Download PDF
ads:
MARIA ISABEL IMBRONITO
PROCEDIMENTO
PROCEDIMENTOPROCEDIMENTO
PROCEDIMENTO
DE
DEDE
DE
PROJETO
PROJETOPROJETO
PROJETO
COM
COMCOM
COM
BASE
BASEBASE
BASE
EM
EMEM
EM
RETÍCULAS:
RETÍCULAS:RETÍCULAS:
RETÍCULAS:
ESTUDO
ESTUDO ESTUDO
ESTUDO
DE
DEDE
DE
CASAS
CASASCASAS
CASAS
DE
DE DE
DE
EDUARDO
EDUARDOEDUARDO
EDUARDO
DE
DE DE
DE
ALMEIDA
ALMEIDAALMEIDA
ALMEIDA
Tese apresentada para o Programa de Pós Graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Área de concentração: Projeto de Arquitetura
Orientadora: Prof. Dra. Marlene Yurgel
São Paulo, 2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Au
torizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
assinatura:
e-mail: imbroni[email protected]m
Imbronito, Maria Isabel
I32p Procedimento de projeto com base em retículas: estudo de
casas de Eduardo de Almeida / Maria Isabel Imbronito. - - São
Paulo, 2008.
155 p. : il.
Tese (Doutorado - Área de Concentração: Projeto de
Arquitetura) - FAUUSP.
Orientadora: Marlene Yurgel
1. Arquitetura moderna 2.Projeto de arquitetura
3.Almeida, Eduardo L. Paulo R., 1933- I.Título
CDU 72.036
ads:
RESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
O trabalho apresenta casas projetadas pelo arquiteto Eduardo de Almeida, entre
1959 e 2007, que revelam procedimentos consistentes de projeto para efeito de
ensino e pesquisa em arquitetura, com ênfase no uso de retículas durante a
elaboração do raciocínio do projeto.
Entende-se que o uso de malhas reticuladas, ao orientar a organização espacial e
construtiva, irá se refletir no resultado final da arquitetura. Porém, as retículas,
enquanto procedimento, estão submetidas a uma intenção de projeto, assumindo
características diferentes. Para um melhor entendimento do papel da retícula,
discute-se brevemente a retícula na obra de Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe
e Louis Kahn.
ABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
This essay presents houses made by Eduardo de Almeida between 1959 and 2007,
which shows consistent project procedures for teaching and research in
architecture, emphasizing the use of grids.
It is considered that grids, by guiding the space and constructive organization, are
reflected in the final results of architecture. Nevertheless, grids as a project
procedure is submitted by a project intention, therefore different kinds of grids can
be noticed while analyzing different architects. For a better understanding of grids,
architects such as Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe and Louis Kahn are also
briefly discussed.
SUMÁRIO
SUMÁRIOSUMÁRIO
SUMÁRIO
1.
Introdução p.5
2.
Parte 1 – A retícula de Wright, Mies e Kahn
CAPÍTULO 1 – Frank Lloyd Wright e as casas usonianas p.19
CAPÍTULO 2 – Mies van der Rohe e a marcação do espaço infinito p.32
CAPÍTULO 3 – Louis Kahn e as unidades espaciais p.46
3.
Parte 2 – Procedimentos de projeto com base em retícula
Estudos de casas do arquiteto Eduardo de Almeida
CAPÍTULO 4 – A planta quadrada p.70
CAPÍTULO 5 – A laje inclinada p.83
CAPÍTULO 6 – Casas em lote com pátio p.96
CAPÍTULO 7 – Projetos de referência p.112
CAPÍTULO 8 – O detalhe e a retícula p.136
4.
Considerações Finais p.146
5.
Referências Bibliográficas p.150
1
INTRODUÇÃO
6
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Projeto: idéia, desenho. intenção de realizar (algo) no futuro; plano. [...] ARQ- plano geral para a
construção de qualquer obra, com plantas, cálculos, descrições, orçamentos, etc.
(HOUAISS, 2001:2308)
O projeto é um plano que se traça para a execução de alguma coisa, e o papel é
um campo físico bi-dimensional para uma reflexão, que é geradora da construção.
Quando o arquiteto passa a trabalhar preliminarmente com um instrumento de
representação, que é o desenho, em vez de conceber em escala real a obra
arquitetônica no canteiro e coordenar sua execução, os meios para a elaboração
do desenho (os instrumentos e os sistemas de medidas) tem interferência na
elaboração do projeto arquitetônico. Apesar da tridimensionalidade do objeto
construído, o desenho, enquanto representação do objeto, é uma forma bi-
dimensional.
A modulação tem, na história da arquitetura, uma origem prática e construtiva. Na
antiguidade, estabeleceram-se com diferentes ordens, sistemas de medidas
proporcionais com duplo sentido – construtivo, ao estabelecer relações já testadas
entre seções e vãos de colunas, alturas de traves, etc., e também estético,
definidor de proporções consideradas ideais. Vitruvius, arquiteto romano autor do
primeiro tratado conhecido, um compêndio chamado De Architectura que data de
30 A.C., estabelece uma série de procedimentos, práticos em sua maioria, para se
implantar um edifício. São documentos valiosos para o entendimento da profissão
do arquiteto no tempo e de toda sua atribuição prática. Os tratados da antiguidade
são recuperados na Itália, no período do Renascimento, e tem as ordens clássicas
reinterpretadas segundo arquitetos e tratadistas do século XVI, como Andrea
Palladio e Sebastiano Serlio.
7
Fig.1 – Andrea Palladio, Villa Rotonda.
(HEARN, 2003:100)
no início do século XIX, na França, Jean-Nicolas-Louis Durand estabelece uma
metodologia de projeto que dará origem aos procedimentos acadêmicos
modernos, ao considerar uma noção preliminar do que seria o programa
arquitetônico, a implantação e os aspectos construtivos. Se, na antiguidade,
trabalhava-se com sistemas de medidas abertos e proporcionais – as ordens,
sendo cada ordem mais adequada a determinado tipo de edifício, em função de
seu uso - Durand inclina-se para o estudo de tipologias de edifícios, para definir
sua constituição em função do uso (por mais que o conceito de tipologia não
estivesse, ainda neste momento, suficientemente maduro). Suas composições
tinham como base a planta, obtida a partir de uma base reticulada, a partir da qual
eram trabalhadas as volumetrias e as fachadas.
Fig.2– Jean-Nicolas-Louis
Durand, edifícios em
planta, corte e elevação,
extraído do Compêndio
de Lições, 1817.
(HEARN, 2003:183)
8
A arquitetura moderna, ao promover a estrutura independente, abre uma nova
perspectiva para a construção e reafirma a importância da retícula como elemento
articulador do raciocínio arquitetônico. Além disso, a vinculação desta arquitetura à
idéia de uma produção em escala industrial enfatiza a aplicação da modulação
para compatibilização dos componentes e, em maior escala, para promover a
expansibilidade e agrupamento de elementos na arquitetura urbana.
De qualquer modo, desde a antiguidade, passando pelo renascimento até a
modernidade, o trabalho com um sistema de medidas que assume a condição
parametrizadora do raciocínio do arquiteto, seja espacial ou construtivo, aplicado
in loco ou desenhado no papel, persiste. Ao subdividir o campo de trabalho em
módulos menores e extensíveis, e trabalhar com um sistema de medidas
moduladas, como uma malha abstrata, constrói-se um parâmetro regulador da
idéia, que assegura certeza ao exercício de projeto ao criar uma certa ordenação,
e que é capaz de estabelecer uma relação entre o fragmento e o todo.
A modulação ocorre como possibilidade de racionalização do processo construtivo, propicia a
oportunidade de utilizar componentes, industriais ou não. Além disso, a modulação está
associada à construção do espaço, com a organização do espaço, na medida em que a
arquitetura se refere a isso.
A estrutura não é um sistema necessário: também é um sistema de organização do espaço.
[...] É mais que o pentagrama, que serve para ler música. No caso da arquitetura, a estrutura é
o que constrói a casa. (ALMEIDA apud PIÑON, 2005:26)
A estrutura é algo físico; de fato, não pode ser comparada a uma pauta. Mas a
malha de eixos que passa através da estrutura é um elemento gráfico que, como
uma pauta ou pentagrama, orienta a disposição dos elementos arquitetônicos no
espaço. Esta tese direciona a uma leitura que busca estabelecer e verificar a
relação entre o procedimento do exercício de projeto que considera a retícula
como princípio organizador da arquitetura, e o resultado final desta arquitetura, na
medida em que o sistema de medidas organiza o espaço, os usos e a própria
construção.
9
ESTUDO DE CASAS DO ARQUITETO EDUARDO DE ALMEIDA
ESTUDO DE CASAS DO ARQUITETO EDUARDO DE ALMEIDAESTUDO DE CASAS DO ARQUITETO EDUARDO DE ALMEIDA
ESTUDO DE CASAS DO ARQUITETO EDUARDO DE ALMEIDA
Eduardo de Almeida é um nome incluído na primeira geração de arquitetos
paulistas pós Vilanova Artigas
1
.
Nascido em 1933 e formado pela FAU-USP em 1960, abriu escritório com alguns
colegas, após trabalhar com Sérgio Bernades. Em um período ainda de formação,
o grupo de arquitetos oriundos da escola dedicava atenção ao estudo da obra de
Frank Lloyd Wright. Durante um período em que fez importantes obras, ao longo
dos anos 70, Eduardo de Almeida teve escritório sozinho. A época de intensa
produção que coincide com o momento de disseminação e prática dos dogmas
da chamada escola paulista. Posteriormente, entre 1979 e 1987, associou-se a
Arnaldo Martino, período marcado por um maior arrojo na construção e
aprofundamento no detalhamento, com incursões pela estrutura metálica. Sobre a
parceria com Martino, Eduardo de Almeida ressalta a habilidade do colega para
experimentar novos materiais e tecnologias. Desde o desfecho da sociedade com
Martino, Eduardo de Almeida permanece atuando com escritório próprio.
Almeida é um arquiteto pouco explicado dentro da arquitetura paulista, englobado
pela bibliografia a uma geração de arquitetos, em abordagens que tendem a ser
generalizantes, e interpretadas a partir do desdobramento da escola paulista que
leva em conta a arquitetura proposta e difundida por Vilanova Artigas. Recebeu
recentemente maior atenção com publicações e exposições sobre seu trabalho.
Deve-se ressaltar, no entanto, que o trabalho de Eduardo de Almeida, como o de
outros arquitetos, não se enquadra bem em leituras generalistas, consistindo em
um trabalho de exceção que, em alguns aspectos, contrapõe-se ao que era
difundido e praticado. As diferenças ficam evidenciadas na formulação do partido
arquitetônico, na organização do programa e na aplicação e papel das técnicas
construtivas. Sem deixar de admirar colegas envolvidos com a arquitetura paulista
mais estrita, e sem abrir mão das soluções e práticas que acredita, a obra de
Eduardo de Almeida constitui uma referência importante tanto para ampliar o
panorama da arquitetura paulista como enquanto instrumento de ensino e
transmissão da prática de projeto com base em procedimentos consistentes.
10
Em quase 50 anos de atividade ininterrupta com arquitetura, sua obra cobre
grande leque de usos, entre escolas, fábricas e outros edifícios. Entretanto, o
grande número de casas que projetou (em torno de cinqüenta) direciona o
interesse de nosso estudo. Trata-se do tema sobre o qual o arquiteto mais se
debruçou e especulou. Além disso, o conjunto das casas representa um universo
identificável, com afinidade programática e semelhança de complexidade que
torna possível uma análise a partir de critérios comuns. Edifícios de maior porte,
que apresentam organizações mais complexas, podem vir a ter uma abordagem
diferente do problema arquitetônico, não estabelecendo necessariamente um
vínculo entre estas duas escalas de projeto.
Independentemente de apresentar a obra do arquiteto Eduardo de Almeida, este
estudo pretende averiguar os procedimentos de projeto do arquiteto. Mais além,
a questão fundamental do trabalho é o pressuposto de que estes
procedimentos estariam diretamente refletidos no aspecto final de sua
arquitetura.
Como o arquiteto Eduardo de Almeida projeta? O arquiteto trabalha a partir
de referências espaciais e construtivas, sobre as quais aplica procedimentos
bastante difundidos e conhecidos no ensino e prática da arquitetura: a
modulação, uma malha organizadora do espaço e que orienta também seu
próprio raciocínio. Suas casas apresentam uma separação programática clara,
que difere da tipologia paulistana dos anos 60 e 70, na qual está presente
o grande espaço articulador para o qual tudo se abre. Ao contrário, o
programa meticulosamente estudado tem os usos com funcionamento
independente, no qual as circulações desempenham papel fundamental de
preservar cada parte e, ao mesmo tempo, permitir o funcionamento da casa
como um todo. Sobre o meticuloso estudo do programa, o arquiteto esboça
os dimensionamentos em planta a partir do uso e dos equipamentos, e chega
a um sistema de medidas moduladas capaz de resolver a construção e o
programa simultaneamente. Este sistema de medidas baliza a disposição da
estrutura, de aberturas e fechamentos e coordena a organização espacial do
projeto. Para o arquiteto, a estrutura, sozinha, não é arquitetura; ela é um elemento
organizador do espaço.
11
Na primeira parte da tese, em uma digressão para o entendimento sobre a
formação e conceituação da espacialidade presente na obra de Eduardo de
Almeida, foram estudados três arquitetos. Os três capítulos iniciais da tese tratam
da obra de Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe e Louis Kahn. Neles é feita uma
leitura parcial e sucinta da obra de cada arquiteto, orientada para questões com
algum tipo de rebatimento no trabalho de Almeida e na tese. Para cada um, é feito
um breve ensaio que discute, entre outras coisas, o papel da retícula como matriz
organizadora do projeto e, por fim, como este modo de conceber o projeto tem
implicação direta na construção da espacialidade e da técnica na obra destes
arquitetos, retomando a questão principal da tese.
No capítulo Frank Lloyd Wright e as casas usonianas, a busca do espaço fluido e
contínuo leva o arquiteto americano a experimentar retículas não apenas a 90º,
mas também a 60º, bem como as modulações radiais. As modulações a 60º
representam a diluição do ângulo de 90º para 120º, eliminando a quina e
facilitando as circulações e os fluxos. Estruturalmente, o arquiteto tira proveito da
estabilidade das formas resultantes da malha a 60º: triângulos, losangos e
hexágonos. a modulação radial é extremamente interessante por ser uma
modulação com medidas abertas. Definido um centro e uma medida de ângulo, as
demais medidas são variáveis e crescentes, à medida que se afastam do centro. O
desdobramento natural da modulação radial no espaço é a espiral, utilizada por
Wright em alguns projetos.
As malhas de Wright são definidoras da organização espacial e também da
ordenação construtiva. A marcação da malha na paginação do piso cimentado
serve de baliza para a montagem das casas, num ensaio da construção que
busca a rapidez e economia de meios. A forma final obtida pode ser ajustada em
função das necessidades, mas tem seu contorno plenamente contido nesta matriz
reguladora.
No capítulo Mies van der Rohe e a marcação do espaço infinito, surge o embate
entre o viés abstrato e o uso construtivo da retícula. Na importante fase européia
de sua obra, o arquiteto alemão gradualmente rompe a idéia de volume ao
configurar espaços a partir de planos soltos e desencontrados, experiência que
12
tem início com a casa em tijolo de 1923, na qual as paredes são portantes, até o
Pavilhão de Barcelona de 1929, onde a estrutura independente permite a livre
organização de planos verticais e horizontais. A retícula tem papel fundamental de
marcar o intervalo do espaço e mediar a composição livre. Ela organiza a
construção sem se tornar proeminente: aparece na disposição regular da
estrutura e nas frestas que marcam a paginação do piso elevado e placas
divisórias de pedra. É uma regra constante por trás da liberdade do arranjo
espacial da forma.
Na fase americana do arquiteto alemão, a escala dos trabalhos e o
desenvolvimento tecnológico da construção em o levam a um aperfeiçoamento
construtivo, com incremento do uso da retícula na concepção dos trabalhos. O
volume puro é retomado, juntamente com alguns aspectos que irão aparecer
refletidos na obra de Eduardo de Almeida: no detalhamento, a coerência entre o
todo e a parte e o uso da fresta como recurso que dissocia cada elemento da
construção.
Sobre o arquiteto americano Louis Kahn, a análise de alguns projetos evidencia o
extensivo uso da geometria em retículas complexas e subdivisíveis. Este modo de
organizar e pensar o espaço tem clara influência na obra de Eduardo de Almeida.
Kahn trabalha sobre uma concepção de espaço própria a partir de volumes
plenos, que irá compor em articulações volumétricas complexas. Reforçando a
identidade e forma dos volumes, trabalha com a coincidência entre módulo
espacial e estrutural, propondo uma revisão, a partir de seu trabalho, do conceito
de planta livre. A coincidência entre o módulo espacial e estrutural transforma a
retícula de Kahn em uma presença material na sua obra, e não apenas em um
instrumento abstrato de desenho.
Kahn estuda profundamente os programas e identifica o que chama de espaços
servidores e espaços dominantes (servidos), buscando atingir a essência de cada
espaço e como ele deve se manifestar espacialmente. Neste caso, a
correspondência entre módulo espacial e estrutural estende-se também ao módulo
de uso.
13
Após o estudo dos três arquitetos estrangeiros, passa-se à segunda parte da tese,
que apresenta a obra de Eduardo de Almeida. Os três mestres estudados foram
considerados fundamentais na formação de um respaldo sobre o qual trabalha
Almeida. Evidentemente, não são suas únicas influências. Este trabalho não tece
relações teóricas sobre as demais influências que sofre Eduardo de Almeida,
apenas estabelece relações práticas entre alguns projetos seus e projetos de
outros arquitetos no capítulo intitulado Projetos de Referência.
Para traçar um entendimento sobre os procedimentos de projeto e a manipulação
do programa e da técnica a partir de uma malha organizadora presente na obra de
Eduardo de Almeida, foram traçados mais cinco capítulos. O levantamento
sistemático dos projetos transformou-se em uma leitura ordenada, na qual os
projetos das casas são inseridos e mostrados. Esta maneira de apresentar os
projetos substitui uma leitura linear e cronológica. Os projetos são alinhavados no
texto de modo a conduzir e confirmar a interpretação sobre os procedimentos de
trabalho do arquiteto. Nos capítulos estão inseridos comentários que se estendem,
de modo geral, a todos os projetos, ou seja, são procedimentos constantes.
Entretanto, estão associados às casas nos quais se mostram mais evidentes,
como a ilustração em croquis do arranjo de usos em planta, presente no capítulo
Laje Inclinada, ou a questão da modulação extremamente regular, que é mais
claramente demonstrada nas Plantas de Base Quadrada.
Os cinco capítulos que compõem a segunda parte da tese são: Laje Inclinada;
Plantas de Base Quadrada; Casa em Lote com Pátio; Projetos de Referência; e O
Detalhe e a Retícula.
Nos três primeiros capítulos, são mostradas várias casas que representam
variações sobre um mesmo partido arquitetônico
2
, seja um arranjo de planta ou
uma solução construtiva em corte.
O capítulo sobre as casas com Laje Inclinada introduz, aos poucos, os
procedimentos de trabalho do arquiteto com relação ao dimensionamento dos
espaços a partir do estudo detalhado do programa. Esclarece também a relação
que se estabelece entre medidas em planta e medidas em corte. O plano inclinado
14
é considerado importante pelo arquiteto para desenho do espaço interno, e não
apenas como solução de cobertura. O capítulo mostra como os volumes com laje
inclinada são articulados para compor objetos mais complexos.
As casas com Plantas de Base Quadrada representam, possivelmente, o modo
mais rígido de organizar o programa e a construção entre todas as demais, onde o
arquiteto parte de regras geométricas muito regulares e composições ideais. Neste
capítulo é discutido com precisão o papel da separação do programa e da
circulação na obra de Eduardo de Almeida. Fica evidenciada também a relação
entre o modo de abordar o projeto, a partir da organização geométrica clara, e a
solução formal final, e tece-se uma relação entre a complexidade da malha
organizadora e as possibilidades volumétricas, culminando na diluição do
esquema rígido inicial.
As Casas em Lote com Pátio apresentam muitas afinidades com as casas de
planta quadrada, no que diz respeito ao modo de dispor o programa e organizar a
casa. Entretanto, estão submetidas às limitações do terreno urbano e, por isso
mesmo, diferem das soluções ideais representadas pelas plantas quadradas.
Várias relações de medidas, além da discussão sobre o programa e circulação,
são traçadas neste capítulo.
O capítulo Projetos de Referência aborda casas muito diferentes entre si e que não
se encaixam nos capítulos anteriores. Em comum, elas têm o fato de terem sido
inspiradas em obras de outros arquitetos. A relevância deste capítulo está no fato
de que Eduardo de Almeida aplica exatamente os mesmos procedimentos que
utiliza para qualquer projeto de casa: adota uma modulação regular, que
atende construção e programa; organiza o programa seguindo uma separação
dos usos articulados pela circulação; ordena bem as plantas, alinhando
volumetrias internas, aberturas e fechamentos. As casas feitas com base em
projetos de referências comparecem na tese como uma confirmação do modo
como o arquiteto trabalha.
O capítulo O Detalhe e a Retícula trata do detalhamento nas obras de Eduardo de
Almeida, ressaltando o entendimento, pelo arquiteto, da arquitetura enquanto
15
construção. O apuro do detalhamento salienta a importância de cada componente
e, principalmente, da articulação de partes para compor o todo. Faz-se referência,
neste capítulo, sobre a relação entre detalhe e retícula. Este capítulo evidencia o
compromisso do arquiteto com a prática da profissão.
Sendo o trabalho direcionado para as questões apresentadas acima, e utilizando a
obra de Eduardo de Almeida para comprovação de alguns procedimentos de
projeto e da relação destes procedimentos com a espacialidade da obra
construída, deixaria várias lacunas, que tentarão ser sanadas de modo breve a
seguir.
O arquiteto disse, em uma conversa informal sobre o uso da retícula, que este
procedimento era apenas um modo de organizar o raciocínio, não importando no
resultado final. Segundo o arquiteto, o procedimento não deveria sequer ser
notado pelo morador, importando muito mais a qualidade dos espaços do que
este tipo de relação oculta no projeto. Consideramos que, por razões expostas,
e também enquanto discussão para o ensino de projeto, aprofundar o modo de
trabalho e abordagem de um conjunto de procedimentos como este é de grande
contribuição, apesar de entendermos que estas não são as únicas variáveis que
atuam em um projeto de arquitetura.
Dentre os aspectos que permanecem não contemplados, tem grande importância
o fato de que um projeto não tem origem a partir de um procedimento, mas sim de
uma idéia, que vem atender a uma série de premissas e necessidades que são
específicas para cada projeto. O próprio arquiteto enumera algumas questões que
considera importantes em entrevista a Luis Espallargas, no livro de Helio Piñon
sobre Eduardo de Almeida, transcritas a seguir:
A casa tem que estar relacionada com a pessoa que vai habitar de modo amigável, cordial.
3
A frase revela a disposição do arquiteto em atender a um cliente real, com
solicitações específicas, e proporcionar espaços agradáveis.
Falo da topografia, das dimensões em geral, falo daquela relação com o contexto que engloba
o próprio terreno. Das implicações de trabalhar o projeto e de como relacioná-lo com sua
16
implantação. Então, a questão de como organizar esse projeto é como relacioná-lo com o lugar
em que a casa vai estar implantada, onde este projeto vai crescer. Isso, para mim, é
fundamental ao definir o projeto.
4
O arquiteto ressalta a importância de criar espaços compatíveis com o contexto
em que a casa se situa. Em muitos projetos, nota-se a preocupação em assentar a
casa no terreno, resolver desníveis e orientação solar, estabelecer uma relação
com a paisagem ou com o espaço exterior.
Elejo os materiais enquanto desenho, e logo levo esta decisão até as últimas conseqüências.
5
Ao esboçar um projeto, as questões construtivas são pensadas simultaneamente à
concepção espacial.
Existe um esquema de organização da planta que, de algum modo, parece que se repete.
Muitas vezes se entende que é um esquema referido a planta, mas na verdade não é assim.
Pertence a um princípio de organização do espaço.
6
Na declaração acima, Eduardo de Almeida discorre sobre o raciocínio do espaço
presente no desenho em planta. O esquema de organização a que se refere o
arquiteto, pautado por uma modulação estrutural, torna-se um princípio referencial
e balizador da organização do espaço.
Sempre me pareceu importante criar um ambiente amável a partir de um contexto construtivo
rigoroso: alcançar uma organização espacial fluida e agradável.
7
A frase toca em um ponto importante: a relação entre o procedimento de trabalho
do arquiteto e o resultado final. O arquiteto não abre mão, ao projetar, do uso de
uma regra que ele próprio irá estabelecer. Entretanto, admite que as decisões de
projeto sejam tomadas por intenções espaciais. Se partirmos da hipótese que o
resultado final reflete uma regra adotada no momento do projeto, teremos a
contrapartida de que o projeto não é movido pela regra. A partir de um contexto
construtivo rigoroso é o meio para se projetar. Alcançar uma organização espacial
agradável é a finalidade do projeto.
17
Por fim, o trabalho apresenta uma cronologia das casas do arquiteto. Vale ressaltar
que alguns projetos listados na cronologia estão excluídos dos textos. Foram
considerados momentos em que o arquiteto busca outros caminhos, ou então são
casas que não se encaixam nas tipologias eleitas para classificar sua obra. A
ausência destas casas não compromete o encaminhamento das idéias do texto,
mas sua presença talvez se tornasse injustificada. Aparte este fato, uma leitura
destes trabalhos leva a dizer que são projetos submetidos a procedimentos
semelhantes aos demais, no momento de sua concepção. A explanação destes
projetos, entretanto, ficará para um próximo trabalho.
1
(SEGAWA, 1999:151)
2
Edson Mahfuz, no livro Ensaio da Razão Compositiva, apresenta uma definição de partido arquitetônico, na qual
a concepção básica de um projeto adquire uma forma, que contempla a organização gráfica, volumétrica, com
possibilidades estruturais e relação com o contexto. Ainda segundo o arquiteto, um mesmo partido pode gerar
projetos diferentes, e um partido não precisa existir antes das partes, ele pode ser conseqüência do arranjo das
partes.
3
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:20,21)
4
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:20)
5
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:24)
6
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:21)
7
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:21)
2
A RETÍCULA DE WRIGHT, MIES E KAHN
19
FRANK LLOYD W
FRANK LLOYD WFRANK LLOYD W
FRANK LLOYD WR
RR
RIGHT
IGHT IGHT
IGHT E AS CASAS USONIANAS
E AS CASAS USONIANASE AS CASAS USONIANAS
E AS CASAS USONIANAS
A arquitetura doméstica de Frank Lloyd Wright na última fase de sua vida, a partir
do final dos anos 30 até os anos 50, representa o período de amadurecimento de
questões que perpassam a obra do arquiteto em suas fases tão distintas. Aos 69
anos, quando projeta a primeira casa usoniana – a casa Jacobs I, de 1936 - Wright
alia a síntese expressiva e experimentações construtivas à clareza do programa da
casa. Aparecem também claramente configurados uma proposta do modo de vida
e um modelo disperso de urbanização com base em Broadacre City, que o
arquiteto vem formulando ao longo da década de 30 - que utiliza como unidade
básica a casa, implantada em uma porção de terreno correspondente a um acre
ou 4.000m
2
.
Fig.
3
-
Plano para Usonia I, com 6 casas e um núcleo central. Michigan, 1939.
(SERGEANT, 1976: 31)
20
Ao contrário de muitas das casas que Wright projetou ao longo de sua vida, as
casas usonianas são compactas e econômicas, concebidas para execução em
grande escala na América, no período pós-depressão de 1929. Wright construiu
cerca de 40 casas usonianas a partir de 1936. Elas foram assim chamadas em
virtude de ter ele denominado Usonia [fig.3] alguns ensaios de implantação
comunitária com estas casas e, por fim, a um modelo de sociedade e ocupação
dos Estados Unidos da América.
As casas conformam um conjunto que apresenta as seguintes características:
Planta em L ou T, fechada para a rua e aberta ao jardim através de painéis
envidraçados;
Núcleo hidráulico compacto, situado na intersecção entre a ala do estar e
ala íntima;
Cozinha integrada à casa que, juntamente com o espaço para refeições,
desmonta a idéia do serviço isolado da convivência familiar;
Cobertura para carro car porch aberto, podendo servir como abrigo
junto à entrada da casa;
Volumes acentuadamente horizontais, enfatizados pela marcação da
paginação cuidadosa de alvenarias
1
e painéis de fechamentos, pelas
aberturas em forma de rasgos junto ao plano de cobertura, e por amplos
beirais do plano de cobertura;
Armários e prateleiras que ocupam os muros e painéis perimetrais,
aproveitando as paredes;
Mobiliários incorporados à arquitetura, que ajudam a definir usos,
dimensões e o próprio desenho do espaço;
Piso em cimentado vermelho polido com cera, com sistema de calefação
embutido na laje de piso;
Preocupação construtiva com a “montagem” da casa, concebida como
uma construção leve de poucas alvenarias;
Utilização de materiais tradicionais como madeira, tijolo e pedra, que se
tornam a própria expressão final da arquitetura, dispensando ornamentos.
Utilização de organização subjacente ao projeto com base em uma trama
ou retícula.
21
Fig.
4
Considerada a primeira casa
usoniana, a primeira casa
Jacobs, de 1936, ilustra as
características acima descritas.
Na foto ao lado, tem-se uma vista
a partir da rua. (A&V, 1995:90)
Fig. 5
Na foto abaixo, vê-se o pátio da
casa Jabobs, conformado pela
planta em “T”, com a parte de
convívio que ocupa o bloco à
esquerda, e os quartos na ala ao
fundo. (A&V, 1995:91)
Estes projetos de casas, com acentuada preocupação construtiva, rompem com
uma roupagem formal pré-existente e com as referências tradicionais de
fechamento, abertura, cobertura, etc., mas preservam fortemente o sentido da
casa como abrigo humano e centro da vida privada e individual.
Chama a atenção o uso de uma malha geométrica que baliza todo o projeto,
presente em outras fases da obra de Wright
2
, mas que assume importância
fundamental nas casas usonianas. As retículas variadas adotadas por Wright
tornam-se o instrumento na busca pelo espaço orgânico que Wright persegue
3
: um
espaço dinâmico e susceptível, tanto quanto o próprio homem, às variações da
natureza, e construído nesta própria natureza e não em oposição a ela, segundo
um princípio de crescimento e agregação que não é aleatório. As retículas geram
um desenho no qual a estrutura é inerente ao corpo e intrínseca à constituição
física do objeto, sobre a qual Wright tece analogias do tipo alvéolos de uma
colméia ou galhos de uma árvore. Ao mesmo tempo, as retículas tornam-se o meio
através do qual Wright obtém espaços cada vez mais fluidos e contínuos.
22
Wright parte de retículas retangulares e quadriculadas, conforme ilustram,
respectivamente, a casa Jacobs
[figs.6, 7]
, e a casa Lusk
[fig.8]
, ambas de 1936.
Fig.6 - Casa Jacobs I, Wisconsin, 1936. Planta. Malha
retangular.(SERGEANT, 1976: 17)
Fig.7 - Casa Jacobs I, Wisconsin, 1936.
(SERGEANT, 1976: 18)
Fig. 8. Casa Lusk, South Dakota, 1936. Planta. Malha
quadrada.(SERGEANT, 1976: 17)
A busca por um espaço fluido, associada ao aperfeiçoamento construtivo, leva
Wright a experimentar uma malha em ângulo de 60°, da qual obtém retículas com
triângulos
[fig.10]
, losangos e hexágonos
[fig.9]
-
as chamadas Honeycomb Houses.
Fig. 9. Casa Bazet, Califórnia, 1940. Malha hexagonal.
(SERGEANT, 1976: 61)
Fig. 10. Casa Palmer, Michigan, 1950. Malha em losango.
(SERGEANT, 1976: 87)
23
A casa Hanna
[fig.11]
, de 1936, constitui o primeiro exemplar com trama em
colméia. Com a nova malha, Wright experimenta a diluição da ortogonalidade a
partir da utilização do ângulo obtuso de 120°, que acomoda melhor os movimentos
internos e os fluxos. Além disso, aproveita-se da estabilidade estrutural resultante
da associação de formas triangulares, em losango (dois triângulos rebatidos) e em
hexágono.
Fig. 11. Planta da casa Hanna, 1936. Notam-se os elementos construtivos e mobiliários seguindo a retícula
hexagonal. O ângulo de 120º permite melhor continuidade do espaço. A casa tem uma implantação que condiz
com as casas em “L” ou “T” das retículas ortogonais: fecha-se para a rua e abraça o jardim dos fundos.
(PFEIFFER, 1994:126)
Pode-se dizer que o desenho da malha não define propriamente a forma da casa,
mas sua forma está plenamente contida nesta tessitura. A planta expande-se,
incorporando as células constitutivas da malha, e seu contorno ajusta-se conforme
as necessidades. A geometria predominante da grelha adotada reflete-se na
espacialidade da casa, desde a construção propriamente dita (na forma das
únicas alvenarias de cozinha e lareira, nos fechamentos, caixilhos, etc.) até o
mobiliário (almofadas, camas, tapetes, cadeiras), na evidente dificuldade em
dispor no espaço regrado qualquer outra forma que não estivesse conforme a
retícula
[fig.12]
.
24
Fig. 12. Interior da casa Hanna. A modulação
hexagonal que orienta a forma geral está
presente também no desenho do mobiliário.
(PFEIFFER, 1994:124)
Fig. 13. Vista da casa Hanna. O volume central da cozinha construído em alvenaria, bem como os fechamentos
leves e os caixilhos, seguem o contorno da malha hexagonal. (PFEIFFER, 1994:125)
25
A retícula não é usada apenas para obter a melhor conformação dos espaços,
mas para organizar a construção propriamente dita. A marcação da malha aparece
impressa no próprio piso da casa, como resultado da confecção alternada dos
quadros de cimentados, e irá servir como gabarito que orienta o posicionamento
dos montantes estruturais de caixilhos e painéis de fechamento durante a
construção
[fig.14 a 17]
.
Fig. 14, 15, 16 e 17. Obra da casa Richardson,
1941, em Nova Jersey. A obra inicia-se com a
execução dos quadros de piso cimentado, que
orientam a montagem dos painéis de fechamento.
Ao lado, nota-se que as poucas alvenarias surgem
no início da obra e seguem a malha.
(SERGEANT, 1976: 113,114)
26
Em sua busca por um espaço mais fluido e contínuo, Wright irá experimentar, além
dos módulos ortogonais e das malhas em ângulo de 60º, o módulo circular - casa
Jester
[fig.18,19]
, de 1938, entre outras - e o módulo radial - casa Jacobs II
[fig.20,21]
, de 1943, e casa Friedman
[fig.22,23]
, de 1950, entre outras
4
.
Casa Jester, Califórnia, 1938.
Fig. 18 - Planta (SERGEANT, 1976: 37)
Fig. 19- Perspectiva. (SERGEANT, 1976: 36)
Casa Jacobs II
,
Wisconsin,
1943.
Fig. 20 - Plantas do térreo e superior
(SACRISTE, s/d : 107,108)
Fig. 21 - Vista aérea.
(SACRISTE, s/d : 32)
Casa Friedman, Nova Iorque, 1950.
Fig.22 - Planta. A modulação radial tem
dois centros deslocados. (ZEVI, 1993: 227)
Fig.23 – Vista. (ZEVI, 1993: 226,227)
27
A modulação circular, em realidade, não irá apresentar maiores desdobramentos
do ponto de vista da experimentação espacial, pois se trata de padrões circulares
que aparecem contidos e associados a partir de uma retícula quadriculada, como
podemos ver na casa Jester
[fig.18]
. a modulação radial, cujo exemplar mais
significativo é a casa Jacobs II
[fig.24]
, de 1943, propõe uma nova espacialidade. A
modulação é obtida adotando-se um centro de onde partem eixos radiais
espaçados de determinado ângulo, o que resulta em medidas proporcionais e
crescentes na medida em que se afastam do centro.
Fig.24 Casa Jacobs II. O desenho a mão contém informações valiosas. O título: SOLAR HEMICYCLO, insere a
casa na Natureza quanto à inclinação solar. Apenas cinco cotas no desenho definem a medida de toda a casa: o
ângulo de 6º, e os raios da linha de piso, da projeção da cobertura, do fechamento de vidro e do muro de arrimo
em pedra. (PFEIFFER, 1994:155)
Na casa Jacobs II, a geometria radial em ângulo de 6º não representa apenas uma
brilhante solução espacial e construtiva. Ao utilizar a modulação radial nesta casa,
Wright obtém, de uma única vez e com um volume, a tipologia usoniana da
casa fechada para a rua e que delimita um íntimo jardim neste caso ligeiramente
rebaixado, aumentando a sensação de confinamento. Deste modo, a forma final
em “C” da casa Jacobs II representa uma evolução das plantas em “L” e “T”
adotadas por Wright nas casas anteriores, e seu resultado formal tem relação
direta com a aplicação do módulo radial como procedimento de projeto. Além
disso, Wright consegue conciliar, na forma da casa, duas premissas opostas: a
28
centralidade do projeto, responsável pelo sentido de arraigamento presente em
suas obras, e a relação com a paisagem e o espaço exterior, uma vez que o ponto
focal da casa está situado no jardim, ou seja, localiza-se fora da casa
[fig.26]
.
Fig.
2
5
Casa Jacobs II. O
acesso à casa é feito por uma
passagem que conduz desde um
corpo anexo de garagem,
afastado da casa, até o pátio
central, passando por baixo da
casa. A preocupação em
desenhar os percursos é
recorrente na obra de Wright, e é
fundamental para o entendimento
da inserção da casa na natureza.
O terreno trabalhado molda-se à
casa: envolve o muro externo de
contenção em uma ligeira colina,
e é rebaixado no centro,
completando a forma circular da
planta. (PFEIFFER, 1994:155)
Fig.
2
6
Casa Jacobs II, vista
interior. Nota-se o andar superior
solto do caixilho e sem apoios,
tornando contínuo o espaço
interno e deixando o térreo livre.
O caixilho curvo abre a casa para
o jardim. (PFEIFFER, 1994:154)
Os espaços internos na casa Jacobs II são perfeitamente integrados em um
espaço único. Esta sensação é ampliada pelo direito duplo junto ao caixilho,
com o andar superior pendurado na cobertura e a galeria de circulação dos
quartos debruçada sobre o estar, e também pela continuidade visual entre os
espaços determinada pela planta encurvada, com vidro na face voltada para o
centro, o que amplia também a relação direta com o jardim.
29
É importante salientar que as retículas de Wright não correspondem apenas a
desenhos em planta, sendo fundamentais para a construção de um objeto
tridimensional. Nas experiências mais planares, a modulação da retícula
simplesmente eleva-se nos montantes estruturais que definem fechamentos e
coberturas. Nas retículas ortogonais, camadas de tetos planos servem para
acentuar um sentido de horizontalidade pretendida. Com a adoção de outros
módulos básicos como triângulos e hexágonos, os tetos, forros, beirais,
fechamentos acristalados e muros assumem as formas de contorno da malha, que
aparecem na volumetria das casas tanto internamente quanto externamente, como
resultado do próprio modo de construir.
Entretanto, ao almejar um objeto íntegro e cuja estrutura é inerente à constituição
do corpo, a urdidura da planta torna-se verdadeiramente uma modulação espacial,
dando a chave para o entendimento de alguns objetos arquitetônicos peculiares
que Wright projetou em seu período mais tardio. A malha em ângulo de 60º da
casa Boomer
[fig.27 a 30]
, de 1953, por exemplo, explode para o alto nas águas da
cobertura. Outras experiências com triângulos
5
em projetos maiores que resultam
em formas prismáticas são a Unitarian Church, de 1947, em Wisconsin, e a
Sinagoga Beth Sholom, de 1959, na Pensilvânia.
Casa Boomer, Arizona, 1953.
Fig. 27, 28 - Plantas. (ZEVI, 1993: 233)
Fig. 29, 30 - Vistas. (PFEIFFER, 1994:176)
30
A modulação radial, por sua vez, encontra no desenho em espiral o
desdobramento natural da fluidez da planta para o espaço, como está ensaiado na
casa David Wright no Arizona, de 1950
[figs.31 e 32]
. O corpo desta casa, elevado
do terreno, é acessado por uma rampa que promove uma curva ascendente. Esta
solução terá como desdobramento o projeto para o Museu Guggenheim de 1957,
cuja rampa em espiral concilia a continuidade espacial a um sentido ambíguo de
centralidade e expansão
6
.
Fig. 31– Desenho da rampa em espiral da casa David Wright, Arizona, 1950. (PFEIFFER, 1994:163)
A malha subjacente aos projetos de Wright no período das casas usonianas, como
se vê, acaba por interferir de modo contundente na espacialidade, na construção,
na organização e na própria condução da atividade do projeto, tornando-se um
dado fundamental para alinhavar o entendimento de obras do arquiteto,
aparentemente distintas em forma e conteúdo, enquanto um conjunto unitário e
coeso.
31
Fig. 32 – Casa David Wright, Arizona, 1950. (SERGEANT, 1976: 131)
1
A preocupação com o desenho dos fechamentos é constante na obra de Wright: as estrias dos tijolos, os
blocos rendados das casas californianas, as cantarias de pedra calculadamente recortadas para alternar fiadas
estreitas e largas, os tabiques que intercalam madeiras claras e escuras. Toda a composição é carregada de uma
intenção plástica, para que os planos de fechamento obtenham o efeito desejado.
2
Ver casas da pradaria como a casa Coonley (1907), e casas californianas como Millard (1923), Storer (1923),
Freeman (1924) e Ennis (1923). Segundo Sergeant, “as casas usonianas desenvolveram e simplificaram os
métodos de projeto com grid que foram primeiramente usados nas casas da Pradaria”. SERGEANT, 1976:183.
3
Sobre o conceito de orgânico: “Integração, ou ainda a verdadeira palavra orgânico, significa que nada tem valor
salvo que esteja naturalmente realcionado com o otodo, na direção de um fim vital e que seja uma verdadeira
parte de uma entidade.”(WRIGHT apud SACRISTE, s/d:50)
Escreve ainda John Sergeant: “Para Wright, o todo orgânico não é um estado, mas um processo dinâmico, e por
esta razão ele acreditava que ‘nenhum edifício orgânico jamais está pronto, terminado’ ” SERGEANT, 1976:13.
4
“.. – the Hanna House. Completed in 1937 the latter was the first of Wright’s hexagonal designs and initiated a
search for greater spatial freedom that was to run through his work until his death. Setting out from the geometric
fluidity of the hexagon, Wright developed towards the curve and circle, touched on free form planning anda finally
engaged in an obsessional struggle with the spiral.”(SEARGENT, 1976:32)
Escreve ainda John Sergeant: “Para Wright, o todo orgânico não é um estado, mas um processo dinâmico, e por
esta razão ele acreditava que ‘nenhum edifício orgânico jamais está pronto, terminado’ ” SERGEANT, 1976:13.
5
Pode-se identificar relação com obras anteriores, como a Steel Cathedral de 1926.
6
Faz-se comumente uma associação entre o Museu Guggenheim e o Automobile Objective and Planetarioum, de
1924, que apresenta rampa circular de diâmetro maior na base e menor no topo. De fato, muitas dessas relações
podem ser traçadas entre obras de fases distintas de Wright, que procedem em virtude da coerência do arquiteto
em termos de procedimentos e idéias. A relação que é traçada entre a casa David Wright e o Museu Guggenheim
é apenas uma interpretação possível.
32
MIES
MIESMIES
MIES
VAN DER ROHE
VAN DER ROHE VAN DER ROHE
VAN DER ROHE E
E E
E A MARCAÇÃO DO
A MARCAÇÃO DOA MARCAÇÃO DO
A MARCAÇÃO DO
ESPAÇO INFINITO
ESPAÇO INFINITOESPAÇO INFINITO
ESPAÇO INFINITO
O arquiteto alemão Mies van der Rohe tem papel fundamental para a arquitetura a
partir dos anos 20, quando seus projetos introduzem uma maneira de articular o
espaço através de planos desencontrados que potencializam o espaço contínuo e
dissolvem a constituição volumétrica do objeto arquitetônico enquanto elemento
fechado, tornando ambíguas as suas delimitações. De interesse para este estudo
está o papel que desempenha a retícula, ao orientar a disposição construtiva e
servir, ao mesmo tempo, de marcação abstrata do espaço contínuo sobre o qual
Mies van der Rohe trabalha.
O período de formação de Mies esteve intimamente ligado à construção, o que
possivelmente desempenhou um papel fundamental no perfeccionismo material de
sua obra e no preciosismo do detalhamento construtivo. A partir desta formação
prática que reporta à adolecência
1
, Mies recebe influência de Peter Behrens (com
quem trabalhou), e de obras de Berlage e Wright (cujas casas da pradaria
estiveram em exposição na Europa no final dos anos 10), que despertaram seu
interesse e direcionaram seu trabalho no sentido de produzir uma arquitetura que
se concretizasse a partir da comunhão da idéia com a técnica.
Paralelamente a esta formação, as vanguardas das artes na Europa assumem
papel fundamental ao reinterpretar a concepção do espaço. nos anos 20 e
início dos anos 30, através de alguns projetos construídos, demolidos ou apenas
propostos, Mies elaborou espaços que contêm aspectos e referências formais que
se aproximam do Neoplasticismo holandês – o movimento De Stijl.
O primeiro projeto de Mies van der Rohe que convém mencionar neste estudo
sobre o arquiteto é a casa de campo em tijolo, de 1923. Apresentando paredes
auto-portantes em tijolo com paginação extremamente elaborada - preocupação
condizente com sua formação técnico-contrutiva - o interesse maior desta casa
reside na semelhança do desenho de sua planta com pinturas de Theo van
33
Doesburg, conforme é apontado por alguns historiadores em textos que tratam de
Mies
2
.
Entretanto, as semelhanças em planta não devem iludir com relação às intenções
espaciais de ambos. Interessados na construção do objeto enquanto um jogo
abstrato e meramente compositivo, os arranjos ortogonais das obras dos
holandeses eram tratados como uma cuidadosa manipulação volumétrica e de
cores, que buscava a harmonia e o equilíbrio da forma através da contraposição
de elementos e de contrastes meticulosamente estudados e teorizados. No
neoplasticismo, nota-se certa facilidade em transitar da relação de elementos
contidos no plano para a articulação de planos e linhas no espaço. Por este
motivo, procedimentos compositivos semelhantes foram aplicados indistintamente
à pintura, ao design gráfico, ao design de objetos e à arquitetura. Este fato
transforma o espaço arquitetônico na decorrência volumétrica da manipulação de
elementos abstratos, baseados na ortogonalidade e na utilização de cores
primárias, além de preto e branco. A casa Schröder (1923), possivelmente a casa
neoplasticista mais conhecida, torna-se uma casa feita conforme regras
neoplasticistas, e não propriamente um objeto arquitetônico feito com regras
próprias.
A interpenetração dos campos bidimensional e tridimensional fica evidente nos
trabalhos do De Stijl através dos efeitos tridimensionais obtidos em obras
bidimensionais, e também do tratamento pictórico bidimensional que é conferido a
superfícies que integram planos e volumes nos projetos arquitetônicos. Estas
experiências que trabalham efeitos gráficos, entretanto, dissimulam experiências
volumétricas plenas. Quando estas são levadas a cabo, o efeito obtido na
arquitetura resulta em volumes explodidos, interceptados por planos e linhas, mas
que mantêm sua integridade enquanto objeto único. Perspectivas isométricas de
elementos arquitetônicos se assemelham a composições pictóricas ou
escultóricas, como ilustra a composição de Theo van Doesburg de 1923
[Fig.33]
.
Nesta composição, nota-se que os elementos permanecem em órbita em torno de
algo, equilibrando-se entre serem atraídos e repelidos. Trata-se de um desenho bi-
dimensional que trabalha com trapézios e retângulos e que causa forte impressão
de volume.
34
Fig.33
Theo van Doesburg. Composição, 1923.
(WALKER ART CENTER, 1988:90)
Entretanto, é importante verificar atentamente a planta da casa Schröder, para se
notar que o efeito formal obtido baseia-se em uma construção tradicional. A planta
[fig.34]
revela artifícios singelos para obter o efeito volumétrico desejado, como
engrossamento de trechos de paredes ou prolongamento de beirais para marcar
planos que efetivamente não existiriam. Apesar do uso de painéis móveis dividindo
ambientes, o que confere ao interior grande flexibilidade e grau de experimen-
tação, o volume final apresenta um contorno regular e fechado. Estas caracte-
rísticas diferem do espaço que proporá Mies van der Rohe em sua essência.
Fig.
34
G. Rietveld, casa Schröder
, 1923
, planta do térreo
e superior
.
(DUNSTER, 1994:27)
.
Fig. 35 – G. Rietveld, vista da casa Schröder.
(DUNSTER, 1994:27)
35
O espaço contínuo, apenas parcialmente delimitado por planos desencontrados,
que Mies projeta na casa em tijolo, também de 1923
[fig.36]
, estabelece uma nova
relação entre o interior e o exterior, e entre o invólucro e o envolvido, que servirá de
base para os projetos que se seguirão: a casa Tugendhat de 1928 na ex-
Tchecoslováquia, o Pavilhão Alemão para a Feira de Barcelona de 1929 (demolido
e reconstruído), e a casa-experimental para a Exposição de Arquitetura de Berlim,
de 1931 (demolida).
Fig. 36 – Casa em Tijolo, 1923. Planta e perspectiva. (ZUKOWSKY, 1986: 88)
Os espaços da casa de tijolo de 23
[fig.36]
são definidos por planos auto-
portantes, dispostos ortogonalmente de forma a não se tocarem, configurando os
espaços da casa sem delimitá-los do modo convencional - através dos seis planos
que usualmente encerram um cubo. A passagem entre ambientes ocorre através
dos afastamentos entre planos verticais, conectando uma sucessão de porções de
espaço com medidas e graus de delimitação variados, que permanecem
interligados com certa privacidade, sendo capazes de acomodar atividades
específicas.
36
Os muros são praticamente o único elemento que constitui a casa. A congruência
tectônica e espacial leva à realização de uma obra íntegra e de poucos artifícios
senão aqueles obtidos a partir da extração de todo potencial no uso do material e
de uma intenção espacial aplicada à técnica. Na casa em tijolo, Mies van der Rohe
pensa a totalidade da obra em relação direta com o fragmento - tijolo que a
constitui. Este conceito nos fornece mais uma via para o entendimento de sua
obra, ao sugerir que existe um raciocínio único que se aplica ao projeto, que
abrange desde a escala do todo à escala do detalhe, e este raciocínio é
necessário para a coerência e unidade do projeto.
O arquiteto faz uso de alguns planos em “L” e variações de altura, mas a
volumetria final da casa em tijolo não reflete propriamente a espacialidade
sugerida em planta, permanecendo pesada e fechada se comparada a
experiências posteriores. Talvez por isso, as paredes estruturais desta casa serão
abandonadas em seguida. Para os novos projetos que viria a realizar, como o
Pavilhão de Barcelona
[fig.37]
, Mies adota a planta livre, obtida a partir de um grid
de pilares independentes e dispostos num espaçamento absolutamente rigoroso,
que contrasta com os desencontrados planos de fechamento e cobertura. A
composição como um todo é pautada numa malha quadriculada, cuja presença
marca a medida do espaço e informa justamente os intervalos entre os elementos,
coincidindo com uma marcação do piso. Com a estrutura desvinculada dos
fechamentos, estes passeiam livremente, fugindo à restrição da malha para o
desejado descolamento entre planos verticais e pilares, e dispostos de acordo
com os afastamentos necessários para definir espaços. Deste modo, fragmentos
de módulo são utilizados para a separação plena dos elementos construtivos. A
não coincidência entre a estrutura e os planos horizontais e verticais resulta no
total dinamismo espacial. Se o rigor da malha comparece como uma marcação
precisa, a composição, por sua vez, é livre.
Ao enunciar os problemas da construção e as intenções de espaço, o arquiteto faz
uso de aspectos opostos e aparentemente contraditórios, aos quais recorre em
explicações e discursos como forma de potencializar sua obra. Assim, é capaz de
fundir menos e mais, aberto e fechado, o todo e a parte, em conceitos
abrangentes que apontam para um entendimento de sua obra e que terminam por
enriquecer as possibilidades de interpretação.
37
Fig. 37 - Pavilhão de Barcelona, 1929. Planta. (ZUKOWSKY, 1986: 75)
Fig.
38
-
Pavilhão de Barcelona, 1929
.
(SOLÀ-MORALES, 1993: 41)
Fig.
39
-
Pavilhão de Barcelona, 1929.
(SOLÀ-MORALES, 1993: 57)
O primeiro ponto a destacar é o real papel construtivo de determinados elementos
no Pavilhão de Barcelona, e aquele que eles aparentam desempenhar. A malha
estrutural do Pavilhão, disposta de modo absolutamente rigoroso e regular, é
imaterializada pela forma em cruz e pelo tratamento reflexivo dado aos pilares
revestidos de aço inox, dotando os verdadeiros apoios da construção de uma
leveza que elimina as espessuras e os faz desaparecer. Aos planos soltos de
mármore, porém, cabe a ilusão da materialidade de grandes massas de pedra,
que adquirem grande peso visual, mas que, a rigor, não sustentam nada. Trata-se
de divisórias compostas por placas de pedra fixadas a requadros metálicos, em
verdade constituindo painéis ocos de fechamento e não paredes maciças.
A grelha (neste caso uma retícula ortogonal de 1,10m X 1,10m), marcação abstrata
e expansiva do espaço, aparece nas frestas das placas de mármore do piso
38
elevado e das divisórias, e emerge na forma em cruz das colunas, que
representam a própria intersecção da quadrícula. Assim, a função estrutural dos
pilares se sobrepõe à função de marcar a retícula subjacente à construção. O
rebatimento da retícula na construção, evidente na paginação da pedra, sobe
também pelos fechamentos. Entretanto, todo o esqueleto que estrutura as placas
de pedra de piso e fechamento, em relação direta com a retícula, permance oculto
Podemos dizer que, no Pavilhão de Barcelona, independentemente do uso da
malha, o desejo de ordem não predomina, pois o efeito desejado é a livre
disposição dos fechamentos, numa composição assimétrica. Entretanto, é o
contraponto que se estabelece entre o rigor da malha e a liberdade de
fechamentos e coberturas, ou entre a serenidade da geometria e a tensão
provocada pelo movimento dos planos que compõe em unidade o edifício, de
modo que a liberdade não existe sem o rigor, e a retícula que se ergue em
estrutura tem seu papel na ordenação do conjunto.
É ambígua no Pavilhão de Barcelona a delimitação dos espaços, através da
disposição dos planos que “encerram” espaços “abertos”. O programa do
Pavilhão é um incentivo à nova espacialidade proposta. A delimitação dos espaços
através de planos soltos rompe a idéia de volume e o próprio conceito de abertura,
que se torna o intervalo entre planos, ou simplesmente planos transparentes de
vidro. O projeto estabelece uma relação de perfeita continuidade com os espaços
externos, que são definidos da mesma maneira e através dos mesmos atributos
utilizados nos espaços internos, dotando o pavilhão de uma gama de opções:
espaços internos descobertos, internos cobertos, espaços externos cobertos,
espaços externos delimitados por muros, etc. O percurso através destes espaços
é o grande evento da arquitetura.
Figs. 40, 41 - Casa Tungedhat, Brno, 1928. Planta do nível inferior e térreo. (ZUKOWSKY, 1986: 43)
39
Como no Pavilhão de Barcelona, a casa Tungendhat
[figs.40,41]
tem pilares em
cruz dispostos nas intersecções da trama ortogonal. Entretanto, com volumetria
bem definida e espaços internos confinados, Mies priva a volumetria da liberdade
de planos do Pavilhão, restringindo a experiência a alguns planos soltos no espaço
de convívio. Por este motivo, não vamos nos deter na casa Tungendhat. Mies leva
a experiência espacial do Pavilhão para a habitação logo depois, no projeto para a
Casa Experimental na Exposição de Arquitetura de Berlim de 1931
[fig.42]
.
Utilizando a coluna cilíndrica em vez do pilar em cruz, Mies desenha o espaço
doméstico com a mesma abordagem de 1929, ao dispor planos soltos de modo a
conformar os usos da casa, que permanecem interligados de modo contínuo.
Fig. 42 -
Casa na Exposição de Arquitetura de Berlim, 1931. (BENEVOLO, 1983: 623)
Dentro desta forma de arranjo, a privacidade dos quartos é obtida pela disposição
do volume de banheiros e também pelo layout do mobiliário, organizado de modo
a ocultar da vista certas intimidades. Como no Pavilhão e ao contrário da casa
Tungendhat, os planos de fechamento e cobertura se projetam livremente,
estabelecendo limites expandidos ao edifício e rompendo a idéia de volume. A
retícula permanece subjacente ao espaço e organiza a disposição ortogonal, mas
predomina na composição a liberdade dos planos.
A experiência da planta livre associada a uma grelha de pilares é transportada para
as casas pátio, projetadas em 1931 e nunca construídas. Trata-se de uma
experiência de Mies van der Rohe sem cliente: é o ensaio de um desejo do
arquiteto para as possibilidades de arranjo da casa a partir de um modo de
projetar e conceber o espaço. Nelas, o movimento de expansão da retícula gera
casas entrelaçadas com pátios compondo uma morfologia homogênea, com base
em quatro elementos: o grid de pilares, os planos verticais de fechamento, os
planos horizontais de piso e cobertura, e planos transparentes que representam as
40
aberturas. Nestas casas, projeta-se em escala maior a casa com espaços internos
não compartimentados. Os espaços que se destinam a alguma função que
demanda certa privacidade esconde-se atrás de algum obstáculo ou plano.
Iñaki Ábalos
3
faz uma profunda leitura das casas pátio de Mies. Seu interesse tem
como mote o destinatário da casa, através do qual traça um perfil do Mies
nietzschiano e da construção do espaço para abrigar este sujeito. Analisa o papel
do pátio como modo de criar um ambiente individual dentro da estrutura urbana,
não fiscalizado pela sociedade e que permita plena formação e desenvolvimento
do indivíduo. Neste ambiente, o pátio possibilita também o ato de contemplar a
natureza ideal, que induz ao entendimento de seus ciclos e confere uma dimensão
do tempo não linear, que aproxima o indivíduo moderno da permanência das
coisas.
Dentre todas as leituras que faz, a questão construtiva é abordada por Ábalos com
precisão. Norteando as decisões arquitetônicas está a impressão da falta de
gravidade e peso, obtidos através de três recursos: a junta rebaixada em vez da
junta sobreposta, transformando a emenda de materiais em uma sombra que
descola um elemento construtivo do outro; a luz difusa, vinda de todas as
direções, com a equivalência dos planos de piso e cobertura; e a simetria
horizontal em vez da vertical, obtida pela altura do direito equivalente ao dobro
da altura dos olhos.
Em Mies, a utilização do pleno domínio da construção contribui para anular, em
certo sentido, a própria construção, em favor de um ideal de espaço e de objeto
arquitetônico. Não prescinde o espaço ideal de construção menos ideal, sendo
que a perfeição material da obra - seu desenho, materiais, desempenho e encaixe
das partes - pode tanto ser admirada como passar totalmente despercebida ao
olhar despreocupado, como se fossem óbvias algumas das mais sofisticadas
soluções construtivas. As imperfeições e as marcas da execução deixam de ser
notadas, desfazendo o próprio procedimento do fazer. Entretanto, através do
profundo entendimento deste ato, elemento por elemento da arquitetura é
questionado quanto ao conteúdo, desempenho e forma, e redesenhado conforme
um novo entendimento do espaço, num aprofundamento da questão construtiva
até o detalhe.
41
Por outro lado, em trabalhos posteriores, realizados após sua ida aos Estados
Unidos no final dos anos 30 e nos anos 40, Mies irá propor volumes fechados e
regulares. Enquanto em alguns de seus trabalhos europeus, como no Pavilhão de
Barcelona, o plano é a base da experiência, em outros trabalhos não construídos
(como Stuttgart Bank Building e a Adam Departmente Store
[fig.43]
de 1928, o
Reichsbank em Berlin, 1933)
4
predomina o volume prismático puro, com pele de
vidro e trama estrutural de aço. Na América, onde estas propostas serão
efetivamente construídas, sedimenta-se esta experiência no que diz respeito à
delimitação de formas busca da forma pura - e à participação da retícula e da
própria estrutura como balizadora do espaço e da técnica. A substituição do pilar
em cruz ou da coluna cilíndrica da década de 20 pelo perfil industrial I de aço
ilustra o entendimento do pilar como parte de um sistema estrutural complexo e
perfeitamente ordenado, que inclui a estrutura principal e estruturas menores de
forro, caixilho, etc. Tudo é orquestrado pela modulação, que passa a ser vinculada
à construção em maior escala, aos componentes da indústria e ao constante
aperfeiçoamento construtivo.
Fig. 43 – Projeto para Adam Department
Store, 1928, Berlim. (ZUKOWSKY, 1986: 60)
Neste momento, ao propor volumes claramente definidos, a materialidade dos
prismas regulares é dissolvida por sua transparência. A experiência volumétrica e
estrutural ocorre também em projetos horizontais e pequenos, como ilustra a casa
Farnsworth (1945)
[fig.44]
, ou a casa não construída de 50X50 pés (1950)
[fig.47]
.
Esta última casa, com duas versões da estrutura, contém alguns princípios
estruturais adotados em outros projetos deste período.
42
Fig. 44 - Casa Farnsworth, Illinois, 1945. Planta.
(DUNSTER, 1994:90)
Figs. 45 e 46 - Casa Farnsworth inundada e vista do
acesso. (ZUKOWSKY, 1986: 25)
Fig. 47 - Casa 50x50 pés, não executada. Planta.
(BLASER, 1993: 123)
Figs. 48 e 49 - Casa 50x50 pés, 1950. Duas
versões da estrutura em maquetes feitas por
alunos do IIT. (ZUKOWSKY, 1986: 52)
Em uma das versões da casa de 50X50 pés, o volume puro e transparente tem
apoio em quatro pilares, em disposição característica de fugir das quinas, evitando
justamente que a aresta do volume seja definida por pilares, fazendo com que os
balanços e o ângulo transparente confiram leveza ao volume
[fig.48]
. Esta versão
irá se desdobrar em projetos como a Nova Galeria Nacional de Berlim
[fig.50]
. A
segunda versão mostra a estrutura sobreposta ao edifício, ressaltando a
integridade e pureza do espaço arquitetônico interior
[fig.49]
. De modo intrigante, a
expulsão da estrutura para fora irá transformá-la na expressão desta arquitetura de
poucos apoios e grandes vãos, como no não construído Drive In Restaurant de
1946
[fig.51]
, ou no edifício para a prefeitura do ITT, de 1950
[fig.52]
.
43
Fig. 50 - Nova Galeria Nacional, Berlim, 1960.
(VASQUEZ, 1999: s/p)
Fig. 51 - Cantor Drive-In Restaurant, Indianapolis, 1945.
(ZUKOWSKY, 1986: 50)
Fig. 52 – Construção do Crown Hall ITT, 1950-56, com vigas sobrepostas à cobertura.
(ZUKOWSKY, 1986: 28)
Em qualquer caso, o volume puro de todos estes projetos passa a estar
fundamentado em uma retícula de abordagem construtiva contundente, associada
ao desenho dos componentes - principais e secundários - da estrutura metálica,
que constituem efetivamente a urdidura da construção. A grelha passa a compor a
trama da fachada, do vigamento de forro, etc., numa aplicação planar que remete
à urdidura do Pavilhão de Barcelona. Os perfis verticais principais, quando não
estão envelopados em concreto nos grandes edifícios por exigências normativas,
44
ficam justapostos às vigas e não sobrepostos a elas, o que evidencia sua
marcação, torna clara a montagem da estrutura e a leitura dos elementos
construtivos, e submete a trama a um sofisticado sistema de ajustes de medidas
para possibilitar o encaixe das partes (como na casa Farnsworth).
Quando as colunas em perfil I estão envelopadas em concreto, Mies van der Rohe
sobrepõe não mais a coluna à fachada mas a fachada à coluna. Um exemplo é o
Alumni Memorial Hall do ITT
[fig.53].
Um sistema de arremate e fixação das
fachadas (vedos e vidros), em perfil I menor, faz uma referência à estrutura
principal, evidenciando a malha reguladora com molduras nos vedos de tijolo e
nos panos de caixihos. Sistemas sobrepostos de fachadas serão depois utilizados
nos edifícios verticais de pele de vidro, como os edifícios de apartamentos Lake
Shore Drive em Chicago (1948-51).
Fig. 53 – Alumni Memorial Hall ITT, 1945-46. (ZUKOWSKY, 1986: 64)
Fig. 54 Alumni Memorial Hall ITT, detalhe. Nota-se os pilares principais envelopados em concreto, e estrutura
auxiliar na fachada para caixilhos e vedação, com perfis I de aço aparentes. (ZUKOWSKY, 1986: 64)
45
A fase americana do arquiteto alemão, que tem a malha como urdidura construtiva
e volumes externos configurados, algumas organizações internas continuam ver-
sando sobre a mesma espacialidade da fase européia dos anos 20. Na casa de
50X50 pés, a utilização do espaço interno contínuo é organizada pela disposição
de um núcleo construído, que contém as instalações fixas necessárias como hi-
dráulica e aquecimento. A simples disposição do núcleo hidráulico define porções
de espaço para sala, cozinha e quarto. Neste sentido, a experiência das casas
pátio, de organizar o espaço doméstico sem compartimentá-lo, é plenamente
aproveitada, sendo utilizada na casa Farnsworth, de 1945, ou em projetos de maior
escala
,
como mostra a planta dos apartamentos Lake Shore Drive em Chicago, de 1948.
Fig. 55 - Apartamentos Lake Shore Drive, Chicago 1948/51.
Planta do andar tipo. (BLASER, 1993: 133)
Fig. 56 - Apartamentos Lake Shore Drive, Chicago 1948/51.
(BLASER, 1993: 129)
Assim sendo, a retícula construtiva e a espacialidade livre convivem na obra de
Mies van der Rohe, com graus de intensidade variável. Na fase européia, a
intenção de liberdade se sobrepõe ao sentido de ordem, apesar de inteiramente
regido por ela. Na fase americana, a retícula pauta construções em maior escala e
com produção em linha, mas determinada concepção espacial permanece, como
uma reminiscência das vanguardas européias dos anos 20.
1
Segundo David Spaeth, seu pai trabalhava com marmoraria. Mies van der Rohe trabalhou depois em empresas
de tijolos e de revestimentos. SPAETH apud ZUKOWSKY, 1986:13.
2
Kenneth Frampton cita a semelhança apontada por Alfred Barr no capítulo Mies van der Rohe e a importância
do fato, 1921-33”, à página 197 de História Crítica da Arquitetura Moderna. FRAMPTON, 1997:197.
Também Peter Eisenman, no artigo “miMISes READING: does not mean a THING”, aponta para a semelhança em
Mies Reconsidered.
EISENMAN apud ZUKOWSKY, 1986:88,89
3
ÁBALOS, Iñaki. La buena vida: Visita guiada a las casas de la modernidad. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
2000. O livro tem um capítulo dedicado a Mies.
4
Curiosamente, quem irá apontar para a correspondência entre a fase americana e os projetos europeus não
realizados é Mr. Hyrcanyan Woods, tido como amador, em correspondência trocada com Colin Rowe. Ver Mies
and the Highrise – Recent Correspondence on History, Ideology, and Succession. In ZUKOWSKY, 1986, p54.
46
LOUIS KAHN
LOUIS KAHNLOUIS KAHN
LOUIS KAHN
E AS UNIDADES ESPACIAIS
E AS UNIDADES ESPACIAISE AS UNIDADES ESPACIAIS
E AS UNIDADES ESPACIAIS
A exemplo de Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe, a estruturação do
pensamento de Louis Kahn disseminou-se também por seu empenho em formar
novos arquitetos. Talvez a característica mais marcante de sua arquitetura seja a
construção de uma linguagem única que, apesar de se traduzir em manifestações
individualizadas, busca exprimir idéias universais.
Uma consideração chave para o entendimento da construção da espacialidade da
obra de Kahn é sua afirmação de que a arte (arquitetura) nasce do silêncio
1
. Isso
implica na obra estar de acordo com as leis da matéria, do tempo e do espaço.
Mas, ao contrário de Wright, que incorpora a idéia do equilíbrio e da transformação
ao inserir a obra arquitetônica na dinâmica da natureza, a arquitetura de Kahn
busca a permanência, reforçada pela estabilidade do volume, pelo peso da
matéria e pelo significado da arquitetura. Absoluta e contemplativa, a arquitetura
enfatiza o papel da luz, que sacraliza a matéria e enfatiza as formas.
Comparece em suas obras uma ordem ou princípio organizativo que abarca o
todo e confere unidade e integridade. Ao buscar uma ordem que estruture sua
obra, Kahn adota a geometria regular e as formas elementares. Partindo desta
abordagem, algumas estratégias de composição são utilizadas: a subdivisão de
retículas simples em malhas complexas, gerando várias possibilidades de
unidades espaciais e conexões; composições centralizadas que se desenvolvem
em camadas sobrepostas, sempre mantendo relações de medidas entre si;
repetição de um elemento formal, seja ele interno à composição, seja ele um
edifício inteiro, ampliando a aplicação da malha organizadora para a escala
urbana.
Neste jogo volumétrico, entretanto, Kahn não trabalha puramente com geometria e
proporções, mas estabelece relações aprofundadas com a construção e com o
programa, numa interação entre forma, espaço, uso e significado da arquitetura.
47
Kahn praticava um aprofundado estudo do programa, no qual pretendia
determinar a hierarquia dos espaços. Estabeleceu então o conceito de espaço
dominante – servido- e espaços de apoio servidores. O entendimento desta
hierarquização dos usos rebate-se nas organizações das plantas e da construção,
através da articulação do que poderíamos chamar de unidades espaciais, nas
quais a unidade construtiva corresponde, funcionalmente, a uma atividade.
Alguns dos primeiros trabalhos de Kahn, relevantes para a leitura que se pretende
dar neste capítulo, são três projetos não construídos: as casas Adler e deVore e o
Centro para Comunidade Judaica de Trenton, em Nova Jérsei.
O Centro de Trenton (1954-59) é um complexo com alguns edifícios e jardins. O
edifício principal [figs.
57,58
] chama a atenção pela organização da planta a partir
de uma retícula regular com espaçamentos que alternam um módulo simples e um
módulo duplo. O resultado em planta é uma combinação de três diferentes
unidades espaciais: um quadrado maior, um retângulo na proporção 2:1, e um
quadrado menor.
Fig. 57 - Louis Kahn, Centro da comunidade judaica em Trenton. 1954-59. Edifício principal, esquema da
cobertura. (GIURGOLA, 1976: 173)
Cada quadrado maior corresponde a uma unidade de cobertura de quatro águas
com um lanternin. Os demais módulos têm cobertura plana. O programa distribui-
se de modo a ocupar estes espaços de diferentes conformações: circulação e
espaços servidores nos módulos menores, e espaços dominantes nos módulos
maiores.
48
Alguns usos de exceção interrompem a modulação e a regularidade da cobertura:
dois pátios descobertos, além do salão social e da quadra de esportes, com
direito maior e estrutura independente, paralela à trama original.
Fig. 58 - Louis Kahn, Centro da comunidade judaica em Trenton. 1954-59. Edifício principal, planta. (GIURGOLA, 1976: 107)
Fig. 59 - Louis Kahn, Centro da comunidade judaica em Trenton. Edifício principal, perspectiva. (GIURGOLA, 1976: 107)
49
O Centro da comunidade judaica teve apenas uma parte concluída, destinada aos
banhos e ligada às piscinas. Neste pequeno edifício [fig.
60
], nota-se a mesma
construção geométrica rigorosa presente no edifício principal. Trata-se de uma
composição de cinco quadrados. O quadrado central, descoberto, articula quatro
módulos construídos: os dois vestiários, o módulo de acesso e o módulo de saída
para as piscinas. Nas quinas de cada quadrado, os apoios das coberturas
subdividem a malha original em uma modulação menor, e são concebidos com
dimensão suficiente para conter usos: os sanitários e as chicanas de acesso aos
vestiários masculino (direita) e feminino (esquerda), estabelecendo uma corres-
pondência entre o sub-módulo da retícula e a unidade espacial estrutural e de uso.
Fig.
60
-
Centro da comunidade judaica
. 1954
-
59. Edifício de banhos
. P
lanta
. (
G
IURGOLA
,
1976:
1
08
)
Centro da
comunidade jud
aica
. 1954
-
59.
Fig. 61 - Vista externa do módulo de acesso. (GIURGOLA, 1976: 108)
Fig. 62 - Vista do interior do banho masculino (GIURGOLA, 1976: 108).
50
Um complexo trabalho sobre retícula pode ser também observado na casa Adler
[fig.
63
], que data do mesmo ano do projeto em Trenton. Neste projeto, nota-se a
coincidência entre unidade espacial e construtiva. Esta unidade é o quadrado que,
desta vez, é arranjado de modo dinâmico.
Fig.
6
3
-
Louis Kahn, Casa Adler, 1954
-
55
, não construída
.
Planta.
(
G
IURGOLA
,
1976: 14)
A planta articula seis dulos quadrados iguais. A espessura dos apoios confere
à malha um sub-módulo, que é justamente a medida utilizada para deslocar os
quadrados entre si. A aparente liberdade da disposição dos volumes é regulada
pela ordem oculta da geometria, uma vez que os desalinhamentos são
estabelecidos por uma medida da própria modulação, que equivale à dimensão
do pilar. O arquiteto propõe um jogo entre unidade e fragmentação, através do
deslocamento dos quadrados e da conformação do próprio vazio, seja pelo
espaço externo contido entre quadrados, seja pelo espaço externo delimitado por
planos de piso que se estender em volta da casa.
Novamente neste projeto, a espessura dos pilares determina faixas de
equipamentos e serviços que complementam os espaços dominantes. Lareiras,
armários e bancadas ficam encaixados neste espaço definido pelo pilar.
Segundo Alan Colquhoun
2
, a coincidência do modulo construtivo e funcional em
Kahn dissolve a idéia de planta livre, ao criar uma interdependência entre espaço e
estrutura. Ao mesmo tempo, Kahn trabalha fortemente a idéia de volume,
compondo o projeto através de uma articulação volumétrica com base no módulo
espacial, que se configura como um elemento construído e material.
51
A repetição de módulos espaciais deslocados e a adoção de retículas
subdivisíveis são procedimentos que Kahn irá explorar novamente no projeto para
o Laboratório Richards na Universidade da Pensilvânia, de 1957-64 [figs.
69,70
].
O projeto original para o Laboratório compreendia apenas três torres, agrupadas
em torno de um edifício central articulador. As torres têm andar quadrado e livre,
com oito pilares dispostos nas arestas. A estrutura principal de cada torre divide o
quadrado do pavimento em nove quadrados menores. O acesso vertical principal
ocorre no corpo central que une as três torres, e as passagens do núcleo de
circulação vertical para os andares das torres ficam garantidas graças à sua
distribuição deslocada, que gera uma circulação em forma de cata-vento,
conforme o esquema abaixo.
[fig. 65]
Fig.
6
4
Esquema em
planta
dos
espaços
servidores, fase I dos Laboratórios Richards.
(GIURGOLA, 1976: 174)
Fig.
6
5
Esquema em planta da circulação do
pavimento, fase I dos Laboratórios Richards.
(GIURGOLA, 1976: 180)
Dutos verticais de ventilação e escadas de emergência são justapostos às torres,
desvinculados da função estrutural do pavimento. Desta forma, Kahn separa
fisicamente os espaços dominantes e os espaços de apoio.
[fig.64]
Por outro lado, o modo de resolver as instalações nos laboratórios é
desdobramento de um raciocínio que Kahn vem aprimorando desde o projeto para
a Galeria de Arte da Universidade de Yale, de 1951-53 [fig.6
8
]. Nos Laboratórios
Richards, Kahn procura prever toda a instalação através de passagens nas vigas
pré-moldadas dos andares. Com este recurso, todo o andar fica servido de
instalações [fig.
67
].
52
Laboratórios Richards na Universidade da Pensilvânia, 1957-64. Modelo do sistema construtivo.
Fig. 66 À esquerda, embasamento e dutos de ventilação. À direita, estrutura principal da torre – pilares e vigas
pré-fabricadas. (GIURGOLA, 1976: 187)
Fig.
67
Passagens para instalações nas vigas p
-
fabricadas, Laboratórios Richards, 1957-64.
(GIURGOLA, 1976: 190)
Fig.
68
Instalação
passa livre pelas
nervuras da
estrutura com trama a 60°, Galeria de Arte da Univer-
sidade de Yale,1953-55. (GIURGOLA, 1976: 174)
Duas novas torres foram acrescidas à concepção original. Esta expansão não
conecta-se ao núcleo principal de circulação. Ela ocorre a partir de uma das torres,
e tornou-se possível estabelecendo um eixo de circulação que atravessa pelo meio
do andar de laboratórios. As novas torres têm estúdios individuais em balanço nos
andares superiores. Um novo núcleo de escada, elevadores e apoios foi acrescido
ao final da composição, que passou a tomar uma forma mais alongada e linear.
53
.
Laboratórios Richards na Universidade da Pensilvânia, de 1957-64.
Fig. 69 – Plantas finais do térreo e quinto pavimento; Giurgola, p.186. vista exterior. (A+U, 1983: 50)
Fig. 70 – Vista exterior. (A+U, 1983: 50)
54
Fig.
7
1
Laboratórios Richards
na Universidade da Pensilvânia,
de 1957-64. Acesso através da
quina do volume.
(A+U, 1983: 53)
É interessante notar o acesso do térreo feito a 45° a uma das torres do Laboratório
Richards [fig.
71
], que fornece a chave para o entendimento de outra associação de
formas quadradas: a associação a 45° do alojamento para estudantes feito em
Bryn Mawr, 1960/65 [fig.
72
].
Fig. 72 – Alojamentos de estudantes em Bryn Mawr, 1960-65. Corte e planta do terceiro pavimento.
(GIURGOLA, 1976: 180)
O projeto é composto por três blocos quadrados de três andares interligados. A
distribuição dos eixos de circulação, a partir das diagonais do quadrado, com a
articulação dos blocos a 45°, mostra-se uma maneira de organizar o projeto que
elimina as pontes de ligação entre os blocos presente nos Laboratórios Richards.
55
O complexo tem dois tipos de quartos, um maior e um menor, que se distribuem
alternadamente ocupando os perímetros dos quadrados. Esta alternância
corresponde a uma modulação simples e dupla entre pilares, que marca o ritmo
da estrutura na fachada e define um relevo no volume.
Apesar da configuração em série do conjunto, o percurso atravessa espaços
centrais de convívio, que acentua a centralidade do projeto em cada bloco. Esta
organização centralizada passa a ser recorrente em outros projetos de Kahn.
Fi
g.
73
Alojamentos em Bryn
Mawr, aspecto exterior. Por trás
da volumetria final variada, a
concepção do projeto segue
uma geometria rígida, com
base na repetição de um
agrupamento de planta
quadrada. Por fora, o edifício
marca os pilares e lajes em
concreto aparente, com
revestimento em pedra na
fachada. (A+U, 1983: 77)
Fig.
74
Alojamentos em Bryn
Mawr. Vista de um dos vazios
centrais em concreto aparente,
com a iluminação do lantermin
sobre a escada.
(A+U, 1983: 84)
56
Outra característica apreciada por Kahn é conferir aspectos e técnicas diferentes
ao núcleo central do edifício e à construção periférica, como uma construção feita
dentro de outra. Esta diferença de construção e tratamento corresponde a uma
gradação de uso. Isto ocorre em Bryn Mawr, sendo o núcleo interno todo em
concreto, com laje nervurada na cobertura de cada espaço central e quatro
lanternins que sobem além do edifício para buscar luz. Fazendo parte deste
núcleo, volumes com os banhos concentram as instalações. Já a bateria de
quartos que envolve o núcleo central tem estrutura de pilares em concreto
aparente, com revestimento em pedra nas fachadas externas [figs.
73,74
].
Uma relação parecida ocorre em projetos como a biblioteca para a academia
Phillips Exeter, de 1967/72 [fig.
75
]. Neste projeto de organização centralizada, um
núcleo vazio em concreto com direito alto permite a visualização de todos os
pavimentos. A estrutura de concreto suporta o peso do acervo nas lajes que ficam
em torno ao espaço central. Envelopando a construção, galerias periféricas em
alvenaria de tijolo criam nichos de leitura com iluminação, voltados para fora
como um construção dentro da outra.
Fig. 75 – Biblioteca da Academia Phillips Exeter. Aspecto exterior das galerias em tijolo. (A+U, 1983: 158)
57
Fig. 76 – Biblioteca da Academia Phillips Exeter. O núcleo do edifício é inteiramente em concreto e contrasta com
o exterior. Nota-se o uso de formas geométricas puras associadas umas às outras, como a conformação central
quadrada em planta e o círculo vazado em elevação, deixando à vista as lajes soltas dos pavimentos. Como os
lanternins de Bryn Mawr, a iluminação natural no espaço central enfatiza a estrutura. (A+U, 1983: 165)
(A+U, 1983: 165)
58
Fig. 77 Biblioteca da Academia Phillips Exeter. Plantas
do térreo, do terceiro pavimento
Fig. 78 - Biblioteca. Corte.
Fig. 79 – Ao lado, vista da galeria de leitura em tijolo, com
aberturas para o exterior.
É interessante notar que a modulação da construção interna em concreto e a
modulação da construção externa em tijolo estabelecem uma relação. A geometria
em planta do núcleo de concreto corresponde a um quadrado central, ladeado por
quatro retângulos e quatro quadrados menores nas quinas. As galerias de tijolo
também seguem uma modulação regular em torno do núcleo central, sendo cada
aresta formada por quatro retângulos e dois quadrados pequenos nas quinas.
Do mesmo modo que em Bryn Mawr, na Biblioteca da Academia Phillips Exeter a
quina externa do volume é virtual, diluída por um plano chanfrado que, neste caso,
faz a diagonal do quadrado menor.
59
Podemos adotar como mais um exemplo de organização centralizada e da
concepção de um edifício dentro do outro, construídos com técnicas diferentes, o
projeto não concluído para a Sinagoga em Jerusalém, de 1968 [fig.
80
]. O centro
da composição, em concreto com iluminação zenital, é o espaço de culto
propriamente dito. Para este núcleo, a malha com vãos alternados maiores e
menores conforma em planta um espaço central maior. Este quadrado é ladeado
por quatro retângulos (que, no andar superior, correspondem às galerias que se
debruçam sobre o vazio central) e quatro quadrados menores nas quinas (recintos
de culto mais fechados que se elevam em forma de pirâmide invertida).
Envolvendo os quatro lados do edifício em concreto, uma seqüência de recintos
em pedra faz a chegada gradual ao templo.
Fig. 80 – Sinagoga em Jerusalém, 1968. Plantas do
andar térreo e superior. (GIURGOLA, 1976: 49)
Fig. 81 – Estudo de corte. (GIURGOLA, 1976: 49)
O projeto não construído para a Sinagoga de Jerusalém guarda semelhanças com
o projeto para a Primeira Igreja Unitaria em Rochester, 1959-67, principalmente
com relação aos primeiros estudos feitos para esta igreja. Apresenta a mesma
organização, com a sala de culto no centro, uma circulação em torno dela e
recintos periféricos de apoio, todos guardando relações geométricas entre si.
60
o projeto para o Kimbell Art Museum (1966-72) retoma, em muitos aspectos, o
projeto do Centro Judaico de Trenton. A planta [fig.
82
] é traçada a partir de uma
retícula binária, que alterna vãos maiores e menores. Como no projeto para
Trenton, conforma-se uma unidade espacial que tem uma cobertura pronunciada –
quatro águas com lanternim em Trenton, abóbada alongada com lanternim no
museu Kimbell. Em ambos, a regularidade da cobertura é interrompida por pátios
descobertos.
A composição de abóbadas no museu Kimbell, a partir da malha organizadora
com espaçamentos diferentes, gera um desenho muito sofisticado, que resolve o
projeto quanto a questões de espaço, uso, instalações e construção.
Fig. 82 – Kimbell Art Museum, 1966-72. Planta do térreo. (A+U, 1983: 137)
Fig. 83 Kimbell Art Museum, 1966-72. Corte. O museu tem a planta do térreo liberada aos espaços expositivos,
devido a um pavimento de serviços no embasamento, que é acessado em nível por um pátio externo.
(A+U, 1983: 138)
61
No corte transversal pelas abóbadas [fig.
83
], nota-se que a duplicidade dos apoios
corresponde a uma laje plana entre os gomos da cobertura. Nestes trechos de laje
plana, Kahn concentra instalações pelo teto prevendo de modo adequado, como
em projetos anteriores, a passagem de tubulões pela estrutura. No corte longi-
tudinal, a retícula que alterna vãos grandes e pequenos propicia o afastamento de
tramos de abóbadas e proporciona frestas numa relação muito próxima, ora
promovendo a entrada de luz, ora acentuando a idéia da autonomia e repetão do
elemento formal. O rigor construtivo determinado pela retícula estende-se aos
demais elementos da construção, como fechamentos, paginação de piso, etc.
Fig. 8
4
Kimbell Art Museum. Seqüência de abóbadas.
(http://figure-ground.com/travel/image.php?kimbell)
Fig. 8
5
Abobadas vazia e duplicidade de apoios
.
(http://figure-ground.com/travel/image.php?kimbell)
Fig. 8
6
Um dos pátios internos.
(A+U, 1983: 148)
Fig. 8
7
Varanda de acesso.
(http://figure-ground.com/travel/image.php?kimbell)
Fig. 8
8
Kimbell Art Museum. Paginação do piso.
(http://figure-ground.com/travel/image.php?kimbell)
Fig. 8
9
Kimbell Art Museum. Fresta entre abóbadas.
(http://figure-ground.com/travel/image.php?kimbell)
62
Fig. 90 - Correspondência entre os elementos da construção, o espaço e os usos. O piso em madeira
corresponde à projeção da abóbada. O rasgo zenital recebe um aparato que difunde e rebate a luz. O trecho
plano de laje alinha-se com o pilar duplo, embute instalações e conforma ambientes diferentes, concentrando
alguns serviços como escadas, elevadores e balcões. Tudo isto é orquestrado por um retícula complexa.
(A+U, 1983: 149)
63
A idéia da repetição de um elemento formal para compor um projeto está presente
em várias das obras de Kahn
3
, seja este elemento uma parte constitutiva de um
todo – a cobertura em abóbada, no museu Kimbell, a torre nos Laboratórios
Richards, o arranjo quadrado de celas em torno de um espaço central em Bryn
Mawr seja repetindo elementos separados para compor um conjunto
arquitetônico, como no Instituto Administrativo da Índia em Ahmedabad.
[fig.94]
Esta repetição do elemento confere ritmo e perspectiva ao conjunto, como no
Instituto Biológico Salk (1959-65), na Califórnia. Trata-se de um complexo que
inclui os edifícios de laboratórios, edifícios de moradias e edifícios de convenções.
Os laboratórios ocupam dois grandes edifícios paralelos, ladeados por edifícios
anexos com laboratórios menores e galerias de circulação, que conferem ao corpo
linear uma apreensão ritmada de volumes individuais que se sucedem. Entre os
dois edifícios principais, a partir das fachadas dos blocos anexos todas orientadas
na mesma direção, forma-se uma praça que se abre em vista para a paisagem.
Figs. 91, 92 - Instituto Biológico Salk, La Jolla, 1959-65. Vista da praça entre os dois edifícios de laboratório. Os
corpos anexos conferem ritmo à praça. (http://figure-ground.com/travel/image.php?salk)
64
Fig. 93 - Instituto Biológico Salk, 1959-65. Planta do andar de laboratório e corte transversal pela praça.
(A+U, 1983: 63)
Os dois edifícios de laboratórios têm andares intercalados de instalações, que
ocupam a altura estrutural da viga Vierendeel que vence o vão livre do andar,
como é possível notar no corte acima. Neste projeto, Kahn retoma a experiência de
projetos anteriores para incorporar as instalações à estrutura do edifício.
Em outros projetos, como para o Centro Administrativo da Índia em Ahmedabad
(1963), Kahn trabalha a idéia da repetição do elemento arquitetônico para compor
conjuntos ainda maiores. A repetição de um edifício inteiro leva, ao mesmo tempo,
à unidade e dinâmica do conjunto, e torna-se uma transposição, da escala do
edifício para a escala urbana, da idéia de retícula ordenadora e de articulação de
unidades espaciais para compor uma nova unidade mais complexa.
65
Instituto Administrativo da Índia em Ahmedabad, 1963.
Fig. 94 - Maquete geral. (GIURGOLA, 1976: 70)
Fig. 95 - Vista dos dormitórios. (GIURGOLA, 1976: 74)
Fig. 96 - Vista das habitações. (GIURGOLA, 1976: 77)
66
1
Por ello Kahn cree que el silencio está em el origen de toda manifestación artística, de modo similar a André
Malraux, para quien el sarte son las vocês del silencio. Em efecto, ante El concepto de lo bello reina el silencio.”
(GIURGOLA, 1976: 11)
2
Para Kahn - que avançou muito mais que Le Corbusier nesta direção – a arquitetura só assumia um
significado quando uma unidade de estrutura coincidia com uma unidade de espaço habitável. Isto tornou
inoperante a planta livre...”. (COLQUHOUN, 2005: 253)
3
Colquhoun se refere a esta unidade espacial de “espaço-habitação”, conforme o trecho a seguir: “nos projetos
seguintes, estas unidades se organizavam de distintas maneiras: como aglomerações compactas, como cadeias,
ou como pequenos espaços agrupados em torno a outro central. O elemento significativo era sempre o próprio
espaço-habitação...”. (COLQUHOUN, 2005: 250)
3
PROCEDIMENTOS DE PROJETO COM BASE EM RETÍCULAS:
ESTUDOS DE CASAS DO ARQUITETO EDUARDO DE ALMEIDA
68
A segunda parte do trabalho apresenta os projetos de casas do arquiteto Eduardo
de Almeida, divididos em cinco capítulos, por afinidades: Laje Inclinada; Plantas de
Base Quadrada; Casa em Lote com Pátio; Projetos de Referência; e O Detalhe e a
Retícula.
Para realizar tal classificação, o trabalho contou uma etapa de pesquisa, que
consistiu no levantamento de 39 casas com projeto executivo completo, a partir do
acervo do arquiteto. Os desenhos foram todos digitalizados e impressos para
permitir uma melhor manipulação dos dados a serem investigados. Os projetos
mais recentes foram feitos em computador, e seus desenhos em CAD foram
apenas impressos. Todo este material foi complementado com fotos, visitas e
outras informações.
A leitura dos projetos procurou pautar-se na questão fundamental da tese e
discute o momento do projeto, sem deixar de mencionar questões relevantes e
pertinentes a cada projeto. Em alguns casos, irá se notar a vinculação direta entre
o partido arquitetônico adotado e o uso da reticula métrica que organiza o espaço
e a construção. Isto ocorre principalmente nos momentos em que a forma
arquitetônica segue um modelo mais rígido e pré-determinado, como no caso das
casas com laje inclinada, em que o ângulo da laje define a proporção das medidas
em planta e corte, e nas casas com planta de base quadrada, em que a
complexidade da malha e seus sub-módulos repercute em maiores possibilidades
formais.
As casas projetadas pelo arquiteto, que foram levantadas para a elaboração deste
estudo, foram:
1. Residência Eduardo de Almeida. Rua dos Açores. 1959/1964 (2
a
fase)
2. Residência Paulo Toledo. Ubatuba. 1964
3. Residência Pedro Tassinari
- M. L. Moraes - M. Toledo. Rua João Lopes Neto. 1965
4. Residência Jean Nadim. 1968
5. Residência Fernando Machado de Almeida. Rua Rino Levi. 1969
6. Residência Egberto Penido. Rua Des. Joaquim Barbosa de Almeida. 1970.
7. Residência Jacob Kipnis. Rua dos Escultores. 1970.
8. Residência José Luis Niemeyer dos Santos. 1970.
69
9. Residência Joaquim Muller Carioba. Guarujá. 1972.
10. Residência Levy Rubenstein. Rua Comandante Lira. 1973.
11. Residência Jean Sigrist. Rua David Pimentel. 1974.
12. Residência Pedro Tassinari Filho. Praia da Baleia. 1974.
13. Residência Edson Veiga. Rua Emboada. 1975.
14. Residência Eduardo de Almeida. Rua Carangola. 1977.
15. Residência no Patrimônio do Carmo. 1977.
16. Residência Max Define. 1978.
17. Residência na Fazenda Campo de Bois. Estudo. Com Arnaldo Martino. 1979.
18. Residência na Fazenda Jatobá. Estudo. Com Arnaldo Martino. 1979.
19. Residência Requejo/Bonomi. Com Arnaldo Martino. 1979.
20. Residência José Manuel Riveros. 1980.
21. Residência Mario Ciuchini. Rua das Magnólias. 1980.
22. Residência Rui Porto. São Sebastião. Com Arnaldo Martino. 1981.
23. Residência Pedro Tassinari Filho. Orlândia. 1982.
24. Residência Luis Augusto Barros Barreto. Rua Santa Cristina. 1983.
25. Residência Paulo Victor Oppenhein. Parque dos Príncipes. 1985.
26. Residência Manuel Marcílio Sanches. Rua Pianu. 1987.
27. Residência Jean Sigrist. Ilha do Araújo. 1987.
28. Residência Cândido Bracher. Rua Piacá. 1993/1999.
29. Residência Phillipe Reichstul. Rua Sampaio Vidal. 1994.
30. Residência Pacheco e Silva. Rua Mariana Correa. 1995.
31. Residência Rubens Filizola. Rua Circular do Bosque. 1995.
32. Residência na Fazenda Água Comprida. Uberaba. 1996.
33. Residência Eduardo de Almeida. Praia de Lanjeiras. Paraty. 1997.
34. Residência Ricardo Lacerda Soares. Ubatuba. 1999.
35. Residência Felipe Sigrist. Rua Laerte Assunção. 2002.
36. Residência Patrick Sigrist. Jundaí. 2003.
37.
Residência Fernando Reinach. Piracaia. 2003.
38. Residência Carlos Eduardo de Almeida. Butantã. 2004
39. Residência Marcelo Bresser Pereira. Alto de Pinheiros. 2005.
70
EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDAEDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA
LAJE INCLINADA
LAJE INCLINADALAJE INCLINADA
LAJE INCLINADA
A casa Fernando Machado de Almeida, de 1969,
[fig.96,97]
é a primeira de um
conjunto de casas feitas por Eduardo de Almeida que utilizam laje inclinada como
elemento de cobertura. A utilização de laje inclinada apresenta a peculiaridade de
estabelecer uma relação entre medidas que não se apenas em planta mas
também em corte, na qual as distâncias horizontais e as alturas crescem de modo
proporcional, a partir da inclinação constante adotada na laje. Isto permite
trabalhar de modo controlado alguns desníveis no interior do edifício para
adaptação ao terreno geralmente inclinado, mantendo como medidas constantes
os pés direitos iniciais de cada ambiente, ou seja, alinhando as alturas das
aberturas com os pés direitos fixos dos demais ambientes, e conferindo certa
uniformidade ao conjunto da obra.
Fig.
97
-
Casa Fernando Machado de Almeida na
Rua
Rino Levi, em São Paulo. Aspecto da volumetria.
(fonte: arquivo do arquiteto)
Fig.
98
-
Casa Fernando Mac
hado de Almeida. Vista
interna. Altura de “verga” coincide com altura do
mezanino. (fonte: arquivo do arquiteto)
Nesta casa, a laje inclinada é utilizada como forma de potencializar a
espacialidade interior. O plano inclinado, de modo efetivo, participa do desenho
dos espaços internos e interfere no arranjo da casa. A composição apresenta dois
volumes com inclinações opostas, um voltado para a rua e outro inclinado para o
fundo do terreno, articulados por um terceiro trecho de laje sobre a escada, com
laje plana sobre os banhos.
71
A casa acomoda-se ao terreno em aclive
[fig.99],
com acesso pela garagem em
nível com a rua, cuja cobertura, que é também o terraço do estar, projeta-se para a
frente em um grande balanço. O andar intermediário acomoda o estar, cujo
direito acompanha a inclinação do teto, e a cozinha, cujo limite torna-se contenção
do terreno. No pavimento superior, o quarto principal abre-se em mezanino sobre
a sala, aproveitando a maior altura do teto, e os quartos do fundo saem em nível
para o jardim. Trata-se de um corte que explora ao máximo a relação com o
terreno e o advento da laje inclinada. À medida que o terreno sobe, a cobertura
inclinada também se eleva e possibilita novos usos e novos níveis.
Fig. 99 - Casa Fernando Machado de Almeida. Plantas e Corte extraídos do projeto executivo de
arquitetura. (fonte: arquivo do arquiteto)
72
A casa Sigrist, em São Paulo, projetada em 1974, é outro projeto com cobertura de
laje inclinada em terreno com aclive
[fig.103]
. Nesta casa, a inclinação da laje de
cobertura acompanha a declividade da encosta onde a casa se situa e, sobre ela,
uma caixa de terra preenche o jardim que reconstitui o perfil do terreno original,
dissimulando a casa na paisagem e recompondo a encosta. Novamente, a
solução do projeto em corte leva em conta a topografia do terreno, e a laje
inclinada aparece como solução natural para acomodar os desníveis e os usos, à
medida que o terreno se eleva.
A casa é disposta em três níveis deslocados, incrustados no terreno através de
muros de arrimo, que se afastam da rua à medida que a casa sobe. A forma final é
de uma cunha encravada no terreno que nunca aflora, repleta de interrupções na
cobertura inclinada, através das quais se percebe o volume escavado para dentro
da topografia. Mesmo sendo totalmente implantada abaixo do perfil natural do
terreno, devido às interrupções do plano inclinado, os espaços internos da casa
abrem-se francamente à paisagem, através dos amplos terraços que determinam
ambientes bem ventilados e iluminados. Apesar destas subtrações ao volume, a
continuidade visual é fortemente mantida, devido ao desenho chanfrado de todos
os elementos – muros, bancos, a própria cobertura - ao atingirem o plano inclinado
que intercepta a casa.
Alguns croquis iniciais do projeto desta residência podem ilustram os
procedimentos de projeto do arquiteto
[fig.100]
. Se, por um lado, um fator como o
sítio é um condicionante forte do projeto, por outro lado percebe-se o trabalho em
identificar as atividades próprias de cada ambiente, num estudo detalhado do
programa. Os croquis mostram a tentativa de disposição de objetos,
equipamentos e usos específicos para a obtenção de medidas que comporão os
ambientes, pensadas sob o ponto de vista do usuário e das atividades próprias de
cada um dos espaços. A observação de croquis que revelam o acerto das
medidas a partir de arranjos internos apontam para uma íntima relação entre
medidas gerais de eixos da estrutura e a composição de medidas menores.
Contas e possibilidades de layout são ensaiadas para se obter tais medidas, que
irão refletir na modulação geral.
73
Fig. 100 - Croqui de estudo da casa Sigrist, extraído de uma folha repleta de croquis, sem data.
(fonte: arquivo do arquiteto)
No andamento do processo, outro croqui traz a modulação bem marcada no
desenho, evidenciada pelos eixos
[fig.101]
. A modulação rigorosa de 3,30m
estrutura os vários trechos do plano de cobertura, resolvendo ao mesmo tempo
aspectos construtivos e de programa. O corte ao lado, que acompanha a planta,
indica a preocupação em localizar a planta e estabelecer relações de altura.
Fig. 101 - Croqui de estudo da casa Sigrist, extraído de uma folha repleta de croquis, sem data.
(fonte: arquivo do arquiteto)
74
Entretanto, a relação de medida mais importante desta casa não ocorre em planta,
mas precisamente na relação entre alturas e distâncias, que obedecem à
inclinação da encosta e resultam sempre nas mesmas alturas de vergas, ao se
estabelecer um pé direito inicial de 2,56m.
O partido da casa não foi concebido imediatamente, sendo resultado de investidas
para solucionar o projeto através de uma volumetria externa bem definida, às
vezes parcialmente suspensa, e sua relação com o terreno. Alguns croquis
remanescentes mostram o momento em que o volume construído funde-se ao
terreno
[fig.102]
.
Fig. 102 - Croqui de estudo da casa Sigrist, extraído de uma folha repleta de croquis, sem data.
(fonte: arquivo do arquiteto)
No conjunto de desenhos acima, o corte à direita apresenta duas linhas de terreno:
uma com ângulo bem abatido, configurando o volume solto que se projeta para
fora do terreno, e outra tangente à construção, no gesto através do qual a casa é
embutida no terreno. A terminação afinada em triângulo no balanço de cada nível,
responsável e decorrente da volumetria inclinada, aparece de imediato neste
primeiro croqui, remetendo ao modo de arrematar o plano inclinado experimentado
na casa Fernando Machado de Almeida de 1969, e também nas outras casas que
trabalham a laje inclinada, como a casa Levy Rubinstein, de 1973, e a casa Muller
Carioba, de 1974.
75
Deste modo, apesar de suas peculiaridades, a casa da encosta pode ser
entendida como uma implantação inusitada de uma casa com laje inclinada. Esta
casa não trabalha o balanço volumétrico, como a casa Fernando Almeida, que se
projeta para fora ao mesmo tempo em que se adapta à topografia, mas trabalha
inclinações e chanfros próprios de sua implantação dissimulada no terreno. O
arquiteto adota, inclusive, soluções que se assemelham em detalhes às casas
mencionadas como, por exemplo, as ventilações superiores em ambientes de
apoio através da introdução de trechos de lajes planas, e a adoção de pérgulas,
responsáveis pela continuidade do plano inclinado nos trechos em que a laje é
interrompida.
Fig. 103 - Casa Sigrist na Rua João Lopes Neto, em São Paulo. Corte. Projeto executivo.
(fonte: arquivo do arquiteto)
76
Fig. 104 - Casa Sigrist na rua João Lopes Neto, em São Paulo. Plantas. Projeto executivo.
(fonte: arquivo do arquiteto)
77
Figs. 105 a 110 - Casa Sigrist na rua João Lopes Neto, em São Paulo. Vista da implantação da casa durante a
obra e da casa finalizada, com amplos terraços e planos inclinados presentes em ambientes internos. O arquiteto
salienta a importância da inclinação da cobertura convergindo para as aberturas. (fonte: arquivo do arquiteto)
78
A intenção da casa Sigrist é recompor um jardim na cobertura. Se voltarmos a
analisar as casas com lajes inclinadas poderíamos chamar de lajes brancas
veremos que o arquiteto vai buscar estabelecer relações interessantes, propondo
volumetrias e espacialidades internas que tirem proveito da inclinação da laje.
Podemos também notar que esta solução surge, em geral, como resposta a um
terreno com desnível, como se fosse uma solução natural sobrepor uma cobertura
inclinada a um aclive ou declive.
É interessante notar a relação entre as lajes e a disposição interna em meios níveis
da casa Levy Rubinstein, em São Paulo (1973)
[figs.111 a 113]
. O partido formal é o
rebatimento de uma laje, com idêntica inclinação e medida, deixando uma
pequena sobreposição com um desnível para entrada de luz. A luz rebate no plano
inclinado para permitir o entendimento do espaço central, com direito alto e
pouca abertura para o exterior apenas uma janela ao lado da mesa de jantar
permite observar o jardim lateral.
A casa Edson Veiga em São Paulo (1975)
[figs.114 a 117]
adota uma laje única de
pequena inclinação, que é somada ao desnível do terreno para propiciar a
acomodação de dois pavimentos na parte inferior do terreno. A casa articula-se em
meios níveis: o acesso se através do nível intermediário que contém os
serviços; o convívio fica abaixo, com saída para a piscina e jardim; os quartos
ficam um nível acima da sala.
Com inclinação constante, a laje é interrompida em um pequeno trecho de laje
plana sobre a cozinha, para ventilar e iluminar os banhos no nível superior. Sobre a
circulação de acesso junto à escada, em trecho alinhado à laje plana dos
banheiros, um pergolado retoma a inclinação da laje e sua cobertura de vidro
provê iluminação. Neste ponto, a sala de jantar abre-se para os dois meios veis:
para a sala de crianças no nível inferior, e para o escritório no nível superior.
Nos dois casos descritos acima, a casa tem o arranjo compacto que, de certa
forma, inverte um pouco uma disposição experimentada por outros arquitetos, na
qual a sala ocupa o direito maior, e os quartos ficam sobre os serviços como,
por exemplo, na residência Errazuris de Le Corbusier (1929). A predileção de
Eduardo de Almeida em voltar os espaços de convívio para o jardim o impediu de
localizar o estar sob pé direito maior, que corresponderia à parte da frente da casa.
79
Figs. 111, 112, 113 - Casa Levy Rubinstein, 1973, em São Paulo. Corte longitudinal e plantas do superior e térreo.
(fonte: arquivo do arquiteto)
80
Figs. 114, 115, 116, 117 - Casa Edson Veiga, 1975, em São Paulo. Cortes longitudinais e plantas do térreo e
superior. (fonte: arquivo do arquiteto)
81
Deste conjunto de casas, outra que revela um procedimento de projeto muito
interessante é a casa Muller Carioba no Guarujá, projetada em 1972
[fig.118 a 124]
.
Esta casa mostra de modo evidente uma manipulação de volumes que se traduz
no próprio partido arquitetônico. Em planta, é composta por dois quadrados
idênticos e alinhados, com rotação de 90º entre si. Cada quadrado corresponde a
um volume trapezoidal com cobertura em uma única laje inclinada. Os dois
volumes são articulados por lajes menores sobre a escada e pelo volume vertical
da caixa d´água. Em tudo os dois quadrados se correspondem e se equivalem: na
modulação em planta e no desenho em corte, que aproveita a inclinação da
cobertura para dispor na porção de maior altura os quartos no andar superior.
Aberturas da laje para iluminação zenital determinam trechos de pergolado
também equivalentes nos dois módulos. Na face mais alta de cada um dos
volumes, aberturas altas para iluminação e ventilação apóiam o plano da cobertura
através de uma modulação menor e bem marcada.
A articulação de apenas dois volumes da casa Muller Carioba torna-se um
fragmento de articulações mais complexas que envolvem quatro volumes em
plantas quadradas, que serão descritas no capítulo a seguir.
Figs. 118, 119- Casa Muller Carioba, 1972, no Guarujá. Plantas do térreo e superior.
(fonte: arquivo do arquiteto)
82
Fig. 120 - Casa Muller Carioba. Articulação dos dois volumes
idênticos em laje inclinada, constituídos a partir do quadrado.
(desenho elaborado pela autora)
Figs. 121 a 124 - Casa Muller Carioba no Guarujá,
1972. Acima, fotos externas.
(fonte: arquivo do arquiteto)
83
EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA -
--
-
PLANTA
PLANTAPLANTA
PLANTAS DE BASE
S DE BASES DE BASE
S DE BASE
QUADRADA
QUADRADAQUADRADA
QUADRADA
Casas organizadas em torno de plantas quadradas surgiram com freqüência entre
os projetos de Eduardo de Almeida, principalmente se levarmos em conta estudos
não realizados e anteprojetos que foram abandonados ou substituídos por outros
partidos arquitetônicos.
Nestes projetos, o desenho regrado parte de uma modulação exata que é
imprescindível à disposição regular, seja ela rebatida e simétrica, rotacionada ou
simplesmente composta por volumes agrupados em torno de um espaço central.
Alguns arranjos são exemplos de uma “composição ideal”, trabalhados segundo
uma lógica interna ao jogo do projeto, que se constitui da própria manipulação dos
volumes de acordo com regras estabelecidas pelo arquiteto, através da qual
trabalha a forma para obter a melhor disposição do programa, a melhor relação
com a paisagem e o melhor desempenho da construção.
O desenho de geometria pura, que tende a um espelhamento ou uma simetria,
encontra no sítio de proporções generosas o local ideal para ser implantado e
apreciado. Torna-se então mais comum nas situações isoladas representadas pela
casa não urbana, que ocupa um terreno sem a interferência de limites, para o qual
o arquiteto busca estabelecer, além de relações com o entorno, relações do objeto
arquitetônico consigo mesmo e determinar, através da implantação, a área
envoltória da casa.
Entretanto, apesar da alta pregnância dos desenhos em planta, o contraste com a
natureza pela imposição da forma construída não chega a ser, para o arquiteto,
objeto de interesse em si. A rigidez do elemento construído e a relação de
sobreposição ao lugar são sempre diluídas pelo tratamento dado à construção e
pela introdução de elementos anexos que se expandem na direção da paisagem.
Sem adquirir propriamente uma constituição volumétrica que interfira na apreensão
unitária do conjunto, estes elementos se traduzem em pisos, águas e muros que
definem percursos, delimitam porções de terreno e melhor assentam as casas à
84
topografia e ao lugar. A própria natureza material do elemento arquitetônico facilita
sua incorporação à paisagem, situação que melhora ainda mais se
considerarmos os grandes telhados de barro, com águas que pendem em direção
ao solo.
As casas são, geralmente, dispostas em torno de um módulo central vazio. Nestas
casas, a idéia de uma centralidade, de um espaço de claustro, fechado em si
mesmo, contrapõe-se às aberturas voltadas para fora presentes nos espaços
circundantes, que observam a paisagem nas quatro direções. Outra intenção
presente é a transposição do volume construído através de eixos claramente
configurados e que implicam em algumas transparências através do edifício ou
blocos que compõem o edifício.
O pátio desempenha um papel específico nestes programas de casas. Organiza
as circulações, isolando e, ao mesmo tempo, unindo e possibilitando os usos da
casa. Além disso, promove e enriquece os percursos. O pátio constitui em si
mesmo um ambiente particular de grande interesse: esta porção de espaço,
externa, porém cuidadosamente controlada, é isolada do mundo exterior e cria seu
próprio mundo interior.
Podemos iniciar uma incursão pelas casas de planta quadrada através de seu
exemplar mais simples, a casa sem dono feita em 1977 para o condomínio
Patrimônio do Carmo, em Cotia
[fig.125 a 127]
.
Trata-se de uma casa extremamente rigorosa quanto à sua organização e simetria.
A casa é um quadrado em planta, composto por nove quadrados de 5,40m de
eixo, com cobertura de quatro águas. Por ser uma casa relativamente compacta e
com dimensões reduzidas, o módulo articulador central não é um espaço externo,
mas sim interno, sendo ocupado pela própria sala, com a lareira na posição
central, iluminada através de uma pequena abertura zenital.
A estrutura obedece à modulação e é totalmente independente dos fechamentos,
que se concentram nos quatro módulos das quinas do quadrado principal. Esta
disposição confere transparência e determina uma transposição da planta em
85
forma de cruz, através do prolongamento de dois eixos perpendiculares que
potencialmente atravessariam a sala e se estenderiam para fora. A simetria formal
da casa é apenas rompida por elementos de menor interferência, como bancadas
da cozinha e armários, definidos por volumetrias soltas e baixas, e pela própria
piscina circular, implantada em outros quatro módulos quadrados deslocados da
casa.
Fig. 1
25, 126, 127
-
Casa no Patrimônio do Carmo. Implantação e cortes.
(
fonte: arquivo do arquiteto
)
A cobertura, com telha de barro em quatro águas, é o desdobramento da
geometria centralizada, com base na planta quadrada, aplicada ao telhado. A
estrutura principal de madeira apóia-se nos pilares traçando as diagonais dos
módulos e prolonga-se em balanço em direção ao centro da casa, deixando um
óculo por onde entra a luz.
Outra casa, feita 20 anos depois, representa uma versão de dois andares do
arranjo quadrado da planta, subdividido em nove quadrados menores, com a casa
resolvida em um único volume.
Trata-se da casa do arquiteto em Paraty, de 1997
[fig.128]
. Em vez de dois eixos
perpendiculares como na casa do Patrimônio do Carmo, um único eixo
86
transparente perpassa a casa desde o acesso até a varanda. Nesta casa, o
espaço central estabelece a articulação tanto em planta como em corte,
conectando os dois níveis da casa através de um vazio com pé direito duplo.
O vazio central, que abriga a sala, permite também uma boa leitura do
madeiramento do telhado e da estrutura em madeira, da qual faz parte a escada,
as pontes e terraço do nível superior. A estrutura em madeira se porta totalmente
independente dos blocos de alvenaria, que abrigam quartos com banhos no andar
de cima e apoios no nível do chão.
Fig. 128 - Casa em Paraty. Implantação e planta do andar superior. (fonte: arquivo do arquiteto)
Figs. 129 e 130 - Casa em Paraty. (fonte: arquivo do arquiteto)
87
Casas maiores, que se utilizam da mesma planta de disposição quadrada
mostrada nos exemplos anteriores, ao invés de abrigar em seu centro um espaço
de convívio coberto, possibilitam o surgimento de um pátio descoberto, com os
usos dispostos em torno do mesmo. As variações deste arranjo revelam
organizações pautadas por módulos geométricos precisos, como forma de
compatibilizar medidas e agregar volumes, mas que podem ocorrer de maneiras
muito diferentes.
A retícula estática de módulo constante, diagnosticada em projetos como os
ilustrados acima, nos quais o quadrado é subdividido em outros nove quadrados,
é geradora de uma volumetria bastante rígida e simétrica. Quando a retícula
assume uma configuração mais dinâmica (sem deixar de atender ao procedimento
do arquiteto de trabalhar com um substrato regrado), ela se torna o instrumento
gráfico gerador de volumetrias variadas e autônomas que, mesmo estando
condicionados a um todo de matriz quadrada, assume uma liberdade maior do
ponto de vista volumétrico. Isto nos leva a crer que a gradiente do potencial
volumétrico das casas tem correspondência com a desenvoltura aplicada na
retícula.
Uma experiência interessante é o estudo preliminar abandonado da casa Define
(1977)
[fig.131]
. Neste estudo, o arquiteto admite a influência dos projetos de Louis
Kahn, percebida através da composição centralizada e da solidez da construção.
A retícula utilizada é similar àquela adotada por Kahn no Centro Judaico em
Trenton
[fig. 58].
Trata-se de uma malha que tem intersecção de eixos com
afastamentos alternados, que geram três figuras em planta: um quadrado grande,
um quadrado pequeno e um retângulo. O modo de apropriar-se dos espaços
maiores e menores para usos dominantes e de apoio é também muito semelhante
à estratégia adotada por Kahn em Trenton, bem como o aproveitamento da
espessura de pilares para encaixar armários e bancadas, presente na casa Adler
[fig.63].
No estudo de Eduardo de Almeida para a casa Define, nota-se um grande
quadrado composto por nove quadrados menores. Cada um deles, por sua vez,
divide-se em outros nove quadrados, num jogo geométrico da fração dentro da
fração.
88
Fig. 131 – Estudo para casa Define (não construído). (fonte: arquivo do arquiteto)
Os nove quadrados são intercalados por faixas de circulação, cuja largura é um
submúltiplo (1/3) do quadrado. A forma de intercalar estas faixas de circulação na
planta quadrada permite expandir o núcleo fechado para fora dele, uma vez que
estes eixos são utilizados para acessos e ligações. Estas faixas organizam
também a circulação da galeria em torno do pátio central. A geometria alternada
módulo X sub-módulo - viabiliza o projeto, definindo os espaços destinados à
circulação e garantindo a integridade dos espaços internos, que são pensados a
partir do módulo inteiro. Deste modo, a sala de jantar, a sala de estar ou o quarto
ocupam um dos oito quadrados em volta do pátio.
Por sua vez, qualquer subdivisão deste ambiente – como o banho que pertence ao
quarto leva em conta sua divisão em nove novos quadrados. Esta divisão tem
uma marcação constante mesmo quando o ambiente se mantém íntegro, pois
está indicada nas alvenarias, através da espessura de blocos de concreto. Nas
quinas dos quadrados principais, os apoios mais robustos são obtidos a partir do
arranjo de quatro blocos de concreto girados. Toda a construção geométrica é
rebatida na paginação do piso.
89
Outro exemplo de como a retícula pode se tornar complexa e desencadear
volumes variados é a casa da Praia da Baleia
[fig.132]
, projetada em 1974 e
ampliada em 1982. A casa configura-se ao redor de um pátio central que organiza
as circulações. Trata-se de um espaço de passagem que integra e, ao mesmo
tempo, preserva, com muita autonomia, o funcionamento de cada parte da casa.
O núcleo quadrado de 9,60m é obtido pela soma de dois sub-módulos, 2,40m e
7,20m, rotacionados em uma espécie de cata-vento. O módulo de 2,40m resolve
as circulações em torno do pátio central, que se prolongam para fora do quadrado
num efeito desencontrado, para acessar a casa a partir da praia e da rua. O
mesmo intervalo de 2,40m, paralelo à praia, tornou-se o prolongamento natural
para a ampliação da casa, feita oito anos depois.
A galeria que contorna o pátio tem direito baixo, com laje plana a 2,20m de
altura, e cuja borda é uma viga alta em concreto que define a proporção e o
contorno do pátio e abriga equipamentos sobre a laje. A cada aresta do quadrado
que delimita o pátio corresponde o volume de uma única água em telha de barro,
que abriga uma parte do programa da casa: estar com varanda e jantar, serviços,
quartos e garagem.
Fig. 132 - Casa na Praia da Baleia, 1974. Estudo preliminar. Implantação original sem ampliação. (fonte: arquivo
do arquiteto)
90
Fig. 133 - Casa da Baleia. Estudo. Perspectiva axonométrica. (fonte: arquivo do arquiteto)
Na casa da Praia da Baleia, fica clara a articulação volumétrica entre quatro blocos
distintos que compõem a casa
[fig.133]
. Apesar de apresentarem particularidades
que os tornam diferentes entre si, os blocos se equilibram e se correspondem no
arranjo final, e estão dispostos segundo uma regra clara e precisa. Ficam
mantidos os elementos que se expandem além da composição principal - pisos,
muros, piscina – sem comprometer a leitura da unidade do conjunto.
Fig. 134 - Casa da Baleia. Pátio.
(fonte: arquivo do arquiteto)
Fig. 135 - Casa da Baleia. Ligação com ampliação
da casa. (fonte: arquivo do arquiteto)
91
Três outras casas de fazenda, duas delas apenas estudos e a outra executada,
reforçam a tipologia quadrada para programas e terrenos amplos. As plantas a
seguir correspondem aos dois estudos que não tiveram seqüência: Fazenda
Jatobá
[fig.136]
e Fazenda Campo de Bois
[fig.137]
.
O estudo para a casa da Fazenda Jatobá parte de um quadrado subdivido em
nove quadrados, subdivididos por sua vez em outros nove quadrados. A faixa
reservada para circulação em torno do pátio utiliza os próprios quadrados menores
que estão voltados para dentro. As quatro águas da cobertura apresentam uma
inflexão, que corresponde exatamente à galeria de circulação e cujos apoios estão
contidos no sub-módulo do quadrado. A cobertura torna-se um telhado de oito
águas.
O programa construído ocupa duas faces do quadrado, deixando livre uma faixa
central transparente desde a garagem, que atravessa o tio até a varanda, com
aberturas controladas por portas de correr. Nota-se, novamente, o aproveitamento
das espessuras dos apoios para abrigar armários e outros equipamentos.
Fig. 136 - Fazenda Jatobá, 1979. Estudo feito em parceria
com Arnaldo
Martino
.
(fonte: arquivo do arquiteto)
92
A casa da Fazenda Campo de Bois parte novamente da subdivisão do quadrado
em nove quadrados para localização dos apoios da estrutura do núcleo
construído, com o pátio ocupando o quadrado central. Entretanto, toda a casa é
circundada por uma varanda, que tem a dimensão exata de metade do quadrado,
o que aumenta os vãos e exige novos apoios em todo o perímetro da casa. A
varanda externa corresponde a uma variação da inclinação da água do telhado.
Fig
.
137
-
Fazenda
Campo
de Bois
,
1979
.
Estudo feito em parceria
com Arnaldo
Martino
.
(fonte
:
arquivo
do
arquiteto)
Na sede da Fazenda Água Comprida (1996)
[fig.140]
, o arquiteto trabalha a
disposição de blocos distintos construídos ao redor de um pátio quadrado. A casa
é projetada a partir de uma malha quadriculada com 5,80m de vão. Nesta casa, a
geometria rigorosa do quadrado deu origem a um arranjo flexível, que permitiu a
adaptação do projeto às variações dimensionais do programa e à topografia do
lugar.
93
A planta revela a não necessária correspondência entre os blocos, sem deixar de
atender a uma composição equilibrada, na qual cada um dos blocos é entendido
como um setor independente da casa e com características próprias. Para o pátio
volta-se a circulação da casa, e os ambientes se abrem para a paisagem,
mantendo certa privacidade com relação ao espaço central. Cada um dos quatro
blocos abriga um uso específico – garagem, quartos, convívio e serviços. As
galerias de circulação que atravessam por entre os blocos permitem o
funcionamento da casa e estendem os acessos até os espaços externos de apoio.
Os corpos separados são unificados pela cobertura da galeria do tio interno,
que tem quatro águas inclinadas para o tio, e flexiona-se por entre os volumes
construídos, cobrindo os acessos.
Apesar de desdobrar-se em várias águas, a cobertura tem inclinações
cuidadosamente calculadas, de modo a compor um desenho íntegro. As alturas
iniciais de todos os telhados são mantidas. Para que isto ocorra no volume que
abriga as salas, onde a cobertura é mais longa, um desnível no piso faz a
compensação da altura do telhado. Isto implica em dizer que o raciocínio utilizado
se assemelha àquele aplicado nas casas com laje inclinada, no que diz respeito à
manutenção das alturas iniciais da construção e à adaptação aos desníveis
internos. Do mesmo modo, podemos citar o plano inclinado como elemento
interno definidor da espacialidade, que proporciona aberturas convergindo para a
parte mais baixa direcionando a vista, e possibilita trabalhar com aberturas
superiores para iluminação e ventilação cruzada.
Figs. 138, 139 - Sede da Fazenda Água Comprida, 1997. Pátio interno.
(fonte: arquivo do arquiteto)
94
Fig. 140 - Sede da Fazenda Água Comprida, 1997. Implantação.
(fonte: arquivo do arquiteto)
O arquiteto ressalta a importância dos elementos como muros e jardins para
estabelecer a área de domínio da casa e sua relação com a paisagem. Trata-se de
um projeto em que o tratamento da área envoltória assume um importante papel
na implantação e ambientação da casa.
Fig. 141, 142 - Sede da Fazenda Água Comprida, 1997. Implantação.
(fonte: arquivo do arquiteto)
95
A análise dos vários projetos com planta de matriz quadrada indica que existe um
procedimento de trabalho com base em uma trama geométrica reguladora das
disposições em planta, do arranjo do programa e da volumetria. O desenho da
trama é condicionado a uma forma geométrica pura o quadrado central que o
origina. Este procedimento permitiu algumas variações e avanços, tanto do ponto
de vista da complexidade da malha adotada, como com relação ao volume
resultante, que pode assumir maior ou menor grau de liberdade formal.
Nota-se, nos projetos citados de Eduardo de Almeida, que grande destaque é
dado às circulações, e o uso de malhas com módulos alternados (maiores e
menores) é gerador de soluções satisfatórias para resolver passagens entre os
blocos e articulações entre os usos, garantindo, de modo geral, transposições e
alguma transparência aos volumes.
96
EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA -
--
-
CASAS
CASAS CASAS
CASAS EM
EMEM
EM
LOTE
LOTELOTE
LOTE
COM PÁTIO
COM PÁTIOCOM PÁTIO
COM PÁTIO
As casas de planta quadrada representam a situação ideal do desenho do objeto,
pois permite lidar com relações internas àquele objeto em si, tanto do ponto de
vista da construção geométrica do volume como do controle absoluto do espaço
exterior aprisionado no pátio. Entretanto, a situação paladiana
1
, ideal, pressupõe
grandes terrenos e poucas interferências do entorno. Transposto para o lote
urbano, o exercício da casa com pátio adapta-se ao terreno, por vezes acidentado
ou reduzido, e tem a construção geométrica da trama ajustada na busca da
solução mais conveniente para cada projeto.
Nas casas abordadas neste capítulo, o desempenho funcional e espacial do pátio
no lote assemelha-se ao do pátio presente na planta quadrada. Dificilmente este
espaço será incorporado como lugar de convívio ou permanência. Aparece
geralmente associado à circulação, ampliando os percursos e conferindo-lhes
interesse especial, ao estabelecer relação com o espaço exterior.
Fig. 143 - Casa Kipnis, 1970. Nota-se a transparência do pátio a partir da frente da casa. (fonte: arquivo do
arquiteto)
97
A casa Kipnis em São Paulo
[fig.143],
de 1970, é um exemplo de casa com tio
feita para lote urbano. Tem uma conformação adaptada ao programa e à
topografia. A modulação estrutural segue uma malha complexa que alterna vãos
livres de 5,80m e 4,20m, com apoios duplos espaçados de 0,60m.
Fig
s
.
144, 145 e 146
-
Casa Kipnis, 1970
Plantas dos níveis superior e térreo e corte longitudinal. (fonte: arquivo do arquiteto)
O pátio ocupa o centro da planta apenas no andar superior, uma vez que o térreo
e o andar inferior são acrescidos de um módulo de 4,20m. O pátio ladeia o
percurso da entrada até a porta de acesso e é visto da rua, proporcionando
transparência à garagem. Ao redor do espaço vazio, o arquiteto organiza um
núcleo de espaço servidor
2
, claramente percebido nos dois pavimentos: cozinha,
98
lavanderia e escada e a própria garagem no nível térreo; circulação, banhos e
closet no andar superior. Nenhum destes espaços abre-se francamente para o
pátio. As poucas aberturas da cozinha e circulação não interferem na percepção
confinada que se tem do espaço exterior, que atribui ao pátio um silencioso
distanciamento.
A volumetria da casa Kipnis, no entanto, não segue um esquema tão rígido quanto
pressupõe o raciocínio inicial. A partir de uma modulação básica, a volumetria é
trabalhada com expressão, adaptando-se ao lote e ao programa. Nos fundos do
terreno, a sala de estar, rebaixada em uma vez a altura da viga de concreto,
estende o pavimento térreo além do nível superior e concede um terraço-jardim
para o quarto do casal. Uma das empenas laterais fraciona-se em vários
pequenos volumes verticais, que contêm a escada, terraço, lavabo, caixa d’água,
etc. E um terceiro pavimento inferior - surge no terreno em declive, contendo
alguns serviços mas permanecendo pouco ocupado, como varanda.
A casa Kipnis tem estrutura em concreto aparente e vedação também aparente em
bloco de concreto. As empenas laterais, em concreto aparente, foram executadas
com fôrma de tábuas de 10cm, imprimindo
uma
textura
vertical
que
se
contrapõe
ao bloco de
vedação.
A casa da Rua Carangola
[figs.151, 152]
, feita pelo arquiteto para a sua família em
1977, utiliza materiais, volumes suspensos e aberturas em forma de rasgos
verticais que remetem à casa Kipnis. Entretanto, não se trata de um volume
implantado em lote comprido e estreito, diferenciando-se, neste ponto, das demais
casas que ilustram este capítulo. Ao contrário, foi implantada em volume único
paralelo à frente do terreno, restando ao fundo um grande jardim. Apesar de
ocupar um terreno generoso, o volume da casa apresenta alguns vazios ou
espaços escavados no volume, que se configuram como pátios.
A casa segue modulação ltipla da medida do bloco de concreto, tanto em
planta como em corte. A estrutura obedece a uma seqüência de vãos de 6.00m,
8.40m, 2.40m, 8.40m e 6.00m no sentido longitudinal e 6.00m no sentido
transversal. Os pilares ficam contidos na alvenaria de bloco aparente, numa peça
com medida de 40x40cm especialmente desenvolvida para este fim.
99
Fig.
147
-
Casa
Almeida
, 1977.
Vista do fundo.
(fonte: arquivo do arquiteto)
Fig.
148
-
Pátio da rampa.
(fonte: arquivo do arquiteto)
Fig.
149
-
Pórtico de entrada da garagem.
(fonte: arquivo do arquiteto)
Fig.
150
-
Pátio da rampa com piscina.
(fonte: arquivo do arquiteto)
O programa fica disposto em meios níveis articulados por rampa. Na casa de
volume único, o pátio aparece em dois momentos diferentes. Dois espaços vazios
ocupam posições simétricas em planta - os módulos maiores de 8.40m - e
expandem-se para o exterior. O primeiro comporta o vão da garagem, acessada
através de uma ponte, e apresenta uma transparência no nível do chão para o
fundo do lote, que corresponde ao meio nível de ajuste entre a laje de cobertura da
sala de jantar e a laje de piso do nível dos quartos. O segundo vazio é um jardim
com abertura zenital em frente à rampa de circulação, que se abre no nível inferior
em frente à piscina. Em torno aos vazios, ocorre principalmente a circulação da
casa, cujos percursos possibilitam ao usuário o desfrute da arquitetura.
O volume proeminente dos quartos sombreia os ambientes envidraçados de
convívio nos níveis inferiores, que se abrem ao jardim e correspondem à face
noroeste.
100
Fig.
151
-
Casa Almeida, 1977. Plantas dos níveis inferior, térreo e superior.
(fonte: arquivo do arquiteto)
101
Fig.
152
-
Casa Almeida, 1977. Cortes longitudinais
passando
pela
rampa, pelo pátio da rampa, pelos quartos e
fachada dos fundos. (fonte: arquivo do arquiteto)
102
Algumas casas feitas por Almeida em parceria com o arquiteto Arnaldo Martino
que ocupam lotes urbanos notamos a presença do pátio como, por exemplo, nas
casas Barreto e Oppenheim. É interessante ver o ensaio feito na casa Requejo e
Bonomi (1979), onde não há propriamente um pátio, mas um espaço central
coberto de direito alto que articula espaços em meios níveis, com a piscina na
cobertura.
A casa Barreto (1983)
[fig.153]
, projetada com Martino, retoma a questão da casa
com pátio em lote urbano com uma proposta um pouco diferente, seja na relação
da casa com o terreno, seja na relação do pátio com os usos internos da casa.
Trata-se de uma casa não executada.
A volumetria da casa, apesar de considerar grandes recuos laterais e ocupá-lo
apenas no hall da escada de acesso ao nível superior, tem o efeito de estender-se
até as divisas do lote. O efeito é obtido graças ao tratamento dado aos muros
laterais em forma de “C”, que abraçam o volume principal, e alinham-se com as
alvenarias da casa até a altura da face inferior da viga metálica do pavimento
superior, altura que alcançam os fechamentos da própria casa.
Na casa Barreto, o pátio surge entre o jantar e o estar, participando mais dos
espaços de convívio da casa do que em todas as outras propostas feitas por
Almeida. No nível superior, o pátio isola dos demais quartos o quarto do casal, que
é acessado através de uma ponte com vista para o pátio.
A modulação da estrutura de aço organiza todo o raciocínio de projeto, pois
segmenta o terreno em partes iguais e estabelece a medida de um módulo de
6,30m para cada um dos usos dispostos em seqüência: garagem, cozinha, jantar,
pátio e estar. No andar superior, os espaços de permanência abrem-se para o
amplo recuo lateral, ressaltando a importância dos muros das divisas na
determinação da espacialidade da casa. A lavanderia e área de serviço ficam no
andar superior, logo a frente da construção. Para acessá-las, faz-se uso da
circulação de serviço.
103
Fig. 153 - Casa Barreto, 1983, feita em parceria com Arnaldo Martino. Plantas do nível superior e térreo, cortes
longitudinal passando pela escada, e fachadas dos fundos e da frente. Notam-se na planta do andar superior os
muros laterais que envolvem a casa, conferindo à volumetria final a impressão de ocupar todo o lote.
(fonte: arquivo do arquiteto)
104
A casa Oppenheim (1985)
[figs. 154, 155]
, em Osasco, feita também em parceria
com Arnaldo Martino, tem o pátio sucedendo a garagem, que afasta os ambientes
de permanência para quem chega da rua e aumenta o percurso até a entrada da
casa. A casa retoma o arranjo que tem no pátio um evento logo à entrada,
contornado por circulações e usos de apoio, com exceção da saleta nos níveis
inferior e superior.
O acesso se faz atravessando a garagem e percorrendo-se uma passagem
coberta ao longo do pátio exterior, delimitada pela parede do bloco de serviços. A
sala ganha transparência devido à luz natural que entra pelo pátio, pelo recuo
lateral e pelo fundo do terreno. Entretanto, a sala está preservada por ter sido
implantada em nível inferior devido ao declive do terreno, ficando com direito
maior e direcionada para o jardim e a piscina. No andar de cima, os quartos
voltam-se também para o fundo do lote, enquanto os serviços ficam voltados para
frente e fazem uso de um terraço descoberto logo à entrada da casa, oculto por
painéis Wall na fachada.
Fig. 154 - Casa Oppenheim, 1985, em parceria com Arnaldo Martino. Vista a partir da rua. Nota-se a
transparência do pátio descoberto logo depois da garagem. No andar superior, os painéis da fachada ocultam o
pátio de serviço. (ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO 51 :46)
105
............
Fig. 155 - Casa Oppenheim, 1985, em parceria com Arnaldo Martino. Plantas do térreo e superior.
Corte longitudinal, fachada dos fundos e fachada da rua. (fonte: arquivo do arquiteto)
106
No sentido transversal, a modulação da estrutura de aço tem três vãos de 3,60m,
que correspondem aos três quartos do nível superior. No sentido longitudinal, tem
balanço de 1,2m na frente e nos fundos, ocupado por terraços, e quatro vãos
iguais de 6m. O balanço de 1,20m avança também em direção ao pátio,
resolvendo melhor a circulação vertical e recuando os pilares para soltar a pele de
vidro que delimita a fachada interna.
A estrutura em aço é muito esbelta, composta por colunas tubulares com diâmetro
de 6” preenchidas com concreto, e vigas em perfil I com 250mm de altura. A
pequena altura estrutural torna-se mais evidente na medida em que as lajes
ocupam as alturas das almas das vigas. Todas as ligações de esgoto do andar
superior são ocultas em dois dutos longitudinais rebaixados no teto, um na
garagem e outro dentro da casa, que coincide com a circulação e escada que
acessa a sala rebaixada.
Fig.
156
-
Casa Oppenheim, 1985.
Vista do pátio, a partir da escada,
em direção à frente do terreno. As
circulações e serviços que
contornam o pátio têm poucas
aberturas, e conferem seu aspecto
construído e controlado.
(foto: Maria Isabel Imbronito)
Fig.
157
-
Duas salas menores
nos níveis inferior e superior
abrem-se para o pátio. Apesar de
o pátio avançar, no térreo, até a
divisa do terreno, o fechamento do
nível superior mantém a volumetria
da casa independente e solta das
divisas laterais do lote.
(foto: Maria Isabel Imbronito)
107
A casa Sanches, em São Paulo
[figs. 158,159]
, data de 1987 e é posterior ao
desfecho da sociedade com Martino. Nesta casa, o arquiteto retoma a tipologia do
pátio utilizando um sistema construtivo de curiosa mistura. A casa segue uma
disposição semelhante à casa Oppenheim: entra-se pela garagem, atravessa-se o
pátio até a porta de acesso, enquanto que a lateral ao longo deste percurso é
destinada aos serviços. Novamente, o pátio é ladeado pela circulação, seja de
acesso, seja a circulação vertical. Ao fundo fica a parte do programa destinada ao
convívio, situado entre o pátio e o jardim. Todos os quartos ficam dispostos sobre
o estar, o que implica em dois pavimentos apenas para o bloco dos fundos. O
recuo lateral, de apenas um dos lados, é utilizado como circulação de serviço.
A casa conjuga um sistema misto de lajes e vigas de concreto apoiadas sobre
pilares de alvenaria armada de bloco de concreto aparente, com fechamento em
tijolo de barro à vista e elementos vazados de concreto. A diversidade de materiais
e texturas confere à casa um aspecto único na obra do arquiteto, que tira proveito
de uma combinatória de materiais sem precedentes. A modulação aplica eixos
duplos, afastados de 80cm (4 blocos de concreto de 20cm) e espaçados a cada
4,20m. Os eixos afastados de 80cm correspondem a vigas que desenham as
calhas de cobertura. Estes eixos ficam evidentes nas fachadas e correspondem às
faixas de bloco de concreto aparente na vista lateral. No sentido da largura do
terreno, dois módulos iguais estabelecem a locação da estrutura.
Fig. 158 - Casa Sanches (1987) vista da rua. (foto: Maria Isabel Imbronito)
108
Fig. 159 - Casa Sanches (1987). Plantas do térreo e superior e fachada longitudinal.
(fonte: arquivo do arquiteto)
109
o terreno para a casa Reichstul
[fig.160]
, de 1994, tinha duas árvores que foram
mantidas no pátio. Por sua dimensão, a casa disposta ao redor do pátio configura-
se em três volumes interligados. O programa extenso e as condicionantes do
terreno levaram a uma solução na qual uma modulação básica é complementada
por vãos menores e interligações. Nesta casa, novamente o pátio permanece
isolado para quem chega, pois a galeria de circulação é delimitada por uma
parede de tijolo de vidro que permite passagem de luz, mas impede a
transparência. Este artifício resguarda a sala, no bloco dos fundos, que se abre
para tanto para o pátio como para o jardim com piscina.
Fig. 160 - Casa Reichstul (1994). Plantas do térreo e superior. (fonte: arquivo do arquiteto)
110
Figs. 161, 162 - Casa Reichstul (1993). Vista da rua do pátio. (fonte: arquivo do arquiteto)
Uma análise comparativa dos esquemas da modulação e dos usos em todas as
casas
[fig. 163]
evidencia as semelhanças com relação ao partido arquitetônico
adotado, à ocupação do lote, disposição do programa e modulação.
Em ambas as casas, o pátio ocupa posição deslocada próxima ao acesso, logo
após o primeiro vão da estrutura, que é ocupado pela garagem. O percurso de
chegada ganha um afastamento maior da rua, dado pelo pátio e pela passagem
ao longo de usos de serviço, localizados logo à entrada. Nota-se que os espaços
de permanência (em branco), com pouca relação com o pátio, tendem a orientar-
se para o fundo do terreno. O pátio permanece como um elemento em torno do
qual se organizam as circulações e usos de apoio.
Nas três residências, nota-se a presença de uma modulação ritmada, mas não
necessariamente de medidas iguais. Tende a existir certa correspondência entre a
estrutura (construção), os usos e os espaços. Para o arquiteto, a modulação da
estrutura está relacionada a um princípio de organização do espaço.
Pode-se dizer que estamos diante de uma tipologia que origem a projetos
variados, com volumetrias diferentes, nas quais o arquiteto utiliza o mesmo
procedimento de trabalho, a partir do uso da modulação, e o mesmo conceito, em
termos de ocupação e desenho do espaço e relação com o terreno.
111
Fig.
16
3
-
Casa
s
Kipnis
(
1970
), Oppenheim (1985) e Sanches
(1987)
, todas
na
mesma escala e com a rua
localizada à esquerda. A planta da esquerda corresponde ao pavimento térreo e a planta da direita ao andar
superior. Esquema da modulação em vermelho, com a marcação dos espaços servidores (com hachura diagonal
menor) em volta do pátio exterior (em cinza claro). As áreas externas, como garagens e terraços, têm hachura em
diagonal maior, e os espaços de permanência estão em branco. (fonte: desenho elaborado pela autora)
1
Referimo-nos às villas de Andrea Palladio, casas rurais do século XVI inspiradas na arquitetura da antiguidade.
As casas têm uma volumetria proporcional e simétrica. A analogia da planta refere-se especialmente a Villa
Rotonda, com distribuição agrupada em torno de um espaço central, ao redor do qual se distribuem os
aposentos. A composição tem uma concepção geométrica rígida com proporções fixadas a partir de medidas
definidas, e privilegia a harmonia da forma e simetria.
2
Utilizamos um conceito de Louis Kahn para a organização do programa, que o divide em espaços dominantes
e espaços servidores. Ver o capítulo III sobre Louis Kahn.
112
EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA -
--
-
PROJETOS DE
PROJETOS DE PROJETOS DE
PROJETOS DE REFERÊNCIA
REFERÊNCIA REFERÊNCIA
REFERÊNCIA
A influência de projetos de outros arquitetos mostra-se presente ao longo de toda
a obra do arquiteto Eduardo de Almeida, desde o primeiro projeto abordado por
esta tese a casa da Rua dos Açores (1959/64) até trabalhos bem recentes,
como o estudo descartado para o segundo pavilhão para residência no Alto de
Pinheiros (2007).
Trata-se de exercícios de projeto que não deixam de atender a um programa e
cliente específicos, mas que se permitem seduzir por obras de outros arquitetos,
que irão indicar certas decisões de projeto. As referências aliam o desejo do
arquiteto de experimentar certas soluções, presentes em obras publicadas e
divulgadas, à oportunidade de verificarmos o modo peculiar como ele próprio
resolveu tais projetos a partir de procedimentos próprios. Isto equivale a dizer que
as obras não são apenas transpostas, mas são retrabalhadas segundo os
procedimentos usuais de projeto adotados pelo arquiteto. Conseqüentemente,
estes exercícios terminam por evidenciar um forte traço da obra de Eduardo de
Almeida: procuram conjugar sistema construtivo e programa, acentuando a
organização das plantas a partir da adoção de uma malha e a correspondência
existente entre o desenho dos espaços e sua concepção construtiva. Este
processo torna-se evidente ao analisarmos, ao longo deste capítulo, algumas
casas como Define e Penido, nas quais os usos são sistematicamente ordenados
em planta, resultando em soluções que diferem das casas de Paulo Mendes da
Rocha e Oswaldo Bratke pelo rigor extremo presente na organização dos espaços.
A primeira referência que podemos mencionar o as casas projetadas por Frank
Lloyd Wright a partir de meados dos anos 30, as chamadas casas usonianas
1
[fig.164]
. Esta referência está presente na primeira casa que Almeida projetou para
sua família hoje demolida - na Rua dos Açores, em São Paulo, que tem planta
original de 1959 e ampliação de 1964
[fig. 165]
.
113
Remete às casas de Wright a disposição geral da planta em forma de “L”ou “T”
que se abre para o jardim, com uma ala destinada aos quartos e a outra destinada
ao espaço de convívio. O centro da casa, na intersecção das duas alas, é
ocupado pela cozinha, com o espaço de refeição disposto logo à frente e ligado
ao estar. Outros dois elementos presentes e característicos das casas usonianas
são a lareira, caracterizada por um volume vertical de estratégica posição na
composição, e o abrigo de carros, ligado ao acesso da casa.
Fig 164 - Casa Lusk, projetada por Wright em 1936. A planta em ‘L” organiza-se a partir de retícula quadrada.
Neste período, Wright propõe a cozinha como espaço aberto e central da casa. (SERGEANT, 1976: 17)
Fig
.
165
-
Casa do arquiteto na Rua dos Açores
,
1959/64
.
Planta da casa ampliada. (fonte: acervo do arquiteto)
A casa Almeida é paginada pela alvenaria estrutural aparente em bloco de
concreto, e apresenta modulação quadriculada impressa no piso de cimento cor
vermelha - outra referência à obra de Wright, assim como a volumetria horizontal
com amplos beirais em estrutura de madeira. Os telhados adotados na Rua dos
Açores não são tão presentes nas casas de Wright deste período, que
experimenta algumas coberturas planas. A reminiscência do telhado pode ser
atribuída a períodos anteriores, como as casas da Pradaria, dos anos 10.
114
Fig.
166
-
O arquiteto em frente à casa em obra.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig.
167
-
Casa da Rua dos Açores ampliada.
(fonte: acervo do arquiteto)
Para conformar a planta, a organização dos espaços leva em conta a disposição
do mobiliário e o dimensionamento de cada equipamento e uso, conforme ilustram
os croquis de estudo da ampliação da casa
[fig. 168].
Fig
.
168
-
Estudo não definitivo para ampliação da casa, com quarto de costura no lugar do banheiro das crianças.
Em
volta
da planta
,
croquis e perspectivas dos espaços internos
quarto e cozinha
.
(fonte: acervo do arquiteto)
Estes croquis ilustram o modo como o arquiteto define e programa os espaços, a
partir do estudo detalhado dos usos. O desenho em planta não avança
desvinculado da construção e da concepção espacial, pois, ao mesmo tempo em
que os usos são arranjados e encaixados, algumas volumetrias são traçadas.
A estreita relação entre espaço e uso, com o mobiliário plenamente incorporado à
arquitetura e definindo os usos, está presente também nas casas de Wright, e
pode ser conferida no capítulo 1.
115
Outra casa feita por Eduardo de Almeida, a casa Egberto Penido, de 1970
[fig.
170]
, é fortemente
inspirada
na
casa
da
Rua
Suécia
,
projetada
por
Oswaldo
Bratke
em
1956
[fig. 169]
.
Fig
.
169
-
Planta
do
térreo
e
superior
da
casa
da
Rua
Suécia
,
projeto
de
Oswaldo
Bratke
,
1956
.
(SEGAWA
,
1997: 138)
Fig. 170 - Planta do andar térreo e superior da casa Penido, projeto de Eduardo de Almeida, 1970. (fonte: acervo
do arquiteto)
É muito semelhante a volumetria retangular prismática, com estrutura de
modulação regular e bem demarcada com relação aos panos de vedação.
Característico nas duas casas
,
um módulo vazio com direito duplo, jardim e
espelho d’água marca a entrada
.
Em ambas
,
de modo espelhado
,
estão locados a
garagem no térreo e um terraço no pavimento superior que contempla o vazio de
entrada, bem como a escada interna que conduz ao pavimento superior, situada
logo atrás do plano de fechamento do módulo vazio de acesso à casa. Nas duas
casas, os ambientes de estar estão separados do hall de acesso por uma
vedação, e se abrem para o jardim no fundo do lote.
116
Figs. 171 a 176 - Casa Penido, 1970. Vista a partir da rua, com o módulo vazio de acesso e espelho d’água. Ao
centro, vista do terraço do escritório, abrindo-se para o direito duplo do acesso. Embaixo, vista a partir dos
fundos do terreno e vista da sala, rebaixada de um degrau e separada do hall de acesso pela parede com lareira,
contida entre apoios duplos da estrutura que desenha um duto vertical central para descida de tubulação.
(fonte: acervo do arquiteto)
117
Fig. 177. Casa da Rua Suécia (1956) vista a partir da
rua. (SEGAWA, 1997: 136)
Fig. 178. Casa da Rua Suécia (1956) vista a partir da
rua. Nota-se o módulo vazio de acesso com espelho
d’água. (SEGAWA, 1997: 138)
Fig. 179. Na obra de Bratke, o módulo de acesso é
descoberto, sendo a entrada protegida pelo terraço do
andar superior. (SEGAWA, 1997: 139)
Fig. 180, ao lado. A casa, vista a partir dos fundos do
terreno, tem como interface entre o espaço interior e o
exterior uma varanda em pergolado.
(SEGAWA, 1997: 140)
Com relação à organização do projeto em planta, nota-se na casa Penido o
esforço do arquiteto em alinhar no andar superior os espaços servidores
2
,
tornando equivalentes as dimensões dos quartos. Do mesmo modo, no térreo, a
parede que separa o estar aparece solta e centralizada, alinhada à estrutura, e
abriga o volume da lareira e dutos de descida das águas servidas. Pode-se
identificar como Eduardo de Almeida trabalha os espaços com grande precisão,
num jogo de encaixe que busca solucionar o projeto dentro de uma ordem que
acentua a estrutura mais regular, visa alinhamentos em planta e, neste caso,
evidencia a simetria.
118
É no desenho do estudo preliminar
[fig. 181]
que fica mais evidente o trabalho do
arquiteto com uma retícula ordenadora dos espaços da casa.
O arranjo inicial tem como base um módulo quadrado de 87.5cm, totalizando vãos
da estrutura de 5,25m em um sentido, e 6,125m no outro. Nota-se a disposição
dos vedos na retícula, com alguns elementos armários e fechamentos
ocupando a metade do módulo da retícula.
Fig. 181 Residência Penido. Estudo preliminar, pavimento térreo, s/d. (fonte: acervo do arquiteto)
Apesar da semelhança de linguagem nas duas casas, com a estrutura bem
marcada com relação aos fechamentos, os tratamentos e materiais diferem: Bratke
concebe a estrutura ressaltada e revestida em pastilha, com vedações em panos
independentes de madeira e elemento vazado de concreto. A casa de Eduardo de
Almeida tem estrutura e vedação aparentes, respectivamente em concreto e tijolo.
Bratke protege as aberturas do estar criando uma interface com o jardim através
de uma varanda coberta por pergolado. Eduardo de Almeida, ao contrário,
concebe os espaços de estar abrindo-se diretamente para fora, apesar de
voltados para a face nordeste.
119
Outra casa que podemos utilizar como exemplo de aplicação de um método de
trabalho de Eduardo de Almeida sobre uma referência de projeto é a casa Define,
de 1978. Esta casa tem como versão inicial um projeto de planta quadrada
[fig.
182]
, ao qual o arquiteto atribui inspiração na obra de Louis Kahn.
Fig.
182
-
Primeira versão da casa Define, projeto de Eduard
o de Almeida
, 197
5
.
Planta do pavimento superior.
(fonte: acervo do arquiteto)
Apesar de não se tratar de uma referencia literal, nota-se como atributos da
arquitetura de Kahn
3
a composição volumétrica rígida e a geometrização da forma
um quadrado maior, dividido em nove quadrados menores, cada qual, por sua
vez, subdividido em outros nove quadrados. Apresenta paralelo com alguns
projetos de Kahn a aplicação de um sub-módulo do quadrado que promove um
espaçamento entre os módulos dado, em primeiro momento, pelas circulações
e, em segundo momento, pela dimensão dos pilares – caracterizando uma retícula
dentro da retícula, a que Alan Colquhoun chamou de retícula binária
4
. Além disso,
a coincidência da unidade da estrutura com a unidade programática e o estudo
aprofundado do programa são condutas muito apregoadas por Kahn que,
conscientemente ou não, possuem rebatimentos na obra de Eduardo de Almeida.
120
O projeto da casa Define sofreu grande modificação em função de o arquiteto ter
conhecimento da casa James King, projetada por Paulo Mendes da Rocha
(1972/74)
[fig. 183]
. Segundo Eduardo de Almeida, o projeto em andamento foi
todo revisto, apesar de estar aprovado na prefeitura e parcialmente detalhado.
A casa King está resolvida em um volume retangular de concreto suspenso sobre
oito apoios, com um pátio descoberto e excêntrico. A laje de cobertura,
interrompida no pátio, protege parcialmente a escada de acesso que liga o terreno
ao nível superior, onde acontece a casa. A escada leva a uma varanda aberta
coberta um quintal elevado por onde se entra na casa ou, após percorrer toda
uma aresta do volume ainda como espaço exterior, acessa-se outra parte do
terraço, do lado oposto à entrada principal, destinada aos serviços.
Na conformação geral da planta, Paulo Mendes da Rocha recorre a uma tipologia
5
habitacional presente em seus projetos de casas e edifícios de apartamentos,
caracterizada por um espaço único que compreende todo o pavimento e privilegia
as áreas de convívio, com a compartimentação agrupada de ambientes de quarto
e banheiro, que abrem-se diretamente para a sala. A presença de elementos
arquitetônicos fixos como lareira e alguns anteparos desenham e definem os
usos neste espaço flexível. Os elementos arquitetônicos estruturais estão muito
presentes na conformação espacial, pois a arquitetura é expressa pela estrutura e
a amplitude do espaço permite sua total apreensão. Artefatos menores de
concreto desenham a fachada e desempenham o papel de brises, armários, etc.
A estrutura em concreto é composta por colunas soltas e independentes, cuja
distribuição atende às necessidades estruturais em detrimento da regularidade
plena, com o volume suspenso fica em balanço para todos os lados.
Além da conformação geral da casa (planta quadrada, pátio excêntrico, quartos
agrupados em uma das faces), é interessante notar, tanto no projeto de Paulo
Mendes da Rocha como no projeto de Eduardo de Almeida, o contraste entre o
volume elevado regular e o tratamento sinuoso e livre dado aos pisos e jardins no
nível do terreno. O jardim invade o espaço sob a casa, permeando e
caracterizando o acesso principal ao volume elevado nos dois projetos.
121
Fig. 183 - Casa James King, projetada por Paulo Mendes da Rocha, 1972/74. Plantas do andar térreo e superior.
Nota-se o pátio descentralizado e a escada de acesso à casa. A estrutura é mais robusta e maior no corpo da
casa, e o arquiteto lança mão de apenas dois apoios para sustentar a ponte que liga o acesso à varanda de
serviço. (ACAYABA, 1985: 376,377)
122
Fig. 184 - Casa Define, versão definitiva projetada por Eduardo de Almeida, 1976. Plantas do andar térreo e
superior. A casa organiza-se de modo diverso da casa King: em torno do pátio organizam-se as circulações, de
modo que cada atividade do programa preserva sua independência. Um núcleo de espaço servidor bem
configurado pelos banhos cria o afastamento dos quartos com relação à circulação. O espaço de estar relaciona-
se com o terreno e abre-se para fora em terraço. (fonte: acervo do arquiteto)
123
A implantação das duas casas distingue-se, entretanto, quando levamos em conta
a topografia e a relação com o volume elevado. A casa Define está implantada
num terreno em aclive, no qual se apóia parcialmente, e o volume elevado
estabelece uma saída em nível com o terreno. Este é trabalhado e recebe no andar
inferior uma contenção que acomoda uma parte de apoio do programa.
Fig. 185 - Casa Define, projetada por Eduardo de Almeida,
1976. O volume suspenso apóia-se parcialmente no
terreno em aclive. (fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 186- Casa King, projetada por Paulo Mendes da
Rocha, 1972/74. Vista da ponte-varanda com escada
de acesso ao volume elevado. (SPIRO, 2006:84)
Além da relação com o terreno, o projeto da casa Define desenvolve-se segundo
uma distribuição dos usos e circulações característicos da obra de Eduardo de
Almeida. A gênese desta planta é o próprio projeto anterior para a mesma casa
Define, com o qual a nova versão guarda semelhança de implantação, ajuste dos
níveis no terreno e disposição do programa. A circulação disposta em torno do
pátio é assunto mais aprofundado nos capítulos 6 e 7, no qual se discorre sobre as
casas com planta de configuração quadrada com pátio central e casas com pátio
em lote urbano.
Na casa Define
[fig.184]
, as galerias de circulação, ou seja, os espaços de
transição da casa, ficam ligadas ao pátio central externo, por onde se faz o acesso
à casa. Nenhum espaço de permanência exceto a cozinha, que incorpora a
circulação de serviço - fica voltado para este espaço central. Ao contrário da casa
King, que tem no espaço de convívio o grande espaço articulador de todas as
atividades, na casa Define a circulação assume o papel que lhe atribui Almeida em
muitos de seus projetos: organiza o funcionamento da casa, preservando a
privacidade dos diferentes usos, e transforma-se num elaborado percurso a partir
do qual se faz a apreensão da arquitetura.
124
A estrutura da casa Define é concebida a partir de uma modulação rígida: doze
pilares, espaçados numa grade de 7,20m por 9,60m - múltiplos de 1,20m, retícula
de base de toda a organização e que corresponde à nervura da laje. Um núcleo
construído com os banhos determina o espaço destinado aos quartos, divididos
com painéis e armários. Este cleo corresponde a aberturas para ventilação na
cobertura e a programas de apoio incrustados no desnível do terreno no
pavimento inferior. O espaço do estar é configurado por divisórias baixas de
concreto. A partir de uma concepção geral da organização do programa, os
espaços são submetidos a alinhamentos determinados pela modulação
construtiva.
Apesar da construção cuidadosa do desenho, estas relações de medida não o
evidentes no espaço: o caixão perdido da laje, de certa forma, anula a modulação.
Os vidros temperados modulados de 1,20m não têm caixilho, o que também ajuda
a neutralizar a malha subjacente ao projeto. O resultado é um espaço fluido e
contínuo, cuja harmonização de medidas ocorre num nível sutil de percepção:
existem alinhamentos e proporcionalidades, resultado de um modo de organizar e
efetivamente lidar com o projeto, mas cujo senso didático não interessa transmitir
ao usuário.
Fig. 187 - Casa Define, 1976. Cortes pelo núcleo de banheiros e pelo pátio. (fonte: acervo do arquiteto)
125
Fig. 188 - Casa Define, 1976. (fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 189 - Casa Define, 1976. (GUERRA, 2006: 57)
Fig. 190 - Casa Define, 1976. ((fonte: acervo do arquiteto)
126
A casa Porto em São Sebastião
[fig. 193]
, projetada por Eduardo de Almeida em
parceria com Arnaldo Martino em 1981, foi, segundo depoimento do arquiteto
Eduardo de Almeida, inspirada na casa da Lagoinha de Carlos Millan
[fig. 191]
, de
1964.
O projeto de Millan é uma construção simples, que utiliza basicamente dois
materiais: madeira (estrutura em paus roliços e caixilhos) e barro (tijolo de
fechamento, de piso e telhas de cobertura). Sob a cobertura de duas águas
assimétricas e com vãos de espaçamento regular, cada parte do programa da
casa fecha-se em si mesma e articula-se às demais através do espaço externo da
varanda. Deste modo, quartos, salas e banheiros abrem-se diretamente para fora.
Emoldurando os vãos, peças de madeira de grande dimensão possibilitam as
aberturas e remetem à arquitetura tradicional.
Um muro baixo de pedra, da altura de banco, tem desenho livre sob a estrutura
regular e marca a circulação, ampliando-se numa varanda de estar dos quartos.
Para uso de fim de semana, a casa impressiona tanto pelo despojamento do
programa como pela simplicidade construtiva. Sem excluir um procedimento muito
claro e racional, o arquiteto tem grande liberdade e poética na construção da
espacialidade da casa e do modo de vida.
Fig. 191 - Casa da Lagoinha, 1964, projeto de Carlos Millan. (ACROPOLE n º 317: 40)
127
Fig. 192 - Casa da Lagoinha,1964, projeto de Carlos Millan. (ACROPOLE n º317: 40)
A versão para São Sebastião, projetada pelos arquitetos Eduardo de Almeida e
Arnaldo Martino, também adota duas águas de cobertura. Dois volumes
equivalentes um para os espaços de estar, outro para os quartos são
dispostos independentes entre si sob o plano do telhado. A referência ao projeto
de Millan não é literal, pois ocorre uma revisão das questões construtivas,
espaciais e de programa.
A casa adota uma solução construtiva menos rústica utiliza madeira aparelhada
e as alvenarias são revestidas. Tesouras de madeira com desenho simétrico e
vencendo grandes vãos são sustentados por pilares de concreto, em vez dos
troncos roliços utilizados por Millan, que se apóiam diretamente sobre as
alvenarias. Muros de pedra com pouca altura, que remetem ao muro baixo e solto
da casa da Lagoinha, tornam-se contenção e embasamento da casa em São
Sebastião, fazendo o acerto da casa com o terreno e delimitando algumas áreas
externas.
A casa tem desenho em planta mais rígido e simétrico que reflete a preocupação
dos arquitetos na organização e domínio do programa e da construção. Nesta
casa, a varanda externa ocupa os dois módulos centrais e as duas águas da
cobertura são equivalentes. Dentro do volume construído, a divisão interna dos
ambientes e a disposição das aberturas alinham-se ao desenho da tesoura da
cobertura, estabelecendo correspondência entre os ambientes e as fachadas
transversais. Nota-se ainda o volume de depósito solto na varanda, a exemplo dos
banheiros de Millan. Na casa Porto, os banheiros permanecem ligados aos
quartos.
128
Fig. 193 - Casa Porto em São Sebastião, 1981. Projeto original. Planta e elevações. Nota-se a simetria dos
volumes construídos sob o telhado de duas águas iguais. A tesoura aparente na fachada lateral organiza as
divisões internas dos ambientes. O embasamento de pedra, que remete ao muro baixo e solto que delimita a
varanda da casa da Lagoinha, ajusta a casa ao terreno e conforma alguns espaços externos.
(fonte: acervo do arquiteto)
129
Fig 194 – Casa de São Sebastião,
projeto de Almeida e Martino.
(fonte: acervo do arquiteto)
A casa teve projeto para ampliação
[fig. 195]
feito em 2002 no escritório de
Eduardo de Almeida. A ampliação cresce para um terreno lateral e tira partido da
implantação original, através do prolongamento da varanda que articulava a
chegada e os usos da casa. Com a casa original disposta em aterro, o novo eixo
que se estende até a ampliação retoma o nível do terreno para subir novamente
em aterro no volume anexo. De proporções bem menores, o anexo organiza-se a
partir de uma varanda que se torna circulação dos quartos, correspondendo à
varanda da casa original. A ampliação fica perfeitamente incorporada ao projeto
original devido ao partido claro que o projeto tinha inicialmente.
Fig. 195 - Casa de São Sebastião, projeto de ampliação, 2002. (fonte: acervo do arquiteto)
130
As referências nem sempre se manifestam tão diretamente, ou simultaneamente
em termos de espacialidade e cnica. Por exemplo, as casas feitas na Rua João
Lopes Neto, em 1965, têm uma forte referencia construtiva.
Trata-se de duas casas coladas, feitas originalmente para duas pessoas da
mesma família, com algumas diferenças entre si. Entretanto, as obras ficaram
paradas e as casas foram vendidas. Uma referência que Eduardo de Almeida
admite no projeto são as abóbadas da casa Jaoul em Neuilly-sur-Seine, de Le
Corbusier (1954-56)
[fig. 196]
. Nota-se, em foto feita durante a obra
[fig. 197]
, que as
abóbadas têm execução muito semelhante às da casa Jaoul, com tijolos
cerâmicos, vigas em concreto e tirantes de tubos metálicos.
Fig. 196 – Ao lado, abóbada da Casa Jaoul, 1954-56,
Le Corbusier. (BOESIGER, 1994: 79)
Fig. 197 - Casa na Rua João Lopes Neto, 1965. Foto
da obra com abóbadas executadas em tijolo
cerâmico, sem revestir. (fonte: acervo do arquiteto)
A eleição da técnica construtiva em abóbada apoiada sobre pilares, além de
garantir a expressão da cobertura e a definição da espacialidade interna, definiu
também uma modulação de 3,70m, que dividiu o terreno e organizou o projeto das
duas casas. O formato do terreno, com muita frente e pouca largura, faz com que
a abóbadas sejam perpendiculares à rua, e seu perfil, repetido e ondulado, torna-
se fachada. A coincidência da unidade estrutural - abóbada - com alguns itens do
programa foi fundamental para a solução final do projeto. As abóbadas, entretanto,
têm comprimentos e balanços diferentes, e ocupam dois níveis distintos, o que
confere certa variação no ritmo, mantendo a unidade do projeto. Apesar de sofrer
modificações devido à situação em que os projetos surgiram, as casas têm
detalhamento muito preciso no que diz respeito ao tratamento do fechamento do
arco da abóbada, aos alinhamentos de viga, pilar e piso, aos rasgos centrais nas
alvenarias, etc.
131
Outras casas em abóbadas foram feitas por diversos arquitetos neste período,
com técnicas que variavam muito. Abóbadas de concreto foram experimentadas
por Affonso Eduardo Reidy em sua casa de campo
[fig. 199]
, em 1959, e também
por Carlos Millan no mesmo ano, em uma residência no Brooklin
[fig. 198]
. A casa
de Reidy tem as abóbadas elevadas (no segundo pavimento), enquanto as
abobadas de Millan avançam em balanço formando um avarandado na
construção. Os balanços das abóbadas, que Almeida explora em seu projeto, são
importantes para dar leveza e aumentar a sensação flutuante das abóbadas,
soltando-as dos fechamentos e aumentando a horizontalidade do projeto.
Fig. 198 Abóbada da casa M. Carioba no Brooklin,
1959, arq. Carlos Millan. (ACROPOLE n º 317: 20)
Fig. 199 Casa de campo em abóbada de Reidy, 1959.
(BONDUKI, 2000: 192)
A casa comprada por Pedro Tassinari, mostrada a seguir, teve as abóbadas
revestidas por exigência do primeiro cliente, e assim se manteve.
Fig. 200 Casa Tassinari, 1965. (fonte: acervo do
arquiteto)
Fig. 201 – Casa Tassinari, 1965. (fonte: acervo do
arquiteto)
132
Fig.
202
Casa na Rua João Lopes
Neto, 1965. Planta do nível inferior,
térreo, superior e corte longitudinal.
As plantas correspondem a apenas
uma casa, que seria à direita (casa
Tassinari).O terreno, acima do nível da
rua, faz com que o acesso seja feito
pelo nível inferior. Grande parte do
programa ocupa o nível do terreno
(térreo), com a marcação da
modulação das abóbadas em estreita
relação com os usos. No nível
superior, os quartos tem saída para o
terraço-jardim.
((fonte: acervo do arquiteto
133
Figs. 203, 204, 205, 206, 207 208 – Casa Tassinari,
1965. (fonte: acervo do arquiteto)
134
Outro caso não literal de referência – ou seria coincidência? – é o projeto de Denys
Lasdun para o Royal College of Physicians no Regent’s Park, de 1959
[figs. 209,
210]
. O projeto de Lasdun não apresenta, sobre a casa da Rua Almeida da Rua
Carangola (1977)
[fig.211]
, influência em termos de planta ou programa: trata-se de
um projeto institucional, de escala bem maior, com uma implantação que desenha
uma praça juntamente com edifícios antigos, e com um volume de auditório
proeminente. Aparentemente, trata-se de uma coincidência visual: um volume
fechado sobre pilotis esguios, com rasgos verticais para as aberturas e os usos
recuados nos andares inferiores. Nota-se, em ambos os projetos, a proximidade
de dois dos apoios aparentes na fachada.
Fig. 209 – Royal College of Physicians, 1959, arquiteto Denys
Lasdun. (CURTIS, 1994: 66)
Fig. 211 – Casa Almeida da Rua Carangola, 1977.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 210 – Royal College of Physicians, 1959, arquiteto Denys
Lasdun. (CURTIS, 1994: 64)
135
Não é objetivo deste capítulo, ao comparar as obras de Almeida com seu
referencial moderno, subtrair de seus projetos o seu valor arquitetônico e sua
latente sensibilidade. Ao contrário, as casas feitas por Eduardo de Almeida
mostram procedimentos consistentes de projeto, que acabam por reforçar uma
conduta pautada pela pesquisa e pela interpretação, e estruturada por uma
ordenação e um rigor compositivo, espacial e construtivo.
1
Ver capítulo 2 sobre Frank Lloyd Wright e as casas usonianas, na página 19.
2
Ver explicação sobre a definição de espaços servidores e servidos no capítulo 4 sobre Louis Kahn, página 46.
3
Ver capítulo 4 sobre Louis Kahn na página 46.
4
COLQUHOUN, 2005: 251.
5
O estudo da tipologia das casas de Paulo Mendes da Rocha está presente em um capítulo de minha
dissertação de mestrado: Três Edifícios de Habitação para a Formaespaço: Modulares, Gemini e Protótipo,
apresentada à FAU-USP em 2003.
136
EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA EDUARDO DE ALMEIDA
EDUARDO DE ALMEIDA -
--
-
O DETALHE
O DETALHEO DETALHE
O DETALHE
E A RETÍCULA
E A RETÍCULAE A RETÍCULA
E A RETÍCULA
Nos primeiros esboços de uma planta, o arquiteto Eduardo de Almeida ensaia a
manipulação de um sistema de medidas conveniente para acomodar o programa
e que, ao mesmo tempo, contém a gênese de um sistema estrutural e construtivo.
À medida que o projeto toma forma, sedimentam-se as soluções construtivas, de
modo que o arranjo espacial surge, em geral, associado à cnica e à matéria que
o constituem.
A arquitetura feita por Eduardo de Almeida não perde de vista a natureza
construtiva e material. Em um projeto, o desenho do detalhe, além de decodificar a
execução, reforça determinadas intenções de projeto e confirma a relação que
existe entre o todo e a parte. Se existe o entendimento da arquitetura como algo
feito de partes, cada parte é tratada como uma individualidade submetida a uma
orquestração que privilegia a unidade, cujo resultado tenderá a ser um desenho
íntegro e harmonioso.
Na concepção do detalhe, existem dois conceitos que se complementam. O
primeiro é que cada componente deve ter ressaltado seu desempenho e função,
evidenciados segundo um desenho que busca exprimir cada um deles algo que
se costuma chamar de verdade construtiva. O segundo remonta à idéia de
unidade da obra arquitetônica: o detalhe, quando bem resolvido, teria uma solução
que parece natural, sem esforço, que não causa ruído no projeto. Como disse em
entrevista a Helio Piñon: “o detalhe bonito é aquele que não se vê.”
1
Uma característica presente em toda a obra construída de Eduardo de Almeida é
a utilização de um rebaixo ou uma fresta como solução para o encontro
entre diferentes materiais. Este recurso faz lembrar alguns detalhes de Mies van
der Rohe
2
,
ao associar perfis metálicos,
ou ao resolver encontros entre alvenaria e
estrutura.
A fresta aparece no lugar do friso, da guarnição, da borda, da moldura. Estas
peças tinham por objetivo recobrir trincas e defeitos resultantes do encontro de
137
materiais com desempenhos diferentes. Estes componentes, tradicionalmente,
são elementos adicionados à construção com um objetivo claro de arremate, e
que ficaram associados à idéia de ornamento ao adquirir desenhos mais
sofisticados e complexos, com espessuras e tratamentos além dos necessários e
que, por vezes, terminam por encobrir a verdadeira natureza e comportamento de
cada parte da construção.
A fresta, ao contrário da moldura, solta os materiais através de uma subtração de
matéria. Enquanto a guarnição solidariza e une as partes, a fresta separa. O
resultado do vão que surge entre diferentes superfícies é uma sombra, uma linha
precisa que solta entre si diferentes superfícies, aumentando a autonomia dos
diversos componentes, ressaltando seu desenho e diminuindo a sensação de
peso, ao trabalhar com a ilusão de que um componente tem pouca interferência
no outro.
Fig. 212 - Casa Define, 1978. Encontro entre a estrutura de concreto e o fechamento de tijolo. (PIÑON, 2005:137)
Construtivamente, a fresta corresponde à trinca que resultaria do encontro dos
diferentes materiais com diferentes dilatações alvenaria e estrutura, alvenaria e
forro, alvenaria e batente - mas é uma trinca prevista, que permanecerá contida em
uma linha previamente demarcada.
138
Fig. 213 - Casa Tassinari, 1965. Nota-se a marcação do pilar na argamassa de revestimento da parede, seguindo
o alinhamento da viga, e coincidindo com uma faixa de grama no piso. Apesar de ter as abóbadas revestidas,
tanto a viga longitudinal como a testada permaneceram em concreto aparente, e nota-se a fresta no encontro
destes três elementos. (fonte: acervo do arquiteto)
A leitura dos projetos de Almeida mostra uma relação entre a espacialidade, o uso,
a construção e a retícula. A disposição de elementos construtivos estrutura,
vedos, aberturas, pisos reflete o campo tramado de concepção do projeto. O
detalhe que evidencia e confere autonomia aos elementos da construção termina
por ressaltar as relações métricas e volumétricas, e é parte fundamental para o
entendimento do projeto construído a partir destas relações. Como na casa
Tassinari acima [fig. 213], na qual a marcação do pilar, destacado da alvenaria e
alinhado com as vigas entre abóbadas, e que corresponde a uma indicação no
piso, é capaz de fornecer uma clara leitura da malha que organiza o projeto.
Quando o detalhamento leva em conta a estrutura metálica, deve prever o
travamento dos panos de alvenaria na estrutura, as diferentes movimentações de
ambas e também a questão da percolação de água. No detalhe de Mies van der
Rohe para o edifício da Biblioteca e administração do ITT
[fig.214]
, de 1944, nota-se
a preocupação em fazer o travamento entre a estrutura de aço e a alvenaria de
tijolo no detalhe em planta, através de um perfil T
de aço soldado ao pilar, que fica
em meio às fiadas do tijolo. O desenho do caixilho, do outro lado do perfil I em
139
planta, gera uma fresta equivalente àquela entre estrutura e alvenaria. No detalhe
em corte, nota-se a preocupação em precisar a leitura do perfil
I
da viga de aço, e
resolver o travamento da alvenaria com um perfil T, gerando uma fresta que
termina por soltar todo o pano de tijolo, associado depois aos perfis de pingadeira.
Fig. 214 - Mies van der Rohe, 1944. Biblioteca e administração do ITT. Detalhe em planta do encontro do pilar de
aço com alvenaria; detalhe em corte do encontro da viga de aço com alvenaria. (BLASER, 1993:78).
Fig. 215
Detalhes da casa Oppenheim, 1985. Planta do encontro da coluna de aço com alvenaria; Corte do encontro
da
viga
de
aço
com
alvenaria
;
Soleira
,
que
corresponde
à
mesa
superior
da
viga
.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 216
Detalhes da casa Bracher, 1993. Planta do encontro do pilar de aço com alvenaria; Corte do encontro da
viga de aço com alvenaria. (fonte: acervo do arquiteto)
Nos detalhes para a casa Oppenheim
[fig.215]
, são soldados ferros chatos à
coluna de aço com diâmetro de 6”, para que seja feito o travamento da alvenaria
de tijolo aparente. Em corte, a emenda entre a alvenaria e a viga em perfil
I
de aço
é feita através de cantoneiras de aço soldadas, que propiciam estanqueidade e
travamento. Como a laje ocupa o espaço da alma da viga, a mesma cantoneria, no
140
lado de dentro da casa, faz o papel de roda-teto e rodapé. No detalhe seguinte, a
mesa superior da viga torna-se também soleira. No detalhe da casa Bracher
[fig.216]
, que utiliza alvenaria revestida, a cantoneira é substituída por perfil Z.
Outro exemplo do uso da fresta para soltar os componentes ocorre no chamado
batente Chevrolet. Trata-se do nome adotado para um batente de madeira em
geral com dois rebaixos, para encaixe da porta tanto de um lado ou de outro, que
se parece com o símbolo da marca de automóveis. Em vez de receber uma
guarnição que se sobrepõe à emenda entre alvenaria e batente, o batente
aparenta estar solto da parede. Esta impressão é obtida através de um rebaixo
feito na madeira, para esconder as fissuras que normalmente ocorrem no encontro
da alvenaria com o batente. Seu desenho é bastante conhecido e utilizado entre
arquitetos, e apresenta diversas variações.
Fig. 217
Batente casa Niemeyer, 1970.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 218
Batente casa Tassinari na Baleia,1974.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 219
Batente casa Oppenheim, 1985.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 220
Batente casa Bracher, 1993.
(fonte: acervo do arquiteto)
141
Nota-se, no quadro acima, que o batente de madeira adquire diferentes
geometrias, mas com o mesmo princípio de desenho: um rebaixo entre a alvenaria
e o batente. Esta fresta com a parede pode ser definida pela composição de duas
peças diferentes de madeira (casa Tassinari
[fig.218]
, 1974, casa Oppenheim
[fig.219]
, 1985), ou através de uma peça única, com diferentes tamanhos (casa
Niemeyer dos Santos
[fig.217]
, 1970, casa Bracher
[fig.220]
, 1993).
Este tipo de detalhe pressupõe uma boa execução na obra: requadro perfeito do
vão da alvenaria e prumo correto para evitar fresta entre o batente e a parede.
Nota-se a preocupação em vedar uma possível fresta, através de um nicho na
madeira preenchido com espuma expansível entre a parede e o batente, presente
na casa Bracher.
Em outros tipos de batente utilizados pelo arquiteto, nota-se a presença da fresta
que destaca os componentes de portas e caixilhos dos planos de parede e teto.
Na casa Almeida
[fig.222]
(1977), o rebaixo para encaixe da porta desaparece do
batente, e uma simples baguete acrescentada ao perfil de madeira serve como
batedor da porta. O desenho do batente é totalmente simétrico, podendo a porta
abrir para dentro ou para fora com a mesma peça. A fresta entre a parede e a peça
de madeira é mantida.
O batente da casa Define
[fig.224]
(1978) tem um desenho muito mais robusto. Em
virtude da alvenaria em tijolo de barro aparente apresentar superfície irregular com
frestas nas juntas dos tijolos, o batente não é simplesmente justaposto à parede,
mas contorna as paredes tentando abraçá-las, servindo ao mesmo tempo como
batente e guarnição. Envelopam o topo das alvenarias e fundem-se em um
elemento para resolver conduítes, interruptores, portas juntas a 90 graus e portas
junto
a
armários
.
Preservam
,
no entanto
,
a
fresta
no
encontro
com
a
superfície
da
pare-
de, através de um pequeníssimo rebaixo em suas quinas. A solução para embutir
conduítes
havia
sido
experimentada
na
casa
Tassinari
[fig.223]
,
em
São
Paulo
(1965).
O mais sutil dos batentes, entretanto, aparece na casa Sigrist
[fig.221]
(1974). O
batente é eliminado enquanto componente visível, deixando perceptível apenas a
fresta entre a porta e a alvenaria, que é tratada com perfil de aço embutido para
perfeito requadramento do vão e encaixe da porta.
142
Fig. 221
Batente casa Sigrist, 1974.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 222
Batente casa Almeida, 1977.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 223
Batente casa Tassinari em São Paulo, 1965.
(fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 224
Batente casa Define, 1978.
(fonte: acervo do arquiteto)
143
A mesma preocupação com a fresta entre o batente e a parede é levada aos
caixilhos de madeira e aço. O detalhamento da caixilharia de ferro da casa Bracher
[fig.225]
, entre outras, ilustra bem esta transposição. Nota-se novamente um
paralelo com detalhes de perfis de aço desenhados por Mies van der Rohe.
Fig. 225 - Detalhe da caixilharia de ferro da casa Bracher, 1993. (fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 226 Mies van der Rohe,
corte e planta do caixilho do
Pavilhão de Barcelona, 1929.
(SOLA-MORALES, 1993:14)
Fig. 227 Mies van der Rohe,
caixilho em o inóx do
Pavilhão de Barcelona, 1929.
(SOLA-MORALES, 1993:57)
144
A fresta, enquanto solução construtiva, é também aplicada em detalhamento de
armários, forros, etc.
Fig. 228 - Detalhe do forro da casa Penido, 1970. (fonte: acervo do arquiteto)
Outra aplicação do detalhamento que ressalta a marcação da retícula
organizadora da espacialidade e da construção está na paginação de piso.
Quando é aplicada, a paginação é conduzida por faixas de arremate que seguem
determinados alinhamentos, organizando os panos de assentamento do piso. A
exemplo da arquitetura de Louis Kahn, a constituição material da obra assume
certa espessura, que é ressaltada como um elemento da composição, do qual se
tira proveito para a organização do espaço e da forma. Na paginação de piso, a
soleira alinhada aos pilares é capaz de redesenhar, graficamente, a trama
geométrica oculta no projeto.
Fig. 229 – Paginacao de piso da sede da Fazenda Água
Comprida, 1997. (fonte: acervo do arquiteto)
Fig. 230 Marcacao de piso no Kimbell Art Museum,
Louis Kahn, 1966-72. (A+U, 1983: 139)
1
(ALMEIDA apud PIÑON, 2005:17)
2
Ver capítulo 3: Mies van der Rohe e a marcação do espaco infinito, na página 32.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, fez-se uma investigação sobre a maneira de desenhar um projeto,
da concepção inicial ao detalhamento, tomando como exemplo algumas casas
projetadas pelo arquiteto Eduardo de Almeida, arquiteto paulista importante pela
contribuição da obra realizada. O estudo visa identificar uma maneira de aprender
e fazer arquitetura, para proveito em ensino e pesquisa, contribuindo para o
conhecimento e desmistificação do ensino de projeto.
Sem desmerecer inúmeros fatores condicionantes que atuam na elaboração de
um projeto, o estudo tem enfoque na retícula enquanto procedimento de projeto.
Na primeira parte do trabalho, em textos que tratam de Frank Lloyd Wright, Mies
van der Rohe e Louis Kahn, nota-se que estamos diante de diferentes retículas, o
que nos leva a considerar que a retícula, enquanto procedimento, está submetida
a uma intenção de projeto, que é o modo particular como cada arquiteto entende e
propõe arquitetura.
Para Frank Lloyd Wright na fase usoniana, a retícula identifica a unidade básica de
constituição do corpo, como uma célula em analogia com um organismo. Sendo
assim, trata-se de um conceito, que está diretamente associado à matéria que
constrói a arquitetura. A arquitetura toma a forma do contorno da malha com
critério, mas também de modo livre, uma vez que o contorno da casa não é pré-
definido, e a adaptabilidade da arquitetura a uma situação dinâmica está prevista
por Wright em seu conceito de orgânico. A arquitetura de Wright neste período
preconiza construções leves e a montagem no canteiro, o que confere à
modulação uma característica moderna, ao orientar uma construção componível e
expansível.
A retícula de Mies van der Rohe teve sempre implicações construtivas e, sua
arquitetura, muito apuro técnico. Em suas experiências espaciais e construtivas
147
que tiveram lugar a partir da década de 20, a retícula, além de balizar a
construção, assumiu uma condição de delimitar um campo e fornecer uma
marcação abstrata do espaço. No Pavilhão de Barcelona, de 1929, a retícula está
construtivamente presente em um frame oculto cujo indício é a fresta, a indicar a
medida dos intervalos de espaço, a partir da qual tem lugar uma livre composição
de planos. Na fase americana, o arquiteto, cada vez mais, relacionou a retícula a
aspectos construtivos, mas a maneira de conceber o espaço a partir de planos foi
retomada, de modo secundário, em alguns projetos deste período.
A retícula de Louis Kahn está diretamente associada à composição do que Alan
Colquhoun chamou de unidades espaciais: uma correspondência entre unidade
estrutural, programática e espacial. A retícula para Kahn é física, matérica e
extremamente geométrica. A arquitetura trabalha com associação ou repetição de
elementos volumétricos, formando retículas complexas. O peso, a densidade
material em Kahn são características que confirmam sua intenção por uma
arquitetura absoluta e perene.
Na segunda parte do trabalho, foram apresentadas diversas casas do arquiteto
Eduardo de Almeida, organizadas por capítulos em função de características
comuns.
O primeiro capítulo agrupa casas que tem cobertura em laje inclinada. Neste
capítulo, apresenta-se o modo como o arquiteto chega a um sistema de medidas
capaz de arranjar o programa, com o estudo detalhado de equipamentos e
layouts, e que atenda, simultaneamente, a uma modulação construtiva. As relações
de medidas nas casas com laje de inclinação constante são complexas, uma vez
que distâncias em planta e corte estão associadas entre si. À medida que a laje se
eleva, novos pavimentos podem ser acrescentados, organizando os espaços de
acordo com regras que buscam manter constantes as alturas dos pés direitos
iniciais dos projetos e das aberturas nas fachadas.
O segundo capítulo trata de casas com planta de base quadrada. Neste capítulo é
introduzida a discussão sobre a importância da circulação nos projetos de
Eduardo de Almeida. O módulo gerador da figura geométrica em planta, que é o
148
espaço central da casa, é transformado em espaço vazio, para o qual se abrem as
circulações. São casas cuja disposição espacial e construtiva está rigidamente
pautada em relações geométricas, e o desenvolvimento de malhas complexas,
com medidas variáveis, permite exercícios interessantes em planta e enriquece os
arranjos volumétricos.
Casas com pátio feitas para o lote urbano são agrupadas no capítulo seguinte.
Neste caso, a situação ideal da planta quadrada lugar a conformações
adaptadas ao terreno e ao programa. O pátio e as circulações têm função
semelhante às casas com planta de base quadrada. A modulação comparece
organizando as disposições espaciais, construtivas e de programa.
O capítulo Projetos de Referência apresenta casas feitas por Eduardo de Almeida a
partir de influência de projetos de outros arquitetos. Estas casas surgem para
confirmar procedimentos de projeto adotados arquiteto Eduardo de Almeida, uma
vez que o arquiteto procede do mesmo modo que nos demais projetos: parte de
um sistema de medidas, capaz de resolver, ao mesmo tempo, o programa e a
construção. Os alinhamentos obtidos em planta e a organização do programa
confirmam este diagnóstico.
No último capítulo que trata de casas de Eduardo de Almeida, aborda-se o
detalhamento das obras. Nota-se que, alem de resolver aspectos construtivos, o
detalhe é utilizado para enfatizar determinadas intenções do projeto como, por
exemplo, a autonomia dos elementos construtivos e os alinhamentos de
superfícies, planos e volumes, organizados a partir de uma regra que tem origem
na retícula.
Nota-se, em todos os projetos, uma separação clara do programa, um primoroso
rigor construtivo, e a busca por alinhamentos e relações controladas de forma.
Apesar da existência de outros fatores que influenciam em um projeto, nota-se o
papel determinante da retícula enquanto instrumento que viabiliza o ordenamento
de um grande volume de informações, que baliza o raciocínio do arquiteto, integra
e confere certeza às decisões de projeto.
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁBALOS, Iñaki. La buena vida: Visita guiada a las casas de la modernidad. Barcelona: Editorial
Gustavo Gili, 2000.
ACAYABA, Marcos. Marcos Acayaba. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.
ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo 1947-1975. São Paulo:
Projeto, 1985.
AFLALO, Marcelo (org.) Madeira como estrutura. A história da ITA. São Paulo: Paralaxe, 2005.
ALMEIDA, Eduardo. Habitação: consumo, produto, projeto. São Paulo: FAU-USP (Tese),1972.
ANTUNES, Carlos. A arquitetura moderna brasileira e o projeto de habitação popular. 1940/1950. São
Paulo: FAU-USP (Dissertação de mestrado), 1997.
ARTIGAS, Rosa (org.). Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
ARTIGAS, Vilanova. Os caminhos da arquitetura. São Paulo: FVA/Pini, 1984.
BAKER, Geoffrey H. Le Corbusier. Uma análise da forma. São Paulo: Matins Fontes, 1998.
BENEVOLO, Leonardo. A cidade e o arquiteto. São Paulo: Perspectiva, 1981.
BENEVOLO, Leonardo - História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva,1976.
BENEVOLO, Leonardo - História da Cidade. São Paulo: Perspectiva,1983.
BLASER, Werner. Mies van der Rohe. The art of structure. Berlim: Birkhäuser Verlag, 1993.
BOESIGER, W. e Girsberger, H. Le Corbusier 1910-65. Barcelona: Editorial gustavo Gili, 1994.
BONDUKI, Nabil (org.). Affonso Eduardo Reidy. Lisboa: Blau, 2000.
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Joaquim Guedes. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
CASTILHO, Maria Estela e Costa, Eunice R. Ribeiro. Índice de Arquitetura Brasileira 1950-1970. São
Paulo: FAU-USP, 1974.
COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica. Ensaios sobre arquitetura. São Paulo: Cosac &
Naify, 2004.
COLQUHOUN, Alan. La arquitectura moderna. Una historia desapasionada. Barcelona: Editorial
Gustavo Gili, 2005.
CORONA, Eduardo, LEMOS, Carlos, XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini,
1983.
COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995.
CURTIS, William. Denys Lasdun. Architecture, City, Landscape. London: Phaidon Press Limited, 1994.
DARLING, Elizabeth. Le Corbusier. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
DUNSTER, David. 100 casas unifamiliares de la arquitectura del siglo XX. México: Editorial Gustavo
Gili, 1994.
151
FISCHER, Sylvia e ACAYABA, Marlene. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Projeto Editores,
1982.
FRAMPTON, Kenneth. Historia critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
FRAMPTON, Kenneth. Le Corbusier. Londres: Thames &Hudson, 2001.
Frank Lloyd Wright. A&V Monografías n. 54. Madrid, Arquitectura Viva, jul/ago 1995.
FUJIOKA, Paulo Yassuhide. Princípios da Arquitetura Organicista de Frank Lloyd Wright e suas
influências na Arquitetura Moderna Paulista. São Paulo: FAU-USP (tese), 2003.
GUERRA, Abílio (org). Eduardo de Almeida. São Paulo: Romano Guerra, 2006.
GIMENEZ, Luis Espallargas. O melhor detalhe é aquele que não se vê. Revista Eletrônica Arquitetura
Crítica, n.009, junho 2002, http://vitruvius.com.br/ac/ac/asp.
GIURGOLA, Romaldo e MEHTA, Jaimini. Louis I. Kahn. Arquitecto. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
1976.
GIURGOLA, Romaldo e MEHTA, Jaimini. Louis I. Kahn. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
GOUVEIA, Anna Paula Silva. O croqui do arquiteto e o ensino do desenho. São Paulo: FAU-USP
(Tese), 1998.
HART, Spencer. Frank Lloyd Wright. Nova Iorque: Barns & Noble, 1995.
HEARN, Fil. Ideas que han configurado edificios. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006.
IMBRONITO, Maria Isabel. Três edifícios de habitação da Formaespaço: Modulares, Gemini e
Protótipo. São Paulo: FAU-USP (Dissertação de mestrado), 2003.
INSTITUTO P.M. e Lina Bo Bardi e Fundação Vilanova Artigas. Vilanova Artigas. São Paulo: Instituto
P.M. e Lina Bo Bardi, 1997.
KAHN, Louis. Conversaciones con estudiantes. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002.
KAMITA, João Massao. Vilanova Artigas. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
LE CORBUSIER. Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. São Paulo:
Cosac & Naify, 2004.
LEMOS, Carlos. Historia da casa brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1976.
Louis I. Kahn. GA – Global Architecture n.35. Tokyo: ADA Edita, 1975.
Louis I. Kahn. A+U – Architecture and Urbanism n.11. Tokyo: AU Publishing CO, nov.1983.
MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão compositiva. Belo Horizonte: UFV/AP, 1995.
MALARD, Maria Lucia (org.). Cinco textos sobre arquitetura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.
MARTINO, Arnaldo. Habitação. Um sistema construtivo de simples montagem. São Paulo: FAU-USP
(Dissertação de mestrado), 1981.
MARTINO, Arnaldo. Projeto de habitação multifamiliar de econômica produção, em ocupações
urbanas de médias densidades e como um metaprojeto espacial e construtivo, Brasil -
1990/2000. São Paulo: FAU-USP (Tese), 1989.
MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
MOORE, Charles, ALLEN, Gerald, e LYNDON, Donlyn. La casa: forma y diseño. Barcelona: Editorial
Gustavo Gili, 1999.
NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
152
PFEIFER, Bruce Brooks. Frank Lloyd Wright. Colônia: Taschen, 1994.
PIÑÓN, Helio. Eduardo de Almeida. Barcelona: UPC, 2005.
PIÑÓN, Helio. Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: Romano Guerra, 2002.
PONTES, Ana Paula. Sergio Bernardes e Eduardo de Almeida: arquitetura que ensina. Revista
Eletrônica Arquitetura Crítica, n.009, junho 2002, http://vitruvius.com.br/ac/ac/asp.
ROCHA, Paulo Mendes. Paulo Mendes da Rocha. Barcelona: Gustavo Gili, 1996.
ROSSO, Teodoro. Teoria e Prática da Coordenação Modular. São Paulo: FAU-USP, 1976.
SABBAG, Haifa. Eduardo de Almeida: uma arquitetura na sombra. Revista Eletrônica Arquitetura
Crítica, n.009, junho 2002, http://vitruvius.com.br/ac/ac/asp.
SAIA, Luis. Morada paulista. São Paulo: Perspectiva, 1971.
SACRISTE, Eduardo. Usonia. Aspectos da obra de Wright. Buenos Aires: Libreria Tecnica, s/d.
SANOVICZ, Abrahão. Projeto e produção: por uma aproximação metodológica. São Paulo: FAU-USP
(Tese), 1972.
SANOVICZ, Abrahão. Sistematização Crítica da Obra de Arquitetura para a Obtenção do Título de Livre
Docente. São Paulo: FAU-USP (Tese de Livre Docência), 1997.
SCULLY JR, Vincent. Arquitetura moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1999.
SEGAWA, Hugo. Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo: ProEditores, 1997.
SERGEANT, John. Frank Lloyd Wright´s Usonian Houses. Nova Iorque: Billboard Publications, 1976.
SILVA, Helena Aparecida Ayoub. Abrahão Sanovicz: o projeto como pesquisa. São Paulo: FAU-USP
(Tese de Doutorado), 2004.
SOLÀ-MORALES, Ignasi, CIRICI, Cristian, RAMOS, Fernando. Mies van der Rohe. El pabellon de
Barcelona. Barcelona: Editorial gustavo Gili, 1993.
SOLÀ-MORALES, Ignasi. Inscripciones. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2003.
SPIRO, Annette. Paulo Mendes da Rocha. Works and Projects. Zurique: Verlag Niggli, 2006.
STROETER, João Rodolfo. Arquitetura e Teorias. São Paulo: Nobel, 1986.
TASSINARI, Alberto. O espaço moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
VARGAS, Milton. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: Globo, 1985.
VASQUEZ, Fernando. Mies van der Rohe. 1886-1969. Lisboa: Blau, 1999.
WALKER ART CENTER (org.). De Stijl 1917-1931. Visions of Utopia. Oxford: Phaidon Press, 1988.
WISNIK, Guilherme. Lucio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
XAVIER, Alberto (org.). Arquitetura Moderna Brasileira: Depoimentos de uma Geração. São Paulo: Pini
/ ABEA / Fundação Vilanova Artigas, 1987.
ZEVI, Bruno. Frank Lloyd Wright. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,1993.
ZUKOWSKY, John (org.). Mies reconsidered: his career, legacy and disciples. Chicago: Art Institute e
Rizzoli International Publications, 1986.
153
PERIÓDICOS
A receita para morar bem. Projeto e Construção n.9, ago 1971, pp.35/39
Casa como expressão de processo construtivo. Casa & Jardim n.251, nov 1980, pp.38/43
Casa no Bairro do Butantã. Arc Design n.45, dez 2005, p.58
Desenvolvido como um loft, com ambientes claros e livres, antiga casa de vila ganha ar
contemporâneo. Projeto Design n.232, jun 1999, pp.44-47
Do tamanho dos sonhos. Arquitetura e Urbanismo n.84, jun/jul 1999, pp.56-61
Fazenda Água Comprida. Projeto Design n.240, fev 2000, pp.44-51
Fazenda Água Comprida. Arquitetura e Urbanismo n.88, fev/mar 2000, pp.46-49
Para utilizar o espaço com criatividade. Casa & Jardim n.253, fev 1981, pp.42/48
Presente de pai. Arquitetura e Urbanismo , set 2005, pp.60-65
Programa dividido em dois blocos é interligado por acesso transparente. Projeto Design n.249, nov
2000, pp.57-61
Residência do arquiteto. Construção São Paulo, mai 1983, p.16
Residência Jean Sigrist. Construção São Paulo, abr 1983, p.16
Residência na Praia Vermelha do Sul, Ubatuba. Projeto Design n.285, nov 2003, p.48
Residência no Alto de Pinheiros. Arquitetura e Urbanismo n.58, fev/mar 1995, pp.36-39
Residência Unifamiliar. Projeto Design n.310, dez 2005, pp.68/71
Sede de Fazenda. Projeto Design n.239, jan 2000, p.48
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo