A Capoeira e os Mestres
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brincantes
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– fazedores de cantos, dançarinos e atores populares.
Portadores de uma imaginação criadora, esses guardiões de um saber
e de uma tradição, reinventam com música, dança e teatro o seu
mundo; tradição compreendida aqui não como coisa cristalizada, mas
viva e dinâmica. É um erro imaginar a tradição dissociada da
mudança. Portadora de sentido e significado, ela se encontra em
constante estado de transformação. Nenhuma tradição se mantém
imóvel. Como nos diz Georges Balandier (1997), “seu próprio
dinamismo é alimentado pelo movimento e pela desordem, aos quais
ela deve finalmente se subordinar” (BALANDIER, 1997, p. 94).
Ordem e desordem, continuidade e descontinuidade,
permanência e ruptura, tradição e transformação – termos geralmente
apresentados como antagônicos; contudo, em se tratando de tradição,
aqui são vistos como complementares. Lidar com tradição exige que se
atente não apenas à permanência, mas também à mudança. Essa
questão pode ter relação com o eterno processo de criação e recriação.
As estruturas se repetem, mas ao mesmo tempo é na repetição
que se tem a adequação, a recriação e a adaptação. Paul Zumthor
(1997) afirma que para manter a tradição tem de existir possibilidade
de reelaborar-se, readaptando-se. A Capoeira hoje existe num
contexto que não é mais aquele do século passado. A dinâmica da
sociedade possibilita um novo contexto, que por sua vez provoca
adaptações no campo capoeirístico. O que antes era diversão, hoje
também é trabalho.
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Brincantes – termo presente no universo da Cultura Popular. Aquele que brinca a
brincadeira, o brinquedo. É por exemplo, a pessoa que se veste para brincar:
Mateus no boi de reis; o Mestre Ambrósio, no Cavalo-Marinho, são os personagens
do pastoril, os dançarinos de um Coco de Zambê. São também os tocadores e
cantores da brincadeira. A atribuição da palavra “brinquedo” às manifestações
culturais tem relação com a visão que tinha as elites das práticas culturais dos
negros. Vistas como um folguedo, um momento de diversão. Conforme Ivaldo
Marciano, historiador e mestre do Maracatu Nação Cambinda Estrela, essas
manifestações vão mais além: “recriar o mundo africano em terras distantes”.
Informações colhidas no encarte do CD Maracatu Nação Cambinda Estrela.