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(...) não como sujeitos autônomos, indivíduos livres, mas como
pessoas que experimentam suas situações e relações produtivas
determinadas como necessidades e interesses e como
antagonismos, e em seguida tratam essa experiência em sua
consciência e sua cultura... das mais complexas maneiras... em
seguida agem, por sua vez, sobre sua situação determinada
(THOMPSON, 2008, p.182).
Assim, Thompson em seus estudos sobre a formação da classe operária
inglesa, mostrou que a classe social possui uma “relação histórica” formada através
das experiências construídas, trabalhadas e reproduzidas de tradições, sistemas de
valores e formas institucionais, convergindo com Hobsbawm na sua relevância
histórica. Para o autor, estudar a formação de uma classe determinada é saber
“como o indivíduo veio a ocupar esse papel social e como a organização social (..) ai
chegou” (THOMPSON, 2002, p.11).
Este autor ainda destaca que, a classe não é uma categoria social
construída através de uma soma de indivíduos, mas resultante de diferentes
contextos de relações sociais que criam uma superestrutura cultural capaz de
alavancar um sistema de signos que são utilizados como ferramentas para a
sobrevivência do grupo nas mais diversas situações de coerção.
A proposta metodológica de Thompson coaduna-se com o que hoje
denominamos de abordagens construtivistas na sociologia (CORCUFF, 2002).
Segundo essa perspectiva, que é trabalhada por Bourdieu (1996, p.26-27), “as
classes sociais não existem o que existe é um espaço social, um espaço de
diferenças, no qual as classes existem de algum modo em estado virtual,
pontilhadas, não como um dado, mas como algo que se trata de fazer".
Utilizando-se de Thompson, Bourdieu afirma:
É preciso construir o espaço social como estrutura de posições
diferenciadas, definidas, em cada caso, pelo lugar que ocupam na
distribuição de um tipo específico de capital. (Nessa lógica, as
classes sociais são apenas classes lógicas, determinadas, em teoria
e. se pode dizer assim, no papel, pela delimitação de um conjunto –
relativamente – homogêneo de agentes que ocupam posição idêntica
no espaço social; elas não podem se tornar classes mobilizadas e
atuantes, no sentido da tradição marxista, a não ser por meio de um
trabalho propriamente político de construção, de fabricação – no
sentido de E.P. Thompson fala em The making of the English working
class - cujo êxito pode ser favorecido, mas não determinado, pela
pertinência à mesma classe sócio-lógica.) (BOURDIEU, 1996, p. 29).