Download PDF
ads:
5
INSTITUTO CENTRO DE ENSINO TECNOLÓGICO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
Curso de Mestrado em Engenharia da Produção
FRANCISCO ALEUDINEY MONTE CUNHA
ESTUDO ERGONÔMICO DOS POSTOS DE TRABALHO DO SETOR DE
PESAGEM DE UMA EMPRESA NO ESTADO DO CEARÁ: ESTUDO DE
CASO
Orientador: Professor Francisco Soares Másculo, Ph.D.
João Pessoa
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
6
FRANCISCO ALEUDINEY MONTE CUNHA
ESTUDO ERGONÔMICO DOS POSTOS DE TRABALHO DO SETOR DE
PESAGEM DE UMA EMPRESA NO ESTADO DO CEARÁ: ESTUDO DE
CASO
Dissertação de Mestrado apresentado à Banca
Examinadora do Curso de Mestrado em Gerência
da Produção da Universidade de Federal da Paraíba
– UFPB.
Orientador: Prof. PHD
Francisco Soares Másculo
João Pessoa
2008
ads:
7
Francisco Aleudiney Monte Cunha
Estudo Ergonômico dos Postos de Trabalho do Setor de Pesagem de uma
Empresa no Estado do Ceará: Estudo de Caso
Banca Examinadora
__________________________________________________________
Prof. Ph.D
Francisco Soares Másculo
- UFPB
Orientador
___________________________________________________________
Prof. Dr.
Luiz Bueno da Silva
Examinador
____________________________________________________________
Prof. Dr.
João Medeiros Tavares Junior
Examinador
Aprovada em: ____/___/2008
8
A Dóris, a quem dedico amor infinito e os melhores predicados que se pode aplicar
a uma mulher.
A meu filho Bruno, primogênito.
A minha filha Maria da Graça, doce mel da minha vida.
9
Agradecimentos
A Deus, sustentáculo e força dos momentos de minha vida.
A minha mãe Graça, incentivadora fiel de minha carreira.
A meu pai Aleudo, em cuja presença sempre volto a ser menino.
A Tia Bitá, de tão confortadora presença.
A minha irmã Nelinha, a quem eu admiro pela sua dedicação ao estudo.
A Minha Família, cujos membros tanto amo.
Aos Colegas de Trabalho, especialmente Jacir e Tarcísio, que tiveram paciência e
compreensão das minhas necessidades e angústias.
Aos amigos Hermano e Valério, que guardarei no coração pelo fato de acreditarem
em mim.
Aos Professores do Mestrado, que compreenderam minhas dificuldades.
A Todos que de alguma maneira, explícita ou não, me auxiliaram.
10
Desde muito pequena minha mãe me ensinou que eu podia
conseguir tudo a que me propusesse. O primeiro que fez foi me
ensinar a caminhar sem sua ajuda.
Wilma Rudolph
11
Resumo
CUNHA, F. A. M
Estudo Ergonômico dos Postos de Trabalho do Setor de Pesagem de uma
empresa no Estado do Ceará: Estudo de Caso. 2008 Dissertações (Mestrado) Universidade
Federal da Paraíba. João Pessoa – PB.
_____________________________________________________________________________
O mundo em constante mudança, a economia globalizada e de mercados emergentes,
modernas tecnologias gerenciais m oportunizado melhorias consideráveis na forma de como as
empresas podem tornar-se altamente competitivas e obter ganhos consideráveis de produtividade.
Tais situações provocam nas empresas necessidades de serem ágeis, produtivas e pontuais nos
prazos de entrega, como forma de sobrevivência no mercado. Este trabalho tem o objetivo de
levantar e apontar certas situações que, apesar de terem o intuito de tornar a empresa mais ágil e
lucrativa, acabam causando resultado contrário, que tais ações podem vir a comprometer a
saúde e o desempenho dos trabalhadores em médio prazo, realizando estudo ergonômico dos
postos de trabalho do setor de Pesagem da Unidade 4 de uma empresa do setor calçadista,
buscou-se responder a seguinte pergunta: O trabalho nos postos de trabalho do setor de Pesagem
na Unidade 4 desta empresa é ergonomicamente correto? O estudo foi descritivo exploratório
com abordagem qualitativa, que utilizou o mapeamento, descrição e análise do contexto, as
relações e percepções a respeito da situação de ergonomia na empresa, usando como
procedimento metodológico o estudo de caso por fazer observação direta do fenômeno. Foi
realizado no setor e na empresa citados na pergunta-problema que é caracterizado pelo sistema de
produção taylorista-fordista. No setor trabalhavam 06(seis) pesadores de carga, 02(dois)
abastecedores, 01(um) estoquista e 01(um) líder, encarregado do setor. A metodologia passou
pelas seguintes etapas: a) análise biomecânica dos postos de trabalho: foram analisados todos os
elementos que compunham as atividades. Este exercício se repetiu em cada função existente no
setor e enfocou o movimento, a freqüência, o tempo e as posturas praticadas durante o trabalho.
Foram utilizadas fotos, filmagens, observações sistemáticas para cada atividade desenvolvida
pelos trabalhadores. Também foi realizado um levantamento do perfil da população, englobando
amostra de 100%, com o objetivo de encontrar o perfil antropométrico existente no setor e
verificar se a estrutura do layout do posto de trabalho condizia com o padrão antropométrico dos
funcionários, analisando desde a bancada até as ferramentas utilizadas; b) verificação de risco
ergonômico: foi utilizada a equação do NIOSH para levantamento manual de cargas como
recurso e instrumento comprovador da necessidade, ou não de intervenção ergonômica; c)
propostas de medidas de controle: foram levantadas propostas de medidas de controle para as
atividades que se mostraram inadequadas do ponto de vista biomecânico. Nas análises dos
estudos de todas as funções existentes no setor de pesagem, constatou-se realmente que as
atividades de Líder, Estoquista e Abastecedor, não oferecem nenhum risco ergonômico. Ao passo
que a função do Pesador de cargas, merece intervenção, apesar de não atingir o nível ximo de
risco segundo a equação do NIOSH.
Palavras-chave: saúde do trabalhador, ergonomia e indústria.
12
Abstract
CUNHA, F. A. M
Ergonomic study of the Ranks of Work of the Sector of Pesagem of Unit 4
of Grendene S/A: Study of Case. 2008 Dissertações (Mestrado) Universidade Federal da
Paraíba. João Pessoa – PB.
__________________________________________________________________
The world in constant change, the globalization economy and of emergent markets,
modern managemental technologies have oportunizado considerable improvements in the form of
as the companies can become highly competitive and get considerable profits of productivity.
Such situations are provoked by the necessity that the companies have to be competitive,
productive and prompt in the delivery stated periods, as form of survival in the market. Usually,
the company Grendene S/A does not run away from this profile, explained for its transport and
reputation in the market. The work in the ranks of work of the sector of Pesagem in Unit 4 of
Grendene S/A is ergonomicamente correct? This work has the objective of raising and pointing
certain situations that, although to have intention to become the lucrative companies most agile
and, finish causing resulted contrary, since such actions compromise the health and the
performance of the workers in average stated period. Carrying through ergonomic study of the
ranks of work of the sector of Pesagem of Unit 4 of Grendene S/A. The study it was descriptive
exploration with qualitative boarding, that if used the mapping, description and analysis of the
context, the relations and perceptions regarding the situation of ergonomics in the company,
using as procedure methodological the study of case for making direct comment of the
phenomenon. No was carried through in the area of Pesagem of the Plant of compostagem of
PVC of Grendene S/A, characterized for the system of taylorista-fordista production sector
worked 06(six) load weighers, 02(two) suppliers, 01(one) estoquista and 01(one) person in
charge, beyond the leader. The elements had been analyzed all that composed the activities, the
exercises if they repeat in each existing function in the sector and focused the movement, the
frequency, the time and the positions practised during the work. Photos, systematic filmings,
comments for each activity developed for the workers had been used. E analyzed the same ones
of the biomechanic point of view, with the use of the equation of the NIOSH for manual load
survey to verify the existence of risks. Proposals of measures of control for the activities had been
raised that if they had shown inadequate. Having as resulted the existing functions in the pesagem
sector, one really evidenced that the activities of Leader, estoquista and supplier, did not offer no
ergonomic risk. To the step that the function of the Load Weigher, deserves intervention,
although not to reach the maximum level of risk according to equation of the NIOSH. In the
function Weigher several are the claims for the exercise of the activity; the non-availability for
hour-extra is a reality. The company has oscillations in the volumes of production due to
sazonalidade in venda of footwear, and this reflects directly in the PVC production. In the sector
of Pesagem two collaborators exist practising hidroginástica for medical orientation, being very
common to the claims of pains in the coasts. We have as conclusion the challenge to adopt
among others of one practical ergonomic that considers, lines of direction, the qualification of
professionals, mainly of the load weigher for the precocious diagnosis of the ergonomic work
Word-key: health of the worker, ergonomics and industry.
SUMÁRIO
13
1. INTRODUÇÃO 5
1.1Questão a ser investigada 6
1.2 Justificativa 6
2. OBJETIVOS 7
2.1 Objetivo geral 7
2.2 Objetivos específicos 7
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8
3.1 Definição e evolução do conceito de ergonomia 8
3.2 O desenvolvimento da ergonomia na indústria 15
3.3 Principais áreas da ergonomia aplicada ao trabalho 18
3.4 Os degraus da implantação da ergonomia na empresa 20
3.5 Princípios de biomecânica e sua aplicação em ergonomia 22
3.6 Equação do NIOSH para levantamento manual de cargas 36
4. METODOLOGIA 45
4.1 Caracterização da pesquisa 45
4.2 Estrutura metodológica dos estudos ergonômicos 45
4.3 Análise biomecânica dos postos de trabalho 46
4.4 Verificação de riscos ergonômicos 46
4.5 Propostas de medidas de controle 46
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 47
5.1 Contextualização da empresa 47
5.1.1 Histórico da empresa 47
5.1.2 Situação atual da empresa 48
5.1.3 Contextualização da Unidade 4 52
5.1.4 Histórico da Unidade 4 54
5.1.5 Estrutura atual da Unidade 4 54
5.1.6 Organograma da empresa 55
5.1.7 Localização do setor de pesagem no processo de produção de PVC 55
5.1.8 Fluxo de atividade no setor 55
5.1.9 Descrição das atividades no setor de pesagem 56
5.1.10 Layout do setor 58
5.1.11 Análise do ambiente 59
5.1.12 População 59
5.2 Estudo ergonômico do trabalho por atividade 60
5.2.1 Repetitividade e transporte de carga 61
5.2.2 Aplicação da equação do NIOSH 61
5.2.3 Postura do trabalho 66
5.2.4 Estrutura ferramental 66
14
5.3 Ações corretivas 69
5.3.1 Aplicação da equação do NIOSH 75
6. CONCLUSÃO 79
REFERÊNCIAS 80
APÊNDICE A 82
APÊNDICE B 91
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
15
NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health..............................................37
LPR - limite de peso recomendado .........................................................................................37
LC - constante de carga ............................................................................................................37
HM - fator de distância horizontal............................................................................................37
VM - fator de altura..................................................................................................................37
DM - fator de deslocamento vertical.........................................................................................37
AM - fator de assimetria...........................................................................................................37
FM - fator de freqüência...........................................................................................................37
CM - fator de pega....................................................................................................................37
S/A- Sociedade anônima...........................................................................................................45
PVC – Policloreto de Vinila.....................................................................................................45
Lista de Quadros e Figuras
16
Quadros
Quadro 1 - Fator de pega (CM).
Quadro 2 – Tipo de carga.
Quadro 3 – Funcionários
Figuras
Figura 1 - Medidas de pressão discal nas posturas de pé e sentada .
Figura 2 - Estabelecimento da constante de carga .
Figura 3 – Fábricas.
Figura 4-Setores das fábricas.
Figura 5-Número de fábricas.
Figura 6- Processo produtivo de compostos de PVC.
Figura 7- Setor de pesagem.
Figura 8- Dimensões da fábrica.
Figura 9- Dimensões da fábrica.
Figura 10- Setor pesagem.
Figura 11- Setor pesagem e mistura.
Figura 12- Cargas prontas.
Figura 13- Matéria prima em conectores.
1. INTRODUÇÃO
17
Num mundo em constante mudança, de economia globalizada e de mercados emergentes,
modernas tecnologias gerenciais m oportunizado melhorias consideráveis na forma de como as
empresas podem tornar-se altamente competitivas e obter ganhos consideráveis de produtividade.
Porém, pouca ou nenhuma atenção é dada à qualidade de vida no trabalho, sendo que,
normalmente, os postos de trabalho são, na verdade, postos de tortura, o que não é um privilégio
da era moderna, mas sim uma cultura que acompanha todas as fases da introdução do sistema
capitalista.
Desde o advento da Revolução Industrial, quadros clínicos decorrentes de sobrecarga do
sistema osteomuscular tornaram-se mais numerosos. A partir da segunda metade do século, esses
quadros adquiriram expressão em número e relevância social com a racionalização e inovação
técnica da indústria (ARIOSI, 2002). Mas recentemente, o novo cenário de mercado trouxe uma
competição, global, com empresas colocando no mercado, inclusive no brasileiro, produtos
melhores, entregues no prazo e a custos inferiores aos praticados pela indústria nacional.
Como conseqüência direta, muitas mudanças e novas propostas de sistema de produção
foram focadas na melhoria da produtividade, sem dar a devida e necessária atenção ao
trabalhador. A cadência acelerada e repetitiva dos sistemas de produção agravou o quadro de
acidentes de trabalho e doenças profissionais, tanto em curto e longo prazo.
Todos os anos, mais de 1,2 milhões de pessoas morrem no mundo em acidentes de
trabalho e/ou doenças relacionadas ao trabalho, o que é o dobro do número de pessoas que
morrem em guerras ou de malária por ano (OIT, 2000). Isso representa dois trabalhadores mortos
por minuto.
A não aplicação de princípios da ergonomia na definição de sistemas e postos de trabalho
acaba refletindo em muitos aspectos que tornam os operários doentes e improdutivos. Bancadas
mal projetadas, por exemplo, são muito comuns no interior das fábricas; tais estruturas ocasionam
movimentos desnecessários. Além de gerarem perda na produtividade do trabalhador, acabam
tornando-se o estopim de possíveis doenças ocupacionais causadas por posturas incorretas,
movimentos repetitivos, fadiga por excesso de esforço físico, etc.
Tais situações são provocadas pela necessidade que as empresas têm de serem
competitivas, produtivas e pontuais nos prazos de entrega, como forma de sobrevivência no
18
mercado. Via de regra, a empresa Grendene S/A não foge deste perfil, explicado pelo seu porte e
renome no mercado.
1.1 Questão a ser investigada
O trabalho nos postos de trabalho do setor de Pesagem na Unidade 4 da Grendene S/A é
ergonomicamente correto?
1.2 Justificativa
Diante da visão de ser a ergonomia uma ausência nas empresas e de possível controle,
sendo também de fundamental importância para a saúde do trabalhador, tenho como interesse
pelo tema também como observador integrante das equipes de trabalho de uma empresa levantar
e apontar certas situações que, apesar de terem o intuito de tornar as empresas mais ágeis e
lucrativas, acabam causando resultado contrário, que tais ações comprometem a saúde e o
desempenho dos trabalhadores em médio prazo.
Também acrescentar conhecimento na área em estudo, demonstrando que os princípios de
ergonomia, além de evitarem problemas à saúde do trabalhador, acabam refletindo na diminuição
de custos para a empresa, pois insalubridade está diretamente ligada ao absenteísmo e
afastamentos. Indisponibilidade para hora-extra é também um sintoma de um trabalhador
esgotado. Alguns princípios de ergonomia são à base da engenharia de métodos que, por sua vez,
aperfeiçoa a atuação do trabalhador, melhorando sua produtividade sem causar danos à sua saúde.
Uma melhor estruturação dos postos de trabalho deve ser vista pelas empresas como um
investimento, pois, além de reduzir perdas financeiras com absenteísmo e doenças ocupacionais
que venham a ser adquiridas, aperfeiçoa o trabalho do homem, tornando-o mais produtivo,
através de um ambiente mais confortável, menos propenso ao erro e a acidentes de trabalho.
19
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
- Realizar estudo ergonômico dos postos de trabalho do setor de Pesagem da Unidade 4 da
Grendene S/A.
2.2 Objetivos específicos
- Levantar fluxo de trabalho no setor de Pesagem;
- Avaliar os postos de trabalho e o ferramental utilizado;
- Verificar a relação dos fatores ambientais com o desempenho do trabalho;
- Avaliar as relações entre os fatores físicos e possíveis distúrbios músculos-esqueléticos;
- Identificar o nível de satisfação dos funcionários com o ambiente de trabalho;
- Realizar um levantamento das principais posturas adotadas durante a realização das atividades;
- Diagnosticar os riscos ergonômicos;
20
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Definição e evolução do conceito de ergonomia
O termo ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regra). De
fato, na Grécia antiga, o trabalho tinha um duplo sentido: ponos, que designava o trabalho
escravo de sofrimento e sem nenhuma criatividade, e ergon, que designava o trabalho-arte de
criação, satisfação e motivação. É objetivo de a ergonomia transformar o trabalho ponos em
trabalho ergon.
Numa publicação da Organização Mundial da Saúde - OMS definiu-se ergonomia como
"uma tecnologia da concepção do trabalho baseada nas ciências da biologia humana".
Para Wisner (1987),
a ergonomia constitui o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao ser humano
e necessário para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser
utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia..
A ergonomia é definida por Laville (1977), como "o conjunto de conhecimentos a
respeito do desempenho do ser humano em atividade, a fim de aplicá-los à concepção de tarefas,
dos instrumentos, das máquinas e dos sistemas de produção." Distinguem-se habitualmente,
segundo este autor, dois tipos de ergonomia: ergonomia de correção e ergonomia de concepção.
A primeira procura melhorar as condições de trabalho existentes e é, freqüentemente, parcial e de
eficácia limitada. A segunda, ao contrário, tende a introduzir os conhecimentos sobre o ser
humano desde o projeto do posto, do instrumento, da máquina ou dos sistemas de produção.
De acordo com Hendrick (1994), a ergonomia, em termos de sua tecnologia singular,
pode ser definida como:
“o desenvolvimento e aplicação da tecnologia de interface do sistema ser humano-
máquina. Ao nível micro, isso inclui a tecnologia de interface ser humano-máquina, ou
ergonomia de hardware; tecnologia de interface ser humano-ambiente, ou ergonomia
ambiental, e tecnologia de interface usuário-sistema, ou ergonomia de software
(também relatada como ergonomia cognitiva porque trata como as pessoas conceituam
e processam a informação). Num nível macro tem a tecnologia de interface
organizacão-máquina, ou macroergonomia, que tem sido definida como uma
abordagem top-dow do sistema sócio-técnico"
.
21
Iida (1993) define a ergonomia como "o estudo da adaptação do trabalho ao ser
humano". Neste contexto, o autor alerta para a importância de se considerar, além das quinas e
equipamentos utilizados para transformar os materiais, também toda a situação em que ocorre o
relacionamento entre o ser humano e o seu trabalho, ou seja, não apenas o ambiente sico, mas
também os aspectos organizacionais de como esse trabalho são programados e controlados para
produzir os resultados desejados.
