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descontinuidades paulistanas
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o conceito de estrutura nos modelos de interpretação de são paulo
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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por
qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e
pesquisa, desde que citada a fonte.
Geórgia Novis de Figueiredo
Figuei
redo, Geórgia Novis de
F475c Descontinuidades Paulistanas:
continuidades Paulistanas:continuidades Paulistanas:
continuidades Paulistanas: o conceito de estrutura nos
modelos de interpretação de São Paulo/ Geórgia Novis de Figuei-
redo. - - São Paulo, 2008.
195 p. : il.
Dissertação (Mestrado – Área de Concentração: História e
Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) – FAUUSP.
Orientador: Paulo César Xavier Pereira.
1.Planejamento territorial urbano (História) 2.Áreas metro-
politanas (Aspectos político-sócioeconômicos) – São Paulo (SP)
3.Estruturas urbanas (Aspectos socioeconômicos) I.Título
CDU 711.4(091)
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descontinuidades paulistanas
continuidades paulistanascontinuidades paulistanas
continuidades paulistanas:
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o conceito de estrutura nos modelos de interpretação de são paulo
Geórgia Novis de Figueiredo
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo para a obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo
Área de Concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo
Orientador:
Prof. Dr. Paulo César Xavier Pereira
São Paulo
2008
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À minha família
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Agradecimentos
AgradecimentosAgradecimentos
Agradecimentos
Agradeço ao amor:
Pedro, Zu, Vi, Peco, Maxi, Therê, Henrique, Xande, Ina, Tios, Ná, vovós
Amigos, tantos!
Em especial:
Lu (s), Estela, Ju, Zappia, Maya, Paulinha, Pedrão, Póla, Dã, Ju, Rê, Tati,
Paulinho, Paulão, Bel, Van, Sá, Alê, Carol, T, Cá, Mô, Tata, Fabi, Jordana, Menino,
Fábio e Marcli.
Amigos todos, operacionalmente ou pela enorme paciência e compreensão.
E a tantos da FAU, sempre amigos:
Regina, Rejane, Estelita, Filomena e Maria José,
Silvia, Geralda, Isa, Dina
Colegas de turma, bem como a suas idéias
À banca de qualificação, que me trouxe ao planeta
Ângela Maria Rocha e Paulo Bruna
Professores sempre queridos:
Oseki, Malu e Maria Ruth
E ao Paulo César, referência sempre,
que deixei de agradecer muitas vezes...
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Resumo
ResumoResumo
Resumo
A noção de “Estrutura”, como conceito, é estudada nas diversas
interpretações de modelos atribuídas a São Paulo na segunda metade
do século XX. Nesse período o conceito é adotado nas ciências
urbanas de duas maneiras: como forma de entender o meio
sistematizando-o, e como forma de intervenção: ora com uma estrutura
nova, reorganizando o espaço, ora elegendo os elementos que seriam
capazes de regenerá-lo.
A problemática consiste na elaboração de modelos inequívocos que se
mostram excludentes e extremamente simplificados a ponto de não
identificarem a cidade, ou seja, o método elimina o processo de
produção do espaço na medida em que aprisiona seus elementos,
resume suas relações e presume seus efeitos. Por outro lado, se mostra
extremamente eficiente na investigação do espaço, enquanto junta as
pistas para a obtenção do modelo de modo que a análise de sua
evolução compõe um processo de se “pensar a cidade”.
Assim procura se discutir até que ponto o conceito “estrutura” um
conceito que interfere na produção do espaço, em diferentes épocas.
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66
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Abstract
Abstract Abstract
Abstract
The Idea of “Structure” as a concept, is studied in diverse interpretations
of urban models identified or outlined for São Paulo in the second half of
the XX century. In this period that concept is adopted in urban sciences
in two situations: to understand the space of the city trying to
systemize it – and as one way to deal with this city: some times as a new
structure, re-organizing the space, in others by choosing the elements
that would be able to regenerate it.
The problem is the fact that this way of working with spaces use to
elaborate unequivocal models that uses to show extremely simplified
and exculpatory systems that won’t identify the city if it is reapplied, in
other words, these methods eliminate the process of production of the
space, because it arrests its elements, it summarizes its relationships
and it presumes its effects. On the other hand, the concept of “structure”
is so efficient in the inquiry of the space, while it gets informations to
choose elements to built the model in this way, the study of
“structures” composes a process of "thinking the city".
So, it studies how the concept of “structure” works in the production of
the spaces, at different times in history.
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Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução ..........................................................................................
.......................................................................................... ..........................................................................................
..........................................................................................
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1.
1. 1.
1. A origem do termo e a construção de sua relevância
A origem do termo e a construção de sua relevânciaA origem do termo e a construção de sua relevância
A origem do termo e a construção de sua relevância ...................
................... ...................
...................
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2525
25
1.1 Origem do Termo ..................................................................... 26
1.2 Estrutura como conceito .......................................................... 28
1.3 Disseminação do conceito ...................................................... 34
1.4 O uso conceito de “estrutura” nas questões urbanas ............ 41
2.
2.2.
2. A estruturação de São Paulo
A estruturação de São Paulo A estruturação de São Paulo
A estruturação de São Paulo nos anos 50:
nos anos 50:nos anos 50:
nos anos 50:
uma leitura da “aglomeração paulistana”
uma leitura da “aglomeração paulistana” uma leitura da “aglomeração paulistana”
uma leitura da “aglomeração paulistana”......................................
............................................................................
......................................
59
5959
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2.1 Indícios históricos: o reconhecimento de
elementos estruturais e sobreposição de “estruturas” ......... . 65
2.2 Leitura da cidade – A estrutura da São Paulo nos anos 50 .... 74
2.2.1 O aglomerado – SAGMACS 1957 .......................... 74
A estrutura da expansão paulistana .................... 75
A estrutura urbana ............................................... 78
Estrutura: problemas e soluções assinalados .... 84
2.2.2 A análise expansionista de Langenbuch ................ 91
2.3 Anos 50: a estrutura compreendida ......................................... 98
2.3.1 A Reestruturação da SAGMACS ............................. 100
2.4 A Estrutura do crescimento
2.4 A Estrutura do crescimento2.4 A Estrutura do crescimento
2.4 A Estrutura do crescimento ..........................................
.......................................... ..........................................
...............................................
..........
............
..............
.......
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3.
3.3.
3. Geografia e Economia
Geografia e Economia Geografia e Economia
Geografia e Economia
os “seres urbanos”
os “seres urbanos” os “seres urbanos”
os “seres urbanos” ..............................
.............................. ..............................
...............................
..
....
......
...
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3.1 Abordagem geográfica de Langenbuch: dos subúrbios à periferia 116
3.2 A aproximação da geografia e economia ................................ 122
3.3 Periferia: protagonista urbano .................................................. 138
3.3.1 Avaliações de São Paulo 1975: a estrutura da pobreza 139
3.4 A estrutura urbana e visibilidade das contradições
3.4 A estrutura urbana e visibilidade das contradições3.4 A estrutura urbana e visibilidade das contradições
3.4 A estrutura urbana e visibilidade das contradições .
. .
..........
..................
...............
............
.......
..
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4.
4.4.
4. Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades
Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades
Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades ..............
.............. ..............
...............
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....
......
...
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4.1 Releitura do modelo “centro-periferia” ......................................... 154
4.2 Estruturas: dispersão do consenso .............................................. 161
4.2.1 A estrutura de palcos ......................................... 161
4.2.2 A estrutura de gradientes .................................. 167
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano .............................
............................. .............................
.............................
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Considerações finais: o conceito sem seu sentido
Considerações finais: o conceito sem seu sentidoConsiderações finais: o conceito sem seu sentido
Considerações finais: o conceito sem seu sentido ...........................
........................... ...........................
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Bibliografia ...........................................................
Bibliografia ...........................................................Bibliografia ...........................................................
Bibliografia ..........................................................................................
..............................................................
...............................
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190190
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Abreviaturas
AbreviaturasAbreviaturas
Abreviaturas utilizadas
utilizadas utilizadas
utilizadas
FAUUSP:
FAUUSP: FAUUSP:
FAUUSP: Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo
SAGMACS:
SAGMACS: SAGMACS:
SAGMACS: Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas
Aplicadas aos Complexos Sociais, criada em 1947
SEMPLA:
SEMPLA: SEMPLA:
SEMPLA: Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo
CEPAL:
CEPAL: CEPAL:
CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, criada
em 1948
(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
O estudo procura discorrer sobre o conceito de estrutura como uma
forma de compreensão do espaço urbano paulistano na segunda
metade do século XX, procura identificar como a cidade foi entendida e
de que forma essas análises contribuíram para a cidade que se
construía.
Para isso, buscar-se-á mapear as diversas “estruturas” urbanas de São
Paulo, comentando-se as formas de se entender essa figura de
linguagem no espaço, identificando os pensamentos dominantes e
seus efeitos na constituição da cidade, quando se analisa sua
“estrutura” que de metáfora tornou-se um modelo de metonímia,
elegendo partes pelo todo.
Dessa forma, o objeto de estudo desse estudo é a interação entre
interpretação e produção: relacionando estudos urbanos e
planejamento na cidade de São Paulo. Assim procura vínculos entre
como se entendeu e se tratou o meio urbano, tendo como instrumento
o conceito de “estrutura” como metodologia de análise e como forma
de propostas.
A análise do “conceito de estrutura” parte de um pressuposto:
O conceito como construção filosófica, tirado do espaço e novamente
recolocado nele, implica na elaboração de modelos conceituais, essa
forma tem poder explicativo muito eficiente para se compreender o
meio, e se explicar também. Porém a sua reaplicação (como
intervenção) não conforma essa idéia, ou ainda, do modelo não se
enxerga as peculiaridades de uma cidade que é um processo
contínuo.Desta o conceito tem seus limites, principalmente por formular
modelos que o limitados na sua própria adoção como método.
Esses modelos não se decompõe de modo a restabelecer a
compreensão da cidade.
O comentário de Otilia Arantes (1997), presente na dissertação de
Giselle Tanaka
1
em que comenta o pensamento crítico brasileiro se
encaixa na formulação desse problema: dotar o meio gelatinoso de
uma ossatura moderna que lhe sustentasse a evolução”, ou seja,
estruturação, como método, atribui sustentação a idéias dispersas que
analisadas em conjunto devem interagir de maneira a formular um
modelo que pode ser mexido, pode ser projetado. Esse modelo tem a
necessidade de ser coerente, de forma que ao se construir ele sempre
será uma formulação gica. A estrutura quando é atribuída, ou
identificada em um meio nomeia e classifica diversos elementos, que
ao longo do processo muitas vezes elegem sujeitos que passam a
protagonizar e modificar o processo, o que pode alterar a idéia de
“equilíbrio” inerente ao primeiro sentido do conceito estrutura.
Essa idéia, no entanto, na formação de São Paulo pode ser encarada
de diversas maneiras: uma estrutura expansiva, gradiente, nuclear, uma
1
TANAKA,
Giselle Megumi Martino “Periferia:
Conceito, Práticas e Discurso - Práticas
Sociais e Processos Urbanos na Metrópole de São Paulo”
Dissertação de Mestrado,
FAUUSP setembro de 2006
estrutura dual, de sobreposições e oposições, uma reestruturação a
partir de focos, sempre utilizando, se justificando e visando esse
mesmo e único conceito. No entanto estrutura é uma idéia e não um
espaço, a existência física inerente ao objeto, a cidade, nem sempre
condiz à materialidade atribuída a seu conceito. Assim o problema é
justamente discutir como essa idéia se torna um elemento do espaço e
não sua totalidade, muitas vezes compreendido como um sujeito
tendencioso e multifacetado, ou seja, um idéia única que torna-se
esvaziada de seu conteúdo, porém extremamente adaptável,
permeando diversas áreas do conhecimento.
São Paulo, 454 anos em 2008: “São Paulo tem caráter
permanentemente metamórfico”, disse o poeta Haroldo de Campos
2
.
Como essa afirmação que trata da cidade sempre em mudança se
relaciona à problemática dessa monografia? Ludovico Quaroni define
sobre o que é a estrutura da cidade uma entidade autônoma de
dependências internas” assim se relacionam as partes com nculos
uma nas outra, ou seja, que uma é se a outra também for, a idéia de
“permanência” é superada pela idéia de “relação”, porém constantes
mudanças não explicitam como poderia ser interpretada qualquer tipo
de “estrutura”, assim a longevidade de elementos e fatos urbanos
podem indicar o que seriam essas relações na medida em que elas se
tornem identificáveis. Ou seja, embora não seja considerada um
elemento fundamental, a questão da permanência seria um atalho para
se notar a entidade, que emergiria em diversas abordagens como a
2
Programa Expresso Brasil “A São Paulo de Haroldo de Campos” TV Cultura 1998
estrutura da cidade. Segundo o poeta, o fundamental e permanente
em São Paulo é a metamorfose, a mudança, que nem sempre é
sucessiva, porém é constante. Assim, essas mudanças serão
analisadas em uma macro-escala, trabalhando as diversas leituras de
“estrutura” da cidade a partir dos anos 50.
Para esse estudo adotaremos a idéia de evolução das “estruturas”,
porém é importante destacar desde que o objeto é um conceito,
como foi trabalhado em São Paulo partir dos anos 50. É importante a
afirmação que as formações estruturais tendem a apresentar
descontinuidades entre elas, porém, sendo elas construções do
pensamento podemos analisar a relação entre o conceito e o espaço
urbano em termos de processo desses pensamentos.
Essa abordagem o é uma idéia estatística ou exata, será trabalhada
em termos de predominância como referência em análises e propostas
para a estrutura paulistana, ou seja, será um revisão de interpretações
que se mostrem dominantes em certos períodos em relação ao que era
ou deveria ser a “estrutura paulistana”, formando modelos e sistemas
que adquirem relevância para as ciências urbanas da cidade, forma
modelos dominantes a partir dos quais se entende a cidade para que
esta seja trabalhada. Evidentemente essas interpretações não o
únicas nem sucessivas, trata-se da hegemonia da idéia no meio em
que se tornam referências.
O conceito de “estrutura”, a partir dos anos 50, com a corrente filosófica
do estruturalismo, torna-se importante para várias ciências e
fundamental para as ciências urbanas. A fundamentação teórica do
conceito, e sua adoção às teorias urbanas são a temática do primeiro
capítulo 1. “A origem do termo e a construção de sua relevância”, ainda
numa ordem distante de análise em relação à São Paulo, porém com as
condições que tornaram a idéia um método.
Na interpretação das “estruturas de São Paulo”, apesar de datarmos
este trabalho com foco a partir da década de 50, se faz necessário uma
breve apresentação dos primeiros 400 anos, pois essa exposição existe
em vários destes estudos que buscam a essência, a estrutura
paulistana”, encontrando traços comuns para a identificação de outras
estruturas paulistanas, nas mais diversas versões.
Essas observações se baseiam principalmente no registro de viajantes,
o que indicava a importância de São Paulo como rota, como ponto
estratégico entre litoral e interior do Brasil em diferentes fases da
formação nacional. Isso ressalta que apesar de todos os relatos
descreverem a cidade como um vilarejo com uma escola, ou como um
entreposto, ela tinha uma localização e uma função que organizava
uma região logo em sua fundação tinha assim, uma diferenciação
geográfica. Embora esse o seja um dos pontos fundamentais dessa
monografia, a estrutura paulistana começa a ser esboçada a partir
desses traços comuns e marcantes da formação da cidade.
Para essa exposição alguns autores serão utilizados, bem como
argumentos celebrados sobre a formação da cidade, como a idéia de
reconstrução, que acabam por se agregar ao caráter da permanente”
mudança da cidade. O estudo da SAGMACS apresenta linhas gerais da
base do desenvolvimento paulistano, porém a obra de Langenbuch
se
detém mais nesse assunto. Esses serão os textos sicos para essa
introdução. Além desses, outros autores também serão utilizados como
referência na busca de se formar um contexto pra o desenvolvimento
da estrutura paulista, atingindo o questionamento proposto.
O estudo da SAGMACS e da Comissão de Pesquisa Urbana do
Município de São Paulo entregue entre 1957 e 1958
3
A Estrutura Urbana
da Aglomeração Paulistana dirigido pelo Padre Lebret
4
, é o principal
estudo que origem a esse debate, a conformação da primeira
“estrutura” exposta nessa monografia. Feito durante a década de 50,
tem a abordagem e método da geografia urbana para a interpretação
da cidade, apresentando um estudo completo e detalhado sobre
morfologia, ocupação, população, infra-estrutura e potencialidade da
cidade de São Paulo. É complexo também por ter a preocupação
constante de evidenciar e explicar todos os métodos, procedimentos e
referências além de avaliar os resultados. Primeiramente o estudo
apresenta dados que permitem a identificação da estrutura, ou seja,
denomina, loca e hierarquiza os elementos fundamentais da cidade, a
relação entre eles e também com a região. Com isso desmistifica a
3
Cinco partes mimeografadas e anexo, não publicados e editados, que foram
entregues em partes.
4
É referenciado em muitos estudos como uma publicação de sua autoria, com seu
nome, Louis Joseph Lebret.
idéia do “aglomerado” contida no título, para que entendesse seu
funcionamento e os obstáculos para seu desenvolvimento.
Basicamente, a cidade é regida por um centro e tem em torno desse,
outros focos que polarizam pequenas atividades, porém ainda são
completamente dependentes do centro. Sobretudo por haver condições
desiguais para todos os lados e o centro seria um ponto comum como
provedor, porém também com acessibilidade desigual. Durante a
evolução do estudo da SAGMACS, a entidade é incumbida de elaborar
um plano estratégico para o desenvolvimento “orgânico”
5
da cidade, ou
seja, propõe uma nova estrutura a partir da existente com a
reorganização dos elementos essenciais e a superação ou correção
dos elementos falhos identificados, ou seja, uma reestruturação. Esse
processo remonta exatamente o debate aqui proposto: o conceito de
“estrutura” como método de leitura e estrutura” como proposta de
produção do espaço.
Essas considerações serão analisadas no capitulo 2: “A estruturação
de São Paulo nos anos 50: uma leitura da “aglomeração paulistana”,
que além dos relatórios da SAGMACS, expõe também as análises de
Langenbuch
6
como referência para a interpretação de estrutura da
época. No período em questão, outros trabalhos principalmente de
cunho da geografia urbana formam elaborados na interpretação de São
Paulo, alguns em comemoração ao IV Centenário, mas todos pela
necessidade de se entender a cidade que se duplicava a cada década.
5
Termo “idealizado” pela entidade, como veremos a diante
6
LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da Grande São Paulo: estudo de
geografia urbana. Rio de Janeiro: IBGE, 1971
Destacam-se os estudos de Aroldo de Azevedo e de Nice Lecocq
Müller , porém os trabalhos da SAGMACS foram escolhidos para essa
pesquisa pela precisão da proposta: a utilização de “estrutura”, como
método de análise e intervenção.
Esse modelo de estrutura perduraria até a formação de um outro
sistema: ainda dual, identificado na literatura como um colapso, o
“centro’ a e “periferia” se transformam quase num centro “versus”
periferia, ou seja, são tratados como dois elementos: a “entidade
autônoma” é partida, são criadas duas entidades autônomas, pelo
menos nas análises. Essa leitura é plenamente dominante a partir da
década de 70.
Nos anos 60 o Brasil entrou na fase de desenvolvimentismo, grandes
investimentos, planos nacionais de desenvolvimento, regidos por um
Estado forte, controlador. São Paulo, da mesma maneira que recebia
boa parte dos investimentos, já era o estado que mais produzia e
diversificava os recursos. A infra-estrutura industrial se concentrava no
estado que também detinha os maiores mercados; de mão de obra, de
consumo, de capitais e como não poderia deixar de ser, de empregos.
Aqui era o “lugar” do crescimento nacional, tornando-se foco de
atração de todo o país. A idéia desse desenvolvimento tinha o caráter
de “mancha de óleo”, ou seja era proporcionado por uma fonte
alimentadora que fatalmente se espalharia procurando atingir o entorno.
Esse modelo mononuclear se expandindo era a leitura urbana e
economica predominante também já nos anos 50, de maneira que
essas leituras se misturam na interpretação urbana nessa época. A
concentração dos recursos, portanto, indica um desenvolvimento
desigual que procuraria alavancar o restante.
Exatamente como essa figura da “mancha de óleo urbana”
decodificada na estrutura urbana nos anos 50, a estrutura econômica
também era formada por dois elementos entre um setor em pleno
desenvolvimento e outro que se portava como se fosse na reserva
aguardando que o acesso lhe atingisse. Ou seja a compreensão da
estrutura econômica do “milagre” brasileiro foi transposta exatamente
como formulada ao espaço locando essas interpretações. A “teoria
da marginalização” que era dominante no meio econômico, aplicada ao
espaço, separa a cidade o centro é o local do desenvolvimento é o
formal, é legitimo, e a periferia se encontrava á margem, excluída desse
desenvolvimento, porém com a condição de uma “espera” de uma
situação promissora que incentivava seu crescimento quantitativo.
A primeira aproximação da economia com a geografia urbana tinha
um modelo semelhante nas duas ciências, portanto. Assim entendia-se
a cidade como uma estrutura dual, cuja relação de uma com a outra é
de dependência - elas seriam identificadas uma por centro” e outra
por “periferia”, entendidas sem relação cotidiana, porém como uma
unidade no futuro. A grande diferença entre a relação das partes
identificadas nos anos 50 era que embora existisse uma situação de
diferença entre elas, o centro ainda era a referência e a periferia não era
condenada a própria sorte, era polarizada e ainda que dependente fazia
parte do todo, bem como o centro funcionava com essa área de
escape também. Ou seja, entre os anos 50 e o começo dos anos 70,
gradualmente a cidade vai adquirindo a interpretação econômica, uma
vez que o modelo geográfico que a explicava condizia com essa outra
estrutura, de maneira a confundir os dois sujeitos o social e o
espacial, sem serem o mesmo.
Ainda com essa abordagem econômica da estrutura urbana, o modelo
econômico tem uma ruptura na superação do dualismo, no entanto a
abordagem urbana faz uma interpretação ainda dual, porém a entidade
autônoma, agora é eleita como protagonista. A difícil relação dos
elementos vistos geograficamente e socialmente segregados teriam
outra abordagem a partir do texto “Crítica à Razão Dualista” de
Francisco de Oliveira, de 1972
7
, que fez uma reviravolta ao vincular a
idéia do “moderno” e do “arcaico”, desmistificando a mancha de óleo e
mostrando um desenvolvimento relacionado e baseado na
desigualdade, juntando os mundos que numa visão dominante estavam
conceitualmente separados.
Esse texto se tornou uma referência, porém de difícil interpretação,
muitas idéias precisavam ser mudadas; e, ao urbanismo, a idéia das
partes separadas e tragicamente associadas, de um crescimento
patológico reforçam a idéia da periferia como excluída do
desenvolvimento torna-se eleita como o individuo capaz de regenerar.
As partes feias, tortas, fracas, ou as legais, ricas são compreendidas
7
Reeditado em 2003, pela editora Boitempo, São Paulo, com a revisão incorporando o
como um mesmo organismo, dilacerado que sobrevive, e a diferença
é a base da relação dos elementos, é a estrutura fundamental que irriga
o ser que em 2003 será chamado de “ornitorrinco”, completo mas
esquisito, porém a visão urbana na década de 70 espacializou a
diferença nos mesmo termos de centro e periferia. A intensificação dos
trabalhos direto nos pontos fracos (antes apenas considerados
inatingidos) será a forma de arrumar essa figura bizarra. Porém é
importante ressaltar que, novamente, uma teoria econômica foi levada
ao espaço, não precisando as peculiaridades de local que a cidade
tem. Além disso, a questão genérica da localização ainda como
“periferia e centro” que não necessariamente tem as bases econômicas
e geográficas idênticas, tornam o sujeito absolutamente conceitual,
quando ele é , primordialmente, um espaço físico, portanto uma difícil
associação de idéias.
A grande referência dessa pra essa compreensão adotada nesse
estudo (na parte em que essa idéia será desenvolvida, capítulo
3.”Geografia e Economia os “seres urbanos”” é o livro: “São Paulo
1975 Crescimento e Pobreza”
8
o Título já carrega a idéia da cidade
com duas realidades, além disso, como será demonstrado, faz parte da
compreensão da declaração da periferia como autônoma, como um ser
social.
ensaio “Crítica á Razão Dualista – O Ornitorrinco”
8
Estudo realizado por pesquisadores do CEBRAP, coordenados por Lúcio Kowarick e
Vinícius Caldeira Brant, edições Loyola, São Paulo, 1976
A partir dessas análises, portanto, a periferia, em muitas abordagens
urbanísticas será tratada não apenas como a parte excluída, mas como
o sujeito que por essa extrema carência poderia ser o condutor de
novos processos sociais, capaz de impulsionar a transformação da
sociedade (e da cidade, que passa a ser segundo plano nessas novas
idealizações – a estrutura fundamental era a sociedade, sendo a cidade
entendida como reflexo dela). Esse desenvolvimento ainda será no
capítulo 3, expondo a reificação da periferia.
No capitulo 4: “Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades” a
visão econômica ainda era predominante no começo dos anos 90, e
pulverizou a periferia da cidade para novos experimentos que seriam
sementes de transformação. Porém se volta ao espaço, verificando
quebra do modelo com a “periferia no centro e vice-versa”, entendendo
apenas o conceito social – um novo modelo – uma nova estrutura
urbana identificada e outras ainda propostas. No entanto ainda que
essas propostas diversifiquem interpretações as de estrutura urbana, a
estrutura econômica ainda era a mesma, funcionando o espaço como o
lócus da desigualdade que então começa a ameaçar o
desenvolvimento. Ainda assim se entendia uma estrutura com a “lógica
do caos” o caos não pode ser considerado uma estrutura, porém a
lógica sim, explicando essa aparente falta de senso. Essa idéia é
bastante desenvolvida no trabalho “São Paulo: Crise e Mudança”
9
,
dirigidos por Nadia Somech, Lucio Kowarick e Raquel Rolnik. Neste
trabalho se entende melhor a ligação entre a pobreza e a miséria, entre
9
SEMPLA, “São Paulo: Crise e Mudança”, São Paulo, PMSP, SEMPLA/ Brasiliense.
o legal e o clandestino, trabalhando com várias oposições, reais; que,
no entanto, não se representam sempre geograficamente – ou seja há a
desigualdade no espaço, mas ela não se explica pelo espaço.
Esse é o ultimo título de referência primordial para essa análise do
conceito de “estrutura” em o Paulo cumprindo cinco décadas da
evolução de um conceito, que neste mesmo meio século se firma nas
questões urbanas portanto essas fontes bibliográficas aqui citadas
são principalmente os documentos em que pesquisaremos as formas
do conceito (que sempre procura formas) em São Paulo tanto na
interpretação da cidade mutante, quanto na proposta da cidade mais
justa, sempre procurada.
1990
(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
1.
1.1.
1. A origem do termo e a construção de sua relevância
A origem do termo e a construção de sua relevância A origem do termo e a construção de sua relevância
A origem do termo e a construção de sua relevância
O termo “estrutura” tem origem técnica, remete à “construção”, como
será exposto nesta etapa do estudo. Este primeiro sentido demonstra
sua origem como um objeto concreto, que por outro lado, se perpetua
no século XX muito mais como uma metáfora de si mesma, na hora em
que se forma como um conceito, muito utilizado na medida em que
dota às idéias genéricas justamente alguma noção de “concreto”.
Nesta parte do estudo será exposta primeiramente esta origem. Depois
disso se buscará discorrer brevemente sobre a adoção e a aplicação
desse conceito nos mais variados campos intelectuais, para depois
marcar sua introdução nas ciências urbanas. Neste ponto
remontaremos suas origens para analisar tanto as formas que ora esse
emprega na sua intervenção no meio ora adquire no trabalho de
identificação dos componentes urbanos. Essas origens se tornam
particularmente interessantes, pois destacam a interdisciplinaridade de
se utilizar “estrutura” no meio urbano, como o próprio conceito em
questão que migrou por várias áreas, até adquirir formas específicas.
Isso, de certa forma, é uma das vertentes do problema a ser discutido
nessa monografia. Além disso, sua adoção significa uma mudança de
estratégia para a interação com o meio, de forma que é importante se
destacar sua origem no urbanismo para entender a evolução na análise
de São Paulo, como esse trabalho se propõe.
Nesta breve apresentação é importante ressaltar que muito dessa
discussão, em relação à conceituação, é baseada no estudo do termo
que Maria Akemi Sakaguchi
10
apresenta em seu doutorado;
ressaltando, porém, que essa proposta o utiliza para outros objetivos,
debatendo de maneira diversa.
1.1 Origem do Termo
1.1 Origem do Termo1.1 Origem do Termo
1.1 Origem do Termo
A etimologia da palavra estrutura segundo Houaiss é:
at. structúra,ae 'ação ou modo de edificar ou de
construir, aquilo que se construiu; estrutura,
organização; disposição, arranjo', rad. de
structum, supn. de struo,is,uxi,ctum,ère 'reunir,
juntar, dispor, arranjar, maquinar, tramar; levantar,
erguer, construir'; ver -stru-; f.hist. 1561 strutura,
1677 estruitura, 1709 estructura, a1720 structûra
Temos ainda conforme pesquisa de Sakaguchi:
“radical Structure
StructureStructure
Structure, do latim structura
structurastructura
structura (supino
structum
structumstructum
structum construir, aparentado de longe com
sternere
sterneresternere
sternere, cujo radical é str
strstr
str, encontrado no grego ,
com origem no indo-europeu e sânscrito Star
StarStar
Star),
10
SAKAGUCHI, Maria Akemi. O Espaço das Infra Estruturas: da Cidade Bela à Cidade
Eficiente.São Paulo, 2005 Tese de Doutorado- FAUUSP
uma palavra que teria se originado entre os
séculos XIV e XV”
11
Em ambas abordagens, “construção” é o elemento principal,
representa tanto um objeto, quanto carrega neste significado atributos
de um processo finalizado como obra, principalmente quando se
destaca a idéia de “reunir, arranjar” com o objetivo de fazer algo. Além
disso, essa origem se torna também interessante ao se pensar na
questão do método, na medida em que uma ordem cronológica
implícita; o “arranjo”, a “maquinação” acompanham a idéia da
construção antes desta estar concluída, remetendo idéia de
planejamento, de uma forma organizada de se fazer.
Como ilustração, essa origem do termo, ainda se mostra
particularmente interessante pois a palavra, no seu sentido original, se
afirma em um momento em que a construção, a arquitetura expõe sua
condições de estabilidade como a forma plástica a ser desenvolvida.
Os séculos que acima referenciam a origem do termo “estrutura”
permitem a ligação com a arquitetura então desenvolvida.
Evidentemente a forma de sustentação, como existência é bem anterior
a isso, porém a sua denominação –aparece no momento em que o
destaque da arquitetura produzida é justamente esse: entre os séculos
XIV e XV a arquitetura gótica se desenvolveu ostentando a riqueza
estrutural como a maneira plástica de criar uma simbologia capaz de
atingir a todos sensivelmente: uma compreensão geral, que torna
11
cf: SAKAGUCHI, op cit, p.9
quase natural a “construção”, uma forma necessária para sua exibição
sem questionamentos a estrutura da catedral fala o idioma de todas as
classes sociais, já que tanto as pessoas cultas como o povo leigo
podem entender seu simbolismo
12
Essa citação, além de demonstrar o
valor que o modo de construir tinha naquele momento mostra também
a força de legibilidade de “estrutura”.
Porém as palavras, principalmente quando extravasam seu sentido
original se propagando por diversas áreas, têm em seu uso como o que
realmente importa. Embora a origem técnica seja a base para a
formação dos atributos do conceito, a importância do termo é seu uso
no campo do urbanismo, dentro dos objetivos propostos nessa
monografia, que para entender é necessário expor sua consistência
como conceito em diversas áreas do conhecimento.
1.2 Estrutura como conceito
1.2 Estrutura como conceito1.2 Estrutura como conceito
1.2 Estrutura como conceito
Para essa discussão, tomaremos autores citados por SAKAGUCHI
13
, na
exposição de “estrutura” como conceito fundamental para a produção
do conhecimento no século XX.
