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CAMILA DA COSTA OLMOS BUENO
GRUPO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA
JOVENS: UMA PROPOSTA FENOMENOLÓGICA
PUC- CAMPINAS
2009
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CAMILA DA COSTA OLMOS BUENO
GRUPO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA
JOVENS: UMA PROPOSTA FENOMENOLÓGICA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia do Centro de
Ciências da Vida da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
em Psicologia como Profissão e Ciência.
Orientador: Prof. Dr. Mauro Martins Amatuzzi
PUC- CAMPINAS
2009
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Ficha Catalográfica
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas e
Informação - SBI - PUC-Campinas
t158.6 Bueno, Camila da Costa Olmos.
B928g Grupo de orientação profissional para jovens: uma proposta
fenomenológica / Camila da Costa Olmos Bueno. - Campinas: PUC-
Campinas, 2009.
167p.
Orientador: Mauro Martins Amatuzzi.
Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Campinas,
Centro de Ciências da Vida, Pós-Graduação em Psicologia.
Inclui anexos e bibliografia.
1. Interesse profissional. 2. Orientação profissional. 3. Qualificações
profissionais. 4. Escolha (Psicologia). 5. Profissões - Desenvolvimento.
I. Amatuzzi, Mauro Martins. II. Pontifícia Universidade Católica de
Campinas. Centro de Ciências da Vida. Pós-Graduação em Psicologia.
III. Título.
22.ed.CDD - t158.6
“(...) tudo pode ser tomado de um homem,
menos uma coisa: a última das liberdades
humanas - a de escolher a sua própria atitude,
sob qualquer das circunstâncias dadas, a de
escolher o seu próprio caminho”.
(Viktor Frankl).
Dedico esse trabalho ao meu filho Henrique,
que nasceu em meu ventre junto ao início do
curso de Mestrado e desde que era uma
sementinha me acompanhou em todas as
etapas vividas nesse CAMINHAR.
Agradecimentos
Ao meu marido e companheiro Gustavo, que ao longo de nossos catorze
anos de união, me mostrou o verdadeiro sentido da palavra COMPARTILHAR.
Ao meu filho Henrique, que nasceu em meu ventre juntamente com esse
trabalho e que me ensina a cada dia a ser mais e mais.
Aos meus pais Alfredo e Marisa, por terem me convidado a fazer parte
do palco da vida e por todos os ensinamentos.
À minha irmã Patrícia, que se fez imensamente presente na vida de meu
filho durante este trabalho.
Aos meus avós Milton e Lourdes (in memorian) que sempre acreditaram
em meus recursos e potenciais.
Ao Mauro Amatuzzi, meu orientador do coração que demonstra que sua
baixa estatura é o menos importante face à grandeza do HUMANO que existe
atrás dela. Agradeço também pela orientação dedicada e afetuosa e pela força
nos momentos de inseguranças.
À Vera Cury, que no papel de supervisora clínica no estágio do quinto
ano, me deu a oportunidade de trabalhar com um grupo de crianças, me
mergulhando assim no universo do “facilitar”. Agradeço também por suas
imensas contribuições no exame de qualificação.
À Gilcinéia Almeida, que me ensinou seu modo de trabalhar com
Orientação Profissional.
À Adelina Guanais, por ter, no exame de qualificação, apontado
questões fundamentais.
À Érica, por ter me ajudado como co-facilitadora do grupo deste estudo.
À Thaís, amiga do coração, por sempre ter demonstrado pleno incentivo
a esse importante passo da minha vida “Amigo é coisa pra se guardar do lado
esquerdo do peito”!
Aos amigos de Mestrado Helen, Maria Amélia, Paulinha e Pedro: por
todos os momentos de troca e presença.
À Maria Eufrásia pelas caronas para a faculdade.
Às amigas Vásti, Marília, Priscila e Mariana que sempre manifestaram
força e apoio a esse trabalho. Embora distantes, nos fazemos presentes em
nossas preciosas e significativas lembranças.
Aos professores e funcionários do programa de Pós-Graduação em
Psicologia da PUC-Campinas, pela oportunidade de aprendizado e de
convivência.
Às adolescentes que participaram deste estudo pela valiosa experiência
de aprendizado e troca mútua. Aprendi muito com vocês...
A CAPES, que viabilizou financeiramente a realização deste trabalho.
A Deus, por todas as bênçãos derramadas em minha vida!
Bueno, C. C. O (2009). “Grupo de Orientação Profissional para jovens: uma
proposta fenomenológica”. 167 pp. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós Graduação em Psicologia. PUC-Campinas.
RESUMO
Este trabalho pretendeu fazer um estudo exploratório do potencial do grupo
fenomenológico em relação à escolha profissional, descrevendo e
compreendendo como se apresenta a experiência e os sentimentos de
adolescentes frente à etapa de vida em que se espera que escolham uma
faculdade. Especificamente a prática aqui apresentada se estrutura através de
um trabalho não-diretivo de orientação profissional por não partir de um
programa de pré-estabelecido. Os encontros foram construídos na relação
entre a pesquisadora e os participantes. Foram realizadas cinco sessões de
noventa minutos com o grupo, uma vez por semana. O grupo foi facilitado pela
psicóloga-pesquisadora, auxiliada por outra psicóloga. Os registros para a
análise foram as Versões de Sentido escritas pelas integrantes do grupo e os
relatos das ocorrências de cada encontro escritos pela pesquisadora. Conclui-
se que o processo de orientação profissional não- diretivo é uma prática que
permite a ampliação do autoconhecimento, aumentando o potencial de
escolhas pessoais.
Palavras-chave: orientação profissional; grupo não-diretivo; estudo
fenomenológico.
Bueno, C.C. O (2009). “Career consulting for teenagers: a phenomenological
proposal”. 167 pp. Master’s Degree Dissertation. Postgraduate program in
Psychology. PUC-Campinas.
ABSTRACT
The intent of this paper was to study in an explicatory way the
phenomenological group potential related to career choices, describing and
comprehending teenagers as they present their experiences and feelings when
choosing a career and university/college. The practice here presented is
specifically structured through a non-directive work of career consulting as it is
not a part of a pre-established program. The data meetings were built through
the relationship between researcher and participants. The meetings were
settled once a week, for ninety minutes each, totalizing five meetings. The
group was facilitated by the researcher-psychologist, with another psychologist
as co-facilitator. The data acquired in this study for analyzes were the felt sense
reports written by the participants and the narratives of experiences written by
the researcher in each meeting. In conclusion, the non-directive career
consulting is a practice that allows the increase of self-knowledge, extending
the potential of personal choices in this matter.
Key words: career consulting; non-directive group; phenomenological study
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA iv
AGRADECIMENTOS v
RESUMO vii
ABSTRACT viii
I. APRESENTAÇÃO. 11
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15
2.1. Contextualização da Orientação Profissional 15
2.1.1. História da Orientação Profissional 15
2.1.2. O que é Orientação Profissional 25
2.1.3. O Contexto Atual da Orientação Profissional e das
profissões
28
2.2. Questões Implicadas na Orientação Profissional 33
2.2.1. O adolescente no processo de escolha: Identidade,
Liberdade e Responsabilidade
33
2.2.2. Influências Sociais 37
2.3. A Abordagem Proposta para Orientação Profissional 41
2.3.1. O grupo 41
2.3.2. O orientador 43
2.3.3. O processo não-diretivo 44
2.4. Objetivos 46
2.4.1. Geral
46
2.4.2. Específicos 46
III - MÉTODO 47
3.1. Colaboradores 48
3.2. Procedimentos 50
3.3. Formas de Registro 51
3.4 Sobre a análise 53
IV - SÍNTESE DE RESULTADOS 54
4.1. Fluxo Vivencial dos encontros 54
4.2. Fluxo Vivencial de cada participante 60
4.3. Etapas percorridas pelo grupo 68
V - DISCUSSÃO 80
VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS 96
6.1 Conclusões 96
6.2 Sugestões 97
VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 99
VII - ANEXOS 105
Anexo 1- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 106
Anexo 2- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Responsáveis
108
Anexo 3- Narrativas 110
Anexo 4- Versões de Sentido de cada encontro 143
Anexo 5- Versões de Sentido reescritas para análise 156
Anexo 6- Mensagens do grupo eletrônico 160
APRESENTAÇÃO
Essa é uma história que teve início há dez anos atrás. Nesse tempo, eu era
ainda uma adolescente na eminência do vestibular. Carregava no coração uma
escolha profissional: Psicologia. A curiosidade e o fascínio pela carreira se
confrontavam com as pressões familiares que sofria. Cedi. Mesmo tendo
sido aprovada em Psicologia, iniciei um outro curso que eu não gostava.
Passados seis meses, estava fazendo curso pré-vestibular e lutando
novamente pelo meu sonho. Nessa época, o curso preparatório para vestibular
oferecia orientação profissional em grupo. Resolvi viver o processo, a fim de
confirmar minha opção.
Posso dizer que vivi ali um encontro maravilhoso comigo mesma e com as
outros participantes do grupo. Pude perceber que eu não era a única que
vivenciava aqueles problemas. As questões eram semelhantes, mas o
dinamismo de cada um para lidar com elas era diferente. Quanta troca e
aprendizado!
Aquele universo grupal me mostrou a importância e a força do coletivo e
como não fosse o bastante, me identifiquei com o trabalho da orientadora
profissional. Após essa experiência, percebi que eu não precisava me sentir
culpada por ter perdido tempo da minha vida com os meus erros. Hoje,
olhando para trás e vendo minha jornada, percebo que tudo estava no lugar
certo e na hora certa.
Depois de estar formada, mais precisamente em 2006 iniciei um trabalho
voluntário enquanto psicóloga em uma instituição religiosa que tinha o objetivo
12
de auxiliar jovens na escolha profissional. Realizei tanto atendimentos
individuais como trabalhos em grupo. No início dessa experiência colocava em
prática a maneira como havia aprendido a trabalhar na área de orientação
profissional durante a graduação, a qual utilizava algumas técnicas e
instrumentos. Essa experiência foi me mostrando que os jovens acreditavam
que eu era detentora da verdade, esperando que eu lhes desse a direção total
do seu destino.
Com o passar do tempo fui percebendo que uma prática que visa apenas
sínteses entre habilidades individuais, aptidões e características de profissões
trabalha em favor da conformação do sujeito e não de sua liberdade e
autonomia, tendo eno, uma visão reducionista e pessimista deste. Isso gerou
em mim grande desconforto interno e uma reflexão crítica sobre minha prática
profissional, pois eu estava fazendo algo que não condizia com minha visão de
homem, enquanto ser livre e singular. Comecei, então, a desenvolver uma
maneira própria de trabalhar, valorizando no jovem sua capacidade de reflexão,
de liberdade de escolha e conseqüentemente, de responsabilidade pela
mesma.
Considero que a experiência como orientadora profissional nessa
instituição religiosa foi fundamental para a idéia desse estudo. Quando decidi
participar do Mestrado em Psicologia na PUC-Campinas, tinha como objetivo
elaborar um projeto de dissertação de cunho fenomenológico que envolvesse
uma prática de orientação profissional não-diretiva, num processo de valor
terapêutico para os participantes.
No entanto, quando comecei a fazer parte deste programa de Mestrado em
2007, várias reflexões e discussões surgiram junto ao meu orientador e a meu
13
grupo de pesquisa, as quais me permitiram amadurecer o tema do projeto de
dissertação. O objetivo dessa pesquisa consistiu em fazer um estudo
exploratório do potencial do grupo fenomenológico em relação à escolha
profissional. Dessa forma, não pretendi montar um programa com
procedimentos e sim descrever a possível fecundidade do atendimento não-
diretivo em orientação profissional. Vale ressaltar que este estudo também se
preocupa em compreender as experiências e os sentimentos de adolescentes
frente ao momento de decisão profissional. Isso foi feito numa experiência
grupal com adolescentes interessados em conversar sobre suas vivências
relacionadas à decisão profissional.
Minha experiência como orientadora profissional mostrou ainda que o
jovem sofre inúmeras influências e pressões durante o processo de formação
do seu projeto de vida: família, amigos, escola, vestibular. Estes, por sua vez,
pressionam o jovem a ser aprovado, o que me permite dizer que o vestibular
exerce pressão social sobre o indivíduo, que não adianta somente ter uma
escolha profissional formada; é preciso ser aprovado para ingressar em uma
instituição de ensino superior de qualidade.
Percebo que diante de tantas pressões, os jovens que estão frente à
escolha profissional m pouco ou nenhum espaço que lhes permita expressar
e compreender suas experiências e sentimentos envolvidos nessa fase de suas
vidas. Por isso, o grupo proposto nesse estudo propiciou encontros para
conversarmos juntos sobre escolha profissional baseando-se na experiência
dos participantes.
Acredito que o ser humano é um ser de relações, ele existe e torna-se
pessoa, na medida em que se relaciona consigo mesmo, com os outros e com
14
o mundo. Analisando os atendimentos individuais e grupais que realizei,
pude perceber que no contexto grupal, a descoberta do outro atua também
como mediação para a descoberta de si próprio e do mundo. Pude perceber
também que o trabalho em grupo permite que os indivíduos experimentem uma
sensação de pertença e de convicção de que naquele espaço seus
sentimentos, idéias e valores são acolhidos e respeitados. Por isso, acredito no
desenvolvimento desse projeto em grupo.
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
2.1.1. História da Orientação Profissional
Neste item, apresentaremos uma recapitulação histórica do
desenvolvimento da Orientação Profissional.
Segundo Bock (2001), historicamente, a escolha profissional nem sempre
foi uma preocupação universal do homem. Os povos ancestrais viviam para
sobreviver, sendo que seu trabalho era organizado como atividade de coleta e
caça e não havia muita diferenciação de funções, com exceção daquelas
determinadas pelo sexo. A comunidade tribal primitiva não pressupõe
atividades distintas entre seus membros, apresentando uma hierarquia apenas
no que se refere a assuntos de guerra e cuidados com a saúde, que eram
desenvolvidas por questão de idade avançada e/ ou bravura. A caça é função
dos homens devido ao vigor físico e agilidade que possuem e às mulheres são
atribuídas funções de agricultura e cuidados com os filhos.
Na Antiguidade Clássica, o trabalho era função dos escravos, sendo que os
cidadãos livres valorizavam o ócio, as atividades contemplativas e políticas.
Durante a Idade Média, especificamente no Feudalismo, a sociedade estava
estruturada em camadas sociais-nobres, clérigos, senhores e servos, sendo
que uns deviam obrigações aos outros. Nesse contexto, o trabalho era função
dos servos, que sustentavam os senhores feudais, donos de terra e do poder.
Até esse momento histórico, o trabalho era realizado em casa e os filhos
16
aprendiam seus futuros ofícios com pais ou vizinhos. Até o fim Idade Média, o
trabalho era visto como castigo ou determinação divina e a profissionalização
era transmitida familiarmente (Bock, 2001; Lassance& Sparta, 2003).
De acordo com Lassance & Sparta (2003), a escolha profissional
assume relativa importância na passagem do feudalismo para o capitalismo. A
sociedade capitalista nasceu na Europa do final do século XVIII centrada na
produção manufatureira em larga escala. A partir desse momento, o trabalho
foi mecanizado e o trabalhador passa a ser livre, tendo direitos iguais para
vender sua capacidade de trabalhar em troca de salários.
As práticas de orientação profissional nasceram no contexto da Terceira
Revolução Industrial, uma vez que nesse período passa a prevalecer a idéia de
trabalhadores específicos para funções específicas, visando o aumento da
produtividade industrial. Nesse cenário, o objetivo da Orientação Profissional
era o de detectar trabalhadores inaptos para a realização de tarefas
determinadas, evitando assim acidentes de trabalho (Lassance & Sparta, 2003;
Sparta, 2003b).
No entanto, Sparta (2003b) destaca que o início oficial da Orientação
Profissional ocorre entre os anos de 1907 e 1909, com a criação do primeiro
Centro de Orientação Profissional norte-americano, o Vocational Bureal of
Boston, e a publicação do livro Choosing a Vocation, ambos de
responsabilidade de Frank Parsons, o que fez com que ele fosse considerado o
pioneiro nas áreas da Psicologia Vocacional e da Orientação Profissional.
Carvalho (1995) relata que Parsons não criou uma teoria de escolha
profissional, mas acrescentou idéias da Psicologia e da Pedagogia à
Orientação Profissional e em seu livro, introduziu uma primeira estrutura
17
conceitual. Nesta obra, ele propôs três fases fundamentais para a escolha de
uma profissão: analisar as particularidades do indivíduo, analisar as
características das ocupações e relacionar essas informações coletadas.
Durante as Primeira e Segunda Guerras Mundiais devido ao crescente
processo de industrialização e ao surgimento de novas áreas profissionais,
houve uma maior utilização de testes, a fim de uma melhor adaptação do
homem às tarefas. Nas décadas de 1920 e 1930, a Psicometria e a Psicologia
Diferencial passaram a influenciar a prática da Orientação Profissional, que
os testes foram utilizados em larga escala. Dessa forma, a orientação
profissional passou a ser um processo extremamente diretivo, no qual o
orientador objetivava fazer prognósticos e diagnósticos do orientando e,
baseando-se nesses instrumentos, indicar as profissões apropriadas. Nasce
assim, a primeira tendência teórica no campo da psicologia vocacional,
chamada de Teoria do Traço e Fator, que buscava a adequação do indivíduo à
ocupação. A orientação profissional estava voltada para o incremento da
produção industrial (Carvalho, 1995; Sparta, 2003a).
A partir de 1940, importantes mudanças começaram a ocorrer no cenário
da Orientação Profissional, com a influência de Carl Rogers que pregava a
terapia não-diretiva. Esta terapia conhecida como “centrada no cliente”, trouxe
uma nova concepção de atuação que não mais se preocupava com
diagnósticos. Nesta abordagem, o jovem é levado a uma melhor compreensão
de si, ou seja, ao autoconhecimento e a uma tomada de escolha consciente.
Dessa forma, o foco da Orientação Profissional transferiu-se da produção para
o sujeito de escolha, sendo a eficiência e a produtividade tomadas como
18
conseqüências naturais de uma escolha adequada, centrada nos sentimentos
de satisfação do indivíduo (Carvalho, 1995; Lassance & Sparta, 2003).
Carvalho (1995) aponta que paralelamente à orientação profissional ligada
à psicologia escolar e à do trabalho, seguidores de Parsons deram início a um
movimento considerando as tarefas do orientador profissional como uma área
particular e independente das demais. Essa nova perspectiva psicológica da
orientação profissional tem como objetivo ajudar o homem a encontrar uma
profissão adequada. As teorias rogeriana, comportamental e freudiana também
influíram neste desenvolvimento.
De acordo com Sparta (2003b), na década de 1950, Ginzberg, Ginsburg,
Axelrad e Herma apresentaram a Teoria do Desenvolvimento Vocacional que
pressupõe que a escolha profissional é um processo evolutivo que ocorre
continuamente ao longo da vida.
Em 1953, foi publicada a Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald
Super, que define a escolha como um processo que ocorre ao longo da vida,
da infância à maturidade, através de diferentes estágios do desenvolvimento
vocacional e da realização de tarefas evolutivas (Sparta, 2003 b).
A Teoria Tipológica de Holland foi publicada em 1959 e enfatizava que o
indivíduo que faz uma escolha profissional procura o ambiente que melhor
convenha àquilo que Holland denomina “orientação pessoal”. Sendo assim, seu
comportamento pode ser explicado pela interação entre sua orientação pessoal
e o ambiente. Holland elaborou uma tipologia que compreende seis tipos de
orientação pessoal: o intelectual, o realista, o social, o convencional, o
empreendedor e o estético. Essa teoria acredita que a escolha profissional é
uma expressão da personalidade do indivíduo e membros de uma mesma
19
ocupação possuem personalidades semelhantes (Oliveira 2001; Magalhães,
2006).
Sparta (2003b) acrescenta que nas cadas de 1950 e 1960 foram
publicadas Teorias Psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas em três
outras teorias, conhecidas como Teoria de Satisfação das Necessidades,
Teoria Psicanalítica, e Teorias de Tomada de Decisão, mais preocupadas com
o momento da escolha do que com o processo em si. As teorias de Super e
Holland estão entre as mais utilizadas e pesquisadas em processo de
intervenção na atualidade internacional.
No Brasil, o desenvolvimento da Orientação Profissional se inicia na
década de 1920, estando ligada ao desenvolvimento do ensino profissional no
país. Em 1924, o engenheiro suíço Roberto Mange introduziu a seleção e a
orientação profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
(Carvalho, 1995).
A partir dessa experiência muitas outras se seguiram como a criação de
um serviço de seleção, formação e orientação de aprendizes em 1930 na
Estrada de Ferro de Sorocabana. A partir de então, a aplicação da Psicologia
ao trabalho teve acelerado desenvolvimento, expandindo-se para várias
empresas (Abade, 2005, Carvalho, 1995).
Em 1931, Lourenço Filho criou em São Paulo o primeiro serviço público
estadual de Orientação Profissional (Carvalho, 1995, citado por Melo-Silva,
Lassance & Soares, 2004).
O Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) foi criado em
1947 junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, com o
objetivo de contribuir para o ideal de organização e racionalização do trabalho
20
da época, visando a maior produtividade, orientada segundo o pensamento do
homem certo no lugar certo. Nessa época, os testes vocacionais orientavam
profissionalmente os jovens para uma escolha coerente com suas aptidões,
sem considerar a história de vida de cada indivíduo. Além disso, nos primeiros
dez anos de funcionamento, esse instituto desenvolveu um trabalho destinado
principalmente à implantação de técnicas de orientação e seleção profissional,
atendendo à classe média alta, numa tentativa de orientação da futura elite
dirigente. O ISOP também foi responsável pela formação dos primeiros
especialistas na área da Psicologia, muitos deles formados pelo curso
ministrado por Emílio Mira y López, que foi o seu primeiro diretor (Abade, 2005;
Sparta, 2003b).
Melo-Silva, Lassance & Soares (2004), destacam que historicamente a
Orientação Profissional esteve vinculada inicialmente à área da Educação,
como atividade no campo da Orientação Educacional, conforme a Constituição
Federal de 1937 e Leis Orgânicas instituídas em 1942, 1943 e 1946, sendo
destinada a classes menos favorecidas que freqüentavam as escolas
profissionais. No domínio da Psicologia, desenvolveu-se em três âmbitos: da
Psicologia do Trabalho, vinculada à Seleção de Pessoal, cujas intervenções
pautaram-se na modalidade estatística; da Psicologia Educacional, focalizando-
se na passagem de um ciclo educativo a outro; e do Aconselhamento,
centrando determinadas crises evolutivas no Ciclo Vital.
Analisando as origens da Orientação Profissional no Brasil, notamos que
se constitui no início do século XX como uma modalidade estritamente
psicométrica. Até então, a formação de psicólogos se fazia nos cursos de
Pedagogia, Filosofia e Ciências Sociais, sendo que os concluintes estagiavam
21
em instituições especializadas, habilitando-se deste modo, ao exercício
profissional. O desenvolvimento da Psicologia como ciência independente e a
área de atuação profissional se deu com a promulgação da Lei 4.119 de 27 de
agosto de 1962 que criou os cursos de Psicologia e regulamentou a profissão
de psicólogo no país. Esse contexto exerceu importante influência nos rumos
da Orientação Profissional no Brasil, ao vincular esta atividade à Psicologia
Clínica e ao transferir o processo de intervenção para consultórios particulares
(Abade, 2005; Sparta, 2003b).
Segundo Abade (2005), no início da década de 60, a metodologia de
diagnosticar e aconselhar utilizando como instrumentos os testes psicológicos
foi sendo substituída pela focalização dos aspectos inconscientes, influência de
Freud na Europa e pelo auxílio ao autoconhecimento, influência de Carl Rogers
nos Estados Unidos. Esta proposta se opôs ao modelo psicométrico de
intervenção em orientação, caracterizando uma abordagem mais dinâmica e
compreensiva da escolha. Ruth Scheffer Simões, professora do ISOP ministrou
aulas nesse instituto sobre a teoria não-diretiva de Rogers.
Na década de 70, o mero de publicações sobre Orientação
Profissional diminuiu consideravelmente, porém houve produções bastante
significativas para a área. O psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky publicou
em 1971 um livro que apresenta uma nova proposta em orientação profissional,
numa conceituação que ele denomina de “estratégia clínica”. Segundo o autor,
nas formas que ele reúne sob a denominação de “modalidade estatística”, o
jovem é assistido por um psicólogo que por meio de testes, conhece suas
aptidões e interesses e busca encontrar entre as oportunidades existentes
àquelas que mais se ajustam às possibilidades e interesses do futuro
22
profissional. Bohoslavsky prega uma estratégica clínica em orientação
profissional que consiste num conjunto de operações, por meio das quais o
psicólogo ascende à compreensão da conduta do orientando e facilita a este
último, o acesso à sua própria compreensão numa forma de elaboração não-
diretiva, que leve o indivíduo a uma decisão autônoma. Bohoslavsky considera
a entrevista o instrumento principal para ajudar o jovem a chegar a uma
escolha autônoma. Desde então, passou a exercer grande influência nos
trabalhos desenvolvidos por brasileiros, além de se tornar o autor mais citado
pelos pesquisadores brasileiros até os dias de hoje (Abade, 2005; Carvalho,
1995).
Ainda segundo Carvalho (1995), a psicóloga Maria Margarida Carvalho
(1995/2001), foi a responsável pela difusão das idéias de Bohoslavsky (1971)
em nosso meio. Ela foi a primeira professora da disciplina de Seleção e
Orientação Profissional do curso de Psicologia da Universidade de São Paulo
(USP) e destacou-se também na Orientação Profissional Brasileira por ter
idealizado e avaliado o processo de intervenção em grupo. Seus estudos
apontam que o processo grupal é uma mostra do processo social: a visão do
outro auxilia na própria visão de si, as aspirações e limitações são dosadas
porque o grupo facilita a percepção das influências familiares, sociais e
econômicas. Carvalho acredita que esse modelo de atendimento teve grande
valor terapêutico para os participantes e foi uma importante contribuição para a
área, sendo constantemente utilizados pelos profissionais na atualidade.
A estratégia clínica de Bohoslavsky (1977) e o processo de intervenção
grupal desenvolvido por Carvalho deram origem a um modelo brasileiro de
Orientação Profissional, que supera a modalidade estritamente estatística e se
23
constitui num processo de valor terapêutico para os orientandos, modelo esse
que vem sendo freqüentemente utilizado até os dias de hoje por psicólogos da
área. A estratégia proposta por Bohoslavsky (1977), foi desenvolvida como
alternativa ao modelo da Teoria de Traço e Fator, chamado por ele de
Estratégia Estatística. Ele aceita a realização de testes para a realização do
diagnóstico, supondo que sejam utilizados apenas em seu caráter instrumental,
mas acredita que o principal instrumento durante o processo de orientação é a
entrevista clínica (Sparta, 2003 b).
O primeiro artigo sobre Orientação Profissional em grupo foi publicado
pelos psicólogos Aguiar, Müller, Filho, Fontes e Vaz (1978) formados pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro com o título Orientação clínico-
vocacional. Eles buscavam uma maneira não-diretiva de orientar que se
fundamentava pela fenomenologia e pela estratégia clínica proposta por
Bohoslavsky (1977) (Abade, 2005).
Segundo Melo-Silva & Jacquemin (2001), a Orientação Profissional, na
década de 80, foi discutida enquanto processo no qual a escolha é
multideterminada, a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico e o orientador
profissional o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos
indivíduos. Nota-se que os eixos centrais de pesquisas são: dilema da escolha
profissional e identidade profissional. Os autores mais citados em publicações
brasileiras são: Super, Pelletier e Bohoslavsky.
Em 1990, o ISOP foi extinto e, a partir de então a produção científica
deixou de estar concentrada em sua revista conhecida como Arquivos
Brasileiros de Psicologia. No início da década de 90, as publicações sobre
Orientação Profissional que haviam diminuído consideravelmente nos anos 70
24
e 80, voltam a aparecer nos seguintes periódicos: Psicologia Argumento
(Paraná), Cadernos de Psicologia (Belo Horizonte), Estudos de Psicologia
(Natal), Estudos de Psicologia (Campinas). No ano de 1993, foi fundada a
Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I
Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional, em Porto Alegre. A
ABOP foi criada com os objetivos de desenvolvimento e unificação da
Orientação Profissional no Brasil, podendo-se dizer que ela é o novo centro
promotor e organizador da Orientação Profissional no país. Tais ações se
configuram como espaço apropriado, reunindo orientadores profissionais de
diferentes regiões do país interessados no debate plural e interdisciplinar sobre
os serviços, métodos e demais problemas recorrentes da área. Em 1997, foi
publicada a primeira revista científica no domínio da Orientação Profissional,
denominada Revista da ABOP, atualmente denominada Revista Brasileira de
Orientação Profissional que até hoje vem contribuindo para que a produção de
novos trabalhos em Orientação Profissional torne-se novamente expressiva
(Abade, 2005; Melo-Silva, Lassance & Soares, 2004; Sparta, 2003b).
Em síntese, Lehman (1988), citado por Noronha & Ambiel (2006),
considera que a Orientação Profissional brasileira passou por momentos
históricos em termos de estágios que foram: informativo, psicométrico, clínico e
político social. O objetivo do informativo era instruir sobre as profissões e suas
perspectivas de atuação, enquanto o psicométrico visava a avaliação das
aptidões e características individuais. O estágio clínico enfatizava o papel ativo
do adolescente no que se refere à decisão sobre o futuro profissional e o
político social se preocupou com a relação do contexto sócio político e o
25
momento da escolha, e a convergência das complexas configurações sociais,
presentes, passadas e futuras.
A proposta deste estudo se identifica com a de Bohoslavky (1998), no
que se refere ao comum desejo de superar a modalidade estritamente
estatística em orientação profissional e na tentativa de devolver ao jovem sua
capacidade ativa de decisão autônoma.
2.1.2. O que é Orientação Profissional
De acordo com Andrade, Meira & Vasconcelos (2002), a orientação
profissional é um processo que visa auxiliar o indivíduo a encontrar uma
identidade profissional, ajudar na estruturação de sua identidade pessoal,
favorecendo assim na elaboração de um projeto de vida. O processo não deve
apenas ser informativo no que se refere às profissões, mas também deve
trabalhar a questão da escolha e a promoção do autoconhecimento
considerando os indivíduos como inseridos em um contexto social, econômico
e cultural. As autoras acrescentam que através do processo de orientação
profissional, os indivíduos se conhecem melhor como sujeitos reais,
percebendo suas identificações, singularidades, características, ampliando e
transformando sua consciência a fim de terem melhores condições de fazer
sua escolha profissional.
Bock & Aguiar (1995) afirmam que
“(...) a orientação vocacional, a nosso ver, constitui-se em algo mais do
que um momento para a ‘descoberta’ da profissão a seguir. É um processo
onde emergem conflitos, esteriótipos e preconceitos que devem ser
26
trabalhados para sua superação; onde a desinformação é enfrentada e
possíveis caminhos são traçados; onde o autoconhecimento adquire status de
algo que se constrói na relação com o outro, e não como algo que se a
partir de uma reflexão isolada, descolada da realidade social, ou que se
conquista através de um esforço pessoal” (Bock & Aguiar,1995, p.17).
Na visão de Neiva (2007), a Orientação Profissional não se caracteriza
como uma decisão isolada e sim, configura-se como um processo contínuo,
composto de várias decisões tomadas ao longo da vida.
Melo-Silva, Lassance & Soares (2004) ressaltam que a Orientação
Profissional deve ser inserida num contexto mais abrangente, como um cenário
de atividades que, além de auxiliar pessoas a tomar decisões no âmbito do
trabalho, pode contribuir ainda com a Educação Profissional e a transição da
escola para o mundo do trabalho de maneira mais fluente.
Em termos de referencial teórico, a abordagem clínica é a que trabalha o
processo de escolha de maneira mais ampla, investigando possíveis
problemáticas do indivíduo e estimulando-o a ampliar o conhecimento de sua
identidade profissional. Além disso, a modalidade clínica possibilita ao
orientando pensar nos aspectos particulares de sua vida, suas inseguranças,
fantasias e expectativas. Nessa abordagem muitas vezes são utilizados
instrumentos que incluem: testes projetivos, testes psicométricos,
questionários, entrevistas, dramatizações, jogos, técnicas plásticas (desenho,
pintura, colagem), entre outros (Müller, 1988, citado por Andrade, Meira &
Vasconcelos, 2002).
À respeito dos instrumentos de avaliação, Noronha & Ambiel (2006),
apontam que eles são utilizados desde as primeiras experiências de
27
Orientação Profissional relatadas no Brasil. Os autores consideram que os
instrumentos de avaliação de interesses profissionais embora constituam parte
importante do processo, não devem ser tomados como um fim.
Oliveira (1999) reflete que muitas vezes cnicas de Orientação
Profissional (OP) são aplicadas sem a devida reflexão causando dificuldades
no desenvolvimento do processo. Outro dado relevante é apontado por
Noronha & Ambiel (2006) que afirmam que a qualidade dos instrumentos de
avaliação de interesses não é satisfatória em vários aspectos, desde a falta de
estudos científicos até a qualidade dos manuais técnicos, que deixavam de
apresentar informações importantes sobre as características e normas de
aplicação e correção, fatos esses que comprovam a necessidade de mais
estudos que possibilitem o uso desses instrumentos nos processos de
orientação profissional.
A modalidade de orientação profissional proposta por Bohoslavsky (1998)
objetiva ajudar o adolescente a elaborar sua identidade-vocacional-ocupacional
e mobilizar sua capacidade de decisão pessoal.
A pesquisadora desse estudo acredita num processo de orientação
profissional onde o adolescente é ativo e possui autonomia para escolher. Para
que isso ocorra, entende que o papel do orientador é o de facilitar o processo
de reflexão e autoconhecimento do indivíduo para que ele próprio possa
elaborar seu projeto vocacional. Vislumbra ainda que a orientação profissional
em grupo permite que os participantes experimentem uma sensação de
pertença ao se identificarem com outros membros e considera que o indivíduo
necessita não apenas de uma orientação de carreira, como também de um
28
espaço em que possa expressar livremente seus sentimentos, idéias e
valores.
2. 1.3. O Contexto Atual da Orientação Profissional e das profissões
Oliveira & Coelho (2002) citados por Noronha & Ambiel (2006) enfatizam
que a orientação profissional e vocacional (OP/OV) no Brasil encontra-se em
um momento de eminente desenvolvimento, que está havendo a
organização de eventos científicos para discussão de temas relativos à área, a
criação de uma associação científica, a publicação de um periódico
especializado na área e também o aumento de publicações de pesquisas sobre
técnicas e instrumentos de coleta de dados.
Apesar da prevalência da Abordagem Clínica de Orientação Profissional
proposta por Bohoslavsky, outros modelos teóricos vêm contribuindo para a
Orientação Profissional brasileira. Maria Célia Lassance da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vem desenvolvendo a Abordagem
Integrada em Orientação Profissional com base nas idéias de Super (1957) e
no Modelo de Ativação do Desenvolvimento de Pelletier e colaboradores
(1974/1985). Já Maria da Glória Hissa e Marita Pinheiro desenvolveram a
Metodologia de Ativação da Aprendizagem, baseada nos mesmos autores e
em Bohoslavsky, Pichon-Rivière, Perls, Piaget e Paulo Freire. Ambas as
autoras possuem um caráter psicopedagógico e têm por objetivo central a
aprendizagem da escolha (Sparta, 2003b).
Ainda de acordo com Sparta (2003b), a partir da década de 1980, alguns
autores no âmbito da Educação começaram a teorizar sobre os processos de
29
escolha e Orientação Profissional. Entre eles merecem destaque Celso Ferretti
(1980; 1988) e Selma Garrido Pimenta (1981) que passaram a traçar uma série
de críticas às teorias psicológicas de escolha profissional com base no
agrupamento de tais teorias feito por Jonh Crities (1969/1974). Ferretti (1980;
1988) apontou a função ideológica de manutenção da sociedade de classes
capitalista subjacente às teorias psicológicas da escolha profissional e propôs
um novo modelo de Orientação Profissional dentro do processo ensino-
aprendizagem, capaz de suplantar tal ideologia, cujo objetivo é a reflexão sobre
o próprio processo de escolha profissional e sobre o trabalho. O método de
trabalho proposto é o Modelo de Ativação do Desenvolvimento de Pelletier e
seus colaboradores (1974/1985). Este modelo de intervenção é uma
operacionalização do modelo teórico de Super.
Pimenta (1981) discutiu a insuficiência das teorias psicológicas da
escolha profissional para a compreensão da decisão vocacional e propôs a
fenomenologia existencial para esta compreensão.
Recentemente, Silvio Duarte Bock (2002) propôs uma nova abordagem
de Orientação Profissional baseada na Psicologia Social, mais especificamente
na Abordagem Sócio-histórica. Bock baseia-se nas idéias de Vygotsky de que
o indivíduo se desenvolve através de uma relação dialética com o ambiente
sócio-cultural em que vive e faz sérias críticas quanto à Orientação Profissional
baseada na concepção de vocação, que esconde que a realidade é
socialmente injusta por colocar no indivíduo toda a culpa por seu insucesso
profissional (Abade, 2005; Bock, 2002).
No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por psicólogos e
pedagogos, sendo que nas últimas décadas é o psicólogo quem está mais
30
atuando na área, mas a formação de orientadores profissionais brasileiros
ainda não possui regulamentação ou lei que determine conteúdos a serem
ministrados. O psicólogo raramente é contratado para atuar em escolas
públicas, o que dificulta ainda mais a implementação da Orientação Vocacional
e Profissional na rede educacional pública. E quando a contratação acontece, a
comunidade escolar cria expectativas de uma atuação no modelo clínico que
abarcará a resolução de problemas emergenciais relativos a dificuldades de
aprendizagem, problemas comportamentais e até questões de ordem
socioeconômica e sexual. Isso denuncia ausência de uma equipe
multidisciplinar que conta de solucionar problemas escolares de múltiplas
naturezas, fazendo com que a Orientação Profissional fique num plano
secundário. existem Prefeituras Municipais que estão admitindo psicólogos
para intervir em orientação profissional, sexual e escolar, através de Programas
específicos ou em Secretarias da Educação. A inserção do profissional,
especialista em Orientação Profissional no sistema de educação, poderá ser
através da FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação)
,
com profissionais de
outras áreas, cada qual atuando em suas competências como membros de
equipes multidisciplinares e interdisciplinares (Melo-Silva, Lassance & Soares
2004; Sparta, 2003b).
Soares (1993b) aponta que a preocupação da escola é preparar para o
trabalho, dando condições para que o aluno ingresse no mundo do trabalho ao
encerrar seus estudos, sem propiciar a ele a oportunidade de desenvolver suas
potencialidades pelo oferecimento de condições apropriadas ao crescimento
psicológico e social. Sendo assim, considera falta de atividades que permitam
31
que o jovem fale das suas preocupações, como por exemplo, o conhecimento
de si mesmo, a vontade de autodefinir-se, compreender quem é e quem
gostaria de ser.
Melo-Silva & Jacquemim (2002), citados por Melo-Silva, Lassance &
Soares (2004) analisaram treze serviços de Orientação Profissional e
constataram que oito deles o oferecidos em clínicas-escolas de
universidades de Psicologia e os demais o oferecidos em escolas e
consultórios privados sendo destinados principalmente para alunos de escolas
particulares e, em menor número para alunos vindos de escolas públicas.
A intervenção desses serviços baseia-se nos referenciais teóricos
psicanalítico, psicodrama, evolutivo-cognitivista, psicopedagógico, sócio-
histórico e nas teorias desenvolvimentistas de Pelletier e Super.
Independentemente do referencial teórico-metodológico utilizado em clínicas ou
escolas, os eixos temáticos abordados nos atendimentos em Orientação
Profissional são similares: autoconhecimento e conhecimento das profissões.
Em média, o número de encontros é oito, sendo que a média do processo
completo é de quinze horas, podendo variar entre nove e trinta horas. Os
atendimentos podem ser individuais ou grupais (Abade, 2005; Melo-Silva,
Lassance & Soares 2004).
Com relação às profissões, Soares (1993a), afirma que a cada dia que
passa, os jovens têm maior dificuldade para fazer suas escolhas profissionais
devido ao aumento gradativo de novos cursos e especializações. A tecnologia
está presente em todas as áreas e surge no jovem o fascínio por conhecer
coisas novas.
32
Atualmente o desenvolvimento da ciência e da tecnologia operacionaliza
mudanças cada vez mais acentuadas no mercado de trabalho. Verifica-se a
necessidade do domínio de técnicas para apresentar soluções com a eficiência
exigida pela sociedade e a demanda pela automação dos serviços e até das
relações humanas com a finalidade de obter resultados mais rápidos. A
economia atual exige especialistas que tenham conhecimento aprofundado e
preciso em áreas que não existiam anteriormente. Com isso, o mercado de
trabalho oferece maiores oportunidades para novas especialidades e também
causa desemprego para mão de obra não especializada (Andrade, Meira &
Vasconcelos, 2002).
O grupo proposto nessa pesquisa objetiva construir um modo não
diretivo de fazer orientação profissional que respeite a autonomia e a liberdade
dos participantes, acreditando no potencial de cada um deles de conduzir suas
decisões e se responsabilizar por elas. Esse estudo se inspira em Rogers que
propôs um modelo embasado no autoconhecimento se opondo ao modelo
psicométrico de intervenção em orientação, caracterizando uma abordagem
mais dinâmica e compreensiva da escolha.
33
2.2: QUESTÕES IMPLICADAS NA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Ao falar em escolha, é impossível não tocar em valores tais como
individualidade, liberdade e identidade. Por isso, esse capítulo abordará tais
questões.
2.2.1. O adolescente no processo de escolha: Identidade, Liberdade e
Responsabilidade
A adolescência é um período de transição em que desprendimento
da infância e a entrada progressiva no mundo e no papel adulto, no qual
ocorrem crises e transformações biológicas, cognitivas e psicológicas. Nas
sociedades capitalistas ocidentais, um novo papel a ser assumido é o de
trabalhador, fazendo com que a adolescência seja um período de suma
importância para o processo de escolha profissional (Muller, 1988).
Soares (1993 a) considera ser na fase da adolescência em que o jovem
está se descobrindo novamente: é o nascimento existencial, segundo o
Existencialismo. Erikson (1987), citado por Magalhães e Souza (2008)
complementa que é na adolescência que ocorre o desenvolvimento da
identidade, quando o indivíduo estrutura sua personalidade e seu autoconceito.
Coelho (2004) citado por Magalhães e Souza (2008) acrescenta que:
“(...) o autoconceito consiste nas percepções que o indivíduo tem de si
próprio, de suas qualidades e características. Por sua vez, a auto-estima é a
avaliação, positiva ou negativa, que o indivíduo faz acerca de si às suas
diferentes qualidades e características, da qual resultam sentimentos de
satisfação ou insatisfação consigo (p. 33).
34
À respeito disso, Magalhães e Souza (2008) relatam que Rogers (1966)
acredita que o autoconceito é um fator primordial na formação da
personalidade e exerce papel determinante no comportamento humano. Dessa
forma, o eu é um conceito fenomenológico que parte da percepção
experenciada e consciente da pessoa. A percepção do mundo exterior é
essencial para o desenvolvimento do autoconceito. Rogers (1966) considera
ainda que o eu é composto por todos os valores, percepções e idéias que
caracterizam o I e o Me. O I representa o eu pessoal abarcando os sentimentos
e percepções individuais. O Me representa o eu social, como o indivíduo é visto
pelos outros.
Sartre (1987) citado por Marques (1998) afirma que o individuo escolhe
o que deseja ser, usando sua liberdade e seus valores serão criados através
da escolha feita. Assim, ao escolher, o homem exercita seu poder de liberdade.
Sartre (1987) acrescenta:
“A escolha é possível, em certo sentido, porém o que o é possível é
não escolher” (Sartre, 1987, p. 17).
Pacheco (2000) acrescenta que Sartre (1965) manifesta que o
pressuposto básico do pensamento existencialista é a afirmação “a existência
precede a essência”, que significa dizer justamente que o homem existe, se
descobre, aparece no mundo e somente depois ele se define. O indivíduo
necessita escolher a cada momento o que será no momento seguinte e é a
existência que permite ao homem a gradual construção de sua essência.
Na visão sartreana (Sartre, 1987), o conceito de liberdade está
incorporado à responsabilidade. Assim, o homem não é somente livre, mas é
responsável pelo resultado de suas ações (Marques, 1998).
35
Ainda segundo Sartre (1948) citado por Erthal (1988), o homem é aquilo
que faz de si próprio. Escolher isso ou aquilo envolve uma valoração pessoal,
que faz da consciência reflexiva uma consciência moral, pois para valorar é
preciso refletir e julgar. Por isso, o valor, é expressão da liberdade. Mesmo a
recusa de escolher, já é uma escolha.
Rogers (1971) acredita que a responsabilidade e o comprometimento
para com seus atos são mais do que uma decisão; é a atuação de um indivíduo
em busca das direções que emergem de dentro de si próprio.
Frankl (1959) acredita que tudo pode ser tomado do homem, menos
uma coisa: a liberdade de escolher a sua própria atitude, seu próprio caminho
(Frankl 1959, citado por Rogers, 1971).
Nas palavras de Rogers (1964) citado por Bocklage (1989), liberdade é:
“Reconhecer que posso viver, aqui e agora, por minha própria escolha’.
É a espécie e coragem que permite à pessoa introduzir-se dentro da incerteza
e do desconhecido quando escolher ser ela mesma. É a descoberta do
significado dentro de cada um, significado que procede da escuta sensível e
aberta das complexidades daquilo que se está experenciando. É o peso da
responsabilidade do “self” que se quer escolher ser. É reconhecer que se é um
processo emergente, e não um final e produto estático”.
(Rogers, 1964, p.39).
Rogers (1971) aponta que o homem livre movimenta-se voluntariamente
e responsavelmente, para representar papel significativo no mundo cujos
acontecimentos determinados se verificam por meio dele e por meio da sua
espontânea vontade e escolha.
36
Buber (1979) afirma que a liberdade nasce da existência de uma
identidade, de um “eu” e se realiza na relação “Eu-Tu”, ou seja, na relação com
outras identidades (Buber, 1979, citado por Bocklage, 1989).
Erikson (1976) considera que a escolha profissional é a tarefa mais
significativa a ser realizada durante o período da adolescência. Para o autor, a
incapacidade do adolescente de alcançar uma identidade ocupacional através
da escolha, gera um grande obstáculo para aquisição da identidade individual.
O indivíduo que escolhe é um ser singular e único, que experiencia as
coisas de maneira própria e singular e em tempo próprio. Para que o indivíduo
faça uma escolha consciente e autônoma, precisa refletir a respeito de sua
identidade se questionando: “Quem sou eu?” A capacidade de conscientização
de si mesmo é que favorece a escolha futura. Somente através de uma
consciência cada vez maior sobre si mesmo, é que o indivíduo pode escolher
seu caminho e participar ativamente de seu crescimento. Em suma, a
autoconsciência aumenta a liberdade de escolha do homem. (Erthal, 1988;
Rogers & Kinget, 1975; Silva & Carneiro, 1993).
Neiva (2007) compartilha dessa idéia e acrescenta que o conhecer-se é
essencial para escolher uma profissão, pois considera que é através do
processo de autoconhecimento que se constrói uma auto-imagem verdadeira e
isenta de distorções.
Nenhuma opção se realiza sem angústia, pois toda escolha provoca
renúncia e envolve perdas e ganhos. Ao optar por algo, abandonam-se todos
os outros caminhos possíveis. Esta característica da escolha pode provocar no
jovem, momentos de dúvidas frente ao processo, o que é chamado de
indecisão vocacional. A escolha de uma profissão é fundamental para a
37
constituição do indivíduo enquanto sujeito social (Bohoslavsky, 1998; Erthal,
1988; Sparta, 2003 a).
Esse estudo valoriza fortemente a liberdade, pois para escolher, o
indivíduo precisa comprometer-se com a idéia de liberdade e responsabilidade
de suas decisões.
2.2.2. Influências Sociais
A liberdade de escolha é condicionada pela sociedade em que vivemos.
Toda sociedade tem regras às quais o homem deve se submeter para conviver
ou viver em comunidade. Devido a essa submissão, em determinados
momentos da vida, o homem entra em conflito com a sociedade em que vive.
Além disso, ao se deixar influenciar pelas pressões que sofre, o indivíduo reduz
sua possibilidade de escolha, nega sua liberdade e nega sua possibilidade de
ser (Erthal, 1986; Marques 1998).
Rogers (1983) ressalta que o homem é livre e experimenta
subjetivamente a realidade, mas ao mesmo tempo é determinado pelo campo
existencial que o envolve. O autor não supõe um indivíduo absolutamente livre
de determinantes extrínsecos, mas acredita que o homem vivencia subjetiva e
organismicamente, se isso lhe for possibilitado, a opção e a responsabilidade
(Rogers, 1983, apud Bocklage, 1989).
Ainda refletindo sobre influências sociais, Magalhães e Souza (2008)
consideram que na adolescência existem sentimentos de incerteza no indivíduo
sobre quem ele é e o que a sociedade espera dele. Assim, o adolescente
brasileiro se diante de um dilema nessa fase não apenas em encontrar um
papel confortável para si, mas também coerente com as normas sociais.
38
A respeito disso, Pacheco (2000) acrescenta que estamos imersos em
uma sociedade que muitas vezes determina nossas preferências, nossas
motivações e nosso destino. Isso se deve à televisão, que diz o que queremos,
o que gostamos, o que devemos fazer; à família que autoriza e dá valores.
Sparta (2003 a) reitera essa discussão ao afirmar que as mudanças nos
papéis sociais e os processos de desenvolvimento vocacional e de escolha
profissional ocorrem dentro do contexto sociocultural no qual o indivíduo está
inserido. Na sociedade brasileira, o jovem que chega ao final do ensino médio
é comumente chamado pela família, pelos amigos e pela comunidade escolar a
escolher uma profissão.
Concordando com essa idéia, Neiva (2007) acrescenta que quando a
família, a escola e a sociedade tendem a decidir pela criança e pelo
adolescente, impedem que o indivíduo aprenda a se posicionar em situações
de escolha. Dias (1995) discute ainda que a família sempre teve um importante
papel por sua função socializadora. Exemplo disso é um bebê que recém-
chegado é rapidamente integrado no grupo social de referência a que
pertence à família. Nesse sentido, o autor defende que esta primeira formação
se adicionará no futuro à opção profissional, sendo que a forma como os pais
dão significado aos elementos da vida ocupacional sempre estará presente no
modo de um filho significar este universo.
Magalhães (2006) acrescenta que as percepções infantis sobre o meio
social formam crenças que permanecem como referencial orientador do jovem
na busca pela pertença e sucesso nas relações sociais.
Os estudos de Oliveira (2001) demonstram que os jovens acreditam que
a família significa apoio e segurança para resolução de problemas. É com a
39
família que os jovens passam a maior parte do tempo e, portanto, ela continua
como suporte na contribuição de educar para valores.
Bee e Mitchell (1984) enfatizam que a família tem suma importância no
desenvolvimento do autoconceito acadêmico, social, pessoal e familiar do
indivíduo. Super (1957) considera que a identificação com um dos pais ou com
outro adulto pode ajudar o jovem na elaboração de seus projetos.
Bock & Aguiar (1995) relatam que nos dias atuais a família deposita
grande expectativa sobre o jovem, controlando seus passos e, na medida que
o jovem escolhe uma profissão que não corresponde à expectativa familiar,
vários problemas podem surgir. Os colegas e grupo de pares também exercem
influência no processo da escolha profissional, sendo que este se constitui em
um fator de pressão que impõe valores e comportamentos de maneira mais
intensa que a própria família.
Holland (1997) citado por Magalhães (2006), defende a premissa de que
o ser humano busca, primariamente, a pertença social, sendo que esta
busca se no sentido de encontrar uma ocupação na qual seus colegas
compartilhem dos seus valores e crenças, aumentando suas chances de
realização profissional. Reiterando essa idéia Neiva (2007) destaca que a
influência do grupo de pares e de seus valores pode contribuir
negativamente quando não permite que o adolescente exerça sua
individualidade e desenvolva-se de forma autônoma.
Andrade, Meira & Vasconcelos (2002) complementam tal discussão de
influências ao afirmar que a complexidade do mercado de trabalho e o avanço
da tecnologia também pressionam e provocam incertezas nos jovens, uma vez
40
que esses fatores indicam novos rumos e caminhos a serem seguidos,
influenciando diretamente na vida profissional.
O vestibular é outro elemento que exerce pressão sobre o adolescente.
Esse exame tem sido usado como forma tradicional de acesso ao ensino
superior no Brasil e desde 1960 tornou-se classificatório devido ao aumento da
procura de vagas nas faculdades e universidades. Ele tem como objetivo
imediato a indicação dos indivíduos mais aptos no ensino superior, o que tem
causado enorme influência sobre a educação no ensino dio, que escolas
e professores têm orientado o ensino para a superação das provas (Sparta,
2003 a).
Essa pesquisa tem inspiração existencial-humanista e dessa forma,
valoriza a ampliação da autoconsciência a fim de favorecer um aumento do
potencial de escolha. Considera que a melhor escolha é aquela que o indivíduo
realiza a partir de um maior conhecimento de si e por isso a importância de se
propor um grupo de orientação profissional que permita uma viagem interior
aos participantes num encontro consigo próprios: com seus desejos, suas
inquietações, seus valores, suas inseguranças. Acredita que é a partir do
momento que o indivíduo se conhece e se aceita que poderá fazer uma
escolha autônoma e consciente.
Assim como Oliveira (2001), esse estudo valoriza a possibilidade de o
indivíduo entrar em contato consigo mesmo desenvolvendo e fortalecendo
sua autoconfiança, autodeterminação e identidade.
41
2.3. A ABORDAGEM PROPOSTA PARA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
A orientação profissional se constitui como uma prática promotora de
saúde, na medida em que é estimuladora de reflexões sobre as questões
próprias da adolescência buscas, dúvidas, identificações e valores a respeito
do mundo e da sociedade em que se vive (Bock & Aguiar, 1995).
2.3.1. O grupo
Pichon Rivière (1986) citado por Zimerman & Osório (1987) manifesta
que o contexto grupal permite esclarecer dificuldades individuais, romper
esteriótipos, possibilitar a identificação dos obstáculos que impedem o
desenvolvimento do sujeito e auxiliar os indivíduos nele envolvidos a encontrar
seus próprios recursos para enfrentar suas dificuldades.
Wood (1983) acrescenta que a atmosfera grupal vislumbra a
possibilidade do despertar da pessoa para seu eu verdadeiro; a possibilidade
da descoberta de habilidades pessoais e responsabilidades. No grupo, as
necessidades, desejos, sentimentos, opiniões e pensamentos de cada
indivíduo são admitidos e levados em consideração na discussão.
A respeito disso, Bock (2001) considera que a modalidade de
atendimento grupal é privilegiada em relação ao trabalho individual devido à
diversidade e a heterogeneidade presentes e por acreditar-se que a dinâmica
estabelecida enriquece o processo, facilitando a observação dos valores,
dificuldades, opiniões, interesses e projetos de vida do outro. Cada pessoa
42
enxerga a vida de forma diferente da outra e o ambiente grupal permite que
todos aprendam com todos e percebam que não existe uma única verdade.
Soares (1993c) compartilha dessa idéia ao afirmar que a modalidade em
grupo auxilia na possibilidade de identificações recíprocas entre seus
membros, a partir de uma problemática em comum (a necessidade de
escolher) e o enriquecimento pessoal a partir da troca de idéias e experiências.
Considera ainda que a orientação profissional em grupo facilita a reflexão, a
discussão e o debate entre os próprios jovens para que eles possam
compreender e assimilar as influências prejudiciais que sofrem e que dificultam
a escolha.
Wood (1983) acrescenta que à medida que um indivíduo do grupo
expressa seus sentimentos, cada participante tem um diálogo consigo próprio
de concordância ou discordância. Ainda segundo o autor:
“(...) essas partes que vejo no grupo, como fragmentos de um espelho
despedaçado, são todas elas reflexos parciais de mim. São sentimentos,
pensamentos, emoções que existem em mim, que me envolvem de tal forma
que esforçando-me para definir o grupo, esforço-me para definir a mim... À
medida que permito o acesso à minha consciência do estado de cada pessoa...
raiva, tristeza, alegria, confusão, amor, sendo tão completamente quanto for
possível a minha realidade “de dentro” e “de fora”, este momento...eu começo a
acordar para minha natureza, a conhecer-me mais completamente. A imagem
do grupo, o espelho reunificado, com todos os seus fragmentos no lugar, não
me propicia palavras, mas me uma reflexão completa, uma imagem
completa de mim” (Wood, 1983, p.40).
43
Soares (1993 a) considera que o convívio em grupo é próprio do
adolescente e nesse contexto a possibilidade de compartilhar sentimentos
de insegurança, angústia e dúvida em relação ao futuro.
Carvalho (1995) acrescenta que outra vantagem é que o processo
grupal é uma amostra do processo social que a visão do outro auxilia na
própria visão de si; as limitações e aspirações são dosadas porque o grupo
facilita a percepção das influências familiares, sociais e econômicas (Carvalho,
1995; Soares, 1993 a).
Bock & Aguiar (1995) acreditam que o autoconhecimento adquire o
status de algo que se dá na relação com o outro, e não como algo que ocorre a
partir de uma reflexão isolada. O processo de orientação profissional em grupo
está baseado na troca de experiências e de concepções entre os jovens e na
reflexão conjunta sobre a escolha profissional.
2.3.2. O orientador
Nascimento & Coimbra (2005) manifestam que seria interessante avaliar
a relevância de uma orientação profissional de tópicos não exclusivamente
vocacionais, como também sócio-emocionais.
Erthal (1986) compreende que no contexto terapêutico o profissional se
preocupa em auxiliar o indivíduo a ampliar sua autoconsciência, a fim de
favorecer um aumento do potencial de escolha, o que pode ser transposto para
o contexto da orientação profissional.
A modalidade clínica de orientação profissional desenvolvida por
Bohoslavsky (1998) citada por Neiva (2007) compreende que o indivíduo é
44
ativo em seu processo de escolha, sendo que a função do orientador é
acompanhar o indivíduo em seu processo de reflexão, facilitando que este
gradualmente elabore sua identidade vocacional-ocupacional e chegue a uma
decisão consciente, madura e autônoma.
Compartilhando dessa idéia, Soares (1993 a) descreve que o facilitador
deve auxiliar o indivíduo a refletir e trabalhar as dificuldades que estão
impedindo a escolha, bem como Bock (2001) que acrescenta ser necessário
desmistificar a idéia de que o orientador fará um diagnóstico e um prognóstico
como fórmula de decisão. O essencial é criar condições para que o próprio
indivíduo reflita e decida.
2.3.3. O processo não-diretivo
Neiva (2007) acredita que a modalidade estatística em orientação
profissional apresenta a séria desvantagem de não envolver o jovem no
processo de tomada de decisão. A autora acrescenta que muitos indivíduos
consideram conveniente depositar no orientador e/ou nos testes psicológicos a
responsabilidade de sua decisão profissional.
Nascimento & Coimbra (2005) apontam que existe uma
sobrevalorização no papel do psicólogo no processo de intervenção e uma
excessiva confiança na eficácia da psicometria em processos de orientação
profissional.
A respeito disso, Campos & Coimbra (1991) citados por Nascimento &
Coimbra (2005), enfatizam que os testes psicológicos não permitem aos jovens
a conscientização de que o sucesso da escolha depende de um aspecto
45
importante que é a própria contextualização do comportamento vocacional no
conjunto de experiências que lhes permitem desenvolverem-se globalmente
enquanto pessoas.
Magalhães (2006) acrescenta que interpretar os resultados de
inventários de interesses como indicadores de ocupações mais apropriadas
para o indivíduo é um equívoco freqüente entre os práticos em orientação
profissional.
Dessa forma, Bock (2001) manifesta ser primordial considerar a
liberdade e a individualidade na Orientação Profissional, uma vez que elas dão
sentido ao processo. A liberdade assegura a possibilidade do indivíduo
desenvolver suas potencialidades. A individualidade é entendida como um
movimento interno, acreditando-se que todos nascem com atributos que se
desenvolvem ao longo da vida.
Oliveira (2001) aponta que é preciso que o jovem aprenda a ser, que
significa entrar em relação consigo mesmo. A autora acredita que;
“Aprender a ser supõe a preparação do indivíduo para elaborar
pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de
valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente às diferentes
circunstâncias da vida” (p.56).
Voltando ao presente trabalho, reitera-se que sua proposta buscou
propiciar um ambiente de orientação profissional que acolha e se preocupe
com os aspectos afetivo-emocionais dos participantes, sem se ater a medidas
psicométricas de avaliação.
2.4. OBJETIVOS
2.4.1. GERAL: Fazer um estudo exploratório do potencial do grupo
fenomenológico em relação à escolha profissional.
2.4.2. ESPECÍFICOS:
2.4.2.a. Descrever e compreender o sentido da escolha profissional para
as participantes no início do processo.
2.4.2.b. Descrever e compreender como as participantes se
beneficiaram na medida em que vivenciaram o grupo.
III- MÉTODO
Segundo Amatuzzi (2003), a pesquisa fenomenológica lida com
significados de experiências e trabalha com desdobramento de sentidos,
buscando o significado dos fenômenos para os indivíduos com eles envolvidos.
Esse tipo de pesquisa pretende dar conta do que acontece, pelo clareamento
do fenômeno. Não se pretende verificar, mas construir uma compreensão de
algo se baseando numa análise sistemática de registros de experiência.
Moreira (2004) compartilha dessa idéia ao afirmar que o pesquisador
fenomenólogo está sempre em busca do significado da experiência. Sendo
assim, a pesquisa fenomenológica valoriza a necessidade de buscar as
essências e de se voltar às coisas mesmas. Ao buscar compreender os
múltiplos significados da experiência vivida, o método fenomenológico inclui
uma visão de ser humano em tua relação com o mundo, com a cultura e
com a história.
Uma pesquisa de cunho fenomenológico é a pesquisa do vivido. O vivido
remete ao plano do significado e nada mais é do que a experiência imediata, o
sentimento primeiro, que não é obrigatoriamente “sabido” de antemão. É na
relação pessoal que surge a oportunidade de dizê-lo (Amatuzzi, 2001; 2003).
Neste trabalho, o vivido apareceu na relação, num contexto de
comunicação facilitada pela pesquisadora. Dessa forma, o que se pretendeu
estudar foi o significado do vivido que emergiu da relação entre pesquisadora e
participantes. O foco de análise desta pesquisa foi a experiência, buscando-se
compreender os sentidos e significados envolvidos na escolha profissional dos
participantes.
48
É relevante destacar o papel ativo da pesquisadora, que acompanhou
e facilitou todo fluxo do grupo de orientação profissional. Dessa forma, ela não
pode ser entendida apenas como agente de coleta de dados.
3.1.COLABORADORES
Amatuzzi (2003) considera que em uma pesquisa fenomenológica, não
existem sujeitos passivos e sim colaboradores, que junto com o pesquisador,
rão pensar sobre o assunto.
Tendo esta pesquisa um caráter fenomenológico/exploratório, adotou a
perspectiva de estudo de caso. Dessa forma, ela se configurou como o estudo
de um grupo de adolescentes que estivessem cursando ou que tenham
cursado o ano do Ensino Médio, menores de 21 anos, que pretendiam
prestar vestibular e que manifestaram interesse em participar do grupo de
reflexão sobre experiências de escolha profissional.
Participantes que colaboraram com esse estudo seguindo os critérios de
inclusão citados (os nomes são fictícios para preservar suas identidades).
Isabel de 19 anos, mora com a família do namorado, possibilidades
vocacionais na área de Exatas.
Laura de 18 anos, mora com a família, possibilidades vocacionais na
área de Biológicas.
Alice de 19 anos, mora com a família e possibilidades vocacionais na
área de Exatas.
49
Polyana de 18 anos, mora com a família, indecisa na escolha
profissional, porém com maiores possibilidades vocacionais na área de
Biológicas.
Júlia de 17 anos, mora com a família. Indecisa na escolha profissional,
porém com maiores possibilidades em optar por Economia.
Cabe considerar que se tentou formar um grupo heterogêneo, mas não foi
possível. Por isso, vale ressaltar que foi solicitada a participação de integrantes
do sexo masculino no grupo, porém o interesse de adolescentes meninos pelo
grupo o foi tão intenso quando comparado ao interesse das adolescentes
meninas no momento em que o grupo se formou. Faz-se relevante destacar
ainda que quatro das cinco participantes eram colegas antes do início do
grupo.
A pesquisa qualitativa de orientação fenomenológica propõe que o
estudo seja realizado com poucos participantes, possibilitando uma exploração
mais ampla de suas experiências.
O número inicialmente previsto para a composição do grupo foi de quatro
pessoas, porém o grupo teve a participação de cinco pessoas. Cinco sujeitos
constiruíram mero suficiente para esta pesquisa devido à possibilidade de
exploração e desenvolvimento do material gerado nos encontros.
50
3.2. Procedimentos
Neste estudo foi realizada uma intervenção grupal que ocorreu em 2008
em uma clínica psicológica particular. A pesquisadora participou dos
atendimentos como psicóloga voluntária e todos esses procedimentos
ocorreram após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade.
As participantes foram indicadas por psicólogos conhecidos da
pesquisadora. Elas foram convidadas por telefone pela pesquisadora a
colaborarem com este estudo e, em seguida, foi agendado uma data e horário
para a realização do primeiro contato do grupo. No primeiro encontro, a
pesquisadora relatou como seria o funcionamento do grupo e a necessidade de
assinar o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (Anexo 1). Antes da
primeira sessão, a responsável pela participante menor de 18 anos havia
assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos responsáveis de
participantes menores (Anexo 2).
A facilitadora do grupo foi a própria pesquisadora. Através da colaboração
do orientador desta pesquisa, foi escolhida uma co-facilitadora para que
houvesse a oportunidade de que uma profissional interessada neste tipo de
grupo pudesse vivenciar a prática do mesmo.
O grupo teve um total de cinco encontros, com duração de noventa minutos
cada um com periodicidade semanal. O grupo foi atendido numa sala própria
para atendimentos grupais onde havia cadeiras que acomodaram a facilitadora,
a co-facilitadora e as participantes.
O início do grupo foi marcado com um convite aberto para conversar
sobre a escolha profissional com a seguinte pergunta disparadora: “Qual a sua
história com relação à escolha profissional?”.
51
A partir dessa questão inicial a pesquisadora atuou como facilitadora da
comunicação e do processo grupal.
3.3. Formas de Registro
Após o término de cada encontro do grupo, foi solicitado às participantes
que fizessem um breve relato do sentido vivenciado na sessão que havia
acabado de terminar. Esse tipo de registro se denomina Versão de Sentido.
Segundo Amatuzzi (2001) Versão de Sentido (VS) é
“um relato livre, que não tem a pretensão de ser um registro
objetivo do que aconteceu, mas sim de ser uma reação viva a
isso, escrito ou falado imediatamente após o ocorrido, e como
uma palavra primeira. Consiste numa fala expressiva da
experiência imediata de seu autor, face a um encontro recém-
terminado” (p. 77).
Amatuzzi (2001) enfatiza que as versões de sentido têm o poder
de evocar lembranças e desdobramentos de sentido de seu autor, passando
para os ouvintes um sentido essencial. Este autor (1995) acrescenta que as
versões de sentido permitem que se tenha uma visão do processo no seu todo,
respeitando o essencial do que se quer considerar.
Neste estudo, as versões de sentido permitiram que as participantes
relatassem de forma breve os temas e os sentidos vivenciados em cada
encontro, além de permitirem que as participantes refletissem e organizassem
seu pensamento sobre a experiência vivida em cada sessão.
As versões de sentido foram escritas de próprio punho e para isso, foi
disponibilizado para cada participante uma caneta, meia página de papel sulfite
52
e uma prancheta. Ao transcrever as versões de sentido para o computador,
alguns erros gramaticais foram corrigidos para que não houvesse risco de
identificação das participantes deste estudo.
Além disso, após cada sessão grupal, a pesquisadora elaborou um texto
expressivo do encontro adotando um estilo narrativo para preservar o contato
com o vivido (Narrativa), no qual buscou relatar cada sessão vivenciada com a
preocupação em manter o fluxo do grupo e os dinamismos e sentimentos
expressados por cada participante. Adotou-se a primeira pessoa na redação
das narrativas dos encontros, por entender que no decurso de uma pesquisa
como esta, embora pesquisador e sujeitos tenham participado como parceiros,
foi porém responsabilidade da autora desse estudo redigir e sistematizar as
vivências do grupo de forma clara e próxima aos acontecimentos reais.
Entende-se que a pesquisadora deve se deixar “tocar” pela experiência do
outro, pois o acesso ao vivido não se a partir de uma aproximação
meramente cognitiva. A aproximação participativa do vivido com a finalidade de
elucidá-lo implica em uma mobilização dos participantes e da pesquisadora
(Amatuzzi, 2006).
O relato das ocorrências e as versões de sentido de cada sessão estão
em anexo, na íntegra (Anexo 3 e Anexo 4, respectivamente).
53
3.4 Sobre a Análise
Foram sistematizados cinco passos para a análise:
1. Foi lido todo o material produzido nas sessões (narrativas e versões
de sentido) para se ter noção do movimento do grupo;
2. a partir das versões de sentido e das narrativas foi descrito o fluxo
vivencial dos encontros;
3. as versões de sentido foram reescritas pela pesquisadora e
agrupadas por participante, retirando os sentimentos e percepções
predominantes em cada encontro. Isso foi feito para se ter uma visão do
caminho percorrido por cada indivíduo ao longo das sessões;
4. a partir da análise feita no item 3 e das narrativas, foi descrito o fluxo
vivencial de cada participante;
5. em seguida, foram descritas as etapas percorridas pelo grupo
retirando as percepções das participantes no fluxo dos encontros.
IV- SÍNTESE DE RESULTADOS
4.1. Fluxo Vivencial dos encontros
O início do grupo foi marcado com abertura das participantes à
possibilidade de vivenciar um processo de orientação profissional não-diretivo.
Logo no primeiro encontro foi dito às participantes que não receberiam ao final
do processo um relatório com profissões indicadas. Em nenhum momento, as
adolescentes se manifestaram frustradas e decepcionadas por não terem um
diagnóstico de opção profissional. Isso fica evidente no trecho abaixo:
“Fiquei bastante surpresa ao olhar para elas e não perceber uma
reação negativa esboçada em suas faces. Com isso, me senti
bastante aliviada e segura em continuar.” (1ª Narrativa).
1
No primeiro encontro do grupo, as participantes compartilharam um
sentimento de conforto ao perceber que possuíam problemáticas comuns,
como a dúvida profissional e a influência de familiares, como mostram as
versões de sentido a seguir:
“Achei o fato de estarmos com vidas em comum muito legal. A
troca de emoções e sentimentos é muito importante diante desse
momento de escolha pelo qual passo agora”. (VS1 Isabel).
2
“É muito bom saber que não sou só eu, mas também outras
pessoas que sofrem pressão dentro de si e de familiares”. (VS1
Alice).
1
O termo narrativa a partir desse momento empregado, tem o sentido geral de relato do
acontecer do grupo. A facilitadora-pesquisadora escreveu as ocorrências de cada encontro
baseando-se na sua experiência da relação com as participantes.
2
A partir desse momento, vou me referir às versões de sentido das participantes como VS.
55
Alguns temas começaram a surgir espontaneamente nesse encontro,
tais como: influências familiares, identificações com profissionais, disciplinas de
interesse e desinteresse, profissões de identificação e mercado de trabalho.
Dentre eles, o tema de identificações com profissionais foi o mais aprofundado.
Isso demonstra que o próprio grupo começou a nortear o fluxo que desejava
seguir, conforme suas necessidades.
Este encontro foi marcado pela partilha de sentimentos, idéias, valores e
experiências. A identificação entre membros do grupo também esteve
presente:
“A Júlia, nossa nova colega, me ajudou a perceber que não sou a
única que precisa mostrar as coisas para que os outros sintam
orgulho de mim, me dando alívio de que não sou um passarinho
fora do ninho’, e que talvez nós duas possamos construir
algo que nos ajude a superar esse sentimento” (VS1 Laura).
Além disso, o espaço grupal começou a propiciar sensação de pertença
a algumas participantes, uma vez que se sentiram aproximadas pelo que
possuem em comum e por terem percebido que dentro do grupo suas questões
eram aceitas e compreendidas.
“Adorei o encontro e me senti feliz de poder compartilhar
sentimentos, que nem todos compreendem e acabam
interpretando mal.” (VS1 Laura).
“É impressionante ver o quanto um gesto, uma conversa de cinco
minutos, pode mudar completamente uma opinião que
considerávamos formada. De certa forma, ‘tira’ o medo que
56
temos em nos expressar e contar fatos em nossas vidas.” ( VS1
Alice).
O sentido desse encontro foi a formação do grupo e a sensação de
pertença que as participantes experimentaram, já que ali estavam reunidas
pessoas com problemáticas comuns, e o reconhecimento de um espaço seguro
no grupo para compartilhar sentimentos sem julgamentos ou cobranças.
Na segunda reunião do grupo, o grupo discutiu aspectos relacionados à
escolha profissional. As participantes do grupo construíram juntas as
informações que consideram indispensáveis saber sobre uma profissão de
identificação. De certa forma, acabaram construindo uma entrevista com
questões que consideravam importantes saber sobre uma profissão de
interesse. Discutiram também aspectos relacionados ao retorno financeiro e
mercado de trabalho. Isso evidencia que nesse encontro o grupo se
autoconduziu na direção das suas necessidades.
Ainda neste encontro, as orientandas começaram a reconhecer que
sofrem influências e pressões de familiares e de amigos no momento da
escolha profissional. A identificação também esteve presente neste encontro,
pois Laura e Júlia trocaram experiências e opiniões semelhantes, que
auxiliaram no autoconhecimento de ambas.
“Laura disse ainda que se identifica muito com Júlia,
especificamente com sua praticidade e revelou que também se
enxerga assim. Júlia disse que é recíproco, pois também se
enxerga nas atitudes de Laura” ( 2ª Narrativa).
57
Uma vez estabelecida a segurança e a sensação de bem-estar no
grupo, as pessoas começaram a se sentir mais à vontade para conversar sobre
profissões de interesse e sobre pressões familiares.
No terceiro encontro, as participantes vivenciaram a possibilidade de
entrar mais em contato consigo mesmas, aumentando o autoconhecimento. O
eixo mais significativo desse encontro foi o fato de Polyana ter compartilhado
com as outras participantes sua história de vida familiar, confiando na
capacidade do grupo em ajudá-la. Todos os membros do grupo se envolveram
com a questão de Polyana, auxiliando-a a filtrar e eliminar maneiras de ser que
não estavam fazendo bem a ela, na tentativa de ajudá-la a se valorizar.
Também houve uma preocupação em auxiliá-la a discriminar seus interesses
profissionais. Através das discussões feitas a respeito da história de vida de
Polyana, o grupo pôde discutir aspectos relacionados às escolhas pessoais de
vida, tais como: renúncias e responsabilidades da escolha.
Neste encontro, o grupo esteve bastante focado em ajudar Polyana a se
valorizar e a habilitá-la a entrar em contato com sua família de maneira mais
real e construtiva. As reflexões feitas pelo grupo acerca da vida desta
participante, parecem tê-la direcionado a se resgatar e a acreditar mais nas
suas potencialidades e opiniões.
O andamento do quarto encontro do grupo foi diferenciado dos demais,
pois a conversa esteve focada em aspectos pessoais sem enfatizar
diretamente a escolha profissional. Foi um encontro permeado de emoções,
desabafos e partilha de vivências pessoais das participantes, onde todas
choraram bastante ao compartilhar e ao ouvir experiências dolorosas que
tiveram ao longo de suas vidas. A reunião deste dia representou um
58
aprofundamento dos vínculos pessoais e da amizade entre as participantes
presentes.
Foi um encontro que poderia se chamar “viagem para dentro de si”,
pois as adolescentes mergulharam profundamente dentro de si ao contar
questões íntimas de suas vidas. Polyana falou de seus problemas familiares
que incluem a pressão dos pais no momento da escolha profissional, sobre as
comparações que percebe que eles fazem entre ela e a ire sobre a falta de
reconhecimento dos pais dos seus potenciais. Isabel contou sobre seu
sofrimento em ter perdido seus pais e as dificuldades que viveu por conta
disso. Laura compartilhou sua dor em ter perdido a avó. Ficou evidente que as
participantes compartilharam suas experiências a fim de se fortalecer umas
com as outras e sentiram-se bem por isso, o que pode ser visto nas versões de
sentido a seguir.
“Além disso, as experiências não muito boas que a Isabel teve
com a morte de seus pais nos mostrou que ela ultrapassou
barreiras para ser vitoriosa com si mesma. Espero que a Polyana
tenha a mesma força dentro de si e construa com dedicação a
confiança que ela tanto necessita.” (VS4 Laura).
“As histórias que pudemos ouvir hoje, com certeza vão nos ajudar
a crescer. pessoas que passam por dificuldades maiores, mas
que conseguem curá-las e resolvê-las, basta começar por si
mesma.” (VS4 Polyana).
A partir desse momento, a confiança das participantes no grupo foi
crescendo a cada semana, por terem demonstrado uma comunicação mais
autêntica nesse encontro.
59
Além disso, com o passar dos encontros desenvolveu-se um clima
psicológico seguro que auxiliou a liberdade de expressão das participantes
neste dia. Outro fato que deve ser considerado é ausência de Júlia nesta
sessão, que pode ter contribuído para o diálogo íntimo das outras participantes.
Na última reunião do grupo, as participantes manifestaram que estavam
saindo diferentes de quando chegaram, pois aumentaram o conhecimento que
tinham de si e dos outros membros do grupo. O convívio e a identificação com
outras pessoas auxiliaram no autoconhecimento. Perceberam que o
conhecimento pessoal é o primeiro passo para a escolha profissional. Além
disso, começaram a se apropriar das suas opções de vida e das
responsabilidades contidas em suas escolhas.
O clima de confiança mútua veio numa crescente e o grupo foi
adquirindo capacidade terapêutica para tratar os sofrimentos e as dores dos
participantes com o passar dos encontros.
Embora as participantes tenham aceitado desde o início do grupo o
processo não-diretivo de orientação profissional, aos poucos foram construindo
um referencial interno, capaz de ajudá-las a direcionar suas vidas. Isso fica
claro nas versões de sentido a seguir:
“Às vezes, não conseguimos ‘enxergar’ nós mesmos, mas
devemos batalhar e persistir no nosso ‘defeito’, no nosso maior
obstáculo. Hoje percebei que, para conseguir o que mais quero,
devo correr atrás até alcançar e o me importar tanto com as
opiniões alheias.” (VS3 Polyana).
60
“As nossas conversas tem feito eu parar para pensar em coisas
que eu jamais pensei antes e isso está sendo muito bom para
mim.” (VS3 Júlia).
“Vou sair daqui com outra visão das pessoas e de mim, com a
consciência de que é preciso saber quem voé para tomar uma
decisão. Aprendi também que a responsabilidade das minhas
escolhas é só minha.” (VS5 Isabel).
“Vejo que não temos a obrigação de continuar algo por
simplesmente ter começado em nosso lar. Saio daqui com mais
coragem.” (VS5 Alice).
“Estou muito satisfeita por ter me conhecido um pouco mais, por
entender o significado da frase que muitos dizem: ‘é preciso se
conhecer antes de mais nada’. Achei que iríamos sair ‘destinados,
orientados’ para uma profissão, mas foi muito melhor que isso,
pois ninguém pode decidir por você além de você mesma(...)”
(VS5 Polyana).
4.2. Fluxo Vivencial de cada participante
Para descrever o fluxo vivido por cada participante recorreu-se às
versões de sentido escritas por ela e às narrativas elaboradas pela
pesquisadora.
Isabel:
Inicialmente Isabel demonstrou uma expectativa positiva quanto ao que
aconteceria no grupo. Ao mesmo tempo, ela descobriu o potencial de troca que
o espaço grupal tem.
61
Ao compartilhar as experiências, a expectativa anterior dela se
confirmou, dando início a um processo de autoconhecimento. Isso fica claro na
sua VS3:
“Vejo muita confusão diante das escolhas e aceitações; acho que
tudo isso vem do fato de ter pouco conhecimento de si mesma.
Ao longo dessas três quartas-feiras, pude parar e olhar mais para
o meu eu, observar coisas que eu não conseguia”.
No quarto encontro, houve um aprofundamento da amizade e dos
vínculos pessoais entre as participantes presentes no grupo.
Ao final do processo, o autoconhecimento e a noção de
responsabilidade adquiridas possibilitaram a Isabel sentir-se mais segura para
fazer opções.
Esse fluxo vivencial de Isabel aponta para uma elucidação dos
processos pessoais que envolvem a escolha profissional. Na visão de Isabel,
esses processos incluem: a noção de que o autoconhecimento é uma pré–
condição da escolha satisfatória e a responsabilidade pessoal das escolhas.
Laura:
No início do processo, Laura percebeu que a descoberta de lia
começou a auxiliá-la na descoberta de si mesma, como suas VS1 e VS2
sequencialmente mostram:
A Júlia, nossa nova colega, me ajudou a perceber que não sou a
única que precisa mostrar as coisas para que os outros sintam
orgulho me dando alívio de que não sou um ‘passarinho fora do
62
ninho’, e que talvez nós duas possamos construir algo que nos
ajude a superar esse ‘sentimento’.”
“Mais uma vez percebi que a Júlia é muitíssimo parecida comigo,
e assim me sinto bem em saber que pessoas parecidas
comigo, e que também posso mudar algo que realmente sei que
não é benéfico para ninguém.”
Denunciou ainda ter reconhecido no grupo um espaço seguro para
compartilhar sentimentos. Isso fica claro em um trecho de sua VS1:
“Adorei o encontro e me senti feliz de poder compartilhar sentimentos,
que nem todos compreendem e acabam interpretando mal...”.
Manifestou que a oportunidade de compartilhar informações no grupo,
auxilia no conhecimento das profissões, o que pode ser visto na sua VS2 e
VS3:
“Hoje pude perceber que quando cada um conta sua experiência,
faz com que voveja se algum dia você poderá trabalhar com
aquilo e trazendo também conhecimento sobre áreas que apenas
conhecemos por nome, e que não sabemos sobre sua rotina na
realidade.” (VS2)
“(...) discutimos sobre como se organizar no mercado de trabalho,
entre outros... Pude perceber que consegui contribuir com
algumas idéias, me sentindo útil para o conhecimento de todos e
para mim também”.
