é um processo mental de interação do indivíduo
com o meio ambiente através de mecanismos perceptivos e principalmente cognitivos
(DEL RIO, 1996). Os primeiros são dirigidos pelos estímulos externos captados através
dos sentidos, ou seja, as sensações, onde a visão é o que mais se destaca (GIBSON,
apud DEL RIO, 1996). Entretanto, devido a seu grande desenvolvimento e sua
associação às necessidades básicas, esta investigação também considerará a percepção
auditiva e a olfativa por seu papel no resgate da memória e da afetividade
(TIEDEMANN in RAPPAPORT, 1985). Em alguns momentos se percebe que estes
dois tipos de percepção estão bastante presentes nos resultados, principalmente em
relação ao procedimento de associação livre. Para parte dos entrevistados o bairro em
estudo pode ser associado à sonoridade: aos gritos da feira livre e do comércio informal
7
Neurociência, psicologia, ciência cognitiva e filosofia
.
31
ou ao som do trem. Da mesma forma, também são citados cheiros característicos como
de frutas, ervas, esgoto e chuva como elementos que quando sentidos remetem a
realidade do bairro e que, para alguns, trazem “a sensação de que se está na Levada”
8
.
os mecanismos cognitivos são aqueles que compreendem a contribuição da
inteligência, uma vez admitindo que a mente não funciona apenas a partir dos sentidos e
nem percebe essas sensações de forma passiva (FISKE &TAYLOR apud DEL RIO,
1996). Esses mecanismos incluem motivações, humores, necessidades, conhecimento
prévio, valores, julgamentos, expectativas. Assim, embora a percepção do espaço físico
se apóie em uma aproximação entre sujeito e objeto, entende-se que é necessário
explorar não só a percepção, mas também a aproximação possibilitada pela cognição.
1.2.3. A COGNIÇÃO
Pode-se afirmar que todo ser humano desenvolve uma aproximação com a
realidade, que nada mais é que uma forma de adquirir conhecimento. Até aqui se
elucidou que as sensações são as responsáveis por um primeiro contato. Elas são a
matéria prima da percepção, isto é, fornece dados que após serem selecionados vão
originar as primeiras informações acerca da realidade.
No entanto, segundo Gibson (apud DEL RIO, 1996), ainda que as pessoas
tenham um primeiro contato com o mundo de uma maneira mais ou menos igual, elas o
estruturam de uma forma diferente. As pessoas constroem sistemas para manejar o
mundo, ou seja, formulam hipóteses; e predizem assim o seu cotidiano.
Para Piaget (1978) estas hipóteses são resultados do conhecimento que é
acumulado ao longo da existência dos indivíduos. O conhecimento, ent se torna
“decorrente das contínuas interações entre sujeito e objeto-meio” e embora possa ser
derivado de diferentes naturezas, existem características fundamentais do processo de
aprendizado que permanecem constantes
9
. O ponto de partida, como foi mencionado
são certos sinais do mundo exterior, estímulos que se manifestam através das sensações.
Essas manifestações da realidade não são suficientes para explicá-la, pois contém
informações com diversos graus de aproximação que podem revelar tanto a essência das
8
Expressão utilizada por um freqüentador ao explicar o motivo pelo qual mencionou o cheiro de chuva
no procedimento de associação livre durante a entrevista.
9
PIAGET, 1978: 23
32
coisas como informações inúteis. Por isso, após a manifestação dos fenômenos, são
realizadas reflexões a partir das quais os dados empíricos são submetidos a teorias.
Finalmente, como a superação das evidências da realidade não se satisfaz com a mera
colocação de conceitos, é exigido um reencontro com o objeto abordado onde este se
apresenta revelado conforme suas propriedades percebidas (KOHLSDORF, 1996). No
decorrer deste processo, sujeito e realidade permanecem em constante relação, onde
hora o sujeito se adapta ao meio, isto é o assimila através das sensações e das
percepções, e hora o meio se adapta ao indivíduo, isto é se acomoda. Um exemplo deste
processo ocorre quando se passeia durante alguns meses por uma cidade desconhecida.
Durante os primeiros dias, desacompanhado de um guia, “anda-se pela cidade como
quem se perde em uma floresta, atento a cada passo, a objetos e sons singulares”
.,10
que
vão compondo o lugar. Ou seja, ao mesmo tempo se busca uma referência que servirá
em futuros passeios o sujeito assimila o meio. Pouco tempo depois, toma-se um guia
turístico buscando ruas e prédios que ainda são desconhecidos, e vendo outros
constituintes da imagem que se tem da cidade e que por isso não se chama atenção,
ilustrando assim uma acomodação. É este processo de adaptações das ações que se
denomina cognição, que de forma bem genérica significa entender ou conhecer algo
(PIAGET, 1978).
A capacidade cognitiva se desenvolve através do próprio processo de
conhecimento, na medida em que a sucessão de assimilações e acomodações acontecem
ao longo da vida do indivíduo. Na verdade, as assimilações e acomodações estão em
busca de uma ordem, na qual as informações se tornam coerentes para o entendimento
ou o conhecimento de algo. É por meio desta ordem que ocorre o processo de abstração
que consiste na criação de conceitos e esquemas. Estes esquemas variam de cultura para
cultura e são ao mesmo tempo resultado das experiências, ajustes das expectativas e
preferências e meios através dos quais as pessoas organizam seu comportamento
(PIAGET, 1978; HALL, 2005).
É através do processo de abstração que as manifestações do mundo exterior se
transformam em representações, que podem ser imagens mentais ou conceitos. A
capacidade de representar se forma durante o desenvolvimento da inteligência que
ocorre em etapas. A primeira corresponde ao estágio sensório-motor, onde pelo
pensamento ainda ser uma ação, a percepção aparece intrinsecamente relacionada; a
segunda é o estágio pré-operacional onde se desenvolve a capacidade de simbolizar; a
10
BENJAMIN, 1987:73
33
terceira é o estágio operatório - concreto, no qual a evolução do pensamento é
reversível, existindo a capacidade de lidar com objetos concretos por meio de operações
mentais, e a última, que corresponde ao estágio operacional - formal através da qual o
pensamento trabalha com idéias, sendo capaz de realizar operações gicas. Assim,
pode-se dizer que de forma geral o processo de aprendizado possui dois níveis: o nível
sensorial-empírico que contém as informações e o nível teórico abstrato que são
responsáveis pelos movimentos reflexivos da inteligência. (PIAGET, 1978)
Embora estas etapas estejam baseadas em um estudo em torno do
desenvolvimento intelectual infantil, Piaget (1978) salienta que elas se manifestam
independente do estágio de desenvolvimento da inteligência do indivíduo. Desta forma,
como as imagens estão relacionadas à percepção, entende-se que elas possam ser
originadas ainda no início do processo cognitivo. No entanto, as informações que nelas
se manifestam variam, pois enquanto os lugares podem ser percebidos no primeiro
estágio, não conseguem ser representados mentalmente quando o indivíduo não se
encontra neles. Assim, nota-se a importância do entendimento do processo cognitivo,
pois se entende que à medida que ele ocorre, também se estabelece níveis de interação
entre o meio e o indivíduo. Assim, depois que se conhece bem o meio, ou seja, no
momento em que houve um certo grau de adaptações das ações do indivíduo sobre a
realidade, caracterizada por uma acomodação, é que a representação começa a ser
possível (KOHLSDORF, 1996).
As representações correspondem a teorias que ao serem construídas refletem o
mundo exterior. Elas podem apresentar tanto um conhecimento individual como
coletivo. As representações individuais consistem em formas de conhecimento prático
que são orientadas para a compreensão do mundo e para comunicação. Sua formação
consiste na criação de um modelo abstrato do meio ambiente e de tudo o que nele
ocorre, modelo no qual se encontram diversas informações tanto de desejos individuais
como coletivos, isto é, um modelo de mundo (JODELET apud DEL RIO, 2002). Já as
representações coletivas emergem como elaborações de sujeitos sociais a respeito de
objetos socialmente valorizados, como é o caso das representações sociais. Conforme
Moscovici (2003) as representações sociais é um processo de construção de
conhecimento que funciona através de estruturas sociais e cognitivas locais e populares,
o senso comum, sendo, portanto destinado à comunicação e à compreensão do contexto
social e material de certo grupo.
34
Segundo Moscovici (2003) as representações o importantes, pois é a partir
delas, e não necessariamente das realidades que se movem os indivíduos e suas
coletividades. Assim ao se considerar que a “imagem do lugar” é derivada de um
processo de aprendizado do meio, considera-se que as representações sociais constituem
um ponto importante para esta investigação, visto que o conhecimento é socialmente
estruturado e transmitido. De fato, representações sociais auxiliam no entendimento de
como ocorre a transformação do estranho – potencialmente ameaçador – em algo
familiar por meio de dois processos: a ancoragem e a objetivação.
A ancoragem refere-se à inserção do que é estranho no pensamento. Ou seja,
ancora-se o desconhecido em representações já existentes. Na verdade é um processo de
domesticação da novidade sobre a pressão dos valores de grupo, que a transforma em
um saber capaz de influenciar. Em suma, a ancoragem é feita na realidade social vivida.
Já a aceitação de uma representação remete, por sua vez, ao segundo processo de
objetivação. A objetivação é essencialmente uma operação formadora de imagens,
processo através do qual noções abstratas são transformadas em algo concreto, quase
tangível. Esse processo implica três etapas: na etapa de seleção, que é realizada
tomando como referência os valores do grupo, as informações sobre o objeto são
desvinculadas de seu campo específico, do campo científico, por exemplo, para serem
apropriadas pelo público, que assim pode dominá-las para seu uso cotidiano; em
segundo lugar a estrutura conceitual é reproduzida sob forma de imagem a qual também
pode ser chamada de figurativa, por acreditar que as representações sociais não
constituem um reflexo ou reprodução de uma realidade dada, mas, uma construção do
sujeito; e finalmente, a transformação da imagem em elementos da realidade, também
descrita como cristalização. A objetivação, portanto, consiste em uma atividade
imaginativa que forma ou figura ao conhecimento de um objeto. “Objetivar é tornar
concreto ou materializar o conhecimento em palavras, é transformar o conceito em
figura” (MOSCOVICI, 2003: 35).
Desta forma, em meio às diversas definições, entende-se que as representações
são fundamentais para a construção da “imagem do lugare que a mesma a partir do
momento que passa por todos os seus processos formadores sensação, percepção e
cognição – ganha força devido a sua assimilação. Neste sentido, considera-se também a
experiência, pois segundo Piaget (1978) é um ponto fundamental para qualquer
processo de aprendizado por garantir uma continuidade de uma ação que não se limita
apenas à assimilação por meio do pensamento, mas, sobretudo pela ação do indivíduo
35
sobre estes objetos. Assim é por acreditar que a experiência quando relacionada ao
processo de aprendizado permite uma maior interação entre objeto e sujeito que, em
relação ao espaço, para esta investigação se considera a cognição um processo de
conhecimento que se relaciona também com a possibilidade de classificação, ordenação
e nomeação (KOHLSDORF, 1996).
1.3. IMAGEM, OBJETO E REPRESENTAÇÃO.
Diante das diversas considerações se percebe que mesmo que a imagem tenha
vários significados associados a seu termo, por meio de sua relação entre o objeto e o
sujeito se produz um sentido que a torna compreensível, onde ela não é o objeto em si,
mas a sua representação. Entende-se que neste sentido a sua função é evocar, querer
dizer outra coisa que não ela própria utilizando o processo de semelhança. Afirma-se
então que quando a “imagem do lugar” é caracterizada como aquela impressão que se
adquire quando se ou se ouve a descrição de um lugar e o se quase como se
estivesse lá
11
, na verdade se está evocando as semelhanças, os objetos e as propriedades
que se assemelham ao lugar, ou seja, as suas representações.
Ao se considerar a imagem uma representação não se está atribuindo ainda ao
termo uma definição detalhada que recubra todos os sentidos da palavra, mas se
referindo a um ponto comum entre as suas diferentes significações: a analogia.
Independente da sua forma de manifestação, uma imagem antes de mais nada é algo que
se assemelha a outra coisa. Mesmo quando não se trata da imagem concreta, mas
mental, foco desta investigação, é unicamente o critério da semelhança que a define: ora
se parece com a visão natural das coisas, o sonho, a fantasia; ora se constrói por meio de
idéias como a metáfora, por exemplo (JOLY, 2004).
De fato, é por meio da analogia, isto é a posse de alguns traços que a torna
semelhante a algo, que a imagem se torna não o objeto em si, mas a sua representação.
Neste sentido, conforme Joly (2004), torna-se necessário discutir três constatações que
estão relacionadas à inserção da imagem na categoria das representações. Estas
constatações serão enfatizadas, sobretudo por estarem associadas ao papel das
11
JOLY, 2004:7
36
representações no entendimento de uma realidade e portanto, basilares nas reflexões
deste trabalho.
A primeira constatação pode ser explicada por meio do pensamento filosófico e
em especial por Platão. Segundo o mesmo a imagem pode ser chamada de
representação quando ela “se torna um objeto segundo em relação àquele que ela
representaria”
12
. De acordo com Joly (1999) o que Platão está afirmando é que quando
a imagem é uma representação, ela está na verdade fazendo alusão a dois mundos: um
mundo abstrato e o mundo concreto. Neste caso o abstrato corresponde à idéia ou
pensamento, enquanto o concreto é o que surge de sua interpretação. Este concreto seria
o que Platão chama de objeto segundo, pois não é o que existe no mundo das idéias e
sim, a sua representação. Neste sentido, pode-se dizer que em meio à representação
existem dois mundos que mesmo diferentes se relacionam entre si, pois conforme o
mesmo “tudo o que existe no mundo real é fruto do mundo das idéias”
13
. Nesta
perspectiva, constata-se que o uso da idéia de semelhança traz em si as características
que são intrínsecas à imagem, onde segundo a filosofia é a associação destas
características que são os pontos fundamentais necessários para que ela seja percebida
como uma representação (SAOUTER, 2007).
A segunda constatação seria derivada desta primeira, pois se uma imagem é
percebida como representação de algo ou de alguma coisa, isso quer dizer que a imagem
é percebida como signo, ou seja, a semelhança é o seu princípio de funcionamento
(JOLY, 2004). De fato, o conceito de representação muito tempo se constitui como
algo que pode ser entendido em diversos sentidos, inclusive como sinônimo de signo.
Neste sentido, seria lícito, neste momento, resgatar tal idéia e suas considerações,
principalmente devido a sua relação com a terceira constatação relatada posteriormente.
Assim, é em meio ao exposto que esta investigação explora a semiótica tratada por
Peirce por ser uma teoria geral dos signos.
1.3.1. A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM: A SEMIÓTICA
A semiótica é uma disciplina recente nas ciências humanas que surgiu no início
do século XX. É uma ciência dos signos que estuda os diferentes tipos interpretados
12
Apud Joly (2004)
13
Apud Aumont (1997)
37
pela humanidade, estabelecendo uma tipologia, encontrando leis de funcionamento nas
mais diversas categorias. Entre seus grandes precursores se destaca o cientista
americano Charles Pierce, o qual por desenvolver uma teoria mais geral que por
considerar o modo de produção de sentido, ou seja, a maneira como provoca
interpretações, se destaca para este estudo que aborda a imagem no ângulo da
significação.
Para Pierce (1972) um signo é signo se exprimir idéias e provocar na mente
de quem o percebe uma atitude interpretativa. Desse ponto de vista é possível dizer que
tudo é signo, pois no momento que se socializa, aprende-se a interpretar o mundo seja
ele natural ou social. Porém o propósito da semiótica não é decifrar o mundo nem de
recensear as diversas significações que se dá aos objetos. Na verdade o papel da
semiótica consiste em tentar ver se existem categorias de signos diferentes e se os
mesmos tem especificidades e leis próprias de organização, ou seja, processos de
significação particulares.
De acordo com Peirce (1972) o signo é aquilo que sob determinado aspecto,
representa alguma coisa para alguém, criando em sua mente um signo equivalente. O
signo é possuidor de uma materialidade que se percebe com um ou vários sentidos e que
pode constituir um ato de comunicação quando destinado intencionalmente, como uma
saudação ou uma carta, ou fornecer informações quando se aprende a decifrá-lo, como
uma postura ou um gesto, por exemplo.
(O signo) É possível vê-lo(um objeto, uma cor, um gesto) ouví-lo (linguagem
articulada, grito, música, ruído) sentí-lo (vários odores: perfume, fumaça),
tocá-lo ou ainda saboreá-lo. Essa coisa que se percebe está no lugar de outra;
esta é a particularidade essencial do signo: estar, presente, para designar ou
significar outra coisa, ausente, concreta ou abstrata
(PEIRCE, 1972).
De forma geral, pode-se dizer que um signo é algo que está no lugar de alguma
coisa para alguém, em alguma relação ou alguma qualidade. Considera-se, assim, que o
signo mantém uma relação entre três aspectos (figura 05): o primeiro seria o que se
percebe, o que se chama de “face perceptível do signo”: representamen ou significante;
o segundo seria o objeto que é o que ele representa, neste caso o “referente” e o terceiro
que é o que significa, o “interpretante” que equivale ao significado. Neste sentido,
entende-se que quando se ouve o som que remete ao “apito do trem”, este som constitui
38
a face significante, isto é a face percebida da palavra que substitui o conceito ou a que
remete, neste caso ao trem. No entanto, podem existir variações de interpretação. Em se
tratando do bairro da Levada, por exemplo, o mesmo significante “o apito do trem” tem
significação bem diferente. Enquanto para os moradores mais antigos o apito do trem
remete aos passeios pelo bairro, para os feirantes que comercializam no trilho do trem
tem uma significação bem diferente, pois indica que é o momento em que todas as
mercadorias devem ser removidas e que as pessoas devem se afastar o mais rápido
possível.
Segundo Peirce (1972) esta variação de interpretação se refere a todos os signos.
Por exemplo, uma porção de água rodeada de terra por todos os lados é reconhecida
como uma lagoa, mas para alguns moradores do bairro ela se torna um signo porque é
uma fonte de renda e de alimento, é um dos potenciais turísticos ou até porque tem
relação com a história do bairro. No entanto, já para o resto da cidade ela é sinônimo de
poluição, expressando, assim, uma atmosfera de descaso e o abandono encontrada tanto
na Levada como em grande parte de seus bairros adjacentes, principalmente os que são
banhados por ela. Esta variação segundo Joly (2004) é ainda mais eloqüente quando diz
respeito à imagem e se torna
algo que deve ser considerado,
pois pode auxiliar a
compreender melhor sua
natureza de signo. A fotografia
que representa o dia - a - dia da
Levada (figura 06), por
exemplo, que foi utilizada nas
visitas de campo, (significante)
que apresenta um grupo de
pessoas do bairro da Levada
em seu cotidiano (referente)
pode significar de acordo com
o contexto “foto de família” ou
no caso do bairro “convívio”,
“amizade” (significados).
Embora os signos
possam ser múltiplos e
Figura 05: triangulação que representa a dinâmica do
signo para a semiótico: a significação depende do
contexto e do receptor
Fonte: JOLY (1999)
SIGNIFICADO
interpretante
REPRESENTAMEN
significante
OBJETO
referente
Figura 06: O dia-a-dia no bairro da Levada
Fonte:Arquivo pessoal
39
variados, todos teriam uma estrutura comum que implica esta dinâmica que vincula o
significante ao referente e ao significado. No entanto, mesmo com essa estrutura em
comum, os signos não são idênticos, pois o som do trem não é a mesma coisa que uma
fotografia, porém por ambos significarem algo além deles mesmos se constituem então
em signos.
Para distinguir um signo do outro e tentar compreender as suas especificidades,
Peirce (1972) propôs uma classificação bem complexa. Trata-se da classificação em que
os signos são distinguidos em função do tipo de relação com o significado (face
perceptível) e o referente (o representado/ objeto). Embora neste trabalho não se tenha a
pretensão de estudar a semiótica em profundidade, esta classificação se explorada,
pois ela é útil para entender o funcionamento da imagem como conjunto de signos que
auxiliam em sua construção. Nesta perspectiva é proposta a distinção de três tipos
principais de signo: o ícone, o índice e o símbolo. O ícone corresponde a uma classe dos
signos cujo o significante mantém uma relação de analogia com o que representa, isto é
o seu referente. Um desenho figurativo, uma fotografia que represente um trem são
ícones na medida em que se pareçam com o trem. Porém, esta semelhança pode
acontecer de outra forma que não visual, onde o “apito do trem” também pode ser, em
teoria, considerado ícone, da mesma forma que um signo imitativo: um trem de
brinquedo por exemplo. O índice por sua vez corresponde à classe dos signos que
mantêm uma relação casual de proximidade física com aquilo com o que representam
como a palidez para o cansaço
14
, a fumaça para o fogo, a nuvem para a chuva; ou ainda
através como marcas deixadas pelo pneu de um carro, pegadas na areia ou até o trilho
do trem. Já o símbolo corresponde à classe dos signos que mantêm uma relação de
convenção com o seu referente. Existem símbolos clássicos como a bandeira para um
país e como a pomba para a paz. Da mesma forma a linguagem também faz parte dessa
categoria por ser considerada neste contexto um sistema de signos convencionais
(JOLY, 2004).
De fato, esta classificação é muito útil para a compreensão da imagem e de seus
diferentes tipos, pois, de certa forma, auxilia no entendimento de seu funcionamento.
Contudo, ela apresenta nuances, pois não existe signo puro, mas apenas características
dominantes. Joly (2004) explica este fato quando afirma que um ícone tão evidente
quanto um desenho realista tem sua parcela de convenção representativa e, portanto de
símbolo, no sentido peirciano do termo. Neste sentido, não se trata das significações
14
Palidez para o cansaço, fumaça para o fogo, a nuvem para a chuva são exemplos de signos que podem
ser chamados “naturais”
40
convencionais que podem ser atribuídas a um desenho, mesmo da forma mais realista,
como a paz para o desenho de uma pomba, mas da própria maneira de desenhar que
respeita regras de representação convencionais como as da perspectiva, por exemplo.
No que diz respeito à imagem, pode-se dizer que ela mantém uma relação de
analogia qualitativa entre o significante e o referente, ou seja, ela também é um signo.
Através da imagem podem ser retomadas as qualidades formais de seu referente:
formas, cores, proporções que permitem reconhecê-los e representá-los. Nesta ótica, a
imagem ainda continua sendo uma representação, fato que ressalta uma terceira
constatação: ela necessariamente não utiliza regras de construção, pois ela é uma
interpretação. Se essas representações são compreendidas por qualquer pessoa além das
que a fabricam, é porque existe entre elas um nimo de convenção sócio cultural, que
no ponto de vista de Peirce corresponde a uma boa parcela de significação a seu aspecto
de símbolo.
Em se tratando do bairro da Levada, pode-se dizer que é bastante perceptível a
relação entre o significante e o referente em sua imagem construída, principalmente
quando esta diz respeito aos habitantes da cidade. A grande parte destes entrevistados
associa um único elemento o Mercado da Produção e sua configuração como algo
que corresponde ao bairro em sua totalidade. Para os mesmos as qualidades associadas
ao mercado são também consideradas como pertencentes ao bairro, aspecto que além de
consolidá-lo como símbolo, torna evidente a influência da imagem na construção de
uma realidade. Desta forma, torna-se de fundamental explorar a relação entre imagem e
realidade na época contemporânea, pois constitui uma base subsidiária forte que
evidencia a relevância do estudo da imagem e o seu papel no entendimento do lugar.
1.3.2. IMAGEM E REALIDADE CONTEMPORÂNEA
Na busca de uma definição sobre a imagem, foi mencionado que nas últimas
cinco décadas o termo passou a ter sua noção vinculada à idéia de mídia (JOLY, 2004).
Esse é um tipo de imagem que devido a seu caráter repetitivo, ancora-se de maneira
muito fácil ao cotidiano, principalmente por ser sinônimo de televisão e publicidade.
Como se dirige ao grande público, esta imagem se torna uma ferramenta de promoção
que pode constituir um ponto chave em algumas decisões dos indivíduos
(DOMINGUES, 2005). De fato, a mídia utiliza tão bem a imagem, que proporciona a
outros meios de expressão visual coexistentes nela a extensão das mesmas atribuições
41
do campo publicitário, principalmente a facilidade de impulsionar a questão do
consumo. É devido a esta grande influência que se faz necessário entender o seu papel
da imagem e de sua construção na contemporaneidade (JOLY, 1999).
Entre os trabalhos que relatam e analisam a influência da imagem na realidade
contemporânea, destacam-se principalmente os estudos de Baudrillard (1981). Para esta
investigação, a análise da imagem contemporânea sob a ótica do mesmo foi essencial,
pois auxiliou bastante na compreensão da imagem do bairro da Levada construída,
sobretudo pelos habitantes da cidade de Maceió.
Segundo Baudrillard (1981) hoje a humanidade se encontra em um momento em
que cada vez mais a imagem ou o que ela representa se confunde com o real. Sob este
parâmetro ela se torna quase que fundamental, tanto para o entendimento da realidade
como para a determinação da mesma. Assim é certo que não haveria, portanto,
fundamento para o mundo real, pois o simulacro o precederia, substituindo-o, até que
ele se tornasse um vestígio.
Na verdade, conforme o autor anteriormente aludido, este seria o resultado de
um processo que tem ocorrido ao longo da história. Durante a evolução humana,
percebe-se que o homem sempre usou os objetos como discurso de reafirmação
identitária, como uma maneira de dar visibilidade, materialidade e sustentação
simbólica ao seu papel social. Há pouco tempo atrás o corte da roupa, o modelo do carro
ou o estilo da fachada de uma casa significavam ou se referiam à posição social
15
de um
indivíduo, mas agora a modernidade inverte essa relação. Na época atual, esses signos
não têm uma função referencial tão forte porque o indivíduo não possui os objetos
devido a sua classe social, status, prestígio, mas ao contrário, possuir tais objetos
garantem a sua inserção em certo grupo ou realidade. Um exemplo desta afirmação
pode ser verificado quando os respondentes foram questionados acerca dos melhores
bairros de Maceió. Muitos citaram nomes de condomínios fechados como bairros ideais,
embora os motivos não correspondessem a elementos considerados importantes na
prática do bairro como um bom convívio entre vizinhos
16
, por exemplo. Em sua maioria
os motivos citados estavam mais associados a fatores como prestígio e “status”
desejados por tais residentes que viam nestes lugares a possibilidade de concretização
deste objetivo. Neste sentido, percebe-se que os objetos não são reafirmadores de uma
identidade, ou seja, residir em um condomínio fechado não seria conseqüência de certo
15
MUMFORD, 1998
16
Constatado através da pesquisa de campo como um dos motivos fundamentais presentes em um bairro
ideal
42
padrão social e financeiro, mas transformar-se-iam na própria identidade. Neste
contexto qualquer indivíduo que compartilhe desta realidade poderia ou seria
considerado sob os valores da mesma. (BAUDRILLARD, 1981).
Diante deste exemplo, pode ser dizer que se destaca uma nova relação, como um
diálogo, só que estabelecida entre o olhar e os objetos, onde os sinais e indícios
reafirmam o discurso. Através deste discurso se forma um repertório de imagens e
categorias pré-fixadas, onde os valores permanecem imutáveis, não existindo a
renovação do diálogo, pois a única possibilidade de mudança só pode ocorrer nas
formas dos objetos. Assim, entende-se que mesmo que o olhar e os valores sejam os
mesmos, eles mudam a cada dia através da forma em que os objetos são manipulados,
seja por meio da saturação de imagens ou pelo excesso de informações e conteúdos com
os quais os indivíduos se deparam na vida cotidiana (CONNOR, 1993).
Para Baudrillard (1981), tal ampliação do acesso a representações tem como
resultado um tipo de mudança, em termos de percepção, que se não apenas em
termos quantitativos. Na verdade a mudança é muito mais de forma qualitativa, pois tal
excesso resulta em uma experiência sem precedentes, impossível de ser explicada pela
referência. No caso dos entrevistados que citaram o condomínio fechado como um
bairro ideal, por exemplo, mais da metade nunca havia freqüentado nenhum deles,
principalmente porque esta era, segundo os mesmos, uma realidade totalmente diferente
de seus bairros de convivência, os quais serviam de referência para suas respostas.
Além disso, as mudanças qualitativas ocorrem com maior freqüência porque
estão relacionadas com a descrição de um tipo específico de relação entre imagem e
realidade. Esta relação aparece fortemente associada aos acontecimentos do momento
histórico identificado como “pós-modernidade", mais precisamente por meio do
conceito de implosão de McLuhan (1974)
17
, que fundamenta que a distinção entre
mundo real e simulação (ou imagem) foi implodido. Neste sentido, novos conceitos se
tornam imprescindíveis assim como a superação das descrições convencionais sobre
“imagem” e “reprodução”, e as suas implicações sobre “real” e irreal”
18
, herdadas
através delas. Assim, não existe diferença entre o que seria uma experiência “de fato”, e
a sua representação, fato evidente no exemplo de bairro ideal onde a grande maioria que
optou pelo condomínio fechado embora nunca o tenha freqüentado o considera um
17
Segundo McLunhan (1974) o processo denominado pelo mesmo de implosão é uma “reversão pela qual
o homem ocidental reingressa em seu ciclo tribal (MCLUHAN, 1974:53). Na era elétrica, as energias do
mundo, implosivas ou em contração, entram em choque com as velas estruturas de organização
expansionistas e tradicionais, que funcionavam na lógica do centro para a periferia.
18
Irreal no sentido de pensamento e idéia
43
modelo a ser seguido por outros bairros que almejam alguma valorização
(BAUDRLLARD, 1981).
Entre os resultados detalhados nesta investigação, a relação entre a imagem do
condomínio fechado e a idéia de bairro ideal se torna apenas um pequeno exemplo da
influência da imagem. Percebe-se que esta influência ocorre principalmente na
percepção das “coisas” que podem ser empiricamente experimentadas, pois estas
passam a ser reconsideradas pela idéia de “hiper-real“: algo que não se encontra
fundado na experiência em si, mas na conjunção de imagem, realidade e ideologia. Este
seria um outro ponto a ser considerado no entendimento da imagem da Levada
construída pela cidade. Em meio aos relatos, fica evidente que mesmo possuindo um
pequeno conhecimento acerca do bairro fundamentado em breves passagens ou visitas,
nota-se que a experiência do lugar, por mais positiva que seja relatada, é influenciada
por elementos negativos, relacionados à imagem de lugares degradados de uma forma
geral.
No entanto, também existe a possibilidade de que nem a ideologia ou a realidade
sirvam de parâmetro para a explicação da imagem, pois nela pode não haver nem
fundamento e nem referência. Conforme Baudrillard (1981), a representação tem
passado ao longo da história por estágios. Se no início o signo se constitui como o
reflexo de uma realidade básica; em um segundo momento, ele poderia ser manipulado
de forma a modificar uma realidade, transformando-a em algo diferente até chegar ao
ponto que onde não teria relação com nenhuma realidade, pois ele seria o próprio
“simulacro puro”. Na época atual em que não se exige que os signos tenham algum
contato verificável com o mundo que supostamente representam, estaria sendo
presenciado o último estágio. Desta forma, a passagem dos signos que dissimulam
alguma coisa aos signos que dissimulam que não há nada, marcaria o resultado decisivo,
não existindo separação entre o falso e o verdadeiro. Esta seria uma das formas pela
qual a imagem, em meio ao consumo ao caráter repetitivo, pode ser associada à
realidade que ela pode representar e influenciar em relação à contemporaneidade
(BAUDRILLARD, 1981).
Percebe-se, então, que a compreensão da imagem hoje implica na idéia de um
colapso de distinções entre a coisa representada e a representação em si mesma. Em
outras palavras, entre a imagem do objeto e o próprio objeto, que se caracteriza, na
discussão tradicional, a primeira seria algo com o qual efetivamente se poderia manter
sempre proximidade e contato. Enquanto a representação tentaria absorver a simulação
44
interpretando-a como falsa representação, a simulação envolveria todo o edifício como
simulacro. Nas fases sucessivas da imagem ela poderia primeiramente corresponder a
um reflexo da realidade profunda quando a imagem apresenta uma boa aparência; a
representação seria uma forma de domínio, pois poderia mascarar ou deformar uma
realidade. Ao mesmo tempo poderia também mascarar a ausência de uma realidade
fingindo ser aparência, uma forma de domínio ou não ter relação com qualquer
realidade, pois seria o próprio simulacro puro, sendo não todo o domínio da aparência,
mas da simulação (BAUDRILLARD, 1981). Neste contexto, quando o real não é o
que era, pois é a imagem que o direciona, percebe-se que é a nostalgia que se torna um
dos principais elementos de construção da imagem, como aconteceu com alguns dos
entrevistados mais idosos. Para estes respondentes, a realidade do bairro corresponde a
uma atmosfera festiva, com pessoas na calçada e crianças brincando na rua, fatos que
cada vez se tornam menos evidentes tanto na Levada como em grande parte dos bairros
de Maceió.
Sob esta perspectiva, pode-se dizer que a compreensão da imagem e de seu
papel na contemporaneidade para esta investigação é fundamental. Neste ponto se
destaca a análise e o detalhamento da relação entre a imagem e a contemporaneidade,
principalmente de como sua construção quando manipulada pode influenciar no ponto
de vista dos indivíduos. Em relação ao espaço, na ótica de Baudrillard (1981), a
imagem que se constrói de um lugar pode ser menos importante que a experiência
concreta vivida nele, aspecto exemplificado através nos resultados das entrevistas de
campo, sobretudo através da imagem que a cidade possui acerca do bairro da Levada.
Neste momento, percebe-se que quando direcionado a certos elementos de um lugar
fundamentais na construção de sua imagem, a mudança de um espaço pode provocar a
sua revalorização ou desvalorização. Entende-se, assim, que a compreensão e na análise
imagem pode ser relevante para o aprendizado e conhecimento do espaço, sobretudo
quando se tem o objetivo de proporcionar melhorias em certos lugares que sejam
agradáveis na ótica de seus usuários, como será explorado nos próximos itens.
1.4. A IMAGEM NO ENFOQUE DA CIDADE
Entende-se que o aprendizado e o conhecimento ocorrem por meio de um
processo de desenvolvimento que está associado a uma sucessão de etapas, ou seja, um
45
movimento constante de aproximação entre o indivíduo e o fenômeno observado. O
objetivo dessa aproximação é o entendimento de alguma coisa que, através da
representação de suas características reais, corresponde a algo semelhante àquilo que se
observa. Nesse sentido, aprendizado e conhecimento são representações da realidade
objetiva, podendo ser expresso através de imagens (KOHLSDORF, 1996).
Entre os diversos trabalhos que enfocam o estudo das relações entre pessoa e seu
ambiente, percebe-se que a forma de aprendizagem do homem é multi-sensorial.
Portanto, o aprendizado dos lugares pode ser tanto uma possibilidade simultânea dos
processos sociais como dos mecanismos mentais. Na verdade, sua finalidade é explicar
ao indivíduo a natureza dos lugares como algo que faz parte do mundo ao qual ele
pertence, pois só assim existirão condições para se agir sobre ele. Geralmente esta
aprendizagem acontece através do processo cognitivo, cuja construção pode ser
acessada por meio de imagens mentais. É por isso que, quando explorado através da
imagem e de sua construção, o aprendizado dos lugares revela uma série de
características, internas e essenciais, apresentada sobre aparências que conduzem o
observador a suas ações (ELALI, 2007; KOHLSDORF, 1996).
Conforme Elali (2007) a imagem de uma área urbana tem sido analisada, em sua
maioria, a partir de sua legibilidade, explorado posteriormente neste trabalho enquanto
conceito relacionado à qualidade visual. Assim, a apreensão dos lugares ocorre
necessariamente a partir de sua forma física
19
, que pode ser estudada através de sua
natureza estética, emocional ou informativa. São as aspirações de beleza, a afetividade e
a informação que se colocam para a forma dos lugares e que convergem para as
questões de aprendizados dos mesmos. A forma como ocorre o aprendizado dos lugares
corresponde às expectativas sociais coletivas ou individuais que são colocadas ao longo
do processo de conhecimento. É por este motivo que o estudo da configuração dos
lugares deve se aproximar sempre de sua dimensão simbólica, pois suas regras de
produção, reprodução, decodificação e consumo do espaço também são culturalmente
definidos (KOHLSDORF, 1996).
A dimensão simbólica é, entre os vários aspectos que determinam os lugares, o
que se infiltra e governa os demais. Este aspecto simbólico diz respeito as possíveis
conexões conceituais existentes entre espaço concreto e as idéias, conceitos, valores ou
significados invisíveis que o originaram (RIBEIRO, 2004). Compreende-se, então,
19
No caso das pessoas videntes, visto que os deficientes visuais possuem outras formas de apreender os
lugares.
46
que os lugares contêm informações tanto a respeito do indivíduo como da coletividade.
Esta é uma possibilidade que se torna compreensível principalmente por meio da
abordagem do espaço como estrutura de signos, que neste trabalho é associada e vista
através da semiótica peirceana. Esta última tem sido explorada desde meados da década
de 1960, quando alguns conceitos, entre eles o de bairro, passaram a adquirir sentido
simbólico. O processo se identifica com a formação social da imagem do espaço, ou
seja, a maneira como o espaço físico se torna espaço social, e, portanto, espaço
simbólico.
Segundo Kohlsdorf (1996) a vertente que observa como a forma dos lugares
adquire sentido, afetivo, sobretudo para seus usuários, tem sua origem relacionada aos
trabalhos desenvolvidos pela psicanálise e diversos setores da psicologia. De uma forma
geral, nestes trabalhos, torna-se evidente que as maneiras de se configurar o ambiente
social não são indiferentes às condutas das pessoas, ou seja, os espaços apresentam
restrições e induções na maneira como os indivíduos reagem e se comportam. Assim, o
não atendimento a necessidades, até então consideradas “básicas”, como uma boa
adequação das formas as funções, por exemplo, ao mesmo tempo em que não satisfaz os
anseios de seus usuários compromete a resposta desejada as primeiras.
Desta maneira, pode-se dizer que a imagem de um ambiente pode ser analisada
tanto através de suas características físico-espaciais do ambiente como no ponto de vista
social e psicológico. Em se tratando desta investigação, considera-se que embora a
imagem seja uma construção individual do ponto de vista cognitivo, quando se trata de
um meio ambiente, ela também é uma construção social baseada nas características
físicas do lugar em estudo, neste caso o bairro da Levada. Neste contexto, este trabalho
direciona a sua atenção para os aspectos morfológicos do meio ambiente. Entre os
diversos autores voltados para esta vertente, destaca-se Lynch (1999), onde a dimensão
plástica dos lugares se apresenta com plenitude em seus trabalhos que investigam os
chamados “aspectos visuais da cidade”, por meio dos quais a dimensão estética é
somada as expectativas do desempenho dos lugares, como será tratado logo a seguir.
Contudo, quando se considera a análise das características físicas da Levada, esta
pesquisa parte do princípio de que as mesmas são decodificadas pelos usuários do
bairro. Assim, também se privilegia o ponto de vista dos indivíduos, levando-se em
conta aspectos relacionados à percepção e ao significado do ambiente (ELALI, 2007).
47
1.4.1. IMAGEM E ESPAÇO
Embora existam críticas acerca do trabalho de Lynch (1999) por negligenciar as
questões sociais em seu trabalho, entende-se que por ser pioneiro no estudo da imagem
da cidade seu trabalho não pode ser descartado de qualquer investigação que envolva
imagens urbanas. Em se tratando desta pesquisa, o autor mencionado desenvolve
conceitos em torno das expectativas emocionais ou afetivas em relação à configuração
dos lugares que são de grande auxílio, pois servem para o entendimento do
funcionamento da imagem mental relacionada ao espaço.
Segundo Lynch (1999), as imagens mentais são o resultado de um processo
bilateral entre observador e seu meio, podendo variar significativamente entre
observadores diferentes. Tal variação vai depender da coerência da imagem que pode se
manifestar de diversas maneiras, pois depende dos fatores envolvidos ao longo do
processo de percepção e cognição. Por isso, embora no bairro da Levada exista pouca
coisa ordenada segundo a opinião de seus usuários, os moradores, os comerciantes e os
freqüentadores mais assíduos discordam desta colocação. Como para estes últimos,
devido a sua convivência diária com o bairro foi desenvolvida uma longa
familiaridade com o lugar, percebe-se que imagem construída adquire uma certa
organização a ponto de permitir que estes entrevistados identifiquem diferentes grupos
de tipologias residenciais, como será detalhado posteriormente nos resultados.
Consequentemente, pode-se afirmar que este também é o motivo pelo qual um morador
consegue se deslocar facilmente pela área de feira livre, que para qualquer outra pessoa
externa ao bairro parece totalmente desordenada.
A estrutura da imagem tem relação com uma qualidade visual específica que é a
legibilidade, ou seja, clareza. Um lugar pode ser facilmente apreendido por meio de seus
signos identificáveis. Assim, um espaço facilmente reconhecido é um espaço legível,
atributo fundamental para o desenvolvimento deste trabalho, pois auxilia na
compreensão da construção da imagem de um lugar. É certo que imagem clara, neste
sentido, está fortemente associada às noções de orientabilidade e identificabilidade, mas
que também pode servir como um vasto sistema de referências, um organizador de
atividades, de crença ou do conhecimento (LYNCH, 1999).
Uma imagem mental pode ser composta de três componentes: identidade,
estrutura e significado. Para que uma imagem aconteça primeiramente deve haver a
identificação do objeto, o que implica em sua diferenciação de outras coisas seu
48
conhecimento enquanto entidade separável. A isso se o nome de identidade, que
neste trabalho está se referindo às características do objeto, “a identidade de algo”
20
, ou
seja, o significado de unicidade. Em segundo lugar a imagem deve incluir a relação
espacial ou pragmática do objeto com o observador e os outros objetos. Por último esse
objeto deve ter algum significado para o observador, seja ele prático ou emocional.
Uma imagem útil para a indicação de uma saída requer o reconhecimento de
uma porta como entidade distinta, de sua relação espacial com o observador e
de seu significado enquanto abertura para sair (LYNCH, 1999: 9).
Entende-se, então, que o reconhecimento visual de algo se mistura com o seu
significado. Porém, quando este significado se direciona a cidade fica muito mais
complicado, que nas imagens coletivas os significados tendem a ser menos
consistentes do que as percepções de identidade e relação. Assim, deve-se procurar
definir as qualidades físicas relacionadas aos atributos de identidade e estrutura na
imagem mental, a imaginabilidade.
A imaginabilidade na verdade é uma característica em um objeto físico, que lhe
confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador.
“É aquela forma, cor ou disposição que facilita a criação de imagens mentais,
claramente identificadas, poderosamente estruturadas e extremamente úteis no meio
ambiente” (LYNCH, 1999: 11). Em relação à semiótica, percebe-se que este conceito se
aproxima bastante ao de signo no que diz respeito à possibilidade de evocar. Neste caso,
a imaginabilidade seria equivalente ao índice que apresenta uma relação casual de
proximidade com que representa, como foi exemplificado anteriormente através da
relação entre o trilho e o trem. Aliás, nota-se que no estudo do bairro da Levada estes
dois conceitos aparecem relacionados na construção da imagem demonstrando que,
dependendo da relação do indivíduo com o lugar, os mesmos elementos podem assumir
diferentes graus de importância.
Devido a este fato, a imaginabilidade se tornou um aspecto essencial para esta
pesquisa, pois permitiu explorar a formação da imagem nos dois sentidos: dos
moradores e dos não-moradores. A imagem dos moradores do bairro pôde ser avaliada
por meio da composição da estrutura, identidade e significado por se considerar que
nesta amostra se encontre uma certa familiaridade com o lugar. Já no caso dos não-
20
ELALI, 2007
49
moradores devido a Levada se mostrar um bairro complexo por sua dinâmica -
comércio, moradia, feira livre - o conceito de imaginabilidade auxiliou na identificação
de alguns aspectos que são capazes de evocar uma imagem forte, pois se leva em conta
que grande parte dos entrevistados não tem muita familiaridade com o lugar. Entretanto,
nesta constatação também foi ressaltada em questões relacionadas à semiótica.
Enquanto para os moradores a imaginabilidade e a legibilidade estavam associadas a
algumas significações, para os não moradores apareceu relacionada muito mais com a
possibilidade de deslocamento dentro do bairro.
Outro aspecto tratado por Lynch (1999) é a questão da imagem pública e seus
conteúdos, que á na verdade uma sobreposição de muitas imagens individuais. Embora
as imagens individuais sejam únicas por possuir sempre algum conteúdo que nunca ou
raramente é comunicado, elas são importantes porque se aproximam da imagem
pública. Neste sentido, torna-se válido entender este ponto de vista, que existem
outras influências atuantes sobre a imaginabilidade como o significado social de uma
área e sua história, como ocorre na Levada.
Segundo Lynch(1999) o conteúdo das imagens remetem a formas físicas. Esses
conteúdos podem ser classificados em cinco elementos que compreendem vias, limites,
pontos nodais, marco e bairros. Na verdade, em meio a esses elementos, será enfatizado
neste trabalho apenas quatro, dada as suas relevâncias e ocorrências na terceira seção. O
primeiro elemento consiste nos limites que são elementos lineares não considerados
como ruas e que são as fronteiras entre dois tipos de área que funcionam como limites
laterais. Os limites mais fortes são aqueles que predominam não só visualmente, mas
que tem forma continua e não podem ser atravessados. Eles podem ser ferrovias, de
topografia, de rodovias ou de bairros, onde neste último é uma característica típica que
acarreta em fragmentações. Os limites fortes não são necessariamente impenetráveis,
podendo ser “uma costura” muito mais que uma barreira que isolam como é perceptível
em um bairro.
O segundo elemento corresponde aos pontos nodais. Estes são os considerados
lugares estratégicos, focos intensos nos quais o observador pode entrar. Eles podem ser
basicamente junções, meras concentrações que adquirem importância ou até, como no
caso do bairro de estudo, foco e síntese do bairro, sobre o qual a influência se irradia a
ponto de se tornar um mbolo. Em outras palavras, os pontos nodais são referências,
assim como os marcos, que correspondem ao terceiro elemento destacado. que no
50
caso deste último o observador não pode entrar neles, pois são externos, ou seja, são
objetos físicos que se define com tal a partir de sua escolha como ponto de referência.
O quarto elemento é o bairro que aparece em meio a cidade como um contexto
maior do que os outros elementos. Os bairros são áreas relativamente grandes da cidade
na qual o observador pode penetrar mentalmente e que por se localizarem em uma
mesma cidade acabam por possuir algumas características em comum. Podem ser
reconhecidos internamente como uma extensão da moradia ou ser usados como
referências externas. Contudo, independente da forma em que sejam vistos, os bairros
continuam sendo uma parte importante e satisfatória no entendimento da cidade.
As características físicas que determinam os bairros são elementos que podem
constituir uma grande variedade de componentes: textura, espaço, forma, detalhe
símbolo, tipo de construção, usos, atividades, habitantes, estado de conservação,
topografia. Esses indicadores não são apenas visuais: o barulho é igualmente
evidenciado, como ocorre na Levada com o som do trem e da feira-livre. Algumas vezes
até a própria confusão é um indicador como no caso de muitos respondentes
freqüentadores que atribuíram ao fato se sentirem perdidos um sinal de que haviam
chegado à Levada. Da mesma forma as associações com a sociedade que usufrui
diretamente do meio e sua história também são indicadores que devem ser relevados.
Desta forma, diante dos inúmeros aspectos que devem ser considerados na imagem de
um bairro, entende-se que antes de explorar o bairro em estudo é preciso outras
contribuições que envolva o indivíduo e sua relação com o meio, tratados a seguir.
1.5. OUTRAS CONTRIBUIÇÕES
1.5.1. IMAGEM E TOPOFILIA
Lynch (1999) explica que para compreender a imagem de um lugar é necessário
explorar a ótica do observador. Nesta perspectiva, recorre-se a Tuan (1980) e suas
considerações acerca do nativo e do visitante por serem fundamentais no entendimento
de como o morador e não-morador estabelecem laços com o bairro da Levada.
Sendo topofilia um termo que associa o sentimento ao lugar, em relação ao
espaço não pode ser considerada o sentimento mais forte. Porém quando se manifesta, é
51
certo que o ambiente ou lugar é um símbolo, isto é, adquiriu significado para o
indivíduo ao ponto deste lhe atribuir valor. (TUAN, 1980)
Segundo Tuan (1980) o fato das imagens serem extraídas do meio ambiente não
significa que o mesmo as tenha determinado, tampouco que é o ambiente que a
desperta. O meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia, mas fornece
estímulo sensorial que ao agir, como imagem percebida, dá forma aos sentimentos e aos
ideais. Neste caso, salienta-se que aquilo que é apreendido, em meio a inúmeros
estímulos do ambiente, depende da capacidade seletiva da percepção que se fundamenta
no propósito e nas forças culturais que atuam em uma determinada época.
Diante das explicações acerca da cognição e da percepção, pode-se dizer que a
apreensão de um lugar pode variar quando se trata do morador e do não - morador. De
fato, o visitante e o nativo focalizam aspectos bem diferentes do meio ambiente. Em
geral, somente o visitante tem um ponto de vista que apresenta percepções fragmentadas
da realidade. O nativo, ao contrário, tem uma atitude complexa derivada de sua imersão
na totalidade de seu meio ambiente. O ponto de vista do visitante por ser simples, fácil
de ser enunciado, podendo se manifestar principalmente por meio de um confronto com
a novidade. Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente pode ser expressa
com “dificuldade e indiretamente através do comportamento, da tradição local,
conhecimento e mito” (TUAN, 1980: 30).
A avaliação do meio ambiente pelo visitante é essencialmente estética. É a visão
de um estranho; e o estranho julga pela aparência, por algum critério formal de beleza.
É preciso um esforço para provocar a empatia em relação à vida e valores dos
habitantes. Em relação ao bairro da Levada, percebe-se que o julgamento do não-
morador é muitas vezes válido. Sua principal contribuição é perspectiva nova, onde se
pode perceber alguns atributos em um meio ambiente que podem não ser tão visíveis
para o morador.
Conforme o autor anteriormente aludido, mesmo que visitante e nativo sejam
aparentemente divergentes na percepção do lugar e no sentimento de afeto, ambos têm o
costume de estruturar o mundo em subordens, direções; fato que estimula uma visão
simbólica do mundo. Existe uma tendência para estruturar o mundo com em categorias.
Em todos os lugares as pessoas tendem a estruturar o espaço, inserindo-se no centro e a
partir de zonas concêntricas (mais ou menos definidas), com valores decrescentes
(aberto, fechado, frente e fundo), áreas residenciais adensadas e praças públicas
espaçosas, demonstrando que seria universal a idéia de “centro” e “periferia” na
52
organização espacial. Desta forma, deve-se considerar que as atitudes em relação à vida
e ao meio ambiente também refletem tais idéias, que variam de indivíduo para indivíduo
e que podem ser percebidas por meio da idade, do gênero e nas fases da vida.
Assim, pode-se dizer que para compreender a preferência ambiental de uma
pessoa é necessário examinar a sua herança biológica, sua educação, seu contexto,
trabalho e arredores físicos. No nível de atitudes e preferências de grupos é necessário
conhecer a história cultural e a experiência no contexto de seu ambiente físico. Os
indivíduos são membros de grupos e todos aprendem em graus variados a diferenciar
entre o “nóse o eles” entre as pessoas reais e as pessoas menos reais, entre o familiar
e o estranho em um lugar (TUAN, 1980). Todavia, existem elementos coletivos que são
relacionados a um determinado grupo e que podem ser consensuais, e que serão
explorados no próximo item.
1.5.2. A IMAGEM E ATRIBUIÇÃO DE VALOR ESPACIAL
Segundo Ferrara (2000) a imagem da cidade hoje necessariamente não surge
apenas do contato concreto entre indivíduo e lugar. Se ainda no século passado a cidade
era experimentada através dos cincos sentidos, começando pela visão e culminando no
contato físico, nos tempos atuais o habitante dispõe de outras formas de apreender o
meio. Torna-se natural o contato através do computador ou da televisão, onde a cidade
se torna mais vista do que sentida.
Neste contexto, a imagem pode definir apenas o contorno de uma cidade,
primeiramente porque em alguns casos esta última surge como pano de fundo apelativo
da mídia. Além disso, sabe-se que em meio à contemporaneidade também é possível
que a imagem não apresente nenhuma coerência com sua situação referencial, pois ela
pode ser um simulacro da própria cidade (BAUDRILLARD, 1981), principalmente
quando se tem o intuito de despertar um forte apelo associativo com o consumo. A
imagem de alguns lugares com significância cultural como os bairros históricos,
monumentos, ruas e distritos de lazer e entretenimento é um exemplo. A remodelação
destes, quando o objetivo é o de atuar como elementos chave no desenvolvimento
econômico baseado no turismo, pode implicar na camuflagem e remoção de elementos
tidos como “indesejáveis”, enquanto os aspectos “desejáveis” são ressaltados ou
simplesmente inventados, sem qualquer relação com a história e cultura locais. É neste
momento que a imagem destes lugares agrega uma espécie de publicidade, uma imagem
53
veiculada, que traz em si de forma concretizada um modo de conhecer e avaliar uma
cidade como um todo (SILVA, 2004).
Mesmo que tal imagem possa interferir na opinião e conhecimento acerca de um
lugar, compreende-se que quando se trata da imagem construída através da experiência
a análise se torna mais segura, pois traz em si uma cidade que foi organizada pelo ponto
de vista do indivíduo. Esta é uma imagem mental que é simbólica, e por isso
representativamente eficiente, que expressa um conhecimento baseado nos processos
sensitivo, perceptivo e cognitivo. (FERRARA, 2000).
Independentemente de como seja vista a imagem da cidade, o fato é que ela pode
atuar como uma ilustração de um significado que expressa a qualidade do lugar e a sua
atribuição de valor. Entre os diversos estudos mais recentes publicados sobre a imagem
do lugar mencionados por Nasar (2006), destaca-se, sobretudo para esta investigação, as
avaliações de duas cidades em Tennessee (Chattanooga e Knoxville) por se
concentrarem na melhoria da relação entre seus habitantes e o espaço. Apesar de ser
uma avaliação baseada na realidade americana, percebeu-se, ainda na pesquisa piloto
realizada nesta investigação que, ao se explorar a imagem como requisito avaliativo,
alguns pontos foram igualmente mencionados. Entre os relatados o mais equivalente
reside no fato de que os cidadãos partilham grandes áreas de consenso sobre o que torna
uma área agradável, especialmente quando se trata de fatores relacionados à arquitetura
e ao urbanismo. Todavia, na grande maioria das vezes os profissionais que lidam com a
cidade desconhecem as preferências e as necessidades de seus habitantes mostrando, ao
invés de resultados benéficos, preferências que contrariam as escolhas do público e que
levam a um estado de desordens visuais e de insatisfação. Assim, é neste sentido que o
estudo da imagem surge como uma possibilidade de entender essas exigências.
(NASAR, 2006)
O estudo realizado em Tennessee envolveu, da mesma forma que o estudo do
bairro da Levada, entrevistas direcionadas a uma amostra representativa, onde os
contemplados eram dos residentes e visitantes de cada cidade. Os resultados mostraram
uma forte sobreposição de preferências entre os visitantes e moradores locais
semelhantes, sendo possível a partir de alguns elementos detectar as áreas mais
apreciadas e menos apreciadas. Fato similar é demonstrado na pesquisa de campo sobre
a imagem do bairro da Levada. Os resultados revelaram que os fatores ligados aos
elementos preferidos se centravam em paisagens naturais, edifícios – que às vezes
apenas aparentavam - historicamente significativos, espaços abertos e nos lugares que
54
foram arrumados e bem mantidos. Os aspectos negativos, por sua vez eram
representados pelos edifícios degradados, desordem, poluição e ruas desertas. Da
mesma forma, apesar de se concentrarem em cidades diferentes, em todos estes locais,
as mesmas preferências emergiram como sinônimo para agradabilidade: espaços
paisagísticos e espaços históricos que expressavam edifícios com definições bem
ordenadas (IBID).
Segundo Nasar (2006), a única forma de adquirir tais informações é por meio de
uma longa associação com o trabalho de campo, pois através dele é possível obter
informações úteis à abordagem da imagem e sua relação com o estudo afetivo do lugar.
Contudo, apesar de uma rica abordagem, o estudo de campo sobre a imagem ainda
resulta em críticas, pois sua aplicabilidade ainda é questionada enquanto instrumento de
planejamento. Entretanto a presente investigação acredita que a imagem se torna útil por
dispor do ponto de vista do cidadão e de suas preferências que, quando identificadas e
explicadas, podem auxiliar a prever as necessidades de um lugar. É devido a este fato
que na análise de uma imagem de um lugar se deve considerar todos os aspectos que
tenham importância na vivência e compreensão do ambiente por seus usuários. E de
fato, conforme Elali (2007) existem alguns pontos devem ser considerados como as
características do ambiente, a variação das práticas sociais da população no tempo e as
principais percepções de seus usuários fixos e não fixos. Este último envolve as
sensações, experiência, memória, sentimentos de afeto, apropriação e identidade.
Neste sentido, entende-se que a imagem se torna um aspecto a ser considerado
na compreensão do espaço, pois ela constitui um rico material de estudo enquanto
representação. No entanto, em meio à sua relação com a contemporaneidade ela também
pode ser um campo bastante traiçoeiro para a análise de um lugar. Primeiro porque
muitas vezes ela de fato toma o lugar do real e segundo porque corre o risco de se adotar
essa simplificação do real como verdadeira, afastando-se da complexidade do espaço
urbano. Por isso, antes de considerar a imagem como forma de analisar o meio, neste
trabalho, busca-se explorar conceitos como espaço e lugar como “uma voz que fala da
ciência estabelecida e claramente dedutiva para uma outra da ciência que ainda está
se fazendo”
21
. Só após tal compreensão é que será possível se debruçar sobre as
características que identificam os traços construídos e os ângulos pelos quais o bairro é
enfocado e estruturado na imagem de seus usuários. É sob este raciocínio que se
desenvolve a seção a seguir.
21
LATOUR apud FERRARA, 2000.
55
2.
A
IMAGEM E O BAIRRO
Na seção anterior foi explorado o papel da imagem e sua relação com o espaço e
com a realidade. Neste contexto, percebeu-se que a natureza da imagem sempre foi
motivo de desconfiança segundo a filosofia, sobretudo quando relacionada ao
conhecimento, por se apresentar à visão como se fosse aquilo que representa.
Entretanto, conforme Lynch (1999) quando relacionada ao meio, a imagem corresponde
a uma forma de apreensão do espaço. Neste sentido, ela é uma construção derivada de
processos sensitivos, perceptivos e cognitivos que, pela possibilidade de evidenciar os
elementos fundamentais de um meio, constitui uma forma de análise do espaço a ser
considerada neste trabalho.
Atualmente, devido a sua associação com a idéia de mídia, Baudrillard (1981)
afirma ocorrer uma incessante produção de imagens. Em meio à ampliação do acesso às
representações, torna-se pouco importante a diferença entre o que seria uma experiência
“de fato”, e a sua representação, ou seja, não existe diferença entre a “verdade em si” e
sua “adaptação”. Assim, a percepção do que pode ser empiricamente experimentado é
reconsiderado, que neste sentido ela pode ser derivada de algo que não se encontra
fundado na experiência em si, mas na conjunção da imagem.
Nesta perspectiva a imagem se destaca fortemente. Ela pode interferir de
diversas maneiras na relação que o indivíduo desenvolve com um meio ou até suas
atitudes diante de um certo contexto, que toda a vida contemporânea é desmontada e
reproduzida de forma que os objetos e experiências criados através das imagens tentam
ser mais reais do que a própria realidade, ou seja, “hiper-reais” (BAUDRILLARD,
1981).
Para Connor (1993) a hiper-realidade traz consigo o colapso de diversas noções,
criando uma lacuna entre a teoria e o objeto. Tal ponto de vista pode ser reafirmado
através de Baudrillard (1981), quando o mesmo afirma que os conceitos se tornam
imprescindíveis, pois existem implicações sobre o que é real e irreal, sobretudo hoje
quando se considera não apenas as descrições relatadas através das imagens, mas
também aquelas originadas por suas reproduções.
56
Desta forma, torna-se evidente que para se compreender a teoria e a realidade
por ela descrita, deve-se procurar entender o conceito. desta maneira será possível
explorar e compreender os valores e os efeitos originados através da imagem, isto é,
seus reflexos. É por isso que, a partir deste ponto, serão explorados os conceitos de
espaço e lugar, pois são fundamentais para compreender as possíveis lacunas existentes
entre a definição do bairro e as suas representações mentais.
2.1. O ESPAÇO NO ENTENDIMENTO DO LUGAR
Segundo Silva (1994) quando se busca compreender o lugar, é o espaço que
deve ser explorado inicialmente, pois são seus elementos básicos definidores que
possibilitam o entendimento do primeiro. Embora apareça associado a diversos campos
de conhecimento, como a geografia, por exemplo, o espaço é algo que realmente
importa e orienta uma configuração arquitetural ou urbana, mesmo que não venha
expressamente indicado (SILVA, 1994).
O conceito de espaço esteve ausente da teorização arquitetônica até o século XX
quando se tornou núcleo das especulações mais recentes no campo do urbanismo e,
sobretudo da arquitetura. Entre os inúmeros autores que destacam a relação entre o
espaço e a produção arquitetônica e urbanística, pode-se notar que existem diferentes
graus de importância e diferentes perspectivas (SILVA, 1994).
Entre essas perspectivas a mais freqüente é a que se tem acesso pelos
dicionários, onde o espaço é conceituado como algo de “extensão ilimitada”, isto é algo
infinito (DUARTE, 2002). Entretanto, para Carlos (1996) espaço é algo que integra
necessariamente toda a experiência existencial do homem, desde o jogo de futebol, no
ato de locomover até de perceber as coisas que existem. Tal argumento é reforçado por
Santos (1988) quando explica que o que se chama de espaço é apenas a ordem de
relação das coisas umas com as outras: “o espaço não é nem uma coisa, nem um sistema
de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas” (SANTOS,1988:26).
Assim, considerá-lo ilimitado é, de forma geral, denominá-lo algo absoluto, excluindo a
ação humana, elemento relevante em sua definição (CARLOS, 1996).
De fato, segundo Duarte (2002), o espaço absoluto é uma definição que não foi
constatada e sim postulada. Neste sentido, o espaço não corresponde ao vivido, mas ao
57
que poderia ser formulado através da linguagem científica. Assim, mesmo sabendo que
considerar o espaço como algo absoluto auxilia na compreensão da diversidade do
conceito, para esta investigação, não se não se pode considerá-lo sob esta perspectiva,
pois neste sentido ele não estaria inserido no entendimento do espaço vivido (CARLOS,
1996).
Conforme Choay (1995) a vivência é um elemento primordial no entendimento
do espaço, principalmente quando este aparece associado às questões urbanas. Carlos
(1996) torna essa afirmação evidente quando explica que o espaço se relaciona com o
aspecto social, pois é através dele que são fundamentadas todas as intuições externas no
ambiente urbano, ou seja, o espaço tem como condição possibilitar as relações coletivas.
Aliás, se realmente se parte do princípio de que o espaço é composto por coisas e
relações, entende-se que são inseridos objetos e ações respectivamente, sendo estas
últimas derivadas do humano posto que os objetos não agem sozinhos (SANTOS,
1988).
Segundo Duarte (2002) quando o sentido do espaço aparece relacionado às
relações, deve-se considerar a existência de cargas culturais temporalizadas e
localizadas, isto é, levar em conta que este espaço pode ser produzido por uma certa
cultura em um determinado contexto de uma época. Sob esta perspectiva, este espaço se
torna algo compartilhado, expressando uma vivência que é gravada através de seus
objetos e condutas (LEFEBVRE, 1981). Em outras palavras, o espaço se torna algo
produzido, resultado de gestos repetitivos e com uma lógica que o determina como
produto: a forma em que é utilizado pela sociedade e seu papel como regulador dos atos
dessa sociedade. Assim haveria sempre uma “ideologia dominante” que guiaria e
controlaria a produção e o uso do espaço.
A igreja é o espaço da igreja, onde o confessionário, o altar, a distribuição da
audiência e do pregador são elementos de um espaço que reflete a forma de
uma dominação de uma ideologia sobre seu público, o mesmo valendo para as
sua formas externas e localização urbana que ampliam tal modo de controle
espacial sobre uma área maior que o seu recinto envolvendo outros espaços
objetos e pessoas (DUARTE, 2002).
O espaço produzido, assim, seria codificado, mesmo que não explicitamente, de
modo a manter a ordem prevista na visão que molda o mundo real, servindo também
para que se pudesse viver tal espaço, compreendê-lo e produzi-lo. Segundo certa
58
ideologia, as formas físicas e as ordens de poder e convívio em um espaço poderiam
reger a vida de uma coletividade sob sua influência, estando codificado de tal modo que
poderia ser reproduzido em qualquer outra parte.
Conforme Lefebvre (1981), diante deste espaço produzido existiria uma divisão
tripartite do mesmo em prática espacial, nos espaços de representação e nas
representações do espaço. As representações do espaço ou espaço concebido seria
aquele em que se espelham as relações de produção, de ordem, de conhecimentos, de
signos e códigos que formam o espaço, determinando a vivência e permitindo a sua
reprodução. Este seria o espaço dominante em uma sociedade, tendendo a se tornar um
sistema de signos. Ainda segundo Lefebvre (1981), este poderia ser claramente
identificado como o objeto final da produção do espaço proposta pelo mesmo. os
espaços de representação seriam os espaços vividos, formados por simbolismos. Estes
espaços, onde o centro corresponde a moradia, nem sempre seriam codificados pelas
pessoas que o vivem, porque podem estar repleto de signos e modos de se apropriar dos
objetos que são próprios dos seus habitantes. Neste espaço ocorreriam os conflitos do
cotidiano, mas corresponderia, enquanto espaço vivido, apenas há um pouco de
liberdade perante o espaço concebido. Quanto a prática espacial, esta seria a responsável
por transformar o espaço em algo homogêneo diante de certo grupo social ou de um
contexto, isto é, de forma genérica, ela permitiria a formação lenta de lugares
específicos dentro do espaço por meio da atribuição de valores e significados
(LEFEBVRE, 1981).
De forma geral, entende-se que é essencial a ação humana na definição de
espaço, pois apenas ela tem finalidade e objetivo (SANTOS, 1988). È esta ação que
envolve os objetos produzidos pelo ser humano e caracteriza o que é chamado de
“espaço social”
22
. No caso desta investigação, parte-se do princípio de que no espaço
existe um diálogo constante onde os objetos podem condicionar as ações e estas, por sua
vez, possibilitam a transformação dos objetos existentes ou levam à criação de novos
(SANTOS, 1988). Entretanto, existe um outro ponto chave nesta definição neste
trabalho. Este ponto diz respeito à lógica de organização e utilização desses elementos,
a qual dependendo da forma das ações do seres humanos - diretamente sobre os objetos
por meio de uma ação ou lhes atribuindo signos e significados - teria como resultado a
construção do lugar.
22
Lefebvre, 1981
59
2.2. UM SENTIDO PARA O ESPAÇO: O LUGAR
Em meio às breves considerações anteriormente traçadas acerca do que se
poderia definir como espaço, pode-se dizer que o lugar aparece como algo derivado dos
elementos que o compõe. Em termos gerais, enciclopédias e dicionários definem o lugar
como a menor parte do espaço. Entretanto, mesmo que esta afirmação conote certa
facilidade no entendimento do que vem a ser o mesmo, observa-se que, assim como o
espaço, existem grandes dificuldades em sua definição (DUARTE, 2002).
Esta dificuldade ocorre devido aos variados enfoques que constroem diferentes
pontos a serem explorados no espaço, interferindo, consequentemente, na definição de
lugar. No caso deste trabalho, por exemplo, em que o espaço aparece composto pela
relação entre objetos e ações (SANTOS, 1988), o principal enfoque é a ação humana
que “produz” um espaço caracterizado como social. Diante deste enfoque, importante
para se explorar o urbano, evidencia-se um outro aspecto que é a organização e a
utilização destes objetos segundo uma lógica. Neste sentido, conclui-se que não são os
objetos que formam o espaço, mas é este que os forma, pois é sua gica própria que
determina quais objetos serão destacados e como eles se organizarão. É em diálogo
constante que os objetos condicionariam ações que possibilitariam, por sua vez, a
transformação dos objetos existentes ou levam a criação de novos. (DUARTE, 2002)
Sob este contexto, o espaço pode ser construído através da relação de três partes:
os objetos, as ações e os seres humanos. No entanto é apenas em meio aos objetos que
as ações poderiam criar as condições sociais e ambientais de onde seriam derivadas uma
lógica de organização responsável pela definição do lugar. Tais ações podem ser tanto
de forma direta - sobre o objeto - ou indireta – atribuindo signos e significados, cabendo
a ambas a composição dos espaços que podem ser considerados vivenciados.
(DUARTE, 2002)
Para Carlos (1996) esta lógica atualmente está fortemente vinculada ao processo
de globalização e suas conseqüências. Cada vez mais aparecem novas considerações
sobre as novas relações espaço e tempo que, em meio ao avanço das tecnologias e das
comunicações, ressaltam a diminuição das distâncias físicas e a continuidade do espaço.
Diante destes acontecimentos onde as barreiras físicas são superadas - sobretudo nas
relações sociais - o próximo e o distante se ligam quase que instantaneamente, novas
60
atividades são criadas e novos comportamentos são construídos sob novos valores que
são fundamentados em torno destas mudanças espaciais e temporais.
Em se tratando do lugar, como o processo de globalização se materializa
concretamente nele, o mesmo adquire possibilidade de assumir diferentes e novas
considerações, sendo possível através dele lê, perceber e entender o mundo moderno em
suas múltiplas dimensões. Primeiramente o lugar poderia ser visto “de fora”, o que
implicaria em uma redefinição resultante de um acontecer histórico fundamentado nas
tendências da sociedade de uma época (CARLOS, 1996). Como atualmente estas
tendências estão voltadas para o mundial, em meio a tais colocações o lugar poderia ser
entendido como uma expressão geográfica da singularidade, pois seria considerada a
sua funcionalidade face à universalidade que emerge com o processo de globalização.
As cidades, por exemplo, são lugares que em razão de terem se especializado em
alguma atividade, acabam sendo reconhecidas em sua singularidade devido à função
que possuem. (DUARTE, 2002)
De forma geral, Carlos (1996) explica que o lugar pode ser considerado um
ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto
especificidade concreta, enquanto momento. Contudo, mesmo que esta definição seja de
grande valia, sobretudo para algumas áreas de conhecimento como a geografia, este não
deveria se enfocado apenas como parte integrante de uma totalidade fundamentada na
divisão espacial de funções. Neste sentido, da mesma forma que ocorreu no caso do
espaço, considerar apenas esta ótica não evidencia a questão do indivíduo e a sua
relação com o meio que é importante para este trabalho. E de fato, o processo de
globalização não somente possui implicações econômicas, mas também em outros
aspectos (MASSEY in ARANTES, 2000), que possibilitam que o lugar ganhe novo
conteúdo. Cada lugar tem sua posição não apenas atributos econômicos, mas culturais,
físicos e sociais que produzem uma gama de valores, logo de situações, que devem ser
consideradas como diferenciações espaciais. Assim, apesar do lugar se definir
primeiramente “de fora” através de um acontecer histórico, ele também poderia ser visto
“de dentro”, o que implicaria a necessidade de rever o seu sentido. (CARLOS, 1996)
Certeau (1996) afirma que o sentido dos lugares, inclusive quando se trata da
cidade, são criados através das relações humanas que se realizam no plano do vivido.
Estas relações garantem a construção de uma rede de significados que são regidos pela
história e cultura, construindo uma identidade, posto que é que o homem se
reconhece, pois é o lugar da vida. São os lugares habitados, marcados pela presença,
61
criados pela história e práticas sociais inscritas em um espaço e tempo que despertariam
um sentimento de pertencimento ao lugar por meio da identidade ou das formas de
apropriação do espaço que ele sucinta. Em outras palavras, pode-se dizer que o lugar
guarda em si o seu significado. Esses significados nada mais são do que dimensões da
história de um lugar que, por estarem sempre em constituição, pode ser apreendidas
enquanto movimento de vida tanto pela memória como pelos sentidos.
É justamente porque o lugar guarda seu sentido em si, que ele pode ser
compreendido quando considerado em suas referências, que não são específicas de uma
função ou de uma forma, mas produzidas por um conjunto de sentidos, impressos pelo
uso (CERTEAU, 1996). E de certa forma, as relações que os indivíduos mantêm com os
espaços habitados se exprimem todos os dias no modo do uso, nas condições mais
banais, sendo um espaço passível de ser sentido, pensado e apropriado, sobretudo
através do corpo. Neste sentido, pode ser considerado no entendimento do lugar
também a apropriação através dos sentidos, pois é assim que o homem habita
(HEIDEGGER apud RIBEIRO, 2004). Assim o lugar seria também um modo de
aproximação da realidade (PIAGET, 1978), um produto modificado pela experiência do
meio, da relação com o mundo (TUAN, 1980).
Em meio ao exposto, observa-se que na atualidade cada vez mais se distancia
uma definição de lugar que o determina apenas um ponto de localização dos fenômenos
ou um ponto no mapa entendido através de coordenadas geográficas. Enquanto noção
geográfica o lugar se transforma hoje e ganha novos enfoques, pois envolve diversos
conteúdos que evoluem e se modificam por uma necessidade imposta pelas
transformações do mundo. Desta forma, pode-se afirmar que os lugares são dotados de
uma realidade físico-sensível, que corresponde a um uso do espaço. Logo, a prática do
mesmo sugere que sua constituição pode ser tanto coletiva a um grupo, como uma
referência que se consolida para os indivíduos. É no lugar que se a unidade da vida
social, onde cada sujeito se situa no espaço concreto, no qual se reconhece ou se perde,
usufrui e modifica, porque o lugar tem usos e sentido. Nele está envolvida a idéia de
uma construção, tecida por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que
garante a constituição de uma rede de significados e sentidos.
Assim, para este trabalho o lugar é visto como ponto de articulação, entre um
mundial em contínua transformação e o local enquanto especificidade. Só que neste
sentido seria a própria dimensão da história que entra e se realiza na prática do cotidiano
estabelecendo um vínculo entre o de fora e o de dentro, instalando-se no plano do
62
vivido, produzindo o conhecido e reconhecido e desenvolvendo a vida e todas as suas
dimensões. O lugar se torna uma construção, uma porção significada onde são
atribuídos signos e valores que refletem a cultura de uma pessoa ou um grupo. Essa
significação é menos uma forma de se apossar desses elementos e mais de impregná-los
culturalmente. Além de servir para a identificação de uma pessoa ou grupo, também
permite que as pessoas encontrem a si mesmos refletidos em determinados objetos e
ações e possam, assim, guiar-se, encontrar-se e constituir sua medida cultural no espaço,
seja através de sua memória, de seu corpo ou por meio dos sentidos (CARLOS, 1996).
Desta maneira, entende-se que lugar pode ser a cidade, a casa, a rua, a praça ou
como neste trabalho o bairro. Neste caso, o bairro enquanto lugar corresponde ao espaço
imediato da vida e das relações cotidianas mais finas, “as relações de vizinhança, o ir às
compras, o caminhar, o encontro com dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o
percurso reconhecido de uma prática vivida, reconhecida em pequenos atos corriqueiros
e aparentemente sem sentido que criam os laços profundos de identidade-habitante,
habitante-lugar” (CARLOS, 1996: 21). Em linhas gerais são os lugares que o homem
habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida onde se
locomove, trabalha passeia, flana. Espaços que pelas formas através das quais o homem
se apropria que vão ganhado significado dado pelo uso, pelos sentidos, pela memória,
pela função e que conotam dimensões e considerações diversas que podem influenciar
tanto na definição do conceito de bairro como em sua imagem enquanto lugar.
2.3. O CONCEITO DE BAIRRO
Segundo Chaskin (1999) o bairro é um lugar intermediário: não se conhece tão
bem como a casa, mas também não é tão estranho como algumas vezes se mostra a
cidade. De certa forma o bairro é um pouco de cada por lembrar tanto a sua
individualidade quanto a coletividade.
Conforme o ponto de vista de Chaskin (1999), compreende-se que existe um
conceito de bairro que o determina dentro da cidade, em meio ao aspecto histórico, e
outro de forma mais próxima, o sentido, como aquela parte da cidade mais próxima de
cada um. Entretanto, assim como a imagem, tempos o conceito de bairro tem sido
motivo de amplo debate. A complexidade de representação desta porção da cidade
63
representa um desafio frente à utilização de um único conceito que possa abarcar as
relações que acontecem em um determinado espaço (BARKOWSKY, 2001).
Entre tantas considerações, como neste trabalho se explora o bairro sob dois
pontos de vistas: o do morador e do não morador, escolheu-se por tratá-lo por um
conceito que em que o bairro seja valorizado sob estas duas óticas. Neste caso, inicia-se
por um conceito que pode ser considerado geral”, que além de ser o mais usual
23
também diz respeito ao contexto da cidade (LEITE, 1996). Primeiramente a concepção
de bairro aparece associada a critérios para delimitação de usos de solo pela
administração pública. São definidos limites a uma porção que passa ser compreendida
como a menor da unidade administrativa. Porém, este seria um primeiro ponto sobre o
qual se deve insistir no que diz respeito ao bairro, já que o mesmo não é definido apenas
política e administrativamente, característica que faz muita diferença para seu
entendimento histórico e sua definição no contexto da cidade. O bairro não se trata
apenas de uma área demarcada, limitada; um simples suporte físico-administrativo. Ele
é uma unidade de base da vida urbana onde o único que pode defini-lo é o morador por
nele organizar a vida pública, ou o habitante da cidade por nele ver uma porção da
cidade (NOSCHIS, 1984),
Segundo Barkowsky (2007) para a cidade os bairros são como núcleos da vida
local, onde constituindo uma unidade plena de diversidade garante a todos, que se
reconheçam como parte dele a sensação de pertencimento a um contexto citadino. Ao
mesmo tempo cabe ao bairro ser uma parte da cidade, “uma amostra” que permite que o
habitante a usufrua parcialmente de forma mais próxima (CARLOS, 1996). Assim, de
forma geral “o bairro é uma porta de entrada e saída entre espaços qualificados e
quantificados” onde ao mesmo tempo em que une, separa o público do privado
(CERTEAU, 1996:45).
Os bairros têm graus de realidade distintos em momentos diferentes de sua
história que vai depender das singularidades no interior da cidade. Para Gonçalves
(2005) a valorização do bairro está ligada a intensidade de significação e a qualidade de
utilização e apropriação simbólica. A significação do bairro varia profundamente de um
meio social para o outro onde para uns é ao nível da unidade de vizinhança que se
organiza toda a vida e se estabelecem as redes de relações e para outros é um ponto de
referência que permite a inserção em diversos grupos organizados. Essas percepções e
as significações estão associadas a sua dimensão física, espacial e simbólica, as quais
23
Encontrada nos dicionários (LEITE, 1996)
64
apenas adquirem sentido na medida em que é dimensionada pelas opções de uso e
práticas sociais que variam de contexto. Desta forma, são as práticas sociais e as
percepções que definem os bairros, quer quanto na utilização dos atores sociais quer
quanto na implicação afetiva de que é objeto. (BARKOWSKY, 2007).
O espaço apreendido e vivido como bairro apresenta dimensões muito variáveis
cuja a significação deste espaço é também muito diversificada variando desde a
funcionalidade até a formação de “status” cujo os fundamentos e as manifestações
efetivas se encontram aí (PA KE SHON, 2007). Neste caso, a percepção e a significação
do bairro podem divergir segundo a combinatória de múltiplas variáveis, dentre as quais
o nível social tem papel importante, mas não determinante (RYKWERT, 2004). A
diferença entre as percepções desse espaço apreendido ou percebido consiste nas
significações que assumem através da participação dos atores sociais. Assim, a noção de
bairro não pode se dissociar dos modelos culturais, onde para uns é algo próximo da
comunidade, um território, onde se situa todas as relações e a partir da qual se lê o
exterior como negativo. Já para outros é o lugar da residência e o lugar das relações
intensas entre vizinhos, uma parte da cidade.
No caso desta investigação, o bairro aqui tratado se define através do vivido e do
agir social consolidado a partir de sua história, sendo não rigorosamente delimitável. Ao
mesmo tempo em que a significação atribuída não é a mesma para todas as pessoas, o
interesse para uns pode se concretizar em uma a sensação de território: a de se estar em
casa, de “chegar com suas tralhas em algum lugar, observá-lo, chegar suas
possibilidades e, tendo decidido que serve, fincar bandeira”
24
. para outros pode
auxiliar como um ponto de referência, uma parte da cidade, ou até como lugar. Desta
forma, fica evidente a importância do estudo do bairro através de sua relação de
subjetividade com aqueles que o vivem e com a cidade a que ele faz parte, pois é em sua
valorização em que se encontra a sua definição (GONÇALVES, 2005). Por isso o bairro
não pode ser pensado de maneira atemporal, porque é principalmente ao longo de sua
história que ele adquire importância.
24
BRANDÃO, 2002
65
2.4. O BAIRRO DA LEVADA: OBJETO EMPÍRICO
2.2.1 A LEVADA DE OUTRORA
O bairro da Levada está situado à Sudoeste da cidade de Maceió, fazendo
fronteira ao Norte com a lagoa Mundaú e o bairro do Bom Parto, a Leste com o bairro
do Centro, ao Sul com o bairro do Prado e a Oeste com o bairro de Ponta Grossa (mapa
01).
Mapa 01 - Abairramento de Maceió: em detalhe a localização do bairro da Levada
Fonte: www.bairrosdemaceio.net
Inicialmente esta área que hoje compreende a atual delimitação do bairro da
Levada não era povoada, pois sofria constantes alagamentos através dos canais que
penetravam o continente, fato que dificultava a ocupação da região (mapa 02). No
entanto, como o transporte fluvial consistia no sistema mais utilizado, já que as estradas
N
OCEANO ATLÂNTICO
LAGOA
MUNDAÚ
LEVADA
CENTRO
PRADO
PONTA GROSSA
BOM
PARTO
LAGOA
66
apresentavam péssimas condições, a área
adquiriu certa relevância para o escoamento de
mercadorias.
Entre os canais existentes na área, o que
mais se destacava para a navegação era o “canal
da Levada” (figura 07). Bastante extenso, este
canal chegava próximo ao local de ocupação
inicial da cidade de Maceió, hoje bairro do
Centro. O canal também era profundo,
permitindo a entrada de pequenas embarcações,
que tinham a possibilidade de atracar em sua
margem em um ponto que ficou conhecido
como “Porto da Levada” (figura 08).
O canal da Levada e seu porto
permitiram que parte da região que era banhada
pelo mesmo passasse a ser integrada ao
percurso das principais rotas da época (mapa
03). Devido a este fato, durante muito tempo a
lagoa se consolidou como um dos principais
meios de escoamento da produção agrícola do
interior, tornado-se também uma possibilidade
de rota para o Porto de Jarag
25
, de onde a
mercadoria seguia para a exportação. Através
da lagoa era feito o abastecimento dos
principais núcleos de povoamento Centro e
Jaraguá - com produtos de todos os gêneros
oriundos da circunvizinhança. Assim, mesmo
com uma região pouco valorizada para moradia,
25
No período anterior a 1839, o crescimento das exportações exigiram soluções para o escoamento mais
rápido de mercadorias. Com o principal objetivo de facilitar a comunicação entre as cidade de Maceió e
Alagoas (atual marechal Deodoro), surgiu uma proposta datada de 1828 que previa uma ligação do porto
de Jaraguá com o Trapiche da Barra, sugerindo o aproveitamento de antigos braços de rios, dentre os
quais o braço da Lagoa Mundaú que adentrava no território como canal (Canal da Levada). A proposta
foi aceita, as obras iniciadas, mas sempre eram suspensas devido a falta de verba e a criticas sobre a
execução. Assim, devido a execução a obra exigia constante reparos fato que não permitiu a sua
conclusão resultando no abandono do projeto já iniciado (ROBALINHO, 1998)
Mapa 02: croqui exemplificativos
da evolução do bairro: o canal da
Levada
Figura 07 - Canal da Levada início
do séc. XX
.
Fonte: MISA
Figura 08 - Porto da Levada início
do séc.XX.
Fonte: MISA.
Mapa 03: croqui exemplificativo da
evolução do bairro: eixo de
ocupação da inicial da cidade
67
a Levada passou a ser incorporada ao eixo de ocupação inicial da cidade devido às
facilidades do transporte fluvial:
“Canoas (...) atracam na boca da Levada, carregadas de telhas, tijolos e louça
de barro do Siri e da Satuba; ou frutas, verduras, cocos das margens dos canais e de
Marechal Deodoro; mangas e lenhas de Santa Luzia do Norte; areia de água doce
para construção; ostras, peixes e sururus. Do Coqueiro Seco, atravessando em canoas
vinham mulheres com beijus, tapiocas, farinha d’água, grudes de goma, pés de
moleque envolvidos em folhas de bananeiras (...)” (LIMA JUNIOR, 1981: 23).
Muito fértil e margeada por mangues, a lagoa, por garantir a subsistência tanto
por meio do comércio como por meio da pesca, começou a atrair a atenção de uma
população de baixa renda que, por não possuir condições financeiras de residir no
Centro, começou a se instalar ali. Esta população era formada por trabalhadores do
porto da Levada, fornecedores de produtos de subsistência, pescadores e marisqueiros,
que viam nos bancos de área que se formavam entre os canais uma possibilidade de
construir suas casas de taipa e residir próximo ao Centro.
Embora a área oferecesse poucas condições dignas para sobrevivência devido
aos seus constantes alagamentos, sujeira e mau cheiro, o Almanaque da Província
(1840)
26
relata que a partir de 1839, quando Maceió passou a ser capital da província,
houve um aumento no índice populacional, o que possibilitou a geração de focos de
adensamento nas margens da lagoa e dos canais. O adensamento da área cresceu tão
rapidamente que em 1848 havia se consolidado uma feira livre nas margens do canal
e uma forte ocupação residencial, confirmando a formação de um novo bairro que,
assim como o canal e o porto, chamava-se Levada.
27
(LIMA JÚNIOR, 1976).
Frente ao crescimento da capital da Província, que não era apenas populacional,
mas também comercial, verificou-se a necessidade de uma melhor comunicação entre os
focos e povoamento e, principalmente, com o porto de Jaraguá, por onde se fazia todo o
comércio do açúcar que era o principal produto exportado. Assim, em 1864, como
solução, o presidente em exercício Roberto Calheiros de Melo sancionou uma lei que
autorizava a construção de uma via férrea - concluída apenas em 1868 - que partia do
Porto de Jaraguá e se comunicava com centro da província. Entretanto, apenas em 1880
26
Apud ROBALINHO, 1998
27
Neste contexto, região descrita como Levada englobava toda a parte ocidental, o que hoje corresponde
aos bairros do Vergel do Lago, Ponta Grossa e parte do Prado (mapa 01) (ROBALINHO, 1998)
68
a concessão para a construção da linha férrea foi adquirida pela The Alagoas Railway
Company, que iniciou as obras dois anos depois, após a aprovação de uma variante
do traçado original que passava por dentro da cidade de Maceió e pelo Vale do Mundaú,
ou seja, margeava orla lagunar em direção ao que hoje é o bairro do Bom Parto.
(TENÓRIO, 1979).
Conforme Tenório (1979) a construção desta via foi primordial porque ela traçou
o primeiro foco ascendente de ocupação da área estudada, além de permitir uma melhor
mobilidade dos moradores a ampliação dos fluxos em direção ao Centro. Além disso,
foi a partir desta via férrea que passou a existir uma intensificação da dinâmica entre os
núcleos de povoamento dentro da província. Tal dinâmica somada ao aumento do índice
populacional ocasionou a efetivação de melhorias públicas, sobretudo na região da
Levada, que se tornava não só uma zona de comércio, mas também de moradias.
“Os intendentes procuraram endireitar as velhas ruas da cidade (...) Os
bairros e arrabaldes agitam-se na renovação. São os mesmos, aliás, dos tempos
imperiais; Jaraguá, Poço, Farol, Trapiche da Barra, Levada, Bebedouro. Em cada um,
porém aparece sempre um sinal de atividade: ruas novas, palacetes que se constroem,
casas que se edificam, praças que aparecem” (LIMA JUNIOR, 1976).
Com o crescimento rápido, a região da Levada suscitava preocupações, que
existiam desde 1821
28
quando a primeira tentativa de aterro foi realizada sem sucesso.
Assim no início do século XX, na gestão do então governador Cel. Clodoaldo da
Fonseca, Maceió passou por processos de urbanização que, segundo Lima Júnior
(1976), além de proporcionarem a “remodelação da cidade”, contemplaram o bairro
com saneamento e melhoria de parte das estradas que o cortavam.
Entretanto, deve-se ressaltar que, no que diz respeito à Levada, as melhorias e os
aprimoramentos ocorreram em vários âmbitos. A conclusão do Porto da Levada em
28
Em meio a um vigor econômico que era baseado em uma grande produção de açúcar, em 1820 o então
presidente da província, Sebastião Francisco de Mello e Póvoas traçou um plano cadastral de tinha como
objetivo servir de base para obras de melhoramentos em algumas localidades da vila de Maceió através
do reconhecimento do território a partir do levantamento de seu relevo. Como a área que hoje é conhecida
como Levada era importante devido ao canal e ao transporte fluvial, em meio as transformações
funcionais (abertura e criação de novas ruas) tentou-se, sem sucesso aterrar alguns trechos da área que
ficava próxima ao centro de ocupação da província.
69
1912 (figura 09), por exemplo,
proporcionou maior agilidade no transporte
de produtos e qualificação para as moradias
do entorno da Rua Celeste Bezerra
29
.
Também era nesta rua, segundo
fotografias datadas da década de 1960
(figura 10), que a Feira do Passarinho se
instalou após ser transferida da Praça João
Capistrano
30
. De acordo com Lima Júnior
(1976), esta era a feira mais antiga e mais
interessante da cidade que acontecia aos
domingos. Tratava-se de uma feira realizada
por pessoas “entendidas e especializadas”
em passarinhos, e apenas isso era
negociável. Pouco antes de sair da Praça
João Capristano, a feira havia perdido
suas configurações originais onde se
observava outras variedades de animais e
produtos que eram comercializados.
O Mercado Público, que pertencia
ao bairro, ganhou uma nova edificação (figura
11) que foi inaugurada, pelo prefeito
Eustáquio Gomes e pelo Governador Osman
Loureiro, em 1937. Para isto a antiga sede
(figura 12), que existia desde 1848, foi
demolida. Como a área de instalação do
“novo” Mercado Público era uma área
alagadiça especialmente nos períodos de
inverno, a região foi aterrada em meio a
sucessivas obras que foram realizadas na
tentativa de solucionar tal
problema.
29
Hoje avenida de mesmo nome.
30
Hoje esta praça não existe. Em seu lugar foi construída a Sede da Secretaria de Educação que fica
próximo ao limite entre o bairro do Centro e da Levada
Mapa 04: croqui exemplificativo que
localiza a Rua Celeste Bezerra, o
Mercado Público e a Praça João
Capristano.
Figura 11 - Segundo Mercado Público
Dec. de 1940.
Fonte: MISA.
Figura 10- Feira do Passarinho (dec.
de 60) : Avenida Celeste Bezerra.
Fonte: MISA
Figura 09 - Inauguração do Porto da
Levada em 1912.
Fonte: MISA
.
70
O aterro que permitiu a instalação
do novo Mercado Público foi apenas o
ponto de partida de vários outros que
propiciaram a área total do bairro e
consequentemente a expansão da cidade,
antes mais restrita. Com o crescimento do
bairro da Levada, na década de 1930, vieram
os hidroaviões (figura 13) que pousavam na
Lagoa Mundaú, mais uma porta de acesso a
cidade. Era um acontecimento para a cidade
observar a aquaterrissagem e o levantar de
vôo das aeronaves.
Aos poucos todas as melhorias
implementaram o processo de
ocupação, permitindo que o bairro
deixasse, então, o aspecto de subúrbio
e local de moradia apenas para as
classes menos privilegiadas. A Levada
se tornou um cartão postal que agora
convergia a população mais abastada,
concentrava atividades comerciais e era palco das mais grandiosas festas populares
(figura 14).
Figura 14 - Festa no Canal da Levada na década de 1920.
Fonte: MISA.
Figura 13 - Hidroavião no Porto da
Levada, dec. de 1940.
Fonte: MISA.
Figura 15 – Praça Emílio de Maya em 1940
Fonte: MISA.
Figura 12 - Primeiro Mercado Público
de Maceió década de 1920.
Fonte: MISA.
71
A área se valorizava e tinha como
inspiração para seu desenvolvimento o
crescimento cultural e comercial do bairro
vizinho, o Centro. Esta relação de
proximidade permitiu ao morador da
Levada desfrutar da infra-estrutura
implantada no bairro adjacente. Contudo
os tempos áureos que outrora fizeram da
Levada durante um período de
aproximadamente quarenta anos um
bairro concorrido (1930 até meados de
1980), não duraram muito. Pouco a pouco,
a poluição da lagoa foi se agravando e o
adensamento
crescente, sem infra-estrutura adequada,
acentuava a degradação ambiental e
tornava o problema visível.
Por volta da segunda metade da
década de 1940, iniciou-se a formação do
que hoje constitui uma das maiores
favelas de Maceió: a Vila Brejal
(ARAÚJO, ALBUQUERQUE,
MACEDO, 1983). Quando ainda o
mangue e a vegetação cobriam toda a
área, doze famílias foram ali alojadas a
mando o Major Luís Cavalcante (mapa 05
e 06). Aos poucos, com muita
perseverança, o que era alagado foi se
tornando chão para construir e expandir a
cidade em busca de um pedaço de solo
urbano que era de ninguém (pertencia a
Marinha).
O poder público havia investido
na área com a iniciativa de aterrar o
Mapa 05: croqui exemplificativo: localização da
Vila Brejal
Mapa 06: croqui exemplificativo: localização da
Vila Brejal e traçado o bairro
Figura 16: Vila Brejal
Fonte: acervo pessoal
72
mangue para interligá-la ao bairro do Bom Parto, porém sem sucesso. Mais tarde
decidiu-se desviar a estrada ao antigo Mercado Municipal, fracassando mais uma vez e
abandonando as terras que pouco tempo depois voltou a ser mangue (ARAÚJO et al.,
1983).
O cenário daquele brejo começou a modificar quando, em 1950, uma seca
enrijeceu as faixas de terras abandonadas e configurou-se de acordo com Martins (1999)
como alternativa de moradia. O espaço proporcionava perspectiva de alimentos e
trabalho pela proximidade com a lagoa Mundaú e com o Mercado Público. Logo, a área
passou a ser procurada por moradores de outras periferias e imigrantes. Com o grande
êxodo rural devido às mudanças nas relações de produção do setor agropecuário,
iniciada na década de 1950 intensificando-se a partir da década de 1970, que resultaram
na expulsão de muitas famílias moradoras para as periferias urbanas, essa procura
aumentou consideravelmente.
“Para morar ali bastava disposição, coragem e barro para aterrar o
mangue ou mesmo a própria lagoa (...) (ARAÚJO,
ALBUQUERQUE, MACEDO, 1983).
Toda a degradação provocada pelo crescimento da população mais pobre
acarretou a evasão da população de poder aquisitivo mais alto. A implantação, na
década de 1970, da Salgema Indústria Química S.A., hoje Braskem, também incentivou,
em menor grau, a evasão nesta área. Esta indústria interrompeu o crescimento da cidade
para o seu entorno imediato e contribuiu para a desvalorização dos bairros de sua
proximidade. Mesmo sendo relativamente distante desta indústria, o Bairro da Levada,
sofreu a risco de um desastre que, caso aconteça, poderá agredir diretamente os
habitantes e o meio, principalmente a lagoa, fonte de renda e alimentos para parte da
população local.
O processo crescente de ocupação da Vila Brejal foi um dos fatores que
estimulou o governo do estado a aumentar o espaço físico da cidade de Maceió
(ARAÚJO, ALBUQUERQUE, MACEDO, 1983). Em meio a este processo, houve a
construção do Dique-Estrada que, devido a uma grande inundação em 1987, serviu de
pretexto para controlar a proliferação dos assentamentos à margem da lagoa e
consolidar as vias de acesso, entre as quais a Celeste Bezerra, à indústria química acima
mencionada. Para o bairro da Levada, esta obra pública, teve grande importância
73
mesmo tendo que desabrigar algumas famílias e dividir a Vila Brejal, pois permitiu o
acesso ao ônibus e aumentou o número de veículos passantes, contribuiu para valorizar
comercialmente a terra urbana e, principalmente, firmou de uma vez por todas a região
aterrada pela população. No entanto, também teve seu lado negativo, porque agravou
ainda mais a decadência da área, intensificando a evasão de grande parte dos moradores
que residiam próximo ao Mercado Público como será tratado a seguir.
2.4.1. A LEVADA HOJE
Conforme relatado
anteriormente, até atingir suas
características atuais, o bairro da
Levada passou por diversas
transformações históricas e
geográficas. Atualmente, com uma
ocupação consolidada, percebe-se
que entre as mudanças que ocorreram
na área, foi a construção de um aterro
que trouxe mudanças espaciais
significativas, inclusive porque
possibilitou o aumento da área do
número de construções no bairro.
Hoje, completamente integrado ao
antigo traçado (figura 17), este
aterro soma ao bairro cerca de 45%
de sua região total (dado medido no
mapa base).
Mesmo com o aterro
proporcionando uma grande
mudança na área, foi a construção
do Dique Estrada que causou maior
impacto, pois trouxe modificações
não só espaciais, mas também na
Mapa 07: O bairro da Levada hoje
Figura 17 - Foto do bairro da Levada
mostrando o aterro já integrado à paisagem.
Fonte: Arquivo pessoal
74
dinâmica do bairro. A
concretização desta obra exigiu
que a “Feira do Passarinho” fosse
transferida das margens do canal
da Levada, que este foi
canalizado, resultando em um
tráfego intenso na Avenida Celeste
Bezerra, sobretudo de transporte
coletivo. Desta vez, a feira foi
alojada ao lado da linha do trem,
instalando-se ao longo da Avenida
Doutor Francisco do Menezes e se
adaptando ao espaço existente
(mapa 08). No entanto, parte
continuou próxima ao canal,
constituindo um núcleo que existe
até hoje e que ainda comercializa passarinhos (NASCIMENTO, 2004).
Tal ação favoreceu o crescimento sem controle da atividade ambulante da área,
consolidando além da conhecida Feira do Passarinho”, um camelódromo na praça
Emílio de Maya e, no trecho ao lado do Mercado Público, uma região conhecida como
“Feira do Rato” que se destina à venda de produtos que são resultantes de contrabando
(mapa 08).
Em meio a esta série de modificações existiu também uma evasão de parte dos
moradores que se viram prejudicados diante o crescimento da pobreza e,
conseqüentemente, da desvalorização imobiliária. Devido à presença da atividade
ambulante, sobretudo a “Feira do Rato”, que é alvo de constantes batidas policiais,
muitas atividades que faziam o bairro da Levada um lugar concorrido e que se
concentravam em frente a Praça Emílio de Maya, como restaurantes requisitados,
lanchonetes badaladas e um cinema bastante freqüentado, encerraram suas
atividades ao mesmo tempo em que parte da população que residia próximo se evadiu
para outras áreas. Ainda hoje, mesmo diante dos problemas e reclamações resultantes do
aumento do número de ambulantes, sobretudo para as pessoas que trafegam de carro e
de ônibus, as feiras do “Rato” e do “Passarinho” continuam a acontecendo todos os
Mapa 08: Mapa com localizações das feiras: em
vermelho toda a área de comércio informal e
feira livre, em marrom “Feira do Rato”, em
verde “Feira do Passarinho” e área de expansão
e em rosa o camelódromo
CENTRO
PONTA
GROSSA
PRADO
BOM PARTO
LEVADA
Mercado
da Produção
75
dias, de forma insistente às margens da linha férrea, do lado do Mercado do Artesanato
e do camelódromo que se consolidou na Praça Emílio de Maya.
Quanto ao Mercado Público (figura 18) este foi, pela terceira vez, transferido no
fim dos anos 1970 e lá ainda se encontra ocupando uma grande área aterrada aos fundos
de sua antiga construção. Ao lado da edificação que o abrigou antes se encontra, hoje,
instalado o Mercado do Artesanato (figura 19). Até 2005 este mercado, hoje conhecido
como “Mercado da Produção”, juntamente com a Central de Abastecimento S.A.
(CEASA), continuaram desempenhando importante papel na dinâmica do bairro,
constituindo-se no maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do Estado de
Alagoas. Contudo, chegou-se a conclusão de que as instalações físicas e vias de tráfego
local não mais atendiam às demandas
básicas da Central de Abastecimento,
evidenciando-se uma série de carências e
problemas que justificam a transposição da
CEASA para uma outra localidade. Entre
os principais problemas apontados podem
ser citadas as péssimas condições de
higiene na armazenagem, manipulação e
comercialização dos produtos, a carência de
infra-estrutura no terminal de carga e
descarga, bem como estacionamentos
insuficientes, a deficiência das redes de
esgotos e drenagem entre outros.
Hoje a CEASA (figura 20) se
localiza no bairro do Tabuleiro, próxima a
antiga fábrica Forene, na parte alta da
cidade. Inicialmente, a expectativa era que
esta transferência proporcionasse melhores
condições tanto para a CEASA quanto para
o “Mercado da Produção”. O principal
objetivo era fazer com que houvesse uma
diminuição do fluxo de veículos e de
usuários “desafogando” o bairro da Levada
e amenizando, o desperdício de alimentos
Figura 20 - Acesso CEASA-AL no bairro
da Levada.
Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 18 - Atual Mercado Público
circundado por ambulantes.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 19 - Atual Mercado do
Artesanato com todos os seus
produtos à mostra
.
76
gerado pela acomodação da CEASA e do Mercado da Produção juntos. Entretanto,
após quase três anos, para os moradores, comerciantes e freqüentadores este objetivo
não foi alcançado, pois além das melhorias serem pouco destinadas para esta área de
comercialização o bairro perdeu uma parte importante que o valorizava diante da
cidade, já que deixou de ser o maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do
Estado de Alagoas.
Mesmo com esta “perda” ainda existem aspectos que ressaltam o bairro no
contexto da cidade. Atualmente, entre os elementos mais interessantes e que atraem a
atenção dos curiosos a respeito do bairro se evidencia a linha férrea. Ela ainda continua
sendo utilizada desde sua implantação e atualmente define o limite entre os bairros da
Levada e do Centro. Todos os dias, quando o trem passa pela Feira do Passarinho
(figura 21) os ambulantes retiram suas mercadorias, se necessário, e retorna com elas
assim que o trem passa. O trem interage com o espaço, seu som e sua pontualidade
fazem parte do cotidiano. Hoje, sem o glamour de tempos passados, o trem é ainda
relevante para o transporte urbano da população de baixa renda e para a interligação dos
bairros, estando presente na imagem do bairro tanto os moradores como não-moradores,
como para os não usuários.
Outro elemento bastante marcante no
bairro é o Canal da Levada. A tecnologia utilizada
na urbanização da área transformou o que restou
do canal em uma vala de alvenaria que hoje,
infelizmente, recebe os esgotos de várias
edificações acentuando sua degradação (figura
22). Como o porto da Levada não existe mais
devido ao processo de aterramento do bairro, da
poluição e estreitamento de seus canais, o canal,
sobretudo para os não-moradores, acrescenta à
imagem do lugar uma impressão de descaso e
abandono por sua poluição e a sujeira. Porém,
para alguns moradores, em sua maioria os mais
antigos, o canal aparece como um elemento
positivo para o bairro, pois faz parte do contexto
histórico do lugar.
Figura 21 - A Feira do Passarinho e
do Rato.
Fonte: Arq
uivo pessoal.
Figura 22 – O canal da Levada.
Fonte: Arquivo pessoal.
77
Este fato também acontece
com o hidroporto. Por volta de
1998, com as divisões mais
recentes dos limites de bairros, a
Levada, que antes ocupava toda a
parte ocidental logo no início de
sua formação, ficou menor e
conseqüentemente o hidroporto,
que não funciona mais, passou a
pertencer ao bairro do Vergel do
Lago. A sua pista permanece no
mesmo local que agora está
sendo utilizada como sede de um
laboratório marinho pertencente à
Universidade Federal de Alagoas.
Mesmo não fazendo parte do
bairro ele ainda é mencionado por
alguns idosos em relatos sobre a
história do lugar.
Em relação a sua
configuração o bairro apresenta
um traçado não ortogonal (mapa
09). No entanto, em meio às
transformações propiciadas pelas
obras e pela própria dinâmica do
bairro, observa-se que hoje a
Levada apresenta algumas
variações em sua configuração, as
quais podem ser analisadas a partir
de zoneamentos, sobretudo acerca
das tipologias das construções (mapa 10). Na área mais antiga que foi primeiramente
ocupada, por exemplo, ainda existem residências, inclusive com características do início
do século passado. A grande parte destas construções está localizada próximo à Avenida
Celeste Bezerra cuja região, mais antiga e não aterrada, possui certa regularidade quanto
às dimensões de ruas e lotes.
Mapa 10: Zoneamento das diferentes tipologias
configuração da Levada em rosa área de
intenso comércio (5)
4
3
3
1
1
1
4
5
CENTRO
PONTA
GROSSA
BOM PARTO
LEVADA
Mapa 09: configuração da Levada
fonte: PMM
, 2004
78
No que diz respeito à população mais
abastada, esta optou por morar nos novos bairros
que iam surgindo, a exemplo do Farol e da região
da orla marítima, enquanto o bairro em estudo
voltou, em meados de 1990, a ser ocupado por
uma população mais pobre, entre média baixa e
baixa renda. Neste período o comércio se instalou
com maior intensidade no bairro, sobretudo ao
longo das principais vias de acesso e nas
imediações do Mercado Público e do Centro de
Maceió. Contudo, mesmo com a intensificação do
comércio e a evasão de grande parte da
população, segundo e Censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
bairro da Levada possuía, em 2000, 10.582
habitantes distribuídos entre 2.667 domicílios,
levando a constatação que ainda existe grande
número de residências no local.
Mesmo ainda existindo moradores que
residam nesta área do bairro deste os tempos de
seu auge, mais precisamente das décadas de 60 e
70, à medida que se avança em direção a linha
férrea, percebe-se que a atividade comercial se
torna mais intensa ao mesmo tempo em que
diminui a quantidade de residências. A parte
aterrada ainda no início do século XX (mapa10),
nas proximidades do canal e suas adjacências é
onde a atividade comercial se destaca variando
desde o comércio ambulante, serviços, comércio
formal, comércio atacadista até uma pequena indústria de gelo. Tal fato pode ser
atribuído à relação histórica deste trecho com canal, ao transporte, ao comércio e a
implantação do Mercado Público e da Feira livre desde 1848. De certa forma, pode-se
dizer que é o aspecto histórico um dos principais fatores que permite com que a área
Figura 26: tipologia 4
Figura 23: tipologia 1
Figura 25: tipologia 3
Figura 24: tipologia 2
79
hoje esteja tão relacionada à feira livre e que ainda nos dias de hoje tenha força na
identidade da região.
Ainda próximo a esta região de comércio é possível localizar muitas residências,
que se instalaram ainda quando o bairro se encontrava em seu período de auge. Estas
residências têm uma tipologia que correspondem a grande maioria do bairro (figura 23),
visto que foram construídas entre as décadas de 60 e 80. Neste trecho ainda se
encontram as principais igrejas e praças, pessoas na calçada e crianças brincado e
pequenas vilas que são muito comuns no bairro. Assim, ao passar por esta área, por um
momento, pode-se esquecer da dinâmica comercial que faz parte deste bairro e até, para
os primeiros freqüentadores ou os mais desavisados a impressão de que já não se está na
Levada.
Esta impressão é ainda mais evidente quando se está levando em conta o mapa
da Levada. Ao se analisar a configuração do bairro sob esta perspectiva que o referencia
como um todo, percebe-se que a Vila Brejal se destaca com suas ruas de traçado e
organização diferenciado (mapa 10 e 11), realizada pelos próprios moradores. A
tipologia das construções é bem diferente de todo o resto do bairro, inclusive devido aos
desníveis que existem na região. Assim, geralmente as casas apresentam uma calçada
alta ou escadas, aspectos que para os moradores e freqüentadores são primordiais na
diferenciação deste trecho em relação ao bairro de forma geral. O mesmo ocorre com as
moradias que se localizam próximo à lagoa que se caracterizam pelo material de
construção que na grande maioria são “barracos” de papelão ou madeira (figura 26)
De forma genérica, nota-se em um primeiro olhar que o bairro da Levada é
muito heterogêneo. Este aspecto é bastante perceptível, sobretudo quando se conhece
seus limites, que devido a sua tipologia, dinâmica e até traçado ele pode ser
consolidado como vários em um só. Ao se explorar o bairro e sua imagem estas
configurações e tipologias ressaltam muitas vezes uma imagem múltipla, rica em
sensações e elementos imagéticos que consolidam a Levada através de diferentes
perspectivas e lugares dependendo da amostra que é contemplada (mapa 11).
80
BOM PARTO
1
5
7
77
7
8
3
2
2
4
6
LAGOA
MUNDAÚ
Mapa 11: Algumas das principais localizações da Levada: 1- Canal da Levada, 2-Mercado da Produção,
3-Mercado do Artesanato, 4- feira do Passarinho, 5- Praça do Pirulito, 6- Antigo Cinema Ideal, 7- 1º
Centro de Saúde, 8- Igreja N.S das Graças
Vila
Brejal
Dique estrada
Área com
comércio
intenso
ambulantes
81
3.
E
XPLORANDO O BAIRRO DA LEVADA
3.1. AS AMOSTRAS
Com o objetivo de entender os elementos formadores da imagem de um lugar
construída por seus usuários, dimensionou-se uma amostra que contemplou os mesmos.
De forma geral, esta amostra, em um primeiro momento, foi bastante heterogênea, pois
envolveu os usuários da Levada em geral, aspecto importante na fase da pesquisa piloto
para entender o bairro e, sobretudo, para adequar a metodologia. Neste sentido, todos
aqueles que utilizam a área, diariamente, foram considerados nesta amostra, intitulada
“amostra 1”: moradores, comerciantes assim como os freqüentadores assíduos do bairro
que diariamente iam para fazer compras ou para utilizar as paradas de ônibus.
Ainda no decorrer da pesquisa piloto, como também se tinha o interesse de
identificar os elementos negativos e positivos na ancoragem da imagem de um lugar e a
influência desses elementos na consolidação de referenciais, foi constatado, em meio
aos longos ajustes na metodologia e na coleta de diversas informações da amostra 1, que
se fazia necessária uma outra amostra. Esta segunda amostra contemplaria pessoas
externas ao bairro em estudo, isto é, seriam habitantes da cidade, de uma forma geral,
que em sua maioria constituíram um grupo de pessoas que não moravam na área ou não
a freqüentavam. Esta outra amostra, intitulada “amostra 2”, possibilitaria entender de
maneira mais clara a noção de bairro, assim como as sensações e elementos vinculados
a esta definição na ótica dos usuários em geral. Além disso, para que a imagem do
bairro da Levada existisse seria necessário que ele fosse percebido no contexto da
cidade, e não apenas em sua individualidade (ELALI, 2007). Desta forma, a “amostra
2” também seria uma forma de confronto que ao incluir pessoas de outros bairros
acrescentaria diferentes graus de aproximação com o lugar e conseqüentemente imagens
variadas, associadas à realidade de Maceió.
Em meio ao exposto, onde se torna evidente a necessidade e a importância de
uma segunda amostra para o estudo da imagem, no caso desta investigação se destaca
também a possibilidade de se entender melhor os aspectos que se relacionavam com o
lugar sem destacar somente aqueles que correspondem apenas a realidade do bairro sob
o ponto de vista de seus usuários. Neste aspecto, foi buscando os elementos que
82
poderiam ser enfatizados em um contexto maior e que, quando valorizados permitiriam
que o bairro fosse visto como um lugar agradável também no contexto da cidade.
Assim, neste trabalho foram exploradas duas amostras com as seguintes
particularidades:
Amostra 1 “in loco com os
usuários do lugar em geral:
comerciantes, freqüentadores e
moradores. Sempre com o intuído
de tentar colher resultados que
estivessem baseados na totalidade
da área os respondentes foram
abordados, de forma aleatória, em
diversas partes do bairro.
Amostra 2 fora da área de
estudo, com pessoas que nunca
moraram ou freqüentaram o
lugar. Para tal, a cidade de
Maceió foi dividida em cinco
áreas (mapa 13) com o objetivo
de, além de proporcionar uma
abrangência significativa para a
pesquisa piloto, possibilitar uma
amostra diversificada com
resultados significativos.
Entretanto, neste ponto, deve-se
salientar que estas duas amostras
foram primeiramente utilizadas na pesquisa piloto e que, devido aos resultados
desta, para a pesquisa final os perfis dos entrevistados foram direcionados, como
será explicado a seguir.
BOM PARTO
Mapa 12: localização entrevistas da amostra 1
Mapa 13: Localização das entrevistas da
amostra 2.
fonte: www.coisasdemaceio.com.br
83
3.1.1. A PESQUISA PILOTO: BAIRRO x CIDADE
Na pesquisa piloto tanto a amostra 1
como a amostra 2 foram entrevistadas o
mesmo número de pessoas: um total de 50
entrevistados para cada amostra (gráfico 1).
Neste primeiro momento, a amostra 1, que
correspondia aos usuários do bairro, foi
bastante heterogênea, ou seja, composta
pelos moradores (20 entrevistados),
comerciantes (20 entrevistados) e
freqüentadores (10 entrevistados) (gráfico
2). As primeiras entrevistas destinadas à
realização da pesquisa piloto foram
realizadas durante as visitas de campo
efetivadas em um período de dois meses.
Como os entrevistados eram
escolhidos de forma aleatória, isto é, sem
um perfil pré-determinado onde a única
exigência era ser usuário do bairro da
Levada, esta amostra se caracterizou através
de diferentes faixas etárias e graus de
escolaridade. Contudo, notou-se traços em
comum nestes usuários que em sua grande
maioria tinham idade entre 20 e 39 anos
(48%) seguidos da faixa que compreendia de
40-59 anos (36%) (gráfico 03). Da mesma
forma ocorreu no grau de escolaridade em
que a maioria (36%) possuía o ensino
fundamental, seguidos de 28% do ensino
médio e 20% sem nenhuma escolaridade
(gráfico 04).
na amostra 2, como os entrevistados residiam em diferentes localidades, as
visitas a campo contemplaram diversos bairros de Maceió. Nesta amostra, buscou-se
Gráfico 02: Grupos da amostra1-
pesquisa piloto
PESQUISA PILOTO: AMOSTRA 1
40%
40%
20%
morador
comerciante
frequentador
Gráfico 01: Porcentagem das amostras 1 e 2-
pesquisa piloto
PESQUISA PILOTO - AMOSTRAS
50%50%
amostra1
(usuários)
amostra2 (não-
usrios)
FAIXA ERIA- AMOSTRA 1
48%
36%
16%
20-39 anos
40-59 anos
60 anos ou
mais
Gráfico 03: Faixa etária da amostra 1-
pesquisa piloto
Gráfico 04: escolaridade da amostra 1-
pesquisa piloto
GRAU DE ESCOLARIDADE
20%
36%
28%
8%
8%
nenhum
fundamental
médio
universitario
superior
84
explorar bairros diversos que abrigavam as mais diferentes realidades e que
consequentemente poderiam apresentar imagens variadas acerca do bairro da Levada,
isto é, tanto construídas como veiculadas. (gráfico 05) Ou seja, através desta amostra,
tentou-se entender as principais características e elementos que poderiam estar
vinculados a noção de bairro, de uma forma
geral, no contexto maceioense. Da mesma
forma que a amostra 1, foram entrevistadas
50 pessoas, distribuídas ao longo de toda a
cidade. A seleção também foi feita de forma
aleatória, onde o único critério era não
usufruir diretamente do bairro e com a
cautela de se contemplar a cidade de Maceió
em sua totalidade.
Como na amostra 1, na amostra 2 os
entrevistados tinham perfis variados,
apresentando diferentes faixas etárias e graus
de escolaridade. Percebeu-se que a amostra 2
seguia um padrão similar de faixa etária da
amostra 1, ou seja a grande maioria tinha
idade entre 20 e 39 anos (40%) seguidos da
faixa que compreendia de 40-59 anos (36%).
na escolaridade o perfil divergia um
pouco. Nesta amostra o maior número de
entrevistados tinha o ensino médio (36%). O
ensino fundamental aparecia em segundo
lugar (28%), seguido logo após pelo superior
(20%).
3.1.2. PESQUISA FINAL: MORADOR x NÃO MORADOR
Inicialmente, o que pode ser dito acerca das amostras é que as dimensionadas
para a pesquisa piloto foram fundamentais, pois apresentaram resultados que
subsidiaram as direções seguidas pela pesquisa final. Desta forma, devido aos resultados
FAIXA ERIA- AMOSTRA 2
40%
36%
24%
20-39 anos
40-59 anos
60 anos ou
mais
Gráfico 06: Faixa etária da amostra 2-
pesquisa piloto
Gráfico 07: Grau de escolaridade da
amostra 2 - pesquisa piloto
GRAU DE ESCOLARIDADE
20%
28%
36%
8%
8%
nenhum
fundamental
médio
universitario
superior
Gráfico 05: Composição da amostra 2-
pesquisa piloto
AMOSTRA 2: LOCALIDADE DAS ENTREVISTAS
20%
20%
16%
24%
20%
PARTE BAIXA
PARTE ALTA
ADJACENCIAS
ORLA MARITIMA
TABULEIROS
85
da imagem do lugar que serão apresentados na seção a seguir, para a pesquisa final
deste trabalho, optou-se por explorar ainda as duas amostras, no entanto, estas eram
mais homogêneas, sobretudo em relação à escolaridade, idade e relação com o bairro,
que neste caso contemplou os moradores e os não-moradores da Levada.
Para a pesquisa final, resultante de
quatro meses de visita de campo, foram
entrevistadas mais quarenta pessoas, das quais
40 eram moradores (amostra 1) e 40 eram
não- moradores (amostra 2), isto é, pessoas de
outros bairros (gráfico 08). Os participantes
foram escolhidos de modo aleatório, mas nesta
etapa se teve o cuidado de gerar amostras
semelhantes de moradores e não-moradores.
Neste caso, tanto na amostra 1 como na
amostra 2 os entrevistados apresentavam faixa
etária entre 20 e 75 anos. A escolaridade
variava entre fundamental e superior. Quanto
ao gênero, ambas envolveram o mesmo
número de homens e mulheres (25% para
cada uma)
Diante do perfil da amostra 1, um
ponto interessante foi detectado. Na maioria
dos moradores entrevistados ficou
caracterizado que eles não eram apenas
moradores (28%), mas também
comerciantes da área (gráfico 10). Foi esta
constatação que explicou a existência do
grande número de residências mistas (15%), ou seja, comércio e moradia,
principalmente na área de maior influência de comércio, e que foi notado no estudo de
uso do solo do bairro (anexo 03). Este é um traço tão forte e característico do bairro que
mesmo aqueles que não possuem residência mista possuem algum tipo de comércio do
bairro, sendo também descritos como moradores comerciantes (22%). Quanto aos
não-moradores, foi seguido o mesmo padrão da pesquisa piloto, inclusive considerando
a aplicação das entrevistas em diferentes partes da cidade.
PESQUISA FINAL: ENTREVISTADOS
50%50%
MORADORES
(AMOSTRA 1)
NÃO-MORADORES
(AMOSTRA 2)
Gráfico 08: Porcentagem das amostras 1 e
2 - pesquisa final
PESQUISA FINAL: AMOSTRAS 1 E 2
25%
25%25%
25%
HOMEM (AMOSTRA 1)
MULHER (AMOSTRA 1)
HOMEM(AMOSTRA 2)
MULHER (AMOSTRA 2)
Gráfico 09: Composição das amostras 1
e 2: pesquisa final
Gráfico 10: Perfil dos moradores
entrevistados (amostra 1) pesquisa final
PESQUISA FINAL: PERFIL MORADORES
28%
22%
35%
15%
AP ENAS
M ORADORES
M ORADORES
COM COM ERCIO
(NO B AIRRO)
M ORADIA
M ORADIA+
COM ÉRCIO
86
3.2. A METODOLOGIA
Antes de tudo, avaliar um lugar é considerar os diversos fatores que o compõem,
priorizando não apenas os referenciais relativos a aspectos sociais, mas também
espaciais, culturais e históricos. Foi pensando desta forma e compreendendo que o
usuário poderia fornecer tais informações que foram utilizadas entrevistas como uma
maneira de obter as opiniões de cada um.
O estudo empírico em questão visava avaliar estes aspectos através de
categorizações. As diferentes e individuais interações com os lugares resultam nessas
avaliações de níveis hierarquicamente variados. Assim, buscou-se examinar as
diferenças e as similaridades entre os conteúdos das categorizações. Nesta perspectiva,
o trabalho piloto auxiliou bastante, pois determinou as instruções mais apropriadas a
cada contexto considerado. Da mesma forma, foi através desta pesquisa piloto que se
tornou possível encontrar uma metodologia adequada para esta pesquisa.
Para este estudo que envolveu o indivíduo, recorreu-se a algumas metodologias
relacionadas às ciências sociais por entender que, por meio deste campo de
conhecimento, era possível obter formas de explorar as respostas dos entrevistados. Por
isso, antes de definir a metodologia que foi utilizada neste trabalho, percorreu-se um
longo trajeto através de cinco metodologias.
Em um primeiro momento, ainda na fase de adequação do plano de trabalho o
principal enfoque era a História Oral. Enquanto metodologia de pesquisa, a História
Oral se ocupa em conhecer e aprofundar conhecimentos sobre uma determinada
realidade, envolvendo desde estruturas sociais até processos históricos que podem ser
obtidos por meio de uma simples conversa (FEREIRA e MARIETA, 1996) Interessante
por suas possibilidades, acreditava-se que através dela poderia ser construída uma visão
mais concreta da dinâmica da realidade do bairro da Levada.
De fato, durante algum tempo a História Oral serviu de acesso às idéias e
pensamentos dos respondentes. Nas primeiras visitas a campo, por exemplo, que tinham
como objetivo um reconhecimento do bairro, algumas narrativas foram extraídas através
desta metodologia. Ainda por meio de um contato inicial com alguns entrevistados foi
possível coletar algumas informações que eram extraídas através de uma conversa
informal. Na verdade eram narrativas que, baseadas em um banco de dados, exploravam
diversos aspectos que iam desde informações pessoais, relacionadas diretamente ao
indivíduo, até a relação deste com o lugar. No entanto, observou-se, nos resultados
87
adquiridos através da História Oral que, mesmo tendo conseguido algumas informações,
as mesmas viam fundamentadas em um resgate da memória e do passado, aspectos que
não eram interessantes para este trabalho que se baseia em entender o presente.
Considerando-se a História Oral uma metodologia que ainda carece de métodos
complemetares, ou seja, além do discurso oral é importante também o escrito
(FERREIRA; MARIETA, 1996) tentou-se recorrer a outra metodologia com o intuito
de que, ao ser aplicada em conjunto com a primeira, fosse possível alcançar os objetivos
deste trabalho com plenitude. Assim, como uma maneira de analisar melhor as
narrativas, em um segundo momento, pensou-se na Análise de Conteúdo, que auxilia no
entendimento e na análise de informações coletadas.
A Análise de Conteúdo é uma técnica de pesquisa para uma descrição objetiva,
sistemática e quantitativa de qualquer conteúdo manifesto da comunicação (In
RICHARDSON, 1985). De forma geral corresponde a um instrumento metodológico
que permite compreender melhor um discurso e de aprofundar as suas características
gramaticais, fonológicas, cognitivas e ideológicas e extrair momentos importantes,
que sirvam de marco de explicação para o pesquisador (BARDIN, 1977). No entanto,
como os conteúdos das narrativas correspondiam às informações coletas pela História
Oral, que por sua vez estavam fundamentadas na memória e no passado, esta
metodologia também não auxiliou no entendimento do presente. E como por meio da
Análise de Conteúdo o foi possível elaborar formas de extrair do respondente as
informações, apenas avaliá-las, esta metodologia também não poderia ser unicamente
aplicada.
Após verificar o alcance da História Oral para esta pesquisa, viu-se a
necessidade de procurar uma outra metodologia. Neste ponto era entendido que seria
importante que a escolha metodológica, em meio às considerações subjetivas,
permitisse que as pessoas pudessem estar livres em suas escolhas, mas que ao mesmo
tempo o conteúdo destas estivesse dirigido para as inquietações acerca da “imagem do
lugar”. Neste sentido, recorreu-se a sintaxe espacial enquanto método eficiente a
compreensão de uma lógica espacial.
Esta terceira opção se relacionava mais diretamente com a descrição
morfológica dos lugares, visto que desde que suas aplicações foram continuadas por
Hilier e Hanson (apud SABOYA, 2007) foram acrescentados objetivos mais amplos
dentre os quais a compreensão de como a organização social se materializa
espacialmente e como o espaço interfere de volta nesta organização. Em linhas gerais, a
88
sintaxe espacial é uma teoria descritiva que pertence a um corpo teórico metodológico
mais amplo representado pela teoria da lógica espacial (apud SABOYA, 2007).
Entretanto, como se baseia muito mais na quantificação do que na qualificação das
qualidades espaciais, ela também não respondeu às questões inerentes a este trabalho.
Diante de diversas tentativas e mesmo com muitas informações disponibilizadas,
como a maioria não dizia respeito à grande parte das inquietações desta pesquisa,
recorreu-se a uma quarta metodologia: Teoria das Facetas. A Teoria das Facetas
enquanto um procedimento de pesquisa que evolve três aspectos diferentes parecia
contemplar pontos que as outras metodologias não conseguiram explorar. Primeiro,
oferecia princípios sobre como delinear pesquisas para coleta sistemática dos dados.
Segundo apresentava uma variedade de métodos para analisar dados. E finalmente,
permitia relacionar sistematicamente o delineamento de pesquisas, registro de dados e
sua analise estatística (SHYE; ELIZUR; HOFFMAN, 1994). De certa forma, através da
Teoria das Facetas foi possível elaborar melhores formas de extrair as respostas dos
entrevistados, pois ela permite analisar uma grande variedade de variáveis psicológicas
e sociais. Além disso ela também facilita a formulação de suposições teóricas, isto é
hipóteses. Mas, como apenas verifica a validade destas, ou seja, e não as fornece,
também não correspondeu a todas as questões presentes nesta pesquisa.
Assim, foi apenas na quinta tentativa que se conseguiu obter os resultados que
correspondessem aos objetivos do trabalho. Foi possível elucidar alguns procedimentos
para explorar as categorias e sistemas de classificação utilizados pelos respondentes
apenas através da Teoria das Classificações Múltiplas, exploradas por Canter, Brown e
Groat (1985) também conhecida como MSP (multiple sorting procedure). Como esta
teoria desenvolve procedimentos que buscam explorar o conteúdo dos fenômenos
especificadamente, ela se tornou um elemento basilar, sendo utilizada tanto na pesquisa
piloto quanto na pesquisa final. Entretanto, deve-se ressaltar que embora em um
primeiro momento as metodologias anteriormente aplicadas não tenham correspondido
às questões deste trabalho, elas foram essenciais, principalmente em relação a algumas
informações que foram coletadas em suas aplicações. Embora não tenham sido
largamente utilizadas na pesquisa final, elas possibilitaram entendimentos acerca da
imagem do bairro, auxiliando na explicação de certos elementos e de sua relação com os
moradores e não-moradores. A História Oral, por exemplo, auxiliou na abordagem de
alguns dos entrevistados, principalmente aqueles que aceitaram responder as questões,
mas se mostraram pouco acessíveis. a análise de conteúdo foi utilizada para explorar
89
o procedimento de associação livre, enquanto a sintaxe espacial auxiliou no
entendimento da imagem dos freqüentadores e dos não-moradores do lugar. Quanto à
teoria das facetas, esta não foi diretamente aplicada na pesquisa piloto, mas foi de
grande importância no ajuste dos procedimentos, delineando, através de possíveis
hipóteses, as direções preliminares da pesquisa piloto. Entretanto na pesquisa final ela
auxiliou na compreensão da imagem do morador e seu nível de satisfação com o lugar.
Neste sentido, torna-se evidente que a escolha de uma metodologia que correspondesse
às indagações da pesquisa, seguiu diversos caminhos, sendo apenas a última, a Teoria
das classificações múltiplas, a que de fato conseguiu sinalizar com clareza e
objetividade os anseios deste trabalho.
3.2.1. CLASSIFICAÇÕES MÚLTIPLAS
Segundo Tuan (1980) as pessoas expressam seu afeto e percepção a um lugar
diferentemente, dependendo se é nativo ou visitante. Contudo, todos sem exceção
estruturam o que aprendem em categorias. De fato, esta é uma característica inerente ao
processo de aprendizado que por meio de assimilações e acomodações, estabelece uma
ordem. É baseado neste princípio que neste trabalho se optou pela Teoria das
Classificações Múltiplas.
Também conhecida como MSP (Multiple Sorting Procedure), a Teoria das
Classificações Múltiplas se baseia, como o próprio nome descreve, na classificação
como um meio de explorar o sistema conceitual do indivíduo. O método de
classificação tem sido tipicamente utilizado para avaliar as estruturas, como algo livre
que pode ser introduzido em diversos contextos que se relacionam a análise das
escolhas dos indivíduos.
A abordagem realizada por Canter, Brown e Groat (1985) estende a
potencialidade do método para a sua utilização em fenômenos específicos. A
aplicabilidade da teoria tem sido implementada com o desenvolvimento de
procedimentos que permitem examinar o conteúdo gerado pelas escolhas. Esta teoria
tem uma série de vantagens, especialmente na identificação de qualidades atribuídas aos
lugares (SIXSMITH; MURRAY, 1991). O método requer muito pouco de seus
respondentes, basicamente a opinião, de acordo com as qualidades e características
percebidas. As perguntas são elaboradas de forma descontraída, com algumas direções e
90
sem restrições, aspecto caracteriza este processo como múltiplo e classificatório,
bastante válido para esta pesquisa.
A teoria das classificações múltiplas também apresenta a possibilidade de se
utilizar de outras formas de acesso além da forma verbal. Quando as pessoas começam a
classificar aspectos ou até objetos elas usam imagens, símbolos, valores, conceitos que
estão em suas mente (MOSCOVICI, 2003). A verbalização é feita depois de completar
a classificação, em um momento que o entendimento já a permite uma capacidade de se
expressar desta forma (PIAGET, 1978). Baseado nesta possibilidade, a MSP permite
que os respondentes classifiquem um mesmo elemento diversas vezes de acordo com
diferentes categorias que seguem a ordem de seu entendimento. Assim é possível ter
uma grande variação no instrumental teórico através da estruturação de procedimentos
que permitam utilizar ilustrações e fotografias. Este tipo de material é muito utilizado
em pesquisas relacionadas ao espaço por ser um dos objetos de estudo que permite a
utilização de material visual (CANTER, 1985).
Assim, estruturaram-se algumas perguntas de forma que fosse possível examinar
o conteúdo gerado pelas escolhas individuais ou coletivas, tentando assimilar do
indivíduo apenas sua opinião, por meio de qualidades percebidas no bairro da Levada:
idéias, pensamentos e imagens por ele categorizados, a partir de elementos fornecidos.
Neste caso, como o objetivo era que a escolha dos indivíduos fosse emitida de maneira
descontraída, sem limitações, porém direcionada, criou-se alguns procedimentos que
estão detalhados no próximo item.
3.2.2. PROCEDIMENTOS
Após um longo trajeto percorrido em busca de uma metodologia adequada, a
Teoria das Classificações Múltiplas conseguiu atender aos objetivos norteadores desta
pesquisa. Através da estruturação de alguns procedimentos possibilitados por esta
teoria, tornou-se possível resgatar a sensibilidade, a percepção e a cognição dos sujeitos
em sua forma de expressão mais simples. Assim, pôde-se entender o lugar e
principalmente os elementos evidenciados na formação de sua imagem.
Em um primeiro momento os procedimentos foram estruturados para uma
pesquisa piloto, que tinha como objetivo testar a aplicabilidade da metodologia. Por
meio da MSP foram seguidos três procedimentos aplicados através de entrevistas
dirigidas –formulários em anexo - e que posteriormente foram implementadas e
91
consideradas na pesquisa final. Os três procedimentos foram aplicados nas duas
amostras.
Após preencher a folha de rosto com as principais informações como nome,
sexo, idade e escolaridade, as perguntas eram realizadas a partir de blocos que
englobavam os procedimentos. Esses procedimentos que, para a pesquisa piloto foram
no total de três, enquanto para a final foram quatro, apesar de serem os mesmos
apresentavam algumas peculiaridades que dependiam da amostra, como será explicado
logo em seguida.
PROCEDIMENTO 1: ASSOCIAÇÃO LIVRE - O LUGAR
O primeiro bloco foi referente ao procedimento de associação livre. Neste
procedimento o objetivo principal era captar as primeiras informações colhidas acerca
do lugar, ou seja, o que se percebe e o que se sente. Por este motivo as perguntas eram
estruturadas de maneira que se fosse possível obter respostas livres, onde os
respondentes eram instruídos a não pensar muito e responder a primeira coisa que lhe
viam a cabeça.
Este procedimento também tinha como objetivo
entender como as pessoas associam o nome do bairro e
ao que associam. Assim, em um dos itens, para ambas
as amostras foi utilizado um cartão em branco com o
nome do bairro, o qual as pessoas escreviam o que
achavam. Era um procedimento livre que tinha como
objetivo investigar o grau de informações: podia ser
uma sensação, alguma construção ou lembrança,
qualquer coisa.
Quando questionados acerca do lugar e o que se associa a este, a amostra 1
respondia sobre o bairro da Levada. Primeiramente, para a pesquisa piloto, as questões
relacionadas ao mesmo e que se encontravam inseridas neste procedimento eram mais
detalhadas, pois se percebeu que como a amostra 1 envolvia diferentes grupos -
moradores, freqüentadores e comerciantes era possível existir aspectos divergentes
vinculados a aproximação e a relação desenvolvida com o bairro. Logo no início,
embora aceitassem fazer parte da pesquisa, as pessoas se sentiam pouco a vontade para
LEVADA
Figura 27: Cartão utilizado no
procedimento de associação livre
92
responder o nome ou outros dados pessoais. Por isso, embora as perguntas fossem
dirigidas e seguissem um formulário para respostas, elas fluíam em uma conversa
informal sobre a opinião do entrevistado, como as narrativas coletas através da História
Oral. Depois no decorrer da conversa o entrevistado dizia seus dados com maior
desenvoltura. No início, logo nas primeiras entrevistas esse era o maior impasse:
conseguir que as pessoas respondessem perguntas relacionadas ao lugar, inclusive os
comerciantes, pois acreditavam que a abordagem tinha uma iniciativa do poder
municipal. Devido a este fato, às vezes eram necessárias varias idas e conversas até
conseguir confiabilidade, por parte do respondente. As perguntas eram distribuídas em
oito itens e dirigidas a vários aspectos relacionados ao bairro: sensações, qualidades do
lugar e da paisagem, aspectos positivos e negativos, lugares importantes no bairro,
dentre outros.
para a amostra 2 a associação livre era direcionada da mesma forma para que
a amostra 1, isto é, para o bairro da Levada. Todavia, foi notado que quando
questionados sobre este lugar logo em um primeiro momento, grande parte dos
entrevistados o associavam características consideradas negativas. Outro ponto muito
interessante foi que no decorrer da entrevistas os respondentes, quando pedidos para
exemplificar um bairro ideal, descreviam conjuntos residenciais e condomínios
fechados. Neste aspecto foi entendido que era necessário conhecer a visão de mundo
dos respondentes, ou seja, entender primeiramente o que em suas mentes era um bairro
para depois relacionar estas noções ao bairro ao em questão. Assim, para a pesquisa
final, optou-se que inicialmente as perguntas fossem dirigidas sobre “bairro” de forma
genérica e posteriormente sobre a Levada. A explicação para dois tipos de pergunta
“bairro” em sentido genérico e “bairro da Levada” partiu da necessidade de um
confronto dos dados, pois começou a se notar que quando primeiramente direcionadas
ao bairro em questão as respostas tinham uma conotação negativa. Por exemplo, quando
se relacionava ao bairro da Levada às pessoas na grande maioria das vezes atribuíram
como aspecto negativo contato humano ao mesmo tempo em que no requisito aspectos
positivos de um bairro ideal enfatizavam bastante o convívio social. Estas perguntas
ajudaram bastante no desenvolvimento da pesquisa de campo, pois facilitaram entender
o que para as pessoas configurava um bairro: seus aspectos positivos, negativos, um
bom bairro, um péssimo bairro, exemplos na cidade, enfim quais elementos fazem parte
do cotidiano de um bairro como uma forma de entender esta porção considerada em um
contexto maior. Neste procedimento também foi questionada a relação com o bairro, ou
seja, se o conhece porque o freqüentou ou porque ouviu falar.
93
Figura 28: material da pesquisa de
campo
PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA VISUAL
O segundo procedimento de “Associação
Dirigida Visual Livre” consistia em linhas gerais na
mesma natureza do anterior: respostas livres, porém
direcionadas e auxiliadas por material visual. Tanto
para a amostra 1 como para a amostra 2 o primeiro item
consistia na mesma coisa. Eram mostradas vinte fotos:
dez do bairro da Levada e dez de outros bairros. Para a
pesquisa piloto foram utilizadas fotos variadas:
construções e espaços livres: praças, casas, edifícios
sem a presença de pessoas, pessoas em seu cotidiano,
passeando, conversando ou então estes dois aspectos
reunidos. Porém esta descrição não era comunicada aos
respondentes. As fotos eram entregues misturadas e era
solicitado que fossem divididas em dois grupos: são
fotos do bairro ou não são fotos do bairro da Levada.
Era solicitado também que se relatasse qual o critério
que havia sido utilizado para a divisão.
Para a pesquisa piloto este procedimento era
constituído de dois itens. No segundo item era
solicitado que em meio as fotos consideradas como
partes do bairro da Levada, fossem escolhidas no
mínimo três que melhor representassem o bairro,
devendo-se relatar o motivo da escolha.
Devido aos resultados interessantes este
procedimento foi repetido e considerado para a
pesquisa final sob a mesma estrutura. Contudo, o item
dois foi direcionado para o procedimento de
associação valorativa que considerava os principais pontos do bairro coletados pela
pesquisa piloto.
94
PROCEDIMENTO 3: ASSOCIAÇÃO VALORATIVA
Na verdade este procedimento foi derivado do
anterior de associação dirigida visual. Ele consistia
em doze fotos com as principais faces do bairro. Dez
destas fotos estavam inseridas na pesquisa piloto no
primeiro item, o qual entre as vinte fotos os
respondentes deveriam identificar com sendo ou não
da Levada.
Para este procedimento, que foi acrescido
apenas na pesquisa final, as fotos foram escolhidas
baseadas nos pontos de referência que eram
fornecidos pelas pessoas. Estes pontos foram
coletados na pesquisa piloto no procedimento de
associação livre e de associação visual dirigida (os
principais pontos do bairro) e nas primeiras visitas de
reconhecimento da área - ainda por meio das
narrativas adquiridas através da História Oral (figura
29).
Para a amostra 1 este item correspondia a uma
avaliação valorativa, onde era colocado no
instrumento auxiliador as doze fotos segundo a ordem
de importância para o respondente, que deveria
também dizer o motivo de sua escolha. Os
entrevistados ainda teriam a oportunidade de, se fosse
necessário, acrescentar outros lugares que em sua
opinião também eram importantes, mas que não
constavam entre as fotos oferecidas, podendo, da
mesma forma, desconsiderar algum.
Já para a amostra 2 era solicitado que esta
ordem fosse colocada tendo como base o
conhecimento: da foto mais conhecida ou familiar para a menos conhecida ou
desconhecida. Também era questionado o que se sentia em relação a estes lugares. Da
mesma forma o respondente teria a oportunidade de, se fosse necessário, acrescentar
Figura 29: material da pesquisa de
campo
95
outros lugares do bairro que para ele eram pontos de referência e que não constavam nas
fotos apresentadas.
Mesmo com uma abordagem diferente, este item tinha o mesmo objetivo.
Entender quais eram os pontos conhecidos do bairro, quais desses elementos serviam
como forte referência. Considerava-se que para os usuários, devido ao aprendizado com
a experiência e com a convivência na área, esses lugares tinham adquirido valor,
enquanto para os habitantes da cidade o que era levado em consideração era a
associação mental com a área, já que se entendia que a freqüência não era tão assídua.
Depois de ter ordenado as fotos, ambas as amostras teriam que escolher três que
representassem melhor o bairro no item posterior deste procedimento. O respondente as
ordenava da mais representativa para a menos representativa, dizendo o motivo da
ordem.
PROCEDIMENTO 4:ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA (VISUAL) / TOPOCEPTIVA
Este item se relacionava com a legibilidade que embora Lynch associe esta
característica fortemente à locomoção, neste trabalho ele se torna importante por sua
possibilidade de servir como um vasto sistema de referências, um organizador de
atividades, de crença ou do conhecimento (LYNCH, 1960). Assim, foi desenvolvido
neste procedimento um único item: um mapa do bairro, onde o respondente deveria
localizar os lugares mais representativos. Para a pesquisa piloto, em ambas as amostras,
os lugares eram aqueles que haviam sido escolhidos como os que melhor representavam
o bairro.
Aparentemente fácil, este item foi o mais demorado e difícil de ser executado,
porque os respondentes apresentavam uma certa resistência quando achavam que não
iam acertar todas as localizações. No entanto foi essencial, pois por meio dele se
conseguiu entender algumas percepções e sensações. Como enquanto tentava localizar
os lugares o respondente ia descrevendo o caminho que estava sendo feito
(mentalmente) em voz alta, também se tinha o auxílio de um gravador. Um outro ponto
de difícil acesso dizia respeito à leitura do mapa. Grande parte das pessoas não tinha
paciência ou experiência de ler um mapa e por isso não conseguiam responder,
sobretudo porque após utilizar o material visual passavam a achar este procedimento
pouco atrativo.
96
Diante dos elementos e aspectos interessantes que fundamentaram muitas
respostas, achou-se válido repetir este procedimento na pesquisa final, sendo que este
deveria apresentar um caráter mais interativo. Foi confeccionado um mapa que se
apresentasse de forma mais didática e lúdica, onde os
respondentes o utilizariam como um jogo. A principal
solicitação ainda era localizar os lugares mais
representativos os doze do procedimento anterior,
só que desta vez eles eram “colados” em um mapa do
bairro. A partir deste momento, este procedimento
deixou de despertar resistências por parte dos
entrevistados (figura 30).
De uma forma geral, pôde-se perceber que
nestes procedimentos a complementaridade entre
imagem e linguagem foi de grande importância, afinal,
ambas supriram entre si as necessidades expressivas,
comunicativas e informativas, limitadas pelas suas
naturezas. Segundo Joly (2004), as palavras também se
apresentam para nos provar até que ponto as imagens
podem nutrir a imaginação. Desta forma, torna-se
evidente afirmar que as imagens juntamente com as
palavras, se complementam, se interagem, se revezam e
se esclarecem.
Figura 30: seqüência de fotos
que mostram a
aplicação do
procedimento 4
Fonte: arquivo pessoal
97
4.
A
IMAGEM DO BAIRRO
4.1. RESULTADOS
De posse do instrumental criado, foi-se a campo realizar as entrevistas, levantar
os dados necessários para subsidiar o objetivo principal desta investigação, que era
entender quais são os elementos formadores da imagem de um bairro, tanto sob a ótica
de que de seus usuários como da cidade. A grande quantidade de itens e os quatro
procedimentos que compuseram os formulários permitiram confirmações das respostas,
já que uma etapa estabelecia um elo com a seguinte.
A primeira pesquisa a pesquisa piloto - durou em torno de quase três meses, e
envolveu em torno de cinqüenta entrevistados para cada amostra, entre os quais além de
reconhecimento do bairro, explorou-se também as possibilidades ressaltadas pelas
outras metodologias. Esta pesquisa de campo foi realizada com duas amostras distintas,
um grupo formado pelos usuários do bairro e um outro grupo formado por pessoas de
outras partes da cidade. a segunda pesquisa de campo pesquisa final durou em
torno de quatro meses, envolvendo mais quarenta entrevistados. Da mesma forma que a
primeira pesquisa, foram contempladas duas amostras, sendo que neste caso o estudo
foi mais dirigido a um certo perfil e os formulários foram aplicados em uma área
delimitada dentro do bairro. Como foi evidente que ambas as pesquisas foram
primordiais para a análise da imagem do bairro e consequentemente para os resultados,
pois a primeira fundamenta a segunda, os resultados expressos neste trabalho estão
baseados tanto na pesquisa piloto como na pesquisa final.
4.1.1. A IMAGEM DA LEVADA: OS USUÁRIOS DO BAIRRO
Diante das duas amostras envolvidas neste trabalho, existiram alguns aspectos
verificados importantes para os resultados. Em se tratando da amostra 1, inicialmente se
percebeu dois pontos que poderiam ser salientados. O primeiro é que devido a esta
amostra corresponder aos usuários do bairro, ainda nas primeiras visitas de campo, o
98
seu caráter heterogêneo foi muito mais ressaltado devido à existência dos três grupos
que a compuseram - comerciantes, freqüentadores e moradores – do que pelo perfil dos
entrevistados. Neste sentido, foi evidenciada a existência de imagens divergentes nesta
amostra, principalmente quando os procedimentos verbal e visual eram associados, pois
os elementos identificados eram mencionados de formas tão variadas que dificultavam o
entendimento dos considerados mais importantes. Contudo, conforme Lynch (1999) isto
é um aspecto que deve ser esperado na análise de uma imagem, pois é provável que
existam elementos variados, que por ser uma sobreposição de muitas imagens
individuais, sempre existe algum conteúdo que nunca ou raramente é comunicado.
Apesar de ser um aspecto comum no estudo da imagem, no caso deste trabalho,
as divergências se revelaram de forma inesperada, principalmente porque através delas
foi ressaltado um segundo ponto a ser relevado para o entendimento da imagem da
Levada: em vez de única imagem abrangente para todo ambiente, o que existia eram
grupos de imagens. Para Lynch (1999) a existência desses grupos caracteriza que o
ambiente em questão seria grande e complexo, necessitando assim que a imagem
estudada fosse mais detalhada. Ou seja, a imagem deveria ser analisada a partir destes
grupos, pois eles a representam em diferentes níveis. Neste trabalho, este detalhamento
implicaria em explorar elementos associados a imagem o freqüentador, do morador e do
comerciante, o que poderia ocasionar em conclusões que não estariam diretamente
associadas aos objetivos almejados. Assim, optou-se por explorar apenas alguns
momentos, aqueles entendidos como fundamentais, pois eram interessantes para a
compreensão da “imagem do lugar”.
Através dos aspectos interessantes que se destacaram diante desta amostra,
observou-se que as divergências ilustraram a maneira como cada grupo constrói uma
imagem associada à experiência do lugar. Quando se trata principalmente do bairro esta
constatação ganha maior sentido, pois as percepções, devido a seu caráter seletivo,
aparecem associadas às opções de uso e as práticas sociais do mesmo (GONÇALVES,
2005). E de fato, após uma revisão das entrevistas, verificou-se que as divergências
ocorriam devido à percepção do lugar que estava fortemente vinculada à relação
desenvolvida com o bairro: o morador associava o bairro enquanto moradia, o
comerciante enquanto comércio e assim por diante. Tal aspecto se tornou evidente
quando os respondentes da amostra 1 foram questionados sobre o que o nome “Levada”
associava. Observou-se diante das respostas que era o uso que se fazia do bairro que
direcionava a maioria das respostas. Assim, enquanto para os comerciantes o trem
99
correspondia ao primeiro fator mais marcante, visto a sua localização próxima às áreas
de comercialização, para os moradores eram as lembranças que se destacam em um
primeiro momento, enquanto para os freqüentadores era a feira (gráfico 11).
Embora no bairro em estudo a experiência do lugar para a amostra 1 aparecesse
associada a elementos divergentes, ao mesmo tempo se percebeu que eles eram
derivados ou relacionados entre si. Em outras palavras, as imagens dos grupos mais ou
menos se sobrepunham e se inter-relacionavam. Este fato foi entendido ainda nas visitas
de campo, pois a maioria dos entrevistados não eram apenas moradores, freqüentadores
ou comerciantes: em sua grande maioria, os respondentes que residiam na área também
possuíam comércio. Da mesma forma também foi notado que parte dos freqüentadores
mencionaram que haviam morado ou comercializado no bairro. Mas, mesmo com
imagens divergentes, entendeu-se que o motivo pelo qual a maioria das sensações e dos
elementos eram mencionados nos três grupos, era que mesmo sendo usuários do bairro,
todos aprenderam em graus variados a diferenciar o que consideravam familiar e
estranho do lugar (TUAN, 1980). A questão da feira, por exemplo. Para os três grupos
para a amostra 1 em geral ela é considerada importante, mas por motivos diferentes.
Para os freqüentadores ela é relevante porque reúne uma variedade de mercadorias onde
tudo pode ser encontrado. Neste caso, ela também se torna um diferencial para os
comerciantes, pois se torna uma espécie de núcleo atrativo de clientes. Já para os
moradores a feira está apenas associada à história e a origem da Levada, sendo este o
único motivo que ainda a faz ser considerada importante, uma vez que hoje reúne um
comércio de produtos roubados que torna o bairro inseguro em algumas áreas.
Gráfico 11: Análise da associação livre dos três grupos integrantes da amostra 1
ANÁLISE DA ASSOCIÃO LIVRE - AMOSTRA 1
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
8%
9%
10%
comerciantes
moradores
frequentadores
100
Mesmo sendo este apenas um exemplo constatado nos resultados, a partir dele,
compreendeu-se que os elementos eram ressaltados de formas diferentes em cada grupo
(gráfico 11) construindo imagens divergentes, mas que segundo a pesquisa de campo
eram decorrentes principalmente da hierarquização dos elementos que mesmo sendo
coletivos no contexto da Levada eram valorizados diante do universo consensual
(MOSCOVICI, 2003) de cada grupo constituinte da amostra 1. No que se refere a feira,
este universo consensual se evidenciava principalmente nos motivos de escolha. Assim,
embora possa ser dito que para os usuários do bairro ela é importante de uma forma
geral, ela se destaca por motivos diferentes. Quando avaliados, estes motivos podem
gerar questionamentos acerca da consideração de sua importância, aspecto de grande
valia para a compreensão do lugar e de sua realidade. Nesta perspectiva, notou-se que
realmente seria importante a exploração dos resultados desta amostra de maneira mais
detalhada em alguns aspectos e momentos, pois assim poderia os elementos
poderiam ser melhor analisados, auxiliando principalmente na compreensão da força e
da influência de cada um na construção da imagem do bairro da Levada.
A exploração dos resultados da amostra 1 de forma detalhada foi de grande valia
pois ao possibilitar entender o morador, o comerciante e o freqüentador ilustrou que o
bairro da Levada possui uma dinâmica que confere diferentes contextos e,
consequentemente, variados significados aos lugares. A imagem construída pelos
usuários demonstrou uma forte relação com esta dinâmica do bairro, manifestando-se
principalmente através dos diferentes graus de aproximação entre os usuários e alguns
lugares da Levada.
Depois de compreender que o bairro era expresso de formas variadas para cada
indivíduo, que por sua vez era bastante influenciado pela dinâmica em que estava
inserido, foi possível identificar os elementos que realmente eram reconhecidos diante
da coletividade. E de fato, ao se fazer uma análise das repostas dos entrevistados em
geral, entendendo a Levada de forma mais completa, foi possível identificar quais eram
os principais elementos e sensações que segundo os usuários mais se associavam ao
nome do bairro através da associação livre. Entre os usuários o mais mencionado foi o
convívio social (13%) que o bairro proporciona. Após este, outros elementos como as
lembranças (11%), a feira (11%) e trem (11%) aparecem equivalentes ocupando um
segundo lugar (gráfico 12).
101
Percebeu-se também que outro fator que influenciou bastante a análise das
imagens dizia respeito às regiões usufruídas pelo indivíduo dentro do bairro. A Levada
se constitui como vários bairros em um só, pois além de muito extenso, possui diversas
atividades que vão desde moradia e comércio a feira livre, expressando através do
caráter seletivos da percepção diferentes delimitações que são pautadas diante desses
diversos usos (GONÇALVES, 2005). Em meio à variedade de práticas que dinamizam
o bairro, observou-se que os elementos adquiriam força ou relevância à medida que se
faziam presentes na vida dos respondes e em sua relação com o lugar. Entre os
exemplos constatados, a lagoa é um
bastante interessante. Notou-se que ela
era mencionada por quase todos os
respondentes, mas se destacava como
o elemento mais importante apenas para
os entrevistados que moram ou passam
próximo a ela. Assim, a lagoa aparece
com maior freqüência, e em um primeiro
momento, nas respostas das pessoas que
se encontravam, principalmente, nas
adjacências da Vila Brejal (mapa 14 e
gráfico 13). Para estes mesmos
entrevistados o trem se torna um dos
últimos elementos mencionados,
colocando-se em uma posição posterior ao
Mapa 14: áreas das entrevistas
Gráfico 12: Associação livre – Amostra 1
ASSOCIAÇÃO LIVRE-LEVADA(AMOSTRA 1)
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
convivio social
lembranças
feira
trem
aspectos
arquitetonicos
insegurança
descaso
aspectos
esteticos
comercio
alegria
amostra 1
Legenda:
Entrevistados da área 3 (vila Brejal)
Entrevistados da área 1(área comércio)
102
Mercado da Produção e a Feira do Passarinho que, por sua presença mais marcante na
dinâmica do bairro, aparecem respectivamente em segundo e em terceiro (gráfico 13).
para os comerciantes a lagoa foi uma pequena ocorrência, assim como para
alguns moradores, sobretudo aqueles que residem perto das áreas de comércio mais
intenso como a feira livre, o Mercado da Produção e o Centro da cidade (mapa 13 e
gráfico 13). Neste sentido, entende-se que a significação atribuída não é a mesma para
todas as pessoas da amostra, inclusive devido a influência do ambiente que as cerca.
Por isso, embora os locais das entrevistas tivessem sido escolhidos de forma aleatória
nas primeiras vistas de campo, nas visitas posteriores se tentou também contemplar
áreas distintas dentro do bairro como uma maneira de entender a Levada em sua
totalidade, como foi ressaltado na explicação das amostras.
Um outro fato bastante interessante foi a ocorrência dos aspectos arquitetônicos
nesta amostra. Embora apareçam em terceiro lugar no modo geral, foram bastante
mencionados tanto pelos moradores como pelos comerciantes. Entretanto foi entre os
freqüentadores que estes aspectos apresentaram uma maior força, colocando-se em
segundo lugar (gráfico 14). A explicação desta constatação aparece vinculada,
sobretudo ao pouco contato com a área pela grande maioria, onde a assimilação pelo
freqüentador ocorre muito mais pela ação do pensamento do que pela ação em si mesma
(PIAGET, 1978). Além disso, Lynch (1999) afirma que aspectos arquitetônicos são
considerados importantes, pois são grandes influenciadores da estética do lugar
(LYNCH, 1999). Entende-se, então, que realmente o olhar do visitante sempre está
voltado para os aspectos estéticos, pois o que lhe chama atenção é o estímulo (TUAN,
Gráfico 13: Comparação entre os principais lugares do bairro da Levada – Amostra 1
AMOSTRA 1- PRINCIPAIS LUGARES
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14%
Igreja N. S. das Graças
trem
Mercado da produção
praça N. S das Graças
Feira do Passarinho
Primeiro Centro de Saude
Mercado do artesanato
Pra do pirulito
Cinema Ideal
Primeira Igreja Batista
Canal da Levada
Lagoa Mundau
entrevista area 3
entrevista da area 1
103
1980), que no caso destes entrevistados, correspondeu a este item, visto que a pesquisa
de campo evidencia que tanto os aspectos estéticos quanto os arquitetônicos aparecem
como um segundo fator principal (ambos com 12% conforme gráfico 12). Neste grupo
também foi constatado que algumas sensações despertadas pelo bairro, principalmente
negativas como descaso e sujeira estão relacionadas às suas construções ou áreas
públicas como as praças. Porém, ainda a pesquisa de campo, observou-se que quando
não estavam relacionados à estética, alguns aspectos arquitetônicos eram mencionados
pelos freqüentadores como pontos essenciais, que garantiam uma orientação em meio ao
ambiente do bairro da Levada que eles consideram confuso. Na grande parte das
respostas eles conseguiam identificar de forma correta os lugares próximos às áreas de
comércio, feira livre ou de grande fluxo como paradas de ônibus. Esta constatação
ressalta o ponto de vista de Lynch (1999) onde a relevância dos aspectos arquitetônicos
na construção da imagem de um lugar, não se relaciona a estética, mas também
constituem pontos de orientação.
Quanto aos moradores, os aspectos
arquitetônicos também envolveram questões
interessantes. Observou-se no procedimento de
associação visual que a maior parte dos entrevistados
que residem no bairro reconhecem cada parte dele,
identificando na maioria das vezes de forma correta e
pontual até a rua ou as adjacências de onde as fotos
foram tiradas. Devido a grande facilidade de
reconhecimento, percebeu-se ainda ao longo das
primeiras visitas de campo que as fotos eram analisadas
muito mais a partir de construções e áreas livres
(gráfico 14) do que das pessoas presentes nas mesmas,
com um maior interesse concentrado nas fachadas das
construções (figura 31) ou em algumas características
relacionadas aos aspectos arquitetônicos como
desníveis, presença de jardim e de árvores, recuos,
platibandas e grades. Quando indagados acerca dos
acertos, a grande maioria respondeu que gosta de andar
à pelo bairro, que o comércio ambulante dificulta
a circulação de veículos e que por isso conheciam cada ponto.
Figura 31: fotos mais
escolhidas na associação
visual amostra 1
Fonte: arquivo pessoal
B
C
A
A
104
Um outro aspecto identificado como importante para o reconhecimento de partes
do bairro pelos usuários é que a maior parte dos moradores trabalha ou possui um
estabelecimento comercial na própria Levada, como foi demonstrado no perfil da
amostra. Através de percursos diários e repetitivos seriam estabelecidos
reconhecimentos visuais acerca dos lugares do bairro, elementos de familiaridade que
segundo Lynch (1999) seria a principal maneira pela qual seriam atribuídos os
significados dos lugares. Desta forma, tornou-se mais compreensível o motivo pelo qual
as imagens do bairro construídas pelos usuários aparecem vinculadas fortemente a
alguns lugares do bairro, principalmente aqueles que despertam lembranças. Em sua
grande maioria eram lembranças coletivas, relacionadas à época em que o bairro era
bastante requisitado: construções deste período, locais de encontro e de lazer da
população. Mas também eram lembranças individuais, recordações de um cotidiano, do
trajeto que se faz até o trabalho, do vizinho na porta ou da criança brincado, do caminho
que se percorre de casa até a feira ou até a igreja.
Para os usuários o bairro seria agradável por propiciar um convívio social
intenso que associado à boa localização, proporciona o acesso a diversos serviços, entre
eles de transportes e médico. Assim, entre os aspectos positivos a localização se
evidencia como a segunda mais citada, visto que, segundo os entrevistados, a
proximidade com o Centro da cidade favorece o bairro com serviços que outros não
dispõem. Quanto aos aspectos negativos, estes são os que podem ser chamados de
desagradáveis e correspondem àqueles elementos que incomodam ou se sente falta
Nasar (2006). No caso da Levada, a ausência fez com que as áreas de lazer e a infra-
estrutura se destacassem entre os aspectos mais negativos. Notou-se também que para
os usuários existiram mais fatores positivos do que negativos, entretanto estes últimos
ASSOCIAÇÃO VISUAL - AMOSTRA 1
0% 2% 4% 6% 8% 10%
pessoas (A)
aspectos
arquitetonicos(B)
pessoas +
aspectos
arquitetonicos ( C)
usuarios
Gráfico 14: Resultados da associação visual (amostra 1)
105
se sobrepõem à qualidade do bairro. Ou seja, a falta de área de lazer e infra-estrutura
superariam a boas sensações e as possibilidades relacionadas ao convívio e a boa
localização. Da mesma forma ocorreria com o descaso e a sujeira que antecedem aos
outros aspectos positivos. Nesta perspectiva, entendeu-se que mesmo sendo considerado
um bom lugar, os aspectos negativos do bairro da Levada seriam os mais evidenciados
(gráfico 15).
Segundo os usuários, o bairro também apresentaria elementos de grande valor e
que seriam importantes referenciais. Ainda através das primeiras entrevistas esses
elementos eram ressaltados, principalmente por sua significação histórica e por sua
influência no cotidiano do bairro. Entre os vários elementos citados, percebeu-se que as
primeiras informações surgiram ainda por meio da aplicação da História Oral, como foi
o caso da antiga construção que abrigou a Primeira Igreja Batista. Outros foram citados
como relevantes meios de orientação dentro do bairro, como o trilho do trem, por
exemplo. Também existiram aqueles que possuem uma relação histórica com a área,
mas que ainda hoje exercem um papel importante, como a Lagoa Mundaú, que garante a
obtenção de alimento através da pesca, o Mercado da produção e a “Feira do
Passarinho”, atividades comerciais que constitui um dos principais aspectos do bairro.
Desta forma, pode-se dizer que os principais elementos que fazem parte do bairro da
Levada apresentam diferentes relações com o lugar que vão deste significados
históricos, importância no cotidiano do bairro até referencias para deslocamento e
orientação.
Para a amostra 1 esses lugares seriam no total de doze, variando de importância
diante da relação que este estabelece com o entrevistado e com a dinâmica do bairro.
AMOSTRA 1 - ASPECTOS NEGATIVOS x POSITIVOS DO BAIRRO
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12%
falta de area de lazer
falta de infra-estrtura
pessoas/vivencia
boa localização
descaso
sujeira
padrão arquitetonico(casas)
acessibilidade
dinamica do lugar
historia
degradação de construçoes históricas
amostra 1 aspectos
negativos
amostra 1 aspectos
positivos
Gráfico 15: Aspectos positivos e aspectos negativos do bairro da Levada – Amostra 1
106
Após uma análise valorativa (gráfico16), foi identificado que o lugar mais importante
para os usuários era o Mercado da Produção. Esta principal referência se ressalta,
sobretudo por ser importante na história da Levada e na consolidação do comércio,
atividade fortemente associada à ocupação inicial do bairro. Para Certeau (1996) a
presença do mercado em um bairro seria na verdade uma referência sociológica, pois
através dele se poderia compreender melhor as relações humanas na pratica do bairro
que nele se revelaria a sua complexidade e sua estrutura social. “A prática do mercado
significa a força social do bairro, pois é onde os usuários reconhecem a dinâmica interna
do lugar” (CERTEAU, 1996: 158)
Em segundo lugar ainda se destaca a atividade comercial, mais
especificadamente a “Feira do Passarinho”. Todavia, deve-se salientar que neste
sentido, para os usuários devido à relação com atividades ilícitas a feira foi mencionada
pela necessidade de revitalização, que é um aspecto importante no bairro por sua
relação com o seu surgimento. Na verdade se percebe que atualmente seria a sua
localização que a torna um lugar importante em dois sentidos. O primeiro diz respeito às
lembranças que parte de sua extensão - um “camelódromo” - ocupou a Praça Emílio
de Maya considerada a mais bonita do bairro, local de muitas festas que hoje são tão
nostálgicas para os usuários. O segundo ponto seria a sua relação com o trilho do trem,
que foi mencionado em terceiro lugar. Nesta amostra estes dois elementos são
colocados como dependentes um do outro. O trem destaca a “Feira do Passarinho”,
dando-lhe o caráter peculiar de comércio sobre os trilhos, onde além de demonstrar a
Gráfico 16: Avaliação valorativa- Amostra 1
AVALIAÇÃO VALORATIVA - AMOSTRA 1
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%
Mercado da Produção
Igreja N.S. das Graças
Feira do Passarinho
trilho do trem
Praça N.S. das graças
Praça do Pirulito
cinema ideal
mercado do artesanato
Primeiro centro de saúde
Lagoa Mundau
Canal da Levada
primeira igreja batista
amostra 1
107
insistência e a permanecia desta atividade da área e seu caráter venda aos gritos e a
céu aberto - lembra a evolução do bairro, sua época de auge e de modernização.
Para a amostra 1, tanto o trilho do trem, como a feira do Passarinho e o Mercado
da Produção são importantes, pois exprimem idéias acerca do bairro, de sua dinâmica e
de sua origem. Contudo, percebeu-se nas respostas que a Igreja de Nossa Senhora das
Graças também é bastante mencionada, tanto quanto a feira. Na verdade estes quatro
elementos o mercado, a feira, o trilho e a igreja - seriam signos para os usuários. De
acordo com Peirce (apud JOLY, 2004) o signo seria aquilo que sob determinado
aspecto, representaria alguma coisa para alguém. No caso do bairro da Levada seriam
estes quatro lugares, pois para os mesmos eles marcam o perfil peculiar da Levada onde
tanto residência como comércio compartilham o mesmo espaço, dinamizando a
realidade do lugar na cidade de Maceió.
Mesmo sendo aparentemente desordenado, o bairro apresenta legibilidade para
seus usuários, sobretudo em sua partes menos ordenadas. Na localização de alguns
pontos no mapa, os lugares próximos às áreas menos ordenadas - como o comércio
ambulante - eram encontrados facilmente (gráfico 17). Neste procedimento foi possível
observar que todo o trajeto feito - mentalmente tinha como ponto inicial o trilho do
trem. Entende-se que por ser um limite entre dois bairros (Centro e Levada) este adquire
uma maior visibilidade na imagem de um lugar (LYNCH, 1999).
Entre os comerciantes tanto a legibilidade quanto a orientabilidade são mais
fortes. Sobretudo para aqueles que possuem comércio ambulante, foi verificada uma
grande facilidade de deslocamento. Nesta amostra, notou-se que além de localizar de
AVALIAÇÃO TOPOCEPTIVA - AMOSTRA 1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
1-Trilho do Trem
2- Primeira Igreja Batista
3-Mercado do Artesanato
4-Praça N. S. das Gras
5-Cinema Ideal
6-Primeiro Centro de Saude
7-Praça do Pirulito
8- Igreja N. S. das Graças
9- Feira do Passarinho
10- Mercado da produção
11-Canal da Levada
12- Lagoa Mundaú
não localiza
localiza errado
localiza proxino
localiza
Gráfico 17: Resultados dos elementos localizados (mapa – amostra 1)
108
forma pontual e correta elementos principalmente situados nas áreas de maior
aglomeração, os entrevistados entendiam exatamente os principais limites do bairro.
Assim, diante destes resultados, pode-se afirmar que a imagem do bairro da
Levada por parte de seus usuários tem identidade, estrutura e significado, sobretudo
moradores e comerciantes. Este último se deve principalmente a história do bairro e o
grande número de construções que remetem ao significado do lugar ao longo do tempo
e de seu dia a dia. Ao mesmo tempo, entende-se que, diante aos resultados expostos,
existe uma grande variação e riqueza de elementos que ainda podem ser explorados,
principalmente em torno da imagem do freqüentador, do comerciante e do morador.
Entretanto, salienta-se que embora a amostra 1 seja constituída a partir destes três
grupos de entrevistados, ela na verdade constitui uma pois ilustra uma imagem
coletiva, decorrente destas diferentes praticas que fazem da Levada o bairro de moradia,
comércio e feira livre.
Desta forma, foi compreendendo esta amostra como uma totalidade que, para
considerá-la com tal, foi necessária a exploração destes resultados de maneira detalhada.
Este detalhamento serviu principalmente para se entender que para os usuários a
imagem construída tem um forte grau de aproximação com o bairro e com sua dinâmica
que confere diferentes lugares e contextos onde, ao mesmo tempo em que seriam
expressos individualmente também seriam reconhecidos diante da coletividade. Assim,
pode-se dizer que a força desta imagem está baseada em seu processo de formação
onde, por meio da experiência do lugar, os elementos que nela se apresentam teriam
origem sensitiva, perceptiva, mas principalmente cognitiva, sobretudo para seus
moradores.
4.1.2. A IMAGEM DA LEVADA PARA A CIDADE
Assim como a amostra de usuários, pode-se dizer que a amostra 2 também se
caracterizou por um caráter heteroneo. Entretanto, esta heterogeneidade não se
expressou através da existência de grupos variados como na amostra 1 que por
compreender os usuários do bairro da Levada em geral, envolvia freqüentadores,
moradores e comerciantes. Para os outros habitantes da cidade, ou seja, as pessoas que
em geral não mantinham um contato freqüente ou até direto com o bairro da Levada, as
109
variações eram demonstradas através de seu perfil, aspecto que deve ser considerado no
estudo da imagem que as atitudes em relação à vida e ao meio ambiente também
seriam reflexos de variações individuais como sexo, idade e as fases da vida (TUAN,
1980).
Mas, no que diz respeito a este estudo, foi observado que era também importante
a abrangência da área em que seria realizada pela entrevista, pois este aspecto exercia
muita influência na análise da “imagem do lugar”. Este fato foi constatado, sobretudo
nas visitas de campo ao bairro da Levada, onde foi compreendido que para entender a
“imagem de um lugar” se deveria também entender o mesmo em uma totalidade. E
mesmo assim, embora cada local precise ser reconhecido em sua singularidade, ele não
poderia ser analisado de modo isolado, pois está contínua e intimamente interligado a
outros setores da cidade (ELALI, 2007). Neste sentido, da mesma forma em que se
explorou o bairro através de formulários aplicados em diferentes partes da Levada,
também se seguiu este pensamento em torno da imagem dos outros habitantes que
embora não possuíssem relação direta com o bairro em estudo, compartilhavam do
mesmo no contexto da cidade de Maceió.
Ao se percorrer a cidade, constatou-se que o local da entrevista foi um ponto de
diferencial na construção da imagem do bairro em estudo pela amostra 2. Na verdade,
não era o local da entrevista em si, ou seja, não era o ambiente do shopping, da praia, ou
da praça em que o respondente era abordado, mas o ambiente ao qual este entrevistado
estava habituado interagir mais intensamente. Assim, quando se tratava de questões
acerca da noção de bairro em geral, era o bairro em que se morava que se destacava
fortemente e não o que se trabalhava ou freqüentava, embora estes últimos servissem de
parâmetro para avaliação deste primeiro.
Segundo Tuan (1980) isto poderia ser
explicado através da forma pela qual o indivíduo se relaciona com o lugar. As pessoas
tendem a estruturar o espaço com elas no centro, pois os valores e os aspectos em
relação ao espaço são considerados a partir de uma idéia de “centro” e “periferia”
(TUAN, 1980). Esta idéia variaria conforme a sensação de familiaridade despertada em
cada indivíduo, dependendo tanto do grupo social no qual ele está inserido
(MOSCOVICI, 2003) quanto do ambiente que o envolve (TUAN, 1980) como pôde ser
observado
nas entrevistas na Levada. Esta idéia de “centro” e “periferia” ainda se
refletiria no processo de assimilação e acomodação (PIAGET, 1978).
Conforme Certeau (1996), em se tratando do bairro, o “centro” seria o local de
moradia. O bairro, sob esta ótica, ganharia maior destaque por nele se encontrar
110
organizado um conjunto de símbolos nos quais o indivíduo se reconhece em meio ao
contexto da cidade mais diretamente, um território, enquanto “periferia” estaria
associada a idéia de tudo aquilo que se afasta dele. (CERTEAU, 1996) Um exemplo
desta afirmação foi encontrado nas entrevistas realizadas fora do bairro da Levada. Na
amostra 2, quando uma pessoa era abordada e aceitava responder as questões, percebia-
se de forma evidente uma comparação entre o bairro da Levada e o bairro em que em
que estava sendo feita a entrevista, o qual em grande parte dos casos era também o
bairro em que residiam. Já em outros casos, em que os respondentes eram abordados no
bairro em que não moravam, estando ali por outros motivos como trabalho ou lazer,
também se percebia claramente que sempre se fundamentavam na realidade de seu
bairro de moradia e de seu cotidiano para responder as questões e explicar os motivos
de suas escolhas.
De fato, a questão do bairro de moradia era um parâmetro de grande influência,
mas foi percebido que neste sentido a imagem também estava associada, principalmente
em torno do nível de apreciação. Para os entrevistados que residiam em bairros
requisitados, por exemplo, seus bairros eram descritos como exemplos a serem
seguidos. Esta influência da imagem era mais evidente, sobretudo nas respostas aqueles
que moravam em um bairro de classe baixa e freqüentavam um bairro de classe média
alta. Embora nestes casos o bairro de moradia também fosse o principal parâmetro, foi
observado que a imagem dos bairros mais requisitados que era o principal parâmetro
desejado para a sua realidade vivida. Neste contexto, entendeu-se que o que se buscava
através da experiência de um lugar estava fundamentado muito mais na imagem de um
lugar ideal do que na própria realidade. Assim a imagem se mostrou de grande
importância, pois além de ser algo com o qual efetivamente se mantinha sempre
proximidade e contato, comprovou que por meio dela realmente deixou de existir
distinções entre a coisa representada e a representação em si mesma (BAUDRILLARD,
1981).
Frente a tais resultados, pode-se dizer que foi necessário compreender a idéia de
bairro por parte dos maceioenses. a partir deste entendimento seria possível adquirir
respaldos nos quais os procedimentos verbais e visuais poderiam realmente se
complementar e auxiliar no entendimento da imagem do bairro da Levada. Foi partindo
deste princípio que primeiramente, a amostra 2 era questionada a cerca de exemplos de
bairros da cidade de Maceió que em sua opinião correspondessem a um bom bairro e de
seu oposto. Após os exemplos, os respondentes deveriam mencionar os principais
111
aspectos positivos e negativos que segundo os mesmos eram primordiais nesta
classificação.
Para a maioria dos entrevistados, um bom bairro é aquele que garante a
segurança e o convívio social, aspectos que segundo Nasar (2006) fazem parte dos
elementos de agradabilidade. Atrelado a este fator estaria à localização, a beleza, lazer e
o contato com a natureza (gráfico 18), tornando evidente que a significação do bairro
poderia variar profundamente de um meio social para o outro: para uns seria a unidade
de vizinhança onde se organizaria toda a vida e se estabeleceriam às redes de relações,
como é o caso dos usuários, enquanto para outros seria um ponto de referência a ser
seguida no contexto citadino (GONÇALVES, 2005). Quase que de forma unânime as
pessoas apontaram para a estrutura de um condomínio fechado - exclusivamente
residencial, com casas espaçosas, jardim e murado - como uma configuração de um
bom bairro. Este aspecto se tornou evidente, sobretudo porque em meio aos exemplos
de bairros solicitados que apresentavam estas características foi mencionado com
grande ocorrência alguns nomes de condomínios fechados (gráfico 19).
Gráfico 18: Aspectos positivos de um bairro segundo a amostra 2
ASPECTOS POSITIVOS DE UM BAIRRO
0%
5%
10%
15%
20%
25%
segurança
convivio
social
boa
localização
boa infra-
estrutura
beleza
lazer
contato
com a
natureza
importancia
histórica
Amostra 2
Gráfico 19: Melhores bairros de Maceió, segundo a amostra 2. Com asterisco (**) os
condomínios fechados
BAIRROS MAIS AGRADÁVEIS DE MACEIÓ
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
PONTA VERDE JATIUCA ALDEBARAN** MANGABEIRAS GRUTA DE
LOURDES
JARDIM DO
HORTO **
Bairros
agradáveis/ideais
de Meceió
112
Quanto aos aspectos negativos, a poluição sonora e ambiental aparecem em
primeiro lugar seguida da violência e da falta de infra-estrutura (gráfico 20). Quando
questionados acerca de exemplos de bairro que têm essas características aparecem em
primeiro lugar bairros de classe baixa
31
, muitos dos quais foram mencionados como
parecidos com a Levada (gráfico 21). Torna-se evidente, neste caso que a realidade
social é um ponto que seria considerado na imagem externa acerca de um lugar. Ao
mesmo tempo, percebe-se que realmente as representações efetuam um papel de
aprendizado, principalmente porque é partir delas que o conhecimento é estruturado e
transmitido (MOSCOVICI, 2003), como ficou exemplificado nas opções de bairro que
segundo a amostra 2, lembrariam a Levada através de suas imagens
31
Afirmação considerada de acordo com as estatísticas do IBGE – CENSO 2004. Bairro com a maioria
de sua população em torno de dois salários mínimos: classes D e E ( massa trabalhadora e trabalhadores
com renda ínfima) em www. Ibge-al.gov. br
ASPECTOS NEGATIVOS DE UM BAIRRO
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
poluição
ambient al
e sonora
violencia falta infra
estrutura
falta de
convivio
social
dificil
acesso
descaso falta area
verde
muito
populoso
AM OSTRA 2
Gráfico 20:Aspectos negativos de um bairro segundo a amostra 2
Gráfico 21: Bairros considerados desagradáveis segundo a amostra 2
OS BAIRROS MAIS DESAGRADÁVEIS DE MACE- AMOSTRA2
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
Jacintinho
Benedito Bentes
Prado
Ponta Grossa
Clima bom
Vergel do Lago
Bairros semelhantes
à Levada
Bairros
desagradaveis
113
Para os habitantes da cidade, a palavra Levada é associada ao grande número de
pessoas, ao Mercado da Produção e ao barulho, onde este último se destaca devido ao
comércio existente e principalmente a “Feira do Passarinho” e o transporte ferroviário.
No entanto, percebeu-se na complementação entre os procedimentos verbais e visuais
que a grande parte dos entrevistados se referem a esses elementos como negativos, pois
são sinônimos de caos, desordem (gráfico 22), aspectos geralmente relacionados a um
lugar desagradável (NASAR, 2006).
Porém, analisando as características de um bom bairro e da Levada, ambas
atribuídas pela amostra 2, percebe-se que o bairro possui duas das três primeiras
características primordiais: a localização e o convívio social (gráfico 23). A análise
dessas respostas leva a compreender que quando questionados acerca de um bom bairro,
a experiência é colocada como fundamental (PIAGET, 1978). As pessoas respondem as
respostas baseadas em suas vivências e em suas expectativas (TUAN, 1980), pois são
destes elementos que decorrem as características de denominam um bairro agradável ou
desagradável diante da experiência de cada um.
Gráfico 22:Associação livre (amostra 2)
ASSOCIAÇÃO LIVRE - LEVADA (AMOSTRA 2)
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
muitas pessoas
mercado da
produção
barulho
sujeira
pobreza
feira do
passarinho
trilho do trem
história e
memória
desorganizão
comercio
descaso
mercado do
artesanato
calor
AMOSTRA 2
ASPECTOS POSITIVOS:UM BAIRRO AGRADÁVEL x LEVADA
0% 5% 10% 15%
segurança
convivio social
boa localização
boa infra-estrutura
beleza
natureza
importancia historica
não tem
arquitetura
ASPECTOS P OSITIVOS DA
LEVADA
ASPECTOS P OSITIVOS DE
UM BAIRRO
Gráfico 23: Aspectos positivos de um bairro e da Levada (amostra 2)
114
Mas, quando se reportaram acerca do bairro da Levada, mesmo se buscando na
amostra 2 uma variedade que contemplasse imagens tanto construídas como veiculadas,
constatou-se que todos os entrevistados tinham estado ou passado pelo bairro.Assim,
entendeu-se que os entrevistados relataram um conhecimento que em sua grande
maioria foi assimilado apenas no mínimo por uma primeira impressão acerca do lugar.
E de fato, entre às perguntas, as quais também deveria relatar o contato com o bairro,
não foi mencionado nenhum conhecimento que fosse ocasionado apenas através da
mídia. A maior parte dos respondentes desta amostra afirmou conhecer o bairro porque
estiveram lá, sobretudo porque o lugar desperta curiosidade através de suas
peculiaridades, dentre as quais o comércio sobre os trilhos e que vende de tudo. Um
outro aspecto mencionado foi a localização do bairro, que permite acesso ao Centro da
cidade, pois é bem servido de transportes públicos. Além disso, não se deve esquecer a
história da Levada, que traz em si lembranças que envolvem um período de auge do
bairro onde as atividades e espaços de lazer ainda hoje fazem parte da memória de
muitos habitantes de Maceió.
Assim, pode-se dizer que a imagem do bairro construída pelos maceioenses
demonstra um conteúdo baseado na coletividade (MOSCOVICI, 2003), ilustrada
através de alguns lugares de seu passado significativo, de suas raízes, de suas
peculiaridades e de alguns elementos que também fazem parte do imaginário e da
história da cidade. Ainda que as pessoas que tenham um primeiro contato com o mundo
de uma maneira mais ou menos igual, elas o estruturam de uma forma muito diferente.
As pessoas constroem sistemas para manejar o mundo, ou seja, formulam hipóteses; e
predizem assim o seu cotidiano de acordo com elas (GIBSON apud DEL RIO, 1996),
Desta forma, compreende-se porque o espaço apreendido e vivido como bairro
apresenta dimensões muito variáveis cuja significação deste espaço é também muito
diversificada, variando desde e sua função até seu “status” na cidade (BAROWSKY,
2000). Mas, mesmo possuindo elementos considerados primordiais, quando se
confrontou as respostas ficou evidente que para a amostra 2 o bairro possui mais
características negativas do que positivas, constituindo-se assim um bairro desagradável
(gráfico 24).
Através do grande número de aspectos negativos – em comparação com os
positivos - foram destacados alguns pontos primordiais no entendimento da imagem
construída pela cidade acerca da Levada. O primeiro é que a imagem da amostra 2
apresentava algumas divergências que além da localidade do entrevistado também era
115
influenciada por sua faixa etária. Os entrevistados com faixa etária acima de 50 anos,
por exemplo, apontavam aspectos fundamentados no passado do bairro, como lugares
de lazer e diversão que já não funcionam mais. A grande parte desses entrevistados com
esta faixa etária já morou no bairro ou em suas adjacências ou conheceu alguém que
morou, ou seja, freqüentou assiduamente em sua juventude, sobretudo devido às festas e
procissões realizadas ali. Quanto maior era a faixa etária próxima aos 75 anos - mais
mias evidente se tornava este fato, pois a maioria das sensações estavam baseadas em
lembranças relatadas. Neste sentido, notou-se também que os entrevistados mostravam
afeto pelo lugar.
O ponto interessante diz respeito aos entrevistados que residiam em bairros de
classe alta. Embora já tivessem freqüentado o bairro, quando solicitados a relatar
características da Levada, estes entrevistados mencionavam muito mais aspectos
negativos. Sobre este aspecto, foi constatado que devido ao pouco contato com o lugar,
estes respondentes apontavam características que se baseavam em aspectos estéticos, e
que como não correspondiam à suas realidades eram relatadas como negativas. Este fato
não acontecia em relação aos entrevistados que residiam em bairros mais populares.
Segundo os mesmos, a realidade de seus bairros de moradia é muito mais próxima ao
bairro da Levada, pois ainda se percebe uma atmosfera de cordialidade, conversas na
porta de casa e crianças brincando na calçada, ou seja, existiriam valores similares
vinculados às práticas do bairro em estudo. O mesmo ocorre para o bairro das
adjacências que de forma interessante constrói uma imagem parecida com a dos
freqüentadores, inclusive com as mesmas sensações.
ASPECTOS NEGATIVOS: UM BAIRRO DESAGRADÁVEL x LEVADA
0% 5% 10% 15%
poluição ambiental e sonora
violencia
falta infra estrutura
falta de convivio social
dificil acesso
descaso
falta area verde
muito populoso
desorganizão
desemprego
ASPECTOS NEGATIVOS DA
LEVADA
ASPECTOS NEGATIVOS DE
UM B AIRRO
Gráfico 24: Aspectos negativos de um bairro e da Levada (amostra 2)
116
De uma forma geral, pode-se dizer que diante dos
resultados da amostra 2 que o bairro da Levada se faz ainda
hoje bastante presente na vida dos maceioenses. Para os
entrevistados desta amostra, o bairro expressa uma
atmosfera de convívio social. Este aspecto foi comprovado
através da associação visual, onde entre as fotos descritas
como “parte do bairro da Levada” pela amostra 2, quase
60% eram aquelas em que aparecia algum tipo de convívio
social: crianças na calçada, multidões (gráfico 25 e figura
32). Já as fotos que não eram do bairro, a sua grande
maioria tinha relação com a arquitetura, o contrário do que
acontece na amostra 1. Observa-se que para esta amostra a
presença de pessoas é um elemento importante na imagem
da Levada, pois a maneira que a sociedade se materializa
em um espaço seria um dos principais elementos
determinantes de suas características físicas (LYNCH,
1999). E de fato, a associação livre reafirma esta colocação já que para a grande maioria
da cidade a primeira coisa que vêm a mente sobre o bairro seria a imagem de muitas
pessoas. Já os aspectos arquitetônicos, conforme os motivos relatados, tornavam - se um
dos aspectos evidentes de algo que não pertencia ao lugar, sobretudo porque era
associado padrões estéticos de beleza, que é a avaliação do meio ambiente pelo
visitante é essencialmente neste sentido. É a visão de quem julga pela aparência, por
algum critério formal de beleza (TUAN, 1980). Por isso as poucas casas que eram
associadas ao bairro, em sua grande maioria eram casas de taipa sem nenhum requinte
estético ou com características históricas, mas com aspecto de abandono.
Figura 32: fotos mais
escolhidas amostra 2
C
B
A
AMOSTRA 2- ASSOCIÃO VISUAL
0% 10% 20% 30% 40% 50%
pessoas (A)
aspectos
arquitetonicos (B)
pessoas + aspectos
arquitetonicos ( C )
não usuarios
Gráfico 25: Resultados da associação visual da amostra 2
117
Conforme a amostra dois, o lugar que mais representa o bairro é o Mercado da
Produção (gráfico 26). Pode-se dizer que ele também seria o mais conhecido, pois nele
aparecem associados os principais elementos do bairro: barulho, comércio, caos. Na
verdade no imaginário coletivo a atividade comercial é tão forte que para esta amostra o
bairro é visto apenas como uma área de comércio, com quase nenhuma residência. De
fato, a prática comercial é tão forte no bairro que em segundo lugar ainda se destaca a
atividade comercial, mais especificadamente a Feira do Passarinho”. Esta ocorrência
pode ser verificada através da avaliação valorativa, onde foi possível perceber que se
entre os lugares apontados de maior valor dentro do bairro para esta amostra foram
destacados os que se encontram dentro do perímetro comercial (gráfico 26, mapa 15).
Outros elementos que não estavam situados neste limite como a Lagoa Mundaú que se
localiza muito mais próxima a área predominantemente residencial, segundo a amostra
dois não eram relevantes, pois não faziam parte da área comercial e consequentemente
do bairro da Levada. A mesma coisa foi observada em algumas construções históricas
como a que abrigou a Primeira Igreja Batista, que enquanto para os usuários tinha era
um referencial de lembranças, para a amostra dois não era nem reconhecida. Já o
cinema ideal, foi um ponto de referência bastante citado, um marco dentro do bairro não
por sua importância arquitetônica e um antigo local de lazer, mas principalmente
porque hoje é uma parada de ônibus, o que o destacou de forma valorativa por
possibilitar orientabilidade para esta amostra.
A imagem da amostra 2 delimita
o bairro remetendo principalmente aos
limites da feira livre e, sobretudo do
trilho do trem que é uma barreira que
estabelece fronteira entre a Levada e o
bairro do Centro. É normal nas imagens
aparecerem limites ou até um núcleo
forte muitas vezes determinado por uma
configuração ou atividade. No caso do
bairro da Levada é o comércio que
constitui grandes áreas de referência,
pois são pontos nodais, que em meio a
região o mercado parece confuso e
disforme para a cidade tanto em seu lado
CENTRO
PONTA
GROSSA
PRADO
BOM PARTO
LEVADA
Mapa 15: área delimitada pelos entrevistados
com sendo o bairro da Levada
118
interno como externo. As sensações físicas das atividades do mercado se mesclam com
a feira livre se tornando marcantes, da mesma forma que a sua imagem é imprecisa
devido a sua diferenciação visual dentro do bairro (LYNCH, 1960). Na medida em que
este núcleo comercial vai desaparecendo aos poucos, a imagem do lugar vai se tornando
menos legível (LYNCH,1960). Consequentemente, a Levada vai diminuindo,
apresentado uma imagem cuja a construção para a amostra 2 corresponderia a uma área
restrita em que a atividade comercial apresentaria maior influência (mapa 14).
É por todas essas considerações que neste ponto, quando foram verificados os
resultados último procedimento, nota-se que o bairro da Levada não é legível para a
amostra 2, pois seus limites compreendem o que eles consideram como tal: a área de
grande influência do comércio ambulante, da feira livre e do Mercado da Produção, com
muita gente e barulho. Da mesma forma, foi verificado que os únicos elementos
localizáveis no mapa, são os que se concentram nesta área: mercado, o trilho do trem, o
canal da Levada, a praça do pirulito e a lagoa (gráfico 27). Os dois últimos, embora não
estejam nesta área de comércio seriam de fácil localização, pois ambos são pontos de
referência para o deslocamento: a lagoa seria um marco enquanto a praça do pirulito por
ser também parada de ônibus seria um ponto nodal (LYNCH. 1999). Em se tratando dos
dois primeiros, fica evidente que possuem imaginabilidade, pois não são apenas vistos,
mas também presente aos sentidos. Pode-se dizer que para esta amostra eles são signos
do bairro já que as principais características do meio são atribuídas por estes elementos.
Neste aspecto, entende-se que para os habitantes da cidade que não freqüentam
assiduamente o bairro, a imagem se tornaria uma forma de acesso ao conhecimento. No
Gráfico 26:Resultados da avaliação valorativa amostra 2
AVALIAÇÃO VALORATIVA - AMOSTRA 2
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%
Mercado da Produção
Feira do Passarinho
trilho do trem
cinema ideal
Praça do Pirulito
mercado do artesanato
Igreja N. S das graças
Primeiro centro de saúde
praça N. S das graças
Lagoa Mundau
Canal da Levada
primeira Igreja batista
amostra 2
119
entanto, devido a natureza das informações que formam esta imagem -sensações e
percepções- o conhecimento de tornaria ainda muito superficial. Neste sentido,
compreendeu-se que essa imagem seria influenciada por outros fatores, como as
representações sociais da área, que não condizem em grande parte com a experiência da
amostra 1. Diante de tais considerações, seria correto afirmar que a aparência física da
Levada, para a amostra 2 seria influenciada outros aspectos, como os sociais e
arquitetônicos que fazem parte da imagem do lugar.
4.2. RESULTADOS FINAIS: A IMAGEM DO LUGAR
Ao se estudar a imagem do lugar, que neste trabalho corresponde ao bairro, está
se considerando o espaço imediato da vida e das relações cotidianas mais próximas.
Estas seriam relações que Carlos (1996) descreve como de vizinhança, de encontro com
dos conhecidos, ou seja, de pequenos atos corriqueiros que, mesmo aparentemente sem
sentido, criam os laços profundos entre identidade - habitante -lugar. Este bairro
enquanto lugar seria um espaço no qual homem habita dentro da cidade que diz respeito
ao seu dia a dia (CARLOS, 1996), como foi exemplificado através da Levada
. O estudo
deste bairro possibilitou entender que a relação diária entre homem e espaço se
expressaria através de diversas formas de apropriação representadas pelo uso, pelos
AVALIAÇÃO TOPOCEPTIVA - AMOSTRA 2
0 2 4 6 8 10
1-Trilho do Trem
2- Primeira Igreja Batista
3-Mercado do Artesanato
4-Pra N. S. das Graças
5-Cinema Ideal
6-Primeiro Centro de Saude
7-Pra do Pirulito
8- Igreja N. S. das Graças
9- Feira do Passarinho
10- Mercado da produção
11-Canal da Levada
12- Lagoa Mundaú
não localiza
localiza errado
localiza proxino
localiza
Gráfico 27: Resultados dos elementos localizados (mapa – amostra 2)
120
sentidos, pela memória, meios pelos quais os espaços também ganhariam significado. E
de fato, diante dos resultados expostos, tornou-se evidente que a existência desses meios
de apropriação também estariam associados a diversos elementos que influenciariam na
construção da “imagem do lugar”.
Conforme Elali (2007), para que esta imagem existisse seria necessário não que
apenas o objeto fosse percebido em sua individualidade, mas principalmente em um
contexto. O seja, não se deve apenas considerar a imagem sob uma ótica interna do
bairro, mas seria relevante também uma ótica externa, dos habitantes da cidade. E de
fato, até este ponto este trabalho vem seguindo esta linha de raciocínio, explorando a
imagem não do bairro morador, freqüentador e comerciante mas também da
cidade. Tais resultados foram de grande auxilio para o entendimento desta área,
principalmente devido a sua dinâmica onde suas atividades ganham diferentes graus de
destaque tanto para seus usuários como para a cidade como um todo. Assim, entendeu-
se que a heterogeneidade presente no grupo de usuários do bairro não poderia ser
desconsiderada já que ela constituiu um parâmetro que ajudou na compreensão da
realidade do bairro e consequentemente de sua imagem.
Entretanto, segundo Lynch (1999) seria impossível entender a imagem do lugar
deste lugar, pois em meio à heterogeneidade das amostras, sobretudo a amostra 1, não
se chegaria a um consenso. Quanto mais homogêneo for o grupo em que se analisa a
imagem, mas próximo se chegará a uma imagem mental, comum a vários habitantes. Na
verdade seria uma “imagem pública” que expressa “áreas consensuais que surgem da
interação de uma única realidade física e de uma cultura comum” (LYNCH, 1999:8)
Neste sentido, entende-se que neste estudo, tanto a amostra 1 como a amostra 2, deveria
seguir um padrão, onde a análise dos resultados deveria ser feita entre respostas de
entrevistados que tivessem o mesmo perfil. Foi em busca de explorar a partir deste
ponto uma imagem consensual que expresse a noção de bairro e os principais aspectos
que o tornam um lugar, que este estudo privilegia a partir deste momento o ponto de
vista do morador e do não morador. Considera-se que a partir do morador se torna
possível entender melhor o bairro como um lugar, pois o morar reflete onde cada um se
situa no espaço. Além disso, o bairro onde se mora seria uma referência a ser relevada já
que segundo Certeau (1990) estaria intimamente ligado aos anseios individuais e
coletivos do ser humano, desempenhando assim um papel importante na compreensão e
na construção da “imagem do lugar”.
121
4.2.1. A QUESTÃO MORADOR x NÃO MORADOR
Diante às diversas formas de construção imagética evidenciadas no estudo do
bairro da Levada, percebe-se diferentes significados que variam conforme o uso, os
sentidos e a memória. Diante dos resultados provenientes das duas amostras, pode-se
dizer que estes três aspectos são os que mais conotam ao bairro e aos seus lugares
dimensões e considerações diversas.
Enquanto usuários do bairro, percebe-se que as imagens dos moradores se
mesclam com as imagens de comerciantes e freqüentadores, características próprias de
ambientes grandes e complexos como o em estudo (Lynch 1999). Ao mesmo tempo,
pode-se dizer que estes três grupos de imagem expressam diferentes graus de
aproximação com o lugar, onde a maior proximidade seria dos moradores. Entretanto
como grande parte destes também são comerciantes, este aproximação varia, pois se
relaciona com outras necessidades e anseios, principalmente em torno da imagem do
freqüentador. Ou seja, em linhas gerais, o morador comerciante constrói sua imagem
com elementos pautados também no olhar do freqüentador, considerado basilar para a
existência de sua atividade comercial. Para parte destes moradores entrevistados a
persistência na área ocorre devido a possibilidade de comércio, sobretudo aqueles que
residem em áreas de intensa atividade comercial. No entanto, mesmo que o morador
construa uma imagem que esteja fundamentada também em elementos que vão além da
moradia, esta ainda permanece como ponto fundamental em sua relação com bairro. No
entanto, da mesma forma que o não-morador, o comércio existente na Levada exerce
um importante papel na construção de sua imagem, principalmente porque o lugar é
associado ao grande fluxo de pedestres desencadeado por esta atividade. Assim, tanto
para os moradores e não - moradores participantes da pesquisa, quando se menciona a
palavra Levada, a primeira coisa que lhe vem à cabeça é grande número de pessoas que
se deslocam pelo bairro (gráfico 28). Para os moradores este aspecto é um ponto
positivo, pois além de proporcionar o convívio social, também proporciona um grande
número de vendas. para os não moradores é um ponto negativo porque está
fortemente associado à feira, despertando sensações de confusão, barulho e caos.
Em meio ao destaque do comércio como um elemento presente na imagem
síntese, entre os diferentes lugares que representam esta atividade, as pessoas indicam
marjoritariamente a “Feira do Passarinho”, mais até do que o Mercado da Produção. No
entanto, foi constatado que a feira livre foi muito mais mencionada devido a sua relação
122
com o trilho do trem, o que destaca a sua importância muito mais que a própria
atividade.
De fato, a influência desta feira na imagem é tão evidente que para os não-
moradores, são seus limites que delimitam o bairro da Levada (mapa 16). Em linhas
gerais, na imagem dos não-moradores o bairro é quase exclusivamente comercial,
chamando-se também “Bairro do Mercado”, e pequeno, se comparado com sua
delimitação oficial. Ainda segundo estes entrevistados, as residências que hoje estão
situadas nas imediações do Mercado e da feira livre são parte dos bairros vizinhos como
Prado, Ponta Grossa e Vergel do Lago. Nestas localidades, a maioria das construções
seria de caráter histórico ou quando próximos à lagoa, barracos de papelão.
Já para os moradores, esta área delimitada pela amostra 2 constitui o “coração do
bairro”. Para estes entrevistados esta área detém muitas construções de importância
histórica que são significativas para o bairro como a Igreja Nossa Senhora das Graças
(figura 33), o antigo Mercado Público, com sua torre e seu relógio, hoje Mercado do
artesanato, o primeiro templo da primeira Igreja Batista.
Neste perímetro também se destacam construções com traços modernistas,
dentre as quais o Cinema Ideal (fechado) e o Primeiro Centro de Saúde (figura 34). Em
meio a esses elementos, ainda em algumas situações os moradores mencionaram
ASSOCIAÇÃO LIVRE: AMOSTRA 1 x AMOSTRA 2
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20%
muitas pessoas
lembranças
feira
trem
aspectos arquitetonicos
insegurança
descaso
aspectos esteticos
mercado da produção
sujeira
pobreza
história e memória
desorganização
comercio
alegria
mercado do artesanato
calor
moradores
não-moradores
Gráfico 28: Resultado da associação livre: moradores e não moradores
123
Figura 33: Igreja Nossa
Senhora das Graças
Fonte: arquivo pessoal
elementos urbanos também presentes nesta área que
seriam visualmente não significativos, alguns até
que não existem mais, mas essenciais à vivência
urbana (sorveteria popular, panificação Rio Branco)
e a memória do lugar (Macarronada Eureka, Bar
Grací, Praça Emilio de Maya)
32
, reforçando assim a
importância desta área no contexto do bairro.
Assim, de uma forma geral, torna-se evidente que
esta área é destacada tanto para moradores como
para os não moradores. Neste sentido, pode-se dizer
que este perímetro seria o melhor representante da
imagem do bairro da Levada, onde além dos aspectos
relatados como importantes, também se consolida
como a área a mais freqüentada dentro do bairro,
como foi constatado nas visitas de campo
33
(mapa
16).
Tal constatação também está presente no
procedimento de associação
valorativa. Embora neste
procedimento os moradores
tenham apontado um número
superior de lugares importantes
para o bairro aos não-
moradores, ambas as amostras
responderam que o consideram
o Mercado da Produção o de
maior destaque, inclusive com
a mesma porcentagem (15%
conforme gráfico 29). No
mesmo caso se destacam a
Lagoa Mundaú e canal da
Levada que embora
32
Estes lugares não existem mais, mas continuam sendo mencionados pelos moradores como essenciais
ao bairro.
33
Conforme resultados da aplicação da sintaxe espacial
CENTRO
PONTA
GROSSA
PRADO
BOM PARTO
LEVADA
Mapa 16: Integração global – Bairro da Levada
sobreposto ao mapa de localização dos elementos
Fonte: Mesquita, 2006: Redesenhado sob base originária de PMM,2003
Figura 34: Primeiro Centro
de Saúde
Fonte: arquivo pessoal
124
considerados pelos não – moradores uma parte que pertenceria a um outro bairro, foram
destacados como essenciais para a orientabilidade. Neste sentido a maioria descreveu
que este dois elementos são fundamentais para se chegar até o bairro (se referindo a área
delimitada).
Por outro lado, quando solicitados a indicar espacialmente os lugares
considerados principais, os não-moradores sentiram muita dificuldade em identificar
estas localizações no mapa. Já os moradores, quase 85% localizaram com muita
facilidade, detalhando verbalmente até caminhos alternativos que facilitavam o
deslocamento nas áreas consideradas confusas pelo o outro grupo. Eles também
identificavam no mapa as regiões com diferentes tipologias residenciais, áreas de maior
insegurança dentro do bairro e com maior potencial de comércio em 90% dos casos.
Na avaliação das principais características do bairro, usando a associação livre,
os moradores se referiram tanto a aspectos positivos quanto negativos, dentre os quais
este último dizia respeito, sobretudo a falta de infra-estrutura e de áreas de lazer. Neste
mesmo procedimento, os não-moradores se referiram em sua maioria a aspectos
negativos. Assim, mesmo compreendendo que a imagem dos não-moradores é
construída através de um contato direto com o bairro, sendo esta em menor proporção
do que dos usuários, nota-se um pouco de influência da mídia no aumento da incidência
desses aspectos. Isto é, sabia-se dos aspectos negativos do bairro da Levada, mas estes
eram exagerados quando comparados com os bairros negativamente veiculados, que em
grande parte nunca foram freqüentados pelos entrevistados. A falta de segurança é um
Gráfico 29: Resultados da associação valorativa (morador x não - morador)
ASSOCIAÇÃO VALORATIVA: MORADOR xO MORADOR
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%
Mercado da Produção
Igreja N.S. das Graças
Feira do Passarinho
trilho do trem
Praça N.S. das graças
Praça do Pirulito
cinema ideal
mercado do artesanato
Primeiro centro de saúde
Lagoa Mundau
Canal da Levada
primeira igreja batista
não- morador
morador
125
exemplo evidente desta afirmação. Os respondentes mencionavam este aspecto como
negativo no bairro da Levada, pois tinham estado e se sentido inseguros por algum
motivo. Entretanto, quando solicitados a exemplificar um bairro parecido com a Levada
recorriam a bairros que segundo a imprensa, apresentavam altos índices de
criminalidade, isto é, os mais violentos da cidade.
Um outro fator que exemplifica a influência da mídia em torno da valorização
dos aspectos é a existência da “Feira do Passarinho”. Para os moradores, parte da feira
que ocupa hoje a Praça Emilio de Maya deveria ser retirada. Porém, como esta parte é
exatamente a região cortada pelo o trilho do trem, para os não- moradores ela deveria
ser mantida, mesmo sendo considerada a pior área do bairro. Para estes últimos o
comércio “sobre os trilhos” seria uma potencialidade turística da área que foi alvo de
reportagens em nível nacional.
É devido a existência de fatos curiosos, como é o caso da “Feira do Passarinho”
e “do Rato”, na qual os comerciantes vendem seus produtos sobre os trilhos nos
intervalos de passagem do trem, que na opinião dos não- moradores o bairro apresenta
grande potencial turístico. Neste ponto, embora os moradores concordem com
investimentos que estivessem direcionados à esta atividade, para os mesmos as
principais potencialidades estariam muito mais vinculadas à paisagem natural da área,
sobretudo nas adjacências da Lagoa Mundaú. Um outro ponto que poderia ser explorado
neste sentido, conforme grande parte dos entrevistados seria a história da área que ainda
se encontra representada por muitos casarões do início do século passado (figura 35).
No que se refere à aparência do bairro – ruas, praças, construções - foram
notadas algumas concordâncias entre moradores e não-moradores. Entre as opiniões, de
modo geral, o bairro foi descrito em meio a níveis que variavam de muito bonito (10) a
muito feio (0) como regular por 23% dos entrevistados (nota 4-5, conforme gráfico 30).
Tal concordância se relaciona principalmente em torno de aspectos estéticos e
Figura 35: Casarões na Levada
Fonte: arquivo pessoal
126
arquitetônicos, que embora Tuan (1980) se relacionem em diferentes graus para o nativo
e visitante (morador e não-morador) estão associados às impressões de descaso e
abandono que os entrevistados relataram sentir em relação ao bairro. Esta concordância
também se repete em torno das principais características do bairro. Embora os não-
moradores relatem um maior número de aspectos negativos, quando se trata de aspectos
fundamentais, tanto moradores como não- moradores destacam a boa localização da
Levada.
APARENCIA DO BAIRRO: MORADOR x NÃO-MORADOR
0%
5%
10%
15%
20%
25%
0 (MUITO FEIA)
1 (MUITO FEIA)
2 (FEIA)
3 (FEIA )
4 (REGULAR)
5 (REGULAR )
6 (REGULAR )
7 (BONITA)
8 (BONITA)
9 (MUITO BONITA)
10 (MUITO BONITA)
MORADOR
NÃO-MORADOR
Gráfico 30: Aparência do bairro segundo moradores e não-moradores
127
5.
C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre as práticas comuns do bairro, representadas
pelas conversas entre vizinhos, jogo de baralho na calçada,
as lembranças de antigos lugares e itinerários que o
descrevem de forma tão simples, é revelada uma
complexidade que segundo Certeau (1996) resiste qualquer
abordagem que o englobe como um todo. No caso do
bairro da Levada esta afirmação ganha sentido, torna-se
uma constatação que se evidencia principalmente através
do estudo de sua imagem construída por seus usuários.
De fato, foi analisando o bairro através de sua
imagem que se entendeu que tal complexidade está
associada a sua dinâmica. Enquanto forma de
conhecimento, compreende-se que a imagem pode ser
considerada bastante prática, sobretudo quando destinada
para a compreensão de uma realidade. Como sua formação
consiste na criação de um modelo abstrato do meio
ambiente e de tudo o que nele ocorre, através dela se torna
possível perceber as formas pelas quais as pessoas
constroem sistemas para manejar o mundo, ou seja,
formulam hipóteses. No caso da Levada, nota-se que sob o
ponto de vista dos indiduos, o bairro pode ser estruturado
de uma forma muito diferente, mesmo para aqueles que
estabelecem um primeiro contato com o bairro em estudo
de maneira parecida, como no caso desta pesquisa onde
todos os entrevistados já haviam freqüentado o lugar.
Foi observado que ninguém apreende o bairro
totalmente, mesmo para os que afirmam um vasto
conhecimento acerca do lugar. Mas todos compartilham
dele de uma maneira ou outra: seja comerciante, morador,
Figura 36: seqüência de fotos
sobre
a Levada
Fonte: arquivo pessoal
128
ou até não-morador, expressando diferentes graus de apreensão e de aproximação com o
lugar. Assim, em vez de ser única e abrangente para todo ambiente, a imagem se
consolida através de grupos, o que revela diferentes maneiras pelas quais o bairro pode
ser organizado.
Em se tratando deste trabalho, a relevância da imagem se concentrou no fato que
ela é uma representação. Por corresponder a teorias que, ao serem construídas, refletem
visões distintas de mundo, ideologias, através dela podem ser encontradas informações.
Quando consideradas do ponto de vista do indivíduo estas informações consistiam em
representações individuais, as quais possibilitaram explorar o bairro nas mais variadas
perspectivas.
Diante dos comerciantes a Levada aparece muito mais associado ao uso. para
os moradores são as lembranças, enquanto os freqüentadores são muito mais suscetíveis
às sensações. No entanto todos mostram uma certa afetividade com o lugar. O mesmo
ocorreu com os não-moradores, que vincularam estes três aspectos em diferentes níveis:
os jovens relacionavam o bairro ao uso enquanto os idosos às lembranças.
Mesmo divergentes, as imagens mais ou mesmos se sobrepunham e se inter-
relacionavam, organizando em torno si as diversas significações que existem acerca do
lugar. Neste contexto, buscou-se também a compreensão do ponto de vista das
representações coletivas, ou seja, aquelas elaborações que surgem a partir de sujeitos
sociais a respeito de objetos socialmente valorizados. Conforme Moscovici (2003) este
também seria um processo de construção de conhecimento, já que funciona através do o
senso comum. Assim, como este tipo de representação pode ser destinada à
comunicação e à compreensão do contexto social e material de um certo grupo, seu
entendimento também foi considerado neste trabalho.
Frente dos resultados obtidos nesta investigação, verificou-se que mesmo
existindo muitos aspectos em torno da construção da imagem da Levada, foi possível
entender aqueles ditos consensuais, principalmente para moradores e não-moradores
através de uma imagem consensual, ou seja, sua imagem pública (LYNCH, 1999). Em
se tratando do bairro da Levada, os elementos desta imagem se concentram em torno da
atividade comercial do lugar, mais precisamente no mercado, que tradicionalmente é um
ponto de referência que nenhuma cidade pode prescindir sem ele. Ele é tão importante
que pelo menos uma vez na vida o habitante sentirá a necessidade de ir até
(CERTEAU, 1996), o que explica, de certa forma, a inexistência de entrevistados que
nunca tivessem ido pelo à Levada na amostra dimensionada fora do bairro.
129
Entre os aspectos mencionados por ambas as amostras, o mais interessante foi a
delimitação de uma certa área do bairro como principal representante da imagem da
Levada. Nesta área, além de lugares visualmente significativos, também guardaria em
si, segundo 75% dos entrevistados principalmente os mais idosos, a lembrança de
alguns lugares, hoje em sua maioria inexistentes, mas que ainda marcam uma época em
que o lugar era bastante requisitado. Esta delimitação, segundo os moradores seria “o
coração do bairro”, tanto para jovens como idosos. No entanto, para este último também
se percebeu que esta delimitação estava associada a uma forte relação de afetividade
que envolvia o bairro como um todo.
Na verdade, pode-se dizer que esta área seria um ponto nodal, que é
considerado um lugar estratégico, um foco intenso onde observador pode entrar. Para os
moradores este ponto nodal reúne várias junções, meras concentrações que adquirem
importância de forma diferenciada para o comerciante e para o freqüentador assíduo.
Contudo, tanto para o morador como para o não morador a área é foco e síntese do
bairro, sobre o qual a influência se irradia a ponto de se tornar um símbolo, sobretudo
para este último (LYNCH, 1999).
Em meio as observações, nota-se que a área corresponde a uma delimitação
associada, sobretudo ao comércio. Sobre este aspecto o que mais se destacou para
ambos os grupos entrevistados foi a prática do mercado. Este é um aspecto tão marcante
no bairro que grande parte dos elementos que ancoram a imagem deste lugar estão
associados direta ou indiretamente a esta atividade. Por exemplo, para os moradores esta
prática aparece relacionada à história do lugar, cuja origem remete à esta atividade
principalmente a venda de produtos alimentícios à céu aberto. Além disso, foi
constatado que atividade comercial está associada a algumas sensações como caos,
alegria, confusão, relatadas pelos entrevistados. No entanto, conforme os mesmos, tais
sensações estariam muito mais vinculadas à prática do comércio informal da área. Desta
forma, pode-se dizer que a área considerada como o “coração do bairro”, também é
detentora de lembranças e lugares significativos tanto visualmente como para a vivência
do lugar.
A importância da atividade do mercado também se destaca diante do contexto
comercial da área como um todo, tanto para moradores como não-moradores. Em meio
aos resultados, nota-se que a existência do Mercado da Produção é bastante evidente na
imagem construída da Levada, sobretudo porque ele é considerado o núcleo da
atividade comercial. Mas, na imagem dos moradores este núcleo é reforçado pelas
130
atividades que se concentram ao seu redor, mais precisamente pelo comércio informal.
para os não moradores, é a extensão da configuração deste comércio e sua área de
influência ruas adjacentes - que delimitam o bairro. Neste caso, não existiria
distinções entre a “Feira do Passarinho”, “Feira do Rato”, camelódromo e Mercado da
Produção, ao contrário dos moradores. Mesmo estando cientes da existência de tais
atividades, para os o-moradores, estes seriam apenas nomes que podem ser
empregados na a região em torno do Mercado, onde o principal destaque fica para a
“Feira do Passarinho”.
Um outro ponto interessante que diz respeito a relação entre o comércio e a
Levada é que mesmo aparentando uma relação distante com o bairro, pois atualmente
feira livre não existe mais em seu formato original - apenas a comercialização de
produtos alimentícios - nota-se ainda uma grande influência no presente. Esta influência
se evidencia principalmente na configuração da área, onde ainda hoje comércio e
moradia compartilham um mesmo lugar. Além disso, ela também pode ser percebida
através de alguns elementos os quais ao mesmo tempo em que na construção da imagem
aparecem intrinsecamente ligados à dinâmica e prática do bairro, em sua análise
demonstra outros sentidos que se relacionam com a prática do mercado. Entre as
localidades mencionadas como principais pelos entrevistados, por exemplo, percebe-se
a configuração da feira livre: meio da rua, com barracas na Feira do Passarinho” e a
comercialização de alimentos no Mercado da Produção. Um outro ponto que se destaca,
tanto no Mercado da Produção como na Feira do Passarinho seria a forma de vender,
onde os vendedores são obrigados, pela sua profissão a chamar seus fregueses pela
forma de venda típica “quase aos gritos”. Esta necessidade que os comerciantes
expressam em atrair a freguesia também poderia estar associada à preocupação que
alguns entrevistados demonstraram com a imagem que o freqüentador possui da área.
Mesmo com a importância do comércio ambulante, o Mercado da Produção
ainda é considerado pelos entrevistados de maneira geral como o lugar mais importante
para o bairro. A relevância é tamanha, que foi observado em certos momentos que as
qualidades associadas ao mercado são também consideradas como pertencentes ao
bairro, consolidando-o como símbolo da área. Percebe-se, assim, que a prática do
mercado favorece uma utilização do espaço que não é apenas funcional, mas também
simbólica. Sob esta ótica foi possível observar a existência de algumas sensações que
aparecem ligadas a esta atividade. Os mercados são ambientes sociais pouco
controláveis por causa da extrema complexidade das relações aleatórias que se
131
misturam (CERTEAU, 1996). Assim, ao mesmo tempo em que ele se consolida como
um símbolo do bairro, ele se relaciona muito mais com algumas sensações
desagradáveis como barulho e confusão relatadas pelos entrevistados. Este seria um fato
tão evidente que os não- moradores descrevem o bairro como “o bairro do Mercado”,
cabendo o nome Levada apenas para a parte de moradias. Como as residências hoje são
consideradas quase inexistentes para esta amostra, este se torna o antigo nome do lugar,
de quando ele ainda era requisitado, com diversas residências e festividades que
caracterizaram o bairro “quando ainda era o bairro da Levada”.
Também é devido a esta presença forte na imagem na Levada, que o bairro é
considerado desagradável para a maioria dos entrevistados. Neste sentido, o estudo de
caso se tornou um aspecto interessante, pois ao possibilitar entender a forma de como o
bairro é visto, auxiliou também na identificação de alguns elementos fundamentais para
a noção de bairro dos maceioenses. Através do estudo da imagem do lugar, constatou-se
que aspectos como localização, acessibilidade, segurança, paisagem natural,
comodidade e convívio social são os principais elementos que fazem parte de um bairro
agradável. Já a falta de segurança e infra-estrutura, falta de áreas de lazer são os
principais aspectos de um bairro desagradável.
Mesmo apontando o comércio como principal aspecto do bairro e construindo
uma imagem associada a seus elementos, para mais da metade dos entrevistados (60%),
ele é considerado próprio para moradia, mesmo para aqueles que negam a existência de
residências. Além disso, na opinião dos entrevistados o bairro tem potencial turístico
que poderia se explorado tanto por sua paisagem natural segundo os moradores como
pela dinâmica de seu “comércio sob os trilhos”, principalmente para os não- moradores.
De uma sintética, pode-se dizer que o bairro possui diferentes significados que
estariam pautados em três aspectos. O primeiro seria o uso, no qual se destaca o
comércio. O segundo seria os sentidos, onde a as sensações agradáveis e desagradáveis
do lugar seriam despertadas pela presença de sua atividade comercial, mais
precisamente o informal. Quanto ao último aspecto, mas não menos importante, estaria
a memória, a lembrança despertada tanto pelos lugares do bairro como por ações
simples e corriqueiras que ao mesmo tempo em que delimita seus limites geográficos
dentro da cidade, o constrói imageticamente.
Diante de tais resultados, pode-se afirmar que a imagem do bairro da Levada
construída pelos não- moradores não é tão forte como a os moradores, que é pautada
em sensações. Mesmo sendo manifestações da realidade as sensações não são
132
suficientes para explicá-la que são apenas o primeiro contato com o meio. Assim, o
que se percebe é uma influencia dos parâmetros almejados para viver o espaço do
próprio bairro, onde a estrutura do condomínio fechado também serve de comparativo
com o bairro da Levada. Esta comparação estaria baseada em aspectos estéticos e
arquitetônicos, focos para onde se deslocam o olhar do visitante (TUAN, 1980) e que
quando não correspondidos, transformam o lugar em desagradável.
Foi perceptível que a realidade do bairro da Levada também o mostra de forma
desagradável, sobretudo devido aos constantes assaltos, sujeira e descaso. No entanto,
foi constatado que mesmo possuindo aspectos positivos, os primeiros pontos
mencionados sempre eram de caráter negativo. Este aspecto foi evidenciado quando os
respondentes externos ao bairro ressaltaram a importância do convívio social como algo
que precisava ser mais incentivado na realidade de grande parte dos bairros. Entretanto,
mesmo mencionado em primeiro lugar este aspecto no bairro da Levada, não o
ressaltavam como um aspecto positivo do mesmo.
De fato, por meio dos resultados obtidos foi compreendido que a noção de bairro
agradável muito importante. Segundo os não moradores, o bairro agradável é o que
pode ser considerado ideal, cuja representação está baseada na estrutura na imagem de
condomínios fechados. Observa-se, assim que esta seria uma ideologia dominante que
guiaria e controlaria a produção e o uso do espaço enquanto bairro. Neste contexto, o
condomínio fechado seria um o espaço produzido (LEFEBVRE, 1981), pois apresenta
uma lógica que o determina como produto das ações coletivas no espaço. Além disso,
este espaço produzido, assim, seria codificado, mesmo que não explicitamente, de modo
a manter a ordem prevista na visão que molda o mundo real, servindo também como
parâmetro almejado para viver o espaço do próprio bairro, compreendê-lo e produzi-lo.
É através de sua ideologia que as formas físicas e as ordens de poder e convívio deste
espaço passam a exercer influência e a reger a vida de uma coletividade.
Esta influência estaria principalmente associada sua imagem, já que quando
solicitados a exemplificar bairros ideais, os entrevistados mencionavam nomes de
alguns condomínios fechados de Maceió. Mesmo que neste ambiente fechado exista a
possibilidade de convívio social e segurança, aspectos essenciais para um bairro,
conforme os entrevistados ele aparece muito mais através de uma imagem de prestígio
social e ao “status” oferecido aos seus moradores. Compreende-se, assim, que quando
se analisa o bairro o olhar é o mesmo, os valores são os mesmos, os objetos mudam
através de suas idéias e concepções, seja por meio da saturação de imagens ou pelo
133
excesso de informações e conteúdos com os quais os indivíduos se deparam na vida
cotidiana (CONNOR, 1993). Assim, entende-se que se trata de algo que não se encontra
fundado na experiência em si, mas sim, constituído na conjunção de imagem, realidade
e ideologia, sem que os dois últimos possam servir de garantias para a explicação do
primeiro, já que são reflexos da imagem do lugar.
Já para os moradores, esta realidade foi diferente. Em suas respostas ficou
evidente uma forte relação com o bairro, inclusive de afetividade. A dinâmica confere
diversos significados para diferentes lugares e contextos onde ao mesmo tempo em que
seriam expressos individualmente também seriam reconhecidos diante da coletividade.
Enquanto imagem individual, observou-se que a faixa etária a partir dos 50 anos
também fundamenta o lugar em lembranças e em lugares que não existem mais. E
isto se torna mais visível para os idosos, que quando o real não é o que era, fica
evidente que é a nostalgia que assume todo o sentido do lugar (BAUDRILLARD,
1981).
Mesmo com as variações individuais, próprios da visão de mundo de cada um,
foi constatado que a força da imagem dos usuários mais assíduos do bairro,
principalmente moradores, está baseada em seu processo de formação onde, por meio da
experiência do lugar, os elementos que nela se apresentam teriam origem sensitiva,
perceptiva, mas principalmente cognitiva. Neste ponto, destaca-se a importância do
entendimento da imagem do lugar e de sua construção, sobretudo como um parâmetro
que pode ser utilizado para a compreensão de importantes referências espaciais. Estes
aspectos são elementos fundamentais que quando levados em conta, podem auxiliar na
revalorização de lugares degradados como é o caso da Levada. Em se tratando deste
bairro, fica evidente a necessidade de intervenções que não apenas melhorem as
condições das atividades comerciais, mas que em sua área de influência sejam
destinadas ações que contemplem os moradores da área como a construção de praças e
áreas de lazer e uma maior segurança.
Desta forma, entende-se que como qualquer lugar, a compreensão do bairro
ultrapassa os seus aspectos físicos e concretos, pois agregada a sua visibilidade existe
uma dimensão invisível, uma “atmosfera” composta de valores, significados,
sentimentos, concepções e idéias. Esta atmosfera confere um caráter distinto ao lugar, e
pode ser influenciada e moldada por diversos fatores tanto visíveis como invisíveis.
(RIBEIRO, 2004).
134
Em meio ao exposto compreende-se que, enquanto lugar da coletividade, o
bairro expõe a relação entre uma pessoa e sua cidade em diferentes perspectivas. O
estudo empírico do bairro da Levada demonstrou que compreender esta atmosfera do
bairro da Levada significa conhecer a sua vocação, que corresponde à constelação de
significados vinculados a sua visibilidade. Entretanto, esta vocação não é intrínseca a
ele como valor único e absoluto, que em se tratando da Levada seria estritamente
comercial. É próprio do lugar ser aberto a associações e a possibilidade de significados,
pois sua atmosfera está em constante movimento (RIBEIRO, 2004). Assim, se vocação
de um lugar é significar a do arquiteto é interpretar e compreender esta significação,
destacando assim a importância do estudo da “imagem do lugar”.
135
R
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139
ANEXOS
140
ANEXO
01
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
141
1.
IDENTIFICAÇÃO : Fale um pouco sobre você
1.1. Nome:___________________________________________________________
1.2. Sexo: (01) feminino (02)masculino
1.3. Idade: (01) 20 a 30 anos (02)40 a 59 anos (03)acima de 60 anos
1.4. Origem: (01) Maceió
(02) Outro:__________________________________________________
Tempo em Maceió:___________________________________
1.5. GRAU DE ESCOLARIDADE
( 01 ).nenhum ( 02 ) escreve o nome ( 03 ) fundamental ( 04 )médio ( 05 )universitário
( 06 )superior completo ( 07 ) nível técnico
1.6. PROFISSÃO: ______________________________________
1.7. RELAÇÃO COM O BAIRRO (marque o numero e responda a coluna correspondente)
2. PROCEDIMENTO 1:ASSOCIAÇÃO LIVRE – O LUGAR
2.1. Vou lhe mostrar um cartão e gostaria que respondesse com o que lhe vier a cabeça. È
bem livre?
2.2. Gosta daqui? ( 01 ) sim ( 02 ) não, porque?
2.3. Gostaria que você pensasse neste bairro e me dissesse...
2.4. Ao caminhar por este lugar você acha a paisagem vista (ruas, praças, construções,
áreas verdes, etc)
( 01) . Muito feia (02) . Feia ( 03). Regular (04). Bonita (05) muito bonita
COMERCIANTE
(01) ambulante (02) atacado (03) feira
1.7.4.Tipo de comercio
(04) serviços (05) indústria (06) outros
1.7.5 Sempre trabalhou
aqui?
( 01 )SIM
(pule para 1.7.6)
( 02) NÃO
(pule para 1.7.5.2)
1.7.5.2. Onde trabalhou antes e porque decidiu vir para cá?
1.7.6. Em que bairro mora?
1.7.7. Quanto tempo
trabalha aqui?
(01) 6 meses
-1ano
(02)
1-5 anos
(03)
5-10 anos
(04 )
+ de 10 anos
MORADOR
1.7.1 Sempre morou aqui?
( 01 )SIM
(pule para
1.7.2)
( 02) NÃO
(pule para
1.7.1.1)
1.7.1.1. Se não em qual bairro morava antes?
1.7.2. Porque se mudou para cá?
1.7.3. Quanto tempo
mora aqui?
(01) 6 meses
-1ano
(02) 1-5
anos
(03) 5-10 anos (04 )+ de
10 anos
FREQUENTADOR
(01) compras (02)
passeio
(03) estuda
1.7.8. Atividade
(04) outros:
1.7.9. Com que freqüência
vem aqui?
(01)
raramente
(02)
primeira vez
(03)
frequentemente
(04)
sempre
1.7.10. Em que bairro mora?
( 01) (02) ônibus (03) carro (04) trem
1.7.11Como chegou aqui?
(04) outros:
TRÊS ASPECTOS POSITIVOS TRÊS ASPECTOS NEGATIVOS
01
03
02
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA 1)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
142
2.5. Tem outro lugar da cidade que você acha parecido com este, por quê?
2.6. Se pudesse mudar alguma coisa neste lugar o que mudaria? Por quê?
2.7. Se você fosse um guia tivesse que mostrar os principais lugares que representam a
Levada, aonde você o levaria um visitante que estava conhecendo pela primeira vez este
bairro (por ordem de importância) e por quê? ( no mínimo quatro)
2.8. Se você tivesse a oportunidade que fazer um cartão postal sobre seu bairro, de quais
lugares tiraria foto?Porque ? ( no mínimo dois)
No local Por que
01
02
03
04
3. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA/VISUAL
3.1. Vou lhe mostrar algumas fotos do seu bairro e gostaria que separasse as que
correspondiam em dois grupos: são e não são deste bairro, dizendo o porquê.
4. PROCEDIMENTO 3: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA (VISUAL)/TOPOCEPTIVA
4.1. Agora olhe o mapa da próxima pagina. É um mapa deste bairro. Você consegue
localizar algum destes lugares que você considerou importantes para um visitante
conhecer?E os que você sugere para ser cartão postal do bairro? (Instruções: circule
o local e use a numeração dos itens 2.7 e 2.8)
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
SIM NÃO PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR
01 01
02 02
03 03
04 04
05 05
06 06
07 07
08 08
09 09
10 10
11 11
12 12
13 13
14 14
15 15
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA 1)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
143
Obrigada por responder este questionário!!!!! Em um outro
momento estaria disposto (a) a colaborar com a continuação
desta pesquisa ( ) sim ( ) não
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA 1)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
144
Fale um pouco sobre você
1. Identificação
Nome: _________________________________________________________________
Sexo: (01 ) feminino (02 )Masculino
Idade: (01 ) 20 a 39 anos (02 ) 40 a 59 anos (03 ) acima de 60
Origem: (01) Maceió (02) outro:__________________
há quanto tempo mora em Maceió?______________________ morou em outra cidade
: ( 01 ) não ( 02 ) sim, qual?__________________ tempo?_______________
2. Grau de escolaridade:
(01)nenhum (02 )sabe escrever apenas o nome (03 )fundamental ( 04 ) médio ( 05 )universitário (
06 ) superior ( 07 ) técnico
3. Profissão:_____________________ Em qual bairro mora?___________________
PROCEDIMENTO 1:ASSOCIAÇÃO LIVRE – O LUGAR
1.
1.1. Gostaria que você pensasse na cidade de Maceió e me dissesse...
3.
4.
Um nome de um bairro que
você gosta
Três coisas
positivas/que
lhe agradam
5.
1.
2.
Um nome de um bairro que
você não gosta
Três coisas
negativas/ que
não lhe agradam
3.
Você conhece alguns destes dois bairros? (01) não (pule para a pergunta 1.2) (02) sim
qual?
Porque... (01 ) moro ( 02) morei ( 03 ) freqüento(ei) bastante ( ) passo(ei)
várias vezes por
1.2. Veja o cartão com o nome de um bairro... Escreva sem pensar coisas que lhe vem a
mente.... Pode ser qualquer coisa: sensações, lembranças, o que quiser. Não precisa
pensar muito nem criar frases. É livre...
1.3. Sobre o bairro do cartão...
( marque uma alternativa e responda as perguntas da linha que
você marcou)
1.4. Sobre o lugar que estamos falando, acha próprio para...? ( marque sim ou não para cada
número)
1. moradia ( ) sim ( ) não 2.comércio ( ) sim ( ) não 3. lazer ( ) sim ( ) não
4. industria ( ) sim ( )não 5. turismo ( ) sim ( )não
1.5. Mencione 4 características que o lugar que estamos falando tem na sua opinião
1. 2.
3. 4.
1.6. Em sua opinião, qual é o aspecto mais positivo deste lugar? E o mais negativo?
Positivo Negativo
(A)
CONHEÇO
Porque....
( )freqüento(ei) (moradia, estudo,
trabalho, compras, lazer, transporte)
( ) passo(ei) (transporte)
( ) ouvi falar
( ) moro nas adjacências
( )
outros____________________________
Quanto tempo faz que esteve
lá ?
( ) dias ( ) semanas ( )
meses ( ) anos
( ) décadas
( ) não me lembro ( se
respondeu esta alternativa pule
p/ o item 3)
(B)
NÃO
CONHEÇO
Mas já ouviu falar?
( ) sim, ( ) por outros
( )por meios de
Comunicação
( ) não ( vá para o item *** no final do
questionário)
O que acha deste lugar?
( após responder vá para o item
*** no final do questionário)
(C)
NÃO SEI NADA ( vá para o item *** no final do questionário)
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA 2)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
145
1.7. Para você tem outro lugar da cidade que se parece com este? Qual? Por quê?
PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA(VISUAL) /LIVRE
Atenção: Para este procedimento utilize o instrumento auxiliador e o material contido nele. Só
responda os espaços em branco. Os espaços são de uso do pesquisador
2.1. Agora você vai ver uma série de fotos. Gostaria que olhasse todas com atenção e
classificasse da seguinte forma: SIM, são fotos da Levada ou O, não são fotos da
Levada. Depois diga o porquê das suas escolhas (usar as cartelas de sim ou não colocando-
as no instrumento auxiliador correspondendo a foto)
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Marque a escolha da foto e a justificativa
sim não motivo
01 01
02 02
03 03
04 04
05 05
06 06
07 07
08 08
09 09
10 10
11 11
12 12
13 13
14 14
15 15
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20
2.2. Ao olhar para estes cartões, que contém as faces das principais localidades do bairro,
quais destes lugares você conhece? (usar as cartelas de sim ou não colocando-as no
instrumento auxiliador correspondendo a foto) Quais as sensações ou recordações você tem
ao olhar para os cartões? Não precisa pensar muito...É livre
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Coloque a referencia da foto e a justificativa
foto sim não sensação
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
2.3. Qual dos cartões você escolheria como o que representa melhor o bairro em que
estamos falando? Por quê?( no mínimo 3 cartões)
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Coloque a referencia da foto e a justificativa
3.
Agora olhe para este mapa ao abaixo. É um mapa de uma área do bairro do qual que
estamos falando e onde foram tiradas as fotos acima. Você consegue localizar no mapa
no mínimo 4 (quatro) destes lugares? (use as fotos imas para localizar no mapa ao lado)
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Coloque a referencia da foto e a justificativa
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA
2
)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
146
Obrigada por responder este questionário!!!!! Em um outro
momento estaria disposto (a) a colaborar com a continuação
desta pesquisa ( ) sim ( ) não
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA PILOTO (AMOSTRA 2)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
147
1. IDENTIFICAÇÃO: Fale um pouco sobre você
1.1. Nome:___________________________________________________________
1.2. Sexo: (01) feminino (02)masculino
1.3. Idade: (01) 20 a 30 anos (02)40 a 59 anos (03)acima de 60 anos
1.4. Origem: (01) Maceió
(02) Outro:__________________________________________________
Tempo em Maceió:___________________________________
1.5. GRAU DE ESCOLARIDADE
( 01 ).nenhum ( 02 ) escreve o nome ( 03 ) fundamental ( 04 )médio ( 05 )universitário
( 06 )superior completo ( 07 ) nível técnico
1.6. PROFISSÃO:______________________________________
1.7. RELAÇÃO COM O BAIRRO (marque o numero e responda a coluna correspondente)
2. PROCEDIMENTO 1:ASSOCIAÇÃO LIVRE – O LUGAR
2.1. Vou lhe mostrar um cartão e gostaria que respondesse com o que lhe vier a cabeça. È
bem livre?
2.2. Gosta daqui? ( ) sim ( ) não
2.3. Se ( pudesse) (tivesse) que morar em outro lugar você iria?
NÃO
ONDE
SIM
PORQUE
2.4. Gostaria que você pensasse neste bairro e me dissesse...
TRÊS ASPECTOS POSITIVOS TRÊS ASPECTOS NEGATIVOS
2.5. Ao caminhar por este lugar você acha a paisagem vista (ruas, praças, construções,
áreas verdes, etc.).
(01). Muito feia (02). Feia (03). Regular (04). Bonita (05). Muito bonita
2.6. Tem outro lugar da cidade que você acha parecido com este, por quê?
2.7. Se pudesse mudar alguma coisa neste lugar o que mudaria? Por quê?
MORADOR
1.7.1 Sempre morou aqui? ( 01 )SIM
(pule para
1.7.2)
( 02) NÃO
(pule para
1.7.1.1)
1.7.1.1. Se não em qual bairro morava antes?
1.7.2. Porque se mudou para cá?
1.7.3. Quanto tempo
mora aqui?
(01) 6 meses
-1ano
(02) 1-5
anos
(03) 5-10 anos (04 )+ de
10 anos
(01) empregado (02)
serviços
1.7.4. Também tem comercio ou trabalho na área?
( 01 )NÃO
(pule para 2.1)
(02) SIM
(marque ao lado qual)
(03) ambulante (04)
atacado
01
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA FINAL(AMOSTRA 1)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
148
3. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA(VISUAL) /LIVRE
3.1. Vou lhe mostrar algumas fotos do seu bairro e gostaria que separasse as que
correspondiam em dois grupos: são e não são deste bairro, dizendo o porquê.
4. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA (VISUAL) /
VALORATIVA
4.1. Vou lhe mostrar alguns cartões as principais faces do bairro e gostaria que os
ordenasse segundo ordem de importância no instrumento auxiliador. Tem algum lugar
que não aparece nos cartões que você acha importante para o bairro?
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR.
01 07
02 08
03 09
04 10
05 11
06 12
4.2. Qual dos cartões você escolheria como o que representa melhor o bairro em que
estamos falando? Quais as sensações ou recordações você tem ao olhar para o cartão
que você escolheu?
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Coloque o numero da foto e a justificativa
5. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA (VISUAL)/TOPOCEPTIVA
5.1. Agora olhe o mapa do instrumento auxiliador. É um mapa de uma área do bairro do qual
que estamos falando e onde foram tiradas as fotos anteriormente vistas (cartões com as
principais faces). Você consegue localizar algum destes lugares? (use as fotos imas
para localizar no mapa)
SIM NÃO PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR
01 01
02 02
03 03
04 04
05 05
06 06
07 07
08 08
09 09
10 10
11 11
12 12
13 13
14 14
15 15
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20
MODELO FORMULÁRIO PESQUISA FINAL(AMOSTRA 1)
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
149
1. IDENTIFICAÇÃO: Fale um pouco sobre você
1.1. Nome:_____________________________________________________________________
1.2. Sexo: (01) feminino (02)masculino
1.3. Idade: (01) 20 a 30 anos (02)40 a 59 anos (03)acima de 60 anos
1.4. Origem: (01) Maceió
(02) Outro:___________________________________________________
Tempo em Maceió:_____________________________________
Já morou em outra cidade? ( 01 ) não (pule para 1.5)
(02) sim, qual?_________________ tempo __________________
1.5. GRAU DE ESCOLARIDADE
( 01 ).nenhum ( 02 ) escreve o nome ( 03 ) fundamental ( 04 )médio ( 05 )universitário
( 06 )superior completo ( 07 ) nível técnico
1.6. PROFISSÃO:______________________________________
2. PROCEDIMENTO 1:ASSOCIAÇÃO LIVRE – O LUGAR
2.1. Gostaria que você pensasse na cidade de Maceió e me dissesse...
2.2. Veja o cartão com o nome de um bairro... Escreva sem pensar coisas que lhe vem a
mente.... Pode ser qualquer coisa: sensações, lembranças, o que quiser. Não precisa
pensar muito nem criar frases. É livre...
2.3. Sobre o bairro do cartão... ( marque uma alternativa e responda as perguntas da
linha que você marcou)
2.4. Sobre o lugar que estamos falando, acha próprio para...? ( marque sim ou não para
cada número)
1. moradia ( ) sim ( ) não 2.comércio ( ) sim ( ) não 3. lazer ( ) sim ( ) não
4. industria ( ) sim ( )não 5. turismo ( ) sim ( )não
(A)
CONHEÇO
Porque....
( )freqüento(ei) (moradia,
estudo, trabalho, compras,
lazer, transporte)
( ) passo(ei) (transporte)
( ) ouvi falar
( ) moro nas adjacências
( )
outros_________________
Quanto tempo faz que esteve lá ?
( ) dias
( ) semanas
( ) meses
( ) anos
( ) décadas
( ) não me lembro ( se respondeu esta
alternativa pule p/ o item 3)
(B)
NÃO
CONHEÇO
Mas já ouviu falar?
( ) sim, ( ) por outros
( )por meios de
Comunicação
( ) não ( vá para o item *** no
final do questionário)
O que acha deste lugar?
( após responder vá para o item *** no
final do questionário)
(C)
NÃO SEI NADA ( vá para o item *** no final do questionário)
6.
7.
Um nome de um bairro que
você gosta
Três coisas
positivas/que lhe
agradam
8.
4.
5.
Um nome de um bairro que
você não gosta
Três coisas
negativas/ que
não lhe agradam
6.
(01) não (pule para a pergunta 1.2)
Você conhece alguns destes
dois bairros?
(02) sim qual?
Porque... (01 )
moro
( 02)
morei
(03)
freqüento(ei)
bastante
(04)
passo(ei) várias
vezes por lá
PESQUISA: A IMAGEM DO LUGAR
Estamos interessados em saber o que acha deste bairro. Por isso é muito importante que responda com a sua opinião.
NOTA: Este questionário faz parte de uma pesquisa junto a Universidade Federal de Alagoas e não tem relação com pesquisa de órgão público ou privado
PESQUISADOR:________________________________________DATA:__________________________
150
2.5. Mencione 4 características que o lugar que estamos falando tem na sua opinião
1. 3.
2 4.
2.6. Em sua opinião, qual é o aspecto mais positivo deste lugar? E o mais negativo?
Positivo
Negativo
2.7. Para você tem outro lugar da cidade que se parece com este? Qual? Por quê?
3. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA/ VISUAL
Atenção: Para este procedimento utilize o instrumento auxiliador e o material contido nele. Só
responda os espaços em branco. Os espaços são de uso do pesquisador. Só escreva nos espaços
em branco
3.1. Agora você vai ver uma série de fotos. Gostaria que olhasse todas com atenção e classificasse
da seguinte forma: SIM, são fotos da Levada ou NÃO, não são fotos da Levada. Depois diga o
porquê das suas escolhas (usar as cartelas de sim ou não colocando-as no instrumento
auxiliador correspondendo a foto)
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Marque a escolha da foto e a justificativa
3.2. Ao olhar para estes cartões, que contém as faces das principais localidades do bairro,
quais destes lugares você conhece? (ordene-as em ordem de importância) Quais as
sensações ou recordações você tem ao olhar para os cartões? Não precisa pensar
muito...É livre
foto sim não sensação
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
3.3. Qual dos cartões e fotos você escolheria como o que representa melhor o bairro em
que estamos falando? Por quê? ( no mínimo 3)
PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR. Coloque a referencia da foto e a justificativa
4. PROCEDIMENTO 2: ASSOCIAÇÃO DIRIGIDA (VISUAL)/TOPOCEPTIVA
4.1. Agora olhe o mapa do instrumento auxiliador. É um mapa de uma área do bairro do qual
que estamos falando e onde foram tiradas as fotos dos cartões com as principais faces.
Você consegue localizar algum destes lugares? (use as fotos imas para localizar no
mapa ao lado)
O MAPA EM ANEXO E A TABELA ABAIXO SÃO PARTES RESERVADA AO PESQUISADOR. Para
responder este procedimento utilize o mapa do instrumento auxiliador
SIM NÃO PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR
01 01
02 02
03 03
04 04
05 05
06 06
07 07
08 08
09 09
10 10
11 11
12 12
13 13
16 16
17 17
18 18
19 19
20 20
SIM NÃO PARTE RESERVADA AO PESQUISADOR
01 01
02 02
03 03
04 04
05 05
06 06
07 07
08 08
09 09
10 10
11 11
12 12
13 13
151
LEGENDA: PESQUISA PILOTO
AMOSTRA 1
ASSOCIAÇÃO LIVRE
1. Convívio social
2. Segurança
3. Alegria, vida, liberdade.
4. Paisagem bonita, colorida.
5. Comércio variado
6. Feira livre
7. Mercado da produção
8. trem
9. Descaso, esquecido
10. Aspectos arquitetônicos
11. Lembranças, história
ASPECTOS POSITIVOS
1. Boa localização
2. Convívio.
3. Aspecto do bairro: popular, histórico, com boas casas.
4. Lugar dinâmico
5. Ambiente neutro: todo mundo passa por aqui
ASPECTOS NEGATIVOS
1. Falta de áreas de lazer
2. Descaso e abandono
3. Lugar “congelado” com o patrimônio abandonado.
4. Falta de infra-estrutura
5. sujeira
VALORATIVA
A. Cinema ideal
B. Primeira igreja Batista
C. Trilho do trem
D. Primeiro centro de Saúde
E. Feira do Passarinho
F. Praça nossa senhora das graças
G. Lagoa mundaú
H. Mercado do artesanato
I. Igreja nossa senhora das graças
J. Canal da Levada
K. Praça do pirulito
L. Mercado da Produção
152
L
EGENDA: PESQUISA PILOTO
AMOSTRA 2
ASPECTOS POSITIVOS DE UM LUGAR
(pergunta 1.1)
1. Tem beleza estética
2. Contato com a natureza
3. Convívio social
4. Segurança
5. Boa localização
6. Tem infra-estrutura, fornece possibilidades
7. Boas lembranças
ASPECTOS NEGATIVOS DE UM LUGAR
1. Violência
2. Falta de infra-estrutura
3. Falta arvores
4. Descaso
5. Difícil acessibilidade
6. Muito populoso
7. Poluição em geral
8. Falta de (um bom) convívio social
ASSOCIAÇÃO LIVRE LEVADA
(pergunta 1.2)
9. Sujeira
10. Pessoas populares
11. Bairro populoso.
12. Lembranças, valor histórico.
13. Barulho
14. Pobreza
15. Trilhos do trem
16. Mercado do artesanato
17. Mercado da produção
18. Desorganização, confusão e caos.
19. Descaso
20. Muito sol, calor, suor.
21. Características do interior
22. Comércio, muitas pessoas comprando.
NÍVEL DE CONHECIMENTO
1.
Conhece bem/conhece um pouco
1.1Dias
1.2Semanas
1.3Meses
1.4Anos
1.5Décadas
1.6 Não se lembra
2. conhece quase nada
2.1 mídia
2.2 pelos outros
153
L
EGENDA GERAL: PESQUISA PILOTO
AMOSTRA 1 e 2
CARACTERÍSTICAS DO LUGAR
1. Falta de infra-estrutura
2. Falta de segurança
3. Sujeira
4. Moradia precária
5. Comercio
6. Características históricas
7. Desorganizado
8. Pouca arborização
9. Populoso
10. Poucas áreas de lazer
11. População carente
12. Desemprego
13. Discriminação social
14. Criação d animais
ASPECTO MAIS POSITIVO
1. Boa localização
2. Acessibilidade,
3. Comodidade
4. As pessoas
5. O convívio
6. Não tem aspecto positivo
7. Arquitetura diferenciada
ASPECTO MAIS NEGATIVO
1. Violência
2. Desemprego
3. Falta de infra- estrutura
4. Falta de áreas verdes e de lazer
5. Descaso
6. Desorganização
154
L
EGENDA: PESQUISA FINAL
AMOSTRA 1
ASSOCIAÇÃO LIVRE
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS MAIS NEGATIVOS
BAIRROS SIMILARES: MOTIVO DE ESCOLHA POSITIVO
BAIRROS SIMILARES: MOTIVO DE ESCOLHA NEGATIVO
MUDANÇAS NECESSÁRIAS
01. Melancolia
02. Antiguidade
03. Lembranças e nostalgia
04. falta de infra-estrutura
05. movimento
06. pessoas amigas
07. abandono
08. trem
1.1. Localização
1.2. Acessibilidade
1.3. Calma
1.4. Bons Serviços
2.1. Muita Gente
2.2. Sujeira
2.3. Descaso
2.4. Insegurança
1.1 proximidade e acessibilidade
1.2. periferia
1.3. muita gente
2.1 falta de infra-estrutura
01. saneamento
02. Retirar a feira do rato
03. Revitalizar a praça do pirulito
04. Volta das festividades
155
L
EGENDA: PESQUISA FINAL
AMOSTRA 2
ASSOCIAÇÃO LIVRE
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS NEGATIVOS
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS POSITIVAS
1. Falta de infra-estrutura
2. lembranças
3. Feira livre
4. pobreza
5. Descaso e abandono
6. CEASA
7. Convívio social
8. sujeira
9. mercado
10. violência
11. comércio
12. Confuso e populoso
1. Comodidade
2. Acessibilidade
3. Calma
4. Lazer
5. Convívio social
6. Boa localização
7. Paisagem
1. Muita Gente
2. Confuso
3. Sujeira
4. Transito
5. Violência
6. Pobreza
7. Falta De Infra-Estrutura
8. Péssima Acessibilidade
1.1 convívio social
1.2. bom para comercio
1.3. potencial turístico
1.4 Acessibilidade
1.5. Comodidade
1.6. Simples
1.7. Famoso
156
L
EGENDA: PESQUISA FINAL
AMOSTRA 2
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS NEGATIVAS
ASPECTOS MAIS POSITIVOS
ASPECTOS MAIS NEGATIVOS
BAIRROS SIMILARES:CARACTERISTICAS POSITIVAS
BAIRROS SIMILARES:CARACTERISTICAS NEGATIVAS
2.1 sujeira
2.2. feio
2.3. descaso e esquecimento
2.4.falta de infra-estrutura
2.5. criminalidade
2.6. desorganização, bagunça
2.7. pobreza
2.8. graves problemas sociais: desigualdade
1.1. CEASA
1.2. Comercio
1.3. bom convívio social
1.4. comodidade
1.5. humildade
2.1. sujeira
2.2. alto índice de criminalidade
2.3. pobreza
2.1. sujeira
2.2. alto índice de criminalidade
1.1. aspectos naturais: próximo à Lagoa
1.2. Comercio em forma de feira
1.3. convívio social
1.1. aspectos naturais: próximo à Lagoa
2.1. Falta de infra-estrutura
2.2. alto índice de criminalidade
2.3. Descaso
157
L
EGENDA GERAL: PESQUISA FINAL
AMOSTRA 1 e 2
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS
A. Feira do Passarinho
B. trilho do trem / trem
C. Lagoa Mundaú
D. Mercado da Produção
E. Mercado do artesanato
F. Canal da Levada
G. Primeiro Centro de Saúde
H. Primeira Igreja Batista
I. Igreja Nossa Senhora das Graças
J. Praça Nossa Senhora das Graças
K. Cinema Ideal
L. Praça do Pirulito
158
ANEXO
02
MATRIZ AMOSTRA 2 - PESQUISA DE CAMPO
IDENTIFICAÇÃO
PROCEDIMENTO 1 : ASSOCIAÇÃO LIVRE
SUJEITO
SEXO
IDADE ORIGEM MOROU EM TEMPO GRAU PROFISSÃO BAIRRO BAIRRO AGRADAVEL
OUTRO LUGAR
ANO/MES
ESCOL.
MORADIA NOME 01 02 03 04 05 06
07
08 REL.
01 01 02 01 PASSO CAMARAGIBE 5/0 04 COMERCIANTE
CRUZ DAS
ALMAS
JATIUCA X X X 02
02 02 01 01 NÃO _ 04 ESTUDANTE PONTA VERDE PONTA VERDE X X 01
03 02 01 02 COQUEIRO SECO 12/0 04 PROFESSOR
SANTOS
DUMONT
JARAGUÁ X X X X X 04
04 01 03 02 SÃO LUIZ QUINTUDE 15/0 02 FAXINEIRA VERGEL JATIUCA X X 01
05 01 01 01 JEQUIÁ DA PRAIA 3/0 03 RECEPCION. B.BENTES B.BENTES X X 01
06 02 02 02 NÃO _ 03 SEGURANÇA
SANTOS
DUMONT NOVO HORIZONTE X X 04
07 02 01 01 NÃO _ 04 ESTUDANTE TRAPICHE TRAPICHE X X X 01
08 01 01 01 NÃO _ 04 ESTUDANTE JACARECICA CRUZ DAS ALMAS X X X X 02
09 02 01 02 PENEDO 9/0 03 ESTAGIÁRIO PRADO STELLA MARIS X X X X 03
10 02 01 01 NÃO _ 03
TECNICO
INFOR.
PRADO PRADO X X X X 02
11 01 01 01 NÃO _ 01 DOMESTICA POÇO POÇO X X 01
12 02 01 02 GARANHUNS 3/0 02 PORTEIRO JARAGUÁ JATIUCA X X 03
13 01 01 01 NÃO _ 02 ESTAGIÁRIO BARRO DURO PONTA VERDE X X X 04
14 02 02 01 NÃO _ 01 DESEMPREGAD.
TRAPICHE JATIUCA X X 04
15 01 01 01 NÃO _ 01 CABELEREIRO POÇO PRADO X X X X 04
16 02 01 02 PENEDO 10/0 02 MOTORISTA CLIMA BOM JATIUCA X X 02
17 01 02 01 PALMEIRA DOS INDIOS 8/0 03 POLICIAL B.BENTES B.BENTES X X 01
18 02 01 01 NÃO _ 02 ESTUDANTE PONTA VERDE JARDIM DO HORTO
X X X 03
19 01 02 01 NÃO _ 00 EMPRESARIO JATIUCA ALDEBARAN X X 04
20 02 03 01 NÃO _ 03 PROFESS.
CRUZ DAS
ALMAS CRUZ DAS ALMAS X X X X 01
21 01 02 01 NÃO _ 02 ELETRICISTA TRAPICHE TRAPICHE X X 01
22 02 01 01 NÃO _ 03
TECNICO
INFOR. BARRO DURO
GRUTA DE
LOURDES X X 04
23 02 01 01 NÃO _ 02 COMERCIANTE JARAGUÁ PONTA VERDE X X 04
24 01 02 02 SÃO PAULO 7/0 02 SEGURANÇA VERGEL JATIUCA X X 03
MATRIZ AMOSTRA 2 - PESQUISA DE
CAMPO
PROCEDIMENTO 1 : ASSOCIAÇÃO LIVRE
BAIRRO DESAGRADAVEL
ASSOCIAÇAO
LIVRE
CONH.DO
LUGAR
POSSIBILIDADES DO
LUGAR
NOME 01
02
03
04
05
06
07
08
09
09
REL. 01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
FORMA
TEMPO 01
02 03
04 05 06
JACINTINHO
X X X X X X 04 X X X X X 05 04 X X X X
JACINTINHO
X X X X X 04 X X X X X X X 02 03 X X
VERGEL X X X 04 X X X X X 02 04 X
V. BREJAL X X 04 X X X X X X 01 04 X
JACINTINHO
X X 04 X X 02 06 X X X
REGINALDO
X X X X X 04 X X 01 03 X X X
CENTRO X X X X X X 03 X X X X 01 01 X X
LEVADA X X X 04 X X X 01 02 X
VERGEL X X 02 X X X X X 04 02 X
JACINTINHO
X X X X 04 X X 04 04 X X
B.BENTES X 04 X x X X X 02 02 X X X
JACINTINHO
X X X 03 X X 02 04 X X X
JACINTINHO
X 02 X X X 02 02 X X X
B.BENTES X 02 X X X X X 04 03 X X X X
JACINTINHO
X 03 X X X 01 03 X X
B.BENTES X X 04 X X X 01 03 X X X
JACINTINHO
X 04 X X X 01 02 X X
VERGEL 04 X X 02 04 X
B.BENTES X X 04 X X x X X 02 02 X
JACINTINHO
X 02 X X X X 01 04 X X
BREJAL 04 X X X X 04 03 X X X
LEVADA X X X 03 X X X 05 02 X
B.BENTES X 04 X X X X 05 04 X X X
LEVADA X X 03 X X X 01 06 X X X
JACINTINHO
X X 03 X X X X X 02 06 X X
MATRIZ AMOSTRA 2 - PESQUISA DE CAMPO
IDENTIFICAÇÃO
PROCEDIMENTO 1 : ASSOCIAÇÃO LIVRE
SUJEITO
SEXO
IDADE ORIGEM MOROU EM TEMPO GRAU PROFISSÃO BAIRRO BAIRRO AGRADAVEL
OUTRO LUGAR
ANO/MES
ESCOL.
MORADIA NOME 01 02 03 04 05 06
07
08 REL.
26 02 01 01 NÃO _ 01 CABELEREIRO JACINTINHO PONTA VERDE X X X X X X 04
27 02 02 01 NÃO _ 05 MEDICO MANGABEIRAS ALDEBARAN X X X X X 03
28 01 02 01 NÃO _ 05 ADVOGADO JACARECICA JARDIM DO HORTO
X 03
29 01 02 01 NÃO _ 02 MOTORISTA FEITOSA
GRUTA DE
LOURDES
X X X X 04
30 01 02 01 NÃO _ 03 FUNC. PUBLICO BEBEDOURO ALDEBARAN X X X 04
31 01 01 01 NÃO _ 03 SECRETARIA MANGABEIRAS JARDIM DO HORTO
X X X 03
32 02 03 02 MARECHAL DEODORO 15/0 03 APOSENTADO PONTA GROSSA PONTA GROSSA X 01
33 01 01 02 PORTO CALVO 5/0 02 MECANICO POÇO JATIUCA X X X 03
34 02 01 02 UNIÃO DOS PALMARES 7/0 01 VIGIA POÇO
GRUTA DE
LOURDES
X X X 04
35 02 03 01 NÃO _ 03 POLICIAL JARAGUÁ MANGABEIRAS X X 03
36 01 03 01 NÃO _ 03 FUNC. PUBLICO FEITOSA ALDEBARAN X X 04
37 02 03 01 NÃO _ 03 APOSENTADO MANGABEIRAS MANGABEIRAS X X X X 01
38 01 01 02 RIO DE JANEIRO 3/0 01 DESEMPREGADO
VILLAGE PONTA VERDE X X 03
39 02 03 01 NÃO _ 05 ENGENHEIRO
GRUTA DE
LOURDES
GRUTA DE
LOURDES X X X 01
40 01 02 01 NÃO _ 03 PROFESSORA
GRUTA DE
LOURDES JARDIM DO HORTO
X X X X 04
41 02 03 02 RECIFE 2/0 02 APOSENTADO JATIÚCA JATIUCA X 01
42 02 01 02 PENEDO 5/0 02 ESTUDANTE VILLAGE PONTA VERDE X X 04
43 02 03 01 RIO LARGO 10/0 01 VENDEDOR GRACILIANO RAM PONTA VERDE X X X 03
44 01 02 02 PARAIBA 5/0 05 JORNALISTA PONTA VERDE PONTA VERDE X X 01
45 02 01 01 NÃO _ 03 RECEPCIONISTA POÇO ALDEBARAN X X X 03
46 02 03 01 NÃO _ 03 FUNC. PUBLICO FAROL
GRUTA DE
LOURDES X X 03
47 01 03 01 NÃO _ 02 COMERCIANTE FAROL ALDEBARAN X X X 03
48 01 01 01 RIO LARGO 7/0 02 COZINHEIRA GRACILIANO RAM MANGABEIRAS X X X 04
49 01 02 02 PALMEIRA DOS INDIOS 0/7 01 FAXINEIRA CLIMA BOM MANGABEIRAS X X 04
ANEXO
03
Livros Grátis
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