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assentada mais fortemente no aumento da mais-valia absoluta devido à redução dos salários
reais e ao aumento da jornada de trabalho provenientes do processo de flexibilização do
mercado de trabalho (TEUBAL, 2000-2001).
Com a acumulação da região assentada na flexibilização das relações trabalhistas e na
valorização financeira, materializa-se um aumento da heterogeneidade no continente, tanto
interno a cada país quanto entre diferentes países, pois a renda vem sendo distribuída de
forma cada vez mais regressiva. Desse modo, a desigualdade, nos países latino-americanos, se
acentuou
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, tanto nos países que tiveram êxito nos ajustes estruturais quanto nos menos
exitosos. O abismo entre os mais abastados e os mais pobres cresceu de forma acentuada nos
países latino-americanos que adotaram as políticas liberalizantes. Dentre os países principais,
a evolução do salário mínimo real urbano mostrou a superação dos níveis salariais de 1990 -
com exceção do México e Uruguai. Entrementes, no cotejo entre os níveis de 1980 e de 2000,
verificaram-se reduções significativas: no Brasil (-5,42%), na Argentina (-32,80%), na
Venezuela (-98,47%), no México (-235,27%) e no Peru (-460,51%) (CEPAL, 2003).
O baixo crescimento econômico, juntamente com abertura comercial, as privatizações das
empresas estatais e a fragilização dos sindicatos, na América Latina, implicaram diretamente
e indiretamente no aumento das taxas de desemprego e contribuíram para a desestruturação do
mercado de trabalho
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, com a substituição de ocupações mais estáveis e de melhor qualidade
70
A distribuição da renda encontra-se em níveis piores hoje, na maioria dos países do continente, do que nas
décadas de 80 e 90. Segundo a Cepal (2003), os 20% mais pobres e os 20% mais ricos da população detinham,
respectivamente, em porcentagem da renda total: na Argentina, 6,8 e 45,3, em 1980, e 6,0 e 56,0 no ano de 1999;
no Brasil, 3,3 e 59,2 , em 1980, e 3,5 e 61,9, em 1999. Neste país, apesar de certa melhora na renda dos mais
pobres, ocorreu um aumento na renda dos mais ricos, com um provável descolamento de renda das classes
médias brasileiras para as classes mais pobres e mais ricas, o que não se configura como melhor forma para
obtenção de equidade na renda; 7,8 e 41,2, em 1984, e 6,7 e 49,0, em 2000, no México, uma das piores
evoluções na distribuição de renda, só perdendo para a Venezuela. Uma das poucas exceções foi o Chile e a
Colômbia que lograram uma melhora dos índices de equidade social. No conjunto da América latina a herança
da desigualdade social e suas conseqüências continuam sendo levadas às futuras gerações. A pobreza e a
indigência da população urbana, entre 1994 e 1999, diminuíram de 32% e 12% para, respectivamente, 30% e
9%. Embora se perceba uma pequena melhoria neste período, a pobreza ainda manteve-se muito acima dos
níveis de 1980 (25% e 9%), enquanto a indigência urbana se manteve na mesma posição. Com a população rural,
o quadro é ainda pior: entre 1994 e 1999, a pobreza e a indigência caíram de 56% para 54% e de 34% para 31%,
respectivamente; em relação a 1990, ambas também pioraram (CEPAL, 2003).
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A taxa de desemprego urbano aberto, em média ponderada, da América Latina, ao longo da década de 1980, se
reduz de 6,1 a 5,8, entre 1980 e 1990 apesar de todo colapso das várias políticas macroeconômicas e da crise do
endividamento na região. No decorrer dos anos 90 a taxa de desemprego eleva-se, de 5,8 para 8,4, no cotejo
entre 1990 em 2001, confirmando que as políticas neoliberais tendem a acentuar o desemprego, seja pelo seu
aspecto estrutural, seja pela sua dimensão conjuntural. A maior era a da Argentina (passa de 2,6 em 1980 para
7,4 em 1990, e mais do que dobra, 17,4, em 2001); vale ressaltar que este foi o país que implementou de forma
mais intensa o ajuste; a do México, embora fosse uma das mais baixas (por problemas metodológicos), cai de 4,5