Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTRATÉGIA E ORGANIZAÇÕES
DA PRÁTICA AO RESULTADO: UM ESTUDO DE CASOS DO CONTEÚDO
ESTRATÉGICO SOB A PERSPECTIVA DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA EM
ORGANIZAÇÕES DE ENSINO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO NA
CIDADE DE CURITIBA/PR
CURITIBA
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
NATÁLIA RESE
DA PRÁTICA AO RESULTADO: UM ESTUDO DE CASOS DO CONTEÚDO
ESTRATÉGICO SOB A PERSPECTIVA DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA
EM ORGANIZAÇÕES DE ENSINO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
NA CIDADE DE CURITIBA/PR
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre.
Curso de Mestrado em Administração do
Setor de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Professor Sergio Bulgacov, Dr.
CURITIBA
2009
ads:
A dedicatória deste trabalho será para aqueles que dedicaram a mim seus momentos, suas
palavras, seu tempo, sua ajuda, seus abraços, seus consolos, sua compreensão, sua paciência,
seu companheirismo, enfim… parte de suas vidas, seu cotidiano e muito de seu amor e carinho!
Pai e mãe (Orli e Mara), para vocês, que nunca mediram esforços para me ver feliz e para que
eu conquistasse cada pedacinho daquilo que eu queria. Rafael e Leonardo, meus irmãos
queridos, que sempre estiveram comigo, torcendo e me ensinando a dividir, trocar,
compartilhar, rir, amar… muito do que sou vem de vocês, da nossa família. Rodrigo, meu amor
querido, incansável companheiro que suportou tudo para me apoiar com seu amor e carinho
sempre, do início até hoje. Para vocês, meus queridos, que são a minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que ajudaram neste trabalho, nesta jornada. E não foram
poucos… Por isso, não tenho a pretensão de agradecer nomeadamente a todos, pois
esqueceria de alguém, inevitavelmente. Assim, aqueles que se reconhecerem aqui,
sintam-se agradecidos, com todo o meu carinho. Mas, algumas pessoas eu desejo
agradecer especialmente:
Primeiro, ao meu orientador e professor, Dr. Sergio Bulgacov, que desde o primeiro
momento me acolheu na UFPR e fez com que eu me sentisse em casa; que ensinou e
incentivou em todos os momentos e permitiu que eu construísse meu caminho.
A todos os Professores do curso de Mestrado em Administração da UFPR, com os
quais aprendi muito e cujas “lições” levarei para sempre na minha trajetória.
A todos os professores do Departamento de Administração Geral e Aplicada da
Universidade Federal do Paraná, em especial aos professores Joel Souza e Silva (vice-
chefe do Departamento), Osmar Rocha (coordenador do curso de graduação em
Administração) e Denise Maria W. Carvalho (vice-coordenadora do curso de
graduação em Administração), que desde o início apoiaram a pesquisa.
À FAE – Centro Universitário, que nos acolheu e nos propiciou muitas aprendizagens
durante a pesquisa, especialmente aos professores Rafael Araújo Leal (coordenador do
curso de graduação em Administração) e Emilio Carlos de Castro Paiva (nosso
incansável apoiador e articulador da pesquisa).
Aos meus colegas e principalmente aqueles que se tornaram amigos, com quem
compartilhei e aprendi muito: Diego, Ludmilla, Pedro e Samir.
À Jorlene, que no dia-a-dia sempre tem um sorriso, uma palavra, uma lição, uma
acolhida e a quem hoje considero uma grande amiga.
À minha querida e eterna professora de Língua Portuguesa, que não se cansa de
corrigir meus escritos e sempre me ensina algo novo que preciso aprender – sobre
língua e vida – Mara Cristina Fischer Rese.
À minha família, sempre presente, de perto ou de longe, sempre comigo: Pai (Orli),
Mãe (Mara), Rafael, Leonardo e Rodrigo.
Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.
(Fernando Pessoa)
RESUMO
Esta pesquisa é de natureza essencialmente qualitativa, do tipo exploratório-descritiva,
de corte transversal com aproximação longitudinal. Foram estudados, por meio de
estudo de caso qualitativo, dois cursos de graduação em administração da cidade de
Curitiba/PR: o curso da Universidade Federal do Paraná e o curso da FAE – Centro
Universitário. O problema da pesquisa em questão relaciona-se à compreensão de quais
são as práticas das organizações de ensino supracitadas que possibilitam a realização do
conteúdo estratégico, sob a perspectiva teórica da estratégia como prática.
Desenvolvem-se, a partir dos objetivos específicos de pesquisa, a investigação e
descrição dos dois casos em separado e também se traça um panorama comparativo
entre os dois, os quais possuem resultados semelhantes nas avaliações formais sobre
cursos de graduação em administração. A coleta de dados foi desenvolvida por meio de
observações, coleta de documentos e artefatos relevantes para a pesquisa (quando
disponíveis) e entrevistas com os praticantes da estratégia das organizações pesquisadas.
Foram desenvolvidas 34 entrevistas no total, das quais 15 na Universidade Federal do
Paraná e 19 na FAE – Centro Universitário. Os dados foram analisados por meio da
análise de narrativas, forma julgada coerente com as escolhas teóricas, metodológicas e
epistemológicas da pesquisa. Entende-se que os principais achados da pesquisa
relacionam-se aos seguintes pontos: (a) os dados da pesquisa corroboram outros estudos
sobre cursos de graduação em administração que apontam para um crescimento dos
mesmos desvinculados das práticas de pesquisa; (b) os cursos pesquisados, em termos
de conteúdo estratégico são bastante diferentes, principalmente com relação ao foco de
formação dos discentes e ao produto final (seus administradores formados) das práticas
estratégicas das organizações; (c) os praticantes da estratégia em cada uma das
organizações pesquisadas desempenham papéis diferenciados, o que revela mais uma
vez a relevância de se compreender a estratégia a partir das micro práticas e das pessoas
que a realizam; (d) da mesma forma, as práticas e atividades dos dois cursos revelam-se
diferenciadas, considerando-se que na UFPR as práticas e atividades são muito mais
burocráticas e individuais, enquanto a FAE empreende práticas e atividades que se
revelam de um caráter estratégico e coletivo; (e) tudo isso reflete-se em resultados
diferenciados, em termos do produto final da organização – os profissionais formados –
e semelhantes quando avaliados do ponto de vista dos indicadores formais (MEC); (f)
ao considerar o processo de strategizing das organizações pesquisadas, cada uma revela
peculiaridades específicas, pautadas em suas práticas e atividades e também nos grupos
de influência (praticantes) envolvidos nesse processo. Por fim, a pesquisa, cumprindo o
seu papel de pesquisa exploratória, aponta alguns caminhos e propostas de estudos
futuros, indicando a necessidade de se desenvolverem mais estudos sobre os métodos de
pesquisa da prática em estratégia, acerca do ensino (e da administração do ensino) em
administração, buscando-se interfaces com outras áreas de estudo, como a educação, a
fim de aprofundar a discussão sobre os aspectos didático-pedagógicos dos cursos de
administração e ainda promover iniciativas para esclarecer as discussões sobre o que
seja teoria e sobre o que seja prática, questões que se revelaram conflituosas e temas de
grande confusão.
Palavras-chave: Estratégia; Estratégia como prática; Conteúdo estratégico; Ensino de
graduação em administração
ABSTRACT
This research is essentially based on a qualitative nature, like exploratory-descriptive, of
a cross-section sense with a longitudinal approximation. Two graduations in
administration courses from the city of Curitiba/PR have been studied: the course from
Universidade Federal do Paraná and the course from FAE – Centro Universitário. The
problem of this research is related to the comprehension of which are the practices of
the teaching organizations mentioned above that allow the accomplishment of the
strategic content, with the theoretical perspective as practice. To develop itself, from the
specific objectives of the research, the investigation and the description of the two cases
separately and it is also traced a comparative overview between them, which have
similar results in the formal evaluations about administration courses. The data collect
was developed with observations, collect of documents and relevant artifacts for the
research (when available) and interviews with the practitioners of the strategy of the
researched organizations. In the end, a total of 34 interviews were developed, from
which 15 in the Universidade Federal do Paraná and 19 at FAE – Centro Universitário.
The data were analyzed by means of narrative analysis, a method that is judged as
coherent for the theoretical choices, methodologists and epistemologists of the research.
That said, it is understood that the main results of the research are related to the
following aspects: (a) the research data confirm another studies about graduation in
administration courses that point out to a growth of themselves not linked to the
research practices; (b) the researched courses, based on the strategic contents are very
different, mainly when related to the focus of the formation of the students and to the
final product (their graduated administrators) from the strategic practices of the
organization; (c) the practitioners of the strategy in each one of the researched
organizations work with different roles, what reveals, one more time, the relevance of
the comprehension of the strategy from the micro practices and from the people who
work on it; (d) in the same way, the practices and activities of the two courses reveal
themselves different from each other, considering that in UFPR the practices and
activities are much more bureaucratic and individualized, while FAE enterprises
practices and activities that reveal themselves to be of strategic and collective way; (e)
all of this is reflected in different results, when the final product of the organization is
considered – the graduated professionals – and similar when evaluated from the point of
view of the formal indexes (MEC); (f) moreover, when the process of strategizing is
considered in the researched organizations, each one reveals specific particularities,
assembled in their practices and activities and also in the influence groups
(practitioners) involved in this process. To conclude, the research, performing its role as
an exploratory research, points out some paths and proposals for future studies,
indicating the necessity of the development of more studies about the research methods
of the practice in strategy on the teaching (and the administration of the teaching) of
administration, seeking for interfaces with other studying areas, as education, for a
deeper discussion about the pedagogic-didactic aspects of the administration courses
and, still, to promote initiatives to clarify the discussions about what is theory and what
is practice, questions that are not agreed and themes of great confusion.
Key-words: Strategy; Strategy as practice; Strategic content; Teaching of graduation in
administration
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Dimensões do Vetor de Crescimento Geográfico ...................................... 20
Figura 2. Três Estratégias Genéricas de Porter ........................................................ 22
Figura 3. Formação de estratégia como um processo único ..................................... 27
Figura 4. Processo estratégico: rumo a um modelo holístico .................................... 28
Figura 5. Quatro perspectivas em estratégia ............................................................. 33
Figura 6. Dissociação da Teoria da Estratégia na Prática ......................................... 39
Figura 7. Um modelo conceitual para analisar a estratégia como prática ................. 40
Figura 8. Integrando práxis, práticas e praticantes .................................................... 46
Figura 9. Uma estrutura integrativa para estratégia como prática ............................. 48
Figura 10. Um mapa expandido da administração estratégica ................................ 73
Figura 11. Categorias de Análise ............................................................................. 76
Figura 12. Strategizing na UFPR ........................................................................... 135
Figura 13. Strategizing na FAE – Centro Universitário .......................................... 167
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Quadro-resumo do delineamento da pesquisa ....................................... 84
Quadro 2. Relação das propriedades da narrativa com a teoria organizacional ..... 92
Quadro 3. Quadro-resumo da categoria de análise “praticantes” no curso de
graduação em administração da UFPR. ............................................... 104
Quadro 4. Quadro-resumo do entendimento de estratégia no curso de graduação
em administração da UFPR. ................................................................. 109
Quadro 5. Quadro-resumo das práticas e atividades do curso de graduação em
administração da UFPR. ....................................................................... 120
Quadro 6. Períodos dos Cursos Superiores da FAE – Centro Universitário ......... 142
Quadro 7. Quadro-resumo da categoria de análise “praticantes” no curso de
graduação em administração da FAE – Centro Universitário. .............. 148
Quadro 8. Quadro-resumo do entendimento de estratégia no curso de graduação
em administração da FAE – Centro Universitário. ................................ 153
Quadro 9. Quadro-resumo das práticas e atividades do curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário. ...................................... 159
Quadro 10. Quadro-resumo dos aspectos comparativos entre UFPR e FAE – Centro
Universitário .......................................................................................... 176
LISTA DE ABREVIATURAS
AIESEC – Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et
Commerciales
ANPAD – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração
CFA – Conselho Federal de Administração
CNE – Conselho Nacional de Educação
COE – Comissão Orientadora de Estágio
CRA – Conselho Regional de Administração
DAGA – Departamento de Administração Geral e Aplicada
DC – Definição Constitutiva
DO – Definição Operacional
ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
EnEO – Encontro de Estudos Organizacionais
EnEPQ – Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade
FAE – Faculdade Católica de Administração e Economia
FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IRA – Índice de Rendimento Acadêmico
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
MBA – Master in Business Administration
MEC – Ministério da Educação
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação
PET – Programa Especial de Treinamento
PROPLAN – Pró-reitoria de planejamento, orçamento e finanças
ProUNI – Programa Universidade para Todos
PUC-PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná
REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais
SeSu – Secretaria da Educação Superior
UFPR – Universidade Federal do Paraná
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13
1.1 Formulação do Problema de Pesquisa ........................................................ 14
1.2 Definição dos Objetivos de Pesquisa ........................................................... 15
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 15
1.2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 15
1.3 Justificativa Teórico-Prática .......................................................................... 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 18
2.1 A tradicional divisão conteúdo e processo ................................................... 18
2.1.1 Conteúdo ........................................................................................................ 18
2.1.2 Processo ........................................................................................................ 25
2.2 pensar na superação das dicotomias ........................................................... 29
2.3 Definindo a abordagem da prática em estratégia ......................................... 31
2.4 Resultados .................................................................................................... 50
2.5 Contexto da base empírica: a universidade no Brasil .................................. 52
2.5.1 O estudo da universidade como organização escolar ................................... 61
2.5.2 Contextualizando os estudos empreendidos sobre os cursos de graduação
em administração ........................................................................................... 65
2.5.3 Base legal-normativa do ensino superior ....................................................... 68
3 METODOLOGIA ........................................................................................... 73
3.1 A pesquisa da prática em estratégia ............................................................ 73
3.2 Princípios epistemológicos orientadores do estudo ..................................... 74
3.3 Especificação do Problema de Pesquisa ..................................................... 75
3.3.1 Perguntas de Pesquisa .................................................................................. 75
3.3.2 Categorias de análise ..................................................................................... 75
3.3.3 Definição das Categorias de Análise (DC e DO) ........................................... 76
3.3.4 Definição de Outro Termo Relevante ............................................................. 79
3.4 Delimitação e Design da Pesquisa ............................................................... 80
3.4.1 Delineamento da Pesquisa ............................................................................ 82
3.4.2 Universo e Amostra ........................................................................................ 84
3.4.3 Nível e Unidade de Análise ............................................................................ 86
3.4.4 Dados: coleta e análise .................................................................................. 87
3.5 Limitações da Pesquisa ................................................................................ 94
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................... 96
4.1 A Universidade Federal do Paraná .............................................................. 96
4.1.1 Caracterização do curso de graduação em administração da Universidade
Federal do Paraná .......................................................................................... 96
4.1.2 Praticantes: quem são e quais seus papéis ................................................. 101
4.1.3 Estratégia: como é vista pelos praticantes ................................................... 108
4.1.4 As práticas e as atividades do fazer estratégia: como são reconhecidas pelos
praticantes .................................................................................................... 116
4.1.5 Strategizing: como ocorre o processo de formação do conteúdo estratégico
na UFPR ....................................................................................................... 134
4.1.6 Da prática ao resultado: algumas considerações, a partir dos dados, de
práticas e resultados .................................................................................... 136
4.2 A FAE – Centro Universitário ..................................................................... 138
4.2.1 Caracterização do curso de graduação em administração da FAE – Centro
Universitário ................................................................................................. 138
4.2.2 Praticantes: quem são e quais seus papéis ................................................. 144
4.2.3 Estratégia: como é vista pelos praticantes ................................................... 151
4.2.4 As práticas e as atividades do fazer estratégia: como são reconhecidas pelos
praticantes .................................................................................................... 157
4.2.5 Strategizing: como ocorre o processo de formação do conteúdo estratégico
na FAE – Centro Universitário ...................................................................... 166
4.2.6 Da prática ao resultado: algumas considerações, a partir dos dados, de
práticas e resultados .................................................................................... 168
4.3 Aspectos comparativos dos casos descritos .............................................. 172
5 CONCLUSÕES, CONSIDERAÇÕES FINAIS E PESQUISAS FUTURAS . 179
5.1 Conclusões ................................................................................................. 179
5.1.1
Sobre o contexto do ensino superior de graduação em administração no
Brasil ............................................................................................................ 179
5.1.2 Sobre o conteúdo estratégico das organizações pesquisadas .................... 180
5.1.3 Sobre os praticantes da estratégia das organizações pesquisadas ............ 182
5.1.4 Sobre as práticas e atividades envolvidas na realização do conteúdo
estratégico das organizações pesquisadas ................................................. 183
5.1.5 Sobre o processo de realização do conteúdo estratégico das organizações
pesquisadas ................................................................................................. 184
5.2 Considerações Finais ................................................................................. 185
5.3 Propostas para Pesquisas Futuras ............................................................ 187
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 189
APÊNDICE A. ROTEIROS DAS ENTREVISTAS .................................................. 196
APÊNDICE B. STRATEGIZING NA UFPR ............................................................ 204
APÊNDICE C. STRATEGIZING NA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO .............. 205
APÊNDICE D. DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DAS NARRATIVAS (UFPR) ........... 206
APÊNDICE E. DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DAS NARRATIVAS (FAE – CENTRO
UNIVERSITÁRIO) .......................................................................... 246
ANEXO A. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO .................................................. 283
ANEXO B. GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO DA UFPR ............................................................... 287
ANEXO C.GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO DA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO .................. 290
ANEXO D.GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO (INTEGRAL) DA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
.............................................................................................................. 292
13
1 INTRODUÇÃO
Estratégia. Palavra forte, suntuosa e… complicada! Interrogar um grego ou romano
dos tempos antigos a seu respeito mereceria uma resposta no sentido militar, relacionada à
arte da guerra, dos movimentos, táticas e posições utilizadas para vencê-la. Um estrategista da
tradição porteriana responderia com o entendimento acerca da melhor posição que uma
empresa ocupa em relação aos seus concorrentes no campo de batalha, que é o mercado,
imbricando nessa explicação um sem-número de conceitos da tradição econômica, inclusive
os gráficos e as curvas… O que diria Mintzberg? Que estratégia é tudo isso e também todas as
demais definições que outros estudiosos pudessem usar, visto que cada um olha para uma
parte do processo ou vê o processo de uma forma diferente.
Na perspectiva deste trabalho todas essas concepções precisam ser consideradas, não
como o entendimento teórico a respeito da estratégia que baseia o estudo, mas como as
definições que povoam o campo da estratégia e assim formam as narrativas que perpassam o
cotidiano de estrategistas, estudantes do campo, sociedade e pesquisadores. Como tais, devem
ser consideradas e entendidas de acordo com sua relevância para qualquer pesquisador que
pretende estudar a estratégia como uma prática social, tal como é entendida no presente
trabalho.
Inicia-se o trabalho com o delineamento de alguns entendimentos teóricos acerca da
visão tradicional da estratégia – principalmente com relação a seus dois extremos opostos,
conteúdo e processo – e também com relação à abordagem da estratégia como prática para
tecer a malha que sustenta a lógica implicada na concepção do problema que se pretende
estudar.
Pretende-se, com esse entendimento teórico, sustentar o propósito que se tem de
estudar o conteúdo da estratégia sob a perspectiva da estratégia como prática. Sob um
primeiro olhar isso parece inconsistente, visto que se está colocando lado a lado campos de
pesquisa que trabalham com olhares distintos, um essencialmente econômico e outro
notadamente social, respectivamente. No entanto, a perspectiva da estratégia como prática
procura estudar a estratégia a partir das interações, das atividades cotidianas e também a partir
dos seus resultados, a fim de compreender a essência do fenômeno, e para isso compreende-se
sua natureza social. A estratégia como prática não se concentra nas dicotomias
processo/conteúdo, formulação/implementação, pensamento/ação como locais de estudo. Para
essa perspectiva tais questões fazem parte da prática da estratégia e devem ser entendidas
como tal. No entanto, a perspectiva compreende que esse discurso permeia a prática, a
14
constitui e é constituído por ela. Portanto, faz-se necessário que essas questões sejam
abordadas e compreendidas aqui.
Para levar a efeito o proposto, o trabalho é dividido em seis partes, incluindo a
introdução como primeira parte, que traz também a definição do problema de pesquisa,
objetivos de pesquisa e a justificativa teórico-empírica do estudo. A segunda parte trata da
fundamentação teórica que pauta os campos de pesquisa de conteúdo e processo estratégicos,
procurando também evidenciar algumas iniciativas que buscam superar essas dicotomias, bem
como os entendimentos conceituais a respeito da estratégia como prática, delineando as idéias
principais que pautam essa perspectiva; ao final dessa segunda parte contextualiza-se também
o campo de pesquisa empírica. A terceira parte apresenta a metodologia usada para efetivar o
estudo em questão, evidenciando escolhas e delineamentos que dão corpo à pesquisa. A
quarta parte trata da descrição e análise dos dados, obtidos por meio de pesquisa qualitativa
com duas organizações de ensino de graduação em administração da cidade de Curitiba/PR.
Por fim, a quinta parte constitui-se nas conclusões do estudo e de sugestões e recomendações
para estudos futuros.
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
Pensar no problema exige que se exponha a lógica dos argumentos que serão
delineadas nas seções seguintes a respeito da fundamentação teórica. Primeiramente, a
estratégia enquanto campo teórico tem sido fragmentada para fins de estudo. Aos poucos
iniciativas vêm surgindo e apontando para a necessidade de superar dicotomias e procurar
compreender extremos como conteúdo e processo, entendidos como indissociáveis e
referentes a um mesmo fenômeno. Nesse ínterim entra em cena a perspectiva da estratégia
como prática que, além de compreender que essas dicotomias fazem parte de um só
fenômeno, localiza a estratégia como uma prática social, superando a visão essencialmente
econômica e fragmentada da pesquisa tradicional em estratégia. Além disso, entende a
estratégia como uma atividade orientada por objetivos, a exigir que, ao estudá-la, os
pesquisadores não a desvinculem dos resultados. Retornam à cena os atores da estratégia, os
praticantes, que não se restringem aos estrategistas, mas a todos aqueles a quem ela influencia
e por quem é influenciada. Compreende a estratégia como uma construção social, motivo pelo
qual as interações possuem lugar de destaque nessa concepção. Investiga a prática por meio
das práticas em uso. Assim, o problema que se propõe para esta pesquisa pode ser assim
enunciado: Quais são as práticas das organizações de ensino de graduação em
15
administração que possibilitam a realização da prática estratégica, considerando como
resultado o conteúdo estratégico?
Diante desse problema, abaixo são delineados os objetivos de pesquisa.
1.2 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS DE PESQUISA
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo do estudo consiste em identificar e compreender quais são as práticas,
sejam elas administrativas, episódicas ou discursivas, que constituem a prática estratégica,
cujos resultados são outputs e outcomes de organizações de ensino de graduação em
administração. A perspectiva teórica a ser utilizada para o estudo é a da estratégia como
prática.
1.2.2 Objetivos Específicos
A partir do objetivo geral, entendem-se como objetivos específicos os seguintes:
1. Caracterizar o contexto do ensino superior de graduação em administração no
Brasil, seus elementos essenciais e sua trajetória.
2. Caracterizar as organizações pesquisadas em termos de seu conteúdo estratégico.
3. Identificar e caracterizar os atores/praticantes da estratégia (organizacionais ou não)
cujo papel seja relevante para a prática estratégica.
4. Identificar as práticas (formais e informais) envolvidas no desenvolvimento do
conteúdo estratégico.
5. Caracterizar as atividades que constituem as práticas estratégicas.
6. Descrever o processo, do ponto de vista das práticas, da realização do conteúdo
estratégico.
1.3 JUSTIFICATIVA TEÓRICO-PRÁTICA
Por que estudar a prática estratégica considerando o conteúdo estratégico como
resultado? O que justifica o estudo de organizações de ensino de graduação em
administração? São perguntas que exigem respostas coerentes para que se possa compreender
o contexto do estudo.
16
Sob a perspectiva desse trabalho concebe-se a estratégia como uma prática social
embora ao mesmo tempo, verifique-se, tanto em termos teóricos quanto práticos, uma
predominância da consideração da estratégia, principalmente em termos de conteúdo, como
um fenômeno econômico somente. Ao mesmo tempo, percebem-se restrições explicativas e
dificuldades de operacionalização prática dessas teorias. No entanto, elas constituem o
discurso dominante do campo. Essa situação justifica a inquietação de se descobrir por meio
de quais práticas a estratégia constitui-se, sem desconsiderar os discursos dominantes. Essa
justificativa apresenta-se como relevante para os campos teórico e prático, na medida em que
procura desenvolver o campo da estratégia como prática e compreender como se dá, no uso, a
prática da estratégia, respectivamente.
De outro lado, retomar o estudo da estratégia buscando resgatar sua essência e
compreendendo-a como construída por pessoas e suas interações torna o estudo relevante para
o domínio da prática, visto que assim pode-se contribuir para que os estrategistas e
pesquisadores compreendam melhor a estratégia e possam aprimorar o desempenho das
organizações e também suas relações com a sociedade.
A adoção da perspectiva da estratégia como prática por si só possui uma relevância
teórica, uma vez que nos trabalhos desenvolvidos na área surgem inúmeras questões ainda
não resolvidas, desafios metodológicos e teóricos que precisam ser desenvolvidos.
Ao conjugar a perspectiva da estratégia como prática ao conteúdo estratégico, percebe-
se, a partir da Figura 10 (apresentada adiante, p. 73), a relevância e coerência desse corte de
pesquisa. Em levantamento prévio feito nas revistas acadêmicas nacionais e internacionais
encontraram-se poucos estudos relevantes que procurem trabalhar essa questão. Em
publicação recente Johnson et al. (2007) destacam a relevância do desenvolvimento de
trabalhos que evidenciem as ligações representadas por V2 na Figura 10 (p. 73):
Essas ligações entre estratégias organizacionais e atividades dentro das
organizações são, assim, teoricamente reconhecidas como importantes e
centrais para muitos debates no campo da estratégia. Existem, no entanto,
poucos estudos que exploram e explicam essas ligações. Essa é,
inquestionavelmente, uma grande oportunidade para aqueles que procuram
contribuir dentro da estratégia como prática. (JOHNSON, et. al., 2007, p. 21.
Tradução livre.).
Tendo isso em mente torna-se relevante, tanto em termos teóricos quanto em termos
práticos, empenhar-se em descobrir essas ligações entre o fazer estratégia e a estratégia em si.
Sob esse enfoque justifica-se que a relevância teórica e a prática vem a partir da possibilidade
de se desvendar questões que até o momento têm sido apresentadas como fundamentalmente
17
formais, aquelas que se pode ver e mesmo perceber por dados secundários. O que se propõe
aqui é desvendar também as questões informais, capazes de fazer teóricos compreenderem
melhor as questões e praticantes utilizarem-nas para melhorar o trabalho nas organizações.
Pesquisar a estratégia como prática exige que o pesquisador olhe para as práticas em
uso, que seja capaz de perceber também o impacto dessa prática na sociedade como um todo.
Casar a perspectiva da estratégia como prática para estudar as organizações de ensino torna-
se, de outro lado, também coerente, visto que as organizações de ensino trabalham com
educação, uma prática social em si, com resultados importantes para a sociedade como um
todo (enquanto organizações que são) e com um papel importante na área. Não obstante,
quando se fala em organizações de ensino de graduação em administração entra-se em um
campo de discussão acerca de um curso e de uma área de estudos relativamente novos no
Brasil, tendo em vista que os cursos de administração foram regulamentados no país a partir
da década de 60. Outrossim, as pesquisas sobre o ensino e as questões que envolvem os
cursos de graduação em administração também necessitam de aprofundamentos e
desenvolvimentos, fundamentalmente porque a tradição das pesquisas que envolvem
educação e administração está pautada nas teorias clássico-funcionais da administração. Logo,
propor um estudo que compreenda as organizações de ensino de graduação em administração
como construídas nas práticas sociais, na interação dos atores, fugindo da lógica tradicional,
faz crer que se possa contribuir com o desenvolvimento das pesquisas no campo e possibilitar
outras análises com o aspecto contextual do campo empírico de investigação. Por fim, os
cursos de administração têm crescido sem uma vinculação à pesquisa científica (NICOLINI,
2003), o que faz com que seja relevante que se contribua com estudos nesta área, que
procurem desenvolver essa ligação entre o ensino e a pesquisa, como forma de desenvolver e
fomentar a discussão acerca do ensino de graduação em administração.
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O capítulo apresenta os fundamentos teóricos que perpassam a presente pesquisa,
evidenciando as principais questões que a envolvem em torno do conteúdo estratégico e da
estratégia como prática, bem como as questões que envolvem os dois campos de estudos que
motivaram o trabalho.
2.1 A TRADICIONAL DIVISÃO CONTEÚDO E PROCESSO
O campo da estratégia é povoado por uma série de entendimentos, outros tantos
conceitos e muitas posições teóricas. A palavra não é nova e remonta às batalhas imperialistas
dos tempos antigos. Essa concepção militar e também imperialista talvez possa explicar o
porquê de a estratégia estar associada a tantas dicotomias, hierarquias, separações e
imobilidades, semelhantes à estrutura das batalhas greco-romanas nas quais as patentes, as
etapas e as atribuições – pelo menos pelo que se lê nos livros de História – eram rigidamente
respeitadas. Pensamento e ação, formulação e implementação, processo e conteúdo. A
estratégia por muito tempo lidou com essas dicotomias como questões inconciliáveis, como se
elas não dissessem respeito exatamente ao mesmo assunto, qual seja, a estratégia. Essa
tradição se perpetua nos livros que ensinam estratégia bem como, e conseqüentemente, entre
os estrategistas. É por isso também que não se pode deixar de abordar tais questões quando se
pensa em estudar o campo em questão.
2.1.1 Conteúdo
Ao tratar do termo conteúdo estratégico refere-se fundamentalmente àquilo que levará
a empresa a obter um desempenho econômico e financeiro em relação às suas atividades: sua
posição de mercado em relação aos concorrentes, os mercados em que atua e os produtos que
ela disponibiliza para esses mercados e seus clientes – a essência da estratégia. A influência
desse subcampo da estratégia é marcadamente econômica (MONTGOMERY, 1988;
CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992; MINTZBERG, 2000) e as questões de pesquisa da área
preocupam-se fundamentalmente com as estratégias competitivas (no nível das unidades de
negócios) ou corporativas (no nível da firma como um todo) (MONTGOMERY, 1988).
Do ponto de vista do conteúdo estratégico, a estratégia tradicionalmente é
compreendida como um conjunto de regras que estabelece direções gerais para o crescimento
19
e o desenvolvimento da posição da empresa (ANSOFF, 1990). Além disso, compreende-se
que a estratégia não se traduz em ações imediatas e sim orienta a geração de projetos
estratégicos relacionados especificamente às áreas estabelecidas pela estratégia (ANSOFF,
1990). Essa definição, além de demonstrar a compreensão de que estratégia está relacionada a
pensamento e formulação e não diretamente à ação e implementação, revela a preocupação
principal da estratégia: seu conteúdo, a definição do escopo, das áreas de abrangência do
negócio, onde se manter e para onde crescer, estabelecendo assim a visão de futuro associada
à estratégia. Ansoff (1990) coloca ainda que o estabelecimento da estratégia tem como função
selecionar projetos possíveis, tanto em termos de aceitabilidade quanto em termos de
refutabilidade de determinada idéia. Interessante observar ainda que Ansoff (1990) coloca que
a estratégia não é necessária para todas as empresas, ela “se torna desnecessária quando a
dinâmica histórica de uma organização a leva onde ela quer ir” (ANSOFF, 1990, p. 96.
Grifos do original). Isso evidencia o entendimento de que a estratégia é um processo formal e
prescritivo, estabelecendo o ‘como deve ser’ em relação à direção e à posição que a empresa
deseja alcançar.
Exposta a compreensão tradicional do subcampo do conteúdo acerca da estratégia e
considerando que a literatura desenvolvida em conteúdo costuma estabelecer quais a
estratégias a serem usadas pelas empresas, de acordo com alguns parâmetros, Ansoff (1990)
caracteriza as estratégias possíveis de serem adotadas como “estratégia de carteiras” e
“estratégia competitiva”. A estratégia de carteiras refere-se à possibilidade que a empresa tem
de escolher entre “diferentes áreas estratégicas de negócios” (ANSOFF, 1990, p. 100), as
quais devem ser sempre avaliadas de acordo com suas possibilidades de crescimento e
rentabilidade. Para isso Ansoff (1990) delineia quatro componentes da estratégia de
carteira. (1) O vetor crescimento, relacionado às possibilidades de crescimento em relação à
área geográfica de atuação, às necessidades de mercado (as quais Ansoff (1990) denomina de
“missão”) atendidas e aos produtos e/ou serviços disponibilizados. A combinação desses três
elementos resulta na Figura 1 (p. 20), disposta abaixo, a qual representa as diferentes
combinações que a empresa pode utilizar para definir a direção e a amplitude futura de seu
negócio (ANSOFF, 1990). Atente-se para os cubos sombreados “A” e “B” que representam,
respectivamente, a manutenção das atividades atuais e a tomada de posições radicalmente
novas nas três dimensões (ANSOFF, 1990). (2) A vantagem competitiva, relacionada ao
sucesso singular da empresa em determinada unidade de negócio, o que lhe confere posição
única e privilegiada em relação aos concorrentes. (3) As sinergias, relacionadas à
possibilidade de a empresa explorar áreas afins e complementares de negócios, explorando
20
seus pontos fortes aplicáveis a áreas distintas. (4) A flexibilidade estratégica para que
mudanças repentinas não causem impactos negativos nos negócios da empresa, o que pode ser
alcançado por meio da diversificação das três dimensões do vetor crescimento (o que faz com
que a empresa equilibre suas atividades diversificando e reduzindo o risco, caso alguma
mudança atinja uma área específica) ou por meio da adoção da estratégia de “basear a carteira
da empresa em recursos e competências que sejam facilmente transferíveis entre as áreas
estratégicas de negócios” (ANSOFF, 1990, p.102). A partir dos componentes descritos a
empresa deve ser capaz de analisá-los e combiná-los de forma a equilibrar suas escolhas de
acordo com seus objetivos.
Fonte: Ansoff (1990, p. 101)
Figura 1. Dimensões do Vetor de Crescimento Geográfico
O outro tipo de estratégia que Ansoff (1990) prevê é a estratégia competitiva, a qual
trabalha com as combinações de áreas estratégicas de negócios diferentes, de acordo com os
objetivos da empresa (ANSOFF, 1990). Nesse escopo, as estratégias possíveis são: (1)
estratégia de maximização da participação de mercado, a partir da qual a empresa procura
garantir a maior fatia de mercado, com a possibilidade de custos e preços mais baixos; (2) a
estratégia de crescimento, a partir da qual a empresa procura crescer em termos futuros, de
acordo com as três dimensões do vetor crescimento (ver Figura 1, p. 20); (3) a estratégia de
diferenciação de mercado, a partir da qual a empresa procura ser diferente em termos de
imagem dos demais concorrentes e assim conquistar a preferência dos clientes e; (4) estratégia
de diferenciação de produtos e serviços, a partir da qual os produtos e serviços têm
desempenho diferenciado, garantindo assim a preferência dos clientes (ANSOFF, 1990).
21
Ansoff (1990), na concepção de estratégia aqui exposta, enfoca no entendimento e na
importância do conteúdo estratégico, naquelas questões que garantem à empresa posição
competitiva e desempenho alto. Para isso pauta-se nos fundamentos da teoria
microeconômica, com relação a preço de produto e demanda de mercado. A visão prescritiva
subjacente à concepção de Ansoff (1990), de que as empresas podem tomar este ou aquele
caminho considerando essa escolha a partir da possibilidade de racionalização de todos os
elementos relacionados à decisão e da existência de um melhor caminho faz com que se
questione a posição e se procure avançar no entendimento da concepção de conteúdo
estratégico reconhecendo, porém, a grande contribuição dele para o desenvolvimento das
pesquisas em conteúdo.
Além de Ansoff (1990), outro autor que contribuiu para o desenvolvimento do
subcampo de conteúdo estratégico é Michael Porter. Para Porter (1986), cada empresa
“compete em uma indústria e possui uma estratégia competitiva, seja ela explícita ou
implícita” (PORTER, 1986, p. 13), sendo a estratégia competitiva uma combinação de fins
(relacionados às metas que estabelecem o modo como a empresa irá competir) e meios (que se
referem às políticas operacionais básicas que propiciarão essa competição) que a empresa
adota para competir no mercado. Essa estratégia adotada pela empresa deverá estabelecer
meios de lutar contra cinco forças que dirigem a indústria: (1) os fornecedores e seu poder de
negociação; (2) a ameaça de entrantes potenciais; (3) os compradores e seu poder de
negociação; (4) a ameaça dos produtos ou serviços substitutos e; (5) a concorrência entre as
empresas. Para competir na indústria e obter sucesso com relação a essas cinco forças, as
empresas devem adotar uma das três estratégias genéricas estabelecidas por Porter (1986):
(1) a liderança no custo total; (2) a diferenciação e; (3) o enfoque. Perceba-se que essas três
estratégicas estão relacionando as duas questões básicas relacionadas a conteúdo: produtos e
mercados. Porter (1986) enfatiza qual a melhor posição de produtos em relação aos mercados
a fim de fornecer à empresa uma posição competitiva em relação aos demais concorrentes. As
três estratégias genéricas de Porter (1986) podem ser visualizadas a partir da Figura 2 (p. 22):
22
Fonte: Porter (1986, p. 53)
Figura 2. Três Estratégias Genéricas de Porter
Para Porter (1986), a estratégia baseada na liderança no custo total,
consiste em atingir a liderança no custo total em uma indústria através de um
conjunto de políticas funcionais orientadas para esse objetivo básico. A
liderança no custo exige a construção agressiva de instalações em escala
eficiente, uma perseguição vigorosa de reduções de custo pela experiência,
um controle rígido do custo e das despesas gerais, que não seja permitida a
formação de contas marginais dos clientes, e a minimização do custo em
áreas de P&D, assistência, força de vendas, publicidade etc. Intensa atenção
administrativa ao controle dos custos é necessária para atingir estas metas.
Custo baixo em relação aos concorrentes torna-se o tema central de toda a
estratégia, embora a qualidade, a assistência e outras áreas não possam ser
ignoradas (PORTER, 1986, p. 50).
Para Porter (1986), essa posição de baixo custo traz às empresas retornos acima da
média e assim lhes concede uma possibilidade de defesa contra os concorrentes. A estratégia
baseada na diferenciação, por sua vez, consiste em se buscar a diferenciação dos produtos ou
serviços oferecidos por meio da criação de algo único no âmbito de toda a indústria. Essa
diferenciação permite às empresas cobrarem de seus clientes um preço-prêmio, que remunere
essa diferenciação, ao mesmo tempo que pode tornar possível a conquista de uma grande
parcela de mercado, característica mais relacionada à estratégia baseada na liderança no custo
total. A última estratégia possível, segundo Porter (1986), é a estratégia baseada no enfoque.
Essa estratégia procura “enfocar um determinado grupo comprador, um segmento da linha de
produtos, ou mercado geográfico” (PORTER, 1986, p. 52). Diante do exposto pode-se dizer
que Porter (1986), assim como Ansoff (1990), possui influência relevante no subcampo das
pesquisas em conteúdo estratégico, bem como na prática das organizações. As linhas acima
23
não esgotam as idéias apresentadas por Porter (1986), pelo contrário, elas apenas procuram
esclarecer de forma geral como se estrutura o pensamento do autor, com vistas a compreender
por que ele se constitui como referência importante para a pesquisa em conteúdo estratégico.
No entanto, Porter (1986) delineia as estratégias a serem desenvolvidas, estabelece em seu
trabalho algumas questões necessárias à sua implementação, mas não se detém a explicar de
que maneira, com base em que práticas as empresas devem implementar essas estratégias.
Considerando que o subcampo de conteúdo estratégico é um dos que mais floresceu na
pesquisa em administração estratégica, principalmente a partir dos anos 80
(MONTGOMERY, 1988; CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992; MINTZBERG, 2000), não
seria prudente abordar aqui a infinidade de estudos que se proliferaram na área,
principalmente quando o intento do escrito é expor as principais concepções existentes para
uma contextualização e discussão que virá adiante a respeito da especificação da pesquisa.
Considera-se relevante, porém, descrever o entendimento de Chakravarthy e Doz
(1992) a respeito de conteúdo estratégico, uma vez que esses autores trabalham com a
concepção de conteúdo estratégico em oposição a processo estratégico, questões consideradas
dicotômicas na literatura em estratégia (JARZABKOWSKI, 2005). Para Chakravarthy e Doz
(1992), a pesquisa em conteúdo estratégico “foca exclusivamente nas posições estratégicas da
empresa que conduzem ao desempenho ótimo sob a variação dos contextos ambientais”
(CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992, p. 5). Percebe-se na definição descrita pelos autores
concordância em relação ao que foi descrito anteriormente a respeito da posição de Ansoff
(1990) e de Porter (1986); no entanto, vale destacar um ponto que fica bem explícito no
entendimento de Chakravarthy e Doz (1992): a importância do ambiente como condicionante
da posição estratégica a ser tomada e, conseqüentemente, como uma “variável” importante
nos estudos do subcampo do conteúdo estratégico. Essa característica pode ser verificada
também nos artigos apresentados na primeira edição especial do Strategic Management
Journal (MONTGOMERY, 1988; SCHENDEL, 1988), na qual esse fator figura como
importante tanto nas questões de pesquisa como nas perspectivas teóricas adotadas para os
estudos. Os estudos sobre conteúdo estratégico procuram olhar para fora da empresa,
preocupam-se com as questões externas como influenciadoras do desempenho (e no caso do
conteúdo, desempenho é relacionado às questões econômico-financeiras) da empresa.
Emergem questões relacionadas a vantagens do primeiro a mover-se; lucros e desempenho
sob determinadas condições; a questão da incerteza e da falta de informações; alocação de
recursos; escopo da empresa (MONTGOMERY, 1988); combinações eficientes de produtos e
mercados, entre outras questões que envolvam posições estratégicas e desempenho
24
empresarial (PORTER, 1986; ANSOFF, 1990). As perspectivas teóricas apontadas por
Montgomery (1988), como aquelas que conduzem as análises dos problemas de pesquisa em
conteúdo estratégico na primeira edição especial do Strategic Management Journal (1988),
por sua vez, evidenciam a grande influência do pensamento e das teorias econômicas no
campo: teoria dos jogos, desvios da competição perfeita, teoria da decisão, teoria dos custos
de transação e excepcionalmente, a teoria da ecologia populacional (MONTGOMERY, 1988)
são apontadas nesses estudos como as perspectivas dominantes.
Chakravarthy e Doz (1992), por sua vez, contrapõem os entendimentos do que
constitua a pesquisa em conteúdo estratégico e processo estratégico, afirmando que “Ambos
os subcampos são claramente interessados na melhoria do desempenho da empresa, mas
enfatizam aspectos diferentes do problema administrativo geral” (CHAKRAVARTHY e
DOZ, 1992, p. 5. Tradução livre) e os aspectos que evidenciam essa diferença entre os dois
interesses de pesquisa são: (1) o foco da pesquisa; (2) as bases disciplinares e; (3) as
metodologias empregadas na pesquisa (CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992). Sobre a
perspectiva do foco da pesquisa, Chakravarthy e Doz (1992) afirmam que o conteúdo
estratégico concentra-se no escopo da empresa em termos da combinação de mercados de
atuação e dos meios de competição, os quais configuram as estratégias competitivas. Para os
autores, “Ele [conteúdo estratégico] está mais preocupado com o posicionamento efetivo da
firma frente ao seu ambiente” (CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992, p. 6. Tradução livre) e
acrescentam que
Mais recentemente, a pesquisa em conteúdo estratégico tem estendido sua
atenção para a influência do acesso da empresa a recursos em seu
desempenho. Além de sugerir quais são as posições competitivas e de
recursos desejados, a pesquisa em conteúdo estratégico não descreve
como as empresas atingem e mantêm essa posição por meio tanto de
ações deliberadas quanto por tentativa e erro. (CHAKRAVARTHY e
DOZ, 1992, p. 6. Tradução livre).
A colocação de Chakravarthy e Doz (1992) exposta acima evidencia, mais uma vez,
que ainda que novas possibilidades venham encontrando correspondência na pesquisa em
conteúdo estratégico, a essência do que constitui o campo – posição, seja ela competitiva ou
em relação a recursos e desempenho – mantém-se. Essa colocação, antes de se constituir em
crítica, apresenta-se como uma constatação de identidade do subcampo.
Para Chakravarthy e Doz (1992), outra questão distintiva entre a pesquisa em
conteúdo estratégico e a pesquisa em processo estratégico são as bases disciplinares que as
constituem. Enquanto as bases disciplinares em conteúdo são muito mais restritas, e
25
fundamentalmente às abordagens econômicas, as bases da pesquisa em processo estratégico
transitam por mais áreas, principalmente nos campos de negócios, economia institucional e
teoria organizacional (CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992).
Já com relação às metodologias aplicadas nas duas linhas de pesquisa, Chakravarthy e
Doz (1992) afirmam que a pesquisa em conteúdo estratégico aplica métodos mais simples e
pode inclusive realizar a pesquisa com base em dados secundários publicados pela empresa,
não sendo necessário que se invista na abertura e compreensão da “black box” que é a
organização, questão essa considerada nas metodologias adotadas na pesquisa em processo
estratégico.
Diante do exposto, entendendo que a estratégia deva ser estudada a partir de uma
abordagem capaz de aproximar entendimentos a fim de entendê-la como um todo e não
somente por meio da visão fragmentada de suas partes, considera-se relevante esclarecer
algumas questões conceituais a respeito do que seja o subcampo do processo estratégico,
ainda que esses esclarecimentos já se tenham iniciado nas linhas acima.
2.1.2 Processo
O subcampo de processo estratégico concentra-se no entendimento de como uma
estratégia organizacional é formada, procurando investigar como os sistemas administrativos
e os processos de decisão de uma empresa influenciam suas posições estratégicas
(CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992). Com foco voltado para o processo de formação da
estratégia, com bases disciplinares mais abrangentes e a exigência de metodologias de
pesquisa que possibilitem uma compreensão mais profunda do interior (black box) da
empresa, a pesquisa em processo estratégico configura-se como um subcampo que procura
entender os aspectos internos à organização que lhe permitem atuar em determinado
ambiente. Para Chakravarthy e Doz (1992), as questões de pesquisa que traduzem as
preocupações desse subcampo podem ser descritas como: (1) quais as relações existentes
entre os sistemas administrativos da empresa, seus processos decisórios e suas posições
competitivas e/ou de recursos?; (2) como uma empresa atinge e mantém sua eficácia nas
relações descritas acima?; (3) como são modificados os sistemas administrativos e os
processos decisórios, ambos em resposta às mudanças ambientais e por meio de suas próprias
ações pró-ativas?. Van de Ven (1992) coloca essa questão sob os termos de que a pesquisa em
processo estratégico preocupa-se com o entendimento de como as estratégias são formuladas
e implementadas e de como ocorrem os processos de mudança estratégica. Nesses termos
26
admite-se ainda a separação entre pensamento e ação – formulação e implementação.
Enquanto o conteúdo estratégico preocupa-se com quais as estratégias mais eficientes, o
processo preocupa-se com o como chegar a essas estratégias (CHIA, 2007). Chakravarthy e
White (2002) vêem a questão da seguinte maneira:
A pesquisa em processo estratégico tenta direcionar-se para a difícil questão
de como as estratégias são formadas, implementadas e mudadas. Ligado a
esse trabalho estão pressupostos de que os administradores desejam e as
empresas realizam, algo que pode ser chamado de estratégia. O que constitui
uma estratégia eficaz é tratado no trabalho dos pesquisadores em ‘conteúdo
estratégico’ (…). A pesquisa em conteúdo descreve destinações atrativas,
mas sem explicar como se consegue isto. O chegar lá, a jornada, é a tarefa
dos pesquisadores em processo estratégico (CHAKRAVARTHY e WHITE,
2002, p. 182. Tradução livre).
Pensar em processo estratégico enseja a concepção de ver a estratégica efetivamente
como um processo, não como um estado (PETTIGREW, 1992), afirmando a importância da
ação, do movimento e da dinâmica na análise da empresa.
Apesar da tentativa acima de esclarecer o que se entende por processo estratégico, há
que se dizer que não existe consenso nessa definição. Algumas questões comuns podem ser
encontradas, porém muitos modelos e concepções existem, refletindo a pluralidade de
entendimentos. Não é de surpreender que existam divergências e entendimentos
incongruentes ao longo do subcampo, uma vez que o processo estratégico evoca bases
disciplinares amplas e distintas (CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992) no auxílio à compreensão
de suas questões. Van de Ven (1992) propõe a existência de três significados freqüentemente
usados para processo:
(1) uma lógica que explica uma relação entre variáveis independentes e
dependentes; (2) uma categoria de conceitos ou variáveis que se refere a
ações de indivíduos ou organizações e, (3) uma seqüência de eventos que
descrevem como as coisas mudam através do tempo (VAN DE VEN, 1992,
p. 169. Tradução livre).
Esses entendimentos refletem a variabilidade existente no campo, bem como os
pressupostos subjacentes a cada entendimento. Não obstante, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel
(2000) e Mintzberg e Lampel (2006) localizam na literatura sobre estratégia a existência de
dez escolas de pensamento sobre o processo estratégico: (1) design, (2) planejamento, (3)
posicionamento, (4) empreendedora, (5) cognitiva, (6) aprendizado, (7) poder, (8) cultural, (9)
ambiental e (10) configuração. Para Mintzberg e Lampel (2006), cada uma dessas escolas vê
o processo de uma forma e ao mesmo tempo podem ser vistas como dez diferentes partes do
processo de formação da estratégia como um todo, conforme apresenta a Figura 3 abaixo:
27
Fonte: Mintzberg e Lampel (2006, p. 44)
Figura 3. Formação de estratégia como um processo único
Mintzberg e Lampel (2006) colocam, a respeito da Figura 3 e dos “estágios” ou
“aspectos do processo de formação da estratégia” representados, que:
A escola cognitiva reside na mente do estrategista localizado no centro. A
escola do posicionamento olha para trás, para dados estabelecidos que são
analisados e colocados em uma caixa preta de criação de estratégia. A escola
de planejamento olha um pouco à frente para programar as estratégias
criadas. A escola de design olha muito à frente para uma perspectiva
estratégica. A escola empreendedora vê além e uma visão única de futuro.
As escolas de aprendizado e poder olham por baixo, emaranhados em
detalhes. O aprendizado olha nas raízes do gramado, enquanto o poder olha
sob as rochas – lugares que a organização pode não querer expor. A escola
cultural olha para baixo, a escola ambiental olha sobre, por assim dizer. A
escola de configuração olha para o processo, podemos dizer, em volta dele,
em contraste com a escola cognitiva que tenta olhar para dentro do processo
(MINTZBERG e LAMPEL, 2006, p. 43).
É necessário destacar que para cada uma dessas escolas Mintzberg, Ahlstrand e
Lampel (2000) expõem a origem do pensamento, os autores, as bases disciplinares e os
pressupostos sobre o processo estratégico. Isso evidencia, como destacado anteriormente, a
pluralidade de entendimentos acerca do processo estratégico e, mais do que isso, a tentativa
de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) de integrar as perspectivas e defender a
complexidade e as formas de vê-la no processo estratégico.
Chakravarthy e White (2002), por sua vez, afirmam que as dez escolas apresentadas
por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) podem ser reposicionadas dentro de quatro
perspectivas: racional, política, evolucionária e administrativa. O entendimento de
Chakravarthy e White (2002) acerca do processo estratégico é representado em um modelo
que os autores desenham da seguinte maneira:
28
Fonte: Chakravarthy e White (2002, p.184. Tradução livre.)
Figura 4. Processo estratégico: rumo a um modelo holístico
Segundo os autores, esse modelo deve ser compreendido a partir da análise de três
partes da Figura 4 (p. 28): (1) a primeira refere-se à base da Figura 4, que reflete a estratégia
da empresa relacionada ao contexto de negócios e ao seu desempenho, dimensão essa que diz
respeito ao domínio dos pesquisadores de conteúdo estratégico; (2) a segunda parte refere-se
ao nível intermediário da Figura 4, que diz respeito aos elementos centrais do processo
estratégico – decisões e ações – relacionados à dinâmica da estratégia; (3) a terceira parte
refere-se à relação do contexto organizacional e como ele modela as premissas para as
decisões e ações empresariais (CHAKRAVARTHY e WHITE, 2002). Percebe-se que o
tempo está presente em todas as dimensões da Figura 4 pois, “Desempenho empresarial,
estratégia, decisões, ações, contexto de negócios e organizacional, todos mudam através do
tempo e influenciam um ao outro dinamicamente” (CHAKRAVARTHY e WHITE, 2002, p.
183. Tradução livre.). Esse modelo expressa a complexidade que envolve o entendimento
acerca do processo estratégico e, além disso, defende um entendimento integrador a respeito
das questões de processo e conteúdo. Apesar de, resumidamente, o entendimento do que seja
o processo estratégico ser explicitado como sendo o como se chega à determinada estratégia,
29
o caminho para esse entendimento envolve a compreensão de vários fatores e da dinâmica que
envolve a todos eles (CHAKRAVARTHY e WHITE, 2002).
Considerando isso, percebe-se que muitas pesquisas concernentes ao domínio do
processo estratégico em certas ocasiões concentram-se excessivamente no processo em si e
deixam de lado a estratégia, que é o fenômeno a que esse processo está vinculado,
desconsiderando assim seus resultados, o que leva a uma baixa relevância dessas pesquisas
para o domínio da prática e para os praticantes (CHAKRAVARTHY e WHITE, 2002).
As questões levantadas acima sobre conteúdo e processo possuem relevância
fundamental tanto para a pesquisa quanto para a prática da estratégia. No entanto, tanto
pesquisa quanto (e principalmente) prática procuram por questões que sejam relevantes para
os dois campos. São bastante evidentes as críticas que se fazem aos dois campos (processo e
conteúdo), principalmente em relação à incapacidade de um ou outro isoladamente explicar a
estratégia enquanto um todo, sem uma concentração excessiva ou só no processo, ou só no
conteúdo, deixando de lado a estratégia em si, enquanto fenômeno único. É pensando nisso
que se segue a discussão, procurando trazer alguns posicionamentos que procuram retomar a
visão de todo, de modo a contribuir para a argumentação da relevância de se estudar a
estratégia enquanto uma prática social, questão que será defendida adiante.
2.2 PENSAR NA SUPERAÇÃO DAS DICOTOMIAS
No início da discussão colocou-se a constatação da existência de muitas dicotomias no
campo da estratégia, que muitas vezes acabam separando a estratégia da compreensão de sua
própria essência. Os pesquisadores do campo (PETTIGREW, 1992; CHAKRAVARTHY e
WHITE, 2002; JARZABKOWSKI, 2005), no entanto, vêm imprimindo esforços, ainda que
muitas vezes mais teóricos do que práticos, na tentativa de superar essas dicotomias e resgatar
o estudo da estratégia a partir da compreensão dela como um todo. Os maiores esforços no
sentido de superação das dicotomias têm sido na tentativa de aproximar e complementar os
subcampos de conteúdo e processo.
Para Pettigrew (1992), a distinção entre processo e conteúdo, apesar de habitual, hoje
“aparece mais como um estorvo analítico do que como uma ajuda (…). Para o momento deve
estar claro que na condução da pesquisa em processo estratégico, o ‘o quê’ e o ‘como’, o
conteúdo e o processo, são mais bem considerados como inseparáveis” (PETTIGREW, 1992,
p. 7. Tradução livre). Chakravarthy e White (2002, p.182. Tradução livre), por sua vez,
afirmam que “Compreender a ligação entre processo estratégico e resultado é importante. Sem
30
isso, a pesquisa em processo possui pouco valor para os administradores”. Resultado é, muitas
vezes, atribuição dos estudos em conteúdo. Dessa forma a concepção de Chakravarthy e
White (2002) evidencia a preocupação com a consideração de dois subcampos como
constituintes de um único fenômeno: a estratégia.
Partindo então para o entendimento dessas dicotomias do ponto de vista da perspectiva
da estratégia como prática, Jarzabkowski (2005, p. 7. Tradução livre) coloca que
Na pesquisa da prática, a ‘prática’ sob investigação é a estratégia como um
fluxo de atividade organizacional que incorpora conteúdo e processo,
planejamento e emergência, pensamento e ação e assim por diante, como
partes recíprocas, interligadas e freqüentemente indistinguíveis de um todo
quando elas são observadas de perto (…). Uma perspectiva prática vai além
do estudo da relação entre esses conceitos para compreendê-los como
mutuamente constituídos (JARZABKOWSKI, 2005, p. 7. Tradução livre).
Tendo em vista o exposto e toda a tessitura apresentada até aqui, a qual explicitou
algumas questões centrais para o entendimento de conteúdo e processo estratégicos e também
alguns aspectos críticos do estabelecimento dessas áreas como inconciliáveis, advoga-se na
perspectiva adotada nesse trabalho a consideração da estratégia como conteúdo e processo, ao
mesmo tempo e muito além disso, como uma prática social. Ao trazer essa diferenciação entre
conteúdo e processo para dentro da discussão e ao desenvolvimento do recorte da pesquisa,
entenda-se que isso se deve a um corte metodológico e também à necessidade de se
compreender as teorias que embasam o campo da estratégia e constituem seu discurso
dominante. Portanto, não se desconsideram as pesquisas e a divisão didática entre conteúdo e
processo e sim se advoga a favor de uma compreensão desses dois “subcampos” como
inseparáveis e constituintes de um único fenômeno – a estratégia.
A discussão acerca do que se entende por estratégia como uma prática social vem a
seguir, porém adianta-se que olhar a estratégia dessa forma significa lançar sobre ela um
“olhar sociológico”, “transformando um fenômeno que era considerado fundamentalmente
econômico para uma prática social” (WHITTINGTON, 2007, p. 1582. Tradução livre). Dessa
forma, ao entender a estratégia como uma prática social e lançar sobre ela o “olhar
sociológico”, obtém-se “uma amplitude de visão que nos obriga a aproximarmo-nos dos dois
lados das dicotomias entre processo e o restante” (WHITTINGTON, 2007, p. 1577. Tradução
livre) sem a primazia de uma ou de outra e fundamentalmente sem confundir a estratégia
como prática como uma extensão dos estudos em processo estratégico (WHITTINGTON,
2007), visto que essa perspectiva pretende a compreensão do fenômeno em seu todo,
considerando as diversas interações que o constituem.
31
2.3 DEFININDO A ABORDAGEM DA PRÁTICA EM ESTRATÉGIA
Ao tratar da perspectiva da prática faz-se necessário esclarecer alguns entendimentos
que pautam o campo, bem como sobre o surgimento dessa preocupação no campo da
estratégia. Inicialmente, já nas linhas anteriores, enunciou-se que a preocupação em estudar a
estratégia olhando para extremos dicotômicos fez com que muitas vezes a concentração em
um ou em outro ponto levasse à perda da vinculação com o fenômeno da estratégia em si,
fazendo com que a relevância dessas pesquisas para os administradores fosse pequena,
(CHAKRAVARTHY e WHITE, 2002) e assim a questão da prática ficava também em
segundo plano. Não obstante, desde os anos 80 tem-se observado uma “virada prática” na
teoria social contemporânea, a partir da qual autores como Pierre Bourdieu, Michel De
Certau, Michel Foucault e Anthony Giddens passaram a recuperar e pensar sobre a prática e
sua importância na teoria social (WHITTINGTON, 2006; JOHSON et al., 2007). A estratégia,
por sua vez, passou a repensar também o campo a partir de uma abordagem prática,
considerando que
A noção de prática é interpretada de vários modos, mas um caminho comum
é uma apreciação da habilidade pela qual as pessoas fazem algo com os
recursos que têm em suas vidas cotidianas (…). Existe um forte foco nas
pessoas em vez de nas organizações, nas rotinas em oposição à mudança, e
nas atividades situadas em vez de processos abstratos. A orientação
intelectual é Aristotélica, interessada na sabedoria prática que torna as coisas
realizadas assim como nas verdades imparciais da ciência convencional (…)
(WHITTINGTON, 2002(c), p. 120. Tradução livre).
Percebe-se nessa abordagem um destaque importante às pessoas – aos praticantes
sem desconsiderar, no entanto, todos os conhecimentos teórico-científicos que influenciam de
certa forma a prática. Tratar a estratégia como uma prática social (e entendendo prática social
com base nas idéias dos autores acima tratados), exige que se lance sobre ela um olhar
sociológico e não mais essencialmente econômico como se tem feito até aqui
(WHITTINGTON, 2007). Para Whittington (2007), a estratégia é um fenômeno social como
qualquer outro na sociedade: como advocacia, jornalismo, guerra, casamento. Considerando
isso, ela deve ser estudada como tal:
(…) como os casamentos, as estratégias organizacionais possuem inputs
particulares (recursos), processos (tomada de decisão, mudança e assim por
diante) e resultados (tipicamente desempenho financeiro). Mas a comparação
tem parado por aí. Os textos convencionais sobre Conteúdo e Processo
estratégicos dão pouco espaço para a estratégia considerada como uma
prática institucionalizada, como o casamento, dentro da sociedade como um
todo. Atores estratégicos – gerentes de topo ou de nível médio
32
particularmente – podem ser examinados, mas tipicamente somente pelo seu
impacto no desempenho organizacional, e não como classes gerais
(consultores, planejadores de estratégia, por exemplo) cuja emergência e
decadência podem ter conseqüências em toda a sociedade. Episódios,
práticas e recursos igualmente são de interesse especificamente por sua
significância organizacional desprezando a generalidade de suas
características ou efeitos. (…) O olhar sociológico, de outro lado, encoraja-
nos a ver a estratégia em todas as suas manifestações, e de ambas as formas,
amplamente conectada e profundamente arraigada em sociedades
particulares. Por meio dessa lente, os detalhes minuciosos da estratégia
possuem provavelmente uma significância inesperada, enquanto a estratégia
como uma instituição pode estar propensa a conseqüências problemáticas. A
organização é descentralizada, e pessoas, práticas e sociedades entram
igualmente em cena. Nesse sentido sociológico, a estratégia acarreta uma
ampla perspectiva em vez de simples processo (WHITTINGTON, 2007, p.
1578. Tradução livre.).
Partindo desse entendimento e chamando a atenção para que se lance sobre a
estratégia um olhar sociológico, Whittington (2007) afirma existirem certas confusões que
acabam por incluir a perspectiva da prática dentro da abordagem de processo na estratégia. No
entanto, pautado nos três temas relacionados à perspectiva da prática e que compõem o
strategizingpráxis, práticas e praticantes (ver Figura 7, p. 40) – o autor afirma que a
perspectiva da estratégia como prática vai além da abordagem de processo (sem desconsiderá-
la ou desmerecê-la), uma vez que quando se fala em processo, essa abordagem detém-se ao
estudo da práxis, enquanto a perspectiva da prática vai além (WHITTINGTON, 2007).
Desse ponto de vista a estratégia é estudada como uma atividade situada, realizada
socialmente, construída por meio de ações e interações de múltiplos atores
(JARZABKOWSKI, 2005). Assim, procura-se resgatar a questão da agência na estratégia,
vendo-a como algo que as pessoas fazem e não como algo que as organizações têm
(JARZABKOWSKI, 2005; WHITTINGTON, 2006). Entende-se, assim que é necessário
superar a visão determinista da estratégia, uma vez que se acredita na administração
estratégica como uma atividade criativa, que se constitui a partir de uma dialética entre
determinismo e voluntarismo (BOURGEOIS III, 1980; 1984). Bourgeois III (1984) afirma
que as teorias deterministas apresentam certas limitações, as quais se acredita que são
incompatíveis com a adoção da perspectiva da estratégia como prática: (1) reducionismo, que
leva à perda da riqueza das variáveis exploradas; (2) ignoram a reciprocidade entre causa e
efeito; (3) se levadas ao extremo acabam resultando em teorias hiper-contingenciais ou o
estudo de casos situacionais; (4) reduzem o papel das pessoas a uma visão mecanicista; (5)
atribuem um papel passivo aos administradores (BOURGEOIS III, 1980; 1984). É, portanto,
considerando-se a estratégia nos termos de atividades desenvolvidas por pessoas, de forma
33
criativa, que este trabalho situa-se teoricamente, entendendo a relevância tanto das dicotomias
do campo como questões que orientam a prática estratégica e também levantando a
necessidade da sua superação quando se trata do entendimento da estratégia como um
fenômeno social.
O primeiro a abordar o conceito de prática no campo da estratégia foi Richard
Whittington, em um artigo publicado em 1996 na Long Range Planning. Nesse artigo
Whittington busca “mapear o terreno” das perspectivas dos estudos de estratégia e estabelece
quatro perspectivas fundamentais: política, processo, planejamento e prática, as quais ele
representa por meio da seguinte figura:
Fonte: Whittington (1996, p. 732. Tradução livre.)
Figura 5. Quatro perspectivas em estratégia
Partindo da Figura 5, Whittington (1996) esclarece as características de cada
perspectiva para então introduzir a perspectiva da estratégia como prática, nesse artigo
seminal da abordagem da prática no campo da estratégia. A abordagem do planejamento (1)
foca em ferramentas e técnicas com o objetivo de auxiliar os gerentes nas decisões e na
condução dos negócios. A abordagem política (2) analisa o conteúdo estratégico, procurando
evidenciar os ganhos e perdas de uma organização ao adotar determinada estratégia.
Classicamente os estudos dessa abordagem direcionavam-se à diversificação, mas
recentemente têm recebido atenção as questões de inovação, aquisições, joint ventures e
internacionalização. A abordagem do processo (3) relaciona-se aos estudos que procuram
compreender como as organizações reconhecem a necessidade da mudança estratégica e como
realmente a realizam. A abordagem da prática (4), por sua vez, assume muitas das questões da
34
abordagem de processo, porém retoma o nível gerencial, procurando compreender como os
estrategistas realizam seu trabalho de fazer estratégia (WHITTINGTON, 1996). Partindo
disso, Whittington (1996) esclarece o que se entende pela abordagem da estratégia como
prática expondo a questão nos seguintes termos:
(…) a perspectiva prática está preocupada com a atividade gerencial, em
como os administradores ‘fazem estratégia’. Existem partes de inspiração
para fazer estratégia – o levantamento de idéias, a procura por
oportunidades, a compreensão das situações. Mas existe também a
transpiração – as rotinas de orçamentação e planejamento, como eles são
desenvolvidos no decorrer do ano, as reuniões de despesa e os comitês de
estratégia, a escrita de documentos formais, a elaboração de apresentações.
Prática está relacionada com o trabalho de strategizing – todos os encontros,
as conversas, o preenchimento de formulários e a avaliação de resultados a
partir dos quais a estratégia é realmente formulada e implementada
(WHITTINGTON, 1996, p. 732. Tradução livre.).
Assim, a perspectiva da prática é introduzida no campo da estratégia reivindicando um
papel importante para os atores, os praticantes da estratégia, e procurando evidenciar que o
strategizing (o processo de fazer estratégia) é constituído por uma série de atividades e
práticas relacionadas à sua formulação e implementação, considerando esses dois processos
como importantes e relevantemente relacionados. No artigo já citado, Whittington (1996)
esclarece algumas implicações fundamentais da adoção dessa abordagem para (a) o
conhecimento do praticante, que se desloca de um extremo geral e formal para outro que
considera também o tácito e o informal; (b) para o papel do ensino, que passa da docência
comum para um papel de assistência particular, personalizada (coaching) e; (c) o foco das
pesquisas em estratégia, que mudam das estratégias em si (aquilo que a organização tem) para
o strategizing (algo que as pessoas na organização fazem) (WHITTINGTON, 1996). Isso
evidencia uma mudança de perspectivas no campo da estratégia e inaugura uma abordagem
que traz ao campo influências marcantes da sociologia contemporânea. Whittington et al.
(2003) colocam que a perspectiva da estratégia como prática é uma forma de levar a estratégia
a sério, esclarecendo que
Nós precisamos levar a estratégia a sério porque ela tem efeitos importantes
no mundo. Aqui nós vemos a estratégia não simplesmente como uma
propriedade de organizações particulares, mas como uma prática social com
efeitos significantes e difundidos dentro das sociedades avançadas
contemporâneas (WHITTINGTON et al., 2003, p. 397. Tradução livre).
Esclarecidas essas questões, faz-se necessário trazer à discussão alguns pontos
essenciais ao entendimento do conceito de prática. Jarzabkowski (2004), com base nas teorias
da ordem social da estruturação de Giddens e no habitus de Bourdieu, esclarece que o termo
35
‘prática’ “implica desempenho repetitivo a fim de tornar-se ‘praticável’, isso para atingir o
cumprimento recorrente, habitual e rotinizado de ações particulares” (JARZABKOWSKI,
2004, p. 531. Tradução livre.). Percebe-se, diante do exposto, que uma prática, para se
configurar como tal, precisa desse caráter estável, rotineiro, replicável, ou melhor, recursivo,
expressão que representa a reprodução de uma seqüência de atividades realizadas
socialmente. Esse caráter recursivo da prática tem suas raízes no pensamento de Giddens
(teoria da estruturação) e de Bourdieu (noção de habitus). Sobre o primeiro Jarzabkowski
(2004) coloca que:
A estruturação produz três contribuições principais para a natureza
rotinizada da prática. Primeiro a prática é institucionalizada nas estruturas
sociais que persistem através do tempo e do espaço. Segundo, as estruturas
sociais institucionais são incorporadas nas práticas diárias que constituem a
ação. Terceiro, as estruturas persistem através do conhecimento tácito e da
consciência prática dos atores que selecionam padrões familiares porque eles
lhes sustentam com a ‘segurança ontológica’ (…) (JARZABKOWSKI,
2004, p. 531-532. Tradução livre).
Com relação à contribuição de Bourdieu, Jarzabkowski (2004) defende que ele vai
mais longe na elaboração da questão da reciprocidade, trabalhando a questão da dialética da
reciprocidade, a qual ele chama da habitus.
Prática compreende a ordem social que reside tanto na mente das pessoas
quanto no habitus, que funciona como uma forma de memória coletiva.
Bourdieu imbui o último com propriedades análogas à genética
‘reproduzindo as aquisições dos predecessores nos sucessores’ (…). A
persistência temporal do habitus molda as aspirações daqueles que o
constroem nas práticas cotidianas. O habitus assume causalidade
estruturando novas informações de acordo com a informação que já foi
acumulada. Isso assegura sua constância e resistência à mudança
(JARZABKOWSKI, 2004, p.532. Tradução livre).
Diante desses dois entendimentos, Jarzabkowski (2004) traz à cena a discussão de que
assumir essa estabilidade veiculada ao entendimento de recursividade, presente tanto no
pensamento de Giddens quanto no de Bourdieu, “obscurece a natureza adaptativa da prática”
(JARZABKOWSKI, 2004, p. 532) e isso leva ao que a autora chama de “problema da
recursividade”. O problema recursividade está presente largamente na literatura da
administração estratégica, em três níveis: do ator, da organização e da instituição social. Com
relação ao ator, a literatura sugere que a cognição individual está pautada nos modelos
mentais deles, os quais limitam a cognição individual e criam filtros perceptivos, ao mesmo
tempo que lhes conferem segurança diante das situações. Com relação à organização, elas são
muito dependentes de padrões rotinas e da própria memória organizacional, questões essas
36
que a predispõe a agir de determinada forma e a delimitar opções possíveis de ação, limitando
em muito a capacidade inovativa das organizações. As instituições sociais, por sua vez,
relacionam-se ao problema da recursividade, principalmente nas abordagens da teoria
institucional que lidam com as questões do isomorfismo, o qual coloca o fato de que as
organizações de um mesmo setor tendem a se tornar muito parecidas, por causa das estruturas
sociais sobre as quais elas são projetadas (JARZABKOWSKI, 2004), o que também limita a
capacidade das organizações de mudar:
Indubitavelmente, a prática social é caracterizada pela recursividade,
evidente nas escolhas que nascem da interação entre instituições sociais,
organizações e atores (…). Isso não é necessariamente uma fraqueza para as
empresas. De fato a literatura exalta a vantagem competitiva da curva de
experiência (…), e o comportamento de aprofundar os recursos constroem
competências e capacidades distintas (…). Dessa perspectiva, a
recursividade identifica-se com as eficiências aprendidas, sugerindo que ‘a
prática leva à perfeição’. Já que as empresas apresentam comportamento de
escolhas similares, a recursividade pode ainda estar associada com as
melhores práticas. No entanto a convergência que corrobora a melhor prática
pode também estar associada às formas organizacionais inertes e com a
destruição da diferenciação estratégica entre os competidores (…). O perigo
sedutor da prática recursiva é que ela está associada também ao sucesso. (…)
Como diferenciação e mudança são fatores importantes da vantagem
competitiva até mesmo em ambientes moderadamente dinâmicos, a prática
recursiva é um problema para a administração estratégica
(JARZABKOWSKI, 2004, p. 534. Tradução livre.).
Diante da reafirmação do caráter recursivo da prática e também da exposição dos
problemas que ele evidencia, Jarzabkowski (2004) defende que a prática, além de recursiva,
possui também um caráter adaptativo, e que ela incorpora a idéia da prática como unidade de
análise para se observar o becoming – no sentido de que ela não está vinculada somente ao
que foi (became), mas às constantes construção e reconstrução dos eventos sociais, pautada
em uma dialética entre o que está acontecendo em uma sociedade e ao que as pessoas estão
fazendo.
Essa dialética é importante desde que ela constitua a interação entre os
contextos macro e micro em que as práticas são construídas. Macro ou
contexto societal é mais amplo e constitui uma corrente do movimento social
(…). Os contextos micro compreendem qualquer dado grupo engajado em
sua própria construção local da prática (JARZABKOWSKI, 2004, p. 535.
Tradução livre.).
Esse caráter dialético a que Jarzabkowski (2004) refere-se com relação à interação
dos contextos micro e macro são de fundamental importância para a perspectiva da estratégia
como prática e está presente nas idéias desenvolvidas também por Whittington (2006) e
37
Wilson e Jarzabkowski (2004(a); 2004(b)), conforme representam a Figura 8 (p. 46). A
importância da consideração também desse caráter adaptativo da prática, reside no fato de que
Esse modelo teórico sugere que existem macro e micro contextos em que a
estratégia como prática ocorre (…). A interação entre os contextos propicia
oportunidades para práticas adaptativas porque o nível macro é caracterizado
por múltiplas instituições sociais, enquanto o nível micro é heterogêneo
devido ao movimento social localizado ocasionado pelo ‘que as pessoas
estão fazendo’ (…) (JARZABKOWSKI, 2004, p. 536. Tradução livre.).
Considerar que a prática possui também um caráter adaptativo faz com que se assuma
a idéia de que as pessoas são capazes de avaliar contextos e dar uma resposta a ele, adaptando
assim à prática para que essa resposta seja adequada. Isso significa assumir a capacidade de
agência dos atores, praticantes da estratégia. Por agência entende-se que as pessoas têm
escolhas e são capazes de empreender ações com relação a essas escolhas
(JARZABKOWSKI, 2005). Essa agência possui três dimensões, a iterativa, a projetiva e a
prático-avaliativa – todas relevantes para o estudo da estratégia, com destaque para a última
dimensão, diretamente relacionada à perspectiva da estratégia como prática.
A dimensão iterativa da agência está relacionada à habilidade dos atores de reproduzir
padrões prévios de ação (recursividade) sem um pensamento consciente sobre isso.
A agência iterativa está associada a conotações carregadas de valor de
inércia (…). A iteração está, no entanto, longe de ser insensata. Ela é uma
forma ativa de construção social, envolvendo pretensões, habilidades e
conhecimento no reconhecimento seletivo e na implementação das
atividades em curso. As tarefas dos estrategistas de fato têm movimentos
conhecidos para posições de produtos, entrada no mercado, aumento de
capacidade, desinvestimento nos negócios não-lucrativos ou alocação de
recursos. Esses movimentos são importantes heurísticas que possibilitam aos
estrategistas habilidosos fazer o trabalho de estratégia (…). A seleção e uso
desses movimentos de rotina podem assim ser vistos como parte do processo
de estabilização da atividade, mais do que uma predisposição à inércia
(JARZABKOWSKI, 2005, p. 31. Tradução livre.).
A agência projetiva, por sua vez, está relacionada à dimensão que vê o estrategista
como um agente capaz de impor sua vontade individual em relação a um futuro projetado,
conceito que embasa as visões mais tradicionais do campo da estratégia sobre o estrategista.
“De fato, a habilidade de desenvolver uma visão de futuro da companhia é um recurso
importante que os executivos de topo podem usar para construir suporte coletivo para a
atividade de mudança” (JARZABKOWSKI, 2005, p. 31. Tradução livre).
A outra dimensão da agência, diretamente relacionada à perspectiva da estratégia
como prática, é a agência prático-avaliativa. Quando os estrategistas projetam o futuro eles
não sabem os resultados que realmente acontecerão, e no desenvolvimento cotidiano do que
38
foi projetado as pessoas precisam lidar com os recursos disponíveis e trabalhar as
contingências que se configuram (e aqui se evidencia o caráter adaptativo da prática). Dessa
forma, “A agência prático-avaliativa é assim a forma que os executivos ligam o gap entre
pensamento e ação e formulação da estratégia e a implementação na prática”
(JARZABKOWSKI, 2005, p. 32. Tradução livre.). Então a agência prático-avaliativa está
relacionada à habilidade dos gerentes de conscientemente adaptar, usar e manipular os
recursos que eles têm disponíveis.
Para concluir, a agência prático-avaliativa envolve atores reflexivos, capazes
de compreender suas ações situadas dentro do contexto das ações passadas e
aspirações futuras e mediar entre os dois de forma a possibilitar a
estabilidade da atividade existente bem como seu becoming [no sentido de
processo de constante construção] dentro da prática futura. Para
compreender melhor a agência prático-avaliativa é necessário estudar tanto
as práticas iterativas que os estrategistas usam para envolverem-se nas
atividades como suas intenções em usar essas práticas para moldar a
atividade futura. Isso não significa que a agência resultará nas conseqüências
pretendidas. Em vez disso, isso provavelmente gerará o tipo de feedback que
estimula o exercício de outros julgamentos práticos. (…) Strategizing pode,
por isso, ser definido como agência prático-avaliativa (JARZABKOWSKI,
2005, p. 34. Tradução livre. Grifos inseridos).
