262
parece, as nasais (médias e altas) tem efeito sobre a abertura das vogais posteriores em
Piranga.
Mas para a abertura de /o/, além das vogais médias baixas e da vogal baixa
seguintes, não é apenas a nasal na sílaba seguinte que parece favorecer a abertura. Em
c[O]mício, f[O]rmigueiro, c[O]mida, f[O]rmigas a abertura pode ser atribuída a itens
específicos ou a fatores como consoantes adjacentes que não apareceram como
significativos na entrevista.
Segundo Freitas (2006):
Fernão de Oliveira, Caetano de Lima, João de Barros, Monte Carmelo e Feijó,
ortógrafos estudados por Silva (1989, p. 45-9), dão notícia direta ou indiretamente
da ocorrência dessas vogais e, portanto, confirmam a variação e::E::i e o::O::u no
português antigo. Numa síntese das informações deixadas por esses ortógrafos e
gramáticos, mais exatamente por João de Barros, Feijó e Monte Carmelo, Silva
(1989) afirma que os contextos das vogais médias pretônicas abertas, nas palavras
das listas ortográficas, eram basicamente os mesmos: /O/ aparecia normalmente
antecedendo grupos consonantais do tipo ct, pç, pt, como em nóctivaga, nóctiluz,
adópção, adóptivo; ou precedendo /r/, como em mórtecôr, mórdomo, córagem; ou
em contextos em que incide acento secundário, como em estópada, sótavento;
quanto a /E/, aparecia como vogal em que incide acento secundário seguida de
grupos consonantais do tipo cç, ct, pç, pt, gm, gn, como em objécçãm, conjéctura,
percépçâm, concéptível, esmégmática, régnânte. A autora diz ainda que muitas das
ocorrências de /E/ posicionavam-se antes de /l/, como em Bélgrádo, Bélmonte,
délgado, o que atualmente ainda ocorre no português europeu; assim como também
cita casos em que, em palavras derivadas, a vogal média anterior aberta conserva a
qualidade da vogal tônica da palavra primitiva, como em séttáda, sélvática,
processo ainda muito produtivo modernamente em Portugal e no Brasil.
Silva (1989) conclui, a partir das afirmações de Teyssier quando este estuda João
de Barros, que no século XVI era freqüente a ocorrência das pretônicas abertas,
principalmente /E/, ou decorrentes de crases antigas, ou fonologicamente
motivadas em função da presença de certas consoantes, ou morfologicamente
motivadas quando mantinham a qualidade da tônica primitiva na tônica
secundária de palavra derivada. Tal motivação fonológica bem como a
motivação morfológica, a que se refere a autora, são ainda hoje consideradas como
variáveis para a verificação do comportamento aparentemente assistemático das
vogais médias pretônicas (...) (FREITAS, 2006:15)
Os resultados dos fatores sociais no estilo entrevista apontaram que em Piranga
nenhum fator (masculino, feminino, jovem e adulto) favorece a abertura de /o/.