Compensação ambiental: uma alternava para a viabilização de espaços livres públicos para convívio e lazer na cidade de São Paulo
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Os recursos direcionados para essa área são restritos, comparativamente a outros
investimentos realizados no município
2
. Mesmo tendo um custo para implantação
geralmente inferior ao de outros tipos de obras, a construção de praças e parques costuma
ser preterida na pauta das administrações públicas, quando comparada a obras de maior
visibilidade, como edificações ou melhoramentos viários.
Esse quadro começa lentamente a ser revertido de 2000 em diante, quando o Plano
Diretor Estratégico do Município passa a refletir o aumento da preocupação com as
questões ambientais ocorrido nos anos 1980 e 1990. Exemplo disso são as mobilizações da
Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) e Subprefeituras para criação de parques
lineares
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na cidade, intensificadas a partir do ano de 2007.
O descaso do Poder Público também pode ser observado com relação à inadequada
distribuição dos espaços livres
4
. Muito poucas foram as iniciativas sistematizadas para
implementação de áreas para lazer e convívio na cidade
5
. Quando existiram, as ações se
voltaram tradicionalmente para o atendimento das áreas centrais e de elite, que possuem
maior visibilidade e retorno político.
Prova disso é a inexistência (até o ano de 2008) de critérios legais que orientem a distribuição
de espaços livres no município. Como resultado, as áreas mais carentes são aquelas que
menos têm acesso aos espaços livres públicos para recreação e convívio. Somente a partir
dos anos 2000, com o surgimento de alternativas como o Programa Centros de Bairro
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,
o investimento em espaços livres para bairros populares torna-se uma prática recorrente,
embora ainda incipiente.
Sobrecarregados pela demanda reprimida, os espaços livres existentes sofrem ainda com a
falta de manutenção e a gestão inadequada – apenas mais uma evidência do desinteresse
do Poder Público com relação a esse assunto.
Paralelamente a todos esses problemas, as possibilidades reais de atuação do Poder Público
no sentido de suprir a carência de espaços livres na cidade de São Paulo tornam-se cada vez
mais restritas. Tal fato se deve à redução do estoque de áreas disponíveis para este fim.
2. A parcipação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente
no orçamento municipal aprovado entre os anos de 2000 e
2004 não superou o reduzido patamar de 0,73% do total (esse
valor ocorreu no ano de 2003). Nesse mesmo ano, os gastos
com pavimentação de vias públicas correspondiam a 1,02% do
orçamento total do município. SÃO PAULO (cidade). Secretaria
do Verde e do Meio Ambiente. IPT. GEO cidade de São Paulo:
panorama do meio ambiente urbano. Brasília: PNUMA, 2004.
p.27 e 147
3. O Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo (Lei
Municipal 13.430/2002), em seu art. 107, menciona a busca
por ”ampliar os espaços de lazer avo e contemplavo, criando
progressivamente parques lineares ao longo dos cursos d’água e
fundos de vales não urbanizados”.
4. Em 2002, de um total de 370 praças com mais de 6000m2
na cidade de São Paulo, apenas “[...] os distritos Sé, Alto de
Pinheiros, Vila Formosa e Morumbi dispõem, cada um deles, do
maior número [...], entre 15 e 24. Grande parte dos distritos,
num total de 46, possui apenas, no máximo, 5 praças.” São
Paulo (Cidade). Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. IPT.
GEO cidade de São Paulo: panorama do meio ambiente urbano.
Brasília: PNUMA, 2004. p.109
5. A medida mais signicava nesse sendo, até o ano de 2008,
foi o Plano de Áreas Verdes para a cidade de São Paulo de 1967,
coordenado pelas arquitetas paisagistas Miranda Marnelli
Magnolli e Rosa Grena Kliass.
6. Ação realizada pela Empresa Municipal de Urbanização
(EMURB) entre os anos de 2001 e 2004, responsável pela
implantação de 49 praças, distribuídas pelas subprefeituras
do Município de São Paulo. Cf. SAKATA, Francine Gramacho. O
projeto paisagísco como instrumento de requalicação urbana.
Dissertação de Mestrado. São Paulo: FAUUSP, 2004. p. 103-225