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Mônica Cristina Vital dos Santos
A interferência dos sinais de pontuação em textos em prosa na
proficiência de leitura oral
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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Mônica Cristina Vital dos Santos
A interferência dos sinais de pontuação em textos em prosa na
proficiência de leitura oral
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais
como requisito parcial para obtenção dotulo de
mestre em Lingüística Aplicada
Área de Concentração: Lingüística Aplicada
Linha de Pesquisa: Linguagem e Tecnologia
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Fricke-Matte
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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Ficha Catalográfica elaborada pelo bibliotecário Reginaldo César Vital dos Santos
CRB 6/2165
Santos, Mônica Cristina Vital dos
A
interferência dos sinais de pontuação em textos em prosa na proficiência de
leitura oral [manuscrito] / Mônica Cristina Vital dos Santos. - 2008.
113 f., enc. : il., tabs.
Orientadora: Ana Cristina Fricke-Matte
Área de concentração: Lingüística.Aplicada
Linha de Pesquisa: Linguagem e Tecnologia
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de
Letras.
Bibliografia: f. 84-91
Anexos: f. 93-113
1. semiótica Teses. 2. Pontuação Teses. 3. Fonética acústica
Teses. 4.
Leitura oral – Teses. I. Fricke-Matte, Ana Cristina.
II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras.
III. Título.
CDD : 469.16
S237i
____________________________________________
Ao Espírito Santo, terceira Pessoa da
Santíssima Trindade, meu “orientador”,
sem Ele nada disso seria possível!
_____________________________________________________
Agradecimentos
À Profa. Dra. Ana Cristina Fricke-Matte, mais do que uma orientadora, alguém que deu asas
aos meus sonhos e me ensinou a não ter medo de errar! O que seria de mim sem ti!
À Profa. Dra. Véronique Dahlet, pela solicitude e compreensão! Muito obrigada por aceitar
tão prontamente compor a banca examinadora!
Ao Prof. Dr. Alexsandro Rodrigues Meireles, pela satisfação demonstrada em avaliar esse
trabalho!
À Profa. Gláucia Muniz Proença Lara por me introduzir nos caminhos da Semiótica e por sua
generosa disponibilidade em me socorrer nas questões que surgiram no desenrolar da
pesquisa, além de aceitar a suplência da banca examinadora!
À Profa. Dra. Thaïs Cristófaro Silva que, desde meus primeiros insights em Lingüística, me
incentivou, apoiou e formou, não com seus conhecimentos científicos, mas, sobretudo,
com sua presença amiga!
A toda a equipe pedagógica e funcionários do Centro Pedagógico da UFMG, onde foi
realizado o experimento. Muito obrigada pela acolhida e apoio! Em especial, agradeço à
Profa. Mariana, por ter sido minha extensão junto à escola e aos alunos participantes; à Profa.
Soraia, por coordenar todo o processo; à Profa. Dalvair, por ceder gentilmente os alunos em
seu horário de aula para a gravação.
Aos alunos participantes do experimento e seus pais. Vocês foram essenciais nessa pesquisa!
Ao Prof. Mário Alexandre Garcia Lopes, meu amigo e companheiro de pesquisa desde os
primeiros tempos na FALE. Muito obrigada! O meu retorno à pesquisa o aconteceria sem a
sua presença que, como um anjo, aparecia nos momentos mais críticos desse percurso!
À Profa. Laura Miccoli que, pela disciplina Métodos de Pesquisa, demonstrou sua seriedade
diante do fazer científico, me ensinando o quanto a pesquisa depende do pesquisador, muito
além dos dados! Muito obrigada pela paciência e presteza em me auxiliar a pensar minha
pesquisa!
Ao Prof. Ricardo Souza que, com muita competência e simpatia, me fez adentrar no universo
da Lingüística Aplicada!
Ao Prof. José Olímpio pelas conversas iluminadoras!
Ao Prof. César Reis por estar sempre disponível e por acolher minha pessoa desde as
pesquisas de graduação. Sua competência marcou meu percurso até aqui!
Ao Prof. Pablo Arantes que, sempre solícito, me auxiliou nos conhecimentos do software
Praat.
A todos meus colegas de disciplina. Muito obrigada por contribuirem para meu
enriquecimento pessoal e científico! Em especial: Ceriz. Sua pessoa é muito cara para mim!
Muito obrigada por partilhar comigo de si! Mariana e Aline, pensar juntas nos fez próximas!
Anda, sua alegria e amizade cultivaram em mim o viver sem amarguras!
A Adma, acima de tudo, companheira nesse aventurar! Caminhar com você faz o percurso
parecer mais plano!
A Lais e Lorene. A companhia e o incentivo de vocês marcaram esse tempo! Lais, obrigada
pelos preciosos livros!
A Beth Guzzo. Reencontrar você transformou espinhos em flor! Muito obrigada por ser um
apoio certo em qualquer ocasião!
À Daniervelim. Você, que sempre está presente e disposta a ajudar no que for preciso, faz
minhas forças renovarem!
A Viviane Curto. Muito obrigada por sua disponibilidade e zelo para comigo! Seu sorriso e
incentivo me fizeram prosseguir!
Ao Leonardo, leleobhz. Muito obrigada pela paciência em me auxiliar no lado hard da
pesquisa!
À equipe do SETFON - Cecílio, Alexsandro, Dilson, Rubens, Daniervelim, Adelma, Conrado,
Leonardo - trabalhar com vocês faz a vida valer a pena!
Ao Labfon. Obrigada pelos empréstimos de livros e pela presteza e simpatia no atendimento!
À CAPES, por financiar essa pesquisa e acreditar em meu trabalho. Esse incentivo foi
fundamental para que eu superasse os muitos obstáculos do caminho!
De modo especial agrado
a toda família Shalom! A cada irmão e irmã da comunidade de vida e aliança Shalom!
Vocação é primazia! Ser missionária não é acidental, mas essencial em minha vida! Cada
conquista minha é de cada um de vocês!
Ao meu pai que, mesmo distante, está sempre presente em minha vida!
A minha mãe, sem ela não teria sentido o que faço! Obrigada por sua compreensão,
companhia e seus esforços em me servir nesse tempo.
A Roberto, meu irmão, apoio em momentos cruciais com sua presença, palavras e tudo o mais
que precisei! Muito obrigada pelo seu exemplo de vida e pessoa! Vo me faz olhar para
frente, sem medo!
A Reginaldo, irmão e amigo! Sua amizade e solicitude me fazem ir mais longe!
A Renato, irmão cula, alegria da casa! Muito obrigada pela sua presença e compreensão nas
restrições necessárias para executar esse trabalho.
A Deogracia, tão especial e querida! Você faz toda a diferença em minha vida!
Aos meus parentes, próximos e distantes. Família é dom essencial! Muito obrigada por serem
esteio para mim! A Lucila, pelas partilhas e intercessão constante em prol do sucesso desse
trabalho! Muito obrigada!
A Geysa. Existem pessoas que, quando encontramos, iluminam tudo ao redor. Vo é essa
pessoa que, com muito amor, me acolheu e me incentivou a iniciar essa jornada! Ao Wil,
obrigada por me acompanhar nesse processo, pelas partilhas e por sua atenção!
A Juliene, amiga que caminhou lado a lado comigo nesse tempo repleto de crescimento e de
desafios que pareciam intermináveis. Encontrei o consolo de que precisava em ti, hermana!
A Geovannara, sua presença fiel e consoladora foi essencial, a alavanca de que precisava nos
momentos mais decisivos e críticos! Muito obrigada por ser essa coluna que sustenta e esse
sol que ilumina com sua alegria e ternura!
A Cecília. Ciça, sua amizade deu muitos frutos! Obrigada por me apresentar a Luciana que,
tão solicitamente, me emprestou a filmadora para o experimento! A Brísia e a Andrea, por
serem meu auxílio no arremate gráfico desse trabalho!
Aos meus amigos Breno, Juliana tia, Carla, Soraya, Janaina, Gizélia, Lucimar, Junia,
Conceição, Davidson amizade é para a vida toda!!! Muito obrigada por vocês não me
negarem o melhor de si!
Resumo
Esta pesquisa investiga a interferência dos sinais de pontuação em textos literários em prosa
na proficiência de leitura oral. Trata-se de uma pesquisa primária qualitativa conjugada com
métodos de pesquisa quantitativa (BROWN & RODGERS, 2002). O suporte teórico-
metodológico desse trabalho encontra-se na visão semiótica hjelmsleviana (Dahlet, 2006) e na
fonética acústica (Barbosa, 1999, 2006; Meireles, 2007; Matte, 2006, 2008). Seu objetivo é:
(1) através de um mapeamento das funções dos sinais de pontuação presentes em dois textos
literários selecionados e (2) da análise acústica dos mesmos, buscar pistas que nos
possibilitem averiguar como se dá tal correspondência. Para tanto foi realizado um
experimento com a participão de 10 sujeitos entre 11 e 12 anos, alunos da 5ª rie do Centro
Pedagógico da UFMG. Os dados foram gravados em áudio com o auxílio do Programa Cool
Edit 2000 e em vídeo, com o uso de uma filmadora digital Sony DCR-HC28, num laboratório
montado pela pesquisadora no estabelecimento de ensino. Com o auxílio do programa Praat
5.0.20 ©, foram analisados os parâmetros acústicos da (a) duração observada e cálculo do z-
score e z-suavizado das unidades VV (Vogal-a-Vogal); (b) dia e desvio padrão dos
formantes F1, F2 e F3; (c) média e desvio padrão da intensidade; (d) média e desvio padrão
da freqüência fundamental (f0) - e (e) cálculo da taxa de elocução (TE) das sentenças e dos
textos. Através do programa R, versão 2.5.1, processou-se a análise estatística ANOVA One
Way e Multiway relacionando os fatores extralingüísticos: falante, sexo, função, amplitude,
tipo e posição às variáveis lingüísticas descritas. As análises demonstraram que todas as
variáveis possuíram significância estatística em fuão dos fatores: falante, sexo, função e
pontuação. Somente a variável F1 não demonstrou significância para o fator tipo. Quanto à
amplitude, somente a intensidade e F1 demonstrou significância. Desse modo, pode-se dizer
que: a) o sujeito, analisado sob os fatores falante e sexo, interferiu diretamente nos resultados
obtidos; b) quanto ao plano de expressão da escrita, o tipo de texto é significativo, mesmo
sendo os dois textos selecionados literários e em prosa; c) as segmentações realizadas no texto
através da pontuação, bem como sua classificação funcional, também influenciam os padrões
lingüísticos; d) o sexo feminino parece demonstrar maior acuidade na leitura dos sinais de
pontuação, visto que, as análises realizadas em relação às variáveis TE, intensidade, f0 e z-
suavizado mostraram significâncias estatísticas também quando relacionadas
simultaneamente ao tipo de texto, que, por sua vez, apresentou padrões lingüísticos
diferenciados. Os resultados demonstraram que os sinais de pontuação exercem papéis que
interferem diretamente nos padrões lingüísticos, sendo que o tipo de texto, o falante, o sexo e
a função dos sinais de pontuão mostraram-se mais significativos na relação com as
variáveis lingüísticas.
Resumen
Esta investigación analiza la interferencia de los signos de puntuación en textos literarios en
prosa en la competencia de lectura oral. Se trata de una investigación primaria cualitativa
conjugada con métodos de investigación cuantitativa (BROWN & RODGERS, 2002). El
marco teórico-metodológico de ese trabajo se encuentra en la visión semiótica hjelmsleviana
(Dahlet, 2006) y en la fonética acústica (Barbosa, 1999, 2006; Meireles, 2007; Matte, 2006,
2008). Su objetivo es: (1) a través de un mapeamiento de las funciones de los signos de
puntuación presentes en dos textos literarios seleccionados y (2) del análisis acústico de éstos,
buscar pistas que nos posibiliten averiguar mo se da tal correspondencia. Para eso fue
realizado un experimento con la participación de 10 sujetos entre 11 y 12 anos, alumnos del 5º
curso del Centro Pedagógico de la UFMG. Los datos fueron grabados en audio con el auxilio
del Programa Cool Edit 2000 y en video, con el uso de una filmadora digital Sony DCR-
HC28, en un laboratorio montado por la investigadora en el establecimiento de enseñanza.
Con el auxilio del programa Praat 5.0.20 ©, fueron analizados los parámetros acústicos de la
(a) duración observada y lculo del z-score y z-suavizado de las unidades VV (Vogal-a-
Vogal); (b) media y desvío estándar de los formantes F1, F2 e F3; (c) media y desvío estándar
de la intensidad; (d) media y desvío estándar de la frecuencia fundamental f0 - y (e) cálculo
de la tasa de elocución (TE) de las frases y de los textos. A través del programa R, versión
2.5.1, se procesó el análisis estadístico ANOVA One Way y Multiway relacionando los
factores extralingüísticos: hablante, sexo, función, amplitud, tipo y posición a las variables
lingüísticas descritas. Los análisis demostraron que todas las variables poseen significación
estadística en función de dos factores: hablante, sexo, función y puntuación. Solamente la
variable F1 no demostró significación para el factor tipo. Con relación a la amplitud, sólo la
intensidad y F1 demostró significación. De ese modo, se puede decir que: a) el sujeto,
analizado bajo los factores hablante y sexo, interfirió directamente en los resultados
obtenidos; b) cuanto al plan de expresión de la escrita, el tipo de texto es significativo, mismo
los dos textos seleccionados siendo literarios y en prosa; c) las segmentaciones realizadas en
el texto a través de la puntuación, y además, su clasificación funcional, también influencian
los patrones lingüísticos; d) el sexo femenino parece demostrar mayor acuidad en la lectura de
los signos de puntuación, ya que, los análisis realizados con relación a las variables TE,
intensidad, f0 y z-suavizado mostraron significaciones estadísticas también cuando
relacionadas simultáneamente al tipo de texto, que por su vez, presentó patrones lingüísticos
diferenciados. Los resultados demostraron que los signos de puntuación ejercen papeles que
interfieren directamente en los patrones lingüísticos, siendo que el tipo de texto, el hablante,
el sexo y la función de los signos de puntuación mostraronse más significativos en la relación
con las variables lingüísticas.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – Freqüências típicas dos formantes de vogais do inglês..................................... 45
FIGURA 2- Divisão do município de Belo Horizonte em áreas de ponderão..................... 50
FIGURA 3 – Indicador de pobreza por área de ponderação do município de BH.. ................ 50
FIGURA 4 - Janela do segmentador automático de sons BBEP............................................. 54
FIGURA 5 – Janela de edição do Praat................................................................................. 56
GRÁFICO 1 – Distribuição das médias de freqüência para o z-score suavizado. .................. 59
GRÁFICO 2 – Distribuição das médias de freqüência para o z-score suavizado após
eliminação dos valores acima de 5000.................................................................................. 60
GRÁFICO 3 – Distribuição das médias de freqüência para a variável TE em VV/s. ............. 61
GRÁFICO 4 – Médias de TE em VV/s para fator falante. .................................................... 62
GRÁFICO 5 – Médias de TE em VV/s para fator tipo.......................................................... 63
GRÁFICO 6 – Médias de f0 para fator falante. .................................................................... 64
GRÁFICO 7 – Médias da intensidade para fator falante.. ..................................................... 65
GRÁFICO 8 – Médias de F2 para fator tipo......................................................................... 66
GRÁFICO 9 – Médias de F3 para fator tipo......................................................................... 67
GRÁFICO 10 Médias de z-suavizado para fator falante. ................................................... 68
GRÁFICO 11 – Médias de z-suavizado para fator tipo......................................................... 69
GRÁFICO 12 - Médias da variável f0 para fator sexo. ......................................................... 70
GRÁFICO 13 - Médias da variável TE para os fatores sexo e tipo........................................ 71
GRÁFICO 14 - Médias do z-score suavizado para os fatores sexo e tipo.............................. 72
GRÁFICO 16 - Médias do desvio padrão em F1 para o fator sexo........................................ 75
GRÁFICO 17 - Médias do desvio padrão em F2 para o fator sexo........................................ 76
GRÁFICO 18 - Médias do desvio padrão em F3 para o fator sexo........................................ 77
GRÁFICO 19 - Médias da variável TE para o fator função................................................... 79
GRÁFICO 20 - Médias da variável f0 para o fator função.................................................... 80
GRÁFICO 21 - Médias da variável intensidade para o fator função...................................... 81
QUADRO 1- Níveis dos sinais de pontuação ....................................................................... 27
QUADRO 2- Sinais de pontuação com função seqüencial.................................................... 28
QUADRO 3 - Sinais de pontuação com função enunciativa ................................................. 35
QUADRO 4 - Variáveis extralingüísticas dos sujeitos participantes...................................... 49
QUADRO 5 - Classificação da categoria B pelo Indicador Ponderado de Carência .............. 51
QUADRO 6 - Parâmetros e variáveis de análise................................................................... 58
LISTAS DE TABELAS
TABELA 2 - Análise das variáveis para o fator tipo ............................................................. 69
TABELA 3 - Análise das variáveis para o fator sexo............................................................. 71
TABELA 4 - Número de ocorrência dos sinais de pontuação nos textos a e b....................... 73
TABELA 1 - Análise das variáveis para o fator falante......................................................... 92
SURIO
1 A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE............................................ 18
2 A ESCRITA EM FOCO.................................................................................................... 25
2.1 Abordagem semiótica dos sinais de pontuação............................................................ 25
2.1.1 Classes funcionais dos sinais de pontuação em nível de frase............................... 28
A) Pontuação seqüencial........................................................................................... 28
B) Pontuação enunciativa ......................................................................................... 35
2.2 Delimitação do corpus: seleção dos textos.................................................................. 40
3 A ORALIDADE EM FOCO.............................................................................................. 42
3.1 Aspectos metodológicos ............................................................................................. 47
3.1.1. O experimento: coleta de dados .......................................................................... 48
3.1.2. Etiquetagem: preparação dos dados .................................................................... 53
3.2 Análise dos dados....................................................................................................... 56
4 Considerações Finais......................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 84
APÊNDICE A...................................................................................................................... 92
ANEXO A ........................................................................................................................... 93
ANEXO B ........................................................................................................................... 95
1 A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
A pontuão e sua relação com o oral é debate atual, tendo como destaque três
correntes: a fonocentrista, que analisa a totalidade da língua a partir do oral, tomando-o,
portanto, como referência para análise do escrito; a fonográfica, que subordina o escrito ao
oral, admitindo, porém, propriedades específicas do escrito; e a autonomista, que aborda o
escrito independentemente de sua relação com o oral (DAHLET, 2006, p. 280-1).
O termo fonocentrismo é de autoria de Jacques Derrida e designa o privilégio da
fala sobre a escrita. Segundo o autor toda a tradição metafísica que domina o pensamento
ocidental está assentada nesse conceito. A perspectiva fonocentrista recusa que as
propriedades estruturais de uma língua possam receber a influência do código escrito,
aceitando-se paralelamente que, no sentido inverso, tal interferência não existe como é
determinante, na medida em que se defende que as normas gráficas são sempre o reflexo das
estruturas lingüísticas (cf. SAUSSURE, 1915, p. 53-54; MARTINET, 1960, p. 12-13;
VELOSO, 2006, p. 133-148).
Derrida (1967) recusa o fonocentrismo, ampliando o conceito de escrita,
denominada por ele de arqui-escrita, no qual o sentido é sempre suspenso, adiado e nunca
imediato ou pleno. Sua pretensão é indicar a impossibilidade de um significado
transcendental em que a linguagem pudesse fundamentar-se, pois o significado é
necessariamente diferencial, na medida em que é, por sua vez, significante, inevitavelmente
inserido numa cadeia de significantes infinita. Assim todos os elementos desta remetem para
os restantes e contém os seus traços, não os excluem. Ele afirma que a língua original e
espontânea “nunca existiu, pois a fala tem uma existência material, significante, e foi
sempre, consequentemente, écriture (op. cit., p.82). Desse modo, nada poderia ser re-
presentado se não fosse em si uma forma de registro, ou seja, uma marca que se presta à
repetição e reinscrição. Portanto, com plena consciência de que não é possível fugir de modo
absoluto aos conceitos ou horizonte filosófico em que a tradição metafísica situa este debate,
Derrida procura destruir o mito da clareza e evidência do sentido, operando a desconstrução
do fonocentrismo e da metafísica da presença.
A relação entre a escrita e a oralidade envolve, de modo estreito, a relação entre a
pontuação e o oral. Diversos trabalhos abordam esta questão, entre eles: Valente (2003), em
“Aspectos prosódicos da leitura oral”, analisa os parâmetros de velocidade de fala, pausas e
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
19
variação melódica, bem como as possíveis relões entre si, sendo utilizado o relato do texto
como meio de comparação. Pacheco (2003), no estudo “Investigação fonético-acústico
perceptual dos sinais de pontuação enquanto marcadores prosódicos”, discute a relão entre
pontuação e oralidade a partir da análise das medidas de duração das sílabas tônicas do
componente pretônico (CPT) e do componente tônico (CT), medidas de intensidade e de F0
do CPT e do CT e medidas de pausa.
Morais (1996, p. 153) diz que, quando as representações ortográficas das palavras
o familiares, elas podem ser ativadas diretamente, sem a mediação fonológica, isto é, o
reconhecimento é feito via chamada ortográfica. O contrário ocorre quando as palavras são
pouco familiares. Nesse caso, a via fonológica é muito importante, pois auxilia na pronúncia
das palavras que o leitor encontra pela primeira vez. Assim numa leitura proficiente, ocorre
interações entre as representações ortográficas e fonológicas de partes de palavras, mesmo se
esses dois tipos de representação dependem de áreas cerebrais distintas.
Cagliari (1998), ao tratar o processo de leitura, afirma que este está calcado no ato
de decifrar o sistema de escrita utilizado - no português - o alfabético/ortográfico. Somos
capazes de ler textos escritos com letra cursiva, com formas gráficas que se distanciam das
convencionadas, além de ler palavras, por exemplo, com erros de digitação. Esse fato pode ser
explicado por nossa capacidade de categorizar a partir de semelhanças e de alternar uma
leitura fonológica com uma leitura ideográfica.
Goodman (1973) define leitura como um processo psicolingüístico pelo qual o
leitor reconstrói, o melhor que pode, uma mensagem que foi codificada pelo escritor como
uma exibição gráfica. Para isso, o leitor utilizaria três sistemas de sugestão simultânea e
interdependentemente: (1) o sistema grafofônico, utilizando correspondências entre o sistema
gráfico e o fonológico da língua materna; (2) o sistema sintático, usando marcadores-padrões
(sufixos flexionais,etc) como “pistas”, reconhecendo e prevendo a estrutura sintática; (3) o
sistema semântico, valendo-se da experiência anterior e de seu conhecimento prévio
conceptual para extrair o sentido que se lê. Esses sistemas compõem o que Goodman (1969)
denominou Miscue Analysis, uma ferramenta de análise das estratégias utilizadas no processo
de leitura que consiste na percepção, análise e quantificação dos “erros”, denominados
miscues, organizados numa tabela, método muito popular entre professores e pesquisadores
nos anos 80 e 90 e que ainda hoje apresenta trabalhos.
As afirmações de Goodman (1967) presentes em seu artigo Reading: A
psycholinguistic guessing game o tidas como deflagradoras, guias e legitimadoras das
atividades do movimento whole language, que se difundiu nos Estados Unidos nos anos de
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
20
1970. Segundo Soares (2004), sua origem encontra-se em um conjunto de princípios teóricos,
com raízes basicamente psicolingüísticas, sobre a natureza holística da linguagem, da
aprendizagem e, conseqüentemente, do ensino. Concretizou-se como proposta pedagógica
para todas as áreas do currículo (cf. SMITH, GOODMAN & MEREDITH, 1970), porém,
seus princípios ganharam lugar e relevância, sobretudo, na área do ensino da língua
(particularmente do ensino e aprendizagem da língua escrita) tendo, nesta área, recebido apoio
e reforço de Smith e sua teoria psicolingüística do processo de leitura (cf. SMITH, 1973,
1997). Dessa concepção holística da aprendizagem da ngua escrita decorre o princípio de
que aprender a ler e a escrever é aprender a construir sentido para e por meio de textos
escritos, utilizando experiências e conhecimentos prévios. Desse modo, o sistema grafofônico,
baseado nas relações fonema-grafema, não é tido como objeto de ensino direto e explícito,
pois sua aprendizagem decorreria de forma natural da interação com a ngua escrita. Essa
concepção e esse princípio fundamentam o whole language, nos Estados Unidos, e o chamado
construtivismo, no Brasil. A proposta pedagógica para a alfabetização do primeiro aproxima-
se das que derivaram dos estudos de Ferreiro & Teberosky (1985) sobre a psicogênese da
língua escrita, a partir de meados dos anos de 1980, no Brasil.
Apesar dos estudos continuarem ainda hoje na perspectiva do whole language,
Kazloff considera o movimento com todas suas publicações, estudiosos, organizações,
instrumentos, métodos, etc. sem consistência, julgando o the psycholinguistic guessing game
uma mera metáfora. Kozloff (2002) critica o método descrito no artigo de Goodman (1967)
por diferir de outros instrumentos avaliativos e de diagnóstico experimental ou centrados em
laboratório e desconstrói suas prerrogativas, argumentando que:
a) the guessing game o passa de uma metáfora, que não apresentação de dados
que suportem adequadamente suas premissas;
b) apresenta somente os miscues como evincia de que os leitores utilizam o
psycholinguistic guessing game;
c) the miscues
1
, ou erros, são interpretados de um modo que sustentam o modelo, porém,
falha ao considerar interpretações alternativas plausíveis e por não oferecer evidências
de confiabilidade ao inter-observador de suas interpretações;
d) comete a falácia de precipitar-se na generalização de que suas interpretações sobre o
comportamento de alguns leitores analisados implica que todos os leitores utilizem o
guessing aparatus;
1
Cf. Hempenstall (1999) que critica extensivamente a miscue analysis.
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
21
e) the miscues são tomados como evidências de que os leitores utilizem o guessing
aparatus ao invés de ser um incio de uma instrução pobre.
Para Marcuschi (1999), a noção de língua é um aspecto relevante para o
tratamento da leitura na relação escrita e oralidade. Ele considera que a oralidade e a escrita
omodos complementares de tratar e compreender o mundo” e propõe a língua como trato
e não como retrato da realidade, como uma relação que estabelecemos com as idéias que
temos da realidade. Desse modo, a língua é tida como uma atividade cognitiva, social e
historicamente constituída, sendo os textos tratados como eventos e os discursos, como
práticas sociais. Assim a diferença entre quem opera com a escrita e sem a escrita,
especialmente no mundo de hoje, reside na desigualdade das possibilidades de acesso aos
conhecimentos e seus benefícios, tratando-se de um problema sociopolítico e não de um
problema cognitivo.
Kato (1987)
2
aponta dois tipos básicos de processamento de informação e os
relaciona com duas grandes posões teóricas: o processamento bottom up ou ascendente,
centrado na visão estruturalista da linguagem e o processamento top down ou descendente,
centrado na psicologia cognitiva.
Na concepção estruturalista, o sentido estaria atrelado ao texto, vinculado
diretamente com as palavras e frases, dependente da forma. A leitura seria, então, um processo
instantâneo de decodificação de letras em sons, cabendo ao leitor associar esses sons a seu
significado, apreendendo, por fim, o sentido do texto, o que constitui um processamento
ascendente.
na visão da psicologia cognitiva, o sentido é construído pelo leitor a partir de
seus conhecimentos prévios, acionados mediante os dados do texto. Trata-se, portanto, de um
processo analítico, dedutivo, não-linear, partindo do todo para as partes, descendente, oposto,
portanto, à visão estruturalista.
No entanto, Kato (1987) assume uma visão interacionista, em que o leitor ideal
seria aquele que conjugasse os dois tipos de processamentos como um sujeito ativo na
construção do sentido através de seus conhecimentos pvios e perpassando os dados do texto,
numa interão leitor x texto x autor.
Os PCNs, Parâmetros Curriculares Nacionais, apresentam uma visão de leitura
que dialoga com a interacionista, com referências também da psicologia cognitiva, da
psicolingüística e da sociolingüística, como podemos perceber em seu conceito de leitura:
2
Apud CONCEIÇÃO, 2005, p. 53.
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
22
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que se sabe sobre
linguagem, etc. [...] Trata-se de uma atividade que implica estratégias de
seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível
proficiência [...] (PCN de Língua Portuguesa – 5ª a 8ª séries p.69, 1998).
3
No que diz respeito às atividades didático-pedagógicas, muitas vezes sugeridas
pelo próprio material didático, a leitura oral visa à participação dos alunos e também à
verificação por parte do professor da perfomance de fluência de leitura dos mesmos. Assim,
um estudo direcionado a avaliar os aspectos lingüísticos envolvidos no processo de leitura é
de grande valia no trato professor/aluno, pois viabiliza o processo de ensino-aprendizagem.
Daí ser de suma imporncia, na atividade de leitura, o conhecimento da funcionalidade dos
sinais de pontuação enquanto componente no processo de interpretação e apreensão do
sentido do texto.
Portanto, os sinais de pontuão servem para integrar os sintagmas, viabilizando
a organização textual. Sem eles, a compreensão de um texto pode ficar seriamente
comprometida. No exemplo a seguir, temos o uso das aspas numa citação. Esse uso não é
meramente um realce, mas interfere diretamente na apreensão do sentido do texto, como
vemos no trecho: “[...] o paralelismo estaria garantido caso o advérbio ‘não’ fosse colocado
antes da expressão ‘de modo escancarado’[...]”. duas citações nesse trecho: o e ‘de
modo escancarado’.
Numa leitura oral, realizada por um aluno em sala de aula e coletada por esta
pesquisadora numa pesquisa piloto, por percepção de oitiva, não houve nenhuma pausa ou
mudança no nível melódico da frase destacando o não’ para que este fosse percebido como
citação, o que provocou uma distorção no sentido, que, ao invés de citação, soou como a
negação da afirmativa. Esse fato foi percebido e acusado pelo próprio aluno (leitor/orador) e
pelos outros alunos (leitores/ouvintes) após nova leitura executada pela
professora/pesquisadora. Essa constatação resultou na atual pesquisa.
Assim, quanto à relão entre grafia e fonia”, no que diz respeito aos sinais de
pontuação, as palavras de Anis (1988, p. 154)
4
nos parecem oportunas:
A solução mais razoável do problema da relação entre entonação e
pontuação parece ser aproximá-las de sua função: cada uma delas, em seu
3
Apud CONCEIÇÃO, 2005, p. 59.
4
Apud DAHLET, 2006, p. 171.
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
23
domínio, é portadora de indicações sintáticas, temáticas e enunciativas;
quando lemos um texto, decodificamos os topogramas [sinais de pontuação]
e se oralizarmos, a partir das significações percebidas, utilizaremos marcas
entonativas correspondentes.
5
Esse trabalho, então, visa (1) através de um mapeamento das funções dos sinais
de pontuação presentes em dois textos literários selecionados e (2) da análise acústica dos
mesmos, buscar pistas que nos possibilitem averiguar a relação entre os parâmetros acústicos
e os sinais de pontuação no que se refere à funcionalidade. Respondendo à primeira
proposição, encontramos na proposta de Dahlet (2006), uma análise aprofundada dos sinais de
pontuação da língua portuguesa e suas funções. Nossa motivação para essa escolha se
fundamentou na visão semiótica hjelmsleviana apresentada em sua análise dos estatutos dos
sinais de pontuação, a qual veio ao encontro de nossos anseios de pesquisa. Faremos,
portanto, uma releitura de sua obra As (man)obras da pontuação: usos e significações,
utilizando-a como base para a análise dos sinais de pontuação na produção escrita com vistas
à sua realização na oralidade.
Desse modo, o objetivo principal dessa pesquisa é, através da análise do fator
tempo, freqüência fundamental, configuração formântica e intensidade no plano da expressão
da fala e da funcionalidade no plano da expressão da escrita, analisar o papel dos sinais
gráficos, especialmente os sinais de pontuação, que sugerem ênfases e focos na habilidade de
leitura oral.
Como objetivos secundários, a pesquisa visa adequar e/ou criar ferramentas
computacionais que garantam o controle do experimento desde a seleção do corpus até a
análise dos dados de produção.
Envolver-se-ão, portanto, conhecimentos de caráter interdisciplinar da semiótica
hjelmsleviana, fonética acústica e ciência da computação.
Desse modo, o capítulo dois aborda, à luz da teoria semiótica hjelmsleviana, as
características e o comportamento dos sinais gráficos da pontuação. A partir da classificação
funcional dos sinais de pontuação em nível frasal, dividida em pontuação seqüencial e
pontuação enunciativa, busca-se orientar a análise do plano da expressão da escrita, com
ênfase para os níveis de amplitude da pontuação seqüencial, especificamente da vírgula (,).
No capítulo três, são trabalhados os aspectos da oralidade referentes, portanto, à
fonética acústica, com o suporte da ciência da computação. Nesse capítulo o descritos os
5
Anis (1988, p. 150) define com precisão a oralização, muito confundida com a leitura. Oralizar pressupõe a
leitura, mas a leitura não pressupõe a oralização, sendo esta o simétrio da transcrição. (Apud DAHLET, loc.
cit.)
CAPÍTULO 1. A RELAÇÃO ENTRE A PONTUAÇÃO E A ORALIDADE
24
procedimentos metodológicos envolvidos no experimento, como a seleção, a coleta, a
etiquetagem e a análise dos dados. Com o auxílio do programa de análise acústica Praat
5.0.20
©
,o analisados os parâmetros acústicos da (a) duração observada e cálculo do z-score
das unidades VV (Vogal-a-Vogal); (b) média e desvio pado dos formantes F1, F2 e F3; (c)
média e desvio padrão da intensidade; (d) média e desvio padrão da freqüência fundamental
(f0) e (e) cálculo da taxa de elocução (TE) das sentenças e dos textos. Através do programa R,
versão 2.5.1, processou-se a análise estatística ANOVA One Way relacionando os parâmetros
acústicos e a classificação funcional dos sinais de pontuação em nível frasal, com ênfase nos
níveis de amplitude dos sinais seqüenciais, especificamente da vírgula. Na sub-seção 3.2.1,
apresentamos e discutimos os resultados das análises realizadas. Trata-se, portanto, de um
estudo transversal entre a semiótica hjelmsleviana e a fonética acústica, com o intuito de
perceber focos e ênfases envolvidos na habilidade de leitura oral.
Por fim, o capítulo 4 traz as considerações finais sobre os resultados obtidos na
pesquisa, bem como sugestões para investigações futuras.
2 A ESCRITA EM FOCO
Este capítulo apresenta um estudo dos sinais gráficos da pontuação a partir da
abordagem de Dahlet (2006) intitulada “As (man)obras da pontuação. Procederemos, assim,
a uma revisão de toda a obra e, especificamente, abordaremos a classificação funcional dos
sinais de pontuação em nível frasal, dividida em pontuação seqüencial e pontuação
enunciativa. Ainda trataremos dos níveis de amplitude dos sinais seqüenciais, que nossa
análise contemplará os níveis de amplitude da vírgula recorrentes em nosso corpus.
2.1 Abordagem semiótica dos sinais de pontuação
Os sinais gráficos da escrita e a pontuação funcionam como organizadores, do
ponto de vista argumentativo e afetivo-passional, das relações entre os “interlocutores” no
texto escrito, o que, na fala, seria organizado pela entoação e gestualidade, porém, sem haver
transposição simples de conteúdos entre a fala e a escrita. Isso porque diferentes recursos de
expressão estão relacionados a diferenças de sentido. Daí, na fala, recorrermos a sinais
gráficos da expressão escrita como as aspas por considerar que certos conteúdos sejam melhor
manifestados desse modo (BARROS, 2001).
O diálogo da proposta de Dahlet (2006) com a de Hjelmslev (1968), a partir da
relação entre os planos da expressão e do conteúdo, propicia uma leitura em relão à teoria
semiótica, a qual apresentamos neste trabalho.
Dahlet, ao definir o estatuto dos sinais de pontuação, afirma que o plano de
expressão comporta a substância de expressão - a tinta, a cadeia gráfica - e a forma da
expressão - o grafema. o plano do conteúdo compreende a forma do conteúdo - que
corresponde a uma unidade significativa - e a subsncia do conteúdo - correspondente às
significações, ao semântico. Assim ela considera que a forma do conteúdo de qualquer sinal
de pontuão é dada pela operação atestada pelo grafema, observando seu posicionamento e
seu caráter sistêmico. Desse modo, o sinal de pontuação maiúscula pode ser decomposto em
(p. 40):
Substância da expressão: tinta
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
26
Forma da expressão: grafema: M
Forma do contdo: unidade significativa: operação
Substância do conteúdo: início de frase, nome próprio, destaque, etc.
No caso acima, a forma do conteúdo será determinada pela operação de marcação
(igreja vs. Igreja) e pelo posicionamento, não somente em relação à unidade afetada pelo
grafema pontuacional, mas também em relação ao lugar ocupado pela unidade-palavra na
cadeia gráfica. Essa associação, operação + posicionamento, para determinar a forma de
conteúdo, é válida para qualquer sinal de pontuação, sendo necessário discriminar cada um,
tendo vista o posicionamento como fator crucial na relação entre forma de expressão –
grafema - e forma de conteúdo – unidade significativa. O grafema do (.), por exemplo,
mantém uma relação biunívoca com sua forma de conteúdo que é: operação de
seqüencialização de frase, em que a frase se refere ao posicionamento.
É fato que a definição de grafema se mostra muito divergente nas teorias. A
análise de Anis (1988), citada por Dahlet (p.44), por inserir a pontuação no sistema
integrativo do espaço gráfico, apresenta dupla vantagem: primeira, especifica o estatuto
lingüístico respectivo das várias unidades grafêmicas, dando conta da heterogeneidade da
língua escrita; segunda, liga o valor funcional da pontuação à materialidade gráfica
(independentemente das correspondências entre fonia e grafia). Essa descrição proporciona
uma diferenciação, dentro do sistema o alfabético, entre os sinais de pontuação
(topogramas) e os demais signos (logogramas).
Tomando somente os topogramas, vemos que os sinais de pontuação se
manifestam em três veis: nível de palavra domínio da ortografia -, nível de frase
domínio da unidade frasal - e nível de texto – domínio do conjunto de brancos que dão forma
ao texto.
Os sinais de pontuação são delimitados por Dahlet (p. 46) em contraponto com as
gramáticas por ela analisadas, a saber Bechara, Bueno, Cunha, Rocha, Said -, criticadas por
não apresentarem embasamento teórico coerente, bem como pela ausência de reflexão sobre
as principais funções das marcas da pontuação. Como exemplo, podemos citar a gramática de
Said (1965) que o considera a pontuação de palavra, contrariando as outras gramáticas
analisadas, que, por sua vez, divergem em relação ao corpus da pontuação de palavra.
No que diz respeito à pontuação de frase, além da contraposição com as
gramáticas citadas, a classificação funcional proposta por Anis (1988), que distingue duas
grandes classes de sinais de pontuação - os sintagmáticos e os polifônicos -, é retomada sob
nova qualificação por Dahlet (p. 48). Os sintagmáticos são tidos como sinais de seqüência,
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
27
remetendo à vertente tipográfica e à sintática; e os polifônicos, como sinais de enunciação, o
que possibilita reunir num conjunto sinais de pontuação que apresentam, à primeira vista,
muitas diferenças. Dispomos abaixo os sinais de pontuação em seus respectivos níveis,
segundo o corpus de Dahlet.
QUADRO 1- Níveis dos sinais de pontuação
Nível de palavra Nível de frase Nível de texto
Maiúscula Colchetes Alínea
6
Ponto abreviativo Travessão duplo e de diálogo
Parênteses Reticências
Reticências Itálico
Hífen Negrito
Apóstrofo Sublinhamento
Travessão Maiúscula contínua
7
Ponto-e-vírgula
Vírgula
Ponto
Parênteses
Ponto de interrogação
Ponto de exclamação
Aspas
Dois-pontos
Entretanto, existem leis de ocorrência que coordenam a distribuição dos sinais de
pontuação no texto. Com efeito, determinadas combinações de sinais suscitam a necessidade
de interação de tais leis, distintas em três por Tournier (1980, p.39 apud DAHLET, p. 52):
i. Lei geral: determina a exclusão de sinais que, por ventura, co-ocorreriam num mesmo
ponto do discurso, havendo assim a realização de apenas um sinal e uma vez. Ex.: o
apóstrofo e o hífen se excluem mutuamente: *linha-d'-água ou *linha-d-'água.
ii. Lei de neutralização: determina que, caso vários sinais devem ser atualizados num
ponto do discurso, e se isso deve ser feito pelo mesmo sinal, este deve ser colocado
uma vez. Ex.: no início de frase, a maiúscula de frase e a do nome próprio se
neutralizam: João trabalha com seu avô.
6
A alínea é considerada o sinal de pontuação de mais alto nível, acima do qual não se trata mais de pontuação,
mas sim de diagramação, daí ser também considerada como pontuação de nível textual.
7
Chamada capitular por Araújo (1986) apud DAHLET, ibid. p. 47.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
28
iii. Lei de absoão: sinais que o podem aparecer um ao lado do outro, mesmo
comportando funções e morfologia diferentes. Desse modo, coloca-se um só sinal que
assume a sua própria função e a dos demais. Ex.: O (.) desaparece em proveito do (...):
Tão distantes com aqueles olhos verdes...
Contudo, essas leis, chamada por Purnelle (1998, p.215 apud DAHLET, loc.cit.)
de sintaxe tipográfica, não são suficientes para uma distribuição ordenada. Dahlet acrescenta
o parâmetro da amplitude, além de analisar as combinatórias dos sinais de pontuação dentro
de seu campo funcional.
A seguir trataremos dos sinais de pontuação em nível de frase, observando como
se dá a aplicação das leis de ocorrência descritas acima e as combinarias na distribuição
desses sinais.
2.1.1 Classes funcionais dos sinais de pontuação em nível de frase
As classes funcionais dos sinais de pontuação em nível frasal se dividem em: (a)
pontuação seqüencial e (b) pontuação enunciativa. As características de cada classe serão
estudadas enfatizando-se o comportamento dos sinais recorrentes em nosso corpus.
A) Pontuação seqüencial
Os sinais com função seqüencial segmentam o continuum da escrita (ANIS, 1988
apud DAHLET, ibid., p.50), delimitam as seqüências, reagrupando-as e separando-as, e, por
fim, hierarquizam-nas. São eles:
QUADRO 2- Sinais de pontuação com função seqüencial
alínea
ponto
ponto-e-vírgula
vírgula
Devido às seqüências não serem isovalentes, o estabelecimento de uma escala de
níveis desses sinais se torna necessária a fim de perceber o modo de sucessão e a ordem
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
29
hierárquica de inclusão dos segmentos na cadeia. Essa escala de níveis diz respeito à
amplitude dos sinais. Desse modo, segundo Anis (1988, p. 121 apud DAHLET, ibid., p.56) a
amplitude de um sinal é determinada pelo nível no qual ele ocorre, isto é, “a regra geral é que
a amplitude de um topograma pára onde intervém um topograma de mesmo nível ou de nível
superior”, sendo cada nível delimitado pelo mesmo sinal, conforme Dahlet, p. 57:
Nível 1 - seqüência: parágrafo
Amplitude: [alínea...................................................................alínea]
8
Nível 2 – seqüência: frase
Amplitude: [ponto...............................................ponto]
Nível 3 seqüência: subfrase
9
Amplitude: [ponto-e-vírgula............ponto-e-vírgula]
Nível 4 – seqüência: inter-oracional
Amplitude: [vírgula.......................vírgula]
Nível 5 – seqüência: intra-oracional
Amplitude: [vírgula........vírgula]
Em nosso corpus, dentre os sinais seqüenciais, não ocorrência do ponto-e-
vírgula (;), amplitude de nível 3. Extraímos o quinto parágrafo do texto lit 1
10
para exemplicar
os níveis de amplitude recorrentes:
“– Infelizmente, amigo -ri-có-có, tenho pressa e não posso esperar pelos
amigos cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo.”
Nesse trecho, encontramos:
a) A alínea, sinal seqüencial de nível 1. Sua amplitude vai do início deste parágrafo
(tabulação antes do sinal de travessão) até o parágrafo seguinte;
8
Doravante, o colchete de abertura representa a delimitação esquerda do segmento; o colchete de fecho, a
direita.
9
Dahlet utiliza essa palavra, assim como Anis, mesmo sem base nocional, para remeter a uma unidade que
poderia infalivelmente tornar-se frase se tiver um ponto no lugar do ponto-e-vírgula. Essa unidade não
equivale à noção de período ou à de oração.
10
O texto lit 1, utilizado em nosso experimento, encontra-se no ANEXO A.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
30
b) O ponto, sinal seqüencial de nível 2. Sua amplitude vai do primeiro ponto (“...cães.”)
até o ponto de interrogação (“...sim?”) e deste até o último ponto do parágrafo
(“...logo.”). Note-se que o ponto de interrogação é um sinal com função enunciativa
que apresenta uma amplitude equivalente, como veremos a seguir;
c) A vírgula inter-oracional, sinal seqüencial de nível 4, presente na sentença: “Fica para
outra vez a festa, sim?” . Sua amplitude vai desde (“... a festa,...”) até o ponto de
interrogação (...sim?”), ou seja, sua amplitude parou onde ocorreu um sinal de vel
superior, de nível 2;
d) A vírgula intra-oracional, sinal seqüencial de nível 5, presente no trecho da primeira
sentença: “..., amigo -ri-có-có,...”. Sua amplitude vai da primeira vírgula (antes de
“amigo”) à segunda (depois de “Có-ri-có-có”), i.e., sua extensão ocorreu entre sinais
de mesmo nível.
Sobre os níveis de amplitude, acrescenta-se ainda:
i. em relação ao nível 1, não possibilidade de substituições, por se
constituir o nível de maior amplitude;
ii. em relação ao nível 2, um sinal com função enunciativa de amplitude
equivalente - (?) - (!) - (...) - pode substituir o sinal de uma das
extremidades de segmento, seja à esquerda, seja à direita. Apesar da
convenção gramatical, a maiúscula como indicativo de início de segmento
nesse vel fica desconsiderada por se constituir num reforçamento visual
da segmentação frasal efetuada pelo ponto;
iii. em relação aos veis de menor amplitude, um sinal de vel maior pode
substituir o sinal de uma das extremidades de segmento, seja à esquerda,
seja à direita. Nesse caso, entra em vigor a lei de exclusão de um sinal por
outro que, na categoria dos sinais de seqüência, o sinal de maior amplitude
sempre é priorizado.
A escala das amplitudes funciona sob duas regras de ordenação, conforme
Dahlet, ibid., p. 58:
Regra 1 - As amplitudes o ordenadas em função do princípio hierárquico
de inclusão.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
31
Regra 2 - A ordem de inclusão das amplitudes dos sinais (amplitudes 1-2-3-
4-5) não implica necessariamente todas as atualizações
intermediárias.
Assim um texto pode passar da amplitude 2 à amplitude 4 ou à amplitude 5,
podendo dispensar até mesmo o uso da alínea, de amplitude 1. Parece, então, que somente o
sinal de amplitude 2, seqüencialmente, tem caráter prioritário. Vale ressaltar que, antes de
serem normativas, essas regras são indicativas e sofrem desvios, principalmente em textos
literários estéticos, em que uma (,) seguida de maiúscula pode segmentar um fim de frase ao
invés do (.), ou um dos seus possíveis substitutos, como podemos ver no trecho: Tinha
acabado de se sentar à mesa para escrever a receita quando a porta de comunicação com a
Conservatória se abriu, estava fechada apenas no trinco, e o chefe apareceu, Boa tarde, senhor
doutor, Diga antes má tarde, senhor conservador” [...]
11
.
Quanto à combinatória dos sinais seqüenciais, ou seja, seu modo de ocorrência,
precisa-se analisar quais fatores determinam a predominância de um sinal sobre outro.
Existem duas possibilidades: ou a combinatória realiza-se de maneira não contígua e, nesse
caso, intervém o parâmetro dos níveis - ou de maneira contígua o que pode desencadear o
processo de absoão de um sinal por outro. Por exemplo, quando um sinal é neutralizado
pelo seu idêntico, a condão é dupla: coincidência do lugar na cadeia escrita e
concorncia entre sinais de níveis diferentes, nível de palavra e de frase, como é o caso do
ponto abreviativo e o de final de frase, respectivamente.
Dadas as características gerais dos sinais de seqüência, aprofundaremos quanto ao
estudo do ponto e da vírgula, por serem recorrentes em nosso corpus.
O ponto precisa ser analisado a partir da noção de frase, pois que sua função é
encerrá-la. Por isso, Dahlet, p. 127-134, discute longamente esse conceito definindo a frase
como uma unidade gráfica limitada à esquerda e à direita por um ponto (.) (ou por qualquer
equivalente paradigmático, ou seja, de mesma amplitude: pontos de interrogação, de
exclamação e reticências). Além disso, aponta para a necessidade de também se definir a
terminologia, que, muitas vezes, confunde-se com as noções de cláusula e período. Desse
modo, Dahlet toma as afirmações de Berrendonner (1993)
12
, nas quais os vocábulos cláusula
e período são empregados sob o ponto de vista da dinâmica comunicacional, e não
correspondem às categorias gramaticais tradicionais. Assim, para ele, cláusula remete a uma
11
SARAMAGO, J. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.127 apud DAHLET, ibid., p.60.
12
Apud DAHLET, ibid., p. 128.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
32
unidade comunicativa, e o período, a uma totalização de cláusulas. E é a partir desses pontos,
que afirma ser a frase, uma unidade de pontuação, na qual ocorre uma divisão híbrida, na
medida em que as relações entre seus componentes não provêm todas de uma sintaxe recional
[i.e. fundada sobre implicações de co-ocorrência entre segmentos]
13
. Enfim, para Dahlet, a
frase regula dois processos simultâneos, com princípios diferentes: o das cláusulas como
“unidade de ação linguageira” e o do peodo que totaliza as cláusulas. Esses fatores permitem
a integração dos enunciados semanticamente o completos e do comprimento da frase, que é
extremamente variável. Sendo o (.) um sinal de amplitude 2, sua fuão é delimitar à esquerda
e à direita a frase.
a vírgula é o mais complexo dentre os sinais seqüenciais por ser: 1) o único
sinal que funciona tanto num esquema duplo (, ,) quanto num esquema simples (,); 2) o
único capaz de atuar simultaneamente em duas amplitudes intercláusula e intracláusula - ,
independentemente da dimensão enunciativa
14
; 3) o sinal sintático por excelência, sendo o
mais apto para fornecer, carregar e distribuir as categorias funcionais, tanto na sucessão
quanto na hierarquização (dupla vírgula) (DAHLET, 2006, p. 143). Vale ressaltar também que
a vírgula é o único sinal frasal que se submete à adequação normativa, quando o pode ser
substituída por um sinal de maior amplitude, isto é, quando é um tensivo
15
complexo. E isso
se somente com a vírgula intracláusula vírgula de anteposição, rgula de aposto e elipse
, que suas condições de ocorrências podem ser enunciadas previamente e de maneira
independente da atividade da escrita. Sem dúvida, sua função é separar segmentos da cadeia
escrita, pom, ao fazer isso ela ativa outras operações sintáticas, tais como: adicionar,
subtrair e inverter.
16
Essas operações são estabelecidas por Thimonier (1970) como três
príncipios de ocorrência da vírgula: o princípio de adição; o princípio de subtração e o
princípio de inversão (apud BESSONNAT, 1991, p. 38-39)
17
:
a) princípio de adição: “a vírgula aparece para separar segmentos de função
gramatical equivalente, quando estes últimos o são ligados por um
elemento de coordenação”, formalizado como: ------------, ---------------,
--------------.
b) princípio de subtração: “separam-se por (dupla) vírgula todos os
13
Idem, p. 129.
14
Essa especificação é introduzida por Dahlet (p. 143) para lembrar que, por busca de efeito especial, é possível
um mesmo sinal de pontuação ser ativado em duas amplitudes diferentes.
15
Esse termo foi cunhado por Dahlet devido a alta potência de estruturação sintática e semântica da vírgula,
que, por colocar o sentido em espera, é chamado de tensivo.
16
Essas três operações foram depreendidas por Thimonier (1970) para a língua francesa, porém, pela
proximidade entre as línguas, podem ser aplicadas à língua portuguesa apud DAHLET, ibid., p. 142.
17
Apud DAHLET, ibid., p. 146.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
33
elementos que poderiam ser subtraídos (aposto, adjetiva explicativa), e
assinalam-se por vírgula todos os elementos que foram subtraídos (elipse)”,
formalizado como:
(a) aposição:------------[,--------,]-------------.
(b) elipse : ---------- ; --------[ , ] --------.
c) princípio de inversão: “a vírgula assinala 'qualquer deslocamento de
segmentos frasais em relação à ordem canônica”, formalizado como:
[--------], ---------- , ----------.
Assim, através de um jogo de ocorrência/não-ocorrência da (,), obtido pela
manipulação de enunciados “homônimos”, podemos avaliar a função da vírgula. A
ocorrência/não-ocorrência da (,) gera recortes (ou ausência de recortes), constituindo, assim,
agrupamentos dos quais emerge o sintático-semântico. Essa prova pela homonímia traz à tona
o quanto a (,) reorganiza a seqüencialização do enunciado e, portanto, o sentido,
demonstrando a dupla sintagmática instaurada, como podemos ver em:
1. Só ela resolve tudo.
18
2. , ela resolve tudo.
No exemplo acima, a pontuação muda a classe da palavra . Não seguida de (,)
em 1, é advérbio que afeta o pronome ela: ela. Seguido da (,) em 2, só se torna adjetivo
epíteto, afetando todo o enunciado. Daí a possibilidade de deslocamento para o fim do
enunciado: Ela resolve tudo só.
Por ser o mais sintático dos sinais de pontuação, a vírgula também é o sinal
relacional por excelência, e, singularmente, tensivo. Para dar conta dessa propriedade, Dahlet,
p. 148, distinguiu o tensivo simples, que corresponde à coincidência entre o limite virgular e
fechamento do sentido, e o tensivo complexo, que corresponde à sua não-coincidência,
formalizados da seguinte maneira:
tensivo simples -----------------]
19
tensivo complexo -----------,-------- ou -----------,-----------
Essa distinção conta da estruturação seqüencial formada pela (,) (segmentação
e hierarquização) e das substituições paradigmáticas realizadas com os sinais de seqüência.
Desse modo, a (,) pode se comportar como um sinal relacional de identidade ou como sinal
relacional de não identidade.
18
NETO, P. C. O dia-a-dia da nossa língua. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 11 apud DAHLET, ibid, p. 144.
19
O colchete que fecha indica o fechamento do sentido; a seta orientada à esquerda () e à direita () indica a
direção do sentido que é para fechar.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
34
Como um sinal relacional de identidade, a vírgula delimita segmentos de função
equivalente, sendo que, com tensivo simples, a equivalência se dá sem que haja um
denominador comum, isto é, cada segmento limitado pela (,) é autônomo do ponto de vista
sintático-semântico. Cada limite virgular corresponde, então, a uma cláusula e a totalização
das cláusulas corresponde ao período, delimitado por sua vez por um (.) à esquerda e à direita:
.--------- ], -------- ], --------- .
Já, com tensivo complexo, a vírgula relacional de identidade refere-se às
cláusulas nas quais unidades textuais de mesma função são colocadas em denominador
comum, que pode ter uma colocação explícita ou implícita, figurando sob o regime de um
sintagma. Portanto, pode-se afirmar que a (,) de identidade delimita segmentos que possuem a
mesma função, que, por sua vez, pertencem ao primeiro plano.
Quanto à vírgula de o-identidade, a mesma delimita segmentos com
modalidades muito variadas que se agregam à estrutura sintático-semântica básica do
enunciado e, por isso, esses segmentos têm uma pregnância de segundo plano em relação a
essa estrutura.
Além das propriedades apresentadas, Dahlet, p. 152, aponta que a vírgula põe em
espera um ou vários segmentos, em razão do não fechamento do sentido. Assim, em todos os
casos em que não ocorre a (,) relacional de identidade, figura a (,) relacional de
hierarquização. Esta pode ser classificada em dois tipos de estrutura – a anteposição e a
estrutura “desligada - ambas têm em comum o adiamento da completude sintático-
sentico. Os segmentos antepostos podem ser um vocábulo, como um vocativo; um
sintagma nominal ou preposicional; um grupo adjetival; uma oração subordinada. E os
elementos desligados podem ser todo tipo de elemento aposto, como epíteto, conectivo,
adjetiva explicativa, retomada de ordem diversa (extração pela frente, parafrásica e
hiperonímica em particular, etc.).
Enfim, os vários níveis nos quais funciona a (,) são relacionados ao fato de a (,)
ser de identidade ou de não-identidade. As mudanças de segmentação podem, a partir de uma
pontuação diferenciada em frases homomorfas, produzir sentidos variados. Desse modo, no
que se refere à amplitude, a dimensão semântica não pode ser descartada na seleção de um
sinal de seqüência, devido às instruções semânticas veiculadas pelas locuções que compõem a
estrutura do discurso. Em nosso corpus, foram observadas vírgulas em nível de amplitude 4,
vírgula intercláusula ou inter-oracional, e nível de amplitude 5, vírgula intracláusula ou intra-
oracional.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
35
B) Pontuação enunciativa
Os sinais com função enunciativa remetem àqueles que indicam todas as formas
de citação e também aos que efetuam um desengate enunciativo
20
. Este ocorre quando um dos
topogramas indica um distanciamento do enunciador em relação ao enunciado, do qual
provém um efeito de sentido. Essa postura do escritor se manifesta na presença do marcado,
do destacado, ora quando voz a outro em seu discurso, ora quando intervém
intencionalmente no processo de referenciação. Há várias possibilidades de representar a
função enunciativa, conforme Dahlet, p. 50-1:
QUADRO 3 - Sinais de pontuação com função enunciativa
Hierarquizadores discursivos Marcadores interativos
dois-pontos
parênteses
travessão (duplo)
ponto de interrogação
ponto de exclamação
reticências
Marcadores expressivos Discurso citado
maiúscula contínua
sublinhamento
ilico
negrito
aspas
itálico
travessão de diálogo
colchetes
Dahlet distingue, no plano formal, duas facetas na pontuação enunciativa,
conforme opera em cotexto monologal, que remete ao intradiscurso, ou em cotexto dialogal,
que remete ao interdiscurso, à representação de um diálogo pelo escrito. Essa oposição não se
inscreve nos conceitos de monologismo/dialogismo de Bakhtin nem no conceito de
intersubjetividade. A eficácia dessa distinção formal entre cotexto monologal e dialogal está
na ordenação dos sinais de enunciação, mostrando que nem todos os sinais de enunciação
20
Décrochage énonciatif, nas palavras de Anis (1988, p. 122) apud DAHLET, ibid., p.51.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
36
podem ser empregados em ambos os cotextos (como é o caso dos colchetes que pertencem ao
cotexto dialogal somente) e que a função de um sinal de enunciação pode mudar segundo o
cotexto de ocorrência (o ponto de interrogação é marcador de interação em cotexto monologal
e, em cotexto dialogal, se torna sinal de conduta de diálogo).
Em cotexto monologal, a pontuação de enunciação manifesta o escritor em sua
atividade de enunciação. Assim, os dois-pontos, travessão e parênteses servem de
hierarquização discursiva; as aspas autonímicas reorientam a semântica; os marcadores
expressivos tornam visível a relação marcada do escritor com uma palavra ou segmento; e,
finalmente, os sinais pragmáticos convocam o leitor-destinatário a se envolver no ato de
comunicação.
Trataremos dos sinais de enunciação em cotexto monologal, concentrando-nos
nos ocorrentes em nosso corpus. Assim, quanto aos hierarquizadores discursivos,
analisaremos os dois-pontos, o travessão duplo e as aspas.
Os dois-pontos (:) são apresentados pelas gramáticas normativas e descritivas
através de enumeração dos contextos de ocorrência. Porém, independentemente de seu lugar
de ocorrência – intracláusula, intercláusula ou interfrásico, sua função é sempre a mesma. Ele
divide, de ambos os lados, o tema e o rema, formalizado por Dahlet como [T:R]. O tema
corresponde ao “dado”, definido como “elemento que, no momento do ato de enunciação,
pertence ao campo da consciência”, ao passo que o rema corresponde ao novo”, informação
introduzida a partir do dado (COMBETTES, 1983, p. 18-19 apud DAHLET, ibid., p. 174).
Esse valor distributivo entre tema e rema pode acumular valores chamados lógicos de: causa,
conseqüência e paráfrase. Os ( : ) constituem um operador do “dinamismo comunicativo”.
O travessão duplo ( - - ) tem por função inserir um segmento num enunciado
receptor, que é sintática e semanticamente autônomo, sendo que o segmento inserido vai da
autonomia zero à autonomia máxima. O ( - - ) pode conferir ao segmento um peso
informacional superior, fazendo prevalecer o argumento inserido sobre o argumento dado no
enunciado receptor.
As aspas bloqueiam a interpretação literal do segmento e fornecem, assim,
indicações de interpretação peculiares em cotexto monologal. Trata-se de um “sinal a ser
interpretado” (MAINGUENEAU, 2001, p.160 apud DAHLET, ibid., p. 184). Desse modo, as
operações diferem conforme se trate de aspas autonímicas, isto é, com valor auto-referente,
metalingüístico, ou de aspas de conotação autonímica, que enfatizam a postura do enunciador,
distanciando de forma crítica da palavra. Na função autonímica, as aspas sofrem concorrência
do itálico. Na função de conotação autonímica, as aspas refletem uma imprecio, um
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
37
neologismo, uma metáfora, uma ruptura de registro, ou mesmo, algo de impróprio no uso da
palavra
Quanto aos marcadores expressivos, vejamos como se comporta o travessão
simples. Vale notar que, por motivo de absoão, o travessão é o único sinal de dupla
morfologia que pode perder uma de suas marcas. Porém, o travessão simples cumpre uma
função que o diferencia do duplo: a de introduzir o rema, o núcleo informativo, podendo ser
substituído pelos dois-pontos, nesse caso. Vejamos: “Contra esperteza, - esperteza e meia.”
21
.
O destaque gerado pelo travessão simples transforma o valor declarativo do segmento em
mais-valia afirmativa, fiducria. Ele participa, nesse sentido, tanto da rematização (densidade
informativa concentrada) quanto da argumentação (o fiduciário dificilmente pode ser
recusado) e, no exemplo acima, a presença da vírgula enfatiza essa função, já que o travessão
poderia ser descartado.
Os marcadores de interação - pontos de interrogação, de exclamação e reticências
diferem em suas funções de acordo com o cotexto. Daí, a interação em cotexto monologal
produz-se entre escritor e leitor, enquanto que, em cotexto dialogal, ela se produz entre os
parceiros do diálogo representado por escrito, tomando o leitor, o lugar do terceiro excluído, o
de testemunha do diálogo.
Quanto ao ponto de exclamação, todas as gramáticas têm em comum o fato de
fundamentar a análise sobre a entonação, tomando-o como que um prolongamento da língua
oral para o registro escrito. Os gramáticos focalizam o processo exclamativo na pessoa de
quem escreve, criando uma semelhança entre esta última e a pessoa que o expressasse
oralmente. Entretanto, por ser o escrito uma comunicação deslocada no espaço e no tempo, o
processo exclamativo se desloca para o leitor destinatário, criando uma força de interpelação
que o impactua a reagir no sentido previsto pelo escritor. Assim, em cotexto monologal, o (!)
pode remeter a uma interjeição, um imperativo, um vocativo e uma exclamação. Nesse
sentido, o ponto de exclamação confere um alto grau ao enunciado, densificando o conteúdo
sentico para fins argumentativos. um convite para que o leitor assuma o ponto de vista
do escritor, instaurando uma co-enuncião, com responsabilidade partilhada do predicado.
No que diz respeito ao ponto de interrogação, as gramáticas continuam tendo
como modelo de referência a perfomance oral, sendo tradicional, distinguir a interrogação,
que pede uma informação, da interrogação retórica, que nada pede. Mantendo essa bipartição,
Dahlet assume a análise de Ducrot (1981, p.81) que diz que as interrogações totais e parciais
21
Extraído do corpus em lit1. Ver ANEXO A.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
38
têm uma orientação argumentativa intrínseca, e essa orientação é negativa. Ele apóia sua
hipótese no que ele chama de “coordenadas argumentativas”, em que tanto uma quanto outra
visam à mesma conclusão, dada pela interrogação. Assim, dadas duas coordenadas (E) e (F),
(F) é um enunciado interrogativo que comporta uma proposição negativa subjacente, sendo,
de fato, argumentativa, visto que concorda com a proposição (E), como em: “Você deveria ter
pensado melhor antes de largar seu emprego (E). Seque você gostará mais do novo?” (F)
(DUCROT, ibid., p. 85) . Embasada nessa análise, Dahlet assume que todas as interrogações
em cotexto monologal são retóricas. Desse modo, vejamos algumas características desse
emprego retórico:
Destaque do rema: há duas possibilidades - ou o enunciado interrogativo afeta o tema, que
representará o papel de anúncio do rema, ou o enunciado interrogativo compreende o
rema, ficando a cargo do cotexto situar o conteúdo remático.
Retórica de planificação: constitui para o leitor um tipo de anúncio que desempenha o
papel de sumário, inserido na própria linearidade textual.
Apelo ao consenso: não se limita à forma interrogativo-negativa, podendo o próprio
contexto levar a atividade inferencial para um determinado conteúdo de resposta, e não
outro.
Ficção de diálogo: consiste em construir imagens de interlocutor e em emprestar-lhes a
palavra. Trata-se de um diálogo de pergunta-resposta , cuja eficácia promove a adesão.
Fiorin (1996, p. 65-67)
22
considera três níveis enunciativos para os vários
registros da pergunta:
i. primeiro nível: remete à enunciação, considerada como o quadro implícito e
pressuposto pela própria existência do enunciado;
ii. segundo nível: marcado pela presença da instância do enunciador, “responsável pelo
conjunto de avaliações”, “mesmo que não haja um eu explicitamente instalado por
uma debreagem actancial enunciativa”. Aqui se inserem as perguntas que destacam o
rema, bem como as retóricas de planificação;
iii. terceiro nível: “instala-se quando o narrador dá voz a um actante do enunciado”. As
perguntas que se fundamentam no consenso e as que criam ficção de diálogo se
enquadram nesse nível.
Pode-se dizer que qualquer enunciado interrogativo situa-se, por natureza, no
segundo nível, se não no terceiro. Assim, conclui Dahlet, p. 204, “seja qual for o caso, o
22
Apud DAHLET, ibid., p.203.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
39
conjunto dos funcionamentos da pergunta nos escritos de cotexto monologal insere-se numa
estratégia argumentativa.”
No tocante às reticências, a postura fonocentrista das gramáticas normativas
continua, o que indica a não percepção da importância do seu lugar de ocorrência, que, por
sua vez, determina diretamente, junto com a não-completude sintática, a função do sinal.
Quanto à interação, as reticências são, entre os ts sinais, as mais ostensivas, pois o recuo do
enunciador-escritor é inversamente proporcional ao avanço do leitor co-enunciador. Assim,
em cotexto monologal, sua função é apelar à continuidade da inferência, com exceção do
contexto literário. Nesse último caso, as reticências em lugar de abertura de parágrafo
pressupõem que um antetexto foi escrito, mesmo o tendo jamais sido escrito, é o início
conhecido como in media res, constituindo a uma infencia retrospectiva. Ainda em cotexto
monologal, quando no meio do enunciado, as reticências criam um efeito de expectativa, de
suspense, servindo como preparação do leitor para uma nova situação enunciada. Quanto à lei
que rege as combinarias, a reticências é um caso de absorção um pouco diferente por não
remeter a um idêntico, que se formam mediante a reduplicação do (.), sendo então a
legibilidade a condição que comanda a absorção.
Ainda em relação à combinatória dos sinais enunciativos, o fato de nenhum deles
ter o poder de absorver um de seus homólogos funcionais oferece inúmeras possibilidades de
combinações. Dentre estas, destacam-se a contigüidade imediata ou mediata e a reduplicação
do sinal (DAHLET, ibid., p. 67):
i. As aspas e os parênteses, por poderem auto-inserir-se, em seqüência contígua ou
não, permitem a criação de estruturas em encaixe que correspondem a amplitudes
encaixadas, tais como:
[“ ´ ` ”] ..............-......... [ ( ( ) ) ]
Note-se que, em citações de segunda ordem, há uma hierarquia entre as aspas
inglesas ( ) e as alemãs `), em que as primeiras inserem as últimas, visando
a legibilidade, como podemos ver acima.
ii. Os sinais de interrogação e exclamação podem se duplicar e também entrar em
combinação com as reticências, que o se duplicam por razões de legibilidade:
(?...) - (!...) , (??), etc.
Pode-se afirmar, portanto, que os sinais enunciativos possuem uma grande
autonomia em relação com os seqüenciais, com exceção do travessão duplo, cuja morfologia
se modifica quando em contato com outro ponto, excluindo o travessão que fecha. Isso
acontece pelo fato de os dois planos, enunciativo e seqüencial, operarem em domínios
distintos, porém, complementares. Assim, o segmento delimitado pelos parênteses e travessão
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
40
duplo pode, por exemplo, comportar sinais seqüenciais, que se submetem à sintagmática
integrada no segmento em questão, sem a interferência da sintagmática integrante. Já a
pontuação de citação constitui uma exceção, pois a co-presença do discurso citante e do
discurso citado ocasionam intefencias, ora devido à tensão entre os lugares de contato entre
pontuação seqüencial e enunciativa, ora pelo fato de a pontuação de citação ser também
regulada ortotipograficamente. Na verdade, a distinção entre pontuação seqüencial e
pontuação enunciativa em nível frasal não é absoluta, visto que os sinais enunciativos de
interação pontos de interrogação, exclamação e reticências podem adquirir a função de
segmentação por motivos de legibilidade e também de economia, o que justifica o fenômeno
de absorção de certos sinais, quando em contato.
2.2 Delimitação do corpus: seleção dos textos
A motivação para o uso restrito de textos em prosa é embasada na visão
hjelmsleviana no que diz respeito à relação entre o plano da expressão e o plano do conteúdo.
Segundo Matte (2005), nos textos em prosa, ocorre uma maximização do plano do conteúdo
em detrimento do plano da expressão, no intuito de se apreender a mensagem, o que acontece
de modo inverso na poesia devido a sua função estética. Com isso, podemos verificar, com
mais acuidade, o processo de decodificação dos sinais de pontuação, dada a sua importância
na construção do sentido do texto.
O critério para seleção dos textos, além de observar a composição dos sinais de
pontuação, também contemplou o fato de serem textos retirado de materiais didáticos, no
intuito de aproximar da experiência de leitura realizada em sala de aula. Desse modo, o texto
“O galo que logrou a raposa”, identificado como lit 1, é uma adaptação de Monteiro Lobato,
retirada do livro didático Português de todo dia
23
e o lit 2 corresponde a um recorte, realizado
pela pesquisadora, retirado do livro didático Português na ponta da língua
24
. Vale ressaltar
que as adaptações de textos literários é uma prática bastante comum nos livros didáticos.
Desse modo, nossa proposta é analisar os sinais de pontuação em nível frasal,
com funções enunciativa e seqüencial, presentes nos dois textos selecionados. Também
23
LOBATO, 1958 apud CARDORE, 1991, p. 78.
24
ALBERGARIA et al., 2000, p. 177 apud ALBERGARIA, 1996, p. 7-11.
CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
41
focamos, dentro da análise dos sinais seqüenciais, a classificação da vírgula segundo seus
níveis de amplitude: ora nível 4, vírgula inter-oracional ou intercláusula; ora nível 5, vírgula
intra-oracional ou intracláusula. Nosso intuito é verificar se esses níveis de amplitude, bem
como a classificação funcional dos sinais de pontuação, têm significância estatística em
relação aos parâmetros prosódicos estudados. Para tanto, no próximo capítulo, apresentamos o
experimento com seus procedimentos metodológicos e a análise dos dados com seus
resultados.
3 A ORALIDADE EM FOCO
A oralidade é objeto de análise de diversas áreas do conhecimento, entre as quais
esinserida a fonética acústica. Segundo Pickett (1980, p. 1), ela é parte do campo da ciência
da fala, ou fonética experimental, que inclui também a fonética fisiológica.
A fonética acústica descreve, portanto, os sons da fala em si e como eles são
formados acusticamente. Ela contribui para o desenvolvimento dos diversos estudos
científicos que compõem o campo de interesse da ciência da fala, tais como, audição e
percepção da fala, aquisição da linguagem, ensino de línguas e fala, linguagem e fala
patológica, tecnologia da comunicação e processamento da fala, ntese de fala,
reconhecimento automático de mensagens faladas, doenças que afetam a comunicação verbal
em pessoas com deficiências, características da voz pessoal e identificação de voz, dialetos,
comparação fonética de línguas, lingüística, e teoria da comunicação em geral quando a fala é
o exemplo primário (PICKETT, loc. cit.).
Devido ao avanço das tecnologias, a oralidade também tem sido foco de interesse
da ciência da computação, principalmente no que se refere à síntese de fala. É o que podemos
conferir no artigo de Seara et al (2005) intitulado “Estudos sobre pausas na leitura de textos
por um locutor do português brasileiro visando à síntese de fala” e também em Estudos da
Prosódia, organizado por Scarpa (1999), no qual são apresentados quatro artigos, reunidos na
primeira parte do livro, que abordam questões relativas à fonética acústica e síntese de fala,
integrando o que Plínio Barbosa convencionou chamar de ciência e tecnologia de fala”.
No que diz respeito à prosódia, Barbosa (1999, p. 22) afirma que,
ao se falar de prosódia, é preciso distinguir seu aspecto de produção
(identificado pelos três parâmetros clássicos: a duração representada pela
diferença de tempo entre dois eventos –, a freqüência fundamental e a
intensidade), de seu aspecto de percepção (identificado pelas noções de
duração percebida, altura e volume).
Assim a duração mensurável por instrumentos de medida de tempo é chamada de
duração observada e se refere à produção. a duração percebida, i.e., a que se refere à
percepção, é um fenômeno que depende da ocorrência de dois eventos acústicos singulares no
tempo, associados em nossa memória de curto termo, e envolve os parâmetros prosódicos
como um todo e não apenas a duração mensurável.
43
Nossa pesquisa envolve somente aspectos ligados à produção e leva em conta: (a)
a duração observada das unidades VV e cálculo do z-score dessas unidades; a média e o
desvio padrão de: (b) F1, F2, F3; (c) intensidade, (d) freqüência fundamental; (e) o cálculo da
taxa de elocução das sentenças e dos textos. A motivação para não trabalharmos com ritmo,
acentuão e pausa, parâmetros comumente utilizados na análise acústica dos sinais de
pontuação, baseia-se no fato do ritmo ser marcado fonologicamente, da acentuação diferir da
palavra isolada para a frase e da pausa intraperíodo corresponder, normalmente, a um
prolongamento da vogal. Desse modo, trabalhou-se o grupo acentual, que é uma forma
bastante objetiva de tratar o ritmo na fala.
a) A unidade VV
Segundo Barbosa (2006), “a unidade VV se constitui de uma vogal e todos os
segmentos assilábicos que a seguem, independentemente de fronteira silábica, até o onset da
vogal seguinte, vogal essa que determina o início da próxima unidade VV.” Desse modo,
quando uma sentença inicia-se com uma consoante, a mesma é descartada por não constituir
uma unidade VV, visto que o há vogal à sua esquerda para estabelecer uma fronteira. Da
mesma forma, o trecho que começa com a última vogal da frase não constitui uma unidade
VV, porque não há onset de vogal seguinte para estabelecer à sua direita.
A noção da periodicidade das unidades VV na cadeia da fala vem da observação
de que a enunciação se pela produção continuada de vogais interrompidas ou perturbadas
marginalmente pela realização das consoantes. Pesquisadores como Keating et al. (1994) e
Lindblom (1983), apud BARBOSA, 2006, contribuíram para essa noção ao introduzirem a
noção de coarticulabilidade que, somada à quantificação obtida pela variabilidade do
deslocamento vertical da mandíbula, coadunou no trabalho de Rhardisse e Abry (1995 apud
BARBOSA, 2006) que, por sua vez, mostraram que é a partir do movimento de portadora
desse articulador que se organizam os gestos consonantais em torno da vogal.
Desse modo, nossa proposta é utilizar a unidade VV como unidade lingüística
para o cálculo da taxa de elocução, tratada a seguir, am de estudarmos a duração das
unidades VV, procedendo a uma análise estatística z-score (cf. BARBOSA, 1996;
CAMPBELL & ISARD, 1991 apud MEIRELES, 2007). O z-score diz respeito à
normalização dos dados de duração conforme tabela de durações intrínsecas para os fones do
português brasileiro (cf. BARBOSA, 2004)
25
e o z-suavizado corresponde à suavização de 5
25
Apud MATTE, 2008, p. 4.
44
pontos aplicada à seqüência de dados de z-score, segundo Matte (2006).
b) Os formantes: F1, F2 e F3
Durante a articulação da fala, o espectro do som muda rapidamente no tempo,
sendo que o instrumento que analisa essas mudanças e as dispõem visualmente é chamado
espectrograma. O trato vocal é o órgão da fala e o instrumento da voz. Segundo Pickett (1980,
passim), um formante é uma ressonância do trato vocal. Os efeitos dos formantes são vistos
no espectro padrão de um som da fala, sendo este fortemente afetado pelas ressonâncias do
trato vocal. Quando esses efeitos são aparentes no espectro de um som de fala, os picos do
espectro podem ser chamados “formantes” desse som, apesar de os formantes não serem os
picos vistos no espectro e, sim, propriedades do trato vocal que produzem o espectro, quer
dizer, o trato vocal filtra o espectro gerado pelas pregas vocais. Portanto, as freqüências dos
formantes dependem do máximo de energia que é absorvida e irradiada, sendo que as
características de ressonância no modelo fonte-filtro foram descritas a partir de uma vogal
oral, aberta e neutra e cada vogal pode ser considerada uma resposta de ressonância do trato
vocal supragtico modificada em relação à vogal neutra (LADEFOGED & MADDIESON,
1996; CAMARGO, 1999; MEDEIROS, 2000 apud MAGRI et al., 2007).
Assim a identidade fonética da vogal é dada pelas freqüências dos três primeiros
formantes, especialmente pelos dois primeiros. A freqüência do primeiro formante (F1) está
relacionada com o deslocamento da língua no plano vertical, ou seja, varia de acordo com a
altura da língua e a abertura de mandíbula. A freqüência do segundo formante (F2) relaciona-
se com o deslocamento da língua no plano horizontal, ou seja, ao seu grau de variação no
sentido ântero-posterior. O terceiro formante (F3) está relacionado com as duas cavidades
estabelecidas pela posição da língua, ou seja, à cavidade atrás da constrição da língua e aquela
à frente (PICKETT, 1980; MAGRI el al, 2007).
Ainda segundo Pickett (passim), a idade e tamanho de uma pessoa determinam o
comprimento de seu trato do seu trato vocal e o comprimento do trato afeta as localizações
das freqüências de todos os formantes das vogais. Através da regra, denominada Regra do
Comprimento: as freqüências médias dos formantes das vogais são inversamente
proporcionais ao comprimento do trato faríngeo-oral, pode-se prever onde aparecerão os picos
dos formantes no espectro para crianças, mulheres e homens. O comprimento do trato
faríngeo-oral de uma criança é aproximadamente a metade do comprimento de um homem
que, por sua vez, apresenta um comprimento de trato de 17.5 cm. A mulher apresenta um
45
comprimento de trato cerca de 15% mais curto que o homem, i.e., 14.75 cm. A figura abaixo
apresenta valores referentes a freqüências típicas dos formantes de vogais encontradas em
mulheres e homens adultos e crianças. Em nossa pesquisa, procedemos ao cálculo da média e
desvio padrão de F1, F2 e F3.
FIGURA 1 – Freqüências típicas dos formantes de vogais do inglês.
Fonte: <http://www.ifi.unicamp.br/~kemp/f105wp/downloads/Parte6.pdf>.
Acesso em: 15 jul 2008.
c) A freqüência fundamental
A freqüência fundamental, ou f0, segundo Madureira (1999, p. 55), é o parâmetro
acústico mais importante da entoação que compreende padrões de pitch com forma, função e
domínio específicos. Medida em hertz (Hz), a freqüência fundamental constitui o termo que
designa o número de repetições de ciclos de uma onda periódica. Seu correlato fisiológico é o
número de vibrações (o abrir e fechar) das pregas vocais e o correlato perceptual é o pitch,
que, para a voz de homem adulto, fica em torno de 125 Hz, para a mulher adulta em torno de
210 Hz e para as crianças, em torno de 300 Hz. Durante a adolescência, as pregas vocais se
alongam e a voz fica mais grave, i.e., o pitch diminui.
Variações em f0, acompanhadas geralmente de variações de duração e qualidade
de voz, são usadas para demarcar fronteiras prosódicas, sendo a fronteira sintático-prosódica
46
do português marcada pela elevação da freqüência fundamental na laba final. Em nossa
análise, foram calculadas a média e o desvio padrão de f0 no intuito de perceber os contornos
entoacionais dos segmentos em cada sentença.
d) A intensidade
A intensidade é definida por Laver (1994) como sendo proporcional à amplitude
de oscilação das moculas de ar de uma onda sonora que passam através da atmosfera. A
medida da intensidade, ou energia, é feita em decibéis (dB), sendo que o nível de intensidade
para uma conversa normal é de 50-60 dB. Em nosso corpus, o cálculo da intensidade foi
realizado a partir do segmento referente à camada Pontuação. Essa camada é segmentada a
partir da unidade VV imediatamente anterior ao sinal de pontuação dentro do limite da
sentença (FIG. 5, p. 54).
e) A taxa de elocução
Barbosa (1999) traduz speech rate como taxa de elocução, por achar esse termo
mais apropriado que "velocidade de fala", pois a grandeza física geralmente usada para
indicá-la, "sílabas por unidade de tempo", não expressa a velocidade real de deslocamento dos
articuladores da fala (como a mandíbula), que é obtida pelo uso de técnicas modernas de
registro do movimento de produção de fala (como eletromiografia, microfeixes de raios X,
entre outras).
No entanto, Merlo (2006, p.24) aponta que o conceito “taxa de elocução” é
discutível, já que ora as unidades lingüísticas envolvidas - fones, sílabas, morfemas ou
palavras ora as unidades temporais minutos ou segundos podem apresentar problemas
operacionais, devido a questões relacionadas à própria definição dessas unidades. Quanto às
unidades lingüísticas, por exemplo, “palavras irregulares e/ou freqüentes estariam montadas
no léxico mental, enquanto que palavras regulares e/ou infreqüentes seriam montadas no
momento da enunciação.” A questão é que não se sabe quão regular ou freqüente precisa ser
uma palavra para estar montada no xico mental, que não existem limiares absolutos para
estabelecer as fronteiras de regularidade e freqüência. Assim, em nossa pesquisa, utilizamos a
unidade VV como unidade lingüística, procedendo ao cálculo da TE como sendo: número de
unidades VV por segundo.
47
Para Laver (1994)
26
o existem valores normativos universais que estabeleçam o
que são taxas de elocução baixas, médias e elevadas, porque o padrão de taxa de elocução
depende da norma de cada comunidade sociolingüística. Assim, uma taxa considerada
adequada em uma comunidade pode ser considerada baixa/elevada em outra. Portanto, os
valores considerados serão os recorrentes em cada sentença de nosso corpus.
Desse modo, nosso objetivo é, através da análise do fator tempo, freqüência
fundamental, configuração formântica e intensidade no plano da expressão da fala e da
funcionalidade no plano da expressão da escrita, analisar o papel dos sinais gráficos,
especialmente os sinais de pontuação, que sugerem ênfases e focos na habilidade de leitura
oral.
Para tanto, abordamos, na próxima seção, os aspectos metodológicos que
envolveram o experimento. Tratamos, na primeira sub-seção, dos processos referentes à coleta
de dados: a seleção da escola, dos sujeitos participantes e dos textos utilizados para a leitura
oral; e ao processo de gravação dos dados. Em 3.1.2, descrevemos a organização e preparação
dos dados, i.e., a etiquetagem dos dados. E, por fim, em 3.1.3, discutimos a análise acústica e
estatística dos dados.
3.1 Aspectos metodológicos
Trata-se de uma pesquisa primária qualitativa conjugada com todos de
pesquisa quantitativa (BROWN & RODGERS, 2002). Segundo mez (2002), na pesquisa
quantitativa, as características lingüísticas são classificadas e contadas, sendo que modelos
estatísticos mais complexos são desenvolvidos a fim de explicar os fatos observados. Já na
pesquisa qualitativa, os dados são utilizados apenas para identificar e descrever características
da linguagem em uso e para fornecer exemplos / ocorrência. Desse modo, conjugar métodos
qualitativos com quantitativos tem sua importância no fato de demonstrar o nível de
significância dos fatos observáveis.
A seguir apresentamos as etapas dos procedimentos metodológicos do
experimento.
26
Apud MERLO, 2006.
48
3.1.1. O experimento: coleta de dados
A coleta de dados foi efetivada conforme as exigências e a aprovação do Comitê
de Ética de Pesquisa da UFMG, COEP, e se deu nas seguintes etapas:
a) Seleção da instituição de ensino
A escola selecionada para a realização do experimento foi o Centro Pedagógico
da UFMG, doravante CP. A escolha é justificada por ser realizado na escola um sorteio dos
alunos na série, favorecendo-nos encontrar alunos advindos de diversas partes da região
metropolitana de Belo Horizonte, o que nos oferece diversidade socioeconômica, além da
constante parceria da escola em pesquisas acadêmicas.
b) Seleção dos sujeitos
Os sujeitos participantes do experimento foram 10 alunos da 5a série (turmas a, b
e c), turno tarde, sendo oito do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idade entre 11 e
12 anos. A seleção dos sujeitos foi realizada pela professora de português nomeada pela
coordenação pedagógica da escola para auxiliar na execução da pesquisa. Após a seleção, os
responsáveis pelos alunos foram consultados e assinaram um termo de compromisso
permitindo a participação dos mesmos, bem como o uso da gravação em áudio e vídeo para
fins exclusivamente científicos.
A identificação dos sujeitos foi feita numericamente por ordem crescente de
gravação. Portanto, o primeiro sujeito recebeu a etiqueta de identificação com o número 1 e
assim por diante. Na etiquetagem de cada arquivo de som, esse número corresponde ao último
algarismo, grafado em negrito no exemplo: lit1_2-1.
Com o intuito de proceder a uma análise qualitativa baseada em critérios
extralingüísticos como – sexo, idade, região socioeconômica e nível de escolaridade dos pais -
, foi realizado pela pesquisadora, um breve estudo do histórico escolar de cinco participantes
(três do sexo feminino e dois do masculino) junto ao Núcleo de Atendimento e Integração
Pedagógica, o NAIP, óro do Centro Pedagógico. A motivação para trabalharmos com estes
fatores está no fato do sexo e da idade influenciarem os parâmetros fonético-acústicos. os
49
fatores, socioeconômico e nível de escolaridade dos pais, foram contemplados por serem alvo
de diversas pesquisas científicas, além de constituir uma crença existente entre os educadores,
principalmente da rede pública, de que o nível sócio-econômico exerce influência na
perfomance escolar e, conseqüentemente, na proficiência de leitura. No estudo brasileiro de
Ferreira & Marturano (2002), crianças com menor nível socioeconômico associado a
problemas de comportamento e queixas de dificuldades de aprendizagem foram
caracterizadas como menos expostas a fatores promotores do desenvolvimento, tais como
envolvimento e suporte dos pais, passeios, atividades compartilhadas com os pais no lar e
oferta de brinquedos. Fonseca (1995) aponta que a percentagem de problemas de
aprendizagem e insucesso escolar acaba sendo maior em crianças oriundas de meios
socioeconômicos desfavorecidos.
Assim, para viabilizar a análise desses fatores, foram criadas categorias, a saber:
Categoria A refere-se ao sexo do sujeito;
Categoria B refere-se à região socioeconômica, indicada pelo bairro onde reside o
sujeito;
Os dados sobre os aspectos socioeconômicos das regiões de Belo Horizonte
representados na Categoria B foram extraídos a partir do estudo “Pobreza e desigualdade em
Belo Horizonte” desenvolvido pelo Cedeplar, Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional, da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais
27
.
Os valores apresentados nesse estudo são baseados no Censo/2000 do IBGE.
No quadro abaixo, temos um esboço das variáveis extralingüísticas com os cinco
sujeitos estudados e as duas categorias em questão. Na categoria B, os números entre
parênteses correspondem à localização do bairro no mapa de divisão em áreas de ponderação
do município de Belo Horizonte (FIG. 2), que, por sua vez, sinalizam para os indicadores de
pobreza representados na FIG. 3.
QUADRO 4 - Variáveis extralingüísticas dos sujeitos participantes
SUJEITOS CATEGORIA A CATEGORIA B
1 feminino Ma. Goretti (52)
6 feminino Castelo (18)
8 masculino Jaraguá (29)
9 feminino Floramar (57)
10 masculino Jardim Europa (31)
27
Dispovel em: <http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/pbh/arquivos/mod9parte6.pdf>. Acesso em: 04 jun.
2008.
50
FIGURA 2- Divisão do município de Belo Horizonte em áreas de ponderação.
Fonte: http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/pbh/arquivos/mod9parte6.pdf.
Acesso em: 04 jun. 2008.
FIGURA 3 – Indicador de pobreza por área de ponderação do município de Belo Horizonte.
Fonte: http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/pbh/arquivos/mod9parte6.pdf.
Acesso em: 04 jun. 2008.
A figura acima apresenta uma ilustração da divio espacial da pobreza em Belo
Horizonte. O critério de tonalidades indica que a intensidade da pobreza é maior nas regiões
51
em tons mais escuros. Classificam-se as áreas de Belo Horizonte em seis categorias, segundo
o grau de pobreza, expressas pelo Indicador Ponderado de Carência, o IPC.
O IPC apresentado é construído a partir de quatro tipos diferentes de atributos
domiciliares: a renda per capita, infra-estrutura do domicílio, compatibilidade entre
escolaridade e idade dos membros do domicílio, e compatibilidade entre idade e inserção no
mercado de trabalho.
28
Segundo a classificação pelo Indicador Ponderado de Carência, temos a seguinte
distribuição:
QUADRO 5 - Classificação da categoria B pelo Indicador Ponderado de Carência
CATEGORIA B IPC
Ma. Goretti 0,1259
Castelo 0,1131
Jaraguá 0,1123
Floramar 0,1295
Jardim Europa 0,1200
Os resultados apontam para uma só categoria do IPC, onde se encontra a maior
parte das áreas de ponderação (30 áreas) e apresentam um indicador de pobreza intermediário,
entre 0,105 a 0,13. Nesta faixa está grande parte das áreas de ponderação da região da
Pampulha e de Venda Nova, conforme se observa na FIG. 3.
Podemos inferir que tal resultado pode ser confirmado pelovel de escolaridade
dos pais, que também se encontra numa faixa intermediária, correspondente ao 2o. grau.
c) Gravação dos dados
Para a coleta de dados, foi montado um micro laboratório dentro da escola, em
um ambiente extraclasse, localizada no 3º piso, junto aos setores administrativo-pedagógicos
da escola, para que se evitasse excesso de ruídos, comprometimento das horas-aula da classe e
dispersão dos informantes.
A gravação foi realizada em dois dias no intervalo entre 13 e 17 horas,
correspondentes ao turno da tarde. Sendo os participantes de turmas distintas, buscou-se
utilizar os horários referentes às aulas de português, no entanto, uma hora/aula fora cedida
28
A forma como esses atributos foram definidos encontram-se nas p. 101-103 do estudo supracitado e não serão
esboçados aqui por entendermos serem detalhes dispensáveis para o momento.
52
gentilmente pela professora de Filosofia. Para evitar tumultos e perdas desnecessárias das
aulas, os participantes eram notificados um por vez pela pesquisadora e se dirigiam ao
laboratório. O período médio de gravação por sujeito foi de doze minutos.
A gravação foi realizada em vídeo, utilizando filmadora digital Sony DCR-HC28,
e em áudio, com o auxílio do software Cool Edit 2000 e de um microfone de caba. Foram
coletadas duas leituras orais de cada texto. A amostra constituiu-se da segunda leitura, já que a
primeira poderia apresentar problemas extralingüísticos como nervosismo, gagueira e outros.
Antes de iniciar a gravação, era realizado um teste para ajuste do volume do
microfone utilizado pelo participante. O teste consistia numa leitura de um texto em xerox,
não listado para o experimento, a qual era interrompida de acordo com as orientações da
pesquisadora, até que os ajustes fossem finalizados, o que durava cerca de dois minutos.
Após o teste, a fim de amenizar a tensão dos participantes, a pesquisadora
permitia que o aluno ouvisse, se assim o desejasse, sua ppria voz gravada no teste. Em
seguida, essa gravação-teste era descartada. A partir de então, era explicitado que a gravação
seria realizada em áudio e em vídeo e que consistiria na leitura de seis textos, sendo que cada
um deveria ser lido duas vezes. O sinal, combinado para iniciar e finalizar cada gravação, foi
um ‘ok com o polegar realizado pela pesquisadora. Também foi orientado que o participante
não interrompesse a leitura, caso houvesse alguma dificuldade, hesitação, etc.
Antes de efetivar a leitura, a pesquisadora apontava com o dedo no papel qual
texto do livro didático ou revista deveria ser lido. Encerrado cada texto, a pesquisadora se
deslocava para trocar o livro ou revista contendo o próximo texto. Entre uma gravação e
outra, eram mantidos breves diálogos, ou por parte do aluno, ou por parte da pesquisadora.
Algumas vezes, a pesquisadora questionava o aluno se estava cansado ou informava quanto
faltava para terminar a gravação.
Instruções para não movimentarem as pernas ou as mãos ou ainda que mexessem
no livro foram dadas somente quando esses movimentos interferiram na gravação. Uma
terceira leitura foi realizada quando os ruídos advindos de movimentações extravagantes
ocorreram durante a segunda leitura, o que aconteceu somente em duas ocasiões que serão
sinalizadas quando da análise dos dados. A interrupção da leitura, por fatores
extralingüísticos, foi evitada ao máximo.
Assim, foram realizadas as leituras dos dois textos literários selecionados,
doravante lit 1 e lit 2.
29
Cada texto foi lido duas vezes por cada um dos dez participantes do
29
Os textos encontram-se no ANEXO A.
53
experimento, totalizando 40 arquivos de som, relembrando que somente a segunda leitura é
utilizada, nosso corpus consta de 18 arquivos de som
30
.
3.1.2. Etiquetagem: preparação dos dados
Inicialmente cada arquivo contendo a gravação dos dados foi nomeado da
seguinte maneira: lit 1_2-3, em que
lit 1 = corresponde ao número de identificação do texto, 1 ou 2;
_2 = corresponde ao número que identifica a leitura, no caso, a segunda;
-3 = corresponde ao número que identifica o sujeito participante em ordem crescente de
gravação, nesse caso, o terceiro.
Desse modo, o arquivo nomeado lit 1_2-3 refere-se à gravação da segunda leitura
do texto 1, intitulado O galo que logrou a raposa, realizada pelo sujeito 3.
Cada arquivo de som foi submetido, inicialmente, ao BBEP
31
Bash
BeatExtractor for Praat - um segmentador semi-automático de sons com concepção Vogal-A-
Vogal. Suas principais caraterísticas são a maior velocidade de processamento e a
possibilidade de segmentar ltiplos arquivos de som a partir de um único comando. Além
disso, oferece uma interface gfica para o ambiente linux com libs KDE, tornando o
programa extremamente simples de ser usado, sem necessidade de conhecimento de
comandos de programação, como podemos verificar na FIG. 4.
30
Os arquivos lit 1_2-7 e lit 2_2-7 foram excluídos da análise devido à baixa proficiência da leitura. Como
nosso foco é observar os sinais de pontuação e sua manifestação acústica e não medir os veis de proficiência,
achamos conveniente excluir esse participante, pois o excesso de hesitações não corrobora nosso objetivo. Desse
modo, nossa análise procedeu com dezoito arquivos de som.
31
O BBEP é uma adaptação do Praat script BeatExtractor.psc, criado por Plínio Almeida Barbosa,
implementada por Leonardo Amaral, Ana Cristina Fricke-Matte e Christian Tosta, membros da equipe de
desenvolvedores do grupo de pesquisa Semiofon. Disponível em: www.sourceforge.net/projects/setfon.
Acesso em: 12 jun 2008.
54
FIGURA 4 - Janela do segmentador automático de sons BBEP.
Fonte: MATTE, A. C. F; AMARAL, L; TOSTA, C.
BeatExtrator.psc. Disponível em: www.semiofon.org. Acesso
em: 12 jun. 2008.
A segmentação automática gera um conjunto de fronteiras delimitando início de
vogal, que corresponde à unidade VV, na forma de arquivo do Praat com camadas de texto
vinculadas a arquivos de som, o TextGrid.
Após essa etapa, foram criadas as camadas descritas abaixo, segundo Matte
(2006) e ilustradas na FIG. 5:
a) 1a. camada: VV = refere-se à segmentação das sentenças em unidades
VV. Essa camada foi gerada pela segmentação automática e teve sua
segmentação revisada a fim de garantir a uniformidade do parâmetro
de início de vogal adotou-se como critério o segundo pico de onda
periódica da transição consoante-vogal e a fim de corrigir eventuais
erros da segmentação automática (MATTE, 2006). O conteúdo nico
das unidades VV foi provido com etiquetas fonológicas, segundo
Albano & Moreira (1996),
.
que em seu abstract explica:
a letter-to-phone conversion scheme is proposed for Portuguese which
excludes representation of allophonic detail. Phonetically unstable segments
are treated as archisegments, their articulatory weakness being analyzed in
terms of feature underspecification.
b) 2a. camada: Pausa = refere-se à segmentação entre sentenças do
texto, etiquetada com a letra T. Esta etiqueta foi escolhida porque T não
faz parte do conjunto de símbolos dotado para cálculo de z-score das
55
unidades VV na tabela acessória do Praat, originalmente criada por
Plínio A. Barbosa (2004). O propósito da criação dessa camada é
orientar a análise, que procederá a partir da sentença.
c) 3a. camada: TE = cópia exata da camada Texto, com apagamento do
texto o qual é substituído pelo número de unidades VV da sentença.
Tem como propósito o cálculo automático da TE em unidades VV por
segundo, através de script Praat (MATTE, 2006).
d) 4a. camada: Texto = essa camada delimita a sentença do início da
primeira unidade VV ao início da última. Recebeu etiquetas com uma
transcrição ortográfica a fim de orientar análises posteriores e facilitar
a localização dos segmentos, principalmente dos sinais de pontuação,
em eventuais buscas no TextGrid.
e) 5a. camada: Pontuação = cópia exata da camada Texto e serve para
segmentar as sentenças de acordo com a ocorrência dos sinais de
pontuação. A delimitação procedeu a partir da unidade VV
imediatamente anterior ao sinal de pontuação. A partir dessa camada,
foram coletados dados de intensidade, TE e f0.
f) 6a. camada: Função = cópia exata da camada Pontuação, com o
apagamento do texto, o qual foi substituído por etiquetas com a função
dos sinais de pontuação recorrentes em cada sentença: ora enunciativa,
ora seencial. Foram geradas novas divisões conforme o número de
sinais nas sentenças, por exemplo, o trecho “_esperteza e meia.” foi
dividido em dois, sendo que o travessão /_/ recebeu uma etiqueta com
a função enunciativa e o ponto (.) recebeu etiqueta com a função
seqüencial (cf. FIG. 5).
g) 7a. camada: Amplitude = cópia exata da camada Função, com o
apagamento do texto. Quanto à amplitude dos sinais, nossa análise
restringiu-se à vírgula. Por isso, nessa camada, somente os trechos
onde ocorreu a vírgula receberam etiquetas com o vel de amplitude,
ora nível 4, chamada vírgula inter-oracional ou intercusula; ora nível
5, vírgula intra-oracional ou intracláusula.
56
FIGURA 5 Janela de edição do Praat. Cópia do sinal acústico, espectograma e TextGrid completos
da sentença Contra esperteza, _esperteza e meia”, extraída do texto lit 1_2-1, com suas sete camadas:
VV, Pausa, TE, Texto, Pontuação, Função e Amplitude.
3.2 Análise dos dados
A análise acústica dos dados foi realizada com o auxílio do programa Praat
32
.
Através do script Extract (cf. ANEXO B) implementado por Matte (2008), foram extraídos:
(a) duração observada das unidades VV e cálculo do z-score e z-suavizado;
(b) média e desvio padrão dos formantes F1, F2 e F3;
(c) média e desvio padrão da intensidade;
(d) média e desvio padrão da freqüência fundamental;
(e) cálculo da taxa de elocução das sentenças.
Para rodar cada arquivo, bastava identificar, no script, o caminho onde se
encontrava o arquivo e o nome do arquivo. Desse modo, do arquivo lit1_2-1 foram gerados
32
Praat 5.0.20 © é um software livre de análise acústica que trabalha em plataforma Windows, Macintosh e
UNIX, mantido, desde 1992, por Paul Boersma e David Weenink do Institut of Phonetics Sciences, University of
Amsterdam. Disponível em: < www.praat.org >. Acesso em: 20 jan. 2008.
57
automaticamente, por exemplo: lit1_2-1_dados; lit1_2-1_pontuação.csv; lit1_2-1_função.csv;
lit1_2-1_amplitude.csv; lit1_2-1_texto.csv; lit1_2-1_te.csv; lit1_2-1_numseg.csv.
Alguns ajustes foram necessários para que a análise fosse bem sucedida. Um dos
problemas recorrentes foi a impossibilidade de se calcular o pitch em determinado segmento
devido a falhas na segmentação das unidades VV, o que foi sanado logo que identificado.
Gerados todos os arquivos descritos acima, era preciso completar o arquivo
dados.csv, que trazia colunas, preenchidas com a palavra “completar”, que tinham por título:
pontuação, função, amplitude, texto e TE. Para esse procedimento, o arquivo dados. csv era
aberto no programa de planilha eletrônica do OpenOffice.org e os dados faltantes eram
copiados de cada arquivo referente às colunas a serem preenchidas e colados no arquivo
dados.csv. Esse novo arquivo foi nomeado dadosCompletos. csv, como em: lit1_2-
1_dadosCompletos.csv. Esse procedimento foi realizado com os dezoitos arquivos, sendo os
nove arquivos lit1 reunidos numa mesma planilha, nomeada DadosCompletos_lit1.csv, e os
nove lit2, DadosCompletos_lit2.csv e, finalmente, esses foram reunidos num único arquivo, o
DadosCompletos_lit1_lit2.csv.
O próximo passo foi relacionar estatisticamente os dados (ANOVA one way) com
o auxílio do programa R
33
. Desse modo, fatores refere-se às variáveis extralingüísticas e
varveis, às lingüísticas, em que:
- falante: identifica os sujeitos, numerados por ordem de gravação de 1 a 10, sendo que o
sujeito de número 7 foi excluído da análise por motivos referidos (cf. TAB 1, APÊNDICE
A);
- sexo: refere-se ao gênero masculino e feminino;
- função: refere-se à classificação dos sinais de pontuação;
- amplitude: refere-se ao nível de amplitude da vírgula, se nível 4 ou nível 5.
- tipo: identifica o texto, se lit 1 ou lit 2, renomeados na tabela como lit a e lit b,
respectivamente.
- posição: refere-se à posição em relação à seqüência de dados do z-score.
33
R Development Core Team (2007). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0. Disponível em: < www.R-project.org >. Acesso
em: 16 jul. 2008.
58
QUADRO 6 - Parâmetros e variáveis de análise
FATORES VARIÁVEIS
z- suavizado
falante f0
sexo F1
função F2
amplitude F3
tipo TE
posição intensidade
A análise estatística z-score foi utilizada com o intuito de eliminar os efeitos de
duração intrínseca dos segmentos no cômputo das unidades VV (cf. MEIRELES, 2007;
BARBOSA, 1996). Segundo Barbosa (op. cit.), no modelo de Campbell (1992) o valor z de
cada duração do segmento s é obtido pela fórmula: Durs = exp (µs + z.σs), em que Durs é a
duração do segmento e (µs, σs) significa a média e o desvio padrão das durações log-
transformadas de todas as realizações s em um ad hoc corpus. O z-suavizado aproxima os
dados da nossa percepção da medida de duração e refere-se a uma suavização de 5 pontos
aplicados à seqüência de dados do z-score, o que permite observar com mais precisão as
proeminências de duração, ou seja, a periodicidade de ocorrência dos acentos frasais
(MATTE, 2008). Nosso intuito é verificar quanto os valores de duração obtidos em nosso
corpus variaram conforme a tabela de durações intrínsecas para os fones do português
brasileiro (cf. BARBOSA, 1996, p. 2).
59
GRÁFICO 1 Distribuição das médias de freqüência para o z-score
suavizado. O eixo x representa os valores do z-score suavizado e o
eixo y, as médias de freqüência. O gráfico mostra todos os valores do
z-score suavizado.
Assim, através de um gráfico histograma (GRAF. 1), avaliamos os valores
referentes ao z-suavizado e descartamos de nosso corpus os valores que se apresentaram fora
do padrão, ou seja, foram desconsiderados os valores acima de 5000.
60
GRÁFICO 2 Distribuição das médias de freqüência para o z-score
suavizado após eliminação dos valores acima de 5000. O eixo x
representa os valores do z-score suavizado e o eixo y, as médias de
freqüência. Este gráfico mostra que houve alta concentração de
valores do z-score suavizado entre –200 e 200.
O GRAF. 2 ainda nos mostra uma alta concentração de valores do z-score
suavizado entre -200 e 200, sendo que o recorrente é uma alta concentração próximo de 0
(zero). Essa variação pode ser explicada pelo fato dos valores de referência serem de um
homem adulto e os informantes de nossa pesquisa serem p-adolescentes.
Vejamos agora como se dá a distribuição das médias de freqüência para a TE.
O GRAF. 3 mostra que houve uma distribuição quase normal para TE, com uma
concentração entre 4.0 e 6.0 VV/s.
61
GRÁFICO 3 Distribuição das médias de freqüência para a variável
TE em VV/s. O eixo x representa os valores da TE e o eixo y, as
médias de freqüência. Este gráfico mostra que a maior concentração
dos valores da TE ficou entre 4,0 e 4,5 VV/s.
Meireles (2007, p. 279) afirma que cada falante possui um tempo intrínseco,
sendo alguns naturalmente mais rápidos e outros mais lentos. A ANOVA One Way para o fator
falante demonstrou que a TE possui signifincia estatística (Df= 17, F= 177.22, p < 0.001),
corroborando essa afirmação.
Fazendo uma comparação entre o tipo de texto, identificados pelas letras a e b, e
os falantes, identificados pelo dado numérico, percebe-se uma grande varião da TE (cf.
TAB. 1, APÊNDICE A). O texto b teve uma média da TE mais elevada que o texto a para
todos os falantes (cf. GRAF. 5). Porém, essa diferença observada entre os textos variou de
falante para falante, como previsto por Meireles. O falante 10, por exemplo, no texto a,
apresentou uma média de 4.7 VV/s com desvio padrão de 0.6 e, no texto b, a média e o desvio
padrão foi de 5.6 (0.8), ou seja, uma diferea de nove décimos entre as médias da TE. o
62
falante 1 apresentou uma média de 4.7 (0.7) para o texto a e de 5.0 (0.6) para o texto b, o que
significa uma diferença de apenas três décimos entre elas. A média mais elevada da TE foi
realizada pelo falante 4: 5.5 (0.6), no texto a, e 6.4 (0.7), no texto b; e a mais baixa, pelo
falante 9: 4.3 (0.6), no texto a, e 4.9 (0.8), no texto b.
34
GRÁFICO 4 dias de TE em VV/s para fator falante. O eixo x
representa os falantes (identificados pelos numerais) e o texto lit a
(identificado pela letra a). O eixo y representa os valores da TE. A
barra vertical pontilhada denota intervalo de confiança de 95%. Este
gráfico mostra que houve diferença significativa da TE no texto lit a
para todos os falantes.
34
Todos os valores das médias e desvio padrão para o fator falante estão dispoveis na TAB. 1, APÊNDICE A.
63
GRÁFICO 5 Médias de TE em VV/s para fator tipo. O eixo x
representa os textos lit a e lit b e o eixo y, os valores da TE. A barra
vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de 95%. Este
gráfico mostra que os valores da TE tiveram médias menos elevadas
no lit a que no lit b.
A ANOVA em função do falante (Df=17), demonstrou que as variáveis f0 (F=
90.631), intensidade (F=387.21), F2 (F= 6.6864,), F3 (F=19.415) tiveram significância
estatística com p< 0.001, diferentemente de F1 que não se mostrou significante.
Observou-se um comportamento diferente entre as variáveis TE e f0. Enquanto
ocorre uma uniformidade nas médias da TE em que o texto b (cf. GRAF. 4) apresenta uma
taxa mais elevada que o texto a para todos os falantes, em relação ao f0, ocorre uma elevação
do texto a para o texto b em seis falantes, uma queda em dois falantes e, praticamente,
nenhuma variação para o falante 1, sendo que a maior e a menor média de f0 ocorreram no
texto b, pelos falantes 4 e 8, respectivamente (cf. GRAF. 6). Observamos, então, que o falante
4 apresenta as maiores taxas tanto para TE quanto para f0.
64
GRÁFICO 6 – Médias de f0 para fator falante. O eixo x representa os
falantes (identificados pelos numerais) e os textos: lit a (identificado
pela letra a) e lit b (subentendido na seqüência). O eixo y representa os
valores da intensidade. Os traços horizontais presentes em cada ponto
denotam um intervalo de confiança de 95%. Este gráfico mostra que
não houve diferença significativa da intensidade entre os textos
somente para o falante 4, que ocorreu uma ascendência da intensidade
entre os textos lit a e lit b para os falantes 2, 3, 5, 6, 8, 9 e uma
descendência para os falantes 1 e 10.
Quanto à intensidade, a média dos textos variou para quase todos os falantes, com
a exceção do falante 4, que obteve a mesma média para ambos os textos (cf. GRAF. 7). A
média mais elevada, 65.9 dB e desvio padrão de 3.1, foi realizada pelo falante 10 no texto a; a
mais baixa, 57.3 dB e desvio padrão de 2.6, foi obtida pelo falante 3, também no texto a (cf.
TAB 1, APÊNDICE A). A tendência foi de uma maior intensidade para o texto b, o que só não
ocorreu com os falantes 1 e 10, que tiveram uma queda de intensidade.
65
GRÁFICO 7 dias da intensidade para fator falante. O eixo x
representa os falantes (identificados pelos numerais) e os textos: lit a
(identificado pela letra a) e lit b (subentendido na seqüência). O eixo y
representa os valores da intensidade. Os traços horizontais presentes
em cada ponto denotam um intervalo de confiança de 95%. Este
gráfico mostra que não houve diferença significativa da intensidade
entre os textos somente para o falante 4, que ocorreu uma ascendência
da intensidade entre os textos lit a e lit b para os falantes 2, 3, 5, 6, 8,
9 e uma descendência para os falantes 1 e 10.
Também quanto à configuração formântica relacionada ao tipo de texto,
diferenças significativas. O texto a apresenta média de F2 mais baixa que o texto b, contrário
ao que acontece em F3, como podemos ver nos GRÁFICOS 8 e 9.
66
GRÁFICO 8 dias de F2 para fator tipo. O eixo x representa os
textos lit a e lit b e o eixo y, os valores do F2. A barra vertical
pontilhada denota um intervalo de confiança de 95%. Este gráfico
mostra que os valores de F2 tiveram médias menos elevadas no lit a
que no lit b.
67
GRÁFICO 9 dias de F3 para fator tipo. O eixo x representa os
textos lit a e lit b e o eixo y, os valores do F3. A barra vertical
pontilhada denota um intervalo de confiança de 95%. Este gráfico
mostra que os valores de F3 tiveram médias mais elevadas no lit a que
no lit b.
O z-suavizado confirma os resultados obtidos em função do falante mostrando-se
significativo estatisticamente (Df=17, F=9,3436, p < 0.001).
Como pode ser observado no GRAF. 10, a maioria dos falantes apresentou
médias com valores negativos de z-suavizado, i.e., abaixo dos valores de referência, o que
significa que houve um encurtamento na duração dos segmentos para esses falantes. para
os falantes 5, 6 e 9 ocorreu um alongamento dos segmentos comparados aos valores de
referência, todos no texto a. O GRAF. 11 ilustra essas constatações, mostrando que o texto a,
com média de -26.5 (406) apresenta valores mais próximos de zero que o texto b, média e
desvio padrão de -91.2 (412) para z-suavizado. Desse modo, temos que o texto b apresenta
maior encurtamento da duração dos segmentos que o texto a, o que, por sua vez, confirma os
resultados encontrados para a taxa de elocução, em que o texto b demonstrou maior média
que o texto a.
68
GRÁFICO 10 Médias de z-suavizado para fator falante. O eixo x
representa os falantes (identificados pelos numerais) e os textos: lit a
(identificado pela letra a) e lit b (subentendido na seqüência). O eixo y
representa os valores do z-score suavizado. A barra vertical pontilhada
denota um intervalo de confiança de 95%. Este gráfico mostra que
houve diferença significativa do z-score suavizado entre os textos para
os falantes 2, 3, 4, 5, 6 e 9.
69
GRÁFICO 11dias de z-suavizado para fator tipo. O eixo x
representa os textos lit a e lit b e o eixo y, os valores do z-score
suavizado. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de
confiança de 95%. Este gráfico mostra que houve diferença
significativa do z-score suavizado entre os textos.
Abaixo estão descritos a média e o desvio padrão das variáveis que tiveram
significância estatística em função do tipo de texto.
TABELA 2 - Análise das variáveis para o fator tipo
VARIÁVEIS ANOVA p < MÉDIA (DESVIO PADRÃO)
One Way texto a Texto b
f0 (Hz) Df =1, F = 29,842 0,001 256 (54) 264 (63)
TE (VV/s) Df =1, F = 653,79 0,001 4,9 (0,8) 5,6 (0,9)
F2 (Hz) Df =1, F = 7,8713 0,01 1805 (344) 1831 (324)
F3 (Hz) Df =1, F = 5,1732 0,05 2926 (258) 2910 (270)
z-suavizado Df =1, F = 29,717 0,001 -26,5 (406) -91,2 (412)
intensidade (dB)
Df =1, F = 24,722 0,001 60,0 (3,7) 60,5 (3,1)
Verificamos também o comportamento das variáveis em função do sexo. Todas
foram estatisticamente significantes (cf. TAB. 3).
Como referido, na puberdade, as pregas vocais tendem a se alongar
70
ocasionando diminuição de
pitch. Os sujeitos dessa pesquisa estão na faixa etária entre onze e
doze anos e os valores encontrados transitam, assim, entre os valores médios de um adulto e
de uma criança: 125 Hz para o homem adulto; em torno de 210 Hz para a mulher adulta e para
as crianças, em torno de 300 Hz. Desse modo, a média e o desvio padrão apresentados pelo
sexo masculino foram de 234 Hz (30) e para o sexo feminino, 267 Hz (62). O GRAF. 12
ilustra essa diferença entre as médias de f0 para ambos os sexos.
GRÁFICO 12 - Médias da variável f0 para fator sexo. O eixo x
representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os valores do f0.
A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de 95%.
Este gráfico mostra que houve diferença significativa do f0 entre os
sexos feminino e masculino.
Portanto, enquanto f0 é menor para o sexo masculino, a TE e a intensidade são
maiores. O sexo masculino apresenta uma TE com média de 5.4 VV/s (1.0) versus 5.2 VV/s
(0.9) para o sexo feminino, o que confirma os resultados encontrados por Meireles (2007, p.
280): 5.8 sílabas/s (masculino) e 5.2 sílabas/s (feminino). E a intensidade apresenta média e
desvio padrão de 63 dB (2.9) para o sexo masculino versus 59 dB (2.9) para o sexo feminino.
A tabela 3 apresenta os resultados da ANOVA One Way de cada variável em
função do sexo.
71
TABELA 3 - Alise das variáveis para o fator sexo
VARIÁVEIS ANOVA p < MÉDIA (DESVIO PADRÃO)
One Way fem Masc
f0 (Hz) Df =1, F = 304,19 0,001 267 (62) 234 (30)
TE (VV/s) Df =1, F = 40,228 0,001 5,2 (0,9) 5,4 (1,0)
F1 (Hz) Df =1, F = 109,84 0,001 723 (178) 659 (202)
F2 (Hz) Df =1, F = 12,643 0,001 1826 (321) 1787 (377)
F3 (Hz) Df =1, F = 152,2 0,001 2895 (256) 3000 (276)
z-suavizado Df =1, F = 6,2658 0,05 -48,7 (413) -84,4 (400)
intensidade (dB) Df =1, F = 5,4201 0,05 59 (2,9) 63 (2,9)
Verifiquemos qual o comportamento da TE se cruzarmos os fatores sexo e tipo.
O GRAF. 13 demonstra que o sexo masculino possui maior TE em ambos os
textos e que há uma significativa diferença entre as taxas do texto a e b.
GRÁFICO 13 - Médias da variável TE para os fatores sexo e tipo. O
eixo x representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os valores
da TE. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa da TE
entre os tipos textuais, lit a e lit b, assim como para ambos os sexos.
72
Partindo do pressuposto que a TE mostra a velocidade de fala na frase como um
todo e o z-suavizado mostra o quanto os segmentos foram esticados, segundo os valores de
referência do z-score, podemos afirmar, conforme o GRAF. 14, que, embora o sexo feminino
apresente uma taxa de elocução menor que o masculino, a duração dos segmentos sofrem um
esticamento muito maior no sexo feminino que a do masculino. Isso reequilibra a diferença
entre as TE, fazendo com que o sexo feminino não apresente uma taxa de elocução muito
mais lenta que o masculino.
Observamos também que o sexo masculino não apresentou diferença da média do
z-suavizado entre os dois textos, i.e., não houve diferença entre
os valores das durações dos
segmentos entre os textos. para o sexo feminino houve diferença. O texto
a possui valores
do z-suavizado mais próximos de zero que o texto b, o que significa que houve um
encurtamento mais acentuado da duração dos segmentos no texto b.
GRÁFICO 14 - Médias do z-score suavizado para os fatores sexo e
tipo. O eixo x representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os
valores do z-score suavizado. A barra vertical pontilhada denota um
intervalo de confiança de 95%. Este gráfico mostra que houve
diferença significativa para o sexo feminino entre os tipos textuais, lit
a e lit b, o que não ocorreu com o sexo masculino.
Percebe-se, assim, que a variação de velocidade de fala de um texto para outro é
73
semelhante para ambos os sexos, praticamente paralela. Desse modo, nossa hipótese é que o
sexo feminino tenha uma atenção mais aguçada da pontuação presente no texto que o sexo
masculino, d apresentar uma TE mais lenta com maior alongamento das durações dos
segmentos. Vários testes de correlação de pearson foram realizados entre as variáveis, porém,
todas as correlações foram baixas. Restou-nos saber, então, se a diferença observada tanto na
TE quanto no z-suavizado para o sexo feminino tem alguma relação com a pontuão
recorrente em cada texto. Para tanto, realizamos uma análise qualitativa dessa recorrência e
observamos uma maior quantidade e variedade dos sinais de pontuão no texto a, como
podemos ver na TAB. 4.
TABELA 4 - Número de ocorrência dos sinais de pontuação nos textos a e b.
TIPO SINAIS DE PONTUAÇÃO
(?) (!) (...) ( . ) ( - ) (“ ”) ( , ) nível 4 ( , ) nível 5
Texto a 1 4 3 10 5 1 5 18
Texto b 4 1 2 12 1 0 4 5
Pelas ocorncias observadas acima, podemos dizer que o texto a apresenta
arranjos mais complexo quanto à pontuação que o texto b. A grande quantidade de vírgulas de
níveis de amplitude 5, referente à vírgula intracláusula, por exemplo, acusa a presença de
diversos encaixes de cláusulas em seqüência, o que exigiria, a princípio, maior acuidade por
parte do locutor.
A partir dos resultados obtidos pela análise quantitativa, procedemos a uma
análise qualitativa no que diz respeito à pontuação. Observando a ANOVA da TE para o fator
pontuação, notamos que as sentenças mais extensas, sem ocorrência de seqüências
encaixadas, demonstraram taxas de elocução menos elevadas.
Vejamos o caso de duas sentenças pontuadas com o mesmo sinal - interrogação
(?) - extraídas do mesmo texto (lit 2), com número de unidades VV diferentes, que
poderíamos referir como tendo extensões diferentes. A sentença “O que é que eu faço com a
grana de domingo guardada por enquanto numa caixa de tênis debaixo de minha cama?”
possui 33 unidades VV e apresentou uma taxa de elocução de 6.0 VV/s com desvio padrão de
0.7 enquanto a sentença “Será que alguma menina gostaria de ir ao cinema comigo?”, com 17
unidades VV, praticamente a metade da primeira sentença, obteve uma média de 6.5 VV/s
(0.7), ou seja, uma TE com média 0.5 maior que a primeira sentença. Esse fato parece supor
que quanto mais extensa, ou melhor, quanto mais unidades VV há numa sentença, menor é a
74
taxa de elocução.
Vejamos agora outra sentença do mesmo texto, pom, com a presença de um
sinal seqüencial, o ponto (.): Não sei o que me deu e fui convidar a Cláudia para dançar sem
saber dançar.”, a qual conta 23 unidades VV e apresentou uma TE de 5.6 VV/s (0.6). Já a
sentença “Não tenho coragem de chegar perto.”, com 10 unidades VV, menos da metade da
sentença anterior, obteve uma média de 6.1 VV/s, o que parece confirmar nossa hipótese.
Porém, para se chegar a uma conclusão, faz-se necessário analisar o comportamento da TE
em cada sentença dos dois textos e também em relação a cada sinal de pontuação, seja
enunciativo ou seqüencial, o que não realizamos em nossa proposta, ficando como sugestão
aprofundar nesse aspecto, já que parece apontar para fatos interessantes.
GRÁFICO 15 - Médias do z-score suavizado para os fatores posição e tipo. O eixo x representa as
posições de 0 a –7, identificadas pelas letras de a a h, e o eixo y, os valores de z-suavizado. A barra
vertical denota um intervalo de confiança de 95%. Este gráfico mostra que não houve diferença
significativa entre os textos lit a e lib nas posições 0 (a), 5 (f) e 7 (h).
O GRAF. 15 mostra que o texto b se aproxima mais do padrão lingüístico que o
texto a. O comportamento da duração no texto a é menos previsível que no texto b, como
mostra o estudo de Matte (2008) sobre prosa e poesia, no qual é demonstrado que a fala
emotiva é mais imprevisível. O fato de o texto a possuir maior variedade de pontuação
favorece, então, uma prosódia mais rica que o texto b.
Realizamos ainda a ANOVA One Way (Df=1, F=284.95, p < 0.001) do desvio
75
padrão de f0 em função do sexo e constatamos que o desvio padrão de f0 é muito mais alto
para o sexo feminino, 267 (63.7), que para o masculino, 234 (31.3). Assim, além de variar a
duração relativa (TE e z-suavizado), elas também variam o f0.
No que se refere à configuração formântica, a situação é completamente oposta.
Os GRAF. 16, 17 e 18 mostram que o sexo masculino apresenta uma maior variação em todos
os três formantes.
GRÁFICO 16 - Médias do desvio padrão em F1 para o fator sexo. O
eixo x representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os valores
do F1. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa do F1
entre os sexos feminino e masculino, com médias mais baixas do
desvio padrão para o sexo feminino.
76
GRÁFICO 17 - Médias do desvio padrão em F2 para o fator sexo. O
eixo x representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os valores
do F2. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa do F2
entre os sexos feminino e masculino, com médias mais baixas do
desvio padrão para o sexo feminino.
77
GRÁFICO 18 - Médias do desvio padrão em F3 para o fator sexo. O
eixo x representa os sexos feminino e masculino e o eixo y, os valores
do F3. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa do F3
entre os sexos feminino e masculino, com médias mais baixas do
desvio padrão para o sexo feminino
A ANOVA One Way mostrou que significância estatística do desvio padrão
dos formantes em função do sexo, conforme tabela abaixo.
TABELA 5
Análise do desvio padrão dos formantes para o fator sexo
VARIÁVEIS ANOVA p < MÉDIA (DESVIO PADRÃO)
One way fem masc
F1 (Hz) Df =1, F = 17,078 0,001 145 (111) 162 (156)
F2 (Hz) Df =1, F = 20,123 0,001 242 (166) 268 (197)
F3 (Hz) Df =1, F = 20,123 0,001 242 (166) 268 (166)
A respeito das diferenças encontradas no comportamento das variáveis em função
do sexo, fica a seguinte questão: a maior média da TE para o sexo masculino estaria
relacionada à maior variação observada na configuração dos formantes? Uma análise do z-
score dos formantes pode ser um dos pontos que ofereça pistas sobre essa questão, o que fica
78
como sugestão para investigações futuras.
Voltemos nossa atenção para a função dos sinais de pontuação. A ANOVA One
Way das variáveis mostrou que f0, intensidade, F1 e TE possuem significância estatística (cf.
TAB. 6), o que não ocorreu com z-suavizado, F2 e F3.
TABELA 6
Análise das variáveis para o fator função
VARIÁVEIS ANOVA p < MÉDIA (DESVIO PADRÃO)
One way enunciativa Seqüencial
f0 Df =1, F = 3,8893 0,05 262 (62) 259 (57)
TE Df =1, F = 281,95 0,001 5,6 (1,0) 5,1 (0,8)
F1 Df =1, F = 11,985 0,001 694 (183) 714 (187)
intensidade Df =1, F = 27,472 0,001 59,9 (3,5) 60,4 (3,4)
O GRAF. 19 demonstra que a taxa de elocução (TE) é maior na função
enunciativa, em torno de 5.6 VV/s, enquanto na função seencial, fica em torno de 5.1 VV/s.
Também ocorre uma maior variação nos valores da TE na função enunciativa, o que pode ser
visto pela barra vertical pontilhada do gráfico que denota um intervalo de confiança de 95%.
79
GRÁFICO 19 - Médias da variável TE para o fator função. O eixo x
representa as funções enunciativa e seqüencial e o eixo y, os valores
da TE. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa da TE
entre as funções enunciativa e seqüencial.
80
O mesmo pode ser afirmado em relação ao f0, porém, ocorre uma maior variação
dos dados de f0 na função enunciativa que na TE , conforme vemos no GRAF. 20
GRÁFICO 20 - Médias da variável f0 para o fator função. O eixo x
representa as funções enunciativa e seqüencial e o eixo y, os valores
da TE. A barra vertical pontilhada denota um intervalo de confiança de
95%. Este gráfico mostra que houve diferença significativa da TE
entre as funções enunciativa e seqüencial.
em relação à intensidade, percebe-se uma inversão: enquanto a TE e f0
possuem maiores médias para a função enunciativa, quanto à intensidade as médias são
menores, permanecendo, porém, a maior variação dos dados para a função enunciativa
(GRAF. 21).
81
GRÁFICO 21 - Médias da variável intensidade para o fator função. O
eixo x representa as funções enunciativa e seencial e o eixo y, os
valores da intensidade. A barra vertical pontilhada denota um intervalo
de confiança de 95%. Este gráfico mostra que houve diferença
significativa da intensidade entre as funções enunciativa e seqüencial,
com médias mais baixas para a função enunciativa.
Portanto, vimos até o momento que, ao relacionarmos as variáveis lingüísticas aos
diversos fatores em estudo, muitas variáveis demonstraram alta significância estatística. No
próximo capítulo, são discutidos alguns apontamentos decorrentes da análise realizada.
4 Considerações Finais
De um modo geral, a análise demonstrou que todas as variáveis possuíram
significância estatística em função dos fatores: falante, sexo, função e pontuação. Somente a
variável F1 não demonstrou significância para o fator tipo. Quanto à amplitude, somente a
intensidade e F1 demonstrou significância.
Em outras palavras, podemos dizer que esses resultados mostram:
a) que o sujeito, analisado sob os fatores falante e sexo, interferiu diretamente nos resultados
obtidos, conforme previsto por Meireles (2007);
b) que, quanto ao plano de expressão da escrita, o tipo de texto é significativo, mesmo sendo
os dois textos selecionados literários e em prosa. Esse fato corrobora os resultados obtidos por
Matte (2008) em seu estudo sobre fala neutra e fala emotiva em textos em prosa e poesia, que
demonstrou que a prosa emotiva possui padrões lingüísticos mais imprevisíveis que a poesia;
c) que as segmentações realizadas no texto através da pontuação, bem como sua classificão
funcional, também influenciam os padrões lingüísticos;
d) que o sexo feminino parece demonstrar maior acuidade na leitura dos sinais de pontuação,
visto que, as análises realizadas em relação às variáveis TE, intensidade, f0 e z-suavizado
mostraram significâncias estatísticas também quando relacionadas simultaneamente ao tipo de
texto, que, por sua vez, apresentou padrões lingüísticos diferenciados. Faz-se necessário,
porém, buscar novas pistas como, por exemplo, a análise do z-score para a configuração
formântica, já que a variação dos mesmos demonstrou um comportamento contrário a todas as
outras variáveis.
A partir dos resultados obtidos pela análise quantitativa, procedemos a uma
análise qualitativa no que diz respeito à pontuação. Observando a ANOVA da TE para o fator
pontuação, notamos que as sentenças mais extensas, sem ocorrência de seqüências
encaixadas, demonstraram taxas de elocução menos elevadas. Porém, para se chegar a uma
conclusão, faz-se necessário analisar o comportamento da TE em cada sentença dos dois
textos e também em relação a cada sinal de pontuação, seja enunciativo ou seqüencial, o que
não realizamos em nossa proposta, ficando como sugestão aprofundar nesse aspecto, que
parece apontar para fatos interessantes.
Enfim os resultados obtidos demonstraram serem significativos os papéis dos
sinais de pontuação quanto a sua funcionalidade, descrita por Dahlet (2006), tanto no plano de
83
expressão da escrita, quanto no plano de expressão da oralidade. Essa pesquisa buscou abrir
caminhos para que novas investigações sejam feitas de modo a aprofundar outros aspectos do
plano da expressão na oralidade não tratados e apontar para a necessidade de tratar o plano do
conteúdo também na oralidade.
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Belo Horizonte, 2003.
92
APÊNDICE A
TABELA 1 - Análise das variáveis para o fator falante
MÉDIA (DESVIO PADRÃO) DAS VARIÁVEIS FALANTE
f0 TE F1 F2 F3 intensidade
1a 232 (41,1) 4,7 (0,7) 671 (152) 1772 (344) 2820 (224) 60,9 (3,2)
1b 231 (37,6) 5,0 (0,6) 672 (143) 1807 (315) 2790 (215) 59,8 (2,2)
2a 279 (72,2) 5,1 (0,7) 750 (198) 1867 (371) 2875 (295) 61,7 (2,8)
2b 286 (80,6) 5,5 (0,8) 746 (168) 1910 (339) 2861 (279) 64,1 (1,9)
3a 272 (69,5) 5,6 (0,5) 727 (167) 1780 (327) 2887 (198) 57,3 (2,6)
3b 321 (101) 6,2 (0,7) 729 (178) 1802 (288) 2894 (220) 57,8 (2,6)
4a 241 (32,5) 5,5 (0,6) 738 (207) 1811 (358) 2937 (276) 59,0 (1,8)
4b 250 (32,1) 6,4 (0,7) 730 (196) 1773 (312) 2896 (232) 59,0 (1,9)
5a 299 (50,7) 4,4 (0,6) 708 (177) 1771 (303) 2901 (268) 58,5 (2,1)
5b 307 (37,9) 5,2 (0,8) 709 (171) 1808 (337) 2928 (251) 59,2 (1,5)
6a 260 (61,4) 4,6 (0,6) 720 (143) 1841 (294) 2949 (252) 57,9 (2,8)
6b 273 (53,8) 5,2 (0,6) 686 (169) 1872 (262) 2952 (274) 58,5 (1,8)
8a 222 (30,6) 5,5 (0,9) 632 (207) 1713 (382) 3030 (262) 61,7 (2,0)
8b 218 (30,2) 5,8 (1,2) 672 (255) 1821 (411) 3051 (277) 62,2 (1,4)
9a 245 (34,2) 4,3 (0,6) 757 (181) 1886 (304) 2953 (244) 57,3 (1,8)
9b 253 (41,1) 4,9 (0,8) 771 (204) 1878 (273) 2878 (278) 59,0 (2,0)
10a 251 (25,9) 4,7 (0,6) 669 (161) 1807 (368) 2986 (234) 65,9 (3,1)
10b 244 (20,0) 5,6 (0,8) 667 (171) 1814 (333) 2930 (318) 65,1 (1,9)
93
ANEXO A
Textos literários utilizados no experimento
A) Texto lit 1
O GALO QUE LOGROU A RAPOSA
Monteiro Lobato
Um velho galo matreiro, percebendo a aproximação da raposa, empoleirou-se
numa árvore. A raposa, desapontada, murmurou consigo: “... Deixe estar, seu malandro, que já
te curo!...” E em voz alta:
Amigo, venho contar uma grande novidade: acabou-se a guerra entre os animais.
Lobo e cordeiro, gavião e pinto, onça e veado, raposa e galinhas, todos os bichos andam agora
aos beijos, como namorados. Desça desse poleiro e venha receber o meu abraço de paz e
amor.
Muito bem! - exclamou o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que
beleza vai ficar o mundo, limpo de guerras, crueldades e traições! Vou descer para abraçar a
amiga raposa, mas... como lá vêm vindo ts cachorros, acho bom esperá-los, para que
também eles tomem parte na confraternizão.
Ao ouvir falar em cachorros Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou de
pôr-se ao fresco, dizendo:
Infelizmente, amigo Có-ri-có-có, tenho pressa e não posso esperar pelos amigos
cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo.
E raspou-se.
Contra esperteza, esperteza e meia.
94
LOBATO, M. O galo que logrou a raposa. In: bulas. 17 ed.
São Paulo: Brasiliense. 1958 apud CARDORE, L. A. Português de todo dia. São Paulo: Ática. 1991. p.78.
B) Texto lit 2
O que é que eu faço com a grana de domingo guardada por enquanto numa caixa
de tênis debaixo da minha cama? Seque alguma menina gostaria de ir ao cinema comigo?
Queria mesmo que fosse a Maria Laura, mas ela mal me olha. Tão distante com aqueles olhos
verdes... fala em virar modelo, artista de tevê. Não tenho coragem de chegar perto. Basta o
fora que levei da Cláudia. Foi numa festa da escola. Uma hora começaram a dançar. Ela
estava sozinha num canto, eu também. Achei que a gente até que combinava e podia namorar.
Não sei o que me deu e fui convidar a Cláudia para dançar comigo sem saber dançar.
– Vê se te enxerga, cara!
Porque aquilo comigo? Eu me enxergo, sim, e enxergava que ela estava tão
sozinha como eu... Só depois entendi que ela só se ligava em cara mais velho. Será que eu vou
ter de acabar de crescer para arrumar uma menina?
Não, cinema não vai dar, muito menos sozinho. Melhor deixar a grana guardada,
juntar para comprar uma bicicleta.
ALBERGARIA, L. de. Cadernos de segredos. 2 ed. São Paulo: Saraiva. 1996. p. 7-11
apud ALBERGARIA, L. de; FERNANDES, M.; ESPESCHIT, R.
Português na ponta da língua. Belo Horizonte: Dimensão. 2000. p. 177.
95
ANEXO B
Praat Scripts
A BeatExtractor
#!/bin/bash -x
# Scripts Shell e GUI criadas por Leonardo Amaral <leleobhz@lelebhz.org>
# Script Praat criado por Plínio A. Barbosa <plinio@iel.unicamp.br>
# Start to get sysarg and convert into variables readable in Praat
if [ "$1" == "male" ]; then
speaker_sex="\"1\"";
elif [ "$1" == "female" ]; then
speaker_sex="\"2\"";
else
exit 1;
fi
if [ "$2" == "butterworth" ]; then
filter="1";
elif [ "$2" == "hanning" ]; then
filer="2";
else
exit 1;
fi
if [ "$3" == "order_filter_1" ]; then
filter_order="1";
elif [ "$3" == "order_filter_2" ]; then
filter_order="2";
else
exit 1;
fi
left_Cut_off_frequency="$4"
right_Cut_off_frequency="$5"
smoothing_cut_freq="$6"
if [ "$7" == "derivative" ]; then {
96
technique="1"
technique_str="\"Derivative\""
}
elif [ "$7" == "amplitude" ]; then {
technique="2"
technique_str="\"Amplitude\""
}
else
exit 1;
fi
threshold1=$8
threshold2=$9
file="\"$(basename ${10})\""
dir="\"$(dirname ${10})\""
## All relative to optional progressbar. Compatible with kommander scripts
if [ -n "${11}" ]; then
PrBarObj=${11}
else
PrBarObj=ProgressBar1
fi
## Setting commander to 0%
`pwd`/Progress.sh "$PrBarObj" "0"
# TODO01
# rm -rf *.beat.wav *filt.wav *.orig-beat-mix.wav
rm -rf xxxxxxx 2>/dev/null
TMPFILE=`mktemp xxxxxxx`
echo "Starting the procedure for the file $file."
cat <<EOF > $TMPFILE
# Codigo do praat aqui em baixo
#!/usr/bin/praat
# BeatExtractor.sh
# Script implemented by Plinio A. Barbosa (pli[email protected]),
LAFAPE/IEL/Unicamp,Brazil,
# based originally on Fred Cummins' beat extractor with some modifications of the default
# parameters and some additions (an additional filter, and another technique for searching for
beats.
# Please, DO NOT DISTRIBUTE WITHOUT THE README FILE
BEATEXTRACTOR.RDM
# Credits: Fred Cummins, for tips about his own beatextractor, and suggestions
97
# Sophie Scott, for support on her p-centre predictor model
# Paul Boersma, for crucial tips/suggestions on programming in Praat
# Pablo Arantes, Jussara Vieira, Alexsandro Meireles, and Ana C. Matte, for
comments during a debugging phase
# These are a enhanced version of BeatExtractor, with a lot of bugfixes on source and
insertation into a shell script, making the process easily and praat graphic interface
independent. Can be used with CGIs and graphics interfaces, being a thousand times more
easy to use and debug.
# Changelog:
# * Qui Fev 22 2007 Leonardo Amaral <leleobhz@leleobhz.org>, Ana Matte
<ana@underlinux.com.br>, Christian Tosta <ch_tos[email protected]m.br>
# - Fixed the "Time domain is not match" issue on saving mixed beat and orig file
# - Added a bash interface
# - Inserted progressbar for kommander - no error if isnt from kommander
# - Adequated for batch execution and outside scripting
# ToDo:
# - TODO01: Make a new cleaning code based on files input.
# Parameters' input
# Variables Declaration:
#Sex: 1=Male 2=Feamale
speaker_sex$ = $speaker_sex
#Filter: 1=Butterworth 2=Hanning
filter = $filter
filter_order = $filter_order
# If using a form, set-it to real
# auto=0
left_Cut_off_frequency = $left_Cut_off_frequency
right_Cut_off_frequency = $right_Cut_off_frequency
smoothing_cut_freq = $smoothing_cut_freq
#Technique: 1=Amplitude 2=Derivative
technique$ = $technique_str
technique = $technique
# positive Threshold1_(0.05..0.50) 0.15
threshold1 = $threshold1
# positive Threshold2_(0.05..0.15) 0.12
threshold2 = $threshold2
path$ = $dir
file$ = $file
fil$ = path$ + "/" + file$
98
progressbar$ = environment$ ("PWD") + "/Progress.sh"
##
# mindur is the minimum duration allowed between two consecutive boundaries
# fcut is the cut-off frequency of the low-pass filters used here
# fe/male default are the default cut-off frequencies according to speaker sex
mindur = 0.040
male_default_left = 1000
male_default_right = 1800
female_default_left = 1150
female_default_right = 2100
if left_Cut_off_frequency = 0 ; automatic
left_Cut_off_frequency = if speaker_sex$ = "Male" then 'male_default_left' else
'female_default_left' fi
endif
if right_Cut_off_frequency = 0 ; automatic
right_Cut_off_frequency = if speaker_sex$ = "Male" then 'male_default_right' else
'female_default_right' fi
endif
if filter_order = 0 ; automatic
filter_order = if filter = 1 then 2 else 0 fi
endif
if smoothing_cut_freq = 0 ; automatic
smoothing_cut_freq = if technique$ = "Amplitude" then 40 else 20 fi
endif
fcut = smoothing_cut_freq
##
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "1"
Read from file... 'fil$'
filename$ = selected$ ("Sound")
centerf = ('right_Cut_off_frequency' + 'left_Cut_off_frequency')/2
w = ('right_Cut_off_frequency' - 'left_Cut_off_frequency')/2
select Sound 'filename$'
# The sound file is filtered according to the preceding choices
if filter = 1
Filter (formula)... sqrt(1.0/(1.0 + ((x-centerf)/w)^(2*'filter_order')))*self; butterworth filter
elif filter = 2
Filter (pass Hann band)... 'left_Cut_off_frequency' 'right_Cut_off_frequency' 100
endif
Copy... temp
tmp$ = path$ + "/" + filename$ + "_filt"
tmpext$ = tmp$ + ".wav"
Write to WAV file... 'tmpext$'
## Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "2"
99
# Filtered sound file's rectification
Formula... abs(self)
w2 = 'smoothing_cut_freq'/10
# Rectified file is low-pass-band filtered producing the beat wave file
Filter (pass Hann band)... 0 'smoothing_cut_freq' w2
max = Get maximum... 0.0 0.0 None
# Beat wave is normalised
Formula... self/max
beatwave$ = filename$ + "_beatwave"
Rename... 'beatwave$'
select Sound 'beatwave$'
derivbeatwave$ = filename$ + "_drvbeatwave"
Copy... temp3
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "3"
# The derivative of beat wave file is computed and low-pass filtered
Formula... (self[col+1] - self[col])/dx
Filter (pass Hann band)... 0 fcut fcut/10
Rename... 'derivbeatwave$'
max = Get maximum... 0.0 0.0 None
Formula... self/max
select Sound temp3
Remove
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "4"
select Sound 'beatwave$'
begin = Get starting time
end = Get finishing time
beginindex = Get index from time... 'begin'
beginindex = round(beginindex)
endindex = Get index from time... 'end'
endindex = round(endindex)
fileout$ = path$ + "/" + filename$ + ".TextGrid"
# Start writing of the TextGrid file
filedelete 'fileout$'
fileappend 'fileout$' File type = "ooTextFile short" 'newline$'
fileappend 'fileout$' "TextGrid" 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'begin' 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'end' 'newline$'
fileappend 'fileout$' <exists> 'newline$'
fileappend 'fileout$' 1 'newline$'
fileappend 'fileout$' "IntervalTier" 'newline$'
100
fileappend 'fileout$' "VowelOnsets" 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'begin' 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'end' 'newline$'
i = beginindex
t = begin
cpt = 0
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "5"
# Choice of technique
### Technique = 1
# This technique takes the values of the beatwave around threshold 1, within the rising parts
(derivative > 0)
if technique = 1
epsilon = 'threshold1'/5
repeat
select Sound 'beatwave$'
value = Get value at index... 'i'
value = round(1000*value)/1000
select Sound 'derivbeatwave$'
valuederiv = Get value at index... 'i'
if (value < ('threshold1' + epsilon) and value > ('threshold1' - epsilon)) and (valuederiv >
0.01)
time'cpt' = Get time from index... 'i'
if cpt <> 0
delayedcpt = cpt -1
if (time'cpt' - time'delayedcpt') <= mindur
cpt = cpt -1
endif
endif
cpt = cpt + 1
endif
t = t + 0.001
i = Get index from time... 't'
i = round(i)
until (i >= endindex-1)
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "6"
###
# Technique = 2
# This technique takes the values of the maxima of the derivative of the beatwave
# greater than threshold 2, where the amplitude of the beatwave is greater than threshold 1
elif technique = 2
select Sound 'derivbeatwave$'
drv2beatwave$ = path$ + "/" + filename$ + "_drv2beatwave"
Copy... temp2
Formula... (self[col+1] - self[col])/dx
Filter (pass Hann band)... 0 fcut fcut/10
101
Rename... 'drv2beatwave$'
max = Get maximum... 0.0 0.0 None
Formula... self/max
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "6"
repeat
select Sound 'drv2beatwave$'
drvvalue = Get value at index... 'i'
drvvalue = round(drvvalue)
select Sound 'derivbeatwave$'
value = Get value at index... 'i'
select Sound 'beatwave$'
valuebeat = Get value at index... 'i'
if (drvvalue = 0) and (value > 'threshold2') and (valuebeat > 'threshold1') and (valuebeat <
0.3)
time'cpt' = Get time from index... 'i'
if cpt <> 0
delayedcpt = cpt -1
if (time'cpt' - time'delayedcpt') <= mindur
cpt = cpt -1
endif
endif
cpt = cpt + 1
endif
t = t + 0.001
i = Get index from time... 't'
i = round(i)
until (i >= endindex-1)
select Sound 'drv2beatwave$'
plus Sound temp2
Remove
endif
#####
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "7"
# A little Debug:
select Sound 'beatwave$'
beatfile$ = path$ + "/" + filename$ + ".beat.wav"
Write to WAV file... 'beatfile$'
tmp = cpt+1
fileappend 'fileout$' 'tmp' 'newline$'
temp = 0
for i from 0 to cpt-1
fileappend 'fileout$' 'temp' 'newline$'
temp = time'i'
102
fileappend 'fileout$' 'temp' 'newline$'
fileappend 'fileout$' "" 'newline$'
endfor
fileappend 'fileout$' 'temp' 'newline$'
fileappend 'fileout$' 'end' 'newline$'
fileappend 'fileout$' "" 'newline$'
#fil$ = path$ + filename$ + "integr"
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "8"
# Creates a long sound file containing the original soound and the beat wave
# Select the created TextGrid file containing the detected boundaries
temp$ = path$ + "/" + filename$ + "integr"
select all
nb = numberOfSelected ("LongSound")
if nb <> 0
select LongSound 'temp$'
Remove
endif
# Trying to go arround the "Time domains not match" issue
select all
Remove
Read from file... 'fil$'
Read from file... 'beatfile$'
select all
filstereo$ = path$ + "/" + filename$ + "-orig-beat-mix.wav"
Write to stereo WAV file... 'filstereo$'
select all
Remove
### Kommander ProgressBar1
system_nocheck 'progressbar$' "$PrBarObj" "9"
# Fim do codigo do praat
EOF
praat $TMPFILE && rm -f $TMPFILE && echo "Procedure Finished Successfully!" &&
exit 0
echo "Procedure Failled!"
103
B Script Extract
#!/usr/bin/praat
#extract F1, F2, F3, F0, duration intensity and speech rate
# Script implemented by Ana Matte (FALE/UFMG) for obtaining
# data of non-empty, non-? previously segmented intervals (TextGrid)
# Works in one-sentence files
# Licence: GPL. Distribute mainteining the authory.
## FORMULARIO DE ENTRADA
form Dados
sentence Caminho /home/monica/Análises/analise final lit 1/
sentence Arquivo lit1_2-2
choice Tipo 1
button wav
button mp3
integer Camada 1
integer CamadaTE 3
integer CamadaTexto 4
integer CamadaPontuacao 5
integer CamadaFuncao 6
integer CamadaAmplitude 7
endform
# ARQUIVO DE SAIDA
arqout1$ = arquivo$ + "_dados.csv"
filedelete 'arqout1$'
fileappend 'arqout1$' arquivo numero segmento pontuacao funcao amplitude texto TE
duracaoVV intensMedia intensDP intensMediana mediaF0 medianaF0 desvPadF0 mediaF1
medianaF1 desvPadF1 mediaF2 medianaF2 desvPadF2 mediaF3 medianaF3 desvPadF3 ini
end'newline$'
#ARQUIVO PROVISORIO NUMERO SEGMENTO
arqout0$ = arquivo$ + "_numseg.csv"
filedelete 'arqout0$'
104
fileappend 'arqout0$' arquivo numero segmento ini end'newline$'
# ARQUIVO PROVISORIO TEXTO
arqout3$ = arquivo$ + "_texto.csv"
filedelete 'arqout3$'
fileappend 'arqout3$' arquivo ntexto nsegmento Texto initexto endtexto'newline$'
# ARQUIVO PROVISORIO FUNCAO
arqout4$ = arquivo$ + "_funcao.csv"
filedelete 'arqout4$'
fileappend 'arqout4$' arquivo numero nsegmento Funcao ini end'newline$'
# ARQUIVO PROVISORIO PONTUACAO
arqout5$ = arquivo$ + "_pontuacao.csv"
filedelete 'arqout5$'
fileappend 'arqout5$' arquivo numero nsegmento Pontuacao ini end intensM intensDP
intensMe'newline$'
# ARQUIVO PROVISORIO AMPLITUDE
arqout6$ = arquivo$ + "_amplitude.csv"
filedelete 'arqout6$'
fileappend 'arqout6$' arquivo numero nsegmento Amplitude ini end'newline$'
# ARQUIVO PROVISORIO TE
arqout7$ = arquivo$ + "_te.csv"
filedelete 'arqout7$'
fileappend 'arqout7$' arquivo numero nsegmento TE ini end'newline$'
#########################################
#INICIO DO PROGRAMA
# ARQUIVOS DE ENTRADA
arq$ = caminho$ + arquivo$
arqwav$ = arq$ + "." + tipo$
arqgrid$ = arq$ + ".TextGrid"
#ARQUIVOS PROVISORIO
call arqprovSegm
105
call arqprovTexto
call arqprovfuncao
call arqprovpontuacao
call arqprovamplitude
#EXTRAI SEGMENTOS CAMADA TE E CALCULA
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
call calcTE
# EXTRAI OS SEGMENTOS
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camada' yes
nselected = numberOfSelected ("Sound")
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
# ABRE OS OBJETOS INTENSIDADE, PITCH E FORMANTES PARA ANALISE E...
for i from 1 to nselected
# CALCULA OS FORMANTES
call formantes
# CALCULA O PITCH
call pitch
# SALVA CADA LINHA
pontuacao$ = "completar"
funcao$ = "completar"
106
amplitude$ = "completar"
texto$ = "completar"
te$ = "completar"
fileappend 'arqout1$' 'arquivo$' 'i' 'segm$' 'pontuacao$' 'funcao$' 'amplitude$' 'texto$' 'te$' 'dur'
'intM:0' 'intDP:0' 'intMe:0' 'f0m:0' 'f0dp:0' 'f0me:0' 'f1m:0' 'f1me:0' 'f1dp:0' 'f2m:0' 'f2me:0'
'f2dp:0' 'f3m:0' 'f3me:0' 'f3dp:0' 'ini:3' 'end:3' 'newline$'
select Pitch 'segm$'
plus Formant 'segm$'
Remove
select all
endfor
select all
Remove
############################
############################
procedure arqprovSegm
#CRIA ARQOUT0 >> IDENTIDADE DOS SEGMENTOS
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camada' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselected = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselected
numero'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselected
segmento$ = selected$ ("Sound", 'i')
select numero'i'
inii = Get start time
endd = Get end time
107
fileappend 'arqout0$' 'arquivo$' 'i' 'segmento$' 'inii' 'endd''newline$'
select all
endfor
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
select all
Remove
endproc
##########################################
procedure arqprovTexto
#EXTRAI TEXTO
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camadaTexto' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselectedtexto = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselectedtexto
ntexto'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselectedtexto
select ntexto'i'
texto$ = selected$ ("Sound")
initexto = Get start time
endtexto = Get end time
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
tableRows = Get number of rows
for a from 1 to tableRows
nsegmento = Get value... 'a' 1
inii = Get value... 'a' 3
endd = Get value... 'a' 4
if (inii >= initexto) and (endd <= endtexto)
fileappend 'arqout3$' 'arquivo$' 'i' 'a' 'texto$' 'initexto' 'endtexto''newline$'
108
endif
endfor
Remove
endfor
select all
Remove
endproc
############################################
procedure arqprovfuncao
#EXTRAI FUNCAO
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camadaFuncao' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselectedfuncao = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselectedfuncao
nfuncao'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselectedfuncao
select nfuncao'i'
funcao$ = selected$ ("Sound")
inifuncao = Get start time
endfuncao = Get end time
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
tableRows = Get number of rows
for a from 1 to tableRows
nsegmento = Get value... 'a' 1
inii = Get value... 'a' 3
endd = Get value... 'a' 4
if (inii >= inifuncao) and (endd <= endfuncao)
fileappend 'arqout4$' 'arquivo$' 'i' 'a' 'funcao$' 'inifuncao' 'endfuncao''newline$'
109
endif
endfor
#Remove
endfor
select all
Remove
endproc
############################################
procedure arqprovpontuacao
#EXTRAI PONTUACAO
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camadaPontuacao' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselectedpontuacao = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselectedpontuacao
npontuacao'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselectedpontuacao
select npontuacao'i'
pontuacao$ = selected$ ("Sound")
inipontuacao = Get start time
endpontuacao = Get end time
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
Rename... tabela0
tableRows = Get number of rows
for a from 1 to tableRows
nsegmento = Get value... 'a' 1
inii = Get value... 'a' 3
endd = Get value... 'a' 4
110
# CALCULA A INTENSIDADE
call intensidade
if (inii >= inipontuacao) and (endd <= endpontuacao)
fileappend 'arqout5$' 'arquivo$' 'i' 'a' 'pontuacao$' 'inipontuacao' 'endpontuacao' 'intM' 'intDP'
'intMe''newline$'
endif
select TableOfReal tabela0
endfor
Remove
endfor
select all
Remove
endproc
############################################
procedure arqprovamplitude
#EXTRAI AMPLITUDE
Read from file... 'arqwav$'
Read from file... 'arqgrid$'
select all
Extract non-empty intervals... 'camadaAmplitude' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselectedamplitude = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselectedamplitude
namplitude'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselectedamplitude
select namplitude'i'
amplitude$ = selected$ ("Sound")
iniamplitude = Get start time
endamplitude = Get end time
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
tableRows = Get number of rows
111
for a from 1 to tableRows
nsegmento = Get value... 'a' 1
inii = Get value... 'a' 3
endd = Get value... 'a' 4
if (inii >= iniamplitude) and (endd <= endamplitude)
fileappend 'arqout6$' 'arquivo$' 'i' 'a' 'amplitude$' 'iniamplitude' 'endamplitude''newline$'
endif
endfor
Remove
endfor
select all
Remove
endproc
############################################
############################
procedure calcTE
Extract non-empty intervals... 'camadaTE' yes
select Sound 'arquivo$'
Remove
select TextGrid 'arquivo$'
Remove
select all
nselectedTE = numberOfSelected ("Sound")
for i from 1 to nselectedTE
nTE'i' = selected("Sound", 'i')
endfor
for i from 1 to nselectedTE
select nTE'i'
nsegm$ = selected$("Sound")
nsegm = 'nsegm$'
durTE = Get total duration
iniTE = Get start time
endTE = Get end time
te = nsegm/durTE
Read TableOfReal from headerless spreadsheet file... 'arqout0$'
tableRows = Get number of rows
for a from 1 to tableRows
112
nsegmento = Get value... 'a' 1
inii = Get value... 'a' 3
endd = Get value... 'a' 4
if (inii >= iniTE) and (endd <= endTE)
fileappend 'arqout7$' 'arquivo$' 'i' 'nsegmento' 'te:3' 'inii' 'endd''newline$'
endif
endfor
Remove
endfor
select all
Remove
endproc
###########################
procedure formantes
segm$ = selected$ ("Sound", 'i')
select Sound 'segm$'
ini = Get start time
end = Get end time
dur = Get total duration
dur = round(dur*1000)
To Formant (burg)... 0 5 5500 0.025 50
f1m = Get mean... 1 0 0 Hertz
f2m = Get mean... 2 0 0 Hertz
f3m = Get mean... 3 0 0 Hertz
f1me = Get quantile... 1 0 0 Hertz 0.5
f2me = Get quantile... 2 0 0 Hertz 0.5
f3me = Get quantile... 3 0 0 Hertz 0.5
f1dp = Get standard deviation... 1 0 0 Hertz
f2dp = Get standard deviation... 2 0 0 Hertz
f3dp = Get standard deviation... 2 0 0 Hertz
endproc
###########################
procedure pitch
select Sound 'segm$'
To Pitch... 0 75 600
f0m = Get mean... 0 0 Hertz
f0dp = Get standard deviation... 0 0 Hertz
113
f0me = Get quantile... 0 0 0.5 Hertz
endproc
###########################
procedure intensidade
select Sound 'pontuacao$'
To Intensity... 100 0 yes
intM = Get mean... 0 0 energy
intDP = Get standard deviation... 0 0
intMe = Get quantile... 0 0 0.5
Remove
Endproc
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