63
O fluxo vivencial de Laura demonstra que nos três primeiros encontros,
ela esteve mais focada em ajudar os outros participantes a refletir sobre suas
próprias vidas. Especificamente no quarto encontro, falou mais de si e
compartilhou uma experiência dolorosa de sua vida, na tentativa de ajudar
outras pessoas do grupo. Nesse encontro, Laura se mostrou mais emotiva.
Ao final do processo, Laura conseguiu descobrir novas potencialidades
em si mesma a partir das reflexões grupais. A partir da identificação com Júlia
pôde enxergar melhor a si mesma, aumentando assim seu autoconhecimento.
O grupo foi um espaço em que ela se abastecia pela troca de
informações, experiências e sentimentos, dando a ela uma sensação de
segurança e bem-estar. Além disso, experimentou no grupo uma escuta sem
julgamentos, como sua VS 5 mostra:
“Toda vez que saio do grupo, me sinto leve e com a sensação de
que nada de ruim pode me acontecer. O grupo me fez sentir bem
e parecendo que todos podiam me ouvir sem me recriminar e por
isso fico muito contente por tudo”.
Alice:
Alice se mostrou durante todo processo grupal, mais observadora do
que preocupada em se expressar verbalmente. Embora falasse pouco, estava
bastante presente no grupo, o que se manifestava na sua escuta atenta e nas
versões de sentido bastante expressivas durante os encontros.
No início do processo, Alice sentiu uma sensação de pertença e
identificação no grupo ao perceber que naquele espaço estavam reunidas
64
outras pessoas, que assim como ela, sofrem pressão interna (de si mesmo) e
familiar no momento da escolha profissional. Verifica-se isso na sua VS1:
“É muito bom saber que não sou só eu, mas também outras
pessoas que sofrem pressão dentro de si e de familiares (...)”
Durante todo o processo grupal Alice manifestou estar vivendo uma
dúvida no momento da escolha: estaria escolhendo uma profissão por gostar
dela ou para dar continuidade ao trabalho do pai? Isso fica evidente nas
versões de sentido a seguir:
“É impressionante ver o quanto um gesto, uma conversa de cinco
minutos, pode mudar completamente uma opinião que
considerávamos já formada.” (VS1).
“Questões como a cobrança dos pais sempre surgindo nos mostra
um certo ‘dever’ para com a escolha profissional.Talvez, o
cansaço, o desgaste durante o trabalho, acabam fazendo com
que uma pequena conversa familiar transmita certa pressão de
que o melhor a fazer é garantir uma renda e não a própria
felicidade. Nos sentimos abatidos, meio perdidos com essa
questão diversas vezes.” (VS 2).
Na metade dos encontros, Alice começou a se questionar sobre o que é
realmente necessário conhecer a respeito de uma profissão pra se “encantar”
por ela.
Ao final do processo, Alice demonstrou ter conseguido se fortalecer e se
encorajar através do grupo a fazer uma escolha profissional pessoal e
consciente, o que fica evidente na sua VS5:
65
“Percebo que, o que por muito tempo achávamos que seria certo,
talvez, não seja nosso propósito maior. Vejo que não temos a
obrigação de continuar algo por simplesmente ter começado em
nosso lar. Saio daqui com mais coragem”.
Na etapa final, Alice se conscientizou de seu poder de liberdade,
tomando contato com seu potencial de escolha e responsabilidade. Alice
ampliou sua consciência no decorrer do processo, posicionando-se de maneira
mais firme diante da escolha profissional no último encontro.
Polyana:
Inicialmente Polyana demonstrou expectativa de que o processo poderia
ajudá-la no seu autoconhecimento e na escolha profissional. Ao mesmo tempo,
ela sentiu-se aliviada ao perceber que assim como ela, outras pessoas também
vivem o dilema da dúvida profissional.
No segundo encontro do grupo, Polyana começou a perceber as
pressões e influências que sofre de familiares e amigos no momento da
escolha profissional, como se observa a seguir:
“O encontro de hoje me fez pensar em que a proximidade dos
pais, dos amigos interferem muito em nossas vidas, na questão
de eles poderem dizer como você é, seu jeito de ser.” ( VS2)
No encontro seguinte, Polyana começou a falar mais de si e de seus
problemas. Nesta etapa, se conscientizou de que é ela quem permite que
familiares e amigos façam escolhas por ela. Polyana começou a reconhecer
66
também que necessita buscar se conhecer melhor para fazer opções de vida.
Iniciou uma ampliação de sua consciência neste momento.
Nos terceiro e quarto encontros falou bastante de si e confiou na
capacidade do grupo em ajudá-la.
Especificamente no quarto encontro, foi feita uma discussão em torno
de Polyana e as pessoas foram falando de suas vidas, na tentativa de ajudá-la
e fortalecê-la. Neste sentido, pode-se dizer que o tom desse encontro esteve
pautado em discussões pessoais sem enfatizar diretamente a escolha
profissional.
Ao final do processo, Polyana demonstrou reconhecer que antes de
fazer escolhas de vida, é preciso se conhecer. Neste momento, mostrou
começar a se apropriar de seu poder de liberdade e se conscientizou de que a
escolha profissional é individual. Mostrou que a troca de conhecimentos foi
importante para tomar contato com diferentes profissões, auxiliando assim na
sua escolha profissional. Isso fica claro na sua VS5:
“Achei que iríamos sair ‘destinados, orientados para uma
profissão, mas foi muito melhor que isso, pois ninguém pode
decidir por você além de você mesma, simplesmente podemos
trocar conhecimentos para ajudarmos uns aos outros.”
No início do processo grupal Polyana se mostrou insatisfeita consigo
mesma por se considerar uma pessoa insegura e denunciou que não se
valoriza como gostaria. No grupo Polyana pôde ser ela mesma, sendo aceita
por todos. Nos terceiro e quarto encontros, as participantes demonstraram suas
67
percepções sobre Polyana e fizeram-na acreditar mais em seus potenciais e
qualidades. Polyana demonstrou estar mais segura de si ao final do processo.
Júlia:
Inicialmente Júlia demonstrou uma expectativa de que a capacidade de
troca de informações e sentimentos no grupo poderia ajudá-la.
Essa expectativa se confirma ao se identificar com Laura e ao se
beneficiar com a troca de informações no grupo, como sua VS2 explicita:
“O encontro de hoje me fez pensar em várias coisas, como a
identificação com o próximo nos ajuda a nos sentir bem. O fato de
poder trocar informações com outras pessoas que não convivem
comigo também é um fator muito interessante.”
Nesse mesmo encontro, Júlia manifestou ainda ter reconhecido no grupo
um espaço seguro para compartilhar sentimentos sem julgamentos ou
cobranças. O trecho a seguir de sua VS2 ilustra isso:
“Além da possibilidade da troca de informações, os encontros têm
sido para mim a possibilidade de um refúgio, onde eu posso
desabafar e expor meus sentimentos sem nenhuma cobrança.
Aqui é um lugar onde eu me sinto à vontade para expor meus
pensamentos.”
No decorrer dos encontros, Júlia iniciou um processo de
autoconhecimento e ampliação da consciência através das discussões em
grupo, como pode ser visto na sua VS3:
68
“As nossas conversas tem feito eu parar para pensar em coisas
que eu jamais pensei antes e isso está sendo muito bom para
mim.”
Júlia faltou no quarto encontro do grupo e manifestou ter se sentido mal
ao perceber que foi um encontro bastante rico e que não estava presente,
como pode ser observado na mensagem que enviou ao e-mail do grupo:
“Olá meninas... Tudo bem com vocês? Infelizmente não deu pra
eu ir hoje... vi que perdi muita coisa...”.
Ao final do processo, Júlia reconheceu que no início dos encontros,
sentiu desconfiança de que a proposta poderia ser eficaz, mas ao longo do
processo reconheceu o potencial de troca de experiências no grupo como algo
que foi positivo para ela. Mostrou ainda ter se sentido ouvida e ajudada no
grupo. Isso pode ser visto na sua VS5:
“Volto a dizer que cheguei com muito medo e desconfiança, mas
com o passar dos encontros isso foi embora. Levo os nossos
encontros como uma experiência de vida ótima, saio muito
satisfeita com um gostinho de quero mais! Foi uma oportunidade
única! Agradeço a todos por me ouvirem e por tentarem de
alguma maneira me ajudar.”
4.3. Etapas percorridas pelo grupo
Analisando de maneira geral o fluxo percorrido pelo grupo, observa-se
que no início do processo houve um sentimento de alívio quando as
participantes reconheceram problemáticas comuns em suas vidas. Essa
69
identificação mútua aliada ao clima de não julgamento e aceitação, culminou no
desenvolvimento de sensação de pertença no grupo. Em seguida, focalizam a
questão da escolha profissional ao compartilharem informações sobre
carreiras.
Na metade do processo, as participantes começam a falar mais de si e
aumentando o autoconhecimento. Nesta etapa adquiriram também grande
cumplicidade ao partilharem questões extremamente pessoais. Ao final do
processo, algumas participantes mostram-se mais questionadoras, com
pensamentos mais autônomos e críticos sobre suas vidas e começam a se
apropriar de suas escolhas de vida. Todas as participantes demonstraram ter
ampliado o autoconhecimento.
No decorrer do processo, as etapas do grupo foram marcadas com
percepções, as quais seguem abaixo:
4.3.1. Influências familiares, de amigos e de professores
As participantes desse estudo manifestaram nas discussões grupais que
no momento da escolha profissional sofrem influências da família, amigos,
professores e também mostram que sofrem pressões familiares, da escola e da
eminência das provas de vestibulares, como veremos a seguir.
“Seu relato (de Polyana) mostrou também que ela sente que seus
pais a comparam muito com a irmã, o que a faz se sentir muito
pressionada por eles.” (Narrativa 1º encontro).
“Júlia disse que este ano não prestará vestibular, mas acredita
que, quando for prestar, escolherá Economia, pois sua mãe diz
70
que é uma profissão que tem retorno financeiro.” (Narrativa
encontro).
“Júlia contou também que sua mãe a aconselhou a cursar
Psicologia, que na filha uma boa conselheira”. (Narrativa
encontro).
“Questões como a cobrança dos pais sempre surgindo nos mostra
um certo ‘dever’ para com a escolha profissional.Talvez o
cansaço, o desgaste durante o trabalho, acabam fazendo com
que uma pequena conversa familiar transmita certa pressão de
que o melhor a fazer é garantir uma renda e não a própria
felicidade. Nos sentimos abatidos, meio perdidos com essa
questão diversas vezes.” ( VS2 Alice).
“O encontro de hoje me fez pensar que a proximidade dos pais,
dos amigos interfere muito em nossas vidas, na questão de eles
poderem dizer como você é, seu jeito de ser.” (VS2 Polyana).
“Alice complementou que seria interessante saber como a família
do profissional reagiu com a escolha dele e se houve influência da
família nessa escolha ou não. Nesse momento, passou pela
minha cabeça que Alice poderia estar sendo influenciada por sua
família.” (Narrativa 3º encontro).
“Isabel disse que considera o depoimento de um profissional
muito importante. Contou que um professor do seu cursinho disse
que, para ele, a prática de dar aulas é algo apaixonante e que,
depois que se inicia essa prática, não consegue mais parar. Isabel
disse ainda que se imagina no futuro dando aulas. Comentei ter
percebido que essa manifestação do professor de Isabel foi um
71
dado que a influenciou na escolha de maneira positiva. Isabel
disse que sim.” (Narrativa 3º encontro).
“Júlia perguntou para Polyana se ela tinha pressa de entrar na
faculdade. Polyana respondeu que os pais não queriam mais
pagar cursinho e gostariam que ela entrasse direto na faculdade.
Em seguida, perguntei como Polyana se sentia com essa atitude
dos pais. Ela respondeu que se sente pressionada. (...) Polyana
soltou as lágrimas e começou a chorar e disse que seus pais
esperam que ela seja aprovada numa faculdade pública.
(Narrativa 3º encontro).
“Alice contou que largou o cursinho e disse que, a partir de agora,
vai se dedicar em ajudar o pai com projetos de elevador. Falou
que não é apaixonada por esse trabalho, mas vai querer prestar
Engenharia Civil para poder ajudar o pai. Em seguida, perguntei o
que a levava a fazer essa opção. Alice respondeu que, se ela não
trabalhar para o pai, ele terá que pagar para alguém fazer o
trabalho e, que tem conhecimento de como trabalhar na área,
ela sentiu que deveria ajudá-lo. (Narrativa 4º encontro).
Diante de influências externas (naturais e compreensíveis), as
participantes demonstraram não possuir um espaço onde pudessem expressar
suas vivências no momento da escolha profissional com total liberdade. Neste
sentido, o grupo de orientação profissional não-diretivo representou para as
participantes esse espaço para que elas pudessem expressar e compreender
suas experiências e sentimentos envolvidos nessa fase de suas vidas.
72
4.3.2. O grupo auxiliou na ampliação do autoconhecimento e da
consciência
O grupo proposto foi promotor de autoconhecimento e ampliação de
consciência, visto que as participantes puderam se conhecer melhor na medida
em que iam se relacionando consigo mesmas e com as outras pessoas do
grupo. As pessoas envolvidas neste processo grupal puderam ter ainda
expressão livre e neste sentido, experimentaram feedbacks
3
de umas para
outras, podendo aprender de que maneira são vistos uns pelos outros. Os
relatos abaixo explicitam isso:
“Laura falou para Polyana pensar em Terapia Ocupacional, pois
percebe que ela gosta de cuidar de pessoas e imagina que não
faltaria trabalho para a colega. (Narrativa 1º encontro).
“(...) Laura comentou que considera Polyana bastante indecisa, ao
perceber que a colega pensa em várias profissões ao mesmo
tempo e cada momento deseja seguir uma”.( Narrativa
encontro).
“(...) Isabel disse à lia que, ao mesmo tempo em que a percebe
como uma pessoa decidida e prática, também a como uma
pessoa muito sensível ao que os outros falam. Nesse momento,
Júlia concordou com gestos, mostrando que a reflexão de Isabel
fez sentido e foi importante para ela.”(Narrativa 2º encontro).
“Ao longo dessas três quartas-feiras, pude parar e olhar mais para
o meu eu, observar coisas que eu não conseguia” (VS3 Isabel).
3
Fornecer feedback é exprimir a outro a maneira como o estou percebendo e sendo
afetado por ele. Rogers (2002).
73
“Laura disse que acredita que Polyana não respeita sua própria
opinião e que acredita mais nos outros do que em si mesma.”
(Narrativa 3º encontro).
“Júlia disse perceber que Polyana não consegue realizar suas
coisas, pois antes mesmo de tentar algo, antecipa que não irá
conseguir. Complementou que cria um pensamento negativo, que
funciona como barreira para suas conquistas. Polyana parece ter
acatado o comentário de Júlia, pois disse que realmente pensa
que precisa mudar e acreditar mais em si mesma” (Narrativa
encontro).
“Júlia perguntou se Polyana tinha medo de algo e ela respondeu
que, muitas vezes, tem a impressão de que o se conhece bem.
Perguntei para Polyana, se em outras palavras, estava nos
dizendo que é preciso se conhecer bem para fazer escolhas.
Polyana disse que sim. Comentei que achava positivo ela
reconhecer que está faltando autoconhecimento e disse que esse
reconhecimento é o primeiro passo para a mudança” (Narrativa
encontro).
“Questionei se alguém do grupo gostaria de dizer algo para
Polyana. Laura disse que freqüentemente fica preocupada com
Polyana e pensa que seria importante que a colega falasse aos
pais aquilo que a magoa.” (Narrativa 4º encontro).
“Em seguida, Laura se dirigiu a Polyana e disse com firmeza que
ela deveria acreditar que seus problemas, a partir de agora, não
iriam mais derrubá-la e que era preciso que ela caísse e
levantasse quantas vezes fossem necessárias.” (Narrativa
encontro).
74
A seguir seguem relatos que comprovam momentos de ampliação da
consciência das participantes:
“(Laura) Comentou que, toda vez que saía do grupo, se sentia
mais leve e com uma consciência mais ampliada. Falou que
ficava calma, sossegada e na expectativa para o próximo
encontro.” (Narrativa 5º encontro).
“Vou sair daqui com outra visão das pessoas e de mim, com a
consciência de que é preciso saber quem voé para tomar uma
decisão.” (VS5 Isabel).
“Estou muito satisfeita por ter me conhecido um pouco mais, por
entender o significado da frase que muitos dizem: ‘é preciso se
conhecer antes de mais nada’ “. (VS5 Polyana).
4.3.3. O outro atuou como mediação para a descoberta de si mesmo
Em alguns momentos, a descoberta do outro atuou como mediação para
a descoberta de si mesmo. Além disso, as participantes foram se descobrindo
e ampliando a consciência de si na medida em que se relacionavam com os
outros. Dessa forma, o grupo o-diretivo permitiu que as participantes
ampliassem seu autoconceito, conforme se observa nos exemplos a seguir:
“A Júlia, nossa nova colega, me ajudou a perceber que não sou a
única que precisa mostrar as coisas para que os outros sintam
orgulho de mim me dando alívio de que não sou um passarinho
fora do ninho’, e que talvez nós duas possamos construir algo que
nos ajude a superar esse ‘sentimento” (VS1 Laura).
75
“Laura disse ainda que se identifica muito com Júlia,
especificamente com sua praticidade e revelou que também se
enxerga assim. Júlia disse que é recíproco, pois também se
enxerga nas atitudes de Laura. Considero que o fato de Júlia ter
servido de espelho para Laura e vice-versa foi muito importante
para que ambas pudessem ampliar seu autoconhecimento.”
(Narrativa 2º encontro).
“Mais uma vez percebi que a Susana é muitíssimo parecida
comigo, e assim me sinto bem em saber que pessoas
parecidas comigo, e que também posso mudar algo que
realmente sei que não é benéfico para ninguém”. (VS2 Laura)
“Aprendi com a Júlia que algumas atitudes que ela tem eu
também tenho e que, às vezes, as pessoas comentam e
recriminam. Vendo uma pessoa que tem atitudes parecidas com
as minhas, pude perceber que, às vezes, as pessoas têm razão.
Assim, tento, a cada dia, melhorar com esses defeitos que todas
temos, tentando assim ser uma pessoa melhor.” (VS5 Laura).
4.3.4. Sensação de pertença
O grupo desse estudo permitiu que as participantes sentissem na
atmosfera grupal uma sensação de pertença, pois experimentaram
identificações umas com as outras. Além disso, naquele espaço puderam
76
compartilhar sentimentos, idéias e valores sem julgamentos, os quais foram
efetivamente acolhidos e respeitados por todos os membros. Isso aumentou a
sensação de pertença no grupo e favoreceu o diálogo sincero entre elas. Ao se
sentirem aceitas, acolhidas e não julgadas no grupo, as participantes
conseguiram entrar mais em contato consigo mesmas e, como foi dito
anteriormente, o autoconhecimento aumenta a liberdade e o potencial de
escolha. Essa sensação de pertença no grupo pode ser vista nos trechos a
seguir:
“Adorei o encontro e me senti feliz por poder compartilhar
sentimentos, que nem todos compreendem e acabam
interpretando mal (...)” (VS1 Laura).
“É muito bom saber que não sou só eu, mas também outras
pessoas que sofrem pressão dentro de si e de familiares (...) De
certa forma, ‘tira’ o medo que temos de nos expressar e contar
fatos em nossas vidas.” (VS1 Alice).
“Estou crescendo com as observações feitas nesse grupo, e a
sensação de poder contar o que passa e ser ouvida é muito boa,
faz com que eu me sinta mais leve.” (VS2 Isabel).
“(...) Os encontros têm sido para mim a possibilidade de um
refúgio, onde eu posso desabafar e expor meus sentimentos sem
nenhuma cobrança. Aqui é um lugar onde eu me sinto à vontade
para expor meus pensamentos.” (VS2 Júlia).
4.3.5. Percepção da liberdade e responsabilidade das escolhas
No decorrer do processo, o grupo promoveu autonomia do eu, na
medida em que auxiliou as participantes a lidarem melhor com as influências
77
externas de amigos e familiares. Nesse sentido, as participantes começaram a
assumir sua liberdade de escolha. Ao mesmo tempo, começaram a se
conscientizar de que a idéia de liberdade está atrelada ao senso de
compromisso e responsabilidade pelas opções de vida que fazem o que pode
ser observado a seguir:
“Aprendi também que a responsabilidade das minhas escolhas é
só minha.” (VS5 Isabel).
“Achei que iríamos sair ‘destinados, orientados’ para uma
profissão, mas foi muito melhor que isso, pois ninguém pode
decidir por você além de você mesma” (VS5 Polyana).
4.3.6. A troca de informações aumentou o potencial de escolha
No decorrer do processo, as participantes compartilharam informações
referentes a faculdades, cursos, mercado de trabalho, entre outras. A troca de
informações profissionais dentro do grupo auxiliou na ampliação dos
conhecimentos sobre diferentes carreiras, aumentando assim o potencial de
escolha das participantes, como demonstram as versões de sentido abaixo:
“Hoje pude perceber que quando cada um conta sua experiência,
faz com que voveja se algum dia você poderá trabalhar com
aquilo e trazendo também conhecimento sobre áreas que apenas
conhecemos por nome, e que não sabemos sobre sua rotina na
realidade” (VS2 Laura).
“O fato de poder trocar informações com outras pessoas que não
convivem comigo também é um fator muito interessante. “(VS2
Júlia)
78
4.3.7. O grupo funcionou como espaço de ajuda mútua
A orientação profissional deste grupo foi não-diretiva, pois não havia um
programa pré-estabelecido. As participantes foram trazendo questões
espontaneamente na medida em que sentiam necessidades, como pode ser
visto no trecho da narrativa abaixo:
“O encontro de hoje me causou uma sensação de que dois temas
que julgo serem extremamente importantes em discussões de
orientação profissional (mercado de trabalho e pressões
familiares) foram trazidos espontaneamente por elas, o que me
faz crer que um grupo é capaz de se auto-sustentar.” (Narrativa
encontro).
À medida que as questões e problemas pessoais das participantes iam
surgindo, eram explorados e resolvidos pelo próprio grupo, recorrendo à
facilitadora apenas para feedbacks, o que denuncia uma capacidade do grupo
de se auto-apoiar, como se observa a seguir:
“Aprendi hoje que, mesmo conhecendo as pessoas, nós o
fazemos idéia de como é o relacionamento que elas possuem
com os seus familiares. Não sabemos se as pessoas estão bem
ou precisam de ajuda, como aconteceu com a Polyana nesse
encontro, onde pudemos ouví-la e entender a turbulência [familiar]
que ela está passando.” (VS4 Laura).
Essa ajuda mútua ocorreu em vários momentos do grupo.
“Outras participantes comentaram que Júlia não deve julgar sua
experiência como inválida, pois se não tivesse passado por ela
79
(cursar cnico em Publicidade e Propaganda), poderia estar
pensando agora em prestar esse curso hoje, pois não saberia
como a profissão funciona na prática. Disseram que poderia ser
mais traumático para ela ter que parar um curso universitário do
que um técnico. Júlia concordou e acrescentou que ela
recomendaria para quem está no Ensino Fundamental que fizesse
um curso técnico, para experimentar determinada área e ver se
gosta ou não.” (Narrativa 2º encontro).
O quadro abaixo explicita o movimento percorrido pelo grupo:
1. As participantes expressam que receberam influências de familiares,
professores e amigos;
2. O grupo funcionou como espaço para as participantes expressarem com
liberdade seus sentimentos;
3. O grupo foi promotor de autoconhecimento e ampliação da consciência;
4. O outro atuou como mediação para a descoberta de si mesmo;
5. O grupo auxiliou as participantes a lidarem melhor com as influências
externas;
6. A troca de informações sobre profissões auxiliou no conhecimento de
diversas carreiras, aumentando o potencial de escolha;
7. O grupo funcionou como espaço de ajuda mútua;
8. Não tendo um programa pré-estabelecido, o próprio grupo norteou as
informações que desejava obter conforme as necessidades das participantes.
V- DISCUSSÃO
Nesta etapa foi realizada a discussão baseando-se nos objetivos
previstos na introdução deste trabalho.
5.1. Grupo não-diretivo
Essa proposta se propôs ser um trabalho não-diretivo de orientação
profissional, no sentido de não partir de um programa pré-estabelecido. Além
disso, não tinha uma preocupação prévia de utilizar instrumentos e de realizar
diagnósticos, por acreditar-se que os instrumentos direcionam os indivíduos
para diferentes profissões pelas suas capacidades desconsiderando a história
de vida de cada um.
Neiva (2007) compartilha desse pensamento ao considerar que a
modalidade de orientação profissional baseada em instrumentos apresenta a
desvantagem de não envolver o jovem em seu próprio processo de decisão. A
autora acrescenta que nesta situação, o jovem tem papel passivo ao esperar
uma resposta do orientador, sem assumir a responsabilidade de seu processo
de decisão.
Nesse estudo houve um desejo em superar a modalidade estatística em
orientação profissional, devolvendo ao jovem sua capacidade de reflexão, de
liberdade de escolha e de responsabilidade por suas opções de vida.
Desde o início, foi esclarecido ao grupo que não seria um atendimento
diretivo. O que Rogers (2002) diz dos grupos de encontro se aplica neste
trabalho. Ele ressalta que desde o início o facilitador esclarece que se trata de
um grupo com liberdade e não um grupo em que o coordenador assume a
81
responsabilidade de dirigir. Os indivíduos percebem que quem estruturará os
encontros serão eles mesmos.
Bowen (1987) citada por Cavalcante (2008) considera que o facilitador
acredita que é a pessoa quem determina o destino e o caminho a seguir, além
de confiar na capacidade do indivíduo em tornar-se uma pessoa em pleno
funcionamento.
Rogers (1995) aponta que o terapeuta entra na relação não como um
médico que busca o diagnóstico nem como um cientista, mas como uma
pessoa que se insere numa relação pessoal. O´Hara (1983) acrescenta que ao
invés de ser um “expert”, o terapeuta renuncia ao poder e ao controle sobre a
situação e se transforma num colaborador na exploração do mundo imediato
do indivíduo. Renunciar ao controle significa aceitar que o mundo de cada um é
único, o que possibilita entender que as escolhas de vida de uma pessoa são
igualmente únicas e individuais. Embora esses autores não estejam se
referindo explicitamente a um grupo de orientação profissional, suas
afirmações se aplicam ao grupo não-diretivo que realizamos.
Vários processos de orientação profissional colocam o orientador numa
posição de perito que tem o poder para ler o mundo interno do jovem como se
fosse um texto para indicar-lhe opções profissionais. A pesquisadora concorda
com Rogers (2002) no que se refere à idéia de não responsabilizar-se pelos
membros do grupo, mas caminhar num processo junto deles.
Além disso, a prática deste estudo não antecipou conhecimentos e
possíveis conclusões acerca da vida dos indivíduos. Os sentidos foram sendo
captados, atribuídos e produzidos na relação dialógica entre pesquisadora-
82
facilitadora
1
e participantes, que compartilharam do mesmo mundo e ao
mesmo tempo. À medida que as situações experenciais emergiam, a
conversação grupal ia dando forma a elas.
No livro “Grupos de Encontro
2
, Rogers demonstra não ser um
terapeuta preocupado em planejar atividades, aplicações de técnicas e
conhecimentos dirigidos para os grupos. Inicia nessa obra uma atividade em
que o facilitador passa a se guiar pelo processo de relações entre os
participantes do grupo, estando mais preocupado em garantir as possibilidades
de expressão de sentimentos dos mesmos. Bock (2001) acrescenta que é
preciso desmistificar o conceito de que o orientador fará um diagnóstico como
fórmula de decisão. O primordial é criar condições que favoreçam a reflexão e
decisão do jovem.
Rogers (1976) concorda com a idéia de não vislumbrar um diagnóstico
por entender que cada indivíduo tem experiências singulares e próprias
norteadoras num processo de escolha. Isso sinaliza respeito à liberdade de
escolha de cada um.
A proposta deste estudo se assemelhou a de Bohoslasky (1998) no que
se refere à valorização do papel ativo do adolescente no processo de
orientação profissional enquanto cabe ao orientador facilitar o processo
ajudando o jovem a mobilizar sua capacidade de decisão autônoma.
O grupo não-diretivo de orientação profissional considerou as
experiências pessoais das participantes, o que permitiu que elas iniciassem um
processo de construção de significados pessoais cada vez mais criativos,
organizados e integrados. Isso fica bastante evidente principalmente nos fluxos
1
O termo pesquisadora-facilitadora a partir desse momento empregado denuncia que a
pesquisadora fez parte da experiência em grupo.
2
Rogers, Carl, Grupos de Encontro, São Paulo, Martins Fontes, 2002, 8ª ed.
83
de Alice e Polyana que através das experiências nas relações consigo e com
os outros, puderam criar e recriar compreensões acerca de suas realidades. No
decorrer dos encontros, as discussões grupais permitiram que Alice
resignificasse sua escolha profissional e acessasse a coragem para mover-se
diante das influências que sofre. O fluxo vivido por Polyana denota que inicia
um processo de apropriação de sua identidade, resgatando seu poder de
liberdade e responsabilidade diante das suas escolhas.
A pesquisadora-facilitadora entende que coordenar não significa
orientar, pois quem conhecia o melhor caminho a ser seguido eram as próprias
participantes. Acredita também ainda que as respostas das dúvidas e das
perguntas das participantes estavam dentro delas mesmas. A respeito disso,
Rogers (1995) argumenta:
“A experiência é, para mim, a suprema autoridade. A minha própria
experiência é a pedra de toque de toda a validade. Nenhuma idéia de qualquer
outra pessoa, nem nenhuma das minhas próprias idéias, tem a autoridade e
que se reveste minha experiência. É sempre à experência que eu regresso,
para me aproximar cada vez mais da verdade, no processo de descobri-la em
mim.” ( Rogers, 1995, p. 28).
O próprio grupo foi quem norteou a direção que desejava seguir,
conforme suas necessidades e objetivos. Um exemplo disso se encontra no
segundo encontro, onde as participantes construíram juntas as informações
que consideraram relevantes saber a respeito de profissões de interesse. Além
disso, exploraram temas como mercado de trabalho e pressões familiares.
Sendo assim, o trabalho da pesquisadora-facilitadora esteve voltado para
84
facilitar o processo na medida em que as dificuldades das orientandas eram
manifestadas.
Em alguns momentos do processo (primeiro e terceiro encontros) a
pesquisadora-facilitadora interrompeu o fluxo vivencial do grupo ao quebrar o
silêncio que estava se manifestando. Amatuzzi (2001) acredita que o silêncio
não deve apenas ser entendido como ausência de ruídos, mas como algo
positivo no plano das significações e acrescenta que compreender o silêncio
significa ouví-lo escondido em qualquer fala.
Bowen (2008) complementa:
“Silêncio não nasce da passividade ou da desconectividade, mas o tipo
de silêncio que as pessoas o espaço para entrarem em contato consigo
mesmas e de fazerem trabalhos interiores, sem terem que despender suas
energias em respostas ou em reconhecimentos das empatias dos outros. O
tipo de silêncio que torna a criatividade possível, que possibilita a incubação
necessária para parir novos ‘ insights’ e novas idéias. (Bowen, 2008, p. 49).
Fonseca (1988) descreve que uma característica fundamental dos
grupos vivenciais é que o facilitador não tem nenhum programa a priori para o
grupo, sendo que o essencial é centrar-se cada vez mais na vivência e
expressividade presente do participante e do grupo como conjunto. Considera
ainda ser importante respeitar o fluxo natural dos interesses, excitações assim
como o fluxo da configuração dinâmica dos sentimentos, conhecimentos,
raciocínios e intuições do grupo.
O grupo deste estudo teve uma capacidade de se autosustentar, visto
que à medida que as questões e problemas iam surgindo, o próprio grupo
explorava-os e resolvia-os, recorrendo à facilitadora apenas para feedbacks. O
85
clima de confiança veio numa crescente no grupo, o que se observa quando as
participantes mostram uma capacidade natural para lidar com a dor e o
sofrimento umas das outras, como ocorreu no quarto encontro.
Rogers (2002) considera que uma das evoluções mais freqüentes é o
sentimento de confiança, calor humano e simpatia pelos membros do grupo. O
autor acredita que o grupo manifesta alterações em seu comportamento,
normalmente tendendo para serem sujeitos mais espontâneos e reais. Assim,
as pessoas mostram espantosa capacidade de solicitude e ajuda um para com
os outros com o passar dos encontros. Isso pôde ser visto no grupo não-
diretivo de orientação profissional principalmente nos terceiro e quarto
encontros.
Wood (1994) citado por Amatuzzi (1996) acredita que experiências em
grupo possuem um relacionamento terapêutico que consiste em pessoas
inclinadas para ajudar, ouvir com atenção as outras e participar na
reorganização das percepções dos indivíduos sobre si próprios.
O quarto encontro do grupo foi bastante profundo e essencial, onde a
expressão de sentimentos resultou em maior intimidade entre as participantes.
Nesta sessão, ao ouvir o relato de Isabel a respeito da morte de sua mãe, a
pesquisadora-facilitadora sentiu uma imensa vontade de chorar, mas se
contive. Percebeu que se tivesse chorado, não estaria sendo menos
profissional, mas permitiria mostrar ao grupo toda grande empatia para com
ele. A respeito disso, Rogers (2002) manifesta que ao ser empático com as
tensões do grupo, o profissional mostra sua capacidade para confortar uma
pessoa, com uma afeição compreensiva e verdadeira.
86
5. 2. Influências Sociais
Várias participantes deste estudo manifestaram nas discussões grupais
receber influências externas de familiares, amigos e professores no momento
da escolha profissional. Neiva, Miranda e Esteves (2005) acreditam que a
escolha profissional é multifatorial, uma vez que vários fatores a influenciam:
familiares, educacionais, sociais, psicológicos, econômicos e políticos.
Gonçalves (1997) citado por Gonçalves e Coimbra (2007) considera que
os pais tendem a transmitir aos filhos as dimensões que eles próprios
consideram importantes para o sucesso profissional.
Assim como Neiva (2007), a pesquisadora deste estudo compreende
que o adolescente deve se conscientizar do papel que sua família exerce em
seu processo de decisão profissional. Para que isso ocorra, faz-se necessário
que existam discussões familiares em torno do problema da escolha, e que
sejam esclarecidas as percepções e posturas de cada integrante da família.
Este estudo compartilha da idéia de Soares (1993a) ao entender que a
escolha é do adolescente e ninguém tem o direito de interferir nela. Porém, a
autora deste trabalho pensa que existe uma tendência natural dos pais
manterem sua função de orientadores’, que transmitem ao longo da vida
valores, normas e crenças aos filhos, que de certa forma, são referenciais da
escolha. Contudo, a pesquisadora considera ser importante que os
adolescentes ouçam seus pais e reflitam sobre o que eles dizem, sem perder
sua autonomia de decisão pessoal.
Erthal (1986) compreende que ao se permitir influenciar pelas pressões
que sofre, o indivíduo nega sua liberdade e reduz sua possibilidade de escolha.
À medida que tais pressões eram manifestadas no grupo, a pesquisadora-
87
facilitadora tentava ajudar as participantes a refletir sobre essas questões.
Alice, Júlia e Laura tiveram a possibilidade de entrar em contato com as
influências e pressões familiares que sofrem o que permitiu que começassem a
refletir a respeito disso.
5.3. Percepção da liberdade e responsabilidade das escolhas
O grupo foi promotor da autonomia do eu, na medida em que auxiliou os
indivíduos a se conscientizarem e a lidarem melhor com as influências que
recebem.
As reflexões grupais em torno da escolha, abarcaram questões
implícitas como liberdade, senso de responsabilidade e renúncias no ato de
escolher. Isso permitiu que as participantes ampliassem sua consciência de
que a escolha pode ser uma possibilidade responsável de se exercitar o
potencial de liberdade de cada um.
A pesquisadora entende, assim como Sartre (1948) citado por Erthal
(1988), que o conceito de liberdade está incorporado ao conceito de
responsabilidade. Spaccaquerche (2005) acrescenta que a escolha é um
exercício de liberdade e ao fazer uma opção profissional através de um
processo de reflexão, o indivíduo está mais consciente de seus atos e das
conseqüências dos mesmos.
Desde o início deste trabalho, a pesquisadora-facilitadora acreditou no
potencial de auto-atualização das participantes considerando a capacidade de
se autodirigirem e de fazerem escolhas autônomas.
88
Castelo Branco (2008) esclarece que acreditar no pressuposto da
tendência à atualização, significa dizer que o terapeuta confia na constante
tendência do indivíduo para crescer, desenvolver-se e atualizar-se.
Amatuzzi (2003) acredita que o atendimento fundamentado na
perspectiva humanista não se baseia num diagnóstico e sim, na afirmação de
uma tendência criativa e inata ao crescimento; é uma relação libertadora dessa
tendência no indivíduo. Fonseca (1988) acrescenta que acreditar na tendência
atualizante significa crer na produtividade dos processos auto-organizativos
dos indivíduos.
O atendimento o-diretivo de orientação profissional desse estudo
auxiliou na livre expressão da tendência atualizante das participantes, na
medida em que promoveu reflexões grupais que permitiram a conscientização
e libertação dos controles externos das orientandas, o que pôde ser visto
principalmente na vivência grupal de Polyana. Gradativamente ela foi se
conscientizando no grupo que estava minimizando seu potencial de decisão ao
permitir que interferências e influências externas adquirissem a
responsabilidade por suas escolhas.
Rogers (1995) citado por Cavalcante (2008) acredita que uma sociedade
não pode tornar-se livre a menos que ela liberte continuamente seus
integrantes, para que eles atualizem seus potenciais. A autora deste estudo
acredita em um atendimento que ajude os indivíduos a lidarem melhor com o
controle social.
Diante das influências que recebem no momento da escolha profissional,
as participantes manifestaram não possuir espaço para compartilhar seus
sentimentos e compreendê-los, o que fica evidente na primeira e na quinta
89
versões de sentido de Laura, na segunda versão de Júlia e na quinta versão de
Alice. Na tentativa de suprir essa necessidade, a pesquisadora- facilitadora
criou na situação grupal um clima psicológico seguro através de um ambiente
de confiança, de suporte e compreensão, o que possibilitou que as
adolescentes manifestassem e explorassem a si mesmas, em tempos e ritmos
próprios. Além disso, no grupo não havia uma pressão para as pessoas agirem
e serem de determinadas maneiras. Isso facultou num processo de ampliação
da consciência de si e de suas necessidades pessoais.
5.4. Sensação de pertença
A esse propósito é interessante lembrar que o grupo causou sensação
de pertença nas participantes, não somente por elas terem sido acolhidas, não-
julgadas e respeitadas naquele espaço, mas também por compartilharem
sentimentos comuns, como dúvida, confusão, insegurança em relação ao
futuro profissional. O grupo vislumbrou ainda a possibilidade de troca de
identificações recíprocas a partir de problemáticas comuns de indecisão
profissional, pressões externas, relações familiares e reações emocionais na
eminência das provas de vestibulares.
5.5. Autoconhecimento e ampliação da consciência
A pesquisadora acredita que um dos fatores mais importantes no
momento da escolha profissional é o autoconhecimento, pois entende que a
capacidade de ampliação da autoconsciência aumenta o potencial de escolha.
90
Nas discussões grupais, as participantes orientaram-se para um
crescimento e desenvolvimento, através de um processo experencial
3
, que
culminou numa ampliação do autoconhecimento.
No decorrer dos encontros, elas foram transformando sua consciência
através do reconhecimento de suas características, identificações e
singularidades, podendo refletir sobre seus projetos e escolhas de vida, o que
resulta em melhores condições de fazer sua escolha profissional.
Isso fica bastante evidente no processo vivido por Alice, que através
das discussões grupais, começa a repensar e a ressignificar sua escolha
profissional desde o primeiro encontro. O processo vivido por Polyana
demonstra que a ampliação de sua consciência ocorrida principalmente nos
terceiro e quarto encontros, foi primordial para entrar em contato com seus
recursos de tomada de decisão frente às escolhas.
Fonseca (1983) acredita que a modalidade grupal configura para o
indivíduo uma oportunidade para uma vivência ampla e espontânea de si, de
seu processo pessoal e de seu ritmo natural, além de possibilitar ampliação da
consciência de seu potencial e dos meios e processos para criar condições
para satisfazê-las. Considera que o grupo funciona como um ambiente de
desvelamento, conscientização e construção de sua realidade.
Wood (1983) compartilha dessa idéia e acrescenta que na atmosfera
grupal, as pessoas começam a conhecer-se e funcionar mais plenamente nas
relações com os outros.
3
Espaço de experienciação e experimentação de si, a partir de critérios de necessidades e
interesses próprios.
91
5.6. Descoberta de si pela mediação do outro
Neste trabalho, as participantes conseguiram se conhecer melhor na
medida em que se relacionavam consigo e com as outras.
No espaço grupal os integrantes se movimentam no sentido de
colocação e afirmação de suas identidades. Existe um esforço da afirmação
“quem eu sou” ser ocupada pela outra quem você é”. O contato com o outro,
com a alteridade e com a diferença determina a descoberta, criação e
emergência de nós próprios (Fonseca 1983; 1988).
Wood (1983) acredita ainda que a atmosfera grupal permite que quando
uma pessoa fala a respeito de um sentimento ou problema de sua vida, outras
talvez respondam, são as respostas facilitadoras. O grupo “reflete” para mim
uma imagem de mim mesmo mais clara do que a que tenho. Nesse estudo, um
exemplo disso ocorreu no segundo encontro quando Laura manifesta perceber
Polyana como uma pessoa bastante indecisa. No terceiro encontro ocorreu
outra situação quando Isabel relata perceber Polyana como uma pessoa
insegura.
Buber (1979) citado por Fonseca (1988) acredita que o homem se torna
Eu na relação com o TU e assim estará descobrindo e aprendendo a si próprio.
Bock e Aguiar (1995) compartilham dessa idéia e acrescentam que o
autoconhecimento emerge na reflexão compartilhada com o outro e não se
constrói numa reflexão descolada da realidade social. No grupo isso pôde ser
explicitamente visto na relação de identificação recíproca entre Laura e Júlia
em várias sessões, onde uma pôde se ver nas atitudes e pensamentos da
outra.
92
A pesquisadora acredita que para motivar-se para a escolha, o jovem
precisa acreditar em si mesmo, o que começa por uma autopercepção positiva.
A maneira como o outro nos interfere na nossa autopercepção. Coolley
(1902) citado por Magalhães e Souza (2008) esclarece essa idéia ao afirmar
que a principal perspectiva sobre o autoconceito é a do the other self, o que
significa dizer que pensamos como o outro pensa sobre nós. O nosso espelho
são as pessoas e se a interação for favorável para nós, desenvolveremos o
autoconceito positivo. Caso contrário, se o outro for ctico e agressivo,
desenvolveremos o autoconceito negativo.
Rogers (2000) citado por Magalhães e Souza (2008) também considera
também o peso das pessoas-referência na formação do autoconceito do
indivíduo.
Isso ficou evidente na vivência de Polyana, que sempre demonstrou ser
importante para ela ter um olhar positivo de seus pais, buscando que eles a
aprovassem. Ela descreveu para o grupo que se sentia desvalorizada por eles
e exemplificou uma situação onde seu pai manifestou não acreditar que ela
passaria na prova de direção.
No início do processo, Polyana se mostrou bastante indecisa, insegura e
com uma autoimagem negativa nos encontros. Ela relatou ao grupo que
percebe que seus pais não a apóiam como ela gostaria em seus momentos de
incertezas e dificuldades profissionais.
Neste sentido, no terceiro e quarto encontros, o grupo a ajudou a se ver
de maneira diferente, ressaltando suas qualidades e seus potenciais.
Percebeu-se que ao final do processo, Polyana estava mais segura e
acreditando mais em si mesma.
93
Etapas percorridas pelo grupo na série de reuniões:
Amatuzzi (2001) cita as seguintes etapas ao se referir a um processo
terapêutico pessoal:
1. Tomando pé: o cliente entra em contato com a possibilidade de
relação existente entre ele e o profissional e decide se aceita ou não iniciar o
processo terapêutico;
2. dizendo coisas-difíceis-de-dizer-sendo-compreendido: o cliente
caminha compartilhando coisas difíceis de falar, que normalmente não
consegue dividir com outras pessoas e ao falar, sente-se compreendido;
3. questionando o presente: o cliente passa a questionar e a refletir
sobre sua própria vida e põe em dúvida suas maneiras habituais de agir;
4. aprendendo a ser diferente: o cliente percebe-se diferente e muda
modos de ser;
5. desligando-se: o cliente percebe que não precisa de psicoterapia
por ter resolvido o problema e desliga-se do processo.
Transpondo essas etapas para o grupo não-diretivo de orientação
profissional, verificou-se que as participantes vivenciaram algumas delas no
decorrer do processo. No primeiro encontro, aceitaram a possibilidade de
vivenciar um processo não-diretivo de orientação profissional.
Nas duas primeiras sessões as participantes estiveram principalmente
focadas na questão da escolha de uma carreira e progressivamente foram
ampliando essa questão ao expor seus problemas e dificuldades, como
demonstram o terceiro e quarto encontros. Faz-se menção a Polyana que
conseguiu partilhar seus problemas familiares na terceira e quarta sessão.
94
Outro exemplo é o de Isabel que no quarto encontro compartilhou sua dor e as
experiências negativas que viveu com a morte da mãe.
O questionamento do presente foi principalmente visto nas vivências de
Polyana e de Alice. Através das reflexões grupais, Polyana se conscientizou
que tem sacrificado seu direito de liberdade de escolha e o senso de seu
próprio valor. Atribuiu sentido negativo em estar vivendo de acordo com as
opiniões alheias. Alice também manifestou estar se questionando se realmente
está fazendo uma escolha profissional de maneira individual e consciente ou se
está sendo escolhida. Começou a assumir que é preciso coragem e disposição
para enfrentar suas reais opções de vida. Ao sentir-se encorajada, Alice
percebe-se de maneira diferente, vivenciando assim a quarta etapa.
Na última sessão ficou evidente que além de Alice, todas as
participantes haviam se modificado. As versões de sentido que construíram
nesse encontro denunciam que se perceberam diferentes, com uma
consciência ampliada de si mesmas.
O grupo proposto tinha um tempo inicialmente previsto de duração de
quatro sessões. As participantes pediram que houvesse mais um encontro. A
etapa do desligar-se ocorreu no quinto encontro e notou-se que o término
desse processo foi uma semente plantada de aprender a olhar mais para si e a
refletir sobre suas vidas.
Em suma, percebeu-se que o grupo permitiu crescimento pessoal às
participantes na medida em que: foi promotor de autoconhecimento; ampliação
da consciência; permitiu que explorassem e lidassem com seus sentimentos;
auxiliou a enxergarem seus problemas e buscarem resolvê-los; ajudou na
conscientização das influências diante das escolhas; permitiu que adquirissem
95
a percepção de liberdade e responsabilidade da escolha e ampliou o
conhecimento das profissões.
O grupo desse estudo foi um espaço que abarcou não somente o âmbito
profissional, mas a compreensão do todo da vida das participantes, uma vez
que estava aberto a todas as experiências que surgiram da vida das mesmas.
Dessa maneira, as adolescentes adquiriram maior posicionamento diante de
suas vidas após a intervenção grupal.
Amatuzzi (1996) considera o crescimento como sendo um processo de
desenvolvimento pessoal que busca um conceito cada vez mais complexo e
pessoal da realidade, sendo adquirido através das experiências de vida.
VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1. Conclusões
Embora quatro das cinco participantes fossem colegas antes do grupo,
elas relataram que suas conversas dentro do espaço grupal eram diferentes
(como pode ser visto nas VS1 de Laura e VS1 de Polyana) das que mantinham
fora dele. Ficou evidente que as participantes se conheceram melhor através
do grupo.
A respeito disso, Rogers (2002) aponta que no grupo o indivíduo acaba
por se conhecer a si próprio e a cada um dos membros mais completamente do
que nas relações habituais.
No grupo estavam presentes singularidade e diversidade. Singularidade
porque as participantes estavam vivendo problemáticas comuns, como
dúvidas, inseguranças, pressões. Diversidade porque cada integrante mostrou
lidar com essas questões de maneiras diferentes. Esse compartilhar
experiências, opiniões e pensamentos foi extremamente rico e benéfico às
participantes, pois gradualmente elas foram se identificando e se diferenciando
das demais, o que possibilitou autodescoberta.
Bock (2001) considera o atendimento em grupo privilegiado em relação
ao trabalho individual devido à diversidade e à heterogeneidade presentes.
Observa que cada membro do grupo enxerga a vida de uma maneira pessoal e
o ambiente grupal permite que todos aprendam com todos e percebam que não
existe uma verdade única.
97
No grupo, o ouvir e o respeitar as experiências vividas parece ter
ajudado aos membros do grupo a darem sentido à suas próprias vidas. Ao final
do processo, as participantes ampliaram o conceito de si próprias; adquiriram
uma maior capacidade para administrarem seus sentimentos expressando
melhor o que gostam e o que não gostam; estavam mais livres para fazer
escolhas e encorajadas para assumir suas opções. Vale dizer que o grupo
proposto não esteve focado apenas em discussões profissionais, mas aberto a
todas as experiências que surgiram da vida das participantes e por isso,
acredita-se que através das reflexões puderam vislumbrar novas direções para
suas vidas, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal.
6.2. Sugestões
A pesquisadora verificou no grupo do presente estudo que a educação
da escolha autônoma teve maior importância do que informações sobre
profissões. As participantes buscaram com mais ênfase o conhecimento
pessoal do que informações sobre carreiras ou características de
personalidade, o que permitiu que houvesse um trabalho interno das mesmas.
Por isso, acredita-se na grande importância de grupos de encontro para
conversar sobre a escolha profissional em escolas e cursos preparatórios para
vestibular, para que os vestibulandos tenham um espaço onde possam
expressar seus sentimentos espontaneamente sem que sejam censurados ou
dominados. Considera-se que esses espaços possam contribuir para a
diminuição das inseguranças, expectativas e ansiedades diante do momento
em que vivem e potencializar a escolha profissional dos participantes.
98
Como sugestões há algumas pesquisas que poderiam ser realizadas em
continuidade a esta, as quais poderiam fornecer importantes contribuições para
a área de orientação profissional.
Grupo de orientação profissional não-diretivo com participantes mais
heterogêneos (de ambos os sexos) e de diversas procedências (sem se
conhecerem antes), para verificar quais características se apresentariam
no grupo e com duração breve (participantes na eminência de uma
escolha para prestar vestibular);
Grupo de orientação profissional não-diretivo em outros contextos como
escolas públicas e particulares e cursos preparatórios para vestibular;
Grupo psico-educativo voltado para pais de vestibulandos para saber
como lidarem melhor com filhos com dúvidas profissionais;
Plantão de orientação profissional não-diretivo em escolas e cursos pré-
vestibulares.
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ANEXOS
106
ANEXO 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu______________________________________________________na
cionalidade__________________,estado civil ________________,portador do
RG_______________
Residente à Rua____________________________________
nº____________ na cidade de ______________, fui informado que a pesquisa
da qual participarei faz parte de um estudo que a psicóloga Camila da Costa
Olmos Bueno CRP 06/77568 está realizando para a conclusão de seu curso de
Pós- Graduação em Psicologia como Profissão e Ciência da PUC- Campinas.
Estou ciente de que esta pesquisa pode contribuir para um maior
conhecimento na área da Psicologia em Orientação Profissional, e que a
mesma tem como objetivo testar o potencial do grupo fenomenológico em
relação à escolha profissional, além de compreender como se apresenta a
experiência e os sentimentos de adolescentes frente à essa escolha
profissional.
Já fui informado de que o grupo funcionará da seguinte forma:
Serão 4 encontros.
A duração de cada um será de uma hora e meia (90 minutos).
Acontecerão uma vez por semana, no mesmo horário e local.
Ao final de cada encontro, terei de redigir um pequeno texto sobre meus
sentimentos com relação à reunião, são as chamadas “Versões de
Sentido”.
107
Tudo o que eu disser durante os encontros do grupo será utilizado
somente para fins de pesquisa.
Minha participação nesse estudo é voluntária.
Essa pesquisa não oferece riscos para seus participantes.
Caso eu tenha alguma dúvida sobre a pesquisa, poderei sempre que
quiser, entrar em contato com a pesquisadora para maiores
esclarecimentos, pelo telefone (19) 91697008 ou com o Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos da PUC-Campinas pelo telefone (19)
3343-6777, visto que esse órgão foi responsável pala análise do projeto.
Estou ciente de todas as informações descritas acima e aceito participar da
pesquisa em questão. Este documento é assinado em duas vias idênticas,
sendo uma delas cedida ao participante.
Campinas,_______de_____________2008
______________________________ __________________________
Pesquisadora Participante
Camila da Costa Olmos Bueno
Aluna do Mestrado em Psicologia como
Ciência e Profissão do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia.
Centro de Ciências da Vida- CCV
Pontifícia Universidade Católica de
Campinas
PUC- Campinas.
108
ANEXO 2
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Responsáveis
Eu______________________________________________________ pai/
mãe de ________________________________________________________
nacionalidade __________________, estado civil ________________, portador
do RG_______________.
Residente à Rua ____________________________________________
nº____________ na cidade de ______________, através do presente
instrumento autorizo a realização de encontros de reflexão sobre orientação
profissional com a Psicóloga Camila da Costa Olmos Bueno CRP 06/77568,
para fins exclusivos de pesquisa.
Estou ciente de que esta pesquisa pode contribuir para um maior
conhecimento na área da Psicologia em Orientação Profissional, e que a
mesma tem como objetivo testar o potencial do grupo fenomenológico e
compreender como se apresenta a experiência e os sentimentos de
adolescentes frente à escolha profissional Estou ciente também de que o
presente estudo não oferece riscos para seus participantes. Poderei, sempre
que quiser, entrar em contato com a pesquisadora para maiores
esclarecimentos, pelo telefone (19) 91697008 ou com o Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da PUC-Campinas pelo telefone (19) 3343-
6777, visto que esse órgão foi responsável pala análise do projeto.
Estou ciente de todas as informações descritas acima. Este documento é
assinado em duas vias idênticas, sendo uma delas cedida ao responsável.
109
Campinas,_______de_____________2008
______________________________ __________________________
Pesquisadora Responsável
Camila da Costa Olmos Bueno
Aluna do Mestrado em Psicologia como
Ciência e Profissão do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia.
Centro de Ciências da Vida- CCV
Pontifícia Universidade Católica de
Campinas
PUC- Campinas.
110
ANEXO 3- Narrativas
Neste item serão relatados os textos expressivos de cada
encontro. Foram chamados de narrativas por ter sido adotado um estilo
narrativo para preservar o contato com o vivido.
Narrativa 1º Encontro
Enquanto eu e Érica (co-facilitadora do processo) arrumávamos a sala
onde aconteceria o grupo, me sentia ansiosa e nervosa. Várias coisas
passavam na minha cabeça. Eu tinha medo que as participantes viessem
cheias de expectativas de um processo de orientação profissional diretivo, o
que não era minha proposta. À medida que organizávamos as pranchetas, os
papéis, as canetas e as cadeiras, conversávamos sobre as questões relativas
ao encontro. Após a arrumação concluída, fomos para outra sala onde
continuamos a conversa. Discutimos as questões relevantes a serem
explicadas às participantes.
Eu percebia que Érica também estava ansiosa. Após quinze minutos de
conversa, tocou a campainha. Érica foi atender. Quatro participantes chegaram
juntas. Eram Isabel, Laura, Alice e Polyana. Elas se conheciam, pois fazem
curso preparatório para vestibular na mesma sala. Fui até a sala de espera e
nos cumprimentamos informalmente. Ficamos ali aguardando a chegada de
Júlia, a participante que faltava.
Percebi que o sofá da sala de espera estava pequeno para as quatro.
Então, convidei-as para nos acomodarmos na sala onde aconteceria o grupo, a
fim de podermos ficar mais confortáveis.
111
Logo em seguida, Júlia chegou. Dessa forma, demos início ao grupo que
teve presente as cinco participantes.
Eu comecei falando que estávamos ali reunidas para discutir as
experiências, os dilemas, as necessidades e as informações relacionadas à
escolha profissional. Disse também que, caso desejassem, teriam espaço no
grupo para compartilhar situações e acontecimentos que não se referissem
diretamente com a escolha profissional, mas que julgassem importante.
Expliquei para elas que ao final dos encontros, não iriam receber um
relatório contendo profissões indicadas para seguirem, mas que a troca de
experiências, informações e as reflexões feitas em grupo poderiam permitir que
elas se conhecessem melhor e pudessem refletir para nós quem o, o que
gostam, o que não gostam e o que querem. Confesso que esse era o momento
mais tenso para mim, pois no meu íntimo tinha medo de que ao ouvir isso, elas
pudessem se sentir desmotivadas de estar ali. Eu gostaria que primeiro elas se
permitissem viver aquele processo, para depois julgá-lo.
Fiquei bastante surpresa ao olhar para elas e não perceber uma reação
negativa esboçada em suas faces. Com isso, me senti bastante aliviada e
segura em continuar.
Em seguida, expliquei sobre a pesquisa e disse que, ao final do
encontro, entregaria os termos de consentimento livre e esclarecido para que
assinassem. Comentei sobre os horários e número de encontros previstos e
disse que, caso julgassem interessante e necessário, poderíamos combinar
mais encontros. Ressaltei que tudo que ouvíssemos ali, deveria ficar ali.
Perguntei se havia elas tinham alguma dúvida e, como ninguém se
manifestou, pedi que cada uma se apresentasse.
112
Elas se olharam e permaneceram em silêncio. Diante disso, tive uma
vontade de “quebrar o gelo” e comecei me apresentando. Nesse momento,
compartilhei com elas a minha história com relação à escolha profissional,
história essa que incluía as pressões familiares que sofri, que minha família
se opunha ao meu desejo de cursar Psicologia.
Logo após, Érica se apresentou e nos contou sobre a sua saga no
momento da escolha profissional. Revelou que antes de entrar na faculdade de
Psicologia, começou a cursar dois outros cursos (Letras e Arquitetura). Fiquei
bastante surpresa ao ouvir isso dela. Eu pensava: “que bacana nós duas
termos passado por dificuldades no passado que hoje podem estar nos
aproximando da realidade dessas meninas”. Ao mesmo tempo, fiquei
preocupada em estarmos nos expondo muito e até que ponto estávamos sendo
profissionais. Ser psicóloga é diferente de ser facilitadora e co-facilitadora de
um grupo de orientação profissional. Além disso, se tratava de um grupo não-
diretivo, o que me assegurou de deixar as coisas acontecerem num fluxo
natural e sem preocupações prévias.
Percebi que os olhares das meninas eram de surpresa. Notei também
que tiveram uma sensação de conforto ao saber que as facilitadoras embora
sejam profissionais atuantes e engajadas na profissão, passaram por
pressões, dúvidas e indecisões no momento da escolha profissional.
O fato de nós termos falado sobre essas experiências pessoais parece
ter propiciado uma abertura ao diálogo das participantes e possibilitou também
que não houvesse tanta distância entre a nossa realidade e a delas. Alguns
trechos retirados de versões de sentido do primeiro encontro demonstram isso:
113
Isabel: “Achei o fato de estarmos reunidas com dúvidas em comum
muito legal.” (VS1).
Alice: “É muito bom saber que não sou só eu, mas também outras
pessoas que sofrem pressão dentro de si e de familiares.” (VS2).
Isabel se apresentou e disse que tem 19 anos e que pensava em fazer
algo relacionado a Exatas por gostar de Matemática. Ressaltou que não gosta
de Física. Em seguida, Júlia se apresentou e disse que tem 17 anos e faz
curso técnico em Publicidade e Propaganda e disse com firmeza que não
recomenda este curso à ninguém.
Logo após, Laura contou que tem 18 anos, que se considera uma
pessoa preocupada com amizades e que se percebe como uma pessoa muito
nervosa e sensível. Disse ainda que gostaria de passar numa universidade
pública, pois, na sua família, todos os primos haviam cursado faculdades
particulares e ela seria a primeira a conseguir ingressar numa pública. Refleti
para Laura que estava percebendo que era importante para ela ser
reconhecida e admirada pela família. Laura concordou. Júlia se identificou
nesse aspecto com Laura, dizendo que também gostaria de proporcionar esse
orgulho para sua família.
Em seguida, Alice disse que tem 19 anos e que se interessa por Exatas,
especificamente por profissões que lidem com Construção Civil. Contou
também que já pensou em cursar Arquitetura e Engenharia.
Polyana disse que tem 18 anos e que se sente muito indecisa por gostar
de várias profissões. Disse que pensou em Terapia Ocupacional,
Odontologia, Publicidade, Química, Fisioterapia, Educação Física e Pedagogia.
Relatou ainda que adora crianças e também se interessa por Nutrição por
114
saber da profissão por meio da irmã, que é formada nessa área. Seu relato
mostrou também que ela sente que seus pais a comparam muito com a irmã, o
que a faz se sentir muito pressionada por eles. Nesse momento, percebi que
Polyana se sente na obrigação de continuar o caminho de sucesso trilhado por
sua irmã.
Em seguida, pedi para que cada uma contasse sua história com relação
à escolha profissional.
Laura começou falando que se se interessou por Medicina Veterinária
e Biologia. Perguntei se ela poderia nos explicar o que sabia sobre essas
profissões. Laura falou sobre Biologia ressaltando os campos da genética,
células-tronco, pesquisas na área. Contou que se interessa por essa profissão
por ser um campo que oferece várias possibilidades de atuações. Disse que
não gosta de Medicina Veterinária por ter que ficar confinada num consultório.
Comentei que o relato de Laura era bastante interessante, pois ela estava nos
falando sobre as áreas de atuação mais atuais no campo da Biologia.
A essa altura, houve várias manifestações do grupo a respeito de
influências causadas pelo fato de admirar outras pessoas, pressões familiares,
identificações com disciplinas, rejeições de disciplinas, profissões de interesse
e mercado de trabalho.
Falei ao grupo que muitas vezes, a identificação e a admiração por um
profissional pode influenciar na escolha de determinada profissão. Perguntei o
que elas pensavam à respeito e algumas delas disseram que fazia sentido,
dando exemplos da vida delas.
Perguntei qual dos relatos do encontro havia tocado mais cada uma.
Polyana disse que o relato de Laura havia lhe tocado mais por não imaginar
115
que a colega de cursinho já tivesse passado por um momento de depressão na
vida. Laura disse que se identificou mais com Júlia por perceber que esta
desejava a admiração e aprovação dos familiares assim como ela. Somente
essas duas participantes comentaram os relatos que lhes tocaram.
O tema principal do encontro foi que a identificação com pessoas
aproxima o vestibulando das profissões que tais indivíduos exercem.
Questionei se alguém gostaria de dizer algo para alguém. Júlia disse
para Isabel prestar Engenharia Química, pois envolve Matemática e Química,
que são duas matérias que ela gosta. Laura falou para Polyana pensar em
Terapia Ocupacional, pois percebe que ela gosta de cuidar de pessoas e
imagina que não faltaria trabalho para a colega.
Em seguida, perguntei o que elas achavam de termos um grupo
eletrônico para trocarmos avisos, caso fosse necessário. Sugeri isso por
acreditar que seria uma alternativa eficaz para nos comunicarmos, já que
quatro das cinco participantes moram em outra cidade. Elas demonstraram ser
uma boa iniciativa. Logo após, perguntei qual delas gostaria de se prontificar a
criar o grupo virtual para nós. Isabel aceitou e em seguida, trocamos nossos e-
mails para que Isabel pudesse criar nosso grupo eletrônico.
Encerrei o encontro pedindo que cada participante escrevesse uma
versão de sentido e uma palavra sobre o encontro.
O término desse encontro me deixou bastante feliz, pois percebi que a
proposta de permitir que o próprio grupo norteie o fluxo que deseja seguir deu
certo. Elas se permitiram falar e ouvir. Em outras palavras, deram início a um
processo de compartilhar experiências, que me casou uma agradável sensação
de segurança e tranqüilidade.
116
Narrativa 2º Encontro
Eu estava apreensiva, pois estava atrasada, afinal tinha combinado de
me encontrar com Érica meia hora antes do horário previsto para o grupo
começar. Liguei para ela e avisei do meu atraso. Cheguei minutos antes do
horário combinado com as participantes. Senti-me aliviada ao perceber que
somente Érica e Júlia já me aguardavam.
Começamos a arrumar a sala. Achamos estranho o fato de ter se
passado alguns minutos do horário marcado e quatro participantes ainda não
terem chegado. Júlia comentou com ironia que seria interessante se o grupo
acontecesse somente com nós três. Percebi em sua fala um tom de
preocupação em ficar muito exposta caso as outras participantes não viessem.
Enquanto Érica e Júlia conversavam, fui até outra sala buscar folhas e
canetas. chegando, percebi que havia uma chamada não atendida no meu
celular. Resolvi então retornar a ligação. Isabel atendeu e disse que ela e as
outras participantes estavam paradas no trânsito na estrada (vinham de outra
cidade) e que se atrasariam um pouco mais.
Logo em seguida, fui até outra sala e comentei com Érica e Júlia que as
outras participantes comunicaram o atraso. Pedi licença para que eu e Érica
fôssemos para outra sala. discutimos sobre alguns detalhes do encontro e
Érica comentou também ter percebido o incômodo de Júlia.
Isabel, Alice, Laura e Polyana chegaram com trinta minutos de atraso.
Agora o grupo estava completo. Algumas delas pediram para beber água e
usar o banheiro.
117
Logo em seguida, demos início ao grupo e perguntei sobre a
disponibilidade de excepcionalmente encerrarmos o encontro trinta minutos
mais tarde. Todas concordaram.
Perguntei para as participantes o que elas estavam trazendo para o
encontro e para que pensassem nos fatos significativos da semana.
Polyana iniciou contando sobre o dilema vivido nessa semana ao ter que
decidir qual curso preencher na ficha de inscrição do vestibular da FUVEST.
Disse que optou por uma carreira não discutida na semana passada e que os
fatores que fizeram com que optasse por Fonoaudiologia foram: ter visto a nota
de corte, a relação candidato/vaga, ser uma profissão na área de Biológicas, o
fato de poder trabalhar em empresas, a possibilidade de trabalho com crianças
e, além disso, tudo, o fato de não ser um curso tão concorrido a deixava
esperançosa de passar para a segunda fase.
Acolhi o relato de Polyana e perguntei quem gostaria de comentá-lo.
Laura e Isabel contaram que estavam junto com Polyana no momento dessa
escolha e que embora tenham se espantado ao perceber que a colega mudou
a opção, a apoiaram.
Logo em seguida, Laura comentou que considera Polyana bastante
indecisa, ao perceber que a colega pensa em várias profissões ao mesmo
tempo e cada hora deseja seguir uma. Perguntei como Polyana estava se
sentindo agora que fez a inscrição. Ela relatou que os pais tinham a
aconselhado a fazer somente inscrição na UNICAMP e UNIP, por acharem que
seria difícil ela conseguir ser aprovada na FUVEST, uma vez que é um
vestibular concorrido. Polyana disse ter ficado magoada ao perceber que os
pais não confiam no potencial dela. Relatou que deseja ser aprovada mesmo
118
que somente para a segunda fase do vestibular, no intuito de provar aos pais a
sua capacidade. Neste momento, fui tomada por um pensamento de que
Polyana ao invés de responder a pergunta falando de si, a responde colocando
as percepções de seus pais e não as suas.
Logo após, perguntei quem já tinha vivido uma situação semelhante à de
Polyana. Júlia relatou que também vive algo parecido, pois deseja prestar
vestibular na USP-Ribeirão e sua mãe o acredita que ela queira morar fora
para estudar e sim para bagunçar.
Nesse momento, Laura relatou que passou por essa etapa de achar
que ser aprovada para a segunda fase é suficiente. Revelou que somente se
sentiria realizada se realmente fosse aprovada no vestibular de uma faculdade
pública. Com relação à pressão de pais, disse que nunca vivenciou isso em
sua casa e contou que seus pais a apóiam muito e que eles não se importariam
se ela não passasse numa universidade pública e quisesse cursar uma
faculdade particular. A partir disso, percebi que embora Laura não sofra
pressão externa, sofre uma pressão interna ao se cobrar aprovação numa
faculdade pública.
Isabel complementou dizendo que sua realidade é bastante diferente da
de todos os relatos. Disse que o sofre pressões, pois a mãe é falecida e
manifestou que recebe apoio do namorado em suas escolhas e opções. Nesse
momento, percebi a riqueza desses relatos compartilhados que demonstram
três realidades distintas. Isabel continuou dizendo que pensava em prestar
Matemática na FUVEST, depois se interessou por Oceanografia e pensou em
mudar para esse curso. Relatou que optou por Matemática após ter
conversado e tirado dúvidas com alguns de seus professores.
119
Júlia disse que este ano não prestará vestibular, mas acredita que,
quando for prestar, escolherá Economia, pois sua mãe diz que é uma profissão
que tem retorno financeiro. Nesse momento pensei que simplesmente
acatando ao que a mãe diz lia também está se deixando influenciar pela
mãe.
O grupo ficou em silêncio profundo e numa tentativa de “quebrar o gelo”,
Laura disse que havia acabado o assunto.
As participantes se olharam e permaneceram em silêncio. Diante disso,
pedi que elas pensassem no que seria interessante discutir num grupo de
Orientação Profissional. Júlia disse que cada uma poderia contar o que sabe
de alguma profissão. Laura complementou que seria importante buscar um
profissional da área de interesse para saber mais a respeito disso.
Refleti para o grupo que Laura e Júlia falaram coisas importantes
relacionadas à escolha e perguntei sobre qual dos assuntos gostariam de
conversar. O grupo escolheu que seria interessante cada um falar o que sabe
sobre uma profissão.
Júlia começou nos contando o que conhece sobre Publicidade e
Propaganda, que faz curso técnico nessa área. Ela descreveu a rotina do
trabalho de um publicitário e disse que não gosta do curso, pois é uma
profissão em que as pessoas sofrem muita pressão e, por isso, acredita que
pessoas calmas se adaptam melhor a esta carreira. Contou que no curso que
freqüenta, os alunos são divididos em grupos e que o grupo a qual pertence
tem apenas três pessoas que efetivamente produzem. Com isso, relatou se
sentir sobrecarregada com os prazos dos trabalhos que têm que cumprir.
120
Júlia contou também que sua mãe a aconselhou a cursar Psicologia,
que vê na filha uma boa conselheira. Perguntei se ela se imagina nessa
profissão e Júlia disse que se considera uma pessoa prática, o que a faz dar
conselhos para a mãe sobre o que ela deve ou não fazer. No entanto, Júlia
disse que não gostaria de fazer esse curso, pois acha que o teria paciência
para atender alguém e dar conselhos ou orientações. Relatou ainda que fez
psicoterapia, mas que não foi uma experiência positiva, pois falava muitas
coisas e esperava ouvir um retorno da terapeuta, o que não acontecia. Nesse
momento, Júlia me perguntou se todo psicólogo costuma ficar quieto em
terapia e eu respondi que cada profissional tem um estilo de atuação. Percebi
que ela ficou contente ao saber disso.
Em seguida, Júlia perguntou se eu e a Érica poderíamos explicar mais a
respeito de nossa profissão. Perguntei ao grupo se todas tinham interesse em
saber sobre Psicologia e as participantes se manifestaram bastante
interessadas. Fiquei feliz em poder dividir com elas aquilo que sei do meu
ofício. Percebi os olhares atentos e curiosos das participantes.
Comecei então explicando sobre as áreas de atuação no campo da
Psicologia e à medida que eu falava, Érica contribuía com outras informações.
O grupo manifestou gostar de obter dados desconhecidos da área.
Em seguida, Júlia continuou falando sobre Publicidade. Ela desabafou
no grupo que tenta fazer as coisas de uma maneira que julga que correta, que
tenta ajudar os outros, porém, muitas vezes, é vista como chata. Relatou
brevemente um fato ocorrido na semana anterior no curso e que diante deste
acontecido, recebeu críticas de seus colegas pela atitude que tomou. Nesse
momento, percebi que Júlia estava precisando compartilhar conosco uma
121
situação que estava a incomodando. Fiquei contente por ter percebido que ela
estava usando aquele espaço para isso. Confesso que essa agradável
sensação me veio, pois tive a impressão que Júlia não se sente à vontade em
se expor.
Logo após, refleti para o grupo que entrar em contato real com
determinada profissão, a experimentando na prática, facilita que a pessoa
saiba se gosta ou não da mesma. Algumas pessoas disseram que concordam
com isso.
Outras participantes comentaram que se Júlia não deve julgar sua
experiência como inválida, pois se não tivesse passado por ela (cursar cnico
em Publicidade e Propaganda), poderia estar pensando agora em prestar esse
curso hoje, pois não saberia que como a profissão funciona na prática.
Disseram que poderia ser mais traumático para ela ter que parar um curso
universitário do que um técnico. Júlia concordou e acrescentou que ela
recomendaria para quem está no Ensino Fundamental que fizesse um curso
técnico, para experimentar determinada área e ver se gosta ou não.
A partir disso, começou uma discussão no grupo de quem teria coragem
de interromper um curso ao perceber que não se identificava com o mesmo.
Polyana, Alice e Júlia disseram imaginam que não teriam coragem para trancar
um curso. Isabel, Laura, Camila e Érica manifestaram opiniões contrárias.
Nesse momento iniciou-se novamente uma discussão a respeito da questão
financeira.
Polyana e Júlia manifestaram ser importante considerar os gastos com
materiais, mensalidades e possibilidades de ganho financeiro antes de
descartá-la. Diante disso, Isabel e Laura demonstraram que o acreditam na
122
possibilidade de ser um bom profissional pelo que se ganha e que sim pela
paixão do que se faz. Novamente me vi diante de um rico momento do grupo,
em que opiniões contrárias estavam sendo discutidas, ampliando as
percepções delas.
Logo em seguida, iniciou-se uma discussão a respeito de características
de personalidade relacionadas às profissões. Perguntei então se alguém
gostaria de comentar como enxerga outra pessoa do grupo.
Laura começou dizendo que percebe Polyana como uma pessoa muito
sensível, que se magoa facilmente com o que os pais falam. Isabel concordou.
Laura disse ainda que se identifica muito com lia, especificamente com sua
praticidade e revelou que também se enxerga assim. Júlia disse que é
recíproco, pois também se enxerga nas atitudes de Laura. Considero que o fato
de lia ter servido de espelho para Laura e vice-versa foi muito importante
para que ambas pudessem ampliar seu autoconhecimento.
Nesse momento, Isabel disse à Júlia que, ao mesmo tempo em que a
percebe como uma pessoa decidida e prática, também a como uma pessoa
muito sensível ao que os outros falam. Nesse momento, Júlia concordou com
gestos, mostrando que a reflexão de Isabel fez sentido para ela. Tive uma
agradável sensação nesse momento, pois notei que Isabel teve bastante
sensibilidade para perceber essa característica de Júlia.
Logo em seguida, perguntei às participantes o que perceberam de
significativo dentre os assuntos discutidos no grupo. Laura disse que, para ela,
a questão da personalidade havia ficado mais forte e que estava admirada por
se identificar tanto com Júlia. Brincou dizendo que talvez, em outra vida, elas
123
foram irmãs. Disse ainda que estava se sentindo bem em saber que não era só
ela que pensava de determinadas formas.
Júlia disse que achava que, de certa maneira, o dinheiro talvez pudesse
trazer um pouco de felicidade, mas isso não significava que trabalharia em
função do ganho financeiro. Comentou também que não acreditava na
possibilidade de trabalhar com o que gosta sem pensar no dinheiro, pois
achava que isso poderia trazer frustrações depois.
Laura discordou e manifestou acreditar que, quando se faz algo que se
gosta, é difícil não ter retorno financeiro. Relatou também que pensa que sua
mãe está acomodada, pois mesmo estando insatisfeita com seu trabalho que
exige viagens a o Paulo, não envia currículos para outros lugares na
tentativa de conseguir um emprego melhor. Laura disse ainda que a mãe
sempre reclama de ter que viajar e que não sobra muito tempo para que faça
coisas para si mesma. Diante disso, falei para o grupo que estávamos
discutindo sobre o tema financeiro ligado ao mercado de trabalho.
A sessão foi chegando ao fim e perguntei como as participantes estavam
saindo dali, quais os significados que o encontro teve para elas. Também
perguntei se alguém tinha algo a dizer para outra pessoa do grupo.
Alice disse à Laura que seu pai, assim como a mãe de Laura, também
viaja para trabalhar e que quando ele falava que não estava agüentando mais,
poderia ser devido ao cansaço e que de fato não queira mais trabalhar no
mesmo emprego. Disse também que percebia que seu pai queria atenção da
família quando estava em casa, assim como a mãe de Laura.
Encerrei o encontro pedindo a versão de sentido e, espontaneamente,
cada participante leu a palavra que escreveu sobre o encontro.
124
O encontro de hoje me causou uma sensação de que dois temas que
julgo serem extremamente importantes em discussões de orientação
profissional (mercado de trabalho e pressões familiares) foram trazidos
espontaneamente por elas, o que me faz crer que um grupo é capaz de se
auto-sustentar. Conseguiram expor suas necessidades de discutir sobre certos
assuntos que julgavam deficientes de um entendimento.
Narrativa 3º encontro
Todas as participantes chegaram no horário combinado. Esperei que
todas se acomodassem para que, em seguida, eu visse qual cadeira sobraria
para eu me sentar. Nesse momento, me dei conta que as integrantes não se
sentaram exatamente nos mesmos lugares desde o primeiro encontro.
Gostei de ter percebido isso, pois antes do início desse processo, tinha
uma preocupação de que o fato de quatro participantes se conhecerem
previamente pudesse fazer com que Júlia fosse deixada de lado.
Pedi que as participantes pensassem no que havia acontecido de
significativo durante a semana que passou.
Isabel disse que se inscreveu para o curso de Matemática na FUVEST,
depois de ter ficado bastante em dúvida entre este curso e Engenharia
Química.
Laura contou que também foi entregar sua ficha de inscrição da
FUVEST e que se inscreveu em Ciências dos Alimentos.
125
Polyana fez sua inscrição em Fonoaudiologia e ficou impressionada com
a quantidade de pessoas que estavam se inscrevendo. Tive a sensação de que
ela ficou preocupada com a quantidade de concorrentes.
Alice relatou que também se inscreveu na FUVEST e que no último
final de semana a UPA (Universidade Portas Abertas Feira de Profissões da
UNICAMP). Contou ainda que nessa feira visitou o curso de Arquitetura e
Urbanismo por ser seu maior interesse.
Achei interessante o fato de uma integrante do grupo ter ido à essa feira.
Por isso, pedi que Alice compartilhasse conosco como foi essa experiência. Ela
disse que ficou surpresa com a quantidade de pessoas que estavam visitando
Arquitetura e Urbanismo e também contou que percebeu que os alunos que
estavam expondo seus cursos não sabiam sanar as dúvidas dos vestibulandos.
Perguntei então, qual foi a impressão que Alice teve desse evento e ela
respondeu que, de certa forma, tinha uma expectativa maior.
Logo após, Júlia disse que não tinha novidades para contar a respeito
de profissões, pois viajou. Em seguida, perguntei quem havia passado pela
experiência de visitar feiras de profissões. Polyana contou que foi à feira do
cursinho que freqüenta e pôde perceber que é preciso saber exatamente quais
são os cursos que se quer visitar, pois o tempo é muito curto para ver as várias
opções.
Laura acrescentou que a impressão que ela tem sobre as feiras de
profissões é que existe uma escassez de informações, pois, na maioria das
vezes, o são os professores dos cursos que estão representando as
profissões e sim alunos que, muitas vezes, não sabem responder questões
específicas e técnicas.
126
Logo após, Polyana comentou que na última feira do cursinho que
visitou, além das visitas de profissões, havia palestras e teste vocacional.
Contou que havia uma palestra sobre Fisioterapia que gostaria de assistir, mas
que era no mesmo horário de um teste vocacional que também se interessava
m fazer e optou por fazer o teste. Contou estar bastante decepcionada por
ter passado um mês e meio e não ter recebido nenhum resultado do teste que
realizou.
Com isso, perguntei à Polyana se, após a realização desse teste, ela se
percebeu mais inclinada para alguma profissão. Ela contou que a última
pergunta do teste vocacional questionava qual seria a profissão que escolheria
se tivesse que fazer a opção naquele momento e respondeu que optaria por
Fisioterapia. Relatou ao grupo que como muda constantemente de opinião, não
sabe se responderia o mesmo curso hoje.
Refleti para Polyana que eu percebia que era difícil para ela fazer
escolhas não somente relacionadas a profissões, mas escolhas da vida em
geral. Polyana concordou e acrescentou que se vê muito influenciada pela
opinião dos outros. Eu disse para ela que seria importante que refletisse se não
está dando muito poder aos outros, permitindo que as pessoas escolham e
opinem por ela. Observei que Polyana ficou com um olhar fixo, enquanto fazia
sinal de positivo com a cabeça. Polyana ficou em silêncio. Um silêncio que
demonstrava que Polyana estava fazendo uma viagem para dentro de si, na
tentativa de entrar em contato consigo mesma. O que ela estaria pensando?
Ao certo, não sei, mas tive a impressão de que ela estava buscando suas
respostas. Nesse momento, pensei que uma de minhas funções ali era a de
127
facilitar que cada integrante mergulhasse o mais profundamente possível
dentro de si. Que bom que isso estava acontecendo!
Após uns minutos, Isabel contou que percebe Polyana como uma
pessoa muito insegura e exemplificou dizendo que a colega pede a opinião das
amigas até mesmo para aceitar ou terminar um namoro. Polyana disse com um
sorriso no rosto que gostaria de ser diferente, mas não consegue.
Nesse momento, senti que o grupo poderia ajudar Polyana e por isso,
perguntei às participantes, o que elas pensavam que poderia estar impedindo
Polyana de mudar. Laura disse que acredita que Polyana não respeita sua
própria opinião e que acredita mais nos outros do que em si mesma.
Júlia perguntou se Polyana tinha medo de algo e ela respondeu que,
muitas vezes, tem a impressão de que não se conhece bem. Perguntei para
Polyana, se em outras palavras, estava nos dizendo que é preciso se conhecer
bem para fazer escolhas. Polyana disse que sim. Comentei que achava
positivo ela reconhecer que está faltando autoconhecimento e disse que esse
reconhecimento é o primeiro passo para a mudança.
Em seguida, Polyana relatou ser difícil para ela perceber que não
consegue definir o que gosta, pois acha que gosta de tudo. Refleti para o
grupo que toda escolha implica numa perda. Exemplifiquei isso dizendo que ao
se vestirem para vir para o grupo, cada uma delas escolheu a roupa que estava
usando e deixaram de lado todas as outras peças que tinham em seu guarda-
roupa. Disse ainda que a vida é feita de contínuas escolhas.
