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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMANIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA
TROPICAL E RECURSOS NATURAIS
GENÉTICA POPULACIONAL DO PEIXE-BOI DA AMAZÔNIA, Trichechus
inunguis NATTERER, 1883 (MAMMALIA, SIRENIA) NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA: IMPLICAÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO.
ANDRÉA MARTINS CANTANHEDE
Manaus-Amazonas
Julho, 2008
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ii
ANDA MARTINS CANTANHEDE
GENÉTICA POPULACIONAL DO PEIXE-BOI DA AMAZÔNIA, Trichechus
inunguis NATTERER, 1883 (MAMMALIA, SIRENIA) NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA: IMPLICAÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO.
Orientadora: Dra. Izeni Pires Farias
Co-orientadora: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva
Tese apresentada ao PIPG-
BTRN como parte dos
requisitos para obtenção do
título de doutor em Ciências
Biológicas, área de
concentração em Genética,
Conservação e Biologia
Evolutiva.
Manaus, Amazonas
Julho, 2008
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
C357
Cantanhede, Andréa Martins
Genética populacional do peixe-boi da Amazônia, Trichechus
inunguis Natterer, 1883 (Mammalia: Sirenia) na Amazônia
Brasileira: implicações para sua conservação/Andréa Martins
Cantanhede.---Manaus : [s.n.], 2008.
xviii, 116f : il
Tese (doutorado) – INPA/UFAM, Manaus, 2008
Orientador: Izeni Pires Farias
Co-orientador: Vera Maria Ferreira da Silva
Área de concentração: Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva.
1. Peixe-boi - Amazônia 2. Populações 3. Marcadores
microssatélites. 4. Peixe-boi – Variabilidade genética. I. Título.
CDD 19. ed. 599.550415
Sinopse
Utilizou-se marcadores microssatélites para identificação da
paternidade dos filhotes de peixes-bois da Amazônia nascidos
em cativeiro, análise da diversidade genética populacional, e
investigação sobre eventos de hibridização entre as espécies de
peixes-bois do Brasil, no estuário do Rio Amazonas.
Palavras-chave:
Peixe-boi, paternidade, populações, hibridização, manejo in situ
e ex situ.
iv
Dedico essa tese aos meus pais, Maria
do Rosário e Raimundo Nonato
Cantanhede, meus irmãos André
Rogério e Aurélio Luís, minha sobrinhas
Andressa, Andreyna e Amanda e ao
meu esposo Hádamo Andrade pelo
incentivo para realização deste trabalho.
v
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas me apoiaram ao longo de todo o doutorado, aqui expresso
meus sinceros agradecimentos:
À Deus, a minha fonte de inspiração, por guiar meus caminhos;
Às minhas orientadoras Izeni e Vera, pelo apoio e incentivo absoluto,
pelas lições aprendidas, pela convivência harmoniosa, por contribuição na
minha formação pessoal e profissional, por tudo!!!!É muito bom trabalhar com
vocês;
Ao Tomas, pela grandeza e paciência ao transmitir seus
conhecimentos, pela ajuda nas análises estatísticas, por abraçar nosso
projeto trazendo sempre novas idéias para melhorar nosso trabalho;
Ao Dr. Fernando Rosas, pela amizade e pelas críticas e sugestões ao
trabalho;
À Dra. Maristerra Lemes por impulsionar as primeiras genotipagens, e
por toda contribuição e conselhos durante o desenvolvimento do projeto.
À Dr. Eliana Feldberg pelo incentivo e ajuda nas análises cariotípicas;
Ao Dr. Jorge Porto, sempre disposto a me receber e esclarecer minhas
dúvidas;
O veterinário Anselmo d’Affonseca e sua equipe (Raimundo, Marcelo,
Nazaré, Daniel e Jeová), que contribuíram nas coletas das amostras;
À Stella Maris, rcia Picanço, e aos seus colaboradores tratadores
pelo apoio ao trabalho e ajuda nas coletas de tecido dos peixes-bois;
Meus companheiros do LMA: Nildon Ataíde, Nataly Castelblanco,
Daniela Fettuccia, Daniela Mello, Giovanna Dantas, Talita, Fermanda
Romagnoli, Paulinha Pink, Fernanda Rodrigues, Jone César, Leandro Ciotti,
Lousinha, Yara Camargo, lia de Mattos, Márcia Munick, Roberta e aos
estagiários que por aqui estiveram. Vocês fizeram parte da minha “família”
em Manaus;
Aos companheiros do LEGAL, em especial ao Will pelas conversas
filosóficas; Cleiton e Adam sempre de alto astral; Yane e Rafa pelo “ombro
amigo”; Alexandre e Áureo pelas lições de perseverança; Cíntia, Carlota,
Concy e Themis por compartilhar dos momentos de desespero; Marina e
vi
Jack pelas trocas de experiências; Abu, Nat, Daniel, Pedro, ...a turma do
LEGAL é gigante...
Aos colegas do Laboratório de Tecnologia de DNA do centro de apoio
multidisciplinar coordenado pelo Prof. Spartaco, pela colaboração, em
especial ao Jonson e a Dina pela ajuda no Mega Bace;
Aos colegas do LTBM do INPA: Kyara, Jackeline, Gisele, Naiara, que
me ajudaram na injeção das placas de genotipagem;
Ao IBAMA pela licença 003-06/CMA/IBAMA;
A bia Luna (IBAMA), Régis Lima (IBAMA), Jairo Moura (Bosque
Rodrigues Alves), Carla Aguilar (CNS), Luiza Lopes (IBAMA), Benoit Thoisy
(NGO KWATA - Guiana Francesa), Fernanda (FMA), Messias (MPEG), Paula
Soares (IBAMA) que me ajudaram na empreitada de conseguir amostras de
peixes-bois;
Ao Hádamo simplesmente por estar do meu lado, e trazer mais brilho a
minha vida!!!
Aos meus irmãos da “casa dos artistas” (Lauren, Guilherme-Massa,
Heitor) foi muito bom morar com vocês;
Aos meus amigos de sempre, Rominho, Day, Clara, Lane, Maisy,
Nívia, Rejane, Camilion, Jaqueline Carneiro;
A todos os professores do curso de Genética, conservação e biologia
evolutiva por terem contribuído na minha formação;
Ao INPA, pela oportunidade de conhecer a Amazônia;
A UFAM, pela disponibilidade na utilização de sua infra-estrutura,
através do Laboratório de Evolução e Genética Animal (LEGAL);
À CAPES pela bolsa que garantiu minha sobrevivência em Manaus
durante o doutorado;
Aos financiadores do meu projeto e da minha formação durante o
doutorado: CNPQ (PPG7-Genética, conservação e manejo da fauna aquática
da várzea Amazônica), IIEB/Fundação Moore (Programa BECA), FAPEAM
(Programa PAPE), WWF (Programa EFN);
À todos que contribuíram de alguma forma para realização deste
trabalho;
MUITO OBRIGADA!!!!!
Andréa Martins Cantanhede
vii
Sonho que se sonha só, é só um sonho que
se sonha só.
Sonho que se sonha junto é realidade!!!!!!
(Raul Seixas)
viii
RESUMO
O peixe boi da Amazônia, Trichechus inunguis, (o único sirênio
exclusivamente de água doce), possui distribuição restrita a Bacia do
Amazonas, onde é encontrado desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as
cabeceiras do Rio Amazonas, na Colômbia, Peru e Equador. A captura
indiscriminada e em grande escala para o uso comercial foi, sem dúvida, a
principal razão da redução populacional dessa espécie na Amazônia, que
associada à baixa taxa reprodutiva, limita a habilidade desta espécie de se
restabelecer rapidamente. No Laboratório de Mamíferos Aquáticos (INPA,
Manaus-AM) e no Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos
Aquáticos da Eletronorte (Balbina-AM) existem programas de conservação
ex situ”, com o resgate e a reabilitação dos animais apreendidos devido a
caça ilegal, atividades de pesquisa e educação ambiental, reprodução em
cativeiro, além de projetos de reintrodução de peixes-bois na natureza. A
genética da conservação procura minimizar o risco da extinção por fatores
genéticos. Assim o conhecimento dos níveis e distribuição da variabilidade
genética é fundamental para o planejamento do manejo e conservação do
peixe-boi da Amazônia in situ e ex situ. O presente projeto tem objetivo de
realizar análise de paternidade dos filhotes de nascidos e criados cativeiro do
LMA-INPA e do CPPMA-Balbina; além de verificar o nível e a distribuição da
variabilidade genética das populações de peixe-boi da Amazônia, se existem
eventos de hibridização entre as espécies de peixe-boi que ocorrem no
Brasil, avaliando a contribuição genética de cada uma das espécies,
utilizando marcadores microssatélites. De posse dessas informações,
fornecer subsídios de fundamental importância para o estabelecimento de
eficientes estratégias de conservação e manejo dessa espécie. Para isso,
foram realizadas amplificações cruzadas de 20 loci microssatélites
desenvolvidos para Trichechus manatus em T. inunguis. Todos os loci se
apresentaram em equilíbrio de Hardy-Weinberg e os testes de desequilíbrio
de ligação não foram significativos para os pares de loci em cada população,
após a correção de Bonferroni. Os níveis de diversidade genética encontrada
para a espécie amazônica de peixe-boi foi relativamente maior comparada
com os outros sirênios. Os elevados níveis de polimorfismos dos loci
utilizados neste trabalho permitiram obter sucesso na identificação da
paternidade dos filhotes de peixe-boi da Amazônia nascidos em cativeiro. A
probabilidade de acerto de 99,83% para o filhote erê; 81,38% para o tuã,
90,21% para o filhote natimorto, 90,21% para o filhote kinjá e 97,84% para o
filhote inaê. Para os indivíduos do CPPMA/Balbina, a probabilidade de acerto
foi 94,98% para filha prematura da miri, 98,38% para morena e 97,09% para
uatumã. Nas análises populacionais observou-se a não existência de
estrutura genética nas populações amostradas (F
ST
0,00205, p = 1). Os
valores de M variaram de 21,902 a infinito, confirmando o alto nível de fluxo
gênico entre as populações. Além disso, nossos testes indicaram que as
populações não apresentam sinais dos efeitos de um gargalo populacional
recente. Obviamente, existe a possibilidade de que o peixe-boi da Amazônia
tenha sofrido uma redução populacional devido a grande exploração
comercial sofrida pela espécie durante as décadas de 30 a 50, porém por
terem um longo período de vida e tempo de geração, os efeitos dessa
redução não foram detectados no ponto de vista genético. Com os resultados
obtidos no programa STRUCTURE, foi possível observar duas “populações”
ix
bem diferentes geneticamente, que representam as espécies T. inunguis e T.
manatus. Porém, os indivíduos Para_100, Para_b13 e Para_domn rejeitam a
hipótese que eles pertençam de fato a sua espécie correspondente, ou seja,
são indivíduos híbridos. Esses indivíduos são provenientes do estuário
amazônico, região de simpatria entre as duas espécies que ocorrem no
Brasil, onde Domning (1981) havia sugerido existir uma possível zona de
hibridização entre as espécies. O programa BayesAss+ usa aproximação
bayesiana para calcular taxas recentes de imigração entre populações com
base nos genótipos multilocos individuais. Similar ao programa
STRUCTURE, o programa BayesAss+ indicou que certos indivíduos o
pertencem as suas supostas espécies. Tanto as análises no programa
Isolamento com migração (IMa) como as análises no MIGRATE confirmam a
presença de fluxo gênico entre T. manatus e T. inunguis indicando que este
seria o principal sentido da introgressão. As análises do MIGRATE revelam
que a população do “Pará” de T. inunguis recebe maior número de migrantes
do peixe-boi marinho (Nm=5,0045), enquanto o fluxo gênico de T. manatus e
T. inunguis foi menor (Nm=2,3395). As análises no IMa confirmam a
presença de fluxo gênico significantemente diferente de zero entre T.
inunguis e T. manatus e que existe claramente uma diferença na direção do
fluxo gênico com Nm=7,4779 de T. manatus para T. inunguis, vs Nm=1,7188
de T. inunguis para T. manatus, confirmando os resultados da taxa de
migração obtidos no MIGRATE. Essas análises indicaram claramente o
contínuo, porém desigual fluxo gênico entre T. manatus e T. inunguis
indicando que este seria o principal sentido da introgressão.
x
ABSTRACT
The Amazonian manatee, Trichechus inunguis, (the only exclusively fresh
water sirenian), possesses restricted distribution in the Amazonian region
where it is found from the Marajó Bay (Brazil) all the way to Colombia, Peru
and Equator. The indiscriminate large scale capture for commercial use was
the main reason of population reduction in the Amazon that associated
together with low reproductive rate limits a potential of a quick recovery of this
species. The Aquatic Mammal Laboratory (LMA-INPA, Manaus-AM) and the
Center of Preservation and Research of Aquatic Mammals of Eletronorte
(CPPMA-Balbina-AM) undertake "ex situ" conservation programs which focus
on the rescue and rehabilitation of animals seized from poachers, research
activities and environmental education, reproduction in captivity, and also
reintroductions of Amazonian manatees into the wild. Conservation genetics
aim to minimize extinction risk caused by genetic factors. Thus the knowledge
of the levels and distribution of the genetic variability is fundamental for the
planning of in situ and ex situ management and conservation strategies for
the Amazonian manatee. Using microssatélites markers, the goal of the
present project is to analyse paternity of animals born and raised in captivity
at LMA-INPA and CPPMA-Balbina, as well as to verify the level and the
distribution of the genetic variability of the Amazonian manatee, to confirm if
hybridization events exists between the two manatees species that occur in
Brazil, evaluating the genetic contribution of each species and to find in which
direction the hybridization events occur; and with this information provide
subsidies of fundamental importance for the establishment of efficient
conservation strategies and management of this species. With this goal in
mind, 20 microssatellite loci originally developed for Trichechus manatus were
utilized in T. inunguis. All of the loci were in Hardy-Weinberg equilibrium and
the tests of linkage disequilibrium were not significant for any pair of loci within
each population. The levels of genetic diversity found for the Amazonian
manatee was relatively large when compared with the other sirenians. The
high level of polymorphism of the loci used in this study allowed for the
successful paternity identification of the Amazonian manatee offsprings born
in captivity. The probability of success were 99,83% for the calf erê; 81,38%
for tuã, 90,21% for a stillborn calf, 90,21% for kinjá and 97,84% for inaê. At
CPPMA/Balbina, the probability of success was 94,98% to a premature calf of
miri, 98,38% for morena and 97,09% for uatumã. In the population analyses it
was observed that no genetic structure exist among the regions sampled (F
ST
- 0,00205, p = 1,0). The values of M (absolute number of migrants) varied
from 21,902 to infinite, confirming the high level of gene flow among the
regions and that these populations do not present signs of the effects of a
recent population bottleneck. It seems obvious that the Amazonian manatee
has suffered a population reduction due to great commercial exploration
during the 1930’s to 1950’s, however most likely since these animals have a
long life span and generation time, the effects of that reduction were not
detected genetically. With the results obtained with the program
STRUCTURE, it was possible to observe two very different "populations",
representing the species T. inunguis and T. manatus. However, the
individuals Para_100, Para_b13 and Para_domn reject the hypothesis of
belonging to their corresponding species, in other words, they are hybrid
individuals. Those individuals are from of the Amazonian estuary, an area of
xi
sympatry of the two species, and where Domning (1980) had already
suggested the existence of a possible hybridization area for the species. The
program BayesAss+ uses a Bayesian population assignment approach to
estimate rates of recent immigration events between populations from
individual multilocus genotypes. Similar to the program STRUCTURE, the
program BayesAss+ indicated that certain individuals do not belong to their
supposed species. Further analyses in the programs IMa and MIGRATE
further confirm the existence of ongoing geneflow between T. manatus and T.
inunguis indicating that this would be the main direction of the introgression.
The MIGRATE analyses confirmed the presence of gene flow between T.
inunguis and T. manatus, with the “Pará” population of T. inunguis receiving
high number of migrants of the marine manatee (Nm=5,0045), while geneflow
in the direction from T. manatus to T. inunguis was lower (Nm=2,3395).
Analyses in the isolation with migration program IMa confirmed the presence
of gene flow significantly different zero between T. inunguis and T. manatus
and existence of clear difference in the direction of gene flow with Nm=7,4779
from T. manatus to T. inunguis vs. Nm=1,7188 from T. inunguis to T.
manatus. These analyses clearly indicated ongoing but unequal geneflow
between T. manatus and T. inunguis indicating the main direction of
introgression.
xii
Lista de Tabelas
Capítulo 1
Tabela 01: Descrição dos vinte primers microssatélites desenvolvidos
por Garcia-Rodriguez et al. (2000) e Pause et al. (2007)*, utilizados na
caracterização genética de Trichechus inunguis.
40
Tabela 02: Perfil da termociclagem para amplificação via PCR dos
primers marcados com fluorescência.
43
Tabela 03: Perfil da termociclagem para amplificação via PCR dos
primers com cauda M13 (-21) utilizando o protocolo econômico de
Schuelke (2000).
45
Tabela 04: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites
desenvolvidos originalmente para T. manatus e utilizados neste
trabalho para 19 indivíduos de peixe-boi da Amazônia, Trichechus
inunguis.
48
Tabela 05: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites
utilizados neste trabalho para 8 indivíduos de peixe-boi marinho
Trichechus manatus do Brasil.
50
Capítulo 2
Tabela 01: Animais amostrados para análise de paternidade dos
filhotes nascidos em cativeiro no LMA/INPA.
59
Tabela 02 - Animais amostrados para análise de paternidade dos
filhotes nascidos em cativeiro no CPPMA.
59
Tabela 03: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites
utilizados neste trabalho para 12 indivíduos de peixe-boi da Amazônia,
Trichechus inunguis, criados em cativeiro do LMA/INPA, cuja
determinação da paternidade está sendo investigada.
62
Tabela 04: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites
utilizados neste trabalho para 13 indivíduos de peixe-boi da Amazônia,
Trichechus inunguis, criados em cativeiro do CPPMA/Balbina, cuja
determinação da paternidade está sendo investigada.
63
Tabela 05 - Análise de exclusão de paternidade de três filhotes de
peixe-boi da Amazônia, T. inunguis, nascidos em cativeiro no
LMA/INPA, com base no cálculo da probabilidade de corretamente
identificar, entre os pais potenciais, o pai verdadeiro. Os valores na
tabela correspondem às probabilidades (p) calculadas segundo o
programa PARENTE (Cercueil et al., 2002).
65
xiii
Tabela 06 - Análise de exclusão de paternidade de três filhotes de
peixe-boi da Amazônia, T. inunguis, nascidos em cativeiro no
CPPMA/Balbina, com base no cálculo da probabilidade de
corretamente identificar, entre os pais potenciais, o pai verdadeiro. Os
valores na tabela correspondem às probabilidades (p) calculadas
segundo o programa PARENTE (Cercueil et al., 2002).
65
Capítulo 3
Tabela 01: Diversidade alélica, indicada pelo número de alelos em
peixe-boi da Amazônia (T. inunguis) obtidos no presente trabalho,
comparado com Trichechus manatus latirostris, Trichechus manatus
manatus e Dugong dugon (Garcia-Rodriguez et al., 1998, McDonald,
2005 e Pause et al., 2007). Os valores entre parênteses representam o
número de amostras analisadas.
76
Tabela 02: Número de alelos (A), Heterozigosidade observada (Ho) e
esperada (He) por loco por população e a probabilidade dos desvios
das proporções de Hardy-Weinberg (Ho e He) para cada população de
T. inunguis analisada.
78
Tabela 03: Diversidade genética das populações de peixe-boi da
Amazônia representada pela média: do número de alelos (A), da
Heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He) e coeficiente de
endogamia (F
IS
).
82
Tabela 04: Análise de variância molecular (AMOVA) para as amostras
de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) provenientes das 9
áreas estudadas.
84
Tabela 05: Matriz de divergência (F
ST
diagonal abaixo) e fluxo gênico
[M (número absoluto de migrantes por geração), diagonal acima]
analisado entre os pares de populações de peixe-boi da Amazônia
(Trichechus inunguis).
85
Tabela 06: Probabilidades para excesso de heterozigotos dos testes de
Wilcoxon calculadas a partir dos modelos IAM, TPM e SMM de
evolução molecular dos marcadores microssatélites para cada
população estudada.
87
Capítulo 4
Tabela 01: Número de alelos (A), Heterozigosidade observada (Ho) e
esperada (He) e a probabilidade dos desvios das proporções de Hardy-
Weinberg encontrados para os 19 indivíduos analisados Trichechus
manatus.
96
Tabela 02: Análise de variância molecular (AMOVA) para as amostras
de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) e para o peixe-boi
marinho (Trichechus manatus).
97
xiv
Tabela 03: Valores de F
ST
diagonal abaixo e M, número de migrantes
por geração - diagonal acima, entre T. inunguis e T. manatus.
98
Tabela 04: Caracterização genética dos indivíduos híbridos detectados
pelo programa STRUCTURE. O valor de p refere-se ao teste da
hipótese dos indivíduos serem híbridos.
100
Tabela 05: Valores das probabilidades que indicam quantas gerações
atrás ocorreram os eventos de hibridização obtidos no STRUCTURE.
102
Tabela 06: Probabilidade de indivíduos pertencerem a sua “população”
original estimada pelo programa BayesAss+ para as duas espécies de
peixes-bois, T. inunguis e T. manatus.
102
Tabela 7: Estimativa de fluxo gênico (Nm) unidirecional entre as
populações de peixe-boi da Amazônia amostradas calculadas pelo
programa MIGRATE. Ln(L)= -2911,98
106
xv
Lista de Figuras
______________________________________________________________
Introdução
Figura 01: Resultado de um único dia de caçada de peixe-boi no Lago
Ayapuá, Rio Purus, 1940 (foto: anônima) (Best, 1984b).
19
Figura 02: Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis).
23
Figura 03: Cladograma mostrando as relações dos sirênios e seus
grupos relacionados. † = taxa extinto (Berta et al., 2006).
25
Figura 04: Interações entre efeitos demográficos e genéticos da perda
de habitat e isolamento que podem provocar um aumento na
probabilidade de extinção. Modificado de Soulé & Millis (1998).
33
Capítulo 1
Figura 01: Esquema de amplificação para uma única reação em um
tubo para este método econômico de PCR. (A,B) As caixas com
hachuras indicam os primers de microssatélites específicos, (C) A
caixa cinza ondulada a seqüência do primer universal M13(-21), e a
estrela é a florescência FAM. (D) Nos primeiros ciclos de PCR, o
primer forward contendo a cauda M13(-21) é incorporado nos produtos
de PCR. (E) Estes produtos são marcados com fluorescência FAM do
primer universal M13(-21) que é incorporado durante ciclos
subseqüentes a uma temperatura mais baixa de 53°C. (F) O produto
final marcado pode ser analisado em um sistema de detecção a laser.
Modificado de Schuelke, 2000
44
Capítulo 2
Figura 01: Distribuição de T. inunguis (Rosas, 1994).
52
Figura 02: Ilustração do momento da cópula dos peixes-bois
(www.seaworld.org/infobooks/ Manatee/reproman.html).
54
Figura 03: Parque aquático Robin Best no LMA-INPA (foto: Fernando
Rosas).
58
Figura 04: Heredrograma mostrando o relacionamento dos animais do
LMA/INPA nascidos no cativeiro.
67
Figura 05: Heredrograma mostrando o relacionamento dos animais do
CPPMA-Balbina nascidos no cativeiro.
67
Capítulo 3
Figura 01: Procedência das amostras de Trichechus inunguis
analisadas (modificado de Fantin, 2008). Onde, 1-Amazonas; 2-
Solimões-Amazonas; 3-Solimões; 4-Japurá; 5-Madeira; 6-Negro; 7-
Purus; 8-Tapajós; 9-Estuário amazônico “Pará”.
72
xvi
Figura 02: Gráfico de barras gerado pelo programa STRUCTURE.
Cada coluna (linha vertical) representa um indivíduo. Cada cor
representa grupos diferentes e a proporção das cores em uma coluna
representa a probabilidade que a amostra pertence a mesma
população.
86
Capítulo 4
Figura 01: Modelo Isolamento com Migração (IM). Os termos
demográficos são tamanho efetivo populacional (N1, N2 e Na), taxa de
fluxo gênico (m1 e m2), e tempo de divergência populacional (t). Os
parâmetros têm o balanço de uma taxa de mutação neutra )
utilizando um melhor modelo de mutação que se ajusta ao banco de
dados. Os parâmetros de migração são identificados pela fonte de
migrante há um tempo atrás na coalescência, ou seja, a taxa de
migração da população 1 para população 2 (m1) atualmente
corresponde ao movimento de genes da população 2 para 1 com
movimentos um tempo adiante.
94
Figura 02: Gráfico de barras gerado pelo programa STRUCTURE.
Cada coluna (linha vertical) representa um indivíduo. Cada cor
representa grupos diferentes ou espécies e a proporção das cores em
uma coluna representa a probabilidade que a amostra pertence à
espécie.
99
Figura 03: Probabilidade para cada parâmetro está descrito em: A)
Tamanho efetivo populacional de T. inunguis; B) Tamanho efetivo
populacional de T. manatus; C) Tamanho efetivo populacional da
população ancestral de T. inunguis e T. manatus.; D) Taxa de
migração de T. inunguis para T. manatus (em número de indivíduos
por geração); E) Taxa de migração de T. manatus para T. inunguis
(em número de indivíduos por geração); F) Tempo de divergência em
anos entre T. manatus e T. inunguis.
107
xvii
SUMÁRIO
Agradecimentos
v
Resumo
viii
Abstract
x
Lista de Tabelas
xii
Lista de Figuras
xv
1 INTRODUÇÃO GERAL 19
1.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22
1.2.1. O peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis
22
1.2.2. A Ordem Sirenia 24
1.2.3. Estrutura populacional e fluxo gênico 27
1.2.4. Hibridização 29
1.2.5. Genética e conservação 32
1.3 OBJETIVOS
35
Capítulo 1: Caracterização dos loci microssatélites transferidos
de Trichechus manatus para T. inunguis
36
2.1 INTRODUÇÃO 36
2.2 MATERIAL E MÉTODOS 38
2.2.1 Coleta das amostras 38
2.2.2 Extração de DNA 38
2.2.3 Digestão 38
2.2.4 Purificação 38
2.2.5 Quantificação do DNA 39
2.2.6 Amplificação in vitro-PCR
39
2.2.7 Genotipagem 45
2.2.8 Caracterização dos vinte loci microssatélites
45
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
47
Capítulo 2: Identificação da paternidade dos filhotes de peixe-boi
da Amazônia nascidos em cativeiro
52
3.1 INTRODUÇÃO 52
3.3 MATERIAL E MÉTODOS 59
3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
60
Capítulo 3: Análise da diversidade genética populacional do
peixe-boi da Amazônia
69
4.1 INTRODUÇÃO 69
4.3 MATERIAL E MÉTODOS 71
4.3.1 Coleta das amostras 71
4.3.2 Análise estatística populacional 72
4.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 75
xviii
4.4.1 Diversidade genética dos 20 loci microssatélites transferidos de
T. manatus para T. inunguis
75
4.4.2 Diversidade genética entre e dentro das populações de peixe-boi
da Amazônia
82
4.4.3 Distribuição da variabilidade genética e fluxo gênico entre as
populações de T. inunguis
83
4.4.4 Identificação de gargalo populacional recente
87
Capítulo 4: Avaliação de eventos de hibridização entre Trichechus
manatus e T. inunguis no estuário amazônico
89
5.1 INTRODUÇÃO 89
5.3 MATERIAL E MÉTODOS 91
5.3.1 Coleta das amostras 91
5.3.2 Análises estatísticas inter-específicas 92
5.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 95
5.4.1 Análise inter-específica: T. inunguis X T. manatus
95
6. CONCLUSÃO
108
7. PERSPECTIVAS
110
8. REFERÊNCIAS BIBIIOGRÁFICAS
111
19
1 INTRODUÇÃO GERAL
O peixe boi da Amazônia, Trichechus inunguis, mamífero aquático
herbívoro, o único sirênio exclusivamente de água doce, possui distribuição
restrita a bacia amazônica, onde se distribui por todos os principais afluentes,
desde as cabeceiras dos rios da bacia Amazônica no Peru, Colômbia e
Equador, até a sua foz (Best, 1984a). Ocorre nos três tipos de água (Sioli,
1984) existentes na Bacia Amazônica.
Os primeiros registros sobre a exploração dos peixes-bois amazônicos
datam de 1542, sendo antes disso, eram utilizados como alimento pelos índios.
Porém, com o advento da indústria do couro, entre 1935-54 a espécie começou
a ser intensivamente caçada, (Figura 01). Nesse período, cerca de 4000-7000
peixes-bois eram mortos por ano para serem usados na fabricação de correias
de máquinas, polias e mangueiras, e para obtenção de óleo e carne (Domning,
1982a; Best, 1984b).
Embora protegido oficialmente no Brasil como espécie em perigo de
extinção desde 1967 (Lei de proteção da fauna, 5.197) ainda sofre com a
caça comercial ilegal e de subsistência que ocorre em toda Amazônia (Colares,
1991; Rosas, 1994; Rosas & Pimentel, 2001; IBAMA, 2003).
Figura 01: Resultado de um único dia de caçada de peixe-boi no Lago
Ayapuá, Rio Purus, 1940 (foto: anônima) (Best, 1984b).
Esta espécie apresenta um comportamento bastante discreto tornando
difícil a sua observação em seu ambiente natural. A turbidez dos rios da região
aumenta essa dificuldade, impedindo a sua observação direta e a contagem
20
dos indivíduos (Rosas, 1994). Assim, diferentes técnicas e metodologias
devem ser desenvolvidas e aplicadas nos estudos dessa espécie, assim como
o aproveitamento de programas de cativeiro para promover o conhecimento
biológico que auxiliem na conservação do peixe-boi da Amazônia.
As técnicas de genética da conservação podem ser aplicadas com o
intuito de diminuir o risco de extinção de uma espécie por fatores genéticos;
minimizando a endogamia e a baixa diversidade genética; identificando
populações, resolvendo a estrutura populacional, esclarecendo incertezas
taxonômicas, definindo unidades de manejo de espécies; detectando
hibridizações; definindo áreas para reintrodução; selecionando os melhores
indivíduos para reintrodução; na identificação forense usando análise genética
e para entender a biologia da espécie, especialmente o padrão de
acasalamento e sistema reprodutivo (Frankham et al., 2003).
Na foz do rio Amazonas coexistem as duas espécies de peixes-bois do
Brasil: T. inunguis e T. manatus. Domning (1980) levantou a possibilidade da
existência de híbridos nessa região. Garcia-Rodrigues et al. (1998) com base
em estudos moleculares, sugeriram a ocorrência de hibridização entre as
duas espécies de peixes-bois nessa região. os resultados de Cantanhede
et al. (2005) indicam que provavelmente as linhagens de DNA mitocondrial
das duas espécies de peixes-bois, ainda não se separaram completamente,
sugerindo a manutenção de um polimorfismo ancestral, apesar de não
descartar a possibilidade de hibridização.
A detecção de hibridização pode ser difícil, embora agora facilitada
com aplicações de técnicas moleculares nas últimas duas décadas (Rhymer
& Simberloff, 1996). Dados moleculares são coletados com relativa facilidade,
interpretar os significados evolutivos da hibridização e determinar o papel das
populações híbridas dentro do desenvolvimento das estratégias de
conservação é mais difícil e muitas vezes incompreendido (Allendorf et al.,
2001).
Determinar qual desses processos pode estar ocorrendo com os
peixes-bois na foz do Rio Amazonas torna-se um fator importante para a
conservação das espécies de peixes-bois do Brasil.
Dentre os marcadores moleculares existentes, os microssatélites têm
sido um dos mais utilizados para medir a diversidade genética, pois se
21
mostram altamente polimórficos em mamíferos (Litt & Luty, 1989). E por
serem altamente variáveis e multi-alélicos, os marcadores microssatélites são
especialmente úteis para inferir eventos demográficos recentes, inclusive
para verificar impactos humano-induzidos em populações.
Locos com muitos alelos, como os loci microssatélites, têm capacidade
de detectar e descrever diferenças genéticas entre populações (Hedrick,
1999). Dessa forma, é fundamental estudar o quanto essas variações
genéticas são significantes biologicamente e evolutivamente.
Microssatélites são sucessões de simples mono-, di-, tri-
tetranucleotídeos repetidas em tandemque são principalmente polimórficos
em comprimento devido a erros gerados durante a replicação do DNA e
ocorrem como elementos extremamente repetitivos dispersados nos
genomas dos eucariotos. A taxa de mutação nestas seqüências repetitivas é,
em geral, 10 a 100 vezes maior do que a de outras regiões do genoma,
fazendo com que sejam consideradas, portanto, seqüências de alta taxa
evolutiva (Ferreira & Grattapaglia, 1998).
Existem basicamente dois modelos que podem explicar as elevadas
taxas de mutação nos microssatélites: crossing-over desigual entre as
moléculas de DNA, resultado da recombinação entre cromossomos
homólogos que não foram alinhados corretamente e o mecanismo do
slippage durante a replicação do DNA (Goldstein & Schlötterer, 1999).
Mutações em loci microssatélites geralmente envolvem mudança no
tamanho de uma repetição, mas algumas vezes as mutações envolvem as
unidades repetitivas. Existem vários todos teóricos e empíricos
empregados para estudar a dinâmica evolutiva dos microssatélites (Freimer e
Slatkin, 1996 apud Goldstein & Schlötterer, 1999), e o que tem se percebido
é que os processos de mutacionais de microssatélites podem ser muito mais
complexo que se imaginava.
Classicamente, dois modelos mutacionais têm sido considerados: IAM
(infinite allele model ou modelo dos alelos infinitos, Kimura & Crow, 1964)
onde a mutação envolve número de repetição e sempre resulta em alelo não
previamente encontrado na população, ou seja, cria um novo alelo; e o SMM
(stepwise mutation model ou modelo de mutação passo a passo, Kimura &
Ohta, 1978) que descreve as mutações dos alelos de microssatélites por
22
perda ou ganho de uma única repetição em tandem. Mais recentemente, Di
Rienzo et al. (1994), introduziram o TPM (two phase model ou modelo de
mutação em duas fases), onde as mutações introduzem ganho ou perda de
“x” repetições. Esses modelos teóricos que representam o processo evolutivo
dos microssatélites são utilizados para obter melhores estimativas de
diferenciação populacional e parâmetros demográficos (Goldstein &
Schlötterer, 1999).
A variabilidade alélica em locos de microssatélite é bastante alta
(geralmente 5 a 10 alelos que segregam dentro de uma população de forma
Mendeliana) e pode ser usado como um marcador genético para: solucionar
relação genética entre populações proximamente relacionadas, como
também na paternidade e sucesso reprodutivo, análise de genealogia,
comportamento reprodutivo, níveis de endocruzamento, tamanho efetivo da
população, fluxo gênico local e análise forense (Frankham et al., 2003).
O presente estudo propõe-se a realizar análise de paternidade dos
animais gerados, nascidos e criados em cativeiro do Laboratório de
Mamíferos Aquáticos (LMA-INPA) e do Centro de Preservação e Pesquisa
Mamíferos Aquáticos da Eletronorte (CPPMA-Balbina), além de verificar o
nível e a distribuição da variabilidade genética do peixe-boi da Amazônia, e
confirmar se existem eventos de hibridização entre as espécies de peixe-boi
que ocorrem no Brasil, avaliando a contribuição genética de cada uma das
espécies e conhecer qual a direção dos eventos de hibridização, utilizando
marcadores microssatélites. Os resultados desse estudo fornecerão
subsídios de fundamental importância para o estabelecimento de eficientes
estratégias de conservação e manejo dessa espécie.
1.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.2.1. O peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis
O peixe boi da Amazônia, T. inunguis, (o único sirênio exclusivamente
de água doce), possui distribuição restrita aos rios da região amazônica,
onde é encontrado desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as cabeceiras dos rios
da bacia amazônica, na Colômbia, Peru e Equador (Domning, 1981; Best,
1984a; Rosas, 1994). A espécie tem sido encontrada nos principais
tributários do Rio Amazonas como no baixo Tocantins (abaixo das
23
cachoeiras); rios Tapajós; Nhamundá; Madeira; Negro; Xeruni; Branco e
Purus entre outros. Também tem sido encontrado no rio Tacutu (Roraima) e
nos rios Essequibo e Rupununni, Guiana. Na Colômbia, nos rios Amazonas,
Putumayo, Caquetá (Japurá no Brasil) e baixo Apaporis. No Peru, já foi
observado nos rios Napo, Tigre, Marañon, Pastaza, Samiria, Pacaya, Ucayali
e Huallago. Não se tem registro de peixe-boi amazônico no rio Madre de Dios
na Bolívia (Husar, 1977), embora a presença T. inunguis no rio Orinoco tenha
sido sugerida (Husar, 1977), ainda não existem registros (Best & da Silva,
1983), há apenas registros de T. manatus.
Sua ocorrência está preferencialmente associada a ambientes de
águas calmas e/ou lagos com vegetação aquática (Best, 1984a). Esta
espécie se diferencia dos demais peixes-bois por não apresentar unhas (há
normalmente três ou quatro nas nadadeiras peitorais dos demais peixes-bois)
(Caldwell & Caldwell, 1985); pela diminuição e maior complexidade dos
molares e pelo supraocciptal espesso (Domning & Hayeck, 1986). São
menores tanto no tamanho corporal quanto no peso; o tamanho máximo
alcançado por esta espécie é cerca de 3 m de comprimento, com 300 a 350
kg de peso. Possui coloração mais escura, variando de cinza-escuro a quase
negro, com manchas claras na região ventral (Figura 02) (Ayres & Best,
1979; Best & Silva, 1979 Caldwell & Caldwell, 1985; Rosas, 1991).
(Foto: Doug Perrine)
Figura 02: Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis).
24
Não se tem informação sobre tamanho de grupo e estrutura social do
peixe-boi da Amazônia. São considerados animais relativamente solitários, cuja
estrutura social mais duradoura é entre mãe e filhote, que pode durar mais de
dois anos (Best, 1982; da Silva et al., 2000). Agregações temporárias podem
ocorrer durante o período reprodutivo e durante a estação seca (Best, 1982).
Na seca, os peixes-bois ficam restritos a lagos ou canais mais profundos do rio
(poços) (Best, 1982; Best, 1983; Junk & da Silva, 1997).
De acordo com o ciclo sazonal do sistema de drenagem do Rio
Amazonas, os peixes-bois amazônicos movimentam-se entre lagos e rio.
Durante a cheia dispersam-se na várzea, onde existe maior disponibilidade
de alimento (Best, 1983). A cópula e os nascimentos em sua maioria ocorrem
nesse período, e a gestação dura cerca de 12 meses (Nascimento et al.,
2003). Essa sincronia permite a fêmea recuperar as condições fisiológicas do
final da gestação e início da lactação (Rosas, 1994).
1.2.2. A Ordem Sirenia
Os sirênios representam uma das quatro ordens de mamíferos
agrupadas como “subungulados” (tendo como ancestral comum um ungulado
primitivo). Esta ordem é relacionada filogeneticamente com as ordens
Desmostylia (mamíferos herbívoros extintos), Embrithopoda (ordem de
mamíferos extintos parentes dos proboscídeos), e os demais subungulados,
Tubulidentata (aadwarks), Proboscidea (elefantes) e Hyracoidea (hyrax)
(Domning, 2001).
Os sirênios, proboscídeos, e o taxa extinto desmostilianos são
reconhecidos como um clado denominado de Tethytheria. Dados moleculares
e morfológicos incluem os hiracóides nesse grupo monofilético (Figura 03).
A ancestralidade comum entre proboscídeos, sirênios e hyraxes foi
sugerida pela análise das seqüências de aminoácidos da proteína α A do
cristalino dos olhos destes animais (de Jong & Zweers, 1980), por
características morfológicas (Novarek et al., 1988), pela comparação de
seqüência de aminoácidos (Miyamoto & Goodman, 1986) e por seqüências
nucleotídicas (Springer & Kirsch, 1993; Lavergne et al., 1996; de Jong, 1998;
Shoshani & McKenna, 1998).
25
Figura 03: Cladograma mostrando as relações dos sirênios e seus grupos
relacionados. † = taxa extinto (Berta et al., 2006).
A evolução da ordem Sirenia não é completamente entendida, mas
sabe-se que esta se originou no Velho Mundo (Eurásia e/ou África) (Reynolds
& Odell, 1991), por volta de 45 a 50 milhões de anos atrás, no médio Eoceno
(Domning, 2001). Mas a grande diversidade do grupo, provavelmente,
ocorreu durante o Mioceno (Domning, 1982c; 2001) e atualmente, existem
apenas 2 gêneros e 4 espécies.
A ordem Sirenia inclui duas famílias com espécies viventes:
Dugongidae, constituída por uma única espécie o Dugong dugon, e
Trichechidae com 3 espécies: Trichechus inunguis, T. manatus e T.
senegalensis.
O dugongo, Dugong dugon, ocorre no litoral tropical e subtropical do
Oceano Índico e oeste do Pacífico. O peixe-boi africano, T. senegalensis,
ocorre em habitats de água doce, estuário e regiões costeiras desde o
Senegal até a Angola, no oeste da África. O peixe-boi marinho, T. manatus,
distribui-se nos rios, estuários e áreas costeiras tropicais e subtropicais do
Oceano Atlântico, assim como em muitos rios da Flórida, nas Antilhas, leste
do México, América Central e nordeste e leste da América do Sul. Todas as
espécies de peixes-bois são consideradas ameaçadas de extinção pela IUCN
devido aos impactos negativos da pressão antrópica, principalmente por
super exploração e perda de habitat (IUCN, 2000).
26
Domning (1982b) especulou que o gênero Trichechus originou-se de
um outro gênero agora extinto, o Ribodon. Ambos são caracterizados por
molares supranumerários que são substituídos horizontalmente ao longo da
vida, caracterizando uma adaptação à alimentação de vegetação aquática e
sub-aquáticas.
Domning (1982b) sugere que o gênero Trichechus se originou em
lagunas salgadas ou de água doce, e estuários na América do Sul, e
ampliado sua distribuição ao longo da região caribenha seguida por
dispersão para a África Ocidental no final do Plioceno e início do Pleistoceno.
Porém, não existem sinapomorfias morfológicas que apóiam a hipótese da
relação dos taxa irmãos T. manatus e T. senegalenses (Domning, 1982b).
Este mesmo autor também sugere uma invasão da Bacia amazônica
ocidental no Plioceno e a diferenciação morfológica no T. inunguis moderno,
ocasionada pelo isolamento temporário de um ancestral de T. inunguis dentro
da Bacia amazônica ocidental devido a eventos orogênicos andinos. Esta
hipótese é apoiada por fragmentos ósseos fósseis do Pleistoceno de animais
morfologicamente semelhante a T. manatus achados no estado do Acre
(Bacia amazônica ocidental). T. inunguis exibe mais caracteres derivados do
que as outras espécies de peixes-bois (Domning, 1981; 1982b; 2001).
Análises filogenéticas recentes utilizando a região controle do DNA
mitocondrial (Cantanhede et al., 2005; Vianna et al., 2005) sugerem que T.
manatus seria parafilética, e análises utilizando citocromo b (Vianna et al.,
2005) confirmam que T. manatus e T. senegalensis são espécies derivadas
provavelmente de um mesmo ancestral marinho.
Duas subespécies de peixe-boi marinho foram propostas, separadas
por análise morfométrica dos caracteres craniais; o peixe-boi da Flórida
(Trichechus manatus latirostris), restrito a península da Flórida; e o peixe-boi
das Antilhas (Trichechus manatus manatus), distribuído nas Américas Central
e do Sul (Domning & Hayeck, 1986).
Entretanto essa divisão não coincide com as análises filogenéticas
intraespecífica com base em DNA mitocondrial, nas quais três linhagens
distintas foram encontradas correspondendo 1- ao grupo da Flórida e das
Antilhas; 2- Golfo do México e Caribe; 3- Costa Atlântica da América do Sul,
onde haplótipos de peixe-boi da Flórida ocorrem também nas Antilhas, como
27
por exemplo em peixes-bois marinhos provenientes de Porto Rico e da
Republica Dominicana, sugerindo que a população da Flórida teria se
originado por colonizadores dessa região (Garcia-Rodriguez et al., 1998).
Alguns estudos genéticos com o peixe-boi da Flórida (T. manatus
latirostris) foram realizados, utilizando eletroforese de proteínas
(McClenaghan & O'Shea, 1988) e DNA mitocondrial (Brandley et al., 1993;
Garcia-Rodriguez et al., 1998), e verificaram níveis baixos de diferenciação
genética em torno da península da Flórida, sugerindo um significante fluxo
gênico e homogeneidade nas freqüências dos genes em escala regional,
como resultado de um “estrangulamento” populacional sofrido por essa
espécie ou de uma recente colonização dessa área. Essas informações têm
fornecido base para implementação de programas de manejo e conservação
para a espécie (Garcia-Rodriguez et al., 2000).
1.2.3. Estrutura populacional e fluxo gênico
A estimativa da estrutura de populações e de fluxo gênico é uma das
primeiras aplicações da genética de populações (Fisher, 1930; Wright, 1931).
Isto é particularmente importante na conservação, porque a maioria das
populações de espécies ameaçadas ou são pequenas ou sofreram uma
redução recente, ou fragmentação, ou qualquer outra perturbação.
O problema central para genética da conservação é a identificação de
populações discretas, unidades de manejo e unidades evolutivas
significantes. Este problema pode ser especialmente crítico quando a espécie
possui distribuição mais ou menos contínua (Diniz-Filho & Telles, 2002).
Entender os padrões e a extensão da divergência genética entre as
populações é crucial para proteção das espécies e para desenvolver planos
efetivos de conservação. Por exemplo, translocações de animais e plantas
com objetivo de suplementar uma população deprimida podem ter efeitos
prejudiciais se ocorre a translocação de indivíduos geneticamente diferentes
da população residente (Frankham et al., 2003).
Prioridades para conservação de uma espécie requerem entender a
diferenciação genética adaptativa entre as populações, e mais importante
ainda é, identificar as unidades que devem ser consideradas (Frankham et
al., 2003).
28
Cetáceos são altamente móveis e normalmente amplamente
distribuíram por um ou mais oceanos. Nestas circunstâncias, existe grande
potencial para fluxo gênico, que pode prevenir diferenciação genética entre
populações que são separadamente milhares de quilômetros (Hoelzel et al.,
2002). Contudo, a diferenciação genética pode ocorrer dentro de uma
determinada região geográfica, mesmo na ausência de barreiras físicas.
Populações subdivididas são importantes para definição de unidades
para conservação das espécies raras ou ameaçadas ou de unidade de
manejo para espécies que são exploradas. Para espécies aquáticas, onde
freqüentemente o existe barreira geográfica óbvia, delimitar unidades
populacionais torna-se um problema especialmente difícil.
Golfinhos de Hector, Cephalorhynchus hectori, são endêmicos das
águas costeiras da Nova Zelândia e são aparentemente filopátricos, estão
mais concentrados ao longo da região central na costa leste e ao oeste das
ilhas do sul. Os golfinhos de Hector da Ilha do norte e da ilha do sul são
considerados subespécies, fisicamente e geneticamente diferentes. Porém,
resultados com DNAmt mostram diferenciação de pelo menos três
populações geneticamente distintas deste golfinho, uma na costa ocidental
da Ilha Norte e em ambas as costas ocidentais e orientais da Ilha Sul (Baker
et al., 2002).
A franciscana, Pontoporia blainvillei, é endêmica na costa Atlântica Sul
da América do Sul. Essa espécie desperta preocupação quanto a sua
conservação porque sofrem elevadas taxas de mortalidade devido a capturas
acidentais em redes de pesca, e talvez seja a maior ameaça aos pequenos
cetáceos nesta região. Estudos morfológicos e genéticos prévios sugerem a
existência de dois estoques distintos um ao norte e outro ao sul da Ilha de
Santa Catarina no Brasil. Foram encontradas diferenças fixadas entre
amostras do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. A
diferenciação genética dos 2 estoques é consistente com um modelo de
isolamento por distância, cujos níveis calculados de fluxo gênico são mais
altos entre populações vizinhas, e diminui quando são comparadas com as
localidades mais distantes (Lazaro et al., 2004).
Para a espécie marinha de tartaruga, a verde, Chelonia mydas, tem
sido proposta duas unidades evolutivas significantes (ESU), a do Oceano
29
Atlântico e a da região Indo-Pacífico (Karl & Bowen, 1999). Dentro de cada
ESU, mais de 10 unidades de manejo foram reconhecidas, porém diferenças
populacionais e demográficas independentes são difíceis de se delinear.
Vários estudos moleculares e demográficos com baleias jubarte, Megaptera
novaeangliae, têm sugerido a presença de uma unidade evolutiva significante
contendo numerosas unidades de manejo, que correspondem aos estoques
identificados nas rotas migratórias (Baker et al., 1998).
1.2.4. Hibridização
A hibridização é parte importante no processo evolutivo e tem sido
reconhecida principalmente na evolução de plantas, estudos recentes a
reconhece como importante evento na evolução em animais (Dowling &
Secor, 1997).
Os dados genéticos devem ser interpretados tanto no nível de
indivíduo quanto de população para entender a história de hibridização dentro
das populações. Indivíduos híbridos podem ser híbridos de primeira-geração
(F1), híbridos de segunda-geração (F2), cruzamentos com um dos taxa
parental, ou geração de híbridos.
A hibridização pode ter vários efeitos sobre a aptidão das espécies. No
caso de heterose ou vigor do híbrido, híbridos têm alcançado performances
ou fitness relativo para cada taxa parental (Dowling & Secor, 1997).
No caso de depressão exogâmica, a progênie híbrida tem menor
performance ou fitness que os parentais. Existem 2 mecanismos primários
que podem reduzir o fitness do híbrido o primeiro mecanismo é a
incompatibilidade genética entre taxa híbrida, isso tem se referido a ambos,
fatores intrínsecos da depressão exogâmica e seleção endógena. E segundo,
a depressão exogâmica pode ser resultado de adaptação reduzida a
condições ambientais de híbridos, isso se refere à depressão exogâmica
extrínseca e seleção exógena (Rhymer & Simberloff, 1996).
Uma vez que o processo de hibridação iniciou, é difícil parar,
especialmente se híbridos são férteis e acasalam entre eles e com ambos os
indivíduos parentais. Depois de algumas gerações, este processo resultará
em uma “população” híbrida na qual essencialmente todos os indivíduos são
de origem híbrida (Allendorf & Luikart, 2007).
30
Existem vários exemplos bem documentados de hibridização em
mamíferos. O gato doméstico (Felis catus) ameaça a existência do gato
selvagem (F. silvestris) por hibridização (Hubbard et al., 1992). Acredita-se
que a região norte e ocidental da Escócia abrigava os gatos selvagens mais
puros da Europa, várias análises genéticas identificaram que mais de 80%
dos indivíduos estudados tiveram características de gatos domésticos
(Beaumont et al., 2001). Um problema idêntico está acontecendo na África do
Sul com o gato doméstico e o gato selvagem africano F. libyca (Stuart &
Stuart, 1991).
A tentativa de reintroduzir o lobo vermelho (Canis rufus) no leste dos
Estados Unidos foi considerado um insucesso. Análise de mtDNA de
indivíduos de diferentes áreas da sua distribuição atual e histórica indicam
que todos eles têm haplótipos de lobo cinza (C. lupus) e de coiote (C.
latrans), sugerindo que o lobo vermelho pode ser uma espécie de origem
híbrida (Wayne & Jenks, 1991). Lobos vermelhos também intercruzaram com
os coiotes e mais tarde, neste século, aumentaram sua densidade para a
região Leste.
Hibridação entre coiotes e lobos vermelhos ou com lobos cinza
provavelmente afeta os genótipos do coiote do leste (Lariviere & Crete,
1993). Análises utilizando DNA microssatélite (Roy et al., 1994) apóiam a
hipótese da origem híbrida do lobo vermelho. De qualquer modo, os genes de
indivíduos soltos de lobo vermelho muito provavelmente agora vão se
misturar extensivamente com os dos coiotes.
Na Europa, o que vinha sendo considerado populações de lobo puro
(C. lupus) têm se mostrado híbridos entre lobos e cachorro doméstico (Canis
familiaris), levando à criação de uma “Federação de Lobo” para proteger os
lobos da “poluição genética” por cachorro doméstico (Butler, 1994).
Vários híbridos em cetáceos foram reportados, mas a maioria envolve
animais de cativeiro. casos conhecidos de hibridização entre o golfinho
nariz de garrafa (Tursiops truncatus) e outras espécies como falsa baleia orca
(Pseudorca crassidens), e o golfinho de dentes rugoso (Steno bredanensis),
golfinho de riso (Grampus griseus) e baleia de piloto de nadadeira curta
(Globicephala macrorhyynchus) (Dohl et al., 1974; Nishiwaki & Tobayama,
1982; Leatherwood & Reeves, 1983; Sylvestre & Tanaka, 1985). Em todos
31
estes casos os filhotes apresentam características intermediárias entre esses
parentais.
Bérubé & Aguilar, 1998 registraram uma fêmea híbrida entre uma
baleia fin (Balaenoptera physalus) e uma baleia azul (B. musculus) capturada
em 1984 no noroeste da Espanha. Sua coloração e proporções do corpo
eram intermediárias entre uma baleia fin e uma baleia azul, embora essa
fêmea híbrida fosse anomalamente grande (19,4 m) quando comparada com
uma baleia fin de idade similar (4 anos). Esse indivíduo era sexualmente
imaturo, concomitante com sua idade, mas não em seu comprimento se
fosse uma baleia fin. Análises moleculares revelaram que a mãe do híbrido
era uma baleia azul e o pai uma baleia fin. Existem registros para o cinco
híbridos de baleia fin-azul na literatura, mais outros relatos, indicam que a
hibridização entre estas duas espécies acontece em várias regiões
geográficas e parecem relativamente freqüentes, considerando a ausência de
informação de híbridos entre outro misticetos. A capacidade reprodutiva
destes híbridos permanece desconhecida, embora a incidência de prejuízo
reprodutivo pareça ser mais alto em machos híbridos que em fêmeas
híbridas.
Kovacs et al., 1997 utilizando DNAmt e nuclear relata a produção
incomum de híbridos no acasalamento entre Phoca groenlandica e
Cystophora cristata, parentais de gêneros diferentes, morfologicamente
distintos, com tamanhos corporais e comportamento reprodutivo diferentes.
1.2.5. Genética e conservação
Fatores humano-induzidos como a destruição de hábitat, caça e
competição de espécies exóticas introduzidas são as principais causas da
maioria das extinções recentes (Frankham et al., 2003).
Além destes fatores, as espécies são vulneráveis a fatores
estocásticos que também podem causar extinções. Estes fatores podem ser
extrínsecos e podem incluir elementos bióticos como a influência de
predadores, competidores e patógenos (Roelke-Parker et al., 1996), ou
elementos abióticos como inundações, fogo e secas (Raup, 1991).
Outros fatores estocásticos como estocasticidade demográfica e
genética (Frankham et al., 2003) são intrínsecos as espécies. Estocasticidade
32
demográfica surge de flutuações das taxas de natalidade, mortalidade e
razão sexual (Avise & Nelson, 1989). Estocasticidade genética inclui
depressão endogâmica que é o resultado de acasalamentos entre parentes,
perda de variação genética e o acúmulo de alelos deletérios. Os efeitos da
estocasticidade genética dependem do tamanho efetivo de população. De
qualquer modo, é difícil isolar efeitos genéticos de uma rede de interações
que afetam a viabilidade de populações selvagens (Allendorf & Luikart, 2007)
(Figura 04).
Populações naturais normalmente têm níveis altos de variação
genética. Essa variação é introduzida por mutação ou migração de indivíduos
de outras populações e é perdida por deriva genética, endocruzamento e
seleção natural (Nei, 1987). Como o endocruzamento e a deriva genética são
inversamente proporcionais ao tamanho das populações, espécies que estão
ameaçadas de extinção geralmente possuem níveis muito baixos de
heterozigosidade.
A baixa diversidade genética em pequenas populações reduz a
habilidade das espécies de responder a mudanças no ambiente. Existem
quatro ameaças para a diversidade genética: a extinção de populações ou
espécies; a extinção de alelos; o endocruzamento que reduz a
heterozigosidade; e a seleção, favorecendo um alelo em detrimento de outro
(Frankham et al., 2003).
Uma gama de cnicas e marcadores moleculares tem sido usada
para resolver problemas na área de conservação. Desde que os primeiros
loci microssatélites foram isolados e amplificados em humanos em 1989 (Litt
& Luty, 1989; Tautz, 1989; Weber & May, 1989), tornaram-se os marcadores
moleculares preferidos para estudos biológicos, inclusive na genética da
conservação. Microssatélites têm sido usados para demonstrar estrutura
populacional (Forbes & Hogg, 1999; Nesje et al., 2000), identificar
paternidades (Houlden et al., 1997; Marshall et al., 1999), avaliar diversidade
genética (Mundy et al., 1997) e identificar espécies e indivíduos a partir de
pequenas quantidades de amostras não invasivas (Ernest et al., 2000;
Sloane et al., 2000).
A diversidade genética pode ser medida usando polimorfismos, pela
proporção de indivíduos heterozigotos dentro da população e também pela
33
diversidade alélica (Rosel & Reeves, 2000). Indivíduos heterozigotos tendem
a ter maior sobrevivência, resistência a doenças, taxa de crescimento e
sucesso reprodutivo.
Figura 04: Interações entre efeitos demográficos e genéticos da perda de
habitat e isolamento que podem provocar um aumento na probabilidade de
extinção. Modificado de Soulé & Millis (1998).
A tese aqui apresentada está dividida em 4 capítulos, que envolvem a
aplicação dos marcadores microssatélites na genética da conservação do
peixe-boi da Amazônia, correspondem:
Capítulo 1: Caracterização dos loci microssatélites transferidos de
Trichechus manatus para T. inunguis. Neste capítulo a metodologia e
protocolos são detalhados e os níveis de diversidade genética dos loci são
avaliados para suas devidas aplicações.
Capítulo 2: Identificação da paternidade dos filhotes de peixe-boi da
Amazônia nascidos em cativeiro, aqui se investiga o relacionamento entre
indivíduos nascidos em cativeiro no Laboratório de mamíferos
aquáticos/INPA e no Centro de Preservação e Pesquisas com mamíferos
34
aquáticos, CPPMA-Balbina, buscando reduzir acasalamentos incestuosos,
para minimizar o endocruzamento e a perda de variação genética.
Capítulo 3: Análise da diversidade genética populacional do peixe-boi
da Amazônia, onde são avaliados os níveis e a distribuição da diversidade
genética da espécie e se a espécie sofre algum efeito de um gargalo
populacional recente.
Capítulo 4: Avaliação de eventos de hibridização entre Trichechus
manatus e T. inunguis no estuário amazônico, onde por meio de análises
estatísticas o identificados os indivíduos híbridos, sendo possível avaliar a
contribuição genética de cada uma das espécies e conhecer qual a direção
dos eventos de hibridização.
A genética da conservação procura minimizar o risco da extinção por
fatores genéticos. Assim o conhecimento dos níveis e distribuição da
variabilidade genética é fundamental para o planejamento do manejo e
conservação do peixe-boi da Amazônia in situ e ex situ.
35
1.3. OBJETIVOS
Geral
O presente projeto propõe-se a realizar análise de paternidade dos
animais de nascidos e criados em cativeiro; além de verificar o nível e a
distribuição da variabilidade genética do peixe-boi da Amazônia, e se existem
eventos de hibridização entre as espécies de peixe-boi que ocorrem no
Brasil, avaliando a contribuição genética de cada uma das espécies nos
híbridos, utilizando marcadores microssatélites; e assim fornecer subsídios
de fundamental importância para o estabelecimento de eficientes estratégias
de conservação e manejo dessa espécie.
Específicos
Realizar a amplificação cruzada de 20 primers microsatélites
desenvolvidos para T. manatus em indivíduos de T. inunguis;
Realizar a caracterização genética dos marcadores microssatélites para
Trichechus inunguis;
Investigar a diversidade genética dos 20 loci testados em T. inunguis
Realizar a identificação da paternidade dos animais nascidos em cativeiro
no Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA-INPA) e no Centro de
Preservação e Pesquisa Mamíferos Aquáticos da Eletronorte (CPPMA-
Balbina);
Caracterizar geneticamente indivíduos de peixe-boi na Amazônia oriundos
de diferentes áreas geográficas;
Verificar o grau de diferenciação genética intraespecífica e interespecífica;
Verificar se as populações amostradas apresentam indícios dos efeitos de
uma recente redução no tamanho populacional;
Confirmar se existe uma zona de hibridização entre T. inunguis e T.
manatus do na foz do Rio Amazonas.
36
Capítulo 1: Caracterização dos loci microssatélites transferidos de
Trichechus manatus para T. inunguis
2.1 INTRODUÇÃO
Os marcadores microssatélites têm sido usados em genética de
populações para mapear genomas, ecologia molecular e estudos que visam
conservação. São também chamados de VNTRs (número variável de
repetições em tandem) ou SSR (seqüência simples repetitivas) e consistem
de repetições em tandem de pequenas seqüências motifs de 1 a 6
nucleotídeos. Os loci microssatélites são multi-alélicos co-dominantes,
evoluem através de processos mutacionais decorrentes dos “escorregões” da
DNA polimerase (slippage) ou de crossing over desigual (Goldstein &
Schlötterer, 1999).
A principal vantagem desses marcadores é que eles são altamente
polimórficos, até mesmo em populações pequenas e espécies ameaçadas. O
alto polimorfismo é resultado da alta taxa de mutação que ocasiona mudança
no número de repetições. As taxas de mutação variam de 10
-3
a 10
-6
(Weber
& Wong, 1993). Apesar de suas altas taxas evolutivas, os microssatélites são
conservativos em suas regiões flanqueadoras e podem persistir por um longo
período sem modificações (Zardoya et al., 1996). Portanto, pares de primers
desenvolvidos para uma espécie podem ser usados em espécies
proximamente relacionadas porque o lugar onde ele se anela é uma região
altamente conservada.
Marcadores microssatélites são especialmente úteis para inferir eventos
demográficos recentes, inclusive descoberta de impactos humano-induzidos
em populações. Assim, uma variedade de métodos foi especificamente
desenvolvida para dados microssatélite para identificar eventos demográficos
históricos. Isso faz dos marcadores microssatélite uma ferramenta de
pesquisa poderosa, porém o desenvolvimento desses marcadores requer
trabalho intensivo e caro. Conseqüentemente, pesquisadores testaram
marcadores de microssatélite desenvolvido para uma espécie em outra
(Moore et al., 1991, Schlötterer et al., 1991; Katzir et al., 1996; Matsuoka et
al., 2002; Zucoloto et al., 2006; Banhos et al., 2008), uma particularidade
37
conhecida como transferiabilidade, ou amplificação cross-espécies, ou
amplificação cruzada.
A taxa de sucesso na amplificação cross-espécie de microssatélites tem
mostrado ser diretamente relacionada com divergência evolutiva entre as
espécies para a qual os loci microssatélites foram isolados (Primmer et al.,
2005).
Cantanhede et al. (2005) analisando a região controle do DNA
mitocondrial em peixe-boi da Amazônia, verificaram que a divergência
genética entre indivíduos T. inunguis e T. manatus variou de 6.2 ± 1.3% a 8.3
± 1.5%, e corresponde a divergência de 3.1 ± 0.65–4.0 ± 0.65 milhões de ano
com base na taxa de 2% substituições/sitio/ano. A estimativa de coalescência
de diversificação de Trichechus do Novo Mundo é estimada em a 2.15 ± 0.11
Ma, como uma estimativa mínima muito baixa de tempo de divergência,
corroborando com a hipótese de uma origem de Plio-Pleistoceno e
diversificação de Trichechus (Domning, 1982b). O recente tempo de
divergência entre as duas espécies de peixe-boi do Brasil indica uma boa
possibilidade de sucesso na cross amplificação dos marcadores
microssatélites.
Garcia-Rodriguez et al. (2000) desenvolveram um conjunto de 14
primers microssatélites e Pause et al. (2007) desenvolveram mais 10
marcadores para Trichechus manatus. Nesses trabalhos, os autores
verificaram amplificação positiva para os loci microssatélites em T. inunguis.
Este trabalho visa realizar a amplificação cruzada de 20 primers
desenvolvidos para o peixe-boi marinho, Trichechus manatus, em amostras
de indivíduos de peixe-boi da Amazônia. A utilização desses loci será de
extrema importância para examinar estrutura populacional, análise de
paternidade. Essas informações genéticas são fundamentais para
recomendações de manejo da espécie de peixe-boi da Amazônia, tanto em
cativeiro como em ambiente natural.
38
2.2 MATERIAL E MÉTODOS
2.2.1 Coleta das amostras
Indivíduos provenientes de diferentes rios da Bacia Amazônica foram
amostrados, porém para caracterização dos loci microssatélites, foram
analisadas 19 amostras de peixe-boi da Amazônia e 8 de peixe-boi marinho.
Foram coletadas de uma a quatro gramas de tecido da pele de
Trichechus inunguis utilizando o instrumento cirúrgico para biópsia cutânea.
Essas amostras foram estocadas em frascos devidamente etiquetados
contendo solução saturada com sal (NaCl) de dimetil sulfóxido (DMSO) a
20% ou em álcool puro.
2.2.2 Extração de DNA
A digestão do DNA ocorreu em tubos do tipo eppendorf contendo
tampão de lise (SDS e proteinase K) e estocados em estufa a 55ºC. A
extração do DNA total sefeita por meio de sucessivas lavagens utilizando
fenol-clorofórmio e precipitação em etanol (Sambrook et al., 1989), conforme
descrito abaixo:
2.2.3 Digestão
Colocou-se em um tubo eppendorf subamostras de aproximadamente
1 grama de pele macerada, adicionados a 500 µl de solução tampão para
extração (1 ml de NaCl 5M; 10 ml SDS 20%; 86 ml ddH
2
O; 1 ml Tris (1M), pH
8;2ml EDTA 0.5M), 10 µl de proteinase K 10 mg/ml. Esse tubo foi encubado à
55º C por 24 horas (podendo ficar até por 48 horas).
2.2.4 Purificação
Adicionou-se 0.5 ml de fenol ao tubo com tecido digerido, agitou-se por
cinco minutos e centrifugou-se também por 5 minutos a 3000g. Transferiu-se
o sobrenadante para um tubo limpo. Esse processo foi realizado por duas
vezes.
Depois, retirou-se o sobrenadante, adicionou-se 0.5 ml de solução
Fenol/Clorofórmio/Álcool Isoamílico (25:24:1), agitou-se por cinco minutos, e
39
centrifugou-se por outros cinco minutos à 3000 g. Transferiu-se a camada
sobrenadante para um tubo limpo. Essa operação também foi repetida por
duas vezes.
Novamente, retirou-se o sobrenadante e adicionou-se 0.5 ml de
solução Clorofórmio/Álcool Isoamílico (24:1) agitou-se por cinco minutos, e
centrifugou-se por cinco minutos a 3000 g. A camada sobrenadante foi
transferida para um tubo limpo, e repetiu-se a operação.
Retirou-se o sobrenadante, e em um novo tubo, adicionou-se 1 ml de
etanol 100%, e depois encubou-se a – 20 ºC por doze horas (ou a – 80ºC por
1 hora). Centrifugou-se o tubo por 30 minutos a 14000g. Lavou-se com
Etanol 70%, e deixou-se secar; ressuspendeu-se com 200 µl de água pura.
2.2.5 Quantificação do DNA
A quantidade e a qualidade do DNA extraído foi avaliada em
comparação a um padrão de peso molecular conhecido em gel agarose 0.8%
corado com EtBr (brometo de etídio). Posteriormente o DNA foi diluído em
uma concentração final que variou entre 10-100ng/µl de DNA.
2.2.6 Amplificação in vitro-PCR
Para realização das genotipagens é necessário que o DNA nuclear de
cada um dos indivíduos seja amplificado por meio de uma reação em cadeia
da polimerase (PCR) utilizando primer de oligonucleotídeos. A análise é
feita com base no comprimento dos produtos de PCR utilizando eletroforeses
e um sistema de detecção por laser (em seqüenciador automático), portanto
um desses primers tem que possuir uma marcação fluorescente, podendo ser
6-carboxi-fluorescina (FAM), hexacloro-6-carboxi-fluorescina (HEX), 6-
carboxi-X-rhodamina (ROX), ou tetracloro-6-carboxi-fluorescina (TET).
Os primers utilizados nesse trabalho foram desenvolvidos para
Trichechus manatus, e obtidos em Garcia-Rodriguez et al. (2000) e Pause et
al. (2007) e estão listados na tabela 01. Oito primers foram marcados com
fluorescência, e nos 12 restantes utilizamos o protocolo econômico, utilizando
a cauda M13 (Schuelke, 2000) (Figura 01).
40
Tabela 01: Descrição dos vinte primers microssatélites desenvolvidos por Garcia-Rodriguez et al., 2000 e Pause et al.,
2007*, utilizados na caracterização genética de Trichechus inunguis.
Locos Tamanho em
T. manatus
Número de repetições Temperatura de
anelamento
Marcação Seqüência do primer (53)
TmaA01 107 (TA)
3
(CA)
3
CG(CA)
7
60 M13 FAM F-CAGAAGGGATACATATACA
R-CAGCCCCTGGCTGTCTCTTGTC
TmaA02 247–251 (CACT)
2
(CA)
16
59 FAM F-CTCAGTCCAAACAGCTAATG
R-TAGTCATTTGTGCAGAGTGC
TmaA03 163–183 (GACA)
4
61 FAM F-ACATGTGTTCCCTGCTGTAT
R-GATTTTTGGAGCAGTTGTCA
TmaA04 204 (CT)
2
(GT)
12
AT(GT)
7
AT(GT)
2
60 M13 FAM F-GAACACAAGACCGCAATAAC
R-TGGTGTATCACTCAGGGTTC
TmaA09 150 (GT)
15
61 TET F-GATGGGATACTGGGTTATGC
R-ATGCAGACACTGGACATAGG
TmaE02 172–174 (GT)
13
60 M13 FAM F-GTCTCTACGGCCTAGAATTGTG
R-TTTCTCTACCTCTCCTCACACG
TmaE08 149–165 (CA)
13
TA(CA)
5
62 TET F-GAATAGAGACTGGGCTAGAATCC
R-GCCTTTTGGAGGGATAGAAGTAG
41
TmaE11 177–197 (CA)
13
60 M13 FAM F-ACACACAACATCACTCATCCAC
R-AAGCTGCGTTCTACTTCATATAATC
TmaE26 199–201 (CA)
8
C(CA)
17
61 TET F-CATTCCTGATCCACAAAATC
R-CCTGTCTTCTCTCTGTTTCTCC
TmaF14 204–206 (TC)
6
(TG)
2
TA(TC)
5
TG(TC)
3
62 HEX F-CTAAGACATTGCTCCAAAAGC
R-GGGCAGTGGGATTTGAGATG
TmaF34 271 (TCTCTCTCTTTCTG)
2
(TC)
4
60 M13 FAM F-CATGAGAGACTATGCTCCCTTC
TT(TC)
3
(AC)
8
AT(AC)
9
R-CAGGTAGGAAGATGATGAGGAC
TmaH1I 298 (TCTG)
4
(TCTA)
5
CCTGTCTATCCA 62 FAM F-AGCAGATAGACACACTGGGAAG
(TCTA)
3
CCTG(TCTA)
8
CCTG(TCTA)
5
R-GAGTCTGAATGAATGAATTACTGC
TmaM61 176 (TG)
3
(GT)
17
60 M13 FAM F-TTGAGGTGTAATCTGTGTG
R-GGTAATCGGAGTTGGTGTA
TmaM79 154–156 (GT)
15
62 FAM F-CCAATCATGTCCCAAACT
R-CAATAGAAGAAGCAGCAG
TmaJ02* 224–230 (AC)
9
60 M13 FAM F-CACCATTGCCTCACAATCAG
R-TGGTGGTTAACTTTCTGTGCAA
TmaKb60* 215–219 (TG)
4
(CG)
1
(TG)
12
(CG)
6
60 M13 FAM F-TAGACACAGGCAAGCAGTGG
R-AAGAGTGAGCGGAGATGTGG
TmaSC5* 124–146 (AC)
5
G(CA)
18
60 M13 FAM F-ATTACCCAGCTCAGCATGTAC
R-GCAACCTCTTCTGTTTTCAAA
42
TmaH13* 237–253 (TCTA)
13
60 M13 FAM F-GCATCTTGGAAGATTTTTCCTT
R-CACTGACAGATACGTGGTGGA
TmaE14* 238–254 (AT)
7
(GT)
14
(TT)
1
(GT)
5
60 M13 FAM F-TTTTGGTAGTGGGATGACCA
R-GTGGAGTAGGGTGGACCAGA
TmaH23 (CTAT)
6
60 M13 FAM F-TGTAAAACGACGGCCAGTCGTAGG
R-ACTGCCAACCTTTCCATTATC
43
A técnica de PCR envolve 3 etapas: Desnaturação da dupla fita de DNA
pela elevação da temperatura à 94º; Anelamento do par de iniciadores (primers)
à região adjacente da seqüência alvo após redução da temperatura; e Síntese
ou extensão da cadeia complementar do DNA alvo na temperatura ótima de
trabalho da DNA polimerase.
A reação de amplificação foi realizada em um termociclador Eppendorf® e
cada reação utilizando o primer marcado com fluorescência continha: 5,85 µl de
água milli-q; 1 µl de tampão 10x; 0,8 µl de cloreto de magnésio 25M; 0,8 µl de
dNTPs 1 mM; 0,4 µl de primers (10µM) (iniciadores) específicos (0,2µl de cada),
0,15 µl de DNA Taq polimerase à 5 U/µl; 1.0 µl do DNA genômico do espécime
em questão com a concentração entre 10-100 ng/ µl, em uma volume final de
10µ. A temperatura e os ciclos correspondentes estão listados na tabela abaixo:
Tabela 02: Perfil da termociclagem para amplificação via PCR dos primers
marcados com fluorescência.
Temperatura (
0
C) Tempo Ciclos
Desnaturação inicial 94
0
5’ 1x
Desnaturação 94
0
1’
Anelamento dos primers
59
0
-61
0
1’
Extensão 72
0
1’
30x
Extensão final 72
0
15’ 1x
Na reação de PCR utilizando o protocolo econômico são utilizados 3
primers: um forward específico da seqüência contendo a cauda M13 na
extremidade 5', um reverse específico da seqüência, e um primer universal M13
(-21) fluorescente. (Figura 01).
Cada reação utilizando o protocolo econômico continha: 2 µl de água milli-
q; 1µl de tampão 10x 1 µl de cloreto de magnésio 25M; 1 µl de dNTPs 1 mM; 0,7
µl de primer forward M13 (2,0pmol/µl), 0,7 de primer universal M13 (2,0pmol/µl)
e 1,4 µl de primer reverse (2,0pmol/µl) 0,2 µl de DNA Taq polimerase à 5 U/µl;
44
1,0 µl do DNA genômico do espécime em questão com a concentração entre 10-
100 ng/ µl, em uma volume final de 10µl. A temperatura e os ciclos
correspondentes estão listados na tabela 03.
Figura 01: Esquema de amplificação para uma única reação em um tubo para
este método econômico de PCR. (A,B) As caixas com hachuras indicam os
primers de microssatélite específicos (C) A caixa cinza ondulada representa a
seqüência do primer universal M13(-21), e a estrela é a florescência FAM. (D)
Nos primeiros ciclos de PCR, o primer forward contendo a cauda M13(-21) é
incorporado nos produtos de PCR. (E) Estes produtos são marcados com
fluorescência FAM do primer universal M13(-21) que é incorporado durante
ciclos subseqüentes a uma temperatura mais baixa de 53°C. (F) O produto final
marcado pode ser analisado em um sistema de detecção a laser. Modificado de
Schuelke (2000).
Após a reação, a eficiência da amplificação foi verificada em gel de
agarose 1.0 % por comparação a padrão de peso molecular conhecido (DNA
ladder de 100 pares de base) por cerca de 40 minutos com corrente 70 mA. Por
comparação com o marcador, foi verificada a presença ou ausência, e a
concentração do fragmento amplificado.
45
Tabela 03: Perfil da termociclagem para amplificação via PCR dos primers com
cauda M13 (-21) utilizando o protocolo econômico de Schuelke (2000).
Temperatura (
0
C) Tempo Ciclos
Desnaturação inicial 94
0
2’ 1x
Desnaturação 94
0
50”
Anelamento do primer específico 59
0
-61
0
50”
Extensão 72
0
1’
30x
Desnaturação 92
0
40”
Anelamento do primer M13 (-21) 53
0
35”
Extensão 68
0
40”
20x
Extensão final 72
0
15’ 1x
2.2.7 Genotipagem
Os produtos de PCR foram colocados em uma placa previamente
identificada e diluídos em água ultra pura de acordo com a sua concentração.
Em seguida, 3 µl foram transferidos para uma nova placa limpa previamente
identificada (placa de genotipagem) contendo em cada poço 7,75 µl de Tween
20 a 0,1% (agente desnaturante que mantém a fita de DNA aberta) e 0,25 µl de
ET-ROX 400 (Padrão de peso molecular usado para alinhar as diferentes
corridas em cada um dos 96 capilares do seqüenciador, GE-Healthcare).
A placa foi tampada com a borracha de silicone centrifugada rapidamente
para retirar as bolhas que por ventura aparecesse e depois levada ao
termociclador a 95
0
durante 5 minutos, imediatamente após os 5 minutos foi
colocada numa placa de gelo até iniciar a corrida no seqüenciador automático
MegaBACE (GE-Healthcare). Em todas as placas, 3 indivíduos foram utilizados
como controle para averiguar a qualidade das corridas de genotipagens.
2.2.8 Caracterização dos vinte loci microssatélites
Os softwares Genetic Profile e Fragment Profiler do seqüenciador
automático MegaBACE foram utilizados para identificar os alelos dos loci
microssatélites para os indivíduos genotipados.
46
Degradação ou baixas concentrações de DNA, ou mutações no sítio de
anelamento do primer podem resultar em erros nas genotipagens de
microssatélites. O programa Micro-Checker versão 2.2.3 (Van Oosterhout et al.,
2004) foi utilizado para detectar possíveis erros de genotipagens devido a alelos
nulos (não amplificados), stutters, ou erros tipográficos.
A variabilidade genética foi estimada por meio de estatística descritiva
que determinou o número de loci polimórficos e o número de alelos por loco
(Nei, 1978). O número médio de alelos por loco foi estimado, por meio da
somatória do número de alelos observados em cada um dos loci analisados em
uma dada população e dividindo o valor encontrado pelo número total de loci.
Com o programa Convert (Glaubitz, 2004) foram calculadas as
freqüências alélicas, as quais foram utilizadas como base para calcular as
probabilidades de identidade genética (I), por loco e combinada (Paetkau et al.,
1995). Da mesma forma, foram determinadas as probabilidades de exclusão de
paternidade (Q) dos loci (Weir, 1996).
A heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He) (Weir, 1996), assim
como os testes para aderência ao equilíbrio de Hardy Weinberg (EHW) foram
obtidos utilizando o programa Arlequin 3.1 (Excoffier et al., 2005). A
heterozigosidade observada (Ho) é uma medida da variabilidade genética das
populações e reflete a quantidade de indivíduos heterozigotos para um
determinado loco. A heterozigosidade esperada (He) é a medida que reflete a
quantidade de indivíduos heterozigotos que é esperada de acordo com o
equilíbrio de Hardy-Weinberg. O mesmo programa foi utilizado para estimar o
desequilíbrio de ligação entre os loci estudados.
O termo desequilíbrio de ligação é comumente usado para descrever
associações não randômicas entre alelos de 2 loci (Lewontin & Kojima, 1960). A
hipótese nula para os testes de desequilíbrio de ligação é que a distribuição
genotípica em um loco é independente da distribuição em outro loco. A análise
verifica os desvios do esperado pela regra de multiplicação entre pares de loci
localizados em diferentes cromossomos, levando em consideração que o
conjunto de dados está em equilíbrio de Hardy-Weinberg.
47
O F
IS
(Wright, 1922), ou coeficiente de endogamia também foi obtido pelo
programa Arlequin. F
IS
é medido a partir da proporção de Hardy-Weinberg
esperada. A endogamia indica a existência de deficiência de heterozigotos em
uma dada população.
Para aumentar o poder dos testes realizados com comparações múltiplas,
o nível de significância foi ajustado com a correção de Bonferroni descrita por
Rice (1989).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amplificação cruzada de iniciadores entre espécies tem obtido sucesso
em diversos grupos animais. Por exemplo, 50% dos primers desenhados para
bovinos podem ser utilizados em ovelhas selvagens e cabras (Maudet et al.,
2004), espécies que se divergiram 20 milhões de anos atrás. Isto é uma
enorme vantagem, economizando o tempo e o custo do desenvolvimento de
primers para as espécies. Transferências similares de marcadores são possíveis
em cães selvagens, felinos, primatas, salmonídeos, aves porque o mapa
genômico foi avaliado com microssatélites (Ostrander et al., 1993; Grisolia et al.,
2007; Banhos et al., 2008).
Todos os vinte primers microssatélites desenvolvidos originalmente para
Trichechus manatus e testados neste trabalho em Trichechus inunguis
amplificaram.
A análise no programa Micro-Check revelou que para 8 loci, onde um alelo
estava presente em mais de 50% dos indivíduos, a possibilidade da presença de
alelos nulos foi observada (TmaH1I, TmaE08, TmaF14, TmaE11, TmaF34,
TmaA01, TmaM61 e TmaJ02). A caracterização genética para os vinte loci
microssatélites está descrita na tabela 04.
48
Tabela 04: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites desenvolvidos
originalmente para T. manatus e utilizados neste trabalho para 19 indivíduos de
peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis.
Locos A
Ho He F
IS
I Q
TmaA01 3 0,21053
0,28023
0,25389 0,2473 0,1382
TmaA02 9 0,52632
0,66999
0,21909 0,6256 0,4652
TmaA03 4 0,42105
0,35989
-0,17551 0,3175 0,1871
TmaA04 5 0,50000
0,60313
0,17520 0,5099 0,3407
TmaA09 5 0,84211
0,78947
-0,06865 0,7310 0,5718
TmaE02 4 0,16667
0,16190
-0,03030 0,1534 0,0840
TmaE08 5 0,31579
0,51778
0,18120 0,4777 0,3200
TmaE11 3 0,15789
0,15222
-0,03846 0,1422 0,0763
TmaE26 3 0,42105
0,60313
0,30769 0,4987 0,3253
TmaF14 2 0,05263
0,05263
0,00000 0,0499 0,0253
TmaF34 5 0,38889
0,54603
0,29377 0,4589 0,2956
TmaH1I* 4 0,47368
0,69275
0,32218 0,6233 0,4496
TmaM61* 5 0,22220
0,65397
0,66667 0,6176 0,3181
TmaM79 3 0,36842
0,44808
0,00000 0,3606 0,2236
TmaJ02 6 0,64706
0,78075
0,17564 0,7235 0,5669
TmaKb60 8 0,73684
0,78075
0,05970 0,7275 0,5727
TmaSC5 6 0,66667
0,73651
0,09735 0,6624 0,4900
TmaH13 5 0,68421
0,67994
-0,00645 0,6019 0,4289
TmaE14 7 0,38889
0,47619
0,18771 0,4467 0,2797
TmaH23 3 0,11110
0,10952
-0,01493 0,1038 0,0547
Média 5 0,41510
0,50474
0,18192 2,94 x 10
-09
0,9997
* significativo mesmo após correção de Bonferroni (p=0,0025).
O número médio observado de alelos por loco foi de 5 alelos por loco,
variando de 2 alelos para o loco TmaF14 e 9 alelos para o loco TmaA02 (Tabela
04). O número total de alelos por loco é uma medida complementar de variação
genética porque é mais sensível a perda de variação genética em pequenas
49
populações que a heterozigosidade, e é uma importante medida de potencial
evolutivo da população a longo prazo (Allendorf & Luikart, 2007).
A medida mais comumente usada para comparar a quantidade de
variação genética entre diferentes populações é a heterozigosidade. Para um
único loco, heterozigosidade é a proporção de indivíduos que são heterozigotos;
a heterozigosidade varia entre 0 e 1.
Em T. inunguis a heterozigosidade média observada foi 0,41510 e a
heterozigosidade média esperada foi de 0,50474 (Tabela 04). Esses valores são
maiores que aqueles encontrados na caracterização de T. manatus para os
mesmos loci (Garcia-Rodriguez et al., 2000; Pause et al., 2007).
Para os indivíduos de T. manatus analisados neste trabalho, o número
médio observado de alelos por loco foi de 4, variando de 1 alelo para os loci
TmaA01, TmaF14, TmaM79 e TmaH23 e 7 alelos para os loco TmaJ02,TmaH13
e TmaE14. A heterozigosidade média observada foi 0,41250 e a
heterozigosidade média esperada foi de 0,49625 (Tabela 05).
A heterozigosidade tem sido amplamente utilizada porque é proporcional
a quantidade de variância genética para um loco. Gorman & Reizi (1979) têm
mostrado que estimativas de He são geralmente insensíveis ao tamanho da
amostra e que poucos indivíduos são suficientes para estimar He se um grande
número de loci é analisado. Portanto, comparações de heterozigosidades em
diferentes espécies ou populações são geralmente mais importantes que
comparações de número de alelos detectados.
Em T. inunguis, as diferenças nos valores de Ho e He não foram
significativas para a maioria dos loci. Observamos desvios do equilíbrio de
Hardy-Weinberg apenas nos loci TmaH1I e TmaM61. Em T. manatus,
apresentam-se em equilíbrio de Hardy-Weinberg, antes e depois da correção de
Bonferroni. Todos os testes, tanto em T. inunguis com0 em T. manatus, para
análises de desequilíbrio de ligação, não foram significativos, antes e depois da
correção de Bonferroni (p=0,00026).
50
Tabela 05: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites utilizados neste
trabalho para 8 indivíduos de peixe-boi marinho, Trichechus manatus, do Brasil.
Locos A
Ho He F
IS
I Q
TmaA01 1 - - - - -
TmaA02 2 0,250 0,2333 0,07692 0,1948 0,1034
TmaA03 6 0,875 0,71667
-0,24051 0,6307 0,4655
TmaA04 5 0,625 0,79167
0,22222 0,7009 0,5371
TmaA09 5 0,375 0,73330
0,50588 0,6363 0,4666
TmaE02 2 0,750 0,53333
-0,44828 0,3750 0,2188
TmaE08 5 0,500 0,80000
0,39130 0,7199 0,5512
TmaE11 4 0,375 0,52500
0,30000 0,4582 0,2997
TmaE26 5 0,250 0,60833
0,60563 0,5388 0,3747
TmaF14 1 - - - - -
TmaF34 3 0,125 0,34167
0,65000 0,9803 0,1505
TmaH1I 2 0,125 0,125 0,1103 0,0569
TmaM61 3 1,000 0,64167
-0,62319 0,5163 0,3405
TmaM79 1 - - - - -
TmaJ02 7 0,625 0,85833
0,28571 0,7788 0,6384
TmaKb60 5 0,500 0,75833
0,35632 0,6684 0,5022
TmaSC5 6 0,375 0,81667
0,55789 0,7332 0,5794
TmaH13 7 0,875 0,75000
-0,18072 0,7332 0,5794
TmaE14 7 0,625 0,69167
0,10256 0,6253 0,4694
TmaH23 1 - - - - -
Média 4 0,4125 0,49625
0,1786 IC=3,56 x 10
-05
QC=0,998
Correção de Bonferroni (p=0,0025). (-) Loco monomórfico.
O valor da probabilidade de exclusão é dependente do número de alelos
e da distribuição das freqüências alélicas presentes na população. A
probabilidade de exclusão de paternidade calculada para os vinte loci em
conjunto em T. inunguis foi de 0,9997 e em T. manatus foi 0,9998, indicando
51
uma probabilidade de cerca de 99% de se excluir corretamente um indivíduo
não-pai escolhido ao acaso na população (Tabela 04 e 05).
A probabilidade combinada de identidade genética foi bastante baixa
tanto em T. inunguis (2,9 x 10
-9
) como em T. manatus (3,56 x 10
5
) demonstrando
o alto poder de discriminação individual desses loci (Tabela 04 e 05).
O coeficiente de endogamia quando apresenta valor positivo indica excesso
de homozigotos, e o negativo indica déficit de homozigotos. O F
IS
médio para os
loci polimórficos em T. inunguis foi 0,18192 e em T. manatus foi 0,17867 (Tabela
04 e 05).
Interpretar as causas do excesso ou déficit de homozigotos pode ser difícil.
A causa geral de excesso de homozigotos é o acasalamento não randômico ou
subdivisão populacional (Frankham et al., 2003). A endogamia aumenta a
homozigosidade e diminui a heterozigosidade no genoma inteiro. O coeficiente
de endocruzamento de genealogia aumenta a homozigosidade para indivíduos
endocruzantes e também diminui a heterozigosidade no genoma (Allendorf &
Luikart, 2007).
Diferenças na quantidade de variação genética têm importância
significativa entre espécies. Mudanças evolutivas podem não ocorrer, ao menos
que exista variação genética, e isto tem implicações significativas para
conservação (Allendorf & Luikart, 2007).
A partir dos resultados obtidos na caracterização dos loci transferidos de
T. manatus para T. inunguis, foi possível verificar quais deles seriam os
melhores para responder as questões sobre análise de parentesco, genética
populacional e hibridização, sendo, portanto são utilizados bancos de dados
diferentes. Nas análises de parentesco e da diversidade genética populacional
do peixe-boi da Amazônia foram retirados os loci com baixos níveis de
heterozigosidade. para avaliar a ocorrência de hibridização entre as duas
espécies de peixe-boi que ocorre no Brasil, os loci pouco polimórficos se tornam
de extrema importância, sendo os mais informativos. Essas análises citadas
estão descritas nos próximos capítulos.
52
Capítulo 2: Identificação da paternidade dos filhotes de peixe-boi da Amazônia
nascidos em cativeiro
3.1 INTRODUÇÃO
O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é endêmico da Bacia
Amazônica e o único sirênio que vive exclusivamente em água doce (Best,
1984a; Rosas, 1994), distribui-se desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as
cabeceiras do Rio Amazonas, na Colômbia, Peru e Equador. A presença de
cachoeira e áreas de corredeiras (aparentemente) é o fator limitante para a
distribuição dessa espécie na bacia Amazônia (Domning, 1981; Best, 1984a;
Rosas, 1994; Silva et al., in press) (Figura 01).
Figura 01: Distribuição de T. inunguis (Rosas, 1994).
No ambiente natural, o marcante ciclo sazonal no sistema de drenagem
do Rio Amazonas tem um profundo efeito na vida dos organismos aquáticos em
53
geral, inclusive para o peixe-boi e sua alimentação. As plantas aquáticas não
são recursos constantes ao longo do ano e a distribuição delas, e outras
características podem influenciar nas estratégias reprodutivas (Anderson, 2002).
Na Amazônia, com o aumento do nível da água dos rios (janeiro a julho),
um aumento na produção de macrófitas aquáticas e semi-aquáticas e os
peixes-bois se dispersam na várzea e no igapó para se alimentar. Durante a
vazante (agosto a outubro), eles iniciam uma migração para os lagos e canais
de rios mais profundos, pois com a redução do nível dos rios, no pico da seca
(novembro e dezembro), as áreas de várzea e igapó desaparecem eliminando a
disponibilidade alimentar desses animais (Best, 1982; 1983; 1984a).
Essa sazonalidade dos rios e da disponibilidade de alimento,
aparentemente, influencia a reprodução dos peixes-bois. A cópula e os
nascimentos ocorrem durante a subida das águas (final de dezembro-junho),
quando, depois de um período de estivação prolongado, os peixes-bois
novamente têm acesso à vegetação das margens e flutuantes. Dessa forma a
fêmea recupera suas condições fisiológicas, a maioria dos nascimentos ocorre
entre fevereiro e maio. Neste período as plantas são abundantes suprimindo a
demanda energética necessária ao final da gravidez e aos primeiros meses de
lactação (Best, 1982).
A gestação desta espécie é estimada como cerca de 12 meses, sugerindo
uma sincronização entre o estro da fêmea e a disponibilidade de alimento (Best,
1982; Junk & da Silva, 1997; Nascimento et al., 2003). A sazonalidade na
ocorrência dos nascimentos de filhotes foi reportada também para o peixe boi
marinho da Florida (T. manatus) e para dugongos (D. dugon) (Reynolds & Odell,
1991; Rathbun et al., 1995)
No INPA, durante um período de 12 meses (entre 1996 e 1997) foi
desenvolvido um estudo para avaliar os níveis de testosterona (hormônio
responsável pela atividade sexual dos machos estimulando a libido e
desencadeando o período reprodutivo) de três machos adultos: tupy, yanomama
e arandu em cativeiro, e se observou que os menores níveis de testosterona
54
ocorreram entre os meses de agosto e outubro, período que corresponde à fase
seca na várzea amazônica. Comparando com os dois outros machos
analisados, arandu apresentou menores níveis das concentrações de
testosterona durante todo o período de estudo (Pimentel, 1998).
Embora não tenha nenhum estudo específico dedicado ao
comportamento reprodutivo das espécies de peixes-bois, considera-se que o
acasalamento em sirênios é do tipo promíscuo, ainda que estratégias como a
vigia do macho impedindo o acesso de outros machos possa existir (Berta et al.,
2006). O comportamento sexual de dugongos e peixes-bois envolve competição
dos machos pelo acesso a fêmea em estro. Dugongos machos em algumas
áreas da sua distribuição exibem competição violenta entre machos pela fêmea
(Berta et al., 2006).
O único relato sobre o comportamento reprodutivo do peixe-boi da
Amazônia na natureza foi feito por Pereira, 1944, e ele comenta que no
momento da cópula, estes animais formam agregações de 15 a 30 indivíduos,
quando vários machos cortejam uma ou duas fêmeas ao mesmo tempo, com
movimentos violentos e seus corpos chegam a sair fora d’água, e o maior, mais
ágil e agressivo dos machos é o que consegue copular com a fêmea (Pereira,
1944) (Figura 02).
Figura 02: Ilustração do momento da cópula dos peixes-bois
(www.seaworld.org/infobooks/ Manatee/reproman.html).
55
Observações do comportamento reprodutivo do peixe-boi marinho da
Flórida, Trichechus manatus, revelam que quando uma fêmea entra em estro e é
percebida por um ou mais machos, ela responde com comportamento
“agonístico/invasivo” e por deslocamentos de até 30 Km/dia. Como ela se
movimenta, atrai outros machos que se congregam em grupos de mais de 22
indivíduos e a escoltam (Hartman, 1979; Rathbun et al., 1990; Reid et al., 1995).
Ao longo do período de estro, a fêmea é molestada praticamente continuamente
(Hartman, 1979; Rathbun et al., 1995). Esses grupos de acasalamento ou
reprodutivos persistem por cerca de 30 dias e podem percorrer distâncias acima
de 160 Km (Bengtson, 1981 apud Berta et al., 2006).
Enquanto cavalgam para uma posição mais próxima da fêmea, os
machos se empurram e batem um no outro, tentando se colocar embaixo dela
para conseguir a penetração. Durante a estação reprodutiva machos de peixe-
boi podem ter oportunidade para ltiplas cópulas numa estação reprodutiva,
mas, aparentemente, eles têm pouca garantia de paternidade (Rathbun et al.,
1995).
Em espécies em que ocorrem acasalamentos múltiplos, o sucesso
reprodutivo é o resultado de estratégias pré e pós-copulatórias (Ginsberg &
Huck, 1989). A competição de esperma pode ocorrer quando uma fêmea em
estro acasala com mais de um macho em um único ciclo reprodutivo. (Ginsberg
& Huck, 1989, Møller & Birkhead, 1989; Parker, 1990).
A recente aplicação de marcadores genéticos de alta resolução para
investigar sistemas de acasalamento, sucesso reprodutivo e relacionamentos
entre indivíduos na população, tem promovido uma riqueza de novas
informações sobre a biologia de muitas espécies (Cowlishaw & Dunbar, 1991;
Altmann et al., 1996; Clapham & Palsbøll, 1997; Coltman et al., 1998; Coltman et
al., 1999; Krutzen et al., 2004; Twiss et al., 2006).
O estudo do comportamento versus métodos genéticos para avaliar o
sucesso reprodutivo de machos no acasalamento dependem tanto de estudo
populacional quanto de estrutura social. Nos casos nos quais medidas de
comportamento não refletem exatamente as relações genealógicas, todos
56
genéticos fornecem o único meio para determinar ascendência em estudos de
parentesco.
Recentes análises genéticas mostram que paternidade com precisão não
pode ser inferida por hierarquias de machos dominantes ou até mesmo por
observação de acasalamentos. Em alguns casos, a dominância ou a freqüência
de cópulas reflete ascendência correta (Cowlishaw & Dunbar, 1991; Altmann et
al., 1996, Roed et al., 2002), mas, em outros casos, a correlação entre a
dominância ou freqüência das cópulas com a ascendência é inexistente
(Coltman et al., 1999; Soltis et al., 2001).
Em muitos casos, o parentesco não pode ser determinado somente pela
observação direta do comportamento de cópula. Por exemplo, fêmeas de
chimpanzé copulam com vários machos durante seu período fértil (Houlden et
al., 1997). Marcadores genéticos utilizam informações da mãe, da prole e dos
pais potenciais e podem resolver essas incertezas de parentesco. A utilização
de marcadores microssatélites para determinação de paternidade em chipanzés
cativos revelou que um macho dominante na colônia foi responsável pela
maioria da prole (Houlden et al., 1997). Consequentemente em animais cativos
torna-se necessário movimentar os animais entre os zoológicos para minimizar o
endocruzamento e a perda da variabilidade genética (Frankham et al., 2003).
Programas de reprodução em cativeiro têm como objetivo primário
minimizar mudanças causadas por deriva genética e seleção natural.
Dependendo do número de fundadores, populações de cativeiro podem
deteriorar-se geneticamente, portanto elas devem ser manejadas para reter um
alto nível de diversidade genética em longo prazo (Frankham et al., 2003).
Em um estudo clássico de biologia da conservação, Ralls et al. (1979)
demonstraram que o endocruzamento diminui a viabilidade de juvenis em
populações de mamíferos em cativeiro.
Estudos populacionais com veado vermelho (Coulson et al., 1998), foca
do porto (Coltman et al., 1998) e ovelhas (Coltman et al., 1999), utilizaram
marcadores moleculares para estimar similaridade parental e mostrar que o nível
de endocruzamento tem significantes impactos sobre o fitness. Os juvenis que
57
sobrevivem, em sua maioria, são indivíduos com parentais dissimilares, pois são
menos susceptíveis as doenças.
A análise de parentesco procura determinar a maternidade e a
paternidade de indivíduos sendo essencial para estudar o impacto do
endocruzamento e para análise de pedigree. Esses parâmetros podem ser
usados no manejo genético das espécies ameaçadas, e para determinar o
tamanho efetivo das populações em cativeiro (Allendorf & Luikart, 2007).
A diversidade genética pode ser medida pela proporção de indivíduos
heterozigotos dentro da população, e também pela diversidade alélica. A
quantidade da variabilidade genética mantida dentro de populações isoladas é
determinada por interações da deriva genética, mutação e seleção. Indivíduos
heterozigotos tendem a apresentar maior sobrevida, resistência a doenças, taxa
de crescimento e sucesso reprodutivo (Frankham et al., 2003).
Comparado às espécies terrestres, estudos detalhados de parentesco em
mamíferos aquáticos são escassos. Nielsen et al. (2001) informaram que em
baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) machos dominantes têm um sucesso
reprodutivo relativamente mais alto do que os outros machos. Clapham &
Palsbøll (1997) mostraram paternidades múltiplas para prole de diferentes anos
da mesma fêmea dessa espécie. Amos et al. (1991) investigando o
comportamento reprodutivo de baleias piloto, Globicephela melas, mostraram
que 88% de todas as amostras de machos de dentro do grupo podem ser
excluídas como sendo o pai, porém, a prole de diferentes grupos teve
freqüentemente o mesmo pai, criando coortes de meio-irmão paterno.
O programa de conservação ex situ do peixe-boi da Amazônia iniciou em
1974, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no então Projeto
Peixe-boi, hoje Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA). Em 1985, foi criado
o Centro de Preservação e Pesquisas de Mamíferos Aquáticos (CPPMA) da
Eletronorte em Balbina, com o intuito de ajudar na conservão e apoiar as
pesquisas dos mamíferos aquáticos da Amazônia. Atualmente no existem 36
peixes-bois mantidos em cativeiro no INPA (Figura 03) e no CPPMA 40
indivíduos. O plantel dessas instituições de pesquisas é formado por filhotes
58
órfãos e indivíduos debilitados, apreendidos pelo IBAMA ou doados pela
população e trazidos para o cativeiro onde são reabilitados. Um enorme
problema para animais silvestre é a captura ilegal de indivíduos na natureza,
isso ocasionalmente envolve a caça de um de seus pais.
Figura 03: Parque aquático Robin Best no LMA-INPA (foto: Fernando Rosas).
No INPA, os animais estão distribuídos em piscinas de acordo com as
categorias: filhotes em amamentação, desmamados, jovens e adultos. Para
reprodução, os animais adultos foram manejados de forma que em cada um dos
tanques estivesse um grupo de animais compatíveis. O primeiro registro de
concepção e nascimento dessa espécie em cativeiro ocorreu em 1998 (da Silva
et al., 1998) e até a realização desse trabalho outros cinco filhotes foram
gerados e nascidos nos tanques do LMA/INPA e outros três no CPPMA, Balbina.
O manejo genético por análise de pedigree é extremamente poderoso,
que promove o máximo de informação genética das populações de cativeiro
sendo também importante no controle do sucesso reprodutivo dos indivíduos
escolhidos para reprodução.
O objetivo deste trabalho é identificar a paternidade é verificar a
paternidade dos oito filhotes de peixes-bois da Amazônia gerados e nascidos em
cativeiro. Para isso, foram utilizados 20 marcadores microssatélites previamente
desenvolvidos para o peixe-boi marinho (Trichechus manatus) (Garcia-
59
Rodriguez et al., 2000; Pause et al., 2007). Esses marcadores foram escolhidos
por apresentarem alto polimorfismo, co-dominância e, facilidade de detecção por
PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), condições ideais para discriminação
genética individual e análise de parentesco.
3.3 MATERIAL E MÉTODOS
O DNA genômico total de seis fêmeas adultas (mães), oito machos
adultos (potenciais pais) e oito filhotes de peixes-bois da Amazônia (Tabela 01 e
02) foram extraídos usando a metodologia desenvolvida por Sambrook et al.
(1989) e descrita no capítulo 1.
Tabela 01: Animais amostrados para análise de paternidade dos filhotes
nascidos em cativeiro no LMA/INPA.
Potenciais pais Mães Filhotes Data de nascimento
dos filhotes
yanomama- pai i3 (349,5 Kg) boo-mãe 02 (204 Kg) erê 08/04/1998
guarany- pai i4 (134 Kg) boo-mãe 02 (204 Kg) natimorto 19/02/2001
arandu- pai i10 (214 Kg) tukano-mãe i1 (272 Kg) tua 21/02/2002
tupy- pai i11 (219 Kg) boo-mãe 02 (204 Kg) kinjá 03/02/2004
camba-mãe i2 inaê 06/04/2005
Tabela 02: Animais amostrados para análise de paternidade dos filhotes
nascidos em cativeiro no CPPMA.
Potenciais pais Mães Filhotes Data de nascimento
dos filhotes
juruti – pai b2 (200 Kg) aira – mãe b11 (291,8 Kg) morena – b32 02/04/2005
marcelo – pai b7 (248 Kg) miri - mãe b12 (244,8 Kg) B18-(prematura) 29/12/2004
carimbó- pai b9 (201 Kg) miri - mãe b12 (244,8 Kg) uatumã – b41 05/07/2006
brooke – pai b10 (219 Kg)
preto – pai b6 (195,6 Kg)
60
Após a extração do DNA, foi realizada PCR seguindo protocolo descrito
no capítulo 1.
Os produtos da PCR foram genotipados utilizando seqüenciador
MegaBACE (GE-Healthcare) e analisados utilizando-se os programas Genetic e
Fragment Profile.
A análise de paternidade baseou-se na genotipagem multiloco dos
indivíduos de T. inunguis mantidos em cativeiro.
O número de alelos, freqüências alélicas e as estimativas de diversidade
genética heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He) por loco, foram
determinados.
O teste para equilíbrio de Hardy-Weinberg foi realizado pelo método de
Markov (permutação de cadeia) e utilizando o programa Arlequin (Excoffier et
al., 2005). O mesmo programa foi utilizado para estimar o desequilíbrio de
ligação entre os loci estudados,
Com base nas frequências alélicas, foram calculadas as probabilidades
de identidade genética (I), por loco e combinada, segundo Paetkau et al., (1995).
Da mesma forma, foram determinadas as probabilidades de exclusão de
paternidade (Q) dos loci (Weir, 1996).
A determinação da paternidade dos filhotes baseou-se na análise simples
de exclusão, com base nos genótipos multilocos gerados, e as análises foram
obtidas pelo programa PARENTE (Cercueil et al., 2002). Os loci que se
apresentaram monomórficos para os indivíduos analisados foram retirados das
análises estatísticas, pois não iriam contribuir para resolver a identificação da
paternidade.
3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O entendimento dos processos reprodutivos é a base para o sucesso no
desenvolvimento de programas de reprodução em cativeiro em longo prazo,
contribuindo de forma efetiva para conservão das espécies (Asa, 1996).
As condições nutricionais dos animais são de fundamental importância
para o sucesso na reprodução. Com a melhoria do estado nutricional e da saúde
61
dos peixes-bois da Amazônia mantidos em cativeiro no LMA-INPA (Chacon,
2001) e no CPPMA-Balbina, obteve-se sucesso nas concepções e nascimentos
desses animais em cativeiro.
A duração da gestação para a espécie foi estimada, tanto pelo intervalo
entre o final do período de lactação e o nascimento do segundo filhote de uma
fêmea do plantel do peixe-boi do INPA (peixe-boi 02 “boo”), quanto pelo perfil
hormonal no sangue de duas fêmeas (peixe-boi 02 “boo” e peixe-boi I1
“tukano”), como sendo de 334 dias. (Nascimento et al., 2003). A lactação do
primeiro filhote (erê) durou cerca de dois anos.
No plantel do LMA/INPA, o tamanho dos grupos de peixes-bois nos
tanques no período das cópulas variou entre 4 e 6 indivíduos. No CPPMA-
Balbina, o tamanho dos grupos de peixes-bois nos tanques no período das
cópulas variou entre 2 e 5 indivíduos.
A manutenção dos níveis altos de diversidade genética e baixos níveis de
endocruzamento é o maior objetivo em programas de conservação. As
Informações dos marcadores genéticos podem ser usadas para resolver
incertezas sobre paternidade. Dos 20 loci utilizados para a identificação da
paternidade dos peixes-bois da Amazônia, somente um primer não amplificou
para a maioria dos indivíduos e foi retirado das análises (TmaM61), 14
mostraram-se polimórficos nos indivíduos utilizados para investigação da
paternidade no cativeiro do INPA e 16 foram polimórficos para os animais de
Balbina (Tabela 03 e 04).
O número médio observado de alelos por loco foi de 3 alelos por loco
para os indivíduos provenientes do plantel do INPA e 4 para Balbina, variando
de 1 a 5 alelos no INPA e de 1 a 8 no CPPMA. Para os animais do INPA, a
heterozigosidade média observada foi 0,4848 e a heterozigosidade dia
esperada foi de 0,44102. no CPPMA a heterozigosidade média observada foi
0,5079 e a heterozigosidade média esperada foi de 0,46726. Esses valores
revelam que a diversidade genética encontrada para os indivíduos em cativeiro
no CPPMA é ligeiramente maior do que a dos indivíduos do INPA (Tabela 03 e
04).
62
Tabela 03: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites utilizados neste
trabalho para 12 indivíduos de peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis,
criados em cativeiro do LMA/INPA da Amazônia, cuja determinação da
paternidade está sendo investigada.
Locos A
Ho He F
IS
I Q
TmaA01 2 0,1818 0,17316
-0,05263
0,1411 0,0734
TmaA02 4 0,7273 0,67100
-0,08844
0,5607 0,3855
TmaA03 3 0,4546 0,38528
-0,19048
0,3924 0,2011
TmaA04 1 0,7273 0,51948
-0,42857
0,3729 0,2172
TmaA09 4 1,0000 0,77489
-0,30952
0,6921 0,5210
TmaE02 1 - - - - -
TmaE08 1 - - - - -
TmaE11 1 - - - - -
TmaE26 3 0,7273 0,65368
-0,11888
0,4447 0,3744
TmaF14 1 - - - - -
TmaF34 4 0,3636 0,33333
-0,09589
0,3012 0,1804
TmaH1I 4 0,6364 0,65801
0,03448 0,5903 0,4186
TmaM61 - - - - - -
TmaM79 4 0,8182 0,69697
0,18421 0,5952 0,4205
TmaJ02 5 0,875 0,81667
-0,07692
0,7266 0,5661
TmaKb60
4 0,6364 0,70996
0,10828 0,6539 0,4806
TmaSC5 3 0,9091 0,69697
-0,3245 0,5912 0,4062
TmaH13 4 0,4546 0,55844
0,19355 0,4817 0,3170
TmaE14 6 0,7000 0,73158
0,04545 0,6653 0,5049
TmaH23 1 - - - - -
Média 3 0,4848 0,44102
-0,12450
IC 3,39 x 10
-5
QC 0,9987
Correção de Bonferroni: Hardy-Weinberg p=0,0025; desequilíbrio de ligação
p=0,00026. (-) Loco monomórfico.
63
Tabela 04: Caracterização genética dos 20 loci microssatélites utilizados neste
trabalho para 13 indivíduos de peixe-boi da Amazônia, Trichechus inunguis,
criados em cativeiro do CPPMA/Balbina, cuja determinação da paternidade está
sendo investigada.
Lócus A
Ho He F
IS
I Q
TmaA01 4 0,2308 0,22154
-0,04348 0,2061 0,1164
TmaA02 4 0,9231 0,66462
-0,41176 0,5779 0,4014
TmaA03 3 0,6154 0,46462
-0,34266 0,3757 0,2247
TmaA04 2 0,2727 0,50649
0,47368 0,3666 0,2125
TmaA09 5 0,7692 0,75692
-0,01695 0,6786 0,5088
TmaE02 1 - - - - -
TmaE08 2 0,3846 0,32308
-0,20755 0,2624 0,1433
TmaE11 1 - - - - -
TmaE26 3 0,5385 0,67385
0,20755 0,5731 0,3902
TmaF14 2 0,0769 0,07692
0,00000 0,0713 0,0363
TmaF34 2 0,4546 0,45455
0,00000 0,3398 0,1934
TmaH1I 4 0,6923 0,54562
-0,28571 0,4808 0,3167
TmaM61 - - - - - -
TmaM79 3 0,6154 0,58154
-0,06077 0,5258 0,3240
TmaJ02 8 0,6923 0,82462
0,16602 0,7674 0,6264
TmaKb60 7 0,8462 0,72000
-0,18386 0,6613 0,5008
TmaSC5 7 1,0000 0,83077
-0,21401 0,7695 0,6244
TmaH13 4 0,7692 0,57580
-0,35593 0,5000 0,3324
TmaE14 7 0,7692 0,65846
-0,17647 0,6096 0,4492
TmaH23 1 - - - - -
Média 4 0,5079 0,46726
-0,09072 IC 1,22 x 10
-6
QC 0,9992
Correção de Bonferroni: Hardy-Weinberg p=0,0025; desequilíbrio de ligação
p=0,00026. (-) Loco monomórfico.
O valor da probabilidade de exclusão para um indivíduo ser o pai é
dependente do número de alelos e da distribuição das freqüências alélicas
64
presentes na população, no caso, dos indivíduos de cativeiro. A probabilidade de
exclusão de paternidade calculada para os loci em conjunto na análise de
parentesco foi de 0,9987 nos indivíduos do LMA/INPA e 0,999 no
CPPMA/Balbina, indicando uma probabilidade de cerca de 99% de se excluir
corretamente um indivíduo não-pai escolhido ao acaso na população (Tabela 03
e 04).
A probabilidade combinada de identidade genética foi bastante baixa
tanto para os peixes-bois no INPA (3,39 x 10
-5
) quanto para os de Balbina (1,22
x 10
-6
) demonstrando o alto poder de discriminação individual desses loci
(Tabela 03 e 04).
O coeficiente de endogamia quando apresenta valor positivo indica excesso
de homozigotos, e quando negativo indica déficit de homozigotos. O F
IS
dio
para os loci polimórficos dos animais do INPA foi -0,12450 e de Balbina foi -
0,09072 (Tabela 03 e 04).
Se um alelo derivado paternalmente na prole o está presente nos pais
suspeitos, este macho pode ser excluído como pai potencial. Se muitos loci são
utilizados, paternidades positivas podem ser observadas com alta probabilidade.
Com base na análise SSR (Simple Sequence Repeat) multiloco, foi
possível identificar com precisão, dentro de um universo de nove pais potenciais,
os pais dos cinco filhotes investigados no INPA e dos três filhotes nascido no
cativeiro em Balbina. A probabilidade de acerto de 99,83% para o filhote “erê”;
81,38% para o “tua”, 90,21% para o filhote “natimorto”, 90,21% para o filhote
“kinjá” e 97,84% para o filhote “inaê” (Tabela 05). Nossos resultados revelaram
que 4 dos 5 filhotes nascidos em cativeiro são de 2 pais (“tupy” e “yanomama”).
Esses animais apresentaram os maiores níveis nas concentrações de
testosterona em estudo feito em 1996 e 1997 (Pimentel, 1998).
No CPPMA/ Balbina, a probabilidade de acerto foi 94,98% para a filha
“prematura” da miri, 98,38% para “morena” e 97,09% para “uatumã” (Tabela 06).
No CPPMA/Balbina, nesse plantel, os três filhotes analisados neste trabalho são
filhos do mesmo pai o “carimbó”. Segundo Stella Maris (comunicação pessoal), o
comportamento desse indivíduo destacava-se dos demais por sua grande
65
interação com os outros indivíduos do recinto e com os tratadores do CPPMA,
por diversas vezes foram observadas tentativas de cópula com diversas fêmeas,
inclusive com machos.
Tabela 05: Análise de exclusão de paternidade de três filhotes de T. inunguis,
nascidos em cativeiro no LMA/INPA, com base no lculo da probabilidade de
corretamente identificar, entre os pais potenciais, o pai verdadeiro. Os valores na
tabela correspondem às probabilidades (p) calculadas segundo o programa
PARENTE (Cercueil et al., 2002).
Filhotes e yanomama guarany arandu tupy
erê boo 99,83%
natimorto boo 90,21%
Tua tukano 81,38%
kinjá boo 90,21%
inaê cambá 97,84%
Tabela 06: Análise de exclusão de paternidade de três filhotes de T. inunguis,
nascidos em cativeiro no CPPMA/Balbina, com base no cálculo da probabilidade
de corretamente identificar, entre os pais potenciais, o pai verdadeiro. Os valores
na tabela correspondem às probabilidades (p) calculadas segundo o programa
PARENTE (Cercueil et al., 2002).
Filhotes Mãe juruti marcelo
carimbó brooke preto
morena aira 93,38%
prematura miri 94,98%
uatumã miri 97,09%
A sazonalidade reprodutiva do peixe-boi amazônico no ambiente natural
sugerido por Best, 1982 parece persistir mesmo em indivíduos criados e
mantidos em cativeiro, independente da variação anual do nível dos rios e da
disponibilidade de alimento. Exceto um filhote natimorto–b18, com
66
características de indivíduos pré-matura e abortada em dezembro de 2004,
todos os outros filhotes nascidos em cativeiro nos dois planteis estudados,
nasceram entre fevereiro e julho (Tabela 01 e 02), correspondendo ao período
de enchente-cheia, quando as condições ambientais seriam mais favoráveis.
O ciclo estral das fêmeas em idade reprodutiva e criadas em cativeiro no
INPA varia entre 20 a 27 dias, e aparentemente a atividade folicular coincide
com o período de cheia do ciclo hidrológico dos rios da bacia amazônica,
mesmo após vários anos de cativeiro, indicando uma possível sazonalidade da
atividade reprodutiva nas fêmeas (Nascimento et al., 2003).
As evidências fisiológicas indicam que provavelmente mais importante
que a variação no nível das águas dos rios, uma vez que em cativeiro esse fator
não existe, pluviosidade ou temperatura ambiente podem ser importante na
atividade reprodutiva do peixe-boi da Amazônia.
Não se sabe se fêmeas de sirênios podem armazenar esperma viável ou
que influencie de alguma forma o resultado da competição de espermatozóide.
Em geral, a simples relação entre a massa testicular x corporal durante a
estação reprodutiva poderia ser utilizada para avaliar a relativa importância da
competição de espermatozóide, porém esse dado existe apenas para dugongo
cuja razão é 0,0009, com número amostral igual a 1 (Anderson, 2002), isso
impossibilita fazer qualquer tipo de inferência.
Embora a observação de fêmeas de peixe-boi da Amazônia copulando
com vários machos insinue competição de espermatozóide, se essa baixa razão
entre massa testicular e corporal persistir, é pouco provável que ocorra
competição de espermatozóide nessa espécie. A complementação dos estudos
reprodutivos com peixe-boi da Amazônia pode elucidar essas questões que
envolvem múltiplos acasalamentos das fêmeas e competição de
espermatozóide.
Em programa de conservação ex situ, o recurso espacial é limitado e
sistemas de acasalamentos não randômicos em cativeiro tem se mostrado
eficiente para aumentar o nível de variabilidade, controlar os níveis de
67
endocruzamento e aumentar o tamanho efetivo de população de cativeiro.
Informações sobre parentesco são essenciais para verificar impactos do
endocruzamento e para estudos de genealogias usando manejo genético em
espécies ameaçadas (Frankham et al., 2003).
Figura 04: Heredrograma mostrando o relacionamento dos animais do
LMA/INPA nascidos no cativeiro.
Figura 05: Heredrograma mostrando o relacionamento dos animais do CPPMA-
Balbina nascidos no cativeiro.
O conhecimento do relacionamento entre indivíduos é particularmente
importante em programas de procriação em cativeiro que buscam reduzir
acasalamentos incestuosos, para minimizar o endocruzamento e a perda de
variação genética (Frankham et al., 2003; Montgomery et al., 1997).
68
Assim, decisões sobre quem deve procriar e quanta descendência
deveriam ser produzidas, precisa ter como base informações de genealogias,
em lugar do desempenho reprodutivo individual ou fenótipo.
Espécies ameaçadas, em cativeiro, devem ser manejadas com a
finalidade de reter um alto nível de diversidade genética, minimizando a
endogamia (Frankham et al., 2003). Portanto, assim que os filhotes nascidos em
cativeiro atingirem a maturidade sexual, recomenda-se que o manejo no plantel
seja feito de forma que pais, irmãos e meio-irmãos não tenham oportunidade de
se acasalarem (Figura 04 e 05).
Além disso, ao se perceber que uma fêmea entrou em estro recomenda-
se que diferentes machos tenham a oportunidade de fecundá-la. Ou mesmo
retirar do grupo de acasalamento, machos que tenham um número alto de
filhotes no plantel, aumentando as chances de outros machos acasalarem,
evitando assim a perda da diversidade genética em cativeiro. O presente
trabalho é o primeiro registro de análise de parentesco em sirênios utilizando
marcadores microssatélites.
69
Capítulo 3: Análise da diversidade genética populacional do peixe-boi da
Amazônia
4.1 INTRODUÇÃO
O peixe boi da Amazônia, Trichechus inunguis, (o único sirênio
exclusivamente de água doce), possui distribuição restrita a região amazônica,
onde é encontrado desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as cabeceiras do Rio
Amazonas, na Colômbia, Peru e Equador (Domning, 1981; Best, 1984a; Rosas,
1994). A espécie tem sido encontrada nos principais tributários do Amazonas.
Na Colômbia, nos rios Amazonas, Putumayo, Caquetá (Japurá no Brasil) e baixo
Apaporis; no Peru, foi observado nos rios Napo, Tigre, Marañon, Pastaza,
Samiria, Pacaya, Ucayali e Huallago. Não se tem registro de peixe-boi
amazônico no rio Madre de Dios na Bolívia (Husar, 1977), embora a presença
no rio Orinoco tenha sido sugerida (Husar, 1977), ainda não existem registros
(Best & da Silva, 1983).
Historicamente, os peixes-bois vêm sendo explorados tanto para
subsistência como comercialmente (Domning, 1982a). A captura indiscriminada
e em grande escala para o uso comercial foi, sem dúvida, a principal razão da
redução populacional dessa espécie na Amazônia e a baixa taxa reprodutiva
limita a habilidade desta espécie de se restabelecer rapidamente, que uma
fêmea leva mais de 6 anos para atingir a maturidade sexual e se reproduz
somente a cada três anos (Rosas, 1994).
A espécie está listada no Apêndice I-CITES (Convenção Internacional
para comércio das espécies da Fauna e Flora Silvestres ameaçadas), como
“Vulnerável” na Lista Oficial das Espécies da fauna brasileira ameaçada de
extinção (IBAMA, 2003) e na Lista Vermelha de IUCN (União Internacional para
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais).
No Laboratório de Mamíferos Aquáticos (INPA, Manaus-AM) e no Centro
de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos da Eletronorte (Balbina-AM)
existem programas de conservação ex situ”, com o acompanhamento e a
reabilitação dos animais apreendidos devido a caça ilegal, atividades de
70
pesquisa e educação ambiental, reprodução em cativeiro, além de projetos de
reintrodução de peixes-bois na natureza.
A genética vem como uma importante ferramenta para analisar a
distribuição da variabilidade genética, para se obter estimativa indireta de
parâmetros populacionais como tamanho de população e taxas de migração
entre as subpopulações.
Cantanhede et al. (2005), analisando a região controle do DNA
mitocondrial de 68 indivíduos verificaram que, apesar da grande pressão de
caça sofrida, T. inunguis apresenta uma alta diversidade genética comparada
com a de T. manatus, elevado fluxo gênico entre as populações de T. inunguis
das seis áreas da Bacia Amazônica amostradas. Diferentemente, as populações
de T. manatus apresentam baixa diversidade genética (Brandley et al., 1993;
Garcia-Rodriguez et al., 1998), e estão estruturadas em três grupos ao longo de
sua distribuição desde a Flórida até o nordeste do Brasil (Garcia-Rodriguez et
al., 1998).
Este trabalho tem o propósito de estudar o nível e a distribuição da
variabilidade genética do peixe-boi da Amazônia no Brasil, utilizando
marcadores microssatélites, além de verificar se a espécie sofre algum efeito de
uma redução populacional recente. Essas informações irão subsidiar o
estabelecimento de eficientes estratégias de manejo e conservação desses
animais em cativeiro e na natureza.
71
4.3 MATERIAL E MÉTODOS
4.3.1 Coleta das amostras
Indivíduos provenientes de diferentes rios da Bacia Amazônica foram
amostrados. Essas amostras foram coletadas de indivíduos mantidos em
cativeiro no INPA - Manaus, CPPMA - Balbina, Museu Emílio Goeldi e Bosque
Rodrigues Alves - Belém e do Conselho Nacional dos Seringueiros - Santarém e
além carcaças obtidas em excursões realizadas nos rios Madeira, Purus e na foz
do rio Amazonas.
Foram coletadas amostras de tecido de 155 indivíduos de peixe-boi da
Amazônia correspondentes a 9 áreas: Amazonas, Amazonas-Solimões,
Solimões, Japurá, Madeira, Negro, Purus, Tapajós e “Pará” (estuário amazônico)
(Figura 01).
Uma a quatro gramas de tecido da pele cada indivíduo foi coletada
utilizando instrumento cirúrgico para biópsia cutânea. Essas amostras foram
estocadas em frascos devidamente etiquetados contendo solução saturada com
sal (NaCl) de dimetil sulfóxido (DMSO) a 20% ou em álcool puro.
O DNA genômico total de 155 indivíduos foi extraído usando a
metodologia desenvolvida por Sambrook et al., 1989.
Após a extração do DNA foi realizada PCR seguindo protocolo descrito no
capítulo 1. Os produtos das amplificações foram verificadas em eletroforese, e
em seguida as amostras foram genotipadas no seqüenciador automático
MegaBace (GE-Healthcare).
72
Figura 01: Procedência das amostras de Trichechus inunguis analisadas
(modificado de Fantin, 2008). Onde, 1-Amazonas; 2-Solimões-Amazonas; 3-
Solimões; 4-Japurá; 5-Madeira; 6-Negro; 7-Purus; 8-Tapajós; 9-Estuário
amazônico “Pará”.
4.3.2 Análise estatística populacional
Os softwares Genetic Profile e Fragment Profiler do seqüenciador
automático MegaBACE foram utilizados para identificar os alelos dos loci
microssatélites para os indivíduos genotipados.
73
Variações no tamanho dos loci de microssatélites foram analisadas por
meio das freqüências alélicas e as estimativas de diversidade genética
(heterozigosidade esperada e observada), por loco e total; divergência na
freqüência alélica e genotípica pelo método de Markov (permutação de cadeia) e
testadas para equilíbrio de Hardy-Weinberg implementadas no programa
Arlequin (Excoffier et al., 2005).
O Arlequin também foi utilizado para estimar o desequilíbrio de ligação
entre os loci estudados, assumindo que o conjunto de dados encontra-se em
equilíbrio de Hardy-Weinberg, e cuja hipótese nula é que a distribuição
genotípica de um loco é independente da distribuição em outro loco.
O número médio de alelos por loco foi estimado, fazendo à somatória do
número de alelos observados em cada um dos loci analisados em uma dada
população e dividindo o valor encontrado pelo número total de loci.
O nível de diferenciação genética intra e interpopulacional foi testado
usando a análise de variância molecular (AMOVA). Estimativas indiretas do fluxo
gênico entre as populações foram calculadas com base no número de migrantes
entre as populações por geração (M) (Excoffier et al., 1992). Essas análises
foram realizadas também no programa Arlequin (Excoffier et al., 2005), assim
como os coeficientes de endogamia (F
IS
) e de diferenciação genética (F
ST
).
A significância dos métodos foi avaliada por testes de permutação (1000
replicações) e todos os veis de significância para os testes envolvendo
comparações múltiplas foram ajustados seguindo a correção de Bonferroni
descrita por Rice (1989).
O programa STRUCTURE (Pritchard et al., 2000) foi utilizado para
identificar a existência de estrutura populacional. Este é um método de
agrupamento Bayesiano com amostragem de genótipos e que usa a suposição
de equilíbrio de Hardy-Weinberg e de ligação dentro das subpopulações para
achar o número de populações, k, que melhor se ajusta aos dados; e os
indivíduos que minimizam o equilíbrio de Hardy-Weinberg e desequilíbrio de
ligação nessas subpopulações.
74
Assim, sem informação “a priori” sobre do desenho amostral das
populações, o programa STRUCTURE fornece uma estimativa do número de
subpopulações, cada uma contendo um conjunto de genótipos individuais que
estão em equilíbrio de Hardy-Weinberg.
Na análise populacional realizada no programa STRUCTURE, nenhuma
população foi assumida “a priori”. Foram testadas 4 hipóteses: 1 2, 3 e 4
populações. Cada hipótese foi testada 10 vezes, e a média das probabilidades
de cada hipótese das 10 corridas foram calculadas. Para cada corrida, foram
feitas de 100.000 e 1.000.000 procuras assumindo que a freqüências dos alelos
por loco não covariam entre os loci.
Para detectar sinais de gargalos populacionais foi utilizado o programa
BOTTLENECK (Piry et al., 1999). Este programa calcula para cada amostra
populacional e para cada loco, a distribuição da heterozigosidade esperada para
o número observado de alelos (k), para determinado tamanho de amostra (n)
assumindo o equilíbrio entre mutação e deriva. Essa distribuição é obtida por
simulação dos processos de coalescência de “n” genes para 3 possíveis
modelos de mutação IAM (modelo de alelos infinito), SMM (modelo mutacional
passo a passo) e TPM (modelo de mutação em duas fases). Neste programa,
para verificar se alguma população exibe um número significante de locos com
excesso de diversidade genética, foi realizado o teste de Wilcoxon, que fornece
alto poder estatístico mesmo quando são usados poucos loci polimórficos e
qualquer número de indivíduos (porém, 15-40 indivíduos e 10-15 loci
polimórficos são recomendados para alcançar alto poder) (Piry et al., 1999).
75
4.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.4.1 Diversidade genética dos 20 loci microssatélites transferidos de T.
manatus para T. inunguis
A descoberta de que loci de microssatélites são conservados através dos
genomas de mamíferos indicou que iniciadores desenvolvidos para amplificar
repetições em uma espécie podem amplificar locos em outras espécies
(Goldstein & Schlötterer, 1999).
A utilização de iniciadores heterólogos (amplificam dentro de um mesmo
gênero, família ou ordem) pode eliminar tempo e despesas envolvidos no
isolamento de marcadores microssatélites para cada espécie de interesse tais
como, construção de biblioteca genômica de DNA, seqüenciamento do DNA e
determinação dos primers (Goldstein & Schlötterer, 1999).
Neste trabalho, os 20 loci microssatélites, desenvolvidos para Trichechus
manatus e transferidos para Trichechus inunguis, apresentaram 190 alelos e em
média 9,5 alelos por loco, confirmando o alto poder de informação genética
desse marcador genético, mesmo em casos de amplificação cruzada em
espécies relacionadas. O número de alelos variou de 5 a 17 entre os loci. A alta
diversidade alélica encontrada nas amostras de peixe-boi da Amazônia
comparada com os outros sirênios está descrita na tabela 01.
76
Tabela 01: Diversidade alélica, indicada pelo número de alelos em peixe-boi da
Amazônia (T. inunguis) obtidos no presente trabalho, comparado com
Trichechus manatus latirostris, Trichechus manatus manatus e Dugong dugon
(Garcia-Rodriguez et al., 1998, McDonald, 2005 e Pause et al., 2007). Os
valores entre parênteses representam o número de amostras analisadas.
Lócus
microssatélites
Trichechus
inunguis
Trichechus
manatus
latirostris
Trichechus
manatus
manatus
Dugong
dugon
TmaA01 (155) 11 (223)1 (21) 2 (372) 6
TmaA02 (155) 11 (223) 3 (21) 3 (372) 25
TmaA03 (155) 12 (50) 2 (21) 4 (3) 1
TmaA04 (155) 17 (223) 1 (21) 3 (372) 27
TmaA09 (155) 6 (50) 1 (21) 1 (3) 3
TmaE02 (155) 9 (50) 2 (21) 2 (3) 3
TmaE08 (155) 10 (223) 3 (21) 4 (372) 8
TmaE11 (155) 5 (50) 6 (21) 8 (3) 3
TmaE26 (155) 5 (223) 2 (21) 5 (372) 17
TmaF14 (155) 8 (50) 2 (21) 2 (3) 1
TmaF34 (155) 12 (50) 1 (21) 1 (3) -
TmaH1I (155) 9 (50) 1 (21) 1 (3) 1
TmaM61 (19) 5 (50) 1 (21) 2 (3) 1
TmaM79 (155) 8 (223) 3 (21) 3 (372) 18
TmaJ02 (155) 12 (78) 2 (17) 2 (3) 1
TmaKb60 (155) 11 (78) 3 (17) 2 (3) 3
TmaSC5 (155) 8 (78) 7 (17) 3 (3) -
TmaH13 (155) 8 (78) 3 (17) 3 (3) 1
TmaE14 (155) 13 (78) 6 (17) 3 (3) 1
TmaH23 (155) 10 - - -
Total 190 50 54 120
Média 9,5 2,63 2,84 7,05
(-) Dado inexistente
77
A heterozigosidade é proporcional à quantidade de variância genética
para um loco e tem sido amplamente utilizada para medir diversidade genética
porque essa medida é insensível ao efeito de gargalos populacionais (Allendorf,
1986).
A heterozigosidade esperada (He) pouco influenciada pelo tamanho da
amostra e poucos indivíduos é suficiente para estimar He se diversos loci são
analisados. As estimativas das heterozigosidades observada (Ho) e esperada
(He) na maioria dos loci estudados foram altas, com os valores maiores para o
loco TmaSC5 e menores para os loci TmaA01, TmaE02, TmaE11, TmaF14 e
TmaH23, esses loci foram retirados das análises de diversidade genética inter e
intrapopulacional específica do peixe-boi da Amazônia. O loco TmaM61 não
amplificou para mais da metade das amostras e também não fez parte das
análises (Tabela 01).
Todos os loci em todas as populações se apresentaram em equilíbrio de
Hardy-Weinberg após a correção de Bonferroni. Os testes de desequilíbrio de
ligação não foram significativos para os pares de loci em cada população,
sugerindo que os loci estão em regiões independentes nos cromossomos
(Tabela 02).
O efeito do gargalo populacional sobre o número de alelos atual é mais
complexo que seu efeito sobre a heterozigosidade (Allendorf & Luikart, 2007).
Apesar da intensa exploração comercial sofrida historicamente pelo peixe-boi da
Amazônia, a alta diversidade alélica encontrada sugere que essa espécie não
sofreu um gargalo populacional severo.
78
Tabela 02: Número de alelos (A), Heterozigosidade observada (Ho) e esperada (He) por loco por população e a
probabilidade dos desvios das proporções de Hardy-Weinberg (Ho e He) para cada população de T. inunguis analisada.
População
TmaA01
TmaA02
TmaA03
TmaA04
TmaA09
TmaE02
TmaE08
TmaE11
TmaE26
TmaF14
Amazonas
A 6 9 5 7 5 4 6 3 3 5
Ho 0,4193 0,6875 0,4848 0,4193 0,6969 0,1333 0,3939 0,0937 0,5454 0,1290
He 0,3675 0,7078 0,3976 0,6499 0,7832 0,1293 0,4391 0,0917 0,6545 0,1258
p 1,00000 0,30425 0,75228 0,00115 0,49839 1,00000 0,03543 1,00000 0,23204 1,00000
AmazSoli A 5 9 6 5 6 2 5 3 3 1
Ho 0,0869 0,7272 0,6087 0,5454 0,8695 0,0434 0,3478 0,1304 0,4782 -
He 0,4077 0,7304 0,5391 0,5750 0,8096 0,0434 0,4415 0,1265 0,6599 -
p 0,00000 0,29370 0,93630 0,08720 0,06560 1,00000 0,10060 1,00000 0,01920 -
Solimões A 4 4 6 5 5 2 4 3 3 2
Ho 0,31250 0,31250 0,31250 0,46660 0,75000 0,05880 0,4666 0,1176 0,4375 0,0588
He 0,33660 0,55440 0,29230 0,56550 0,79230 0,05880 0,4046 0,1158 0,5544 0,0588
p 0,12300 0,02960 1,00000 0,09800 0,00120 1,00000 1,00000 1,00000 0,4748 1,0000
Japurá A 4 5 4 4 5 3 5 3 3 3
Ho 0,1538 0,5384 0,4615 0,5833 0,8461 0,1538 0,3846 0,1538 0,8461 0,1538
He 0,2861 0,6984 0,3969 0,5615 0,7723 0,1507 0,3507 0,1507 0,77231 0,1507
p 0,07260 0,25770 1,00000 0,07220 0,13070 1,00000 1,00000 1,00000 0,01910 1,0000
79
Purus A 3 7 3 2 5 2 3 2 4 3
Ho 0,3636 0,5454 0,2727 0 1 0,0909 0,5454 0,0909 0,2727 0,0909
He 0,4805 0,7835 0,7229 0,4705 0,7894 0,0909 0,4978 0,0909 0,7229 0,2554
p 0,23060 0,16890 1,00000 0,00480 0,45480 1,00000 1,00000 1,00000 0,00790 0,04970
Negro A 2 6 4 3 5 2 7 2 4 2
Ho 0,1530 0,7142 0,1428 0,5384 0,7692 0,0833 0,3571 0,0769 0,6153 0,0769
He 0,1476 0,6825 0,2672 0,4953 0,7538 0,0833 0,582 0,0769 0,7015 0,0769
p 1,00000 0,09930 0,07970 1,00000 0,08340 1,00000 0,01780 1,00000 0,01210 1,00000
Madeira A 3 6 3 4 5 4 3 1 3 1
Ho 0,2142 0,6428 0,2142 0,3846 0,8571 0,2307 0,3333 - 0,3333 -
He 0,3201 0,7248 0,2037 0,563 0,7777 0,2215 0,4239 - 0,6195 -
p 0,15450 0,03520 1,00000 0,03740 0,12060 1,00000 0,27560 - 0,11700 -
Tapajós A 4 5 5 4 6 3 5 1 4 3
Ho 0,3529 0,625 0,8125 0,4 0,7333 0,125 0,375 - 0,4666 0,125
He 0,4688 0,6693 0,6391 0,5724 0,8069 0,1229 0,4334 - 0,6436 0,1229
p 0,09200 0,21380 0,29310 0,15160 0,92630 1,00000 0,19730 - 0,02180 1,00000
Pará A 3 5 6 5 5 2 7 4 3 2
Ho 0,3846 0,4375 0,6666 0,2727 0,6 0 0,3333 0,2857 0,3846 0,1538
He 0,5138 0,5927 0,5287 0,645 0,7954 0,1375 0,3655 0,2672 0,6 0,1476
p 0,05030 0,25120 0,85460 0,00290 0,34460 0,03840 0,44040 1,00000 0,05680 1,00000
Correção de Bonferroni: Hardy-Weinberg p = 0,0026; desequilíbrio de ligação p= 0,00026. (-) Loco monomórfico
80
Continuação da tabela 02
População
TmaF34
TmaH1I TmaM79
TmaJ02
TmaKb60
TmaE14
TmaH13
TmaSC5
TmaH23
Amazonas
A 4 7 5 8 8 8 7 8 7
Ho 0,3548 0,7575 0,5312 0,6923 0,6562 0,4 0,6774 0,8387 0,125
He 0,4436 0,6797 0,5788 0,8061 0,8343 0,4791 0,6388 0,7932 0,2351
p 0,39390 0,00100 0,25890 0,47120
0,00010 0,35060 0,16680 0,86430 0,0050
AmazSoli A 4 4 4 8 6 9 5 5 2
Ho 0,2272 0,4347 0,5217 0,5909 0,5652 0,3636 0,7391 0,8095 0,0434
He 0,4365 0,6352 0,5439 0,7484 0,7777 0,5 0,6318 0,7119 0,0434
p 0,00280 0,01050 0,20560 0,22980
0,10220 0,04840 0,51700 0,75730 1,00000
Solimões A 6 5 4 7 6 7 5 6 1
Ho 0,4375 0,6 0,5 0,6428 0,375 0,5333 0,6 0,75 -
He 0,5121 0,7448 0,4213 0,7751 0,6996 0,6206 0,6551 0,7903 -
p 0,17990 0,00280 1,00000 0,03870
0,00620 0,13620 0,31550 0,40510 -
Japurá A 7 4 6 6 5 5 4 6 1
Ho 0,5384 0,4615 0,3846 0,7777 0,6923 0,3333 0,3333 0,8333 -
He 0,5630 0,6769 0,7169 0,8562 0,7323 0,4963 0,6666 0,7536 -
p 0,90690 0,06890 0,00980 0,46970
0,08514 0,13580 0,01630 0,26420 -
81
Purus A 3 3 6 8 6 7 5 5 1
Ho 0,4444 0,4545 0,5454 0,6363 0,6000 0,8888 0,7272 0,8181 -
He 0,5817 0,5844 0,5887 0,8701 0,8157 0,8235 0,671 0,7878 -
p 0,41900 0,24450 0,31840 0,11080
0,30700 0,33830 0,66070 0,98470 -
Negro A 4 6 4 7 7 6 3 7 2
Ho 0,5000 0,6428 0,5833 0,5384 0,7142 0,5000 0,7142 0,6428 0,0833
He 0,5476 0,7010 0,7644 0,7507 0,7751 0,5740 0,5925 0,6957 0,0833
p 0,86050 0,10510 0,66490 0,09050
0,06730 0,39410 0,45860 0,54660 1,00000
Madeira A 3 5 4 4 7 4 5 6 2
Ho 0,3333 0,4615 0,4166 0,7000 0,5000 0,1818 0,7142 0,6666 0,0769
He 0,5398 0,6338 0,4818 0,7105 0,7898 0,3333 0,6904 0,7753 0,0769
p 0,20140 0,02950 0,14400 0,40780
0,01760 0,09320 0,70980 0,41260 1,00000
Tapajós A 6 6 4 6 10 11 5 5 1
Ho 0,3750 0,5625 0,6428 0,7500 0,7500 0,8125 0,8750 0,8750 -
He 0,4354 0,6774 0,5767 0,7753 0,8407 0,7379 0,6733 0,6733 -
p 0,60030 0,04740 0,68510 0,22000
0,39530 0,56300 0,06700 0,86760 -
Pará A 5 7 5 6 6 5 4 6 2
Ho 0,3333 0,4666 0,4615 0,7500 0,6000 0,3333 0,5000 0,4666 0,1428
He 0,5471 0,7080 0,5138 0,7644 0,7379 0,4384 0,6666 0,6551 0,1375
p 0,07950 0,04820 0,32390 0,29400
0,33070 0,08220 0,04370 0,11840 1,00000
Correção de Bonferroni: Hardy-Weinberg p = 0,0025; desequilíbrio de ligação p= 0,00026. (-) Loco monomórfico
82
4.4.2 Diversidade genética entre e dentro das populações de peixe-boi da
Amazônia
O número dio de alelos variou de 4,429 (Madeira) a 6,429
(Amazonas). A heterozigosidade média observada variou de 0,4718 para
população do Pará a 0,6875 para população da área do Amazonas. a
heterozigosidade média esperada variou de 0,5905 a 0,7078 para a população
do Madeira e Amazonas, respectivamente. A população da área “Amazonas”
apresentou níveis de diversidade genética ligeiramente maior comparada
quando com as outras populações (Tabela 03).
Os níveis de He utilizando marcadores microssatélites observados neste
trabalho para T. inunguis são maiores que os encontrados para o peixe-boi da
Flórida (Garcia-Rodriguez et al., 2000; Pause et al., 2007), porém são similares
aos encontrados a algumas espécies de cetáceos (Valsecchi et al., 1997; Rosel
et al., 1999; Fullard et al., 2000).
Tabela 03: Diversidade genética das populações de peixe-boi da Amazônia
representada pela dia: do número de alelos (A), da Heterozigosidade
observada (Ho) e esperada (He) e coeficiente de endogamia (F
IS
).
População N de indivíduos A Ho He F
IS
Amazonas 33 6,429 0,68750 0,70784 0,03040
AmazSoli 23 5,643 0,55923 0,62367 0,08193
Solimões 16 5,214 0,51318 0,59878 0,16667
Japurá 13 5,000 0,53404 0,63554 0,18110
Purus 11 4,786 0,55368 0,66021 0,12150
Negro 14 5,214 0,56953 0,63457 0,05989
Madeira 14 4,429 0,48142 0,59057 0,10230
Tapajós 16 5,857 0,64681 0,66230 0,01600
Pará 16 5,357 0,47188 0,61136 0,13490
O coeficiente de endogamia, F
IS
, é a probabilidade que dois alelos, de um
loco de um indivíduo, serem idênticos por descendência. Os valores são
83
medidos a partir da proporção de Hardy-Weinberg esperada e varia de 0 a 1
(Weir & Cockerham, 1984). Valores altos de F
IS
indicam excesso de homozigotos
nas populações. Os valores de F
IS
variaram nos 19 loci, sendo maior na
população do Japurá (0,1811) e menor no Tapajós (0,0160) (Tabela 03).
A principal conseqüência da endogamia em termos genéticos é o aumento
da probabilidade de indivíduos que se cruzam carregarem alelos semelhantes,
em decorrência da descendência de um ancestral comum, ocasionando uma
redução da variabilidade genética (Frankham et al., 2003). A endogamia
aumentará a homozigosidade e diminuirá a heterozigosidade no genoma inteiro.
Os níveis de endogamia e de diversidade genética estão relacionados.
Quando a endogamia é alta, a heterozigosidade será baixa, e vice-versa. Um
dos principais motivos para se evitar a endogamia é o de prevenir um aumento
de indivíduos homozigotos para genes recessivos deletérios ou letais na
população. Esses efeitos poderiam levar a população a sofrer os efeitos de um
fenômeno conhecido como depressão endogâmica (Lande, 1994; Johnston &
Schoen, 1995). Os valores encontrados neste trabalho estão mais próximos de
zero, e não indicam níveis suficientes que possam levar a uma depressão
endogâmica (Spielman et al., 1977; Ralls et al., 1988) (Tabela 03).
A avaliação da estrutura genética populacional inclui medidas de
endogamia, diversidade e diferenciação, fornecendo um perfil genético das
populações.
4.4.3 Distribuição da variabilidade genética e fluxo gênico entre as
populações de T. inunguis
Gaggiotti et al., 1999, mostram que o F
ST
tem uma performance melhor
que outros estimadores de diferenciação genética quando o tamanho amostral é
menor que 50 para cada população e o número de loci utilizado é maior que 10
e menor que 20.
A análise de variância molecular (AMOVA) revelou que a maior parte da
variação genética do peixe-boi da Amazônia ocorre entre os indivíduos dentro
84
das populações (91,48%) e que não existe nenhuma estrutura genética nas
populações amostradas (F
ST
- 0,00205, p = 1,0) (Tabela 04).
Populações que ocupam lagos isolados ou rios com barreiras o
relativamente fáceis para se definir. Porém, as populações de peixes-bois
ocupam ambientes similares que se mantém interconectados, aumentando a
possibilidade de ocorrência de migrações e fluxo gênico, e que podem então se
homogeneizar fenotípica e geneticamente.
Tabela 04: Análise de variância molecular (AMOVA) para as amostras de peixe-
boi da Amazônia (Trichechus inunguis) provenientes das 9 áreas estudadas.
Quantidade de
variação
Graus de
liberdade
Soma dos
quadrados
Componentes
da variância
Porcentagem
da variação
Entre
populações
8 19,604 -0,00492 Va -0,20
Entre indivíduos
dentro das
populações
147 384,877 0,20975 Vb 8,73
Individual 156 343 2,19872 Vc 91,48
Total 311 747,481 2,40354
F
IS
(Vb): 0,08709 (p = 0,000)
F
ST
(Va): -0,00205 (p = 1,000)
F
IT
(Vc): 0,08522 (p = 0,000)
Segundo Hoelzel (1998), apesar da grande mobilidade e da ampla
distribuição de algumas espécies de cetáceos, a diferenciação genética pode
ocorrer até mesmo em populações adjacentes (Hoelzel et al., 1998; Wang et al.,
1999; Parsons et al., 2002; Krützen et al., 2004), como resultado da história de
vida e de aspectos demográficos, e em alguns casos mudanças históricas no
ambiente marinho.
Entender os padrões e a extensão da divergência genética entre as
populações é crucial para proteção das espécies e desenvolver planos efetivos
85
de conservação. Nas análises realizadas no programa Arlequin, as comparações
entre as populações de peixe-boi da Amazônia mostram valores de F
ST
não
significativos, indicando que não existem diferenças genéticas entre elas. Os
valores de M (número absoluto de migrantes por geração) variaram de 21,902 a
infinito, confirmando o alto nível de fluxo gênico entre as populações (Tabela
05).
Tabela 05: Matriz de divergência (F
ST
diagonal abaixo) e fluxo gênico [M
(número absoluto de migrantes por geração), diagonal acima] analisado entre
os pares de populações de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis).
A ausência de estruturação genética das populações de Trichechus
inunguis foi confirmada com as análises feitas no programa STRUCTURE
(Pritchard et al., 2000). Esta análise mostra que existem duas populações
diferentes, que correspondem às populações de T. inunguis e T. manatus. Esses
Oito indivíduos de T. inunguis apresentam uma porcentagem do genoma de T.
manatus e 2 de T. manatus tem um percentual de T. inunguis. Esses resultados
também indicam a presença de possíveis híbridos. Alguns indivíduos de T.
inunguis apresentam uma porcentagem do genoma de T. manatus (pequenas
barras vermelhas na porção verde da figura 02) e alguns de T. manatus tem um
percentual de T. inunguis. (pequenas barras verdes na porção vermelha da
F
ST
/M Amazonas
AmazSoli
Solimões
Japurá Purus Negro Madeira
Tapajós Pará
Amazonas
- Inf 58,318 Inf Inf 73,208 Inf Inf 73,591
AmazSoli -0,0020 - 61,195 Inf Inf 745,881
140,382
Inf Inf
Solimões 0,0085 0,008 - 114,109 144,537
36,570 142,229
245,469 Inf
Japurá -0,0098 -0,002 0,004 - 441,172
149,587
Inf 130,530 69,334
Purus -0,0032 -0,003 0,003 0,001 - Inf Inf Inf Inf
Negro 0,0067 0,006 0,013 0,003 -0,003 - 77,324 85,151 55,843
Madeira -0,0019 0,003 0,003 -0,012 -0,014 0,006 - 72,862 21,902
Tapajós -0,0007 -0,008 0,0200 0,003 -0,008 0,005 0,006 - Inf
Pará 0,0067 -0,004 -0,007 0,007 -0,004 0,008 0,022 -0,020
86
figura 02). Análises e discussão mais aprofundada sobre hibridização serão
apresentadas no capítulo 4.
Figura 02: Gráfico de barras gerado pelo programa STRUCTURE. Cada coluna
(linha vertical) representa um indivíduo. Cada cor representa grupos diferentes e
a proporção das cores em uma coluna representa a probabilidade que a amostra
pertence a mesma população.
Estes resultados corroboram com estudos recentes utilizando a região
controle do DNA mitocondrial que sugerem a ausência de estruturação genética
nas populações de T. inunguis e um intenso fluxo gênico entre as diferentes
áreas amostradas ao longo da bacia amazônica (Cantanhede et al., 2005).
McDonald, 2005, utilizando 6 loci microssatélites em 7 populações de
dugongos na Austrália também verificou a presença de migração e elevado fluxo
gênico, porém existe certa estruturação genética devido ao isolamento por
distância. Já Garcia-Rodriguez et al. (1998) analisando a região controle do DNA
mitocondrial observaram três linhagens distintas de T. manatus ao longo de sua
distribuição desde a Flórida até o Nordeste do Brasil correspondendo 1- ao
grupo da Flórida e das Antilhas; 2- Golfo do México e Caribe; 3- Costa Atlântica
da América do Sul.
O fluxo gênico é um processo evolutivo homogeneizador que minimiza a
diferenciação genética entre as populações. Em geral, espécies que tem grande
habilidade de se movimentar e realizar trocas entre populações tem menor
divergência genética.
87
4.4.4 Identificação de gargalo populacional recente
Populações que experimentaram uma recente redução do seu tamanho
efetivo populacional exibem uma redução correlativa do número de alelos (k) e
da diversidade genética (He) nos loci polimórficos. Mas o número de alelos é
reduzido mais rapidamente do que a diversidade genética (Allendorf & Luikart,
2007).
O cálculo da heterozigosidade esperada (He) dependente do modelo
mutacional para os marcadores microssatélites considerados. Com o programa
BOTTLENECK (Piry et al., 1999) é possível testar os excessos de heterozigotos
com base em três modelos mutacionais: IAM, SMM e TPM.
Os resultados obtidos com o BOTTLENECK para as áreas analisadas
nesse estudo sugerem que não houve gargalo de garrafa populacional; as
freqüências dos alelos para todas as populações tiveram uma distribuição
normal, e resultados não significativos nos testes de Wilcoxon (Tabela 06).
Tabela 06: Probabilidades para excesso de heterozigotos dos testes de
Wilcoxon calculadas a partir dos modelos IAM, TPM e SMM de evolução
molecular dos marcadores microssatélites para cada população estudada.
IAM
(Wilcoxon)
TPM
(Wilcoxon)
SMM
(Wilcoxon)
Amazonas
0,2077 0,0215 0,0016
AmazSoli 0,9032 0,1726 0,0418
Solimões 0,3909 0,0905 0,0042
Japurá 0,3909 0,2412 0,0494
Madeira 0,7868 0,1677 0,0214
Negro 0,3591 0,0946 0,0102
Purus 0,9032 0,3258 0,0905
Tapajós 1,0000 0,1909 0,0052
Pará 0,2523 0,0412 0,0026
88
Obviamente, existe a possibilidade que o peixe-boi da Amazônia tenha
sofrido uma redução populacional devido a grande exploração comercial sofrida
pela espécie durante as décadas de 30 a 50 (Domning, 1982a), porém por terem
um longo período de vida e tempo de geração, os efeitos dessa redução não
foram detectados no ponto de vista genético.
Portanto, as análises de diversidade genética populacional de Trichechus
inunguis neste estudo indicam altos níveis de variabilidade, a existência de
grande fluxo gênico entre as áreas amostradas, confirmando os resultados
obtidos por Cantanhede et al., 2005 utilizando DNA mitocondrial. Pelo fato de
não haver estruturação genética das populações de T. inunguis, medidas de
manejo como, por exemplo, programas de reintrodução de animais de cativeiro,
tornam-se mais simples.
89
Capítulo 5: Avaliação de eventos de hibridização entre Trichechus manatus e T.
inunguis no estuário amazônico
5.1 INTRODUÇÃO
Na foz do Rio Amazonas, as duas espécies de peixes-bois que ocorrem
no Brasil coexistem, a marinha (Trichechus manatus) e a amazônica (Trichechus
inunguis), (Domning, 1980) (Figura 01), mas os motivos que mantém essa
aparente parapatria não são conhecidos (Domning, 1980; 1981; 1982b).
Valores relativamente altos de divergência genética foram encontrados
entre as duas espécies, porém um resultado interessante obtido por Cantanhede
et al. (2005) nas análises filogenéticas do peixe-boi amazônico foi à relação
filogenética próxima do haplótipo H27 proveniente do Rio Mojú (próximo a
estuário do Rio Amazonas) com haplótipos de T. manatus procedentes do Brasil
e da Guiana (obtido de Garcia-Rodriguez et al., 1998). O inverso, ou seja, um
haplótipo de T. manatus (HP) relacionado com T. inunguis havia sido
encontrado por Garcia-Rodriguez et al. (1998).
Esses autores sugiram duas hipóteses: a de polimorfismo ancestral desde
a separação T. manatus - T. inunguis, ou a de uma possível zona de
hibridização no estuário do Amazonas.
Vianna et al., 2005, utilizando a região controle do DNA mitocondrial
indicaram a presença de um indivíduo com morfotipo marinho (haplótipo T),
porém relacionado à espécie amazônica. Além disso, a utilização de 2 locos
microssatélites e a análise do cariótipo desse indivíduo revelaram que este seria
um híbrido de 2
0
geração, ou seja, proveniente do cruzamento de uma fêmea
híbrida com um macho de T. manatus.
Zona híbrida interespecífica é a região onde duas espécies são
simpátricas e hibridizam para formar uma progênie parcialmente fértil. Zona
hibrida usualmente é resultado de um contato secundário de espécies que
divergiram por alopatria (Allendorf & Luikart, 2007). Essas zonas podem agir
como filtro seletivo que permitindo introgressão de somente alelos seletivamente
90
vantajosos entre espécies. Em muitos casos, híbridos são férteis e podem se
deslocar para um ou ambos os táxons parentais (Allendorf & Luikart, 2007).
A detecção de híbridos por meio de caracteres morfológicos geralmente
assume que indivíduos híbridos serão fenotipicamente intermediários dos
indivíduos parentais (Smith, 1992). Porém, híbridos que contêm a maior parte
dos seus genes de um dos táxons parental são frequentemente indistinguíveis
desse táxon parental (Leary et al., 1996).
Introgressão é o fluxo gênico entre populações cujos indivíduos
hibridizam, cruzando com um ou ambos os parentais. Uma população hibrida, é
uma população de indivíduos na qual ocorreu introgressão em vários níveis por
meio do cruzamento de várias gerações de híbridos com um ou ambos taxa
parental, além de acasalarem entre si (Rhymer & Simberloff, 1996). A
hibridização necessariamente não está acompanhada por introgressão, por
exemplo, a prole de acasalamentos híbridos pode ser estéril. Introgressão pode
ser unidirecional, com acasalamentos dos híbridos com um dos parentais
(Rhymer & Simberloff, 1996).
Eventos de hibridização na natureza são raros e normalmente estão
associados a influências antrópicas (Rhymer & Simberloff, 1996). Por exemplo,
quando ocorre uma redução populacional considerável em uma das espécies, as
chances de formação de pares para reprodução diminuem consideravelmente. A
hibridização pode ser uma ameaça para populações pequenas mesmo que os
pools gênicos não se misturem (Frankham et al., 2003). A mistura de pools
gênico de taxa distintos por introgressão tem sido chamada de “assimilação
genética”, “contaminação”, “infecção”, “deteriorização genética”.
Os efeitos prejudiciais de hibridização, com ou sem introgressão, acarreta
à extinção de muitas populações de animais e plantas e é especialmente
problemática para espécies raras que entram em contato com outras espécies
que são mais abundantes (Allendorf et al., 2001).
Os avanços tecnológicos em biologia molecular têm promovido
oportunidades para investigar interações entre populações. Essas técnicas têm
91
sido utilizadas também para medir o tamanho efetivo populacional e interpretar
eventos históricos como, por exemplo, gargalos populacionais.
Descobrir o que de fato está acontecendo com as espécies de peixes-
bois no estuário do rio Amazonas é um fator primordial para a conservação
dessas espécies. Os marcadores microssatélites são fundamentais para
responder tais questões porque são bi-parentais, e assim, podem avalizar a
contribuição genética de cada uma das espécies e conhecer qual a direção dos
eventos de hibridização.
Este trabalho tem o objetivo de verificar a ocorrência de eventos de
hibridização entre T. inunguis e T. manatus se eventos de hibridização estão
ocorrendo no estuário amazônico, utilizando marcadores microssatélites,
identificar os indivíduos híbridos, bem como avaliar a contribuição genética de
cada uma das espécies na formação desses híbridos.
5.3 MATERIAL E MÉTODOS
5.3.1 Coleta das amostras
Amostras de peixes-bois de diferentes rios da Bacia Amazônica foram
obtidas. Essas amostras foram coletadas de indivíduos mantidos em cativeiro no
INPA - Manaus, CPPMA - Balbina, Museu Emílio Goeldi e Bosque Rodrigues
Alves - Belém e do Conselho Nacional dos Seringueiros - Santarém e de
carcaças obtidas em excursões realizadas nos rios Madeira, Purus e na foz do
rio Amazonas.
Foram coletadas amostras de tecido de 155 indivíduos correspondentes a
9 áreas descritas no capítulo 3. Amostras de 19 indivíduos T. manatus foram
coletadas no Centro de Mamíferos Aquáticos Itamarapara comparação da
variabilidade genética e para verificação de eventos de hibridização.
Uma a quatro gramas de tecido da pele de Trichechus inunguis foi
coletada utilizando o instrumento cirúrgico para biópsia cutânea. Essas amostras
foram estocadas em frascos devidamente etiquetados contendo solução
saturada com sal (NaCl) de dimetil sulfóxido (DMSO) a 20% ou em álcool puro.
92
O DNA genômico total de 174 indivíduos foram extraídos usando a
metodologia desenvolvida por Sambrook et al., 1989.
Após a extração do DNA foi realizada PCR seguindo protocolo descrito no
capítulo 1.
5.3.2 Análises estatísticas inter-específicas
Os softwares Genetic Profile e Fragment Profiler do seqüenciador
automático MegaBACE (GE-Healthcare) foram utilizados na análise dos
microssatélites para os indivíduos genotipados.
O nível de diferenciação genética intra e inter-específica foi testado
usando a análise de variância molecular (AMOVA). Estimativas indiretas do fluxo
gênico entre as populações foram calculadas com base no número de migrantes
entre as populações por geração (M). Essas análises, assim como os
coeficientes de endogamia (F
IS
) foram realizadas no programa Arlequin
(Excoffier et al., 2005).
A significância dos métodos foi avaliada por testes de permutação (1000
replicações) e todos os veis de significância para os testes envolvendo
comparações múltiplas foram ajustados seguindo a correção de Bonferroni
descrita por Rice (1989).
O programa STRUCTURE (Pritchard et al., 2000) foi utilizado para
identificar a existência de estrutura populacional. Este é um método de
agrupamento Bayesiano com amostragem de genótipos e que usa a suposição
de equilíbrio de Hardy-Weinberg e de ligação dentro das subpopulações para
achar o número de populações, k, que melhor se ajusta aos dados; e os
indivíduos que minimizam o equilíbrio de Hardy-Weinberg e desequilíbrio de
ligação nessas subpopulações.
Para confirmar a presença de híbridos previamente observados no
capítulo 3, uma segunda análise foi realizada no programa STRUCTURE, onde
cada um dos indivíduos que foram encontrados como possíveis híbridos foram
“forçados” a pertencerem a sua espécie correspondente. Para este teste foram
93
designadas informações populacionais a priori utilizando os seguintes
parâmetros de entrada no programa STRUCTURE: USEPOP=fixo,
GENSBACK=4 e MIGPRIOR até 0,01. Esta hipótese foi testada 5 vezes, e a
média das probabilidades de cada hipótese das 5 corridas foram calculadas.
Para cada corrida, foram feitas de 100.000 e 1.000.000 de buscas assumindo
que a freqüências dos alelos por loco não covariam entre eles.
O estimador Bayesiano das taxas de migração implementado no
programa BayesAss+ (Wilson & Rannala, 2003) foi utilizado para estimar
migração entre todas as espécies com base na proporção de indivíduos
amostrados em cada uma delas. Este método calcula as taxas de imigrações
recentes entre populações. É assim, uma análise complementar e pode ser
usada juntamente com um estimador de fluxo gênico em longo prazo.
O programa MIGRATE (Beerli & Felsenstein, 2001) deduz parâmetros
populacionais para dados genéticos. A analise é feita com base no modelo de
coalescência com mutação e migração, e estima medidas de tamanho
populacional, θ, definido como 4Neµ, onde µ é a taxa de mutação, e Nm é o
número de migrantes por geração. O programa utiliza máxima verossimilhança
com métodos de comparações temporais recentes. Uma das vantagens desse
método é que ele estima o número efetivo de indivíduos imigrantes e emigrantes
de cada área amostrada.
A análise foi feita seguindo o modelo Browniano de evolução dos
microssatélites (aproximação mais adequada), com 20 permutações de Markov
(Markov Chain Monte Carlo, MCMC) de cadeia curtas com 20 passos para 500
amostras, totalizando 10000 amostras. E mais 4 permutações de cadeia longas,
com 10000 passos para 5000 amostras, totalizando 100000 amostras.
O teste de máxima verossimilhança implementado no MIGRATE testa
duas hipóteses: 1) θ é similar entre as populações e Nm varia, ou 2) θ varia
entre as populações e Nm é simétrico para cada par de populações (ou seja,
migração da população 1 para população 2 é igual à migração da população 2
para população 1).
94
Recentes análises utilizando métodos de probabilidade Bayesiana e de
verossimilhança, considerando uma gama de historias genealógicas possíveis e
consistentes com determinados bancos de dados, têm sido utilizada para ajustar
a variância estocástica entre os loci.
Em questões que abrangem divergência entre populações, o foco tem
sido sobre o modelo de divisão populacional que uma população ancestral se
divide em duas populações descendentes, e que posteriormente pode haver
fluxo gênico entre essas populações descendentes, conhecido com Modelo de
Isolamento com Migração (IM model) (Nielsen & Wakeley, 2001; Won & Hey,
2005; Hey & Nielsen, 2007).
Figura 01: Modelo Isolamento com Migração (IM). Os termos demográficos são
tamanho efetivo populacional (N1, N2 e Na), taxa de fluxo gênico (m1 e m2), e
tempo de divergência populacional (t). Os parâmetros têm o balanço de uma
taxa de mutação neutra ) utilizando um melhor modelo de mutação que se
ajusta ao banco de dados. Os parâmetros de migração são identificados pela
fonte de migrante há um tempo atrás na coalescência, ou seja, a taxa de
migração da população 1 para população 2 (m1) atualmente corresponde ao
movimento de genes da população 2 para 1 com movimentos um tempo adiante
(Won & Hey, 2005).
95
Esse modelo tem um grande número de parâmetros que possibilitam
captar a dinâmica que está ocorrendo nas fases de divergência populacional ou
especiação. A figura 01 representa o modelo IM mostrando uma população
ancestral e as descendentes, cada uma com um tamanho constante. A
probabilidade dos parâmetros do Modelo IM é gerada por simulação de cadeia
de Markov, tendo uma distribuição fixa que é proporcional à densidade. No
procedimento de simulação para os cálculos das estimativas do tamanho
populacional, fluxo gênico e tempo de divergência entre as espécies, foram
levados em consideração como modelo de evolução molecular o SMM que
corresponde à taxa de mutação por ano de 0,00056 (e.g. Weber & Wong, 1993;
Weber & Wong, 1993; Brinkmann et al., 1998; Hrbek et al., 2006). O tempo de
geração adotado foi de 5 anos. Para os intervalos de confiança, foram avaliados
para cada parâmetro no nível de 95%.
5.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.4.1 Análise inter-específica: T. inunguis X T. manatus
A análise genética de híbridos e hibridização usam como base em loci
diagnósticos que são fixados ou quase fixados para diferentes freqüências dos
alelos em duas populações ou em espécies que hibridizam (Cornuet et al.,
1999). Portanto, nas análises utilizaram-se principalmente estes loci
considerados diagnósticos, e pouco polimórficos. A caracterização genética de
T. manatus para os loci utilizados para análise de hibridização está apresentada
na tabela 01. A caracterização desses loci para T. inunguis está descrita na
tabela 03 do capítulo 4, sobre genética populacional.
Para os 15 loci analisados em 19 indivíduos de T. manatus, o número
médio observado de alelos por loco foi de 4,533. A heterozigosidade média
observada foi 0,3506 e a heterozigosidade média esperada foi de 0,4384
(Tabela 01). Diferenças significativas nos valores de Ho e He foram encontradas
nos loci TmaA01, TmaA09, TmaE08, TmaE11 e TmaH1I. Os testes de
desequilíbrio de ligação não foram significativos para os pares de loci analisados
96
Tabela 01: Número de alelos (A), Heterozigosidade observada (Ho) e esperada
(He) e a probabilidade dos desvios das proporções de Hardy-Weinberg
encontrados para os 19 indivíduos Trichechus manatus analisados.
Loci
microssatélites
A Ho He P F
IS
TmaA01* 5 0,2222 0,5317 0,0001 0,5891
TmaA02 3 0,2500 0,2730 0,3632 0,0865
TmaA03 7 0,6315 0,6088 0,0395 -0,0384
TmaA09* 5 0,3500 0,6487 0,0000 0,4669
TmaE02 2 0,5555 0,4888 0,6468 -0,1409
TmaE08* 6 0,5000 0,6871 0,0006 0,2775
TmaE11* 5 0,5500 0,6602 0,0000 0,5891
TmaE26 7 0,3000 0,4705 0,0339 0,3684
TmaF14 2 0,0500 0,0500 1,0000 -0,0000
TmaH1I* 3 0,2500 0,2294 1,0000 -0,0919
TmaM79 1 - - - -
TmaKb60 6 0,5500 0,6641 0,0316 0,1755
TmaSC5 8 0,5500 0,8282 0,0015 0,3417
TmaH13 7 0,5000 0,4359 1,0000 -0,1515
TmaH23 1 - - - -
Média 4,533 0,3506 0,4384 0,2040
*significativo mesmo as a correção de Bonferroni
Correção de Bonferroni: Hardy-Weinberg p = 0,0025; desequilíbrio de ligação p=
0,00026. (-) Loco monomórfico.
Como se esperava, AMOVA apresentou valores de F
ST
de 0,48317
(p=0,0000), mostrando que existe diferenciação genética entre T. inunguis e T.
manatus. Todas as comparações par a par dos valores de F
ST
das populações
também mostraram valores significativos de diferenciação genética entre as
duas espécies. O coeficiente de endogamia da população de T. manatus foi de
97
0,2040, (p=0,0000) um valor considerado alto (Spielman et al., 1977), revelando
o nível de endocruzamento da espécie (Tabela 02).
Tabela 02: Análise de variância molecular (AMOVA) para as amostras de peixe-
boi da Amazônia (Trichechus inunguis) e para o peixe-boi marinho (Trichechus
manatus).
Quantidade de
variação
Graus de
liberdade
Soma dos
quadrados
Componentes
da variância
Porcentagem
da variação
Entre espécies 1 225,466 3,13282 Va 48,32
Entre indivíduos
dentro das
espécies
172 627,396 0,29653 Vb 4,57
Individual 174 531,500 3,05460 Vc 47,11
Total 347 1384,362 4,06869
F
IS
=0,08849, p=0,00000
F
ST
: 0,48317, p=0,00000
F
IT
=0,52890, p=0,00000
Para dados de microssatélites, quando valores de M que atingem valor de
magnitude de 1 indivíduo migrante por geração, o fluxo gênico é considerado
suficiente para prevenir diferenciação genética (Wright 1931). O número de
migrantes M entre T. inunguis e T. manatus variou de 0,46 a 0,54, portanto a
diferenciação genética entre essas duas espécies fica evidente, o que era
esperado uma vez que são diferentes espécies (Tabela 03).
98
Tabela 03: Valores de F
ST
diagonal abaixo e M, número de migrantes por geração - diagonal acima, entre T. inunguis e
T. manatus.
F
ST
/M Amazonas AmazSoli Solimões Japurá Madeira Negro Purus Tapajós Pará Marinho
Amazonas
- Inf 125,787 Inf Inf 41,273 Inf Inf 37,581 0,54
AmazSoli -0,0023 - 94,288 95,414 292,688 53,030 172,842 Inf 58,427 0,51
Solimões 0,0039 0,0052 - 160,404 Inf 21,190 510,331 24779,2 Inf 0,46
Japurá -0,0046 0,0052 0,00311 - Inf 136,180 133,350 134,661 134,708 0,51
Madeira -0,0053 0,0017 -0,005 -0,0147 - 37,423 Inf 134,708 72,004 0,47
Negro 0,0119 0,0093 0,0231* 0,0036 0,0131 - 32,415 36,040 23,086 0,51
Purus -0,0033 0,0028 0,001 0,0037 -0,0134 0,0151 - Inf Inf 0,54
Tapajós -0,0019 -0,0028 0,00002 0,0037 0,0037 0,0136 -0,0123 - Inf 0,54
Pará 0,0131 0,0084 -0,0037 0,0110 0,0069 0,0212 -0,0062 -0,0065 - 0,54
Marinho 0,4769** 0,4933** 0,5200** 0,4946** 0,5114** 0,4942** 0,4789** 0,4785** 0,4764** -
*não significativo após a correção de Bonferroni
**significativo mesmo após a correção de Bonferroni
99
Para estimar o valor de máxima verossimilhança de k, ou seja, do número
de populações geneticamente distintas foram feitas várias corridas utilizando o
método Bayesiano de Pritchard et al. (2000). Com os resultados dessas
aplicações obtidos no programa STRUCTURE, foi possível observar duas
“populações” bem diferentes geneticamente, que representam as espécies T.
inunguis e T. manatus e que existe fluxo gênico significantemente diferente de
zero entre as espécies (Figura 02 e Tabela 4).
Os indivíduos Para_100, Para_b13 e Para_domn rejeitam a hipótese de
que eles pertençam de fato a sua espécie correspondente (Tabela 04), ou seja,
são indiduos híbridos. Esses três indivíduos são provenientes do estuário
amazônico “Pará”, região de simpatria entre as duas espécies de peixes-bois,
onde Domning (1980; 1982b) já tinha sugerido a existência de uma possível zona
de hibridização entre as espécies.
.
Figura 02: Gráfico de barras gerado pelo programa STRUCTURE. Cada coluna
(linha vertical) representa um indivíduo. Cada cor representa grupos diferentes ou
espécies e a proporção das cores em uma coluna representa a probabilidade que
a amostra pertence à espécie.
100
Tabela 04: Caracterização genética dos indivíduos híbridos detectados pelo
programa STRUCTURE. O valor de p refere-se ao teste da hipótese dos
indivíduos serem híbridos.
Indivíduo População Espécie P
% inunguis % manatus
Para_100 1 (vermelho)
T. inunguis
0,216 90% 10%
Para_b13 1 (vermelho)
T. inunguis
0,446 84% 16%
Para_domn 2 (verde)
T. manatus
0,476 13% 87%
Os indivíduos Para_100 e Para_b13 encontram-se no cativeiro do INPA e
CPPMA, respectivamente e são morfologicamente iguais aos espécimes da
espécie T. inunguis, sem qualquer característica intermediária. O que se pode
destacar é que o tamanho desses animais, quando comparados aos outros
animais da mesma idade presente no cativeiro, é muito menor (Observação
pessoal). O indivíduo Para_domn foi obtido no estuário amazônico em 1974, é
proveniente de caça, e seu coletor comentou que pelas características descritas
pelo caçador não foi possível distinguir a qual espécie o material pertencia (Daryl
Domning, comunicação pessoal).
Análises cariotípicas do peixe-boi da Amazônia (T. inunguis) revelam que o
número de cromossomos da espécie é 2n=56 cromossomos (Assis et al., 1988) e
o do peixe-boi marinho da Flórida (T. manatus) é 2n=48 (White et al., 1976; Gray
et al., 2002). Assis et al., 1988 propõe rearranjos do tipo fissão ou fusão dos
cromossomos acrocêntricos como um possível mecanismo de divergência
cariotípica entre o peixe-boi boi da Amazônia e o peixe-boi da Flórida. Gray et al.
(2002) discordam, e sugerem que a diferença pode ser explicada pela ocorrência
de variação de rearranjos intra e inter-cromossômicos como inversões,
translocações de braços inteiros, fusões em tandem, etc. É necessário averiguar o
cariótipo do peixe-boi marinho do Brasil, pois existe a possibilidade de não ser
igual ao do peixe-boi marinho da Flórida, uma vez que eles pertencem a linhagens
diferentes de DNA mitocondrial.
Investigações citogenéticas de dois indivíduos híbridos encontrados nesse
trabalho não identificaram diferenças cariotípicas com relação ao número de
101
cromossomos da espécie amazônica. A possível ocorrência de hibridização de
indivíduos cromossomicamente distintos é muito mais comum que se imagina
(Lande, 1979). Portanto, decisivamente fazem-se necessários estudos mais
aprofundados sobre a evolução cromossômica das espécies de peixe-boi do Brasil
para elucidar os processos de hibridização que estão ocorrendo na região do
estuário amazônico.
A ocorrência de eventos de hibridização entre mamíferos aquáticos é
comum. Em cetáceos odontocetos têm-se dados de detecção de híbridos entre
Tursiops truncatus e Grampus griseus; T. truncatus e Steno bredanensis, T.
truncatus e Globicehala macrorhynchus, T. truncatus e Pseudorca crassidens, T.
truncatus e Delphinus delphis, Phocoena phocoena e Phocoenoides dalli. Um
híbrido de T. truncatus e Pseudorca crassidens teve dois filhotes com machos de
T. truncatus. Um desses dois híbridos de segunda geração sobreviveu até 8 anos
de idade (Duffield & Amos, 2001). Em misticetos, existem pelo menos cinco
registros de indivíduos intermediários entre baleia azul (Balaenoptera músculus) e
fin (B. physalus) (Bérubé & Aguilar, 1998), espécies simpátricas cujo tempo de
divergência entre elas é estimado entre 3,5-5 milhões de anos (Arnason &
Gullberg, 1993).
Indivíduos morfologicamente intermediários entre T. inunguis e T. manatus
já foram reportados, assim como compartilhamento de informações genéticas
(Garcia-Rodriguez et al., 1998; Sousa-Lima, 1999; Cantanhede et al., 2005;
Vianna et al., 2005). A confirmação e a extensão dos eventos de hibridização são
de extrema importância para ambas as espécies.
Com base nos resultados obtidos no programa STRUCTURE, pode-se
inferir que no caso dos indivíduos Para_100 e Para_b13 o primeiro evento de
hibridização tem maior probabilidade de ter ocorrido 4 gerações no passado e
no caso do indivíduo Para_domn há 3 gerações (Tabela 05). O modelo básico que
o programa utiliza é que, para cada “t” gerações no passado, houve um evento de
mistura que mesclou as “k” populações.
102
Tabela 05: Valores das probabilidades que indicam quantas gerações atrás
ocorreram os eventos de hibridização obtidos no STRUCTURE.
Indivíduo Geração 1 Geração 2 Geração 3 Geração 4
Para_100 0 0,027 0,300 0,458
Para_b13 0 0,018 0,204 0,332
Para_domn 0 0,078 0,238 0,208
O programa BayesAss+ segue uma aplicação também com uma
abordagem Bayesiana e utiliza a distribuição de genótipos multilocos individuais
para estimar a probabilidade de migrantes serem da população original (Wilson &
Rannala, 2003). Os resultados revelam que a taxa de migração é maior no sentido
T. manatus - T. inunguis indicando que este seria possivelmente a principal
direção da introgressão (Tabela 06)
Tabela 06: Probabilidade de indivíduos pertencerem a sua “população” original
estimada pelo programa BayesAss+ para as duas espécies de peixes-bois, T.
inunguis e T. manatus.
De T. inunguis De T. manatus
Para T. inunguis
0,9904 0,0150
Para T. manatus
0,0095 0,9846
O tamanho efetivo populacional histórico (θ), estimado usando o programa
MIGRATE, foi semelhante entre todas as áreas e o fluxo gênico histórico elevado
e aparentemente assimétrico, e em geral, com a população do “amazonas” e do
contribuindo mais migrantes que recebendo das demais populações (Tabela 07).
Quando existe um elevado fluxo gênico entre as populações que leva a uma
homogeneidade genética entre elas, pode ser explicado por eventos demográficos
que persistem devido a uma dispersão periódica a partir de uma fonte
populacional comum (Gaggiotti, 1996).
As análises no MIGRATE confirmam a presença de fluxo gênico entre T.
inunguis e T. manatus, com a espécie marinha de peixe-boi recebendo um
103
elevado número de migrantes de peixe-boi da Amazônia da população do “Pará”
(Nm=5,0045). o fluxo gênico de T. manatus e T. inunguis foi menor
(Nm=2,3395) (Tabela 07).
Comparando as figuras 03 A e 03 B do tamanho efetivo populacional das
espécies de peixe-boi, nota-se que a espécie da Amazônia apresenta maiores
valores. Os resultados mostrados na figura 03 C revela que população ancestral
de T. inunguis e T. manatus é aproximadamente 100 vezes maior que o tamanho
das populações atuais de T. inunguis e T. manatus.
As análises no programa Isolamento com migrão (IMa) confirmam a
presença de fluxo gênico significantemente diferente de zero entre T. inunguis e T.
manatus. Esta diferença está clara na figura 03 D e 03 E. A direção do fluxo
gênico com Nm=7,4779 de T. manatus para T. inunguis vs Nm=1,7188 de T.
inunguis para T. manatus, confirmando os resultados da taxa de migração obtidos
no MIGRATE mostrados na tabela 07, na comparação entre a população “Pará” e
“marinho” (Nm=5,0045)
Existem sirênios estritamente marinhos, os dugongos, e exclusivos de água
doce, peixe-boi da Amazônia, e os que habitam e se deslocam tanto à água doce,
quanto a salgada, peixe-boi marinho e o peixe-boi africano. Existem diferenças
notáveis na anatomia renal entre dugongos e o peixe-boi marinho, que sugerem
estar relacionadas à morfologia do rim e as variações do habitat dessas espécies.
Essa habilidade permite o peixe-boi marinho se deslocar entre o ambiente marinho
e de água doce sem efeitos danosos (Ortiz et al., 1998; Ortiz, 2001).
Nenhum estudo de telemetria ou marcação e recaptura foi feito ainda com
os peixes-bois do Brasil na região do estuário amazônico para saber até onde
essas espécies podem se deslocar rio “adentro” ou “afora”. Existem alguns
registros de animais tipicamente marinhos que entraram no Rio Amazonas, como
foi o caso em 2007 de uma baleia minke que chegou até o rio Tapajós,
aproximadamente 800 km da foz do Rio Amazonas, mas foi a óbito. Já Trichechus
inunguis é tipicamente de água doce, não existe registro dessa espécie em águas
marinhas, e é pouco provável que se desloque para o ambiente marinho.
104
Estimativas de tamanho populacionais feitas com base em entrevistas ao
longo do litoral brasileiro revelaram que existiam aproximadamente 500 indivíduos
ao longo da costa nordestina brasileira (Lima, 1997). Assim, é possível que, no
estuário amazônico, a chance dos poucos indivíduos de peixe-boi marinho
encontrar parceiros da mesma espécie é bem menor do que a de encontrar o
peixe-boi da Amazônia.
A degradação das áreas estuarinas ao longo da costa brasileira devido à
instalação criadouros de camarões, áreas de extração de sal, além do aumento de
atividades de pesca e turismo, vêm sendo documentada. Este fator é considerado
como a principal causa dos encalhe dos filhotes de peixes-bois marinhos nas
praias do litoral brasileiro, por reduzirem as áreas disponíveis para o nascimento e
alimentação dessa espécie (Lima et al., 2005). As modificações antrópicas no
habitat aumentam o um risco para redução populacional da espécie e
potencializam as chances dos eventos de hibridização.
Esses eventos de hibridizações podem ter rias conseqüências na
conservação das espécies de peixe-boi do Brasil, principalmente para T. manatus,
a espécie de mamífero aquático mais ameaçado do Brasil, uma vez que esse
investimento reprodutivo na produção de híbridos representa uma erosão
genética, que a longo prazo, pode levar a sua extinção.
De fato, as duas espécies de peixes-bois do Brasil correspondem a duas
linhagens evolutivamente diferenciadas, com valores altos de divergência, 3,1 a 4
milhões de anos com base em dados de DNA mt (Cantanhede et al., 2005).
Porém, na zona de simpatria ocorre um contato de pool gênico distintos,
envolvendo o intercruzamento e backcrossing (isto é, hibridização) resulta numa
hibridização introgressiva, onde ocorre uma permanente incorporação de genes
fixados de uma “população” diferenciada dentro do material genético de um outro
pool gênico distinto.
A confirmação da existência de uma zona de hibridização no estuário
amazônico tem importantes implicações para o manejo dessas espécies. Todos os
animais de cativeiro provenientes dessa região devem ser avaliados
geneticamente antes de implementação de qualquer medida de manejo desses
105
indivíduos, e principalmente em programas de reintrodução, como uma forma de
proteger as populações puras.
106
Tabela 07: Estimativa de fluxo gênico (Nm) unidirecional entre as populações de peixe-boi da Amazônia amostradas
calculadas pelo programa MIGRATE. Ln(L)= -2911,98
Imigrantes
População
Theta (θ)
[4Neµ]
4Nm [x=população recebendo migrantes]
Emigrantes Amazonas AmazSoli Solim Japurá Madeira Negro Purus Tapajós Pará Marinho
Amazonas 1,0757
------- 7,7130
3,9300
4,3550
4,9625
5,1175
3,7525
5,2935
4,5070
1,5540
AmazSoli 0,9397
7,8920
------- 5,5670
5,8000
5,5145
4,2835
5,2845
6,3610
3,7735
2,8255
Solimões 0,9222
9,9475
7,7950
------- 6,4755
4,9445
5,7785
4,7465
6,2135
6,5370
2,0475
Japurá 0,9702
6,8975
5,1140
5,9640
------- 7,4005
4,5225
4,7320
6,6390
7,1895
2,0800
Madeira 0,9512
6,4990
7,1335
6,3860
5,3350
------- 3,9085
3,2735
2,9960
6,3900
3,1495
Negro 0,9504
7,0005
6,1105
5,9700
5,8860
3,3630
------- 3,3240
5,9620
3,8760
2,9195
Purus 1,1016
5,8235
5,9190
6,0340
5,8775
4,6290
5,3085
------- 4,4775
6,3485
3,3075
Tapajós 1,0371
5,1595
3,6090
5,2710
6,3570
5,5100
4,8590
4,6535
------- 3,3795
2,9960
Pará 1,0319
6,3290
5,8290
6,0135
7,6700
5,4675
4,1545
4,7665
3,7785
------- 5,0045
Marinho 1,0318
2,4520
2,3020
2,9605
2,8900
2,1470
2,1635
2,4510
2,3755
2,3395
-------
107
Figura 03: Probabilidade para cada parâmetro está descrito em: A) Tamanho efetivo populacional de T. inunguis; B)
Tamanho efetivo populacional de T. manatus; C) Tamanho efetivo populacional da população ancestral de T. inunguis e
T. manatus.; D) Taxa de migração de T. inunguis para T. manatus (em número de indivíduos por geração); E) Taxa de
migração de T. manatus para T. inunguis (em número de indivíduos por geração); F) Tempo de divergência em anos
entre T. manatus e T. inunguis.
108
6. CONCLUSÃO
Podemos considerar que obtivemos bastante sucesso com a
amplificação cruzada dos primers microssatélites desenvolvidos para
Trichechus manatus em T. inunguis, obtendo níveis de polimorfismos
suficientes para a realização das análises de diversidade genética, e
responder questões sobre a genética populacional, análise de
relacionamento e as questões envolvendo eventos de hibridização entre as
espécies de peixe-boi do Brasil.
Com base na análise dos microssatélites, foi possível identificar com
precisão, dentro de um universo de nove pais potenciais, os pais dos cinco
filhotes investigados no INPA e dos três filhotes nascido no cativeiro em
Balbina. O conhecimento do parentesco entre indivíduos é particularmente
importante em programas de procriação em cativeiro que buscam reduzir
acasalamentos incestuosos, para minimizar o endocruzamento e a perda de
variação genética. Assim, decisões sobre quem deve procriar e quanta
descendência deveriam ser produzidas, precisa ter como base informações
de genealogias.
Nas análises populacionais realizadas com base nas amostras de 9
áreas constatamos a ausência de estruturação genética nas populações de
T. inunguis e um intenso fluxo gênico entre as diferentes áreas amostradas
ao longo da bacia amazônica, confirmando os estudos prévios utilizando DNA
mitocondrial. A ausência de estruturação genética nas populações de peixe-
boi da Amazônia facilita programas de reintrodução, pois a área de origem
dos animais e a escolha do tio para reintrodução não seriam fatores
limitantes.
Com os resultados dessas aplicações obtidos no programa
STRUCTURE, foi possível observar duas “populações” bem diferentes
geneticamente, que representam as espécies T. inunguis e T. manatus. Os
resultados nesse programa constataram a presença de três indivíduos
híbridos na amostragem, todos provenientes do estuário amazônico.
109
Verificamos que apesar da elevada divergência genética entre as duas
espécies de peixe-boi do Brasil, T. inunguis e T. manatus, as análises
genética utilizando marcadores microssatélites revelam a existência de
pequenos valores de fluxo gênico entre as espécies, e que a taxa de
migração é maior no sentido T. manatus - T. inunguis.
As análises no MIGRATE confirmam a presença de fluxo gênico entre
T. inunguis e T. manatus, com a espécie marinha de peixe-boi recebendo um
elevado número de migrantes de peixe-boi da Amazônia da população do
“Pará” (Nm=5,0045). As análises no programa Isolamento com migração
(IMa) confirmam a presença de fluxo gênico significantemente diferente de
zero entre T. inunguis e T. manatus, e que existe claramente uma diferença
na direção do fluxo gênico, com Nm=7,4779 de T. manatus para T. inunguis,
vs Nm=1,7188 de T. inunguis para T. manatus, confirmando os resultados da
taxa de migração obtidos no MIGRATE. Essas análises indicaram claramente
o contínuo, porém desigual fluxo gênico entre T. manatus e T. inunguis
indicando que este seria o principal sentido da introgressão.
A confirmação e a extensão dos eventos de hibridização são de
extrema importância para ambas as espécies. Portanto todos os animais
provenientes dessa região têm que ser avaliado geneticamente antes de
implementar qualquer medida de manejo desses indivíduos em cativeiro, e
principalmente em programas de reintrodução, como uma forma de proteger
as populações puras.
110
7. PERSPECTIVAS
O estudo aqui apresentado sugere algumas possibilidades de pesquisas com
T. inunguis:
A continuação das análises de identificação de paternidade dos futuros
filhotes concebidos e nascidos em cativeiro como uma medida para evitar
acasalamentos incestuosos, para minimizar o endocruzamento e a perda de
variação genética em cativeiro.
A complementação de estudos reprodutivos do peixe-boi da Amazônia
que irão nortear o entendimento das questões que envolvem múltiplos
acasalamentos das fêmeas e a existência ou não de competição de
espermatozóide.
Estudos genéticos que envolvam marcadores nucleares de regiões
codificadores, como por exemplo, MHC (complexo principal de
histocompatibilidade), que corresponde a uma grande família de loci com
elevado nível de diversidade genética e que possui um papel importante no
sistema imune dos vertebrados e no combate a doenças.
O aprofundamento nas questões que envolvem a hibridização entre as
espécies de peixe-boi do Brasil, com o aumento da amostragem na região do
estuário amazônico. A utilização de outros marcadores genéticos nucleares e
a aplicação de cnicas citogenéticas, como pintura cromossômica, para
esclarecer o processo da evolução cromossômica das espécies.
111
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