A Ergonomics Research Society do Reino Unido define ergonomia como:
"o estudo do relacionamento entre o ser humano e seu trabalho, equipamento e
ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e
psicologia, na solução de problemas surgidos neste relacionamento.”
A
International Ergonomics Association (IEA) define ergonomia como "o
estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e
espaços de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de
diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de
conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve
resultar em uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos e
dos ambientes de trabalho e de vida.”.
E, finalmente, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) define ergonomia
“como o estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser
humano”.
Para Wisner (1987), a ergonomia se baseia, essencialmente, em conhecimentos no campo
das ciências do ser humano (antropometria, fisiologia, psicologia, uma pequena parte da
sociologia), mas constitui uma parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se traduz
no dispositivo técnico. O mesmo autor coloca que, embora os contornos da prática ergonômica
variem entre países e até entre grupos de pesquisa, quatro aspectos são constantes, quais sejam:
- a utilização de dados científicos sobre o ser humano;
- a origem multidisciplinar desses dados;
- a aplicação sobre o dispositivo técnico e, de modo complementar, sobre a organização do
trabalho e a formação;
- a perspectiva do uso destes dispositivos técnicos pela população normal dos trabalhadores
disponíveis, por suas capacidades e limites, sem implicar a ênfase numa rigorosa seleção.
22
Segundo Santos e Zamberlan (1992),
a ergonomia tem como finalidade conceber e/ou transformar o trabalho de maneira a
manter a integridade da saúde dos operadores e atingir objetivos econômicos. Os
ergonomistas são profissionais que têm conhecimento sobre o funcionamento humano e
estão prontos a atuar nos processos projetuais de situações de trabalho, interagindo na
definição da organização do trabalho, nas modalidades de seleção e treinamento, na
definição do mobiliário e ambiente físico de trabalho.”.
Conforme Minicucci (1992), a ergonomia reúne conhecimentos relativos ao ser humano
e necessário à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados
com o máximo de conforto, segurança e eficiência ao trabalhador. A mesma trabalha
essencialmente com duas ciências: a Psicologia e a Fisiologia, buscando também auxílio na
Antropologia e na Sociologia.”.
A ergonomia, entre outros assuntos, procura estudar:
- as características materiais do trabalho, como o peso dos instrumentos, a resistência dos
comandos, a dimensão do posto de trabalho;
- meio ambiente físico (ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico);
- a duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho;
- modelo de treinamento e aprendizagem;
- as lideranças e ordens dadas.
Além disso, a ergonomia procura realizar diversos tipos de análise:
- análises das atividades físicas e cognitivas de trabalho;
- análise das informações;
- análise do processo de tratamento das informações.
Ela foge da linguagem simples das aptidões que define apenas as qualidades exigidas do
operador para a execução do trabalho, procurando informações mais amplas a respeito das
condições materiais necessárias para executá-lo. Leva em conta termos como: esforço,
julgamento, atenção, concentração, percepção, motivação, que o psicólogo, às vezes, não leva em
consideração, orientando-se apenas no sentido da seleção.
23
Uma ampla definição é dada por Vidal et al. (1993), segundo a qual a:
"ergonomia tem como objeto teórico a atividade de trabalho, como disciplinas
fundamentais à fisiologia do trabalho, a antropologia cognitiva e a psicologia dinâmica,
como fundamento metodológico da análise do trabalho, como programa tecnológico na
concepção dos componentes materiais, lógicos e organizacionais de situações de
trabalho adequadas às pessoas e aos coletivos de trabalho. Tem ainda como meta de
base a discussão e interpretação sobre as interações entre ergonomistas e os demais
atores sociais envolvidos na produção e no processo de concepção, buscando entender
o lugar do ergonomista nestas ações, assim como formar seus princípios
deontológicos”.
Para o Instituto de Ergonomia da General Motors - Espanha, a ergonomia é definida:
"como uma metodologia multidisciplinar que tem como objetivo a adaptação da
técnica e as tarefas ao ser humano. Desta adaptação há de derivar-se um menor
risco no trabalho, maior conforto no posto de trabalho, assim como um
enriquecimento dos conteúdos dos mesmos. Todos estes aspetos são compatíveis
com uma melhor produtividade, através, entre outros, da otimização dos
esforços e movimento no desenvolvimento das tarefas, de uma diminuição da
probabilidade de erro e da melhora das condições de trabalho".
Pode-se constatar, em todos os conceitos formulados, que a ergonomia está preocupada
com os aspectos humanos do trabalho em qualquer situação onde este é realizado e, desta
maneira, ela busca não apenas evitar aos trabalhadores postos de trabalhos fatigantes e/ou
perigosos, mas procuram colocá-los nas melhores condições de trabalho possíveis, de forma a
aumentar a eficácia do sistema de produção.
A ergonomia tem sua base centrada no ser humano, e esta antropocentricidade pode
resgatar o respeito ao ser humano no trabalho, de forma a se alcançar não apenas o aumento da
produtividade, mas, sobretudo, uma melhor qualidade de vida no trabalho.
Historicamente, o termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857 pelo polonês
Jastrzebowski, que publicou um "ensaio de ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas leis
objetivas da ciência da natureza".
Quase cem anos mais tarde, a ergonomia veio a se desenvolver como uma área de
conhecimento humano, quando, durante a II Guerra Mundial, pela primeira vez houve uma
conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas e biológicas.
Fisiólogos, psicólogos, antropólogos, médicos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os
problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse
24
esforço interdisciplinar foram tão frutíferos, que foram aproveitados pela indústria no pós-guerra
(DUL e WEERDMEESTER, 1995).
Em 1949, um engenheiro inglês chamado Murrel criou na Inglaterra, na Universidade de
Oxford, a primeira sociedade nacional de ergonomia, a Ergonomics Research Society. Em 1959
foi organizada a Associação Internacional de Ergonomia em Estocolmo.
Em 1959, a recomendação n
0
112, da OIT - Organização Internacional do Trabalho
dedicou-se aos serviços de saúde ocupacional, definidos como serviços médicos instalados em
um local de trabalho ou suas proximidades, com as seguintes finalidades:
- proteger o trabalhador contra qualquer risco à sua saúde e que decorra do trabalho ou das
condições em que ele é cumprido;
- concorrer para o ajustamento físico e mental do trabalhador a suas atividades na empresa,
através da adaptação do trabalho ao ser humano e pela colocação deste em setor que atenda às
suas aptidões;
- contribuir para o estabelecimento e manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e
mental dos trabalhadores ( SAAD, 1993).
Nessa conceituação de serviços de saúde ocupacional verifica-se a presença do conceito
de ergonomia: adaptação do trabalho ao ser humano.
Em 1960, a OIT definiu ergonomia como: "aplicação das ciências biológicas
conjuntamente com as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do ser humano
ao seu trabalho e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar" (MIRANDA, 1980).
Atualmente, vários países estão desenvolvendo estudos e pesquisa nesta área de
conhecimento; dentre eles podemos destacar: Estados Unidos, Inglaterra, França, Bélgica,
Holanda, Alemanha e Países Escandinavos.
No caso do Brasil, apesar de relativamente recente, a ergonomia está se desenvolvendo
rapidamente no meio acadêmico. De fato, em 31 de agosto de 1983 foi criada no país a
Associação Brasileira de Ergonomia. Em 1989 foi implantado no Programa de Pós-Graduação
25
em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina o primeiro mestrado na
área do País.
É importante salientar que, no Brasil, o Ministério de Trabalho e Previdência Social
instituiu a Portaria 3.751 em 23/11/90, que baixaram a Norma Regulamentadora - NR17, que
trata especificamente da ergonomia. "Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente." Com esta
norma começa a despertar o interesse pela ergonomia no meio empresarial brasileiro.
Da mesma forma, nos USA, o uso corrente da ergonomia no meio empresarial
aconteceu de fato a partir de 1970, quando a Agência de Segurança e Saúde Ocupacional daquele
país - Occupational Health and Safety Agency (OSHA) criou regulamentos exigindo das
empresas um ambiente livre de acidentes, saudável e seguro.
A partir de então, a ergonomia tem evoluído de forma significativa e atualmente pode ser
considerada como um estudo científico interdisciplinar do ser humano e da sua relação com o
ambiente de trabalho, estendendo-se aos ambientes informatizados e seu entorno, incluindo
usuários e tarefas.
O desenvolvimento atual da ergonomia pode ser caracterizado, então, segundo quatro
níveis de exigências:
- as exigências tecnológicas: relativas ao aparecimento de novas técnicas de produção que
impõem novas formas de organização do trabalho;
- as exigências organizacionais: relativas a uma gestão mais participativa, trabalho em times e
produção enxuta em células que impõem uma maior capacitação e polivalência profissional;
- as exigências econômicas: relativas à qualidade e ao custo da produção que impõem novas
condicionantes às atividades de trabalho, como zero defeito, zero desperdício, zero estoque, etc;
- as exigências sociais: relativas à melhoria das condições de trabalho e, também, do meio
ambiente.
26
Segundo SAAD (1981), os estudos ergonômicos tiveram um aprofundamento ainda maior
com o início dos programas espaciais e de segurança de veículos automotores, devido a severas
solicitações:
- impostas ao organismo humano dos astronautas em seu ambiente de trabalho, ou seja, nas
cápsulas espaciais e em locais extraterrenos;
- impostas aos usuários de veículos, em caso de acidentes, bem como a segurança ativa que estes
veículos devem proporcionar para evitar acidentes.
Segundo Thibodeau (1995), "a ergonomia contribui no projeto e na modificação dos
ambientes de trabalho, maximizando a produção, enquanto aponta as melhores condições de
saúde e bem-estar para os que atuam nesses ambientes." Essa abordagem deve ainda, segundo o
autor, ser "holística e interdisciplinar", exigindo conhecimento do trabalho/tarefa, do
trabalhador/usuário, do ambiente e da organização.
Dix e outros (1993) afirmam que
"esse fim de século foi caracterizado pelo surgimento de profissionais
trabalhando na combinação de ferramentas e máquinas para indivíduos,
suas tarefas e suas aspirações sociais. A engenharia industrial, fatores
humanos (human factors), ergonomia e os sistemas ser humano-máquina
são denominações de especialidades profissionais que atuam nessa área.
Mais recentemente, a especialidade denominada interação ser humano-
computador emergiu como outra especialidade, refletindo as
transformações em versões de computadores digitais interativos e a
disseminação e popularização de computadores pessoais".
Esses enfoques, que mostram a natureza dinâmica e os limites tênues entre estas áreas
multidisciplinares afins, não podem ser considerados definitivos e fechados. A evolução da
ergonomia e áreas relacionadas afins, que tem motivado estudos por parte dos diversos grupos de
pesquisa, repercute-se nas abordagens teóricas, nas técnicas, na terminologia e nas discussões na
literatura, enfatizando a importância dessas áreas emergentes. Além disso, a ergonomia é
direcionada a atividades específicas e caracterizada por constantes modificações e inovações,
como é o caso das tecnologias relacionadas à gestão de sistemas de informação e de
conhecimento.
27
3.2 O desenvolvimento da ergonomia na indústria
Não qualquer dúvida que a aplicação dos princípios de Taylor, de tempos e métodos e
de Ford deu um enorme impulso à atividade industrial, com ganhos significativos de
produtividade, reduzindo o preço final do produto ao consumidor e criando, inclusive, a
possibilidade de inserção do trabalhador como cidadão (enquanto consumidor) no cenário
produtivo do mundo. No entanto, sem eles saberem, estava contribuindo para o nascimento da
ergonomia. A otimização no desempenho das tarefas e mecanização do homem deram margem à
demanda ergonômica. Numa breve revisão dos princípios da Administração Científica podemos
constatar este fato. Os princípios da Administração Científica (TAYLON, 1987).
- A análise racional do trabalho e instituição da técnica correta de trabalho consistia na análise
de movimento, cronometragem dos mesmos e organização da única forma correta de se executar
o trabalho, contemplando basicamente a alta produtividade. É importante destacar que o método
de Taylor previa um tempo adequado para recuperação da integridade dos tecidos.
- Autoridade técnica do engenheiro industrial para fazer a análise do trabalho para Taylor, a
análise teria que ser feita por alguém com preparo específico nessa área, com habilidades para tal,
e que seria o engenheiro de tempos e métodos.
- Adaptação do homem ao trabalho assim, se houvesse uma tarefa de alta exigência de forma
física, para realizá-la bem, deveria ser selecionada uma pessoa forte; no caso de uma tarefa no
alto, uma pessoa alta; uma tarefa em baixo, uma pessoa baixa e para atividades de alta precisão
de movimentos, uma pessoa dotada de alta habilidade manual.
- Pagamento diferenciado de produção assim, dever-se-ia contemplar com o melhor salário
pessoas de produtividade maior.
A aplicação desses princípios resultou em grandes ganhos de produtividade. Nos
primeiros anos do século XX, as técnicas de análise de movimentos e tempos visando os ganhos
de produtividade conquistaram grande expressão, com um detalhamento incrível para a época,
28
com o estabelecimento do conceito de elementos fundamentais do trabalho, resultando em
significativa melhoria de produtividade.
O mais expressivo aumento de produtividade da época foi conseqüência da aplicação dos
princípios de Henry Ford:
- Organização do trabalho em linha de montagem com a eliminação do tempo de deslocamento
do trabalho até a peça.
- Ritmo do trabalho determinado pela velocidade da esteira – com estabelecimento de um
compasso, com a possibilidade de previsão de número de peças a serem produzidas na unidade de
tempo.
- Trabalhador fixo em determinada posição com o aperfeiçoamento dos movimentos,
reduzindo-se o tempo de aprendizado e possibilitando o desenvolvimento de padrões de
motricidade automática, de alta pressão e rapidez.
- Produção de grandes volumes com a conseqüente redução de preço dos produtos e vantagem
competitiva da empresa perante o consumidor.
Os grandes problemas causados pelos princípios de Taylor, Ford e por Tempos e
Métodos foram:
- Impossibilidade de se conseguir um único e correto método para execução do trabalho, pois o
ser humano é diferente e complexo.
- Alienação do trabalho no processo decisório, inerente ao princípio de concentrar no engenheiro
de métodos a decisão sobre o trabalho.
- Seleção física e psicológica rigorosíssima, com exclusão social daí decorrente, seja porque o
indivíduo não tinha a condição física exigida na época da seleção (por incapacidade, por
desgaste), seja por gradativa deterioração da capacidade física e exclusão social após determinada
idade.
- Trabalho exaustivo até a fadiga pelo, que, através de adicional de produtividade, muitas vezes o
trabalhador se exauria.
- Isolamento do trabalhador numa posição ao longo de anos e mesmo de décadas, com
comprometimento da capacidade criativa e tornando o ser humano um autônomo.
29
- Desencadeamento de distúrbios osteomusculares por sobre carga funcional, especialmente em
decorrência de manter o trabalhador numa mesma posição durante meses e anos, especialmente
se a função fosse exercida em postura incorreta ou com alta exincia de força.
- Redução das possibilidades profissionais do trabalhador, pois, ficando anos e anos numa mesma
função, o indivíduo perdia a experiência, tornando-se um especialista naquele tipo de tarefa, sem
possibilidade de inserção social em outro tipo de trabalho.
Deve-se destacar que muitos dos problemas decorrentes daquela época foram
conseqüências diretas da aplicação do ferramental administrativo proposto por Taylor, Ford e
pelos precursores de Tempos e Métodos.
- Aumento da velocidade da esteira diante da necessidade de se produzir mais, gerando, no
trabalhador, fadiga e acentuações das lesões e distúrbios dolosos.
- Colocação de pessoa mais hábil na primeira posição da linha de montagem, ocasionando
correria e sobrecarga tensional para os demais trabalhadores.
- Pagamento de adicional de produtividade sem uma análise da condição de execução do
trabalho, ocasionando sobrecarga e fadiga.
Nesse contexto apareceu a ergonomia como uma proposta de síntese, aproveitando o que
houve de positivo na época da Segunda Revolução Industrial e a necessidade de preservação do
trabalhador.
Deve-se ainda destacar que, em muitas empresas do Brasil ainda hoje, problemas
ergonômicos decorrentes da não aplicação dos conceitos básicos de análise racional do trabalho
preconizado por Taylor.
3.3 Principais áreas da ergonomia aplicada ao trabalho
A ergonomia está presente em todos os ramos da atividade humana: numa aeronave, num
ônibus, no automóvel, no lar, mas é no trabalho que é encontrada sua maior aplicação prática.
A classificação das áreas da ergonomia aplicada ao trabalho pode variar segundo os
diversos autores. Segundo Couto (2002), podem-se classificar em:
Área 1 – Ergonomia no trabalho fisicamente pesado
30
É uma área que tende a diminuir gradativamente no mundo do trabalho, pois empresas
novas privilegiam a mecanização, uma vez que os meios mecânicos são mais produtivos que o
ser humano em atividades desta natureza. No entanto, deve-se destacar que, pela diversidade
enorme do nosso país, ainda é uma área em que encontramos alguma aplicação. Trata-se
fundamentalmente de definir se o trabalhador tem condições ou não de executar atividades
prolongadas com grandes grupos musculares: por exemplo, motosserristas, carregadores de sacas
de mantimentos, trabalhadores rurais em processos não mecanizados, etc.
Área 2 – Ergonomia no trabalho em altas temperaturas
Embora haja uma tendência à mecanização, ainda encontramos muitos problemas
ergonômicos nessa área, especialmente nos processos de transformação de metais e também
devido ao fato de a maior parte do território brasileiro estar na região tropical do planeta. Neste
tipo de atividade, o organismo tem que suar bastante para tentar eliminar o calor e assim manter a
temperatura corpórea constante. A sudorese excessiva costuma causar desidratação, com queda
da capacidade de trabalho.
Área 3 – Biomecânica
Aqui se estudam os esforços feitos pelo trabalhador, o uso da coluna vertebral, o
manuseio, levantamento e transporte de cargas, características de cadeiras e assentos no local de
trabalho, conforto do banco de veículo e equipamentos motorizados, o uso dos membros
superiores como ferramentas de trabalho e, mais recentemente, a Biomecânica, que se tem
dedicado a estudar os aspectos relacionados aos postos de trabalho com computadores.
Essa é a área de maior aplicabilidade prática nas organizações. Não que as demais não
sejam importantes, mas devido à alta incidência de distúrbios e lesões que afastam o trabalhador
de suas atividades e ocasionam prejuízos diversos às empresas.
Área 4 – Ergonomia no método e na organização do trabalho
31
Em Método estuda-se os aspectos ergonômicos de ferramentas, dispositivos,
posicionamento do corpo para realizar o trabalho e outros aspectos dos elementos fundamentais
das tarefas conhecidas desde os primórdios de Tempos e Métodos.
Em Organização do Trabalho estudam-se as formas de se conseguir os resultados
prescritos, especialmente a tecnologia, o maquinário, a matéria-prima, o material, a manutenção,
o meio ambiente e o pessoal. Esclarecendo, qualquer problema em algumas destas áreas pode
resultar em sobrecarga sobre o trabalho, com o aparecimento de lesões e distúrbios diversos. Essa
área está associada às demais áreas aqui citadas. Assim, um problema de natureza biomecânica
pode ser agravado por problemas na organização do trabalho (por exemplo, falta de pessoal,
resultando em sobrecarga para os trabalhadores); outro exemplo, uma redução excessiva de
pessoal pode trazer problema de tensão e de trabalhador que tenta controlar diversos processos,
podendo resultar em erro humano.
Área 5 – Melhoria na confiabilidade humana
A ergonomia é ferramenta fundamental nos programas de qualidade total. É indispensável
para o sucesso dos programas de prevenção de acidentes de trabalho. Em indústrias de processo
contínuo, a ergonomia tem que estar presente na construção dos painéis digitais. Na construção
de aeronaves, a ergonomia é fundamental, visando possibilitar condições para que pilotos não
errem. E assim por diante.
Área 6 – Prevenção de fadiga no trabalho
Um dos grandes objetivos da ergonomia é prevenir a fadiga excessiva. Assim, a
ergonomia irá atuar prevenindo não as diversas formas de fadigas físicas, mas também a
fadiga mental e irá interagir com a área de Gestão de Pessoas na prevenção da fadiga psíquica.
3.4 Os degraus da implantação da ergonomia na empresa
32
Freqüentemente tem-se que trabalhar na transformação de situações primitivas em postos
de trabalho. Segue abaixo a seqüência de degraus a serem superados na implantação da
ergonomia nas empresas:
Situações primitivas
Muitas empresas ainda têm situações de trabalho bastante primitivas, que resultam em dor
e desconforto ao trabalhar. A atuação imediata sobre essas áreas melhora, criando-se postos de
trabalho. È o nível mais primário de atuação e fundamental de ser cumprido.
Ambiente de trabalho
Esse degrau da intervenção ergonômica preocupa-se especialmente com as condições
climáticas, de conforto auditivo e de iluminação para o trabalho, fundamentais especialmente
para a atividade intelectual.
Método de trabalho
Nesse estágio da evolução da Ergonomia, ao planejar um trabalho, a gerência se torna
preocupada com ferramentas, dispositivos e com a racionalização e redução dos esforços nos
diversos elementos do trabalho. Aqui, a ergonomia cerca-se da ajuda de profissionais de métodos,
que irão procurar verificar de que forma pode-se conseguir racionalidade e redução dos esforços
ao realizar os trabalhos.
Ergonomia na organização do trabalho
Organização no trabalho significa planejar os meios para o alcance dos resultados
planejados. Toda vez que o planejamento de um trabalho, tem que haver, concomitantemente,
o planejamento dos meios. Esses meios, segundo Couto (2002), envolvem um T e sete M:
Tecnologia, Maquinário, Manutenção, Matérias-primas, Material, Método, Meio ambiente e
Mão-de-obra.
33
Quando alguns dos fatores acima citados não funcionam bem, pode haver sobrecarga para
os trabalhadores. Por exemplo, uma tecnologia incorreta, ultrapassada, pode vir acompanhada de
sobrecarga térmica; uma máquina em manutenção pode fazer com que os comandos sejam
difíceis de serem operados, com sobrecargas das articulações dos trabalhadores; um material
inadequado numa linha de montagem pode ocasionar sobrecarga para as mãos do trabalhador ao
tentar fazer as montagens a que se propôs. Da mesma forma, a falta de pessoal, mão-de-obra
inadequadamente treinada e outras funções podem ocasionar sobrecarga sobre os trabalhadores
em atividade.
Um dos pontos mais avançados da ergonomia é quando a gerência, supervisão e corpo
técnico da empresa conhecem o impacto sobre as pessoas de falhas na organização do trabalho e
tratam de tomar as providências adequadas. Adiante neste texto explicaremos melhor quais são as
principais falhas na organização do trabalho com sobrecarga sobre as pessoas.
Ergonomia na concepção
Trata-se do nível mais avançado de instituir a ergonomia. Assim, no planejamento de uma
nova fábrica, no detalhamento dos equipamentos e dos futuros postos de trabalho, a equipe de
ergonomia faz uma análise do impacto sobre o trabalhador das futuras condições de trabalho e
procura adotar uma série de medidas preventivas. Destaque-se ainda que, nessa ocasião, o
custo da ergonomia é zero, exigindo apenas conhecimento do projeto e de empenho no estudo
prévio das futuras situações de trabalho e de modificações naqueles aspectos que possam trazer
problemas aos trabalhadores.
3.5 Princípios de biomecânica e sua aplicação em ergonomia
O ser humano, em diversos aspectos, pode ser comparado a uma máquina, e os músculos,
ossos, tendões e ligamentos se constituem nos elementos capazes de fazer essa máquina realizar
movimentos. Muito do conhecimento da ergonomia aplicada ao trabalho advém do estudo da
mecânica da máquina humana. Os engenheiros mecânicos têm desenvolvido estudos analisando
34
as características mecânicas dessa máquina e delas deduzindo uma série de conceitos importantes
na adaptação do trabalho às pessoas.
O ser humano tem pouca capacidade de desenvolver força física no trabalho. O sistema
osteomuscular do ser humano o habilita a desenvolver movimentos de grande velocidade e de
grande amplitude, porém contra pequenas resistências. Essa característica é uma decorrência
direta do tipo de alavanca predominante no sistema osteomuscular.
No corpo humano são encontrados três tipos de alavancas:
- Alavanca de 1º grau ou interfixa, existente especialmente no pescoço e na coluna vertebral.
- Alavanca de grau ou também denominada inter-resistente, ótima para a realização de esforço
físico; praticamente não existe no corpo humano.
- Alavanca interpotente, que é o tipo predominante no corpo humano e na qual a amplitude do
movimento e a velocidade do mesmo são muito grandes, porém nela o esforço que a pessoa é
capaz de fazer é muito pequeno.
Segundo Couto (1995), para um aproveitamento racional do ser humano no trabalho, as
seguintes regras devem ser observadas:
- Nunca usar um esforço excessivo sobre o trabalhador de uma vez. Procurar, ao contrário,
adaptá-lo gradativamente ao esforço exigido na tarefa;
- Praticar a ginástica de aquecimento e de alongamento ao início de jornadas de trabalho, enfocar
especialmente aqueles movimentos que serão mais exigidos durante a atividade;
- Garantir a adaptação do automatismo dos movimentos de esforço gradativo, especialmente em
tarefas que exijam bastante desse automatismo;
- O limite de segurança para algum esforço físico isolado é de 50% da força máxima. Acima
desse valor, aumenta a incidência de distúrbios e lesões. Próximo de 100%, a incidência é
bastante alta e acima de 100% é muita alta;
- Quanto mais freqüente é o esforço, menor é a porcentagem da força máxima que pode ser
usada. Para esforços dinâmicos, se aceita que um valor seguro, mesmo para esforços repetidos
freqüentemente, seja de 1/3 da força máxima do grupamento muscular. No entanto, quando se
35
trata de esforços estáticos, mesmo esforços de 15% da força máxima podem ser problemáticos se
forem de duração prolongada;
- A melhor postura para trabalhar é aquela em que o corpo alterna as diversas posições: sentado,
de pé, andando.
Em seu livro Manual Técnico da Máquina Humana, Couto (1995) cita as situações de
sobrecarga biomecânica abaixo como as mais freqüentes no desempenho do trabalho.
1 Todas as situações em que o trabalhador tenha que exercer grande força física, mesmo entre
aqueles indivíduos dotados de maior capacidade de força muscular. Contar com máquina
humana, fazendo força física, é inadequada e anti-ergonômica. Seus resultados são: desarranjos
biomecânicos diversos, distensões musculoligamentares, compressões de estruturas nervosas e
desinserção da extremidade de fixação do tendão no osso.
2 – Todas as situações de esforço estático no trabalho, a saber:
- Corpo fora do eixo vertical natural;
- Sustentação de cargas pelos membros superiores;
- Postura de pé, parado, durante grande parte da jornada de trabalho;
- Postura de pé, apoiado sobre um dos pés, geralmente associado a ações técnicas de apertar
pedais ou atividades de manutenção onde não existe uma boa base de apoio para os dois pés;
- Trabalhos feitos com braços acima do nível dos ombros;
- Movimentação, manuseio e levantamento de cargas pesadas;
- Pequenas contrações musculares estáticas, como as que geralmente ocorrem ao se trabalhar com
computador;
- Braços suspensos;
- Uso da mão como morsa.
3 – Todas as situações de alavanca biomecânica desfavorável em que, ao fazer um esforço físico,
a distância da potência ao ponto de apoio é muito pequena e a distância da resistência ao ponto de
apoio são muito longas. Por exemplo, levantar um peso distante do corpo: o esforço é feito pelos
36
músculos das costas, que estão muitos próximos do ponto de apoio, e o peso, distante do corpo,
exerce uma sobrecarga maior que o valor nominal do mesmo.
4 Todas as situações de desagregação do esforço muscular, isto é, quando o indivíduo tem que
fazer um esforço lento, sob controle, no sentido contrário ao que seria a ação motora natural. Por
exemplo, colocar uma caixa pesada no chão, de forma lenta.
5 – Todas as situações em que se inicia uma atividade física moderada ou intensa sem o
aquecimento muscular e o alongamento do grupamento muscular envolvido.
6 Todas as situações em que se coloca um trabalhador novo em determinada tarefa de esforços
pouco comuns da vida diária, sem o devido tempo de adequação de seus sculos e
alongamentos.
7 – Todas as situações em que o trabalhador é colocado em atividades laborativas de alta
repetitividade, sem dar o devido tempo para o preparo do automatismo de seus movimentos e
sem o devido preparo no modo operatório quanto à forma de realizar o trabalho.
8 Qualquer situação em que o trabalhador tenha que desempenhar a atividade de pé, parado na
maior parte do tempo, ou com pouca movimentação, com probabilidade de se sentar sempre que
julgar necessário.
9 – Qualquer situação em o trabalhador tenha que ficar sentado durante toda jornada, sem ou com
pouca possibilidade de se levantar periodicamente para movimentar-se.
10 Qualquer situação em que o trabalhador tenha que ficar em posição forçada durante uma
parte significativa da jornada de trabalho, com pouca possibilidade de obter alívio através da
mudança de posição.
Ainda no Manual Técnico da Máquina Humana, Couto (1995) cita as principais
recomendações ergonômicas para utilização correta do corpo humano.
Reduzir o esforço muscular na realização da tarefa
Eliminar o esforço muscular humano de alta intensidade, trocando-o por meios
mecânicos. No caso da persistência de esforços, garantir redução na intensidade dos mesmos,
aumentando o braço de potência e/ou reduzindo o braço de resistência (distância entre o centro de
massa da carga até o ponto de apoio).
37
O tronco deve estar na vertical
Para atender a essa especificação, uma atenção especial deve ser dada à altura dos postos
de trabalho, aplicando-se a seguinte regra:
- Trabalhos pesados: o ponto em que se faz o esforço à altura do púbis do trabalhador permite
que, ao fazer esforços, o indivíduo utilize o peso do corpo.
- Trabalhos moderados: na altura do cotovelo do trabalhador.
- Trabalhos com computador: o teclado deve estar na altura dos cotovelos do trabalhador, estando
os braços na vertical e o monitor de vídeo deve estar na posição horizontal dos olhos para baixo.
- Trabalhos com empenho visual para perto: o plano de trabalho deve estar na altura da linha
mamilar do trabalhador.
- Na medida do possível, dotar os postos de trabalhos com mecanismos de regulagem de altura.
Caso isso o exista, garantir que a altura do posto de trabalho seja adequada ao grande
contingente de trabalhadores, colocando os mecanismos de regulagem para pessoas muito altas e
também para as muito baixas.
- Na dúvida entre instalar o posto de trabalho um pouco mais alto ou um pouco mais baixo,
instalá-lo um pouco mais alto.
Eliminar as situações de contração estática
Atentar para as situações de esforço estático abaixo:
- Apoiar os seguimentos corpóreos para evitar que braços e antebraços trabalhem suspensos.
- Instalar talhas ou trilhos suspensos ou outras formas de apoio, de forma a evitar que os braços
sustentem pesos.
- Instalar equipamentos de movimentação de cargas pesadas.
- Colocar botoeiras ou outra forma de comando para evitar que o corpo trabalhe
permanentemente de pé, apoiando-se apenas em um dos pés.
- Colocar presilhas para evitar que as mãos tenham que fazer a função de morsa.
38
Aquecimento e alongamento
Fazer exercícios de aquecimento e de alongamento ao início da jornada de trabalho ou
imediatamente antes de um esforço muscular significativo.
Quando a atividade for predominantemente estática, como trabalhar por tempos
prolongados ao computador, instituir pausas e, durante as mesmas, instituir ginástica de
distensionamento.
A postura tem sido objeto de estudo desde muito tempo e descrita por muitos autores sob
diferentes contextos. As posturas são utilizadas para realizar atividades com menor gasto
energético, e é através das posições mantidas pelo tronco que se determina a eficiência do
movimento e as sobrecargas impostas à coluna vertebral.
Freqüentemente, a postura é determinada pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho.
Na grande maioria das vezes, principalmente no contexto industrial, a postura de trabalho
preferida é a postura de pé, por dois motivos: primeiro por existir um falso mito de que o
trabalhador rende mais quando está de pé, segundo por existir um total desconhecimento sobre
quão é afetado o rendimento de um trabalhador, caso ele esteja numa postura incorreta.
Smith e Lehmkuhl (1997) definem postura como uma posição, como uma atitude do
corpo, também como a disposição relativa das partes do corpo para uma atividade específica, ou
ainda, como uma maneira de sustentar o próprio corpo.
O corpo pode assumir muitas posturas consideradas confortáveis por longos períodos e
realizar as mesmas tarefas. Quando ocorre um desconforto postural por contração muscular
contínua, tensão ligamentar, compressão ligamentar ou oclusão circulatória, normalmente
procura-se acomodar o corpo em uma nova atitude postural. Quando não se alteram as habituais
posições, podem ocorrer lesões teciduais, limitação de movimentos, deformidade ou
encurtamento muscular, restringindo as atividades da vida diária, sejam elas em postura sentada,
em pé ou deitada.
A grande interação entre as musculaturas estática e dinâmica é evidenciada entre vários
autores, quando se refere a qualquer atividade corporal onde a postura dinâmica está associada à
execução de tarefa numa soma de vários movimentos articulares que permitem realizar as
39
atividades de trabalho, enquanto a postura estática se associa à manutenção do tônus, dando base
necessária à estabilização das estruturas centrais do corpo.
Postura inadequada exigirá maiores forças internas para a execução de uma tarefa, e
postura correta promove boas condições biomecânicas, o que leva a um maior rendimento com
relação à energia localizada. A postura estática exige, geralmente, baixos níveis de tensão
muscular, e o estado prolongado de contração muscular produz compressão dos vasos
sangüíneos, reduzindo o fluxo de sangue e o fornecimento de oxigênio, o que leva ao desconforto
e à dor muscular, provocando fadiga mais rapidamente que numa postura dinâmica.
Bienfait (1995) defende que um corpo está em equilíbrio estável quando uma vertical
traçada a partir do centro de gravidade cai no centro da base de sustentação e que o centro de
gravidade geral é resultante de todos os centros de gravidade segmentares em relação ao peso,
havendo tantos centros de gravidade quantas forem as posições em nossa estática. As curvaturas
vertebrais não são as mesmas para todos os indivíduos diferenciadas principalmente pelas raças,
especialmente as lombares, mais pronunciadas na raça negra do nas da raça branca e na raça
amarela, geralmente ocorrendo o inverso, uma inversão da curvatura lombar.
Sobre a posição de pé, Couto (1995), discorreu assim:
“Os aspectos biomecânicos podem ser” bem entendidos quando verificamos que,
apesar de se apoiar apenas sobre dois pés, e apesar de possuir centro de gravidade mais
elevado que os quadrúpedes, ao ficar de pé sobre dois pés o ser humano consomem
relativamente menos energia que aqueles.
A explicação para este fato está em alguns aspectos de nossa anatomia:
- O arco e o tamanho dos pés;
- O apoio do esqueleto sobre eles;
- As curvaturas da coluna encontram-se encurvadas, e estas curvaturas se
desenvolveram a partir do instante que o ser humano passou a andar sobre os pés.
As curvaturas compensam a tendência de giro das diversas articulações, garantindo
uma neutralização das mesmas e, portanto, pequeno esforço muscular de
compensação.
Um aspecto complementar sobre a boa tolerância do ser humano à posição de pé: uma
vez ter assumido a postura de pé, o indivíduo não precisa mais utilizar suas áreas cerebrais para
manter este estado, pois as áreas inferiores do sistema nervoso central se encarregam deste tipo
de atuação, liberando os centros superiores para as tarefas não posturais associadas ao trabalho.
40
Naturalmente, a posição de pé, parada enquanto posição de trabalho tem alguns
inconvenientes:
- A fadiga dos músculos da panturrilha;
- O aparecimento de varizes, comum em quem tem tendência hereditária e que tem que
trabalhar em algumas destas situações: ficar parado de pé durante a maior parte da
jornada, carregar cargas pesadas e trabalhar em ambientes quentes;
- Agravamento de lesões pré-existentes nos tecidos moles dos membros inferiores.
Trabalhar de pé se constitui a melhor alternativa quando:
- O posto de trabalho não tem espaço para acomodar as pernas do trabalhador;
- Há necessidade de se manusear objetos de peso maior que 3 kg;
- necessidade de o trabalhador se deslocar para frente ou para os lados para pegar
componentes, ferramentas ou dispositivos;
- Quando as operações são fisicamente distintas e requerem movimentação freqüente entre as
estações de trabalho;
- Quando há necessidade de fazer esforço para baixo, por exemplo, ao empacotar.
Grande parte das atividades de trabalho de um indivíduo é realizada na posição sentada.
Esta postura tem sua origem na definição hierárquica de posições sociais, reservadas àqueles de
maior poder.
Historicamente, a literatura relata que no início deste século a postura sentada passou a ser
vista como uma posição de conforto para as atividades, proporcionando bem-estar e melhor
rendimento no trabalho com menor gasto energético. E com o aumento do trabalho sentado,
principalmente nos países industrializados, desenvolveu-se uma maior atenção aos tipos de
assento, o que levou ao desenvolvimento das aplicações médicas e ergonômicas para a
configuração de assentos de trabalho (GRANDJEAN, 1998). O simples fato de sentar coloca a
coluna vertebral numa postura anormal.
Sob o ponto de vista biomecânico, por melhor que seja, a postura sentada impõe carga
significativa sobre os discos intervertebrais, cerca de 50%, principalmente da região lombar, e, se
mantida estaticamente por período prolongado, pode produzir fadiga muscular e,
conseqüentemente, dor. (COUTO, 1995). Devemos lembrar que os discos intervertebrais são
41
estruturas praticamente desprovidos de nutrição sangüínea e que o aumento na sua pressão
interna reduz sua nutrição, promovendo uma degeneração desta estrutura. Seu comprometimento
estrutural é menor que a postura de pé. Grandjean (1998) descreve com clareza que as vantagens
da postura sentada são o alívio dos membros inferiores, baixo consumo energético, menor
sobrecarga ao corpo e alívio à circulação sangüínea. Porém, Grandjean (1998) diz que os
pesquisadores Nachemson e Anderson, demonstram, através de métodos precisos, que na postura
sentada, a mecânica da coluna vertebral é perturbada, produzindo desgastes e, conseqüentemente,
lesões nos discos não intervertebrais, pela pressão que essas estruturas sofrem nesta postura,
principalmente por tempo prolongado.
Outro fator importante no aumento da pressão dos discos intervertebrais descrita por
Couto (1995) é o fato de que a mesma se de maneira assimétrica, onde a porção anterior do
disco se apresenta sob tensão, favorecendo a patologias discais.
Quanto à atividade muscular, os maiores agentes são os músculos da cintura e dos
membros superiores, pois agem para manter a estática da coluna vertebral e em longo prazo
geram dores nestas regiões.
A postura sentada proporciona alívio nos membros inferiores com melhor circulação
sangüínea, posicionamento menos forçado do corpo, menor gasto energético, porém promove
flacidez abdominal.
A posição sentada apresenta vantagens sobre a postura em pé, pois o corpo se apoia em
maior área de superfície, como assento, encosto, braços da cadeira; portanto, é menos cansativa,
porém as atividades que exigem maiores forças são mais bem executadas na postura em pé.
Pesquisa realizada por Anderson e Nachemson (1974), referida por Grandjean (1998),
revelou que a pressão no interior do disco intervertebral na postura sentada é maior do que na
postura em pé, pelos mecanismos de rotação posterior da bacia, endireitamento da região sacral e
retificação da lordose lombar. Uma pressão de 100% sobre os discos intervertebrais na postura
em passa a 140% na postura sentada e a 190% na postura sentada com inclinação do tronco
para frente. Na figura abaixo estão demonstradas as medidas de pressão intradiscal nas posturas
em pé e sentada, sem encosto.
42
Figura1: Medidas de pressão discal nas posturas de pé e sentada.
Fonte: Chaffin, 2001 – Adaptado de Andersson et al., 1974
A utilização de apoio dos braços, principalmente sobre a mesa de trabalho, é outro fator
importante na redução da pressão dos discos intervertebrais lombares por redução dos momentos
de força sobre a coluna.
Segundo Couto (1995), trabalhar sentado constitui a melhor situação, quando:
- A atividade exige precisão de movimentos;
- Quando não existem as situações indicadas para a posição de pé;
- Todos os itens necessários ao ciclo de trabalho podem ser fornecidos facilmente e manuseados
com facilidade dentro dos limites do espaço de trabalho, sem necessidade de se desencostar ou de
movimentar o tronco;
- Todos os itens de trabalho, ferramentas, componentes e dispositivos estão à altura máxima de 6
cm do nível de trabalho;
- Não há necessidade de manusear pesos excessivos (maiores que 3 kg);
- Tarefas que exigem montagens finas e freqüentes;
- Tarefas que exigem escrita freqüente;
43
- Tarefas que envolvem o uso freqüente de máquinas de datilografia ou de computador.
A mudança de postura durante a atividade de trabalho é de grande importância para a
saúde do sistema músculo-esquelético, possibilitando redução de cargas estáticas e variação da
utilização de estruturas articulares e musculares.
Na posição semi-sentada preserva-se a agilidade de ação, muitas vezes fundamental para
quem trabalha em pé, e evita-se a fadiga nos músculos da panturrilha, pois esta posição muda o
eixo de apoio dos membros inferiores, passando o apoio a ser distribuído entre os membros
inferiores e as nádegas.
Segundo Couto (1995), a posição semi-sentada é a mais indicada quando:
- É necessário agilidade para atuação sobre algum controle;
- Para evitar a fadiga, se trabalha de parado durante um grande número de horas (operadores
de máquinas operatrizes, dentistas, cirurgiões, desenhistas, professores, etc.);
- O posto de trabalho exige que se fique parado durante grande parte do tempo.
A postura semi-sentada tem sido proposta para algumas situações de trabalho, porém não
como única alternativa para o trabalhador durante sua jornada de trabalho, pois, não apresenta
conclusões definitivas, podendo ser utilizada apenas por pequenos períodos. (RIO e PIRES,
2001).
Os conceitos relacionados às técnicas de manuseio, levantamento e carregamento de
cargas sofreram mudanças importantes nos últimos tempos, principalmente depois dos modelos
biomecânicos, que demonstraram não haver grande vantagem da chamada “técnica correta”
(pegar agachado e levantar fazendo força com as pernas) sobre a “técnica errada” (pegar a carga
com o tronco encurvado). Verificou-se que a “técnica correta” leva a um cansaço muito maior,
que nem sempre é possível pegar a carga agachando-se, e que a “técnica correta” acarreta
problemas importantes para os joelhos do trabalhador; por isso, atualmente não se fala mais em
uma “técnica corretae uma “técnica errada”; preferimos falar em “limites humanos” e cuidados
fundamentais no levantamento de cargas.
Segundo Couto (2002), as principais recomendações sobre as técnicas de manuseio de
carga são:
Quanto à técnica de manuseio de cargas;
44
1− Não há qualquer problema em levantar cargas do chão agachando e levantando com as cargas
(posição agachada), como também não há problema em levantar fletindo o tronco com as
pernas estendidas (posição fletida), desde que sejam observados os limites de peso e os
cuidados posturais citados em seguida.
2− Para cargas volumosas: utilizar a posição semifletida: dobram-se as pernas certas tanto e
curva-se o tronco certo tanto.
3− Para as peças que possam ser pegas com apenas uma das mãos no interior de caixas ou
caçambas: apoiar um dos braços na borda da caçamba e levantar a outra; isto alivia força de
compressão dos discos da coluna.
Limites de pesos a serem levantados
- Na posição agachada, carga a ser pega do chão: 15 Kg;
- Na posição fletida, carga a ser pega do chão: 18 Kg;
- Em melhores condições: até 23 Kg. Melhores condições, segundo Couto (2002), podem ser
definidas como: carga elevada próxima do corpo, com boa pega, sem rotação lateral do tronco,
pequena distância vertical entre a origem e o destino, menos de uma vez a cada 5 minutos;
- Fora das condições acima: calcular o limite de peso recomendado, utilizando o critério do
NIOSH;
- Quando as cargas mais pesadas (mais de 10Kg) forem elevadas por apenas uma das mãos, a
Clinica Del Lavoro, Itália, sugere multiplicar o valor encontrado pelo critério do NIOSH por 0,6.
Os três cuidados posturais mais importantes:
- Pegar a carga simetricamente, evitando ao máximo qualquer torção da coluna lombar e qualquer
rotação lateral do corpo;
- Aproximar a carga do corpo e elevá-la o mais próximo possível do corpo;
- Evitar movimentos bruscos. Parece que, mesmo sem sustentar carga sobre as mãos, os
movimentos bruscos (em física, causando momento) são transferidos aos segmentos adjacentes,
sendo levados a subluxar uma articulação ou distender um músculo antagonista que tenta frear o
movimento. Quando uma carga é adicionada às mãos, a aceleração tende a ser menor, mas os
momentos podem ser maiores. Até que os limites de força muscular dinâmica sejam mais bem
45
definidos, parece prudente orientar os trabalhadores a desenvolver movimentos mais suaves,
principalmente ao moverem cargas elevadas” CHAFFIN (2001) et al e COUTO (2002).
- Avaliar a real capacidade para levantar aquele peso;
- Antes de pegar um peso, enrijecer a coluna, de forma a colocar os músculos em condições
prévias de boa capacidade para realizar o esforço a que se propõe;
- Preferir pegar um peso de cada lado do corpo ao peso de um lado só preferível pegar e
carregar duas mala mais pesado a apenas uma);
- Somente utilizar a técnica agachada quando a carga for compacta e caiba entre os joelhos; a
manobra de passar uma carga pesada e volumosa na frente dos joelhos na posição agachada é
extremamente perigosa para a coluna e os joelhos;
- Desobstruir o acesso à carga a ser levantada, de forma a evitar flexões e torções da coluna;
- Ao pegar uma carga mais pesada, respirar fundo e prender a respiração (este aumento adicional
de pressão ao tórax diminui a pressão nos discos da coluna);
- Certificar-se das condições do piso, a fim de evitar tropeções e escorregões enquanto transporta
a carga.
Cuidados no transporte de cargas
- Nunca carregar cargas na bacia, pois isso leva à degeneração dos discos da coluna cervical, com
tendência aumentada de lesões bom lembrar que nesta região os espaços intervertebrais são
muito estreitos, e o carregamento de cargas na cabeça pode reduzi-los ainda mais);
- Ao carregar uma carga, procurar dividi-la em duas partes equivalentes, carregando com alça
uma de cada lado do corpo. Caso não seja possível, carregar a carga bem junto do corpo, de
preferência encostada na roupa de trabalho. Uma técnica útil é utilizar o cinto como suporte, a
fim de reduzir o peso que se está firmando;
- Na medida do possível deve-se carregar a carga com os membros superiores estendidos para
baixo, junto do corpo, evitando-se fletir o antebraço sobre o braço;
- Outra medida importante é o uso de correias-cinturões, principalmente no transporte de móveis.
controvérsias quanto ao uso de cintas lombares, sendo que ainda não se tem um estudo
definitivo sobre o assunto;
- Evitar carregar mais de 30Kg.
46
Treinamento e orientações sobre levantamento de cargas
Segundo Couto (2002), é de suma importância que se adotem os procedimentos abaixo
quanto ao treinamento e orientações dos trabalhadores sobre o transporte e levantamento de
cargas:
- As recomendações ao trabalhador acima relacionadas são importantes, mas provavelmente tão
importante quanto se ir até o local de trabalho e avaliar exatamente o tipo de serviço que o
operário fará e dar orientações específicas, sobre como manusear aquele tipo de carga.
- Idealmente a empresa deveria ter ajuda de um fisioterapeuta ou de um professor de educação
física para estudar o tipo de exigência muscular de cada tarefa e programar um reforço muscular
específico para os trabalhadores daquela função.
- Empregados novos requerem mais tempo para o treinamento e não se deve esperar que eles
tenham um ritmo rápido desde o início. Deve-se permitir um aumento gradativo no seu ritmo,
especialmente se a tarefa for repetitiva. Freqüente revisão das técnicas e retreinamento, quando
necessário, devem ser estabelecidas como parte do programa preventivo.
A assimilação por parte dos trabalhadores das cnicas de levantamento de cargas é um
tanto demorada, exigindo por parte da supervisão direta o acompanhamento para cumprimento
das orientações. alguns autores que comparam a atividade com uma lição de golfe, ou seja,
são necessárias várias sessões para uma pessoa fazer um giro perfeito; assim no trabalho é
necessário muito treinamento e acompanhamento para um levantamento de cargas perfeito.
3.6 Equação do niosh para levantamento manual de cargas
O National Institute for Occupational Safety and Health NIOSH desenvolveu em 1981
uma equação par a avaliar a manipulação de cargas no trabalho. Sua intenção era criar uma
ferramenta para poder identificar os riscos de lombalgia associados à carga física a que estava
submetido o trabalhador e recomendar um limite de peso adequado a cada questão, de maneira
47
que determinada percentagem da população pudesse realizar a tarefa sem risco elevado de
desenvolver lombalgia. Em 1991, a equação foi revista e novos fatores foram introduzidos: a
manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a freqüência dos levantamentos e a
qualidade da pega. Além disso, discutiram-se as limitações da equação e o uso de um índice para
a identificação de riscos.
Tanto a equação de 1981 como a sua versão modificada em 1991 foi elaborada, levando-
se em conta três critérios: o biomecânico, que limita o estresse na região lombo-sacral, que é o
mais importante em levantamentos pouco freqüentes, mas que requerem um sobre-esforço; o
critério fisiológico, que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a tarefas de caráter
repetitivo; o critério psicofísico, que limita a carga, baseando-se na percepção que o trabalhador
tem da sua própria capacidade, aplicável a todo tipo de tarefa, exceto àquelas em que a freqüência
de levantamento é elevada, ou seja, maior que 6 por minuto.
A revisão da equação, realizada pelo comitê do NIOSH no ano 1994, completa a
descrição do método e as limitações de sua aplicação. De acordo com esta última revisão, a
equação do NIOSH para o levantamento de cargas determina o limite de peso recomendado
(LPR) a partir do quociente de sete fatores, que serão explicados mais adiante, sendo o índice de
risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de peso
recomendado dado, para essas condições concretas de levantamento.
Peso da carga levantada
Índice de risco associado ao levantamento = ____________________
Limite de peso recomendado (LPR)
Equação do NIOSH versão 1994 para determinação do LPR
LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
Onde:
LC = constante de carga
HM = fator de distância horizontal
48
VM = fator de altura
DM = fator de deslocamento vertical
AM = fator de assimetria
FM = fator de freqüência
CM = fator de pega
Os critérios para estabelecer os limites de carga são de caráter biomecânico, fisiológico e
psicofísico.
Ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem momentos
mecânicos na zona da coluna vertebral, concretamente na união dos segmentos vertebrais, que
causam um considerável estresse na região lombar. Das forças de compressão, torção e
cisalhamento a que aparecem considera-se a compressão dos discos como a principal causa de
risco da lombalgia.
Através de modelos biomecânicos e usando dados recolhidos em estudos sobre a
resistência de tais vértebras, chegou-se a considerar uma força de 3,4 kN como força-limite da
compressão para o aparecimento do risco de lombalgia.
Ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstrem que a fadiga aumenta
o risco de danos músculos-esqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levantamentos
repetitivos podem facilmente exceder as capacidades normais de energia do trabalhador,
provocando uma diminuição prematura de sua resistência e um aumento da probabilidade de
lesão.
O comitê do NIOSH, em 1991, compilou alguns limites da capacidade aeróbica máxima
para o cálculo do gasto energético, que são os seguintes:
Em levantamentos repetitivos, a capacidade aeróbica máxima de levantamento será de 9,5
Kcal/min;
Em levantamentos que requeiram erguer os braços acima de 75 cm, a capacidade sede
70% da capacidade aeróbica máxima;
O gasto energético das tarefas de duração de 1 hora, de 1 a 2 horas e de 2 a 8 horas será de
50%, 40% e 30%, respectivamente, da capacidade aeróbica máxima.
O critério psicofísico se baseia em dados sobre a resistência e a capacidade dos
trabalhadores que manipulam cargas com diferentes freqüências e durações. Baseia-se no limite
49
de peso aceitável para uma pessoa trabalhando em condições determinadas e integra o critério
biomecânico e fisiológico, porém tende a sobreestimar a capacidade dos trabalhadores para
tarefas repetitivas de duração prolongada.
Antes de começar a definir os fatores da equação, deve-se definir o que se entende por
localização-padrão de levantamento. Trata-se de uma referência no espaço tridimensional para
avaliar a postura de levantamento.
A distância da pega da carga ao solo é de 75 cm, e a distância horizontal da pega ao ponto
médio entre os tornozelos é de 25 cm. Qualquer desvio em relação a esta referência implica um
afastamento das condições ideais de levantamento.
Figura 2: Estabelecimento da constante de carga
A constante de carga (LC) é o peso máximo recomendado para um levantamento desde a
localização-padrão e em condições ótimas, quer dizer, sem torções do tronco, nem posturas
assimétricas. Fazendo-se um levantamento ocasional, com uma boa pega da carga e levantando a
carga a menos de 25 cm, o valor desta constante foi fixado em 23 Kg, levando-se em conta
critérios biomecânicos e fisiológicos.
Fator de distância horizontal (HM)
50
Estudos biomecânicos e psicofísicos indicam que a força de compressão no disco aumenta
proporcionalmente à distância entre a carga e a coluna. O estresse por compressão que aparece na
zona lombar está, portanto, diretamente relacionado a esta distância horizontal (H em cm), que se
define como a distância horizontal entre a projeção sobre o solo do ponto médio entre as pegas da
carga e a projeção do ponto médio entre os tornozelos. Caso H não possa ser medido, pode-se
obter um valor aproximado mediante a equação:
H = 20 + w/2 se V > 25 cm
H = 25 + w/2 se V < 25 cm
W é a extensão da carga no plano sagital, e V a altura das mãos em relação ao solo. O
fator de distância horizontal (HM) determina-se pela fórmula abaixo:
HM = 25/H.
Fator de altura (VM)
Os levantamentos nos quais as cargas devem ser apanhadas em posição muito baixa ou
demasiadamente elevada penalizam e muito os trabalhadores.
O comitê do NIOSH estabeleceu em 22,5% a diminuição do peso em relação à constante
de carga para o levantamento até o nível dos ombros e para o levantamento a partir do nível do
solo.
Este fator seigual a um quando a carga estiver situada a 75 cm do solo e diminuirá à
medida que nos distanciarmos desse valor.
VM = (1 – 0,003 [V – 75])
V é a distância vertical entre o ponto de pega e o solo. Se V > 175 cm, tomaremos VM =
0.
51
Fator de deslocamento vertical (DM)
Refere-se à diferença entre a altura inicial e final da carga. O comitê estabeleceu em 15%
a diminuição da carga quando o deslocamento se der desde o solo até a altura dos ombros. Segue
a fórmula:
DM = (0,82 + 4,5/D)
D = V1 – V2
V1 é a altura da carga em relação ao solo na origem do movimento, e V2 a altura ao final
do mesmo.
Quando D =< 25 cm, manteremos DM = 1, valor que irá diminuindo à medida que
aumenta a distância de deslocamento, cujo valor máximo aceitável se considera 175cm.
Fator de assimetria
Considera-se como assimétrico um movimento que começa ou termina fora do plano
médio-sagital. Este movimento deverá ser evitado sempre que possível. O ângulo de giro deverá
ser medido na origem do movimento e, se a tarefa requerer um controle significativo da carga,
isto é, se o trabalhador tiver de colocar a carga de uma forma determinada em seu ponto de
destino, também deverá ser medido o ângulo de giro ao final do movimento.
Foi estabelecido que:
AM = 1 – (0,0032A)
O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no
tronco de 90º. Se o ângulo de torção for superior a 135º, o fator de assimetria assumirá valor igual
a zero.
Fator de freqüência (FM)
52
Este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração da tarefa de
levantamento e pela altura dos mesmos.
A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois grupos de dados. Os
levantamentos por minuto foram estudados segundo um critério psicofísico, e os casos de
freqüências inferiores foram determinados por meio das equações de gasto energético.
Quanto à duração da tarefa, considera-se de curta duração quando se trata de uma hora ou
menos de trabalho, de duração moderada quando é de uma a duas horas, e de grande duração
quando é mais de duas horas.
Este fator é determinado pela tabela abaixo:
Quadro 1: Fator de pega (CM)
É obtido segundo a facilidade da pega e a altura vertical de manipulação da carga. Estudos
psicofísicos demonstraram que a capacidade de levantamento seria diminuída por uma pega
da carga, o que implicaria uma redução do peso entre 7% e 11%. Vejamos as tabelas abaixo:
53
Quadro 2: Tipo de carga
Definições:
1. Alça de desenho ótimo: é aquela de longitude maior que 11,5cm, de diâmetro entre 2 e
4 cm, com um espaço de 5 cm para colocar a mão, de forma cilíndrica e de superfície
suave, porém não-escorregadia.
2. Apoio perfurado de desenho ótimo: é aquele de longitude maior que 11,5cm, largura
maior que 4 cm, espaço superior a 5 cm, com uma espessura maior que 0,6cm na zona
de pega e de superfície não-rugosa.
54
3. Recipiente de desenho ótimo: é aquele de longitude maior que 11,5cm, largura maior
que 4cm, espaço superior a 5cm, com uma espessura maior que 0,6cm na zona de
pega e de superfície não-rugosa.
4. A pega da carga deve ser tal que a palma da mão fique flexionada em 90º; no caso de
uma caixa deve ser possível colocar os dedos na base da mesma.
5. Recipiente de desenho sub-ótimo: é aquele cujas dimensões não se ajustam às
descritas no ponto três, ou sua superfície é rugosa ou escorregadia, seu centro de
gravidade é assimétrico, possui bordas afiladas, seu manejo implica o uso de luvas ou
seu conteúdo é instável.
6. Peça solta de fácil pega: é aquela que permite ser comodamente abarcada com a mão
sem provocar desvios do punho e sem precisar de uma força de pega excessiva.
A equação NIOSH é baseada no conceito de que o risco de lombalgia aumenta com a
demanda de levantamentos da tarefa.
O índice de levantamento que é proposto por ela é o quociente entre o peso da carga
levantada e o peso da carga recomendada segundo a equação do NIOSH.
A função risco não está definida, razão pela qual não é possível quantificar de maneira
precisa o grau de risco associado aos incrementos do índice de levantamento. No entanto, podem
ser consideradas três zonas de risco segundo os valores do índice de levantamento obtidos para a
tarefa:
1 – Risco limitado – índice de levantamento < 1: a maioria dos trabalhadores que realizam
este tipo de tarefa não deverá ter problemas.
2 Aumento moderado do risco índice de levantamento maior que um e menor que 3:
alguns trabalhadores podem adoecer ou sofrer lesões se realizam essas tarefas. As tarefas desse
tipo devem ser redesenhadas ou atribuídas apenas a trabalhadores selecionados que serão
submetidos a controle.
3 – Aumentos elevado de risco – índice de levantamento maior que três: este tipo de tarefa
é inaceitável do ponto de vista ergonômico e deve ser modificada urgentemente.
55
4. METODOLOGIA
4.1 Caracterização da pesquisa
O estudo consiste em um estudo de caso com abordagem qualitativa. Teve como
ambiente de estudo uma empresa do interior do estado, que faz parte do trabalho de exportação
do país, uma unidade de referência na cidade de Sobral. Os participantes da pesquisa foram
trabalhadores de uma unidade da empresa, como líder, abastecedor, pesador de cargas e
estoquista, selecionadas pelo cadastro da Empresa, independentemente de raça, cor e religião, e
que estejam com boas condições físicas e emocionais para responder a entrevista. Os dados
foram coletados por meio dos instrumentos de fotografia e entrevista semi-estruturas, no período
de março a maio de 2006. Os resultados foram organizados em categorias de fotos com
caracterização dos participantes. E respeitando os aspectos éticos que envolvem pesquisas com
seres humanos de acordo com resolução 196/96.
4.2 Estrutura metodólogica dos estudos ergonômicos
Foi seguida a seqüência abaixo para realizar os estudos ergonômicos nos postos de
trabalho do setor de pesagem da unidade 4 da Grendene S/A. O trabalho foi realizado na área de
Pesagem da Fábrica de compostagem de PVC da Grendene S/A. Este setor caracteriza-se pelo
sistema de produção taylorista-fordista e tem como principal função a preparação de aditivos que,
incorporados aos compostos de PVC, determinam suas características. Seu horário de
funcionamento é somente no turno, ou seja, das 06h00minhs às 14h20minhs, de segunda a
sábado, com uma hora de intervalo para almoço, totalizando mais de 7 horas de jornada. No setor
trabalham 06(seis) pesadores de carga, 02(dois) abastecedores, 01(um) estoquista e 01(um)
encarregado. O objeto de estudo foi, principalmente, a função Pesador de Carga, por ser a função
onde mais se têm observado reclamações e onde facilmente se visualizam condições inadequadas
para o desempenho da tarefa.
Na função Pesador várias são as reclamações pelo exercício da atividade; a
indisponibilidade para hora-extra é uma realidade. A empresa tem oscilações nos volumes de
produção devido à sazonalidade na venda de calçados, e isto reflete diretamente na produção de
56
PVC. No setor de Pesagem existem dois colaboradores praticando hidroginástica por orientação
médica, sendo muito comuns às reclamações de dores nas costas.
Além do pesador de cargas existem outras funções que são exercidas naquele setor; são
elas: abastecedor, estoquista e líder.
4.3 Análise biomecânica dos postos de trabalho
Sob o ponto de vista biomecânico, foram analisados todos os elementos que compunham
as atividades. Este exercício se repetiu em cada função existente no setor e enfocou o movimento,
a freqüência, o tempo e as posturas praticadas durante o trabalho. Foram utilizadas fotos,
filmagens, observações sistemáticas para cada atividade desenvolvida pelos trabalhadores.
Também foi realizado um levantamento do perfil da população, englobando amostra de
100%, com o objetivo de encontrar o perfil antropométrico existente no setor e verificar se a
estrutura do layout do posto de trabalho condizia com os padrões antropométrico dos
funcionários, analisando desde a bancada até as ferramentas utilizadas.
4.4 Verificação de risco ergonômico
Diante das situações encontradas foi utilizada a equação do NIOSH para levantamento
manual de cargas como recurso e instrumento comprovador da necessidade, ou não de
intervenção ergonômica.
4.5 Propostas de medidas de controle
Finalmente, depois da análise biomecânica e do uso da equação do NIOSH para
levantamento manual de cargas, foram levantadas propostas de medidas de controle para as
atividades que se mostraram inadequadas do ponto de vista biomecânico. Novamente foi utilizada
a equação do NIOSH para respaldar ou não as intervenções sugeridas.
57
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Contextualização da empresa
5.1.1 Histórico da empresa
58
Com um capital de 120 mil cruzeiros, 2 máquinas injetoras de plásticos e 15 empregados
foi constituída em 1971, pelos irmãos Pedro e Alexandre Grendene Bartelle, a Plásticos Grendene
Ltda., na cidade de Farroupilha, RS.
Na época, as atividades da pequena indústria orientavam-se para a fabricação de
embalagens plásticas para garrafões de vinho, uma inovação introduzida num mercado que até
então só produzia embalagens em vime. Era o princípio da utilização do plástico.
Ainda em 1975, a empresa amplia seu leque de atividades e inicia a fabricação de peças
de plásticos para máquinas e implementos agrícolas, tornando-se fornecedora de componentes
para calçados, como saltos, solas e cepas de nylon. Novamente, a Grendene é pioneira em lançar
o nylon como matéria-prima para calçados.
Daí para frente foi um passo natural para que a empresa, que já fabricava 70% dos
componentes para calçados, tentasse um lançamento próprio. Contemplando o plástico mais uma
vez, a Grendene lança em 1978 a primeira sandália plástica, chamada Nuar.
Com o aperfeiçoamento de seu parque fabril e incorporando referências de grandes
centros de moda como Paris e Nova Iorque, as sandálias plásticas estouravam nas vitrines. Em
1980, a Grendene chega a Melissa, e com ela ao seu grande salto para o sucesso.
Em 1986 a Grendene outro grande salto com o lançamento da sandália Rider, marca
que até hoje é referência, mantendo-se firme e forte nas prateleiras das lojas. Entre 1987 e 1988, a
Grendene aprimora a marca Rider com a introdução da tecnologia do PVC Expandido, que
proporciona ao calçado maior leveza e, conseqüentemente, mais conforto. A marca Rider sempre
esteve associada a um forte marketing, usando como garotos-propaganda personagens que
estavam em evidência. Isto, sem dúvida, foi outro fator de sucesso para consolidação da marca.
Em 1991 a Grendene para manter a característica do pioneirismo, resolve instalar uma
unidade produtiva na região Nordeste. Através de incentivos fiscais e depois de rias
negociações com o governo do Estado do Ceará, a cidade escolhida foi Fortaleza. Aos poucos a
direção da empresa foi percebendo que a qualidade dos produtos fabricados no Nordeste era
muito boa. Além dos incentivos havia uma grande oferta de mão-de-obra e, melhor, barata.
Em 1993 foi decidido pela instalação de outra unidade produtiva no Ceará; mas desta vez,
a cidade escolhida foi Sobral, situada a 220 km da capital. O mesmo desempenho de Fortaleza foi
observado em Sobral, em 1995 iniciando-se a construção da segunda unidade produtiva. E depois
disso não parou mais. Em 1997, a direção decidiu transferir todo o parque industrial para Sobral,
59
ficando no Rio Grande do Sul apenas a parte administrativa e o desenvolvimento de novos
modelos. Hoje, Sobral é responsável por 88% de toda a produção da Grendene.
Durante este período várias modelos foram lançados, destacando-se as marcas Grendha e
Ipanema, novos segmentos incorporados ao seu mix de mercado.
Recentemente, a Grendene abriu seu capital, mas colocou no mercado apenas 20% de suas
ações. Atualmente tem uma produção anual de 120 milhões de pares e projeta crescimento de 5%
para o próximo ano. Estão sendo feitas ampliações em seus galpões fabris e está sendo construída
uma unidade produtiva no interior do Estado da Bahia.
5.1.2 Situação atual da empresa
Recentemente foi publicada uma reportagem na revista Época, edição 339, sobre a
abertura do capital da Grendene S/A. Acha importante, em nível de contextualização, transcrever
a reportagem da jornalista Patrícia Cansado, que, além de ser muito atual, traz dados importantes
sobre o faturamento do Grupo Grendene:
“No ritmo atual de negociação, os irmãos gêmeos Pedro e Alexandre Grendene
não terão dificuldade para captar os mais de R$ 500 milhões em ações lançadas em outubro na
Bolsa de Valores de São Paulo”. E há um detalhe importante neste caso: o dinheiro não vai para a
Grendene, mas para o bolso dos donos, que vendem um pedaço do controle da empresa. A
Grendene não vai entesourar o dinheiro porque não precisa de caixa: "Ela cresce todo ano e
nunca deu prejuízo", diz Alexandre Grendene, empresário gaúcho que fundou, com o irmão
Pedro e o avô, o que hoje é o maior fabricante de calçados do Brasil. Eles possuem 12 fábricas,
produzem 121 milhões de pares e ostentam faturamento de R$ 1,1 bilhão em 2003. O que será
feito, então, com meio bilhão de reais? Os irmãos vão continuar engordando um império que
cresce em silêncio à margem da Grendene.
Pedro e Alexandre são donos da Vulcabrás, fabricante de tênis e sapatos, têm uma usina
de álcool, uma das maiores e mais importantes fazendas de gado nelore do Brasil e duas fábricas
de móveis no Rio Grande do Sul. Juntas, essas empresas já conseguem um faturamento
semelhante ao da famosa fabricante de sandálias de plástico. Isso significa, incluindo a Grendene,
um conglomerado de quase R$ 2 bilhões por ano. Desde que os donos deixaram o dia-a-dia da
Grendene na mão de profissionais há cinco anos, passaram a se dedicar mais aos negócios
60
paralelos. Agora, com a abertura de capital da companhia na Bovespa, isso vai ficar ainda mais
fácil - daqui em diante, os irmãos só farão parte do conselho de administração.
A família está levando para as novas empresas a fórmula que deu certo na Grendene.
Pedro e Alexandre tinham 21 anos quando compraram uma fábrica de embalagens plásticas em
Farroupilha, Rio Grande do Sul. Em pouco mais de 30 anos transformaram o pequeno negócio
numa das maiores potências do ramo no mundo. A companhia cresce cerca de 25% ao ano, é
responsável por 15% das exportações brasileiras de calçados, tem 18% de participação no
mercado interno e é dona de marcas consagradas, como Rider e Melissa. Uma das explicações
para o sucesso da empresa pode estar na personalidade dos fundadores. "Os dois se
complementam muito. Alexandre é o homem conceituador das sacadas. Já Pedro tem uma cultura
de indústria muito forte", diz o publicitário Washington Olivetto, responsável pelas campanhas da
Grendene há mais de 20 anos.
Em função dessas diferenças, os dois acabaram se dividindo nos novos negócios. Pedro,
como gosta de chão de fábrica, cuidam exclusivamente da Vulcabrás, um negócio de mais de R$
200 milhões por ano, que fabrica botas de borracha e PVC, tênis Ked's e Reebok. Ele hoje está à
frente de um processo de modernização iniciado em 2003, quando os tradicionais sapatos 752
foram aposentados. A Vulcabrás cansou de fabricarem calçados simples e baratos. Quer agora
investir em alta tecnologia. O foco é a marca Reebok, principal negócio para o grupo. Pedro
conhece bem essa história: a Grendene passou pelo mesmo processo no passado. Graças a
investimentos em alta tecnologia, design e marketing, hoje ela vende sandália de plástico por R$
80.
Mais ousado e aventureiro que o irmão gêmeo, Alexandre preferiu apostar em áreas que
consideravam promissoras, mesmo que não entendesse do assunto. Colocou seu dinheiro em
fábricas de móveis, usinas de álcool e na criação de gado nelore. Em geral, ele se associa a
alguém do ramo ou contrata um bom gestor e participa das decisões estratégicas. O caso da
Benalcool é exemplar. Na década de 80, Alexandre tinha participação numa pequena usina de
álcool e açúcar no interior de São Paulo. No auge da crise do setor, no fim dos anos 90, os sócios
abandonaram o negócio. Ele ficou e ofereceu 65% da companhia ao Grupo José Pessoa, hoje um
dos maiores produtores de açúcar e álcool do país. "Alexandre não entendia nada do assunto, mas
foi buscar alguém que conhecesse melhor o ramo", diz o usineiro José Pessoa. "Ele foi visionário,
fez bem em continuar." De 2000 para cá, a produção da usina saltou de 640.000 toneladas para
61
1,5 milhões de toneladas de cana por ano. O grupo deverá fechar 2004 com um faturamento de
R$ 110 milhões. A Benalcool hoje é considerada uma usina de médio porte, que exporta mais da
metade de sua produção e emprega mais de duas mil pessoas.
Colocar gente de fora da família no comando é uma marca dos Grendenes. Segundo eles,
esse modelo de gestão é parte importante da fórmula que consagrou a fabricante de sandálias de
plástico. Apesar de ser originalmente familiar e estar muito associada à figura dos donos, a
Grendene tem uma gestão profissionalizada. "Os Grendenes são diferentes da maioria dos
empresários do Sul. A região tem uma cultura empreendedora forte, mas o modelo de gestão é
geralmente familiar", afirma Rodolfo Maggi, diretor do Centro Empresarial de Caxias do Sul,
ligado à Fundação Getúlio Vargas.
Todos os outros negócios também vêm crescendo graças a uma combinação de
tecnologia, design e investimento pesado em marketing. A Dell Anno está repetindo, no ramo de
móveis, o mesmo caminho percorrido no universo de sandálias. A empresa reserva 4% de seu
faturamento, que é de R$ 150 milhões, para ações de marketing. Desde que a família assumiu a
Dell Anno, 20 anos, a fábrica de móveis dobrou de tamanho e teve sua produção multiplicada
por seis. "A Dell Anno não deve nada às fábricas da Europa. Eles contam com muita tecnologia e
um design arrojado", diz Domingos Sávio Rigoni, presidente da Associação Brasileira das
Indústrias do Mobiliário.
Nas fazendas dos Grendenes é a mesma coisa. A Agropecuária Jacarezinho, a maior de
São Paulo em área, virou referência em programas de melhoramento genético das raças nelore e
braford. Além de faturar com o cultivo de cana-de-açúcar e venda de animais para frigoríficos, a
família ganha cada vez mais dinheiro com sêmen. O preço médio de uma dose de sêmen no
Brasil é de R$ 9. Na Jacarezinho pode chegar a R$ 42. O que até há bem pouco tempo não
passava de um dos hobbies dos irmãos hoje é encarado como um negócio e tanto. Pelo menos um
terço do faturamento da pecuária vira lucro. Até em marketing eles pensam. A Jacarezinho
investe atualmente entre 4% e 5% de seu faturamento em divulgação. Isso significa uma verba
anual de R$ 1,7 milhão. Mas dinheiro não é problema para os irmãos. Foram eles que compraram
em sociedade com o empresário João Carlos Di Gênio, dono do Grupo Objetivo, a vaca mais cara
do Brasil. Os três desembolsaram R$ 2,2 milhões para ter direito a 50% do animal. Antes mesmo
que os leilões virassem programas de celebridade, os Grendenes promoviam festas
62
glamourosas para vender seus animais. Há três anos, eles chegaram a fretar jatos para transportar
os convidados de São Paulo para Araçatuba, região onde fica a fazenda.
Chegados a badalações, os Grendenes fazem o tipo bon vivant. Pedro é pai de quatro
filhos e foi casado quatro vezes. Alexandre tem sete filhos e está com a sétima mulher. São
figuras carimbadas nas colunas sociais de todo o país. Esse estilo vistoso, porém, já causou dores
de cabeça e arrebanhou desafetos. "Eles foram investigados por sonegar impostos e nem por isso
deixam de ostentar. Pagam pensões milionárias para as ex-mulheres, o festas extravagantes",
diz Celso Três, procurador da República que moveu ação contra os empresários, acusando-os de
sonegar mais de R$ 7 milhões em impostos. Os irmãos foram absolvidos do crime pela Receita
Federal. Mas, mesmo assim, os adversários não descansam: "O pior é que o episódio não afetou
em nada a imagem da empresa. Eles são muito bons de marketing", resmunga o procurador.
Da sandália ao nelore: Os principais negócios da família no Brasil
Grendene
: Um dos principais fabricantes de calçados sintéticos do
mundo, a Grendene faturou R$ 1,1 bilhão em 2003. Dona das marcas Rider e
países e é responsável por 15% das
vendas brasileiras de calçados para o exterior.
Vulcabrás/Reebok
: Adquirida por Pedro Grendene em 1988, a
Vulcabrás fabrica botas de borracha e PVC, tênis Ked's e Reebok
-
possui a
licença de produção e distribuição do
s produtos da grife americana no Brasil e
na Argentina. O faturamento da empresa é superior a R$ 200 milhões por ano.
Única Móveis
: Produz veis com as marcas Dell Anno (cozinhas e
quartos planejados) e Favorita. A previsão é que a empresa feche o ano c
om
vendas de R$ 150 milhões. As fábricas da Única têm 26.500 metros quadrados
e 350 funcionários. Só a Dell Anno produz 4.600 cozinhas por mês.
Agropecuária Jacarezinho
: É a maior fazenda do Estado de São
Paulo. Dedica
-se ao cultivo de cana-de-açúcar e à pecuária de corte -
são 28
mil cabeças de bois. O faturamento da Jacarezinho foi de cerca de R$ 34
milhões em 2003. A fazenda abate 4.500 animais por ano.
Benalcool
: Alexandre é sócio (com 35%) do Grupo José Pessoa (com
65%) em uma usina de álcool e açú
car no interior de São Paulo. A Benalcool
mói 1,5 milhão de toneladas de cana, fatura R$ 110 milhões por ano e
63
emprega mais de 2 mil funcionários.”
Quadro 3: Funcionários
5.1.3 Contextualização da Unidade 4
A Unidade 4, também conhecida como Fábrica de Compostos de PVC, será o cenário do
nosso estudo de caso. O PVC é a principal matéria-prima de trabalho da Indústria de Calçados
Grendene, estando presente em todos os calçados produzidos.
É a fábrica que está na base da cadeia produtiva do complexo da Grendene, conforme
fluxo abaixo:
Figura 3: Fábricas
Seu processo produtivo caracteriza-se por um elevado grau de automação; no entanto, as
atividades não automatizadas são bastante desgastantes. Sua planta foi construída aproveitando o
desnível do terreno, evitando com isso o trabalho de transporte mecânico ou braçal, utilizando a
força da gravidade. É uma fábrica que ocupa um pequeno contingente de mão-de-obra. São
apenas 150 pessoas distribuídas em quatro turnos.
Turno 01: 06h00minhs às 14h20minhs
Turno 02: 14h20minhs às 22h35minhs
Turno 03: 22h35minhs às 06h00min hs do dia seguinte
Turno Comercial: 07h30minhs às 17:18hs
Destas 150 pessoas apenas 105 estão diretamente na produção; os demais estão
distribuídos em setores de apoio como Almoxarifado, Manutenção, Laboratório, PCP, Expedição
e Métodos e processos.
A produção de compostos de PVC se assemelha à preparação de um bolo, onde temos o
principal ingrediente, que seria a Farinha de Trigo, no nosso caso, a Resina, que é o Policloreto
Fábrica de
compostos
de PVC
Fábrica de
componentes
de PVC
Tratamento
de Superfície
das Solas
Montagem dos
Componentes e
Solas
Fábrica de
solas de PVC
Embalage
m e
Expedição
64
de Vinila, propriamente dito. Temos, ainda, o leite que define a consistência do bolo, onde neste
caso comparamos aos óleos plastificantes que, misturados à Resina, definem a dureza do
composto de PVC. Uma série de outros ingredientes confere ao bolo características específicas,
tal como aditivos conferem características específicas aos Compostos de PVC.
O layout ou fluxograma de produção de compostos de PVC obedecem a seguinte
seqüência:
Figura 4: Setores das fábricas
Cada setor tem a seguinte função:
= Almoxarifado - Recebe, cataloga, estoca e entrega as matérias-primas.
= Laboratório - Analisa as matérias-primas, liberando ou reprovando sua utilização.
= Pesagem - Prepara os aditivos em quantidades exatas para serem adicionados aos
compostos de PVC.
= Mistura - Mistura a resina, óleos plastificantes e aditivos.
= Extrusão - plastifica a mistura através da exposição à temperatura.
= Ensacamento - Embala os compostos em sacos de papel.
= Expedição - Direciona os compostos de PVC para as fábricas destino.
5.1.4 Histórico da Unidade 4
Em 1991, a Grendene inicia sua política de instalação de unidades produtivas no
Nordeste, sendo primeiro em Fortaleza. Em 1993 a Grendene instala uma fábrica em Sobral,
interior do Ceará, em 1995 instala mais uma. Dem diante motivada pela política de incentivos
fiscais, não parou mais de investir em Sobral, chegando a transferir praticamente todo seu parque
industrial. Farroupilha ficou apenas com o setor de desenvolvimento e administrativo.
Desde 1994 a Grendene, ainda instalada em Farroupilha, iniciou a produção de compostos
de PVC com uma extrusora e um misturador. Naquela época, a Grendene não pensava em ser
auto-suficiente em PVC, queria apenas disponibilizar estes equipamentos para testes e
Almoxarifado
Laboratório
Mistura Extrusão Pesagem
Ensacamen
to e
Expedição
65
desenvolvimentos de novos compostos. Pouco a pouco a atividade foi tomando forma e se
mostrando altamente viável. A estrutura ano a ano foi aumentando.
A Fábrica de compostos de PVC instalou-se em Sobral em 1998. Logo no início de sua
instalação, a capacidade produtiva era suficiente apenas para atender à metade da demanda da
Grendene. O restante era fornecido por terceiros. Com o passar dos meses começou-se a observar
a qualidade dos compostos, sendo que o composto “de casa” era de qualidade superior à do
fornecedor externo.
Foi observada também a agilidade na solução de problemas na injeção, como também, as
vantagens e velocidade no desenvolvimento de compostos para atender às novas necessidades do
processo de produção de calçados.
Em 2000, a Grendene tornava-se auto-suficiente na produção de compostos de PVC.
Depois disso, a capacidade produtiva da Unidade 4 foi aumentando de forma sincronizada ao
crescimento da produção de calçados.
5.1.5 Estrutura atual da Unidade 4
Atualmente, a Unidade 4 possui capacidade instalada para 200 tons/dia e atende a toda a
Grendene, incluindo Farroupilha (RS) e Crato (CE), onde também existem unidades produtivas
de injeção de calçados.
5.1.6 Organograma da empresa
66
G re n d e n e S /A
G re n d e n e F a rro u p ilh a
U n id a d e 7 U n id a d e 6 U n id a d e 1
U n id a d e 5 U n id a d e 2
G re n d e n e F o r ta le z a
G r e n d e n e S o b ra l
U n id a d e 4 U n id a d e 3
G re n d e n e C r a to
G re n d e n e S o b ra l
G re n d e n e F a rro u p ilh a
G re n d e n e F o rta le z a
G re n d e n e C r a to
5:
Número de fábricas
5.1.7 Localização do setor de pesagem no processo de produção de PVC
Processo produtivo de compostos de PVC
Almoxarifado Pesagem Mistura Extrusão Ensacamento Expedição
Figura 6: Processo produtivo de compostos de PVC
5.1.8 Fluxo de atividades no setor
O setor tem o seguinte fluxo de atividades: Uma vez recebida a programação, o líder do
setor distribui as funções e orienta o posicionamento de cada colaborador; os pesadores recebem
uma ficha técnica, como também a orientação da posição a ser ocupada conforme o sistema de
trabalho de cada composto. Daí têm o início das atividades, onde a função principal é a
preparação de cargas para os compostos de PVC, que consiste basicamente em locar dentro de
67
um saco plástico as matérias-primas que constam na ficha técnica, observando rigorosamente as
quantidades especificadas; os pesadores solicitam aos abastecedores as matérias-primas que serão
utilizadas; os abastecedores, por sua vez, têm como procedimento deixar os carrinhos e os
contentores, que ficam no próprio posto do pesador, já abastecidos no dia anterior, com o
objetivo de não comprometer nem retardar o início das atividades; além disso, os abastecedores
têm de cuidar para manter sempre cheios os contentores de matéria-prima dos pesadores. O
estoquista, por sua vez, abastece caixas vazias e retira as caixas com cargas preparadas pelos
pesadores e as direciona para o layout de cargas prontas, observando a célula de destino e a
identificação das caixas; antes de colocá-la no layout, o estoquista “lê” as etiquetas de leitura
óptica. O líder, além de ter de acompanhar o desempenho de todos os colaboradores no setor, tem
como tarefa colar a etiqueta de leitura óptica em cada caixa de carga pesada; esta atividade foi
delegada ao líder pela alta importância e atenção que deve existir, já que, depois de lida a
etiqueta, a informação alimenta o sistema informatizado interno da Grendene, o mesmo
computando o número de cargas preparadas; estas informações serão utilizadas para produção de
compostos na seqüência do processo produtivo. Ao fim do dia são conferidas as quantidades de
cargas existentes no físico com o número de cargas que aparecem no sistema.
5.1.9 Descrição das atividades no setor de Pesagem
Como citamos anteriormente, o setor de pesagem possui as seguintes funções: líder,
abastecedor, pesador de cargas e estoquista. Segue abaixo a descrição de cada uma delas.
Atividades do líder
- Receber a programação de cargas a serem pesadas;
- Definir quais os sistemas de produção têm de ser montados para preparação das cargas dos
compostos solicitados;
- Orientar os colaboradores a dirigirem-se aos seus postos de trabalho;
- Acompanhar a execução do trabalho por cada colaborador.
- Colar as etiquetas de leitura óptica nas caixas dos respectivos compostos à medida que o
Pesador vai preparando as cargas e colocando-as nas caixas plásticas.
68
Descrição das Atividades do Líder
PREP
ARO
* Ao chegar no setor verificar se o mesmo está organizado,
limpo e se dispõe dos materiais necessários para realização do
trabalho por seus colaboradores;
* Ter em mãos a programação de cargas a serem pesadas.
* Definir quais os sistemas de produção têm de ser montados
para preparação das cargas dos compostos solicitados.
ORIE
NTAÇ
ÃO
AOS
FUNC
IONÁ
RIOS
*Orientar os colaboradores a se dirigirem aos seus postos de
trabalho, repassando para eles o que pede a programação e
instruindo-os a procurá-lo no caso de dúvida.
OBSE
RVA
ÇÃO
NA
EXEC
UÇÃ
O
DE
PESA
GEM
*Acompanhar e avaliar a execução do trabalho por cada
colaborador.
ETIQ
UETA
GEM
DAS
CAIX
AS
*À medida que o pesador de cargas vai preparando as cargas e
colocando-as em caixas plásticas, colar as etiquetas de leitura
óptica nos respectivos compostos.
Obs.: Entre outras tarefas é de sua responsabilidade administrar conflitos entre funcionários e
estar totalmente comprometido com o desempenho do setor. Deve sempre buscar melhorias para
seu setor. É encarregado de entregar as folhas de pagamento de seus colaboradores, conferir e
auxiliar nas limpezas e, ao final do turno, verificar se as anotações feitas pelo seu Estoquista
estão corretas.
69
Análise Ergonômica das Atividades do Líder
PREP
ARO
Nenhum risco ergonômico encontrado, apenas um pouco de
stress cognitivo.
ORIE
NTAÇ
ÃO
AOS
FUNC
IONÁ
RIOS
A atividade de orientação também não apresenta nenhum risco
ergonômico; apenas na atividade cognitiva, ou seja, no estar
atento para ver o que foi orientado e o que está sendo feito.
OBSE
RVA
ÇÃO
NA
EXEC
UÇÃ
O
DE
PESA
GEM
Nenhum risco ergonômico encontrado; apenas uma leve
acentuação da posição de pé e a impossibilidade de alternância
de postura, risco amenizado pela constante movimentação no
setor.
ETIQ
UETA
GEM
DAS
CAIX
AS
Na etiquetagem das caixas existem algumas situações
incorretas do ponto de vista ergonômico; coluna fletida,
desagregação do esforço muscular e necessidade de acuidade
visual causada pelas pequenas descrições nas etiquetas.
Estas situações são aliviadas pela freqüência com que esta
tarefa é feita com espaçamento de 20 minutos em média e
duração de 30 segundos.
Conclusão: atividade com baixíssimo risco ergonômico.
Atividades do abastecedor
70
- Verificar os níveis dos contentores de matéria-prima que estão posicionados no posto de
trabalho do Pesador;
- Manter os contentores sempre cheios;
- Encher os carrinhos transportadores com as matérias-primas de maior volume;
- Transportar os carrinhos até o posto do Pesador de Carga;
- Observar e repetir estas atividades enquanto o Pesador estiver trabalhando.
Descrição das Atividades do Abastecedor
PRPER
AÇÃO
* Verificar que matérias-primas serão utilizadas pelos
pesadores. Em seguida, verificar o nível dos contentores
que estão posicionados no posto de trabalho do pesador.
ABAST
ECIME
NTO
CONTE
NTOR
PEQUE
NOS
VOLU
MES
* Direcionar-se ao estoque das matérias-primas,
identificar o material, retirar o produto da embalagem
onde é armazenado e colocar nos carrinhos. Em seguida,
iniciar o abastecimento.
ABAST
ECIME
NTO
CONT
ENTO
R
GRAN
DES
VOLU
MES
*Nas matérias-
primas de maior volume, o abastecedor terá
que dirigir-se até a torre do descarregamento de big-
bag's,
posicionar o carrinho em baixo do big-bag e acionar as
pás pneumáticas para o esvaziamento do mesmo.
ABAST
ECIME
NTO
* Passar com o carrinho abastecedor em todos os postos
de trabalho e completar os reservatórios das matérias-
primas de menor volume.
71
VERIF
ICAÇÃ
O
DOS
CONT
ENTO
RES
* Observar e repetir estas atividades enquanto o Pesador
estiver trabalhando; antes de qualquer abastecimento
devem ser observadas as identificações dos produtos nos
contentores que estão sobre a bancada do pesador.
Obs: No momento em que não estiver realizando nenhum abastecimento é de sua
responsabilidade primar pela limpeza do setor.
Análise Ergonômica das Atividades do Abastecedor
PRPER
AÇÃO
Esta tarefa não apresenta nenhum risco ergonômico, visto
a facilidade em fazer o carrinho abastecedor andar.
ABAST
ECIME
NTO
CONT
ENTO
R
PEQUE
NOS
VOLU
MES
Na atividade que antecede o abastecimento, que é o
enchimento dos carrinhos abastecedores, ocorrem
situações de transporte de carga onde há desagregação do
esforço muscular. Esta tarefa é amenizada pela freqüência
muito baixa com que é feita.
ABAST
ECIME
NTO
CONT
ENTO
R
GRAN
DES
VOLU
MES
Esta tarefa é praticamente toda automatizada, portanto não
exige grande esforço físico do abastecedor. O único
inconveniente
é um pouco de pó que se levanta na descida
do material, amenizado pelo uso de EPI.
72
ABAST
ECIME
NTO
Esta tarefa tem de irregular a flexão da coluna e o
manuseio da matéria-prima com a concha de pega ruim;
porém, a freqüência é muito baixa, não caracterizando
risco ergonômico.
VERIF
ICAÇÃ
O
DOS
CONT
ENTO
RES
A verificação dos níveis dos contentores é uma atividade
dinâmica, tendo como único inconveniente a
obrigatoriedade do trabalho de pé.
Conclusão: atividade com baixíssimo risco ergonômico.
Atividades do pesador de cargas
- Receber do Líder a ficha técnica do composto a ser pesado;
- Observar a posição no sistema de produção que foi designada pelo Líder;
- Conferir se os utensílios necessários à realização de suas atividades estão nos devidos locais
(conchas pequenas, conchas grandes e sacos plásticos);
- Ligar balança;
- Tarar o peso do saco;
- Abrir o saco plástico e colocar as matérias-primas descritas na ficha técnica, observando
rigorosamente o peso indicado;
- Após concluída a pesagem, pegar o saco e colocá-lo dentro de caixas plásticas posicionadas ao
lado da bancada, observando o número de sacos por caixa que pede a ficha técnica;
- Repetir esta operação, sempre verificando as quantidades pesadas.
73
Atividades do Pesador de Cargas
PRE
PAR
O
* Verificar se todos os itens estão disponíveis para a
realização da operação, como: balança, sacos plásticos vazios,
caixas vazias, ficha de pesagem e matérias-
primas que
compõem a carga.
*Antes do início do processo, o Pesador deve observar a
posição no sistema de produção que foi designada pelo Líder.
Em seguida, pegar a caixa vazia que está empilhada do lado
esquerdo da bancada e colocá-la no chão para facilitar o
armazenamento das cargas.
INÍC
IO
DA
OPE
RAÇ
ÃO
*Pegar o saco plástico disponível, abri-
lo com as duas mãos e
colocá-lo em cima da balança com a mesma já ligada e tarada.
PESA
GEM
*Pesar cada produto, com o auxílio de uma concha específica,
um a um na ordem de pesagem de acordo com a Ficha
Técnica.
ARM
AZE
NAM
ENT
O
*Após serem pesadas todas as matérias-
primas, pegar o saco
cheio com uma mão prendendo a boca e com a outra
segurando o fundo para evitar que o saco estoure; colocá-
lo
dentro da caixa ao lado organizadamente e observar o número
de sacos por caixa que pede a Ficha Técnica.
74
ORGA
NIZA
ÇÃO
DAS
CARG
AS E
REINÍ
CIO
DA
OPER
ÇÃO
*Colocar a próxima caixa em cima da caixa ocupada com as
cargas e reiniciar o mesmo processo, sempre verificando as
quantidades já pesadas.
Análise Ergonômica das Atividades do Pesador de Cargas
PRE
PAR
O
Nesta primeira etapa encontramos as seguintes situações a
serem melhoradas:
1 – Possibilidade de alternância de postura, no caso alternar
entre posição de pé e semi-sentada;
2 – A altura da bancada não é regulável;
3 – Má distribuição dos mate
riais no posto de trabalho, fazendo
com que o pesador desloque seus membros superiores para
conseguir pegar todos.
INÍC
IO
DA
OPE
RAÇ
ÃO
O início da tarefa não apresenta nenhum risco ergonômico.
75
PESA
GEM
A tarefa propriamente dita apresenta as seguintes situações a
serem melhoradas:
1 – Repetitividade: o pesador executa o movimento com a
mão direita mais de 2.500 vezes ao dia;
2 – Transporte de cargas: a cada enchimento de concha são
transportados em média 1,1 Kg;
3 – Esforço estático na musculatura do pescoço;
4 – Fadiga visual, visto que o visor da balança está
posicionado na altura do púbis;
5 – Deslocamento do centro de gravidade, no momento em
que é necessária a coleta de matéria-prima do outro lado do
carrinho;
6 – Movimento cruzado devido à disposição das matérias-
primas do lado esquerdo da bancada;
7 – Pega ruim da concha;
8 – Esforço estático do punho num movimento ulnar.
ARM
AZEN
AMEN
TO
Depois da carga concluída resta o transporte para o contentor
plástico; esta carga é em média de 8 Kg, podendo chegar até
10 Kg. Esta tarefa causa desagregação do esforço muscular,
além de torção no tronco no transporte da carga. Este
movimento se repete por mais de 400 vezes ao dia.
ORG
ANIZ
AÇÃ
O
DAS
CAR
GAS
E
REIN
ÍCIO
DA
OPE
RÇÃ
O
Depois das cargas prontas, o pesador, que coloca sempre dois
sacos dentro da caixa, flete a coluna para amarrar a boca de
ambos com o objetivo de evitar derramamentos no transporte.
Esta atividade, que dura em média 30 segundos, além de
desagregação do esforço muscular visto o peso da cabeça,
causa esforço estático nos músculos das costas.
76
Atividades do estoquista
- Abastecer caixas vazias no posto de trabalho do Pesador;
- Retirar as pilhas de caixas sempre que o Pesador completar 6(seis) de altura;
- Efetuar a leitura óptica em cada uma das caixas preparadas;
- Dirigi-las até o estoque de cargas;
- Repetir esta operação, sempre observando as etiquetas das caixas e o cuidado para colocá-las
nas filas corretas;
Descrição das Atividades do Estoquista
INÍCIO
DA
OPERA
ÇÃO
* Ao chegar ao setor deve, direcionar-se até o lay-out de
caixas vazias, pegar as mesmas e abastecer os pontos de
pesagem antes mesmo que os pesadores iniciem o
trabalho de pesagem dos compostos. As caixas vazias
devem ser abastecidas em pilhas de 08 caixas.
REMOÇ
ÃO DAS
PILHAS
COM
CARGA
S
*Direcionar-se com o carrinho até o lay-out das caixas
de cada pesador e verificar se as caixas com cargas
atingiram o limite de 06 caixas de altura.
*Sempre que a pilha atingir 6 caixas de altura, empurrá-
la para frente de modo a poder encaixar o carrinho-
transportador em baixo.
EFETU
AÇÃO
DA
LEITUR
A
ÓPTICA
E
ESTOC
AGEM
*Com o leitor óptico efetuar a leitura das etiquetas uma
a uma, certificando-se do sinal sonoro emitido pelo
equipamento.
77
APONT
AMENT
O
DAS
CARGA
S
ESTOC
ADAS
* Fazer o apontamento das cargas que foram estocadas.
Em seguida, verificar a quantidade de caixas nos postos
de trabalho dos pesadores e reabastecê-los se necessário.
Obs: Repetir esta operação, sempre observan
do as etiquetas das caixas e o cuidado em não
colocar nas filas erradas.
Análise Ergonômica das Atividades do Estoquista
INÍCIO
DA
OPERA
ÇÃO
Abastecer caixas vazias é uma tarefa que, apesar de
arrastar as caixas pelo chão, é muito leve, facilitada pela
qualidade do piso.
REMOÇ
ÃO DAS
PILHAS
COM
CARGA
S
Esta tarefa exige um grande esforço físico concentrado
apenas em um braço, porém com pouca duração; este
desbalanceamento muscular não chega a preocupar pela
baixa freqüência com que é feito.
EFETU
AÇÃO
DA
LEITUR
A
ÓPTICA
E
ESTOC
AGEM
Na leitura das caixas existem algumas situações
desconfortáveis do ponto de vista ergonômico: coluna
fletida, desagregação do esforço muscular e necessidade
de acuidade visual causada pelas pequenas letras nas
etiquetas. Além de ação cognitiva para perceber o sinal
sonoro do equipamento quando a leitura é efetivada. No
entanto, a freqüência desta tarefa é muito baixa com
espaçamento de 20 minutos em média e duração de 30
segundos.
78
APONT
AMENT
O
DAS
CARGA
S
ESTOC
ADAS
O apontamento da produção exige esforço cognitivo,
mas é realizado apenas duas vezes ao dia, na parada
antes da refeição e no final do turno antes do setor parar.
Conclusão: atividade com baixíssimo risco ergonômico.
5.1.10 Layout do setor
O setor é subdividido em quatro partes, onde se distribuem as áreas de matérias-primas,
caixas plásticas vazias, pesagem propriamente dita e estoque de cargas prontas, conforme layout
abaixo:
79
Figura 7: Setor de pesagem
5.1.11 Análise do ambiente
O ambiente de trabalho, de maneira geral, mostra-se com níveis não muito elevados de
ruído, abaixo de 79 dB em todos os postos de trabalho. Iluminação e ventilação razoáveis, sem
sobrecarga térmica. O local é relativamente bem iluminado, variando com o decorrer das horas,
sendo que no início do dia a iluminação atinge o menor índice, 82 lux, e ao meio dia o maior
índice, 160 lux, já que as atividades se dão entre 06h00minhs e 14:20hs. Apesar de existir
iluminação artificial instalada logo acima do posto de trabalho dos Pesadores, os mesmos
preferem não utilizá-la, pois, segundo eles, torna o ambiente desconfortável, suposição
comprovada pelo índice de iluminamento de 460 lux, iluminação indicada para atividades de alta
precisão e muito detalhadas. Por isso, a situação normal de trabalho é com a iluminação natural,
que propicia um ambiente com média de iluminamento de 120 lux. As áreas de circulação de
materiais e pessoas são bem demarcadas e não há trânsito freqüente de pessoas de outros setores.
A disposição dos estoques de matéria-prima é feita de modo a não dificultar a circulação de
pessoas e materiais. Da mesma forma o estoque de cargas prontas é todo demarcado e
subdividido por células, as quais identificam onde as mesmas serão usadas.
5.1.12 População
O setor é composto por 10 colaboradores. Todos têm o ensino médio completo, antigo
grau, todos do sexo masculino; a média de idade é de 22,5 anos com desvio padrão de 3 anos; a
média de altura é 1,65 m e possui desvio padrão de 0,10 m. Não é observado nenhum critério
antropométrico para seleção. Há apenas o pré-quesito de o funcionário já ter mais de 10 meses de
fábrica (somente na Fábrica de compostagem de PVC, não sendo considerado tempo de trabalho
nas demais unidades da Grendene), portanto, não são feitas contratações externas para ocupação
das vagas. Quando do aparecimento de vagas, o Supervisor divulga-o internamente entre toda a
80
chefia da Fábrica, e os Auxiliares de Supervisor fazem suas indicações; os indicados passam por
um período de estágio, onde o Líder do setor faz a opção por quem melhor se destacou.
5.2 Estudo Ergonômico do Trabalho por Atividade
O objetivo foi analisar todas as atividades existentes no setor de Pesagem da Fábrica de
compostagem de PVC; para isso foram observados os seguintes pontos para verificação de riscos
ergonômicos:
- Exigência de tempo para execução da tarefa;
- Ritmo intenso de trabalho imposto;
- Ferramental utilizado;
- Emprego de sobrecarga estática e dinâmica;
- Repetitividade de movimentos.
Estes pontos foram observados em todas as funções presentes no setor.
Descreveu-se com registro fotográfico as tarefas de cada atividade do ponto vista
descritivo/prescrito e, logo, em seguida, do ponto de vista ergonômico.
Iniciou-se pelo líder, seguido pelo abastecedor, estoquista e o principal ponto de nossa
pesquisa, o pesador de cargas. Ver no apêndice A.
A maioria das atividades desempenhadas no setor de pesagem são atividades leves com
algumas tarefas que oferecem risco ergonômico, mas com pouca freqüência, fator este que
ameniza o risco.
As atividades de abastecimento, estocagem de cargas, controle (líder) são, como podemos
observar, atividades leves, onde a presença de risco ergonômico é muito pequena, salvo algumas
tarefas em que o trabalhador assume posturas incorretas, porém amenizadas pela constante
alternância de movimentos e pela freqüência espaçada. Um treinamento sobre transporte e
manuseio de cargas, em conjunto com algumas orientações sobre as más posturas assumidas,
podem ter um grande efeito na minimização dos riscos.
81
No entanto, a atividade do pesador de carga apresenta uma série de situações totalmente
anti-ergonômicas. Esta atividade é nosso maior desafio nos estudos ergonômicos dos postos de
trabalho deste setor. O ideal para esta atividade é ela ser extinta, pois expõe o trabalhador a uma
série de situações anti-ergonômicas, a saber:
5.2.1 Repetitividade e transporte de cargas
O movimento principal, que é o de encher a concha, é realizado com torção do tronco e
desagregação do esforço muscular; o mesmo se repete mais de 2.500 vezes ao dia; a cada
movimento são transportados em média 2 kg, utilizando-se uma concha que não tem nada de
ergonômico. a concha pesa 0,48 Kg. Segundo Couto (1995), o peso da carga não caracteriza
um trabalho pesado; no entanto, a freqüência dos movimentos o torna atividade altamente
cansativa e, segundo a equação do NIOSH, como segue abaixo, uma atividade de médio risco
ergonômico.
5.2.2 Aplicação da Equação do NIOSH
Aplicaremos a equação do NIOSH para investigarmos o grau de risco da atividade de
pesagem de cargas:
Equação: LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
Legenda: LPR = Limite de peso recomendável
LC = Constante de carga
HM = Fator deslocamento horizontal
VM = Fator altura
DM = Fator de deslocamento
AM = Fator de assimetria
FM = Fator de freqüência
CM = Fator de pega
Cálculo dos fatores:
HM = 25/H, onde H = 20 + w/2, já que V > 25, em que V é altura das mãos e
82
relação ao solo que, no caso, é 120 cm, e w é a distância entre a pessoa e o
centro da carga no plano sagital, no caso 31 cm.
Portanto: H = 20 + 31/2 = 35,5.
HM = 25/35,5 = 0,70.
VM = (1- 0,003 [V – 75]), onde V é igual à distância vertical entre o ponto
da pega e o solo. No caso levamos em consideração a altura média, que é 70
cm.
Portanto: V = 70. Temos VM = 0,98.
DM = (0,82 + 4,5/D), onde D é igual a V1 –V2, sendo que V1 é a altura da
carga em relação ao solo na origem do movimento, e V2 a altura final do
mesmo. No caso, o movimento se inicia a 70 cm de altura (média entre a
pior situação, que é fundo do contentor, e a melhor situação que é quando o
contentor está totalmente cheio) e termina a 125 cm (que é altura da carga
em cima da balança, mais 5cm que a concha tem que ficar acima antes de
despejar).
Portanto: D = 55. Temos então
DM = (0,82 + 4,5/D), DM = 0,90.
Para a pior situação, que é quando o carrinho baixa o nível, temos D = 80
E, portanto: DM = 0,87
Na melhor situação, que é D = 35 (carrinho cheio)
e, portanto: DM = 0,95.
AM = 1 – (0,0032A), onde A é o ângulo de deslocamento no plano médio
sagital. No caso, o ângulo é de 60º. Portanto: AM = 1 – (0,0032.60); então
AM = 0,80.
FM é definido pelo tempo de duração do trabalho, número de elevações por
minuto e a altura em que o movimento é realizado, conforme tabela nos
83
Anexos deste trabalho. No caso, o tempo de duração do trabalho está entre 2
e 8 horas, o número de movimentos por minuto é, em média, de 10, e a
altura em que ele é realizado é maior que 75cm.
Portanto: FM = 0,13.
CM é definida pela qualidade da pega e altura vertical de manipulação da
carga. No caso, a concha tem uma pega má, e a altura de manuseio é maior
que 75cm.
Portanto: temos CM = 0,90.
Aplicação da equação
LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
LPR = 23 x 0,70 x 0,98 x 0,90 x 0,80 x 0,13 x 0,90
LPR = 1,32
Identificação do risco pelo índice de levantamento
Peso da carga levantada = 2 Kg dividido pelo LPR encontrado, no caso 1,32.
Portanto fator de risco = 1,52
Interpretação do índice de risco
Índice menor que 1, risco limitado não: oferece preocupação
entre 1 e 3, risco moderado: exige redesenho e alterações no trabalho
índice maior que 3, risco elevado: exige modificações imediatas
Há ainda o transporte da carga pronta, carga esta que pesa em média 8Kg, podendo chegar
até 10 Kg. Esta tarefa, que é realizada em média 400 vezes ao dia, contém desagregação do
esforço muscular, deslocamento do centro de gravidade e movimentos assimétricos.
84
Aplicando a equação do NIOSH para esta segunda tarefa do pesador, que é o transporte da
carga até a caixa plástica, temos os seguintes resultados:
Cálculo dos fatores:
HM = 25/H, onde H = 20 + w/2, já que V > 25, em que V é a altura das mãos
em relação ao solo que, no caso, é 120 cm e w é a distância entre a pessoa e
o centro da carga no plano sagital, no caso 31 cm no início do movimento, e
40 cm no fim do mesmo; daí fez uma média;
Portanto: H = 20 + 36/2 = 38.
HM = 25/35,5 = 0,66.
VM = (1- 0,003 [V – 75]), onde V é igual à distância vertical entre o ponto
da pega e o solo. Portanto: V = 120. Temos VM = 0,86.
DM = (0,82 + 4,5/D), onde D é igual a V1 –V2, sendo que V1 é a altura da
carga em relação ao solo na origem do movimento, e V2 a altura final do mesmo.
No caso, o movimento se inicia a 120 cm de altura (carga em cima da balança) e é
transportado até o chão, portanto, a 0 cm. Esta é a pior situação, ou seja, o
transporte da carga até a primeira caixa plástica da pilha.
Portanto: D = 120. Temos então
DM = (0,82 + 4,5/D), DM = 0,86.
Para a melhor situação, que é quando as caixas atingem uma altura.
Intermediária, ou seja, 5 caixas de altura, temos D = 20, conforme a equação,
quando D < 25, mantemos DM = 1.
Portanto: DM = 1,00.
Na situação de colocação da carga na última caixa da pilha, ou seja, a sexta.
caixa, temos um movimento de abdução dos ombros e D = 30.
Portanto DM = 0,97.
Utilizaremos a pior situação para cálculo na equação, portanto DM = 0,86.
85
AM = 1 – (0,0032A), onde A é o ângulo de deslocamento no plano médio sagital.
No caso, o ângulo é de 90º. Portanto: AM = 1 – (0,0032. 90); então AM = 0,71.
FM é definido pelo tempo de duração do trabalho, número de elevações por
minuto, no caso, descida por minuto, e a altura em que o movimento é
realizado, conforme tabela nos anexos deste trabalho.
No caso, tempo de duração do trabalho está entre 2 e 8 horas, o número de
movimentos por minuto é, em média, menor que 1, e a altura em que ele é
realizado é maior que 75cm.
Portanto: FM = 0,75.
CM é definida pela qualidade da pega e altura vertical de manipulação da
carga.
No caso temos os sacos plásticos com a carga que têm uma pega razoável, já que o
pesador segura a boca do saco com uma mão e com a outra segura o fundo,
causando esforços assimétricos. E é maior que 75cm.
Portanto temos CM = 1,00.
LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
LPR = 23 x 0,66 x 0,86 x 0,86 x 0,71 x 0,75 x 1,00
LPR = 5,98.
Identificação do risco pelo índice de levantamento
Peso da carga levantada = 8 Kg, dividido pelo LPR encontrado, no caso
5,98.
Portanto: fator de risco = 1,34.
Interpretação do índice de risco
86
Índice menor que 1, risco limitado: não oferece preocupação
entre 1 e 3, risco moderado: exige redesenho e alterações no trabalho
índice maior que 3 risco elevado exige modificações imediatas
Esta tarefa, portanto, segundo a equação do NIOSH, oferece risco moderado, exigindo
alterações no seu funcionamento.
5.2.3 Postura de trabalho
Na atividade de pesagem de cargas, o trabalhador passa o tempo inteiro em pé. Segundo o
fluxograma de definição de postura de Couto( 1995), a posição de trabalho é a mais indicada; no
entanto, o mais correto seria a alternância de postura, possibilitando ao trabalhador ora trabalhar
de pé, ora trabalhar sentado ou ainda semi-sentado de modo a não causar esforço estático nos
membros inferiores dos pesadores.
5.2.4 Estrutura e ferramental
A ferramenta de trabalho
Foi realizado um levantamento da ferramenta utilizada para desempenho da atividade do
pesador de cargas, no caso, a concha. Existem dois tamanhos de concha: a grande, utilizada para
pesar os materiais de maior volume, e as pequenas, utilizadas para os de menor volume. Todas as
conchas são feitas de zinco, sendo que as grandes têm peso médio de 0,480 Kg e as pequenas
pesam 0,200 Kg. Foram testadas conchas em aço inox; no entanto, elas se demonstraram muito
pesadas, sendo descartadas e rejeitadas pelos operadores. Elas chegavam a pesar 0,680 Kg. A
pega da concha não é nada ergonômica; ela possui cantos vivos. Para seu manuseio, o Pesador
coloca os quatro dedos dentro da alça e o polegar fica de fora, empurrado contra a alça para dar o
apoio necessário à sua utilização. O polegar acaba comprimindo contra a alça, dificultando a
irrigação sangüínea. O pesador fica segurando a concha grande onde este esforço é maior por
quase 5 segundos; a única pausa que existe é quando o Pesador solta a concha grande para pegar
87
a pequena, pausa esta que dura 2 segundos. Há um esforço estático muito grande nas mãos dos
pesadores.
A bancada de trabalho
A bancada é fixa, impossibilitando ao trabalhador ajustá-la à sua altura. O layout do posto
de trabalho está mal distribuído, os contentores de matéria-prima estão posicionados distantes do
trabalhador, fazendo necessária a desagregação de esforço muscular toda vez do enchimento da
concha. A bancada possui as seguintes dimensões: 0,89 m, somados a 0,10 m da balança,
totalizando 0,99 m de altura. A largura é 0,41m com um suporte do lado direito de 0,42m; este
suporte fica a uma altura de 0,77m do chão, tentando compensação com a altura dos contentores,
que têm altura de 0,40m.
Vista lateral Vista superior
Figura 8: Dimensões da fábrica
Como podemos ver na vista superior, o maior dificultador na bancada de trabalho é a distância
que o trabalhador tem que alcançar esticando o braço para alcançar a matéria-prima. O layout da
bancada também gera movimentos cruzados; por exemplo, o pesador com a mão direita pega
matérias-primas do lado esquerdo. É óbvio que estes inconvenientes poderiam ser solucionados
0,42 m 0,42 m 0,48 m
SF4-9999
LF4-9999
0,89 m
0,42 m
0,10 m
88
com a definição de um novo layout do posto de trabalho, onde as matérias-primas ficariam de um
único lado, utilizando-se de um carrinho abastecedor menor, de modo a o forçar movimentos
quando o nível da matéria-prima baixar; no entanto, tais medidas apenas amenizariam o
sofrimento não eliminado por completo.
O carrinho abastecedor
Os carrinhos abastecedores, com o intuito de aperfeiçoar o trabalho do abastecedor,
levando o máximo de matéria-prima possível, acabam prejudicando o desempenho do pesador de
cargas, pois os carrinhos têm capacidade de acondicionar 175 Kg, fazendo com que suas
dimensões sejam muito grandes, dificultando o trabalho do pesador, que este tem que deslocar
os membros superiores para pegar o material mais distante, gerando um deslocamento do centro
de gravidade, além de torção do tronco e transporte de carga em alavanca desfavorável. O
carrinho tem 0,84m de comprimento, 0,48m de largura e 0,47m de profundidade. Estas
dimensões, à medida que o nível de matéria-prima vai baixando, fazem com que o trabalhador
tenha maior dificuldade em pegar com a concha mais matéria-prima. É claro que o abastecedor
não espera o carrinho esvaziar totalmente, mas, exceto quando o carro está totalmente cheio, a
amplitude dos movimentos vai aumentando gradativamente, fazendo com que a alavanca
interpotente, no caso, o braço humano, funcione cada vez mais com um maior braço de
resistência e menor braço de potência. Esta relação faz com que o trabalhador desempenhe
esforço muito maior que o necessário.
Vista lateral Vista superior
0,48 m
0,84 m
0,92 m
0,47 m
89
Figura 9: Dimensões da fábrica
Layout do posto de trabalho
Pela arrumação do posto de trabalho, algumas matérias-primas ficam posicionadas do
lado esquerdo do pesador; como a maioria deles são destros, isso faz com que sejam realizados
movimentos cruzadas, tendo que deslocar o braço direito para pegar matérias-primas do lado
esquerdo. Enquanto isso, o braço esquerdo fica parado, causando um total desbalanceamento do
corpo com sobrecarga no membro superior direito.
Atividade cognitiva
O pesador desempenha sua atividade com o pescoço inclinado para baixo, causando
esforço estático em sua musculatura. Além desta postura, o trabalhador tem uma atividade
cognitiva muito intensa, que fica constantemente comparando o visor da balança com o peso
que pede a ficha cnica. Esta comparação é feita a cada concha colocada no saco plástico. É
claro que, depois das primeiras cargas, o pesador memoriza as quantidades, mas faz-se
necessário muita concentração para observar as quantidades exatas e a seqüência de cada matéria-
prima que pede a ficha técnica.
5.3 Ações Corretivas
A primeira idéia que se tem quando se pensa em extinguir a tarefa é a automação. A
empresa já analisou a possibilidade de automatizar este processo; na época foram feitos estudos e
algumas simulações. A idéia acabou sendo descartada pelo motivo da necessidade de precisão
nas quantidades a serem pesadas; a tecnologia existe, porém, não é nacional e importá-la custaria
muito caro. A diretoria da empresa achou por bem não efetivar o investimento. Os testes feitos
com tecnologia nacional não atingiram os resultados esperados; aconteciam muitas variações nos
pesos, e esta variação não é aceitável no processo produtivo dos compostos de PVC.
Com esta hipótese descartada busca-se embasamento na utilização da engenharia de
métodos, partindo para o princípio de balanceamento das atividades. A idéia é verificar se na
90
seqüência do processo produtivo existe alguma operação que possa absorver alguma tarefa, de
modo a balancear ou minimizar o risco ergonômico.
Como já citamos anteriormente, o processo produtivo do PVC segue a seqüência abaixo:
Processo produtivo de compostos de PVC
Almoxarifado Pesagem Mistura Extruo Ensacamento Expedição
Fig
ura 10: Setor pesagem
A idéia é aglutinar a atividade de pesagem à atividade de mistura. Para que se possa
entender melhor esta idéia, é necessário que seja explicado o funcionamento do setor de mistura.
Processo produtivo de compostos de PVC
Almoxarifado Pesagem e Mistura Extrusão Ensacamento Expedição
Fig
ura 11: Setor pesagem e mistura
Fluxo do setor de mistura
O setor de mistura é responsável por juntar todas as matérias-primas que formam o
composto. O equipamento utilizado para esta junção são os misturadores, equipamentos que
lembram muito uma batedeira, porém de dimensões bem maiores. O processo de mistura obedece
a alguns procedimentos que são comuns a todos os compostos. As etapas de preparação dos
compostos são as seguintes:
1 – Aquecimento da resina
2 – Dosagens dos óleos
3 – Dosagens das cargas preparadas na pesagem
Estes procedimentos são regras e são observados na preparação de todos os compostos.
Na primeira etapa, que é o aquecimento da resina, existe um tempo ocioso por parte do operador,
91
que fica aguardando até a resina atingir a temperatura indicada. O tempo é de aproximadamente 3
minutos até que o equipamento consiga, através de atrito, elevar a temperatura do material. O
objetivo é ocupar este tempo ocioso do operador na pesagem da carga, que leva em média 1 ou 2
minutos, dependendo do material.
Atividade do operador de misturador
Vamos detalhar melhor as atividades do operador de misturador:
Atividades do Operador de Misturador
VERIF
ICAÇÃ
O
E
INÍCIO
DA
OPER
AÇÃO
* Verificar o composto que está sendo produzido e se as
informações disponíveis estão de acordo com o composto
(identificação, tamanho da máquina e formulação).
*Ligar misturador em baixa velocidade, em seguida passar
para alta velocidade.
*Conferir peso da resina já pesada com o peso disposto na
normatização e em seguida abrir a válvula de descarga.
*Aguardar a descarga da resina por completo e então fechar a
válvula e acionar o botão para nova pesagem.
DOSA
GEM
DOS
ESTAB
ILIZA
NTES
*Encher jarra de estabilizantes na quantidade padrão pedida
na Normatização, em seguida dosar no misturador.
PAINE
L DE
OPER
AÇÃO
DO
EQUIP
AMEN
TO
*Aguardar a resina aquecer na temperatura descrita na norma.
*Após a resina atingir a temperatura exigida, verificar o peso
dos óleos no display da balança e liberar a dosagem.
* Fechar válvula e acionar botão para nova pesagem.
92
DOSA
GEM
DOS
PÓS
*Adicionar os pós no misturador.
DESCA
RGA
DA
CARG
A
PARA
O
CAIXO
TE
*Fechar a tampa do funil e aguardar a temperatura do material
elevar 1º C e liberar para o caixote.
Posto de trabalho atual do operador de misturador
O layout do posto de trabalho do operador de misturador é o seguinte:
Figura 12: Cargas Prontas
Neste posto de trabalho, no momento do estudo, também foram verificadas algumas
situações inadequadas; na oportunidade aproveitou-se para também sugerir sua eliminação. As
situações são as seguintes:
Vibração
93
Devido ao equipamento, que trabalha em alta rotação, este acaba vibrando e transmitindo
esta vibração para a estrutura metálica. Esta vibração não é muito forte e também não temos
equipamento para mensurá-la, mas, independente disto, a vibração deve ser eliminada. Como
medida de controle para esta vibração o novo layout contará com uma plataforma maior que
envolve toda a área ao redor do misturador. Esta plataforma deverá ficar apoiada em cima de
vibra-stop’s, que são peças em borracha que funcionam como amortecedores.
Ruído
alguns meses foram instalados isoladores acústicos nos motores dos equipamentos o
que reduziu o nível de ruído para padrões aceitáveis.
Temperatura
O equipamento aquece as matérias-primas através de atrito. Este aquecimento acaba
irradiando-se para o ambiente. A temperatura próxima ao equipamento é de 35ºC; com a
distância de 0,40 m, que será a sugestão do novo layout do posto de trabalho, esta temperatura é
de 33ºC; estes dados foram colhidos no horário mais quente do dia, segundo os próprios
operadores entre 13h00min e 15h00minhs. Na parte da manhã, esta temperatura gira em média
entre 30ºC e 32ºC. Durante a noite esta temperatura baixa para 28ºC e 30ºC. Existem ventiladores
colocados atrás de cada equipamento, situados a uma distância de 2 m dos mesmos. Mas, como
podemos constatar, não são muito eficientes. Nossa sugestão de medida de controle para esta
situação será a mudança na localização destes ventiladores, pois como estão, situados na parte de
trás e fixados na parede, esta área não é bem ventilada, fazendo com que os ventiladores apenas
circulem o ar quente na plataforma. A idéia é mudar os ventiladores para frente dos equipamentos
fixados em uma estrutura suspensa onde os mesmos possam captar o ar de uma área mais arejada.
Em conjunto com esta mudança também seria sugerida a colocação de micro-aspersores de água,
que expelem microgotas na frente do ventilador, ajudando a resfriar o ambiente. Existem setores
de outras unidades que utilizam este artifício, chegando a ter uma redução de até 5ºC na
temperatura ambiente.
94
Plataforma pequena
Esta plataforma funciona como acesso ao funil do misturador onde são colocadas as
cargas de matérias-primas preparadas pela pesagem; a cada carga o operador tem de subir nela. A
altura dela é de 0,26m. É como se operador passe toda sua jornada de trabalho subindo uma
escada. A freqüência deste movimento é em média de oito vezes por hora e chega até 11 vezes,
dependendo da produtividade do composto que está sendo produzido. A freqüência não é muito
alta, mas incomoda e será eliminada com introdução da plataforma maior, rodeando toda a área
do equipamento.
A proposta do novo layout
O posto de trabalho proposto terá o seguinte layout:
Figura 13: Matéria prima em conectores
Este novo projeto contempla também a correção das situações inadequadas presentes no posto de
trabalho do pesador de cargas. São elas:
Bancada regulável: o operador-pesador tea possibilidade de regular à altura da bancada onde
fica a balança. A idéia é fixar uma barra de metal no teto, que é metálico e distanciado em apenas
3 metros do piso da plataforma. A esta barra pode ser acoplado um suporte de 0,40 X 0,40m, que
é o suficiente para acomodar a balança.
95
Encosto para alternância de postura: ao contrário da situação anterior, podemos proporcionar
ao operador-pesador a possibilidade de alternância de postura, a colocação de um encosto que
oportunize ao trabalhador alternar da posição de pé para posição semi-sentada.
Layout das matérias-primas: a disposição das matérias-primas terá que obedecer ao critério de
utilização, ou seja, as mais utilizadas (que variam de acordo com o composto) deverão ser
posicionadas o mais próximo possível da balança, com vistas a minimizar o máximo possível a
distância de transporte até o recipiente.
Contentores menores: como visto no setor anterior, o carrinho abastecedor, que aperfeiçoava o
trabalho do abastecedor, dificultava o trabalho do pesador devido às suas grandes dimensões. A
proposta é colocar contentores que acondicionem no máximo 50 Kg, de modo a não prejudicar o
trabalho do operador-pesador à medida que o nível baixa. Com isto, é claro, o abastecedor terá
que operar com mais freqüência, mas devemos lembrar que o ritmo da preparação das cargas vai
ser muito menor, visto que o volume antes movimentado em apenas um turno de trabalho será
distribuído em três.
Eliminação de estoques intermediários: com a eliminação do setor de pesagem, a matéria-
prima não precisará ser armazenada em sacos plásticos. Será eliminada a necessidade de estoques
intermediários, controles, fluxo, além, é claro, da eliminação do risco ergonômico. Ao invés dos
sacos serão utilizados contentores plásticos parecidos com baldes com alças nas laterais, onde o
operador poderá pegar simetricamente a carga. A pega será cilíndrica e com pelo menos 0,11 m
de altura e 0,04m de distância da parede do contentor.
5.3.1 Aplicação da equação do NIOSH
Tornando realidade a junção das atividades do pesador e do misturador, estaríamos
otimizando o tempo do operador e, principalmente, resolvendo o problema ergonômico do
pesador de cargas. É claro que a atividade não será totalmente eliminada, pois seriam mantidos os
mesmos princípios, mas a repetitividade de 2.500 vezes do movimento de transportar a matéria-
prima do carrinho ou dos contentores menores para dentro de um saco seria dividida entre três
96
operadores em três turnos; além deste rateio entre os turnos, teria a divisão entre os misturadores,
que são limitados a um tempo de processo. Este tempo de processo é em média de 7 minutos, que
significa dizer que o operador-pesador processaria no máximo 8 cargas em uma hora, sendo que
na maioria dos casos o número seria menor. Como em cada carga são realizados sete
movimentos, concluímos que cada trabalhador executaria menos de 400 movimentos numa
jornada de trabalho.
Aplicou-se a equação do NIOSH para investigar o grau de risco da nova situação
proposta:
Equação: LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM.
Legenda: LPR = Limite de peso recomendável
LC = Constante de carga
HM = Fator deslocamento horizontal
VM = Fator altura
DM = Fator de deslocamento
AM = Fator de assimetria
FM = Fator de freqüência
CM = Fator de pega.
Cálculo dos fatores:
HM = 25/H, onde H = 20 + w/2, já que V > 25, em que V á altura das mãos e
relação ao solo, que no caso será de 100 cm, e w a distância entre a pessoa e
O centro da carga no plano sagital, no caso 31 cm.
Portanto: H = 20 + 31/2 = 35,5.
HM = 25/35,5 = 0,70.
VM = (1- 0,003 [V – 75]), onde V é igual à distância vertical entre o ponto
da pega e o solo. No caso, consideramos a altura média, que é 85.
Portanto: V = 85.
Temos VM = 0,97.
97
DM = (0,82 + 4,5/D), onde D é igual a V1 –V2, sendo que V1 é a altura da
carga em relação ao solo na origem do movimento, e V2 a altura final do
mesmo. No caso, o movimento se inicia a 85 cm de altura (média entre a
pior situação, que é fundo do contentor, e a melhor situação, que é quando o
contentor está totalmente cheio) e termina a 120 cm. Portanto: D = 35.
Temos então: DM = (0,82 + 4,5/D), DM = 0,95.
AM = 1 – (0,0032A), onde A é o ângulo de deslocamento no plano médio
sagital. No caso, o ângulo de deslocamento é 60º, já que a postura sugerida é
semi-sentada, alternando com a posição de pé.
Portanto: AM = 1 – (0,0032. 60), então, AM = 0,81.
FM é definido pelo tempo de duração do trabalho, número de elevações por
minuto e altura em que o movimento é realizado, conforme tabela nos
anexos deste trabalho. No caso, tempo de duração do trabalho está entre dois e 8
horas, o número de movimentos por minuto é, em média, menor que um, e a altura
em que ele é realizado é maior que 75 cm.
Portanto: FM = 0,75.
CM é definida pela qualidade da pega e altura vertical de manipulação da
carga. No caso, pretendemos trabalhar com uma concha de pega ergonômica,
cilíndrica e com apoiadores para os dedos; daí teremos conchas de boa pega,
e a altura de manuseio continuará sendo maior que 75cm.
Portanto: temos CM = 1,00.
Aplicação da equação
LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
LPR = 23 x 0,70 x 0,97 x 0,95 x 0,81 x 0,75 x 1,00
LPR = 9,01.
98
Identificação do risco pelo índice de levantamento
Peso da carga levantada = 8 kg dividido pelo LPR encontrado, no caso 9,01.
Portanto: fator de risco = 0,88.
Interpretação do índice de risco
Índice menor que um, risco limitado não oferece preocupação
entre 1 e 3, risco moderado exige redesenho e alterações no trabalho
índice maior que 3, risco elevado: exige modificações imediatas.
Portanto, conforme a aplicação da equação do NIOSH, a tarefa se classifica em um índice
menor de preocupação quanto a riscos ergonômicos. Segundo o NIOSH, as pessoas dificilmente
sentirão algum problema realizando esta atividade.
99
6. CONCLUSÃO
Nas análises dos estudos de todas as funções existentes no setor de pesagem, constatou-se
realmente que as atividades de Líder, Estoquista e Abastecedor, não oferecem nenhum risco
ergonômico. Ao passo que a função do Pesador de cargas, merece intervenção, apesar de não
atingir o nível máximo de risco segundo a equação do NIOSH.
Além da intervenção ergonômica foi feito também um ótimo exercício de engenharia de
métodos, visto que através do princípio da aglutinação de operações ocorreria a eliminação um
setor em que, além do efetivo de pessoal direto na atividade de pesagem de cargas, num total de
6(seis) pessoas, teríamos a eliminação do pessoal indireto, que são necessários para o
funcionamento do setor, mas são enxergados como despesas e gastos que devem ser reduzidos ou
eliminados. Além deste enxugamento teríamos também a eliminação de estoques intermediários,
eliminação de controles via sistema e anotações. o mais seria feito acompanhamento
individual de produtividade; o espaço seria disponibilizado para outros fins, etc.
100
É claro que uma mudança deste porte não é simples; exigiria treinamento, exigiria
conscientização das pessoas que teriam a responsabilidade do processo de pesagem e mistura nas
mãos. Sabe-se também que esta mudança implicaria no surgimento de vagas no setor de mistura,
pois neste setor existiriam novas matérias-primas e novas atividades a serem desempenhadas. A
princípio se enxerga a necessidade de pelo menos um abastecedor para cada turno, mas esta
situação precisaria ser bem analisada pelo setor de Métodos e Processos da Unidade, onde
então seria definida a real necessidade de pessoal.
Tal desafio requer adoção de uma prática ergonômica que considere, entre outras
diretrizes, a capacitação de profissionais, principalmente do pesador de cargas para o diagnóstico
precoce do trabalho ergonômico.
REFERÊNCIAS
ABRAHÃO, J. I. & FERREIRA, M. C. Ergonomia - A busca do compromisso entre o Trabalho
e a Saúde. In: Relação Saúde, Segurança e Trabalho: Diferentes Abordagens. SESI/DN. 1994.
BARNES, R. M. Estudo de Movimentos e de Tempos: Projeto e Medida do Trabalho, trad.,
Editora Edgard Blucher, São Paulo, 1977.
CARVALHO, H. V. Medicina Social e do Trabalho. Se Mc Graw-Hill do Brasil São Paulo,
1977.
COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: manual técnico da máquina humana. Ergo,
Belo Horizonte, 1995vol. I;353p
COUTO, H. A. Stress e Qualidade de Vida dos Executivos. Se, COP Editora, Rio de Janeiro,
1987.
COUTO, H.A. – Fadiga Psíquica entre Operadores, Caderno Ergo nº 3, Belo Horizonte, 1982.
COUTO H. A. Trabalho Noturno: prejuízos para a Saúde e Sua Prevenção, Caderno Ergo 4,
Belo Horizonte, 1983.
DELA COLETA J. A. Acidentes de Trabalho: Fator Humano, Contribuições da Psicologia do
Trabalho, Atividades de Prevenção. Se. Atlas, São Paulo, 1991p. 99-101.
DRUCKER, Peter Ferdinand Aprendizado Organizacional Harvard Business. Campus, Rio
de Janeiro, 2000.
101
FIALHO, F., SANTOS, Neri dos. Manual de Análise Ergonômica no Trabalho. Se, Gênesis,
Curitiba1995.
GRANDJEAN, Etiene. Manual de ergonomia - adaptando o trabalho ao homem. Tradução João
Pessoa Pedro Stein. 4º ed. Artes Médicas, Porto Alegre 1998.
IIDA, Itiro., Ergonomia – Projeto e Produção. Se, Editor Edgard Blucher, São Paulo, 1990.
LAPPONI, Juan Carlos. Estatística usando o Excel 5 e 7. Lapponi Treinamento e Editora, 1997.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde
9º ed. Hucitec, São Paulo, 2006.
MORAES, L.F.R., KILLIMINIK, Z. M. As dimensões básicas do trabalho, qualidade de
vida e métodos: uma análise em profissões de impacto na sociedade. Se,
CEPEAD/FACE/UFMG, Belo Horizonte, 1992.
SANTOS, N. et al. Manual de Análise Ergonômica do Trabalho. Se.Gênesis, Curitiba,
1995209p
TUBINO, Dalvio Ferrari. Sistemas de Produção: A produtividade no Chão de Fábrica. Se.
BooKman, São Paulo, 2000.
VERDUSSEN, R. Ergonomia: A Racionalização Humanizada do Trabalho. Se. Livros
Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 1987, 161p.
WISNER, A. Por dentro do Trabalho: Ergonomia, método e técnica. Se. FTD/Oboré, São
Paulo, 1987.
TAYLOR, F.W. – Princípios da Administração Científica, Se,Editora Atlas, Sc,1987.
APÊNDICE A
102
103
104
APÊNDICE B
CHECK-LIST GERAL PARA AVALIAÇÃO GROSSEIRA DA CONDIÇÃO ERGONÔMICA
DE UM POSTO DE TRABALHO
1. O corpo (tronco e cabeça) está na vertical? Não (0)Sim (1)
2. Os braços trabalham na vertical ou próximos da vertical? Não (0)Sim (1)
3. Existe alguma forma de esforço estático? Sim (0)Não (1)
4. Existem posições forçadas do membro superior? Sim (0)Não (1)
5. As mãos têm que fazer muita força? Sim (0)Não (1)
6. Há repetitividade freqüente de algum tipo específico de movimento? Sim (0)Não (1)
7. Os pés estão apoiados? Não (0)Sim (1)
8. Tem-se que fazer esforço muscular forte com a coluna ou outra
parte do corpo? Sim (0)Não (1)
9. Há possibilidade de flexibilidade postural no trabalho? Não (0)Sim (1)
10.A pessoa tem a possibilidade de uma pequena pausa entre um
ciclo e outro ou há um período definido de descanso após um
certo número de horas de trabalho? Não (0)Sim (1)
Critério de interpretação
10 pontos – condição ergonômica em geral excelente
7 a 9 pontos – boa condição ergonômica
5 a 6 pontos – condição ergonômica razoável
3 a 4 pontos – condição ergonômica ruim
0,1 ou 2 pontos – péssima condição ergonômica
Observação: Este check-list geral permite apenas uma classificação grosseira, pois não entra
numa série de detalhes, que serão colocados em ouros questionários. Sua grande utilidade é sua
aplicação como screening, ou seja, para rapidamente se ter uma idéia da condição geral de um
posto de trabalho sob o ponto de vista de ergonomia.
105
CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DAS CONDIÇÕES BIOMECÂNICAS
DO POSTO DE TRABALHO
1. A bancada de trabalho/máquina está localizada em altura
correta (trabalho pesado: a nível do púbis; trabalho moderado:
na linha do cotovelo; trabalho leve: a 30cm dos olhos)? Não (0)Sim (1)
2. A bancada ou máquina tem regulagem de altura de forma a
possibilitar ao trabalhador adequar a altura do posto de trabalho
à sua? Não (0)Sim (1)
3. Tem-se que sustentar pesos com os membros superiores para
evitar seu deslocamento seja na vertical seja na horizontal? Sim (0)Não (1)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo