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Melina Rezende Dias
A variação das vogais médias
pretônicas no falar dos mineiros
de Piranga e de Ouro Branco
Belo Horizonte
2008
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2
Melina Rezende Dias
A variação das vogais médias pretônicas
no falar dos mineiros de Piranga e de
Ouro Branco
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Lingüística.
Área de Concentração: Lingüística
Linha de Pesquisa: B Estudo da Variação e Mudança
Lingüística
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Carmo Viegas
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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3
Aos meus pais, meus irmãos e
meu sobrinho, meu alicerce.
4
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Profª. Dra. Maria do Carmo Viegas, pela cuidadosa orientação, pela disponibilidade
em tirar as minhas dúvidas a qualquer hora, pelo incentivo para começar este trabalho e
pela competência durante o acompanhamento dele. Agradeço pelos valiosos
conhecimentos transmitidos a mim, pelas sugestões e pela constante preocupação.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por guiar meus passos sempre e por me carregar no colo nos momentos
difíceis;
A meus pais e a meus irmãos, com quem aprendi que é a união e o amor que nos fazem
vencer os desafios. De maneira especial a minha mãe, guerreira incansável, por tudo que passou
para que seus filhos pudessem estudar;
A minhas irmãs, Márcia e Mécia, que nunca mediram esforços para que eu prosseguisse
meus estudos, sendo grandes responsáveis por eu ter chegado até aqui;
A meu sobrinho, Gabriel, pelo carinho e por ser tão importante em minha vida;
Ao Rodolfo, pelo companheirismo e paciência;
À Luciana, amiga inseparável do mestrado, por tudo que aprendemos juntas, pela troca
de conhecimentos e pelo apoio em todos os momentos;
Ao Alan, por me ensinar a utilizar o programa estatístico adotado nesta pesquisa, pela
atenção dispensada durante toda a execução do programa e pela disponibilidade para responder
as minhas dúvidas enviadas por e-mail;
À Pâmella, pela grande contribuição ao ouvir todas as entrevistas para verificar a
codificação feita por mim;
Ao Gilson, pela amizade, pela leitura deste trabalho, pelas valiosas sugestões e pela
presteza, sempre respondendo as minhas dúvidas enviadas por e-mail;
À Ana Luísa, pela amizade e por me ajudar a utilizar o programa Praat.
À Juliana, Maria Alice, Fernanda, Ana Paula, Elizete, Joana, Ana Luísa, Maria Paula,
amigas que conheci durante as disciplinas cursadas e que muito me enriqueceram com a troca
de conhecimentos;
À Sílvia, amiga de república, por amenizar a saudade da minha família, com sua
presença constante;
À Tanira e Rafaela, amigas que se tornaram minha família aqui em Belo Horizonte, por
terem me ajudado tanto nessa caminhada;
Aos companheiros de trabalho do CEFET/MG, pela amizade e incentivo;
À Patrícia, Clarkson e João Pedro, grandes amigos que muito me ajudaram durante o
tempo que vivi em Ouro Branco;
Aos informantes, pela grande colaboração ao aceitarem participar desta pesquisa;
Aos professores José Suely Magalhães, Evelyne Dogliani e
Seung-Hwa Lee,
por
aceitarem participar da banca examinadora;
6
SUMÁRIO
SUMÁRIO.................................................................................................................... 06
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................ 12
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................... 13
RESUMO ..................................................................................................................... 20
ABSTRACT.................................................................................................................. 21
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 22
CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA E PROBLEMATIZAÇÃO.......... 25
2.1 Resenhas de alguns estudos sobre as vogais médias pretônicas........................... 26
2.1.1 Harmonização Vocálica: uma regra variável (Bisol, 1981)........................ 26
2.1.2 Alçamento de vogais médias pretônicas: uma abordagem
sociolingüística (Viegas, 1987)................................................................ 29
2.1.3 As pretônicas na variedade mineira Juizdeforana (Castro, 1990).............. 33
2.1.4 Elevação das vogais médias pretônicas em sílaba inicial de vocábulo
na fala gaúcha (Battisti, 1993).................................................................. 39
2.1.5 As vogais médias pretônicas no falar culto carioca (Yacovenco, 1993)...... 40
2.1.6 As vogais médias pretônicas no falar da cidade de Bragança(Freitas, 2001).. 46
2.1.7 As vogais médias pretônicas na fala culta de Nova Venécia–ES(Célia, 2004).49
2.2
Variável em análise................................................................................................ 53
CAPÍTULO 3 MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO..................................... 58
CAPÍTULO 4 METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................. 63
4.1 As comunidades pesquisadas ................................................................................ 63
4.1.1 A cidade de Piranga ....................................................................................... 65
4.1.2 A cidade de Ouro Branco ............................................................................. 71
4.2 Amostra ................................................................................................................. 75
4.3 Coleta de dados ...................................................................................................... 78
4.4 Transcrição dos dados............................................................................................ 81
4.5 Definição das variáveis.......................................................................................... 82
7
4.5.1 Variáveis dependentes e análise acústica.................................................... 82
4.5.1.1 Espectrogramas e análise acústica das vogais médias pretônicas... 84
4.5.2 Variáveis independentes.............................................................................. 89
4.5.2.1 Fatores internos............................................................................... 90
4.5.2.2 Fatores sociais................................................................................ 95
4.6 Codificação das variáveis ..................................................................................... 98
4.7 O subsídio quantitativo SPSS – Statistical Package for the Social Sciences....... 101
4.7.1 Os modelos estatísticos.............................................................................. 103
CAPÍTULO 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................. 106
5.1 Análise dos fatores lingüísticos........................................................................... 110
5.1.1 A análise do /e/ em Piranga e Ouro Branco.............................................. 116
5.1.1.1 Tipo silábico.................................................................................. 120
5.1.1.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................... 121
5.1.1.1.2 Discussão dos resultados para a abertura....................... 121
5.1.1.2 Vogal da sílaba tônica................................................................... 123
5.1.1.2.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 125
5.1.1.2.2 Discussão dos resultados para a abertura........................ 125
5.1.1.3 Vogal entre a vogal da variável e a tônica...................................... 131
5.1.1.3.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 134
5.1.1.3.2 Discussão dos resultados para a abertura........................ 137
5.1.1.4 Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida............................ 139
5.1.1.4.1 Discussão dos resultados para o alçamento...................... 141
5.1.1.4.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 141
5.1.1.5 Paradigma com vogal aberta.......................................................... 142
5.1.1.5.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 143
5.1.1.5.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 144
8
5.1.1.6 Distância da sílaba tônica.............................................................. 145
5.1.1.6.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 146
5.1.1.6.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 146
5.1.1.7 Classe Morfológica....................................................................... 147
5.1.1.7.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................... 149
5.1.1.7.2 Discussão dos resultados para a abertura........................ 150
5.1.1.8 Distância do início da palavra....................................................... 150
5.1.1.8.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 151
5.1.1.8.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 151
5.1.1.9 Número de sílabas da palavra......................................................... 152
5.1.1.9.1 Discussão dos resultados para o alçamento...................... 153
5.1.1.9.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 153
5.1.1.10 Modo do segmento precedente..................................................... 154
5.1.1.10.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................... 156
5.1.1.10.2 Discussão dos resultados para a abertura....................... 161
5.1.1.11 Ponto do segmento precedente...................................................... 164
5.1.1.11.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 165
5.1.1.11.2 Discussão dos resultados para a abertura....................... 169
5.1.1.12 Modo do segmento seguinte........................................................ 170
5.1.1.12.1 Discussão dos resultados para o alçamento................... 172
5.1.1.12.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 175
5.1.1.13 Ponto do segmento seguinte........................................................ 177
5.1.1.13.1 Discussão dos resultados para o alçamento................... 178
5.1.1.13.2 Discussão dos resultados para a abertura...................... 180
5.1.1.14 Conclusão.................................................................................... 183
9
5.1.2 A análise do /o/ em Piranga e Ouro Branco............................................. 185
5.1.2.1 Tipo silábico................................................................................. 187
5.1.2.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................. 189
5.1.2.1.2 Discussão dos resultados para a abertura...................... 189
5.1.2.2 Vogal da sílaba tônica.................................................................. 190
5.1.2.2.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................. 192
5.1.2.2.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 193
5.1.2.3 Vogal entre a vogal da variável e a tônica.................................. 196
5.1.2.3.1 Discussão dos resultados para o alçamento.................. 198
5.1.2.3.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 199
5.1.2.4 Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida........................ 200
5.1.2.4.1 Discussão dos resultados para o alçamento................. 201
5.1.2.4.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 201
5.1.2.5 Paradigma com vogal aberta....................................................... 202
5.1.2.5.1 Discussão dos resultados para o alçamento................. 203
5.1.2.5.2 Discussão dos resultados para a abertura.................... 203
5.1.2.6 Distância da sílaba tônica........................................................... 204
5.1.2.6.1 Discussão dos resultados para o alçamento................ 205
5.1.2.6.2 Discussão dos resultados para a abertura.................... 205
5.1.2.7 Classe Morfológica..................................................................... 206
5.1.2.7.1 Discussão dos resultados para o alçamento................. 208
5.1.2.7.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 208
5.1.2.8 Distância do início da palavra..................................................... 209
5.1.2.8.1 Discussão dos resultados para o alçamento................. 210
5.1.2.8.2 Discussão dos resultados para a abertura..................... 210
5.1.2.9 Número de sílabas da palavra..................................................... 210
5.1.2.9.1 Discussão dos resultados para o alçamento................. 212
10
5.1.2.9.2 Discussão dos resultados para a abertura...................... 212
5.1.2.10 Modo do segmento precedente.................................................. 213
5.1.2.10.1 Discussão dos resultados para o alçamento............... 215
5.1.2.10.2 Discussão dos resultados para a abertura.................. 216
5.1.2.11 Ponto do segmento precedente................................................... 219
5.1.2.11.1 Discussão dos resultados para o alçamento............... 220
5.1.2.11.2 Discussão dos resultados para a abertura................... 220
5.1.2.12 Modo do segmento seguinte........................................................ 220
5.1.2.12.1 Discussão dos resultados para o alçamento................ 222
5.1.2.12.2 Discussão dos resultados para a abertura................... 225
5.1.2.13 Ponto do segmento seguinte........................................................ 228
5.1.2.13.1 Discussão dos resultados para o alçamento................ 229
5.1.2.13.2 Discussão dos resultados para a abertura.................... 229
5.1.1.14 Conclusão..................................................................................... 230
5.2 Análise dos fatores sociais.................................................................................... 232
5.2.1 A análise do /e/ em Piranga e Ouro Branco................................................. 232
5.2.1.1 Gênero e Faixa etária....................................................................... 232
5.2.1.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento..................... 234
5.2.1.1.2 Discussão dos resultados para a abertura........................ 234
5.2.2 A análise do /o/ em Piranga e Ouro Branco................................................ 235
5.2.2.1 Gênero e Faixa etária....................................................................... 235
5.2.2.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento...................... 237
5.2.2.1.2 Discussão dos resultados para a abertura......................... 237
5.3 Análise do teste de produção................................................................................ 237
5.3.1 Alçamento de /e/.......................................................................................... 238
5.3.2 Abertura de /e/............................................................................................. 243
5.3.3 Alçamento de /o/.......................................................................................... 252
11
5.3.4 Abertura de /o/............................................................................................. 256
5.3.5 Conclusão .................................................................................................. 265
5.4 Análise dos testes de percepção e de avaliação................................................... 271
CAPÍTULO 6 CONCLUSÃO.............................................................................. 278
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 286
ANEXO 1 ………………………........................................................................................... 290
ANEXO 2 ………………....................................................................................................... 291
ANEXO 3 ............................................................................................................................... 292
ANEXO 4 ............................................................................................................................... 294
ANEXO 5 [em CD]
ANEXO 6 [em CD]
ANEXO 7 [em CD]
ANEXO 8 [em CD]
ANEXO 9 [em CD]
ANEXO 10 [em CD]
ANEXO 11 [em CD]
ANEXO 12 [em CD]
12
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Sistema vocálico do PB: tônicas ........................................................................ 53
Figura 2: Sistema vocálico do PB: pretônicas.................................................................... 53
Figura 3: Inventário de Vogais do PB...................................................................... 54
Figura 4: Escravos índios na Vila do Carmo...................................................................... 70
Figura 5: Variáveis: cidades, faixa etária e gênero.............................................................. 77
Figura 6: Informantes e faixa etária.................................................................................... 77
Figura 7: Análise acústica da vogal pretônica [i]................................................................ 86
Figura 8: Análise acústica da vogal pretônica [e]............................................................... 86
Figura 9: Análise acústica da vogal pretônica [E]................................................................ 87
Figura 10: Análise acústica da vogal pretônica [O].............................................................. 87
Figura 11: Análise acústica da vogal pretônica [o].............................................................. 88
Figura 12: Análise acústica da vogal pretônica [u].............................................................. 88
13
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 01: Distribuição da variável /e/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de
palavras em Piranga.................................................................................................................. 110
Tabela 02: Distribuição da variável /e/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de
palavras em Ouro Branco.......................................................................................................... 111
Tabela 03: Número de realizações em cada cidade para o estilo entrevista – [e ~ E] ...... 112
Tabela 04: Número de realizações em cada cidade para o estilo entrevista – [e ~ i] ....... 113
Tabela 05: Distribuição da variável /o/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de
palavras, em Piranga.................................................................................................................. 113
Tabela 06: Distribuição da variável /o/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de
palavras, em Ouro Branco......................................................................................................... 114
Tabela 07: Número de realizações em cada cidade para o estilo entrevista – [o ~ O]...... 115
Tabela 08: Número de realizações em cada cidade para o estilo entrevista – [o ~ u]....... 116
Tabela 09: Resultados que apresentaram significância para o alçamento de /e/, em Piranga
no estilo entrevista..................................................................................................................... 116
Tabela 10: Resultados que apresentaram significância para a abertura de /e/, em Piranga, no
estilo entrevista........................................................................................................................ 117
Tabela 11: Resultados que apresentaram significância para o alçamento de /e/, em Ouro
Branco no estilo entrevista....................................................................................................... 118
Tabela 12: Resultados que apresentaram significância para a abertura de /e/, em Ouro
Branco no estilo entrevista....................................................................................................... 118
Tabela 13: Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /e/ em
Piranga, no estilo entrevista..................................................................................................... 120
Tabela 14: Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /e/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................................................. 121
14
Tabela 15: Resultados do efeito da variável vogal da sílaba nica na variável dependente
/e/ em Piranga, no estilo entrevista........................................................................................... 123
Tabela 16: Resultados do efeito da variável vogal da sílaba nica na variável dependente
/e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista................................................................................... 124
Tabela 17: Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na
variável dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.......................................................... 131
Tabela 18: Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na
variável dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista................................................. 133
Tabela 19: Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
na variável dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista..................................................... 139
Tabela 20: Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
na variável dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................. 140
Tabela 21: Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 142
Tabela 22: Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 143
Tabela 23: Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 145
Tabela 24: Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 145
Tabela 25: Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /e/
em Piranga, no estilo entrevista................................................................................................ 147
Tabela 26: Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /e/
em Ouro Branco, no estilo entrevista........................................................................................ 148
Tabela 27: Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 150
15
Tabela 28: Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 151
Tabela 29: Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 152
Tabela 30: Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /e/ em Ouro Branco................................................................................................ 153
Tabela 31: Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 154
Tabela 32: Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.............................................................. 155
Tabela 33: Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 164
Tabela 34: Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 164
Tabela 35: Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 170
Tabela 36: Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 171
Tabela 37: Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 177
Tabela 38: Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 178
Tabela 39: Resultados que apresentaram significância para o alçamento de /o/, em Piranga
no estilo entrevista..................................................................................................................... 185
Tabela 40: Resultados que apresentaram significância para a abertura de /o/, em Piranga no
estilo entrevistas....................................................................................................................... 186
16
Tabela 41: Resultados que apresentaram significância para o alçamento de /o/, em Ouro
Branco no estilo entrevista........................................................................................................ 186
Tabela 42: Resultados que apresentaram significância para a abertura de /o/, em Ouro
Branco no estilo entrevista........................................................................................................ 187
Tabela 43: Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /o/ em
Piranga, no estilo entrevista...................................................................................................... 187
Tabela 44: Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /e/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................................................. 188
Tabela 45: Resultados do efeito da variável vogal da sílaba nica na variável dependente
/o/ em Piranga, no estilo entrevista.......................................................................................... 190
Tabela 46: Resultados do efeito da variável vogal da laba tônica na variável dependente /o/
em Ouro Branco, no estilo entrevista....................................................................................... 191
Tabela 47: Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista......................................................... 196
Tabela 48: Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na
variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista................................................. 197
Tabela 49: Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
na variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista..................................................... 200
Tabela 50: Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
na variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista........................................... 200
Tabela 51: Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista...................................................................... 202
Tabela 52: Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 202
Tabela 53: Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista...................................................................... 204
17
Tabela 54: Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.............................................................. 204
Tabela 55: Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /o/
em Piranga, no estilo entrevista............................................................................................... 206
Tabela 56: Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /o/
em Ouro Branco, no estilo entrevista........................................................................................ 207
Tabela 57: Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 209
Tabela 58: Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 209
Tabela 59: Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 210
Tabela 60: Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /o/ em Ouro Branco................................................................................................ 211
Tabela 61: Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 213
Tabela 62: Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 214
Tabela 63: Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 219
Tabela 64: Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................... 219
Tabela 65: Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista....................................................................... 220
Tabela 66: Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista............................................................. 221
Tabela 67: Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável dependente /o/
em Piranga, no estilo entrevista......................................................................................................... 228
Tabela 68: Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável dependente /o/
em Ouro Branco, no estilo entrevista.................................................................................................. 229
Tabela 69: Resultados dos fatores sociais que apresentaram significância para o alçamento e para a
abertura de /e/, em Piranga e em Ouro Branco, no estilo entrevista ...................................................232
Tabela 70: Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável dependente /e/ em
Piranga, no estilo entrevista................................................................................................................ 233
Tabela 71: Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável dependente /e/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista........................................................................................................ 233
Tabela 72: Resultados dos fatores sociais que apresentaram significância para o alçamento e para a
abertura de /o/, em Piranga e em Ouro Branco, no estilo entrevista.................................................. 235
Tabela 73: Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável dependente /o/ em
Piranga, no estilo entrevista................................................................................................................ 235
Tabela 74: Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável dependente /o/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista........................................................................................................ 236
Tabela 75: Resultados do teste de leitura de textos em Piranga, para o alçamento de /e/.................238
Tabela 76: Resultados do teste de leitura de textos em Ouro Branco, para o alçamento de /e/........239
Tabela 77: Resultados do teste de leitura de palavras em Piranga, para o alçamento de /e/............240
Tabela 78: Resultados do teste de leitura de palavras em Ouro Branco, para o alçamento de /e/.. 241
Tabela 79: Resultados do teste de leitura de textos em Piranga, para a abertura de /e/................... 243
Tabela 80: Resultados do teste de leitura de palavras em Piranga para a abertura de /e/................246
Tabela 81: Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de palavras em Ouro Branco, para a
abertura de /e/.................................................................................................................................... 250
Tabela 82: Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de palavras em Piranga, para o
alçamento de /o/................................................................................................................................. 252
19
Tabela 83: Resultados do teste de leitura de texto e leitura de palavras Ouro Branco, para o
alçamento de /o/................................................................................................................................... 254
Tabela 84: Resultados dos testes de leitura de textos em Piranga, para a abertura de /o/............... 256
Tabela 85: Resultados dos testes de leitura de palavras em Piranga, para a abertura de /o/..........259
Tabela 86: Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de palavras em Ouro Branco, para a
abertura de /o/...................................................................................................................................... 263
Tabela 87: Fatores favorecedores do alçamento de /e/, em Piranga................................................ 266
Tabela 88: Fatores favorecedores do alçamento de /e/, em Ouro Branco....................................... 266
Tabela 89: Fatores favorecedores da abertura de /e/, em Piranga.................................................. 266
Tabela 90: Fatores favorecedores da abertura de /e/, em Ouro Branco........................................... 267
Tabela 91: Fatores favorecedores do alçamento de /o/, em Piranga................................................ 267
Tabela 92: Resultados apresentados na literatura sobre o favorecimento do segmento precedente.268
Tabela 93: Resultados apresentados na literatura sobre o favorecimento do segmento seguinte.....268
Tabela 94: Fatores favorecedores do alçamento de /o/, em Ouro Branco...................................... 269
Tabela 95: Fatores favorecedores da abertura de /o/, em Piranga.................................................. 269
Tabela 96: Fatores favorecedores da abertura de /o/, em Ouro Branco......................................... 269
Tabela 97: Resultados dos fatores sociais que se mostraram relevantes para o alçamento e para a
abertura de /e/, em Piranga e em Ouro Branco, depois da análise dos testes de produção .................270
Tabela 98: Resultados dos fatores sociais que se mostraram relevantes para o alçamento e para a
abertura de /o/, em Piranga e em Ouro Branco, depois da análise dos testes de produção .................270
Tabela 99: Resultados do julgamento, em Piranga e Ouro Branco, para a variável /e/..................272
Tabela 100: Resultados do julgamento, em Piranga e Ouro Branco para a variável /o/.................. 272
Tabela 101: Resultados gerais em Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Piranga e Ouro Branco para a
variável /e/........................................................................................................................................... 283
Tabela 102: Resultados gerais em Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Piranga e Ouro Branco para a
variável /o............................................................................................................................................ 284
20
RESUMO
Esta pesquisa descreve e analisa as vogais médias pretônicas /e/ e /o/ do dialeto
mineiro, em duas cidades: Piranga e Ouro Branco. Com base na Teoria da Variação e
Mudança, foram descritas e analisadas três variantes das vogais médias pretônicas: [e] e [o]:
realização fechada; [E] e [O]: realização aberta; [i] e [u]: realização alçada. O corpus utilizado
compreendeu 15.407 realizações de vogais médias pretônicas, coletadas a partir de entrevistas
com 16 informantes, estratificadamente distribuídos por gênero, faixa etária e origem. Além
desses fatores sociais, foram considerados os seguintes fatores lingüísticos: tipo silábico,
vogal da sílaba tônica, vogal entre a vogal da variável e a tônica, tipo de morfema em que a
vogal esteja inserida, paradigma com vogal aberta, distância da sílaba tônica, classe
morfológica, modo do segmento precedente, ponto do segmento precedente, modo do
segmento seguinte, ponto do segmento seguinte, distância do início da palavra, número de
sílabas da palavra e item lexical. Os dados foram submetidos ao modelo logístico
multinomial, incluído no software SPSS. O banco de dados, constituído para esta pesquisa,
contribuirá na descrição e análise do Português do Brasil (PB) e, sobretudo, dos dialetos
mineiros.
ABSTRACT
This research describes and analyses the pretonic mid vowels /e/ and /o/ in the
cities of Piranga and Ouro Branco, Minas Gerais State, Brazil. Three variants of
pretonic mid vowels were described and analyzed according to the Variation and
Change Theory: [e] and [o]: half-closed production; [E] and [O]: half-open production;
[i] and [u]: raising production. The corpus consisted of 15,407 pretonic mid vowels
productions, taken from interviews with 16 informants stratified by gender, age and
origin. Beside these social factors, the following linguistic factors were taken into
account: syllabic type, vowel of the stressed syllable, vowel between the vowel of the
variable and the stressed one, type of the morpheme where the vowel is located,
paradigm with half-open vowel, distance from the stressed syllable, morphological
class, manner of articulation of the preceding segment, place of articulation of the
preceding segment, manner of articulation of the next segment, place of articulation of
the next segment, distance from the beginning of the word, number of syllables of the
word, and lexical item. The data were submitted to the multinomial logistic model from
the SPSS software. The database created for this research will help in the description
and analysis of the Brazilian Portuguese (BP) and especially of the dialects of Minas
Gerais State.
22
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa vincula-se a três grupos e a um projeto de pesquisa. Os grupos são:
Para uma História Social do Português do Brasil PHPB/CNPq; Descrição Sócio-
histórica das Vogais do Português (do Brasil) PROBRAVO/CNPq; Núcleo de
Pesquisa em Variação Lingüística NUPEVAR (FALE/UFMG). O projeto denomina-
se: Variação e Mudança: Aspectos Morfológicos, Fonético-fonológicos e Lexicais
VARFON-Minas, que está inserido no projeto de pesquisa MINEIRÊS/FAPEMIG.
Esta dissertação descreve e analisa as vogais médias pretônicas /e/ e /o/ no
dialeto mineiro, em duas cidades: Piranga e Ouro Branco. No desenvolvimento da
pesquisa, foram investigados alguns aspectos sociolingüísticos que influenciaram a
variabilidade observada na fala dessas comunidades. Para esse estudo, a fala de
habitantes dos 2 municípios foi gravada e transcrita, constituindo um banco de dados
que, eventualmente, contribuirá na descrição e análise de alguns aspectos da Língua
Portuguesa falada no Brasil e, em especial, em Minas Gerais.
Foram descritas e analisadas três variantes das vogais médias pretônicas /e/ e /o/:
a) [e] e [o]: realização fechada;
b) [E] e [O]: realização aberta;
c) [i] e [u]: realização alçada.
No estudo dessas variações fonético-fonológicas, adotamos os princípios
metodológicos da teoria da variação e mudança, ou sociolingüística, proposta por Labov
(1972). Ele propõe que a variação pode ser favorecida por aspectos sociais e por
23
aspectos internos. Dessa maneira, é possível ordenar o aparente “caos” da linguagem.
Este trabalho buscará descrever e fazer o encaixamento lingüístico dos aspectos
fonético-fonológicos das vogais médias pretônicas nas realizações das cidades de
Piranga e Ouro Branco e ainda descrever e analisar aspectos sociolingüísticos que
influenciam a variabilidade ocorrida na fala dessas comunidades.
Os estudos da dialetologia e da sociolingüística têm contribuído muito na
descrição do Português do Brasil (PB). Na década de 50, iniciou-se a produção do Atlas
Lingüístico do Brasil. Hoje, proposta de construção de um Atlas Geral, por meio de
atlas regionais. Alguns já foram elaborados ou estão em desenvolvimento, como por
exemplo: o Atlas Prévio dos Falares Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Lingüístico
de Minas Gerais (1977), o Atlas Lingüístico da Paraíba (1985), o Atlas Lingüístico de
Sergipe (1987) e o Atlas Lingüístico do Paraná (1995).
Nesta dissertação, elaboramos um banco de dados, a partir da fala de habitantes
de dois municípios mineiros Piranga e Ouro Branco. Esses dados contribuem nos
estudos de variação dialetal, descrevendo e analisando as vogais médias pretônicas
desses municípios. Também poderão contribuir na elaboração ou aperfeiçoamento do
Atlas Lingüístico de Minas Gerais.
Escolhemos duas cidades mineiras que pertencem a regiões diferentes. Piranga
pertence à Zona da Mata Mineira e Ouro Branco pertence à região Central. Viegas
(inédito) explica a importância de se estudar as diferentes regiões de Minas Gerais:
Assim, podemos dizer que encontramos em Minas variações que estão
presentes em grande parte do Brasil. Como conseqüência, se
estudarmos a fala das diversas regiões de Minas, estaremos estudando
a fala de grande parte do Brasil essa é uma característica importante
do Estado. Esse é, portanto, um Estado-chave para os estudos da
variação lingüística do português do Brasil. (VIEGAS, inédito)
1
.
1
VIEGAS, M.C. Por que falamos desse jeitim? In: RAMOS, J. BH-110 anos, no prelo.
24
Esta dissertação apresenta 7 capítulos, tendo esta Introdução como o primeiro
deles e os demais organizados da seguinte forma:
No capítulo 2 Revisão da Literatura e problematização:
foi apresentada
uma série de estudos referentes às vogais médias pretônicas. Em seguida, foram
apresentados os problemas e as hipóteses.
No capítulo 3 Modelo Teórico-Metodológico
foram indicados os
pressupostos teórico-metodológicos que nortearam a pesquisa.
No capítulo 4 Metodologia de Pesquisa foram descritas as duas
comunidades estudadas (Piranga e Ouro Branco) e descrita a metodologia empregada no
desenvolvimento do estudo o tamanho da amostra; a coleta dos dados; a definição do
tipo de transcrição da fala; a definição e codificação das variáveis consideradas no
estudo. Apresentamos também espectrogramas da realização de algumas das vogais em
análise.
No capítulo 5 Análise dos Resultados - foram listados, em tabelas, os
resultados dos efeitos das variáveis independentes nas variáveis dependentes /e/ e /o/,
relativos aos dois municípios estudados. Foi feita a leitura de cada tabela e a discussão
dos resultados apresentados.
No capítulo 7- Conclusão foram apresentados os principais resultados
encontrados.
25
CAPÍTULO 2
REVISÃO DA LITERATURA E PROBLEMATIZAÇÃO
A pronúncia das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ no Português do Brasil (PB) é
tema recorrente em trabalhos de alguns estudiosos. Podemos citar alguns estudos:
Mota (1979), sobre as vogais antes do acento em Ribeirópolis, em Sergipe; Bisol
(1981), sobre a regra de harmonia vocálica no falar gaúcho; Callou & Leite (1986),
sobre a ação da regra de harmonia vocálica na norma culta do Rio de Janeiro; Maia
(1986), sobre o comportamento das vogais pretônicas médias na fala de Natal, no Rio
Grande do Norte; Viegas (1987 e 2001), sobre o alçamento das vogais médias
pretônicas na região de Belo Horizonte, em Minas Gerais; Silva (1989), sobre as vogais
pretônicas na variedade culta de Salvador, na Bahia; Castro (1990), sobre as pretônicas
na variedade culta de Juiz de Fora, em Minas Gerais; Nina (1991) sobre as médias
pretônicas na fala de Belém; Bortoni (1992), sobre os condicionamentos das regras de
elevação e abaixamento no dialeto de Brasília; Yacovenco (1993), sobre as médias
pretônicas no falar culto carioca; Battisti (1993), sobre a elevação das médias pretônicas
em sílaba inicial de vocábulo na fala gaúcha; Vianna da Silva (1995), sobre as
pretônicas fluminenses; Pereira (1997), sobre as médias pretônicas na fala do pessoense
urbano, na Paraíba; Freitas (2001), sobre as vogais médias pretônicas na cidade de
Bragança, no Pará; Schwindt (2002), sobre a regra de harmonização vocálica no Rio
Grande do Sul; Lee & Oliveira (2003), sobre a variação inter- e intra-dialetal no
português brasileiro: um problema para a teoria fonológica; Célia (2004), sobre a
variação das vogais médias pretônicas no português de Nova Venécia, no Espírito
26
Santo; Bohn (2004), sobre um estudo da harmonia vocálica em tempo real; Marques
(2006), sobre as vogais médias pretônicas em situação de contato dialetal entre
paraibanos e cariocas no Rio de Janeiro e entre brasileiros e portugueses na cidade de
Lisboa.
2.1 Resenhas de alguns estudos sobre as vogais médias pretônicas
Abaixo apresentamos as principais conclusões de pesquisas realizadas em
diversas regiões do Brasil.
2.1.1 Harmonização Vocálica: uma regra variável (Bisol, 1981)
Bisol (1981), em sua tese de doutorado, estuda as vogais médias pretônicas na
fala de moradores do Rio Grande do Sul. O corpus utilizado compôs-se do registro da
fala de 44 informantes, divididos em dois grupos: o primeiro constitui-se de 32 usuários
de uma variedade lingüística não-padrão, representantes da fala popular; o segundo, de
12 usuários monolíngües da variedade padrão do PB, representantes da fala culta (os
dados desse grupo originaram-se do Projeto de Estudo Conjunto e Coordenado da
Norma Lingüística Urbana Culta do Brasil NURC). Os informantes do primeiro
grupo foram distribuídos da seguinte forma: monolíngües da metrópole, bilíngües de
uma área de colonização alemã, bilíngües de uma área de colonização italiana e
monolíngües de uma cidade fronteiriça com o Uruguai. Os informantes do segundo
grupo (NURC), por sua vez, são monolíngües metropolitanos, com formação superior.
Assim, o grupo metropolitano foi dividido em dois: a amostra principal, representante
da fala popular, e a amostra suplementar, representante da fala culta.
27
A autora se baseou na teoria variacionista, proposta por Labov (1972), para
análise dos dados.
Bisol conclui que é possível descrever a variação das vogais pretônicas como
uma regra variável, devido à regularidade com que a mudança ocorre em certos
ambientes. Essa regra variável é condicionada por múltiplos fatores e, diferentemente
do que afirma Câmara Júnior (1977), Bisol (1981, p.259) propõe que a harmonização
vocálica é um processo de assimilação regressiva desencadeado pela vogal alta da
sílaba imediatamente subseqüente, independentemente de sua tonicidade que pode se
estender a uma ou mais vogais médias do ambiente. Temos, como exemplo, a palavra
adormeceria que pode ser pronunciada como: adormec[i]ria, adorm[i]c[i]ria,
ad[u]rm[i]c[i]ria.
Bisol ressalta que a vogal alta anterior [i] atua na elevação de /e/ e /o/ com a
mesma intensidade, sendo altamente favorecedora de ambas as elevações. Já a vogal
alta posterior [u], favorece apenas a elevação de /o/, atuando esporadicamente no
alteamento de /e/.
A autora observa que o caráter átono permanente da média pretônica no
paradigma derivacional se mostrou favorável à elevação das vogais médias pretônicas,
como, por exemplo, em: m[e]nino ~ m[i]ninu, m[e]ninice ~ m[i]ninice; f[o]rmiga ~
f[u]rmiga, f[o]rmigueiro ~ f[u]rmigueiro
Bisol ressalta que a nasalidade se mostrou favorável à elevação de /e/
(ac[e]ndido ~ ac[i]ndido) e desfavorável à elevação de /o/ (c[o]ntido).
Algumas consoantes favorecem o alçamento da vogal /e/. São elas: a consoante
velar que a precede (qu[e]rido ~ qu[i]rido) ou sucede (p[e]queno ~ p[i]queno); e a
palatal subseqüente (m[e]lhor ~ m[i]lhor). Outras consoantes favorecem o alçamento
28
da vogal /o/. São elas: a consoante labial que a precede (b[o]neca ~ b[u]neca) ou
sucede (t[o]mate ~ t[u]mate); e a consoante velar que a antecede (c[o]stela ~ c[u]stela).
Segundo Bisol, os fatores que exercem um papel importante na regra podem ser
colocados nessa ordem: 1º) a vogal alta da sílaba seguinte, 2º) o caráter da vogal átona e
3º) a consoante vizinha.
A autora ressalta que alguns fatores tendem a impedir o funcionamento da regra.
Dentre eles, ela destaca: a palatal precedente, a alveolar precedente ou seguinte e o
acento subjacente da vogal candidata à aplicação da regra. Outros fatores tendem a
bloquear o funcionamento da regra, como os formadores de grau e outros sufixos.
Em relação aos fatores sociais, Bisol conclui que, no dialeto gaúcho, a variação
da pretônica ocorre tanto na fala popular quanto na fala culta, embora nessa com menos
freqüência, por influência provável da ortografia.
Em relação à etnia, Bisol conclui que são os metropolitanos (fala popular), cuja
língua é o português, os que mais empregam a regra de alçamento. Em seguida
aparecem os bilíngües nessa ordem: italianos, alemães e fronteiriços.
Bisol afirma que a regra se encontra em equilíbrio em cada grupo estudado.
Contudo, os informantes jovens – pertencentes ao grupo composto por 12 usuários
monolíngües, representantes da fala culta usam menos a regra do que os mais velhos
desse mesmo grupo. Esse fato poderia indicar uma possível trajetória de regressão da
regra.
Os estudos de Bisol relativos ao dialeto gaúcho permitiram-lhe concluir que
a regra atua, moderadamente, no alçamento das vogais médias pretônicas e faz
predominar a realização fechada dessas vogais.
29
2.1.2 Alçamento de vogais médias pretônicas: uma abordagem sociolingüística
(Viegas, 1987)
Viegas (1987), em sua Dissertação de Mestrado, estuda o alçamento de vogais
médias pretônicas na fala de 16 habitantes da região metropolitana de Belo-Horizonte,
em duas áreas diferenciadas sócio-economicamente. No estudo, foram considerados os
seguintes fatores sociais: faixa etária, grupo social, estilo (formal ou informal) e gênero.
A pesquisadora baseia-se nos pressupostos teóricos da teoria laboviana, para
descrever os ambientes estruturais e não-estruturais que favorecem o alçamento das
vogais.
A análise dos dados, coletados pela estudiosa, permite-lhe formular
considerações relevantes sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/. Viegas conclui que o
fenômeno do alçamento pode ser descrito por uma regra fonológica variável e que os
ambientes favorecedores e desfavorecedores da elevação não são os mesmos para /e/ e
/o/.
Em relação à vogal /e/, Viegas conclui que esta sempre alçou quando precedida
pelas vogais baixas [a] e [E]. As sílabas travadas por fricativa VC ([i]spressa) e por
nasal - VN, esta em sílaba inicial, ([i]ncarnou) são altamente favorecedoras. Quanto
mais próxima do início da palavra, maior a porcentagem de alçamento. A vogal alta
tônica favorece muito a elevação de /e/ (m[i]nino) que é maior quando a vogal alta
tônica é imediata.
Diferentemente de Bisol, que não encontrou alçamento em prefixos de palavras
do falar gaúcho, Viegas constata que o /e/ apresenta alta porcentagem de alçamento nos
prefixos de-/des- (em início de sílaba), por exemplo: d[i]scansa. As sonorantes
30
subseqüentes, fator formado pelas nasais e pelas líquidas laterais, favorecem o
alçamento. Por exemplo: m[i]nina.
Viegas observa que /e/ não inicial em sílabas travadas por nasal não é alçado.
Observou que não houve alçamento de /e/ quando precedido pelas vogais altas [i] e [u]
ou pelas semivogais [y] e [w]. Também não houve alçamento quando seguido pelas
vogais [i] ou [O] ou pela semivogal [y].
O alçamento de /e/ é desfavorecido pela vogal média [e] tônica ou átona
presente na sílaba, imediatamente, subseqüente à da vogal /e/, por exemplo: s[e]reno e
r[e]cepcionista, respectivamente. A presença de obstruintes fator formado pelas
fricativas/africadas e oclusivas na laba subseqüente, como, por exemplo: s[e]parou,
também desfavorece o alçamento.
Viegas constata como o fez Bisol que a sílaba aberta (V) desfavorece o
alçamento, que a vogal tônica baixa o desfavorece em qualquer posição (s[e]ção e
s[e]nsação) e que a média tônica imediata retém a média (m[e]renda).
Em relação à vogal /o/, Viegas (1987, p.80) ressalta que “para ser passível de
alçamento deve estar precedida por consoante.”
Viegas (1987, p.82) acrescenta: “O segmento seguinte, assim como o
precedente, deve ser uma consoante. Quando a vogal (o) está seguida de vogal [a]
(código A), o alçamento é quase categórico (98%), por exemplo, ‘vuado’.”
As obstruintes precedentes (c[u]berta) e seguintes (pr[u]curar) favorecem o
alçamento, assim como as nasais seguintes (c[u]meçou) e as palatais seguintes
(c[u]chilar). As sílabas CV (c[u]berto) e CVC (c[u]stela), travada por fricativa,
também o favorecem.
31
Bisol apontou que as consoantes labiais favorecem o alçamento, Viegas,
diferentemente, verifica que a presença dessas consoantes tem efeito neutro nas formas
estudadas.
Não houve casos de alçamento quando a vogal /o/ estava precedida pela vogal [i]
e pela semivogal [y], (pi[o]rou, mi[o]linho); precedida pela líquida lateral, (l[o]ção);
em início de palavra ([o]rçamento); e seguida de semivogal [w] e [y] (p[o]uquinho,
c[o]isinha).
A sílaba travada por nasal (CVN) desfavorece o alçamento (c[o]nciso), assim
como o fator sonorante, formado pelas nasais precedentes e pelas líquidas laterais
precedentes, (m[o]delo, pr[o]blema). Assim como apontou Bisol, as alveolares
seguintes têm efeito desfavorecedor.
Viegas (1987, p.130) conclui que o alçamento de /e/ “é um processo de
harmonia vocálica evidente (como diziam Câmara Jr. (1969) Bisol e Lemle (1974)
devido à grande influência da vogal alta seguinte”.
Em relação ao alçamento de /o/, Viegas (1987) ressalta:
(...) não confirmo a hipótese de harmonização tal como proposta por
LEMLE (1974) e Bisol (1981), principalmente. Já que a vogal alta
seguinte contínua ou não, tônica ou não, não exerce influência
significante sobre a regra de alçamento. (VIEGAS, 1987, p.100).
Viegas acrescenta que a regra de assimilação para o /o/ está relacionada mais às
consoantes adjacentes, assim, num processo de redução, ocorreria a diminuição da
diferença articulatória das vogais em relação aos segmentos adjacentes.
Viegas observa que o ambiente precedente e seguinte não explica todas as
ocorrências (ou ausências) de alçamento das vogais /e/ e /o/. Alguns itens lexicais alçam
sempre, ainda que o ambiente não favoreça o alçamento; outros nunca alçam, mesmo
que o ambiente seja favorável.
32
Em relação aos ambientes não-estruturais, Viegas conclui que o processo de
alçamento está abaixo do nível de conscientização dos falantes e que é ligeiramente
estigmatizado.
A faixa etária e o grupo social relacionam-se ao alçamento das vogais /e/ e /o,
desta forma: o alçamento da vogal /e/ está estratificado por faixa etária (indicador),
sugerindo mudança em progresso; da vogal /o/, por grupo social (indicador),
apresentando indícios de variável estável.
Em relação ao estilo, Viegas constata que o alçamento é comum no estilo
informal e não o é no estilo formal. Viegas constata então que um mesmo item pode
alçar no estilo informal e não o fazer no estilo formal.
Viegas sugere ainda que o alçamento possa estar relacionado ao item lexical:
Para a possibilidade de o alçamento estar relacionado à questão
lexical, tomo os estudos de Chen e Wang (1975) e de Krhishnamurti
(1978), a respeito de a mudança sonora se propagar gradualmente
através do léxico e não abruptamente (como vinha sendo considerado
para o alçamento). (VIEGAS, 1987, p.6).
Viegas ressalta que o alçamento poderia ser uma mudança fisiologicamente
motivada:
Phillips (1984) propõe que a difusão lexical se através da
freqüência da palavra: a mudança sonora atinge as palavras mais
freqüentes primeiro, se esta for uma mudança fisiologicamente
motivada, ou as menos freqüentes primeiro, nos outros casos. Nesta
proposta parece se enquadrar o caso do alçamento: uma mudança
fisiologicamente motivada. Resta saber quais são as palavras mais
freqüentes, pois a questão da freqüência do item lexical está
relacionada diretamente com o grupo que o usa e com a época em que
o usa. (VIEGAS, 1987, p. 6-7).
Viegas acrescenta:
analisando a freqüência dos itens lexicais, posso dizer que: os itens
mais freqüentes na amostragem com ambientes favorecedores alçaram
proporcionalmente mais do que aqueles menos freqüentes, também
com ambientes favorecedores, em qualquer estilo. (VIEGAS, 1987, p.
167)
33
Viegas encontra também itens que foram alçados sem ambientes favorecedores,
e outros que não o foram, num mesmo estilo e com freqüências iguais; palavras de
sentido não tão prestigiado socialmente, podendo até mesmo ter sentido pejorativo,
foram alçadas com freqüência e outras com sentido mais prestigiado não o foram.
ainda palavras que alçam independente da questão semântica.
Viegas ressalta, então, que cada palavra tem sua própria história e conclui, ainda,
que:
18. houve uma tendência ao alçamento das vogais médias pretônicas
(ajustamento fonético) descrita pelos ambientes favorecedores e
desfavorecedores, mas hoje houve uma reestruturação e os itens
possuem [e] ou [i], [o] ou [u] em sua forma subjacente, conforme
sejam “nunca alçados” ou “sempre alçados”, respectivamente. 19.
existem itens que independentemente dos fatores favorecedores ou
desfavorecedores descritos têm [e] ou [i], [o] ou [u] em sua forma
subjacente, conforme sejam “nunca alçados” ou “sempre alçados”,
respectivamente (VIEGAS, 1987, p.167-168).
Com base nos seus resultados, a autora afirma que a descrição do alçamento
através de uma regra variável lexicalmente abrupta, como defendiam os neogramáticos,
não consegue explicar o alçamento das vogais médias pretônicas, ou seja, a regra
variável da gramática sofre restrições do léxico que não são previstas nessa teoria.
Viegas conclui que o processo poderia ser de difusão lexical, isto é, a regra não
atingiria cegamente todos os vocábulos, mas sim alguns itens lexicais. Dessa forma o
alçamento se processaria gradualmente através do léxico, atuando sobre os itens mais
freqüentes primeiro.
2.1.3 As pretônicas na variedade mineira Juizdeforana (Castro, 1990)
Em sua dissertação de mestrado, Castro (1990) descreve e analisa a variação das
vogais médias pretônicas na variedade mineira juizdeforana. Nesse trabalho, foram
34
selecionados 12 informantes, graduados e pós-graduados por universidade, de ambos os
sexos e com idades entre 25 a 35 anos (faixa etária 1), 36 a 55 anos (faixa etária 2), e 56
anos em diante (faixa etária 3).
O tratamento estatístico dado a essa pesquisa restringe-se a simples cálculos de
percentagem devido aos limites da amostra em estudo.
Segundo a autora, a tendência geral da variedade mineira juizdeforana é
preservar as pretônicas, apesar de haver, também, alternância entre pretônicas médias
fechadas e abertas. A partir de análises quantitativas das ocorrências, foram
apresentadas uma série de evidências (listadas a seguir), referentes aos vários fatores
lingüísticos analisados:
- há maior possibilidade de se altear a pretônica em contexto de vogal alta tônica
contígua do que em contexto de vogal alta átona contígua;
- a vogal alta contígua /i/ tende a exercer maior poder assimilatório na pretônica
anterior ou posterior do que a vogal alta contígua /u/;
- os demais contextos vocálicos tendem a preservar as pretônicas e, por vezes,
inibir-lhes o alteamento tendência também observada nas variedades gaúcha, mineira
belo-horizontina e carioca;
- maior possibilidade de as pretônicas se tornarem dias abertas em
contexto de vogal média aberta contígua (mEtrópoles, fOtógrafo) do que em contexto
de vogal baixa contígua (hOspEdaria, prOpaganda), diferenciando-se, principalmente,
da variedade de Salvador em que o processo de abaixamento é quase categórico no
contexto de vogal baixa da sílaba subseqüente, apesar da sua predominância no contexto
de vogal média aberta;
35
- em um mesmo item lexical, a variação binária entre médias fechadas e altas
ocorre em todos os contextos vocálicos subseqüentes sendo que a variante /i/ predomina
no contexto de vogal alta e a variante /u/ nos demais contextos, confirmando a maior
atuação da vogal alta imediata sobre a pretônica anterior do que sobre a pretônica
posterior;
- em um mesmo item lexical, ocorre a variação ternária ([u] ~ [o] ~ [O]) apenas
em contexto de vogal média aberta da sílaba subseqüente nestes três itens lexicais:
c[o]lega, c[o]légio e m[o]derno, confirmando a possibilidade, nesse contexto, do
processo de abaixamento;
- em relação ao contexto consonantal, maior possibilidade de a pretônica
posterior se altear em contexto de velar precedente, diante de vogal alta imediata ou
não, do que nos demais contextos consonantais precedentes (c[u]zinha, c[u]berta);
- maior possibilidade de a pretônica posterior se altear em contexto de labial
(preferencialmente) ou nasal (secundariamente) subseqüentes, diante de vogal alta
imediata ou não, do que nos demais contextos consonantais subseqüentes (s[u]brinho,
m[u]nitor, apr[u]veitar, c[u]meçar);
- maior possibilidade de a pretônica posterior se altear em contexto de velar
precedente do que em contexto de labial ou nasal subseqüentes;
- maior possibilidade de a pretônica anterior se altear em contexto de nasal
subseqüente, diante de vogal alta imediata ou não, do que nos demais contextos
consonantais precedentes ou subseqüentes, (s[i]mestre), tendência da variedade mineira
belo-horizontina;
36
- os demais contextos consonantais precedentes ou subseqüentes tendem a
preservar as pretônicas ou mesmo a inibir seu alteamento, contudo, o alteamento pode
ocorrer, condicionado à presença de vogal alta imediata;
- em um mesmo item lexical excetuando a alternância [o] ~ [u], em contextos
de lateral ou vibrante forte precedentes documentou-se variação binária entre médias
fechadas e altas nos demais contextos consonantais precedentes ou subseqüentes. Entre
[e] ~ [i], a variante [e] predomina em todos os contextos; o inverso (predomínio de [i])
ocorre, preferencialmente, diante de vogal alta imediata. Entre [o] ~ [u], a
predominância da variante [u], em determinados contextos, não está vinculada à
presença de vogal alta imediata. Desse modo, confirma-se que a vogal alta imediata
favorece mais o alteamento da pretônica anterior do que o alteamento da pretônica
posterior;
- a variação ternária ([u] ~ [o] ~ [O]) ocorre, somente, nos contextos de velar ou
labial/nasal precedentes e nos contextos de alveolar/lateral ou alveolar/obstruinte
subseqüentes nos itens c[o]lega, c[o]légio e m[o]derno;
- em relação à atonicidade das pretônicas, a atonicidade permanente da pretônica
posterior tende a propiciar o seu alteamento;
- a atonicidade casual da pretônica posterior, sem alternância ([o] ~ [O]) no
paradigma, tende a favorecer o seu alteamento e, havendo alternância ([o] ~ [O]), tende
a desfavorecê-lo, o que se justifica pela presença de uma forma subjacente /O/;
- a atonicidade permanente ou casual da pretônica anterior tende a não interferir
no seu alteamento;
37
- em um mesmo item lexical, documentou-se entre as pretônicas permanentes ou
casuais variação binária quer entre as médias fechadas e altas quer entre médias
fechadas e abertas;
- a posição das pretônicas, como segunda vogal da seqüência em hiato, inibe seu
alteamento (soci[e]dade e bi[o]logia), tendência da variedade mineira belo-horizontina
mas pode propiciar o abaixamento da pretônica posterior, preferencialmente, diante de
vogal [+bx] imediata e/ou diante de líquida subseqüente (pi[O]rar e vi[O]lenta);
- a posição das pretônicas, como primeira vogal da seqüência em hiato, seguida
de vogal tônica, tende a propiciar o seu alteamento (camp[i]ão, d[u]ença);
- a posição da pretônica anterior como primeira vogal da seqüência em hiato
pode propiciar o seu abaixamento, preferencialmente, diante de vogal [+bx] imediata
ou/e diante de vibrante forte precedente (t[E]órica, r[E]alizações);
- em alguns itens lexicais, pode ocorrer ditongação, como, por exemplo: t[eo]ria
~ t[iw]ria e pr[eo]cupação ~ pr[ew]cupação.
Ao analisar os fatores extralingüísticos, Castro (1990) apresenta seus
resultados da seguinte forma:
- em relação à pretônica anterior, assim como na amostra belo-horizontina, o
presente estudo identifica um processo estável com um indício de mudança em
progresso, visto que os jovens (do sexo masculino) tenderam a altear mais do que os
adultos (do sexo masculino ou feminino);
- em relação à pretônica posterior, parece estar ocorrendo um processo estável
com um indício de regressão, visto que os mais velhos do sexo feminino, tendem a
altear um pouco mais do que os adultos e jovens (do sexo feminino ou masculino).
38
Entretanto, quando se considera o comportamento de ambas as pretônicas,
cruzando sexo e faixa-etária, evidencia-se, na amostra em estudo, uma possível perda da
produtividade da regra de alteamento, visto que, neste caso, as mulheres mais velhas (56
anos em diante) tendem a altear mais ambas as pretônicas do que as mulheres das outras
faixas etárias e do que os homens em qualquer faixa-etária;
- as emissões baixas documentadas na variedade mineira juizdeforana mostram
que os jovens e velhos (do sexo masculino) tendem a usar mais a regra do que os
adultos, e, na amostra em estudo, são os adultos e velhos (do sexo masculino) que
tendem a usar mais a regra do que os jovens. E, ainda, são os homens adultos e velhos
que tendem a aplicar menos a regra de alteamento, o que sugere, aparentemente, haver
competição entre as duas regras entre os homens dessas faixas etárias.
- nas amostras de Juiz de Fora e de Belo Horizonte, as palavras mais freqüentes
tendem a apresentar pretônica alteada, em ambientes favoráveis, como, por exemplo:
s[i]guinte e p[u]lítico, nesses casos, o alteamento ocorreu diante de vogal alta imediata.
Contrariamente, as palavras menos freqüentes tendem a não apresentar a pretônica
alteada, ainda que em ambientes favoráveis, como, por exemplo: al[e]rgia e euf[o]ria.
Entretanto, palavras com freqüências semelhantes têm, no mesmo contexto,
comportamentos diversos. Por exemplo, m[i]nino e d[u]mingo são freqüentes e ocorrem
com a pretônica alteada; p[e]ríodo e pr[o]fissão são, também, freqüentes, mas não têm
a pretônica alteada. Diante de tais resultados, Castro (1990) retoma Viegas (1987):
[...] Viegas (1987), ao tentar demonstrar que a mudança sonora pode
se difundir através do léxico, observou que alguns itens não se
submetem a qualquer sistematização, fato que a levou a dizer com
Gilliéron cada palavra tem sua própria história’. Assim, é possível
também analisar, conforme Viegas, o aspecto lexical da variação.
(CASTRO, 1990, p.249)
39
2.1.4 Elevação das vogais médias pretônicas em sílaba inicial de vocábulo na fala
gaúcha (Battisti, 1993)
Battisti (1993), em sua dissertação de mestrado, estuda o alçamento das vogais
médias pretônicas /e/ e /o/ em sílaba inicial de vocábulos da fala gaúcha. O corpus foi
constituído com dados da fala de 35 informantes, distribuídos em 2 grupos. O primeiro
constituiu-se por 28 informantes, representantes da fala popular, distribuídos de acordo
com sua origem étnica: italianos, alemães, fronteiriços com o Uruguai e metropolitanos
- como fizera Bisol (1981). O segundo, por 7 informantes metropolitanos, com curso
superior – representantes da fala culta – entrevistados pela equipe do Projeto NURC.
A metodologia adotada na pesquisa baseia-se nos pressupostos da teoria
laboviana. Após análise estatística dos dados da fala dos informantes distribuídos em
grupos, como indicado acima –, Battisti formula as seguintes considerações gerais,
referentes ao alçamento de /e/ e /o/, em sílaba inicial:
- a vogal /e/ alça mais do que a vogal /o/, porque /e/ possui mais condicionadores
e não há regra específica para seu alçamento, em posição inicial;
- o alçamento do /e/ é favorecido por: dorsal precedente, palatal precedente e
subseqüente, e nasal ou sibilante subseqüentes;
- o alçamento do /o/ é favorecido por: dorsal precedente, labial precedente e
subseqüente e palatal subseqüente;
- a ausência de contexto fonológico precedente favorece o alçamento do /e/, mas
não favorece o do /o/, a não ser que a sílaba inicial seja contígua à tônica nesse caso –
o alçamento do /o/ é favorecido.
40
Com base nos índices percentuais, a autora constata que a elevação é mais
freqüente nos grupos de italianos para /e/ e no grupo de metropolitanos (fala popular),
para /o/ e que a fala gaúcha tende a preservar as médias pretônicas em laba inicial,
comportamento também evidenciado em posições internas nos resultados de Bisol.
A autora ressalta que dois dos contextos analisados permitem pensar em regra:
a) /e/ em sílaba fechada por /S/ ou /N/, devido à elevação quase categórica da média
anterior nesse contexto; b) /e/ e /o/ seguidas por vogal alta na sílaba seguinte, devido ao
processo assimilatório desencadeado por essa vogal.
No primeiro contexto (a), o alto índice de alçamento de /e/ sugere que se trata de
uma regra em vias de perder seu caráter variável, tornando-se categórica. Esse contexto
sugere o seguinte contraste:
[...] de um lado, a elevação das médias (e, o) em sílaba inicial como
fenômeno variável, estável, seguindo a mesma tendência verificada na
pauta pretônica interna, e, de outro, a elevação de e inicial seguido de
/S/ ou /N/, quase categórica, que, ao que tudo indica, perderá seu
“status” variável futuramente (BATTISTI, 1993, p.119).
Provavelmente, esse fenômeno deve ser de base analógica, antigo no português,
e que diz respeito à confusão no emprego de alguns prefixos.
No segundo contexto (b), os mesmos princípios que regem a harmonia vocálica
das médias, em posição interna, se aplicam às médias em posição inicial.
2.1.5 As vogais médias pretônicas no falar culto carioca (Yacovenco, 1993)
Yacovenco (1993), em sua dissertação de mestrado, analisa 3.563 realizações de
vogais médias pretônicas em vocábulos da fala culta carioca. No estudo, foram
selecionados 18 informantes do Projeto NURC/RJ (Projeto da Norma Lingüística
Urbana Oral Culta) e considerados os seguintes fatores sociais: sexo (masculino e
41
feminino), zona de residência (norte, sul e suburbana) e faixa etária (jovens, 25 a 35
anos; intermediários, 36 a 50, e idosos, acima de 50 anos). A autora se baseia na teoria
variacionista, proposta por Labov, para análise dos dados.
Primeiramente, a autora analisa os valores percentuais e posteriormente os
índices probabilísticos e de significância fornecidos pelo programa computacional
Varbrul.
Em relação aos valores percentuais, a autora observa que a vogal tônica
influencia a atualização da vogal oral anterior em posição pretônica. A regra de
manutenção apresenta os maiores índices percentuais quando a vogal tônica é,
respectivamente, um ditongo, uma vogal média ou uma vogal baixa. Já para a regra de
alteamento, os maiores índices percentuais relaciona-se à vogal alta homorgânica e à
alta não homorgânica. Os ditongos parecem ser os segmentos que menos favorecem a
elevação. Quanto ao abaixamento, a autora nota que os ditongos, as vogais baixas e as
médias são os segmentos que mais favorecem a regra de abaixamento da vogal média
oral anterior.
Yacovenco observa também que os segmentos precedentes que proporcionam os
maiores índices para a aplicação da regra de manutenção são as consoantes labiais,
seguidas pelas palatais, pelas vogais e pelas vibrantes. Em relação ao alteamento, a
ausência de segmento precedente e as consoantes velares são as que mais favorecem
essa regra. As vibrantes precedentes são as que mais favorecem a regra de abaixamento
da anterior oral.
Os segmentos seguintes também foram analisados pela autora, sendo constatado
que as vibrantes e as palatais são as que mais contribuem par a regra de manutenção da
anterior oral. Já as consoantes velares são as que mais favorecem o alteamento dessa
42
vogal. A regra de abaixamento é utilizada quando se tem em posição subseqüente à
pretônica, respectivamente, vogais, grupos consonânticos, consoantes vibrantes e
alveolares.
Em relação ao grau de atonicidade
2
, a autora observa que a regra de manutenção
é mais utilizada quando a vogal pretônica oral anterior é uma átona casual baixa. A
seguir encontram-se as que fazem parte de uma palavra base e as que são átonas casuais
médias. A vogal átona permanente, por um lado, é a que menos atinge a regra de
manutenção, mas por outro lado, é a que mais colabora com o alteamento e o
abaixamento da anterior oral.
A autora observa também que os sufixos verbais e os não-verbais atuam sobre
regras distintas. Os primeiros favorecem a elevação e o abaixamento da anterior oral, ao
passo que os últimos contribuem para a regra de manutenção. Yacovenco constata que
as formas consideradas primitivas (sem sufixo) apresentam um índice superior às
palavras com sufixo verbal em relação à regra de manutenção, mas exibe índices
inferiores àquele fator quanto às regras de elevação e de abaixamento.
A autora analisa também os fatores que influenciam na realização da vogal oral
posterior em posição pretônica. Em relação à vogal tônica, constata-se que os ditongos
são os segmentos que mais favorecem a regra de manutenção. A seguir encontram-se as
vogais baixas e as altas homorgânicas. Quanto ao alteamento, a vogal alta não-
homorgânica é a que mais age sobre a oral posterior. A vogal média apresenta um índice
superior ao da alta homorgânica para o alteamento. Quanto ao abaixamento, nota-se que
2
Átona permanente: quando a atonicidade é mantida quer a palavra seja derivada ou não (menino >
menininho).
Átona casual média: quando a vogal é tônica na palavra primitiva e átona na derivada (medo > medrosa).
Átona casual baixa: possui a mesma propriedade da casual média, mas com uma vogal média-baixa em
posição tônica (alEgre > alegria)
43
as vogais baixas são as que mais atuam sobre as pretônicas orais posteriores,
caracterizando uma regra de harmonização vocálica.
Os segmentos precedentes também foram analisados. As consoantes palatais e os
segmentos vocálicos são os que mais favorecem a regra de manutenção da pretônica
posterior. Quanto ao alteamento, a autora observa que as consoantes velares e as labiais
são os segmentos precedentes que mais favorecem tal regra. As vibrantes precedentes
são as consoantes que influenciam de modo destacado o abaixamento da posterior oral.
Yacovenco analisa também os segmentos seguintes. Os grupos consonânticos, as
consoantes alveolares e as velares, respectivamente, são os segmentos seguintes que
mais favorecem a regra de manutenção da posterior oral. O alteamento é favorecido,
respectivamente, pelos segmentos vocálicos, pelas consoantes labiais e pelas palatais
seguintes. O abaixamento é favorecido pelas palatais e pelos grupos consonânticos
seguintes.
Em relação ao grau de atonicidade, a autora verifica que as vogais átonas causais
e ditongo são as que mais favorecem a realização média da posterior oral. A átona
casual média pouco colabora com a regra de manutenção, mas é a que mais contribui
para o alteamento e o abaixamento da posterior oral. A átona permanente e a palavra
base atuam de forma destacada sobre a elevação, sendo que a palavra base também
atinge um índice relativamente alto para o abaixamento.
A autora observa também que os sufixos verbais favorecem a regra de
manutenção, enquanto os sufixos não-verbais favorecem a regra de alteamento.
Verifica-se que as formas consideradas primitivas (sem sufixo) rejeitam a regra de
manutenção e favorecem as de alteamento e abaixamento. O sufixo verbal é o fator que
menos influencia a regra de abaixamento da oral posterior.
44
Após análise dos dados, a autora conclui que, dentre as três regras variáveis
consideradas abaixamento, alteamento e manutenção –, a terceira delas (manutenção)
é a mais freqüente na fala culta carioca, sendo considerada a norma-padrão dessa
comunidade. A regra de manutenção é considerada a regra de aplicação para o cálculo
do peso relativo das variáveis independentes. Ora os dados relacionados à regra de
manutenção são cálculos do peso relativo das variáveis independentes, ora os dados
relacionados à regra de manutenção são contrapostos aos que se ligam à regra de
alteamento, e, ora se opõem aos dados referentes à regra de abaixamento, sendo que
neste caso, apenas os contextos sociais participam da análise.
Em relação aos fatores sociais, na faixa etária referente aos jovens (25 a 35
anos), quando a regra de manutenção é contraposta à de alteamento, observa-se que os
informantes do sexo feminino e os residentes na zona norte, são os que mais favorecem
a regra de manutenção; e os informantes do sexo masculino e os moradores da zona sul,
os que mais a inibem.
Segundo a autora, a zona norte é considerada a região mais conservadora da
cidade do Rio de Janeiro e as mulheres viviam, na década de 70, uma fase de afirmação
social de ocupação de espaços reservados aos homens. Tais fatos talvez se relacionem à
preferência desses grupos pela regra de manutenção, a qual demanda prestígio social.
Quando a regra de manutenção é contraposta à de abaixamento, o grupo
referente à faixa etária intermediária e as mulheres preferem a realização de timbre
fechado das médias pretônicas. Os homens e os jovens inibem a primeira regra
(manutenção): os homens parecem não se preocuparem com as normas de prestígio
social e os jovens, ainda que atentos aos padrões normativos da sociedade, são os mais
45
propensos às inovações – daí, talvez, os valores pouco relevantes para a regra de
manutenção, quando contraposta à de abaixamento.
Em relação aos fatores lingüísticos, Yacovenco (1993) analisa a vogal média
anterior, especificamente os fatores que favorecem a sua manutenção. Essa vogal se
relaciona, intimamente, à harmonização vocálica, posto que as vogais tônicas médias e
baixas favorecem a regra de manutenção, ao passo que as altas homorgânicas e não-
homorgânicas a inibem.
A autora observa que os segmentos que precedem ou seguem a pretônica /e/
também influenciam sua realização. A vogal anterior oral, quando precedida por
consoante palatal ou vibrante ou por vogal, tende a realizar-se com timbre fechado; mas,
quando antecedida por consoante velar ou grupo consonântico ou se se encontra em
posição inicial, tende a inibir a regra de manutenção. Observa-se, ainda, que consoante
palatal ou vibrante subseqüente à anterior oral favorece a sua realização fechada, ao
passo que consoante velar ou alveolar a inibe.
A harmonização vocálica favorece, destacadamente, a realização da vogal
anterior oral /e/. Entretanto, apenas a vogal tônica /i/ age de maneira inibidora à regra de
manutenção sobre a posterior oral /o/.
Em seguida, a autora analisa a vogal pretônica posterior /o/ e nota que os
segmentos que precedem ou seguem a pretônica são os contextos mais atuantes. O
grupo consonântico, a consoante vibrante e o segmento vocálico que precedem a
posterior oral favorecem a manutenção, assim como a ausência de segmento à esquerda
dessa vogal. Por outro lado, consoante labial ou velar, quando antecede essa pretônica,
tende a inibir a regra de manutenção.
46
Em segmentos subseqüentes à pretônica posterior oral, consoante alveolar ou
velar e grupo consonântico favorecem a aplicação da regra de manutenção; contudo,
consoante labial, palatal africada e segmento vocálico desfavorecem a aplicação dessa
regra.
Os sufixos não-verbais favorecem a aplicação da regra de manutenção na vogal
oral anterior ou posterior; os sufixos verbais inibem a aplicação dessa regra, mas,
somente, na anterior oral.
Yacovenco observa que, para ambas as pretônicas nasais, a vogal tônica não é
fator preponderante na aplicação da regra de manutenção, mas o são os segmentos
subseqüentes a essas vogais. Nota-se, também, que, para ambas as vogais, os segmentos
formados por consoantes alveolares ou grupos consonânticos, subseqüentes às
pretônicas, são os que mais favorecem a aplicação da regra de manutenção;
contrariamente, os segmentos formados por consoantes palatais, labiais ou velares, os
que mais a inibem.
No trecho abaixo, a autora resume as conclusões de seu estudo:
a vogal anterior oral tem sua realização intimamente ligada ao tipo de
vogal tônica que a sucede, ou ainda, a vogais tônicas de formas
subjacentes. Por outro lado, a realização das médias posteriores orais,
anteriores e posteriores nasais não se ligam tanto às vogais que atuam
sobre esses segmentos, mas sim ao contexto fonético em que se
encontram as pretônicas, sendo importantes, então, os segmentos
antecedentes ou subseqüentes às vogais analisadas. (YACOVENCO,
1993, p.176-177)
2.1.6 As vogais médias pretônicas no falar da cidade de Bragança (Freitas, 2001)
Freitas (2001), em sua dissertação de mestrado, estuda as vogais médias
pretônicas no falar dos habitantes da cidade de Bragança Pará. O estudo tem caráter
47
sociolingüístico e apóia-se nos princípios da teoria variacionista laboviana. O corpus
utilizado compôs-se de dados da fala de 32 informantes, organizados em grupos, a partir
dos seguintes critérios: faixa etária, sexo, escolaridade e renda.
Freitas conclui que nesse dialeto uma predominância das variantes médias [e]
e [o], fortemente favorecidas por vogais médias; há alta ocorrência das variantes médias
baixas [E] e [O], favorecidas por vogais baixas; e uma freqüência menor das
variantes altas [i] e [u], que ocorrem favorecidas pela vogal alta da sílaba seguinte.
Inicialmente, a pesquisadora considera os fatores sociais (faixa etária, sexo e
renda) em sua análise; contudo, no desenvolvimento do estudo, verifica que esses
fatores nunca (ou, apenas, eventualmente) foram estatisticamente relevantes
conseqüentemente, os exclui. Ela examina a escolaridade dos informantes e lhe pareceu
necessário acrescentar o seguinte fator – tipo de atividade (rural ou urbana).
Foram examinados os seguintes fatores estruturais: a vogal contextual, as
consoantes antecedente e seguinte, o caráter átono da pretônica no paradigma e a classe
morfológica.
Freitas (2001), após análise dos resultados, formula as seguintes conclusões:
- a variação [o ~ O ~ u] e [e ~ E ~ i] das vogais médias pretônicas manutenção
ou fechamento, abaixamento e alçamento é desencadeada por contextos vocálicos
imediatamente subseqüentes, independentemente da tonicidade, por processo de
assimilação.
- em relação às consoantes precedentes, a manutenção das médias [e] e [o] é
favorecida pela fricativa glotal (com probabilidade significante) e pelas sibilantes (com
probabilidade tendente à irrelevância). O abaixamento das médias [E] e [O] é
favorecido por: alveodentais, palatais e fricativa glotal nesse último caso, com índice
48
de probabilidade próximo à irrelevância. O alçamento de [i] e [u] é favorecido por:
labiais (maior índice de favorecimento calculado), sibilantes e velares.
- em relação às consoantes seguintes, a manutenção das médias [e] e [o] é
favorecida pelas labiais (altos índices de probabilidade); a manutenção da anterior é
favorecida por alveodentais e sibilantes (índices próximos à irrelevância). O
abaixamento das médias [E] e [O] é favorecido pela fricativa glotal; labiais favorecem
apenas o abaixamento da vogal anterior; alveodentais e velares favorecem apenas o
abaixamento da vogal posterior. O alçamento da vogal posterior é favorecido por
palatais (índice próximo à irrelevância); o alçamento da vogal anterior é favorecido por
palatais e velares (altos índices de probabilidade), e por labiais, alveodentais e sibilantes
(índices quase irrelevantes).
- quanto à relação da pretônica com tônica de item lexical do mesmo paradigma,
tende à manutenção a pretônica /e/ relacionada à tônica média e à tônica de altura
variável entre média e baixa. Tende ao abaixamento a pretônica relacionada a tônica de
altura baixa, bem como a pretônica /o/ relacionada à tônica de altura variável entre
média e baixa. Tende ao alçamento a pretônica considerada átona permanente, bem
como aquela relacionada à tônica de altura variável incluindo alta; também tende ao
alçamento a pretônica /o/ relacionada à tônica média, e a pretônica /e/ relacionada à
tônica baixa.
- em relação às classes morfológicas, os verbos favorecem a manutenção das
médias (com índice próximo da faixa de irrelevância) e o alteamento (com índice
significativo). Os nomes favorecem a manutenção, como desfavorecem o abaixamento e
o alteamento, sempre com índices próximos da faixa de irrelevância. Os advérbios
49
favorecem o alteamento e desfavorecem a manutenção (esta com índice próximo da
faixa de irrelevância). Os pronomes favorecem o abaixamento com alto índice.
- a escolaridade condiciona o comportamento variável das vogais médias
pretônicas. A escolaridade baixa propicia o alçamento e desfavorece a manutenção e o
abaixamento. A escolaridade fundamental favorece o abaixamento da anterior e produz
índice irrelevante para todas as outras variantes. A escolaridade média favorece tanto a
manutenção quanto o abaixamento.
- o tipo de atividade (rural ou urbana) mostra-se estatisticamente irrelevante:
seus fatores produzem índice irrelevante, próximos de 0.333 para todas as variantes em
questão.
Freitas (2001) conclui que seu estudo comprova a suposição de Silva (1989) o
Pará, em relação aos falares do norte, é uma ilha dialetal.
2.1.7 As vogais médias pretônicas na fala culta de Nova Venécia –ES (Célia, 2004)
Em sua dissertação, Célia (2004) descreve o comportamento das vogais médias
pretônicas na fala de 9 informantes do sexo feminino do município de Nova Venécia
Espírito Santo.
A metodologia adotada no estudo baseia-se nos princípios e técnicas da
sociolingüística quantitativa, de orientação laboviana.
No estudo, foram examinados os seguintes fatores lingüísticos: nasalidade, tipo
de tônica, distância em relação à tônica, pretônica subseqüente, atonicidade, consoante
precedente, consoante subseqüente, estrutura silábica. Apenas um fator extralingüístico
foi analisado – faixa etária.
50
Os resultados da pesquisa indicam que as vogais médias pretônicas podem variar
entre as realizações médias [e] e [o], alteadas [i] e [u] e abaixadas [E] e [O]. Essas
variações ocorrem por um processo de assimilação do traço de altura da vogal da sílaba
subseqüente, independentemente de sua tonicidade.
O alçamento das vogais médias pretônicas é favorecido, sobretudo, pela
presença de uma vogal alta na sílaba subseqüente.
A pesquisadora, após analisar os dados da pesquisa, sistematiza suas
observações a respeito do alçamento, que listamos aqui:
- a nasalidade da vogal pretônica é fator bastante relevante na aplicação da regra
de alçamento - /e/ alça mais quando nasal, enquanto /o/ alça mais quando oral.
- a vogal tônica alta anterior /i/ favorece a aplicação da regra, tanto para /e/
quanto para /o/ (al[i]gria, ch[u]via). a vogal tônica alta posterior /u/ favorece o
alçamento de /o/ (s[e]gunda, c[u]stume). As médias /e, E, o, O/ e a baixa /a/ tendem a
inibir o processo de alçamento: c[e]bola, m[e]tade, b[o]neca e esc[o]lar.
- a variável “distância em relação à tônica” não é relevante no alçamento.
- em relação à pretônica seguinte, o alçamento de /e/ tem como principal
favorecedora a vogal alta anterior [i] (p[i]rigoso). A vogal posterior [u], apesar de seu
traço de altura, não tem força para desencadear o processo de harmonia vocálica
(p[e]rguntar). As vogais médias ([e] e [E], [o] e [O]) e a baixa ([a]) inibem o
alçamento, preservando a média (f[e]dorento). O alçamento de /o/ é favorecido pela
vogal alta posterior [u] (P[u]rtugal), mas não é favorecido pela vogal alta anterior [i]
(n[o]vidade). As vogais médias ([e] e [E], [o] e [O]) e a baixa ([a]) tendem a neutralizar
a realização da média posterior (p[o]deria).
51
- a atonicidade da vogal pretônica é outro fator relevante. As vogais átonas
permanentes são o ambiente favorecedor da aplicação da regra de alçamento (f[i]liz,
f[i]licidade, c[u]lega, c[u]leguismo) tanto de /e/ quanto /o/.
- o alçamento do /e/ é favorecido por consoantes: palatais e bilabiais
precedentes (m[i]lhor) e velares subseqüentes (al[i]gria). O alçamento do /o/ é
favorecido por: palatais e velares precedentes (j[u]rnal e c[u]bertor) e labiodentais
subseqüentes (n[u]vidade).
- a estrutura da sílaba em que se encontra a vogal pretônica é fator relevante no
alçamento. As sílabas abertas (CV) favorecem o alçamento (p[i]dir e c[u]mer); as
travadas (CVC), o inibem (p[e]rder e d[o]rmir).
- aparentemente, a faixa etária não é determinante no alçamento. Contudo, foi
observado um aumento no alçamento proporcional ao aumento da faixa etária.
O abaixamento das vogais médias pretônicas que segue os mesmos padrões de
alçamento dessas vogais tem como principal favorecedor a presença de vogal baixa
na sílaba subseqüente. A variável “nasalidade” foi considerada, somente, nas análises de
alçamentos, uma vez que não ocorrem médias abertas nasalizadas na fala dos habitantes
de Nova Venécia.
A pesquisadora enumera os resultados de seu trabalho a respeito do
abaixamento, apoiada em dados estatísticos. A seguir, listamos alguns:
- o tipo da vogal tônica é significativo no abaixamento de /e/ e /o/. O
abaixamento é favorecido, sobretudo, pelas vogais médias baixas [E] e [O] (d[E]sErto e
g[O]stOsa); a vogal baixa central [a] (m[O]rava) também o favorece, substancialmente.
52
As vogais tônicas médias ([e] e [o]) e altas ([i] e [u]) que apresentam índices
semelhantes – desfavorecem o abaixamento, por exemplo: m[o]tor e t[o]rcida;
- a variável “distância” entre a sílaba que contém a vogal pretônica (candidata ao
abaixamento) e a sílaba tônica não é relevante no abaixamento;
- em sílaba subseqüente à das vogais médias pretônicas /e/ e /o/, as vogais
médias-baixas ([E] e [O]) e a baixa ([a]) favorecem o abaixamento de /e/ e /o/, com
índices semelhantes e altos, por exemplo: p[E]rEreca, c[O]lOcar, n[E]gativo e
c[O]rajosa. Em ambiente idêntico, as vogais altas [i] e [u] desfavorecem o
abaixamento, por exemplo: p[e]rigoso e n[o]vidade;
- o abaixamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ é favorecido, sobretudo,
pelas vogais de atonicidade casual baixa, por exemplo: l[E]var e b[O]lada;
- o abaixamento de /e/ é favorecido por consoantes labiodentais precedentes
(dif[E]rença) e alveolares ou bilabiais subseqüentes, por exemplo: lat[E]ral e
cer[E]bral. O abaixamento do /o/ é favorecido por consoantes alveolares, palatais e
labiodentais subseqüentes, por exemplo: c[O]zinha, m[O]lhado e n[O]vela;
- a estrutura silábica dos vocábulos revela-se secundária no processo de
abaixamento das vogais médias pretônicas;
- a faixa etária que mais utiliza a regra de abaixamento é a intermediária (36-55),
seguida pelos mais jovens (25-35) e depois pelos mais velhos (55 ou mais);
A pesquisadora conclui:
O abaixamento identificado na variedade estudada não é tão escasso
quanto no Rio de Janeiro, mas também não é tão freqüente quanto na
Bahia. Parece então, que Espírito Santo é uma região de transição, no
que diz respeito à realização das vogais médias em posição pretônica.
(CÉLIA, 2004, p.106)
53
2.2 Variável em análise
Câmara JR. (1977), apresenta a classificação das vogais como fonemas na
posição tônica:
[...] sem avanço ou elevação apreciável da língua, tem-se a vogal /a/
como vértice mais baixo de um triângulo de base para cima. A
articulação da parte anterior, central (ligeiramente anterior) e posterior
da língua dá a classificação articulatória de vogais – anteriores, central
e posteriores. A elevação gradual da língua, na parte anterior ou na
parte posterior, conforme o caso, a classsificação articulatória de
vogal baixa, vogais médias de 1ºgrau (abertas), vogais médias de
2ºgrau (fechadas) e vogais altas. (CÂMARA JR, 1977, p.31)
Figura 1 – Sistema vocálico do PB: tônicas
ANTERIORES CENTRAL
POSTERIORES
Não-arredondadas Arredondadas
Altas /i/ /u/
Médias (2º grau) /e/ /o/
Médias (1º grau) /E/
/O/
Baixa /a/
Fonte: CÂMARA JR., 1977, p.31.
Existem cinco fonemas na posição pretônica em oposição distintiva no
Português Brasileiro (PB).
Figura 2 – Sistema vocálico do PB: pretônicas
ANTERIORES CENTRAL
POSTERIORES
Não-arredondadas Arredondadas
Altas /i/ /u/
Médias /e/ /o/
Baixa /a/
Fonte: CÂMARA JR., 1977, p.34.
Lee (2006) explica que o PB possui contraste fonêmico na sílaba tônica entre as
vogais médias altas e as vogais médias baixas, como pode ser visto no inventário do
sistema vocálico do PB:
54
Figura 3 – Inventário de Vogais do PB
3
[-BK] [+BK]
[+HI] [+ATR]
i u
[+ATR]
e o
[-ATR] ε
[-LO]
[-HI]
[-ATR] a [+LO]
[-RD] [+RD]
Fonte: LEE, 2006, p.167.
HI - High (Alto): sons produzidos pelo levantamento do corpo da língua acima do nível
ocupado pela posição neutra.
LO - Low (Baixo): sons produzidos pelo abaixamento do corpo da língua abaixo do
nível.
ocupado na posição neutra.
BK - Back (Posterior): sons produzidos pela retração do corpo da língua da posição
neutra.
RD - Round (Arredondado): sons produzidos com o estreitamento do orifício dos
lábios.
ATR - Advanced Tongue Root: sons produzidos com a raiz da língua avançada.
bastante variação dialetal relacionada à realização desses fonemas. Além da
elevação variável dos fonemas /e/ e /o/, a maioria dos estudos, realizados até hoje no
Brasil, indica que nas regiões Sul-Sudeste prevalece a pronúncia fechada [e] e [o], e no
Norte-Nordeste, a realização mais aberta [E] e [O]. Essa divisão dos dialetos brasileiros
está de acordo com a proposta de Nascentes (1981, p.117): “De um modo geral se pode
reconhecer uma grande divisão: norte e sul; norte, até a Bahia e sul, daí para baixo.”
Essa divisão dialetal, em duas grandes regiões, admitiria segundo Nascentes
quatro subdivisões:
Talvez possamos admitir quatro subdialetos: o nortista (Amazonas,
Pará, litoral dos Estados desde o Maranhão até a Bahia), o fluminense
(Espírito Santo, Rio de Janeiro, sul de Minas e zona da mata, Distrito
Federal), o sertanejo (Mato Grosso, Goiás, norte de Minas, sertão dos
Estados litorâneos desde o Maranhão à Bahia) e o sulista (S.Paulo,
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e triângulo mineiro).
(NASCENTES, 1981, p.117)
3
Considerando esse quadro Inventário de Vogais do PB, é interessante usar o traço –ATR quando
juntamos E, A, O no ambiente seguinte, pois esse traço engloba essas vogais.
55
Podemos notar que Minas é citada em três das quatro subdivisões de Nascentes.
Também segundo Câmara JR. (1977), no contexto pretônico ocorre o processo
de neutralização das vogais médias. Em alguns dialetos, as vogais [e, o, E, O] se
neutralizam em [e, o] e em outros, se neutralizam em [E, O].
Para Lee e Oliveira (2003, p.68) “A situação não é tão simples assim. A
realidade é que nos dois grandes grupos dialetais podemos ter [O ~ o ~ u] e [E ~ e ~i],
em posição pretônica.”
Os processos que podem atuar relativamente à realização das vogais médias
pretônicas, conforme o dialeto, são: a realização mais aberta, em que as vogais médias
se realizam como [E] e [O]; a realização mais fechada, em que as vogais médias se
realizam como [e] e [o] ambos seriam casos de neutralização da oposição entre as
médias altas e as médias baixas; o alçamento ou elevação, que transforma as vogais /e/
e /o/ em [i] e [u] – processos de harmonia vocálica e de redução vocálica.
Lee e Oliveira (2003) problematizam a variação intradialetal. Segundo eles,
existem itens lexicais no mesmo dialeto que têm ora a vogal alta, ora a vogal média
aberta e ora a vogal média fechada (doravante vogal aberta e vogal fechada).
Exemplificam com o dialeto de Belo Horizonte, que segundo eles, é particularmente
complexo. certas palavras que podem ser pronunciadas de três formas diferentes,
como: modErno ~ mOdErno ~ mudErno
As questões colocadas pelos autores são: como uma teoria fonológica daria
conta dos casos de variação lingüística intradialetal como os de Belo Horizonte? Que
contextos permitiriam a elevação das vogais /e/ e /o/? Que contextos permitiriam a
abertura dessas vogais? Como os itens lexicais, em que as vogais se apresentam ora
alçadas ora abertas, poderiam ser analisados?
56
Parece claro que questões não respondidas em relação à variação das vogais
médias pretônicas no PB. Em Minas Gerais, a variação é particularmente complexa e os
dados existentes até então são insuficientes para o esclarecimento dessas questões. Por
exemplo, apesar da enorme contribuição do estudo de Lee e Oliveira (2003) ao
conhecimento do dialeto mineiro no trabalho mencionado acima –, essa pesquisa
apresenta dados de somente um informante de cada região estudada. Essa amostragem
deve ser ampliada, para que tenhamos uma amostra mais fiel à fala da comunidade.
Ao finalizar a pesquisa, buscaremos responder algumas perguntas, relacionadas
à fala dos habitantes dos dois municípios:
a) Por que alguns itens lexicais sofrem um processo de abertura
4
(m[E]lina) e,
outros, um processo de elevação (p[i]diu), como constatado em Piranga em uma
abordagem inicial?
b) Os processos envolvidos na variação das vogais pretônicas podem ser
analisados como processos de harmonia vocálica, de redução vocálica e de
neutralização?
c) relação entre o grau de abertura e os itens lexicais específicos e entre o
alçamento e esses itens, como abordam Lee e Oliveira (2003) e Viegas (1987), em Belo
Horizonte?
d) Por que um mesmo item pode ter a vogal média ora aberta, ora alçada, numa
mesma comunidade de fala?
e) Há relação entre as faixas etárias e os processos em questão?
f) Há relação entre os gêneros e os processos em questão?
g) Há diferenças entre os processos em Piranga e Ouro Branco?
4
Utilizamos nesta pesquisa o termo abertura porque um grau de abertura maior em [E] e [O] do que
em [e] e [o].
57
No desenvolvimento do estudo, consideramos as seguintes hipóteses:
a) As variações das vogais [e ~ i ~ E] e [o ~ u ~ O] são regidas por processos
variáveis que atuam, sistematicamente, na fala dos habitantes de Piranga e de Ouro
Branco.
b) Há diferenças na realização da pretônica em Piranga e em Ouro Branco.
c) O processo variável tem seu funcionamento em grande parte favorecido pela
vogal da sílaba seguinte. Assim, teríamos processos de harmonização vocálica,
favorecidos pela vogal seguinte.
d) Há atuação lexical relacionada aos processos em questão, em que alguns itens
teriam um ordenamento dos percentuais de abertura e de alçamento da vogal pretônica e
outro ordenamento para outro item no mesmo contexto e na mesma comunidade de fala.
58
CAPÍTULO 3
MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO
A metodologia utilizada neste trabalho se baseia em princípios da teoria da
variação e mudança ou sociolingüística, proposta por Labov (1972). Além de apontar
que a heterogeneidade e a variação são inerentes a todas as línguas, a sociolingüística
variacionista apresenta uma metodologia eficaz que evidencia a ordem na aparente
desordem ou heterogeneidade. Dessa forma, o modelo teórico-metodológico proposto
por Labov busca analisar e sistematizar a variação ou heterogeneidade existente na fala
de uma comunidade lingüística.
Segundo Labov (1972), duas ou mais formas distintas com o mesmo significado
no mesmo contexto constituem uma variável lingüística. As formas alternantes, que
expressam a mesma coisa num mesmo contexto, são denominadas variantes
lingüísticas. E para definir uma variável lingüística é necessário:
a) definir o número exato de variantes;
b) estabelecer toda a multiplicidade de contextos em que ela aparece;
c) elaborar um índice quantitativo que permita medir os valores das variáveis.
Uma variável é denominada de dependente porque o emprego das variantes não
é aleatório, mas influenciado por grupo de fatores (ou variáveis independentes) de
natureza interna ou social, que podem exercer pressão sobre os usos, aumentando ou
diminuindo sua freqüência de ocorrência.
Para mensurar a influência das variáveis independentes na variável dependente,
grande parte dos estudos variacionistas tem utilizado um método estatístico denominado
59
de regressão logística, que possibilita investigar a mudança na variável dependente
correspondente à mudança nas variáveis independentes. No Capítulo 4, será
apresentado o modelo estatístico utilizado na análise variacionista.
Através desse modelo quantitativo, é possível extrair regularidades a partir de
dados empíricos, e descobrir diferenças sistemáticas entre os falantes, associadas ao
ambiente lingüístico e ao contexto social em que estão inseridos.
Segundo Tarallo (1994), a análise, orientada pelo modelo variacionista, é capaz
de explicar o aparente caos na língua:
[...] e a língua falada avultará como um sistema devidamente
estruturado. Os resultados finais da análise propiciarão a formulação
de regras gramaticais. Estas, no entanto, devido à própria essência e
natureza da fala, não poderão ser categóricas, optativas ou
obrigatórias. Serão, regras variáveis, pois o favorecimento de uma
variante e não de outra decorre de circunstâncias internas e sociais
favorecedoras à aplicação de uma regra específica. Trata-se, portanto,
de um sistema lingüístico de probabilidades. (TARALLO, 1994,
p.11).
Em toda língua, há variação, o que, eventualmente, conduz a uma mudança. A
mudança é gradual, contínua e, sempre, precedida de um período de transição entre
formas variantes, que coexistem e/ou concorrem. Daqui, surge uma distinção importante
entre formas variantes estáveis e formas variantes em progresso. Segundo Labov
(1972), as formas variantes estáveis se alternam ou coexistem no sistema (na ngua)
por tempo indeterminado. As formas variantes em progresso são concorrentes
inicialmente, elas coexistem na língua; em seguida, uma das formas é preferida à outra,
que se torna “obsoleta”, configurando mudança lingüística.
De acordo com Labov (1972), uma maneira de conhecer as mudanças
lingüísticas, que se processaram em determinada língua, é estudar as mudanças em
progresso. Esse recurso baseia-se na teoria do uniformitarismo, segundo a qual as
línguas são regidas por leis (princípio da uniformidade). Essa teoria propõe que as
60
forças e restrições internas que impulsionam as mudanças lingüísticas em curso são
idênticas às que impulsionaram as mudanças concluídas. Contudo, problemas
históricos não são resolvidos com a mesma facilidade com que questões sincrônicas da
linguagem são descritas ou explicadas, porque as informações contidas nos documentos
são, freqüentemente, fragmentárias, sobretudo, as de natureza fonética e social. Apesar
disso, podemos fornecer algumas interpretações plausíveis através de princípios que
tenham fundamento empírico e, assim, iluminar o passado através do presente, assim
como iluminamos o presente através do passado.
Labov (1972) ressalta que as pesquisas lingüísticas podem ser feitas em tempo
real ou em tempo aparente em tempo real, a língua de um grupo etário é comparada
em períodos distintos; em tempo aparente, a língua de diferentes grupos etários é
comparada em um período específico de tempo.
Segundo o autor nem todas as variações recebem avaliação social clara ou são
reconhecidas pelos falantes. Algumas parecem se posicionar longe do nível observável
de reações sociais. Em alguns casos os falantes ao serem perguntados sobre essas
variações respondem que não identificam diferenças entre elas.
Ainda de acordo com Labov (1972), a variação estilística e social pressupõe a
opção de dizer a mesma coisa de diferentes formas, isto é, as variantes são idênticas em
sua referência ou em seu valor de verdade, mas são diferentes em seu valor social e/ou
significado estilístico. Em uma comunidade de fala, as variantes lingüísticas podem se
apresentar de três modos estereótipos, marcadores e indicadores. Para o referido
autor, os estereótipos são variantes socialmente marcadas, etiquetadas de maneira
ostensiva pela sociedade. Essas formas recebem uma forte estigmatização pelos grupos
que as censuram. Os marcadores são formas lingüísticas que apresentam uma
61
distribuição social e uma diferenciação estilística. São variações devido à classe social
do falante, sexo e/ou idade e podem permanecer abaixo do nível de consciência social.
Quando os marcadores sociolingüísticos entram na consciência social, eles são
estigmatizados e se convertem em estereótipos. Os indicadores são variantes que
apresentam uma diferenciação por idade ou grupo social, mas não sugerem nenhuma
variação estilística e se limitam a assinalar uma diversificação social, sem interferência
da avaliação subjetiva.
Em relação à mudança, o modelo Neogramático e o modelo da Difusão Lexical
tratam de forma diferente a implementação da mudança sonora.
Para os neogramáticos, toda mudança sonora é foneticamente gradual e
lexicalmente abrupta. Ou seja, o que os neogramáticos chamam de mudança sonora é
foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. As mudanças sonoras ocorrem de acordo
com regras que não admitem exceção e são condicionadas foneticamente. As possíveis
exceções seriam consideradas aparentes, uma vez que poderiam ser explicadas via
empréstimo lingüístico ou por analogia.
Para os difusionistas, toda mudança sonora (quer foneticamente gradual ou
foneticamente abrupta) é lexicalmente gradual. Atinge palavra por palavra ou grupos de
palavras por grupos de palavras. Para alguns difusionistas, a freqüência de uso de uma
palavra poderia atuar no processo de mudança sonora, que afetaria primeiro as palavras
mais freqüentes. Bybee (2001) afirma que, em mudanças de etiologia fonética, os
primeiros itens a serem atingidos são aqueles de freqüência mais alta. Segundo Bybee
(2001),
In particular, the frequency with which individual words or sequences
of word are used and the frequency with which certain patterns recur
in a language affects the nature of mental representation and in some
cases the actual phonetic shape of words (BYBEE, 2001, p.1)
62
Para Labov (1994), a mudança fonética regular resulta de uma transformação
gradual de um simples traço fonético do fonema num contínuo espaço fonético. Ela é
característica dos estágios iniciais de uma mudança, que se desenvolve dentro de um
sistema lingüístico, sem condicionamento de ordem lexical ou gramatical ou qualquer
grau de consciência social - change from below.
Segundo Labov (1994), a difusão lexical é o resultado da repentina substituição
de um fonema por outro, em um item lexical. Em geral, a forma “velha” e a “nova” se
distinguem por alguns traços fonéticos. Esse processo é mais característico nos últimos
estágios de uma mudança interna, que ocorreu mediante condicionamentos lexicais e
gramaticais ou mediante empréstimos de outros sistemas, havendo um elevado grau de
consciência social - change from above.
Para Bybee (2001) as mudanças from below também ocorrem por difusão
lexical. Para Oliveira (1992), e outros, todas as mudanças sonoras ocorrem por difusão
lexical.
Observamos se evidências de que os processos em questão podem ser
analisados como processos que atuam por difusão lexical.
63
CAPÍTULO 4
METODOLOGIA DE PESQUISA
4.1 As comunidades pesquisadas
O objeto deste estudo é a fala dos moradores de dois municípios mineiros
Piranga e Ouro Branco –, coletada e organizada por nós em um banco de dados.
Escolhemos duas cidades mineiras que pertencem a regiões diferentes. Piranga
pertence à Zona da Mata Mineira e Ouro Branco pertence à região Central. Além disso,
essas cidades pertencem a áreas dialetais diferentes. Viegas (inédito) explica como são
divididas as áreas dialetais:
2. Em uma das classificações dos falares brasileiros de Antenor
Nascentes, podemos observar, em Minas Gerais, quatro grandes áreas,
cada uma com seu “jeitão” de falar.Vejamos o mapa:
Fonte: www.cin.ufpe.br
3. Em Minas Gerais, várias maneiras de se falar o português, não
uma maneira só. Como vimos no mapa, Minas pertence à área de
64
falar Baiano, à área de falar Sulista, à área de falar Fluminense e à
área de falar Mineiro. (VIEGAS, inédito)
5
Baseados nessa divisão, podemos dizer que Piranga pertence, provavelmente, à
área de falar Fluminense e Ouro Branco pertence à área de falar Mineiro.
O povoamento de Piranga e Ouro Branco foi motivado pela descoberta e
exploração de ouro, no início do século XVIII. Nesse aspecto, a história dos dois
municípios é semelhante; mas o desenvolvimento humano e econômico subseqüente de
cada um é bastante distinto.
Atualmente, a economia em Piranga se sustenta na atividade agropecuária e no
comércio. A maioria da população vive na zona rural e, como não Instituição de
Ensino Superior, os jovens precisam sair da cidade para prosseguir os estudos. Muitos
também saem da cidade em busca de empregos melhores.
Em Ouro Branco, a economia se sustenta na atividade agropecuária, no comércio
e na indústria. A implantação da Açominas em 1976 fez com que a população tivesse
um expressivo crescimento. O processo de expansão da empresa iniciado em 2005 tem
contribuído ainda mais para esse crescimento. Além do crescimento populacional
proporcionado pela indústria, os jovens não precisam sair da cidade para trabalhar. A
cidade possui escolas profissionalizantes como o SENAI e o CEFET. Em 2008, foi
instalado um campus da Universidade Federal de São João Del Rey em Ouro Branco, o
que deve contribuir para a diminuição do número de jovens que saem da cidade para
estudar.
Vejamos agora um pouco mais sobre a história desses municípios.
5
VIEGAS, M.C. Por que falamos desse jeitim? In: RAMOS, J. BH-110 anos, no prelo.
65
4.1.1 A cidade de Piranga
Localizada no sudeste de Minas Gerais, o município de Piranga faz parte da
Zona da Mata Mineira. A sua área
6
total é de 657 Km
2
, incluindo dois distritos: Santo
Antônio do Pirapetinga (distrito onde se encontra igrejas do séc. XVII) e Pinheiros
Altos. O município é banhado pelo rio Piranga e seus afluentes. A população atual é de
17.208 habitantes
7
. O ANEXO 1 indica a localização de Piranga.
Piranga foi denominada primitivamente Guarapiranga, provavelmente, por
referência à ave guará-piranga (em tupi, ave vermelha) de plumagem vermelha muito
intensa, que era comum na região à época em que se iniciou a ocupação do município.
Em Barbosa (1995) temos a data em que Piranga tornou-se município:
Em 1841, foi criada a vila do Piranga, com instalação do município
desmembrado do de Mariana. (...) Foi suprimido o município em
1865, com lei Nº1249, de 17 de novembro; mas foi restaurado pouco
depois, com lei Nº1537, de 20 de julho de 1868. Em 1870, a lei
1729, de 5 de outubro, elevou Piranga à categoria de cidade. Nas
divisões administrativas do Estado, o distrito sede do município
figurava com denominação de Nossa Senhora da Conceição do
Piranga; assim, a lei Nº843, de 7 de setembro de 1923, mudou o nome
do distrito para Piranga. (BARBOSA, 1995, p.254).
Segundo Barbosa (1995), em geral, os historiadores apontam como primeiro
explorador do território o taubateano João de Siqueira Afonso, em 1704; mas não
consenso em relação à data de descobrimento e ocupação da região de Guarapiranga. O
mesmo autor afirma que:
Entretanto lê-se no Códice Costa Matoso que em 1691, Francisco
Rodrigues de Siqueira e Manoel Pires Rodovalho exploraram a região
de Guarapiranga. (Relatos Sertanistas, Taunay, pág.41). Informa ainda
o mesmo relato que uma capela ou um oratório com a invocação de N.
Sª. da Conceição foi edificada em 1694; [...] (BARBOSA, 1995,p.253-
254).
6
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat>.
Acesso em: 16 jan. 2007.
7
IBGE (2007).
66
Lima Júnior (1969) sugere que o povoamento de Guarapiranga teve início em
1691. Na introdução ao poema Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa, o historiador diz
que, em 1690, o paulista Antônio Rodrigues Arzão chegou ao local que depois foi
denominado Casa da Casca (região de Viçosa) e que ali encontrou ouro. Parece que esse
roteiro era conhecido por bandeirantes; um códice citado por Lima Júnior,
pertencente à Biblioteca Pública de São Paulo, relata que em 1691 saiu um bandeira de
paulistas para irem à Casa da Casca e daí, no mesmo ano (1691), ao Rio Guarapiranga,
onde encontraram uma capoeira do gentio à beira do rio no qual descobriram ouro. Mas
conflitos entre os bandeirantes causaram mortes e a divisão da bandeira em duas.
Essas notícias indicam que a ocupação da localidade iniciou-se em 1691. Em
outro texto, Lima Júnior (1965) nos informa que, em 1694, três anos após o
descobrimento de Guarapiranga, a ocupação estava firmada:
É certo porém, que desde 1694, na Bandeira do Capitão Rodovalho,
que descobriu o Guarapiranga, estava como capelão o Frade
Franciscano da Província da Ordem Terceira Missionária, Frei José de
Jesus por alcunha o Catarro. Esse frade, levantou capela no
Guarapiranga celebrando nela a missa. Com o abandono que se
operou por algum tempo, da região do Guarapiranga, quando os
selvagens destruíram o primeiro povoado, formado pelo Capitão João
Pires Rodovalho, seu irmão aparece, em seguida, como
um dos
primeiros moradores do Ribeirão do Carmo.
8
(LIMA JÚNIOR, 1965,
p.35-36).
Vasconcelos (1948) nos informa a respeito de uma bandeira que chegou a
Guarapiranga em 1692, comandada por Braz Rodrigues Arzão, neto de Antônio
Rodrigues Arzão:
[...] decidiu o chefe prosseguir na forma combinada, e foi ter à serra
do Guara-Piranga, de onde pela manhã avistou os píncaros agudos de
Arripiados, por efeito da luz oriental, parecendo mais próximos.
Descendo nessa direção, encontrou Arzão o Rio Piranga, em seu
melhor braço, descendente das serras auríferas e com indícios
esperançosos; quando também deparou com alguns índios da nação
puri [...] (VASCONCELOS, 1974, v.1, p.147).
8
Ribeirão do Carmo é a atual cidade de Mariana.
67
Esse trecho indica que o local em que se encontra Piranga era conhecido por
bandeirantes que, na última década do século XVII, percorriam a região à procura de
ouro e índios.
Oliveira, L. (2006) explica como se deu a descoberta das minas do Pinheiro,
Bacalhau e Pirapitinga:
Nos anos de 1702 a 1704, o Coronel Salvador Fernandes Furtado de
Mendonça, procurando ampliar os descobrimentos das minas, envia
seus filhos e escravos na direção sul do Ribeirão do Carmo, no até
então pouco conhecido sertão do Guarapiranga. Nesta diligência, seus
filhos acabam descobrindo no ano de 1704, as minas do Pinheiro,
Bacalhau e Pirapitinga, que como já informamos, pertenciam à
freguesia de Guarapiranga e que atualmente são distritos da cidade de
Piranga. (OLIVEIRA, L. 2006, p.31).
Os locais em que se encontram esses distritos de Piranga eram conhecidos
antes de 1704, mas apenas nesse ano iniciou-se, ainda que precariamente, a ocupação,
motivada pelo descobrimento de ouro.
Baseado em Diogo de Vasconcelos e Eduardo Canabrava Barreiros, Oliveira, L.
(2006) explica que a freguesia de Guarapiranga foi palco do terceiro conflito entre
paulistas e emboabas, durante a Guerra dos Emboabas (1707-1709). Como nos mostra o
autor, uma parte da tropa de Manuel Nunes Viana, que vinha de uma vitória contra os
paulistas em Sabará e Cachoeira do Campo, dirigiu-se a Ribeirão do Carmo, a fim de
dominar o governador; a outra parte dirigiu-se ao arraial do Guarapiranga. Segundo
Oliveira, L. (2006), as duas expedições foram derrotadas. Os emboabas tentaram chegar
a Guarapiranga, passando pelo arraial do Bacalhau (hoje, Santo Antônio do
Pirapetinga):
No arraial do Bacalhau os moradores deixaram que passassem à
vontade. O Coronel Rafael da Silva e Sousa, Capitão-mor do
Guarapiranga, porém, estando prevenido, formou sua gente, e saiu-
lhes de lá ao encontro, ao tempo que aqueles outros do Bacalhau
partiam e os apertavam em retorno. A derrota foi total e sem piedade.
(VASCONCELOS, 1974, v.2, p.55-56).
68
O aumento populacional do arraial de Guarapiranga deveu-se, inicialmente, à
exploração de ouro:
Uma vez iniciada a prospecção das ricas lavras descobertas na
segunda metade da década de dez, Guarapiranga ganhou progressiva
importância econômica. Em 1721, o lugar ocupava a sexta posição
entre os dezenove núcleos auríferos fiscalizados pela Câmara de
Mariana. (VENÂNCIO, 1997).
A importância da atividade mineradora atraiu e fixou a comunidade que precisou
cultivar alimentos nas proximidades. Venâncio (1997) explica que as terras que ficavam
nas margens dos rios, onde era explorado o metal precioso, também prestavam-se à
atividade agrícola. As duas atividades associadas favoreceram o desenvolvimento do
povoado.
Segundo Barbosa (1995, p.254), a região de Guarapiranga foi mais intensamente
povoada de 1753 a 1756; “são inúmeras as sesmarias concedidas nesses anos, nas quais
se mencionavam grandes roças de milho, casas de vivenda, paiol, senzalas, bananais e
outras árvores (Cód.112, A. P. M.)”.
Segundo Oliveira, L. (2006), Guarapiranga era uma região predominantemente
agropecuária, marcada pela produção para a subsistência. Mas o autor ressalta que a
mineração, num determinado momento, desempenhou um papel importante, sendo a
causa primeira de ocupação do local.
Oliveira, L. (2006), após análise de inventários, explica que Guarapiranga era
uma região voltada para as atividades agropecuárias: 85,7% dos domicílios sobreviviam
com base parcial ou total, nessas atividades. A mineração ainda se fez presente, mas, na
maioria das vezes, aliada à agricultura e à pecuária.
Segundo Venâncio (1997), durante a primeira metade do século XVIII, a
freguesia permaneceu como limite da área de mineração:
69
contribuía para isso a existência de uma barreira - bem mais poderosa
do que os acidentes geográficos ou as florestas virgens - representada
pelos índios bravios da Zona da Mata. Os camancâns, os pataxós, os
maxacalis, os botocudos e os puri-coroado, durante muitos anos
impediram o avanço das hostes mineradoras, estabelecendo uma
fronteira militar sobre a fronteira econômica. Para os grupos indígenas
não domesticados, o arraial de Guarapiranga encerrava o limite
aceitável da expansão colonial [...] (VENÂNCIO, 1997).
Oliveira, L. (2006) ressalta que, para Maria Leônia Chaves de Resende
9
, a
história de Minas Gerais esteve intimamente ligada à questão indígena. Grupos
indígenas hostis limitavam a penetração de aventureiros no interior. A presença de
índios refugiados em Guarapiranga pode ser confirmada nos relatos de alguns
historiadores:
[...] o território mineiro ficou em demasia povoado de refugiários do
litoral e do recinto de São Paulo. A guerra dos tamoio no Rio,
acabando pela dispersão destes, impeliu das regiões do Paraíba, que os
derrotados ocuparam, as tribos humildes oriundas do tupi, os puri, os
croatos, e outros, que se instalaram no Vale do Pomba e, atacados às
vezes pelos goitacá de Muriaé, vinham-se ocultar sobre a serra nos
vales do Guará-Piranga (Pássaro Vermelho) e do Sipotaua (Cipó
Amarelo). (VASCONCELOS, 1974, v.1, p.135).
Entre esses grupos, estavam índios da nação puri, que foram encontrados por
Braz Rodrigues Arzão, quando sua bandeira chegou a Guarapiranga, em 1692:
Os puri, que por ali andavam espavoridos, de um lado pelos
conquistadores, de outro pelos botocudos do Rio Doce, apenas
experimentaram a boa amizade de Arzão, tornaram-se afetuosos no
interesse mesmo de serem defendidos por ele, que, trazendo armas de
fogo, espantou com a notícia os canibais. (VASCONCELOS, 1974,
v.1,p.148).
Oliveira, L. (2006) ressalta que as relações entre os conquistadores e os índios
passaram por fases extremas: a convivência pacífica, através da domesticação indígena,
a escravização e os violentos conflitos, que provocaram várias mortes.
9
RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Entradas e bandeiras nas Minas dos Cataguases. Simpósio
Temático: Guerras e Alianças na História dos Índios Perspectivas Interdisciplinares In: XXIII
Simpósio Nacional de História ANPUH, Londrina. 2005. Texto disponível no site:
www.ifch.unicamp.br.
70
Venâncio (1997) explica que lentamente, os gentios foram morrendo ou fugindo,
dando lugar à escravaria de novo tipo.
Conforme nos mostra a figura abaixo, no início do século XVIII, Guarapiranga
aparece como o principal centro do escravismo indígena da região marianense:
Figura 4 – Escravos índios na Vila do Carmo
FREGUESIA 1718 N. Abs. 1725 N. Abs. Variação
Guarapiranga*
102 08 -94
Inficcionado
28 07 -21
Brumado
14 0 -14
Sumidouro
06 0 -6
Bento Roiz e Gama
06 0 -6
Total
156 15 -141
Total %
100% 9,6% -90,3%
* Incluindo Barra do Bacalhau
Fontes: LUNA, Francisco Vidal. Estrutura da Posse de Escravos em
Minas Gerais (1718). In: BARRETO, Antônio Emílio Muniz, et. Al.,
História Econômica: ensaios. São Paulo: IPE, p.37, AHCM. cód.150.
Apud: VENÂNCIO, Renato Pinto.
Em 1718, Guarapiranga possuía 102 índios carijós, o que segundo Venâncio
(1997), correspondia a 24,6% dos 414 negros arrolados pela capitação referente ao
conjunto dos núcleos auríferos da Capitania de Minas Gerais. Em 1725, o número
reduziu-se a 8 indígenas.
Segundo Venâncio (1997), o elevado índice de mortalidade não explica,
suficientemente, a redução expressiva da população ameríndia de Guarapiranga. Outros
fatores contribuíram para isso, como, por exemplo, a libertação de índios cativos, a
migração forçada e o degredo:
Nos anos trinta, o gentio da terra praticamente desapareceu das
listagens de escravos, passando então a ser arrolado sistematicamente
junto aos demais facinorosos das Minas. A eles cabia agora tomar
cuidado para não caírem nas malhas do sistema jurídico criado para
tornar os desclassificados sociais produtivos. Ano após ano, o carijó
escravo vai dando lugar ao carijó livre; homem fora da lei ou imerso
no universo da pobreza. Em meados do século XVIII, pouca
lembrança restará do ameríndio utilizado como instrumentos de
colonização. A partir de então, o escravismo indígena tende a
deslocar-se para as áreas periféricas à mineração. Nos núcleos que vão
se abrindo, nas novas regiões agrícolas, assistiremos lentamente o
71
renascimento de formas de exploração do trabalho compulsório do
gentio, que agora com base nos grupos humanos submetidos aos
aldeamentos régios existentes na Zona da Mata Mineira.
(VENÂNCIO, 1997).
4.1.2 A cidade de Ouro Branco
Ouro Branco localiza-se na região central de Minas Gerais, no local em que se
iniciou o processo de ocupação do território mineiro. A cidade pertence à Região
Metalúrgica e Campos das Vertentes
10
: encontra-se num planalto limitado ao norte pela
serra do Ouro Branco, na mesorregião de Belo Horizonte. A sua área territorial é de 261
Km
2
e a população atual (2007) é de 33.548 habitantes
11
. O ANEXO 2 indica a sua
localização.
Ouro Branco pertenceu a Ouro Preto, inicialmente, como povoado; depois, como
distrito:
Ouro Branco, velho como as Minas Gerais (...) é realmente das mais
antigas freguesias de Minas, que foi tornada colativa pelo alvará de 16
de fevereiro de 1724. (BARBOSA, 1995, p.229).
apenas em 1953, obteve autonomia:
O município de Ouro Branco, desmembrado do de Ouro Preto, foi
criado pela lei Nº1039, de 12 de dezembro de 1953. Fica na Zona
Metalúrgica. (BARBOSA, 1995, p.229).
Na Cartilha do Legislativo de Ouro Branco, consta que seu povoamento efetivo
iniciou-se em meados do século XVII, em conseqüência da descoberta de ouro em
Minas. O descobrimento e povoamento desse território inserem-se dentro do contexto
das bandeiras paulistas, que, a partir da criação da povoação de São Paulo, nos campos
de Piratininga (1554), começaram a percorrer a área em busca de metais e pedras
preciosas. De acordo com a cartilha, documentos oficiais comprovando que
10
Atlas Histórico e Geográfico do município de Ouro Branco (2006)
8
IBGE (2007).
72
garimpeiros do lugarejo conhecido como “Ouro Branco” uniram-se a indígenas não
belicosos e criaram o arraial de Campo Alegre dos Carijós. Esse arraial originou a Vila
de Queluz (atual cidade de Conselheiro Lafaiete).
Conforme consta na cartilha citada, a documentação sobre as origens de Ouro
Branco é bastante restrita. No Atlas Escolar (2006), somos informados que a primeira
bandeira chegou à região em 1694, comandada por Miguel Garcia de Almeida Cunha,
que passou pelas terras dos atuais municípios de Itaverava e Conselheiro Lafaiete e
alcançou uma serra. Nesse ponto, a bandeira se dividiu, por desentendimento entre seus
integrantes, devido ao rendimento não compensador obtido na garimpagem daquele
local, então denominado “Foz do Itatiaia”. Manoel Garcia seguiu pelo nordeste até o
Vale do Tripuí, onde achou ouro escuro, chamado por isso “ouro preto”. A cor se devia
à enorme presença de óxido de ferro no solo da região. Miguel Garcia desceu o vale do
chamado Rio da Serra, que corre para oeste, paralelamente à aguda escarpa da Serra do
Deus-te-Livre (atual serra do Ouro Branco), e fundou um povoado nessa região,
posteriormente, denominado “Ouro Branco”, por haver sido encontrado no local ouro
de cor amarela, produzida pelo mineral paládio a ele associado, estabelecendo contraste
cromático aparente com o “ouro preto”, tipo mais comum do minério.
De acordo com o Atlas Escolar, os primitivos habitantes de Ouro Branco foram
os índios, provavelmente, da tribo dos Carijós. Embora não tenham deixado vestígios
materiais, foram dados nomes indígenas a determinados lugares do município, como,
por exemplo, Itatiaia, o que sugere a presença dos índios.
73
De acordo com o Histórico de Ouro Branco
12
, o povoamento da cidade se deu
em decorrência do Ciclo do Ouro; e seu crescimento econômico, nos primeiros anos do
século XVIII, esteve diretamente relacionado à exploração do mineral. Mas a
qualidade das jazidas auríferas e as dificuldades de exploração, advindas do primitivo
processo utilizado, fizeram a atividade mineradora retroceder. O desenvolvimento
econômico passou a se sustentar, a partir de então, no comércio e na agricultura.
Ainda de acordo com o Histórico de Ouro Branco, a cidade lucrou com o
comércio por estar localizada entre Vila Rica e Rio de Janeiro (capital da colônia), na
rota obrigatória de tropeiros, que traziam produtos variados da capital e levavam o
“ouro preto” das lavras de Vila Rica; mais tarde, foi quartel de caminhantes e
andarilhos, para impedir o contrabando do ouro das Minas Gerais. Em meados do
século XVIII, chegou a possuir cerca de quatorze estalagens, numerosas casas
comerciais, famosas selarias e fábricas de objetos artesanais e de uso comum,
consumidos pelos tropeiros e viajantes.
Nesse momento, estava sendo consolidado o núcleo urbano da cidade, em torno
da igreja matriz. O viajante francês, Auguste de Saint-Hilaire, assim descreve a Serra de
Ouro Branco e seu povoado:
Desde o Alto, o horizonte é limitado por uma alta montanha chamada
Deos Livre ou Ouro Branco, que tínhamos avistado no dia
precedente. Ao longe, seu cume parece truncado e mais ou menos
plano; os flancos têm a aparência de muito escarpados e são cobertos
de hervas. Dentro em pouco chegamos à povoação de Ouro Branco, a
única que encontráramos entre Rio de Janeiro e Villa Rica, e que pode
se compor de umas cincoenta casas. Essa povoação se termina por
uma praça em cuja extremidade foi construida a igreja, e que domina
um amplo valle. Como este não pode ser percebido, a igreja parece
apoiada contra a montanha, que apresenta por traz della uma cortina
de verdura. De um lado da praça estão as casas mais consideraveis da
12
Histórico elaborado pela arquiteta Adriana Paiva de Assis e cedido pela Secretaria Municipal de
Cultura, Lazer e Turismo de Ouro Branco. Disponível em: <http://www.ourobranco.mg.gov.br>. Acesso
em: 03 dez. 2007.
74
povoação; do outro não ha construcções, mas o que torna finalmente
esse conjuncto extremamente pittoresco, é um grupo de palmeiras de
estirpe esbelta e folhas leves, que rodeiam uma grande cruz plantada
sem symetria do lado da praça opposto á igreja. Tendo descido dessa
pequena plataforma, entramos no valle. Era dia de festa, e os
habitantes da vizinhança se dirigiam em grande numero para a igreja.
Todos estavam vestidos com limpeza: as mulheres traziam vestidos
brancos, uma especie de jaquetão de panno e um chapéo de feltro, mas
as pernas e pés estavam nús. Quasi todos os que encontravamos,
homens e mulheres, brancos e gente de côr, tinham um grande bocio,
e, nesse districto assim como nos valles da Europa em que essa
enfermidade é commum, se attribue á frialdade das aguas. Seguindo o
valle vimos uma serie de datas de terrenos de onde se extrahiu ouro, e
onde o solo esburacado, a ausencia de vegetação, e montes de
cascalho esparsos dão á paysagem um ar de tristeza. [...] A montanha
de Deos Livre faz parte da cadeia ocidental: como todas as elevações
visinhas, estava coberta, por essa época, de uma vegetação tão fresca
como a que exhibem nossos campos de trigo no começo da primavera.
Sobe-se esse morro por um declive bastante fácil, e chegando-se ao
cume, descortina-se um panorama bastante extenso. (SAINT-
HILAIRE, 1938, p.125-128).
Segundo Barbosa (1995), ainda hoje, essas casas do período colonial constituem,
para o estudioso, um pequeno compêndio da casa rural em Minas Gerais. A igreja, em
estilo Barroco e dedicada a Santo Antônio, foi construída no trajeto da Estrada Real e
levou 62 anos (1717-1779) para ser concluída. A duração das obras indica a importância
da construção, pois toda igreja de certo destaque, nos tempos coloniais, levou muitos
anos para ficar concluída.
no Atlas Escolar, uma descrição dos rios ciclos que marcaram a economia
e a história da cidade.
No século XVIII, durante o Ciclo do Ouro, foi construída a Igreja de Santo
Antônio, cuja imponente ornamentação revela a riqueza aurífera da localidade à época.
No século XIX, devido ao fértil solo de terras roxas, a região destacou-se na
vinicultura, chegando a sediar a Companhia de Vinhos Nacionais. Segundo Barbosa
75
(1995, p.229), Eschwege
13
, que chegou ao Brasil em 1807, fez esta curiosa observação
sobre Ouro Branco: “a única localidade do Brasil onde todos os habitantes se dedicam,
em suas fazendas, à cultura da vinha”.
No início do século XX, o município passou pelo Ciclo da Batata, chegando a se
destacar como o maior produtor de batatas de Minas Gerais.
E, mais recentemente, em 1976, Ouro Branco entrou no Ciclo do Aço, com a
implantação da Açominas, maior usina do grupo Gerdau nas Américas, transpondo as
fronteiras nacionais. Esse Ciclo fez com que a população em trinta e um anos (1976-
2007) tivesse um expressivo crescimento. Em 1970, a cidade possuía pouco mais de
6.000 habitantes
14
; em 2000, a população chegou a 30.313 habitantes, sendo 4.074 na
zona rural e 26.239 na zona urbana; e, em 2007, atingiu 33.548 habitantes
15
.
A cidade foi projetada para uma população de 100.000 habitantes. Em 2005,
iniciou-se um processo de expansão da Açominas, o que tem contribuindo, ainda mais,
para o crescimento da população.
4.2 Amostra
Segundo Tarallo (1994), geralmente, as comunidades, escolhidas pelos
pesquisadores para desenvolver sua pesquisa, são grandes para serem estudadas por
inteiro. Assim, é preciso selecionar alguns falantes que constituirão a amostra, que
representará toda a população.
13
Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855). Engenheiro, mineralogista e militar alemão.
Desempenhou importante papel no desenvolvimento da geologia no Brasil. Acompanhou D. João VI ao
Brasil (1807). Posteriormente foi designado para acompanhar a mineração de ouro e a fabricação de ferro
em Minas Gerais.
14
Atlas Escolar Histórico e Geográfico de Ouro Branco, 2006, p.35.
15
IBGE (2007).
76
Nesta pesquisa, usamos a técnica de amostragem aleatória estratificada. Para
Tarallo (1994, p.27): “A amostragem aleatória lhe dará a certeza de que você ao menos
tenha dado a chance a todos os membros da comunidade de serem entrevistados”.
Tarallo (1994) explica que, para a constituição desse tipo de amostra, devem ser
seguidas as seguintes etapas: inicialmente, representa-se a população em células
compostas, cada uma representando indivíduos com características sociais iguais; em
seguida, as casas são preenchidas por meio de seleção aleatória. Para construir essas
casas, codificam-se os fatores, atribuindo uma letra para cada fator, e faz-se uma análise
combinatória.
Na seleção dos informantes, consideramos três variáveis: gênero, faixa etária e
origem – nesse caso, Piranga e Ouro Branco – com formações diferentes.
Neste estudo, representamos o gênero masculino por M e o feminino por F.
Selecionamos duas faixas etárias: 18 a 24 anos, que representamos por J (jovens), e 40 a
60 anos, que representamos por A (adultos). Informantes da cidade de Piranga são
representados por P; e os de Ouro Branco, por O.
Optamos por deixar um espaço entre as faixas etárias, porque estamos
trabalhando com apenas duas. Nesta pesquisa, apenas uma pessoa está coletando dados
nas duas cidades, o que dificulta trabalhar com cinco faixas etárias, pois para cada faixa
temos que ter os dois gêneros e, pelo menos, dois informantes em cada célula. Ou seja,
20 informantes em cada cidade (40 ao total). Assim, o nosso tempo nos impossibilita
trabalhar com mais faixas etárias.
As células foram organizadas em um quadro, assim representado:
77
Figura 5 Variáveis: cidades,
faixa etária e gênero
OURO BRANCO PIRANGA
M
OJM M
PJM
J
F OJF
J
F
PJF
M
OAM
M
PAM
O
A
F OAF
P
A
F
PAF
Em seguida, as 8 células hachuradas são multiplicadas por 2, por representar,
uma a uma, 2 informantes. Essa operação indica o tamanho da amostra – 16 informantes
– que representa a população total das cidades.
Podemos verificar o número e a distribuição dos informantes no quadro
seguinte:
Figura 6 – Informantes e faixa etária
Segundo Tarallo (1994) é preciso estabelecer parâmetros gidos para a seleção
dos informantes, como, por exemplo, entrevistar apenas indivíduos que tenham nascido
na comunidade pesquisada ou tenham chegado a ela até os 5 anos de idade. Tarallo
(1994, p.28) ressalta:
Com isso você evitará que a escolaridade do informante em uma outra
comunidade, ou sua interação com falantes de outro centro até a fase crítica da adolescência
tenham reflexo sobre a marca sociolingüística do grupo estudado”.
Assim, os critérios adotados para a escolha dos informantes foram os seguintes:
a) ser pessoa nascida e moradora da cidade de Piranga, quando a entrevista for
feita nessa cidade;
OURO BRANCO PIRANGA
2 informantes masculinos 2 informantes masculinos
18 a 24
anos
2 informantes femininos
18 a 24
Anos
2 informantes femininos
2 informantes masculinos 2 informantes masculinos 40 a 60
anos
2 informantes femininos
40 a 60
Anos
2 informantes femininos
Total 8 informantes Total 8 informantes
78
b) ser pessoa nascida e moradora da cidade de Ouro Branco, quando a
entrevista for feita nessa cidade;
c) ter o ensino médio completo e pertencer ao grupo social intermediário,
controlando, dessa maneira, as variáveis sociais não pesquisadas;
d) ter boa dicção, que o estudo das variáveis depende de uma boa qualidade
sonora;
e) estar disposta(o) a realizar entrevista gravada e autorizar a gravação;
f) estar disposta(o) a fazer testes de percepção e de produção e autorizar a sua
aplicação.
O projeto que deu origem a esta dissertação foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (COEP/UFMG).
Todos os informantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Tal termo esclarece a
natureza e as condições do estudo e informa que a participação do informante é
voluntária e ele pode retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhuma
penalidade. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pode ser lido,
integralmente, no ANEXO 3.
4.3 Coleta de dados
Para a coleta de dados utilizamos a técnica da entrevista gravada. Gravamos 60
minutos de entrevistas com 16 informantes, seguindo a metodologia empregada,
usualmente, em estudos de caráter variacionista.
Para fazer a gravação foi utilizado um gravador digital da marca Zen Mano Plus,
memória 512 MB. Esse banco de dados será disponibilizado através do projeto
79
VARFON-Minas para a constituição de um banco de dados referente ao dialeto mineiro
e poderá, eventualmente, contribuir para a elaboração de um Atlas Lingüístico Mineiro.
Segundo Tarallo (1994), a entrevista consiste na interação do pesquisador com o
informante. O pesquisador deve tentar minimizar o efeito negativo de sua presença
sobre o comportamento sociolingüístico natural da comunidade, tentando criar uma
situação informal, já que se deseja coletar a fala casual dos falantes. Tarallo (1994, p.30)
aconselha: “Afine-se com a comunidade o máximo possível; acomode
sociolingüisticamente a ela!”
Contactamos os informantes por meio de intermediários, com os quais temos
relações pessoais, seguindo uma orientação de Tarallo (1994, p.27): “procure entrar na
comunidade através de terceiros, ou seja, de pessoas devidamente aceitas pela
comunidade.” As entrevistas foram gravadas nas casas dos informantes, para que se
sentissem à vontade e, conseqüentemente, suas falas fossem tanto quanto possível
naturais.
Seguindo Viegas (1987), nossas entrevistas se basearam em assuntos do
cotidiano dos informantes. Assim, os temas das entrevistas gravadas foram
subordinados às predileções de cada informante. Fizemos o possível para criar um
ambiente favorável, deixando fluir o vernáculo, estilo em que o mínimo de atenção é
dado à fala.
Testes de produção e percepção também foram feitos. O teste de produção,
segundo Tarallo (1994), consiste em mecanismos que levem o informante a produzir a
variável estudada. Nesta pesquisa apresentamos ao informante uma lista de palavras,
palavras estas que possuíam as vogais médias pretônicas, e foram lidas pelo informante
em voz alta. Apresentamos também quatro textos contento os mesmos itens lidos na
80
lista de palavras e pedimos que o informante os lessem da forma mais natural possível.
Observamos, então, qual variante ele optou ao produzir a variável. As leituras de
palavras e de textos foram gravadas. O objetivo é conseguir a produção de itens
específicos e os mesmos itens para todos os informantes. Apresentamos no ANEXO 4,
a lista de palavras e os quatro textos lidos pelos informantes.
Segundo Tarallo (1994), no teste de percepção o pesquisador solicita ao
informante que se manifeste em relação à aceitabilidade ou não de certas variantes. Para
isso, apresentamos aos informantes uma lista de palavras com as variantes em estudo
[e] e [o], [E] e [O], [i] e [u] e observamos quais eram aceitáveis para aquele
informante e quais não eram. O objetivo é testar a percepção em itens específicos.
Acresce-se que a percepção dos informantes foi avaliada por meio de questões
propostas pelo entrevistador, como, por exemplo: “Você fala m[e]lado ou m[E]lado?
Fizemos também perguntas como: Como a palavra melado seria pronunciada
por um médico e por um pintor? Por quê?
Dessa forma, estávamos fazendo também um teste de avaliação, que tem como
objetivo avaliar a sensibilidade dos informantes à variável em estudo, para que
pudéssemos identificar as variantes, possivelmente, estigmatizadas. Tarallo (1994,
p.31), afirma: “Essa situação experimental refletirá a avaliação dada pelo informante às
variantes: padrão vs, não-padrão; estigmatizada vs. de prestígio.”
4.4 Transcrição dos dados
Baseando em Viegas (1987), as entrevistas foram transcritas de acordo com os
padrões ortográficos da língua portuguesa, isto é, os fatos gráficos, que representam
valores fonológicos, foram preservados. As características da fala dos informantes
81
como, por exemplo, concordância e regência verbais e nominais, foram respeitadas. Por
exemplo, uma frase que poderia ser transcrita mais próxima da produção, como:
Não, o. Os minino agora discubriu um novo método lá. Eles pega
o... a matéria do caderno e digita ela, imprime com uma letra super
piquena... fica tipo uma materiazinha, comprimida assim... numa...
numa folha, assim... (WMJO)
foi por nós transcrita assim:
Não, não. Os menino agora descobriu um novo método lá. Eles pega
o... a matéria do caderno e digita ela, imprime com uma letra super
pequena... fica tipo uma materiazinha, comprimida assim, numa...
numa folha, assim... (WMJO)
As formas minino, discubriu e piquena assim produzidas e indicadas na
primeira citação – foram representadas, respectivamente, por: menino, descobriu e
pequena (segunda citação), de acordo com os padrões ortográficos vigentes, atualmente,
na língua portuguesa.
Essa forma de transcrição foi adotada porque possibilitará a localização
automatizada das palavras faladas nas entrevistas, considerando como iguais formas
como, por exemplo: descobriu e discubriu.
A transcrição e a preparação preliminar dos dados foram feitas no editor de
textos MS Word. Números ímpares representam as falas transcritas do entrevistador; e
números pares, as dos entrevistados.
Inicialmente, todas as palavras que contêm vogal média pretônica foram
identificadas no texto transcrito das entrevistas. Em seguida, foram constituídos vários
segmentos textuais, de extensões variáveis. Esses segmentos foram obtidos por meio do
comando “enter”, aplicado imediatamente após cada uma das palavras anteriormente
identificadas à medida que o comando era acionado, o segmento era destacado do
82
texto restante da entrevista. Essa operação foi repetida até que o texto (inicialmente
contínuo) fosse convertido em segmentos, que compuseram uma série com a seguinte
característica comum: apresentar uma única formano fim da linha ou segmento – com
vogal média pretônica.
Os dados foram transferidos para o MS Excel. Inicialmente, a série de
segmentos textuais foi organizada em uma tabela cada segmento, preparado no MS
Word, corresponde a uma linha dessa tabela. E, conseqüentemente, a última palavra de
cada linha apresenta uma ou mais vogais médias pretônicas. Em seguida, essas palavras
finais, que apresentam vogal média pretônica, foram copiadas e dispostas em uma
coluna, para que pudéssemos codificá-las, estabelecendo números diferentes para cada
uma delas.
4.5 Definição das variáveis
4.5.1 Variáveis dependentes e análise acústica
As variáveis dependentes são as vogais médias pretônicas /e/ e /o/,
representadas, nesta pesquisa, pelas seguintes variantes:
a) [e] e [o]: pronúncia fechada das vogais;
b) [E] e [O]: pronúncia aberta das vogais;
c) [i] e [u]: pronúncia alta das vogais.
Segundo Kent e Read (1991), as vogais são, freqüentemente, caracterizadas por
meio de ressonâncias do trato vocal, denominadas “formantes”. Na descrição de vogais,
são utilizados apenas os formantes mais baixos – especificamente, os três primeiros (F1,
F2 e F3). Uma representação mais simples pode ser adotada, analisando-se as
freqüências dos dois primeiros formantes (F1 e F2). Os autores acrescentam que essa
83
representação simplificada é, talvez, a mais conhecida e usada na descrição acústica de
sons da fala.
Segundo Kent e Read (1991), as freqüências equivalentes a cada formante
oscilam. Essas oscilações podem relacionar-se às diferenças: a) de idade ou ao sexo dos
falantes; ou b) na configuração do trato vocal, na dentição e em outras particularidades
que interferem na dicção dos falantes nesse caso, as diferenças podem ser corrigidas
por meio do processo denominado Speaker normalization. ainda o fenômeno
conhecido como Target undershoot, que se refere às diferenças nas características de
uma vogal produzida isoladamente se comparada às de uma vogal produzida em uma
sílaba CVC. A freqüência de F2 da vogal produzida na sílaba CVC não alcança o valor
determinado pela vogal produzida isoladamente.
Apesar dessas oscilações, por meio de F1 é possível medir o
levantamento/abaixamento das vogais e de F2, a anteriorização/posteriorização. Assim
dizem Kent e Read:
In general, low vowels have a high F1 frequency and high vowels
have a low F1 frequency. Back vowels have a low F2 and typically a
small F2-F1 difference, whereas front vowels have a relatively higher
F2 frequency and a large F2-F1 difference. (KENT e READ, 1991,
p.92).
Esse padrão de formantes das vogais permite identificar a vogal e estabelecer
relações entre acústica e parâmetros perceptuais. Os autores explicam que para Fox
(1983), as dimensões mais comuns no estudo das vogais correspondem às distinções
entre levantamento/abaixamento e anteriorização/posteriorização.
As vogais médias pretônicas do PB podem ser diferenciadas, acusticamente.
Essa diferenciação apóia-se nos trabalhos de Kent e Read (1991) e na caracterização
acústica das vogais orais pretônicas de cinco dialetos do PB (Recife, Salvador, Rio de
84
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), feita por Moraes, Callou e Leite (1996). Os autores
afirmam que é com relação a F1 (altura) que se verificam as maiores diferenças nos
cinco dialetos:
São Paulo tem as vogais altas mais elevadas e o [a] mais baixo, um
sistema; portanto, mais polarizado, isto é, que apresenta uma maior
distância acústica entre as vogais [i], [a] e [u]. Por outro lado o
sistema menos polarizado é o de Porto Alegre, acompanhado de perto
por Recife, em que as vogais altas e baixa estão mais próximas.
Contrariamente às expectativas gerais, Salvador não se alinha com
Recife, mas sim com São Paulo, o Rio de Janeiro ocupando uma
posição intermediária. É interessante observar que, embora se nivelem
as pronúncias de Recife e Salvador no que tange à realização aberta
das vogais pretônicas [E] e [O], a análise revelou que essas vogais são
acusticamente diferentes: as vogais médio-abertas de Recife são bem
mais baixas que as de Salvador. Por outro lado, as vogais altas de
Recife situam-se praticamente na mesma altura das médio-fechadas de
outras regiões.
Em relação a F2:
[...] o sistema do Rio de Janeiro é o que se destaca dos demais: a vogal
alta anterior e as posteriores são mais periféricas. Nos outros sistemas
não se observam variações significativas, exceto quanto à vogal mais
baixa de Salvador, que é bastante posteriorizada. (MORAES,
CALLOU e LEITE, 1996, p. 41).
4.5.1.1 Espectrogramas e análise acústica das vogais médias pretônicas
As 6 figuras abaixo são espectrogramas de trechos da fala de informantes das
comunidades estudadas. Esses trechos contêm itens lexicais que representam as
variações sonoras das vogais médias pretônicas /e/ e /o/. Os espectrogramas
apresentados foram gerados pelo software Praat, versão 4.4.07.
85
A FIGURA 7 Análise acústica da vogal pretônica [i] ilustra o alçamento
da vogal /e/: s[i]gundo.
A FIGURA 8 Análise acústica da vogal pretônica [e] mostra a pronúncia
fechada da vogal /e/: b[e]leza.
A FIGURA 9 Análise acústica da vogal pretônica [E] representa a
pronúncia aberta da vogal /e/: v[E]rdade.
A FIGURA 10Análise acústica da vogal pretônica [O] ilustra a pronúncia
aberta da vogal /o/: l[O]tado.
A FIGURA 11 Análise acústica da vogal pretônica [o] mostra a pronúncia
fechada da vogal /o/: p[o]ssibilidades.
A FIGURA 12 – Análise acústica da vogal pretônica [u] – representa o
alçamento da vogal /o/: p[u]lícia.
86
[i]
FIGURA 7. Análise acústica da vogal pretônica [i]
Espectrograma: “o segundo prefeito, foi de Ouro Branco” [sigundo] PMAO
F1=209.7 F2 1524.3
[e]
FIGURA 8. Análise acústica da vogal pretônica [e]
Espectrograma: “de madrugada, be
leza” [beleza] NFJO
F1= 441.0Hz F2= 2047.7Hz
87
[E]
FIGURA 9. Análise acústica da vogal pretônica [E]
Espectrograma: “mas na verdade” [vErdade] GFJP
F1= 611.4 F2=1731.3
[O]
FIGURA 10. Análise acústica da vogal pretônica [O]
Espectrograma: “quase cê não entra na igreja, lo
tado” [lOtado] LMAP
F1= 599.27Hz F2= 1074Hz
88
[o]
FIGURA 11. Análise acústica da vogal pretônica [o]
Espectrograma: “então as possibilidades são menas” [possibilidades] LFAO
F1= 538.41Hz F2=976.6Hz
[u]
FIGURA 12. Análise acústica da vogal pretônica [u]
Espectrograma: “po
lícia precisava” [pucia] CMJP
F1= 319.32Hz F2= 988.77Hz
89
A análise dos espectrogramas indica que:
a) [E] e [O] apresentam freqüências altas de F1;
b) [e] e [o] apresentam freqüências médias de F1;
c) [i] e [u] apresentam freqüências baixas de F1;
d) [u], [o] e [O] apresentam freqüência baixa de F2 e pequena diferença entre F2
e F1 – 669.45Hz, 438.19Hz e 474.73Hz, respectivamente;
e) [i], [e] e [E] apresentam freqüência alta de F2 e uma grande diferença entre F2
e F1 – 1314.6Hz, 1606.7Hz e 1119.9Hz, respectivamente.
Esses resultados estão de acordo com a afirmação de Kent e Read (1991), sobre
a freqüência dos formantes (F1 e F2) das vogais as vogais baixas apresentam F1 alto;
as vogais altas, F1 baixo. Para esses pesquisadores, as vogais anteriores m freqüência
alta de F2 e diferença considerável entre F2 e F1. As vogais posteriores têm F2 baixo e
pouca diferença entre F2 e F1.
Como não foi feita análise acústica de todas as palavras, a percepção de apenas
uma pessoa não é confiável, por isso foi necessária a ajuda de um juiz, que ouviu todas
as entrevistas e recodificou todas as variáveis dependentes /e/ e /o/. Conferimos a
codificação do juiz com a nossa codificação e as variáveis que não apresentaram
códigos iguais foram descartadas.
4.5.2 Variáveis independentes
Optamos por trabalhar com os grupos de fatores que são usados nas pesquisas do
PROBRAVO/CNPq - Descrição Sócio-histórica das Vogais do Português (do Brasil)-
aos quais acrescentamos mais alguns.
90
4.5.2.1 Fatores internos
a) Tipo silábico
Viegas (1987) constatou que as sílabas travadas por fricativa (VC) [i]spressa e
por nasal (VN) [i]ncarnou (nesse caso, em início de palavra) são altamente
favorecedoras do alçamento de /e/; a sílaba aberta (V) inicial o desfavorece. Para o
alçamento de /o/, Viegas apontou as sílabas CV (c[u]berto) e CVC (c[u]steleta),
nesse caso, quando travada por fricativas/africadas como favorecedoras e a sílaba
travada por nasal (CVN) como desfavorecedora (c[o]nciso).
Battisti (1993) mostra a influência do tipo silábico no alçamento das vogais
médias pretônicas em sílaba inicial de vocábulo. Em seus estudos, a sílaba pesada
favorece o alçamento das médias pretônicas em todos os grupos pesquisados.
Segundo Célia (2004), a estrutura da sílaba em que se encontra a vogal pretônica
também é um fator relevante para o alçamento. As sílabas abertas CV favorecem o
alçamento (p[i]dir, c[u]mer) e as sílabas travadas CVC o inibem (p[e]rder, d[o]rmir).
no processo de abaixamento das vogais médias pretônicas, a estrutura silábica seria
de importância secundária.
Assim, percebemos discordâncias nos resultados apresentados.
b) Vogal da sílaba tônica
Nos trabalhos sobre vogais médias pretônicas (já citados nesta pesquisa), este
grupo de fator – vogal da sílaba tônica – é sempre destacado.
Nesse trabalho, pretendemos testar se as vogais pretônicas das cidades
estudadas, sofrem o processo de harmonização vocálica, que, segundo Câmara Junior
91
(1977), ocorre quando a vogal alta tônica exerce uma ação assimilatória sobre a
pretônica.
Bisol (1981) concluiu que a vogal alta anterior [i] atua no alçamento de /e/ e /o/
com a mesma intensidade, sendo altamente favorecedora de ambos os alçamentos. Já a
vogal alta posterior [u], favorece apenas o alçamento de /o/, atuando esporadicamente
para o alçamento de /e/.
Viegas (1987) constatou que a vogal alta tônica favorece muito o alçamento de
/e/, que é maior quando a vogal alta tônica é imediata, mas não exerce influência
significante sobre o alçamento de /o/.
c) Vogal entre a vogal da variável e a tônica
Para Bisol (1981), a harmonia vocálica ocorre quando uma vogal alta da sílaba
imediatamente seguinte exerce, independente da sua tonicidade, uma ação assimilatória
sobre a pretônica.
Battisti (1993) mostra que a vogal alta na sílaba seguinte, mesmo não sendo
tônica, favorece o alçamento da pretônica em sílaba inicial.
Segundo Freitas (2001), a variação das vogais médias pretônicas é desencadeada
pelos contextos vocálicos imediatamente seguintes, independente da tonicidade, por
processo de assimilação.
Célia (2004) também mostra que o fator mais importante na harmonização
vocálica é a proximidade da vogal favorecedora da harmonia, não a tonicidade dessa
vogal.
92
d) Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
A inclusão da variável Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida foi
motivada para averiguar se a realização das variantes é favorecida pela estrutura da
palavra. Outros autores estudaram essa variável. Bisol (1981) ressalta que
A regra de harmonização vocálica que atua no âmbito da estrutura de
vocábulo (menino ~ minino) e ultrapassa por vezes junturas
morfêmicas (sofria ~ sufria) não alcança prefixos (predizer ~
*pridizer) ou qualquer formação vocabular que se assente no processo
de composição (sempre-viva, *simpri –viva) [...]. (BISOL, 1981, p.
108).
Entretanto, dados de Viegas & Veado (1982), apud Viegas (1987), mostram um
grande número de palavras com prefixo de-/des- alçadas, como, por exemplo:
disnecessário, disliga.
e) Paradigma com vogal aberta
Em alguns casos, a abertura da vogal pode ter sido favorecida por um paradigma
que apresenta uma vogal aberta. Por exemplo: portaria pertence ao paradigma de porta;
versículo de verso; e terreno de terra. Talvez pudéssemos falar em influência do acento
secundário.
Segundo Bisol (1981), a vogal média pretônica tende a manter a natureza da
vogal tônica a que está relacionada, em palavra primitiva, em função de o falante
guardar na lembrança a natureza da vogal acentuada.
f) Distância da sílaba tônica
A posição da laba tônica influencia a aplicação da regra de assimilação.
Segundo Bisol (1981, p.115) “[...] é natural a regra de assimilação que atinge sons
vizinhos e não natural a que pula uma sílaba para afetar terceiras.”
93
Battisti (1993) conclui, a partir de seus dados, que as posições mais próximas à
sílaba tônica favorecem o alçamento. Mas, ela ressalta que esse fato se mostra mais
claro para /e/ do que para /o/.
g) Classe morfológica
Consideramos este grupo de fatores para examinar, de forma ampla, o efeito do
componente morfológico sobre o comportamento das vogais médias pretônicas. Essa
análise é importante pois, segundo Labov, a influência de grupos gramaticais caracteriza
processos que ocorrem por difusão lexical.
Freitas (2001) conclui que os verbos favorecem a manutenção das médias (com
índice próximo da faixa de irrelevância) e o alçamento (com índice significativo). Os
nomes favorecem a manutenção, como desfavorecem o abaixamento e o alçamento,
sempre com índices próximos da faixa de irrelevância. Os advérbios favorecem o
alçamento e desfavorecem a manutenção (esta com índice próximo da faixa de
irrelevância). Os pronomes favorecem o abaixamento com alto índice.
h) Segmento precedente e segmento seguinte
Os tipos de segmento precedente e seguinte foram apontados nos trabalhos
citados nesta pesquisa como fatores importantes que atuariam na regra de alçamento das
vogais, considerando-se um processo de redução e não de harmonização vocálica.
Segundo Viegas (1987), a regra de assimilação para o /o/ está relacionado às
consoantes adjacentes, um processo de redução vocálica.
Há bastante variação nos resultados encontrados.
94
i) Distância da variável para o início da palavra
Conforme Câmara JR (1976, p.36): “Na realidade a sílaba que se abre pela
consoante do vocábulo é ligeiramente mais forte que as pretônicas seguintes; [...]”
A inclusão dessa variável averiguará se a realização das variantes é favorecida
pela distância da variável para o início da palavra, uma vez que, segundo Coutinho
(1976), apud Viegas (1987), são as pretônicas da primeira sílaba as que mais resistem a
alterações e quedas.
Segundo Viegas (1987), as distâncias 1 (referente à primeira sílaba) e 2
(referente à segunda) favorecem o alçamento de /o/, se comparadas com distâncias
maiores do início da palavra, que o inibem:
Diferentemente do que diziam COUTINHO (1976) e CÂMARA JR.
(1976) se a vogal média estiver em laba inicial não mostra sinal de
resistência com relação ao alçamento, desde que a vogal não esteja em
posição inicial na palavra. (VIEGAS, 1987, p.96)
Para o alçamento de /e/, Viegas constatou que a distância 1, referente à sílaba
inicial sem segmento precedente, é altamente favorecedora e que a distância 1, referente
sílaba inicial com segmento precedente, é neutra. As distâncias 2 (segunda sílaba) e 3
(terceira sílaba) foram classificadas como desfavorecedoras. Viegas (1987, p.123)
ressalta: “A atonicidade menor do início da palavra segundo CÂMARA JR. (1976) não
parece, pois, desfavorecer o alçamento.”
Assim, verificaremos até que ponto esta atonicidade menor influencia a
aplicação da regra de variação das vogais médias pretônicas nas cidades estudadas.
j) Número de sílabas da palavra
a hipótese de que, nos casos de redução, o número de sílabas átonas
pretônicas interfira no processo. O objetivo é, posteriormente, fazer o cruzamento deste
95
grupo de fator com a distância do início da palavra e com a distância da sílaba tônica.
Assim, teremos informação sobre a atuação de questões acentuais no processo.
k) Item lexical
De acordo com as propostas difusionistas, a mudança se dá item por item, ou
grupos de itens por grupos de itens, ou seja, uma mudança sonora apresenta seleção
lexical. Se as variações em questão estiverem em processo de mudança, podemos
avaliar melhor essa discussão através da codificação dos itens. Além disso, segundo
Oliveira, A. (2006), a atribuição de códigos diferenciados para cada um dos itens
possibilita retirá-los ou inseri-los facilmente na análise, caso haja a suspeita de que a
motivação da variação esteja tendenciada por alguns itens específicos.
Para a análise variacionista, Oliveira (1992, p.40) sugere que “o comportamento
individual seja checado para todos os itens lexicais”. Para isso, é preciso atribuir
códigos específicos a cada indivíduo e a cada item lexical.
Viegas (1987), como já foi comentado, demonstrou a importância de se levar em
consideração o item lexical nos estudos das vogais médias pretônicas.
Segundo Oliveira, A. (2006), a inserção da variável item lexical também permite
que sejam avaliados os efeitos de freqüência de ocorrência do item na variação, a partir
da distribuição das variantes em relação a cada item, individualmente.
4.5.2.2 Fatores sociais
a) Gênero
Segundo Chambers (1995) em muitos estudos lingüísticos realizados, que
incluem uma amostra de homens e mulheres, há evidências para a conclusão sobre seus
96
comportamentos lingüísticos: mulheres usam menos variantes estigmatizadas e não-
padrão que homens de mesmo grupo social nas mesmas circunstâncias.
Segundo Labov (1972), em situações formais, as mulheres empregam menos
variantes estigmatizadas do que os homens, o que sugere que sejam mais sensíveis aos
valores sociais que condicionam o uso da língua.
Labov (1966) constata que a pronúncia retroflexa do [r] pós-vocálico, forma
inovadora, no inglês de Nova York, tende a ocorrer mais freqüentemente na fala das
mulheres do que na fala dos homens. No entanto, Labov (1972) alerta que seria um erro
elaborar um princípio de que são as mulheres que sempre encabeçam a mudança
lingüística. Quando se trata de implementar na ngua uma forma socialmente
prestigiada, as mulheres tendem a assumir a liderança na mudança, mas, quando se trata
de implementar uma forma socialmente estigmatizada, as mulheres assumem uma
atitude conservadora e os homens tomam a liderança do processo. Se a mudança está
abaixo do nível de consciência social, as mulheres lideram a mudança.
Segundo Labov (1972), a diferenciação dos falantes em função do gênero
decorre de aspectos de ordem social aplicados preferencialmente a um gênero ou outro.
Leite e Callou (2002) ressaltam:
A generalização que se pode fazer sobre as diferenças existentes entre
a linguagem masculina e feminina é a de que a identidade
homem/mulher interage com outras identidades culturais, não
podendo ser vista isoladamente, e sim em conjunto com outros fatores.
A interação gênero/faixa etária desempenha papel de importância na
análise do processo de mudança lingüística. (LEITE e CALLOU,
2002:38).
b) Faixa etária
O comportamento da variável sob análise, dentro de cada faixa etária, pode
indicar se o fenômeno é estável ou está em processo de mudança. Segundo Labov
97
(1972), o estudo da variação lingüística em tempo aparente pode revelar diferentes
estágios de uma língua. O estudo em tempo aparente é a comparação da linguagem de
diferentes grupos etários em determinado momento do tempo. Se o uso da variante
inovadora for mais freqüente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos
grupos mais idosos, tudo indica que se trata de uma situação de mudança em progresso.
Os jovens tendem a privilegiar as pronúncias mais inovadoras, enquanto adultos
e idosos utilizam mais as formas conservadoras. Esse fenômeno foi comprovado em,
pelo menos, dois estudos de Labov: o primeiro (anteriormente mencionado) é relativo à
pronúncia retroflexa do /r/ pós-vocálico em Nova York, em 1966; o segundo, refere-se à
centralização dos ditongos /ay/ e /aw/, na fala dos habitantes da ilha de Martha’s
Vineyard, Massachussets, em 1963.
c) Origem
Duas cidades de Minas Gerais foram escolhidas como local de pesquisa. A
primeira é Piranga, situada na Zona da Mata Mineira; a segunda, Ouro Branco,
localizada na Região Central. Essas cidades estão em áreas dialetais diferentes, como
explicado no item 4.1.
O povoamento nos municípios de Piranga e Ouro Branco deveu-se à descoberta
de ouro na região. Mas o desenvolvimento social e econômico dos dois municípios é
distinto.
Este estudo apresenta dados e analisa certas particularidades lingüísticas dos
habitantes dos dois municípios, o que nos ajudará, possivelmente, a conhecer um pouco
melhor as características da fala dos habitantes dessas localidades.
98
4.6 Codificação das variáveis
As variantes foram codificadas na tabela do MS Excel, para que se procedesse à
análise estatística. Cada coluna representa um grupo de fator em estudo; e cada linha
uma palavra com uma ou mais vogais médias pretônicas.
A codificação da variável dependente esteve sujeita a diversas audições das fitas,
a fim de precisarmos a pronúncia da vogal média pretônica das palavras selecionadas.
Quando necessário, usamos o programa Praat, para a mensuração e análise acústica das
realizações das vogais.
A codificação para a variável dependente foi realizada da maneira seguinte:
Variável dependente
1 = vogal média anterior
2 = vogal média posterior
3 = vogal alta anterior
4 = vogal alta posterior
5 = vogal baixa anterior
6 = vogal baixa posterior
A codificação das variáveis independentes sociais foi feita da seguinte forma:
a) Informante
1= BMJP 5 = LMAP 9 = LMJO 13 = PMAO
2 = CMJP 6 = RMAP 10 = WMJO 14 = SMAO
3 = GFJP 7 = DFAP 11 = NFJO 15 = FFAO
4 = LFJP 8 = SFAP 12 = SFJO 16 = LFAO
b) Gênero
1 = masculino
2 = feminino
b) Idade (anos)
1 = 18 a 24
2 = 40 a 60
99
c) Origem
1= Piranga
2 = Ouro Branco
d) Estilo
2= leitura de texto
3= leitura de palavras
4 = entrevista
A codificação das variáveis independentes internas foi feita da seguinte forma:
a) Tipo silábico
Codificação
das letras
V = vogal
C = consoante
S = semivogal
Codificação das sílabas
1 = V 6 = VS
2 = VC 8 = OUTROS
4 = CVC
9 = CV
5 = CCV
O fator outros representa as estruturas silábicas: CVS, CVCC, CCVS, CCVC.
b) Vogal da sílaba tônica
1 = vogal baixa oral [a]
7 = vogal média baixa posterior oral [O]
2 = vogal média anterior oral [e] 8 = vogal baixa nasal [an]
3 = vogal média posterior oral [o] 9 = vogal média anterior nasal [en]
4 = vogal alta anterior oral [i] 10 = vogal média posterior nasal [on]
5 = vogal alta posterior oral [u] 11= vogal alta anterior nasal [in]
6 = vogal média baixa anterior oral [E] 12 = vogal alta posterior nasal [un]
c) Vogal entre a vogal da variável e a tônica
1 = vogal baixa oral [a]
8 = vogal baixa nasal [an]
2 = vogal média anterior oral [e] 9 = vogal média anterior nasal [en]
3 = vogal média posterior oral [o] 10 = vogal média posterior nasal [on]
4 = vogal alta anterior oral [i] 11= vogal alta anterior nasal [in]
5 = vogal alta posterior oral [u] 12 = vogal alta posterior nasal [un]
6 = vogal média baixa anterior oral [E]
15 = ausência de vogal
7 = vogal média baixa posterior oral [O] 16 = Outros
100
O fator outros representa a presença de semivogal seguinte à vogal da variável.
Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
2 = prefixo
3 = outros
4 = radical
O fator outros representa processos de formação de palavras como a composição
e a sigla.
e) Paradigma com vogal aberta
1 = tem paradigma com vogal aberta
2 = não tem paradigma com vogal aberta
f) Distância da sílaba tônica
1 = distância 1
2 = distância 2
3 = distância 3
4 = distância 4 ou mais
g) Classe morfológica
2 = adjetivo 6 = pronome
3 = verbo 7 = numeral
4 = advérbio 8 = outros
5 = conectivo 9 = substantivo
O fator outros representa as interjeições.
h) Segmento precedente
1 = a 7 = u 13 = f 19 = n 25 = nh
2 = E 8 = w 14 = v 20 = l 26 = lh
3 = e 9 = y 15 = t 21 = tS
(africada)
27 = k
4 = i 10 = b 16 = d 22 = dS
(africada)
28 = g
5 = O 11 = p 17 = s 23 = ch
(alveopalatal)
29 = r
(tepe)
6 = o 12 = m 18 = z 24 = j
(alveopalatal)
30 = R
(velar)
31 =
ausência de segmento precedente na mesma palavra
101
i) Segmento seguinte
1 = a 8 = w 15 = t 22 = dS
(africada)
29 = r
(tepe)
2 = E 9 = y 16 = d 23 = ch
(alveopalatal)
30 = R
(velar)
3 = e 10 = b 17 = s 24 = j
(alveopalatal)
31 = an
4 = i 11 = p 18 = z 25 = nh 32 = en
5 = O 12 = m 19 = n 26 = lh 34 = on
6 = o 13 = f 20 = l 27 = k 36 = in
7 = u 14 = v 21 = tS
(africada)
28 = g 37 = un
j) Distância do início da palavra
1 = primeira sílaba
2 = segunda sílaba
3 = terceira sílaba
4 = quarta sílaba ou mais
k) Número de sílabas da palavra
2 = três sílabas
3 = quatro sílabas
4 = cinco sílabas ou mais
5 = duas sílabas
l) Item lexical
Foram contabilizados 2.366 palavras diferentes, considerando diferentes
palavras como: pergunta, perguntei, perguntou, perguntava, perguntando. Assim, para
cada uma delas foi dado um número diferente.
4.7 O subsídio quantitativo SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
Embora a maioria das pesquisas em sociolingüística use como subsídio
quantitativo o modelo “logístico” incluído no VARBRUL 2, nesta pesquisa optamos por
utilizar um modelo logístico incluído no SPSS, porque ele apresenta uma
operacionalização mais fácil. Ele possibilita a realização com facilidade de
102
agrupamentos depois de feita codificação, possibilita o cruzamento com facilidade dos
fatores que o pesquisador desejar selecionar. Além de gerar significância entre fatores
do mesmo grupo.
Neste item, descrevemos, abreviadamente, os modelos estatísticos incluídos no
software SPSS (v.13.0), adotado nesta pesquisa.
Servimo-nos, aqui, dos pressupostos teóricos relativos às particularidades do
programa SPSS apresentados por Alan Jardel de Oliveira
16
, em sua dissertação de
mestrado, orientada pela Profa. Dra. Maria do Carmo Viegas. O programa utilizado
pelo então mestrando e, hoje, doutorando – apresentou resultados satisfatórios nas
análises estatísticas. Para informações mais aprofundadas sobre o software, consultar
OLIVEIRA, A. (2006).
A metodologia utilizada neste trabalho apresentada no Capítulo 3 se baseia
em princípios da teoria da variação e mudança, proposta por Labov (1972). O
pressuposto básico da teoria variacionista é o de que a heterogeneidade na língua não é
aleatória, mas regulada por um conjunto de regras, que o afetadas por fatores
lingüísticos e sociais. Logo, a heterogeneidade pode ser estudada por meio de método
científico, o que pressupõe (entre outras) o cumprimento das seguintes etapas: a)
observação de um fenômeno – nesse caso, as variações das vogais médias pretônicas /e/
e /o/; b) coleta da amostra e preparação dos dados; c) quantificação e análise dos dados;
e d) explicação do fenômeno.
Na etapa de quantificação, o pesquisador recorre à estatística, a fim de
transformar a grande quantidade de dados em informações que lhe permitam analisar,
16
Pesquisador responsável pelas rodadas estatísticas do projeto VARFON-MINAS.
103
compreender e explicar o fenômeno em estudo. Eis o papel da estatística, na
Lingüística:
[...] revelar tendências e correlações inerentes na massa de dados
lingüísticos, e validá-las, dentro de um determinado grau de certeza. É
bem verdade que nada sai de uma análise estatística que não esteja nos
próprios dados codificados, mas mesmo assim a estatística é uma
ferramenta valiosíssima, que nos permite resumir, quantificar e
manipular grandes massas de dados que, de outra forma, ficariam fora
das nossas possibilidades reais de trabalho. Ela nos abre novos
horizontes de entendimento porque aumenta nossas capacidades de
analisar o uso lingüístico. (SCHERRE e NARO, 2003, p.176)
A estatística é um instrumento de análise que auxilia o pesquisador a
compreender o fenômeno em estudo. Os fatos de língua são interpretados,
invariavelmente, pelo lingüista, que utiliza os valores numéricos como suporte.
4.7.1 Os modelos estatísticos
Sobre os modelos estatísticos, Oliveira, A. (2006) ressalta:
Os modelos estatísticos [...] que permitem que se possa explicar a
variabilidade de um fenômeno em relação um conjunto de fatores, são
chamados de modelos de regressão. Nos modelos de regressão temos
sempre uma variável, chamada variável dependente ou variável
resposta, e uma ou mais variáveis explicativas, chamadas de
covariáveis, variáveis independentes ou grupo de fatores, que poderão
ajudar a explicar a variabilidade na variável resposta. (OLIVEIRA, A.
2006, p. 64).
Para a seleção do modelo estatístico, Oliveira, A. (2006) explica:
A seleção do modelo estatístico a ser utilizado também depende do
tipo de variável resposta do estudo. Se a variável resposta fosse
contínua, por exemplo, poderíamos optar um modelo de regressão
linear.[...]. Esse modelo poderia ser utilizado caso a variável resposta
fosse, por exemplo, a freqüência dos formantes de uma vogal, no qual
teríamos observações localizadas em uma faixa contínua. Por outro
lado, se a variável resposta fosse categórica, poderíamos utilizar o
modelo de regressão logística. Esse modelo poderia ser utilizado caso
a variável resposta fosse composta de somente duas possibilidades,
por exemplo, a presença ou a ausência da marcação de plural em itens
nominais. Se a variável resposta fosse categórica e apresentasse mais
104
de duas possibilidades, poderíamos utilizar o modelo logístico
multinomial. Tal modelo poderia ser utilizado, por exemplo, no estudo
do pronome você, caso fossem consideradas as realizações de mais de
duas variantes, considerados por hipótese como categóricas, como
você, ocê e cê. (OLIVEIRA, A.2006, p. 64-65).
Nesta pesquisa, adotamos o modelo logístico multinomial, incluído no software
SPSS, pois a variável em estudo apresenta 3 possibilidades: [e ~ i ~E] e [o ~u~O].
Oliveira, A. (2006) explica a hipótese nula e a hipótese alternativa:
Qualquer hipótese levantada para explicar estatisticamente algum
fenômeno vem associada a uma segunda hipótese que nega a primeira.
Tais hipóteses são chamadas, respectivamente, de hipótese alternativa
e hipótese nula.
Nos modelos de regressão, por exemplo, um teste estatístico poderia
propor testar a hipótese nula de não haver efeito na variável
dependente associado a uma variável independente. Assim, a
suposição de que a variabilidade em itens lexicais terminados em
/l/+vogal possa ser explicada pelo gênero dos falantes vem
acompanhada da hipótese nula que sugere que o gênero dos falantes
não exerce influência estatisticamente significativa sobre a
variabilidade nos itens. A hipótese efetivamente testada é a hipótese
nula. (OLIVEIRA, A. 2006, p.66).
Sobre o nível de significância Oliveira, A. (2006) pontua:
A probabilidade máxima aceitável de rejeitarmos a hipótese nula
quando ela é de fato verdadeira é chamada de nível de significância.
No exemplo acima, o nível de significância seria a probabilidade
máxima de aceitarmos que o gênero do falante interfere na
variabilidade, quando na realidade ele não interfere. O vel de
significância é um valor arbitrário, definido segundo critérios do
pesquisador. Convencionalmente, na sociolingüística variacionista,
assim como em outras ciências, utilizamos um nível de significância
de 0,05. (OLIVEIRA, A. 2006, p.66).
Oliveira (2006) explica o que significa a razão de chances:
A comparação entre as chances de ocorrência de um evento entre
fatores de uma variável é chamada de razão de chances e é bastante
utilizada nos modelos de regressão logística. A razão de chances, ou
odds ratio, fornece uma medida do grau de associação entre fatores de
uma variável independente. (OLIVEIRA, 2006, p.68).
105
O modelo de regressão nos fornece a razão de chances. Por exemplo, se o
modelo fornecer a razão de chances de 1,9 para o gênero masculino, em relação à
variante
Ø:
A razão de chances de 1,9 indica que a chance de sucesso (nesse caso,
a variante Ø) para o gênero masculino é 1,9 vezes a chance no gênero
feminino. Isso indica que a chance de um homem, na cidade de Itaúna,
utilizar a variante Ø é quase duas vezes a chance de uma mulher
utilizar a mesma variante. (OLIVEIRA, 2006, p.68).
É importante lembrar que
[...] os resultados numéricos obtidos pelos programas têm valor
estatístico. O valor lingüístico é atribuído e interpretado pelo lingüista.
Se o lingüista for bom, certamente os resultados lhe permitirão refutar
ou não as hipóteses estabelecidas quando da análise dos dados
lingüísticos. Nunca é demais repetir que a estatística é apenas um
instrumento valioso que pode nos auxiliar a entender um pouco mais o
comportamento de fenômenos lingüísticos. (SCHERRE & NARO,
2003, p.162).
As análises estatísticas permitem ao pesquisador resumir uma grande quantidade
de dados. Os resultados auxiliam-no a interpretar fatos de língua, identificar mudanças
em progresso e apontar tendências.
106
CAPÍTULO 5
ANÁLISES DOS RESULTADOS
Foram codificadas 15.407 ocorrências de palavras com vogais médias
pretônicas, ou seja, foram feitas 277.326 codificações. Chegamos a esse número de
codificações, multiplicando o número de ocorrências de palavras (15.407) pelo número
de variáveis (18), dependentes e independentes.
Durante a pesquisa, em um momento anterior à etapa em que os dados foram
rodados, alguns fatores indicados abaixo foram agrupados, uma vez que quanto
menor o número de fatores, melhor a resolução dos fatores favorecedores pelo software.
a) Na variável independente Vogal da sílaba tônica, reduzimos os fatores de 14 para 6.
Fizemos os seguintes agrupamentos:
Vogal da sílaba tônica 2
1 = vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
4 = vogal alta nasal [in, un]
2 = vogal baixa nasal [an] 5 = vogal média nasal [en, on]
3 = vogal alta oral [i, u] 6 = vogal média oral [e, o]
b) Na variável independente Vogal entre a vogal da variável e a tônica, reduzimos os
fatores de 16 para 7. Fizemos os seguintes agrupamentos:
Vogal entre a vogal da variável e a tônica 2
1= ausência de vogal e outros
5 = vogal alta nasal [in, un]
2 = vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
6 = vogal média nasal [en, on]
3 = vogal baixa nasal [an] 7 = vogal média oral [e, o]
4 = vogal alta oral [i, u]
107
c) Na variável independente Distância da sílaba tônica, reduzimos os fatores de 4 para
3. Fizemos os seguintes agrupamentos:
Distância da sílaba tônica 2
5 = distância 3 ou mais
6 = distância 2
7 = distância 1
d) Na variável independente Segmento precedente, alteramos o nome da variável, para
criar duas variáveis: Modo do segmento precedente e Ponto do segmento precedente.
Na variável independente Modo do segmento precedente, fizemos os seguintes
agrupamentos:
1 = a 6 = o 31 =
ausência
2 = E 7 = u 33= fricativas e africadas (f, v, s, z , R, ch, j, tS, dS)
3 = e 8 = w 34= nasais (m, n, nh)
4 = i 9 = y 35= líquidas (l, lh)
5 = O 29 = r
(tepe)
36= oclusivas (p, b, t, d, k, g)
Na variável independente Ponto do segmento precedente, fizemos os seguintes
agrupamentos:
1 = a 6 = o 32= labiais (m, b, p, f, v)
2 = E 7 = u 34= dorsais e palatalizadas (k, g, R, tS, dS)
3 = e 8 = w 35= coronais (t, d, s, z, n, nh, ch, j, l, lh, r
4 = i 9 = y
5 = O 31 =
ausência
e) Na variável independente Segmento seguinte, alteramos o nome da variável, para
criar duas variáveis: Modo do segmento seguinte e Ponto do segmento seguinte.
Na variável independente Modo do segmento seguinte, fizemos os seguintes
agrupamentos:
108
1 = a 7 = u 36=in
2 = E 8 = w 39= fricativas e africadas (f, v, s, z , R, ch, j, tS, dS)
3 = e 9 = y 40= nasais (m, n, nh)
4 = i 29 = r
(tepe)
41= líquidas (l, lh)
5 = O 31 = an 42= oclusivas (p, b, t, d, k, g)
6 = o 32=en
Na variável independente Ponto do segmento seguinte, fizemos os seguintes
agrupamentos:
1 = a 6 = o 32=em
2 = E 7 = u 36=in
3 = e 8 = w 38= labiais (m, b, p, f, v)
4 = i 9 = y 40= dorsais e palatalizadas (k, g, R, tS, dS)
5 = O 31 = na 41= coronais (t, d, s, z, n, nh, ch, j, l, lh, r)
f) Na variável independente Distância do início da palavra, reduzimos os fatores de 4
para 3. Fizemos os seguintes agrupamentos:
Distância do início da palavra 2
5 = terceira sílaba ou mais
6 = segunda sílaba
7 = primeira sílaba
Além de agruparmos alguns fatores, como descrito acima, suprimimos alguns
outros, a fim de cumprir o cronograma estabelecido para o desenvolvimento da
pesquisa. Nesta pesquisa, não estudaremos as vogais médias pretônicas, em início de
palavra e as vogais médias pretônicas que formam ditongo ou hiato, pois como
mostrado por Viegas (2001), nesses contextos os processos são distintos dos processos
que atingem outros contextos fonéticos. Então, eliminamos os seguintes fatores:
109
a) Na variável independente Tipo silábico, foram eliminados:
1 = V
2 = VC
6 = VS
b) Nas variáveis independentes Modo do segmento precedente e Ponto do segmento
precedente, foram eliminados:
1 = a 6 = o
2 = E 7 = u
3 = e 8 = w
4 = i 9 = y
5 = O
31= ausência
c) Nas variáveis independentes Modo do segmento seguinte e Ponto do segmento
seguinte, foram eliminados:
1 = a 7 = u
2 = E 8 = w
3 = e 9 = y
4 = i 31 = an
5 = O
32 = en
6 = o
36 = in
Todas as rodadas foram feitas separadamente para:
a) Piranga e Ouro Branco;
b) as variantes de /e/ e as variantes de /o/;
c) entrevista, leitura de texto e leitura de palavras.
Fizemos uma rodada, cruzando as variáveis lingüísticas com os dados da fala
dos informantes de Piranga e Ouro Branco, para verificar se algum informante usou,
categoricamente, alguma destas variantes em estudo: ([e], [i], [E]) ou ([o], [u], [O]). Os
resultados indicaram que todos os informantes produziram todas as variantes.
110
Para a variável dependente, em todas as rodadas, consideramos como fatores de
referência as variantes [e] e [o], por serem supostamente consideradas em outros
estudos, como Lee e Oliveira (2003), as realizações subjacentes nas regiões do Estado
em que as cidades em estudo se localizam.
Para as variáveis independentes, em cada tabela apresentada neste capítulo,
indicamos qual é a variável independente considerada como fator de referência.
Nesta pesquisa não será possível analisar todas as variáveis independentes com a
mesma profundidade, então priorizamos as seguintes: vogal da sílaba tônica, vogal entre
a vogal da variável e a tônica, modo e ponto dos segmentos precedentes e seguintes. As
outras variáveis deverão ser estudadas mais profundamente em outros estudos.
Analisaremos os itens lexicais, apenas nos casos que contrariam o consenso em
relação às hipóteses levantadas pelos trabalhos anteriores.
5.1 Análise dos fatores lingüísticos
As Tabelas 1 e 2 apresentam os resultados gerais para a variável /e/, em Piranga
e Ouro Branco, respectivamente.
TABELA 01
Distribuição da variável /e/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de palavras,
em Piranga
Variantes Entrevistas Leitura de texto Leitura de palavras Total
e n
%
1128
51,0%
722
79,6%
448
76,1%
2298
62,0%
i n
%
502
22,7%
31
3,4%
6
1,0%
539
14,5%
E n
%
583
26,3%
154
17,0%
135
22,9%
872
23,5%
Total n
%
2213
100,0%
907
100,0%
589
100,0%
3709
100,0%
111
TABELA 02
Distribuição da variável /e/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de palavras,
em Ouro Branco
Variantes Entrevistas Leitura de texto Leitura de palavras Total
e n
%
1510
78,2%
875
95,4%
553
93,9%
2938
85,5%
i n
%
360
18,6%
15
1,6%
1
0,2%
376
10,9%
E n
%
62
3,2%
27
2,9%
35
5,9%
124
3,6%
Total n
%
1932
100,0%
917
100,0%
589
100,0%
3438
100,0%
Ao comparar as Tabelas 1 e 2, podemos notar que diferenças na ordem
percentuais dos processos nas duas cidades no estilo entrevista.
Em Piranga, 51% de realização fechada, 26,3% de realização aberta e 22,7%
de realização alçada.
Em Ouro Branco, 78,2% de realização fechada, 18,6% de realização alçada e
3,2% de realização aberta.
Podemos notar por esses resultados que a abertura em Piranga é muito superior à
abertura em Ouro Branco.
Piranga manteve a ordem (realização fechada > aberta > alçada) em todos os
estilos. O processo de alçamento nos estilos leitura de texto (3,4%) e leitura de palavras
(1,0%) diminuiu muito em relação ao estilo entrevista (22,7%), o que pode ser um
indício de estigma, que os estilos leitura de textos e leitura de palavras são mais
formais que o estilo entrevista. Tentaremos confirmar essa observação na análise dos
testes.
Em Piranga, o processo de abertura nos estilos leitura de texto (17%) e leitura de
palavras (22,9%) não diminuiu muito em relação ao estilo entrevista (26,3%), o que
112
pode ser um indício de que não estigma atribuído. Seria esperado que os percentuais
diminuíssem em um estilo mais formal como os de leitura caso houvesse algum
estigma.
Em Ouro Branco, houve mudança na ordem dos processos, de acordo com os
estilos. No estilo entrevista temos: realização fechada > alçada > aberta. Nos estilos
leitura de textos e leitura de palavras temos: realização fechada > aberta > alçada.
Assim como em Piranga, o processo de alçamento em Ouro Branco nos estilos
leitura de texto (1,6%) e leitura de palavras (0,2%) diminuiu muito em relação ao estilo
entrevista (18,6%), o que pode ser um indício de estigma. Tentaremos confirmar essa
observação na análise dos testes.
Além do processo de abertura, em Ouro Branco, ter se tornado maior que o
alçamento nos estilos leitura de texto e leitura de palavras, no estilo leitura de palavras
(5,9%) houve um aumento da abertura em relação ao estilo entrevista (3,2%), o que
pode ser um indício de que também algum fator relativo à velocidade baixa de fala,
relacionado à abertura.
Comparando as duas cidades, podemos notar que a porcentagem de abertura e de
alçamento em Piranga é superior a Ouro Branco, em todos os estilos. Ou seja, a
manutenção da vogal média alta é maior em Ouro Branco do que em Piranga.
TABELA 03
Número de realizações em cada cidade para o estilo
entrevista – [e ~ E]
Cidades Piranga Ouro Branco Total
e 1128 1510 2638
E 583 62 645
Total 1711 1572 3283
113
Fizemos o teste de qui-quadrado em relação à abertura nas cidades pesquisadas e
obtivemos o seguinte resultado: p-valor Piranga X Ouro Branco = 0,000000.
Confirmando assim, que diferenças significativas entre as duas cidades em relação à
abertura de /e/.
TABELA 04
Número de realizações em cada cidade para o estilo
entrevista – [e ~ i]
Cidades Piranga Ouro Branco Total
e 1128 1510 2638
i 502 360 862
Total 1630 1870 3500
Fizemos o teste de qui-quadrado em relação ao alçamento nas cidades
pesquisadas e obtivemos o seguinte resultado: p-valor
17
Piranga X Ouro Branco =
0,000000. Confirmando assim, que há diferenças significativas entre as duas cidades em
relação ao alçamento de /e/.
As Tabelas 5 e 6 apresentam os resultados gerais para variável /o/, em Piranga e
Ouro Branco.
TABELA 05
Distribuição da variável /o/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de palavras,
em Piranga
Variantes Entrevistas Leitura de texto Leitura de palavras Total
o n
%
831
61,6%
453
73,2%
350
73,2%
1634
66,8%
u n
%
235
17,4%
38
6,1%
6
1,3%
279
11,4%
O n
%
284
21,0%
128
20,7%
122
25,5
534
21,8%
Total n
%
1350
100,0%
619
100,0%
478
100,0%
2447
100,0%
17
p-valor representa o nível de significância. Consideramos que para ser significativo o nível de
significância deve ser maior que 0,05.
114
TABELA 06
Distribuição da variável /o/ nos estilos entrevista, leitura de texto e leitura de palavras,
em Ouro Branco
Variantes Entrevistas Leitura de texto Leitura de palavras Total
o n
%
1077
82,6%
561
92,0%
440
92,6%
2078
87,0%
u n
%
145
11,1%
19
3,1%
2
0,4%
166
6,9%
O n
%
82
6,3%
30
4,9%
33
6,9%
145
6,1%
Total n
%
1304
100,0%
610
100,0%
475
100,0%
2389
100,0%
Ao comparar as tabelas acima, podemos notar que diferenças na ordem dos
processos nas duas cidades no estilo entrevista.
Em Piranga, há 61,6% de realização fechada, 21,0% de realização aberta e
17,4% de realização alçada.
Em Ouro Branco, 82,6% de realização fechada, 11,1% de realização alçada e
6,3% de realização aberta.
Podemos notar por esses resultados que a abertura em Piranga é muito superior à
abertura em Ouro Branco, assim como foi observado para a vogal anterior.
Piranga manteve a ordem (realização fechada > aberta > alçada) em todos os
estilos. O processo de alçamento nos estilos leitura de texto (6,1%) e leitura de palavras
(1,3%) diminuiu muito em relação ao estilo entrevista (17,4%), o que pode ser um
indício de estigma. Tentaremos confirmar essa observação na análise dos testes.
O processo de abertura no estilo leitura de texto (20,7%) não diminuiu muito em
relação ao estilo entrevista (21,0%) e no estilo leitura de palavras (25,5%) aumentou
115
em relação ao estilo entrevista, o que pode ser um indício de que há algum fator relativo
à velocidade baixa de fala relacionado à abertura, além de não haver estigma atribuído.
Em Ouro Branco, houve mudança na ordem dos processos, de acordo com os
estilos. No estilo entrevista temos: realização fechada > alçada > aberta. Nos estilos
leitura de textos e leitura de palavras temos: realização fechada > aberta > alçada.
Assim como em Piranga, o processo de alçamento em Ouro Branco nos estilos
leitura de texto (3,1%) e leitura de palavras (0,4%) diminuiu muito em relação ao estilo
entrevista (11,1%), o que pode ser um indício de estigma. Tentaremos confirmar essa
observação na análise dos testes.
Além do processo de abertura em Ouro Branco ter se tornado maior que o
alçamento nos estilos leitura de texto e leitura de palavras, no estilo leitura de palavras
(6,9%) houve um aumento da abertura em relação ao estilo entrevista (6,3%), o que
pode ser um indício de que algum fator relativo à velocidade de fala relacionado à
abertura.
Comparando as duas cidades, podemos notar que a porcentagem de abertura e de
alçamento em Piranga é superior a Ouro Branco, em todos os estilos. Ou seja, a
manutenção da vogal média alta é maior em Ouro Branco do que em Piranga.
TABELA 07
Número de realizações em cada cidade para o estilo
entrevista – [o ~ O]
Cidades Piranga Ouro Branco Total
o 831 1077 1908
O 284 82 366
Total 1115 1159 2274
Fizemos o teste de qui-quadrado em relação à abertura nas cidades pesquisadas e
obtivemos o seguinte resultado: p-valor Piranga X Ouro Branco = 0,000000.
116
Confirmando assim, que diferenças significativas entre as duas cidades em relação à
abertura de /o/.
TABELA 08
Número de realizações em cada cidade para o estilo
entrevista – [o ~ u]
Cidades Piranga Ouro Branco Total
o 831 1077 1908
u 235 145 380
Total 1066 1222 2288
Fizemos o teste de qui-quadrado em relação ao alçamento nas cidades
pesquisadas e obtivemos o seguinte resultado: p-valor Piranga X Ouro Branco =
0,000000. Confirmando assim, que há diferenças significativas entre as duas cidades em
relação ao alçamento de /o/.
5.1.1 A análise do /e/ em Piranga e Ouro Branco
As variáveis independentes que apresentaram significância para o alçamento e a
abertura de /e/, em Piranga e Ouro Branco, foram listadas nas tabelas abaixo:
TABELA 09
Resultados que apresentaram significância para o
alçamento de /e/, em Piranga no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
CV
Vogal da sílaba tônica
in, un,
i, u
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
an
ausência
a, E, O
i, u
in, un
Morfema em que a variável esteja inserida
prefixo
Paradigma com vogal aberta
sem paradigma
Distância da sílaba tônica
----------
117
Classe
Morfológica
numeral
adjetivo
verbo
Distância do início da palavra
1ª sílaba
Número de silabas da palavra
-----
Modo do segmento precedente
tepe
fricativas/africadas
nasais
Ponto do segmento precedente
dorsais/palatalizadas
Modo do segmento seguinte
nasais
Ponto do segmento seguinte
dorsais/palatalizadas
TABELA 10
Resultados que apresentaram significância para a
abertura de /e/, em Piranga, no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
CV
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
an
in, un
i, u
en, on
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
a, E, O
in, un
en, on
Morfema em que a variável esteja inserida
--------
Paradigma com vogal aberta
sem paradigma
Distância da sílaba tônica
distância 1
Classe
Morfológica
--------
Distância do início da palavra
1ª sílaba
Número de silabas da palavra
5 sílabas
4 sílabas
3 sílabas
Modo do segmento precedente
nasais
fricativas/africadas
Ponto do segmento precedente
dorsais/palatalizadas
Modo do segmento seguinte
líquidas
tepe
Ponto do segmento seguinte
dorsais/palatalizadas
labiais
118
TABELA 11
Resultados que apresentaram significância para o
alçamento de /e/, em Ouro Branco no estilo entrevista.
VARIÀVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
------
Vogal da sílaba tônica
in, un
i, u
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
an
i, u
ausência
Morfema em que a variável esteja inserida
outros
prefixo
Paradigma com vogal aberta
sem paradigma
Distância da sílaba tônica
------
Classe
Morfológica
advérbio
numeral
adjetivo
verbo
Distância do início da palavra
1ª silaba
Número de silabas da palavra
3 silabas
Modo do segmento precedente
tepe
líquidas
nasais
fricativas/africadas
Ponto do segmento precedente
dorsais/palatalizadas
labiais
Modo do segmento seguinte
nasais
Ponto do segmento seguinte
dorsais/palatalizadas
TABELA 12
Resultados que apresentaram significância para a abertura
de /e/, em Ouro Branco no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
-------
Vogal da sílaba tônica
in, un
a, E, O
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
---------
Morfema em que a variável esteja inserida
---------
Paradigma com vogal aberta
com paradigma
Distância da sílaba tônica
-----------
Classe
Morfológica
adjetivo
Distância do início da palavra
---------
Número de silabas da palavra
--------
Modo do segmento precedente
---------
119
Ponto do segmento precedente
dorsais/palatalizadas
Modo do segmento seguinte
-------
Ponto do segmento seguinte
-------
Para análise dos resultados, utilizamos o seguinte procedimento metodológico:
1) Analisamos os resultados apresentados pelo SPSS. De acordo com os estudos
realizados sobre as pretônicas, o alçamento é um processo lexical, pois sofre atuação
morfológica, como por exemplo, de prefixos, logo é esperada restrição lexical. A
literatura também cita a abertura como um processo em que há atuação morfológica. Por
isso não podemos analisar apenas os resultados apresentados pelo programa estatístico e
concluir quais fatores favorecem ou desfavorecem, é preciso analisar também os itens.
2) Analisamos os itens lexicais nos casos em que as hipóteses levantadas
pelos trabalhos anteriores não foram corroboradas nos resultados apresentados pelo
programa estatístico.
3) Analisamos os testes.
120
5.1.1.1 Tipo silábico
18
TABELA 13
Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente
/e/ em Piranga, no estilo entrevista.
19
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores
n
1/
n
t
20
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
21
%
[E]
sig.
22
RC
23
Tipo silábico CVC
CCV
Outros
CV*
76/488
124/268
2/33
300/1424
15,6
46,3
6,1
21,1
<0,001
0,129
0,014
0,26
3,13
0,06
1,00
136/488
38/268
6/33
403/1424
27,9
14,2
18,2
28,3
0,086
0,268
0,019
0,64
2,08
0,27
1,00
* Fator de referência
Os resultados relativos ao efeito da variável Tipo silábico, na variável
dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista, foram apresentados na Tabela 13.
Os resultados indicam que a chance de alçamento da variável dependente /e/, no
contexto silábico CV, é 3,8 (1,0/0,26) vezes a chance de alçamento dessa vogal no
contexto silábico CVC e 16,6 (1,0/0,06) vezes a chance de alçamento da mesma vogal,
no contexto Outros (CVS, CVCC, CCVS, CCVC).
O efeito do fator CCV, no alçamento da variável /e/, não é estatisticamente
significativo.
Em relação à abertura da variável dependente /e/, a chance de abertura dessa
variável, no contexto CV, é 3,7 (1,0/0,27) vezes a chance de abertura dessa mesma
variável, no contexto Outros (CVS, CVCC, CCVS, CCVC).
18
Em cada item – Variável independente a primeira tabela apresenta os resultados referentes a
Piranga; a segunda, a Ouro Branco.
19
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
20
n
1/
n
t
representam, respectivamente, o número de alçamentos em determinado contexto e o número
total de ocorrências desse contexto.
21
n
2/
n
t
representam, respectivamente, o número de abertura em determinado contexto e o número total
de ocorrências desse contexto.
22
sig. representa o nível de significância. Consideramos que para ser significativo o nível de significância
deve ser maior que 0,05.
23
RC representa a razão de chances.
121
Os efeitos dos fatores CVC e CCV não são estatisticamente significativos.
TABELA 14
Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente
/e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
24
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores
n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
N
2/
n
t
%
[E]
Sig. RC
Tipo silábico CVC
CCV
Outros
CV*
47/350
70/171
4/36
239/1375
13,4
40,9
11,1
17,4
---
---
---
---
---
---
11/350
5/171
4/36
42/1375
3,1
2,9
11,1
3,1
---
---
---
---
---
---
* Fator de referência
Na Tabela 14, foram listados os resultados do efeito da variável independente
Tipo silábico, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /e/, a razão de chances não foi exibida
nos resultados, acima, pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa,
como pode ser visto no ANEXO 6.
5.1.1.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Nos resultados apresentados nas tabelas acima temos que em Piranga o tipo
silábico CV favorece o alçamento de /e/ e em Ouro Branco nenhum dos tipos silábicos
estudados apresenta efeito significativo para o alçamento dessa variável.
5.1.1.1.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados indicam também que o tipo silábico CV favorece a abertura de /e/,
em Piranga. Em Ouro Branco, nenhum dos tipos silábicos estudados apresenta efeito
significativo para a abertura dessa variável.
24
Saída completa do SPSS no ANEXO 6
122
É preciso analisar mais detidamente esse grupo de fator e sua interação com
outros grupos de fatores.
Interação é a interferência no efeito de uma variável gerada por outra variável.
Em algumas situações, uma variável independente pode interagir com outra variável
independente. Isso ocorre quando o efeito de um fator (variável independente) na
variável dependente está relacionado ao efeito de outro fator (outra variável
independente). Ou seja, na verdade elas não são independentes.
Isso poderia ocorrer, por exemplo, se o efeito do tipo silábico CVC na variante
[i] fosse alterado quando a variante estivesse em um morfema prefixal específico des- e
este prefixo não estivesse codificado como um fator específico. O favorecimento
poderia ser atribuído pelo software ao tipo silábico, de acordo com a distribuição dos
dados, sendo que favorecimento seria do prefixo des-.
Outro exemplo é a palavra cast[E]linho, em que a abertura da variável /e/ pode
ser favorecida pelo tipo silábico CV ou pelo paradigma com vogal aberta (castelo), por
hipótese. Nesse caso pode ser que haja interação entre os dois fatores e pode ser que um
esteja fortalecendo o outro, a depender do número de ocorrências e do número de itens
com essa variável.
É preciso que seja feita a análise da interação em estudos posteriores.
123
5.1.1.2 Vogal da sílaba tônica
TABELA 15
Resultados do efeito da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /e/ em
Piranga, no estilo entrevista.
25
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
N
2/
n
t
%
[E]
Sig. RC
Vogal
sílaba
tônica
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
97/582
9/321
191/445
146/258
13/241
46/366
16,7
2,7
42,9
56,6
5,4
12,6
0,309
0,005
<0,001
<0,001
0,025
1,34
0,27
6,60
28,63
0,36
1,00
261/582
108/321
26/445
83/258
95/241
10/366
44,8
34,2
5,8
32,2
39,4
2,7
<0,001
<0,001
0,004
<0,001
<0,001
73,60
66,56
3,39
47,55
42,45
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 15, foram listados os resultados do efeito da variável Vogal da sílaba
tônica na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, quando a vogal da
sílaba tônica é uma voga alta nasal [in, un], é 28,6 vezes a chance de alçamento, quando
a vogal da sílaba tônica é uma média oral [e, o]. A chance de alçamento de /e/, quando a
vogal da silaba tônica é alta oral [i, u], é 6,6 vezes a chance de alçamento, quando a
vogal da sílaba tônica é média oral [e, o].
A vogal baixa nasal [an] e as vogais tônicas médias nasais [en, on] desfavorecem
o alçamento de /e/, em relação ao fator de referência.
Os resultados indicam, também, que o efeito do fator Vogal baixa e média baixa
oral [a, E, O] não é estatisticamente significativo.
Em relação à abertura, todos os fatores apresentaram significância. A chance de
abertura de /e/, quando a vogal tônica é baixa ou média baixa oral [a, E, O], é 73,6 vezes
a chance de abertura quando a vogal é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a
vogal tônica é baixa nasal [an], é 66,5 vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica
25
Saída completa do SPSS no ANEXO 5
124
é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal tônica é alta nasal [in, un], é
47,5 vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica é média oral [e, o]. A chance de
abertura, quando a vogal tônica é média nasal [en, on], é 42,4 vezes a chance de
abertura, quando a vogal tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a
vogal nica é alta oral [i, u], é 3,3 vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica é
média oral [e, o].
TABELA 16
Resultados do efeito da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /e/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista.
26
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
N
2/
n
t
%
[E]
Sig. RC
Vogal
sílaba
tônica
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
61/494
10/239
124/355
115/169
28/275
22/400
12,3
4,2
34,9
68,0
10,2
5,5
0,281
0,669
<0,001
<0,001
0,163
1,48
0,81
16,13
53,11
1,75
1,00
42/494
4/239
1/355
8/169
4/275
3/400
8,5
1,7
0,3
4,7
1,5
0,8
<0,001
0,167
0,846
<0,001
0,181
16,98
3,37
0,78
25,29
3,11
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 16, foram apresentados os resultados do efeito da variável Vogal da
sílaba tônica, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento de /e/, quando a vogal da sílaba tônica é alta nasal [in,
un], é 53,1 vezes a chance de alçamento dessa vogal, quando a vogal da sílaba tônica é
média oral [e, o]. A chance de alçamento de /e/, quando a vogal da silaba tônica é alta
oral [i, u], é 16,1 vezes a chance de alçamento, quando a vogal da sílaba nica é média
oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O], Vogal baixa
nasal [an] e Vogal média nasal [em, on], não são estatisticamente significativos.
26
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
125
Em relação à abertura de /e/, a chance de abertura dessa vogal, quando a vogal
tônica é alta nasal [in, un], é 25,2 vezes a chance de abertura quando a vogal tônica é
média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal tônica é baixa ou média baixa
oral [a, E, O], é 16,9 vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica é média oral [e,
o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa nasal [an], Vogal alta oral [i, u] e Vogal
média nasal [en, on] não são estatisticamente significativos.
5.1.1.2.1 Discussão dos resultados para o alçamento
De acordo com Câmara JR. (1977), a harmonização vocálica atua sobre as
vogais médias pretônicas, elevando-as, por assimilação, à vogal alta tônica.
A análise dos resultados, apresentados nas Tabelas 15 e 16, sobre a influência
da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /e/, comprova que, em
Piranga e em Ouro Branco, o processo de alçamento da vogal média pretônica anterior
se por meio da assimilação regressiva do traço de altura da vogal da sílaba tônica
harmonização vocálica.
Nas duas cidades, as vogais altas orais [i,u] e as vogais altas nasais [in,un]
favorecem o alçamento da variável /e/, com números bastante significativos.
5.1.1.2.2 Discussão dos resultados para a abertura
A abertura é um processo menos explorado do que o alçamento pelos
pesquisadores das vogais médias pretônicas nos dialetos brasileiros.
Para Célia (2004, p.84) “o abaixamento parece ser também um fenômeno de
assimilação regressiva desencadeada pelas vogais seguintes à pretônica”. A autora
126
retoma Callou el al (1991) que mencionou a possibilidade de haver uma distribuição
complementar dos ambientes da regra de elevação e abaixamento:
[...] o que poderia estar acontecendo seria uma simplificação da regra
de harmonização vocálica, simplificação essa que seria expressa pela
substituição do traço [+alto] na descrição da mudança ocorrida e no
ambiente de aplicação pelo símbolo de coincidência de traços [α].
(CALLOU et al, 1991, p.75).
Célia explica que essa afirmação descreve, com propriedade, o processo de
abaixamento no português de Nova Venécia, que se apresenta bem mais regular que o
alçamento. Ela acrescenta que, embora seja variável, o abaixamento é, praticamente,
inexistente fora do contexto de vogal baixa [a] e média baixa [E, O]. Segundo a autora,
o abaixamento em Nova Venécia é diferente do identificado no Norte e Nordeste, nessas
regiões, a freqüência de abaixamento é maior e os ambientes que o favorecem são mais
numerosos.
A autora conclui então que o abaixamento encontrado no dialeto capixaba é
favorecido pelas vogais baixas e médias baixas, num processo variável de assimilação
regressiva, e parece ser o mesmo que alça as vogais médias em contexto de vogal alta.
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 15 sobre a influência da
variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /e/, mostram que a abertura é
favorecida pela vogal baixa e média baixa oral [a, E, O] e pela vogal baixa nasal [an].
Mas temos alguns resultados que não eram esperados.
Os resultados apontam para um favorecimento da abertura de /e/ pelas vogais
altas orais [i, u]; pelas vogais altas nasais [in, un] e pelas vogais médias nasais [en, on].
Nos resultados temos 26 ocorrências abertas em 445 que apresentaram vogal alta
oral [i, u] na sílaba tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam essas 26
ocorrências e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na explicação da
realização da abertura, nas palavras encontradas.
127
- r[E]pública (2 ocorrências), r[E]conhecidas (1 ocorrência), r[E]cursos (1 ocorrência):
nessas palavras a abertura ocorre na forma re-. Talvez possamos dizer que há relação da
abertura com o prefixo re-. Talvez ocorra abertura nas palavras que possuem esse
prefixo ou em que há nivelamento analógico com ele.
- p[E]rmite, (2 ocorrências), p[E]rmitiu (2 ocorrências), p[E]rmita (2 ocorrências),
p[E]rsiguido (1 ocorrência): nessas palavras pode-se ter o prefixo per- ou pode haver
nivelamento analógico com ele, em que se pode encontrar uma explicação histórica para
a abertura.
- t[E]rapia (8 ocorrências), lit[E]ratura (1 ocorrência), exp[E]ctativas (1 ocorrência),
d[E]l[E]gacia (2 ocorrências - sendo 1 para a 1ªsílaba e 1 para a sílaba),
s[E]cr[E]taria (2 ocorrências - sendo 1 para a 1ªsílaba e 1 para a sílaba): essas
palavras apresentam vogal baixa [a] ou média baixa oral [E, O] na sílaba seguinte, que
pode estar favorecendo a abertura, como veremos posteriormente.
- ac[E]ssível (1 ocorrência): essa palavra apresenta paradigma com vogal aberta, que
pode estar favorecendo a abertura, conforme Freitas (2006). O item com vogal aberta
correspondente a ac[E]ssível é ac[E]sso.
Observando, então as 26 ocorrências encontradas podemos concluir que o
parece ser a vogal alta oral [i, u] a responsável pela abertura delas, pois para todas há
outras explicações para essa abertura, já mencionadas na literatura.
Nos resultados temos 83 ocorrências abertas em 258 que apresentaram vogal alta
nasal [in, un] na sílaba tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam essas 83
ocorrências e observamos se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na
explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
128
- cast[E]linho (2 ocorrências), n[E]lsinho (2 ocorrências), am[E]linha (1 ocorrência),
col[E]guinha, (1 ocorrência), f[E]stinha (1 ocorrência), p[E]zinhos (1 ocorrência),
t[E]rmina (1 ocorrência), p[E]dacinho (1 ocorrência), p[E]dacinhos (1 ocorrência):
essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que parece favorecer a abertura.
Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são: cast[E]lo, n[E]lson,
am[E]lia, col[E]ga, f[E]sta, p[E], t[E]rmino, p[E]daço.
- pr[E]zinho: nessa palavra a base é o prefixo pré-, historicamente realizado aberto.
- p[E]rgunta (3 ocorrências), p[E]rgunto (2 ocorrências), p[E]rmitindo (1 ocorrência):
nessas palavras pode-se ter o prefixo per- ou pode haver nivelamento analógico com
ele, em que se pode encontrar uma explicação histórica para a abertura.
- M[E]lina (63 ocorrências), s[E]rpentina (2 ocorrências): nessas palavras não
encontramos explicação para a abertura.
Observando, as 83 ocorrências encontradas podemos concluir que para algumas
delas é possível explicar o favorecimento da abertura. Mas restaram 2 itens que não
puderem ser explicados. Em s[E]rpentina, o fator favorecedor da abertura pode ser a
nasalidade da sílaba tônica ou a média nasal entre a vogal da variável e a tônica, que
como veremos adiante é um fator favorecedor da abertura. Podemos ter o favorecimento
do /R/ seguinte, que de acordo com Freitas (2006) também é favorecedor da abertura.
Em M[E]lina a abertura pode estar relacionada à nasalidade da vogal seguinte, às
consoantes adjacentes (líquidas seguintes, também mencionadas por Freitas (2006) para
a abertura do /e/) ou ao item lexical. Esses aspectos serão melhor estudados na etapa de
testes.
Nos resultados temos 95 ocorrências abertas em 241 que apresentaram vogal
média nasal [en, on] na sílaba tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam essas
129
95 ocorrências e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na explicação
da realização da abertura, nas palavras encontradas.
- pr[E]sença (4 ocorrências), pr[E]tendo (4 ocorrências), r[E]ferência (2 ocorrências),
pr[E]sente (1 ocorrência), pr[E]tendendo (1 ocorrência), r[E]lento (1 ocorrência),
r[E]pente (1 ocorrência), p[E]rtences (4 ocorrências), p[E]rtence (1 ocorrência),: talvez
possamos dizer que relação da abertura com os prefixos pre-, re- e per-.
Provavelmente ocorre abertura nas palavras que possuem esse prefixo ou em que
nivelamento analógico com ele. Ou talvez tenhamos a influência da vogal nasal da
sílaba tônica, que como veremos posteriormente é favorável à abertura.
- qu[E]erendo (14 ocorrências), dif[E]rente (5 ocorrências), dif[E]rentes (1 ocorrência),
d[E]scendo (3 ocorrências), d[E]scemos (1 ocorrência), d[E]vendo (2 ocorrências),
s[E]rvente (2 ocorrências), f[E]rramentas (2 ocorrências), f[E]rramenta (1 ocorrência),
sinc[E]ramente (2 ocorrências), s[E]tenta (2 ocorrências), s[E]tecentos (1 ocorrência),
s[E]tembro (1 ocorrência), d[E]zembro (2 ocorrências), t[E]rreno (1 ocorrência),
ex[E]rcendo (1 ocorrência), cr[E]scendo (1 ocorrência), amadur[E]cendo (1
ocorrência), acont[E]cendo (3 ocorrências), perman[E]cendo (1 ocorrência),
ref[E]rência (2 ocorrências), comp[E]tente (1 ocorrência), p[E]rdendo (1 ocorrência),
p[E]rdemos (1 ocorrência): essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que
favorece a abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são:
qu[E]r, dif[E]re, d[E]sce, d[E]ve, s[E]rve, f[E]rro, sinc[E]ro, s[E]te, d[E]z, t[E]rra,
ex[E]rce, cr[E]sce, amadur[E]ce, acont[E]ce, perman[E]ce, ref[E]re, comp[E]te,
p[E]rde.
- adol[E]scentes (1 ocorrência), s[E]ssenta (1 ocorrência), impr[E]ssiona (1
ocorrência), el[E]mentos (1 ocorrência), s[E]leções (1 ocorrência), exc[E]lente (1
130
ocorrência), d[E]senho (3 ocorrências), tr[E]zentos (2 ocorrências), v[E]rgonha (2
ocorrências), m[E]renda (2 ocorrências), Ild[E]fonso (1 ocorrência), im[E]diatamente
(1 ocorrência), d[E]pende (1 ocorrência), d[E]pendem (1 ocorrência), f[E]dorento (1
ocorrência), fr[E]qüência (1 ocorrência), fr[E]qüenta (1 ocorrência), fr[E]qüento (1
ocorrência), s[E]qüência (1 ocorrência): nessas palavras não encontramos explicação
para a abertura.
Observando, as 95 ocorrências encontradas podemos concluir que para muitas
delas é possível explicar o favorecimento da abertura. Mas restaram 24 ocorrências que
não puderem ser explicadas. Assim, as vogais médias nasais [en, on] parecem favorecer
a abertura de /e/, nesses casos, embora não seja o único fator favorecedor. Ou seja,
somente as vogais altas orais [i, u] e as vogais médias altas orais [e, o] parecem
desfavorecer a abertura significativamente, indicando complementariedade com o
processo de alçamento e, possivelmente, com o de manutenção da vogal média alta.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 16 sobre a influência
da variável vogal da laba tônica na variável dependente /e/, mostraram que a abertura
é favorecida pela vogal baixa e média baixa oral [a, E, O].
Mas temos alguns resultados que não eram esperados.
Os resultados mostraram um favorecimento da abertura pelas vogais altas nasais
(in, un), com 8 ocorrências abertas em 169 que apresentaram vogal alta nasal na sílaba
tônica. Buscamos no banco de dados quais eram as 8 ocorrências e se poderia estar
ocorrendo interação com outros fatores na explicação da realização da abertura, nas
palavras encontradas.
- caf[E]zinho (2ocorrências), p[E]rninha (2ocorrências), c[E]rtinho (1 ocorrência),
mat[E]riazinha (1ocorrência), rEm[E]dinho (1 ocorrência): essas palavras apresentam
131
paradigma com vogal aberta, que parece favorecer a abertura. Os itens com vogal aberta
correspondente aos anteriores são: caf[E], p[E]rna, c[E]rto, mat[E]ria, rem[E]dio.
- r[E]mEdinho (1 ocorrência): o que favorece a abertura de /e/, na 1ª sílaba dessa
palavra, é a vogal média baixa oral [E] na sílaba seguinte, que como veremos,
posteriormente, é uma fator favorecedor da abertura.
Observando, as 8 palavras encontradas podemos concluir que não parece ser a
vogal alta nasal [in, un] a responsável pela abertura delas, pois elas podem ser
explicadas pela influência do paradigma.
Podemos concluir então, que em Ouro Branco, além das vogas baixas orais, o
paradigma com vogal aberta parece ser um fator favorecedor da abertura de /e/.
5.1.1.3 Vogal entre a vogal da variável e a tônica
TABELA 17
Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
27
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
N
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Vogal
entre
a vogal da
variável
e a tônica
Ausência de vogal
Vogal baixa e média baixa oral [a, E,O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
367/1450
17/133
3/7
99/367
7/24
3/29
6/203
25,3
12,8
42,9
27,0
29,2
10,3
3,0
0,001
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
0,235
63,97
42,58
330,69
29,55
39,52
2,86
1,00
462/1450
76/133
0/7
15/367
8/24
8/29
14/203
31,9
57,1
0,0
4,1
33,3
27,6
6,9
0,299
<0,001
0,994
0,042
0,004
0,014
3,79
54,32
4,34E-007
0,41
9,01
4,88
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 17, foram indicados os resultados do efeito da variável Vogal entre a
vogal da variável e a tônica, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo
Entrevista.
27
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
132
Os resultados indicam que, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é
baixa nasal [an], a chance de alçamento de /e/ é 330,6 vezes a chance de alçamento
dessa vogal, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e, o]. A
chance de alçamento, quando não vogal entre a vogal da variável e a tônica, é 63,9
vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é
média oral [e,o]. A chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica é baixa ou média baixa oral [a, E, O], é 42,5 vezes a chance de alçamento,
quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e, o]. A chance de
alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é alta nasal [in, un] é
39,5 vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é
média oral [e, o]. A chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica é alta nasal [i, u], é 29,5 vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a
vogal da variável e a tônica é média oral [e, o]
O efeito do fator Vogal média nasal [en, on] não é estatisticamente significativo.
Em relação à abertura de /e/, a chance de abertura, quando a vogal entre a vogal
da variável e a tônica é uma vogal baixa ou média baixa oral [a, E, O], é 54,3 vezes a
chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e,
o]. A chance de abertura de /e/, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é alta
nasal [in, un], é 9,0 vezes a chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da variável
e a tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da
variável e a tônica é média nasal [en, on], é 4,8 vezes a chance de abertura, quando a
vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa nasal [an] e Ausência de vogal não são
estatisticamente significativos.
133
A vogal alta [i, u] desfavorece a abertura de /e/, em relação ao fator de
referência.
TABELA 18
Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
28
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Indepen
d.
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Vogal
entre
a vogal
da
variável
e a
tônica
Ausência de vogal
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
265/1237
18/137
4/15
53/317
4/10
0/33
16/183
21,4
13,1
26,7
16,7
40,0
0,0
8,7
0,003
0,923
0,016
<0,001
0,219
0,989
2,92
0,95
14,22
5,32
3,22
7,65E-007
1,00
48/1237
12/137
0/15
0/317
0/10
2/33
0/183
3,9
8,8
0,0
0,0
0,0
6,1
0,0
0,985
0,984
1,000
1,000
1,000
0,985
10039644,61
28203483,44
0,60
1,21
1,56
6844959,88
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 18, foram listados os resultados do efeito da variável independente
Vogal entre a vogal da variável e a tônica, na variável dependente /e/, em Ouro Branco,
no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que, a chance de alçamento de /e/, quando a vogal entre a
vogal da variável e a nica é baixa nasal [an], é 14,2 vezes a chance de alçamento,
quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e, o]. A chance de
alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é alta oral [i, u], é 5,3
vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é
média oral [e, o]. A chance de alçamento quando não vogal entre a vogal da variável
e a tônica, é 2,9 vezes a chance de alçamento quando a vogal entre a vogal da variável e
a tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O], Vogal média
nasal [en, on] e Vogal alta nasal [in, un] não são estatisticamente significativos.
28
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
134
Em relação a abertura de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
5.1.1.3.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados indicam que o fator ausência de vogal entre a vogal
da variável e a tônica, favorece o alçamento de /e/. Ou seja, a contigüidade é um fator
importante.
Nos resultados da Tabela 17 podemos perceber também o favorecimento do
alçamento de /e/ pelas vogais altas orais [i, u] e pelas vogais altas nasais [in, un] quando
se encontram entre a vogal da variável e a tônica.
Para explicar esse fato, retomamos Bisol (1981, p.259) que propõe que a
harmonização vocálica é um processo de assimilação regressiva desencadeado pela
vogal alta da sílaba imediatamente subseqüente, independentemente de sua tonicidade.
Mas temos alguns resultados que não foram esperados para a vogal entre a vogal
da variável e a tônica, em Piranga.
Os resultados apontam para um favorecimento do alçamento de /e/ pela vogal
baixa nasal [an] e pela vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]. Nos resultados temos 3
ocorrências alçadas em 7 que apresentaram vogal baixa nasal entre a vogal da variável e
a tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam essas 3 ocorrências e
encontramos as seguintes palavras: d[i]sandou, d[i]smanchava, d[i]svantagens.
Os resultados indicam também que há 17 ocorrências de palavras alçadas em
133 que apresentaram vogal baixa ou média baixa oral entre a vogal da variável e a
tônica. Também fizemos a verificação das palavras e encontramos as seguintes:
d[i]sanimado (2 ocorrências), d[i]scartei (1 ocorrência), d[i]scabecei (1 ocorrência),
d[i]sativada (1 ocorrência), d[i]sapropria (1 ocorrência), m[i]lhOrar (2 ocorrências),
135
d[i]zEssete (2 ocorrências), des[i]mprEgadas (2 ocorrências), des[i]mprEgado (3
ocorrências), des[i]mprEgados (2 ocorrências).
Com bases nessas ocorrências e na literatura podemos perceber que não é a
vogal seguinte que parece favorecer o alçamento dessas palavras, mas o morfema em
que a vogal pretônica /e/ está inserida. Quase todas as palavras listadas apresentam a
vogal média pretônica inserida no prefixo des- ou de-. Apenas as palavras m[i]lhOrar,
d[i]zEssete, des[i]mprEgadas, des[i]mprEgado e des[i]mprEgados não apresentam um
desses prefixos.
O alçamento na palavra m[i]lhOrar pode estar acontecendo devido a sua
formação com base em m[i]lhOr, em que segundo Viegas (2001), o alçamento poderia
ser explicado por um possível nivelamento analógico em relação a pior. Viegas (2001,
p. 84) ressalta: “Outra análise possível, se olharmos os dados à maneira neogramática, é
uma influência do i em melior ōris (...).” Ou pode ser ainda a palatal seguinte, citada
em vários estudos como favorecedora do alçamento.
A palavra d[i]zEssete alça devido à sua formação, por composição, com
enfraquecimento e perda acentual do 1ºelemento da composição.
As palavras des[i]mprEgadas, des[i]mprEgado e des[i]mprEgados, alçam
devido a sua formação, elas são derivadas da palavra emprego, que possui a variável
/en/ no ínicio da palavra e, segundo a literatura, é produzida alçada em grande
percentual: [i]mprego.
Em Ouro Branco, os resultados indicam que o fator ausência de vogal entre a
vogal da variável e a tônica e o fator vogais altas orais [i, u] quando se encontram entre
a vogal da variável e a tônica favorecem o alçamento de /e/.
136
Mas Ouro Branco também apresenta alguns resultados que não eram esperados
para a vogal entre a vogal da variável e a tônica.
Os resultados indicam também um favorecimento do alçamento de /e/ pela vogal
baixa nasal [an]. Nos resultados temos 4 ocorrências alçadas em 15 que apresentaram
vogal baixa nasal entre a vogal da variável e a tônica. Ao verificar tais ocorrências
encontramos as seguintes palavras: d[i]svantagem (2 ocorrências), d[i]smanchou (1
ocorrência), d[i]smandar (1 ocorrência).
Com bases nessas ocorrências e na literatura podemos perceber que não é a
vogal da sílaba tônica que parece favorecer o alçamento dessas palavras, mas o
morfema em que a vogal pretônica /e/ está inserida. Todas as palavras listadas
apresentam a vogal média pretônica inserida no prefixo des- ou de-.
Podemos comprovar o favorecimento do fator prefixo no alçamento dessas
palavras listadas acima com os resultados das Tabelas 19 e 20 (apresentados mais
adiante no item 5.1.1.4) sobre a influência da variável morfema em que a vogal esteja
inserida na variável dependente /e/, que mostraram que esse fator é significativo para o
alçamento de /e/ em Piranga e em Ouro Branco.
Battisti (1993) na tentativa de achar uma explicação para o favorecimento de
alguns prefixos no alçamento da pretônica /e/, recorre a Naro (1973) e seus estudos
sobre a história da língua portuguesa e conclui:
Podemos tentativamente dizer, então, que o alto índice de elevação da
média nos prefixos em- (en-) e des- é provocado pela analogia que se
estabelece com outros dois prefixos, in- e dis-, respectivamente,
fenômeno ainda hoje presente na língua portuguesa, que se sustenta
nas funções sintático-semânticas que lhes são comuns, com tendência
à prevalência das formas com i. (BATTISTI, 1993, p.65)
137
Viegas (1987, p. 120) afirma que “no dialeto da região de Belo Horizonte, os
prefixo de/des alçam freqüentemente”. A autora exemplifica com os itens: discansa,
discole e disinvolver.
Com base nessa análise, podemos afirmar que a vogal baixa nasal e a vogal
baixa e média baixa oral entre a vogal da variável e a tônica não parecem ser
favorecedoras do alçamento de /e/, ao contrário do que mostraram as Tabelas 17 e 18.
Podemos concluir então que uma vogal alta contígua, tônica ou átona, favorece o
processo de alçamento na variável dependente /e/, ocorrendo assim, o processo de
harmonização vocálica, tanto em Piranga como em Ouro Branco. Além disso, os
prefixos de-/des- parecem favorecer o alçamento de /e/ nas duas cidades.
5.1.1.3.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados sobre a influência da variável vogal
entre a vogal da variável e a tônica na variável /e/ indicaram o favorecimento da
abertura pelas vogais médias baixas orais [E, O] e pela vogal baixa oral [a] quando se
encontram entre a vogal da variável e a tônica.
Mas temos alguns resultados que não eram esperados.
