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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
UNIDADE ACADÊMICA CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA COM LEVEDURA IMOBILIZADA EM COLMOS DE
BAMBU E EM FIBRA DE COCO
por
ADEILTON MALAFAIA DOS SANTOS
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Alagoas para
obtenção do grau de mestre
Maceió/Alagoas
Dezembro, 2008
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ii
FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA COM LEVEDURA IMOBILIZADA EM
COLMOS DE BAMBU E EM FIBRA DE COCO
ADEILTON MALAFAIA DOS SANTOS
Dissertação apresentada ao Curso de s-
Graduação em Engenharia Química da
Universidade Federal de Alagoas como parte dos
requisitos para obtenção do Título de Mestre em
Engenharia Química
Área de Concentração: Processos Bioquímicos
Orientador: Prof.° D. Sc. João Nunes de Vasconcelos
Maceió/AL
2008
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iii
Santos, Adeilton Malafaia
Fermentação alcoólica com levedura imobilizada em colmos de
bambu e em fibra de coco / Adeilton Malafaia dos Santos Maceió:
UFAL, 2008
69 p.
Dissertação (mestrado) – Unidade Acadêmica Centro de Tecnologia
Curso de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade
Federal de Alagoas, Maceió, 2008. Orientador: Prof. D. Sc. João
Nunes de Vasconcelos.
1. Células imobilizadas 2. Coco 3. Bambu 4. Fermentação alcoólica
I. Título.
iv
FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA COM LEVEDURA IMOBILIZADA EM COLMOS DE
BAMBU E EM FIBRA DE COCO
por
ADEILTON MALAFAIA DOS SANTOS
Dissertação defendida e julgada em sua forma final em 2008 pela comissão examinadora
para obtenção do título de Mestre em Engenharia Química
_____________________________________________________________
Prof. Dr. João Nunes de Vasconcelos (Orientador)
Universidade Federal de Alagoas
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Luciana Cristina Lins de Aquino
Universidade Federal de Sergipe
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Ana Karla de Souza Abud
Universidade Federal de Alagoas
Maceió/Alagoas
2008
v
À minha amada esposa Eronilde Silva de Oliveira
Malafaia.
Aos meus pais Ataide Joventino dos Santos e Laenice
Malafaia dos Santos.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao professor João Nunes de Vasconcelos, pela oportunidade, confiança e amizade.
Aos laboratoristas Daniel Fernandes Costa e Amaury Calheiros da Silveira Neto, pela
amizade e imprescindível suporte na fase experimental deste trabalho.
Ao Grupo Carlos Lyra, através do Engenheiro Aldevan Henrique da Silva Júnior, pela
disponibilidade na execução das análises de nossas amostras.
A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho.
vii
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo comparar qualitativa e quantitativamente
fermentações alcoólicas promovidas por células de leveduras Saccharomyces cerevisiae
imobilizadas em três suportes inertes: fibra de coco anão (Cocos nucifera) e duas
variedades de bambu (Phyllostachys caniço e Guadua angustifolia). Os três materiais
também foram avaliados quanto a seu uso como suportes. O processo de imobilização
consistiu da imersão de volumes iguais dos materiais (dois litros) em suspensão de células
de leveduras (da ordem de 10
9
células/mL) seguida de drenagem e conseqüente
alimentação com volumes iguais de mosto de melaço. O mosto teve o pH corrigido com
ácido sulfúrico comercial para cerca de 4,20 e recebeu adição de 3 ppm de bactericida para
controle da contaminação bacteriana. Também houve adição de 10 ppm de nutriente para
fermentação em todos os ciclos de fermentação. Ao final de noventa e um ciclos
fermentativos, o processo foi interrompido, sendo observado que os três materiais
mostraram-se resistentes fisicamente e que a eficiência do processo e a eficiência da
fermentação do sistema levedura-coco apresentaram valores superiores aos dos sistemas
levedura-bambu desde os primeiros ciclos, mostrando ser a fibra de coco um suporte de
imobilização de células mais eficaz. Contudo, por volta do ciclo de número setenta e quatro,
os três sistemas começaram a apresentar eficiências similares, o que sugere que houve um
gradativo incremento do número de células imobilizadas nos sistemas leveduras-bambu no
decorrer dos ciclos. As contagens de células livres nos meios fermentados demonstraram
que houve desprendimento celular satisfatório com relação a valores já citados na literatura.
Palavras-chave: Células imobilizadas. Coco. Bambu. Fermentação alcoólica.
viii
ABSTRACT
This paper aims to compare qualitatively and quantitatively alcoholic fermentation
promoted by yeast Saccharomyces cerevisiae cells immobilized in three inert supports: fiber
of dwarf coconut (Cocos nucifera) and two varieties of bamboo (Phyllostachys caniço and
Guadua angustifolia). The three materials were also evaluated on their use as supports. The
process of immobilization was dumping of equal volumes of materials (two liters) into a
suspension of yeast cells (in order of 10
9
cells / mL) followed by drainage and consequent
food with equal volumes of must of molasses. The pH must was adjusted with commercial
sulfuric acid to around 4.20 and received addition of 3 ppm of bactericidal for control of
bacterial contamination. There was also addition of 10 ppm of nutrient for fermentation in all
fermentative cycles. At the end of ninety-one fermentative cycles the process was
interrupted, and observed that the three materials have proved physical resistance and that
the efficiency of the process and efficiency of fermentation of yeast-coconut system had
values above those of yeast-bamboo systems since initial stages, showing to be the fiber of
coconut support for the immobilization of cells more efficient. However, around the cycle of
number seventy-four, the three systems began to provide similar efficiencies, which suggests
that there has been a gradual increase in the number of yeast cells immobilized in systems
yeast-bamboo during the cycles. The counting of cells in free media fermented showed that
there was satisfactory cell detachment related with the figures already cited in the literature.
Keywords: Immobilized cells. Coconut. Bamboo. Alcoholic fermentation.
ix
Índice de Figuras
Figura 2.1 – Morfologia das leveduras. .................................................................................. 4
Figura 2.2 – Multiplicação de leveduras, com formação de brotos ou gemas. ....................... 5
Figura 2.3 – Formação de pseudomicélio. ............................................................................. 5
Figura 2.4 – Processo ou batelada de cortes. ........................................................................ 9
Figura 2.5 – Sistema de reaproveitamento de inóculo. ........................................................ 11
Figura 2.6 – Processo com recirculação de células ou processo Melle-Boinot. .................... 11
Figura 2.7 - Processo contínuo com n dornas em série e com reciclo de células. ................ 13
Figura 2.8 – Adsorção de células a uma superfície. ............................................................. 17
Figura 2.9 – Células imobilizadas nas cavidades do suporte. .............................................. 17
Figura 2.10 – Células floculadas no interior de um suporte. ................................................. 18
Figura 2.11 Esfera de vidro (suporte) após tratamento com APTS (γ-aminopropil-
trietoxisilano). ...................................................................................................................... 19
Figura 2.12 Esfera de vidro (suporte) previamente tratada com APTS, seguida de
tratamento com glutaraldeído. O grupo carbonila formado (-HC=O) deve formar ligação com
aminas da membrana das células. ....................................................................................... 20
Figura 2.13 – Células imobilizadas em matriz polimérica porosa. ........................................ 20
Figura 2.14 – Técnica de imobilização de células por envolvimento. ................................... 21
Figura 2.15 – Exemplo simplificado da técnica de contenção em uma barreira. .................. 22
Figura 2.16 Esquema da produção de etanol com leveduras imobilizadas em alginato de
cálcio em regime contínuo. .................................................................................................. 24
Figura 2.17 – Biocápsulas de leveduras. A porção superior da figura exibe uma biocápsula à
direita de uma moeda (diâmetro aproximado de 2 cm). A porção inferior da figura exibe uma
biocápsula aberta, evidenciando sua estrutura oca. ............................................................ 25
Figura 4.1 – Variedades de bambu utilizadas para imobilização de Saccaromyces cerevisiae:
(A) Guadua angustifolia, (B) Phyllostachys caniço. .............................................................. 29
Figura 4.2 Fibra de coco anão (Cocos nucifera) fatiada para imobilização de
Saccharomyces cerevisiae. ................................................................................................. 29
Figura 4.3 Reatores com os suportes utilizados nos experimentos (A: coco, B: caniço, C:
guadua). .............................................................................................................................. 31
Figura 4.4 Vista superior de reator contendo suporte com um disco de plástico perfurado.
............................................................................................................................................ 31
Figura 4.5 Reator utilizado nos experimentos, com disco plástico perfurado e frasco de
vidro para manutenção dos suportes submersos. ................................................................ 33
Figura 4.6 Fluxograma representativo do processo de imobilização de células nos
suportes. .............................................................................................................................. 34
x
Figura 4.7 – Câmara de Neubauer visualizada ao microscópio óptico. Os campos em laranja
sinalizam a configuração utilizada para contagem de células de leveduras em todas as
determinações: 16 campos ao total, sempre na direção diagonal. ....................................... 39
Figura 5.1 Eficiências dos processos fermentativos (médias) com células imobilizadas em
fibra de coco e bambus (caniço e guadua) a várias valores de Brix do mosto. .................... 46
Figura 5.2 Correlação entre ART e Brix do mosto. Foram utilizados os dados da Tabela
5.2. ...................................................................................................................................... 47
Figura 5.3 Concentração de leveduras vivas livres nos meios fermentados nos primeiros
sete ciclos. ........................................................................................................................... 48
Figura 5.4 – Concentração de células totais (leveduras/mL) nos meios fermentados em
todos os ciclos de fermentação. ........................................................................................... 50
Figura 5.5 Percentual de brotamento de células de leveduras livres nos meios
fermentados. ........................................................................................................................ 50
Figura 5.6 – Amostras dos suportes após os 91 ciclos fermentativos. ................................. 52
Figura 5.7 Eficiência do processo fermentativo nos reatores com leitos de fibra de coco e
bambus nos primeiros ciclos. ............................................................................................... 53
Figura 5.8 Teor alcoólico dos meios fermentados nos reatores com leitos de fibra de coco
e bambus nos primeiros ciclos. ............................................................................................ 54
Figura 5.9 – Eficiências do processo fermentativo, nos reatores com leitos de fibra de coco e
bambus em todos os ciclos de fermentação. ....................................................................... 55
Figura 5.10 pH do mosto e dos meios fermentados dos sistemas leveduras-coco,
leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 29 e 91. ............................................ 56
Figura 5.11 Acidez sulfúrica do mosto e dos meios fermentados dos sistemas leveduras-
coco, leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 29 e 91. ................................... 56
Figura 5.12 Eficiência do processo fermentativo (η
P
) dos sistemas leveduras-coco,
leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91. ............................................ 58
Figura 5.13 – Eficiência da fermentação (η
P
) dos sistemas leveduras-coco, leveduras-caniço
e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91. ........................................................................ 58
Figura 5.14 – Rendimento em etanol dos sistemas leveduras-coco, leveduras-caniço e
leveduras-guadua entre os ciclos 29 e 91. ........................................................................... 59
Figura 5.15 Fator de rendimento em produção de etanol de alguns sistemas com células
imobilizadas: ........................................................................................................................ 62
Figura 5.16 ART dos meios fermentados provenientes dos sistemas leveduras-suporte
para os ciclos de fermentação 29 a 91. ............................................................................... 63
xi
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 – Exemplos de suportes comerciais utilizados na técnica de adsorção. ............. 19
Tabela 4.1 – Brix e ART médios do mosto e o número correspondente de ciclos de
fermentação utilizados para avaliar a melhor concentração de açúcares para realização dos
experimentos. ...................................................................................................................... 35
Tabela 5.1 – Características microbiológicas do fermento seco utilizado nos experimentos.45
Tabela 5.2 - Brix e ART do mosto e os respectivos valores de eficiência do processo
fermentativo (η
P
) durante a determinação do Brix do mosto mais adequado. Os valores da
última linha (ciclos 28 - 91) referem-se aos ciclos de fermentação após a definição do Brix
mais adequado. ................................................................................................................... 46
Tabela 5.3 – Características dos leitos confeccionados com os suportes ............................ 48
Tabela 5.4 Concentração de células totais (CLT), concentração de células vivas (CLV) e
concentração de células mortas (CLM) em leveduras / mL nos suportes e nos meios
fermentados do último ciclo fermentativo. ............................................................................ 51
Tabela 5.5 Viabilidade celular em % (VC) e porcentagem de brotamento de células (BT)
nos suportes e nos meios fermentados do último ciclo fermentativo. ................................... 51
Tabela 5.6 Eficiência do processo fermentativo (η
P
), eficiência da fermentação alcoólica
(η
B
) e fator de rendimento em produção de etanol (Y
P/S
) nos sistemas com fibra de coco e
bambus entre os ciclos 28 a 91. .......................................................................................... 52
Tabela 5.7 - pH e acidez sulfúrica do mosto no início dos ciclos de fermentação e pH e
acidez sulfúrica dos meios fermentados dos sistemas levedura-suporte ao final de todos os
ciclos de fermentação .......................................................................................................... 57
Tabela 5.8 - Eficiência do processo, eficiência de fermentação e rendimento em etanol dos
sistemas leveduras-suporte do ciclo 28 ao 91 ..................................................................... 59
Tabela 5.9 – Eficiências do processo (η
P
), de fermentação (η
B
) e respectivos coeficientes de
variação (CV) dos sistemas leveduras-suporte entre os ciclos 28 e 91 (M ± DP: média ±
desvio-padrão) ..................................................................................................................... 61
xii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 4
2.1 Morfologia, citologia e características fisiológicas de leveduras ................................... 4
2.2 Bioquímica da fermentação alcoólica ........................................................................... 6
2.3 Formas de condução da fermentação alcoólica ........................................................... 7
2.3.1 Processos descontínuos ....................................................................................... 8
2.3.1.1 Processo ou batelada de cortes ......................................................................... 9
2.3.1.2 Sistema de cultura pura .................................................................................... 10
2.3.1.3 Sistema de reaproveitamento de inoculo .......................................................... 10
2.3.1.4 Processo Melle-Boinot...................................................................................... 11
2.3.2 Processos contínuos ........................................................................................... 13
2.4 Técnicas de imobilização de células .......................................................................... 15
2.4.1 Adsorção ............................................................................................................. 16
2.4.2 Ligação covalente ............................................................................................... 19
2.4.3 Envolvimento ....................................................................................................... 20
2.4.4 Contenção em uma barreira ................................................................................ 22
2.5 Suportes utilizados para a produção de etanol ........................................................... 22
3 JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS ..................................................................................... 26
4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 28
4.1 Materiais .................................................................................................................... 28
4.1.1 Microrganismo utilizado ....................................................................................... 28
4.1.2 Melaço ................................................................................................................ 28
4.1.3 Suportes para imobilização ................................................................................. 28
4.2 Caracterização dos suportes ...................................................................................... 29
4.2.1 Umidade dos suportes ........................................................................................ 29
4.2.2 Porosidade, absorção de umidade e densidade dos leitos confeccionados com os
suportes ....................................................................................................................... 30
4.3 Técnica de imobilização ............................................................................................. 33
4.4 Fermentação .............................................................................................................. 34
4.5 Determinações quantitativas ...................................................................................... 36
4.5.1 Brix ...................................................................................................................... 36
4.5.2 Açúcares Redutores Totais (ART) ....................................................................... 36
xiii
4.5.3 Acidez sulfúrica ................................................................................................... 37
4.5.4 Teor alcoólico ...................................................................................................... 38
4.5.5 Contagem de células vivas, mortas e brotos, percentual de brotamento e
viabilidade celular......................................................................................................... 38
4.6 Parâmetros de fermentação ....................................................................................... 42
4.6.1 Eficiência do processo fermentativo (η
P
) ............................................................. 42
4.6.2 Eficiência da fermentação (ηB) ........................................................................... 43
4.6.3 Rendimento em produção de etanol (Y
P/S
) .......................................................... 44
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 45
5.1 Microrganismo utilizado ............................................................................................. 45
5.2 Mosto ......................................................................................................................... 45
5.3 Suportes .................................................................................................................... 47
5.4 Fermentação .............................................................................................................. 53
6 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 66
1
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, as leveduras são os principais microrganismos responsáveis pela
conversão em nível industrial de açúcares em etanol. As células de leveduras fazem uso
desta conversão para obterem energia necessária à manutenção de suas atividades vitais,
sendo o álcool etílico um produto de excreta de seu metabolismo.
