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Esta nova postura do historiador se faz a partir do momento em que se
problematiza o conceito de história e a própria metodologia de pesquisa e
análise de suas fontes, levando-o a narrar eventos na perspectiva de uma
história total, recriando discursos relativos às visões de mundo de seu tempo.
Por isso, para a nova história, toda a atividade humana, por mais simples que
seja, é portadora de uma história.
Filiando-se às discussões realizadas pela Escola dos Annales, Foucault
(2007) tece considerações sobre os fundamentos da concepção positivista da
História tradicional, criticando e questionando o modo de pensar o
acontecimento histórico dentro de uma seqüência temporal, contínua e linear.
Por isso, ao teorizar sobre a história dos saberes, mostra que a assunção dos
conhecimentos científicos não obedece a uma lógica contínua, porque os
saberes constituem-se no tempo a partir de descontinuidades e verdades
instituídas por determinado contexto histórico-social.
Dialogando, assim, com as teses da História Nova, problematiza o
conceito de história, associando o trabalho do historiador a de um arqueólogo,
posicionando-se conforme o novo modo de pensar a ciência histórica. É nesse
sentido que o autor argumenta sobre a inquietude dos historiadores em
reconstruir o passado:
Por uma mutação que não data de hoje, mas que, sem dúvida, ainda
não concluiu, a história mudou sua posição acerca do documento: ela
considera como sua tarefa primordial não interpretá-lo, não
determinar se diz a verdade nem qual é seu valor expressivo, mas
sim trabalhá-lo no interior e elaborá-lo: ela organiza, recorta,
distribui, ordena e reparte em níveis, estabelece séries, distingue o
que é pertinente do que não é, identifica elementos, define unidades,
descreve relações. O documento, pois, não é mais, para a história,
essa matéria inerte através da qual ela tenta reconstituir o que os
homens fizeram ou disseram, o que é passado e o que deixa apenas
rastros: ela procura definir, no próprio tecido documental, unidades,
conjuntos, séries, relações. É preciso desligar a história da imagem
com que ela se deleitou durante muito tempo e pela qual encontrava
a sua justificativa antropológica: a de uma memória milenar e
coletiva que se servia de documentos materiais para reencontrar o
frescor de suas lembranças; ela é o trabalho e a utilização de uma
materialidade documental (livros, textos, narrações, registros, atas,
edifícios, instituições, regulamentos, técnicas, objetos, costumes,
etc.) que apresenta sempre e em toda a parte, em qualquer sociedade,
formas de permanências, quer espontâneas, quer organizadas. O
documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si