Para Jean Piaget
12
GYMPEL, Jan. História de La Arquitetctura – de la antiguedad a nuestros dias.
Barcelona, Konemann 1996, p.30
13
citações feitas nas páginas 30, 31 e 32, as notas bibliográficas a seguir estão todas
nestas páginas também.
“existe estrutura no seu aspecto mais geral,
quando os elementos estão reunidos numa
totalidade que, como tal, apresenta determinadas
propriedades e quando as propriedades dos
elementos dependem inteira ou parcialmente
destes caracteres da totalidade”
14
Para Claude Lévy-Strauss:
“apenas é estruturada a disposição que
corresponde a duas condições: trata-se de um
sistema regido por uma coesão interna; e a esta
coesão, inacessível na observação de um sistema
isolado, revela-se o estudo das transformações,
graças as quais são encontradas propriedades
semelhantes em sistemas aparentemente
diferentes”
15
Segundo Birou
“nas ciências sociais, econômicas, em física, em
química, etc., estrutura é o modo de ajustamento
de um conjunto de coisas, de partes ou de forças
que estão reunidas de modo a constituírem um
todo específico. Cada vez que se fala em estrutura
é para designar a forma de coerência de um
14
citado em BIROU, A. Dicionário de Ciências Sociais, Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1982, p.148 (cf SAKAGUCHI, p. 31)
15
oração de sapiência de 1960 no College de France. Apud. BIROU, A. Dicionário de
Ciências Sociais, p. 148 (cf SAKAGUCHI, p. 31)
conjunto e sua heterogeneidade em relação a
outros. Numa estrutura cada parte ou elemento
está em conexão ou sinergia em relação aos
outros e não pode ser o que é, a não ser e através
de e na sua relação com eles. Assim uma
alteração acusada num elemento implica
modificações nos outros. A estrutura é latente está
inserida na realidade de modo bastante durável e
estável. É por isso que a apreensão de uma
estrutura permite destacar um modelo de
funcionamento. O modelo deve mudar quando a
estrutura se torna diferente”
16
Para Ferrater Mora:
“por um lado , se entende por ‘estrutura’ algum
conjunto ou grupo de elementos relacionados
entre si, segundo certas regras, ou algum conjunto
de grupos de elementos funcionalmente
correlacionados . Os elementos em questão são
considerados como membros mais do que como
partes. O conjunto ou grupo é um todo e não uma
‘mera soma’ (...) por outro lado estrutura pode
entender-se como um conjunto ou grupo de
sistemas. A estrutura não é então uma realidade
‘composta’ de membros, é um modo de ser dos
16
BIROU, A. Dicionário de Ciências Sociais, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1982,
p.148 (cf SAKAGUCHI, p. 31)
sistemas, de tal modo que os sistemas funcionam
em virtude da estrutura que têm.”
17
(...)
Essas definições de estrutura ressaltam o aspecto
relacional dos elementos que a compõem, relativo
ao funcionamento do todo e das partes. Está
presente também a relação entre a idéia de
estrutura e a de sistema ou de
conjuntos de
sistemas entre si,
, ,
, e a idéia de função ou
funcionamento. A idéia de estrutura pode
relacionar-se também às noções de conexão ou
interconexão, de forma, de configuração, entre
outros, dependendo de sua aplicação teórica
como um modelo explicativo ou como um método
de análise de uma realidade.”
Ou ainda em citação de outro autor, Ludovico Quaroni, arquiteto que
trabalha com o conceito – já em utilidade ao urbanismo:
designar, em oposição a uma simples
combinação de elementos, um todo formado por
fenômenos relacionados entre si de tal forma que
cada um dependa dos demais, não podendo ser o
que é senão em virtude de sua relação, nela
17
FERRATER MORA, José. Diccionário di Filosofia de Bolsillo. Madrid: Alianza, 1994,
v.1, p.266 (cf SAKAGUCHI, p. 31)
mesma, com os demais, ou seja: uma entidade
autônoma de dependências internas”
18
Com essa apresentação pode-se notar que o conceito tem muitas
definições que carregam um sentido comum:
- para o conceito, “estrutura” é uma construção racional relacionada à
organização, coesão, harmonização, sustentação de diversas partes
num todo.
- a noção se torna muito importante na análise do “todo” e na sua
possibilidade de decomposição (sendo sempre relativa à
recomposição), ou seja, como método, “estrutura” demonstra a
compreensão de um sistema, de forma que pode denominar, eleger
partes, e rearticulá-las. Isso só faz sentido dessa forma e vice-versa, ou
seja o todo pode ser entendido pelas partes, se estas sempre forem
relativas ao todo. A coerência necessária muitas vezes é constituída
pela lógica.
- destaco a idéia de “estabilidade”, se essa idéia já fundamental em sua
origem, o conceito de certa maneira atribui estabilidade aos sistemas
que analisa realidade durável e estável”, assim seu uso, por dar
valores, pode ser ideológico. Não parece que um modelo “estruturado”
possa ruir, que as conexões ou as relações entre os diversos elementos
(espaciais, sociais, econômicos) possam estar fora deste equilíbrio, de
18
QUARONI, op cit, p.15
modo que o uso do conceito tem o poder maior que apenas ser um
instrumento de explicação (o método referenciado), mas é uma forma
de agregar valores perpétuos ao objeto na medida em que o
caracteriza como uma estrutura.
Como conceito, então, além de se destacar como forma de se
pesquisar e compreender objetos, que no plano das idéias podem ser
completamente abstratos, tem essa característica de transformá-las em
construções intelectuais, dar estabilidade e fundamentação às idéias.
Forty
19
faz o seguinte comentário a respeito do conceito “O notável feito
desse termo [estrutura] é que começou como uma abstração, cujo
verdadeiro significado estava na sua invisibilidade, e retornou no jargão
moderno como uma coisa”
20
Esse comentário é muito preciso para se
entender o vulto que o termo toma: o autor se refere a ele como uma
abstração, entendendo o termo por seu conceito, metáfora do primeiro
desígnio da palavra, que por mais oculto que pudesse ser, era
concreto, e o conceito, diferentemente, é uma abstração dessa
existência; que, por contradição, é usado para reificar ou naturalizar
idéias, formas e outros conceitos, esses passam a ser vistos como
realidade: o modelo explicativo ou o método de análise (que são
processos e resultados diferentes) muitas vezes são confundidos, ou
seja, “estrutura” quando identificada finaliza em si um processo, que
como “coisa” limita sua evolução, tanto enquanto entendimento, tanto
como fato.
19
Adrian Forty, historiador inglês de arquitetura e sociedade
20
citação de FORTY, Adrian. Words and Buildings. A vocabulary of moderns
Architecture. London, Thames and Hudson, 2000, p.281, in SAKAGUSHI, op. cit, p.35
1. 3 Disseminação do conceito
1. 3 Disseminação do conceito1. 3 Disseminação do conceito
1. 3 Disseminação do conceito
O original técnico começa a ser utilizado ainda na construção, e desse
significado a metáfora vai formando o conceito. Segundo Forty
21
teria
sido o inglês Robert Willis um dos primeiros a usar a expressão
‘construção mecânica’ para expressar o que hoje chamamos de
estrutura de suporte”, diferenciando da ‘construção decorativa’ ou
‘construção aparente’, em uma obra de 1835”, portanto independente
da existência anterior, o uso da palavra se liga a uma época de maior
racionalização da própria atividade de construir, e a partir daí é que a
amplitude metafórica do conceito vai se formando, no século XIX,
na modernidade. Esse uso logo vai se disseminando, segundo
Sakaguchi, considera-se que a obra do francês Viollet-le-Duc foi a
principal fonte de difusão dessa idéia desde o último terço do século XIX
(...)” ao tratar da superioridade da arquitetura gótica“.A primeira
propagação, então foi ainda com o uso original, possibilitando a
consolidação de seu sentido, que reinterpretado como metáfora
fundamenta o conceito, que por sua vez, vai ter diferentes usos,
diferentes pesos em análises de várias questões.
“Estrutura”, como conceito, além de servir como modo analítico, remete
valores a objetos de estudo (pode-se dizer que aforça), como foi
dito anteriormente. Seu uso deu origem ao estruturalismo”, como
corrente filosófica que permeou várias áreas.
21
FORTY, Adrian. Op cit, in SAKAGUSHI, op. cit, p.35
Essa breve colocação é para destacar essa forma de pensamento, não
tanto para discutir ou detalhar, mas sim para mostrar a importância
dessa corrente para o fortalecimento e intensificação cultural do
conceito de estrutura na época em que se desenvolveu num período, a
partir da segunda metade do século XX , e numa escola francesa
22
,
como líder. O estruturalismo, embora não tenha sido dominante nas
ciências humanas, torna o conceito de estrutura uma idéia comum. O
conceito se aplica como uma idéia forte em toda uma linha de
produção intelectual. Assim se forma a “linguagem estruturalista” que
consiste, no reconhecimento de elementos e as relações entre eles
(re)compondo um sistema inteligível na análise do objeto de estudo.
para alguns críticos o estruturalismo foi um
movimento ‘de idéias difuso e complexo que se
desenvolveu no domínio das ciências sociais ao
longo dos anos 60, principalmente, senão quase
exclusivamente, no cenário francês’ Era então uma
nova moda filosófica parisiense, que contou com o
prestígio científico angariado pelas descobertas da
linguística e da antropologia, e que contou com
autores talentosos que reinterpretaram na
linguagem estruturalista os textos de Freud, Marx,
Nietzsche, entre outros. Foi uma ‘especialidade
local’ que quase não se propagou e uma
22
É importante ressaltar que essa escola teve sua influência restrita mundialmente,
‘regressão intelectual’ pois eliminou ‘ a margem de
autonomia deixada pelo agente ou ator social
pelas estruturas, substituindo por tipologias
sumárias a diversividade dos tipos sociais,
reduzindo a complexidade estrutural dos sistemas
de interdependência e de interação a algumas
variáveis às quais se um primado arbitrário
(variáveis da estratificação, por exemplo),
atribuindo supremacia incondicional ao
‘sincrônico’ em relação ao diacrônico’”
23
A escola francesa transformou o termo estruturalismo de neologismo
(classificado em 1926 por André Landale como tal) em uma corrente de
pensamentos em que a noção de estrutura seria tema de colóquios
internacionais nos anos 50 e 60 do século XX, como fundamental para
a produção científica se ainda era uma novidade, se entendia como
promessa de um instrumento eficaz no trabalho intelectual, atingindo
nesse ponto as ciências urbanas, porém antes de desenvolvermos essa
aproximação é importante ressaltar a abordagem marxista de estrutura,
que não forma os mesmos modelos tampouco têm a mesma função de
representar uma totalidade imutável.
O conceito de estrutura na obra de Marx não aparece como o modo
mais eficiente e irrevogável de explicação (ou seja, não tem explicitado
porém teve importância bastante relevante para o Brasil
23
citação de BOUDON, R & BOURRICAUD, F. Dicionário Crítico de Sociologia. São
Paulo: Ática, 1993, pf SAKAGUCHI, p. 33
“estrutura” como método), foi utilizado (já como metáfora) para a
compreensão da organização econômica capitalista. Seu uso,
portanto, é muito mais importante como um exemplo para a
fundamentação do conceito (posterior) do que para sua discussão
como método.
Em relação ao conceito estrutura estudado, uma grande diferença já é a
quebra de sua totalidade em níveis de abordagem e interatividade que
se tornam mais capazes de compreender o processo que muitas vezes
é sublimado na adoção dos modelos.
24
Ou seja, o objeto, em sua
análise para a estrutura econômica já não é representado por sua
totalidade, um misto nebuloso, e sim por níveis que esclarecem partes –
e firmando outros dois conceitos fundamentais: infra-estrutura e super
estrutura.
A palavra “estrutura” o aparece no original com esse mesmo
significante, é utilizada nas traduções por trazer esse mesmo sentido. O
trecho em que é feita a análise com o emprego da metáfora estrutural
aparece no texto “Para crítica de Economia Política” publicado em
1859:
na produção social da própria vida os homens
contraem relações determinadas, necessárias e
24
Para Sakaguchi, a metáfora da estrutura na obra de Marx torna-se particularmente
relevante pelo fato de a infra-estrutura, tema da tese começar a ser fundamentada
cientificamente (também como ume metáfora técnica) a partir da obra de Marx e das
análises posteriores.
independentes de sua vontade, relações de
produção estas que correspondem a uma etapa
determinada de desenvolvimento de suas forças
produtivas materiais. A totalidade destas relações
A totalidade destas relações A totalidade destas relações
A totalidade destas relações
de produção forma a estrutura
de produção forma a estrutura de produção forma a estrutura
de produção forma a estrutura econômica da
econômica da econômica da
econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se levanta
sociedade, a base real sobre a qual se levanta sociedade, a base real sobre a qual se levanta
sociedade, a base real sobre a qual se levanta
uma superestrutura jurídica e política, e a qual
uma superestrutura jurídica e política, e a qual uma superestrutura jurídica e política, e a qual
uma superestrutura jurídica e política, e a qual
correspondem formas sociais determinadas de
correspondem formas sociais determinadas de correspondem formas sociais determinadas de
correspondem formas sociais determinadas de
consciência.
consciência. consciência.
consciência. O modo de produção da vida
material condiciona o processo em geral de vida
social, político e espiritual.
. .
. Não é a consciência
dos homens que determina o seu ser, mas, ao
contrário, é o seu ser social que determina sua
consciência”
25
“Estrutura”, para Marx, representa então um conjunto de relações
sociais. Essa idéia de todo é fragmentada em diferentes níveis, a super-
estrutura é entendida como uma forma reguladora dessas relações
sociais (como uma relação dialética: por ter sido produzida nessa base
e atuar na mesma) e a infra estrutura como a base que permite essas
relações e sua reprodução. A idéia de um ser social maior que o
indivíduo (nos três níveis apontados) demonstra o conceito de estrutura
como uma inter-relação dos diversos elementos, porém a diferença
consiste no fato de destacar sua força, ou seja, o “ser social” não é
neutro, não é apenas um produto, não é somente um determinante,
25
Citação de MARX, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos e outros textos
tanto na idéia da base das relações (infra) como em toda a conjuntura,
com uma atuação que limita e dirige ações, com vínculos e pesos de
interdependência nas três escalas. Assim se estabelece uma relação
dialética, diferente da lógica que costuma regrar os sistemas, e
caracterizam uma situação temporal, muitas vezes pouco
representativas.
Ao se enfatizar a questão da hierarquia; essa análise, de certa maneira,
contempla a questão da complexidade que em outras formas de
sistematização podem ser sublimadas. Para Marx; então, estrutura tem
níveis, limites e períodos determinados. Segundo Godelier
26
, estrutura
para Marx o é uma forma única de explicação e que para faze algum
sentido é necessária colocá-la no contexto e em perspectiva.
“é equivalente a outras duas palavras
alemãs, Form e Gestalt; mas se prosseguirmos na
análise , veremos que struktur, form e gestalt
designam as relações de conexão, de mútua
dependência , de ligação recíproca e de
articulação existentes entre os elementos do
conjunto. Com efeito, para Marx, struktur é o
equivalente a gliederung, ou seja, articulação, e de
zusammenhangen, ou seja conexão, ligação. Para
Marx, portanto, o estudo das estruturas sociais é
escolhidos. 5ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, in SAKAGUCHI, p. 40
26
Maurice Godelier, relaciona o estruturalismo com o materialismo histórico, citado por
SAKAGUCHI, op cit, p. 41
um estudo de um conjunto de elementos, ou de
relações, ligados mediante a um vínculo de mútua
dependência. Trata-se porém de uma ligação
provisória, que se reproduz dentro de certos
limites . Para Marx - e ele o sublinha
energicamente no prefácio da segunda edição de
O Capital- as estruturas são realidade em
movimento, conexões temporais, que se
reproduzem durante uma certa época histórica
antes de desaparecer, deixando lugar para
outras.”
Assim, nessa compreensão a “estrutura” não é um modelo acabado,
não é um produto, é um viés de um processo, que faz sentido no
seu contexto.
Ainda que tenha existido mais de uma formulação para o conceito o
método dominante estabelece a formação de modelos. A disseminação
da idéia “estrutura”, portanto, ocorreu em áreas do conhecimento,
como uma metáfora capaz de introduzir métodos de análise aos mais
diversos assuntos, da mesma forma que pode abordá-los em diferentes
escalas. É um recurso que busca a sistematização de um meio
complexo. Esse método resulta em modelos que procuram identificar
relações e partes. Mas, é importante ressaltar, que essa análise pode
ser tendenciosa, ora sublimando ora interrompendo partes de
processos contínuos, ou remetendo força e organicidade a questões
vagas e indefinidas.
1. 4 O uso conceito de “estrutura” nas
1. 4 O uso conceito de “estrutura” nas1. 4 O uso conceito de “estrutura” nas
1. 4 O uso conceito de “estrutura” nas questões urbanas
questões urbanas questões urbanas
questões urbanas
A noção de “estrutura“ carrega idéias de organização, trama,
estabilidade, relações de interdependência e hierarquia de funções e
partes. Esses conceitos são extremamente associáveis às questões
urbanas que trata o espaço comumente como um organismo
27
. Nessa
relação “estrutura” é aplicada de diferentes modos; ora como método,
forma de se dissecar o organismo, ora como um objeto, um plano, um
meio de transformar, ou seja, nos estudos urbanos estrutura é causa, e
é conseqüência, utilizado como um instrumento; cujos efeitos, na idéia
da sistematização, podem não ser amplamente contemplados.
A relação estrutura” x “espaço” começa no sentido original:
“construção”, e seu sentido, na mesma idéia da evolução do conceito,
se amplia.
“a) inicialmente, a idéia de estrutura
relacionou-se à totalidade de uma edificação; a
estrutura era o próprio edifício e esse sentido foi
usual na língua inglesa, nos séculos XVIII e XIX.
Pode-se dizer que esse sentido era praticamente o
original
27
nesse ponto é importante ressaltar que não é uma pratica exclusiva da ecologia
urbana a idéia de organismo.
b) Em segundo sentido seria o de estrutura
como um sistema de suporte de uma edificação,
visto como algo distinto dos outros elementos do
edifício. Esta acepção foi popularizada no século
XIX por Viollet-Le-Duc numa citação que se tornou
conhecida: na verdade, toda a arquitetura
provém da estrutura, e a primeira condição que se
deve objetivar é fazer a forma exterior de acordo
com aquela estrutura” Nesse caso a forma
arquitetônica surge como uma decorrência da
estrutura existente, que é considerada o suporte, o
esqueleto do edifício.
c) No terceiro sentido, estrutura relaciona-
se ao esquema através do qual um projeto,
edificação, grupo de edifícios, ou toda uma cidade
ou região torna-se inteligível. Esse sentido
disseminou-se no decorrer do século XX.”
28
Portanto, o uso da metáfora, tal qual nas outras áreas, acaba sendo
hegemônico ao se utilizar o conceito.
A peculiaridade do uso do conceito para as relações espaciais é a
questão do modelo no espaço
modelo no espaçomodelo no espaço
modelo no espaço. A partir dessa condição é que se
formulam os questionamentos dessa monografia. A analise estrutural
do espaço forma modelos rigorosos que ou procuram e identificam
28
Citação de Adrian Forty in SAKAGUCHI, op cit p. 34
locais ou outros elementos como as partes da estrutura, ou elegem
lugares para seus conceitos, que nessa área, necessariamente tendem
à materialidade – voltando ao físico, à construção.
Na abordagem espacial, o conceito foi logo adotado no campo da
geografia e do planejamento urbano. Como dissemos, a grande
disseminação do conceito acontece por volta dos anos 50. Nessa
época “cidades” eram o campo de trabalho e o modo de viver
dominantes, ou seja, a urbanização, em muitos continentes era um
processo ainda em curso, porém absolutamente solidificado como
agrupamento humano
29
.Essa cidade estava num período novo como
objeto de estudo, apresentava outra complexidade, além da
diversividade de origens e fases de desenvolvimento, ela era a grande
unidade de produção
30
. Então seu estudo, com muitas e relativamente
novas variáveis apresentava maior dificuldade e absoluta necessidade.
Primeiramente destacaremos o uso do conceito na geografia urbana,
ou melhor, haverá uma breve exposição do entendimento que esse
campo do conhecimento forneceu sobre “cidades”, ou seja, como a
geografia utilizou e quais formam as interpretações dominantes
31
. A
29
Esse período também é o início dos estudos propostos nessa monografia em
relação ao Objeto: a cidade de São Paulo.
30
É necessário destacar que também se dá nesse período a época de reconstrução
de cidades, pela anterior destruição nas guerras – ou melhor, eram fases diferentes,
vidas urbanas diferentes, mas agrupamentos semelhantes, e a necessidade de
compreensão se dava para toda essas diversas possibilidades.
31
Essa referência se faz necessária por ser muito importante para a introdução do uso
do conceito em São Paulo, que será desenvolvido nessa área nos anos 50, como será
dito adiante.
disciplina usa o conceito como um método de leitura das cidades,
primeiramente tratadas como objetos específicos, numa leitura que
busca estrutura, visando a sistematização, para se tornarem inteligíveis,
e nessa elaboração muitas vezes se transformam em objetos
genéricos: o método formula os modelos que evoluem conforme o
aprofundamento das questões e a adição de variáveis e comparações
entre cidades distintas, seja por sua natureza, por sua origem, seja
pelas funções predominantes que “usam” a cidade, de maneira a tentar
entendê-las e compará-las com pontos dominantes formando “tipos”
para suas diferenças.
Para este estudo cabe mostrar como essa análise foi delineada: será
uma breve abordagem histórica da geografia urbana envolvida com o
termo de estruturas das cidades”. De forma geral foi observado que
esse estudo avançava e sempre esbarrava em limites, que ora se
incorporavam ou eram suprimidos em prol da metanarrativa urbana, ou
ora se destacavam como uma barreira da capacidade de interpretação;
quando, fatalmente, mostraram até que ponto o método que se
mantinha pela sua capacidade parecer ser definitivo e integral, poderia
ser um instrumento aplicado.
Aqui serão utilizados dois autores, Arthur A. Smailes
32
e James H.
Johnson
33
, que se dedicaram ao estudo da geografia urbana e usam a
noção de estrutura em seus trabalhos, além de abordarem a evolução
32
SMAILES, Arthur E. The Geography of Towns, Londres, Hutchinson University Library,
1953
33
JOHNSON, James H. Geografia Urbana, Barcelona, Oikos-tau, 1974
dessa compreensão, citando outros autores. Essas aplicações tanto
são feitas em modelos específicos, com métodos de analise
padronizados, quanto em grupos de cidades para comprovar os
mesmos modelos e resultados, ou seja, a análise é feita nas duas
mãos, para entender um espaço específico a partir de um padrão,
quanto para comprovar um padrão em um espaço determinado.
Smailes, em seu estudo inicia procurando idéias que fundamentem
cidade, qualquer cidade, os questionamentos começam no motivo pelo
qual e nos organizamos dessa forma e qual é a capacidade humana
essencial para assim fazê-lo, parâmetros que independeriam de cultura,
de etnia, e sim se baseariam na relação do homem (genérico) com a
natureza (genérica). Essa interação se basearia principalmente em dois
fatores: a associação da população a regiões naturalmente mais
favorecidas, iniciando esse assentamento em algum tipo de produção
rural ou extrativista, no foco da sobrevivência e perpetuação da espécie,
e esta questão leva ao segundo ponto determinante para a
fundamentação da vida urbana segundo Smailes: a dominação da
natureza pelo homem. A partir desse ponto o homem desenvolve
diversas atividades, ocupando os espaços de diferentes maneiras e
finalidades, assim essa dominância passa a ter uma forma e uma
função sendo de algum modo correlacionadas, essa compreensão
implica em organização de partes, já utilizando a noção de “estrutura”:
quando, sobre qualquer área urbana, reconhecermos cinturões
industriais, comércio, quarteirões residenciais ou algo parecido,
expressamos a estrutura interna da cidade em termos de usos diferentes
da área urbana. Isso pode ser descrito também pelas formas (...)
construções”
34
. Neste trecho pode-se notar que o autor condiciona o
termo estrutura a algumas variáveis, ou seja, aos usos (nessa estrutura
correspondem aos elementos, portanto) e a relação entre eles
35
.
Neste estudo o foco é a cidade moderna, ou seja, o meio com
urbanização plena e crescente, e com a produção industrial
predominante. Para Johnson, em sua análise das cidades modernas, a
indústria é o elemento que otimiza esse processo, seja pela sua
capacidade de produção, como também por seus produtos e modo de
organização, o apenas em cada unidade, mas principalmente em
relação à organização social em que esse modo de produção se baseia
e se reproduz. A indústria, portanto, era o elemento que causa e
possibilita o crescimento que nunca havia sido registrado anteriormente
desproporcionado - que introduz novos questionamentos à analise do
meio urbano: não era apenas a dominação da natureza em suas
primeiras formas, expõe a idéia de uma subordinação completa o que
modificaria o espaço da mesma maneira.
É esse o contexto da análise de Johnson, a cidade extrapolando-se em
tamanhos, funções e população, e é a este crescimento que se aplicam
os conceitos de estrutura e sua evolução, sempre enfatizando que as
cidades modernas m uma potencialidade que não é mais linear (a
indústria seria uma ruptura no desenvolvimento urbano com o passado)
34
SMAILES, 1953, p.80
35
Outros autores, como Aldo Rossi, entendem as partes de maneira diferente, os
elementos físicos são analisados não exclusivamente em relação a sua função.
e talvez por isso que os espaços se tornem tão heterogêneos na
formação do todo, com valores diferentes em momentos históricos
distintos. Um elemento que essa indústria traz e que se torna um
importante meio para o desenvolvimento urbano, segundo Johnson, é o
automóvel o automóvel é o meio que permitiu a dispersão das cidades,
não apenas das áreas residenciais como também de outras funções
urbanas, principalmente da indústria (...) com isso se facilita o
desenvolvimento de áreas urbanas estruturadas de um modo mais
flexível e que podem conter uma população total muito maior que das
antigas metrópoles.”
36
.
Os dois autores, portanto, vêem o meio urbano como um espaço
trabalhado, ou seja, o lugar é produzido pela sociedade relacionando
seu modo de vida ás condições naturais, tanto do próprio local quanto
do homem. Na medida em que a criação do homem pode expandir a
capacidade da cidade, este trabalho consiste em uma atividade
aplicada para a transformação do lugar, e esse passaria a demonstrar
características, segundo o estudo da geografia urbana, que permitiriam
identidade, coordenação e classificação de diversas maneiras de se
produzir o espaço. A noção de estrutura passa então a ser aplicada
com o intuito de se sistematizar e, consequentemente, poder se
trabalhar com o espaço ao se locar a diversividade de possibilidades,
visando a transformação ou reapropriação de estruturas a novas
formas. A sistematização consiste na locação dos elementos
identificados, e o trabalho seria na nova construção desses elementos
36
JOHNSON, 1974, p. 35
ou manutenção dos mesmos na cidade. Esta, moderna, acumula as
funções de meio onde a vida urbana cotidiana se desenvolve com a
funções de meio de reprodução dos modos de produção.
Para a identificação da “estrutura urbana” os autores elegem alguns
elementos da paisagem urbana (construída ou não) como parâmetros
de análise, nessa escolha identificam-se as partes.
Para Smailes, um importante ponto inicial dessa análise é a breve
história da origem da cidade, no sentido dela ser planejada ou não,
para então a compreensão de seu desenvolvimento. Segundo o autor,
a origem das cidades sem planejamento não significa que seu
crescimento também seja desorientado, ou seja, o aumento das
cidades segue vetores e funções, todos eles sendo regulados na
mesma medida em que compõem a estrutura urbana. Existe uma lógica
entre a inserção de um edifício e a justa posição de infra-estruturas,
seriam essas formas de ocupação com interdependências entre as
partes, sobretudo funcionais em sua análise. O termo espontâneo,
segundo o autor, é extremante inadequado para o estudo do
desenvolvimento urbano, e por isso deve ser evitado, a analogia do
“crescimento orgânico” x “crescimento urbano” ocultaria tempo,
formas, características físicas. Além disso, exclui o entendimento do
crescimento das cidades planejadas, que elas não são exclusivas
dos tempos modernos, existem várias cidades planejadas que
ficaram na história, extrapolando seus planos de expansão e
modificando as variáveis de seu crescimento, ou a capacidade que lhes
era estimada
37
. Ou seja, o termo “espontaneidade” naturalizaria um
produto social, portanto inadequado para sua compreensão.
Apesar dessa ressalva, durante grande parte de sua abordagem o autor
usa metáforas orgânicas para o glossário dos elementos da estrutura
das cidades. Smailes analisou a cidade como uma composição de
núcleo “core”, e diversas cascas “integuments”, assim o zoneamento é
a base para a partir da qual se entende a estrutura, essa noção estaria
nessa fundamentação o que permite diversas articulações que essa
composição tem, ou seja, a estrutura pode ser aplicada a qualquer
cidade analisando sua macro localização, cujas formas de se
agruparem, associarem e funcionarem de modo a se integrarem ao
todo que é a cidade, e essa (como defende o autor) a outras cidades e
regiões.
O “core” é uma área que se distingue das demais pelo acúmulo de
funções necessárias a toda a cidade, além dessa peculiaridade, o autor
ressalta o nível de especialização dessas funções, ou seja, seria o que
há de melhor de tudo, além de ser mais acessível a todos e mais
facilmente identificável, muitas vezes tendo a em seu nome
características que o fariam ser reconhecido por todos
38
. Assim sua
37
SMAILES, 1953, p.98
38
Nesse ponto Smailes cita vários nomes famosos de centros urbanos, como o Loop
de Chicago, o down town de cidades americanas e até o Triângulo de São Paulo
(p.86) além disso cita algumas ruas que seriam exemplos de especialização dentro
desse centro. Isso se mostra particularmente interessante para o caso de São Paulo,
pois é bastante explicita a especialização de ruas no centro, porém não se pode
creditar a elas o monopólio de suas atividades.
principal característica seria a concentração de diversividade no nível
mais desenvolvido e acessível, e mesmo sendo formado por muitos
elementos, seria uma todo homogêneo, presente e necessário ao
restante da cidade.
O autor chama de “integuments” o que seria o resto, que é bem mais
heterogêneo em suas formulação, funções, sendo, então, várias
cascas. A tese do autor se mostra particularmente interessante, pois
mostra a transformação interna e externa, ou seja, as cascas sempre
mudam, a cidade sempre muda, não apenas cresce na medida em
que o núcleo urbano se desenvolve, seus envoltórios aparecem como
cascas de diferentes características, produtos de sucessivas fases do
crescimento urbano, e acompanhando as mudanças funcionais. O
crescimento de todas as cidades é um processo duplo de expansão e
interna reorganização
39
, ou seja, a expansão engloba novas áreas,
transformando áreas rurais em urbanas, e dentro áreas ocupadas são
transformadas com novos usos, ou são reocupadas com novos
prédios, ou ainda tem áreas antes funcionais se transformando em
obsoletas. Assim o crescimento o modifica apenas as cascas como
também o núcleo. É imutável a relação de dependência das cascas
com o núcleo, a semente que forma e nutre o resto. A estrutura urbana,
para o autor, seria uma permanente mudança associada ao
crescimento, em que as funções se locam em espaços na cidade,
porém não necessariamente se fixam - a estrutura é um modo de
compreensão das transformações urbanas, trabalhando com a relação
39
SMAILES, 1953, p.87
de elementos constantes, como as zonas, as funções
40
, se colocadas
em comparação das diversas formas que uma mesma cidade pode
adquirir.
Os elementos para a análise de Johnson são teorias de outros autores,
mostrando uma evolução das estruturas de crescimento, e os limites de
cada modelo. Diferente de Smailes, em seu estudo a maioria dos
autores trata da formação da cidade com características apenas
expansivas, pouco se fala das implosões dentro das cidades. O
principal limite então seria uma cidade esbarrando na outra formando
uma trama por grandes extensões. Um tecido, as conurbações
atingindo um modelo de pretensões regionais.
Para Johnson, a cidade seria uma unidade se for pensada em termos
de estrutura a partir de elementos como os edifícios, as funções e a
trama que os liga. A função” não se refere apenas ao produto de cada
tipo de unidade, mas toda as outras necessidades de manutenção,
como serviços e moradias, e cada uma delas define polaridades e
hierarquia na formação da cidade. Essa análise, segundo o autor, gera
números modelos
41
, que têm limites e tendem à extrema simplificação
42
.
40
essa análise é fundamental , é a representação do modelo centro-periferia, que
predomina, como mostraremos adiante a formulação da estrutura urbana no Brasil.
41
Nesta descrição o autor cita modelos “estruturais” como os de Chritaller, ou Losh,
que são hipóteses que descrevem as tramas policêntricas que fazem redes.
Representam os diagramas aos quais muitas vezes as análises estruturais recorrem
(p.140, p.142), o método de estrutura que o autor adota é o de “gradientes” por definir
forças e tendências que tentam englobar processos em suas análises (p.124)
42
A principal crítica que o autor desenvolve é em relação ao “centro”, que na
generalidade não tem referências históricas tampouco trata da diversividade interna,
Essas duas visões são estudos do espaço que introduzem o conceito
“estrutura” (o objeto-problema dessa dissertação) sob o viés da
geografia urbana, que foi predominante no início do uso de “estrutura”
para as questões urbanas. De modo geral, para uma síntese da
relevância dessa apresentação, algumas considerações se tornam
conclusivas ao uso do termo:
- a cidade genérica foi entendida como monocêntrica, até o limite do
que se previam fronteiras com regiões polarizadas por outros núcleos.
Essas inteiramente interligadas e funcionando em redes, para então
haver a idéia dos multicentros, ou seja, a cidade cresceria pela suas
fronteiras. Essa era a idéia dominante, ainda que Smailes identificasse a
necessidade de renovação constante dos “cores” urbanos, ou seja a
transformação interna de partes consolidadas em função de novas
necessidades.
- o crescimento poderia ser identificável a partir da eleição dos fatores
que o promoviam, ou seja, índices de população, produção, construção
– principalmente de infra-estrutura – ocupação, eram mais significativos
que as condições naturais e históricas da cidade para a elaboração
de modelos.
- os modelos gradientes aparecem levando em conta também as
condições naturais (físicas) e uma extrema simplificação da história
ignorando, o que segundo o autor é uma questão importante : a tensão entre as
seria uma maneira de interpretação dos vetores que , dessa forma,
pretendiam englobar os processos. Ainda assim os elementos
predominantes na identificação da cidade eram as funções, zonas de
locação, formas de deslocamento e a hierarquia entre elas, ou seja, os
níveis de atração e evasão entre umas e outras.
- o crescimento se limitaria na medida em que encontrasse o
crescimento de outras zonas urbanas, ou seja, nesse momento, a
metropolização era um processo inevitável e que acabaria por organizar
toda a região, e tenderia a formar pólos regidos em fronteiras de
diferenças essencialmente culturais. A questão das distâncias, nestes
estudos, não apresentam escala
43
.
Ainda é importante ressaltar que para Johnson, cuja análise é um
pouco posterior, existia já a crítica aos modelos, quando analisa a
multiplicidades dos centros “se se aceitam os fatores históricos e os que
dependem da localização da cidade como importantes, a única
conseqüência é que a teoria dos núcleos múltiplos não pode
proporcionar um modelo de estrutura urbana que seja simples e
perceptível imediatamente na forma das cidades (...) talvez seja melhor
considerar a visão dos núcleos múltiplos como um guia orientador dos
estudos sobre estrutura urbana, não como uma generalização rígida
funções e espaços públicos e privados (p.174)
43
No estudo de caso feito pra São Paulo, pela SAGMACS, que será referenciado e
estudado posteriormente, essa questão da escala se mostra fundamental na
argumentação em relação a estrutura proposta pra São Paulo, ou seja, em estudos de
casos essas distâncias são sim levadas em consideração.
sobre as formas das cidades
44
(grifo nosso). Ou seja, há a existência de
limites para o uso de “estrutura na elaboração de algum modelo
inequívoco, pois ao se agregar outros parâmetros o modelo expõe a
fragilidade como solução, de forma que não pode ser considerado uma
síntese, um resultado, mas um método que teria valor como esse um
“guia de estudos’, ou seja, um método. Isso de certa forma questiona a
razão de tantos modelos genéricos formulados e aplicados para se
promover apenas como um parâmetro a ser levado em consideração
em estudos de caso. O autor comenta a incapacidade do mundo de se
enquadrar nos moldes planejados:
“se idealizaram vários modelos sobre o
desenvolvimento urbano. Alguns deles são muito
mais aperfeiçoados estatisticamente, porém todos
se caracterizam por que sua finalidade é projetar
no futuro alguns aspectos da cidade. Isso levanta
comentários gerais muito importantes.
Em primeiro lugar(...) os modelos de
desenvolvimento urbano se baseiam nos
processos em que estão em funcionamento na
atualidade da cidade ocidental. Não apenas é
possível que não sejam apropriados em outros
espaços culturais, como talvez tampouco sejam
válidos no próprio mundo ocidental em um futuro
mais ou menos breve. (...) A maioria dão por certo
44
JOHNSON, op cit, p. 241
que as aspirações de sociedade, de
funcionamento da economia urbana e a base
técnica da vida urbana permanecerão constantes.
Infelizmente essas suposições são muito pouco
sólidas em um mundo como o atual, que muda
tão rapidamente (...)
Também se corre o perigo, muito concreto, que as
previsões que dão esses modelos se cumpram
em si mesmas (...) essas mesmas decisões
produzirão um jogo de forças muito potentes que
favorecem a criação de uma cidade de acordo
com as previsões, ao invés de uma cidade que
seja agradável viver no futuro.
(...)
Posto que o desenvolvimento urbano não tem por
que ser um processo mecânico, seria conveniente
que a própria sociedade decida o tipo de
sociedade que se deseja viver.”
45
Para a geografia urbana “estrutura”, nos anos 50 era um conceito
aplicado como método de analise. Os primeiros modelos elaborados
aparecem nos anos 20
46
identificando estruturas concêntricas, que são
45
JOHNSON, op cit, p.259,260 – O trecho se mostra particularmente interessante por
identificar o sujeito – a sociedade – que em muitas abordagens é tratada como um
objeto da estrutura e não como sua protagonista.
46
JOHNSON, op cit, p. 235
base de todos os modelos de estrutura unitária primária
47
. Esse modelo
vai se aperfeiçoando ao se ligar a outras estruturas (semelhantes) para
a formação das redes, nesse processo agregam-se outros parâmetros
como setores, elos, gradientes. A partir dos anos 50, esse modelos
são complexos, porém continuam genéricos o suficiente para serem
testados nas mais diversas áreas. Novamente destacamos a
importância de se analisar não apenas os modelos, mas também as
formas como eram utilizados: análise de casos que geram os modelos
e a volta, ou seja, modelos aplicados em casos, formando
equivalências na formação de espaços diversos, assim até possíveis
diferenças se podem padronizar. Em muitas analises a sobreposição de
modelos pré-estabelecidos ou congelava os processos ou passava a
orientá-los com rigidez de um sistema pré-estabelecido. Assim o
método, que primordialmente seria um guia de olhar para processos
em andamento (tão diversos!), é um trabalho importante para a
compreensão do meio, torna-se a razão ou fundamento desse mesmo
meio, eliminando conflitos e contradições para uniformização ou
classificação dos espaços.
Ao planejamento urbano, “estrutura” é um conceito, tanto como método
de analise, quanto como fundamento de planos, essencial, para o
trabalho e para o entendimento das compreensões e leituras do meio.
47
para “estrutura urbana” a idéia de centro é fundamental, ou seja, é o elemento
chave para se trabalhar o meio, e muito recentemente apenas que ele foi visto de
maneira diversa, como “as centralidades” ,a referência para essa questão é a tese de
doutorado da FAUUSP TOURINHO, Andréa de Oliveira, “Do centro aos centros :
bases teórico-conceituais para o estudo da centralidade em São Paulo” São Paulo,
2004
Essa maneira da geografia de trabalhar o espaço começa como
condutora do planejamento, para depois ser englobada por outras
questões que a própria “estrutura” identifica maior relevância. O
conceito estrutura”, no planejamento urbano, volta á construção, ao
espaço, com múltiplos usos e sentidos.
O desenvolvimento deste trabalho tratará de algumas das diversas
abordagens do urbanismo para a idéia de estrutura para um meio
específico: São Paulo.
(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
2.
2.2.
2. A estrutura
A estrutura A estrutura
A estruturação
çãoção
ção
de
de de
de São Paulo
São PauloSão Paulo
São Paulo
n
nn
nos anos 50
os anos 50os anos 50
os anos 50
uma leitura
uma leiturauma leitura
uma leitura da “aglomeração pauli
da “aglomeração pauli da “aglomeração pauli
da “aglomeração paulistana
stana”stana”
stana”
O estudo sobre “estrutura” em São Paulo procura investigar como o
conceito foi utilizado e quais as formas dominantes de interpretação
que fundamentaram as discussões e propostas urbanas na segunda
metade do século XX. Para essa pesquisa, o recorte de tempo se inicia
nos anos 50, pois São Paulo que estudamos é a metropolitana, a partir
do momento que seu crescimento vertiginoso a impressão que a
cidade não tem ordem, nem limites, quando na verdade está criando
novas condições.
Segundo Langenbuch os anos 40 foram a década da “grande
metropolização recente”
48
, ou seja, o surto, a metamorfose da grande
cidade que existia anteriormente, se firmava na tendência de seu
crescimento se transformando na grande metrópole ascendente nos
anos 40 era uma expansão consolidada, acelerado e que tinha sim
fundamentos e características continuamente sendo nos anos 50
objeto de pesquisas cientificas. Aqui será esse processo será
investigado nos estudos feitos pela geografia urbana, que usava
“estrutura” como método.
48
Nas divisões cronológicas do autor, ele cita a década de 40 como uma época
intermediária entre uma cidade que vinha crescendo muito desde 1870, e que se
expande de maneira ainda maior a partir dos anos 40, se modificando e incorporando
outras áreas, de maneira que a metropolização a partir dessa época toma novos
rumos. Nos anos 50 já se apresentam estudos que analisam o crescimento destacado
pelo autor, ou seja, toda esta transformação começa a se tornar objeto de estudo uma
década depois.
Entre 1940 e 1960 a área metropolitana triplicou a população que
comportava: de 1.580.302 habitantes foi para 4.862.485
49
, portanto a
cidade de 240 mil habitantes da virada do século, não tem e mesma
escala pra a abordagem do problema, embora essas raízes sejam
fundamentais para a formação da metrópole, para o processo de seu
desenvolvimento, bem como para o reconhecimento de elementos da
sua estrutura.
Na década de 50, os estudos relatavam o crescimento da cidade de
São Paulo com uma mistura contraditória de orgulho e ponderação: a
cidade crescia, mas era necessário garantir condições humanas e base
para que o crescimento continuasse ocorrendo
50
esses eram os
principais argumentos para o estudo e posterior proposta para a cidade
elaborados pela SAGMACS. Nesta abordagem a idéia do município não
explicaria mais as formas urbanas que surgiam das disposições
espaciais que estavam ocorrendo era necessário analisar com seus
arredores em escalas diferentes neste estudo se enxergava são Paulo
como ”great”, “greater” e “greatest“ São Paulo. Essas representavam
as áreas de influência e forças do desenvolvimento metropolitano: a
cidade além de sua estrutura interna, também funcionava como um
elemento estruturador de toda a sua região, do estado e numa ordem
mais distante do país, em questões que ultrapassavam o meio urbano,
ou territorial
51
.
49
LANGENBUCH, op cit p. 251
50
SAGMACS, op cit parte I-p.77
51
Na primeira parte do estudo da SAGMACS, a estrutura econômica de São Paulo é
A SAGMACS produz no meio da década de 50 (sendo finalizado em
1957) o estudo A Estrutura da Aglomeração Paulistana, um relatório
com cinco partes anexo que apresenta uma análise profunda da cidade
que nesse momento extravasava seus limites conhecidos. Buscou
reconhecer os elementos que conformariam a estrutura da cidade. A
sociedade era uma instituição sem vínculos estatais, porém acaba
englobando algumas repartições na elaboração do relatório, que foi
dirigido pelo Padre Lebret que foi citado como autor em muitos estudos
posteriores que tomam a obra como referência.
A transformação que vinha ocorrendo na cidade configura o processo
que a SAGMACS se propôs a estudar um espaço em que as
mudanças se baseavam e acarretavam novas configurações – para
isso essa entidade, que tinha a base de geógrafos usa o conceito de
“estrutura” na compreensão das formas do espaço: propõe-se
primeiramente a identificar os elementos e relacioná-los para montar o
que é a estrutura do “aglomerado”.
Para isso, primeiramente, analisa a base de sua formação a cidade
dos primeiros 400 anos, que se mantém com características que
analisada com seu vulto em relação a todo o país, tal comparação se repete nos
estudos referenciais dos anos 70 e 90, sempre ressaltando a importância que a
cidade tem na economia do Brasil. Nessa analise, a peculiaridade é que o
crescimento era bastante concentrado; e se justificava, em parte, por uma infra-
estrutura e mercados que já eram presentes no estado. Por isso essa notação, de que
a estrutura referida no estudo nem sempre é uma questão espacial, embora seja esse
o ponto de análise a que nos propomos.
acabam por influir na sua estrutura. Avança os estudos se balizando por
outros elementos que cooperam com o crescimento, elegendo
principalmente os fatores econômicos como incentivo para o
desenvolvimento: no caso a economia era comandada pelas indústrias.
Esse fator, segundo análises da geografia urbana
52
, apresenta uma
ruptura na questão da urbanização pelas características de
reprodução do capital, os mercados seriam essencialmente urbanos, e
necessariamente grandes. Evidentemente isso modifica o espaço, da
mesma forma que se apropria de condições pré-existentes, ou seja, a
indústria se localiza estrategicamente e ao fazê-lo implica em
transformações.
Dando continuidade a esse pensamento o trabalho concentra-se em
investigar todo o existente da cidade, realizou um levantamento
cadastral de vários elementos físicos e fatores sócio-econômicos das
populações, pois se a cidade parece perder-se nos seus limites, era
importantíssimo saber todos os pertences para que estes pudessem
ser reorganizados.
Esse levantamento baseia-se em recenseamentos, observações de
campo, entrevistas, mapas, fotos aéreas, tendo como resultados,
outros mapas, índices de ocupação: áreas heterogêneas eram
apontadas e não pasteurizadas pelas médias, além de dados
completos sobre população e crescimento das unidades, locação e
52
JOHNSON, 1974, p. 35
condições das infra-estruturas, havendo então um trabalho descritivo e
quantitativo como qualitativo de todas as partes da cidade de forma
que seu reconhecimento posterior pudesse ser bastante claro, inclusive
a sua delimitação
53
. Na descrição desses resultados, o relatório explica
todos os procedimentos e métodos.
A partir dessa exposição começam as análises e correlação das partes
a fim de se explicar a estrutura entender o funcionamento e identificar
pontos falhos ou não tão desenvolvidos. Essa parte é uma primeira
conclusão em que se demonstra o que é a estrutura urbana, quais eram
os principais elementos e como se relacionaram na década de 50.
Como conclusão geral, existem as recomendações da SAGMACS, um
plano de ação interdisciplinar, embasado teoricamente, principalmente
em experiências bem sucedidas em outros países, esse plano visa a
reestruturação da “aglomeração”, na forma de uma estrutura nova no
mesmo local e com os elementos existentes.
Além da exposição dos elementos estruturais, do resultado e do plano
da SAGMACS, haverá também a exposição da estrutura estudada por
Langenbunch na sua análise entre os anos 40 e 60, que parte de outras
premissas e reconhece padrões um pouco diferentes. Também sua
finalidade era diversa, de maneira que os estudos não podem ser
53
É importante esclarecer que para SAGMACS os limites da cidade são
geograficamente e legitimamente definidos, ou seja, existem áreas delimitadas e
também o município tem seu registro em lei, quando se fala de sobrepor os limites é
que estava em curso um processo de absorção de municípios vizinhos (como por
exemplo Santo Amaro) para o município, e também da metropolização, entendendo-
se que a influência do município não cabia mais em si.
comparados, porém se complementam para a análise da questão da
estrutura da cidade - em crescimento.
Os elementos considerados “estruturais” para essa abordagem dos
geógrafos na interpretação do espaço o fatores internos da cidade,
ou seja, características e componentes que a cidade tem – se referem a
uma materialidade, porém também é destacado que o crescimento não
se exclusivamente por esses elementos internos, que no entanto
podem ser dirigidos ou combinados com elementos externos em
função de transformações.
“Estrutura” nos anos 50 a partir da análise deste estudo pode ser
compreendida como um mecanismo de decifrar e domar a cidade que
crescia. Era entendida como uma forma bastante definida e precisa,
que ao se mexer em alguns dos seus componentes ou na relação entre
eles poderia causar efeitos que “consertariam” o andamento
desordenado da cidade.
Afim de que? É importante a discussão de que cidade era essa
idealizada nos anos 50, quais eram os objetivos das “condições
humanas” que deveriam ser criadas estrutura poderia ter, então, uma
finalidade principalmente se revelada na idéia de “reestruturação”
uma vez que é um funcionamento, ou uma estabilidade, pode carregar
algo além de seu próprio conteúdo como objetivo de um plano de
cidade.
2.1 Indícios históricos: o reconhecimento de elementos estruturais e
2.1 Indícios históricos: o reconhecimento de elementos estruturais e 2.1 Indícios históricos: o reconhecimento de elementos estruturais e
2.1 Indícios históricos: o reconhecimento de elementos estruturais e
sobreposição de “estruturas”
sobreposição de “estruturas”sobreposição de “estruturas”
sobreposição de “estruturas”
São Paulo, em vista comparativa a outras metrópoles brasileiras
apresenta muitas diferenças: seja pelo seu tamanho, seja pelo seu
vulto. Nessa parte do estudo pretende-se mostrar os elementos
característicos da formação de São Paulo em vista das outras cidades.
É evidente que tal afirmação tem estudos mais específicos e
detalhados, aqui temos o objetivo de relatar, em linhas gerais, o que
alguns autores reconhecem como componentes que diferenciam a
formação de São Paulo das outras partes do país, ao analisarem a
“estrutura paulistana” e reconhecerem traços diferenciais que se tornam
permanentes fazendo parte da configuração da cidade. Estas
especificidades se tornam explicações para a atração do
desenvolvimento industrial que aqui se concentrou, alterando,
novamente, a estrutura da cidade e da metrópole. Em outras palavras, a
análise da formação de São Paulo se observou uma situação que num
certo momento histórico atrai investimentos de todas as partes,
acelerando o crescimento da região enormemente e em uma escala,
então, desconhecida.
Esse crescimento referido, no recorte de tempo aqui trabalhado, é o
fruto principalmente da inserção industrial no estado, concentrada em
relação ao país e conferindo a cidade estatus de lo agregador
crescente. Langenbuch cita a idéia de que indústria atrai indústria
54
, e
54
Essa idéia é colocada no original entre aspas, não tem referências, fazendo parte de
para SAGMACS a expansão paulistana (metrópole) é quase sinônimo
da expansão industrial (na cidade)
55
. Essas idéias fazem bastante
sentido ao serem aplicadas no processo já contínuo, porém esses
mesmos estudos buscam os elementos que consideram estruturais,
que proporcionaram e incentivaram as primeiras instalações.
Antes de ser o local da industrialização, a cidade concentrava
riquezas; o café era o principal produto de exportação do país,
investindo na cidade grande parte de seu capital, mesmo essa não
sendo um centro produtor do grão. Antes de ser um núcleo industrial,
era um centro administrativo, comercial e financeiro que dava suporte
a outras atividades urbanas, como serviços de utilidade pública,
atividade imobiliária e indústria da construção
56
. Esse trecho explicita
tanto a pré-existência do capital, com quantidade sabidamente maior
que em outros estados, quanto percebe que a cidade era o local
onde este capital estava se reproduzindo, de maneira que a cidade
tinha um caráter pró ativo em relação ao capitalismo assim a inserção
industrial, entendendo-se pelas unidades fabris viria compor, modificar
o espaço e as paisagens, porém se agregava e otimizava (muitíssimo)
uma situação pré-existente. Todas essas condições ainda devem ser
olhadas introspectivamente para que se reconheçam os elementos que
algumas passagens como um lugar comum, como uma verdade sem necessidade de
delongas (p. 183)
55
SAGMACS, op cit parte I-p.84
56
Citação de SAES, A. M. “O Campo da Economia”, in “Os Campos do Conhecimento
e o Conhecimento da Cidade” cadernos de História de São Paulo, n. 1 – Museu
paulista da Universidade de São Paulo, 1992, in SAMPAIO, M. Ruth Amaral e XAVIER
PEREIRA, Paulo César, “São Paulo, Cidade Global?” VII Encontro Nacional, Recife,
propiciaram tal transformação. Na literatura investigada, tanto
SAGMACS quanto Langenbuch apontam a existência de uma estrutura
que acolheria primeiramente o dinheiro do café transformava-se e
depois viria um período que além de acolher as unidades industriais,
também recebe seu capital modificava-se novamente e
continuadamente.
Esses elementos estruturais na visão dos geógrafos citados são
essencialmente elementos sicos, naturais, ou construídos. Neste caso
foram embasados numa perspectiva histórica (pelo cuidado que as
duas pesquisas têm) que aqui serão expostos brevemente para que
se compreenda sua fundamentação.
Em toda a literatura; destaca-se, primeiramente, a idéia do crescimento
vertiginoso: a cidade que era uma vila com uma escola e hoje é a maior
cidade da América Latina, ou a cidade pobre inteira que hoje é a maior
produtora de riquezas e ainda com traços tão miseráveis. Ou ainda a
cidade que os viajantes enxergavam como uma cidade de barro, de
taipa, que ainda mistura “barro” (metáfora para outras formas
domésticas e econômicas de construção) e concreto. Como
explicações, primeiro se destaca a sua “permanência” com ares de
perseverança, pois se São Paulo era uma vila pobre, como
sobreviveria? SUA primeira função era de colégio para a catequização
indígena, num processo concomitante aos aldeamentos, ou seja, na
contra-mão de alguma atividade econômica que pudesse render algum
1977.
dinheiro. Assim entende-se que sua primeira função não tem sentido
econômico, seguindo a margem do desenvolvimento da colônia. No
entanto os autores defendem que algumas características intrínsecas
do local ajudaram a formar o núcleo que se torna a cidade de hoje
entende-se, portanto, que alguns elementos estruturais permitiram a
sobrevivência e posterior desenvolvimento de São Paulo,.
Para SAGMACS a idéia principal era a implantação de o Paulo num
local estratégico entre o litoral (onde se concentrava população e
produção) com o interior do país, sobretudo a partir da época das
bandeiras. No período colonial a cidade quase o apresenta
crescimento, é uma situação de existência” apenas, porém na fase de
conquista do interior seja atrás de ouro ou da mão de obra indígena,
seguindo os aldeamentos São Paulo representava um ponto de
partida. Assim a cidade adquiria uma estrutura “centrífuga” – ou seja, se
configura como um centro de onde se irradiam rotas – ainda que não se
comportasse como um local de permanência da população que era
itinerante, porém crescente.
Para Langenbuch, cuja análise desenvolve mais detalhadamente as
primeiras formas de São Paulo, a cidade tem ainda outras
características que compõem sua estrutura. Embora a visão de São
Paulo como ponto estratégico também seja fundamental - as relações
com seu entorno são definidas de modo diferente. Em linhas gerais,
destaca São Paulo como o grande centro polarizador de atividades
múltiplas que ocorriam em sua volta: percebe-se nitidamente um papel
polarizador da cidade de São Paulo na organização de seus arredores. A
cidade é circundada nitidamente por duas faixas concêntricas: o
‘cinturão das chácaras’ e o ‘cinturão caipira’
57
. Essa análise reforça a
idéia de São Paulo como centro, porém as relações com os arredores
são ora centrípetas, ora centrífugas. O autor examina diversas
atividades que funcionariam segundo essa relação: a agropecuária
(antes do café ou cana de açúcar) era intensa, era para o
abastecimento da pequena cidade e entorno, com variedade de
forma que a cidade servia como ponto tanto de absorção de parte
como centro de recolhimento e distribuição; funcionando, portanto, nos
dois sentidos.
Além disso, destacou as funções religiosas, administrativas e
educativas como um fator de convergência. Essas relações, para sua
atividade, demandam equipamentos, que acabaram tendo
representatividade na estrutura, como os caminhos e pousos para
esses movimentos em mão dupla o que, segundo o autor era uma
estrutura modesta porém capaz de manter vínculos da capital com
povoados no entorno da cidade, que se formavam com essa
dependência em relação ao pólo. Esses povoados, antes do café, não
se caracterizaram por crescimento ou progresso, mas por uma situação
modesta e linear.
58
57
LANGENBUCH, op cit p. 76 – na analise desses elementos o autor revela que são
dispersos põem a idéia de cinturão se dá pela relativa distancia equivalente da cidade
como centro polarizador.
58
LANGENBUCH, op cit p. 75
A expansão cafeeira impulsiona a transformação de vila à grande
cidade. Um salto. O estado de São Paulo, por condições naturais e
também por ter caráter experimental de busca de riquezas, concentra
a produção do grão que se torna fundamental na economia brasileira.
A lei de terras de 1850 que determina “propriedade”, de forma que a
terra não era apenas mais uma questão de ocupação; isso, associado
à abolição e à importação de mão de obra, faz a cidade se tornar
espaço dos que o tem terra, a cidade cresce em número, e é onde a
vida se torna possível. Além disso, cooperando com a fase
expansionista da agricultura, o estado recebe muitos investimentos na
sua infra-estrutura de transportes, e comunicações. A cidade de São
Paulo, desenvolvendo a centralidade que manifestava, é o ponto que
irradia as ferrovias, que concentra as decisões e os capitais a serem
reinvestidos, também se tornava referência de serviços, comércios,
construções e outras maneiras de se absorver e gerar novos recursos.
No estado se estabelecem linhas férreas que cobriam a produção, além
de melhorias nos caminhos e estradas ou seja em termos de infra-
estrutura o estado é renovado.
Para Langenbuch, a fase que analisa esse desenvolvimento é entre
1875- 1915 a ferrovia foi o principal elemento reorganizador do
espaço
59
, determina uma mudança nas relações com os cinturões:
alterna as condições das distâncias, ou seja, o fato de tornarem áreas
mais comunicáveis e acessíveis faz com que muitas se incorporem à
cidade e outras possam funcionar com maior ligação: o cinturão das
59
LANGENBUCH, op cit p. 129
chácaras” é completamente anexado, o cinturão caipira se diversifica,
se desenvolve e se relaciona ainda mais com a capital, seja pelo
mercado crescente, seja pelo peso político que representa. Nos
arredores da cidade, se instalam nesse período as primeiras indústrias,
modificando a paisagem e as formas de ocupação de áreas
suburbanas. Muitas dessas áreas, segundo o autor, começariam nesse
período a notar as vocações (funcionais), que posteriormente
desenvolveriam.
60
SAGMACS desenvolve esse estudo parte no sentido do levantamento
cadastral citando Railways, Bancos e outros serviços que se instalavam
e cresciam, concluindo que o estado e a cidade tiveram grandes
investimentos, fundamentais para a formação de sua estrutura como
base de atividade para o desenvolvimento nacional. Ressalta também,
fundamentalmente, o papel do transporte além de ser uma estrutura
física, funcionou como um instrumento de expansão A influência de
São Paulo cresce rapidamente ao longo se suas ferrovias e rodovias
61
a rapidez do transporte une distâncias fazendo com que cidades até
então com vida independente de São Paulo recorram a capital para
serem ora fonte de abastecimento, ora como escoamento de
produções especificas cidades que se desenvolviam de forma mais
independente (como Jundiaí, São José dos Campos, Santos) são
polarizadas pelos tentáculos da cidade. Assim a estrutura da cidade é
vista nesse momento de maneira mais complexa: era centrifuga, pois
ainda se dispunha no sentido da procura de riquezas; centrípeta, por
60
idem p. 128, 129
voltar grande parte dessas riquezas para si e tentacular, expandindo
sua influência ao criar novas condições de desenvolvimento para áreas
antes menos acessíveis
62
.
Essa abordagem, na historiografia de São Paulo, muitas vezes é
descrita como uma ruptura, usando a idéia de renascimento, ou de
formação de uma outra cidade sobrepondo-se á pré existente: “É
conhecido que um conjunto de estudos sobre São Paulo periodiza uma
evolução no crescimento da cidade identificando diferentes datas como
sendo de sua "fundação". A data de 1872, início do governo de João
Theodoro, por exemplo, ficou consagrada pelo historiador Eurípedes
Simões de Paula como de uma Segunda Fundação de São Paulo. O
geógrafo Pasquale Petrone, acrescenta nesta perspectiva, que na
primeira década do século XX registrou-se o que poderia ser
denominado de "terceira fundação da cidade". Nesta mesma linha de
formulação o arquiteto Benedito Lima de Toledo tornou conhecida a
expressão título de seu livro: São Paulo, três cidades em um século’,
referindo-se à uma história de várias cidades sendo rapidamente
destruídas e reconstruídas, num mesmo lugar, nesse curto período”
63
A
data de 1872 representou formalmente, fisicamente, o aburguesamento
de o Paulo, com modernização urbanística e renovação de técnicas
construtivas e arquitetura ou a cidade de tijolos a qual se referem os
arquitetos, Carlos Lemos e Benedito Lima, a segunda cidade que
61
SAGMACS, op cit parte I-p.22
62
idem parte I-p.26
63
XAVIER PEREIRA, Paulo César “SÃO PAULO, UMA OU VÁRIAS CIDADES E
HISTÓRIAS?”
superaria a taipa- essa notação representa a uma ruptura formal, faz a
figura de uma cidade nova sobre a outra. Uma outra estrutura. A
terceira fundação seria ainda uma intensificação desses esforços,
abrindo maiores possibilidades de transformação e modernização,
pelos trabalhos dos prefeitos Antônio Prado e Raimundo Duprat,
pertencendo ainda á metrópole (em formação) do café ou seja, a
concentração de divisas que proporcionavam e se apropriavam
também das melhorias urbanas. Novas estruturas.
A interpretação da evolução da cidade pela modificação de suas
estruturas, somente, não explica motivos nem fornece compreensões
para sua evolução. As estruturas entendidas nas analises mostradas
compreendem abrangências formais, ou seja, se mostram evolutivas
pelas existências físicas e espaciais dos elementos – e a transformação
de suas formas e relações, porém, sem análise histórica não se
compreende o processo sócio-espacial de sua formação
64
.
O que se quer dizer é que as metáforas das fundações de o Paulo
apresentam as novas estruturas que se configuram na cidade, que não
se explicam p or si, e sem a visão perspectiva pouco fazem sentido
elas são o registro de épocas, porém as permanências ou
modificações, ou ainda as possibilidades que estimulam os “surtos de
urbanização” é que explicam a cidade, sempre em mudança, mas
ainda a mesma, carregando traços que podem ser renovados.
FAUUSP
64
Na exposição de Xavier Pereira , a cidade é colocada como um processo sócio-
espacial, e a produção do espaço se entende a partir dessa concepção.
2.2 Leitura da
2.2 Leitura da2.2 Leitura da
2.2 Leitura da
cidade
cidade cidade
cidade
– A estrutura da São Paulo nos anos 50
A estrutura da São Paulo nos anos 50 A estrutura da São Paulo nos anos 50
A estrutura da São Paulo nos anos 50
Como foi mostrado, São Paulo no começo do século XX era uma
grande cidade que exercia influência no seu entorno tanto
geograficamente (por ser estratégica) quanto funcionalmente por uma
condição centralizadora de expansão e concentração de recursos e
atividade. Isso é comum às duas análises que serão abordadas nessa
parte do estudo.