Os resultados indicaram que as vogais altas nasais [in, un] favorecem a abertura
de /e/ com 8 ocorrências abertas em 24 que apresentaram vogal alta nasal entre a vogal
da variável e a tônica. Procuramos no banco de dados quais seriam essas 8 ocorrências e
encontramos as seguintes palavras: p[E]rguntando (4 ocorrências), p[E]rguntar (1
ocorrência), p[E]rguntei (1ocorrência), p[E]rguntou (2 ocorrências). Nessas palavras
pode estar havendo nivelamento analógico com o prefixo per-, em que pode-se
encontrar uma explicação histórica para a abertura.
138
Os resultados indicaram também que as vogais médias nasais [en, on] favorecem
a abertura de /e/ com 8 ocorrências abertas em 29 que apresentaram vogal média nasal
entre a vogal da variável e a tônica. Verificamos quais seriam essas palavras e se
poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na explicação da realização da
abertura, nas palavras encontradas.
- r[E]sponsabilidade (2 ocorrências), p[E]lengando (1 ocorrência), fr[E]qüentar (1
ocorrência): a abertura nessas palavras poderia ser explicada pela vogal baixa na sílaba
tônica.
- pr[E]tendendo (1 ocorrência): nessa palavra pode estar havendo nivelamento
analógico com o prefixo pre-, em que pode-se talvez encontrar uma explicação histórica
para a abertura.
- d[E]pender (1 ocorrência), s[E]rpentina (2 ocorrências): nessas palavras não
encontramos explicação para a abertura.
Observando as 8 palavras encontradas podemos concluir que para muitas delas é
possível explicar o favorecimento da abertura. Mas restaram 2 que não puderem ser
explicadas. Encontramos ao estudar a vogal da sílaba nica, um favorecimento das
vogais médias nasais [en, on] na abertura de /e/, então, parece-nos, que essa variável
favorece a abertura da média anterior, quando se encontra também entre a vogal da
variável e a tônica, isso explicaria a abertura em d[E]pender. Já em s[E]rpentina, o fator
favorecedor da abertura pode ser a nasalidade da sílaba tônica ou a média nasal entre a
vogal da variável e a tônica, que como veremos adiante é um fator favorecedor da
abertura. Podemos ter o favorecimento do /R/ seguinte, que de acordo com Freitas
(2006) também é favorecedor da abertura.
139
Em Ouro Branco, os resultados apresentados sobre a influência da variável
vogal entre a vogal da variável e a tônica na variável /e/ indicaram que nenhum fator
apresenta efeito significativo na abertura dessa variável. Podemos observar na Tabela
18 que o número de abertura foi zero em muitos contextos. No caso do fator de
referência [e, o], em 183 ocorrências de [e, o] entre a vogal da variável a tônica, não
houve nenhum caso de abertura da pretônica. Esse resultado, além de indicar que esse
fator é desfavorecedor da abertura, impede que o software avalie a significância para os
fatores ausência de vogal e vogal baixa e média baixa oral. Em Ouro Branco a
manutenção é de 100% nos casos da vogal da variável dependente ser seguida por [e, o].
5.1.1.4 Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
TABELA 19
Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja
inserida na variável dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
29
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Tipo de
morfema
Prefixo
Outros
Radical*
55/102
4/26
443/2085
53,9
15,4
21,2
<0,001
0,338
6,67
3,26
1,00
15/102
5/26
563/2085
14,7
19,2
27,0
0,801
0,379
0,87
2,44
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 19, foram indicados os resultados do efeito da variável Tipo de
morfema em que a vogal esteja inserida na variável dependente /e/ em Piranga, no
estilo Entrevista.
Os resultados sugerem que a chance de alçamento de /e/, quando se encontra no
prefixo de palavra, é 6,6 vezes a chance de alçamento dessa vogal, quando se encontra
no radical.
29
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
140
O efeito do fator Outros (processos como composição e sigla) não é
estatisticamente significativo.
Em relação à abertura de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
TABELA 20
Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal esteja
inserida na variável dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo
entrevista.
30
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores
n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Tipo de
morfema
Prefixo
Outros
Radical*
46/95
11/28
303/1809
48,4
39,3
16,7
<0,001
<0,001
6,66
13,02
1,00
2/95
3/28
57/1809
2,1
10,7
3,2
0,458
0,418
0,51
2,31
1,00
* Fator de referência
A Tabela 20 apresenta os resultados referentes ao efeito da variável Tipo de
morfema em que a vogal esteja inserida, na variável dependente /e/, em Ouro Branco,
no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, quando essa vogal se
encontra em prefixo de palavra, é 6,6 vezes a chance de alçamento dessa mesma vogal,
em radical.
Os resultados sugerem que, a chance de alçamento de /e/, quando essa vogal se
encontra em palavras formadas por composição ou sigla (fator outros) é 13,0 vezes a
chance de alçamento dessa vogal, em radical.
Em relação à abertura da variável dependente /e/, nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
30
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
141
5.1.1.4.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Ao analisar a influência da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica no
alçamento de /e/, ressaltamos a importância do fator prefixo no alçamento dessa vogal,
em Piranga e em Ouro Branco.
Os resultados das Tabelas 19 e 20 indicam que em Piranga e em Ouro Branco,
o fator prefixo é significativo para o alçamento de /e/, como já foi descrito na literatura.
Em Ouro Branco, os resultados da Tabela 20 indicam um favorecimento do
fator outros no alçamento de /e/. Em nenhuma das outras tabelas esse fator apresentou
significância. Nos resultados temos 11 ocorrências alçadas, em 28 que apresentaram
morfema outros. Fizemos então uma verificação de quais seriam essas palavras:
d[i]zoito (5 ocorrências), d[i]zesseis (2 ocorrências), d[i]zessete, (2 ocorrências),
d[i]zenove (1 ocorrência), livr[i]mente (1 ocorrência). Parece-nos que é a formação
dessas palavras que influencia o alçamento de /e/, aliada a uma questão acentual.
5.1.1.4.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados das Tabelas 19 e 20 indicam, em relação à variável morfema em
que a vogal esteja inserida, que em Piranga e em Ouro Branco, nenhum fator
apresenta efeito significativos na abertura de /e/.
Contudo, ao analisar a influência da variável vogal da sílaba tônica na abertura
de /e/, aventamos a possibilidade de que o nivelamento analógico com os prefixos re-,
per- e pre- favorece a abertura dessa vogal, em Piranga.
A variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida merece estudos mais
aprofundados. Alguns prefixos tendem a favorecer o alçamento (de-/des-) e outros
tendem a favorecer a abertura (pré-).
142
Com base nesta análise, podemos concluir que é preciso analisar morfemas
específicos. Em estudos posteriores esses prefixos serão analisados separadamente.
5.1.1.5 Paradigma com vogal aberta
TABELA 21
Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável dependente
/e/ em Piranga, no estilo entrevista.
31
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Paradigma com
Vogal aberta
Tem paradigma
Não tem paradigma*
3/85
499/2128
3,5
23,4
<0,001
0,03
1,00
21/85
562/2128
24,7
26,4
0,023
0,43
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 21, foram listados os resultados do efeito da variável Paradigma com
vogal aberta na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento de /e/, em palavra que não tem paradigma com vogal
aberta, é 33,3 (1,0/0,03) vezes a chance de alçamento dessa vogal, em palavra que tem
paradigma com vogal aberta.
A chance de abertura de /e/, em palavra que não tem paradigma com vogal
aberta, é 2,3 (1,0/0,43) vezes a chance de abertura dessa vogal, em palavra que tem
paradigma com vogal aberta.
31
Saída completa do SPSS no ANEXO 3.
143
TABELA 22
Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
32
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores N
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Paradigma com
vogal aberta
Tem paradigma
Não tem paradigma*
10/82
350/1850
12,2
18,9
0,021
0,24
1,00
8/82
54/1850
9,8
2,9
0,019
3,80
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 22, foram listados os resultados do efeito da variável Paradigma com
vogal aberta na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /e/, os resultados indicam que a chance de
alçamento da variável dependente /e/, quando se encontra em palavras que não tem
paradigma com vogal aberta, é 4,1 (1,0/0,24) vezes a chance de alçamento dessa vogal,
em palavra que tem paradigma com vogal aberta.
A chance de abertura de /e/, quando se encontra em palavra que tem paradigma
com vogal aberta, é 3,8 vezes a chance de abertura dessa vogal, em palavra que não tem
paradigma com vogal aberta.
5.1.1.5.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados apresentados nas tabelas acima indicam que, em Piranga e em
Ouro Branco, o alçamento é favorecido em palavras que não têm paradigma com vogal
aberta.
O paradigma com vogal aberta desfavorece o alçamento de /e/.
32
Saída completa do SPSS no ANEXO 4.
144
5.1.1.5.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados apresentados nas tabelas acima indicam que, em Piranga, o
paradigma com vogal aberta não favorece significativamente a abertura da vogal /e/.
Contudo, ao analisar a influência da variável vogal da sílaba tônica na abertura de /e/,
mostramos que o paradigma com vogal aberta parece favorecer a abertura dessa vogal,
em Piranga.
É possível que algumas palavras estejam tendenciando o resultado, como a
palavra mElina e nEgócio, que apresentaram, respectivamente, 63 e 43 ocorrências
abertas e não têm paradigma com vogal aberta, ou que outros fatores estejam
interagindo com esse fator. Ou ainda o paradigma com vogal aberta desfavorece mais o
alçamento do que favorece a abertura.
Os resultados indicam que em Ouro Branco, a abertura de /e/ é favorecida em
palavras que têm paradigma com vogal aberta. Ao analisar a influência da variável
vogal da sílaba tônica na abertura de /e/, mostramos que esse fator é realmente
importante para a abertura dessa vogal, em Ouro Branco.
O favorecimento, apresentado nas tabelas acima, do paradigma com vogal aberta
apenas em Ouro Branco, pode ser explicado pelo fato de haver, provavelmente, outros
fatores tão importantes quanto ele na abertura das vogais em Piranga. O fator
Paradigma com vogal aberta precisa ser analisado mais detidamente em estudos
posteriores.
145
5.1.1.6 Distância da sílaba tônica
TABELA 23
Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
33
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Distância da
sílaba tônica
Distância 3 ou mais
Distância 2
Distância 1*
25/172
111/594
366/1447
14,5
18,7
25,3
0,388
0,341
0,33
2,89
1,00
20/172
100/594
463/1447
11,6
16,8
32,0
0,018
0,198
0,41
0,20
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 23, foram indicados os resultados do efeito da variável Distância da
sílaba tônica na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
A chance de abertura da variável dependente /e/, em uma Distância 1 da sílaba
tônica, é 2,43 (1,0/0,41) vezes a chance de abertura dessa vogal, em uma Distância 3 ou
mais da sílaba tônica. O efeito do fator Distância 2, na abertura do /e/, não é
estatisticamente significativo.
TABELA 24
Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
34
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig.
RC
Distância da
sílaba tônica
Distância 3 ou mais
Distância 2
Distância 1*
24/160
70/538
266/1234
15,0
13,0
21,6
----
----
----
----
2/160
13/538
47/1234
1,3
2,4
3,8
----
----
----
----
* Fator de referência
33
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
34
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
146
Na Tabela 24, foram apresentados os resultados do efeito da variável Distância
da sílaba tônica na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /e/, a razão de chances não foi indicada,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 6.
5.1.1.6.1 Discussão dos resultados para o alçamento
A variável Distância da sílaba tônica em Piranga e Ouro Branco não
apresenta efeitos significativos no alçamento da variável dependente /e/.
5.1.1.6.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, a Distância 1 da sílaba tônica favorece a abertura de /e/; em Ouro
Branco, nenhum fator apresenta efeito significativo.
É preciso fazer uma análise mais cuidada da influência da variável Distância da
sílaba tônica, no alçamento e na abertura de /e/. Para isso é preciso, em estudos
posteriores, conjugar essa variável com a variável distância do início da palavra, com a
vogal da sílaba tônica e com o número de sílabas da palavra, para averiguar se há
questões acentuais atuando.
147
5.1.1.7 Classe Morfológica
TABELA 25
Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /e/ em
Piranga, no estilo entrevista.
35
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Classe
morfológica
Adjetivo
Verbo
Advérbio
Conectivo
Pronome
Numeral
Outros
Substantivo*
74/244
219/660
8/36
1/1
16/17
15/28
----
169/1227
30,3
33,2
22,2
100,0
94,1
53,6
----
13,8
<0,001
<0,001
0,080
0,999
0,893
0,001
----
7,89
3,57
3,42
15002508,63
0,85
43,78
----
1,00
75/244
159/660
3/36
0/1
0/17
9/28
----
337/1227
30,7
24,1
8,3
0,0
0,0
32,1
----
27,5
0,549
0,673
0,153
----
0,996
0,243
----
1,17
0,92
0,28
0,07
5,44E-007
2,85
----
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 25, foram listados os resultados do efeito da variável independente
Classe morfológica, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Esses resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, em numeral, é 43,7
vezes a chance de alçamento dessa vogal em substantivo. A chance de alçamento de /e/,
em adjetivo, é 7,8 vezes a chance de alçamento em substantivo. A chance de alçamento
de /e/, em verbo, é 3,5 vezes a chance de alçamento em substantivo.
Os efeitos dos fatores Advérbio, Conectivo e Pronome não são estatisticamente
significativos.
Em relação à abertura, os resultados indicam que os efeitos dos fatores Adjetivo,
Verbo, Advérbio, Pronome e Numeral não são estatisticamente significativos.
A significância do fator Conectivo não foi indicada, porque o software não
consegue estimar a significância por não ter dados suficientes para isso.
35
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
148
TABELA 26
Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /e/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista.
36
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Classe
morfológica
Adjetivo
Verbo
Advérbio
Conectivo
Pronome
Numeral
Outros
Substantivo*
52/245
141/549
28/71
1/2
24/28
23/46
----
91/991
21,2
25,7
39,4
50,0
85,7
50,0
----
9,2
<0,001
<0,001
<0,001
0,934
0,132
<0,001
----
6,96
4,06
50,01
1,12
2,79
15,69
----
1,00
21/245
9/549
0/71
0/2
0/28
2/46
----
30/991
8,6
1,6
0,0
0,0
0,0
4,3
----
3,0
0,008
0,370
0,991
----
0,999
0,598
----
2,91
0,67
1,68E-008
3,22E-008
3,04E-008
1,80
----
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 26, foram listados os resultados do efeito da variável Classe
morfológica na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que quase todos os fatores apresentam significância, em
relação ao alçamento. A chance de alçamento de /e/, em advérbio, é 50,0 vezes a chance
de alçamento dessa vogal em substantivo. A chance de alçamento de /e/, em numeral, é
15,6 vezes a chance de alçamento em substantivo. A chance de alçamento de /e/, em
adjetivo, é 6,9 vezes a chance de alçamento em substantivo. A chance de alçamento de
/e/, em verbo, é 4,0 vezes a chance de alçamento em substantivo.
Os efeitos dos fatores Conectivo e Pronome não são estatisticamente
significativos.
Em relação à abertura, apenas o fator Adjetivo apresenta significância. A chance
de abertura de /e/, em adjetivo, é 2,9 vezes a chance de abertura dessa vogal em
substantivo.
Os efeitos dos fatores Verbo, Advérbio, Pronome e Numeral, não são
estatisticamente significativos.
36
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
149
A significância do fator Conectivo não foi indicada, porque o software não
consegue estimar a significância por não ter dados suficientes para isso.
5.1.1.7.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que, em Piranga, o alçamento de /e/ é favorecido pelos
numerais, pelos adjetivos e pelos verbos. Em Ouro Branco, os advérbios, os numerais,
os adjetivos e os verbos favorecem o alçamento de /e/.
O fator classe morfológica deve ser estudado junto com a formação da palavra, o
que será feito em estudos posteriores.
Para mostrar que a formação da palavra pode estar influenciando os resultados,
temos o exemplo: os resultados da Tabela 26 indicam que em Ouro Branco, de um total
de 71 advérbios, 28 apresentaram a pretônica anterior alçada. Ao verificarmos quais
eram essas palavras encontramos: d[i]mais (14 ocorrências), d[i]vagarinho (4
ocorrências), d[i]vagarzinho (1 ocorrência), d[i]vagar (2 ocorrências), d[i]baixo (3
ocorrências), simpl[i]smente (4 ocorrências).
As palavras listadas apresentam a vogal média pretônica inserida no prefixo des-
ou de-. No caso de simpl[i]smente temos a formação – simples + mente. A vogal alçada
é a vogal final da palavra simpl[i]s, que é pronunciada alçada na região pesquisada.
Parece-nos que não é a classe de palavras advérbio que favorece o alçamento
dessas palavras, mas sim o morfema em que a vogal pretônica /e/ está inserida. Por isso
é importante, posteriormente, estudar mais a fundo esse fator.
150
5.1.1.7.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, nenhum fator apresenta efeito significativo na abertura da variável
dependente /e/. Em Ouro Branco, a abertura é favorecida pelos adjetivos.
O fator classe morfológica deve ser estudado junto com a formação da palavra, o
que será feito em estudos posteriores.
5.1.1.8 Distância do início da palavra
TABELA 27
Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
37
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Distância da
sílaba tônica
3ª e 4ª sílabas
2ªsílaba
1ªsílaba*
8/72
143/574
351/1567
11,1
24,9
22,4
0,016
0,001
0,18
0,32
1,00
17/72
95/574
471/1567
23,6
16,6
30,1
0,003
<0,001
0,13
0,18
1,00
* Fator de referência
A Tabela 27 apresenta os resultados do efeito da variável Distância do início da
palavra, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /e/, na sílaba de um item
lexical, é 5,5 (1,0/0,18) vezes a chance de alçamento dessa vogal, na e sílabas, e 3
(1,0/0,32) vezes a chance de alçamento da mesma vogal, na 2ª sílaba.
Em relação à abertura da variável dependente /e/, a chance de abertura de /e/, na
1ª sílaba, é 7,6 (1,0/0,13) vezes a chance de abertura dessa vogal, na 3ª e 4ª sílabas, e 5,5
(1,0/0,18) vezes a chance de abertura da mesma vogal, na 2ª sílaba.
37
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
151
TABELA 28
Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
38
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Distância da
sílaba tônica
3ª e 4ª sílabas
2ªsílaba
1ªsílaba*
11/81
68/513
281/1338
13,6
13,3
21,0
0,002
<0,001
0,27
0,17
1,00
0/81
10/513
52/1338
0,0
1,9
3,9
0,989
0,153
2,34E-007
0,52
1,00
* Fator de referência
A Tabela 28 lista os resultados do efeito da variável Distância do início da
palavra, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Os resultados acima indicam que a chance de alçamento de /e/, quando se
encontra na 1ª sílaba de um item lexical, é 5,8 (1,0/0,17) vezes a chance de alçamento
dessa vogal na 2ª sílaba e 3,7 (1,0/0,27) vezes a chance de alçamento dessa vogal nas
e 4ª sílabas.
Em relação à abertura de /e/, nenhum fator é estatisticamente significativo.
5.1.1.8.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que, em Piranga e Ouro Branco, o alçamento de /e/ é
favorecido, quando essa vogal se encontra na 1ª sílaba.
5.1.1.8.1 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, a abertura de /e/ é favorecida, quando essa vogal se encontra na
sílaba; em Ouro Branco, nenhum fator apresenta efeito significativo na abertura de /e/.
É preciso conjugar, em estudos posteriores, o fator Distância do início da
palavra com os fatores Distância da sílaba tônica e Número de sílabas da palavra, para
termos resultados acerca de questões acentuais que possam atuar nos processos.
38
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
152
5.1.1.9 Número de sílabas da palavra
TABELA 29
Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
39
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
Sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Número de
sílabas
3 sílabas
4 sílabas
5 sílabas
2 sílabas*
271/1134
168/701
46/297
17/81
23,9
24,0
15,5
21,0
0,864
0,934
0,373
0,90
1,05
2,01
1,00
382/1134
138/701
45/297
18/81
33,7
19,7
15,2
22,2
<0,001
<0,001
<0,001
9,76
13,85
23,54
1,00
* Fator de referência
A Tabela 29 apresenta os resultados do efeito da variável Número de sílabas da
palavra, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /e/, os resultados indicam que nenhum fator é
estatisticamente significativo.
Em relação à abertura de /e/, os resultados indicam que a chance de abertura, em
palavra com 5 sílabas, é 23,5 vezes a chance de abertura dessa vogal, em palavra com 2
sílabas. Em palavra com 4 sílabas, a chance de abertura de /e/ é 13,8 vezes a chance de
abertura dessa vogal, em palavra com 2 sílabas. A chance de abertura, palavra com 3
sílabas, é 9,7 vezes a chance de abertura, em palavra com 2 sílabas.
39
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
153
TABELA 30
Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na
variável dependente /e/ em Ouro Branco.
40
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Número de
sílabas
3 sílabas
4 sílabas
5 sílabas
2 sílabas*
195/956
94/569
38/325
33/82
20,4
16,5
11,7
40,2
-----
-----
-----
-----
-----
-----
39/956
17/569
3/325
3/82
4,1
3,0
0,9
3,7
-----
-----
-----
-----
-----
-----
* Fator de referência
A Tabela 30 apresenta os resultados do efeito da variável Número de sílabas da
palavra, na variável dependente /e/, em Ouro Branco.
Em relação ao alçamento e abertura de /e/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 6.
5.1.1.9.1 Discussão do resultados para o alçamento
Os resultados indicam que, em Piranga e em Ouro Branco, nenhum dos fatores
apresenta efeito significativo no alçamento de /e/.
5.1.1.9.1 Discussão do resultados para a abertura
Em Piranga as palavras com 3 labas ou mais favorecem a abertura, em Ouro
Branco, nenhum dos fatores apresenta efeito significativo na abertura de /e/.
40
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
154
Em estudos posteriores, conjugaremos o fator Número de labas da palavra
com os fatores Distância da sílaba tônica e Distância do início da palavra. Assim,
poderemos observar questões acentuais.
5.1.1.10 Modo do segmento precedente
TABELA 31
Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
41
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Modo
do
segmento
precedente
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
130/307
198/767
111/351
0/79
63/709
42,3
25,8
31,6
0,0
8,9
0,032
<0,001
0,005
0,981
5,34
3,73
2,91
4,36E-007
1,00
45/307
204/767
162/351
23/79
149/709
14,7
26,6
46,2
29,1
21,0
0,863
0,012
<0,001
0,098
1,11
1,65
4,19
2,01
1,00
*Fator de referência
Na Tabela 31, foram listados os resultados relativos ao efeito da variável Modo
do segmento precedente, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, quando precedida por
tepe, é 5,3 vezes a chance de alçamento, quando precedida por oclusivas. A chance de
alçamento, quando precedida por fricativas/africadas, é 3,7 vezes a chance de
alçamento, quando precedida por oclusivas. A chance de alçamento, quando precedida
por nasais, é 2,9 vezes a chance de alçamento, quando precedida por oclusivas.
O efeito do fator Líquidas não é estatisticamente significativo,
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável /e/, quando precedida por nasais, é 4,1 vezes a chance de abertura quando
41
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
155
precedida por oclusivas. A chance de abertura de /e/, quando precedida por
fricativas/africadas, é 1,6 vezes a chance de abertura, quando precedida por oclusivas.
Os efeitos dos fatores Tepe e Líquidas não são estatisticamente significativos.
TABELA 32
Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
42
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Modo do
segmento
precedente
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
75/202
138/640
82/267
4/70
61/753
37,1
21,6
30,7
5,7
8,1
<0,001
0,005
0,003
0,033
21,56
2,16
2,71
4,54
1,00
4/202
24/640
15/267
4/70
15/753
2,0
3,8
5,6
5,7
2,0
0,069
0,787
0,397
0,057
3,86
0,88
1,56
4,55
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 32, foram apresentados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento precedente, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, quando precedida por
tepe, é 21,5 vezes a chance de alçamento dessa vogal, quando precedida por oclusivas.
A chance de alçamento de /e/, quando precedida por líquidas, é 4,5 vezes a chance de
alçamento, quando precedida por oclusivas. A chance de alçamento, quando precedida
por nasais, é 2,7 vezes a chance de alçamento, quando precedida por oclusivas. A
chance de alçamento, quando precedida por fricativas/africadas, é 2,1 vezes a chance de
alçamento, quando precedida por oclusivas.
Em relação à abertura de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
42
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
156
5.1.1.10.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Viegas (1987), após análise dos seus resultados, conclui que as consoantes
adjacentes não são determinantes para o alçamento de /e/:
As obstruintes precedentes e seguintes que favorecem o alçamento de
(o) não o fazem para (e) (...). Ou seja, as obstruintes não têm o mesmo
comportamento no alçamento de (e) e no alçamento de (o). Isto se
deve, ao que parece, aos processos serem diferentes: o (o), hoje um
processo de assimilação e diminuição da diferença articulatória das
vogais com relação aos segmentos adjacentes; o (e) um processo de
harmonização vocálica, tendo como principal fator favorecedor a
presença de vogal alta seguinte. (VIEGAS, 1987, p.130)
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 31, indicam que em relação
à variável modo do segmento precedente, um favorecimento do alçamento de /e/
pelos fatores tepe, fricativas/africadas e nasais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada precedida
por tepe, fricativas/africadas e nasais constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou
nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) precedida por tepe: das 307 ocorrências precedidas por tepe, 130 alçaram. Dessas,
128 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 2 ocorrências que não
apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
sobr[i]nome (2ocorrências): nessa palavra temos a formação sobre + nome. A vogal
alçada em sobrenome é a vogal final da palavra sobr[i], que é pronunciada alçada nessa
palavra.
157
b) precedida por nasal: das 351 ocorrências precedidas por nasal, 111 alçaram. Dessas,
105 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 6 corrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
- m[i]lhor (4 ocorrências): segundo Viegas (2001) o alçamento nessa palavra poderia
ser explicado por um possível nivelamento analógico em relação a pior. Viegas (2001,
p. 84) ressalta: “Outra análise possível, se olharmos os dados à maneira neogramática, é
uma influência do i em melior – ōris (...).”
- m[i]lhorar (2 ocorrências)
:
o alçamento, nessa palavra, pode estar acontecendo devido
a sua formação com base em m[i]lhOr. Ou seja, devido ao número limitado de itens
com esse ambiente é melhor falarmos em restrições lexicais.
c) precedida por fricativa/africada: das 767 ocorrências precedidas por
fricativa/africada, 198 alçaram. Dessas, 123 apresentaram contexto vocálico
favorecedor. As 75 ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor
foram:
- d[i]baixo (1 ocorrência), d[i]mais (4 ocorrências), d[i]sandou (1 ocorrência),
d[i]sanimado (2 ocorrências), d[i]sativada (1 ocorrência), d[i]scabecei (1 ocorrência),
d[i]scarga (3 ocorrências), d[i]scartei (1 ocorrência), d[i]sconfiar (1 ocorrência),
d[i]sempregadas (2 ocorrências), d[i]sempregado (8 ocorrências), d[i]sempregados (2
ocorrências), d[i]semprego (4 ocorrências), d[i]sespero (8 ocorrências), d[i]smanchar
(1 ocorrência), d[i]sordeiro (1 ocorrência), d[i]spesas (1 ocorrência), d[i]srespeito (2
ocorrências), d[i]svantagens (1 ocorrência): o alçamento nessas palavras ocorre no
prefixo de-/des-, que apresenta uma explicação histórica para o alçamento. Ou pode
haver um possível nivelamento analógico com esse prefixo.
158
- d[i]zessete (2 ocorrências), d[i]zoito (1 ocorrência): nessas palavras o alçamento
ocorre devido à sua formação, aliada a uma questão acentual.
- recent[i]mente (2 ocorrências), urgent[i]mente (2 ocorrências), set[i]centos (1
ocorrência): nessas palavras temos as formações recente + mente, urgente + mente,
sete + centos. A vogal alçada é a vogal final das palavras recent[i], urgent[i] e set[i]
que é pronunciada alçada nessas palavras.
- s[i]nhora (20 ocorrências): o alçamento nessa palavra pode estar acontecendo devido a
sua formação com base em s[i]nhor. Em Viegas (2001, p.84), temos uma explicação
para o alçamento nessa palavra. Segundo a autora, seria uma influência do i, que no
latim do século XIII era sěnior ōris. “[...] existiu o ambiente favorecedor ao
alçamento”. Ou seja, é uma questão desse item lexical específico.
dis[i]mpregadas, dis[i]mpregado, dis[i]mpregados, dis[i]mprego, dis[i]spero: essas
palavras são derivadas de emprego e espero, que apresentam vogal /e/ no início da
palavra e, de acordo com a literatura, são produzidas alçadas em grande percentual:
[i]mprego e [i]spero.
prat[i]leira (3 ocorrências): pode ser considerada vogal de ligação, que em português é
alçada em muitos casos, conforme Bechara (2004, p.339).
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes precedentes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que são as vogais altas na sílaba
tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica, o fator prefixo e a formação das palavras
que favorecem o alçamento de /e/, em Piranga. Existem ainda questões relacionadas
com itens específicos.
159
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 32, indicam que em
relação à variável modo do segmento precedente, há um favorecimento do alçamento de
/e/ pelos fatores tepe, líquida, nasais e fricativas/africadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada precedida
por tepe, líquida, nasais e fricativas/africadas constatamos que na maioria das vezes o
contexto vocálico seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta
oral ou nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) precedida por tepe: das 202 ocorrências precedidas por tepe, 75 alçaram. Dessas, 72
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 3 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram
- sobr[i]nome (2 ocorrências), livr[i]mente (1 ocorrência): nessas palavras temos as
formações sobre + nome e livre + mente. A vogal alçada é a vogal final das palavras
sobre[i] e livr[i], que é pronunciada alçada nessas palavras, na região pesquisada.
b) precedida por líquida: das 70 ocorrências precedidas por líquida, 4 alçaram. As 4
ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor:
- simpl[i]smente (4 ocorrências): nessa palavra temos a formação simples + mente. A
vogal alçada é a vogal final da palavra simpl[i]s, que é pronunciada alçada nessa
palavra, na região pesquisada.
c) precedida por nasal: das 267 ocorrências precedidas por nasal, 82 alçaram. Dessas, 77
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 5 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
160
- m[i]lhor (4 ocorrências): nesse item pode haver uma questão lexical atuando,
conforme Viegas (2001), mencionado anteriormente.
- m[i]lhorar
(1 ocorrência):
o alçamento nessa palavra pode estar acontecendo devido a
sua formação com base em m[i]lhOr
d) precedida por fricativa/africada: das 640 ocorrências precedidas por
fricativa/africada, 138 alçaram. Dessas, 81 apresentaram contexto vocálico favorecedor.
As 57 ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- d[i]baixo (3 ocorrências), d[i]mais (13 ocorrências), d[i]sapropriação (1 ocorrência),
d[i]sapropriaram (1 ocorrência), d[i]sapropriou (1 ocorrência), d[i]scaracterizando (1
ocorrência), d[i]scarta (1 ocorrência), d[i]scarto (1 ocorrência), d[i]scasca (1
ocorrência), d[i]senvolver (2 ocorrências), d[i]senvolveu (2 ocorrências), d[i]smaio (2
ocorrências), d[i]smaiou (1 ocorrência), d[i]smanchou (1 ocorrência), d[i]smandar (1
ocorrência), d[i]smatamento (1 ocorrência), d[i]sorganizado (1 ocorrência),
d[i]srespeitei (1 ocorrência), d[i]svantagem (2 ocorrências), d[i]vagar (2 ocorrências):
o alçamento nessas palavras ocorre no prefixo de-/des-, que é favorecedor do alçamento.
- d[i]zenove (1 ocorrência), d[i]zesseis (2 ocorrências), d[i]zessete (2 ocorrências),
d[i]zoito (5 ocorrências): essas palavras alçam devido à sua formação, aliada a uma
questão acentual.
- evident[i]mente (1 ocorrência): nessa palavra temos a formação evidente + mente. A
vogal alçada é a vogal final da palavra evident[i], que é pronunciada alçada nessa
palavra, na região pesquisada.
- s[i]mestre (3 ocorrências): em Viegas (2001, p.83), encontramos uma explicação para
o alçamento nessa palavra. “Fazendo um esforço neogramático, poderíamos dizer que
simestre teria sua forma devido ao nivelamento analógico em relação a bimestre.”
161
- s[i]nhor (1 ocorrência), s[i]nhora (3 ocorrências): em Viegas (2001, p.84), temos uma
explicação para o alçamento nessas palavras. Segundo a autora, seria uma influência do
i, que no latim do século XIII era sěnior – ōris. “Ou seja, existiu o ambiente favorecedor
ao alçamento”.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes precedentes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Comprovamos aqui que são as vogais altas
na sílaba tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica, o fator prefixo e a formação
das palavras, que favorecem o alçamento de /e/, em Ouro Branco. Existem questões
lexicais atuando.
5.1.1.10.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 31, indicam que em relação
à variável modo do segmento precedente, um favorecimento da abertura de /e/ pelos
fatores nasais e fricativas/africadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ aberta, precedida
por nasais e fricativas/africadas constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal
ou uma vogal média baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
162
a) precedida por nasal: das 351 ocorrências precedidas por nasais, 162 apresentaram
realização aberta. Dessas, 59 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 69
ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- am[E]linha (1 ocorrência), n[E]lsinho (2 ocorrências): essas palavras apresentam
paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com vogal aberta
correspondente aos anteriores são: am[E]lia e n[E]lson.
- M[E]lina (63 ocorrências): a abertura pode estar relacionada à nasalidade da vogal
seguinte, às consoantes adjacentes (líquidas seguintes) ou ao item lexical.
- im[E]diatamente (1 ocorrência), m[E]renda (2 ocorrências): o que parece favorecer a
abertura dessas palavras é a vogal média nasal na laba tônica. Como vimos no item
5.1.1.1.2, em Piranga, esse fator é favorecedor da abertura de /e/.
b) precedida por fricativa: das 767 ocorrências precedidas por fricativa/africada, 204
apresentaram realização aberta. Observamos que todas elas foram precedidas por
fricativas e que 170 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 34 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- r[E]conhecidas (1 ocorrência), r[E]cursos (1 ocorrência), r[E]ferência (2
ocorrências), r[E]lento (1 ocorrência), r[E]pente (1 ocorrência), r[E]pública (2
ocorrências), r[E]ssuscitou (1 ocorrência): nessas palavras a abertura ocorre na forma
re-. Talvez possamos explicar a abertura nas palavras que possuem esse prefixo ou em
que um nivelamento analógico com ele. Ou pode ser ainda um favorecimento do /R/
precedente.
- ac[E]ssível (1 ocorrência), dif[E]rente (5 ocorrências), dif[E]rentes (1 ocorrência),
ex[E]rcendo (1 ocorrência), f[E]stinha (1 ocorrência), ref[E]rência (2 ocorrências),
s[E]rvente (2 ocorrências), s[E]tecentos (1 ocorrência), s[E]tembro (1 ocorrência),
163
s[E]tenta (2 ocorrências)
:
essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que
favorece a abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são:
ac[E]sso, dif[E]re, ex[E]rce, f[E]sta, ref[E]re, s[E]rve, s[E]te.
- exc[E]lente (1 ocorrência), s[E]leções (1 ocorrência), s[E]qüência (1 ocorrência),
s[E]ssenta (1 ocorrência), s[E]rpentina (2 ocorrências), v[E]rgonha (2 ocorrências)
:
o
que parece favorecer a abertura dessas palavras é a vogal média nasal na sílaba tônica
ou entre a vogal da variável e a tônica. Como vimos nos itens 5.1.1.2.2 e 5.1.1.3.2,em
Piranga, esse fator é favorecedor da abertura de /e/. Nos itens s[E]rpentina e
v[E]rgonha ainda a possibilidade de um favorecimento do /R/ seguinte. Os dados
serão elicitados na etapa dos testes.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes precedentes o fator responsável pela abertura delas, pois
outras explicações para essa abertura. Comprovamos aqui que são as vogais médias
baixas, a vogal baixa e as vogais médias nasais na sílaba tônica ou entre a vogal da
variável e a tônica, o paradigma com vogal aberta e a formação das palavras, que
favorecem a abertura de /e/, em Piranga.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 32, indicam que em
relação à variável modo do segmento precedente, nenhum dos fatores apresentou
significância para a abertura de /e/.
164
5.1.1.11 Ponto do segmento precedente
TABELA 33
Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
43
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Ponto do
segmento
precedente
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
139/802
110/351
253/1060
17,3
31,3
23,9
0,800
<0,001
1,07
5,90
1,00
253/802
77/351
253/1060
31,5
21,9
23,9
0,409
0,042
1,19
1,79
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 33, foram listados os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento precedente, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento de /e/, quando precedida por
dorsais/palatalizadas, é 5,9 vezes a chance de alçamento, quando precedida por
coronais.
O efeito do fator Labiais não é estatisticamente significativo.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável /e/, quando precedida por dorsais/palatalizadas, é 1,7 vezes a chance de
abertura, quando precedida por coronais.
O efeito do fator Labiais não é estatisticamente significativo.
TABELA 34
Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na
variável dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
44
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Ponto do
segmento
precedente
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
105/690
99/298
156/944
15,2
33,2
16,5
<0,001
<0,001
3,22
9,04
1,00
18/690
16/298
28/944
2,6
5,1
3,0
0,434
0,001
1,41
5,80
1,00
* Fator de referência
43
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
44
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
165
Na tabela 34, foram listados os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento precedente, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável /e/, quando precedida por
dorsais/palatalizadas, é 9,0 vezes a chance de alçamento, quando precedida por
coronais. A chance de alçamento de /e/, quando precedida por labiais, é 3,2 vezes a
chance de alçamento, quando precedida por coronais.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável /e/, quando precedida por dorsais/palatalizadas, é 5,8 vezes a chance de
abertura, quando precedida por coronais.
O efeito do fator Labiais não é estatisticamente significativo
5.1.1.11.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 33, indicam que em relação
à variável ponto do segmento precedente, há um favorecimento do alçamento de /e/ pelo
fator dorsais/palatalizadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada, precedida
por dorsais/palatalizadas, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico
seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas. Das 351
ocorrências precedidas por dorsais/palatalizadas, 110 alçaram. Dessas, 67 apresentaram
contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 43 ocorrências que não
apresentaram contexto vocálico favorecedor foram precedidas apenas por palatalizadas.
166
precedida por palatalizada:
- d[i]baixo (1 ocorrência), d[i]mais (4 ocorrências), d[i]sandou (1 ocorrência),
d[i]sanimado (2 ocorrências), d[i]sativada (1 ocorrência), d[i]scabecei (1 ocorrência),
d[i]scarga (3 ocorrências), d[i]scartei (1 ocorrência), d[i]sconfiar (1 ocorrência),
d[i]sempregadas (1 ocorrência), d[i]sempregado (4 ocorrências), d[i]sempregados (1
ocorrência), d[i]semprego (2 ocorrências), d[i]sespero (4 ocorrências), d[i]smanchar (1
ocorrência), d[i]sordeiro (1 ocorrência), d[i]spesas (1 ocorrência), d[i]srespeito (2
ocorrências), d[i]svantagens (1 ocorrência): o alçamento nessas palavras ocorre no
prefixo de-/des-, que apresenta uma explicação histórica para o alçamento.
- d[i]zessete (2 ocorrências), d[i]zoito (1 ocorrência): essas palavras alçam devido à sua
formação, aliada a uma questão acentual.
recent[i]mente (2 ocorrências), urgent[i]mente (1 ocorrência), set[i]centos (1
ocorrência): nessas palavras temos as formações recente + mente, urgente + mente,
sete + centos. A vogal alçada é a vogal final das palavras recent[i], urgent[i] e set[i]
que é pronunciada alçada nessas palavras, na região pesquisada.
- prat[i]leira (3 ocorrências): pode ser considerada vogal de ligação, que em português
é alçada em muitos casos, conforme Bechara (2004, p.339).
Observando então as palavras encontradas, podemos concluir que não parece ser
o ponto das consoantes precedentes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que são as vogais altas na sílaba
tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica, o fator prefixo e a formação das palavras
que favorecem o alçamento de /e/, em Piranga.
167
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 34, indicam que em
relação à variável ponto do segmento precedente, há um favorecimento do alçamento de
/e/ pelo fator dorsais/palatalizadas e labiais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada precedida
por dorsais/palatalizadas e labiais constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou
nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas. Das 298
ocorrências precedidas por dorsais/palatalizadas, 99 alçaram. Dessas, 51 apresentaram
contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 48 ocorrências que não
apresentaram contexto vocálico favorecedor foram precedidas apenas por palatalizadas.
precedida por palatalizada:
- d[i]baixo (3 ocorrências), d[i]mais (13 ocorrências), d[i]sapropriação (1 ocorrência),
d[i]sapropriaram (1 ocorrência), d[i]sapropriou (1 ocorrência), d[i]scaracterizando (1
ocorrência), d[i]scarta (1 ocorrência), d[i]scarto (1 ocorrência), d[i]scasca (1
ocorrência), d[i]senvolver (1 ocorrência), d[i]senvolveu (1 ocorrência), d[i]smaio (2
ocorrências), d[i]smaiou (1 ocorrência), d[i]smanchou (1 ocorrência), d[i]smandar (1
ocorrência), d[i]smatamento (1 ocorrência), d[i]sorganizado (1 ocorrência),
d[i]srespeitei (1 ocorrência), d[i]svantagem (2 ocorrências), d[i]vagar (2 ocorrências):
o alçamento nessas palavras ocorre no prefixo de-/des-, que apresenta uma explicação
histórica para o alçamento.
168
- d[i]zenove (1 ocorrência), d[i]zesseis (2 ocorrências), d[i]zessete (2 ocorrências),
d[i]zoito (5 ocorrências): essas palavras alçam devido à sua formação, aliada a uma
questão acentual.
- evident[i]mente (1 ocorrência): nessa palavra temos a formação evidente + mente. A
vogal alçada é a vogal final da palavra evident[i], que é pronunciada alçada nessa
palavra, na região pesquisada.
- precedida por labial: das 690 ocorrências precedidas por labiais, 105 alçaram. Dessas,
86 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 19 ocorrências que não
apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- m[i]lhor (4 ocorrências): nesse item pode haver uma questão lexical atuando,
conforme Viegas (2001), mencionado anteriormente.
- m[i]lhorar: (1 ocorrência): o alçamento nessa palavra pode estar acontecendo devido a
sua formação com base em m[i]lhOr.
- p[i]quena (8 ocorrências): p[i]quenas (2 ocorrências):, p[i]queno (4 ocorrências)
:
segundo Viegas (2001, p.85), essas palavras vieram de palavra com vogal alta. “
piqueno < lat. vulgar. pitinuu, associado a uma base expressiva pikk = ‘pequenez’.” Ou
seja, essas palavras já vieram com vogal alta desde a sua incorporação ao português.
Observando então as palavras encontradas, podemos concluir que não parece ser
o ponto das consoantes precedentes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras possíveis explicações para esse alçamento, já mencionadas anteriormente na
literatura. Parece-nos que são as vogais altas na sílaba tônica e/ou entre a vogal da
variável e a tônica, o fator prefixo e a formação da palavra, que favorecem o alçamento
de /e/, em Ouro Branco. Existem ainda questões relacionadas ao item lexical.
169
5.1.1.11.1 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 33, indicam que em relação
à variável ponto do segmento precedente, um favorecimento da abertura de /e/ pelo
fator dorsais/palatalizadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ aberta, precedida
por dorsais/palatalizadas constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico
seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal ou uma
vogal média baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
Das 351 ocorrências precedidas por dorsais/palatalizadas, 77 foram realizadas
abertas. Observamos que todas elas foram precedidas por consoantes dorsais e que 54
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 23 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico foram:
precedida por dorsal:
- qu[E]rendo (14 ocorrências): essa palavra apresenta paradigma com vogal aberta, que
pode estar favorecendo a abertura. O item com vogal aberta correspondente a
qu[E]rendo é qu[E]r.
- r[E]conhecidas (1 ocorrência), r[E]cursos (1 ocorrência), r[E]ferência (2
ocorrências), r[E]lento (1 ocorrência), r[E]pente (1 ocorrência), r[E]pública (2
ocorrências), r[E]ssuscitou (1 ocorrência): nessas palavras a abertura ocorre na forma
re-. Talvez possamos explicar a abertura nas palavras que possuem esse prefixo ou em
170
que há um nivelamento analógico com ele. Pode haver também a atuação do /R/
precedente. A elicitação dos dados será feita nos testes.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o ponto das consoantes precedentes o fator responsável pela abertura delas, pois
outras explicações para essa abertura. Parece-nos que as vogais médias baixas e a vogal
baixa na sílaba tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica e alguns prefixos, que
favorecem a abertura de /e/, em Piranga.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 34, indicam que em
relação à variável ponto do segmento precedente, um favorecimento da abertura de
/e/ pelo fator dorsais/palatalizadas.
Das 298 ocorrências precedidas por dorsais/palatalizadas, 16 foram realizadas
abertas, e todas apresentaram contexto vocálico seguinte favorecedor, ou seja, era uma
vogal baixa oral ou nasal ou uma vogal média baixa oral, comprovando que nessa
cidade ocorre o processo de harmonização vocálica.
5.1.1.12 Modo do segmento seguinte
TABELA 35
Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável dependente
/e/ em Piranga, no estilo entrevista.
45
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Modo do
segmento
seguinte
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
27/196
235/1126
156/338
11/206
73/347
13,8
20,9
46,2
5,3
21,0
0,641
0,744
<0,001
0,675
0,82
1,09
13,59
1,24
1,00
54/196
236/1126
21/338
108/206
164/347
27,6
21,0
6,2
52,4
47,3
0,018
0,987
<0,001
<0,001
2,30
0,99
0,08
3,95
1,00
* Fator de referência
45
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
171
Na Tabela 35, foram listados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento seguinte, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Os resultados apontam que a chance de alçamento da variável dependente /e/,
quando seguida por nasais, é 13,5 vezes a chance de alçamento dessa vogal, quando
seguida por oclusivas.
Os efeitos dos fatores Tepe, Fricativas/africadas e Líquidas não são
estatisticamente significativos.
Em relação à abertura, os resultados apontam que a chance de abertura de /e/,
quando seguida por quidas, é 3,9 vezes a chance de abertura, quando seguida por
oclusivas. A chance de abertura, quando seguida por tepe, é 2,3 vezes a chance de
abertura, quando seguida por oclusivas.
O efeito do fator Fricativas/africadas não é estatisticamente significativo.
As nasais desfavorecem a abertura de /e/, em relação ao fator de referência.
TABELA 36
Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na variável dependente /e/
em Ouro Branco, no estilo entrevista.
46
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independe
nte
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Modo
do
segmento
seguinte
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
17/170
169/985
105/290
10/124
59/363
10,0
17,2
36,2
8,1
16,3
0,579
0,304
<0,001
0,729
0,77
1,34
5,39
0,84
1,00
1/170
28/985
6/290
7/124
20/363
0,6
2,8
2,1
5,6
5,5
0,668
0,386
0,841
0,807
0,60
1,480
,88
0,85
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 36, foram apresentados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento seguinte, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
46
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
172
Os resultados apontam que a chance de alçamento da variável dependente /e/,
quando seguida por nasais, é 5,3 vezes a chance de alçamento dessa vogal, quando
seguida por oclusivas.
Os efeitos dos fatores Tepe, Fricativas/africadas e Líquidas não são
estatisticamente significativos.
Em relação à abertura de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores não
é estatisticamente significativo.
5.1.1.12.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 35, indicam que em relação
à variável modo do segmento seguinte, um favorecimento do alçamento de /e/ pelo
fator nasais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada, seguida
por nasais, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico seguinte era
favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) seguida por nasal: das 338 ocorrências seguidas por nasais, 156 alçaram. Dessas, 119
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 37 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
- d[i]mais (4 ocorrências): o alçamento nessa palavra ocorre na preposição de, que
posteriormente se torna o prefixo de-, que apresenta explicação histórica para o
alçamento.
173
- recent[i]mente (2 ocorrências), urgent[i]mente (1 ocorrência), sobr[i]nome (2
ocorrências): nessas palavras temos as formações recente + mente, urgente + mente,
sobre + nome. A vogal alçada é a vogal final das palavras recent[i], urgent[i] e sobr[i]
que é pronunciada alçada nessas palavras, na região pesquisada.
- s[i]nhora (20 ocorrências): o alçamento nessa palavra pode estar acontecendo devido a
sua formação com base em s[i]nhor. Conforme Viegas (2001, p.84), mencionado
anteriormente.
- des[i]mpregadas (1 ocorrência), des[i]mpregado (4 ocorrências), des[i]mpregados (1
ocorrência), des[i]mprego (2 ocorrências): essas palavras são derivadas de emprego,
que apresenta uma vogal média anterior no início da palavra e segundo a literatura é
pronunciada alçada e grande percentual: [i]mprego.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes seguintes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que são as vogais altas na sílaba
tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica que favorecem o alçamento de /e/, em
Piranga. Pode haver interação, mas não está evidente a força do fator nasais. Existem
questões lexicais atuando.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 36, indicam que em
relação à variável modo do segmento seguinte, há um favorecimento do alçamento de /e/
pelo fator nasais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada, seguida
por nasais, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico seguinte era
favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
174
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) seguida por nasal: das 290 ocorrências seguidas por nasais, 105 alçaram. Dessas, 80
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 25 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
- d[i]mais (13 ocorrências): o alçamento nessa palavras ocorre no prefixo de-, que
apresenta uma explicação histórica para o alçamento.
- livr[i]mente (1 ocorrência), sobr[i]nome (2 ocorrências): nessas palavras temos as
formações livre + mente, sobre + nome. A vogal alçada é a vogal final das palavras
livr[i] e sobr[i] que é pronunciada alçada nessas palavras, na região pesquisada.
- s[i]nhor (1 ocorrência), s[i]nhora (3 ocorrências): nesse item pode haver uma questão
lexical atuando, conforme Viegas (2001), mencionado anteriormente.
- s[i]mestre (3 ocorrências): em Viegas (2001, p.83), encontramos uma explicação para
o alçamento nessa palavra. “Fazendo um esforço neogramático, poderíamos dizer que
simestre teria sua forma devido ao nivelamento analógico em relação a bimestre.”
- des[i]nvolver (1 ocorrência), des[i]nvolveu (1 ocorrência): essas palavras são
derivadas de envolver, que apresenta uma vogal média anterior no início da palavra e
segundo a literatura é pronunciada alçada em grande percentual: [i]nvolver.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes seguintes o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que são as vogais altas na sílaba
tônica e/ou entre a vogal da variável e a tônica que favorecem o alçamento de /e/, em
Ouro Branco. Existem questões lexicais atuando.
175
5.1.1.12.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 35, indicam que em relação
à variável modo do segmento seguinte, um favorecimento da abertura de /e/ pelos
fatores líquidas e tepe.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ aberta, seguida
por líquidas e tepe constatamos que muitas vezes o contexto vocálico seguinte era
favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal ou uma vogal média
baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
a) seguida por líquida: das 206 ocorrências seguidas por líquidas, 108 foram realizadas
abertas. Dessas, 37 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 71 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- am[E]linha (1 ocorrência), n[E]lsinho (2 ocorrências), cast[E]linho (2 ocorrências):
essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que parecem favorecer a
abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são: am[E]lia,
n[E]lson e cast[E]lo.
- M[E]lina (63 ocorrências): a abertura pode estar relacionada à nasalidade da vogal
seguinte, às consoantes adjacentes (líquidas seguintes) ou ao item lexical. É possível
que este item esteja tendenciando os resultados pelo número grande de ocorrências.
-r[E]lento (1 ocorrência): nessa palavra a abertura ocorre na forma re-. Historicamente
a forma prefixal re- é realizada com a vogal aberta.
176
- s[E]lEções (1 ocorrência): o que favorece a abertura nessa é a vogal média baixa na
sílaba seguinte.
- exc[E]lente (1 ocorrência): o que parece favorecer a abertura dessa palavra é a vogal
média nasal na sílaba tônica. Como vimos no item 5.1.1.2.2, em Piranga, esse fator é
favorecedor da abertura de /e/.
b) seguida por tepe: das 196 ocorrências seguidas por líquidas, 54 foram realizadas
abertas. Dessas, 30 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 24 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- dif[E]rente (5 ocorrências) , dif[E]rentes (1 ocorrência), ref[E]rência (2 ocorrências),
qu[E]rendo (14 ocorrências): essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta,
que favorece a abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são:
dif[E]re, ref[E]re, qu[E]r. Pode haver também um favorecimento da nasal na sílaba
seguinte ou do tepe seguinte.
- m[E]renda (2 ocorrências): o que favorece a abertura dessas palavras é a vogal média
nasal na sílaba tônica. Como vimos no item 5.1.1.2.2, em Piranga, esse fator é
favorecedor da abertura de /e/.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes seguintes o fator responsável pela abertura delas, pois
outras explicações para essa abertura. Parece-nos que são as vogais dias baixas, a
vogal baixa e as vogais médias nasais na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a
tônica, e alguns prefixos, que favorecem a abertura de /e/, em Piranga.
177
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 36, indicam que em
relação à variável modo do segmento seguinte, nenhum dos fatores apresentou
significância para a abertura de /e/.
5.1.1.13 Ponto do segmento seguinte
TABELA 37
Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável dependente /e/
em Piranga, no estilo entrevista.
47
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores N
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Ponto do
segmento
seguinte
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
30/279
166/559
306/1375
10,8
29,7
22,3
<0,001
<0,001
0,24
5,08
1,00
68/279
231/559
284/1375
24,4
41,3
20,7
0,002
<0,001
2,41
4,21
1,00
* Fator de referência
A Tabela 37 apresenta os resultados do efeito da variável Ponto do segmento
seguinte, na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /e/, quando seguida de
dorsais/palatalizadas, é 5,0 vezes a chance de alçamento, quando seguida de coronais.
O fator Labiais desfavorece o alçamento de /e/, em relação ao fator de
referência.
A chance de abertura de /e/, quando seguida de dorsais/palatalizadas, é 4,2 vezes
a chance de abertura, quando seguida de coronais. A chance de abertura de /e/, quando
seguida de labiais, é 2,4 vezes a chance de abertura, quando seguida de coronais.
47
Saída completa do SPSS no ANEXO 5.
178
TABELA 38
Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na variável dependente /e/
em Ouro Branco, no estilo entrevista.
48
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Ponto do
segmento
seguinte
Labiais
Dorsais/palatalizada
s
Coronais*
33/298
115/450
212/1184
11,1
25,6
17,9
<0,001
<0,001
0,13
2,79
11/298
25/450
26/1184
3,7
5,6
2,2
0,960
0,074
1,02
2,32
* Fator de referência
Na Tabela 38, foram indicados os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento seguinte, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /e/, quando seguida de
dorsais/palatalizadas, é 2,7 vezes a chance de alçamento, quando seguida de coronais.
O fator Labiais desfavorece o alçamento de /e/, em relação ao fator de
referência.
Em relação à abertura de /e/, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
5.1.1.13.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 37, indicam que em relação
à variável ponto do segmento seguinte, um favorecimento do alçamento de /e/ pelo
fator dorsais/palatalizadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada, seguida
por dorsais/palatalizadas, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico
seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
48
Saída completa do SPSS no ANEXO 6.
179
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas. Das 559
ocorrências seguidas por dorsais/palatalizadas, 166 alçaram. Dessas, 159 apresentaram
contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 7 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram seguidas apenas por dorsais.
seguida por dorsal:
- p[i]quena (5 ocorrências), p[i]queno (2 ocorrências): segundo Viegas (2001, p.85),
essas palavras vieram de palavra com vogal alta. “– piqueno < lat. vulgar. pitinuu,
associado a uma base expressiva pikk = ‘pequenez’.” Ou seja, essas palavras vieram
com vogal alta desde a sua incorporação ao português.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o ponto das consoantes seguinte o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que as vogais altas na sílaba tônica
e/ou entre a vogal da variável e a tônica, que favorecem o alçamento de /e/, em Piranga.
Existem questões lexicais atuando.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 38, indicam que em
relação à variável ponto do segmento seguinte, há um favorecimento do alçamento de
/e/ pelo fator dorsais/palatalizadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ alçada, seguida
por dorsais/palatalizadas, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico
seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
180
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas. Das 450
ocorrências seguidas por dorsais/palatalizadas, 115 alçaram. Dessas, 96 apresentaram
contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 19 ocorrências que não
apresentaram contexto vocálico favorecedor foram seguidas apenas por dorsais.
a) seguida por dorsal:
- p[i]quena (8 ocorrências), p[i]quenas (2 ocorrências), p[i]queno (9 ocorrências):
nesse item pode haver uma questão lexical atuando, conforme Viegas (2001),
mencionado anteriormente.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o ponto das consoantes seguinte o fator responsável pelo alçamento delas, pois
outras explicações para esse alçamento. Parece-nos que as vogais altas na sílaba tônica
e/ou entre a vogal da variável e a tônica, que favorecem o alçamento de /e/, em Ouro
Branco. Existem questões lexicais atuando.
5.1.1.13.1 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 37, indicam que em relação
à variável ponto do segmento seguinte, há um favorecimento da abertura de /e/ pelos
fatores dorsais/palatalizadas e labiais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /e/ aberta, seguida
por dorsais/palatalizadas e labiais constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal
ou uma vogal média baixa oral.
181
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas. Das 559 ocorrências
seguidas por dorsais/palatalizadas, 231 foram realizadas abertas. Observamos que
apenas 1 ocorrência (s[E]tecentos) foi seguida por consoantes palatalizadas e que 230
foram seguidas por dorsais. Dessas, 192 apresentaram contexto vocálico favorecedor.
As 38 ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
seguida por dorsal:
- col[E]guinha (1 ocorrência), ex[E]rcendo (1 ocorrência), p[E]rdemos (1 ocorrência),
p[E]rdendo (1 ocorrência), s[E]rvente (2 ocorrências), t[E]rreno (1 ocorrência),
t[E]rmina (1 ocorrência): essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que
favorece a abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são:
col[E]ga, ex[E]rce, p[E]rde, s[E]rve, s[E]te, t[E]rra, t[É]rmino.
-
r[E]conhecidas (1 ocorrência), r[E]cursos (1 ocorrência)
:
nessas palavras a abertura
ocorre na forma re-. Historicamente a forma prefixal re- é realizada com a vogal aberta.
Assim, podemos explicar a abertura nas palavras que possuem esse prefixo ou em que
há um nivelamento analógico com ele.
- p[E]rgunta (3 ocorrências), p[E]rgunte (1 ocorrência), p[E]rgunto (2 ocorrências),
p[E]rguntou (2 ocorrências), p[E]rmita (1 ocorrência), p[E]rmite (2 ocorrências),
p[E]rmitindo (1 ocorrência), p[E]rmitiu (2 ocorrências), p[E]rseguido (1 ocorrência),
p[E]rtence (1 ocorrência), p[E]rtences (4 ocorrências): nessas palavras pode estar
acontecendo um nivelamento analógico com o prefixo per-, em que pode-se encontrar
uma explicação histórica para a abertura.
182
- fr[E]qüenta (1 ocorrência), fr[E]qüência (1 ocorrência), fr[E]qüentar (1 ocorrência),
fr[E]qüento (1 ocorrência), s[E]qüência (1 ocorrência), s[E]rpentina (2 ocorrências),
v[E]rgonha (1 ocorrência): o que parece favorecer a abertura dessas palavras é a vogal
média nasal na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a tônica. Como vimos nos
itens 5.1.1.2.2 e 5.1.1.3.2, em Piranga, esse fator é favorecedor da abertura de /e/.
b) seguida por labial: das 279 ocorrências seguidas por labiais, 68 foram realizadas
abertas. Dessas, 55 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 13 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- d[E]vendo (2 ocorrências): essa palavra apresenta paradigma com vogal aberta, que
pode estar favorecendo a abertura. O item com vogal aberta correspondente a
d[E]vendo é d[E]ve.
-
r[E]ferência (2 ocorrências), r[E]pente (1 ocorrência), r[E]pública (2 ocorrências)
:
nessas palavras a abertura ocorre na forma re-. Historicamente a forma prefixal re- é
realizada com a vogal aberta. Assim, podemos explicar a abertura nas palavras que
possuem esse prefixo ou em que há um nivelamento analógico com ele.
- d[E]pende (1 ocorrência), d[E]pendem (1 ocorrência), d[E]pender (1 ocorrência),
el[E]mentos (2 ocorrências), ild[E]fonso
(1 ocorrência)
:
o que parece favorecer a
abertura dessas palavras é a vogal média nasal na sílaba tônica ou entre a vogal da
variável e a tônica. Como vimos nos itens 5.1.1.2.2 e 5.1.1.3.2, em Piranga, esse fator é
favorecedor da abertura de /e/.
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o ponto das consoantes seguintes o fator responsável pela abertura delas, pois
outras explicações para essa abertura. Parece-nos que são as vogais dias baixas, a
183
vogal baixa e as vogais médias nasais na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a
tônica e alguns prefixos, que favorecem a abertura de /e/, em Piranga.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 38, indicam que em
relação à variável ponto do segmento seguinte, nenhum dos fatores apresentou
significância para a abertura de /e/.
5.1.1.14 Conclusão
Para o alçamento de /e/, em Piranga, constatamos que os fatores mais robustos
que o favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: in, un, i, u.
b) Vogal entre a vogal da variável a tônica: ausência, i, u, in, un.
c) Morfema em que a vogal esteja inserida: prefixos
de-/des-.
d) Paradigma com vogal aberta: sem paradigma.
e) Existem restrições lexicais.
Podemos perceber que em Piranga ocorre a harmonia vocálica, favorecida pela
vogal seguinte.
Para o alçamento de /e/, em Ouro Branco, constatamos que os fatores mais
robustos que o favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: in, un, i, u.
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: i, u, ausência.
c) Morfema em que a vogal esteja inserida: prefixos
de-/des-.
d) Paradigma com vogal aberta: sem paradigma.
e) Existem restrições lexicais.
184
Podemos perceber que em Ouro Branco também ocorre a harmonia vocálica,
favorecida pela vogal seguinte. Assim, notamos que diferença quantitativa entre as
duas cidades, para o alçamento de /e/, mas qualitativamente não diferença
significativa.
Para a abertura de /e/, em Piranga, constatamos que os fatores mais robustos
que a favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: a, E, O, an, en, on.
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: a, E, O, en, on.
c) Morfema em que a vogal esteja inserida: prefixos
re-/pre-/per
d) Paradigma com vogal aberta: ao analisar os itens para a vogal da sílaba tônica,
percebemos que o paradigma com vogal aberta parece favorecer a abertura, mas
é preciso fazer, em estudos posteriores, uma análise mais aprofundada para
confirmar este favorecimento.
Em Piranga ocorre a neutralização da oposição e/E em favor de [E] como
harmonia vocálica do grau de abertura com as vogais [a, E, O, an] na laba seguinte
(que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -ATR). E ocorre
também a neutralização da oposição em favor de [E], quando a vogal seguinte é [en,
on].
Para a abertura de /e/, em Ouro Branco, constatamos que os fatores mais
robustos que a favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: a, E, O
b) Paradigma com vogal aberta: com paradigma
Podemos perceber que em Ouro Branco também ocorre neutralização da
oposição e/E em favor de [E] como harmonia vocálica do grau de abertura com as
185
vogais [a, E, O] (que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -
ATR). Mas não ocorre a neutralização em outros contextos significativamente. Assim,
notamos que diferença quantitativa e qualitativa entre as duas cidades, para a
abertura de /e/.
Em Piranga e Ouro Branco a manutenção de /e/, neutralização de e/E em favor
de [e], é o maior percentual geral, bem significativo quando seguido de [e, o],
constituindo também um processo de harmonia vocálica.
5.1.2 A análise do /o/ em Piranga e Ouro Branco
As variáveis independentes que apresentaram significância para o alçamento e a
abertura de /o/, em Piranga e Ouro Branco, foram listadas nas tabelas abaixo:
TABELA 39
Resultados que apresentaram significância para o
alçamento de /o/, em Piranga no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
CV
Vogal da sílaba tônica
i, u
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
ausência
Morfema em que a variável esteja inserida
---------
Paradigma com vogal aberta
sem paradigma
Distância da sílaba tônica
--------
Classe
Morfológica
numeral
advérbio
adjetivo
verbo
Distância do início da palavra
--------
Número de silabas da palavra
2 sílabas
Modo do segmento precedente
oclusivas
Ponto do segmento precedente
-------
Modo do segmento seguinte
fricativas/africadas
líquidas
nasais
Ponto do segmento seguinte
--------
186
TABELA 40
Resultados que apresentaram significância para a abertura
de /o/, em Piranga no estilo entrevistas.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
CV
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
en, on,
an
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
a, E, O
ausência
Morfema em que a variável esteja inserida
---------
Paradigma com vogal aberta
com paradigma
Distância da sílaba tônica
---------
Classe
Morfológica
pronome
adjetivo
Distância do início da palavra
--------
Número de silabas da palavra
4 sílabas
3 sílabas
Modo do segmento precedente
nasais
Ponto do segmento precedente
---------
Modo do segmento seguinte
líquidas
fricativas/africadas
Ponto do segmento seguinte
-----------
TABELA 41
Resultados que apresentaram significância para o
alçamento de /o/, em Ouro Branco no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
CV
Vogal da sílaba tônica
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
i, u
Morfema em que a variável esteja inserida
-----------
Paradigma com vogal aberta
--------
Distância da sílaba tônica
distância 1
Classe
Morfológica
-------
Distância do início da palavra
---------
Número de silabas da palavra
2 sílabas
Modo do segmento precedente
oclusivas
Ponto do segmento precedente
--------
Modo do segmento seguinte
fricativas/africadas
Ponto do segmento seguinte
--------
187
TABELA 42
Resultados que apresentaram significância para a abertura de
/o/, em Ouro Branco no estilo entrevista.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Tipo silábico
------
Vogal da sílaba tônica
in, un
a, E, O
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
ausência
a, E, O
Morfema em que a variável esteja inserida
----------
Paradigma com vogal aberta
---------
Distância da sílaba tônica
distância 3 ou mais
Classe
Morfológica
--------
Distância do início da palavra
--------
Número de silabas da palavra
2 sílabas
Modo do segmento precedente
nasais
fricativas/africadas
Ponto do segmento precedente
--------
Modo do segmento seguinte
tepe
fricativas/ africadas
líquidas
Ponto do segmento seguinte
-------
5.1.2.1 Tipo silábico
TABELA 43
Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /o/ em
Piranga, no estilo entrevista.
49
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores
n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Tipo silábico
CVC
CCV
Outros
CV*
28/469
6/171
1/43
200/667
6,0
3,5
2,3
30,0
<0,001
0,368
0,001
0,02
0,10
0,01
1,00
39/469
45/171
0/43
200/667
8,3
26,3
0,0
30,0
<0,001
0,667
0,982
0,10
0,44
7,14E-009
1,00
* Fator de referência
Na tabela 43, foram listados os resultados do efeito da variável Tipo silábico, na
variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
49
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
188
A análise desses resultados indica que a chance de alçamento da variável
dependente /o/, no contexto silábico CV, é 50 (1,0/0,02) vezes a chance de alçamento de
/o/, no contexto silábico CVC, e 100 (1,0/0,01) vezes a chance de alçamento dessa
vogal, no contexto denominado Outros (CVS, CVCC, CCVS, CCVC).
O efeito do fator CCV, no alçamento da variável /o/, não é estatisticamente
significativo.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável dependente /o/, no contexto CV, é 10 (1,0/0,10) vezes a chance de abertura
dessa mesma vogal, no contexto CVC.
Os efeitos dos fatores CCV e Outros (CVS, CVCC, CCVS, CCVC), não são
estatisticamente significativos.
TABELA 44
Resultados do efeito da variável tipo silábico na variável dependente /o/ em
Ouro Branco, no estilo entrevista.
50
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores
n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Tipo silábico
CVC
CCV
Outros
CV*
38/485
5/141
0/28
102/650
7,8
3,5
0,0
15,7
<0,001
0,990
0,988
0,22
28895,44
2,04E-008
1,00
17/485
2/141
0/28
63/650
3,5
1,4
0,0
9,7
0,055
0,128
0,990
0,43
0,05
4,28E-008
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 44, foram indicados os resultados do efeito da variável Tipo silábico,
na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Os resultados indicam que a chance de alçamento da variável dependente /o/, no
contexto silábico CV, é 4,5 (1,0/0,22) vezes a chance de alçamento dessa mesma vogal,
50
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
189
no contexto silábico CVC. Os efeitos dos fatores CCV e Outros não são estatisticamente
significativos.
Em relação à abertura, os resultados indicam que nenhum dos fatores é
estatisticamente significativo.
5.1.2.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Nos resultados apresentados nas tabelas acima temos que, em Piranga e em
Ouro Branco, o tipo silábico CV favorece o alçamento de /o/.
5.1.2.1.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados indicam que o tipo silábico CV favorece a abertura de /o/, em
Piranga e que nenhum dos fatores apresenta significância para a abertura de /o/ em
Ouro Branco.
Assim como foi ressaltado anteriormente, para a variável dependente /e/, é
preciso analisar mais detidamente esse grupo de fator e sua interação com outros grupos
de fatores, também para a variável /o/.
É preciso que seja feita a análise da interação em estudos posteriores.
190
5.1.2.2 Vogal da sílaba tônica
TABELA 45
Resultados do efeito da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /o/ em
Piranga, no estilo entrevista.
51
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Vogal
sílaba
Tônica
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
58/507
15/135
83/283
29/76
11/114
39/235
11,4
11,1
29,3
38,2
9,6
16,6
0,527
0,989
0,001
0,011
0,018
1,26
0,99
3,55
3,25
0,16
1,00
175/507
30/135
22/283
8/76
44/114
5/235
34,5
22,2
7,8
10,5
38,6
2,1
<0,001
<0,001
0,528
0,037
<0,001
44,48
21,38
1,50
4,81
26,71
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 45, foram indicados os resultados do efeito da variável Vogal da
sílaba tônica, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento, a chance de alçamento de /o/, quando a vogal da
tônica é alta oral [i, u], é 3,5 vezes a chance de alçamento, quando a vogal tônica é
média oral [e, o]. A chance de alçamento, quando a vogal tônica é alta nasal [in, un], é
3,2 vezes a chance de alçamento, quando a vogal tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O] e Vogal baixa
nasal [an], não são estatisticamente significativos.
As vogais médias nasais [en, on] desfavorecem o alçamento de /o/, em relação
ao fator de referência.
Em relação à abertura, quase todos os fatores apresentam significância. A chance
de abertura de /o/, quando a vogal tônica é baixa ou média baixa oral [a, E, O], é 44,4
vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica é média oral [e, o]. A chance de
51
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
191
abertura, quando a vogal tônica é média nasal [en, on], é 26,7 vezes a chance de
abertura, quando a vogal tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a
vogal tônica é baixa nasal [an], é 21,3 vezes a chance de abertura, quando a vogal tônica
é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal tônica é alta nasal [in, un], é
4,8 vezes a chance de abertura quando a vogal tônica é média oral [e, o].
O efeito do fator Vogal alta oral [i, u] não é estatisticamente significativo.
TABELA 46
Resultados do efeito da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /o/
em Ouro Branco, no estilo entrevista.
52
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Vogal
sílaba
tônica
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
26/396
3/171
41/221
47/89
5/171
23/256
6,6
1,8
18,6
52,8
2,9
9,0
0,414
0,032
0,285
<0,001
0,002
0,74
0,23
1,44
12,25
0,15
1,00
47/396
5/171
4/221
17/89
6/171
3/256
11,9
2,9
1,8
19,1
3,5
1,2
0,004
0,516
0,943
0,001
0,800
7,55
1,72
1,06
31,03
1,23
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 46, foram listados os resultados do efeito da variável Vogal da sílaba
tônica, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento de /o/, quando a vogal da sílaba tônica é alta nasal [in,
un] é 12,2 vezes a chance de alçamento, quando a vogal da sílaba tônica é média oral [e,
o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O] e Vogal alta oral
[i, u] não são estatisticamente significativos.
A Vogal baixa nasal [an] e as Vogais médias nasais [en, on] desfavorecem o
alçamento de /o/, em relação ao fator de referência.
52
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
192
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura de /o/,
quando a vogal tônica é alta nasal [in, un], é 31,0 vezes a chance de abertura, quando a
vogal tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal tônica é baixa ou
média baixa oral [a, E, O], é 7,5 vezes a chance de abertura quando a vogal tônica é
média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa nasal [an], Vogal alta oral [i, u] e Vogal
média nasal [en, on] não são estatisticamente significativos.
5.1.2.2.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Viegas (2006), após analisar uma lista de palavras alçadas em Belo Horizonte,
afirma:
Vimos que, no /e/, a regularidade é muito maior que no caso do /o/
para um processo de harmonização vocálica favorecido pela vogal alta
seguinte, embora esse processo também atue no /o/, confirmando a
análise feita nas listas de palavras anteriores. Observamos que o
processo de redução inicial foi favorecido pelas consoantes adjacentes
principalmente as altas, podendo ser incluída a pronúncia do /s/,
palatalizado em algumas variedades do português. Há também um
favorecimento das labiais no caso do /o/. (VIEGAS, 2006)
Viegas conclui que:
A harmonia vocálica atingiu lexicalmente tanto o /e/ quanto o /o/, a
primeira etapa da redução vocálica atingiu mais significativamente o
/o/ e em poucas palavras na região de B.H. (VIEGAS, 2006)
Em Piranga, os resultados indicam que a presença de vogais altas orais [i, u] e
vogais altas nasais [in, un] na sílaba tônica, favorecem o alçamento de /o/,
Em Ouro Branco, a presença de vogais altas nasais [in, un] na laba tônica
favorece o alçamento de /o/
Assim, ocorre nessas cidades, o processo de harmonização vocálica.
Verificaremos mais adiante a influência das consoantes adjacentes.
193
5.1.2.2.2 Discussão dos resultados para a abertura
As conclusões de Célia (2004) a respeito da abertura das vogais médias
pretônicas são as mesmas para a variável dependente /e/ e para a variável dependente
/o/. Como foi mencionado anteriormente, Célia (2004) concluiu que o abaixamento
encontrado no dialeto capixaba é favorecido pelas vogais médias baixas e pela vogal
baixa, num processo variável de assimilação regressiva, e parece ser o mesmo que alça
as vogais médias em contexto de vogal alta.
Os resultados apresentados para a cidade de Piranga, na Tabela 45 sobre a
influência da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /o/, mostraram que
a abertura é favorecida pelas vogais médias baixas orais [E, O], pela vogal baixa oral [a]
e pela vogal baixa nasal [an].
Mas temos alguns resultados que não foram esperados.
Os resultados apontaram para um favorecimento da abertura de /o/ pelas vogais
altas nasais [in, un] e pelas vogais médias nasais [en, on].
Nos resultados temos 8 ocorrências abertas em 76 ocorrências que apresentaram
vogal alta nasal [in, un] na sílaba tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam
essas 8 ocorrências e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na
explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
- esc[O]linha (2 ocorrências), s[O]zinha (2 ocorrências), c[O]leguinha (1 ocorrência),
v[O]ltinha (1 ocorrência): essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que
favorece a abertura. Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são:
esc[O]la, s[Ó], c[O]lega, v[O]lta.
- pr[O]fundo (1 ocorrência): nessa palavra pode estar acontecendo um nivelamento
analógico com o prefixo pro-, que é favorecedor da abertura.
194
- c[O]luni (1 ocorrência): nessa palavra a abertura pode estar relacionada à nasalidade
da vogal seguinte, à consoante líquida adjacente ou ao item lexical. Coluni é o nome de
um colégio, que hoje é um colégio de aplicação, mas foi criado como colégio
universitário, por isso a sigla Coluni.
Observando, as 8 palavras encontradas podemos concluir que não parece ser a
vogal alta nasal [in, un] a responsável pela abertura delas, pois a maioria tem outras
explicações para essa abertura. Apenas a palavra c[O]luni, não pôde ser explicada.
Nos resultados temos 44 ocorrências abertas em 114 que apresentaram vogal
média nasal [en, on] na sílaba tônica. Verificamos no banco de dados quais seriam essas
44 ocorrências e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores na explicação
da realização da abertura, nas palavras encontradas.
- m[O]rrendo (4 ocorrências), c[O]rrendo (2 ocorrências), s[O]mente (2 ocorrências),
s[O]frendo (1 ocorrência), comp[O]rtamento (1 ocorrência), n[O]vembro (2
ocorrências), n[O]venta (2 ocorrências), p[O]demos (1 ocorrência), p[O]dendo (1
ocorrência), n[O]rmalmente (2 ocorrências), n[O]vamente (1 ocorrência): essas
palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com
vogal aberta correspondente aos anteriores são: m[O]rre, c[O]rre, s[Ó], s[O]fre,
comp[O]rta, n[O]ve, p[O]de, n[O]rma, n[O]va.
- t[O]talmente (3 ocorrências): essa palavra apresenta a vogal baixa oral [a] na sílaba
seguinte, que favorece a abertura.
- pr[O]blema (4 ocorrências), pr[O]blemas (1 ocorrência): nessas palavras pode estar
acontecendo um nivelamento analógico com o prefixo pro-, em que pode-se encontrar
uma explicação histórica para a abertura.
195
- m[O]mento (5 ocorrências), in[O]cência (2 ocorrências), in[O]cente (2 ocorrências),
in[O]centes (2 ocorrências), p[O]tência (2 ocorrências), ad[O]lescentes (1 ocorrência),
fed[O]rento (1 ocorrência), micr[O]fone (1 ocorrência), m[O]mentos (1 ocorrência):
nessas palavras não encontramos explicação para a abertura.
Observando as 44 ocorrências encontradas, podemos concluir que para muitas
delas é possível explicar o favorecimento da abertura, com base nos fatores
mencionados. Mas restaram 17 palavras que não puderem ser explicadas. Assim, as
vogais médias nasais [en, on] parecem favorecer a abertura de /o/, nessas palavras,
embora não seja o único fator favorecedor.
Podemos concluir, então, que em Piranga, as vogais médias baixas orais, a
vogal baixa (oral e nasal) e as vogais médias nasais favorecem a abertura de /o/. Além
desses fatores, o paradigma com vogal aberta e o prefixo pro- parecem favorecer a
abertura da média posterior. Há ainda questões lexicais atuando.
Os resultados apresentados para a cidade de Ouro Branco, na Tabela 46 sobre a
influência da variável vogal da sílaba tônica na variável dependente /o/, mostraram que
a abertura é favorecida pelas vogais médias baixas orais e pela vogal baixa oral.
Mas temos um resultado que não foi esperado.
Os resultados mostraram um favorecimento da abertura pelas vogais altas nasais
(in, un), com 17 ocorrências abertas em 89 que apresentaram vogal alta nasal na sílaba
tônica. Buscamos no banco de dados quais eram as 8 ocorrências e se poderia estar
ocorrendo interação com outros fatores na explicação da realização da abertura, nas
palavras encontradas.
- s[O]zinha (7 ocorrências), s[O]zinho (4 ocorrências), b[O]linha (1 ocorrência),
filh[O]tinha (1 ocorrência), filh[O]tinho (1 ocorrência), n[O]rdestino (1 ocorrência),
196
pac[O]tinho (1 ocorrência), esc[O]linha (1 ocorrência): essas palavras apresentam
paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com vogal aberta
correspondente aos anteriores são: s[O], b[O]la, filh[O]te, n[O]rdeste,, pac[O]te,
esc[O]la.
Observando, as 17 palavras encontradas parece-nos que não é a vogal alta nasal
[in, un] a responsável pela abertura delas, pois parece que uma influência do
paradigma. Mas, como o paradigma não deu favorecedor da abertura nos resultados do
SPSS, é preciso que seja feita uma análise mais aprofundada em estudos posteriores.
5.1.2.3 Vogal entre a vogal da variável e a tônica
TABELA 47
Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
53
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Vogal
entre
a vogal
da
Variável
e a
Tônica
Ausência de vogal
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
175/659
8/112
0/1
26/307
0/7
2/14
24/250
26,6
7,1
0,0
8,5
0,0
14,3
9,6
<0,001
0,674
0,999
0,985
0,994
0,399
4,05
1,28
1,31E-006
0,99
4,06E-008
0,46
1,00
218/659
51/112
0/1
4/307
0/7
0/14
11/250
33,1
45,5
0,0
1,3
0,0
0,0
4,4
<0,001
<0,001
0,999
<0,001
0,994
0,992
14,23
21,07
1,51E-006
0,06
3,13E-008
1,60E-007
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 47, foram listados os resultados do efeito da variável Vogal entre a
vogal da variável e a tônica, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo
Entrevista.
53
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
197
A chance de alçamento de /o/, quando não vogal entre a vogal da variável e a
tônica, é 4,0 vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica, é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O], Vogal baixa
nasal [an], Vogal alta oral [i, u], Vogal alta nasal [in, un] e Vogal média nasal [en, on]
não são estatisticamente significativos.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura de /o/,
quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é baixa ou média baixa oral [a, E,
O], é 21,0 vezes a chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura de /o/, quando não vogal entre a
vogal da variável e a tônica, é 14,2 vezes a chance de abertura, quando a vogal entre a
vogal da variável e a tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa nasal [an], Vogal alta nasal [in, un] e Vogal
média nasal [en, on] não são estatisticamente significativos. A vogal alta oral [i, u]
desfavorece a abertura de /o/, em relação ao fator de referência.
TABELA 48
Resultados do efeito da variável vogal entre a vogal da variável e a tônica na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
54
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Vogal
entre
a vogal
da
variável
e a
tônica
Ausência de vogal
Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O]
Vogal baixa nasal [an]
Vogal alta oral [i, u]
Vogal alta nasal [in, un]
Vogal média nasal [en, on]
Vogal média oral [e, o]*
113/616
2/111
0/3
19/233
0/8
0/19
11/314
18,3
1,8
0,0
8,2
0,0
0,0
3,5
<0,001
0,720
0,998
0,006
0,996
0,992
1,97E-008
0,67
2,14E-006
3,81
1,17E-006
1,94E-007
1,00
67/616
10/111
0/3
3/233
0/8
0/19
2/314
10,9
9,0
0,0
1,3
0,0
0,0
0,6
0,030
0,002
0,998
0,878
0,996
0,995
21,99
15,67
1,11E-005
0,85
2,47E-007
1,22E-006
1,00
* Fator de referência
54
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
198
Na Tabela 48, foram listados os resultados do efeito da variável Vogal entre a
vogal da variável e a tônica, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo
Entrevista.
A chance de alçamento de /o/, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica é alta oral [i, u], é 3,8 vezes a chance de alçamento, quando a vogal entre a vogal
da variável e a tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa e média baixa oral [a, E, O], Vogal baixa
nasal [an], Vogal alta nasal [in, un] e Vogal média nasal [en, on] não são
estatisticamente significativos.
O fator Ausência de vogal desfavorece o alçamento de /o/, em relação ao fator de
referência.
A chance de abertura de /o/, quando não vogal entre a vogal da variável e a
tônica, é 21,9 vezes a chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da variável e a
tônica é média oral [e, o]. A chance de abertura, quando a vogal entre a vogal da
variável e a tônica é baixa ou média baixa oral [a, E, O], é 15,6 vezes a chance de
abertura, quando a vogal entre a vogal da variável e a tônica é média oral [e, o].
Os efeitos dos fatores Vogal baixa nasal [an], Vogal alta oral [i,u], Vogal alta
nasal [in,un] e vogal média nasal [en, on] não são estatisticamente significativos.
5.1.2.3.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados indicam que o alçamento de /o/ é favorecido pela
ausência de vogal entre a vogal da variável e a tônica. Assim, podemos concluir que a
vogal tônica tem uma força maior sobre o alçamento da pretônica posterior quando está
contígua a ela.
199
Em Ouro Branco, a presença de vogais altas orais [i, u] entre a vogal da
variável e a tônica favorece o alçamento de /o/, confirmando que nessa cidade ocorre o
processo de harmonização vocálica, como foi afirmado na análise da vogal da sílaba
tônica.
5.1.2.3.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados indicam que a abertura de /o/ é favorecida pela
ausência de vogal entre a vogal da variável e a tônica e pela presença das vogais médias
baixas orais, pela vogal baixa oral entre a vogal da variável e a tônica.
Com base nessa análise, podemos concluir que uma vogal baixa ou média baixa
contígua, tônica (oral ou nasal) ou átona (oral), favorece o processo de abertura na
variável dependente /o/, na cidade de Piranga, ocorrendo nesses casos o processo de
assimilação regressiva, denominado por muitos autores de harmonização vocálica.
Em Ouro Branco, os resultados indicam que a abertura de /o/ é favorecida pela
ausência de vogal entre a vogal da variável e a tônica e pela presença das vogais médias
baixas orais [E, O] e pela vogal baixa oral [a] entre a vogal da variável e a tônica.
Com base nessa análise, podemos concluir que uma vogal baixa ou média baixa
contígua, tônica oral ou átona oral, favorece o processo de abertura na variável
dependente /o/, na cidade de Ouro Branco, ocorrendo nesses casos o processo de
harmonização vocálica.
200
5.1.2.4 Tipo de morfema em que a vogal esteja inserida
TABELA 49
Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal
esteja inserida na variável dependente /o/ em Piranga, no estilo
entrevista.
55
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Tipo de
morfema
Prefixo
Outros
Radical*
1/51
7/14
227/1285
2,0
50,0
17,7
----
----
----
----
2/51
2/14
280/1285
3,9
14,3
21,8
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 49, foram relacionados os resultados do efeito da variável Tipo de
morfema em que a vogal esteja inserida, na variável dependente /o/, em Piranga, no
estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 7.
TABELA 50
Resultados do efeito da variável tipo de morfema em que a vogal
esteja inserida na variável dependente /o/ em Ouro Branco, no
estilo entrevista.
56
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Tipo de
morfema
Prefixo
Outros
Radical*
0/19
12/25
133/1260
0,0
48,0
10,6
----
----
----
----
0/19
0/25
82/1260
0,0
0,0
6,5
----
----
----
----
* Fator de referência
55
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
56
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
201
Na Tabela 50, foram listados os resultados do efeito da variável Tipo de
morfema em que a vogal esteja inserida, na variável dependente /o/, em Ouro Branco,
no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura da variável /o/, a razão de chances não foi
exibida, pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode
ser visto no ANEXO 8.
5.1.2.4.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que a variável Tipo de morfema em que a vogal esteja
inserida tem efeitos iguais na variável dependente /o/, nas duas cidades estudadas:
nenhum dos fatores apresenta efeito significativo sobre essa variável, em relação ao
alçamento de /o/.
5.1.2.4.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em relação à abertura de /o/, os resultados indicam que nenhum dos fatores
apresenta efeito significativo sobre essa variável, para as duas cidades estudadas.
Entretanto ao analisar a influência da variável vogal da sílaba tônica na variável
dependente /o/, na cidade de Piranga, mostramos que pode haver um nivelamento
analógico com o prefixo pro- que parece favorecer a abertura dessa vogal,
A variável tipo de morfema em que a vogal esteja inserida merece ser analisada
mais cuidadosamente em estudos posteriores.
202
5.1.2.5 Paradigma com vogal aberta
TABELA 51
Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
57
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Paradigma
com
vogal aberta
Tem paradigma
Não tem paradigma*
4/38
231/1312
10,5
17,6
0,005
0,08
1,00
22/38
262/1312
57,9
20,0
0,028
3,35
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 51, foram listados os resultados do efeito da variável Paradigma com
vogal aberta, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento, os resultados indicam que a chance de alçamento de
/o/, em palavra não tem paradigma com vogal aberta é 12,5 (1,0/0,08) vezes a chance de
alçamento dessa mesma vogal, em palavra que tem paradigma com vogal aberta.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura de /o/, em
palavra que tem paradigma com vogal aberta, é 3,3 vezes a chance de abertura dessa
mesma vogal, em palavra que não tem paradigma com vogal aberta.
TABELA 52
Resultados do efeito da variável paradigma com vogal aberta na variável dependente
/o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
58
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores N
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Paradigma
com
Vogal aberta
Tem paradigma
Não tem paradigma*
0/52
145/1252
0,0
11,6
----
----- 19/52
63/1252
36,5
5,0
----
-----
* Fator de referência
57
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
58
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
203
Na Tabela 52, foram listados os resultados do efeito da variável Paradigma com
vogal aberta, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida
nos resultados, acima, pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa,
como pode ser visto no ANEXO 8.
5.1.2.5.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados indicam que o fator Não tem paradigma com vogal
aberta favorece o alçamento de /o/.
Em Ouro Branco nenhum dos fatores apresenta efeito significativo sobre essa
variável, em relação ao alçamento.
Parece-nos então que o paradigma com vogal aberta não influencia o alçamento
de /o/.
5.1.2.5.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados da Tabelas 51 indicam que, em Piranga, a abertura de /o/ é
favorecida em palavras que têm paradigma com vogal aberta. Ao analisar a influência
da variável vogal da sílaba tônica na abertura de /o/, mostramos que esse fator é
realmente importante para a abertura dessa vogal em Piranga.
Em Ouro Branco nenhum dos fatores apresenta efeito significativo em relação
à abertura da variável /o/.
Contudo, ao analisar a influência da variável vogal da sílaba tônica na abertura
de /o/, mostramos que esse fator é importante para a abertura dessa vogal em Ouro
Branco.
204
O fator Paradigma com vogal aberta precisa ser analisado mais detidamente, em
estudos posteriores.
5.1.2.6 Distância da sílaba tônica
TABELA 53
Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
59
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Distância da
sílaba tônica
Distância 3 ou mais
Distância 2
Distância 1*
5/142
55/549
175/659
3,5
10,0
26,6
----
----
----
----
5/142
61/549
218/659
3,5
11,1
33,1
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 53, foram listados os resultados do efeito da variável Distância da
sílaba tônica, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 7.
TABELA 54
Resultados do efeito da variável distância da sílaba tônica na variável dependente
/o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
60
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Distância da
Sílaba
tônica
Distância 3 ou mais
Distância 2
Distância 1*
3/122
28/570
114/612
2,5
4,9
18,6
<0,001
----
2,71E-009
3,70E-009
1,00
5/122
11/570
66/612
4,1
1,9
10,8
0,039
0,610
19,07
1,87
1,00
* Fator de referência
59
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
60
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
205
Na Tabela 54, foram listados os resultados do efeito da variável Distância da
sílaba tônica, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /o/, os resultados indicam que distância 1 apresenta
diferença estatisticamente significativa em relação a 3 ou mais, sendo a distância 1
muito favorecedora do alçamento do /o/ em relação à distância 3 ou mais.
A significância do fator Distância 2 não foi indicada, porque o software não
atribuiu significância para esse fator.
Em relação à abertura de /o/, a chance de abertura de /o/, quando se encontra a
uma distância 3 ou mais da sílaba tônica é 19,0 vezes a chance de abertura quando se
encontra ao lado da sílaba tônica (distância 1).
O efeito do fator Distância 2 não é estatisticamente significativo.
5.1.2.6.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados indicam que nenhum fator apresentou significância
em relação ao alçamento de /o/.
Em Ouro Branco, a distância 1 da sílaba tônica favorece o alçamento de /o/.
5.1.2.6.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados indicam que nenhum fator apresentou significância
em relação à abertura de /o/.
Em Ouro Branco, a distância 3 ou mais da laba tônica favorece a abertura de
/o/.
É preciso fazer uma análise mais cuidada da influência da variável Distância da
sílaba tônica, no alçamento e na abertura de /o/. Para isso é preciso conjugar essa
206
variável com a variável distância do início da palavra, pois pode haver questões
acentuais que mudem os resultados. Faremos o cruzamento em estudos posteriores.
5.1.2.7 Classe Morfológica
TABELA 55
Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável dependente /o/ em
Piranga, no estilo entrevista.
61
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independ.
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Classe
morfológica
Adjetivo
Verbo
Advérbio
Conectivo
Pronome
Numeral
Outros
Substantivo*
29/142
106/536
1/11
----
1/41
7/11
0/4
91/605
20,4
19,8
9,1
----
2,4
63,6
0,0
15,0
<0,001
<0,001
0,006
----
0,005
<0,001
----
5,37
3,70
71,48
----
0,04
189,81
0,34
1,00
36/142
111/536
8/11
----
13/41
2/11
4/4
110/605
25,4
20,7
72,7
----
31,7
18,2
100,0
18,2
0,001
0,080
0,501
----
<0,001
0,031
0,997
4,43
1,59
1,88
----
33,79
0,08
126848946,08
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 55, foram listados os resultados do efeito da variável Classe
morfológica, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /o/, em numeral, é 189,8 vezes a
chance de alçamento, em substantivo. A chance de alçamento, em advérbio, é 71,4
vezes a chance de alçamento, em substantivo. A chance de alçamento, em adjetivo, é
5,3 vezes a chance de alçamento, em substantivo. A chance de alçamento, em verbo, é
3,7 vezes a chance de alçamento, em substantivo.
A significância do fator Outros não foi indicada, porque o software não
consegue estimar a significância por não ter dados suficientes para isso.
O fator Pronome desfavorece o alçamento de /o/, em relação ao fator de
referência.
61
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
207
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável dependente /o/, em pronome, é 33,7 vezes a chance de abertura, em
substantivo. A chance de abertura, em adjetivo, é 4,4 vezes a chance de abertura, em
substantivo.
Os efeitos dos fatores Verbo, Advérbio, Outros não são estatisticamente
significativos.
O fator Numeral desfavorece a abertura de /o/, em relação ao fator de referência.
TABELA 56
Resultados do efeito da variável classe morfológica na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
62
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Classe
morfológica
Adjetivo
Verbo
Advérbio
Conectivo
Pronome
Numeral
Outros
Substantivo*
17/131
68/533
0/13
0/1
0/23
5/10
0/1
65/592
13,0
10,9
0,0
0,0
0,0
50,0
0,0
11,0
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
21/131
29/533
3/13
0/1
0/23
0/10
1/1
28/592
16,0
5,4
23,1
0,0
0,0
0,0
100,0
4,7
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 56, foram listados os resultados do efeito da variável Classe
morfológica, na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 8.
62
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
208
5.1.2.7.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que, em Piranga, o alçamento de /o/ é favorecido pelos
numerais, pelos advérbios, pelos adjetivos e pelos verbos. Em Ouro Branco, nenhum
fator apresenta efeito significativo.
5.1.2.7.2 Discussão dos resultados para a abertura
A abertura de /o/, em Piranga, é favorecida pelos pronomes e pelos adjetivos;
em Ouro Branco, nenhum fator apresenta efeito significativo.
O fator classe morfológica deve ser estudado junto com a formação da palavra, o
que deverá ser feito em estudos posteriores.
Para mostrar que a formação da palavra pode estar influenciando os resultados,
temos o exemplo: os resultados da Tabela 55 indicam que em Piranga, de um total de
11 numerais, 7 apresentaram a pretônica posterior alçada. Ao verificarmos quais eram
essas palavras encontramos: quatr[u]centos (4 ocorrências) e oit[u]centos (3
ocorrências). Nessas palavras temos a seguinte formação: quatro + centos e oito +
centos. A vogal alçada é a vogal final das palavras quatr[u] e oit[u], que são
pronunciadas alçadas, em grande percentual.
Parece-nos que não é a classe de palavras numerais que favorece o alçamento
dessas palavras, mas sim o morfema em que a vogal pretônica /o/ está inserida. Por isso
é importante estudar esse fator mais a fundo, em estudos posteriores.
209
5.1.2.8 Distância do início da palavra
TABELA 57
Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
63
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Distância da
sílaba tônica
3ª e 4ª sílabas
2ªsílaba
1ªsílaba*
1/19
29/276
205/1055
5,3
10,5
19,4
----
----
----
----
4/19
59/276
221/1055
21,1
21,4
20,9
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 57, foram listados os resultados do efeito da variável Distância do
início da palavra, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 7.
TABELA 58
Resultados do efeito da variável distância do início da palavra na
variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
64
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Distância da
sílaba tônica
3ª e 4ª sílabas
2ªsílaba
1ªsílaba*
0/43
31/306
114/955
0,0
10,1
11,9
----
----
----
----
3/43
15/306
64/955
7,0
4,9
6,7
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 58, foram apresentados os resultados do efeito da variável Distância
do início da palavra, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
63
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
64
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
210
A razão de chances, referente ao alçamento e abertura de /o/, não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 8.
5.1.2.8.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que a variável Distância do início da palavra tem efeitos
iguais na variável dependente /o/, nas duas cidades estudadas: nenhum dos fatores
apresenta efeito significativo sobre essa variável, em relação ao alçamento de /o/.
5.1.2.8.1 Discussão dos resultados para a abertura
Em relação à abertura de /o/, os resultados indicam que nenhum dos fatores
apresenta efeito significativo sobre essa variável, para as duas cidades estudadas.
É preciso conjugar, em estudos posteriores, o fator Distância do início da
palavra com os fatores Distância da sílaba tônica e Número de sílabas da palavra, para
termos resultados mais precisos.
5.1.2.9 Número de sílabas da palavra
TABELA 59
Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
65
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Número de
sílabas
3 sílabas
4 sílabas
5 sílabas
2 sílabas*
151/683
62/464
11/190
11/13
22,1
13,4
5,8
84,6
0,031
0,007
<0,001
0,13
0,07
0,01
1,00
182/683
85/464
17/190
0/13
26,6
18,3
8,9
0,0
<0,001
<0,001
----
74489057,41
70502497,38
32469685,04
*Fator de referência
65
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
211
Na Tabela 59, foram indicados os resultados do efeito da variável Número de
sílabas da palavra, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento de /o/, em palavra de 2 sílabas, é 100 (1,0/0,01) vezes a
chance de alçamento, em palavra de 5 sílabas, 14,2 (1,0/0,07) vezes a chance de
alçamento, em palavra de 4 sílabas e 7,6 (1,0/0,13) vezes a chance de alçamento, em
uma de 3 sílabas.
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura de /o/, em
palavra com 4 sílabas, é 70502497,3 vezes a chance de abertura, em palavra com 2
sílabas. A chance de abertura, em palavra com 3 sílabas, é 74489057,4 vezes a chance
de abertura em palavra com 2 sílabas.
A significância do fator 5 sílabas não foi indicada, porque o software não
atribuiu significância para esse fator.
TABELA 60
Resultados do efeito da variável número de sílabas da palavra na
variável dependente /o/ em Ouro Branco.
66
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Número de
sílabas
3 sílabas
4 sílabas
5 sílabas
2 sílabas*
85/671
41/412
6/202
13/19
12,7
10,0
3,0
68,4
<0,001
0,001
<0,001
0,08
0,09
0,04
1,00
56/671
18/412
6/202
2/19
8,3
4,4
3,0
10,5
0,077
0,095
0,026
0,16
0,16
0,06
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 60, foram apresentados os resultados do efeito da variável Número de
sílabas da palavra, na variável dependente /o/, em Ouro Branco.
A chance de alçamento de /o/, em palavra com 2 labas, é 25 (1,0/0,04) vezes a
chance de alçamento, em palavra com 5 sílabas, 11,1 (1,0/0,09) vezes a chance de
66
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
212
alçamento, em palavra com 4 sílabas e 12,5 (1,0/0,08) vezes a chance de alçamento, em
palavra com 3 sílabas.
A chance de abertura de /o/, em palavra com 2 sílabas, é 16,6 (1,0/0,06) vezes a
chance de abertura, em palavra com 5 sílabas.
Os efeitos dos fatores 3 e 4 sílabas não são estatisticamente significativos.
5.1.2.9.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Os resultados indicam que, em Piranga e em Ouro Branco, o alçamento de /o/
é favorecido em palavras com 2 sílabas.
5.1.2.9.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, a abertura de /o/ é favorecida em palavras com 3 e 4 sílabas; em
Ouro Branco, em palavras com 2 sílabas.
Em estudos posteriores, conjugaremos o fator Número de labas da palavra
com os fatores Distância da sílaba tônica e Distância do início da palavra. Assim,
poderemos observar questões acentuais e teremos resultados mais precisos.
213
5.1.2.10 Modo do segmento precedente
TABELA 61
Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
67
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Modo do
segmento
precedente
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
6/172
41/181
9/79
1/24
178/894
3,5
22,7
11,4
4,2
19,9
0,630
0,065
0,016
0,791
0,29
1,85
0,25
0,71
1,00
45/172
47/181
45/79
15/24
132/894
26,2
26,0
57,0
62,5
14,8
0,495
0,525
0,047
0,169
3,63
0,81
2,34
3,73
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 61, foram apresentados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento precedente, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /o/, quando precedida por
oclusivas, é 4,0 (1,0/0,25) vezes a chance de alçamento dessa variável, quando
precedida por nasais.
Os efeitos dos fatores Tepe, Fricativas/africadas e Líquidas não são
estatisticamente significativos.
Em relação à abertura, a chance de abertura de /o/, quando precedida por nasal é
2,3 vezes a chance de abertura dessa variável, quando precedida por oclusivas.
Os efeitos dos fatores Tepe, Fricativas/africadas e Líquidas não são
estatisticamente significativos.
67
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
214
TABELA 62
Resultados do efeito da variável modo do segmento precedente na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
68
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Modo do
segmento
precedente
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
5/145
23/187
5/80
0/44
112/848
3,4
12,3
6,3
0,0
13,2
0,988
0,001
0,011
0,986
3,77E-006
0,24
0,22
1,00E-009
1,00
3/145
27/187
16/80
5/44
31/848
2,1
14,4
20,0
11,4
3,7
0,106
0,001
0,002
0,249
19,25
6,19
7,73
2,76
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 62, foram indicados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento precedente, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /o/, os resultados indicam que a chance de
alçamento da variável dependente /o/, quando precedida por oclusivas, é 4,5 (1,0/0,22)
vezes a chance de alçamento dessa vogal quando precedida por nasais e 4,1 (1,0/0,24)
vezes a chance de alçamento dessa vogal quando precedida por fricativas/africadas.
Os efeitos dos fatores Tepe e Líquidas não são estatisticamente significativos
Em relação à abertura, os resultados indicam que a chance de abertura da
variável dependente /o/, quando precedida por nasais, é 7,7 vezes a chance de abertura,
quando precedida por oclusivas. A chance de abertura, quando precedida por
fricativas/africadas, é 6,1 vezes a chance de abertura, quando precedida por oclusivas.
Os efeitos dos fatores Tepe e Líquidas não são estatisticamente significativos.
68
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
215
5.1.2.10.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga e em Ouro Branco os resultados apresentados na Tabela 61 e 62,
indicam que em relação à variável modo do segmento precedente, um favorecimento
do alçamento de /o/ pelo fator oclusivas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ alçada precedida
por oclusivas constatamos um grande número de palavras em que o contexto vocálico
seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) precedida por oclusiva em Piranga: das 894 ocorrências precedidas por oclusivas, 178
alçaram. Dessas, 112 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 66 ocorrências
que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- ap[u]sentado (1 ocorrência), ap[u]sentados (1 ocorrência), b[u]neca (3 ocorrências),
c[u]berta (1 ocorrência), c[u]meça (5 ocorrências), c[u]meçado (1 ocorrência),
c[u]meçando (1 ocorrência), c[u]meçar (4 ocorrências), c[u]meçaram (1 ocorrência),
c[u]meçava (1 ocorrência), c[u]mecei (8 ocorrências), c[u]meço (2 ocorrências),
c[u]meçou (4 ocorrências), c[u]nhece (2 ocorrências), c[u]nhecer (1 ocorrência),
c[u]nheço (2 ocorrências), c[u]nversa (1 ocorrência), c[u]nversando (3 ocorrências),
c[u]nverso (1 ocorrência), c[u]nversou (2 ocorrências), g[u]verno (17 ocorrências),
t[u]lerando (1 ocorrências), oit[u]centos (3 ocorrências). Quase todas essas palavras
são seguidas por nasais, que, como veremos ao analisar o modo do segmento seguinte, é
um fator favorecedor do alçamento. Então pode estar havendo uma interação entre
oclusivas precedentes e nasais seguintes.
216
a) precedida por oclusiva em Ouro Branco: das 848 ocorrências precedidas por
oclusivas, 112 alçaram. Dessas, 82 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 30
ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- b[u]teco (3 ocorrências), c[u]meça (1 ocorrência), c[u]meçam (1 ocorrência),
c[u]mecei (2 ocorrências), c[u]meçou (2 ocorrências), c[u]nhece (1 ocorrência),
c[u]nhecer (1 ocorrência), c[u]nhecesse (1 ocorrência), c[u]nheço (5 ocorrências),
c[u]nversa (1 ocorrência), c[u]nverso (2 ocorrências), g[u]vernador (1 ocorrência),
g[u]verno (4 ocorrências), t[u]lerar (1 ocorrência), oit[u]centos (4 ocorrências).
Quase todas essas palavras são seguidas por nasais, esse fator não se apresentou como
favorecedor do alçamento em Ouro Branco, mas aventamos a possibilidade de estar
havendo interação entre oclusivas precedentes e nasais seguintes.
Nas duas cidades, a única palavra precedida por oclusiva em contexto vocálico
desfavorecedor e que pôde ser explicada de outra forma foi a palavra oitocentos: nela
temos a formação oito + centos. A vogal alçada em oitocentos é a vogal final da palavra
oito[u], que é pronunciada alçada nessa palavra.
Parece-nos, então, que além das vogais altas na silaba tônica e/ou entre a vogal
da variável e a tônica, as consoantes oclusivas precedentes favorecem o alçamento de
/o/, em Piranga e em Ouro Branco.
5.1.2.10.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 61, indicam que em relação
à variável modo do segmento precedente, há um favorecimento da abertura de /o/ pelo
fator nasais.
217
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ aberta, precedida
por nasais, constatamos que na maioria das vezes o contexto vocálico seguinte era
favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal ou uma vogal média
baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
a) precedida por nasal: das 79 ocorrências precedidas por nasal, 45 foram realizadas
abertas. Dessas, 25 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 20 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- m[O]rrendo (5 ocorrências), n[O]venta (2 ocorrências): essas palavras apresentam
paradigma com vogal aberta, que parece favorecer a abertura. Os itens com vogal aberta
correspondentes aos anteriores são: m[O]rre e n[O]ve. Como vimos no item
5.1.2.2.2
,
em Piranga, o fator vogal média nasal na sílaba tônica é favorecedor da abertura de /o/.
Aqui pode estar acontecendo interação entre o paradigma com vogal aberta e a vogal
média nasal .
- in[O]cência (2 ocorrências), in[O]cente (2 ocorrências), in[O]centes (2 ocorrências),
m[O]mento (6 ocorrências), m[O]mentos (1 ocorrência): o que favorece a abertura
dessas palavras parece ser a vogal média nasal na sílaba tônica. Como vimos no item
5.1.2.2.2
, em Piranga, esse fator é favorecedor da abertura de /o/. Aqui pode estar
acontecendo interação entre a nasal precedente e a vogal média nasal seguinte.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 62, indicam que em
relação à variável modo do segmento precedente, um favorecimento da abertura de
/o/ pelos fatores nasais e fricativas/africadas.
218
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ aberta, precedida
por nasais e fricativas/africadas constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal
ou uma vogal média baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
a) precedida por nasal: das 80 ocorrências precedidas por nasal, 16 apresentaram
realização aberta. Dessas, 15 apresentaram contexto vocálico favorecedor. A única
ocorrência que não apresentou contexto vocálico favorecedor foi:
- n[O]vena: essa palavra apresenta paradigma com vogal aberta, que pode estar
favorecendo a abertura. O item com vogal aberta correspondente a n[O]vena é n[O]ve.
b) precedida por fricativa: das 187 ocorrências precedidas por fricativas/africadas, 27
apresentaram realização aberta. Observamos que todas elas foram precedidas por
fricativas e que 15 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 12 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- f[O]rtíssimo (1 ocorrência), s[O]zinha (7 ocorrência), s[O]zinho (4 ocorrência): essas
palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com
vogal aberta correspondente aos anteriores são: f[O]rte e s[Ó].
Observando então, as palavras encontradas, parece-nos que não é o modo das
consoantes precedentes o fator responsável pela abertura, pois parece que há uma
influência do paradigma. Mas, como o paradigma não deu favorecedor da abertura nos
resultados do SPSS, é preciso que seja feita uma análise mais cuidada em estudos
posteriores.
219
5.1.2.11 Ponto do segmento precedente
TABELA 63
Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
69
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Ponto do
segmento
precedente
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
80/260
98/678
57/412
30,8
14,5
13,8
-----
-----
-----
-----
----
----
56/260
104/678
124/412
21,5
15,3
30,1
-----
-----
-----
-----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 63, foram organizados os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento precedente, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 7.
TABELA 64
Resultados do efeito da variável ponto do segmento precedente na
variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista
70
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Ponto do
segmento
precedente
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
37/226
57/677
51/401
16,4
8,4
12,7
0,932
0,103
0,96
0,52
1,00
19/226
30/677
33/401
8,4
4,4
8,2
0,612
0,211
0,77
2,08
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 64, foram dispostos os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento precedente, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e abertura de /o/, os resultados indicam que nenhum
dos fatores é estatisticamente significativo.
69
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
70
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
220
5.1.2.11.1 Discussão dos resultados para o alçamento
A variável Ponto do segmento precedente em Piranga e Ouro Branco não
apresenta efeitos significativos no alçamento da variável dependente /o/.
5.1.2.11.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga e em Ouro Branco, os resultados apresentados nas Tabelas 63 e
64, indicam que em relação à variável ponto do segmento precedente, nenhum dos
fatores apresentou significância para a abertura de /o/.
5.1.2.12 Modo do segmento seguinte
TABELA 65
Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
71
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Modo
do
segmento
seguinte
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
3/55
97/380
75/588
37/110
23/217
5,5
25,5
12,8
33,6
10,6
0,583
<0,001
<0,001
<0,001
0,66
27,7
4,32
14,53
1,00
20/55
85/380
62/588
48/110
69/217
36,4
22,4
10,5
43,6
31,8
0,265
0,007
0,006
<0,001
0,57
2,71
0,35
9,24
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 65, foram listados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento seguinte, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /o/, quando seguida por
fricativas/africadas é 27,7 vezes a chance de alçamento, quando seguida de oclusivas. A
chance de alçamento dessa variável quando seguida por líquidas é 14,5 vezes a chance
de alçamento, quando seguida de oclusivas. A chance de alçamento da variável /o/,
71
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
221
quando seguida por nasais é 4,32 vezes a chance de alçamento, quando seguida de
oclusivas.
O efeito do fator Tepe não é estatisticamente significativo.
A chance de abertura da variável dependente /o/, quando seguida por quidas é
9,2 vezes a chance de abertura, quando seguida de oclusivas. A chance de abertura
dessa variável quando seguida por fricativas/africadas é 2,7 vezes a chance de abertura,
quando seguida de oclusivas.
O efeito do fator Tepe não é estatisticamente significativos.
O fator Nasais desfavorece a abertura de /o/, em relação ao fator de referência.
TABELA 66
Resultados do efeito da variável modo do segmento seguinte na
variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
72
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Modo do
segmento
seguinte
Tepe
Fricativas/africadas
Nasais
Líquidas
Oclusivas*
0/54
67/347
48/582
13/157
17/164
0,0
19,3
8,2
8,3
10,4
0,994
0,002
0,834
0,369
3,71E-
008
3,22
0,91
0,64
1,00
18/54
37/347
5/582
16/157
6/164
33,3
10,7
0,9
10,2
3,7
0,002
<0,001
0,268
0,014
8,51
10,51
0,43
5,05
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 66, foram listados os resultados do efeito da variável Modo do
segmento seguinte, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
A chance de alçamento da variável dependente /o/, quando seguida por
fricativas/africadas é 3,22 vezes a chance de alçamento, quando seguida de oclusivas.
O efeito dos fatores Tepe, Nasais e Líquidas não são estatisticamente
significativos.
72
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
222
A chance de abertura da variável dependente /o/, quando seguida por
fricativas/africadas é 10,5 vezes a chance de abertura, quando seguida de oclusivas. A
chance de abertura dessa variável quando seguida por tepe é 2,7 vezes a chance de
abertura, quando seguida por oclusivas. A chance de abertura da variável /o/, quando
seguida por líquidas é 5,0 vezes a chance de abertura, quando seguida por oclusivas.
O efeito do fator Nasais não é estatisticamente significativo.
5.1.2.12.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 65, indicam que em relação
à variável modo do segmento seguinte, um favorecimento do alçamento de /o/ pelos
fatores fricativas/africadas, líquidas e nasais.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ alçada, seguida
por fricativas/africadas, líquidas ou nasais, constatamos um grande número de palavras
em que o contexto vocálico seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma
vogal alta oral ou nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) seguida por fricativa: das 380 ocorrência seguidas por fricativas/africadas, 97
alçaram. Dessas, 51 apresentaram contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 46
ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram seguidas apenas
por fricativas:
- alm[u]çava (1 ocorrência), ap[u]sentado (1 ocorrência), ap[u]sentados (1 ocorrência),
apr[u]veitou (1 ocorrência), ch[u]vendo (3 ocorrências), g[u]verno (17 ocorrências),
223
oit[u]centos (3 ocorrências), quatr[u]centos (4 ocorrências), r[u]sário (14 ocorrências),
s[u]ssegado (1 ocorrência).
b) seguida por líquida: das 110 ocorrências seguidas por líquidas, 37 alçaram. Dessas,
35 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 2 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
- m[u]leque (1 ocorrência) , t[u]lerando (1 ocorrência). Apenas 2 ocorrências não nos
permite afirmar o favorecimento da líquida, o alçamento nessas palavras pode estar
relacionado ao item lexical.
c) seguida por nasal: das 588 ocorrências seguidas por quidas, 75 alçaram. Dessas, 31
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 44 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
-b[u]neca (3 ocorrências), c[u]meça (6 ocorrências), c[u]meçado (1 ocorrência),
c[u]meçando (1 ocorrência), c[u]meçar (4 ocorrências), c[u]meçaram (1 ocorrência),
c[u]meçava (1 ocorrência), c[u]mecei (8 ocorrências), c[u]meço (2 ocorrências),
c[u]meçou (4 ocorrências), c[u]nhece (2 ocorrências), c[u]nhecer (1 ocorrência),
c[u]nheço (2 ocorrências), c[u]nversa (1 ocorrência), c[u]nversando (3 ocorrências),
c[u]nverso (1 ocorrência), c[u]nversou (2 ocorrências), m[u]ntoeira (1 ocorrência).
Aqui pode estar acontecendo interação entre as oclusivas precedentes e as nasais
seguintes. Pode ser que uma delas esteja favorecendo o alçamento ou pode ser que as
duas, que ambas deram favorecedoras do alçamento no SPSS. Tentaremos confirmar
estes resultados na análise dos testes.
As palavras seguidas por fricativas, em contexto vocálico desfavorecedor e que
puderam ser explicadas de outra forma, foram as palavras oitocentos e quatrocentos:
224
nela temos as formações oito + centos e quatro + centos. A vogal alçada é a vogal final
da palavra oit[u] e da palavra quatr[u], que é pronunciada alçada nessas palavras.
Parece-nos que, além das vogais altas na silaba tônica e/ou na sílaba seguinte,
algumas consoantes (oclusivas precedentes, nasais e fricativas seguintes) favorecem o
alçamento de /o/, em Piranga.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 66, indicam que em
relação à variável modo do segmento seguinte, há um favorecimento do alçamento de
/o/ pelo fator fricativas/africadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ alçada seguida
por fricativas/africadas constatamos um grande número de palavras em que o contexto
vocálico seguinte era favorecedor do alçamento, ou seja, era uma vogal alta oral ou
nasal.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização do alçamento, nas palavras encontradas.
a) seguida por fricativa: das 347 ocorrências seguidas por fricativas/africadas, 67
alçaram. Dessas, 52 apresentaram contexto vocálico favorecedor. Observamos que as 15
ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram seguidas apenas
por fricativas:
apr[u]veitam (1 ocorrência), apr[u]veitando (1 ocorrência), apr[u]veitar (2
ocorrências), g[u]vernador (1 ocorrência), g[u]verno (4 ocorrências), s[u]ssego (1
ocorrência), oit[u]centos (4 ocorrências), quatr[u]centos (1 ocorrência).
As palavras seguidas por fricativas, em contexto vocálico desfavorecedor e que
puderam ser explicadas de outra forma, foram as palavras oitocentos e quatrocentos:
225
nela temos as formações oito + centos e quatro + centos. A vogal alçada é a vogal final
da palavra oit[u] e da palavra quatr[u], que é pronunciada alçada nessas palavras.
Parece-nos que, além das vogais altas na silaba tônica e/ou na sílaba seguinte,
algumas consoantes (oclusivas precedentes e fricativas seguintes) favorecem o
alçamento de /o/, em Ouro Branco.
5.1.2.12.2 Discussão dos resultados para a abertura
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 65, indicam que em relação
à variável modo do segmento seguinte, há um favorecimento da abertura de /o/ pelos
fatores líquidas e fricativas/africadas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ aberta, seguida
por líquidas e fricativas/africadas constatamos que na maioria das vezes o contexto
vocálico seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa oral ou nasal
ou uma vogal média baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
a) seguida por líquida: das 110 ocorrências seguidas por líquidas, 48 foram realizadas
abertas. Dessas, 41 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 7 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- c[O]leguinha (1 ocorrência), esc[O]linha (2 ocorrências), v[O]ltinha (1 ocorrência):
essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os
itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são: c[o]lega, esc[O]la, v[O]lta.
226
- p[O]liesportivo (1 ocorrência): a abertura nessa palavra ocorre no radical –p[O]li, que
é pronunciado aberto.
- c[O]luni (1 ocorrência): nessa palavra a abertura pode estar relacionada à nasalidade
da vogal seguinte, à consoante líquida seguinte ou ao item lexical.
- ad[O]lescentes (1 ocorrência): o que favorece a abertura dessas palavras é a vogal
média nasal na sílaba tônica. Como vimos no item 5.1.2.2.2, em Piranga, esse fator
parece ser favorecedor da abertura de /o/.
b) seguida por fricativa: das 380 ocorrências seguidas por fricativas/africadas, 97 foram
realizadas abertas. Observamos que todas elas foram seguidas por fricativas e que 75
apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 22 ocorrências que não apresentaram
contexto vocálico favorecedor foram:
- c[O]rrendo (2 ocorrências), m[O]rrendo (5 ocorrências), n[O]vembro (2 ocorrências),
n[O]venta (2 ocorrências), s[O]frendo (1 ocorrência), s[O]zinha (2 ocorrências): essas
palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com
vogal aberta correspondente aos anteriores são: c[O]rre, m[O]rre, n[O]ve, s[O]fre,
s[Ó]. Há ainda uma possível interação com a vogal nasal na sílaba seguinte.
- pr[O]fundo (1 ocorrência): nessa palavra pode estar acontecendo um nivelamento
analógico com o prefixo pro-, em que pode-se encontrar uma explicação histórica para a
abertura.
-in[O]cência (2 ocorrências), in[O]cente (2 ocorrências), in[O]centes (2 ocorrências),
micr[O]fone (1 ocorrência): o que favorece a abertura dessas palavras é a vogal média
nasal na sílaba tônica. Como vimos no item 5.1.2.2.2, em Piranga, esse fator parece ser
favorecedor da abertura de /o/.
227
Observando então, as palavras encontradas, podemos concluir que não parece
ser o modo das consoantes seguintes o fator responsável pela abertura delas, pois
outras explicações para essa abertura. Parece-nos que são as vogais dias baixas, a
vogal baixa e as vogais médias nasais na laba tônica e/ou entre a vogal da variável e a
tônica e o paradigma com vogal aberta que favorecem a abertura de /o/, em Piranga.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 66, indicam que em
relação à variável modo do segmento seguinte, um favorecimento da abertura de /o/
pelos fatores tepe, fricativas/africadas e líquidas.
Ao observar todas as palavras que apresentaram a pretônica /o/ aberta, seguida
por tepe, fricativas/africadas e líquidas constatamos que na maioria das vezes o
contexto vocálico seguinte era favorecedor da abertura, ou seja, era uma vogal baixa
oral ou nasal ou uma vogal média baixa oral.
Verificamos no banco de dados quais foram as palavras que não apresentaram o
contexto vocálico favorecedor e se poderia estar ocorrendo interação com outros fatores
na explicação da realização da abertura, nas palavras encontradas.
a) seguida por tepe: das 54 ocorrências seguidas por tepe, 18 foram realizadas abertas.
Todas elas apresentaram contexto vocálico favorecedor.
b) seguida por fricativa/africada: das 347 ocorrências seguidas por fricativas/africadas,
37 foram realizadas abertas. Dessas, 19 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As
18 ocorrências que não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- c[O]rrendo (1 ocorrência), d[O]rmiam (1 ocorrência), filh[O]tinha (1 ocorrência),
filh[O]tinho (1 ocorrência), f[O]rtíssimo (1 ocorrência), n[O]vena (1 ocorrência),
pac[O]tinho (1 ocorrência), s[O]zinha (7 ocorrências), s[O]zinho (4 ocorrências): essas
palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a abertura. Os itens com
228
vogal aberta correspondente aos anteriores são: c[O]rre, d[O]rme, filh[O]te, f[O]rte,
n[O]ve, pac[O]te, s[Ó].
c) seguida por líquida: das 157 ocorrências seguidas por líquidas, 16 foram realizadas
abertas. Dessas, 13 apresentaram contexto vocálico favorecedor. As 3 ocorrências que
não apresentaram contexto vocálico favorecedor foram:
- b[O]linha (1 ocorrência), esc[O]linha (1 ocorrência), psic[O]logicamente (1
ocorrência): essas palavras apresentam paradigma com vogal aberta, que favorece a
abertura Os itens com vogal aberta correspondente aos anteriores são: b[O]la, esc[O]la,
psic[Ó]logo.
Observando então, as palavras encontradas, parece-nos que não é o modo das
consoantes seguintes o fator responsável pela abertura delas, pois parece que uma
influência do paradigma. Mas como o paradigma não deu favorecedor da abertura nos
resultados do SPSS, é preciso que seja feita uma análise mais cuidada em estudos
posteriores.É possível notar que há bastante interação nos dados.
5.1.2.13 Ponto do segmento seguinte
TABELA 67
Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na
variável dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
73
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Ponto do
segmento
seguinte
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
68/440
46/192
121/718
15,5
24,0
16,9
----
----
----
----
94/440
57/192
133/718
21,4
29,7
18,5
----
----
----
----
* Fator de referência
73
Saída completa do SPSS no ANEXO 7.
229
Na Tabela 67, foram dispostos os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento seguinte, na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Nessa tabela, não foi exibida a razão de chances, referentes ao alçamento e
abertura de /o/, pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como
pode ser visto no ANEXO 7.
TABELA 68
Resultados do efeito da variável ponto do segmento seguinte na
variável dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
74
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Ponto do
segmento
seguinte
Labiais
Dorsais/palatalizadas
Coronais*
43/366
33/184
69/754
11,7
17,9
9,2
----
----
----
----
8/366
20/184
54/754
2,2
10,9
7,2
----
----
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 68, foram apresentados os resultados do efeito da variável Ponto do
segmento seguinte, na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento e à abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida,
pois a variável não foi considerada estatisticamente significativa, como pode ser visto
no ANEXO 8.
5.1.2.13.1 Discussão dos resultados para o alçamento
A variável Ponto do segmento seguinte em Piranga e Ouro Branco não
apresenta efeitos significativos no alçamento da variável dependente /o/.
5.1.2.13.1 Discussão dos resultados para a abertura
74
Saída completa do SPSS no ANEXO 8.
230
Em Piranga e em Ouro Branco, os resultados apresentados nas Tabelas 67 e
68, indicam que em relação à variável ponto do segmento seguinte, nenhum dos fatores
apresentou significância para a abertura de /o/.
5.1.1.14 Conclusão
Para o alçamento de /o/, em Piranga, constatamos que os fatores mais robustos
que o favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: i, u, in, un.
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: ausência.
c) Paradigma com vogal aberta: sem paradigma.
d) Modo do segmento precedente: oclusivas.
e) Modo do segmento seguinte: fricativas e nasais.
f) Há restrições lexicais.
Podemos perceber que em Piranga ocorre a harmonia vocálica, desencadeada
pela vogal alta seguinte. Ocorre também o processo de redução vocálica, no qual ocorre
a diminuição da diferença articulatória das vogais em relação aos segmentos adjacentes.
Embora esse último não seja um processo robusto na região, a sua atuação é mais
evidente para as posteriores do que para as anteriores.
Para o alçamento de /o/, em Ouro Branco, constatamos que os fatores mais
robustos que o favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: in, un.
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: i, u.
c) Modo do segmento precedente: oclusivas
d) Modo do segmento seguinte: fricativas/africadas
e) Há restrições lexicais.
231
Em Ouro Branco, podemos perceber que ocorre a harmonia vocálica e a redução
vocálica, como em Piranga. Assim, diferença quantitativa entre as duas cidades, para
o alçamento de /o/, mas qualitativamente o processo parece ser o mesmo nas duas
cidades.
Para a abertura de /o/, em Piranga, constatamos que os fatores mais robustos
que a favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: a, E, O, an, en, on.
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: a, E, O,
c) Morfema em que a vogal esteja inserida: prefixos
pro-.
d) Paradigma com vogal aberta: com paradigma
Em Piranga ocorre neutralização da oposição o/O em favor de [O] que pode ser
expressa pela harmonia vocálica do grau de abertura com as vogais [a, E, O, an] na
sílaba seguinte (que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -
ATR). E ocorre também a neutralização da oposição o/O em favor de O quando a vogal
seguinte é [en,on].
Para a abertura de /o/, em Ouro Branco, constatamos que os fatores mais
robustos que a favorecem são:
a) Vogal da sílaba tônica: a, E, O
b) Vogal entre a vogal da variável e a tônica: ausência, a E, O.
c) Paradigma com vogal aberta: ao analisar os itens para a vogal da sílaba tônica,
percebemos que o paradigma com vogal aberta parece favorecer a abertura, mas
é preciso fazer, em estudos posteriores, uma análise mais aprofundada para
confirmar este favorecimento.
232
Podemos perceber que em Ouro Branco também ocorre neutralização da
oposição o/O em favor de [O] que pode ser expressa pela harmonia vocálica do grau de
abertura com as vogais [a, E, O] (que pode ser descrito também como harmonia em
relação ao traço -ATR). Mas não ocorre a neutralização para além desse contexto.
Assim, notamos que diferença quantitativa e qualitativa entre as duas cidades, para a
abertura de /o/.
Em Piranga e Ouro Branco a manutenção de /o/, neutralização de o/O em favor
de [o], é o maior percentual geral, bem significativo quando seguido de [e, o],
constituindo também um processo de harmonia vocálica.
5.2 Análise dos fatores sociais
Na análise dos fatores sociais, partimos da verificação de que variações nas
vogais médias /e/ ([E] ~ [e] ~ [i]) e /o/ ([O] ~ [o] ~ [u]), nas comunidades pesquisadas
Piranga e Ouro Branco.
5.2.1 A análise do /e/ em Piranga e Ouro Branco
5.2.1.1 Gênero e Faixa etária
Os fatores sociais que apresentaram significância para o alçamento e para a
abertura de /e/, em Piranga e em Ouro Branco, foram listados na Tabela 69:
TABELA 69
Resultados dos fatores sociais que apresentaram significância para o
alçamento e para a abertura de /e/, em Piranga e em Ouro Branco,
no estilo entrevista.
GÊNERO FAIXA ETÁRIA
Piranga ---------- --------
ALÇAMENTO /e/
Ouro Branco ---------- Jovem
Piranga Masculino Jovem
ABERTURA /e/
Ouro Branco Feminino --------
233
TABELA 70
Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável
dependente /e/ em Piranga, no estilo entrevista.
75
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Gênero Masculino
Feminino*
236/1127
266/1086
20,9
24,5
0,813
0,97
1,00
352/1127
231/1086
31,2
21,3
<0,001
1,69
1,00
Faixa etária Jovem
Adulto*
259/1137
243/1076
22,8
22,6
0,400
1,09
1,00
322/1137
261/1076
28,3
24,3
0,009 1,31
1,00
* Fator de referência
Na Tabela 70, foram indicados os resultados do efeito das variáveis
independentes Gênero e Faixa etária na variável dependente /e/, em Piranga, no estilo
Entrevista.
Em relação ao alçamento de /e/, os resultados indicam que o fator Masculino não
é estatisticamente significativo, em relação ao fator Feminino e que o fator Jovem não é
estatisticamente significativo, em relação ao fator Adulto.
Em relação à abertura de /e/ a chance de um falante masculino empregar a
variante [E] é 1,6 vezes a chance de um falante feminino a empregar; e a chance de um
falante jovem empregar [E] é 1,3 vezes a chance de um falante adulto a empregar.
TABELA 71
Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável
dependente /e/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
76
ALÇAMENTO [i] ABERTURA [E]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[i]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[E]
sig. RC
Gênero Masculino
Feminino*
180/1010
180/922
17,8
19,5
0,390
0,90
1,00
21/1010
41/922
2,1
4,4
0,002
0,43
1,00
Faixa etária Jovem
Adulto*
222/1030
138/902
21,6
2,9
0,001
1,49
1,00
30/1030
32/902
15,3
3,5
0,420
0,81
1,00
* Fator de referência
75
Saída completa do SPSS no ANEXO 9.
76
Saída completa do SPSS no ANEXO 10.
234
Na Tabela 71, foram apresentados os resultados do efeito das variáveis
independentes Gênero e Faixa etária na variável dependente /e/, em Ouro Branco, no
estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /e/, os resultados indicam que o fator Masculino não
é estatisticamente significativo, em relação ao fator Feminino e que e a chance de um
falante jovem empregar [i] é 2,9 vezes a chance de um falante adulto a empregar.
Em relação à abertura da variável dependente /e/, a chance de falante feminino
utilizar a variante [E] é 2,32 (1,0/0,43) vezes a chance de falante masculino a empregar.
O fator Jovem não é estatisticamente significativo, em relação ao fator Adulto.
5.2.1.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Em Piranga, os resultados apresentados na Tabela 70 indicaram que as
variáveis gênero e faixa etária não exercem nenhuma influência sobre o alçamento de
/e/, indício de variável estável.
Em Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 71 indicaram que a
variável gênero não exerce nenhuma influência sobre o alçamento de /e/ e que em
relação à variável faixa etária, os jovens favorecem o seu alçamento, indício de
progressão.
5.2.1.1.2 Discussão dos resultados para a abertura
Para Piranga, os resultados apresentados na Tabela 70 indicam, em relação à
variável gênero, que os homens favorecem a abertura de /e/. Em relação à variável faixa
etária, os jovens favorecem sua a abertura, indício de progressão.
235
Para Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 71 indicam, em
relação à variável gênero, que os mulheres favorecem a abertura de /e/. Em relação à
variável faixa etária, nenhum fator influencia na sua abertura, indício de variável
estável.
É importante ressaltar que os itens lexicais podem estar influenciando os
resultados, tanto para o alçamento como para a abertura.
5.2.2 A análise do /o/ em Piranga e Ouro Branco
5.2.2.1 Gênero e Faixa etária
Os fatores sociais que apresentaram significância para o alçamento e para a
abertura de /o/, em Piranga e em Ouro Branco, foram listados na Tabela 72:
TABELA 72
Resultados dos fatores sociais que apresentaram significância para o
alçamento e para a abertura de /o/, em Piranga e em
Ouro Branco, no estilo entrevista.
GÊNERO
FAIXA ETÁRIA
Piranga --------- Jovem
ALÇAMENTO /o/
Ouro Branco --------- ---------
Piranga --------- ---------
ABERTURA /o/
Ouro Branco --------- ---------
TABELA 73
Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável
dependente /o/ em Piranga, no estilo entrevista.
77
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig. RC
Gênero Masculino
Feminino*
141/743
94/607
19,0
15,5
---- ---- 160/743
124/607
21,5
20,4
---- ----
Faixa etária Jovem
Adulto*
136/683
99/667
19,9
21,2
0,010
1,46
1,00
145/683
139/667
14,8
20,8
0,435
1,11
1,00
* Fator de referência
77
Saída completa do SPSS no ANEXO 11.
236
Na Tabela 73, acima, foram apresentados os resultados do efeito das variáveis
Gênero e Faixa etária na variável dependente /o/, em Piranga, no estilo Entrevista.
Em relação ao alçamento de /o/, a razão de chances não foi exibida para a
variável gênero, pois ela não foi considerada estatisticamente significativa
A chance de falante Jovem utilizar a variante [u] é 1,4 vezes a chance de falante
Adulto a utilizar.
Em relação à abertura da variável dependente /o/, a razão de chances não foi
exibida para a variável gênero, pois ela não foi considerada estatisticamente
significativa.
Os resultados indicam, também, que o efeito do fator Jovem não é
estatisticamente significativo.
TABELA 74
Resultados do efeito das variáveis gênero e faixa etária na variável
dependente /o/ em Ouro Branco, no estilo entrevista.
78
ALÇAMENTO [u] ABERTURA [O]
Variável
Independente
Fatores n
1/
n
t
%
[u]
sig.
RC
n
2/
n
t
%
[O]
sig.
RC
Gênero Masculino
Feminino*
79/744
66/560
10,6
11,8
----
----
43/744
39/560
5,8
7,0
----
----
Faixa etária Jovem
adulto*
80/687
65/617
11,6
10,5
----
----
46/687
36/617
6,7
5,8
----
----
* Fator de referência
Na Tabela 74, foram listados os resultados do efeito das variáveis independentes
Gênero e Faixa etária na variável dependente /o/, em Ouro Branco, no estilo
Entrevista.
78
Saída completa do SPSS no ANEXO 12.
237
Em relação ao alçamento e abertura de /o/, a razão de chances não foi exibida
nos resultados, acima, pois as variáveis não foram consideradas estatisticamente
significativas, como pode ser visto no ANEXO 12.
5.2.2.1.1 Discussão dos resultados para o alçamento
Para Piranga, os resultados apresentados na Tabela 73 indicam, em relação à
variável gênero, que nenhum fator influencia no alçamento de /o/. Em relação à variável
faixa etária, os jovens favorecem seu alçamento, indício de progressão.
Para Ouro Branco, os resultados apresentados na Tabela 74 indicam, que as
variáveis gênero e faixa etária não exercem nenhuma influência sobre o alçamento de
/o/, indício de variável estável.
5.2.2.1.2 Discussão dos resultados para a abertura
Os resultados apresentados nas Tabelas 73 e 74 indicam que as variáveis gênero
e faixa etária não exercem nenhuma influência sobre a abertura de /o/ em nenhuma das
duas cidades estudadas, indício de variável estável.
É importante ressaltar que os itens lexicais podem estar influenciando os
resultados, tanto para o alçamento como para a abertura.
5.3 Análise do teste de produção
Já que os testes são de leitura, é importante ressaltar que a grafia pode tendenciar
um recuo da produção do alçamento em relação à abertura, porque para as palavras
produzidas com som de i, a grafia e e a grafia i, para as palavras produzidas com
som de E
, há apenas a grafia e.
238
Seguindo os passos da metodologia estabelecida para o trabalho, passamos aos
testes para elicitação dos dados. O objetivo dos testes é a produção dos mesmos itens
por todos os informantes. Os itens foram escolhidos de forma que pudéssemos observar
os aspectos segmentais, principalmente as consoantes adjacentes.
5.3.1 Alçamento de /e/
No teste de produção leitura de textos, em Piranga, as palavras que tiveram a
vogal média anterior alçada foram divididas em 3 grupos:
TABELA 75
Resultados do teste de leitura de textos em Piranga, para o alçamento de /e/.
LEITURA DE TEXTOS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica:
[i, u] ou
[in, un] .
Indivíduos/
ocorrências
palavras que
apresentaram a
vogal média
pretônica anterior
em prefixo
Indivíduos/
ocorrências
palavras que não
se encaixaram
nos grupos 1 e 2
Indivíduos/
ocorrências
s[i]gunda BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
[di]mais BMJP/1
LMAP/1
CMJP/1
s[i]mestre LMAP/1
CMJP/1
RMAP/1
qu[i]ria CMJP/1 [di]pressa CMJP/1 p[i]quenas LMAP/1
CMJP/1
s[i]guida LMAP/2 [di]senvolvimento LMAP/1 p[i]queno LMAP/1
ap[i]lido LMAP/1 s[i]nhor LMAP/1
p[i]chincha LFJP/1 s[i]nhora LMAP/1
CMJP/1
pr[i]cisa LMAP/1
des[i]nvolvimento
LMAP/1
pr[i]cisando CMJP/1
s[i]guia LMAP/1
s[i]guinte LMAP/1
v[i]ndida LMAP/1
m[i]ntiroso LFJP/1
RMAP/1
p[i]diu BMJP/1
No teste de produção leitura de textos, em Ouro Branco, também dividimos as
palavras que tiveram a vogal média anterior alçada em 3 grupos:
239
TABELA 76
Resultados do teste de leitura de textos em Ouro Branco, para o alçamento de /e/.
LEITURA DE TEXTOS EM OURO BRANCO
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a tônica:
[i, u] ou [in, un]
Indivíduos/
ocorrências
palavras que
apresentam a vogal
média pretônica
anterior em prefixo
Indivíduos/
ocorrências
palavras que não se
encaixaram nos
grupos 1 e 2
Indivíduos/
ocorrências
s[i]gunda SMAO/1 [di]senvolvimento NFJO/1 s[i]mestre LMJO/1
WMJO/1
p[i]rigo SFJO/1 [di]pressa LMJO/1
WMJO/1
des[i]nvolvimento NFJO/1
pr[i]cisou WMJO/1 [di]mais LMJO/1
WMJO/1
SFJO/1
PMAO/1
pr[i]cisa SMAO/1
pr[i]cisava SMAO/1
Os Grupos 1 e 2, apresentados nas Tabelas 75 e 76 acima, no estilo leitura de
texto, relativos a Piranga e Ouro Branco, corroboram a análise feita nesta pesquisa a
respeito dos fatores que favorecem o alçamento de /e/, no estilo entrevista, nas duas
cidades em estudo.
Na análise feita para o estilo entrevista constatamos que as vogais da sílaba
tônica que favorecem o alçamento de /e/ são as vogais altas orais e nasais [i, u] e [in,
un]. Observamos também que as vogais altas entre a vogal da variável e a tônica
favorecem o alçamento de /e/, nas duas cidades em estudo. Essas observações são
confirmadas pelo Grupo 1, apresentados nas Tabelas 75 e 76
,
no estilo leitura de texto,
de Piranga e Ouro Branco.
Na análise feita para o estilo entrevista, encontramos também o fator prefixo
de-/des- como favorecedor do alçamento de /e/. Essa observação pode ser confirmada
pelo Grupo 2, apresentado na Tabelas 75 e 76, no estilo leitura de texto, de Piranga e
Ouro Branco.
240
Assim como no estilo entrevista, no estilo leitura de texto, palavras que não
se encaixaram nos ambientes acima descritos: p[i]quenas, p[i]quenas, s[i]mestre,
s[i]nhor, s[i]nhora. Nos itens 5.1.1.10.1 e 5.1.1.11.1 explicamos cada uma delas.
ainda a palavra des[i]nvolvimento, podemos explicar o alçamento pela sua formação. É
derivada de envolver, que apresenta uma vogal média anterior no início da palavra e
segundo a literatura é pronunciada alçada: [i]nvolver.
No teste de produção leitura de palavras, em Piranga, as palavras que tiveram a
vogal média anterior alçada foram divididas em 2 grupos:
TABELA 77
Resultados do teste de leitura de palavras em Piranga, para o
alçamento de /e/.
O Grupo 1, apresentado na Tabela 77 acima, também corrobora as conclusões
sobre o favorecimento do alçamento de /e/, no estilo entrevista, pelas vogais altas, em
Piranga.
Para a palavra s[i]mestre (Grupo 3), buscamos explicação em Viegas (2001).
(item 5.1.1.10.1)
LEITURA DE PALAVRAS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a tônica:
[i, u] ou [in, un]
Indivíduos/
ocorrências
palavras que não se
encaixaram nos
grupos 1 e 2
Indivíduos/
ocorrências
m[i]dido BMJP/1 s[i]mestre RMAP/1
m[i]nti BMJP/1
m[i]ntiroso RMAP/1
p[i]rdiz BMJP/1
pr[i]cisa CMJP/1
241
No teste de produção leitura de palavras, em Ouro Branco, foi encontrada,
apenas, uma palavra com a vogal média anterior alçada.
TABELA 78
Resultados do teste de leitura de palavras em Ouro
Branco, para o alçamento de /e/.
LEITURA DE PALAVRAS EM OURO BRANCO
Grupo 3
Indivíduos/ocorrências
s[i]mestre
SFJO/1
O alçamento na palavra s[i]mestre foi explicado no item 5.1.1.10.1.
Podemos observar que não caso algum de alçamento em que a vogal tônica
[i] esteja distante da vogal da variável, mas casos de alçamento em que a vogal [i]
seguinte não é tônica. Esse fato é um indício de que não é a tonicidade o mais
importante, mas a contigüidade, como já tínhamos observado anteriormente.
Apesar das diferenças percentuais apresentadas nas Tabelas 1 e 2, o alçamento
parece ser semelhante nas duas cidades, podemos notar que nas duas um
favorecimento do alçamento pelas vogais altas (orais e nasais) na sílaba tônica ou entre
a vogal da variável e a tônica. Há também um favorecimento do alçamento pelos
prefixos.
Foi possível notar diferenças como: em Ouro Branco apenas 1 palavra que
alça no estilo leitura de palavras e em Piranga 6 palavras alçam. O número de
alçamento no estilo leitura de texto (15 ocorrências) em Ouro Branco é menor que em
Piranga (31 ocorrências). O estigma ao alçamento parece ser maior em Ouro Branco.
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Piranga
nenhum fator (masculino, feminino, jovem e adulto) favorece o alçamento de /e/.
242
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 75 e 77, não confirmam o
resultado no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que o fator masculino
favorece o alçamento de /e/. Na leitura de textos, das 31 ocorrências alçadas, 29 foram
realizadas por falante do gênero masculino. Na leitura de palavras as 6 ocorrências
alçadas também foram realizadas por falante do gênero masculino. Esse resultado talvez
possa ser justificado pela estigmatização do processo de alçamento pelas mulheres, mais
evidente nos estilos mais formais.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 75 e 77, confirmam o
resultado no estilo entrevista, para a faixa etária. Parece que não diferença para o
favorecimento do alçamento pelos fatores jovens e adultos. Na leitura de textos, das 31
ocorrências alçadas, 12 foram realizadas pelos jovens e 19 pelos adultos. Na leitura de
palavras das 6 ocorrências alçadas 4 foram realizadas pelos jovens e 2 pelos adultos
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista, em Ouro Branco,
apontaram que em relação à faixa etária apenas o fator jovem favorece o alçamento de
/e/ e em relação ao gênero nenhum dos fatores o favorece.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 76 e 78, confirmam o
resultado no estilo entrevista, para a faixa etária. Os testes indicam que o fator jovem
favorece o alçamento de /e/. Na leitura de textos, das 15 ocorrências alçadas, 11 foram
realizadas por jovens. Na leitura de palavras a única ocorrência alçada também foi
realizada por jovens.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 76 e 78, não confirmam o
resultado no estilo entrevista, para o gênero. O fator masculino parece favorecer o
alçamento de acordo com os resultados do estilo leitura de texto, em que das 15
ocorrências alçadas, 11 foram realizadas por falante do gênero masculino. Esse
243
resultado talvez possa ser justificado pelo recuo da mulher em relação às variantes
estigmatizadas, ou talvez possa ser um marcador de grupo para os homens. Sobre a
leitura de palavras, não podemos chegar a nenhuma conclusão, pois houve apenas 1
ocorrência alçada.
5.3.2 Abertura de /e/
Nos testes de produção leitura de textos e leitura de palavras, em Piranga, as
palavras que tiveram a vogal média anterior aberta foram divididas em 3 grupos:
TABELA 79
Resultados do teste de leitura de textos em Piranga, para a abertura de
/e/.
LEITURA DE TEXTOS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica: [a, E,O]
ou [an]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica: [en,on]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da
sílaba
tônica:
[in, un],
Indivíduos/
ocorrências
r[E]lógio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
r[E]pente BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
m[E]lina
BMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
r[E]médio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
M[E]donho CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
b[E]tim LMAP/1
SFAP/1
p[E]lada BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
rEpr[E]sentaçõ
es
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
n[E]blina
SFAP/1
244
el[E]vado BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
s[E]gundona RMAP/1
b[E]tume
LMAP/1
m[E]lado BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
p[E]quenas 1 GFJP/1
n[E]tuno
LMAP/1
m[E]lhora BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
s[E]gun
da
RMAP/1
n[E]gócio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
m[E]lhor BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
temp[E]stade BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
r[E]lâmpago BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[E]rração BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
p[E]gador BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
245
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
conv[E]rsando BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
int[E]rrogado BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
extrat[E]rrestres
BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
RMAP/1
l[E]varia BMJP/1
LMAP/1
RMAP/1
com[E]morar LFJP/1
LMAP/1
SFAP/1
r[E]clama CMJP/1
GFJP/1
RMAP/1
v[E]lório BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
s[E]mana CMJP/1
RMAP/1
gov[E]rnador RMAP/1
SFAP/1
m[E]t[E]oro CMJP/1
LMAP/1
s[E]mestre DFAP/1
qu[E]stão LMAP/1
el[E]tricidade GFJP/1
mod[E]rnidade SFAP/1
r[E]prE
sentações
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
r[E]partições RMAP/1
246
TABELA 80
Resultados do teste de leitura de palavras em Piranga para a abertura de /e/.
LEITURA DE PALAVRAS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica: [a, E,O]
ou [an]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da sílaba
tônica ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica: [en,on]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da
sílaba
tônica:
[in, un]
Indivíduos/
ocorrências
Prefixos re- ou
nivelamento
analógico com
prefixo re-
Indivíduos/
ocorrências
r[E]lógio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
rEpr[E]sentações CMJP/1
GFJP/1
RMAP/1
DFAP/1
n[E]tuno LMAP/1
SFAP/1
r[E]
presentações
BMJP/1
SFAP/1
r[E]médio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
m[E]donho CMJP/1
GFJP/1
DFAP/1
b[E]tim LMAP/1
n[E]gócio BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
p[E]queno CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
m[E]lina LMAP/1
p[E]lada BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
d[E]senvolvimen
to
GFJP/1
DFAP/1
S[E]gun
da
SFAP/1
m[E]laço BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
n[E]blina
LMAP/1
m[E]lhor BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
247
DFAP/1
p[E]gador BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
r[E]lâmpago BMJP/1
CMJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
m[E]lhora BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
c[E]rração BMJP/1
CMJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
s[E]mestre BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
m[E]tEoro BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
mEt[E]oro BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
v[E]lório BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
r[E]clama BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
RMAP/1
temp[E]stade BMJP/1
CMJP/1
SFAP/1
LMAP/1
mod[E]rnidade GFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
248
el[E]vado BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
SFAP/1
conv[E]rsando BMJP/1
CMJP/1
RMAP/1
gov[E]rnador BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
s[E]mana CMJP/1
SFAP/1
el[E]tricidade LMAP/1
r[E]prEsentações
CMJP/1
GFJP/1
RMAP/1
DFAP/1
Os grupos 1 e 2 (Tabelas 79 e 80) corroboram a análise feita nessa pesquisa a
respeito dos fatores que favorecem a abertura de /e/, no estilo entrevista, na cidade de
Piranga.
Na análise feita para o estilo entrevista, constatamos que as vogais da sílaba
tônica que favorecem a abertura de /e/, são as vogais médias baixas orais [E, O], a vogal
baixa oral e nasal [a, an] e as vogais médias nasais [en, on]. Observamos também que as
vogais entre a vogal da variável e a tônica que favorecem a abertura de /e/, são as vogais
médias baixas orais [E, O], a vogal baixa oral [a] e as vogais médias nasais [en, on].
Essas observações podem ser confirmadas pelos Grupos 1 e 2 nos estilos leitura de
texto e leitura de palavras apresentados nas Tabelas 79 e 80 acima.
No Grupo 4 da leitura de palavras temos a palavra r[E]presentações, que aponta
o favorecimento da abertura pelo prefixo re- ou pelo nivelamento analógico feito com
ele.
Os testes apontam para o favorecimento da abertura pelas vogais altas nasais [in,
un] na sílaba tônica. Assim, ao que parece, as nasalidade da sílaba tônica tem efeito
sobre a abertura das vogais anteriores em Piranga.
249
É importante ressaltar aqui, a diferença entre os itens Melina e Melissa. Como
podemos observar na leitura de textos (Tabela 79), das 8 pessoas entrevistadas, 7
realizaram a pretônica aberta em M[E]lina. Na leitura de palavras (Tabela 80) 1 pessoa
realizou a pretônica aberta nesse item. Já o item M[E]lissa não foi realizado aberto em
nenhum dos testes por nenhum informante. A abertura em M[E]lina, pode ser devido ao
item lexical ou devido a nasalidade da sílaba seguinte. Nos testes corroboramos a
hipótese da nasalidade da tônica maior que a influência da consoante líquida seguinte ou
da nasal precedente em Piranga. Item como m[e]donho com nasal precedente não foi
produzido aberto. O /R/ precedente e seguinte o é ambiente mais robusto que a vogal
seguinte, pois itens com c[e]rveja e ap[e]rfeiçoamento com /R/ seguinte não foram
produzidos abertos.
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Piranga
os fatores masculino e jovem favorecem a abertura de /e/.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 79 e 80, confirmam o
resultado no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que o fator masculino
parece favorecer a abertura de /e/. Na leitura de textos, das 154 ocorrências realizadas
abertas, 92 foram realizadas por falante do gênero masculino e 62 por falante do gênero
feminino. Na leitura de palavras das 135 ocorrências realizadas abertas, 81 foram
realizadas por falante do gênero masculino e 54 por falante do gênero feminino.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 79 e 80, não confirmam o
resultado no estilo entrevista, para a faixa etária. Na leitura de textos, das 154
ocorrências realizadas abertas, 74 foram realizadas por jovens e 80 por adultos. Na
leitura de palavras das 135 ocorrências realizadas abertas, 74 foram realizadas por
jovens e 61 por adultos.
250
Nos testes de produção leitura de textos e leitura de palavras, em Ouro Branco,
as palavras que tiveram a vogal média /e/ aberta foram agrupadas da seguinte forma:
TABELA 81
Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de
palavras em Ouro Branco, para a abertura de /e/.
LEITURA DE TEXTOS EM
OURO BRANCO
LEITURA DE PALAVRAS
EM OURO BRANCO
Grupo 1 Grupo 1
Vogal da sílaba
tônica:
[a, E,O] ou Vogal
entre a vogal da
variável e a tônica:
[a, E, O]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da sílaba
tônica:
[a, E, O] e
[an] ou Vogal
entre a vogal da
variável e a
tônica: [a, E, O]
Indivíduos/
ocorrências
m[E]lado LMJO/1
WMJO/1
NFJO/1
SFJO/1
PMAO/1
SMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
p[E]lada LMJO/1
WMJO/1
SFJO/1
PMAO/1
LFAO/1
p[E]lada LMJO/1
PMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
n[E]gócio
LMJO/1
WMJO/1
SMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
r[E]médio LMJO/1
WMJO/1
PMAO/1
FFAO/1
m[E]laço
LMJO/1
WMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
m[E]lhor LMJO/1
FFAO/1
v[E]lório LMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
WMJO/1
v[E]lório FFAO/1
LFAO/1
m[E]lhor LMJO/1
WMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
m[E]lhora FFAO/1 r[E]médio LMJO/1
SMAO/1
FFAO/1
r[E]lógio FFAO/1 r[E]lógio PMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
extrat[E]rrestres LFAO/1 r[E]lâmpago WMJO/1
FFAO/1
251
temp[E]stade LMJO/1 s[E]mestre WMJO/1
p[E]gador LMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
p[E]gador LMJO/1
WMJO/1
SFJO/1
PMAO/1
Na análise feita nesta pesquisa a respeito dos fatores que favorecem a abertura
de /e/, no estilo entrevista, na cidade de Ouro Branco, constatamos que as vogais da
sílaba tônica que favorecem a abertura de /e/, são as vogais médias baixas orais [E, O] e
a vogal baixa oral [a], o que pode ser confirmado pelo Grupo 1 nos estilos leitura de
texto e leitura de palavras apresentados na Tabela 81 acima.
Embora os resultados da vogal entre a vogal da variável e a tônica não tenham
dado como favorecedores no estilo entrevista, nos resultados dos testes esse fator parece
favorecer a abertura como podemos ver na Tabela 81 acima.
A abertura de /e/ parece ser diferente em Piranga e Ouro Branco. A nasalidade
da tônica parece atuar mais significativamente em Piranga.
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista, em Ouro Branco,
apontaram que em relação ao gênero apenas o fator feminino favorece a abertura de /e/ e
em relação à faixa etária nenhum dos fatores a favorece.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 81, não confirmam o resultado
no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que nenhum dos fatores parece
favorecer a abertura de /e/. Na leitura de textos, das 27 ocorrências realizadas abertas,
12 foram realizadas por falante do gênero masculino e 15 por falante do gênero
feminino. Na leitura de palavras das 35 ocorrências realizadas abertas, 20 foram
realizadas por falante do gênero masculino e 15 por falante do gênero feminino.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 81, confirmam o resultado no
estilo entrevista, para a faixa etária. Os testes indicam que nenhum dos fatores parece
252
favorecer a abertura de /e/. Na leitura de textos, das 27 ocorrências realizadas abertas,
10 foram realizadas por falantes jovens e 17 por falantes adultos. Na leitura de palavras,
das 35 ocorrências realizadas abertas, 17 foram realizadas por falantes jovens e 18 por
falantes adultos.
5.3.3 Alçamento de /o/
Nos testes de produção leitura de textos e leitura de palavras, em Piranga, as
palavras que tiveram a variável /o/ alçada foram divididas em 2 grupos:
TABELA 82
Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de palavras em Piranga, para o
alçamento de /o/.
LEITURA DE TEXTOS EM PIRANGA LEITURA DE PALAVRAS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da
sílaba tônica
ou Vogal
entre a vogal
da variável e
a tônica: [i,
u] ou [in, un]
Indivíduos/
ocorrências
Oclusivas
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
labiais
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
Oclusivas
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
labiais
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
b[u]nito BMJP/1
CMJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
t[u]mate BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
M[u]ranga LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
c[u]mércio RMAP/1
LMAP/1
m[u]lambo
CMJP/1
LFJP/1
RMAP/1
p[u]lícia CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
p[u]mada BMJP/1
LFJP/1
M[u]lambo
BMJP/1
CMJP/1
RMAP/1
f[u]gão BMJP/1
f[u]rmigas CMJP/1
LMAP/1
g
[u]vernador
RMAP/1
SFAP/1
f[u]gão BMJP/1
CMJP/1
c[u]zinha BMJP/1
CMJP/1
t[u]lerar RMAP/1
DFAP/1
p[u]dia 1 DFAP/1 c[u]lher
(subst)
GFJP/1
SFAP/1
c[u]mida LMAP/1 c[u]mércio 1
SFAP/1
f[u]rtuna BMJP/1 b[u]rracha 1
CMJP/1
b[u]tina 1 LMAP/1
253
Na análise feita para o estilo entrevista, constatamos que as vogais da sílaba
tônica que favorecem o alçamento de /o/, em Piranga são as vogais altas orais e nasais
[i, u] e [in, un], ocorrendo o processo de harmonia vocálica, o que pode ser comprovado
pelo Grupo 1 da leitura de textos apresentado na Tabela 82 acima.
Observamos que além das vogais altas, as oclusivas precedentes, fricativas,
líquidas e nasais seguintes também favorecerem o alçamento de /o/, no estilo entrevista.
O favorecimento das oclusivas precedentes pode ser comprovado pelo Grupo 2 da
leitura de textos e da leitura de palavras apresentados na Tabela 82. O favorecimento
das fricativas, líquidas e nasais seguintes não pôde ser comprovado pelos testes. Os
resultados mostram um favorecimento das labiais precedentes em relação ao alçamento
de /o/ (Grupo 3 da leitura de textos e da leitura de palavras, apresentados na Tabela
82).
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista, em Piranga, apontaram que
em relação à faixa etária apenas o fator jovem favorece o alçamento de /o/ e em relação
ao gênero nenhum dos fatores o favorece.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 82, não confirmam o resultado
no estilo entrevista, para a faixa etária. Os testes indicam que nenhum dos fatores
favorece o alçamento de /o/. Na leitura de textos, das 38 ocorrências alçadas, 18 foram
realizadas por jovens e 20 por adultos. Na leitura de palavras das 6 ocorrências alçadas,
3 foram realizadas por jovens e 3 por adultos.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 82, não confirmam o resultado
no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que o fator masculino favorece o
alçamento de /o/. Na leitura de textos, das 38 ocorrências alçadas, 28 foram realizadas
por falantes do sexo masculino e 10 por falantes do sexo feminino. Na leitura de
254
palavras das 6 ocorrências alçadas, 5 foram realizadas por falantes do sexo masculino e
1 por falantes do sexo feminino.
Nos testes de produção de texto e leitura de palavras, em Ouro Branco, as
palavras que tiveram a variável /o/ alçada foram divididas da seguinte forma:
TABELA 83
Resultados do teste de leitura de texto e leitura de palavras em Ouro Branco, para o
alçamento de /o/.
LEITURA DE TEXTO EM OURO BRANCO
LEITURA DE
PALAVRA EM OURO
BRANCO
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Grupo 3
Vogal da
sílaba tônica:
[in, um], [i, u]
ou Vogais
entre a vogal
da variável
e a tônica: [i,
u]
Indivíduos/
ocorrências
Oclusivas
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
labiais
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
Labiais
precedentes
Indivíduos/
ocorrências
c[u]zinha SFJO/1
SMAO/1
c[u]lher
(subst.)
WMJO/1
SFJO/1
PMAO/1
LFAO/1
m[u]lambo
NFJO/1
SFJO/1
SMAO/1
m[u]lambo WMJO/1
SFJO/1
p[u]dia WMJO/1
PMAO/1
t[u]lerar WMJO/1 f[u]gão WMJO/1
SFJO/1
SMAO/1
m[u]ringa WMJO/1
m[u]ranga 1
WMJO/1
b[u]tina 1 WMJO/1
p[u]li
ciamento
WMJO/1
Na análise feita para o estilo entrevista, constatamos que as vogais altas nasais
[in, un] na sílaba tônica e as vogais altas orais [i, u], entre a vogal da variável e a tônica
favorecem o alçamento de /o/, em Ouro Branco, ocorrendo o processo de harmonia
vocálica, o que pode ser comprovado pelo Grupo 1 da leitura de textos apresentado na
Tabela 83 acima.
Observamos que além das vogais altas, as oclusivas precedentes e as
fricativas/africadas seguintes também favorecem o alçamento de /o/, no estilo
255
entrevista. O favorecimento das oclusivas pode ser comprovado pelo Grupo 2 da
leitura de textos apresentado na Tabela 83 acima.
Apesar de no estilo entrevista as consoantes labiais precedentes não terem sido
favorecedores do alçamento de /o/, no estilo leitura de texto (Grupo 3) e no estilo
leitura de palavras (Grupo 3), essas consoantes parecem favorecer o alçamento.
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Ouro
Branco nenhum fator (masculino, feminino, jovem e adulto) favorece o alçamento de
/o/.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 83, não confirmam o resultado
no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que o fator masculino parece
favorecer o alçamento de /o/. Na leitura de textos, das 19 ocorrências alçadas, 13 foram
realizadas por falante do gênero masculino e 6 por falante do gênero feminino. Na
leitura de palavras 1 ocorrência foi realizada por falante do gênero masculino e a outra
por falante do gênero feminino.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 83, não confirmam o resultado
no estilo entrevista, para a faixa etária. Os testes indicam que os jovens parecem
favorecer o alçamento de /o/. Na leitura de textos, das 19 ocorrências alçadas, 13 foram
realizadas por falantes jovens e 6 por falantes adultos. Na leitura de palavras 1
ocorrência foi realizada por falante jovem e a outra por falante adulto.
Os resultados dos testes apontam que o alçamento de /o/ parece ser semelhante
nas duas cidades, apesar das diferenças percentuais apresentadas nas Tabelas 5 e 6.
Podemos notar que nas duas cidades o alçamento é favorecido pelas vogais altas na
sílaba tônica, pelas oclusivas precedentes e pelas labiais precedentes. Parece haver um
indício de estigma em relação ao alçamento da posterior, assim como da anterior, pois o
256
alçamento nos estilos formais são bem menores do que no estilo entrevista. Esse
estigma parece ser um pouco maior em Ouro Branco. Nessa cidade podemos notar que
apenas 2 ocorrências alçadas, de um mesmo item (m[u]lambo) nos estilo leitura de
palavras, enquanto em Piranga 5 ocorrências alçadas. Podemos notar também que o
número de alçamento no estilo leitura de texto (19 ocorrências) é menor que em Piranga
(38 ocorrências).
5.3.4 Abertura de /o/
Nos testes de produção leitura de textos e leitura de palavras, em Piranga, as
palavras que tiveram a vogal /o/ aberta, foram agrupadas da seguinte forma:
TABELA 84
Resultados dos testes de leitura de textos em Piranga, para a abertura
de /o/
LEITURA DE TEXTOS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica:
[a, E, O] e [an]
ou Vogal entre a
vogal da
variável e a
tônica: [a, E, O]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da
sílaba
tônica:
[en,on]
Indivíduos/
ocorrências
Palavras que
não se
encaixaram
nos grupos 1
e 2
Indivíduos/
ocorrências
m[O]rmaço BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[O]mendo
BMJP/1
CMJP/1
LMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[O]mício LFJP/1
p[O]mar BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
f[O]rmigueiro
SFAP/1
t[O]mada BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
m[O]ringa DFAP/1
257
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
f[O]foca BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[O]mida SFAP/1
g[O]verna BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
f[O]rmigas RMAP/1
m[O]derno BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[O]loca BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
j[O]gar BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
c[O]leta BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
insup[O]rtável BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
258
SFAP/1
c[O]ragem BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
SFAP/1
pr[O]pósito BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
ch[O]calho BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
SFAP/1
t[O]lerar CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
SFAP/1
b[O]rracha LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
t[O]mate GFJP/1
LFJP/1
DFAP/1
c[O]mércio CMJP/1
LMAP/1
RMAP/1
m[O]lambo LMAP/1
SFAP/1
n[O]vidade RMAP/1
DFAP/1
m[O]ranga GFJP/1
SFAP/1
c[O]lher(subst)
LFJP/1
af[O]rtunado RMAP/1
m[O]dErnidade
GFJP/1
SFAP/1
c[O]mEmorar SFAP/1
259
TABELA 85
Resultados dos testes de leitura de palavras em Piranga, para a
abertura de /o/.
LEITURA DE PALAVRAS EM PIRANGA
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Vogal da sílaba
tônica:
[a, E, O] e [an]
ou Vogal entre a
vogal da variável
e a tônica:
[a, E, O]
Indivíduos/
Ocorrências
Palavra
com
paradigma
com vogal
aberta
Indivíduos/
ocorrências
Palavras
que não se
encaixaram
nos grupos
1 e 2
Indivíduos/
ocorrências
m[O]rmaço BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
b[O]tina LMAP/1
c[O]mida BMJP/1
SFAP/1
p[O]mar BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
p[O]lida 1 LMAP/1
f[O]rmigas
LMAP/1
SFAP/1
t[O]mada BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
f[O]rtuna 1 SFAP/1
c[O]ragem BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
m[O]derno BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[Olher (subst) CMJP/1
LFJP/1
LMAP/3
260
SFAP/2
t[O]mate BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
j[O]gar BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
RMAP/1
SFAP/1
c[O]leta BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
f[O]foca BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
RMAP/1
DFAP/1
t[O]lerar CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
SFAP/1
c[O]mércio BMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
p[O]mada BMJP/1
CMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
SFAP/1
b[O]rracha BMJP/1
GFJP/1
LFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
g[O]verna BMJP/1
LMAP/1
DFAP/1
LFJP/1
ch[O]calho GFJP/1
LFJP/1
261
LMAP/1
RMAP/1
m[O]lambo LMAP/1
DFAP/1
af[O]rtunado RMAP/1
DFAP/1
c[O]milão LMAP/1
tr[O]voada BMJP/1
f[O]gão LMAP/1
g[O]vernar LFJP/1
m[O]dErnidade CMJP/1
GFJP/1
LMAP/1
DFAP/1
g[O]vErnador CMJP/1
GFJP/1
Na análise feita para o estilo entrevista, constatamos que as vogais da sílaba
tônica que favorecem a abertura de /o/, são as vogais médias baixas orais [E, O], a vogal
baixa oral e nasal [a, an] e as vogais médias nasais [en, on], o que pode ser confirmado
pelos Grupos 1 e 2 no estilo leitura de texto e pelo Grupo 1 no estilo leitura de
palavras apresentados nas Tabelas 84 e 85.
Observamos também que as vogais entre a vogal da variável e a tônica que
favorecem a abertura de /o/, em Piranga, no estilo entrevista, são as vogais médias
baixas orais [E, O] e a vogal baixa oral [a]. Essas observações são confirmadas pelo
Grupo 1 nos estilos leitura de texto e leitura de palavras apresentados nas Tabelas 84 e
85 acima.
No estilo entrevista, observamos que o paradigma com vogal aberta favorece a
abertura de /o/, o que pode ser comprovado com o Grupo 2 apresentado na Tabela 85.
As palavras que não puderam ser explicadas estão no Grupo 3 da leitura de
texto e da leitura de palavras.
A abertura em m[O]ringa e f[O]rtuna aponta para o seu favorecimento pelas
vogais altas nasais [in, un] na sílaba tônica. Assim como para as anteriores, ao que
262
parece, as nasais (médias e altas) tem efeito sobre a abertura das vogais posteriores em
Piranga.
Mas para a abertura de /o/, além das vogais médias baixas e da vogal baixa
seguintes, não é apenas a nasal na sílaba seguinte que parece favorecer a abertura. Em
c[O]mício, f[O]rmigueiro, c[O]mida, f[O]rmigas a abertura pode ser atribuída a itens
específicos ou a fatores como consoantes adjacentes que não apareceram como
significativos na entrevista.
Segundo Freitas (2006):
Fernão de Oliveira, Caetano de Lima, João de Barros, Monte Carmelo e Feijó,
ortógrafos estudados por Silva (1989, p. 45-9), dão notícia direta ou indiretamente
da ocorrência dessas vogais e, portanto, confirmam a variação e::E::i e o::O::u no
português antigo. Numa síntese das informações deixadas por esses ortógrafos e
gramáticos, mais exatamente por João de Barros, Feijó e Monte Carmelo, Silva
(1989) afirma que os contextos das vogais médias pretônicas abertas, nas palavras
das listas ortográficas, eram basicamente os mesmos: /O/ aparecia normalmente
antecedendo grupos consonantais do tipo ct, pç, pt, como em nóctivaga, nóctiluz,
adópção, adóptivo; ou precedendo /r/, como em mórtecôr, mórdomo, córagem; ou
em contextos em que incide acento secundário, como em estópada, sótavento;
quanto a /E/, aparecia como vogal em que incide acento secundário seguida de
grupos consonantais do tipo cç, ct, pç, pt, gm, gn, como em objécçãm, conjéctura,
percépçâm, concéptível, esmégmática, régnânte. A autora diz ainda que muitas das
ocorrências de /E/ posicionavam-se antes de /l/, como em Bélgrádo, Bélmonte,
délgado, o que atualmente ainda ocorre no português europeu; assim como também
cita casos em que, em palavras derivadas, a vogal média anterior aberta conserva a
qualidade da vogal tônica da palavra primitiva, como em séttáda, sélvática,
processo ainda muito produtivo modernamente em Portugal e no Brasil.
Silva (1989) conclui, a partir das afirmações de Teyssier quando este estuda João
de Barros, que no século XVI era freqüente a ocorrência das pretônicas abertas,
principalmente /E/, ou decorrentes de crases antigas, ou fonologicamente
motivadas em função da presença de certas consoantes, ou morfologicamente
motivadas quando mantinham a qualidade da tônica primitiva na tônica
secundária de palavra derivada. Tal motivação fonológica bem como a
motivação morfológica, a que se refere a autora, são ainda hoje consideradas como
variáveis para a verificação do comportamento aparentemente assistemático das
vogais médias pretônicas (...) (FREITAS, 2006:15)
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Piranga
nenhum fator (masculino, feminino, jovem e adulto) favorece a abertura de /o/.
263
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 84 e 85, confirmam o
resultado no estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que nenhum dos fatores
parece favorecer a abertura de /o/. Na leitura de textos, das 128 ocorrências realizadas
abertas, 62 foram realizadas por falante do gênero masculino e 66 por falante do gênero
feminino. Na leitura de palavras das 122 ocorrências realizadas abertas, 60 foram
realizadas por falante do gênero masculino e 62 por falante do gênero feminino.
Os resultados dos testes, apresentados nas Tabelas 84 e 85, confirmam o
resultado no estilo entrevista, para a faixa etária. Os testes indicam que nenhum dos
fatores parece favorecer a abertura de /o. Na leitura de textos, das 128 ocorrências
realizadas abertas, 62 foram realizadas por falantes jovens e 65 por falantes adultos. Na
leitura de palavras, das 122 ocorrências realizadas abertas, 61 foram realizadas por
falantes jovens e 61 por falantes adultos.
Nos testes de produção leitura de textos e leitura de palavras, em Ouro Branco,
as palavras que tiveram a vogal /o/ aberta foram agrupadas da seguinte forma:
TABELA 86
Resultados dos testes de leitura de textos e leitura de palavras em Ouro Branco, para a
abertura de /o/.
LEITURA DE TEXTOS EM OURO BRANCO
LEITURA DE PALAVRAS EM OURO
BRANCO
Grupo 1 Grupo 1
Vogal da sílaba tônica:
[a, E, O]
Indivíduos/
ocorrências
Vogal da sílaba tônica:
[a, E, O]
Indivíduos/
ocorrências
f[O]foca LMJO/1
WMJO/1
NFJO/1
SMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
c[O]leta LMJO/1
WMJO/1
NFJO/1
SMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
c[O]loca LMJO/1
NFJO/1
FFAO/1
LFAO/1
f[O]foca LMJO/1
WMJO/1
NFJO/1
SMAO/1
FFAO/1
LFAO/1
pr[O]pósito LMJO/1 t[O]mada LMJO/1
264
FFAO/1
LFAO/1
WMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
c[O]leta WMJO/1
FFAO/1
LFAO/1
m[O]derno LMJO/1
SMAO/1
FFAO/1
t[O]mada LMJO/1
NFJO/1
SFJO/1
p[O]mar LMJO/1
WMJO/1
LFAO/1
m[O]rmaço WMJO/1
PMAO/1
j[O]gar WMJO/1
LFAO/1
g[O]verna LMJO/1
LFAO/1
t[O]mate WMJO/1
LFAO/1
FFAO/1
j[O]gar LMJO/1
WMJO/1
c[O]lher (subst) FFAO/1
NFJO/1
c[O]ragem 1 WMJO/1
FFAO/1
c[O]ragem FFAO/1
LMJO/1
insup[O]rtável LMJO/1 p[O]mada LFAO/1
PMAO/1
p[O]mada 1 LMJO/1
p[O]mar 1 LMJO/1
O Grupo 1 corrobora a análise feita nessa pesquisa a respeito dos fatores que
favorecem a abertura de /o/, no estilo entrevista, na cidade de Ouro Branco.
Na análise feita para o estilo entrevista, constatamos que as vogais da sílaba
tônica que favorecem a abertura de /o/ são as vogais médias baixas orais [E, O] e baixa
oral [a], o que pode ser confirmado pelo Grupo 1 nos estilos leitura de texto e leitura
de palavras apresentados na Tabela 86 acima.
Assim como a abertura de /e/, a abertura de /o/ também parece ser diferente em
Piranga e Ouro Branco. Em Piranga outros fatores (como o travamento com nasal na
sílaba seguinte) favorecendo a abertura além da vogal baixa e das vogais médias baixas
seguintes.
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Ouro
Branco nenhum fator (masculino, feminino, jovem e adulto) favorece a abertura de /e/.
265
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 86, confirmam o resultado no
estilo entrevista, para o gênero. Os testes indicam que nenhum dos fatores parece
favorecer o alçamento de /o/. Na leitura de textos, das 30 ocorrências realizadas abertas,
16 foram realizadas por falante do gênero masculino e 14 por falante do gênero
feminino. Na leitura de palavras das 33 ocorrências realizadas abertas, 16 foram
realizadas por falante do gênero masculino e 17 por falante do gênero feminino.
Os resultados dos testes, apresentados na Tabela 86, confirmam o resultado no
estilo entrevista, para a faixa etária. Na leitura de textos, das 30 ocorrências realizadas
abertas, 18 foram realizadas por falantes jovens e 12 por falantes adultos. Na leitura de
palavras, das 33 ocorrências realizadas abertas, 15 foram realizadas por falantes jovens
e 18 por falantes adultos.
5.3.5 Conclusão
Nos dois testes de produção – leitura de textos e leitura de palavras –, a maioria
das palavras não teve a variável (/e/ ou /o/) alçada ou aberta, isto é: a produção
conservou a realização fechada ([e] ou [o]) da variável. Em relação ao alçamento, pode
ser que isso aconteça devido ao fato de a leitura (de textos e palavras) ser considerada
estilo formal, no qual o leitor presta mais atenção à produção das palavras, realizando-as
próximo ao estilo padrão. A abertura foi maior nos estilos mais formais.
Aqui, listamos apenas as palavras que tiveram a vogal média (/e/ ou /o/)
produzida alçada ou aberta, uma vez que nosso objetivo é demonstrar que esses
processos alçamento e abertura ocorrem em presença de fator que os favoreça na
maioria das vezes. E esses fatores, mostrados aqui, corroboram muitas das constatações
relativas ao alçamento e abertura, no estilo entrevista.
266
Depois que da análise dos testes de produção, podemos considerar os seguintes
fatores lingüísticos como favorecedores do alçamento e da abertura:
TABELA 87
Fatores favorecedores do alçamento de /e/, em
Piranga.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
in, un,
i, u
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
i, u,
in, un
Morfema em que a variável esteja inserida
prefixo -des
Em Piranga, ocorre a harmonia vocálica, como verificado na entrevista.
TABELA 88
Fatores favorecedores do alçamento de /e/, em Ouro
Branco
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
in, un
i, u
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
i,u
ausência
Morfema em que a variável esteja inserida
prefixo -des
Em Ouro Branco, também ocorre a harmonia vocálica, como verificado na
entrevista.
TABELA 89
Fatores favorecedores da abertura de /e/, em Piranga.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
an
en, on
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
a, E, O
en, on
267
Em Piranga ocorre a neutralização da oposição e/E em favor de [E] como
harmonia vocálica do grau de abertura com as vogais [a, E, O, an] na laba seguinte
(que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -ATR). E ocorre
também a neutralização da oposição em favor de [E], quando a vogal seguinte é [en, on]
ou [in, un].
TABELA 90
Fatores favorecedores da abertura de /e/, em Ouro
Branco.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
Podemos perceber que em Ouro Branco também ocorre neutralização da
oposição e/E em favor de [E] como harmonia vocálica do grau de abertura com as
vogais [a, E, O] (que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -
ATR). Mas não ocorre a neutralização em outros contextos significativamente.
TABELA 91
Fatores favorecedores do alçamento de /o/, em
Piranga.
VARIÀVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
i, u
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
ausência
Modo do segmento precedente
oclusivas
Ponto do segmento precedente
labiais
Podemos perceber que em Piranga ocorre a harmonia vocálica, desencadeada
pela vogal alta seguinte. Ocorre também o processo de redução vocálica, no qual ocorre
a diminuição da diferença articulatória das vogais em relação aos segmentos adjacentes.
268
É importante ressaltar, que para o modo do segmento seguinte, na entrevista, os
fatores favorecedores foram nasais e fricativas. Podemos notar então, que muita
interação nos resultados das consoantes adjacentes. Percebemos que ela exerce uma
influência, mas ainda não é nítido quais são os fatores realmente favorecedores. Ao
observar a literatura, notamos que muita divergência ao se estabelecerem os fatores
favorecedores em relação às consoantes adjacentes. Vejamos as Tabelas 92 e 93:
TABELA 92
Resultados apresentados na literatura sobre o favorecimento do
segmento precedente
i E u O
Viegas
----------- não estudado obstruinte(modo) não estudado
Célia
palatal
bilabial
labiodental palatal
velar
---------
Yacovenco
velar
vibrante velares
labial
vibrante
Castro
--------- vibrante
forte(modo)
velar (ponto)
obstruinte (modo)
nasal (modo)
TABELA 93
Resultados apresentados na literatura sobre o favorecimento do segmento seguinte.
i E u O
Viegas
sonorante(modo) não estudado palatal (ponto)
nasal (modo)
obstruinte (modo)
não estudado
Célia
velar alveolar
Bilabial
palatal
bilabial
labiodental
alveolar
palatal
labiodental
Yacovenco
velar
grupo consonântico
vibrante
Alveolar
labial
palatal
grupo consonântico
Castro
nasal (modo) vibrante forte(modo)
lateral (modo)
labial (ponto)
nasal (modo)
obstruinte(modo)
vibrante forte(modo)
lateral (modo)
269
TABELA 94
Fatores favorecedores do alçamento de /o/, em Ouro
Branco.
VARIÀVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
i,u
Modo do segmento precedente
oclusivas
Ponto do segmento precedente
labiais
Em Ouro Branco, podemos perceber que ocorre também a harmonia vocálica e a
redução vocálica. Para o modo do segmento seguinte, na entrevista, o fator favorecedor
foi fricativas/africadas. Assim, como em Piranga, podemos notar que muita interação
nos resultados das consoantes adjacentes.
TABELA 95
Fatores favorecedores da abertura de /o/, em Piranga.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
en, on
an
in, un
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
a, E, O
Em Piranga ocorre a neutralização da oposição o/O em favor de [O] como
harmonia vocálica do grau de abertura com as vogais [a, E, O, an] na laba seguinte
(que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -ATR) e ocorre
também a neutralização da oposição em favor de [O], quando a vogal seguinte é [en, on]
ou [in,un].
TABELA 96
Fatores favorecedores da abertura de /o/, em Ouro
Branco.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES FATORES
Vogal da sílaba tônica
a, E, O
Vogal entre a vogal da variável e a tônica
ausência
a, E, O
270
Podemos perceber que em Ouro Branco também ocorre neutralização da
oposição o/O em favor de [O] como harmonia vocálica do grau de abertura com as
vogais [a, E, O] (que pode ser descrito também como harmonia em relação ao traço -
ATR). Mas não ocorre a neutralização em outros contextos significativamente
Através da análise dos testes de produção, podemos concluir também que os
indivíduos variam e que o item lexical é de grande importância para a explicação dos
processos estudados, como mencionado nas entrevistas. Nos casos em que não foi
possível explicar o alçamento ou a abertura através dos processos mencionados
podemos postular a atuação lexical.
Depois da análise dos testes de produção, podemos considerar os seguintes
fatores sociais como favorecedores do alçamento e da abertura.
TABELA 97
Resultados dos fatores sociais que se mostraram relevantes
para o alçamento e para a abertura de /e/, em Piranga e em
Ouro Branco, depois da análise dos testes de produção.
GÊNERO FAIXA ETÁRIA
Piranga Masculino --------
ALÇAMENTO /e/
Ouro Branco Masculino Jovem
Piranga Masculino --------
ABERTURA /e/
Ouro Branco ------------ --------
TABELA 98
Resultados dos fatores sociais que se mostraram
relevantes para o alçamento e para a abertura de /o/, em
Piranga e em Ouro Branco, depois da análise dos testes
de produção.
GÊNERO FAIXA ETÁRIA
Piranga Masculino ---------
ALÇAMENTO /o/
Ouro Branco Masculino Jovem
Piranga --------- ---------
ABERTURA /o/
Ouro Branco --------- ---------
271
Podemos notar nas Tabelas 97 e 98, que o fator masculino parece favorecer o
alçamento de /e/ e de /o/ nas duas cidades em estudo. E que o fator jovem parece
favorecer o alçamento de /e/ e de /o/, em Ouro Branco.
Em relação à abertura, é possível notar um favorecimento do fator masculino
apenas na abertura de /e/, em Piranga.
Em Piranga, em que abertura da pretônica quando a vogal seguinte é alta, os
adultos favorecem a abertura da vogal, para /e/ e para /o/, por isso é preciso analisar
contexto a contexto, para chegarmos a conclusões mais precisas acerca do
favorecimento dos fatores sociais.
5.4 Análise dos testes de percepção e julgamento e de avaliação
No teste de percepção e de julgamento fizemos as seguintes perguntas ao
informante:
1. Você fala s[E]mestre ou s[e]mestre?
2. Você fala v[E]lório ou v[e]lório?
3. Você fala n[E]blina ou n[e]blina?
4. Você fala m[E]lado ou m[e]lado?
5. Você fala c[O]ragem ou c[o]ragem?
6. Você fala m[O]derno ou m[o]derno?
7. Você fala m[O]rmaço ou m[o]rmaço?
8. Você fala t[O]mada ou t[o]mada?
A percepção nas duas cidades não foi igual. Em Ouro Branco, muitos
informantes, no início, não percebiam a diferença entre o fechamento e a abertura.
Falavam que não viam diferença e então as palavras eram repetidas de novo, até que
272
eles pudessem perceber e conseguir responder às perguntas. em Piranga, a maioria
dos informantes percebeu a diferença logo na primeira pergunta.
As respostas, referentes a Piranga e Ouro Branco, foram dispostas nas Tabelas
99 e 100, abaixo.
TABELA 99
Resultados do julgamento, em
Piranga e Ouro Branco, para a
variável /e/.
ITEM CIDADE [e]
[E]
Piranga 2 5
semestre
79
Ouro Branco 4 1
Piranga 0 8
velório
Ouro Branco 2 6
Piranga 2 6
pegador
Ouro Branco 6 2
Piranga 3 5
neblina
Ouro Branco 8 0
Piranga 0 8
melado
Ouro Branco 5 3
TABELA 100
Resultados do julgamento, em
Piranga e Ouro Branco, para a
variável /o/.
ITEM CIDADE [o]
[O]
Piranga 2 6
coragem
Ouro Branco 7 1
Piranga 0 8
moderno
Ouro Branco 5 3
Piranga 2 6
mormaço
Ouro Branco 7 1
Piranga 0 8
tomada
Ouro Branco 3 5
Nas Tabelas 99 e 100, acima, os dados do julgamento acerca da sua produção
correspondem à realização apresentada para o estilo entrevista isto é: os informantes de
79
1 pessoa em Piranga e 3 em Ouro Branco pronunciaram s[i]mestre.
273
Piranga realizam as variantes abertas /E/ e /O/ em número muito superior aos
informantes de Ouro Branco.
Em Piranga, os 8 informantes acreditam que realizam a vogal média pretônica
[e] ou [o] aberta, nestas formas: v/E/lório, m/E/lado, m/O/derno e t/O/mada. Assim, o
julgamento que os falantes têm da realização da vogal média aberta, nessas palavras, é
categórico. Em Ouro Branco, não foi observado julgamento categórico com realização
aberta, mas ao contrário de Piranga, julgamento categórico com realização fechada
na palavra n[e]blina.
No teste de avaliação, a seguinte pergunta foi feita aos informantes:
- Como um médico pronunciaria: m[E]lado ou m[e]lado?
- Como um pintor de paredes pronunciaria: m[E]lado ou m[e]lado?
- Por quê?
Essas perguntas foram repetidas aos informantes, substituindo-se a palavra
melado por cada uma das palavras do teste de percepção.
As respostas dos informantes de Piranga foram apresentadas abaixo, antecedidas
pela sigla que os identifica:
GFJP: Para esse informante, o médico pronunciaria as palavras sempre abertas,
já o pintor, pronunciaria s[i]mestre e t[u]mada com vogais alçadas e as demais palavras
seriam pronunciadas com a variante fechada. Para ele, o mais correto é pronunciar todas
as palavras do teste com [E] e [O] abertos e acrescenta: “os dois poderiam falar
s[i]mestre, se falassem sem pensar”.
LFJP: Esse informante acredita que o médico pronunciaria s[e]mestre e
m[o]rmaço
com vogal fechada e as demais palavras seriam pronunciadas com a vogal
pretônica aberta. O pintor falaria s[i]mestre e m[u]derno e todas as outras seriam
274
pronunciadas com a vogal pretônica fechada. Para o informante, a pronúncia depende
do nível de escolaridade do falante: “isso depende se a pessoa é mais informada ou
menos informada”.
BMJP: Para esse informante, o médico pronunciaria todas as palavras com a
vogal pretônica aberta e o pintor as pronunciaria com a vogal pretônica fechada.
Segundo ele, o “certo” é pronunciar com /E/. O informante crê, também, que o vel de
escolaridade determinaria as diferentes realizações da vogal média.
CMJP: Esse informante atribui as diferentes realizações da vogal média
pretônica a diferenças regionais: “não tem diferença entre pintor e médico depende da
região que eles moram”.
LMAP: Para esse informante, também, as realizações distintas da vogal média
devem-se a diferenças regionais:
“isso já está implantado, se uma pessoa que fala v[E]lório
quisesse falar v[e]lório, ela não conseguiria. A não ser que mudasse de uma região pra outra.
Assim mesmo, só depois de alguns anos ela ia conseguir mudar seu jeito de falar”.
RMAP: O informante atribui as variações na pronúncia das vogais médias
pretônicas a diferenças regionais: “todo mundo pode falar dos dois jeitos, depende do
lugar em que mora”.
SFAP: Para esse informante as realizações distintas da vogal média devem-se a
diferenças regionais:
“depende do lugar em que as pessoas moram. Tanto o pintor como o
médico pode falar qualquer uma das duas opções”.
DFAP: Esse informante atribui as diferentes realizações da vogal média
pretônica a diferenças regionais:
“não tem diferença na pronúncia dessas palavras entre
pessoas que moram no mesmo lugar. Não depende se é pintor ou médico, depende do lugar
onde vivem”.
275
Ao confrontar as respostas dos informantes de Piranga, notamos que os adultos
percebem as diferenças na realização da vogal média pretônica como uma questão
regional. O nível de escolaridade do falante não influenciaria sua pronúncia, o que
significa que nenhuma das duas variantes (aberta ou fechada) é estigmatizada pelos
adultos.
As respostas de 3 informantes jovens indicam que as variantes /E/ e /O/ são
prestigiadas. Eles crêem que os falantes mais escolarizados as produzem e que o
“correto” seria pronunciá-las com a vogal média aberta.
As respostas dos informantes jovens indicam, também, que as variantes /i/ e /u/
são ligeiramente estigmatizadas, já que acreditam que essas variantes ocorram apenas na
pronúncia do pintor, que tem nível de escolaridade inferior ao do médico, confirmando
os resultados dos testes apresentados no item 5.3.1 e 5.3.3.
As respostas dos informantes de Ouro Branco são apresentadas abaixo,
antecedidas pela sigla que os identifica:
SFJO: Para esse informante, as realizações distintas da vogal média devem-se a
diferenças regionais
“depende somente da região, tanto o médico como o pintor podem falar
um ou outro”.
NFJO: Esse informante, inicialmente, diz que o médico produz todas as
palavras abertas e que o pintor as produz fechadas. Em seguida, afirma:
“não é nada
disso, tudo é apenas uma diferença de região, não tem nada a ver com escolaridade, nem com
certo ou errado”.
LMJO: Para esse informante, as realizações distintas da vogal média devem-se
a diferenças regionais: em Ouro Branco, o médico e o pintor produziriam, sempre, as
276
palavras com a vogal fechada; em outra região, os dois as produziriam com a vogal
aberta.
WMJO: Esse informante diz que
“Nunca tinha reparado essa diferença, para mim é
tudo igual, o médico e o pintor podem falar os dois. O médico deveria falar correto, mas eu não
sei qual é o correto, se bem que tem médico que fala errado também, mesmo tendo um grau de
estudo maior, talvez seja uma diferença de região”.
PMAO: Para esse informante, as realizações distintas da vogal média devem-se
a diferenças regionais:
“não tem uma maneira melhor ou pior de se falar, tanto o médico como
o pintor podem falar os dois, é uma questão totalmente regional”.
SMAO: Para esse informante, as realizações distintas da vogal média
relacionam-se a diferenças regionais:
“não tem um melhor que o outro, tudo depende de
onde a pessoa mora, se as pessoas da região falam de um jeito ou de outro”.
LFAO: Esse informante crê que as realizações distintas da vogal média devem-
se a diferenças regionais:
“é uma diferença totalmente regional, não tem nada a ver se uma
pessoa é médico ou pintor”.
FFAO: Para esse informante, as realizações distintas da vogal média
relacionam-se a diferenças regionais:
“o médico e o pintor podem falar das duas maneiras,
depende do lugar onde moram”.
Contudo, o informante observa que
“é também preciso
adequar a linguagem ao contexto, em uma palestra por exemplo, não se fala s[i]mestre, em
outro lugar, mais comum, pode-se falar. Então, tem casos que depende da situação em que a
pessoa está e não da sua profissão”.
Em Ouro Branco, os informantes atribuem a diferença entre a pronúncia aberta e
fechada da variável a diferenças regionais. Para eles, o nível de escolaridade do falante
não influencia em sua pronúncia. As variantes e/o e E/O não são claramente
estigmatizadas pelos informantes.
277
Entre os informantes, há um que deixa transparecer em sua fala a estigmatização
da variante [i], ao afirmar que em uma palestra não se deve pronunciar s[i]mestre, o que
sugere que em situações formais, ele cque não se deve pronunciar a dia pretônica
alçada, confirmando os resultados dos testes apresentados no item 5.3.1.
Concluindo, observamos que o alçamento é ligeiramente estigmatizado, mas não
estigma mais evidente atribuído à abertura, comprovado pelas porcentagens
apresentadas nas Tabelas 2 e 6, para os três estilos. A percepção dos falantes parece
estar certa em relação à abertura estar ligada a uma questão regional.
278
CONCLUSÃO
Baseados no modelo da teoria da variação e mudança, foram descritas e
analisadas três variantes das vogais médias pretônicas: [e] e [o]: realização fechada; [E]
e [O]: realização aberta; [i] e [u]: realização alçada.
Ao finalizar este trabalho, acreditamos ter conseguido responder às questões
propostas.
a) Por que alguns itens lexicais sofrem um processo de abertura (m[E]lina) e,
outros, um processo de elevação (p[i]diu), como constatado em Piranga em uma
abordagem inicial?
O processo pelo qual os itens passam está relacionado com o fator que o
favorece. Apresentamos, nesta pesquisa, os fatores favorecedores do alçamento e os da
abertura. A vogal alta seguinte é favorecedora do alçamento, mas a nasalidade da tônica
também atua na abertura em Piranga, além das consoantes adjacentes.
b) Os processos envolvidos na variação das vogais pretônicas podem ser
analisados como processos de harmonia vocálica, de redução vocálica e de
neutralização?
Sim.
c) relação entre o grau de abertura e os itens lexicais específicos e entre o
alçamento e esses itens, como abordam Lee e Oliveira (2003) e Viegas (1987), em Belo
Horizonte?
Sim. relação entre esses processos e itens específicos, como mostrado nesta
pesquisa. A ordem de aplicação dos processos segue uma tendência geral, mas em itens
específicos essa ordem pode ser alterada.
279
d) Por que um mesmo item pode ter a vogal média ora aberta, ora alçada, numa
mesma comunidade de fala?
Todos os processos podem se aplicar em um mesmo item lexical, pois pode ser
que haja ambientes favorecedores em um mesmo item para o alçamento e para a
abertura . Além disso, há questões relativas ao próprio item.
e) Há relação entre as faixas etárias e os processos em questão?
Sim. Os resultados mostraram que há diferenças entre os jovens e os adultos.
f) Há relação entre os gêneros e os processos em questão?
Sim. Os resultados mostraram que há diferenças entre os homens e as mulheres.
g) Há diferenças entre os processos nos dois municípios?
1) Em relação ao alçamento de /e/
a) Em Piranga e em Ouro Branco, o processo de alçamento da pretônica
anterior se por meio de uma assimilação regressiva do traço de altura de uma vogal
alta na vogal da sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a tônica, ou seja, por meio
da harmonização vocálica. Nos testes comprovamos que a contigüidade é um fator mais
forte que a tonicidade.
Mostramos também a importância de se considerar o item lexical na análise dos
dados.
Os prefixos de/des são favorecedores do alçamento em Piranga e Ouro
Branco e devem ser analisados mais cuidadosamente.
Em ambas as cidades constatamos que o alçamento é ligeiramente
estigmatizado. Há uma grande redução do alçamento nos estilos leitura de texto e leitura
de palavras, em relação ao estilo entrevista.
280
2) Em relação à abertura de /e/
a) Em Piranga o processo de abertura da pretônica anterior é favorecido por
uma vogal baixa ou média baixa na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a tônica,
da qual a pretônica assimila o grau de abertura (-ATR), resultado de um processo de
neutralização da oposição e/E, em favor de E, como harmonia vocálica. Constatamos
também que as vogais médias nasais [en, on] e as vogais altas nasais [in,un], na laba
tônica ou entre a vogal da variável e a tônica, favorecem a abertura em Piranga,
resultado de um processo de neutralização. Ou seja, a abertura é desfavorecida apenas
pelas vogais altas orais [i, u] e pelas vogais médias altas orais [e, o].
Constatamos que os prefixos pré-/per-/re- são favorecedores da abertura em
Piranga. Esses fatores devem ser analisados mais detidamente em estudos posteriores.
b) Em Ouro Branco o processo de abertura da pretônica anterior é favorecido
por uma vogal baixa ou média baixa na sílaba tônica, da qual a pretônica assimila o grau
de abertura, resultado de um processo de harmonização vocálica.
Constatamos que o paradigma com vogal aberta é favorecedor da abertura de /e/
em Ouro Branco. Esse fator deve ser analisado mais detidamente em estudos
posteriores.
Constatamos também que o percentual de abertura de /e/, em Piranga é muito
superior ao percentual de abertura em Ouro Branco, nos três estilos estudados. Em
Piranga, a abertura é superior ao alçamento nos três estilos e em Ouro Branco é superior
apenas na leitura de texto e de palavras. Constatamos que não estigma evidente para
a abertura nessas cidades. Em Piranga, a abertura chega a ser prestigiada por alguns
informantes.
281
3) Em relação ao alçamento de /o/
a) Em Piranga, o alçamento de /o/ é favorecido pelas vogais altas na silaba
tônica, ocorrendo, nesses casos, o processo de harmonia vocálica.
Mas a harmonia vocálica não é suficiente para explicar todos os casos de
alçamento da pretônica posterior, ocorrendo também o processo de redução vocálica, no
qual ocorre a diminuição da diferença articulatória das vogais em relação aos segmentos
adjacentes.
Foi possível notar também, que há muita interação nos resultados das consoantes
adjacentes. Percebemos que ela exerce uma influência, mas não é um fator robusto. Ao
observar a literatura, notamos que muitas diferenças atribuídas ao favorecimento das
consoantes adjacentes.
Observamos também que existem restrições lexicais.
b) Em Ouro Branco, o alçamento de /o/ é favorecido pelas vogais altas na silaba
tônica ou entre a vogal da variável e a tônica, ocorrendo nesses casos, o processo de
harmonia vocálica. Mas a harmonia vocálica o é suficiente para explicar todos os
casos de alçamento da pretônica posterior, ocorrendo também o processo de redução
vocálica. Assim, como em Piranga, podemos notar que muita interação nos
resultados das consoantes adjacentes.
Assim, para o alçamento de /o/, nas duas cidades estudadas, além do processo de
harmonia vocálica, ocorreria também o processo de redução vocálica.
Em ambas as cidades constatamos que o alçamento é ligeiramente
estigmatizado. Há uma grande redução do alçamento nos estilos leitura de texto e leitura
de palavras, em relação ao estilo entrevista.
282
4) Em relação à abertura de /o/
a) Em Piranga o processo de abertura da pretônica posterior é favorecido por
uma vogal baixa ou média baixa na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a tônica,
ocorrendo um processo de neutralização da oposição o/O, em favor de O, como
harmonia vocálica. Constatamos também que as vogais médias nasais [en, on] e as altas
nasais [in, un] na sílaba tônica favorecem a abertura em Piranga. Ou seja, a nasalidade
da sílaba seguinte favorece a neutralização. A abertura é desfavorecida onde o
alçamento é favorecido [i, u] e quando ocorre um processo de harmonia vocálica [e, o],
mantendo a média alta.
Alguns itens não puderam ser explicados nos testes, nesses casos a abertura pode
ser atribuída a itens específicos ou a fatores como consoantes adjacentes que não
apareceram como significativos na entrevista. Talvez não seja tão robusta a influência
das consoantes adjacentes em Piranga.
Constatamos que o paradigma com vogal aberta é favorecedor da abertura de /o/
em Piranga. Esse fator deve ser analisado mais detidamente em estudos posteriores.
b) Em Ouro Branco o processo de abertura da pretônica anterior é favorecido
por uma vogal baixa ou média baixa na sílaba tônica ou entre a vogal da variável e a
tônica, ocorrendo um processo de neutralização da oposição o/O, em favor de O, como
harmonia vocálica.
Constatamos também que o percentual de abertura de /o/, em Piranga é muito
superior ao percentual de abertura em Ouro Branco, nos três estilos estudados. Em
Piranga, a abertura é superior ao alçamento nos três estilos e em Ouro Branco é superior
apenas na leitura de texto e de palavras. Constatamos que não estigma evidente para
283
a abertura nessas cidades. Em Piranga, a abertura chega a ser prestigiada por alguns
informantes.
Para chegar a essas conclusões foi preciso trabalhar sempre com o item lexical e
com o processo. Observamos que há interações, que devem ser estudadas
posteriormente. Essas interações levam-nos a pensar que muitas variáveis independentes
na verdade não são independentes.
Concluímos que os processos de alçamento e de abertura se dão por difusão
lexical, se processando gradualmente através do léxico. Já que sofrem a atuação
morfológica, é esperado que haja restrição lexical. Ao analisar esses processos,
constatamos que não havia explicação para o favorecimento do alçamento e da abertura
de todos os itens. Muitos inclusive foram explicados pelo nivelamento analógico e
mesmo assim sobraram itens que não puderam ser explicados. Mas, segundo Viegas
(2001, p.34), ao contrário do que ocorre numa perspectiva neogramática, "no modelo
difusionista, as ‘exceções’ não são vistas como um problema pois, a seleção da
mudança sendo lexical, espera-se que os itens todos não tenham o mesmo
comportamento".
Baseados em uma das
classificações dos falares brasileiros de Antenor Nascentes,
acreditávamos, antes da análise dos dados, que Piranga, provavelmente, pertenceria à
área de falar Fluminense. Vejamos os resultados apresentados em Piranga, em Ouro
Branco e em outras duas cidades pertencentes à área de falar Fluminense:
TABELA 101
Resultados gerais em Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Piranga e Ouro Branco para a
variável /e/
Literatura e i E Total Cidade
Yacovenco 1299 75,6%
361 21,0%
58 3,4% 1718
100%
Rio de Janeiro
Castro 2287 70% 815 24,9%
168 5,1% 3270
100%
Juiz de Fora
Dias 1128 51% 502 22,7%
583 26,3%
2213
100%
Piranga
Dias 1510 78,2%
360 18,6%
62 3,2%
1932
100%
Ouro Branco
284
TABELA 102
Resultados gerais em Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Piranga e Ouro Branco para a
variável /o/
Literatura o u O Total Cidade
Yacovenco 788 67,2%
350 29,8%
35 3,0% 1173
100%
Rio de Janeiro
Castro 1571 64,2%
749 30,6%
128 5,2% 2448
100%
Juiz de Fora
Dias 831 61,6%
235 17,4%
284 21,0%
1350
100%
Piranga
Dias 1077 82,6%
145 11,1%
82 6,3% 1304
100%
Ouro Branco
Como podemos observar nas Tabelas 101 e 102, os valores percentuais de
abertura em Piranga são muito diferentes dos valores de Juiz de Fora, do Rio de Janeiro
e de Ouro Branco.
Castro (1990) ressalta:
As emissões baixas documentadas na variedade mineira juizdeforana
permitem uma aproximação com a variedade carioca, visto que nas
duas a possibilidade de abaixamento gira em torno de 5%. (CASTRO,
1990, p.245)
Piranga apresenta 26,3% de abertura para /e/ e 21% de abertura para /o/. Com
base nesses resultados, podemos concluir que Piranga não pertence à área de falar
Fluminense. A ordem geral, como tendência, dos processos em Piranga é manutenção >
abertura > alçamento. No Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Ouro Branco a ordem é
manutenção > alçamento > abertura. Em relação às vogais pretônicas, a fala de Ouro
Branco é semelhante aos outros dois trabalhos descritos a respeito do dialeto
fluminense, considerando os totais gerais apresentados pelas autoras.
Ao comparar os resultados da abertura em Piranga com os resultados obtidos por
Célia (2004) em Nova Venécia, no Espírito Santo, (16% de abertura para /e/ e 23% de
abertura para o /o/), podemos concluir que a variação das pretônicas em Piranga se
assemelha à variação dessas vogais em Nova Venécia, em termos percentuais. Essas
duas cidades pertencem à área de transição. Como pode ser visto em Célia (2004):
285
O abaixamento identificado na variedade estudada não é tão escasso
quanto no Rio de Janeiro, mas também não é tão freqüente quanto na
Bahia. Parece então, que Espírito Santo é uma região de transição, no
que diz respeito à realização das vogais médias em posição pretônica.
(CÉLIA, 2004, p.106)
Em Piranga a manutenção é maior do que a abertura, diferentemente de outros
dialetos como o de Salvador, descrito por Silva (1991), em que a manutenção tem o
menor percentual. É importante ressaltar que esses são valores gerais que mostram uma
tendência, mas as comparações devem ser feitas contexto a contexto para um resultado
mais preciso.
Para entendermos, um pouco melhor, certos fatores responsáveis pelas variações
nas duas cidades seria preciso correlacionar as particularidades lingüísticas dos
habitantes a aspectos históricos da língua e outros que determinaram a formação e o
desenvolvimento dos municípios. Contudo, as restrições impostas pelo cronograma não
nos permitem desenvolver tais correlações, que poderão (e devem) ser retomadas, em
outro momento.
Nosso esforço concentrou-se, sobretudo, em analisar os dados que poderão
contribuir para a melhor compreensão das particularidades lingüísticas de Piranga e
Ouro Branco.
286
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290
ANEXOS
ANEXO 1
Localização do município de Piranga
Disponível em: <www.piranga.com.br>. Acesso em: 16 nov. 2007.
291
ANEXO 2
Localização do município de Ouro Branco
Disponível em: <http://www.camaraourobranco.mg.gov.br>. Acesso em: 16
nov. 2007.
292
ANEXO 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado Senhor (a),
Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao pesquisador
que explique as palavras ou informações não compreendidas completamente.
1 ) Introdução
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa com o objetivo de verificar a
variação das vogais médias pretônicas na cidade de Piranga/Ouro Branco e colaborar para a
documentação e constituição de um banco de dados referente ao dialeto mineiro. Você foi
selecionado porque se encaixa nos critérios exigidos para esta pesquisa: ser pessoa moradora da
cidade de Piranga desde criança, ter ou estar cursando ensino médio, pertencer à faixa etária de
18 a 24 anos ou 40 a 60 anos. Sua participação não é obrigatória.
2 ) Procedimentos do Estudo
Para participar deste estudo, solicito a sua especial colaboração em realizar entrevista gravada,
ler uma lista de palavras, ler textos e avaliar palavras lidas pelo entrevistador.
3 ) Riscos e desconfortos
Consideramos que a metodologia utilizada para coleta de dados não oferece riscos ou
desconfortos.
4 ) Benefícios
Consideramos que essa pesquisa não trará benefícios diretos para você.
5) Custos/Reembolso
Você não terá nenhum gasto com a sua participação no estudo e também não receberá
pagamento pelo mesmo
6) Caráter Confidencial dos Registros
A sua identidade será mantida em sigilo. Os resultados do estudo serão sempre apresentados
como o retrato de um grupo e o de uma pessoa. Dessa forma, você não será identificado
quando o material de seu registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica ou
educativa.
As entrevistas serão codificadas de forma a não permitir a exposição do nome do informante. As
gravações serão usadas para a documentação e constituição de um banco de dados referente ao
dialeto mineiro, mas o nome de cada informante será mantido em sigilo.
7 ) Participação
Sua participação neste estudo é muito importante e voluntária. Você tem o direito de não querer
participar ou de sair deste estudo a qualquer momento, sem penalidades ou perda de qualquer
benefício ou cuidados a que tenha direito nesta instituição. Em caso de você decidir retirar-se do
estudo, favor informe o pesquisador e/ou a pessoa de sua equipe que esteja atendendo-o.
8) Informações
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Minas Gerais, que poderá ser contatado para esclarecimentos pelo telefone 3499-4592, por
email [email protected].br ou no seguinte endereço: Av. Antonio Carlos,6627 Unidade
Administrativa II, sala 2005, 2ºandar. Pampulha. CEP 31270-901 - Belo Horizonte, MG.
293
Estou ciente de que terei acesso aos resultados obtidos, se for de minha vontade, além de
quaisquer esclarecimentos adicionais que eu necessite.
Os pesquisadores responsáveis poderão fornecer qualquer esclarecimento sobre essa pesquisa,
assim como tirar dúvidas, bastando contato no seguinte endereço e/ou telefone:
Nome do pesquisador: Melina Rezende Dias
Endereço: Rua Professor Nelson de Sena, nº131, apto:103
Bairro: Aeroporto, Belo Horizonte, MG. CEP: 31270-660
Telefone: (31) 3403-1962 – (31) 9963-3921
Email: melinarezende@yahoo.com.br
9) Declaração de Consentimento
Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este termo
de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de
pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas dúvidas.
Confirmo também que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem perda de
benefícios ou qualquer outra penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo.
Nome do participante (em letra de forma)
Assinatura do participante ou representante legal Data
Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador Data
294
ANEXO 4
Textos lidos pelos informantes
Texto 1
Melina queria sair para fazer compras, o seu relógio dava nove horas, mas o tempo estava
nebuloso. Lá fora tinha muita neblina, com este tempo medonho, ela ligou para Melissa e pediu
para ela lhe trazer comida, um remédio e uma pomada, porque ela não podia sair na cerração.
Melissa então foi até um comércio e ouviu um relâmpago e uma trovoada, em seguida caiu uma
tempestade. Ela ficou conversando com um senhor e uma senhora que estavam comprando uma
tomada. Eles eram donos do pequeno negócio e disse que estava precisando de um emprego.
Como estava no fim da semana eles lhe dariam uma oportunidade na segunda. De o feliz ela
comprou cerveja e aperitivo para comemorar. Isso seria uma revolução na sua vida, pois ela iria
começar o primeiro semestre de medicina e para isso precisava de um salário melhor.Mais que
depressa, Melissa foi contar a novidade para sua amiga, as duas ficaram horas comendo petisco
e lendo fofoca na revista Contigo que Melina até teve uma melhora. Na segundona, o mormaço
era insuportável, não havia orvalho e ela tinha destinado toda a sua manhã fazendo uma
reeducação postural para a conversa que teria com seus futuros patrões. Mas o emprego era em
Betim, para trabalhar com representações e ela receberia além do salário uma comissão. Ela
teria que fazer um curso de aperfeiçoamento para ajudar no seu desenvolvimento profissional.
Texto 2
JP era homossexual e estava muito deprimido. Para ele a vida não tinha sentido, ninguém
compreendia a sua opção e, além disso, ele havia perdido uma fortuna de tanto jogar. Ele queria
conhecer a felicidade, estava à procura de um lugar bonito, onde houvesse um pomar para ele
colher frutos como moringa e se distrair. Mas ele não conhecia nem um lugar assim, então ele
calçou sua botina e seguindo um profundo instinto caminhou sem destino. JP não tinha medido
o perigo, já era noite e a rua estava sem policiamento. De repente ele encontra uma pessoa
ferida e com muita coragem resolveu ajuda-la. Infelizmente, essa pessoa morreu e JP fez
questão de ir ao velório, ele percebeu que ele reclama demais, sendo que a vida é uma pérola
e está nas pequenas coisas como sorrir. Assim, ele vê que tudo na vida é opcional. A vida é uma
semínima musical e precisa ser vivida intensamente.
295
Texto 3
Eu era um governador afortunado e estava fazendo um comício com a minha equipe e enxerguei
um homem com uma arma apontada pra mim. Ele atirou e acertou no meu ombro, foi então que
o perito fez a perícia e depois de um tempinho constatou que eu me feri pouco. O atirador era
procurado pela polícia por um número grande de crimes, ao ser interrogado ele disse que eu era
um mentiroso, que não tinha postura ética, pois menti dizendo que construiria um prédio
moderno e equipado no centro da cidade e que levaria eletricidade para as favelas. Ele é
apelidado como Netuno e este apelido coloca medo em todos, pois ele governa o tráfico na
favela. Este é um exemplo que não deve ser seguido. Eu continuo com meus discursos, ninguém
vai me tolher, pois não tenho medo de ameaças o meu propósito é a modernidade e passei uma
borracha nisso tudo.
Texto 4
Havia um mendigo comilão que usava um molambo e ia para a porta de um sacolão pedir
legumes e frutas, às vezes ele ganhava repolho, tomate, moranga. Depois ele seguia para um
ponto elevado onde havia uma banca de revista para apreciar revistas de mulher pelada e o
revisteiro tinha que tolerar. Em seguida, ele fazia coleta de jornal para se cobrir mais tarde,
quando fosse dormir na calçada. Ao dormir, ele sempre sonhava que tinha uma casa, com uma
cozinha, um fogão, uma colher e ele podia fazer melado, continuamente. No dia seguinte, o
mendigo estava tão bêbado que viu um formigueiro e achou que tinha caído um meteoro na
cidade e que as formigas eram extraterrestres. Avistou, então, três crianças brincando de
pegador e achou que uma delas era uma ovelha, a outra era uma cobra com um chocalho e a
última um perdiz. Em seu sonho contínuo, ele tinha uma profissão e fazia polimento de material
ondulado e de uma mesa de madeira com betume. Depois de polida a mesa soltou toda a velha
película e foi vendida por uma pechincha, assim como todas as outras coisas que ele produzia,
ele foi a falência e precisou fazer uma penhora de todos os seus bens.
296
Lista de palavras lida pelos informantes
repolho
fofoca
remédio
comércio
cerveja
moringa
coragem
relógio
comida
revolução
cozinha
revista
profundo
petisco
melhor
semestre
postura
senhora
meteoro
moderno
seguia
velório
coleta
penhora
medicina
negócio
colher
segundona
pequeno
perigo
tomate
Netuno
seguinte
formiga
pegador
fogão
relâmpago
borracha
precisa
tempestade
perdido
trovoada
cerração
feri
orvalho
eletricidade
procurado
mormaço
destino
policiamento
elevado
aperfeiçoamento
enxerguei
homossexual
medonho
oportunidade
representações
conhecia
reclama
conversando
desenvolvimento
governador
neblina
modernidade
moranga
chocalho
fogão
conhecer
molambo
melhora
senhor
pechincha
película
perito
medido
ovelha
polida
jogar
pelada
tolher
tolerar
perdiz
polimento
revisteiro
semana
sentido
semínima
segunda
seguindo
tempinho
procura
precisando
destinado
ondulado
nebuloso
ferida
perícia
apelido
aperitivo
menti
comício
postural
contigo
contínuo
colher
formigueiro
pomar
tomada
fortuna
equipado
bonito
apelidado
Melina
Betim
mentiroso
melaço
botina
comilão
afortunado
cobrir
colher
sorrir
dormir
Melissa
comissão
opção
betume
pomada
continuamente
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