As leveduras são microrganismos anaeróbios facultativos, ou seja, adaptam-se em
condições tanto de aerobiose como de anaerobiose. Na presença de oxigênio livre como na
sua escassez, uma série de reações ordenadas ocorre no interior das leveduras, reações
estas catalisadas por enzimas da própria célula e que têm como meta a obtenção de
energia química através da degradação de açúcares. Industrialmente, condições são criadas
para que a levedura possa se desenvolver e, paralelamente, produzir etanol em quantidade
economicamente viável.
O processo fermentativo industrial para a produção de etanol pode ser conduzido
basicamente de duas maneiras distintas: processo descontínuo (ou em batelada) e processo
contínuo. No processo descontínuo, após a conversão do substrato em etanol, o
microrganismo é reutilizado, após tratamento adequado em pré-fermentador, em um novo
ciclo de fermentação. No processo contínuo, o substrato e o microrganismo agente fluem
por reatores em série, ocorrendo a conversão gradativa dos açúcares em álcool através dos
citados reatores. O processo contínuo oferece importantes vantagens econômicas frente ao
processo descontínuo, especialmente quando combinado com técnicas de imobilização de
células (VERBELEN et al., 2006).
A imobilização de células de levedura consiste na fixação destas em materiais
usados como suportes, tais como, por exemplo, colmos de cana-de-açúcar
(VASCONCELOS, 2004), vidro sinterizado e cerâmicas (VERBELEN et al., 2006), sabugos
de milho (SÁ, 2003), etc. De acordo com Verbelen et al. (2006), a imobilização de células
em diversos tipos de suporte pode promover altas densidades de células nos reatores, o
que em combinação com vazões maiores de alimentação de mosto, resultam em menores
tempos de residência; contudo, custos indeterminados, vários problemas de engenharia e
alterações de propriedades metabólicas e fisiológicas das células de leveduras são os
2
principais fatores que influenciam a não utilização em escala industrial de processos com
células imobilizadas, ao contrário dos processos convencionais, conduzidos com células
livres. Estes últimos, em grande parte do Brasil, são processos descontínuos.
A maior parte do etanol produzido no Brasil é obtido pelo processo descontínuo
Melle-Boinot, o qual apresenta inúmeras vantagens frente aos processos contínuos, tais
como menor risco de contaminação, maior flexibilidade de operação, domínio da tecnologia
atual, etc. (VASCONCELOS, 1998). Contudo, apresenta desvantagens bastante
significativas como ocorrência de etapas improdutivas (carga de mosto e descarga de
material fermentado dos reatores), necessidade de centrifugação para promover a
reciclagem das células no processo, etc. (CARVALHO NETO et al., 1990). Processos
contínuos com células imobilizadas eliminam a necessidade de centrifugação para
reciclagem de células, cuja instalação e manutenção são muito onerosas; além disso,
favorecem maiores produtividades e menor tempo de fermentação, menores capacidades
volumétricas de fermentadores, etc. (VASCONCELOS et al., 2004). Frente à elevada
produção de etanol no Brasil, a busca por processos que aumentem os rendimentos
fermentativos revela-se importante.
Ao longo dos anos, a produção de etanol tem crescido substancialmente. Wheals et
al. (1999) citam que a ênfase na redução da poluição ambiental em consonância com o
protocolo de Kyoto, apresenta um estímulo ao crescimento da produção de etanol.
A melhoria dos rendimentos fermentativos dos processos utilizados foi decorrente
das inovações e desenvolvimentos tecnológicos obtidos com o Proálcool (RAMALHO FILHO
e VASCONCELOS, 1991). Ainda de acordo com Ramalho e Vasconcelos (1992) o
Proálcool, criado no Brasil em 1975 como resposta brasileira ao primeiro choque do
petróleo, foi o mais importante programa de combustíveis líquidos de biomassa do mundo.
Após uma fase de estagnação, ressurgiu recentemente com toda a força, com aumento
substancial de produção: de 12.485.426 m
3
na safra 2002/2003 para 22.238.669 m
3
na safra
2006/2007 (fonte: DCAA/SPAE/MAPA). O início da produção dos veículos bicombustíveis
contribuiu de forma decisiva para este grande aumento de produção.
De acordo com Vasconcelos (1998), as eficiências fermentativas em escala industrial
no Brasil se encontram em patamares difíceis de serem suplantados sem inovações
3
tecnológicas. Logo, devido às vantagens dos processos com células imobilizadas sobre os
processos convencionais, o estudo com imobilização de células que busque maiores
rendimentos revela-se importante. Este estudo tem como alvo a tentativa de otimização do
processo de fermentação alcoólica fazendo uso de células de levedura Saccharomyces
cerevisiae imobilizadas em suportes inertes, efetuando avaliações comparativas das
fermentações realizadas com três suportes inertes diferentes: duas variedades de bambu
(Phyllostachys caniço e Guadua angustifolia) e fibra de coco (cocos nucifera).
Segundo Marinho et al. (2006), o cultivo de coco encontra-se em franca expansão no
Brasil, com os plantios se intensificando da região Norte até a Sudeste. O rendimento da
cultura na região Nordeste é menor que em outras regiões, decorrente, principalmente, da
baixa fertilidade natural dos solos, de falha nos tratos culturais, incidência de pragas e
doenças e de déficit hídrico, ocasionado, geralmente, pelo manejo inadequado da irrigação
(FERREIRA et al., 1997). Salazar e Leão (2000) citam que do coco são extraídas fibras de
diferentes comprimentos que servem para fabricação de tapetes, colchões, acolchoados
para automóveis, escovas, pincéis, capachos, cordas marítimas e cama de animais.
Existem mais de 1.300 variedades de bambu, espalhadas nas regiões tropicais e
sub-tropicais do Planeta, sendo que o Brasil conta com a maior diversidade e mais alto
índice de florestas endêmicas de bambu em toda a América Latina (LONDOÑO, 1999).
Entre as qualidades do bambu que têm atraído a atenção de pesquisadores e empresários,
está a rápida propagação e o crescimento acelerado da planta. O bambu cresce 30% mais
rápido do que as espécies de árvores consideradas como de rápido crescimento, e graças a
esse crescimento vigoroso, seu rendimento em peso por hectare ao ano é 25 vezes maior
que o da madeira (VELEZ, 2001). Isto significa que o bambu é um recurso altamente
renovável, o que não ocorre com outros materiais, que estão se tomando escassos e
ameaçam inviabilizar alguns sistemas de produção, por falta de matéria-prima.
4
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Morfologia, citologia e características fisiológicas de leveduras
São denominadas leveduras, os fungos unicelulares, também conhecidos como
fermentos. São também amplamente distribuídas na natureza na água, solo, plantas, ar e
animais. De modo geral, são encontradas em maior número nas frutas e nos vegetais. São
utilizadas para a fabricação de bebidas, pães e outros produtos fermentados, que, na
ausência do ar, realizam a fermentação alcoólica. Podem provocar, também, deterioração
de alimentos e bebidas. Algumas espécies são patogênicas, causando doenças ao homem,
mas que não são transmitidas por alimentos (SANTOS, 1999).
SENAI/DN (2000) cita como principais características morfológicas, citológicas e
fisiológicas de células de leveduras:
Variam de 2 a 20 micra, podendo medir 100 micra de comprimento. A largura varia
geralmente de 1 a 9 micra. São encontradas sob diferentes formas (Figura 2.1). A oval é a
mais freqüente.
Figura 2.1 – Morfologia das leveduras.
As células de leveduras são eucarióticas. Podem apresentar cápsulas, como as
bactérias. A parede celular contém glucana, manana, lipídios e fosfatos. A quitina pode estar
presente.
5
As leveduras se multiplicam assexuadamente, através da formação de brotos ou
gemas (Figura 2.2). A célula mãe pode dar origem a até 20-25 células-filhas.
Figura 2.2 – Multiplicação de leveduras, com formação de brotos ou gemas.
Em muitas espécies de leveduras ocorrem sucessivas gemulações, e quando
mais de sete células juntas, denomina-se pseudomicélio (Figura 2.3), pela semelhança aos
micélios dos bolores. As leveduras que formam películas sobre a superfície de líquidos,
produzem o pseudomicélio.
Figura 2.3 – Formação de pseudomicélio.
As leveduras também produzem esporos de origem assexuada (artrosporos,
balistosporos e outros) e de origem sexuada (ascosporos e basidiosporos). São mais lentas
que as bactérias e mais rápidas que os bolores para se reproduzirem. Assim, para dobrarem
a massa celular através da formação de brotos, levam geralmente de 30 minutos a três
horas.
6
As leveduras podem ser aeróbias ou facultivas (chamadas de fermentativas). As
facultativas fazem a fermentação alcoólica, produzindo etanol e gás carbônico. Adaptam-se
muito bem (e são muito encontradas) em ambientes ácidos, embora, como os bolores,
possam crescer em diversos tipos de ambiente com relação à acidez. Como os bolores,
preferem temperaturas na faixa de 20°C a 30°C. Existem, entretanto, muitas espécies que
crescem sob refrigeração. São raras as que se desenvolvem em temperaturas acima de
45°C. Necessitam de menos água disponível que as bactérias e mais do que os bolores.
2.2 Bioquímica da fermentação alcoólica
Segundo Santos (1999), as leveduras podem fazer uso tanto da fermentação (em
condições de anaerobiose) como da respiração (em condições de aerobiose) para obtenção
de energia química através da degradação de açúcares. O termo energia química refere-se
a moléculas de adenosina trifosfato, ou simplesmente ATP. A perda de um de seus grupos
fosfatos libera grande quantidade de energia útil, sendo por essa razão o ATP denominado
de composto de transferência de energia de alto valor energético. A hidrólise do ATP leva à
formação de moléculas de adenosina difosfato, ou ADP, as quais podem ser fosforiladas
transformando-se assim em novas moléculas de ATP (VASCONCELOS, 1998):
C
6
H
12
0
6
+ 2 Pi + 2 ADP + 2 H
+
2 C
2
H
5
OH + 2 CO
2
+ 2 H
2
O + 2 ATP
(G
0
= -56 kcal/mol)
Em condições de anaerobiose a levedura desvia seu metabolismo para a
fermentação alcoólica, sendo o etanol apenas um dos excretas de todo o processo. em
condições de aerobiose, a levedura realiza respiração. A respiração leva à formação de uma
quantidade de ATP dezenove vezes maior que a obtida na fermentação alcoólica
(VASCONCELOS, 1998):
C
6
H
12
0
6
+ 6 O
2
+ 38 Pi + 38 ADP 6 CO
2
+ 38 ATP + 6 H
2
O
(G
0
= -686 kcal/mol)
7
As células de leveduras apresentam necessidades nutricionais durante o processo
de fermentação alcoólica, as quais influenciam diretamente na multiplicação e no
crescimento celular e também na eficiência da transformação de açúcar em álcool (RIBEIRO
et al., 1987). Belluco (2001) cita a importância de nitrogênio para a célula como elemento
essencial para o crescimento e multiplicação de leveduras, e a importância da utilização de
açúcar na geração de biomassa e produção de carboidratos de reserva (trealose e
glicogênio). Amorim et al. (1996) cita a importância do fósforo, tanto por integrar as
moléculas de ácidos nucléicos como na formação de ATP; a importância do enxofre como
constituinte de aminoácidos; e a influência de íons minerais (Zn, Co, Mn, Cu, etc.) na
atividade enzimática das células.
Alguns fatores físico-químicos também são de vital importância na fermentação
alcoólica. As leveduras usadas nas destilarias desenvolvem-se bem entre 30 e 33ºC ou até
em temperaturas superiores (AMORIM et al., 1996). No entanto, a elevação da temperatura
do meio em fermentação causa queda nos rendimentos e eficiências do processo
fermentativo, pois em altas temperaturas, a toxidez do etanol sobre o fermento é
intensificada, causando perda de viabilidade celular (AMORIM et al., 1996). O pH do meio
em fermentação também é importante. COPERSUCAR (1987) cita que a adição de 0,35g de
H
2
SO
4
por litro de mosto supre as necessidades de enxofre bem como serve para manter o
pH na faixa 3,5 a 4,5, o que inibe o desenvolvimento de diversas bactérias.
2.3 Formas de condução da fermentação alcoólica
De maneira geral, o processo de fermentação alcoólica consiste das seguintes
etapas: a) preparar um meio de cultura adequado à nutrição e desenvolvimento do
microrganismo agente, bem como do acúmulo do produto desejado (etanol) e b) transferir
este meio de cultura para um biorreator, adicionar o microrganismo responsável pela
fermentação e aguardar que o processo ocorra (SCHIMIDELL e FACCIOTTI, 2001).
Contudo, este processo pode ser conduzido de diversas formas: variando-se a
disposição e volume dos biorreatores (dornas ou fermentadores), alterando-se os perfis de
alimentação do meio de cultura, reutilizando-se ou não o microrganismo em um novo ciclo
8
de fermentação, etc. Pode-se assim denominar as diversas formas de se conduzir um
processo de fermentação alcoólica como formas de condução ou sistemas de fermentação
(LIMA, 1992).
De maneira geral, as formas de condução da fermentação alcoólica são classificadas
em descontínua e contínua (SCHIMIDELL e FACCIOTTI, 2001) e serão detalhadas nos
itens 2.3.1 2.3.2.
2.3.1 Processos descontínuos
Os processos descontínuos são também conhecidos como processos em batelada.
De maneira geral, o modo de operação de um processo descontínuo pode ser descrito da
seguinte forma (CARVALHO e SATO, 2001):
- no instante inicial, o meio contendo os nutrientes (mosto) no fermentador, ou
dorna, é inoculado com microrganismos;
- inicia-se a fermentação, propiciando-se condições ótimas para o microrganismo
agente;
- no decorrer do processo fermentativo, quando necessário, adiciona-se
antiespumante, para dispersão imediata de espuma gerada;
- ao fim da fermentação, a dorna (fermentador) é descarregada e o meio
fermentado segue para tratamentos finais;
- a dorna é lavada e recarregada com fermento e mosto, dando início a outro ciclo
de fermentação.
Carvalho e Sato (2001) destacam as seguintes vantagens dos processos
descontínuos em relação aos contínuos: menores riscos de contaminação e grande
flexibilidade de operação. Destacam as seguintes desvantagens: a fermentação descontínua
pode levar a baixos rendimentos e/ou produtividades e apresenta vários “tempos mortos“, ou
9
seja, tempos em que o fermentador não está sendo usado para o processo fermentativo,
tais como tempo de carga e descarga de dorna, lavagem, etc.
Variações da descrição acima estão detalhadas na classificação dos processos
descontínuos.
2.3.1.1 Processo ou batelada de cortes
O processo de cortes tem início com uma batelada. Quando a concentração de
açúcares (medida pelo Brix) no meio em fermentação se reduzir à metade da concentração
do mosto de alimentação, transfere-se metade do conteúdo para uma segunda dorna,
completando-se ambas com novo mosto e deixando as fermentações prosseguirem. A
divisão da primeira dorna em duas chama-se corte (CARVALHO e SATO, 2001). Araújo
(1982) afirma que o corte deve ocorrer quando 50% dos açúcares do mosto são
consumidos. A sucessão de cortes pode ocorrer até se alcançar o número de dornas
desejado em operação. Por outro lado, o sistema de cortes pode ser usado na fase inicial de
propagação do fermento no processo de fermentação alcoólica industrial. A Figura 2.4 exibe
um diagrama simplificado do sistema de cortes.
Figura 2.4 – Processo ou batelada de cortes.
10
De acordo com Carvalho e Sato (2001), produzir etanol por sucessão de cortes pode
acarretar em sérias quedas de rendimento, sendo o monitoramento deste parâmetro a única
maneira de se prever o número máximo de cortes por inóculo.
2.3.1.2 Sistema de cultura pura
Consiste na inoculação de uma dorna com uma cultura pura (CARVALHO e SATO,
2001). Neste caso não reutilização do inóculo, sendo, portanto, todo o meio fermentado
enviado para a seção de separação. Cada dorna deve receber um novo inóculo, preparado
a partir de uma cultura nova, que deve corresponder de 20 a 25% do volume útil da dorna.
Uma quantidade considerável de açúcares é desviada para multiplicação das células,
o que reduz grandemente os rendimentos e eficiências da fermentação. Esta forma de
condução é usada em fermentação de matérias-primas cuja natureza dificulta ou não
permite a recuperação do inóculo, que é o caso da fermentação do milho. Também é usada
na produção de bebidas fermentadas cujo fabricante deseja manter um padrão sempre
constante de qualidade do produto.
Carvalho e Sato (2001) afirmam que este processo oferece poucos riscos de
contaminação se a propagação do inóculo for feita em boas condições de assepsia, sendo
assim altamente indicado em fermentações com microrganismos altamente suscetíveis a
contaminações.
2.3.1.3 Sistema de reaproveitamento de inoculo
Nesta forma de condução, deixa-se decantar as leveduras após o término da
fermentação. O vinho sobrenadante é enviado para destilação e o fundo de dorna (pé-de-
cuba) é tratado com água e ácido (até pH 2,5 3,0) e realimentado com novo mosto
(CARVALHO e SATO, 2001).
11
Figura 2.5 – Sistema de reaproveitamento de inóculo.
2.3.1.4 Processo Melle-Boinot
Refere-se ao processo que reaproveita inóculos de bateladas anteriores. É a forma
de condução de fermentação alcoólica mais usada atualmente no Brasil, tendo sido posto
em prática em meados da década de 1930 (LIMA et al., 2001). Baseia-se na recuperação do
fermento de uma dorna, após concluída a fermentação e conseqüente reutilização do
mesmo em um novo ciclo de fermentação (Figura 2.6).
Figura 2.6 – Processo com recirculação de células ou processo Melle-Boinot.
12
Após a conclusão da fermentação, o vinho levedurado (meio fermentado que ainda
contém as leveduras em suspensão) é enviado diretamente para as centrífugas ou para a
dorna pulmão (tanque que alimenta continuamente as centrífugas). As centrífugas separam
o vinho levedurado em duas frações: a primeira corresponde a uma suspensão concentrada
de leveduras (creme de leveduras) e a segunda ao vinho delevedurado (meio fermentado
com teor reduzido de leveduras), que é enviado para uma dorna volante, que alimenta a
destilaria. o leite de leveduras, que corresponde de 10 a 20% do volume da dorna, é
enviado para pré-fermentadores onde é diluído com água e tem o pH controlado em 2,2
3,2 com ácido sulfúrico comercial (LIMA et al., 2001). Lima (1992) cita que o tratamento do
fermento pode ter duração de até 4 horas. Depois do tratamento envia-se o fermento tratado
para outra dorna, na qual se reinicia nova fermentação, após alimentação com mosto.
Nesta forma de condução, é comum o uso de altas concentrações de células (3 x 10
9
células/mL ou mais), que permite que se entre rapidamente na fase tumultuosa do processo
fermentativo, com vantagens econômicas (LIMA et al., 2001).
Almeida (1960) descreve as seguintes vantagens do processo Melle-Boinot:
- Economia de açúcar devido à menor reprodução celular, elevando o rendimento
em etanol;
- Eliminação de contaminantes pela centrifugação do vinho (separação de células
de levedura);
- Fermentação mais pura devido ao tratamento de leite de levedura (tratamento
ácido);
- Eliminação da necessidade de cultura pura no preparo do pé-de-cuba, prática
exigida no processo clássico, diminuindo, portanto a complexidade das operações
da planta.
13
2.3.2 Processos contínuos
Em sua forma mais simples, a fermentação contínua faz-se alimentando uma dorna
com fluxo contínuo de substrato, em concentração adequada ao microrganismo agente,
retirando-se dela, de forma contínua e na mesma vazão, o meio fermentado que, após
centrifugação, é encaminhado para a destilação (LIMA, 1992). A Figura 2.7 exibe, de forma
simplificada, o processo contínuo com n dornas em série e com reciclo de células.
Figura 2.7 - Processo contínuo com n dornas em série e com reciclo de células.
Segundo Rodrigues et al. (1992), este processo apresenta maior produtividade, com
aumento que pode atingir 100% em relação ao processo Melle-Boinot. Com isto obtém-se
processos que:
Reduzem gastos com mão-de-obra;
Aumentam a produtividade;
Reduzem o tempo não produtivo (carga, descarga, limpeza);
Trabalham em condições ótimas de operação no estado estacionário;
14
Reduzem a utilização de insumos, entre outros.
Facciotti (2001) também citas as seguintes vantagens:
Obtenção de vinho uniforme, o que facilita o projeto das operações de
recuperação do produto de interesse (“downstream”);
Possibilidade de associação com outras operações contínuas na linha de
produção;
Maior facilidade no emprego de controles avançados.
Por outro lado, os processos contínuos apresentam algumas desvantagens com
relação aos processos descontínuos, que podem limitar o emprego deste tipo de sistema.
Facciotti (2001, p.224) destaca as seguintes desvantagens:
- possibilidade de ocorrência de mutações genéticas espontâneas,
resultando na seleção de mutantes menos produtivos;
- maior possibilidade de ocorrência de contaminações, por se tratar de um
sistema essencialmente aberto, necessitando de manutenção de condições
de assepsia nos sistemas de alimentação e retirada de meio, desde que o
processo assim o exija;
- dificuldades de manutenção de homogeneidade no reator, quando se
trabalha com vazões baixas; dificuldades de operação em estado
estacionário em situações como: formação de espuma, crescimento do
microrganismo nas paredes do reator ou nos sistemas de entrada e saída
do produto.
Apesar dos problemas citados, a utilização do processo contínuo de fermentação
encontra grande aplicação prática na fermentação alcoólica (FACCIOTTI, 2001).
Facciotti (2001) afirma que uma fermentação contínua normalmente tem início em
um processo descontínuo, ou seja, carrega-se inicialmente o reator com mosto, procede-se
à inoculação com o pé-de-cuba sendo que, após um período de operação descontínua,
inicia-se a alimentação de mosto e retirada de vinho, dando-se início efetivamente ao
15
processo contínuo. Após algum tempo, o processo deve convergir para um estado
estacionário. Sendo assim, a alimentação deve ser iniciada com o cultivo na fase
exponencial e concentração celular a mais elevada possível.
De acordo com COPERSUCAR (1987), os processos contínuos começaram a ser
operados em escala industrial no Brasil no início da década de 1980, mesmo havendo sido
descritas instalações industriais operando com fermentação contínua por volta da década de
1940. Isto foi justificado em virtude da ausência de experimentação da época, da resistência
natural à introdução de novas tecnologias, falta de otimização do processo contínuo no final
da década de 1980 e pelo fato de existirem poucas instalações que, inclusive, não tinham a
flexibilidade necessária para uma boa operação (COPERSUCAR, 1987).
2.4 Técnicas de imobilização de células
De acordo com Cheetham et al. (1979) imobilização é qualquer técnica que limite
severamente a livre circulação de células. Tal limitação pode ser realizada por meio de
agregação das células ou por sua retenção dentro ou sobre um suporte inerte.
Pradella (1982) cita como características de suportes de imobilização:
- Não toxidez às células;
- Alta capacidade de retenção de células no reator;
- Inércia química e bioquímica;
- Baixa sensibilidade a possíveis solicitações mecânicas, seja de compressão por
peso, de tensões de cisalhamento pelo fluido ou eventuais pressões internas de gases;
- Alta difusividade de nutrientes e produtos formados.
Cheetham et al. (1979) cita que os processos fermentativos conduzidos com células
imobilizadas, quando comparados com o processo convencional com células livres,
apresentam várias vantagens, destacando-se:
16
- Fácil separação do meio fermentado dos biocatalisadores, eliminando-se o uso
de centrífugas;
- Possibilidade do uso repetido do biocatalisador (processo em batelada) ou
continuamente, em função da maior estabilidade das células imobilizadas;
- Aumento do rendimento em produto, visto que a reprodução celular está limitada,
com conseqüente redução do consumo de substrato para crescimento celular;
- Eliminação do reciclo externo de células;
- Como o sistema pode operar com altas taxas de diluição sem grandes arrastes
de células do reator, principalmente quando o método de imobilização é por envolvimento,
permite alcançar elevadas produtividades;
- Permite trabalhar com alta densidade celular no fermentador, independentemente
da taxa de diluição, resultando em aumento na produtividade, para uma mesma capacidade
volumétrica do reator.
De acordo com Verbelen et al. (2006), o procedimento de imobilização de células em
suportes pode ser realizado de quatro maneiras, descritas logo abaixo.
2.4.1 Adsorção
Pradella (2001) descreve esta técnica como a adesão de células em suportes que
não foram especialmente preparados para a ocorrência de forças de interação célula-
suporte. A Figura 2.8 exibe um esquema simplificado da adesão de células à superfície do
suporte.
17
Figura 2.8 – Adsorção de células a uma superfície.
As forças de interação entre a superfície celular e a superfície do suporte são
complexas e envolvem diversos tipos de ligações, destacando-se interações eletrostáticas
entre cargas opostas de parede celular e superfície do suporte, ligações iônicas entre
grupos amílicos e carboxílicos da parede celular e um grupo reativo da superfície do suporte
e ligações covalentes parciais entre grupos amínicos da parede celular e grupo hidroxila ou
silano (SiO
-
) da superfície do suporte.
Verbelen et al. (2006) citam a ocorrência de adsorção pela simples retenção de
células nas cavidades dos suportes bem como na floculação de células no interior dos
mesmos. As Figuras 2.9 e 2.10 representam, esquematicamente, a retenção em
determinado suporte, de células não floculadas e floculadas, respectivamente.
Figura 2.9 – Células imobilizadas nas cavidades do suporte.
18
Figura 2.10 – Células floculadas no interior de um suporte.
Verbelen et al. (2006) citam uma variante deste método, que consiste no uso de
agentes ligantes que induzem a imobilização, tais como óxidos metálicos, glutaraldeído ou
aminosilanos. Contudo, para o uso na produção de bebidas e de etanol, a adsorção natural
tem sido preferida.
Verbelen et al. (2006) também afirmam que no uso da técnica de adsorção natural a
superfícies, é possível ocorrer o desprendimento celular por não haver barreiras físicas entre
as células e a solução, havendo uma reposição de celular em seguida.
A principal limitação desta técnica é que as condições ambientais do meio de cultivo
(concentração iônica, pH, etc.) influenciam acentuadamente a capacidade de retenção das
células no suporte, bem como a idade da população celular (PRADELLA, 2001).
De acordo com Pradela (2001) os materiais mais utilizados como suportes em
imobilização por adsorção são os materiais inorgânicos e os polímeros sintéticos. Contudo,
a literatura cita materiais alternativos utilizados nesta técnica, como são os casos citados
do colmo de cana-de-açúcar (VASCONCELOS, 1998) e do sabugo de milho (SÁ, 2003).
Pradella (2001) cita alguns suportes comerciais utilizados na técnica de adsorção (Tabela
2.1).
19
Tabela 2.1 – Exemplos de suportes comerciais utilizados na técnica de adsorção.
Nome comercial Material Diâmetro (mm) Densidade
(g/mL)
Célula
Cytodex
Dextrana
0,20
1,04
Mamífero
Cytopore
Celulose
0,23
1,03
Mamífero
Microrganismo
Cytoline
Polietileno e
sílica
2,0 a 2,5
1,03 a 1,3
Mamífero
Microrganismo
Siran
Vidro poroso
1,02 a 2,0
1,6
Microrganismo
2.4.2 Ligação covalente
Nesta técnica, segundo Pradella (2001), os suportes são tratados de modo a
conterem um grupamento químico responsável pela imobilização da célula ao suporte. Um
exemplo desta técnica é a silanização de esferas de vidro seguida de reação com
glutaraldeído. Inicialmente as esferas de vidro são tratadas com APTS (γ-aminopropil-
trietoxisilano). Após este tratamento, as esferas ficam com um grupamento amina (-NH
2
),
conforme diagrama simplificado da Figura 2.11.
Figura 2.11 Esfera de vidro (suporte) após tratamento com APTS (γ-aminopropil-
trietoxisilano).
Em seguida, as esferas são tratadas com glutaraldeído, sendo adicionado ao grupo
amina, uma estrutura com agrupamento carbonila (-HC=O), a qual deve formar uma ligação
com aminas da membrana das células (Figura 2.12).
20
Figura 2.12 Esfera de vidro (suporte) previamente tratada com APTS, seguida de
tratamento com glutaraldeído. O grupo carbonila formado (-HC=O) deve formar ligação com
aminas da membrana das células.
2.4.3 Envolvimento
É a técnica mais utilizada devido sua facilidade operacional, baixíssima toxidez e
elevada capacidade de retenção celular (PRADELLA, 2001). Consiste no confinamento
físico de células em uma matriz polimérica formadora de um gel hidrofílico, com poros
menores que as células em seu interior. Neste método, ocorrem fluxos de substratos para
dentro das partículas de gel, consumidos pelas células, e fluxos de produtos formados no
interior da matriz difundindo-se para fora (Figura 2.13).
Figura 2.13 – Células imobilizadas em matriz polimérica porosa.
21
De acordo com Verbelen et al. (2006) esta técnica pode ser aplicada de duas
maneiras. A primeira consiste em promover um fluxo de suspensão de células por uma
matriz porosa formada (esponja, vidro sinterizado, cerâmica, poliuretano, etc.). Após o
crescimento celular, o movimento das células fica limitado, sendo assim efetivado o
confinamento na matriz. A segunda maneira é sintetizar a matriz porosa ao redor das
células. Para tal são utilizados polímeros naturais como agar, k-carragena, alginato e
pectina.
Um exemplo da técnica de sintetizar a matriz ao redor das células é descrito por
Pradella (2001). Consiste no preparo de uma solução aquosa de um dos polímeros naturais
citados (1 a 4%) e suspender nesta solução as células. Em seguida a suspensão é gotejada
em uma solução aquosa de CaCl
2
ou KCl 0,05 a 0,5M, sob agitação branda. Formam-se
partículas com diâmetro que variam de 0,5 a 5mm e densidade populacional até cerca de
250mg de biomassa seca por grama de matriz. A Figura 2.14 ilustra todo o procedimento
descrito.
A principal desvantagem desta técnica é a limitação devido à difusividade através da
matriz polimérica, o que deve ser contornado pela otimização da difusividade da matriz e da
concentração de células. Verbelen et al. (2006) alerta que a ocorrência da limitação citada
acima, acrescida da instabilidade química e física do gel e da impossibilidade de
regeneração, tem elevado o custo desta técnica.
Figura 2.14 – Técnica de imobilização de células por envolvimento.
22
2.4.4 Contenção em uma barreira
De acordo com Verbelen et al. (2006), consiste na contenção de células em filtros de
membrana microporosa ou em microcápsulas. Esta técnica mostra-se mais adequada
quando o produto necessita estar totalmente isento de células. Contudo, o fato de impedir o
desprendimento de células confere a esta técnica problemas como limitações de
transferência de massa e possibilidade de rompimento do suporte causado por crescimento
celular. O alto custo de membranas de alta performance contribui para relações custo-
benefício desfavoráveis. A Figura 2.15 exibe um diagrama simplificado da técnica.
Figura 2.15 – Exemplo simplificado da técnica de contenção em uma barreira.
2.5 SUPORTES UTILIZADOS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL
Vasconcelos (1998) fez uso de colmos de cana-de-açúcar como suporte de células
de leveduras (Saccharomyces cerevisiae), sendo realizados ensaios com fermentação em
batelada e com fermentação contínua. As células de levedura foram imobilizadas, pela
técnica da adsorção, por imersão do suporte em suspensão de células com concentração de
cerca de 2x10
8
leveduras/mL. O sistema colmo-levedura manteve atividade metabólica e
rigidez por um período superior a uma safra sucroalcooleira. A eficiência de fermentação no
processo contínuo, em torno de 85%, permaneceu constante até taxas de diluição da ordem
de 0,83 h
-1
. Com esta taxa de diluição foi constatada produtividade de 29,64 g etanol L
-1
h
-1
,
maior que a obtida industrialmente no Brasil.
23
Nigam et al (1998) fizeram uso de agar como suporte de imobilização para leveduras
Saccharomyces cerevisiae, os quais afirmam que o citado gel polímero, usado no preparo
de meios de cultura, apresenta resistência satisfatória à degradação microbiana. A
imobilização do microrganismo foi efetuada preparando-se uma suspensão de células em
uma solução de agar 3% (p/v) e mantida a 45 – 48°C sob agitação vigorosa. Partículas de 2
mm de diâmetro foram obtidas inserindo-se a suspensão de leveduras em agar, com auxílio
de seringa, sobre óleo vegetal frio. Foi observada eficiência do processo fermentativo de
aproximadamente 79% e produtividade de 44 g de etanol L-1 h-1. Após um período de 100
dias, houve declínio na produtividade devido a queda na viabilidade celular, restabelecida
com injeções intermitentes de ar.
(2003) fez uso de sabugo de milho para imobilização de leveduras e seu uso na
fermentação alcoólica em batelada. Os sabugos utilizados foram cortados com cerca de 2
cm de comprimento e diâmetro de aproximadamente 2,90 cm. O processo de imobilização
consistiu na imersão dos sabugos em suspensão de leveduras com concentração de 10
9
células/mL por uma hora. Ao longo de 94 ciclos, a fermentação com leveduras imobilizadas
em sabugo de milho apresentou eficiência de processo fermentativo de 71,35 ± 4,26%. Este
valor, baixo em relação aos processos com células livres, foi explicado por (2003) pelo
comportamento decrescente da concentração celular nos sabugos ao longo dos últimos
ciclos.
Pradella (2001) cita um processo contínuo de produção de etanol demonstrado em
escala piloto pela Kyowa Kogyo Co. do Japão. Células foram imobilizadas pelo gotejamento
de uma suspensão de leveduras em solução de alginato de sódio, dentro do primeiro reator
do sistema, previamente preenchido com solução de cloreto de cálcio (técnica do
envolvimento). O esquema deste processo fermentativo pode ser observado na Figura 2.16,
onde se observa a alimentação contínua na base do primeiro reator, com mosto de melaço,
o qual apresentava concentração de 150g/L de carboidratos. A fluidização dos leitos foi
alcançada devido à grande quantidade de CO
2
formado.
24
Figura 2.16 Esquema da produção de etanol com leveduras imobilizadas em alginato de
cálcio em regime contínuo.
A produtividade em etanol foi de 20g L
-1
h
-1
, com concentração de etanol no mosto
fermentado de 68g/L e rendimento da fermentação de 95% do valor teórico. A produção da
planta piloto foi de 12 m
3
de etanol por dia, durante seis meses, sem perda da estabilidade.
Pradella (2001) afirmou que tanto o rendimento quanto a produtividade da citada planta
piloto são superiores às do processo Melle-Boinot, respectivamente 86% e 6g de etanol L
-1
h
-1
.
Segundo Alegre et al (2003), a crisotila (mineral constituído de silicato de magnésio,
bastante abundante no Brasil) pode ser usada como suporte mineral para células de
levedura em fermentação alcoólica, devido a uma série de vantagens quando comparada a
vários suportes citados na literatura: excelente estabilidade para uso em longos períodos,
resistência a tratamentos térmicos, baixo custo e estimula a produção de etanol pela
levedura, aumentando a produtividade específica do processo, sendo esta a principal
vantagem. Foi constatada evolução de gás carbônico 27% maior em fermentações com
crisotila do que em fermentações sem crisotila, sendo este o único parâmetro de
comparação utilizado.
Peinado et al. (2005) desenvolveram uma técnica de imobilização que consiste na
simbiose de uma levedura Saccharomyces (Saccharomyces cerevisiae var. capensis G1) e
um fungo filamentoso (Penicillium). Esta simbiose leva à formação de pequenas cápsulas,
25
as quais os autores chamaram de biocápsulas de leveduras (Figura 2.17). O sistema
consiste de cápsulas ocas, com diâmetros que variam de poucos milímetros a alguns
centímetros, a depender das condições como são produzidas. Também são macias,
elásticas e muito estáveis mesmo em situações drásticas. Para sua formação, não
adição de nenhum agente químico ligante nem de nenhum tipo de suporte inerte. Foi
preparado um meio com uma fonte de carbono, ácido glucônico, que só pode ser usado pelo
fungo filamentoso Penicillium. O meio também é tamponado para pH 7, esterilizado e
adicionado leveduras com uma concentração da ordem de 10
6
células/mL. Em seguida o
meio foi inoculado com uma ponta de espátula contaminada com esporos de Penicillium. O
sistema é termostatizado a 28 ± 1°C e agitado a 150 rpm por sete dias. Desta forma, ocorre
imobilização espontânea e as biocápsulas são produzidas. O tempo e a intensidade da
agitação é que determinam o diâmetro das biocápsulas. O referido trabalho comparou o
sistema estudado com leveduras imobilizadas com outro sistema similar com células livres.
O sistema imobilizado foi capaz de fermentar mostos com concentração em melaço de 20 e
40% (m/v), não havendo fermentação significativa no sistema com células livres com o
mesmo mosto de 40% em melaço. Eficiências e rendimentos em etanol não foram
avaliados.
Figura 2.17 – Biocápsulas de leveduras. A porção superior da figura exibe uma biocápsula à
direita de uma moeda (diâmetro aproximado de 2 cm). A porção inferior da figura exibe uma
biocápsula aberta, evidenciando sua estrutura oca.
26
3 JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
Diversos trabalhos encontrados na literatura descrevem tentativas de melhoria da
produção de etanol no Brasil. São vários os materiais testados, podendo-se citar: mineral
kissiris (NIGAM et al., 1997), colmos de cana-de-açúcar (VASCONCELOS, 1998), agar
(NIGAM et al., 1998), celulose (FUJII et al., 2001), alginato de cálcio (PRADELLA, 2001),
sabugo de milho (SÁ, 2003), crisotila (ALEGRE et al., 2003), biocápsulas de leveduras
(PEINADO et al., 2005).
(2003) cita que a busca por melhorias da produção de etanol através de técnicas
de imobilização refere-se às suas vantagens, bastante significativas, frente aos processos
convencionais em uso atualmente no Brasil (maior concentração celular nos reatores,
eliminação da etapa de recuperação de inóculo, maiores produtividades e rendimentos,
etc.). Porém, de acordo com Verbellen et al. (2006), ainda fatores técnicos e econômicos
que inibem a plena implantação de processos com células imobilizadas em nível industrial
(grande quantidade de suporte por reator, o que implica em dificuldade operacional para
fracionar os suportes nas dimensões necessárias, dificuldades de manuseio e transporte,
custo elevado das citadas operações, etc). Isto sugere a necessidade de um maior número
e diversidade de estudos que contribuam para a eliminação dos citados impedimentos
técnico/econômicos.
A fibra de coco é abundante na região nordeste do Brasil e apresenta baixo custo,
requisitos básicos para utilização de um material como suporte para imobilização de células.
Sendo a fibra de coco um resíduo de indústrias de beneficiamento ou da utilização direta do
coco para outros fins, seu uso como suporte de imobilização de células constituiria uma
importante alternativa para redução de seu potencial poluidor.
as diversas variedades de bambu constituem um recurso natural renovável,
principalmente devido a seu altíssimo rendimento em peso por hectare, aproximadamente
25 vezes maior que o da madeira. Sua utilização em processos industriais aliada à
exploração e cultivo ecologicamente corretos, não representaria nenhum dano ao meio-
ambiente, principalmente se as próprias unidades produtoras de etanol combustível
cultivassem a variedade de bambu para consumo próprio como suporte de imobilização.
27
Em razão das inúmeras vantagens dos processos com células imobilizadas e da
necessidade de otimização dos mesmos para utilização em nível industrial, o estudo
comparativo entre diversos potenciais suportes, justificam a realização deste trabalho. A
eliminação de fatores que dificultam a utilização em escala industrial de sistemas com
células imobilizadas poderia contribuir para a redução do custo de produção do etanol.
O objetivo geral do presente trabalho foi estudar a aplicabilidade do processo de
fermentação alcoólica conduzido em batelada com células de Saccharomyces cerevisiae
imobilizadas em duas variedades de bambu, Phyllostachys caniço e Guadua angustifolia, e
em fibra de coco anão, Cocus nucifera, em substituição ao processo convencional
conduzido com células livres. Os objetivos específicos são:
Avaliar a capacidade de imobilização das células de levedura nos três suportes
citados, através dos resultados de eficiências de processo e quantificação de células de
leveduras livres nos meios fermentados de cada sistema leveduras-suporte;
Avaliar o desempenho das fermentações alcoólicas promovidas pelos três
sistemas leveduras-suporte no decorrer de diversos ciclos de fermentação consecutivos, de
24 horas cada, através das determinações de eficiência de processo, eficiência da
fermentação e rendimento em etanol (determinações efetuadas ao término de cada ciclo);
Avaliar a estabilidade física dos três sistemas leveduras-suporte, durante um
longo período, observando visualmente possível alteração da rigidez de cada suporte ao
término de cada ciclo.
28
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Materiais
4.1.1 Microrganismo utilizado
Foi utilizada a levedura Saccharomyces cerevisiae sob a forma de fermento seco,
produzido pela Fleischmann, na concentração de 77g fermento seco / L água.
4.1.2 Melaço
Para o preparo do mosto foi utilizado melaço cedido pela Usina Caeté S/A – Unidade
Cachoeira, com Brix de 85,16 ± 0,83g/100 g e 56,58 ± 0,33 g de ART/100g.
4.1.3 Suportes para imobilização
Foram utilizados como suportes os seguintes materiais:
Duas variedades de bambu, denominadas Phyllostachys caniço e Guadua
angustifolia, designados neste trabalho como caniço e guadua, respectivamente. As
referidas variedades foram fornecidas pelo Instituto do Bambu, da Universidade Federal de
Alagoas, nas seguintes dimensões: Guadua angustifolia (Figura 4.1, “A”) com 1,5 cm x 1,5
cm x 2,0 cm e Phyllostachys caniço (Figura 4.1, “B”) com 1,5 cm x 2,0 cm.
29
Figura 4.1 – Variedades de bambu utilizadas para imobilização de Saccaromyces cerevisiae:
(A) Guadua angustifolia, (B) Phyllostachys caniço.
Fibra de coco anão (Cocos nucifera), designada neste trabalho como coco,
fatiada no sentido longitudinal. Estas fatias foram fracionadas em três partes de cerca de 4
cm de comprimento (Figura 4.2).
Figura 4.2 Fibra de coco anão (Cocos nucifera) fatiada para imobilização de
Saccharomyces cerevisiae.
4.2 Caracterização dos suportes
4.2.1 Umidade dos suportes
A umidade dos suportes foi determinada por gravimetria, pesando-se cerca de 5 g de
cada amostra, devidamente fracionada nas menores partículas possíveis, e levando-se a
estufa a 105°C por períodos de uma hora, até peso constante. Este parâmetro foi calculado
pela equação:
A
B
30
Umidade
%
m
1
m
2
m
1
x 100
(1)
Onde:
m
1
: massa do suporte antes da secagem em estufa;
m
2
: massa do suporte após secagem em estufa até peso constante.
4.2.2 Porosidade, absorção de umidade e densidade dos leitos confeccionados com os
suportes
A porosidade, absorção de umidade e densidade dos leitos foram determinadas
seguindo-se as etapas abaixo:
Foram selecionados baldes idênticos de 9 litros para cada suporte, os quais
foram utilizados como reatores em todos os ciclos de fermentação.
A massa de cada reator vazio, nomeada de M, foi determinada em balança de
precisão, com uma casa decimal;
Foi medido 2 litros de água potável em balão volumétrico, o qual foi vertido em
cada reator. Foi feita uma marcação em cada reator correspondente ao volume de água
adicionado;
Foi inserido em cada reator uma quantidade do referido suporte até a marca de 2
litros. Cada sistema foi pesado em balança de precisão para posterior determinação da
massa do suporte utilizado, por diferença com relação à massa do reator vazio. Esta
massa (reator + suporte) foi nomeada de M
S
(Figura 4.3);
31
Figura 4.3 Reatores com os suportes utilizados nos experimentos (A: coco, B: caniço, C:
guadua).
Dentro de cada reator foi inserido um disco de plástico perfurado (Figura 4.4);
Figura 4.4 – Vista superior de reator contendo suporte com um disco de plástico perfurado.
Visto que os três suportes são menos densos que a água, um bastão de vidro foi
utilizado para manter os leitos submersos quando fosse adicionada água a cada reator.
Cada reator com seu respectivo suporte, disco e bastão de vidro foi pesado em balança de
precisão. Esta massa foi nomeada de M
SDB
;
Com auxílio de proveta de 2 litros foi adicionada água até que o disco plástico
perfurado ficasse totalmente submerso. O suporte foi mantido submerso com auxílio do
bastão de vidro. O volume de água utilizado observado na proveta foi nomeado de V
ÁGUA
.
Cada reator nesta etapa foi pesado em balança de precisão e a massa determinada foi
nomeada de M
SDBA
. Após a drenagem da água realizada por inversão do reator, a
porosidade dos leitos foi calculada pela relação:
Porosidade%
V
ÁGUA
2000
x 100
(2)
A
B
C
32
Onde:
- Porosidade%: porosidade do leito;
- V
ÁGUA
: volume de água adicionado em mL, suficiente para submergir o
leito;
- 2000: volume de trabalho de cada reator.
Cada reator foi drenado e cada leito úmido foi pesado em balança de precisão.
Esta massa foi nomeada de M
SU
. A absorção de umidade e a densidade dos leitos foram
calculadas pelas equações:
Absorção (%)
M
SDBA
M
SDB
M
SU
M
S
M
x 100
(3)
Onde:
- Absorção (%): absorção de umidade pelo leito;
- (M
SDBA
M
SDB
): massa do reator com suporte, disco de plástico, bastão de
vidro e água (M
SDBA
) subtraída da massa do reator com suporte, disco de
plástico, bastão de vidro (M
SDB
). Refere-se, portanto, à massa de água
adicionada;
- M
SU
: massa de suporte úmido, após a drenagem da água;
- M: massa do reator vazio.
Densidade (g/cm
3
)
M
S
M
2000
V
ÁGUA
x 100
(4)
Onde:
- M
S
- M: massa do reator com o suporte (M
S
) subtraído da massa do reator
vazio (M). Isto corresponde à massa de suporte seco;
33
- “2000 – V
ÁGUA
” corresponde ao volume em cm
3
ocupado pelo leito.
4.3 Técnica de imobilização
O processo de imobilização foi o de adsorção, realizado por imersão dos materiais
usados como suporte em suspensão concentrada de leveduras, contendo cerca de 1,588 x
10
9
células vivas/mL (equivalente a 77 g de fermento seco / L), valor próximo ao utilizado
com êxito por Vasconcelos (1998) para imobilização em colmos de cana-de-açúcar e por
(2003) para imobilização em sabugos de milho.
Os suportes fracionados nas dimensões já citadas foram inseridos nos reatores
(descritos no item 4.2.2), até o volume de 2 litros. Em seguida foi adicionada a suspensão
de células em cada reator em quantidade suficiente para deixar todos os suportes
totalmente imersos. Uma garrafa de vidro sobre um disco plástico perfurado foi utilizada em
cada reator, para manter os suportes imersos na suspensão de células (Figura 4.5). Os três
sistemas permaneceram em repouso por uma hora (tempo de imobilização) da mesma
forma como foi citado por (2003). Ao término deste tempo, a suspensão de células foi
drenada retendo-se manualmente os suportes com auxílio do disco plástico perfurado e
vertendo-se o líquido de cada reator. Após a drenagem, foi adicionado mosto de melaço a
cada reator, iniciando-se os ciclos de fermentação (Figura 4.6).
Figura 4.5 Reator utilizado nos experimentos, com disco plástico perfurado e frasco de
vidro para manutenção dos suportes submersos.
34
Figura 4.6 Fluxograma representativo do processo de imobilização de células nos
suportes.
4.4 Fermentação
O mosto foi preparado por diluição do melaço em água potável. O pH foi corrigido
com ácido sulfúrico comercial em todos os ciclos de fermentação para 4,26 ± 0,06, para
controle da infecção bacteriana. Vasconcelos (1998) e Sá (2003) também efetuaram o
mesmo controle com valores de pH próximos ao citado. Para auxiliar o controle da infecção
bacteriana foi adicionado ao mosto, em todos os ciclos de fermentação, 3 ppm de BIOTRAN
VIRG da PRATENSE QUÍMICA, um bactericida com espectro limitado a bactérias gram-
positivas.
O mosto também foi adicionado de 10 ppm de PRATENSE FÓS M GRANULADO da
PRATENSE QUÍMICA em todos os ciclos de fermentação, um suplemento à base de fósforo
(21% de P
2
O
5
), nitrogênio amoniacal (23% de NH
3
) e íons de magnésio e zinco.
O volume de mosto utilizado em cada reator, em todos os ciclos, foi de 1.600 mL.
Este valor refere-se ao maior volume de água utilizado nos experimentos para determinação
35
da porosidade dos leitos. Esta medida serviu de padronização para a quantidade efetiva de
açúcares para todos os suportes. A cada ciclo de fermentação, o mesmo mosto preparado
foi utilizado nos três sistemas leveduras-suporte.
A duração dos ciclos de fermentação foi fixada em 24 horas. Foi adotado este valor,
dado o grande volume de análises e ciclos de fermentação necessários para a condução
deste trabalho.
Inicialmente foi avaliada qual seria a melhor concentração de açúcares a ser utilizada
em todos os ciclos de fermentação. Os seguintes valores de Brix do mosto foram utilizados
na referida avaliação: (10,22 ± 0,10) g/100g, (11,98 ± 0,10) g/100g, (14,91 ± 0,12) g/100g,
(18,08 ± 0,29) g/100g e (20,14 ± 0,12) g/100g. Os ciclos foram iniciados com Brix de (10,22
± 0,10) g/100g. Ao final de cada ciclo foram calculadas as eficiências do processo
fermentativo dos três sistemas levedura-suporte. Não foi avaliada a cinética das
fermentações dos sistemas leveduras-suporte.
A cada 4 9 ciclos de fermentação, elevou-se o Brix do mosto para o valor
imediatamente superior até ser observada queda na eficiência do processo fermentativo. A
escolha entre 4 9 ciclos de fermentação para cada Brix de mosto ficou condicionada ao
tempo que a Usina Caeté Unidade Marituba (Penedo/AL) levava para informar os
resultados de teor alcoólico dos meios fermentados após cada ciclo de fermentação. Sem os
valores de teor alcoólico seria impossível o cálculo da eficiência do processo fermentativo
(item 4.6.1) dos sistemas leveduras-suporte para cada valor de Brix. A Tabela 4.1 exibe para
cada concentração de açúcares, o correspondente número de ciclos de fermentação
utilizado.
Tabela 4.1 – Brix e ART médios do mosto e o número correspondente de ciclos de
fermentação utilizados para avaliar a melhor concentração de açúcares para realização dos
experimentos.
Ciclos Total de ciclos Brix (g/100g) ART (g/100mL)
1 a 9 9 10,22 ± 0,10 6,79 ± 0,41
10 a 13 4 11,98 ± 0,10 8,17 ± 0,35
14 a 17 4 14,91 ± 0,12 10,92 ± 0,10
18 a 22 5 18,08 ± 0,29 13,28 ± 0,51
23 a 27 5 20,14 ± 0,12 15,40 ± 0,08
36
Para o controle físico-químico das fermentações, foram determinados os seguintes
parâmetros ao final de cada ciclo fermentativo: Brix, pH, acidez sulfúrica, ART e AR no
mosto e nos meios fermentados. Apenas o teor de AR não foi determinado no mosto.
Para o controle microbiológico foram determinadas, ao final de cada ciclo
fermentativo, as concentrações de células vivas, mortas e brotos nos meios fermentados,
bem como a viabilidade celular e o percentual de brotamento (item 4.5.5). Ao término de
todos os ciclos de fermentação, os mesmos parâmetros foram determinados nos três
suportes utilizados.
4.5 Determinações quantitativas
Todas as determinações quantitativas foram realizadas em triplicata. Segue abaixo a
descrição das referidas determinações.
4.5.1 Brix
Consiste na determinação da concentração dos sólidos dissolvidos, expressos em
g/100g, de determinada solução. Este parâmetro foi determinado através de refratômetro de
campo, conforme metodologia descrita por Caldas (1998). A determinação do Brix é a
maneira mais rápida de verificar indiretamente a concentração de açúcares do mosto
durante seu preparo.
4.5.2 Açúcares Redutores Totais (ART)
Refere-se aos açúcares capazes de reduzir o cobre (Cu
2+
+ e
-
Cu
+
). Contempla-se
principalmente, no caso da cana-de-açúcar e do melaço, a glicose e frutose, somados à
sacarose presente no meio, que, após hidrólise, se transforma em glicose e frutose. O
método utilizado foi o de Enyon-Lane (CALDAS, 1998), que consiste na titulação em
ebulição da amostra a ser analisada, previamente hidrolisada com ácido clorídrico 1:1 a
65°C por 12 minutos. A titulação foi efetuada em equipamento apropriado (REDUTEC,
37
marca TECNAL, modelo TE-088). A equação seguinte foi utilizada para o cálculo do ART
das amostras:
ART
5
D
Vg
(5)
Onde:
- ART: gramas de açúcares redutores totais por 100 mL de amostra;
- D: diluição da amostra;
- Vg: volume gasto da solução de amostra.
4.5.3 Acidez sulfúrica
Trata-se da determinação da concentração das substâncias ácidas das amostras
(expressa em g de H
2
SO
4
/L) por neutralização com NaOH 0,01M, previamente padronizada,
de acordo com a metodologia descrita por Caldas (1998), tendo como indicador fenolftaleína
1%. Este parâmetro foi utilizado como medida indireta do nível de contaminação bacteriana
dos meios em fermentação, visto que o aumento da contaminação bacteriana elevaria o teor
de substâncias ácidas dos meios. A equação seguinte foi utilizada para cálculo da acidez
sulfúrica:
Acidez sulfúrica = 0,01 x 49 x F x Vg (6)
Onde:
- Acidez sulfúrica: acidez sulfúrica em g de H
2
SO
4
por litro de amostra;
- 0,01: molaridade da solução de NaOH;
- 49: equivalente-grama do ácido sulfúrico;
38
- F: fator de correção da solução de NaOH 0,01M;
- Vg: volume gasto da solução de NaOH 0,01M.
4.5.4 Teor alcoólico
Foi utilizado o método densimétrico (densímetro digital ANTON-PAAR), conforme
descrito por (2003): 25 mL de cada meio fermentado adicionados de 25 mL de água
destilada foram destiladas em microdestilador de álcool TECNAL modelo TE-012. Após
serem coletados 50mL de destilado, os mesmos foram acondicionados em frasco de vidro
com tampa, prontamente congelados e enviados para análise em densímetro digital
ANTON-PAAR na Usina Caeté S/A - Unidade Marituba. A equação seguinte foi utilizada
para cálculo do teor alcoólico das amostras:
EtOH = 0,7936 x L x 2 (7)
Onde:
- EtOH: teor alcoólico em gramas de etanol por mL de amostra;
- 0,7936: densidade do etanol em g/mL a 15ºC;
- L: leitura da amostra no densímetro ANTON-PAAR em ºGL (v/v a 15ºC);
- 2: fator de diluição das amostras.
4.5.5 Contagem de células vivas, mortas e brotos, percentual de brotamento e viabilidade
celular
Foi utilizada câmara de Neubauer conforme metodologia descrita por Vasconcelos
(2000) para contagem das células no mosto e nos meios fermentados (células vivas/mL,
células mortas/mL, células totais/mL, percentual de brotamento e percentual de viabilidade
celular). A contagem foi realizada em 16 campos (Figura 4.7), utilizando-se solução de azul
39
de metileno 0,01%, nas amostras para determinação das células vivas e mortas (estas
últimas, coradas pelo azul de metileno).
Figura 4.7 – Câmara de Neubauer visualizada ao microscópio óptico. Os campos em laranja
sinalizam a configuração utilizada para contagem de células de leveduras em todas as
determinações: 16 campos ao total, sempre na direção diagonal.
Diluições de 20, 100/3 e 50 foram utilizadas nos meios fermentados, devido às
variações observadas nas concentrações de células livres. A equação seguinte foi utilizada
para cálculo dos parâmetros:
Células/mL = D x n x 10
4
(8)
Onde:
- D: fator de diluição da amostra;
- n: total de células (vivas ou mortas ou brotos) nos 16 campos da câmara
de Neubauer.
Também foi utilizada a mesma metodologia nos suportes, apenas ao final do último
ciclo, para quantificação de células vivas/g, células mortas/g, percentual de brotamento e
percentual de viabilidade celular nos leitos dos sistemas leveduras-suporte. A trituração dos
suportes foi realizada de acordo com o procedimento desenvolvido em laboratório:
- Cada suporte foi fatiado em pequenos pedaços;
40
- 50g de cada suporte foi pesado com precisão de quatro casas decimais em
becker de plástico de 250mL e transferido para o copo de liquidificador industrial
limpo e seco (m
S
);
- No mesmo becker foi colocado cerca de 150 mL de água destilada. O conjunto
(becker + água) foi pesado em balança analítica (m
A1
);
- O conteúdo foi transferido para o copo do liquidificador. A massa do frasco vazio
foi anotada (m
A2
);
- O liquidificador foi acionado por dois minutos;
- Com um bastão, os pedaços de suporte da tampa e do copo foram raspados
para o fundo do copo do liquidificador. Ao final, o bastão foi reservado dentro do
becker de plástico de 250mL;
- O liquidificador foi acionado por mais dois minutos;
- Cerca de 150mL de água destilada (a qual foi utilizada para lavar o bastão) foi
pesado em balança analítica no becker de plástico de 250mL, anotando-se peso do
conjunto becker + água (m
A3
);
- Com a água, os pedaços de suporte das paredes da tampa do copo foram
lavados para o fundo do mesmo. O becker vazio foi pesado e anotado o peso (m
A4
).
- O liquidificador foi acionado por mais dois minutos;
- A mistura foi homogeneizada e transferida para becker de 600mL com o máximo
de suporte triturado;
- Homogeneizando sempre o conteúdo do becker, foram pesados 10g da mistura
com precisão de quatro casas decimais. O peso foi anotado (m
ST
);
- A alíquota foi transferida quantitativamente para balão de 100mL e completado o
volume;
41
- Após homogeneização, o conteúdo do balão foi filtrado em tela metálica fina
para becker de 100mL;
- A partir desta diluição foi dado prosseguimento do preparo da amostra conforme
metodologia descrita anteriormente. A equação seguinte foi utilizada para cálculo das
concentrações de células:
Células
/
g
2000
x n
x
100
m
ST
x
m
A1
m
A2
m
A3
m
A4
m
S
m
S
(9)
Onde:
- Células/g: total de células por grama de suporte;
- n: total de células (vivas ou mortas ou brotos) nos 16 campos da câmara
de Neubauer;
- m
A1
: massa do sistema 150mL de água + becker (primeira adição de
água);
- m
A2
: massa do becker anterior vazio;
- m
A3
: massa do sistema 150mL de água + becker (segunda adição de água
adicionada);
- m
A4
: massa do becker anterior vazio;
- m
ST
: massa da suspensão de suporte triturado;
- m
S
: massa de suporte utilizada.
O brotamento (percentual de brotos de células de leveduras) e a viabilidade celular
(percentual de células de leveduras vivas) foram calculados fazendo-se uso das equações:
42
Brotamento (%)
b
n
x 100
(10)
Onde:
- Brotamento (%): percentual de brotos de células de levedura;
- b: número de brotos contados nos 16 campos da câmara de Neubauer;
- n: número total de células de levedura contados nos 16 campos da câmara
de Neubauer.
Viabilidade (%)
v
n
x 100
(11)
Onde:
- Viabilidade (%): percentual de células vivas de leveduras;
- v: número de células de leveduras vivas nos 16 campos da câmara de
Neubauer;
- n: número total de células de levedura contados nos 16 campos da câmara
de Neubauer.
4.6 Parâmetros de fermentação
4.6.1 Eficiência do processo fermentativo (
η
P
)
Compreende o percentual de etanol produzido com relação à quantidade de ART
disponível no mosto. A equação seguinte foi utilizada para o cálculo deste parâmetro:
η
P
=
EtOH
ART
MOSTO
x 0,511
x100
(12)
43
Onde:
-
η
P
: eficiência do processo fermentativo, em %;
- EtOH: teor alcoólico do meio fermentado;
- ART
MOSTO
: ART em g / 100 mL do mosto;
- 0,511: fator estequiométrico para conversão de ART em etanol.
É válido lembrar que para o cálculo deste parâmetro não é considerado o teor de
açúcares redutores totais do meio fermentado, que se refere aos açúcares que não foram
metabolizados pelas leveduras.
4.6.2 Eficiência da fermentação (
η
B
)
Refere-se ao percentual de etanol produzido com relação à quantidade de ART
efetivamente consumido. O teor de ART efetivamente consumido é obtido pela diferença
entre o teor de ART do mosto e o teor de ART do meio fermentado. A equação seguinte foi
utilizada para o cálculo deste parâmetro:
(13)
Onde:
-
η
B
: eficiência da fermentação, em %;
- EtOH: teor alcoólico do meio fermentado, em g/100mL;
- ART
MOSTO
: ART em g / 100mL do mosto;
44
- ART
VINHO
: ART em g / 100mL do meio fermentado;
- 0,511: fator estequiométrico para conversão de ART em etanol.
Como é levada em consideração a quantidade de açúcares não consumida, observa-
se pela equação acima que este parâmetro é maior que a eficiência do processo.
4.6.3 Rendimento em produção de etanol (Y
P/S
)
É o rendimento da produção de etanol com relação à quantidade de ART consumida.
Para um processo com 100% de rendimento, Y
P/S
seria 0,511 g de etanol/ g de ART
consumido, que corresponde ao fator estequiométrico de conversão de glicose em etanol. A
equação seguinte foi utilizada para o cálculo deste parâmetro:
Y
P/S
=
EtOH
ART
MOSTO
ART
VINHO
(14)
Onde:
-
Y
P/S
: rendimento em produção de etanol, em grama de etanol / grama de
ART consumidos;
- EtOH: teor alcoólico do meio fermentado, em g/100mL;
- ART
MOSTO
: teor de ART do mosto, em gramas de ART / 100mL;
- ART
VINHO
: teor de ART do meio fermentado, em gramas de ART / 100mL.
45
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Microrganismo utilizado
Foram determinados alguns parâmetros para caracterização da qualidade
microbiológica do fermento, os quais estão listados na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Características microbiológicas do fermento seco utilizado nos experimentos.
Parâmetro
Valor
Células vivas (células / mL) 2,062 x 10
10
Células mortas (células / mL) 0,836 x 10
10
Brotos (células / mL) 0,035 x 10
10
Células totais (células / mL) 2,933 x 10
10
5.2 Mosto
Inicialmente foi determinada a melhor concentração de açúcares do mosto para
realização dos ensaios, aumentando-se o Brix a cada 4 – 9 ciclos de fermentação, conforme
descrito no item 4.4. Foi observada queda na eficiência do processo fermentativo nos
sistemas leveduras-suporte com mosto de 15,40 ± 0,08 g de ART/100mL (equivalente a Brix
de 20,14 ± 0,12 g / 100 g) entre os ciclos de fermentação 23 e 27. A concentração
imediatamente anterior ao valor observado na queda da eficiência foi utilizada a partir do 28º
ciclo de fermentação (Brix médio de 18 g / 100 g). A Figura 5.1 exibe as médias dos
resultados de eficiência do processo fermentativo para os três sistemas leveduras-suporte
(calculadas ao término de cada ciclo de fermentação) com relação ao Brix do mosto. A
Tabela 5.2 exibe os mesmos dados acrescidos dos valores referentes aos ciclos após a
definição do Brix (ciclos de número 28 a 91).
46
66,00
68,00
70,00
72,00
74,00
76,00
78,00
80,00
82,00
84,00
10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00
Eficiência do processo fermentativo (%)
Brix do mosto
Coco Caniço Guadua
Figura 5.1 Eficiências dos processos fermentativos (médias) com células imobilizadas em
fibra de coco e bambus (caniço e guadua) a várias valores de Brix do mosto.
Tabela 5.2 - Brix e ART do mosto e os respectivos valores de eficiência do processo
fermentativo (η
P
) durante a determinação do Brix do mosto mais adequado. Os valores da
última linha (ciclos 28 - 91) referem-se aos ciclos de fermentação após a definição do Brix
mais adequado.
Ciclos
Brix do
mosto
(g/100g)
ART do
mosto
(g/100mL)
η
P
(%)
Leveduras-
Coco
Leveduras-
Caniço
Leveduras-
Guadua
1-9 10,22 ± 0,10 6,79 ± 0,04 84,39 ± 6,32 74,36 ± 9,53 81,13 ± 7,59
10-13 11,98 ± 0,10 8,17 ± 0,35 82,57 ± 4,03 79,77 ± 8,13 75,28 ± 6,04
14-17 14,91 ± 0,12 10,92 ± 0,1 79,51 ± 2,17 74,52 ± 9,5 75,75 ± 2,85
18-22 18,08 ± 0,29 13,28 ± 0,51 82,81 ± 4,54 76,34 ± 5,14 72,55 ± 6,36
23-27 20,14 ± 0,12 15,40 ± 0,08 78,94 ± 1,45 73,52 ± 0,48 66,56 ± 0,48
28-91 18,17 ± 0,11 13,31 ± 0,27 82,30 ± 1,85 81,41 ± 2,90 77,67 ± 3,67
Na Tabela 5.2 pode-se observar melhores resultados de eficiência do processo do
sistema leveduras-caniço com Brix de mosto de (11,98 ± 0,1)g/100g e do sistema leveduras-
guadua com Brix de (10,22 ± 0,10)g/100g. Estes valores de Brix são inadequados para uso
industrial por serem muito baixos, que resulta em baixas concentrações de etanol no meio
fermentado. Na indústria é preferível concentrações maiores de açúcares, que resulta em
concentrações de etanol mais elevadas nos meios fermentados e, por conseguinte, maior
economia de vapor na destilação e menor custo de produção (COPERSUCAR, 1987).
47
Observa-se ainda na Figura 5.1 que no sistema leveduras-guadua houve queda na
eficiência de processo ao se utilizar mosto com 18,08 ± 0,29 °Brix, comportamento oposto
aos dos outros sistemas. Isto ocorreu, provavelmente, pela baixa capacidade de
imobilização inicial do sistema leveduras-guadua, com aumento gradativo do número de
células imobilizadas ao longo dos ciclos de fermentação (item 5.4). Isto pode ser observado
na Figura 5.6 (também no item 5.4) onde, nos ciclos finais, o desempenho dos três suportes
é semelhante.
A definição da concentração mais adequada de açúcares no mosto foi feita através
do Brix. Justifica-se a utilização da determinação do Brix do mosto por dois motivos: rápida
determinação em relação à de ART e à forte correlação entre ART e Brix, observada na
Figura 5.2.
ART = 8,598 x Brix - 20,44
R² = 0,998
65
75
85
95
105
115
125
135
145
155
10 12 14 16 18 20
ART do mosto (%)
Brix do mosto (g/100g)
Figura 5.2 Correlação entre ART e Brix do mosto. Foram utilizados os dados da Tabela
5.2.
5.3 Suportes
Algumas características dos leitos confeccionados com os citados suportes foram
determinadas em laboratório, as quais estão dispostas na Tabela 5.3.
48
Tabela 5.3 Umidade (UMD), porosidade (PRS), absorção de umidade (ABU) e densidade
(DENS) dos leitos confeccionados com os suportes
Leito UMD (%) PRS (%) ABU
(g água / g suporte)
DENS (g/cm
3
)
Cocos nucifera
10,92 ± 0,19 67,93 ± 1,45
121,5 ± 2,59 0,1864 ± 0,0040
Phyllostachys caniço
10,79 ± 0,09 71,43 ± 1,77
11,6 ± 0,29 0,5821 ± 0,01
Guadua angustifolia
9,77 ± 0,10 54,79 ± 0,75
7,5 ± 0,10 0,7041 ± 0,0096
Pode-se observar na Tabela 5.3 que os leitos confeccionados com coco e caniço
apresentaram porosidades próximas, muito diferentes da porosidade do leito confeccionado
com guadua. Por outro lado, o leito confeccionado com coco apresentou absorção de
umidade elevada, comparada com os outros suportes.
A Figura 5.3 exibe as concentrações de leveduras vivas livres nos meios em
fermentação nos primeiros ciclos, quantificadas ao final das fermentações. Percebe-se que,
no ciclo de fermentação, houve queda brusca na concentração de células livres nos
meios fermentados dos três sistemas. Este comportamento pode ser explicado pelo fato de,
após o processo de imobilização, a suspensão de células ter sido apenas drenada e grande
quantidade de células livres permaneceu nos reatores no primeiro ciclo de fermentação.
0,00E+00
5,00E+07
1,00E+08
1,50E+08
2,00E+08
2,50E+08
3,00E+08
3,50E+08
4,00E+08
4,50E+08
1 2 3 4 5 6 7
lulas vivas (Leveduras/mL)
Ciclo de fermentação
Coco Caniço Guadua
Figura 5.3 Concentração de leveduras vivas livres nos meios fermentados nos primeiros
sete ciclos.
49
Verbelen et al. (2006) afirmam que, utilizando a técnica de adsorção natural em
superfícies, é possível ocorrer o desprendimento celular por não haver barreiras físicas entre
as células e a solução, havendo reposição celular em seguida. O desprendimento de células
de leveduras para os meios fermentados dos três reatores foi semelhante aos observados
por Vasconcelos (1998) e (2003). Estes autores observaram concentração de células
totais da ordem de 10
7
leveduras / mL de meio fermentado. A partir do momento em que foi
definido o Brix mais adequado do mosto, foi observada concentração de células totais livres
de (6,10 ± 3,75) x 10
7
leveduras / mL, (4,55 ± 2,31) x 10
7
leveduras / mL e (5,03 ± 2,33) x
10
7
leveduras / mL, respectivamente para os meios fermentados dos sistemas leveduras-
coco, leveduras-caniço e leveduras-guadua.
Levando-se em consideração que mosto de melaço freqüentemente apresenta teor
considerável de leveduras, a quantidade de células que efetivamente se desprende dos
suportes pode ser menor que 10
7
leveduras/mL. Vasconcelos (1998) e (2003)
observaram valores da ordem de 10
5
leveduras / mL no mosto de melaço com concentração
de ART de 159,67 ± 18,28 g / L e 138,12 ± 12 g / L, respectivamente. Nesse trabalho
utilizamos mosto de melaço com concentração de ART de 133,11 ± 2,66 g / L.
Vasconcelos (1998) faz referência à concentração de células livres em vinho
delevedurado da ordem de 10
7
células / mL. O vinho delevurado é o meio fermentado com
teor reduzido de células, obtido após centrifugação, utilizada para recuperação de inóculo no
processo Melle-Boinot. Com base nestas considerações, o desprendimento de células dos
três sistemas leveduras-suporte apresentou resultados semelhantes aos obtidos na
literatura.
A Figura 5.4 exibe a variação da concentração de células totais livres nos meios
fermentados para todos os ciclos de fermentação, quantificadas ao final de cada ciclo.
Percebe-se que a concentração de células totais permaneceu com valores da ordem de 10
7
leveduras / mL em todos os sistemas células-suporte, a partir do 40.° ciclo de fermentação.
Antes deste ciclo houve grande variação do total de células livres (entre 10
7
e 10
8
leveduras/mL). Este fato se verificou, provavelmente, porque foi a partir do 28º ciclo que foi
definido o Brix do mosto para todos os demais ciclos subseqüentes, ou seja, mosto com Brix
de 18g/100g. Este período, portanto, pode ser considerado como de adaptação dos
sistemas leveduras-suporte.
50
0,00E+00
5,00E+07
1,00E+08
1,50E+08
2,00E+08
2,50E+08
3,00E+08
3,50E+08
4,00E+08
4,50E+08
5,00E+08
5,50E+08
6,00E+08
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91
Células totais (leveduras/mL)
Ciclo de fermentação
Coco Caniço Guadua
Figura 5.4 – Concentração de células totais (leveduras/mL) nos meios fermentados em
todos os ciclos de fermentação.
A Figura 5.5 exibe grande variação da porcentagem de brotamento nos meios
fermentados, quantificados ao final de cada ciclo de fermentação. Tal variação pode ser
reflexo de picos na concentração de células nos suportes e posterior desprendimento celular
do excesso (VERBELEN et al, 2006).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91
Brotamento (%)
Ciclo de fermentação
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.5 Percentual de brotamento de células de leveduras livres nos meios
fermentados.
51
Após o último ciclo de fermentação, os suportes foram triturados para determinação
das concentrações de células, conforme metodologia descrita no item 4.5.5. Os resultados
estão dispostos nas Tabelas 5.4 e 5.5, onde se observam concentrações de células totais
da ordem de 10
9
(coco) e 10
8
(bambus), valores compatíveis com os encontrados em
Vasconcelos (1998) e Sá (2003), respectivamente.
Tabela 5.4 Concentração de células totais (CLT), concentração de células vivas (CLV) e
concentração de células mortas (CLM) em leveduras / mL nos suportes e nos meios
fermentados do último ciclo fermentativo.
Sistema
CLT CLV CLM
Suporte
(x10
-9
)
Vinho
(x10
-7
)
Suporte
(x10
-8
)
Vinho
(x10
-7
)
Suporte
(x10
-8
)
Vinho
(x10
-6
)
Leveduras-coco 1,16 3,26 4,89 2,42 6,75 8,40
Leveduras-caniço 0,64 2,16 1,97 1,78 4,39 3,80
Leveduras-guadua 0,55 1,90 1,55 1,70 3,92 2,00
Tabela 5.5 Viabilidade celular em % (VC) e porcentagem de brotamento de células (BT)
nos suportes e nos meios fermentados do último ciclo fermentativo.
Sistema
VC (%) BT (%)
Suporte
Vinho Suporte
Vinho
Leveduras-coco 41,88 74,23 11,13 35,54
Leveduras-caniço 31,14 82,41 6,18 12,36
Leveduras-guadua 28,62 89,47 3,43 44,71
Por outro lado, observaram-se baixos valores de viabilidade celular em todos os
suportes. Ressalte-se que, como os suportes foram triturados, os resultados apresentados
se referem à viabilidade celular de todas as camadas de células nos suportes, justificando-
se, portanto, os baixos resultados apresentados. Pradella (2001) afirma que um dos
principais problemas na utilização de sistemas com células imobilizadas são as limitações
difusionais através das partículas de alguns suportes. Tais limitações são encaradas como
resistências ao transporte de massa interparticular (devido ao filme fluido ao redor das
partículas) e intraparticular (devido ao transporte através das próprias partículas). Tais
resistências são atenuadas ao se determinar condições ótimas de: vazão e agitação do
meio fluido, tamanho das partículas de suporte e concentração de células ativas nas
partículas de suporte.
52
Os baixos resultados de viabilidade celular nos suportes sugerem assim que as
limitações difusionais promoveram a queda na viabilidade celular nas camadas mais
internas dos suportes. Contudo, as camadas mais externas não devem ter sido afetadas
pelas mesmas resistências ao transporte de massa, visto que as eficiências e rendimento de
produção de etanol permaneceram elevados (com exceção da eficiência de processo do
sistema leveduras-guadua) durante todos os ciclos após a definição do Brix mais adequado
do mosto, o que pode ser observado na Tabela 5.6.
Tabela 5.6 Eficiência do processo fermentativo (
η
P
), eficiência da fermentação alcoólica
(
η
B
) e fator de rendimento em produção de etanol (
Y
P/S
) nos sistemas com fibra de coco e
bambus entre os ciclos 28 a 91.
Sistema
η
P
(%)
η
B
(%)
Y
P/S
(g/g)
Leveduras-Coco 82,30 ± 1,85 88,97 ± 1,73 0,455 ± 0,009
Leveduras-Caniço 81,41 ± 2,91 89,57 ± 1,76 0,458 ± 0,009
Leveduras-Guadua
77,67 ± 3,67 88,91 ± 2,38 0,454 ± 0,012
Sá (2003) obteve resultados semelhantes de viabilidade celular com sabugo de
milho, o qual deduziu que provavelmente houve morte de células nas camadas mais
internas, sem comprometimento significativo da capacidade fermentativa do sistema
leveduras-sabugo nas camadas mais externas.
Quanto à integridade física dos suportes após todos os ciclos fermentativos, foi
observada visualmente boa estabilidade, sem alteração aparente da rigidez dos materiais, o
que condiz com a manutenção das eficiências e rendimentos constatados durante os ciclos
fermentativos (Figura 5.6).
Figura 5.6 – Amostras dos suportes após os 91 ciclos fermentativos.
53
5.4 Fermentação
As Figuras 5.7 e 5.8 apresentam os dados relativos à eficiência de processo e
concentrações de etanol para os sete primeiros ciclos de fermentação. Nas citadas figuras
observa-se que o sistema leveduras-coco mostra comportamento diferente dos sistemas
leveduras-bambu, nos três primeiros ciclos de fermentação. Enquanto o primeiro caso
apresentou comportamento crescente, com ligeira estabilidade, nos sistemas leveduras-
caniço e leveduras-guadua houve queda acentuada nos parâmetros citados no segundo
ciclo de fermentação, voltando a aumentar a partir do terceiro ciclo, mantendo esta
tendência, porém em valores inferiores aos do coco.
50,00
55,00
60,00
65,00
70,00
75,00
80,00
85,00
90,00
95,00
1 2 3 4 5 6 7
Eficiência do processo fermentativo (%)
Ciclo de fermentação
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.7 Eficiência do processo fermentativo nos reatores com leitos de fibra de coco e
bambus nos primeiros ciclos.
54
1,70
1,80
1,90
2,00
2,10
2,20
2,30
2,40
2,50
2,60
2,70
2,80
2,90
3,00
3,10
1 2 3 4 5 6 7
Teor alcoólico (°GL)
Ciclo de fermentação
Coco Caniço Guadua
Figura 5.8 Teor alcoólico dos meios fermentados nos reatores com leitos de fibra de coco
e bambus nos primeiros ciclos.
Isto evidencia que o leito com coco apresentou imobilização imediata e satisfatória, o
que visivelmente não ocorreu nos leitos com bambu. A elevada capacidade de absorção de
umidade da fibra de coco (Tabela 5.3) sugere uma maior capacidade de imobilização em
relação ao bambu. (2003) também observou fenômeno semelhante ao utilizar sabugos
de milho como suporte de imobilização de Saccharomyces cerevisiae.
Este comportamento pode ser explicado pelo fato de, após o processo de
imobilização, a suspensão de células ter sido apenas drenada e grande quantidade de
células livres permaneceu nos reatores no primeiro ciclo fermentativo. Vale lembrar que a
concentração de leveduras vivas na suspensão de células utilizada na imobilização foi de
1,59 x 10
9
leveduras/mL. No caso do coco, provavelmente a quantidade de células
imobilizadas inicialmente foi superior aos outros suportes. A concentração de células nos
suportes só foi realizada após o último ciclo de fermentação.
Ao longo dos demais ciclos fermentativos, o teor de células nos bambus
provavelmente aumentou gradativamente, em virtude do aumento observado das eficiências
dos processos (Figura 5.9). Isto sugere que as células de levedura se multiplicaram nos
55
bambus nos ciclos consecutivos de fermentação. Como a imobilização inicial foi maior no
coco, provavelmente este fenômeno também ocorreu, porém numa escala menor.
45,00
55,00
65,00
75,00
85,00
95,00
1 11 21 31 41 51 61 71 81 91
Eficiência do processo (%)
Ciclo de fermentalção
Coco Caniço Guadua
Figura 5.9 – Eficiências do processo fermentativo, nos reatores com leitos de fibra de coco e
bambus em todos os ciclos de fermentação.
As análises seguintes têm como base os resultados obtidos a partir da definição do
Brix mais adequado do mosto (18,08 ± 0,29 g/100g), que ocorreu a partir do ciclo 28.
A infecção bacteriana foi controlada pela adição de ácido sulfúrico comercial,
suficiente para manter o pH do mosto em torno de 4,2, aliada à adição de 3 ppm de
bactericida (conforme item 4.1.2). As Figuras 5.10 e 5.11 exibem a eficácia do tratamento
em decorrência da manutenção dos valores de pH e acidez sulfúrica em intervalos restritos.
Observa-se na Figura 5.11 maior oscilação na acidez sulfúrica do que no pH. Observa-se
também uma elevação crescente da acidez do mosto. A Tabela 5.7 exibe os mesmos
dados, acrescidos dos referentes aos demais ciclos de fermentação.
56
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
28 37 46 55 64 73 82 91
pH
Ciclo de fermentação
Mosto
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.10 pH do mosto e dos meios fermentados dos sistemas leveduras-coco,
leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
28 35 42 49 56 63 70 81 91
Acidez sulfúrica (g H
2
SO
4
/L)
Ciclo de fermentação
Mosto Coco Caniço Guadua
Figura 5.11 Acidez sulfúrica do mosto e dos meios fermentados dos sistemas leveduras-
coco, leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91.
57
Tabela 5.7 - pH e acidez sulfúrica do mosto no início dos ciclos de fermentação e pH e
acidez sulfúrica dos meios fermentados dos sistemas levedura-suporte ao final de todos os
ciclos de fermentação
Ciclos
pH Acidez sulfúrica (g H
2
SO
4
/ L)
Mosto Leveduras-
Coco
Mosto Leveduras-
Coco
Mosto Leveduras-
Coco
Mosto Leveduras-
Coco
1-9 4,30 ± 0,10 4,18 ± 0,06 4,22 ± 0,04 4,17 ± 0,05 2,29 ± 0,10 2,72 ± 0,08 2,65 ± 0,14 2,70 ± 0,09
10-13 4,26 ± 0,04 4,20 ± 0,05 4,14 ± 0,08 4,14 ± 0,06 2,77 ± 0,10 3,12 ± 0,21 3,20 ± 0,19 3,49 ± 0,13
14-17 4,20 ± 0,04 4,15 ± 0,02 4,09 ± 0,01 4,08 ± 0,02 3,63 ± 0,07 4,17 ± 0,17 4,05 ± 0,21 4,45 ± 0,07
18-22 4,29 ± 0,11 4,22 ± 0,07 4,18 ± 0,08 4,15 ± 0,06 4,06 ± 0,14 4,79 ± 0,18 4,48 ± 0,16 5,02 ± 0,10
23-27 4,28 ± 0,04 4,22 ± 0,05 4,17 ± 0,04 4,14 ± 0,04 4,99 ± 0,12 5,48 ± 0,1 5,09 ± 0,06 5,57 ± 0,11
28-91 4,26 ± 0,05 4,15 ± 0,05 4,21 ± 0,06 4,18 ± 0,07 4,52 ± 0,33 5,11 ± 1,82 4,41 ± 1,57 4,77 ± 1,69
Isto pode ser explicado pela necessidade ligeiramente crescente do aumento da
dosagem de ácido sulfúrico comercial no preparo do mosto no decorrer dos ciclos, para
manter o pH controlado. Foi observado que à medida que o melaço era retirado do
recipiente onde estava armazenado, aumentava a quantidade de sacarose cristalizada, o
que alterou ligeiramente a composição do mosto, exigindo, pois, pequenas correções para a
padronização do Brix do mosto. Por essa razão, a acidez do mosto apresentou-se crescente
apesar da manutenção do seu pH.
Todos os sistemas apresentaram manutenção satisfatória da capacidade
fermentativa, o que pode ser observado nas Figuras 5.12 (eficiência de processo), 5.13
(eficiência de fermentação) e 5.14 (rendimento em etanol). Os mesmos dados estão
dispostos na Tabela 5.8. Ressalte-se que, antes do 69° ciclo de fermentação, foi necessário
realizar tratamento ácido enérgico (choque ácido), onde os sistemas leveduras-suporte
foram imersos em água acidulada com pH 2,2, permanecendo por 60 minutos, quando
então foram reiniciados os ciclos de fermentação. Em função deste tratamento, o ciclo
posterior sofreu queda acentuada de desempenho para todos os suportes. Ressalte-se que
foi possível observar elevação da acidez sulfúrica do meio fermentado do sistema
leveduras-coco antes do ciclo de fermentação 69, provavelmente pelo aumento da
contaminação bacteriana, maior neste suporte (Figura 5.11), fato este que contribuiu para a
realização do choque ácido.
58
50,00
55,00
60,00
65,00
70,00
75,00
80,00
85,00
90,00
95,00
100,00
28 35 42 49 56 63 70 77 84 91
Eficiência do processo fermentativo (%)
Ciclo de fermentação
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.12 Eficiência do processo fermentativo (η
P
) dos sistemas leveduras-coco,
leveduras-caniço e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91.
50,00
55,00
60,00
65,00
70,00
75,00
80,00
85,00
90,00
95,00
100,00
28 37 46 55 64 73 82 91
Eficiência da fermentação (%)
Ciclo de fermentação
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.13 – Eficiência da fermentação (η
P
) dos sistemas leveduras-coco, leveduras-caniço
e leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91.
59
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
28
37
46
55
64
73
82
91
Rendimento em etanol (g Etanol / g ART)
Ciclo de fermentação
Coco
Caniço
Guadua
Figura 5.14 – Rendimento em etanol dos sistemas leveduras-coco, leveduras-caniço e
leveduras-guadua entre os ciclos 28 e 91.
Tabela 5.8 - Eficiência do processo, eficiência de fermentação e rendimento em etanol dos
sistemas leveduras-suporte do ciclo 28 ao 91
Ciclos
η
P
(%) η
B
(%)
Y
p/s
Leveduras-
Coco
Leveduras-
Caniço
Leveduras-
Guadua
Leveduras-
Coco
Leveduras-
Caniço
Leveduras-
Guadua
Leveduras-
Coco
Leveduras-
Caniço
Leveduras-
Guadua
28
80,74 78,41
73,86
87,20 85,68 81,37 0,446
0,438
0,416
29
79,48 77,81
74,47
86,52 88,93 85,95 0,442
0,454
0,439
30
79,93 77,00
71,38
87,11 88,13 87,45 0,445 0,
450
0,447
31
80,20 76,05
71,07
85,19 87,77 89,08 0,435
0,448
0,455
32
80,66 75,24
71,35
88,31 88,92 89,99 0,451
0,454
0,460
33
78,25 72,57
69,04
85,94 86,59 87,50 0,439
0,442
0,447
34
80,05 75,96
72,18
87,98 87,36 88,41 0,450
0,446
0,452
35
84,46 79,32
75,02
91,88 89,91 90,26 0,470
0,459
0,461
36
83,37 78,24
75,78
90,01 87,52 88,80 0,460
0,447
0,454
37
81,64 77,40
74,40
86,51 88,37 89,88 0,442
0,452
0,459
38
83,53 79,61
74,36
89,61 89,75 91,53 0,458
0,459
0,468
39
83,59 78,07
72,77
89,00 87,74 87,00 0,455
0,448
0,445
40
82,23 77,89
72,87
85,65 88,28 90,43 0,438
0,451
0,462
41
82,46 79,04
74,81
89,37 88,35 88,24 0,457
0,451
0,451
42
83,44 81,81
78,31
90,66 90,90 90,54 0,463
0,465
0,463
43
81,46 78,30
74,46
87,74 84,25 83,26 0,448
0,430
0,425
44
81,46 78,30
74,46
88,23 85,20 83,48 0,451
0,435
0,427
45
79,88 83,26
78,30
86,59 89,94 87,57 0,442
0,460
0,447
(continua)
60
(conclusão)
46
80,27 82,57
77,98
87,14 89,36 87,44 0,445
0,457
0,447
47
82,03 82,18
76,03
89,77 91,05 91,44 0,459
0,465
0,467
48
80,62 80,23
77,12
87,07 87,74 89,65 0,445
0,448
0,458
49
81,09 81,40
76,88
88,03 89,55 86,61 0,450
0,458
0,443
50
81,93 81,37
73,72
90,15 89,78 86,38 0,461
0,459
0,441
51
82,44 80,42
78,44
90,52 88,69 89,05 0,463
0,453
0,455
52
82,79 83,58
79,31
90,11 91,18 90,25 0,460
0,466
0,461
53
85,80 85,80
76,05
90,82 91,71 90,49 0,464
0,469
0,462
54
85,32 84,85
77,96
90,74 90,66 93,29 0,464
0,463
0,477
55
84,24 81,20
75,82
89,68 89,30 87,30 0,458
0,456
0,446
56
84,60 80,89
75,10
90,24 88,77 86,79 0,461
0,454
0,443
57
84,40 84,87
77,13
89,65 90,60 88,56 0,458
0,463
0,453
58
87,33 82,36
78,34
90,78 90,14 90,24 0,464
0,461
0,461
59
85,09 81,36
78,33
89,09 89,67 91,11 0,455
0,458
0,466
60
83,51 80,42
78,47
87,42 89,01 90,65 0,447
0,455
0,463
61
86,47 83,86
82,91
89,70 90,46 90,89 0,458
0,462
0,464
62
82,11 82,83
79,02
90,40 90,65 88,49 0,462
0,463
0,452
63
85,05 85,05
80,51
93,41 93,43 92,31 0,477
0,477
0,472
64
83,39 84,09
79,86
90,88 90,95 88,64 0,464
0,465
0,453
65
82,46 83,67
79,33
90,55 91,50 89,35 0,463
0,468
0,457
66
81,90 82,13
78,16
90,02 90,07 88,63 0,460
0,460
0,453
67
83,12 84,80
80,72
91,39 90,86 90,49 0,467
0,464
0,462
68
81,67 81,20
75,85
89,86 91,62 85,16 0,459
0,468
0,435
69
80,64 76,39
69,08
88,55 89,30 82,97 0,452
0,456
0,424
70
80,38 82,52
79,6
7
87,99 90,89 91,47 0,450
0,464
0,467
71
81,18 82,12
76,92
88,37 90,37 87,68 0,452
0,462
0,448
72
82,01 84,25
79,76
89,04 90,64 90,45 0,455
0,463
0,462
73
82,52 83,47
78,28
90,15 89,92 87,92 0,461
0,459
0,449
74
82,36 84,25
81,89
89,62 91,17 91,49 0,458
0,466
0,468
75
80,57 81,72
77,82
87,33 88,83 86,77 0,446
0,456
0,443
76
81,65 84,02
82,36
88,73 90,91 90,63 0,453
0,465
0,463
77
83,86 84,57
82,43
92,47 90,95 90,49 0,473
0,465
0,462
78
82,21 82,68
79,63
89,78 90,66 89,67 0,459
0,463
0,458
79
81,11 82,99
80,40
88,19 90,57 89,93 0,451
0,463
0,460
80
84,20 85,16
83,00
90,43 91,31 90,74 0,462
0,467
0,464
81
82,98 84,17
81,07
90,16 91,21 90,81 0,461
0,466
0,464
82
84,81 84,81
83,15
90,96 90,62 89,76 0,465
0,463
0,459
83
81,27 83,15
80,10
88,56 91,08 89,28 0,453
0,465
0,456
84
81,11 83,47
82,52
88,37 89,52 91,57 0,452
0,457
0,468
85
80,47 81,89
79,52
87,33 89,51 88,24 0,446
0,457
0,451
86
81,14 82,81
84,73
88,03 90,39 92,48 0,450
0,462
0,473
87
81,90 80,30
84,63
86,64 86,90 91,33 0,443
0,444
0,467
88
84,01 84,24
81,20
89,12 92,38 90,27 0,455
0,472
0,461
89
78,96 82,44
79,19
85,66 88,90 86,24 0,438
0,454
0,441
90
81,18 83,54
80,47
88,18 90,16 87,93 0,451
0,461
0,449
91
82,13 79,78
81,19
89,45 85,76 88,40 0,457
0,438
0,452
M ± DP 82,30 ± 1,85 81,41±2,90
77,67±3,67
88,97±1,72 89,57±1,76 88,91±2,38 0,455±0,009
0,4577 ± 0,009
0,454 ± 0,012
Através das Figuras 5.12 e 5.13 pode-se observar comportamento homogêneo das
eficiências de processo e de fermentação, demonstrando a estabilidade na produção de
61
etanol dos sistemas utilizados. A Tabela 5.9 exibe os resultados médios da eficiência de
fermentação e da eficiência de processo, assim como seus respectivos desvios-padrão e
coeficientes de variação dos sistemas estudados, entre os ciclos 28 e 91. Ressalte-se que,
de acordo com Ferreira (1996), experimentos com coeficientes de variação inferiores a 10%
apresentam ótima precisão experimental. De acordo com a Tabela 5.9, os coeficientes de
variação das três séries de experimentos, muito abaixo de 10%, apresentam variação numa
faixa considerada estatisticamente muito estreita. Em outras palavras, revelam grande
estabilidade quanto à eficiência do processo.
Tabela 5.9 Eficiências do processo (
η
P
), de fermentação (
η
B
) e respectivos coeficientes de
variação (CV) dos sistemas leveduras-suporte entre os ciclos 28 e 91 (M
± DP: média ±
desvio-padrão
)
Sistema
η
P
(M ± DP) η
B
(M ± DP) CV de η
P
(%) CV de η
B
(%)
Leveduras-Coco 82,30 ± 1,85 88,97 ± 1,73 2,25 1,94
Leveduras-Caniço 81,41 ± 2,90 89,57 ± 1,76 3,56 1,96
Leveduras-Guadua
77,67 ± 3,67 88,91 ± 2,38 4,73 2,68
Próximo ao ciclo 74, os três sistemas leveduras-suporte apresentaram maior
similaridade nas eficiências de processo (Figura 5.12). Foi observado que o sistema
leveduras-coco, provavelmente devido a sua porosidade e elevada absorção de umidade,
imobilizou células numa quantidade superior às dos sistemas leveduras-bambu já nos
primeiros ciclos de fermentação. Contudo, a similaridade das eficiências de processo dos
três sistemas, por volta do ciclo 74, sugere que os sistemas leveduras-bambu apresentaram
boa capacidade de imobilização, o que provavelmente ocorreu gradativamente por meio da
reprodução celular e conseqüente aumento do número de células imobilizadas, ao longo dos
74 primeiros ciclos.
Existem diversos trabalhos na literatura sobre fermentação alcoólica com células
imobilizadas. Uma maneira de avaliá-los é comparar seus fatores de rendimento em
produção de etanol, Y
P/S
, com o rendimento em etanol máximo teórico (fator estequiométrico
de conversão de glicose em etanol), parâmetro utilizado para o cálculo das eficiências de
processo e de fermentação (item 4.2.4). Este tipo de avaliação foi realizada por Pradella
(2001), Pushalkar e Rao (1998), Silva et al. (2005) e Kotaka et al. (2008). A Figura 5.15
62
relaciona Y
P/S
de alguns sistemas com células imobilizadas com o rendimento máximo
teórico.
Analisando os dados da Figura 5.15 percebe-se que os valores encontrados de Y
P/S
para os sistemas estudados neste trabalho são compatíveis com os demais citados, sendo
até superiores a outros sistemas. Também verifica-se que os três sistemas estudados
apresentaram capacidades fermentativas similares, representando cerca de 88% do
rendimento máximo teórico (0,511 g etanol / g glicose). Wheals et al. (1999) citam
rendimentos da ordem de 90 92% em fermentações com células livres de leveduras
Saccharomyces cerevisiae.
0,511
0,470
0,437
0,404
0,410
0,320
0,485
0,455
0,458
0,454
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
IDEAL KM-KSR SC-CLM SC-AGAR SC-SBG FO-CLS SC-ALG SC-COCO SC-CAN SC-GDU
Y
P/S
(g etanol/g glicose
)
Sistema com células imobilizadas
Figura 5.15 Fator de rendimento em produção de etanol de alguns sistemas com células
imobilizadas:
IDEAL: Y
P/S
ideal, o que equivale a 100% do fator estequiométrico etanol/glicose
KM-KSR: K. marxianus em kissiris (NIGAM et al., 1997)
SC-CLM: S. cerevisiae em colmos de cana-de-açúcar (VASCONCELOS,1998)
SC-AGAR:
S. cerevisiae em agar (NIGAM et al.,1998)
SC-SBG: S. cerevisiae em sabugo de milho (SÁ, 2003)
FO-CLS: F. oxysporum em celulose (RUIZ et al.,2006)
SC-ALG: S. cerevisiae
em alginato de cálcio (processo da Kyowa Kogyo Co. citado por
PRADELLA, 2001)
SC-COCO:
S. cerevisiae em fibra de coco (este trabalho)
SC-CAN: S. cerevisiae em bambu Phyllostachys caniço (este trabalho)
SC-GDU: S. cerevisiae em bambu Guadua angustifolia (este trabalho)
63
O tempo de fermentação dos sistemas leveduras-suporte não foi determinado, visto
que os ciclos de fermentação foram fixados em 24 horas. Por essa razão não foi
determinada a produtividade dos sistemas leveduras-suporte estudados. O tempo de
fermentação, essencial para a determinação de produtividade, refere-se ao tempo
necessário para que as células imobilizadas convertam totalmente os açúcares
fermentescíveis do meio de fermentação.
Apesar de não ter sido possível determinar diretamente a produtividade dos sistemas
leveduras-suporte, percebe-se que o sistema leveduras-coco pode apresentar produtividade
superior aos dos demais sistemas. A Figura 5.16 exibe o teor de ART dos meios
fermentados dos três sistemas, determinado ao final cada ciclo de fermentação. Pode-se
observar teor de ART menor no meio fermentado do sistema leveduras-coco do que nos
meios fermentados dos sistemas leveduras-caniço e leveduras-guadua (respectivamente
1,00 ± 0,19 g / mL, 1,22 ± 0,32 g / mL e 1,69 ± 0,49 g / mL). Como a duração dos ciclos
fermentativos foi a mesma para todos os sistemas, pode-se estimar que o sistema
leveduras-coco será capaz de metabolizar os açúcares numa velocidade superior ao dos
demais sistemas, apresentando, portanto, produtividade superior.
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
29 32 35 38 41 44 47 50 53 56 59 62 65 68 71 74 77 80 83 86 89
ART (g /100mL)
Ciclo de fermentão
Coco Caniço Guadua
Figura 5.16 ART dos meios fermentados provenientes dos sistemas leveduras-suporte
para os ciclos de fermentação 29 a 91.
64
Considerando-se que, se o tempo de fermentação fosse de 24 horas, os sistemas
estudados apresentariam as seguintes produtividades:
Sistema leveduras-coco:
produtividade
5
,
60
g etanol
100 mL
x
100
mL
0,1 L
x
1
24 horas
(15)
produtividade 2,33 g etanol.L
-1
. h
-1
Sistema leveduras-caniço:
produtividade
5
,
53
g etanol
100 mL
x
100
mL
0,1 L
x
1
24 horas
(16)
produtividade
2,31 g etanol.L
-1
. h
-1
Sistema leveduras-guadua:
produtividade
5
,
28
g etanol
100 mL
x
100
mL
0,1 L
x
1
24 horas
(17)
produtividade
2,20 g etanol.L
-1
. h
-1
Os valores obtidos seriam menores do que as produtividades de 4 a 8 g etanol.L
-1
.h
-1
dos processos industriais em fermentação contínua com células livres citados por
Vasconcelos (1998), Nigan et al. (1998) e Sá (2003).
65
6 CONCLUSÕES
Entre os três sistemas estudados, o leveduras-coco mostrou-se superior aos demais
quanto à rápida imobilização/adaptação das células frente aos sistemas leveduras-bambus.
Quanto às eficiências e rendimento em etanol, os sistemas leveduras-coco e leveduras-
caniço mostraram-se compatíveis. Os sistemas leveduras-bambus começaram a
apresentar capacidades fermentativas similares ao do leito com fibra de coco por volta do
74º ciclo fermentativo.
Em comparação com outros suportes utilizados para imobilização de Saccharomyces
cerevisiae, os estudados neste trabalho apresentaram-se compatíveis e até mesmo
superiores, em rendimento em etanol e eficiências de processo e de fermentação.
O tratamento do mosto com ácido sulfúrico comercial para manter o pH em torno de
4,2 e adição de 3 ppm de bactericida mostrou-se eficiente para o controle da infecção
bacteriana.
Quanto à eficiência dos processos, os leitos com coco e com caniço apresentaram
resultados compatíveis (respectivamente 82,30 ± 1,85% e 81,41 ± 2,91%), porém superiores
à eficiência do processo observado com leito de guadua (77,67 ± 3,67%). As eficiências das
fermentações dos três sistemas mostraram-se elevadas, em torno de 89% do valor teórico
(respecticamente para coco, caniço e guadua: 88,97 ± 1,73 %, 89,57 ± 1,76 % e 88,91 ±
2,38). Apesar de a viabilidade celular nos suportes ter sido baixa ao final dos experimentos,
isto não afetou a capacidade fermentativa dos três sistemas, o que evidencia que problemas
difusionais nas partículas dos suportes promoveram a morte de células nas camadas mais
internas. Contudo, as camadas mais externas devem ter mantido uma alta viabilidade
celular e conseqüente atividade fermentativa praticamente constante.
A boa estabilidade física dos materiais utilizados neste estudo, mesmo após 91 ciclos
fermentativos, reforçam suas utilizações potenciais como suportes de células para a
produção de etanol. São suportes que podem ser obtidos em grande quantidade nas
próprias regiões produtoras de etanol, de baixo custo, com processo de imobilização rápido
e reprodutível.
66
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