Percebi que minha fala causou reflexões nas integrantes. Algumas
concordaram com gestos afirmativos, outras se mantiveram pensando. Tive a
sensação que o grupo concordou com o que eu falei.
128
Continuei falando para Polyana que percebo que não é que ela goste de
“tudo” e sim que não está sabendo se perguntar do que não gosta, uma vez
que relatou ao grupo o gostar de Exatas, o que a faz descartar todas as
Engenharias.
Em seguida, Polyana respondeu que realmente excluiria profissões da
área de Exatas. Pedi então que ela pensasse no que se imagina fazendo na
área de Humanas ou Biológicas. Polyana ficou bastante pensativa e disse que
se interessa por profissões que lidem com o corpo humano. Disse ainda que
não gosta muito de História, porém acredita que conseguiria fazer um curso
que tivesse essa matéria.
Questionei se Polyana percebeu que, ao invés de eu ter dado uma
resposta sobre qual profissão achava que ela devia seguir, fui auxiliando-a a
refletir sobre seus interesses e desinteresses. Polyana disse que foi muito bom
e que nunca fez isso antes.
Nesse momento, fui invadida por uma preocupação de não estar dando
espaço para que outras pessoas do grupo falassem ao focalizar apenas a vida
de Polyana. Senti-me na obrigação de dizer ao grupo que perecebi que
Polyana estava manifestando uma necessidade de ajuda do grupo e perguntei
se as pessoas concordavam ou não em continuarmos falando dela. O grupo foi
unânime em concordar. Senti-me aliviada e aos poucos, fui percebendo que a
história de Polyana estava mexendo com todos.
Após isso, Isabel comentou que percebe que Polyana muitas vezes age
de acordo com a opinião dos outros, a fim de ser aceita por amigos e
familiares. Notei que Polyana ficou bastante pensativa e aquilo me pareceu ter
feito sentido para ela.
129
O grupo todo ficou em silêncio.
Após um tempo, perguntei o as participantes pensavam ser necessário
para conhecer melhor uma profissão de interesse. Laura respondeu que uma
alternativa seria procurar alguém que estivesse cursando a faculdade de
interesse para tirar dúvidas. Ela continuou dizendo que já conversou com
veterinários a respeito dessa profissão e que foi uma rica experiência, pois a
ajudou a esclarecer muitas questões que tinha.
Perguntei às integrantes se achavam que contatar profissionais era uma
maneira eficaz ou não de obter informações sobre profissões de interesse. O
grupo manifestou que essa era uma saída positiva. Pedi então, que
pensássemos em grupo sobre o que seria interessante perguntar para
profissionais dos cursos de interesse.
Júlia respondeu que gostaria de saber como era o dia-a-dia do
profissional. Laura acrescentou que perguntaria se o trabalho afeta ou não a
vida pessoal do profissional. Em seguida, Alice disse que gostaria de saber de
um Arquiteto que tipo de informações ele obteria do cliente para realizar um
projeto. Em seguida, o grupo ficou em silêncio.
Diante disso, perguntei se elas gostariam de saber informações sobre as
possíveis áreas de atuação da profissão e a carga horária do trabalho. Laura
concordou que eram dados relevantes e necessários. O grupo todo também
manifestou concordar.
Logo após, Laura complementou que gostaria de saber com que tipo de
público o profissional envolvido na carreira lida. Polyana complementou que
seria importante para ela saber como é o ambiente e o local de trabalho. Isabel
disse que perguntaria se o trabalho é supervisionado ou não.
130
Novamente o grupo ficou em silêncio e alguém disse que não estavam
sabendo mais o que perguntar.
Questionei se elas gostariam de saber informações sobre ganho salarial
e Laura disse que, com certeza, isso seria a última coisa que perguntaria.
Polyana disse para ela já é um dado importante.
Em seguida, elas ficaram em silêncio novamente. Vi alguns olhares
dirigidos a mim e percebi que foi como se elas estivessem me perguntando “e o
que mais podemos perguntar?”.
Disse então, se perguntariam quais universidades oferecem bons cursos
e informações específicas dos mesmos, tais como: se é período integral ou
não, se a faculdade oferece opções de estágios ou não. Laura manifestou que
foram perguntas bem lembradas. Em seguida, Isabel acrescentou que gostaria
de saber o que leva um indivíduo a escolher tal profissão.
Alice complementou que seria interessante saber como a família do
profissional reagiu com a escolha dele e se houve influência da família nessa
escolha ou não. Nesse momento, passou pela minha cabeça que Alice poderia
estar sendo influenciada por sua família.
Logo após, Laura comentou que um dado importante é saber se o
profissional está realizado ou não com esse trabalho.
Isabel disse que considera o depoimento de um profissional muito
importante. Contou que um professor do seu cursinho disse que, para ele, a
prática de dar aulas é algo apaixonante e que, depois que se inicia essa
prática, não consegue mais parar. Isabel disse ainda que se imagina no futuro
dando aulas. Comentei ter percebido que essa manifestação do professor de
Isabel foi um dado que a influenciou na escolha de maneira positiva. Isabel
131
disse que sim. Continuei dizendo que se um depoimento não é tão positivo,
também pode influenciar negativamente na escolha de um vestibulando e o
grupo concordou.
Alguém do grupo comentou: “Duro é conseguir essas pessoas para
entrevistar”. Questionei então em maneiras de conseguir tais profissionais para
entrevistá-los.
Laura disse que ela é tão cara de pau, que é capaz de marcar uma
consulta com um profissional somente a fim tirar dúvidas sobre a profissão.
Isabel disse que considera importante ter uma rede de relações para que se
consiga indicações de profissionais de interesse. O grupo ressaltou isso é
muito válido.
Polyana disse que, por ter interesse na área de Fisioterapia, perguntou
algumas dúvidas para uma amiga de sua irmã que trabalha na área. Eu disse
que existem novas profissões que estão se somando à área de Fisioterapia,
como, por exemplo, a Quiropraxia.
Em seguida, perguntei se o grupo tinha ouvido falar nessa profissão.
As participantes responderam que não e me questionaram sobre o que se
tratava. Expliquei sobre a carreira. O grupo achou interessante essa nova área
e eu comentei que a tendência dos indivíduos é ficar focado nas profissões
mais visadas e conhecidas sem buscar conhecer novas carreiras que estão
surgindo . Comentei que ter um maior leque de opções pode ser positivo, na
medida em que aumenta as possibilidades de escolha. Polyana disse que para
uma pessoa indecisa como ela isso não é nada bom.
Júlia manifestou que a escolha exige muita responsabilidade e acha que
é negativo ter que optar uma carreira com tão pouca idade. Isabel disse que
132
acredita que as profissões da área da saúde têm muito mercado. Laura
acrescentou que isso ocorre principalmente em outros estados das regiões
Norte e Nordeste, devido à escassez de profissionais nesses lugares.
Em seguida, Isabel mencionou que existem várias carreiras que sofrem
preconceito. Exemplificou contando que tem uma amiga que estuda Psicologia
e sofre preconceito na república em que mora. Laura concordou que isso
ocorre e disse que toca violino e muitas pessoas acham que Música é uma
profissão de pessoas vagabundas. Ressaltou que quando ouve isso, pede para
uma pessoa ir assistir a um ensaio, pois rapidamente mudaria de opinião.
Dei-me conta que nosso tempo estava terminado e perguntei se alguém
gostaria de falar algo para alguém. Isabel disse para Polyana que pensa que
ela precisa ser mais decidida, correr mais riscos e tomar decisões pessoais.
Polyana foi se emocionando com a conversa, pois seus olhos ficaram
marejados. Além disso, Isabel se propôs a ajudar Polyana a encontrar
profissionais das áreas de interesse da colega a fim de entrevistá-los.
Laura comentou que imagina que Polyana fica bastante indecisa até
mesmo ao ter que comprar uma roupa e disse que às vezes tem a impressão
que a colega quer tudo ao mesmo tempo. Ressaltou que não é possível
desejar todas as opções e que as escolhas são necessárias.
Júlia perguntou para Polyana se ela tinha pressa de entrar na faculdade.
Polyana respondeu que os pais não queriam mais pagar cursinho e gostariam
que ela entrasse direto na faculdade. Em seguida, perguntei como Polyana se
sentia com essa atitude dos pais. Ela respondeu que se sente pressionada.
Refleti para Polyana que o tempo dela era diferente do tempo dos pais e que
133
parecia que eles não estavam entendendo isso. Polyana começou a chorar e
disse que seus pais esperam que ela seja aprovada numa faculdade pública.
Júlia disse para Polyana que seria importante que ela se colocasse mais
em primeiro plano, além de parar de se preocupar tanto com a opinião alheia.
Alice questionou se Polyana se sente comparada com a irmã. Polyana disse
que sim. Laura exemplificou para Polyana que, embora esteja fazendo cursinho
pelo segundo ano consecutivo, não sente que está sendo tempo perdido.
Logo após, perguntei para Polyana como ela estava se sentindo após
ouvir os apontamentos do grupo. Polyana disse que sempre quis ser mais
decidida, mas não consegue. Júlia disse perceber que Polyana não consegue
realizar suas coisas, pois antes mesmo de tentar algo, antecipa que não irá
conseguir. Complementou que cria um pensamento negativo, que funciona
como barreira para suas conquistas. Polyana parece ter acatado o comentário
de Júlia, pois disse que realmente pensa que precisa mudar e acreditar mais
em si.
Perguntei como Polyana estava se sentindo agora que o encontro
estava terminando e ela respondeu que se sentia mais aliviada e que concorda
que precisa mudar. Disse que foi bom ter conversado. Percebi que o grupo a
ajudou.
Tive a impressão que o encontro se hoje plantou uma semente em cada
participante: que é preciso se conhecer para fazer escolhas. Os próximos
encontros vão me dizer se essas sementes estão brotando...
Ao final, comentei se na semana seguinte faríamos mesmo a última
sessão ou se gostariam de mais encontros. Isabel sugeriu que houvesse mais
um encontro. Laura, Alice e Polyana concordaram. Percebi que Júlia não se
134
manifestou. Diante disso, perguntei se ela também estava de acordo e
respondeu-me que sim.
Combinamos então que faríamos mais um encontro. Em seguida, pedi
que escrevessem as versões de sentido e, em seguida, nos despedimos.
Narrativa 4º Encontro
Enquanto eu e Érica arrumávamos a sala, comentei com ela que a e
de ssica havia me telefonado para avisar que a filha não viria hoje ao grupo,
pois estava fazendo um trabalho escolar.
As outras participantes chegaram e nos cumprimentamos na sala de
espera. Convide-as para irmos para a sala do grupo. Logo que se
acomodaram, avisei-as que Júlia não estaria hoje presente.
Em seguida, pedi que as participantes olhassem para a semana que
passou e lembrassem o que aconteceu de significativo para cada uma.
Laura disse que não tinha nada para contar.
Alice contou que largou o cursinho e disse que, a partir de agora, vai se
dedicar em ajudar o pai com projetos de elevador. Falou que não é apaixonada
por esse trabalho, mas vai querer prestar Engenharia Civil para poder ajudar o
pai. Em seguida, perguntei o que a levava a fazer essa opção. Alice respondeu
que, se ela não trabalhar para o pai, ele vai ter que pagar para alguém fazer o
trabalho e, que ela tem conhecimento de como trabalhar na área, ela sentiu
que deveria ajudá-lo. Nesse momento, pensei que ao invés de escolher, Alice
pudesse estar sendo escolhida.
135
Logo após, Polyana contou que sua mãe se queixou essa semana que
ela está usando o telefone por longos períodos do dia. Polyana relatou que, na
maioria das vezes, ela recebe ligações e não sabe finalizar as chamadas com
os amigos. Disse ter ficado chateada porque a irmã também usa bastante o
telefone, mas não é repreendida pelos pais.
Relatou ainda que fez a prova de direção para tirar carta e foi aprovada
logo na primeira vez. Polyana ficou sabendo pela irmã que seu pai disse que
achava que ela não seria aprovada. Polyana manifestou ter ficado bastante
chateada com isso. Segundo ela, a irmã passou pelo exame por várias vezes
até ser aprovada. Fiquei com a impressão que o fato de Polyana ter se saído
melhor que a irmã nesse aspecto fez bem a ela. Relatou que percebe que os
pais não acreditam nela e valorizam muito a irmã. Contou ainda que chora
muito sozinha por isso.
Refleti para Polyana que percebo que ela tem pouco espaço para expor
suas vontades e opiniões em sua casa e se sente magoada com as
comparações que os pais fazem entre ela e a irmã. Polyana começou a chorar.
Érica passou uma caixinha de lenço para Polyana.
Após alguns segundos, Polyana disse com uma voz pausada pelo choro,
que concorda comigo. Relatou ainda que se sente muito triste as comparações
dos pais e que ao invés de falar para os outros aquilo que pensa e lhe
incomoda, guarda para si. Percebi que Polyana estava com um na
garganta’, um nó que ela não consegue desatar por guardar muitas coisas para
si.
136
Em seguida, perguntei como Polyana estava se sentindo após ter
dividido suas questões com o grupo. Ela respondeu que estava se sentindo
mais aliviada, mais leve.
Questionei se alguém do grupo gostaria de dizer algo para Polyana.
Laura disse que freqüentemente fica preocupada com Polyana e pensa que
seria importante que a colega falasse aos pais aquilo que a magoa. A fala de
Laura me mostrou que ela se sente impotente por não poder ajudar a colega da
maneira que gostaria; pareceu-me que ela gostaria de fazer mais por Polyana.
Logo após, Isabel manifestou que o fato dela ter perdido seus pais
cedo, fez com que tivesse durante bastante tempo, de si mesma e,
conseqüentemente, sentia que os outros tinham dó dela. Isabel começou a
chorar. Em seguida, Alice também começou a chorar. Érica ofereceu lenços
para as duas. Nesse momento, percebi que Alice se emocionou com os relatos
que estava ouvindo. Notei que embora fale pouco, Alice está conectada com o
grupo.
Isabel ainda chorando, continuou dizendo que, durante dois anos da
sua vida, não conseguiu ir à escola, por conta desses problemas, e acabou
sendo reprovada por faltas. Nesse período, disse que começou a olhar mais
para si própria; passou a não se cobrar muito e a se conhecer melhor. Relatou
também que precisava se conhecer para encarar o mundo e considera que
cresceu muito nesse período. Confesso que nesse momento, fiquei muito
sensibilizada com a fala de Isabel e senti uma vontade enorme de chorar.
Embora eu tenha ficado com os olhos marejados, consegui impedir que as
lágrimas caíssem.
137
Logo após, Isabel olhou para Polyana e falou que esses dois anos
difíceis que viveu foram necessários para ela “se refazer” e o fato de ter
perdido a mãe aos 14 anos, por mais difícil que tenha sido, fez com que
amadurecesse muito. Isabel complemento que tem problemas de
relacionamento com a irmã, enquanto Polyana passa por uma relação difícil
com os pais. Isabel contou que o marido de sua irmã pensa que ela é doente.
Laura comentou o assunto que o grupo estava tratando, dizendo que
enxergava tanto a morte da mãe de Isabel como os dilemas familiares vividos
por Polyana como ‘superação’. Contou que viveu algo parecido com a situação
de Isabel quando perdeu sua avó e teve que superar a dor da morte dela.
Relatou que foi difícil chegar na casa da avó e perceber que ela não estava lá.
Laura começou a chorar e continuou dizendo que sempre acha que ela está ao
seu lado. Contou que sua mãe é kardecista e que isso fundamenta suas
crenças da presença de sua avó em sua vida. Exemplificou que sentiu sua
avó passando a mão na sua cabeça. Disse também que passou por dois anos
de luto, desejando que a avó voltasse.
Em seguida, Laura se dirigiu a Polyana e disse com firmeza que ela
deveria acreditar que seus problemas, a partir de agora, não iriam mais
derrubá-la e que era preciso que ela caísse e levantasse quantas vezes fossem
necessárias. Enquanto falava, Laura fazia gestos com as mãos. Falou ainda
que pensa que Polyana deveria enfrentar seus pais com superação e força.
Tive impressão que a fala de Laura conseguiu expressar exatamente o que ela
queria, pois observei que o que ela mais queria passar para Polyana era
“força”.
138
Perguntei quem mais gostaria de dividir situações semelhantes com
aquelas que estávamos ouvindo. Isabel disse que sempre quis mostrar para
sua irmã que conseguiria passar no vestibular e, com o tempo, começou a
entender que não precisa mostrar nada para ninguém e sim para si própria,
pois, quando ninguém acreditou nela (Isabel), ela mesma estava acreditando e
isso fez a diferença. Disse ainda perceber que Polyana espera a aprovação de
seus pais, assim como ela esperava da sua irmã. Isabel disse com firmeza que
pensa que Polyana deve acreditar mais em si própria.
Refleti para o grupo que o encontro de hoje havia tocado todas as
participantes e que percebi que elas precisavam desse espaço para se
esvaziar de coisas que estavam lhe incomodando. Logo após, perguntei como
estavam se sentindo agora que compartilharam conosco coisas tão íntimas.
Polyana relatou estar se sentindo bem mais aliviada e com a sensação de
realmente ter se esvaziado. Isabel disse que foi importante para ela desabafar
e falar de coisas tristes de sua vida. Comentou também que não fala sobre a
perda de seus pais com qualquer pessoa. Nesse momento, pensei que Isabel
confiou muito no grupo por ter dividido conosco suas feridas e me senti muito
bem com isso. Alice comentou que o encontro de hoje foi bastante importante
para todas e com ironia, disse que as amigas eram culpadas por tê-la feito
chorar.
Ao final do encontro, pedi que escrevessem as versões de sentido.
Isabel quis ler sua versão. Percebi que ao fazer isso, fez uma declaração de
amizade às outras integrantes. Logo após, Alice comentou que hoje vieram
para para chorar. Algumas concordaram e outras sorriram. Em seguida, nos
despedimos.
139
Num determinado momento, percebi que na tentativa de ajudar Polyana,
o grupo estava dando ênfase nas suas questões. Diante disso, fiquei
preocupada se Polyana estava se sentindo muito exposta ou invadida, mas
com o passar do encontro, outras participantes foram colocando suas questões
pessoais, o que me deixou aliviada. Tive a impressão de que o fato de Júlia
não ter estado presente, facilitou o diálogo tão íntimo e sincero das outras
participantes.
Observei também que o encontro de hoje foi pautado em trocas de
confidências e que embora essas meninas sejam amigas fora do grupo, saíram
daqui conhecendo ainda mais umas às outras. Senti que não houve
necessidade que eu me expressasse tanto hoje, pois o grupo seguiu um fluxo
natural de diálogo. A isso denomino empatia, pois umas tentaram se colocar na
vida das outras e exemplificavam com exemplos de suas vidas pessoais.
Penso que isso gerou uma sensação em todas de que ali dentro estavam
sendo entendidas e apoiadas. Foi um encontro muito rico.
Narrativa 5º Encontro
O encontro iniciou-se com as cinco participantes e as duas
coordenadoras.
Em seguida, refleti que, hoje faríamos o último encontro e por isso, seria
interessante refletir sobre o significado que o grupo teve para cada uma; como
cada uma chegou e como estava saindo do grupo.
Júlia começou dizendo que, no início, achava que o processo seria de
direcionar profissões e, com o passar dos encontros, percebeu que isso não
140
iria acontecer. Falou que gostou de ouvir as experiências das outras pessoas e
sentiu que pôde ajudar os outros. Comentou que vivemos juntas um processo
de trocas de experiências. Manifestou ter ficado chateada por não ter
comparecido na semana anterior. Disse que, por ter visto, no grupo eletrônico
(temos um grupo virtual, para dividirmos e-mails) as manifestações das outras
participantes com relação ao encontro passado, ficou pensando que havia
perdido o melhor encontro. Alguém comentou que foi um encontro de muitas
emoções e grimas. Quanto às profissões, Júlia disse acreditar que vai
realmente prestar Economia ou alguma Engenharia.
Em seguida, Polyana disse que está saindo diferente de como entrou no
grupo, pois percebe que está buscando ter mais confiança em si mesma. Disse
também que nesse grupo aprendeu muitas coisas, entre elas que é preciso
confiar em si para que os outros também confiem.
Isabel concordou com Polyana, pois percebe que também está saindo
diferente e com maior confiança em si mesma. Disse que o grupo fez com que
refletisse sobre assumir suas próprias responsabilidades e possibilitou que ela
se conhecesse melhor e pensasse mais em si. Quanto às profissões, disse
que realmente optou por Matemática. Falou que, durante a semana, ficava na
expectativa de que chegasse logo o dia do grupo e que vai sentir falta dos
encontros.
Laura disse que no grupo teve grande identificação com Júlia e isso
facilitou que ela enxergasse a si mesma. Frisou estar contente em perceber
que Polyana melhorou bastante. Comentou que, embora conhecesse algumas
participantes antes do início do grupo, as conversas que surgiram aqui foram
diferentes das que costumam ter no dia-a-dia. Além disso, achou que, o fato de
141
trocarem experiências foi bastante importante. Comentou que, toda vez que
saía do grupo, se sentia mais leve e com uma consciência mais ampliada.
Falou que ficava calma, sossegada e na expectativa para o próximo encontro.
Disse também que assumiu o grupo como um compromisso e que irá sentir
saudades das pessoas e das conversas.
Alice disse que gostou bastante do grupo e que o como um
aprendizado. Notou que teve a possibilidade de se conhecer melhor nesse
espaço. Disse que pôde se perceber no grupo muito mais como ouvinte.
Quanto às profissões, relatou que ora se vê decidida em seguir os rumos
profissionais do pai e, ora não. Disse que, muitas vezes, se sente
sobrecarregada pelos seus pais. Durante os encontros, percebi que Alice é
bastante obsarvadora, porém bastante conectada com o grupo. Observei
também que o fato de Alice estar sempre ouvindo atentamente as questões,
permitiu que as pessoas se sentissem apoiadas e entendidas naquele espaço.
Pedi então que as participantes refletissem sobre o trabalho das
coordenadoras.
Polyana disse que gostou bastante, pois em momento nenhum se sentiu
direcionada. Relatou ter percebido que minha atuação e a da Érica eram feitas
no sentido de ampliar a consciência que cada uma tem de si. Gostei muito de
ter ouvido isso dela, pois realmente tive a intenção de ajudá-las nesse aspecto.
Isabel disse que minhas intervenções facilitaram que ela se conhecesse
melhor e pensasse mais em si própria.
Laura disse que, no início, imaginava que ia ter que responder a vários
questionários devido a uma experiência anterior que teve em Orientação
142
Profissional. Percebeu que se enriqueceu mais nesta experiência não-diretiva,
pois pôde compartilhar vivências e buscar se conhecer.
As participantes manifestaram interesse em continuarmos nos
encontrando uma vez por mês.
Falei sobre o significado que o grupo teve para si e para a pesquisa.
Érica manifestou ter gostado muito de participar desse processo e disse que foi
uma experiência gratificante e enriquecedora para sua vida.
Relatei estar percebendo que o grupo foi um processo bastante
enriquecedor e construtivo para todas nós.
A reunião foi encerrada com as versões de sentido e com um abraço de
grupo. Em seguida, dei um doce para cada uma delas.
Após ouvir os relatos, tive a nítida sensação que esse grupo possibilitou
que cada participante se percebesse e se conhecesse mais, além de terem tido
a oportunidade de se perceber na relação com outras pessoas.
Fiquei muito satisfeita em ter visto também que esse processo permitiu
que as integrantes do grupo começassem a construir um referencial interno,
capaz de ajudá-las a direcionar suas vidas.
143
ANEXO 4- Versões de sentido de cada encontro
1º. Encontro
Isabel
“Achei o fato de estarmos com dúvidas em comum muito legal. A troca
de emoções e sentimentos é muito importante diante desse momento de
escolha pelo qual passo agora. Sinto-me bem ao falar sobre essas
experiências que vivi e ao ouvir as experiências de outras pessoas também.
Estamos meio perdidas ainda, mas acho que temos muito o que aprender
umas com as outras, para formar certas opiniões.A alegria de todos é muito
contagiante também! Isso é muito bom! CONFIDÊNCIAS”.
Laura
“Após esse encontro percebi que todas nós temos algo em comum, e
mesmo as minhas amigas com as quais converso todos os dias disseram
coisas que ainda não sabia, e aumento o meu conhecimento sobre elas. A
Júlia, nossa nova colega, me ajudou a perceber que não sou a única que
precisa mostrar as coisas para que os outros sintam orgulho de mim, me dando
alívio de que não sou um ‘passarinho fora do ninho’, e que talvez nós duas
possamos construir algo que nos ajude a superar esse sentimento. Adorei o
encontro e me senti feliz por poder compartilhar sentimentos, que nem todos
compreendem e acabam interpretando mal, e que a Camila pôde esclarecer
alguns deles, ajudando assim a me melhorar como ser humano.
COMPARTILHAMENTO”.
144
Alice
“É muito bom saber queo sou eu, mas que também outras
pessoas sofrem pressão dentro de si e de familiares. É impressionante ver o
quanto um gesto, uma conversa de cinco minutos, pode mudar completamente
uma opinião que considerávamos formada. De certa forma, ‘tira’ o medo que
temos em nos expressar e contar fatos de nossas vidas.Todos deveriam formar
grupos para desabafarem, e se desprenderem de algo julgam ser um bicho de
sete cabeças. Ótima experiência. EXPERIÊNCIAS”.
Polyana
“Gostei bastante em estar participando deste grupo, pois, como foi
comentado, temos praticamente o mesmo problema. estou me sentindo um
pouco ansiosa para o próximo encontro. Às vezes, pensamos que conhecemos
bastante uma pessoa, mas cada vez mais percebemos que estamos juntos
descobrimos mais afinidades, tanto para pessoas que convivemos o dia-a-
dia, quanto para as que conhecemos hoje. Estou bem confiante de que
participar deste projeto (grupo) vai me ajudar bastante futuramente, como
pessoa ou na escolha de uma profissão. UNIÃO”.
Júlia
“Cheguei aqui um pouco chateada devido a alguns problemas pessoais,
e vou sair daqui mais animada, com mais expectativas em relação à vida, às
pessoas, a tudo! Nesse primeiro encontro, senti que rolou uma certa afinidade
entre todas e que juntas vamos nos ajudar de alguma maneira.
EXPECTATIVA”.
145
Camila
“Quantas questões! Quanta energia! Quanta participação! Quanto
trabalho pela frente. Que gostoso que será dessa forma. Me sinto feliz ao
término desse encontro e com uma expectativa de que será muito prazeroso e
produtivo. JUVENTUDE”
Érica
“Puxa, quanta coisa que surgiu aqui hoje! Acho que, de início, estava
meio apreensiva quanto ao que ia ser e acontecer aqui. Agora vejo que todas
trouxeram muitos assuntos e pareceram estar a fim de compartilhar umas com
as outras. Estou animada. Senti que elas foram ficando à vontade ao longo da
conversa e eu também me sinto mais à vontade. COMPARTILHAR”.
2º Encontro
Isabel
“Decisões, emoções, influências, interferências, enfim, quantas
abordagens, quantos pensamentos, quanta alegria, quanta necessidade de
aprovação. São tantos os assuntos, tanta coisa a ser dita, que me fazem ir
além, procurar uma resposta, algo que explique o porq da dificuldade da
escolha. São momentos como esses que me mostram o quanto ter amigos, ser
amigo é importante. Estou crescendo com as observações feitas nesse grupo,
e a sensação de poder contar o que passa e ser ouvida é muito boa, faz com
que eu me sinta mais leve. Às vezes, me sinto muito , acho que isso pode
ser pelo fato de não ter minha mãe aqui para conversar a respeito dos mais
146
diversos assuntos. Por isso, gosto de falar e de ouvir o que todas têm a dizer.
Visões diferentes podem mudar muito todos. SINCERIDADE”.
Laura
“Mais uma vez percebi que a Júlia é muitíssimo parecida comigo, e
assim me sinto bem em saber que há pessoas parecidas comigo, e que
também posso mudar algo que realmente sei que não é benéfico para
ninguém. Hoje pude perceber que quando cada um conta sua experiência, faz
com que você veja se algum dia você poderá trabalhar com aquilo e trazendo
também conhecimento sobre áreas que apenas conhecemos por nome, e que
não sabemos sobre sua rotina na realidade. Os sentimentos hoje estavam bem
aflorados, principalmente na questão familiar, onde os pais, por mais amorosos
e cuidadosos, acabam dizendo coisas que nos magoam muito. Espero que elas
superem essa desconfiança que eles têm sobre elas, e que elas passem no
vestibular e que, de uma maneira ou de outra, mostrem o potencial que elas
possuem, pois tenho certeza que são capazes. PERSEVERANÇA”.
Alice
“Questões como a cobrança dos pais sempre surgindo nos mostra um
certo dever para com a escolha profissional.Talvez o cansaço, o desgaste
durante o trabalho, acabam fazendo com que uma pequena conversa familiar
transmita certa pressão de que o melhor a fazer é garantir uma renda e não a
própria felicidade. Nos sentimos abatidos, meio perdidos com essa questão
diversas vezes. PLANOS”.
147
Polyana
“O encontro de hoje me fez pensar que a proximidade dos pais, dos
amigos interfere muito em nossas vidas, na questão de eles poderem dizer
como você é, seu jeito de ser. Às vezes, nem mesmo a própria pessoa se
conhece tão bem quanto as que estão à sua volta. COMPREENSÃO”.
Júlia
“O encontro de hoje me fez pensar em várias coisas, como a
identificação com o próximo nos ajuda a nos sentir bem. O fato de poder trocar
informações com outras pessoas que não convivem comigo também é um fator
muito interessante. Além da possibilidade da troca de informações, os
encontros têm sido para mim a possibilidade de um refúgio, onde eu posso
desabafar e expor meus sentimentos sem nenhuma cobrança. Aqui é um lugar
onde eu me sinto à vontade para expor meus pensamentos. IDENTIFICAÇÃO”.
Camila
“Percebo que as participantes estão conseguindo se ver umas nas
outras, como uma imagem no espelho e isso está permitindo que cada uma se
conheça melhor. Me sinto bem ao saber que a proposta do trabalho em grupo
está ajudando num maior autoconhecimento. Questões importantes surgiram
aqui hoje: pressões dos pais, mercado de trabalho, gostar do que faz... Me
parece que as opiniões compartilhadas em relação a esses assuntos puderam
trazer várias reflexões. REFLEXÃO”.
148
Érica
“Na hora de fazer escolhas, quantas coisas estão presentes! Pressão de
pais, recompensas, retornos, o que gostamos ou não. Afinal, o que pesa mais
na hora de decidir? Tem alguma coisa a pesar mais? São coisas que me
deixaram a pensar... PENSATIVA”.
3º Encontro
Isabel
“O que ser? O que fazer? Qual caminho seguir? Quem ouvir? Quantas
dúvidas propostas aqui! Sinto-me com a vontade de querer dar sentido a tudo.
Como tudo isso se torna difícil, ainda mais por saber que não se pode fazer
tudo por todas as pessoas. Vejo muita confusão diante das escolhas e
aceitações; acho que tudo isso vem do fato de ter pouco conhecimento de si
mesma. Ao longo dessas três quartas-feiras, pude parar e olhar mais para o
meu eu, observar coisas que eu não conseguia. Ao longo da vida, precisei
ouvir coisas para perceber que aprendi e cresci muito depois que minha mãe
morreu talvez hoje eu pudesse estar passando por situações semelhantes à
das meninas. Fico feliz de estar me conhecendo e espero que elas consigam
se conhecer também. ACEITAÇÃO”.
Laura
“Hoje nós tentamos ajudar a Polyana a possuir mais confiança nela
mesma, mas é difícil quando os pais recriminam suas atitudes dando a ela
mais nervosismo que esse momento de pré-vestibular causa, podendo até
149
levar a experiências não muito legais. Eu gostaria que ela se conhecesse e os
pais passassem por uma análise psicológica para entenderem esse momento,
mas acho que infelizmente isso não será possível e ela terá que enfrentá-los e
traçar seu caminho. Além da Polyana, discutimos sobre como se organizar no
mercado de trabalho, entre outros... Pude perceber que consegui contribuir
com algumas idéias, me sentindo útil para o conhecimento de todos e para mim
também. Gostei do encontro de hoje, me senti capaz de notar as coisas mais
rapidamente e com o foco necessário. AUTOCONHECIMENTO”.
Alice
“O que precisamos saber e até onde temos que conhecer uma área
para, de certa forma, nos encantarmos por ela? Levo hoje desse encontro mais
clareza em como nos expressar e o que é importante perguntar a um
profissional de uma área de interesse e também como ele se realiza em sua
profissão.” ESCLARECIMENTO
Polyana
“Às vezes, não conseguimos enxergar nós mesmos, mas devemos
batalhar e persistir no nosso defeito, no nosso maior obstáculo. Hoje percebei
que, para conseguir o que mais quero, devo correr atrás até alcançar e não me
importar tanto com as opiniões alheias. APRENDIZAGEM”.
Júlia
“No encontro de hoje, a troca de experiência foi muito importante, pois
tentamos ajudar uma pessoa que está ‘perdida’ em relação à escolha de uma
profissão. Tudo que é falado aqui é aproveitado de alguma forma e, sempre
150
que termina um encontro, eu continuo pensando em tudo o que aconteceu e
isso tem me ajudado muito. As nossas conversas tem feito eu parar para
pensar em coisas que eu jamais pensei antes e isso está sendo muito bom
para mim.” AJUDA
Camila
“Ficou forte hoje para mim que, para escolher, é preciso primeiro um
autoconhecimento e depois o conhecimento das profissões. Sinto uma vontade
imensa em ajudar a Polyana. É como se eu ouvisse um chamado interno me
pedindo isso. Percebo nela muita indecisão, vulnerabilidade e sensibilidade. A
maneira como ela lida com a própria vida me toca. O fato de valorizar mais os
outros do que a si mesma me preocupa. Percebo que falta autoconhecimento e
valorização pessoal, fatores que poderiam auxiliá-la. VALORIZAÇÃO”.
Érica
Tomar uma decisão, escolher uma entre tantas opções pode ser um
tanto quanto difícil e trabalhoso. Assumir uma coisa frente a tantas outras e
abrir mão do resto. Como poderemos nos conhecer melhor para saber o que
queremos? REFLEXÃO”.
151
4º Encontro
Isabel
“Como a vida voltas! Olhando para o passado e agora para o
presente, vejo o quanto amadureci e o quanto posso amadurecer mais. Diante
da relação da Polyana com os pais, pude ver que a troca de experiências pode
ser muito mágica. Outra coisa que me fica é a importância da amizade,
amizade essa que quero levar para a vida toda, afinal elas se tornaram minha
família. A confiança vem crescendo entre todas e isso me fortalece! Quantas
coisas mais vamos viver? Essa é a pergunta que me fica! O engraçado é que
não ligo para a resposta! Espero que possamos estar presentes ao longo
dos anos para passar momentos como os de hoje! Amo essas meninas
demais! AMIZADE.”
Laura
“Aprendi hoje que, mesmo conhecendo as pessoas, s não fazemos
idéia de como é o relacionamento que elas possuem com os seus familiares.
Não sabemos se as pessoas estão bem ou precisam de ajuda, como
aconteceu com a Polyana nesse encontro, onde pudemos ouví-la e entender a
turbulência [familiar] que ela está passando. Além disso, as experiências não
muito boas que a Isabel teve com a morte de seus pais nos mostrou que ela
ultrapassou barreiras para ser vitoriosa com si mesma. Espero que a Polyana
tenha a mesma força dentro de si e construa com dedicação a confiança que
ela tanto necessita. SUPERAÇÃO”.
152
Alice
“O encontro de hoje foi muito tocante, com muito sentimento nas
palavras, e que de certa forma nos anima para vencer na vida, mesmo que ela
nos faça chorar. Levo que o amor, acima de tudo e de qualquer fato, está
presente. Que o levemos sempre nas nossas escolhas, nossos atos, nossas
vidas.” AMOR
Polyana
“Hoje eu e as outras meninas estamos saindo bem aliviadas e mais
soltas em poder colocar um pouco da nossa vida pessoal aqui. Realmente, eu
precisava muito disso, pois me sentia um pouco ‘sufocada’ com meus
problemas. As histórias que pudemos ouvir hoje, com certeza vão nos ajudar a
crescer. pessoas que passam por dificuldades maiores, mas que
conseguem curá-las e resolvê-las, basta começar por si mesma! tenho a
agradecer tudo o que vocês têm feito por mim... ACOLHIMENTO”.
Camila
“Quantas experiências e sentimentos compartilhados. Quanta troca!
Sinto que hoje as pessoas trouxeram questões íntimas e confiaram na
capacidade do grupo de ajudá-las de alguma maneira. Vejo que a troca de
experiências e o fato de poder olhar para o outro auxilia a olhar para si mesmo.
COMPARTILHAR”.
153
Érica
“Quanta coisa pode ser compartilhada aqui hoje! Sinto que as pessoas
estavam muito conectadas umas com as outras, ouvindo, contando suas
histórias, se abrindo e dividindo experiências, querendo ajudar as outras. Tudo
fluiu muito naturalmente. Acredito que todas saem daqui agora muito tocadas.
FORÇA”.
5º Encontro
Isabel
“Quanto conhecimento! Que forma gostosa de aprender a conhecer
cada um, a olhar para si. Aprendi muito com todas e sinto que vai fazer falta
não estar aqui todas as quartas-feiras. Vou sair daqui com outra visão das
pessoas e de mim, com a consciência de que é preciso saber quem você é
para tomar uma decisão. Aprendi também que a responsabilidade das minhas
escolhas é minha. Espero que todas possam ter aprendido, em primeiro
lugar, consigo e, depois, com as experiências dos outros. Adorei estar aqui e
poder compartilhar o que sei e o que vivi até hoje. CONHECIMENTO”.
Laura
“Fiquei muito contente em participar do grupo. Hoje, que é o último dia,
percebi alguns dons em mim que antes não tinha reparado, como ajudar as
pessoas ou até ser palestrante, como a Alice me disse. Talvez eu siga essa
‘carreira’ e, com certeza, convidarei todas para a minha palestra. Aprendi com
a Júlia que algumas atitudes que ela tem eu também tenho e que, às vezes, as
154
pessoas comentam e recriminam. Vendo uma pessoa que tem atitudes
parecidas com as minhas, pude perceber que, às vezes, as pessoas têm razão.
Assim, tento, a cada dia, melhorar com esses defeitos que todas temos,
tentando assim ser uma pessoa melhor. Toda vez que saio do grupo, me sinto
leve e com a sensação de que nada de ruim pode me acontecer. O grupo me
fez sentir bem e parecendo que todos podiam me ouvir sem me recriminar e
por isso fico muito contente por tudo. AUTOCONHECIMENTO”.
Alice
“Como é bom podermos ter a liberdade para indagar certas questões e
podemos levá-las no rumo e no tempo que precisamos naquele momento.
Percebo que, o que por muito tempo achávamos que seria certo, talvez, não
seja nosso propósito maior. Vejo que o temos a obrigação de continuar algo
por simplesmente ter começado em nosso lar. Saio daqui com mais coragem.
CORAGEM”.
Polyana
“Estou muito satisfeita por ter me conhecido um pouco mais, por
entender o significado da frase que muitos dizem: ‘é preciso se conhecer antes
de mais nada’. Achei que iríamos sair destinados, orientados para uma
profissão, mas foi muito melhor que isso, pois ninguém pode decidir por você
além de você mesma, simplesmente pudemos trocar conhecimentos para
ajudarmos uns aos outros. SABEDORIA”.
155
Júlia
“Último encontro... tantas conversas, risadas e trocas de experiências,
me marcaram muito, são coisas que levarei para a vida toda! Volto a dizer que
cheguei com muito medo e desconfiança, mas com o passar dos encontros
isso foi embora. Levo os nossos encontros como uma experiência de vida
ótima. Saio muito satisfeita com um gostinho de quero mais! Foi uma
oportunidade única! Agradeço a todos por me ouvirem e por tentarem de
alguma maneira me ajudar. SAUDADE”.
Camila
“Sinto que esse grupo foi um espaço de troca. Aqui compartilhamos
experiências, emoções, conflitos e indecisões. Foi um espelho em que as
pessoas puderam se ver umas nas outras. Foi uma lupa que permitiu que cada
uma se conhecesse melhor, se olhasse interiormente e confiasse mais em si.
Vejo que foi um espaço de diálogo externo e interno. BUSCA DE SI”.
Érica
“Acho que elas saem daqui diferentes de como chegaram. Bom saber
que elas ganharam e se enriqueceram com esses encontros. Bom saber que,
para elas, esses momentos propiciaram coisas importantes e que fizeram
algum sentido para elas. SATISFAÇÃO”.
156
ANEXO 5- Versões de Sentido reescritas para análise
Neste item, as versões de sentido foram reescritas pela pesquisadora e
agrupadas por participante.
Isabel
Encontro: demonstra uma expectativa positiva quanto ao que aconteceria
no grupo. Descobriu o potencial de troca que o espaço grupal tem. Inicia um
processo de autoconhecimento. Sentiu-se bem ao falar sobre suas
experiências e ao ouvir as dos outros.
Encontro: reconhece que ela e o grupo manifestam necessidade de
aprovação dos outros. A experiência compartilhada faz com que se sinta mais
leve e abre possibilidade para mudanças.
Encontro: percebe que diante das dúvidas que surgem no grupo, sente-se
com vontade de dar sentido à elas na medida em que se manifestam em sua
vida. Percebe que a falta de autoconhecimento dificulta a escolha e reconhece
estar se conhecendo melhor.
Encontro: reconhece que amadureceu ao longo do tempo. Ressalta o
potencial positivo da troca de experiências. Sentimento de amizade por colegas
do grupo.
Encontro: constatou que aprendeu a olhar mais para si e para o outro.
Manifesta antecipadamente que sentirá falta do grupo. Percebeu que com a
experiência vivenciada no grupo aprendeu que é preciso se conhecer para
fazer escolhas e que a responsabilidade dessas opções de vida é de cada um.
Percepção do quanto foi bom para ela compartilhar.
157
Laura
Encontro: percebeu que todos têm problemas comuns. Identificou-se com
Júlia, o que permitiu que se enxergasse nas atitudes dela, se sentindo aliviada.
Constatou que os sentimentos compartilhados foram aceitos no grupo de uma
maneira que não acontece em outros espaços. Sensação de estar sabendo
mais sobre seus sentimentos após as reflexões. Sentimento positivo em
relação à psicóloga.
Encontro: sente-se bem novamente com a identificação com Júlia. A
experiência compartilhada aumenta o conhecimento sobre as profissões.
Sentimento de compaixão por colegas do grupo.
Encontro: sentiu-se sensibilizada com o problema de Polyana e manifestou
tentativa de ajudá-la. Percebeu que a troca de idéias foi útil para ampliação do
conhecimento sobre profissões. Sentimento positivo em relação ao encontro.
Encontro: sente necessidade de ajudar os outros. Aprendeu com a vivência
dolorosa de Isabel. Deseja que Polyana se espelhe na força de Isabel para
resolver seus problemas.
Encontro: sentiu satisfação em participar do grupo. A identificação com Júlia
permitiu que se conhecesse melhor. Avalia o grupo como um espaço que fazia
com que se sentisse mais leve e com a sensação de ser ouvida e
compreendida.
158
Alice
Encontro: sentiu-se aliviada em perceber que os outros também vivenciam
problemas comuns. A sensação de pertença no grupo aumentou o diálogo.
Encontro: manifestou a influência dos pais como algo negativo. Percebe que
talvez a escolha profissional esteja sendo feita a fim de garantir renda familiar e
não como meio de satisfação pessoal.
Encontro: questionou-se do que é necessário saber sobre uma profissão
para fazer uma escolha que a realize. Aprendeu o que se faz importante
conhecer sobre as profissões.
Encontro: as experiências dolorosas compartilhadas motivaram-na pensar
em crescer como pessoa. Reconheceu a importância de lidar com as escolhas,
atos e com a vida com sentimento de amor.
Encontro: sentiu-se bem na possibilidade de falar sobre o que quisesse em
seu tempo. Manifestou questionar se está fazendo uma opção profissional
correta. Percebeu que a escolha é pessoal e que está mais encorajada.
Polyana
Encontro: foi positivo reconhecer problemas comuns. Mostrou expectativas
em relação ao próximo encontro e que o processo irá ajudá-la a definir sua
opção profissional.
Encontro: constatou que a influência dos pais e amigos interfere na escolha
profissional de maneira negativa.
Encontro: percebeu a necessidade de perseverar diante dos obstáculos e
objetivos da vida. Reconheceu ser importante não se importar com as opiniões
alheias.
159
4º Encontro: sensação de alívio ao dividir problemas. Reconheceu que as
experiências compartilhadas ajudarão todas a crescer. Ampliou a compreensão
dos seus problemas a partir da escuta dos problemas das outras participantes,
reconhecendo que a solução para eles se encontra dentro de cada um.
Sentimento de gratidão pelo apoio do grupo.
Encontro: ampliou a consciência de si própria. Reconheceu que a escolha é
pessoal e que ninguém pode escolher pelo outro. Manifestou que a troca de
informações auxilia na ampliação do conhecimento das profissões.
Júlia
Encontro: sentiu-se com mais expectativas em relação à vida. Expectativa
de que as pessoas possam se ajudar mutuamente.
Encontro: sente-se bem novamente com a identificação com Laura.
Percebeu a troca de informações como algo positivo. Reconheceu no grupo um
espaço de aceitação onde pode exprimir seus sentimentos sem julgamentos.
Encontro: reconheceu o potencial de troca do grupo. Sensibilizou-se em
ajudar Polyana. Constatou que as discussões grupais têm permitido que reflita
mais sobre si.
4º Encontro: Faltou
Encontro: reconheceu aprendizado com a troca de experiências. Os
encontros fizeram-na adquirir experiência de vida. Sentimento de gratidão a
todas por ouvirem-na e por ajudá-la.
160
ANEXO 6- Mensagens do grupo eletrônico
Neste item, seguem as mensagens do grupo eletrônico. Cada
mensagem foi reproduzida descrevendo quem enviou e a data de envio.
05/09/08
De: Camila
Olá meninas, como estão?
Isabel, agradeço a criação do grupo. Informo que o e-mail da Érica para que
você possa adicioná-la é...
Abraço a todas e até quarta.
Camila.
06/09/08
De: Alice
Boa Tarde! Abri uma conta aqui no mesmo provedor do nosso grupo eletrônico
para facilitar. Não sei mexer direito ainda, mas vamos em frente.
Abraço a todas. Beijão! Um belíssimo final de semana.
07/09/08
De: Isabel
Oi meninas! Tudo bem? Imagina Camila, não precisa agradecer!
Alice pode ficar tranqüila, não precisava fazer um e-mail do ‘yahoo’, o do ‘gmail’
está ótimo! Mandei o convite para a Érica também, agora falta a Júlia!
Bom fim de domingo e começo de semana para todas!
07/09/08
De: Isabel
Camila, coloquei você como moderadora do grupo. Pode fazer as mudanças
que quiser. E se você tiver o e-mail da Júlia pode adicioná-la também. Beijos,
Isabel.
161
0709/08
De: Camila
Isabel, agradeço [por oferecer que eu seja a moderadora do grupo], mas prefiro
que você fique como a nossa moderadora. Faz parte da minha proposta que eu
não fique sendo uma pessoa que direciona tarefas. Pode ser assim?
Logo que eu tiver o e-mail da Júlia te envio.
Beijos a todas e bom final de semana.
11/09/08
De: Isabel
Oi Pessoal!
Tudo bem com todas?
Adorei o encontro de ontem! Acho que as coisas estão se encaminhando para
um conhecimento interior de cada um de nós e isso para mim é muito bom e
importante!
Tudo certinho sim Camila, sem problemas, eu fico como moderadora!
Bom é isso ai, vou adicionar a Júlia e a Érica mais uma vez!!!
E quem está recebendo os e-mails do grupo poderia pelo menos dar um
oizinho, para eu saber certo?!
Beijos!
Isabel
11/09/08
De: Polyana
Oisinho Isabel!Estou recebendo os e-mails sim, Obrigada!Beijos a todas.
11/09/09
De: Isabel
Ae [que bom] pelo menos três pessoas estão recebendo os e-mails. Agora
falta saber das outras. Beijos, Isabel.
162
11/09/08
De: Érica
Olá, meninas!
Como vão? Isabel, obrigada pelo convite [de me adicionar no nosso grupo
eletrônico]. Bom final de semana pra vocês! Beijos,
Érica.
11/09/08
De: Isabel
Oi Érica!
Comigo está tudo bem e com você?
Não precisa agradecer.
É bom saber que os e-mails estão chegando!
Boa sexta a todas!
Beijos!
Isabel.
12/09/08
De: Érica
Tudo bem comigo também! A semana foi muito boa! Estamos todas
"plugadas" no grupo eletrônico já?
Bom final de semana para vocês!
Beijos,
Érica.
15/09/08
De: Alice
Opa, opa!
Eu também estou recebendo todos os e-mails. Como passaram o fim de
semana?
Sábadão fui à feira de profissões da Unicamp, um frio! Mas visitei vários
institutos. Muitas fotos tiradas no de Biologia, coração, estômago, sistema
urinário... impressionante! Colocarei em anexo para verem.
163
Domingo fui para Santo André, num evento que aconteceu na Feira do
Estudante, muito bom! Havia várias faculdades, tirando dúvidas. Não sabia que
havia essa feira lá, foi a terceira "edição" esse ano.
Enfim, queria mandar notícias, afinal não sou muito de falar no grupo, por
enquanto. Haha!
Grande abraço a todos.
Até quarta. Fiquem com Deus.
Beijos. Alice
15/09/08
De: Polyana
Nossa Alice, que legal!
Adoreiii as fotos, são muito interessantes!
Se eu soubesse teria ido também!
Na feira da Unicamp não dava mesmo para eu ir... mas se vocês souberem de
alguma outra feira...nos avisem!
Beijão a todas! Polyana
24/09/08
De: Isabel
Oi pessoal!
Tudo bem com vocês?
Quanta coisa dita hoje hein, galera?
Adorei o encontro de hoje mesmo, vou sentir muita falta depois que acabar,
acho que a gente poderia marcar de se encontrar uma vez por mês pelo menos
pra se ver e matar a saudade das nossas conversas!
Obrigada por me escutarem hoje, acho que eu estava precisando me abrir!
Isabel
24/09/08
De: Polyana
Oi. Bem melhor agora. Eu também iria amar encontrar todas pelo menos um
vez ao mês, ou mesmo de dois em dois meses, para não nos afastarmos.
164
Agradeço muito por vocês me escutarem e me compreenderem. Esse encontro
me fez muito bem!
Ah Isabel, você sabe que eu sempre estarei aqui para o que você precisar...
sempre!
Isso vale pra todas!
Um grande beijo a todas!
Polyana
24/09/08
De: Isabel
Polyana fico feliz de saber que você está melhor!
Espero que a gente possa te ajudar sempre!
E obrigada! Você também pode contar comigo sempre!
beijosss
Isabel
24/09/08
De: Júlia
Olá meninas.Tudo bem com vocês?
Infelizmente não deu pra eu ir hoje...vi que perdi muita coisa...tava cheia de
trabalhos e provas pra estudar...essa semana é a semana de provas...desculpa
mesmo pela ausência...
Adorei conhecer todas vocês... Também vou sentir muita falta... concordo em
nos encontrar mais vezes...
Beijos,
Júlia.
25/09/08
De: Camila
Olá meninas, tudo bem?
Fico muito feliz em saber que o encontro passado foi importante para todas
nós.
165
Pelo menos ainda teremos o da semana que vem e poderemos combinar
uma maneira de não perdermos o fluxo que o grupo vem seguindo.
Boa semana e até quarta.
Um beijo a todas,
Camila.
25/09/08
De: Alice
Um encontro muito bonito.
Poderíamos repetir a dose uma vez por mês mesmo, seria ótimo!
Espero que todas tenham se sentindo mais aliviadas, menos angustiadas
depois de tantas lágrimas... que coisa linda!
Isabel: saiba que terá sempre grandes amigos ao seu lado, mesmo que
"aquele" amigo não esteja presente em um momento que muito precisaria.
Tantas pessoas com o coração cheio dos mais belos sentimentos, estarão
sempre ao seu lado! Você as atrai. Estarei sempre disposta a atendê-la! Tem o
meu número, certo?! rss.
Polyana: quanto conhecimento adquirido, hein? Olha que as histórias ali
descobertas nos passam um grande ensinamento! Espero que tire muitos bons
exemplos dali, vida afora. E ouví-la, é um imenso prazer. Convenhamos que
sou aquela que mais ouço.Sempre que precisar, me chame.
Júlia: poxa! Se estava precisando chorar, perdeu um belo encontro! Mas, se os
estudos pesam... não tem como escapar, realmente! Teremos outra,
esperamos que outras não é mesmo?!
Um grande prazer conhecê-la! Tamanha determinação e firmeza nos chama a
atenção... com certeza não passará batido desse encontro, receberá muitos
convites de "passeios" em na sua cidade e na nossa.
Laura: Cadê você aqui no nosso e-mail? Futura palestrante [Alice está se
referindo á Laura dessa maneira por perceber que a Laura tem o dom de se
expressar aos outros]! Vou assistir muitas palestras sua ainda, tenho certeza
disso! Mande um ALÔ aqui de vez em sempre, haha!
No encontro passado você me fez chorar.
Camila:
creio que tenha um "probleminha" a resolver, hahaha! Uma vez por
mês. Serpa que tem um espacinho na sua agenda?
166
Grande amiga, que delícia poder ter a oportunidade de nos consultar contigo!
Que Deus abençoe e "encha", "entupa", "lote" sempre seu calendário anual! rs.
Indicações não faltarão!
Érica: que carinha mais aconchegante! nos "assusta" quando não pára de
escrever,
Apareça mais aqui você também!
Um beijo estralado na bochecha direita de cada uma!
Uma semana abençoada a vocês.
Até quarta!
Alice
25/09/08
De: Polyana
Que lindo Alice! Estou sem palavras! Achei muito interessante você escrever
um recadinho para cada uma... isso mostrou sua atenção, dedicação e
preocupação com cada pessoa. Você pode ter a certeza de que sempre estarei
com você! Sabe por quê? Porque você mora em meu coração. Estou muito
grata por tudo! Pelas palavras, pelos conselhos, pela ajuda e pela amizade
sincera de todas! Enfim... Estou muito feliz por ter e ainda estar participando
deste grupo. Um grande beijo a todas!
26/09/08
De: Érica
Olá, meninas! Puxa, como é gostoso saber de vocês que o grupo tem sido
assim! Estou gostando muito de estar com vocês.
Alice, fico contente com sua manifestação no grupo, bom saber que tem se
manifestado de forma mais observadora. Realmente, como comentou a
Polyana, quanta atenção sua em escrever um recadinho para cada uma!
Quanto ao "se assustar" quando eu escrevo, por favor, não se assustem! Tem
alguns dados e algumas informações sobre os cursos que vocês querem fazer
que são interessantes que eu anote para lembrar.
Bom final de semana para todas! Beijos, Érica
167
28/09/08
De: Laura
Oi Alice! Não apareço sempre, porque quase não estou acessando a internet,
mas prometo ser mais assídua nas visitas ao grupo online. Obrigada pelo
recadinho e com certeza ter chamarei para uma futura palestra. Beijos. Te
adoro.
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