Estratégias Discursivas na CPMI dos Correios: O Caso Roberto Jefferson
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Introdução
depoimentos e quatro pronunciamentos
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), referentes ao esquema de compra de votos de
parlamentares e financiamento de campanhas eleitorais, em 2005 (escândalo do “Mensalão”).
No entanto, foi necessário redefinir o corpus. Assim, restringimos o trabalho à análise das
estratégias agenciadas por Roberto Jefferson em pronunciamentos e depoimentos dados
durante a CPMI dos Correios, tendo em vista a importância desse sujeito no evento.
O que nos motivou, a princípio, a realizar a pesquisa não foi propriamente o objeto
“estratégias”, mas, sim, o material discursivo que, depois de ter sido pronunciado, trouxe - e
continua acarretando - conseqüências sociais e políticas complexas: salientou a crise da
instituição política e do Partido dos Trabalhadores (PT) que, por sua vez, pôs a nu outra crise -
a crise da democracia representativa e de seus valores.
Conforme Corrêa (2005), após as denúncias terem vindo à tona, na e pela mídia, houve um
espanto geral por grande parte do povo brasileiro: o PT, cuja bandeira política levantada desde
sua criação em 1980 era a ética, estava, no decorrer dos acontecimentos discursivos, sob
análise em escândalos de corrupção
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. O autor salienta que os brasileiros ficaram surpresos não
só pelas denúncias que ocupavam as páginas da seção de política dos jornais nacionais -
compra de votos, tráfico de influência, desvio de dinheiro público, falsas declarações sobre os
gastos com campanhas, negociatas de cargos, nepotismo -, mas também pelo fato de o PT -
última esperança para muitos que votaram no Presidente Lula - ser o principal envolvido
nessas denúncias de corrupção. “Afinal de contas, não era qualquer partido. Era o PT
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Dos depoimentos, quatro foram dados à CPMI dos Correios, no Senado Federal, ao passo que os outros dois
foram realizados na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Já os pronunciamentos foram realizados na
Tribuna da Câmara dos Deputados.
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A palavra corrupção, de origem latina “corruptione”, significa corrompimento, decomposição, devassidão,
depravação, suborno, perversão, peita. Na linguagem política contemporânea, a corrupção sempre assume uma
conotação negativa, o que, visto em uma perspectiva histórica, não foi sempre assim. Historicamente, a
corrupção esteve associada ao conceito de legalidade, ou seja, corrupto era caracterizado aquele que não seguia
as leis existentes. Mesmo determinados termos extremamente negativos que atualmente são usados para designar
formas de corrupção, como a peita, o nepotismo e o peculato, não tinham essa conotação até há poucas décadas:
a peita estava instituída como um pacto entre os fidalgos e a plebe; o nepotismo era reconhecido como um
princípio de autoridade da Igreja na Idade Média, segundo o qual os parentes mais próximos do Papa tinham
privilégios e, posteriormente, a expressão “receber o boi” passou a ser usada para designar “troca de favores”,
pois o gado servia como uma forma de moeda em certas regiões rurais. O termo peculato, atualmente utilizado
para caracterizar favorecimento ilícito com o uso de dinheiro público, continua com essa referência histórica de
que para ter acesso a determinados privilégios é necessário um favor em forma de contrapartida. No Brasil se
associa a esse contexto histórico a assim chamada Lei de Gérson, ou seja, o comportamento de querer “tirar
vantagem em tudo”, pressupondo que os sujeitos aguardam o máximo possível de benefícios, visando
exclusivamente o benefício próprio. Esse tipo de comportamento, contudo, se adapta perfeitamente ao “espírito
capitalista”, como pré-condição esperada dos seres humanos numa sociedade centrada nos valores da economia
de mercado (ANDRIOLI, 2006, p. 1-2).