As linhas anteriores evidenciaram a capacidade de agência dos praticantes da
estratégia. Essas habilidade e característica estão relacionadas a todos os recursos de que os
atores fazem uso na suas atividades cotidianas. As abordagens teóricas que embasam o campo
da estratégia e permeiam a formação dos estrategistas são, portanto, recursos importantes no
desenvolvimento das atividades e práticas. Dessa forma, é importante destacar que todas as
teorias e abordagens teóricas relacionadas ao campo da estratégia são importantes no estudo
da estratégia sob a perspectiva da prática, uma vez que essas teorias, localizadas no contexto
macro, externo à organização, influenciam na formação dos praticantes da estratégia, na
formação de seus modelos mentais e conseqüentemente na prática estratégica. Há que se
considerar, porém que
O conhecimento de estratégia não é um construto reificado que pode ser
possuído, mas parte das práticas sociais em que os atores estratégicos
participam a fim de comunicar, construir sentidos sobre a estratégia (…).
Uma premissa básica do uso do conhecimento sob a perspectiva da prática é
que os artefatos do conhecimento em uso são alterados (JARZABKOWSKI
e WILSON, 2006, p. 360. Tradução livre).
Dessa forma, a Matriz BCG, a análise SWOT, o modelo das Cinco Forças são
conhecimentos referenciais no campo da estratégia. Porém sua aplicação nas organizações
não implica linearidade nem fidedignidade a todos os artefatos do modelo. O que ocorre
39
quando da utilização desses conhecimentos é que eles sofrem um processo de bricolagem,
compreendido como a adaptação dos artefatos aos propósitos da organização e dos
estrategistas. Assim surgem formas híbridas, que oferecem elementos de inovação, que
surgem a partir da bricolagem, e conservam outros traços do passado (relacionados à
recursividade). O processo de bricolagemo constitui ignorância ou inabilidade dos
praticantes, mas ela é parte da criatividade diária e da reflexividade inerente à prática; a
bricolagem dissocia os conhecimentos de suas bases teóricas para torná-los praticáveis nas
mãos dos praticantes na prática diária da estratégia. (JARZABKOWSKI e WILSON, 2006).
Jarzabkowski e Wilson (2006) representam esse fenômeno como uma dissociação das teorias
da estratégia na prática, compreendendo esse processo de dissociação em duas fases – a
dissociação 1, em que consultores e profissionais especializados simplificam a teoria da
estratégia para torná-la aplicável, e a dissociação 2, em que os praticantes adaptam os
artefatos da dissociação 1 na prática cotidiana:
Fonte: Jarzabkowski e Wilson (2006, p. 362. Tradução livre.)
Figura 6. Dissociação da Teoria da Estratégia na Prática
Dessa maneira, percebe-se que a utilização das teorias da estratégia na prática reforça
também a dialética entre o caráter recursivo e adaptativo da prática, de acordo com a
discussão precedente (JARZABKOWSKI, 2004). É possível ainda visualizar esse
entendimento na representação delineada por Whittington (2006) na Figura 8 (p.46), na qual
40
ele propõe a integração entre praticantes, práxis e práticas a fim de explicar a dinâmica que
envolver essas três questões na compreensão da perspectiva da estratégia como prática.
Compreende-se então que estudar a estratégia a partir da perspectiva prática implica
trazer à cena novamente os atores que trabalham a estratégia, os praticantes
(JARZABKOWSKI, 2005; WHITTINGTON, 2006), aqueles que a elaboram, aqueles que a
lêem, aqueles que a executam, aqueles que a influenciam, enfim todos os atores envolvidos na
prática da estratégia sem, no entanto, deixar de lado o importante relacionamento entre os
contextos micro e macro.
Esclarecidas essas questões, é necessário reiterar o entendimento de prática que se tem
no presente trabalho, a partir da perspectiva da estratégia como prática: prática é o fluxo de
atividades organizacionais, situadas e socialmente realizadas, de caráter tanto recursivo
quanto adaptativo, formais e informais, cuja realização está vinculada à interação entre os
contextos micro e macro, os quais se influenciam de forma mútua (WHITTINGTON, 1996;
JARZABKOWSKI e WILSON, 2004(a); 2004(b); JAZRZABKOWSKI, 2004;
JARZABKOWSKI, 2005; WHITTINGTON, 2006).
Nessa perspectiva três temas tornam-se importantes para serem discutidos para a
compreensão da perspectiva da estratégia como prática, representados na Figura 7 abaixo:
Fonte: Jarzabkowski, Balogun, Seidl (2007. Tradução livre.)
Figura 7. Um modelo conceitual para analisar a estratégia como prática
Note-se, antes de mais nada, que o fazer estratégia é entendido como strategizing, o
que busca evidenciar a compreensão da estratégia como um processo – strategizing – no
mesmo sentido que se entende a organização como um processo, em constante construção
social – organizing (WEICK, 1995), compreendendo o strategizing como uma forma de
41
organizing, o qual propicia a produção de sentido (sensemaking) para a possibilidade de
estruturação das práticas organizacionais, tarefa do organizing (DENIS, LAMOTHE,
LANGLEY, 2007). Whittington (2002(c), p. 119. Tradução livre) também destaca a
relevância da consideração dessa relação, uma vez que “(…) estratégia e organização são
realizadas pelo trabalho de trabalhadores altamente habilidosos” e o autor propõe uma atenção
igual para o trabalho de organizing e strategizing, levantando questões relevantes de pesquisa
que olhem para a relação entre esses dois aspectos. É importante destacar ainda que o
strategizing é compreendido como um processo de fazer estratégia, a partir do trabalho
desempenhado pelos atores da estratégia, os quais são denominados de praticantes, a partir de
suas atividades e práticas, conforme demonstra a Figura 7 (p. 40).
O entendimento que se tem, portanto, de estratégia e strategizing, partindo da Figura 7
(p. 40) é:
Da perspectiva da estratégia como prática a estratégia é conceituada como
uma atividade situada, realizada socialmente enquanto strategizing
compreende aquelas ações, interações e negociações de múltiplos atores e as
práticas situadas que eles utilizam na realização desta atividade
(JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007, p. 8. Tradução livre. Grifos
inseridos.).
O strategizing, portanto, está relacionado ao fazer estratégia e a Figura 7 (p. 40) é uma
forma de operacionalizá-lo por meio dos três elementos-chave: práxis, práticas e praticantes.
Esses conceitos são distintos, porém como se pode perceber a partir da Figura 7 (p. 40), são
interconectados, o que torna inviável estudar um aspecto sem considerar os demais, uma vez
que o strategizing ocorre na confluência dos três aspectos. Porém, pode acontecer que as
questões de pesquisa acabem por focar em uma área dominante, conforme indicado nas áreas
hachuradas A, B e C na Figura 7 (p. 40).
É necessário esclarecer que nem toda prática é estratégica, como pode sugerir o
excerto acima em uma primeira visão. Para serem estratégicas, as atividades devem estar
ligadas a práticas particulares, especificamente relacionadas à estratégia, tais como o
planejamento estratégico, as revisões anuais, os workshops estratégicos e os discursos
associados a essas práticas, considerando ainda que as atividades devem ter influências nos
resultados da organização, nas suas direções, nos aspectos de sua sobrevivência, bem como na
vantagem competitiva da empresa (JARZABKOWSKI, 2005; JARZABKOWSKI,
BALOGUN, SEIDL, 2007). Desta maneira ficam mais bem delimitadas as práticas e
atividades que são realmente estratégicas.
42
A compreensão da estratégia como prática procura suas explicações e evidências nas
atividades e práticas diárias dos atores. Em vista dessa relevância dos praticantes,
mencionados na Figura 7 (p. 40), eles são vistos como aqueles a partir dos quais a estratégia é
analisada na perspectiva da estratégia como prática, uma vez que são as pessoas que
efetivamente realizam a estratégia enquanto prática social. Jarzabkowski (2005, p. 8) coloca
que “A estratégia como prática nasce das interações entre as pessoas, muitas pessoas –
gerentes de topo, gerentes de nível médio, empregados, consultores, auditores, investidores,
reguladores, consumidores” (Tradução livre). Os praticantes não são somente os executivos
para quem a estratégia é a essência do seu trabalho, mas também aqueles vários atores que
acabam influenciando no trabalho de estratégia, como diretores não-executivos, consultores,
gurus da área de negócios e clientes (WHITTINGTON, 2006; JARZABKOWSKI,
BALOGUN, SEIDL, 2007). Importante destacar ainda na Figura 7 (p. 40) a evidência de que
as características relacionadas a esses praticantes são relevantes para a estratégia como
prática, uma vez que elas influenciam na maneira como eles moldam a estratégia; portanto,
deve-se considerar que os praticantes moldam a construção da prática influenciados pelas
características pessoais, educacionais, demográficas e relacionadas à idade (quem eles são),
pela forma como agem e pelos recursos de que dispõem para empreender as atividades da
prática (JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007).
O que na Figura 7 (p. 40) é denominado de práxis, também pode ser entendido como
prática ou atividade (JARZABKOWSKI, 2005). A práxis (ou prática, ou atividade) é o que os
estrategistas realmente fazem, todas as atividades relacionadas à formulação e à
implementação da estratégia (WHITTINGTON, 2006), que nas palavras de Jarzabkowski
(2005) é compreendido como
fluxo da atividade organizacional que incorpora conteúdo e processo,
intenção e emergência, pensamento e ação e assim por diante, como
recíprocos, inter-relacionados e freqüentemente partes indistinguíveis de um
todo quando observados de perto (JARZABKOWSKI, 2005, p. 8. Tradução
livre.).
Importante reiterar aqui que essa práxis (como indica a Figura 7, p. 40) deve ter uma
ligação direta com os resultados da organização, suas direções e a sobrevivência do grupo, da
organização ou do setor. Isso significa dizer que nem toda prática é estratégica; é necessário
que ela tenha a vinculação descrita acima (JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007).
As práticas, por sua vez, são aquelas que constituem a prática da estratégia em si,
tanto relacionadas a questões tácitas e informais, quanto a explícitas e formais. Para
Jarzabkowski (2005), elas podem ser compreendidas de três formas: (1) as práticas racional-
43
administrativas, relacionadas aos propósitos de coordenar e organizar a estratégia, são
representadas por mecanismos de planejamento, sistemas de controle, indicadores de
desempenho etc.; (2) as práticas discursivas (e aqui mais uma vez destaca-se o papel da
comunicação na perspectiva da estratégia como prática, conforme abordado acima), que
proporcionam recursos lingüísticos, cognitivos e simbólicos para a interação sobre a
estratégia; (3) as práticas episódicas (também relacionadas ao papel da comunicação
mencionado anteriormente), relacionadas àquelas práticas que criam oportunidades para a
interação e organizam essa interação entre os praticantes no fazer estratégia, como as
reuniões, workshops etc. (JARZABKOWSKI, 2005). A Figura 7 (p. 40) apresenta essas
dimensões das práticas de forma diferente, considerando as práticas cognitivas,
comportamentais, procedimentais, discursivas, motivacionais e físicas (JARZABKOWSKI,
BALOGUN, SEIDL, 2007). Considera-se, porém, que as dimensões das práticas descritas por
Jarzabkowski (2005) e apresentadas no início deste parágrafo representam todas essas últimas
de uma forma condensada.
Descritas essas dimensões do entendimento do que constitui a abordagem da prática
no campo da estratégia, é necessário considerar que
Ao estudar esses três tipos de práticas – práticas administrativas, discursivas
e episódicas – a agenda de pesquisa da prática não está focada nas práticas
em si. Em vez disso, está interessada nas práticas em uso, práticas como
mediadoras da interação entre praticantes na construção da prática
estratégica (JARZABKOWSKI, 2005, p. 10. Tradução livre.).
Isso dá indícios de que ao adotar a perspectiva da estratégia como prática deve-se
estudá-la a partir do seu uso, da sua utilização cotidiana (e episódica) e não a partir somente
das questões formais que envolvem o fazer estratégia.
Essas três dimensões conceituais descritas acima – praticantes, práxis e práticas – são
definidas em princípio por Reckwitz (2002). Partindo das idéias desse autor, Whittington
(2006) propõe que elas sejam tomadas de forma a definir um vocabulário consistente no
campo da estratégia como prática, delineando essas idéias da seguinte maneira:
Rapidamente, a distinção entre prática (práxis) e práticas segue a
interpretação de Reckwitz (2002: 249-251) do sentido dual da prática na
teoria social, tanto algo que guia a atividade como a atividade em si. Em
conformidade, ‘práticas’ referir-se-ão às rotinas de comportamento
compartilhadas, incluindo tradições, normas e procedimentos para pensar,
agir e usar ‘coisas’, essa última no sentido mais amplo. Em contraste, a
palavra grega ‘práxis’ refere-se à atividade real, o que as pessoas fazem na
prática. Praticantes são os atores estratégicos, os estrategistas que tanto
desempenham essa atividade quanto transmitem/sustentam suas práticas. A
44
aliteração dos três conceitos pretende reforçar o sentido de mútua conexão
(WHITTINGTON, 2006, p. 619. Tradução livre.).
Diante dessa base inicial Whittington (2006) defende que esses conceitos sejam
ampliados para a compreensão da estratégia como prática propondo as seguintes
considerações: (1) os praticantes são considerados o pilar da abordagem e devem ser
considerados não somente os executivos, mas também todos aqueles que desempenham
algum papel em relação à estratégia, entendimento já evidenciado nas linhas anteriores; (2)
com relação à práxis (atividades), ela é entendida como o trabalho intra-organizacional
necessário para fazer e executar a estratégia:
Embora esse trabalho seja geralmente muito difuso, uma grande parte dele
pode ser visto como fazendo parte de uma gama mais ou menos ampla de
episódios ou seqüência de episódios (…). Esses episódios incluem reuniões
de cúpula, retratações da administração, intervenções de consultoria,
instruções dos times, apresentações, projetos, e a simples conversa (…).
Assim o domínio da práxis é amplo, englobando a rotina e a não-rotina, o
formal e o informal, atividades no centro da corporação e atividades na
periferia da organização (…). Está contido aqui o trabalho formal da
estratégia ultrapassado pela emergência (…) Em resumo, a perspectiva
prática leva a sério todas as atividades empreendidas e que tenham resultado
envolvidas no trabalho da estratégia (WHITTINGTON, 2006, p. 619-620).
Com relação à questão emergência e formalidade na estratégia, Whittington (2002(c))
destaca a importância das duas, conforme se pode perceber nas linhas acima, porém destaca a
importância de se iniciar a análise da estratégia a partir dos aspectos formais, ancorando essa
preocupação em duas razões: (a) ainda que o trabalho formal da estratégia não esteja
rigorosamente ligado aos resultados obtidos, eles são importantes porque a eles a organização
despende trabalho e esforço. Ao trabalho formal estão relacionadas as ferramentas do
processo racional-administrativo do fazer estratégia; esses aspectos formais devem ser
levados a sério uma vez que estão vinculados às conseqüências pretendidas e as não-
pretendidas, bem como ao consumo de recursos que existe nesses processos formais; (b) a
segunda razão está no fato de que é difícil captar os momentos de emergência, mas é possível
que se observem os episódios formais, a partir dos quais podem surgir questões emergentes
(WHITTINGTON, 2002(c)).
Posto esse comentário entre parênteses, o último dos três aspectos que merece a
consideração de Whittington (2006) com o objetivo de ampliar os conceitos propostos por
Recwitz (2002) são (c) as práticas:
(…) que os praticantes tipicamente empreendem em sua práxis. Embora a
teoria da prática tenda a enfatizar o tácito e o informal, refletindo suas
origens na sociologia da vida cotidiana (…), eu desejo incluir as práticas
45
explícitas como tendo um importante papel nas organizações orientadas pela
responsabilidade formal. As práticas estratégicas são multiníveis (…). Em
um nível, as práticas podem ser específicas da organização, incorporadas nas
rotinas, operações e culturas (…) que modelam os modos locais de fazer
estratégia [strategizing]. (…) Mas a teoria da prática enfatiza o extra-
organizacional também – as práticas derivadas do amplo campo social ou
dos sistemas nos quais uma organização particular está inserida. Por
exemplo, podem existir práticas setoriais, como as rotinas de mapeamento
do ambiente definidas pelos mapas cognitivos compartilhados (…) ou as
normas para os comportamentos estratégicos apropriados ditados pela
indústria (…). Ainda em um nível mais alto, existem as práticas de toda a
sociedade. As práticas societais, por exemplo, incluem normas para a escala
estratégica apropriada, escopo ou estrutura difundidos pelas nações e o
mundo (…); tipos de discurso que informam e legitimam formas de fazer
estratégia (…); e técnicas estratégicas específicas, pelo menos na extensão
que elas surgem para definir as rotinas legítimas do fazer estratégia
[strategizing], como por exemplo os procedimentos da análise porteriana
(…) (WHITTINGTON, 2006, p. 619-620. Tradução livre. Grifos inseridos).
A partir disso percebe-se a importância da consideração de todo o contexto onde a
organização está inserida e também a importância de se considerar como praticantes não
somente os executivos de dentro da organização, mas também todos aqueles que influenciam
de maneira indireta no strategizing. É importante retomar aqui que todas as teorias que
envolvem a tradição do campo da estratégia são relevantes na consideração da estratégia
como prática, enquanto possuem papel importante de orientação e estruturação das práticas
empreendidas no fazer estratégia. Diante dos conceitos apresentados acima, da expansão do
entendimento do que propõe Recwitz (2002), Whittington (2006) propõe um modelo
esquemático para representar a relação entre os três pilares que compõem o entendimento da
estratégia como prática, representado na Figura 8 abaixo:
46
Fonte: Whittington (2006, p. 621. Tradução Livre.)
Figura 8. Integrando práxis, práticas e praticantes
A análise da Figura 8 (e também das pesquisas na estratégia como prática) deve
começar a partir da identificação e alocação dos papéis dos praticantes, pois eles são “a
conexão crítica entre a práxis intra-organizacional e as práticas organizacionais e extra-
organizacionais de que elas dependem nessa práxis” (WHITTINGTON, 2006, p. 621). Os
praticantes, ao mesmo tempo que dependem dessas práticas as constroem, pois o mundo
contemporâneo
é marcado pelos sistemas sociais abertos, pluralidade de práticas e atores
reflexivos, os praticantes também têm a possibilidade de modificar os
ingredientes de sua práxis. Por meio da reflexão da experiência, os
praticantes são aptos a adaptar as práticas existentes; explorando a
pluralidade, eles são algumas vezes capazes de sintetizar novas práticas;
tomando a vantagem da abertura, eles podem ser capazes de introduzir novos
praticantes e novas práticas no geral (WHITTINGTON, 2006, p. 621.
Tradução livre.).
Dessa maneira, os praticantes encontram-se na base da Figura 8, representados pelas
letras de A-D, sendo que os praticantes A, B e C são internos à organização e o praticante D é
externo (podendo ser, por exemplo um consultor). Esses praticantes participam de várias
atividades, mas no esquema representativo acima eles estão envolvidos em cinco pontos de
convergência representados acima (i-v), os quais representam episódios da práxis
47
(relacionados às atividades desempenhadas por estes praticantes) (WHITTINGTON, 2006).
Para Whittington (2006)
Esses episódios da práxis podem ser encontros formais do conselho; eles
podem ser conversações informais. Quando eles praticam o strategizing, os
praticantes combinam o conjunto das práticas disponíveis de seus contextos
organizacional e extra-organizacional (para referência novamente, somente
1-4). Estas práticas que se tornaram aceitas como práticas organizacionais
legítimas para esta organização particular são incluídas no paralelogramo
superior. Essas práticas organizacionais irão provavelmente compreender as
rotinas localmente geradas e as práticas originárias do exterior – como o
discurso estratégico padrão – que se tornou minuciosamente internalizado. A
prática 4 é representativa inicialmente de todas aquelas práticas estratégicas
presentes fora das práticas aceitas dessa organização em particular, mas elas
estão ainda dentro do seu campo extra-organizacional (WHITTINGTON,
2006, p. 621. Tradução livre.).
A partir do esquema representativo delineado na Figura 8 (p. 46) percebe-se, portanto,
a relação entre os três pilares da estratégia como prática, evidenciando sua interdependência e
o papel central dos praticantes nesse cenário, tanto em relação à reprodução e perpetuação das
práticas quanto em relação à possibilidade de modificação das mesmas nas rotinas cotidianas.
Importante ressaltar a importância do elemento tempo, representado na Figura 8 (p. 46): ele
representa o entendimento de que as práticas, em sua trajetória temporal, não são fixas. Elas
podem ao mesmo tempo ser reproduzidas e modificadas no decorrer do processo de
strategizing (WHITTINGTON, 2006).
A perspectiva da estratégia como prática, ao atribuir aos praticantes e atores um lugar
de destaque, também o faz para a linguagem (tanto que alguns pesquisadores, como
Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) consideram a ‘virada prática’ também como a ‘virada
lingüística’), questão relevante para a compreensão da estratégia como prática social.
Entende-se que a comunicação, portanto, é essencial para a compreensão da estratégia como
prática, visto ser a partir de discursos estratégicos que a estratégia formal é implementada;
além disso, é por meio da interação social que a estratégia é colocada em prática. A prática
estratégica é estruturada e organizada por meio de narrativas (BRUNER, 1997), possibilitada
pelas estruturas da linguagem humana que dão sentido a essa prática. Nesse contexto, os
discursos produzidos pelas pessoas adquirem relevância para a compreensão do
comportamento estratégico – entendendo discursos sob duas perspectivas, como colocam
Robichaud, Giroux e Taylor (2004):
como texto (o que é dito) e conversação (o que é consumado na fala).
Conversação refere-se, em outras palavras, à interação, situada no uso
48
“acidental” da linguagem; texto refere-se ao artefato semiótico (oral ou
escrito) produzido no uso da linguagem, o qual pode persistir como um
vestígio e registro das conversações passadas (ROBICHAUD, GIROUX E
TAYLOR, 2004, p.619. Tradução livre).
O papel dos discursos na prática da estratégica está relevantemente representado na
Figura 9 abaixo, a qual evidencia que a produção da ação estratégica está pautada em
discursos “dominantes”, recontados e reestruturados em narrativas organizacionais,
desenvolvidas em encontros formais e informais, reestruturadas em metanarrativas
desenvolvidas com vistas ao fazer sentido dos atores organizacionais que agem para realizar a
prática desta estratégia.
Fonte: De La Ville e Mounoud (2003. Tradução livre)
Figura 9. Uma estrutura integrativa para estratégia como prática
No modelo representado na Figura 9, existem discursos/textos no campo da estratégia
que produzem as ações estratégicas, relacionadas às narrativas existentes nesses campos,
questão que corrobora o que foi defendido nas linhas anteriores a respeito dos aspectos da
dissociação teórica, proposta por Jarzabkowski e Wilson (2006) – ver Figura 6 (p. 39). Esses
discursos/textos, por sua vez, são operacionalizados e conceituados por meio de ferramentas e
técnicas do campo da estratégia, ao mesmo tempo que a ação, evidenciada nas narrativas/falas
no campo da estratégia, fornece limitações ou mesmo potencializações para que esses
discursos sejam operacionalizados por meio das ferramentas do campo. Perceba-se que há
uma interação entre esses elementos, o que significa dizer que os discursos dominantes no
campo da estratégia são fundamentais para que se possa compreender a ação, determinada por
meio das narrativas. De La Ville e Mounoud (2003) esclarecem o modelo por eles proposto:
49
Na [Figura 9], os macro componentes da prática são conceitualizados como
os discursos dominantes e estruturas da estratégia que podem ser
considerados como provedores do ‘texto’ para a ação estratégica. Nesse
nível modelos, condutas, gurus e instituições sociais, econômicas e políticas
estão envolvidos na produção e dominação do abrangente ‘campo da
estratégia’. Essas macro-influências são os condutores-chave no
desenvolvimento da infra-estrutura ou ‘práticas’ que conduzem à
operacionalização da estratégia; as ferramentas, tecnologias, conceitos e
linguagens na [Figura 2]. Aqui os consultores e os fornecedores educacionais
são importantes no desenvolvimento e distribuição dos conceitos de
estratégia. No entanto, esses macro-discursos e estruturas e sua infra-
estrutura associada possuem unicamente um potencial implícito até que eles
sejam realizados por meio da ação. Assim as narrativas, ações e ‘conversas’
que estão relacionadas aos praticantes no fazer estratégia, tanto seus
episódios estratégicos quanto sua interação estratégica diária, completam
esse modelo de estratégia como prática. Por meio das narrativas e da ação, os
discursos e a infra-estrutura da estratégia podem ser subvertidos, adquirir
posição dominante ou transformados. Na consumação da estratégia pela
prática há um potencial para reconstrução, resistência e inovação nos níveis
macro e micro da atividade estratégica. (DE LA VILLE, MOUNOUD, 2003.
Tradução livre.)
Em uma perspectiva interacional, De La Ville e Mounoud (2006) propõem que o
processo de formação da estratégia consiste em um processo narrativo que organiza a
polifonia dentro de várias lógicas. Com isso os autores se referem ao caráter de que o
processo de formação da estratégia nunca é controlado por um único ator:
A estratégia é desempenhada gradualmente dentro de uma “meta-
conversação”, uma metáfora discursiva para todo o processo (…) referindo-
se à abstração e generalização, uma “total representação da organização em
discursos definidos”, e a “meta-conversação da implementação” que
operacionaliza o texto em representações locais e concretas (DE LA VILLE
E MOUNOUD, 2006, p. 6. Tradução livre).
Segundo De La Ville e Mounoud (2006), o processo estratégico pode ser entendido
como esforços permanentes de comunicação para a aceitação de novas estratégias por parte
dos stakeholders. Ainda sob uma leitura comunicacional, esses autores discutem o processo
estratégico a partir da metáfora de escrita e leitura, referindo-se aos discursos estratégicos
formais e da sua interpretação por parte dos atores organizacionais.
Transpondo essa metáfora [escrita e leitura], a formação da estratégia pode
ser entendida como um processo criativo permanente incluindo não somente
o que os estrategistas produzem – ou escrevem – (textos, orçamentos,
planos, matrizes, estratégias) mas também as formas pelas quais os membros
da organização consumam – lêem – essas produções. Isso nos leva a
examinar como os atores lêem, usam e transformam esses textos estratégicos
em suas atividades diárias (DE LA VILLE E MOUNOUD, 2006, p. 10.
Tradução livre. Grifos inseridos).
50
Entender a estratégia como prática efetivamente exige compreender o papel da
comunicação nas organizações, reconhecendo o papel da linguagem como atividade, forma de
ação e lugar de interação (KOCH, 2001)
1
.
2.4 RESULTADOS
Ao se tratar de estratégia não se pode desvincular a discussão dos resultados
organizacionais. Todo delineamento estratégico prevê o alcance de um determinado resultado,
que pode ser alcançado ou não. Quando se fala da perspectiva da estratégia como prática não
é diferente, precisamos sempre vincular as atividades e as práticas estratégicas aos resultados
que delas advêm (JARZABKOWSKI, 2005).
Por resultados organizacionais entende-se uma série de conseqüências geradas pela
ação organizacional, sejam eles econômico-financeiros, sociais ou organizacionais. Para Hall
(2006), os resultados organizacionais são discutidos em termos de eficácia organizacional,
que trata da capacidade ou não da organização de cumprir suas metas e responder aos seus
públicos interessados (stakeholders). Diante da colocação de que a organização depara-se
com uma série de contradições relacionadas à eficácia, a partir das quais ela é entendida em
certo momento como eficaz e noutros como ineficaz, percebe-se que as organizações
produzem diferentes resultados (HALL, 2006).
Scott (2003) entende também que os resultados (outcomes) são os indicadores mais
essenciais da eficácia organizacional e os define em contraposição com os outputs da seguinte
forma:
Outcomes são resultados. Organizações produzem outputs – bens e serviços
– sobre as características dos quais elas tipicamente exercem controle
considerável, mas outcomes representam o produto conjunto do desempenho
organizacional e resposta ambiental. O cirurgião pode atuar impecavelmente,
mas o paciente pode morrer; o automóvel pode ser bem feito, mas falhar na
venda. Nesse sentido, ambientes influenciam diretamente os outcomes
(SCOTT, 2003, p. 144. Tradução livre.).
Dessa forma, percebe-se a partir da definição de Scott (2003) a importância do
ambiente para a definição de resultados organizacionais, uma vez que eles não se relacionam
somente ao desenvolvimento correto das atividades organizacionais e à obtenção de

1
A abordagem relacionada à estratégia como prática e o papel da comunicação organizacional desenvolvida aqui
está pautada em trabalho desenvolvido por Natália Rese, Diego Iturriet Dias Canhada e Adriana Casalli,
submetido ao EnEO 2008.
51
desempenhos positivos; os resultados (quanto tratados em termos de outcomes) referem-se a
todos os tipos de efeitos da atividade organizacional, relacionados à própria organização e
também ao ambiente, que é visto como influenciado e influenciador dos resultados
organizacionais (SCOTT, 2003).
Quando se fala especificamente da perspectiva da estratégia como prática,
Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) afirmam que muitas vezes os estudos empreendidos
nessa perspectiva acabam por perder sua vinculação com os resultados, questão considerada
como um desafio para as pesquisas empreendidas sob a perspectiva da estratégia como prática
e que deve ser levada a sério, a fim de se criar credibilidade para os estudos desenvolvidos
sob essa perspectiva, uma vez que a tradição no campo está pautada na tradição econômica.
Isso não significa que as pesquisas relacionadas à perspectiva da estratégia como prática
tenham de necessariamente adotar as mesmas medidas para resultados da tradição econômica
nas pesquisas em estratégia, mas o desafio de considerá-los é muito relevante para esta
perspectiva, assim explicitado pelos autores:
Resultados para a pesquisa da estratégia como prática precisam estar
relacionados à definição de estratégia como fluxo de atividade situado,
socialmente realizado, que apresenta resultados conseqüentes para a direção
e/ou sobrevivência do grupo, organização ou setor [Figura 7, p. 40]. O
objetivo da pesquisa em strategizing é, assim, plausibilidade para explicar
alguns aspectos da atividade que podem ser considerados conseqüentes para
o nível de análise escolhido. Embora alguns resultados sejam distintos
daqueles resultados no nível da empresa que caracterizam tipicamente a
maioria das pesquisas de estratégia, freqüentemente quando se lida com
situações e ações em um nível mais micro, eles não são resultados
conseqüentes para a pesquisa do strategizing. (…) Assim, os resultados para
os estudos de strategizing, em vez de focar no nível da empresa, podem ser
explicações sobre alguns aspectos da construção da atividade que é um
‘micro-mecanismo’ na transformação da atividade estratégica como um todo
(JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007, p. 14-18. Tradução livre.).
Dessa forma, percebe-se que os estudos da estratégia como prática compreendem o
conceito de resultados de uma forma ampla – relacionado ao entendimento de outcome
apresentado por Scott (2003). O resultado que será considerado como conseqüência em uma
pesquisa é aquele que produz impactos e possui relações relevantes, portanto, com o recorte
de pesquisa realizado.
52
2.5 CONTEXTO DA BASE EMPÍRICA: A UNIVERSIDADE NO BRASIL
A base empírica do estudo que aqui se apresenta situa-se no contexto do ensino
superior brasileiro. Assim, faz-se necessário que se entenda e se situe o debate em torno desse
nível de ensino.
O surgimento das universidades no Brasil deu-se de forma tardia (MENDONÇA,
2000), iniciando em 1920 com o nascimento da universidade Federal do Rio de Janeiro. A
educação básica, por sua vez já se iniciou no Brasil colônia, a cargo dos jesuítas, “vis a vis à
modernidade européia, estabeleceu-se a herança cultural ibérica através da Igreja Católica
com a chegada da Ordem dos Jesuítas em 1549, que chegou sob a inspiração da Contra-
Reforma, foi responsável pela catequização indígena e pela educação da elite colonizadora”
(OLIVEIRA, 2004, p. 946). Mesmo com a expulsão dos jesuítas do Brasil nos idos de 1700 a
sua forma de ensino e as características da educação jesuítica permaneceram no Brasil: “os
mesmos objetivos, os mesmos métodos, a permanência do apelo à autoridade e à disciplina; o
combate à originalidade, à iniciativa e à criação individual” (OLIVEIRA, 2004, p. 947),
características que se perpetuam nos processos de ensino-aprendizagem no Brasil até hoje e
que ainda são motivos de debates e discussões (ANASTASIOU e ALVES, 2005).
Mas, foi a partir de 1808, com a chegada da família real portuguesa às terras
brasileiras, que começaram a florescer escolas de ensino superior no Brasil sem, no entanto,
constituírem-se em universidades, entendidas da seguinte forma:
As universidades sempre representaram apenas parte do que poderíamos
denominar, de modo amplo, ensino superior (…). Ao decidirmos partir das
universidades propriamente ditas – sem por isso limitarmo-nos estritamente
a elas –, adotamos uma perspectiva particular. Se aceitarmos atribuir à
palavra universidade o sentido preciso de “comunidade (mais ou menos)
autônoma de mestres e alunos reunidos para assegurar o ensino de um
determinado número de disciplinas em um nível superior”, parece claro que
tal instituição é uma criação específica da civilização ocidental, nascida na
Itália, na França e na Inglaterra no início do século XIII. Esse modelo, pelas
vicissitudes múltiplas, perdurou até hoje (apesar da persistência, não menos
duradoura, de formas de ensino superior diferentes ou alternativas) e
disseminou-se por toda a Europa e, a partir do século XVI, sobretudo dos
séculos XIX e XX, por todos os continentes. Ele tornou-se o elemento
central dos sistemas de ensino superior e mesmo as instituições não-
universitárias situam-se, em certa medida, em relação a ele, em situação de
complementaridade ou de concorrência mais ou menos notória. (CHARLES
e VERGER, 1996 apud MENDONÇA, 2000).
Desse excerto depreende-se que a universidade, enquanto conceito, tem um caráter
autônomo, imprescindível para a construção do “livre pensar”, do conhecimento isento de
qualquer caráter vinculado a alguma força de dominação. Caracteriza-se também pela
53
convivência de diferentes áreas do conhecimento que se inter-relacionam ou apenas convivem
nesse ambiente de livre construção do conhecimento. Até 1808, no entanto, as universidades
não apresentavam indícios de existência no Brasil. A partir desse momento histórico, da
chegada da família real no Brasil, começaram a surgir alguns movimentos de implantação do
ensino superior no Brasil, e em 1808, na Bahia, a criação de um curso de Cirurgia, Anatomia
e Obstetrícia (MENDONÇA, 2000).
Transferida a corte para o Rio de Janeiro, as instituições criadas por D. João
VI, no âmbito do que se pode chamar de ensino superior, estavam, na sua
grande maioria, diretamente articuladas à preocupação com a defesa militar
da colônia, tornada sede do governo português (…). Outros cursos foram
ainda criados, na Bahia e no Rio de Janeiro, todos eles marcados pela mesma
preocupação pragmática de criar uma infra-estrutura que garantisse a
sobrevivência da Corte na colônia, tornada Reino-Unido (…). Além do
caráter pragmático que marcava a quase totalidade dessas iniciativas, cumpre
destacar também seu caráter laico e estatal. De fato, essas instituições foram
criadas por iniciativa da corte portuguesa, e foram por ela mantidas,
continuando a sê-lo pelos governos imperiais, após a nossa independência
política (MENDONÇA, 2000, p. 134).
Percebe-se, diante do exposto, que desde o início da colonização do Brasil a questão
da educação no país assumiu um papel à serviço do estado e de suas preocupações. O
surgimento tardio das universidades brasileiras deve-se a esse caráter e também à questão de
que a educação era um privilégio das elites, com condições econômicas de enviarem seus
filhos às universidades européias para desenvolverem seus estudos de nível superior.
Mendonça (2000) apresenta que até o início do século XIX foi a universidade de Coimbra que
formou a maior parte dos jovens da elite brasileira, sendo que nela, até esse período,
graduaram-se mais de 2.500 jovens nascidos no Brasil. Não é de se admirar que todas as
iniciativas de criação de universidades no Brasil esbarraram nos interesses das elites e
também nas recusas governamentais de regulamentar e apoiar os projetos de universidades no
Brasil. Além disso, mesmo as propostas de criação das universidades no Brasil tinham um
caráter estranho ao conceito de universidade colocado no começo e vinculado à concepção
daquelas que nasceram na Europa, considerando que se buscava com a universidade um
controle do ensino superior, uma padronização do que fosse ensinado, bem ao contrário da
liberdade e livre pensar vinculado à instituição em discussão (MENDONÇA, 2000). A própria
criação da primeira universidade no Brasil – a universidade do Brasil, mais tarde denominada
Universidade Federal do Rio de Janeiro – seguiu esta lógica:
É significativo que, ao criar, em 1937, a Universidade do Brasil, Capanema
viria a atribuir-lhe justamente a finalidade, talvez primordial, de controle e
padronização do ensino superior no país. Tal questão remete, por um lado, à
54
discussão sobre as finalidades dessa instituição e, por outro, para a
complicada relação entre a universidade e o Estado, tendo em vista que uma
de suas demandas essenciais, como instituição historicamente constituída,
tem sido a de autonomia, particularmente acadêmica, com relação às demais
instituições da sociedade e especificamente com relação ao Estado
(MENDONÇA, 2000, p. 135).
Essa influência do Estado na constituição das universidades no Brasil influenciou em
muito a trajetória dessas instituições, desde sua criação, sua consolidação, seus momentos de
debates e reformas (como na década de 60, com o movimento estudantil e a repressão da
ditadura às manifestações democráticas lideradas pelos estudantes) até hoje, quando se assiste
ao Estado assumindo um papel fundamental até mesmo perante as instituições Universitárias
de caráter privado.
Dado o caráter conflituoso da criação das universidades no Brasil, a partir do
surgimento da universidade do Brasil a consolidação do modelo de universidades brasileiras
(no período de 1920 a 1940) deu-se como um “conglomerado de escolas profissionalizantes”
com o fim de
(…) formar trabalhadores intelectuais para os quadros técnicos da
burocracia estatal, nas áreas de educação e cultura e, particularmente,
professores para o ensino secundário. A pesquisa aparecia claramente como
um objetivo secundário, subordinado (MENDONÇA, 2000, p. 141).
Dessa forma, as universidades continuam a atender os objetivos pragmáticos do
Estado, nesse período, servindo como instrumentos para a profissionalização dos burocratas
estatais, que crescia com a consolidação da república do Brasil.
No período subseqüente (1950 a 1960) foi o período de expansão das universidades no
país, que segundo Mendonça (2000), passaram de um número de 5 (1945) para 37 em 1964,
mas que ainda mantêm a característica de agregação de escolas profissionalizantes. Surge
nesse período também uma grande discussão a respeito da necessidade de uma reforma
universitária, questionando-se o tecnicismo pragmático das universidades brasileiras. Todas
essas discussões e manifestações culminam na Reforma de 1968, que para muitos teve um
caráter essencialmente técnico, relacionado a uma reforma na parte organizacional e
administrativa da universidade sem, no entanto, atingir as questões mais profundas do debate,
relacionadas ao caráter pedagógico. Mendonça (2000) a esse respeito manifesta-se da seguinte
maneira:
A meu ver, não se pode negar que, mesmo considerando que várias das
soluções pedagógico-administrativas incorporadas à Reforma de 1968
tenham emergido do momento anterior a 1964, há um evidente deslocamento
do eixo em torno do qual se articula a reforma da universidade. Este se
55
transfere do âmbito da reflexão sobre a sua responsabilidade social e política
num projeto global de desenvolvimento, para o âmbito da racionalidade
administrativa e econômica, num contexto marcadamente repressivo
(MENDONÇA, 2000, p. 147).
Percebe-se, portanto, que apesar do caráter de reforma descrito no excerto acima,
Mendonça (2000) destaca um aspecto importante da história das universidades no Brasil: a
influência da repressão da ditadura no desenvolvimento do projeto universitário, o que reitera
a falta de independência da universidade em relação ao Estado, mesmo em um momento em
que se busca a consolidação de uma identidade mais autônoma, independente e realmente
universitária. O período da ditadura freou relevantemente o processo de conquistas das
universidades rumo à autonomia, mesmo considerando que o papel do movimento estudantil
– fomentado no ambiente das universidades – teve fundamental importância no contexto
político de discussão democrática no Brasil no período ditatorial.
Restaurado o processo democrático no Brasil no final da década de 80, aos poucos a
questão das universidades voltou ao debate, principalmente a partir do momento de
consolidação democrática no Governo Fernando Henrique, continuando no Governo Lula.
Sem a intenção de discutir o mérito das políticas educacionais dos dois governos, acredita-se
que, independente de qualquer posição tomada a esse respeito, a partir do momento citado
começa-se a pensar novamente na educação no Brasil, no ensino superior e no papel das
universidades, veja-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, vigente desde 1996 e que
desencadeou esse processo de mudança na educação brasileira. Apesar das iniciativas e do
reconhecimento de sua importância, Mendonça (2000, p. 149) coloca que “Mais uma vez se
pretende uma mudança de cima para baixo, sem o indispensável envolvimento dos
verdadeiros atores, alunos e professores universitários”, o que evidencia o caráter que vem
acompanhando o desenvolvimento das universidades no Brasil de vinculação direta ao
Estado, comprometendo a sua autonomia.
O movimento de reforma desencadeado pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação
de 1996 vem sendo intensificado também pelas políticas de desenvolvimento da educação
adotadas no governo Lula, que procuram democratizar o acesso à educação superior, que
conforme já exposto por muito tempo esteve restrito à elite brasileira. Para cumprir este
objetivo o governo Lula vem desenvolvendo programas que possibilitem o aumento do
número de vagas nas Instituições Federais de Ensino, bem como desenvolvendo políticas de
parcerias e financiamentos do ensino superior em Instituições Privadas.
Antes de seguir na discussão sobre as políticas públicas para o desenvolvimento do
ensino superior é importante compreender a distinção de Universidade e Centro Universitário,
56
diferença esta que é importante também para a compreensão do contexto de ensino público e
privado no Brasil:
O Estado estimulou ou induziu grande crescimento privado, que agora lhe
escapa ao controle. Há grave dificuldade para se constituir um sistema de
ensino superior completo = público + privado. O público sofre a dominância
do privado não só na quantidade de estudantes, mas na orientação que
imprime a todo o ensino superior. Os centros universitários exemplificam.
Provêm do decreto presidencial 2.207 (1997). Não constam da LDB. Foram
imaginados para o setor privado, visando reclassificar/desqualificar
instituições universitárias federais/estaduais. Era objetivo que as não-
suficientemente desenvolvidas em pós-graduação e pesquisa deixassem de
receber credenciamento universitário. Pós-avaliação seriam
"desclassificadas" como centros universitários. Era a versão nacional do
binômio norte-americano "universidade-ensino x universidade-pesquisa". Na
versão brasileira, a universidade de pesquisa = universidade. Já o centro
universitário = universidade-ensino. A concepção brasileira é que centros
universitários tenham autonomia, o que em todos os lugares deve ser atributo
da universidade (STROH, PENA-VEJA, NASCIMENTO, 2003, p. 12-13).
Os autores acrescentam que nenhuma universidade pública foi “desclassificada” para
centro universitário, conforme se tinha previsto, e essa classificação ficou para as instituições
privadas, pouco desenvolvidas em pesquisa e que não podem alcançar assim o status de
Universidade. Assim, as duas organizações aqui pesquisadas enquadram-se uma na
classificação de Universidade (federal, pública) e outra de Centro Universitário (confessional,
privada), por isto também é relevante compreender esta distinção.
Com vistas à expansão do número de vagas nas universidades Federais, o Governo
Lula criou o REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – que está em implantação desde o ano de 2007. O REUNI é assim
apresentado pelo Governo Federal:
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI, instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de
abril de 2007, ao definir como um dos seus objetivos dotar as universidades
federais das condições necessárias para ampliação do acesso e permanência
na educação superior, apresenta-se como uma das ações que consubstanciam
o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, lançado pelo Presidente
da República, em 24 de abril de 2007. Este programa pretende congregar
esforços para a consolidação de uma política nacional de expansão da
educação superior pública, pela qual o Ministério da Educação cumpre o
papel atribuído pelo Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001)
quando estabelece o provimento da oferta de educação superior para, pelo
menos, 30% dos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, até o final da década.
Assim, o REUNI tem como meta global a elevação gradual da taxa de
conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento
e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para
dezoito, ao final de cinco anos1, a contar do início de cada plano (…).Ao
lado da ampliação do acesso, com o melhor aproveitamento da estrutura
57
física e do aumento do qualificado contingente de recursos humanos
existente nas universidades federais, está também a preocupação de garantir
a qualidade da graduação da educação pública. Ela é fundamental para que
os diferentes percursos acadêmicos oferecidos possam levar à formação de
pessoas aptas a enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, em que a
aceleração do processo de conhecimento exige profissionais com formação
ampla e sólida. A educação superior, por outro lado, não deve se preocupar
apenas em formar recursos humanos para o mundo do trabalho, mas também
formar cidadãos com espírito crítico que possam contribuir para solução de
problemas cada vez mais complexos da vida pública. (BRASIL, 2007, p. 4).
Diante do excerto exposto, percebe-se que o Estado, por meio das políticas de
educação do Governo Lula, vem de certa maneira impondo algumas diretrizes para o
desenvolvimento da educação superior. Ressalta-se que apesar do descrito acima, o
documento consultado apresenta que o REUNI não traz prejuízo à autonomia universitária e
que ele deve ser implementado respeitando as características e a diversidade das
Universidades Federais brasileiras. De toda maneira, considera-se o projeto REUNI como
uma força vinda do ambiente e que condiciona as estratégias adotadas pelas Universidades
Federais e, conseqüentemente, por seus cursos. Percebe-se, portanto, diante da breve
descrição da trajetória das universidades brasileiras na história do país, que se perpetua o
caráter de vinculação das universidades ao Estado. O programa REUNI ainda estabelece
metas e indicadores para o desenvolvimento das Universidades Federais. As metas do
programa são: (1) taxa de conclusão média de noventa por cento nos cursos de graduação
presenciais; (2) relação de dezoito alunos de graduação por professor em cursos presenciais
(BRASIL, 2007, p. 5). Diante destas metas, o programa estabelece indicadores para mensurar
o seu cumprimento descrevendo no documento citado as fórmulas de cálculo de tais
indicadores.
Já com relação às políticas de democratização do acesso à educação superior que
atingem as Universidades Privadas, o Governo Lula criou dois programas que auxiliem no
alcance deste objetivo: o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o FIES (Fundo de
Financiamento ao Estudante do Ensino Superior). São programas que de certa forma também
fomentam a expansão do ensino superior no âmbito privado. O ProUni, segundo informações
do MEC, é assim descrito:
O ProUni - Programa Universidade para Todos tem como finalidade a
concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e
seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de educação
superior. Criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei
nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, oferece, em contrapartida, isenção de
alguns tributos àquelas instituições de ensino que aderem ao Programa.
Dirigido aos estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da rede
58
particular na condição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar
máxima de três salários mínimos, o ProUni conta com um sistema de seleção
informatizado e impessoal, que confere transparência e segurança ao
processo. Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no ENEM -
Exame Nacional do Ensino Médio conjugando-se, desse modo, inclusão à
qualidade e mérito dos estudantes com melhores desempenhos acadêmicos
(MEC, 2008:
http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=376
&Itemid=303).
O FIES, por sua vez, refere-se ao financiamento dos cursos de graduação e é assim
descrito pelo MEC:
O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES é um
programa do Ministério da Educação - MEC destinado a financiar a
graduação no Ensino Superior de estudantes que não têm condições de arcar
integralmente com os custos de sua formação. Para candidatar-se ao FIES, os
alunos devem estar regularmente matriculados em instituições não gratuitas,
cadastradas no Programa e com avaliação positiva nos processos conduzidos
pelo MEC. O FIES é operacionalizado pela Caixa Econômica Federal, e
atualmente é um dos Programas de Governo que mais utiliza sistemas
informatizados. Todas as operações do processo seletivo, iniciando-se pela
adesão das instituições de ensino, passando pela inscrição dos estudantes e
divulgação dos resultados e entrevistas, são realizados pela Internet. Isso
resulta em comodidade e facilidade para todos os seus participantes, além de
garantir a confiabilidade necessária a todo o processo. Os critérios de
seleção, impessoais e objetivos, trazem transparência ao Programa, que tem
como premissa atender aos estudantes com efetividade, destinando e
distribuindo os recursos de forma justa e impessoal, garantindo a prioridade
no atendimento aos estudantes de situação econômica menos privilegiada
(MEC, 2008:
http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=376
&Itemid=303).
Diante do exposto, percebe-se que atualmente as políticas públicas relacionadas à
educação superior atingem tanto as instituições públicas quanto as privadas, buscando-se a
democratização da educação, uma das metas do governo Lula. Essa situação levanta alguns
debates em relação ao entendimento da universidade como “instituição social diferenciada e
autônoma [que] só é possível em um Estado republicano e democrático” (CHAUÍ, 2003),
questionando a sua transformação de instituição social para organização, a partir do
reconhecimento de que a educação superior pode ser também tarefa do setor privado:
Essa localização da educação no setor de serviços não exclusivos do Estado
significou: a) que a educação deixou de ser concebida como um direito e
passou a ser considerada um serviço; b) que a educação deixou de ser
considerada um serviço público e passou a ser considerada um serviço que
pode ser privado ou privatizado. Mas não só isso. A reforma do Estado
definiu a universidade como uma organização social e não como uma
instituição social. Uma organização difere de uma instituição por definir-se
por uma prática social determinada de acordo com sua instrumentalidade:
59
está referida ao conjunto de meios (administrativos) particulares para
obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações articuladas às
idéias de reconhecimento externo e interno, e legitimidade interna e externa,
mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas idéias de eficácia
e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo
particular que a define. Por ser uma administração, é regida pelas idéias de
gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete discutir ou
questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no interior da luta de
classes, pois isso, que para a instituição social universitária é crucial, é, para
a organização, um dado de fato. Ela sabe (ou julga saber) por que, para que e
onde existe. A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe
que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade. Isso
significa que a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua
referência normativa e valorativa, enquanto a organização tem apenas a si
mesma como referência, num processo de competição com outras que
fixaram os mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição
se percebe inserida na divisão social e política e busca definir uma
universalidade (imaginária ou desejável) que lhe permita responder às
contradições, impostas pela divisão. Ao contrário, a organização pretende
gerir seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua
inserção num dos pólos da divisão social, e seu alvo não é responder às
contradições, e sim vencer a competição com seus supostos iguais (CHAUÍ,
2003, p. 24).
Coloca-se o excerto acima não com o objetivo de questionar a validade da educação de
caráter privado, mas com a intenção de compreender o contexto de discussões em que se
insere o estudo, e também possibilitar espectros de análises coerentes da realidade empírica
que se busca. A realidade que se apresenta à nossa análise é uma realidade em que público e
privado atuam na educação, em que políticas públicas acolhem os dois e os enxergam como
formas possíveis a serviço de uma democratização da educação. Talvez, diante de tudo que se
descreveu desde o início, a realidade que hoje se apresenta das Universidades Públicas e
Privadas é apenas uma intensificação de todo o processo histórico vivido até aqui. Talvez, as
universidades brasileiras sempre foram organizações e não chegaram a ser instituições, com
esse caráter de universalidade, visto que sempre foram motivadas por uma caráter de suprir
necessidades do Estado e acabaram por se constituir como uma reunião de cursos
profissionalizantes (MENDONÇA, 2003). Diante disto, Chauí (2003) possibilita um espectro
de compreensão interessante quando coloca a discussão apresentada acima.
Esta pesquisa situa-se dentro da área de estudo de estratégia e organizações, vinculada
ao Curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal do Paraná. Logo, analisa-se
a universidade como dotada desse caráter organizacional, composta por peculiaridades que a
diferenciam de qualquer outra organização. Por isso também se empreende toda essa
discussão sobre os aspectos contextuais do campo empírico. Faz-se necessário ainda destacar
60
algumas características essenciais das universidades que as situam como peculiares, diante de
todas as demais organizações:
A busca do conhecimento, atividade essencial à universidade, que conduz a
visões alternativas do mundo, não pode existir em sistemas monolíticos.
Precisa de sistemas dotados de fissuras e falhas, o que seria inadmissível em
outras instituições, como as empresariais, as militares, as religiosas e as
simplesmente administrativas. A propósito, a incerteza, mais do que a
verdade, caracteriza as fronteiras do conhecimento (…). Clark chama a
atenção para a crença muito comum de que qualquer organização deve ter
unidade de comando que, por sua vez, deve fazer escolhas racionais entre
um conjunto de alternativas; em seguida deve estabelecer prioridades e as
executar. Essa crença é especialmente danosa quando aplicada às
universidades. Clark assume a concepção weberiana de que as sociedades
modernas estão marcadas pela luta pelo poder em torno de valores
inconciliáveis e sobre quem deve arcar com os custos. Essa luta é cada vez
mais transferida para dentro das organizações, inclusive das universidades. O
monopólio do poder, qualquer que seja seu detentor, representa uma séria
ameaça para a universidade, organização onde convivem profissionais
especializados em distintos campos, que se ignoram. É por isso que a
imagem que Clark considera mais adequada para a instituição universitária é
a da débil articulação entre escolas, faculdades, institutos, departamentos e
cátedras, que se comportam como pequenos estados soberanos, fragilmente
ligados numa federação. Contra a ideologia da integração, o autor faz uma
aberta apologia da desordem, assumindo como sua a metáfora da
universidade como uma anarquia organizada. As universidades precisariam
de um certo grau de desordem que permitisse aos indivíduos e aos grupos de
pesquisadores desenvolverem atividades autônomas e estabelecerem entre si
intercâmbios formais e informais, conseguindo, assim, uma eficácia que as
instituições dotadas de alto grau de controles formais não são capazes. As
universidades são eficazes quando capazes de promover as iniciativas e
ampliar as opções dos distintos e conflitivos grupos profissionais que fazem
parte delas. É a maneira que encontram de maximizar suas próprias
possibilidades (CUNHA, 1999, p. 91).
Para Cunha (1999), a reforma de 1968, ainda em vigor no Brasil, é muito contrária à
concepção descrita por ele no excerto acima. Perceba-se que na concepção descrita acima,
ainda que o autor proponha uma “articulação débil” entre os “organismos” da universidade,
ele afirma a necessidade de intercâmbios formais e informais entre eles capazes de promover
uma eficácia dentro dessa atuação. As “fissuras” e “falhas” são importantes dentro das
universidades de forma que se situe dentro da universidade a diversidade de posições e o
espaço para o debate, a discordância e a coexistência de idéias ocorra nesse ambiente
organizacional tão peculiar.
Por outro lado, para Pereira e Andrade (2005),
(…) o campo educacional é um espaço estruturado de relações em que os
agentes disputam os capitais específicos em jogo. Assim como os demais
campos, o educacional tem suas próprias normas, valores, interesses,
61
instituições, órgãos de divulgação, instâncias de consagração, hierarquias de
legitimidade e critérios de divisão social. Possui mecanismos internos por
meio dos quais, segundo uma lógica tão mais específica quanto mais
autônoma, os agentes a ele vinculados obtêm lucros, embora não
necessariamente econômicos, sofrem sanções, concorrem, complementam-
se, coagem uns aos outros, fazem e desfazem alianças e pactos, duradouros
ou não (…). Todos os lances estratégicos (carreira, postos de trabalho, linhas
e grupos de pesquisa, objetos de estudo, conversões de áreas, assim como
veículos de publicação entre outros) são orientados, conquanto não de forma
inteiramente racional, para a maximização dos rendimentos materiais e
simbólicos proporcionados pelo campo (PEREIRA e ANDRADE, 2005, p.
1395).
Isso evidencia outra visão e características peculiares do campo empírico em estudo
que fornecem bases para a tessitura do referencial de compreensão da complexidade do
contexto das universidades.
O debate acerca do papel e das características das universidades e de como o
desenvolvimento delas vem ocorrendo no Brasil não é pequeno. A educação é uma das
políticas públicas mais polêmicas e relevantes no debate atual sobre o desenvolvimento do
país. No entanto, as poucas linhas escritas acima procuram situar em termos contextuais a
questão, sem aprofundar, visto que não é esse o objetivo do presente estudo. Por outro lado,
essa teia contextual é de fundamental importância para que se compreenda a realidade
empírica em questão e para que se possa analisar aquilo que se depreenderá do real por meio
dos dados.
2.5.1 O estudo da universidade como organização escolar
Apresentadas as linhas acima evidenciando, ainda que de forma superficial, a trajetória
da história das universidades no Brasil, percebe-se a complexidade contextual do campo
empírico. Não obstante, as universidades enquanto organizações também apresentam
características peculiares e que as diferenciam muito das demais organizações. Não é
privilégio da área da administração pensar e discutir a administração escolar, fato que exige
que se contextualize essa interface administração-educação. De forma geral, os estudos sob a
ótica da Educação que abordam a questão da Administração da Educação questionam em
grande parte a visão tradicional taylorista da administração e que de outra forma aproximam-
se da abordagem utilizada aqui para a análise das organizações da estratégia como prática
social.
De início, acredita-se relevante destacar o entendimento conceitual que se tem da
organização escolar,
62
entendida esta como um objeto sociológico. É a conceptualização da escola
como um sistema complexo de comportamentos humanos organizados que
permite excluir duas visões redutoras: a escola encarada como agregado
biológico, ou a escola reduzida à sua dimensão e às suas fronteiras físicas (o
terreno delimitado pela cerca e os edifícios). Encarada a escola como uma
realidade compósita de acções desenvolvida pelos actores sociais, pretende-
se apreender o modo de articulação e estruturação destas acções (…)”
(CANÁRIO, 1996, p. 127).
O exposto revela que se entende, no presente estudo, a organização escolar a partir do
ponto de vista de suas práticas, as quais se constituem na unidade de análise da pesquisa,
conforme será discutido no capítulo 3, da metodologia (p. 73).
A educação, por sua vez é compreendida aqui de acordo com o que coloca Brandão
(2002):
Desde que a sociedade é percebida como grupo humano organizado, com
uma certa identidade e história, consegue-se identificar, concomitantemente,
uma forma de agir coletiva objetivando desenvolver, nas crianças e jovens,
as habilidades e conhecimentos que facilitem a adaptação às práticas
socioculturais e o entrosamento como restante do grupo. Esse processo de
direção e formação social dos grupos mais jovens, nos mais variados espaços
e tempos sociais, constitui uma prática social universalmente caracterizada
como educação” (BRANDÃO, 2002, p. 73-74).
Novamente, a base conceitual do entendimento de educação coloca-a como uma
prática social, socialmente construída e que permite a socialização (secundária) dos sujeitos
diante da realidade social em que se inserem (BERGER e LUCKMANN, 2003). Posicionados
os entendimentos conceituais a respeito de educação e o espaço da educação, a organização
escolar, parte-se para a discussão sobre a área específica da Administração da Educação,
necessária para a compreensão do campo empírico da pesquisa.
A Administração da Educação, no campo dos estudos educacionais, configura-se
como uma disciplina específica e que se consolida no Brasil com a criação de um periódico
que veicula estudos voltados para este campo, a Revista Brasileira de Administração da
Educação. Embora por muito tempo marginalizada diante de disciplinas como História da
Educação, Sociologia da Educação e Didática, e também sem produções significativas que a
fizessem figurar como disciplina relevante, a Administração da Educação, a partir dos anos de
1980, começou a tornar-se importante, principalmente pelo surgimento da Revista Brasileira
de Administração da Educação (PEREIRA e ANDRADE, 2005).
Com relação à disciplina e sua vinculação ao campo específico da administração
Pereira e Andrade (2005) afirmam que:
63
Pouco prestigiosa e praticamente marginal no âmbito das faculdades de
economia e administração, a produção em Administração da Educação no
Brasil resulta, em geral, do trabalho de agentes de reduzidos capitais
culturais (…). Disso decorre que significativa parcela da produção é feita
sob a tônica quer de enfoques técnicos e quantitativos, quer de prescrições
práticas advindas das teorias da administração de empresas (…) (PEREIRA
e ANDRADE, 2005, p. 1406).
Esclarece-se a partir do excerto acima que ao falar de capital cultural os autores
referem-se aos agentes que buscam a acumulação do capital científico (inclinados ao
desenvolvimento teórico) e aos agentes que buscam a acumulação do capital institucional
(inclinados ao desenvolvimento prático). Diante disto, Pereira e Andrade (2005) criticam
duramente os trabalhos produzidos na área de administração e economia sobre a
Administração da Educação, dotando-os de caráter superficial e irrelevante. Deve-se
reconhecer, no entanto, que as ciências da administração por muito tempo sofreram (a ainda
sofrem) dessa superficialidade, conseqüência fundamental da baixa taxa de pesquisas
desenvolvidas no Brasil e do foco na formação de administradores dentro de uma lógica
tecnicista e desvinculada do processo de construção científica (NICOLINI, 2003). Assim, se
por um lado dentro da área da Educação a disciplina de Administração da Educação não era
de reconhecida importância, também não dava conta dela a área da Administração. Não se
pode afirmar, contudo, que atualmente a Administração preocupe-se com a área da
Administração da Educação (exceto com alguns trabalhos pontuais), mas percebe-se um
movimento que inicia um pensar sobre o próprio ensino de administração, principalmente
com o surgimento de uma área específica, em 2001, no EnANPAD, sobre Ensino e Pesquisa
em Administração e Contabilidade. Acredita-se ainda que as abordagens para entender
organizações que vêm sendo estudadas, fundadas em diferentes abordagens da sociologia,
podem permitir à área da Administração uma compreensão maior e possível da Administração
da Educação e ela se apresenta como uma área desafiadora para os estudos organizacionais,
sob o ponto de vista do presente estudo.
Tratar do campo da educação não é uma tarefa fácil, principalmente porque a
educação enquanto ciência sofre influências das mais diferentes ciências sociais (sociologia,
filosofia, psicologia etc.) – talvez aí uma aproximação com a administração, que hoje é
entendida como dependente da compreensão vinculada a diferentes campos da ciência.
Aventurar-se por este campo e ousar tentar compreendê-lo exige, de início, que se façam
escolhas fundamentais, em relação à epistemologia que orientará então as escolhas teóricas
rumo a uma coerência de análise. Posto que o presente estudo parte dos estudos
organizacionais e da abordagem teórica da estratégia como prática para delinear seu suporte
64
teórico de análise com vistas ao cumprimento dos objetivos do trabalho, as escolhas para
contextualizar o campo de investigação empírica devem ser coerentes com todo o quadro
desenhado desde o início da discussão teórica. Dessa maneira entende-se, corroborando todo
o delineado até aqui sobre a estratégia como prática, que,
De um ponto de vista teórico, a consideração da organização-escola de
forma isolada resulta em análises atomizadas, insularizadas, trans-históricas,
como se da busca de universais organizacionais se tratasse. O seu tratamento
enquanto mera colecção de actores e de práticas retira-lhe unidade e
dimensão organizacional referenciável, até em termos interpretativos. Por
outro lado, a subjugação total da escola à imposição normativa, levada a
cabo pelo Estado e pelos sistemas globais de controlo, transforma-a num
campo de reprodução, condenando os actores e despojando-os das suas
margens de autonomia e liberdade e das suas capacidades estratégicas
(LIMA, 1996, p. 31).
Considera-se, portanto que para uma possível análise teórica, metodológica
epistemologicamente coerente faz-se necessário considerar a escola a partir de suas práticas,
imersas em um contexto individual, organizacional e institucional, conforme modelado na
Figura 10 (p. 73) e também nos níveis micro e macro das práticas, fugindo da visão
tradicional que o campo da Administração da Educação possui da área específica da
administração. Gomes (1996) afirma que a aproximação da Administração Escolar da área da
administração contribuiu para a “afirmação institucional da disciplina” (GOMES, 1996, p.
93), porém trouxe de lá a influência normativa e a visão da possibilidade da existência de uma
melhor forma de administrar a educação. Dessa forma,
O aprofundamento das tecnologias e a importação de conceitos de gestão
empresarial têm vindo a suscitar na escola o princípio da exclusão das
hierarquias caracterizado pelo separatismo das identidades. Em especial, o
planeamento estratégico age a partir de quatro grandes separações artificiais
do trabalho: o pensamento é separado da acção; o estratégico separado do
operacional; os pensadores separados dos concretizadores; os estrategos
separados das estratégias. Acredita-se que para ver longe é preciso ver de
cima. Porém, a aceleração histórica com que o têm feito no universo
empresarial trivializou e banalizou de tal modo as hierarquias e os
especialistas que tornaram mais fluidas as próprias definições profissionais
(GOMES, 1996, p. 95).
Diante do exposto, acredita-se que a colocação de Gomes (1996) é pertinente,
principalmente quando questiona a forma de separação entre pensamento e ação, que ainda é a
forma dominante de conduzir a administração. Reafirma-se, no entanto, que a perspectiva de
análise adotada aqui questiona também essa forma de “separatismo das identidades”,
conforme já se delineou desde o início.
65
Tecidas as linhas acima, o presente estudo entende a organização escolar como um
espaço socialmente construído por sujeitos ativos que desenvolvem a prática social da
educação. Esse espaço da organização escolar constitui-se em uma organização, que pode ser
o locus de investigação para os estudos organizacionais. Com o foco de compreender as
práticas desenvolvidas por esses sujeitos (entendidos aqui como praticantes) na organização
estratégica dos cursos de graduação em administração em termos de formação do seu
conteúdo estratégico, entende-se a necessidade de ultrapassar a visão técnico-funcional que as
abordagens tradicionais da administração ensejam, partindo para a compreensão do campo
empírico em questão a partir do olhar sociológico (WHITTINGTON, 2007) e das práticas
sociais existentes nesses espaços.
2.5.2 Contextualizando os estudos empreendidos sobre os cursos de
graduação em administração
Para desenvolver a contextualização empreendeu-se uma pesquisa bibliográfica dos
artigos científicos publicados a esse respeito nos Anais de Congressos da ANPAD e nos
periódicos Qualis A do Brasil a fim de se buscar compreender como o assunto vem sendo
tratado pelos pesquisadores. A partir do levantamento de estudos já publicados sobre o ensino
de graduação em administração percebe-se que a partir do surgimento de uma área exclusiva
para estudos de Ensino em Administração na ANPAD (em 2001) houve maior destaque para
os estudos dessa área, o que reflete também conseqüências de mudanças legais na Educação
Superior brasileira. Também a ANPAD abriu um fórum específico para a discussão da
questão do ensino, com a realização da primeira edição do EnEPQ, em 2007, que é um
encontro específico para discutir as questões do ensino e pesquisa em Administração e
Contabilidade. No entanto, pode-se perceber que a maioria dos estudos ainda trata de maneira
superficial a questão, não aprofundando muito nas questões educacionais e pedagógicas que
permeiam o ensino de graduação em administração. Percebe-se uma grande quantidade de
pesquisas pautadas em estudos de caso meramente descritivos, sem uma análise mais
profunda de forma a permitir uma reflexão maior sobre o assunto.
Diante dessas pesquisas pôde-se constatar a predominância de algumas categorias de
trabalhos apresentados: (1) estratégia organizacional dos cursos, apresentando estudos
sobre o planejamento estratégico dos cursos, mudanças estratégicas dos cursos acompanhando
principalmente as modificações legais ocorridas na legislação de ensino superior; (2)
organização curricular dos curso, tratando de mudanças na grade curricular dos cursos, no
66
projeto pedagógico, utilizando-se para isso fundamentalmente experiências de casos
específicos e um destaque especial para a abordagem das competências na organização dos
projetos pedagógicos dos cursos; (3) experiências de ensino de cursos (casos), descrevendo
casos específicos, na maioria considerados de sucesso, sobre as mais diferentes experiências
implantadas nos cursos de graduação em administração; (4) formação dos docentes dos
cursos, discutindo as práticas docentes, a própria questão da formação do docente e o papel
do docente no ensino de graduação em administração; (5) contexto dos cursos de graduação
em administração, refletindo fundamentalmente sobre a questão da formação do
administrador diante das mudanças e exigências do contexto de mercado, das mudanças de
políticas e leis relacionadas ao curso, da trajetória do curso de administração adotando
algumas vezes uma perspectiva histórica e questionando pontos sobre como os cursos
conduzem a formação do administrador; (6) estudos sobre o discente nos cursos,
apresentando desde pesquisas de satisfação do aluno, envolvimento com o curso, motivações
com o curso e a carreira, avaliações do ponto de vista do docente sobre o ensino de
administração até motivações para escolha do curso de graduação; (7) abordagens teóricas
específicas aplicadas ao ensino, discutindo abordagens teóricas capazes de direcionar a
formação dos alunos, a forma de conduzir as aulas, o conteúdo das disciplinas e a estrutura
curricular, por exemplo, a pedagogia crítica na formação do administrador, a abordagem da
pragmática da linguagem pautando a condução da formação e outras escolhas teóricas que
acabam por influenciar a forma como o docente/pesquisador enxerga a condução da formação
do administrador; (8) estudos sobre disciplinas específicas dos cursos, discutindo a
importância de determinada disciplina, formas de conduzi-las e seu papel na formação do
administrador, com foco destacado para as disciplinas de empreendedorismo e ética; (9)
metodologias de ensino, discutindo questões de como conduzir em sala de aula a
aprendizagem, desde a utilização de recursos estéticos, literários até formas de utilizar casos
no ensino de administração. Com relação a essa última categoria, nas pesquisas desenvolvidas
nas fontes já citadas de pesquisas no Brasil percebeu-se um predomínio da discussão dos
estudos de caso como metodologia de ensino, enquanto nas pesquisas em periódicos
internacionais percebe-se uma discussão sobre a aprendizagem baseada em problemas, que
exige do aluno um desenvolvimento maior da teoria e da prática concomitantemente.
Apesar das diferentes categorias de estudo acima listadas, que não esgotam os estudos
existentes sobre os cursos de graduação em administração, percebe-se que pouco se trata do
curso enquanto uma organização e quando se faz, geralmente vinculam-se a casos de
implantação de planejamento estratégico e de ferramentas para aprimorar a capacidade
67
administrativa dos cursos, mas dificilmente se faz uma análise com profundidade da
organização em si. Outra característica dos estudos, embora com exceções, é que tratam muito
superficialmente das questões sem empreender uma análise mais profunda que extrapole a
simples descrição de um caso, sem muitas vezes se conseguir vincular a base teórica
apresentada à discussão e aos resultados. Isso, de certa maneira, reflete as fragilidades dos
cursos de administração, novos na realidade brasileira (a regulamentação dos cursos pelo
Conselho Federal de Educação veio em 1966) e que nasceram e se perpetuam com
características marcantes: a desvinculação do ensino da pesquisa e a dependência da
“importação” do conhecimento dos países estrangeiros. Nicolini (2003) coloca o seguinte
sobre essa dependência do conhecimento estrangeiro:
Tal dependência pode ser creditada, também, à falta de caráter investigativo
no desenvolvimento das ciências administrativas no país. Em instituições
universitárias onde se desenvolvem pesquisas, sedimenta-se um
conhecimento que é essencialmente dinâmico, que acrescenta, desenvolve-se
e adapta-se às condições socioeconômico-culturais desiguais, a partir da
revelação de seus mecanismos e de como manuseá-los. Em instituições onde
o ensino é a única atividade, o conhecimento administrativo torna-se rígido e
estático: rígido pois a inexistência da pesquisa torna seus mecanismos
desconhecidos e não permite ajustamentos, e estático porque só se torna
possível a reprodução dos conceitos. Registre-se que a expansão do ensino
de Administração se fez primordialmente por meio de instituições desse tipo
(NICOLINI, 2003, p. 53).
Esse crescimento desvinculado da pesquisa também leva a uma falta de reflexão sobre
o próprio ensino de administração, que desde 1966, quando da regulamentação dos cursos de
administração pelo Conselho Feral de Educação, parecem ter mudado muito pouco, seguindo
ainda hoje a divisão cartesiana de grupos de matérias, sem que haja uma inter-relação entre
elas que permitam a compreensão do complexo que é a organização (NICOLINI, 2003).
Resultado disso também são os inúmeros descontentamentos com os cursos de graduação em
administração, que levam a uma alta taxa de desistência, à proliferação de “pesquisas de
satisfação” dos alunos que foram verificadas nos levantamentos da produção científica
publicada nos meios de divulgação nacionais. Nicolini (2003) coloca ainda que os cursos de
administração mais se parecem com fábricas de administradores do que com cursos de
graduação, afirmando que:
Todos esses argumentos reforçam a impressão de que o ensino de
Administração terminou parecido com uma fábrica. Cada professor entra em
sala para lecionar sua disciplina, de forma estanque, dissociada das outras
existentes. Tal como um operário, ministra a matéria como se montasse no
conjunto (o aluno) a peça de sua responsabilidade. Peça que nem sempre se
encaixa, pois a fragmentação e o estudo cada vez mais aprofundado e isolado
68
vão acabar dificultando, para o aluno, a visualização do todo administrativo
(NICOLINI, 2003, p. 50).
Nicolini (2003), em sua análise, utiliza-se de argumentos pautados em pesquisas feitas
em documentos que explicam a origem dos cursos de administração e sua trajetória ao longo
do tempo, focando sua argumentação no fato de que a própria regulamentação do curso pelo
Conselho Federal de Educação já conduziu o processo a esse resultado tão questionado dos
cursos que se observa hoje. Ao mesmo tempo Silva e Fischer (2008) investigam a trajetória
curricular dos cursos de graduação em administração procurando investigar as mudanças
ocorridas nos currículos a partir das mudanças legais. A partir desse propósito as
pesquisadoras concluem que as organizações pesquisadas por elas empreendem mudanças nos
currículos a partir das mudanças legais, mas atribuem à legislação um caráter muito mais
rígido do que ela realmente tem, mostrando-se muito similares umas às outras e apresentando
uma reduzida capacidade de inovação. Dessa forma, concorda-se com Nicolini (2003) quando
coloca que:
O problema fundamental dos currículos não é a ordenação das matérias que
os compõem. É a inter-relação delas. A divisão do estudo e a fragmentação
do saber ganham contornos preocupantes quando os mecanismos de
interação entre as matérias são constantemente esquecidos, ignorados ou
mesmo desconhecidos (…). As abordagens inerentes a cada disciplina são
muitas vezes tão diferentes quanto os professores que as lecionam (…). O
estudante acaba prejudicado, porque o isolamento torna o aprendizado
penoso, confuso e pouco profícuo, e também os professores, que não se
beneficiam do contato com outros professores e pesquisadores (NICOLINI,
2003, p. 49).
Percebe-se, diante do exposto, a necessidade de se pensar no ensino de administração,
na sua discussão e aprofundamento, recorrendo não somente às teorias da administração, mas
também a abordagens que permitam uma discussão dos cursos de administração em termos
pedagógicos, em termos de educação.
2.5.3 Base legal-normativa do ensino superior
Esse estudo trata das práticas estratégicas das organizações de ensino superior com
relação à formação de seu conteúdo estratégico. Conforme as definições constitutiva e
operacional dessa categoria de análise (apresentada no capítulo 3, de metodologia, p.73),
entende-se conteúdo estratégico fundamentalmente a partir do que se estabelece no projeto
pedagógico do curso, que se efetiva com as disciplinas lá estabelecidas, com os objetivos do
curso e com o perfil do aluno que denota o resultado esperado como conteúdo estratégico
69
realizado. Dessa forma, as práticas estratégicas de formação desse conteúdo estão atreladas às
bases legal-normativas que regulamentam os cursos de graduação em administração.
Assim, toma-se como referência aqui a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996)
que estabelece os princípios, os objetivos, as funções e atribuições dos agentes envolvidos e
dispõe sobre as bases de todo o sistema de educação brasileiro, da educação básica ao ensino
superior. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi decretada pelo Presidente da
República em dezembro de 1996 e desde lá regula o funcionamento do sistema educacional
brasileiro.
Ao tratar especificamente dos cursos de graduação em administração, toma-se por
base a resolução n
o
4, de 13 de julho de 2006, do Conselho Nacional de Educação
(responsável por regular as Diretrizes Nacionais dos Cursos de Graduação, de forma
específica e individualizada) que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Administração, bacharelado (documento que consta no ANEXO A, p.283). As
Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para cada curso de graduação surgiram com a
LDB de 1996, com o objetivo de substituir os antigos “currículos mínimos”, até então em
vigor, e estabeleciam as disciplinas mínimas que um curso deveria oferecer. Entendem os
legisladores que estabelecer as Diretrizes em vez de um “currículo mínimo” torna os cursos
mais flexíveis e menos estáticos e/ou limitados:
No entender das orientações do Conselho Nacional de Educação as diretrizes
curriculares nacionais, além de se constituírem em parâmetros que devem ser
respeitados por todas as instituições de ensino superior do país, devem
também assegurar a flexibilidade e a qualidade da formação oferecida aos
alunos (MEC, Cadastro de denominações consolidadas para Cursos de
Graduação, 2008).
Dessa forma, a Lei de Diretrizes e Bases (1996) estabelece os parâmetros mais gerais
de toda educação do Brasil, inclusive do Ensino Superior, enquanto o Conselho Nacional de
Educação estabelece, por meio de sua resolução, as questões específicas relacionadas ao curso
de graduação em Administração. Portanto, as finalidades estabelecidas pela LDB para a
educação superior (segundo artigo 43), e que assim embasam as diretrizes de todos os cursos
superiores, são:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e
do pensamento reflexivo; / II - formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua; / III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação
e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem
70
e do meio em que vive; / IV - promover a divulgação de conhecimentos
culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e
comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de
comunicação; / V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural
e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os
conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração; / VI - estimular o
conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais
e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com
esta uma relação de reciprocidade; / VII - promover a extensão, aberta à
participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas
na instituição (LDB, 1996).
Tendo em vista essa base, o Conselho Nacional de Educação regulamenta os cursos de
graduação em Administração, afirmando que a organização do curso deve constar do projeto
pedagógico, o qual deve abranger o perfil do formando, as competências e habilidades, os
componentes curriculares, o estágio supervisionado obrigatório ao curso, as atividades
complementares, o sistema de avaliação e o projeto de iniciação científica. Estabelece ainda
os elementos estruturais do Projeto Pedagógico (conforme ANEXO A, p.283), de forma a
regular como deve ser a organização do curso. Além disso, apresenta as competências e
habilidades mínimas que se espera do profissional formado no curso de bacharelado em
Administração:
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar
estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar
preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em
diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão; / II -
desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício
profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações
interpessoais ou intergrupais; / III - refletir e atuar criticamente sobre a
esfera da produção, compreendendo sua posição e função na estrutura
produtiva sob seu controle e gerenciamento; / IV - desenvolver raciocínio
lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações
matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos
produtivos, administrativos e de controle, bem assim expressando-se de
modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos organizacionais e
sociais; / V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e
administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da
qualidade e das implicações éticas do seu exercício profissional; / VI -
desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência
cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação
profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se
profissional adaptável; / VII - desenvolver capacidade para elaborar,
implementar e consolidar projetos em organizações; e / VIII - desenvolver
capacidade para realizar consultoria em gestão e administração, pareceres e
perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e
operacionais (CNE, Resolução n
o
4, 13 de julho de 2005).
71
Como se lê acima,, percebe-se que o Conselho Nacional de Educação procura
estabelecer os parâmetros mínimos de organização curricular e das competências necessárias
aos profissionais, questão muitas vezes interpretada como suficiente pelos cursos, o que leva a
uma igualdade entre a maioria dos projetos pedagógicos, bem como à visão de que a
legislação constrange inovações nos cursos de graduação em Administração (SILVA,
FISCHER, 2008). Essa característica deve-se ainda ao estabelecimento dos conteúdos
relacionados aos campos de formação básica, profissional, estudos quantitativos e
complementares na resolução n
o
4 do Conselho Nacional de Educação:
I - Conteúdos de Formação Básica: relacionados com estudos
antropológicos, sociológicos, filosóficos, psicológicos, ético-profissionais,
políticos, comportamentais, econômicos e contábeis, bem como os
relacionados com as tecnologias da comunicação e da informação e das
ciências jurídicas; / II - Conteúdos de Formação Profissional: relacionados
com as áreas específicas, envolvendo teorias da administração e das
organizações e a administração de recursos humanos, mercado e marketing,
materiais, produção e logística, financeira e orçamentária, sistemas de
informações, planejamento estratégico e serviços; / III - Conteúdos de
Estudos Quantitativos e suas Tecnologias: abrangendo pesquisa operacional,
teoria dos jogos, modelos matemáticos e estatísticos e aplicação de
tecnologias que contribuam para a definição e utilização de estratégias e
procedimentos inerentes à administração; e / IV - Conteúdos de Formação
Complementar: estudos opcionais de caráter transversal e interdisciplinar
para o enriquecimento do perfil do formando (CNE, Resolução n
o
4, 13 de
julho de 2005).
Assim, a maioria das organizações de ensino limita-se ao cumprimento das condições
mínimas, implanta a grade curricular baseada nesses campos de formação e deixa de lado a
recomendação do Conselho Nacional de Educação, vinculada à descrição apresentada acima,
de que os conteúdos devem revelar inter-relações com a realidade nacional e internacional.
No entanto, é necessário que esta inter-relação seja efetivada também entre as disciplinas do
curso (NICOLINI, 2003) e não só com relação à questão teoria e prática, sempre questionada
ao se tratar da administração, enquanto ciência social aplicada.
Diante das bases legais-normativas brevemente comentadas acima, infere-se que a
estratégia dos cursos de graduação em administração está relacionada aos aspectos de
regulamentação, porém as práticas empreendidas na busca pelos resultados vinculados a essas
estratégias devem refletir as peculiaridades organizacionais e a identidade de cada curso.
Ressalta-se que o objetivo dessa seção foi apresentar, de forma geral, as questões
externas relacionadas à formação da estratégia nas organizações de ensino, que em conjunto
com as políticas públicas governamentais (discutidas brevemente na seção 2.5, p.52) criam as
72
influências ambientais a serem consideradas no processo estratégico de formação do conteúdo
em análise na presente pesquisa.
73
3 METODOLOGIA
3.1 A PESQUISA DA PRÁTICA EM ESTRATÉGIA
Convém inicialmente colocarem-se algumas questões a respeito do estudo: em
primeiro lugar, a pesquisa em estratégia sob a perspectiva da prática procura conciliar dois
desenvolvimentos: o do campo teórico e o do campo prático (WILSON e JARZABKOWSKI,
2004(a); 2004(b)), procurando satisfazer tanto o público acadêmico quanto os praticantes, os
quais têm lugar de destaque nas questões que emergem na agenda de pesquisa da estratégia
como prática; depois, os estudiosos da estratégia como prática recomendam que sejam
adotados múltiplos níveis de análise na pesquisa sob este domínio “para escapar da
linearidade no pensar, e para investigar profundamente a estratégia com o intuito de descobrir
sua essência” (WILSON e JARZABKOWSKI, 2004(a); 2004(b), p. 13. Tradução livre.).
Considerando que a estratégia como prática procura resgatar o papel dos atores no
fazer estratégia, entendendo-a como algo que esses atores organizacionais fazem e não como
algo que a organização possui, Johnson et al. (2007) propõem uma espécie de mapa a partir
do qual se pode visualizar algumas possíveis relações a serem estudadas:
Fonte: Johnson, Langley, Melin e Whittington (2007, p. 18. Tradução livre.)
Figura 10. Um mapa expandido da administração estratégica
Face ao exposto, destaca-se que a aplicação da divisão conteúdo-processo, na Figura
10, é uma forma de organizar as questões de pesquisa, mas que deve ser considerada como
74
uma forma didática e não como o retrato de uma realidade em que conteúdo e processo são
vistos de forma separada (Johnson et al., 2007).
Tratando ainda da Figura 10 (p. 73), é relevante perceber que todas as relações,
representadas por V1; V2; V3; V4, ligam as atividades (de conteúdo e de processo) dos
atores aos demais níveis de pesquisa (organizacional e institucional), evidenciando a
preocupação da estratégia como prática com trazer de volta à cena os atores, as pessoas
envolvidas na estratégia. O presente trabalho preocupa-se com as questões de pesquisa
localizadas no lado do conteúdo (esquerdo da Figura 10) e da relação representada por V2, a
qual, segundo Johnson et al. (2007), possui como questão central o entendimento de como as
atividades das pessoas suportam as estratégias organizacionais. Com esse embasamento é
que o problema de pesquisa que motiva o presente trabalho é desenvolvido.
3.2 PRINCÍPIOS EPISTEMOLÓGICOS ORIENTADORES DO ESTUDO
Até aqui se tem buscado delinear o problema em torno da estratégia tentando
demonstrar como ele vem sendo tratado nos estudos tradicionais do campo e como ele é
tratado nesse trabalho – a partir da perspectiva da estratégia como prática. A adoção dessa
postura exige que em termos epistemológicos procure-se superar o pensamento
essencialmente positivo e funcional (sem desmerecê-los, desconsiderá-los, principalmente
com relação às suas contribuições e influências na própria prática da estratégia) nas análises
aqui delineadas.
Diante disso, entende-se que o paradigma orientador da visão epistemológica desse
trabalho é o interpretativo (BURREL e MORGAN, 1994), o qual assume ontologicamente
que a realidade é socialmente construída por meio das interações sociais das pessoas. Os
indivíduos subjetivamente percebem a realidade como dotada de uma realidade objetiva e
intersubjetivamente a legitimam, dotando-a de uma quase materialidade que possibilita o
convívio humano em uma rede de significados comuns. Essa rede de significados constitui a
cultura humana (GEERTZ, 1989). Reconhece-se a existência de uma realidade socialmente
construída, em virtude de que são as próprias pessoas, por meio de suas interações e ações,
que a legitimam como realidade objetiva e que subjetivamente internalizam essa realidade ao
longo de inúmeros processos de socialização (BERGER e LUCKMANN, 2003). Tendo em
vista essa perspectiva, as organizações bem como a estratégia são vistas também como
socialmente construídas, legítimas e institucionalizadas a partir das interações e práticas
sociais.
75
3.3 ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
A pesquisa pauta-se no seguinte problema, enunciado na introdução do trabalho:
Quais são as práticas das organizações de ensino de graduação em administração que
possibilitam a realização da prática estratégica, considerando como resultado o conteúdo
estratégico?
Desse problema e dos objetivos delineados na introdução, surgem as perguntas de
pesquisa expostas na seção seguinte.
3.3.1 Perguntas de Pesquisa
1. Como se caracteriza o contexto do ensino superior de graduação em administração
no Brasil, de acordo com seus elementos essenciais e sua trajetória até hoje?
2. Qual é o conteúdo estratégico das organizações pesquisadas?
3. Quem são os atores/praticantes da estratégia (organizacionais ou não) cujo papel é
relevante para a prática estratégica?
4. Quais são as práticas (formais e informais) envolvidas no desenvolvimento do
conteúdo estratégico?
5. Quais são as atividades que constituem as práticas estratégicas.
6. Qual é o processo, do ponto de vista das práticas, da realização do conteúdo
estratégico?
3.3.2 Categorias de análise
As categorias de análise constituem as “variáveis” dos estudos qualitativos. Para
Creswell (2007, p. 106), “Uma variável refere-se a uma característica ou a um atributo de uma
pessoa ou organização, pode ser mensurada ou observada e varia entre as pessoas ou as
organizações que estão sendo estudadas”. Nesse sentido as categorias de análise podem ser
definidas também em termos de construto, “que transmite mais a conotação de uma idéia
abstrata do que de um termo especificamente definido” (CRESWELL, 2007, p. 106), de um
conceito utilizado para se definir o que se deseja pesquisar e observar na organização. Além
disso,
Para realizar qualquer pesquisa no campo das relações sociais, devemos estar
aptos a observar construtos que desejamos estudar. Construtos são
abstrações que os cientistas sociais consideram nas suas teorias, tais como
status social”, “poder”, “inteligência”. Freqüentemente, devemos não só
76
estar aptos a observar construtos, mas também medi-los (…). Para medir um
construto, precisamos primeiramente identificar uma variável que
represente, de maneira mais correta, a abstração. (SELLTIZ,
WRIGHTSMANN, COOK, 1987, p. 1).
A citação acima revela a necessidade de se evidenciar as categorias de análise e defini-
las de modo claro para o desenvolvimento dos estudos científicos na área das ciências sociais.
Tendo definido as questões que orientam a pesquisa, surgem daí as categorias de
análise do estudo, conforme apresentado na Figura 11.
Fonte: Desenvolvido para o trabalho a partir do referencial teórico
Figura 11. Categorias de Análise
Da Figura 11 (p. 76) acima, onde são demonstradas as categorias de análise do
trabalho, entende-se que, para o recorte de pesquisa feito aqui, o conteúdo estratégico depende
das práticas estratégicas empregadas, as quais possuem atividades específicas que as levam à
materialização do conteúdo estratégico, e essas atividades e práticas são feitas por pessoas –
os praticantes da estratégia.
3.3.3 Definição das Categorias de Análise (DC e DO)
Diante da necessidade de definição e especificação das categorias de análise do
estudo, faz-se necessário que todas elas sejam descritas em termos de seu conceito e de sua
operacionalização. Com relação à definição operacional das categorias de análise, Selltiz,
Wrightsmann e Cook (1987, p. 2) colocam que ela “deve especificar a seqüência de passos
que você dá para obter uma medida. Essa seqüência deve ser replicável, de forma que você
possa instruir outra pessoa para obter as mesmas medidas”.
77
As categorias de análise apresentadas acima serão agora definidas em termos de suas
Definições Constitutivas e Definições Operacionais.
Praticantes:
Definição Constitutiva: Jarzabkowski (2005, p. 8. Tradução livre) coloca que “A
estratégia como prática nasce das interações entre as pessoas – gerentes de topo, gerentes de
nível médio, empregados, consultores, auditores, investidores, reguladores, consumidores”.
Para Whittington (2006), os praticantes não são somente os executivos para quem a estratégia
é a essência do seu trabalho, mas também aqueles vários atores que acabam influenciando no
trabalho de estratégia.
Definição Operacional: essa categoria foi analisada a partir da identificação de todo e
qualquer ator que estivesse envolvido no fazer estratégia, a partir das categorias enumeradas a
seguir: (1) corpo diretivo, os executivos responsáveis pela estratégia (coordenadores, chefes
de departamento etc.); (2) corpo discente, que atua como implementador e também como
consultor; (3) corpo discente, que representa os clientes, ao mesmo tempo em que possui
vinculação direta com o produto resultante da organização. Para essa identificação foram
desenvolvidas entrevistas, observações, coletas de documentos e artefatos relevantes à
pesquisa que pudessem identificar, a partir da compreensão de como as coisas acontecem nas
organizações pesquisadas, os praticantes da estratégia.
Atividades (pode ser encontrada na literatura também como práxis ou prática):
Definição Constitutiva: “O que esses praticantes realmente fazem é a práxis da
estratégia – todas as várias atividades envolvidas na formulação deliberada e na
implementação da estratégia. Nesse sentido, a práxis da estratégia é o trabalho intra-
organizacional requerido para fazer estratégia e torná-la executada. Embora esse trabalho seja
geralmente muito difuso, uma grande parte dele pode ser visto como fazendo parte de uma
gama mais ou menos ampla de episódios ou seqüência de episódios (…)” (WHITTINGTON,
2006, p. 619. Tradução livre).
Definição Operacional: essa categoria de análise é observada a partir da vinculação
das atividades a uma prática específica e aos praticantes relacionados a elas. Essas atividades
são descritas em relação ao seu papel no strategizing específico ao desenvolvimento do
conteúdo estratégico. Não se descrevem aqui ainda as categorias de atividades porque não há
uma classificação pré-determinada na literatura. Essa descrição é um dos objetivos do
trabalho e depende da forma como as coisas acontecem em cada organização. Pode-se, porém,
exemplificar alguns tipos de atividades (formais e informais) relacionadas às práticas
pesquisadas: atividades rotineiras que fazem o curso acontecer, atividades de pesquisa,
78
atividades de sala de aula etc. Para essa identificação foram desenvolvidas entrevistas,
observações, coletas de documentos e artefatos relevantes à pesquisa, fundamentando-se
essencialmente nas entrevistas com os diversos praticantes que puderam descrever tais
atividades e também possibilitaram a triangulação dos dados.
Práticas:
Definição Constitutiva: Elas são “as práticas que os praticantes tipicamente
empreendem em sua práxis [prática]” (WHITTINGTON, 2006, p. 619. Tradução livre). As
práticas são aquelas que constituem a prática [práxis] da estratégia em si, tanto relacionadas a
questões tácitas e informais, quanto a explícitas e formais (JARZABKOWSKI, 2005).
Definição Operacional: essa categoria de análise é observada a partir de três tipos de
práticas, identificadas pela literatura (Jarzabkowski, 2005) como aquelas que representam as
práticas relacionadas ao fazer estratégia (strategizing): (1) as práticas racional-
administrativas, relacionadas aos propósitos de coordenar e organizar a estratégia, são
representadas por mecanismos de planejamento, sistemas de controle, indicadores de
desempenho etc.; (2) as práticas discursivas, que proporcionam recursos lingüísticos,
cognitivos e simbólicos para a interação sobre a estratégia; (3) as práticas episódicas,
relacionadas àquelas práticas que criam oportunidades para a interação e organizam essa
interação entre os praticantes no fazer estratégia, como as reuniões, workshops etc.
(JARZABKOWSKI, 2005). Diante disso, observam-se aquelas práticas efetivamente
relacionadas à elaboração da estratégia vinculada à definição do conteúdo estratégico. Para
essa identificação foram desenvolvidas entrevistas, observações, coletas de documentos e
artefatos relevantes à pesquisa.
Strategizing:
Definição Constitutiva: “Strategizing refere-se ao ‘fazer estratégia’; assim é a
construção desse fluxo de atividades por meio das ações e interações de múltiplos atores e as
práticas que eles empreendem” (JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007, p. 8.
Tradução livre.).
Definição Operacional: essa categoria de análise constitui-se na confluência das três
categorias de análise descritas anteriormente (praticantes, prática/práxis e práticas) e sua
observação deu-se no sentido de descrever o processo do fazer estratégia com relação ao
conteúdo estratégico, posicionando cada uma das três categorias anteriores dentro desse
processo. O modelo que operacionaliza essa categoria está apresentado na Figura 7 (p. 40),
descrita no referencial teórico. Para a identificação foram desenvolvidas entrevistas,
observações, coletas de documentos e artefatos relevantes à pesquisa.
79
Conteúdo Estratégico:
Definição Constitutiva: Refere-se à definição das “posições estratégicas da empresa
que conduzem ao desempenho ótimo sob a variação dos contextos ambientais”
(CHAKRAVARTHY e DOZ, 1992, p. 5. Tradução livre).
Definição Operacional: essa categoria de análise foi observada em termos das posições
de produtos e mercados da organização que lhe possibilitam competir e organizar-se. A
pesquisa foi desenvolvida em organizações de ensino, as quais não possuem um produto em
si. Dessa forma, o conteúdo estratégico é tratado aqui a partir do projeto pedagógico do curso,
do perfil do aluno, dos objetivos do curso, da sua grade de disciplinas e ementário que se
constituem nos produtos de conteúdo estratégico dos referidos cursos Para essa identificação
foram desenvolvidas entrevistas, observações, coletas de documentos e artefatos relevantes à
pesquisa.
Resultados:
Definição Constitutiva: “Outcomes são resultados. Organizações produzem outputs
bens e serviços – sobre as características dos quais elas tipicamente exercem controle
considerável, mas outcomes representam o produto conjunto do desempenho organizacional e
resposta ambiental. O cirurgião pode atuar impecavelmente, mas o paciente pode morrer; o
automóvel pode ser bem feito, mas falhar na venda. Nesse sentido, ambientes influenciam
diretamente os outcomes” (SCOTT, 2003, p. 144).
Definição Operacional: essa categoria de análise foi observada em termos de outputs e
outcomes, ou seja, todos os resultados passíveis de identificação das atividades
organizacionais e que lhes conferem resultados organizacionais, estratégicos, econômicos e
sociais, sejam eles formais (avaliações do MEC, por exemplo) ou informais (aqueles
percebidos e apontados pelos praticantes). Para essa identificação foram desenvolvidas
entrevistas, observações, coletas de documentos e artefatos relevantes à pesquisa.
3.3.4 Definição de Outro Termo Relevante
Estratégia:
Definição Constitutiva: a estratégia, antes de tudo, é compreendida aqui como uma
prática social, de acordo com os argumentos tecidos no item 2.3 (p. 31). Então “Da
perspectiva da estratégia como prática, estratégia é conceituada como uma atividade situada,
realizada socialmente, enquanto strategizing compreende aquelas ações, interações e
negociações de múltiplos atores e as práticas situadas que eles utilizam na realização dessa
80
atividade” (JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007, p. 8. Tradução livre. Grifos
inseridos.). Além disso, para se configurar como estratégia, a atividade deve ter
conseqüências nos resultados organizacionais, nas direções de futuro da organização, na
sobrevivência dos grupos, organização e setor e também na vantagem competitiva da empresa
(JARZABKOWSKI, BALOGUN, SEIDL, 2007), questões estas que distinguem a estratégia
de qualquer outra atividade organizacional.
3.4 DELIMITAÇÃO E DESIGN DA PESQUISA
Partindo das questões apontadas acima, do referencial teórico delineado e
fundamentalmente das especificações da natureza das pesquisas no campo da estratégia como
prática (conforme delineado no item 3.1, p. 73), estabelecem-se aqui os parâmetros básicos de
como a pesquisa foi executada.
O campo de pesquisa da estratégia como prática é um campo ainda em construção.
Isso significa que as pesquisas desenvolvidas sob essa perspectiva precisam explorar ainda
muitas questões. Dessa maneira, de acordo com o propósito da pesquisa ela constitui-se em
uma pesquisa exploratório-descritiva. Para Babbie (1998), as pesquisas nas ciências sociais
comumente possuem mais de um propósito de pesquisa, por isso é coerente o delineamento de
uma pesquisa de caráter tanto exploratório quanto descritivo. Gil (1999, p. 43) destaca ainda
que as pesquisas exploratórias procuram também “desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores”. É pertinente na pesquisa da prática da estratégia o
delineamento de uma pesquisa exploratória, em virtude de todas as características desse
campo, já expostas tanto no referencial teórico quanto nos delineamentos metodológicos
acima. Além disso, os estudos exploratórios, para Babbie (1998), apresentam objetivos
específicos: (1) a satisfação da curiosidade do pesquisador e do desejo de um entendimento
melhor do assunto pesquisado; (2) o teste da viabilidade de empreender um estudo mais
extenso na área e (3) o desenvolvimento de métodos a serem empregados em um estudo
subseqüente. Todos esses objetivos são entendidos como pertinentes à pesquisa, bem como a
uma possível contribuição ao campo de pesquisa da prática da estratégia.
A pesquisa descritiva, por sua vez, relaciona-se à descrição de situações e eventos
(Babbie, 1998). Com relação às pesquisas descritivas, Gil (1999) acrescenta que:
As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento
81
de relações entre as variáveis. (…) As pesquisas descritivas são, juntamente
com as exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais
preocupados com a atuação prática (GIL, 1999, p. 44).
Acredita-se, diante do exposto, que esses dois propósitos de pesquisa são os que
melhor delineiam a pesquisa em questão, em virtude da perspectiva teórica de pesquisa e
principalmente em virtude do problema proposto para guiar a pesquisa.
Assim, os propósitos, a perspectiva teórica e o problema indicam para a adoção de
uma abordagem de pesquisa essencialmente qualitativa. Os pressupostos apresentados no
referencial teórico corroboram esta escolha, bem como as pesquisas já desenvolvidas dentro
da perspectiva da estratégia como prática. Além disso, para explorar e descrever as categorias
de análise delineadas para responder ao problema e aos objetivos, faz-se necessário que se
tenha uma aproximação maior do campo de pesquisa, que se possam observar as interações,
os artefatos, as falas, os discursos, enfim as práticas envolvidas no fazer-estratégia. Isso leva
à escolha de uma pesquisa qualitativa que possa especificar mais o construto de pesquisa para
que futuramente seja possível empreenderem-se pesquisas que aprofundem esse campo,
expandindo assim os estudos relacionados ao problema de pesquisa. O entendimento de
pesquisa qualitativa nesse contexto vai além da distinção comparativa entre qualitativo-
quantitativo, em que a primeira deixa de lado as mensurações numéricas enquanto a segunda
baseia-se em análises estatísticas e representações numéricas. O entendimento de pesquisa
qualitativa aqui está vinculado também à questão epistemológica e ontológica, a partir da qual
se pressupõe uma natureza da realidade e da possibilidade de conhecimento, conforme
exposto no item 3.2 (p. 74). Diante disso, o entendimento de pesquisa qualitativa aqui
concorda com o exposto por Godoi e Balsini (2006):
Pesquisa qualitativa é um conceito “guarda-chuva”, que abrange várias
formas de pesquisa e nos ajuda a compreender e explicar o fenômeno social
com o menor afastamento possível do ambiente natural (Merriam, 2002).
Nesse cenário não se buscam regularidades, mas a compreensão dos agentes,
daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Essa empreitada só
é possível se os sujeitos forem ouvidos a partir da sua lógica e exposição de
razões. Quando muito, pode-se identificar crenças mais ou menos
compartilhadas por grupos sociais, ou seja, a cultura, sem pressupor que ela
seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria
analítica em permanente transformação (Sampaio, 2001). (GODOI,
BALSINI, 2006, p. 91-92).
Diante disso e definidos o propósito da pesquisa (exploratório-descritivo), a natureza
qualitativa, parte-se então para o delineamento do estudo em termos de estratégia de pesquisa
a ser utilizada.
82
3.4.1 Delineamento da Pesquisa
A estratégia de pesquisa utilizada é o estudo de caso qualitativo. Yin (2001) propõe
uma definição técnica para o estudo de caso afirmando que:
1. Um estudo de caso é uma investigação empírica que: investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos. 2. A investigação do estudo de caso enfrenta uma situação
tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que
pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências,
com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como
outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições
teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados (YIN, 2001, p. 32-33).
Godoy (2006) acrescenta ainda que o estudo de caso qualitativo é uma “descrição
(holística e intensiva) de um fenômeno bem delimitado (um programa, uma instituição, uma
pessoa, um grupo de pessoas, um processo ou uma unidade social)” (GODOY, 2006, p. 119),
evidenciando uma preocupação com a compreensão dos processos sociais e não meramente
com uma relação entre variáveis.
O estudo de caso, portanto, foi desenvolvido com vistas ao aprofundamento das
questões de pesquisa, que busca várias fontes de evidência e que tem na triangulação dos
dados um ponto importante para garantia da confiabilidade dos dados coletados e das análises
desenvolvidas. A triangulação corresponde ao cruzamento de diferentes fontes de evidência,
com o objetivo de buscar a confirmação dos resultados encontrados, diminuir a possibilidade
de vieses na pesquisa e garantir a confiabilidade dos dados qualitativos (YIN, 2001). A
triangulação pode ser (a) de fontes de dados (onde se faz a triangulação de dados); (b) de
avaliadores diferentes (chamada de triangulação de pesquisadores); (c) de perspectivas sobre
o mesmo conjunto de dados (triangulação de teoria) e (d) de métodos (chamada de
triangulação metodológica) (YIN, 2001). Acrescenta-se ainda que no estudo de caso
qualitativo o pesquisador deve proceder à “constante verificação para assegurar rigor nos
estudos qualitativos” (GODOY, 2006, p. 140), considerando que a autora entende por
verificação a revisão e confirmação dos achados a fim de garantir sua qualidade.
Godoy (2006) apresenta a possibilidade de classificação de três tipos de estudos de
caso, de acordo com a natureza de seus objetivos. Eles podem ser: (1) descritivo, “quando
apresenta um relato detalhado de um fenômeno social que envolva, por exemplo, sua
configuração, estrutura, atividades, mudanças no tempo e relacionamento com outros
fenômenos” (GODOY, 2006, p. 124). Os estudos de caso descritivos ainda geralmente não se
guiam por hipóteses pré-estabelecidas nem procuram estabelecer hipóteses genéricas. Além
83
desse, existe o (2) estudo de caso interpretativo, que também descreve ricamente o fenômeno
estudado e, além disso, “busca encontrar padrões nos dados e desenvolver categorias
conceituais que possibilitem ilustrar, confirmar ou opor-se a suposições teóricas” (GODOY,
2006, p. 124). Por sua vez, o (3) estudo de caso avaliativo possui a preocupação de “gerar
dados e informações obtidos de forma cuidadosa, empírica e sistemática, com o objetivo de
apreciar o mérito e julgar os resultados e a efetividade de um programa” (GODOY, 2006, p.
125). Para Godoy (2006) esses tipos de objetivos não são excludentes e os três tipos de
estudos de caso podem ser concomitantes.
Com relação à indicação de quando utilizar a estratégia de pesquisa do estudo de caso,
tem-se que:
Os estudos de caso são especialmente indicados na exploração de processos
e comportamentos dos quais se tem uma compreensão limitada. Neste
sentido, desempenham um importante papel por possibilitar a geração de
hipóteses explicativas e a elaboração de teorias, conforme advoga Eisenhardt
(1989). Podem ainda trazer importante contribuição quando a intenção do
pesquisador não é explorar casos típicos, mas examinar casos extremos ou
pouco usuais, os quais podem ser especialmente reveladores. (GODOY,
2006, p. 128).
Acredita-se, portanto, que o estudo de caso, na presente pesquisa aplica-se
principalmente pelo primeiro motivo apontado por Godoy (2006), o de exploração de
situações com uma compreensão limitada, como se entende a situação do problema
apresentado para essa pesquisa.
Com relação ao delineamento temporal do estudo, entende-se que ele enquadra-se em
um corte transversal com aproximação longitudinal, relacionado ao recorte da realidade
investigada em um dado tempo e analisada a realidade diante desse contexto cuidadosamente
(BABBIE, 1998). A aproximação longitudinal relaciona-se à possibilidade de recuperação de
dados passados que sejam relevantes para a compreensão do contexto da pesquisa. Esse tipo
de corte é escolhido em função de que se pretende analisar as práticas estratégicas
relacionadas ao delineamento do conteúdo estratégico referente ao período de tempo da
pesquisa, no qual serão observadas as atividades e práticas que estão acontecendo com relação
à construção do conteúdo estratégico.
Partindo então das questões expostas acima, o quadro-resumo das escolhas feitas para
o delineamento da pesquisa pode ser observado no Quadro 1 (p. 83) abaixo:
Categoria Escolhas Justificativa
Tipo de Pesquisa
Exploratório-descritiva Em virtude de o problema de
pesquisa situar-se em uma área de
poucas pesquisas e da
84
necessidade de se explorar o
campo para compreender melhor o
fenômeno.
Natureza da Pesquisa
Qualitativa Pelos pressupostos teórico-
epistemológicos que guiam a
pesquisa em questão. Pela
característica da pesquisa
qualitativa: de possibilitar uma
aproximação maior do fenômeno
pesquisado. Pelas demandas do
problema de pesquisa, dos
objetivos e da perspectiva teórica
adotada. Pelo tipo de pesquisa
adotado.
Estratégia de Pesquisa
Estudo de Caso Qualitativo Por entender-se que o estudo de
caso é uma estratégia de pesquisa
que possibilita exploração e
compreensão de situações de
compreensão limitada e também de
processos sociais que não podem
ser descritos por uma relação de
variáveis.
Delineamento temporal
Corte transversal com
aproximação longitudinal
Em virtude da especificação do
problema de pesquisa com relação
às práticas relacionadas a um
resultado específico e à
necessidade de observar o
fenômeno à medida que ele ocorre.
Fonte: Desenvolvido a partir da teoria de metodologia apresentada acima e das escolhas de pesquisa
Quadro 1. Quadro-resumo do delineamento da pesquisa
3.4.2 Universo e Amostra
Creswell (2007) expõe a seleção de universo e amostra como etapas obrigatórias de
estudos quantitativos. Para isso é necessário que se mapeie o universo, ou a população do
estudo para posteriormente selecionar a amostra representativa daquele universo a fim de
estudá-la. A escolha dessa amostra por meios probabilísticos possibilita aos estudos
quantitativos a generalização estatística, evidenciando que os resultados encontrados naquela
amostra são aplicáveis para o universo como um todo (CRESWELL, 2007). Os estudos
qualitativos, no entanto, para Creswell (2007) possuem a idéia, na seleção do campo de
pesquisa de
Selecionar propositalmente participantes ou locais (ou documentos ou
materiais gráficos) mais indicados para ajudar o pesquisador a entender o
problema e a questão de pesquisa. Isso não sugere necessariamente
amostragem aleatória ou seleção de um grande número de pessoas e locais,
como geralmente vemos na pesquisa quantitativa. Uma discussão sobre
85
participantes e local deve incluir quatro aspectos identificados por Miles e
Huberman (1994): o cenário (onde a pesquisa vai ocorrer), os atores (quem
serão os observados ou entrevistados), os eventos (o que os atores estarão
fazendo enquanto forem observados ou como serão entrevistados) e o
processo (a natureza evolutiva dos eventos vividos pelos atores dentro do
cenário) (CRESWELL, 2007, p. 190).
Considerando que essa pesquisa se constitui de um projeto de estudo de caso
qualitativo, com organizações de ensino da cidade de Curitiba, no estado do Paraná, os casos
estudados não se configuram como representantes amostrais de um universo de pesquisa
(YIN, 2001). Os casos escolhidos atendem ao critério chamado de proposital por Creswell
(2007), utilizado para selecionar casos que possibilitem a compreensão do contexto em
investigação e que também possibilitem abertura para a pesquisa e ainda uma base
comparativa entre eles.
Dessa forma, dentre o universo de organizações de ensino de cursos de graduação em
administração existentes em Curitiba, optou-se por selecionar duas das quais possuem uma
imagem reconhecida pelo “mercado” das organizações de ensino como sendo de qualidade.
Assim, os casos estudados são de uma Universidade Pública (a Universidade Federal do
Paraná) e de um Centro Universitário da rede particular de ensino (a FAE – Centro
Universitário).
Os dois cursos possuem já uma trajetória consolidada de ensino de administração e
apresentam-se hoje como os dois primeiros na pontuação do Índice Geral de Cursos
(calculado pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, com apoio do MEC) no estado do Paraná, cujo cálculo é baseado nas avaliações de
graduação (feitas pelo MEC, por meio do ENADE) e de pós-graduação (feitas pela CAPES).
Sendo assim, pela sua trajetória, pelos resultados das avaliações formais empreendidas
por instâncias avaliadoras da educação superior no Brasil (e aqui não se empreende nenhum
tipo de reflexão crítica sobre esses índices de avaliação, apenas acata-se os resultados como
critério de seleção) e pelo reconhecimento público dos dois cursos na cidade de Curitiba,
acredita-se que são relevantes os dois estudos de caso e também uma análise comparativa das
duas realidades, que podem contribuir para o desenvolvimento do ensino de graduação em
Administração.
Partindo dos esclarecimentos acima, foram identificados os praticantes da estratégia
em cada uma das organizações pesquisadas e desenvolvidas entrevistas com eles de acordo
com o critério de esgotamento – entrevistou-se uma série de pessoas até que o assunto fosse
esgotado e não mais houvesse a descoberta de novas questões detectando-se a repetição dos
assuntos abordados. Dessa maneira, obteve-se um total de 34 entrevistas, das quais 15 foram
86
realizadas com os praticantes da Universidade Federal do Paraná e 19 com os praticantes da
FAE – Centro Universitário. Dentre os praticantes, foram entrevistados corpo diretivo,
docentes e discentes, conforme será especificado mais adiante na parte de descrição e análise
dos dados (Capítulo 4, p. 96).
3.4.3 Nível e Unidade de Análise
O nível e a unidade de análise constituem-se em elementos fundamentais para a
definição da pesquisa e para que se evitem possíveis erros metodológicos, bem como
comprometer o rigor da coleta e da análise dos dados.
O nível de análise refere-se à localização mais ampla das unidades de análise,
evidenciando-lhes uma contextualização. De seu lado as unidades de análise constituem as
unidades de observação e, assim como os níveis, não precisam ser únicos em uma pesquisa.
Para Babbie (1998, p. 93), as unidades de análise são as “unidades de observação” em si. As
unidades de análise podem ser grupos, indivíduos, organizações, artefatos sociais (BABBIE,
1998).
Entende-se para o contexto da pesquisa que os níveis de análise considerados são o
individual e o organizacional, uma vez que foram tomadas como unidades de análise as
práticas em uso, que podem estar relacionadas a qualquer um dos níveis descritos,
interagindo, influenciando e sendo influenciadas umas pelas outras.
Importante ainda destacar duas questões relevantes em relação à escolha de unidades
de análises. Um entendimento inadequado sobre o domínio das unidades de análise escolhidas
para uma pesquisa possibilitam a ocorrência tanto da falácia ecológica como do reducionismo
(BABBIE, 1998). Sobre a falácia ecológica Babbie (1998) esclarece que:
Primeiro ecológico nesse contexto refere-se a grupos ou a conjuntos ou a
sistemas: algo maior que indivíduos. A falácia é assumir que algo
apreendido sobre alguma unidade ecológica fala algo sobre algum feito dos
indivíduos como unidade (BABBIE, 1998, p. 96. Tradução livre).
Dessa forma, é preciso estar atento tanto na coleta, na análise quanto nas conclusões
do estudo às delimitações e limitações das unidades de análise. Babbie (1998) esclarece ainda
que se deve tomar cuidado ainda para que a atenção à falácia ecológica não conduza a uma
falácia individualística, tomando um caso como representativo daquilo que acontece com
todos os outros possíveis casos.
Além disso, é necessário que se atente para a possibilidade do reducionismo, que
significa enxergar e explicar tudo em termos de um conjunto particular de conceitos
87
(BABBIE, 1998). Isso acontece quando se utilizam conceitos de uma área específica para
explicar todos os achados de pesquisa quando, no entanto, seria necessária a exploração de
demais conceitos explicativos da situação. Essas questões evidenciam cuidados a serem
tomados com relação à unidade (e também aos níveis) de análise delineados e explicitados
acima.
3.4.4 Dados: coleta e análise
Diante da natureza qualitativa do estudo e da estratégia de projeto de estudo de caso
qualitativo, as fontes, as formas de coleta e a análise devem ser coerentes com as opções e
também com o delineamento ontológico e epistemológico da pesquisa. A seguir são
apresentadas as opções de coleta e análise de dados adotadas nesta pesquisa.
3.4.4.1 Coleta de Dados
A presente pesquisa utilizou-se de entrevistas, observações, coleta de documentos e
artefatos – quando disponíveis (panfletos, folders, propagandas e outros materiais relevantes)
– para desenvolver a compreensão das questões de pesquisa a que se propôs. Assim,
descrevem-se a seguir os passos desenvolvidos na coleta dos dados.
Primeiramente, a fim de construir e adequar os objetivos de pesquisa e ao que a
literatura propunha como necessidades de pesquisa no campo de estudo, desenvolveu-se uma
pesquisa teórica sobre o que já havia sido publicado na área de estratégia como prática e
também os estudos sobre cursos de graduação em administração. Coletou-se ainda, nesse
início, uma série de documentos e textos publicados sobre os cursos de administração pelo
Governo, Conselhos de Classe e outras organizações que acabam por regular a profissão e
influenciar na sua constituição. Assim, pretendia-se compreender o contexto, identificar
pontos que poderiam auxiliar no desenvolvimento dos objetivos, compreender formas de
abordagens para a construção do instrumento de pesquisa, identificar possíveis pessoas a
serem consultadas durante a pesquisa.
Antes de continuar a descrição dos procedimentos de coleta de dados é necessário
esclarecer que ela foi desenvolvida por duas pesquisadoras do curso de Mestrado em
Administração da Universidade Federal do Paraná. Com a orientação dos professores
orientadores foi possível desenvolver a parceria. Assim, dos dados coletados surgiram dois
trabalhos de dissertação de mestrado, com objetivos distintos, mas que se valeram dos
88
mesmos dados. Dessa forma, durante toda a fase de pesquisa de campo houve a triangulação
entre pesquisadores (não só as duas que empreenderam a pesquisa de campo, mas também
com todos os pesquisadores parte do Grupo de Pesquisa em Estratégia do Professor Sergio
Bulgacov) e a discussão constante que foi útil na posterior análise dos dados.
Empreendida esta fase de “reconhecimento” do campo teórico e prático, iniciou-se a
discussão acerca de como desenvolver a pesquisa de campo em si, que critérios utilizar para a
seleção dos casos e as alternativas de pesquisa, se esses casos escolhidos não se dispusessem a
colaborar com a pesquisa. Neste trabalho foi de fundamental importância o Grupo de Pesquisa
em Estratégia, constituído pelos orientandos de mestrado e doutorado do Professor
Orientador, do qual a pesquisadora participa. O grupo auxiliou na definição dos critérios de
seleção dos casos, que envolviam: os resultados das avaliações formais (MEC) dos cursos de
graduação em administração, o tempo de existência dos cursos e a existência de um certo
padrão (tipo de instituição – universidade e centro universitário, existência de cursos de
graduação e de pós-graduação stricto e lato sensu, intercambialidade entre docentes das duas
organizações). Esses critérios serviram para classificar como primeiras opções de pesquisa os
cursos de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná e da FAE – Centro
Universitário, os quais atendiam aos critérios acima mencionados porque os dois apresentam
notas do ENADE (que avalia os cursos de graduação) muito parecidas, possuem cursos de
pós-graduação stricto e lato sensu, muitos dos professores de uma organização já foram
professores da outra. Ao conversar com os alunos (previamente) percebeu-se que ao prestar
vestibular para administração submeteram-se aos dois processos por reconhecerem a
qualidade dos dois; a primeira opção desses alunos era o curso da Universidade Federal, mas
também consideravam a FAE – Centro Universitário como a primeira opção em ensino
superior privado.
Selecionadas as duas organizações conforme descrito acima, buscou-se contato com os
coordenadores dos cursos, a fim de consultá-los sobre a possibilidade de realização da
pesquisa. Inicialmente, na Universidade Federal do Paraná foram consultados os
coordenadores do curso de administração e o vice-chefe de departamento, que por sua vez
consultou também o chefe de departamento sobre a possibilidade de realização da pesquisa. O
corpo diretivo do curso de graduação em administração logo deu uma resposta positiva sobre
a liberação da pesquisa e a viu como interessante, como um possível instrumento de ajuda
para um diagnóstico que a gestão atual está desenvolvendo no curso, com vistas à sua
melhoria. Na FAE – Centro Universitário, o processo foi um pouco mais demorado, visto que
foi necessário conhecer os coordenadores e buscar formas de contato com eles. De toda
89
maneira, com o contato dos coordenadores em mãos (fornecido por uma pesquisadora do
grupo de doutorado em Administração da Universidade Federal do Paraná que trabalha na
FAE – Centro Universitário) iniciou-se a negociação para a liberação da pesquisa. Os
coordenadores chamaram, em um primeiro momento, as pesquisadoras para uma reunião de
apresentação da proposta e então orientaram a elaboração de um documento solicitando a
aprovação da pesquisa pela reitoria da FAE – Centro Universitário. Com o apoio dos
coordenadores, que julgaram a pesquisa relevante, foi encaminhado o documento à reitoria da
FAE – Centro Universitário que em seguida aprovou e liberou a pesquisa. Nesse momento, as
pesquisadoras foram assistidas por um dos coordenadores que tratou de apresentá-las aos
praticantes e viabilizar a pesquisa na FAE – Centro Universitário.
Paralelo a todo o processo de negociação com as organizações de pesquisa, as
pesquisadoras trabalhavam no instrumento de pesquisa – um roteiro semi-estruturado, que
tinha por objetivo orientar as entrevistas com as três categorias de praticantes: corpo diretivo,
docentes e discentes (disponível no APÊNDICE A, p. 196). O instrumento foi elaborado a
partir das pesquisas teóricas, de documentos e normas descritas acima, no início do texto. De
posse do roteiro inicial ele foi discutido com o orientador e o grupo de pesquisa, e assim
foram feitos alguns ajustes.
De posse do roteiro e liberada a pesquisa nas duas organizações, empreendeu-se a
coleta de dados, inicialmente na Universidade Federal do Paraná e posteriormente na FAE –
Centro Universitário.
Assim que liberada a pesquisa, as pesquisadoras foram em busca de contatar os
praticantes, selecionados de acordo com alguns critérios: primeiramente o corpo diretivo foi
entrevistado, por serem aqueles que podem ser reconhecidos como os “executivos de topo” do
fazer estratégia; depois os docentes de dedicação exclusiva foram classificados em uma lista
de tempo de casa e de envolvimento com todas as atividades da organização. Foram adotados
tais critérios porque se entende que aqueles que estão há mais tempo na casa e possuem um
envolvimento maior com o curso são os reais praticantes e implementadores da estratégia.
Finalmente, os discentes entrevistados foram aqueles que desempenham atividades de
liderança e engajamento com o curso, porque novamente eles possuem um envolvimento
maior com o fazer estratégia do curso e, portanto, configuram-se como praticantes. Assim,
foram desenvolvidas 15 entrevistas na Universidade Federal do Paraná, e 19 entrevistas na
FAE – Centro Universitário, do total de 34 entrevistas desenvolvidas na pesquisa.
Os 34 entrevistados foram consultados sobre a possibilidade de gravar a entrevista.
Dois deles (um em cada organização pesquisada) não se sentiram confortáveis com a
90
solicitação e dessa forma suas entrevistas não foram gravadas. Os demais 32 entrevistados
tiveram suas entrevistas gravadas, o que facilitou muito a análise posterior dos dados.
Além das entrevistas foram coletados documentos das organizações de acordo com a
necessidade de pesquisa e com a liberação do acesso pelas organizações. Além disso,
empreenderam-se visitas aos sites das organizações, nos quais algumas informações foram
muito úteis na coleta de dados. Observações não participantes foram feitas nas organizações,
por meio de visitas e convivência em alguns eventos, o que possibilitou a compreensão de
artefatos organizacionais.
3.4.4.2 Análise de Dados
De posse dos dados, a análise foi feita por meio da análise de narrativas. Dentro do
campo dos estudos organizacionais as narrativas podem ser compreendidas de quatro formas:
(1) pesquisas organizacionais que são descritas na forma de narração de uma história; (2)
pesquisas que coletam histórias das organizações; (3) pesquisas que compreendem a vida
organizacional como a “escrita da história” e a pesquisa como a “leitura” desta história e (4)
uma reflexão disciplinar que toma a forma da crítica literária (CZARNIAWSKA, 1998).
Entende-se que ao adotar a perspectiva das narrativas para a análise dos dados passa-se a
compreender a vida organizacional como permeada por narrativas e construída por elas, e
compreendendo-a assim, faz-se necessário adotar a perspectiva de coleta e análise coerente
com esse pensar, coletando-se os dados como “histórias das organizações”.
Partindo dessas quatro formas, faz-se relevante esclarecer o que se entende por
narrativas:
Inumeráveis são as narrativas do mundo. Há, em primeiro lugar, uma
variedade prodigiosa de gêneros, distribuídos entre substâncias diferentes,
como se toda matéria fosse boa para que o homem lhe confiasse suas
narrativas: a narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou
escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de
todas estas substâncias; está presente no mito, na lenda, na fábula, no conto,
na novela, na epopéia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na
pantomima, na pintura (recorde-se de Santa Úrsula de Carpaccio), no vitral,
no cinema, nas histórias em quadrinhos, no fait divers, na conversação
(BARTHES, 2008, p. 19. Grifos inseridos).
Dessa forma, percebe-se que as narrativas permeiam todo o mundo social, as
interações humanas, o que justifica a utilização delas para a análise dos dados da presente
pesquisa, que entende o mundo como socialmente construído, com um papel de destaque para
as interações e para as conversações produzidas pelos sujeitos.
91
Considerando que a coleta de dados deu-se a partir de entrevistas, observações e coleta
de documentos e artefatos relevantes, em todos esses materiais estão presentes narrativas, que
contam a história do passado, narram o presente e projetam o futuro (CZARNIAWSKA,
1998). Assim, entende-se como fundamental utilizar tal análise para os dados coletados.
Destaca-se que para Czarniawska (1998), do ponto de vista da perspectiva da
narrativa, a análise da conversação e a análise do discurso são complementares, enquanto que
Alves e Blinkstein (2006) entendem a narrativa como um caso particular de discurso, que
incorpora além da forma como o conteúdo é transmitido, a questão da constituição dos
sistemas imaginários e simbólicos de uma sociedade. Retomando o ponto de vista de
Czarniawska (1998) sobre a complementaridade entre discurso e conversação temos que:
(…) a análise da conversação trata a fala como ação, enquanto a análise do
discurso trata fala como fala. A análise da conversação captura e analisa uma
situação concreta de fala localizada em um ponto do espaço e do tempo. A
análise do discurso trata de muitas conversações que se situam ao longo do
tempo e em diferentes locais e também que parecem estar conectadas (…).
Da perspectiva da narrativa, as duas análises são complementares. O
discurso institucionalizado serve como repertório para as conversações reais;
essas em contrapartida reproduzem e mudam o discurso (CZARNIAWSKA,
1998, p. 66. Tradução livre.).
Dessa forma, percebe-se que a análise da narrativa considera as duas análises como
complementares e fundamentais para a efetivação da narrativa enquanto análise. Entendendo
a narrativa da forma descrita no excerto (CZARNIAWSKA, 1998), compreende-se a
relevância da adoção dessa forma de análise para o presente trabalho, que entende a estratégia
como uma prática social situada e realizada socialmente, por meio de interações, falas e
negociações entre diferentes atores. Assim, tomar as narrativas dos praticantes para análise é
compreender lugar, tempo, espaço e contexto de forma coerente com as escolhas
metodológicas e epistemológicas deste trabalho.
É relevante destacar ainda que a análise de narrativas apóia-se em cinco pontos
fundamentais correspondentes à estrutura da narrativa: (1) a seqüência temporal, (aspecto em
que muitas análises detêm-se, sem extrapolar para os demais, perdendo a riqueza de análise da
narrativa), que significa dizer que a narrativa tem um começo, um meio e um fim que lhe
confere uma seqüência temporal específica e a localiza em um tempo e espaço; (2) os atores
focais ou o ator focal, relacionado ao fato de que a narrativa é sempre sobre alguém ou sobre
algo, e nesse caso podem ser identificados protagonistas (e antagonistas) na seqüência da
história; (3) a voz narrativa é identificável, o que significa dizer que em uma narrativa aquele
que narra está fazendo-o de seu lugar, de seu ponto de vista, e a sua fala personifica o
92
indivíduo que é; (4) padrões de referência para avaliação, que significa dizer que as narrativas
carregam valores culturais e significados que conferem certo padrão para as avaliações, ou
seja, toda a narrativa carrega uma “moral”, ou expressões do que pode ser julgado como certo
ou errado; (5) outros indicadores de conteúdo e contexto, que extrapolam um conjunto de
eventos e possuem uma série de instrumentos capazes de indicar tempo, lugar, atributos dos
atores, atributos do contexto etc., os quais são fundamentais para a interpretação dos eventos
(PENTLAND, 1999). Pentland (1999) estabelece um quadro que relaciona estas propriedades
da narrativa com possíveis indicadores para a teoria organizacional (este quadro foi utilizado
como base para a descrição estrutural das narrativas individuais apresentadas no APÊNDICE
C e no APÊNDICE E):
Propriedade da Narrativa Indicador para
Seqüencia Padrões de eventos
Ator(es) focal(is) Papel, redes sociais e demográficas
Voz Ponto de vista, relações sociais e poder
Contexto moral Valores culturais e pressupostos
Outros indicadores Outros aspectos do contexto
Fonte: Pentland (1999, p.713).
Quadro 2. Relação das propriedades da narrativa com a teoria organizacional
Diante das questões gerais expostas acima sobre a análise de narrativas, desenvolveu-
se a análise dos dados a partir desta perspectiva, considerando as propriedades apontadas no
Quadro 2 para a categorização dos dados e posterior interpretação. Utilizou-se essa forma de
análise fundamentalmente para a análise das entrevistas construídas no campo, por meio de
um roteiro semi-estruturado, e conduzidas de forma a constituírem uma conversação em que
os atores pudessem criar as suas narrativas a partir do tema, dos objetivos e das questões de
pesquisa do presente estudo.
Assim, de acordo com as considerações teóricas explicitadas a respeito da análise de
narrativas, procurou-se conduzir a análise dos dados coletados.
Inicialmente, consultou-se o Grupo de Pesquisa sobre como tratar os dados, visto que
a literatura consultada apresentava diferentes visões: alguns apontavam a transcrição literal
como melhor caminho, outros discordavam afirmando que as narrativas faladas (e gravadas)
eram mais ricas para a análise. Assim, optou-se por ouvir todas as narrativas e fazer uma
descrição resumida da cada uma delas, destacando já os pontos de transcrição literal
necessários, de acordo com os objetivos de pesquisa. Não foi desenvolvida a transcrição
integral literal de cada uma das narrativas porque se acredita que, ao transcrever, perde-se
muito da entonação e da expressão do entrevistado, fundamentais para a análise das
93
narrativas. Assim, desenvolveu-se um roteiro resumido da descrição e voltou-se à narrativa
gravada várias vezes para se tecer a análise dos dados.
De posse do roteiro resumido das entrevistas desenvolveu-se uma análise individual de
cada narrativa, de acordo com as propriedades das narrativas apresentadas por Pentland
(1999) e com os objetivos de pesquisa, o que é apresentado no APÊNDICE C (p. 205) e no
APÊNDICE E (p. 246).
Depois disso, de acordo com cada objetivo específico de pesquisa, fez-se a transcrição
literal dos trechos que respondiam àqueles objetivos, para serem utilizados na descrição e
análise dos dados da pesquisa.
Posteriormente, todo esse material individual foi analisado em termos organizacionais,
por caso, constituindo a análise do caso da Universidade Federal do Paraná e a análise do caso
da FAE – Centro Universitário. Depois, de posse das duas análises, teceu-se um panorama
comparativo dos dois casos para extrair daí a compreensão do processo do fazer estratégia dos
dois casos.
Os documentos coletados foram utilizados na descrição e análise dos dados
fundamentalmente como parte da triangulação dos dados. A partir deles foi possível
compreender melhor as entrevistas, bem como tecer alguns questionamentos a respeito do que
o que foi encontrado nas narrativas e estabelecer contrapontos. As observações serviram
também para este fim e para que se pudesse compreender e delinear o quadro simbólico que
envolve as organizações pesquisadas.
Destaca-se que a análise dos dados foi sendo desenvolvida também na medida em que
os dados foram sendo coletados, pois após cada entrevista as pesquisadoras desenvolviam seu
diário de campo anotando pontos específicos da entrevista e também discutindo entre si o que
haviam coletado. Assim, ao final da pesquisa uma série de considerações analíticas já haviam
sido desenvolvidas, as quais contribuíram para a construção da descrição e análise dos dados
formalizada neste trabalho.
Após construída a primeira versão da descrição e análise dos dados exposta neste
trabalho, ela foi compartilhada com pesquisadores da área, a fim de que se pudesse, além da
triangulação feita entre as pesquisadoras durante a pesquisa, obter o parecer de outras pessoas
que trabalham na área e possibilitar o aprofundamento das análises tecidas.
94
3.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
As limitações do estudo acabam, de certa maneira, por reafirmar as delimitações e os
recortes do estudo, ao mesmo tempo em que posicionam os pontos frágeis e os limites
previstos para o estudo.
De imediato, quando se propõe um estudo sob a perspectiva da estratégia como
prática, estabelecer um recorte bem definido de pesquisa acaba por deixar de lado muitos
aspectos que deveriam ser considerados quando se deseja um entendimento amplo da prática.
A partir do recorte de pesquisa delineado a partir da Figura 10 (p. 73) em que se afirma que a
pesquisa estuda a relação entre as práticas e o conteúdo estratégico, sem tomar toda a
relevância da esfera institucional e das relações de processo, assume-se uma limitação de
pesquisa em relação às perdas decorrentes desse recorte, mas entende-se a relevância da
delimitação para o aprofundamento da pesquisa e da compreensão das micro práticas.
O recorte de pesquisa, a adoção da perspectiva teórica e as possibilidades de pesquisa
de campo nesse momento levam à escolha de um método de pesquisa unicamente qualitativo.
Ao se fazer essa escolha, a pesquisa é limitada em função de perder a possibilidade de
generalização e de compreensão de uma amostra maior de casos. Nesse sentido, o que se
ganha em profundidade fica comprometido em termos de generalidade, porém admite-se essa
limitação e opta-se por ela em detrimento das outras possíveis limitações que viriam, se fosse
adotado um método quantitativo, julgado incompatível com os objetivos aqui delineados.
O campo teórico da perspectiva da estratégia como prática configura-se também como
um campo em construção (o marco desses estudos em estratégia é o artigo de 1996, de
Whittington), o que faz com que se tenha possibilidades de expansão de desenvolvimentos ao
mesmo tempo em que se verificam limitações com relação a ele.
Outras questões que trazem limitações às pesquisas sob a perspectiva da prática são
aquelas relacionadas à epistemologia e à ontologia. No campo da estratégia, a perspectiva da
prática surgiu a partir de uma série de pensadores (Bourdieu, De Certau, Giddens) que
possuem suas próprias construções teóricas, ontológicas e epistemológicas. Essa
complexidade pode levar a possíveis incoerências no delineamento das pesquisas no campo,
caso o pesquisador não tenha claro todas essas questões, não domine a discussão e o campo
teórico que embasa a perspectiva. Além dessas questões com relação à complexidade do
campo teórico, existem as questões relacionadas à complexidade do fenômeno em estudos –
as práticas. Apreender esse fenômeno exige, além de domínio teórico, um delineamento
metodológico apropriado, também a possibilidade de se aproximar do campo de pesquisa e
95
conseguir apreender suas nuances, peculiaridades e características gerais. A presente pesquisa
enquadra-se nesse cenário. Consciente dele, os pesquisadores tomaram medidas cuidadosas
em relação às escolhas para mitigar as limitações.
A inexperiência do pesquisador e as suas limitações cognitivas e teóricas também se
constituem como limitadores da pesquisa, uma vez que a pesquisa de campo qualitativa exige
habilidades e domínios específicos para o desenvolvimento da pesquisa. Além disso, ainda
que o pesquisador se prepare, nem sempre consegue compreender tudo aquilo que encontra no
campo, revelando assim suas capacidades cognitivas, importantes limitadores dos estudos.
Porém, essa limitação na presente pesquisa foi tratada com muito cuidado, buscando-se
sempre a triangulação entre pesquisadores e o compartilhamento dos resultados do trabalho,
dúvidas e direcionamentos com o grupo de pesquisa, o que trouxe aprendizagem e
crescimento à pesquisadora e confiabilidade aos resultados apresentados.
Há ainda que mencionar aquela considerada como a maior limitação: a dificuldade de
acesso ao campo. Apesar da liberação das pesquisas, da compreensão do processo de pesquisa
(uma vez que se tratou com pessoas que sabem das dificuldades e conhecem o processo de
pesquisa), da confidencialidade dos dados e dos pesquisados, a maior barreira da pesquisa foi
a necessidade de se vencer barreiras para o acesso aos documentos necessários, aos episódios
das práticas e ao envolvimento dos praticantes enquanto grupo. As pesquisadoras tentaram
contornar as dificuldades de acesso buscando meios alternativos de dados e buscando também
que os praticantes em suas narrativas individuais pudessem descrever os episódios e “contar
uma história” para compreender melhor as práticas.
Diante disso, acredita-se que as limitações aqui descritas configuram-se ainda como os
grandes desafios para a pesquisa social aplicada e para o desenvolvimento e aprofundamento
das questões epistemológicas e metodológicas das pesquisas em administração. Tem-se
observado grandes esforços no sentido de se aprofundar os estudos em administração, mas
muitos esbarram ainda nas impossibilidades e indisponibilidades do campo de pesquisa. Há
muito receio em ser pesquisado, revelar suas práticas e mesmo descobrir algumas possíveis
críticas. Há muito trabalho pela frente em termos de se vencer as limitações de pesquisa
impostas pelo campo.
96
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram coletados a partir de pesquisa documental (sobre leis, regulamentos,
normas e documentos específicos referentes aos cursos), entrevistas semi-estruturadas (cujos
roteiros encontram-se disponíveis no APÊNDICE A, p. 196) e observações não participantes
em duas organizações de ensino de graduação em administração – a UFPR e a FAE – Centro
Universitário – que produziram os dados descritos neste capítulo e analisados segundo a
análise de narrativas (as descrições individuais das narrativas estão apresentadas nos
apêndices: APÊNDICE C (p. 205) e APÊNDICE E (p. 246).
Proceder-se-á inicialmente à descrição e análise de cada um dos casos e ao final
propõe-se um panorama comparativo dos dois.
4.1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
4.1.1 Caracterização do curso de graduação em administração da
Universidade Federal do Paraná
O curso de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná foi criado
em 1967, contemporaneamente à regulamentação da profissão de administrador, que se deu
em 1966 pelo Conselho Federal de Educação por meio de resolução não numerada
(NICOLINI, 2003). Assim, o curso de graduação da UFPR acompanhou todo o processo de
constituição da profissão de administrador e conseqüentemente as mudanças legais referentes
à regulamentação da profissão.
Considerando que a presente pesquisa ocupa-se do conteúdo estratégico e que a função
principal desta seção de capítulo é caracterizar a organização em termos de seu conteúdo
estratégico (conforme o objetivo específico 2 da pesquisa), entende-se que a fonte formal que
contém a definição desse conteúdo é o projeto pedagógico do curso, onde se definem o perfil
do aluno (o produto do trabalho da organização), os objetivos e as diretrizes do curso, bem
como todo o ementário que delineia a execução das estratégias no nível operacional do curso.
Dessa forma, conforme o Projeto Pedagógico os objetivos do curso são assim entendidos:
São objetivos do Curso de Graduação em Administração da Universidade
Federal do Paraná: ser referência nacional na formação de profissionais na
área de administração; desenvolver pessoas para atuar na área da
Administração, mediante o exercício competente e ético das modernas
formas de gestão, conectadas com a dinâmica do ambiente; disponibilizar
uma formação integrada e humanística, voltada para a condução do processo
gerencial das organizações; permitir a formação de competência
97
empreendedora para o exercício de atividades que contribuam com o
desenvolvimento econômico e social da região e do País; propiciar
condições de desenvolvimento pessoal e relacionamento interpessoal;
oferecer à sociedade profissionais de qualidade através da articulação das
teorias com as práticas organizacionais; de estágios; de reconhecimento das
habilidades e competências extracurriculares; de práticas pedagógicas e de
métodos de ensino-aprendizagem adequados; de sistemas de avaliação
docente, discente e de infra-estrutura; promover uma constante interface com
os programas de pós-graduação correlatos e afins (Projeto Pedagógico do
Curso de Graduação em Administração, UFPR 2007).
Partindo desses objetivos, entende-se que o produto de todo esse trabalho é a formação
do profissional, aluno da UFPR, que será inserido na sociedade como administrador. Esse
profissional deverá dominar habilidades de natureza teórica, comportamental e técnica
(descritas no projeto nessa ordem), para as quais o curso fornecerá o suporte de formação. As
habilidades teóricas “são relativas ao domínio cognitivo e conceitual, à organização e
sistematização do conhecimento decorrente de sua práxis e ao desenvolvimento de modelos
analíticos”, necessários ao gestor capaz de lidar com uma realidade em constante e rápida
evolução, do qual se exige a capacidade “de organizar e de elaborar conhecimentos,
ultrapassando a formação tecnicista e instrumental” (Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Administração, UFPR 2007). As habilidades de natureza comportamental são
compreendidas como aquelas “ligadas ao relacionamento humano, ao respeito aos direitos e
necessidades das pessoas, à condição de empatia no exercício de funções diretivas e de
liderança”, habilidades consideradas fundamentais para o profissional que atuará nas
organizações. Por fim, as habilidades de natureza técnica “são aquelas vinculadas a aspectos
instrumentais e tecnológicos necessários à realização de atividades de administração das ações
de outras pessoas nos grupos de trabalho e na organização. São habilidades decorrentes da
formação profissional” (Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Administração,
UFPR, 2007). Como se pode ver, o perfil do profissional, produto da formação do curso de
graduação em administração da Universidade Federal do Paraná deve estar alicerçado em
competências assim descritas:
(…) reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar
estrategicamente, introduzir modificações no processo de trabalho, atuar
preventivamente e generalizar conhecimentos; planejar, organizar, coordenar
tarefas, avaliar desempenho, desenvolver métodos e procedimentos de
trabalho, elaborar e sistematizar o conhecimento obtido; comunicar-se
com seus grupos de trabalho (superiores, subordinados e pares), cooperar,
realizar trabalho em equipe e exercitar permanentemente as habilidades de
negociação, de comunicação interpessoal e de diálogo; possuir iniciativa,
criatividade, desejo e motivação para aprender, disposição para mudanças e
98
consciência ética sobre seu trabalho; refletir e atuar autônoma e
criticamente sobre os processos de trabalho e de produção, compreendendo
sua posição e suas funções na estrutura organizacional (direitos e deveres) e
desenvolvendo raciocínio lógico, crítico e analítico para estabelecer relações
entre fenômenos e para expressar-se de forma adequada diante de diferentes
contextos organizacionais e sociais; ser capaz de fazer leituras apropriadas
do ambiente, de seu contexto e de sua estrutura objetiva (econômica,
jurídica, política, social, ideológica, cultural e institucional) e de agir
estratégica e conscientemente (Projeto Pedagógico do Curso de Graduação
em Administração, UFPR 2007).
Assim, o curso de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná
organiza-se a partir da seguinte categoria de disciplinas (cuja descrição completa encontra-se
no ANEXO B, p. 287): (1) disciplinas básicas e instrumentais; (2) disciplinas
profissionalizantes e específicas; (3) disciplinas complementares; (4) disciplinas
complementares optativas. Em termos didático-pedagógicos o curso possui as seguintes
características (descritas no Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Administração,
UFPR 2006):
Vagas Anuais: 150 vagas
Período Diurno: 50 vagas
Período Noturno: 100 vagas
Duração de 04 anos, com integralização de, no máximo 06 anos.
Carga Horária: 2.700 horas, mais 60 horas de Atividades Curriculares
Complementares Obrigatórias.
Estágio Supervisionado: 300 horas
No oitavo semestre são ofertadas seis disciplinas optativas, das quais o
discente deve completar cinco.
Regime de Matrícula: será pelo sistema semestral
Ingresso no curso: anual, através de concurso vestibular da UFPR (Projeto
Pedagógico do Curso de Graduação em Administração, UFPR 2007).
Há que se apontar que, de acordo com novas diretrizes didático-pedagógicas
assumidas pelo curso de graduação em administração da UFPR em 2007, a partir do REUNI
(Reestruturação e Expansão das Universidade Federais), 55 novas vagas serão ofertadas pelo
Departamento de Administração Geral e Aplicada (DAGA) a partir do primeiro semestre de
2009, sendo, portanto, que o número de vagas ofertadas passa a ser de 205, com 155 vagas no
período noturno, distribuídas entre três turmas.
O Projeto Pedagógico prevê ainda as práticas pedagógicas que devem ser adotadas no
curso, bem como o sistema de avaliação de docentes e discentes e as práticas de organização
específicas do curso.
Com relação às práticas pedagógicas o projeto descreve uma série de princípios a
serem adotados de forma que as práticas pedagógicas “promovam a inovação em prol da
melhoria do curso” e a “superação da pedagogia tecnicista”, baseada no diálogo, na
99
problematização dos assuntos, no desenvolvimento da capacidade de abstração e reflexão das
atividades realizadas, na abordagem crítica e criativa etc. (Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Administração, UFPR 2007).
Já o sistema de avaliação docente e discente é entendido como responsabilidade do
colegiado e do departamento do curso, os quais sempre que “entenderem que a avaliação
institucional dos docentes [e discentes] merecer ser ampliada, deve-se adotar formas
alternativas de avaliação (…)” (Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em
Administração, UFPR 2007), sendo que no mínimo deve existir uma avaliação docente por
semestre. Ainda é relevante colocar que descreve o Projeto Pedagógico que:
O DAGA e a Coordenação do Curso devem oferecer semestralmente a seus
docentes um Seminário sobre Metodologia do Ensino Superior em que, além
da possibilidade de se discutir temas técnicos, se possa igualmente refletir
sobre experiências. Além da verificação do desempenho docente, o DAGA e
a Coordenação do Curso devem possuir um sistema regular de
acompanhamento do rendimento dos discentes ao longo do curso com o
intuito de descobrir as razões do baixo desempenho ou de comportamentos
inadequados, verificando se o mesmo é decorrente do perfil do aluno, da
atitude ou do desempenho do professor ou do curso como um todo, dentre
outros aspectos. Recomenda-se pelo menos uma avaliação conjunta, por
semestre, com todos os professores de uma determinada turma, a ser
convocada pela Coordenação do Curso (Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Administração, UFPR 2007).
Assim, o sistema de avaliação dos resultados encontra-se descrito no Projeto
Pedagógico como uma atividade sistemática e de responsabilidade do Departamento e da
Coordenação do Curso, pautadas em alguns princípios norteadores descritos no referido
Projeto.
Com relação às práticas específicas para a condução do curso de graduação em
administração da UFPR, o Projeto Pedagógico estabelece o Programa de Orientação
Acadêmica e a Comissão Orientadora de Estágio (COE). O primeiro programa refere-se ao
objetivo de orientar os alunos ingressantes sobre o funcionamento da universidade. Os alunos
são alocados a um docente, que se constitui em seu orientador e cabe a ele
(…) familiarizar o aluno com as características e peculiaridades do curso,
informar sobre a existência de procedimentos normativos contidos na
Resolução de Normas Básicas de Controle e Registro da Atividade
Acadêmica dos Cursos de Graduação da UFPR, auxiliar na seleção das
disciplinas a serem cursadas em cada semestre, principalmente nas matérias
optativas, onde existe uma tendência de agrupá-las conforme o campo de
atuação profissional, informar sobre a Coordenação Geral de Estágios e a
COE (Comissão Orientadora de Estágio), bem como a Resolução que
normatiza os procedimentos necessários para a realização de estágios
obrigatórios ou não, na área de interesse do aluno e a importância da
100
realização do mesmo na formação Profissional, informar sobre a existência
de auxílio financeiro que a Universidade oferece através do Programa de
Bolsas Institucionais tais como: Monitoria, Programa Especial de
Treinamento PET, Iniciação Científica, Permanência/Trabalho entre outras,
informar a existência da Unidade de Assuntos Estudantis/PRHAE que apóia
financeiramente a participação de Estudantes em Eventos, informar sobre a
existência da Seção de Convênios Internacionais na Pró-Reitoria de
Planejamento Orçamento e Finanças (PROPLAN), alertar os orientandos
sobre a importância do melhor aproveitamento escolar nas disciplinas
cursadas, informando que as escolhas de turmas, horários, bem como a
seleção de bolsistas e estagiários, entre outros, são feitas tendo por base o
Índice de Rendimento Acadêmico – IRA acumulado dos alunos, priorizados
nestes processos, informar o funcionamento da estrutura da Universidade
(Conselhos, Pró-Reitorias, Coordenações, Departamentos, Bibliotecas etc.) e
das instituições complementares como Consultoria Júnior, AIESEC, Centro
Acadêmico, acompanhar o desempenho acadêmico do Aluno, informar à
Coordenação do Curso a não participação dos seus orientandos na
programação preestabelecida, orientar sobre participação em estágios
profissionalizantes, conhecer a Resolução que fixa o currículo do Curso, o
Projeto Pedagógico do Curso e as Resoluções que estiverem em vigor e que
normatizam todo o percurso do aluno na Universidade desde seu ingresso até
sua colação, contidas no Manual do Aluno (Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Administração, UFPR 2007).
A Comissão Orientadora de Estágio, por sua vez, tem por função avaliar a coerência
das propostas de estágio e orientar os alunos com relação ao desenvolvimento do mesmo. No
Projeto Pedagógico assume-se ainda a prática de conduzir a interface do curso de graduação
em administração com os cursos de pós-graduação, estabelecendo-se uma série de princípios
orientadores de como pode ser desenvolvida a promoção dessa integração, considerada
importante para o desenvolvimento cnico-científico dos docentes.
O curso de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná encontra-
se no Setor de Ciências Sociais Aplicadas, o qual possui um diretor com subordinação direta
às pró-reitorias da universidade.
Hoje, a Universidade Federal do Paraná mantém sua configuração
organizacional baseada em Setores e Departamentos. Ao todo são onze
setores, que têm a função de executar, coordenar e fiscalizar as unidades
didático-pedagógicas e de pesquisa das áreas de conhecimento.
(www.ufpr.br
, 2008).
Assim, o Setor de Ciências Sociais Aplicadas abriga os cursos de Administração,
Ciências Contábeis, Ciências Econômicas e Gestão da Informação. Cada um dos cursos é
subordinado ao seu próprio departamento, que trabalha em conjunto com a coordenação de
curso. Com relação ao curso de graduação em Administração, o corpo docente e as atividades
docentes são conduzidas pelo Departamento de Administração Geral e Aplicada (DAGA),
enquanto as atividades discentes e pedagógicas são de responsabilidade da coordenação do
101
curso. As duas estruturas – departamento e coordenação – encontram-se na mesma linha
hierárquica e subordinam-se diretamente ao Setor.
4.1.2 Praticantes: quem são e quais seus papéis
Tendo em vista a caracterização do curso de graduação em administração da UFPR
desenvolvida acima, percebe-se que o Projeto Pedagógico do curso delineia, em termos
gerais, qual o conteúdo estratégico do curso: qual o perfil do produto (os profissionais
formados pelo curso) e delineamentos genéricos de como se chegar lá.
No entanto, entende-se a partir da perspectiva teórica adotada neste trabalho que a
estratégia se faz no dia-a-dia, nas rotinas diárias, nas interações formais e informais, no fazer
estratégia dos praticantes. Ela não é um corpo despersonalizado, somente formalizado em um
plano, ou neste caso, em um Projeto Pedagógico. Ela tem vida e acontece no fazer cotidiano
das pessoas, dos praticantes. Dessa forma, faz-se necessário compreender quem são os
praticantes da estratégia (relacionado ao objetivo específico número 3 desta pesquisa), antes
de se iniciar qualquer discussão.
Retomando as Definições Constitutivas e Operacionais descritas na parte de
metodologia (3.3.3, p. 76), entende-se por praticantes todas as pessoas envolvidas no fazer
estratégia – sejam executivos, implementadores, consultores, clientes e demais stakeholders
que tenham participação no fazer estratégia.
Dessa maneira, identificam-se três grupos principais de praticantes na presente
pesquisa:
O corpo diretivo do curso, formado por Chefe de Departamento, Vice-chefe
de Departamento, Coordenador do Curso, Vice-coordenador do Curso e, pelas
evidências de pesquisa, também o Coordenador do Programa de Pós-
graduação stricto sensu e o Vice-coordenador do Programa de Pós-graduação
stricto sensu. Identifica-se esse grupo de pessoas como o corpo diretivo do
curso a partir das entrevistas realizadas, pois eles constituem-se, por força de
seus papéis e por iniciativa deles, como um grupo que trabalha em conjunto
nas decisões do curso. Departamento e coordenação são as instâncias
legítimas, tanto na estrutura da universidade quanto no Projeto Pedagógico do
curso, de direção e organização do curso.
O corpo docente do curso, formado por todo o conjunto de professores (sejam
eles do Departamento de Administração Geral e Aplicada ou dos outros sete
102
departamentos que mantêm interface com o curso de administração) que
trabalham no curso de graduação em administração, ministram aulas e
compartilham com o corpo diretivo dos fóruns de discussão sobre o curso. Os
professores, além de participarem do processo de desenvolvimento de um
Projeto Pedagógico, são os responsáveis ativos pela efetivação do conteúdo
estratégico estabelecido neste plano em suas práticas individuais e coletivas,
de sala de aula, de planejamento, discussão e todas as demais que venham a
empreender na construção do curso. Atuam, de certa maneira, também como
“consultores” e “gurus” da estratégia, uma vez que influenciam sua
formulação com uma atuação “consultiva” e também com o saber teórico,
desenvolvido em pesquisas e em seus estudos, como “orientadores” sobre o
sentido da estratégia.
O corpo discente, formado por todos os alunos do curso de graduação em
administração da UFPR, que são o meio e o produto de todo o processo
estratégico-pedagógico do curso. Além disso, participam das definições de
conteúdo enquanto estudantes a partir das instâncias de representação formal
(Centro Acadêmico de Administração) e informal, por diversos canais que
podem ser criados.
Consideram-se todos os sujeitos constituintes dos grupos acima categorizados como
praticantes da estratégia do curso de graduação em administração, porém para viabilizar o
estudo, entrevistou-se o corpo diretivo como um todo, os membros do corpo discente que
possuem um papel de representação acadêmica de suas respectivas classes e os professores
que atendessem a algumas condições: (1) atuassem nos níveis de ensino e pesquisa, na
graduação e pós-graduação; (2) que tivessem um tempo mínimo de casa de 4 anos, o que lhes
dá uma visão maior sobre todo o processo do curso e torna suas narrativas mais ricas; (3)
aqueles apontados por outros praticantes como relevantes de serem ouvidos – estes três
critérios foram empregados hierarquicamente, na respectiva seqüência.
Partindo da categorização acima descrita, o Quadro 3 abaixo procura delinear o papel
de cada um dos praticantes citados diante do (1) Projeto Pedagógico, que enseja a estratégia
formal do curso; (2) do seu ponto de vista e interpretação enquanto praticante; (3) do ponto de
vista dos outros praticantes, a partir dos dados coletados por meio dos documentos e das
entrevistas realizadas.
103
Papel nos documentos
formais escritos
consultados
Como o praticante
descreve seu papel
Como os outros praticantes
vêem este praticante
Corpo diretivo
O papel destes praticantes
no projeto pedagógico é
descrito como de
formulador das estratégias.
São responsáveis também
pela condução das
atividades de rotina, do
monitoramento e avaliação
dos resultados e também
por tomar as medidas
corretivas. Respondem
pelas práticas episódicas
de reunião e colegiado.
Os praticantes descrevem
que cumprem o papel
formalmente atribuído a
eles. Em alguns momentos
reconhecem a dificuldade
de se fazer isso, mas ainda
assim expressam que têm
o poder para fazê-lo e
estão cumprindo o papel.
Descrevem inclusive
práticas relacionadas ao
cumprimento do seu papel.
Os demais praticantes acreditam
que:
1. O corpo diretivo não tem muito
poder sobre os professores
porque o curso é um grande
colegiado, favorecido pela
estabilidade do emprego vinda
com o concurso público.
2. Não percebem o cumprimento,
em sua maioria, das atribuições
constantes do projeto pedagógico
atribuídas a este praticante.
3. Não percebem a condução do
curso a partir de uma estratégia
clara e formulada; em alguns
casos desconhecem o Projeto
Pedagógico.
Corpo docente
O corpo docente é
constituído no Projeto
Pedagógico como co-
participante da formação do
Projeto Pedagógico. São
também os responsáveis
por implementar em sala de
aula as estratégias
delineadas, cumprindo o
escopo do seu trabalho,
monitorando e
acompanhando o
desempenho discente e
reportando isso ao corpo
diretivo.
O corpo docente percebe-
se como co-participante do
fazer-estratégia da UFPR.
Ao mesmo tempo
reconhecem sua atuação
individual em detrimento da
atuação coletiva e na
maioria dos casos têm
críticas a como é conduzida
a estratégia e por isso são
dissidentes da proposta
formalizada no Projeto
Pedagógico.
Estes praticantes são vistos pelos
outros como:
1. Muitos descomprometidos com
as estratégias do Projeto
Pedagógico, que conduzem seu
trabalho sem prestar atenção no
que está lá delineado.
2. Alguns são vistos como
“boicotando” determinadas
práticas que devem ser
implementadas.
3. Atuam de forma individual e
independente de outros e do
Projeto Pedagógico.
104
Corpo discente
Seu papel é descrito como
produto de todo o esforço
estratégico do curso. Ao
mesmo tempo são vistos
como fonte de feedback
para que o processo seja
monitorado e isso se dá por
meio de avaliações a que
são submetidas e
feedbacks formais e
informais que fornecem ao
corpo diretivo do curso.
Percebem-se como
praticantes “sem voz”,
acreditam que seu
feedback nunca é ouvido e
afirmam não existir
mecanismos formais para
que ele ocorra. Os
informais também não são
efetivos. Não se percebem
como participantes ativos
do processo. Ao mesmo
tempo afirmam que não
são atuantes diante de
algumas coisas que
acontecem.
São percebidos pelos demais
praticantes ora como importantes
para o processo
(fundamentalmente pelo corpo
diretivo), ora como passivos, sem
atitude que possa inseri-los no
processo do fazer-estratégia. No
entanto todos os demais
praticantes os julgam importantes
no processo de fazer estratégia.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 3. Quadro-resumo da categoria de análise “praticantes” no curso de graduação
em administração da UFPR.
Partindo-se do delineado no Quadro 3 acima percebe-se que há divergências entre o
descrito no Projeto Pedagógico do curso, na percepção dos entrevistados sobre seu papel e na
percepção dos entrevistados sobre o papel dos demais praticantes
2
. Isso de certa maneira
reflete a desintegração existente no curso entre todos os praticantes. Reflete ainda a
heterogeneidade de pensamentos e posições e acima de tudo a prevalência da atuação
individual em detrimento do coletivo, contrariando o 5
o
e o 7
o
princípios do Projeto
Pedagógico: interatividade e multidisciplinaridade/ interdisciplinaridade, respectivamente.
Segundo colocação de um dos entrevistados, que reflete um aspecto apontado pela maioria
dos entrevistados, pode-se perceber que essa desintegração é evidente e causa prejuízos ao
desenvolvimento estratégico da organização:
E acho que nosso curso também é desintegrado de forma geral, quer dizer,
cada área toca o seu processo, não se conversam, é muito difícil ter uma
relação entre as áreas, (…) dentro das próprias áreas também. (…). Com as
outras áreas a gente nunca sentou para conversar (Entrevistado 15, 2008).
Além dessa desintegração os praticantes apontam outro aspecto importante que parece
justificar tamanha incongruência entre os papéis descritos e percebidos, que vem da descrença
no próprio Projeto Pedagógico e do seu processo de construção:
“[você teve alguma participação do projeto pedagógico do curso?] Na
verdade eu tive mas eu participei muito pouco. Na verdade quase todas as

2
A análise individual das narrativas de cada um dos praticantes entrevistados está exposta no APÊNDICE C, p.
117.
105
sugestões que eu dei não foram aceitas porque eu acho que o curso de
administração hoje, o curso aqui na Federal, é um curso completamente
engessado, o aluno não se especializa em nada, não tem uma formação
específica (…) você vai trabalhar em uma função, você não vai trabalhar em
administração: você vai trabalhar em marketing, em RH, em produção, em
finanças (…) e qualquer curso hoje no Brasil de bom, é um curso que você
chega e faz metade do curso, ¾ do curso e o resto você faz especialidades.
Eu até imagino – e a briga se deu porque algumas áreas são mais procuradas
do que outras e então vai ter uma área melhor, outra área pior, uma área com
mais demanda e aí vai ter mais professor na área e aí chega o problema da
distribuição de poder, importante, mas aí eu acho que é uma tremenda perda
de tempo para o alunos. O cara que “ah, eu quero trabalhar com marketing”,
ok, então se especializa na área. Você vai fazer uma matéria básica de
produção, de finanças (…). Mas daí porque acharam que tinha pouca sala,
gente achava que tinha pouco professor e um monte de “achômetros”
acabou-se optando por se engessar mais. Porque o currículo antigo, quer
queira, quer não, você chegava no final do curso e você escolhia quais
tópicos você ia fazer. Hoje não, hoje tem que fazer todos. O que um cara de
finanças vai querer saber de RH? Um cara que tem interesse em produção
vai querer saber de gestão de pessoas? Tudo bem, tem uma relação forte,
você precisa trabalhar como um todo. Mas essa visão de generalista na
graduação… (Entrevistado 15, 2008).
O Entrevistado 15 evidencia sua percepção individual sobre o curso, coloca sua
descrença na forma de condução, tanto do processo de formulação quanto do produto final
dessa estratégia – o Projeto Pedagógico e o currículo do curso. Da mesma forma, em sua
percepção, outro entrevistado coloca que:
Eu tive [participação] de forma direta. Participei de algumas reuniões mas
achei muito confuso o processo, achei muito aberto, onde vários professores
deram todas as suas contribuições e interesses acadêmicos a serem
atendidos, mas nunca foi pensado nas limitações da própria universidade, no
que tange às contratação de professores, aos limites de criação das
disciplinas. Porque foram criadas, por exemplo… foram criadas disciplinas
que seriam interessantes mas não prioritárias para o curso e isso desviou
muitos recursos aqui da nossa universidade. Não foi pensado em termos
acadêmicos um plano, uma diretriz, uma estratégia acadêmica para o curso
ao se criar diferentes disciplinas. É mais ou menos como a constituição
brasileira: tem 30 milhões de itens, mas nada funciona direito, um se
sobrepõe ao outro e acaba criando problemas sérios. [por que isto
aconteceu?] Pelo processo, pela forma como foi administrada a própria
condução da situação. Então, por exemplo, você tem professores com
diferentes perspectivas, a própria política do professor em relação à
constituição das disciplinas: você pega professores com interesses difusos,
por exemplo, se eles se reúnem sem uma diretriz eles irão criar cada um por
si vai criar as suas disciplinas de interesse e elas não são agregadoras, ao
contrário, elas são diferenciadoras de uma proposta acadêmica de interesse
comum. Então foi o que aconteceu: criaram-se muitas disciplinas que não
existe formação de professores nessas disciplinas pelas suas especificidades.
Então o curso ao longo do tempo teve que ir extinguindo algumas disciplinas
e ir criando outras. Um exemplo absurdo é que nunca ninguém havia
pensado em metodologia, foi criada depois. Então existem alguns problemas
muito sérios na condução, falta de uma diretriz acadêmica específica a
106
respeito de que curso nós queremos, qual a formação, quais são as
competências que nós queremos formar (Entrevistado 11, 2008).
Esse entrevistado evidencia outra característica: a falta de uma diretriz clara, que faz
com que o currículo do curso tenha ficado um “amontoado de disciplinas”, que os discentes
afirmam não ver muito “sentido” entre elas, não conseguir perceber o que vem antes e o que
vem depois. Outro entrevistado já aponta problemas acarretados por esse processo e pela falta
de integração e interação entre os praticantes:
O que nós fizemos foi a mudança do currículo, lá eu participei. Mas é uma
participação com “cartas marcadas” porque eles já tinham feito… eles
queriam nós para legitimar uma estratégia que eles já tinham decidido
anteriormente às reuniões. E aí, como eu não tinha força naquele período –
se fosse hoje provavelmente eu bateria mais pesado. Eu acho que eles (…)
eles pegaram os currículos que o MEC estava, vamos dizer, pressionando
para incluir, que seria um re-enquadramento (uma espécie de isomorfismo
coercitivo) para que os currículos incluíssem certas disciplinas novas, que
virou um certo consenso e veio de cima, então nós recombinamos, na
verdade foi uma recombinação. E aí virou meio territorialista, assim, cada
área pegou a sua área e fatiou. E aí foi um negócio muito gozado, porque
como cada área queria dar o seu status, eles pegaram os oito períodos (se não
me engano), então assim: o cara pegou a disciplina de RH, por exemplo, que
tinha – sei lá – 4 disciplinas de RH no currículo e dividiu RH1, RH2, 3, 4, 5
– 4 (1, 2, 3, 4), né? Produção: produção 1, 2, 3, 4. Marketing: 1, 2, 3, 4. (…)
Foi muito legal, né? Ficou assim, né? O cara tinha: Introdução ao Marketing,
Introdução à Produção, Introdução à RH. Aí RH 2 acabou, os caras não
tinham mais o que dizer em RH 2… RH 3… (…) ou seja: eles aumentaram o
número, a carga só para ocupar espaço, sem pensar na relevância. (…)
demorou pra ajustar. Eles quiseram fazer uma reforma, e talvez estavam
certos, eles quiseram distribuir melhor os conteúdos pra que os alunos
tivessem um aproveitamento, um contato maior, reclamava-se muito que os
alunos passavam o primeiro ano (porque era anual o curso), passavam um
ano sem ver administração (…) a única coisa que ele via era TGA (…).
Então os caras acharam que era importante colocar disciplinas introdutórias
que mostrassem melhor o que é administração. O debate foi nisso e tal e tal.
Muito bonito, mas quando foi operacionalizar é… foi bastante difícil de
acertar isso (…) (Entrevistado 14, 2008).
Assim, o Entrevistado 14 aponta outro ponto interessante: as “cartas marcadas”,
aspecto evidente em várias narrativas que afirmam haver uma “inteligência” que comanda o
que deve ser feito, reúne-se e consegue implementar no curso aquilo que é do seu interesse. A
força política é descrita em muitas narrativas como importante na condução das atividades e
práticas no curso de administração, denotando a existência de um jogo de cooptação entre uns
e outros em prol de objetivos muitas vezes individuais, ou de um grupo que julga ser aquela
linha a melhor para o curso mas, a partir das narrativas, dificilmente se percebe um objetivo
comum, uma discussão coletiva e fundamentalmente um comprometimento coletivo com estes
107
objetivos, fato que é percebido pelos discentes e descrito por um dos entrevistados dessa
categoria da seguinte maneira:
E eu vejo que as pessoas aqui elas são capacitadas, mas não têm os
instrumentos, talvez, não tem instrumentos que proporcionem que elas
consigam fazer o que realmente querem fazer. (…) Eles até têm a vontade,
mas daí chega o professor e começa a fazer aquele grupinho informal, “ah eu
vou… vou fazer assim, vamos continuar fazendo assim”. Daí isso desmotiva
qualquer um, daí eu acho que isso pode comprometer todo o processo de
melhoria (Entrevistado 03, 2008).
Perceba-se que no excerto acima o Entrevistado ressalta a característica colegiada do
curso, que nas palavras do Entrevistado 15 coloca o curso como “um grande colegiado”,
revelando que as estruturas formais – departamento e coordenação – nem sempre têm poder
para fazer com que as pessoas façam alguma coisa. Dessa forma revela-se mais uma
característica fundamental dos praticantes do curso de graduação em administração: a sua
heterogeneidade, característica evidenciada pela grande maioria dos entrevistados e descrita
assim por um deles:
Eu colocaria três níveis de heterogeneidade: existe uma heterogeneidade de
formação – professores formados nas mais diversas áreas; existe uma
heterogeneidade de trajetória profissional – então aquele professor que
sempre foi professor e nunca trabalhou em empresa, especialmente empresa
privada, o que para a administração é ruim, porque é diferente da química ou
da matemática, a dedicação exclusiva de 100% dos professores no curso de
administração é ruim por que: porque não é só um ambiente de pesquisa,
nosso lócus é na empresa então nós deveríamos ter professores na empresa –
então esta é a segunda diversidade e a terceira é a questão de
comprometimento
. Nós temos professores tempo parcial, que estão na
empresa e na universidade, que são extremamente comprometidos com a
universidade. E temos esse mesmo perfil de professores que não são
comprometidos, que estão aqui apenas para dizer que são professores da
universidade. E no professor que tem uma trajetória, com formação e tal nós
também temos isto: nós temos o cara extremamente comprometido e o cara
que, apesar de ser professor, dedicação exclusiva, com formação, ele não
tem comprometimento (Entrevistado 05, 2008).
Expostas todas essas questões percebe-se a importância dos praticantes no fazer
estratégia do curso de graduação em administração da UFPR: muito mais do que em outras
organizações (principalmente as empresariais), aqui a estratégia depende fundamentalmente
das práticas de cada um deles, da forma como cada praticante a influencia. Percebe-se, no
entanto, que mesmo dentro dos três grupos de praticantes categorizado no início – corpo
diretivo, corpo docente e corpo discente – existe uma grande diversidade de interesses,
opiniões e práticas individuais que se sobrepõem às coletivas e conferem uma complexidade
muito maior à qualquer tentativa de compreensão da estratégia que se faz no dia-a-dia da
108
organização. Posto isso, julgou-se interessante descrever, em termos individuais (e também
porque os níveis de análise da pesquisa são o individual e o organizacional), as narrativas dos
praticantes entrevistados, as quais constam no APÊNDICE C (p. 205) deste trabalho.
Diante da diversidade dos praticantes, julgou-se interessante estruturar a análise dos
dados contrapondo, como já se fez aqui, os pontos e objetivos de pesquisa em relação ao que
está prescrito na “estratégia formal”, na visão do corpo diretivo e na visão dos demais
praticantes, visto que essas duas categorias apresentam certa linearidade entre elas dentro dos
grupos.
4.1.3 Estratégia: como é vista pelos praticantes
Considerando que essa pesquisa trata das práticas relacionadas ao conteúdo estratégico
das organizações de ensino pesquisadas, uma das questões norteadoras para a narrativa dos
entrevistados dizia respeito ao seu entendimento de estratégia, para então conduzir a discussão
sobre a percepção da existência ou não de estratégia no curso e as práticas relacionadas à
realização do seu conteúdo.
Com relação ao entendimento de estratégia dos entrevistados todos revelaram uma
visão conceitual do termo relacionada a um horizonte de futuro, “o que quero ser daqui a
determinado tempo”, que medidas tenho que tomar para chegar a determinado resultado,
enfim todos evidenciaram um conceito de estratégia relacionado a uma diretriz de onde se
deseja chegar, sem no entanto se aprofundar nesse entendimento. Alguns dos entrevistados,
no entanto, acabaram focando e (de certa forma até) confundindo estratégia com
planejamento, com a necessidade de operacionalização de rotinas e procedimentos para o
curso.
A partir desse entendimento conceitual obtiveram-se algumas percepções a respeito da
estratégia do curso que podem assim ser sumarizadas: (1) o corpo diretivo enxerga a
existência de uma estratégia e (2) o corpo docente e discente não consegue percebê-la e então
discorre sobre uma série de motivos que os levam a entender que não há uma estratégia
formulada para o curso de graduação em administração. Perceba-se um fato importante: o
Projeto Pedagógico não é percebido por muitos (inclusive pelos entrevistados do corpo
docente) como estratégia do curso – é um fato no mínimo curioso, mas que parece estar
envolvido com todas as falas descritas na seção de capítulo anterior (4.1.2, p. 101) sobre a
percepção dos entrevistados a respeito do Projeto Pedagógico e com a sua descrença tanto em
relação ao seu processo de elaboração quanto ao resultado final desse processo. O corpo
109
discente, ao afirmar isso, parece coerente com a afirmação de que desconhecem o Projeto
Pedagógico e muitas vezes até a grade de disciplinas (apesar de ela estar disponível para o
público em geral no site do curso). Delineadas essas questões, o Quadro 4 abaixo delineia
como a estratégia do curso é percebida na visão dos praticantes e também como pode ser vista
no Projeto Pedagógico do curso:
Estratégia nos documentos
formais escritos
consultados
Estratégia na visão do
corpo diretivo
Estratégia na visão dos demais
praticantes
Formar administradores com
competências para resolver
problemas, planejar,
organizar, coordenar, avaliar,
trabalhar em equipe, possuir
iniciativa e criatividade,
autônomo, crítico, ético e
capaz de ler a sua realidade
apropriadamente e fazer
interferências sobre ela.
Isto pautado em objetivos
claramente delineados no
projeto pedagógico e por
meio de diretrizes lá
estabelecidas.
A estratégia para o corpo
diretivo não é entendida de
forma comum:
- alguns (maioria) a vêem
como questões operacionais
e de controle necessárias de
serem implementadas e que
podem ser resolvidas por um
planejamento bem
desenvolvido.
- outros (minoria) vêem um
horizonte de futuro que deve
nortear um novo Projeto
Pedagógico capaz de garantir
a busca constante pela
melhoria do curso e a sua
adequação às novas
demandas que o mercado
dita.
Os demais praticantes não vêem a
existência clara de uma estratégia.
Alguns chegam a mencionar que
ela pode existir “na cabeça” do
corpo diretivo, pois acreditam que
eles precisam de um
direcionamento para suas ações.
Outros afirmam contundentemente
que não há uma estratégia para o
curso de administração. Para o
corpo discente, para todos os
entrevistados, é clara a inexistência
de uma estratégia no curso. Apesar
disso, todos os praticantes têm
idéia de como deveria ser a
estratégia do curso, evidenciando
em comum o entendimento de que
uma estratégia deveria visar como
resultado a satisfação dos
interesses da sociedade
.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 4. Quadro-resumo do entendimento de estratégia no curso de graduação em
administração da UFPR.
Pelos dados acima, percebe-se que do ponto de vista da prática – no fazer estratégia,
nas atividades e rotinas dos praticantes – não há a percepção da existência de uma estratégia
no curso de graduação em administração. O Projeto Pedagógico, que formalmente deveria
conter a estratégia do curso, não é reconhecido (e até desconhecido, por alguns) pela maioria
dos praticantes. O corpo diretivo, no entanto, afirma que existe, mas também não sabe
descrever essa estratégia. Percebe-se, portanto, que não há uma estratégia compartilhada,
comum e reconhecida que guie as práticas estratégicas no curso de graduação em
administração.
Olhando para as falas do corpo docente narradas quando perguntados sobre a
existência de uma estratégia no curso de graduação em administração pode-se perceber o não
reconhecimento dela, e quando reconhecida, não compartilhada e restrita ao corpo diretivo:
110
Não, não tem nenhuma estratégia formulada. Eu diria que estratégia
formulada tem que ter, por exemplo, uma discussão de contextualização, por
exemplo. Nós não temos isso. Nós deveríamos ter uma discussão de… das
competências – que seria de conteúdo – nós não temos. Teríamos que ter
uma discussão de recursos acadêmicos, nós não temos. Nós não temos uma
biblioteca que nos dê suporte a isso, nós não temos essa discussão. Quer
dizer: que tipo de biblioteca, que tipo de ensino que nós queremos? Então
não existe uma estratégia em qualquer nível que você possa imaginar, nem
no nível operacional nós temos estratégia, quanto mais no nível tático e
estratégico (Entrevistado 11, 2008).
Percebe-se na visão desse entrevistado a compreensão de que a estratégia pressupõe
discussão, contextualização, avaliação de recursos, necessidades e de que tipo de profissional
se deseja formar – percebe-se também uma visão de estratégia compartilhada. Outro
entrevistado afirma o seguinte:
Não… não vejo. Eu vejo uma tentativa de acomodar o quadro às
necessidades atuais. Melhor aproveitar os que estão disponíveis. E como eu
disse: os caras estão criando regras para distribuir horas. E os caras que estão
criando as regras estão criando as regras para não dar aula na graduação,
então essa é que a minha impressão (…) (Entrevistado 14, 2008).
Nas palavras desse entrevistado novamente lê-se a negativa a respeito da existência de
estratégia e o reconhecimento da operacionalidade das ações de chefia e coordenadoria. Os
docentes, na maioria das vezes, reconhecem as iniciativas da instância da chefia do
departamento de procurar “fazer as coisas acontecerem”, mas descrevem que isso fica restrito
ao nível de operacionalização, controles e tentativas de coordenação, aspectos que podem ser
percebidos nas narrativas do corpo diretivo. Outro dos entrevistados do corpo docente coloca
que existe uma estratégia, mas elas está vinculada ao corpo diretivo:
Eu acho que tem, tem… de novo, é muito da visão, da cabeça de quem está
tocando o departamento. Apesar de ele não ter muito poder, do ponto de
vista de ação sobre os professores, aqui é um grande colegiado… eu acho
que vai muito da visão que esse pessoal tem. Por exemplo, eu me lembro de
alguns, mas… quando o departamento teve um crescimento enorme que foi
lá no modelo novo do currículo de mestrado e essas coisas todas (…) tinha
uma coordenação forte para dizer “esse é o nosso caminho, precisamos ter
isso como ponto crítico para ter um diferencial” (…) aquela iniciativa,
depois virou o mestrado, depois o mestrado cresceu, que deu uma certa
inserção, abriu fortemente a possibilidade de receita dos professores, ganhos
adicionais. Daí abriu um monte de cursos de especialização (…) aquilo fez
uma abertura enorme. De certa forma começou com o [Professor “X”],
depois o [Professor “Y”] tocou e foi meio que à mão de ferro dos dois caras:
“não, o negócio é o seguinte: nosso caminho é esse, temos que fazer e assim
por diante”. Eu acho que depois do [Professor “Y”] de forma geral se perdeu
um pouco esse caminho, daí como esse processo não continuou, cada um
tocou seu caminho de acordo com o seu interesse. (…) E agora por conta
dessa, vamos chamar de crise, entre aspas, que a pós-graduação secou, o lato
sensu secou (…) eu acho que daí obrigou todo mundo a repensar qual o
111
caminho que deve ser tomado. E existe uma certa briga aqui, porque a
universidade ela não valoriza fortemente a pós-graduação, valoriza a
graduação, então vai muito do departamento dizer “não tem que dar um
norte para o contexto todo”. Mas acho que ainda assim esta estratégia não
está claramente construída. Assim, alguns professores têm uma certa visão,
que não são necessariamente compartilhadas, (…) apesar de ter coisas em
comum (…). Quando você vai para a graduação é outro tipo de abordagem.
A preocupação que está tendo hoje nas reuniões de departamento (…) tipo,
quem é que pode migrar para DE, que tipo de professores nós queremos para
cada tipo de cargo, essas coisas todas. Então de certa forma dá uma idéia da
cisão entre graduação e pós-graduação (Entrevistado 15, 2008).
Esse entrevistado traz a sua narrativa personagens que marcam momentos e estratégias
que ele conseguia perceber no curso, de certa forma mais claras e mais compartilhadas, mais
agregadoras… Essas questões, pelo que se pode perceber, não fazem parte do contexto atual,
onde existe uma cisão entre grupos, interesses e práticas, principalmente no que diz respeito à
graduação e pós-graduação. Na mesma linha, outro entrevistado evidencia o seguinte:
(…) eu sinto que há um esforço deliberado de ter professor em sala de aula,
de manter os alunos satisfeitos e fazer com que os alunos… até… flexibilizar
ou pouco – tem gente que é frontalmente contra que o aluno da manhã
assista uma ou outra disciplina à noite. Eu não sou. Eu acho que…puxa! É
uma circunstância: o aluno às vezes arruma um emprego no meio do curso e
daí você vai dizer, não, tranca o curso que agora você vai trabalhar. O nosso
curso é voltado ao mercado – e eu acho que há um planejamento da
coordenação de melhorar a qualidade do curso. Mas eu acho que uma coisa
que tinha muito no meu tempo e eu sinto que perdeu-se um pouco é um
espírito de corpo. Houve época, quando eu fui coordenador, que o nosso
curso não tinha mestrado e nem doutorado, então o único trabalho era fazer
ensino de graduação e pesquisa – e nossa pesquisa estava paupérrima, quase
não se pesquisava. Então era uma realidade onde o foco todo era na
graduação. Em 92 (…) nós conseguimos criar o mestrado e credenciá-lo
junto à ANPAD (…). Mas daqui pra frente meio que começou uma
concorrência entre a área de pós e a graduação e depois quando a pós
começou a exigir que os professores pesquisassem bastante e produzissem,
para ter artigos e tal, ter uma boa avaliação pela Capes, deu uma impressão
que isso aqui começou a criar uma rivalidade. E aí hoje o nosso
departamento, que eu acho que uma época era fechado, no meu tempo como
coordenador, eu sentia que a gente era um grupo assim, ele deu uma rachada
e não uma rachada em dois – se fossem dois só era fácil – deu uma rachada
em uns 3 ou 4 grupos: um grupo que quer fazer pesquisa e pós-graduação e
faz, e faz com competência; um grupo que acha que isso aqui está matando a
graduação; aí tem o pessoal da especialização, que são os cursos pós lato
sensu, que às vezes não interagem também com esse aqui; aí tem os caras
que são só 20 horas, vêm aqui, dão aula e não tem uma presença mais ativa.
E às vezes, eu acho super necessário ter professores 20 horas, porque eles
são os que trazem o que está rolando lá fora nas empresas. Então… tem
gente que acha que a gente tinha que ter tudo assim: todo mundo DE. Eu não
acho. Na minha visão de universidade tem que ter pessoas com pé no
mercado que possa até questionar o que a gente está fazendo, trazer
novidades, fazer as pontes com o mercado, o setor produtivo. Principalmente
pela área de administração. Mas eu acho que o formato não deve ser
112
hegemônico. Quando você tem um grupo que é muito igual, você pega até
um pouco de endogenia, daqui a pouco começa até a não oxigenar, a não
renovar. E eu acho importante que venha gente e faça esse questionamento.
Então hoje o nosso departamento, por uma série de circunstâncias, ele está
muito fragmentado e aí a graduação às vezes… digamos assim, ela deixou de
ser o carro-chefe, que era no meu tempo, e hoje ela talvez seja… não seja o
foco central. E eu acho que isso é, talvez, falta de planejamento estratégico
do nosso grupo – nosso grupo que é muito forte em planejamento estratégico
e uma época fez um planejamento de longo prazo que resultou no que nós
temos hoje (…). E a gente hoje é o resultado daquilo, com certeza. Mas eu
senti que em um determinado momento meio que fragmentou, daí um grupo
foi cuidar do seu interesse, outro grupo foi cuidar de outro interesse e outro
grupo foi cuidar de outro e… está faltando um realinhamento estratégico
(…). e a gente aproveitar este momento assim e retomar aquele gás de que
nós somos um grupo e que temos de dar conta de fazer várias coisas ao
mesmo tempo e todas com excelência. Nós temos que manter o curso da
Federal o melhor do Paraná e um dos cinco melhores do Brasil – esse foi um
objetivo que lá trás nós definimos como objetivo estratégico e a gente foi
trabalhando (…). E alguns alunos, para minha surpresa, vieram se queixar
exatamente disto. Quando eu falei: “O nosso curso é o melhor do Paraná”,
“não é mais professor, veja, quem dá aula aqui não é mais o professor
fulano” – e aí citaram nominalmente – “quem está nos dando aula é o aluno
de mestrado dele, porque ele está dando aula lá na especialização, porque a
gente descobriu que ele está dando aula lá na especialização”. Quer dizer,
isso é um conflito de discurso e prática que não deveria estar acontecendo.
(…) Eu acho que esse feedback é que falta – avaliação com feedback –
então, nós paramos de fazer avaliação do docente pelo discente. Agora a
Prograd fez lá um esforço, fez aquela avaliação institucional – que bom que
está fazendo alguma coisa – mas está longe do que a gente fazia, está
longe… do nível. E o feedback está longe daqui. (…) Então eu acho que a
gente está em um momento estratégico de retomar o planejamento (…)
(Entrevistado 10, 2008).
Perceba-se que na narrativa enunciada pelo Entrevistado 10 uma série de eventos e
personagens são chamados à cena para colocar, com certo saudosismo, a existência de um
grupo que trabalhou por muito tempo em prol de uma estratégia fruto de objetivo comum, que
agora não faz mais parte do curso de graduação em administração. Evidencia ainda que essa
estratégia se perdeu entre os interesses de cada um, percepção que é comum à maioria dos
entrevistados. Aponta ainda o distanciamento cada vez mais forte entre graduação e pós-
graduação, evidenciando que a graduação tem sido preterida em relação à pós-graduação e
que isso tem conduzido a uma perda de qualidade no curso. Ao mesmo tempo em que esses
entrevistados apontam a falta de existência da estratégia e o conseqüente distanciamento de
um resultado, o corpo diretivo coloca esse resultado como estratégia, reafirmando a existência
– na percepção do grupo – da existência da estratégia do curso:
E dentro da nossa linha de estratégia, de planejamento aí que nós
desenhamos para o departamento é… o nosso desafio aí para esta gestão, nos
próximos 4 anos, ou para os próximos 2 anos é o seguinte: pelo menos
113
manter as 5 estrelas do Abril Cultural (que eles fazem uma pesquisa), nós
mantermos o conceito 5 do MEC, né?… e só para contar uma historinha para
vocês, nós temos uma pesquisa que saiu aí a nível internacional, nós estamos
aí, o curso de Administração está entre os 1.000 melhores do mundo, está
entre os 17 do Brasil e no Paraná só tem dois, e os dois estão em Curitiba.
Um deles é a Federal, ta? E esta preocupação com a qualidade para vocês
terem uma idéia é… (…) é… a preocupação, a preocupação do próprio
conselho é aproximar cada vez mais a academia do próprio segmento
empresarial, ta? Isso aí tem que estreitar cada vez mais. Nós tivemos aí um
embrião, que teve origem até do próprio Centro Acadêmico, de fazer uma
feira aqui trazendo as empresas, né? Foi feita semana… sexta e sábado da
semana retrasada, né? Então justamente plantar este embrião, este embrião
foi plantado e se transformar em uma grande feira, em um grande evento
como a Feira das Profissões que passaram nestes dias aí 45.000 pessoas, ta?
Então este aspecto é um aspecto fundamental. Agora tudo isto sempre
pensando, sempre agregado à qualidade, ta? E também pensando em
qualidade, a própria lei do administrador é a 4769 de 65, 09/09/65. Então
tem um pouquinho mais de 40 anos, né? Daí o que nós observamos também
que a própria advocacia é centenária, a engenharia é centenária… e o que
nós observamos, como a própria contabilidade, é que esse pessoal ocupou
muito espaço (risos do entrevistado) dentro das empresas, muito espaço
dentro das empresas que hoje é determinado pela 4769. A área financeira, a
área de logística, a área de vendas – isso aí é para um profissional
administrador, tá? Agora, daí tem uma outra encrenca: diga-se como
administrador aquele que é graduado em administração. Se ele tiver
mestrado e doutorado em administração, ele não pega o registro do CRA, tá?
E aí nós temos algumas encrencas aqui, que a maioria dos nossos aqui não
tem a graduação em administração, eles não são administradores, eles não
são administradores, então ele não é administrador. A maioria aqui é
economista, tá, ok? Tem psicólogo etc. … Tem uma encrenca aqui dentro,
até porque eu sou lá do conselho, tem alguns aqui dentro que também já
passaram pelo conselho, mas que são administradores… Então em relação a
isto, principalmente com relação à engenharia, às engenharias – porque ela
facetou bastante e tá vindo cada vez mais – os engenheiros são muito bons
em matemática… nós percebemos isso no mercado. E eles é que estão
ocupando estes cargos aí, tudo de administração financeira que só dá
matemática… Daí o que é que nós fizemos: dentro do próprio projeto
pedagógico nós temos uma disciplina de matemática. Só que nós estamos
procurando fazer com que esta disciplina que é ofertada lá pela matemática,
essa matemática seja uma matemática mais voltada para a administração,
mais aplicada, mais analítica e lógica, tá? E também preocupados com
relação à qualidade, nós introduzimos este ano no vestibular uma prova de
matemática, uma prova específica. Esse ano vai ter matemática como prova
específica… e isso assusta. Já assustou na feira das profissões passadas e
assustou nesta feira das profissões. E quando eles me perguntavam nesta
feira das profissões “matemática” e “português” eu até desconversava… e
depois eu disse assim, então vou responder: matemática e português é uma
questão de vida, não é de administração, não é de engenharia… a base você
tem que ter, tá? E no ano que vem nós estamos introduzindo geografia.
Então nós estamos introduzindo matemática neste ano e geografia no ano
que vem (risos)… então o filtro vai melhorar mais… (…) É nós temos
cursos aí com sociologia, com filosofia… mas aí… Essa é uma forma além
de nós termos um filtro já… porque os nossos alunos aqui… a primeira
peneira é aqui, tá? Para passar no vestibular aqui, se não tiver um pouco de
base não passa com certeza, com certeza. Daí você tem a segunda, a terceira
114
e a quarta peneira que são as outras. Você tem de primeira linha as
particulares, segunda, terceira, quarta, de quinta… e vai embora, e vai
embora! Mas o primeiro filtro é aqui. Então isso já faz com que você tenha
aqui um quadro discente de um potencial muito bom. [a decisão foi tomada
pela coordenação?] Pela coordenação, aprovada pelo colegiado… seguiu
todos os trâmites legais dentro da própria instituição, né? (Entrevistado 02,
2008).
Perceba-se que nas palavras do membro do corpo diretivo acima existem uma
estratégia, inclusive direcionando a seleção dos alunos. Mas, perceba-se que cada vez mais o
curso de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná procura selecionar
alunos com um perfil mais próximo daquele que ele deseja obter ao final da formação do
aluno e isto corrobora as afirmações de outros praticantes de que a Universidade Federal, no
curso de administração, mantém seus resultados perante a sociedade ainda por ter um corpo
discente muito preparado, ao qual o curso agrega muito pouco. O resultado, diante desses
primeiro indícios, portanto está pautado não na condução estratégica do curso, mas no seu
corpo discente e na qualidade de alguns professores que fazem a diferença e assim, são
apontados como importantes e relevantes pelos próprios discentes – mas essa é uma questão
para se construir e discutir mais adiante… tenha-se em mente, porém, os indícios que podem
ser observados ao longo das narrativas que vêm sendo expostas…
Na visão de outro grupo de praticantes – o corpo discente – a inexistência de uma
estratégia é percebida de forma unânime, dentre os entrevistados:
Às vezes parece que eles não têm. Às vezes parece que eles estão tudo
perdido, porque… o exemplo que eu posso dar é que às vezes há alguma
discrepância entre a ementa e o que é dado em sala; às vezes, até a lotação da
sala – em dia de prova as salas ficam lotadas e tem gente que tem que ir
roubar carteira em outro lugar – parece que eles não têm um planejamento
das coisas que acontecem aqui, parece que tudo acontece meio… Ou este
negócio de a gente ter os 5 tópicos, antes eram três tópicos… no mesmo
semestre, são 5 trabalhos finais. A gente se mata aqui! A gente acho que é a
primeira ou segunda [turma] que está fazendo assim, mas antes você poderia
escolher duas, ou só escolhia uma. Parece que só pioraram nesse processo…
então eu não sei que estratégia eles utilizaram aí, se foi só para cumprir
horário ou o que foi que eles fizeram (Entrevistado 06, 2008).
Veja-se que o Entrevistado 06 coloca uma série de indícios para corroborar a sua
afirmação de que não existe uma estratégia no curso, questões relevantes e coerentes. Outra
questão a ser observada são os termos utilizados pelo entrevistado em sua narrativa: “eles não
têm uma estratégia”, o que dá indícios de que os discentes não se sentem parte do processo,
não se julgam praticantes de certa forma. Outro entrevistado coloca a situação nos seguintes
termos:
115
Hum... não. Só algumas questões pontuais assim, que nem quando... a
questão do REUNI, por exemplo, isso é uma estratégia. Se você vai adotar
ou não o REUNI, que aí houve uma mobilização, uma conscientização,
professor brigando pra adotar, professor brigando pra não adotar... discussão
em cima do tema... é... mas não houve convite aos alunos, para opinarem... e
daí teve uma mobilização, tal... mas eu acho que é muito mais... e eu ouço
alguns professores falando... agora tendo aula com o professor [Professor
“Y”]... ele falando que a universidade precisa adotar estratégia de
internacionalização, é...que precisa dar aula em inglês, ter mais convênios no
exterior e tal... só que... eu vejo ele falando isso... que precisa ter... agora se
existe uma mobilização... por parte de qualquer um aqui dentro... pra mim
isso... não sei se existe um planejamento estratégico do curso de
Administração. É... eu não tenho conhecimento, então eu realmente não sinto
isso. Eu vejo muito mais atuando de acordo com a demanda do que... do que
de outra forma. No ano que eu entrei também teve a organização da grade
curricular, né... que quando eu entrei, já tava sabendo que no ano seguinte ia
mudar, mas que eu... (Entrevistado 04, 2008).
Na percepção desse entrevistado percebe-se que ele aponta a inexistência de uma
estratégia, mas reconhece algumas iniciativas particulares e individuais e outros
influenciadores (como o REUNI) relacionados à estratégia do curso. Registre-se que os dois
entrevistados (04 e 06) encontram-se em fases adiantadas do curso e fazem uma análise
longitudinal do processo. Da mesma forma, os entrevistados das fases mais iniciais do curso
colocam a questão nos seguintes termos:
Eu pensaria da seguinte forma: a função o objetivo seria formar bons alunos
para atender aos interesses da sociedade. Então eu vejo que o mais
importante seria gente insistir no crescimento das pessoas. E isso a gente
faria com professores mais…cuidar mais dos professores, ser mais
comprometido com isso. Tem vários professores que… que… a gente tem
professores excelentes aqui – só que também tem alguns que não estão nem
aí, que só fazem o que é necessário… então eu acho que este tipo de coisa
deveria ser corrigido. Talvez algum tipo de avaliação de desempenho dos
professores, ou até mesmo dos alunos. (…) Eu visaria uma estratégia
buscando o crescimento do aluno, que é a função da universidade se for
ver… E talvez fosse necessário trabalhar mais até na seleção de aluno, que
nem na feira, eu vi na feira… o estande, tinha estande lá – ah, é uma frescura
trazer o bicho lá mas… – a gente chegava lá a pessoa perguntava: “ah, o que
é administração?”, você só podia conversar porque você não tinha nada pra
mostrar, “ó, a gente faz isso”, não tinha um trabalho para mostrar – ah a
gente faz isso, isso… A gente não tinha material nenhum para mostrar.
Talvez a pessoa achasse… às vezes a pessoa tivesse motivação “ah vou fazer
administração”, daí chega lá…aí a pessoa não consegue ganhar o
candidato… então… talvez pessoas que seriam boas… (Entrevistado 03,
2008).
Nos termos da narrativa do Entrevistado 03 percebe-se que ele não reconhece uma
estratégia, mas tenta, a partir do que tem percebido em relação ao curso, colocar pontos que
considera importantes estrategicamente. De seu ponto de vista, outro entrevistado do corpo
docente coloca que:
116
Olha eu acredito que não. Talvez se nesse segundo semestre a gente tivesse
dando seqüência, a tipo Marketing e RH, então a gente viria um progresso,
sabe? Tipo, ah, isso aqui vocês vão ver daqui há dois semestres, então vamos
ensinar isso aqui primeiro, a gente parte do básico e vamos avançando. Mas
ninguém chegou aqui e falou: “ó, a gente está partindo de um ponto zero e
vamos chegar até lá”, ninguém falou isso pra gente (…). Acho que todo
mundo tem uma idéia, mas ninguém sabe direito (Entrevistado 09, 2008).
Nas palavras do entrevistado 09 não se percebe uma estratégia, porque na sua visão a
estratégia possibilita sentido à construção cotidiana das práticas (WEICK, 1995), o que ele
não consegue perceber.
Percebe-se que cada praticante, a partir de seu lugar, de sua vivência e de sua voz,
explicita a percepção de que não há uma estratégia no curso de graduação em administração –
até mesmo quando tentam defender a sua existência, alguns praticantes não conseguem
descrevê-la (como nas palavras do Entrevistado 02) com clareza, o que acaba por evidenciar a
inexistência de uma estratégia, compreendida como um fazer cotidiano desempenhado pelos
vários praticantes envolvidos no processo.
4.1.4 As práticas e as atividades do fazer estratégia: como são
reconhecidas pelos praticantes
As práticas e atividades descritas e discutidas nesta seção de capítulo dizem respeito
aos objetivos específicos 4 e 5 da pesquisa. As definições constitutivas e operacionais dessas
categorias analíticas estão expressas no item 3.3.3 (p. 76), onde está descrito que se deseja
identificar as práticas racional-administrativas, discursivas e episódicas, bem como das
atividades vinculadas a essas práticas. No entanto, é necessário apontar duas dificuldades a
respeito dessa identificação e caracterização logo de início. A primeira delas diz respeito à
forma como os dados foram obtidos: por meio de entrevistas (individuais com os praticantes),
coleta de documentos e observações. Dessa forma não se pôde acompanhar de perto as
interações entre os praticantes, o que daria subsídios para uma compreensão maior das
práticas episódicas e discursivas (relacionadas às dimensões coletivas). Por outro lado,
considerando que os praticantes narram que essas práticas são espodicas e algumas delas
inexistem, ficaria difícil aos pesquisadores um acesso mais próximo a esses dados, o que
corrobora o entendimento de que a “falta de acesso” corresponde muitas vezes à inexistência
das práticas descritas.
Partindo do entendimento a respeito da estratégia do curso de graduação em
administração explicitado acima, percebe-se que as práticas e atividades relacionadas ao
fazer-estratégia estão vinculadas a uma atuação muito mais individual do que coletiva, uma
117
vez que muitos não reconhecem a existência da estratégia e outros a descrevem como produto
e responsabilidade somente de um grupo situado no corpo diretivo. Assim, a partir dos dados
encontrados nas entrevistas, entende-se que as práticas estratégicas relativas ao conteúdo,
descritas no projeto pedagógico vão, até certo ponto, ao encontro do que o corpo diretivo
descreve como suas práticas. Por outro lado tudo isto vai de encontro ao que os demais
praticantes narram. Novamente percebem-se inconsistências entre o formal/descrito, o narrado
pelo corpo diretivo e aquilo que contam os demais praticantes a respeito da rotina e do
momento cotidiano do fazer estratégia. O Quadro 5 abaixo sumariza os dados encontrados no
campo de pesquisa:
Práticas e
atividades
Práticas e atividades
descritas nos
documentos formais
escritos consultados
Como o corpo diretivo
vê estas práticas e
atividades
Como os outros
praticantes vêem
estas práticas e
atividades
Práticas
racional-
administrativas
- Avaliação discente (no
mínimo 1 por semestre),
cuja responsabilidade de
condução é do corpo
diretivo. O projeto
pedagógico prescreve que
seja um “sistema regular
de acompanhamento do
rendimento dos discentes
ao longo do curso com o
intuito de descobrir as
razões do baixo
desempenho ou de
comportamentos
inadequados, verificando
se o mesmo é decorrente
do perfil do aluno, da
atitude ou do desempenho
do professor ou do curso
como um todo, dentre
outros aspectos” (Projeto
Pedagógico do Curso de
Administração UFPR,
2007).
- Avaliação institucional
dos docente (no mínimo 1
por semestre): esta
avaliação tem como
objetivo previsto o
acompanhamento dos
docentes nos aspectos
técnico-científico, didático-
As práticas descritas no
Projeto Pedagógico são
narradas pelo corpo
diretivo como feitas de
forma informal. Outras
práticas são descritas
pelos membros do
corpo diretivo quando
questionados sobre
elas, no entanto, na
maioria das vezes estão
no domínio do
operacional e não do
estratégico.
A partir das práticas
descritas no Projeto
Pedagógico, nenhuma
delas é reconhecida
pelos praticantes deste
grupo – sejam docentes
ou discentes. No corpo
discente há a menção
quase que unânime de
que as práticas e
atividades do corpo
diretivo, reconhecido
como responsável pela
condução estratégica,
são meramente
operacionais e não
estratégicas. O corpo
docente descreve suas
práticas de avaliação
discente individuais, não
compartilhadas, seja
com o corpo diretivo,
seja com os colegas
docentes.
118
pedagógico, atitudinais e
filosóficos. A
responsabilidade de
condução desta prática é
descrita como do corpo
diretivo do curso.
- Avaliação do processo de
ensino-aprendizagem, de
responsabilidade do corpo
docente, vinculado às
disciplinas de cada um.
Práticas
discursivas
- Não estão descritas,
ocorrem no dia-a-dia do
fazer estratégia entre os
praticantes a fim de
conferir sentido à
estratégia
Estas práticas não
puderam ser verificadas,
porém, nas entrevistas
os praticantes do corpo
diretivo afirmam que
existem práticas
discursivas, mas não
dialógicas. Isso significa
dizer que, no seu
entendimento, eles
conversam com os
demais praticantes a fim
de esclarecer o sentido
da estratégia, mas não
de construí-lo. Então, os
membros do corpo
diretivo descrevem
práticas discursivas
mais relacionadas a
uma “cobrança” e a um
“explicar o que deve ser
feito” do que uma
discussão com os
demais praticantes.
As práticas discursivas
são praticamente
inexistentes nas falas
dos praticantes deste
grupo. O corpo docente
afirma que existe pouca
ou inexiste interação
entre os colegas para
trocar informações,
experiências e práticas.
Os discentes, da
mesma maneira,
afirmam que não
conversam entre si, nem
entre os grupos de
praticantes. Isso tudo
culmina em práticas
individuais e não
coletivas, no
desconhecimento da
estratégia, na
sobreposição de
conteúdos entre
disciplinas e na apatia
dos discentes diante de
todo o processo.
Práticas
episódicas
- Reuniões de
Departamento (formal)
- Reuniões de Colegiado
(informal)
- Reuniões com
representantes de turma
(informal)
- Reuniões de Orientação
Acadêmica
- Reuniões de Orientação
de Estágio
- Seminário sobre
Metodologia do Ensino
Todas as práticas
episódicas descritas no
Projeto Pedagógico
foram citadas pelos
praticantes do corpo
diretivo, com exceção
do Seminário sobre
Metodologia do Ensino
Superior, que não foi
falado por nenhum
praticante entrevistado.
Outra prática episódica
citada pelos membros
do corpo diretivo foi uma
As duas primeiras
práticas episódicas
(Reunião de
Departamento e
Reunião de Colegiado)
são reconhecidas pelos
praticantes, mas
novamente, os assuntos
nela tratados não são
descritos como
estratégicos, mas como
operacionais. Todas as
práticas episódicas que
se referem ao corpo
119
Superior (semestral) reunião semanal feita
entre os membros de
um “conselho” criado
com todos os membros
do corpo diretivo, no
qual discutem questões
importantes e definem
posições a serem
levadas para outras
práticas episódicas
como a reunião de
departamento e a
reunião de colegiado.
Há que se destacar um
ponto importante: até
que ponto estas práticas
episódicas contribuem
para a realização do
conteúdo estratégico,
visto que na sua
descrição observa-se
que os assuntos
tratados são de nível
bastante operacional.
discente não são
reconhecidas. Elas não
são citadas pelos
discentes e quando
perguntados sobre elas
afirmam que não
participaram. Algumas
delas – orientação
acadêmica e orientação
de estágio – são
descritas por eles como
“dependente do
professor” que é o
orientador – mais uma
vez a dimensão
individual se sobrepõe à
coletiva.
Atividades
relacionadas
às práticas
- Não estão descritas no
Projeto Pedagógico porque
referem-se a todas as
atividades que os
praticantes empreendem
na realização da prática
As atividades descritas
pelos praticantes do
corpo diretivo referem-
se a rotinas de
operação do curso. Na
coordenação: 1.
Matrícula; 2. Formatura;
3. Documentação dos
alunos; 4. Diplomas; 5.
Ajustes de matrículas; 6.
Atendimento aos
alunos; 7. Inclusão de
disciplinas de
Matemática no currículo;
8. Mudança das
disciplinas específicas
do vestibular para
“aumentar o filtro” de
entrada dos alunos na
UFPR. No
departamento, controle
de professor, carga
horária e ajustes de
planejamento de
operações.
Os praticantes deste
grupo não descrevem
as atividades
relacionadas à
estratégia, afirmando
que as atividades
realizadas são
operacionais e não
relacionadas ao
conteúdo estratégico.
No entanto, os
praticantes do corpo
docente descrevem
atividades individuais
relativas à tentativa de
realizar o conteúdo
estratégico descrito do
Projeto Pedagógico
vinculado às disciplinas
que são de sua
responsabilidade. Os
praticantes do corpo
discente descrevem
atividades que
desenvolvem na
tentativa de garantir que
tenham aulas de
qualidade. Contam que
120
realizam essas
atividades até certo
ponto, pois existem
momentos em que
percebem que não
adianta “reclamar”.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 5. Quadro-resumo das práticas e atividades do curso de graduação em
administração da UFPR.
Partindo do Quadro 5 acima percebe-se que novamente há uma divergência entre o
descrito, o formal e o que os praticantes empreendem no dia-a-dia para fazer com que as
coisas efetivamente aconteçam. No entanto, a grande questão é que as atividades e práticas
são muito mais individuais do que coletivas e por isso as narrativas revelam que muitos dos
princípios, dos objetivos e das estratégias previstas para o curso de graduação em
administração não se efetivam. Isso ocorre porque as atividades e práticas individuais são
pautadas em percepções individuais e muitas, como já expressado nas falas desde o início,
revelam discordância ou desconhecimento do conteúdo estratégico do curso e do seu processo
de construção. Atuando como um grande colegiado em que departamento e coordenação não
têm muito poder ou ingerência sobre os praticantes, o curso de administração é construído
como um acumulado de práticas individuais para as quais os discentes tentam constantemente
dar um sentido, até o momento em que perdem a credibilidade no processo, no curso e na sua
formação, evidenciando algumas percepções preocupantes sobre o resultado de todo o
processo e que serão explicitadas mais adiante, na seção de capítulo número 4.1.6.
A fim de expressar os pontos acima sumarizados recorre-se aos excertos da narrativa
dos entrevistados que evidenciam o que foi descrito.
Inicialmente, segundo as narrativas do corpo diretivo, uma prática episódica que está
sendo empreendida no sentido de traçar as diretrizes estratégicas para o curso é uma reunião
semanal de um “conselho” criado pelos membros do corpo diretivo:
(…) agora o nosso departamento foi organizado assim, (…) [o vice-chefe de
departamento e o chefe de departamento]…eles…eles… é propuseram um…
um… um conselho, né... então quem que é o conselho... então a gente faz
reuniões antes das reuniões departamentais, é… já tentando levar mais
mastigado, mais… mais, propostas mais já... minutas, né? [quem participa?]
o coordenador mais o…o… o departamento... o chefe (…) e o vice (…) e
mais: o (…) coordenador do mestrado e o (…) vice. O conselho é formado
por nós seis, então nós seis formamos esse conselho. Então, agora né...
quando eles assumiram, teve bastante mudança... teve mudança nos estágios,
está tendo mudança né? na… está tendo um controle feito de que professor
dá o quê, a questão das cargas horárias, é...quem está mais sobrecarregado
do que quem...é... [coisa que não existia...] Não existia, então é… entende...
121
posso até… acho que dá pra disponibilizar os formulários... temos até
setembro para preencher os formulários... quantas aulas eu dou na
graduação, quantas horas eu dedico pra pesquisa etc.(…) [E o conselho foi
criado há pouco tempo?] Há pouco tempo... no que o (…) [vice-chefe de
departamento e o chefe de depratamento] assumiram agora... recentemente
um mês atrás, né... que as eleições foram em junho, julho... uma coisa assim
(Entrevistado 01, 2008).
Mesmo nessa prática, considerada estratégica pelo corpo diretivo, percebe-se uma
grande preocupação operacional, nas palavras do Entrevistado 01, que evidenciam coerência
com o que os demais praticantes narram sobre as práticas e atividades do departamento. O
Entrevistado 02, por sua vez, reforça as questões sobre o “conselho” (que ele denomina de
“comitê”) apontadas pelo Entrevistado 01 no excerto exposto acima:
Então a gente trabalha muito junto, muito próximo, e cada vez mais e
inclusive agora nós criamos um comitê, não é?, com essa mudança que
tivemos recentemente (…). Então agora nós estamos fazendo algumas
transformações em todos os sentidos, então nós criamos um comitê (…)
Então nesse comitê ou nesse conselho, como queiram, tem toda a
coordenação (…) envolve o departamento – chefe de departamento e o vice
– e envolve mestrado e doutorado, (…). Então nós criamos e integramos isto
aí, tá? Para dar uma harmonia e um direcionamento mais concreto e… que
seja possível de se fazer uma gestão mais sólida.
Esse “conselho” procura, portanto, delinear posições desse grupo, que são levadas para
reuniões de departamento e colegiado a serem discutidas ou, nas palavras de alguns
praticantes, somente aprovadas. É da visão do corpo diretivo que, levando as questões mais
definidas entre esse grupo para apresentar aos demais nas práticas episódicas citadas, fica
mais fácil de aprová-las. Esse conselho procura efetivar a visão que o corpo diretivo tem de
seu papel, como descrito pelo Entrevistado 08:
Então, onde a gente está situado? Estamos situados aqui [refere-se a um
desenho que elaborou durante a entrevista], bem distante de lá [a reitoria e
as pró-reitorias] se você olhar. E qual que é o papel do departamento? O
departamento na estrutura atual da Universidade é responsável pelos
recursos humanos. Por exemplo, recursos humanos, no nosso caso aqui são
os professores. Então os professores estão sob a responsabilidade do
departamento. É o departamento que aloca eles nas três atividades: ensino,
pesquisa e extensão. Quer dizer, deveria ser, pode até ser que não esteja
sendo bem feito. E aqui também têm técnicos administrativos. Outro recurso
também é o recurso de equipamentos e instalações. Isso aqui também é
função do departamento. Então, por exemplo, as salas, a manutenção, os
equipamentos e eventualmente até recursos financeiros, na aplicação. (…)
As coordenações, tanto de pós quanto de graduação, elas cuidam do projeto
pedagógico. Então ela diz lá o que ela precisa e o departamento supre com
recursos – deveria ser assim. Eventualmente a coordenação de pós,
principalmente, recebe recursos de órgãos externos, tipo Capes e CnPq.
Então como é um programa muito específico às vezes não passa por aqui,
vai direto aqui [referindo-se novamente ao desenho feito]. Por exemplo,
122
bolsa de aluno: está direto aqui; bolsa para pesquisa: está direto aqui. Então
o departamento às vezes não… deveria, na minha opinião olhar isso aqui
porque isso aqui deveria ser um grande… uma grande função estratégica. O
que é que nós temos que fazer: nós temos que focar no ensino na pesquisa e
na extensão, que é do departamento, a princípio. Mas acontece que como
esta estrutura hierárquica ela tem essa linha hierárquica no mesmo nível, não
há subordinações da coordenação ao departamento. Existe subordinação dos
professores ao departamento. Então, na realidade, a pós-graduação deveria
montar seu programa, pedir seus recursos para cá e aqui fornecer [referindo-
se novamente ao desenho], como se fosse uma estrutura matricial (…).
Porque, a princípio, o departamento não executa nenhuma atividade, a não
ser atividades burocráticas. Então o departamento ele tem algumas
atividades burocráticas: uma delas então é o pessoal (contratação,
concursos…) é uma função nossa aqui. Outra função é promoção ou
mudança de regime de trabalho… (…) Outra coisa que o departamento é
responsável é pelas férias e pelo ponto: quer dizer quem vem trabalhar aqui o
departamento está cuidando, veio trabalhar, não veio, está de férias… outra
coisa é quando ele faz assim ausência, então congresso, seminário… então
ausências a gente chama de afastamento – pode ser afastamento por doença
ou para se desenvolver, fazer cursos, apresentar trabalho. Então, na verdade,
o departamento é isso aqui. A coordenação tem mais a parte didático-
pedagógica, tem mais um contato direto com os alunos e aqui é mais contato
com professor e técnicos, eventualmente com aluno, quando diz respeito à
segunda chamada, coisas desse tipo. Então aluno aqui o nosso contato é
pequeno… nem deveria ter, deveria ser tudo na coordenação (Entrevistado
08, 2008).
Assim, nas palavras do Entrevistado 08 percebe-se o caráter “burocrático” e não
estratégico das atividades do departamento, que é conferido às práticas episódicas que
deveriam estar relacionadas ao fazer estratégia. Ao mesmo tempo, e paradoxalmente
(paradoxo este que é muito comum nas falas dos entrevistados do corpo diretivo) este
entrevistado traz uma visão estratégica para a sua narrativa, afirmando que o corpo discente
deveria ser tratado com mais foco por todas as atividades do curso, o que não acontece (tudo
parece estar mais restrito ao aspecto burocrático):
Porque a minha visão é que a gente está aqui para atender o cliente, e
algumas pessoas não. Mas eu não consigo ver cliente como secundário num
processo que existe para atender alguém. Então às vezes dá a impressão de
que nós estamos aqui para atender o professor: se ele tem tempo ele vem, se
ele não tem…, o horário que ele pode vir… então está tudo errado! Agora
esta é uma cultura brasileira, não só da universidade, mas de um modo geral.
Eu acho que a grande transformação do Brasil teria que começar lá de cima,
no congresso… porque se você tem gente lá dando bons exemplos, você
constrói uma sociedade focada no futuro. Mas se você tem gente só dando
maus exemplos… Então o meu papel aqui, agora voltando ao departamento,
é dar bons exemplos. (…) Então eu acho que o departamento tem essa
dificuldade: de você mostrar para as pessoas qual o verdadeiro papel do
professor. Eu penso que tem muita gente que conseguiu passar aqui num
concurso mas não é professor. Eu pra mim professor tem que gostar do
cliente e para mim o cliente é o aluno. Então o professor que se distancia do
aluno… fica difícil. Eu penso que a grande maioria não tem essa
123
identificação com os alunos… não sei no mestrado, mas deve ser também:
“ah, não tenho tempo, não sei o quê”… (…). É mas eu tenho uma pessoa
conhecida minha que passa as coisas para o orientador, o orientador não
vê… Eu soube de colegas meus que fizeram mestrado/doutorado fora que
ninguém devolvia nada para o cara, o cara naquela tensão… não sei… sei lá,
claro, a estrutura às vezes não te dá muitas condições, mas o nosso aqui dá
muitas condições. O nosso departamento tem todas as condições para fazer o
que quiser, quem não faz é porque não quer. Nós temos boas salas, nós
temos equipamentos, nós temos uma estrutura… olha, não sei, pode ser até
que tenha outros melhores, mas esse com certeza, é bom! (Entrevistado 08,
2008).
Ao mesmo tempo que afirma “está tudo errado!” o entrevistado narra outros aspectos
que o levam a concluir que o “curso é bom” – em termos de infra-estrutura. Ou seja:
condições para fazer as coisas existem, mas os praticantes não as fazem porque não querem,
na percepção do Entrevistado 08. Percebe-se também nesse excerto outra questão ainda
relevante: a grande divergência e separação entre graduação e pós-graduação, mesmo a partir
da visão de membros do corpo diretivo que buscam “integrar” as duas áreas, como descrito na
narrativa do Entrevistado 02, colocada acima, as atividades da pós-graduação (stricto sensu)
são vistas com ressalva, inclusive em outros trechos desta narrativa e de outras surgem
questões do tipo: “nós pesquisamos o quê para quem? Eu tenho um pouco de receio porque eu
acho que muita pesquisa que é feita aqui é feita do professor para ele mesmo, não sei se ele
divulga para alguém o que ele está fazendo, ou se serve para alguma… né?” (Entrevistado 08,
2008). Assim, o próprio corpo diretivo segmenta as “unidades de negócio” do curso de
administração, promove sua desintegração nas narrativas coletadas e – algumas vezes – julga
o sucesso da pós-graduação (stricto sensu) pelo descomprometimento do corpo docente com a
graduação.
Outra prática episódica importante do curso de graduação em administração é a
reunião de departamento, que ocorre com a periodicidade aproximada de um mês. Nessa
reunião o corpo diretivo reúne-se com todos os professores, independente do regime e carga
horária. Há que se destacar que nem todos participam dessa prática, a qual agrega, na maioria
das vezes, mais professores substitutos do que efetivos, conforme evidenciam alguns
entrevistados. Essa prática é descrita da seguinte maneira:
Normalmente, sempre é marcada a reunião com antecedência e normalmente
sai uma pauta, tá? E isso eu estou falando do departamento. Então sai uma
pauta e o que é que normalmente se leva para a pauta, tem todo um
regimento interno, tem um sistema normativo de procedimento… O que é
que se leva… por exemplo: mudança de nível, mudança de carga horária…
(…) … abertura de concursos… Então tem uma série de itens que tudo vai
para… quando o próprio chefe de departamento não… , ele entende que não
deve decidir, que é uma coisa mais complicada, ele joga para a plenária
124
decidir e ele é o representante, o presidente da plenária. E no setorial é da
mesma forma. No setorial, nós também participamos do setorial. No setorial
nós temos um cronograma de reuniões, até recebi agora que vai ter
reunião… nós participamos do setorial, como o departamento participa e o
mestrado/doutorado participam do setorial. Também os itens lá não são
diferentes… normalmente você aprova os itens iguais no departamento e do
departamento sobe para o setorial (Entrevistado 02, 2008).
O caráter operacional e “burocrático” que assume essa prática está mais uma vez
presente no excerto descrito acima. A reunião de colegiado, por sua vez, é utilizada para levar
questões das quais o corpo diretivo gostaria de não assumir a responsabilidade de decisão
sozinho, no ponto do vista da narrativa deste membro do corpo diretivo:
Não, daí nós temos o seguinte, por exemplo… eu procuro aqui tomar
algumas decisões examinando cada situação e o risco desta decisão, tá? E em
função desta transparência e da imparcialidade, dependendo do assunto, e do
risco e da transparência, eu entendo que tem certas coisas que é melhor eu
pegar e levar para o colegiado, porque daí não é “o coordenador”quem
decidiu, daí são 10 membros – e dentre estes 10 membros do colegiado
fazem parte professores, não só do nosso departamento, fazem parte
professores dos outros departamentos que oferecem disciplina na nossa
grade. O caso de matemática, o caso de estatística, de sociologia, entende?
Então aí é um fórum mais abrangente para discutir o assunto. Isso é bom
pelo seguinte: por que é que é bom? Porque quando chega um caso
complicado, isso dá uma retaguarda que eu levo assim, “não foi o
coordenador que decidiu”, isso é uma decisão maior, mais em cima, do
colegiado… “então não levem à mal” – porque se não a pressão fica muito
grande em cima do coordenador, tá? Então isso aí é uma linha positiva, uma
linha positiva… (Entrevistado 02, 2008).
As questões decididas em colegiado, portanto, referem-se ao corpo discente, à
problemas didático-pedagógicos, enquanto o departamento trata de questões mais
relacionadas ao corpo docente, às disciplinas e à condução das atividades do departamento.
O corpo diretivo descreve ainda outras práticas e atividades desenvolvidas pelo curso
de graduação, consideradas importantes para o conteúdo estratégico da organização:
1. Estágio Supervisionado: para que o estágio seja uma prática significativa na
formação do aluno, o corpo diretivo do curso entendeu que a atividade de orientação dos
alunos deveria ser uma atribuição relevante do corpo docente:
Então… em reunião eu tenho procurado passar isso, para uniformizar um
pouco mais isso. Igual nunca vai ser e nem deve! Mas que tenha isso como
orientador. Outra coisa: o próprio problema do estágio, por exemplo. O
estágio supervisionado são 300h e está dentro da grade, da carga horária das
3.000h – que são 3.060, tem atividades complementares de 60h. Você tem
330h de estágio supervisionado dentro da grade – as 3.000 são 2.700 mais
300, né? O estágio, aí o que estava acontecendo era o seguinte: tinha
professor que carregava 20 estagiários e tinha professor que não carregava
nenhum… E a matrícula eles estavam fazendo via internet. Daí eu acabei
125
tirando a matrícula via internet e acabei segurando/fazendo a matrícula por
aqui. E aí, em conseqüência disso, EU comecei a distribuir a quantidade de
alunos por professor – não gostaram, foi uma encrenca danada! Eu disse
olha, no mínimo cada um vai ter que carregar 5. Naquele pensamento assim:
não, mas o aluno quer fazer só em marketing, só pode ser o professor de
marketing… procurei desmistificar. Se é professor de administração ele pode
supervisionar um estágio de marketing, tá? E aí nós começamos a puxar isso.
Como é uma disciplina tanto quanto… e mesmo que tivéssemos feito isso,
estava acontecendo o seguinte: acabava você não registrando esta nota
dentro do calendário. Então esta nota do estágio ela ia zerada, ia zerada, ou
porque o aluno não entregava o relatório no prazo, ou porque o aluno
entregava e o professor muitas vezes acabava consumindo o relatório do
aluno, tá?… Então, à posteriori é que era regularizada esta nota. Daí o que
nós fizemos com o departamento agora: vai ter que ser tratada como uma
disciplina tanto quanto e terá que ser fechada dentro do calendário. Então
estas 300h, como elas serão feitas dentro de 4 meses, dentro de um semestre
– 4 meses porque daí tem férias etc. – então nós pegamos agora e fizemos o
seguinte: nós definimos PELO MENOS de forma oficial 4 encontros e já
cronogramamos e… o próprio departamento passou para todos os
professores este cronograma e os respectivos alunos, tá? (…) Tá, tá todo
mundo sabendo. E daí nós comunicamos os alunos. Dissemos “Olhe, tal
professor tem tais alunos, e nesse mês de agosto a reunião vai ser no dia tal,
no horário tal”. Se o professor não aparecer ele vai levar falta e se o aluno
não aparecer ele vai levar falta. No segundo encontro o aluno já é obrigado a
apresentar o relatório parcial, 2 meses, tá? E daí lá no final do quarto mês o
relatório final. E está mexendo isso… uma tremenda confusão! Nós temos
alunos e alunos, nós temos professores e professores. Teve alguns que nunca
tiveram estagiários e nunca quiseram (Entrevistado 02, 2008).
2. Intercâmbios: esta prática é citada pelo corpo diretivo (pela maioria dos membros)
como um ponto-chave da estratégia do curso, como algo que o diferencia dos demais cursos
de administração:
Outra coisa que a nível de coordenação nós temos feito também, e agora está
o departamento aí também, é estimulado muito os intercâmbios. Por
exemplo, ontem nós estivemos com a Universidade de Ohio aqui, já
fechamos um convênio… e temos com San Diego, temos com a Flórida,
com a Argentina, com o Chile… e além de nós estarmos ampliando estes
convênios internacionais nós estamos procurando ampliar a quantidade de
vagas também. É uma troca de chumbo: vão 5, vem 5… (…) É bom porque,
hoje como administrador, você tem que ter uma visão global, né?… tem que
ter uma visão global… então isso, essas novas culturas, novos valores etc.
são oportunidades ímpares e isso eles passam para os demais. Normalmente
o aluno que está indo aí é do sétimo período, né? Nós não queremos nem do
final de nem do início, mas do meio de curso – sexto, sétimo período – e ele
pode trazer, ele pode multiplicar a sua experiência, né? Ele passa a ser um
agente de opinião… tá? Então nós estamos estimulando muito isso. (…) É
uma estratégia pedagógica e hoje no Paraná… é a nossa principal em cima
disso, ta? Nós temos ampliado isso… (Entrevistado 02, 2008).
3. Práticas e atividades relacionadas ao monitoramento e avaliação das práticas e
atividades individuais: essas práticas e atividades relacionam-se à proximidade do corpo
126
diretivo do corpo discente e corpo docente para constantes avaliações e monitoramentos a fim
de que se procedam ajustes à condução do processo de realização do conteúdo estratégico do
curso. Essas práticas e atividades são descritas como freqüentes pelo corpo diretivo, conforme
se evidencia no excerto abaixo:
(…) o que a gente tem procurado junto com o departamento é o seguinte:
primeiro, você tem, ou bem ou mal, você tem um projeto pedagógico nesse
projeto pedagógico você tem as disciplinas, a carga horária, o ementário de
disciplinas e hoje é disponibilizado isso a nível público, ainda mais quando
se fala em quadro discente… Então eu tenho feito o seguinte: primeiro, em
relação aos discentes – cada turma eu tenho um representante de turma;
então eu faço uma reunião com uma determinada freqüência com os
representantes de turma. Eu percorro a turma e também através dos
representantes de turma eu digo: “olha vocês vão me ajudar a fiscalizar
isso”, esse conteúdo está sendo cumprido ou esse professor está ministrando
o conteúdo que ele quer e como ele quer? Essa é uma coisa. Daí junto com o
departamento nós temos procurado falar para os professores e passar uma
mensagem a seguinte: tenha como orientador pedagógico o que está
documentado ali, né? … pelo menos cumpra 70%, né?… Outra coisa que
nós temos procurado fazer com que haja uma cobrança muito similar, muito
próxima – que um professor não cobre demais e outro cobre de menos… e
isso tem, aconteceu muito no passado. Alguns exigem demais, outros exigem
muito pouco… então fica esse descompasso e o aluno fica meio perdido
dentro deste contexto (Entrevistado 02, 2008).
4. Outras atividades relevantes: principalmente em nível de coordenação outras
atividades são descritas como relevantes, evidenciando novamente o caráter operacional que
tomam as atividades e práticas do corpo diretivo:
Sim, sim porque ela tem o vínculo direto com o discente. Então toda esta
parte operacional, pedagógica etc. é tudo incumbência, são atividades
pertinentes OFICIALMENTE da coordenação, tá? Então nós
desenvolvemos, com tudo isso, o problema de formaturas, problema de toda
a documentação para diploma, enfim… o ajuste das matrículas dos alunos,
que é uma grande atividade que nós temos… daí nós temos uma semana para
ajuste das matrículas, tá? Toda esta parte operacional é pesada e é nossa
aqui… (Entrevistado 02, 2008).
Percebe-se a partir dos excertos acima coletados das narrativas dos membros do corpo
diretivo uma série de práticas e atividades descritas como relevantes para o fazer estratégia no
curso de graduação em administração da UFPR. No entanto, quando se ouve os demais
praticantes, docentes e discentes, uma série delas não são reconhecidas. Ao mesmo tempo,
fala-se no caráter operacional e de controle que estas atividades e práticas assume, em
detrimento de um papel didático-pedagógico e estratégico. Esses praticantes evidenciam
também o caráter individual em detrimento do coletivo nas atividades e práticas empreendidas
127
no curso: o que ocorre com relação ao fazer estratégia no curso é de iniciativa individual e não
coletiva.
As narrativas dos praticantes pertencentes ao corpo docente evidenciam algumas
questões importantes a respeito dessas práticas e atividades:
Formalmente nós temos a reunião de departamento e a reunião do colegiado
de administração. Esse é o fórum desta discussão de projeto pedagógico.
Digamos que 70% dessas reuniões são meramente administrativas, mas 30%
delas a gente consegue resolver… consegue discutir um pouco a questão de
projeto pedagógico (…). Eu sistematicamente participo das reuniões para as
quais eu sou convocado. O que acontece, por exemplo, é que existem
reuniões que deveriam convocar todos os professores e que, por um motivo
ou outro, todos os professores não são convocados. Então aí você… às vezes
perde algumas coisas da evolução do processo – isso tanto na graduação
como no mestrado e doutorado – porque você não foi convocado para a
reunião. E isso é uma outra característica da universidade: como você tem
muita liberdade, isso é uma vantagem, porque você se organiza para fazer
coisas pessoais em horários muito melhores do que de noite e daí de noite
você vem dar aulas, se for o caso, ou fica estudando de noite. Mas eles
adoram marcar reuniões nos horários mais estapafúrdios do mundo (…)
Então às vezes você até quer participar da reunião, mas como não é um
negócio definido, aí você não consegue se organizar para participar de todas
as reuniões (…) Alguns professores se empenham mais e outros professores
usam até como desculpa (Entrevistado 05, 2008).
Veja-se que na narrativa do Entrevistado 05 evidencia-se novamente a questão da
operacionalidade vinculada à prática episódica da reunião de departamento. Além disso,
percebe-se pela sua narração a questão de que nem todos os professores participam dessas
práticas episódicas – por “um motivo ou por outro”, ou porque não são convocados, ou
porque tem outro compromisso no horário, afinal a prática não é obrigatória, todos participam
dela ou não de acordo com a sua percepção acerca da relevância. Sobre essas questões, outro
entrevistado evidencia que existem tentativas de se prover discussões pedagógicas e
estratégicas mais profundas, mas isso não é sistemático e esbarra em outro ponto muito
importante: a resistência do corpo docente:
Eu acho que hoje o departamento… o [vice-chefe de departamento] ele está
mudando bastante – inclusive está dando um rolo aí por conta disso e acho
que é louvável todo o esforço que ele está fazendo para gerar essa integração
– mas a coordenação hoje tem um papel basicamente burocrático, não tem
papel de integração. Até hoje, até onde eu vi – não é a coordenação hoje, é
de muito tempo atrás – teve uma função burocrática de atender aluno, então
essa é a tarefa de coordenação de curso. Não me lembro, bem… quando
houve essa mudança curricular fazia-se a tentativa de integração, mas não há
um processo sistemático. De repente eles fazem e tentam fazer e pára por aí.
E pára por aí também porque os professores também não tomam a iniciativa.
Então tem os dois lados da moeda: você tem o lado da coordenação, que não
quer se incomodar (…) por outro lado, é difícil porque você tem resistência
128
de todos os lados para essas coisas e é uma coisa que deveria ser feita na
graduação com os conteúdos, mas aí o “buraco é mais embaixo”, porque o
problema está associado a… – a coordenação, não que ela não queira se
incomodar, mas ela está o tempo inteiro pensando em apagar incêndio de
aluno reclamando e essas coisas – juntar os professores de forma geral não é
uma tarefa simples, eles não se integram, não se conversam. Todo mundo é
amigo de todo mundo, mas tecnicamente, profissionalmente a integração é
muito baixa (Entrevistado 15, 2008).
Tudo isso evidencia outra questão bastante importante, sobre como o corpo diretivo
enxerga sua função e sobre como os demais praticantes, membros do corpo docente, vêem o
corpo diretivo. Os cargos referentes ao corpo diretivo não lhe conferem poder sobre os
professores, que possuem a liberdade de continuarem atuando da sua maneira. Então, como
coloca um membro do corpo docente, a função de dirigir o curso é muito “ingrata”, e
historicamente no departamento de administração os professores não desejam assumir cargos
administrativos (ironicamente!) – pela responsabilidade e pela recompensa salarial mínima
(Entrevistado 05). Isso tudo aliado às dificuldades que se enfrentam para que se consiga
imprimir qualquer tipo de atividade e prática:
Na verdade a burocracia atrapalha bastante. A universidade… o setor
público é muito burocrático. A universidade consegue ser mais burocrática
ainda. Isso atrapalha bastante. O que eu enxergo é que na iniciativa pública
você não consegue inovar. Tudo o que vai tentar fazer diferente, alguém cria
um óbice para tal. Então você se sente desestimulado a mudar. Você acaba
apenas cumprindo regras. O grande problema é que você não tem
instrumentos de gestão. Porque o que é que funciona: olha, tomamos uma
decisão e… digamos seria uma decisão estratégica. Para esta decisão
estratégica ser implantada há que se ter um plano de trabalho. E esse plano
de trabalho tem que ser executado por alguém. Na iniciativa privada se o
alguém não executar isso, ele vai ser penalizado. Na iniciativa pública não
existem instrumentos de penalização. Se você perguntar para um burocrata
ele vai dizer “Ah, existe o processo administrativo”, só que a universidade é
corporativa e processos administrativos fogem do escopo de um professor
que não cumpriu a sua carga horária – você não vai fazer um processo
administrativo para um professor que não cumpriu a sua carga horária. Então
o que falta são instrumentos de gestão e um pouco de comprometimento das
pessoas. (…) Na verdade, na verdade, existe muita idéia e pouca prática
(Entrevistado 05, 2008).
Assim, quando se constata que as atividades e práticas estratégicas relacionadas ao
conteúdo estratégico do curso de graduação em administração são restritas e difíceis de serem
constatadas, é necessário expressar que tudo isso está envolvido em um contexto complexo de
razões e conseqüências que se constroem em todo esse processo. Não se deseja colocar um ou
outro praticante como protagonista ou antagonista na narrativa que se constrói aqui com o
emaranhado de dados coletados, mas se busca evidenciar a percepção desses praticantes para
buscar tecer um entendimento do contexto de pesquisa.
129
Diante das questões, outro ponto de relevância na discussão a respeito das atividades e
práticas estratégicas do curso de graduação em administração da UFPR é o caráter individual
de tudo o que se desenvolve:
É, o ideal seria que todos os professores da área trabalhassem juntos. Na área
de finanças a gente consegue um pouco isso. Se comparar com outras áreas a
gente consegue bastante. Agora comparado, por exemplo, com uma escola
particular aonde o coordenador tem muito mais ascensão sobre os
professores, é pouco. Então: existe uma articulação? Existe. Se compararmos
no curso de administração a organização da área de finanças só perde para a
área de marketing. Agora, se compararmos com outras instituições, a
articulação é baixa (…). É informal, de reuniões. A gente faz reuniões pelo
menos anuais, digamos assim (Entrevistado 05, 2008).
Assim, o Entrevistado 05 evidencia que a integração que existe relaciona-se e depende
também da área de atuação dos professores, mas uma integração maior, de todos os
professores, entre eles e com a coordenação do curso, é restrita. Outro Entrevistado, no
entanto, tem uma visão bastante diferente sobre essa integração, afirmando que sob seu ponto
de vista ela é muito baixa:
Normalmente eu sempre atuo com estagiários na disciplina e eu faço questão
de estar discutindo a toda disciplina uma revisão do conteúdo e do processo
de ensino. Existe uma preocupação, mas é uma preocupação individual. Eu
nunca fui chamado, nunca fui convidado a discutir, nunca foi feita para mim
qualquer consideração nem ao conteúdo, nem ao processo de ensino. [
houve alguma iniciativa do professor em relação a isso?] Já fiz algumas
tentativas, por exemplo: uma questão que me preocupa muito é a
sobreposição de conteúdos nas disciplinas. Uma ocasião (…) eu fiz uma
reclamação formal de que eu estava vendo uma série de absurdos de
justaposição de conteúdo, mas que os alunos de graduação não reportam – e
eu acho que eles deveriam tomar uma posição mais séria a respeito disso,
mas com o passar do tempo eles entram naquele processo de “você finge que
me ensina e eu finjo que aprendo” e saindo nota boa está tudo bem. Então eu
fiz essa reclamação formal e o chefe de departamento convidou todos os
professores para discutir esta questão e apareceram 3 professores (…). E
ficou por isso mesmo. Nada foi discutido e nada pôde ser institucionalizado
e também não houve nenhuma iniciativa a posteriori da chefia do
departamento. E uma coisa muito importante: não houve nenhuma
participação da coordenação do curso. Ah, o coordenador do curso recebeu
as informações inerentes a esta reunião e ele não compareceu, não
compareceu, sabe que esse é um problema que ocorre mas ele não toma
nenhuma iniciativa nesse sentido. [e coordenação e departamento trabalham
de forma integrada?] Não, não trabalham de forma integrada. Não há
nenhum indicador de que eles trabalhem de forma integrada. (…) Eu
acredito que o papel de um coordenador de curso seria uma preocupação de
conteúdo e a preocupação do chefe de departamento é de processo – quer
dizer, o chefe de departamento deveria se preocupar com questões
burocráticas, por exemplo, contratação de professor, se o professor está
presente… agora, o que está sendo dado, por quem está sendo dado, e se os
resultados do professor está sendo auferido tanto por parte dos pares como
130
por parte dos alunos e dos empresários que vão contratar os alunos, ou
instituições que serão contratantes – eles deveriam participar do processo de
avaliação – mas essa é uma preocupação do coordenador. [e o coordenador
não faz nenhuma reunião pedagógica?] Nunca, nunca foi feito isto, nos
meus 14, 15 anos de universidade eu nunca vi ninguém nem discutindo isso.
[nem na reforma curricular?] Não, nessa parte só foi discutido as
disciplinas, não foi discutida a questão acadêmica propriamente dita. [o que
é “questão acadêmica”] A questão acadêmica é que eu vejo que nós temos
um grande processo – o processo acadêmico – que é o processo que inicia
antes da entrada do aluno, com a própria constituição do que é que nós
queremos por parte do aluno, quais são as competências esperadas, porque
existe uma questão muito importante que é a seguinte: nós não estamos
formando o aluno para aqui e agora, nós estamos formando o aluno para
daqui a 5, 10, 15, 20 anos. Então nós não temos uma definição precisa a
respeito disso. Então, qual é o perfil dos alunos que vão entrar no curso, que
tipo de competência que o aluno tem que ter durante a sua formação. Então
eu acho que tem duas competências: dele como aluno e dele como
profissional em formação, que eu acho que a gente deveria estar discutindo e
estabelecendo como prioridade para o nosso tipo de atividade. Porque aí o
que é que acontece: determinadas competências, vamos supor que eu quero
ensinar a ser um bom relações públicas, relações humanas, que ele saiba
como falar em público; que tipo de método de ensino que eu deveria estar
me reportando. Por exemplo, ele vai ser um estrategista financeiro, ele vai se
preocupar com a questão do financiamento, do investimento e do controle de
fundos. Que tipo de conhecimento e qual o melhor método de aprendizagem.
Esse tipo de questões que precisam estar alinhadas e sendo discutidas
concomitantes. Aí entra a questão do conteúdo e do processo de ensino
(Entrevistado 11, 2008).
Na narrativa do Entrevistado 11 está explícito ainda que mesmo tomando a iniciativa
para discutir e integrar um trabalho isso não se tornou algo sistemático. Ainda é possível
perceber que algumas das práticas narradas pelo corpo diretivo não são reconhecidas pelo
Entrevistado 11, que representa o que dizem também os demais praticantes.
Com relação às narrativas construídas pelo corpo discente em relação às atividades e
práticas estratégicas do curso de graduação em administração da UFPR, eles percebem-nas
como praticamente inexistentes, ou ineficazes. Além disto, atribuem muitas delas a indivíduos
específicos, não a um coletivo, inclusive nomeando “isso é com o fulano”, “aquilo com o
cicrano”. Observe-se abaixo as narrativas a respeito das reuniões com os discentes, citadas
como uma prática do curso:
[Coordenação, que relação tem? Tem reunião?] Olha esse negócio aí foi
sempre uma balela, eu acho. Porque fizeram no máximo duas reuniões com
os representantes, uma quando eu estava no primeiro ano e outra quando eu
estava no segundo ano. [para que serviram as reuniões?] Para nada,
perguntaram como é que estava o curso, o que a gente achava, o que estava
faltando mas… não sei se modificou alguma coisa depois. Talvez… depois
veio o novo currículo das disciplinas. Porque eu lembro que eu reclamei que
a gente não tinha metodologia, não tinha nenhuma base epistemológica –
porque eu era do grupo de estudos na época, então eu falava
131
“epistemológico” como trocar de roupa… Aí eu reclamei que faltava esta
base, porque eu me sentia muito vazia na administração, não tinha aquela
coisa de administração como ciência, aquela coisa boa de estudar e ter teoria
assim, aquela base sólida mesmo. Aí eu reclamei disto e nos anos seguinte
eles mudaram o currículo e colocaram metodologia pelo menos e a gente não
teve. [e esse foi o único resultado que você pôde ver daqueles movimentos
das reuniões?] É… eu acho que a mudança de currículo talvez tenha sido
por causa disto que a gente reclamou – eu reclamei, na verdade, porque o
outro representante na verdade é mais para o lado empresarial, o outro
representante que foi – foram dois representantes, o das outras turmas a
gente nem sabe o que aconteceu [então, mesmo tendo as reuniões, nem todo
mundo participava?] Não, não… (Entrevistado 06, 2008).
Outro entrevistado coloca a questão nos seguintes termos:
É... e com a coordenação do curso já teve essas duas reuniões lá pra saber
sugestões, o que melhorar e tal... (?) o coordenador às vezes só... desde que
eu tô aqui. Professor [coordenador do curso] e... com a presença do
Professor [vice-coordenador do curso]... também...o convite veio pelo
professor [coordenador do curso], mas o [vice-coordenador do curso] tava lá
também e uma vez o [chefe de departamento] tava também. É... mas acabou
que não teve uma continuidade assim muito grande e... a maior parte das
reclamações que a gente levou pra turma (...) parei a turma lá quando ele
falou “ah, tragam sugestões da turma pro curso e tal”. O pessoal, o professor
[coordenador do curso] tá abrindo esse espaço pra gente falar sobre o curso,
trazer informações sobre o curso e tal... e dos 50-60 alunos da turma... é...3
acho 4 que vieram me pedir pra falar algumas coisas e era a maior parte em
relação à reclamação com professor. [o movimento dos alunos, como é?]
muito pequeno... quase mínimo assim... eu falei: as pessoas aqui só tão
interessadas em pegar, passar as matérias, não importa como, e pegar o
diploma e fazer sei lá o que com isso, porque... [é desde o início do curso?]
cada vez mais, né... vai assustando...no início assim nem tanto, mas hoje o
que eu vejo é desinteresse total assim, quando fala que não vai ter aula a
galera comemora, sabe... (Entrevistado 04, 2008).
Assim, o corpo discente coloca que estas “reuniões” aconteceram esporadicamente,
não se constituem em uma prática sistemática. Ainda não conseguem perceber resultados
disso, o que faz com que eles também desacreditem do processo e do curso. Ao mesmo tempo
em que coloca suas críticas, o Entrevistado 04 apresenta uma auto-avaliação do corpo
discente como praticante que não atua no processo da forma como poderia para auxiliar na
construção da estratégia:
(…) é. Então... acho que a gente tá... eu falando que tem muitas críticas em
relação ao pessoal do curso, mas eu acho que a gente como representante age
da mesma forma ou mais, a gente não tem motivação pra ir atrás de alguma
coisa porque a turma... assim, umas iniciativas mais isoladas...e a turma não
vai acompanhar ou mesmo querer que isso seja feito ou não ali... o que
acontecer tá bom é e também tem essa questão ah tá então vamos nos reunir,
juntar os quatro representantes aqui e montar todo um plano, rever o
currículo, o que é que a gente acha e tal, a impressão que a gente tem é que
se entregar isso... não vai ter muita... a não ser... muito respaldo... a não ser
132
que a gente consiga convencer, comprar... fazer um professor comprar a
idéia e daí, se ele comprar a idéia, aí vai ser ouvido... agora, nós somos um
grupo de alunos que tem, que quer fazer isso, não... (Entrevistado 04, 2008).
O Entrevistado 04 expressa em sua narrativa outros pontos revelados pelos demais
entrevistados do corpo discente também de uma forma bastante interessante. Sobre o estágio
supervisionado ele coloca sua avaliação afirmando que a efetividade das práticas depende da
atuação individual de cada praticante (do corpo docente) e de como percebe seu papel para
isto:
É... e daí tem o estágio supervisionado também, que eu já fiz também no
primeiro semestre e já exige um trabalho bem maior, você tem que fazer um
plano de estágio, é um projeto de estágio, na verdade... falando o quê que
você vai fazer durante o período de estágio, são no mínimo 300 horas, tem
que protocolar ali na secretaria do curso e depois de você concluir o estágio
você tem que entregar um relatório é... dizendo tudo o que você fez e esse
relatório vai ser avaliado. É... só que aí depende muito de professor pra
professor também...já vi gente que assim, nunca conversou com o professor
durante o semestre inteiro, o professor-orientador, nem pra fazer o projeto de
estágio nem pra orientação... então... não existe assim uma... quer dizer,
existe, você vai no corredor lá do curso e tem lá o horário de atendimento do
professor com o estagiário, mas não sei até que ponto que aquilo lá funciona,
eu só sei que o número de pessoas que não segue aquilo é grande, né? É...e
mesmo assim não tem critério de avaliação pelo professor. Por um lado, o
aluno que não corre atrás... ele acha que só se matricular e fazer o projeto é
suficiente e por outro tem os professores também que independente do aluno
ter ido lá ou não, avalia... vê 50 páginas e ah... 8,5. Isso aí eu já vi bastante
também (Entrevistado 04, 2008).
As práticas de intercâmbio, consideradas pelo corpo diretivo como o ponto forte da
estratégia do curso de graduação em administração, por sua vez, são assim colocadas em sua
narrativa:
A UFPR tem muito pouco vínculo também com outras universidades no
exterior… quando tem é iniciativa de alguns professores só… que eles vão
fazendo por… a maioria por interesse deles, porque eles querem isso para
eles e acabam conseguindo para a graduação (…) (Entrevistado 04, 2008).
Assim como o Entrevistado 04 e os demais entrevistados do corpo discente, os
praticantes do corpo docente também evidenciam que a prática de intercâmbios não é muito
intensa no curso, colocando que ela carece de uma estrutura que possa efetivá-la como um
ponto forte do curso.
Diante das questões apresentadas, pode-se observar que as práticas e atividades no
curso de graduação em administração da UFPR são bastante difusas, muitas vezes
concentram-se no plano do discursivo ao invés de no plano da ação. Além disto, a questão
coletiva, tão importante para a construção da estratégia, é muito pequena; predomina a
133
atuação individual e desvinculada de qualquer estrutura de coordenação ou discussão. Há uma
descrença geral no processo e nas estruturas, o que também impede a possibilidade de
articulação entre as pessoas. Os entrevistados, por outro lado, colocam que todas pessoas
possuem uma boa relação, são amigos, mas no plano do profissional não há uma relação,
todos atuam de forma isolada, não trocam experiências e não se articulam para desenvolver
um trabalho coletivo. Os poucos que o fizeram (e narraram as experiências) não tiveram
adesão dos demais e assim acabaram por deixar a iniciativa de lado.
Em termos de artefatos físicos pode-se observar também que há uma distância física
entre as estruturas de departamento e coordenação e as salas dos docentes, além de distantes,
na maioria das vezes permanecem de portas fechadas. Poucos professores são encontrados em
seus espaços no dia-a-dia da organização. O maior movimento nos corredores ocorre no
período noturno, quando mais turmas têm aula, mas os professores que circulam são aqueles
que têm aula naquele período. No período da tarde o prédio é praticamente vazio, no curso de
administração, pois não há aulas e outras práticas acadêmicas não são desenvolvidas no curso.
Com relação às salas de aula, apesar do caráter público da organização, o espaço da
aula é privado, no sentido de que aquele espaço é do domínio do professor, sem que ele
precise prestar contas ou trocar experiências com qualquer pessoa sobre o que lá acontece.
Quando o privado vem a público (ao ocorrer algum problema entre professores e alunos na
sala de aula) ele nem sempre ultrapassa a instância privada da sala de
coordenação/departamento e os problemas que os discentes relatam não são resolvidos, afinal,
chefia de departamento e coordenação são postos transitórios e aquele que hoje está no cargo,
amanhã voltará a ser parte comum do corpo docente. Assim, narrativas como a do
Entrevistado 05, descrita abaixo são comuns:
Desde as gestões das coordenações anteriores se tentou uma padronização
de, por exemplo, a disciplina de Teoria Geral da Administração ser
ministrada com o mesmo livro e com o mesmo conteúdo. Só que não é assim
que acontece; depende do professor e do conteúdo. Então muitas das
disciplinas deste curso se você faz a disciplina com o Professor A, você vai
ter um conteúdo, uma abordagem e uma visão. Se você faz com o Professor
B, você vai ter outro conteúdo, outra abordagem e outra visão. E o que é
pior: em alguns casos, se você fizer com o professor A, você não vai
aprender nada e vai tirar 10,0 e se você fizer com o professor B, você vai
aprender muito mais vai tirar nota baixa. E onde é que está o problema disso:
nós somos formais, então a avaliação do aluno vem pelo IRA, então é um
aluno que sabe muito mais, mas está com o IRA baixo. Isso é um problema
seriíssimo e que nós não temos, novamente, instrumentos de gestão para
coibir. (…) Em alguns casos ela [ementa] não é cumprida, em outros existem
ementas muitos vagas – especialmente na área de organizações existem
ementas muitos vagas – então o professor pode ou não pode cobrar… Daí
134
vocês vão me perguntar assim: mas o aluno não deveria exigir isso? Deveria,
mas o que é que tem acontecido sistematicamente: os alunos do primeiro e
do segundo ano, que são alunos motivados e que vão ler o manual do aluno e
vêem que podem pedir isso, eles pedem uma vez, pedem outra vez e
percebem que nem a coordenação do curso e nem a chefia do departamento
tem muito poder sobre o professor e então eles se desestimulam. E num
segundo momento o que é que acontece: aqueles que vão mais pra frente,
acabam algumas vezes – algumas vezes, por favor – sendo perseguidos pelo
professor. Isso existe aqui dentro. Professores que, ao serem questionados
pelos alunos por que não estão dando a matéria, acabam por perseguir o
aluno. E a gente sabe disso na chefia do departamento, mas não tem o que
fazer. Até porque, vocês vejam a minha situação hoje, eu era chefe e voltei a
ser peão. Então, agora eu posso vir a ser prejudicada por algum daqueles
professores que eu, por exemplo, atribuí uma falta, que eu fui lá e pedi que
desse o conteúdo da disciplina. Então, eu sempre tentei: “professor, o Sr. por
favor, cumpra o seu horário”, “professor, por favor, veja o conteúdo da
matéria”. Com o professor substituto eu posso fazer isso e eu sempre fiz isso.
Em alguns momentos é melhor trabalhar com o professor substituto do que
trabalhar com o professor efetivo. Porque com o professor substituto teve
alguns casos que eu simplesmente não renovei o contrato. Esperei acabar o
semestre – também não iria tirar o cara no meio do semestre – então acabou
o semestre não foi renovado o contrato. Então você tem instrumentos de
gestão para melhorar o curso. Mas com o professor efetivo você não tem
instrumento de gestão (Entrevistado 05, 2008).
As narrativas permitem dizer que, mais uma vez, percebe-se o caráter individual em
detrimento do coletivo e a existência de espaços e interesses privados que coexistem no curso
de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná.
4.1.5 Strategizing: como ocorre o processo de formação do conteúdo
estratégico na UFPR
Partindo de todo o exposto, o strategizing – processo estratégico, de formação e de
implementação que na perspectiva teórica deste trabalho acontecem sem que se possa separá-
los – ocorre a partir das práticas e atividades delineadas na seção de capítulo anterior (4.1.4)
empreendidas por praticantes (descritos na seção de capítulo 4.1.2) no seu dia-a-dia, nas suas
rotinas, no desempenho de seus papéis, nas suas atividades formais e informais. O
strategizing ocorre também considerando a influência de praticantes externos à organização,
visto que ela está imersa e em constantes trocas com seu ambiente. Considerando ainda o
curso de graduação em administração da UFPR como sujeito às regulações referentes ao curso
em si e às políticas de ensino superior vigentes no Brasil, percebe-se que o processo
estratégico deve considerar ainda estas influências externas, na medida em que elas afetam
mudanças ocorridas e que podem ocorrer.
135
Posto isso, compreende-se o processo estratégico da UFPR a partir da Figura 12
apresentada abaixo:
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Figura 12. Strategizing na UFPR
3
É necessário esclarecer que a Figura 12 desenhada acima não tem por objetivo mostrar
um “fluxo” linear de fases e etapas que acontecem em seqüência. A intenção com esta figura é
delinear de forma geral como ocorre esse processo, que práticas e como os praticantes estão
envolvidos nesse processo todo, a fim de que todo o descrito até aqui fique mais claro e seja
visualizado a partir de um todo em que as partes se inter-relacionam. As práticas, individuais
ou coletivas, fazem sentido nesse todo, em que se podem visualizar os resultados do processo
estratégico.

3
Observação: A Figura 12 está disponível em tamanho maior no APÊNDICE B (p. 211).
136
4.1.6 Da prática ao resultado: algumas considerações, a partir dos
dados, de práticas e resultados
Estratégia implica resultado. Estratégia compreendida como uma prática social
também implica resultado: são as práticas das pessoas, atuando num coletivo ou de forma
individual, que levam ao alcance de resultados, sejam eles pretendidos ou não.
Até aqui se discutiu a questão dos praticantes, do entendimento de estratégia no curso
de graduação em administração da UFPR, das atividades e práticas que puderam ser
identificadas e descritas e do delineamento de um processo estratégico geral no curso. Agora é
hora de falar em resultados – pretendidos ou não.
Ao considerar as narrativas do corpo diretivo alguns dos resultados estratégicos estão
sendo alcançados: nas avaliações formais feitas pelo MEC e organizações a ele vinculadas o
curso de graduação em administração tem garantido boas notas, o que faz dele, perante o
público em geral, um curso de qualidade.
Outros resultados (vinculados às práticas de sala de aula, à formação de um
profissional capaz de atuar nas organizações empresariais, à garantia de ministrar conteúdos e
avaliações condizentes com o objetivo do curso) parecem fugir daqueles pretendidos,
principalmente a partir das narrativas dos praticantes do corpo docente e discente. Ao serem
questionados sobre a sua preparação como profissionais para o mercado, os praticantes do
corpo discente apresentam uma avaliação desanimadora dos resultados do seu processo de
formação:
Olha, pelo que eu vejo na minha turma, a Federal contribuiu bem pouco para
eles assumirem os cargos de liderança que eles assumiram… em termos de
conteúdo assim. Acho que todos eles… é mais por mérito deles mesmo, eles
têm um perfil para liderar. Então eu acho que a Federal foi só uma etapa que
eles passaram, mas que contribuiu pouco (Entrevistado 06, 2008).
Na percepção de outro entrevistado do corpo discente, que acredita que logo que
terminar a graduação dará continuidade aos seus estudos justificando que “a graduação não é
nem que só ela não basta, é que ela nem bastar basta!” (Entrevistado 04, 2008), coloca que:
Acho que o aluno da UFPR é valorizado porque ele passou no vestibular,
sabe? Então a única valorização que tem aqui dos alunos de preparar eles
para serem profissionais melhor é que como ele passou no vestibular da
UFPR, que todo mundo no Paraná quer, então tem uma seleção natural ali
dentro. Então aqui dentro, talvez a proporção de alunos que correm atrás e
que se aprofundam e que querem ser bons administradores, é maior que em
outras universidades. Então por isso que as empresas dão tanta importância
ao aluno da UFPR. (…) Eu acredito que seja a única explicação, porque
questão de qualidade do curso, incentivo da universidade para o crescimento
137
do graduando não existe. Você tem alguns professores que dão aula na FAE,
que são melhores que os daqui, mas ainda assim os alunos daqui são mais
valorizados e se dão melhor, então é porque o crivo de entrada deve ter
sido… (Entrevistado 04, 2008).
Esses dois excertos refletem as reflexões de dois discentes em fim de curso, que se
sentem inseguros com relação à sua formação e atribuem isso a todo um processo pelo qual
eles passaram e não acreditam que seja capaz de formá-los como bons profissionais. Por isso,
narram que desde o início, ao perceber isso, passam a procurar alternativas de formação, com
outros cursos e principalmente com a prática do estágio. Um aluno iniciante do curso,
prevendo como resultado uma formação que não o satisfaz como profissional, manifesta a
seguinte percepção:
Esse semestre está bem ruinzinho também, o povo está bem desacreditado
do curso também, porque a maioria dos professores não são de
administração, são de outro departamento (…)… então está bem chatinho
assim. A galera está aprendendo, mas… (…) pra falar a verdade, eu estudei
uma vez só essa semana no semestre inteiro porque eu faço planejamento
tributário que é do quarto semestre e nem é do segundo e tive prova na sexta.
Fora isso ninguém estuda porque não tem o que estudar, então eu estou
achando muito fraco este curso. (…) Como esse semestre está muito
devagar, eu falei: “não eu tenho que fazer economia também, está muito
devagar”. Dá para levar, nossa!, dormindo assim! Nas aulas assim dá pra
passar em todas. Parece que vai faltar conhecimento assim (Entrevistado 09,
2008).
Então, parece que as colocações expressas pelos praticantes do corpo docente de que
os resultados obtidos pelo curso de graduação em administração são ainda positivos em
função do seu corpo discente, são coerentes:
Então eu acho que esse é um diferencial que a gente não explora no curso de
administração. Porque a questão é a seguinte: nós temos os melhores alunos.
Não é que a gente é melhor ou pior, os alunos são melhores. Eu acho até que
a gente não é tão bom quanto deveria com os alunos, no geral (Entrevistado
15, 2008).
Outros praticantes do corpo docente trazem a questão da qualidade do grupo de
professores, afirmando que alguns fazem a diferença e assim são capazes de contribuir na
formação de bons profissionais. No entanto, alguns desses praticantes questionam a
efetividades desses resultados, que deveriam estar voltados para a satisfação das demandas da
sociedade e o aluno deveria ser visto como um “produto” e não como um “cliente” da
Universidade, que seria a sociedade que recebe estes profissionais formados.
Importante destacar que as pesquisas empreendidas para a construção do referencial
teórico desta pesquisa evidenciam estudos com outros cursos de graduação em administração
138
que acabam por apontar problemas e resultados semelhantes. Isso pode estar vinculado ao que
um dos entrevistados coloca:
Eu acredito que esses mesmos problemas que ocorrem, eles não ocorrem só
na Federal do Paraná. Eles são mais ou menos comuns, eles são fruto de uma
profissão mal concebida e de uma academia mal concebida ou então que está
iniciando suas atividades. O que acontece é que Universidade Federal é a
instituição que mais se beneficia por potencializar a formação do professor.
Então se você comparar os professores da Universidade Federal do Paraná
com qualquer outro curso, os nossos professores são os que tiveram as
maiores oportunidades para se formar e tiveram recursos para isso. Quem
não se formou é porque não quis (Entrevistado 11, 2008).
A fala do Entrevistado 11 reflete uma vinculação desses resultados à formação e à
concepção da profissão em si ao mesmo tempo em que destaca que o curso ainda mantém um
nível de qualidade também pelo esforço de professores que buscam o aperfeiçoamento
contínuo e procuram refletir sobre a formação do corpo discente. Interessante observar que o
corpo discente aponta esses professores como os que deixaram para eles experiências
positivas de formação. Apontam também as experiências negativas, mas eles descrevem que a
maior parte dos professores não causou nenhum tipo de impressão, eles são simplesmente
indiferentes.
Com essas considerações observa-se ainda que o curso de administração da UFPR,
além de apresentar uma estratégia pouco reconhecida pelos praticantes, não apresenta prática
de avaliação de resultados, o que faz com que as práticas e atividades sejam desenvolvidas
sem vinculação com um resultado, o que enfraquece ainda mais o caráter estratégico delas.
Observa-se ainda que a grande maioria dos resultados vinculados às práticas e
atividades do curso não são esperados, são resultados que simplesmente ocorrem, sem um
monitoramento, avaliação ou prática estratégica capaz de alinhá-los à estratégia.
4.2 A FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
4.2.1 Caracterização do curso de graduação em administração da FAE
– Centro Universitário
O curso de graduação em administração da FAE – Centro Universitário foi criado em
1957, como curso de administração pública. Nessa data nasceram, juntamente com o curso de
administração pública, os cursos de sociologia política e de ciências econômicas, todos os três
vinculados à Faculdade de Ciências Econômicas, a qual curiosamente funciona até 1964 como
uma unidade agregada à Universidade Católica do Paraná (atual PUC-PR). A partir de 1964,
139
com a desvinculação da Universidade Católica do Paraná, a instituição em questão passa a se
chamar Faculdade Católica de Administração e Economia: FAE. É relevante destacar que ao
falar do curso de administração da FAE – Centro Universitário é impossível desvinculá-lo da
história da instituição em si, pela atuação sempre integrada de todos os cursos e também pelo
destaque que o curso tem dentre os demais, constituindo-se, como afirmam inclusive alguns
entrevistados, como a “menina dos olhos” da instituição. Em 1997 há uma nova mudança de
nome da FAE para Faculdades Bom Jesus, o que, no entanto, não afeta a marca “FAE”, que
continua sendo usada. Outro marco importante está no ano de 2004, quando as Faculdades
Bom Jesus passam para o status de Centro Universitário, com o nascimento de três novos
cursos e passando a se chamar FAE – Centro Universitário, nomenclatura adotada também
como marca. Atualmente, a FAE – Centro Universitário conta com 21 cursos de graduação,
25 áreas de especialização lato sensu, dois programas de MBA e um curso de mestrado.
Apesar dessa grande expansão, os cursos de administração e economia continuam a existir
como pontos fortes da instituição, enquanto os outros cursos desenvolvem-se tamm
buscando alcançar a qualidade que é considerada pelos praticantes da estratégia da FAE –
Centro Universitário como característica da organização.
O curso de administração (sem a ênfase na administração pública) da FAE – Centro
Universitário data de 1972, reconhecido a partir do Decreto Federal nº 70.727/72 de 19 de
junho de 1972.
O curso de graduação em administração da FAE – Centro Universitário segue as
diretrizes, objetivos, estratégias, missão e visão da instituição como um todo, por isso se faz
relevante neste contexto de descrição do curso sob a perspectiva do seu conteúdo estratégico
(atendendo ao objetivo específico 2 desta pesquisa) explicitar a missão, a visão e os objetivos
da FAE – Centro Universitário, expressos no site da organização e também permeando os
documentos de estatuto e regimento da organização, aos quais se teve acesso
4
:
Missão: Produzir e difundir o conhecimento, libertar o ser humano pelo
diálogo entre a ciência e a fé e promover fraternidade e solidariedade,
mediante a prática do bem e conseqüente construção da paz. Visão: Ser

4
Importante destacar que os pesquisadores não tiveram acesso ao projeto pedagógico do curso de administração
da FAE sob as seguintes justificativas: (a) as informações relevantes do projeto pedagógico estão disponíveis no
site da organização; (b) a FAE passa por um período de reformulação curricular de todos os seus cursos de
graduação, cujos currículos novos estarão em implantação no ano de 2009; (c) na fase de liberação da pesquisa, a
liberação à consulta de documentos foi restrita àqueles de acesso público. Assim, as informações utilizadas aqui
para a descrição do conteúdo estratégico do curso de graduação em administração da FAE baseiam-se nos
documentos acessíveis aos pesquisadores, que não o projeto pedagógico.
140
reconhecida, nacional e internacionalmente, como uma instituição de
excelência em ensino, que se diferencia pela formação humanista dada aos
seus alunos. Objetivo geral: A UNIFAE Centro Universitário tem como
finalidade proporcionar condições para que as pessoas se habilitem ao
exercício profissional pleno, universal e contínuo nas atividades de negócios,
educação e afins, respeitando a legislação vigente e executando
exemplarmente o papel metodológico e pedagógico de pesquisar e transferir
para o corpo docente, o discente e o de atividades complementares, os
fundamentos da visão cristã do homem e do mundo. Objetivos específicos:
Fiel à proposta da missão e visando tornar seus os objetivos maiores da
ordem franciscana no Brasil, a UNIFAE Centro Universitário assume como
metas: I - o desenvolvimento do ensino e da educação superior, na área de
gestão de negócios; II - a construção de um espírito humanista cristão nas
relações entre os vários grupos sociais, por meio da atuação dos especialistas
e profissionais que diplomar, à luz da cosmovisão franciscana; III - a
formação de profissionais e especialistas de nível superior na área de gestão
de negócios; IV - a promoção do espírito comunitário, da fraternidade e da
igualdade entre os cidadãos, para que os mesmos tenham condições de
desenvolver, conscientemente, seus projetos de vida, para alcançar a paz; V -
a pesquisa, o estudo e a divulgação, por meio de suas publicações e atuação,
das possíveis soluções dos problemas nacionais e regionais enquanto
relacionados com as disciplinas e objetivos de seus cursos, além de outros de
interesse da comunidade (informação disponível no site www.fae.edu.br
,
acessada em novembro de 2008).
Perceba-se que em todos os direcionamentos estratégicos da organização descritos
acima a questão da fidelidade aos valores franciscanos da mantenedora da organização é de
grande relevância e permeia todas as atividades e também as falas dos praticantes
entrevistados, como será demonstrado nos desenvolvimentos a seguir. Além disso, o conteúdo
estratégico do curso é bastante influenciado por estes valores na medida em que existem
disciplinas institucionais que buscam disseminar estes valores e promover uma formação
humanística dos administradores, conforme se pode perceber no excerto acima.
É importante retomar o entendimento, já descrito na seção de capítulo 4.1.1 (p. 96)
quando se caracteriza o conteúdo estratégico do curso de graduação em administração da
UFPR, que para efeitos desta pesquisa compreende-se como conteúdo estratégico a partir do
entendimento do perfil do aluno (o produto do trabalho da organização), os objetivos e as
diretrizes do curso, bem como todo o ementário que delineia a execução das estratégias no
nível operacional do curso (resgatados os dados dos documentos fornecidos pelas
organizações).
Esclarecidas essas questões, baseando-se nas diretrizes institucionais acima descritas,
a FAE – Centro Universitário oferece duas modalidades de curso de administração: um curso
de administração regular, com turmas nos períodos matutino e noturno, e um curso de
administração integral. A operacionalização desses cursos dá-se com base na grade curricular
apresentada no ANEXO C (p. 290) e no ANEXO D (p. 292), correspondendo cada um dos
141
anexos ao curso de administração regular e administração integral, respectivamente. Assim, o
perfil do administrador que a FAE – Centro Universitário descreve como aquele que é o ideal
diz respeito a um profissional capaz de dominar os 5 princípios básicos da administração
científica, como descrito abaixo:
O profissional de Administração deve ser eclético, com múltiplos e
diversificados conhecimentos. O graduado neste curso é um indivíduo
polivalente, pois seu campo de atuação exige também conhecimentos
multifuncionais. É indispensável para o perfil desse profissional o espírito
empreendedor. De acordo com a teoria criada por Henry Fayol no início do
Século XX, os cinco princípios básicos da Administração são: prever,
organizar, comandar, coordenar e controlar. Prever significa visualizar o
futuro, traçando um programa de ação que, por sua vez, salienta a
importância sobre os recursos das empresas e sua natureza. Organizar é
dotar uma empresa de tudo que é necessário para seu funcionamento:
matérias-primas, utensílios, capitais e pessoais. Comandar é basicamente
fazer funcionar. Coordenar consiste em estabelecer a harmonia entre todos
os atos de uma empresa, facilitando seu desempenho e possibilitando seu
sucesso. Controlar é verificar se tudo ocorreu de acordo com o plano
adotado, ordens dadas e princípios admitidos, objetivando assinalar faltas e
erros para poder corrigi-los e evitar que os mesmos se repitam. A partir
desses cinco princípios básicos, o profissional formado pela UNIFAE
enfrentará as mais diversas situações com soluções criativas e inovadoras
(informação disponível no site www.fae.edu.br
, acessada em novembro de
2008).
Dentro deste perfil, as vagas oferecidas pela FAE – Centro Universitário anualmente
contemplam (segundo informações obtidas do edital do vestibular 2009) os seguintes números
de vagas:
1. Administração Centro (matutino): 150 vagas.
2. Administração Centro (integral): 40 vagas.
3. Administração Centro (noturno): 300 vagas.
4. Administração Cristo Rei (noturno): 150 vagas. (informações disponíveis
no edital do vestibular 2009 da FAE – Centro Universitário).
Todas as turmas têm como tempo regular de curso 04 anos, de acordo com a grade
curricular e carga horária apresentada no ANEXO C (p. 290) e no ANEXO D (p. 292).
Atualmente o curso é organizado no formato modular (formato este que está em fase de
modificação com o novo projeto pedagógico dos cursos, a ser implantado em 2009) com a
seguinte distribuição de horários:
1) Câmpus Centro
- Manhã (Administração; Negócios
Internacionais; Direito; Filosofia;
Administração Integral)
7h45 às 9h25
Intervalo
9h25 às 9h35
142
9h35 às 11h15
- Tarde (Administração Integral)
14h às 15h40
Intervalo
15h40 às 15h50
16h às 17h40
- Noite (Administração; Ciências
Econômicas; Ciências Contábeis; Negócios
Internacionais)
18h50 às 20h30
Intervalo
20h30 às 20h40
20h40 às 22h20
- Noite (Engenharia: Produção, Ambiental,
Mecânica; Direito, Tecnologia: Logística,
Recursos Humanos, Sistemas para Internet,
Gestão Financeira, Marketing; Publicidade e
Propaganda; Desenho Industrial;
Informática: Sistemas de Informação)
19h10 às 20h50
Intervalo
20h50 às 21h
21h às 22h40
2) Câmpus Cristo Rei
- Noite (Educação Física; Pedagogia;
Letras; Tecnologia: Logística, Recursos
Humanos, Gestão Financeira, Marketing;
Administração)
19h às 20h40
Intervalo
20h40 às 20h50
20h45 às 22h30
Fonte: informação disponível no site www.fae.edu.br, acessada em novembro de 2008.
Quadro 6. Períodos dos Cursos Superiores da FAE – Centro Universitário
O sistema modular funciona “nos moldes das universidades americanas (o chamado
"quarter"). Nesse sistema, as disciplinas são lecionadas em nove semanas, período no qual o
aluno estuda apenas três matérias (…)” (informação disponível no site www.fae.edu.br,
acessada em novembro de 2008).
Além disto, a FAE – Centro Universitário descreve algumas ações que promove a fim
de desenvolver o seu conteúdo estratégico da seguinte forma:
Através de parcerias, a UNIFAE estreitou as relações com as empresas, que
auxiliam na preparação prática dos alunos, oportunizando também estágios e
empregos. O corpo docente passou a reunir-se periodicamente para
avaliação de desempenho. Participação constante em eventos de nível
regional e nacional, onde estão envolvidas entidades como Ministério de
Educação, Conselhos Regionais de Administração, Instituições de Ensino,
empresas em geral e entidades de classe. Análise e acompanhamento
constante dos conteúdos programáticos das diversas matérias que
compõem o curso. Organização de visitas técnicas às empresas e promoção
de palestras voltadas ao Administrador, procurando dessa forma mostrar a
realidade do mercado aos alunos. (informação disponível no site
www.fae.edu.br, acessada em novembro de 2008).
A partir da descrição acima, existe uma série de núcleos responsáveis por colocar em
prática muitas dessas ações e atuar nas três frentes: ensino, pesquisa e extensão e o trabalho
desses núcleos é voltado para todos os cursos da FAE – Centro Universitário, incluindo o
curso de graduação em administração.
143
1. Núcleo de Relações Empresariais:
O Núcleo de Relações Empresariais da FAE Centro Universitário tem por
finalidade promover a integração entre o contexto acadêmico da faculdade,
do conteúdo programático de suas disciplinas, de seu ementário e de suas
atividades curriculares de graduação e pós-graduação e o mercado
empresarial e executivo. Essa integração é realizada por meio de programas
e atividades compatíveis com tais objetivos, ou seja: prospecção e
coordenação estratégica das salas empresariais; visitas técnicas às empresas
parceiras ou não e palestras e/ou encontros de executivos/diretores
empresariais. Além dessas atividades, o Núcleo de Relações Empresariais
co-participa, em conjunto com a direção geral da FAE, na concepção e
execução das Feiras de Gestão. E ainda, em parceria com o Núcleo de
Empregabilidade, promove a aproximação do aluno com o mercado. É
também responsável por encaminhar aos órgãos competentes as
oportunidades acadêmicas, institucionais ou comerciais identificadas no
mercado (informação disponível no site www.fae.edu.br, acessada em
novembro de 2008).
2. Núcleo de Empregabilidade:
Criado em abril de 2000, o Núcleo de Empregabilidade tem a missão de
orientar, desenvolver e encaminhar alunos e ex-alunos da FAE Centro
Universitário para o mercado de trabalho, tendo em vista o seu
aprimoramento profissional. Para isso, foi criado um sistema para as
empresas cadastrarem vagas disponíveis e para os alunos cadastrarem seu
currículo. Desta forma, o Núcleo analisa os requisitos da empresa para
buscar o currículo do aluno com o perfil mais adequado. Este novo sistema
foi responsável pelo aumento do número de alunos empregados de 2001 a
2003 em mais de 100%. Hoje, o Núcleo de Empregabilidade é a segunda
instituição pela qual os alunos da FAE se colocam no mercado de trabalho
(informação disponível no site www.fae.edu.br, acessada em novembro de
2008).
3. Núcleo de Pesquisa Acadêmica:
A pesquisa acadêmica na FAE Centro Universitário visa atender a duas
dimensões da instituição em sua relação e função com a comunidade local:
aprofundar a interação das organizações com o desenvolvimento local e de
novas tecnologias de gestão. Como objetivos específicos, têm-se:
desenvolver um ambiente favorável à pesquisa por meio do envolvimento
organizado dos pesquisadores (professores e bolsistas da instituição);
interagir com a comunidade acadêmica e empresarial por meio de projetos
vinculados aos grupos de pesquisa de interesse para instituição; divulgar a
produção existente e os projetos em andamento e realizados para a
comunidade acadêmica, dentro das propostas estabelecidas em cada grupo
de pesquisa; desenvolver maior inter-relação com grupos de pesquisa de
outras instituições de ensino e/ ou pesquisa; promover a publicação
sistematizada de trabalhos oriundos de projetos de pesquisas vinculados ao
grupo; estimular a participação de pesquisadores do grupo de pesquisa em
eventos com intuito de participar a comunidade acadêmica e empresarial dos
esforços científicos da instituição de ensino, do grupo de pesquisa e dos
pesquisadores envolvidos. (informação disponível no site www.fae.edu.br,
acessada em novembro de 2008).
144
4. Núcleo de Relações Internacionais:
Considerando a dinâmica das transformações econômicas, políticas e sociais
que vem ocorrendo em diversos países, as organizações estão preocupadas
em encontrar pessoas que possam gerenciar processos com habilidades de
prever e responder à altura a essas mudanças, que constantemente
surpreendem as empresas (…). Nossa missão de transformar os nossos
alunos em verdadeiros players mundiais nos leva a firmar parcerias com
várias instituições educacionais internacionais, com o objetivo de
desenvolver programas que possam trazer respostas aos grandes desafios das
organizações brasileiras. Programas de Graduação: Dentre as oportunidades
para os alunos de graduação oferecidas pela FAE encontram-se os
programas de dupla diplomação com a Fachhochschule Münster na
Alemanha e dupla diplomação ou 1 ano acadêmico na Baldwin-Wallace
College, em Ohio, Estados Unidos. (…) O Núcleo oferece também os
serviços do Escritório de Consultas Educacionais para Estudos nos Estados
Unidos da FAE Centro Universitário – ECE FAE, o qual é um serviço de
orientação a pessoas interessadas em estudar nos EUA. Aberto aos alunos da
FAE, Colégio Bom Jesus e comunidade em geral, o escritório tem como
objetivo promover o entendimento mútuo entre o Brasil e os Estados Unidos
da América por meio de intercâmbio cultural e acadêmico. Para mais
informações, clique aqui. Programas de Pós-graduação (Mestrado): Dentre
as parcerias firmadas pela FAE estão os programas de MBA ofertados em
parceria com a Baldwin Wallace (Estados Unidos) e a Fachhochschule
Münster (Alemanha) (informação disponível no site www.fae.edu.br,
acessada em novembro de 2008).
As informações expostas acima visam caracterizar de forma geral como o curso de
graduação da FAE – Centro Universitário se organiza. Percebem-se, acima de tudo, duas
características fundamentais: (1) o conteúdo descrito vale, na maioria das vezes, para todos os
cursos de graduação da organização e (2) todo o conteúdo estratégico é permeado pelos
valores da instituição franciscana à qual o curso é vinculado.
Destaca-se que a descrição acima pautou-se em pesquisas documentais a fim de
caracterizar o curso em termos de conteúdo, mas as seções de capítulo que serão
desenvolvidas adiante apresentarão como este conteúdo e as práticas vinculadas a ele são
percebidas, descritas e se relacionam com o produto final da curso – o profissional, colocado
no mercado e preparado para atuar nele.
4.2.2 Praticantes: quem são e quais seus papéis
Tendo em vista a caracterização do curso de graduação em administração da FAE –
Centro Universitário desenvolvida acima, percebe-se que apesar de não se ter conseguido
acesso ao Projeto Pedagógico do curso, foi possível, por meio dos documentos acessíveis,
145
caracterizar em termos gerais qual o conteúdo estratégico do curso: qual o perfil do produto
(os profissionais formados pelo curso) e delineamentos genéricos de como se chegar lá.
No entanto, entende-se a partir da perspectiva teórica adotada neste trabalho que a
estratégia se faz no dia-a-dia, nas rotinas diárias, nas interações formais e informais, no fazer
estratégia dos praticantes, conforme já colocado na descrição dessa categoria de análise
delineada no caso da UFPR (4.1.2, p. 101). Ela não é um corpo despersonalizado, somente
formalizado em um plano e em documentos formais. Ela tem vida e acontece no fazer
cotidiano das pessoas, dos praticantes. Dessa forma, faz-se necessário compreender quem são
os praticantes da estratégia (relacionado ao objetivo específico número 3 desta pesquisa),
antes de se iniciar qualquer discussão.
Retomando as Definições Constitutivas e Operacionais descritas na parte de
metodologia (3.3.3, p. 76), entende-se por praticantes todas as pessoas envolvidas no fazer
estratégia – sejam executivos, implementadores, consultores, clientes e demais stakeholders
que tenham participação no fazer estratégia.
Dessa maneira, identificam-se três grupos principais de praticantes na presente
pesquisa (da mesma forma como aconteceu no caso da UFPR):
O corpo diretivo do curso, formado pelo coordenador formal do curso de
graduação em administração da FAE – Centro Universitário, pelos docentes
que auxiliam no desenvolvimento das atividades de coordenação e figuram
perante a comunidade acadêmica como “coordenadores” também. Aqui se faz
necessária uma explicação: dentro da estrutura formal da FAE – Centro
Universitário existe a figura do coordenador de curso, o qual é responsável por
planejar e implementar as ações do curso, alinhadas com as estratégias e
objetivos macro da instituição. O coordenador ainda é responsável por toda
interface do curso com discentes e docentes. Considerando o tamanho do
curso de graduação em administração da FAE – Centro Universitário, houve a
necessidade de se compartilhar as responsabilidades de coordenação com mais
duas pessoas, com vistas a melhorar o atendimento e a eficácia da
coordenação. Assim, tem-se formal e estruturalmente um coordenador de
curso e informalmente mais duas pessoas que atuam e compartilham
responsabilidades como “coordenadores” informais, juntamente com o
coordenador oficial – por isso consideram-se estas pessoas também como
parte do corpo diretivo. Além dos coordenadores de curso, consideram-se
também como parte do corpo diretivo os coordenadores acadêmicos, que
146
fazem a interface direta entre a pró-reitoria e os cursos. Interessante observar
que, dentre os praticantes entrevistados na FAE – Centro Universitário, a
maioria dos entrevistados do corpo diretivo também pode ser considerada
dentro da categoria de corpo docente do curso, pois também atuam naquelas
funções.
O corpo docente do curso, formado por todo o conjunto de professores que
trabalham no curso de graduação em administração, ministram aulas e
compartilham com o corpo diretivo dos fóruns de discussão sobre o curso. Os
professores, além de participarem do processo de desenvolvimento de um
Projeto Pedagógico, são os responsáveis ativos pela efetivação do conteúdo
estratégico estabelecido nesse plano em suas práticas individuais e coletivas,
de sala de aula, de planejamento, discussão e todas as demais que venham a
empreender na construção do curso. Atuam, de certa maneira, também como
“consultores” e “gurus” da estratégia, uma vez que influenciam sua
formulação com uma atuação “consultiva” e também com o saber teórico,
desenvolvido em pesquisas e em seus estudos, como “orientadores” sobre o
sentido da estratégia.
O corpo discente, formado por todos os alunos do curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário, que são o meio e o produto de
todo o processo estratégico-pedagógico do curso. Além disso, participam das
definições de conteúdo enquanto estudantes a partir das instâncias de
representação formal (Centro Acadêmico de Administração) e informal, por
diversos canais que podem ser criados, pela avaliação docente e institucional,
pelo acesso direto ao corpo diretivo, pela ouvidoria da instituição e por
diversas outras práticas que serão discutidas adiante.
Consideram-se todos os sujeitos constituintes dos grupos acima categorizados como
praticantes da estratégia do curso de graduação em administração, porém para viabilizar o
estudo, entrevistou-se dentro da categoria do corpo diretivo, os três coordenadores
(ressalvadas as diferenças entre coordenação formal e informal descrita acima) e um
coordenador acadêmico, membros do corpo discente de diferentes anos e vivências dentro do
curso (pois na FAE – Centro Universitário a representação de classe não acontece em todos os
anos do curso, uma vez que os alunos, depois do primeiro ano, costumam não ter turmas
fixas. Assim foram entrevistados 8 alunos do corpo discente, dos diferentes períodos –
matutino e vespertino – e de todos os anos do curso, professores que atuem nas diferentes
147
áreas de concentração: finanças, marketing, recursos humanos, produção e administração
geral e que tivessem um envolvimento grande (em termos de dedicação e carga horária) com
o curso.
Partindo da categorização acima descrita, o Quadro 7 abaixo procura delinear o papel
de cada um dos praticantes citados diante dos (1) documentos formais escritos sobre o curso
aos quais se pôde ter acesso e que ensejam a estratégia formal do curso; (2) do seu ponto de
vista e interpretação enquanto praticante; (3) do ponto de vista dos outros praticantes, a partir
dos dados coletados por meio dos documentos e das entrevistas realizadas.
Papel nos documentos
formais escritos
consultados
Como o praticante
descreve seu papel
Como os outros praticantes
vêem este praticante
Corpo diretivo
Os papéis do corpo diretivo
(aqui entendido a partir da
coordenação de curso)
estão descritos nos Arts. 22
e 23 do Regimento Geral
do Centro Franciscano do
Paraná, o qual afirma que é
responsabilidade dos
coordenadores de curso a
gestão acadêmica e
estratégica dos cursos.
Pontualmente o regimento
citado apresenta as
atribuições do coordenador.
O praticante descreve seu
papel coerentemente com
aquilo que está
formalmente descrito,
evidenciando também em
sua fala as atribuições
listadas no artigo 23,
principalmente com relação
a coordenar e supervisionar
as atividades do curso de
graduação, fiscalizar a fiel
execução do regime
didático, sugerir
implementações e
melhorias, proceder à
revisão do projeto
pedagógico e destaca
ainda alguns outros papéis
pontuais quanto ao
acompanhamento e
atendimento individual dos
alunos e professores,
proceder às devolutivas de
avaliação e acompanhar o
professor em seu
desenvolvimento.
Os demais praticantes (corpo
docente e discente) corroboram
em suas falas o que está descrito
formalmente e aquilo que a
coordenação aponta. Não foram
identificadas falas discrepantes
em relação ao papel deste
praticante em relação ao descrito
e aquilo que é realizado na
prática.
148
Corpo docente
Os papéis do corpo
docente são estabelecidos
nos artigos 73 ao 76 do
Regimento Geral do Centro
Franciscano do Paraná, o
qual expressa que “O corpo
docente é constituído de
professores de reconhecida
competência ética e
profissional, que assumem
o compromisso de respeitar
os princípios e valores
explicitados neste
Regimento Geral e no
Estatuto do Centro
Universitário Franciscano
do Paraná. O artigo 76 do
regimento citado expressa
pontualmente as
atribuições dos docentes.
O corpo docente, nas falas
dos entrevistados
relacionados a esta
categoria de praticantes,
ratifica o que está descrito.
Além disso eles se colocam
como participantes dos
fóruns de discussão a
respeito do curso e afirmam
que podem contribuir
nestes fóruns e nas
avaliações empreendidas
periodicamente. São
responsáveis pela
execução fiel do projeto
pedagógico, pela avaliação
dos discentes nas
disciplinas e percebem-se
como implementadores da
estratégia do curso.
Os demais praticantes descrevem
concordância em suas narrativas
com aquilo que está expresso
nos documentos escritos e na
fala do corpo docente.
Corpo discente
O papel do corpo discente
é descrito no Regimento
Geral do Centro
Franciscano do Paraná em
seu artigo 82, em termos
de “direitos e deveres” dos
alunos, dos quais
destacam-se: zelar pelos
seus interesses e pela
qualidade do ensino que
lhes é ministrado; zelar
pelo patrimônio destinado
ao uso comum e às
atividades acadêmicas;
cumprir as normas
institucionais em vigor e em
especial desse regimento;
participar ativamente das
avaliações institucionais,
tendo representação na
comissão interna de
avaliação institucional.
Nas narrativas dos
praticantes do corpo
docente eles reconhecem
esses papéis e posicionam-
se como “controladores” da
qualidade de ensino.
Os demais praticantes
reconhecem também nesta
categoria de praticantes o
cumprimento deste papel descrito
e reafirmado pelos próprios
praticantes. Além disso, os
demais praticantes
(principalmente do corpo
docente) percebem os praticantes
do corpo discente como
influenciadores do conteúdo
estratégico da organização a
partir do momento em que são
muito ouvidos em suas
“reclamações”, necessidades e
exigências.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 7. Quadro-resumo da categoria de análise “praticantes” no curso de graduação
em administração da FAE – Centro Universitário.
Partindo do Quadro 7, alguns excertos podem contribuir para a compreensão do papel
de cada um dos praticantes, diante do que foi exposto acima. Sobre o papel da coordenação, o
Entrevistado 33 coloca o seguinte:
149
Existe um discurso, na minha opinião – assim, faz esse discurso quem nunca
foi coordenador, quem acaba não se preocupando muito com a qualidade do
ensino que se dá na segunda aula de administração financeira, por exemplo –
que é: “ah, porque o professor em sala ele precisa ter uma liberdade”… é
verdade, o professor em sala ele tem que ter a liberdade que ele precisar para
ele fazer o seu processo de ensino acontecer, desde que esse processo de
ensino não seja medíocre. Desde que esse processo de ensino tenha
qualidade. Então, se ele realmente tiver valor e tiver qualidade a gente não
discute isso. Agora, vocês fazem estágio docência, vocês sabem como é
difícil preparar uma aula, então vocês sabem que quando você tem, de
repente um outro professor que já dá essa cadeira há um tempo maior, ele
ajuda a gente a fazer, por exemplo, uma avaliação mais justa com o aluno
(porque avaliação é sempre injusta, ou melhor, menos injusta) então ele já
tem um know how, um expertise, ou seja, você precisa considerar isso, não
significa dizer que você vai fazer igual a ele, mas você pode partir dele (…).
Isso é uma coisa que a gente trata com muita seriedade aqui. Tem gente que
diz, “ah, mas isso vocês estão querendo interferir na vida…” não… estamos
sim, estamos querendo interferir para que o processo de ensino tenha o
mínimo de qualidade que a gente entende ser… (Entrevistado 33, 2008).
Pelo exposto, percebe-se que a coordenação tem um papel ativo em fiscalizar e intervir
para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra – seja em sala de aula ou fora dela, em
reuniões, conversas e orientações aos professores. Outro entrevistado do corpo docente
destaca como cada praticante se insere no processo estratégico da organização:
Vejam, a política da instituição é assim: fica restrito a um grupo que tem um
poder maior de decisão as estratégias e isso é discutido com os professores
no sentido de eles colaborarem com idéias para a implementação dessas
estratégias. Então existe uma abertura muito grande, aliás, total liberdade,
“olha, as disciplinas que você ministra são essas. Dentro dessas ementas o
que precisa ser readequado, o que está defasado, que bibliografias precisam
ser revistas” e isto é feito a cada seis meses. A cada seis meses os
professores da área comum, ou os professores que ministram as mesmas
disciplinas sentam, discutem, reavaliam o que tem que está adequado, o que
está dando certo, o que não está dando certo… (…) Nós temos uma
preocupação muito grande da teoria com a prática e isso é diretriz
estratégica, principalmente no curso de administração, que é business. (…)
Quando se fala em administração, tecnólogo de RH a prática é fundamental,
tanto é que o foco no tecnólogo é muito mais trazer vivências práticas em
sala de aula e sair da teoria, pela própria formação. Então existe uma total
autonomia nesse sentido, os professores sentam, discutem e eles acatam
muitas idéias, as nossas percepções do que está dando certo, do que não está
dando certo. Mas como eu disse, por exemplo, nós não pudemos interferir na
decisão da mudança do seriado para o modular; isso foi uma determinação e
encarado dessa forma. Agora dentro da forma estipulada, o que vocês podem
agregar para que aquilo fique melhor? Então existe uma abertura grande…
[quem decide?] Geralmente coordenadores, pró-reitoria, direção acadêmica
são as pessoas que centralizam e tem esse poder de decisão. São elas que
decidem a questão de todas essas mudanças. Por exemplo, ano que vem
voltaremos ao sistema semestral. Até então trabalhamos no modular e
voltaremos ao semestral. Então, é uma decisão que não tem como nós
questionarmos, vamos dizer, assim, mas contribuirmos com sugestões,
alternativas para facilitar essa transição. Também estamos passando por uma
150
reestruturação curricular em todos os cursos, então isso está sendo bem
trabalhoso para nós. E geralmente chega assim: o professor de tal e tal área,
“o que você propõe para essa disciplina: é necessário aumentar a carga
horária, manter a carga horária, reduzir a carga horária da disciplina. Que
conteúdos devem permanecer” e até o cuidado para não sobrepor conteúdo
com outras disciplinas, nessa reestruturação nós estamos repensando muito
esses aspectos. Não ficar falando em várias disciplinas do mesmo assunto,
mas tentar aproveitar de maneira mais produtiva a carga horária dentro da
disciplina para enfocar aspectos que não serão abordados em outras áreas.
Então isso está requerendo dos professores muitas reuniões, muito trabalho
de revisão de bibliografia, de ementa, de atualização que já é uma coisa que
era constante, agora mais ainda, sempre pensando no todo, não se focando
“ah, eu dou a disciplina de gestão de pessoas, então vou me focar só em
gestão de pessoas”, não! Tem que pensar na gestão de pessoas, que tem o
comportamento organizacional, que tem o desenvolvimento pessoal e
profissional – o que vai ser visto lá, qual é a lógica e o enfoque lá, o que
aquilo vai interferir aqui e isso vai gerar resultados lá na frente. Então isso é
uma constante, sem sombra de dúvida (Entrevistado 26, 2008).
Assim, nas palavras do Entrevistado 26 percebe-se que cada um tem o seu papel,
conforme se descreveu no Quadro 7, e este papel é reconhecido entre todos, tanto que os
praticantes são capazes de descrever estes papéis, como eles interagem, quem faz o que,
qualêa responsabilidade é de quem, evidenciando uma alinhamento que se evidencia inclusive
nos discursos dos alunos. O Entrevistado 27 ainda coloca que:
Poucos vão ser co-participantes (você vai precisar de alguém que está na sala
de aula para estar ali). A grande maioria vai ser de implementadores. E quem
eles estão buscando para ser esse co-participantes: o pessoal de 40 horas, o
pessoal que está direto aqui, que é o pessoal que tem acesso mais à parte
administrativa também… (Entrevistado 27, 2008).
E nesta função de implementador, o corpo discente a reconhece, afirmando o seguinte
sobre o cumprimento deste papel:
É exigência dos professores [cumprir a ementa] e a gente pode reclamar caso
não esteja cumprindo, mesmo no decorrer do curso, não precisa esperar para
fazer essa avaliação a gente pode chegar diretamente para o [coordenador do
curso] e ele geralmente é bem acessível e ele vem e resolve. Aconteceu um
caso no módulo passado na matéria de Mercado Financeiro de Capitais em
que o professor estava tendo muitos problemas na empresa e ele tinha que
fazer muitas viagens e não estava cumprindo a ementa de acordo. Então a
gente fez uma reclamaçãozinha e daí ele mandava professor substituto e foi
tudo resolvido (Entrevistado 18, 2008).
No excerto acima percebe-se que o entrevistado (discente) evidencia o papel do
professor diante do conteúdo estratégico da organização e também dos alunos diante dele, o
que confere com as informações contidas no Quadro 7. Não obstante, o Entrevistado 18,
assim como outros entrevistados e os documentos da FAE – Centro Universitário prevêem, é
151
fundamental que todas as atividades dos praticantes estejam de acordo com os valores da
instituição, conforme se pode observar nas narrativas, a exemplo da descrita abaixo:
Na verdade eles têm muitos valores assim, o foco é a verdade. Então se na
verdade o combinado é que a chamada seja feita em um determinado
horário, e o intervalo é em determinado horário e o que tem que ser passado
nas aulas é isso, os professores já no primeiro dia de aula passam um
programa de aula e você já sabe tudo o que eles vão passar em cada data e
eles realmente cumprem isso. Porque eles partem do princípio que eles não
podem mentir para o aluno e não pode enganar o aluno. Então se o aluno
está pagando por 72 horas/aula ele vai ter estas 72. Então isso de mandar
embora mais cedo… não são valores que a FAE apóia. Então é nessa parte
mais que a gente vê, nessa organização de cumprir certinho o que foi
combinado. [isso influencia na formação do administrador?] Com certeza.
Eu acho que se a gente cria um hábito de que a aula de manhã começa às 15
para as 8, e lá fora nas organizações você marcou uma reunião para um
determinado horário, você vai estar habituado a chegar no horário, se não
chegar com antecedência para se preparar, então isso influencia muito
porque você acaba criando hábitos que vão ser muito úteis lá fora.
Tecidas as categorizações iniciais acerca dos praticantes, apresentados os seus papéis
no Quadro 7 e colocados os excertos das falas dos entrevistados que evidenciam uma
narrativa comum, em que cada um conhece o seu papel e o seu lugar dentro da organização,
as práticas e atividades de cada um são também bastante claras, assim como a visão
estratégica que está por trás de todo o conteúdo estratégico e pedagógico da organização.
Percebe-se uma homogeneidade nas falas dos entrevistados, a qual pode ser constatada
também nas fichas de análise de narrativas apresentadas no APÊNDICE E (p. 246). O
trabalho apresenta-se bastante compartilhado entre os praticantes, seja nos canais formais, nos
episódios do fazer estratégia formais e informais e mesmo nas práticas individuais de sala de
aula, as quais são compartilhadas entre os praticantes também.
4.2.3 Estratégia: como é vista pelos praticantes
A estratégia na concepção deste trabalho, como já se tem discutido até aqui, é uma
prática social, aquilo que é produzido no dia-a-dia e nas interações das pessoas, ela é algo que
as pessoas fazem e não algo que a organização tem, como comumente se entende a partir da
valorização dos planos formais.
Entendendo assim a concepção de estratégia, faz-se relevante compreender a
concepção que os praticantes têm dela, como eles a percebem e como está presente no dia-a-
dia, nas atividades e práticas destes praticantes.
152
Partindo do que foi apresentado acima acerca dos praticantes, seus papéis e funções,
percebe-se que há um alinhamento evidenciado do que é de responsabilidade de cada um e de
como compartilhá-la. Da mesma forma, o entendimento de qual seja a estratégia da
organização é bastante semelhante nas narrativas de todos os praticantes da FAE – Centro
Universitário, e essa estratégia é apresentada e por vezes colocada em discussão em fóruns
com os participantes. Resgatando o que descreve o Entrevistado 26 (2008) na seção de
capítulo anterior, a decisão é concentrada no corpo diretivo, no entanto os professores e
discentes possuem fóruns específicos para contribuir com idéias e sugestões, principalmente
quanto à implementação. Além disso, a visão, os valores, os objetivos e a estratégia em si são
disseminados entre os praticantes em práticas episódicas específicas, como a feira de gestão,
palestras do corpo diretivo, nas reuniões de coordenação que se realizam de forma periódica e
nos próprios encontros informais em que as pessoas conversam e trocam experiências e
“orientações”. Assim, resumidamente pode-se estabelecer o Quadro 8:
Estratégia nos documentos
formais escritos
consultados
Estratégia na visão do
corpo diretivo
Estratégia na visão dos demais
praticantes
Destaca-se que não se teve
acesso ao projeto
pedagógico do curso,
fundamental para
compreender como a
estratégia está formalmente
prevista nele. No entanto, o
estatuto da FAE – Centro
Universitário coloca que (Art.
4.): O Centro Universitário
Franciscano do Paraná tem
como finalidade precípua,
dentre outras, de acordo com
os respectivos projetos
pedagógicos, formar
diplomados nas diferentes
áreas de conhecimento,
aptos para a inserção em
setores profissionais e para a
participação do
desenvolvimento regional da
sociedade brasileira, e para a
sua formação contínua, em
atendimento a situações
novas, emergentes,
reduzindo desigualdades
sociais, promovendo o bem
comum e a construção de
O corpo diretivo coloca que a
estratégia da FAE – Centro
Universitário está relacionada
à diferenciação, pautada na
qualidade. Citam inclusive um
plano divulgado pela FAE –
Centro Universitário na Feira
de Gestão de 2008, chamado
FAE 20-20, em que se
estabelece a meta de que até
2020 a FAE – Centro
Universitário deve estar entre
as 100 melhores escolas de
negócio do mundo. O corpo
diretivo não se detém a falar
muito sobre a estratégia,
quando perguntados falam
em termos mais genéricos.
Os demais praticantes (docentes e
discentes) colocam também que
percebem a estratégia da FAE –
Centro Universitário como
relacionada à diferenciação
pautada na qualidade do ensino.
Citam também o Plano 20-20 da
FAE – Centro Universitário,
divulgado na Feira de Gestão. No
entanto, alguns docentes e
discentes colocam que este
direcionamento estratégico é parte
de um momento atual da FAE –
Centro Universitário em que se está
buscando retomar e resgatar essa
estratégia, que já foi muito forte no
passado, mas que com toda a
expansão de cursos havia se
perdido um pouco. Olhando para a
organização como um todo e a
partir da fala dos entrevistados
dessa categoria de praticantes,
percebe-se que a FAE – Centro
Universitário enquanto organização
adota uma estratégia de
diversificação, está expandindo e
aumentando o número de cursos.
Dentro de cada curso, e este é o
153
uma sociedade fraterna, livre,
justa e solidária.
caso do curso de administração, a
estratégia direcionadora é a
diferenciação pela qualidade do
ensino.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 8. Quadro-resumo do entendimento de estratégia no curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário.
Diante do Quadro 8 acima apresentado, percebe-se que, mesmo sem se poder consultar
o projeto pedagógico do curso, os documentos consultados revelam alguns delineamentos da
estratégia da FAE – Centro Universitário, enquanto instituição, a ser levada pelos cursos
também (leia-se a primeira coluna do Quadro 8). Assim, nas falas dos praticantes (de qualquer
das categorias) é constante a menção aos valores da FAE – Centro Universitário, aos valores
franciscanos para lidar com a estratégia e com todas as práticas da organização. Veja-se no
excerto abaixo, do Entrevistado 26, como essa questão é descrita:
[o que embasa a estratégia da FAE] Eu acredito que são os valores
franciscanos da instituição, que até é o motivo por que os professores
permanecem por muito tempo na instituição, que muitos estão há muitos
anos aqui na casa. Então é essa questão mesmo dos valores básicos de
solidariedade, de responsabilidade, de ética, compromisso. Isso é muito
forte. Isso fica muito evidente no relacionamento entre o corpo docente, que
há uma integração muito grande, uma preocupação, uma amizade, uma
questão muito gostosa, vamos dizer assim. (…) É o ambiente e isso a gente
sente no ar (Entrevistado 26, 2008).
O que o Entrevistado 26 coloca deixa claro que estes valores (descritos já no estatuto e
no regimento da FAE – Centro Universitário) são conhecidos e perpassam a estratégia formal,
as atividades e as práticas da organização. A partir desses valores, os entrevistados
reconhecem também uma posição em relação à estratégia (e sempre que falam da questão
colocam a FAE – Centro Universitário como um todo e não só o curso de administração),
apresentando sempre a questão em relação à diferenciação por meio da qualidade do ensino e
do “produto” (profissional) que a FAE – Centro Universitário coloca no mercado. Os
entrevistados do corpo docente colocam a questão nos seguintes termos:
A idéia é que o nosso aluno continue sendo o melhor aluno do mercado, ou
seja, o problema é como medir isso? Hoje a gente tem forma de medir, aí
você tem o ENADE, o Índice Geral de Cursos e tem uma série de
mecanismos que são divulgados ao mercado. Eu acho que o objetivo da FAE
é que esses indicativos que o mercado tem continuem sendo bons. Por mais
que você discuta, por exemplo, no Índice Geral de Cursos, a FAE ficou na
frente da Federal (tá certo que isso aí você está vendo a instituição como um
todo e não um curso específico) mas, na época do provão a FAE sempre
tinha conceito A; aquele Guia do Estudante da Abril sempre conseguiu 5
estrelas. Então, este tipo de indicativo acaba guiando as empresas ou quem
154
procura o curso. Ou a empresa que eu digo, no sentido de buscar o
profissional. Então eu acho que o objetivo dessa reestruturação é atualizar,
deixar mais equilibrado o currículo para que o profissional saia realmente
melhor preparado (Entrevistado 29, 2008).
O Entrevistado 29 traz a questão desse diferencial a partir do reconhecimento do
mercado, o que para ele acaba guiando as empresas quando procuram um profissional de um
curso específico, de reconhecida qualidade. No entanto, outros entrevistados colocam que a
estratégia da FAE – Centro Universitário e do curso de administração estão pautados em um
plano estratégico institucional, divulgado em setembro de 2008:
Tem, sim. Por exemplo, na última Feira de Gestão que nós tivemos agora em
setembro, o nosso pró-reitor administrativo, apoiado pelos demais gestores,
falou “olha até 2.020 a FAE tem que estar aí entre as 100 melhores
instituições do mundo”. Bem, pra quem está dentro da instituição, se a
instituição quer estar entre as 100 melhores do mundo, você tem que ser um
dos 100, dos professores entre os 100 melhores do mundo. Ou seja: vocês já
sabem, corram atrás, mudem, pensem, nos indicou um livro – o livro é até
“O futuro da administração” que eu estou até trabalhando com os alunos em
sala do quarto ano. E a gente percebe isso mesmo: a instituição vai crescer,
nós queremos qualificar, nós queremos fazer diferente, e as diretrizes vão vir
automaticamente. Então é muito claro: é sempre excelência, ser… Eu diria o
seguinte: não é ficar concorrendo com as demais, mas é o aluno saber que
aqui é a melhor, é isso que interessa (Entrevistado 25, 2008).
O Entrevistado 25 coloca como entendeu a meta estratégica divulgada para todos os
praticantes da organização e já coloca no excerto acima como ele, enquanto praticante, vê a
prática disso nas suas rotinas diárias. Outro entrevistado também reforça a questão:
Não sei se vocês viram na mídia o que foi divulgado da Feira de Gestão. Lá
na Feira de Gestão foi divulgado um plano para a FAE, que é 2020 e o que
seria esse 20-20: até 2020 a FAE quer ser uma das 100 maiores escolas de
negócio do mundo, não é só do Brasil, é do mundo. Então agora está numa
primeira etapa que eles estão desenvolvendo todas as diretrizes desse
planejamento estratégico. Isso não veio ainda para os professores. Só que
internamente, quem está no dia-a-dia aí, já consegue ver algumas mudanças
pontuais acontecendo. Então já para tentar alcançar este objetivo. Todos os
professores tiveram acesso a esse material, alguns estão começando a ler
uma certa bibliografia para começar a fazer parte destes grupos de estudo
que vão definir essa estratégia. Eu diria que no momento o que tem é a idéia
que foi lançada; não tem nada no papel assim efetivamente, vai acontecer
isso e isso. Vão ser desenvolvidas análises em cima disso, mas é algo que se
você pega em outras instituições é difícil ter [e compara com outras
organizações de ensino nas quais trabalhou] (Entrevistado 27, 2008).
Nas palavras do Entrevistado 27 há um reconhecimento de uma estratégia formal em
formação, uma idéia que foi lançada e que está orientando algumas práticas da organização
desde agora.
155
Nos excertos apresentados vai sendo construída a idéia de que a estratégia da
organização parece permear as atividades e práticas das pessoas, o dia-a-dia da organização,
os fóruns de discussão, o alinhamento das narrativas, de forma que o coletivo trabalha para
alcançar essa diferenciação e essa qualidade. Não se tem por objetivo (e nem se teria meios
para isto) no âmbito deste trabalho mensurar a efetividade de tal estratégia, mas há indícios de
um trabalho coletivo guiado por um pensamento comum de sentido compartilhado.
Interessante observar que nas narrativas de corpo diretivo e docente há uma constante
preocupação em envolver o corpo discente como praticante dessa estratégia, envolvido com as
metas de “continuar a ser a melhor”, “continuar a obter os resultados e os indicadores que tem
obtido”. Algumas frases chamam a atenção para isto:
Então hoje, por exemplo, quando eu entro numa sala e tem algum problema
eu falo: “gente, o resultado da FAE que está aí não foi obtido por vocês,
então se vocês querem que o diploma de vocês continue sendo respeitado,
vocês tem que dar a contribuição. Porque você chega e fala ‘eu estudo na
melhor instituição’, só que esse ‘melhor instituição’ é resultado dos outros.
Então se você quer, você precisa fazer a sua parte” (Entrevistado 30, 2008).
Assim, o corpo discente tem um papel enquanto praticante, tanto em termos de
contribuir com a construção dos resultados quanto de informar e exigir a qualidade nesse
processo de formação profissional pelo qual passam na FAE – Centro Universitário. É
importante reconhecer ainda que os próprios discentes, em suas narrativas colocam
percepções sobre a estratégia alinhadas com tudo o que foi apresentado – apesar de que em
certos momentos afirmam sentirem-se pressionados por posturas como a evidenciada pelo
Entrevistado 30. Veja-se como o Entrevistado 18, do corpo discente, apresenta sua percepção
acerca da estratégia:
Eu acho que o diferencial competitivo da FAE é que eles procuram ser muito
bons em tudo. Assim, gestão da produção tem ótimos professores, você
realmente tem um embasamento; na parte de RH a gente faz muitas
atividades, coloca em prática. Eu acho que eles tentam dar o melhor em
todas as fases. Então eu acho que isso é um diferencial. (…) Eles selecionam
muito bem os professores e todos têm já um nível de mestrado e doutorado, e
são professores que têm didática. E a maioria tem muito tempo de casa e os
que não têm já atuaram em outras faculdades conceituadas. Então eu acho
que essa é a qualidade que eles primam mais (Entrevistado 18, 2008).
Novamente a questão da qualidade aparece como diferencial da organização, o que é
reiterado pela fala do Entrevistado 23:
Tem, é formal, eu acho que chega a ser formal por eles até tratarem como
uma faculdade de negócios, então eu acho que fica bem claro o que eles
querem, o que eles buscam que é realmente que saiam os melhores
156
profissionais daqui. E a gente vê que existe um esforço deles para isso
porque a gente está sempre tendo palestras, seminários. A gente observa
pelas organizações que têm parceria, que abrem oportunidades para
processos de trainee e tal. Então eu acho que de fato existe e isso fica claro
(Entrevistado 23, 2008).
Por outro lado o Entrevistado 21, do corpo discente, aponta para a questão de que
percebe no momento atual uma tentativa de resgate de um diferencial e de uma qualidade que
existiam no passado, mas que não são mais características da FAE – Centro Universitário no
momento. Perceba-se que este entrevistado do corpo discente passou um tempo fora do curso
(por trancamento de matrícula) e agora retorna. Da mesma maneira que este entrevistado
expõe esse ponto, outros entrevistados do corpo docente também narram a questão nos
mesmos termos:
Ainda está implícito… Na verdade quando eu entrei era uma forma de
ensinar, uma estrutura diferente. Hoje já houve uma expansão, uma
mudança… [em que sentido?] Em termos de estrutura, mais cursos. (…)
Reestruturação de disciplinas, professores mais conceituados eles estão
querendo manter ou trazer de volta… Então, eu percebo uma movimentação
dentro da faculdade para tentar trazer o melhor e se destacar. Até nas ações
de marketing, na divulgação é uma estratégia de mais destaque para tentar
valorizar o profissional que sai aqui. E até mesmo os professores estão
tentando mudar a postura para tentar passar essa necessidade do próprio
aluno ser o melhor, dentro de sala de aula. Eles acabam tentando estimular
cada vez mais a ser o melhor, a ser o melhor no mercado de trabalho (…).
Então cada vez mais, eu não sei se é porque eu estou no quarto ano, mas eu
percebo essa mudança, cada vez mais tentando estimular, provocar… Alguns
alunos não entendem essa provocação, acham que é algum desrespeito, mas
é mais pelo mercado de trabalho, que é assim mesmo, pressão às vezes e
alguns alunos que não estão acostumados eu vejo que ficam impressionados,
mas é uma atitude para tentar trazer profissionais cada vez melhores. (…)
[você percebe um direcionamento estratégico no curso?] Não sei… esse ano
eles estão tentando definir novos objetivos – que era ser a melhor e tem até
algumas metas, acredito – mas ainda não está muito definido. Por eu ter
passado um período fora e ter voltado e ser uma realidade diferente talvez eu
tenha perdido… Quando entrei aqui era mais focado em negócios, agora está
diversificando para outras áreas então eles querem ser o melhor em todas as
outras áreas, não só em negócios. Então às vezes eu não sei qual é o objetivo
mesmo deles, não posso afirmar, mas eu vejo que agora estão querendo
fortalecer a instituição mesmo, todo a instituição, não só a área de negócios,
toda a imagem – que a área de negócios já tinha uma imagem, já tinha um
nome – agora estão tentando fortalecer todas as instâncias. Esse é o objetivo
que eu percebo (Entrevistado 21, 2008).
No entanto, perceba-se que ao longo da narrativa do Entrevistado 21 ele afirma que
percebe um “movimento” na organização neste ano para o resgate das questões mencionadas
anteriormente. Esse “movimento” “neste ano” coincide com uma mudança na coordenação –
tanto em termos de estrutura como de pessoas – o que é narrado por outros praticantes
157
também, tanto do corpo docente quanto do corpo discente. Percebe-se, portanto, indícios de
uma retomada da estratégia da organização, de um repensar sobre a validade da mesma e
também a adoção e práticas que possam alinhar esta implementação aos valores e aos
enunciados formais da estratégia, como os eventos de divulgação dos planos estratégicos, as
reuniões formais de discussão dos projetos pedagógicos dentro de cada curso e a elaboração
do conteúdo estratégico de cada curso, formalizado em um novo projeto pedagógico que deve
vigorar a partir de 2009, segundo as informações coletadas para a pesquisa.
4.2.4 As práticas e as atividades do fazer estratégia: como são
reconhecidas pelos praticantes
A estratégia descrita acima é compreendida no presente trabalho como um discurso
que só se torna uma narrativa na medida em que se conseguem perceber as práticas
relacionadas à sua formação e à sua implementação, práticas formais e informais. Essas
práticas, por sua vez, são realizadas por meio de atividades que as compõem. Assim, esta
seção de capítulo pretende cumprir os objetivos específicos 4 e 5 da pesquisa, apresentando as
práticas e atividades do fazer estratégia.
Pensando dessa forma e entendendo que o curso de administração da FAE – Centro
Universitário propõe-se a ser um curso de excelência, pautado na qualidade do ensino e dos
profissionais que forma e que assim posiciona-se estrategicamente, percebe-se, tanto nos
documentos escritos e públicos quanto nas narrativas dos praticantes uma série de práticas e
atividades empreendidas para cumprir esse fim. O Quadro 9 abaixo apresenta de forma
sintetizada as práticas identificadas a partir dos dados da pesquisa:
Práticas e
atividades
Práticas e atividades
descritas nos documentos
formais escritos consultados
Como o corpo
diretivo vê estas
práticas e
atividades
Como os outros
praticantes vêem
estas práticas e
atividades
Práticas
racional-
administrativas
1. Avaliação Institucional
2. Projeto Pedagógico
3. Estatutos e Regimentos
4. Ouvidoria
Os praticantes dessa
categoria
reconhecem todas
as práticas listadas
formalmente.
Os praticantes dessa
categoria reconhecem
todas as práticas
listadas formalmente.
Práticas
discursivas
1. Práticas do Núcleo de
Empregabilidade
2. Práticas do Núcleo de
Relações Empresariais
3. Práticas do Núcleo de
Relações Internacionais
4. Práticas ligadas ao Núcleo de
Os praticantes dessa
categoria
reconhecem todas
as práticas listadas
formalmente. A
exceção aqui é que
as práticas ligadas
Os praticantes dessa
categoria reconhecem
todas as práticas
listadas formalmente.
A exceção aqui é que
as práticas ligadas ao
Núcleo de Pesquisa
158
Pesquisa Acadêmica
5. Dean’s List
6. Incubadora de Gestão,
Projeto Bom Negócio (Extensão
Universitária)
7. FAE Training
ao Núcleo de
Pesquisa Acadêmica
aparecem muito
pouco nas falas do
corpo diretivo.
Acadêmica aparecem
muito pouco nas falas
desses praticantes;
quando aparecem,
geralmente recebem
críticas no sentido de
que o curso de
graduação em
administração não
possui tais práticas. A
Dean’s List é pouco
reconhecida pelos
praticantes desta
categoria também.
Práticas
episódicas
1. Feira de Gestão
2. Reuniões de Colegiado
3. Reuniões de Coordenação
Os praticantes dessa
categoria
reconhecem todas
as práticas listadas
formalmente.
Os praticantes dessa
categoria reconhecem
todas as práticas
listadas formalmente.
Atividades
relacionadas
às práticas
Núcleo de Relações
Empresariais: parcerias e
salas empresariais; Conselho
Acadêmico de Executivos da
FAE (CEPAC); Projeto Vídeo
Empresarial; visitas periódicas a
empresas; palestras in company
para os parceiros.
Núcleo de Empregabilidade:
mini-palestras de temas ligados
à empregabilidade para os
alunos; diagnóstico para os
alunos; banco de currículos dos
alunos, banco de vagas de
estágio.
Núcleo de Relações
Internacionais: oportunidades
de estudo no exterior;
convênios com universidades
estrangeiras, Escritório de
Consultas Educacionais para
Estudos nos Estados Unidos
Núcleo de Pesquisa
Acadêmica: grupos de
pesquisa; programa de apoio à
iniciação científica; seminário de
iniciação científica e extensão
Atendimento individual dos
alunos pela coordenação.
Os praticantes dessa
categoria
reconhecem todas
as práticas listadas
formalmente.
Os praticantes dessa
categoria reconhecem
todas as práticas
listadas formalmente,
com exceção dos
alunos que geralmente
não chegam ao nível
de narrar as
atividades.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
159
Quadro 9. Quadro-resumo das práticas e atividades do curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário.
Com base no que foi estabelecido no referencial teórico deste trabalho e nas definições
constitutivas e operacionais da pesquisa, entende-se por práticas racional-administrativas,
aquelas relacionadas aos propósitos de coordenar e organizar a estratégia, são representadas
por mecanismos de planejamento, sistemas de controle, indicadores de desempenho etc.; (2)
as práticas discursivas, por sua vez, proporcionam recursos lingüísticos, cognitivos e
simbólicos para a interação sobre a estratégia; e (3) as práticas episódicas estão relacionadas
àquelas práticas que criam oportunidades para a interação e organizam essa interação entre os
praticantes no fazer estratégia, como as reuniões, workshops etc. Assim, partindo do Quadro 9
parte-se para a discussão do que está ali sistematizado, apresentando como os praticantes
vêem essas questões também.
As práticas racional-administrativas identificadas foram: a avaliação institucional, que
é realizada sistematicamente, a cada fechamento de disciplina com o objetivo de avaliar os
professores e as disciplinas cursadas (pelos alunos), bem como as condições da organização
em si. De posse desses resultados, o corpo diretivo do curso dá retorno ao corpo docente,
conversa, orienta, propõe ações de mudança e melhoria, se necessário, empreende um
acompanhamento do profissional para melhoria, e dependendo do caso, há tamm a dispensa
do professor, caso não se consiga atingir os resultados de ensino esperados. Esse trabalho é
reconhecido por todos os praticantes das categorias explicitadas – corpo diretivo, corpo
docente e corpo discente. O Projeto Pedagógico, por sua vez é uma prática racional-
administrativa na medida em que ele representa o planejamento formal do curso de graduação
em administração. No momento atual ele está passando por uma reforma, a qual terá de ser
aprovada por todos os órgãos colegiados da universidade. No entanto, ainda que esta mudança
não ocorra sempre, semestralmente há uma discussão de todas as disciplinas, ementas e
programas de aulas a fim de que se possa manter as aulas sempre atuais e “afinadas” entre si.
Os Estatutos e Regimentos contêm claramente todos os princípios que devem guiar o curso e,
desta forma, são também consideradas práticas racional-administrativas. A ouvidoria, por sua
vez, é o canal que os discentes e docentes possuem para comunicar algo que não está
funcionando ou problemas que ocorram. A ouvidoria é um órgão da FAE – Centro
Universitário como um todo e todos os problemas encaminhados para lá são distribuídos a
pessoas competentes para resolvê-los. Os alunos, em suas narrativas, falam muito da
ouvidoria como um canal importante para que possam ajudar a construir a melhoria do curso.
No entanto, afirmam também que nem sempre o usam porque é muito fácil chegar
160
diretamente aos coordenadores do curso, que atendem aos alunos pessoalmente, constituindo
esta também uma importante atividade estratégica da organização.
As práticas discursivas proporcionam os recursos lingüísticos e simbólicos para a
interação da estratégia, assim entende-se que todas as práticas relacionadas à implantação dos
valores e dos princípios da estratégia estão relacionados a esse tipo de prática. Na FAE –
Centro Universitário existe uma série destas práticas, relacionadas aos núcleos que acabam
por atuar em segmentos específicos considerados pelo curso como fundamentais para o fazer
estratégia. O Núcleo de Empregabilidade procura preparar os alunos enquanto profissionais
que estejam adequados às necessidades do mercado para que consigam atingir uma boa
colocação empresarial. O Núcleo de Relações Empresariais, por sua vez, é responsável por
atuar nas parcerias com o mercado de trabalho, aproximar as empresas da FAE – Centro
Universitário, a fim de que os laços entre as empresas sejam estreitados. O Núcleo de
Relações Internacionais trabalha com orientações e parcerias com universidades
internacionais, a fim de que o administrador, profissional que sai da FAE – Centro
Universitário, possa ter abertura também para experiências internacionais. As práticas de
pesquisa acadêmica são relacionadas ao desenvolvimento da parte de pesquisa da
universidade, no entanto, as narrativas dos praticantes evidenciam que esta prática não é
efetiva no curso de administração, apesar de descrita formalmente. Outra prática que a FAE –
Centro Universitário possui é a Dean’s List, uma lista pública em que são divulgados todos os
nomes dos alunos que possuem melhor média, como forma de incentivar o desempenho
acadêmico dos alunos. Essa é uma prática que não aparece muito nas falas dos praticantes,
com exceção de algumas falas do corpo diretivo. Por fim, a prática de extensão universitária,
relacionada à incubadora de gestão e ao projeto bom negócio procuram levar todo o
conhecimento e experiência do corpo docente e discente da FAE – Centro Universitário para
auxiliar pequenos negócios na comunidade externa. Partindo desses esclarecimentos,
apresentam-se abaixo alguns excertos que evidenciam tais práticas e acabam também
chamando algumas atividades vinculadas a elas.
Sobre o Núcleo de Empregabilidade um dos entrevistados descreve a prática da
seguinte maneira:
Na realidade, algumas disciplinas já são contempladas em sala de aula que
visualiza isso [a empregabilidade], já é curricular na disciplina. Daí nós
abrimos campos aqui dentro, até muito focado com o próprio núcleo ou não,
aonde a gente vai chamando eles para, para… é muito individual, é muito de
grupo. Então eu vou… eu faço uma mini-palestra lá no anfiteatro em que eu
vou falar sobre… “marketing pessoal”, por exemplo. Aí eu vou chamá-los lá
e chamar a atenção deles em relação a este fator. Aí reúne lá um grupo lá,
161
normalmente eles se inscrevem, tem gratuidade, não é assim… é feito para
que ele participe, ele faça parte, né? Aí nós montamos essas mini-palestras e
nesse momento gera todo um contexto, um questionamento deles: “puxa,
mas eu precios trabalhar com isso, eu preciso desenvolver isso…”. Então tá,
daí vem aqui marca um horário – individual ou um grupo –, ou eu faço um
trabalho que se chama diagnóstico pessoal e profissional – eu monto
mensalmente um grupo de 20 pessoas que se inscrevem também e eu faço
toda a análise de perfil e faço uma simulação de processo seletivo e eu
trabalho todo um plano de carreira com eles, depois eu vou trabalhar isso
individualmente. Então aí eu vou estendendo: eu pego esse grupo, trabalho
com esse grupo, depois outro grupo, outro grupo e assim nós vamos
trabalhando essa condição para que ele tenha a noção, a idéia do que ele
possa vir a encontrar e o que ele tem que fazer para se desenvolver. Porque
de repente ele vai lá, ouve uma palestra falando de network e realmente “eu
estou com uma dificuldade muito grande de comunicação, eu não consigo
me comunicar, eu não consigo fazer isso”, então como é que ele vai fazer
isso, então eu vou dar todos as orientações… Aí tem um outro pólo, por
exemplo, que eu falei para vocês que são de questões técnicas: tem cursos de
oratória, tem cursos de liderança, tem cursos de oratória, tem curso de Excel.
Isso paralelo. Nós temos o FAE Training, por exemplo, que fica com o
encargo de fazer todos esses cursos. (…) E eu consigo aí acompanhar
individualmente, ou por esses grupos que a gente desenvolve, eu consigo ter
muita clareza através do currículo deles. A primeira coisa que eu vou
montando com eles é o currículo e coloque a tua história ali, sucinto,
objetivo, conciso, mas coloca a tua história ali e assim você consegue medir.
(…) Então isso a gente vai trabalho e orientando. Eles marcam muito horário
individual aqui comigo, que eu faço toda essa… então já tem uma cultura na
instituição aonde eles vão marcando os horários e a gente vai
acompanhando, trabalhando em relação a isso, como é que eles estão, depois
eles trazem os resultados – se foi satisfatório ou não, o que é que faltou, o
que é que precisa; então isso a gente vai fazendo no ano todo. O núcleo tem
também um sistema informatizado de vagas… então tudo isso é um
chamariz para eles também começarem a se atentar para a condição “opa,
não dá para esperar no último ano (Entrevistado 24, 2008).
Partindo do excerto acima, percebe-se na narrativa do entrevistado que para a FAE –
Centro Universitário é muito importante esta questão a “empregabilidade”, do
profissional/aluno inserido no mercado, é uma questão estratégica para o curso, pois eles
entendem que seu papel é formar esses profissionais. Para isso são desenvolvidas uma série de
atividades, vinculadas ou não ao núcleo, que vão desde esta orientação e preparação
profissional até a contratação de “profissionais professores”, ou seja, aqueles professores com
dedicação parcial ao curso e que possuem vínculo empregatício em empresas que lhe
proporcionam a vivência e a experiência, muito valorizadas nos professores da FAE – Centro
Universitário.
Sobre o Núcleo de Relações Empresariais, a FAE – Centro Universitário, por valorizar
muito tal questão do mercado, da experiência profissional dentro do curso, preocupa-se muito
em desenvolver parcerias. Então isso é feito por meio de patrocínios a salas de aula, por meio
162
da própria pós-graduação que atrai muitos profissionais de empresas e também pelo corpo
docente que está diretamente vinculado ao mercado, como coloca o Entrevistado 24:
Tem muito essa questão [de parcerias], por ter 50 anos basicamente e o foco
dela sempre foi na área de business, um foco muito forte na área de business.
Então ela tem uma tradição fortíssima em relação a… que os pais querem
que seus filhos estudem aqui porque se formaram administradores e tiveram
aquele… e os filhos vêm para cá. O processo de tradição é muito forte em
relação a isso. O que ocorre também: hoje, tanto que vocês percebem nas
salas de aula tem as parcerias, as empresas parceiras, então eles chamam
muito as empresas para cá. Se você for avaliar o índice também numa pós-
graduação de uma Volvo, de uma Kraft, de uma Bosch e assim de tantas
outras lá – Siemens – todos fazem pós-graduação aqui. Então fica aquela
situação: ah a FAE, onde é que você fez: na FAE. Vai no HSBC sempre tem
um monte de gente que estudou e que estuda na FAE. Então a tradição eu
acho que seria o foco principal e logicamente voltando àquela situação:
vamos sempre chamar as empresas aqui conosco, vamos estar junto delas, ou
eles trazem palestras que vão falar da empresa X… Agora recentemente o
núcleo fez uma… –porque nós temos convênios diretos com grandes
empresas, convênios escola-empresa onde o aluno faz estágios direto em
grandes empresas – nós fizemos uma reunião onde foi discutido, foi
conversado… Então nós procuramos trazer a empresa também para ver a
nossa realidade, nós vamos até lá, fazemos visitas indo até lá para ver como
é que é… Mas eu ainda diria que esse foco tradição é bem forte em relação à
procura e à permanência (Entrevistado 24, 2008).
Então, diante do que vai sendo apresentado, percebe-se que o curso de administração
da FAE – Centro Universitário direciona muito as suas práticas (em sala de aula e fora dela)
para essa formação de administradores profissionais, que se entende como fundamental para
a compreensão do conteúdo estratégico da organização. Essa relação ainda com o mercado é
feita também por meio de projetos de extensão como o Projeto Bom Negócio e a Incubadora
de Gestão, que são assim narradas:
[O programa Bom Negócio] É um programa que nós temos desde 2005 em
uma parceria com a Prefeitura de Curitiba. Ele é um Programa que tem como
objetivo o desenvolvimento econômico local, então nós oferecemos
capacitação aos empresários do município de Curitiba e nós vamos até os
bairros, e lá nós reunimos os empresários da comunidade e oferecemos um
curso de 45 horas sobre gestão, marketing, finanças e ferramentas de gestão.
É um projeto de extensão. O projeto começou lá em 2005 muito
timidamente, com uma turma. Em 2006 nós fizemos 50 turmas e
capacitamos 3.000 empresários e estamos ao final deste ano com 7.000
empresários atendidos – formados, atendidos já passamos de mais de 13.000
pessoas, porque você tem uma quebra de participação, mas é um programa
de extensão e já passaram lá comigo 85 estagiários remunerados que são
alunos da instituição, que não têm a chance do primeiro emprego, então a
gente puxa lá, aprende alguma coisa conosco e a gente projeta eles para o
mercado de trabalho. Temos também uma equipe de 32 instrutores que
atuam com isso (Entrevistado 25, 2008).
163
Assim, a FAE – Centro Universitário promove, por meio da extensão também a sua
parceria com organizações externas da Universidade e cria oportunidades para os seus
próprios alunos atuarem e começarem a delinear a sua experiência profissional. Da mesma
forma, a partir do Programa Bom Negócio, existe a Incubadora de Gestão em que a FAE –
Centro Universitário desenvolve um incubadora que é responsável por orientar somente a
gestão da empresa durante um certo período.
O FAE Training também é uma importante prática de relacionamento com o mercado,
pois oferece além de cursos para as empresas (in company) cursos internos para alunos e ex-
alunos que necessitem de um conhecimento específico:
O FAE Training é um departamento da FAE, uma unidade de negócios,
vamos dizer assim, que presta serviços para empresas na área de capacitação.
Então, o aluno também tem: o FAE Training faz cursos in company ou
cursos de extensão dentro da FAE. Você poderá encontrar aí algum curso no
elevador, por exemplo: curso de comunicação, oratória, gestão de pessoas,
balanced scorecard… Você pode ter assuntos específicos, cursos curtos para
complementar a formação do aluno, para receber o ex-aluno… mas como a
origem dos cursos ali são muito exigências do mercado, das empresas,
sugestão e tal, isso vai colaborando muito para que haja… talvez seja um
ponto em que há muito interface: o cara que vai na empresa “o que vocês
estão precisando”, “opa, o que nós estamos precisando é isso”, então “olha
lá, tão precisando, está precisando isso…” e você vê: 1 está precisando, dois
estão precisando, 3… , você passa a ter informação do que está precisando
agora. Então existe muita atualização neste sentido (Entrevistado 30, 2008).
Com relação às demais práticas discursivas descritas (Núcleo de Relações
Internacionais e Dean’s List) os praticantes não trataram das mesmas nas narrativas coletadas.
Estas práticas estão descritas formalmente, mas nas narrativas não se teve indícios das
mesmas, a não ser brevemente nas falas de membros do corpo diretivo.
Quando se fala nas práticas relacionadas à pesquisa acadêmica, encontram-se
narrativas que afirmam que esta é a parte em que a FAE – Centro Universitário “peca”, pois
muito pouca (ou quase nenhuma) pesquisa é feita e também não há uma valorização para isto,
tanto por parte da instituição como dos alunos:
Aqui eu não tenho conhecimento de grupo de pesquisa – os alunos reclamam
um pouco – acham que deveriam ter um grupo de pesquisa mais consistente.
Eu sei que tem algumas iniciativas de pesquisas de professores com alunos,
mas um grupo de pesquisa (…) formalizado não tem. Se existe isso não é
difundido entre os alunos. Mas os alunos sentem falta de pesquisa sim, os
que estão interessados em pesquisa. (…) São poucos… Os alunos enxergam
a FAE muito como uma faculdade de business, muito voltada para o
mercado, com muita prática… Hoje eu trabalhei um artigo acadêmico com
eles e eles estavam urrando em sala de aula. Aí eu argumento com eles que é
importante… Eu levei um artigo acadêmico de FENEAD, bobagem! Eles
nunca leram tanto em sala de aula. E eles tiveram um pouco de dificuldade
164
para ler, um pouco de dificuldade para entender – isso que eu aboli a
metodologia, um estudo de caso muito simples (…) e eu pedi para eles
sugerirem alguma melhora no conflito… Porque diferente do case que a
gente trabalha bastante (…) que ou é inventado ou é levemente baseado na
realidade, não tem informação que chega, o estudo de caso acadêmico ele
vem mais completo e tem uma parte de teoria que eles não têm na disciplina,
que eles não vêem no livro. Então eu aproveitei para complementar e fazer
eles se familiarizarem, mas eles sentem dificuldade, não entendem a
academia como academia. Eu falei para eles: “eu não estou num tecnólogo,
não estou num curso técnico para ensinar vocês receita de bolo”, a gente
ensina – teve uma aula que eu fiz uma consultoria prática em empresa de
serviço (…) e nisso eles vão que é uma beleza; no acadêmico eles para.
Acham a linguagem… vieram me dizer que era “blá, blá, blá”, que as
pessoas ficam juntando uma monte de palavras que não querem dizer nada
junto, “ah, nunca ninguém dá isso”, então falta um pouco de… (Entrevistado
32, 2008).
Assim, parece delinear-se claramente que o conteúdo estratégico da FAE – Centro
Universitário está direcionado à formação de administradores profissionais, como expressado
anteriormente. Há uma opção por esse caminho em detrimento do desenvolvimento da
pesquisa na organização. As práticas relacionadas ao conteúdo mais fortemente narradas (e
com um tom de bastante satisfação e orgulho) são aquelas relacionadas à relação com o
mercado, com as empresas. Isso é reconhecido pelo corpo discente, quando afirma a sua
escolha pela FAE – Centro Universitário como pautada nessa característica. A própria
condução das aulas, divididas em períodos para o “conhecimento teórico” e para a “prática”
evidencia a característica. Interessante expressar o que um dos entrevistados do corpo discente
coloca sobre a questão, inclusive delineando uma comparação entre a Universidade Federal
do Paraná, onde já estudou, e a FAE – Centro Universitário:
É diferente. Na Federal é semestral, então eu tinha uma rotina diferente,
ficava 6 meses (ou 4 a 5 meses) com o mesmo professor, as matérias tinham
uma metodologia diferente de ensino – trabalhos, provas – e aqui é mais
concentrado no módulo, pelo menos até este ano. [o que você prefere?] Ah,
uma vez eu preferia um, outra vez… mas aí depende… Bom, na minha visão
pro turismo foi bem interessante o semestral, eu acho que é um
conhecimento mais amplo e a própria Federal eu acredito que tenha uma
forma de ensinar mais acadêmica assim, com pesquisa, com projetos de
extensão. Aqui na FAE é mais direcionado ao empresarial, uma coisa mais
concentrada – não que seja absoluto, mas essa é a diferença que mantém…
mas eu acho que é mais essa parte. Você aqui acaba tendo que se concentrar
nos pontos mais importantes, a metodologia é bem mais concentrada na sala
de aula, na Federal eu tinha bem mais abertura para fora com pesquisa, com
visitas e aqui é mais concentrado no conteúdo ali, nos trabalhos mais
práticos, não tem tanto essa ida para fora da faculdade – eu acho que é mais
essa diferença. Mas, não tem nenhuma preferida assim, eu entendo a
metodologia das duas, cada uma é válida, cada uma tem um jeito de ensinar
(Entrevistado 21, 2008).
165
Entende-se que o excerto acima é capaz de expressar o foco estratégico da FAE –
Centro Universitário e de certa maneira justificar e fornecer uma base compreensiva para as
práticas que empreendem.
Com relação às práticas episódicas, a que fica mais evidente para a construção do
conteúdo estratégico do curso de administração da FAE – Centro Universitário são as
reuniões de coordenação, que ocorrem semestralmente e onde são discutidas as disciplinas, as
ementas e os programas. A partir desta discussão são implantados ajustes necessários para que
se consiga atingir um bom resultado de ensino:
A tendência é assim: nós temos sempre duas reuniões por ano. No início do
ano nós temos uma reunião pedagógica com todo mundo e geralmente estas
reuniões são feitas por área, são dois, três dias – às vezes quatro – mas
geralmente são dois ou três dias. No primeiro dia são aspectos gerais da
instituição: mudanças, questão de cronograma, provas, o que mudou em
termos administrativos. Segundo dia: reuniões por áreas (…). Então essas
reuniões elas são constantes, desde que eu entrei na instituição (desde 2000)
eu presencio essas reuniões e sempre essa solicitação de reformular ementas,
de rever conteúdo, de rever bibliografia, aí sugerir compras de novos livros
mais atuais na biblioteca dentro do que está sendo mudado em termos de
ementa. Então isso eu vivencio desde que eu entrei na instituição e isso é
uma constante, nós não passamos sem esse processo. E outros momentos que
são importantes também são as reuniões com colegiado de curso, porque aí
são os momentos que nós temos para, vamos dizer, ajustar as arestas porque
participam representantes do corpo discente e do corpo docente. As
sugestões, as mudanças são colocadas em votação e a partir desta votação
são tomadas decisões de redirecionar currículo, rever a maneira que a
disciplina está sendo trabalhada… Então são estes os momentos mais ativos
que nós temos (Entrevistado 26, 2008).
Esta prática é reconhecida unanimemente por todos os membros do corpo diretivo e
docente entrevistados. É ainda considerada por todos como fundamental para que se consiga
alinhar os trabalhos das disciplinas e trocar experiências entre os professores. É unânime
também a prática informal de “conversas na sala dos professores” em que os professores
(principalmente aqueles que trabalham na mesma área) trocam experiências e materiais de
aulas:
Eu diria o seguinte: existem duas grandes reuniões, que são os encontros
pedagógicos onde nós temos a oportunidade de, no início do ano e no meio
do ano, de debater toda a questão de estrutura, diretrizes do ano, as metas e
tal. Mas é tão dinâmico o negócio que (…) no dia-a-dia aconteceu tal
situação, nós temos que resolver, nós temos a ouvidoria… E a gente está
tomando café na sala dos professores e “oh, professor, coordenador, surgiu
tal situação, você pode me ajudar”, aí marca um horário e é dinâmico, as
portas sempre estão abertas. (…) Os coordenadores não ficam isolados, é
comum você estar na sala dos professores e o coordenador estar lá
conversando, batendo papo então não existe aquela formalidade, é muito
interessante, eu acho muito bom. (…) Aqui é muito tranqüilo. O pró-reitor
166
acadêmico-administrativo também está lá tomando café com a gente,
conversando, então isso é muito interessante. E eu diria o seguinte: isso é da
casa mesmo que… se alguém tenta burlar isso aí não consegue porque está
tão incutido na cultura que… (Entrevistado 25, 2008).
O que o Entrevistado 25 coloca é uma colocação que todos os professores fazem e
destacam que essa é uma característica que diferencia a FAE – Centro Universitário das
demais e que propicia um ambiente muito bom de trabalho e muito “dinâmico”, capaz de estar
sempre ajustando e evitando problemas.
A Feira de Gestão é descrita como um evento de grande importância para a
organização, pois aproxima muito o curso do mercado e possibilita o episódio também para a
construção e implementação da estratégia do curso de formar profissionais e estar sempre
alinhado com as exigências empresariais.
Com relação às reuniões de colegiado, elas não foram muito abordadas nas narrativas
dos entrevistados, mas é um episódio fundamental como fórum de discussão e também de
aprovação do conteúdo estratégico do curso.
A partir do que foi apresentado nesta seção de capítulo percebe-se que na FAE –
Centro Universitário as práticas e as atividades relacionadas ao conteúdo estratégico da
organização são bastante claras para todos os praticantes, das três categorias entrevistadas.
Assim, há pouca discrepância entre o descrito e o que realmente acontece. Em momento
algum os praticantes deixaram de reconhecer as práticas descritas. É certo que algumas delas
são pouco comentadas ou ainda descritas como menos importantes do que outras (como é o
caso da pesquisa acadêmica). Percebe-se ainda um foco claro, a partir das práticas, do
conteúdo estratégico relacionado à formação de administradores profissionais, para
organizações empresariais – há, portanto um escopo de produto e mercado muito claro nas
práticas e atividades encontradas na FAE – Centro Universitário.
4.2.5 Strategizing: como ocorre o processo de formação do conteúdo
estratégico na FAE – Centro Universitário
Partindo de todo o exposto, o strategizing – processo estratégico, de formação e de
implementação que na perspectiva teórica deste trabalho acontece sem que se possa separá-lo
– ocorre a partir das práticas e atividades delineadas na seção de capítulo anterior (4.2.4)
empreendidas por praticantes (descritos na seção de capítulo 4.2.2) no seu dia-a-dia, nas suas
rotinas, no desempenho de seus papéis, nas suas atividades formais e informais. O
strategizing ocorre também considerando a influência de praticantes externos à organização,
167
visto que ela está imersa e em constantes trocas com seu ambiente. Considerando ainda o
curso de graduação em administração da FAE – Centro Universitário como sujeito às
regulações referentes ao curso em si e às políticas de ensino superior vigentes no Brasil,
percebe-se que o processo estratégico deve considerar ainda essas influências externas, na
medida em que elas afetam mudanças ocorridas e que podem ocorrer. No caso da FAE –
Centro Universitário ainda são muito importantes, de acordo com o que revelam os dados, os
interesses do mercado, dentro do âmbito externo e as práticas adotadas para o atendimento das
expectativas e do retorno dado pelos alunos, no âmbito interno.
Posto isso, compreende-se o processo estratégico da FAE – Centro Universitário a
partir da Figura 13 apresentada abaixo:
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Figura 13. Strategizing na FAE – Centro Universitário
5
Diante da Figura 13 percebe-se que o strategizing da FAE – Centro Universitário
envolve um processo complexo, que considera a expectativa e o retorno de uma série de
agentes, os quais acabam atuando de certa maneira como praticantes da estratégia. Perceba-se
que este trabalho não conseguiu conversar com todos os praticantes da estratégia da
organização, restringindo-se aos praticantes do âmbito interno. Os praticantes do âmbito
externo não puderam ser entrevistados, porém na fala dos praticantes do âmbito interno
evidenciaram-se indícios, conforme explicitado na Figura 13, da influência e da atuação
desses praticantes.

5
Observação: A Figura 13 está disponível em tamanho maior no APÊNDICE C (p. 212).
168
4.2.6 Da prática ao resultado: algumas considerações, a partir dos
dados, de práticas e resultados
Apresentadas as questões anteriores, descrevem-se alguns pontos importantes para que
se compreenda a FAE – Centro Universitário em termos de seus resultados e de suas práticas.
Ao chegar na FAE – Centro Universitário para o desenvolvimento da pesquisa,
percebeu-se um processo de reformulação do projeto pedagógico do curso, que vem atrelado a
uma mudança dos currículos de todos os cursos da organização, com vistas a um alinhamento
estratégico de todos os cursos ao que a organização deseja para si. Além disso, estas expansão
e reforma seguem os passos do que o Colégio Bom Jesus (organização parte do grupo a que a
FAE – Centro Universitário pertence) implementou para a sua expansão, em termos de
padronização da gestão estratégica e pedagógica de todos os colégios que ele gerencia. Um
dos entrevistados descreve o processo da seguinte maneira:
A gente, eu diria que é um princípio da instituição, que time que está
ganhando mexe e mexe enquanto está ganhando, ao contrário do que a gente
está acostumado a ouvir: “é, time que ganha não mexe”… não, a gente é o
contrário. A gente diz isso aqui: “time que está ganhando mexe, e mexe
enquanto está ganhando porque se por acaso não der certo dá tempo de
continuar ganhando porque se você esperar começar a perder para mexer daí
talvez não dê tempo de reverter. Então isso assim é uma coisa que a gente
diz. (…) Este é o grande desafio: continuar mantendo uma posição de
liderança, reconhecimento e respeitabilidade (Entrevistado 30, 2008).
Assim, o curso de administração da FAE – Centro Universitário está periodicamente
repensando suas disciplinas e a forma como elas são ministradas a fim de manter sempre um
bom padrão de qualidade – de acordo com os critérios da organização. O que se percebeu,
para motivar uma reforma maior, segundo os entrevistados foi uma “defasagem no currículo”,
uma necessidade de se equilibrar as disciplinas das diferentes áreas, sem concentrar atenção a
uma só área e fundamentalmente para implantar princípios institucionais de uma formação
empreendedora e voltada para o lado humano do profissional (e isto está relacionado aos
valores franciscanos da organização). Assim alguns entrevistados descrevem, sob seus pontos
de vista, o que motivou essa reforma:
Olha, aí tem várias vertentes. Uma vertente é que a gente sente que o nosso
aluno está cada vez mais fraco em questões de métodos quantitativos. Então
hoje muitas vezes o administrador se forma mas não tem, não precisa ter um
domínio matemático, estatístico tão bom, o que na minha percepção é uma
mentira. Ele tem que estar apto a desenvolver esta parte quantitativa, estes
métodos quantitativos melhor do que ele está saindo hoje. Então, eu acho
que uma das vertentes da reforma é essa. O segundo aspecto mais específico
em relação à reforma é a questão, que daí eu acho que vem um pouco da
filosofia da instituição como um todo, que é a formação humana. Então você
169
tem disciplinas que são institucionais, independente do curso que você faz,
de ética e responsabilidade social e algumas outras, enfim, que a gente forme
um profissional que também, de alguma forma, é um ser humano, pode errar,
pode acertar, mas que a gente tem que dar alguns ferramentais para que ele
seja uma boa pessoa, vamos dizer assim. Então é essa questão de uma
formação mais humanística, vamos dizer assim. Outro aspecto que se tem
reforçado muito é a questão do empreendedorismo. Seja ele um
empreendedor que monte um negócio, seja ele um empreendedor interno da
empresa. Ou seja, a gente formar um cara que seja um pouco inquieto em
relação às atividades dele. (…) Então eu acho que essas três linhas estão
permeando um pouco essa reforma acadêmica e o empreendedorismo de tal
forma que ela acabou se tornando também uma matéria institucional
(Entrevistado 29, 2008).
Da mesma maneira, o Entrevistado 30 coloca essas questões do seu ponto de vista,
reafirmando muitos dos pontos que o Entrevistado 29 evidenciou acima.
A mudança foi motivada primeiro pelo desequilíbrio entre as grandes áreas
que a gente percebia, segundo para tentar implementar essa visão
empreendedora dentro do curso. Visão empreendedora daí eu falo do aluno
ser um empreendedor, porque a gente entende que esta é uma exigência hoje
do aluno enquanto cliente, porque ele não quer aprender ser só um bom
empregado, ele quer aprender também a ser um bom patrão de si mesmo,
como conduzir seu próprio negócio… Então a questão do empreendedorismo
é uma questão mais ou menos recente e que a gente hoje de uma maneira
mais significativa passa a ter permeando o nosso currículo. Então a questão,
eu diria assim, são três coisas que levaram ao reconhecimento da
necessidade de mudança do nosso projeto: a primeira era o desequilíbrio das
áreas, a segunda era a exigência de uma postura empreendedora e a terceira
também esta questão, vamos dizer assim, de aproximar do espírito da
instituição. Então você tendo essa característica de formação humana mais
ou menos fortes. A gente tem disciplinas institucionais que valem para o
curso de administração e para qualquer outro curso. (…) Então ele vai cursar
responsabilidade social, ele vai cursar dinâmica das idéias sociais… Então
isso tudo… eu diria que são as três coisas: uma uniformidade no sentido de
respeitar a identidade da instituição, respeitar uma exigência de mercado e
uma necessidade do cliente. Então se você pensar assim é a mudança tanto
do equilíbrio do currículo e depois o pano de fundo do empreendedorismo
(Entrevistado 30, 2008).
Por outro lado, o Entrevistado 33 coloca a sua visão, evidenciando projetos novos
vinculados a essa reforma e questões importantes relacionadas ao desenvolvimento da
pesquisa dentro do curso:
Em relação aos professores, então a gente fez uma reunião com os
professores, apresentamos a eles um projeto que a gente tem para o ano que
vem que é… até o final deste ano nós vamos fazer um novo currículo do
curso de administração. Nós, necessariamente, vamos fazer… o currículo
não que nós já fizemos, vamos fazer novas ementas, novos conteúdos
programáticos, novas bibliografias para que tudo isso esteja absolutamente
afinado. Um curso muito grande precisa disso. E o projeto para o ano que
vem é selecionar alguns professores de certas áreas – quebrar o curso,
basicamente são 8 áreas: economia, métodos quantitativos, administração
170
geral, marketing, finanças, recursos humanos e operações – então a gente
teria um ou dois professores dessas áreas e alunos – um aluno por turma (nós
temos aí 30 e tantas turmas) e esses alunos junto com os professores vão
produzir estudos de caso para as disciplinas. Então assim, junto com as
parecerias com as empresas que nós temos – então assim, não vai fazer
estudo de caso por fazer estudo de caso, vai fazer um material para a aula.
Então assim, o aluno que já fez a disciplina de planejamento estratégico
junto com o professor que é de planejamento estratégico vão elencar lá o
conjunto de conteúdos que se trabalha – ah, então são esses 10 conteúdos,
então vamos escrever cada um desses conceitos aqui e aí vamos elaborar um
estudo de caso para cada um dos conceitos para que a gente use em sala de
aula e nós temos uma aula exclusiva nossa. E a idéia é que anualmente a
gente possa fazer a atualização do material, fundamentalmente a atualização
dos estudos de caso, de maneira que o aluno que faz a disciplina de
planejamento, por exemplo, todo ano a disciplina de planejamento é
diferente porque ela tem casos novos, abordagens diferenciadas. Então
problemas… você pega lá a disciplina de finanças, o Gittman hoje não custa
menos de R$100,00. Então é muito fácil falar, mas ninguém encara esta
realidade, vai lá na biblioteca… aqui ainda é uma escola particular e você
consegue um pouco mais… mas mais de R$ 100,00, compra um livro
daquele que não vai lhe servir para todas as disciplinas de finanças. Então a
gente pensou, “poxa, para ajudar esses alunos a gente pode fazer um
compêndio de tudo aquilo que a gente usa em sala, que tem que fazer
pesquisa bibliográfica e tal, aquilo que é o básico – claro, aquilo que é
complementar em hipótese alguma a gente vai conseguir fazer – mas o
básico está aqui… Então é estabelecer isso e apoiar o aluno nesse processo
de aprendizado. Então esse é um projeto que a gente tem aí para o ano que
vem, a gente está fazendo 50% dele, que é o novo currículo, depois que tudo
isso estiver pronto a gente leva para o nosso colegiado de curso, para o
conselho de ensino, pesquisa e extensão para aprovar e no ano que vem a
gente começa a trabalhar fortemente nisso – a Central de Casos, por
exemplo, já existe, já tiveram duas palestras aí da Renault e tal, então é uma
atividade que a gente está fazendo junto com os professores. E a terceira, que
é o relacionamento com o mercado, para conseguir fundos para a pesquisa.
A gente, como é escola particular, a gente não tem… não somos tão
agraciados como as escolas federais e estaduais com bolsas e coisas do
gênero para a pesquisa. Mas tudo bem, não vamos ficar sentados aqui
chorando! Então o que nós estamos fazendo é desenvolver isso junto com as
empresas. Um exemplo claro é de um shopping aqui da cidade, que nós
conseguimos um financiamento já para mais de 6 projetos de pesquisa junto
a eles, então envolvendo professores e alunos, exatamente nos moldes de um
trabalho de conclusão de curso, por exemplo (Entrevistado 33, 2008).
Colocadas essas questões e também diante de tudo o que foi tecido nas seções de
capítulos anteriores, uma questão que fica bastante clara no curso de administração da FAE –
Centro Universitário é o constante monitoramento das práticas e de seus resultados, bem
como a implementação de outras atividades que possam aprimorar sempre tais práticas.
Evidencia-se ainda o desenvolvimento de um trabalho coletivo, articulado, que pode inclusive
ser percebido pelos alunos, que afirmam reconhecer esse caráter coletivo do trabalho
realizado na organização.
171
O grande resultado percebido no trabalho desenvolvido pelo curso de administração da
FAE – Centro Universitário é a formação de um aluno com muita clareza do que é a profissão
de administrador. Ao entrevistar os discentes percebeu-se que a grande maioria que está nas
fases iniciais do curso não sabe o que quer fazer profissionalmente e nem tem muito claro o
que é ser um administrador – a escolha é muitas vezes influenciada pela família, pelo ramo de
negócio em que o pai ou a mãe atuam, sem ser uma vontade do discente em si. A FAE –
Centro Universitário conhece essa realidade e desde os períodos iniciais desenvolve um
trabalho de esclarecimento e até reencaminhamento de estudantes que não desejam estar no
curso de administração. Isso se deve ao fato descrito pelos praticantes, quando afirmam que o
foco do curso de administração da FAE – Centro Universitário não é formar todos os alunos
que ingressam no curso, mas sim formar bons profissionais. Observa-se um grande índice de
desistência, que os próprios discentes contam e justificam com base em dois motivos: (1) a
falta de interesse na administração ou ainda (2) a dificuldade do curso que leva muitos alunos
a optarem por outros cursos de universidades privadas considerados mais fáceis. Assim,
observa-se um processo de construção do profissional, que começa o curso sem uma noção
clara do que quer fazer profissionalmente, mas que ao fim de todo o processo sabe o que é a
profissão e geralmente já está identificado com a profissão. Tendo em vista todo o descrito,
acredita-se que isso é em grande parte um resultado do curso da FAE – Centro Universitário,
que reafirma constantemente o seu foco no mercado e na formação de administradores
profissionais, com uma colocação boa no mercado de trabalho. Os praticantes afirmam ainda
que isso é resultado também do próprio currículo e da forma como o processo é construído,
pois esse conteúdo (estratégico, do ponto de vista deste trabalho) é fundamental para a
formação do pretenso bom profissional.
Tal clareza do trabalho e a constante discussão acerca de todo processo estratégico-
pedagógico do curso de graduação em administração da FAE – Centro Universitário é
percebida na fala de todos os praticantes. Os docentes destacam ainda que acreditam que os
resultados obtidos pela FAE – Centro Universitário – em termos da formação desses
profissionais, descrita anteriormente, e também daqueles resultados expressados por meio de
indicadores do MEC, INEP e outros – são resultado também da manutenção do corpo
docente, da sua valorização, do fomento à integração e à troca de experiências, de um clima
seguro dentro da organização para se desenvolver o trabalho, do respaldo da coordenação às
decisões do professor em sala de aula e também ao rigor a que são submetidos professores e
alunos da organização.
172
Os praticantes destacam ainda que o grande desafio em termos de futuro para o curso
de graduação em administração da FAE – Centro Universitário é manter os seus resultados e
implantar os novos planos que estão sendo pensados. Essa manutenção é vista como desafio
porque o processo de expansão pelo qual vem passando a organização exige dela um trabalho
muito maior para gerenciar tudo, visto que o foco da FAE – Centro Universitário enquanto
organização hoje não são mais somente os cursos de business, ela configura-se como uma
Centro Universitário e, como tal, possui uma série de cursos em diferentes áreas do
conhecimento.
Os praticantes narram suas práticas e resultados com um sentimento de orgulho
explícito pelo que fazem, alguns tendem a superestimar o que realizam, outros, no entanto,
mais comedidos, descrevem coisas que precisam ser melhoradas e nas quais é necessário
investir. Dentre elas, a grande maioria concentra-se no nível de infra-estrutura para suportar
tudo o que a organização faz, porém se percebe que o grande ponto fraco do curso de
graduação em administração da FAE – Centro Universitário é a sua desvinculação da
pesquisa, o que também não é uma característica somente deste curso, mas sim dos cursos de
administração em geral, que historicamente têm se estabelecido como cursos com um foco no
mercado, na experiência profissional, sem transformar isso em reflexão, pesquisa, boas
práticas e teorias. Nesse ponto surgem alguns indícios para a conclusão, bem como para
delineamentos de estudos futuros que serão discutidos mais adiante no trabalho.
4.3 ASPECTOS COMPARATIVOS DOS CASOS DESCRITOS
Partindo das descrições e análises de cada um dos casos pesquisados, acredita-se que
alguns aspectos merecem ser comparados, de forma a contrapor uma e outra questão.
Acredita-se na importância de uma comparação principalmente porque se entende a estratégia
como um processo criativo, construída no dia-a-dia e nas interações entre pessoas, manifesta
em artefatos formais e informais, em eventos formais e informais, enfim, em práticas e
atividades (sejam elas formais ou informais, tácitas ou explícitas). Dado esse caráter, práticas
e resultados são característicos de cada organização e constituem uma certa identidade para
cada uma. Assim, a comparação não assume aqui um caráter de juízo de valor, com objetivo
de emitir um parecer de “certo” ou “errado”, sobre o que é “melhor” ou “pior”, mas sim como
base para se entender que a estratégia se faz na interação diária e se efetiva na prática
cotidiana, permeada por conceitos e dissociações teóricas que acabam por dotar este processo
173
de um caráter criativo de construção e reconstrução a partir do sentido que as pessoas dão
para as práticas, atividades e para o próprio conceito de estratégia.
Considerando que o grande tema aqui trabalhado é o conteúdo estratégico dos cursos
de graduação em administração da Universidade Federal do Paraná e da FAE – Centro
Universitário, elegeram-se alguns pontos considerados relevantes para se traçar uma possível
comparação entre o conteúdo dos dois cursos: (1) a estrutura curricular, considerando que esta
concentra a essência e o possível foco de cada um dos cursos; (2) o perfil do
aluno/profissional previsto por cada um dos cursos, considerando que este administrador
profissional formado é o produto (em certo sentido) da organização; (3) o foco do curso,
identificado a partir dos dados coletados, que contribui para delinear o mercado de atuação da
organização; (4) como os praticantes entendem a estratégia do curso de graduação, o que
permite compreender qual o direcionamento do curso; (5) o perfil docente, acadêmicos e
profissionais, o que leva a compreensão também de como se delineia a formação dos alunos
do curso; (6) as práticas de sala de aula, com vistas a conhecer como o conteúdo estratégico
previsto no projeto pedagógico é implementado; (7) o papel do corpo diretivo do curso em
relação ao trabalho desenvolvido e aos alunos; (8) as práticas e atividades empreendidas para
a realização do conteúdo estratégico; (9) como o trabalho é desenvolvido, em termos
individuais e coletivos dentro do curso, o que permite compreender como os significados são
compartilhados e negociados; (10) o processo do stratregizing, que permite visualizar como a
estratégia formal é elaborada e; (11) os resultados alcançados e como são mensurados pela
organização, visto que estratégia está sempre atrelada a resultados e se concretiza a partir
deles. Partindo dessas questões, desenvolve-se um quadro comparativo desses pontos, a fim
de poder contrapor cada um dos critérios, que serão discutidos a seguir.
Critério UFPR FAE – Centro Universitário
1. Estrutura
Curricular
O curso de administração da UFPR
segue uma estrutura semestral, em
que são distribuídas geralmente 6
disciplinas de 60h cada. As
disciplinas do curso estão
organizadas desde o primeiro
semestre para que o aluno tenha
sempre uma disciplina de cada
área funcional da administração,
objetivando que ele possa construir
desde o início a idéia de como é a
sua profissão. No entanto, em sala
de aula nem sempre as ementas e
o programa das disciplinas é
cumprido – depende de cada
professor e não há um
acompanhamento pelo corpo
O curso de administração da FAE –
Centro Universitário atualmente tem
uma estrutura anual, em que as
disciplinas são distribuídas em
módulos bimestrais, com disciplinas de
36h e 72h. No primeiro ano os alunos
desenvolvem disciplinas fundamentais,
com pouco contato com as disciplinas
específicas do curso. A partir do
segundo ano começam a ter um
contato maior com as áreas funcionais
da administração. Observa-se um foco
relevante (em quantidade) nas
disciplinas quantitativas. Em sala de
aula os praticantes (todos) afirmam
que a ementa e o programa são
rigorosamente cumpridos, e isto é
174
diretivo (ver ANEXO B, p. 287). acompanhado pela coordenação do
curso (ver ANEXO C, p. 290 e ANEXO
D, p. 292).
2. Perfil do
aluno/profissional
Descrito no projeto pedagógico
como um profissional capaz de
analisar e interferir nos contextos
onde atua, articular relações e
negociações, autônomo, crítico e
capaz de desenvolver as
organizações onde atua.
Descrito no site do curso como uma
profissional multifuncional, espírito
empreendedor, que domina as
habilidades técnicas da profissão
descritas a partir dos cinco princípios
básicos da administração (prever,
organizar, comandar, coordenar,
controlar).
3. Foco do curso
O curso não possui um foco
definido – transita pelas esferas
acadêmica e profissional, alguns
professores acreditam naquele e
outros neste foco, o que propicia
conflitos entre o corpo docente. No
entanto, os alunos têm pouco
contato com a prática de pesquisa,
mas em sala de aula parece
prevalecer o direcionamento
acadêmico, relacionado também ao
vínculo dos professores com a
instituição.
O curso possui um foco claro na
formação profissional do aluno. Todos
os praticantes reconhecem esse foco
e afirmam que o objetivo maior é
formar um bom profissional para o
mercado. Para isso são valorizados
professores com experiência
profissional vasta e muitos dos
docentes afirmam que a experiência
acadêmica não é muito valorizada.
Não se percebem práticas de pesquisa
acadêmica a partir dos dados
levantados, a não ser nos documentos
escritos.
4. Estratégia
Não há uma estratégia claramente
definida e os praticantes também
não a reconhecem. Assim, alguns
falam que percebem um certo
esforço para que se consiga definir
um direcionamento estratégico,
mas que ele está limitado ao
cumprimento de questões
operacionais no momento.
Se o olhar estiver focado para a FAE –
Centro Universitário, enquanto Centro
Universitário percebe-se claramente
uma estratégia de diversificação.
Dentro do curso de administração, no
entanto, o direcionamento estratégico
é para a diferenciação pela qualidade
de ensino.
5. Perfil dos
docentes
Uma parte do corpo docente
(aqueles com vínculo de dedicação
exclusiva e 40h, normalmente)
possui um perfil acadêmico,
empreende pesquisas, dá aulas
nos cursos de pós-graduação
stricto e latu sensu. Outra parte
(em sua maioria 20h) divide-se
entre carreiras profissionais e as
atividades de docência. Há um
conflito entre os dois grupos. Na
sua maioria são professores com
muito tempo de casa e uma grande
parte em tempos de aposentar-se.
Os docentes da FAE – Centro
Universitário, declaradamente, devem
ter uma experiência profissional de
destaque. Seus desenvolvimentos
acadêmicos vêm em segundo plano.
Afirmam, porém, que prestam atenção
aos critérios de titulação acadêmica
para que possam cumprir as
exigências do MEC e possuir
pontuação nesses quesitos também.
Possuem um corpo docente integrado,
na sua maioria com um bom tempo de
casa. Também procuram trazer novos
docentes para manterem-se sempre
atualizados.
6. Práticas de sala
de aula
As práticas de sala de aula são
individuais, privadas, referentes a
cada professor. Não há um padrão
na condução das aulas (nem entre
os professores que lecionam as
mesmas disciplinas), nas
avaliações e no cumprimento das
ementas – cada um constrói a
As práticas de sala de aula na FAE –
Centro Universitário são orientadas
fundamentalmente pelo cumprimento
das ementas e do programa da
disciplina. Partindo disso, todos os
entrevistados afirmam que as aulas
são dividas em tempo de explanação
do conteúdo pelo professor e em
175
disciplina da maneira como julga
adequada.
tempo de exercício prático desse
conteúdo pelos alunos. Há um
acompanhamento rigoroso das aulas
para ver se os contratos são
efetivamente cumpridos. Quanto à
avaliação, existe padronização de
alguns critérios, como o peso da prova
individual e dos trabalhos na
composição da nota global. Estuda-se
a possibilidade de se desenvolverem
avaliações padrões das disciplinas
para todas as turmas, supervisionadas
pela coordenação. Essa experiência-
piloto está em desenvolvimento no
Campus Cristo Rei.
7. Papel do corpo
diretivo
O corpo diretivo é, antes de tudo,
parte do corpo docente e não tem
muito “poder” ou ingerência sobre
os demais membros do corpo
docente. Fica claro que o cargo é
transitório e quando passar outro
membro do corpo docente, o
ocupará e poderá retaliar alguma
ação diretiva que desagrade ou
prejudique algum grupo de
docentes.
O corpo diretivo tem funções e
responsabilidades diretivas, de
coordenar, fiscalizar, acompanhar,
avaliar, orientar, chamar atenção,
atender, encaminhar mudanças e
ajustes, responder pelo curso,
conversar com alunos, enfim, articular
todo o funcionamento e atualização do
curso. Isso é reconhecido por todos os
praticantes e levado muito a sério por
todos. O rigor nessa condução é
reconhecido como muito importante
para os resultados do curso.
8. Práticas e
atividades
Existe, no curso de graduação em
administração da UFPR, uma série
de práticas relacionadas ao
conteúdo estratégico prescritas no
projeto pedagógico, algumas das
quais o corpo diretivo diz que
realiza, mas isso não é
reconhecido pelos demais
praticantes. Assim, todas as
práticas e atividades do curso da
UFPR são muito individuais, e o
sentido que é feito delas é também
individual. O pouco que há de
coletivo, são práticas de coalizões
que ocorrem com o fim de unirem-
se para criar corpo para a
realização de algo que, se não
fosse assim, não aconteceria. As
práticas episódicas predominam
(reuniões formais) e são usadas, a
partir do que dizem os praticantes,
para definições operacionais e
muito pouco estratégicas.
No curso da FAE – Centro
Universitário pode-se perceber, a partir
do que foi descrito, uma série de
práticas e atividades a elas
relacionadas para a realização do
conteúdo estratégico. Existem tanto
práticas racional-administrativas,
quanto episódicas e discursivas.
Essas práticas parecem ter um sentido
muito compartilhado, visto que todos
os praticantes entrevistados as
descrevem de maneira semelhante e
as reconhecem. As práticas de
pesquisa acadêmica é que são
descritas, mas parecem não
acontecer, uma vez que elas estão
descritas, mas os praticantes não
falam delas ou quando falam afirmam
que falta esse foco.
9. Trabalho
individual/coletivo
Trabalho muito individual. Poucas
trocas de experiências e materiais.
Cada um elabora a condução do
seu trabalho e conduz por iniciativa
própria. Interessante que todos os
docentes/corpo diretivo se dizem
amigos, mas isso não influencia a
Trabalho coletivo, as pessoas se
comprometem com os
direcionamentos da organização,
contribuem, discutem e participam dos
fóruns. Há uma grande troca de
experiências, materiais e trabalho
entre os praticantes da FAE – Centro
176
realização de um trabalho coletivo. Universitário.
10. Strategizing
O processo de formação da
estratégia na UFPR reflete o
caráter individual do trabalho: na
última reforma curricular todos
desenvolveram as “suas”
disciplinas e houve um
encadeamento pequeno entre elas,
segundo descrevem os praticantes.
O processo é influenciado pelas
regulações externas e o restante é
realizado de forma individual.
A FAE – Centro Universitário está
periodicamente em processo de
strategizing, considerando uma série
de grupos de interesses para manter o
foco do seu curso atualizado com as
expectativas desses grupos de
interesse. O processo dos dois cursos
se assemelha até certo ponto – em
relação às estruturas de decisão –
mas difere em outros, com relação à
formação da estratégia e o que é
levado em consideração para tal
formação.
11. Resultados
Em termos de resultados públicos e
formais (MEC, INEP, Guia Abril do
Estudante, por exemplo) as duas
organizações se assemelham
muito e obtêm resultados muito
semelhantes – tanto que esse foi
um dos critérios para a escolha das
duas. No entanto, com relação à
formação do profissional (o produto
da organização), a UFPR recebe
um aluno com uma expectativa alta
do curso e que acaba a graduação
descontente, julgando que o curso
não foi capaz de formá-lo como um
bom profissional. Os resultados em
termos de empregabilidade, no
entanto (apesar de não serem
mensurados, mas se teve acesso a
eles por meio de conversas com
vários egressos), é de um alto grau
de empregabilidade em
organizações empresariais, mas
que os egressos atribuem a méritos
individuais e não ao processo de
ensino da UFPR.
A FAE – Centro Universitário, por sua
vez, recebe um aluno bastante
inseguro quanto à profissão e ao que
quer do seu futuro profissional. O seu
grande resultado é a formação de um
profissional-padrão, inserido no
mercado de trabalho já desde os
período iniciais do curso que possui
uma clareza do que é ser um
administrador. Pode-se dizer que,
diante do seu conteúdo estratégico e
das práticas para a sua realização, a
FAE – Centro Universitário consegue
alcançar os resultados que prevê.
Durante o processo há uma
acompanhamento, por meio de
avaliações formais e informais, para
monitorar o processo e conduzir as
práticas, o que não acontece na
UFPR.
Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados para a pesquisa (documentos, entrevistas e observações).
Quadro 10. Quadro-resumo dos aspectos comparativos entre UFPR e FAE – Centro
Universitário
O Quadro 10 evidencia que as duas organizações, apesar de apresentarem resultados
públicos formais (MEC, INEP, Guia do Estudante Abril etc.) bastante semelhantes e serem,
aos olhos dos alunos que prestam vestibular, as primeiras opções de escolha, possuem formas
de condução da realização do seu conteúdo estratégico muito diferenciadas. Enquanto um
(UFPR) desenvolve um trabalho individual, pautado em competências individuais do corpo
docente e dos alunos bem preparados que recebe já na entrada do vestibular, o outro (FAE –
Centro Universitário) desenvolve um trabalho coletivo de formação de um administrador
profissional-padrão de qualidade.
177
Percebe-se ainda a persistência de uma característica importante dos cursos de
administração, comuns às duas organizações pesquisadas: a falta de vinculação do curso à
pesquisa acadêmica. Se na FAE – Centro Universitário isso se deve ao foco do curso, voltado
ao mercado e à formação profissional, sem uma valorização da academia, a UFPR possui um
curso de pós-graduação de nível bom dentre os brasileiros, desenvolve boas pesquisas
acadêmicas, porém isso não chega até a graduação, que continua a desenvolver-se em paralelo
a todo o movimento de pesquisa acadêmica. Isso corrobora o que Nicolini (2003) aponta, de
que os cursos de graduação em administração do Brasil crescem desvinculados da pesquisa e
isso lhes confere um caráter de dependência dos modelos estrangeiros.
Há que se destacar ainda outro ponto que chama a atenção: a UFPR, que descreve um
perfil de aluno com capacidade de atuar em diferentes contextos, articular, negociar, analisar,
oferece um currículo extremamente funcional, dividido com matérias relacionadas às áreas
funcionais da administração desde os primeiros semestres. A FAE – Centro Universitário, por
outro lado, que busca a formação de um profissional formatado às exigências do mercado e à
sua proposta de trabalho, desenvolve um ano todo de disciplinas fundamentais. Isso posto, é
necessário refletir, em termos de resultados sobre o conteúdo estratégico das organizações.
Pelo que se pôde perceber durante a pesquisa, as duas organizações estão em movimentos de
repensar seus currículos e há indícios de que essas questões também estão sendo repensadas.
A apresentação dos aspectos comparativos acima parece apontar para grandes
diferenças entre os cursos. Veja-se que os dois são regidos pelas mesmas regulamentações
legais do Conselho Federal de Educação e, no entanto, apresentam um conteúdo estratégico
visivelmente diferente (em termos de perfil de egresso, matriz curricular, estrutura do curso
etc.). É certo que a legislação que regulamenta o curso de administração no Brasil é bastante
flexível e estabelece diretrizes ao invés de imposições legais. Isso indica, de certa maneira,
que a interpretação que os praticantes da estratégia de cada uma das organizações dão ao
contexto legal e ao contexto institucional em que estão inseridos é bastante distinta, o que
influencia a sua prática da estratégia e os resultados obtidos.
É possível inferir ainda sobre o caráter adaptativo e recursivo das práticas nas
organizações, principalmente no momento atual: uma passa por uma revisão de todo o seu
conteúdo estratégico e outra começa a refletir sobre uma possível mudança. Percebe-se que no
curso da UFPR, o caráter recursivo da prática é muito mais evidente, pois os praticantes
tendem a reproduzir o que já está sendo feito e que foi criado por eles, que já estão há muito
tempo na organização. A FAE – Centro Universitário, por sua vez, vivencia o caráter
adaptativo com mais intensidade, uma vez que periodicamente proporciona revisões formais
178
de suas práticas, além da construção e adaptação informal que se dá entre os praticantes nos
encontros de corredor, nas salas dos professores, nos encontros de áreas específicas etc. Tem-
se que destacar, porém, que todo esse movimento, toda essa construção criativa –
característica de cada uma das organizações – só vem a reforçar a coerência do entendimento
que pauta o presente trabalho: que a estratégia das organizações precisa ser vista a partir dos
seus praticantes, pois são eles, em suas interações cotidianas, em suas atividades socialmente
situadas que constroem a estratégia e dão sentido ao que é formulado e assim a constroem e
reconstroem em seu dia-a-dia.
Entende-se, finalmente, que cada uma das organizações possui a sua maneira de
conduzir a construção da sua estratégia e, assim, a comparação tecida aqui tem por objetivo
apontar para esse caráter criativo. Acredita-se que o presente relatório de pesquisa possa
apontar ou despertar para uma reflexão de pontos que poderiam ser diferentes. Como neste
trabalho não há intenção de julgar o certo ou o errado, em evidência está a prática estratégica
de realização do conteúdo das organizações pesquisadas.
179
5 CONCLUSÕES, CONSIDERAÇÕES FINAIS E PESQUISAS FUTURAS
5.1 CONCLUSÕES
Desenvolvidas as análises dos dados, parte-se para o desenvolvimento das conclusões
desta pesquisa qualitativa, de caráter exploratório-descritivo, considerando que ao longo da
narrativa de análise procurou-se, de certo modo, conduzir a algumas conclusões que se obteve
por meio da pesquisa. Destaca-se que o objetivo inicialmente proposto era identificar e
compreender quais as práticas que constituem a prática estratégica (em termos de realização
do conteúdo estratégico), cujos resultados são outputs e outcomes de organizações de ensino
de graduação em administração.
Assim, parte-se para o delineamento das conclusões, com vistas às respostas das
perguntas de pesquisa.
5.1.1 Sobre o contexto do ensino superior de graduação em
administração no Brasil
Inicialmente procedeu-se à um investigação acerca de materiais que pudessem delinear
e esclarecer como o ensino superior de graduação em administração instalou-se no Brasil e
como os estudos têm tratado a questão.
Percebeu-se que grande parte dos estudos pesquisados possuem um caráter descritivo
de experiências consideradas bem sucedidas dos cursos de graduação em administração.
Outra parte procura analisar as adequações que os cursos fizeram em seu projeto pedagógico a
partir das mudanças legais que regulam o funcionamento dos cursos. Outros investigam a
origem histórica e como os cursos vêm se desenvolvendo até hoje.
Chama a atenção o fato de que os estudos sobre o ensino e os cursos de graduação
começaram a crescer há pouco tempo, fundamentalmente a partir de 2000, o que evidencia
um fato bastante interessante anunciado nos estudos consultados para esta caracterização: o
ensino de graduação em administração no Brasil cresce desvinculado da pesquisa acadêmica,
são cursos que se configuram numa espécie de “linha de produção” de formação de
administradores, com um formato parecido de currículo e uma dependência das teorias e
modelos estrangeiros (Nicolini, 2003).
180
Importante destacar, em termos de conclusão, que os dois cursos de graduação
pesquisados (UFPR e FAE – Centro Universitário) seguem essa tendência e estão muito
próximos do que os estudos apontam acontecer na grande maioria das graduações em
administração: a graduação é desvinculada da pesquisa acadêmica, não há fomento para a
pesquisa entre os graduandos, muitos deles nem sabem se existem tais iniciativas nos cursos a
que estão vinculados, e quando se fala em educação continuada para os discentes, o que eles
pretendem é cursar um curso lato sensu, que em sua maioria configura-se como uma extensão
do curso de graduação, em uma área de especialidade que não desenvolve pesquisas e também
não insere os discentes nesse contexto. Encontraram-se inclusive discentes que entraram na
graduação com o objetivo de seguir pela pesquisa e ao final do curso deixaram esse objetivo
de lado, pois as experiências de pesquisa que tiveram foram frustrantes, a ponto de
desestimulá-los.
Assim, é importante considerar que os dados de pesquisa parecem apontar que os
cursos de graduação em administração pesquisados fazem parte de um contexto maior da
grande maioria dos cursos brasileiros, de indefinição da profissão e da falta de reflexão e de
criação de teorias por meio da pesquisa, que possam consolidar a administração como uma
área de conhecimento com desenvolvimento e inovação, refutando a tendência funcional de
formar profissionais reprodutores de modelos, ou ainda mais comprometedor, sem uma
referência teórica para desenvolver em sua prática profissional. É importante destacar que,
como essa não era uma das questões-chave de pesquisa, é preciso que se aprofunde a questão
em pesquisas específicas, com vistas a respostas pontuais e seguras quanto a essa questão –
apresenta-se então uma das primeiras sugestões de estudos futuros, que serão exploradas a
seguir.
5.1.2 Sobre o conteúdo estratégico das organizações pesquisadas
No que se refere ao conteúdo estratégico das organizações pesquisadas há que se
destacar uma dificuldade de pesquisa antes de se iniciar a discussão das conclusões: no curso
de graduação da FAE – Centro Universitário não foi possível o acesso ao projeto pedagógico
do curso, o que dificultou o resgate dos dados relacionados ao projeto, realizado por meio de
consultas a outros documentos e também nas entrevistas com os praticantes.
No entanto, o que se pode perceber, em termos de conteúdo estratégico, é que as duas
organizações apresentam diferenças relevantes, conforme se pôde identificar na descrição e
análise dos dados: a estrutura curricular e o regime dos cursos são diferentes; o perfil do aluno
181
egresso também difere; o foco dos cursos são diferentes – enquanto um tem um foco definido
na sua vinculação com o mercado, o outro permanece transitando entre o foco acadêmico e o
foco profissional, com várias divergências entre os praticantes; com relação às disciplinas e a
como são ministradas, observa-se grande diferença também: enquanto uma (UFPR) não
apresenta padrão algum na condução das aulas e no cumprimento das ementas e programas
das disciplinas, a outra (FAE – Centro Universitário) implanta padrões rigorosos e procede a
uma acompanhamento preciso. Não obstante, a UFPR apresenta uma noção bastante difusa
sobre a sua estratégia, que é descrita por muitos praticantes como inexistente. Já a FAE –
Centro Universitário apresenta um alinhamento consensualmente reconhecido, perceptível nas
narrativas coletadas dos praticantes.
Tudo isso aponta para uma conclusão importante: o desenvolvimento do conteúdo
estratégico é uma prática social e como tal depende de uma construção, pautada na
interpretação dos praticantes sobre o contexto em que estão inseridos, da interação e do
compartilhamento de significados entre esses praticantes, que constantemente procuram
construí-lo nas suas interações. Considerando que na UFPR o trabalho coletivo é muito
limitado, é compreensível a noção difusa da estratégia e também a existência de práticas e
atividades muito mais individuais do que coletivas, e de uma falta de compartilhamento de
experiências. Outrossim, os dados também permitem olhar a questão por outro lado: as
narrativas dos entrevistados na UFPR possuem aspectos comuns, evidenciando que a grande
maioria reconhece a inexistência de uma estratégia clara, de um direcionamento estratégico e
do caráter essencialmente operacional das práticas e atividades desenvolvidas no curso. Essa
“grande narrativa” comum parece indicar que de certa forma há um alinhamento em relação
ao reconhecimento da atual situação do curso. Isso pode ser um ponto de concordância
bastante positivo para o início de uma ação coletiva e para o processo de strategizing.
Por outro lado, na FAE – Centro Universitário os indícios coletados por meio das
narrativas e dos artefatos de pesquisa apontam para um compartilhamento muito maior e uma
construção coletiva, com trocas, interações e significados compartilhados.
Assim, acredita-se que a interpretação dos praticantes e os significados construídos por
eles é de fundamental relevância na realização do conteúdo estratégico e acredita-se que os
dados permitem afirmar que nas duas organizações pesquisadas isso confirma o que
teoricamente havia sido delineado.
182
5.1.3 Sobre os praticantes da estratégia das organizações
pesquisadas
Considerando, a partir da perspectiva adotada neste trabalho, os praticantes como os
grandes responsáveis pela estratégia, a sua identificação é de fundamental importância para o
trabalho. Entende-se por praticantes todos aqueles atores capazes de influenciar, por meio do
envolvimento direto ou indireto, a estratégia.
Assim, identificaram-se como os praticantes da estratégia dos cursos de graduação em
administração pesquisados pessoas pertencentes, fundamentalmente, a três grupos: o corpo
diretivo, o corpo docente e o corpo discente.
Em cada uma das organizações pesquisadas os grupos supracitados possuem um papel
diferente. Na UFPR o corpo diretivo não possui muito poder de decisão e nem ingerência
sobre o corpo docente, dadas as características transitórias desse cargo. O corpo docente, por
sua vez, possui autonomia e estabilidade, que lhes confere poder sobre seu espaço de atuação
e sobre as suas atividades no curso. O corpo discente, de seu lado, possui pouca voz no curso,
apesar de ser o meio para a realização do produto da organização. Assim, o que ocorre é uma
autonomia de ação demasiada, poucas relações em benefício do coletivo e um trabalho muito
individual – tanto as iniciativas boas não têm adesão de todos, quanto as iniciativas ruins não
são coibidas. Na FAE – Centro Universitário, por sua vez, o corpo diretivo possui um poder
grande diante de docentes e discentes. É ele o responsável por conduzir o curso e assim
orientar, avaliar, decidir. Os docentes, por sua vez, assumem um papel evidente de
implementação, com voz nos fóruns de discussão sobre a estratégia, sobre aquilo que lhes diz
respeito e lhes é feito consulta. Os discentes são os grandes “reguladores” das práticas e
atividades: seus interesses e avaliações são levados em grande consideração.
Faz-se relevante destacar que na FAE – Centro Universitário, além dessas categorias
de praticantes, observaram-se outras categorias de praticantes, que foram entrevistados e
postos em evidência dentre os docentes: são aqueles que influenciam a estratégia porque estão
vinculados a outras instâncias diretivas como as diretorias acadêmicas e as pró-reitorias, bem
como à mantenedora franciscana da organização. Além desses, há um grupo que não se
conseguiu entrevistar, que são os praticantes pertencentes ao mercado e às organizações
parceiras. Esse grupo influencia a estratégia a partir do momento que trazem suas
necessidades e expectativas para dentro da FAE – Centro Universitário por meio da pós-
graduação, dos cursos in company e também do Conselho formado por eles enquanto
organizações parceiras.
183
Todo o descrito leva a concluir mais uma vez que a estratégia é uma prática social, é
algo que as pessoas fazem e não algo que as organizações têm, tanto é assim que cada uma
das organizações pesquisadas apresentou as diferenças apontadas neste trabalho.
5.1.4 Sobre as práticas e atividades envolvidas na realização do
conteúdo estratégico das organizações pesquisadas
Práticas e atividades, cada uma de forma individual, constituía uma pergunta diferente
nesta pesquisa. Porém, para efeito de conclusão retomam-se as duas em conjunto, porque na
prática de pesquisa percebeu-se que elas ocorrem muito vinculadas e não podem ser
discutidas em separado.
Observou-se uma grande disparidade entre o descrito e o efetivo no curso de
graduação em administração da UFPR. No projeto pedagógico do curso existem práticas e
atividades formais descritas para a realização do conteúdo estratégico. No entanto, a maioria
delas não é reconhecida pelos praticantes e também não foram observadas no decorrer da
pesquisa. Entende-se que isso está vinculado ao fato do caráter individual em detrimento do
coletivo do trabalho desenvolvido na UFPR: se não há interação e um trabalho coletivo para
construir tais práticas e atividades, elas não são realizadas porque os praticantes não enxergam
nela um sentido para a sua realização. Assim, encontrou-se muita dificuldade para observar e
descrever essas categorias de análise, que em grande parte restringem-se a práticas episódicas,
desvinculadas de uma função estratégica e vinculadas a objetivos circunscritos a esferas
operacionais e de controle, conforme descrevem os praticantes e também a partir do que se
pôde observar.
Na FAE – Centro Universitário, por sua vez, observou-se uma série de práticas e
atividades formalmente descritas, reconhecidas pelos praticantes e que fazem sentido para
eles, uma vez que são capazes de descrevê-las e narrar como elas acontecem. Percebe-se que
as práticas episódicas são utilizadas pelos praticantes em grande medida para construir o
sentido coletivo e compartilhado da estratégia. Tudo isso tem um reflexo importante sobre os
resultados da organização: está muito perceptível a diferença entre os alunos entrantes e
concluintes em relação à clareza sobre sua formação e sobre a profissão de administrador.
Chama a atenção ainda como os docentes descrevem as práticas e atividades com um
alinhamento muito grande com aquilo que descrevem como estratégia da organização e seus
valores, o que é, por outro lado, reconhecido pelos discentes (parte relevante do processo) que
descrevem exatamente o que os demais praticantes colocam em suas narrativas. Fica, porém,
184
apenas uma prática (e suas atividades vinculadas) em suspenso (com relação ao que está
descrito): as relacionadas à pesquisa acadêmica, que não são reconhecidas pelos praticantes e
nem compartilhadas, visto que o foco compartilhado entre todos é o da valorização da
experiência profissional em detrimento da experiência acadêmica.
Expostas essas considerações, o que se pode concluir é que a estratégia é uma prática
social e que as grandes disparidades entre o descrito e o realizado parecem estar vinculadas à
forma como as pessoas constroem sentido sobre isso e como interagem enquanto grupo para
delinear as atividades que constituem essas práticas. Uma coesão de grupo e um
compartilhamento maior de significados, pautados na interação e na prática social parecem
levar a resultados mais coerentes com o que está previsto formalmente enquanto estratégia.
5.1.5 Sobre o processo de realização do conteúdo estratégico das
organizações pesquisadas
Considerando o processo de realização do conteúdo estratégico das organizações
pesquisadas – o strategizing – de certa forma eles se assemelham e de outras se distanciam.
Quando se considera que a estrutura de universidade exige instâncias de decisões
regulamentadas, como os colegiados e conselhos, o processo de “aprovação” de uma
estratégia é muito semelhante. Assemelham-se ainda as normas, leis e órgãos que regulam os
cursos, o que aproxima as fontes de influência entre as duas organizações pesquisadas. No
entanto, quando se analisam as práticas e atividades que constituem o strategizing, há um
distanciamento grande entre os dois processos, como já se tem indícios no que foi descrito
anteriormente.
A UFPR possui um processo muito baseado nos trâmites legais e exigidos pelas
instâncias governamentais e da universidade, sem apresentar iniciativas muito inovadoras para
o seu processo estratégico, conforme se pode perceber na Figura 12 (p. 135).
A FAE – Centro Universitário, por sua vez, apresenta outros grupos de influência em
seu processo, como as organizações empresariais, o grupo mantenedor franciscano e os seus
próprios alunos (atuais e egressos). Além disso, no contexto interno possui mecanismos de
avaliação de seus resultados, como a avaliação institucional, o que diferencia o processo da
FAE – Centro Universitário daquele observado na UFPR (leia-se a Figura 13, p. 167). Além
disso, as práticas informais são muito presentes no processo, enquanto prática coletiva. De
outra forma, na UFPR as práticas informais são muito mais acessíveis no âmbito individual.
185
Assim, quando se fala no processo da estratégia fica claro, no que se pôde desenhar,
que a interação entre os níveis individual, organizacional e institucional sugerida por
Whittington et al. (2008) no processo estratégico é relevante e coerente com as descobertas de
pesquisa.
5.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os pontos apresentados acima pontuam as conclusões que puderam ser desenhadas
sobre cada objetivo específico de pesquisa, respondendo assim às perguntas de pesquisa. Não
obstante, no decorrer de todo o estudo alguns pontos evidenciados merecem ser registrados
em termos de considerações finais sobre o trabalho.
Em primeiro lugar, ainda que muitas dificuldades e limitações tenham sido
encontradas durante a pesquisa, acredita-se que os objetivos de pesquisa foram cumpridos e o
resultado final do trabalho pôde ser realizado.
Em outro ponto, cabe destacar a importância que se observou da possibilidade da
triangulação de dados tanto com a coleta de dados de fontes distintas, como com a
possibilidade de triangulação entre pesquisadores; isso faz com que se tenha bastante
segurança diante da confiabilidade dos dados e análise aqui apresentados.
Postas essas considerações, acredita-se que esta pesquisa pode corroborar o
entendimento de que a estratégia não pode ser compreendida como uma questão
essencialmente econômica, mas revestida de um caráter largamente social. Isso porque pelo
que se pôde perceber nas organizações pesquisadas, a estratégia está muito mais atrelada às
concepções compartilhadas (ou não), aos valores, aos interesses políticos de pessoas e/ou
grupos do que a um resultado essencialmente econômico – destaca-se: entende-se que os
resultados atrelados à estratégia ultrapassam o conceito de resultado econômico (outputs) e se
aproximam de um conceito mais amplo de resultados (outcomes).
Outra questão que chama a atenção e que precisa ser considerada aqui está relacionada
ao fio histórico que perpassa a compreensão maior da tessitura dos resultados da pesquisa: no
início, quando se delineou as características contextuais e circunstanciais da pesquisa
resgatando o contexto histórico e as bases regulativas do ensino superior e dos cursos de
administração no Brasil, abordou-se a questão de que o ensino superior brasileiro, desde os
seus primórdios, funda-se em iniciativas e limitações governamentais, reflexo de suas
necessidades e interesses. Na parte do trabalho coloca-se ainda que o ensino superior no
Brasil surgiu vinculado a uma veia tecnicista, com fins de atender às demandas profissionais
186
da sociedade brasileira, desvinculado da pesquisa e de um compromisso com o
desenvolvimento crítico e reflexivo dos profissionais. Esse panorama parece se perpetuar nas
políticas públicas do Brasil e na estrutura de ensino superior do país, não só nos cursos de
administração como no sistema em geral. Interessa-nos aqui, porém, falar dos cursos de
administração, os quais, como já anunciou Nicolini (2003), crescem desvinculados da
pesquisa e dependentes de modelos estrangeiros. Assim, os dados desta pesquisa parecem
ratificar essa argumentação e resultados de pesquisas anteriores e ainda evidenciar, do ponto
de vista da prática social adotada neste trabalho, uma rotinização e institucionalização dessa
concepção de ensino nos cursos de administração, nas suas práticas e atividades cotidianas e
nas estratégias que delineiam para a construção do futuro dos cursos. Parece claro que cada
vez mais a formação dos administradores está vinculada a um entendimento superficial do que
seja teoria e do que seja prática, perpetuando na estrutura dos cursos e em sala de aula a
formação de administradores reprodutores de modelos construídos a partir de casos
tradicionais que muitas vezes inibem a capacidade de pensar e criar dos profissionais, que ao
chegarem ao mercado de trabalho deparam-se com colocações operacionais, muito distantes
daquelas de execução que imaginaram para suas carreiras, perdendo espaços para outros
profissionais – como evidenciam em suas narrativas muitos dos entrevistados deste estudo.
Isso leva a se estabelecer aqui, como uma contribuição de pesquisa, um questionamento sobre
os resultados que os cursos de graduação em administração estão obtendo e também apontar
que a concepção de organizações como socialmente construídas deve ultrapassar as linhas de
texto das definições epistemológicas e ontológicas de pesquisa e permear o contexto de sala
de aula, de formação dos profissionais administradores. Falta aos praticantes dos cursos de
administração olhar com atenção para o mercado, para o mundo do trabalho e da economia e
perceber que é necessário olhar para tudo com grande carga de responsabilidade, pois as
crises econômico-financeiras mundiais (2008 é um ano exemplar para tal constatação)
anunciam que a forma como as organizações estão sendo conduzidas talvez precise ser
questionada e reconstruída… Pretensão extrapolar os resultados da pesquisa para todo esse
desenrolar de argumentos? Talvez. Mas entende-se como responsabilidade dos pesquisadores
– principalmente quando não se concebe o pesquisador como um tradutor de números e sim
como uma pessoa capaz de olhar para os dados – refletir sobre eles e extrapolar a sua
compreensão para além do perfeitamente visível, para horizontes novos de pesquisa, questão
que será tratada na seção de capítulo número 5.3 (p. 187). Assim, deseja-se anunciar aqui que
a questão do ensino de graduação em administração precisa ser levada muito mais a sério do
que se está fazendo hoje. As organizações de ensino precisam trabalhar de forma muito mais
187
contundente em suas análises estratégicas e construir suas práticas de forma a atender às
expectativas e às necessidades da sociedade. A perspectiva teórica que orienta este trabalho
também prevê que o próprio ensino precise sofrer modificações para que se consiga entender
o mundo das organizações a partir dessa perspectiva prática e a presente pesquisa só fez
corroborar este entendimento, além de evidenciar que há muito trabalho pela frente para
transpor a virada prática da teoria para a prática.
Posto isso, delineia-se a seguir alguns pontos que se consideram interessantes para o
desenvolvimento de futuras agendas de pesquisa.
5.3 PROPOSTAS PARA PESQUISAS FUTURAS
Ao final dessa trajetória acredita-se que a grande lição que fica é que sempre se tem
muito a aprender, que o pesquisador que iniciou o processo é muito diferente daquele que
termina, que poderia ter feito muito diferente do que fez, mas que o resultado é fruto de um
processo de construção social, influenciado e constrangido por uma série de acontecimentos e
interações que caracterizam os resultados.
Escrever as linhas sobre pesquisas futuras é como deixar para desconhecidos (se é que
esta seção algum dia será lida por eles) algumas “pegadas” que podem indicar o início de um
caminho, mas que indubitavelmente nunca estarão trilhadas até o final, até porque o final de
uma trajetória é sempre determinado por um sujeito, ninguém pode estabelecer esses limites
por ele. É também cumprir com um dos objetivos de uma pesquisa exploratória, de deixar
caminhos e propostas para a continuidade do processo investigatório.
A primeira percepção sobre pesquisas futuras está relacionada a um assunto que
parece interminável: o desenvolvimento metodológico. Acredita-se que há muito por se
pesquisar em torno dos métodos de pesquisa que possam contribuir com a pesquisa da prática
em estratégia, por ser um campo ainda em construção e o compartilhamento de experiências
criativas em torno de como se aproximar mais profundamente do fenômeno parecem
extremamente válidas.
Além disso, a experiência desta pesquisa aponta que o aprofundamento das pesquisas
no campo específico dos cursos de administração são necessárias e relevantes para que se
possa desenvolver a área de pesquisa em si e também os profissionais administradores – os
praticantes!
Acredita-se ainda que iniciativas de pesquisa que procurem desenvolver o campo do
ensino de administração, buscando parcerias e interfaces entre diferentes pesquisadores, de
188
diferentes áreas seriam de grande validade, uma vez que pouco se encontra sobre a discussão
didático-pedagógica dos cursos de administração e percebe-se que há um grande despreparo e
desconhecimento prático dessas questões.
Ainda, de certo modo atrelado a esse último tópico, percebe-se que há uma área de
interface entre administração e educação é deixada de lado pelos dois campos: a
Administração da Educação. Enquanto a área da administração entende que administrar
organizações de educação é idêntico à administração de qualquer outra organização e assim
não assume as peculiaridades da área, a área de educação acredita que a orientação técnico-
funcional clássica dos administradores é incongruente com essa disciplina. Assim, a
Administração da Educação estabelece-se como uma área de interface conflituosa, que carece
de desenvolvimentos e pesquisas que possam olhar para a confluência e as peculiaridades das
áreas.
Outro aspecto que chama muito a atenção quando se pensa na experiência obtida na
pesquisa de campo é a grande confusão, discussão e conflito que giram em torno da questão
teoria e prática nos cursos de administração. Esses conceitos merecem ser melhor explorados
e a relação melhor estudada, de forma a contribuir com o esclarecimento disso para a
comunidade acadêmica.
Por fim, acredita-se que esta pesquisa apresenta-se como um estudo exploratório que
pode servir de base para a construção de novas pesquisas que visem ao aprofundamento e
mesmo à amplitude dos resultados aqui obtidos. Também se acredita que eles possam servir
de reflexões para pesquisadores interessados no tema deste trabalho e que desejem construir
novas pesquisas para contribuir com o campo.
189
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, M. A; BLIKSTEIN, I. Análise da narrativa. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-
MELLO, R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas,
estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.
ANASTASIOU, L. G. C; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade. 5. ed.
Joinville: Editora Univille, 2005.
ANSOFF, H. I. A nova estratégia empresarial. São Paulo: Atlas, 1990.
ASBAHR, F. S. F. A pesquisa sobre a atividade pedagógica: contribuições da teoria da
atividade. Revista Brasileira de Educação. n. 29, mai./jun./ jul./ago. 2005.
BABBIE, E. The practice of social research. 8. ed. USA: Wadsworth, 1998.
BALONGUN, J.; HUFF, A. S.; JOHNSON, P. Three responses to the methodological
challenges of studying strategizing. Journal of Management Studies, v. 40, n. 1, 2003.
BARANIUK, J. A.; BULGACOV, S.. Conteúdo e recursos etsratégicos de empresas novas
entrantes provedoras de serviços de comunicação de dados no Paraná. In: Encontro da
ANPAD (EnANPAD). Salvador – Anais. Salvador, ANPAD, 2002.
BARON-GAY, S. R. The metaconversation of strategic discourse. 2006. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
BARROSO, J (org.). O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996.
BARROSO, J. O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia
construída. In: BARROSO, J (org.). O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996.
BARTHES, R. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: BARTHES, R; GREIMAS, A.
J.; BREMOND, C.; ECO, H.; GRITTI, J; MORIN, V.; METZ, C.; TODOROV, T.;
GENETTE, G. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008.
BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes,
2003.
BOURGEOIS III, L. J. Strategic management and Determinism. . The Academy of
Management Review, Oct. 1984.
BOURGEOIS III, L. J. Strategy and environmental: a conceptual integration. The Academy
of Management Review, Jan. 1980.
BRANDÃO, Z. Pesquisa em educação: conversas com pós-graduandos. Rio de Janeiro: Ed.
PUC-Rio, 2002.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Resolução Nº 4, de 13 de julho de 2005. Diário
Oficial, Brasília, 2005.
BRASIL, Ministério da Educação. Cadastro de denominações consolidadas para cursos de
graduação. Brasília, 2008.
BRASIL, Ministério da Educação. Lei N
o
10.172, de 9 de janeiro de 2001. Diário Oficial,
Brasília, 2001.
BRASIL, Ministério da Educação. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial,
Brasília, 1996.
BRASIL, Ministério da Educação. Reestruturação e Expansão das Universidade Federais:
190
Diretrizes Gerais. Brasília, agosto 2007.
BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BULGACOV, S. Conteúdo e processo estratégico: estudo comparativo de casos na indústria
alimentícia paranaense. In: Encontro da ANPAD (EnANPAD). Rio das Pedras/RJ – Anais.
Rio das Pedras/RJ, ANPAD, 2001.
BURRELL, G., MORGAN, G., Sociological paradigms and Organisational Analysis,
London: Arena, 1994.
CANÁRIO, R. Os estudos sobre a escola: problemas e perspectivas. In: BARROSO, J (org.).
O estudo da escola. Porto: Porto Editora, 1996.
CHAFEE, E. E. Three models of strategy. The Academy of Management Review, v. 10,
Jan. 1985.
CHAKRAVARTHY, B. S.; DOZ, Y. Strategy process research: focusing on corporate self-
renewal. Strategic Management Journal, v. 13, Special Issue, Winter 1992.
CHAKRAVARTHY, B. S.; WHITE, R. E. Strategy process: forming, implementing and
changing strategies. In: PETTIGREW, A.; THOMAS, H.; WHITTINGTON, R. Handbook of
Strategy and Management. London: Sage, 2002.
CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação.
n. 24, set./out./nov./dez. 2003.
CHIA, R.; MACKAY, B. Post-processual challenges for the emerging strategy-as-practice
perspective: discovering strategy in the logic of practice. Human Relations, v. 60, n. 1, 2007.
COOREN, F.; TAYLOR, J. R. Organization as an effect of mediation: redefining the link
between organization and communication. Communication theory. v. 7, n. 3, p. 219-260,
1997.
CRAIG, R. T. Communication as practice. In: SHEPHERD, Gregory J.; ST. JOHN, Jeffrey;
STRIPHAS, Ted. Communication as…perspectives on theory. California: Sage
Publications, 2006.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
CUNHA, L. A. A universidade brasileira: entre o taylorismo e a anarquia. Revista Brasileira
de Educação. n. 10, jan./fev./mar./abr. 1999.
CZARNIAWSKA, B. J. A narrative approach to organization studies. London: Sage,
1998.
DE LA VILLE, V.; MOUNOUD, E. A narrative view on strategizing and organising: the
multiple stories of regional, public yet self-designed, organisation. In: EGOS Colloquium
European Group for Organizational Studies, 2006. [Disponível em: http://www.strategy-as-
practice.org/. Acesso em setembro/2007].
DE LA VILLE, V.; MOUNOUD, E. Between discourse and narration: how can strategy be a
practice? In: CZARNIAWSKA, B; GAGLIARDI, P. Narratives we organize by. Sweden:
John Benjamin Publishing, 2003.
DEETZ, S. Conceptual foundations. In: Jablin, F. M.; Putnam, L. L. (ed.). The new
handbook of organizational communication: advances in theory, research and methods.
Thousand Oaks: Sage Publications, 2001.
DENIS, J. L.; LAMOTHE, L.; LANGLEY, A. Strategize to organize or organize to strategize.
Structuration and sensemaking in newly formed organizations. In: EGOS Colloquium
191
European Group for Organizational Studies, 2007. [Disponível em: http://www.strategy-as-
practice.org/. Acesso em setembro/2007].
DETCHESSAHAR, M.; JOURNÈ, B. Reading and writing the organization through
management tools: a discursive-based approach of organizing – Proposals from a case study.
In: EGOS Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2007. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of
Management Review. v. 14, n. 4, 1999.
FAE – Centro Universitário, Portal. Disponível em: www.fae.edu.br. Acessado em outubro de
2008.
FAHEY, L.; CHRISTENSEN, H. K. Evaluating the research on strategy content. Yearly
Review of Management, v. 12, n. 2, 1986.
FAIRHURST, G. T.; PUTNAM, L. L. Reflections on the organization-communication
equivalency question: the contributions of James Taylor and his colleagues. The
Communication Review, v.3, n.1-2, p.1-20, 1999.
FÁVERO, M. L. A. A universidade do Brasil: um itinerário marcado de lutas. Revista
Brasileira de Educação. n. 10, jan./fev./mar./abr. 1999.
FINA, A.; GEORGAKOPOULOU, A. Alalysing narratives as practices. Qualitative
Research. v. 8, n. 3, 2008.
GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1989.
GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GODOI, C. K. Perspectivas de análise do discurso nos estudos organizacionais. In: GODOI,
C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos
organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.
GODOI, C. K.; BALSINI, C. P. V. A pesquisa qualitativa nos estudos organizacionais
brasileiros: uma análise bibliométrica. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.;
SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e
métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.
GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em
estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.
GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.;
SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e
métodos. São Paulo: Saraiva, 2006.
GOMES, R. Teses para uma agenda de estudo da escola. In: BARROSO, J (org.). O estudo
da escola. Porto: Porto Editora, 1996.
GRANT, R. M. Corporate strategy: managing scope and strategy content. In: PETTIGREW,
A.; THOMAS, H.; WHITTINGTON, R. Handbook of Strategy and Management. London:
Sage, 2002.
HAAG, K.; HELIN. J.; MELIN, L. Practices of communication in the strategic context of
succession. In: EGOS Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2006.
[Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
HALL, R. Organizações: estruturas, processo e resultados. São Paulo: Prentice Hall, 2006.
192
HARDY, C.; PALMER, I.; PHILLIPS, N. Discourse as a strategic resource. Human
Relations, v.53, n.9, p.1227-1248, 2000.
HAYASHY, P. J.; BARANIUK, J. A.; BULGACOV, S. Recursos e competências nas
mudanças em conteúdo estratégico em pequenas empresas de massas alimentícias: estudo
comparativo de casos. In: Encontro da ANPAD (EnANPAD). Atibaia – Anais. Atibaia,
ANPAD, 2003.
HELLMANN, C.; RASCHE, A. Strategy practices – what they are (not). 2007. [Disponível
em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
HENDRY, J.; SEIDL, D. The structure and significance of strategic episodes: social system
theory and the routine practices of strategic changes. In: European Academy of
Management, 2002. [Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em
setembro/2007].
INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Educação
Superior Brasileira: 1991-2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2006.
JARZABKOWSKI, P. Relevance in theory and relevance in practice: strategy theory in
practice. In: EGOS Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2003.
[Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
JARZABKOWSKI, P. Strategy as practice: an activity-based approach. California: Sage,
2005.
JARZABKOWSKI, P. Strategy as practice: recursiveness, adaptation, and practices-in-use.
Organization Studies, v. 25, n. 4, 2004.
JARZABKOWSKI, P.; BALOGUN, J.; SEIDL, D. Strategizing: the challenges of a practice
perspective. Human Relations. v. 60, n. 1, 2007.
JARZABKOWSKI, P.; MATTHIESEN, J. Capturing strategy as an everyday practice:
quantitative methodologies for analyzing practice data. Developmental Paper, 2007.
JARZABKOWSKI, P.; SEIDL, D. Meetings as strategizing episodes in the becoming
organizational strategy. 2007. [Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso
em setembro/2007].
JARZABKOWSKI, P.; WHITTINGTON, R. Hard to disagree, mostly. Strategic
Organization. v. 6, n. 1, 2008.
JARZABKOWSKI, P.; WILSON, D. C. Actionable strategy knowledge: a practice
perspective. European Management Journal. v. 24, n. 5, 2006.
JARZABKOWSKI, P.; WILSON, D.C. Top teams and strategy in a UK University. Journal
of Management Studies. v. 39, n. 3, May 2002.
JOHNSON, G.; LANGLEY, A.; MELIN, L.; WHITTINGTON, R.. Strategy as practice:
research directions and resources. New York: Cambridge, 2007.
KAPLAN, S.; JARZABKOWSKI, P.. Using strategy tools in practice. In: EGOS
Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2006. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
KNOCKER, M. O. “Impromptu”: project strategy as enacted team narrative of improvisation.
In: EGOS Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2005. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2001.
193
KOTLER, P. Administração de marketing. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2000.
LAINE, P. M.; VAARA, E.. On the discurse of strategy and strategy work. In: EGOS
Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2004. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria histórico-
cultural da atividade e a contribuição de Vasili Davydov. Revista Brasileira de Educação. n.
27, set./out./nov./dez. 2004.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo:
EPU, 1986.
MANTERE, S.; VAARA, E. Metaphors as discursive practices: exploring the metaphoric
construction of strategy and strategizing. In: EGOS Colloquium – European Group for
Organizational Studies, 2004. [Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso
em setembro/2007].
MARIOTTO, F. L. Mobilizing emergent strategies. In: Encontro Nacional de Estudos em
Estratégia. Campinas – Anais. Campinas, ANPAD, 2001.
MEC, Portal. Disponível em: www.portal.mec.gov.br. Acessado em outubro de 2008.
MENDONÇA, A. W. P. C. A universidade no Brasil. Revista Brasileira de Educação. n. 14,
mai./jun./ jul./ago. 2000.
MINTZBERG, H. Cinco P`s para estratégia. In: MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN,
J.B.; GHOSHAL, S. (Orgs.) O Processo da estratégia. São Paulo: Bookman, 2006.
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela
selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000.
MINTZBERG, H.; LAMPEL, J. Reflexão sobre o processo estratégico. In: MINTZBERG, H.;
LAMPEL, J.; QUINN, J.B.; GOSHAL, S. O processo da estratégia: conceitos, contextos e
casos selecionados. Porto Alegre: Bookman, 2006.
MOLLOY, E.; DENT, S. ‘Strategizing’ the verb in practice. 2007. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
MONTGOMERY, C. A. Guest Editor’s introduction to the special issue on research in the
content of strategy. Strategic Management Journal, v. 9, Special Issue, Summer, 1988.
MONTGOMERY, C. A.; WERNERFELT, B.; BALAKRISHNAN, S. Strategy content and
the research process: a critique and commentary. Strategic Management Journal, v. 10, n. 2,
Mar./Apr. 1989.
MORGAN, G.; SMIRCICH, L. The case for qualitative research. Academy of Management
Review. 1980.
NICOLINI, A. Qual será o futuro das fábricas de administradores? Revista de
Administração de Empresas, v. 43, n. 2, 2003.
OLIVEIRA, M. M. As origens da educação no Brasil: da hegemonia católica às primeiras
tentativas de organização do ensino. Ensaios: Avaliação de Políticas Públicas de Educação.
Rio de Janeiro, v. 12, n. 45, p. 945-958, out./dez. 2004.
PENTLAND, B. T. Building process theory from narrative: from description to explanation.
Academy of management review. v. 24, n. 4, 1999.
PEREIRA, G. R. M.; ANDRADE, M. C. L. A construção da administração da educação na
RBAE. Educação e Sociedade, v. 26, n. 93, set./dez. 2005.
194
PETTIGREW, A. M. The character and significance of strategy of strategy process research.
Strategic Management Journal, v. 13, Special Issue, Winter 1992.
PORTER, M. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência.
Rio de Janeiro: Campus, 1986.
PORTER, M. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio
de Janeiro: Campus, 1992.
RECKWITZ, A. Toward a theory of social practices: a development in culturalist theorizing.
European Journal of Social Theory. v. 5, n. 2, 2002.
ROBICHAUD, D.; GIROUX, H.; TAYLOR, J. R. The metaconversation: the recursive
property of language as a key of organizing. Academy of Management Review. v. 29, n. 4,
p. 617-634, October, 2004.
SARAIVA, E. V.; CARRIERI, A. P. A construção de estratégias corporativas sob a
perspectiva não determinística. RAE Eletrônica, v. 6, n. 2, jul./dez. 2007.
SCHENDEL, D. Introduction to the special issue. Strategic Management Journal, v. 9,
Special Issue, Summer, 1988.
SCOTT, W. R. Organizations: rational, natural, and open systems. USA: Prentice Hall, 2003.
SELLTIZ, C.; WRIGHTSMANN, L. S.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa nas relações
sociais: volume 2, medidas na pesquisa social. São Paulo: EPU, 1987.
SIERRA, F. S. Uma alternativa multidisciplinar à interpretação organizacional da instituição
escolar: a análise sóciocrítica do fenômeno escolar. In: BARROSO, J (org.). O estudo da
escola. Porto: Porto Editora, 1996.
SILVA, J. R. Jr.; SGUISSARDI, V. A nova lei de educação superior: fortalecimento do setor
público e regulação do privado/mercantil ou continuidade da privatização e mercantilização
do público? Revista Brasileira de Educação. n. 29, mai./jun./ jul./ago. 2005.
SILVA, M. R.; FISCHER, T. Ensino de administração: um estudo da trajetória curricular de
cursos de graduação. Anais do XXXII Encontro da Anpad. Rio de Janeiro, 2008.
SLEVIN, D. P.; COVIN, J. G. Strategy formation patterns, performance, and the significance
of context. Journal of Management, v. 23, n. 2, 1992.
STROH, P. Y.; PENA-VEGA, A.; NASCIMENTO, E. P. Reforma da educação superior:
diagnóstico 2003. Brasília: MEC/ORUS/SESU/DAPES, 2003.
UFPR, Departamento de Administração Geral e Aplicada. Projeto Pedagógico do curso de
graduação em administração. Curtiba, 2007.
UFPR, Portal. Disponível em: www.ufpr.br. Acessado em outubro de 2008.
UFPR, Site curso de administração. Disponível em: www.adm.ufpr.br. Acessado em outubro
de 2008.
VAN DE VEN, A. H. Suggestions for studying strategy process: a research note. Strategic
Management Journal, v. 13, Special Issue, Summer, 1992.
VARADARAJAN, P. R. Strategy content and process perspectives revisited. Journal of the
Academy of Marketing Science, v. 27, n. 1, 1999.
VOGLER, E. The strategic conversation as a power issue between top and middle managers.
In: EGOS Colloquium – European Group for Organizational Studies, 2007. [Disponível em:
http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso em setembro/2007].
WALDERSEE, R.; SHEATER, S. The effects of strategy type on strategy implementation
195
actions. Human Relations, v.49, n.1, p.105-122, 1996.
WEICK, K. E. Sensemaking in organizations. California: Sage Publications, 1995.
WHITTINGTON, R. Completing the practice turn in strategy research. Organization
Studies, v. 27, n. 5, 2006.
WHITTINGTON, R. Corporate structure: from policy to practice. In: PETTIGREW, A.;
THOMAS, H.; WHITTINGTON, R. Handbook of Strategy and Management. London:
Sage, 2002(a).
WHITTINGTON, R. Estratégia após o modernismo: recuperando a prática. RAE v. 44, n. 4,
2004.
WHITTINGTON, R. O que é estratégia. São Paulo: Pioneira, 2002(b).
WHITTINGTON, R. Strategy as practice and strategy process: family differences and the
sociological eye. Organization Studies, v. 28, n. 10, 2007.
WHITTINGTON, R. Strategy as practice. Long Range Planning, v. 29, n. 5, 1996.
WHITTINGTON, R. Strategy as practice. Long Range Planning. v. 29, n. 5, 1996.
WHITTINGTON, R. The work of strategizing and organizing: for a practice perspective.
Strategic Organization. v. 1, p. 119-127, 2002(c).
WHITTINGTON, R.; JARZABKOWSKI, P.; MAYER, M.; MONOUD, E.; NAHAPIET, J.;
ROULEAU, L. Taking strategy seriously: responsibility and reform for an important social
practice. Journal of Management Inquiry. v. 12, n. 4, 2003.
WHITTINGTON, R.; JOHNSON, G.; MELIN, L.. The emerging field of strategy practice:
some links, a trap, a choice and a confusion. In: EGOS Colloquium – European Group for
Organizational Studies, 2004. [Disponível em: http://www.strategy-as-practice.org/. Acesso
em setembro/2007].
WILSON, D. C.; JARZABKOWSKI, P. Thinking and acting strategically: new challenges for
interrogating strategy. European Management Review, Mar.2004(a).
WILSON, E; JARZABKOWSKI, P. Pensando e agindo estrategicamente: novos desafios para
análise estratégica. RAE v. 44, n. 4, 2004(b).
YIN, R. K. estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
196
APÊNDICE A. ROTEIROS DAS ENTREVISTAS
ROTEIRO INICIAL DE ENTREVISTA PARA COLETAR INFORMAÇÕES
(Corpo Diretivo 1)
1. Desde quando a Professor(a) trabalha como coordenador(a) do curso? Pode contar
para nós um pouco sobre a sua história aqui?
2. Quais disciplinas a Professor(a) leciona?
3. Como é conciliar as rotinas administrativas com o trabalho de docente?
4. Professor(a), a nossa pesquisa vai tratar das práticas estratégicas relacionadas à
definição de conteúdo – que nós entendemos como sendo o currículo, as definições
relacionadas à organização do curso e ao público-alvo e todas as demais questões que
envolvem a “organização” do ensino de graduação em administração. Diante disso nós
precisamos começar entendendo a estrutura do curso de administração dentro da
Universidade Federal do Paraná / FAE – Centro Universitário, em termos de:
a. Como se define a estrutura diretiva do curso (dentro da estrutura, inclusive
hierárquica como cada um se apresenta)
b. Qual a função de cada um
c. Quem são as pessoas responsáveis em cada um
d. Quais as funções de cada uma dessas pessoas
e. Qual a relação existente entre as três estruturas (setor, departamento e
coordenação)
f. Como se dá na prática (considerando as pessoas responsáveis) essa relação
entre as estruturas
g. Como é decidida a alocação de professores nas disciplinas do curso?
h. Qual o papel do colegiado? Quem participa dele?
i. Qual importância das reuniões de colegiado?
j. Como são colocadas em prática as decisões de colegiado?
k. Existem outras reuniões que não as de colegiado? Quais são elas? Para que
elas servem? O que é decidido nelas? Quem participa?
5. Quais as rotinas de planejamento e trabalho (e para decidir) relacionadas à
coordenação do curso?
197
6. Qual o produto do trabalho da coordenação do curso
7. Existe alguma lei, norma e/ou regulamento que influencia na organização do curso de
graduação em administração.
8. Que tipo de influência a parte “legal” exerce nas práticas e rotinas da coordenação do
curso de Administração.
9. Poderíamos ter acesso ao currículo do curso de administração? E às ementas das
disciplinas do curso.
10. Desde quando esse currículo vigora na Universidade.
11. Houve alguma reforma curricular? Quando e por quê.
12. Quais as práticas pedagógicas do curso de administração
ROTEIRO INICIAL DE ENTREVISTA PARA COLETAR INFORMAÇÕES
(Corpo Diretivo 2)
1. Desde quando o Professor trabalha como chefe de departamento. Pode contar para
nós um pouco sobre a sua história aqui.
2. Quais disciplinas a Professor leciona.
3. Como é conciliar as rotinas administrativas com o trabalho de docente.
4. Professor, a nossa pesquisa vai tratar das práticas estratégicas relacionadas à
definição de conteúdo – que nós entendemos como sendo o currículo, as definições
relacionadas à organização do curso e ao público-alvo e todas as demais questões que
envolvem a “organização” do ensino de graduação em administração. Diante disto nós
precisamos começar entendendo a estrutura do curso de administração dentro da
Universidade Federal do Paraná / FAE – Centro Universitário, em termos de:
a. Como se define a estrutura diretiva do curso (dentro da estrutura, inclusive
hierárquica como cada um se apresenta)
b. Qual a função de cada um
c. Quem são as pessoas responsáveis em cada um
d. Quais as funções de cada uma destas pessoas
e. Qual a relação existente entre as três estruturas (setor, departamento e
coordenação)
f. Como se dá na prática (considerando as pessoas responsáveis) esta relação
entre as estruturas
g. Como é decidida a alocação de professores nas disciplinas do curso
198
h. Qual o papel do colegiado? Quem participa dele
i. Qual importância das reuniões de colegiado
j. Como são colocadas em prática as decisões de colegiado
k. Existem outras reuniões que não as de colegiado. Quais são elas. Para que elas
servem. O que é decidido nelas. Quem participa.
l. E o Comitê formado pelas instâncias do departamento, coordenação e
mestrado/doutorado, por que existe. O que se discute. O que se decide.
5. Quais as rotinas de planejamento e trabalho (e para decidir) relacionadas ao
departamento.
6. Qual o produto do trabalho do departamento.
7. Existe alguma lei, norma e/ou regulamento que influencia na organização do curso de
graduação em administração.
8. Que tipo de influência essa parte “legal” exerce nas práticas e rotinas do
departamento.
9. Poderíamos ter acesso ao currículo do curso de administração? E às ementas das
disciplinas do curso.
10. Desde quando esse currículo vigora na Universidade.
11. Houve alguma reforma curricular. Quando e por quê. Quem participou.
12. Tem alguma reforma/mudança ocorrendo ou planejada para ocorrer. Quem
são/serão as pessoas envolvidas nesta mudança.
13. Quais as práticas pedagógicas do curso de administração.
14. Falando sobre estratégia: o que o Sr. entende por estratégia (conceitualmente).
15. Com relação ao curso de administração, existe uma estratégia formulada. Como o
Sr. a enunciaria. Ela é explícita. Quem sabe sobre esta estratégia.
16. Pensando nessa estratégia, que resultados são pretendidos (aqui puxar para o
conteúdo).
17. Como essa estratégia foi/está sendo formulada. Quem participa disto. Que
eventos/episódios são feitos com este fim. Com que freqüência.
18. E sobre o processo de implementação da estratégia, quem são os atores envolvidos.
19. Existe algum plano de ação/planejamento para viabilizar esta implementação.
199
20. Como se mensuram os resultados (se houver). Que impactos a mensuração dos
resultados causa – em termos de mobilização para mudança, melhorias, manutenções.
21. Como o Sr. descreveria o “serviço” que o curso de administração presta. Que
vinculação isto tem com a estratégia do curso.
22. Qual o público-alvo do curso. Há alguma definição. Existe alguma forma de
segmentar.
23. O curso tem algum tipo de prática para alcançar este público-alvo (palestras,
eventos, propaganda, organização das provas de vestibular).
24. Como é elaborar uma estratégia e um “serviço” para um público tão heterogêneo e
que muitas vezes varia muito em relação ao perfil traçado.
25. Que tipo de recursos (pessoas, verbas, conhecimento, reconhecimento...) estão
disponíveis para a implementação da estratégia.
26. Quando acontece o processo de formulação da estratégia – há uma reunião
específica, um episódio específico. Nesses momentos, quem são os estrategistas. Como
são negociadas as opiniões de cada estrategista. De onde vem as informações que são
base para a formulação desta estratégia. É consensual. Alguma opinião prevalece. Quem
coordena esse processo. É uma responsabilidade formal ou
delegada/negociada/conquistada.
27. Qual o papel dos professores na formulação e na implementação das estratégias.
28. Qual o papel dos alunos na formulação e na implementação das estratégias.
29. E os funcionários/servidores, que papel têm.
ROTEIRO INICIAL DE ENTREVISTA PARA COLETAR INFORMAÇÕES
(Alunos)
1. Em qual período do curso de Administração você está. Quantos anos você tem. Com
quantos anos você entrou no curso de Administração. Antes deste curso de graduação
você fez algum outro ou pensou em fazer. Por quê. Por que desistiu. Por que escolheu
Administração. Você acompanha normalmente as disciplinas do curso ou já teve alguma
reprovação.
2. Além da Universidade, que outras atividades você desenvolve (trabalho, estágio,
cursos, esportes…).
3. Além do Sociais Aplicadas, você desenvolve alguma atividade em algum outro setor
da Universidade. Por quê. Conte sobre esta experiência.
4. Como foi que você foi escolhido representante da turma.
5. Que tipo de atividades você desenvolve como representante da turma.
200
6. Existe algum evento/atividade formal que você desenvolve junto à
coordenação/departamento.
7. Em que momentos você procura a coordenação/departamento.
8. Você consegue perceber alguma estratégia por parte do curso de Administração. Qual
seria essa estratégia.
9. Conceitualmente, o que você entende por estratégia.
10. Você consegue descrever o perfil da turma da qual você é representante.
11. Que tipo de público você acha que o curso de Administração procura atingir.
12. Como você vê as atividades da coordenação e do departamento. Acha que alguma
coisa poderia ser diferente.
13. Você conhece o projeto pedagógico do curso de Administração. Observação:
procurar ver em que nível o aluno conhece – sabe que existe, já leu, discute sobre ele...
14. Você conhece as ementas das disciplinas que você cursa. Observação: procurar ver
em que nível o aluno conhece – sabe que existe, já leu, discute sobre ele...
15. Os professores costumam cumprir o que está descrito na ementa e no programa da
disciplina.
16. Se eles não cumprem, vocês como alunos fazem alguma coisa com relação a isso.
17. Como vocês são atendidos pela coordenação/departamento com relação às
reivindicações e problemas que levam até lá.
18. Que tipo de problemas, reclamações, reivindicações vocês levam até a coordenação
e departamento.
19. Existe alguma reunião periódica com todo o grupo de representantes de turma.
Quem coordena isto. Qual a periodicidade. Que tipo de assuntos são tratados.
20. Vocês, enquanto grupo de representantes, falam-se, trocam idéias, discutem alguma
coisa ou tem uma atuação bem isolada.
21. Com relação aos Professores, qual dos que você já teve contato até hoje marcou
positivamente ou negativamente. Por quê.
22. Das disciplinas que você cursou até hoje, qual delas foi mais interessante para você.
Por quê.
23. Se você não consegue ter uma boa relação com o Professor da disciplina, isto
influencia no seu desempenho nas aulas e na própria disciplina. Por quê.
201
24. E se você tem uma boa relação com o Professor de que forma isso influencia o seu
desempenho.
25. Vocês, enquanto alunos e representantes, têm alguma influência no processo
decisório do curso de Administração.
26. Teve, durante o tempo que você atua como representante, algum evento especial a
partir do qual você precisou tratar diretamente com a coordenação e/ou departamento
para resolver alguma coisa. Conte sobre como foi isso. (conflito com professor, falta de
professor, disciplina com algum problema, turma com algum problema…).
27. Existe algum instrumento de avaliação do curso de graduação em administração?
Quem desenvolve. Os alunos têm alguma participação neste desenvolvimento. O que se
faz com os resultados na avaliação.
28. Ao sair da Universidade, que tipo de profissional você acha que será. Acha que o
curso de Administração, pelo que você viveu até aqui, prepara-o para conseguir uma
colocação profissional adequada às suas expectativas no mercado.
29. Você conhece os cursos de pós-graduação (lato e strictu sensu) que o Departamento
de Administração oferece.
30. Sabe alguma coisa sobre cursos de mestrado e doutorado em Administração.
31. Já teve algum contato com esses cursos e com os alunos do programa.
32. Gostaria de fazer algum desses cursos depois que se formar. Por que.
33. Você já se envolveu em alguma atividade de pesquisa científica durante o seu curso
de graduação em Administração. Com que Professor. Por quê. Como foi a experiência.
34. Você conhece os projetos de iniciação científica que existem no curso. Sabe como
funciona este processo.
ROTEIRO INICIAL DE ENTREVISTA PARA COLETAR INFORMAÇÕES
(Professores)
Professor, a nossa pesquisa vai tratar das práticas estratégicas relacionadas à
definição de conteúdo – que nós entendemos como sendo o currículo, as definições
relacionadas à organização do curso e ao público-alvo e todas as demais questões que
envolvem a “organização” do ensino de graduação em administração. Diante disto nós
precisamos fazer algumas perguntas ao Sr., relacionadas à sua atividade docente, à sua
relação com departamento e coordenação, à sua relação com os alunos, às suas
atividades de pesquisa e extensão e as demais atividades que o Professor desenvolve na
Universidade.
1. Desde quando o Professor trabalha na Universidade. Pode contar para nós um pouco
sobre a sua história aqui. Já ocupou algum cargo administrativo na Universidade ou no
curso de Administração.
202
2. Qual a formação acadêmica do Professor.
3. Antes daqui, o Professor trabalhou em algum outro lugar. Onde.
4. Hoje, além das atividades acadêmicas, exerce alguma outra atividade profissional.
5. Quais disciplinas a Professor leciona.
6. Quais as atividades que o Professor desenvolve em termos de pesquisa e extensão.
7. Estas atividades são desenvolvidas de forma individual ou coletiva.
8. Como se formou esse grupo de trabalho.
9. O Sr. teve alguma participação na definição do projeto pedagógico atual do curso.
Poderia nos contar um pouco sobre ele, falando sobre sua abrangências suas
peculiaridades e características.
10. Se não teve participação, o Sr. conhece o projeto. Como o vê. Acha que alguma
coisa deveria ser modificada.
11. Como se dá a relação de pré-requisitos entre as disciplinas no currículo. O Sr. acha
importante e coerente a questão dos pré-requisitos no atual projeto pedagógico.
12. O Sr. tem alguma relação com outros Professores cujas disciplinas se inter-
relacionam (em termos de pré-requisitos e/ou conteúdo) com aquelas lecionadas pelo Sr.
13. Vocês desenvolvem algum tipo de trabalho em parceria, discutem os conteúdos das
disciplinas.
14. Como o Sr. descreve a sua rotina de trabalho.
15. O Sr. segue a ementa e o programa da disciplina propostos pelo departamento. Faz
algum tipo de adaptação. Por quê. Isto é comunicado ou discutido com o departamento.
16. Existe alguma reunião formal em que se reúnem professores, coordenadores e
chefes de departamento. Com que periodicidade. O que é decidido nestas reuniões. O
Sr. costuma participar destas reuniões.
17. Em termos pedagógicos, há algum evento em que se discutem as questões
pedagógicas relacionadas ao curso de Administração.
18. Falando sobre estratégia: o que o Sr. entende por estratégia (conceitualmente).
19. Com relação ao curso de administração, o Sr. percebe a existência de uma estratégia
formulada. Como o Sr. a enunciaria. Ela é explícita. Quem sabe sobre esta estratégia.
20. Pensando nesta estratégia, que resultados são pretendidos (aqui puxar para o
conteúdo).
203
21. Como essa estratégia foi/está sendo formulada. Quem participa disto. Que
eventos/episódios são feitos com este fim. Com que freqüência.
22. E sobre o processo de implementação da estratégia, quem são os atores envolvidos.
23. Existe algum plano de ação/planejamento para viabilizar esta implementação.
24. Como se mensuram os resultados (se houver). Que impactos a mensuração dos
resultados causa – em termos de mobilização para mudança, melhorias, manutenções.
25. Como o Sr. descreveria o “serviço” que o curso de administração presta. Que
vinculação isto tem com a estratégia do curso.
26. Qual o público-alvo do curso. Há alguma definição. Existe alguma forma de
segmentar.
27. O curso tem algum tipo de prática para alcançar este público-alvo (palestras,
eventos, propaganda, organização das provas de vestibular).
28. Como é elaborar uma estratégia e um “serviço” para um público tão heterogêneo e
que muitas vezes varia muito em relação ao perfil traçado.
29. Que tipo de recursos (pessoas, verbas, conhecimento, reconhecimento...) estão
disponíveis para a implementação da estratégia.
30. Quando acontece o processo de formulação da estratégia – há uma reunião
específica, um episódio específico. Nesses momentos, quem são os estrategistas. Como
são negociadas as opiniões de cada estrategista. De onde vem as informações que são
base para a formulação desta estratégia. É consensual. Alguma opinião prevalece. Quem
coordena este processo. É uma responsabilidade formal ou
delegada/negociada/conquistada.
31. Qual o papel dos professores na formulação e na implementação das estratégias.
32. Qual o papel dos alunos na formulação e na implementação das estratégias.
33. E os funcionários/servidores, que papel têm.
34. O Sr. pensa que existe algum ponto que poderia ser modificado em relação à
estratégia do curso de Administração.
35. Que tipo de atividades e práticas poderiam ser desenvolvidas nesse sentido.
36. Se o Professor não consegue ter uma boa relação com a turma em que está
lecionando, isto influencia o desenvolver das aulas e da própria disciplina. Por quê.
37. E se o Sr. tem uma boa relação com a turma, de que forma isso influencia o seu
desempenho.
204
APÊNDICE B. STRATEGIZING NA UFPR
204
205
APÊNDICE C. STRATEGIZING NA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
205
206
APÊNDICE D. DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DAS NARRATIVAS (UFPR)
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 01
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 53 minutos
Data da Entrevista 27 de agosto de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. Início da trajetória profissional – a escolha do curso
de formação profissional (graduação).
2. Desenvolvimento do curso (não é formado em
administração) concomitante com o início de uma
carreira em organizações empresariais, na área de
desenvolvimento de produtos.
3. Conclusão do curso de graduação acompanhado de
mudança de cidade (1983), mas continuidade na
carreira profissional.
4. Início de um curso de pós-graduação na área de
Marketing na FAE Business School. Pretensão de
abertura de oportunidades na carreira empresarial com
a pós-graduação que não se efetivou.
5. Desligamento das organizações empresariais e início
da carreira docente no sistema privado de educação
superior (1990).
6. Desenvolvimento dos cursos de Mestrado e
Doutorado na UFSC.
7. Trabalho com atividades administrativas no contexto
da organização de ensino superior privada até chegar à
pró-reitoria.
8. Desenvolvimento de curso de pós-doutorado nos
EUA.
9. Mudança de cidade (2003) e trabalho com atividades
de estruturação e reconhecimento pelo MEC de um
curso de graduação em administração.
207
10. Mudança de cidade novamente e trabalho com
atividades docentes em diferentes organizações
privadas de ensino em administração.
11. Aprovação no concurso para professor em regime
de dedicação exclusiva na UFPR.
12. Envolvimento com as atividades de reestruturação
do projeto pedagógico implantado em 2005 e ainda em
vigor no curso de administração da UFPR.
13. Envolvimento com atividades administrativas de
coordenação do curso de graduação em administração
da UFPR.
* Vários dos eventos enumerados aconteceram de
forma bastante relacionadas aos eventos ocorridos na
vida pessoal do entrevistado – história de vida
confunde-se com a história contada a respeito da
organização.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O próprio entrevistado e seus pares de atividades
administrativas na UFPR. O entrevistado assume papel
de protagonista enquanto os outros figuram como
personagens, no entanto não se percebe antagonista
na narrativa apontada.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
A voz do entrevistado apresenta um ponto de vista
neutro com relação aos seus pares e à organização
sem desenvolver avaliações dos mesmos e das
questões abordadas. Quando questionado sobre
pontos de conflitos causados pela diversidade e
fragmentação entre o corpo de professores, o
entrevistado mostrou-se neutro e compreensivo. Não
denotou também sua visão de foco de poder.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Apresenta uma visão e avaliação das questões
fortemente pautada nos seus valores culturais, na sua
fé e na sua atuação religiosa. Moral da história: estou
aqui para atender aos desígnios de Deus e por isso
assumo todas as atividades que me são dadas e
suporto a carga de trabalho que desenvolvo com
alegria e contentamento.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Ator atua em diferentes papéis na organização: (1)
docente graduação; (2) atividades administrativas; (3)
membro do “conselho administrativo” (estrutura
informal); (4) membro da comissão orientadora de
estágio; (5) colaboradora das atividades dos programas
de intercâmbio; (6) docente de dois cursos de
mestrado, sendo que sua atuação maior não é no curso
de administração.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Com relação às práticas estratégicas que influenciam
na formação de conteúdo identificadas na narrativa do
entrevistado podem ser enumeradas:
1. Reunião de “conselho administrativo” (estrutura
informal).
2. Reunião de departamento.
3. Reunião de coordenação.
4. COE – comissão organizadora de estágio.
5. Intercâmbios entre organizações de ensino.
6. Instrumentos de controle implantados pela nova
208
gestão do departamento em conjunto com a atuação do
“conselho administrativo”.
7. Reuniões de mestrado e doutorado.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Participação de reuniões, relacionadas às práticas
específicas descritas acima
2. Orientação individual dos alunos de graduação,
como uma prioridade individual do praticante
3. Recepção e orientação dos alunos de intercâmbio,
como uma atividade individual, desvinculada de uma
estrutura formal do curso
4. Condução de pesquisas de iniciação científica
5. Aulas relacionadas às disciplinas pelas quais o
praticante é responsável na graduação
6. Atividades administrativas inerentes à função que
acumula junto com a docência
209
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 02
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 01h22min
Data da Entrevista 27 de agosto de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. Início da conversa, posicionando-se com relação ao
projeto pedagógico do curso de administração.
2. Expõe como entende a estrutura da UFPR,
explicando o papel das pró-reitorias, diretorias, cursos.
3. Expõe o seu entendimento acercado papel das
estruturas de coordenação e departamento dentro dos
cursos, deixando evidente a desvinculação hierárquica
entre coordenação e departamento.
4. Continua a exposição sobre os papéis de
coordenação e departamento e introduz a questão da
eleição de coordenação e departamento em julho de
2008, evidenciando um papel de mudança com a nova
gestão.
5. Para exemplificar esta situação de mudança o
entrevistado fala da criação de um comitê/conselho
formado pelas instâncias de coordenação,
departamento, mestrado e doutorado, com intenção de
dar uma direção mais sólida à gestão e à conduzir de
forma mais rápida as coisas na instância departamental
e colegiada.
6. Conta sobre como funcionam e quais as
responsabilidades de reunião departamental, do
colegiado e do setor.
7. Evidencia o fato de que tudo é formalizado no
trabalho de direção do curso de graduação em
administração, e que o exagero limita algumas
atuações do corpo diretivo do curso.
8. Questionado sobre o trabalho de planejamento do
curso, o entrevistado afirma que a base de todo o
trabalho já está no projeto pedagógico e começa a
210
discorrer sobre o atual projeto pedagógico, contando
das motivações de sua realização, pontos fortes e
fracos e manifesta uma intenção de já se pensar em um
novo projeto pedagógico, ressaltando que a
responsabilidade por iniciar este processo é da
coordenação de curso que capitaneia o processo de
elaboração de um novo projeto pedagógico.
9. Continua contando sobre o projeto pedagógico atual
e destaca como principal motivação para a reforma
implantada em 2007 a extinção das ênfases nos cursos
de administração, o que atingiu diretamente o curso de
graduação em Administração de Negócios
Internacionais da UFPR.
10. Quando questionado sobre as tarefas específicas
da coordenação, com responsabilidades pedagógicas,
o entrevistado admite esta responsabilidade, mas ao
descrever estas atividades pedagógicas apresenta-as
como meramente operacionais: formatura,
documentação, matrícula.
11. Falando desta parte operacional o entrevistado
descreve a sua equipe de trabalho e evidencia uma
deficiência de pessoas para trabalhar, o que dificulta o
trabalho.
12. Continua falando da dificuldade de pessoal e expõe
que em 2009 a UFPR contará com mais uma turma de
graduação em Administração noturno que agravará o
problema.
13. Conta-nos que esta nova turma será aberta como
uma atividade relacionada ao REUNI, ao qual o
entrevistado dedica-se um tempo a falar sobre como
está afetando o curso e como afetará em termos de
estrutura e resultados.
14. Quanto aos resultados o entrevistado já descreve
atividades pontuais que vem fazendo para poder
alcançar uma média de 90% de aprovação dos alunos
aprovados no vestibular.
15. Retomando a questão pedagógica, questiona-se
sobre o impacto do REUNI na questão pedagógica o
entrevistado afirma que haverá este impacto, mas
continua descrevendo-o com relação às rotinas
operacionais da coordenação.
16. Questionado sobre a diversidade de idéias
existentes na UFPR o entrevistado concorda que existe
e passa a discorrer sobre como isto afeta o trabalho, o
curso e quais as medidas de controle a nova gestão
está adotando para garantir a qualidade do curso:
reunião com representantes de turma, utilização dos
mesmos como “fiscalizadores”, reforçar o papel do
projeto pedagógico junto aos professores para tentar
garantir que o conteúdo seja dado aos alunos e que
haja um padrão de avaliação entre os professores.
17. Discorre longamente sobre a situação do estágio
supervisionado, na qual o entrevistado teve atuação
direta para regulamentar e cobrar uma atuação mais
próxima dos professores.
18. Nesta situação discute o comprometimento dos
professores e critica o comprometimento de vários
211
professores somente com a pós-graduação deixando a
graduação de lado, afirmando que a graduação é o real
sentido da UFPR e que muitos professores DE deixam
a desejar neste sentido. Comenta ainda que a nova
gestão está atuando no sentido de mudar esta situação.
18. Comenta que outra coisa que a coordenação está
fazendo é atuar fortemente com os intercâmbios,
tentando ampliar os convênios. Afirma que o
intercâmbio é bom porque os administradores precisam
de uma visão global. Em termos estratégicos o
entrevistado afirma que esta é uma estratégia que está
sendo adotada fortemente pelo curso da UFPR.
19. Afirma ainda que outra meta da gestão atual é
manter as 5 estrelas da pesquisa Abril sobre os cursos
de graduação e também a nota 5 do MEC. Expõe ainda
que a UFPR está entre os 1.000 melhores cursos do
mundo em uma pesquisa internacional a que ele tem
acesso – aponta isto como um fato extremamente
positivo.
20. Expõe a preocupação em estreitar cada vez mais
os laços entre academia e mercado, como forma de
aumentar a qualidade do curso.
21. Apresenta as fragilidades da formação dos
administradores em geral, principalmente na área
financeira, questão que a UFPR está tentando
contornar por meio de mais disciplinas na área e do
aumento do “filtro” de alunos já no vestibular, colocando
como disciplinas de prova português e matemática,
decisão esta capitaneada pela coordenação.
22. Descreve as formas de ingresso no curso de
graduação em administração e apresenta problemas
que as formas de ingresso diferente do vestibular
causam nas turmas, entre os alunos. Fala do papel
social da universidade federal e de que estas formas
alternativas de ingresso são positivas.
23. Voltando à questão do comitê criado entre as
instâncias de coordenação, departamento, mestrado e
doutorado o entrevistado afirma que ele foi criado com
vistas a integrar as instâncias de ensino, pesquisa e
extensão. Então expõe uma visão bem particular a
respeito das pesquisas desenvolvidas e da forma como
as coisas são conduzidas na pós-graduação. Reforça a
necessidade também nesta instância da necessidade
de se aproximar academia e mercado.
24. Expõe que, mesmo com os problemas enfrentados,
os alunos da UFPR são procurados pelo mercado
porque eles já têm uma boa base, e isso
organizacionalmente também diferencia a UFPR das
demais organizações privadas.
25. Para explicar esta sua visão de aproximação entre
mercado e academia o entrevistado explica que ele é
proveniente do mercado e durante 20 anos trabalho
como docente nas horas vagas. Após participar de um
trabalho de coaching foi direcionado a sair da carreira
empresarial e assumir com maior dedicação a carreira
acadêmica. Descreve então sua trajetória profissional
no mercado e na academia e também a sua formação.
212
26. Apresenta uma predileção pela FAECentro
Universitário
, onde trabalhou por muito tempo,
formou-se na graduação e para onde pretende voltar
um dia, porque considera lá tudo muito organizado.
27. Apresenta uma análise bem pessoal de como está
o mercado hoje e como isto influencia nos cursos de
graduação, apresentando narrativas sobre eventos que
o impressionaram.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
Foco da narrativa é no curso em si, nas estruturas, nos
papéis (fundamentalmente da coordenação e do
departamento). Em alguns momentos da narrativa
coloca-se como protagonista, ao lado de outros
protagonistas que são os membros do corpo diretivo
(das instâncias de coordenação, departamento,
mestrado e doutorado) enquanto os demais professores
são colocados em alguns momentos como
antagonistas.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
A voz que nos fala situa-se como um gestor, com uma
visão de mercado e que vê que a organização de
ensino deveria funcionar de forma estreita com as
organizações empresariais, mas sente por isto não
acontecer (inclusive ressalta a vontade de voltar a
trabalhar em outra organização onde percebe esta
relação). Descreve ter um papel de poder e decisão no
curso, em função da sua posição, destacando em
alguns momentos com ênfase o “EU”, o papel que tem
diante de determinadas questões.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
A fala do entrevistado evidencia sua vinculação com o
mercado, sua vida profissional dedicada àquele espaço
e revela pressupostos gerencialistas, principalmente
com relação ao questionamento da condução das
questões de pesquisa no mestrado/doutorado que
perpassam sua fala durante toda a narrativa. O certo é
seguir uma lógica de mercado na gestão do curso e na
condução das disciplinas. O errado é ater-se à
academia sem ter experiência para passar aos alunos.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. A dedicação do entrevistado à academia veio por
meio de um aconselhamento profissional de
desvinculação da empresa e aumento da carga na
academia, o que de início o chocou. Depois de certo
tempo aceitou a idéia.
2. Apresenta o desejo de estar em outro lugar, mas ao
mesmo tempo não manifesta descontentamento com o
lugar que ocupa.
3. Vinculação a outros órgãos relacionados aos
profissionais de administração, inclusive em cargos
diretivos.
4. Aponta desejo de continuar estudando, por meio de
um curso de doutorado, mas diz que tem algumas
divergências de pensamento com a forma como se
conduz os cursos de doutorado.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
Com relação às práticas estratégicas que influenciam
na formação de conteúdo identificadas na narrativa do
entrevistado podem ser enumeradas:
1. Reunião (semanal) de “conselho administrativo”
213
pesquisa (estrutura informal).
2. Reunião de departamento (formal), mensal.
3. Reuniões com representantes de turma.
4. Estágio Supervisionado regulado e sob o controle da
coordenação (existem reuniões periódicas entre alunos
e professores).
5. Realização de intercâmbios e expansão dos
convênios com as universidades no exterior.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Matrícula
2. Formatura
3. Documentação dos alunos
4. Diplomas
5. Ajustes de matrículas
6. Atendimento aos alunos
7. Inclusão de disciplinas de Matemática no currículo
8. Mudança das disciplinas específicas do vestibular
para “aumentar o filtro” de entrada dos alunos na
UFPR.
214
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 03
Categoria Aluno (representante de turma)
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 01h02min
Data da Entrevista 10 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. Iniciou a conversa manifestando sua satisfação em
poder contribuir com a pesquisa evidenciando que
entende que o curso precisa de mudanças e que os
alunos estão descontentes.
2. Neste sentido colocou que na sua visão a nova
coordenação mostra vontade de mudar, mas ao mesmo
tempo coloca que “vai tentar, se não conseguir desisto”.
3. Conta que ele, enquanto aluno e representante tem
um contato maior com o professor coordenador do
curso, com quem troca idéias e apresenta as
insatisfações dele e da turma. Aponta como chefe de
departamento o professor que é na verdade vice-chefe
de departamento, mas afirma que não tem contato com
ele.
4. Já de início manifesta alguns pontos que considera
importantes de serem mudados: o site, a forma de
comunicação com os alunos, a forma de divulgação do
curso, tudo isto deveria ser melhor trabalhado.
5. Conta que não existe reunião formal com os
representantes de turma e que todo o contato que ele,
como representante e aluno, tem as estruturas diretivas
do curso é informal.
6. Questionado sobre o porquê de ter escolhido o curso
de administração da UFPR e como chegou até aqui, o
entrevistado conta que ele escolheu porque a atividade
profissional da família o influenciou e porque ele acha
que tem perfil para exercer a profissão de
administrador. Na ocasião do vestibular tentou outras
universidades, mas prioridade sempre foi a UFPR.
Passou também em Engenharia de Produção na
215
PUCPR mas julgou que não seria bom cursar os dois
cursos ao mesmo tempo.
7. Hoje estagia com os pais e julga que o que aprende
no curso auxilia na prática profissional, considerando
teoria e prática como complementares.
8. Conta, no contexto da questão da escolha da
profissão e da universidade e da realidade que vivencia
hoje, o exemplo de um colega descontente com o curso
que pensa em mudar para a FAE e com quem o
entrevistado conversa muito e incentiva a não mudar,
pois afirma conhecer a realidade de lá e acredita não
ser melhor do que a realidade do curso de
administração da UFPR.
9. Continua o entrevistado falando sobre o se
entendimento a respeito do descontentamento dos
colegas em relação ao curso: tudo está muito
relacionado à disciplina que interessa ou não e ao
relacionamento construído com o professor da
disciplina.
10. Conta casos de disciplinas que foram ruins porque
o professor não inspirava confiança nos alunos,
demonstrava insegurança.
11. Descreve casos de disciplinas ruins e de um
relacionamento ruim com o professor,
fundamentalmente com professores de outros
departamentos.
12. Opina ainda que a estrutura da universidade e a
ausência dos professores influencia muito no
desempenho das disciplinas. Exemplifica dizendo que
muitos professores não comparecem e os alunos nem
ficam sabendo que ele tinha programado para faltar ou
que havia avisado a coordenação/departamento.
13. Conta que não há comunicação da coordenação
para os alunos, chegando a dizer que “nunca chegou
nenhuma comunicação relevante por e-mail” para ele.
14. Conta que não conhece o projeto pedagógico do
curso e quanto a ementas e programas das disciplinas
estima que 50% dos professores divulgam e outros não
fazem questão de divulgar.
15. Não identifica nenhum tipo de avaliação a respeito
das disciplinas.
15. Conta-nos ainda sobre a turma, que ele considera
heterogênea, mas poucos passam dos 22 anos,
considerando que a maioria teve uma boa base de
ensino fundamental e médio.
16. Aponta que pensa ser interessante trazer mais
feiras de estágio, eventos como seminários com
profissionais no mercado, coisas que até acontecem
por iniciativa da JR. e de alguns professores, mas não
por iniciativa e organização do departamento.
17. Entende que o objetivo do curso é formar alunos
para atender aos interesses da sociedade mas não
percebe nenhuma estratégia que leve ao alcance deste
objetivo.
18. Chega a sugerir formas de se chegar lá, como
investir na feira das profissões, em que o curso não se
216
apresenta como uma opção atrativa.
19. Percebe todas estas questões, mas enquanto
alunos também não se organizam para reclamar se a
ementa não foi cumprida, por exemplo.
20. Conta também que não há uma organização (nem
formal, nem informal) entre os representantes para se
conversarem e nem isso é incentivado pelo
departamento.
21. Identifica alguns professores que marcaram
positivamente, mas diz que é mais fácil dizer quem são
os ruins.
22. Acha que a formação do administrador é muito
generalista e que ao fim do curso buscará um curso de
especialização.
23. Apresenta uma série de observações que na sua
opinião seriam interessantes para mudar o curso e
melhorá-lo.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O curso tem papel central na narrativa do entrevistado.
Introduz alguns personagens, entre colegas com
histórias relevantes para sua argumentação,
professores bons e ruins, mas não evidencia uma rede
de relações entre o entrevistado e demais membros.
Apresenta os personagens à medida que vai
descrevendo situações que necessitam da presença
deles, mas não é possível identificar protagonistas na
narrativa como um todo.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do lugar de aluno, muito observador e que ao
longo do tempo foi desenvolvendo seus apontamentos
e percepções sobre o curso. Como representante de
sua classe de alunos fala com propriedade de algumas
questões que diz não ser comum a todos os seus
colegas.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Evidencia uma base de valores familiares fortes,
estando muito vinculado às atividades de sua família.
Preza a dedicação e o comprometimento com o curso,
evidenciando situações que abomina de
descomprometimento e de expressão da crítica pela
crítica.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Algumas questões relevantes a serem consideradas
sobre a narrativa do entrevistado:
1. Pensa que deveria ter uma figura forte à frente do
corpo diretivo, capaz de assumir uma posição diante
das situações e inspirar confiança.
2. Percebe na sala de aula a existência do que chama
de “curva de atenção”, porque segundo ele de todo o
período de aula muito pouco tempo é aproveitado
efetivamente pelo aluno.
3. Considera que os problemas existentes no curso não
são por falta de regulamentação, mas pelo fato de não
se fazer cumprir as normas e regulações.
5. Percebe que o contexto do curso é permeado por
grupos informais de professores que têm poder de
auxiliar ou boicotar tudo o que se propõe.
6. Ao apresentar o porquê da vontade de ser
representante evidencia que assim teria um contato
217
maior com os professores, porque tinha tempo
disponível e porque gostaria de ver as coisas bem
feitas.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
218
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 04
Categoria Aluno (representante de turma)
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 01h37min
Data da Entrevista 11 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. Começa contando a respeito da sua opção pelo
curso de administração, afirmando que escolheu por
causa da sua experiência com o grêmio estudantil do
colégio e também porque queria ser executivo.
2. Veio de Belo Horizonte só para fazer o curso de
administração e passou também na UFMG.
3. Foi escolhido como representante de turma entre
dois candidatos.
4. Trabalho na Jr. Consultoria da UFPR por dois anos e
hoje ainda tem vínculo com a FEJEPAR.
5. Está fazendo estágio em uma ONG, e este já é o
terceiro estágio do aluno: fez estágio em uma empresa
de consultoria e em um banco mas ficou pouco tempo
porque julgava que não se aprendia nada neles. As
atividades desenvolvidas não propiciavam o
aprendizado que o entrevistado buscava.
6. No atual estágio vê sentido no que está fazendo e
está decidido que após formado vai trabalhar em algum
lugar que lhe propicie isto.
7. Conta que acredita que o papel do estágio é
importante na formação do administrador, mas que hoje
seu papel está deturpado – qualquer coisa pode ser
classificada como estágio em administração. Continua
ainda falando do estágio e questiona muito sua
validade no primeiro ano do curso, tendo em mente que
para algumas pessoas ele é garantia da renda para se
manter.
8. Considera, em sua narrativa, que a experiência
prática tem um papel de 50% de relevância na
formação dos administradores.
219
9. Esta questão do estágio é também negligenciada
pela universidade, que formaliza os estágios mas não
há acompanhamento algum. Mesmo o estágio
supervisionado, que tem uma coisa mais estruturada
nem sempre funciona, depende de professor para
professor.
10. Conta sobre a empresa Jr. e sua experiência lá,
dizendo que ela não é uma estrutura formal na
universidade e que por isso é muito difícil de se
conseguir as coisas. A Jr. existe e continua existindo
pela iniciativa dos alunos e pelo forte apoio de alguns
professores individuais.
11. Descreve situações em que a turma teve problemas
com professores e então recorreram ao departamento.
Obtiveram apoio da coordenação e do departamento,
porém não houve uma intervenção efetiva para ajudar
no processo.
12. Conta que sempre que o professor é de outro
departamento ocorrem problemas com a disciplina e o
entrevistado entende que não há muito como o
departamento de administração intervir nisto.
13. Como representante de sua classe o entrevistado
tem um visão muito clara das funções de departamento
e coordenação. O entrevistado procura departamento
quando tem problemas com professores. Com relação
à coordenação conta que participou de duas reuniões
que não tiveram continuidade. Porém, apesar da
oportunidade de expor necessidades para melhoria o
entrevistado afirma que a própria turma não contribuía.
14. Então expressa sua opinião sobre os alunos, que
segundo o entrevistado, não se envolvem e só estão
interessados em pegar o diploma. O desinteresse das
pessoas vai se intensificando com o passar do curso.
15. Conta ainda que ao seu ver os alunos escolhem
administração porque é fácil e não porque desejam
realmente trabalhar com aquilo.
16. Com relação à estratégia acredita que o curso não
tenha, mas pontua que o REUNI exige uma estratégia
de adotá-lo ou não; que observa alguns professores
comentando que o curso precisa de uma estratégia,
mas não sente a essa estratégia no curso; no ano que
entrou observou a discussão da nova grade mas não
sabe como o processo ocorreu.
17. Comenta que as informações de ementa e grade
estão disponíveis no site, mas nem sempre as pessoas
acompanham. Mesmo não acompanhando
sistematicamente o cumprimento ou não das ementas
percebe que há muita repetição de conteúdo entre as
disciplinas. Observa algumas práticas individuais entre
os professores de se conversarem sobre esta questão,
no entanto não há um padrão, cada professor conduz a
sua disciplina.
18. Quanto a toda esta situação o entrevistado comenta
que o professor pode não seguir, mas os alunos
também não cobram, discorre sobre a passividade da
turma.
19. Não há também o hábito de os representantes se
220
conversarem, eles muitas vezes nem se conhecem. O
centro acadêmico também não é conhecido pelos
alunos e a maioria não tem acesso a ele.
20. Conta de experiências positivas e negativas que
tive com professores durante as matérias. Marcam
aqueles professores que deram aula e que o aluno sai
sabendo a matéria.
21. Conta sobre o perfil da turma, falando que não há
um empenho grande, que o pessoal não lê, muitos
trabalhos e não tem o curso como foco. Outros não
trabalham mas também não se dedicam ao curso.
22. Considera que o relacionamento com o professor
influencia, mas o mais importante é a aprendizagem na
disciplina.
23. Aponta que para obter empenho na disciplina o
único método que funciona é o coercitivo: a cobrança e
a forma como ela é feita faz com que os alunos se
empenhem. O bom relacionamento vai influenciar sim,
mas na questão de a turma colaborar, respeitar, fazer
silêncio.
24. Descreve que os alunos não tem participação no
processo estratégico da organização, mas a culpa vem
dos dois lados: poucos espaços são abertos e os
alunos também não lutam por eles.
25. Julga que os alunos não saem preparados do
curso, aqueles que se dão bem e conseguem as coisas
é por mérito individual, porque correram atrás das
coisas.
26. Conta sobre a avaliação institucional, mas diz que
esta ninguém quer responder e também nunca se vê os
resultados.
27. Sobre os processos de intercâmbio, avalia que
existem poucas coisas e correspondem a iniciativas
individuais de professores e não a uma questão do
curso.
28. Descreve algumas sugestões que ele considera que
seriam importantes para melhorar o curso.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa está no curso. O sujeito pouco se
coloca como protagonista, sempre que o faz coloca-se
em nome da turma que representa. Muitos
personagens participam de sua narrativa,
principalmente professores e corpo diretivo a quem ele
atribui papéis relevantes no contexto do que está
contando.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de aluno, representante de turma,
expressando seu ponto de vista deste lugar, mas
revelando vontade de expressar mais a sua voz e ser
ouvido.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Revela-se uma pessoa ponderada, observadora com
um senso de avaliação muito relevante. Não julga
questão do certo e errado, mas apresenta seu ponto de
vista a respeito do que acredita que deveria ser o curso.
Nas suas escolhas estão presentes pressupostos éticos
e valores que lhe fazem optar por uma carreira em que
ele veja sentido e que possa contribuir com o
221
desenvolvimento da sociedade.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Apresenta um descontentamento evidente com o
curso e com a realidade que vive, mas ao mesmo
tempo não se arrepende de ter vindo fazer o curso na
UFPR porque afirma ter crescido muito e ter aprendido
muito com o conjunto de experiências.
2. Passou por três estágios que o deixaram insatisfeito,
ficando somente naquele no qual ele sentiu aprender e
contribuir com o seu trabalho.
3. Apresenta uma visão ponderada: ao mesmo tempo
que os alunos não têm espaço e que as coisas estão
ruins, estes mesmos alunos não mobilizam-se para
uma mudança.
4. Descreve episódios de disciplinas que beiram o
absurdo, evidenciando um certo despreparo de alguns
profissionais.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
222
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 05
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 1 hora
Data da Entrevista 16 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Inicia a conversa traçando a sua trajetória
profissional até chegar na UFPR.
2. Conta como foi desenvolvendo o caminho dentro da
UFPR, em termos de formação, atividades assumidas e
desenvolvimento da carreira.
3. Conta sobre sua experiência em cargos diretivos do
curso de graduação, fazendo também uma avaliação
crítica de pontos relevantes para o Entrevistado.
4. Fala sobre a heterogeneidade do corpo docente,
evidenciando algumas características do curso de
graduação enquanto organização.
5. Fala sobre o REUNI como um influenciador
estratégico para o curso de graduação em
administração.
6. Conta sobre suas práticas em sala de aula e pontos
fundamentais para a condução do processo de ensino-
aprendizagem nas suas disciplinas.
7. Descreve o perfil das turmas de aluno com as quais
tem trabalho, evidenciado dificuldades e posturas
enquanto docente.
8. Fala do trabalho de docente e de como as estruturas
do curso e da instituição influenciam nisto.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa fica no curso de graduação em
administração, passando em alguns momentos para
lócus específicos como a coordenação, o departamento
e a sala de aula. O entrevistado coloca-se em certos
momentos como protagonistas, noutros como
personagem e vai chamando outros sujeitos para a
cena à medida que isto se faz necessário para
continuar a narrativa.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O sujeito fala do seu lugar de docente e outras vezes
retoma o seu lugar diretivo para colocar as situações,
mas sempre desvinculando o “cargo” ocupado de uma
223
posição de poder diante dos outros.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Os pressupostos que sustentam a narrativa baseiam-se
em uma visão de comprometimento com a organização,
da necessidade de regras que se façam cumprir, da
necessidade de se imprimir ações disciplinadoras dos
alunos para que exista um respeito entre alunos,
professores e instituição.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O Entrevistado não entende o cargo como uma fonte de
poder, pois na estrutura do curso de graduação em
administração este cargo não diferencia ninguém dos
outros pares e nem lhe confere poder efetivo de tomar
atitudes que desencadeiem mudanças.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
224
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 06
Categoria Aluno (representante de turma)
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 01h06min
Data da Entrevista 16 de setembro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. A primeira escolha do entrevistado ao fazer
vestibular foi publicidade e propaganda, porém não
passou.
2. No ano seguinte, depois de teste vocacionais que
mostraram aptidões para diferentes áreas, o
entrevistado decidiu por fazer administração.
3. Atualmente faz estágio em uma empresa de
consultoria e aulas de inglês.
4. Conta que diminuiu as atividades que vinha
desenvolvendo por conta de um problema de saúde
(depressão) que lhe levou a abrir mão de determinadas
atividades.
5. Dentre as atividades que participou desde sua
entrada no curso de administração na UFPR estão:
centro acadêmico (sem se envolver com as atividades
de militância em si), AIESEC e Grupo de Estudos
Organizacionais (que é um grupo de estudos informal
que surgiu pela iniciativa de algumas pessoas do corpo
discente), iniciação científica com um professor,
monitoria com o mesmo professor.
6. Retrata como se sentiu e descreve cada uma das
experiências.
7. Conta que envolveu-se com todas estas atividades
porque desde o início do curso sua intenção era fazer
mestrado e resolveu construir seu currículo para ao
final do curso alcançar este objetivo. Conta ainda que
hoje ela “pensa duas vezes” antes de fazer o mestrado.
8. Conta que ao entrar no curso os alunos não tem uma
orientação sobre o que há disponível aqui ou sobre
como o curso funciona.
225
9. Diz que durante o período em que está na graduação
da UFPR trabalho com uma série de professores
porque era líder de classe e assim foi convidada por
estes professores para trabalhar, mas nada disto era
divulgado para todos os alunos. Afirma que os alunos
constroem seu caminho aqui na descoberta.
10. O entrevistado foi eleito como líder de sua classe
nos primeiro dias de aula. Voluntariou-se e foi assim
escolhida. Como líder de classe ela desenvolver uma
série de atividades como mandar e-mail, comunicar os
alunos, dar falta para professor, organizar lista de
xeróx.
11. Em meio à narrativa de como é sua rotina no curso,
o entrevistado conta um pouco de sua trajetória de vida,
suas experiências de morar fora do Brasil com a família,
depois voltar e construir a vida aqui.
12. Voltando a falar do curso, reafirma as atividades
que desenvolve como líder de classe e afirma que a
relação com a coordenação do curso é muito pequena
e que “sempre foi uma balela essa coisa de reunião
com representantes”.
13. Faz críticas ao curso, afirmando que se sentia vazia
com a administração, faltavam disciplinas de base, isto
por influência dos assuntos que eram discutidos no
grupo de estudos.
14. Com relação ao curso, o entrevistado compreende
o papel da coordenação e do departamento quando
tem algum problema costuma recorrer diretamente ao
departamento porque não vê resultados no trabalho da
coordenação.
15. Ao mesmo tempo afirma que nos últimos semestres
perdeu um pouco a motivação e tem freqüentado pouco
o departamento. Diz que entendeu que reclamar das
coisas não adianta.
16. Descreve episódios de problemas com professores
e disciplinas nas quais a turma se mobilizou para pedir
providências ao curso.
17. Cita disciplinas de matemática como as mais
complicadas e que tiveram baixo aproveitamento do
conteúdo.
18. Nomeia alguns professores que considera
excelente, e outros péssimos. Os excelentes
geralmente tem vinculação à relação de proximidade e
amizade que desenvolveu com a turma. Todos os
extremos apontados foram de outro departamento. Do
departamento não consegue apontar nenhum professor
que tenha marcado.
19. Comenta que não conhece o projeto pedagógico,
somente as ementas e programas das disciplinas.
Porém também conta que não se percebem que o
professor não cumpre ementa e programa os alunos
não se mobilizam para reivindicar isto. Conta apensa
uma situação que a turma se mobilizou apontando a
ementa como motivo, mas isto estava atrelado também
a uma avaliação que a turma não se sentia preparada
para fazer.
226
20. Coloca que existem muitas repetições entre as
disciplinas, existindo conteúdos que são vistos várias
vezes.
21. Manifesta insatisfação em vir à aula por não se
sentir parte do aprendizado.
22. Isto levou a turma a mudar muito desde o início do
curso, tornando-se mais passiva. Hoje agem com
indiferença, o único objetivo é se formar logo.
23. Ao ser perguntado se vê alguma estratégia no curso
o entrevistado diz que às vezes parece que não tem
pois desde que entrou tem a sensação de que as
coisas só pioraram. Neste sentido pensa que os alunos
poderiam ajudar e participar mais do processo
estratégico.
24. Comenta sobre a avaliação institucional mas não
percebe bem o retorno que tem a partir dos resultados
desta avaliação.
25. Pensa que o aluno que sai da UFPR é um bom
profissional, mas o curso tem uma participação
pequena nisto. Pensa também em fazer logo uma
especialização em uma área específica do curso, e
cogita a UFPR porque os professores bons mais
envolvidos com a pós-graduação. Hoje não pensa em
fazer mestrado porque assustou-se quando conheceu
mais de perto a realidade do curso.
26. Conta sobre sua experiência de estágio, cujas
frustrações confundem-se com momentos e
expectativas para sua vida.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração, mas o entrevistado coloca-se como
participante ativo na narrativa, contando fatos, ações e
experiências de seu envolvimento direto. Os alunos
figuram como os protagonistas da narrativa enquanto
que os professores e corpo diretivo na maioria das
vezes assumem o papel de antagonistas. Dá pouca voz
a outras pessoas em sua narrativa e detém-se à sua
voz para construir a narrativa.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do lugar de aluna, considerando-se como
protagonista do cenário do curso. Apresenta uma visão
reivindicatória e ao mesmo tempo decepcionada com
por sua voz não ser escutada. Como representante,
assume uma voz de liderança perante sua turma, capaz
de mobilizá-los para um objetivo.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Expressa um pouco dos seus valores ao narrar um
pouco da sua história de vida, suas experiências e
expectativas. O certo e o errado não ficam muito claros
na narrativa e portanto os pressupostos desta voz não
podem ser apontados.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Outros aspectos relevantes da narrativa do entrevistado
podem ser apontados:
1. Percebe-se na narrativa que em algumas vezes a
liderança de determinados movimentos deu-se por uma
motivação pessoal do entrevistado com relação à
situação de mobilização.
2. Percebe-se um movimento contraditório em alguns
227
momentos da narrativa: as reivindicações não são por
melhor qualidade no ensino, mas para diminuir o
trabalho dos alunos. Ao mesmo tempo percebe-se uma
série de apontamentos de falhas no curso.
3. É claro na narrativa do entrevistado o movimento de
desconstrução e decepção com relação ao curso: no
início o aluno entra com uma série de expectativas que
vão diminuindo e ao final sobra pouco em relação ao
curso.
4. Contexto pessoal da narrativa: o entrevistado narra
fatos de sua vida pessoal relacionados à depressão
que o fizeram abandonar uma série de atividades que
desenvolvia.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
228
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 07
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 1 hora 10 minutos
Data da Entrevista 17 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Fala brevemente da sua trajetória profissional e
acadêmica explicitando os locais por onde passou e
trabalho.
2. Desenvolver uma longa narrativa sobre a estrutura
da Universidade para situar o papel do setor, do
departamento e da coordenação e apontar algumas
incongruências já nesta estrutura.
3. Desenha (e constrói sua narrativa a partir deste
desenho) de um “modelo” de como as coisas deveriam
ser pensadas e como as pesquisadoras deveriam
pensar a sua estrutura analítica.
4. Tece algumas idéias sobre as funções de
departamento e coordenação em relação à estrutura da
universidade e às responsabilidades, apontando pontos
fracos necessários de serem modificados.
5. Conversa sobre as necessidades de mudanças na
gestão do departamento do curso de administração.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da conversa é a instituição universitária,
migrando ora para o curso de graduação em
administração, ora para o Departamento como um todo
(englobando as funções de ensino, pesquisa e
extensão) cujo protagonista é o entrevistado. Chama à
cena uma série de personagens, à medida que vai
desenvolvendo a seqüência narrativa. Os antagonistas
(a quem o entrevistado não nomeia) são aqueles que
não apresentam o padrão de comprometimento e
empenho desejado com o curso e com as propostas de
melhoria.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O ator fala de seu lugar como parte do corpo diretivo,
expressa seus anseios de mudança e melhorias a partir
do seu lugar de gestor (seja ele efetivo e atual, como
membro do corpo diretivo do curso, seja como
administrador atuante por muito tempo da sua carreira
profissional nas organizações empresariais).
229
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Os pressupostos que guiam toda a conversa são os
pressupostos gerenciais das organizações
empresariais.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Na posição do entrevistado percebe-se a ânsia por uma
mudança e por implementação de medidas de controle
do processo de gestão do departamento do curso. No
entanto, observa-se uma certa necessidade de apoio
por parte do entrevistado para suportar todas as ações
que o corpo diretivo deseja implementar.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
230
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 08
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 47 minutos
Data da Entrevista 23 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Descreve sua trajetória profissional e acadêmica,
apresentando como foi o envolvimento com a UFPR.
2. Descreve que tipo de ocupações atribuições assumiu
em sua trajetória dentro do curso de administração e da
UFPR.
3. Descreve a trajetória do curso de graduação,
apresentando seus períodos históricos, desde a
fundação até hoje.
4. Apresenta a sua visão de futuro e coloca condições
necessárias para se chegar lá.
5. Conta sobre os motivos relacionados à condição de
excelência do curso de graduação, sob seu ponto de
vista, apresentando episódios ilustrativos da trajetória
que levou à construção desta condição.
6. Conta sobre a sua visão do momento atual e sobre o
que precisa ser feito para garantir a qualidade do curso.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é no curso de graduação em
administração – passado, presente e futuro –, nesta
seqüência narrativa – trazendo à cena os personagens
principais de toda a “odisséia”. Em certos momentos o
sujeito coloca-se como protagonista e costuma citar
nominalmente os demais personagens, a não ser
quando traz à cena os antagonistas que são tratados
com anonimato e cuidado na narrativa do sujeito.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O sujeito fala da sua posição de docente, envolvido
com os processos de gestão do curso de graduação em
administração, participante dos processos decisórios e
das instâncias de poder da organização, tanto que é
capaz de narrar episódios vinculados às questões do
poder de alta cúpula diretiva.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Pressuposto que perpassa a narrativa é de que as
coisas acontecem se existir uma linha de poder
estabelecida, capaz de fazer as coisas acontecerem e
231
até certo ponto conduzir os demais a agir de
determinada forma. Há uma linha tênue entre o certo e
errado percebida na descrição dos fatos, mas não se
pode discorrer muito sobre o contexto moral que
perpassa a narrativa, a não ser nos termos descritos.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O sujeito entrevistado conhece os processos da
universidade e do curso com detalhes, o que faz com
que seja um visionário a respeito do futuro e da
estratégia que se deseja implantar. Fala do passado, no
entanto do presente não toca muito nos processos
estratégicos existentes.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
232
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 09
Categoria Aluno (representante de turma)
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 43min
Data da Entrevista 18 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da Narrativa Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
Diante da nota explicativa sobre a condução da
entrevista exposta acima, a seqüência de eventos
presentes na narrativa do sujeito entrevistado pode ser
assim descrita:
1. O entrevistado tem 24 anos e antes de cursar
administração havia optado pelo curso de Direito, mas
desistiu.
2. Ao desistir resolveu viajar pelo mundo aprendendo
idiomas e trabalhando para se manter.
3. Ao voltar ao Brasil decidiu cursar administração na
UFPR. Fez cursinho por um ano e assim passou no
vestibular. Decidiu pela UFPR por influência de um tio,
executivo de uma instituição financeira que disse que
um curso em universidade federal era melhor visto pelo
mercado.
4. Contou que pretende cursar economia (na FAE) junto
com administração para complementar sua formação.
Ao mesmo tempo não fará estágios porque quer se
dedicar à formação acadêmica e seu tio também disse
que programas de trainee geralmente selecionam
jovens que não têm experiência profissional.
5. Afirma que pretende seguir na área financeira e por
isso já está tentando traçar o seu caminho para esta
área.
6. Sobre o processo de representação o entrevistado
narra uma série de eventos conflituosos entre os alunos
que evidenciam um processo de complicado de
representação. Assim, não há um representante na
turma, mas alguns (como o entrevistado) assumem este
papel para fazer com que as coisas aconteçam.
7. Conta-nos que a turma, apesar de estar no início, já
desanimou e já se mostra bem desacreditada do curso.
8. Conta episódios de faltas de professores, de
professores despreparados, de professores que lêem
slides durante a aula.
233
9. Conta-nos ainda que na sua visão tudo o que é
passado é muito básico, os alunos não precisam de
dedicação e expressa inclusive que a única vez que
estudou na semana da entrevista havia sido para um
prova de uma disciplina que ele faz com o quarto
período.
10. Narra eventos de repetição de conteúdos e
matérias.
11. Conta que no primeiro semestre 90% das pessoas
vinham à aula, enquanto que agora a assiduidade é
muito baixa.
12. Afirma que na primeira semana teve apresentações
de professores e de algumas coisas que acontecem no
curso, no entanto as informações relevantes os alunos
precisam correr atrás.
13. O que o aluno do curso sabe está no site, mas
mesmo assim muitos não acompanham e nem avaliam
se o professor está cumprindo o necessário ou não.
14. Identifica professores que marcaram positiva e
negativamente. O negativo está geralmente atrelado a
uma aula sem aprofundamento, já as que marcam
positivamente são aquelas que os professores se
envolvem mais e aprofundam o conteúdo.
15. Identifica ausência de muitos professores,
considerando que os alunos raramente são avisados
das faltas. Em ocasião de faltas os alunos também não
sabem como proceder.
16. Conta que os alunos das diferentes turmas têm
pouca integração. Dentro da sala de aula se
desenvolve uma boa relação, mas também não há um
relação mais intensa entre os alunos.
17. Considera que a relação estabelecida entre
professor e alunos influencia no processo de
aprendizagem, inclusive diz que para as aulas do
primeiro semestre ele se preparava, lia jornais para
participar das aulas e hoje não vê mais sentido nisto.
18. Não vê uma estratégia guiando o curso e também
não compreende o curso como um todo, tendo
dificuldade para perceber como se dá a continuidade
das disciplinas. Isto na opinião do entrevistado reflete
falta de estratégia.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O entrevistado coloca-se como protagonista de sua
narrativa. Como antagonista principal coloca uma
colega com quem disputa a liderança da sala. Coloca
professores como personagens vivos na sua narrativa,
contando como conduzem as aulas e a percepção que
o entrevistado tem deles.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de aluno, e como líder da turma, que
faz o que tem que ser feito pela classe, em oposição à
outra colega com quem disputa o poder pela liderança.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Seu contexto é muito influenciado pela imagem de
executivo de sucesso de seu tio e avalia o que quer a
partir deste modelo, dos conselhos e influência do
mesmo. Possui também uma vivência de mundo
grande que o faz exigir muito do curso da UFPR.
234
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Aspectos relevantes de serem considerados:
1. O entrevistado situa-se nas primeiras fases do curso
de administração e já é mais velho que a maioria de
seus demais colegas. Possui uma visão clara do que
quer.
2. Sente-se incomodado por não estar encontrando a
profundidade e a dificuldade que esperava no curso.
3. Pretende viajar e continuar estudando no exterior,
depois de formado.
4. Percebe-se um claro descontentamento com relação
ao curso.
5. Na sala de aula do entrevistado formou-se um clima
difícil com relação à outra representante com quem ele
disputa poder. A disputa começou a partir do momento
que a outra representante estava sempre ausente e
não atendia às necessidades da turma. Então o
entrevistado propôs o desligamento dela das funções e
candidatou-se para representar a turma. Isto causou
uma disputa grande, até hoje não resolvida, apesar de
que a outra representante freqüenta muito pouco as
aulas, tanto que não a encontramos para poder
conversar com ela também.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não consegue perceber nenhuma prática, inclusive
afirma que nunca participou de algumas descritas pelo
corpo diretivo.
235
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 10
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 57minutos
Data da Entrevista 30 de setembro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre trajetória do curso, ao mesmo tempo
que descreve a sua trajetória profissional na UFPR.
2. Descreve reformas que ajudou a construir e modos
de agir típicos do curso, que forma mudando ao longo
da trajetória do curso.
3. Fala do momento atual, expondo seu ponto de vista
sobre ele.
4. Conta sobre o que gostaria de ver de diferente em
termos de visão de futuro.
* Podem ser percebidos estes momentos na narrativa
do sujeito, no entanto, é uma grande narrativa
encadeada que conta sobre a trajetória do curso
encadeada com a história de vida do entrevistado, sem
grandes separações de eventos.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
A narrativa se estrutura em torno do ator central,
protagonista da história, o entrevistado. Toda a
construção narrativa se dá em termos de eventos e
situações protagonizadas pelo ator, com a participação
forte de outros personagens que ele chama à cena para
conduzir a narração dos fatos. Na própria narrativa do
sujeito e na forma como ele a conduz é possível
perceber seu papel central em termos de relações com
os diversos outros praticantes entrevistados.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O ator fala de diversos lugares, pois desempenhou e
desempenha estes papéis em sua trajetória acadêmica
na universidade: como professor e membro do corpo
diretivo em diferentes instâncias da universidade, o que
faz dele um ator central e com poder para falar dos
lugares onde posiciona sua narrativa.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Da narrativa construída na entrevista não é possível
delinear com segurança valores culturais e
pressupostos que embasam a narrativa. A narrativa não
236
expressa juízos de valor e julgamentos certo/errado.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O entrevistado é apontado em algumas narrativas de
aluno como professor referência.
Prima pela atividade docente, mas ao mesmo tempo
está sempre envolvido com atividades administrativas.
A atividade docente constitui-se numa terapia para o
entrevistado.
Ponto comum a outras narrativas: aponta que é comum
os departamentos enviarem seus piores professores
para ministrarem aulas em outros cursos, fato que
prejudica o curso de administração.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, apenas intenções de
planejar estrategicamente.
237
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 11
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 32 minutos
Data da Entrevista 06 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. O entrevistado começa contando sua trajetória
profissional, incluindo por onde passou até chegar na
UFPR.
2. Conta sobre sua participação em processos
administrativos e de ensino na universidade.
3. Destaca sua participação e impressão sobre o
projeto pedagógico em vigor no curso de graduação em
administração.
4. Conta sobre sua impressão sobre os resultados do
curso de graduação em administração.
5. Fala a respeito das suas experiências em sala de
aula – boas e ruins.
6. Discute sobre as características do curso de
administração da UFPR que acabam por se perpetuar
em outras organizações de ensino, como conseqüência
de um entendimento sobre a própria profissão de
administrador.
7. Coloca seu entendimento sobre o andamento da
condução atual das atividades do corpo diretivo do
curso de graduação em administração da UFPR.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa está no curso de graduação, em
como as coisas aconteceram e estão acontecendo.
Alguma perspectiva prospectiva é introduzida na
narrativa quando se fala sobre a necessidade de
mudanças. O entrevistado não se coloca no papel de
protagonista, mas como mais um dos personagens,
assumindo uma posição principal em poucos
momentos. Chama seus pares à cena, como
personagens, à medida que vai desenvolvendo a
narrativa. Não se percebem antagonistas no desenrolar
da narrativa.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
O entrevistado fala de seu lugar de docente, com
experiência e atuação ativa nos níveis de ensino e
238
poder pesquisa, seja na graduação quanto na graduação.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Os pressupostos que perpassam a narrativa e podem
ser percebidos relacionam-se ao entendimento do
ensino enquanto processo pedagógico e não
meramente burocrático, percebendo a função da
universidade como socialmente inserida, cujos
resultados devem interessar a esta comunidade para
que sejam efetivos.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Elementos comuns entre narrativas: existência de
sobreposição de conteúdos; papel essencialmente
burocrático das instâncias diretivas; projeto pedagógico
como um processo aberto e confuso que gerou
problemas.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
239
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 12
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa Este entrevistado não permitiu que sua narrativa fosse gravada.
Diante disto e para preservá-lo, conforme seu pedido, não será
desenvolvida uma análise individual de seu texto. Os dados e
informações construídos a partir desta entrevista foram utilizados para
auxiliar os pesquisadores (juntamente com os demais entrevistados
cujas narrativas estão descritas) para construir o sentido a respeito do
caso pesquisado.
Data da Entrevista 08 de outubro de 2008
240
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 13
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 52 minutos
Data da Entrevista 17 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre sua trajetória profissional e acadêmica,
explicitando que o início de sua carreira foi em
organizações empresariais, dedicando-se 20 horas à
universidade, carga que foi aumentando
progressivamente até a dedicação exclusiva ao
departamento de administração da UFPR. Conta ainda
que trabalhava com ensino em outra universidade, da
rede privada de ensino quando não possuía dedicação
exclusiva à Federal.
2. Descreve em sua trajetória na UFPR os cargos de
gestão que assumiu.
3. Conta sobre as disciplinas que ministra nos níveis de
graduação, mestrado, doutorado e especialização.
4. Conta a respeito do processo de desenvolvimento do
projeto pedagógico em vigor na universidade.
5. Fala sobre como ocorre o trabalho na área específica
de atuação do entrevistado.
6. Descreve seu ponto de vista em relação à estratégia
em curso no curso de graduação em administração e
manifesta alguns pontos isolados sobre as mudanças
que estão começando a ocorrer no curso.
7. Fala sobre suas experiências em sala de aula,
explicando como conduz as aulas e as disciplinas pelas
quais é responsável.
8. Dedica boa parte de sua narrativa para expressar
seu entendimento a respeito do perfil dos alunos e
como eles vêm piorando seu comportamento ao longo
dos anos. Atribui isso a uma série de professores,
inclusive à estrutura do curso.
9. Expressa sua visão de futuro e o que julga que
deveria ser diferente e como isso se poderia viabilizar.
10. A narrativa tem um começo, meio e fim estruturados
cronologicamente em termos de passado, presente e
futuro.
241
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
A narrativa apresenta como foco o curso de graduação
em administração da Universidade Federal do Paraná.
Em certos momentos o entrevistado coloca-se como
protagonista da história e chama outros personagens
para comporem a cena de sua narrativa. Ao mesmo
tempo, em certo pontos, entram em cena antagonistas
que representam aqueles que contrariam a visão do
que é correto do entrevistado.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de docente, mas também de alguém
com papel relevante entre o corpo diretivo, o que lhe
permite julgar determinadas coisas ao mesmo tempo
em que lhe faz atenuar certas críticas que por fim
acabam por se revelar.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
A narrativa repousa sobre pressupostos de regras
claras e cumpridas. Está correto cumprir o que está nas
regras e no sistema normativo; está errado flexibilizar e
abrir precedentes para que se instaure a quebra do que
é certo e se passe a atuar sempre com a exceção e
com o que é ilegal.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O entrevistado possui uma posição bastante firme com
relação à disciplina e ao rigor na condução da relação
aluno X professor.
Em certos momentos a fala evidencia movimentos
contraditórios: ao mesmo tempo que expõe
determinada fala no início da narrativa, no decorrer de
sua construção acaba por evidenciar aspectos que
contradizem o início.
Em alguns momentos silencia por longo tempo antes de
responder. Também acaba, em certos momentos,
direcionando suas respostas para um caminho que não
responde especificamente ao perguntado.
Descreve o trabalho coletivo da área em que trabalha
como pautado no bom relacionamento pessoal (e de
amizade) existente entre os professores.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas práticas, mas afirma que tudo o
que é feito cumpre o descrito no projeto pedagógico do
curso que dá as diretrizes estratégicas da sua
condução.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve estas atividades, mas afirma que tudo o
que é feito cumpre o descrito no projeto pedagógico do
curso que dá as diretrizes estratégicas da sua
condução.
242
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 14
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 57minutos
Data da Entrevista 17 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Descrição da trajetória profissional, passando pelas
instâncias de mercado e acadêmica até chegar à
UFPR.
2. Conta sobre as disciplinas que leciona e como
conduz as suas aulas.
3. Coloca seu ponto de vista a respeito de como é
conduzido o processo estratégico do curso de
graduação em administração da UFPR, tratando de
assuntos como coordenação, departamento, projeto
pedagógico.
4. Conta a respeito de suas estratégias em sala de aula
e relacionamento com aluno.
5. Expõe seu entendimento sobre a lógica que embasa
o como as coisas acontecem no curso.
6. Discute a relação graduação X strictu sensu.
7. Coloca seu ponto de vista sobre como as coisas
deveriam ser.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa está nas práticas de condução das
disciplinas pelo docente. O entrevistado é o ator
principal, junto com os alunos que fazem parte do
cenário como personagens da narrativa. Em alguns
momentos insere seus pares docentes na cena como
personagens da sua narrativa. As instâncias diretivas
figuram ora como antagonistas, ora como personagens
na narrativa.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O sujeito fala da sua posição de docente autônomo em
relação às estruturas diretivas e desvinculado da
maioria dos demais sujeitos docentes do seu grupo
social. Nomeia os sujeitos do poder e como estas
relações ocorre, mas se coloca fora desta cena.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Pressupõe que tudo o que se faz deve estar pautado
em regras, claras e que devem ser cumpridas. Dentro
de sala de aula percebe seu papel como docente
243
educador e disciplinador.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Apresenta um planejamento minucioso de aulas,
conteúdos e estratégias de ensino. Sabe que resultado
deseja obter e como trilhar o caminho até este
resultado.
O entrevistado é apontado em algumas narrativas de
aluno como professor referência.
Ponto comum a outras narrativas: aponta que é comum
os departamentos enviarem seus piores professores
para ministrarem aulas em outros cursos, fato que
prejudica o curso de administração.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Afirma que em termos diretivos e estratégicos não
percebe práticas relacionadas à definição de conteúdo
estratégico. Percebe práticas e atividades individuais e
não coletivas, mas que ficam restritas ao domínio do
indivíduo.
244
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 15
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada UFPR
Tempo de Narrativa 36 minutos
Data da Entrevista 24 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre a sua trajetória profissional, colocando
sua atuação em organizações empresariais e de
ensino. A carreira acadêmica tem influência da
trajetória da família neste meio.
2. Conta com detalhes sobre como se inseriu na UFPR,
quais os espaços que foi conquistando, que parcerias
foram importantes para a construção do seu caminho
como docente e pesquisador.
3. Apresenta como conduz as suas disciplinas e
desenvolve as relações com os alunos, em termos de
rigor, respeito e cordialidade.
4. Conta sobre a sua experiência na construção do
atual projeto pedagógico, colocado seu ponto de vista
acerca dos problemas e necessidades vinculados a
esta questão.
5. Em termos do curso como um todo coloca os pontos
frágeis e como vê que esta questão deveria ser
modificada.
6. Fala sobre como vê a estratégia do curso hoje.
7. Apresenta sua visão do perfil profissional do aluno
formado hoje pela UFPR.
8. Faz considerações sobre sua visão de futuro para o
curso.
9. Tece uma seqüência encadeada de eventos que
apresentam a história do entrevistado mesclada aos
eventos que vivenciou e à sua interpretação sobre
estes acontecimentos.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração. São raras as situações em que o
entrevistado se coloca como protagonista da história.
Mas, para construir sua narrativa, chama à trama uma
série de personagens que contribuem para
exemplificar, encadear e dar sentido à sua fala. Os
personagens transitam entre alunos e pares do corpo
245
de professores. Não é percebida uma relação clara de
antagonia.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O entrevistado fala de seu lugar de docente e
pesquisador, manifestando seu ponto de vista deste
lugar, como um sujeito ativo e participativo nas
instâncias de ensino e pesquisa (graduação e pós-
graduação).
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Alguns valores relacionados à formação de graduação
do entrevistado (que não é administração) perpassam a
sua fala e a sua visão acerca do curso. Ao mesmo
tempo, sua vivência como profissional e os feedbacks
de ex-alunos ajudam o entrevistado a construir seus
argumentos e avaliações sobre o curso de graduação
em administração da UFPR. O entrevistado permanece
bastante reservado em relação a colocar sua
individualidade na narrativa, o que dificulta a análise
mais profunda de valores e pressupostos que baseiam
sua fala.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O entrevistado tem uma vivência em organizações
empresariais e de ensino que são referência no Brasil
em termos de ensino.
Apresenta pontos comuns aos demais entrevistados a
respeito da estratégia do curso e das críticas ao
currículo vigente no curso.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não menciona estas práticas, apenas coloca que a
estratégia existe, pautada na visão daqueles que são
do corpo diretivo. No entanto isso não é disseminado
ou compartilhado.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não menciona estas atividades, apenas coloca que a
estratégia existe, pautada na visão daqueles que são
do corpo diretivo. No entanto isso não é disseminado
ou compartilhado.
246
APÊNDICE E. DESCRIÇÃO ESTRUTURAL DAS NARRATIVAS (FAE –
CENTRO UNIVERSITÁRIO)
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 16
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 47 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre a sua trajetória de vida: ensino médio,
vestibular e escolha da FAE para fazer a graduação.
2. Conta sobre os motivos de se fazer administração.
3. Fala sobre a sua rotina de estudos individuais,
estágio e curso de graduação.
4. Conta sobre como as aulas são conduzidas pelos
professores, mesclando com fatos a respeito do
interesse da turma e episódios específicos que ajudam
a construir a narrativa.
5. Fala sobre como resolvem problemas que tem com
alguma questão dentro da FAE, destacando a
facilidade, o acesso e a resolução dos problemas. Traz
à cena o Diretório Acadêmico como ator nestas
questões de discussão e resolução de problemas.
6. Expõe alguns pontos que julga que deveriam ser
mudados, destacando a alta exigência dos professores
com os alunos e outros pontos de infra-estrutura.
7. Conta sobre como foram organizadas as disciplinas
cursadas até aqui, colocando alguns pontos sobre
“como as coisas funcionam” na FAE.
8. Destaque em vários pontos da narrativa sobre o
desinteresse e o desconhecimento de seus colegas
sobre o curso e a profissão.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário, trazendo
à cena alguns personagens para construir a narrativa.
Não se coloca como protagonista e também não
estabelece relações de antagonia. Faz relatos sobre
coisas ao mesmo tempo que imprime sua voz para
247
expressar seu entendimento e avaliação.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de aluna, apresentando seu ponto de
vista a partir de suas vivências na universidade.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
O entrevistado apresenta juízos de valor muito
relacionados ao “interesse” e “desinteresse” dos
personagens que convivem com ele, isto baseado nos
seus valores, construídos em família, de que o estudo é
muito importante e vem em primeiro lugar. Isto também
norteia as escolhas feitas pelo entrevistado em relação
ao curso, ao seu estágio etc.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
O entrevistado freqüenta o curso no período noturno e
ingressou na graduação logo após ter concluído o
ensino médio em uma escola pública de Curitiba.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Ouvidoria
2. Central de estágios
3. Aluno online
4. Avaliação docente institucional
5. Padrões: 7 pontos de avaliação individual + 3 pontos
distribuídos a critério do professor.
6. Representação estudantil (Diretório acadêmico)
7. Representação de classe (Líder de turma)
8. Orientação acadêmica feita pela coordenação
9. Livro base das disciplinas
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
248
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 17
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 18 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Narra um pouco da sua história de vida contando
como escolheu administração e as dúvidas que
enfrentou no momento de optar por uma profissão.
2. Conta-nos um pouco sobre como escolheu a FAE,
evidenciando que passou em outras universidades mas
preferiu a FAE para morar fora de casa e porque a
família indicou o curso da FAE como o melhor de
Curitiba, dentre as universidades particulares.
3. Conta sobre como está levando o curso, suas
dificuldades e percepções sobre a universidade.
4. Fala um pouco sobre o que pensa do futuro e da
profissão, sem muita clareza.
Observação: A narrativa do entrevistado não flui muito,
limita-se a perguntas e respostas, as quais são
permeadas por muitas dúvidas e incertezas.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa centra-se no entrevistado, que não
consegue avaliar muito as coisas sem colocar-se como
referência. Coloca-se como protagonista, traz alguns
personagens à cena, mas não foca muito neles. Os
colegas de turma são apresentados como antagonistas
do entrevistado. As relações do ator focal se dão com
os “veteranos”, com quem tem mais contato.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O entrevistado não fala muito do seu lugar de
universitário, mas de seu lugar de adolescente, aluno,
evidenciando um ponto de vista paternalista sobre o
papel da universidade.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não consegue expressar muito os seus valores na
conversa, pois não desenvolve uma narrativa fluida,
com clareza de pontos de vista e avaliações.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Afirma que ao entrar na FAE não tiveram uma
explicação sobre como as coisas funcionam, os alunos
vão descobrindo ao longo do curso. Mas, ao mesmo
249
tempo, os coordenadores estão sempre disponíveis.
Cursa FAE porque acredita que lá na frente isso vai ser
importante no seu currículo, porque a universidade tem
uma boa imagem de qualidade no mercado.
Não tem muito clara a profissão de administrador, mas
afirma que aos poucos, com as disciplinas que está
tendo isto está clareando em sua cabeça.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Fala da existência da ouvidoria, mas não sabe falar
muito bem. Outras práticas não são apontadas pelo
entrevistado.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Não descreve atividades estratégicas ou quaisquer
outras que possam ajudar a compreender o contexto
estratégico da organização.
250
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 18
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 31 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre quando entrou na FAE, em que período
está hoje e como organiza sua vida acadêmica.
2. Fala sobre a escolha do curso de graduação em
administração (atrelado ao fato de iniciar sua vida
profissional muito cedo) e por que fazer na FAE.
3. Conta sobre como são conduzidas as aulas em sala
de aula e como são resolvidos os problemas que
surgem no curso.
4. Apresenta pontos fortes e pontos que acha que
deveriam ser diferentes.
5. Fala da sua vida profissional no futuro e como
pretende conduzir e continuar sua formação.
Observação: a narrativa é muito encadeada e
desenvolvida com muita propriedade, domínio e
clareza.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
A narrativa está centrada no curso de graduação em
administração da FAE – Centro Universitário. O
entrevistado coloca-se como protagonista em algumas
situações para explicar seu ponto de vista sobre
algumas situações. Em outros momentos o entrevistado
traz outros personagens para atuar em sua narrativa,
mas não se percebe relação de antagonia.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O entrevistado fala de seu lugar de discente,
acadêmico e também profissional de mercado, capaz
de avaliar o processo que está vivenciando.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Transparência e clareza são alguns dos valores
expostos como importantes para o entrevistado, os
quais ele percebe na FAE – Centro Universitário e por
isso sente-se seguro na instituição e com relação ao
que aprende na universidade.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Ressalta que é possível ver os valores franciscanos
permeando todo o trabalho desenvolvido na FAE –
251
Centro Universitário.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Linha telefônica para a coordenação
2. Diretório Acadêmico
3. Ouvidoria
4. Núcleo de empregabilidade
5. Avaliação formal do corpo docente e da instituição
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Palestras
2. Atendimento do coordenador e seus colaboradores
3. Rigorosa seleção do corpo docente
4. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
252
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 19
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 23 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre a sua vida para explicar como escolheu
administração e porque escolheu a FAE, destacando
que administração não era exatamente o que queria
fazer, mas por uma série de motivos (um deles, porque
a mãe tem empresa) acabou escolhendo o curso.
2. A escolha da FAE: “porque é a melhor e não tem
outra”.
3. Fala sobre como tem desenvolvido sua vida
acadêmica na FAE, evidenciando alguns episódios e
problemas, bem como os caminhos para sua relação.
4. Descreve uma expectativa de futuro em relação ao
curso: deseja compreender o que é ser administrador e
o que quer da sua própria vida e profissão.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é no entrevistado, considerando
que ele fala basicamente de si em relação ao curso, em
relação à instituição, em relação às expectativas da
profissão. Não chama muitos personagens para
desenvolver a narrativa e pode ser considerado um
protagonista da narrativa que expõe. As relações de
antagonia não são perceptíveis.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de aluno, recém saído do ensino
médio, com dúvidas, inseguranças e incertezas a
respeito do que “quer ser”, do futuro profissional e da
profissão de administrador.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não expressa avaliações ou juízos de valor que
permitam conhecer alguns dos valores e pressupostos
do entrevistado. Percebe-se, porém, um grande
influência familiar nas escolhas e julgamentos do
entrevistado.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
É um acadêmico recém admitido na organização, cursa
o primeiro módulo do curso.
Revela uma certa tristeza na sua fala, combinada à
253
insegurança em relação às suas escolhas.
Estagia na área de administração já.
Relata experiências negativas que teve na FAE, em
relação à professores, afirmando que não esperava
professores assim despreparados na organização,
considerada pelo entrevistado como a melhor faculdade
de administração.
Fala de um ponto recorrente entre os demais
entrevistados: a FAE proporciona boas oportunidades
de estágio, porém alunos de primeiro ano têm
dificuldades de consegui-las.
Destaca, como os outros entrevistados, que o contato
com a FAE e o acesso às pessoas é muito fácil, o que
não significa que a resposta seja rápida.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Fala unicamente do Núcleo de Empregabilidade, com o
qual já teve contato.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
As atividades mencionadas pelo entrevistado são as de
palestras e contatos com pessoas do mercado, com as
quais já teve contato.
254
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 20
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 29 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre o por quê de escolher o curso de
graduação em administração, destacando a opção pela
FAE porque ela é a melhor e ainda perto de casa.
2. Antes da opção por administração também tinha em
mente outros cursos, mas gosta muito de administração
porque “administração engloba tudo”.
3. Conta sobre como são as disciplinas na FAE e como
funcionam as coisas, no seu ponto de vista.
4. Fala sobre a FAE com “orgulho” e diz que a opção
pelo curso traz muitas vantagens.
5. A narrativa concentra-se no tempo da “FAE” na vida
do entrevistado, sem resgatar muitas coisas de antes e
nem projetar muito o futuro.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o entrevistado (protagonista) no
contexto do curso de graduação em administração da
FAE. Descreve suas relações, percepções e episódios,
a partir de si, no espaço FAE.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de acadêmico, profissional em
formação, descrevendo-se como um aluno normal, que
não é exemplar e que já passou por tudo na FAE.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não traz muito presentes na narrativa seus valores e
pressupostos. Em alguns momentos limita-se a
responder as perguntas, sem desenvolver muito a sua
narrativa.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Aluno de escola pública (ensino médio), o que é
descrito pelo entrevistado como uma das razões para
ter sentido muito a diferença de ritmo quando entrou na
FAE.
2. Destaca um ponto que é comum a outras narrativas:
à medida que vai avançando no curso percebe que os
“corredores vão ficando vazios” pois muitos alunos
desistem da FAE e vão para outros cursos mais fáceis.
255
3. Apresenta como ponto de reclamação, assim como
os demais discentes, a infra-estrutura da FAE: salas
apertadas, quentes, com barulho de ventilador que
concorre com a fala do professor.
4. Afirma que para levar o curso precisa estudar e se
dedicar. Tempo de estudo: 3 a 4 horas semanais, no
domingo, depois do almoço.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
Fala sobre as seguintes práticas:
1. Avaliação periódica dos docentes
2. “Aluno online” (Moodle e Black Board)
3. Palestras da coordenação com os alunos
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Bom planejamento de aula, o que ajuda a cumprir
ementas.
2. Atendimento individualizado da coordenação.
3. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
256
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 21
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 35 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Começa narrando a sua entrada na FAE e o seu
momento de escolha profissional.
2. Conta sobre o trancamento do curso que fez para
realizar outras experiências: concluir outro curso de
graduação e viajar para intercâmbios.
3. Descreve sua volta para a FAE, a retomada do curso
e o que vê de diferente desde a sua saída.
4. Narra a sua visão sobre como as coisas acontecem
na FAE e como o entrevistado, enquanto aluno,
“resolve sua vida” na organização.
5. Conta sobre sua experiência profissional e sobre a
sua atuação e rotina no mercado de trabalho.
6. Faz uma comparação entre os cursos de graduação
que fez: um (concluído) na UFPR e outro (em curso) na
FAE.
7. Coloca a sua visão a respeito da estratégia da FAE,
o que vê de positivo e o que pensa que deve ser visto
com mais atenção.
8. Conta sobre o perfil da sua turma – de entrada e
aquela na qual se encontra hoje.
9. Fala da sua visão sobre a profissão e conta sobre os
planos para o futuro.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
A narrativa é centrada no curso de graduação em
administração da FAE e o entrevistado coloca-se como
personagem, traz à cena outros personagens, descreve
seu ponto de vista mas não expressa relações de
antagonia em sua fala.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de aluno, mas também combina uma
fala de seu lugar de profissional que já fez uma escolha
e já atua no mercado como tal.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não é possível apontar valores e pressupostos a partir
da narrativa do entrevistado. Apresenta sua narrativa
construída com uma base muito neutra, apesar de
257
emitir avaliações, mas sempre muito ponderadas.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Aponta um aspecto muito importante, recorrente em
outras narrativas, a respeito da relevância das matérias
optativas oferecidas no currículo do curso, como
possibilidade de colocar os alunos à par do que está
acontecendo no mercado.
2. Percebe a FAE em um momento de transição, em
fase de definir novos objetivos, tentando-se fortalecer
enquanto instituição sem ter um foco somente na área
de negócios.
3. Recorrência: todos os alunos apontam uma estrutura
de aula comum – primeiro tempo com teoria e segundo
tempo com uma parte em que os alunos precisam
trabalhar, o que eles chamam de “parte prática”, de
“aplicação”.
4. Recorrência: alunos em começo de curso não estão
muito interessados, situação que muda ao final, com a
desistência de muitos.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. “Aluno online”.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Palestras.
2. Atendimento individualizado da coordenação.
3. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
258
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 22
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 29 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Começa contando sobre a escolha do curso,
evidenciando que escolheu administração porque a
família toda é empreendedora e o entrevistado gosta da
área.
2. A escolha da FAE deu-se porque em conversas com
outras pessoas entendeu que era uma boa
universidade.
3. Conta sobre como as coisas acontecem na FAE, sob
seu ponto de vista.
4. Apresenta alguns pontos que a deixam descontente.
5. Traça algumas linhas para o seu futuro profissional,
colocando que pretende fazer a continuação dos seus
estudos fora do Brasil.
A narrativa desenvolveu-se de forma um pouco
truncada porque o entrevistado limitou-se a responder
às perguntas, sem conseguir articular uma narrativa
fluida.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração da FAE, cujo personagem principal é o
entrevistado que em certas horas mescla as suas
histórias e vivências para delinear a narrativa. Não traz
muitos personagens à narrativa e também não é
possível perceber relações de antagonia.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de aluno, sem evidenciar muitas
relações em sua fala.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não se expõe a ponto de se conseguir perceber valores
e pressupostos.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Recorrência: reclama da infra-estrutura da FAE, em
termos físicos e principalmente da biblioteca.
2. Recorrência: há uma rotação muito grande de
alunos, não há uma turma fixa, o que só acontece no
259
primeiro ano. Depois disso, muita gente reprova,
desiste e as pessoas vão “rodando” por turmas
diferentes.
3. Afirma que passou em todos os vestibulares que
prestou. Não prestou Federal porque conhecia algumas
pessoas que lá estudavam e expressavam muito
descontentamento.
4. Apresenta pontos de vista muito ponderados em
suas avaliações.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. “Aluno online”
2. Avaliação online dos docentes
3. Programa de experiência no exterior da FAE.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento individualizado por parte da
coordenação.
2. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
260
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 23
Categoria Aluno
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 24 minutos
Data da Entrevista 22 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre como chegou na FAE: cursava
administração em outra Universidade, mas como não
estava satisfeita com a qualidade mudou para a FAE.
2. Passa a contar uma série de pontos
comparativamente entre a Universidade que cursava
anteriormente e a FAE, evidenciando que nesta última
encontrou o que estava procurando.
3. Conta sobre como as coisas acontecem na FAE, faz
algumas avaliações e aponta pontos bons e pontos que
vê que poderiam ser diferentes.
4. Conta um pouco sobre o que pretende para o futuro
como administrador e em termos de formação
continuada.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é a formação profissional do
entrevistado. Coloca-se como personagem e traz por
vezes outros personagens para constituir a sua
narrativa. Trata na maioria das vezes de forma
comparativa (entre o antes e o hoje) a sua formação. A
relação de antagonismo que pode ser percebida é
estabelecida pelo entrevistado entre a FAE e o outro
curso de graduação que cursava inicialmente.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de aluno e também de profissional
que já atua há tempos no mercado.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não é possível identificar com clareza os valores e os
pressupostos do entrevistado na narrativa estabelecida.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Fala que alguns professores da FAE colocam-se em
um “pedestal” e não desenvolvem um relação próxima
com os alunos. Isso de certa maneira prejudica a
aprendizagem, na visão do entrevistado.
2. Recorrência: os meios de divulgação de alguns
episódios na FAE não são eficientes e os alunos às
vezes os perdem porque não tinham informação.
261
3. Recorrência: a estrutura física da FAE impressiona
no quinto e no sexto andares, mas nos demais deixa a
desejar.
4. Aponta que as disciplinas do curso de administração
são muito voltadas para organizações industriais,
faltando um foco em serviços.
5. Recorrência: aponta as diferenças de perfil entre os
alunos do diurno e do noturno.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. “Aluno online”.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento individualizado da coordenação
2. Aulas ministradas com uma clara divisão teoria e
prática entre o tempo disponível em sala de aula.
262
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 24
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 1 hora
Data da Entrevista 23 de outubro de 2008
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Descreve sua trajetória profissional, que se confunde
com várias histórias sobre a instituição, visto que o
entrevistado tem bastante tempo de casa e passou por
várias instâncias, projetos e episódios.
2. Conta sobre suas atividades principais, sempre
destacando como elas são desenvolvidas e o por que
de se estar pensando nisto.
3. Conta sobre o perfil dos alunos, como se trabalha
com eles e que tipo de resultado se espera e se obtêm
no final.
4. Conta sobre as características da organização,
descreve práticas e atividades que são capazes de
torná-la diferente.
5. Fala sobre estratégia, evidenciando alguns pontos de
mudança que estão ocorrendo e defendendo o projeto
pedagógico como o instrumento formal em que se
delineiam as estratégias do curso.
6. Fala dos aspectos subjetivos envolvidos com o
sentido do trabalho, e conta que o sentido é
compartilhado por todos da instituição e que o trabalho
que se desenvolve ali tem um caráter coletivo.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco é o curso de graduação em administração da
FAE. Em alguns momentos extrapola-se para o nível da
instituição e outras vezes para o nível do indivíduo, mas
sempre para construir a narrativa sobre o curso –
protagonista da história. Vários personagens são
chamados à cena e episódios são contados com a
ajuda destes personagens, o que torna a narrativa rica
e fluida, podendo dar uma idéia muito interessante do
contexto em questão.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
O entrevistado fala de seu lugar de professor e também
de membro atuante em outras práticas estratégicas da
organização, o que lhe confere autoridade para falar
sobre o contexto e sobre as questões narradas.
263
Evidencia, ao mesmo tempo, ponto de vista comum
com o de alguns outros entrevistados e corrobora com
aspectos contados por entrevistados do corpo discente.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Os valores e pressupostos que podem ser percebidos
na narrativa são aqueles inerentes aos valores
franciscanos (vinculados à instituição) e também
aqueles referentes à colaboração, ao comprometimento
com o trabalho e com o resultado de um aluno bem
formado, dentro dos princípios e padrões da
organização.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Descreve práticas e atividades que vão ao encontro
da fala de vários discentes: “aqui você tem tudo o que
você precisa, é só ir atrás”.
2. Revela um aspecto importante do contexto da grande
maioria da fala dos entrevistados (inclusive dos
discentes): o que puxa todo o ensino na FAE é a
prática, ela vem antes de qualquer aspecto teórico.
3. Aponta percepções muito claras sobre os alunos,
corroborando com aspectos que eles descrevem sobre
si e sobre o curso.
4. Confirma a dinâmica de sala de aula descrita pelos
alunos (e afirma que a maioria dos professores adota
este padrão): primeiro horário é destinado ao
“conteúdo” e o segundo ao trabalho envolvendo os
alunos, “a prática”.
5. Professores no conduzir a aula colocam o aluno
como co-responsável pela qualidade do ensino e dos
resultados – a provocação que alguns alunos
descrevem – o que é descrito em episódios apontados
por outros entrevistados.
6. Tradição é um aspecto contextual evidente e
relevante para a FAE: tanto para sua imagem quanto
para a forma de tratar e “conservar” o seu corpo de
colaboradores.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Núcleo de empregabilidade
2. Grupos de orientação profissional
3. Pareceria com organizações empresariais
4. Pós-graduação
5. Administração integral / administração regular
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento personalizado da coordenação
2. Orientação individualizada de carreira
3. Palestras e mini palestras
4. Orientação psicológica e “vocacional”
264
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 25
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 37 minutos
Data da Entrevista 23 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre sua trajetória profissional, que se
confunde com a FAE, visto que se formou em nível de
graduação, pós e mestrado na organização.
2. Descreve algumas práticas relevantes da
organização com as quais se envolve.
3. Fala sobre como a pesquisa acontece na FAE,
evidenciando algumas práticas individuais de sala de
aula que acredita que são compartilhadas com outros
colegas.
4. Conta sobre a condução do processo de formação
dos profissionais, evidenciando características deste
processo.
5. Fala do Projeto Pedagógico e da participação
docente na concepção do mesmo.
6. Fala sobre a profissão docente, do seu papel
enquanto educador e de alguns valores que perpassam
a forma como conduz sua profissão.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco é o curso de graduação em administração e o
entrevistado coloca-se por vezes como personagem,
mas geralmente divide a cena com outros personagens
(entre pares de trabalho e membros do corpo diretivo)
que constituem a sua narrativa. Não são percebidas
relações de antagonia na fala do entrevistado.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de aluno (que foi da instituição),
profissional formado pela FAE e colaborador – docente
e de alguns níveis de coordenação. Evidencia um ponto
de vista baseado nos valores franciscanos, que para o
entrevistado permeiam o contexto organizacional.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Expressa alguns valores com relação à condução do
seu trabalho profissional: respeito, humildade, carinho e
reconhecimento para com os seus alunos. Estes
valores, de certa forma, são expressos como valores
organizacionais incorporados pelo entrevistado que
265
trilhou sua trajetória profissional na organização.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Destaca o caráter coletivo do trabalho, nos eventos
formais e no convívio informal com os pares,
característica descrita por todos os demais
entrevistados do corpo docente.
2. Evidencia a valorização dos profissionais da casa,
sejam eles formados pela FAE ou ainda aqueles que
nela trabalham há tempos.
3. Evidencia o aspecto de trabalhar teoria e
prática/vivência com os alunos em sala de aula.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Centro de Estudos e Pesquisa
2. Projeto Bom Negócio
3. Projeto Pedagógico
4. Encontros Pedagógicos (encontros semestrais)
5. Conversas e trocas informais (sala dos professores)
6. Feira de Gestão.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento individualizado da coordenação
2. Sala de aula: atividades relacionadas a lecionar de
forma teórica e prática/vivencial as disciplinas
266
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 26
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 37 minutos
Data da Entrevista 28 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre sua trajetória acadêmica e profissional,
destacando a sua formação (mestrado) e como foi
processo de entrada na FAE.
2. A partir disso conta como funcionam algumas coisas
na organização e qual a sua participação em
determinadas funções.
3. Conta a respeito de episódios específicos e como
eles contribuem para o desenvolvimento do trabalho na
FAE.
4. Evidencia como conduz o trabalho com os alunos,
como lida com problemas em termos pessoais e como
a organização lida com estes problemas.
5. Detém-se a contar sobre o perfil dos alunos, fazendo
distinção entre os alunos da manhã e da noite, os quais
possuem características diferenciadas que os destacam
como grupos.
6. Conta especificamente como conduz as disciplinas e
como lida com essas diferenças em termos de sala de
aula de adoção de diferentes posturas para cada grupo.
7. Conta como percebe os valores franciscanos
embasando todo o ensino, a forma de condução do
processo de gestão e de trabalho com os professores e
alunos.
8. Manifesta o seu entendimento sobre a organização,
justificando sua satisfação e identificação com seu
trabalho.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa do entrevistado é o curso de
graduação em administração. Coloca-se como
personagem da narrativa, parte de um grande elenco
que dá vida à toda a história da organização.
Demonstra em sua fala o caráter coletivo do trabalho
realizado e as relações que mantém com coordenação
e também (mais proximamente) com os professores
que atuam com ela na sua área específica de atuação.
267
Não coloca relações de antagonia. Utiliza personagens
específicos, protagonistas e antagonistas em episódios
específicos utilizados para trilhar a narrativa.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de professor, parte de um grupo,
coletivo, crítico, comprometido e capaz de auxiliar na
construção dos resultados positivos que o entrevistado
percebe do trabalho. Evidencia algumas fontes de
poder, mas no sentido de “possibilidade de decisão” na
organização e não no sentido de “coerção” e abusos.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Destaca que compartilha dos valores franciscanos da
organização e descreve como eles estão presentes nas
suas práticas e como eles são percebidos pelo
entrevistado: respeito, solidariedade, responsabilidade,
ética, verdade.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Afirma, como os demais entrevistados, que há uma
valorização muito grande de quem é da casa, pessoas
que já têm os valores franciscanos incorporados. Ela
veio de fora e precisou adaptar-se a esta dinâmica de
início.
2. Reafirma o papel das reuniões episódicas
semestrais.
3. Destaca também o caráter coletivo do trabalho, o
espaço para discussões e contribuições e troca
existente entre os professores das áreas.
4. Traz à cena o respaldo que as decisões dos
professores têm perante a coordenação – há confiança
e portanto autonomia para os professores.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Reuniões pedagógicas semestrais.
2. Trocas de experiências entre professores.
3. Valorização dos profissionais da casa.
4. Reuniões de colegiado.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Revisões semestrais das disciplinas, ementas,
programas e conteúdos.
2. Aulas teórico-práticas, pois o foco é a vivência do
aluno.
3. Atendimento individualizado da coordenação.
268
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 27
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 30 minutos
Data da Entrevista 28 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Fala brevemente sobre sua formação acadêmica,
comentando sobre a sua experiência profissional.
2. Conta sobre sua trajetória na FAE, apresentando
quais as disciplinas que ministra na organização e o
projeto de extensão com o qual está envolvido e
desenvolvendo idéias.
3. Conta sobre a relação entre os professores da sua
área de atuação e sobre como estão se organizando
para trabalhar a reestruturação do currículo e das
disciplinas do curso.
4. Apresenta seu ponto de vista sobre os alunos do
curso: matutino, noturno e integral, com os quais
trabalha.
5. Apresenta seu ponto de vista sobre a estratégia da
FAE, resgatando alguns aspectos da história que
conhece para colocar sua posição.
6. Conta sobre a sua visão de como será o futuro
próximo na FAE em termos de estratégia.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração da FAE. O entrevistado traz alguns
personagens para ajudar na construção da narrativa, no
entanto não estabelece relações de protagonistas e
antagonistas. Todos figuram para apresentar como é o
curso.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de docente, profissional do mercado
que atua 40 horas na FAE e concilia isto com suas
atividades profissionais em organização empresarial.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não é possível, na narrativa, apontar com segurança
valores e pressupostos do entrevistado uma vez que
ele não se detém em juízos de valor que possam dar
indícios desses valores.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Reforça as diferenças entre os perfis de noturno e
diurno, corroborando os argumentos apresentados
269
pelos demais entrevistados.
2. Reafirma o foco no profissional de mercado, na
importância da prática na sala de aula, como os demais
entrevistados.
3. Reforça o aspecto da valorização dos profissionais
com muitos anos de casa, apesar de o entrevistado ter
pouco tempo de FAE.
4. Reforça o aspecto da autonomia do professor,
afirmando este como um grande diferencial da FAE,
dizendo ainda que a coordenação respalda as decisões
dos professores em sala de aula.
5. Aponta o trabalho desenvolvido na FAE como um
trabalho coletivo.
6. O professor atua no mercado e traz dados que seus
clientes permitem para servir de “laboratório” aos
alunos.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Programa Bom Negócio (Escritório de Gestão e
Incubadora de Gestão).
2. Grupos de estudos das áreas para a reformulação do
currículo.
3. Feira de Gestão.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Sala de aula organizada com carga teórica e prática,
com destaque para esta última.
2. Trocas de experiências entre professores com
afinidade.
270
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 28
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa Este entrevistado não permitiu que sua narrativa fosse gravada.
Diante disto e para preservá-lo, conforme seu pedido, não será
desenvolvida uma análise individual de seu texto. Os dados e
informações construídos a partir desta entrevista foram utilizados para
auxiliar os pesquisadores (juntamente com os demais entrevistados
cujas narrativas estão descritas) para construir o sentido a respeito do
caso pesquisado.
Data da Entrevista 28 de outubro de 2008.
271
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 29
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 48 minutos
Data da Entrevista 28 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Fala da sua trajetória profissional em organizações
empresariais até chegar na FAE.
2. Conta sobre o seu vínculo com a FAE, primeiramente
como aluno e depois como professor, descrevendo
assim a sua trajetória na organização.
3. Fala de como as coisas acontecem na FAE em
termos do trabalho que é desenvolvido na sua área de
atuação específica.
4. Conta como se dá o relacionamento com os alunos e
como vê a formação deles.
5. Fala sobre como o curso de administração integral,
complementando como vê o perfil de todos os alunos
da FAE.
6. Conta sobre a profissão de professor e como essa
profissão é vista na FAE, qual o papel do professor e a
forma como atua na organização.
7. Conta sobre a reforma curricular que está
acontecendo na FAE e os motivos dela.
8. Fala da estratégia da FAE e dos valores
institucionais que a perpassam.
9. Conta um pouco sobre as estruturas de pró-reitorias,
coordenação acadêmica e coordenação de curso e
sobre o caráter coletivo e colaborativo do trabalho.
10. Destaca pontos diferenciais da FAE enquanto
organização e que fazem dela, no ponto de vista do
entrevistado, diferente.
11. Fala sobre problemas e desafios da FAE e sobre
como ela se posiciona diante destas situações e
concorrentes.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração da FAE. O entrevistado coloca-se como
personagem, assim como uma série de outros que ele
chama para a narrativa. Conta sobre uma série deles e
272
sobre como se relacionam para construir uma narrativa
sobre a organização.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de profissional de organizações
empresariais, professor e membro de algumas
estruturas diretivas da FAE. Não evidencia fontes de
poder mas de responsabilidade, compartilhada e
assumida.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Os valores que o entrevistado incorpora em sua
narrativa são valores relacionados também ao contexto
organizacional e que orientam toda a prática docente e
diretiva do curso de graduação da FAE, perceptíveis na
narrativa de vários entrevistados: transparência, clareza
e respeito.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Traça, em certos momentos, paralelos comparativos
entre Federal e FAE, trazendo o exemplo de uma aluna
de terceiro ano da FAE que foi para a Federal e no
módulo seguinte retornou à FAE com a justificativa de
que o curso da Federal não a satisfez.
2. Reforça novamente os valores que permeiam o
trabalho na FAE, ressaltando a questão do respeito
como importante para o clima bom da organização e a
transparência e a clareza como pressupostos dos
contratos estabelecidos entre professores e alunos.
3. Destaca o caráter coletivo e compartilhado do
trabalho, como outros entrevistados os fizeram.
4. O diferencial da FAE é a busca constante da
qualidade, o que se constitui em um desafio para
mantê-la ao mesmo tempo em que a FAE cresce muito.
5. O clima entre os professores é apontado pelo
entrevistado como algo diferente na FAE: eles
conversam, compartilham, trocam experiências e
comprometem-se com o trabalho.
6. Novamente: o objetivo não é reter o aluno, é formar
um profissional de qualidade (os professores inclusive
conversam com os alunos sobre isso).
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Reuniões semestrais pedagógicas.
2. Avaliação de professores e da instituição.
3. Trocas entre professores dentro de suas áreas de
atuação.
4. Núcleo de Empregabilidade
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Disciplinas institucionais.
2. Atendimento individualizado de alunos pela
coordenação.
3. Contrato entre aluno e professor para que o trabalho
seja bem desenvolvido.
4. Acompanhamento informal do trabalho do professor
com conversar com alunos.
5. Retorno pessoal aos professores da sua situação de
avaliação e acompanhamento dele para auxiliar na sua
melhora.
273
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 30
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 1 hora e 21 minutos
Data da Entrevista 29 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre a sua trajetória profissional, carreira
docente e como chegou até a FAE, revelando como
desenvolveu sua carreira na organização também.
2. Em meio a esta narrativa desenvolve pontos sobre
questões específicas do grupo franciscano, dando uma
idéia de como as coisas funcionam, os valores,
pressupostos e posturas que embasam o trabalho.
3. Fala sobre o seu trabalho hoje na FAE como docente
e participante do corpo diretivo do curso.
4. Conta sobre as motivações da reforma do projeto
pedagógico, que está acontecendo no momento.
5. Fala sobre características específicas da FAE e
coisas que o entrevistado reconhece como diferenciais
da organização.
6. Descreve alguns desafios relativos ao momento atual
da FAE.
7. Descreve características específicas do corpo
docente e discente.
8. Fala um pouco sobre que tipo de problemas a FAE
enfrenta, enquanto curso de graduação em
administração, no desenvolvimento do seu trabalho.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é a FAE, enquanto organização,
pertencente a um grupo específico, na primeira parte da
narrativa. Nesta parte o entrevistado coloca-se como
personagem principal porque vem desenvolvendo a
narrativa da sua carreira em paralelo com a narração
da história e características da organização. Na
segunda parte da narrativa o foco passa a ser o curso
de graduação em administração e como as coisas são
desenvolvidas dentro do curso específico, evidenciando
as relações, os canais e como as coisas funcionam.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
Fala de seu lugar de docente, acima de tudo, que já
passou por diferentes organizações, sempre exercendo
274
poder a carreira docente, na maioria das vezes concomitante
a outras atividades administrativas. Certas vezes fala
de seu lugar como participante de uma instância
diretiva, sem evidenciar a questão de poder, mas sim
de relações entre as pessoas e canais existentes na
organização.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
O contexto moral da narrativa está fortemente pautado
na filosofia franciscana, com a qual o entrevistado
parece compartilhar, naquilo que descreve, expõe e
avalia. Chama à narrativa alguns pressupostos que lhe
são caros como o valor das relações humanas e a
valorização da coerência pessoal na condução da
postura de discentes e colegas. Transparência
perpassa toda a narrativa como um valor intrínseco à
organização e às posturas desenvolvidas entre colegas,
professor-aluno e instituição-aluno. Revela ainda a
questão do comprometimento como presente na
organização, inclusive quando descreve a sua narrativa
de história individual.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Problema de mal atendimento dos alunos pela
coordenação que se está tentando resolver com
algumas novas posturas na organização é reafirmado
pelo entrevistado.
2. Reafirma os motivos da reforma pedagógica de
inserir a questão do empreendedorismo no curso e
reforçar a filosofia instituição na formação dos alunos.
Traz um novo motivo à discussão: currículo atual tem
um desequilíbrio entre as áreas, com um foco voltado
para a área de finanças.
3. Reforça a questão de formação de um profissional de
mercado e a necessidade de se ter professores com
atividades profissionais para auxiliar na construção
deste profissional
4. Aponta, assim como outros, que o grande desafio na
FAE é crescer mantendo a sua qualidade.
5. Revela que se está seguindo o modelo de sucesso
de gestão do Colégio Bom Jesus, relacionado à
padronização de várias questões para se garantir esta
qualidade.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Reuniões periódicas de ajustes entre a coordenação.
2. FAE Training.
3. Central de atendimento dos alunos.
4. Pós-graduação.
5. Ouvidoria.
6. Avaliação de docentes.
7. Disciplinas institucionais.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento individualizado da coordenação.
2. Aulas teórico-práticas, com professores com
atividades profissionais no mercado.
3. Devolutivas individuais para os docentes pela
coordenação.
275
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 31
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 1 hora
Data da Entrevista 29 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Fala brevemente da sua carreira e como chegou à
FAE.
2. Detém-se a falar como conduz as suas disciplinas,
distribuídas em carga teórica e prática, avaliações e
relação com os alunos.
3. Conta sobre sua relação com os demais professores,
tecendo uma análise sobre os mesmos, apontando
pontos que o agradam e desagradam.
4. Coloca algumas críticas à FAE, aos cursos e
algumas políticas adotadas no passado com
conseqüência no hoje e que estão sendo trabalhadas e
modificadas.
5. Conta sobre a incipiência da questão da pesquisa e
da academia na FAE e como luta por estas questões.
6. Coloca alguns pontos que para o entrevistado
constituem-se em questões diferenciais da FAE.
7. Lista uma série de pontos fracos e fortes da
organização e foca novamente na fragilidade da área
de pesquisa da organização.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
A narrativa é muito centrada no entrevistado: reflete
sobre as coisas a partir de sua postura, do que elabora,
do que desenvolve, do seu ponto de vista e faz críticas
a outros atores que por vezes aparecem como
antagonistas.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala do seu lugar de docente e participante da linha
diretiva. Coloca-se como ator com poder de decisão e
ação na sua área de atuação.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
O valor respeito está presente em toda a narrativa,
inclusive é colocado pelo entrevistado como o motivo
maior por permanecer na organização e comprometer-
se com ela. Apresenta pressupostos sobre a atividade
docente também que para o entrevistado deve estar
centrada na pesquisa.
276
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Apesar de críticas que tece, afirma que a imagem de
qualidade da FAE se garante pelo esforço real que há
por esta qualidade, sustentada por alguns professores
e pelo corpo discente que responde bem e também é o
principal meio de “críticas” e controle que faz com que
as coisas aconteçam.
2. A prática de mercado dos professores é citada como
um elemento que acaba por “salvar” a falta de pesquisa
e desenvolvimento acadêmico.
3. Aponta a área de métodos quantitativos como o
grande forte e diferencial da FAE, é ela que contribui
para a formação de bons profissionais, com formação
sólidas, nas colocações do entrevistado.
4. Por possuir experiências em outros cursos da FAE
relata que cada um curso tem a sua realidade, o que
serve para um pode não servir para os outros.
5. Sobre a padronização de disciplinas: está
acontecendo com as disciplinas institucionais
(traduzidas como aquelas “impostas” a todos os
cursos).
6. Reforça o caráter de “valorização de quem é da
casa”: a maioria dos professores têm mais de 30 anos
de casa.
7. Cita que a FAE está sofrendo uma concorrência
pesada na contratação de professores de outras
universidades que pagam melhor. O que retém o
profissional é realmente a forma respeitosa como a
organização trata o profissional.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Ouvidoria.
2. Lista pública com os 10 melhores alunos.
3. Disciplinas institucionais.
4. Avaliação institucional.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Disciplinas com cargas teóricas e práticas.
2. Atendimento personalizado aos alunos.
277
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 32
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 55 minutos
Data da Entrevista 30 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre como começou a dar aulas, sobre sua
formação acadêmica, sobre sua experiência
profissional em organizações empresariais.
2. Fala sobre a questão da pesquisa na FAE, afirmando
que ela é incipiente e quando trabalhada em sala de
aula não é bem recebida pelos alunos.
3. Fala da sua percepção sobre o perfil dos alunos da
FAE.
4. Encadeia a narrativa contando como lida com os
alunos e o papel de respaldo que a coordenação tem
em todas as decisões do professor.
5. Falando sobre a organização, coloca ainda alguns
contratos que são claros e devem ser respeitados pelos
professores em sala de aula.
6. Continua falando sobre o papel da coordenação e
sobre as atividades desempenhadas.
7. Aponta alguns aspectos que julga importantes para a
FAE ser diferente de outras organizações.
8. Fala sobre como desenvolve o conteúdo nas
disciplinas em sala de aula.
9. Conta sobre o seu relacionamento com os alunos e
como isso contribui para o desenvolvimento das aulas.
10. Conta sobre sua experiência com o curso de
administração integral.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é no curso de graduação em
administração da FAE. O entrevistado traz à cena
vários personagens em termos de alunos, pares e
corpo diretivo para descrever como as coisas
acontecem e como percebe a FAE.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de docente, sentindo-se muito à
vontade neste lugar, com seus pares e com o
desenvolvimento de sala de aula. Refere-se a um
grande poder centrado nos alunos, que influencia as
278
decisões no curso.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Perpassam a narrativa do entrevistado valores
relacionados ao respeito e à liberdade, que ele
encontra e valoriza na FAE. Pressupõe ainda a
necessidade de pesquisa no ambiente universitário, o
que não encontra na FAE.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Destaca o respeito e o respaldo da coordenação em
relação ao trabalho do professor.
2. Ao mesmo tempo aponta a rigidez e a seriedade
como pontos fundamentais na FAE para garantir a
qualidade do ensino.
3. Destaca que os alunos são muito exigentes na FAE,
reclamam e tem de certa forma poder para isso, mas
não a ponto de corromper o trabalho da coordenação.
4. Frisa a existência de uma ambiente de trabalho
colaborativo, em que há troca de experiências e muita
receptividade às pessoas na FAE. No entanto identifica
que existem grupos de “faixa etária de casa” entre os
professores: os mais antigos e os mais novos trocam
muito, aceitam muito e recebem bem o que vem da
organização, enquanto que uma “faixa intermediária” é
um pouco mais reativa e menos acessível.
5. Coloca várias opiniões comparativas em relação a
outras organizações em que seus amigos trabalham,
afirmando que há sempre uma certa “inveja” quanto à
FAE, que é tida como uma organização série e boa
para trabalhar.
6. Reforça o foco na área financeira do curso de
graduação em administração da FAE.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Troca de experiências entre os professores.
2. Avaliação formal da organização sobre os
professores.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimento individualizado dos alunos pelos
coordenadores.
2. Banca de admissão dos docentes.
3. Aulas ministradas entre cargas teóricas e práticas.
279
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 33
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 1 hora e 22 minutos
Data da Entrevista 30 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre sua formação e trajetória profissional
que confundem-se com aspectos narrados sobre a FAE
e o grupo Bom Jesus.
2. Detêm-se especialmente a contar sobre sua
atividade atual na FAE e as motivações para estar ali.
3. Conta de forma mais detalhada sobre o curso de
administração integral com o qual trabalha, trazendo
aspectos sobre a proposta, os diferenciais e ajustes
que foram implementados neste ano.
4. Depois, fala sobre o curso de administração regular,
apresentando seu momento atual e comentando sobre
a reforma curricular que se está empreendendo na
FAE.
5. Fala sobre projetos novos e idéias que vêm sendo
estudadas para os próximos anos na FAE.
6. Fala sobre algumas questões e posturas da
coordenação diante delas.
7. Fala um pouco sobre o que entende como diferencial
da FAE e de como percebe que se trabalha para que os
resultados sejam sustentados.
8. Conta sobre os desafios que percebe para a FAE
nos próximos anos, diante das mudanças que têm
ocorrido na área de educação.
9. Fecha sua narrativa destacando pontos atrelados
aos valores e à forma de conduzir as coisas que fazem
da FAE um lugar atrativo para as pessoas que ali estão.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é a FAE enquanto organização e os
cursos de administração e administração integral. Traz
à cena vários personagens para constituir a trama da
narrativa, mas não se consegue perceber relações de
antagonia.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
O entrevistado fala de seu lugar de docente e também
participante do corpo diretivo do curso. Evidencia em
280
poder sua fala uma série de pessoas com quem se relaciona
para desenvolver seu trabalho e descreve a sua função
como uma função com um certo grau de poder para
decidir e conduzir os caminhos do curso de graduação
em administração.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
O contexto moral expresso na narrativa está pautado
fundamentalmente no respeito, como valor que guia as
ações, o trabalho e o relacionamento entre as pessoas
na FAE. Destaca ainda o comprometimento, a
transparência, o entusiasmo e a inovação como
pressupostos do trabalho desenvolvido. Estes valores
são explicitados na própria fala e também nas práticas
descritas pelo entrevistado. Importante destacar que,
apesar da narrativa expressar certo orgulho, expressa
também humildade e simplicidade quando afirma-se
que se tem empreendido esforços no trabalho mas que
se tem consciência de que muito ainda precisa ser
desenvolvido.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
1. Formação acadêmica e profissional do entrevistado
desenvolveu-se principalmente na FAE e também
possui uma vivência grande na organização.
2. Destaca o papel da coordenação de proximidade
com os alunos, assim como os demais entrevistados
descrevem.
3. Descreve o respeito, a exemplo dos demais
entrevistados, como um grande valor da FAE e que
mantém também os vínculos que as pessoas
desenvolvem com a organização.
4. Destaca que a reforma curricular pela qual a FAE
está passando não é só do curso de administração mas
é um processo da instituição como um todo.
5. Destaca novamente o caráter coletivo da
organização.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Núcleo de empregabilidade.
2. Feira de Gestão.
3. Management Program Experience (Administração
Integral).
4. Central de Casos.
5. FAE 2020.
Atividades apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Atendimentos individualizados aos alunos pela
coordenação.
281
1. Identificação
Categoria Descrição
Ator
Entrevistado 34
Categoria Professor / Corpo Diretivo
Organização Pesquisada FAE – Centro Universitário
Tempo de Narrativa 13 minutos
Data da Entrevista 30 de outubro de 2008.
2. A narrativa*
* A questão inicial orientadora, após explicar o propósito do estudo, foi como o entrevistado traçou a sua
trajetória profissional até aqui, contando como chegou à UFPR e que tipo de atividades desenvolveu e
desenvolve na organização. Permeando este contexto foram sendo lançadas questões que permitissem
ao entrevistado contar suas rotinas, atividades e práticas de trabalho, procurando conhecer as práticas
estratégicas de formação de conteúdo presentes na UFPR.
Propriedade da
Narrativa
Indicador Descrição do encontrado nesta narrativa
Seqüência
Padrões de
eventos
1. Conta sobre sua trajetória profissional em
organizações empresariais e como a FAE entrou na
sua vida profissional.
2. Conta sobre as disciplinas que leciona e faz alguns
comentários sobre o perfil dos alunos, como conduz as
aulas em termos de dinâmica, metodologia e avaliação.
3. Comenta um pouco sobre a dinâmica entre os
professores da área de sua atuação específica.
Ator focal
Papel, redes
sociais e
demográficas
O foco da narrativa é o curso de graduação em
administração da FAE, mas o entrevistado coloca-se
em vários momentos como personagem principal, ao
descrever sua carreira e a forma como conduz as suas
disciplinas e o seu trabalho. Não fala muito de outros
personagens na sua narrativa, a não ser em termos de
grupo: “grupo de alunos”, “grupo de professores”.
Voz
Ponto de vista,
relações sociais e
poder
Fala de seu lugar de docente e também membro de
parte do corpo diretivo, porém sua “voz” está focada no
seu lugar de docente.
Contexto Moral
Valores culturais e
pressupostos
Não expressa valores e também não faz juízos de
valores a respeito do que conta.
Outros indicadores
Outros aspectos
do contexto
Pode-se perceber mais uma vez a menção ao trabalho
coletivo e às discussões entre os professores da área
específica. Outra característica comum é a experiência
de mercado do entrevistado, que ele afirma ser
importante na condução das disciplinas.
Práticas apontadas
Respondendo aos
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
1. Reuniões formais entre os professores e a
coordenação.
2. Discussões informais entre os professores da área
específica.
3. Avaliação discente: 70% prova individual; 30%
demais atividades de sala de aula.
Atividades apontadas
Respondendo aos
1. Aulas divididas entre carga teórica e carga prática.
282
objetivos
específicos do
contexto da
pesquisa
283
ANEXO A. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2005. (*)
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso
de Graduação em Administração, bacharelado, e dá
outras providências.
O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, no uso de
suas atribuições legais, com fundamento no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº 4.024, de 20 de
dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, tendo
em vista as diretrizes e os princípios fixados pelos Pareceres CNE/CES nos 776/97 e 583/2001,
bem como considerando o que consta dos Pareceres CNE/CES nos 67/2003; 134/2003,
210/2004 e 23/2005, homologados pelo Senhor Ministro de Estado da Educação,
respectivamente, em 2/6/2003, 9/9/2003, 24/9/2004 e 3/6/2005, resolve:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Administração, bacharelado, a serem observadas pelas Instituições de Ensino
Superior em sua organização curricular.
Art. 2º A organização do curso de que trata esta Resolução se expressa através do seu projeto
pedagógico, abrangendo o perfil do formando, as competências e habilidades, os componentes
curriculares, o estágio curricular supervisionado, as atividades complementares, o sistema de
avaliação, o projeto de iniciação científica ou o projeto de atividade, como Trabalho de Curso,
componente opcional da instituição, além do regime acadêmico de oferta e de outros aspectos
que tornem consistente o referido projeto pedagógico.
§ 1º O Projeto Pedagógico do curso, além da clara concepção do curso de graduação em
Administração, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e sua operacionalização,
abrangerá, sem prejuízo de outros, os seguintes elementos estruturais:
I - objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às suas inserções institucional,
política, geográfica e social;
II - condições objetivas de oferta e a vocação do curso;
III - cargas horárias das atividades didáticas e da integralização do curso;
IV - formas de realização da interdisciplinaridade;
V - modos de integração entre teoria e prática;
VI - formas de avaliação do ensino e da aprendizagem;
VII - modos de integração entre graduação e pós-graduação, quando houver;
284
VIII - incentivo à pesquisa, como necessário prolongamento da atividade de ensino e como
instrumento para a iniciação científica;
IX - concepção e composição das atividades de estágio curricular supervisionado, suas
diferentes formas e condições de realização, observado o respectivo regulamento;
X - concepção e composição das atividades complementares; e,
XI - inclusão opcional de trabalho de curso sob as modalidades monografia, projeto de iniciação
científica ou projetos de atividades, centrados em área teórico-prática ou de formação
profissional, na forma como estabelecer o regulamento próprio.
§ 2º Com base no princípio de educação continuada, as IES poderão incluir no Projeto
Pedagógico do curso, o oferecimento de cursos de pós-graduação lato sensu, nas respectivas
modalidades, de acordo com as efetivas demandas do desempenho profissional.
(*) Resolução CNE/CES 4/2005. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de julho de 2005, Seção
1, p. 26
§ 3º As Linhas de Formação Específicas nas diversas áreas da Administração não constituem
uma extensão ao nome do curso, como também não se caracterizam como uma habilitação,
devendo as mesmas constar apenas no Projeto Pedagógico.
Art. 3º O Curso de Graduação em Administração deve ensejar, como perfil desejado do
formando, capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e
econômicas da produção e de seu gerenciamento, observados níveis graduais do processo de
tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado,
revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e
adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos
vários segmentos do campo de atuação do administrador.
Art. 4º O Curso de Graduação em Administração deve possibilitar a formação profissional que
revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades:
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir
modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar
conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de
decisão;
II - desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional, inclusive
nos processos de negociação e nas comunicações interpessoais ou intergrupais;
III - refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, compreendendo sua posição e
função na estrutura produtiva sob seu controle e gerenciamento;
IV - desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações
matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos produtivos,
administrativos e de controle, bem assim expressando-se de modo crítico e criativo diante dos
diferentes contextos organizacionais e sociais;
285
V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa, vontade de
aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das implicações éticas do seu
exercício profissional;
VI - desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência cotidianas
para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em diferentes modelos
organizacionais, revelando-se profissional adaptável;
VII - desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações;
e
VIII - desenvolver capacidade para realizar consultoria em gestão e administração, pareceres e
perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e operacionais.
Art. 5º Os cursos de graduação em Administração deverão contemplar, em seus projetos
pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem inter-relações com a
realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e contextualizada de sua
aplicabilidade no âmbito das organizações e do meio através da utilização de tecnologias
inovadoras e que atendam aos seguintes campos interligados de formação:
I - Conteúdos de Formação Básica: relacionados com estudos antropológicos, sociológicos,
filosóficos, psicológicos, ético-profissionais, políticos, comportamentais, econômicos e
contábeis, bem como os relacionados com as tecnologias da comunicação e da informação e das
ciências jurídicas;
II - Conteúdos de Formação Profissional: relacionados com as áreas específicas, envolvendo
teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercado e
marketing, materiais, produção e logística, financeira e orçamentária, sistemas de informações,
planejamento estratégico e serviços;
III - Conteúdos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias: abrangendo pesquisa operacional,
teoria dos jogos, modelos matemáticos e estatísticos e aplicação de tecnologias que contribuam
para a definição e utilização de estratégias e procedimentos inerentes à administração; e
IV - Conteúdos de Formação Complementar: estudos opcionais de caráter transversal e
interdisciplinar para o enriquecimento do perfil do formando.
Art. 6º A organização curricular do curso de graduação em Administração estabelecerá
expressamente as condições para a sua efetiva conclusão e integralização curricular, de acordo
com os seguintes regimes acadêmicos que as Instituições de Ensino Superior adotarem: regime
seriado anual, regime seriado semestral, sistema de créditos com matrícula por disciplina ou por
módulos acadêmicos, com a adoção de pré-requisitos, atendido o disposto nesta Resolução.
Art. 7º O Estágio Curricular Supervisionado é um componente curricular direcionado à
consolidação dos desempenhos profissionais desejados inerentes ao perfil do formando,
devendo cada instituição, por seus Colegiados Superiores Acadêmicos, aprovar o
correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalização.
§ 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realizado na própria instituição de ensino,
mediante laboratórios que congreguem as diversas ordens práticas correspondentes aos
diferentes pensamentos das Ciências da Administração.
286
§ 2º As atividades de estágio poderão ser reprogramadas e reorientadas de acordo com os
resultados teórico-práticos, gradualmente reveladas pelo aluno, até que os responsáveis pelo
acompanhamento, supervisão e avaliação do estágio curricular possam considerá-lo concluído,
resguardando, como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício da profissão.
§ 3º Optando a instituição por incluir no currículo do Curso de Graduação em Administração o
Estágio Supervisionado de que trata este artigo deverá emitir regulamentação própria, aprovada
pelo seu Conselho Superior Acadêmico, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e
mecanismos de avaliação, observado o disposto no parágrafo precedente.
Art. 8º As Atividades Complementares são componentes curriculares que possibilitam o
reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno,
inclusive adquiridas fora do ambiente escolar, incluindo a prática de estudos e atividades
independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com
o mundo do trabalho e com as ações de extensão junto à comunidade.
Parágrafo único. As Atividades Complementares se constituem componentes curriculares
enriquecedores e implementadores do próprio perfil do formando, sem que se confundam com
estágio curricular supervisionado.
Art. 9º O Trabalho de Curso é um componente curricular opcional da Instituição que, se o
adotar, poderá ser desenvolvido nas modalidades de monografia, projeto de iniciação científica
ou projetos de atividades centrados em áreas teórico-práticas e de formação profissional
relacionadas com o curso, na forma disposta em regulamento próprio.
Parágrafo único. Optando a Instituição por incluir no currículo do curso de graduação em
Administração o Trabalho de Curso, nas modalidades referidas no caput deste artigo, deverá
emitir regulamentação própria, aprovada pelo seu conselho superior acadêmico, contendo,
obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, além das diretrizes
técnicas relacionadas com a sua elaboração.
Art. 10. A carga horária mínima dos cursos de graduação será estabelecida em Resolução da
Câmara de Educação Superior.
Art. 11. As Diretrizes Curriculares Nacionais desta Resolução deverão ser implantadas pelas
Instituições de Educação Superior, obrigatoriamente, no prazo máximo de dois anos, aos alunos
ingressantes, a partir da publicação desta.
Parágrafo único. As IES poderão optar pela aplicação das DCN aos demais alunos do período
ou ano subseqüente à publicação desta.
Art. 12. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogada a
Resolução CFE nº 2, de 4 de outubro de 1993, e a Resolução CNE/CES nº 1, de 2 de fevereiro
de 2004.
EDSON DE OLIVEIRA NUNES
Presidente da Câmara de Educação Superior
287
ANEXO B. GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO DA UFPR
1º SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-
REQUISITO
Adm.
Pessoas
Organização e Planejamento de
Recursos Humanos
60 -
Marketing
Fundamentos de Marketing
60 -
Finanças
Princípios de Finanças
60 -
Organiza
ções
Evolução do Pensamento em
Administração
60
Organizações e Ambiente
Socioeconômico
60
-
-
Outras Direito Empresarial 60 -
TOTAL 360
2
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Organiza
ções
Ética nas Organizações 60 -
Fundamentos da Gestão Organizacional
60
Evolução do
Pensamento em
Administração
Teoria Social e Organizações
60 -
Outras
Complementos de Matemática I 60 -
Oficina de Informática
60
-
Estatística II 60
TOTAL 360
3
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Adm.
Pessoas
Remuneração, Carreira e Avaliação de
Desempenho de Pessoas
60
Organização e
Planej. de Rec.
Humanos
Marketing
Administração de Marketing
60
Fundamentos de
Marketing
Finanças
Análise Econômico-Financeira das
Empresas I
60 -
Organiza
ções
Teoria das Organizações
60
Fundamentos da
Gestão
Organizacional
Pesquisa em Administração 60 -
Outras Métodos Quantitativos I 60 Estatística II
TOTAL 360
288
4
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Produção Estratégias de Produção 60 -
Adm.
Pessoas
Recrutamento, Seleção e
Desenvolvimento de Pessoas
60
Rem., Carr.e Aval.
de Des.de Pessoas
Finanças
Gestão do Capital Circulante
60
Análise Econ.-
Financ. Empresas I
Planejamento Tributário
60
Direito Empresarial
Organiza
ções
Empreendedorismo e Criação de Novos
Negócios
60
-
Outras Métodos Quantitativos II
60
Métodos
Quantitativos I
TOTAL 360
5
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Produção
Sistemas de Produção
60
Estratégias de
Produção
Logística de Suprimentos 60
Métodos
Quantitativos II
Marketing
Pesquisa de Marketing 60
Estatística II e
Adm. de Marketing
Finanças
Mercado de Capitais
60
Organiza
ções
Administração do Terceiro Setor
60
Teoria das
Organizações
Administração de Sistemas de
Informação
60
Teoria das
Organizações
TOTAL 360
6
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Produção
Logística de Distribuição
60
Logística de
Suprimentos
Administr
ação de
Pessoas
Fundamentos Psicológicos do
Comportamento Humano nas
Organizações
60
Recrutamento,
Seleção e
Avaliação de
Desempenho de
Pessoas
Marketing
Planejamento e Estratégia de Marketing 60 Adm. de Marketing
Finanças
Decisão de Investimento
60
Princípios de
Finanças
Organiza
ções
Administração Estratégica
60
Teoria das
Organizações
TOTAL 300
289
7
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Produção
Administração de Projetos
60
-
Administr
ação de
Pessoas
Comportamento Organizacional 60
Fundam. Psic. do
Comportamento
Humano nas
Organizações
Marketing
Administração de Varejo e Serviços 60 Adm. de Marketing
Finanças
Decisão de Financiamento
60
Mercado de
Capitais
Organiza
ções
Gestão Internacional de Negócios
60
Adm. Estratégica
TOTAL 300
8
o
SEMESTRE
DISCIPLINAS OPTATIVAS (5)
CARGA
HORÁRIA
PRÉ-REQUISITO
Produção
Tópicos Especiais de Operações e
Logística
60
Logística de
Distribuição
Adm.
Pessoas
Tópicos Especiais de Administração de
Pessoas
60
Comportamento
Organizacional
Marketing
Tópicos Especiais de Marketing
60 Adm. de Marketing
Finanças
Tópicos Especiais de Finanças
60
Decisão de
Financiamento
Organiza
ções
Tópicos Especiais em Análise
Organizacional
60
Teoria das
Organizações
Tópicos Especiais em Administração
Pública
60
Teoria das
Organizações
O aluno deve optar por disciplinas, deste semestre, que perfaçam 300 horas, ou seja
deve fazer pelo menos cinco das seis disciplinas do semestre.
TOTAL 300
CARGA HORÁRIA DAS DISCIPLINAS
2.700
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
300
ATIVIDADES CURRICULARES
COMPLEMENTARES OBRIGATÓRIAS
60
CARGA HORÁRIA TOTAL (H/A)
3.060
290
ANEXO C. GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO DA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
Núcleo de Estudos Básicos
Formação Geral
Disciplinas do 1º. ano
Matéria Carga Horária
Desenvolvimento Pessoal e Profissional 36 h
Dinâmica das Idéias Sociais 36 h
Estatística Aplicada 72 h
Ética e Responsabilidade Social 72 h
Formação Econômica do Brasil 36 h
História Econômica Geral 36 h
Informática e Multimídia 36 h
Instituições de Direito 36 h
Introdução à Administração 72 h
Introdução à Contabilidade 72 h
Introdução à Economia 72 h
Matemática 72 h
Matemática Financeira 72 h
Português Instrumental I (*) 36 h
Total Horas/Aula: 756 h
Disciplinas do 2º. ano
Matéria Carga Horária
Administração da Produção 72 h
Administração Financeira 72 h
Análise de Custos 72 h
Contabilidade Gerencial 72 h
Direito Empresarial 36 h
Economia Brasileira 36 h
Economia Empresarial 72 h
Fundamentos de Marketing 36 h
Macroambiente Econômico 72 h
Negócios Internacionais 72 h
Pesquisa Operacional 72 h
Planejamento Estratégico 36 h
Português Instrumental II (*) 36 h
291
Total Horas/Aula: 756 h
Núcleos de Estudos Profissionalizantes
Conteúdos Profissionais
Disciplinas do 3º. ano
Matéria Car
g
a Horária
Administra
ç
ão de Marketin
g
I 72 h
Administra
ç
ão de Marketin
g
II 72 h
Administra
ç
ão de Materiais 72 h
Comércio Exterior - Importa
ç
ão e Exporta
ç
ão 36 h
Controladoria 72 h
Direito do Trabalho 36 h
Empreendedorismo - Análise de Pro
j
etos - Semestral 72 h
Estraté
g
ias Empresariais 36 h
Evolu
ç
ão do Pensamento Administrativo 72 h
Gestão da Qualidade e Produtividade 36 h
Gestão de Pessoas 72 h
Portu
g
uês Instrumental III (*) 36 h
T
écnicas de Pesquisa em Administra
ç
ão - Semestral 72 h
T
otal Horas/Aula: 756 h
Disciplinas do 4 º. ano
Matéria Car
g
a Horária
Comportamento e Lideran
ç
a Empresarial 72 h
Estraté
g
ias de Remunera
ç
ão 36 h
Gestão Ambiental 36 h
Gestão da Produ
ç
ão 72 h
Jo
g
o de Empresas 72 h
Le
g
isla
ç
ão Tributária 36 h
Lo
g
ística Empresarial 72 h
Mercado Financeiro e de Capitais 72 h
Optativa I 36 h
Optativa II 36 h
Sistemas de Informa
ç
ões Gerenciais 36 h
T
rabalho de Conclusão de Curso -
T
CC/Está
g
io Supervisionado 300 h
T
otal Horas/Aula: 876 h
Car
g
a Horário Total: 3.144 h
(*) Disciplina 100% ministrada no formato EAD.
292
ANEXO D. GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ADMINISTRAÇÃO (INTEGRAL) DA FAE – CENTRO UNIVERSITÁRIO
Núcleo de Estudos Básicos
Formação Geral
Disciplinas do 1º. ano
Matéria Car
g
a Horária
Desenvolvimento Pessoal e Profissional 36 h/a
Dinâmica das Idéias Sociais 36 h/a
Estatística Aplicada 72 h/a
É
tica e Responsabilidade Social 72 h/a
Forma
ç
ão Econômica do Brasil 36 h/a
História Econômica Geral 36 h/a
Informática e Multimídia 36 h/a
Institui
ç
ões de Direito 36 h/a
Introdu
ç
ão à Administra
ç
ão 72 h/a
Introdu
ç
ão à Contabilidade 72 h/a
Introdu
ç
ão à Economia 72 h/a
Matemática 72 h/a
Matemática Financeira 72 h/a
T
otal: 720 h/a
Disciplinas oferecidas no período da tarde:
Comunica
ç
ão Escrita Comercial I - Semestral 36 h/a
Comunica
ç
ão Escrita Comercial II - Semestral 36 h/a
Espanhol Instrumental I - Semestral 36 h/a
Espanhol Instrumental II - Semestral 36 h/a
Estudos Diri
g
idos I - Introdu
ç
ão à Administra
ç
ão 36 h/a
Estudos Diri
g
idos II - Matemática Financeira 36 h/a
Estudos Diri
g
idos III - Introdu
ç
ão à Contabilidade 36 h/a
Estudos Diri
g
idos IV - Desenvolvimento Pessoal e Profissional 36 h/a
Informática Aplicada I - Semestral 36 h/a
Informática Aplicada II - Semestral 36 h/a
In
g
lês Instrumental I - Semestral 72 h/a
In
g
lês Instrumental II - Semestral 72 h/a
Matemática Comercial I - Semestral 36 h/a
Matemática Comercial II - Semestral 36 h/a
Geopolitica Aplicada à Administra
ç
ão I - Semestral 72 h/a
293
Geopolitica Aplicada à Administra
ç
ão II - Semestral 72 h/a
T
otal: 720 h/a
Disciplinas do 2º. ano
Matéria Car
g
a Horária
Administra
ç
ão da Produ
ç
ão 72 h/a
Administra
ç
ão Financeira 72 h/a
Análise de Custos 72 h/a
Contabilidade Gerencial 72 h/a
Direito Empresarial 36 h/a
Economia Brasileira 36 h/a
Economia Empresarial 72 h/a
Fundamentos de Marketin
g
36 h/a
Macroambiente Econômico 72 h/a
Ne
g
ócios Internacionais 72 h/a
Pesquisa Operacional 72 h/a
Plane
j
amento Estraté
g
ico 36 h/a
T
otal: 720 h/a
Disciplinas oferecidas no período da tarde:
Coachin
g
(Está
g
io) - Semestral 36 h/a
Comunica
ç
ão Escrita Comercial III - Semestral 36 h/a
Comunica
ç
ão Escrita Comercial IV - Semestral 36 h/a
Espanhol Instrumental III - Semestral 36 h/a
Espanhol Instrumental IV - Semestral 36 h/a
Está
g
io - Semestral 72 h/a
Estudo Diri
g
ido V - Administra
ç
ão Financeira 36 h/a
Estudo Diri
g
ido VI - Contabilidade Gerencial 36 h/a
Estudo Diri
g
ido VII - Economia Empresarial 36 h/a
Estudo Diri
g
ido VIII - Pesquisa Operacional 36 h/a
Estudos de Caso I - Semestral 36 h/a
Estudos de Caso II - Semestral 36 h/a
Gestão de Empresa Familiar - Semestral 36 h/a
In
g
lês Instrumental III - Semestral 72 h/a
In
g
lês Instrumental IV - Semestral 72 h/a
Marketin
g
Pessoal 36 h/a
T
écnicas de Apresenta
ç
ão 36 h/a
294
T
otal: 720 h/a
Núcleos de Estudos Profissionalizantes
Conteúdos Profissionais
Disciplinas do 3º. ano
Matéria Car
g
a Horária
Administra
ç
ão de Marketin
g
I 72 h/a
Administra
ç
ão de Marketin
g
II 72 h/a
Administra
ç
ão de Materiais 72 h/a
Comércio Exterior - Importa
ç
ão e Exporta
ç
ão 36 h/a
Controladoria 72 h/a
Direito do Trabalho 36 h/a
Empreendedorismo - Análise de Pro
j
etos - Semestral 72 h/a
Estraté
g
ias Empresariais 36 h/a
Evolu
ç
ão do Pensamento Administrativo 72 h/a
Gestão da Qualidade e Produtividade 36 h/a
Gestão de Pessoas 72 h/a
T
écnicas de Pesquisa em Administra
ç
ão - Semestral 72 h/a
T
otal: 720 h/a
Disciplinas oferecidas no período da tarde:
Avalia
ç
ão de Empresas 36 h/a
Business Plan 36 h/a
Espanhol Instrumental V 36 h/a
Espanhol Instrumental VI 36 h/a
Está
g
io Supervisionado I - Orienta
ç
ões 72 h/a
Estudos Diri
g
idos 144 h/a
Gestão da Informa
ç
ão na Or
g
aniza
ç
ão 36 h/a
Gestão do Terceiro Setor 36 h/a
In
g
lês Instrumental V 72 h/a
In
g
lês Instrumental VI 36 h/a
Prática de Consultoria - Kit Gestão 144 h/a
Práticas do Comércio Internacional 36 h/a
T
otal: 720 h/a
Disciplinas do 4º. ano
Matéria Car
g
a Horária
295
Comportamento e Lideran
ç
a Empresarial 72 h/a
Estraté
g
ias de Remunera
ç
ão 36 h/a
Gestão Ambiental 36 h/a
Gestão da Produ
ç
ão 72 h/a
Jo
g
o de Empresas 72 h/a
Le
g
isla
ç
ão Tributária 36 h/a
Lo
g
ística Empresarial 72 h/a
Mercado Financeiro e de Capitais 72 h/a
Optativa I 36 h/a
Optativa II 36 h/a
Sistemas de Informa
ç
ões Gerenciais 36 h/a
T
rabalho de Conclusão de Curso -
T
CC/Está
g
io Supervisionado 300 h/a
T
otal: 876 h/a
Disciplinas oferecidas no período da tarde:
Estudos Diri
g
idos 144 h/a
Está
g
io Curricular Supervisionado 576 h/a
T
otal: 720 h/a
Car
g
a Horário Total: 5.916 h/a
(*) Disciplina 100% ministrada no formato EAD.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo