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achei que ela ia copiar, mas ela deu pra professora corrigir a minha prescrição, a minha
anotação de enfermagem... Aí, a professora corrigiu... eu tinha saído do posto de sangue.
Quando eu voltei, ela falou: olha, a professora já corrigiu. Olha, eu dei o seu pra professora
corrigir porque eu queria ver mais ou menos, fazer mais ou menos igual o seu, então pra ver se
tava certo eu dei pra professora corrigir. Ai, eu não gostei. Quando eu não gosto, eu falo. Não
consigo ficar quieta. Eu falei: não faça mais isso, eu não gostei. Primeiro, quem tem que dar
pra professora corrigir sou eu, não tinha nem terminado de fazer... Até pra você copiar, não tem
problema. Mas nunca mais faça isso. Eu não gosto. Eu não gostei. Quando eu vi, ela já tinha
copiado o dela, a professora já tinha carimbado. Então, ficou parecendo que eu copiei tudo o
dela. Que eu fiquei por último. E ela falou: tudo bem. Não vou mais fazer. Então, eu achei que
isso ia servir de exemplo, mas ela continua sempre fazendo. E eu falei: como pode? Eu não
falei mais... E hoje foi muito engraçado, eu peguei a minha bandeja com todos os
medicamentos que eu ia administrar. Na minha bandeja eu coloquei tudo: o algodão seco, o
algodão molhado com álcool. A dela tava do lado da minha. Quando ela pegou a dela, quando
ela começou e ela não tinha algodão, ela pegou do meu, terminou e tudo bem. E eu só
olhando... O que me incomoda é não pedir, porque eu não me incomodo de dar. Dá uma
vontade de falar, mas você está sendo avaliada, você não pode falar. Mas dá vontade, mas
não falei. E aí quando chegou a minha vez eu falei: professora, espera só um pouquinho
porque eu vou ali pegar o meu algodão porque o meu estava aqui e sumiu. Eu queria que a
professora chamasse a minha atenção, assim, Fátima, se você ia precisar do álcool, por que
não pegou antes? E a professora não corrigiu, acho que porque ela viu que ela pegou, né.
Como já tinha falado antes se falasse de novo, eu ia ser chata, né. Eu sou muito chata, eu sei
que eu sou. Tenho que aprender a lidar com isso. Tenho que aprender a deixar pra lá. Agora,
se a professora falasse comigo, aí eu ia ter que dizer. Ela pegou e eu vi. Parece que tem uma
coisa. Ela tá sempre grudada em mim.(risos) Parece que faz questão de ficar grudada nos
outros. (risos)
5.50. Sandra: Os professores também, tem uma ou outra que é mais autoritária, né, eu fico só
olhando, deixo pra lá. Não adianta. É aquele negócio. É uma diferença de idade, embora o
tamanho seja oposto, de 11 anos. De 25 pra 36. Então, onze anos mais pra frente ela vai olhar
pra alguém de 25 e vai pensar da mesma forma. Nada como o tempo pra ensinar.
5.51. Fátima: Ah, será, San, eu tenho as minhas dúvidas...
5.52. Sandra: Normalmente, as pessoas que são assim estão sempre sozinhas. Me desculpa, mas
ela mesmo falou que é. Ela fez aniversário há pouco tempo e nem a mãe e nem os irmãos
deram parabéns. Eu nunca fui esquecida assim, me desculpa. Só o fato de ser lembrada, eu
dou muito valor a um bom dia, como vai, parabéns. Faz um bem danado pro ego da gente. Se
você sempre é bruto, é oportunista, faz tudo errado, estoura fácil, é inconveniente, discorda,
martela e corrige o teu colega na frente de todo mundo... acho muito indelicado. Estamos todas
aprendendo! Então, acontece certas coisas que a gente aprende, Cíntia. Ética, respeito, tem
coisas que você fala e tem coisas que você não fala.
5.53. Fátima: É, mas tem pessoas que não aprendem, não. É aí que a pessoa termina o curso e vai
procurar emprego, não consegue ou depois perde o emprego justamente por isso. Fulano tem
mais sorte do que eu... Não é isso. Mas eu acho que todos os grupos tem essas coisinhas
assim de ficar corrigindo.
5.54. Sandra: Todo grupo de mulher, né.
5.55. Fátima: É, de ficar corrigindo... Faz assim, faz assim... Eu acho engraçado assim. Quando elas
corrigem, elas voltam e erram nas mesmas coisas... A minha colega me corrigiu e no outro dia
ela errou do mesmo jeito. (rindo) Não posso mentir que naquela hora eu cheguei a pensar...
(risos) Sabe o que eu fiz ainda? Tem coisas que eu não consigo segurar. Ela falou: mas eu
sabia, professora. E eu falei: é, sabia mesmo porque ontem você me corrigiu. (risos) Eu gosto
dela! Eu até gosto dela, mas... ela me corrigiu e eu não gostei... (risos) Eu queria que ela...
Sabe o que eu faço? Eu falo: Olha, qualquer coisa que eu fizer de errado, você fala baixinho. E
foi nesse dia o que aconteceu. Eu terminei de aplicar e imediatamente encapei a agulha. Eu sei
que não pode, mas eu esqueci na hora. Ela, em vez de ficar quieta porque a professora nem
tinha percebido. Ou falava baixinho, mas ela: Fátima, não pode encapar a agulha! Eu falei: ai,
professora, desculpa, eu sei disso. Aí, no outro dia, ela fez a mesma coisa. A professora olhou