2.2.1 O aglomerado
2.2.1 O aglomerado 2.2.1 O aglomerado
2.2.1 O aglomerado
– SAGMACS 1957
SAGMACS 1957 SAGMACS 1957
SAGMACS 1957
O trabalho, como foi introduzido neste capítulo, se desenvolveu na
execução de um levantamento completo, análise dos dados e um plano
de recomendações. A primeira abordagem levanta a presença de
elementos que depois forma interpretados por suas condições,
relevância e relação entre eles – compondo o que a SAGMACS chamou
de “estrutura do aglomerado de São Paulo”.
O questionamento que norteia o estudo é a relação de” crescimento da
metrópole” x capacidade” x “desenvolvimento”, ou seja, um
crescimento que seja qualitativo. A idéia da ascenção é um mecanismo
essencial para a discussão urbana nos anos 50 então a SAGMACS
analisou duas estruturas: a da expansão e a urbana, sendo que essa é
nitidamente considerada condicionada pela primeira. “Estruturas” são
construções intelectuais, que permitem tais vínculos e complexidade.
A estrutura da expansão paulistana
A estrutura da expansão paulistanaA estrutura da expansão paulistana
A estrutura da expansão paulistana
A expansão, para SAGMACS, tinha basicamente significado
econômico, ou seja, entende-se que o capital é a forma incentivadora
do crescimento e também o principal elemento que pode modificar a
estrutura da cidade. Com esse conceito, a expansão paulistana foi
formulada em termos econômicos – ou seja, SAGMACS relatou as
atividades econômicas todas crescentes na cidade mostrava ainda
que a tendência, ao se desenvolverem, é gerar mais riquezas em todos
os setores e modificaria o espaço. Os elementos sicos dessa
estrutura de expansão eram as atividades econômicas, a relação entre
elas é de “estímulo”, configurando a estrutura da expansão.
Em 1956, o comércio
comérciocomércio
comércio na cidade era responsável por 61% das vendas
de todo o estado
65
o que representa a centralidade dessa atividade
(que se utilizava dos meios de circulação do estado para poder
receptar todos os tipos de produto) além de destacar a cidade como
importantíssimo mercado consumidor. Essa força era além do estado
representava o maior mercado de consumo do país: A maioria dos
estados recebe de São Paulo por vias internas de 15 a 21% de sua
renda territorial
66
. Assim se demonstra a cidade como um centro de
produção e distribuição de riquezas, com um comércio forte que
movimenta essa relação: absorve muito de sua produção, era o estado
65
SAGMACS, op cit parte I-p.85
66
idem parte I-p.91
que tem maior peso nas exportações e ainda gera renda para outros
estados, absorvendo parte de suas produções.
A indústria
indústria indústria
indústria foi considerada o carro chefe dessa expansão. As indústrias
(unidades fabris) em grande parte locavam-se em o Paulo, porém
essa capacidade estava extrapolando-se, formando outros eixos de
expansão em São Paulo destacava-se a variedade, e nos municípios
vizinhos e nestes eixos havia uma tendência á especialização, em
termos de “estrutura” isso faz sentido na medida em que o Paulo
era o centro dos mercados e tinha mais condições, pôde absorver tal
variedade, enquanto nos municípios vizinhos suas estruturas eram
otimizadas em função de um tipo de produção. No entanto essa
tendência indica o começo de uma descentralização industrial.Em 1940
eram 4.876 estabelecimentos industriáis no município, em 1950, 5.277 e
em 1955, 6.156
67
, esses dados indicam que mesmo já havendo a
expansão e a tendência a descentralização a cidade continua
recebendo unidades, ainda que se percebesse o processo de
desconcentração.
Além disso, principalmente por ser uma área fértil para o capital, São
Paulo ainda concentrava os maiores investimentos
investimentosinvestimentos
investimentos para prosseguir seu
crescimento. Era na cidade que o capital se reproduzia, e era
reinvestido para estimular ainda mais a expansão, principalmente no
67
SAGMACS, op cit parte I-p.95
setor industrial: em 1956, 71% dos investimentos na capital foram
direcionados para a indústria
68
,
Outro elemento que fomentava a expansão, segundo a SAGMACS, era
a população
populaçãopopulação
população. A concentração populacional em são Paulo era crescente,
era o maior mercado de consumo e de trabalho: se por um lado a
imigração interna era atraída pelas industrias, esta também era atraída
pela imensidão da população. Em 1955, 43% da população ativa do
município estava empregada nas indústrias, em outras cidades do
aglomerado esse contingente era ainda maior em Santo André, por
exemplo era de 68%
69
. Nesta análise a SAGMACS ressaltava outra
característica: os crescentes investimentos na área da educação e
cultura, que neste ponto eram vistos como bens de produção, na
medida em que capacitaria a população, se revertendo em melhorias
para o setor industrial também.
Assim os elementos eleitos pra a estrutura da expansão econômica
eram: comércio, indústria, investimentos e população, que combinados
–regidos pela “indústria” foram entendidos como a estrutura da
expansão que formava um mecanismo “auto-propulsor” do
crescimento da cidade, ou seja, juntos a cidade não pararia essa
característica é entendida como um “espírito paulistano”, o que se nota
nas seguinte passagem:
68
SAGMACS, op cit parte I-p.99
69
idem parte I-p.97
“A Capital influi não somente com disponibilidade
financeiras e técnicas, mas também com o espírito
de iniciativa, com o dinamismo que lhe é próprio,
ambos elementos que foram decisivos pra sua
própria estrutura atual”
70
Dessa forma a expansão é entendida como um mecanismo ou seja
uma estrutura que será um dos elementos para se entender a
estrutura da cidade existente. Um elemento fundamental para se propor
a estrutura da cidade idealizada- pois esse “espírito” era definitivo para
a construção da cidade moderna fetichizada.
A estrutura urbana
A estrutura urbanaA estrutura urbana
A estrutura urbana
A abordagem da SAGMACS para o estudo da estrutura urbana é
geográfica. Os elementos históricos foram expostos principalmente
para a compreensão da expansão, porém na busca da identificação da
estrutura se trabalhou basicamente com os elementos sicos e dados
estatísticos a perspectiva histórica serviu como uma auxiliar para a
avaliação dos resultados. Convém destacar, também, que o objetivo
desse estudo não é se estender pelos vínculos estruturais, elementos
descritivos de todas as áreas da cidade (que estão muito detalhados no
estudo-base da SAGMACS) e sim delimitar o que era a “estrutura
urbana” entendida nos anos 50.
70
SAGMACS, op cit parte I-p.102
O primeiro conceito definido que foi relevante à pesquisa seria a
considerado “área urbanizada”: um núcleo que seja servido de
equipamentos, como comércio e serviços públicos (ainda que sejam
escalas bastante amplas em níveis de desenvolvimento extremamente
desiguais) e que estejam dentro de limites municipais. Nesse ponto é
importante ressaltar a heterogeneidade dos núcleos, porém cada um
deles apresenta porções homogêneas de suas condições, ou melhor,
núcleos mais desenvolvidos apresentavam relativamente a mesma
qualidade em vários pontos, ao contrário dos mais carentes que tinham
essa condição generalizada. Essa consideração não declara que toda a
área municipal seja urbanizada.
Os elementos que a SAGMACS elencou como fundamentais para a
identificação da estrutura da cidade são:
1) Circulação
CirculaçãoCirculação
Circulação: entendendo pelos movimentos gerados pelo
trabalho e pelas atrações especificas de cada local.
2) Tipos de agrupamento
Tipos de agrupamentoTipos de agrupamento
Tipos de agrupamento, esse elemento a SAGMACS analisa a
partir do que denominou “níveis coletivos de vida”, que se
compreendem na escala de uma vizinhança, e nas articulações
hierarquizadas entre elas.
3) Equipamentos e serviços básicos
Equipamentos e serviços básicosEquipamentos e serviços básicos
Equipamentos e serviços básicos: elementos que servem as
áreas, configurando situações desiguais.
4) Ocupação por renda
Ocupação por rendaOcupação por renda
Ocupação por renda: a concentração de rendas em áreas
específicas é considerada um elemento formador existe uma
relação com o meio que ora pode ser predadora, ora pode
aparecer em melhorias. As formas de ocupação são
consideradas elementares para a paisagem urbana.
5) Tipologia das habitações
Tipologia das habitaçõesTipologia das habitações
Tipologia das habitações: modos de morar e arranjo entre delas
são fundamentais na formação do espaço.
6) Comércio:
Comércio: Comércio:
Comércio: genericamente já é um elemento atrativo, porém os
níveis de especificidade e a locação interferem na formação do
espaço.
7) Serviços:
Serviços:Serviços:
Serviços: a disponibilidade e acesso também são elementos
importantes no estudo.
Esses itens são pesquisados em todas as áreas de São Paulo. Na
medida em que se configuram e se relacionam se delineava a estrutura
urbana. A estrutura da SAGMACS se baseou em estudo abrangente
que fez um verdadeiro inventário da cidade analisando o que tinha,
como era, procurando um significado entre as partes.
Entre esses elementos, um se torna fundamental na pesquisa e na
proposta da estrutura urbana para SAGMACS: os tipos de agrupamento
são “unidades coletivas de vida” que foram explicadas em três
escalões:
I) Unidade elementar
Unidade elementarUnidade elementar
Unidade elementar, onde as necessidades da vida cotidiana se
satisfazem em vel básico (geralmente na escala de circulação a pé)
pequenos comércios, pontos de ônibus, orelhões, caixas postais.
II) Unidade complexa
Unidade complexaUnidade complexa
Unidade complexa: um segundo grau das necessidades, mais
eventuais, ocorrendo em distâncias de diâmetro de 3 Km - o que
mostra a questão geográfica na interpretação da cidade.
III) Unidade autônoma
Unidade autônomaUnidade autônoma
Unidade autônoma: permite o desenvolvimento de todas as funções
essenciais (trabalho, habitação, saúde, educação e laser).
Com esse foco, todos as regiões da cidade foram investigadas, a fim
de se identificar quais eram as unidades complexas nos bairros, quais
eram as relações e as desigualdades. Em São Paulo, muitos bairros
não funcionavam como unidades completas, dependendo da estrutura
de outros, que acabavam tendo uma super-utilização, o que também
não era funcional. Destacou-se o exemplo da Casa Verde e sua
completa dependência por Santana além de ser mais distante, era
uma relação de usurpação, na medida em que tomava os
benefícios, sem oferecer nenhum. Por outro lado, antigas ocupações
como Santo Amaro, Pinheiros, funcionavam praticamente como
unidades autônomas – e polarizavam seus entornos imediatos.
Na elaboração do quadro das unidades, a estrutura da cidade
apresentava uma distinção entre as zonas centrais, densas e ocupadas,
e a periferia (ainda entendida pelo conceito geográfico como a parte
que circunda o centro) se apresentava com um caráter extremamente
heterogêneo. Além dos núcleos já apontados historicamente que foram
englobados à cidade com o crescimento em termos de área pelas suas
bordas (com a figura da estrutura tentacular)–– o tecido era preenchido
transformando áreas rurais em urbanas, principalmente na forma dos
loteamentos. Estes poderiam ser de alto padrão como os da
Companhia City ou mais populares em áreas comumente menos
acessíveis como era de se esperar, e confirmado nos estudos
anteriores, a zona de maior crescimento é a periferia
71
. Nessas aéreas,
os equipamentos são os essenciais Os primeiros equipamentos
geralmente encontrados são a eletricidade domiciliar e a pavimentação
da rua principal, que corresponde, na periferia, às vias de acesso para
toda a zona.”
72
.Essas peculiaridades espaciais conferiam á periferia,
ainda que heterogênea, um caráter predominantemente menos
desenvolvido o índice de insatisfação com condições era de 93% em
todas as unidades que o eram do centro
73
. Apesar de o ser um
modelo ideal, era uma prática lícita.
Essa situação de desigualdade, era então registrado como extrema
segregação das classes sociais (...) praticamente toda a periferia, que
corresponde á zona de baixo nível de vida, contem unidades compostas
quase exclusivamente de classes populares urbanas - essa situação
impede a esses habitantes de conhecerem um nível de vida diferente, a
aspirarem melhorar sua condição. Por outro lado, devido ao baixo nível
cultural das classes populares, essas unidades ficam desprovidas de
líderes eficientes, capazes de contribuir para a melhoria da situação
74
segundo a pesquisa, 56,8%
75
a população da periferia era formada por
classes populares. O comércio nessas unidades foi classificado como
19% péssimo, 48% medíocre e apenas 33% satisfatório, ressaltando-se
que nessa estatística os antigos pólos e os loteamentos novos de todas
as classes também são contabilizados. Esses comentários parecem
71
SAGMACS, op cit parte II-p.60
72
idem parte II-p.70
73
SAGMACS, op cit parte II-p.73 – dado de pesquisa de opinião com os moradores.
74
idem parte II-p.80
eliminar a heterogeneidade na formação do elemento , ou seja, na
mesma medida que ela é apontada nos estudos, a periferia começa a
ser entendida como um sinônimo de área subdesenvolvida e menos
abastada caminhando para o que, posteriormente, vai se transformar
num sujeito social.
Uma outra questão em relação a falta de infra-estrutura e trabalho nos
locais mais afastados era a dependência em relação ao centro,
principalmente a problemática do deslocamento que esse vínculo
gerava.
O centro foi analisado como uma área mais completa: infra-estrutura,
moradia, equipamentos de laser, meios de transporte, vias, tudo mais
concentrado e em melhores condições. Além disso, para certas
especialidades, toda a cidade tinha o centro como única referência:
- repartições administrativas e políticas se concentravam, inclusive em
termos de poder.
- comércio variado e específico, existiam gêneros que no centro tinham
as únicas fontes
76
.
- alguns níveis de educação: universidades e outras unidades de ensino
superior eram exclusivas da região central.
Além disso, era de onde se irradiavam as vias e tinha maior
acessibilidade em meios de transportes para outras áreas da cidade
ainda que esse setor se demonstrasse ainda carente. Dessa forma, o
75
SAGMACS, op cit parte II-p.81
centro, na análise de atração tinha uma posição extremamente
diferenciada em 1957, era o coração da cidade, concentrava de fato, a
centralidade.
Ainda que algumas unidades autônomas existissem (destacam-se
Santo Amaro, a Lapa, Pinheiros, Santana e Osasco que ainda fazia
parte da cidade) ou outros municípios da “great São Paulo” que tinham
seus centros, a hierarquização era clara. A vida cotidiana poderia ser
perto de autônoma, porém na estrutura desses elementos, o centro era
diferenciado, era referencial. Assim, em 1957, existia uma relação
“centro periferia”, o modelo radiocêntrico se formava. Um centro forte,
funcional e homogêneo. Uma periferia de diversas unidades dispersas,
em níveis de desenvolvimento distintos com relações de hierarquia
entre si, porém polarizadas pelo centro
77
.
Estrutura: problemas e s
Estrutura: problemas e sEstrutura: problemas e s
Estrutura: problemas e soluções assinalados
oluções assinaladosoluções assinalados
oluções assinalados
Para esta análise é necessário esclarecer alguns pontos:
- A SAGMACS, por mais que exalte o crescimento de São Paulo e seu
“espírito empreendedor” tem uma posição crítica em relação ao
desenvolvimento urbano. Sempre fez menções a impasses político-
administrativos; indo, portanto, além das características formais
76
Mostrando-se exatamente como a idéia do “core” do modelo da cidade de Smailes.
77
Nessa analise, a estrutura apontada para São Paulo é o modelo de “core” e
“integuments” de Smailes, porém sem a distinção de juízo, que na analise da
SAGMACS já entendia a periferia como uma ocupação mais carente.
outras estruturas então se envolvem nas críticas, como o setor de
planejamento e o financeiro da cidade que foram considerados
operacionalmente problemáticos para a ordenação da cidade.
- Outro ponto fundamental é o que a SAGMACS entende por problemas
de estrutura urbana; seriam, principalmente, inadequações da economia
dos “equipamentos bem como dos transportes
78
.
Esses pressupostos, então, diferenciam dois níveis da questão:
operacionais, como elaborar e executar o plano e dos elementos físicos
e estruturais que o as peças que, no espaço, poderão compor uma
nova estrutura. A “cidade orgânica”
79
, estruturada, em linhas gerias
tinha um modelo: a idéia da cidade ideal uma estrutura de “unidades
complexas”, polarizadas, porém com um nível de dependência bem
menor em relação ao centro, ou aos centros. Essas áreas deveriam
apresentar maior equivalência, tanto de oportunidades, como de infra-
estruturas. O quadro apresentado mostra como são diversificadas as
ocupações dos subdistritos de São Paulo nessa época áreas
inchadas e áreas ainda poderiam ser preenchidas:
População de São Paulo, segundo os distritos e subdistritos
População de São Paulo, segundo os distritos e subdistritos População de São Paulo, segundo os distritos e subdistritos
População de São Paulo, segundo os distritos e subdistritos –
01/07/1950
01/07/195001/07/1950
01/07/1950
População (números absolutos)
total 2.198.096
78
SAGMACS, op cit parte II-p.112
79
o termo “orgânico” é usado diversas vezes no texto como sinônimo de ideal e
oposto á espontâneo e desordenado.
Distrito de São Paulo 2.114.692
Aclimação 28.900
Alto da Móoca 87.422
Barra Funda 29.492
Bela Vista 44.937
Belenzinho 63.364
Bom Retiro 23.036
Brás 67.950
Butantã 32.026
Cambucí 45.815
Capela do Socorro 7.533
Casa Verde 58.639
Cerqueira César 25.560
Consolação 34.807
Ibirapuera 27.310
Indianópolis 28.622
Ipiranga 114.038
Jardim América 37.555
Jardim Paulista 54.093
Lapa 87.197
Liberdade 43.064
Moóca 48.142
Nossa Senhora do Ó 50.013
Osasco 41.326
Parí 40.951
Penha de França 82.811
Perdizes 67.900
Pirituba 26.739
Santana 90.276
Santa Cecília 38.182
Santa Efigênia 38.794
Santo Amaro 39.510
Saúde 107.060
9.288
Tatuapé 133.795
Tucuruvi 88.331
Vila Madalena 30.678
Vila Maria 54.375
Vila Mariana 57.024
Vila Matilde 38.116
Vila Prudente 90.023
Distrito de Guaianases 10.057
Distrito de Itaquera 14.886
Distrito de Jaraguá 2.543
Distrito de Parelheiros 7.141
Distrito de Perus 5.607
Distrito de São Miguel Paulista 37.713
População em Trânsito
5.457
6.510.886
Fonte: Serviço Nacional de Recenseamento (SAGMACS op cit Anexo
p.72)
O desenvolvimento da cidade apresentava elementos que iam à
contramão a esse modelo, de forma que foram identificados como
pontos falhos a serem combatidos com urgência diversos grupos de
problemas:
1) problemas de densidade populacional
problemas de densidade populacionalproblemas de densidade populacional
problemas de densidade populacional: a ocupação dispersa
preocupava na medida em que é anti-econômica ou seja uma
forma que não se apropria adequadamente de equipamentos
existentes, não otimizando seu uso, e não se desenvolve
estruturada. Em níveis de extrema densidade, os equipamentos
podem não ser suficientes para o uso. Era necessário
regulamentar as densidades populacionais nas diversas áreas
levando-se em conta características físicas e especificidades de
uso delas, de maneira que os efeitos predatórios do crescimento
da porção periférica sem estrutura e o aumento excessivo que
vinha ocorrendo no centro com a verticalização fossem
atenuados em função das condições que as áreas dispunham.
Para isso, desde então, surgiu a idéia da criação de novos
centros terciários e secundários, com instrumentos de controle
das construções e visando a locação de áreas habitáveis,
naturalmente ou estruturalmente favorecidas.
2) espaços de recreação
espaços de recreaçãoespaços de recreação
espaços de recreação : a SAGMACS aponta a escassez
absoluta de parques infantis e jardins que compusessem a
paisagem e trouxessem qualidade de vida aos cidadãos.
3) praças públicas
praças públicaspraças públicas
praças públicas: numa conjunção dos itens 1 e 2 existe o
apontamento da falta de espaços públicos de uso coletivos e
variados, que pudessem sediar os centros de bairro. Na
periferia, sobretudo, se aponta a total inexistência de locais de
reunião da comunidade. Ou seja, locais com características
espaciais que oferecessem qualidade e suporte para a
cidadania, independente da especificidade de seu uso.
4) falta de pa
falta de pafalta de pa
falta de pavimentação
vimentaçãovimentação
vimentação: julgamos que pelo menos deveriam
poder ir do centro das unidades às residências sem andar na
lama em dia de chuva, como o que acontece em quase toda a
periferia”
80
esse problema era pertinente sobretudo nas áreas
mais afastadas e menos abastadas. Essa idéia reforça a
conjunção de “carência” e “periferia”.
5) transportes coletivos:
transportes coletivos: transportes coletivos:
transportes coletivos: insuficientes. Esses além de aumentarem
em número deveriam operar segundo essa estrutura de
unidades complexas (servindo uma área determinada). E
organizadas pela polarização do centro principal, de modo que
assim uma área se tornasse acessível a outra.
6) comércio e serviços:
comércio e serviços: comércio e serviços:
comércio e serviços: essenciais para a composição dos centros
secundários - ou seja, os veis presentes na vida cotidiana não
se apresentavam igualmente em todas as áreas, de maneira que
era necessário um condicionamento de suas implantações.
7) indústrias
indústriasindústrias
indústrias: vistas como o principal elemento do mercado de
trabalho, sua concentração prejudicava o trânsito dos
trabalhadores. As pequenas indústrias deveriam ser difusas e
presentes em todas as unidades complexas, as grandes e de
atividades específicas poderiam ser setorizadas, embora não se
use o termo “impacto ambiental” essa era a idéia. Essa
distribuição reestruturaria a circulação, havendo em todas as
áreas mercado de trabalho.
80
SAGMACS, op cit parte II-p.115
8) Educação
EducaçãoEducação
Educação: deveria ser aumentada em todos os níveis e
distribuída em todas as unidades, o ensino profissional e a
capacitação técnica é essencial para a elevação do nível de
vida”
81
.
9) O centro principal:
O centro principal: O centro principal:
O centro principal: a característica da centralidade seria
reforçada por elementos que ele tinha: centro irradiador de
vias e acessos, e referência de alguns tipos de serviços e
comércio, além de alguns equipamentos exclusivos, como
biblioteca central, teatro municipal, locados mas comuns para
toda a cidade.
10) Habitaçã
Habitaçã Habitaçã
Habitação:
o:o:
o: No centro o problema é com a alta densidade
devido a verticalização e com formas insalubres de moradias: os
cortiços. Na zona periférica o problema era apontado como mais
urgente as condições de habitação são piores. Com
crescimento da população essas condições tendem a se
agravar, de maneira que medidas de controle e orientação das
novas habitações são essenciais. Sugeriu a criação de um órgão
especial para habitação, estímulos à iniciativa privada, projetos
coletivos, como formas que promoveriam a melhoria dos bairros
periféricos.
Ao identificar os problemas, a análise da estrutura sugere soluções da
mesma forma: em elementos que depois vão ter relações uns com os
81
SAGMACS, op cit parte II-p.121
outros, ou seja, além de método de compreensão, “estrutura” se tornou
um instrumento de planejamento, no processo da SAGMACS.
2.2.2 A análise de Langenbuch
2.2.2 A análise de Langenbuch2.2.2 A análise de Langenbuch
2.2.2 A análise de Langenbuch
O período analisado é chamado de “a grande metropolização recente”
demarcado entre 1940 e 1966, coincidindo grande parte com a cidade
analisada pela SAGMACS. É importante ressaltar que esse estudo é
feito posteriormente, é publicado em 1971, inclusive “A Estrutura da
Aglomeração de o Pauloé referência bibliográfica. Considerou-se o
período entre os anos 40 e 50 como uma fase de transição uma
estrutura de expansão para a metrópole dos anos 70. Novamente vale
lembrar que o objetivo desse relato é entender o modelo formulado, o
padrão que explica a cidade, para que se entenda a evolução e
pertinência do conceito de estrutura.
O autor analisa as formas de expansão urbana essa escolha foca a
estrutura de uma maneira diferente neste caso entende-se a estrutura
urbana exclusivamente a partir dos mecanismos de crescimento, ou
seja, a cidade era a expansão. Ao invés de um aprofundamento nas
questões físicas das relações entre diversas partes, os elementos
formadores dessa estrutura eram as formas do crescimento, pouco se
detendo nas pré-existências como elementos estruturais.
A forma que descreve o processo de urbanização é o que o autor
denomina de “compactação da cidade” – “um grande crescimento
conhecido pela cidade em seu domínio propriamente urbano
82
, isso se
justamente pela verticalização, ocupação de terrenos vazios,
extensão por arredores não urbanizados ou por áreas suburbanas
fazendo a absorção de antigos núcleos. Desse modo um
crescimento extensivo, porém dentro dos limites municipais, conferindo
aspectos de tecido urbano a áreas que antes não tinham tais
características. O processo todo foi denominado, genericamente, de
desenvolvimento suburbano ou peri-urbano”, demonstrando o
crescimento pelas bordas de um núcleo, que se estendia em direção a
outros formando espaços distintos, porém com a predominância de
carência.
Para isso, ao invés de adotar os componentes físicos urbanos, a
estrutura “expansionista” estudada elenca os seus elementos como os
agentes do crescimento. Ou seja, nessa abordagem, a estrutura era
constituída por partes - muitas vezes com presença física – eram
designados pela sua função e condição de transformar os espaços
com tecidos urbanos bastante heterogêneos pela forma de expansão
que adquirem.
Basicamente os elementos apontados nessa estrutura foram os meios
de transporte, vias de circulação, habitação (pelas novas formas de
produção) e indústrias.
82
LANGENBUCH, op cit p. 179
As ferrovias
ferroviasferrovias
ferrovias, em toda a exposição do autor, foram consideradas
elementos estruturais do espaço desde sua implantação. Além de
modificar o meio, na medida em que é uma construção, o movimento
que ela gera representou uma evolução técnica que alterava os limites
de distância e também a comunicação entre os pontos que liga. Neste
período ainda mantinha importância, porém com usos e relevância
específicos. Como a ferrovia participa da estruturação do espaço?
Primeiramente o autor aponta a permanência dos subúrbios-estação”,
que representavam o crescimento de unidades com possibilidade de
trabalho, ou acesso a ele, além de comércio e habitação desenvolvidas
no entorno das estações, que então ligavam esses núcleos ao resto da
cidade. Muitos deles se tornam pólos industriais por serem acessíveis á
mão de obra, ao recebimento de matérias primas e ao escoamento de
sua produção. Nas linhas Sorocabana, Santos-Jundiaí, Variante Poá, e
linha tronco central, em muitos trechos a intensificação industrial foi
nítida e efetiva. No entanto essa condição não funcionou como uma
regra mesmo sendo considerado um elemento do desenvolvimento,
há lugares que não atingem ocupação similar significante – as linhas da
Cantareira e mesmo a Santos-Jundiaí em direção da Lapa não
chegaram a ter desenvolvimento industrial nesse período.
Algumas partes mantiveram o caráter habitacional, por serem um meio
de acesso ao centro, que ainda era um grande empregador de mão de
obra. Outras estações ainda eram localizadas em locais de atividades
extrativistas, mantendo tal característica.
É importante ressaltar que o autor identifica as linhas ferroviárias como
o agente de maior alcance, na medida em que agrega a metrópole
alguns núcleos e municípios mais distantes, que por esse meio tinham
seu crescimento condicionado ao de São Paulo. Outra característica era
que as linhas que cruzam os bairro finos colocam suas estações
isoladas, para se manterem afastados desse transporte, mais popular.
Apesar da grande importância o autor considera que o crescimento da
malha ferroviária em tamanho e qualidade não acompanhou o
crescimento populacional.
Outro elemento é o sistema rodoviário.
rodoviário.rodoviário.
rodoviário. O crescimento que os
automóveis e ônibus possibilitaram é menos limitado, acontece em
diferentes escalas – mais espalhados, afetam áreas de diversas de
maneiras, mas que o estudo de estrutura entende essas formas
“tipificadas”.
As “auto-estradas” surgiram nos anos 40, Via Anchieta, Via anhanguera
e Via Dutra. e já apresentavam características típicas de ocupação.
Essas se diferenciavam das ocupações de estradas comuns por
favorecerem as áreas imediatamente lindeiras, ou com indústrias, ou
com habitações. Formavam-se eixos de expansão ao invés de pólos.
O sistema rodoviário, segundo a analise de estrutura de Langenbuch,
possibilitava ainda outras formas de ocupação:
1) Subúrbi
SubúrbiSubúrbi
Subúrbios
osos
os-
--
-entroncamentos
entroncamentosentroncamentos
entroncamentos: desenvolvem-se a partir da
concentração de equipamentos urbanos nos entroncamentos de
rodovias, se tornando pólos de crescimento. Exemplos: Rudge
Ramos, Diadema, Taboão da Serra, entre outros.
2) Subúrbios
SubúrbiosSubúrbios
Subúrbios-
--
-ex
exex
ex-
--
-vilarejos:
vilarejos: vilarejos:
vilarejos: a acessibilidade permite que núcleos
rurais e outros assentamentos se desenvolvam a partir da
integração dessas áreas com mercado de trabalho e outras
funções urbanas, por exemplo: Campo Limpo, Capão Redondo,
Sapopemba, Caxingui, que se desenvolvem e acabam
absorvidos pela malha urbana.
3) Subúrbios
SubúrbiosSubúrbios
Subúrbios-
--
-loteamentos:
loteamentos: loteamentos:
loteamentos: a maioria destes núcleos suburbanos,
que surge com o apoio da circulação rodoviária, não se
desenvolve em função de nenhum pólo local de atração. Provém
de loteamentos cujo lançamento e cuja efetiva ocupação
dependem de fatores não geográficos(especulação imobiliária,
“agressividade de vendas”, facilidades oferecidas aos
compradores”
83
. Além disso cita o costume de povoação
rarefeita no começo, com os primeiros moradores se deslocando
a pé, a que se conquistem linhas de ônibus – que com o
desenvolvimento do núcleo teria rentabilidade garantida assim
esse “serviço urbano” também era uma forma de capitalização.
4) subúrbios
subúrbiossubúrbios
subúrbios-
--
-ônibus:
ônibus: ônibus:
ônibus: também funcionam a partir de um eixo de
expansão – uma estrada servida por ônibus, e não a partir de um
pólo.
83
LANGENBUCH, op cit p. 200
Esses tipos ainda podem ser diferenciados entre si, principalmente o
subúrbio loteamento, que depende de agentes e público alvo muitas
vezes tem a forma de viabilização e usuários o distintos que
configuram paisagens completamente diferentes.
Nessa atividade notou-se que a zona sudoeste era um vetor de
valorização com a Cidade Jardim Morumbi, que tinha partido
privilegiado de ocupação, com lotes grandes, bem servidos,
predominando a paisagem natural. Além disso, nessas regiões
desenvolveu-se um uso misto que agregava valor equipamentos da
escala da metrópole formam localizados nesses bairros, como o Jóquei
Clube e o São Paulo Futebol Clube. Ainda nesta mesma direção foram
feitos outros loteamentos que visavam a classe média nas direções da
Rodovia Raposo Tavares, o Jardim Bonfiglioli e Granja Viana. Outro
agente desse tipo de expansão, que diferenciava os seus “produtos”
eram os órgãos oficiais, conjuntos financiados pelos IAPi e IPESP, que
eram grandiosos porem com uniformidade arquitetônica em cada um
deles. Além dessas formas, se destacou a iniciativa do Bradesco com a
“Cidade de Deus” em Osasco uma cidade estruturada para seus
funcionários, formando ainda um outro tipo de “loteamento”, em 1953.
O grande restante se caracterizava pela homogeneidade e condições
mais precárias cujo grande atrativo mesmo é a oferta dessas terras. No
entanto, o autor destaca que existia a habilidade na escolha dessas
áreas, porém a atividade imobiliária não abriu novas frentes de
expansão urbana (ou suburbana) mas tão somente acelerou um
processo em andamento e lhe imprimiu características originais”
84
. Ou
seja, a expansão suburbana da cidade não era fruto de especulação
imobiliária, essa apenas acentuou um caráter predatório de um
processo fatal.
É importante ressaltar que à medida que o sistema rodoviário crescia e
se diversificava neste período também destacava a declividade relativa
da importância das ferrovias nesse processo. As ferrovias eram mais
eficientes para o domínio das distancias e também, numa perspectiva
histórica, tinham sido o mais importante agente de urbanização nos
núcleos de estações que agora estão sendo fagocitados na
metropolização. Mas nesse momento cidade crescia com maior
intensidade e mais flexivelmente sob a importância crescente das vias
de equipamentos automobilísticos.
Além desses elementos o autor ainda trabalha com outros: divisões
políticas e administrativas, no sentido da absorção, incorporação ou
desmembramento de municípios. Em São Paulo, neste período houve a
reincorporaração de Santo Amaro, e a emancipação de Osasco. A
construção da represa de Guarapiranga tornou necessária que a cidade
se expandisse para a região de Santo Amaro cujo desenvolvimento
passou a ser regido pela municipalidade. Por outro lado o autor aponta
que os locais que tiveram autonomia puderam reger suas melhorias
urbanas –mas não na mesma escala de uma represa. Com esse
84
LANGENBUCH, op cit p. 222
exemplo, cita essa manobra política como um elemento “prático” na
formação da estrutura urbana.
O autor ainda acrescenta um outro elemento: a zona rural de São Paulo.
A produção extrativista e agrícola vão se tornando cada vez mais raras
e se dirigem no sentido do afastamento da cidade. Nesta época, se
criam os centros de recreação campestre” que funcionavam como um
dispositivo de valorização imobiliária dessas áreas. Como parte
integrante da estrutura identificada pelo autor, essas áreas teriam
relações com a cidade, em duas funções: abastecimento (tendendo a
diminuir e não conferindo caráter de auto-suficiência) e como reserva
de áreas rurais que gradualmente se tornavam urbanas.
Dessa forma, então, o autor delineia uma estrutura para São Paulo pela
relação “acesso” x “foco” ou “eixo” de atração x possibilidade de
criação de valor, pois tanto as atividades industriais como imobiliárias
permitiriam ao espaço urbano tal propriedade. Assim, para
Langenbuch, a estrutura urbana de São Paulo era a estrutura de seu
crescimento, enfatizando o espraiamento. As funções centrais, as
funções de bairro tradicionais pareciam não interferir na cidade mais,
nesta abordagem foi considerado que suas bordas, seu crescimento
sem limites, se transpunham sobre suas pré-existências.
2.3 Anos 50: A Estrutura Compreendida
2.3 Anos 50: A Estrutura Compreendida2.3 Anos 50: A Estrutura Compreendida
2.3 Anos 50: A Estrutura Compreendida
Esse primeiro período de estudo a cidade se mostra inteira, estruturada,
porém se desfigurando pelo seu crescimento que supera a estrutura
identificada. Nas pesquisas estudadas, “estrutura” era uma relação de
um centro, hierarquicamente ligado a subcentros que eram
incorporados por uma crescente extensão urbana, tanto chamada de
periferia, como peri-urbana ou suburbana mostrando uma cidade que
crescia e sobrepunha a outras de maneira diversa porém
essencialmente carente em termos de infra-estrutura. Se, por um lado
era o local do “atraso”, por outro era onde o crescimento fatalmente se
estabeleceria da visão desenvolvimentista. Era tanto o lugar onde havia
as falhas quanto o lugar onde deitariam as bonanças. A idéia do
crescimento era a real identidade da cidade, tanto que Langenbuch
toma essa condição como sinônimo da estrutura da cidade.
Nesse aspecto é muito importante perceber a diferença entre a
abordagem e de tempo de cada uma das análises. O objeto de
trabalho de Langenbuch não era contemporâneo, ainda que próximo,
não era a transformação dincrônica, havia um resguardo temporal no
seu estudo, diferente da estrutura da SAGMACS. Além disso, seu
período determinado ia além do tempo da SAGMACS. Por isso não se
pode comparar os resultados das duas. Aqui foram unidas para a
discussão do conceito, verificando predominância da interpretação de
São Paulo, como uma unidade em expansão rápida e extensiva, que
tinha características que poderiam mudar para que se estimulasse o
crescimento, que numa ordenação “orgânica” poderia transformar a
cidade.
100
100100
100
Na questão do conceito, é importantíssimo notar que as duas
interpretações formam uma “estrutura” de São Paulo: a cidade é vista
como um objeto, num tempo definido. Para uma pesquisa, esse objeto
tem a finalidade de destacar uma conformação especifica da cidade
que é a base da próxima formação, como na interpretação de
Langenbuch que mostra a diferença dos modelos que são
identificados, ou seja, analisa a cidade como uma sucessão de
descontinuidades, de estruturas diversas, objetos que não remontam o
processo na media em que se montam como conclusões lógicas e
não como uma relação em que essa estrutura tanto é causa como é
efeito. Na outra abordagem, a estrutura” é método, se formou uma
compreensão, um sistema (um objeto), que por sua vez é a base de
transformação proposta aqui se multiplicou o termo, houve a
“reestruturação”. Essa idéia é fundamental para se entender como
“estrutura” pode ser tão diversa.
2.3.1
2.3.1 2.3.1
2.3.1 A Reestruturação da SAGMACS
A Reestruturação da SAGMACSA Reestruturação da SAGMACS
A Reestruturação da SAGMACS
A forma como SAGMACS entendeu São Paulo formou a “estrutura da
aglomeração”, esse era o primeiro objetivo do estudo foi interpretada
dando à cidade atributos de uniformidade mesmo com falhas e
diferenças. Porém, como foi mostrado, esse conjunto não estava
adaptado para o crescimento que estava acontecendo e tendia a ser
maior ainda. Com o estabelecimento de novas relações das partes que
a compunham, a precariedade seria superada. Seria uma nova
estrutura a partir das condições existentes e, no caso desse plano, das
101
101101
101
relações possíveis. Nesse ponto o trabalho entra no urbanismo e
planejamento urbano, a noção de estrutura para a geografia era um
método de estudo na decomposição do todo.
Esse capítulo mostrou o que SAGMACS identificou como os elementos
falhos da estrutura
85
, apontando possíveis soluções que deveriam se
articular no plano. O modelo ideal, segundo a estrutura da grande São
Paulo era basicamente fortalecer os núcleos secundários e terciários, o
que desafogaria o centro e levaria estrutura na forma de melhorias
urbanas para regiões mais distantes, o que foi chamado de “estrutura
multipolar orgânica”. Ainda haveria um centro, mais especializado,
85
como um resumo pode-se colocar as conclusões que eles elencam, o que já dá as
dicas de recomendações – o plano não entra na técnica de desenho – é um dossiê
com soluções e modificações necessárias – “Os pontos mais defeituosos apontados
(...) eram os seguintes:
- extensão espacial excessiva, da cidade, dos bairros suburbanos, agravando os
encargos de equipamentos e manutenção, de fato impossíveis de sustentar;
- congestionamento excessivo dos bairros centrais, em conseqüência da construção
tumultuosa de imóveis elevados, sem levar em conta as possibilidades de circulação
e estacionamento;
- ausência de grandes radiais em direção aos grandes conjuntos suburbanos;
- ausência das ligações perimetrais internas que permitem evitar o centro da cidade
nas comunicações entre bairros;
- ausência de perimetrais externas que liguem as auto-estradas e rodovias de grande
tráfico com o mesmo gabarito desses, a fim de evitar a travessia da aglomeração
pelas viaturas e caminhões que não têm de parar em São Paulo;
- insuficiência de espaços de estacionamento, de espaços verdes e de espaços para
mercados;
- insuficiência de meios de transportes
- má organização da circulação e dos dispositivos de sinalização;
- desorganização de bairros, a concentração excessiva de serviços públicos e
privados nos bairros centrais” (Anexo p. 84), portanto na questão urbana a
recomendação era descentralização.
descentralização.descentralização.
descentralização.
102
102102
102
porém, a escala de vida cotidiana deveria ser mais próxima
(geograficamente) do cidadão. A questão da cidadania, entendida não
apenas como condições humanas de viver, mas também como
aspiração de uma vida melhor eram fundamentais nessa reestruturação
proposta. Além disso, essa meta de humanização deu ao plano uma
sensibilidade que a idéia de estrutura, objetiva, exclui.
“São Paulo vem se apresentando como tipo quase
acabado de aglomeração desumana, mais
semelhante na sua maior extensão a um
acampamento que a uma cidade. São Paulo
cresce ao acaso em extensão e altura, segundo a
fantasia dos loteadores ou dos construtores de
arranha céus. Os loteamentos estão em franco
progresso e os arranha-céus crescem
furiosamente, um depois do outro, sem o
alargamento de ruas, sem reservas nem previsões
para estacionamento, sem medidas para
assegurar a circulação mesmo de pedestres,
como se não acarretassem congestionamento e
ônus para os serviços coletivos. São Paulo é uma
cidade inorgânica, sem perímetro de construção,
sem zoneamento, sem espaços verdes
suficientes, sem áreas reservadas, sem parques
para recreio e esporte. o existem bairros
103
103103
103
orgânicos de vida coletiva. E o mínimo de
organicidade tem agora um alto preço: o
alargamento de ruas, as avenidas circulares de
circulação rápida ligando os bairros, o desvio do
tráfico rodoviário da Anchieta, da Dutra, da
Anhanguera, da Bandeirantes, sem atravessar a
Capital, a pavimentação da cidade, a instalação de
água, de esgoto e o transporte são problemas que
ai estão á espera de solução que exige fortunas.
Na cidade de o Paulo (...) a dispersão dos
níveis entre classes sociais, que é o “muro de
classe” é muito maior na capital do que nas
cidades do interior, que essa dispersão é
excessiva e caracteriza um desenvolvimento mal
equilibrado; e, por fim, que o seu crescimento
desordenado e não orgânico acarretará fatalmente
a manutenção de grandes camadas da população
em um nível de vida sub-proletário acentuado.“
86
Essa análise da SAGMACS mostra a insatisfação com o crescimento,
que não desenvolvia, mostra a necessidade de rever formas de se
conduzir a construção do espaço. Assim a estrutura urbana proposta
era uma meta, uma forma que seria nessa versão um instrumento para
o desenvolvimento, juntamente a outras mudanças. A cidade passaria a
86
SAGMACS, op cit Anexo-p.83
104
104104
104
ser o local capacitado e remodelado para isso, tanto para o cidadão
quanto para as atividades que aqui se estabeleciam. Ou seja, a cidade
que se propunha era um espaço a serviço da sociedade visada, que
estimulasse o desenvolvimento. Nesse conceito essa estrutura fazia
parte de um processo, e não era seu resultado, ou um entendimento
isolado, pensava-se nela como parte de uma outra estrutura.
A análise, então indo além da forma, sugerindo mais que a
descentralização como a solução para a cidade, essa proposta engloba
fatores econômicos, político e administrativos para o estímulo ao
desenvolvimento. A estrutura da cidade, segundo SAGMACS, deve ser
ordenada com um setor de planejamento capaz de conduzir o
crescimento e articular a municípios e a regiões que se organizam
subordinadamente à cidade, ou seja, deve haver articulações e formas
eficientes de comunicação e intercâmbios fomentando o crescimento
de todas e que isso se coordenadamente sem que haja
desvantagens para o desenvolvimento.
A questão política entra numa bandeira democrática novamente
enfatiza a valores de cidadania Uma cidade, mesmo que bem
ordenada materialmente, e administrada segundo regras normais, não é
verdadeiramente humana senão através da real associação de todos os
cidadãos nas decisões que lhes concernem(...) Essa integração ou
associação dos homens e das famílias aos problemas que dizem
respeito ao bem-estar e ás condições de vida coletiva em cada unidade
parece-nos a única medida capaz de apressar a urbanização, de fato,
105
105105
105
dos atuais aglomerados informes, disformes, ou anárquicos, que
constituem um sistema de semi-acampamento, de aspecto
predominantemente provisório e inacabado, dos loteamentos esparsos e
incoerentes, em toda a periferia da cidade e da aglomeração. A
passividade da população diminui enquanto cresce sua reação, prelúdio
de sua agressividade. As autoridades municipais não podem deixar de
estar atentas a esses fenômenos.”
87
Na avaliação da SAGMACS a
estrutura que se estabelecia na cidade não oferecia condições de
igualdade para todos os cidadãos, o que ia de encontro ao conceito de
democracia – a reestruturação urbana; então, também era um direito do
cidadão – “A igualdade perante a lei e á administração (...) que é um dos
princípios basilares do Estado Moderno, resulta ilusória, pois os
subúrbios e as zonas “infra” da população recebem prestações
inferiores em número e qualidade às de outros setores privilegiados (...)
Até o mais superficial dos observadores do fenômeno metropolitano verá
que o processo existencial das “unidades” sociais ou comunidades
humanas, perfeitamente diferenciadas e determináveis, é o resultado de
uma poderosíssima força de atração ou integração. O desejável seria
que essas grandes concentrações urbanas que chamamos metrópoles,
fossem reconhecidas pelo Direito como entidades político-
administrativas enquanto estrutura típica, e passassem a adquirir uma
organização adequada á sua extensão presente, ao seu
desenvolvimento futuro, e às necessidades gerais de sua população,
aos seus fins próprios, e ao seu melhor governo e administração.”
88
87
SAGMACS, op cit parte V-p.62
106
106106
106
Ainda que essas ressalvas fossem essenciais, a reestruturação urbana
era necessária e se complementaria a esse processo contínuo de
uma cidade idealizada como moderna e desenvolvimentista base de
uma sociedade que deveria se comprometer com o avanço.Nesse
aspecto, com um pacto social progressista, se torna particularmente
importante a questão da propriedade privada em relação à estrutura da
cidade: toda a propriedade deveria estar subordinada ao interesse
maior
89
, ou seja, nenhuma “propriedade” por mais que garantida pela
legislação, poderia se tornar um elemento emancipado da estrutura,
ferindo a interdependência e as relações visadas, deveria se impor
limites para a propriedade visando o bem geral que além de
definido em termos de plano deveria ter viabilidade política que
garantisse sua legibilidade. A estrutura deve ser preservada, como
forma harmônica de todos os seus elementos, deveria ser resguardada
pela lei, impondo ressalvas aos particulares, através das concessões
obrigatórias, que no crescimento desordenado não se cumpria.
90
88
SAGMACS, op cit Anexo-p.40 e 41
89
O “Art 147 - O uso da propriedade será condicionado ao bem
O uso da propriedade será condicionado ao bemO uso da propriedade será condicionado ao bem
O uso da propriedade será condicionado ao bem-
--
-estar social
estar socialestar social
estar social. A lei
poderá, com observância do disposto no art. 141, § 16, promover a justa distribuição
da propriedade, com igual oportunidade para todos.” Da constituição de 1946
(transcrição da fonte – grifo nosso) tinha esse cunho social e de finalidades publicas
como supremacia, porém na prática, segundo a SAGMACS não era cumprido.
90
entenda-se o trecho transcrito como um manifesto – segundo SAGMACS todos os
“direitos” aqui expostos eram possíveis em detrimento ao artigo 147 da constituição
de 1946, que não se fazia cumprir, da constituição de :”sobre os direitos à
propriedade, as direitos que seriam “incluídos”, pelas concessões(...)
a) O “direito” de dispor de um terreno de maneira absoluta, sem referência ao
bem comum (...)
b) O “direito” de provocar a construção de um conjunto de habitações, sem que
a estruturação do mesmo seja conforme ás exigências de uma unidade de
vizinhança;
107
107107
107
Dessa forma, o plano de reestruturação da SAGMACS, com um cunho
urbanístico, se mostrava como uma parte de uma reestruturação que
deveria ser maior: Para SAGMACS o urbano não era o único elemento
da cidade, e o se resolveria autonomicamente – porém seria um
elemento fundamental para o desenvolvimento.
c) O “direito” de traçar ruas em contradição com a ordenação racional do
espaço, e não homogêneas em relação á rede fundamental de ligações;
d) O “direito” de enriquecer-se copiosamente, fazendo pesar sobre a coletividade
carga de providenciar os equipamentos básicos (pavimentação, rede de água,
rede fluvial, rede de esgotos) e grandes distâncias do centro, onde tais
equipamentos não são providenciados senão após décadas de vida infeliz da
população;
e) O “direito” de prometer aos compradores melhoramentos que coletividade
realizaria rapidamente, quando, na verdade ela não os pode realizar.
f) O “direito” de deixar os trabalhadores na obrigação de consagrar longas horas
pra alcançar e deixar seu local de trabalho, e assim diminuir a produtividade.”
Anexo, p. 54
108
108108
108
2.4 A Estrutura do crescimento
2.4 A Estrutura do crescimento2.4 A Estrutura do crescimento
2.4 A Estrutura do crescimento
A cidade analisada, predominantemente, foi entendida como uma
estrutura, que na figura de uma metáfora biológica recorrente
91
era uma
célula fagocitando núcleos menores, crescendo extensivamente. O
elemento principal nessa relação, para SAGMACS era a centralidade e
para Langenbuch era o “peri-urbano” as fronteiras se estendendo. No
primeiro, a descentralização seria o elemento capaz de renovar, para o
segundo, que não faz menção à reestruturação, o elemento de
identidade era justamente a expansão.
Entendendo-se já esses dois elementos como protagonistas de um
processo de urbanização, porém ainda vinculados. De maneira geral o
centro era o pré-existente, concentrava decisões, equipamentos,
serviços, habitações, verticalizava-se, era o ponto irradiador de vias e
meios de transporte, a periferia era o local da expansão, que ainda
dependia e vinculava-se a esse centro, com uma relação de
subordinação o centro polarizava e enfraquecia a autonomia de
outros núcleos pré-existentes sobrepunha-se de forma que a relação
era de subordinação e extremamente extensiva.
Uma outra questão da estrutura da de expansão como a interpretação
urbana é a idéia do sentido único: seria sempre dada pela extensão do
Todos esses direitos iriam contra qualquer estrutura ou plano de ordenação da
cidade.
91
Termos como “espontâneo”, “core”, “integuments”,” núcleo”, têm cunho biológico
109
109109
109
centro, as partes desenvolvidas alcançariam as margens atrasadas
porém na espera desse crescimento.
Essa idéia também gerou outra figura interpretativa; a “mancha de óleo”
se esparramando, com tecidos urbanos preenchendo vazios urbanos.
Porém essas figuras não explicam as diversas maneiras e eixos desse
crescimento, nem as heterogeneidades que se constroem. Nesse ponto
é relevante o se questionar a força explicativa que esses modelos
adquirem, na verdade facilitam demais o entendimento a ponto de se
perpetuarem muito mais do que todo o conteúdo e diversividade que
foram expostos: ou seja, por mais que as analises tenham de fato sido
extremamente esmiuçadas, muito completas nos seus níveis e
diferenças de abordagem, a imagem que formam eclipsou toda a
contundência da identificação das estruturas. O modelo explicativo, por
sua legibilidade acaba se perpetuando, é uma leitura instantânea, que
forma uma idéia forte que é dessa forma ou congelada ou adquirindo
um sentido único, eliminado toda a riqueza de detalhes que formaram
tal compreensão.
Outro ponto importante é a questão de estabilidade que “estrutura”
remete. Como foi dito na primeira parte, estrutura, originalmente, tem
sentido de estabilidade. As duas análises enxergam a cidade numa
expansão predatória, mais que isso, para SAGMACS, era necessário
que esse crescimento fosse detido e reordenado. A estabilidade estava
no sentido da perpetuação, da insistência do crescimento, na forma
auto-estimulante que a cidade se exaltava urbanisticamente, o estável
110
110110
110
era esse mesmo crescimento, de dentro para fora. Porém o estável não
poderia ser uma estrutura imutável, a forma que a cidade estava nessas
interpretações era uma sucessão de descontinuidades, uma inovação
em um “esqueleto” que se revigora e se adaptava a uma conformação
de difícil identificação a idéia de um aglomerado ou da rápida
expansão radial que sobrepunha-se, havendo uma extrema dificuldade
de se precisar os limites, mas ainda funcionando como uma unidade.
Porém entende-se que essa forma é a de um período, as estruturas
nessas analises não são eternas, são sucessivas e são encaradas,
dessa maneira, como modelos de uma época determinada, não
representam a evolução como um processo.
Outra questão importante que aparece é a tensão entre a “estrutura” x
“elementos estruturadores”. Nas definições estudadas, de modo geral,
entendeu-se que a estrutura da cidade é a relação de várias partes, de
maneira que a alteração no todo afeta essas partes e vice-versa. Essa
compreensão sugere um equilíbrio, uma simbiose entre os diversos
elementos; como, então, pode-se compreender o todo como uma
estrutura que é contraditoriamente predatória? Para essa questão, que
é um pressuposto da pesquisa da SAGMACS, a definição dos
elementos é um trabalho ainda mais complexo do que identificar a
relação entre eles nesse estudo os elementos identificados tinham
mais significado em sua potencialidade de transformação do que
propriamente no desempenho que tinham na cidade. Os elementos
buscados se ajustados poderiam reconfigurar a cidade. Enquanto isso
se desenhava uma estrutura grandiosa cheia de nós que mostravam a
111
111111
111
patologia do crescimento e não (ainda) uma forma de combinação
perigosa – entre o moderno e o arcaico. Essas duas faces ainda tinham
vínculos de comprometimento extremo, e por isso eram analisadas
juntamente, e a transformação deveria ser comum para o objetivo do
crescimento: É evidente que o desenvolvimento harmonioso dessa área
do “greater” São Paulo repercutirá decisivamente sobre o futuro da
aglomeração e do “great” São Paulo. Pontos de estrangulamento como
insuficiência de energia, estrangulamento do tráfego, deficiência de
infra-estrutura ou equipamentos locais ou regionais, diminuindo as
possibilidades de descentralização industrial e de outros setores ,
poderão comprometer definitivamente o futuro da aglomeração
paulistana, já de difícil reestruturação e ordenação em sua estrutura
atual.”
92
Ou seja, a estrutura configurava uma unidade dual: o centro e a
margem que gradualmente seria incorporada ao primeiro nessa visão
de estrutura de crescimento.
Assim, essa estrutura o era tão objetiva o quanto se propunha, havia
uma indefinição entre o real e o potencialentre a relação dessas duas
interpretações para a configuração do que era a cidade. A cidade era o
que era e também era suas aspirações – a estrutura não era uma
representação gráfica de seus espaços ou apenas do desenho urbano,
mais que isso, a estrutura urbana não correspondia ao que era
entendido como a estrutura da aglomeração, que além de suas veias e
partes tinha todo o aparato legal, administrativo, social e também suas
projeções como integrantes da grande estrutura. Seu modelo utópico
92
SAGMACS, op cit parte V p. 77
112
112112
112
de cidade moderna, dizia mais do que seus números era o fetiche da
produção do espaço, era uma lente interpretativa, para o qual toda a
estrutura do crescimento deveria funcionar, se mostrando claramente
como uma construção ideológica.
113
113113
113
(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
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114114
114
3
33
3.
..
. Geografia e Economia
Geografia e Economia Geografia e Economia
Geografia e Economia
os
os os
os “
seres urbanos
seres urbanosseres urbanos
seres urbanos
Anos 70: São Paulo continua à frente da modernização do país. Recebe
cada vez mais imigrantes, predominantemente vindos de outras partes
menos desenvolvidas do país. Grande parte dessas levas de imigrantes
era absorvida como mão de obra do setor secundário as indústrias
ainda eram as protagonistas da economia paulistana.
Nas análises do crescimento da metrópole, a “economia” gradualmente
se revela com grande força explicativa do fenômeno do crescimento.
Analisando a relevância de economia nas outras ciências, Francisco de
Oliveira que no começo dos anos 70 rompe com as explicações
exógenas, constata que o prestígio dos economistas penetrou
largamente as outras ciências sociais, que se tornaram quase
caudatárias: ‘sociedade moderna’ ‘sociedade tradicional’, por
exemplo, é um binômio que deitado no modelo dualista, conduziu boa
parte dos esforços na sociologia e na ciência política a uma espécie de’
beco sem saída’rostowiano’ “.
93
Em São Paulo, tanto a economia
93
OLIVEIRA, Francisco de “Crítica á razão dualista – O Ornitorrinco” São Paulo, ed,
Boitempo 2003, p.31 A crítica ao modelo de “etapas dos do desenvolvimento
econômico” de Walt Rostow, que defende ao homem o direito de uma sociedade
pluralista – crítica ao comunismo, pelo viés do totalitarismo, entende que o
desenvolvimento de uma nação é dada pelo pacto social entre sua sociedade e a
capacidade de produção que ela adquire, por seus níveis culturais, técnicos ou
mesmo pela opção que o homem faz nesse pacto – de forma que a estrutura
econômica teria fases diferentes e poderia se desenvolver a medida que crescesse, a
fase que ele chama de “arrancada”, ou seja, o desenvolvimento seria fatal: “Nessa
estrutura de análise, até certo ponto, a visão sobre o pensamento das teorias do
crescimento, deve vir sempre acompanhadas do desenvolvimento; entretanto, deve-se
levar em consideração que o desenvolvimento econômico vai mais além, quando
quando quando
quando
115
115115
115
avançava quanto suas explicações permeavam outros campos,
inclusive o do urbanismo – agora haveria as interpretações da “estrutura
econômica” buscando sua identidade no espaço que foi então
interpretado como uma forma bipartida centro “x” periferia,
entendendo-se superada a idéia da dependência substituída pela
exclusão. Nessa relação a estrutura da cidade vai ser explicada por
suas diferenças: obras como São Paulo 1976: crescimento e pobreza
que trata das dualidades – reinterpreta o modelo centro-periferia, e
neste estudo é uma obra referencial.
Essa é a idéia dos binômios a teoria cepalina levada ao espaço (já
podendo ser interpretada pela expansão centro-periferia do período
anterior), tem transição, a crítica (à razão dualista) de Francisco de
Oliveira que então sugere uma nova interpretação - também
econômica transposta ao espaço, sem ter esse propósito. A partir
desse novo entendimento, para as partes (ainda as mesmas) adquirem
uma nova relação e interpretação, formando uma novo modelo
atribuindo à cidade uma nova concepção de estrutura.
Evidentemente a geografia como método o desapareceria, alias, o
Livro de Langenbuch é do começo dos anos 70, e toda a sua
busca uma repartição igualitária, no fim de todo este processo da produção dos bens
busca uma repartição igualitária, no fim de todo este processo da produção dos bens busca uma repartição igualitária, no fim de todo este processo da produção dos bens
busca uma repartição igualitária, no fim de todo este processo da produção dos bens
produzidos, por todos os participantes da atividade econ
produzidos, por todos os participantes da atividade econproduzidos, por todos os participantes da atividade econ
produzidos, por todos os participantes da atividade econômica, de tal maneira que, as
ômica, de tal maneira que, as ômica, de tal maneira que, as
ômica, de tal maneira que, as
necessidades dos envolvidos sejam plenamente satisfeitas, igualmente no contexto
necessidades dos envolvidos sejam plenamente satisfeitas, igualmente no contexto necessidades dos envolvidos sejam plenamente satisfeitas, igualmente no contexto
necessidades dos envolvidos sejam plenamente satisfeitas, igualmente no contexto
social.
social.social.
social.
(GONZAGA DE SOUZA, L. – “O mito do desenvolvimento econômico” in
“Ensaios de Economia” ) ou seja essa seria a fundamentação da teoria do bolo –
extremamente referenciada no período desenvolvimentista do Brasil, o “beco sem
saída” ao qual se refere Oliveira – e que não leva em conta peculiaridades,
116
116116
116
explicação tem cunho econômico, da mesma forma que seu modelo de
expansão (estudado no capítulo anterior) pode ser enxergado com
base nessa comparação econômica, porém os critérios espaciais e
físicos ainda eram predominantes, ou seja procuram-se ou elegem-se
os elementos físicos que correspondam aos econômicos. Nessa parte,
primeiramente será exposta esta interpretação geográfica, ainda com
base em Langenbuch da São Paulo do começo dos anos 70, para
depois se analisar a interpretação do espaço com esse enfoque
basicamente econômico.
E a questão pertinente a este estudo é de que forma a segregação
pôde ter sido interpretada como uma estrutura, havendo então uma
ruptura, uma leitura de estrutura urbana diferente. Essa será a
discussão do conceito de “estrutura” para esse período de análise, que
montra um modelo fortemente influente indo além dos anos 70.
3.1 Abordagem geográfica de Langenbuch: dos subúrbios à periferia
3.1 Abordagem geográfica de Langenbuch: dos subúrbios à periferia3.1 Abordagem geográfica de Langenbuch: dos subúrbios à periferia
3.1 Abordagem geográfica de Langenbuch: dos subúrbios à periferia
A breve exposição das idéias principais do autor para esse período tem
um objetivo principal: demonstrar o que a análise da geografia entendia
pela “estrutura da metrópole” para que se questione o conceito como
método, mesmo porque esse período se marcou por uma transposição
desses métodos: as estruturas econômicas para as estruturas urbanas
(até então predominantemente geográficas). Buscou-se mostrar que o
conceito de “estrutura” é justamente a construção intelectual que
diversividades culturais, acesso a recursos, enfim o “pluralismo” além do mercado.
117
117117
117
permite tal transposição, pela sua capacidade de “sistematizar”
nivelando e paralisando os processos.
Na cronologia do autor o período anterior se encerrava em 1966, o
capítulo que se faz na seqüência era A Estrutura Atual da grande São
Paulo”, considerando-se que a publicação é de 1971, demarca-se um
período extremamente pequeno, cujas diferenças de “modelo” eram
tênues, se caracterizando por uma observação evolutiva no âmbito da
ocupação espacial, ou seja, algumas tendências assinaladas foram
verificadas e também se elencaram novas relações formalizando em
termos de estrutura espacial geográfica um modelo que analisava a
conjuntura do objeto de analise: São Paulo em suas diversas escalas.
O autor seguiu seus estudos a partir do modelo anterior em que visou o
crescimento extensivo, porém aqui procura de fato configurar a
estrutura urbana a partir dos elementos geográficos, diferente do
período anterior em que, como dissemos, estruturou a expansão em
termos de seus agentes. Aqui a formação do modelo na escala
urbana, a partir de diversos elementos sobretudo os subúrbios,
depois que identificou (até 1966) o padrão suburbano ou peri-urbano
do crescimento, aprofundando a relação entre eles e as “tipologias”
que formavam, baseados em critérios de uso do solo, função, origem, e
relação com o entorno.
A primeira diferenciação é o uso do solo, havendo a distinção entre dois
grandes grupos: 1. subúrbios urbanos e 2. subúrbios rurais.
118
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118
1)
1)1)
1)
Subúrbios urbanos
Subúrbios urbanosSubúrbios urbanos
Subúrbios urbanos:
: :
: Em termos de origem, Langenbuch repete as
mesmas classificações que tinha dado anteriormente, se “ferroviários”,
se “rodoviários”, e ainda esses grupos têm seus subgrupos
94
- o único
“tipo” que aparece como novo na montagem desse modelo de então é
o “subúrbio-criado”, citando a Cidade Dutra e o Núcleo Norte de
Suzano como os exemplos.
95
Seguindo essa lógica, analisa a fusão entre os núcleos, formando os
conglomerados suburbanos, que eram caracterizados por haver uma
polaridade causada pela concentração de elementos funcionais.
Normalmente esses conglomerados têm cunho rodoviário, mas podem
agregar núcleos ferroviários.
A função predominante desses conglomerados suburbanos ainda
registrou um outro tipo de classificação: os predominantemente
residenciais ou industriais, o primeiro grupo ficou mais conhecido como
“subúrbios-dormitório” muitos deles são os que antes eram
conhecidos por “subúrbio-estação”, pois a presença do trem permite a
regularidade do trabalho distante (por exemplo, citou Itaquera, Rio
Bonito, Parada de Taipas, ou os de classe média como o Jardim
Bonfiglioli, entre muitos outros), os essencialmente industriais são mais
94
Essa classificação foi exposta no capitulo anterior dessa monografia.
95
LANGENBUCH, op cit p. 265 – O autor ressalta que esses subúrbios criados em
nada têm relação com as outras referências como as New Towns inglesas, pois se
caracterizam por falta de diversividade e homogeneidade arquitetônica.
119
119119
119
raros, o autor aponta apenas dois exemplos Cimenrita (cimentos
Portland) e Elclor, parques industriais.
O mais comum, no entanto é uma combinação entre as funções
96
porém raramente proporcionais. Outras funções mais especializadas
ainda diferenciam alguns subúrbios que podem até ser referencias da
metrópole, como por exemplo: a função militar, hospitalar, ou de
serviços, ou ainda de recreação desempenhando uma centralidade
intrametropolitana. O conjunto dessas relações diversas aos
subúrbios e ao município (seu centro) um movimento pendular:
concêntrico e radial - uma relação fundamental entre a idéia do centro
e periferia, não se estabelecendo a idéia do centro versus periferia, e o
centro ainda é a referência de recolhimento e redistribuição tanto de
cargas como de cidadãos. Ou seja, o centro é a parte do cotidiano e a
periferia é quem lhe atribuía funções utilizando sua estrutura física.
2)
2)2)
2)
Subúrbios Rurais:
Subúrbios Rurais:Subúrbios Rurais:
Subúrbios Rurais:
A permanência deste tipo de uso se justificava
pela existência do mercado e pela valorização do produto fresquinho,
que tinha menos custo com transporte. Assim, o autor destaca os locais
em que ainda se tinham atividades essencialmente rurais, conformando
áreas de baixa densidade, paisagem bastante diferentes, e valor do
solo também diverso nessas áreas havia outro tipo de infra-estrutura,
porém, é muito importante destacar que mesmo não sendo uma
96
É importante ressaltar a diversividade que o autor aponta entre as ocupações
industriais: podem ser dispersas e diversificadas ou concentradas e especializadas,
por vários motivos, desde recursos financeiros, ou matéria primas, ou formas de
produção, ou questões de salubridade.
120
120120
120
atividade considerada urbana, ela era organizada tanto espacialmente
como produtivamente em função da metrópole. –ainda que não visasse
a auto-suficiência agrícola, mantendo laços com todo o interior do
estado e outras regiões do país.
Toda essa descrição monta o que o autor chama de “absurdo na
medida em que grandes áreas rurais nos municípios suburbanos e
populações rurais insignificantes, causando uma densidade
relativamente baixa, porém com núcleos bastante populosos vários
núcleos compactos, ou aglomerados de média densidade, ou extensas
áreas verdes, enfim há uma diversividade da paisagem, que foram
esquematizadas em uma idéia: “cinturão de urbanização intercalar”.
Esse todo uniria as partes, homogeneizando toda a diversividade
evolutivamente apontada. A outra figura que usa são os eixos de
urbanização em forma de colarque cortam todo o cinturão (a periferia!)
esses eixos representam o crescimento suburbano nas vias férreas e
tem mais alcance que o cinturão, formando núcleos mais ou menos
constantes ao longo dos 4 tentáculos que eram as ferrovias e suas
inúmeras paradas (trechos Jundiaí, Santos, Central e Sorocabana).
Assim a geografia urbana ainda tem o conceito de estrutura baseado
nas existências, no entanto é capaz também de criar os modelos que
pasteurizam as diversas peculiaridades apontadas na sistematização
a idéia do “cinturão de urbanização intercalar” forma um todo que
agrega todas as partes especificas. Elas estão no todo que é a cidade,
porém partindo do modelo não como identificar essas partes
121
121121
121
novamente, não há a cidade nesse modelo – ele se forma apenas como
uma interpretação que constrói uma figura de linguagem que não
remontaria de forma alguma a diversividade, assim os “elementos
autônomos” de uma estrutura inexistem, ou seja, esse modelo não
pode ser entendido como uma estrutura.
O enfoque da geografia urbana faz, com muita competência, um
reconhecimento gráfico, cadastral, iconográfico. No caso da análise de
Langenbuch, a identificação e diferenciação dos elementos se deu de
maneira extremente rica. A forma de relacioná-los, pois para montar
uma estrutura essa relação é essencial, é que se torna um problema do
conhecimento. Aqui verificou-se a inexistência do tom crítico na
montagem da estrutura, ou seja, o objetivo, de fato, era o
reconhecimento das partes e como interagiam. A necessidade de
reinterpretação dessas observações (que por si são um enorme
trabalho de valor inestimável) formaram esses modelos se tornam (ou
forçam) a totalidade dos elementos sem haver as mudanças, pois
nem sempre se dão sincronizadamente, excluia as peculiaridades, sem
haver o processo. Por mais que se trate de um trabalho objetivamente
científico, o fato de se atribuir organicidade à articulação desses
elementos constitui ao objeto um caráter ideológico que se pretendia
real (na medida em que são relacionados estruturalmente) .
Essa observação - não é peculiar ao trabalho do começo dos anos 70,
é uma consideração ao estruturalismo, e também não é original, como
foi visto na introdução, essa corrente dominante logo recebe críticas. A
122
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122
abordagem aqui é em termos do urbanismo, pois esse conceito
perpetuou-se. Vai além disso, esse momento marcou o uso do conceito
com traços ideológicos muito além da objetividade dos geógrafos, por
que, por mais metodologia cientifica que de fato existia, o conceito tem
atributos inatos que se tornam excelentes para esse uso.
3.2 A aproximação da geografia e economi
3.2 A aproximação da geografia e economi3.2 A aproximação da geografia e economi
3.2 A aproximação da geografia e economia
aa
a
Nessa parte o objetivo é discutir como se pensou a estrutura urbana por
uma de suas partes, destacada primeiramente como um resíduo do
desenvolvimento e por fim elegendo o ser “periferia” como um elemento
reestruturador num processo que de condição geográfica, se torna
um conceito social; que, por sua vez, reificado, foi eleito como o
elemento de transformação – o protagonista.
Essa questão se faz pertinente na medida em que a estrutura da cidade
é vista com um modelo diverso nesse período - ela teve uma mudança
de maneira a expelir uma das partes, ou seja, num momento se por
uma relação de diferença e segregação, no outro momento essa
condição de absoluta carência seria o elemento capaz de renovar - a
estrutura bi partida gerou uma relação que era, então, um “centro”
versus “periferia”. Para a discussão do conceito de estrutura” essa
análise apresenta, pois, uma ruptura – o próprio significado fica perdido
entre a interpretação de duas partes autônomas que não teriam mais
relação mais entre si, e quando a recuperam é uma dualidade de
diferença, em que uma teria é sobreposta à outra – a questão do
123
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123
equilíbrio ou estabilidade, então não existia mais.
A periferia passa a ser objeto de estudo, foco
central e noção explicativa dos fenômenos
urbanos, na década de 1970, 1980 (...) a
periferia é conceituada dentro de pesquisas
que abordam as dinâmicas urbanas e
processos sociais concretos de produção do
espaço urbano (...) essas convergências tem
relação com a influência da visão sociológica, e
levaram á construção de um pensamento
dominante da estrutura urbana da metrópole,
centrada na problemática da periferia,
contraposta a idéia de centro, ou mesmo de
cidade (cidade versus periferia, que seria a área
ainda não incorporada na cidade, ou não
urbanizada). A partir dessas construções
teóricas, o conceito periferia ganha corpo como
um espaço particular na cidade, e passa a ser
objeto de estudos específicos, muitas vezes de
maneira redutora e reificadas.
97
97
Essa abordagem é original de TANAKA,
Giselle Megumi Martino “Periferia:
Conceito,
Práticas e Discurso- Praticas Sociais e Processos Urbanos na Metrópole de São
Paulo”
Dissertação de Mestrado, FAUUSP setembro de 2006
124
124124
124
Na discussão do conceito essa interpretação, ou seja, essa face da
“estrutura” se apresenta com extrema desigualdade ente seus
elementos, mas reforçamos aqui, que o pensamento estruturalista é de
fato o único método que foi capaz de unir essas ciências em seus
métodos e suas propostas. Não cabe nesse ponto avaliar os
resultados, mas sim a pertinência do conceito no pensamento urbano
ao se enfocar São Paulo.
A exposição de Langenbuch para o que era então a “estrutura atual”,
bem como a análise do autor para o período anterior evidenciam a
periferia quase como sinônimo da cidade. O primeiro modelo de
“expansão metropolitana” que formula ao crescimento suburbano,
como o elemento formador da cidade se desenvolveu para o “cinturão
de urbanização intercalar” que é uma forma de representação e
pasteurização da cidade (excluindo o centro) perfeitamente aplicável ao
conceito espacial de periferia (ou peri-urbana, ou suburbanas como
aparecem na nomenclatura do autor). O centro nas duas análises era
apenas o ponto de onde irradiavam movimentos centrífugos de
expansão de forma que a cidade, o todo, foi identificada pela parte
e isso foi, sim, denominado como a estrutura da cidade que então
nessa evolução dos dois modelos não continha a totalidade. A figura
de linguagem adequada é a periferia como metonímia da cidade na
abordagem geográfica.
Na economia clássica a cidade já era entendida como o meio da
reprodução do capital, ela tinha um aspecto funcional vinculado a ele,
125
125125
125
de maneira que sua problemática estava vinculada à questão
econômica - Para Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895), a cidade
ocidental moderna constitui o local da produção e reprodução do
capital, produto da sociedade capitalista, e, portanto, parte integrante de
processos sociais mais amplos. Ela expressa a miséria e a degradação
da classe operária, denunciadas com contundência em A situação da
classe trabalhadora na Inglaterra (Engels, 1845), retomadas
posteriormente em O Capital (Marx, 1867). Para os autores, "a história de
qualquer sociedade até nossos dias é a história da luta de classes"
(Manifesto Comunista/1848)”
98
Essa questão se torna ainda mais interessante na afirmação de que as
teorias econômicas foram transpostas ao espaço. A economia, desde a
formulação marxista tinha interpretações de caráter estrutural além
disso, o estruturalismo também permeou esse campo do
conhecimento, o que é absolutamente adequado por ser uma ciência
de caráter muito mais intelectual que técnico, precisando, portanto de
uma metodologia para seu desenvolvimento. Ora, se a cidade tanto
quanto a industrialização e a economia se desenvolviam juntas, alguma
relação estrutural tinham, no entanto as interpretações formuladas
tinham objetos e pressupostos diferentes que nesse processo foram
simplesmente substituídos um pelo outro.
98
GABRIEL SANT'ANNA, Maria Josefina “ A cidade como objeto de estudo: diferentes
olhares sobre o urbano” in: ComCiência, revista eletrônica, São Paulo: 2002
126
126126
126
Assim a estrutura da cidade era entendida como o pensamento
econômico, ou seja: as desigualdades de um sistema que de certa
maneira se baseia numa relação de exploração de força de trabalho
seriam tal e qual as desigualdades no espaço (que já eram destacadas
nas leituras espaciais geográficas) sempre entre os pólos de
concentração de renda e a espoliação de uma das partes um
modelo compreensível, sobretudo no país que tinha peculiaridades no
seu processo de capitalismo. As relações desiguais do capitalismo no
Brasil foram interpretadas materialmente no espaço. Essa ligação entre
as estruturas econômicas e urbanas foi a interpretação dominante a
partir dos anos 70.
No entanto é importante se destacar qual era a interpretação dominante
econômica? momentos de superação e rompimento de paradigmas
muito rápidos nesse período, sobretudo de difícil relação por usar os
mesmo elementos, que no espelhamento urbano além de serem os
mesmos, estariam nos mesmos locais a mobilidade dos elementos,
portanto era uma diferença fundamental que as relações entre essas
estruturas os tornou equivalentes (e fixos) na forma dos modelos.
A essa discussão não convém discorrer detalhadamente sobre as
teorias econômicas que mais se mostraram relevantes, pois são objetos
de outros estudos, porém haverá um esforço de sintetizar a mensagem
mais relevante na suas reflexões correspondentes no meio urbano. De
maneira geral podemos destacar duas formas que apresentam suas
127
127127
127
correspondentes interpretações urbanas (modelos de estruturas):
1) O pensamento da Cepal
2) A crítica à razão dualista
Ambos são pensamentos em torno do desenvolvimento econômico e
apresentam entre si um processo evolutivo na medida em que uma
rompe com a outra. No entanto nenhuma dessas teorias se apresenta
como verdade indiscutível e sim expõe suas interpretações da estrutura
econômica sobre diferentes óticas, e relação com o objeto. Ao espaço
as interpretações estruturais são ainda mais peculiares por serem
sempre o mesmo objeto: o que muda é a interpretação a estrutura
se mostrando, portanto, uma interpretação vinculada a idéias e não
apenas ao objeto e ao espaço.
A teoria da marginalidade no contexto brasileiro talvez seja a mais
criticada
99
, no entanto é o modelo bastante conhecido. Por ser
elaborado em outros países, não é especifico às condições de
desenvolvimento que o Brasil e outros países da América Latina já
atingiam. Basicamente trabalha a idéia do desenvolvimento com duas
faces: uma da concentração de renda os países desenvolvidos
estariam em outro ponto da história, colheriam frutos de uma
industrialização plena, antiga, que então já havia superado grande parte
das diferenças sociais nas quais o capitalismo se baseia em seu
desenvolvimento primitivo. O outro bloco seria o da pobreza, dos países
99
principalmente em relação à posição da sociologia urbana paulistana – que é de
fato onde as interpretações urbanistas em São Paulo formularam a conceituação de
sua estrutura urbana.
128
128128
128
que não tinham ainda as mesmas condições (essa formulação
aparece com o conceito bipartido em sua fundamentação) seriam os
países subdesenvolvidos, que por uma fase histórica diferente
“atrasada”, ainda se encontravam numa fase primitiva da reprodução
do capital, com uma industrialização recente, países mais novos, essa
condição de subdesenvolvimento então era vista como uma etapa.
Esses países se encontravam à margem da bonança do capital. Essa
compreensão mostrava uma interpretação exógena do
desenvolvimento, ignorava a fase de formação de capital, a rápida
industrialização e concentração de renda desses paises periféricos.
Essa idéia é a base critica do pensamento cepalino; que, no entanto,
não quebra a interpretação dual, fazendo sua interpretação endógena,
ou seja aproxima a idéia da marginalização entendendo a estrutura do
desenvolvimento dos países da América Latina como uma aproximação
interna dessa idéia de elementos de concentração de renda, e
elementos de “espera” de pobreza, e atraso.
Para a Cepal a América Latina estava numa situação de um
desenvolvimento ainda vinculado a seu atraso, o estava à margem
do desenvolvimento mundial, tinha o “arcaico” e o “moderno” a idéia
da formação de capital, através de industrialização (teóricos da
substituição de importações) formaria uma renda para o país que
poderia ser redistribuída - a teoria do bolo. Segundo Fernando
Henrique Rodrigues
100
, comentando os principais economistas da
100
Economista, que desenvolveu tese sobre a CEPAL, e é o entrevistado de Luiz
Sugimoto em “Lições que a Cepal deixou ao Brasil” Jornal da Unicamp, dezembro
de 2006
129
129129
129
CEPAL, Raúl Prebisch – “talvez o maior economista que a América
Latina teve e teve influência decisiva de Celso Furtado - Ambos
defendiam uma agenda de planejamento econômico, com base na
industrialização como geradora de empregos e na necessidade de
intervenção estatal para assegurar o desenvolvimento do setor. - Furtado
deu grandes contribuições para a compreensão de que o
subdesenvolvimento não é um atraso – uma infância do capitalismo
desenvolvido mas fruto de uma série de problemas crônicos que vão
se repetindo ao longo da história, tais como vulnerabilidade externa,
concentração de renda e desequilíbrios regionais
101
, assim a idéia da
marginalidade que estaria no aguardo da expansão do centro é
aproximada o país conhecia um desenvolvimento desigual, e a
proposta da Cepal, para toda a América Latina, seria um
desenvolvimento agressivo, em bloco, que formaria uma concentração
de renda
102
, de tecnologias, além de inserir toda a região no mercado
101
SUGIMOTO, op cit
102
comentando os principais apontamentos da Cepal em relação á economia da
América Latina: “A defesa da industrialização na América Latina sempre esteve
presente nos trabalhos pioneiros da CEPAL. Tal defesa baseou-se em pelo menos três
diagnósticos:
i)a necessidade da industrialização como forma de absorver a crescente
disponibilidade de mão-de-obra, seja em decorrência do crescimento demográfico
em si ou do intenso processo de urbanização verificado na região;
ii) as externalidades positivas decorrentes da industrialização manifestadas pela
difusão tecnológica e pela conseqüente elevação da produtividade, contribuindo
assim para o incremento das taxas de crescimento na região; e
iii) a necessidade de se romper o processo perverso de deterioração dos termos de
troca decorrente, dentre outros fatores, das diferenças nas elasticidades renda da
demanda entre produtos básicos e manufaturados. A viabilização da industrialização,
segundo o pensamento cepalino, seria possível a partir de uma política de
substituição de importações.” Artigo de NIEMEYER, Almeida Filho
130
130130
130
internacional com grande possibilidade de competitividade, de maneira
que a renda de cada país aumentasse e logo fosse redistribuída, ou
seja, o país tiraria das próprias condições a forma de seu
desenvolvimento pleno, o desenvolvimento devia ser o produto de uma
estratégia nacional de industrialização
103
não aguardando a expansão
de divisas dos outros países centrais, ou seja, não estavam a margem –
além disso a solução era baseada num nacionalismo, ainda que
devesse formar um bloco na América Latina os estados e sociedade
deveriam fazer um pacto para essa modernização. Essa idéia embasa a
cidade moderna como fetiche a cidade era o meio onde o capital se
reproduzia, esse pacto englobaria o espaço, como uma produção
social.
As idéias do Cepal então identificam uma estrutura econômica, é
importante ressaltar que essas formulações são da década de 50, e a
predominância econômica sobre a abordagem urbana em São Paulo, já
se baseia nas críticas, da escola de sociologia paulista
104
, ainda que
“DESENVOLVIMENTO DA AMÉRICA LATINA NA PERSPECTIVA DA CEPAL DOS
ANOS 90: CORREÇÃO DE RUMOS OU MUDANÇA DE CONCEPÇÃO?” 2004
103
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos “Do ISEB e da CEPAL à teoria da dependência”
in NAVARRO DE TOLEDO,Caio org. “Intelectuais e Política no Brasil: A Experiência do
ISEB”. Rio de Janeiro: Editora Revan “(2005) p. : 201-232.
104
Em relação a esta escola, neste trabalho dá ênfase aos estudos de Francisco de
Oliveira, porém é importante ressaltar a diversividade desse grupo – os modelos duo-
estruturais cepalinos serão rediscutidos, mas são muitas as leituras, de maneira geral,
damos a interpretação de Bresser-Pereira (2005), op cit: “Embora o departamento de
Ciências Sociais da USP não adotem originalmente uma posição socialista,
mostrando-se mais preocupados em estudar a teoria sociológica internacional, e em
transpor para o Brasil métodos de pesquisa científicos na área das ciências sociais, a
partir do início dos anos 60, com a radicalização política que ocorre na América Latina,
131
131131
131
haja uma dificuldade extrema de entender a diferença estrutural (no
meio urbano) que essas interpretações formam.
As interpretações geográficas estudadas dos anos 50 mostram, de
certa forma, essa dualidade: o centro completo, e a periferia (ou com os
outros nomes de Langenbuch) atrasada, carente. O plano da
SAGMACS mostrava a idéia da descentralização como uma forma de
melhoria urbana geral, ou seja, o centro se espalhando pelas partes. A
compreensão da Cepal também se mostra com essa dualidade: a
perspectiva de um país industrializado nos mesmos moldes dos países
“centrais”, ou ainda a formação do bloco da América latina que seria,
então, multipolarizado. Essas comparações formam modelos teóricos
que são entendidos com sistemas semelhantes, facilmente
intercambiáveis , ainda que não tivessem o mesmo cunho o - os
objetos são extremamente diferentes uma é em relação à economia e
industrialização e o outro é essencialmente ao espaço da cidade de
São Paulo. A idéia da “mancha de óleo” é inegavelmente a imagem das
duas formas estruturais. É importante destacar que apesar do
estruturalismo nas duas abordagens elas também m o foco
desenvolvimentista – os bens seriam redistribuídos – se espalhariam.
Essas considerações são uma importante introdução para a
problemática aqui apresentada: quando a análise, estrutural, funde os
serão portadores de pensamento essencialmente de esquerda e, até o fim dos anos
70, crescentemente marxista. Sua preocupação principal será com a marginalidade
social, a
distribuição de renda e a análise dos gêneros e das classes sociais”
132
132132
132
objetos econômicos e espaciais a partir dos anos 70,
predominantemente, a leitura espacial é econômica. O modelo
cepalino, bem como a idéia de que a periferia fatalmente seria
envolvida pelo desenvolvimento (ou repartição) das estruturas centrais
são duramente criticadas. Os modelos duais, que entendem a periferia
excluída até o momento de sua inserção na “centralidade” são
remontados na critica - a “periferia”, de excluída, é emancipada a partir
da grande ruptura que a sociologia paulistana apresenta. Na analise do
desenvolvimento econômico representou a superação desse modelo
dual no sentido que enxergava, claramente de que é um
desenvolvimento vinculado a “exclusão” era estrutural. Comentando
os diferentes olhares sobre o meio urbano, essa fase é demarcada por
Gabriel Sant'anna:
Pesquisas pioneiras, como as de Francisco
Oliveira, de Paul Singer, de Maria Célia Paoli, de
Manoel Tostes Berlink, demonstram que a
marginalidade resulta não de um problema de
integração social, mas de uma questão estrutural:
a preservação da pobreza ocorre através de
mecanismos institucionais que nada têm de
"marginais" ao sistema. Instala-se, então, uma
ruptura com as concepções anteriores sobre
migração e marginalidade e se traz à tona o papel
desempenhado por formas não-capitalistas de
133
133133
133
produção na acumulação do capial.
Como resultado, as noções de "espoliação
urbana" (Kowarick, 1979) e de "periferização"
orientam novas pesquisas. Ganha destaque a
dimensão política da urbanização e proliferam os
estudos sobre a dupla espoliação sofrida pelas
classes populares: como força de trabalho
subjugada pelo capital e como cidadãos
submetidos à lógica da expansão metropolitana
que lhes negava o acesso aos bens de consumo
coletivos”
105
O principal trabalho que marca a superação do paradigma da
marginalização econômica é Economia brasileira: crítica à razão
dualistaEstudos Cebrap n°.2, outubro de 1972 – de Francisco de
Oliveira. Esse estudo, por ser um referencial merece uma interpretação
mais detalhada, porém é importante ressaltar que esta será feira em
função da discussão da problemática da sua abordagem urbana, aqui
visada.
Esse ensaio representa a superação da idéia do dualismo como um
modelo cindido, ou seja, a idéia dos dois lados é interpretada pela
agregação das duas partes, que voltam a estabelecer uma relação. A
expansão do capital na economia brasileira tomava partido da
105
GABRIEL SANT'ANNA, op cit
134
134134
134
minimização de seu custo de reprodução, portanto o aumento da
produção vai muito além de tecnologia ou produtividade – existe a
necessidade da diminuição dos custos de reprodução do produto
seja ele no campo do trabalho, da fonte, do meio ou da técnica
sempre se apoiando em alguma desigualdade tendo mecanismos de
possibilitá-la e mantê-la. A redução do custo, então, tenderia ao
rebaixamento das condições gerais - permitindo um acúmulo e mais
facilidade para que o processo se repita. Portanto, tal qual o capital, ou
a tecnologia as desigualdades são absolutamente componentes do
processo produtivo. Isso, ao invés de representar uma “segregação”
mostra uma inclusão perversa: se por um lado situação era mantida no
modelo interpretativo, essa condição era de fato um componente da
estrutura.
A ruptura com o que se poderia chamar o
conceito do ‘modo de produção subdesenvolvido’
é completa ou apenas se lhe acrescentarão
detalhes. No plano teórico, o conceito do
subdesenvolvimento como uma formação
histórico-econômica singular, constituída
polarmente em torno da oposição formal de um
setor “atrasado” e um setor “moderno”, não se
sustenta como singularidade: esse tipo de
dualidade é encontrável não apenas em quase
todos os sistemas, como em quase todos os
períodos. Por outro lado, a posição na maioria dos
135
135135
135
casos é tão somente formal: de fato, o processo
real mostra uma simbiose e uma organicidade,
uma unidade de contrários, em que o chamado
“moderno” cresce e se alimenta da existência do
“atrasado”, se se quer manter a terminologia.”
106
Essa idéia basta para a interpretação da periferia como um sujeito, ou
seja, essa parte”, que sempre foi vista como um local de espera do
crescimento, ou ainda, como uma reserva para ele; era, então, uma das
bases de seu apoio, entrava na equação do desenvolvimento, como
parte atuante. Era necessária. Em uma passagem, o termo é utilizado, e
se destacado, torna a “idéia” um agente importante, do qual toda a
forma de produção também depende:
“Convém recuar um pouco da história brasileira
para apanhar um elemento estrutural do modo de
produção: o escravismo. Sem pretender refazer
toda a interpretação, é possível reconhecer que o
escravismo constituía-se em óbice à
industrialização na medida em que o custo de
reprodução do escravo era um custo interno da
produção; a industrialização representará, desde
então a tentativa de “expulsar” o custo de
reprodução do escravo do custo de produção. Em
Em Em
Em
outras palavras, ao contrário do modelo “clássico”,
outras palavras, ao contrário do modelo “clássico”, outras palavras, ao contrário do modelo “clássico”,
outras palavras, ao contrário do modelo “clássico”,
106
OLIVEIRA, op cit p. 32
136
136136
136
que necessitava absorver sua periferia
que necessitava absorver sua periferiaque necessitava absorver sua periferia
que necessitava absorver sua periferia de relações
de relações de relações
de relações
de produção, o esquema num país como o Brasil
de produção, o esquema num país como o Brasil de produção, o esquema num país como o Brasil
de produção, o esquema num país como o Brasil
necessitava criar sua “periferia”
necessitava criar sua “periferia”necessitava criar sua “periferia”
necessitava criar sua “periferia”(...) O longo
período dessa “expulsão” e dessa “criação”,
desde a abolição da escravatura até os anos de
1930, decorre do fato que essa inserção favorecia
a manutenção dos padrões “escravocratas” de
relações de produção; ser
serser
será somente uma cr
á somente uma crá somente uma cr
á somente uma crise no
ise no ise no
ise no
nível das forças produtivas que obrigará á
nível das forças produtivas que obrigará á nível das forças produtivas que obrigará á
nível das forças produtivas que obrigará á
mudança de padrão
mudança de padrãomudança de padrão
mudança de padrão.
..
.”
107
Essa interpretação quebra a leitura da estrutura anterior: as partes
adquirem um novo relacionamento, absolutamente intrincado a
marginalidade é quebrada, ou melhor, superada pela idéia de
integração no processo produtivo, na medida em que,
contraditoriamente, a cidade reforçava sua exclusão. Novamente
ressaltamos que essa leitura tem como objeto o desenvolvimento
econômico brasileiro, analisando o processo com as peculiaridades da
formação do capital no país. Nesse ponto é importante que se entenda
a cidade então como uma processo sócio-espacial, ou seja nem
estruturas economia nem as do espaço podem ser uma interpretação
única, pois se mostram redutoras.
107
OLIVEIRA, op cit, p. 66 (grifos nossos)- esse trecho é fundamental para o processo
analisado: destaca a periferia, que foi literalmente materializada no espaço, e ainda
entende essa como uma força produtiva que poderia causar a mudança.
137
137137
137
No capítulo anterior, a estrutura urbana interpretada mostrava também a
idéia da unidade embora o modelo explicativo trouxesse essa noção
dual, a cidade tinha uma unidade, principalmente pelo fato da relação
entre elas ser de expansão. Além disso, não se pode negar que
delimitações jurídicas, geográficas acabem sendo incorporadas à idéia
de unidade. O ponto é que numa “estrutura” são elementos que podem
ter relações, inclusive de diferença e polaridades hierarquizadas, de
maneira que as partes podem ser tão significativas quanto o todo.
Apesar do caos, ou da idéia de aglomerado, os trabalhos analisados
desenharam uma estrutura para São Paulo as duas partes são
nitidamente separadas, porém a idéia das estruturas
desenvolvimentista e de crescimento que a cidade a amarravam
compondo a idéia de unidade. No entanto a “periferia”, tão heterogênea
e pasteurizada por seu poder explicativo estava à margem até por
sua questão geográfica, como vimos a interpretação cepalina era muito
próxima ao desenvolvimentismo da SAGMACS, então qual era a
mudança da visão de estrutura urbana nesse momento: a eleição da
parte, a periferia, como o principal problema urbano, tanto como capaz
de explicar as desigualdades, como o local onde se poderia superá-la.
A espoliação urbana é então a grande questão, a periferia entra na
interpretação das forças produtivas. Ela altera a polaridade da estrutura
centro-periferia: agora os dois elementos o ativos. E na visão
urbanista que trouxe essa interpretação econômica para o espaço,
contraditoriamente, a periferia se torna o foco de resíduo do
desenvolvimento é elevada à parte constituinte e capaz de revitalizar a
estrutura.
138
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138
3.3 Periferia: protagonista urbano
3.3 Periferia: protagonista urbano3.3 Periferia: protagonista urbano
3.3 Periferia: protagonista urbano
A periferia, retomando sua condição geográfica - representa o que não
é o centro misturando as diversas formações, origens, tipologias
ignorando todas as pequenas centralidades. Economicamente, era o
que o desenvolvimento ainda não havia atingido num modelo dual. A
análise estruturalista da cidade sob dois pontos de vista distintos deu
essa interpretação única, “centro - periferia”. A unidade era bipartida,
primeiramente entendendo claramente um vínculo de dependência em
apenas um sentido: a periferia pobre dependendo do centro rico, um
sujeito ativo que cresceria e se esparramaria a periferia, passiva, era
um suporte, uma fronteira para o crescimento.
Em Critíca à razão dualista” essa relação é diversificada, não existe
mais o sentido único: as duas partes nem são homogêneas e a relação
de dependência é generalizada. Não são dois mundos – são diferenças
que compõe o todo no âmbito da produção. A desigualdade entra na
questão estrutural a alteração de qualquer uma das partes afetaria o
todo.
A abordagem urbana não apenas fetichiza essa estrutura desigual
como elege a parte pelo todo condicionado discussões e políticas
publicas a esse novo foco, a esse novo modelo. Além disso, essa nova
estrutura coloca outro elemento em cheque: o centro, agora centro e
centralidade se desvinculam.
139
139139
139
A emancipação da periferia como objeto de estudo e intervenção tem
estreita ligação com os movimentos sociais urbanos, reforçando
também o caráter de lugar renovador, lugar das esperanças. Em “São
Paulo 1975: Crescimento e pobreza” se delineia essa estrutura social-
urbana. Nesse ponto é importante a reflexão de que a explicação
“econômica” do espaço é trabalhada como um agente social, daí a
idéia do “protagonista”. Ou seja ao se equivaler uma classe social a
uma condição geográfica (um processo de reificação do espaço), essa
“periferia” se torna o sujeito foco das questões urbanas.
3.3.1
3.3.1 3.3.1
3.3.1 Avaliações de São Paulo 1975:
Avaliações de São Paulo 1975: Avaliações de São Paulo 1975:
Avaliações de São Paulo 1975: a estrutura da pobreza
a estrutura da pobrezaa estrutura da pobreza
a estrutura da pobreza
A premissa do estudo é “Crescimento e miséria são duas faces da
mesma moeda”. Dessa forma se claramente o argumento de
Francisco de Oliveira de que os dois lados tem relação. O estudo se
baseia tanto na economia como no meio urbano e nos movimentos
sociais, de forma que transita pelas três áreas que, enfim, delineiam um
mesmo modelo de compreensão da cidade: dois lados envolvidos
entre os ganhos e a exploração.
Primeiramente o estudo demonstra a pujança de São Paulo: O Estado
de São Paulo concentrava 35,6% da Renda Interna do Brasil em
1969(...) é mesmo provável que tal concentração tenha se acentuado no
decorrer da década de 1970, pois vultosos investimentos continuaram a
140
140140
140
ser canalizados para o Estado
108
. Além disso, tem 44% de acumulo do
capital brasileiro. Esses números colocam a cidade numa posição
destacada além de projetar mais ainda sua importância. A cidade era
mais estruturada para as atividades econômicas, como detém o
principal, que é o capital, se expondo claramente como o foco de
concentração do desenvolvimento nacional.
O desenvolvimento de São Paulo, então, apoiava-se muito na condição
que havia historicamente formado, isso permitiu que no estado se
concentrassem além do capital referenciado os bens de produção.
Essa fixação de dois elementos importantes para a reprodução
desvalorizaram um outro elemento a mão de obra. Ou melhor: na
equação de reprodução do capital, como demonstrou Francisco de
Oliveira, a diminuição deste custo é um importante fator para que possa
haver acúmulo, o que gera ainda mais a concentração do capital, bem
como os outros bens de produção A menção ao crescimento
industrial aparece da mesma maneira que a capacidade o estado tem
de se desenvolver: ou seja, o estudo revela que a questão da
propriedade dos meios de produção são preponderantes para a
continuidade no processo de reprodução do capital. Ou seja, a
valorização da propriedade é maior que a da força de trabalho, no
desenvolvimento industrial paulistano (...) trata-se de uma economia em
que os meios de produção mais importantes são a propriedade de não
produtores
109
essa passagem mostra a distinção que a classe
108
KOWARICK, L. (coordenador) “ São Paulo 1975: Crescimento e Pobreza”, São
Paulo, edições Loyola 1976, p. 13
109
KOWARICK, op cit, p. 14
141
141141
141
trabalhadora tinha ao entrar no processo a desvalorização da mão de
obra e seus custos de reprodução como forma de continuidade do
desenvolvimento. Essa realidade foi entendida a partir de uma analise
da evolução do trabalho: analisa as vilas operárias como uma primeira
forma de fixar o trabalhador o que garantiria seu custo de reprodução
e poderia diminuir seu salário. Com o excedente de mão de obra,
causado pela intensa imigração
110
, não era mais necessário fixar o
trabalhador. O estado garantiria o transporte e o baixo custo de viver
(em condições precárias) a moradia. A cidade é vista como um
elemento das condições gerais para a reprodução do capital para a
diminuição de seus custos aumentaria a espoliação urbana, na forma
se segregação das classes sociais atribuídas aos espaços.
Logo, na idéia da cidade como espelho dessa estrutura temos a
interpretação urbana dessa desvalorização a pujança econômica de
São Paulo, em relação a outras áreas do Brasil revela-se tanto na
enormidade de sua infra-estrutura (edificações, energia elétrica etc.)
como em qualquer dos indicadores habitualmente empregados para
medir o crescimento econômico (a produção industrial, o sistema
financeiro, a renda per capita etc.). No entanto, se examinando o da
cidade do ponto de vista das condições de vida de seus habitantes,
verifica-se um elevado e crescente desnível entre a opulência de uns
poucos e as dificuldades de muitos. É a distancia entre a riqueza,
representadas nas moradias suntuosas dos “jardins”, e a pobreza dos
bairros de trabalhadores, carentes dos serviços urbanos sicos
110
entre 1960 e 1970 a cidade cresceu 5,5% ao ano (KOWARICK, op cit, p. 29)
142
142142
142
transporte, água, esgoto, habitação. É o contraste entre o crescimento
do consumo de bens de luxo e a diminuição salário mínimo real. (...)
Privilégio para alguns, mas não para todos.”
111
Essas observações de desigualdade são o ponto crítico do estudo á
estruturação da grande São Paulo. O estudo observa que muitos outros
tratavam as situações marginais de parte da população como um
“estado transitório”, caracterizando uma reorganização (exatamente a
estrutura de centro que há de se expandir para a periferia) - essa
pobreza seria própria dos imigrantes (rurais) que ainda não estavam
inseridos devidamente no mercado de trabalho urbano-industrial. Ou
seja, acreditava-se que os problemas urbanos eram uma fase de
adaptação de uma condição menos favorecida atraída pelo incrível
desenvolvimento da cidade. Porém, o estudo mostra que a estrutura de
empregos e de assalariamento, ou seja, os custos da mão de obra
como fator da produção, é que mantém e agravam as condições de
desigualdade, não como uma situação transitória, mas como uma
permanência para o crescimento. Outro fato que distinguia a situação
de São Paulo para o resto do mundo e a falta de possibilidade do
trabalhador intervir no seu próprio futuro entenda-se que a estrutura
política da época não permitia tal participação, esta observação se faz
importantíssima na formação desse protagonista da estrutura urbana ao
qual nos referimos.
111
idem, p. 17
143
143143
143
Ainda que ressaltasse essa condição política a leitura urbana pelo viés
econômico era literal e assumida: O retrato das condições urbanas de
existência em São Paulo, expressa, portanto, condições mais gerais da
economia e da sociedade brasileira(...) A peculiaridade de São Paulo
talvez resida, principalmente, na exacerbação do contraste entre
acumulação e pobreza.”
112
Esse embasamento, portanto, usa o desenvolvimento econômico para
a identificação da estrutura urbana, ou seja, o método estruturalista
continua como a forma de se “compreender” o espaço, porém os
critérios para se distinguir elementos e entender a relação entre eles é
outro - mais que elementos sicos, a cidade será entendida como fruto
de relações sociais. Estas, de certa forma, são condicionadas por um
modo de produção num meio que tem singularidade por ter
desenvolvimento apoiado nas desigualdades além de, ressaltamos
novamente, uma conjuntura política que controla essas relações
sociais. Essa estrutura foi chamada de “lógica da desordem”.
Basicamente trata da superação do paradigma da marginalidade
113
, em
112
KOWARICK, op cit, p. 19
113
essa idéia é clara no trecho: “ a noção que o progresso tem um preço, que deve ser
pago por seus habitantes, vem sendo insistentemente repetida a propósito dos mais
variados problemas (...) O dilema – estagnação ou sacrifício – implícito nessa noção é
em tudo consoante com a ideologia do desenvolvimento em voga: para que o país se
desenvolva, assegurando a felicidade futura de seus habitantes, estes devem renunciar
ás satisfações presentes(...) São Paulo deveria não só pagar o preço de sua felicidade
futura mas também resgatar o prejuízo de sua imprevidência do passado “ (p. 21 e 22)
– esse trecho mostra a teoria da marginalidade como uma ideologia – mais do que
entender a exclusão, ele justifica essa – propõe um pacto de sacrifício, portanto essa
idéia é uma forma de controle social – essa ideologia é criticade e rompida na forma
de estrutura compreendida pelo estudo.
144
144144
144
que parte da cidade “esperava sua vez”, para entender como essa
fragilidade era, de fato, estrutural. A qual estrutura? A forma de
produção, ou seja, a cidade é entendida, então como um desses
elementos do mecanismo de reprodução do capital, mais que isso ela é
uma forma de capitalização também.
Fundamentado nesse ponto se tem a idéia da produção do espaço
exatamente como a produção do capital, ou seja, a cidade é enxergada
tanto como um bem de produção quanto como um bem de consumo.
Entendeu-se que os serviços públicos são um meio de valorização
essencialmente capitalista, desde sua implantação “são organizados de
preferência para os consumidores que podem pagar por eles
114
, além
disso se defendeu a idéia que eles são um meio de segregação,
ressaltando que os investimentos públicos valorizam áreas e expulsam
a população a distribuição espacial da população da cidade
acompanha assim a condição social dos habitantes (...) Hoje em dia a
expressão “periferia”, que serve pra designar bairros afastados do
centro, tornou-se sinônimo, em certos meios, de noção de
marginalização e exclusão social
115
.
Assim, os autores defendem a formação desigual do espaço
incentivada inclusive pelo poder público, na medida em que distribuía
desigualmente os bens de impostos (da coletividade) formando áreas
de valorização o mecanismo da expulsão se torna uma figura de
linguagem recorrente. Além disso, nessa constatação de distribuição
114
KOWARICK, op cit, p. 23
145
145145
145
desigual, os autores contestam a idéia do modelo de crescimento
urbano como mancha de óleo revelam a existência dos vazios
urbanos que se beneficiariam de infra-estrutura, havendo outra
valorização de suas terras. Esse comentário se faz importante: os
estudos anteriores sempre interpretaram a expansão urbana como uma
forma desigual, ou “intercalar” - esses vazios sempre existiram
principalmente pelo fato da cidade ter eixos de crescimento e ter
crescido absorvendo núcleos menores. No entanto a figura da
expansão como mancha de óleo, que é a mesma da expansão do
capital é o modelo de estrutura que se perpetuou, ou seja, mais uma
vez a estrutura, o modelo, não pode remontar as bases de sua
compreensão.
A desigualdade como elemento estrutural busca sua identificação: os
autores apontam que em São Paulo eram 130 mil favelados, 615 mil
moradores de cortiços e 1,8 milhão moradores de casas precárias da
periferia
116
. Esses dados mostram uma relevância dessas tipologias,
nos anos 50 o termo favela não era um problema urbano, se apontou
algumas poucas vilas precárias, aqui essa situação além de tomar
êxito, é destacada como uma forma do trabalhador seguir a indústria
e ter competitividade com quem era estabelecido, pois seus custos
de reprodução do próprio trabalho estariam, portanto, diminuídos.
Essa trajetória da classe trabalhadora era então um elemento
importantíssimo da formação da cidade, desse modo predatório, sua
115
idem
146
146146
146
voz, suas reivindicações seriam a forma de modificar a realidade, e
conseqüentemente o espaço. O livro analisa várias situações em que se
treina essa possibilidade, entre associações de bairro, sindicatos, e
apenas constata a falta de representatividade que toda essa parcela da
população tem. A liberdade, esse ser “trabalhador-periferia” seria a
possibilidade de emancipação dessa situação de exploração. No
entanto isso era mais dificultado, pois não apenas a conjuntura política
de um regime autoritarista, mas também a precariedade de acessos
(entenda-se educação, e todos os tipos de preconceitos raciais e
sociais) limitavam o crescimento da classe na sociedade, até a
transposição de seus limites de carência. A “periferia” então era
considerada uma condição social permanente, reforçada pela
inatividade política de seus cidadãos e mantida pela falta de acesso ás
melhorias da vida urbana a pobreza era pior que material era de
aspirações.
Assim entendeu-se a estrutura urbana apenas como uma reflexão da
estrutura econômica, reproduzindo o modelo dominante.
A reestruturação poderia vir assim como a formação de uma
sociedade mais justa, que não se basearia na desigualdade, essa
mudança, por sua vez, viria de movimentos sociais da periferia o
“ser” urbano visto como um sujeito seria capaz de transformar o
sistema social e , conseqüentemente a cidade. Para isso a cidade
deveria adquirir uma nova função: não ser exclusivamente subjugada
116
KOWARICK, op cit, p. 37, dados de 1972, disponibilizados pelo PNAD
147
147147
147
ao capital não ser uma fonte de lucro tampouco ser apenas uma
forma de existência para os trabalhadores, mas sim ser o lugar em que
cresceriam. Essas idéias tornam a periferia como o foco das questões
urbanas, porém o objetivo maior era modificar a sociedade pelo
espaço.
148
148148
148
3.4 A estrutura urbana e a visibilidade das contradições
3.4 A estrutura urbana e a visibilidade das contradições3.4 A estrutura urbana e a visibilidade das contradições
3.4 A estrutura urbana e a visibilidade das contradições
O período da década de 70, como foi mostrado, tinha uma visão
predominantemente econômica: ou seja, o espaço era entendido como
reflexo das relações sociais condicionadas por uma forma específica de
produção. Uma característica é que essa forma é estruturada para seu
crescimento sempre. O que não significa um desenvolvimento
igualitário. A reprodução permite o lucro, que novamente acumulado
reproduzirá mais, lucrará mais e assim se alimentará sempre numa
perspectiva ascendente de uma dos elementos em detrimento pela
exploração do outro.
A idéia do desenvolvimentismo é entendida a princípio por uma visão
geral exógena às peculiaridades do desenvolvimento que se
estabelecia no país se compreende primeiramente o país numa
situação à margem do desenvolvimento capitalista o que não explica
de forma alguma o processo que aqui se desenvolvia. nos anos 50,
essa idéia de capitalismo “infantil” é superada observando as
peculiaridades do desenvolvimento dos países da América Latina que
conseguiam manter duas bases distintas, de extrema modernização e
outra da tradição, do arcaico, basicamente justificadas por condições
históricas e culturais desses países. Essas características próprias
deveriam, então ser reconhecidas e reestruturadas no sentido de
primeiramente crescerem para si (substituição das importações) e se
unirem de forma a fazer frente num mercado internacional. A idéia
básica era de alcançar uma grande concentração de renda, num pacto
149
149149
149
social, que depois, seria redistribuída eliminando as desigualdades
existentes. A sociedade que tinha o “moderno” e o “antigo” como
mundos diferentes que o desenvolvimento superaria - a visão cepalina
da economia. A cidade nesse ponto era enxergada da mesma maneira:
o centro deveria expandir-se levando a bonança para todas as áreas, a
periferia, à sua margem, aguardava esse desenvolvimento.
Porém a sociologia paulistana apresentou outra ótica para essa leitura,
que modificou a interpretação da estrutura e de reestruturação urbana.
Inclusive São Paulo é o foco dessas diferenças, é o exemplo típico por
ter muito mais acirradas as contradições de opulência e miséria numa
mesma unidade, que tinha o maior dos desenvolvimentos e a maior das
desigualdades. Essa abordagem mostra um mecanismo de forma que
as duas operam no crescimento da economia, juntas. Apresenta a
associação do “atrasado” e do “moderno”: não existe uma situação
marginal e sim uma desigualdade estrutural. Essa ligação, no plano
urbano foi chamada de a “lógica da desordem” constituindo assim as
relações de compreensão dominante de estrutura urbana - ou seja,
entendia-se que o espaço também se formava e se modificava por
esses mecanismos de desigualdade.
O modelo anterior que entendia a periferia como uma “área” de
expansão é rompido, suas características físicas ou geográficas pouco
importavam: a periferia torna-se um agente e um conceito social, a
cidade é um elemento da economia. A unidade é toda dividida em
pedaços que façam formas de capitalização – tanto pode ser uma fonte
150
150150
150
direta por valorização das terras (apontado geralmente como uma
forma de se apropriar dos recursos públicos) ou como uma forma de se
integrar no processo produtivo na medida em que a espoliação do
lugar permite a diminuição dos custos de reprodução do trabalho.
Porém a compreensão da cidade como um elemento da produção não
explica tão bem o modelo de estrutura da cidade, condiciona à uma
lógica o processo sócio-espacial no qual a cidade consiste. A estrutura
da cidade é analisada, nesse período, de uma maneira independente
de seus valores intrínsecos espaciais. O que se entende, e é muito
importante é a forma de desenvolvimento econômico baseado nas
desigualdades, e também se percebe como a cidade pode ser o
espaço de reprodução dessas desigualdades e manutenção, também.
O espaço acaba por receber esses atributos ou seja, esses conceitos
sociais são confundidos com os geográficos pré-existentes o centro é
onde o capital é feito e é reinvestido, a periferia é toda uma estrutura
carente que se integra ao processo de acumulo, independente de onde
estejam, embora essas idéias acabem por ser atribuídas á localização.
Essa formulação intelectual, portanto, não está focando o espaço, foca
a sociedade. E a cidade, cujas aspirações anteriores tinham aspectos
claramente funcionalistas em prol da modernidade – havendo planos de
reestruturação com objetivo, se perde na sua função de integrante do
processo produtivo. Ela não tem mais a imagem de si, o modelo
adotado econômico mostra claramente qual é sua função
totalmente vinculada ao acúmulo.
151
151151
151
É evidente que essa compreensão não gera uma acomodação de
quem pensa o urbano, a cidade estava se deteriorando, e o discurso
anterior de sacrifício em busca do bem, mostrava-se cada dia menos
real. As propostas urbanísticas a a partir dessa leitura sempre se
baseiam nas partes, não uma reestruturação e sim eleição de
elementos como reestruturadoras. O todo é fragmentado.
A leitura da cidade utópica, então, seria uma emancipação dessa
situação, e poderia vir pela periferia
117
– que, se torna o “ser urbano”.
A cidade que se queria agora mais do que funcional, deveria ser justa.
A periferia é conhecida e construída como noção explicativa da
realidade urbana em um contexto histórico específico, da ascensão das
lutas sociais urbanas e das expectativas de transformação social a elas
conferidas.”
118
O grande problema dessa interpretação é que a questão espacial se
perde: a estrutura que temos aqui não é essencialmente urbana.
117
essa idéia é original da dissertação de TANAKA (2006) mostra a interpretação
dominante de periferia como “foco” das questões urbanas e relaciona aos
movimentos sócias a essa capacidade de emancipação que lhe foi atribuída.
118
TANAKA, op cit p.18
152
152152
152
(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
153
153153
153
4
44
4.
..
.
Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades
Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidadesRelendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades
Relendo a estrutura: outras dualidades e pluralidades
Os antecedentes analisados mostram duas situações de clara
abrangência nas análises de seus períodos: duas estruturas urbanas
baseadas nos mesmos elementos, que têm relações diferentes,
constituindo modelos que compreendem a cidade cada um a seu
modo. Essas idéias se fazem importante na questão da produção do
espaço, pois balizam a questão urbana, ou seja, a analise da estrutura
era uma condição para as supostas soluções na medida em que
conduzem à uma estratégia.
A eleição da periferia como o sujeito urbano condicionou de muitas
formas o trabalho com a cidade, muitas vezes a idéia de melhorias
urbanas trazia questões habitacionais como foco de um problema, e
assim a periferia foi construída ou reconstruída de várias maneiras. A
este trabalho não convém entrar no mérito das construções ou do
problema habitacional
119
, ou outras formas de construção que
configuram a cidade (como a produção doméstica). Convém assinalar
essa prática como um modo de capitalização, originado principalmente
da forma de desenvolvimento que acontecia em São Paulo, ou seja:
como que a estrutura entendida para a cidade pôde se tornar um modo
de trabalhá-la.
119
Tampouco discutir a questão de pertinência desse problema, que para Gabriel
Bollafi já representava uma falta de objetivo na formulação da questão, ou seja, se o
problema de fato era a habitação ou a forma de distribuição de renda.
154
154154
154
Essa idéia procura destacar um problema: como trabalhar a cidade na
medida em que sua “estrutura” urbana importa menos do que suas
partes. Ou seja, ao se eleger uma parte, como o foco das atenções, e
dos trabalhos e discussões, como remontar essa estrutura, ou, pior: se
ela perde seu sentido para a questão urbana.
Essa pergunta se faz importante pois se viu o abandono da totalidade
da cidade, como uma desistência de interpretá-la. Não é verdade que
não se formulou mais nenhuma interpretação, porém a idéia do
“consenso” para identificar a estrutura ainda nos parece bastante vaga,
e isso muito tem haver com as críticas ao pensamento estruturalista ou
ainda pelo fato do modelo “centro-periferia” (em qualquer uma de suas
versões) ser tão forte que não tenha sido superado ainda, e sim
adaptado com idéias de novas figuras.
4.1
4.14.1
4.1
Releitura do modelo “centro
Releitura do modelo “centroReleitura do modelo “centro
Releitura do modelo “centro-
--
-periferia”
periferia”periferia”
periferia”
Esta análise tem o objetivo de mostrar como se deu a reavaliação do
modelo “centro-perifera”, essa estrutura, tão reforçada, como vimos,
tornou-se quase uma crença urbana, no entanto, na década de 90, ela
mostra um rompimento, na abordagem espacial. Nessa proposta, a
reavaliação feita pela equipe da SEMPLA, em “São Paulo: crise e
mudança”(1990) se mostra um estudo referencial.
A análise da estrutura urbana se dá pelos mesmos elementos que
foram analisadas em 1975 – pela distribuição de riqueza, porém o
155
155155
155
resultado é outro, interpretando a estrutura da cidade de maneira
diferente, a leitura agora teria uma fundamento sócio-espacial, embora
não mostre uma mudança da forma de produção dominante, ou da
forma de desenvolvimento, mostra uma outra leitura da organização
espacial da sociedade.
São Paulo ainda é o colosso da economia do país, no entanto esse
atravessa um período grande estagflação na década de 80
considerada a década mais que perdida”. Além disso a forma de
produção dominante a indústria tem influência de novas
tecnologias, mudando seu funcionamento como unidade, e também de
suas necessidades de locação e capitalização. O setor terciário,
estimulado tanto por essas novas tecnologias quanto por serviços
urbanos mais especializados, se desenvolve enormemente. Essas duas
mudanças têm no seu cunho transformações espaciais, porém quando
afirmamos que o modo de produção o mudou é em relação ao meio
de se desenvolver ainda baseado nas desigualdades, e a cidade,
com essa condição crescente, tem uma reorganização.
Resumidamente, essa idéia aparece numa avaliação dos conflitos de
centro e periferia feita em 2002, por Maria Tereza Luchiari, da
professora da Unicamp "Até os anos 70, a área central das cidades
brasileiras era caracterizada por ser melhor equipada, enquanto a
periferia era associada aos pobres. Hoje não se sustenta mais esse
modelo centro-periferia, nem na escala das relações internacionais, nem
156
156156
156
na estrutura urbana das cidades. A periferia hoje está no centro e vice-
versa"
120
.
Assim a idéia da desigualdade como elemento formador de espaço
permanece, no entanto configura uma situação, que é vista como nova
por ter sido verificada no espaço. Talvez a “novidade” estivesse
justamente por se ter voltado a considerar a materialidade do espaço. A
diferença se dava de outra maneira: constatou-se um aumento da
pauperização da população paulistana além do crescimento
vegetativo ou de imigração houve também o rebaixamento de parte da
classe média a essa condição. A diferença na distribuição social se
agravou em 1990 era considerada nessas proporções: 4% de classe
alta, 37% de classe média, e 59% de classe baixa
121
. Essa condição
também muda a distribuição espacial: elevou-se o nível de pobreza em
bairros de classe média, no entanto a concentração em bairros
tradicionalmente pobres diminui relativamente por conta da de uma
dinâmica de mobilidade social perversa - tanto se concentram formas
de morar extremamente precárias nos bairros centrais, como a
ocupação da zona periférica vai recebendo novos moradores dessas
antigas áreas. Certas áreas centrais acabam adquirindo feições de
periféricas pelo sobrecarrego de seus equipamentos urbanos que
acabam por revelar uma situação de precariedade e carência.
120
“Conflitos entre Centro e Periferia” in Revista Eletrônica Com Ciência, 10/03/2002
121
SEMPLA. “São Paulo: crise e mudança.São Paulo”, PMSP-Sempla/Brasiliense,
1990, p. 176.
157
157157
157
A “guerra pelo espaço” como se refere o estudo, além de esgotar o
modelo de expansão periférica com a intensificação de formas
precárias de moradia em bairros centrais, mostra um desequilíbrio do
meio urbano generalizado que de forma alguma representa uma forma
de inclusão social e sim de rebaixamento de horizontes a aproximação
territorial dos grupos pobres e médios no espaço nada tem de
democrática, pois não traduz uma abertura social e econômica que
levasse a um processo de ascensão dos grupos de renda mais baixos.
Além disso, essa aproximação nada tem de igualitária, pois se exibe de
forma bem menos acentuada onde moram as camadas médias
superiores e preservam as restritas áreas de moradias das classes
mais privilegiadas.”
122
Os elementos estruturais do meio urbano, então, têm outros aspectos:
1)
1)1)
1) a moradia
a moradiaa moradia
a moradia: o esgotamento do padrão periférico de urbanização.
Apontado principalmente pela valorização geral dos terrenos, inclusive
em zonas periféricas, uma vez que o modelo de urbanização de
loteamentos vingou, e o achatamento dos salários criou uma disfunção
entre essas duas formas, além disso, a legislação de parcelamento do
solo também cria restrições que dificultam a expansão da urbanização.
Esse limite era superado pelas formas de adensamento, ou em cortiços
ou favelas ou ainda em loteamento clandestinos em áreas de restrições
urbanas (como os mananciais). Essas formas configuram um padrão
diferente da segregação para a formação da cidade: a ilegalidade
ilegalidadeilegalidade
ilegalidade
tornou-se o elemento formador do espaço, mostrando um nível de
122
Idem, p.58
158
158158
158
crueldade e espoliação urbana mais agravada a cidade estava
entregue a níveis de 60 a 70% de ilegalidade, e ela não era
espacialmente distinta: entende-se assim uma nova dualidade, que
será muito utilizada em outros estudos urbanos:
Boa parte do crescimento urbano se deu
fora de qualquer lei ou de qualquer plano,
com tal velocidade e independência que é
possível constatar que cada metrópole
brasileira abriga, nos anos 1990, outra, de
moradores de favelas, em seu interior. Parte
de nossas cidades podem ser classificadas
como o cidades (...)“A ilegalidade na
provisão de grande parte das moradias
Urbanas (expediente de subsistência e não
de mercadoria capitalista) é funcional para a
manutenção do baixo custo de reprodução
da força de trabalho, como também de um
mercado imobiliário especulativo (ao qual
correspondem relações de trabalho
atrasadas na construção) que se sustenta na
estrutura fundiária arcaica.”
123
123
MARICATO, Ermínia “As Idéias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Idéias – in A
Cidade da Pensamento Único - desmanchando consensos, ed. Vozes 2000
159
159159
159
Assim, por mais que a forma de espoliação tenha adquirido uma nova
capa jurídica, ou um espaço diferenciado, a sua função permanece a
mesma na estrutura econômica, tal qual os elementos sociais da cisão,
a idéia da exclusão social que espacialmente o se verificava da
mesma forma.
As moradias “legais” ainda tentavam se beneficiar das condições
urbanas existentes, havendo uma aceleração no processo de
verticalização que era notado contribuindo para a insuficiência dos
equipamentos urbanos.
2)
2)2)
2) novos espaços de trabalho e consumo
novos espaços de trabalho e consumonovos espaços de trabalho e consumo
novos espaços de trabalho e consumo: as mudanças do setor
industrial se mostram no começo da década de 90 ainda como uma
incógnita não se pode observar ao certo as mudanças que o
afastamento das indústrias do perímetro urbano trariam
124
, porém o
fortalecimento do terciário, aliado com a obsolescência do centro faz
pipocar a tipologia dos centros comerciais e de serviços, sendo
paradigmática a forma do shopping center, que se espalha por toda a
cidade, muitas vezes sem observar o impacto sobre a rede urbana pré-
existente.
Essas formas unidas mostram um adensamento da cidade, que muitas
vezes não oferecia nem equipamentos urbanos nem a infra-estrutura
124
sob esse aspecto é importante ressaltar que hoje, quase duas décadas depois é
que se observa a mudança de uso desses espaços, que durante parte desse tempo
eram considerados “obsoletos” e funcionaram quase que como uma reserva de
espaço para novos usos.
160
160160
160
adequada para esses usos intensificados. Observou-se que os vazios
urbanos não seriam suficientes para essa estrutura. Trânsito, super
lotação de meios de transporte eram apenas alguns desses aspectos.
Os serviços urbanos além de não suprirem a cidade toda, eram
(formalmente) exclusivos da “cidade ilegal”, ou seja, o “bem público”
ignorava a forma como o espaço vinha se produzindo.
Assim, essa análise configurou uma outra leitura: um modelo de
dispersão de espaços que se diferenciam pela legalidade e
ilegalidade, um novo molde de dualismo que quebra a estrutura
“centro-periferia” espacial, reforçando, no entanto as suas
características sociais de inclusão e exclusão
125
a estrutura era
absolutamente predatória e controladora, na medida em que não
permitiria avanços sociais. Nesse ponto esse estudo não apresenta
uma forma de resgate não propõe nem uma estrutura nova, nem um
elemento épico que modificaria a sociedade. Propõe que a sociedade
enxergue a cidade: a cidade que se queria agora não era nem uma
estrutura de produção, nem uma refém de suas desigualdades, a
cidade que se queria era a real e inteira– o planejamento urbano, a
estrutura a se propor, deveria ser um instrumento de
democratização
126
.
125
Nesse ponto é necessário destacar que a exclusão não era encarada nos seus
aspectos de marginalidade, ou seja, se entendia a “inclusão perversa” – a “lógica do
caos” que os autores novamente se referem (dados que muitos são da mesma equipe
do estudo “São Paulo 1975: crescimento e Pobreza”) porém a exclusão entendida era
em termos de aspirações sociais, cada vez mais a acessibilidade a um
desenvolvimento humano parecia utópica.
126
Cf SEMPLA (1990),p. 179
161
161161
161
4.2
4.24.2
4.2
Estruturas: dispersão do consenso
Estruturas: dispersão do consenso Estruturas: dispersão do consenso
Estruturas: dispersão do consenso
Aqui exporemos brevemente idéias das décadas de 80 / 90 que
definem tendências de modelos, para depois, voltarmos a discutí-las
em termos do conceito de estrutura que não é mais entendido
como um sentido único. Ou seja, a ruptura do modelo “eternizado” cria
idéias dispersas, tanto de interpretação e poucas de proposição aqui
se mostram duas interpretações bastante distintas.
4.2.1
4.2.1 4.2.1
4.2.1 A estrutura de palcos
A estrutura de palcosA estrutura de palcos
A estrutura de palcos
Nos anos 80, ainda sob influência da periferia como o espaço da
espoliação urbana, essa leitura condensando discussões de arquitetos
mostra uma outra abordagem, na verdade a compreensão de estrutura
urbana mudava completamente sua escala: a cidade não era o objeto e
sim a vida cotidiana, ou seja, a cidade com o valor de uso do cidadão.
A discussão contida, conduzida por Jorge Wihem, traz outra
abordagem: nem geográfica, nem econômica é uma idéia inerente ao
lugar e seu uso, selecionando os elementos de estrutura urbana que
poderiam conduzir a essa leitura. Essa aproximação buscava tirar a
idéia de “condicionamento” do espaço - ou seja, procurava ver de que
maneiras o cidadão poderia viver na cidade, com liberdade, com
opções uma requalificação que, portanto trataria a cidade com outro
partido, reconfigurando a idéia de estrutura.
“A estrutura urbana revela-se ao habitante da
162
162162
162
cidade como um suceder de espaços: a casa
em que mora, a rua em que brincam seus
filhos, os corredores pelos quais transita a
ou em veículos, alguns edifícios especiais onde
exerce funções de trabalho ou de estudo,
outros edifícios ou espaços abertos em que se
encontra com pessoas para funções formais ou
informais. São palcos e cenários servindo de
abrigo, de base e de fundo, para o desenrolar
da ação individual. A cidade, em sua
componente física, é um encadeamento de
espaços a serem ocupados e possivelmente
fruídos pelos cidadãos”
127
Nessa análise a cidade encontrava-se subjugada ao modelo de
reprodução do capital é analisada pelos parâmetros de garantir
qualidade de vida. A grande diferença era valorizá-la pelo seu uso. Ou
seja, se a cidade assume uma outra função (de transformação da vida
cotidiana) evidentemente a estrutura que lhe é identificada deveria ser
outra. Aqui a “máquina” o fetiche da cidade moderna, ou ainda a idéia
de segregação como forma de controle de uma cidade que poderia
estar em colapso eram trocadas pela qualidade que o espaço poderia
trazer à vida.
127
WIHEIM, Jorge
Projeto São Paulo: propostas para a melhoria da vida urbana”
Rio de
janeiro: Paz e Terra 1982
P. 20 e 21
163
163163
163
Essa necessidade de enxergar de outra maneira foi fundamentada
pelos arquitetos como uma forma de interrupção do ciclo da pobreza,
não como bondade, mas como justiça. A cidade era vista, nesta análise
como um espaço consumido, mas não por todos, era necessário
inverter essa valorização (de troca) pelo uso
128
. Os registros de favelas,
cortiços, e autoconstruções crescentes são colocadas em foco como
uma degradação não apenas de paisagem mas de vida - a cidade se
tornava uma meio hostil.
A partir da sucessão de etapas da vida cotidiana, se refaria a estrutura
de um outro modo, esses palcos” deveriam oferecer opções às
pessoas, além de conforto. A estrutura urbana aqui identificada era toda
existente, porém deveria ser requalificada:
1) a unidade elementar era a habitação – porém essa também era
discutida deveria ser reinterpretada tendo em foco suas funções
hierarquizadas –
a) abrigo: a função primeira de qualquer moradia.
b) segurança: nesse ponto representa mais que proteção significa
estabelecer-se na cidade, ingressar no mercado de trabalho e se
beneficiar de serviços públicos,
c)consumo: o endereço permitira também o ingresso no mercado de
consumo o crédito, além disso foi apontado também como forma de
ganho extra na hospedagem eventual.
129
128
nesse ponto é importante ressaltar a influência do pensamento Lefebvriano na
discussão dos arquitetos.
129
Idem p. 29
164
164164
164
Aqui não se apontou a casa como um bem, como um possível valor de
troca – ou seja focalizava-se na sua função.
2) o segundo elemento era a rua domiciliar: tudo conspira contra a
identificação do sítio em que moramos”
130
a função primordial apontada
é a circulação, porém, o autor aponta que o traçado de
desenvolvimento urbano em São Paulo priorizou o automóvel em
detrimento do morador que poderia usar a rua como o espaço de
convívio. O palco principal. Para isso traçados mais sinuosos – passeio,
além de elementos naturais ou construídos seriam essenciais para a
formação da identidade.
3) O bairro: “O bairro é a unidade na escala urbana essa idéia mostra a
escala do cidadão e a qual domínio a vida urbana deveria ser atendida.
O bairro melhor é uma bairro completo (essa idéia é extremamente
semelhante á das unidades secundárias da SAGMACS dos anos 50).
São Paulo conta hoje com cerca de 1.360 bairros, vilas e jardins, tendo
a maioria deles surgido após 1950, como resultado de imigração intensa
e da atividade dos loteadores. A maioria desses bairros nasceu da
simples oferta às levas de imigrantes, de uma gleba loteada, mas
passaram a adquirir identidade própria em função de sua população
que, de forma cada vez mais organizada, passou a reivindicar melhorias
para o seu território
131
.
130
idem p.49
131
cf: WWIHEIM p. 63
165
165165
165
Em relação à estrutura urbana analisada pela SAGMACS temos aqui
uma diferença bastante contundente: a abordagem dos anos 50
embora levasse em conta a deficiência estrutural de cada núcleo,
aponta que o adensamento se organizava em torno de alguma
estrutura física, nem sempre em condições adequadas. Aqui se
aponta que a unidade é organizada pela “voz” desses usuários, que
primeiro se assentam e depois vão a busca desses equipamentos, que
nesses bairros novos, abertos por linhas de ônibus, são quase
nenhuma. Ou seja, se constata o sujeito “periferia” como elemento
urbanizador, por isso no discurso do autor, as associações de bairro
são parte da estrutura que essa unidade deve ter para consolidar a vida
urbana.
Isso mostra que essa interpretação ainda estava sob influência
do “ser urbano” da periferia como regeneradora da cidade e
sociedade, mesmo que invertendo a ordem dos elementos do modelo
consensual.
Com a adoção desse modelo ainda sob o comando do protagonista
urbano, a cidade se transformaria: não se trata de uma reestruturação,
nem de uma estrutura completamente nova, a idéia é a requalificação
de uma estrutura conhecida e existente.
“Um espaço adequado para o desempenho da
vida familiar não resolverá todas as tensões
nem superará todos os problemas. Mas como
negar que ele influi na qualidade dessa vida?
Viver na feiúra na monotonia no desconforto, na
166
166166
166
sujeira, na decrepitude e na promiscuidade,
amesquinha, rompe a auto-estima e dificulta o
estabelecimento de vínculos mais solidários
entre as pessoas. Por isso uma melhoria da vida
urbana, na cidade de São Paulo, deve iniciar-se
pela criação do palco familiar, da habitação de
toda a família que nele resida.”
132
Essa análise de estrutura terminaria na escala do cidadão. As questões
de trabalho, indústria, educação, todas deveriam estar nessa unidade.
A função que sobressaia ainda era a política, pois nessa época, em
1982, ainda era necessário que o cidadão ingressasse, mas essa não
era uma questão urbana.
É inegável que toda a conceituação dos arquitetos que formou a
identificação desta estrutura urbana não está mais vinculada ao
racionalismo moderno, à revolução urbana, à homogeneidade: a
identidade é uma questão de diferença, a idéia de renovação aceita
todas as precedências, a escala do cidadão é outra, o é mais das
massas. A idéia de “palcos” é um dos preceitos da condição pós-
moderna. Para Harvey, a narrativa de Raban em “Soft City” é
emblemática na elaboração dessa condição. Aqui ela será transcrita a
título de identificá-la nessa estrutura proposta por Wilheim para São
Paulo:
132
idem p. 46
167
167167
167
“para o bem ou para o mal, (a cidade) o
convida a refazê-la, a consolidá-la numa forma
que você possa viver nela. Você também.
Decida quem você é, e a cidade mais uma vez
vai assumir uma forma fixa ao seu redor. Decida
o que ela é, e a sua própria identidade será
revelada (...) Parece-me que viver numa cidade
é uma arte”
133
Assim, essa estrutura de parte dos arquitetos é delineada. È
importantíssimo ressaltar a quantidade de trabalhos que pensavam na
periferia como uma lugar para essa arte. Aqui a estrutura analisada
ainda é a do morador em qualquer ponto, mas em outros trabalhos, de
arquitetos, a periferia seria o local dessa arte, o urbanismo possível
134
,
onde a cidade se requalificaria pelo seu uso. A democracia era
essencial para que essa proposta acontecesse.
4.2.2
4.2.2 4.2.2
4.2.2 A estrutura
A estruturaA estrutura
A estrutura de
de de
de gradientes
gradientesgradientes
gradientes
Esta análise estrutural aqui exposta foi estudada por Flavio Villaça,
também arquiteto-urbanista, no livro O Espaço intra-urbano no Brasil”,
de 2001. Ela já parte de um objeto diferente: enquanto os estudos
133
HARVEY, David “Condição Pós-Moderna : uma pesquisa sobre as origens da
mudança cultural” . 6 ed. São Paulo: Loyola, 1996.p..17
134
Os trabalhos de Ermínia Maricato e Nabil Bonduki são referenciais para a leitura da
periferia paulistana. Essa observação aqui não será detalhada por finalidade de se
analisar as concepções de estrutura, a essa problemática a identificação dessa
tendência basta.
168
168168
168
anteriores (excluindo a de Wilheim) analisam o crescimento
metropolitano, o objeto de estudo é analisar como esse crescimento
organiza o espaço dentro da cidade. Novamente a escala de
abordagem é alterada, se volta a ver a cidade como uma unidade, além
disso, o movimento de expansão é voltado pra dentro, ou seja, verifica
os vetores que criam paisagens e usos diferentes nas cidades (o
estudo é para várias capitais brasileiras, porém direcionaremos a
exposição para São Paulo). Não se trata de uma leitura que seja da
cidade em 2001, mas sim da “estrutura”, o modelo construído por
etapas sucessivas.
A pesquisa leva muito em consideração os dois aspectos: econômicos
e geográficos, no entanto parece que são as estruturas urbanas que de
fato conduzem a essa leitura, ou seja, os elementos de circulação e
transporte (principalmente), em sua perspectiva histórica a ferrovia,
por mais que hoje não tenha o mesmo êxito, aparece como um
elemento fundamental na formação da cidade acordando essa
estrutura à analisada por Langenbuch – porém, como ressaltamos, com
o foco “intra-urbano” ao invés da expansão, seria como um “passo a
diante”, ver os resultados que essa causou no espaço original.
O autor conceitua a sistematização de sua interpretação: as análises
das estruturas “intra-urbanas” são uma forma de caracterizar a
formação do espaço como sínteses que são, tais modelos reduzem o
espaço metropolitano a seus elementos mais fundamentas, além de
169
169169
169
exagerar na segregação na simplificação das formas.”
135
A segregação
pode ter vindo como um mecanismo econômico, mas aqui é usada, ou
procura-se atribuir seu valor, à formação espacial, na medida em que
se interpreta a cidade pela exclusão. A predominância de uma idéia se
mostra tão grande quanto a simplificação, porém se considera capaz
de explicar algumas formas da cidade. A segregação para Villaça é,
então, uma forma de estruturação da cidade, da mesma maneira que
os elementos físicos, sendo que uma ocupação está ligada à outra em
muitos casos. Segundo o autor a cidade brasileira tem também
peculiaridades, porem considera ainda que uma das principais
características da metrópole brasileira é a segregação espacial dos
bairros residenciais das distintas classes sociais. o mais conhecido
padrão de segregação da metrópole brasileira é o do centro x periferia.
O primeiro, dotado da maioria dos serviços urbanos, públicos e
privados, é ocupado pelas classes de mais alta renda, a segunda,
subequipada e longínqua, é ocupada predominantemente pelos
excluídos. O espaço atua como um mecanismo de exclusão.”
136
Esse
modelo leva em conta a visão econômica e procura validá-la na
formação espacial.
Para Villaça, São Paulo é uma cidade característica dessa formação,
porém ressalta que sua concepção de “estrutura urbana” é uma relação
sócio- espacial, reincorporando a questão física às análises estruturais:
a estrutura social não explica a cidade totalmente.
135
VILLAÇA, Flavio “O Espaço intra-urbano no Brasil” São Paulo, Studio Nobel/
FAPESP/ Lincon Institute 2001 –p. 113
136
VILLAÇA op cit, p. 143
170
170170
170
Para São Paulo, assim como para outras cidades, a circulação e
restrições do meio natural seriam os elementos chave dessa estrutura
espacial. Em São Paulo destacou principalmente as ferrovias, rodovias
e os rios como esse conjunto físico que monta a cidade.
A ferrovia, no final do século XIX, dividiu a cidade em duas partes, e
agregadas aos os rios, com suas áreas de várzea, formam um
conjunto “vale-ferrovia”. Essa morfologia tem, na sua formação uma
ocupação diferente: as camadas de mais alta renda tendem-se a se
concentrar no lado mais vantajoso, embora a recíproca não seja
verdadeira, ou seja, no lado onde se localiza o centro também
camadas de baixa renda.”
137
Além disso, na escala metropolitana, a
ferrovia é que realmente possibilita uma organização regional.
Tal divisão, primeiramente faz dois grandes grupos (oeste e leste) que
com o crescimento da cidade vão se diferenciar e setorizar, entre
bairros de classe média, populares, aristocratas. Nessa formação se
destacam:
-Uma Grande Região Popular - zona leste
-Uma Grande região dos Subúrbios Industriais Ferroviários: os
“subúrbios-estação de Langenbuch” que crescerão ainda mais com as
rodovias destacam-se Guarulhos e a região do ABC, como grandes
pontos desse tipo de desenvolvimento.
- A Grande Região de concentração das camadas de alta renda.
137
idem p. 116
171
171171
171
Todas essas formulação, novamente, se baseiam nas predominâncias
das ocupações dessas regiões.
Na análise intra-urbana as condições físicas e espaciais separariam os
sítios melhores, porém o uso social, segundo o autor, ainda tem grande
influência na ocupação e paisagem. Associando-se à essa estrutura
material, há a segregação como elemento fundamental da estrutura
analisada por Villaça.
O autor adotou um método de análise: o de Hoyt (1959), baseado em
círculos concêntricos mediados pela infraestrutura, com isso identifica
os vetores de crescimento e ocupação nas suas formas
predominantes para a execução de um diagrama formando o
modelo de gradientes.
172
172172
172
Fonte: VILLAÇA, Flávio: O espaço intra-urbano no Brasil
Nessa interpretação o centro aparece como ponto irradiador das
estruturas físicas de circulação mencionadas, no entanto nem
representa a parte “estruturada” nem a concentração de renda.
Segundo o autor, a partir da década de 60 as elites rompem com o
centro, encaminhando-se para outras partes da cidade, que então têm
uma nova estruturação. As periferias (no sentido geográfico)
apresentam heterogeneidade extrema, de maneira que talvez seu
sentido social ainda tenha algum significado, que, porém não é útil a
analise urbana ou seja o modelo centro-periferia” como uma leitura
econômica espacializada não fazia mais sentido.
173
173173
173
Na interpretação desse modelo, além das infra-estruturas e dos rios,
também considera os padrões de ocupação predominante, destaca
como elementos principais de diferenciação. Assim são elementos
estruturais dessa leitura, as zonas industriais (com uma infra-estrutura
peculiar) e as zonas residenciais de alta renda (tendo a atividade
imobiliária como agente). Porém ressalta que não nas cidades
brasileiras nenhuma região de presença exclusiva de alta renda, mas o
que determinaria essa segregação é a concentração significativa de
uma classe, mais do que em outra região da metrópole, de forma que
se constitui uma generalização para que se configure o gradiente, o
vetor.
Para São Paulo, de maneira geral, se destacou a diferença das zonas
a zona sudoeste apresenta essa configuração de alta renda, enquanto
outras têm outros tipos de habitação e usos (a indústria e a
concentração de residências de alto padrão não se misturam) de
qualquer maneira isso mostra que a periferia não é tratada como um
todo igual.
Em São Paulo considera-se que a diferenciação do espaço é muito
mais vinculado ao movimento das classes altas, mais do que a
interferência do meio natural (em cidade litorâneas a costa, o natural,
condiciona muito mais essa ocupação). O autor adotou a idéia de
Milton Santos (citado) afirmando que o sítio social” se sobrepõe “sítio
natural”, o mercado imobiliário é o meio pelo qual as classes disputam
seus espaços em melhores localizações. Esse mecanismo, para Villaça,
174
174174
174
aponta uma das principais contradições do espaço: a segregação
como forma de valorizar a terra e o valor como forma de segregação.
Por fim, ressaltamos a finalidade dessa exposição: mostrar mais um
modelo de estrutura: elementos novos entre físicos e sociais pré-
existências e segregação configurando uma leitura diferente da cidade,
entre todas as anteriores. O autor justifica a adoção deste modelo
(concêntrico) como uma forma de representar a segregação “a análise
da estrutura social intra-urbana segundo setores de circulo.. (...) esse
padrão de segregação aparece com enorme importância e potencial
explicativo e revela a natureza profunda da segregação. A segregação é
um processo necessário à dominação social, econômica e política por
meio do espaço.”
138
Ou seja, essa análise, a forma como se interpreta a estrutura mostra o
espaço como um meio de intervir na sociedade, dessa vez, mais do
que um reflexo, é também uma forma de condicioná-la, essa
interpretação introduz um fato novo ao conceito de estrutura urbana: a
dialética, porém a adoção do modelo, novamente não remonta essa
idéia, elimina esses conflitos, é necessário, portanto, mais do que o
modelo, ou simplesmente a “estrutura” para que se entenda o
processo, senão várias cidades de modelos iguais (como São Paulo e
Belo Horizonte) seriam iguais.
138
idem, p. 150
175
175175
175
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano
4.3 Estrutura como elemento de discurso urbano
No processo analisado neste capitulo mostrou-se a diversidade de
compreensões do meio urbano. A rigor essas leituras, ainda que sejam
analíticas não traduzem em seus modelos ou dualidades a produção
do espaço esta sempre aparece reduzida. Além disso, muitas
“rupturas” são expostas, no entanto demonstram a mesma dualidade,
ainda que identifiquem sua dispersão no espaço, o tratam sem sentido,
a ponto de falar que a periferia está no centro e vice-versa, ou ainda
que o centro tem ares de periferia, de maneira que esses conceitos são
absolutamente desprovidos de sua condição geográfica. Essa
formulação apenas mostra que os mecanismos de espoliação não têm
mais critérios de preservação que não sejam submetidos a sua
funcionalidade.
A palavra estrutura” aplicada ao meio urbano sempre busca a lógica,
ainda que seja a do “caos” como se referem os urbanistas e sociólogos
da SEMPLA, ou ainda, como diz Villaça essa estrutura é uma análise de
predominâncias, o que em diversas escalas sublima o conflito. Então
por que a análise estrutural se faz tão importante nas ciências urbanas?
Em todos os estudos mostrados desde a cada de 50, esse conceito
é o caminho “único” de tentativa de apreensão da conjuntura da
cidade, destacarias a sua essência, funcionando como um instrumento
metodológico que procurou “domar” o processo urbano em um
momento determinado, e sob diversas condições. Isso é pertinente na
176
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176
medida em que a grandeza do espaço precisa sim de princípios
básicos para ser trabalhado. Ou a estrutura deveria ser perceptível na
vida cotidiana da cidade para vivê-la. O fato de serem sicos não os
tornam exclusivos.
Essa discussão breve foi colocada aqui para abrir uma outra questão
relevante às análises de “estruturas” feitas na década de 90: enfim que
estrutura era essa? Como uma analise intelectual, a estrutura não é
física, ela não pode ser avaliada nesses termos. Em todos os períodos
anteriores se nota claramente a formação de um consenso, que tanto
balizou as discussões como orientou políticas públicas. Aqui se nota a
dispersão das interpretações, a partir do esgotamento de uma forma
inequívoca de interpretação.
Acredito que esse seja um preceito para as idéias de “Reestruturação”
e “Requalificação”, para esta não existe uma nova proposta, existe uma
tentativa de resgatar padrões. Da mesma forma que as novas
concepções de “estruturas” procuram criar novos conceitos recaindo
sobre modelos não verdadeiramente superados. A idéia de
“requalificação” traria a aceitação dos desequilíbrios que formaram o
caráter desigual da sociedade. A idéia de “reestruturação” nas novas
tendências não formaria uma nova estrutura e sim elegem um elemento
do velho modelo que seria capaz de regenerar a estrutura existente.
Ambas precisariam de elementos chaves que seriam constituintes da
cidade para que essa perdure e busque a valorização sobre o que de
fato a fez se desenvolver.
177
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177
A questão é que quase todas as análises não apontam a “qualidade”
na estrutura, apontam seus desvios, de forma que a “re_(...)” talvez seja
um modelo adotado equivocadamente. Isso leva a crer que ou as
interpretações realmente mostram apenas conjunturas, e não o que é a
essência da cidade, ou a cidade é uma caso perdido, como se acredita
muitas vezes.
Otilia Arantes em Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões
urbanas”, mostra o fatalismo dessa abordagem, discute se a
“verdade” das mudanças de modelos se há a existência de rupturas, ou
apenas a adequação da produção a mudanças sócio econômicas
(uma falsa ruptura pela ausência da novidade). A verdadeira superação
nessa abordagem seria uma mudança da forma de valorizar a cidade
a mudança dos termos o muda o olhar sobre ela: Ora, a impressão
que se tem é que, apesar da nova fraseologia interativa, estamos diante
da reposição da armadilha clássica do subdesenvolvimento (ou seja da
modernização sem desenvolvimento, isto é, sem homogeneização
social) a velha dualidade brasileira.”
139
A manutenção da forma de se
enxergar a questão urbana em nova roupagem conduziria a soluções
equivocadas, uma vez que os problemas não foram formulados a
tendência às “re_(..)” seria essa estratégia única e fatal apontada pela
autora :a cidade fragmentada, seria pinçada em pontos (esses sim
bastante estratégicos) que a transformariam - daí todas as grandes
renovações, revitalizações, reapropriações, re__ (...) urbanas sobre
139
ARANTES, Otília B. F. “Uma estratégia fatal: A cultura nas novas gestões urbanas”
178
178178
178
espaços pré-existentes, que impulsionariam mais mudanças. Mas qual
critério poderia ser adotado para isso, as estruturas estudadas não
apontam essas presenças físicas. Essa idéia apenas se fundamente na
falsa descontinuidade que o pensamento estruturalista urbano
remontou.
Esses elementos deveriam ser constituintes dessa estrutura, fazer
alguma diferença, mas a formulação como foi feita não aponta esse
tipo de espaço permanente que condiciona a sustentação da cidade.
Um modelo importado que não faz sentido em ser aplicado às
estruturas identificadas.
Tratando-se de estratégia, não há possibilidade deste “impulso” ser
espontâneo (custa altos montantes de dinheiro) noutras palavras, e
intervendo a seqüência estratégia /cultura: políticas (urbanas) de matriz
identidária podem ser estrategicamente planejadas? Algo como calcular
o espontâneo ou derivar a integridade ou autenticidade de uma escolha
racional”
140
.
Sob esse ponto de vista a idéia de reestruturação seria mais um
artifício para o consumo da cidade, não alterando em nada sua
estrutura e sim reafirmando seus desvios.
Assim entendemos que a “estrutura”, muito mais do que uma
morfologia de cidade, funcionou nessa época como um aparato do
in: A Cidade do Pensamento Único – desmanchando consensos, ed. Vozes 2000
179
179179
179
discurso urbanista, sem, de fato, estar se preocupando com seu
espaço ou com o sentido do conceito. É um instrumento
intelectualmente valorizado para dar embasamento a idéias dispersas
nem sempre fundamentadas (como demonstrou Otilia), que, no
entanto ganham todo o valor que o conceito adquiriu em meio século
de seu uso, ludibriando conclusões. Aqui se manifestou uma
superação, baseada ainda na dualidade, e o modelo apenas foi
fragmentado, não mão de seu poder explicativo e fundamentando-se
em um paradoxo, se isso fosse possível.
140
ARANTES, op cit p.14
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(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
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Considerações finais: O conceito sem seu sentido
Considerações finais: O conceito sem seu sentidoConsiderações finais: O conceito sem seu sentido
Considerações finais: O conceito sem seu sentido
a cidade deve ser um organismo, tem que ser
uma estrutura, ou seja: não uma simples
combinação de elementos, mas sim um todo
formado por fenômenos solidários, de forma
que cada um dependa dos outros e não pode
ser o que é senão em virtude de sua relação
com os outros
141
Esse conceito de estrutura urbana de Ludovico Quaroni é na verdade
seu modelo ideal de cidade. Uma cidade genérica ainda para todos os
cidadãos. Nas análises estudadas sobre a estrutura paulistana a idéia
de fenômenos solidários jamais apareceu, inclusive as análises
geográficas que não davam tanto juízo às suas observações não tem
como não apontar a desigualdade, que já tem em seu conceito a
desqualificação. No entanto não nos parece correto afirmar que a
cidade não tem ou nunca teve estrutura, porém é importante salientar
que ela não é esse modelo ideal. A “estrutura” para as peculiaridades
paulistanas não pode ser enxergada como uma sustentação do meio
urbano, mas sim como o conjunto nem sempre harmônico de
elementos que propiciam seu crescimento que o se constituiu como
um bem comum para todos na cidade.
141
QUARONI, L., op cit p. 53
182
182182
182
A evolução das abordagens de estrutura mostram apenas um elemento
comum em todas as suas elaborações: a desigualdade seja ela física,
espacial, social, econômica, o espaço é formado e não tem o equilíbrio
como seu fundamento, assim a noção de estrutura - carregada dessa
idéia de estabilidade não faz sentido na interpretação urbana de São
Paulo. Essa constatação, no entanto não quer diminuir a validade
desses estudos, só vem referenciar que elas devem ser analisadas num
contexto num processo sócio-espacial, é necessário sempre um contra
ponto, senão não podem oferecer grandes interpretações da cidade,
que é um processo. Isso cria uma tendência de interpretações que não
são a compreensão do espaço.
Outras formulações de estruturas urbanas foram utilizadas em outros
lugares do mundo. Em Arquitetura da Cidade (1966) Aldo Rossi
procura entender a estrutura em formas que sejam independentes de
seu uso, porém que sejam fundamentais na vida urbana em diferentes
épocas a construção da cidade no tempo traria características
estáveis da cidade por sua essência a cidade cresce e se modifica
com consciência de si. Esse método chamado de “teoria dos fatos
urbanos que entende a cidade por seus elementos primários como
público, privado, monumentos referenciais não teve uma exemplificação
em São Paulo, nenhum dos estudos caracterizou espacialmente sua
essência de qualidade reforçando a idéia de que o Paulo se
reconstrói sempre.
Embora alguns pontos sejam apontados, como as ferrovias, por
183
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183
exemplo, nos anos 70 e 90, elas por mais que ainda existam
simplesmente não são entendidas como elementos da estrutura da
cidade, que nessas épocas são predominantemente analisados como
uma relação social. São Paulo foi estudada de modo a não adquirir
consciência sobre si mesma, por o se vincular a uma identidade
espacial, ou material em alguma instância.
A intensificação dos estudos estruturalistas na segunda metade do
século XX são claramente um exemplo disso, na medida em que a
elaboração desses modelos (e, como foi visto, a força que um modelo
centro-periferia, adquire) não expõem o processo. A interpretação
da cidade acaba sendo por fatos sucessivos, não necessariamente
relacionados. Os estudos sócio espaciais de São Paulo 1975:
Crescimento e Pobreza” e “São Paulo Crise e mudança” apresentam
conflitos, apresentam as desigualdades, tal e qual o estudo da
SAGAMACS por meio das analises físicas, o que se quer dizer é que o
resultado interpretado, a formação modelo sim provoca um
congelamento das reflexões. Faz a imagem das “descontinuidades
invés de entender um processo em constante transformação.
O método foi criticado por Henry Lefèbvre em o “O direito à Cidade”,
quando expõe o objetivo de sua crítica:
“todo o sistema tende a aprisionar
aprisionar aprisionar
aprisionar a reflexão, a
fechar os horizontes. Este livro deseja romper os
sistemas, mas não para substituí-los por um outro
184
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184
sistema, mas para abrir
abrirabrir
abrir
o pensamento e a ação na
direção de possibilidades
possibilidadespossibilidades
possibilidades que mostrem novos
horizontes e caminhos.”
142
Essa idéia é fundamental para a crítica urbana: os modelos já entendido
pelas suas simplificações e generalizações formariam problemas
equivalentes, de modo que as soluções ainda teriam essas condições,
e assim um ciclo sem objetivo real ou propostas eficazes se repetiram.
Os sistemas para São Paulo poderiam ainda ser interpretados no
sentido usado no começo do século por Petroni das seqüenciais
fundações de São Paulo”, ou seja, a metáfora da estrutura paralisa os
processos se tomadas uma a uma isso reforça a concepção
generalizada de São Paulo como um fenômeno de cidade
“metamórfica” sendo que ela, definitivamente o é. A cidade
evidentemente muda, mas ainda sobre as mesmas bases, ou seja, a
sua forma de produção e de valorização continuam iguais, e se a
estrutura urbana muda em função de suas adaptações, elas não
deixam de estar sobre um mesmo processo sócio-espacial.
A compreensão de estrutura, portanto, ao se utilizar como um senso
totalitário elimina o processo, tornam as contradições uma maneira fixa
de se compreenderam, elas, em São Paulo foram elevadas á condição
de elementos estruturadores (sistematizados), quando na verdade são
seus conflitos, seus agentes de processo, que numa interpretação
142
LEFÈBVRE, Henry “O Direito à Cidade” 1969 São Paulo – Centauro Editora p.7
185
185185
185
estrutural não contemplam a dialética dessas contradições. Para
Lefebvre o espaço é visto não apenas em suas formas, concepção,
materialidade ou simplesmente uma abstração, todas estas
características são percebidas, e junto delas existe uma análise de seus
efeitos , seja enquanto tenta-se encarar o espaço ou no seu uso, ou na
sua prática, ou em apenas idéias, desejos. O espaço é analisado em
um meio, que ora é seu contexto, ora o contêm, mostrando um rol de
paradoxos formados pela interação social com a espacialidade, em
seus vários âmbitos.
No texto Das contradições do espaço ao espaço diferencial” da “A
Produção do Espaço”, são inúmeras as maneiras de interagir com o
espaço em termos de percepção ou vivência: não existe um
procedimento, nem nenhum manual pode ser seguido. O espaço, enfim
pode ser várias idéias ou formas, das mais variadas percepções e
diferentes espaços interagem diversamente, com a sociedade, com o
tempo, com o local, com as intenções, com o mundo, com o indivíduo,
e todos estes elementos, da mesma forma, se relacionam. Assim são
diversos os enfoques abordados, porém o valor geral com o que se
compreende é sua vivência, o valor remetido ao espaço (não
necessariamente a materialidade que esse de fato tenha), e talvez seja
nesta questão em que muitas das contradições do espaço se baseiam:
seu valor, que na produção capitalista é dada como substituível,
rentável, reprodutível, em fim um produto, de valor de troca, mas que,
porém, na sua vivência assume outros valores, mais de acordo com um
momento, ou até permanência de algo que não nos pertence, seu
186
186186
186
tempo, seu uso. Enfim, os valores de uso e de troca assumem no
espaço quase que uma dicotomia, que novamente, na prática, muitas
se anulam em veis diferentes, ou em leituras e perspectivas distintas
outras vezes não excluem um do outro, permitindo com que muitos
outros paradoxos se estabeleçam.
“O uso reaparece em conflito agudo com a troca no
espaço, porque ele implica em apropriação e não
propriedade. Ora, a própria apropriação implica em
um tempo e em tempos, um ritmo e ritmos, em
símbolos e uma prática. Quanto mais um espaço é
funcionalizado, mais ele é dominado por agentes que
o manipularam tornando-o uni-funcional e menos ele
se presta à apropriação. Por quê? Porque ele fia fora
do tempo vivido, aquele dos utentes, tempo diverso e
complexo. Entretanto o que é que uma comprador
compra na qualidade de comprador de um espaço?
Tempo”
143
No nosso contexto, o espaço, além de parecer não ser dotado de seu
próprio tempo ele parecer ser completamente subordinado ao nosso
sistema (pelo fato de assim conduzirmos a nossa apropriação,
substituindo valores intrínsecos), caindo em nossa própria contradição
A contradição principal corresponde àquela que Marx revela desde o
começo de sua análise do capitalismo: entre as forças produtivas e as
143
Cf. Lefebvre, p.5
187
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187
relações sociais de produção (e de propriedade). Enfraquecida no nível
da produção das coisas (no espaço), esta condição se aprofunda em
nível superior, o da produção do espaço.”
144
Assim, o espaço acaba assumindo características que se adeqüem ou
sejam plenamente atribuídas ao valor que toma na sociedade, além de
carregar também suas propriedades colocando suas contradições e
conflitos. Dessa forma, entendemos que a analise estrutural pode ter
influência na produção do espaço, uma vez que ela, tanto como
método quanto como objeto também é um produto social, a questão é
que como elimina muito dos componentes, dificilmente as respostas
formuladas seriam soluções.
Ou seja, o conceito de estrutura é fundamental para o trabalho urbano,
porém deve sempre ser visto numa perspectiva de um processo sócio-
espacial, pois o modelo por si representa um aprisionamento de
conflitos e a formulação das soluções entraria nessa sistematização,
que ao voltar para a realidade dificilmente atingiria os objetivos aos
quais se propôs, pois estes mesmos talvez não tenham sentido. A
estrutura é um fato lógico e cidade é um processo dialético, de tal
forma que o conceito, totalizador, perde seu sentido, pois o espaço não
tem esse atributo único em toda a sua constituição, em toda a sua
multiplicidade.
144
Cf. Lefebvre, p.5
188
188188
188
Para São Paulo, podemos concluir que o “conceito de estrutura”
também tem uma relação dialética com formação do espaço: como
método propiciou um enorme desenvolvimento nas pesquisas urbanas,
desenvolveu sobremaneira o conhecimento da cidade, e ao mesmo
tempo a necessidade da formulação de sistemas empobrecia esse
conhecimento na facilidade da concepção dos esquemas muito antes
do questionamento dos mesmos. Como proposta, ao mesmo tempo
em que vários momentos parece renunciar à sua função (por que a
estrutura urbana também é uma função da cidade) foi estímulo para o
desenvolvimento urbano na medida em que auxiliava na idéia da cidade
que se queria.
189
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(
((
(vermelho
vermelhovermelho
vermelho)
))
)
190
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