CAPÍTULO 2. A ESCRITA EM FOCO
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Regra 2 - A ordem de inclusão das amplitudes dos sinais (amplitudes 1-2-3-
4-5) não implica necessariamente todas as atualizações
intermediárias.
Assim um texto pode passar da amplitude 2 à amplitude 4 ou à amplitude 5,
podendo dispensar até mesmo o uso da alínea, de amplitude 1. Parece, então, que somente o
sinal de amplitude 2, seqüencialmente, tem caráter prioritário. Vale ressaltar que, antes de
serem normativas, essas regras são indicativas e sofrem desvios, principalmente em textos
literários estéticos, em que uma (,) seguida de maiúscula pode segmentar um fim de frase ao
invés do (.), ou um dos seus possíveis substitutos, como podemos ver no trecho: “Tinha
acabado de se sentar à mesa para escrever a receita quando a porta de comunicação com a
Conservatória se abriu, estava fechada apenas no trinco, e o chefe apareceu, Boa tarde, senhor
doutor, Diga antes má tarde, senhor conservador” [...]
11
.
Quanto à combinatória dos sinais seqüenciais, ou seja, seu modo de ocorrência,
precisa-se analisar quais fatores determinam a predominância de um sinal sobre outro.
Existem duas possibilidades: ou a combinatória realiza-se de maneira não contígua – e, nesse
caso, intervém o parâmetro dos níveis - ou de maneira contígua – o que pode desencadear o
processo de absorção de um sinal por outro. Por exemplo, quando um sinal é neutralizado
pelo seu idêntico, a condição é dupla: há coincidência do lugar na cadeia escrita e
concorrência entre sinais de níveis diferentes, nível de palavra e de frase, como é o caso do
ponto abreviativo e o de final de frase, respectivamente.
Dadas as características gerais dos sinais de seqüência, aprofundaremos quanto ao
estudo do ponto e da vírgula, por serem recorrentes em nosso corpus.
O ponto precisa ser analisado a partir da noção de frase, pois que sua função é
encerrá-la. Por isso, Dahlet, p. 127-134, discute longamente esse conceito definindo a frase
como uma unidade gráfica limitada à esquerda e à direita por um ponto (.) (ou por qualquer
equivalente paradigmático, ou seja, de mesma amplitude: pontos de interrogação, de
exclamação e reticências). Além disso, aponta para a necessidade de também se definir a
terminologia, que, muitas vezes, confunde-se com as noções de cláusula e período. Desse
modo, Dahlet toma as afirmações de Berrendonner (1993)
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, nas quais os vocábulos cláusula
e período são empregados sob o ponto de vista da dinâmica comunicacional, e não
correspondem às categorias gramaticais tradicionais. Assim, para ele, cláusula remete a uma
11
SARAMAGO, J. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.127 apud DAHLET, ibid., p.60.
12
Apud DAHLET, ibid., p. 128.