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Cristina Garcia Ortega
Lina Bo Bardi
Móveis e interiores (1947-1968)
interlocuções entre moderno e local
São Paulo, 2008
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Cristina Garcia Ortega
Lina Bo Bardi:
móveis e interiores (1947-1968) –
interlocuções entre moderno e local
Tese de doutorado para o Programa de Pós-Graduação
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo
Orientadora
Profa. Dra. Maria Cecília Loschiavo dos Santos
Área de concentração
Design e Arquitetura
São Paulo, julho de 2008
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
ASSINATURA:
E-MAIL:
Agradecimentos
Aos professores Maria Cecília Loschiavo dos Santos, pelo incentivo e orien-
tação; nica Tavares e Rafael Antonio Cunha Perrone, pela seriedade
durante a banca de qualificão, o que muito me estimulou na construção
de um outro viés; Fernanda Fernandes, Agnaldo Farias, Élide Monzeglio (in
memoriam) e Vera Pallamin, pelas disciplinas cursadas, essenciais para o
desenvolvimento desta pesquisa; Gilbert Luigi, pela consulta às revistas
Domus em instituões francesas; Carlos Zibel Costa, por disponibilizar sua
biblioteca particular e pelas cartas de recomendão; Frank Barral, Cláudio
Portugal, Cristina Cabral, pelas referências fornecidas; Neusa Rainho Ticia-
nelli, pelas dias oferecidas.
Ao Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, em especial, Graziella Bo Valentinetti (in
memoriam), Yannick Bourguignon, Gabriela de Melo Silva, Vivian Lazzareschi
e pelo precioso apoio de Daniela Paula Rodrigues de Araújo e Liana Perez.
Ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) em especial Ivani Di Grazia Costa, do
Centro de Documentação, e Eugênia Gorini Esmeraldo, pelo depoimento.
Às Instituições baianas: Fundação Gregório de Mattos, Museu de Arte
Moderna da Bahia (Mamb), Teatro Castro Alves, Casa do Benin e a Stela
Cardoso Vaz Dias, Eliana Anthony Sallenave (Lica) e Armando Almeida
pelos depoimentos e esclarecimentos em Salvador.
Aos funcionários das bibliotecas das instituições: Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de o Paulo (FAUUSP) e Museu de Arte de o
Paulo (Masp), em São Paulo; Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no
Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna da Bahia (Mamb), em Salvador.
A Sérgio Rodrigues, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, pelos depoi-
mentos; a Nelson Kon, pelas imagens cedidas; a Mariana Wilderom, da
Marcenaria Baraúna; e Milly Teperman, da Móveis Teperman.
A Marta Teixeira, pelo design gfico e layout da capa; Alessandra Benicchio
Muramatsu, pelas revies do portugs; Licia Beccari, pela revio do
italiano; Marta Teixeira pela capa e diagramação; Magali Gallello pelos es-
clarecimentos e consultas aos termos teatrais e suas acepções. A Fernan-
da Ortega Bertella, Gabriel Ortega Bertella, rcia Muto Belomo e Paula
Tomita, pelo apoio logístico. A Marcelo Jovchelevich, Guilherme Spadini,
Eneida Ferreira, Miriam Leiner, Ana Paula Bazilio e, principalmente, Maria
Aparecida da Costa Machado, pelo apoio.
Aos queridos amigos Márcia Oliva Soléra, Carmen Galán, Beatriz Kurkdjian,
Alexandre Ienibace, Hélio Herbst, Silvio Fernandes Souza, Fabiana Tannuri,
Fabio Ferrero, Ana Paula Sader, pelo apoio, estímulo e conselhos; à amiga
ssia Mariano, por me acolher e acompanhar em Salvador e estar sempre
tão presente; e à inestimável colaboração dos amigos Maristela Ono, Mau-
ro Claro e Raquel Kritsch, sem os quais este trabalho não seria o mesmo.
A toda minha família, pelas lindas manifestações de carinho durante os
últimos meses, em especial a meus pais, Pepe e Pepita, pelas semen-
tes, e a meus filhos, Gabriel e Fernanda, pelos frutos.
Ortega, Cristina Garcia
O77L Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) –
interlocuções entre moderno e local / Cristina Garcia Ortega. –
São Paulo, 2008.
428p. : il.
Tese (Doutorado – Área de Concentração: Arquitetura
e Design) – FAUUSP
Orientadora: Maria Cecília Loschiavo dos Santos.
1.Mobilíário – Brasil 2.Design 3.Arquitetura de
interiores 4.Bardi, Lina Bo, 1914-1992 I. Título
CDU 749(81)
Lina Bo Bardi: furniture and interiors (1947-1968) –
a dialogue between the modern and the local
Abstract
The objective of the research is to study the design of the furniture and
interiors that were conceived by Lina Bo Bardi between 1947 and 1968,
a period during which the architect developed projects that were the re-
sult of her experiences in Italy and Brazil.
From this perspective the investigation into a period prior to her arrival
in Brazil is fundamental when it comes to recovering the historical, politi-
cal, social and cultural facts, as well as the modern postulates, the pre-
disposition of architects to extend their functions to designing furniture
and the rise of Italian neo-realism, all of which form part of the back-
ground of Lina Bo.
Heavily influenced by this context and with her desire to shape a Brazilian
identity Lina Bo Bardi observes in an anthropological way – takes a close
look in her search for local themes which reconciles the modern inter-
nationalized concepts. She considers the materials, techniques, traditions,
customs, nature, art, handicrafts or pre-handicrafts, culture and society of
the country she adopted.
This transfers various types of integration – buildings and their surround-
ings, interiors and exteriors, furniture and the environment, the vernacular
and furniture, art and the people -, into her architecture, her interiors and
her furniture, which often constitute an unequivocal mimicry, not only be-
tween the architecture and its habitat, but also between the design of
furniture and the elements from the land.
It is important to highlight the development of this posture that provides
the piece of furniture and consequently the environment with features
that are particularly modern and with a sense of ‘Brazilianity’, thus making
an important contribution to our material culture.
Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) –
interlocuções entre moderno e local
Resumo
A pesquisa objetiva estudar o design de móveis e os interiores conce-
bidos por Lina Bo Bardi entre 1947 e 1968, período em que a arquite-
ta desenvolve projetos que são produto de sua experiência na Itália e
no Brasil.
Sob esta perspectiva, a investigação de um período anterior a seu
traslado para o Brasil é fundamental para resgatar fatos históricos,
políticos e sócio-culturais, como também os postulados modernos, a
predisposição dos arquitetos de estender suas funções ao design de
mobiliário e o advento do neo-realismo italiano que fazem parte da
formação de Lina Bo.
Imbuída deste contexto e no desejo de configurar uma identidade brasi-
leira, Lina Bo Bardi realiza uma observação antropológica um atento
olhar na busca de temas locais – que concilia aos conceitos modernos
internacionalizados. Ela considera materiais, técnicas, tradições, costu-
mes, natureza, arte, artesanato ou pré-artesanato, cultura e sociedade
do país que adota.
Esta conduta traduz, para sua arquitetura, interiores e mobiliário,
vários tipos de integração edificação e entorno, interior e exterior,
móvel e ambiente, vernáculo e móvel, arte e povo –, muitas vezes
constituindo uma ineqvoca mimética, o só entre a arquitetura e
seu habitat, como, também, entre o design de móveis e os de ele-
mentos da terra.
É relevante destacar o desenvolvimento desta postura que confere ao
móvel e, conseqüentemente, ao ambiente, uma feição peculiarmente
moderna com um caráter de brasilidade, oferecendo uma importante
contribuição à nossa cultura material.
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................. 13
CAPÍTULO 1
Lina Bo Bardi:
leituras precedentes – Itália e Brasil ...................... 25
CAPÍTULO 2
Móveis e interiores na arquitetura moderna:
contextos internacional e local ............................... 51
CAPÍTULO 3
Lina Bo Bardi e o móvel:
o encontro do vernáculo e do moderno ................. 113
CAPÍTULO 4
Lina Bo Bardi e o desejo de integração
entre arquitetura, interior, cidade,
natureza, arte e povo ............................................. 181
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................... 301
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ICONOGRÁFICAS ..... 312
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................... 317
APÊNDICE
Repertório iconográfico ......................................... 324
ANEXOS
Textos italianos de Lina Bo Bardi .......................... 418
Pranchas para o mobiliário
do concurso de Cantú, 1957 .................................. 425
plano de peça
prólogo
primeiro ato
mímesis corpórea
segundo ato
epílogo
fichas técnicas
apartes
Dedicatória
Aos meus pais, Pepe e Pepita,
que me ensinaram a valorizar
a beleza e a simplicidade da
terra e do povo, sabiamente
admirados por seus olhos
estrangeiros, como os de Lina...
Dedicatoria
Para mis papás, Pepe y Pepita,
que me enseñaran a valorar
la belleza y sencillez de la tierra
y del pueblo, sabiamente
admirados por sus ojos
extranjeros, como los de Lina…
10
11
Há olhos e olhos.
Olhos que sabem ver e
olhos que não sabem ver.
Lina Bo Bardi
plano de peça
plano de peça
Quadro detalhado dos atos e cenas da peça, que servirá de
base para o desenvolvimento do roteiro ou script da peça.
[Fonte: www.cobra.pages.nom.br/ecp-teatroglossario.html]
13
A rede indígena, o carro de boi, elementos da terra como as fibras, a ma-
deira, o costume de sentar-se de cócoras... o universo popular.
Lina Bo Bardi valorizou as coisas simples e corriqueiras de nossa terra e
cultura incorporando, ao seu trabalho como arquiteta e designer de princí-
pios modernos, a singeleza de solões com um cater diferenciado: um
manifesto apolotico aos recursos, saberes e costumes locais. Neste
sentido, este é um ensaio do legado da estrangeira com alma brasileira,
para nossa cultura material. Por meio do design de mobiliário e interiores
do início de sua carreira no Brasil, esta é uma tentativa de aspirar a leitura
dos “olhos que sabem ver”
1
.
O processo de afirmação do design de mobiliário e da arquitetura de inte-
riores modernos brasileiros constitui um tema insuficientemente pesquisa-
do. Esta contribuão problematiza uma parte deste lapso, incorrendo à
obra de Lina Bo Bardi (1914-1992) na concepção de ambientes e, princi-
palmente, de móveis modernos que manifestaram um caráter genuinamen-
te brasileiro, no período entre 1947 e 1968.
A presente pesquisa é fundamentada em acontecimentos hisricos do
processo moderno, na busca de referenciais de identificação mediante
objetos, ambientes e edificações, com o emprego de procedimentos ou
elementos de valores locais e tradições da cultura popular brasileira. Tem
como finalidade destacar o desenvolvimento de uma postura que confere
ao móvel e, conseqüentemente, ao ambiente, uma feição peculiarmente
moderna, com características próprias.
O trabalho tem importância na medida em que se discute a influência da
importação de novos conceitos no desenvolvimento de um caráter local
INTRODUÇÃO
1
BARDI, Lina Bo. Caderno Olho sobre a Bahia, nº 9. Diário de Notícias,
Salvador, 02 nov. 1958.
Lina Bo Bardi
Fonte: Ferraz, 1993: 161
15
Outra conjectura é quanto à constituição de um caráter de coadjuvação
entre condições internacional e local, na atuação de alguns estrangeiros
e, particularmente, Lina Bo Bardi, que se disem pioneiramente no Brasil
a preencher uma lacuna na criação de peças, correspondendo às solicita-
ções do Movimento Moderno e manifestando uma conduta de estreita re-
lação no resgate de elementos imbuídos de um caráter regional.
E, uma hipótese a que se propõe a tese é outorgar, ou não, a Lina Bo Bardi
a função de propulsora de um encaminhamento do design de mobiliário e,
conseqüentemente, dos interiores modernos, no Brasil, com a adoção de
uma idiossincrasia na construção de elementos cúmplices da racionalida-
de e funcionalidade e, ao mesmo tempo, intrínsecos antropologicamente
ao lugar, caráter que insere a arquiteta literalmente na temática moderno e
vernáculo
2
no mobiliário.
E, por último, levantar um ponto que identifica o discurso de Lina Bo Bardi,
enquanto moderno, no sentido de promover a integração entre o interior e
exterior, fazendo emergir discuses que tangem a cidade, o entorno, a
arquitetura, o interior, o móvel, o usuário e, principalmente, o povo.
O objetivo principal é conferir a Lina Bo Bardi uma colaboração relevante no
desenvolvimento do design de mobiliário e arquitetura de interiores no Bra-
sil. Especificamente, os objetivos da tese compreendem identificar, no pro-
cesso moderno brasileiro, as inter-relações conceituais entre mobiliário,
interior e arquitetura, situando a arquiteta Lina Bo Bardi em um contexto
que se inicia ainda no culo XIX e segue por uma corrente de personagens
que se destacaram na sedimentão dos ideais modernos no Brasil. E
distinguir um caráter original, por meio da associação entre o moderno e o
vernáculo, que estabeleceu um grande valor à cultura local, utilizando ele-
mentos, materiais, costumes e procedimentos populares brasileiros.
O termo vernáculo identifica nesta tese o que é próprio de um país, de uma
região. A acepção da palavra popular representa o que é relativo ao povo,
especialmente à gente comum ou aquilo que é feito pelas pessoas sim-
ples, sem muita instrução (Houaiss, 2004). Por outro lado é de suma im-
portância compreender como a arquiteta se impregna do popular no senso
do moderno, como narra Eduardo Rossetti:
Também pode-se entender que em Lina Bo Bardi, popular é o procedimento de
relacionar as coisas, os materiais e operacionalizar referências culturais; é uma
ação de ‘fazer fazendo’ e de invenção plástica sobre as referências. Popular é a
digna vitalidade dos espaços e sua singela materialidade, própria para espaços
públicos. Moderno é o modo de Lina Bo Bardi tomar a cultura popular. [Vitruvius
(165), jan. 2003]
A arquitetura como abrigo e o design como acessório do homem, associa-
dos, contribuem para seu bem-estar, no sentido físico, social e emocional. E,
se suas morfologias têm uma estética específica, e se modificam com de-
senvolvimento do homem desde as cavernas a a atualidade, estas podem
ser notadas como decorrências engendradas em meio aos dos acontecimen-
tos históricos, ou adventos, que conduzem à questão antropológica, de suma
importância na cristalização das idéias hipoteticamente levantadas.
do design de mobiliário. Além disso, mostra o arquiteto como agente es-
sencial na busca da unidade formal e conceitual entre a arquitetura e o
design de mobiliário modernos no Brasil, principalmente nos anos 1940
e 1950, período anterior às aberturas dos cursos de design no Rio de
Janeiro e São Paulo.
Esta temática traz uma contribuão para o desenvolvimento do estado da
arte e de novas pesquisas, ao mesmo tempo em que permite uma avalia-
ção dos conceitos presentes no Movimento Moderno brasileiro e sua con-
textualização, na realidade multicultural e complexa do país, que tem de-
mandado e assegurado certa particularidade local ao mobiliário.
A identidade entre o objeto de design, os ambientes e a arquitetura
edifica-se, sobretudo, a partir da interação da linguagem formal e con-
ceitual que entre estes. Deste diálogo erguem-se as contribuições
de Lina Bo Bardi para os estudos, pesquisas e práticas profissionais de
designers e arquitetos.
Esta investigação tem o intuito de trazer à luz indagações com foco em
duplas de interlocuções que estruturam o encadeamento das idéias apre-
sentadas. E, num paralelo, por um lado, a tradição cartesiana estimula ao
desprendimento do objeto no sentido de impedir a relação íntima entre
o sujeito e o objeto, por meio de uma filosofia ancorada em dualismos,
alma e corpo, sujeito e mundo –, o que estimula a reconstrução do objeto
na tentativa de abstrair deste algumas propriedades, limitadas a algumas
comparações com o intuito de explicar tais propriedades e deduzir outras,
sendo o objeto totalmente desvinculado do sujeito que o vê.
Por outro lado, Merleau-Ponty sugere um procedimento metodológico pe-
rante o objeto avaliado. O filósofo defende a idéia do Espírito Selvagem, o
sujeito que não se contenta com a atitude isolada de pensar, mas de que-
rer e poder alguma coisa, e, para tanto, ele deve agir. E, para que esta ex-
periência seja viável, é necessário que o sujeito perceba uma lacuna que
deve ser preenchida e sentida, na inteão de abstrair do pprio meio para
preencher este lapso, um significado preciso e determinado, que viabiliza
uma nova forma de manifestação [Chauí, 1994: 468].
Uma dialética vinculada aos eventos que estruturaram o meio artístico
e a sociedade, no sentido de promover uma nova forma de pensar as
artes, a arquitetura e o design, pode ser um instrumento de resgate da
postura do arquiteto em seu tempo, ‘o ser em situação’, apontado por
Maurice Merleau-Ponty.
Sob este prisma, as interlocuções abordadas não se estabelecem como
dualismos, como sugerem os postulados de Descartes, e sim como um
meio de resgatar o fio da hisria intnseco aos procedimentos projetuais
de Lina Bo Bardi quanto aos móveis, na esteira de Merleau-Ponty.
A primeira das questões abordadas refere-se à relação entre arquitetura e
móvel, quanto à apuração dos mecanismos do processo pelo qual os arqui-
tetos modernos desenvolvem com prolificidade o design de móveis, princi-
palmente de assentos, no século XX.
2
Vernáculo: adjetivo 1 próprio
de um país, nação, região Ex.:
<língua v.> <costumes v.> 2
Derivação: sentido figurado. diz-
se de linguagem correta, sem
estrangeirismos na pronúncia,
vocabulário ou construções
sintáticas; castiço / substantivo
masculino 3 a língua própria de
um país ou de uma região; língua
nacional, idioma vernáculo Ex.:
o ensino do v.
16
17
A retrospectiva histórica das relações sócio-culturais, políticas, econômi-
cas e dos avanços científicos tendo em mente os adventos das artes e
campos afins, que promoveram o desenvolvimento dos conceitos moder-
nos, indicarão ferramentas para que se possa compreender a atitude dos
arquitetos na repetição de gestos em diferentes níveis ergonômicos as-
sociando formas, no intuito de harmonizar elementos destinados ao mes-
mo fim: a fruição humana, na perspectiva da funcionalidade que os mo-
dernos tanto defenderam.
O mecanismo essencial para o estabelecimento de um procedimento meto-
dológico que seja capaz de avaliar as razões de intencionalidade nas cria-
ções que se identificam quanto aos conceitos e formas, ou quanto às estru-
turas, deve ser fundado no estudo das questões emersas como conseqüência
de adventos, ou promessa de acontecimentos, como Merleau-Ponty explica,
a instituição de uma postura que conduz aos Movimentos Modernos, propi-
ciando aos arquitetos estabelecerem relações entre os edifícios e móveis
por eles desenvolvidos, muitas vezes utilizando-se de gestos semelhantes
na busca de uma identidade entre o abrigo e o objeto.
Merleau-Ponty adverte que a hisria do pensamento, como das artes, não
se resume a uma história empírica de acontecimentos ou uma história ra-
cional ou seqüencial. Trata-se de uma história de adventos. Por sua vez, o
advento “é o excesso da obra sobre as intenções significadoras do artis-
ta”. A história do advento tem vínculo com a tradição e, no ‘mesmo gesto’,
institui uma outra que será observada e utilizada pelos futuros artistas, em
outros adventos [Cha, 1994: 491].
Neste caso específico, alguns pontos de vista devem ser investigados,
buscando-se uma variação, que será obtida pelos estudos no âmbito dos
processos históricos, culturais, conceituais, estéticos, projetuais e arquite-
tônicos, que perfazem o terreno em que Lina Bo Bardi atua.
A perspectiva fenomenológica defende a aproximação da totalidade do fe-
nômeno estudado, evitando-se cindi-lo em referências quantitativas ou re-
duzi-lo a uma visada objetivista. Para tanto, trabalha com a descrição do
femeno, descrição esta que sempre é parcial, porque é feita a partir de
um ponto de vista. Tem-se acesso à totalidade a partir da parcialidade,
motivo pelo qual se busca, na medida do possível, uma variação dos pon-
tos de vista a fim de refinar a aproximação deste fenômeno estudado.
3
Estes pontos de vista são sintonizados no surgimento de uma iia e no
que antecede esta, “mais precisamente: o nascimento e o passado defi-
nem para cada vida categorias ou dimensões fundamentais que não im-
em nenhum ato em particular, mas que se lêem ou se podem encontrar
em todos” [Merleau-Ponty, 1975 (a): 315].
A metodologia que se apresenta, sob este ponto de vista, se debruça na
filosofia merleau-pontiana, defendendo que as coisas devem manifestar-se
da forma como são, como fenômenos que devem se abster de interferên-
cias do intelecto humano, no sentido de que sejam investigados sem que
haja qualquer alteração ou descaracterização de sua totalidade. É sob esta
perspectiva que o ato de descrever os fenômenos se sobrepõe ao de ex-
plicá-los, como pretendia o método cartesiano, que partia de desmembra-
mentos das totalidades, cujos elementos se distanciariam da idéia de uni-
dade nos objetos eleitos.
A fenomenologia não consiste em descrever os fenômenos tais como
são, mas também propõe um estreito relacionamento entre o plano das
idéias e o mundo vivido, o que, na filosofia merleau-pontyana, evidencia a
presença de uma consciência em um corpo que é situado no mundo – um
ser-no-mundo.
Também influenciada por Husserl, a psicologia da forma já defendera a ca-
pacidade da consciência de apreender os objetos em sua totalidade, recha-
çando a idéia de que nossa percepção possa dar-se na fragmentação dos
objetos, reconstituídos posteriormente. Merleau-Ponty preferiu o termo es-
trutura ao termo forma utilizado pela gestalt. E, no dizer de Marilena Cha
com relação à filosofia merleau-pontyana, “nem coisa nem idéia, uma ges-
talt é uma significação encarnada que possui um princípio interno de orga-
nização e de auto-regulação: é uma estrutura” [2002: 231].
Se desde o nascimento sou projeto, impossível distinguir em mim o dado e o
criado, impossível portanto designar um gesto que não seja senão hereditário
ou inato e que não seja espontâneo, mas também um só gesto que seja abso-
lutamente novo em relação a esta maneira de estar no mundo que me é desde
o início. [Merleau-Ponty, 1975: 312]
Na perspectiva do tema do doutorado, o estudo do femeno que relaciona
arquitetura e design no contexto moderno brasileiro conduz à reflexão dialéti-
ca da problemática, inserindo o arquiteto no contexto histórico-cultural mo-
derno. Diante desta condição, este ser em situação possui uma intenciona-
lidade
4
que o faz desenvolver seu trabalho de uma maneira especa.
Existem o ato criativo e a existência física, esforços simultâneos de expres-
o. Os mecanismos infimamente perceptíveis do corpo operam gestos de
expressão que se repetem, deixando rastros de uma mesma intenção.
No caso dos modernos, em sua fase inicial é negado o consagrado,
oferecendo uma nova postura perante as artes, a arquitetura e o de-
sign. E, no decorrer do século XX, a construção das formas da arquite-
tura e do design, na discussão moderna e pós-moderna, toma rumos
que sempre as relacionaram, como comenta Josep Maria Montaner na
discussão da obra como estrutura:
A exploração das fenomenologias minimalistas permite descobrir uma das cha-
ves mais eficazes e estimulantes para entrar na lógica de diversas atividades
artísticas. A repetição, o ritmo geométrico, a busca de unidade e simplicidade ou
a revelação da estrutura são mecanismos comuns que nos permitem atravessar
com eficácia os campos das diferentes formas artísticas, relacionando-as fruti-
feramente entre si. [Montaner, 2002: 178]
A criação artística ou os desenhos de criação aqui estudados são expres-
sões de um mundo maior e, na inerência do artista, designer ou arquiteto,
a esse mundo é que a qualidade de transcendência acontece. Uma relação
3
Observação da professora
Vera Maria Pallamin, FAU-USP,
fevereiro de 2005.
4
Intencionalidade: Husserl
(...) assumiu a noção de
Intencionalidade não mais como
característica dos fenômenos
psíquicos que coexistiam com
outros fenômenos chamados
físicos, mas como a definição
da própria relação entre o
sujeito e o objeto da consciência
em geral. Husserl diz a esse
propósito: “A característica
das vivências (Erlebnisse),
que pode ser indicada como o
tema geral da fenomenologia
orientada objetivamente, é a
intencionalidade. Representa uma
característica essencial da esfera
das vivências, porquanto todas
as experiências, de uma forma ou
de outra, têm intencionalidade...
A intencionalidade é aquilo que
caracteriza a consciência em
sentido pregnante, permitindo
indicar a corrente da vivência
como corrente de consciência e
como unidade de consciência”.
O conceito de transcendência,
mediante o qual Heidegger
definiu a relação entre o homem
e o mundo, outra coisa não é
senão uma generalização da
intencionalidade. Heidegger
diz: “Se considerarmos
qualquer relação com o ente
como intencional, então a
Intencionalidade é possível apenas
com base na transcendência, mas
é presiso atentar: Intencionalidade
e transcendência não se
identificam e esta não se funda
naquela”. In: ABBAGNANO, Nicola.
Dicionário de Filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 1998, pp. 576-7.
18
de cópula entre várias intenções. Nas palavras de Merleau-Ponty, podemos
perceber a relação entre o observador e o observado:
É preciso que, com meu corpo, despertem os corpos associados, os outros’,
que não são meus congêneres, como diz a zoologia, mas que me assediam, que
eu assedio, com quem eu assedio um Ser atual, presente, como jamais
animal assediou os de sua espécie, seu território ou seu meio.
(...)
Um corpo humano aí está quando, entre vidente e visível, entre tateante e toca-
do, entre um olho e o outro, entre a mão e a mão, faz-se uma espécie de recru-
zamento, quando se acende a centelha do senciente-sensível, quando esse
fogo que não mais cessará de arder pega, até que tal acidente do corpo desfaça
aquilo que nenhum acidente teria bastado para fazer... [1975 (b): 276-79]
As abordagens sobre a forma e conceitos, ou estruturas, são fundamen-
tais, contudo insuficientes se não forem avaliados os valores decorrentes
dos eventos que propiciaram a sedimentação das iias modernas, como
as questões antropológicas, pois estes aspectos são inerentes à consoli-
dação de posturas perante a arquitetura e o design.
Em resumo, a noção filosófica elaborada por Merleau-Ponty defende a con-
cepção daForma’ como reunião entre o sensível e o ideal, considerando a
totalidade de sua estruturação de ordem dialética e não analítica. Ao enfati-
zar as implicações desta conceituação epistemologicamente, o filósofo re-
considera os aspectos metodológicos trabalhados nas ciências humanas.
Assim, o estudo é conduzido, de modo a identificar a obra de arquitetos e
designers, e, principalmente, profissionais ao mesmo tempo arquitetos e
designers, que contribuíram para o surgimento de uma nova maneira de
conceituar e dar forma à arquitetura, ao interior e ao design de veis.
Em vista disso, utiliza-se o resgate dos acontecimentos hisricos para a
compreeno da origem e do desenvolvimento de conceitos inerentes às
artes, principalmente os que se relacionam à arquitetura e ao design de
Lina Bo Bardi. Por meio da demarcação de eventos
5
que se destacaram no
período pesquisado, definem-se analogias entre fatos históricos e a produ-
ção de Lina Bo Bardi, em uma primeira fase na Europa, mais especifica-
mente na Itália, e, em uma segunda fase, no Brasil, em grande parte nas
cidades de São Paulo e Salvador.
Não o resgate das origens culturais incluindo-se a contextualização
histórica – é de fundamental importância nesta abordagem metodológica,
de natureza interpretativa, como também o acompanhamento do desenvol-
vimento e manifestação das necessidades e anseios pelo amadurecimen-
to de uma nova estética.
Sendo assim, o método de trabalho utilizado na pesquisa consiste no exa-
me crítico de refencias bibliográficas e sua aplicação ao objeto empírico.
A pesquisa tamm utiliza o todo comparativo, cujo emprego articulado
permite tratar as hipóteses e os objetivos apresentados. Ainda cabe escla-
recer, que não é intenção desta pesquisa estabelecer verdades absolutas
ou generalizações das constatações.
5
Evento: s.m. (1660 cf.
FMMeIE) 1 acontecimento ger.
observável; fenômeno [...] 3 m.q.
EVENTUALIDADE (‘acontecimento
inesperado’) [...] ETIM lat.
[...] ‘acontecimento, sucesso,
resultado, saída, desenlace,
resolução, fim’, rad. de eventum,
[...].In: HOUAISS, Antônio; VILLAR,
Mauro de Sales. Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2004. p. 1278.
Sempre há elos.
Mesmo e sobretudo
quando nos recusamos
a admiti-los.
Maurice Merleau-Ponty
20
21
6
Este quadro é fruto de um
estudo sobre os assentos
modernos que relaciona autores
estrangeiros e brasileiros ao
trabalho de Lina Bo Bardi, no
apêndice: Repertório iconográfico.
Estrutura da tese
Com a intenção de tornar mais compreensível o encaminhamento da
pesquisa, a estrutura da tese é apresentada a seguir de maneira abre-
viada, porém considerando-se que “sempre elos”, como observa
Merleau-Ponty [1975: 313]. Os quatro capítulos propostos possuem
certa independência entre si, o que possibilita uma leitura não necessa-
riamente linear, e, em conseqüência, a possibilidade de direcionamen-
tos a determinados temas mais específicos.
O primeiro capítulo Lina Bo Bardi: leituras precedentes – Itália e Brasil
tem por objetivo o entendimento do ambiente em que Lina Bo Bardi
iniciou sua carreira, por meio de um panorama histórico, que compreen-
de o estado político, social e econômico, tal como manifestos e contro-
vérsias no meio artístico e arquitetônico, tanto na Itália quanto no
Brasil. As posturas assumidas pela arquiteta em seu trabalho refletem
principalmente os eventos deste período, do início do século XX até o
final dos anos 1940, quando ela se estabelece em São Paulo.
O segundo capítulo Móveis e interiores na arquitetura moderna: contex-
tos internacional e local – enfoca os assentos e sua importância para a
cultura material, trata da discussão sobre a contribuição dos arquitetos
no design de assentos – e como síntese apresenta um quadro que rela-
ciona as características de alguns assentos de Lina Bo Bardi com ou-
tros brasileiros e estrangeiros.
6
Sob outra perspectiva, são discutidos
alguns ambientes modernos de destaque, que, na maioria das vezes
são vinculados direta ou indiretamente a propostas da arquiteta. No
contexto internacional se discorre de Le Corbusier a Carlo Mollino e, no
contexto local, de Gregori Warchavchik a Oscar Niemeyer.
O terceiro capítulo Lina Bo Bardi e o móvel: o encontro do vernáculo e
do moderno – examina alguns dos elementos selecionados pela arqui-
teta que estabeleceram um vínculo antropológico em seu trabalho, prin-
cipalmente no mobiliário, apresentando a temática moderna conjugada
com um discurso ontológico, que traz à tona componentes, materiais e
costumes visceralmente arraigados ao vernáculo. Por meio de ensaios
históricos das procedências, o capítulo resgata as origens de elemen-
tos ou atitudes empregados por Lina Bo Bardi na execução do design de
assentos, peças nas quais ela parece sentir-se instigada a aplicar o
desígnio que a nova pátria lhe suscita.
O quarto capítulo – Lina Bo Bardi e o desejo de integração entre arquite-
tura, interior, cidade, natureza, arte e povo enfoca primeiro o Masp,
tratando dos propósitos e da capacidade da arquiteta em associar uma
questão social aos ambientes, no sentido de viabilizar um didatismo para
as exposições, por meio de atitudes projetuais e procedimentos voltados
para uma camada menos favorecida culturalmente. Além de atender a
este lapso cultural, a arquiteta promove meios originais de apresentação
das obras de arte inseridos no contexto moderno. No Masp da avenida
Paulista ela promove uma interação entre a cidade, o interior, as obras de
arte e o povo. Na seqüência, o capítulo destaca a Casa de Vidro, cujos
interiores apresentam de forma singular as orientações dos mestres do
Movimento Moderno, Le Cobusier e Mies van der Rohe, além de reunir
assentos importantes, alguns projetados por Lina Bo Bardi, que convivem
harmoniosamente entre uma infinidade de objetos de arte, artesanato e
objets trouvés, e, através da transparência das fachadas, este arsenal de
peças antigas e modernas interagem com um cenário esplendoroso de
mata atlântica preservada.
O apêndice – Repertório iconográficoapresenta um fichamento con-
tendo o registro de 160 assentos desenvolvidos em quase 150 anos.
Estas peças estão organizadas cronologicamente e estão identifica-
das as características principais – procedência, data de criação, auto-
ria, modelo, local de destino, descrição da peça, empresa responsável
pela produção, peculiaridades e referências –, além de contextualizar,
a grande maioria destes, aos assentos de Lina Bo Bardi, criados du-
rante toda sua carreira. Este levantamento, que relaciona autores es-
trangeiros e brasileiros, se inicia com William Morris e alcança os Ir-
mãos Campana.
Em anexo estão transcritos, em italiano, dois textos de Lina Bo sobre
móveis e interiores modernos. O primeiro artigo é Sistemazione degli
interni publicado na revista Domus de junho de 1944 e o segundo é
L' attrezzatura della casa artigo do jornal Milano Sera, de 8 de agosto de
1945. Também constam em anexo, imagens das cópias heliográficas
das seis pranchas desenvolvidas para o mobiliário do concurso de
Cantù na Itália, em 1957.
prólogo
Naturalizei-me brasileira.
Quando a gente nasce,
não escolhe nada, nasce por
acaso. Eu não nasci aqui,
escolhi esse lugar para viver.
Por isso, o Brasil é meu país
duas vezes, é minha
“Pátria de Escolha”, eu me
sinto cidadão de todas as
cidades, desde o Cariri, ao
Triângulo Mineiro, às cidades
do Interior e as da Fronteira.
Lina Bo Bardi
prólogo
Em uma peça teatral, cena ou monólogo iniciais, em que geralmente são dados elementos
precedentes ou elucidativos da trama que se vai desenrolar [Houaiss, 2004].
25
A Itália e o Brasil foram os dois países nos quais Lina Bo Bardi viveu. O
primeiro não foi por sua escolha, como ela mesma sugere. O segundo,
contudo, foi eleito por ela, como observa em seu Curriculum Literário
[Ferraz, 1993: 12].
Este capítulo percorre a história e a condição das artes, principalmente
na arquitetura e no design, com a intenção de resgatar os estados polí-
tico, social e econômico, destacando fatos significativos na Itália e no
Brasil. Num período de aproximadamente trinta anos, este recorte tem-
poral inicia-se nos primeiros anos de vida de Lina Bo Bardi e alcança
sua chegada ao Brasil.
O estudo desta fase objetiva fornecer elementos imprescindíveis para o
entendimento das posturas assumidas naquela época. E, progressiva-
mente, abrangendo suas experiências com o design de mobiliário e in-
teriores – o relato dos acontecimentos é relevante para a compreensão
do contexto em que Lina Bo Bardi nasceu, cresceu, formou-se, iniciou
sua carreira e optou por viver no Brasil.
Esse posicionamento das artes sugere a pontuação de outros tantos
eventos, como as memoráveis Exposições Universais ou os movimen-
tos, polêmicas e manifestos, que apontam para novas direções, pos-
sibilitam uma renovação de conceitos de todas as categorias artísti-
cas e, com o passar dos anos, proporcionam um novo repertório para
o meio artístico.
Exemplificando esses eventos, citamos uma controvérsia sucedida no
século XIX: em sua maioria, ainda fartamente ornamentados, os obje-
tos industrializados da Exposição Universal de 1851 foram censurados
pelos artistas pré-rafaelitas, principalmente por William Morris. Este,
como líder do movimento Arts and Crafts, incentivou o artesanato como
alternativa para todas as necessidades humanas sob um modelo socia-
lista político-econômico.
CAPÍTULO 1
Lina Bo Bardi:
leituras precedentes –
Itália e Brasil
Lina Bo Bardi
Quarto do arquiteto
litografia, 1943
Fonte: Ferraz, 1993: 24
27
26
décadas do século XX. Nasce um vínculo entre os acontecimentos nos
âmbitos social, econômico e político e os procedimentos projetuais,
como veremos mais adiante.
Ambos, história e a condição das artes, refletem inequivocamente nas
soluções adotadas nos móveis e interiores de Lina Bo Bardi, tema exa-
minado nesta tese. E é na Itália que se formam os conceitos, que a
acompanham por toda a vida profissional, advindos de circunstâncias
vivenciadas por ela.
E, resgatando as transformações ocorridas na busca de igualdade so-
cial e econômica, iniciadas desde a Revolução Industrial, foram geradas
discussões ideológicas em torno das artes, notoriamente no que diz
respeito à aceitação da produção industrial.
Outro fato é a importante difusão tecnológica, que não era vista com
bons olhos pelos adeptos às artes, e tarda a ser aceita e valorizada.
É justamente no período entre as duas guerras que, por fim, o advento
da indústria é aceito pelos intelectuais e artistas. E, nesta primeira
metade do século XX, os constantes conflitos bélicos e a formação de
facções políticas – liberais e socialistas – influenciam diretamente as
posturas artísticas.
Por outro lado, a proposta de uma arquitetura com postura social, exaltada
por profissionais como Walter Gropius, Mies van der Rohe e Le Corbusier,
não é aceita de imediato. Esta se materializa por meio de uma transforma-
ção lenta, que só pôde ser percebida depois da Segunda Guerra, quando
algumas manifestações desta ordem se destacaram no tecido urbano.
Nesse contexto, uma das principais premissas da Arquitetura Moderna
sublinha que a forma é conseqüência da função, como explica Montaner:
Nos momentos culminantes da procura da utilidade, o racionalismo coincide
sempre com o funcionalismo, isto é, com a premissa de que a forma é um
resultado da função: o programa, os materiais, o contexto. (...) E, não em
vão, racionalismo e funcionalismo são dois qualificativos que designam o
design, a arquitetura e o urbanismo do movimento moderno (...).
1
Associado ao desejo de reforma social, o racionalismo arquitetônico do
início do século XX mostra-se peculiarmente lógico, adepto às geometri-
zações elementares e contra uma estética de excessiva ornamentação.
Em 1908, estas idéias são intensamente defendidas no polêmico ma-
nifesto Ornamento e Delito de Adolf Loos, e provocam uma revolução
nas interpretações a respeito dos adornos.
Alguns anos depois, em 1914, Le Corbusier organiza lajes e pilares na
idealização de um racionalismo analítico do sistema construtivo Domi-
no. Não tão cartesiana quanto o Domino, essa racionalidade aliada ao
social também é empregada por Gerrit Rietveld no design da Cadeira
Vermelha Azul, de 1917, e no projeto da Casa Schröder de 1924, com
estreita identidade entre o assento, o interior e a edificação [Ortega,
2003: 110-167].
Assim como o grupo De Stijl, a arquitetura alemã torna-se devota às neces-
sidades sociais. Concebido no rastro das unidades habitacionais de Ernst
May, um exemplo digno foi a Cozinha de Frankfurt (Frankfurter Küche), pro-
jetada por Grete Schütte-Lihotzky, em 1926, que “constituía a pa sica
de reformulação da globalidade da cidade por meio da habitação, utilizando
o conceito racional do Existenzminimum” [Montaner, 2001: 68].
E, ainda nesta esfera do racionalismo moderno, surgem correntes com
diferentes ênfases deste conceito, principalmente nas três primeiras
1
Na mesma página, o autor
adverte que o “funcionalismo
distancia-se do racionalismo
no método organicista”, In:
MONTANER, Josep Maria.
A modernidade superada
arquitetura arte e pensamento
do século XX. Barcelona:
Gustavo Gili, 2001, p. 65.
Gerrit Rietveld,
Casa Schröder, 1924
Fachada composta
por planos e
elementos longilíneos
imbuída do espírito
neoplasticista
holandês
Fonte: Khan, 2001: 19
Le Corbusier,
Sistema Domino,
1914-1915
Fonte: Khan, 2001: 28
Gerrit Rietveld, Cadeira
Vermelha Azul, 1918
Diagrama de composição
dos elementos da
cadeira, onde se percebe
a utilização racional do
estritamente necessário
Fonte: Brown, 1958: 20
28
29
Período italiano
Por volta de 1870, assim como a Alemanha, a Itália vive um regime
semifeudal, e, por fim, obtém sua total unificação sob o comando de
Giuseppe Garibaldi e liderança de Vittorio Emanuelle.
A estrutura ideológica desta Itália fragmentada havia sido um entrave
à estruturação de um processo industrial moderno e, também, se cho-
cava com as idéias progressistas. Porém, esta unificação motiva o
estabelecimento de novos ideais e, em conseqüência, surgiram dis-
cussões sobre uma nova postura perante a arquitetura, que se alinha
às já desenvolvidas na Inglaterra e na França, buscando uma nova
identidade para a nação. Nesta direção, é interessante resgatar como
estas discussões geram controvérsias entre os arquitetos italianos
nas primeiras décadas do século XX.
Com sede de renovação, a Itália manifesta-se no campo das artes. O
Futurismo, movimento que reconsiderou a importância da tecnologia,
conta com a figura notória do escritor Filippo Marinetti, divulgador do Ma-
nifesto Futurista em 1909 e, também, com o arquiteto Antonio Sant’Elia
que idealiza o manifesto A Arquitetura Futurista, de 1914; ano de início
da Primeira Guerra. Este manifesto defende a leveza, o prático, o efêmero
e o veloz, e refere-se às ferrovias, auto-estradas, galerias luminosas.
Ainda em 1914, durante a exposição do grupo Nuove Tendenze, Sant’Elia
posiciona-se quanto à ornamentação dos interiores. O arquiteto expõe
o plano da Città Nuova, e um trecho do Messaggio previne:
Que a decoração enquanto algo sobreposto ou ligado à arquitetura é um
absurdo, e que somente do uso e disposição dos materiais crus, nus e vio-
lentamente coloridos é que pode derivar o valor decorativo de uma arquitetu-
ra verdadeiramente moderna. [Banham, 1979: 197]
Mas a guerra dura quatro anos e leva consigo o jovem promissor Sant’Elia,
que poderia ter colaborado com as inquietações da Itália da primeira
metade do século XX, pois estivera totalmente embriagado pela agilidade
motriz que os novos tempos haviam alcançado.
É após a Primeira Guerra que se a etapa de modernização italiana.
Os fatos políticos ocorridos no entre guerras são decisivos para a insta-
lação de uma disputa entre os arquitetos conservadores e os raciona-
listas, que estabelecem movimentos na Itália, durante o tempo em que
Lina Bo efetua seus estudos e dá início a sua carreira.
Neste período, designado italiano, Achillina Adriana Giuseppina Bo vive
grandes momentos de sua vida relacionados a importantes fatos histó-
ricos: nasce em Roma, no ano de início da Primeira Grande Guerra;
forma-se arquiteto
2
em 1939, também começo da Segunda Guerra; emi-
gra definitivamente para o Brasil em 1946, ano subseqüente ao término
da Segunda Guerra.
Uma das publicações de Hobsbawm abarca um período que, por uma
diferença de meses, não é exatamente o mesmo em que Lina Bo Bardi
viveu. A obra se intitula Era dos extremos o breve século XX: 1914-1991.
Também pontuada de extremos atos criativos é a vida da arquiteta, que
nasce em 1914 e falece em 1992.
Lina Bo vive na Itália entre o início da Primeira Guerra e o fim da Segun-
da Guerra Mundial, período em que os acontecimentos políticos no país
estão relacionados diretamente à cultura, conseqüentemente com a
arquitetura, na qual se refletem os interiores e o design, neste contexto
estudado. Portanto, este recorte se inicia logo após a Primeira Guerra,
com a abordagem da política italiana.
Neste intervalo de tempo, dois sistemas políticos começaram a se des-
tacar: o comunismo, que, com o êxito da Revolução Russa de 1917,
desencadeia uma onda revolucionária em toda a Europa, e o fascismo,
que, por sua vez, desenvolve oposição ao socialismo e ao comunismo
– apesar de, ironicamente, muitos fascistas terem sido, anteriormente,
marxistas –, tendo se extremado na Alemanha com o nazi-fascismo.
Como uma doutrina totalitária, nacional, antiliberal, imperialista e de extre-
ma-direita, o fascismo é o sistema adotado na Itália entre 1922 e 1945.
O termo deriva da palavra fascio, tulo de grupos políticos ou de milincias
que surgem na Itália entre fins do século XIX e início do século XX
3
.
Também conhecidos como os Camisas Negras, os fascistas seguem uma
doutrina, cujo conceito do corporativismo e, principalmente, suas teorias de
colaboração de classes e relações sócio-econômicas são muito próximas às
do modelo produzido pelo papa Leão XIII, em 1892, na encíclica Rerum
Novarum. Tal documento, formulado em represália às mudanças políticas
e sociais, estabelecidas em conseqüência da Revolução Industrial, censura
o capitalismo, criticando a exploração das massas pela instria.
A Igreja e os fascistas cultuam a mesma aversão contra o Iluminismo do
culo XVIII e contra a Revolução Francesa, bem como suas derivões
que, segundo a opinião do clero, foram: a democracia, o liberalismo e,
acima de tudo, o comunismo ateu. Na intenção de evitar estes “perigos”,
a encíclica propõe uma renovação radical, sem desviar-se do caráter sagra-
do da família e da propriedade privada – desconsiderando aqui o capitalis-
mo –, oferecendo aos indivíduos o direito de melhores condições de traba-
lho. Essa decio possibilita uma base inicial aos católicos sociais e
àqueles mais liberais como, por exemplo, os entusiastas pela organização
de sindicatos católicos [Hobsbawm, 1995: 118-119].
Estas atitudes conduzem a uma identificação da Igreja com a direita italia-
na. A intenção de organizar uma potica contra o socialismo, somada à
decadência do liberalismo, deu origem a uma terceira opção. Segundo
Hobsbawm, a pressão exercida contra o liberalismo no período entre guer-
ras resulta em sua queda [1995: 113-143]. Em contrapartida, se instala-
ram outros regimes políticos advindos da filosofia marxista, como o comu-
nismo e o socialismo. Foi assim que, aproveitando o declínio do liberalismo
e reagindo contra a tão temida revolução comunista, um jornalista socialis-
ta renegado, Benito Mussolini, desenvolve uma terceira alternativa: o fas-
cismo na Itália. Abeoado pela Igreja entidade que influencia o fascismo
2
Lina Bo Bardi preferiu ser
denominada arquiteto,
provavelmente porque na
etimologia da palavra, tanto do
latim quanto do grego, não se
permite a mudança de gênero.
lat. architéctus,i ‘chefe, construtor,
edificador’, adp. do gr. arkhitéktón
‘o que detém uma ciência ou uma
arte e dirige as outras pessoas’;
ver arqu(e/i)- e tecto-; f.hist. 1532
archetector, c1539 architeto,
c1541 arquiteto, c1543
architector. No entanto, deste
ponto em diante, trataremos este
termo de forma coloquial,
utilizando a expressão arquiteta.
3
A palavra fascismo também
tem origem no termo fasces,
símbolo dos magistrados durante
o Império Romano: um machado
cujo cabo é cercado por um feixe
de varas, simbolizando o poder do
estado e a unidade do povo.
30
31
defensor do que ele desejava que fosse a tão debatida arquitetura fas-
cista propondo, assim, o Stile Littorio.
Rígido em suas convicções arquitetônicas, Piacentini institui na Univer-
sidade de Roma, na qual Lina Bo se forma, um novo caráter para a ar-
quitetura fascista oficial. Contudo, alguns arquitetos liderados por ele
criam projetos com características notadamente racionalistas como,
por exemplo, os projetos de Gio Ponti (Escola de Matemática) e de Gio-
vanni Michelucci (Escola de Mineralogia). Giuseppe Pagano, arquiteto
que fez parte do grupo encabeçado por Piacentini, também manifesta
tendências racionalistas na concepção do Instituto de Física. Em 1932,
ele utiliza os editoriais da revista Casabella para convencer os arquite-
tos em favor do Racionalismo.
No mesmo ano, Terragni, o maior expoente do Racionalismo Italiano,
projeta em sua cidade natal o mais interessante modelo do movimento:
a Casa del Fascio e os assentos utilizados neste edifício.
Situada em Como, a Casa del Fascio
6
(1932-1936) é um dos principais
ícones da arquitetura do racionalismo italiano. Concebida em homena-
gem à ideologia fascista, a casa propõe um diálogo entre uma malha
estrutural reticulada racionalmente criando aberturas em todas as
fachadas que permitem relações entre exterior e interior –, e o aspecto
sólido do conjunto, na composição de planta quadrada com altura da
empena igual à metade do lado do quadrado, totalizando um meio cubo.
O resultado é uma interação entre sólido e vazio, luz e sombra.
O edifício e seu interior colaboram para incorporar valores políticos fas-
cistas em um ícone da arquitetura moderna. Terragni jornalista e escri-
tor de textos radicais e um designer de sutis manipulações geométri-
cas, inseridas totalmente no espírito racionalista.
Algumas destas características vão ao encontro dos preceitos do movi-
mento moderno, principalmente no que diz respeito às premissas de
Corbusier. Porém, outras posturas projetuais são influenciadas pelos
ideais fascistas.
No projeto inicial de Terragni existe um átrio no centro da construção,
um pátio descoberto, destacado pelas aberturas do edifício. Este espa-
ço acaba recebendo uma cobertura em concreto armado e vidro. Fecha-
do com pé-direito duplo, sua função é redefinida com uma conotação
política centralizadora: um núcleo com uma sala de reuniões, à volta da
qual estão dispostos galerias, escritórios e salas secundárias.
O aspecto ideológico se torna evidente, não só pela imagem de Musso-
lini em destaque na sala de reuniões e pelo relicário em homenagem
aos heróis fascistas, mas, principalmente, pela proposta de acessibili-
dade da praça para o foyer, através de várias portas de vidro que permi-
tem fácil permeabilidade. A idéia é desenvolver um sólido que, em seu
âmago, abriga e está disponível para o povo. Ainda, o teto de vidro do
foyer produz um efeito caleidoscópico, proporcionando a ilusão de que
a malha reticulada do edifício é infinita.
e estimula os vínculos entre o clero e os partidos políticos , este regime
mobiliza a massa de trabalhadores italianos, obviamente com uma orienta-
ção política muito divergente daquela proposta por Marx.
Diferente da intenção socialista, no fascismo se instalara o mesmo tri-
pé proposto por Marx: Capital, Trabalho e Estado
4
. Entretanto, enquan-
to no fascismo o povo é submisso e subserviente ao Estado, no socia-
lismo o Estado é um instrumento do povo.
Mas, por outro lado, este domínio do Estado e a necessidade deste
mostrar-se imponente privilegiam a construção de muitos edifícios pú-
blicos na Itália no período entre guerras que, mais tarde, se tornariam
um laboratório para as inquietações dos arquitetos, principalmente em
dois pólos: Roma e Milão.
Atitudes adotadas no resgate de diferentes fases estatísticas do pas-
sado, somadas ao desejo de atualização, levam a nação a perseguir
uma postura moderna na arquitetura. Durante esta fase, um movimen-
to arquitetônico se desenvolve entre 1926 e 1943: o Racionalismo
Italiano. A proposta é relacionar, de maneira racional e original, por
um lado, as características do Classicismo Italiano, por meio da cor-
rente clássica do Novecento, liderada por Giovani Muzio e, por outro
lado, a essência da lógica estrutural, promovida pelo Futurismo no
início do século XX e, nos anos 1920, por Le Corbusier. Esta síntese
de idéias ambíguas é concebida no Politécnico de Milão, em ação re-
flexa aos conceitos lá propostos.
Na época, os acadêmicos de Milão defendem uma arquitetura de concei-
tos distantes dos propostos pelas correntes modernas. Foi o Gruppo 7,
como é chamado a união de arquitetos que funda o racionalismo italiano,
que deu o primeiro passo em favor de uma nova postura arquitetônica
5
.
Marcando o início desta arquitetura são construídos os apartamentos
Novocomum, de 1927-1928, que indicam, também, o início da obra de
Giuseppe Terragni. Em contrapartida, avesso a essa nova arquitetura
intitulada racionalista, Marcello Piacentini lidera a União Nacional dos
Arquitetos (UNA), organização conservadora que defende as tendências
clássicas. O movimento racionalista é repudiado pelos arquitetos mais
tradicionais agrupados em torno da UNA.
É interessante resgatar que a grande polêmica se estabelece quando o
crítico de arte Pietro Maria Bardi, que anos mais tarde se casa com Lina
Bo, tenta convencer Mussolini de que o racionalismo italiano era o úni-
co movimento arquitetônico capaz de cumprir na arquitetura a ideologia
fascista, com o texto Petizione a Mussolini per l’Architettura, publicado
em 1931. Mussolini, de fato, inaugura a terceira exposição do Gruppo
7 na galeria de arte de Bardi, em 1932, onde é realizada uma mostra
representativa das tendências do Movimento Italiano per l’ Archittetura
Razionale (MIAR), exacerbando a polêmica entre os racionalistas e os
tradicionalistas da UNA, promovendo a condenação deste estilo, racio-
nalista, e afirmando decisivamente que tal arquitetura em nada refletia
o ideal fascista. Piacentini aproveita a ocasião para se afirmar como o
4
Este conjunto de elementos
foi comum entre as diversas
ideologias instauradas nesta
época. Algumas décadas mais
tarde o mesmo tripé seria
instalado durante os governos
Vargas e Kubitschek no Brasil.
5
O Gruppo 7 foi composto
por Giuseppe Terragni, Carlo
Enrico Rava, Sebastiano Larco,
Ubaldo Castagnola, Guido Frette,
Luigi Figini e Gino Pollini.
6
Atualmente é conhecida como
Casa del Popolo.
32
33
Giuseppe Terragni,
Casa del Fascio,
Como, 1932-1936
Diagramas
axonométricos:
a. centro implícito
como resultado da
intersecção
de quatro planos
b. centro implícito
como resultado
da relação entre
vazio e cheio
c. articulação de
quatro ângulos em
vazio cúbico, com
ângulos dominantes
e um centro
recessivo
d. ângulos cheios
dominantes e um
vazio central
Fonte: http://architettura.
supereva.com/books
Giuseppe Terragni,
Casa del Fascio,
Como, 1932-1936
Fonte: Fiell, 1997: 213
Giuseppe Terragni,
exterior da Casa
del Fascio, Como,
1932-1936
Fonte: Khan, 2000: 46
Giuseppe Terragni,
interior da Casa
del Fascio, Como,
1932-1936
Fonte: http://www.ared.
it/pagfoto
Giuseppe Terragni,
Assento Lariana,
1935-1936
Utilizado no interior
da Casa del Fascio
Fonte: Fiell, 1997: 212
Giuseppe Terragni,
Assento Follia,
1934-1936
Utilizado no interior
da Casa del Fascio
Fonte: Fiell, 1997: 213
Giuseppe
Terragni, Assento
Sant’Elia, 1936
Utilizado no
interior da Casa
del Fascio
Fonte: Fiell, 1997: 212
Giuseppe Terragni.
Casa del Fascio,
Como, 1932-1936
Interior – sala de
reuniões com mobiliário
projetado por Terragni.
Fonte: www.iuav.it/.../immagini/
Italia-ann/index.htm
34
35
A obra está situada no centro histórico de Como, o que lhe confere auten-
ticidade. O edifício se destaca por seu revestimento em mármore branco
botticino e por ter sido construído sobre um plano elevado, com um del-
gado pedestal, elevando todo o edifício como se fosse um monumento.
Como muitos arquitetos italianos de sua geração, por algum tempo
Terragni é ignorado por suas ligações com o movimento fascista. Po-
rém, atualmente, ele é considerado por muitos como o maior expoen-
te da arquitetura moderna italiana, da primeira metade do século XX.
Apesar do trabalho de Terragni, e de poucos outros arquitetos que também
se empenham na qualidade das obras da arquitetura racionalista italiana,
este movimento começa a declinar em meados dos anos 1930
7
.
Assim como Lina Bo Bardi, décadas mais tarde, se preocupa com a
qualidade dos espaços expositivos, os italianos Edoardo Pérsico e Mar-
cello Nizzoli inovam na instalação da primeira Exposição Aeronáutica
Italiana, em 1934. Este modelo de exposição que, posteriormente, viria
a ser imitado inúmeras vezes apresentava uma malha reticulada tridi-
mensional de traves que se eleva no espaço da sala, permitindo a ex-
posição de fotografias e trabalhos gráficos flutuantes.
Pietro Lingeri e Cesare Cattaneo, unidos a Terragni, são responsáveis
pelas últimas obras primas deste movimento, nos contextos conceitual,
estrutural e simbólico.
Sob a égide do fascismo e o declínio do Racionalismo na Itália, Lina Bo
inaugura seus estudos na área das artes. Ela passa quatro anos no Li-
ceu Artístico, antes de cursar a Faculdade de Arquitetura da Universida-
de de Roma que, então, estava sob a direção de Gustavo Giovannoni e
Marcello Piacentini.
Com respeito ao pensamento de Boito, Giovannoni, arquiteto restaura-
dor, consolida a Teoria do Restauro Científico, com critérios que inspira-
ram diretamente a Carta de Atenas em 1931. Lina Bo Bardi o considera
“praticamente o melhor historiador e técnico deste tema”
8
, tornando-se
atenta aos restauros dos edifícios históricos como herança de sua gradu-
ação em Roma.
Por sua vez, como comentado, Piacentini é um neoclássico conhecido
como architetto del regime, por ter sido autor de muitos projetos que repre-
sentam a arquitetura fascista italiana. Ele não se situa exatamente no
cerne da questão moderna, ainda que essa dupla Giovannoni e Piacentini
que dirige o curso de arquitetura na Universidade romana, tivesse grande
destaque na arquitetura italiana. Lina Bo Bardi observa que as disciplinas
privilegiam os temas histórico-arquitetônicos em detrimento dos de compo-
sição e que, como centro de cultura clássica, a cidade é alvo de estudos de
observão das ruínas e dos monumentos antigos, atividade na qual os
alunos aplicam boa parte de seu tempo [Ferraz, 1993: 9].
Em 1940, recém formada, Lina Bo inaugura em Milão o Studio della Via
Gesù 12, escritório de arquitetura e design, com o arquiteto Carlo Pagani
7
Giuseppe Terragni morre
precocemente em Como,
sua cidade natal, em 1943,
aos 39 anos, devido a problemas
físicos e psicológicos decorrentes
dos combates durante a
Segunda Guerra, na qual
ele luta entre 1939 e 1943.
8
(...) prácticamente el mejor
historiador e técnico de este
tema. Conforme entrevista
concedida a Olívia de Oliveira
em 27 de setembro de 1991
[Tradução da autora].
In: 2G (23/24): 253, 2003.
Lina Bo e Carlo Pagani
Desenhos de móveis e interiores em nanquim e
aquarela, realizados no Studio della Via Gesù 12, em
Milão, para a ilustração de artigos de revistas não
especificadas, entre 1940 e 1943
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
e participa da criação do jovem grupo de arquitetos Movimento di Studi
per l’Architettura. Neste mesmo ano, sem a mínima expectativa de pro-
jetos, Lina Bo colabora com a revista Domus e, entre 1941 e 1943, atua
nas revistas Lo Stile, Grazia, Belleza, Tempo, Vetrina e Negozio.
A guerra impõe uma paralisação das construções na Itália. Assim, a
atividade jornalística de Lina Bo substitui a prática arquitetônica. Ainda
36
37
em Milão, ela se dispõe a trabalhar sem remuneração com o intuito de
adquirir experiência ao lado do arquiteto Gio Ponti, diretor das trienais
de Milão e do Editoriale Domus. A arquiteta é assistente de obras, atua
na organização das Trienais de Artes Decorativas e redige textos para
revistas sob a orientação de Ponti.
Ponti é o líder do movimento pela valorização do artesanato italiano. Ele
acredita na união do moderno e do tradicional. Defende um comum
acordo entre as oficinas artesanais e a indústria manufatureira. Duran-
te sua vida, cria interiores e objetos inseridos num classicismo célebre
e assentos com um indelével caráter vernacular. Como a Superleggera,
que é qualificada como “a cadeira perfeita” [Fiell, 1997: 349]. Na Itália
ele é considerado o designer que mais contribui para a união de aspec-
tos como: tradição, artesanato, novos materiais e qualidade.
Uma vez tendo passado por uma experiência ímpar ao lado de Gio Ponti,
Lina Bo Bardi fornece, anos mais tarde, mostras de influências das
idéias do arquiteto.
A revista Domus é dirigida por Ponti entre 1928 e 1940 e de 1947 até
o fim de sua vida. Entre um período e outro na Domus, ele lança a revis-
ta Lo Stile. Na época, Lina Bo continua colaborando com ele, dedicando-
se à ilustração da Stile e, também, a uma campanha jorna-
lística para revistas populares. Durante a Segunda Guerra,
edita a coleção Quaderni di Domus, participando do estudo
e pesquisa sobre o artesanato e o desenho industrial na
esteira de Ponti.
Em 1943, Lina Bo perde seu escritório durante um bombar-
deio. Deixa o ateliê de Ponti e assume a direção da Domus,
durante a ocupação alemã, até que a revista é ordenada
suspensa pela República. Nas palavras de Lina Bo Bardi
[Ferraz, 1993: 10]:
Em tempo de guerra, um ano corresponde a cinqüenta anos, e o julga-
mento dos homens é o julgamento dos pósteros. Entre bombas e me-
tralhadoras, fiz um ponto da situação: importante era sobreviver, de prefe-
rência incólume, mas como? Senti que o único caminho era o da objetividade
e da racionalidade, um caminho terrivelmente difícil quando a maioria opta
pelo ‘desencanto’ literário e nostálgico. Sentia que o mundo podia ser salvo,
mudado para melhor, que esta era a única tarefa digna de ser vivida, o ponto
de partida para sobreviver. Entrei para a Resistência, com o Partido Comunis-
ta. Só via o mundo em volta de mim como realidade imediata, e não como
exercitação literária abstrata.
A arquiteta se livra de uma perseguição da Gestapo por ter escrito um
artigo crítico de arquitetura e urbanismo no editorial da revista Domus.
Anos mais tarde ela relataria: “Escapei por milagre... debaixo da terra.
Cada minuto vivido era uma vitória”. Os alemães haviam lançado o pro-
jeto de cidades subterrâneas e Lina Bo Bardi descreve a passagem de
um período correndo sob a terra para se proteger dos ataques aéreos
[Ferraz, 1993: 11].
Após o fim da guerra, a revista Domus envia Lina Bo e Carlo Pagani, com
o fotógrafo Frederico Patellani, em viagem pela Itália para registrar e
avaliar as áreas afetadas pela guerra.
9
Durante entrevista concedida a
Olívia de Oliveira, Lina Bo Bardi relata momentos dramáticos quando
aborda esta viagem e o grande risco que correu:
Era a semana que havia terminado a guerra, quando me deparei no
meio do Exército Americano. Incrível! Não aconteceu nada por milagre.
(...) Num certo momento ficamos no meio de dois carros blindados.
Dois blindados! Foi uma coisa... Não se via nada! Virei-me para [meu
editor] Mazzocchi e lhe disse: ‘Estou com medo (senti um medo enor-
me), aqui vão nos esmagar’ (...) O exército estava batendo em retirada
em direção a Roma. O combate havia terminado e então restavam as
forças de ocupação que se retiravam.
10
Lina Bo e Carlo Pagani
Composição com desenhos e
colagens feitos no Studio della
Via Gesù 12, em Milão, para
diagramação de páginas de
revistas, não especificadas,
entre 1940 e 1943
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo
Cartão de visitas
com logomarca do
escritório Studio
della Via Gesù 12,
em Milão, entre
1940 e 1943
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Gio Ponti, Cadeira
Superleggera, Modelo
699, 1951-1957
Versão de cadeira
de design tradicional
italiano, extremamente
leve, estruturada em
madeira com assento
em junco entrelaçado
Fonte: Fiell, 1997: 349
9
O relato da arquiteta sobre a
destruição das moradias pelos
bombardeios e sobre as ruínas
que restaram é encontrado em
Na Europa a casa do Homem
ruiu. In: Revista Rio (92):
53-55 e 95, 1947.
10
Era la semana en que había
terminado la guerra, cuándo me
encontré en medio del Ejército
Americano. ¡Espantoso! ¡No pasó
nada de milagro! (...) En cierto
momento nos quedamos en medio de
dos carros blindados. ¡Dos blindados!
Fue algo... ¡No se veía nada! Me di
Ia vuelta hacia Mazzocchi y le dije:
“Tengo miedo (me entró un miedo
tremendo), aqui nos van a machacar”.
(...) El ercito estaba replendose
para ir hacia Roma y retirarse.
El combate había terminado y ahora
quedaban sólo fuerzas de ocupación
que se retiraban. Cf. Entrevista
[Tradão da autora].
In: 2G (23/24): 236, 2003.
38
39
De volta a Roma, Lina Bo encontra-se com Bruno Zevi, que voltara do
exílio nos Estados Unidos, para fundar a Associação pela Arquitetura
Orgânica. Decidem editar, em Milão, um semanário de arquitetura que
foi chamado A – Cultura della Vita
11
. Ela também trabalha para o jornal
Milano Sera como crítica de arquitetura, segundo Carlo Pagani, em um
único artigo
12
, intitulado L’attrezzatura della casa e cujo sub-título é Abo-
lizione del mobile monumento.
Desde seus primeiros escritos italianos, Lina Bo refere-se aos móveis,
na defesa de um design moderno e digno, como atesta o título do artigo
acima. Neste texto, de agosto de 1945, ela defende a tecnologia e fun-
cionalidade como critérios para a escolha dos equipamentos e móveis
domésticos; e afirma que não se deve considerar o ponto de vista exibi-
cionista e decorativo destes, como aconteceu no passado. Aconselha a
simplificação do trabalho feminino por meio de um esquema de trabalho
organizado racionalmente, similar ao industrial. E, por fim, explica que o
“móvel-standard”, que permite inúmeras possibilidades, é a solução
para o problema doméstico daquela metade do século.
13
Este artigo, como muitos outros escritos para periódicos, é endereçado
ao público feminino. Em entrevista a Olívia de Oliveira, Lina Bo Bardi
conta a reação dos colegas por estar prestando serviços à revista femi-
nina Grazia, cujo lema era Un’amica a vostro fianco:
(...) dirigi Grazia, onde tinha quatro páginas; todo mundo estava alterado
comigo e me recriminavam: ‘Você escreve em uma revista feminina?’ Grazia
foi importante. Uma vez recebi uma carta que dizia: ‘O que posso fazer?
Tenho um bebê, mas não tenho dinheiro para um berço, nem nada para fazê-
lo’. Eu disse a ela que pegasse uma caixa pequena de fruta. Assim elaborei
o projeto, evidentemente caseiro, com um acolchoado por dentro, uma col-
cha de retalhos, algo simples, pois eu não tinha nada. Depois eu disse a ela
que pusesse um babadinho ao redor e que pintasse a caixa. Aquilo entusias-
mou! Recebi um monte de cartas, quero dizer, aquilo era algo social.
14
11
Segundo Renato Anelli, Carlo
Pagani informou que a participação
de Lina Bo na revista A - Cultura
della Vita foi pequena, pois ela
teria pedido demissão em agosto
de 1945, antes de publicar um
único artigo. Anelli ressalta
que a informação não pôde ser
confirmada devido à falta de
documentos remanescentes da
época. In: Anelli, 2001: 46.
12
Ainda, segundo Anelli, esta
informação de Pagani também
não foi confirmada, por falta de
documentação comprobatória.
O “único artigo” referido está
anexado no final deste trabalho.
Ibidem.
13
O título do artigo é L’attrezzatura
della casa: Abolizione del mobile
monumento. Che cos’è um mobile-
standard. La casa va arredata per
l’uomo. [Milano Sera: s/p, 1945].
Este artigo foi transcrito em italiano
e está em anexo nesta tese.
14
(...) dirigi Grazia, donde tenía
cuatro páginas; todo el mundo
estaba alterado conmigo y me
recriminaban: “¡Escribes en un
periódico femenino!”. Grazia fue
importante. Una vez recibí una carta
que decía [Lina imposta Ia voz de
una pobre senora]: “¿Qué puedo
hacer? Tengo un bebé, pero no tengo
dinero para una cuna, ni nada para
poder hacerla”. Le dije que cogiese
un cajón pequeño de fruta. Así
elaboré el proyecto, evidentemente
casero, con un acolchado por dentro,
una colcha de retales; algo sencillo
pues no tenía nada. Después le dije
que pusiera un volantito alrededor y
que Ia pintara. jAquello entusiasmó!
Recibí montañas de cartas, quiero
decir, aquello era algo social. Cf.
Entrevista, op.cit. [Tradução da
autora]. In: 2G (23/24): 239, 2003.
Lina Bo Bardi,
Caixote para
bebê, sem data
Provavelmente, a
primeira idéia de um
móvel-caixote surgiu
durante os serviços
prestados à revista
Grazia no episódio,
aqui relatado, da mãe
sem recursos que
solicita um berço
simples para seu bebê.
A imagem remete ao
berço sugerido por
Lina Bo à mãe italiana
durante a Segunda
Guerra. O berço
ilustrado foi executado
a partir de um caixote
de banha refinada
distribuída no Brasil
Fonte: 2G (23/24): 240, 2003
Lina Bo e Carlo Pagani
Estas imagens assinadas por Bo e
Pagani na revista Grazia resumem
o artigo La casa semplice,
editado em 1942, no qual Bo e
Pagani propõem uma série de
intervenções projetuais para os
interiores de uma residência.
Nota-se que o mobiliário foi
definido com a simplicidade e
a racionalidade exigidas pelos
tempos de guerra e pelas
premissas modernas
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo e
Carlo Pagani.
Outra página da
revista Grazia,
desta vez no
artigo 3 Casette
com a mesma
proposta do artigo
anterior, contendo
a perspectiva de
uma sala de jantar
e as plantas com os
arranjos físicos dos
dois pavimentos de
uma residência
Fonte: Instituto
Lina Bo e P. M. Bardi
40
41
As duas imagens referem-se ao sumário e artigo da revista feminina Grazia,
ambos de outubro de 1942, que destacam a seção La casa assinada por Bo e
Pagani. No sumário pode se encontrar, entre os artigos de moda e variedades,
o título La finestra doppia, que trata de isolamento, ventilação e iluminação
na arquitetura. As imagens deste artigo exibem ambientes que destacam
as aberturas na arquitetura moderna, com a seguinte referência: La finestra:
elemento essenziale dell’archittetura moderna! Sublinhadas, neste artigo,
voltado para um público feminino, estas grandes aberturas para o exterior
também foram projetadas com generosidade no primeiro projeto residencial
de Lina Bo Bardi, a Casa de Vidro, de 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo e Carlo Pagani
Três imagens do artigo Un piccolo ufficio,
elaborado para a revista Grazia em agosto
de 1941. Uma proposta para um pequeno
ambiente de trabalho. Perspectivas e planta
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
42
43
Bo e Pagani trabalham como jornalistas profissionais, ou melhor, jorna-
listas técnicos como se autodenominou Lina Bo, pois tratam de temas
relacionados à arquitetura e ao design. O cerne dos preceitos modernos
está no espírito de suas propostas para o público que adquire as revis-
tas. Ela se lamenta: “nós pensávamos em salvar a humanidade com a
arquitetura moderna e o industrial design. Não foi possível...
15
Os dias de Lina Bo Bardi na Europa estão contados. Ela relata que a
Democracia Cristã toma o poder em 1946. Conta que se defrontar com
o retorno do que considera derrotado politicamente, testemunhando a
retomada da direita, a estimula a deixar a Itália e emigrar para o Brasil
[Ferraz, 1993: 12].
Ela se torna atuante na discussão em favor do movimento Racionalista,
e vincula-se a Ernesto Rogers, que também edita a Domus durante o
intervalo em que Ponti estivera ausente. É neste meio que Lina Bo co-
nheceu Pietro Maria Bardi, jornalista e promotor de artes que defende o
Racionalismo na Itália. No ano de 1946, recém-casada com Bardi, viaja
para o Rio de Janeiro.
Formação do espaço moderno no Brasil
Durante e após a Segunda Grande Guerra, muitos europeus imigram
para outros países. O Brasil recebe vários destes estrangeiros, dos
quais uma parte é composta de músicos, artistas plásticos e arquitetos
que, imbuídos do espírito moderno, vêm no país um grande potencial
para o desenvolvimento de seus projetos.
Por outro lado, alguns projetos brasileiros se destacam como uma
arquitetura moderna de caráter local e são reconhecidos internacional-
mente. Como escreve Lina Bo Bardi: “a arquitetura [moderna] brasileira
nasceu como uma bela criança, que não sabemos porque nasceu boni-
ta, mas que devemos em seguida educá-la, curá-la encaminhá-la, seguir
sua evolução...” [Habitat (3): 3, 1951].
A nova política de substituição de importações adotada pelo governo para
a produção interna e, por outro lado, a postura dos arquitetos, cuja ex-
pressão moderna adquire características próprias com a adoção de
elementos que respeitam a cultura e o clima –, são fatores de suma im-
portância na compreensão do estado em que se encontra o país, quando
o casal Bardi se estabelece.
Com o estímulo à produção de bens de consumo para o mercado inter-
no é instituído pelo governo Dutra, a partir de 1947, por meio de uma
política de importações a qual seleciona as aquisições vindas do mer-
cado externo, facilitando a compra de máquinas industriais e limitando
a compra de bens não-duráveis [Furtado, 1976: 248].
A industrialização brasileira é perpetuada mediante esta intervenção do
Estado e outras que se seguiram nos governos de Getúlio Vargas, na
fase inicial do incentivo às indústrias. E, de Juscelino Kubitschek, no
desenvolvimento desta postura perante a indústria e no apoio ao cres-
cimento da urbanização. Tais ações dão um novo impulso ao país e fa-
zem de São Paulo a nova metrópole industrial.
Na segunda metade do século XX, a expansão industrial gera empregos.
Muitos trabalhadores do campo mudam-se para as cidades. Esta migra-
ção altera o perfil brasileiro: de um país essencialmente agrário, para um
país citadino. Este novo perfil gera a necessidade de uma nova urbaniza-
ção e exige projetos arquitetônicos adequados para esta nova realidade
urbana e demanda social. Assim, na época, muitos arquitetos foram men-
tores de projetos públicos, habitacionais ou de alguma natureza social.
Lina Bo e Pietro Maria Bardi chegam ao país em 1946, ano subseqüente
ao fim do período ditatorial de Vargas, e deparam-se com um clima extre-
mado de mudanças diferente do vivido na Itália –, advindo da euforia
pelo desenvolvimento da industrialização. Em conseqüência disso,
uma urgência pelo desenvolvimento urbano e pela construção civil.
No exterior, as únicas informações arquitetônicas do Brasil provêm da
realização do pavilhão brasileiro em Nova York, de 1939, e da mostra de
arquitetura no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), de 1942,
Capa da revista Grazia:
Un’amica a vostro fianco
(Uma amiga a seu lado)
de abril de 1941
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
15
Nosotros pensábamos salvar a
la humanidad con la arquitectura
moderna y el industrial design. No
ha sido possible... Cf. Entrevista,
op. cit. [Tradução da autora].
In: 2G (23/24): 241, 2003.
44
45
cujo catálogo Brazil Builds: architecture new and old, de 1943, é o único
instrumento de acesso à arquitetura brasileira. E Lina Bo Bardi surpre-
ende-se com a produção arquitetônica brasileira.
Após a catástrofe que a Segunda Grande Guerra representa, esta via-
gem é narrada como deslumbrante. Ela fica encantada ao desembarcar
no Rio de Janeiro. Lina Bo Bardi identifica, imediatamente, na obra do
Ministério de Educação e Saúde uma criação moderna com característi-
cas próprias. O edifício do Ministério de Educação e Saúde (MES) cha-
ma sua atenção como “um grande navio branco e azul contra o céu,
uma primeira mensagem de paz” [Ferraz, 1993: 12].
Além do desafio vencido pela equipe brasileira de arquitetos – Lúcio Costa,
Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vascon-
celos – que, sob a consultoria de Le Corbusier, realiza o projeto do MES no
Rio de Janeiro, a arquiteta imigra num momento em que se identificam
outros exemplos de interessantes obras modernas realizadas tamm pelos
irmãos Roberto, no Rio de Janeiro, e por Vilanova Artigas, em São Paulo.
Assim como seus colegas europeus, Lina Bo Bardi se posiciona perante
a nova arquitetura brasileira como uma arquitetura de “muitos defeitos;
é jovem, não teve muito tempo para se deter e pensar, nasceu subita-
mente como uma bela criança...Porém, ao contrário do que se publica
na Europa, a exemplo de Bruno Zevi, ela acredita ser equivocada a afir-
mação de que a arquitetura brasileira estivesse a caminho da acade-
mia. Ela critica o destaque de elementos jesuítas, como os azulejos no
projeto do MES. Defende uma arquitetura moderna brasileira com he-
ranças das experiências criadas e desenvolvidas pela população sim-
ples, como o pau-a-pique, como a casa do seringueiro com piso de
troncos e telhado de capim [Habitat (3): 3, 1951]. A partir destas idéias,
que a acompanham por toda a vida, Lina Bo Bardi será caracterizada
como uma defensora do universo popular brasileiro.
Nessa época, o país é berço de inúmeras obras que falam francamente
em prol de um Brasil moderno, desde obras incipientes com a importa-
ção dos conceitos modernos, como a Casa Modernista em São Paulo,
de Gregori Warchavchik, de 1929, até obras de cunho social como o
Conjunto do Pedregulho no Rio de Janeiro, contemporâneo à chegada
dos Bardi ao Brasil, de Affonso Reidy, 1947-1952.
Uma grande contribuição da arquitetura brasileira com relação aos con-
ceitos modernos é a capacidade dos arquitetos brasileiros, como Lúcio
Costa e Oscar Niemeyer, de adequação climática dos edifícios, observa-
da por Lina Bo Bardi desde o início. As fachadas envidraçadas são pro-
tegidas com muita competência, por meio de brises soleil, contra os in-
tensos raios solares; “o fato é que o movimento moderno brasileiro
esteve mais atento às carências nacionais, demonstrando uma grande
flexibilidade para absorver criticamente essas experiências teóricas à
luz de possibilidades atuais do país [Katinsky in Zanini, 1983: 933].
Contudo, esta preocupação com o clima é pouco observada para o mo-
biliário. Em vista disso, a colaboração da arquiteta, que, neste “cli-
L. Costa, A. Reidy, J. Moreira, C. Leão, E. Vasconcelos e O. Niemeyer
Ministério da Educação e Saúde. Rio de Janeiro, 1936-1943
Exterior do edifício e detalhe onde se vêem os pilotis modernos
e os azulejos de Portinari
Fotos da autora, julho de 2004
Ministério da Educação e Saúde. Rio de Janeiro, 1936-1943
Interiores
Fotos da autora, julho de 2004
46
ma”, se estabelece em São Paulo, no ano de 1947, e, no mesmo ano,
inicia sua atuação como arquiteta e designer.
Com um repertório de registros das ruínas deixadas pelos bombardeios
na Itália, Lina Bo Bardi se conta de que este é um país de paz e
percebe os edifícios e seus autores em sua “simplicidade inteligente e
capacidades pessoais”, relata. De um lado, as aristocracias das Terras,
do Café, da Cana, e, de outro, o povo [Ferraz, 1993: 12].
Pouco tempo depois, em 1947, Pietro M. Bardi é convidado a participar
ativamente das exposições artísticas brasileiras. Assis Chateaubriand pro-
e-lhe a fundão e a direção de um museu em São Paulo. Lina Bo Bardi
reencontra, no trópico, a esperança perdida e pede para Pietro que estabe-
leçam raízes no novo país.
Vive-se um momento de democratização. O período corresponde ao fim
da ditadura Vargas e à nova Constituição (1946), e existe uma abertura
política que tira da ilegalidade o partido comunista por um breve perío-
do. A partir dessa Constituição Brasileira, o governo Dutra apóia a in-
dustrialização e a urbanização. Existe uma expectativa na derrota do
subdesenvolvimento, nas discussões sobre a diversidade cultural, a
disparidade social e econômica e a integração nacional.
Na política existe uma polêmica entre os empresários nacionalistas,
pró-indústria, que pretendem a independência industrial do país, e as
forças conservadoras principalmente dos banqueiros estrangeiros –,
contra a indústria e sua priorização.
Por sua vez, alguns artistas questionam as primeiras idéias laadas pelo
Movimento Moderno. Há dois enfoques para as artes: o realismo social e o
abstracionismo. O primeiro julga a arte abstrata, reconhecida pelas Bienais
e museus de arte moderna, como anti-social e alienada. Estes debates entre
os problemas sociais e a arte gerariam uma série de controvérsias.
É no centro destes eventos que Lina Bo e Pietro Maria Bardi iniciam
uma nova jornada e cooperam, sensivelmente, para o desenvolvimen-
to do design de mobiliário e os interiores das edificações, principal-
mente em São Paulo e Salvador.
Ministério da Educação e Saúde.
Rio de Janeiro, 1936-1943
Móveis desenhados pela equipe,
provavelmente desenhados por
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer
Fonte: Cavalcanti, 2006: 60
48
49
(...) a modernidade guarda um
secreto vínculo com o clássico.
Desde sempre se considerou
clássico aquilo que sobrevive aos
tempos: no entanto, o testemunho
moderno, em sentido enfático, já
não extrai tal força da autoridade
de uma época passada, mas
unicamente da autenticidade
de uma atualidade passada.
Jürgen Habermas
primeiro ato
primeiro ato
Divisão do drama em que se apresentam as personagens, o contexto, o panorama da
história. O seu continuum propicia ao espectador a familiarização com a trama e com o
ritmo dos acontecimentos. A fração de tempo que ocupa sugere, nas entrelinhas, alguns
indícios do conflito, do clímax e do desfecho que sucederão no segundo ato [Gallello, 2008].
51
Os pioneiros do Movimento Moderno configuram novos propósitos e
anseios para as artes, que se entabularam, anteriormente, com trans-
formações de ordem social, política e econômica, caracterizando um
período designado Moderno.
Em conseqüência desta determinação dos primeiros modernos, no foco
do design de mobiliário, articulado com os interiores e a arquitetura,
nota-se o “secreto vínculo”, a que Jürgen Habermas se refere, entre a
modernidade e o clássico [1992: 101].
Esta percepção de Habermas faz um paralelo com muitas peças do
design de mobiliário desenvolvidas pelos arquitetos modernos, conside-
rados clássicos e atemporais, compondo ambientes e dialogando com
a arquitetura. E, é sobre estes expoentes da arquitetura e do design que
se estabelece um outro “vínculo” conjugando os interiores às edifica-
ções, os quais são tratados neste capítulo.
Desde as mais incipientes manifestações modernas, os arquitetos empe-
nham-se em introduzir nos espaços interiores de edificações, alguns dos
conceitos propostos para a arquitetura, como a negação do historicismo,
o desnudamento dos adornos, desenvolvendo formas que derivam da
função. A intenção de unidade aclamada entre as artes vai se difundindo
da arquitetura para os interiores, através dos próprios arquitetos, com o
intuito de transmitir para os interiores as premissas desta arquitetura.
Em 1931, o historiador Siegfried Giedion afirma: “quase todas as inspira-
ções importantes vêm dos arquitetos que atualmente [1931] determi-
nam as normas para o futuro”
1
, referindo-se ao design de mobiliário.
Também Charlotte Benton considera que o legado deixado pelos arquite-
CAPÍTULO 2
Móveis e interiores na
arquitetura moderna:
contextos internacional e local
1
Casi todas las inspiraciones importantes proceden de arquitectos que hoy fijan las pautas
para el futuro. [Tradução da autora]. In: GIEDION, Siegfried. La mecanización toma el mando.
Barcelona: Gustavo Gili, 1978, p. 489.
Lina Bo Bardi
Casa do Dr. K
Interior
Fonte: Ferraz, 1993: 63
53
52
Analisando-se o número de assentos criados nota-se que os assentos
são os artefatos mais desenvolvidos desde o início do Movimento Mo-
derno. Na análise de cadeiras e poltronas concebidas a partir do século
XIX – com a criação da primeira cadeira torneada de Thonet, que, preco-
cemente, imbuiu-se do espírito moderno até os projetos da atualida-
de, nota-se as inúmeras transformações que os assentos revelam em
várias esferas: na estética, na funcionalidade, no aspecto formal, na
utilização de materiais, na tecnologia aplicada, na ideologia inerente, na
imposição política ou econômica, dentre outros. Sejam quais forem as
modificações, variações, substituições, ou seja, o desenvolvimento do
conjunto de necessidades e conveniências, os assentos podem carac-
terizar a história do mobiliário.
Neste trabalho, as poltronas, cadeiras, bancos, banquetas, marquesas,
espreguiçadeiras, entre outros, serão focalizados como componentes
dignos de atenção para a compreensão do desenvolvimento do design
de mobiliário, no contexto dos assentos de Lina Bo Bardi.
Durante o levantamento de informações referentes ao mobiliário de-
senvolvido por Lina Bo Bardi no Instituto Lina Bo e P.M. Bardi são en-
contrados indícios de uma conduta que estabelece a observância às
obras de outros autores. São croquis e anotações pessoais rabisca-
dos em pequenos papéis que o Instituto registra como pertencentes
ao Studio de Arte Palma.
Entre os profissionais registra-
dos por Lina à época do Studio
Palma estão: William Morris, Mi-
chael Thonet, Marcel Breuer, Le
Corbusier, Mies van der Rohe,
Alvar Aalto, Eero Saarinen, Char-
les Eames e Carlo Mollino. Além
destes nomes, constam anota-
ções sobre números e páginas
das revistas Domus e Design for
the Modern Interior, cujos arti-
gos tratam dos mesmos auto-
res citados.
tos, no que diz respeito aos móveis, é muito importante, sem o qual não
se pode compreender a história do design de mobiliário do século XX:
“todos os arquitetos renomados durante os anos de formação dos Movi-
mentos Modernos sentiram a necessidade de projetar pelo menos uma
cadeira moderna, uma extensão natural de suas funções” [1990: 103].
Os arquitetos projetam cidades, edificações, interiores e móveis. Em relão
aos móveis destaca-se o design de assentos, ao qual eles se dedicaram com
mais afinco do que para qualquer outro componente da mobília moderna.
No intuito de interpretar as razões que levam os mais célebres arquite-
tos a desenvolverem assentos, como uma extensão natural, na compo-
sição dos arranjos físicos destinados principalmente aos seus próprios
projetos, poder-se-ia recorrer a George Nelson. Ele menciona o desafio
de projetar uma cadeira, componente do mobiliário, segundo ele, que
mais produz peças originais e mais colabora com a as inovações nas
aplicações dos materiais e técnicas [1953: 7].
Poder-se-ia ainda, aceitar, como argumento, a importância da história
material do mobiliário: “os móveis dizem tudo [...], pode-se reconstituir
um interior doméstico, e o comportamento dos seus habitantes, a partir
de uma única cadeira” [Rybczynski, 1999: 211].
Jean Baudrillard, que faz um paralelo com outros dois conceitos mais
abrangentes – arranjo e ambiência – compreende os assentos como os
“objetos que mais indicam a relação de ambiência” [1973: 50].
Ainda em Baudrillard, é interessante relembrar sua perspectiva sobre
os assentos modernos, considerando que a menor função destes mó-
veis é permitir que as pessoas se sentem. As funções dos assentos
têm como ênfase a sociabilidade e a interlocução, fazendo de todas as
posições e, portanto, de todas as relações humanas uma síntese
livre [1973: 51]. A função do assento não é desvalorizada, contudo aos
assentos modernos se acrescentam novas funções.
No plano funcional, através de sua forma e de seus materiais, o assen-
to possibilita diversas relações físicas e psicológicas com o indivíduo
que o ocupa. Ao mesmo tempo, ele pode representar significados e va-
lores que o relacionam ao seu ocupante em diferentes níveis.
As relações interpessoais são inerentes ao design de mobiliário e, princi-
palmente ao posicionamento dos assentos, pois o os elementos do
mobiliário que mais favorecem os tipos de contatos: intelectual, cultural,
emocional ou espiritual. Da mesma forma, estes componentes da mobília
são necessários nas atividades humanas cotidianas: alimentação, leitura,
repouso, espera, trabalho e lazer. Possivelmente, estes são alguns dos ar-
gumentos mais significativos para justificar o empenho na criação de as-
sentos, não somente pelos designers, mas pelos arquitetos.
Com foco nos desígnios do Movimento Moderno, os arquitetos são movi-
dos pelo desejo de adaptar os interiores à arquitetura, prolongando seus
próprios projetos arquitetônicos até os componentes do arranjo físico.
Lina Bo Bardi, anotações pessoais
Referências a Morris (riscado),
Thonet, Breuer, Mies van der
Rohe, Corbusier e Aalto
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
54
55
E, por outro lado, em setembro de 1948, Lina Bo Bardi idealiza e orga-
niza a Exposição da Cadeira no Masp, então no centro de São Paulo,
com colaboração de Giancarlo Palanti. Quiçá, pela primeira vez no Bra-
sil, esta exposição reúne uma grande variedade de assentos, além da
mostra didática concomitante que fornece imagens e textos explicati-
vos sobre as peças. A exposição demonstra uma grande preocupação
na divulgação das artes consideradas menores, nas palavras de Pie-
tro Maria Bardi:
Embora representasse, sem dúvida alguma, fato dos mais notáveis, a in-
corporação ao acervo do Masp de telas de Velazquez, de Van Gogh, de
Matisse, enfim, de inúmeros outros mestres que hoje ainda são admirados
na Pinacoteca, uma das preocupações mais constantes era o aspecto di-
dático do trabalho em desenvolvimento. Assim, os problemas de História
da Arte ocupavam grande parte das Exposições Didáticas, com escolha de
temas adequados a cada oportunidade. (...) [O museu apresentou] algu-
mas ilustrações de pranchas dedicadas à História do Assento, integradas
com uma apresentação da cadeira, desde o séc XV até aos trabalhos de
Eames e Le Corbusier.
2
Esta exposição é de extrema importância para a disseminação dos valo-
res da cultura material por meio de objetos intimamente ligados ao ho-
mem. Lina Bo Bardi resgata peças de autores locais, mas também dos
mais célebres profissionais internacionais: Thonet, Breuer, Mies van der
Rohe, dentre outros. Não obstante, Lina contagia-se pelo tema que seria
futuramente seu mote principal.
O móvel também tem sua moralidade e sua razão de ser na sua própria
época. Por isso, a cópia de estilos passados com seus babados, suas
franjas, suas ‘originalidades’ o índices de mentalidades incoerentes,
fora da moralidade da vida. A criação popular, alheia quase sempre ao
exibicionismo, é a que mais se aproxima das formas modernas alcança-
das pela especialização.
3
A importância do casal Bardi para o desenvolvimento do design de
mobiliário brasileiro é considerável. Em 1948, época em que Pietro fora
recém contratado como diretor técnico do Masp, um concurso para
mobiliário de baixo custo, promovido pelo Museu de Arte Moderna de
Nova Iorque, é lançado para todos os países interessados.
O concurso destaca a utilização de elementos modernos, que estimu-
la a apresentação de projetos com componentes que permitissem de-
senvolver grupos inteiros de móveis, inclusive mesas, destacava o pro-
grama, objetos que não se enquadrassem nas duas categorias propostas
para a apresentação dos desenhos. A primeira categoria diz respeito a
unidades de assento para uma ou mais pessoas e a segunda solicita
armários para objetos de uso pessoal ou doméstico, ou ambos.
4
Assim, pode-se observar a importância deste concurso que considera a
versatilidade dos objetos propostos, em favor da serialização de seus
elementos básicos, requisito essencial das premissas do desenho in-
dustrial moderno já difundidas na Europa e nos Estados Unidos.
5
Apesar do lançamento do concurso ter-se tornado público por meio de
periódicos, em abril do mesmo ano, Bardi envia onze correspondências
evidenciando o concurso e divulgando o programa entre os jornais e
instituições de São Paulo e Rio de Janeiro.
6
Desde sua fundação, em 1947, além de promover palestras, cursos e
exposições com a finalidade de preparar o blico para a apreciação
da arte contemporânea, em 1951, o Masp assume um importante
passo para a formação de designers com a criação do Instituto de Arte
Contemporânea (IAC), veículo de ensino que foca seu método no mo-
delo pedagógico do Instituto de Chicago que, por sua vez, é baseado
nas premissas da Bauhaus. Lina dirige o Curso de Desenho Industrial,
cujos objetivos são:
Formar jovens que se dediquem à arte industrial e se mostrem capazes de
desenhar objetos nos quais o gosto e a racionalidade das formas corres-
pondam ao progresso e à mentalidade atualizá-la. Aclarar a consciência da
função social do desenho industrial, refutando a fácil e deletéria reprodu-
ção dos estilos superados e o diletantismo decorativo. Ressaltar o sentido
da função social que cada projetista, no campo da arte aplicada, deve ter
em relação à vida.
7
No IAC lecionam Jacob Ruchti, Lasar Segall, Eduardo Kneese de Melo,
Roberto Burle Marx, Oswaldo Bratke, Rino Levi, Giancarlo Palanti, Eli-
zabeth Nobling, Alcides da Rocha Miranda, Thomas Farkas, Rudolf
Klein e Clara Hartoch. Apesar de São Paulo viver um período de desen-
volvimento urbano e industrial, uma das causas consideradas como
justificativa da curta duração do IAC foi a falta de campo de trabalho
estável para a profissão. O curso se inicia em março de 1951 e se
encerra em fim de 1953.
2
BARDI, P.M. Masp Assis
Chateaubriand – ano 30. São
Paulo: Museu de Arte de São Paulo
Assis Chateaubriand, 1978, p. 18.
Os grifos são da autora.
3
Bardi, Lina Bo Bardi. Antigamente
não se cuidava muito da
comodidade das cadeiras, Diário
de São Paulo, São Paulo, 18 set.
1948. Os grifos são da autora.
4
Título atribuído por Pietro Maria
Bardi: Concurso Internacional
de Desenho de Móveis de Preço
Baixo – 1948, In: Arquivo Histórico
Documental do Museu de Arte
de São Paulo, caixa 3, pasta 22,
Programa.
5
Como será visto no capítulo 3,
no ano anterior (1947) fora
observado pelo casal Bardi a
existência de uma lacuna na
produção moveleira moderna no
país, quando da busca de um
assento moderno para o primeiro
auditório do Masp no centro de
o Paulo. Assim, a expectativa de
um concurso de tal porte seria um
grande desafio para os profissionais
das artes no Brasil, pois, dentre
os membros do júri, estavam
o arquiteto Mies van der Rohe,
representando o Departamento
de Arquitetura do Illinois Institute
of Technology e Gordon Russel,
representando o Conselho de
Desenho Industrial da Grã Bretanha.
6
Estas correspondências foram
enviadas entre 12 e 13 de abril
de 1948. Dentre os destinatários
estavam: Mário Pedrosa pelo Correio
da Manhã, Antonio Bento pelo Diário
Carioca, ambos periódicos do Rio
de janeiro, a Escola Nacional de
Belas Artes ainda no Rio de Janeiro,
a Escola de Belas Artes, o Liceu de
Artes e Ofícios, a Escola Politécnica
e a Faculdade de Arquitetura do
Instituto Mackenzie, todos em
São Paulo. Há ainda um bilhete,
datado de 6 de julho de 1948, do
arquiteto Rino Levi para Pietro Maria
Bardi, comentando a divulgação
do concurso. In: tulo atribuído
Concurso Internacional de Desenho
de Móveis de Preço Baixo – 1948,
Arquivo Histórico Documental do
Museu de Arte de São Paulo, caixa
3, pasta 22, Cartas enviadas.
7
RUCHTI, Jacob. Instituto de Arte
Contemporânea, Habitat (3): 62-63,
abr./mai./jun. 1951. Os grifos são
da autora.
Aula do curso de Desenho Industrial no IAC, Masp, 1951-1953
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 42
56
57
Outra manifestação significativa para a divulgação do design de mobiliário
e interiores modernos é a publicação da Revista Habitat a partir de 1950.
Esta revista, dirigida por Lina Bo Bardi, se torna um importante veículo de
divulgação de uma estética moderna menos racional e mais funcionalista.
Além de inúmeros textos publicados em diversos periódicos em prol do
saber artesanal ou pré-artesanal do povo brasileiro, Lina funda com Pie-
tro Maria Bardi em 1950, a revista Habitat, cuja edição é feita por Lina
durante cinco anos e, mais tarde, assumida por intelectuais locais como
Geraldo Ferraz. As capas das revistas e os textos produzidos por Lina Bo
Bardi são importantes instrumentos de identificação da cultura brasileira,
tratando de projetos e autores modernos, seja na arquitetura, no design
ou nas artes.
8
Porém, mais importantes para o con-
texto da tese, e utilizados como informações precio-
sas neste trabalho, são os constantes artigos sobre
o design, a cultura local, os costumes, o saber arte-
sanal do povo, desde os índios, caiçaras, caboclos,
caipiras, enfim, da grande maioria do povo brasileiro.
Lina defende nestes textos, como poucos o fizeram,
uma postura entre o moderno e o vernacular para
arquitetura e o design brasileiros.
Em vista do exposto neste capítulo, busca-se apre-
sentar e discutir as contribuições relevantes dos as-
sentos nos ambientes modernos: um dos artefatos
que mais m se destacado, sendo possivelmente o
de maior evidência até o presente, quanto à varieda-
de e à quantidade de concepções: os assentos. Mui-
tos destes foram propostos por arquitetos, para
seus próprios projetos arquitetônicos.
No intuito de identificar um repertório visual do de-
sign de assentos anterior, concomitante e posterior
ao período de atuação profissional de Lina Bo Bardi,
uma sistematização de peças encontra-se em anexo
neste trabalho, representando o desenvolvimento do
design de assentos modernos, sendo referências
anteriores e contemporâneas à obra de Lina Bo Bardi, ou reflexos dos
artefatos projetados por ela, que acrescem para um melhor entendimen-
to sobre a inserção dos assentos da arquiteta neste contexto.
Com base neste Repertório Iconográfico em anexo, apresenta-se a
seguir um Quadro-síntese deste levantamento. Este quadro identifica
características de alguns assentos criados por Lina Bo Bardi – indi-
vidualmente ou em parceria com outros arquitetos e as relaciona
com os próprios assentos e os de outros autores, no intuito de esta-
belecer algumas linhas que identificam atributos, aspectos ou traços
em comum de cada sucessão de assentos. O quadro indica autoria,
denominão do assento e a numeração das chas detalhadas no
final da tese; também obedece a uma ordem cronológica distinguin-
do os assentos com participação de Lina Bo Bardi dos assentos
brasileiros e internacionais.
8
Lina utilizou também o pseudônimo
Alencastro nos editoriais.
Lina Bo Bardi (idealização
e organização) e Giancarlo
Palanti (colaboração)
Exposição A Cadeira, 1948
Fonte: P.M. Bardi, 1956: 150
Lina Bo Bardi (idealização e organização)
e Giancarlo Palanti (colaboração)
Exposição A Cadeira, fase de montagem, 1948
Ao fundo, Lina Bo Bardi organizando a exibição de
cadeiras e a mostra didática sob o mesmo tema
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 18
Lina Bo Bardi (idealização
e organização) e Giancarlo
Palanti (colaboração)
Exposição A Cadeira, painéis
da Mostra Didática, 1948
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 18
Lina Bo Bardi,
capa da Habitat 1, 1950
Observa-se o assento do
Studio Palma, projeto de
Giancarlo Palanti, à esquerda
Fonte: Habitat (1): capa, 1950
Lina Bo Bardi, estudo para
capa da Habitat 1, 1950
Fonte: Ferraz, 1993: 64
Séc. XVII
REPERTÓRIO ICONOGRÁFICO
quadro-síntese
1850 1870 1890 1900 1910 1920 1930
1987
Lina Bo Bardi
Frei Egídio
Autor
desconhecido
Cadeira
italiana
1859
Michael Thonet
Modelo n
o
14
1877
Joseph Beverly
Fenby
Tripolina
1898-99
Adolf Loos
Cadeira
1895
Ernest Gimson
Cadeira
1902
Peter Behrens
Cadeira
Wertheim
1897
Charles Rennie
Mackintosh
Poltrona
1923
Gerrit Rietveld
Cadeira Berlin
Anos 1920
Celso Martinez
Carrera
Cadeira
Patente
1927
Pierre Chareau
Modelo
n
o
MC767
1926
Mart Stam
Modelo n
o
533
1908
Josef
Hoffmann
Sitzmaschine
1927
Ludwig Mies
van der Rohe
Modelo
n
o
MR10
1917-21
Gerrit Rietveld
Cadeira
Vermelho Azul
1927-28
Marcel Breuer
Modelo n
o
B33
Fonte: Fiell,
1997: 166 (não
catalogado)
1932-34
Gerrit Rietveld
Cadeira
Zig-Zag
1934
Carlo Scarpa
Modelo
no. 765
1940
Frank Lloyd
Wright
Cadeira
1938
Jorge Ferrari-
Hardoy,
Juan Kurchan e
Antonio Bonet
Cadeira
Butterfly
1947
Joaquim
Tenreiro
Cadeira de
três pés
1928
Le Corbusier,
Pierre Jeanne-
ret e Charlotte
Perriand
Chaise-longue
Anos 1930
Gregori
Warchavchik
Cadeira
1936
Giuseppe
Terragni
Sant'Elia
Anos 1930
Cimo
Poltrona Cimo
1986-87
Lina Bo Bardi
Modelo
H_modelo
cad machê
1948
Lina Bo Bardi
Cadeira Tripé
1948-51
Lina Bo Bardi
Cadeira
Preguiçosa
1948-49
Lina Bo Bardi
Espregui-
çadeira
1979-80
Lina Bo Bardi
Cadeira
Sesc Pompéia
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira
escritório
1948
Lina Bo Bardi
Cadeira “Z”
DOBRÁVEL
REDES
MADEIRA
ESPREGUIÇADEIRA
THONET
FIBRAS
CANTILEVER
ESCRITÓRIO 1
1945
João Baptista
Vilanova Artigas
Cadeira para
escritório
1940
1947
Lina Bo Bardi
Cadeira
para auditório
menor do
Masp – centro
1948
Lina Bo Bardi
Cadeira Tripé
'metal'
1948-49
Lina Bo Bardi
Cadeira
com taboa
1948
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Cadeira “Z”
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira
escritório 2
1968
Lina Bo Bardi
Poltrona
auditório
do Masp –
Av Paulista
1948-49
Lina Bo Bardi
Poltrona
de balanço
1957
Lina Bo Bardi
Banco baixo
para Cantù
1987
Lina Bo Bardi
Cadeira
Girafinha
1951
Lina Bo Bardi
Bardi’s Bowl
1947-50
Lina Bo Bardi
Cadeira
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira com
pés em "U"
ESCRITÓRIO 2
COMPENSADO
TIGELA
GIRAFINHA
AUDITÓRIOS
CÓCORAS
PÉS EM “U”
TRAVAS DE
CARRO DE BOIS
1925-27
Marcel Breuer
Cadeira
Wassily
1930
Jean Prouvé
Chaise
standard
demontable
1932-33
Alvar Aalto
Modelo n
o
60
1932
Alvar Aalto
Modelo n
o
60
1932-33
Alvar Aalto
Modelo n
o
69
1947
Lina Bo Bardi
Cadeira para
auditório
menor do
Masp - centro
1948-49
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Poltrona
de balanço
1948
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Cadeira
1950 1960 1970 1980
1948
Giancarlo
Palanti
Poltrona
1948-51
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Espreguiçadeira
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira para
escritório
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira para
escritório
1959-60
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório
Mamb
1986-87
Lina Bo Bardi
Modelo em papel
machê para o
Belvedere da
Sé, Salvador
1987
Lina Bo Bardi,
Marcelo Ferraz
e Marcelo
Susuki
Frei Egídio
1979-80
Lina Bo Bardi
Cadeira para
Sesc Pompéia
1980
Lina Bo Bardi
Banco para
Igreja Espírito
Santo do
Cerrado
Anos 1970
Lina Bo Bardi
Estudo de
cadeira para
Sesc Pompéia
1980
Lina Bo Bardi
Caixotinho
1967
Lina Bo Bardi
Cadeira
de beira de
estrada
1968
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório do
Masp
1980
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório
Sesc Pompéia
1948
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Cadeira “Z”
1948
Lina Bo Bardi
Cadeira Tripé
'madeira'
1948
Giancarlo
Palanti
Poltrona
1957
Sérgio
Rodrigues
Poltrona Mole
1957
Paulo Mendes
da Rocha
Cadeira
Paulistano
Anos 1950
Joaquim
Tenreiro
Espreguiça-
deira
1959
Júlio Katinsky e
Jorge Zalszupin
Poltroninha
1956
Sérgio
Rodrigues
Cadeira
Lúcio Costa
1959-60
Verner Panton
Cadeira
Panton
1955
Arne Jacobsen
Cadeira
Dinamarquesa
1962-63
Robin Day
Cadeira Hille
1948-51
Lina Bo Bardi
Cadeira
Preguiçosa
1948-49
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Espreguiçadeira
1955-56
Eero Saarinen
Tulipa
1951-57
Gio Ponti
Supperleggera
1968
Piero Gatti
Cesare Paolini
e Franco
Teodoro
Sacco
1972
Jean Gillon
Poltrona
Jangada e
banquinho
1976
Freddy
van Camp
Cadeira
Xavante
1973
Sérgio
Rodrigues
Poltrona
Xikilin
1977
Oscar
Niemeyer
Espreguiça-
deira
1981
Paulo Mendes
da Rocha
Espreguiça-
deira
1990
1993
Marcelo Suzuki
Cadeira
Borboleta
1990
Gilberto
Carlos Lima
Poltrona
Maria Bonita
1994
Humberto
e Fernando
Campana
Poltrona Ninho
1948-50
Rino Levi
Poltrona de
auditório
1948-51
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Cadeira
1948-51
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Poltrona P12
1947-50
Lina Bo Bardi
e Giancarlo
Palanti
Cadeira
1948
Giancarlo
Palanti
Poltrona P4
1947-50
Giancarlo
Palanti
Cadeira
1948-51
Lina Bo Bardi
Cadeira
Preguiçosa
1950
Jean Prouvé
Cadeira
Antony
Anos 1950
Flávio de
Carvalho
Cadeira de
percintas
Anos 1950
Zanine Caldas
Espreguiça-
deira
Anos 1950
Zanine Caldas
Poltrona
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira
1950
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório
maior do
Masp – centro
1957
Lina Bo Bardi
Desenho
de banco
de fazenda
1957
Lina Bo Bardi
Banco baixo
para Cantù
1957
Lina Bo Bardi
Cadeira
para Cantù
1950
Lina Bo Bardi
Cadeira
1951
Lina Bo Bardi
Bardi’s Bowl
1959-60
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório do
Mamb
1963-65
Eero Arnio
Poltrona Ball
1968
Lina Bo Bardii
Poltrona para
auditório do
Masp
1968
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório
do Masp -
Av Paulista
1980
Lina Bo Bardi
Banco para
Igreja Espírito
Santo do
Cerrado
1980
Lina Bo Bardi
Poltrona para
auditório
Sesc Pompéia
1987
Lina Bo Bardi,
Marcelo Ferraz e
Marcelo Susuki
Cadeira
Girafinha
1978
Oscar Niemeyer
e Anna Maria
Niemeyer
Poltrona Baixa
1991
Francisco
Fanucci
Banco Caipira
1992
Gilberto
Pacheco
Fagundes
Cadeira Olle
1989
Fernando
Jaeger
Cadeira
Spaguetti
1972
Frank O. Gehry
Cadeira
de balanço
Easy Edges
1982
Mario Botta
Seconda
Anos 1950
Sérgio
Bernardes
Cadeira Rede
1955
Geraldo
de Barros
Cadeira
60
61
Após o reconhecimento de algumas linhas de afinidades propostas
no Quadro-síntese, relativas aos assentos, este capítulo percorre al-
guns interiores modernos, nos âmbitos internacional e local. Desta-
cam-se os interiores por meio de um relato cronológico, primeiramen-
te no contexto estrangeiro, que foi denominado internacional, onde
cada passo é identificado para a disseminação dos conceitos que
levaram à composição dos ambientes modernos até o m dos anos
1940, período imediatamente posterior aom da Segunda Guerra e
do traslado de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi ao Brasil. O outro
contexto é intitulado local, no qual se buscam as origens, o desen-
volvimento e o amadurecimento dos conceitos modernos nos interio-
res de edificações brasileiras.
Tanto nos contextos internacional quanto local, abordados neste traba-
lho, notam-se os assentos como protagonistas dos interiores propos-
tos, sendo que os outros componentes da mobília se compõem de ele-
mentos coadjuvantes nos ambientes apresentados.
Contexto internacional
Em meados do século XIX, as acirradas revoltas advindas das Revoluções
clamam pelo ideal econômico-social defendido por Marx. Este novo pensa-
mento influencia conceitos utilizados em edificações, interiores e mobiliário.
Numa época em que os móveis ainda possuíam uma camuflagem histo-
ricista, o início do desnudamento dos ornamentos não é bem aceito
pela então tradicional burguesia deste período, assim como aconteceu
com a arquitetura. Porém, apesar de despidas do que tal tradição con-
sidera indispensável, August Thonet obteve êxito com suas cadeiras em
madeira envergada iniciadas nos anos 1830.
9
A linha de cadeiras em madeira envergada ganha notoriedade, pois es-
tes modelos são populares entre os artistas. Pablo Picasso possui um
destes modelos em seu estúdio, e o mesmo é representado por August
Renoir e Henri de Toulouse-Lautrec em suas pinturas.
A cadeira de Thonet e suas variações são utilizadas por Le Corbusier em
seus primeiros interiores modernos. O arquiteto acredita ser este um
objeto ímpar – perfeitamente funcional, elegante, bem concebido e preci-
so em sua execução. Provavelmente por estas razões, ele a utiliza em
suas ambientações, como no Pavilhão L’Esprit Nouveau, de Paris, em
1925, e na sala de estar da Residência 13, em Stuttgart, em 1927.
Além disso, na Alemanha os assentos de Thonet são utilizados na am-
bientação do Apartamento Mínimo, projeto encabeçado por Ernst May
em Frankfurt nos anos 1920. Em inúmeros interiores estes assentos
também são empregados no Brasil em projetos dos mais célebres ar-
quitetos, como na Casa Domschke de Vilanova Artigas.
Observa-se, em croquis e em um modelo idealizado por Lina Bo Bardi, o
desenvolvimento de um estudo para cadeira que possui um espaldar
muito semelhante ao da célebre cadeira de Thonet.
9
Criada em 1859, a cadeira
Modelo n. 14 é um dos
resultados desta busca mais
bem sucedidos dos últimos
150 anos. Ela consiste em
um conjunto de apenas seis
peças e cujo conceito se pauta
na economia, durabilidade e
simplicidade.
Página do catálogo da
Maple & Co. e cadeiras
em madeira curvada de
Michael Thonet, 1925
Mobiliário utilizado no
Pavilhão L’Esprit Nouveau
Fonte: Marcus, 2000: 44
Le Corbusier e Pierre Jeanneret,
Pavilhão L’Esprit Nouveau, Paris, 1925
Interior. Em 1925, Corbusier e Jeanneret ainda
não haviam desenvolvido um design para o
mobiliário de seus interiores. Eles elegem dois
tipos de assentos para os interiores de seu
pavilhão, uma poltrona estofada da Maple
& Co. e uma poltrona da linha de Thonet
Fonte: Marcus, 2000: 36
62
63
Lina Bo Bardi, estudo
para cadeira, sem data
Cadeira abaixo, modelo em papel
machê, com espaldar semelhante
ao projetado por Thonet na
linha de madeira envergada
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi
Le Corbusier e Pierre Jeanneret,
Pavilhão L’Esprit Nouveau, Paris, 1925
Fonte: Khan, 2001: 31
Vilanova Artigas,
Casa Domschke,
São Paulo, 1974
Interior utilizando
poltronas Thonet
Foto: Nelson Kon, 1997
Le Corbusier e Pierre Jeanneret,
Sala de estar da Residência 13,
Weissenhof – Stuttgart, 1927
Fonte: Sembach et alii, 2002: 101
Catálogo de cadeiras para Apartamento
Mínimo, Frankfurt, sem data
Fonte: Kopp, 1990: 58
64
65
Após um longo período de racionalidade ofuscado pelos preceitos
medievais, o Renascimento surge com novos anseios germinados
por posturas assumidas no início do culo XIX, quando o interesse
por transformação se intensificou com as idéias de Viollet-le-Duc
10
e William Morris
11
.
O movimento Arts and Crafts, resultante dos ideais de Morris, é o pri-
meiro passo para o surgimento da arquitetura e design modernos.
É início de uma postura voltada para o aspecto social, cujos reflexos
poderemos observar nas décadas seguintes em muitas atitudes dos
arquitetos e designers modernos, inclusive no trabalho de Lina Bo
Bardi no Brasil, na valorização de nosso universo popular, como vere-
mos no próximo capítulo.
Concomitantemente, assim como na arquitetura,uma profusão es-
tilística a favor dos estilos do passado que caracterizavam os interio-
res ecleticamente. Contudo, o discurso de Morris influencia outros
movimentos, como o Art Nouveau, e mais tarde também o Art Déco.
Com a vinda destas expressões artísticas, esta mescla de estilos
pôde ser apaziguada em favor de condutas mais homogêneas quanto
aos móveis e à arquitetura.
10
Viollet-le-Duc defendeu a valorização
dos materiais e sua aplicação
de forma natural. Ele julgou ser
importante a união entre a forma e
o que ele chamava de necessidade
– o que, no fim do século XIX, seria
defendido como a forma segue
a função, pelo arquiteto proto-
moderno Louis Sullivan.
11
Movido pelo desejo de promover
a estrutura social e a produção
artesanal nos moldes das
corporações medievais,
defendidas anteriormente por
John Ruskin, Morris idealizou uma
produção artística, na qual ele
refutava o historicismo e visava à
funcionalidade, ambos indícios da
futura postura moderna. Porém,
ainda na linha de Ruskin, ele criticou
veementemente a industrialização
e o liberalismo econômico e
considerou o fim da distinção
entre o artesão e o artista.
Red House, Bexley Heath, 1859-60
Residência projetada pelo arquiteto
Philip Webb, cujos móveis, sob
influência do gótico, são desenhados
pelo próprio arquiteto e por seu amigo,
e futuro morador, William Morris
Fonte: Grey, 1997: 60
Mobiliário da Morris and Company – catálogo, 1910
A empresa de Morris representa uma nova postura
no design de mobiliário, que se caracterizou pela
aplicação dos conceitos propostos por ele
Fonte: Fiell, 1997: 55
Victor Horta, Casa Tassel, Bruxelas, 1893
A arquitetura e a decoração de Victor
Horta utiliza o ferro, com uma coerência
estética inconfundível. A ductibilidade do
material lhe permite fornecer curvas ao
interior e ao exterior de suas obras
Fonte: Sembach et alii, 2002: 23
Henry van de Velde, escritório para
exposição da Sezession, 1899
Os móveis de Van de Velde foram
fundamentais para difundir o Art Nouveau,
sua tendência era mais radical e nítida
do que outras soluções francesas,
como vemos na funcionalidade de sua
escrivaninha de 1896, apresentada na
Exposição da Sezession, em Viena
Fonte: Sembach et alii, 2002: 24
66
67
Aproximadamente duas décadas antes da Primeira Guerra, o Art Nouve-
au se instala e, de pronto, se caracteriza mais intensamente nos inte-
riores, com suas linhas abundantes, sinuosas e suas composições as-
simétricas. Destes interiores, são dignos de destaque os projetos dos
belgas Victor Horta e Henry van de Velde, respectivamente, a Casa Tas-
sel e o escritório para exposição da Sezession.
Ainda na primeira década do século XX, Antoni Gaudí fornece elementos
para alguns projetos, que contribuem para a difusão dos interiores mo-
dernos por meio de linhas vinculadas ao Art Nouveau. As casas Milà e
Battló são exemplos fundamentais da utilização de formas exóticas e
sinuosas nos ambientes, com uma coerência indiscutível com sua obra
arquitetônica, Gaudí aproxima minuciosamente a arquitetura do homem
e dos detalhes da natureza como observado por Lina Bo Bardi:
O irregular é mais comum que o regular, diz Norbert Wiener em sua “Ciberné-
tica”; e uma arquitetura que desperta as mesmas emoções que uma paisa-
gem da natureza, que procura cancelar-se no ambiente natural, é a própria
antítese da arquitetura.
Arquitetura como trabalho do homem que mais transforma a natureza - o
trabalho mais “artificial” e por isto mesmo o mais humano. Gaudí dizia: “o
plano não existe na natureza” e via a arquitetura como continuação de for-
Antoni Gaudí,
Casa Milà,
Barcelona,
1905-1910
Fotos da autora, jul 2005
mas naturais, como integração de um universo religioso. Se o plano não
existe na natureza é extremamente importante que o homem o use como
elemento de comunicação de uma mensagem dos esforços humanos. [Fer-
raz, 1993: 173]
Conforme Benton, foi a partir do Arts and Crafts que os arquitetos con-
sideram “o interior como coração da composição arquitetônica”, além
de assumirem que o design de mobiliário é uma “extensão natural de
sua função” [1990: 103]. “Por meio destes novos conceitos, notamos
a arquitetura e o design caminharem em direções convergentes, com
maior intensidade em suas inter-relações” [Ortega, 2003: 55].
Antoni Gaudí,
Casa Battló,
Barcelona,
1905-1907
Foto da autora, jul 2005
Antoni Gaudí, Casa Battló,
Barcelona, 1905-1907
Fonte: Sembach et alii, 2002: 24
68
69
12
Neste contexto, Adolf Loos lançou
seu manifesto contra os adornos,
aplicando esta orientação à
arquitetura, porém, não ousou
modificar os interiores que a
sociedade vienense julgava ideais.
Como exemplo destas inter-relações recorremos aos interiores projeta-
dos por Charles Rennie Mackintosh que introduz uma genuína unidade
entre a arquitetura e o mobiliário modernos, manifestada por meio de
uma estética menos sinuosa e mais racionalista do que a de seus con-
temporâneos defensores do Art Nouveau.
A estética proposta por Mackintosh influenciaria diretamente os artis-
tas da Sezession, como Otto Wagner, Joseph Maria Olbrich e Josef Hoff-
mann. Deste modo, surge em Viena, um mobiliário com novo vocabulá-
rio de elementos geométricos.
12
Charles Rennie
Mackintosh, sala
de reuniões da
Escola de Glasgow,
1897-1909
Sintonizadas com a
arquitetura proposta,
o ambiente interno
recebe cadeiras de
espaldar alto
Fonte: Kliczkowski, 2002: 30
Charles Rennie Mackintosh,
Escola de Glasgow, 1897-1909
Fonte: Kliczkowski, 2002: 23
Charles Rennie
Mackintosh, Casa
Hill, 1902-1903
Na Hill House
prevalecem os
ambientes com
linhas mais
simplificadas
e racionais.
Mackintosh
desenvolveu muitos
componentes para
o interior da casa,
como chaminés,
móveis e acessórios
Fonte: Sembach et alii,
2002: 55
Charles Rennie Mackintosh, Casa Hill, 1902-1903
A unidade estética entre a casa e as formas da paisagem
foi considerada por Mackintosh, o conjunto proposto
possui cumplicidade no entorno, fachadas e interior
Fonte: Kliczkowski, 2002: 54
Charles Rennie Mackintosh, Casa Hill, 1902-1903
Nesta imagem observa-se o cuidado com as relações
entre os elementos que compõem o interior
Fonte: Sembach et alii, 2002: 71
70
71
É interessante resgatar que Lina Bo Bardi, quando recém-instalados os
móveis do restaurante do Sesc Fábrica Pompéia, exclama ao ver o resul-
tado: “Parece Mackintosh!”.
13
Provavelmente, porque ela se inspira no
desenho asséptico do arquiteto e designer escocês ou porque se surpre-
ende ao perceber a analogia entre os conceitos aplicados por ambos.
Enquanto na Áustria, verifica-se o predomínio de alterações formais na
arquitetura e nos ambientes modernos; na Alemanha, Holanda e França,
o caráter social é o passo seguinte e decisivo para a sedimentação dos
conceitos modernos.
As origens do interesse dos arquitetos e designers sobre a temática
social são importantes neste contexto, pois Lina Bo Bardi é profunda-
mente comprometida com esta questão, o que reflete significativamen-
te em seu trabalho e será abordada nos capítulos 3 e 4.
No início do século XX, o móvel ainda alia-se a uma tradicional estética
vinda do artesanato e é exclusividade de uma camada social mais abo-
nada. As idéias voltadas ao aspecto sócio-econômico são inicialmente
exploradas pelos alemães, e os primeiros ambientes a traduzir esta
preocupação estão diretamente ligados ao nome de Peter Behrens.
O desenvolvimento do processo industrial e urbano, somado ao aumen-
to da classe média, contribui para a emergência de uma produção que
não visa ao valor estético de suas peças. No rebate desta postura, sur-
ge a Deutscher Werkbund (União Alemã do Trabalho), iniciada em 1907,
tendo como mentor Hermann Muthesius, que obsta desta vulgarização
do design, desenvolvendo móveis que buscam equilibrar a arte, o arte-
sanato e a indústria, estabelecendo a redução dos elementos ornamen-
tais e a racionalização do design e dos meios de produção.
Nesta época, muitos arquitetos substituem as formas curvas pelas re-
tas. Na linha da Werkbund, Peter Behrens adota as formas cúbicas em
seus interiores. O trabalho desenvolvido por ele integrou edificações
com instalações, eletrodomésticos e suas embalagens, design gráfico e
publicidade. Conhecido como design empresarial integrado, este concei-
to introduzido por ele na indústria AEG de Berlim, entre 1907 e 1914, é
mais um passo para a definição dos conceitos modernos. Sob forte in-
fluência de Behrens, deve-se citar três nomes dos célebres arquitetos
Walter Gropius, Mies van der Rohe e Le Corbusier, que com ele traba-
lham entre 1908 e 1911. Muitas das orientações propostas por Gro-
pius para a Bauhaus advêm deste contato com Behrens.
13
Conforme depoimentos
de Francisco Fanucci e
Marcelo Ferraz à autora.
Otto Wagner,
Caixa Econômica Postal,
Viena, 1906
Um dos principais
edifícios do racionalismo
do início do século XX
Fonte: Sembach et alii, 2002: 66
Josef Hoffmann,
Sanatório de
Purkersdorf,
Áustria, 1906
Influenciado por
Mackintosh, Hoffmann
explorou os quadrados
e retângulos.
No hall do Sanatório
Purkersdorf, ele
utilizou a poltrona
de Koloman Moser,
projetada em 1902,
que elegeu essa mesma
linguagem formal
Fonte: Fiell, 1997: 117
O Café Museum de Loos é
um exemplo dos interiores
decorados propostos por ele,
onde ele propôs uma cadeira
que é uma reinterpretação
da célebre cadeira de Thonet
criada quarenta anos antes
Fonte: Sembach et alii, 2002: 62
Lina Bo Bardi, André Vainer
e Marcelo Ferraz,
Sesc Fábrica Pompéia, 1977
Mobiliário para o restaurante
Fotos: Marcelo Ferraz
72
73
É na esteira destas propostas racionais cartesianas que Behrens e seus
insignes discípulos se instalam, tanto na arquitetura, quanto nos interiores.
Esta conduta que conquista outras vertentes modernas na arquitetura e no
design transcende décadas e alguns dos móveis propostos tornam-se clás-
sicos do design, na segunda e terceira décadas do século XX, como a ca-
deira Barcelona de Mies van der Rohe e a Chaise-longue de Le Corbusier.
Sobre as manifestações em defesa da arte ou da indústria, podemos
resgatar o célebre debate entre Van de Velde na defesa das concep-
ções artísticas – e Muthesius – na defesa da padronização associada à
Werkbund que acontece em Colônia, em encontro realizado a partir da
primeira exposição da Werkbund.
14
Durante a Primeira Guerra, a neutralidade permite que a Holanda se
desenvolva no sentido de afinar as possibilidades modernas incipientes
na Alemanha. Assim, Theo van Doesburg e Piet Mondrian criam o Neo-
plasticismo, divulgado na revista De Stijl.
Sintonizado com este movimento holandês, Gerrit Rietveld inaugura
uma possibilidade de habitação na Schröder Huis que, indiscutivelmen-
te, se alia aos conceitos iniciados com a Werkbund, como a utilização
de elementos geométricos, racionalização das formas e economia. É
interessante destacar a ambientação proposta no pavimento superior
desta residência que propõe um espaço multifuncional: durante o dia
pode ser utilizado como estar, área de refeições ou trabalho e durante
a noite é utilizado como dormitório, pois a área permite a composição
de três dormitórios, com o simples deslizar de painéis divisórios.
Peter Behrens,
sala de jantar,
Villa Darmstadt, 1901
Interior planejado
para sua própria
residência, no qual o
arquiteto ainda utiliza
as linhas curvas
Fonte: Sembach et alii,
2002: 36
Peter Behrens, sala de jantar,
interior planejado para a
Exposição de Artes Aplicadas
Dresden, 1903
Após abandonar as linhas
curvas, este interior projetado
apenas dois anos após
o de Darmstadt já adota
predominantemente as linhas
retas, quadrados e cubos
Fonte: Sembach et alii, 2002: 73
Peter Behrens, sala de jantar, Villa Schede, Wetter dans la Ruhr, 1904
A simplicidade das formas geométricas puras é marcante nos interiores de Behrens
Fonte: Sembach et alii, 2002: 84
Walter Gropius, sala de jantar,
Villa em Hanovre, 1913
Nota-se entre os dois ambientes
propostos, o de Behrens
(Villa Schede) e este de Gropius,
uma grande interlocução formal,
já que em ambas as soluções são
adotadas mesas com geometria
muito semelhante e poltrona com
espaldares arredondados
Fonte: Sembach et alii, 2002: 85
14
Apesar dos esforços de Van de
Velde, o caminho proposto nesta
mesma exposição era em prol da
industrialização. Então, mesmo
antes da Primeira Grande Guerra,
na Alemanha já havia propostas
de projetos comprometidos
com os materiais e as técnicas
construtivas para promover a
padronização.
Gerrit Rietveld,
Casa Schröder, 1924
Ambiente que otimiza o espaço
híbrido do pavimento superior
íntimo e social –, por meio
de divisórias deslizantes que
demarcam a área íntima e ao serem
movidas definem a área social
Fonte: Khan, 2000: 19
74
75
Por outro lado, o movimento moderno alemão, que já se anunciava com
Behrens e Gropius, pôde se solidificar após a Primeira Guerra, com
a criação da Bauhaus em 1919, por Walter Gropius.
Em 1923, a sala de diretoria da sede da Bauhaus, em Weimar, é total-
mente planejada pelo próprio Gropius. Extremamente geometrizados,
privilegiando os cubos, os componentes deste ambiente foram desen-
volvidos pelos alunos da escola.
Outro ambiente, proposto por Gropius para a loja berlinense Feder, tem
grande importância na produção de peças que conferem um vocabulário
único entre si. Os materiais e dimensionamento empregados viabilizam
a utilização de elementos componíveis que se unem, formando um ar-
ranjo físico simples e harmônico.
A Alemanha defende um interior de caráter social,que arquitetura pro-
posta algum tempo objetivava o mesmo. Assim, nesta direção, um
projeto para uma “habitação mínima” é executado pela Bauhaus em
1923, no sentido de racionalizar as construções. Esta experiência, a
Haus am Horn, visa à simplificação de tarefas no lar por meio de estudos
funcionais e ergonômicos, apesar de ainda não ter sido possível a seria-
lização dos componentes das cozinhas nesta tentativa da Bauhaus.
15
Também o Neues Bauen, estabelecido na Alemanha, prioriza as solu-
ções sociais, atentando para as necessidades da população menos
abastada. Um exemplo para os interiores domésticos é a criação, em
Frankfurt, de novas possibilidades para as cozinhas, com o Rationalisir-
te Hausarbeit (trabalho doméstico racionalizado) e os móveis
16
.
Na cozinha da Casa de Vidro, de 1951, Lina Bo Bardi estabelece condi-
ções que se aproximam da funcionalidade das operações domésticas
promovidas na Alemanha de então.
17
Durante a gestão de Hannes Meyer na Bauhaus, iniciada em 1928, a
escola esteve mais atenta às pesquisas e experimentos quanto aos
interiores e aos objetos domésticos. A partir de uma orientação sócio-
política, Meyer promove a pesquisa junto aos consumidores e relações
com as organizações sindicais. Estas novas diretrizes da Bauhaus de-
ram continuidade ao que vinha sendo proposto por Gropius, demons-
trando a estreita ligação entre o Construtivismo Russo e a Instituição.
Alguns anos antes, em 1925, na Exposição de Artes Decorativas de
Paris, a temática era predominantemente o Art Déco, estilo que introduz
a geometrização das formas e produz interiores célebres como, por
exemplo, os ambientes da Maison de Verre em Paris, de Pierre Chareau.
Por outro lado, o pavilhão soviético apresenta formas planas, ainda
mais geométricas, e materiais em seu aspecto original, como madeira
sem pintura. Tais características convergem com a influência da Revolu-
ção Russa nos interiores soviéticos.
Não muito distante deste modo de proceder, representando o L’Esprit
Nouveau, o Pavilhão de Le Corbusier e Pierre Jeanneret, propõe uma
ambientação mais funcional, que enfatiza o cotidiano, desprezando ele-
mentos decorativos e utilizando móveis simples, como os assentos dos
fabricantes Maple e Thonet
18
. Esta solução do L’Esprit Nouveau revela-
se extremamente simplista junto ao público e é depreciada pela crítica
da época, assim como o Pavilhão Russo.
Porém, Corbusier não sucumbe, ao contrário, prova que sua proposta
para a exposição francesa é somente uma amostra de sua machine à
habiter. Em 1929, no subúrbio parisiense de Poissy, é contruída uma
síntese das idéias de Corbusier, a Villa Savoye, na qual ele coloca em
prática os conceitos que prega quanto à arquitetura. Algumas das idéias
defendidas por ele dizem respeito diretamente aos interiores, tais como:
integração com o exterior, planta independente da estrutura, interior aber-
to, planos coloridos no interior, aplicação das pesquisas sobre o Modu-
lor
19
e móveis embutidos.
Neste caso, observa-se uma estreita relação entre os conceitos da ar-
quitetura defendida por Corbusier e a Casa de Vidro de Lina Bo Bardi
projetada em 1951, a qual faz da transparência uma aliada na incorpo-
ração do exterior para a área social da casa.
Também na Casa Valéria Cirell
20
, projetada por Lina Bo Bardi em 1958,
vê-se uma proposta de abertura dos espaços sociais internos e a inte-
gração destes com os externos, aproximando-se do resultado de Corbu-
sier em Poissy. Porém, em Cirell, existe a estreita relação com as condi-
ções locais, relativas aos materiais, como o uso de sapé; à imposição
climática, na adoção de uma varanda; e principalmente no uso abun-
dante da vegetação nativa que brota, não no jardim da cobertura
como também nas faces das paredes externas, intenção esta que é
mais explorada nos primeiros estudos para a casa.
15
“Essa simplificação das tarefas
domésticas foi objeto de estudo,
em sua maioria, por arquitetos que
pretendiam proporcionar conforto
e facilidade de manutenção. Esta
foi mais uma evolução na criação
de móveis, objetos e equipamentos
residenciais industrializáveis,
práticos, funcionais e com
custos reduzidos” In: ORTEGA,
Cristina Garcia. Móvel moderno
– uma arquitetura, repensando a
identidade de princípios projetuais:
o caso Gerrit Rietveld.
São Paulo: FAUUSP, 2003, p. 76.
[Dissertação Mestrado]
16
No início deste capítulo, ver imagen
do Catálogo de Assentos para
Apartamento Mínimo.
17
Este tema será retomado no capítulo
4, na abordagem da cozinha da
Casa de Vidro de Lina Bo Bardi.
18
No início deste capítulo, ver:
gina do catálogo da Maple & Co.
e cadeiras em madeira curvada de
Michael Thonet. Mobiliário utilizado no
Pavilhão L’Esprit Nouveau, de 1925.
19
O Modulor foi um sistema de
proporções elaborado e utilizado por
Le Corbusier. Surgiu do desejo de
não converter ao sistema métrico
decimal às unidades como pés
e polegadas. Ao invés disso, Le
Corbusier passou a se referenciar
a medidas modulares baseadas
nas proporções de um indivíduo
imaginário (inicialmente com 1,75 m
e mais tarde com 1,83 m de altura).
O sistema foi mais tarde elaborado
baseando-se na proporção áurea
e na seqüência de Fibonacci. A
aplicação dessas proporções pode
ser vista em diversos edifícios de
Le Corbusier (notadamente na
Unidade de Habitação de Marseille).
20
A Casa de Valéria Piacentini Cirell,
hoje é denominada
Casa do Jardim de Cristal.
Walter
Gropius,
Sala da diretoria,
Bauhaus, Weimar, 1923
Fonte: Sembach et alii, 2002: 94
Walter Gropius,
Ambiente proposto
para a loja Feder de
Berlim,1929-1930
Apresentado na
Exposição da Deustcher
Werkbund, Paris
Fonte: Sembach et alii, 2002: 105
76
77
Pierre Chareau,
Maison de Verre,
Paris, 1932
Arquitetura, interior
e mobiliário de
Chareau, os móveis
têm influência
do Art Déco
Fonte: Sembach et alii,
2002: 136
Publicidade do L’Esprit Nouveau
difundida entre 1923 e 1925 pela empresa
americana Innovation, comparando o
ultrapassado e obscuro período anterior
ao atual e iluminado período moderno.
A imagem apresenta a organização
proposta por Corbusier e Jeanneret quanto
à disposição e características dos armários
introduzidos pelo L’Esprit Nouveau
Fonte: Marcus, 2000: 39
Le Corbusier e Pierre Jeanneret,
Villa Savoye, Poissy, 1928-1931
Fonte: Marcus, 2000: 59
Le Corbusier e
Pierre Jeanneret,
plantas do projeto
da Villa Savoye,
Poissy, 1928-1931
Fonte: Khan, 2000: 82
Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte
Perriand, Salon d’automne, Paris, 1929
Sala dita salle d’habitation composta por
móveis exclusivamente dos três autores
Fonte: Sembach et alii, 2002: 112
Lina Bo Bardi,
Casa de Vidro,
São Paulo, 1951
Interior e exterior
separados pela
transparência
do vidro
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Casa Valéria Cirell,
São Paulo, 1958
Ilustração de Lina de um estudo para a
elevação principal. Estudos de Lina – planta
e elevação principal. Imagem do exterior
Fonte: Ferraz, 1993: 116-118
78
79
Corbusier-Perriand-Jeanneret se esforçam para obter resultados que
distinguissem as funções dos móveis. Nos assentos são determinados
diferentes materiais para diferentes funções: estrutura e local de apoio
do corpo humano (assento e encosto).
É a temática da arquitetura proposta pelo funcionalismo: desvincular
os diferentes componentes de uma obra, sendo que, na arquitetura, a
estrutura se torna independente das paredes; e, no design de móveis,
a estrutura também independe do assento, encosto ou mesmo do
tampo de uma mesa [Blake, 1966: 76-77].
Tanto na Exposição de Artes Decorativas de 1925, em Paris, quanto na
Villa La Roche e no Pavilhão Suíço da Universidade de Paris, dentre ou-
tros, são utilizados assentos Thonet, prestigiados por Corbusier.
21
Enquanto Corbusier e sua equipe preocupam-se com a característica
plástica de seus móveis, Marcel Breuer prioriza, racionalmente, as
técnicas construtivas. Assim como a Wassily, “as cadeiras de Breuer
eram inteiramente racionais, tecnicamente impecáveis e, incidental-
mente, muito belas” [Blake, 1966: 74]. Os móveis metálicos de Breu-
er são uma grande conquista do design, em termos de equilíbrio entre
técnica e função.
O móvel já não é uma espécie de monumento doméstico, e sim um objeto
útil, prático, simpático. Por isso, para solucionar o problema do móvel,
Breuer se remete ao linearismo intensamente expressivo de Kandinsky e
Klee – de Kandinsky porque no móvel ainda se reflete uma intuição do es-
paço; de Klee porque o móvel é como um “personagem”, uma imagem a
ser interpretada, ainda que apenas com o uso que lhe é dado. [Argan,
1996: 279]
O espaço aberto e geométrico do pavilhão alemão da Exposição Interna-
cional de Barcelona, de 1929, é um grande exemplo da contribuição de
Mies van der Rohe para os ambientes internos da arquitetura moderna.
Os planos perpendiculares e a vedação em vidro, aço e alvenaria reves-
tida em mármore, associados a uma disposição de móveis extrema-
mente asseada e simples conferem ao pavilhão uma característica mi-
nimalista. A Cadeira Barcelona e uma banqueta são concebidas para
este evento, elementos mínimos para a composição deste interior.
21
A indústria Thonet produziu e
comercializou também móveis em
estrutura tubular metálica, não só
para a equipe de Corbusier, como
também para Marcel Breuer, por
meio da Thonet-Mundus, empresa
multinacional à qual pertencia a
Irmãos Thonet.
Por volta de 1960, a Weber também
produziu móveis de Corbusier –
omitindo os nomes de Perriand
e Jeanneret em seu catálogo. A
partir de 1965, a Cassina iniciou a
industrialização de alguns destes
móveis, e, com os passar dos anos,
outros móveis também ficaram sob
a responsabilidade desta indústria,
os quais podem ser vistos em seu
catálogo, com os devidos créditos
a Corbusier, Perriand e Jeanneret
até a atualidade. In: MARCUS,
George H. Le Corbusier – Inside the
machine for living. New York: The
Monacelli Press, 2000, p. 130-160.
As necessidades humanas eram
avaliadas por Corbusier como
universais, o que o desviou das
soluções pessoais e o aproximou
das prototípicas. A proposta
de Corbusier era de viver com
eficiência: uma casa é uma máquina
para morar, e uma poltrona é uma
quina para sentar, e assim por
diante” In: ORTEGA, op. cit., p. 81.
Marcel Breuer e Alvar Aalto, interior de apartamento, Zurich, 1936
Poltrona em primeiro plano de Aalto e cadeiras em segundo plano de Breuer
Fonte: Sembach et alii, 2002: 124
Mies van der
Rohe, Pavilhão de
Barcelona, 1929
Foto da autora, 2005
Mies van der Rohe, planta do
Pavilhão de Barcelona, 1929
Fonte: Khan, 2000: 85
80
81
Também Alvar Aalto é responsável pelo desenvolvimento de uma postu-
ra, com relação aos interiores: a relação com a natureza. Esta ligação é
observada na arquitetura, no design e também nos interiores, e consti-
tui um conjunto de partes inseparáveis. Isso explica o tratamento empí-
rico e o aspecto menos geométrico que ele outorga a sua morfologia
moderna. Os interiores do auditório da Biblioteca de Viipuri e da Villa
Mairea são exemplos destes interiores, produzidos por Aalto, que forne-
cem uma orientação mais flexível para o interior moderno.
Durante sua longa carreira, Frank Lloyd Wright projeta os interiores de
suas obras, propondo móveis que estabelecem uma identidade com
seus edifícios, como outros arquitetos de sua geração. Assim como
Aalto e mais tarde Lina Bo Bardi, ele é adepto da relação entre a arqui-
tetura e o ambiente natural, fundamentando a racionalidade orgânica
que integra o exterior e o interior de suas obras.
Por outro lado, Wright promove uma articulação entre o mobiliário e a
arquitetura, adaptando os móveis ao edifício, propõe o contato entre
ambos e, tornando, às vezes, difícil identificar o que faz parte da arqui-
tetura e o que faz parte do arranjo físico, como se pode ver no interior
proposto para a Torre de Pesquisas do edifício Johnson Wax.
Como o Larking, o edifício administrativo da Johnson Wax é concebido
como um projeto completamente integrado aos móveis e cadeiras de
trabalho desenvolvidos especialmente para o espaço interior da arquite-
tura. Apontando,dessa maneira, para o futuro advento do conceito de
“sistema” para o mobiliário de escritórios.
Alvar Aalto, Auditório
da Biblioteca de
Viipuri, Vyborg,
Rússia, 1933-1935
Fonte: Cuito, 2002: 21
Alvar Aalto, Interior da
Villa Mairea, Noormarkku,
Finlândia, 1937-1939
Fonte: Cuito, 2002: 23
Frank Lloyd Wright, escritório do arquiteto, 1907
Réplica do escritório de Wright montada para a
Exposição Frank Lloyde Wright’s Work, no Art Institute
of Chicago, 1907. A sala montada como se o arquiteto
pudesse chegar e sentar-se para trabalhar a qualquer
instante tem influência dos interiores japoneses
Fonte: Sembach et alii. 2002: 89
Frank Lloyd Wright,
Edifício Johnson Wax,
Racine, Wisconsin,
1936-1950
Fonte: Stungo 1999: 62
Frank Lloyd Wright,
Edifício Johnson Wax,
Racine, Wisconsin, 1936-1950
Grande sala de trabalho com
arranjo físico aberto, onde as
peças de mobiliário conjugam-se
com as curvas do edifício.
A organização do lay-out proposto
se beneficia da inusitada
morfologia estrutural proposta por
Wright, cujos pilares têm grande
destaque no interior do edifício
Fonte: Pfeiffer, 2002: 144
Frank Lloyd Wright, Edifício Johnson Wax,
Racine, Wisconsin, 1936-1950
Laboratório circular da Torre de Pesquisas,
onde as bancadas de trabalho foram
adequadas à parede curva do pavimento
Fonte: Pfeiffer, 2002: 148
82
83
Apesar da importância que estes projetos têm no
desenvolvimento dos veis corporativos, é um
outro tipo de móvel de desenho muito mais simpli-
ficado, imbuído de uma linguagem moderna, que
nos conduz a citar Wright dentre as possíveis influ-
ências que Lina Bo Bardi sofre. Trata-se de uma
cadeira de 1940 (ver ficha 49), estruturada com
poucas superfícies de madeira, com a mesma in-
tenção da Zig-zag de Rietveld, projetada entre
1932 e 1934, e das últimas propostas de mobili-
ário de Lina Bo Bardi, como os assentos para o
Sesc Pompéia, concebidos por volta de 1980.
Durante o período da Segunda Guerra, um hiato na concepção de
móveis e interiores, assim como de quase todos os produtos que não
suscitam urgência de desenvolvimento durante este processo. Contu-
do, alguns arquitetos se dedicam ao design de interiores e começam a
se destacar nesta época.
É o caso do americano Charles Eames e do finlandês radicado nos Es-
tados Unidos, Eero Saarinen, que, no início de suas carreiras, se asso-
ciam e são premiados pelo Museu de Arte de Nova Iorque (MoMA), onde
ambos apresentam, em 1941, o ambiente para o concurso Organic De-
sign in Home Furnishings, lançado pelo próprio MoMA. Os móveis pro-
postos assumem diversas formas, pois permitem diversos posiciona-
mentos: duas poltronas se unem e se transformam num sofá, e os
elementos componíveis para os armários formam uma série de compo-
sições. Este resultado orgânico estabelece um marco para os ambien-
tes modernos deste período em diante. As peças componíveis parecem
perfeitas para acompanhar a velocidade que o século XX começava a
exigir, num período em que surgiriam as primeiras idéias sobre uma
máquina que centralizaria infinitas atividades, com uma rapidez inimagi-
nável para a época: o computador.
Charles Eames e Eero Saarinen,
móveis projetados para concurso
do MoMA, 1940-41
Os arquitetos receberam o
primeiro prêmio do concurso
Organic Design in Home
Furnishings promovido pelo
MoMA em 1940, o ambiente
foi apresentado em exposição
no próprio museu em 1941.
Desenhos para o concurso
do MoMA. O design das
poltronas possui características
denominadas orgânicas, e os
armários modulares propostos
permitem várias combinações
Fonte: Sembach et alii, 2002: 162-63
Charles Eames,
residência do arquiteto
em Santa Mônica, Califórnia
Ambiente realizado com destaque
aos elementos utilizados
na construção industrial
Fonte: Sembach et alii, 2002: 167
Carlo Mollino, Casa Minola, Turim, 1944
Estar da residência de Ada e Cesare Minola, onde
observa-se a integração de formas retas e curvas na
lareira, nas poltronas e na bancada em primeiro plano
Fonte: Sembach et alii, 2002: 174
Carlo Mollino,
mesa para Casa Singer, Turim, 1950
Apesar de elementos retos, o design da
mesa destaca as curvas, o que significou
para a época um retorno ao Art Nouveau,
ou ao próprio barroco piemontês
Fonte: Sembach et alii, 2002: 176
84
85
Eames sempre considera os princípios de fabricação industrial e, a
partir deste ponto de vista, concebe móveis importantes para o de-
sign do século XX. No m dos anos 1940, um projeto arquitetônico
se destaca por empregar elementos utilizados na construção indus-
trial – como caixilhos, treliças e cobertura – componentes estes que
se integram ao interior proposto harmonicamente: sua própria casa
em Santa nica.
Os conflitos bélicos estão bem mais próximos da realidade européia do
que da americana, fato que inibe a concepção, desde a criação de no-
vos móveis até a construção civil. Contudo, ainda em 1944, o italiano
Carlo Mollino cria uma atmosfera diferente para a sala de estar da Casa
Minola, em Turim, oferecendo uma outra tendência.
Influenciado tardiamente por Gaudí, Mollino apresenta ambientes com
elementos curvilíneos, nos quais são dispostas peças industrializadas
que utilizam uma morfologia extravagante de curvas sensuais que inspi-
rariam diversos arquitetos, como Arne Jacobsen.
A utilização do contraplacado de madeira nos móveis de Mollino per-
mite a definição de dois modos distintos de curvar a madeira. O pri-
meiro é o recorte da madeira por meio de movimentos sinuosos, no
sentido perpendicular ao paralelismo das placas justapostas, e o se-
gundo é a curvatura do compensado no sentido paralelo destas pla-
cas, que formam o compensado de madeira, este último método de
curvar fora utilizado desde os anos 1930, por Alvar Aalto, Gerald
Summers, dentre outros.
Ambas as formas de curvar este material são utilizadas concomitante-
mente em alguns móveis de Mollino como na estrutura da mesa para a
casa Singer. Mais simplificado que o segundo, que necessita de tecno-
logia mais avançada.
O primeiro modo de curvar o contraplacado de madeira também é utili-
zado por Lina Bo Bardi nos móveis do Studio de Arte Palma, entre 1948
e 1951, e, poucos anos depois, também por Zanine Caldas, que se
aproxima mais da morfologia de Mollino, como se observa em algumas
peças do Studio Palma (ver Repertório Iconográfico fichas 66, 70, 71,
74) e Cantù (ver capítulo 3).
o o poucos os arquitetos de renome que se dedicam à criação
de móveis apropriados para seus projetos. São exemplos os já men-
cionados Corbusier, Breuer, Aalto e Mies van der Rohe. Peter Blake
destaca dois fatores que podem ter despertado este grande interes-
se e dedicação. Ele cita o estímulo da própria arquitetura moderna,
na medida em que propõe uma unidade entre as edificações e seus
interiores. A transparência das fachadas implica na evidência do in-
terior, o que acaba fazendo do arquiteto um responsável pelo que se
do exterior. Por outro lado, Blake também considera mesas e ca-
deiras “excelentes cobaias para fazer, simples e diretamente, expe-
riências com certos conceitos estéticos e técnicos”. Os móveis com-
pactuam com as mesmas necessidades que são características na
arquitetura como: forma, função, proporção, estrutura e tecnologia.
Ainda na visão de Blake,
numa cadeira esses problemas podem ser estudados com muito mais
presteza (e economia) e a interação dos mesmos pode ser estudada com
muito mais rapidez do que num arranha céu. Por essa razão, um móvel tem
servido muitas vezes de um esboço em pequena escala, por meio do qual
um arquiteto pode cristalizar algum novo conceito filosófico sem grandes
despesas. [1966: 79]
Aos poucos, os arquitetos distanciam-se da tarefa do design de móveis,
e esta atribuição passa para os designers, apesar de existirem diversos
arquitetos contemporâneos que ainda estão envolvidos com o design
de assentos e outras peças, como Mario Botta Frank Gehry e os brasi-
leiros que fizeram parte da equipe de Lina Bo Bardi: Marcelo Ferraz,
Francisco Fanucci e Marcelo Suzuki, dentre outros.
Contexto local
A revolução que o movimento moderno provoca no mobiliário a partir
dos anos 1920, na Europa e nos Estados Unidos, não atinge o Brasil de
imediato. Alienado pela estrutura sócio-econômica oligárquica, o país
contempla inerte esse desenvolvimento no hemisfério norte.
É evidente que o mobiliário não acompanha os anseios modernos das
artes e da arquitetura. Na Semana de 1922, a ausência de móveis mo-
dernos não corrobora com o desenvolvimento de uma nova linguagem
para o mobiliário, o que adia o declínio da reprodução de peças estilís-
ticas em voga na época.
Há uma grande lacuna de recursos disponíveis para a execução de pe-
ças modernas. Este fato é reflexo da relativa falta de desejo, do próprio
consumidor, de ter uma arquitetura de interiores e mobiliário que não
fossem os instituídos, o que prejudica, ainda mais, qualquer intenção
de metamorfosear o móvel de estilo para um móvel moderno.
O panorama brasileiro, apresentado a seguir, resgata alguns ambientes
propostos por arquitetos e designers, que se inquietam com a questão do
móvel moderno e desenvolvem interiores que dialogariam com a arquite-
tura moderna.
A finalidade é inserir Lina Bo Bardi neste contexto, para melhor compre-
ender os móveis e arranjos físicos, resultantes de seu trabalho.
Tal entendimento se deve, em grande medida, à pesquisa sobre -
veis modernos brasileiros, realizada por Maria Cecília Loschiavo dos
Santos, que deu origem ao livro Móvel Moderno no Brasil (1995). Pre-
cursora no resgate desta expressão de nossa cultura material, a refe-
rida pesquisa possibilita um registro pioneiro e de destacada relevân-
cia sobre um período dito Moderno.
22
22
Cf. SANTOS, Maria Cecília Loschiavo
dos. Móvel Moderno no Brasil. São
Paulo, Studio Nobel: FAPESP: Editora
da Universidade de São Paulo, 1995.
86
87
O início de uma nova postura
Ainda incipiente neste processo, um dos que se antecipam na ambien-
tação moderna neste país é o suíço John Graz, que deixa registros de
sua obra na pintura, na criação de móveis e objetos e nas artes gráfi-
cas. Influeciado pelo Art-Déco, Graz cria ambientes respaldados no
conceito bauhausiano de design total, aplicado pela primeira vez no
Brasil. Apesar de não encontrarmos tais ambientes preservados, as
poucas imagens disponíveis apresentam não só móveis e arranjos -
sicos de sua autoria, como também luminárias, painéis, vitrais e afres-
cos [Santos, 1995: 40].
No processo de sedimentação dos ambientes modernos no Brasil, Gre-
gori Warchavchik é considerado um de seus pioneiros, ao transmitir
conceitos disseminados na Europa, por meio de seus discursos e
projetos, que foram das primeiras manifestações na arquitetura e de-
sign modernos no Brasil [Ferraz, 1965: 129-153].
Em 1925, ele assina o manifesto Acerca da Arquitetura Moderna, pri-
meiro texto sobre a arquitetura moderna publicado no Brasil. O manifes-
to dialoga francamente com os ideais dos artistas da Semana de Arte
Moderna, no mesmo ano.
Ainda na capital paulista de 1929, a construção da residência à rua
Itápolis origem à Exposição da Casa Modernista, que permanece
aberta durante quase quatro semanas e recebe mais de vinte mil visi-
tantes, número este bastante representativo, que essa casa repre-
sentava os anseios de uma pequena elite que anseia pela instalação do
Movimento Moderno em São Paulo.
23
Esta casa já possuía elementos estruturais em concreto armado, além
de apresentar um conjunto em comum acordo com os conceitos moder-
nos: uma obra de arte total. Conjugada de forma coerente no que diz
respeito à arquitetura, design e às artes plásticas, com grande contri-
buição de obras de arte e objetos cedidos para a Exposição por intelec-
tuais e principais artistas modernistas da época.
24
Warchavchik ainda sublinha a economia e a importância da disposição
interna em prol da funcionalidade:
Construir uma casa a mais cômoda e barata possível, eis o que deve
preocupar o arquiteto construtor da nossa época de pequeno capitalis-
mo, onde a questão de economia predomina sobre todas as mais. A be-
leza da fachada tem que resultar da funcionalidade do plano da disposi-
ção interior, como a forma da máquina é determinada pelo mecanismo
que é a sua alma.
25
Na sala de estar da moradia à rua Itápolis, o arquiteto cria um ambiente
arrojado para a época, com formas geométricas presentes em todos os
componentes – móveis, luminária e tapete –, paredes pintadas em ver-
de claro em contraste com o veludo violeta dos estofados, que, por sua
vez, se destaca sobre o duco prateado da estrutura de madeira.
26
John Graz,
Residência
Carvalho da
Fonseca, sala
de jantar, 1925
Mobiliário cujas
formas foram
influenciadas pelo
Art-Déco, estilo
que nesta data,
1925, alcançaria
grande destaque
na Exposição de
Artes Decorativas
em Paris, daí o
temo Art-Déco.
Os materiais
utilizados foram
madeira e veludo,
este último era
bastante utilizado
como revestimento
de estofados
na época
Fonte: Santos, 1995: 41
23
Construida entre 1927 e 1928, a
casa da Rua Santa Cruz, em São
Paulo, é considerada a primeira
casa modernista do país, onde
Warchavchik materializou as
inquietações por uma nova forma
de conceber a arquitetura. Ainda
sem utilizar materiais e técnicas
que a Nova Arquitetura exigia,
pois, todavía, não havia recursos
disponíveis para a execução da
estrutura em concreto armado e
para a impermeabilização das lajes.
24
Foi um grande desafio criar um
interior com elementos modernos
numa época em que São Paulo,
apesar de passar por uma fase de
desenvolvimento industrial, ainda
não se afinara com as solicitações
que o pensamento racionalista
moderno exigia. Assim, o interior
foi totalmente desenvolvido por
Warchavchik, desde os mínimos
detalhes, compreendendo
esquadrias, caixilhos, maçanetas
e grades, até o mobiliário e as
luminárias. A atitude do arquiteto
foi um estímulo para outros
arquitetos que também se iniciaram
na atenção ao interior e na arte
de conceber móveis, convergentes
com a arquitetura moderna
então em amadurecimento.
25
WARCHAVCHIK, Gregori.
Acerca da arquitetura moderna.
Manifesto publicado no Correio da
Manhã, Rio de Janeiro, em 01 de
novembro de 1925. Republicado
em Depoimentos (1), Centro de
Estudos Brasileiros, GFAU, São
Paulo, s/d, Arte em Revista (4)
(Arquitetura Nova), São Paulo, em
agosto de 1980, e em Arquitetura
Moderna Brasileira: Depoimento de
uma Geração coletânea de textos
organizada por Alberto Xavier),
ABEA/FVA/PINI – Projeto Hunter
Douglas, São Paulo, 1987.
26
Estes móveis pertenceram por mais
de setenta anos a Geraldo Ferraz
e seus descendentes, atualmente
o mobiliário integra a coleção
de Adolpho Leirner. In: GREGORI
Warchavchik Mobiliário da Casa
Modernista: um resgate, 75 anos
depois, na Coleção Adolpho Leirner.
Folder da Exposição na Pinacoteca
do Estado de São Paulo. Pesquisa
e texto: Regina Teixeira de Barros.
13 set a 5 out, 2003, s/p.
Gregori Warchavchik,
Casa Modernista, Sala de estar,
rua Itápolis, São Paulo, 1929-1930
A partir dos conceitos modernos
de economia e funcionalidade,
Warchavchik desenvolveu este
ambiente, no qual nota-se também
a atenção pela questão estética
Fonte: Gregori Warchavchik
(folder da exposição) 2003:s/p
Gregori Warchavchik,
Biblioteca e sala de leitura
da Associação Paulista
de Medicina, Edifício
Martinelli, São Paulo, 1931
A proposta de um
ambiente moderno
para um edifício com
conceito arquitetônico tão
antagônico foi um grande
desafio para Warchavchik
Fonte: Santos, 1995: 45
Gregori
Warchavchik,
Residência A.
Schwartz, Rio de
Janeiro, 1932
Escrivaninha
com poltrona de
tubos cromados
estofada em couro
Fonte: Santos, 1995: 45
88
89
A formação de um caráter local
A partir dos anos 1940, observa-se de um modo
mais acentuado, no mobiliário brasileiro, a mani-
festação de algumas características locais.
Durante a Segunda Grande Guerra, o arquiteto aus-
tríaco Bernard Rudofsky passa quatro anos traba-
lhando em São Paulo e inteira-se de materiais dispo-
níveis de características genuinamente brasileiras.
Torna-se um precursor no uso de nossas fibras natu-
rais, como a juta, o cânhamo e o sisal, na execução
de mobiliário materiais que seriam mais intensa-
mente aplicados aos móveis a partir do final dos
anos 1940, sobretudo por Lina Bo Bardi.
27
Rudofsky desenvolve para o concurso de desenho
industrial promovido pelo MoMA, Organic Design in
Home Furnishings, uma linha de poltronas estrutu-
radas em tubos metálicos, desprovida de estofa-
mentos. Esta estrutura permite a disposição de
assentos e encostos em tecidos de fibras naturais
brasileiras. A simplicidade formal dos elementos
estruturais propostos atende diretamente às solici-
tações funcionais de um assento, sem quaisquer
artifícios inúteis. E, estes móveis atenderiam efeti-
vamente a solicitação dos organizadores do con-
curso, que definiram que
um projeto ou design pode ser chamado de orgânico quando existe uma or-
ganização harmônica das partes dentro de um todo, de acordo com a estru-
tura, material e propósito. Dentro desta definição não pode haver ornamen-
tação vã, ou supérflua; entretanto, a parte da beleza não é menos importante
do que a escolha ideal do material, o refinamento visual e a elegância dos
materiais pretendidos para o uso.
28
O concurso premia o Brasil com os assentos de Bernard Rudofsky, expos-
tos no próprio MoMA em 1941, mesmo ano em que Charles Eames e Eero
Saarinen são vencedores com o mobiliário componível, como citado ante-
riormente neste catulo. O resultado alcançado por Rudofsky confere
maior leveza ao mobilrio, deixando de lado as peças com estruturas mais
robustas laqueadas e os estofados, características ainda do Art-Déco, ini-
ciando, assim, uma nova tendência para o mobiliário moderno brasileiro.
É nesta mesma vertente que Lasar Segall cria os móveis para sua residência
em 1944. Os ambientes começam, assim, a se transformar, os estofados
tornam-se mais raros, e as estruturas dos móveis menos pesadas.
Depois de mais de uma década trabalhando com mobiliário de estilo,
Joaquim Tenreiro inicia uma nova fase, na qual pôde colocar em prática
sua inquietação quanto ao móvel moderno, buscando a comunhão des-
tes com as obras modernas propostas pelos arquitetos.
Entre 1941 e 1942, contratado para mobiliar a residência de Francis-
co Inácio Peixoto em Cataguases, cujo projeto arquitetônico é de Os-
car Niemeyer, Tenreiro tem sua primeira oportunidade de produzir mó-
veis com um caráter mais próximo ao exigido pela nova arquitetura.
Contudo, estes primeiros móveis não o tão criativos como os que
se seguiriam mais adiante.
A partir de 1942, Tenreiro inaugura a produção de móveis mais leves,
cuja estética é identificada mais com os preceitos modernos. As estru-
turas extremamente leves demonstram sua afinidade com as madeiras
brasileiras, obtendo resultados de tal natureza que parecem zombar
27
É interesante destacar, desde já
e como ver-se-á no transcurso
desta tese, que os estrangeiros
foram os primeiros a promover
as características genuinamente
da terra no mobiliário moderno
brasileiro.
28
Segundo o catálogo da mostra
Organic Design. Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque,
set./nov. 1941.
Bernard Rudofsky, desenhos
para concurso do MoMA, 1940
Concurso Organic Design in
Home Furnishings promovido pelo
MoMA em 1940, os desenhos
foram expostos no próprio
museu em 1941
Fonte: Santos, 1995: 94
Lasar Segall, Interior,
residência Jenny e Lasar
Segal, São Paulo, 1944
Neste ambiente Segall
cria uma atmosfera mais
despojada, mais próxima
dos preceitos modernos
Fonte: Santos, 1995: 48
Lasar Segall, sala
de estar, residência
Jenny e Lasar Segal,
São Paulo, 1944
O clima proposto
neste interior já indica
uma nova postura na
escolha do mobiliário
e na disposição deste
Fonte: Santos, 1995: 48
90
91
Joaquim Tenreiro,
Primeira Cadeira, 1942
Fonte: Exposição J. Tenreiro,
1999: 108
Joaquim Tenreiro,
Cadeira estrutural, 1947
Fonte: Exposição J. Tenreiro,
1999: 113
Joaquim Tenreiro,
Cadeira de embalo, 1948
Fonte: Exposição J. Tenreiro,
1999: 112
Joaquim Tenreiro,
Cadeira, 1948
Fonte: Exposição
J. Tenreiro, 1999: 114
Joaquim Tenreiro,
Cadeira Estoril com braço, 1960
Fonte: Exposição J. Tenreiro, 1999: 116
Joaquim Tenreiro,
Poltrona de
palhinha, 1958
Fonte: Exposição J.
Tenreiro, 1999: 115
Joaquim Tenreiro,
Residência Francisco
Inácio Peixoto,
Cataguases,
Minas Gerais, 1942
Ambiente de estar
composto por sofá e duas
poltronas com estrutura
em contraplacado curvado
de pau-marfim, estofados
e revestidos em tecido,
uma chaise-longue,
inspirada em Le Corbusier,
e poltrona, ambas com
estrutura também em
contraplacado de
pau-marfim com assento
e encosto em tiras
trançadas de couro pintado
Fonte: Cals, 2000: 71
Joaquim Tenreiro,
sala de refeições, 1961
Ambiente com mesa
em madeira com tampo
de vidro, cadeiras com
estrutura de madeira,
assento e encosto
em palhinha
Fonte: arquivo de David Libeskind
Joaquim Tenreiro, Residência Francisco Inácio Peixoto,
Cataguases, Minas Gerais, 1942
Ambiente de estar composto por sofá com estrutura de ferro estofado e
revestido em tecido, mesa com estrutura de ferro curvado e tampo de
cristal. Bergère com pés de ferro, estofada e revestida em tecido
Fonte: Cals, 2000: 72
Joaquim Tenreiro, Loja de
Joaquim Tenreiro na rua Marquês
de Itu, São Paulo, sem data
Ambiente que utiliza a Primeira
Cadeira em madeira lustrada
em preto, mesa em pau-marfim
e tampo revestido em
laminado melamínico
Fonte: Exposição J. Tenreiro, 1999: 68
Joaquim Tenreiro, sala de estar, 1961
Ambiente com peças de Tenreiro: sofá estruturado
em madeira, estofado e revestido em couro,
bancos com estrutura de madeira e assento
estofado, assentos em tronco de vinhático
Fonte: arquivo de David Libeskind
92
93
das leis da física, como alguns anunciariam. É uma proeza criar móveis
com pés tão delgados! Ele também utiliza a palhinha nos assentos e
encostos, material que compactua com o clima tropical.
Porém, todas as peças desenvolvidas por Tenreiro ainda são executa-
das de forma artesanal, algumas com tamanha esbelteza que parecem
quase lapidadas. Ele se mostra bastante reticente com relação à inade-
quação técnica baixa qualidade da produção industrializada de móveis
para as massas,
(...) o móvel tem uma raiz mais antiga, ele vem para a indústria através do
artesanato. A meu ver, um dos maiores equívocos da indústria é não fazer
um móvel estritamente industrial, com materiais e maquinário apropriados.
Desse modo não se faz nenhuma coisa nem outra, não há artesanato nem
indústria, no verdadeiro sentido da palavra. A industrialização, em vez de
produzir móveis de qualidade para as massas, acaba contribuindo para a
produção, em grande escala, de artigo inferior.
29
Apesar da serialização dos móveis fazer parte das premissas modernas,
os ambientes criados com os móveis sóbrios e tecnicamente de alta qua-
lidade de Tenreiro se adequam amplamente à arquitetura moderna propos-
ta, na época, e seu “anseio profundo de renovar a linguagem do móvel no
Brasil garantiu o alicerce para a busca de novas especulações do móvel
moderno que se sucederam a partir de então” [Santos, 1995: 85].
Em descompasso com a sedimentação do mobiliário moderno em ou-
tros países, como visto, e à própria arquitetura brasileira – que já fora
reconhecida internacionalmente nos anos 1940 –, o país inicia a produ-
ção de um mobiliário moderno.
Vale ressaltar uma importante característica que se faz notar, nesta
mesma década, na concepção do mobiliário brasileiro. Como havia
acontecido na arquitetura, também no design, alguns autores se embre-
nham na concepção de móveis que possuem grande afinidade com as
condições, necessidades, materiais e técnicas locais, assumindo, as-
sim, uma nova postura que caracteriza de forma ímpar alguns compo-
nentes do mobiliário moderno brasileiro.
Esta postura se inicia com Rudofsky, como descrito, mas foi com Lina
Bo Bardi que estas idéias se tornariam mais significativas por meio de
suas pesquisas voltadas para a realidade local, tratando o móvel como
apropriado às condições e ao público ao qual este se destina, revelando
uma compreensão do “profundo alcance social da arquitetura moder-
na”, segundo Lina Bo Bardi [Ferraz, 1993: 60].
A partir de 1947, comprometida também com o racionalismo e a estéti-
ca moderna, e na busca de preencher a lacuna representada pela ine-
xistência de poltronas que atenderiam esta necessidade, Lina Bo Bardi
inicia-se como designer de assentos e concebe sua primeira cadeira
para um dos auditórios do Masp da rua Sete de Abril em São Paulo, o
que incentiva a criação do Studio de Arte Palma com Palanti. Estes epi-
sódios são mencionados no capítulo seguinte.
Outro grande arquiteto que estende suas criações para os interiores
das edificações é Oswaldo Bratke. Em 1948, projeta o ambiente para o
estar de sua residência. A perspectiva deste espaço interior revela a
assepsia que o interior moderno solicita. Nesta mesma época, ele de-
senvolve assentos com peças que se encaixam com grande criativida-
de. Um deles é composto por quatro elementos recortados em placa de
compensado, encaixados e fixados por um único parafuso.
Como Bratke, Lina Bo Bardi também se orienta na busca da simplicida-
de dos assentos, propondo peças com poucos componentes e de fácil
execução, como pode-se constatar nos esboços para o Studio Palma.
Um pouco mais tarde, entre 1955 e 1960, Bratke projeta comunidades
urbanas na selva Amazônica, a Vila Serra do Navio e a Vila Amazônica
para os funcionários da Indústria de Comércio de Minérios S.A. (ICO-
MI) –, desde o plano urbanístico até as edificações, móveis e objetos.
Este foi um empreendimento extremamente interessante, em conseqü-
ência das dificuldades de suprir as necessidades de uma comunidade
no Amapá, onde não havia indústrias. Em tal contexto, a criatividade na
racionalização dos processos construtivos é essencial para a implanta-
ção destas vilas operárias. Algumas casas são entregues aos usuários
com móveis projetados pelo próprio Bratke, móveis simples e adequa-
das à região, depois de estudar os hábitos locais. Com relação às resi-
dências da Serra do Navio, Hugo Segawa relata:
29
Depoimento de Joaquim Tenreiro
a Maria Cecília Loschiavo dos
Santos. In: SANTOS, 1995, op.
cit., p. 90.
Studio de Arte Palma,
Residência Mário Bittencourt,
São Paulo, 1948-1950
Ambiente com móveis projetados
por Lina Bo Bardi e Giancarlo
Palanti, estruturados em
compensado e material plástico
branco, preto e amarelo-limão,
assentos estofados e
revestidos em tecido
Fonte: Ferraz, 1993: 60
94
95
Oswaldo Bratke, residência do arquiteto, 1948
Perspectiva da sala de estar
Fonte: Santos, 1995: 67
Oswaldo Bratke,
poltrona, sem data.
Projeto de poltrona
com encaixes entre o
encosto e o assento
Fonte: Santos 1995:67
Oswaldo Bratke, cadeira, 1948
Cadeira em placas de
compensado encaixadas e
unidas por um só parafuso
Fonte: Santos, 1995: 66
Lina Bo Bardi, croqui de cadeira,
Studio Palma, 1948-1951
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi
Oswaldo Bratke, Residências
para funcionários graduados,
Serra do Navio, 1955-60
Fonte: Segawa, 1997: 261
Oswaldo Bratke,
família de móveis
e luminárias,
Serra do Navio,
1955-60
Fonte: Segawa, 1997: 293
Todas as casas foram entregues aos operários e funcionários graduados
completas e mobiliadas. Fogões e geladeiras foram adquiridos no Rio Gran-
de do Sul; talheres em São Paulo, armários no Paraná. O próprio arquiteto
orientou para que os cerca de 550 armários fossem enviados para o norte
desmontados, acompanhados por três marceneiros encarregados da mon-
tagem dos móveis, para diminuir o volume de carga. Cadeiras, sofás, me-
sas, camas, luminárias foram desenhados pelo arquiteto e produzidos na
região. [Segawa, 1997: 256]
96
97
Chegado ao Brasil no mesmo ano em que Lina Bo Bardi imigrou, seu
conterrâneo Carlo Benvenuto Fongaro colabora para o desenvolvimento
das primeiras experiências com veis modernos, simples e criativos
para escritórios desmontáveis, em jacarandá, estruturados em tubos de
aço quadrados. Com um mobiliário simples e criativo. Em diversas em-
presas, como a Ambiente e a Probjeto, criou também móveis para resi-
dências, onde utilizou alguns materiais que se identificavam com a cultu-
ra local, como as fibras naturais [Santos, 1995: 54].
A partir de 1950, José Zanine Caldas inaugura uma significativa emprei-
tada pela serialização dos móveis, por meio de pesquisas com madei-
ras compensadas, durante sua sociedade com Sebastião Pontes, que
resultou na Zanine, Pontes e Cia. Ltda., mais conhecida como “Móveis
Artísticos Z”. Desta produção, assinada por Zanine, origina-se móveis
com características marcantes, principalmente nas estruturas em com-
pensado, exploradas as linhas curvas, na esteira projetada por Carlo
Mollino, inclusive em forma de “Z”.
Estas características haviam sido empregadas pelo Studio Palma,
pelo qual Zanine é profundamente influenciado. Mas, se por um lado,
Palma inicia a utilização do compensado, viabilizando as formas curvas
com sinuosidades, por outro lado, é mérito da fábrica Z a execução se-
riada industrialmente, que propiciona o êxito na comercialização destes
produtos com valores acessíveis.
Na época, esta morfologia se adapta à indústria moveleira incipiente e
é bem aceita por uma classe média que reivindica conceitos modernos
para os componentes domésticos.
Zanine vence nos quesitos qualidade e economia, porém, a estética das
peças de mobiliário que projeta fica limitada pelas exigências do próprio
processo de industrialização, ainda precário, pois estes móveis sempre
foram muito menos sofisticados, embora economicamente mais acessí-
veis, do que os produzidos artesanalmente
30
.
Apesar do esforço de Zanine, que chega a suprir em parte a expectativa da
classe média com componentes de mobília moderna, com os “Móveis Ar-
tísticos Z”, uma classe mais abastada exigia um móvel moderno com for-
mas predominantemente esbeltas, como as desenvolvidas por Tenreiro.
Neste período de grande desenvolvimento econômico, aparece, no perí-
metro paulistano, uma associação de arquitetos com Miguel Forte,
Jacob Rucht, Plínio Croce, Roberto Aflalo, Carlos Millan e Chen Y Hwa –
desta associação nasce o Móveis Branco e Preto no fim de 1952.
31
Assim como a Langenbach & Tenreiro, que sempre manteve intencional-
mente o sistema artesanal de produção, no Branco & Preto são produ-
zidos móveis modernos tradicionalmente, na esteira dos pés de palito.
O propósito desta empresa é estender as atividades da arquitetura para
os interiores das edificações, como constata Miguel Forte: “embora
existissem lojas desse gênero, a proposta era o desenvolvimento de
uma linha contemporânea, mais ligada às intenções e necessidades do
arquiteto” [Santos, 1995: 111].
A lacuna de móveis modernos para a arquitetura moderna é determinan-
te para o estabelecimento do Branco & Preto em São Paulo. Além do
desenho moderno, o uso de materiais como madeira laminada, ferro
soldado e plástico também são características expressivas do mobiliá-
rio da empresa.
32
Conforme Marlene Acayaba, “o Branco & Preto, loja de móveis de design
racionalista e apurado acabamento artesanal, representa uma novidade
no Brasil daqueles anos, é um empreendimento precursor na questão
da arquitetura de interiores” [1994: 68].
30
Por outro lado, a partir dos anos
1970, quando a preocupação pelo
meio-ambiente se intensifica,
Zanine se posiciona na defesa de
nossas florestas. Ele se
estabelece em Nova Viçosa, onde
adota técnicas caboclas na
tradução do artesanato regional.
Ciente dos efeitos da devastação
de nossas matas e apaixonado
pelas madeiras, sua alma de
escultor o conduz à criação do
“móvel denúncia”. In: SANTOS,
1995, op. cit., p. 110.
A rusticidade da proposta de
Zanine destaca e aproveita ao
máximo a forma e as dimensões
naturais dos caules, assim como o
desenho dos veios das madeiras.
31
Nesta época já estavam
encerradas as atividades
do Studio de Arte Palma.
32
Após alguns anos, restaram
apenas três sócios: Miguel Forte,
Roberto Aflalo e Carlos Millan. E,
ao final dos anos 1950, o Branco
& Preto cessou os trabalhos de
marcenaria. Dentre as principais
causas, destacam-se algumas
dificuldades com mão-de-obra e
materiais de revestimento, além
do crescimento de seus escritórios
de arquitetura e a precoce morte
de Carlos Millan [Acayaba,
1994: passim].
Carlo Benvenuto Fongaro,
sala de jantar, não
identificada, década de 1950
Mesa e cadeiras em madeira,
assento e encosto em fibra
natural trançada
Fonte: arquivo de Wilma Fongaro
Carlo Benvenuto Fongaro,
escritório, não identificado,
década de 1950
Mesa, armário baixo, poltrona
e cadeira em madeira
Fonte: arquivo de Wilma Fongaro
98
99
Enquanto os móveis do Studio Palma almejam resgatar o popular por
meio de suas soluções simples e ligadas ao vernáculo – apesar de não
atingir a camada social que os móveis “Z” alcançaram –, os móveis
Branco & Preto são sofisticados e realizados para a classe abastada.
Entre 1954 e 1955, a idéia de serialização começa a se sedimentar
entre os arquitetos e designers, e a crescente industrialização gerada
pelo aquecimento econômico possibilita a criação de diversas indús-
trias de móveis modernos racionalizados, como o trabalho de Geraldo
de Barros na Unilabor; a produção liderada por Jorge Zalszupin, que
também contou com Júlio Katinsky, Oswaldo Mellone e Paulo Jorge Pe-
reira, produtores de móveis para a L’Atelier; a colaboração de Sérgio
33
Conf. CLARO, Mauro. Unilabor:
desenho industrial, arte moderna
e autogestão operária. São Paulo:
Editora SENAC de São Paulo,
2004.
José Zanine Caldas,
interior, sem data
Neste interior
percebe-se na
utilização da
madeira compensada
recortada, uma
grande similitude às
formas e conceitos
iniciados pelo Studio
de Arte Palma
Fonte: Habitat (11):105, 1952
Studio de
Arte Palma, interior,
São Paulo, 1948
Ambiente com
móveis projetados
por Giancarlo Palanti,
assentos estruturados
em compensado
de madeira e mesa
em madeira
Foto: Roberto Maia
[Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi]
Studio de Arte
Palma, interior,
São Paulo, 1950
Ambientação de loja
à rua Sete de Abril.
Poltrona e cadeira,
em primeiro plano,
provavelmente
projetadas por Palanti
Foto: Roberto Maia [Fonte:
Instituto Lina Bo Bardi e P.
M. Bardi]
José Zanine Caldas,
Namoradeira, década de 1980
Componente proposto como
“móvel denúncia”. Cada assento
é feito de uma única tora, unindo
apenas os braços e os dois
assentos um ao outro
Fonte: Santos, 1995: 108
Rodrigues na Oca, e as concepções de Michel Arnoult na Mobília Con-
temporânea. Algumas destas indústrias começam a produção de mó-
veis com elementos componíveis, inaugurando, neste período, a modu-
lação do mobiliário no Brasil, mais de uma década depois da premiação
de Charles Eames e Eero Saarinen no Organic Design in Home Furnishin-
gs, do MoMA, com os móveis compostos por elementos modulares.
Este fato remete à questão da política de substituição das importações
pela iniciativa de expandir o país industrialmente nos anos 1950.
Vale ressaltar um dos casos mais interessantes de todas estas instala-
ções industriais desta fase, e da Unilabor Indústria de Artefatos de
Ferro, Metais e Madeira Ltda, que, em 1954, introduz um modo pioneiro
de organização industrial em São Paulo. Liderados por Frei João Batista
Pereira dos Santos, profissionais diversos se uniram em torno de um
ideal: criar uma cooperativa para a serialização de móveis e objetos
com divisão dos lucros de forma participativa. Esta equipe se une ao
designer e fotógrafo Geraldo de Barros, criador do projeto gráfico e do
design de mobiliário da Unilabor.
32
O passo decisivo para que a produção em série tivesse êxito é a desis-
tência da produção de projetos exclusivos e por encomenda, somada à
necessidade de uma armazenagem eficiente. Desta atitude e do desejo
de produzir mais com o mínimo custo, atentando para os atributos for-
mais, funcionais e produtivos dos objetos criados, Geraldo de Barros
desenvolve alguns elementos componíveis entre si, utilizando “(...) um
mínimo de peças com o maior número possível de combinações”, con-
forme depoimento de Geraldo de Barros a Maria Cecília Loschiavo [San-
tos, 1995: 117].
Jacob Ruchti, sala de jantar,
residência Ada Pesce, 1954
Mesa e cadeiras estruturadas
em madeira. Assentos e
encostos em palhinha
Fonte: Santos, 1995: 114
Studio de Arte Palma, Residência, São Paulo, 1948-50
Sala de jantar com móveis em madeira projetados por
Giancarlo Palanti. Este é um exemplo da diferença entre
a simplicidade do Palma e a sofisticação do Branco & Preto,
ambos inseridos na temática moderna
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
100
101
Barros também experimenta a utilização de materiais que não costumam
ser mesclados ao mesmo móvel como o ferro e a palhinha, originando
assentos mais leves e adequados às condições climáticas locais.
A Unilabor executa veis com configuração mais geotrica e, em alguns
casos, mais leves que os do Studio Palma, propiciando com eles uma am-
bientação onde os vazios se estabelecem de forma mais acentuada.
Controvérsias internas sobre o modelo cooperativo contribuem para a
saída de Barros, dando continuidade ao seu projeto de desenvolvimento
de móveis modulares na Hobjeto a partir do mesmo ano, de 1964.
Três anos depois, em 1967, a Unilabor encerra sua produção.
Na década de 1960, vem à tona, com mais intensidade, a discussão
sobre uma abordagem artística objetivando contestar as questões polí-
ticas, econômicas e sociais no país, principalmente decorrentes da re-
núncia de Jânio Quadros e da Revolução de 1964.
Unilabor, Geraldo de Barros,
estante, anos 1950
Elementos componíveis de ferro,
madeira crua e revestida em
laminado melamínico
Fonte: Santos, 1995: 117
Unilabor, Geraldo de Barros, residência Paulo E. Sales Gomes, 1954
Sala de estar com poltrona estofada, mesa em ferro e madeira e
cadeiras estruturadas em ferro com encosto e assento em palhinha
Fonte: Santos, 1995: 116
Studio de Arte Palma, Sala de
estar, São Paulo, 1948-1951
Foto: Editorial Domus [Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi]
Studio de Arte Palma, Sala de espera, São Paulo, 1951
Foto: Peter Scheier [Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi]
Em meio ao ritmo intenso de manifestações desta ordem, busca-se,
no mobiliário brasileiro, a incorporação de um caráter nacional nas
formas modernas, atitude iniciada por Lina Bo Bardi no m dos anos
1940, com os veis do Masp da Sete de Abril e do Studio de Arte
Palma. Tal abordagem se acentua anos mais tarde, nas palavras de
Maria Cecília Loschiavo:
Em nível de desenho industrial notamos maior ênfase no uso dos materiais
brasileiros, maior preocupação com as formas do móvel vernacular do país
e, no limite, a própria produção em série visava atender a um consumidor
mais popular; enfim, o móvel se orientou por um certo “estilo nacional”.
Assim, ao perguntarmos sobre o ideário estético que presidiu o móvel brasi-
leiro desse período, verificamos que a tendência à apropriação e à absorção
de padrões internacionais de desenho sofre um gradativo processo de acul-
turação, enriquecendo-se com os elementos nativos e, em conseqüência
disso, produziu-se, em certos momentos de plenitude criadora, um móvel
com formas originais, mais condizente com nossas condições e expressivo
do caráter brasileiro. [Santos, 1995: 124].
Este “estilo nacional” associa-se a um significativo crescimento no
processo de produção de móveis seriados, modulares, voltados princi-
palmente para os interiores de escritórios e arraigados a valores lo-
cais. Cada qual com suas características e expressões próprias, des-
tacam-se diversos designers e indústrias, como Sérgio Rodrigues, a
partir de 1955 na Oca; Michel Arnoult, a partir de 1954 na Mobília
Contemporânea; dos irmãos Hauner, com a Móveis Artesanal, iniciada
em 1949 e mais tarde com a Mobilínea – fundada como Ernesto Hau-
ner – em 1958; Karl Heinz Bergmiller, na Escriba, frente a uma produ-
ção para móveis de escritório; Leo Seincman, na Probjeto, que incor-
porou ao mercado nacional algumas peças clássicas do mobiliário
moderno internacional, como a cadeira Dinamarquesa de Arne Jacob-
sen; e, novamente, Geraldo de Barros, agora na Hobjeto, fundada por
ele, direcionada ao mobiliário para escritório, na esteira do procedi-
mento industrial da Unilabor.
É possivelmente o trabalho de Sérgio Rodrigues como arquiteto-desig-
ner, ou arquiteto e “desenhista de móveis”, como ele prefere ser cha-
mado. A máxima expressão das características que Maria Cecília Los-
chiavo nos indica no trecho abaixo sobre o móvel moderno brasileiro
deste período. “De todos os designers brasileiros Sérgio Rodrigues tal-
vez seja o mais profundamente comprometido com os valores e mate-
riais da terra, tendo se arraigado definitivamente a formas e padrões de
nossa cultura” [Santos, 1995: 125].
Em 1955, disposto a lançar uma linha de móveis genuinamente brasi-
leiros, Sérgio Rodrigues funda a Oca, na qual desenvolve um mobiliário,
buscando expressar características próprias da terra.
Um célebre arquiteto também contribui para a Oca, Lúcio Costa, que
descreve: “Oca é casa indígena. A casa indígena é estruturada e pura.
Nela os utensílios, o equipamento, os petrechos e paramentos pesso-
102
103
ais, em tudo se articula e integra, com apuro
formal em função da vida. A simples escolha
do nome define o sentido da obra realizada por
Sérgio Rodrigues e seus colaboradores” [Cos-
ta, 1962, s/p].
Em 1957, Sérgio Rodrigues concebe a célebre
poltrona Mole, então denominada Sheriff, que
o premia em Cantù, na Itália. Tal reconheci-
mento justifica-se por ter mais bem representa-
do o caráter de regionalidade, conforme relató-
rio da premiação. Ao contrário dos assentos
com pés de palito lançados por Tenreiro, esta
poltrona é um móvel pioneiro da chamada “es-
tética da grossura”, adotada nos anos 1960
por alguns movimentos de vanguarda, caracte-
rizada pela robustez de suas estruturas e esto-
fados [Santos, 1995: 127-28].
A Poltrona Mole foi projetada para permitir o máximo de conforto e repou-
so. Toda a sua estrutura é de jacarandá maciço, torneado em forma de
fuso, e os encaixes são manuais, percintas em couro natural reguláveis e
almofadões executados em atanado fino. As percintas de couro que for-
mam a estrutura da Poltrona Mole estabelecem uma certa filiação formal
com as tradicionais redes, elemento representativo de nossa cultura. Os
almofadões de atanado sob a estrutura possibilitam ao usuário moldar o
corpo anatomicamente ao sentar, remetendo, de certa forma, à aderência
perfeita entre corpo e rede. É preciso lembrar que a busca da aproximação
entre o desenho da mobília moderna e certos objetos da cultura brasileira,
como a rede, foi uma temática que esteve presente também na obra de
Lina Bo Bardi, através da poltrona de três pernas em cabreúva, com forro
solto de lona. [Santos, 1995: 128]
Percebemos, assim, a influência que Lina Bo Bardi pode ter exercido em
Sérgio Rodrigues, provavelmente resultado de seu contato com ela, no
período em que Sérgio Rodrigues presta serviços para a empresa For-
ma, sediada em São Paulo.
Em seguida, sucedem-se diversas ambientações com a poltrona e o
sofá Mole e suas manifestações refletidas nos objetos, materiais e re-
vestimentos locais. Estes interiores não revelam um ambiente mo-
derno sóbrio, mas estão inseridos no contexto tropical, incorporando o
modo de vida e materiais da terra, principalmente fibras.
Em 1957, rgio Rodrigues inicia com a Oca a criação de móveis para
edifícios de Oscar Niemeyer em Brasília, projeto conjunto com a em-
presa Mobilínea.
No fim dos anos 1960, desvinculado da Oca, Sérgio Rodrigues dedica-
se à arquitetura, mantendo suas atividades como designer. Desde en-
tão, ele se empenha em uma produção independente, tanto na arquite-
tura quanto no desenho de mobiliário.
Sérgio Rodrigues,
interior, 1958
Primeira ambientação
com o sofá Mole (1957)
Fonte: Santos, 1995: 132
Sérgio Rodrigues,
poltrona Mole, 1958
Frente, costas
e desmontada
Fonte: Santos, 1995: 129
Sérgio Rodrigues, croqui
para as poltronas do
auditório dos Candangos,
Brasília, 1962
Fonte: Santos, 1995: 133
104
105
Oscar Niemeyer – o móvel
para a arquitetura moderna
Nos anos 1970 surgem propostas de design de mobiliário de autoria do
arquiteto Oscar Niemeyer que transferem para o design a experiência
conceitual, formal e estrutural da arquitetura.
No caso de Oscar, é possível identificar duas fases distintas. Na primei-
ra, o arquiteto utiliza-se de um mobiliário de outras autorias, anterior a
sua atuação como autor de mobiliário. Este fato possibilita relacionar
sua obra arquitetônica a diversos arquitetos e/ou designers que lhe
forneceram elementos para adequar os móveis ao contexto arquitetôni-
co, como Joaquim Tenreiro e Sérgio Rodrigues, dentre outros. Na segun-
da, em parceria com Anna Maria Niemeyer, ele define móveis que confe-
rem uma identidade a sua arquitetura. Então, se estabelece nos móveis
e arranjos físicos um forte vínculo com a arquitetura já consagrada.
O desejo comum entre os arquitetos de conceber móveis e arranjos fí-
sicos para sua própria arquitetura foi explicado por ele desta maneira,
em depoimento a Maria Cecília Loschiavo, em 1979:
Oscar Niemeyer,
Casa do arquiteto, Canoas,
Rio de Janeiro, 1974
Ambiente do escritório
destaca espreguiçadeira
de Oscar Niemeyer e
Anna Maria Niemeyer
Foto: Nelson Kon, 2007
Oscar Niemeyer,
Casa do arquiteto, Canoas,
Rio de Janeiro, 1974
Estar composto por mesa
de jantar de Oscar Niemeyer
e Anna Maria Niemeyer, com
assentos de Michael Thonet
e marquesa luso-brasileira
Foto: Nelson Kon, 2007
Oscar Niemeyer, Casa do arquiteto,
Canoas, Rio de Janeiro, 1974
Através da transparência que
integra o exterior e o interior
destaca-se o ambiente de estar
Foto: Nelson Kon, 2007
O problema que eu encontrei no equipamento dos edifícios é que, muitas ve-
zes, o mobiliário, o arranjo interno, prejudica completamente a arquitetura. A
arquitetura prevê os espaços que devem ficar livres entre grupos de móveis, e
às vezes, os móveis são colocados de uma maneira imprópria, os espaços se
perdem e a arquitetura fica prejudicada. De modo que nós procuramos sempre
marcar o lugar dos móveis, mas, mesmo assim, às vezes eles não estão de
acordo com a arquitetura, e o ambiente se faz sem a unidade que a gente
gostaria. Por isso tudo é que eu comecei. É claro que existem bons decorado-
res no Brasil, mas, quando a gente não tem sorte de encontrar um desses
decoradores, o nosso projeto se prejudica. [Santos, 1995: 59]
E em outro relato:
Um dia, com minha filha Anna Maria, resolve mos estudar alguns tipos de
mobiliário, e a técnica da madeira prensada em largas faixas curvas foi o
caminho que escolhemos.
Desejávamos encontrar um novo desenho de
mobiliário que permitisse, com o uso da madei-
ra prensada, imaginar coisas diferentes dos mó-
veis tra dicionais.
E como essa idéia se aproximava da técnica
arquitetural, procuramos reduzir apoios, inte-
grando-os nas formas curvas adotadas.
E desenhamos poltronas, mesas, marquesas,
es preguiçadeiras de balanço, etc. Um dia, se o
trabalho permitir, voltaremos de forma mais or-
ganizada a essa tarefa que nos atrai e diverte.
[Niemeyer, 1992: 108]
Assim, Oscar pôde transferir para o móvel o
que fazia com maestria na arquitetura, adap-
tando novos usos para materiais que esta-
vam sendo utilizados no mobiliário. Nesta épo-
ca, a madeira prensada era bastante utilizada
pelos suecos, porém em superfícies peque-
Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa, corte Fábrica Duchen
(demolida na década de 1980), São Paulo. 1950-51
Fonte: Bruand, 1999: 158
Oscar Niemeyer e Anna Maria Niemeyer,
croqui da Espreguiçadeira, 1977
Fonte: Santos, 1995: 60
106
107
nas. A plasticidade curvilínea, tão explorada por Niemeyer nas edifica-
ções, é repassada para os móveis, e superfícies maiores adquirem
formas arredondadas com o sistema relativamente simples de
construção que as madeiras prensadas possibilitavam.
Desenhados quase tardiamente, estes móveis moder-
nos, associados a outras peças de diferentes autores,
fazem parte de muitos ambientes propostos para a arqui-
tetura de Oscar Niemeyer. É interessante destacar o as-
pecto formal desta arquitetura que tangenciou algumas
características da morfologia dos móveis modernos pro-
postos por diversos autores.
Na presente tese, destacam-se, mediante as imagens
apresentadas, alguns projetos de arquitetura de Oscar
Niemeyer e de assentos deste e de outros arquitetos e designers, que
não são foco desta pesquisa, mas mereceriam uma análise minuciosa
à parte, pois são frutos de conceitos utilizados na concepção do moder-
no no Brasil, quer seja na arquitetura, quer seja no design. Embora aqui
seja tratado superficialmente, um dos exemplos mais significativos rela-
ciona o Palácio da Alvorada à poltrona Leve-jockey de Sérgio Rodrigues,
ambos da mesma época. A estrutura do Palácio da Alvorada remete ao
espaldar da poltrona ou vice-versa. Questionado neste sentido, durante
depoimento à autora em julho de 2004, Sérgio comenta surpreso: “não
sei quem fez antes, era a arquitetura... o design da época, e era o que
tínhamos que fazer”. Isso demonstra que algumas peças de mobiliário
entraram em grande sintonia com a arquitetura moderna, depois de
décadas no encalço deste acordo mútuo.
Oscar Niemeyer, Palácio da Alvorada, Brasília, 1956-58
Fonte: Cavalcanti, 2001: 430
Sérgio Rodrigues,
poltrona
Leve-jockey, 1957
Fonte: Santos, 1995: 130
Oscar Niemeyer e
Anna Maria Niemeyer,
poltrona e banqueta, 1977
Fonte: Cadeiras Brasileiras, 1994: 43
Oscar Niemeyer, estrutura da
Catedral de Brasilia, 1958-59
Fonte: Bruand, 1999: 215
Sérgio Bernardes,
Cadeira-rede, sem data
Fonte: Santos, 1995: 62
Joaquim Tenreiro,
cadeira Três Pés, 1947
Fonte: Tenreiro, 1999: 111
Oscar Niemeyer,
Palácio das Artes -
“Oca”, Ibirapuera,
São Paulo, 1957
Fonte: http://commons.
wikimedia.org/wiki/Image:
Oca_-_Ibirapuera.jpg
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl, 1951
Fonte: Ferraz, 1993: 77
108
109
O resultado formal era de uma época
34
, como lembra Sérgio Rodri-
gues, em que as solões formais poderiam ser utilizadas tanto na
estrutura de um edifício quanto na de uma cadeira, como é o caso
da estrutura espelhada que se observa nos cortes da arquitetura da
fábrica Duchen e do móvel Espreguiçadeira, ambos de Niemeyer. Ou,
sem qualquer relação funcional, a forma se aplica à arquitetura e ao
móvel, como no caso das formas curvas estruturais da Catedral de
Brasília, que remetem à morfologia dos assentos-encosto da Cadei-
ra-rede e da cadeira Três Pés, de Sérgio Bernardes e Joaquim Tenrei-
ro, respectivamente.
Não é por acaso que Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi propõem um
edifício e cadeira com ênfase na forma semi-esférica, podemos consi-
derar que ambos bebem nas águas de nossa cultura indígena: o Palá-
cio das Artes refere-se à oca indígena, e a Bardi’s Bowl, provavelmente
seja inspirada numa tigela utilizada pelos índios, assunto que será
visto no próximo capítulo.
Mesmo depois de produzir seus próprios móveis, Niemeyer continua
dispondo de móveis de outros autores. Ainda em depoimento a Maria
Cecília Loschiavo, ele argumenta:
Gostamos de usar esses móveis, com outros, de outros arquitetos, de
modo que há uma variação, mas todos presos ao princípio de que o mó-
vel é complemento da arquitetura e deve ser atualizado e moderno como
a própria arquitetura. Deve haver uma adequação entre o móvel e o inte-
rior, dependendo do tipo de prédio. Numa residência, por exemplo, os
móveis devem acompanhar a maneira de viver do homem de hoje; eles
são mais simples, menos austeros. O mobiliário antigo se adaptava a
uma atitude diferente do homem. Hoje a coisa mudou muito e o mobiliário
acompanha esse modo de vida diferente, esse modo de ser das pessoas
de hoje. [Santos, 1995: 59]
Os móveis de Oscar e Anna Maria são fabricados primeiramente pelas
empresas Tendo Brasileira, Móveis Teperman, ambas de São Paulo, e
pela Mobilier International, de Paris, para o mercado europeu.
A partir desta breve reconstituição da história dos ambientes moder-
nos, evidencia-se a importância dos arquitetos modernos estrangei-
ros, que propiciam a importação de certos conceitos e características
formais para o Brasil. Isto, somado ao esforço de um grupo de arqui-
tetos pioneiros na prática do design de móveis no Brasil, foi de grande
importância para a modernização do mobiliário e para a introdução do
desenho industrial no Brasil.
O presente capítulo pretende dar respaldo ao catulo seguinte, pois
é neste âmbito de criações dos arquitetos para o mobiliário moderno
estrangeiro e brasileiro que Lina Bo Bardi desenvolve peças de gran-
de expressão, principalmente no período em que, recém chegada ao
Brasil, se depara com uma lacuna no desenvolvimento do móvel mo-
derno no Brasil.
34
As ‘colunas’ do Palácio da
Alvorada viraram o marco nacional
do desenvolvimento: marco
dos caminhões pelas estradas
do Brasil, marco das lojas, de
feiras e padarias, de favelas e
de residências finas. Bem, as
multidões são a imagem dos
supermercados, mas o orgulho
popular é outra coisa: é a história
de uma nação.” Depoimento de
Lina Bo Bardi sobre a obra de
Oscar Niemeyer. In: NIEMEYER,
Oscar. Minha Arquitetura
1937-2004. Rio de Janeiro:
Editora Revan, 2004, p. 401.
110
111
Talvez fosse preciso
considerar que nosso
conhecimento do mundo
é uma mistura de rigor e
poesia, de razão e paixão,
de lógica e mitologia.
Michel Maffesoli
mímesis corpórea
mímesis corpórea
Busca das “equivalências orgânicas de observações cotidianas” [Burnier, 2001: 221],
proporciona uma capacidade no ator de recriar uma ação física vocal observada no
cotidiano. (...) O olhar treinado que, após muito observar, detecta informações que estão
na vida revestidas pela dimensão cotidiana de uso do corpo; que não são evidentes
nem óbvias num primeiro olhar, mas estão impressas, determinando o ritmo, os impulsos,
as tensões, os níveis de energia, a organicidade na articulação do todo e a coloração
de cada pessoa [Lume (6): 17-23, 2005].
113
Este capítulo trata exatamente desta “mistura” a qual Michel Maffesoli
se refere. Enquanto o sociólogo francês indaga sobre as sínteses entre
“rigor e poesia”, “razão e paixão”, “lógica e mitologia”; Lina Bo Bardi
corresponde com funcionalidade e saber popular, valoriza o racional e o
costume do povo, utiliza a coerência dos conceitos modernos, poetica-
mente alegorizados no recôndito do vernáculo. Em todas as atividades
profissionais, tal qual menciona Maffesolli, a arquiteta expressa esse
“conhecimento do mundo”, ou melhor, conhecimento do universo popu-
lar da terra que elegeu para si [1988: 90].
Nos anos 1940, iniciam-se no Brasil algumas propostas de projetos de
mobiliário moderno as quais levam em consideração o reconhecimento
dos recursos e tradições locais. Como já destacado, há iniciativas nes-
te sentido como o trabalho de Bernard Rudofsky, arquiteto austríaco,
que, durante os quatro anos da segunda guerra em que vive no Brasil,
busca valorizar os materiais provenientes do solo brasileiro.
1
Também,
de suma importância, o trabalho de Joaquim Tenreiro, pintor, artesão e
desenhista de móveis português, que estabelece uma nova perspectiva
no trato com as madeiras nativas, enfatizando suas veias e tornando
possíveis móveis com pés extremamente delgados, além de utilizar um
material apropriado ao nosso clima: a palhinha.
2
CAPÍTULO 3
Lina Bo Bardi e o móvel:
o encontro do vernáculo
e do moderno
1
Observamos que Bernard Rudofsky é o primeiro a utilizar a juta (nativa da Índia e cultivada
no Brasil), o cânhamo (nativo da Ásia e cultivado no Brasil), o car(nativo do Brasil) e
outras fibras nas cadeiras modernas brasileiras, em 1941, depois, em 1948, no
Studio Palma, Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti tamm desenvolvem experiências com
as fibras naturais nativas. In: SANTOS, Maria Cecília Loschiavo. As cadeiras modernas
brasileiras. Módulo (65): 64-71, Rio de Janeiro, jul./ago. 1981.
2
Os tapeceiros franceses iniciam o estofamento de assentos e encostos dosveis
entre o fim do século XVII e início do XVIII. No Brasil, este procedimento é substituído
pela introdução da palhinha entrelaçada nos assentos e encostos das cadeiras, sos
e canapés. Esta prática oriunda da Índia é trazida ao Brasil em conseqüência das
colonizações portuguesas em solo hindu e brasileiro. As rotas de comércio marítimo
entre diferentes culturas, situadas em terra, tropicais possibilitam o intercâmbio e a
>>
Lina Bo Bardi
Estudo para Bardi’s Bowl
Referências às redes
e cuias indígenas
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
114
Como Lina Bo Bardi, ambos provêm da Europa, cada qual com uma raiz
cultural e seu próprio modo de realizar a questão da identidade nacio-
nal. Rudofsky atua na Itália ao lado de Gio Ponti e Luigi Consenza, am-
bos arquitetos envolvidos com as questões nacionais italianas e medi-
terrâneas. Tenreiro trabalha uma obra artesanal, cujo trato de grande
qualidade com o jacarandá e palhinha remete à tradição lusa.
3
Foi certamente a partir do contato com o cenário brasileiro, a partir de
1947 em São Paulo também por sua formação européia, associada
ao trabalho realizado junto ao italiano Gio Ponti
4
, arquiteto e designer
moderno e atento à tradição popular que Lina Bo Bardi encontra, no
artesanato brasileiro, uma rica fonte para o desenvolvimento de móveis
com um caráter moderno e atento às questões da cultura popular. Pode
ter vindo também, deste contato com Ponti, os recursos para sua crítica
ao discurso radical dos primeiros modernos, quanto aos excessos de
racionalidade e funcionalidade [Malasartes (2): 4-7, 1976].
A mudança econômico-política e a cultura popular são elementos que
fornecem a Lina Bo Bardi justificativas para a necessidade de uma pro-
dução brasileira, que não se abastecesse basicamente da importação
de soluções existentes e tecnologias prontas, porém, que pudesse ob-
servar seu acervo vernacular.
A iniciativa de uma produção de móveis modernos iria ao encontro de
uma classe média que prospera e das expectativas de uma classe de
artistas, sejam estes ligados às artes plásticas, à arquitetura ou ao
design, coniventes com os conceitos modernos.
Também a temática internacionalista dos CIAM fora avaliada sob dife-
rentes prismas no Brasil. O discurso moderno passa por debates em
revistas e eventos de arquitetura. Formam-se diferentes grupos, de-
fensores do internacionalismo ou do nacionalismo. No caso de Lina
Bo Bardi, apesar de suas raízes serem européias, suas manifestações
são francamente nacionalistas. Entre o final dos anos 1940 e início da
década seguinte, ela se apresenta como a propulsora de uma van-
guarda na pesquisa experimental no campo do design com caráter
vernacular brasileiro, sendo que, neste caso, este compreende os pro-
dutos desenvolvidos a partir de objetos criados popularmente ou de
hábitos culturais.
permuta de bens materiais destes
portos. São “manifestações de
tropicalismo quanto ao mobiliário”.
Cf.: DIAS, Benício. vel e trópico.
In: Seminário de Tropicologia:
trópico & saneamento, solos, via
férrea, estudos de pós-graduação,
iluminação, favela, comunicação,
móvel, 1972, Recife. Anais...
Recife: Universidade Federal de
Pernambuco, 1978. p.327-342.
[VIII Reuno Ordinária]. Disponível
em: http://www.tropicologia.org.br.
Acesso em: 15 abr. 2008.
3
Conforme Benício Dias, “os
tratadistas creditam geralmente os
portugueses, como divulgadores na
Europa, do uso da palhinha, através
de suas importações do Oriente
Tropical. Conhecem-se cadeiras
indianas, ou indo-portuguesas,
remontando aos fins do XVI, ou da
transição para o XVII (...).” Ibidem.
4
É interessante observar que tanto
Lina Bo Bardi, quanto Rudofsky
trabalham com Gio Ponti. Esta
influência do arquiteto italiano
pode ter sido de grande importância
na consideração dos materiais,
técnicas e costumes nativos.
>>
Nós temos esta convicção
e estamos persuadidos
de que uma cadeira caipira
de grumixaba e taboa é
mais moral e importante
do que um divã de
babados de estilo francês.
Lina Bo Bardi
116
117
A concretização da postura:
O Studio de Arte Palma
Em entrevista ao Diário de São Paulo em 1949, Lina Bo Bardi expõe a
“convicção” do Studio Palma sobre a “decoração” corrente na época, te-
cendo duras críticas aos abusos do mau gosto estilístico [Diário de São
Paulo: 13 nov., 1949]. Uma das premissas do Studio Palma é resgatar o
respeito pelo público, adotando uma linguagem que remete ao popular,
que já fora iniciada na Itália, país de origem dos associados ao Palma.
Diante de um novo horizonte, o período pós Primeira Guerra suscita nos
italianos a reconsideração sobre as propostas futuristas lançadas pe-
los arquitetos ligados a Sant’Elia e Marinetti, que profetizam um adven-
to conduzido pela introdução das máquinas no cotidiano humano, alte-
rando radicalmente a estética arquitetônica.
Em 1936, a mostra da arquitetura rural, exibida na VI Trienal em Milão,
evoca a linguagem popular, revisando um passado próximo, de inten-
ções mais intelectualizadas, que se distanciam dos valores éticos que
a condição pós-guerra impôs. Esta nova circunstância leva a uma outra
leitura do Movimento Moderno.
Outros aspectos são as disposições políticas de Mussolini, a experiên-
cia da primeira e a eminência da segunda guerra que colocam os arqui-
tetos italianos em postura de reavaliação ao que deve ser preservado
após os embates bélicos, iniciando-se um processo de registro desse
universo voltado para o popular.
Dirigida por Rosselini, logo após a libertação de Roma, a primeira pelí-
cula Neo-realista no cinema italiano, Romma Cità Aperta, entre 1944 e
1945, denota o desejo de exibir o aspecto social e econômico italiano
fiel e cruamente, tangenciando o documentário.
Exposta por Rosselini e outros cineastas, esta realidade do pós Segunda
Guerra é observada de perto por Lina Bo no plano urbano, pois ela per-
corre a Itália neste período, como correspondente da Domus, registrando
as ruínas deixadas pelas edificações bombardeadas, como já abordado.
Neste período, arquitetos e intelectuais italianos se dedicam ao resgate
dos hábitos de morar e modos de construir do estrato social popular,
por meio de pesquisas neste campo.
Lina Bo Bardi relata em Curriculum Literário que, para compor os Quader-
ni di Domus,o realizados estudos e pesquisas quanto ao artesanato e
desenho industrial [Ferraz, 1993: 9]. É sob esta ótica de influências, de-
correntes dos eventos que pontuam todo este período, que Lina Bo Bardi
permeia suas idéias: a revisão do moderno, o resgate do universo popu-
lar e ao mesmo tempo a realização de um desenho industrializável.
Do outro lado do Atlântico, nos primeiros anos no Brasil, Lina Bo Bardi
se depara com uma lacuna na produção de móveis modernos. Entre o
Rio de Janeiro e São Paulo, arquitetos e designers se manifestam na
tentativa de industrializar o mobiliário. As fábricas e ateliês de móveis
modernos criados nesse período, quase sempre buscam obstinada-
mente uma produção em escala e alcançam este intento nos anos
1950. Na grande maioria das vezes começam artesanalmente, e,
depois de reconhecidos todos os detalhes construtivos, vão lentamen-
te iniciando uma sistemática na mecanização ou automação com o
aproveitamento racional da matéria-prima e da mão-de-obra.
5
Entre estes, o Studio de Arte Palma e sua associada Fábrica de Móveis
Pau-Brasil Ltda são exemplos do esforço em atender às solicitações
modernas no mobiliário, apesar de terem apenas desenvolvido uma
produção manufatureira.
Com a abertura de ambos, escritório de projetos de mobiliário e fábrica
que têm como sócios Pietro Maria Bardi, Lina Bo Bardi e Giancarlo
Palanti, acontece, em São Paulo, a primeira de uma série de tentativas
de industrializar a produção moveleira, que vai ao encontro do conceito
de funcionalidade do movimento moderno.
Lina e Palanti dedicam-se ao mobiliário moderno com um indelével sig-
nificado vernacular, persistindo a preocupação com o clima, o povo, os
costumes e os materiais nativos. Nas palavras da arquiteta:
O Studio Palma, fundado em 1948, particularmente se dedicando ao dese-
nho industrial, abrangia uma seção de planejamento com oficina de produ-
ção: uma marcenaria equipada com moderníssimo maquinário e uma oficina
mecânica. Buscou ali criar tipos de móveis (em especial cadeiras e poltro-
nas), adaptados ao clima e à terra, eliminando estofamento exagerado e
usando, o mais possível, os tecidos e o couro distendidos, estofo baixo e
delgado. Um dos problemas básicos foi o de evitar-se a produção do mofo,
amiúde ocorrente na estação das chuvas.
Tentou-se partir do material, procedendo-se a um estudo sobre madeiras
brasileiras, e utilizou-se a madeira compensada recortada em folhas parale-
las, até então não empregada para móveis, que eram construídos de madei-
ra maciça e compensada de “miolo”.
O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraor-
dinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como
seu grau de resistência e de capacidade.
O Studio de Arte Palma funcionou por dois anos e os novos móveis criaram
um “caso de consciência” nos fabricantes passivos, repetidores de mode-
los postergados, acontecendo que em poucos meses a produção se reno-
vou com celeridade, à qual cabe louvar, no dinamismo nacional, mas, na-
turalmente, devido à pressa exagerada, os construtores não se
transformaram em técnicos; contentaram-se em apropriar-se das coisas
que viam nas revistas e se improvisaram como projetistas, do que derivou,
em conseqüência, um típico formalismo “moderno superficial”, que em ar-
quitetura feita por mestre de obras, levam a dizer aos não iniciados que “o
moderno é frio”, (...) e que os móveis desenhados por aqueles que não são
5
As exceções são: Branco & Preto e
Langenbach & Tenreiro, que sempre
mantiveram intencionalmente o
sistema artesanal de produção,
como já comentado.
118
técnicos provocam observações denunciando não terem “os móveis moder-
nos senão aparência barata”, que o “compensado lasca” que se “vêem os
pregos”, e, sobretudo, que são bastante “incômodos”.
Por felicidade, os arquitetos brasileiros começaram a desenhar uma boa
cadeira, uma poltrona razoável, uma bela mesa, contrabalançando, assim,
o dilúvio dos amadores que, sempre, em arte, produzem o regresso, por via
de sua contra-propaganda, na aplicação da teoria mal compreendida.
6
Apesar da curta existência do Palma, Lina e Palanti produzem de for-
ma prolífica. Dezenas de veis são criados e executados tendo em
vista os conceitos modernos e os valores locais. Esta união pode ser
julgada como uma sinestesia, pois, a simplicidade, da adoção dos
condicionantes, dos costumes, materiais, técnicas ou da cultura lo-
cais, resultante nas peças desenvolvidas pelo Palma, remete aos prin-
cípios que o moderno exige.
Neste período de existência do Studio Palma entre 1948 e 1951
Bo Bardi e Palanti criam, principalmente, cadeiras que são fruto da
postura assumida pelos modernos em sintonia com um olhar estran-
geiro sobre o Brasil.
Este olhar estrangeiro identifica um universo popular que perdera o va-
lor, diante da visão corriqueira dos próprios conterrâneos, que vêem no
popular uma trivialidade muitas vezes burlesca, quando nestes artefa-
tos ou costumes pode-se encontrar raízes do passado e o resgate de
valores autênticos da terra.
É a questão que atravessa, nos últimos anos, o pensamento e a arte
contemporâ neos: a perda de sentido das imagens que constituíam nossa
identidade e lugar. Daí o re curso ao olhar do estrangeiro, (...) aquele que
não é do lugar, que acabou de chegar, é capaz de ver aquilo que os que
es tão não podem mais perceber. Ele resgata o significado que tinha
aquela mitologia. (...)
O estrangeiro toma tudo como mitologia, como emblema. Reintroduz imagi-
nação e linguagem onde tudo era vazio e mutismo. Para ele estes persona-
gens e histórias ainda são capazes de mobilizar. Ele é o único que consegue
ver através desta imagerie.
[Peixoto, 1988: 363]
6
BARDI, Lina Bo. Móveis Novos.
Habitat (1): 53, São Paulo, out./
nov./dez. 1950. Os grifos são
da autora.
A rede se tornara
inseparável do indígena,
do mameluco, do sertanejo
contemporâneo, andando,
ao azar das secas, de
‘rede às costas’. A rede
re presenta o mobiliário, o
possuído, a parte essencial,
estática, indivisível do seu
dono. Aonde ia o indígena
levava a rede. Ainda hoje
o sertanejo nordestino
obedece ao secular padrão.
A rede faz parte do seu
corpo. É a derradeira coisa
de que se despoja diante
da miséria absoluta.
Luís da Câmara Cascudo
120
121
No embalo das redes
Tema do título Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica de Luís da
Câmara Cascudo, obra citada em epígrafe [2003: 28], a rede é um arte-
fato da cultura material brasileira, que Lina Bo Bardi resgata no design
de alguns de seus assentos, produzindo um amálgama entre o moderno
e o vernáculo.
A rede para sentar e dormir foi criada pelos indígenas da América do
Sul. O costume indígena de utilizar a ini
7
é pré-cabralino. As redes foram
encontradas na costa brasileira pelos portugueses, quando da desco-
berta do Brasil. A primeira menção ao termo rede
8
, para designar a ini
indígena, remonta aos escritos de Pero Vaz de Caminha que, em 1500,
referindo-se às impressões dos membros da frota portuguesa sobre as
moradias, hábitos e costumes dos tupiniquins, relata:
E, segundo eles diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em
que haveria nove ou dez casas, as quais eram tão compridas, cada uma,
como esta nau capitânia. Eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e co-
bertas de palha, de razoada altura; todas duma peça, sem nenhum repar-
timento, tinham dentro muitos esteios; e, de esteio a esteio, uma rede
atada pelos cabos, alta, em que dormiam. Debaixo, para se aquentarem,
faziam seus fogos.
9
A manufatura das redes entre os índios era ofício feminino, mais tarde
sob influência dos jesuítas. A confecção das redes era uma herança
familiar e sua manufatura era doméstica e tradicional. A rede era parte
da cultura material do indígena, depois do mameluco e do sertanejo,
sempre os acompanhando.
A rede indígena feita em trama de cipó, algodão nativo, ou outras nu-
merosas fibras vegetais, é completada em combinação com outros
elementos. Porém, as mulheres dos portugueses que iniciaram a co-
lonização no Brasil começaram a confeccionar redes tecidas em algo-
dão com trama fechada e ornamentadas com varandas e franjas.
Durante a colonização do Brasil, ainda se utilizavam redes como trans-
porte. Os colonos eram transportados nestas peças por escravos.
Porém, na utilidade para as condições climatológicas, na simplicidade da
trama de fibras nativas, com ou sem atavios, a versátil ini inventada pelos
índios se estabelece territorialmente como a expressão perfeita de uma
cultura nativa e tropical. É a esta ini híbrida, de um Brasil Colônia, que os
historiadores referem-se como leito de dormir ou meio de transporte.
Conferimos alguns registros de Sérgio Buarque de Holanda:
Ao visitar pela Segunda vez a capitania de São Paulo, tendo entrado pelo
Registro da Mantiqueira, Saint-Hilaire impressionou-se com a presença de
redes de dormir ou descansar em quase todas as habitações que orlavam
o caminho. O apego a esse móvel (...) pareceu-lhe dos característicos notá-
veis da gente paulista, denunciando pronunciada influência dos índios outro-
ra numerosos na região.
7
Ini é a palavra que os indígenas
brasileiros utilizam para designar
as redes ou hamacas. Tronco:
Tupi, Familia: Tupi-guarani e
Familia: Kamayurá. In: <http://
base.museudoindio.org.br/
museudoindio/dicionario>.
Acesso em: 23 abr. 2008.
8
Conforme assinala o folclorista
nordestino Luíz da Câmara
Cascudo, Caminha a designa
pelo termo rede por sua
semelhança com a rede de
pescar. In: CASCUDO, Luís
da Câmara. Rede de dormir:
uma pesquisa etnográfica.
São Paulo: Global, 2003, p. 22.
9
CAMINHA, Pero Vaz. Carta. 27
abr 1500. In: <http://www.
culturabrasil.org/carta.htm>.
Acesso em: 23 abr. 2008.
Os grifos são da autora.
(...) É sabido que o europeu recém-chegado ao Brasil aceitou o costume
indígena sem relutância, e razão para crer que, nos primeiros tempos,
esses leitos maneáveis e portáteis constituiriam objeto de ativo intercâmbio
com os naturais da terra.
(...) Com as peças de serviço gentio da terra - tamoio, tupinaen, carijó... -
introduziram-se também, nas casas paulistas, as cunhãs tecedeiras. E, com
elas, os teares de tecer rede, onde a tradição indígena, pouco modificada
neste caso, pela influência das técnicas adventícias, tem permanecido até
nossos dias.
(...) A importância que a rede assume para nossa população colonial pren-
de-se, de algum modo, à própria modalidade dessa população. Em contras-
te com a cama e mesmo com o simples catre de madeira, trastes sedentá-
rios por natureza, e que simbolizam o repouso e a reclusão doméstica, ela
pertence tanto ao recesso do lar quanto ao tumulto da praça pública, à
morada da vila como ao sertão remoto e rude.
(...) O fato é que as redes - redes de dormir ou de transportar - são peças
obrigatórias em todos os antigos inventários feitos no sertão.
10
10
In: HOLANDA, Sérgio Buarque
de. Caminhos e fronteiras.
Rio de Janeiro: Livraria José
Olympio Editora, 1956, passim.
Os grifos são da autora.
Johann Moritz
Rugendas,
Negros no
fundo do porão
[O Navio
Negreiro], 1835
Litografia
colorida a mão,
35,5 x 51,3 cm.
Coleção
Particular
Foto: autoria
desconhecida
Fonte: http://www.
itaucultural.org.br/
aplicExternas/
enciclopedia_IC/
index
Rede de buriti,
índios Waurá,
Mato Grosso
Fonte: http://
www.iande.art.br/
boletim009.htm
Rede de fibras,
índios Tukuna,
Amazônia
Fonte: http://
www.iande.art.br/
boletim009.htm
122
123
Nas artes observam-se também as referências às redes,
como na litografia Negros no fundo do porão, de Rugen-
das, em que existe o registro de um leito, suspenso no
teto do porão à esquerda, no qual um negro descansa.
Câmara Cascudo justifica a utilização cotidiana das re-
des no norte e nordeste do Brasil até a atualidade, com-
parando-a com o leito, engrandecendo o uso destas:
O leito obriga-nos a tomar seu costume, ajeitando-se nele,
procurando o repouso numa sucessão de posições.
A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos
hábitos, repete, dócil e macia a forma do nosso corpo.
A cama é hirta, parada, definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva, colan-
te, acompanha, tépida e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga
e as novidades imprevistas do nosso sossego. Desloca-se, incessantemen-
te renovada, à solicitação física do cansaço. Entre ela e a cama, há a distân-
cia da solidariedade à resignação. [2003: 15]
A ubiqüidade da ini, transformada em rede e pelos portugueses, deno-
ta sua inerência a nossa cultura. É um elemento da terra, um vernácu-
lo, do qual se desconhece o exato período de origem. Talvez por esta
razão Lina Bo Bardi nunca tenha recorrido à palhinha, originária da Ín-
dia, trazida pelas naus portuguesas e comercializadas entre suas co-
lônias os artefatos de cada cultura.
Atenciosa ao costume do povo, Lina Bo Bardi, particularmente, mencio-
na as redes de balanço dos navios “gaiola” que percorrem os rios do
norte do Brasil, como “perfeitos instrumentos de repouso”, podendo
ser utilizados, tanto como leitos ou como assentos [Habitat (1): 54,
1950]. Estas redes foram a inspiração para alguns assentos deste pe-
ríodo, com uma linguagem que resgata elementos culturais, sem des-
cuidar da estética e dos conceitos disseminados pelos modernos.
Alguns assentos haviam sido desenvolvidos utilizando o conceito de
‘assento-encosto’
11
, em lona ou couro, solto, porém fixado nas quatro
extremidades em estrutura de madeira ou metal cujos apoios configura-
vam quatro “V” para apoio no piso. O primeiro caso conhecido é a poltro-
na Tripolina, concebida pelo inglês Joseph Beverly Fenby, patenteada em
1877 e produzida na Itália.
12
Esta cadeira é concebida para uso em
acampamentos, possui estrutura articulável em metal, que se dobra e
possibilita seu recolhimento, tornando-a de fácil manuseio e transporte.
Navios gaiola com suas redes utilizadas como leitos e poltronas
Fonte: Ferraz, 1993: 59
Exposição Nordeste,
Solar do Unhão, Salvador, 1963
Lina Bo Bardi registra a
importância das redes na
exposição Nordeste, apresentada
no Solar do Unhão, em 1963
Fonte: Ferraz, 1993: 159
11
Propõe-se a denominação
‘assento-encosto’, para o espaldar
e o assento da mesma poltrona
ou cadeira que se unem em um
só elemento.
12
Também produzida nos Estados
Unidos como Gold Medal n
o
4.
Joseph Beverly Fenby,
Tripolina, 1877
Imagens e desenhos
Fonte: Meadmore, 1974:
20-23
124
125
A Tripolina tem diversas sucessoras e a mais célebre é a pol-
trona Butterfly, também conhecida como Hardoy, projetada pe-
los arquitetos argentinos Bonet, Kurchan e Hardoy, em 1938,
e produzida pela Knoll.
Lina Bo Bardi cria a poltrona Tripé em duas versões, uma es-
truturada em madeira outra em metal (conduíte). Os croquis
da arquiteta demonstram que ela se refere a uma cadeira com
as características da Tripolina ou da Butterfly, porém, apesar
de utilizar conceitos semelhantes, a Tripé se diferencia das
anteriores em vários aspectos: a estrutura é completamente
diferente, possui somente três apoios e mais simplificados,
que não caracterizam um “V”, o espaldar é mais estreito e a
lona utilizada no ‘assento-encosto’ é mais solta, em alusão à
cultura vernacular brasileira as redes utilizadas como assen-
to e leito, principalmente no Norte e Nordeste. Ambos os mo-
delos da Tripé “diferem da conhecida ‘Tripolina’ de couro,
igualmente inspirada no princípio do ‘forro solto’, pelo movi-
mento ondulante que o corpo pode imprimir ao forro”, argu-
menta Lina Bo Bardi [Habitat (1): 54, 1950].
Lina Bo Bardi desenvolve outros assentos com as mesmas
características da Tripé com o forro solto de lona ou couro
estruturadas em madeira ou metal. Um exemplo é a cadeira
encontrada na residência de Maria Luiza D’Orey Lacerda Soa-
res
13
, que possui o balanço característico da rede, por meio de um
molejo obtido pela constituição estrutural. Este assento adota uma
interessante estrutura metálica, que se sobressai pela continuidade
de uma dupla de estreitos tubos metálicos, paralelos em cada lado
da poltrona, unidos por cinco travessas do mesmo material.
Esta solução refere-se a uma peça mais arrojada, um assento desenvol-
vido por Eva Zeisel, entre 1948 e 1949, cuja base forma um “x” de tubo
sobreposto, viabilizando a composição de toda a estrutura por meio de
um único duto, constituído por várias curvas com raios maiores do que
os propostos na peça de Lina Bo Bardi.
A solução de Zeisel flagra a grande divergência entre os materiais, know-
how e tecnologia que ambos os países Brasil e Estados Unidos
14
pos-
suem no final dos anos 1940. As restrições encontradas pelo Studio de
Arte Palma, sediado num país ainda à margem da indústria moveleira,
condiciona os móveis a soluções mais simplificadas. Esta afirmação
fica evidente na infinidade de croquis que Lina Bo Bardi deixa nesta
época sem dar prosseguimento a estas idéias. Porém, se por um lado
a grande diferença entre o local e o cosmopolita limita a execução dos
anseios da arquiteta, por outro lado, ela tira partido da especificidade
cultural brasileira.
De qualquer forma, ambas as soluções possuem pontos em comum,
principalmente no que diz respeito ao molejo viabilizado pela disposição
dos tubos e pela utilização de uma capa que admite o corpo humano,
tal qual a rede.
13
Encontrada na antiga residência
de Valéria Cirell, atualmente
denominada Jardim de Cristal.
O arquiteto Marcelo Ferraz foi
consultado sobre a autenticidade
deste assento e afirma que
possivelmente a peça é de
Lina Bo Bardi e da época do
Studio Palma.
14
A húngara, Eva Zeisel,
se radica Estados Unidos.
Jorge Ferrari-Hadoy,
Juan Kurchan &
Antonio Bonet,
Butterfly, 1938
Fonte: Fiell, 1997: 245
Lina Bo Bardi,
Studio Palma, Estudos
para a Poltrona Tripé, 1948
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
126
127
Lina Bo Bardi,
Studio Palma,
Poltrona Tripé, 1948
Estrutura em ferro
e capa em lona
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Studio Palma, Poltrona
Tripé (madeira), 1948
Estrutura em madeira
e capa em lona
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
É interessante registrar que vários outros designers se referem direta ou
indiretamente às redes ou à posição de relaxamento que este artefato
possibilita. Como Maria Cecília Loschiavo narra sobre a poltrona e ban-
queta Mole de Sérgio Rodrigues: “os almofadões (...) possibilitam ao
usuário moldar o corpo anatomicamente ao sentar, remetendo, de certa
forma, à aderência perfeita entre o corpo e a rede”, [Santos, 1995: 128].
Também a Cadeirinha de Julio Katinsky, que utiliza o forro de couro solto.
Podem ser citadas também as peças de Carlos Lima, que resgatou a
própria rede na cadeira Maria Bonita e a posicionou em uma estrutura de
madeira, e Michel Arnoult, que remete ao bico do pelicano a lona fixada
em quatro cavilhas sobre a estrutura de madeira ecológica.
Lina Bo Bardi,
Studio Palma,
croquis, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Studio Palma (atribuído),
Cadeira, 1948-50
Estrutura em ferro
e capa em couro
Foto da autora (obtida na residência
Lacerda Soares, antiga Valéria Cirell)
Eva Zeisel,
cadeira e estrutura,
1948-49
Fonte: Fiell, 1997: 291
128
129
A atuação da dupla de arquitetos perante os temas nativos é de grande
importância na assimilação da cultura local para o móvel moderno.
Lina e Palanti estão bem sintonizados e algumas vezes é difícil discernir
sobre a autoria do móvel sem o respaldo das informações obtidas no
Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi.
Segundo imagens deste período, obtidas no Instituto, percebe-se que
há uma predominância na utilização de assentos estofados nas peças
criadas em parceria. Destas concepções compartilhadas, boa parte,
além de estofadas, também possui uma característica diferenciada, de-
nominadas estruturas “bumerangues”, utilizadas por Lina e Palanti em
alguns assentos, cujas estruturas determinam formas que aludem à
morfologia do bumerangue.
Julio Katinsky,
Cadeirinha,
1959
Fonte: Cadeiras
Brasileiras, 1994: 42
Oscar Niemeyer,
Espreguiçadeira,
1977
Fonte: Santos, 1995: 61
Gilberto Carlos
Lima, cadeira
Maria Bonita,
1990
Fonte: Cadeiras
Brasileiras, 1994: 83
Michel Arnoult,
Poltrona Pelicano, 2003
Peça ganhadora do 1º lugar
no 17º Prêmio Design
Museu da Casa Brasileira -
Categoria Mobiliário (2003)
Fonte: <http://www.mcb.sp.gov.br>
Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti,
Studio de Arte Palma, 1948-50
Croquis para estruturas “bumerangue”
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi.
Sérgio Rodrigues, poltrona,
banqueta Mole, 1957
Fonte: Cals, 2000: 50
Sérgio Rodrigues, detalhe
de fixação das peças por
meio de travas, como
executa Lina Bo Bardi
Fonte: Cals, 2000: 51
130
131
Os assentos do tipo que se referem às redes também são incorpora-
dos nas peças de Palanti. Assim como Lina, Palanti também abusa
das fibras, utilizando sozinho ou em parceria com sua sócia, a corda
de sisal. Em muitos assentos de Giancarlo Palanti nota-se um cuidado
apurado com a estética da estrutura, diferenciando os modelos cria-
dos por ele dos de Lina Bo Bardi, através de componentes para os pés
dispostos diagonalmente, enquanto Lina usa mais amiúde este recur-
so nos assentos, quando em parceria com Palanti.
Lina Bo Bardi e Giancarlo
Palanti, Studio de Arte
Palma, poltronas com
estrutura “bumerangue”,
1948-50
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P.M. Bardi
Giancarlo Palanti, Poltronas,
1948-50
A disposição dos pés dos assento
na diagonal é reincidente nas
concepções de Palanti
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Giancarlo Palanti, Poltrona, 1948
Estudo e modelo. Assento
e encosto se unem por meio
de entrelaçamento de cintas
recortadas no couro
Fonte: Cadeiras Brasileiras, 1994: 26 (foto),
Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi (desenho)
132
133
Palanti também cita as redes em alguns modelos que permitem a po-
sição de descanso que estas oferecem. Estes assentos são estrutu-
rados em madeira e os materiais escolhidos para os forros são a lona
e o couro. Este último possibilita Palanti a concepção de um belo mo-
delo de poltrona, no qual o feitos recortes no couro que resultam
em cintas entrelaçadas na posição em que se unem o assento e o
encosto e enlaçam dois elementos horizontais, onde se ajustam as
cintas com fivelas. Este sistema e o posicionamento do corpo conce-
dem ao assento uma certa exibilidade, o que talvez tenha derivado
dos assentos das redes de balanço.
O uso de corda de fibra vegetal também faz parte dos assentos de Lina
e Palanti, que exploraram este material em cadeira, poltrona e espregui-
çadeira, peças em pau-marfim, que são visualmente leves pela disposi-
ção espaçada da corda.
Provavelmente pela influência que Gio Ponti exerce sobre Lina Bo Bardi,
no que diz respeito ao emprego de materiais rústicos, ela propõe alguns
modelos em Palma que destacam as fibras vegetais encontradas em
terras brasileiras, como a taboa e o sisal.
Ponti defende a utilização das tradições artesanais italianas. Entre
1951 e 1957, ele desenha a Superleggera, cadeira que possui assento
em trama de junco. Esta cadeira tem características em comum com a
cadeira de assento e espaldar em taboa desenvolvida por Lina no
Palma, entre 1948 e 1949. Estes modelos possuem estrutura de ma-
deira semelhante, são leves e utilizam fibras vegetais.
Além das questões materiais e culturais, na observância da questão
climática, o Studio Palma propõe móveis que podem se adequar às
condições tropicais. Como exemplo, várias cadeiras cujos encostos e
assentos são tratados de modo que o material a estes incorporado
permitisse grande arejamento.
Em especial, a cadeira Preguiçosa remete a várias questões culturais
brasileiras: o ‘assento-encosto’ é associável à rede e ao mesmo tempo
é arejado através da trama aberta do sisal natural.
A cadeira Preguiçosa é um exemplo ímpar, que estabelece um vínculo
bastante preciso com a cultura local. Primeiro, porque ela remete às
redes de balanço por seu forro solto fixado nas extremidades. Segun-
do, porque ela possui uma trama aberta de sisal natural, permitindo o
arejamento que o clima exige e destacando uma fibra retirada de nos-
so solo. Terceiro, porque esta propõe o sentar quase agachado, numa
alusão à posição acocorada. A altura deste assento traduz o costume
brasileiro, adotado pelos indígenas, de sentar de cócoras, pois a posi-
ção que o indivíduo permanece é muito próxima a essa atitude, com a
vantagem do encosto.
Giancarlo Palanti,
Poltrona, 1948
Assento que remete às
redes com forro de lona
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Giancarlo Palanti, Poltrona, 1948
Espreguiçadeira com corda de fibra
vegetal espaçadas e esticadas
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Gio Ponti,
Superleggera,
1951-57
Assento em
trama de junco
Fonte: Fiell, 1997: 349
Lina Bo Bardi,
Cadeira, Studio de
Arte Palma, 1948-49
Assento em trama
de taboa
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi, Cadeira Preguiçosa,
Studio de Arte Palma, 1951
Em madeira compensada, cedro maciço e sisal natural.
Uso de sisal aberto, forro em alusão às redes de balanço e
altura do assento baixa, remete ao ato de sentar de cócoras
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
134
135
Cunhando idéias... a trava do carro de bois
A musicalidade resultante do atrito do chumaço
15
com o eixo é uma
característica específica de cada carro de bois. Com uma afinação in-
confundível se faz ouvir um ritmo único, peculiar, que permite a grandes
distâncias, discernir a direção, o peso da carga e a identidade do pro-
prietário de cada carro de bois. Esta cantoria, que encanta os autores
da literatura de cordel transcrita no início deste texto
16
, pode ter tam-
bém fascinado Lina Bo Bardi, sempre inclinada à cultura popular.
Imortalizado nas pinturas de Frans Post e Jean-Baptiste Debret, o sim-
ples carro de bois sulca duas linhas paralelas no solo virgem desta
terra, que traçam parte da história do povoamento e da agricultura
deste país com duas rodas pesadas, maciças e presas às pontas do
eixo com cunhas.
Principalmente no Brasil Colônia e Império, o carro de bois é o instru-
mento utilizado no transporte e no trato da terra agrícola. Ele é um dos
responsáveis pelo progresso rural do Brasil.
Introduzido pelos colonizadores portugueses, o carro de bois difunde-se
por todo o país, existindo ainda no meio rural nordestino. Porém, o pro-
cesso construtivo, feito com grande esmero pelos mestres no passado,
não tem sucessores, parece não ter-se perdido com o passar do tempo.
O êxito na construção simples do carro de bois depende do emprego das
madeiras utilizadas para cada peça. Os bons mestres na execução deste
veículo escolhem as árvores e a época de derrubada destas, além de
cuidar minuciosamente dos trabalhos de serraria e de forjamento das
ferragens. O processo de construção é artesanal, e cada mestre imprime
seu caráter, apesar de todos os carros se assemelharem.
E o bom resultado para que estes possam se movimentar depende das
travas ou cunhas que fixam as duas rodas às espigas ou extremidades
do eixo, onde as rodas são colocadas. Estas pontas de eixo se conver-
tem em forma de troncos piramidais para travar as rodas que também
têm orifícios no mesmo formato. Nas pontas de eixo que sobressaem
das rodas existe um furo próprio para a instalação da trava, sendo que
furo e trava também são tronco-piramidais.
Estes dois últimos componentes, trava e ponta de eixo perfurada, são
os que nos interessam nesta pesquisa, pois são os elementos incorpo-
rados por Lina Bo Bardi em seus móveis e arquitetura.
Os assentos são os primeiros a incorporar estas cunhas de travamento.
O Studio Palma adota estas peças em cedro para unir as travessas
horizontais à estrutura das cadeiras.
A simplicidade na execução destas cadeiras é estabelecida através das
linhas modernas e pela utilização destas peças de encaixe resgatadas
das técnicas rústicas populares.
(...)
Cheda, mesa, tamoeiro,
são peças que têm no carro,
chumaço, junta, pigarro,
chavelha, camba, fueiro,
eixo e no lado traseiro,
caniços e argolão,
na roda, pino, meão,
na borda, o ferro cercava.
Meu carro de boi cantava
nas quebradas do sertão.
(...)
José Aires de Oliveira e
José de Sousa Dantas
Meu carro de boi cantava
nas quebradas do sertão
15
Regionalismo: Brasil. Chumaço:
peça de madeira em que se
movimenta o eixo do carro de bois,
produzindo chiado característico.
In: Houaiss, 2004: 707.
16
OLIVEIRA, José Aires; DANTAS,
José de Sousa. Meu carro de
boi cantava nas quebradas do
sertão. Literatura de Cordel.
In: <http://www.usinadeletras.com.
br/exibelotexto.php>.
Acesso em: 20 mar 2008.
136
137
Frans Post, Carro de Bois, 1638
óleo sobre tela, 61 x 88 cm, Musée du Louvre, Paris
Reprodução fotográfica de autoria desconhecida
Fonte: <http://www.itaucultural.org.br>
Carro de boi, Caetité, Bahia
Reprodução fotográfica
não divulgada
Fonte: <http://pt.wikipedia.org>
Lina Bo Bardi,
Studio Palma, 1947-50
Cadeira desmontável
em madeira
compensada,
travas e cunhas em
cedro maciço, assento
estofado, encosto
em tecido
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Studio Palma,
1947-50
Conjunto de mesa
e cadeiras que
utilizam o sistema
de travas e cunhas
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
Giancarlo Palanti,
Studio Palma, 1947-50
Cadeira “corda”,
assento em madeira
compensada e corda,
travas e cunhas
em cedro maciço
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Casa Valéria
Cirell (atual
Casa do Jardim
de Cristal), 1958
Aquarela
da fachada
principal, detalhe
da estrutura,
foto da época
e foto atual
Fonte: Ferraz,
1993: 118
Foto: Nelson Kon,
2002 (foto atual,
à direita)
138
139
Lina e Palanti nunca descuidaram da associação às questões culturais
populares, ao criar o mobiliário para o Studio Palma, o que diferencia
sua proposta dos móveis produzidos na Europa e nos Estados Unidos,
sem dispor dos conceitos disseminados pelos modernos.
Porém, a arquiteta ultrapassa os limites do design de mobiliário com
estas peças de travamento como componentes dos pilares da Casa de
Valéria Cirell (1958) e da escadaria do Solar do Unhão (1959). Ou seja,
o sistema de encaixe utilizado popularmente em carro de bois, é pro-
posto entre 1948 e 1950 em assentos do Studio Palma e adaptado à
arquitetura, alguns anos mais tarde.
Na estrutura da residência de Valéria Cirell, identificamos o travamen-
to proposto na aquarela produzida por Lina Bo Bardi, no croqui do de-
talhes da peça na estrutura e nas fotos da época. Porém, estas peças
não estão mais presentes nesta residência que hoje é denominada
Casa do Jardim de Cristal.
17
A escada do Solar do Unhão, projeta-
da pela arquiteta, totalmente em ma-
deira, em 1959, também utiliza estes
elementos como travamento de cada
degrau às vigas inclinadas que, por
sua vez, descarregam o peso nos pi-
lares. O que confere à escadaria um
espírito vernacular é justamente a
disposição destas cunhas utilizadas
pelos primeiros colonos no Brasil
para o transporte de mercadorias.
Também na proposta de assentos
para o auditório do Masp, à Avenida
Paulista, é criado um encaixe com
trava e cunha para fixar a peça que
suporta o assento.
17
A atual proprietária, Maria Luiza
D’Orey Lacerda Soares adquire
a casa no anos 1970 e,
segundo esta, nesta época
já não existiam as cunhas de
travamento na estrutura.
Lina Bo Bardi, Escada do
Solar do Unhão, 1959
Escadaria e detalhe do
travamento dos degraus às vigas
Fotos: Nelson Kon, 2002
e autora, 2007 (detalhe)
Lina Bo Bardi, assento proposto para
o Masp à Avenida paulista, 1967
Travamento entre peças do assento
feito por meio de trava e cunha
Fonte: Ferraz, 1993: 108
Carrinho de chá em madeira, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Peter Scheier
Trocador de
bebês, 1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Mesa estruturada em
metal com tampo em
madeira, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Mesas em madeira, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Peter Scheier
Mesinha
com alças
em madeira,
1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Mesinha de
telefone, 1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Luminária de parede, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: H. Ballot
Mesa em compensado,
1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Porta-revistas e
mesinha de sala,
1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Peter Scheier
Manequins de
madeira, 1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Peter Scheier
Giancarlo
Palanti mesa
em madeira,
1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Outros móveis do Studio Palma
Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti
Mesas encaixáveis em
compensado, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Peter Scheier
Porta-revistas em
madeira e corda
esticada, 1948-51
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
140
141
Palma e os ambientes
Editoriale Domus,
rua Sete de Abril, São Paulo, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi Foto: Editoriale Domus
Facit Halda,
rua Sete de Abril,
São Paulo, 1950
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Roberto Maia
Mapa Importadora,
rua Sete de Abril, São Paulo, 1949
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Residência Mário Bittencourt,
São Paulo, interior e mobiliário, 1949-50
Projeto arquitetônico: Vilanova Artigas, 1949
O Studio de Arte Palma cria este ambiente
com móveis concebidos na busca da
simplicidade estrutural, do aproveitamento
da beleza e da resistência das madeiras
brasileiras. Os móveis são estruturados em
compensado, os assentos são estofados e
revestidos com tecido e em material plástico.
Um dos interiores propostos por Lina e Palanti,
que dialogam com o projeto arquitetônico
moderno de Vilanova Artigas
Fonte: Ferraz, 1993: 60
142
143
Palma e os ambientes
Estudos para
residências, 1948-51
Fonte: Ferraz, 1993: 62-63
Galeria Ambiente,
1948-51
Fonte: Ferraz, 1993: 60
Interior do Studio de
Arte Palma, 1948-51
Fonte: Ferraz, 1993: 56
Poltrona e cadeira
em compensado e mesa
em madeira, 1948
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Roberto Maia
Cadeira em pau-marfim e tiras de couro, 1948
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi Foto: Roberto Maia
144
145
Palma e os ambientes
Cadeira em pau- marfim
e tiras de couro, 1948
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Foto: Roberto Maia
Giancarlo Palanti,
residência particular: mobiliário
e cadeira C12, 1948-50
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Giancarlo Palanti,
cadeira e mesa, 1948
Fonte: Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi Foto: Roberto Maia
O móvel também tem sua
moralidade e razão de ser
na sua própria época.
Lina Bo Bardi
146
147
A tigela caiçara - bowl
Como destacado por Lina Bo Bardi, a “moralidade e rao
de ser” do móvel em “sua própria época” conduz os cria-
dores de mobiliário a perseguir uma produção seriada [Fer-
raz, 1993: 76]. Diante da associação dos conceitos mo-
dernos e da utilização de elementos culturais locais,
torna-se um grande desafio conciliar os valores da cultura
popular brasileira à exigência de uma seriação, que garan-
te as premissas do que se estabelecera como moderno.
Ainda em 1950, a arquiteta escreveu um artigo intitulado Móveis Novos,
onde destaca as já referidas redes utilizadas como referência para algu-
mas de suas poltronas. E, sem qualquer explicação – a não ser o fato
de ter esclarecido a questão cultural inserida em suas ‘cadeiras-rede’
–, entre as colunas do texto aparece a imagem de uma tigela com a
seguinte legenda: “Tigela entalhada a faca por um caiçara de Caragua-
tatuba” [Habitat (1): 53-54, 1950]. Nada mais. Um objeto popular, cuja
forma, esférica, pouco tempo depois é utilizada, numa morfologia muito
semelhante, na criação de uma poltrona.
Tigela entalhada por
caiçara de Caraguatatuba
Fonte: Habitat (1): 53, 1950
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl, 1951
Croquis de
desenvolvimento
do assento
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
148
149
18
In: Documento do Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi.
Também observamos, nos croquis executados para o desenvolvimento
da Bowl, um comentário: “minimum armchair”
18
, que faz referência aos
apelos dos arquitetos da vanguarda alemã pelo funcionalismo. Nas pro-
postas sociais para a arquitetura residencial alemã do primeiro pós-
guerra, a expressão Existenzminimum (moradias para subsistência) de-
fine o intuito desta postura.
Em um outro croqui, ela esboça uma estrutura muito próxima ao que
viria a ser, dezesseis anos mais tarde, a Cadeira de Beira de Estrada,
cuja simplicidade remete a uma peça composta pelo minimamente in-
dispensável, e que denota seu apreço extremo pela cultura popular,
como trataremos mais à frente.
A partir do tema cultura popular, ou vernacular, e do desejo de propor
um objeto inserido no conceito iniciado pela vanguarda da arquitetura
alemã, após inúmeros croquis, nos quais pode-se perceber propostas
variadas quanto à estrutura e à forma esférica do assento-encosto, Lina
Bo Bardi idealiza a poltrona Bardi’s Bowl.
Criada em 1951, esta poltrona é totalmente inovadora para a época,
com simplicidade advinda de uma estrutura tubular metálica esbelta,
com quatro pés nos quais se apóia um anel, que sustenta uma porção
de esfera compreendida entre um plano tangente e um secante reves-
tida com estreita camada de estofamento e couro com uma pequena
almofada circular em seu centro.
Uma tigela sobre um aro com quatro pés. Esta singeleza resulta de uma
série de estudos, croquis e desenhos que a arquiteta desenvolve, pro-
vavelmente tendo em mente a cuia, cumbuca ou tigela de barro ou en-
talhada em madeira por indígenas ou caiçaras.
Em anotações pessoais publicadas por
Marcelo Ferraz, Lina Bo Bardi escreve se
referindo a Bowl:
O móvel também tem sua moralidade e ra-
zão de ser na sua própria época. A cópia dos
estilos passados, os babados, as franjas,
são índices de mentalidades incoerentes,
fora da moralidade da vida. [1993: 76]
Na mesma década, Flávio de Carvalho
concebe a Cadeira de Percintas, que es-
tabelece um vínculo formal e conceitual
indiscutível com a Bardi’s Bowl. A estru-
tura tem pequenas alterações com rela-
ção à poltrona de Lina Bo Bardi. A pró-
pria ausência de uma concha e utilização
de couro solto no assento e encosto em
percintas do mesmo material se relacio-
na também com os assentos de forro
solto criados pelo Studio Palma.
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl, 1951
Desenho técnico
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl, 1951
Revestida em couro
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl,
anos 1950
A versão da Bowl
revestida em tecido
é criada alguns
anos após a versão
original, em couro
Foto: F. F. Albuquerque
Lina Bo Bardi, Bardi’s
Bowl, anos 1950
A versão da Bowl
revestida em tecido,
por Adriana Adams
Fonte: Instituto
Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Flávio de Carvalho,
Cadeira de percintas,
anos 1950
Fonte: Cadeiras Brasileiras
1994: 43
150
151
Lina Bo Bardi solicita a patente da Bowl em 1 de junho de 1953 e obtém
o certificado de patente americano desta poltrona em 10 de dezembro
de 1956. A Serviçal S/A Técnica e Comercial, assim apresenta a soli-
citação da patente:
O objeto do presente pedido é um novo modelo de poltrona. As principais
características pelas quais a presente poltrona difere das demais congêne-
res, é que referencia sua configuração, inédita e altamente estética e ao seu
modo de uso.
Com efeito a poltrona é prática e cômoda, cujo ângulo
de inclinação de acordo com a posição que se deseja
dar ao corpo, poderá ser alterado por simples toque
de mão, enfim preenchendo todos os requisitos es-
senciais exigidos por um modelo de utilidade.
Pelos desenhos anexos demonstrativos têm-se:
A figura no. 1, mostra um perfil lateral da poltrona,
mostrando as linhas pontilhadas as diversas posições
que pode assumir.
A figura no. 2, uma vista em planta.
Esse novo modelo de poltrona, constitui-se essencial-
mente por um aro (1) disposto no plano horizontal,
provido inferiormente de quatro pés (2) eqüidistantes
e oblíquos para dar maior resistência e estabilidade
a poltrona.
Tem apoiado livremente neste aro, um corpo (3) em forma
meia esférica. E de maior diâmetro, o qual pelas caracte-
rísticas descritas poderá situar-se em qualquer posição ou
melhor em qualquer ângulo em relação ao plano do aro.
Dando maior comodidade a pessoa que dela faz uso.
Esse corpo meio esférico que constitui a poltrona propriamente dita poderá
ser provido de almofadas (4) para seu maior conforto.
Pelo exposto e desenhos anexos demonstrativos vê-se que realmente esse
novo modelo de poltrona é de inconteste novidade no gênero, de grande
valor prático, econômico, e industrial, motivo pelo qual se torna merecedo-
ra do privilégio pleiteado.
19
Dentre os documentos desta solicitação são levantados quatro assentos
como referências à Bowl e cujas patentes são anexadas ao processo des-
ta. Estes assentos têm certas caractesticas que remetem ao assento de
Lina Bo Bardi e todos são patenteados em 1952. Os designers citados o
Joseph Cichelli, Harry Bertoia, Frank T. Hilliker e Daniel R. Johnson.
Em 1952, a indústria de móveis Ambiente, lança no mercado, a poltrona
Bardi’s Bowl ou Tigela Bardi.
19
Trecho do documento de
solicitação da patente feita pela
empresa A Serviçal S/A Técnica
e Comercial, em 1953. Fonte:
Instituto Lina Bo Bardi e P. M.
Bardi. Os grifos são da autora.
Lina Bo Bardi,
Bardi’s Bowl, 1951
Desenho técnico
que consta na
solicitação de patente
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Desenhos técnicos de assentos patenteados em 1952,
utilizados como referência no processo da patente
da Bardi’s Bowl, como parte da documentação de
aprovação desta patente
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Joseph C. Cichelli Harry Bertoia
Frank T. Hilliker Daniel R. Johnson
152
153
Lina Bo Bardi é destaque em diversas publicações na Europa, com ‘as-
sento-encosto’ com forma de tigela, é considerada revolucionária por
admitir diversas posições do corpo humano. E, conforme a idéia que o
padre Carlo Lodoli defendera no século XVIII, sua forma esférica, como
a que melhor se adaptaria ao corpo humano.
20
Nas páginas da Habitat,
são propostas diversas posições e funções para o uso da Bowl: ler,
pensar, deitar, aninhar-se e dormir [Habitat (12): 36-37, 1953].
Uma imagem de Lina Bo Bardi utilizando a Bowl é publicada na capa
premiada da revista Interiors de novembro de 1953. Estas fotos publici-
tárias de Lina Bo Bardi e de Odete Lara são importantes para exibir as
diversas posições que o corpo pode assumir na versátil “tigela”.
20
MEMMO, Andrea. Elementi d’architettura
Lodoliana. In: Frei Lodoli e a cadeira.
Habitat (1): 52, São Paulo, out./nov./
dez. 1950. O texto de Memmo e uma
imagem de cadeira antiga com formas
arredondadas (sem referência de data),
foram reproduzidos na página anterior à
que foi colocada a imagem da tigela no
mesmo número da Revista Habitat.
Capa da revista
Interiors, nov. 1953
Fonte: Instituto Lina Bo
Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi, fotos para
publicidade da Bardi’s Bowl
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Odete Lara, fotos para
publicidade da Bardi’s Bowl
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
154
155
Cantù acocorado
O costume ainda típico do brasileiro em meados do século XX é imorta-
lizado por diversos autores, como se observa na reflexão “não estive
em boas cócoras” do personagem Riobaldo, em Grande sertão: veredas
de Guimarães Rosa [2007: 137]. É desta atitude que Lina Bo Bardi
desencadeia uma série de móveis para o concurso de Cantù.
A cidade italiana de Cantù é conhecida como centro de grande habili-
dade entre os marceneiros e artesãos, contudo, segundo artigo da
revista Habitat, imperava o “mau gosto”. Porém, logo após a Segunda
Guerra, liderados por Gio Ponti, alguns arquitetos e artistas italianos
iniciam um movimento para modernizar este centro artesanal, no intui-
to de transformar a mentalidade local no sentido de incorporar as
formas modernas e as vantagens da indústria, sem perder a herança
do artesanato local. Este grupo propôs, então, concursos e exposi-
ções internacionais em Cantù [Habitat (46): 34, 1958].
Em conseqüência deste apelo, e situada na esteira de Gio Ponti, Lina
Bo Bardi se empenha numa pesquisa sobre os costumes e móveis po-
pulares brasileiros, desenvolve um projeto para uma mobília completa,
participando, portanto, do concurso de Cantù de 1957.
Assim como a cadeira Preguiçosa da arquiteta e outras do Studio de
Arte Palma, nesta proposta para Cantù, o costume de sentar em cóco-
ras é empregado e representado por meio de um banquinho peça
mais singela e de maior representatividade na utilização do universo
popular brasileiro desenvolvida para o concurso em Cantù.
O costume do ser humano de agachar-se sobre os tornozelos tem ori-
gem longínqua, pois é sabida a existência de registros rupestres neste
sentido. Mesmo os índios brasileiros herdaram o hábito de seus ances-
trais primitivos.
Alguns registros da pintura de Jean-Baptiste Debret do início do século
XIX, também podem atestar sobre este mesmo costume entre os ne-
gros no Brasil.
21
E o arrieiro dono da tropa
– que era o de cara
redonda e pra clara – me
fez uma interrogação. Não
estive em boas cócoras.
Construí de desconfiar.
João Guimarães Rosa
21
Recentemente foi descoberto um
caderno na França, cujas páginas
desenhadas mostram um Debret
muito atento ao aspecto social
e aos costumes da terra, o que
confere a estes desenhos um
caráter etnológico de grande
valor para o Brasil. Este caderno
permaneceu esquecido por
mais de um século, entre as
prateleiras da Bibliothèque
Nationale de Paris, até que foi
redescoberto durante pesquisa
feita sobre a Missão Francesa no
Brasil, em 2003. Segundo Julio
Bandeira, que publicou estas
imagens do caderno de viagem
de Debret, estes desenhos e
aguadas inéditos foram feitos
nas calçadas do Rio de Janeiro
entre 1820 e 1831. BANDEIRA,
Julio (texto e organização). Jean-
Baptiste Debret – Caderno de
viagem. Rio de Janeiro: Editora
Sextante Artes, 2006.
Jean-Baptiste Debret
Desenhos, Caderno de
Viagem, 1820-31
Fonte: Bandeira, 2006: 43
Detalhe de desenhos,
Caderno de Viagem, 1820-31
Fonte: Bandeira, 2006: 43
156
157
Por outro lado, é interessante rememorar o significado deste termo ‘có-
coras’ no contexto da obra de Monteiro Lobato:
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha,
sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar
cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atrás da
casa. Perto corria um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lam-
baris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo. [1951: 329]
Sob a perspectiva de um caboclo brasileiro, Lobato cria um persona-
gem, que representa o perfil típico da maioria do povo brasileiro. Não
figura mais caricatural deste povo, do que o Jeca Tatu. Enquanto o fato
de “ser caboclo” orgulha “respeitáveis figurões”, na visão de Lobato,
Jeca é um “urupê” que impede a marcha da civilização e da modernida-
de. É um sertanejo que vive alienado e de cócoras, “incapaz de evolu-
ção, impenetrável ao progresso”, sua inquietação é “espremer todas as
conseqüências da lei do menor esforço”. O acontecimento importante
era, “sem dúvida, votar no governo” [1994: 167-172].
[Jeca] era fruto de um passado colonial que precisava ser superado e esque-
cido; Jeca representava a figura típica de um Brasil da “idade das trevas”, ou
seja, um Brasil colonial que os modernistas queriam esquecer extinguindo
todos os vestígios que o identificasse com esse período. Ele surgiu a partir
do momento que se idealizou um Brasil Moderno, um Brasil que deveria re-
direcionar sua trajetória para o caminho da industrialização e da urbaniza-
ção. [Carola, 2007: s/p]
Porém, descontando a caricatura exagerada do Jeca de Lobato, a atitu-
de de sentar-se de cócoras é inerente a nossa cultura ainda em meados
do século XX. Tão peculiar nas pessoas simples nascidas neste solo,
que desperta em Lina Bo Bardi a observância do modo de sentar ou
descansar do brasileiro.
Por circunstâncias ocasionais foram observados os caboclos brasileiros em lu-
gar dos camponeses italianos ou franceses; o fato importante é a observação
de uma posição cômoda e primitiva do corpo humano.[Habitat (46): 34, 1958]
Aqui encontramos uma contradição. A favor do moderno, Lobato aspira-
va olvidar o passado colonial, que está representado no texto do Jeca
acocorado. Em contrapartida, Lina Bo Bardi pretende despertar as cóco-
ras e incorporar ao moderno este costume popular.
Contudo, o banquinho para Cantù não apenas remete ao costume de
acocorar-se. Ele remete aos inúmeros banquinhos baixos de autoria
anônima que salpicam por toda parte no Brasil, desde o período colo-
nial. Provavelmente, o uso de assentos mais baixos vem de antigos
afazeres domésticos ou do campo, como a pratica da ordenha. Foi mui-
to utilizado nas fazendas de café
22
e, como registrou Debret, nos traba-
lhos de engenho.
Inúmeros outros bancos baixos brasileiros de autoria anônima foram regis-
trados durante exposições que trataram especificamente de assentos.
23
22
Cf. Artezanato [sic] industrial?
Habitat (46): 34, São Paulo, jan./
fev. 1958. A maioria do texto
deste artigo da revista Habitat é
transcrito das pranchas do projeto
original de Cantù, escrito por Lina
Bo Bardi em italiano.
23
Inclusive uma exposição organizada
por Lina Bo Bardi e equipe no Sesc
Fábrica Pompéia, que deu origem
ao catálogo da exposição O Design
no Brasil – no Centro de Lazer
SESC Fábrica Pompéia. São Paulo:
Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand, 1982. Também
outra realizada no Museu da Casa
Brasileira que ficou registrada em
CADEIRAS brasileiras. São Paulo:
Museu da Casa Brasileira, 1995.
Jean Baptiste Debret,
Engenho Manual que Faz
Caldo de Cana, 1822
Aquarela sobre
papel, c.i.e. 17,6 x 24,5
cm, Museu Castro
Maya - IPHAN/MinC
(Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica
Pedro Oswaldo Cruz
Anônimos, bancos indígenas
Fonte: Cadeiras brasileiras, 1995: 92-93
Anônimo,
banco tosco
Fonte: Cadeiras
brasileiras, 1995: 92
Anônimo,
banco cachorrinho
Fonte: Cadeiras
brasileiras, 1995: 94
Anônimo,
banco caipira
Fonte: Cadeiras
brasileiras, 1995:94
Anônimo,
banco em “x”
Fonte: Cadeiras
brasileiras, 1995: 96
158
159
O projeto para o concurso de mobiliário para Cantù, de 1957, demons-
tra a intenção de tornar possível um móvel que falasse a favor dos
costumes locais como o agachamento iniciado nesta terra pelos ín-
dios, copiado pelos caboclos e disseminado por todo o território.
Neste contexto, a referência ao ato de sentar em cócoras remete a mea-
dos do século XX, período em que essa atitude ainda é muito corriqueira
em todo o país, inclusive em São Paulo, que neste período cambiava um
perfil provinciano por ares de cidade grande. Neste centro urbano que em
pouco tempo viria se tornar uma grande metrópole, pode-se encontrar
homens agachados sobre seus tornozelos que aguardavam trens, ônibus
ou bondes nas estações e nos pontos. Era a típica posição de espera do
homem simples, quando não havia assentos disponíveis.
Lina Bo Bardi concebe, portanto, um componente para tornar possível
um banquinho baixo, peça mais representativa concebida para o concur-
so, sediado em Cantù, que sempre valoriza a cultura local, por meio do
artesanato. Conforme publicado em 1958:
O elemento “base” foi desenhado de acordo com as observações feitas com
os caboclos do interior que ficam por horas a fio de cócoras; o corpo assume
uma posição especial (este hábito vem dos índios), e o móvel que correspon-
de a esta posição é o banquinho, muito usado antigamente nas fazendas de
café. Ao estudar a posição do corpo humano sentado no banquinho ou de
cócoras, pode-se observar a relação entre a curva do corpo sentado e a curva
inferior da perna correspondente ao joelho. única relação entre as duas
curvas. [Habitat (46): 34, 1958]
A arquiteta almeja propor uma família de móveis, cujo elemento base
possui um significado distinto inserido na cultura popular brasileira, neste
caso, mais especificamente, na vernaculidade do móvel e do costume.
Segundo Lina Bo Bardi, o intento é alcançado com a utilização deste ele-
mento básico, tornando possível a construção de um banquinho baixo, que,
por sua vez, remete aos bancos das antigas fazendas e, ao mesmo tempo,
faz referência a uma posão peculiar e corriqueira do brasileiro simples. A
meão deste banquinho simples e artesanal alude a estes veis as
características formais dos antigos veis populares e artesanais.
Ela entende que a variedade de móveis possíveis, a partir de um elemen-
to predominante, camuflasse a obviedade de sua industrialização, apesar
da criação de móveis totalmente possíveis para a indústria, como se ob-
serva no cuidado com a repetição deste componente bumerangue ,
permitindo diversas composições e facilitando a seriação.
Esta é a circunstância que inscreve este mobiliário no contexto moderno.
Ou seja, a arquiteta se empenha na difícil tarefa de projetar veis que
pudessem atender às expectativas da indústria moderna, mesmo sem
evidenciar a produção seriada e, ao mesmo tempo, direcionados à funcio-
nalidade requerida para um objeto moderno.
Assim, representando o Brasil em Cantù, este banco sobre-
põe-se à obviedade industrial, com a finalidade de caracte-
rizar os móveis como produtos de uma tradição local.
Lina Bo Bardi cria uma forma para um elemento padrão, um
bumerangue, que assume uma função estrutural em dife-
rentes tipos de móveis. Ela também projeta estes elemen-
tos em pranchas de compensado (2,20 m x 1,60 m), viabi-
lizando o aproveitamento máximo do material para corte.
Esta morfologia que se reporta a um bumerangue, era
explorada no Studio Palma em diversos estudos e solu-
ções, como narrado. A matéria-prima para Cantù é a
mesma, a madeira compensada,
“Capitão” no
banco caipira
Foto: Marcelo
Ferraz, 1984
Lina Bo Bardi, Concurso
para mobiliário, Cantù, 1957
Desenhos representativos do uso
dos bancos baixos nas fazendas
antigas e do costume de ficar em
cócoras, exemplificado na prancha
explicativa (tavola esplicativa)
para o concurso.
Fonte: Ferraz 1993: 96
Lina Bo Bardi, Concurso para
mobiliário, Cantù, 1957.
Desenhos das vistas de um
banquinho utilizado nas fazendas
antigas, exemplificado na prancha
explicativa (tavola esplicativa)
para o concurso
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi, Concurso
para mobiliário, Cantù, 1957
Desenho dos recortes de trinta
bumerangues em prancha de
compensado de 2,20 m x 1,60 m
Fonte: Ferraz 1993: 97
160
161
cuja forma permite um desenho extremamente moderno que lembra as for-
mas de pintura abstrata contemporânea, mas que dependem unicamente da
função e não do capricho formal. Este tipo de estrutura volta ao estilo em
que os elementos se repetem, como nos estilos do passado, com diferença,
no entanto, de que o elemento repetido é agora ditado por uma exigência
construtiva [Habitat (46): 35, 1958].
A partir deste princípio construtivo é proposta uma família de móveis
que poderiam ser executados industrialmente e que possibilitariam
uma série de variantes a partir da padronização de elementos.
Lina Bo Bardi esclarece nas pranchas apresentadas que a madeira com-
pensada, lixada e encerada, é escolhida por várias razões: resistência,
economia, variedade de formas possíveis e simplicidade construtiva. As
seguintes determinações são propostas para o grupo de móveis: a fixa-
ção da estrutura é através de parafusos, simplificando a montagem e a
entrega dos móveis; a madeira deve ser compensada natural encerada
não envernizada –; o acabamento do perfil de corte da madeira compen-
sada tem duas alternativas – ao natural ou em laca colorida brilhante –;
o sistema de molas chatas tipo No-Sag ou similar é utilizado nas unida-
des estofadas, revestidas com esponja celular ou espuma de borracha e
fixadas com ganchos; em alguns dos assentos recebem uma camada de
borracha diretamente sobre a madeira; as camas também seguem o
sistema de molas No-Sag e o colchão têm molas espirais; a união de dois
componentes de compensado é feita por encaixe ou justaposição, quan-
do compostos por três elementos unidos pode ser utilizada uma peça
“distancial”, constituída por um anel de madeira da mesma espessura
que a madeira; a ferragem é padronizada, desde que o design seja conve-
niente (ou “decente”, como sugere Lina Bo Bardi); a tingidura do compen-
sado pode ser efetuada, desde que seja testada anteriormente, neste
caso, após a tintura, a madeira pode ser envernizada lustrada
“a álcool”, os perfis podem ser laqueados [Habitat (46): 35-36, 1958].
Hall de entrada
Lina Bo Bardi, Concurso para
mobiliário, Cantù, 1957
Croquis de assentos para o
Studio de Arte Palma, 1948-51
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Concurso para
mobiliário, Cantù, 1957
Desenhos
demonstrativos sobre
a origem da forma e
dimensionamento do
elemento – bumerangue
– que se relaciona
à posição do ser
humano sentado e
dos ângulos formados
por esta postura
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi
e P. M. Bardi
Elemento básico de madeira
compensada. Há uma relação
entre a linha do corpo sentado
e a curva do joelho, devido à
proporção entre as diversas
partes do corpo-humano.
O elemento que satisfaz às duas
medidas deve ser proporcional
a todas as demais: altura dos
assentos, das mesas, etc...
À direita, gráfico das linhas
que correspondem à curva do
corpo sentado (na poltrona) e
da curva e inclinação
correspondente ao joelho (na
cadeira de 45 cm de altura)
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e
P. M. Bardi e Habitat (46): 35, 1958
Lina Bo Bardi, banquinho, concurso
para mobiliário, Cantù, 1957
Corte, detalhe, vistas superior, lateral,
frontal e perspectiva. Foram sugeridas
molas tipo No-Sag, armação de madeira
e assento de espuma de borracha.
O banquinho formado por quatro
elementos pa rafusados e ligados
por duas travessas de ácer sobre
as quais se apóia a armação com
molas No-Sag e a espuma de borra cha.
O estofamento é de cânhamo
Fonte: Habitat (46): 36-37, 1958
Lina Bo Bardi, cadeira,
concurso para mobiliário,
Cantù, 1957
Corte, detalhe, vistas
superior, lateral, frontal e
perspectiva. Constituída
por três elementos
estruturais, dos quais,
dois são parafusados
e formam os pés
posteriores, enquanto o
terceiro, encaixado nos
dois pri meiros é fixado
por meio de uma travessa
e constitui o pé anterior.
O encosto e o assento
em madeira compensada
de série são laqueados
de verde, assim como
a espessura dos cortes
dos pés, o restante das
superfícies dos
pés é encerado
Fonte: Habitat (46): 36-37, 1958
162
163
Lina Bo Bardi, prateleira
com espelho, concurso para
mobiliário, Cantù, 1957
Detalhe, vistas lateral, frontal
e perspectiva. Formada por
dois elementos de madeira
compensada, com a espessura
de corte laqueada em verde,
ligados entre si pela própria
prateleira, esta e a moldura do
espelho são de ácer encerado.
Um tubo de cobre serve para
apoiar os guarda-chuvas.
Sob a prateleira, a jardineira de
cobre recolhe a água
Fonte: Habitat (46): 36-37, 1958
Lina Bo Bardi, porta-chapéus,
concurso para mobiliário, Cantù, 1957
Detalhe, vistas superior, lateral, frontal
e perspectiva. Constituído por dois
elementos ligados entre si por ripas de
ácer encerado parafusadas. A madeira
compensada é deixada ao natural com
os cortes laqueados de verde. Ganchos
em série e parafusos são de cobre
Fonte: Habitat (46): 36-37, 1958
Lina Bo Bardi, hall
de entrada, concurso
para mobiliário,
Cantù, 1957
Fonte: Habitat (46): 36,
1958; Ferraz, 1993: 97
(perspectiva)
Sala de estar
Lina Bo Bardi, sala de estar, concurso para mobiliário, Cantù, 1957
Conjunto de estante para livros, rádio, televisão e bar: montantes de
ácer, as prateleiras e os elementos em madeira compensada encerada e
colocados lateralmente, com a espessura de corte laqueada. No caso da
estante não ser instalada junto à parede, os elementos e as prateleiras
deverão ser fixados alternadamente.
Superfícies da mesa baixa e carrinho de chá em laminado melamínico.
Poltrona e sofá com braços estofados, elementos em madeira
compensada com o mesmo acabamento que os da estante. Os três
móveis: espreguiçadeira, carrinho-de-chá e porta-revista são exemplos da
variedade de móveis obtida com o elemento base. Poltrona, mesa e sofá:
Vistas laterais, frontais, corte, plantas e detalhes construtivos
Fonte: Habitat (46): 38-39, 1958; Ferraz, 1993: 97 (perspectiva da sala de estar)
164
165
Sala de jantar
Lina Bo Bardi, sala de jantar,
concurso para mobiliário,
Cantù, 1957
Mesa, cadeiras, console e buffet.
A mesa possui tampo com
extensão que se projeta para os
lados e se dobra no comprimento.
A superfície da mesa de ácer
revestida com resina vinílica
azul ou verde, possui movimento
rotativo limitado, dobradiças
do tipo americano, invisíveis
e resistentes.
O console tem a mesma estrutura
da mesa e pode ser somado a
esta aumentando em 45,5 cm,
pois as duas peças possuem a
mesma altura e um dos lados
idênticos. As cadeiras são
formadas por quatro elementos
em madeira com pensada
encerada, com o encosto e os
braços estofados. Os móveis
de apoio, como o buffet, são
formados por cinco elementos
padronizados que podem ser
compostos de várias maneiras.
A união dos componentes obtém-
se por meio de um elemento
base de madeira compensada,
parafusado nas laterais. Na
estrutura parte do ‘elemento
básico’ é acrescentada para
estabilizar o móvel
Fonte: Habitat (46): 40, 1958; Ferraz, 1993:
97 (perspectiva da sala de jantar)
Dormitório de casal
Lina Bo Bardi, dormitório
de casal, concurso para
mobiliário, Cantù, 1957
Pés da cama em pinho, cabeceira
revestida em ácer. Criado-mudo
com elemento de madeira compen-
sada, os lados das gavetas em
ácer ou pinho. Prateleiras do
criado-mudo e toucador revestidas
de laminado melamínico azul.
Lâmpada na superfície do espelho
do toucador. Cadeira e a poltrona
têm os elementos em madeira e o
estofamento de cânhamo.
Armário composto por duas partes
tem as portas revestidas de ácer.
Madeiras enceradas e espessuras
de corte laqueadas em azul
porcelana
Fonte: Habitat (46): 42-43, 1958; Ferraz, 1993:
97 (perspectiva do dormitório)
166
167
Porém, os móveis propostos por Lina Bo Bardi não foram selecionados e
conhecendo os resultados deste concurso, o júri deve ter julgado esses
desenhos como modestos e simples demais, quase lapalisseanos; Cantù
preferiu construir móveis em que a soberbia ignorante é substituída por
aquela inteligente e às vezes requintada do arquiteto, “pintor” ou “artista”,
e em que a evolução (no sentido do acrobata de circo) do mau gosto cede
lugar àquela do inútil exibi cionismo técnico, demonstração de um “roman-
tismo” que se afasta sempre mais dos valores “populares” profun damente
vitais, dos quais o artesão italiano tem sido expressão mais direta. [Habi-
tat (46): 34, 1958]
Este trecho de artigo da revista Habitat culpa a falta de interesse do júri
nos valores da cultura popular, que a própria Itália incorporou em Lina
Bo Bardi, por meio de Gio Ponti.
Pode-se tirar mais alguma razão pela qual o júri preteriu o trabalho de
Lina Bo Bardi, além da descrita no artigo. Procuramos nas próprias
pranchas, primorosamente apresentadas, uma justificativa.
Apesar de fazer parte do processo de criação de Lina Bo Bardi [Tannuri,
2008: 84-152], a solução de pormenores durante a construção das
obras ou na execução dos móveis, nestes ambientes apresentados
para o concurso de Cantù, percebe-se o nível de detalhamento que ela
proporcionou a alguns aspectos do projeto. Algumas especificações
são de uma minúcia de detalhes surpreendente.
Neste contexto, podemos nos referir à extrema simplicidade
e grande riqueza de detalhes de sua proposta para a am-
bientação do dormitório – denominado cela das freiras em
o Francisco do Cerrado, onde é planejado um local para
copo d’água à esquerda da cabeceira da cama.
24
Para o concurso, por um lado ela propõe, desde a especifi-
cação técnica do tipo de molas dos colchões das camas,
25
até a sugestão de uso da mesa de jantar como mesa de
jogo.
26
Por outro lado, Cantù solicita novas opções quanto
ao desenho industrial, e a preocupação com o processo in-
dustrial não está tão expressa nas seis pranchas apresen-
tadas, quanto alguns detalhes propostos, talvez dispensá-
veis, como os citados acima.
Lina Bo Bardi é obstinada no uso do ‘elemento base’
neste mobiliário, o que causa sua aplicação de maneira
pouco aconselhável, em alguns casos. Por exemplo, a
utilização do ‘elemento base’ como estrutura do armário
do dormitório faz surtir dúvidas sobre a estabilidade des-
te móvel e a capacidade destes elementos de sustentar
um corpo de armário [Brosig, 1983: s/p]. Quiçá, seja nos
momentos deste tipo de definição, que Lina Bo Bardi sen-
te a necessidade deste processo empírico, de decidir du-
rante a execução do produto.
Dormitório de solteiro
Lina Bo Bardi, dormitório de
solteiro, concurso para mobiliário,
Cantù, 1957
Mesma orientação do dormitório
anterior, contudo a espessura
de corte do compensado é
laqueada em amarelo. Poltrona
com estrutura giratória formada
por dois elementos. Estofamento
da cadeira, poltrona e colcha da
cama em cânhamo listrado. Móvel
único: criado-mudo, escrivaninha
e estante de livros, com corpo
central em ácer, assim como as
gavetas da mesa de escritório,
com tampo revestido em laminado
melamínico preto
Fonte: Habitat (46): 44-45, 1958; Ferraz,
1993: 97 (perspectiva do dormitório)
24
Na perspectiva proposta para a
cela das freiras, Lina escreve:
“buraco para copo de água etc”
e com uma seta aponta para um
nicho no fundo do armário ao lado
da cama.
25
“(...) a colcha é de cânhamo
listrado azul e branco; a armação
com molas é externamente
revestida do mesmo tecido da
colcha”. In: Artesanato industrial?
Habitat (46): 43, São Paulo, jan./
fev. 1958.
26
“(...) as camas são formadas por
uma armação com molas tipo
No-Sag e um colchão com molas
espirais; (...)”. Idem, p. 36. “Para
este concurso foi estudado um
tipo de mesa que, quando fechada,
serve para jogo, e quando aberta,
tem o dobro do comprimento”.
Idem p. 40.
Arq. Nika Krali (Iugoslávia),
cadeira, primeiro prêmio no
Concurso de Cantù, 1957
Fonte: Habitat (46): 47, 1958
168
169
Obviamente, am de enfatizar a cultura local, nesta proposta existe
uma clara defesa em prol do processo de industrialização e, o
é fundamentada considerando a ergonomia e o processo técnico-
construtivo, como o emprego de um novo material para a época, a
madeira compensada.
Está claro que os desenhos executados para um concurso passam por
uma revisão apurada e um re-desenho, caso o projeto seja selecionado,
pois muitos detalhes construtivos necessitam do diálogo com uma es-
pecífica indústria que executa determinados produtos.
Porém, existem dois pontos significativos, o primeiro é concernente ao
valor que Lina Bo Bardi concede às relações ergonômicas agregadas
às circunstâncias culturais brasileiras. Ao criar uma peça a partir de
um padrão local, ela resolve poeticamente o que reconhece como in-
serção de um atributo cultural indispensável ao caráter destes -
veis. Decorrente do primeiro, o segundo ponto é a adequação ergonô-
mica dos componentes, que se manifestam nestes móveis, visando
ao uso corriqueiro e universal, exceto pelo banquinho baixo derivado
de costumes locais. Na criação de peças utilizadas por outras cultu-
ras, existe a solicitação de um desenho universal. E, a única evidência
cultural é a concepção deste banquinho. Lina Bo Bardi faz uma refe-
rência sutil, reportando a um único objeto, um caráter cultural que
origem a todas as outras peças.
E, se por um lado, algumas aplicações do ‘elemento padrão’ são negli-
genciadas e, possivelmente, algumas especificações técnicas tenham
27
Ocorreu que, a indústria de
móveis no Brasil ainda estava
engatinhando nesta época.
Esta foi uma das primeiras
tentativas de seriar os móveis
industrialmente, malgrado Lina
acreditar nas pequenas indústrias,
que não desvirtuassem os valores
populares do móvel. Apesar da
experiência com o Studio Palma,
que possuía um maquinário
simples manufatureiro na empresa
Paubra (Pau Brasil Ltda.), Lina Bo
Bardi não tinha experiência com
um maquinário mais aperfeiçoado
para este fim, como já existiam na
Europa e nos Estados Unidos.
28
Vide em anexos, cópias
heliográficas das pranchas
apresentadas com as definições
dos desenhos e textos que
estão publicados na revista
Habitat (46), 1958.
Lina Bo Bardi, Igreja Espírito
Santo do Cerrado,
Uberlândia, 1976-1982
Dormitório de freiras,
perspectiva
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P. M. Bardi
sido desconsideradas para a prática da seriação dos móveis
27
; por ou-
tro lado, estas falhas ou omissões podem se dever, talvez, a um extravio
da atenção da arquiteta na busca incansável pelo bem-estar humano,
que, quiçá, a tenha feito mergulhar em divagações minuciosas sobre
molas e colchões.
Apesar de parecer um caminho sinuoso, é este o recurso utilizado por
Lina Bo Bardi que estabelece uma poética em sua proposta para
Cantù
28
: o intuito de conferir aos móveis um caráter local e homenagear
a simplicidade de nossa gente.
170
171
O Brasil, por exemplo o Nordeste,
tem coisas maravilhosas
de manualidades, todos os
apetrechos, os instrumentos de
trabalho dos pescadores do
São Francisco são de um
aprimoramento maravilhoso.
Essa realidade é tão importante
como a realidade da qual saiu Alvar
Aalto ou as tradições japonesas...
Não no sentido folclórico, mas no
sentido estrutural.
Antes de enfrentar o problema do
industrial design em si mesmo,
você tem que enquadrá-lo dentro
de um contexto sócio-econômico-
político, na estrutura do lugar, do
país, nesse caso o Brasil.
Lina Bo Bardi
Cadeira de beira de estrada – um manifesto?
A consideração pelos rudimentos culturais é um traço obstinado em
Lina Bo Bardi. Ela fortalece seus argumentos exaltando a “realidade”
da diversidade cultural brasileira e indicando que é o “sentido estrutu-
ral” que deve ser valorizado [Ferraz, 1993: 186]. Quiçá, a maior prova
disso seja a inusitada Cadeira Beira de Estrada, de 1967, com uma
rusticidade poeticamente moderna, conceitualmente arraigada aos cos-
tumes populares. Não é possível deixar de resgatar esta contribuição
ímpar de evidente caráter vernacular que é um dos maiores modelos de
reflexão da arquiteta.
Cada país tem uma maneira própria de encarar não somente o desenho in-
dustrial, mas também a arquitetura e todas as formas de vida humana entre
as quais o desenho industrial dá a sua contribuição.
Eu acredito numa solidariedade internacional, num concerto de todas as vozes
particulares. Agora é um contra-senso se pensar numa linguagem comum aos
povos se cada um não aprofunda suas raízes que são diferentes. É uma abs-
tração, não em senso matemático, mas em senso comum. A realidade à beira
do São Francisco não é a mesma que a beira do Tietê. [Ferraz, 1993: 186]
Diante da essencialidade da Beira de Estrada, pode-se aludir a uma
peça africana, cuja imagem
28
o Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi pre-
serva entre os croquis deste assento. Esta imagem, de duas crianças
sentadas em um arcabouço de bambu
29
, pode ter sido vista por Lina Bo
Bardi, como uma influência negra na cultura brasileira.
28
Logo abaixo desta imagem há
uma observação de Lina Bo Bardi
sobre uma revista, talvez seja a
fonte de onde foi obtida a imagem.
29
Segundo a arquiteta paisagista
Cássia Mariano, tudo leva a
crer que seja bambu: a estrutura
de colmos, a espessura
e a resistência da peça.
Assentos
de tribo
africana, sem
identificação,
sem data
Fonte: Instituto Lina
Bo Bardi e P.M. Bardi
Tear dos índios Enawenê-Nawê,
Mato Grosso
Fonte: <http://www.iande.art.br/boletim009.htm>
172
173
Por outro lado, consultando um estabelecimento de objetos indígenas
30
,
encontra-se um tear dos índios Enawenê-Nawê do Mato Grosso, que
possui uma identidade formal e material com a Beira de Estrada, utili-
zando os mesmos galhos de árvore posicionados de maneira muito
semelhante ao proposto por Lina Bo Bardi.
em 1959, oito anos antes do projeto da Beira de Estrada, Lina Bo
Bardi esboça diversos móveis para o Solar do Unhão, com uma eviden-
te tendência a concretizar peças de significativo envolvimento com a
essencialidade funcional moderna e a singeleza no uso dos materiais
em sua forma natural.
Porém, é também interessante o resgate dos croquis da arquiteta, iden-
tificados como parte do processo criativo da Beira de Estrada. Estes
desenhos indicam que, em certo momento, a finalidade deste assento
seria bem diferente. Nestes estudos estão especificados outros mate-
riais. Em vez de galhos de árvore, aparecem nos croquis madeira apa-
relhada, “corda de nylon para amarrar” e “rede de nylon de pescadores
(Florianópolis)”, estes dois últimos componentes permitem o apoio para
o corpo; e a finalidade do móvel seria “Cadeira para sol e piscina”. Este
acréscimo de corda e rede não é executado, mas é fundamental resga-
tar estes croquis, porque confere-se que a idéia de um assento mais
confortável surge durante o desenvolvimento desta peça. De qualquer
forma, ela insiste em uma solução que remete ao universo popular,
utilizando a rede de pesca como componente. Nestes croquis, ela apre-
senta um banquinho com as mesmas características da cadeira e pro-
põe uma variação com a substituição da rede por uma superfície rígida,
que converte o banquinho em mesa. Contudo, a idéia da rede é descar-
tada e a solução adotada é a mais singela possível.
Concebido de forma poética com uma simplicidade inequívoca, este
assento alude às estradas secundárias do país, onde tantas vezes de-
para-se com uma figura corriqueira, que pode estar vendendo siri, bana-
nas, talvez rapadura, ou pode ser simplesmente um caboclo, figura tão
genuinamente brasileira, a espera do transporte, um ônibus que pode
tardar horas ou mesmo um conhecido camarada da região, que, ao pas-
sar de carroça, lhe oferece uma condução.
Na concepção desta peça, Lina Bo Bardi desconsidera qualquer preocupa-
ção com a ergonomia para atender ao ato de sentar, pelo fato de, sabia-
mente, entender e compactuar com os costumes populares. E concebe,
com reverência ao racionalismo moderno e partindo das entranhas da cul-
tura popular, a Cadeira de Beira de Estrada. Feito com técnica rudimentar,
o assento é estruturado de forma simples com três galhos longos, afasta-
dos na base, obtendo uma forma triangular, e unidos na parte superior por
amarras de couro. A este tripé é também amarrado, horizontalmente, um
galho mais curto, encorpado com função de base para o apoio do corpo.
O resultado entrega-se à essencialidade defendida pelos modernos e à
elementaridade das soluções populares. Uma simplicidade rude, porém
eficiente para o fim a que se destina, exemplificando o quanto a designer e
arquiteta está arraigada ao moderno e às tradições culturais do país.
30
O estabelecimento citado
é Iandé - Casa das Culturas
Indígenas, São Paulo.
Lina Bo Bardi, croquis para
os móveis do Solar do
Unhão, Salvador, 1959
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi
174
175
Lina Bo Bardi, estudos para a
Cadeira Beira de Estrada, 1967
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Cadeira
Beira de Estrada, 1967
Fonte: Ferraz, 1993: 186
Lina Bo Bardi,
Cadeira Beira
de Estrada,
1967
Fonte: Instituto
Lina Bo Bardi e
P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
Cadeira Beira de
Estrada, 1967
Foto: Nelson Kon, 2002
176
177
Lina Bo Bardi realiza uma importante pesquisa de elementos concebi-
dos de forma criativa e rudimentar, aos quais denomina arte popular e
pré-artesanato, que são peças realizadas principalmente no Nordeste.
Alguns objetos considerados pela arquiteta como de “sobrevivência
desesperada” o extremamente significativos, apesar de virem de
“uma massa que inventa, que traz uma contribuição indigesta, seca,
dura de digerir”, como Lina Bo Bardi observa [1994: 11-24].
O levantamento do pré-artesanato brasileiro poderia ter sido feito antes do
país enveredar pelo caminho do capitalismo dependente, quando uma re-
volução democrático-burguesa era ainda possível. Neste caso, as opções
culturais no campo do Desenho Industrial poderiam ter sido outras, mais
aderentes às necessidades reais do país (mesmo se pobres, bem mais
pobres que as opções culturais da China e da Finlândia). O Brasil tinha
chegado num ‘bívio’. Escolheu a finesse. [Bardi, 1994: 12-13]
Trazendo à luz esta discussão, ela defende uma produção artístico-inte-
lectual, integrada às propostas do povo ativo. Ela sugere uma integra-
ção desde o urbanismo e a arquitetura, o desenho industrial e outras
manifestações afins, numa unificação cultural simplificada. Um “Plane-
jamento Ambiental”, como propõe Lina Bo Bardi [1994: 14].
O exemplo pode vir de pequenas atitudes, com uma simples reorganiza-
ção de peças consideradas inaproveitáveis. Num ambiente de pobreza,
na cidade de Cristalina em Goiás, o fim de um processo torna-se o início
de outro. Uma lâmpada queimada é utilizada como recipiente de quero-
sene de uma lamparina. Incorporado à folha de flandres recortada ma-
nualmente, o bulbo, aparentemente descartável, assume nova função,
como reservatório de energia.
Isso não consagra uma estética do lixo, uma estética da pobreza, uma esté-
tica da miséria, muito a gosto do “terceiro-mundismo”. Mostra tão somente
que a área de ocupação de uma determinada maneira de organizar a distri-
buição, a produção e o consumo nem sempre atinge todas as parcelas da
população. E isso afirma a capacidade humana do apesar de. Não justifica a
pobreza, a incapacidade ou a impossibilidade de trabalho socialmente ne-
cessário. [Motta, 1994: 59]
Lina Bo Bardi vai além, atenta às atitudes e produtos do povo. Ela
observa que, assim como na natureza, aquilo que a arquitetura mo-
derna considera como produção em série existe no trabalho popular,
intuitivamente. Como na produção de moringas vendidas em Salva-
dor [2002: 28].
A simbiose entre o moderno e o vernáculo, nos móveis propostos por
Lina Bo Bardi, é estabelecida de forma elementar, com fluidez. As linhas
simples não conflitam com o resgate antropológico, ambos se equiva-
lem, sem que o moderno perca dignidade.
E isso de dizer que o Movimento Moderno falhou em sua missão não é pura
verdade, há outras “histórias” no meio e grandes histórias – o futuro falará.
[Caramelo (3): 63, 1991]
Lamparina, fifo, candieiro
ou periquito, sem data
Fonte: Ferraz, 1993: 211
Moringas – produção
popular, Salvador,
sem data
Fonte: Ferraz, 1993: 89
Estudo para
capa da Revista
Habitat (1), 1950
Destaque para
imagens do povo
transportando objetos
Fonte: Ferraz, 1993: 64
178
179
O gesto é de tirar o fôlego, e
majestoso também, pois ela não
só manteve a cidade aberta nesse
ponto espetacular, mas também
construiu um espaço enorme
para o povo. Para o seu povo,
pois é assim é que ela o via.
(...)
A questão é que estes dois
gestos extraordinários – o exterior
e o interior – são interdependentes,
pertencem um ao outro, afinados
como estão pelo mesmo diapasão
mental: a inflexível arte e
arquitetura de Lina Bo Bardi,
simultânea – solidária com o povo.
Aldo van Eick
segundo ato
segundo ato
Tempo/espaço do texto dramático que encaminha a solução ou epílogo. Costuma ser
a parte de tensão do texto, pois ao abrirem novamente as cortinas, a trama prossegue
a partir de um ponto de tensão mais alto do que o início do primeiro ato e caminha para
o clímax, o ponto máximo de tensão do texto. [Gallello, 2008]
Desde que Lina Bo Bardi percebe as riquezas humanas, materiais, cul-
turais e geográficas, pouco exploradas desta terra, ela orienta seu tra-
balho no enaltecimento destes bens. Como reverencia Aldo van Eick
sobre o projeto do Masp, ela manifesta um “gesto” de “tirar o fôlego”
diz o arquiteto, comentando sobre a integração entre o edifício, a cida-
de e o povo –, “gestos extraordinários” – continua ele, sobre a inter-re-
lação da arquitetura e dos expositores de concreto e vidro [Van Eick,
1999: passim].
A epígrafe de Van Eick é concernente ao edifício do Masp da avenida
Paulista, mas pode-se ver estes “gestos” aplicados em outros tantos
projetos, como na Casa de Vidro, onde a natureza invade o interior, que
a acolhe com louvor.
Esta inquietação de Lina Bo Bardi com o povo é muito significativa,
quando se considera que ela é uma estrangeira. Contudo, envaidece,
quando se reflete que ela opta pelo Brasil. Este fascínio pela terra e
pelo povo é evidente desde seu primeiro projeto de interiores realizado
para o público paulistano, o Masp do centro, onde ela inicia as exposi-
ções didáticas em respeito à desinformação, da maioria da população,
sobre as artes.
Através dos projetos do Masp, do centro e da avenida Paulista, e da
Casa de Vidro, neste capítulo sublinha-se o desejo de integração entre
arquitetura, interior, cidade, natureza, arte e povo.
CAPÍTULO 4
Lina Bo Bardi e o desejo
de integração entre
arquitetura, interior, cidade,
natureza, arte e o povo
1
1
Lina Bo Bardi se refere amiúde a uma parcela da população brasileira com o
termo povo, ou seja, à gente simples que ela sempre considera como público,
visitantes ou usuários de seus projetos.
Lina Bo Bardi
Estudo para interior do
Masp, avenida Paulista
Fonte: Ferraz, 1993: 109
183
Os museus novos decidiram abrir suas portas,
deixar entrar o ar puro, a luz nova. Entre passado
e presente não há solução de continuidade.
Nada se detém, tudo continua. É necessário
entrosar a vida moderna, infelizmente
melancólica e distraída por toda espécie de
pesadelos, na grande e nobre corrente da arte.
Estabelecer o contato entre vida passada e
presente. Nesse sentido os museus novos,
tendo compreendido sua função no mundo
contemporâneo, encontraram a coragem de
exercê-la, e estão mais adiantados que os mais
progressivos organismos educativos estaduais.
O Museu de Arte de São Paulo é entre os
primeiros do mundo que iniciaram ao redor
dum núcleo de obras de arte famosas, esse
trabalho de vivificação e rejuvenescimento.
Lina Bo Bardi
Masp: do centro ao espigão da Paulicéia
A epígrafe de Lina Bo Bardi sintetiza “esse trabalho de vivificação e re-
juvenescimento” do Museu de Arte de São Paulo. A arquiteta reorganiza
os espaços expositivos e faz “abrir suas portas, (...) entrar o ar puro, a
luz nova” e principalmente estimula uma função social desde os primei-
ros esboços das instalações do Masp ainda no centro de São Paulo
[Habitat (9): 52, 1952].
No século XIX se inicia um processo de transformação dos museus, que
somente se cristaliza décadas mais tarde. O tema central das discus-
sões geradas, a partir de então, destaca o questionamento da função
social dos museus, tema que ganhava vulto mundial. A função educati-
va dos museus se intensificou principalmente após as duas Grandes
Guerras, exatamente o período relativo às primeiras instalações muse-
ológicas que abordamos neste capítulo. Nesta época, algumas diretri-
zes se estabelecem, no sentido de tornar o museu uma instituição mais
atrativa e cognoscível para o público.
Foi em meio a estas discussões, do fim dos anos 1940, que o empre-
sário paraibano Francisco Assis Chateaubriand, vulgo Chatô, vinculado
ao setor de comunicações, faz o primeiro contato com os Bardi durante
a realização de duas exposições artísticas organizadas por Pietro Maria
Bardi no MES, no Rio de Janeiro.
Neste mesmo período em que a função social do museu começa a ser
indagada, Chateaubriand convida Pietro a formar um acervo significa-
tivo e inaugurar um Museu de Arte que é favorecido pelas condições
socioeconômicas do pós-guerra na Europa, onde foram negociadas
obras a baixos custos – e fica na incumbência de Lina Bo Bardi a ins-
talação e curadoria de uma nova instituição artística para a disposi-
ção destas obras.
2
São Paulo foi a capital escolhida para sediar o museu de Chatô. São
determinantes na decisão pelo local de implantação do museu: os re-
cursos de capital trazidos pelo café, o crescimento demográfico e indus-
trial e o desejo, gradualmente manifesta pelos intelectuais paulistanos,
de substituir o perfil provinciano rural pelo de uma metrópole moderna.
E foi neste Instituto, que seria denominado Museu de Arte de São Pau-
lo, o Masp, que se concretizam as posturas, provavelmente inéditas no
Brasil de 1947, pela função social dos museus.
Ancorados nas discussões a respeito da utilidade dos museus para a
sociedade, o casal Bardi estabelece metas para atrair diferentes clas-
ses sociais, pois as expectativas destes compreendem dirigir ao museu
um público mais diversificado, o que inclui também receber estudantes
– colegiais e universitários.
Conforme Pietro Maria Bardi, neste período não se ensinava história da
arte no Brasil, nem havia publicações sobre este tema em português,
apesar do crescente interesse sobre as artes por um público cada vez
2
Certamente pela proximidade com
as artes – área na qual Pietro Maria
Bardi tem uma estreita relação –,
a arquiteta se envolveu com os
acervos artísticos e as edificações
que os abrigam. Assim, Lina Bo
Bardi concebe seus primeiros
projetos no Brasil: as instalações
os Museus de Arte do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
184
185
mais amplo [Museum (3-4): 142, 1948]. Esta foi a justificativa para que
se investisse num museu com caráter didático. Assim, desde seu início,
a instituição se organiza pela instrução, não só pela informação.
Conforme Hélio Herbst, esta postura também se destaca quanto ao re-
lacionamento com outras instituições:
Ao contrário das coleções do MAM/SP e do MAM/RJ, fundados em 1948, a do
Masp amealha obras de diferentes movimentos artísticos, não necessariamen-
te atrelados à modernidade; mas se relaciona com tais instituições na medida
em que empreende um conjunto de atividades de pesquisa, difusão e cataloga-
ção que ultrapassa a mera apresentação de obras artísticas.
[2007: 42]
Na intenção de condicionar as instalações do Masp às características
locais, Lina Bo Bardi considera o fato de que a maioria dos brasileiros
necessita de meios para se favorecer das artes. Esta ação permite, às
classes menos favorecidas culturalmente, a oportunidade de melhor
acesso perante as obras. E é a partir desta perspectiva, que Lina cria
recursos espaciais para possibilitar as exposições didáticas.
E sob esta perspectiva, as propostas de arranjos sicos para a rua Sete de
Abril e mais tarde para a avenida Paulista estabelecem, pedagogicamente,
uma consonância entre um público diferenciado e as obras de arte.
Inúmeras sugestões são propostas para a adequação dos espaços do
museu. Neste trabalho serão abordadas três fases importantes, nas
quais Lina atuou: as primeiras instalações de 1947, em edifício situado
no centro da capital paulista; o novo arranjo físico de 1950, quando o
Masp se reestruturou com o acréscimo de um pavimento; por fim, a pri-
meira ocupação dos interiores para a nova sede na avenida Paulista.
Em 1947, é inaugurado o Masp, então sediado à rua Sete de Abril,
230, no Edifício Guilherme Guinle, projetado por Jacques Pilon, que
será também a sede da revista O Cruzeiro e dos Diários Associados,
ambos de Chatô.
O espaço inicialmente destinado ao museu é o 2º andar do bloco volta-
do para a rua. Em forma de “H”, este espaço conta com aproximada-
mente 1000 m². Espacialmente divididas em três áreas distintas, além
das obras em exposição permanente, são instaladas duas áreas para
exposição didática, exposições temporárias e auditório. As paredes de
fechamento do projeto inicial de Pilon são substituídas por um espaço
amplo e contínuo, onde só restam os pilares, o que possibilita a utiliza-
ção da área com versatilidade e fluidez de percursos.
A intenção é de constante atualização da organização do acervo, com a fina-
lidade de substituir as obras conhecidas por obras rem adquiridas. Para
viabilizar esta possibilidade, Lina Bo Bardi desenvolve um sistema de supor-
tes para as obras de arte, facilitando a remoção e a disposição destas.
Na área de mostras didáticas são fixados tubos cilíndricos entre si por
meio de junções de cobre
3
pintadas de branco. Esse sistema organiza
3
Os estudos para os suportes
foram realizados por Lina Bo Bardi,
porém as junções de cobre dos
suportes para a Exposição Didática
foram patenteadas por Santopaolo
e permitiam conexões a 45 e 90
graus. In: BARDI, Lina Bo. Museu
de Arte. Habitat (1): 43, São Paulo,
out./nov./dez. 1950.
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de Abril,
planta das instalações, 1947
Este estudo de Lina prevê a disposição de
paredes que se organizam segundo a posição
dos pilares. Esta idéia foi substituída pela
utilização de suportes delgados ou de painéis
componíveis, o que flexibilizou o espaço para
mudanças. As setas indicam um percurso
que se inicia em uma das caixas de escadas
e se finaliza na outra. Neste estudo ainda
não é considerado o auditório
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (Foto: Nelson Kon, 2002)
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril, planta
das instalações, 1947
Estudo que indica
paredes baixas como
suportes para a
exposição do acervo e
cavaletes periféricos,
esta idéia foi
substituída por suportes
tubulares em alumínio
Fonte: Instituto Lina Bo
e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril, planta
das instalações, 1947
As primeiras instalações
previram: a exposição
permanente do acervo,
acima, as mostras
didáticas, no espaço
central, e o auditório
próximo às exposições
temporárias, abaixo.
O espaço múltiplo-uso
destinado ao auditório
aparece com outra
possibilidade física nesta
solução, provavelmente
uma biblioteca
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
186
187
os tubos de forma a criar faces para a disposição dos painéis didáticos,
que são colocados entre duas superfícies de vidro plano de 1,20m x
1,20m formando um “sanduíche” de vidros, entre os quais se colo-
cam dois painéis com os versos unidos e as frentes expostas –, permi-
tindo a visão de dois painéis didáticos dispostos em ambos os lados.
Outro tipo de solução é adotada para o acervo e as exposições tempo-
rárias, desta vez os suportes são compostos por tubos de alumínio
instalados sob pressão, entre piso e teto, ajustados por meio de roscas
e com proteção de borracha nas extremidades. Uma peça metálica,
com dois braços, serve como apoio na parte inferior das obras e outro
elemento situado mais acima do tubo, com apenas um braço, garante a
estabilidade dos quadros na parte superior.
Estes elementos verticais de apoio às obras são dispostos no períme-
tro e por todo o pavimento, constituindo, os mesmos, a circulação entre
as obras, que são instaladas de maneira a não obstruir visualmente o
conjunto. Esta solução sutil de hastes verticais que destacam e permi-
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril, estudos para
as mostras didáticas, 1947
Estes croquis apresentam as
diversas tentativas de Lina por
uma solução para os suportes
dos painéis didáticos tipo
“sanduíche” e sua iluminação.
À direita observam-se idéias
para cavaletes
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo
Bardi, Masp,
rua Sete de
Abril, mostras
didáticas, 1947
Estudo de
suporte com
iluminação
Fonte: P.M. Bardi
1978: 63
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
mostras didáticas,
estudo de suporte, 1947
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
mostras didáticas, 1947
Estudo para luminárias
fixadas nos painéis
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de
Abril, mostras didáticas, 1947
Elementos utilizados nos painéis
didáticos: tubos de alumínio e
conexões em cobre
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 63
Lina Bo Bardi,
Masp, rua Sete
de Abril, mostras
didáticas, 1947
Detalhe dos tubos de
alumínio, das junções
em cobre e das
presilhas metálicas
de sustentação do
conjunto (dois vidros
temperados e os
respectivos painéis
didáticos dispostos
verso a verso). Junções
e presilhas pintadas
Fonte: Habitat (1): 43, 1950
188
189
tem a disposição flexível, tanto na regulagem das alturas, quanto no
reposicionamento das obras, fornece ao expectador um espaço, onde
os vazios interagem com o conjunto artístico de maneira convidativa.
As exposições temporárias utilizam ambas as soluções de suporte,
pois a escolha depende de como as obras se apresentam, se em pran-
chas, sendo a solução mais adequada os sanduíches de placas de vidro
temperado, se emolduradas, sendo a melhor opção utilizar suportes
tubulares, pois as obras são simplesmente apoiadas.
Apesar das janelas terem sido vedadas por cortinas em tecido de algo-
dão cru, o espaço sugere arejamento e asseio visuais, provavelmente
porque as obras não tocam as paredes, estando apartadas da edifica-
ção. Mesmo as duas vitrinas laterais da mostra didática, que mantém
os objetos artísticos, não utilizam as paredes. Este cuidado provém da
umidade tropical de São Paulo e porque o edifício ainda estava em
obras na época da inauguração do museu. Com receio de que a umida-
de atingisse as obras, a arquiteta evita o contato com as paredes.
O único auditório, criado em 1947, com capacidade para 150 assen-
tos, foi delimitado por cortinas de algodão cru tecidas a mão, forro
acústico suspenso em curva e tapete no piso. E, as cadeiras projeta-
das por Lina Bo Bardi são dobráveis e empilháveis para facilitar a re-
versibilidade espacial.
Em sintonia com a disposição das obras, as luminárias em linha tam-
bém contribuíram para uma melhor visualização do exposto, demarcan-
do o fluxo do público.
O percurso estabelecido para as exposições não obedece necessaria-
mente à ordem cronológica de cada mostra. As obras eram dispostas,
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de
Abril, mostras didáticas, 1947
Visão geral de uma exposição
didática, onde se percebe a linha
de luminárias estrategicamente
posicionadas o que evitou a
utilização das luminárias fixadas
aos painéis. A esquerda pode-se
perceber uma das vitrinas laterais
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 63
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
vitrina lateral, 1947
Projeto
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
acervo permanente, 1947
Elementos de apoio
para as obras de arte
Fonte: Ferraz, 1993: 45
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de
Abril, acervo permanente, 1947
Vista geral. Observam-se aqui
os tubos de alumínio que
demarcam o espaço verticalmente
e a sutileza das peças de apoio
para as obras de arte que
desaparecem no conjunto
Fonte: Ferraz, 1993: 45
190
191
como justifica Lina Bo Bardi, “quase propositadamente no sentido de
produzir um choque que desperte reações de curiosidade e de investi-
gação” [Habitat (1): 17, 1950].
A mostra didática serve de apoio às obras expostas, e, neste sentido,
foram treinados monitores para orientar o público. O auditório localiza-
do em espaço contíguo ao das mostras didáticas oferece conferências
e cursos sobre as próprias exposições, também apresentações musi-
cais ou cinematográficas. Estes dois ambientes permitem uma infinida-
de de soluções, o que fazia deste espaço um aliado para novas configu-
rações espaciais, tão importante na constituição de um museu.
Lina Bo Bardi procura, “por todos os meios, não tornar solene o Museu,
usando materiais simples, cores neutras, plantas que alegram o am-
biente” [Habitat (1): 36, 1950]. Por essa razão, propôs a vegetação nos
ambientes, o que foi uma homenagem à
flora exuberante do país. E o que remete a
identificar a intenção da arquiteta de valo-
rizar os temas da terra.
Em 1950, o Masp pode ampliar a conduta
diante da expectativa de assegurar sua fun-
ção social, pois é acrescentado mais um pa-
vimento à área, o que totaliza aproximada-
mente 2300 m². O projeto conta com a
colaboração de Giancarlo Palanti, que na
época estava associado ao Studio de Arte
Palma com o casal Bardi. Assim, Lina e Pa-
lanti projetam novas instalões para os 2º.
e 3º. andares do edifício Guilherme Guinle
4
.
Lina Bo Bardi,
Masp, rua Sete
de Abril, fachada
provisória, 1947
Fonte: Ferraz, 1993: 44
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de Abril, exposições temporárias e auditório, 1947
Vista geral. Estudo destes dois ambientes que possibilitam vários usos, nesta
perspectiva foi projetado uma sala de estar no espaço destinado ao auditório,
cujos limites são vedados por cortinas de tecido
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (Foto: Nelson Kon, 2002)
Lina Bo Bardi,
Masp, rua
Sete de Abril,
exposições
temporárias e
auditório, 1947
Ao fundo o
auditório
montado para
eventuais
palestras
Fonte: P.M. Bardi,
1992: 62
Nesta imagem
o espaço é
utilizado para
apresentação
de uma
orquestra em
noite de gala
Fonte: P.M. Bardi,
1978: 46
4
Em outros dois pavimentos
foram instalados os cursos do
Instituto de Arte Contemporânea
(IAC), completando o caráter
didático do museu.
192
193
O 2º. andar é readequado, permanecendo a galeria de entrada do pú-
blico, com acesso pelos elevadores ou escadaria da direita de quem
entra pela rua Sete de Abril. Neste espaço são acrescentados o bal-
cão de informações e a venda de publicações, com um acesso para o
auditório maior e os sanitários. A sala para exposições temporárias
está à direita de quem acessa a instituição, e, contígua a esta, fica o
auditório menor na mesma posição da versão de 1947. Entre o peque-
no e o grande auditório se localiza a sala de projeções. As seções de
exposições didáticas e de gravura estão à esquerda de quem acessa
a galeria. Há um outro acesso que, por meio de outros elevadores e a
escadaria, conduz diretamente à área administrativa que conta com
as salas de secretaria, direção e biblioteca. Ao lado destas estão o
laboratório fotográfico e o equipamento de ar condicionado. Esta outra
galeria permite um segundo acesso à seção de exposições didáticas
e pode ser utilizada para acessar o outro andar.
Em ambientes desprovidos de paredes, restando apenas a estrutura
do edifício, o 3º. andar conta com a pinacoteca, a vitrina das formas,
mais uma sala para exposições temporárias, a sala das tapeçarias e
a sala das gravuras.
Roberto Sambonet, primeiro cartaz
de divulgação do museu, 1951
Fonte: P.M. Bardi, 1992: 79
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete de Abril, fachada, 1950
No segundo andar avista-se uma das mostras didáticas e
o terceiro andar está vedado pela persiana fixa de madeira
Fonte: P.M. Bardi, 1992: 79
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
plantas e cortes
das instalações, 1950
Fonte: Schincariol, 2000: 80-81
A
B
B
A
B
AA
B
CORTE A-A
CORTE B-B
194
195
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril, galeria de
acesso ao museu, 1950
Após a reforma de 1950,
o museu contou com uma
recepção, na qual eram
fornecidas informações
sobre o museu e vendidas
publicações. Todo o mobiliário
é provavelmente desenvolvido
Fonte: Habitat (1): 22, 1950
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
desenho dos suportes
para publicações, 1950
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
galeria de acesso
à administração
e à biblioteca
Todo mobiliário
é provavelmente
desenvolvido pelo
Studio de Arte Palma
Fonte: Schincariol, 2000: 82
Esta reestruturação do museu organiza de maneira mais adequada a
orientação de caráter social que Lina Bo e Pietro Maria Bardi se dispõem
a implantar. E é no pavimento superior que novas idéias são aplicadas.
Nesta nova configuração o acréscimo da chamada Vitrina das For-
mas, uma evolução das vitrinas laterais da versão de 1947. A nova vi-
trina permite a quarta dimensão, as peças em seu interior são vistas na
sua totalidade, pois a vitrina, inteiramente em vidro, é instalada em es-
paço central, não mais junto a paredes. O relato de P.M. Bardi sobre
uma das configurações da Vitrina das Formas esclarece seu caráter:
Na ‘Vitrina’ eram expostos objetos antigos e modernos de design tanto de
caráter artesanal como de produção industrial, sendo esta a primeira vez
que um museu oferecia, à apreciação estética, uma máquina de escrever, a
Lexicon da Olivetti. Um visitante, não entendendo a iniciativa, comentou que
a máquina fora esquecida na Pinacoteca e dentro da Vitrina. [P.M. Bardi,
1978: 34]
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
desenho das instalações
para a biblioteca, 1950
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril, perspectiva
aérea do 3º andar, 1950
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
(reprodução fotográfica dos desenhos
originais por Nelson Kon, 2002)
197
A Vitrina das Formas é posicionada entre os pi-
lares alinhados que separam a pinacoteca das
exposições temporárias. Totalmente transparen-
te, a vitrina se estende por 10,50 m e sua altura
é de 1,50 m, com base para as peças artísticas
a 0,80 m do piso. A cada aproximadamente
2,40 m são posicionados elementos de susten-
tão, com seção em cruz, que partem do piso
e alcançam a parte superior da vitrina, sendo
que o conjunto permanece estável por meio de
um sistema de cabos de aço xados entre a
parte superior da vitrina e o teto. A iluminação
no interior da vitrina é feita por meio de lâmpa-
dasuorescentes embutidas em sanca vedada
por vidro translúcido, que torna a luz difusa [P.M.
Bardi, 1956: 123].
Alguns dos objetos expostos na vitrina são
elevados por bases prismáticas, que consti-
tuem os elementos de apoio principalmente
das peças menores. Esta disposição fornece
uma variação de alturas no interior da vitrina
que organiza, aproveita melhor a altura da vi-
trina e confere ritmo ao material exposto.
Há também referências sobre as peças apresentadas por meio de textos
datilografados em papel, dispostos em suportes metálicos com proteção
de vidro, desenhados por Lina Bo Bardi [Schincariol, 2000: 112].
Desenhos para a reforma
do Masp feitos por Lina Bo
Bardi, nos quais se percebem
a preocupação por uma
fluidez espacial e por uma
boa perspectiva visual da
pinacoteca, pelo uso das
setas e pela disposição do
olho, respectivamente
Fonte: P.M. Bardi, 1992: 78
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
perspectiva das instalações
do terceiro andar, 1950
Estudo para a área de
exposição onde se observa
uma proposta para duas
vitrinas das formas
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
(reprodução fotográfica dos desenhos
originais por Nelson Kon, 2002)
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
vitrina das formas, 1950
Fonte: Ferraz, 1995:48.
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
vitrina das formas, 1950
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 35
SEGUNDO ANDAR
TERCEIRO ANDAR
198
199
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
pinacoteca, 1950
Detalhe das persianas fixas
Fonte: Habitat (1): 43, 1950
Lina Bo
Bardi,
Masp,
rua Sete
de Abril,
desenho
das
persianas,
1950
Fonte: Ferraz,
1995: 48
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
pinacoteca, 1950
Fonte: Ferraz, 1995: 47
As mostras realizadas na Vitrina das Formas compõem-se de objetos
pertencentes ao museu e objetos emprestados. O tema de cada uma
destas exibições periódicas tem intenção de instruir o público de forma
a incitar um confronto crítico.
Estas exposições periódicas têm um sentido museológico diferente: não pre-
tendem ser uma apresentação de objetos ‘antigos’, mas uma reunião de um
conjunto orgânico de formas variáveis, criadas por civilizações diferentes ou
originárias simplesmente de circunstâncias casuais, mostrando a variabilida-
de da fantasia humana na criação e na modificação dos materiais dentro de
um impulso renovador incessante.
(...)
Esta exposição visa portanto despertar a atenção sobre: proporção, raciona-
lidade, inteligência, gosto, arte, historicidade, de toda e qualquer forma com
a qual se entre em contato. [Habitat (1): 35, 1950]
O questionamento sobre as artes também emerge de meios inusitados
para a época, pois a essas exposições que apresentam peças da anti-
guidade, são integrados objetos advindos do desenho industrial como a
mencionada máquina de escrever recém lançada no mercado, que
instigou os visitantes. Esta atitude estabelece uma linha tênue, entre
peças reconhecidamente artísticas e peças industrializadas, que até
então eram privadas de compartilhar do mesmo espaço.
Por outro lado, se um vaso da antiguidade egípcia ou grega é um obje-
to importante para a história da cultura material, por quê um objeto de
uso cotidiano não teria importância semelhante ao deflagrar a evolu-
ção do mundo moderno? O choque provocado pelos objetos antigos e
modernos, destacados no mesmo espaço, não seria uma forma de
estimular didaticamente a curiosidade sobre o processo de desenvol-
vimento do homem?
Sob outra perspectiva, a transparência deste invólucro de objetos faz
com que estes estejam envolvidos pelas artes maiores dispostas na
pinacoteca. Esta organização sem obstruções visuais é instigante sob
o olhar do observador habituado a isolar a arte dos objetos corriquei-
ros. Mas quem pode discordar sobre o vaso grego ser arte, tanto quan-
to as pinturas renascentistas? E se o vaso antigo é arte, ao mesmo
tempo foi um utensílio doméstico, por quê não o seria arte também uma
máquina de escrever?
A reforma de 1950 ainda trouxe outras alterações físicas importantes.
Reservado para a pinacoteca, exposições temporárias e a vitrina, o pa-
vimento recebeu novos painéis de apoio para as obras, desenhados por
Lina. Em um dos sistemas foram instalados painéis estruturados com
pés de tubo metálico. Sobre grupos de painéis alinhados passavam
cabos de aço tensionados e fixados na parte superior dos painéis, per-
correndo-os e oferecendo estabilidade ao conjunto.
Outro sistema, extremamente simplificado, foi executado com hastes
de seção retangular componíveis em madeira pintada de branco, que
permitiam diversas disposições ortogonais entre si.
200
201
5
Os assentos destes
auditórios merecem um
destaque neste trabalho,
principalmente a cadeira
do primeiro auditório.
No mesmo pavimento houve ainda mais uma intervenção; foram dese-
nhadas por Lina persianas fixas, para poupar as obras, filtrando a luz
direta do sol, sem a perda da iluminação natural.
A iluminação artificial foi realizada com lâmpadas fluorescentes,
cuja luz rosa e azul era difundida através de um forro metálico de
lâminas cruzadas esmaltadas em branco, que permitia a circulação
do ar condicionado.
Todo o ambiente era bastante claro, o piso em assoalho de pau marfim,
as paredes em branco ou cinza, persianas e forros brancos. A única
“mancha preta” se via no painel de fundo das esculturas gregas [Habi-
tat (1): 32, 1950].
No pavimento inferior permanece o auditório menor, destinado à reali-
zação de curso e conferências. No superior é inaugurado o auditório
maior destinado a apresentações de concertos e cinematográficas.
Este auditório também recebe um forro acústico de lâminas de madei-
ra pintada em branco, separadas de forma a permitir a passagem do
ar condicionado.
5
O papel de mentor de uma
nova postura social perante
os espaços do Museu de Arte
faz surtir efeitos em pouco
tempo, os frutos da dedicação
de Lina Bo Bardi são colhidos,
como se observa na imagem
publicada na Habitat, em
1950. A arquiteta deve ter
sentido um grande orgulho de
seu empenho pelo papel so-
cial no Masp, ao ver o motoris-
ta de ônibus acompanhado de
seu pequeno filho, ambos ad-
mirando Paul Cézanne.
Lina Bo Bardi, Masp, rua Sete
de Abril, pinacoteca, 1950
Francisco Moreira, motorista de
ônibus e seu filho Valdir admirando
uma pintura de Paul Cézanne
(Madame Cézanne em vermelho)
Fonte: Habitat (2): 35, 1950
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
pinacoteca, 1950
Os bancos existentes
na pinacoteca também
foram projetados
por Lina Bo Bardi,
provavelmente no
Studio de Arte Palma
Fonte: Schincariol, 2000: 100
Lina Bo Bardi, Masp,
rua Sete de Abril,
pinacoteca, 1950
“Mancha preta” ao
fundo das esculturas
Fonte: Habitat (1): 47, 1950
203
Nós viramos São Paulo inteira e
não encontramos ninguém que
tivesse uma cadeira moderna
em 1947. Apesar das tentativas
de Warchavchik, Graz, Tenreiro,
Segall etc., não encontramos
absolutamente nada, tanto
em termos de cadeira como
de móveis modernos.
Pietro Maria Bardi
6
Depoimento de Pietro Maria Bardi
a Maria Cecília Loschiavo dos
Santos, São Paulo, 1980. In:
SANTOS, Maria Cecília Loschiavo
dos. Móvel moderno no Brasil.
São Paulo: Studio Nobel, Fapesp,
Edusp, 1995, p. 95. Em outra
publicação Lina teria completado
este pensamento com a frase:
“Fomos obrigados a desenhá-la”,
citação sem referência ou data. In:
FERRAZ, Marcelo (Org.). Lina Bo
Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo
e Pietro Maria Bardi, 1993, p. 50.
O móvel inexistente
Ainda no Masp da rua Sete de Abril, Lina Bo Bardi depara-se com um
grande desafio: adequar os móveis às instalações. Posteriormente deno-
minado Auditório Pequeno ou Menor, o primeiro auditório proposto em
1947 deveria ser mobiliado com cadeiras, necessariamente, modernas,
assim como o projeto das instalações propostas. A busca de um vel
que atenda às perspectivas da arquiteta é em vão. Pietro Maria Bardi
justifica: “nós viramos São Paulo inteira e não encontramos ninguém que
tivesse uma cadeira moderna em 1947”
6
.
Aqui, é importante lembrar que os cursos de Desenho Industrial somen-
te seriam criados na década seguinte e, assim como acontecera na
Europa e nos Estados Unidos, os arquitetos se responsabilizariam pela
função de designer de mobiliário, como extensão de suas funções, como
já foi comentado no segundo capítulo.
Porém, até esta data,
enquanto a arquitetura brasileira assumia notável desenvolvimento, o mes-
mo não se poderia dizer do mobiliário; os arquitetos ocupadíssimos no
trabalho construtivo mais urgente, febril, neste país que cresce com uma
prodigiosa rapidez, não puderam empregar-se, com tempo suficiente, no
estudo de uma cadeira, estudo que requer um técnico, como de fato o é o
arquiteto (...). [Habitat (1): 53, 1950]
Não é este um obstáculo na evolução da proposta de Lina Bo Bardi,
que, inconformada com esta lacuna, desenha um modelo de cadeira
para atender ao auditório.
Criado na época do projeto do Masp, assim como os interiores projeta-
dos pela arquiteta, o assento possui uma linguagem que dialogava fran-
camente com os conceitos modernos já disseminados na época.
A cadeira criada por Lina Bo, em 1947, para o auditório da primeira instala-
ção do Museu de Arte é considerada pela autora a primeira cadeira moderna
do Brasil. Estruturado em madeira de pinho compensado com travessas em
pau-marfim, com assento e encosto em couro sola, o assento era dobrável e
possibilita o empilhamento, permitindo o uso do auditório para outros fins.
Esta é a primeira contribuição de Lina Bo Bardi para o mobiliário brasileiro,
o assento que complementa e dialoga com o interior moderno proposto.
Por sua simplicidade construtiva e pela ausência de estofamentos, talvez
a cadeira pudesse sugerir uma tentativa, ainda incipiente, de unir conceitos
modernos e de amenizar o rigor do clima tropical. Contudo, não tarda mui-
to, Lina Bo Bardi cria nculos muito claros na concepção de móveis que
atendam à expectativa perante a arquitetura moderna proposta no país e,
ao mesmo tempo, com uma nítida afinidade com as questões nativas.
Inaugurado após a reforma de 1950, o auditório maior tem espaço para 350
poltronas. Neste espaço não necessidade da retirada periódica das pol-
tronas como acontece com o auditório menor, um espaço de múltiplo uso.
204
205
Lina Bo Bardi
Cadeiras para o pequeno auditório
do MASP, rua Sete de Abril, 1947
Estudos para cadeiras dobráveis e empilháveis
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Cadeiras para
o pequeno
auditório do
MASP,
rua Sete de
Abril, 1947
Desenho
técnico
Fonte: Catálogo da
Nucleon
Lina Bo Bardi, cadeiras dobráveis para o pequeno
auditório do MASP, rua Sete de Abril, 1947
Imagens do auditório. A flexibilidade de funções é
presente em todo o espaço do museu, por isso a
opção por cadeiras dobráveis e empilháveis
Fonte: Ferraz, 1993: 50
206
207
Lina Bo Bardi
Cadeiras dobráveis para o pequeno auditório do
MASP, rua Sete de Abril, 1947
Uma mesa italiana do século XVI se destacava
próxima ao quadro negro, onde freqüentemente se lia
a inscrição feita com giz branco: “...não se pode viver
dentro da civilização e fora da arte” Rui Barbosa
Fonte: P.M. Bardi 1986: 27
Lina Bo Bardi
Cadeiras dobráveis para o pequeno
auditório do MASP, rua Sete de Abril, 1947
Ficha técnica elaborada pelo Museu da
Casa Brasileira sob título “A evolução do
mobiliário brasileiro através da cadeira”.
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi
Cadeiras dobráveis para o
pequeno auditório do MASP,
rua Sete de Abril, 1947
Fonte: Nelson Kon, 2002
Roberto Sambonet, vitrina loja Mappin, 1952
Cadeira utilizada no auditório do Masp da
rua Sete de Abril, projeto de Lina Bo Bardi
Fonte: Habitat (10): 77, 1952
Studio Palma, Residência de Gregori
Warchavchik, Guarujá, São Paulo, 1948-1951
Cadeira utilizada no auditório do Masp da
rua Sete de Abril, projeto de Lina Bo Bardi
Fonte: Habitat (2): 18, 1951
208
209
As poltronas concebidas por Lina Bo Bardi para este espaço são distin-
tas das cadeiras do auditório menor. Além do acréscimo dos braços,
esta possui materiais e tecnologia que não existem na anterior.
O projeto executivo, datado em maio de 1950, e as próprias poltronas
de Lina Bo Bardi são desenvolvidos pela Grasselli & Cia. Ltda., empresa
que conjuga serviços de marcenaria, mecânica e fundição, necessários
para a construção de assentos de tal porte, provavelmente porque o
Studio Palma está encerrando suas atividades ou porque não possui
mão-de-obra qualificada para executar um projeto que solicite o acrésci-
mo de um mecanismo de precisão.
A articulação da estrutura tubular é feita por meio de um pino de cada
lado que une os dois elementos trapezoidais fixos e as duas peças se-
mi-circulares móveis. Este mecanismo assegura o movimento de rota-
ção do assento por impulso do usuário. O revestimento do assento e
encosto estofados foi feito em Plavinil cinza pérola.
Lina Bo Bardi também desenha um banquinho
utilizado no corredor lateral deste audirio.
Sobre esta peça não grandes refencias, a
não ser um desenho que demonstra a tentati-
va de vencer a inclinão do auditório por meio
de diferença de altura dos pés e de encaixes
entre os pés dos banquinhos enfileirados.
É interessante comentar que, contempora-
neamente a este auditório, é inaugurado o
Teatro Cultura Artística, projeto executado
por Rino Levi, que também desenvolve os
assentos para o público. Ambos os auditó-
Poltronas para o
grande auditório
do MASP,
rua Sete de
Abril, 1950
Esboço
Fonte: Instituto Lina
Bo e P.M. Bardi
Poltronas para o grande
auditório do MASP,
rua Sete de Abril, 1950
Desenho do perfil do
assento demonstrando
o movimento giratório
Fonte: Ferraz, 1993: 51
Lina Bo Bardi,
Poltronas para o
grande auditório
do MASP, rua Sete
de Abril, 1950
Projeto executivo
desenhado pela
Grasselli & Cia.
Ltda em maio
de 1950
Fonte: Instituto Lina Bo
e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, banquinho para o grande
auditório do MASP, rua Sete de Abril, 1950
Estudo para banquinhos encaixados entre si
com diferentes alturas de pés
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, montagem das
poltronas do auditório maior do
MASP, rua Sete de Abril, 1950
Fonte: Habitat (1): 28, 1950
210
211
Lina Bo Bardi, Grande auditório do MASP, rua Sete de Abril, 1950
Imagem do auditório com os assentos e banquinhos para a platéia
Fonte: Habitat (1): 29, 1950
Lina Bo Bardi, Grande auditório do
MASP, rua Sete de Abril, 1950
Imagem do auditório com os assentos
e banquinhos para a platéia
Fonte: Habitat (1): 29, 1950
Rino Levi, poltrona
para o Teatro Cultura
Artística, entre 1948
Vista lateral
Fonte: Santos, 1995: 65
Rino Levi, poltrona
para o Teatro Cultura
Artística, 1948-1950
Fonte: Santos, 1995: 65
Rino Levi, platéia
do Teatro Cultura
Artística, entre
1948-1950
Fonte: Santos, 1995: 65
212
rios são inaugurados em 1950, porém, segundo Maria Cecília Loschiavo
[1995], o projeto da poltrona de Levi é desenvolvido em 1948, ao passo
que os desenhos técnicos para construção das poltronas de Lina Bo
Bardi são datados de 1950.
As poltronas de Levi possuem uma certa sofisticação técnica na lingua-
gem do desenho de mobiliário da época. Lina Bo Bardi adota algumas
características deste assento: estrutura metálica, assento e encosto
estofados e um mecanismo possibilitando o recuo da poltrona para
permitir a passagem aos assentos. Porém, enquanto a poltrona de Levi
possui rígidas linhas retas, a poltrona desenvolvida por Lina Bo Bardi
explora curvas que suavizam o desenho. E enquanto Levi as reveste em
tecido, Lina Bo Bardi utiliza um revestimento plástico.
Tanto as poltronas de Levi como as de Lina são um avanço no design
moderno aliado à tecnologia dos assentos para auditórios brasileiros.
Em 1957, se discutia muito o fato de uma coleção, tão importante,
ser sediada num centro comercial tumultuado, tanto tempo em
instalações provisórias, sem as características adequadas para uma
instituição deste porte. Os espaços restritos dos pavimentos no edifício
impossibilitavam a visibilidade ideal das obras e, por outro lado, o au-
mento do interesse pelos cursos é acentuado.
E, na mesma época, Chateaubriand assina um acordo com a Fundação
Armando Álvares Penteado (Faap), e, em 1958, o acervo e os cursoso
transferidos para o bairro do Pacaembu. O edifício imponente revisado
por August Perret abrigou por pouco tempo o acervo, que retornou ao
mesmo edifício no centro em dezembro de 1959, com parte dos cursos,
sem que estivessem muito esclarecidos os motivos para o regresso.
7
Com o retorno do Masp para o centro, as preocupações de sediar o
museu em um novo edifício persistem. Na busca de uma solução, Lina
Bo Bardi toma as rédeas para encontrar um terreno para a nova sede
do Masp. A arquiteta elege o local, faz estudos e convence as autorida-
des, Assis Chateaubriand, o engenheiro Figueiredo Ferraz e o próprio
Pietro Maria Bardi.
7
Conforme texto datilografado,
provavelmente não publicado.
BARDI, Pietro Maria. O Instituto
de Arte Contemporânea, s/d.
Fonte: Arquivo do Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi.
Este nosso não é um Museu,
o termo é impróprio: o Museu
conserva e nossa pinacoteca ainda
não existe. Este nosso deveria
chamar-se Centro, Movimento,
Escola, e a futura coleção, bem
programada segundo critérios
didáticos e não ocasionais, deveria
chamar-se: Coleção Permanente.
É neste sentido que adotamos
a palavra Museu.
(...)
De fato, se no consi derar uma
obra do passado, consideramos
o “ponto”, o momento no qual foi
executada, nós a poderemos reviver
hoje em sua continuidade histórica,
enquanto que se a encaramos
apenas como “realidade” de hoje,
eliminamos a continuidade histórica
e perdemos o passado de que
o moderno é o resultado.
Lina Bo Bardi
214
215
Salvador: a experiência de
simplificação – uma premissa
A partir das considerações de Lina Bo Bardi no folheto de inauguração
do Museu de Arte Moderna da Bahia, o Mamb ou MAM-Ba, de janeiro de
1960, percebe-se o grau de interesse da arquiteta pela função social
dos museus. E, assim como ela destaca a necessidade de “considerar
uma obra do passado” para não perder o próprio “passado de que o
moderno é resultado”
8
, os cinco anos de experiências iniciais em Salva-
dor são essenciais para Lina Bo Bardi aplicar, na nova sede do Masp, a
experiência adquirida da inventividade criativa e desprendida das solu-
ções simples do Nordeste.
Em 1959 é fundado, em Salvador, o Museu de Arte Moderna que, inicial-
mente, funciona no foyer do Teatro Castro Alves. Convidada pelo Gover-
no da Bahia, Lina Bo Bardi segue para Salvador, com o objetivo de
orientar uma nova expressão de vivacidade cultural. Entre 1958 e 1964,
Lina Bo Bardi observa que o Brasil contempla
o esplendor de um conjunto de iniciativas que representou uma esperança
muito grande para o país todo, se estendendo do extremo norte, pelo me-
nos, até o Rio de Janeiro (...). O discurso era outro. Era um discurso sócio-
político, ligado diretamente à economia e à história do Brasil. Foi um proces-
so que ocorreu não só na Bahia, mas no Nordeste todo, e que não pode ser
abolido. [Ferraz, 1993: 153]
Lina realiza no Teatro Castro Alves, em Salvador, as cenografias da peça
de Brecht e Weill, a Ópera dos Ts Tostões, encenada em 1960, e da
peça de Albert Camus, Calígula,
9
encenada em 1961, ambas montadas
por Martim Gonçalves. O teatro fora acometido por um incêndio, poucos
dias antes de sua inauguração, e a expressão cenográfica de Lina tirou
partido do palco semidestruído, para sublinhar a dramaticidade dos espe-
táculos. As propostas, simples, despidas de detalhes e de caráter moder-
no, foram compreendidas pelo público, predominantemente popular
10
.
Além do auditório, o Castro Alves também abriga o Mamb, Lina Bo Bardi
lembra que
a verba reduzida do M.A.M.B. não permitia grandes aquisições, mas consegui-
mos empréstimos [de obras] do Museu de Arte de São Paulo, e pudemos com
uma planificação certa dos recursos, aumentar a coleção: o Museu chegou a
ter uma importante coleção de artistas brasileiros e alguns estrangeiros. Na
rampa de acesso ao teatro instalamos um auditório-cinema para confe rências,
aulas, projeções e debates; nos gran des subterrâneos urna escola de inicia-
ção ar tística para crianças; a Escola de Teatro e o Seminário Livre de Música
da Universidade colaboravam. [Mirante das Artes (6): s/p, 1967]
Entre 1959 e 1963, Lina Bo Bardi restaura o Solar do Unhão, onde se-
riam instalados, a princípio, o Museu de Arte Popular e a Escola de De-
senho Industrial e Artesanato, inserida como atividade ligada ao museu.
O sonho da arquiteta de mais um museu-escola, a exemplo do Masp
com o IAC, é vetado pelo início da ditadura militar, em 1964, época em
que o Museu de Arte Moderna da Bahia (Mamb) já ocupava o Solar do
Unhão desde o ano anterior
11
.
O projeto de recuperação do Solar é consciente com uma viabilidade
espacial do interior, dialogando com a ética de restauro promovida pelo
Movimento Moderno e preservando o patrimônio cultural tombado. Edu-
ardo Rossetti considera:
Este projeto da Escola de Desenho Industrial e Artesanato, a ser instalada no
Solar do Unhão naquele momento em que Salvador experimentava manifesta-
ções vanguardistas simultâneas a Brasília que monopolizava todas as aten-
ções – é um outro modo de Lina Bo Bardi tencionar o quadro de procedimentos
da arquitetura moderna brasileira. O Solar do Unhão é o condensador das três
instâncias da tensão moderno/popular, pois ao mesmo tempo em que abriga o
processo de transformação das escalas de produção, seu projeto contém expe-
rimentações significativas de linguagem e quer ser um espaço público de uso
popular legítimo. O Solar do Unhão é o ponto máximo de resistência da tensão
moderno/popular em Lina Bo Bardi, cujo ícone é sua escada.
12
A célebre intervenção de Lina Bo Bardi para acessar o pavimento superior
do Solar do Unhão respeita o passado histórico da edificação do século
XVI. A arquiteta encontra uma solução para a construção da escadaria,
cujos elementos de encaixe são encontrados nos carros-de-bois, um ata-
vismo arraigado na cultura material brasileira desde o Brasil-Colônia.
E, mesmo com a necessidade de pilares de madeira distribuídos unifor-
memente nos pavimentos, dois amplos salões se abrem para a instala-
ção das exposições. Nestes espaços, ela se aproxima da disposição
das peças em exposição da maneira de exibir popularmente o artesa-
nato localmente comercializado – seja em feiras ou pequenas vendas –,
como pode-se conferir no resultado da disposição das peças expostas
na Exposição Nordeste, de 1963.
Lina Bo Bardi, espaço expositivo no
foyer do Teatro Castro Alves, Salvador
8
BARDI, Lina Bo. Folheto de
inauguração do Mamb., jan 1960.
9
Lina desenhou inclusive os trajes
da peça Calígula. O partido
simples das premissas modernas
é também cenário de outras duas
peças, que tiveram seus palcos
planejados por Lina: Na Selva
das Cidades, também de Brecht,
encenada em 1967 no Teatro
Oficina em São Paulo, Gracias
Señor, encenada 1971 no Teatro
Tereza Rachel, Rio de Janeiro,
ambas sob direção de José Celso
Martinez Correa. Também em São
Paulo, outra cenografia que incluiu
os trajes das personagens: Ubu
– Folias Physicas, Pataphysicas e
Musicaes, com direção de Cacá
Rosset, peça de Alfred Jarry.
Estas características, adotadas
pela arquiteta, também foram
registradas em sua participação
cenográfica no cinema, com o Auto
da Compadecida de George Jonas,
filmado em 1968.
10
BARDI, Lina Bo. Cinco anos entre
os “brancos”. Mirante das Artes
(6): s/p, São Paulo, dez./jan./fev.
1967.
11
“O agravamento das tensões
estruturais do país que culminaram
nos acontecimentos de abril de
1964 refletiram-se também nas
atividades culturais. O sistema
‘democrático’ necessitando, para
conservar sua elasticidade, de
reformas de base, constituiu-se
num desa fio à classe dirigente, e
a susseguinte grave crise marcou
uma ‘stasi’, uma verdadeira
estagnação cultural que, com a
progressiva des moralização das
Universidades e a ingerência de
elementos alheios na cultura
nacional ameaçam gravemente as
possibilidades de saída do estádio
de colonialismo cultural.In:
BARDI, Lina Bo. Cinco anos entre
os “brancos”. Mirante das Artes
(6): s/p, São Paulo, dez./jan./fev.
1967.
12
No mesmo artigo Rossetti
argumenta: “O sentido de
resolução das três instâncias será
o seguinte: partir da arquitetura e
trabalhar as possíveis conexões
com aspectos da cultura popular e
não propriamente com seu agente,
o povo. Lina Bo Bardi estaria
operando nas zonas residuais
do modernismo, como assinala
Jameson [1996: cap.4] e também
estabelecendo conexões entre o
arcaico, o residual e o emergente,
conforme Canclini desenha este
quadro de inter-relações dos
processos culturais [1998: 189].
In: ROSSETTI, Eduardo Pierrotti.
Tensão moderno popular. Salvador:
FAU-UFBa, 2002. [Dissertação
de mestrado]. É interessante
relacionar à pesquisa de Eduardo
Rossetti, que parte da arquitetura
e trabalha com possíveis ligações
de aspectos da cultura popular e
não propriamente de seu agente,
o povo.
Exposição Burle Marx, set. 1960
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
216
217
Exposição Arte como
história, 1961
Foto: Armin Guthermann
Exposição Bertold Brecht e o
Expressionismo Alemão,1960
Foto: Armin Guthermann
Exposição
de cerâmica
Brennand
Foto: Armin
Guthermann
Lina Bo Bardi, poltronas
e auditório improvisado
na rampa de acesso do
Teatro Castro Alves, Salvador
Desenhos e imagens
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
218
219
Lina Bo Bardi, fachada,
Solar do Unhão, 1959-63
Fonte: Ferraz, 1993: 156
Lina Bo Bardi, escada,
Solar do Unhão, 1959-63
Fonte: Ferraz, 1993: 157
Lina Bo Bardi, planta
e elevação da escada,
Solar do Unhão, 1959-63
Fonte: Ferraz, 1993: 157
Lina Bo Bardi,
Exposição
Nordeste, Solar do
Unhão, 1963
Fonte: Ferraz, 1993: 159
220
Lina Bo Bardi,
fachada e escada,
Solar do Unhão,
1959-63
Fotos: Nelson Kon, 2002
Aproveitei ao máximo a
experiência de cinco anos
vividos no Nordeste,
a lição da experiência
popular, não como
romantismo folclórico,
mas como experiência
de simplificação.
Lina Bo Bardi
222
223
tas aquáticas nativas –, que se interpõe entre os outros dois volumes,
formando um belvedere, ou “praça”, pontuada pelas escadas, elevador
e pelos quatro robustos pilares que sustentam a oito metros do piso o
terceiro volume
14
; este último se destaca por sua forma prismática e
transparente, comportando a maioria dos espaços expositivos: no pri-
meiro andar, as exposições temporárias e administração, no segundo
andar, a pinacoteca.
A estrutura é cuidadosamente projetada em prerrogativa das instala-
ções internas, absolvendo os espaços expositivos de obstáculos proje-
tuais. No subsolo são considerados os espaços expositivos na localiza-
ção dos pilares. A laje do primeiro andar desta caixa é sustentada por
tirantes metálicos sustentados por duas vigas principais em concreto
protendido, que são apoiadas nos consoles dos quatro pilares. A laje de
cobertura é suportada pelas vigas de cobertura centrais, transmitindo a
carga aos pilares, auxiliados por pêndulos internos.
O projeto estrutural fica a cargo do engenheiro José Carlos de Figueire-
do Ferraz, calculista do maior vão luz da América Latina – como é consi-
derada a estrutura do Masp, por muito tempo, com setenta e quatro
metros livres.
A importância desta configuração estrutural no contexto da tese é o fato
do edifício permitir instalações descomprometidas do posicionamento
dos pilares, pois estes são apartados de qualquer espaço expositivo,
privilegiando a adoção de mais alternativas na configuração das instala-
ções para as exibições.
Entre o volume de embasamento e a caixa de vidro se estabelece um
outro espaço interno e externo ao mesmo tempo, público: o belvedere.
Avenida Paulista: o Masp e a relação sócio-cultural
A partir da prática bem sucedida no Masp, ainda no centro da cidade de
São Paulo, Lina Bo Bardi faz intervenções no Teatro Castro Alves e cria
o Mamb na Bahia. São cinco anos de convívio com o Nordeste, onde ela
aproveita “a lição da experiência popular (...) como experiência de sim-
plificação”, que a motiva a praticar uma postura similar com relação aos
interiores do Masp na avenida Paulista [Ferraz, 1993: 100].
Ainda em 1957, na tentativa de solucionar o impasse de uma nova
sede para o Masp, surge a possibilidade de obter o terreno do belvede-
re do Trianon na avenida Paulista, para o qual Lina Bo Bardi apresenta
estudos para uma edificação que é condizente com as solicitações tes-
tamentárias para utilização do lote: conservar o mirante existente no
belvedere. Porém, havia uma disputa pela posse do terreno entre o Mu-
seu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e o Masp. E, após muitas
polêmicas sobre a posse do terreno, a concessão é feita ao Masp.
O projeto do Masp é iniciado em 1957, em local selecionado pela pró-
pria Lina no espigão paulistano, de onde se descortina o Vale do Anhan-
gabaú em direção ao centro, exatamente na interseção entre os impor-
tantes eixos viários: avenida Paulista e avenida Nove de Julho.
A arquiteta soube da possível doação do terreno à prefeitura de São
Paulo, desde que fosse respeitado o desejo testamentário do proprietá-
rio, Joaquim Eugênio de Lima, de conservar a visão panorâmica em di-
reção ao vale, como acontecia no antigo belvedere do Parque Trianon.
Este era o local ideal para Lina Bo Bardi. Desde o início do século XX o
Trianon se configura como importante foco referencial e de encontro da
elite da cidade, pois se realizam eventos sociais e políticos, e em sua vi-
zinhança constam os imponentes casarões de cafeicultores, em sua
maioria estrangeiros, concentrando grande parte das fortunas paulistas.
Principalmente entre 1940 e 1970, ocorre a decadência dos casarões e
institutos, habitados e freqüentados por esta elite, que acabam por de-
molir o próprio edifício do Trianon, em 1950. E, um importante evento
termina de rotular o local culturalmente. Em 1951, a primeira Bienal Inter-
nacional de Arte de São Paulo é instalada no subsolo do belvedere
13
.
Vencida a disputa política, resta suplantar o desafio arquitetônico. Lina
Bo Bardi desenvolve um projeto arrojado para a época. O mirante do
belvedere do Trianon é preservado com o desmembramento dos volu-
mes do museu semi-enterrado e aéreo –, possibilitando um imenso
vazio no térreo, que permite o acesso solicitado para a paisagem urba-
na do vale paulistano.
Lina Bo Bardi cria três volumetrias distintas: duas edificadas e um vá-
cuo entre estas. De baixo para cima, a primeira é um embasamento
semi-enterrado, que possui jardineiras em seu perímetro exposto e con-
centra as atividades de serviços, áreas para usos diversos – Hall Cívico
e foyer –, biblioteca, auditório, restaurante e dois espaços expositivos;
a segunda é o vazio – cingido em parte por espelhos d’água com plan-
14
Atualmente ao vazio estão
acrescentados painéis
transparentes para orientação do
fluxo de acesso, bilheterias e um
balcão guarda-volumes. Espelhos
d’água que circundavam o edifício
foram aterrados.
13
Segundo Hélio Herbst, a
distribuição espacial desta Bienal
inspira Lina Bo Bardi na intervenção
para a nova sede do Masp.
HERBST, Hélio. Pelos salões das
bienais, a arquitetura ausente nos
manuais: expressões da arquitetura
brasileira expostas nas bienais
paulistanas (1951-1959).
São Paulo: FAUUSP, 2007, p. 45.
[Tese de doutorado].
Lina Bo Bardi, Exposição
Bahia no Ibirapuera, V Bienal,
São Paulo, 1959
Esta exposição foi considerada
a primeira a destacar o ponto
de vista antropológico-cultural
sobre o ponto de vista artístico
no trabalho do povo nordestino
Fonte: Ferraz, 1993: 137
224
225
Lina Bo Bardi, plantas e cortes,
Masp, avenida Paulista, 1957-68
Fonte: Oliveira, 2006: 278-279
Lina Bo Bardi, estrutura, Masp,
avenida Paulista, 1957-68
Fonte: 2G (23-24): 60, 2003
Lina Bo Bardi, estrutura, Masp,
avenida Paulista, 1957-68
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 67
Lina Bo Bardi,
exterior, Masp,
avenida Paulista,
1957-1968
Fotos: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi, exterior, Masp,
avenida Paulista, 1957-1968
Fonte: P.M. Bardi, 1985: 132
226
227
Lina Bo Bardi,
rampa, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1986: 139
Lina Bo Bardi,
Hall Cívico, Masp
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
expositores, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 89
Lina Bo Bardi,
expositores, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 89
Lina Bo Bardi,
expositores, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 94
Lina Bo Bardi,
expositores, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 94
228
229
Lina Bo Bardi,
Rampas e Hall
Cívico, Masp
Fotos: Nelson Kon, 2006
Lina Bo Bardi,
biblioteca, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 32
Lina Bo Bardi,
Vitrina das
Formas, Masp
Fonte: P.M. Bardi,
1986: 112
Lina Bo Bardi, retaurante,
Masp, anos 1980
Fonte: P.M. Bardi, 1986: 138
Lina Bo Bardi,
retaurante atual, Masp
Foto: Nelson Kon, 2002
230
231
Lina Bo Bardi, croquis e
protótipo de poltronas -
auditório Masp, 1968
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
232
233
O programa para o novo edifício não difere muito do programa da sede
anterior, no centro. Contudo, não se pode comparar os espaços dispo-
níveis de ambos os edifícios. Na avenida Paulista as dimensões gene-
rosas permitem introduzir o Hall Cívico, o restaurante e o depósito para
obras, além de todos os outros ambientes se beneficiarem com acrés-
cimos de área e instalações mais apropriadas.
No segundo subsolo (cota -9,50) estão a biblioteca que dispõe de mó-
veis para os funcionários, estantes, mesas e assentos para os usuá-
rios; o restaurante, cujos móveis originais são muito semelhantes à
proposta de mobiliário para o Sesc Pompéia; e entre a biblioteca e o
restaurante está o Hall Cívico, organizado conforme o evento, possuin-
do acesso independente voltado para a avenida Nove de Julho. Neste
pavimento, os expositores e a Vitrina das Formas se configuram com
similaridade às instalações na rua Sete de Abril.
No primeiro subsolo (cota -4,50), existem duas salas de exposição e, entre
estas, o vão aberto decorrente do pé-direito duplo do Hall Cívico, situado
no segundo subsolo, o teatro e o auditório pequeno, cujas poltronas pro-
postas por Lina não foram utilizadas, como veremos mais adiante.
Em 1969, Lina Bo Bardi projeta um protótipo de poltrona para o auditó-
rio, criado depois de inúmeros esboços da arquiteta. Porém, o modelo
que compreende uma dupla de poltronas é recusado pela Prefeitura e
substituído por um assento existente no mercado.
Apesar disso, um modelo semelhante se manifesta alguns anos depois.
Em 1977, com a colaboração dos arquitetos Ardré Vainer e Marcelo
Ferraz, Lina Bo Bardi inicia o desenvolvimento do projeto para o Sesc
Pompéia, cujo mobiliário é especialmente desenhado para seus am-
bientes. A poltrona – à qual Lina se refere como “poltroninha” – utiliza-
da no auditório do Sesc, possui uma linguagem muito semelhante àque-
la recusada anteriormente na ocasião do Masp, assim como o suporte
para obras de arte tem a mesma linguagem do anterior para o Masp.
Na época do projeto do Sesc Pompéia, a controvertida questão pós-
moderna gerava discussões acirradas e freqüentes. Lina se posicionou
duramente, então, contra essa nova postura na arquitetura. Em anota-
ções pessoais, que têm como intenção apresentar o assento destinado
ao teatro do Sesc, ela inicia neste tom:
Depois e cinicamente julgar esgotados o conteúdo e as possibilidades hu-
manas do Movimento Moderno na arquitetura, aparece na Europa um novo
lançamento: o Post-Modern, que pode ser definido como Retromania, o
complexo da impotência frente à impossibilidade de sair de um dos mais
estarrecedores esforços humanos do Ocidente. [Ferraz, 1993: 226]
E, mais adiante, argumentando sobre a “cadeirinha” para o teatro do
SESC, ela continua:
Tudo isso pode ser julgado uma premissa exagerada para a apresentação
de uma simples cadeira de teatro-auditorium, mas esta nota antecipada
Lina Bo Bardi, poltronas para
o auditório do Sesc Fábrica
Pompéia, 1977-86
Fonte: Ferraz, 1993: 96
15
Em recente reforma foi instalado
mais um elevador social, que
atende todos os pavimentos
(exigência da legislação de
deficientes físicos) e outro de
carga para acesso aos segundo
e terceiro subsolos.
sobre os equívocos europeus do Post Modern [...] é a esperança que o
Brasil não enverede mais uma vez no mesmo caminho de sociedades cul-
turalmente falimentares.
Por enquanto se refere a dita cadeirinha, toda de madeira e sem estofado, é
de observar: os Autos da Idade Média eram apresentados nas praças, o
público de pé e andando. Os teatros grego-romanos não tinham estofados,
eram de pedra, ao ar livre e os espectadores tomavam chuva, como hoje nos
degraus dos estádios de futebol, que também não têm estofados. Os esto-
fados apareceram nos teatros áulicos das cortes, no setecento e continuam
até hoje no “confort” da Sociedade de Consumo.
A cadeirinha de madeira do Teatro da Pompéia é apenas uma tentativa para
devolver ao teatro seu atributo de “distanciar e envolver”, e não apenas
sentar-se. [Ferraz, 1993: 226]
Entre ambos os pavimentos acima mencionados, existem duas esca-
das-rampa de concreto que se cruzam na proximidade da cota de piso
do Hall Cívico.
No térreo (cota 0,00) encontra-se a “praça” proposta por Lina, ladeada
pelos espelhos d’água, com vista para o vale e de frente para o parque
Trianon. Um espaço convidativo que integra o bairro ao centro visual-
mente, onde se realizam eventos diversos.
15
234
235
Lina Bo Bardi,
auditório, Masp
Fonte: P.M. Bardi,
1978: 102
Lina Bo Bardi,
auditório,
Masp
Fonte: Instituto Lina
Bo e P.M.Bardi
Lina Bo Bardi,
auditório atual,
Masp
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi,
belvedere, Masp
Fotos: Nelson Kon, 2006
Lina Bo Bardi,
desenho de ocupação
do belvedere com
atividades recreativas
para crianças, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1986: 133
236
237
Esta praça é um dos únicos hiatos, mas
sem dúvida o mais atraente, no contur-
bado eixo empresarial paulistano. Como
Lina diversas vezes se referiu, este es-
paço tem afinidade com o “intervalo si-
lencioso” presente na composição mu-
sical de John Cage, no julgamento de
Olívia de Oliveira:
[O belvedere] não preserva a visão do
Parque Trianon sobre a cidade, mas, prin-
cipalmente prenuncia essa visão, ao mes-
mo tempo que a modifica no ato de emol-
durá-la. A cidade vem acolhida nesse
vazio, nesse exterior que, podemos dizer
como Le Corbusier, é sempre um interior.
É um vazio impregnado de possibilida-
des. Ele configura lugar de encontro, de
troca, praça pública, agora democrática,
espaço aberto área de manifestações
coletivas de diversos tipos, lugar de jogo
enfim. (...) Esse “intervalo silencioso”,
fundamental na obra de Lina, é o lugar
da não repressão de impulsos no me-
lhor sentido surrealista. [2006: 259]
O primeiro andar (cota 8,40) possui três espaços paralelos longitudinal-
mente ao prisma constituídos pelo posicionamento das vigas, sob as
quais se define um corredor de pé-direito mais baixo que o restante. A
grande área central abriga as exposições temporárias e, contígua a
esta, na extremidade oposta ao hall de acesso, encontra-se um depósi-
to para obras. Ambos, os outros dois espaços, são reservados à área
administrativa, que é separada por divisórias de vidro.
Quanto ao mobiliário desta área, as mesas originais que Lina idealiza
para a maioria dos funcionários do museu são compostas por três ele-
mentos: dois arquivos baixos de aço com gavetas, da empresa Securit,
sobre os quais é colocado um tampo: uma peça de vidro temperado,
cujas dimensões principais variavam de acordo com o nível do usuário,
e a espessura se estabelece entre 10 e 20 mm, dependendo das di-
mensões deste tampo.
16
No segundo andar (cota 14,40) está concentrado o acervo permanente
do museu. Este é um pavimento banhado pela luz do dia e, à noite, com
lâmpadas de vapor de iodo, colocadas lateralmente, de modo a refleti-
rem no teto caiado de branco.
17
As empenas totalmente transparentes
integram o exterior e o interior.
18
As instalações estão à vista, inclusive o condicionamento de ar. Tanto
os elevadores quanto a escada não têm realce externamente, porém,
no interior, estes elementos adquirem uma posição de destaque.
16
Segundo informações não
confirmadas, os assentos originais
da área administrativa do Masp da
avenida Paulista eram existentes
no mercado. O mobiliário original
foi substituído, em parte, por
Pietro Maria Bardi nos anos 1980,
conforme informação de Eugênia
Gorini Esmeraldo, diretora de
Assuntos Internacionais do Masp.
Os móveis continuam sendo
substituídos, nos últimos, anos
pela atual diretoria.
17
O sistema de iluminação
foi alterado recentemente.
18
Esta característica foi alterada
pela nova administração,
que vedou os caixilhos com a
instalação de paredes de gesso
de quatro metros de altura.
Lina Bo Bardi, ocupação do
belvedere pelo povo, Masp
Fonte: Ferraz, 1993: 114
Lina Bo Bardi,
Exposição Bauhaus,
Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1978: 88
Lina Bo Bardi, corredor
administrativo: reuniões, Masp
Fonte: P.M. Bardi, 1986: 138
Lina Bo Bardi, corredor
administrativo, Masp
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi, corredor
administrativo, Masp
Fonte: Ferraz, 1997: s/p
238
239
Os materiais de acabamento principais utilizados no restante da obra
se resumem à própria estrutura de concreto, aos painéis fixos de vidro
temperado sustentados por perfis metálicos e a caiação. A vegetação
é distribuída em floreiras. Os revestimentos de piso nas três lajes as-
sentadas na topografia do terreno são rústicos: piso em pedra Goiás
19
nos subsolos e granito bruto no térreo, sendo este bloco basicamente
de concreto. Enquanto que o núcleo expositivo aéreo tem outras carac-
terísticas de acabamento, os pisos são de borracha preto tipo indus-
trial e predomina o vidro.
Como constata Oliveira:
No volume de cima tudo é liso, polido, racional, industrial; no de baixo, dá-se
lugar ao texturizado, carnoso, irregular e natural. Aéreo-profundo, vertical-
horizontal, agudo-grave, cristalino-opaco, artificial-natural, esse é o edifício
de Lina: relações espectrais dialogam enquanto buscam a complementari-
dade. [Oliveira, 2006: 265]
Na esteira do parecer de Oliveira, atenta-se também para a predomi-
nância de alguns materiais na arquitetura do edifício. Os principais ma-
teriais utilizados nesta edificação são: concreto e vidro. Prevalece o
concreto nos pisos semi-enterrados, o belvedere quase se isenta de
matéria, e sobressai a presença do vidro na grande caixa.
Analogamente, as obras de arte estão dispostas em painéis de vidro,
cujo suporte é um bloco de concreto: os memoráveis cavaletes de cris-
tal
20
. Não é por acaso que os cavaletes são compostos com os mes-
19
Recentemente a pedra Goiás
do Hall Cívico foi substituída
por granito polido.
20
Os cavaletes também foram
retirados e substituídos por outro
sistema, pela atual administração.
Lina Bo Bardi, acesso
à circulação vertical –
primeiro andar, Masp
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi, croquis para
mobiliário e pedestal para
esculturas – Masp, 1968
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M.Bardi
240
241
mos elementos: o primeiro é um embasamento em um cubo de concre-
to em seu estado bruto, rústico e pesado, que suporta o segundo; este
é encaixado ao bloco de base, em vidro totalmente transparente, trans-
mitindo leveza e sustentando as obras como se estivessem em suspen-
são no ar. Por analogia, o bloco de concreto é o subsolo que concentra
as áreas de apoio –, o vidro é o belvedere no térreo – que é o vazio – e
a obra de arte é o bloco prismático aéreo, flutuante. Este é o mais
estreito diálogo entre a edificação e seus componentes móveis.
Protegidas do sol através de leves persianas de alumínio, as obras de
arte da pinacoteca são suportadas por cavaletes de vidro temperado
com 10 mm de espessura, 2 metros de altura e largura variável, confor-
me as dimensões da obra. Sustentado por um elemento cúbico de con-
creto de 40x40x40 cm, cujo lado superior possui uma fenda, onde se
ajusta o vidro por meio de uma cunha de madeira.
Elementos semelhantes haviam sido experimentados por Franco Albini
na Galeria de Brera em Milão e na Galeria del Palazzo Bianco, em Gêno-
va, respectivamente, em 1934 e 1951. Também Frederick Kiesler exe-
cutou uma experiência próxima para a Surrealist Gallery (1943). “O qua-
dro parece flutuar livremente. É um volume sólido no espaço e não mais
uma decoração de parede. É um mundo em si que o pintor concebeu e
o arquiteto ancorou”, diz Kiesler no Manifest du Corréalisme
21
.
É sob esta perspectiva que Lina Bo Bardi cria os insólitos cavaletes,
imbuída como estava da realidade do dia-a-dia, da história e do espírito da
vanguarda do século XX, sabia exatamente o que estava fazendo. Com visão
penetrante ela iluminou o antigo conflito pintura versus parede desvendando
um dilema infeliz à sua própria e maravilhosa maneira. [Van Eick, 1997: s/p]
Infelizmente, a atual direção não manteve este espetáculo único, que
foi durante muitos anos o conjunto de cavaletes dispostos na pinacote-
ca.
22
Muitos partiram em defesa da manutenção dos cavaletes no mu-
seu, contudo, um outro estrangeiro, Aldo van Eick, captura a imagem
que vê no amplo espaço e relata suas impressões, advogando sobre o
“gesto” da arquiteta:
(...) esse grande interior acomodando um mar miraculoso de pinturas um
espetáculo caleidoscópico exemplificando cada item individualmente e ao
mesmo tempo transcendendo o nome do pintor, o período cultural ou estilo. É
sobre este gesto interior final que eu gostaria de discorrer, que ele não é
sempre prontamente entendido e é, por conseguinte, infelizmente vulnerável.
(...)
A exposição, sendo única, é, em conseqüência, também anormal. E o que é
anormal – neste caso à revelia, devido a seu caráter único também é vul-
nerável no sentido de que corre o risco de ser mudado ou desmantelado
completamente, o que seria uma perda inominável. Seja como for, agora o
problema tornou-se agudo.
Se fosse visto, no entanto, como aquilo que é: um gesto final completando
o outro traço superlativo do edifício, (...) não deveria ser mais tão difícil as-
sim chegar a um entendimento do
que pode parecer excessivo até
mesmo exorbitante porque per-
manece solitário. A questão é que
estes dois gestos extraordinários
– o exterior e o interior – são inter-
dependentes, pertencem um ao
outro, afinados como estão pelo
mesmo diapasão mental: a inflexí-
vel arte e arquitetura de Lina Bo
Bardi, simultânea – solidária com o
povo. [Van Eick, 1997: s/p]
É importante lembrar, como relata Olívia de Oliveira, que réplicas autoriza-
das dos cavaletes, rejeitados pela atual administração do Masp, estão
dispostas no Crown Hall, principal sala de exposições do Instituto Illinois
em Chicago, obra de Mies van der Rohe. Am da referência que o arquiteto
holandês Piers Gough faz aos cavaletes do Masp em sua reforma para a
National Portrait Gallery de Londres e da permissão solicitada pelo Museu
Rietveld holandês para reproduzir os cavaletes de Lina Bo Bardi [2G (23-24):
15, 2003], Olívia Oliveira argumenta:
Lina Bo comprime no interior da arquitetura todo o tempo para oferecê-lo
como um só instante de duração infinita. Este é o sentimento que temos
ao deparar-se com a pinacoteca do Masp, ou melhor, com o que era a
pinacoteca do Masp.
Nesta imensa caixa de luz os quadros de diferentes épocas e estilos flutua-
vam sem nenhuma espécie de sistematização. Eles eram apresentados so-
21
Le tableau semble flotter librement.
C’est un îlot solide dans l’espace,
et non plus une décoration murale.
C’est un monde ensoi que le
peintre a conçu et que l’architecte
a mis à l’ancré. In: KIESLER,
Frederick. Manifest du Corréalisme.
L’architecture d’aujourd’hui: s/p,
Paris, jun. 1949.
22
Os meios de comunicação fizeram
divulgações a respeito das atitudes
da diretoria atual do Masp perante
as alterações do projeto original
do Masp, tanto no que diz respeito
aos cavaletes quanto ao edifício.
Cf. SCAVONE, Miriam. Polêmica no
Masp. In: Veja (47): 30, São Paulo,
25 nov. 1998. MEDEIROS, Jotabê.
Masp soterra espelhos d’água e
acende polêmica. In: Estado de S.
Paulo, Caderno 2. São Paulo, 02
jul. 2001. RIBEIRO, Marili. Masp
mostra polêmica sobre como
exibir arte. In: Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, 27 nov. 1998. PAVÃO,
Jadyr. Masp rejeita o tombamento
dos cavaletes. In: Valor, São Paulo,
4 de fevereiro de 2000.
Franco Albini Galeria del
Palazzo Bianco, Gênova, 1951
Fonte: Habitat (15), 1954
Frederick Kiesler,
Surrealist Gallery, 1943
Fonte: Habitat (15), 1954
242
243
bre painéis de vidro transparentes apoiados em uma base cúbica de concre-
to. Para Lina Bo os quadros deveriam “retornar ao ar”, isto é, ao cavalete,
ao momento em que eles ainda estavam sendo pintados. Com esta atitude
promovia uma dupla subversão da idéia de progresso, seja porque introduzia
a noção de reversibilidade do tempo, seja porque, com ela, restabelecia o
momento criativo, de quando o quadro ainda se encontrava cara à cara e em
pleno diálogo com o pintor. A idéia aqui é de paralisar o tempo naquele ins-
tante ativo para repropô-lo ao visitante, que com a sua presença voltará a
dialogar e dar vida ao quadro. Suspensos nos cavaletes de vidro, os quadros
deixavam as paredes para virem procurar a companhia do público. Eles se
misturavam ao público e, por transparência, víamos uma fusão e superposi-
ção de acontecimentos. Aqui quadros e visitantes estavam liberados de to-
das balisas de épocas e leituras pré-definidas.
(...)
Os cavaletes são importantes não por sua aparência formal, mas porque ela
abrem uma nova maneira de relacionar visitantes e quadros. Pois tal como na
obra dos mestres da arquitetura moderna e das primeiras vanguardas, a ruptura
formal aqui apóia-se na superação da percepção habitual e rotineira do especta-
dor e jamais num formalismo inconseqüente. [Vitruvius (068.01), 2006]
O tema exposições foi desenvolvido por Lina ao longo de todo seu per-
curso profissional. Dentre estas obras de caráter museístico, o projeto
do Masp da avenida Paulista foi o de maior impacto. Importante en-
quanto museu e emblemático enquanto edificação, tornou-se um ícone
da arquitetura paulistana. Ladeada por torres verticais, a horizontalida-
de do Masp rompe a muralha que os edifícios produzem na avenida.
Além de disparatar com a linha monumental que se estabeleceu no eixo
viário, a proposta para o museu de Lina Bo Bardi vai além de invólucro
para um acervo, oferece um espaço aberto ao público ou melhor, ao
povo, como diria Lina – que convida e abraça o belvedere sob a grande
caixa de vidro, com enormes pilares e vigas de concreto protendido.
Argumentando sobre a arquitetura do Masp, Lina Bo Bardi estabelece
um vínculo conceitual com a arquitetura moderna e a cultura popular:
Uma premissa. Na projetação do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida
Paulista, procurei uma arquitetura simples, uma arquitetura que pudesse
comunicar de imediato aquilo que, no passado, se chamou de “monumen-
tal”, isto é, no sentido do “coletivo”, da “Dignidade Cívica”. Aproveitei ao
máximo a experiência de cinco anos vividos no Nordeste, a lição da expe-
riência popular, não como romantismo folclórico, mas como experiência de
simplificação. Através de uma experiência popular cheguei àquilo que se
poderia chamar de Arquitetura Pobre. Insisto, não do ponto de vista ético.
Acho que no Museu de Arte de São Paulo eliminei o esnobismo cultural tão
querido pelos intelectuais (e os arquitetos de hoje), optando pelas soluções
diretas, despidas.
23
Esta foi sempre a proposta de Bo Bardi, como poucos arquitetos se
dispuseram a criar. Nesta perspectiva de resgatar as questões da terra
no Brasil, ela pretendeu homenagear o povo, com seus costumes e
suas crenças. Assim também foram as exposições no Masp: A Mão do
Povo Brasileiro, em 1969, e Repassos, com parceria de Edmar de Almei-
da, em 1975.
Lina Bo Bardi,
Cavalete de
Cristal, Masp
Desenho e
protótipo junto
a Lina Bo Bardi
sob o Masp em
construção, s/d
Fonte: Instituto Lina
Bo e P.M.Bardi
23
BARDI, Lina Bo. (Anotações
pessoais quanto ao MASP).
In: FERRAZ, Marcelo (Org.).
Lina Bo Bardi. São Paulo:
Instituto Lina Bo e Pietro
Maria Bardi, 1993, p. 100.
[Os grifos são da autora].
Lina Bo Bardi,
Cavaletes de
Cristal, Masp,
s/d
Fonte: P.M. Bardi,
1986: 61
244
245
A “experiência de simplificação” de Lina Bo Bardi com relação à vivência
no Nordeste se refere principalmente à simplicidade formal adotada no
edifício e interiores do Masp, o que não pretende ser uma redução de
princípios ou de conceitos, pois a próprio aspecto formal denota significa-
dos que são intrínsecos à linguagem moderna e a uma nova leitura do
caráter social que a arquiteta realiza. E é neste sentido que Lina Bo Bardi
respeita o seu povo, expressando em sua arquitetura – o que inclui o en-
torno do tio urbano em que o projeto eslocalizado e os interiores
uma maneira de estimular a interlocução íntima entre obra de arte e
povo. O povo do interior ou do exterior do Masp que não mais se incorpora
aos cavaletes ou à transparência do acervo.
Lina Bo Bardi, Cavaletes
de Cristal, Masp, s/d
Fonte: Ferraz, 1993: 105
Lina Bo Bardi, Cavaletes
de Cristal, Masp, s/d
Fonte: P.M. Bardi, 1986: 138
Lina Bo Bardi,
Exposição Lina Bo
Bardi – Arquiteto,
Cavaletes de Cristal,
Masp, 2006
Curadoria: Luciano
Semerani, Antonella
Gallo e Giovanni
Marras, colaboração:
Instituto Lina Bo
e P.M.Bardi
Fotos: Nelson Kon, 2006
Lina Bo Bardi,
Exposição A Mão
do Povo Brasileiro,
Masp, 1969
Fonte: Ferraz, 1993: 194
Lina Bo Bardi e Edmar
de Almeida, Exposição
Repassos, Masp, 1975
Fonte: Ferraz, 1993: 200
247
Esta residência representa
uma tentativa de comunhão
entre a natureza e a
ordem natural das coisas;
opondo aos elementos
naturais o menor número
de meios de defesa (...).
Lina Bo Bardi
Casa de Vidro e o pacto com o trópico
Projetada por Lina Bo Bardi em 1951, a Casa de Vidro estabelece um
forte vínculo com o moderno. Além da simplicidade formal, quase todos
os pontos de Le Corbusier são atendidos: laje sobre pilotis, grandes
panos de vidro horizontais, planta livre e, principalmente, a integração
com o exterior, que está em plena “comunhão entre a natureza e a or-
dem natural das coisas; opondo aos elementos naturais o menor núme-
ro de meios de defesa” [Habitat (10): 31, 1953].
Depois de trabalhar como ilustradora e editora na Itália; de projetar al-
gumas reformas e design de mobiliário no Brasil, no primeiro projeto
arquitetônico de Lina Bo Bardi, “todas as lições do movimento moderno,
toda garra de construir e experimentar, reprimidas ou represadas por
anos de guerra, estão presentes neste projeto singular”, como relata
Marcelo Ferraz [1999: s/p]. A residência é um laboratório, onde pontos
característicos da arquitetura e dos interiores modernos são inequivoca-
mente envolvidos com a natureza.
Escrito pela arquiteta durante a Segunda Guerra, o artigo Sistemazioni
delli Interni [Domus (198): s/p, 1944] destaca como proceder diante
dos ambientes modernos. Aborda a conduta do arquiteto perante estes
interiores, pontua e exemplifica cada procedimento perante os formas,
materiais e cores dos móveis e ambientes. Esta residência é uma sínte-
se dessas considerações de Lina Bo Bardi. Com suporte nos itens des-
se artigo, identificam-se os conceitos modernos utilizados no desenvol-
vimento do projeto da Casa de Vidro. É interessante registrar que o
texto, de 1944, parece descrever esse projeto, projetado e construído
entre 1950 e 1951.
A moradia do casal Bardi, realizada em lote de 9.000 m
2
no bairro pau-
listano do Morumbi, é conhecida como “Casa de Vidro”. Adotada pela
vizinhança desde a época da construção, esta denominação provém da
evidência da primeira construção do bairro, no alto de uma colina
24
, que,
inusitadamente para o início dos anos 1950, possui uma considerável
quantidade de lâminas de vidro instaladas na fachada principal e nas
duas laterais contíguas.
Esta residência, implantada na porção do terreno mais alta, é constituí-
da por dois blocos distinguíveis: a partir de um muro de arrimo projeta-
se no espaço uma caixa de vidro sobre delgados pilotis, e o outro bloco
assenta-se diretamente no solo. Interligados pela cozinha e, ao mesmo
tempo, distanciados por um recinto central descoberto o pátio das
rosas –, o primeiro bloco integra a área social e íntima, e o segundo or-
ganiza a área de serviços.
O isolamento entre a área social e íntima se estabelece por meio de
uma parede contínua que delimita claramente as duas áreas. O acesso
principal dá-se por meio de uma escada metálica localizada sob a caixa
de vidro, local também da garagem e do pátio menor, do qual desponta,
atualmente, o tronco de uma figueira, cuja copa alcança o pavimento
superior. O sentido de crescimento desta árvore de grande porte convi-
24
Nesta época a moradia era
cercada por arbustos e no
horizonte via-se um trecho
de mata atlântica. Porém,
atualmente, árvores adultas
e uma vegetação abundante
cercam a propriedade,
ocultando a residência.
E, o trecho de floresta que se
avistava na paisagem longínqua
foi totalmente urbanizado.
248
249
Lina Bo Bardi,
acesso principal,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
acesso principal,
Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi,
acesso principal,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
sala de estar,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo
e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
pátio e sala de estar,
Casa de Vidro, 1951
Fotos: Nelson Kon, 2002
250
251
Lina Bo Bardi, sala de estar e a integração
com o exterior, Casa de Vidro, 1951
Nas imagens podem ser observadas as estantes com montantes metálicos
fixados entre o piso e o teto (a exemplo dos expositores do Masp
da rua Sete de Abril), nos quais são instaladas as prateleiras de vidro.
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (nesta página e na próxima acima)
Lina Bo Bardi, sala de estar
e a integração com o exterior,
Casa de Vidro, 1951
Fotos: Nelson Kon (acima e à esquerda)
252
253
da e conduz o visitante ao interior do pavimento superior. Neste piso,
três lados do quadrilátero que encerram o pequeno pátio são guarneci-
dos de vidros – permitindo a observação da figueira e do pátio e possi-
bilitando a projeção da luz solar internamente e que, somados às aber-
turas da fachada e das laterais, completam a translucidez de quase
toda a área social. A transparência obtida desta forma incorpora a pai-
sagem externa ao interior da residência.
As salas de estar e jantar são adjacentes e, entre estas, situa-se o vo-
lume da lareira sinalizando a mudança de ambiente. Em continuidade à
sala de estar situa-se a biblioteca e, entre esta e a sala de jantar, estão
o pátio menor e a caixa da escada de acesso.
Estes ambientes sociais são invadidos pela paisagem que se descortina no
exterior, como sugere Lina Bo Bardi no artigo da Domus: “a natureza entra e
faz parte da vida cotidiana como nunca antes no passado”, o que é possível
pelo “predomínio do elemento janela sobre o mobiliário”, que as paredes
externas, independentes da estrutura portante, podem agora ser abertas em
ampla faixa horizontal, [como ocorre na Villa Savoye de Corbusier], ou torna-
rem-se envidraçadas”
25
, como é o caso desta moradia.
Assim, “a construção em forma de esqueleto, com a abolição das pare-
des portantes tornou possível uma grande flexibilidade no planejamento
dos ambientes (...)”
26
. Estas informações de Lina Bo Bardi, em plena
Segunda Guerra, sobre as novas atitudes quanto à arquitetura, aos in-
teriores e ao mobiliário são elementos que conduzem a identificar uma
preocupação dos arquitetos, também com os tempos árduos da época,
em exaltarem as formas simples:
A extrema simplicidade das superfícies e dos móveis não destrói o sentido
de recolhimento e não faz a casa semelhante a uma “clínica”, mas cria um
ambiente sereno adequado ao estudo e descanso.
(...)
A relação harmoniosa das superfícies na arquitetura também cria interiores
sugestivos. Esta é uma particularidade da famosa Villa Savoye de le Corbu-
sier que foi um ponto de partida para o mobiliário moderno.
27
Na área social da Casa de Vidro encontram-se móveis de diferentes estilos
que convivem harmoniosamente com os veis modernos, muitos deles
projetados pela proprietária. Mas a arquiteta previne: “móveis de diversas
épocas (autênticos) no ambiente moderno, numa bem sucedida reunião”
28
.
Na cozinha e área de serviços da casa do Morumbi procedem idéias
iniciadas no princípio do século XX com a liberação das atividades do-
mésticas femininas. A partir da contratação das mulheres nas indús-
trias, há o início de uma nova postura feminina, que almeja a liberação
do trabalho doméstico e busca novas oportunidades de emprego.
Este processo incentiva a industrialização de equipamentos domésti-
cos. Como já destacado no capítulo 1, diversas pesquisas são promovi-
das em torno da “habitação mínima”, principalmente na Alemanha, com
o Rationalisirte Hausarbeit (trabalho doméstico racionalizado).
25
Preponderanza dell’elemento
“finestra” sull’ar redamento. La
“natura” entra a far parte della
vita quotidiana come mai è stato
nel passato.(...) Le pareti esterne,
indipendenti dalla struttura
portante, possono oggi essere
aperte in ample sfinestrature
orizzontali o completamente
vetrate. In: BO, Lina. Sistemazioni
delli Interni. Domus (198): s/p,
Milão, jun. 1944. [Tradução da
autora].
26
la costruzione a scheletro,
con l’abolizione del muri
portanti ha reso possibile una
grande flessibilità nel piano
dell’arredamento (...). Idem.
27
L’estrema semplicità delle superfici
e dei mobili non distrugge il senso
di raccoglimento e non rende la
casa simile ad una “clinica” ma
crea un ambiente sereno adatto
allo studio e al riposo.
(...)
L’architettura, con l’armonico
rapporto delle superfici crea anche
negli interni scorci suggestivi.
Questo è un particolare della
famosa villa Savoye di Le Corbusier
che fu un punto di partenza per
l’arredamento moderno.
Idem.
28
mobili di diverse epoche (autentici)
in ambiente moderno, in riuscito
accostamento. Idem.
Lina Bo Bardi, sala de estar,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Por outro lado, algumas escritoras americanas se destacam neste sen-
tido, dentre estas Christine Frederick e Catherine Beecher. Estas mulhe-
res percebem que muitos dos seus afazeres domésticos poderiam ser
evitados com o surgimento de simples regras. Este foi um dos primeiros
passos para que as tarefas domésticas não fossem um empecilho, tor-
nando-se praticável que a mulher pudesse se profissionalizar fora do lar,
possibilitando a independência feminina.
254
255
Lina Bo Bardi,
escritórios e biblioteca,
Casa de Vidro, 1951
Incorporados ao
ambiente da sala de
estar estavam:
o escritório de Pietro,
a prancheta de Lina
e a biblioteca do
casal com as estantes
totalmente em aço,
em substituição
às estruturadas
em aço com
prateleiras de vidro
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
As publicações sobre um novo modelo de interior doméstico, surgi-
das nos Estados Unidos, promovem vários avanços quanto à eficiên-
cia. É interessante notar que, por meio destes interesses domésti-
cos, houve uma alterão nos pades vigentes de arquitetura, pois
as dimensões da casa foram reduzidas, e, quanto aos interiores,
pela primeira vez, o sugeridos os móveis embutidos com bancadas
e arrios dimensionados.
Uma publicação da americana Christine Frederick foi traduzida para o
alemão, sendo utilizada no desenvolvimento de unidades domésticas
que culminaram no projeto da cozinha de Frankfurt [Kopp, 1990: 54-56].
Estas reflexões na concepção de cozinhas atendem uma nova necessi-
dade feminina: a racionalização dos trabalhos domésticos.
29
29
Deste modo, a publicação de
Christine Frederick (The new
housekeeping - efficiency studies
in home management, 1913) foi
essencial para o desenvolvimento
da racionalização espacial das
cozinhas. Os diagramas de
circulação racional no interior
da cozinha, apresentados pela
autora, foram importantes
para a evolução das idéias e
pesquisas na Alemanha, o que
provocou a produção de móveis
e equipamentos para cozinha
padronizados e racionais.
Lina Bo Bardi,
sala de estar e
estante de TV,
Casa de Vidro,
1951
Fonte: Instituto Lina
Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, escritório,
Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
256
257
E, em 1926, a arquiteta Grete Schütte-Lihotzkyn, membro da equipe de
Ernst May, desenvolve o projeto da Frankfurter Küche, a cozinha de
Frankfurt, que foi resultado de uma minuciosa pesquisa sobre o com-
portamento feminino no interior da cozinha, que resultou em diagramas
de circulação e no posicionamento mais adequado de equipamentos,
reeducando donas-de-casa, no sentido de aproveitar melhor o espaço
de trabalho doméstico.
Lina Bo Bardi, sala de estar, Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi, sala de jantar,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
258
259
Assim, na Casa de Vidro, “a cozinha é tão importante quanto a sala de
jantar ou sala de estar, e deve ser tratada e estudada em todas as suas
necessidades específicas”
30
. E, além da preocupação com a racionali-
dade do dimensionamento e os movimentos no interior da cozinha e da
área de serviços, a arquiteta instala uma série de equipamentos, que
permitem a liberação de algumas das antigas tarefas e a redução de
esforços em outras
31
. Exatamente como Jean Baudrillard considera a
cozinha moderna: um “laboratório funcional” [1973 :53].
Os móveis para os dormitórios, criados por Lina Bo Bardi, são extrema-
mente simples, e se resumem em camas, mesas laterais, armários
embutidos e móveis legitimamente de época. As camas e mesas de
cabeceira são estruturadas em tubos metálicos pintados de azul claro.
Nas cabeceiras a arquiteta adapta capas de tecido listado em branco e
azul, deixando à mostra os dois cantos da cabeceira. Tal tecido envolve
os colchões e as bases das camas também. A arquiteta utiliza as cores
associadas à luz para evitar o aspecto de assepsia nos ambientes.
Margarete Schütte-Lihotzky, cozinha de Frankfurt, 1926.
Este projeto faz parte do projeto de Ernst May de desenvolvimento
urbano e habitacional para camadas populares. Ambientes
fundamentados nos conceitos da americana Christine Frederick.
Fonte: Sembach et alii, 2002: 106
30
La cucina è importante ormai,
quanto la stanza da pranzo o il
soggiorno, e deve essere curata
e studiata in ogni sua particolare
esigenza.. In: Bo, op. cit., s/p.
31
As tarefas antigas da cozinha e
área de serviços são amenizadas
com a inclusão de componentes e
equipamentos para os seguintes
fins: armazenagem de lixo em
depósito através de recipiente
e duto instalados na cozinha,
que descarregam o dejetos no
pavimento inferior; retirada de lixo
orgânico por meio de triturador
de alimentos na cuba da bancada
da cozinha; lavagem e secagem
de roupas automatizadas; passar
peças de roupa de cama, mesa e
banho. Além da organização dos
espaços, como por exemplo, com
o recolhimento da tábua de passar
roupas em armário.
Lina Bo Bardi, cozinha,
Casa de Vidro, 1951
As imagens apresentam
a própria arquiteta
mostrando as facilidades
da vida moderna
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
260
261
O aperfeiçoamento técnico trouxe novos tipos de acabamento e novos ma-
teriais. Isto não significa que as casas devam assumir a aparência de
hospitais. Qualquer grau de cor, riqueza ou simplicidade desejados, ainda
podem ser obtidos com uma boa disposição do mobiliário, cores, tecidos e
superfícies. O uso de luz artificial pode intensificar e reavivar cores e teci-
dos, e identificar os espaços.
32
Com relação aos equipamentos, Lina Bo Bardi destaca que “a padro-
nização dos móveis é necessária, porém o objetivo é alcançar, ainda,
uma razoável variedade”
33
. É o que provavelmente ela pretende ao
utilizar estruturas metálicas nas estantes da biblioteca de sua resi-
dência, semelhantes às utilizadas nos expositores do Masp da rua
Sete de Abril. Ela dispõe da mesma solução: montantes com extremi-
dades emborrachadas para apoio sob pressão no piso e no teto. E,
como a relação entre arquitetura, cultura, arte e design está impregna-
da em todo o contexto, as prateleiras utilizadas inicialmente são de
vidro, como as paredes que cercam a biblioteca. Esta atitude permite
o arejamento e a projeção da luz do dia dos livros e, ao mesmo tempo,
se incorpora à solução arquitetônica: os volumes parecem flutuar es-
pacialmente, como seu invólucro – apoiada em pilotis, a caixa de vidro
avança em direção à natureza
34
.
Lina Bo Bardi, cozinha,
Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
32
La perfezione tecnica ha portato
nuovi tipi di rifinitura e nuovi
materiali. Questo non significa che
le case debbano assumere l’aspetto
di ospedali. Qualunque grado di
colore, ricchezza o semplicità si
desideri, si può ancora ottenere con
la corretta disposizione dei mobili,
colori, tessuti e superfici. L’uso
appropriato della luce artificiale può
intensificare e ravvivare i colori e i
tessuti, ed identificare gli spazi. In:
Bo, op. cit., s/p.
33
La standardizzazione dei mobili
è necessaria, ma lo scopo è pur
sempre quello di raggiungere una
ragionevole varietà. idem.
34
Outra referência são os cavaletes
de cristal no Masp da avenida
Paulista, sustentando os quadros
que parecem flutuar entre os
visitantes.
Lina Bo Bardi,
dormitórios,
Casa de Vidro,
1951
Fonte: Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi,
banho do casal,
Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
262
Porque aquela que deveria ser uma perfeita correspondência entre forma
e vida é um híbrido subproduto? Casa continua a ser, na Itália, uma pala-
vra não compreendida plenamente, no correto significado, “mobiliar” não
quer dizer criar enfáticos decorativismos, mas sim, um “ambiente” para
a vida. Os movimentos iniciados no exterior logo após a outra guerra
trouxeram uma revolução nas formas que ainda é vista, na maioria das
vezes, como “estética” e é, em vez disso, uma evolução profundamente
coerente com um modo de vida, pressentido na época, agora evidente,
indiscutível. não se fala de “tendências” estéticas, “maneira de ver”
ou “prever”, as revoluções estão distantes, mas não se fala mais de ex-
periências e sim, de uma correspondência, agora “real”, que surge natu-
ralmente de necessidades efetivas.
(...)
O resultado estético no mobiliário e na distribuição do interior ocorre a
partir de uma boa seleção de cores e de materiais, a partir de contrastes
plásticos criados a partir das sombras e das luzes e dos direcionamentos
individuais. O apartamento moderno o deve ser, no entanto, tão formal
a ponto de que não se encontre espaço para dispor objetos pessoais ou
eventuais móveis antigos dos quais não se deseja separar. (...). Um apar-
tamento bem resolvido deve constituir um ambiente de vida.
35
O resultado alcançado por Lina Bo Bardi neste projeto traduz um gran-
de rigor aos preceitos modernos trasladados da Europa. As imagens
disponíveis dos anos 1950 apresentam um interior com rigor miesia-
no: uma quantidade reduzida de móveis e pouca diversidade de mode-
los, assim como ocorre com os objetos e obras de arte dispostos na
residência. Por outro lado, o entorno parece também estar arrolado
com o interior, pois, nesta ocasião, a natureza é mais rasteira e a exu-
berância tropical está distante da atalaia onde se assenta a edifica-
ção, permitindo o alcance do horizonte longínquo da cidade que ainda
não se desenvolvera até o bairro do Morumbi.
Porém, principalmente na área social acordada ao exterior com maior
afinidade, o arranjo físico resultante da grande variedade de móveis, da
coleção artística e de objetos adquiridos pelo casal até a década de
1990, continua estabelecendo um vínculo com o entorno. Enquanto a
cidade cresce e os edifícios se multiplicam na paisagem, a Casa de Vi-
dro cerca-se de uma vegetação abundante que não mais permite o
acesso visual para esta transformação, que atravessa a cidade como
uma onda de crescimento urbano avançando sobre as regiões anterior-
mente suburbanas.
A ressonância entre a quantidade de elementos internos da área social
e o crescimento da vegetação denota uma cumplicidade que se desen-
volve com um compromisso mútuo, entre componentes materiais da
casa e a natureza.
No intuito de recompor a última disposição dos ambientes das áreas
social e íntima da Casa de Vidro, foram reconstituídos os arranjos físi-
cos, por meio de registros fotográficos, pois são os únicos documentos
disponibilizados pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.
35
Perchè quella che dovrebbe essere
una rispondenza perfetta fra forma
e vita è un ibrido sottoprodotto?
Casa è ancora in Italia una parola
non completamente sentita nel
giusto significato, “arredare”
non vuol dire creare enfatici
decorativismi ma un “ambiente”
alla vita. l movimenti iniziatisi
all’estero subito dopo l’altra guerra
portarono una rivoluzione nelle
forme che si riguarda ancora dal
più come “estetica” ed è invece
evoluzione profondamente consona
a un modo di vita, presentito allora,
oggi evidente, inconfutabile. Non
parliamo più di “tendenze” estetiche,
di “modo di vedere” o “prevedere”
le rivoluzioni sono lontane, non
si parla più di esperienze ma di
una rispondenza ormai “reale”
che scaturisce naturalmente
da effettive necessità.
(...)
Il risultato estetico nell’arredamento
e nella sistemazione degli interni
sarà dato da una corretta selezione
del colori e dei materiali, dai
contrasti plastici creati dalle
ombre e dalle luci e dagli indirizzi
individuali. L’appartamento
moderno non deve però essere cosi
formale da non permettere che vi
trovino posto gli oggetti personali
o gli even tuali mobili antichi da
cui non ci si desiderasse separare
(...). Un appartamento riuscito deve
costituire un ambiente di vita. In:
Bo, op. cit., s/p.
LAYOUT A
271
Item Móvel/obra Quantidade
1 Cadeira “Masp - 7 De Abril” 1
2 Cadeira “Tripé ” 1
3 Cadeira “Bardi’s Bowl” 1
4 Cadeira 6
5 Mesa de Jantar 1
6 Poltrona 4
7 Banqueta 15 (8 não localizados)
8 Mesas de cabeceira 2
9 Camas 3
10 Rack 1
11 Cadeiras “Girafa” 2
12 Cadeiras “Frei Egydio” 2
13 Luminárias 1
14 Cadeira “Brava” 1 (não localizado)
15 Poltrona “chaise longue” 1
16 Poltrona Charles Eames 1
17 Poltrona “Thonet” 2
18 Escultura “Bode” 1
19 Mesa de centro 2
20 Cadeiras art-nouveau 8
21 Cadeiras com pés em x 6 (3 não localizadas)
22 Armário de dois corpos 1
23 Arca (Cassa-Panca) 1
24 Arca (Cassa-Panca) 1
25 Arca (Cassa-Panca) 1
26 Mesa de centro 1 (não localizado)
27 Armário de dois corpos 1 (não localizado)
28 Cômoda secretária 1 (não localizado)
29 Cadeira de braço toscana 2 (1 não localizada)
30 Cadeira de braço toscana 2
31 Tampo de mesa 1
32 Tampo de mesa 1
33 Contador Stipo Monetiere 1 (não localizado)
34 Contador 1 (não localizado)
35 Cômoda 1 (não localizado)
36 Tampo florentino 1 (não localizado)
37 Mesa de centro romana 1
38 Mesa de serviços 1 (não localizado)
39 Mesa de encostar 1
40 Escultura Diana 1
41 Buda 1 (não localizado)
42 Poltrona 1 (não localizado)
43 Cadeiras 2 (não localizado)
44 Estantes 4 (não localizado)
45 Armário 1 (não localizado)
46 Estante de Vidro 3
LAYOUT B
LEGENDA
DOS MÓVEIS
CASA DE VIDRO
36
Este é o levantamento de móveis existentes na Casa de Vidro em 1999, feito por ocasião da morte de Pietro Maria Bardi, para
efeito testamentário e de inventário. Além destes móveis, nesta relação foram acrescentados alguns objetos de arte, que se
destacam na residência por suas dimensões. Alguns móveis e objetos já não se encontram mais na Casa de Vidro, pois faziam
parte da herança destinada às filhas de Pietro Maria Bardi. Os termos aqui apresentados estão como divulgados no documento
existente, sofrendo poucas alterações para melhor entendimento das expressões utilizadas. Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.
Item Ano/período Autor/procedência Móvel/obra Especificações Quantidade Dimensões Imagens
1 1947 Lina Bo Bardi Cadeira “Masp - Madeira jacarandá 1 Não informado
Sete de Abril” paulista e couro
2 1948 Lina Bo Bardi Cadeira “Tripé” Madeira e couro 1 Não informado
3 1950 Lina Bo Bardi Cadeira Tecido vermelho 1 80x95cm
“Bardi’s Bowl”
4 1950 Lina Bo Bardi Cadeira Estrutura de ferro 6 Não informado
latão polido couro
atanado
5 1950 Lina Bo Bardi Mesa de jantar Mármore “Jaspe de 1 Não informado
Minas Gerais”, estrutura
de ferro e cabos aço
6 1951 Lina Bo Bardi Poltrona Estrutura de ferro e 4 Não informado
estofado revestido
em tecido
7 1951 Lina Bo Bardi Banqueta Tubos metálicos e 15 Não Informado
madeira revestida em
laminado melamínico
8 1951 Lina Bo Bardi Mesas de Estrutura em tubo 2 Não informado
cabeceira e ferro
Casa de Vidro – Mobiliário, 1999
38
Século XX
Item Ano/período Autor/procedência Móvel/obra Especificações Quantidade Dimensões Imagens
9 1951 Lina Bo Bardi Camas Estrutura em tubo 3 Não informado
de ferro
10 1951 Lina Bo Bardi Rack Ferro tubular madeira 1 Não informado
11 1986 Lina Bo Bardi Cadeiras Madeira araucária 2 Não informado
“Girafinha”
12 1986 Lina Bo Bardi Cadeiras Madeira araucária 2 Não informado
“Frei Egydio”
13 Não informado André Vainer Luminárias Não informado 1 Não informado
14 Não informado Marcelo Suzuki Cadeira “Brava” Não informado 1 Não informado Não disponível
15 1928 Le Corbusier Poltrona (ver Repertório 1 56x160x84cm
“Chaise-Longue” Iconográfico – Ficha 29)
16 1956 Charles Eames Poltrona (ver Repertório 1 Não informado
“Charles Eames” Iconográfico – Ficha 104)
17 Não informado Michael Thonet Poltrona “Thonet” Não informado 2 Não informado
18 Não informado Dicinho (Bahia) Escultura “Bode” Papier machê 1 Não informado Não disponível
Item Ano/período Autor/procedência Móvel/obra Especificações Quantidade Dimensões Imagens
1 Séc. XVI/ XVII Palácio do Mesa de centro Madeira de nogueira e 2 80x167x85cm
Príncipe Barberine, mármore branco e roxo
Roma, Itália
2 Séc. XX Brasil Cadeiras Assento de palhinha 8 Não informado
art-nouveau tipo indiana madeira
imbuia
3 Séc. XVII Itália Cadeiras com Varetas paralelas
pés em X intercaladas 6 Não informado
4 Séc. XVI Itália Armário de Madeira de
dois corpos nogueira entalhada 1 117x193x59cm
5 Séc. XV Itália Arca (cassa-panca) Madeira entalhada 1 97x205x75cm Não disponível
e parquetada
6 Séc. XVI Itália Arca (cassa-panca) Madeira de nogueira 1 75x194x61cm
7 Séc. XVI Itália Arca (cassa-panca) Madeira de nogueira 1 75x194x61cm
8 Séc. XVII Itátia Mesa de centro Marchetaria 1 73x141x77cm Não disponível
9 Séc. XVI Itália Armário de Não informado 1 248x144x40cm Não disponível
dois corpos
10 Séc. XIX Europa Cômoda secretária Tampo de mármore
branco carrara 1 144x84x39cm Não disponível
Antigüidades
Item Ano/período Autor/procedência Móvel/obra Especificações Quantidade Dimensões Imagens
11 Séc. XVII Itália Cadeira de braço Madeira entalhada 2 130x61x51cm
toscana e torneada tecido
vermelho
12 Séc. XVII Itália Cadeira de braço Madeira entalhada 2 110x76x60cm Não disponível
toscana tecido verde
13 Séc. XX Enrico Galassi/Itália Tampo de mesa Mosaico sobre 1 Não informado
suporte de ferro
14 Não informado Não informado Tampo de mesa Mármore sobre 1 48x180x96 cm
suporte de ferro
15 Séc. XVIII Itália Contador stipo Machetaria 1 41x51x28,5cm Não disponível
monetiere
16 Séc. XVIII Itália Contador Madeira inteiramente 1 37x41x28,5cm Não disponível
marchetada
17 Séc. XVIII Minas Gerais, Brasil Cômoda Madeira vinhático 1 120x126x83 cm Não disponível
madeira jacarandá
18 Séc. XV Itália Tampo florentino Madeira entalhada 1 6x46x70cm Não disponível
19 Séc. XVI/XVII itália Mesa de centro Madeira de nogueira 1 96x150x120cm
romana e tampo de mármore
20 Séc. XIX Itália Mesa de serviços Machetaria no tampo 1 Não informado Não disponível
21 Séc. XIX Brasil Mesa de encostar Madeira “vinhático” 1 85,5x80x41 cm Não disponível
puxadores de birlo
de madeira
33 Não informado Castelo de Lowther, Escultura “Diana” Mármore branco 1 195 cm
Inglaterra de carrara
43 Séc. XVII China “Buda” Talhada em madeira 1 95x57 cm
276
277
Em 1951, Lina Bo Bardi ainda não se envolvera totalmente com os temas
antropológicos locais, o que ocorre apenas depois do peodo em Salvador.
Contudo, ela inicia, na Casa de Vidro, um contato com a mata nativa que é
mais evidente na atualidade, pois a vegetão cresceu livremente. Esta
relação plena com a natureza pode ser observada na Casa Valéria Cirell, na
Casa do Chame-chame, e na Casa de Mário Cravo, todos de 1958.
37
Se, por um lado, a Casa de Vidro apresenta uma proximidade contempla-
tiva com a natureza, nestas três outras residências a vegetação nativa se
enxerta na arquitetura. Isso ocorre por meio de um envolvimento íntimo
com as moradias: conjunto de plantas adjacentes ou incorporados às
edificações ou terraços-jardim – na verdade mais uma micro-inserção de
mata atlântica, no sentido de deixar germinar e crescer sem muita inter-
venção humana, do que propriamente um jardim ou um terraço.
Ainda em São Paulo, no mesmo bairro do Morumbi em que fora construí-
da a Casa de Vidro, a residência de Valéria Piacettini Cirell
38
é um exem-
plo de solução adequada ao clima, atenta às questões culturais e inseri-
da nos conceitos modernos, além de uma demonstração da firme posição
que a arquiteta assumia ao desenvolver um projeto residencial:
Eu tenho projetado algumas casas, mas para pessoas que eu conheço.
Tenho horror em projetar casas para madames, onde entra aquela conversa
insípida em torno da discussão de como vai ser a piscina, as cortinas. (...)
Gostaria muito de fazer casas populares. Tenho diversos estudos pessoais
nesse sentido mas, por enquanto, parece que não há possibilidade.
39
Lina Bo Bardi propôs para Cirell uma planta quadrada livre com mezanino na
construção principal e um anexo retangular térreo. Entre estes dois volumes,
cujas lajes foram cobertas por vegetação, existe um pátio. Abraçando estas
áreas foi proposta uma cobertura de sapé, estruturada em madeira rústica,
que se estende, o que possibilita que o conjunto seja todo avarandado.
Entende-se como premissas modernas adotadas por Lina Bo Bardi: as
formas prismáticas, a planta livre, a laje-jardim e a integração entre o
exterior e o interior: a vegetação nativa sobre a cobertura integra a exu-
berância dos trópicos à moradia. Também a cobertura da varanda em
sapé e sua estrutura em madeira nativa, os fechamentos dos vãos ex-
ternos em painéis de madeira treliçada e o revestimento das paredes
externas com pedras, cacos de cerâmica e vegetação, o que acrescenta
uma textura que mimetiza a casa a seu entorno.
Em Cirell, verifica-se no apoio dos pilares, outra vez, o sistema de encai-
xes utilizado nos carro de bois. Neste caso, os elementos são idênticos
às peças que compõem o travamento da canga
40
.
Pode-se afirmar que esta é uma das referências para o entendimento
das propostas de Lina Bo Bardi para moradias, que atendem tanto ao
moderno, quanto ao vernáculo.
Nas casas Valéria Cirell e Mário Cravo encontram-se arranjos de interio-
res adequados à geometria ortogonal proposta na arquitetura, ainda
direcionados aos ditames racionalistas modernos.
37
A Casa do Chame-chame e a
Casa de Mário Cravo foram
construídas em Salvador, sendo
a primeira demolida, em 1984,
com a finalidade de se construir
no local um edifício comercial.
38
Nos referimos à primeira moradia,
projetada em 1958. Em 1964,
a arquiteta projetou um anexo
para hóspedes, La Torracia,
uma construção circular, com
partido semelhante. Este conjunto
é denominado hoje Casa do
Jardim de Cristal.
39
BARDI, Lina Bo. Interview (63).
São Paulo, 1983.
40
Canga: jugo, peça de madeira
usada para prender junta de bois
a carro ou arado. In: HOUAISS,
Antônio; VILLAR, Mauro de Sales.
Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro,
Objetiva, 2004, p. 597.
Lina Bo Bardi, Casa Valéria P. Cirell, 1958
Estudo (planta e elevação), croqui de
apoio dos pilares com trava de madeira,
elevação (aquarela) e exterior, onde
observa-se uma alusão às palafitas
Fonte: Ferraz, 1993: 116-119
278
279
Lina Bo Bardi, Casa Valéria P. Cirell, 1958
Planta térreo e superior
Fonte: Ferraz, 1993: 116-119
Lina Bo Bardi, Casa Valéria P. Cirell, 1958
Exterior que identifica o mimetismo com a natureza
Foto da autora, 2008
Lina Bo Bardi,
Casa Valéria P. Cirell, 1958
Exterior, detalhe do revestimento
externo e interior
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
283
Em contrapartida, na residência do Chame-chame percebe-se que a ar-
quiteta não é refratária às críticas feitas ao racionalismo, registrando,
neste projeto, empirismo e espontaneidade poética ao conceber formas
curvas que se diluem na paisagem.
Ao considerar a geografia do entorno de Chame-chame: topografia, ve-
getação e clima, Lina Bo Bardi constrói uma solução inequivocamente
mimética. Depois de vários estudos que apontam resultados retilíneos,
Lina Bo Bardi propõe soluções que convergem para a apropriação das
linhas ditadas pelas curvas de nível do sítio.
No desenvolvimento desta segunda etapa de estudos do projeto de
Chame-chame, reflete-se, para o interior, a mesma linguagem formal da
arquitetura. Na morfologia que se encerram os ambientes apresenta-se
a sinuosidade do terreno, sendo as propostas dos arranjos físicos adap-
tadas a esta configuração curvilínea.
41
O exterior tem aparência de fortificação, contudo a área social é ilumina-
da pela luz do dia com generosidade. Conforme Olívia de Oliveira, o inte-
rior com acabamentos singelos, sem obras de arte, “quase espartano”,
é bastante simplificado diante do “exuberante” exterior, cujas “paredes
são inteiramente revestidas com seixos e cacos de cerâmicas antigas
(...), além de diversos objetos recolhidos por ela e encrostados às pare-
des, tais como pernas, braços e cabeças de bonecas, restos de brinque-
dos, mechas de cabelo e olhos de bonecas, asas de caras, pedaços de
pires, fundos de garrafas, conchas do mar, etc” [2006: 107].
E, mesmo que na Casa de Vidro se desenvolva uma vegetação abundan-
te em seu entorno inclusive a figueira que germinou no pátio interno
–, a casa independe da natureza para existir. O que é nativo invade o
interior da casa, visualmente.
na Casa Cirell existe uma maior proximidade quando as plantas
germinam aleatoriamente deixando vestígios nas paredes externas e
sobre a residência.
Contudo, se na Casa de Vidro a relação é visual e em Cirell é tangente,
na Casa do Chame-chame a paisagem, os arbustos, as trepadeiras e a
jaqueira são incorporadas e enredadas à arquitetura
42
. Esta experiência
mimética, quase uma camuflagem com a natureza, característica exter-
na essencial da moradia, não seria tão intrínseca sem o comprometi-
mento mútuo entre os vegetais nativos e a arquitetura, o verde que
abraça e é abraçado.
Percebemos como aquele conceito de fusão harmônica elaborado por Lina
extrapola as fronteiras do artificial-natural, para procurar um equilíbrio muito
mais amplo entre coi sas que por muito tempo se mantiveram isoladas: o
belo e o útil, o trabalho e o jogo, o passado e o presente, natureza desenha-
da e natureza selvagem. Tal conceito vai inter vir na obra de Lina a todo mo-
mento, sob diversos parâmetros e escalas, e é básico para compreender a
correspondência entre a Casa de Vidro e as Casas do Chame-Chame e Valé-
ria Cirell. [Oliveira, 2006: 129]
41
A arquiteta alude esta
configuração orgânica aos
argumentos de Antoni Gaudí:
“o plano não existe na natureza”.
In: BARDI, Lina Bo. Arquitetura e
natureza ou natureza e arquitetura.
Documento manuscrito para a
Conferência da II Semana de
Arquitetura, Casa da França.
Fonte: Instituto Lina Bo
e P.M. Bardi.
42
Esta árvore já existia no terreno
antes da construção da casa,
conforme apontam os desenhos
da arquiteta A copa da jaqueira
está serrada nas imagens obtidas
em 1976, somente o tronco ainda
persiste, provavelmente a copa
foi retirada por comprometer a
estrutura da casa. É importante
também frisar que o terraço-
jardim de Chame-chame se torna
somente um terraço árido,
o que comprometeu o conforto
ambiental da residência,
tornado-a extremamente quente.
284
285
De todos os estudos para residências realizados por Lina Bo Bardi, o
mais interessante para o tema de pesquisa ocorre alguns anos mais à
frente do recorte temporal proposto nesta tese, contudo é relevante
abrir um curto parênteses para a comunidade de Camurupim.
Em 1975, Lina Bo Bardi desenvolve um trabalho à beira do rio São Fran-
cisco, em Propriá, Sergipe. A proposta diz respeito a um loteamento e
um centro comunitário – um espaço público – para a população de par-
cos recursos de Camurupim.
A arquiteta propõe um roteiro de pesquisa para conhecer as necessida-
des locais. Neste roteiro, ela questiona detalhadamente os materiais e
técnicas disponíveis, o comportamento doméstico, as preferências e
experiências artesanais. Algumas das indagações de Lina Bo Bardi à
população local são: “Fogão à lenha?”, “Dorme na rede ou na cama?”,
“Recolhe a rede de dia?”, “onde dormem as crianças?”, “Sabe fazer
panelas de barro? Colchas de retalhos, chapéus de palha, rendas?”
Ainda, ela considera verificações in loco: “se tem algum móvel nas ca-
sas”, “se tem alguma flor, pássaros, vasos na casa”, “se tem pia”, “se
tem alguma ventilação especial” [Ferraz, 1993: 202]. Sobre esta expe-
riência Lina Bo Bardi relata:
A função do arquiteto é, antes de tudo, conhecer a maneira de viver do povo
em suas casas e procurar os meios técnicos de resolver as dificuldades que
atrapalham a vida de milhares de pessoas. Para um arquiteto, o mais impor-
tante não é construir bem, mas saber como vive a maioria do povo.
Lina Bo Bardi, Casa do
Chame-chame, Salvador, 1958
Fotos de 1976
(Residência demolida)
Fonte: Ferraz, 1993: 125
Lina Bo Bardi, Casa do
Chame-chame, Salvador, 1958
Fotos de 1976
Fonte: Oliveira, 2006: 80
286
287
Lina Bo Bardi, Casa do
Chame-chame, Salvador, 1958
Plantas, cortes e elevações
Fonte: Oliveira, 2006: 100-104
288
289
Lina Bo Bardi, Comunidade de Camurupim, 1975
Imagem do local e anotações de Lina Bo Bardi
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
Lina Bo Bardi, Casa Mário Cravo, 1958
Plantas, perspectivas e detalhes
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
290
291
Lina Bo Bardi,
Comunidade de
Camurupim, 1975
Imagem do local com
alguns moradores
(provavelmente a
família de Maria Eloísa
e Jovino com seus nove
filhos), estudos: planta,
perspectivas do interior
e exterior
Fonte: Ferraz, 1993: 202-209
292
293
[...]
A arquitetura é profundamente ligada com a vivência, na medida que ela é
tudo. O Ocidente está a beira de uma revisão total. Eu acho que o Brasil não
faz parte do Ocidente. É África! Graças a Deus o Brasil está fora do Ocidente
que, afinal, é pobre. O Ocidente depois da II Guerra Mundial, está minguando.
Tudo aquilo que era elegância, o refinamento, as coisas gostosas... sumiram.
Isso não deve ser visto como uma grossura e sim como uma miséria moral.
Eu estive fazendo um trabalho na beira do rio São Francisco, em Propriá, na
comunidade de Camurupim. Eu vi lá coisas maravilhosas, desde o trabalho
de trança de pescadores até certos móveis que estão sendo feitos utilizan-
do-se somente sarrafos justapostos, parece um trabalho japonês. Isso não
é nem artesanato nem coisa nostálgica, é coisa do povo, é um convite a um
grande levantamento nacional para se pesquisar as nossas verdadeiras ne-
cessidades. [Ferraz, 1993: 203]
Os estudos desenvolvidos por Lina Bo Bardi denotam a simplicidade do
local e a singeleza dos costumes. São soluções tão próximas da reali-
dade local que parecem ser propostas dos próprios moradores, utilizan-
do seus próprios meios. A arquiteta investiga materiais, técnicas e cos-
tumes locais para manifestar uma proposta entranhada no vernáculo.
O recurso adotado por Lina Bo Bardi funde o moderno e a brasilidade e não
se encerra na Casa de Vidro. Esta é uma manifestação embrionária do que
virá a ser um forte caráter no seu trabalho: a erudição respaldada na moder-
nidade européia se aproxima cada vez mais da cultura local, do popular...
43
Neste prisma, o entusiasmo criador da arquiteta se fixa em pertinências
pragmáticas que estão longe da ingenuidade. Apesar de incipiente em
seu próprio processo de desenvolvimento como arquiteta, um aspecto
relevante está presente na Casa de Vidro: a planta livre associada à
caixa transparente, proeminente em pilotis, que se projeta sobre a ve-
getação nativa, denotando um atavismo naturalista com a absorção mú-
tua entre casa e paisagem.
É um projeto sóbrio, racional, podemos até afirmar “Mieseano” (...), mas
abrasileirado pela natureza que o acolhe, mais orgânico e mais feminino.
Feminino pela delicadeza dos detalhes, pelo vidrotil azul celeste do piso,
pelas cortinas a substituir paredes, pela sutil curva da cobertura e pelo cui-
dado em aconchegar. (...) uma casa para receber pessoas “...uma open
house”, disse Lina inúmeras vezes. [Ferraz, 1999: s/n]
É sob esta perspectiva que se traduz a peculiaridade dessa moradia. A
energia pulsante deste interior de Lina Bo Bardi é muito distante da
proposta cabal adotada na Farnsworth House de Mies van der Rohe,
também uma casa de vidro e criada no mesmo ano, 1951.
Na casa [do Morumbi], em todos os cantos, em todo objeto, se respira cul-
tura: nos quadros, nos móveis antigos e modernos em harmoniosa convivên-
cia, nos livros, nas revistas de arte e arquitetura vindas de toda parte, enfim,
no ambiente construído pela história do casal em quase 50 anos. O espírito
da dupla lá está firme e forte.
43
Uma das primeiras páginas deste
estudo refere-se às palavras de
Eduardo Rossetti sobre moderno
e popular em Lina Bo Bardi, é
importante relembrar: “Popular é
a digna vitalidade dos espaços e
sua singela materialidade, própria
para espaços públicos. Moderno
é o modo de Lina Bo Bardi tomar
a cultura popular”. In: ROSSETTI,
Eduardo Pierrotti. Tensão moderno/
popular em Lina Bo Bardi: nexos da
arquitetura. Vitruvius, São Paulo,
Arquitextos 032, texto especial
165, jan. 2003. Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/
arquitextos/arq000/esp165.asp.
Acesso em: 11 mai. 2007.
Lina Bo Bardi, exterior,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
294
295
Lina Bo Bardi, exterior,
Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon
Fonte: Ferraz, 1993: 83 (abaixo)
Lina Bo Bardi, interiores:
obras de arte e artesanato,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
296
297
Os anos de vida (vivida) desta casa estão testemunhados pelas obras de
arte, pelos objetos com e sem valor artístico ou mesmo comercial espalha-
dos por toda parte. As “mixarias”, como gostava de frisar Lina, devem convi-
ver com a “alta costura”.
(...)
Objetos colhidos ao longo de mais de 50 anos povoam este comovente es-
paço de requintada arquitetura moderna que, numa relação de respeito, evi-
dencia a beleza da Mata Atlântica e a necessidade de sua preservação.
Esta casa moderna dos anos 50 continua moderna nos anos 90 e, segura-
mente, seguirá moderna século XXI à frente. [Ferraz, 1999: s/n]
Durante o decorrer dos anos, com a reunião de um considerável conjun-
to de elementos modernos, eruditos e populares, ao que a arquiteta
não faz distinção, o interior da residência relata o crescente desejo de
equiparar os valores, de se aproximar do universo antropológico e do
saber artesanal ou pré-artesanal do povo brasileiro.
Envolta pela exuberante natureza e repleta de memórias, a Casa de Vi-
dro é o registro de um moderno vinculado à cultura, uma cultura exalta-
da por Lina Bo Bardi: desde os mais singelos objetos feitos pelas mãos
de gente simples às mais antigas obras de arte.
Lina Bo Bardi, interiores:
artesanato, Casa de Vidro, 1951
Foto: Nelson Kon, 2002
Lina Bo Bardi, interiores:
obras de arte e artesanato,
Casa de Vidro, 1951
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
298
299
Lina Bo Bardi desenvolveu uma
atividade artística global que,
sen do objetiva e racional, ofereceu
alternativas às imposições da lógica,
com o convencimento de que a
única maneira de que consigamos
ser modernos é superando a
modernidade. (...) Isto, que uma
parte da arquitetura atual está
tentando desenvolver, desdobra-se
da maneira mais primitiva,
simples e básica na obra de
Lina Bo Bardi. Sua obra desprende
a fragrância, a fascinação e a
autenticidade do princípio.
Josep Maria Montaner
epílogo
epílogo
Parte de um texto que constitui a sua conclusão ou remate, onde normalmente se dá a
conhecer o destino final das personagens de uma história que se contou, o desfecho dos
acontecimentos relatados, ou ainda as ilações finais de um conjunto de idéias que se
apresentou ou defendeu. [Fonte: www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/E/epilogo.htm]
301
O tema central da tese retrata os móveis e interiores de Lina Bo Bardi,
entre 1947 e 1968, do Masp do centro ao espigão paulistano, a partir
de elementos que se pressupõem antagônicos, moderno e vernáculo,
interior e exterior, arquitetura e móvel, internacional e local; porém se
instituem nos móveis e interiores da arquiteta, assim como em todos
os campos artísticos que ela atua, com respaldo conceitual e poético
ao mesmo tempo. Ela estabelece uma suposta simplicidade, com cono-
tações rigorosas em sua essência.
Os limites entre as atividades artísticas são inexistentes no trabalho de
Lina Bo Bardi, ela atua nas áreas de jornalismo, pintura, ilustração, ce-
nários para teatro e cinema; desenvolve, com especial atenção ao as-
pecto social, atividades culturais ligadas às artes; assim como design
de moda, figurinos, jóias; além da arquitetura, e sua inserção no contex-
to urbano, seus interiores e mobiliário.
Este estudo observa a destreza de Lina Bo Bardi em relacionar os opos-
tos, estabelecendo um diálogo “cada vez mais criativo e ao mesmo
tempo mais objetivo em relação às necessidades dos usuários”, conci-
liando modernidade e tradição da “maneira mais primitiva, simples e
básica”, como descreve Josep Maria Montaner [2001: 21-22].
Encontra-se também em Montaner uma referência à mimese que é ca-
racterística no trabalho da arquiteta: “um ser humano se torna verdadei-
ramente humano quando imita os outros” [2002, 98]. Abreviados aci-
ma, os traços distintos do perfil de Lina Bo Bardi advêm de experiências
ímpares entre a Itália e o Brasil.
Na Itália reside neste período, por um lado, a efervescência de novas
posturas culturais, que se desenrolam com os Movimentos Modernos,
por outro lado, os conflitos sociais, econômicos, políticos e bélicos, lo-
cais e mundiais. Esse é o ambiente de meados do século XX onde Lina
Bo está situada nas primeiras décadas de sua vida.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Masp em obras e
Lina Bo Bardi com seu
cavalete de cristal
Fonte: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
302
303
E não imune a choques de interesses está uma classe artística – cons-
tituída por literatos, arquitetos, cineastas e artistas plásticos – que cla-
ma pelos postulados modernos, mas também promove a defesa na re-
visão de conceitos, contribuindo para a renovação do racionalismo
vigente e iniciando uma vertente que considera a valorização do sentido
atual da história, representada na arquitetura por Ernesto Rogers, que
também defende a tradição e o realismo despido de artifícios
1
.
Ainda há uma corrente de arquitetos-designers que incentiva a valoriza-
ção do artesanato no design de mobiliário italiano. Gio Ponti defende a
convergência entre o moderno e o tradicional e propõe um acordo entre
oficinas artesanais e indústria manufatureira.
Este início de carreira pontuado de acontecimentos históricos é um la-
boratório de observação intensa sobre os aspectos sociais, políticos e
culturais. Além de, já formada, a arquiteta viver o drama humano e ma-
terial decorrente da Segunda Guerra.
Ela incorpora esses conhecimentos e os transporta em sua bagagem
para o Brasil, onde encontra um terreno fértil e amplo para desenvolver
o que não é possível na Itália.
No Brasil, ela se depara com alguns edifícios modernos com caracterís-
ticas locais, o que é ainda muito incipiente com relação aos interiores e
mobiliário. Como muitos de seus colegas arquitetos, principalmente os
europeus e americanos, ela assume a concepção de móveis. É interes-
sante resgatar as condições que despertam o interesse dos arquitetos
nesta incumbência.
Os mecanismos que conduzem os arquitetos no século XX a conceber
mobiliário são os mesmos que estimulam Lina Bo Bardi a criar seus
primeiros móveis. O primeiro deles é a escassez de designers moder-
nos no mercado, provocando a falta de profissionais capacitados para
realizar as soluções almejadas pelos arquitetos modernos em suas
obras, o que provoca a ausência de móveis para tais projetos.
Assim como acontece com a arquiteta ao se encarregar de conceber as
cadeiras para o auditório do Masp da rua Sete de Abril, o mesmo ocor-
rera aos móveis projetados por Charles Mackintosh e Frank Lloyd Wri-
ght, que necessitam de um desenho compatível com sua arquitetura e
o concebem. Giuseppe Terragni também não tem opção e desenha o
mobiliário para a Casa del Fascio. E, sob o mesmo ponto de vista, pode-
se identificar os primeiros móveis de Mies van der Rohe e Alvar Aalto
para os interiores do Pavilhão Alemão de Barcelona, em 1929, e o Sa-
natório de Paimio, em 1931, respectivamente.
Os períodos de escassez de projetos arquitetônicos podem ser o segun-
do motivo que induz os arquitetos do século XX a se manifestarem no
mobiliário. Quando Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti decidem criar o
Studio Palma, provavelmente não havia grandes perspectivas de proje-
tos arquitetônicos para ambos, o que se somou ao fato de existir uma
lacuna na produção de móveis modernos.
Pode-se também exemplificar com a Móveis Branco & Preto que encerra
suas atividades, entre outros motivos, porque os arquitetos associados
não dispunham de tempo para a dedicação ao mobiliário, visto que
seus projetos arquitetônicos lhes tomava a maior parte do tempo.
No caso de Lina Bo Bardi, apesar da prolífica produção do Studio de Arte
Palma e da Pau Brasil ou Paubra –, em menos de três anos de funcio-
namento, as atividades destas empresas coligadas são encerradas. Pro-
vavelmente, o motivo principal é a desilusão dos arquitetos com as per-
sistentes reproduções de móveis semelhantes ou plagiados do Palma
2
.
Imediatamente após este período, Lina Bo Bardi cria alguns móveis: a
Bardi’s Bowl e o mobiliário para a Casa de Vidro. Contudo, logo após,
ela inicia uma fase dedicada a outras atividades, deixando de lado o
design de móveis.
Outra possibilidade de responder a esta indagação, sobre a atuação dos
arquitetos a respeito do design de mobiliário, é o fato destes profissio-
nais elegerem suas peças para os arranjos físicos de seus projetos arqui-
tetônicos, o que faz com que as indústrias incentivem esta colaboração,
fabricando estes móveis. Como aconteceu com Le Corbusier, Marcel
Breuer, Alvar Aalto e Charles Eames, por exemplo. Nesta esteira, apesar
da Bardis Bowl ter sido um componente interessante e merecedor de
diversas publicações internacionais, a Móveis Ambiente pode ter aposta-
do na indicação deste móvel para os futuros projetos de Lina Bo Bardi.
Embora ser, o período de entre guerras, de maior relevância para o de-
sign de mobiliário europeu pois é entre esses dois decênios que se
realizam a maioria dos assentos modernos expressivos – o mesmo não
ocorre no Brasil, onde o processo é tardio e lento, pois a modernidade
nos móveis modernos inicia-se em meados da década de 1940 e as
indústrias de móveis só serão instaladas nos anos 1950, fazendo com
que os primeiros móveis sejam fabricados de forma artesanal.
Lina Bo Bardi compreende que a realidade moderna brasileira pode ser
muito diferente da européia, ou de qualquer outro lugar, pois aqui lhe
parece mais evidente construir a partir de elementos simples, dos valo-
res essenciais, da exuberância da natureza e do vernáculo, que remete
a experiências miméticas.
Dois fatores ligados à arquitetura devem influenciar os primeiros mó-
veis de Lina Bo Bardi. O primeiro deles é adequar o móvel à arquitetura
realizada e denominada moderna. Assim, como citado, no Masp do
Centro, a arquiteta se vê obrigada a desenhar o assento para o auditó-
rio, o qual, segundo suas expectativas, teria que abrigar cadeiras mo-
dernas não encontradas no mercado. Fato que a estimula na criação do
Studio de Arte Palma com Giancarlo Palanti.
O segundo fator é a preocupação dos arquitetos modernos brasileiros
com o clima. Ao empregar brises nas fachadas de seus edifícios, esti-
mulam os projetistas de mobiliário a repensar materiais e a aplicação
dos mesmos nos móveis. A aplicação de materiais que não comprome-
1
O neo-realismo é retratado
no cinema por Roberto
Rossellini e Vittorio de Sica.
2
Segundo depoimento de
Marcelo Ferraz, Pietro Maria
Bardi doa todo o maquinário
da Paubra, de grande valor
tecnológico para a época,
a Carlo Hauner.
304
305
tem a utilização das cadeiras durante o verão tropical evitando estofa-
mentos aveludados, por exemplo –, sugere que, assim como na arquite-
tura, o desenho de mobiliário adote acabamentos condizentes com o
clima local, como vinha sendo feito por Tenreiro a palhinha, nos
assentos e espaldares, que vem da tradição lusa.
Portanto, a lacuna de um desenho de móvel genuinamente moderno
com caráter brasileiro começa a ser preenchida efetivamente, não ape-
nas por Joaquim Tenreiro e Bernard Rudofsky no início dos anos 1940,
mas pelo Studio de Arte Palma no fim da mesma década e com maior
atenção à cultura local.
A determinação em disseminar a cultura local é tratada por Lina Bo
Bardi ao longo de todo seu percurso. O Studio Palma funciona por ape-
nas dois anos e é o início de sua contribuição para o design de mobiliá-
rio no Brasil, que adota costumes e materiais da terra.
O Palma exerce influência, por exemplo, sobre Sérgio Rodrigues, que,
por exemplo, adota em seus móveis o forro solto, alusivo às redes, e as
mesmas travas, provenientes dos carros de bois, elementos identifica-
dos por Lina e Palanti. Também o atavismo, considerado por Lina Bo
Bardi no resgate do banquinho das antigas fazendas de café e no ato
de sentar acocorado para o concurso de Cantù, teve seus seguidores
como Francisco Fanucci que concebeu o Banco Caipira, em 1991.
São esses temas que influenciam seus colaboradores. Esta é a inspira-
ção destes arquitetos-designers que transferiram empiricamente para
os móveis a prática arquitetônica, construíram objetos como uma arqui-
tetura, somando os valores populares enaltecidos por Lina Bo Bardi e
seu manifesto poético em Cantù. A mesma poética representada na
simplicidade do Banco Caipira de Fanucci.
3
No ano de inauguração do Masp da avenida Paulista, 1968, ela retoma
o design de móveis propondo a poltrona para o auditório, que foi recu-
sada. Uma poltrona semelhante foi concebida para o auditório do Sesc
Pompéia. A arquiteta e sua equipe criam móveis para o Sesc, que são
considerados pouco ergonômicos, em conseqüência de sua geometria,
que propõe um sentar como nos antigos teatros, onde os assentos não
ofereciam nenhuma comodidade.
Assim como são aludidas às cavernas as aberturas expressionistas, conce-
bidas para o edifício das atividades esportivas, projetado na segunda fase
do Sesc Pomia, tamm os assentos projetados para todos os interiores
do Sesc têm uma proposta que remete ao passado e não necessariamen-
te ao conforto, a não ser pelos estofados da área de convivência.
Outras contribuições surgiram com alma vernacular, por exemplo, a Ca-
deira de Beira de Estrada, de 1967, intimamente integrada à cultura.
Feita com técnicas primitivas, porém criativas, com simplicidade rude,
porém eficiente para quem, ou o que, se destina. Estes fatos podem
exemplificar o quanto a arquiteta estava arraigada ao moderno e às tradi-
ções culturais do país.
3
É esta singeleza que faz também
parte da filosofia da marcenaria
Baraúna. In: Depoimentos de
Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci.
Francisco Fanucci,
Banco Caipira, 1991
Foto: João Liberato
Francisco Fanucci,
Banco Caipira, 1991
Fonte: Marcenaria
Baraúna
306
307
É depois de alguns anos afastada do design de mobiliário que a arqui-
teta concebe a Cadeira de Beira de Estrada, um tripé com três galhos,
um pedaço de tronco e cipó para a amarração. Seria um móvel manifes-
to? Um protesto quanto às imitações de suas peças? Uma exacerbação
dos materiais e técnicas nativos que evoca as raízes e a simplicidade?
Uma homenagem ao homem simples dos sertões brasileiros? Ou so-
mente a mesma criatividade, simplicidade e solidariedade com uma
classe menos favorecida, que a conduziu na proposta da transformação
da caixa de fruta em berço?
Desde sua chegada ao Brasil, Lina Bo Bardi se deparou com projetos
para espaços expositivos, fossem estes arquitetônicos, de interiores ou
de planejamento para exposições, propriamente ditas. Uma das priori-
dades da arquiteta, desde o início, foi planejar meios que facilitariam,
ao público menos informado, o reconhecimento das artes, sejam estas
eruditas ou populares.
A inovação da proposta dos expositores do acervo do Masp reside em
criar um forte vínculo entre o edifício, de concreto e vidro, e o suporte
das obras, concebidos com os mesmos materiais. E, o resultado propõe
a desvinculação das obras de arte do próprio edifício, tornando os qua-
dros livres no ambiente sem interferências estruturais. Porém, não dei-
xa de ser uma proposta antagônica aos preceitos modernos, e da pró-
pria arquiteta, pois da mesma forma que a divisão em compartimentos
foi julgada um erro pelos modernos, a fluidez da pinacoteca do Masp
fica comprometida com a fragmentação espacial, em virtude da grande
quantidade de expositores, apesar da transparência e da disposição
eqüidistante
4
. O que não ocorre na rua Sete de Abril e no Solar do
Unhão – com exibições tão didáticas quanto a solução da avenida Pau-
lista –, onde espaços mais espontâneos acolhem o material exposto
sem prejudicar a amplitude do lugar.
O Sescbrica Pompéia também abrigou importantes exposições. Como
outras tantas exibições organizadas por Lina Bo Bardi, estas também
destacam nossa cultura material e estão totalmente sintonizadas com o
espaço que as acolheu, como Design no Brasil: História e Realidade, rea-
lizada pela arquiteta e sua equipe de colaboradores, em 1982.
A aproximação com a natureza foi um processo paulatino, iniciado ti-
midamente com a disposição de floreiras no Masp do Centro. Depois
na Casa de Vidro, cujo interior observa com proximidade a natureza, e
mais tarde nas residências Valéria Cirell e Chame-chame, onde a ve-
getação é tangente às edificações, e se estabelecem mimeticamente
em cada habitat.
Mas Lina não interrompe a natureza no contato superficial, no projeto
do restaurante do Coatí na Ladeira da Misericórdia (Salvador, 1987-90),
em parceria com Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e João Filgueiras Lima
(Lelé), um extremo desta atitude de Lina Bo Bardi na integração da ve-
getação ao interior da arquitetura, desta vez, uma mangueira frondosa
atravessa o restaurante e parece ter rompido a estrutura nervurada de
concreto, projetada por Lelé.
4
A ressalva é somente em relação
à quantidade de expositores e não
ao expositor propriamente dito.
Lina Bo Bardi e equipe, Exposição
Design no Brasil: História e
Realidade – SESC Fábrica
Pompéia, 1982
Fonte: Ferraz, 1993: 237
Os critérios adotados no desenvolvimento das idéias apresentadas le-
vam em consideração experiências da arquiteta e conduzem a dois ei-
xos específicos: Roma-Milão e São Paulo-Salvador.
O eixo Roma-Milão é importante na fundamentação de uma consciência
moderna e, em processo ainda incipiente, na busca de um compromis-
so cultural e social na arquitetura e no design de mobiliário. Esta postu-
ra pode ser exemplificada em seu trabalho junto às revistas italianas
durante a Segunda Guerra, nas quais Lina Bo assina diversos artigos
que tratam de temas como arquitetura e interiores modernos, projetos
para ambientes e móveis, assim como sugestões para móveis de baixo
custo ou de nenhum custo, como é o caso do berço de bebê, proposto
para uma leitora da revista Grazia, a partir de uma caixa de frutas.
A arquiteta inicia sua carreira num período em que a criatividade ao re-
abilitar objetos desprovidos de valor é fator relevante para uma condi-
ção de vida mais digna. E estratégias de sobrevivência fazem parte das
atividades de uma profissional que tem um público carente.
Sob outro ponto de vista, Lina Bo Bardi habitua-se à coexistência de
uma arquitetura situada entre os conservadores romanos, os racionalis-
tas milaneses; um design incipiente na valorização do artesanato italia-
no e um cinema que se destaca pelo neo-realismo, buscando na simpli-
cidade do povo sua expressão mais característica.
Em paralelo, seus colegas contemporâneos italianos adotam formas de
integrar os espaços museográficos às obras de arte, iniciando um novo
enfoque para as exposições a partir dos anos 1930.
308
309
Estas influências atuam inequivocamente na adaptação de Lina Bo Bar-
di no Brasil, onde a arquiteta valoriza, desde o início, as tradições popu-
lares, os materiais e as técnicas, o que se destaca na criação dos mó-
veis, nos quais adota uma conotação moderna, e ao mesmo tempo
antropológica, unindo o cosmopolita ao local, fornecendo uma gama de
elementos indiscutivelmente importantes para nossa cultura material.
Após este período, sua atuação no eixo São Paulo-Salvador é de grande
influência no delineamento de posturas que incorporam, cada vez mais,
os temas locais, estimulada pela observação do rico universo popular
do Nordeste, para o qual ela aguça seu olhar estrangeiro.
A experiência de simplificação registrada em seus escritos sobre o perí-
odo baiano conduz a arquiteta a procedimentos que permeiam as feiras
repletas de vida, onde estão os objetos dispostos com proximidade
entre si e entre os transeuntes que circulam atentos e envolvidos visu-
almente com o material exposto.
É este diálogo que Lina Bo Bardi estabelece no Masp entre a imensidão es-
pacial e seus cavaletes de vidro, ela relaciona eventos locais aos cosmopoli-
tas e aplica as referências populares do exterior ao espaço erudito interior.
A partir deste período, e no sentido exposto acima, ocorre claramente
uma transição do específico estudo do vernáculo à observação próxima
de tradições populares vitais, cuja realidade local ela insere nas exibi-
ções. É, também, desde então, que Lina Bo Bardi aproxima a natureza
da arquitetura como em Valéria Cirell e Chame-chame.
Lina Bo Bardi, Restaurante do Coatí,
Ladeira da Misericórdia, Salvador, 1987-90
Fotos: Nelson Kon
Lina Bo Bardi, Restaurante do
Coatí, Ladeira da Misericórdia,
Salvador, 1987-90
Foto da autora
310
311
Lina Bo Bardi recusa assumir o modelo de sociedade industrial implícito
na ideologia do Movimento Moderno e tenta apontar outras possibilida-
des de desenvolvimento seriado para os artefatos na dimensão local
deste processo. Dentre os arquitetos, talvez tenha sido ela quem mais
profundamente avalia a força da cultura popular brasileira. Quem mais
luta por uma postura ética que equilibre o moderno e o vernacular.
Quem mais acredita e valoriza o trabalho popular, cuja criatividade é
considerada primitiva e cujas técnicas são tidas como rudimentares.
Lina queria que o Brasil tivesse uma indústria a partir das habilidades que
estão na mão do povo, do olhar da gente com originalidade.
5
Esta pesquisa é pontuada de olhares estrangeiros sobre a terra: Rugen-
das, Post ou Debret. Warchavchik, Tenreiro, Rudofsky, Palanti, dentre
outros. Estrangeiros desvendando costumes, tradições e cultura mate-
rial locais. O olhar de alhures que Lina Bo Bardi também possui.
Como designer, ela selou um acordo entre conceitos advindos da mo-
dernidade e elementos populares, os quais ela considera imprescindí-
veis no propósito de valorizar a cultura popular brasileira.
A cada dia mais, os pesquisadores têm se desvelado na recuperação
de registros e na análise da produção arquitetônica de Lina Bo Bardi.
Em contrapartida, a importante atuação da arquiteta nos interiores e
como designer de mobiliário, apesar de conhecida por meio de estudos,
ilustrações e referências, ainda é extremamente incipiente com relação
a estes atributos, considerando a quantidade de concepções existen-
tes. Este é apenas um dos primeiros fomentos para alavancar seme-
lhantes contribuições sobre o tema em foco
6
. A análise de diversos
matizes conduz a reflexões sob diferentes metodologias, investigações
de distintas fases e considerações de outros vieses.
Por outro lado, este registro e outros que se seguirão devem incentivar
os designers na produção de peças com características próprias, nas
quais seja explorada essa brasilidade tão rica que merece ser divulgada
por meio de móveis ou qualquer outro componente do design.
Ao encerrar esse relato, não se pode negar a sensação, ou devaneio,
de estar impregnado das sensações de Lina Bo Bardi, farejando o
antropológico, com olhar estrangeiro a observar o popular e incorpo-
rá-lo ao moderno, seu acento itálico a revelar a pronúncia do Brasil,
principalmente a valorização do povo, desde o humilde motorista
com o quepe entre os dedos, observando, com seu filho, respeitosa-
mente um Cézanne – ao casal em elegantes trajes admirando o mes-
mo acervo
7
.
Essa miscigenação social, estes vários brasileiros, esse colorido na
pele, cuja figura mais característica e, ao mesmo tempo de caráter ca-
muflado, é o próprio Macunaíma, de Mário de Andrade, que, repleto de
mimetismos, representa todo o povo, um herói, sem caráter definido,
pois é todos em um único: nem nacional, nem estrangeiro, nem elite,
nem operário, nem local, nem cosmopolita, é
5
RIBEIRO, Darcy. In: BARDI,
Lina Bo. Tempos de grosssura:
O design no impasse. São Paulo:
Instituto Lina Bo e P. M. Bardi,
1994, contracapa.
6
Considerando que as pesquisas
junto ao Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi estão suspensas em
razão dos reparos, restauros
e re-catalogação durante parte
do período de pesquisa, o que
impossibilitou a coleta de todos
os dados necessários, apesar
de gentilmente ser aberta uma
exceção para esta pesquisa
durante algumas semanas.
7
Ver imagens nas páginas
201 (Masp do centro) e 244
(Masp da avenida Paulista).
...uma alegoria, como as linguagens, acadêmica e teatral, adotadas
neste estudo, ou...
...uma fusão, como a arquitetura, os interiores e os móveis de Lina
Bo Bardi.
Tudo ele contou pro homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem
sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a histó ria. Por isso que vim
aqui. Me acocorei em riba destas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na
violinha e em toque rasgado botei a boca no mun do cantando na fala impura
as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa gente.
Tem mais não.
8
8
Último trecho de Macunaíma,
cuja primeira edição foi publicada
em 1928. In: ANDRADE,
Mário. Macunaíma - O herói sem
nenhum caráter. Belo Horizonte:
Livraria Garnier, 2004, p. 162.
312
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São Paulo: Fundação Padre Anchieta - TV Cultura, 1993. 1 fita de
vídeo (30 min): color. (NTSC), VHS. Vídeo realizado em comemoração
aos 45 anos do Masp.
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Bo e P.M. Bardi, 1993. 1 fita de vídeo (50min): color. (NTSC), VHS.
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320
321
Depoimentos
Sérgio Rodrigues, Rio de Janeiro, 2004
Graziella Bo Valentinetti, São Paulo, 2007
Eugenia Gorini Esmeraldo, São Paulo, 2007
Marcelo Ferraz, São Paulo, 2008
Francisco Fanucci, São Paulo, 2008
322
323
Toda idéia autenticamente
original – toda inovação no
design, toda nova aplicação
de materiais, toda nova
invenção técnica para o
mobiliário – parece encontrar
sua mais importante
expressão na cadeira.
George Nelson
ficha técnica
ficha técnica
Tópico utilizado no material informativo da peça em que se expõe a composição do elenco
e o breve currículo dos atores (opcional) e demais informações relevantes sobre produção,
montagem, etc, considerados relevantes para o conjunto da obra. [Gallello, 2008]
As imagens aqui reunidas apresentam aspectos relevantes do design
de mobiliário moderno, na figura de “importante expressão” da cadei-
ra, ou dos assentos, conforme afirmação de George Nelson [1953: 7];
desde suas origens até o início dos anos 1990. Estas poltronas, ca-
deiras, bancos, banquetas, espreguiçadeiras ou chaise-longues são
concebidos principalmente por arquitetos, ou utilizadas por estes na
composição de seus interiores. As informações desta catalogação
são registradas em fichas, que identificam cada assento, estrangeiro
ou brasileiro, de modo simultâneo.
A sistematização deste repertório visa expor o desenvolvimento destes
elementos ao longo dos anos e reproduzir um conjunto organizado de
assentos identificados cronologicamente (fichas iconográficas propos-
tas aqui) ou em grupos de afinidades ou identidades formais e concei-
tuais (quadro-síntese proposto no capítulo 2).
Repertório iconográfico
1
Um exemplo italiano desta atitude pode ser visto no Capítulo 1, onde é situado
o arquiteto Giuseppe Terragni e seu projeto para Casa del Fascio e os assentos
destinado a esta.
Sob o olhar e crítica de Lina Bo Bardi, o conhecimento de muitas destas
peças estabelece seu próprio repertório. Alguns destes assentos
podem ter sido influxos no desenvolvimento de seus próprios modelos,
fornecendo subsídios para estas concepções, individualmente ou em
equipe, desde a cadeira para o primeiro auditório do Masp, no centro
da Paulicéia à cadeira Girafinha, cujo primeiro destino foi o restaurante
da Casa do Benin em Salvador.
A expressiva manifestação de arquitetos fundamentalmente no que
se refere à intimidade com os assentos em prol do interior moderno
segue-se pela Europa e América, pela Itália
1
e Brasil. A partir desta
prática, em grande parte do mundo ocidental, suas influências são com-
preendidas sobre o design de assentos de Lina Bo Bardi.
Esta catalogação tem como finalidade reunir os mais significativos assen-
tos modernos – dos seus primeiros indícios às mudanças de posturas de-
fendidas por este movimento e seus reflexos. Além de conceitos e formas,
nos assentos brasileiros considera-se a atenção às condições climáticas,
à apropriação de elementos e às referências dos costumes locais.
Este fichamento adota critérios como o reconhecimento do autor como
designer principalmente, arquiteto e designer ao mesmo tempo nos
assentos modernos –, a importância das concepções, a data de cria-
ção, a acessibilidade aos dados, a legibilidade de traços comuns aos
conceitos modernos e a presença de valores culturais. São também
priorizadas imagens que permitem registrar iconograficamente o desen-
volvimento do design de assentos, por meio de novas técnicas e mate-
riais, denotando mudanças de posturas com relação ao Movimento
Moderno advindo do exterior.
Os assentos estrangeiros catalogados principiam com William Morris e
Michael Thonet nos anos 1850 e representam os primeiros indícios do
que seria concebido no século XX. Eles alcançam uma linguagem pós-
moderna e contemporânea nos assentos de Aldo Rossi e Philippe
Starck, ambos de 1990.
No Brasil, a cronologia começa com o design moderno incipiente dos
anos 1920 com a Cadeira Patente criada por Celso Martinez Carrera.
A iconografia atravessa quase todo o século XX, seguindo alguns resul-
tados contemporâneos, que se finalizam com a Cadeira Ninho dos
Irmãos Campana, de 1994.
São sublinhados os conceitos modernos, a aplicação de novos mate-
riais, o desenvolvimento tecnológico e, conferindo a herança destas ca-
racterísticas adquiridas pelos assentos brasileiros ao longo de déca-
das, o longo percurso da produção artesanal no Brasil, que lentamente
se torna seriada pelas indústrias e, não menos importante, a expressão
de referências com identidade cultural.
APÊNDICE
produção Gimson & Barnsley Workshop, Pinbury referências Fiell, 1997: 64
http://wwwvictorianweborg/art/design/gimson/gimsonovhtml fontes das
imagens Fiell, 1997: 64 créditos fotográficos Haslam & Whiteway, Londres
local de destino
Não identificado
descrição Estrutura em faia com assento em trama de palha.
peculiaridades O mobiliário criado por Gimson retrata o que,
no fim do século XVIII, o desenho Shaker considerava essen-
cial: simplicidade, qualidade e funcionalidade. Um exemplo de
artesanato com descarte total de ornamentos, que remete a
uma ‘honestidade vernacular’.
contexto Tanto a simplicidade a que este assento remete quan-
to o uso de fibras no assento foram meios utilizados por Lina
Bo no Studio Palma, a partir de 1948, onde serão utilizadas
as fibras, nos assentos e espaldares, com a finalidade de va-
lorizar os materiais locais e adaptar os assentos às solicita-
ções climáticas, evitando os estofados (ver fichas 12, 18, 25,
61, 64, 68, 78, 82, 101, 105, 106, 132 e 160).
INGLATERRA
1895
autor Ernest Gimson (1863-1919)
modelo Cadeira
produção Citerio, Como, Itália referências Meadmore, 1974: 48-50 fontes
das imagens Meadmore, 1974: 20-23; Futon Company créditos fotográficos
Meadmore, 1974: 20, 22-23
local de destino
Campestre
descrição Estruturada em metal e madeira com forro de lona.
peculiaridades Cadeira idealizada para o campo, utilizada nos nú-
meros dos palhaços circences e em acampamentos militares.
contexto A Tripolina é a primeira referência conhecida na utlili-
zação do assento-encosto solto, estruturado somente nas
extremidades. Influenciou a Butterfly, de 1938 (ver ficha 47) ,
e, ambas podem ter inspirado Lina Bo na Cadeira Tripé (ver
fichas 62 e 63), de 1948, dentre outras desenhadas por Lina
Bo e Giancarlo Palanti (fichas 83, 84 e 113). Além de outros
designers que utilizaram este recurso (ver fichas 97, 107,
111, 123, 127, 128, 153 e 160).
autor Joseph Beverly Fenby
modelo Tripolina
INGLATERRA
1877
4
31
2
repertório iconográfico
INGLATERRA
1858
ÁUSTRIA
1859
autor William Morris (1834-1896)
modelo Poltrona
autor Michael Thonet (1796-1871)
modelo Cadeira Modelo nº 14
local de destino Provavelmente para a residência de Red Lion
Square, onde Morris viveu entre 1856 e 1859
descrição Estruturada em madeira entalhada com pintura
decorativa.
peculiaridades Design com características medievais. Foi conheci-
da como cadeira para tecelagem (Weaving chair), labor que é
improvável, devido a sua morfologia que dificultaria essa tarefa.
contexto Morris desepenhou um papel importante na valoriza-
ção do artesão e no resgate de traços do passado. Em atitu-
de semelhante, Lina Bo Bardi retoma elementos do vernáculo
na produção de seus móveis no Brasil.
local de destino Não identificado
descrição Construção de faia sólida envergada, com assento de
palhinha tramada, o modelo foi projetado também com braços,
como no exemplo do desenho técnico aqui apresentado.
peculiaridades Após intensas experiências na envergadura da ma-
deira sólida surgiu a Cadeira No 14. Esta cadeira é tão importan-
te que persiste como um dos produtos de desenho industrial de
maior destaque de todos os tempos. Sua forma simplificada via-
bilizou a prodão em rie.
contexto A simplicidade formal desta linha de assentos foi uma
grande evolução atribuída a Thonet, conquistando vários arquite-
tos modernos, como Le Corbusier. Lina Bo Bardi faz referências
por escrito a Thonet na época do Studio Palma (1948-1951). Ela
executa croquis de assentos para a administração do Sesc Pom-
péia (1981) e proe um modelo executado em papel mac para
o Belvedere da , em Salvador (1986-1987), que remetem às
curvas do espaldar adotado por ele (ver ficha 141, ver também
modelo de Loos ficha 10).
produção William Morris, Londres referências Fiell, 1997: 51. fontes das
imagens Fiell, 1997: 51. créditos fotográficos William Morris Gallery, Londres.
produção Gebrüder Thonet, Viena, de 1859 até a atualidade referências
Fiell, 1997: 46 e Instituto Lina Bo e P.M. Bardi fontes das imagens
Sembach, 2002: 13; Meadmore, 1974: 15 (desenhos) créditos fotográ-
ficos Beneedikt Taschen Verlag GmbH e autora
repertório iconográfico
produção Produção artesanal referências Fiell, 1997: 77 fontes das
imagens Fiell, 1997: 77 créditos fotográficos Torsten Bröhan, Düsseldorf
autor
Antoni Gaudí y Cornet (1852-1926)
modelo Cadeira
ESPANHA
1898-1900
local de destino Casa Calvet
descrição Construção de carvalho esculpido.
peculiaridades Projetada para um ambiente específico, essa cadei-
ra fazia parte de um interior. A interpretação gaudiana do estilo
Art Nouveau foi mais vigorosa e formalmente mais abstrata do
que as de seus contemporâneos, Guimard e Van de Velde.
contexto O diálogo entre o interior e a arquitetura é fundamen-
tal para Lina Bo Bardi, ela admirou os interiores orgânicos de
Gaudí e o forte vínculo destes com a arquitetura.
produção Produção artesanal referências Fiell, 1997: 71 fontes das
imagens Fiell, 1997: 71 créditos fotográficos Barry Friedman, Nova Iorque
local de destino
Sala de jantar da Mansão Coillot
descrição Estrutura de nogueira com assento estofado e reves-
tido em couro.
peculiaridades Imbuído das premissas do Art-Nouveau, Guimard
explorou o potencial da madeira esculpida, assim, continuou
uma tradição francesa secular.
contexto O Art-Nouveau foi um estilo imediatamente anterior
ao moderno incipiente.
autor Hector Guimard (1867-1942)
modelo Cadeira
FRANÇA
1898-1900
produção Cadeira reeditada pela Cassina - Poltrona não identificado
referências Fiell, 1997: 102-103 e depoimento de Marcelo Ferraz e
Francisco Fanucci fontes das imagens Fiell,1997: 102-103 créditos
fotográficos Sotheby’s, Londres
local de destino
Ambas para Argyle Street Tea Rooms
descrição Cadeira: estrutura em carvalho tingido, assento es-
tofado com crina de cavalo - Poltronas: estruturada em car-
valho tingido.
peculiaridades Mackintosh criou um vocabulário de formas extre-
mamente personalizadas e simbólicas, com combinação de in-
fluências celtas e japonesas. Uma perfeita demonstração disso
são as cadeiras de espaldar alto projetadas para a Argyle Street
Tea Rooms, que alcançavam uma modernidade surpreendente
com a evidência de uma forte tradição cultural.
contexto Ao observar o conjunto de móveis no restaurante
do Sesc brica Pompéia, Lina Bo Bardi exclamou: “Parece
Mackintosh!”. Provavelmente, porque ela se inspirou no dese-
nho destas poltronas, ou porque se surpreendeu ao perceber a
analogia entre os conceitos aplicados por ambos (ver fichas 15,
17, 20, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 136, 137, 140 e 159).
autor Charles Rennie Mackintosh
(1868-1928)
modelo Cadeira de espaldar alto
e Poltrona de espaldar baixo
ESCÓCIA
1897
produção Société Henry van de Velde, Ixelles, desde 1895 referências
Fiell, 1997: 80 fontes das imagens Fiell, 1997: 80 créditos fotográficos
Beneedikt Taschen Verlag GmbH
autor
Henry van de Velde (1863-1957)
modelo Cadeira Bloemenwerf
BÉLGICA
1895
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de nogueira com assento de couro.
peculiaridades As cadeiras de Van de Velde, importante e produ-
tivo teórico da arquitetura e do design no início do século XX,
podem ser consideradas como realizações de desejo por ob-
jetos funcionais livres de qualquer convenção estilística.
contexto Postura com indícios modernos pela simplicidade for-
mal da cadeira.
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6
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repertório iconográfico
produção Anton Blüggel, Berlin referências Fiell, 1997: 93 fontes das
imagens Fiell, 1997: 93 créditos fotográficos Haslam & Whiteway, Londres
autor
Peter Behrens (1868-1940)
modelo Cadeira Wertheim
ALEMANHA
1902
produção Provalvelmente por CHB Quennell, Londres referências Fiell,
1997: 68-69 fontes das imagens Fiell, 1997: 69 créditos fotográficos
Haslam & Whiteway, Londres
autor
Charles F. A. Voysey (1857-1941)
modelo Poltrona
INGLATERRA
1902
produção Jacob & Josef Kohn, Viena, de 1899 referências Fiell, 1997:
110 fontes das imagens Fiell, 1997: 110 créditos fotográficos Fischer
Fine Art, Viena
autor
Adolf Loos (1870-1933)
modelo Cadeira
ÁUSTRIA
1898-1899
produção Vereinigte Werkstätten für kunst im Handwerk, Munique, de 1898
(além de Liberty & CO, Londres, depois de 1899) referências Fiell, 1997:
85 fontes das imagens Fiell, 1997: 85 créditos fotográficos Museum of
Modern Art, Nova Iorque (presente de Liberty & Co)
autor
Richard Riemerschmid (1868-1957)
modelo Cadeira
ALEMANHA
1898-1899
local de destino Esse móvel fez parte de uma exposicão na loja
Wertheim de Berlin
descrição Estrutura em carvalho e assento em trama fechada
de palha.
peculiaridades Behrens se dedicou à afinidade entre as artes por
meio de suas propostas que invadiram diversos campos pro-
jetuais, como arquitetura, design do produto e design gráfico.
Seu traço rigoroso neste assento se afasta do estilo Art-nou-
veau e é característico de seus trabalhos na maturidade.
contexto Neste assento chama a atenção o emprego de trama
vegetal entrelaçada, que permite maior arejamento no assen-
to das cadeiras. Vários destes materiais, como as fibras, se-
rão utilizados pelos arquitetos modernos, principalmente no
Brasil (ver fichas 4, 18, 25, 61, 64, 68, 78, 82, 101, 105,
106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em carvalho.
peculiaridades Voysey privilegiou uma abordagem britânica no
design: utilitária, restrita e tradicional. Foi grande defensor da
segunda fase do movimento Arts & Crafts, os detalhes recor-
tados, as proporções incomuns e as características espaciais
de suas cadeiras lhes proporciona distinção e leveza visual.
contexto O desenvolvimento de novos conceitos no design
de mobiliário é essencial para o posicionamento das gera-
ções seguintes.
local de destino Café Museum
descrição Estrutura de faia tingida, envergada, com assento de
palhinha trançada.
peculiaridades No encalço de Thonet, Loos realiza uma reinter-
pretação da cadeira No 14, a cadeira do Café Museum de-
monstra o ceticismo de Loos pela inovação e sua convicção
em enfatizar peças bem sucedidas.
contexto Thonet exerce influência na geração de arquitetos-
designers modernos iniciando por Loos (ver ficha 2).
local de destino Salas de música em geral (ou para músicos)
descrição Estrutura de carvalho sólido com assento estofado
revestido em couro.
peculiaridades Exibida na Exposição de Arte de Dresden, em
1899, essa cadeira foi originalmente projetada para ser usa-
da por músicos. A ausência de braços permite os movimentos
necessários.
contexto Este é um dos assentos que indica o início de formas
mais simplificadas na passagem de um século para outro.
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repertório iconográfico
produção Reeditada por Tecta referências Fiell, 1997: 150-151 fontes
das imagens Fiell, 1997: 151 créditos fotográficos Tecta, Lauenförde
autor
Walter Gropius (1883-1969)
modelo Poltrona
ALEMANHA
1911
produção Jacob & Josef Kohn, Viena referências Fiell, 1997: 129 fontes
das imagens Fiell, 1997: 129 créditos fotográficos Kunsthandel Thomas
Berg, Bonn
autor
Josef Hoffmann (1870-1956)
modelo Sitzmaschine, modelo nº 670
ÁUSTRIA
1908
produção Von Dorn Iron Works Company, Cleveland, Ohio referências
Fiell, 1997: 140-141 fontes das imagens Fiell, 1997: 140-141 créditos
fotográficos Christie’s, Nova Iorque
EUA
1904
autor Frank Lloyd Wright (1867-1959)
modelo Poltrona Swivel
produção Prag-Rudniker Korbwaren, Viena (Reeditada por Wittmann)
referências Fiell, 1997: 116 fontes das imagens Fiell, 1997: 116 créditos
fotográficos Sotheby’s, Londres
autor
Koloman Moser (1868-1918)
modelo Poltrona
ÁUSTRIA
1902
local de destino Hall da fábrica Fagus
descrição Estrutura em madeira ebanizada em preto, com esto-
famento em tecido listrado em braco e preto no assento e
no encosto.
peculiaridades Assim como Mies, Gropius trabalhou no escritório
de arquitetura de Peter Behrens, entre 1908 e 1910. Neste
último ano, ele abriu seu próprio escritório, se tornou membro
do Deutscher Werkbund e desenhou esta cadeira para a fábri-
ca Fagus, projetada por ele.
contexto Nesta época se desencadeou o debate da Werkbund
sobre a possibilidade de reconciliação entre arte e indústria,
este assento foi concebido tendo em vista uma produção
seriada. A tentativa de unir outros polos aparentemente ambí-
buos – universo popular e o design moderno – é o tema cen-
tral dos modelos produzidos por Lina Bo Bardi.
local de destino Provavelmente para o hall interior de uma casa
de campo austríaca
descrição Madeira tingida e laminada, estrutura de faia sólida
dobrada e madeira curvada, com acessórios de latão.
peculiaridades A Sitzmaschine foi considerada uma antecipação
da cadeira Vermelho Azul de Rietveld, por sua forma estrita-
mente geométrica. Originalmente vendida com almofadas no
assento e encosto.
contexto A construção totalmente em madeira, como esta de
Hoffmann, é característica do mobiliário do Sesc Pompéia,
dentre outros criados por Lina Bo e outros arquitetos-desig-
ners (ver fichas 6, 17, 20, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 136,
137, 140 e 159).
local de destino Escritórios do edifício administrativo da Larkin
Company
descrição Estrutura de aço pintado com assento estofado e re-
vestido de couro, sobre base de aço giratória com rodízios.
peculiaridades O design integrado de Wright para o edifício da
Larkin transformou a concepção dos ambientes de trabalho.
Em sintonia com a geometria do edifício, a cadeira de escritório
projetada se concilia estética e funcionalmente com o todo.
contexto Este assento é um dos pioneiros no desenvolvimento
dos móveis modernos para escritório. Algumas cadeiras de
Lina Bo desenhadas no Studio Palma são apropriadas para o
uso nos ambientes de trabalho (ver fichas 85, 86, 87 e 88).
local de destino Hall principal do Sanatório Purkersdorf
descrição Estrutura de faia pintada com assento de vime tran-
çado e pintado.
peculiaridades Essa cadeira ilustra, por sua forma cúbica e eco-
nomia cromática, o estilo Secession e anuncia a abstração
geométrica do movimento moderno. Utilizada no hall de entra-
da do sanatório projetado por Josef Hoffmann.
contexto A morfologia desta poltrona indica uma linguagem
geométrica que se aproxima dos futuros modelos modernos.
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repertório iconográfico
produção Gerard van de Groenekan, Utrecht referências Fiell, 1997:
155-156 e Meadmore, 1974: 37 fontes das imagens Fiell, 1997: 156 e
Meadmore, 1974: 37 (desenhos) créditos fotográficos Barry Friedman,
Nova Iorque
autor
Gerrit Rietveld (1888-1964)
modelo Cadeira Berlim
HOLANDA
1923
produção Provavelmente oficinas terceirizadas pelo autor referências
Santos, 1995: 39-43 fontes das imagens Santos, 1995: 39 créditos
fotográficos Mario Thadeu
autor
John Graz, Suíça (1891-1980)
modelo Poltrona
produção Grande Fábrica de Móveis Finos Celso Martinez Carrera,
Araraquara, São Paulo referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 22 e
Santos, 1995: 34 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 22
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Celso Martinez Carrera,
Espanha (1884-1955)
modelo Cadeira Patente
BRASIL
Anos 1920 (possivelmente)
BRASIL
Anos 1920
produção Gerrit Rietveld, Utrecht e mais tarde por Gerard van de Groenekan,
Utrecht, de 1918/1923 (Reeditada por Cassina) referências Fiell, 1997:
152 -153 e Brown, 1958: 20 fontes das imagens Fiell, 1997: 153 e Brown,
1958: 20 (diagrama) créditos fotográficos Torsten Bröhan, Düsseldorf
autor
Gerrit Rietveld (1888-1964)
modelo Cadeira Vermelho Azul
HOLANDA
1917-1921
local de destino Juryfreie Kunstschau, Berlim
descrição Construção de madeira maciça pintada.
peculiaridades A disposição assimétrica com elementos verti-
cais e horizontais atribui uma marcante característica espa-
cial à cadeira Berlim. Rietveld reduziu a estrutura de suas ca-
deiras ao essencial, priorizando a função.
contexto Outra cadeira de Rietveld que pode ter influenciado Lina
Bo Bardi ao conceber os móveis do Sesc Pompéia (ver fichas 6,
15, 17, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 136, 137, 140 e 159).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona estruturada em madeira e aço tubular cro-
mado, assento e encosto estofados e revestidos em veludo.
peculiaridades Graz foi um dos pioneiros a desenvolver no Brasil,
um mobiliário com características modernas.
contexto Início de uma postura a favor do Movimento Moderno
no Brasil.
local de destino Não identificado
descrição Cadeira em madeira torneada e assento em palhinha.
peculiaridades Uma inovação para o mobiliário brasileiro, com
formas e construção simplificadas, a cadeira foi colocada no
mercado com baixo custo e representa o início do despoja-
mento de linhas nos assentos brasileiros.
contexto O emprego da palhinha em cadeira de linhas simplifi-
cadas, que mais tarde viriam ser caraacterísticas do Movi-
mento Moderno (ver fichas 4, 12, 25, 61, 64, 68, 78, 82, 101,
105, 106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira maciça cavilhada, assento e
encosto em compensado pregado à estrutura, pintada nas
cores vermelho, azul, amarelo e preto.
peculiaridades Projetada entre 1917 e 1918 com acabamento
natural de madeira, a cadeira foi pintada somente em 1921,
quando Rietveld se associou ao movimento De Stijl. Uma con-
cepção simples, passível para a produção seriada. Uma ca-
deira revolucionária que é símbolo do Neoplasticismo holan-
dês.Na última versão as peças são dimensionadas com
múltiplos de 9 cm.
contexto Ao desenvolver os assentos para o Sesc Pompéia,
Lina Bo Bardi faz diversos croquis, que fazem referência inequí-
voca à Cadeira Vermelho Azul (ver fichas 6, 15, 20, 41, 43, 49,
121, 134, 135, 137, 140 e 159, principalmente ficha 136).
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repertório iconográfico
produção Berliner Metallgewerbe Josef Müller, Berlin, 1927-1930 (Reeditada
por Thonet e Knoll International) referências Fiell, 1997: 171 fontes das
imagens Fiell, 1997: 171 créditos fotográficos Fischer Fine Art, Viena
autor
Ludwig Mies van der Rohe
(1886-1969)
modelo Cadeira, modelo nº MR10
ALEMANHA
1927
produção Jean Désert, Paris (Reeditada por Classicon sob licença de Aram
Designs) referências Fiell, 1997: 202-203 fontes das imagens Fiell, 1997:
203 créditos fotográficos ClassiCon, Munique
autor
Eileen Gray, Irlanda (1878-1976)
modelo Non-Conformist
FRANÇA
1926
produção L & C Arnold, Schorndorf (Reeditada por Gebrüder Thonet,
Frankenberg) referências Fiell, 1997: 164 fontes das imagens Fiell, 1997:
164 créditos fotográficos Stuhlmuseum Burg Beverungen, Beverungen
autor
Mart Stam (1899-1986)
modelo Cadeira, modelo nº 533
HOLANDA
1926
produção Standard-Möbel, Berlin & Gebrüder Thonet, Frankenberg, a partir
de 1928 (Reeditado por Knoll International, de 1968 até a atualidade)
referências Fiell, 1997: 163 e Meadmore, 1974: 42 fontes das imagens
Fiell, 1997: 163 créditos fotográficos Christie’s, Amsterdam
autor
Marcel Breuer, Hungria (1902-1981)
modelo Cadeira Wassily, modelo nº B3
ALEMANHA
1925-1927
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de aço tubular curvado cromado com as-
sento e encosto de tecido “Eisengarn”.
peculiaridades Inspirada na cadeira de Mart Stam, esta cadeira
é esteticamente mais refinada porém considerada mais incô-
moda do que a maoiria das cadeiras cantilevers, por sua es-
trutura de curvas muito abertas.
contexto As cadeiras com o assento em balanço são concebidas
por diversos arquitetos na maioria das vezes em aço, porém é
interessante verificar a solução de Lina Bo Bardi em madeira,
cadeira “Z” de 1948 (ver fichas 22, 37, 45, 65, 109 e 116).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura cromada de tubos metálicos com estofa-
mento revestido em couro.
peculiaridades Mais um modelo assimétrico, que rejeitou o his-
toricismo ao demonstrar um senso apurado de modernidade,
ressaltando que na era industrial novos modos de pensar
eram necessários.
contexto A assimetria da cadeira Berlim foi adaptada com ou-
tros materiais neste modelo, ambos refletem uma negação à
igualdade de duas metades, como também acontece na ar-
quitetura moderna. (ver ficha 20).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em tubos de ferro fundido, laqueado, refoado
por hastes de metal internas, assento e encosto em tecido.
peculiaridades Em 1926, Stam partiu da idéia de utilizar tubos
de gás soldados para estruturar a cadeira, cujo assento fica
em balanço. A estrutura deste assento, denominada cantile-
ver, foi reproduzida inúmeras vezes.
contexto A partir desta concepção de Stam surgiram outras
desenvolvidas por Mies van der Rohe, Marcel Breuer e Gregori
Warchavchik, no Brasil (ver fichas 24, 37, 45, 65, 109 e 116).
Na esteira de Stam, Lina Bo Bardi desenvolveu o assento Tri-
pé estruturado com tubos de conduíte metálico, ver ficha 62.
local de destino Apartamento de Wassily Kandinsky na Bauhaus
de Dessau
descrição Estrutura de aço niquelado, tubular e curvado (poste-
riormente cromado), com lona, pano ou couro no assento, en-
costo e braços.
peculiaridades Neste modelo, a utilização de aço tubular e o
método construtivo revolucionaram a linguagem do design de
cadeiras. A Wassily é um ícone do design até a atualidade.
contexto A cadeira Wassily foi uma das primeiras peças bem
sucedidas a utilizar estrutura de aço, a partir de então, o mate-
rial é freqüentemente empregado pelos adeptos do Movimento
Moderno. Os pés em “U” são utilizados em diversas soluções,
inclusive de Lina Bo Bardi (ver fichas 87, 144, 152 e 158).
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repertório iconográfico
produção Artesanal em oficina própria referências Santos, 1995: 44-47
fontes das imagens Catálogo Nucleon, sem data créditos fotográficos
Não identificado
autor
Gregori Warchavchik,
Rússia (1896-1972)
modelo Cadeira
produção (Reeditada por Ecart internacional) referências Fiell, 1997:
181 fontes das imagens Fiell, 1997: 181 créditos fotográficos Ecart
International, Paris
autor
Atribuída a Robert Mallet-Stevens
(1886-1945)
modelo Cadeira
FRANÇA
1928
produção Não indicada referências Meadmore, 1974: 48-50 fontes das
imagens Meadmore, 1974: 48 créditos fotográficos Não atribuído
autor
Vladimir Tatlin (1885-1953)
modelo Cadeira Tatlin
URSS
1927
produção Pierre Chareau, Paris referências Fiell, 1997: 197 fontes das
imagens Fiell, 1997: 197 créditos fotográficos Benedikt Taschen Archiv,
Cologne (foto: Jacques Vasseur)
autor
Pierre Chareau (1883-1950)
modelo Cadeira, modelo nº MC767
FRANÇA
1927
BRASIL
1928
local de destino Não identificado
descrição Assento composto por formas retas e geométricas,
confeccionado em imbuia ebanizada.
peculiaridades Warchavchik sempre considerou as relações en-
tre arquitetura e design de mobiliário.
contexto Desenvolvimento dos móveis e interiores modernos
no Brasil.
local de destino Não identificado
descrição Construção de chapas e tubos metálicos esmaltados.
peculiaridades Modelo minimalista similar a outras cadeiras pro-
duzidas por Mallet-Stevens em 1935, por isso atribuída a ele.
contexto Cadeira de linhas extremamente simplificadas, exem-
plificando a década que foi o auge das concepções dos as-
sentos modernos.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura tubular de metal cromado com estofamento
no assento revestido em couro.
peculiaridades Como lider do Construtivismo russo, e autor do
Monumento à Terceira Internacional, Tatlin criou uma cadeira
que pode ser a única existente deste período. O primeiro pro-
tótipo foi feito de madeira envergada e foi decorrente das ex-
periências de Tatlin com a aerodinâmica.
contexto Tatlin projeta um modelo cantilever cuja estrutura se
projeta para a frente do assento, ao contrário do que outros
autores (ver fichas 22, 24, 37, 45, 65, 109 e 116).
local de destino Sede do club de golf de Beauvallon
descrição Estrutura de metal pintado com assento e encosto
de vime trabalhado.
peculiaridades Uma resposta ao apelo de Le Corbusier por équi-
pement de l’habitation, essa cadeira dobrável fez parte da de-
coração do Club de golf de Beauvallon que havia sido projeta-
do por Chareau e Bernard Bijvoët em 1926.
contexto Muitos assentos utilizaram fibras (ver fichas 4, 12,
18, 61, 64, 68, 78, 82, 101, 105, 106, 132 e 160).
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2725
repertório iconográfico
produção Berliner Metallgewerbe Josef Müller, Berlin, desde 1929
(Reeditada por Knoll Associates International, desde 1948) referências
Fiell, 1997: 172 fontes das imagens Fiell, 1997: 172 créditos fotográficos
Christie’s, Amsterdam
autor
Ludwig Mies van der Rohe
(1886-1969)
modelo Cadeira Barcelona,
modelo nº MR90
ALEMANHA
1929
produção (Reeditada por Tecta como D62) referências Fiell, 1997: 192-193
fontes das imagens Fiell, 1997: 193 créditos fotográficos Tecta, Lauenförde
autor
El Lissitzky (1890-1941)
modelo Poltrona D62
RÚSSIA
1928
produção Thonet Frères, Paris, desde 1929 (Reeditada por Cassina)
referências Fiell, 1997: 189-191 fontes das imagens Sembach, 2002: 115,
créditos fotográficos Arquivo Cassina, Milão
autor
Le Corbusier (1887-1965),
Pierre Jeanneret (1896-1967) e
Charlotte Perriand (1903-1999)
modelo Poltrona Grand Confort,
modelo nº LC3
FRANÇA
1928
produção Thonet Frères, Paris, desde 1929 & Embru, Rüti (Reeditada por
Cassina) referências Fiell, 1997: 189-191 fontes das imagens Sembach,
2002: 114 créditos fotográficos Beneedikt Taschen Verlag GmbH
autor
Le Corbusier (1887-1965),
Pierre Jeanneret (1896-1967) e
Charlotte Perriand (1903-1999)
modelo Chaise-longue, modelo nº B306
FRANÇA
1928
local de destino Exposição international de Barcelona
descrição Estrutura cromada de aço achatado curvado com al-
ças de couro e estofamento de almofadas em couro abotoa-
do; o volume da cadeira se insere num cubo.
peculiaridades Projetada para o pavilhão alemão da Exposição
Internacional de Barcelona de 1929. Com um vocabulário mo-
derno, esta cadeira foi baseada na sella curulis, um banco dos
magistrados romanos.
contexto A integração entre interior e exterior da Casa de Vidro
(1951), de Lina Bo, é um exemplo da influência de arquitetos
como Corbusier, Wright e principalmente de Mies.
local de destino Exposição Pressa, Colonia
descrição Estrutura de alumínio com estofamento interno e
almofada estofada.
peculiaridades As influências de El Lissitzky vieram do Neoplas-
ticismo holandês, da Bauhaus e do Dadaísmo, grupos aos
quais ele se associou. Foi professor no instituto soviético
Vkhutemas de design e foi co-fundador do construtivismo.
contexto A utilização de cores “vivas” para os interiores, incen-
tivadas pelos futuristas italianos e por Le Corbusier, influen-
ciou diversos profissionais. Esta atitude se reflete, nesta
mesma época no Brasil, nos interiores de Warchavchik.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura cromada de tubos de aço curvado que emol-
dura assento, encosto e apoio de braços estofados e revesti-
dos em couro; modelo idêntico, porém mais largo que o LC2.
peculiaridades Os primeiros móveis em aço tubular sistematizados
da equipe de Le Corbusier foram desenvolvidos em 1928. No
espírito da machine à habiter, esta poltrona é concebida pelo
estúdio de Corbusier pertence ao rol de móveis clássicos moder-
nos que sobrevivem até a atualidade. Foram desenvolvidas pol-
tronas (LC2 e LC3) com diferentes dimenes, o exemplar menor
é destinado ao público feminino e o maior ao masculino.
contexto Apesar da inflncia de Corbusier nos interiores de Lina
Bo Bardi, esta considera o Modulor um instrumento perigoso, por
se tratar de uma proposta rígida que substitui a variável escala
humana por um dimensionamento inflexível e inadaptável.
local de destino Não identificado
descrição Tubos de aço cromado curvado sobre estrutura metá-
lica laqueada em duas cores, capa em tecido branco, apoios
para a cabeça e os pés são em couro preto sobre base de
cintas, inclinação regulável.
peculiaridades Chamado de machine à rester, este é o móvel
mais conhecido da proposta corbusiana de équipementes de
l’habitation. A chaise-longue possui uma solução ergonômica
enfatizada pela forma. Os móveis de Corbusier oferecem no-
vas possibilidades estruturais com os tubos metálicos.
contexto Vários arquitetos-designers modernos propuseram
este tipo de solução, na qual o corpo descansa (ver fichas
132 e 143), inclusive no Studio Palma (ver fichas 69 e 78).
31
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29
repertório iconográfico
produção Móveis Cimo, Rio Negrinho, Santa Catarina referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 22 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 22
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Atribuída à família Zipperer – Cimo
modelo Poltrona Cimo
produção Não disponível referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 19 fontes
das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 19 créditos fotográficos Antonio
Saggese
autor
Desconhecido
modelo Cadeira Art-déco
produção Huonekalu-Ja Rakennu-Styötehdas, ABO, Turcu, 1932-1935
(Reeditada por Artek, de 1935 até a atualidade) referências Fiell, 1997:
221 fontes das imagens Fiell, 1997: 221 créditos fotográficos Barry
Friedman, Nova Iorque
autor
Alvar Aalto (1898-1976)
modelo Paimio, modelo No 41
FINLÂNDIA
1930-1931
produção Établissements René Herbst, Paris, desde 1930 (Reeditada por
Formes Nouvelles) referências Fiell, 1997: 208 fontes das imagens Fiell,
1997: 208 créditos fotográficos Formes Nouvelle, Paris
autor
René Herbst (1891-1983)
modelo Cadeira Sandows
FRANÇA
1928-1929
BRASIL
Anos 30
BRASIL
Anos 30
local de destino Escritórios
descrição Poltrona em madeira maciça envergada com assento
giratório.
peculiaridades A Cimo foi a maior indústria moveleira da América
Latina. A capacidade de produção da indústria foi mais
importante do que a qualidade de seu design.
contexto A poltrona destinada para escritório não constitui um
design interessante, porém exemplifica a ausência de um
móvel moderno para os ambientes arquitetônicos modernos
(ver fichas 39, 46, 53, 85, 86, 88, 89, 103, 117 e 131).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira estruturada em tubo curvado de ferro croma-
do, assento e encosto são estofados e revestidos em tecido.
peculiaridades A cadeira possui um suporte estrutural vertical,
quando tudo indicava que poderia ser uma cantilever.
contexto Este modelo ilustra o início do desenvolvimento do
móvel moderno no Brasil.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de tula maciça, curvada e laminada, com
assento em peça curvada de madeira compensada laqueada.
peculiaridades Muitas vezes associada ao Sanatório de Paimio,
esta poltrona não faz parte do mobiliário original deste edifí-
cio. Aalto afinou a laminação removendo algumas camadas de
compensado, como nas curvas da madeira compensada do
assento e encosto, que exigiam grande flexibilidade.
contexto O uso do compensado começa a ser difundido nesta
época. Esse material é bastante utilizado no processo cons-
trutivo dos móveis do Studio Palma, 1948-51, e para o concur-
so de Cantù, 1957, (ver fichas 66, 67, 70, 71, 73, 74, 75, 76,
83, e 110) e por outros autores (ver fichas 40, 51, 94 ), porém
a tecnologia para curvar estas pranchas ainda não fora desen-
volvida no Brasil.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de aço tubular cromado com tiras elásticas
esticadas.
peculiaridades A utilização de tiras elásticas é um dos primeiros
exemplos de incorporação de objets trouvés (objetos encon-
trados) na concepção de cadeiras. Esse modelo faz parte de
uma série de cadeiras executadas entre 1928 e 1929. A sim-
plicidade estrutural e a transparência conferem a estes mode-
los leveza e um enfoque minimalista.
contexto Este exemplar ilustra a utilização de ‘tiras’, que serão
utilizadas no Studio Palma, em modelos que destacam mate-
riais locais, como por exemplo as fibras vegetais.
36
35
34
33
repertório iconográfico
produção Artek desde 1935 referências Fiell, 1997: 222-23 fontes das
imagens Fiell, 1997: 222 créditos fotográficos Artek, Helsinki
autor
Alvar Aalto (1898-1976)
modelo Banco Modelo No 60 e Cadeira
Modelo No 69
FINLÂNDIA
1932-1933
produção Jean Prouvé, Nancy (Reeditada por Tecta em 1980) referências
Fiell, 1997: 200 fontes das imagens Fiell, 1997: 200 créditos fotográficos
Fischer Fine Art, Viena
autor
Jean Prouvé (1901-1984)
modelo Chaise standard demontable
FRANÇA
1930
produção Não disponível referências Santos, 1995: 47 fontes das
imagens Santos, 1995: 47 créditos fotográficos Mario Thadeu
autor
Lasar Segall, Lituânia (1891-1957)
modelo Conversadeira
produção Artesanal em oficina própria referências Cadeiras Brasileiras,
1994: 40 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 40 créditos
fotográficos Antonio Saggese
autor
Gregori Warchavchik, Rússia
(1896-1972)
modelo Cadeira
BRASIL
Anos 1930
BRASIL
Anos 1930
local de destino Não identificado
descrição Banco (e cadeira) em compensado de bétula com pés
(e espaldar) curvados.
peculiaridades Aalto desenvolve estes modelos no intuito de
conceber formas básicas e funcionais.
contexto Estes modelos podem ter influenciado Lina Bo Bardi
na concepção da cadeira Girafinha. Os bancos de Aalto permi-
tem a sobreposição como o modelo de Lina Bo Bardi (ver ficha
148). O compensado de madeira é bastante utilizado no pro-
cesso construtivo dos móveis do Studio Palma (ver fichas 66,
67, 70, 71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por outros autores (ver fi-
chas 34, 51, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura pintada de aço tubular curvado com assen-
to e encosto moldados de madeira compensada laqueada,
pés com acabamento de borracha.
peculiaridades Essa cadeira padronizada é empilhável e aponta
Prouvé como um dos pioneiros do design de móveis que po-
dem ser utilizados em ambientes de trabalho.
contexto É interessante comparar este exemplar com outros
que também podem ser utilizados em ambientes de trabalho
(ver fichas 36, 46, 53, 85, 86, 88, 89, 103, 117 e 131).
local de destino Não identificado
descrição Conversadeira em estrutura de madeira pintada e es-
tofamento em couro.
peculiaridades O artista plástico Segall também colaborou com
o desenvolvimento de móveis que estabeleceram um forte
vínculo com os conceitos modernos: linhas retas, geometria e
funcionalidade.
contexto Estes estofados remetem ao Grand Confort de Corbu-
sier (ver ficha 30).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de metal pintado, assento e encosto em
couro.
peculiaridades A exemplo de Stam, Breuer e Mies, Warchavchik
criou uma cadeira na esteira das cadeiras cantilever, buscan-
do estabelecer móveis modernos no Brasil com a linguagem
que se adotara na Europa. Em algumas publicações esta ca-
deira é datada nos anos 1920, provavelmente foi criada entre
1928 e 1933, como outros móveis do arquiteto.
contexto Esta solução com estrutura cantilever se tornou mui-
to comum no design de assentos modernos, provavelmente
este foi o primeiro modelo brasileiro que adotou esta solução
estrutural (ver fichas 22, 24, 45, 65, 109 e 116).
4038
3937
repertório iconográfico
produção (Reeditado por Zanotta, em 1971) referências Fiell, 1997: 213
fontes das imagens Fiell, 1997: 213 créditos fotográficos Zanotta, Milão
autor
Giuseppe Terragni (1904-1943)
modelo Follia
ITÁLIA
1934-1936
produção Bernini, Milão, desde 1977 até a atualidade referências Fiell,
1997: 241 fontes das imagens Fiell, 1997: 241 créditos fotográficos
Bernini, Milão
autor
Carlo Scarpa (1906-1978)
modelo Cadeira, modelo No 765
ITÁLIA
1934
produção Makers of Simple Forniture, Londres, 1935- 1940 referências
Fiell, 1997: 232 fontes das imagens Fiell, 1997: 232 créditos fotográficos
Fischer Fine Art, Viena
autor
Gerald Summers (1899-1967)
modelo Poltrona
INGLATERRA
1933-1934
produção Metz & CO, Amsterdam, 1935-C 1955 (Reeditada por Cassina)
referências Fiell, 1997: 214-215 fontes das imagens Fiell, 1997: 215
créditos fotográficos Barry Friedman, Nova Iorque
autor
Gerrit Rietveld (1888-1964)
modelo Cadeira Zig-zag
HOLANDA
1932-1934
local de destino Casa del Fascio, Como
descrição Estrutura com assento e encosto de madeira pintada;
encosto conectado por lâminas de aço inoxidável em forma de
segmento de arco.
peculiaridades Essas cadeiras mobiliavam o quartel-general fas-
cista de Como, a Casa del Fascio de Terragni.
contexto Este modelo, dentre outros de Terragni, foram criados
na época em que Lina Bo Bardi morava na Itália.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de nogueira com assento almofadado co-
berto por couro.
peculiaridades Scarpa preferia os materiais naturais, como po-
de-se notar nesta cadeira, a forma orgânica do encosto reme-
tendo a condição natural da madeira contrasta com a geome-
tria da base. Considerada esteticamente a frente do seu
tempo, não foi produzida até 1977.
contexto As superfícies de madeira, a geometria e a fenda re-
cortada no espaldar desta cadeira se destacam em outras
soluções anteriores e posteriores (ver 6, 15, 17, 20, 41, 49,
121 e 159). No Sesc Pompéia pode-se verificar interpreta-
ções semelhantes (ver fichas 134, 135, 136, 137 e 140).
local de destino Não identificado
descrição Construção em placa única de madeira compensada
recortada e curvada.
peculiaridades Uma concepção inovadora que poder ser vista
como um exemplo para o design sustentável, que a poltrona
ganha forma a partir de uma única peça de madeira compen-
sada curvada.
contexto Projetada para o uso em condições tropicais, essa
cadeira de descanso foi construída com madeira tradicional e
não sensível à umidade. A ausência de estofamento evita in-
festação de insetos e o apodrecimento, problemas comuns
nas zonas tropicais. Esta preocupação climática é também
uma das inquietações de Lina Bo Bardi quanto aos assentos,
para os quais ela estabelece, quase sempre, materiais que
permitem o arejamento.
local de destino Não identificado
descrição Exemplar construído em carvalho com complemento
para fixação das partes em latão.
peculiaridades Segundo Fiell, com a finalidade de resolver a ten-
são entre elementos verticais e horizontais, a peça disposta
obliquamente na Zig-zag pode ser considerada uma resposta
ao apelo lançado por Theo van Doesburg em 1924, pela intro-
dução das linhas oblíquas no Neoplasticismo.
contexto Rietveld se desvia da ortogonalidade total neste mode-
lo, contudo a adoção de superfícies como estas será a lingua-
gem utilizada no Sesc Pompéia ortogonalmente (ver fichas 6,
15, 17, 20, 43, 49, 121, 134, 135, 136, 137, 140 e 159).
42 44
4341
repertório iconográfico
produção Studio Casa e Jardim referências Santos, 1995: 92-95 fontes
das imagens Santos, 1995: 93 créditos fotográficos Acrópole, 1939
autor
Bernard Rudofsky, Áustria
(1905-1988)
modelo Divã portátil para jardim
produção Knoll Associates, Nova Iorque, 1947/1975 (Reeditada por Stöhr
Import-Export) referências Fiell, 1997: 245 fontes das imagens Fiell, 1997:
245 créditos fotográficos Stöhr Import-Export GmbH, Besigheim
autor
Jorge Ferrari-Hardoy (1914-1977),
Juan Kurchan (1913-1975)
& Antonio Bonet (1913-1989)
modelo Cadeira Butterfly
ARGENTINA
1938
produção Steelcase, Grand Rapids, Michigan, desde 1937 até a
atualidade referências Fiell, 1997: 248-249 fontes das imagens Fiell,
199: 249-248 (ambiente) créditos fotográficos Christie’s, Nova Iorque
autor
Frank Lloyd Wright (1867-1959)
modelo Cadeira
EUA
1936
autor Giuseppe Terragni (1904-1943)
modelo Sant’Elia
produção (Reeditada por Zanotta, em 1970) referências Fiell, 1997: 212
fontes das imagens Fiell, 1997: 212 créditos fotográficos Zanotta, Milão
ITÁLIA
1936
BRASIL
1939
local de destino Não identificado
descrição Estruturado em imbuia com estofado revestido em
cretone estampado.
peculiaridades Rudofsky desenvolve o projeto de uma linha de
assentos premiada no concurso de desenho industrial promo-
vido pelo MoMA, Organic Design in Home Furnishings. Esta
estrutura permite a disposição de assentos e encostos em
tecidos de fibras naturais brasileiras. O MoMA expõe os traba-
lhos selecionados (1941).
contexto Durante a Segunda Guerra Rudofsky permanece no
Brasil, onde utiliza tecidos com fibras brasileiras, fornecendo
ao móvel um caráter local. Foi o pioneiro no emprego da juta,
do cânhamo e do caroá e outras fibras nos assentos modernos
brasileiros.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura esmaltada de aço tubular com assento-en-
costo de couro ou lona.
peculiaridades Provavelmente inspirada pela cadeira Tripolina de
de Joseph Fenby, de 1877, (Ficha 3). Primeiro manufaturada
pela Artek-Pascoe, pela Knoll após 1945. Mais tarde, Knoll
perdeu um processo pela exclusividade de direitos autorais, o
que admitiu inúmeras cópias.
contexto Entre outros profissionais Lina Bo e Giancarlo Palanti
projetaram alguns assentos que remetem às redes, mas tam-
bém à Tripolina e à Butterfly (ver fichas 3, 54, 62, 63, 83, 84,
97, 107, 111, 113, 123, 127, 128, 153 e 160).
local de destino Edifício S C Johnson & Son Administration
descrição Estrutura tubular de metal pintada com estofamento
no assento e no encosto.
peculiaridades Os móveis foram concebidos especialmente para
áreas de trabalho integradas. Wright previu o advento do con-
ceito de “sistema” para o mobiliário de escritórios.
contexto Outras cadeiras que podem ser utilizadas em ambientes
de trabalho foram desenvolvidas pelos arquitetos e designers mo-
dernos (ver fichas 36, 39, 53, 85, 86, 88, 89, 103, 117 e 131).
local de destino Casa del Fascio, Como
descrição Estrutura cromada de aço tubular com assento, es-
costo traseiro e descanso de braços em couro estofado.
peculiaridades O design racionalista como esse era utilizado pe-
los facistas no começo dos anos 1930.
contexto Idem à anterior. Mais um modelo cantilever, desta vez
italiano (ver fichas 22, 24, 37, 65, 109 e 116).
4846
4745
repertório iconográfico
produção Langenbach & Tenreiro, RJ referências Santos, 1995: 82-91
fontes das imagens Exposição J Tenreiro, 1999: 109 créditos fotográficos
Não identificado
autor
Joaquim Tenreiro, Portugal
(1906-1992)
modelo Poltrona Leve
produção Produzida pelo autor referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 41
fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 41 créditos fotográficos
Antonio Saggese
autor
Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997)
modelo Cadeira
produção Casa Teperman, a partir de 1993 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 41 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 41
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
John Graz, Suíça (1891-1980)
modelo Poltrona
produção Não encontrada referências Fiell, 1997: 217 fontes das imagens
Fiell, 1997: 217 créditos fotográficos Barry Friedman, Nova Iorque
autor
Frank Lloyd Wright (1867-1959)
modelo Cadeira
EUA
1940
BRASIL
1942
BRASIL
Anos 40
BRASIL
Anos 40
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em pau-marfim pintado, assento e encos-
to estofados e revestidos em tecido.
peculiaridades Estruturando os móveis com pés excessivamente
delgados, Tenreiro demonstrou conhecer as madeiras como
um verdadeiro mestre.
contexto Após conceber seu primeiros móveis modernos para
Oscar Niemeyer, 1941-42, em Guaianases, Tenreiro inicia um
trabalho com caráter moderno.
local de destino Uso do próprio autor
descrição Cadeira composta por planos recortados em compen-
sado naval com 2 centímetros de espessura, fixados com um
só parafuso.
peculiaridades Com a intenção de criar peças econômicas e de
fácil execução, Oswaldo Bratke pretendeu oferecer a simplici-
dade moderna que pudesse estar ao alcance de todos, como
estabeleciam os princípios modernos.
contexto Cadeira que utiliza a madeira compensqada em pou-
cas peças e apenas uma fixação. Esse material é bastante
utilizado no processo construtivo dos móveis do Studio Palma
(ver fichas 66, 67, 70, 71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por outros
autores (ver fichas 34, 40, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em metal e madeira, assento e encosto es-
tofados e revestidos em tecido.
peculiaridades Como outros assentos de Graz, esta poltrona tem
influência do Art-déco. Por meio de um croqui do autor, sem
referências aos materiais, Délia Beru reinterpretou a poltrona
utilizando alumínio polido e pau-marfim.
contexto Um dos primeiros indícios de uma mudança na postu-
ra do mobliário com formas mais simplificadas.
local de destino Clarence W Sondernhouse, Kansas City, Missouri
descrição Estruturado com placas de madeira compensada.
peculiaridades Wright utilizou componentes elementares para
criar uma cadeira.
contexto Este tipo de solução seria utilizada por Lina Bo Bardi
em um protótipo para o Masp da av Paulista e depois para o
Sesc (ver fichas 6, 15, 17, 20, 41, 43, 121, 134, 135, 136,
137, 140 e 159).
5250
5149
repertório iconográfico
produção Cesare Saracchi (tapeceiro que executou 150 cadeiras em
uma garagem) A partir de 1948 pelo Studio Palma e a partir de 1985
pela Nucleon. referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi e Santos, 1995:
95, Ferraz, 1993: 50 e Habitat (1): 36-56 créditos fotográficos Nelson
Kon, 2002
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira para auditório
produção Nos anos 1930 pela Langenbach & Tenreiro, RJ Reeditada pela
Probjeto a partir de 1992 referências Santos, 1995: 82-91 fontes das imagens
Exposição J Tenreiro, 1999: 110 créditos fotográficos Não identificado
autor
Joaquim Tenreiro (1906-1992)
modelo Poltrona de embalo
produção Langenbach & Tenreiro, RJ referências Santos, 1995: 82-91
fontes das imagens Exposição J Tenreiro, 1999: 111 créditos fotográficos
Não identificado
autor
Joaquim Tenreiro (1906-1992)
modelo Cadeira de três pés
produção Nucleon, a partir de 1985 referências Cadeiras Brasileiras, 1994:
42 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 42 créditos fotográficos
Antonio Saggese
autor
João Baptista Vilanova Artigas
(1915-1985)
modelo Cadeira para escritório
BRASIL
1947
BRASIL
1947
BRASIL
1947
BRASIL
1945
local de destino Auditório menor do Museu de Arte de São Paulo,
rua Sete de Abril
descrição Cadeira dobrável e empilhável em imbuia maciça,
com assento e encosto em couro-sola.
peculiaridades Antes de projetar este assento, Lina tentou encon-
trar um móvel moderno que se adequasse aos ambientes do
Museu, como esta empreitada foi em vão, ela mesma conce-
beu a cadeira, iniciando-se assim como designer de móveis.
contexto Cadeira de auditório dobrável (ver fichas 57, 58, 113,
121, 134 e 135).
local de destino Não identificado
descrição Este exemplar foi estruturado em pau-marfim maciço
ebanizado com assento e encosto em espuma de poliuretano
revestidos em couro.
peculiaridades Tenreiro foi o mestre da madeira e apontado
como pioneiro na concepção deveis com características
modernas.
contexto Lina propõe uma cadeira de balanço no Studio Palma
(ver ficha 74, também 126 e 150).
local de destino Cenário de peça teatral de Silveira Sampaio,
onde havia um triângulo amoroso, daí os três pés
descrição Exemplar executado com dois tipos de madeira lami-
nada – como: jacarandá e amendoim ou pau-marfim e roxinho
–, justapostas em faixas curvas, sobre três pés.
peculiaridades Exposta no Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro
em 1961, com simplicidade estética, esta cadeira chegou a ser
construída com cinco diferentes tipos de madeiras brasileiras.
contexto Lina também propõe ao Studio Palma assentos com
três pés, que, como esta solução, posicionam o corpo de ma-
neira similar (ver fichas 3, 47, 62, 63, 83, 84, 97, 107, 111,
113, 123, 127, 128, 153 e 160).
local de destino A Equitativa - escritório de seguros
descrição Esta reedição é estruturada em metal pintado em
epóxi preto fosco, encosto cilíndrico curvo e assento estofa-
dos em espuma e revestidos em couro tingido.
peculiaridades Artigas desenvolve alguns assentos que segui-
ram os mesmos princípios de sua arquitetura: a busca pela
expressão estética com soluções técnicas arrojadas.
contexto Um dos primeiro estudos para poltronas de escritó-
rio. Lina Bo Bardi desenvolve no Studio Palma, cadeiras tam-
bém apropriadas para esta função (ver fichas 36, 39, 46, 85,
86, 88, 89, 103, 117 e 131).
5654
5553
repertório iconográfico
produção Vitra, Basle, de 1990 até a atualidade referências Fiell, 1997:
274-275 fontes das imagens Fiell, 1997: 275 créditos fotográficos Não
identificado
autor
Charles (1907-1978) &
Ray (1912-1988) Eames
modelo La Chaise
EUA
1948
produção Não identificada referências Não encontradas fontes das imagens
Ferraz, 1993: 47 créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Banco
produção Não identificada referências Santos, 1995: 63 fontes das
imagens Santos, 1995: 65 créditos fotográficos Arquivo Rino Levi
Arquitetos Associados
autor
Rino Levi (1901-1965)
modelo Poltrona de auditório
produção Provavelmente por Grasselli & Cia referências Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi, Ferraz, 1993: 51, Habitat(1): 39 fontes das imagens Ferraz,
1993: 51 créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Poltrona para auditório
BRASIL
1948-1950
BRASIL
1950
BRASIL
1950
local de destino International Competition for Low-Cost Furniture
Design, Museum of Modern Art
descrição Assento de fibra de vidro em forma de concha sobre
base de hastes de aço com base de madeira.
peculiaridades Os Eames foram pioneiros nas soluções com
fibra de vidro, porém este assento design orgânico e abstrato
revelou-se demasiado caro em sua produção.
contexto A poltrona Bowl utiliza um elemento semi-esférico em
alumínio repuxado, que poderia ser executado em fibra de
vidro como esta solução dos Eames (ver ficha 91, também
fichas 96 e 118).
local de destino Espaço expositivo do Masp da Rua Sete de Abril
descrição Estrutura em madeira e assento estofado e revesti-
do, provavelmente, em tecido.
peculiaridades O banco foi projetado para as novas instalações
do Masp da rua Sete de Abril em 1950.
contexto Esta peça foi provavelmete produzida pelo Studio Pal-
ma, pois possui linhas semelhantes.
local de destino Teatro Cultura Artística em São Paulo
descrição Estrutura em aço tubular cromado, assento e encosto
estofados e revestidos em couro; por meio de um mecanismo
basculante, a poltrona se recolhe permitindo o fácil acesso
aos assentos do auditório.
peculiaridades Neste período os arquitetos estão bastante aten-
tos aos interiores e ao mobiliário de seus projetos arquitetô-
nicos. Rino Levi é um exemplo desta preocupação.
contexto Na mesma época, Lina concebeu a poltrona para o
auditório maior do Masp da rua Sete de Abril. Ambos os as-
sentos sugerem uma linguagem única pelo uso dos materiais
e preocupações funcionais (ver ficha 57, também outros audi-
tórios fichas 56, 113, 121, 134 e 135).
local de destino Auditório maior do Museu de Arte de São Paulo,
rua Sete de Abril
descrição Poltrona estruturada em aço tubular cromado, com
assento móvel e encosto estofados e revestidos em plástico
cinza Plavinil.
peculiaridades Este é assento projetado por Lina no intuito de
mobiliar o auditório maior do Masp com peças que falavam
em prol do moderno.
contexto É interessante comparar este assento à poltrona do
auditório do Teatro Cultura Artística (ver ficha 58, também ou-
tros auditórios fichas 56, 113, 121, 134 e 135).
6058
5957
repertório iconográfico
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
e Habitat (1): 57 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira com taboa
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 59, Habitat (1): 54 e Cadeiras Brasileiras, 1994: 26 fontes
das imagens Catálogo Nucleon, sem data (desenhos) créditos fotográficos
Nelson Kon, 2002
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira Tripé
(estrutura de madeira)
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 59 e Habitat (1): 55 fontes das imagens Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi e Catálogo Nucleon, sem data (desenhos) créditos fotográficos
F. Albuquerque
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira Tripé (estrutura metálica)
produção Langenbach & Tenreiro, Rio de Janeiro referências Santos, 1992:
82-91, Cadeiras Brasileiras, 1994: 25 e Exposição J Tenreiro, 1999: 118
fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 25 e Exposição J Tenreiro,
1999: 118 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Joaquim Tenreiro (1906-1992)
modelo Cadeira Recurva
BRASIL
1948-1949
BRASIL
1948
BRASIL
1948
BRASIL
1949
local de destino Não identificado
descrição Cadeira em madeira roliça com assento e encosto em
trama de taboa.
peculiaridades Este desenho propõe a utilização de uma fibra
natural, a taboa, utilizada na confecção de esteiras no Brasil.
contexto O uso de fibras vem de longa data (ver fichas 4, 12,
18, 25, 61, 68, 78, 82, 101, 105, 106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Exemplar estruturado em madeira torneada e encera-
da com três pés de apoio e capa de couro sola natural.
peculiaridades Como a cadeira estruturada em metal, esta
cadeira também remete às redes de descanso.
contexto Idem à anterior.
local de destino Não identificado
descrição Exemplar estruturado em tubo conduíte metálico com
três pés de apoio, capa em lona ou couro.
peculiaridades Inspirada nas redes de descanso, utilizadas
principalmente no Norte e Nordeste do país.
contexto Lina Bo Bardi apresenta assentos que remetem a
questões antropológicas, como a adoção das características
das redes (ver fichas 3, 47, 54, 63, 83, 84, 97, 107, 111,
113, 123, 127, 128, 153 e 160). Por outro lado, a cadeira
encontrada na Casa Valéria Cirell (hoje Jardim de Cristal), atri-
buída a Lina Bo bardi, também dialoga com as redes, porém
tem uma constituição estrutural totalmente diferente deste
modelo da Tripé, apesar de utilizar estrutura metálica (ver ima-
gem nesta ficha e ver também ficha 90).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira estruturada em jacarandá com pés delgados
e espaldar alto, assento e encosto em palhinha.
peculiaridades Em defesa do mobiliário de formas leves e da ex-
clusão de estofamentos e tecidos pesados, Tenreiro executou
assentos utilizando palhinha e pés extremamente delgados.
contexto O desenho de Tenreiro é moderno, sofisticado e suas
menções quanto às questões da terra são relativas ao uso de
palhinha (clima) e ao conhecimento das capacidades das ma-
deiras nativas (ver fichas 4, 12, 18, 25, 64, 68, 78, 82, 101,
105, 106, 132 e 160).
6462
6361
Cadeira (abaixo)
atribuída à Lina
Bo Bardi, parte dos
móveis originais da
Casa Valéria Cirell
repertório iconográfico
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 57; Santos, 1995: 96 e Habitat (5): 62-63 fontes das
imagens Ferraz, 1993: 57 créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira Preguiçosa
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 58, Santos, 1995: 96; Habitat (1): 57 fontes das imagens
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Habitat (1): 57 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Peter Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi;
Ferraz, 1993: 58; Habitat (1): 57 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi créditos fotográficos Peter Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira “Z”
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948
local de destino Não identificado
descrição Peças estruturais em cedro maciço, forro solto em
trama de sisal natural.
peculiaridades Lina pesquisou atentamente os costumes e o sa-
ber artesanal do povo brasileiro, um dos resultados desta
busca foi a Preguiçosa, que remete ao costume de sentar de
cócoras do índio e do caboclo, às redes de descanso muito
utilizadas no país e a uma fibra da terra, o sisal. Em anota-
ções do Instituto encontra-se outra referência à data: 1950.
contexto Este exemplar faz uma estrita relação ao ato de sentar-
se de cócoras (ver fichas 110, 133 e 156) e utiliza as fibras
autenticamente nativas (ver também o uso de fibras nas fichas
4, 12, 18, 25, 61, 64, 78, 82, 101, 105, 106, 132, 160).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira desmontável com estrutura em compensado,
assento estofado e encosto solto em tecido.
peculiaridades Esta cadeira possui travas no assento e encosto
que traduzem para o mobiliário os elementos utilizados na
cultura popular (fixação dos carros de bois).
contexto Além do compensado, utilizado no processo constru-
tivo dos móveis do Studio Palma (ver fichas 66, 70, 71, 73,
74, 75, 76 e 83) e por outros autores (ver fichas 34, 40, 51,
94 e 110), a utilização das travas de fixação é de importante
destaque neste contexto (ver fichas 82, 121, 128).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira em compensado de pinho com assento e
encosto estofados e revestidos em tecido.
peculiaridades Mais robusta que a anterior, esta cadeira remete
ainda mais aos móveis de Zanine.
contexto O compensado é bastante utilizado no processo
construtivo dos móveis do Studio Palma (ver fichas 67, 70,
71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por outros autores (ver fichas 34,
40, 51, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira dobrável em pau- marfim e couro.
peculiaridades Como outros do Studio Palma, este modelo pos-
sui uma linguagem semelhante aos assentos projetados por
Zanine, a partir de 1950.
contexto É interessante comparar este assento aos modelos
cantilever (ver fichas 22, 24, 37, 45, 109 e 116) e dobráveis
da própria Lina Bo Bardi (56 e 147).
6866
6765
repertório iconográfico
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos
Peter Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Peter
Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona P12
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos
Roberto Maia
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi;
Ferraz, 1993: 57 fontes das imagens Ferraz, 1993: 57 créditos fotográficos
Roberto Maia
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Espreguiçadeira
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948
BRASIL
1948-1951
local de destino Não identificado
descrição Poltrona estruturada em pau-marfim com assento, en-
costo e braços estofados e revestidos em tecido.
peculiaridades Este modelo apresenta uma tentativa de Bo e
Palanti de tornar uma poltrona confortável e esteticamente
mais asseada.
contexto Ainda era freqüente o uso de estofados nestes
assentos.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em madeira compensada e estofado com
“linolite” italiano.
peculiaridades Idem à anterior. A estrutura possui uma morfologia
que possibilita a utilização do compensado, este aspecto formal
também seria adotado por Zanine Caldas nos anos 1950.
contexto Idem à anterior.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona de madeira compensada e estofada.
peculiaridades Esta poltrona experimenta as possibilidades do
compensado de madeira. Este procedimento é utilizado no
processo construtivo dos móveis do Studio Palma.
contexto Uma das inovações do Studio Palma foi a utilização de
compensado recortado em folhas paralelas para a produção
de assentos (ver fichas 66, 67, 71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por
outros autores (ver fichas 34, 40, 51, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira e estofado revestido em tecido.
peculiaridades Algumas espreguiçadeiras foram desenvolvidas pe-
los arquitetos durante o século XX (ver fichas 29, 132 e 143).
contexto Este assento estofado e revestido provavelmente em
veludo difere da maioria dos móveis mais leves propostos
pelo Studio Palma (ver ficha 78).
7270
7169
repertório iconográfico
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Peter
Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos
Peter Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
e Habitat (1): 56 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona de balanço
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Não
identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
BRASIL
1948-1949
BRASIL
1948-1949
BRASIL
1948-949
BRASIL
1948-1949
local de destino Não identificado
descrição Poltrona sem braços em compensado e tecido esticado.
peculiaridades Idem à anterior.
contexto Idem à anterior.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em compensado e tecido esticado.
peculiaridades A utilização reincidente de tecido esticado sem
estofamento demonstra uma preocupação de substituir os
padrões de conforto anteriores.
contexto Esse material é bastante utilizado no processo construtivo
dos móveis do Studio Palma (ver fichas 66, 67, 70, 71, 73, 74, 76
e 83) e por outros autores (ver fichas 34, 40, 51, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona de balanço em compensado de pinho e esto-
fado revestido em tecido.
peculiaridades Forma estrutural inusitada, que também pode
ter exercido influência no trabalho de Zanine na Fábrica de
Móveis Z.
contexto Este tipo de corte no compensado de madeira é por
vezes utilizado no processo construtivo dos móveis do Stu-
dio Palma (ver fichas 66, 67, 70, 71, 73, 75, 76 e 83) e por
outros autores (ver fichas 34, 40, 51, 93, 94 e 110). Outras
cadeiras de balanço são criadas de formas variadas (ver -
chas 55, 126 e 150).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em compensado e tecido esticado.
peculiaridades Idem à anterior, porém experimentando a possibi-
lidade de evitar o estofamento.
contexto O compensado de madeira é utilizado no processo
construtivo dos móveis do Studio Palma (ver fichas 66, 67,
70, 71, 74, 75, 76 e 83) e por outros autores (ver fichas 34,
40, 51, 94 e 110).
7674
7573
repertório iconográfico
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi e
Ferraz, 1993: 58 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Peter Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 57 e Habitat (1): 58 fontes das imagens Ferraz, 1993: 57
créditos fotográficos Peter Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 57 e Habitat (1): 59 fontes das imagens Ferraz, 1993: 57
créditos fotográficos Peter Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos
Peter Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Espreguiçadeira
autor Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
autor Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona P4
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992),
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira
BRASIL
1948
BRASIL
1948
BRASIL
1948-1949
BRASIL
1948-1951
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em madeira maciça e “mangueira”.
peculiaridades Mais uma tentativa de utilização de outros mate-
riais na contrução de assentos.
contexto Uma das características de Palanti no Studio Palma é
a definição criativa da disposição dos pés dos assentos.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em madeira compensada folheada, assento
espaldar e braços estofados e revestidos em tecido.
peculiaridades Palanti concebeu uma poltrona simplificada mini-
mizando a utilização do estofamento.
contexto Assim como outros assentos do Studio Palma, a es-
truturação desta peça de Palanti influencia algumas soluções
de Zanine Caldas (ver ficha 93).
local de destino Não identificado
descrição Espreguiçadeira em pau- marfim e corda esticada.
peculiaridades Bo e Palanti dedicaram-se a experimentar as fi-
bras naturais aplicadas nos assentos.
contexto Versão de espreguiçadeira totalmente diferente da ou-
tra proposta pelo Studio Palma com estofamento (ver ficha
63), quanto a outras espreguiçadeiras (ver fichas 29, 69, 132
e 143), quanto ao uso de fibras (ver fichas 4, 12, 18, 25, 61,
64, 68, 82, 101, 105, 106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira em pau-marfim torneado, assento e encosto
em lona.
peculiaridades Cadeira extremamente leve, apesar do desenho
muito mais simplificado e das travessas entre os pés, a estru-
tura remete à leveza das cadeiras de Tenreiro.
contexto O acabamento em lona é uma das alternativas para
evitar os estofamentos e garantir maior arejamento.
80
79
78
77
repertório iconográfico
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 58 e Habitat (1): 59 fontes das imagens Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi créditos fotográficos Peter Scheier (sem braços, foto maior) e
Curt (com braços, foto menor)
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Cadeiras Brasileiras, 1994: 26 e Habitat (1): 58 fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 26 créditos fotográficos Antonio Saggese
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
Ferraz, 1993: 56 e Habitat (1): 53 fontes das imagens Instituto Lina Bo e
P.M. Bardi créditos fotográficos Peter Scheier
produção Studio de Arte Palma referências Ferraz, 1993: 58 e Habitat (1):
59 fontes das imagens Ferraz, 1993: 58 créditos fotográficos Não
identificado
autor
Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
autor Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Poltrona
autor Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira
autor Giancarlo Palanti, Itália (1906-1977)
modelo Cadeira
BRASIL
1948
BRASIL
1948
BRASIL
1948-1951
BRASIL
1948
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em madeira maciça com assento e espaldar
em couro esticado, entrelaçado entre o encosto e o espaldar.
peculiaridades Um dos mais criativos resultados do Studio Pal-
ma, por permitir a adaptação do assento e do encosto ao
corpo humano através do entrelaçamento de tiras de couro
com orifícios de ajuste, fixados à estrutura.
contexto Este assento também refere-se à rede com caracterís-
ticas distintas dos apresentados (ver fichas 3, 47, 54, 62,
63, 83, 97, 107, 111, 113, 123, 127, 128, 153 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em compensado e atanado (couro curtido)
esticado.
peculiaridades Mais uma proposta do Studio Palma, na qual
Palanti continua atento à originalidade estrutural que o com-
pensado permite.
contexto Assento que também remete à rede (ver fichas 3, 47,
54, 62, 63, 84, 97, 107, 111, 113, 123, 127, 128, 153 e
160) e utiliza a madeira compensada (ver fichas 66, 67, 70,
71, 73, 74, 75 e 76) e por outros autores (ver fichas 34, 40,
51, 94 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Desmontável por meio de travas e cunhas, a cadeira
possui estrutura em madeira marfim compensada, assento e
encosto em corda esticada; também executada uma versão
com braços, sem as travas e não desmontável.
peculiaridades Utilização de fibras e cunhas de travamento que
permitem a desmontagem do assento.
contexto Este modelo de Palanti de construção simples tam-
bém utiliza componentes de fixação das rodas dos carros de
bois (trava e cunha), presentes ainda hoje no sertão do país
(ver fichas 67, 121, 128), também utliza fibras (ver fichas 4,
12, 18, 25, 61, 64, 68, 78, 101, 105, 106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira estruturada em madeira maciça com assen-
to em couro sola esticado.
peculiaridades Cadeira leve, que experimenta superfícies peque-
nas de couro sola e revela dedicação à inovação na constitui-
ção estrutural.
contexto Idem à anterior.
8482
8381
repertório iconográfico
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira
produção Studio de Arte Palma referências Habitat (5): 63 fontes das
imagens Habitat (5), 1951: 63 créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira
produção Studio de Arte Palma referências Habitat (5): 63 fontes das
imagens Habitat (5): 63 créditos fotográficos Não identificado
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
e Habitat (5): 63 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Peter Scheier
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira
produção Studio de Arte Palma referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi;
Habitat (5): 63 fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos F Albuquerque
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira
BRASIL
1950
BRASIL
1950
BRASIL
1950
BRASIL
1950
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira compensada com assento e
encosto, provavelmente em chapa de alumínio.
contexto Cadeira com estrutura do espaldar saliente, como a
cadeira Antony de Jean Prouvé (ver ficha 89 e também fichas
36, 39, 46, 53, 85, 86, 103, 117 e 131).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira com estrutura em “U” composta por tubos e
chapas de alumínio.
contexto Cadeira com tipo de estrutura utilizada por outros au-
tores (ver fichas 14, 21, 144, 152 e 158).
local de destino Não identificado
descrição Maquete de uma cadeira com estrutura metálica, assen-
to e encosto almofadados e revestidos em plástico plavinil.
peculiaridades Provavelmente uma das últimas criações de Lina
e Palanti para o Studio de Arte Palma.
contexto Idem à anterior.
local de destino Não identificado
descrição Cadeira em tubos de ferro e tecido esticado.
peculiaridades No Palma foram produzidos objetos inseridos na
estética e função definidas por uma época, assim não pode-
riam deixar de existir móveis extremamente simples, estrutu-
rados com tubos metálicos.
contexto Cadeiras simples com estrutura metálica que podem
ser utilizadas para atividades de trabalho (ver fichas 14, 36,
39, 46, 53, 86, 88, 89, 103, 117 e 131).
8886
8785
repertório iconográfico
produção Povavelmente Studio de Arte Palma referências Instituto Lina
Bo e P.M. Bardi fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Poltrona
produção Ambiente a partir de 1951 e Nucleon a partir de 1985 referências
Cadeiras Brasileiras, 1994: 27; Ferraz, 1993: 76-77; Santos, 1995: 99
fontes das imagens Arquivo Nelson Kon; Catálogo da Nucleon (desenho)
créditos fotográficos Nelson Kon, 2002
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Bardi’s Bowl
produção Les Ateliers Jean Prouvé, Maxéville, 1950-1954 referências Fiell,
1997: 302 fontes das imagens Fiell, 1997: 302 créditos fotográficos
Benedikt Taschen Archiv, Cologne
produção Nucleon a partir de 1985 referências Catálogo da Nucleon e
Santos, 1995: 98 fontes das imagens Catálogo da Nucleon créditos
fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi (1914-1992)
modelo Cadeira
autor Jean Prouvé (1901-1984)
modelo Cadeira Antony
FRANÇA
1950
BRASIL
1951
BRASIL
1951
BRASIL
1951
local de destino Casa de Vidro
descrição Poltrona com estrutura em tubo metálico pintado em
azul claro; assento e encosto estofados e revestidos em teci-
do bege.
peculiaridades Esta poltrona se integra com outros móveis da
Casa de Vidro, que possuem a estrutura também pintada em
azul claro, como: estantes, mesas e camas.
contexto Este foi o único assento projetado por Lina Bo Bardi
com estas características, provavelmente porque foi desenha-
do especificamente para a casa da arquiteta.
local de destino Possivelmente para a Casa de Vidro
descrição Exemplar com estrutura em tubo metálico pintado de
preto; concha semi-esférica, independente da estrutura, em
alumínio repuxado, revestimento da concha e almofada em
espuma e tecido ou couro.
peculiaridades As linhas geométricas da Bowl conferem uma ino-
vação às formas modernas dos assentos. Desenho inusitado
para época, foi destaque de capa premiada da revista Inte-
riors, em 1953.
contexto Esta ‘tigela’ pode se referir às cuias indígenas, o que
ilustra mais uma vez o caráter local que Lina buscou para seu
mobiliário (ver 60, 96 e 118).
local de destino Possivelmente para a Casa de Vidro
descrição Cadeira estruturada em tubos de conduíte pintados,
assento e encosto em couro sola e esferas dos braços de la-
tão, pinos nas laterais do encosto.
peculiaridades Esta cadeira se sofistica com a junção entre o en-
costo e o assento por meio de recortes no couro e pelos apoios
de mãos esféricos em latão criados no lugar dos braços.
contexto Mais um exemplo de utilização de tubos conduíte apli-
cados no design de assento (ver ficha 62).
local de destino Universidade de Estrasburgo
descrição Estrutura de aço tubular e achatado, pintada com as-
sento em peça única de madeira compensada moldada.
peculiaridades A cadeira Antony demonstra a preferência de
Prouvé pela rudeza industrial ou Art-brut. Na cadeira são visí-
veis as soldas da estrutura e superfícies inacabadas.
contexto Com características estruturas no encosto semelhan-
tes à cadeira de Lina Bo Bardi (ver ficha 88, ver também
fichas 36, 39, 46, 53, 85, 86, 103, 117 e 131).
9290
9189
repertório iconográfico
produção Nucleon a partir de 1985 referências Cadeiras Brasileiras,
1994: 43 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 43 créditos
fotográficos Antonio Saggese
autor
Flávio de Carvalho (1899-1973)
modelo Cadeira de percintas
produção Móveis Branco & Preto, SP referências Acayaba, 1994; Santos,
1995: 110-114 fontes das imagens Santos, 1995: 114 créditos fotográficos
Fernando Chaves
autor
Carlos Millan (1927-1964)
modelo Poltrona
autor Zanine Caldas (1919-2001)
modelo Espreguiçadeira
produção Fábrica de Móveis Z, São José dos Campos, SP referências
Santos, 1995: 103-110 fontes das imagens Santos, 1995: 106 créditos
fotográficos Hans Günter Flieg
produção Fábrica de Móveis Z, São José dos Campos, SP referências
Santos, 1995: 103-110 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 32
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Zanine Caldas (1919-2001)
modelo Poltrona
BRASIL
Anos 1950
BRASIL
Anos 1950
BRASIL
Anos 1950
BRASIL
Anos 1950
local de destino Não identificado
descrição Estrutura metálica em tubos delgados, assento em
couro e encosto em percintas do mesmo material.
peculiaridades Flávio de Carvalho, designer extremamente deta-
lhista, o autor foi também arquiteto, engenheiro, pintor, escul-
tor, cenógrafo e figurinista. Além de adquirir fama por ser con-
siderado “libertário”.
contexto Esta cadeira dialoga com a Bowl de Lina Bo Bardi (ver
ficha 91).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona estruturada em madeira, assento estofado
revestido em tecido, encosto em palhinha.
peculiaridades Carlos Millan pertenceu ao grupo que fundou o
Branco & Preto. Estruturas delgadas, como sugeria Tenreiro, e
sobriedade foram a maior contribuição deste grupo ao móvel
moderno brasileiro.
contexto Assim como muitos autores, Millan também utliza fi-
bras em respeito à condição climática (ver fichas 4, 12, 18,
25, 61, 64, 68, 78, 82, 101, 105, 106, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Peça anatômica estruturada em compensado de ma-
deira, assento e encosto trançado com fitas plásticas.
peculiaridades Zanine também executou muitas poltronas e
móveis em compensado. A serialização dos móveis da Fábri-
ca de Móveis Z foi um dos marcos da indústria moveleira
moderna nacional.
contexto O compensado de madeira é bastante utilizado no
processo construtivo dos móveis do Studio Palma (ver fichas
66, 67, 70, 71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por outros autores (ver
fichas 34, 40, 51 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira maciça com estofado reves-
tido em tecido de algodão.
peculiaridades A intenção desta linha foi a crião de um mobiliário
popular. Houve a preocupão com o desperdício dos materiais
e atenção à modulação e ao aproveitamento total das chapas.
contexto Influenciado pelo Studio Palma, Zanine faz recortes no
compensado de madeira que caracterizam os assentos e ou-
tros móveis resultados da Fábrica “Z”.
9694
9593
repertório iconográfico
produção Provavelmente Galerie Steph Simon, Paris, desde 1955
referências Fiell, 1997: 377 fontes das imagens Fiell, 1997: 377 créditos
fotográficos Museé des Arts Décoratifs, Paris (foto: L Sully-Jaulmes)
autor
Charlotte Perriand (1903-1999)
modelo Synthese des Arts
FRANÇA
1953
produção Knoll Associates, Nova Iorque, desde 1953 até a atualidade
referências Fiell, 1997: 315 fontes das imagens Fiell, 1997: 315 créditos
fotográficos Fiell International Ltda, Londres (foto:Paul Chave)
autor
Harry Bertoia, Itália (1915-1978)
modelo Cadeira Diamond, modelo nº
421LU
EUA
1950-1952
produção Móveis Branco & Preto referências Cadeiras Brasileiras, 1994:
33 e Acayaba: 1994 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 33
e Acayaba, 1994: 60 e 83 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Jacob Ruchti (1917-1974)
modelo Cadeira R3
produção Não identificada referências Santos, 1995: 62 fontes das
imagens Santos, 1995: 62 créditos fotográficos -
autor
Sérgio Bernardes (1919-2002)
modelo Cadeira Rede
BRASIL
1952
BRASIL
Anos 50
local de destino Não identificado
descrição Construção pintada de madeira compensada curvada.
peculiaridades Responsável por um intercâmbio cultural entre o
oriente e o ocidente, Perriand concebeu essa cadeira que pode
representar uma “síntese das artes” das duas culturas.
local de destino Não identificado
descrição Construção quadriculada em hastes de aço curvadas,
cromadas, almofada estreita com espuma revestida em vinil.
peculiaridades Embora a produção mecânica tenha sido realiza-
da nesta cadeira, descobriu-se que eram mais facilmente pro-
duzidas à mão. Bertoia visava a função, mas também conce-
bia estudos de forma e de volume bastante significativos.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em listeis de madeira com secção quadrada,
assento e encosto estofados e revestidos com gabardine de lã.
peculiaridades Ruchti foi mais um membro do grupo Branco &
Preto, que desenhou móveis elegantes inseridos no contex-
to moderno.
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em 4 versões: alumínio, tubos de madei-
ra, aço ou junco; forro em rede dobrada, tecido, couro ou lona.
peculiaridades Bernardes foi um dos designers convidados por
Oscar Niemeyer para desenhar os móveis de Brasília. É inte-
ressante a tentativa de adaptar materiais mais populares à
mesma solução.
contexto Este assento possui uma morfologia que recorda as
redes (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84, 107, 111, 113,
123, 127, 128, 153 e 160).
10098
9997
repertório iconográfico
produção Herman Miller Furniture CO, Zeeland, Michigan, de 1956 até a
atualidade Produzida pela Móveis Teperman no Brasil referências Fiell,
1997: 336-337 fontes das imagens Fiell, 1997: 337 créditos fotográficos
Herman Miller Inc, Zeeland, Michigan
autor
Charles (1907-1978) &
Ray (1912-1989) Eames
modelo Modelo nº 670 e modelo nº 671
(conhecido no Brasil como Lounge Chair)
EUA
1956
produção Fritz Hansen, Allerød, desde 1955 até a atualidade referências
Fiell, 1997: 344-345 fontes das imagens Fiell, 1997: 344 créditos
fotográficos Fiell International Ltda, Londres (foto:Paul Chave)
autor
Arne Jacobsen (1902-1971)
modelo Series 7, modelo 3107 (conhe-
cida no Brasil como ‘Dinamarquesa’)
DINAMARCA
1955
produção Knoll Associates, Nova Iorque, desde 1956 até a atualidade
referências Fiell, 1997: 318-319 fontes das imagens Fiell, 1997: 319
créditos fotográficos Fiell International Ltda, Londres (foto:Paul Chave)
autor
Eero Saarinen, Finndia (1910-1961)
modelo Tulipa
EUA
1955-1956
produção Cassina, Meda, Milão, desde 1957 até a atualidade referências
Fiell, 1997: 349 fontes das imagens Fiell, 1997: 349 créditos fotográficos
Museé des Arts Décoratifs, Montreal - Liliane & David Stwart Collection
(foto: Richard P Goodbody)
autor
Gio Ponti (1891-1979)
modelo Supperleggera, modelo nº 699
ITÁLIA
1951-1957
local de destino Não identificado
descrição Base de alumínio fundido, fundo de assento e encos-
to moldados em multi-laminado de madeira, almofadas em
espuma de poliéster e acabamento em couro ou tecido.
peculiaridades Estética e tecnicamente, a Lounge Chair foi o mo-
delo mais sofisticado do casal Eames. Baseada em um protó-
tipo exposto no MoMA, em ocasião do concurso Organic De-
sign in Home Furnishings promovido em 1940.
contexto Uma solução americana que, pela disposição do cor-
po sobre o assento, poderia ser aludida a um modelo brasilei-
ro, como a poltrona Mole de Sérgio Rodrigues de 1957 (ficha
107), porém a tecnologia envolvida seria impossível no Brasil
de 1956, quando foi criada.
local de destino Não identificado
descrição Assento moldado de madeira compensada com aca-
bamento em teca (árvore originária da Índia), conectado a
base de aço tubular dobrado, pés protegidos com borracha.
peculiaridades A abordagem de Jacobsen, em relação a comple-
xa moldagem do assento e encosto contínuos de madeira
compensada, foi influenciada por modelos anteriores de Char-
les e Ray Eames.
contexto Na categoria dos assentos simplificados, esta cadeira
por ser utilizada para funções de escritório (ver fichas 36, 39,
46, 53, 85, 86, 88, 89, 117 e 131).
local de destino Não identificado
descrição Base de alumínio fundido envolvida por peça moldada
em plástico, assento em concha de fibra de vidro moldado
com almofada solta estofada de espuma de látex.
peculiaridades Esta cadeira pertence ao Pedestal Group, que al-
cançou o objetivo de Saarinen de eliminar os pés dos móveis
nos interiores domésticos. A tecnologia dos plásticos impediu
que que Saarinen concebesse uma cadeira de material e for-
ma únicos, como ele desejara.
contexto Este é um exemplo da base estrutural do modelo em
papel machê realizado por Lina Bo Bardi para o Belvedere da
Sé, em Salvador (1986-1987) (ver ficha 141).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de freixo com assento em trama de junco.
peculiaridades Denominada “cadeira por excelência” e notável
por sua leveza, a Superleggera foi inspirada em um modelo
tracional de cadeira italiana. Ponti foi considerado um criador
de clássicos eternos.
contexto Lina Bo Bardi trabalhou com Ponti, uma das influências
que a levou a buscar elementos na cultura popular (ver fichas
4, 12, 18, 25, 61, 64, 68, 78, 82, 105, 106, 132 e 160).
104102
103101
repertório iconográfico
produção Oca Hoje editada pela LinBrasil referências Santos, 1995:
125-136, Cadeiras Brasileiras, 1994 e Cals, 2000 fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Sérgio Rodrigues (1927)
modelo Cadeira Lúcio Costa
autor Sérgio Rodrigues (1927)
modelo Poltrona Mole
produção Oca e Sérgio Rodrigues Arquitetura Ltda, desde 1957 ISA, de
Bérgamo, na Itália (vendida como Sheriff) Hoje editada pela LinBrasil
referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 29; Santos, 1995: 125-136; Cals,
2000 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 29 e Meadmore,
1974: 128 (desenho) créditos fotográficos Antonio Saggese
produção Oca e Sérgio Rodrigues Arquitetura Ltda Hoje editada pela
LinBrasil referências Santos, 1995: 125-136; Cals, 2000 fontes das
imagens Santos, 1995: 130 créditos fotográficos Humberto Franceschi
autor
Sérgio Rodrigues (1927)
modelo Leve Jockey, atualmente
denominada Oscar
produção Unilabor referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 28, Santos,
1995: 115-117 e Claro, 2004 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras,
1994: 28 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Geraldo de Barros (1923-1998)
modelo Cadeira
BRASIL
1957
BRASIL
1957
BRASIL
1956
BRASIL
1955
108
107
106
105
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em madeira maciça com encaixes fresa-
dos, braços anatômicos esculpidos e assento e encosto em
palhinha.
peculiaridades A poltrona Oscar, como é chamada atualmente a
Leve Jockey, se destaca pelo desenho de seu encosto que
remete aos gestos projetuais de Oscar Niemeyer, principal-
mente no Palácio da Alvorada em Brasília.
contexto Mais uma vez as fibras permitem o arejamento do
assento e encosto (ver fichas 4, 12, 18, 25, 64, 68, 101, 105,
106, 110 e 121).
local de destino Atelier do fotógrafo Otto Stupakoff
descrição Estrutura de madeira maciça torneada e encerada,
encaixes por meio de cavilhas, ou, na versão desmontável in-
dustrializada pela Oca, pelo sistema Allen; estofados revesti-
dos em couro sustentados por percintas de couro sola que
permitem regulagem.
peculiaridades A Mole recebeu o primeiro prêmio no Concurso
Internacional de Cantù, na Itália.
contexto Sérgio desenvolveu móveis com formas torneadas e vo-
lumes generosos, um exemplo de brasilidade no design de mobi-
liário. A forma que o corpo assume neste assento é semelhante
à posição nas redes do nordeste do país (ver fichas 3, 47, 54,
62, 63, 83, 84, 97, 111, 113, 123, 127, 128, 153 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em jacarandá maciço com encaixes fre-
sados, assento em palhinha de Málaca.
peculiaridades Cadeira considerada por Lúcio Costa: “uma con-
cepção atual com espírito tradicional brasileiro”, recebeu seu
nome, uma homenagem de Sérgio Rodrigues.
contexto O uso da palhinha é uma constante por muitas déca-
das nos assentos brasileiros e alguns estrangeiros (ver fichas
4, 12, 18, 25, 61, 64, 68, 78, 82, 101, 105, 132 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Cadeira estruturada em jacarandá, com palhinha no
assento e encosto.
peculiaridades Geraldo de Barros e o Pe. João Batista Pereira
dos Santos organizaram uma comunidade produtiva: a oficina
de móveis Unilabor, em 1954, no intuito de estabelecer uma
nova ordem social, na qual todos tinham o mesmo direito e
recebiam o mesmo valor na divisão dos lucros.
contexto A Unilabor desenvolve móveis leves, considerando a
condição tropical na criação de cadeiras (ver fichas 4, 12, 18,
25, 61, 64, 68, 78, 82, 101, 106, 132 e 160).
repertório iconográfico
produção L’Atelier de 1957 a 1959 referências Santos, 1995: 74-75;
Cadeiras Brasileiras, 1994: 42 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras,
1994: 42 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Júlio Katinsky (1932)
e Jorge Zalszupin (1922)
modelo Poltroninha
autor Bernardo Figueiredo
modelo Cadeira Bahia
produção Não identificada referências Santos, 1995: 56 fontes das
imagens Santos, 1995: 56 créditos fotográficos Arquivo de Bernardo
Figueiredo
produção Mobiliário não desenvolvido referências Habitat (46): 34-45
fontes das imagens Ferraz, 1993: 97 e Habitat (46): 37
autor
Lina Bo Bardi (1914-1992)
modelo Assentos para Concurso de Cantù
produção Nucleon 8 referências Santos, 1995: 69-73 e Cadeiras Brasileiras,
1994: 76 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 76 créditos
fotográficos Antonio Saggese
autor
Paulo Mendes da Rocha (1928)
modelo Cadeira Paulistano
BRASIL
1957
BRASIL
Anos 1950-1960
BRASIL
1959
BRASIL
1957
112
111
110
109
local de destino Salão de banquetes do Palácio dos Arcos, Itama-
raty, em Brasília
descrição Cadeira em jacarandá maciço.
peculiaridades Figueiredo colaborou na Oca, onde foi influencia-
do por Sérgio Rodrigues .O mobiliário projetado para o Itama-
raty foi considerado um de seus trabalhos mais importantes.
local de destino Varandas e salas de estar
descrição Estruturada em aço e madeira com capa em couro.
peculiaridades Um desenho de formas simplificadas, limpo e
elegante.
contexto Katinsky desenvolveu este assento com o assento-en-
costo em capa única e solta a exemplo de alguns assento reali-
zados no Studio Palma entre 1948 e 1951 (ver fichas 3, 47, 54,
62, 63, 83, 84, 97, 107, 113, 123, 127, 128, 153 e 160).
local de destino Não identificado
peculiaridades Estes assentos são integrantes de um grupo de
móveis desenvolvidos para o concurso de design realizado em
Cantù, na Itália em 1957.
contexto Lina Bo Bardi parte de um assento baixo utilizado nas
fazendas de café e do costume popular de agachar-se em
cócoras do caboclo e do índio, criando um banquinho baixo,
que ela sugere como peça emblemática brasileira no partido
adotado para estes móveis. Outros móveis deste repertório
sugerem o costume de sentar-se em cócoras (ver fichas 68,
133 e 156) e utilizam o compensado de madeira no Studio
Palma (ver fichas 66, 67, 70, 71, 73, 74, 75, 76 e 83) e por
outros autores (fichas 34, 40, 51 e 94).
local de destino Clube Paulistano
descrição Estruturada em aço mola dobrado a frio, pintada em
epóxi fosco, capa em lona ou couro.
peculiaridades A flexibilidade do aço oferece a esta cadeira a qua-
lidade de um material aplicado com propriedade. Uma versão
com rodízios foi premiada pelo Museu da Casa Brasileira.
contexto Esta é uma versão de estrutura cantilever (ver fichas
22, 24, 37, 45, 65 e 116).
repertório iconográfico
produção Langenbach & Tenreiro, RJ referências Santos, 1995: 82-91
fontes das imagens Exposição J Tenreiro, 1999: 117 créditos fotográficos
Não identificado
autor
Joaquim Tenreiro (1906-1992)
modelo Poltrona curva com varetas
produção Oca referências Santos, 1995: 56-59 fontes das imagens
Santos, 1995: 59 créditos fotográficos Arquivo de Sérgio Rodrigues
autor
Lúcio Costa (1902-1998)
modelo Poltrona
produção Vitra, Basle, for Herman Miller Furniture CO, Zeeland, Michigan,
desde 1968 (Reeditada por Vitra, Basle, de 1990 a atualidade)
referências Fiell, 1997: 425 fontes das imagens Fiell, 1997: 425
créditos fotográficos Verner Panton, Basle
DINAMARCA
1959-1960
autor Verner Panton (1926-1998)
modelo Cadeira Panton
produção Não identificado referências Instituto Lina Bo e P.M. Bardi fontes
das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Não
identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Poltrona para auditório
BRASIL
1960
BRASIL
1960
BRASIL
1959-1960
116
115
114
113
local de destino Não identificado
descrição Entre 1968-1970: moldada em Baydur (espuma sólida
PU) Após 1970: moldada por injeção de Luran S (termoplástico).
peculiaridades Inteiramente unificada, a Panton foi a primeira ca-
deira moldada por injeção em um só material e uma só peça.
Iniciando uma nova concepção no design de assentos.
contexto Desenhada por Panton, esta cadeira é uma inovação no
uso de um novo material para uma solução com estrutura can-
tilever, utilizada pioneiramente por Mart Stam (ver ficha 22),
depois por Marcel Breuer e Mies van der Rohe (ver ficha 24),
todas em metal, mais tarde por Lina Bo Bardi em madeira, ca-
deira “Z” (ver ficha 65, ver também fichas 37, 45 e 109).
local de destino Não identificado
descrição Poltrona estruturada em jacarandá, assento e encos-
to em espuma de borracha com revestimento em couro.
peculiaridades Lúcio Costa colaborou na Oca, oferecendo ao
design de mobiliário uma contribuição não quantitativa, po-
rém significativa no contexto moderno, movimento ao qual
ele se inseriu.
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em jacarandá, assento em palhinha.
peculiaridades Mais uma vez a habilidade de Tenreiro ao lidar
com a esbelteza das madeiras, o que lhe conferiu o título de
mestre das madeiras.
local de destino Auditório provisório do Mamb no Teatro Castro
Alves, Salvador
descrição Estrutura em madeira com assento e encostos em
couro solto fixados nas laterais.
peculiaridades Assentos criados para o auditório improvisado na
rampa de acesso ao Teatro Castro Alves em Salvador, incedia-
do alguns dias antes de sua inaguração em 1959, onde Lina
projetou também a arquitetura cênica para peças teatrais.
Provavelmente criada no fim de 1959.
contexto O foyer deste edicio também cediou o Mamb, onde Lina
organizou diversas exposições. Muitos assentos foram executa-
dos com o forro solto que reporta-se às redes tãofreqëntes no
nordeste brasileiro (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84, 97, 107,
111, 123, 127, 128, 153 e 160, quanto aos assentos para au-
dirios verchas 56, 57, 58, 121, 134 e 135).
repertório iconográfico
produção Não foi produzida referências Ferraz, 1993: 186 fontes das
imagens Arquivo Nelson Kon; Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos
fotográficos Nelson Kon, 2002
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Cadeira de Beira de Estrada
produção Escriba, a partir de 1968 referências Cadeiras Brasileiras, 1994:
36 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 36 créditos fotográficos
Antonio Saggese
autor
Karl Heinz Bergmiller, Alemanha
(1928)
modelo Poltrona D
autor Eero Arnio (1932)
modelo Ball ou Globe
produção Asko, Lahti, desde 1968 Reeditada por Adelta desde 1996
referências Fiell,1997: 429 fontes das imagens Fiell,1997: 429 créditos
fotográficos Richard P. Goodbody
FINLÂNDIA
1963-1965
produção Hille de 1963 até a atualidade No Brasil produzida pela L’Atelier
como Hille referências Fiell, 1997: 386-387 fontes das imagens Fiell, 1997:
387 créditos fotográficos Paul Chave
autor
Robin Day (1923-2000)
modelo Polyprop (conhecida como Hille
no Brasil)
GRÃ BRETANHA
1962-1963
BRASIL
1967
BRASIL
1964
120118
119117
local de destino Beira de estrada
descrição Cadeira estruturada com troncos de eucalipto e atada
com fibras vegetais.
peculiaridades Esta pode ser uma tradição indígena e uma tradi-
ção vinda da África para o Brasil.
contexto Provavelmente um protesto de Lina a favor do ideal de
se aproximar das coisas simples da terra, a “Beira de estra-
da” é uma concepção que insere mais uma vez o saber arte-
sanal popular em suas criações. Se considerarmos os “ga-
lhos” utilizados pela autora como fibras, este é mais um
exemplo, extremo, de utilização destas nos assentos (ver fi-
chas 4, 12, 18, 25, 64, 68, 101, 105, 106 e 110).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em angico maciço com capa no encos-
to e assento com almofada opcional no assento –, em
couro natural.
peculiaridades Formado na Escola de Ulm, Bergmiller projetou
esta poltrona de linhas simples como a poltrona de Lúcio
Costa de 1960, porém, este modelo ocupa 1/10 de seu vo-
lume quando desmontado, uma contribuição para o trans-
porte de móveis.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona em poliéster reforçado com fibra de vidro, mol-
dado em forma esférica seccionada, base em alumínio pintado
com revestimento interno estofado e revestido em tecido.
peculiaridades Uma solução que se adapta à cultura Pop dos
anos 1960, apesar de seus modelos não possuírem o caráter
efêmero e descartável, ao contrário as soluções desenvolvi-
das por ele são de alta qualidade e durabilidade.
contexto Apesar de distinto do assento semi-esférico de Lina
(Bowl, 1951, ver ficha 91), Arnio também se utiliza deste prin-
cípio morfológico.
local de destino Não identificado
descrição Cadeira empilhável em estrutura metálica pintada e
concha do assento-encosto em polipropileno injetado.
peculiaridades Day se inspirou nas cadeiras de concha de plástico
de Eames para desenvolver uma cadeira leve, durável e econô-
mica pela primeira vez moldada com injeção de polipropileno.
contexto Um modelo de cadeira simplificado que permite diver-
sos usos, inclusive em ambientes de trabalho (ver fichas 36,
39, 46, 53, 85, 86, 88, 89, 103 e 131).
repertório iconográfico
produção Hobjeto referências Santos, 1995: 143-145; Cadeiras
Brasileiras, 1994: 28 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994:
28 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Geraldo de Barros (1923-1998)
modelo Cadeira
produção Zanotta, Milão, de 1968 até a atualidade referências Fiell,
1997: 471 fontes das imagens Fiell, 1997: 471 créditos fotográficos
Zanotta, Milão
autor
Piero Gatti (1940), Cesare Paolini
(1937-1983) & Franco Teodoro (1939)
modelo Sacco
ITÁLIA
1968
produção Mobília Contemporânea, entre 1968 e 1978 refencias
Cadeiras Brasileiras, 1994: 31; Santos, 1995: 137-142 fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 31 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Michel Arnoult (1922-2005)
modelo Poltrona Peg Lev
produção Não foi produzida referências Ferraz, 1993: 108 fontes das
imagens Ferraz, 1993: 108 créditos fotográficos Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Poltrona para auditório
BRASIL
1970
BRASIL
1968
BRASIL
1968
124
123
122
121
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em poliuretano e revestimento em curvim.
peculiaridades Em 1964, Geraldo de Barros e associados funda-
ram a Hobjeto, que não mais possuía o caráter social da Uni-
labor, então já fechada.
local de destino Não identificado
descrição Saco de vinil contendo pequenas esferas semi-ex-
pandidas de poliestireno.
peculiaridades Adaptável a qualquer posição do usuário, foi ins-
pirado no saco de grãos. Uma inovação no design de assen-
tos que foi imitada por inúmeros fabricantes no mundo
todo.
contexto Há uma versão de que a Sacco foi inspirada também
na poltrona Mole de Sérgio Rodrigues. Esta solução adapta o
corpo de forma muito próxima aos modelos que remetem às
redes (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84, 97, 107, 111,
113, 127, 128, 153 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em pau ferro com capa no encosto e as-
sento em couro natural.
peculiaridades Esta poltrona recebeu o prêmio Roberto Simon-
sen em 1968. Extremamente leve com um reduzido número
de componentes padronizados, que facilitaram a produção se-
riada. Dentre outros, este modelo foi resultado do esforço de
Arnoult no desenvolvimento de móveis modulares e desmon-
táveis para a realidade social brasileira. Apesar disso, este
tipo de solução não foi bem aceita pelo mercado nacional da
época. Foi exportado.
contexto Como no Studio Palma, Arnoult utiliza capas soltas no
assento e estofado.
local de destino Teatro do Masp da avenida Paulista, São Paulo
(modelo não aprovado)
descrição Totalmente em louro-claro maciço, esta dupla de pol-
tronas possui travas de encaixe lateral, com base de apoio
em concreto e duas sapatas em madeira.
peculiaridades Rejeitado pelos responsáveis públicos do Masp,
este protótipo de Lina Bo sintetiza a intenção de criar um
móvel que trate das questões locais, utilizando os encaixes
com travas das carroças de bois.
contexto Este assento revela o desejo de simplificação formal
por meio de superfícies de madeira. Retomada no mobiliário
do Sesc, este tipo de solução é utilizada no desenvolvimento
de alguns assentos, transformados formalmente e assumin-
do outras funções, também por outros autores (ver fichas 6,
15, 17, 20, 41, 43, 49, 134, 135, 136, 137, 140 e 159, e
auditórios com soluções completamente diferentes ver fichas
56, 57, 58 e 113). Além de possuir o sistema de trava do
carro de bois (ver fichas 67, 82, 128).
repertório iconográfico
produção rgio Rodrigues Arquitetura desde 1973 e versão de Fressy
Van Camp pela Oca referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 30, Santos,
1995: 125-136 e Cals, 2000 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras,
1994: 30 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Sérgio Rodrigues (1927)
modelo Poltrona Xikilin
produção Wood Art a partir de 1973 e Probel para exportação referências
Cadeiras Brasileiras, 1994: 35 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras,
1994: 35 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Jean Gillon (1919)
modelo Poltrona Jangada e banquinho
produção Jack Brogan, EUA, 1972-1973 (Reeditado por Chiru, Los Angeles,
desde 1982) referências Fiell, 1997: 517 fontes das imagens Fiell, 1997:
517 créditos fotográficos Philadelphia Museum of Art, Filadélfia
autor
Frank O. Gehry (1929)
modelo Cadeira de balanço Easy Edges
EUA
1972
produção (Possivelmente a Mobilier Internacional e Tendo) Móveis Teperman
referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 43, Santos, 1995: 137-142 e
Milly Teperman fontes das imagens site: wwwdesmobiliacombr créditos
fotográficos Não identificado
autor
Oscar Niemeyer (1907) e Anna
Maria Niemeyer
modelo Poltrona Alta e Banqueta
(Easy Chair alta)
BRASIL
1971
BRASIL
1972
BRASIL
1973
128
127
126
125
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira maciça encerada, assento e
encosto em peça única de couro, lona ou pele de vaca, que é
suportado pela estrutura por meio de peças torneadas.
peculiaridades Peça que utiliza poucos componentes: duas late-
rais, duas travessas, quatro cunhas e quatro elementos torne-
ados. A Xikilin recebeu uma menção honrosa do IAB em 1973.
Freddy van Camp adaptou a poltrona para simplificar a indus-
trialização feita pela Oca.
contexto É interessante o emprego das cunhas, assim como o
fez Lina Bo Bardi em algumas peças (ver fichas 67, 82 e 121)
e sobre o forro solto, esta também foi uma solução utilizada
pela arquiteta.
local de destino Não identificado
descrição Poltrona desmontável, estruturada em jacarandá, es-
tofados em espuma de poliuretano revestidos em couro, rede
de nylon onde se apóia o encosto.
peculiaridades A poltrona Jangada possui formas estruturais
curvas e permite a adaptação do corpo por meio da flexibilida-
de da rede.
contexto Esta poltrona se inspirou na Mole de Sérgio Rodri-
gues. A concepção de assentos que remetem às redes se
iniciou no Studio Palma (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84,
97, 107, 111, 113, 123, 128, 153 e 160).
local de destino Não identificado
descrição Construção de papelão laminado.
peculiaridades Inicialmente concebidos como mobília de baixo
custo, a série Ease Edges compreendia catorze móveis de pape-
lão, para garantir a resistência e a rigidez, as camadas de pa-
pelão foram laminadas em ângulos idênticos lado a lado.
contexto As cadeiras em balanço aqui consideradas são diver-
gentes quanto à forma e aos conceitos empregados (ver fi-
chas 55, 74 e 150).
local de destino Usada pela primeira vez na sede do Partido Co-
munista em Paris, atualmente utilizada no Congresso Nacio-
nal em Brasília
descrição Estrutura em madeira multilaminada curvada ebani-
zada, revestimento em couro natural; a estrutura também foi
executada em aço cromado.
peculiaridades Primeiro móvel desenhado por Oscar Niemeyer.
Ele e sua filha Anna Maria se aproximaram da experiência
sueca com lâminas de madeira coladas, porém desenvolve-
ram elementos com superfícies maiores. Este é um exemplo
da possibilidade de aproximar as formas do móvel à arquite-
tura, tornando-os cúmplices entre si.
repertório iconográfico
autor Freddy van Camp (1946)
modelo Cadeira Xavante
produção Oca, desde 1976 referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 37
fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 37 créditos fotográficos
Antonio Saggese
produção Tendo Brasileira, São Paulo e Móveis Teperman a partir do final
da década de 1980 referências Santos, 1995: 59-61 fontes das imagens
Santos, 1995: 61 créditos fotográficos Paulo Romeu Bissoli
autor
Oscar Niemeyer (1907)
modelo Espreguiçadeira
produção L’Atelier Móveis, desde 1974 referências Cadeiras Brasileiras,
1994: 38 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 38 créditos
fotográficos Antonio Saggese
produção Tendo Brasileira, São Paulo referências Santos, 1995: 59-61 fontes
das imagens Santos, 1995: 61 créditos fotográficos Paulo Romeu Bissoli
autor
Jorge Zalzupin (1922), Paulo Jorge
Pereira (1945) e a colaboração da
equipe técnica do L’Atelier Móveis
modelo Poltrona Lobby
autor Oscar Niemeyer (1907)
e Anna Maria Niemeyer
modelo Marquesa
BRASIL
1974
BRASIL
1974
BRASIL
1976
BRASIL
1977
132
131
130
129
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira curvada com palhinha natural,
almofada cilíndrica estofada e cintas reguláveis em couro.
peculiaridades Niemeyer utiliza nesta peça elementos formais
de sua arquitetura.
contexto Este é um exemplo de espreguiçadeira (ver fichas 29,
69, 78 e 143) e do uso de fibras (ver fichas 4, 12, 18, 25, 61,
64, 68, 78, 82, 101, 105, 106 e 160).
local de destino Escritórios (datilografia)
descrição Estruturada em metal, conchas do assento e encosto
de chassi de madeira moldada e espuma modelada, revesti-
mentos: tecido, couro sintético e outros.
peculiaridades Várias indústrias moveleiras dedicam-se quase
exclusivamente para os ambientes empresariais, abrindo um
campo para os designers.
contexto Mais um exemplar de cadeira simples para uso em escri-
tório (ver fichas 36, 39, 46, 53, 85, 86, 88, 89, 103 e 117).
local de destino Salas de espera de grandes ambientes, como
aeroportos
descrição Estruturada em ferro fundido com pintura eletrostáti-
ca ou alumínio polido, estofada em poliuretano, revestida em
tecido ou couro.
peculiaridades Nesta década se inicia uma busca do móvel cor-
porativo nacional.
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em madeira curvada com assento em pa-
lhinha natural.
peculiaridades Niemeyer se inicia nesta década como designer
de mobiliário depois de consagrado como arquiteto.
repertório iconográfico
produção Construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc referências
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi e Ferraz, 1993: 226-227 fontes das imagens
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Marcelo Ferraz
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e André Vainer
modelo Poltrona para auditório
produção Construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc referências
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi; Marcenaria Baraúna fontes das imagens
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Marcelo Ferraz
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e André Vainer
modelo Cadeira
produção Marcenaria local (Ibiúna) referências Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
autor
Lina Bo Bardi (1914-1992), Marcelo
Ferraz (1956) e Francisco Fanucci (1954)
modelo Banco
produção Tendo Brasileira de 1978 a 1984 e Móveis Teperman desde 1989
referências Cadeiras Brasileiras, 1994: 43 e Milly Teperman fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 43 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Oscar Niemeyer (1907) e Anna
Maria Niemeyer
modelo Poltrona Baixa (Easy Chair baixa)
BRASIL
1979-1981
BRASIL
1980-1981
BRASIL
1980
BRASIL
1978
136
135
134
133
local de destino Restaurante e biblioteca do Sesc Fábrica Pompéia
descrição Cadeira estruturada com apenas três peças retangula-
res de pinus compensado, construídos de maneira simplificada,
tendo um único detalhe: recorte em forma de “U” no encosto.
peculiaridades Na mesma linguagem proposta para o assento do
auditório, este assento possui uma simplicidade ímpar.
contexto Proposta semelhante a outras fichadas (ver fichas 6,
15, 17, 20, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 137, 140 e 159).
local de destino Auditório do Sesc Fábrica Pompéia
descrição Assentos produzidos com peças retangulares de pi-
nus compensado com recortes em forma de “U” no encosto
contínuo.
peculiaridades Este assento derivou do assento proposto para o
Masp da avenida Paulista, em 1967.
contexto A poltrona foi considerada desconfortável, ao que
Lina rebateu: “os estofados apareceram nos teatros áulicos
das cortes, no setecento e continuam até hoje no confort da
Sociedade de Consumo”. Outros assentos possuem caracte-
rísticas semelhantes a este (ver fichas 6, 15, 17, 20, 41, 43,
49, 121, 134, 136, 137, 140 e 159 e quanto aos auditórios
ver fichas 56, 57, 58, 113, 121 e 134).
local de destino Capela Santa Maria dos Anjos
descrição Banco composto por superfícies de madeira compen-
sada com orifícios de acesso para as mãos, que permitem o
deslocamento
peculiaridades Baseados em estudo de Lina Bo Bardi para a Igreja
espírito Santo do Cerrado, Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz
desenvolveram o banco para a capela Santa Maria dos Anjos.
contexto Este modelo se relaciona com o mobrio proposto para
o Sesc (6, 15, 17, 20, 41, 43, 49, 121, 135, 136, 137, 140 e
159) e para auditórios (ver fichas 56, 57, 58, 113, 121 e 135).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada com placas curvadas de madeira prensa-
da na largura do assento, laqueada em preto, estofamento
em poliuretano expandido e revestimento em couro.
peculiaridades Mais um resultado do estudo de madeiras pren-
sadas realizado pela dupla, que visava produzir um móvel
apropriado para a arquitetura de Oscar, utilizando as curvas
tão admiradas por este.
contexto Aqui podemos comparar com os resultados produzi-
dos de assentos baixos (ver fichas 68, 110 e 156).
repertório iconográfico
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e André Vainer
modelo Caixotinho
produção Construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc referências
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi créditos fotográficos Não identificado
produção Construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc referências Ferraz,
1993: 233 fontes das imagens Ferraz, 1993: 233 créditos fotográficos
Não identificado
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e André Vainer
modelo Banco alto
produção Inicialmente construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc (1981)
e refeitos pela Baraúna em junho de 2004 referências Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi; Marcenaria Baraúna fontes das imagens Marcenaria Baraúna
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e André Vainer
modelo Estofados
produção Construídos pelos carpinteiros do próprio Sesc referências
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi fontes das imagens Instituto Lina Bo e P.M.
Bardi créditos fotográficos Marcelo Ferraz
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
modelo Banco
BRASIL
1980-1981
BRASIL
1984
BRASIL
1980-1981
BRASIL
1980-1981
140
139
138
137
local de destino Sesc Pompéia
descrição Estruturado em peças retangulares de pinus compen-
sado, que compõem uma caixa recortada ao meio diagonal-
mente, a primeira metade possui um tampo triangular e rodí-
zios, o que permite a abertura e o acesso de uma criança à
segunda metade, que possui um assento triangular.
contexto A simplicidade e a estrutura do Caixotinho se relacio-
nam com outros assentos deste Repertório (ver fichas 6, 15,
17, 20, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 136, 137 e 159).
local de destino Lanchonete do bloco esportivo
descrição Banco alto em concreto armado.
local de destino Atividades gerais (espaço de estar) do Sesc
Fábrica Pompéia
descrição Poltronas estruturadas em pinus compensado (painel
de pinho laminarco) com assento e encosto estofados e re-
vestidos em tecido.
peculiaridades Os atuais sofás são em painel de lyptus e foram
confeccionados em junho de 2004. Esses sofás foram refei-
tos, com base em um exemplar original, com algumas mudan-
ças para permitir a rotação de rodízios.
contexto Estofados com morfologia geométrica, que dialogam
com as propostas modernas, como o Grand Confort de Cobu-
sier, Perriand e Jeanneret (ver ficha 30).
local de destino Restaurante do Sesc Fábrica Pompéia
descrição Banco estruturado em concreto armado, assento e
encosto compostos por duas peças retangulares de pinus
compensado.
peculiaridades Idem à anterior.
contexto Idem à anterior.
repertório iconográfico
produção Nucleon 8 desde 1985 referências Santos, 1995: 69-73 e
Cadeiras Brasileiras, 1994: 48 fontes das imagens Catálogo Nucleon
créditos fotográficos Não identificado
produção Alias, Grumello del Monte, Bergamo, desde 1985 até a
atualidade referências Fiell, 1997: 568 fontes das imagens Fiell, 1997:
568 créditos fotográficos Alias, Grumello del Monte
autor
Mario Botta, Suiça (1943)
modelo Seconda
ITÁLIA
1982
autor Paulo Mendes da Rocha (1928)
modelo Espreguiçadeira
produção Zanine Caldas referências Santos, 1995, 104-110; Cals, 2000
fontes das imagens Santos, 1995, 108 créditos fotográficos Não
identificado
autor
Zanine Caldas (1919-2001)
modelo Namoradeira
produção Não produzido referências Marcelo Ferraz fontes das imagens
Instituto Lina Bo e P.M. Bardi créditos fotográficos Autora
autor
Lina Bo Bardi
modelo Estudo para cadeira
BRASIL
1981
BRASIL
Anos 80
BRASIL
1986-1987
144
143
142
141
local de destino Não identificado
descrição Estrutura de aço, assento em peça de aço perfurada
com epóxi e encosto traseiro de poliuretano expandido.
peculiaridades Em parte, este assento de estética racionalista é
um alerta contra os excessos cometidos por grupos anti-de-
sign, como o Mêmphis e, por outro lado, fruto da alta tecnolo-
gia desenvolvida nos anos de 1970.
contexto Esta peça se caracteriza neste contexto pelos pés em
‘U’ (ver fichas 21, 87, 152 e 158).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em perfil circular e duas lâminas em aço
pintado, apoio cilíndrico para cabeça em espuma revestido
com material plástico.
peculiaridades O cavalete rígido da base permite que as lâmi-
nas de o se apóiem em quatro pontos, permitindo total
estabilidade com um desenho simplificado, característico de
sua arquitetura.
contexto Ver espreguiçadeiras (ver fichas 29, 69, 78 e 132).
local de destino Não identificado
descrição Tora única de madeira esculpida que toma a forma de
dois assentos.
peculiaridades Nesta fase Zanine concebeu o “móvel denúncia”,
criticando a devastação das madeiras brasileiras, ele propõe
um mobiliário que sublinha a presença do tronco em seu es-
tado original.
local de destino Belvedere da Sé - Salvador
descrição Estrutura de base em forma de cálice e e espaldar
em material curvado. Não há referências quanto ao material.
contexto É interessante perceber, sem fragmentar este mode-
lo, que sua base estrutural pode ser comparada com a da
cadeira Tulipa de Saarinen (1956) (ver ficha 102) e o encosto
remete à cadeira de Thonet (1859) (ver ficha 2).
repertório iconográfico
produção Marcenaria Baraúna, SP, desde 1987 referências Santos,
1995: 101 e Ferraz, 1993: 286 fontes das imagens Arquivo Nelson Kon
créditos fotográficos Nelson Kon, 2002
produção Marcenaria Baraúna, SP, desde 1987 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 54 e Ferraz, 1993: 279 créditos fotográficos Nelson
Kon, 2002
autor
Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e Marcelo Susuki
modelo Cadeira Girafinha
autor Lina Bo Bardi, Itália (1914-1992)
com colaboração de Marcelo C. Ferraz
e Marcelo Susuki
modelo Cadeira Frei Egídio
produção Knoll International, New Iorque, desde 1984 referências Fiell,
1997: 548-549 fontes das imagens Fiell, 1997: 548 créditos fotográficos
Knoll Internacional, Nova Iorque
produção Fábrica de Cadeiras São Paulo, SP, desde 1985 referências Santos,
1995: 158-159 e Cadeiras Brasileiras, 1994: 77 fontes das imagens Cadeiras
Brasileiras, 1994: 77 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Robert Venturi (1925)
modelo Venturi Collection
EUA
1984
autor Carlos Motta (1952) com colabo-
ração de Antonio Carriel
modelo Cadeira São Paulo
BRASIL
1987
BRASIL
1987
BRASIL
1982
148
147
146
145
local de destino Restaurante da Casa do Benin, Salvador
descrição Cadeira empilhável em araucária com acabamento
em cera de carnaúba.
contexto Esta cadeira se relaciona com o design de Alvar Aalto
(ver ficha 40).
local de destino Projetada inicialmente para o Teatro Gregório de
Mattos, em Salvador
descrição Cadeira dobrável com apenas 4 Kg, em araucária
com acabamento em cera de carnaúba.
peculiaridades Solução simples, cujo desenho deriva da cadeira
franciscana do século XV e o nome homenageia um frei dessa
ordem religiosa.
contexto Baseada em cadeira do século XVII, outra cadeira do-
brável (ver fichas 56 e 65).
local de destino Não identificado
descrição Cadeiras estruturadas em madeira com almofadas
sobre os assentos.
peculiaridades Estas cadeiras poderiam ser classificadas como
Neo-Pop, pois Venturi sublinha a bidimensionalidade de suas
superfícies. Contudo, suas figuras de ornamentos do passa-
do, inspiradas pelas formas de estilos históricos, tipificam o
estilo pós-moderno e respondem ao apelo de Charles Jencks
por referências mistas e temas híbridos no design.
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em mogno maciço torneado, com assen-
to revestido em laminado melamínico com opção de 70 cores
e encosto em laminado de madeira. Desmontável.
peculiaridades Cadeira premiada pelo Museu da Casa Brasileira,
a São Paulo é semi-industrializada. Motta reinterpreta mes-
tres artesãos e grandes clássicos do moderno, como Joaquim
Tenreiro e Sérgio Rodrigues.
repertório iconográfico
produção Projetos & Produtos, SP, desde 1986 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 62 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 62
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Fernando Jaeger (1956)
modelo Cadeira Spaguetti
produção Unifor, Turate, desde 1989 até a atualidade referências Fiell,
1997: 608 fontes das imagens Fiell, 1997: 608 créditos fotográficos
Unifor, Turate
autor
Aldo Rossi (1931-1997)
modelo Parigi
produção Bonzon Design, Ubatuba, SP, desde 1988 referências Santos,
1995: 185 e Cadeiras Brasileiras, 1994: 79 fontes das imagens Cadeiras
Brasileiras, 1994: 79 créditos fotográficos Antonio Saggese
produção Oficina de Maurício Azeredo, Pirenópolis, GO referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 80 Borges, 1999 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras,
1994: 80 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Reno Bonzon, França (1954)
modelo Poltrona Gaivota
autor Maurício Azeredo (1948)
modelo Banco Ressaquinha
BRASIL
1989
ITÁLIA
1989
BRASIL
1988
BRASIL
1988
152
151
150
149
local de destino Não identificado
descrição Cadeira empilhável com estrutura em ferro maciço
perfilado, dobrado e soldado com pintura eletrostática a pó;
assento e encosto em PVC maciço “enrolado” manualmente.
peculiaridades Desenho extremamente leve e contemporâneo
que resgata o cabinho de PVC maciço, utilizado no mobiliário
popular na década de 1970. Jaeger produz em larga escala
um design com custo acessível para a classe média.
contexto Mais uma versão com os pés em ‘U’ (ver fichas 21,
87, 144 e 158).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura esmaltada de alumínio tubular estofada
com espuma de poliuretano revestida de couro.
peculiaridades Um dos principais arquitetos do estilo pós-moderno,
que prefere as formas peculiares aos elementos ornamentais,
como a forma exótica deste assento extremamente inclinado.
local de destino Não identificado
descrição Cadeira de balanço desmontável, construída com lâ-
minas de madeira maciça de 4mm em ipê ou mogno colado a
frio com resina de epóxi.
contexto As cadeiras em balanço são executadas com inúme-
ras formas e materiais (ver fichas 55, 74 e 126).
local de destino Não identificado
descrição Banco que utiliza dois tipos de madeira maciça em
ripas justapostas e coladas sob pressão.
peculiaridades Resgatando um exemplo do mobiliário indígena, Aze-
redo recupera o banco e destaca a beleza das madeiras nativas.
repertório iconográfico
produção Marcenaria Baraúna, São Paulo, desde 1993 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 55; site: www.barauna.com.br fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 55 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Francisco Fanucci (1952)
modelo Banco Caipira
produção Marcenaria Baraúna, São Paulo, desde 1993 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 54; site: www.barauna.com.br fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 54 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Marcelo Ferraz (1956)
modelo Banco Light
produção Vitra, Basle, de 1992 a atualidade referências Fiell, 1997: 645
fontes das imagens Fiell, 1997: 645 créditos fotográficos Vitra AG, Basle
(Foto: Andreas Sütterlin)
FRANÇA
1990
autor Philippe Starck (1949)
modelo W W Stool
produção Caiçara Móveis e Design, Recife, PE referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 83 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 83
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Gilberto Carlos Lima (1957)
modelo Poltrona Maria Bonita
BRASIL
1991
BRASIL
1990-1991
BRASIL
1990
156
155
154
153
local de destino Não identificado
descrição Estruturado em cabreúva, assento em dois planos
inclinados que permitem a adaptação dos quadris.
peculiaridades Design que resgata uma experiência vernacular
por meio da releitura do banco caipira.
contexto A proposta de Fanucci vai ao encontro de um resgate
dos costumes populares (ver fichas 68, 110 e 133).
local de destino Não identificado
descrição Em pau-marfim maciço com acabamento em cera,
este assento de planos ortogonais possui acabamentos arre-
dondados na parte superior dos braços e encosto.
peculiaridades Em 1986 foi fundada a Marcenaria Baraúna, de
Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e Francisco Fanucci. A inten-
ção deste assento foi resgatar o sentar correto e elegante do
início do século XX.
contexto A Baraúna busca soluções que se inserem na história
brasileira colonial, na experiência vernacular e nos projetos
dos pioneiros modernos brasileiros e estrangeiros.
local de destino Não identificado
descrição Forma obtida em alumínio soldado e laqueado.
peculiaridades O assento exemplifica a influência do Soft Design
no trabalho de Starck nos anos 1990. Sua forma biomórfica
se assemelha a um rizoma germinando com elegância e leve-
za física e visual.
local de destino Não identificado
descrição Na estrutura de madeira foi aplicada e fixada uma
rede em algodão cru por meio de cordões que permitem a
retirada desta para lavagem ou troca.
peculiaridades Esta poltrona resgata o artesanato regional brasi-
leiro, através da adaptação de redes, é de simples execução
e baixo custo.
contexto Como propôs Lina Bo Bardi em seus modelos projeta-
dos para o Studio Palma, contudo esta poltrona utliliza a pró-
pria rede (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84, 97, 107, 111,
113, 123, 127, 128 e 160).
repertório iconográfico
produção Marcenaria Baraúna, São Paulo, desde 1993 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 55; site: www.barauna.com.br fontes das imagens
Cadeiras Brasileiras, 1994: 55 créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Marcelo Suzuki (1956)
modelo Cadeira Borboleta
produção Forma, São Paulo, desde 1992 referências Cadeiras Brasileiras,
1994: 69 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 69 créditos
fotográficos Antonio Saggese
autor
Gilberto Pacheco Fagundes (1945)
modelo Cadeira Olle
produção Móveis Teperman, São Paulo, desde 1992 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 52 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 52
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Jaqueline Terpins (1950) - colabora-
ção de Delia Beru e Francisco F. Sales
modelo Cadeira Gazela
produção Nucleon 8 e Edra, Itália, a partir de 1998 referências Cadeiras
Brasileiras, 1994: 73 fontes das imagens Cadeiras Brasileiras, 1994: 73
créditos fotográficos Antonio Saggese
autor
Humberto (1953)
e Fernando Campana (1961)
modelo Poltrona Ninho
BRASIL
1994
BRASIL
1993
BRASIL
1992
BRASIL
1992
160
159
158
157
local de destino Não identificado
descrição Estrutura com três pés metálicos e tela de vergalhões
de ferro com assento e encosto em fios trançados de algodão
(versão conhecida como Cadeira Vermelha, utiliza 250 metros
de fios de algodão vermelho).
peculiaridades Representantes do grupo de designers contempo-
râneos brasileiro, os Irmãos Campana têm surpreendido nas
grandes mostras internacionais de design com seu mobiliário
nada convencional. De forma intuitiva e conceitual, utilizam
materiais simples como barbante de algodão, papelão ondula-
do e plástico.
contexto Apesar de morfologicamente diferente, a poltrona Ni-
nho possui uma relação de aconchego semelhante a das re-
des (ver fichas 3, 47, 54, 62, 63, 83, 84, 97, 107, 111, 113,
123, 127, 128 e 153). E o algodão utilizado remete ao uso
das fibras (ver fichas 4, 12, 18, 25, 61, 64, 68, 78, 82, 101,
105, 106, e 132).
local de destino Não identificado
descrição Estruturada em amendoim com assento e encosto
em pinho, com acabamento em cera natural, quatro elemen-
tos idênticos são utilizados dois a dois formando um ângulo
no assento e encosto; empilhável de três em três.
peculiaridades Solução de simplicidade construtiva e formal,
que é a característica da Baraúna, onde Suzuki permaneceu
até 1995.
contexto Este assento tem alguns indícios no desenvplvimento
de algumas idéias de Lina Bo Bardi que se iniciaram com a
proposta para o Masp da avenida Paulista (ver fichas 6, 15,
17, 20, 41, 43, 49, 121, 134, 135, 136 , 137 e 140).
local de destino Não identificado
descrição Estrutura em aço trefilado cromado ou pintado em
epóxi, assento e encosto com diversas opções: estofamento
revestido com tecido ou couro, mogno natural ou ebanizado.
peculiaridades Cadeira empilhável que tirou proveito dos mate-
riais já utilizados na linha de fabricação da Forma.
contexto Outra solução com os pés em ‘U’ (ver fichas 21, 87,
144 e 152).
local de destino Não identificado
descrição Pés em madeira maciça, assento e encosto em peça
única curvada em laminado colado a frio com formas macho-
fêmea; materiais possíveis: madeira marfim, imbuia tingida
ou ebanizada.
peculiaridades Iniciada nas artes plásticas, Terpins possui de-
senvoltura ao lidar com diferentes materiais e passar para o
design as curvas sinuosas que experimentara com o vidro.
apartes
apartes
Recurso expressivo com que um personagem expressa seu pensamento em voz alta,
sendo ouvido apenas pela platéia [Houaiss, 2004].
Sistemazione degli interni
1
Le affinità delle vecchie forme col vecchio modo di vita sono perdute.
Come dovranno essere gli “interni “e l’ arredamento della casa affinchè l’
aderenza fra nuova forma e nuova vita sia manifesta e coerente?
Lo spirito del mondo di ieri fu l’accademia; l’accademia che escluse gli arti-
sti dall’industria e dalla manifattura, isolandoli dalla comunità e creando
intorno ad essi una vita fittizia (l’arte per 1’arte) lontana dal mondo reale.
La mancanza della connessione vitale con la comunità condusse inevitabil-
mente l’arte alla speculazione estetica sterile, mentre la forma espressa dal
disegno restava su di un piano pittorico, senza relazione alcuna con la real-
dei materiali tecnici e côn l’economia. Già la seconda metà del secolo
19° vide il principio di una protesta contro l’influenza devitalizzante dell’ac-
cademia e si scopri la base di una unione fra gli artisti creatori e il mondo
industriale. Più tardi nacquero le richieste di prodotti esteticamente attraen-
ti e accettabili economicamente e tecnicamente. I soli tecnici non potevano
soddisfare queste esigenze e i disegni “artistici” si dimostrarono assoluta-
mente insufficienti perchè forniti da artisti troppo lontani dal mondo reale e
completamente impreparati tecnicamente, impossibilitati quindi all’adegua-
mento della forma coi processi pratici della produzione.
ANEXOS
1
Este texto não foi encontrado no Brasil em busca on-line efetuada pela biblioteca da
FAUUSP em maio de 2008. Lina Bo o escreveu durante a Segunda Guerra, provavelmente
por esta razão o sistema de bibliotecas brasileiro não o possui. Esta transcrição foi feita
por meio de uma cópia cedida pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi em agosto de 2007.
Algumas linhas do texto foram perdidas na cópia fornecida, porém o cerne do tema está
claro. É importante frisar que, aparentemente, o texto não foi revisado na época de sua
publicação, e se, por ventura, alguns equívocos existam nesta transcrição, estes fazem
parte do texto original. As interessantes imagens inseridas no artigo copiado estão com a
qualidade muito comprometida e não foram reproduzidas para este trabalho.
Il metodo del disegno tradizionale fu quindi perduto; l’evoluzione con-
tinua della tecnica portò contemporaneamente ad una rapida trasfor-
mazione il vecchio modo di vita, sfasando completamente l’espressio-
ne delle forme tradizionali.
Perdute le affinità del disegno tradizionale delle forme col tradizionale modo
di vita appare la necessità di una nuova aderenza di queste al nuovo modo
di vivere. Questa rispondenza dovrà per prima manifestarsi nell’ambiente
della vita dell’uomo: la casa. Come dovranno essere gli interni degli apparta-
menti perchè questa aderenza fra forma e vita sia manifesta e coerente?
Il continuo accrescersi di esigenze legate alla nuova vita, ha gradual-
mente cambiato il carattere ed i fini delle stanze dando una apparenza
completamente nuova ai mobili e all’arredamento; fattori importantissi-
mi vi contribuiscono con la loro influenza: ventilazione incrociata, inso-
lazione, orientamento, disposizione delle finestre rispetto al paesaggio.
La costruzione a scheletro, con l’abolizione dei muri portanti ha reso pos-
sibile una grande flessibilità nel piano dell’arredamento, e il procedimen-
to logico di costruzione è ormai quello della più grande libernella dispo-
sizione degli ambienti; aperti, separati da tramezzi a pareti afone,
facilmente trasformabili, chiudenti 1’arredamento in modo non perma-
nente mentre un carattere di maggiore solidità apparente caratterizza le
installazioni permanenti: bagni, toilettes, cucine, lavanderie e servizi in
genere. Non sempre pareti in muratura e tramezzi permanenti formano
separazione fra gli ambienti, molte volte la separazione è ottenuta me-
diante mobili profondi formanti parete. L’abolizione dei tramezzi non stret-
tamente necessari è utile per il massimo rendimento dello spazio legato
all’alto costo della costruzione.
L’efficienza nel rendimento dello spazio è desiderabile per ogni tipo d’appar-
tamento, dall’appartamento di lusso a quello popolare; partendo da queste
considerazioni è ovvio che per ottenere una efficienza massima di rendimen-
to degli spazi sarà bene evitare i piccoli disimpegni e le molte porte e riserva-
re il più posibile le suddivisioni a mezzo di pareti mobili e tende. Economia di
spazio si può inoltre raggiungere con una progettazione accurata di guarda-
roba e armadi a muro e con 1’equipaggiamento meccanico dei servizi.
Le pareti esterne indipendenti dalla struttura portante potranno essere
aperte in ampie sfinestrature orizzontali o completamente vetrate, per-
mettenti, mediante la grande illuminazione diurna la più libera suddivisio-
ne interna e l’eliminazione degli angoli oscuri. L’arredamento degli interni,
con l’eliminazione delle aggiunte non necessarie, accordandosi armonica-
mente in una disposizione non formale dei mobili assicurerà quindi il
massimo conforto col minimo mezzo.
Il fine della casa è quello di facilitare una vita conveniente e confortevole,
e sarebbe un errore mettere troppo entusiasmo per un risultato esclusi-
vamente decorativo.
Chiarezza di disegno delle varie parti è di prima importanza, seguita da
una scrupolosa attenzione applicata ad un giusto uso dei materiali e da
una scrupolosa selezione di ciascun materiale. Tre sono i tipi di arreda-
mento che possono essere presi in considerazione:
a. Textos italianos
de Lina Bo Bardi
1) Con mobili già esistenti in commercio.
2) Con mobili standardizzati o prodotti in massa.
3) Con mobili disegnati espressamente.
Benchè la standardizzazione dei mobili e delle fabbriche sia desiderabile,
tuttavia lo scopo è di ottenere una ragionevole varietà. Noi possiamo pren-
dere una lezione dai Giapponesi che raggiungono la varietà, nell’uso di
stuoie di uguale misura come base per determinare la forma delle stanze
e’per sistemare i mobili.
Il bell’artigianato che fiorì in epoca diversa, è stato sostituito dalla macchi-
na. Fu provato dall’esperienza che il disegno imitativo artistico portava
sciupio nel costo della produzione. La macchina, poteva rivestire i suoi
prodotti di nuove qualità estetiche. Architetti e disegnatori di tutti i paesi
hanno disegnato esclusivamente per la potenzialità della macchina in
merito alla estetica ed all’economia. Ambedue gli obiettivi, economia ed
apparenza, richiedono semplicità di forma ed una bella rifinitura. In con-
seguenza sta sorgendo nelle industrie una espressione artistica, che l’ar-
chitetto può trarre a proprio vantaggio.
Questo vuol dire nuova ricchezza di materiali: plastici, metalli lucidi, leghe
inalterabili, vetro, tessuti. L’arredamento e la sistemazione degli interni
possono giovarsi della nuova tecnica e dei nuovi materiali partendo da un
principio di scelta rigorosa.
L’uso appropriato dei materiali e l’effetto del loro colore possono essere
di grande aiuto nella suddivisione di spazi vincolati. Così la scelta della
pavimentazione è di primaria importanza nella creazione di una determi-
nata atmosfera e di un effetto estetico. La pavimentazione amorfa da
coprirsi poi parzialmente coi tradizionali tappeli, si può sostituire oggi con
una pavimentazione di gomma, sughero, linoleum, fibre di legno passate,
piccole lastre di pietra, magnesite, ecc, nuovi tipi messi in commercio in
questi ultimi anni; la scelta dipenderà dalla destinazione degli ambienti,
dalla sistemazione generale degli spazi, dai mobili, dal grado di colore,
semplicità o ricchezza desiderati.
Le pareti, e p i soffitti, comprendenti aree ininterrotte di una o p
stanze possono venir sottoposti al trattamento acustico mediante l’uso
di gesso absorbente i suoni o di pietra o altro materiale, sordi. La rifi-
nitura dei soffitti e delle pareti ottenuta, oltre il gesso e le solite tappez-
zerie, mediante nuovi materiali di recente sviluppati dall’industria, deve
essere accompagnata da uno studio scrupoloso dell’illuminazione arti-
ficiale ottenibile con mezzi diretti e indiretti.
Le porte e gli infissi in genere non sono p accessori da decorarsi con stucch
o altri ornamenti ma possono essere resi interessanti mediante 1’applicazio-
ne del colore, intonato alla gamma fondamentale dell’ambiente.
Grande importanza hanno le finestre, che contribuiscono alla creazione di
una atmosfera, permettendo, con la loro ampiezza, la partecipazione del
mondo esterno e della natura, all’ambiente. Le finestre orizzontali sono le
più adatte per una maggiore ampiezza panoramica. Porte a battenti o
scorrevoli separano, dove esistono terrazze l’interno dall’esterno. La luce
del giorno può essere controllata mediante l’uso di tende o scuri.
Questi, i punti di partenza per un criterio moderno di sistemazione e
arredamento degli interni. La scelta delle illustrazioni che accompa-
gnano questo testo è stata dettata dal desiderio di far conoceré i risul-
tati ottenuti negli ultimi tempi dagli architetti di tutti i paesi. Non si è
seguita una sequenza strettamente cronológica. Gli esempi presentati
comprendono approssimativamente i passati quindici anni.
Alguns comentários entre as imagens apresentadas:
La costruzione a scheletro, con l’abolizione del muri portanti ha reso possibile
una grande flessibilità nel piano dell’arredamento della casa moderna.
Le pareti esterne, indipendenti dalla struttura portante, possono oggi esse-
re aperte in ample sfinestrature orizzontali o completamente vetrate.
Preponderanza dell’elemento “finestra” sull’arredamento. La “natura” en-
tra a far parte della vita quotidiana come mai è stato nel passato.
La “predisposizione” e soluzione in sede di progetto degli armadi, ripostigli
e guardaroba è essenziale per la razionalità dell’arredamento moderno e
il perfetto funzionamento.
L’estrema semplicità delle superfici e dei mobili non distrugge il senso di
raccoglimento e non rende la casa simile ad una “clinica” ma crea un
ambiente sereno adatto allo studio e al riposo.
La cucina è importante ormai, quanto la stanza da pranzo o il soggiorno,
e deve essere curata e studiata in ogni sua particolare esigenza.
L’architettura, con l’armonico rapporto delle superfici crea anche negli
interni scorci suggestivi. Questo è un particolare della famosa villa Savoye
di Le Corbusier che fu un punto di partenza per l’arredamento moderno.
Perc quella che dovrebbe essere una rispondenza perfetta fra forma e vita
è un ibrido sottoprodotto? Casa è ancora in Italia una parola non completa-
mente sentita nel giusto significato, “arredare” non vuol dire creare enfatici
decorativismi ma un “ambiente” alla vita. l movimenti iniziatisi all’estero subi-
to dopo l’altra guerra portarono una rivoluzione nelle forme che si riguarda
ancora dal più come “estetica” ed è invece evoluzione profondamente conso-
na a un modo di vita, presentito allora, oggi evidente, inconfutabile. Non par-
liamo più di “tendenze” estetiche, di “modo di vedere” o “prevedere” le rivolu-
zioni sono lontane, non si parla più di esperienze ma di una rispondenza
ormai “reale” che scaturisce naturalmente da effettive necessità.
(... )ambiente esterno con la casa. Mediante la vetrata e la roccia viva che
forma parete, la natura partecipa all’atmosfera interna.
Le scale danno, col loro movimento nuovo interesse all’architettura degli
interni, fino a costituirne a volta la nota e il motivo dlominante.
La perfezione tecnica ha portato nuovi tipi di rifinitura e nuovi materiali.
Questo non significa che le case debbano assumere l’aspetto di ospedali.
Qualunque grado di colore, ricchezza o semplicità si desideri, si può anco-
ra ottenere con la corretta disposizione dei mobili, colori, tessuti e super-
fici. L’uso appropriato della luce artificiale può intensificare e ravvivare i
colori e i tessuti, ed identificare gli spazi. l principi moderni di rigoroso di-
segno si applicano agli impianti d’illuminazione come ai soprammobili. Gli
apparecchi d’illuminazione, naturalmente, non dovranno seguire quel tali
tipi fuori moda, come le lanterne veneziane o i classici candelabri con le
finte candele di legno, ma essere di efficiente utilità.
(...) ad una fusione delle pareti con l ammobigliamento che è nella mag-
gior parte previsto in sede di progetto. L’effetto è di grande chiarezza.
La finestra è elemento preponderante.
Un arredo completamente “in stile”, se autentico può trovare posto in un
ambiente moderno; ma senza “ritorni” sentimentali.
Architettura degli interni. Il gioco dei muri e delle strutture è importante, e
sufficiente da solo a formare e caratterizzare un ambiente.
Il risultato estetico nell’arredamento e nella sistemazione degli interni
sarà dato da una corretta selezione del colori e del materiali, dai contrasti
plastici creati dalle ombre e dalle luci e dagli indirizzi individuali. L’appar-
tamento moderno non deve però essere cosi formale da non permettere
che vi trovino posto gli oggetti personali o gli eventuali mobili antichi da
cui non ci si desiderasse separare, in queste pagine sono illustrati alcuni
giusti accostamenti di mobili antichi in ambienti moderni. Un appartamen-
to riuscito deve costituire un ambiente di vita.
Arquitetto Lina Bo
Domus (198): s/p, junho de 1944
L attrezzatura della casa
Abolizione del mobile-monumento. Che cos’è un mobile-standard. La casa
vá arredata per l’uomo.
Parallelamente al problema di costruire migliaia di alloggi in tempo relati-
vamente breve, si presenta il problema di arredarli, o meglio altrezzarli
per la vita che vi si dovrà svolgere.
Le distruzioni, l’usura del mobili e degli attrezzi che costituiscono il patri-
monio della casa, verificatasi durante gli anni di guerra, impongono una
revisione totale del problema dell’attrezzatura domestica, attrezzatura
che non va più considerata oggi da un punto di vista esibizionistico e de-
corativo, ma secondo un criterio tecnico, funzionale.
Il mito de “salotto chiuso del mobile-monumento, del mobile-Partenone va
abolito. Saloti chiusi da conservarsi sotto la campana di vetro: la polvere si
ferma sugli intagli, si incrosta nelle decorazioni (tutte imitate, quelle “vere”
costano troppo). I rasi si stramano, i velluti si spelano e si scoloriscono al sole
e allora bisogna “chiudere” il salotto impedire che i “bambini” vadano dentro
a giocare; il salot to “buono” si apre soltanto alle visite o la domenica.
I ricchi hanno anticamere o salotti studiati da noti archltetti con molli
drappeggi e rasi trapuntati, con cristalli e “trovate”, o audaci mobili aero-
dinamici ispirati alie automobili e agli aeroplani con eliche ali e tiranti.
Belli. arditi, antiborghesi...
Profondi mutamenti sociali ed economici hanno portato profonde modifi-
che nel modo di vita della donna; necessità di contribuire con l’uomo ai
fabbisogno della vita giornaliera aumentata di costo col crescere delle
esigenze dettate dal progresso técnico, coscienza di sentirsi chiamata a
partecipare alla vita individualmente e socialmente.
Ma la vita della donna è sempre legata alla casa, e occorre semplificare
la grande macchina del lavoro domestico con le sue “tradizione” i suoi
“dogmi” i suoi “punti fissi”, semplificarla e ridurla ad uno schema di lavoro
organizzato razionalmente in modo non dissimiie da quello che si svolge
nelle fabbriche e nei laboratori se si vuole impe dire che l’insieme disordi-
nato delle azioni che formano il lavoro domestico, costituito in macchlno-
so disordine, venga ad imporsi alla donna schiacciandola col suo peso.
Alla base di una organizzazione del lavoro domestico è una buona attrezza-
tura, o, per adoperare un termine tradizionale, un buon “arredamento”.
Che cosa è un buon arreda mento? Un buon arredamento è um arreda-
mento che “funzioni”, composto di mobili che funzlonano, di sedie como-
de, di poltrone nelle quali si può stare seduti senza ricorrere alle posizioni
più strane, di armadi que contengono quello che debbono contenere, di
tavoli di giuste dimensioni, di credenze i cui ripiani non richiedono, per
essere raggiunti dalle mani sedie scale e panchetti, di mobili lisci di legno
pulito e senza polvere di stolife chiare, lavabili, belle di didegno e di co lore,
via i ghirigori mutili le eccentricità ridicole e di cattivo gusto.
Ma come arrivare a stabilire dei “tipi” di mobilie attrezzatali da soddisfare
questi requisiti in via assolulamente normale e alla portata di tutti?
Lo studio accurato dol rapporto casa-uomo fatto dai competenti mediante
il ragionamento e l’indagine, porteranno a stabilire per ogni mobile e attez-
zo un “ti pó” che fisserà le dimensioni di quel mobile o di quel’attrezzo.
E qui le lamentele contro lo standard. Tutte le case saranno dunque uguali?
Per quanto non piu legati da eccessi individualistici, non abbiamo abban-
donato la convinzione che è sacro dirjtto dj ogni uomo di costruirsi una
casa differente da quella del vicino, ma standard non vuol dire che tutti gli
inquilini della casa A avranno le sedie verdi, lo stesso tavolo di noce e le
stesse poltrone rivestite della stessa stofa a pallini.
Standard vuol dire che tutte le famiglie abitanti nella casa A avranno delle
sedie comode, dei tavoli solidi e di giusta misura, perchè le dimensioni sono
state fissate dopo uno studio condotto da tecnici specializzati, e mentre la
famiglia Bianchi ha un gran de armadio u elementi, e piccoli letti ribaltabili ri-
chiesti da un appartamento relativamente piccolo e dai suoi cinque bambini,
la famiglia Verdi ha mobili studiati appositamente per una coppia di sposi.
Inoltre i mobili della famiglia Bianchi in acero sbiancato e stoffe a flori sono
as sai dlversi da quelli della famiglia Verdi in noce scura e stoffa unita.
Un mobile standardizzato è un mobile studiato per le necessità dell’uomo
e in modo da poterle soddisfare; e chiaro che non potranno esistere molti
tipi atti atti soddisfare quelle necessita. La soluzione sara data da un
“tipo” suscettibile di infinite varietà.
Per alcune parti della casa ciò è stato d’altra parte già raggiunto, gli ap-
parecchi utilitari, come gli apparecchi igienici, gli elementi della cucina, gli
apparec chi dl rlscaldamento sono stati standardizzati: chi si sogna di rim-
piangere oggi i catini le brocche a fiorellini della nonna?
La casa va attrezzata per l’uomo, studiata sui suoi bisogni e sulle sue
necessità, solo abbandonando il concetto del “pezzo único” il criterio
“dell’originale a tutti i costi”, del “fatto a po sta” (e fatto male) riusciremo a
realizzare la casa per l’uomo, attrezzata secondo un criterio di assoluta
aderenza ai suoi bisogni materiali e morali.
Tratteremo in una serio di articoli il problema della casa, dellia sua attrezza-
tura, dei suoi servizi, del lavoro domestico; apriamo la discussione su que-
sto problema. Che cosa pensate dei “mobili moderni”?. Riuscite, nella vostra
casa attrezzata cosi com’è a abrigare le vostre faccendo senza che il lavoro
domestico vi ren da schiava? Occorre che le donne italiane imparino a “sce-
gliere la propria casa, a organizzarla. secondo un criterio molto diver so da
quello seguito fine ad og gi, il criterio del “consiglio del mobiliere” del catalo-
go “antico” o “900” dell’esempio dell’amica o peggio del divismo cinemato-
grafico. Nei prossimi ariicoli cercheremo di stabilire questo cri tério.
Lina Bo
Milano Sera, 8 de agosto de 1945
b. Pranchas para o
mobiliário do concurso
de Cantú, 1957
Cópias heliográficas das pranchas apresentadas com as definições dos
desenhos e textos que são publicados na revista Habitat (46), 1958
Fonte: Instituto Lina Bo Bardi e P.M. Bardi
Universidade de São Paulo
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
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