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UniversidadedeSãoPaulo
FaculdadedeArquiteturaeUrbanismo
PedroHenriquedeCarvalhoRodrigues
AobradoarquitetoPauloBastos
SãoPaulo,fevereirode2008
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AobradoarquitetoPauloBastos
PedroHenriquedeCarvalhoRodrigues
Orientador:Prof.Dr.DacioAraujoBenedictoOttoni
DissertaçãoapresentadaàFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo
paraobtençãodograudemestre
Áreadeconcentração:HistóriaefundamentosdaArquiteturaedoUrbanismo
SãoPaulo,fevereirode2008
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PedroHenriquedeCarvalhoRodrigues
AobradoarquitetoPauloBastos
DissertaçãoapresentadaàFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo
paraobtençãodograudemestre
Áreadeconcentração:HistóriaeFundamentosdaArquiteturaedoUrbanismo
Orientador:Prof.Dr.DacioAraujoBenedictoOttoni
SãoPaulo,fevereirode2008
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESSE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVEN
CIONALOUELETRÔNICO,PARAFINSDEESTUDOEPESQUISA,DESDEQUECITADAAFONTE.
ASSINATURA:
email:[email protected]
3
ÀPauloBastoseatodososarquitetosqueseguemlutando,ouquelutaram.
4
5
Agradecimentos
ADacioOttonipelaconfiança,epelapersistênciaemmeclarearasidéiaseajudara
mantermeutrabalhonoseixos
AosprofessoresEduardodeJesusRodrigueseJoséEduardodeA.Lefévre,pelas
importantesconsideraçõesduranteoexamedequalificação
APauloBastospeladisponibilidadeeoentusiasmocomquemerecebeu
AJoséRodrigueseLurdinha,semosquaiseunãoestariaaqui
ÀstrêsMarias,constelaçãodebrilhoinfinito
6
7
RESUMO
EstadissertaçãovoltaseparaoestudodaobradoarquitetoPauloBastos.Desdesuaformatura,pelaFaculda
dedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo,sãoquase50anosdedicadosaoofíciodaarquitetura,
fazerincessante quepermaneceativo. Como obradoarquitetoserá entendido o
trabalhodesenvolvido emmaisde
200projetosdeprogramasvariados,alémdasuaparticipaçãosocialeatuaçãonoâmbitodoensino.Tomaseosenti
domaisamplo,oderealização,aosecolocaraobra doarquitetocomoobjetodestetrabalho.Aotraçaropanorama
de um caminho dentro do
contexto maior da história da arquitetura brasileira e seu momento político e cultural, a
pesquisa pode contribuir para o entendimento da produção recente,ainda carente deanálise pela crítica.Num pri
meiro momento, foi traçado um panorama da história da arquitetura brasileira desde a implantação das primeiras
idéiasmodernasaté
omomentodaconstruçãodeBrasília,oquepermitiuacriaçãodeumaperspectivaparaadiscus
são da produção do arquiteto, sobre a qual a pesquisa se debruçou nos capítulos seguintes, organizados por eixos
programáticosetemporaisqueseentrecruzam.Foramselecionadososprojetosquemelhorrepresentamasidéiasdo
arquiteto,oqueincluitantoosquepuderamserdesenvolvidosàssuasúltimasetapasdeconstruçãoquantoestudos
quenãosaíramdopapel.Emtodososcasos,aseleçãofoiconfirmadapormeiodeconversascomopróprioarquiteto.
Priorizouseumnúmeromaiordeinclusões,paratrazeràluz
estaproduçãoecriarumavisãodeconjunto.Poroutro
lado a disponibilidade de Paulo Bastos em esclarecer os conceitos e narrar sua trajetória configurou uma fonte de
pesquisa que se revelou infinita. Procurouse por conceitos que, repetidos, confirmam sua força, e por outros que,
semparalelo,demonstramaamplitude
dopensamentodoarquiteto.AconstruçãodeBrasíliamarcouum momento
importanteporquerepresentouoanseioporumamelhoriaqualitativanavidadopaís.Nocampodaarquitetura,re
presentouaatualizaçãoconcretaemescalaampladosideaisdaarquite turamodernaquevinhamsendogestadosno
Brasil.Osarquitetos,tendo
demonstradocontribuição indispensávelparaamaterializaçãodosideaisqueBrasíliare
presentava, viam crescer a demanda por seus trabalhos. A geração de arquitetos formada no início dos anos 1960
muitocedoassumiuposiçãodedestaque,passandoaatuarecomporopanoramaarquitetô nico.Comomuitosoutros,
PauloBastos,começousuacarreira
animadopelapossibilidadedecontribuirparaacontinuidadeeaprofundamento
do projetoque grande parte dopaís compartilhava. Entretanto, a atmosferade abertura que sedelineavaanterior
mentefoiinterrompidacomatomadadopoder pelosmilitaresem1964.Poroutro lado, odesenvolvimentoeconô
micofoiintensoese
construiubastanteparaaparelharoEstadoquesedesenvolvia.PauloBastos,quepodeserconsi
deradoum dessesarquitetos, nãose deixouarrefecerpela repressãodo regimemilitar edesenvolveu seusprojetos
comumespíritocríticoesensívelaocaráterhumanodaarquitetura.
8
9
ABSTRACT
ThisdissertationaimsatstudyingtheproductionofthearchitectPauloBastos.Sincehisgraduationfrom the
FacultyofArchitectureandUrbanismatUniversidadedeSãoPaulo,ithasbeenalmost50yearsdedicatedtoarchitec
ture, practicethat remains active.As the architect’s production, it willbe regarded the
workdeveloped inover 200
projectsforvariousthemes,aswellastheparticipationinsocietyandasauniversityteacher.Itwillbeconsideredthe
broadestmeaning,theoneofaccomplishment,upontakingtheproductionofthearchitectasthemainfocusofthis
research.Itcancontributeto
theunderstandingoftherecentproductionoftheBrazilianarchitecture,whichstilllacks
furtheranalysis bythe critic,withthe outlining ofaparticular productionwithin thebiggercontext ofthehistory of
Brazilianarchitectureanditspoliticalandculturalmoments.Atfirst,theBrazilianarchitectureitwasstudiedsincethe
implementation of thefirst modernist ideas,which hascreated a background forthe analysis ofthe architect’s pro
duction, that the research turns to on the following chapters, organized in programmatic and time axles that inter
cross.The selected projects arethose that better represent the ideasof the architect,
which includesthe ones that
couldhavebeendevelopedtoitslaststagesofconstructionaswellasproposalsthathadnotbeentakenforward.In
allcases,theselectionwasconfirmedininterviewswiththearchitect.Abiggernumberofinclusionswas prioritized,
tobringtothelightthisproduction
andtocreateapanoramicvision.Ontheotherhand,theavailabilityofPauloBas
tosinclarifyi ng theconcepts andexplainingitstrajectoryconfigureda researchsourcethat showedtobeinfinite. It
waslookedforconceptsthat,repeated,confirmitsforce,andforthosethat,withoutparallel,demonstrate
theampli
tudeofthethoughtofthearchitect.TheconstructionofBrasiliamarkedanimportantmomentbecause itrepresented
theyearningforaqualitativeimprovementinthelifeofthecountry.Inthefieldofthearchitecture,itrepresentedthe
concreterealizationinamplescaleoftheidealsofthe
modernarchitecturethatwerebeingdevelopedinBrazil.The
architects, having demonstrated indispensable contribution for the materialization of the ideals that Brasilia
represented, saw the demand their work grow. The generation of architects formed at the beginning of the 1960’s
veryearlyassumedprominentpositions,startingtoworkandcompose
thearchitecturalpanorama.Asmanyothers,
PauloBastos,startedhis careerlivenedup withthepossibility tocontribute forthecontinuityanddeepeningof the
projectthatgreatpartof thecountryshared.However,theatmospherethathadbeenpreviouslydelineatedwasin
terruptedwiththetakingpowerbythemilitary
in1964.Ontheotherhand,theeconomicdevelopmentwasintense
andmanybuildingswereconstructedtoequiptheStatethatdeveloped.PauloBastos,whocanbeconsideredoneof
thesearchitects,didnotholdbackbytherepressionofthemilitaryregimenanddevelopeditsprojectswithacritical
andsensiblespirittothehumancharacterofthearchitecture.
10
11
SUMÁRIO
Capítulo1[Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960]
Iniciativaspioneiras..........................................................................................................................................................21
Consolidação.....................................................................................................................................................................26
Outrosrumos....................................................................................................................................................................39
Chegadaepartida.............................................................................................................................................................43
Capítulo2[Residências]
01.CasadePraiaJ.C.Pellegrino.......................................................................................................................................55
02.ResidênciaAécioArouche...........................................................................................................................................58
03.ResidênciaArthurAfonso
deSouza............................................................................................................................60
04.ResidênciaWalterRicchetti........................................................................................................................................63
05.ResidênciaPauloBastos..............................................................................................................................................65
06.ResidênciaVictorForoni.............................................................................................................................................67
07.ResidênciaJosefHitz...................................................................................................................................................71
08.ResidênciaOscarFerreira...........................................................................................................................................73
09.CasadeCampoDennisGiacometti.............................................................................................................................74
Capítulo3[Educação]
Educaçãoformal
10.
GrupoEscolarVilaBrasília..........................................................................................................................................79
11.CentroEducacionaldeCorumbá................................................................................................................................84
12.GrupoEscolardeRubiácea .........................................................................................................................................91
13.CentroEducacionaldeMacedônia.............................................................................................................................93
14.EscolaMunicipaldeVilaEspanhola............................................................................................................................97
15.EscolaMunicipaldeAmericanópolis..........................................................................................................................99
16.EscolaMunicipalJardimRobru.................................................................................................................................
101
17.ColégioAugustoLaranja...........................................................................................................................................102
18.EEPGJardimAlpino...................................................................................................................................................109
19.EEPGJardimLeonor..................................................................................................................................................111
20.EEPGJardimdaRepresa...........................................................................................................................................111
Educaçãoinformal
21.AnteprojetodoEspaçoCriança.................................................................................................................................114
22.PraçaObservatóriodeAraras,anexaàEEPGProfªJudithLegaspe.........................................................................116
23.MuseuMunicipaldePeruíbeeinstrumentosdeobservaçãoastronômicaedapaisagem.....................................119
12
24EstudopreliminardeorganizaçãodasáreasdebrinquedodoSESCItaquera..........................................................123
Atuaçãocomoprofessordearquitetura.........................................................................................................................125
Capítulo4[ProjetosInstitucionais]
25.PostodeSementesdeCampinas..............................................................................................................................132
26.SededoSindicatoNacionaldosAeronautas.............................................................................................................135
27.QuartéisGeneraisdeSãoPaulo................................................................................................................................135
28.QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo..................................................140
29.ConjuntodoCorpode
BombeirosdeMogidasCruzes............................................................................................147
30.EdifíciosdaSuperintendência RegionaldaCompanhiaPaulistadeForçaeLuz.......................................................149
31.HospitalMunicipaldeSão JosédosCampos............................................................................................................151
32.ClubePaineirasdoMorumby....................................................................................................................................158
Capítulo5[Restauro]
33.EEPGProf.JúliodeMesquita....................................................................................................................................168
34.
CasarãodaRuadoCarmo,198.................................................................................................................................170
35.IgrejadeSãoCristovão..............................................................................................................................................172
36.CatedralMetropolitanadeSãoPaulo(Sé)................................................................................................................175
Capítulo6[Urbanismo]
37.ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú....................................................................................................................183
38.PlanodeUrbanizaçãodas FavelasJardimFloresta,JardimPousoAlegre,Sta.RitaII
eImbuiasI...........................188
39.ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru........................................................................................................................195
40.AvenidaÁguaEspraiada............................................................................................................................................198
41.EstudopararevitalizaçãodaCracolândia.................................................................................................................201
42.ProjetodeRevitalizaçãodaRuadoGasômetro........................................................................................................203
ConsideraçõesFinais.....................................................................................................................................................207
Bibliografia....................................................................................................................................................................213
13
“MeucaroFedro,eisaquio maisimportante.Nãogeometriasema palavra.Sem esta,asfigurassão
acidentes;enãomanifestamopoderdoespírito,nemoservem.Mas,aocontrário,osmovimentosque
geramasfiguras,reduzindoseaatosnitidamentedesignadosporpalavras,cada
figuraéumaproposição
quepode comporsecom outras;esabemos assim,distraídostanto davisãoquantodo movimento,re
conheceraspropriedadesdascombinaçõesquerealizamos;econstruirouenriquecerumespaço,através
dediscursosbemencadeados.”
VALÉRY,Paul.EupalinosouOArquiteto.RiodeJaneiro,Ed.34,1996.p
93.
14
15
Apresentação
Otrabalhose voltaparaoestudo daobradoarquiteto PauloBastos.Desdesua formatura,pelaFaculdadede
ArquiteturaeUrbanismo daUniversidade deSão Paulo,são quase 50anos dedicadosaoofícioda arquitetura,fazer
incessante que per manece ativo. Como obra do arquiteto será entendido o trabalho
desenvolvido em mais de 200
projetosdeprogramasvariados,alémdaparticipaçãoementidadesdeclasseeentidadesciviseaatuaçãono âmbito
doensino.Aosecolocaraobradoarquitetocomoobjetodestetrabalho,aforaadenotaçãoqueseestabeleceentre
aspalavras‘obra’e‘arquitetura’,tomase
osentidomaisamplo,oderealização.
Nãoseperdendodevistaque aArquiteturaé,antesdetudo,construção,equeoofíciodoarquitetoéorganizar
oespaçoparaumadeterminadafinalidade,oestudodosprojetoselaboradosporPauloseráopontocentraldotraba
lho. Considerando que
a Arquitetura encerra uma determinada intenção, a busca será pelos princípios condutores
manifestadosemcadaprojeto,poisemcadaumsempreumavariedadedesoluçõespossíveis,cabendoentão,ao
sentimentoindividualdoarquiteto, escolher.
Aconstru çãodeBrasíliamarcouummomentoimportanteporquerepresentouoanseioporumamelhoriaqua
litativanavidadopaís.JuscelinoKubitschekapresentaraeestavacolocandoempráticaumplanoamplodedesenvol
vimentoquecontavacomsignificativoapoiodasociedade.Nocampo daarquitetura,representouaatualizaçãocon
cretaemescalaampladosideaisdaarquiteturamodernaquevinhamsendogestadosnoBrasil.Representou
também
umpontoaltodapesquisaformaletecnológicadesenvolvidanaprocuraporumaarquiteturaaomesmotempomo
dernae brasileira.Paulo Bastos,emseu discursona formaturadaFAU apontavaaos colegasformandosque “Nosso
trabalhoprofissionalcomeçará noanoquesurge comoo decisivoparaadefinitiva ratificação
dosanseios dedesen
volvimentodopaís.”
i
Paralelamente,omovimentoarquitetônicobrasileiro,aomesmotempoemqueseafirmava,tambémcomeça
ra, na década de 1950, a ser questionado. A discussão girava em torno do desenvolvimento da arquitetura para
responderàdemanda pornovosespaçosqueo anseiopelodesenvolvimentosocialtrazia,abandonandoavisãoabs
tratadohomemesevoltandoparaarealidadedopovobrasileiro.

i
Discursonaformaturadaturmade1959daFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPauloproferidoporPauloBastos.
Fonte:Acervodoarquiteto.
16
Os arquitetos, tendodemonstrado contribuição indispensável paraa materializaçãodos ideais queBrasília re
presentava,viamcrescerademandaporseustrabalhos.NessecenáriofoiimportanteopensamentodeVilanovaArti
gasque,aoelevara questãodaarquiteturaàdimens ãodaéticapolíticaesocial,descortinavanovoshorizontesajo
vensadmiradores.Ageraçãodearquitetosformadanoiníciodosanos1960muitocedoassumiuposiçãodedestaque,
passandoaatuarecomporopanoramaarquitetônico.
Comomuitosoutros,PauloBastos,recémsaídodafaculdade,começousuacarreiraanimadopelapossibilidade
de contribuir para a continuidade e aprofundamento do projeto
que grande parte do país compartilhava, como
delineava noreferido discurso de formatura:“A insistência eardor da discussão nãodos problemasprofissionais
comodosproblemasgeraisdopaíscomosprofessores,osarquitetoseosoutrosestudantesacabaramporcompletar
oquadrodaresponsabilidadequeapartirdaí,
passouanosatingir.Aresponsabilidadedaluta.”
ii
Entretanto,aatmosferadeaberturaquesedeli neavaanteriormentefoiinterrompidacomatomadadopoder
pelosmilitaresem1964easpossibilidadesdediálogoforamgradativamentecerceadasatéqueaediçãodoAtoInsti
tucional 5 oficializou o regime violento de repressão que passaria a vigorar. Por outro
lado, o desenvolvimento
econômicofoiintensoeseconstruiubastanteparaaparelharoEstadoquesedesenvolvia.Entretantonãohaviamais
um projeto amplo para o país, como houvera antes. Muito foi construído sem que houvesse uma es trutura que
possibilitasseeoferecessesuporteaodebatearquitetônico.Asconquistas,desdeentão,puderam
sercreditadasnão
maisaotrabalhodeumgrupounidoemtornodeumprojetoparaopaís,masaotrabalhoindividualdearquitetosque
nãoabrirammãodasuaresponsabilidadeparacomaconstruçãodeumidealdesociedade.
Paulo Bastos, que pode ser considerado um desses arquitetos, não
se deixou arrefecer pela repressão do
regime militar e trabalhou muitasvezes em projetos de obras públicas que governomilitar implantou. Desenvolveu
seusprojetos comumespírito críticoesensível aocaráterhumanoda arquitetura,na procurapor possibilidades de
resistênciaeatuação,fossejuntoaopartidocomunistaounoInstituto
deArquitetosdoBrasil.
AobradoarquitetoPauloBastosficou,porvezes,encobertainjustamentepelavisãocristalizadadoperíodode
suaprodução,queparececomeçaraseracrescentadademaisnuances.Apesquisapretende,aotraçaropanorama
de um caminho particular dentro do contexto maior da história da
arquitetura brasileira, poder contribuir para o
entendimento da produção recente, ainda carente de análise pe la crítica retomada com abertura política, que tem
muitoadesvendar.

ii
Idem
17
Numprimeiromomento,foitraçadoumpanoramadahistóriadaarquiteturabrasileiradesdea implantaçãodas
primeirasidéiasmodernasatéomomentodaconstruçãode Brasília,baseadaempesquisasbibliográficas.Issopermi
tiuacriação deumaperspectivaparaadiscussãodaproduçãodoarquiteto,sobreaqualapesquisase
debruçounos
capítulosseguintes,organizadosporeixosprogramáticosetemporaisque,comoseverá,seentrecruzam.
Emprincípio,atarefaderevisara vastaproduçãodoarquitetomostrousecomplexa,poispraticamentetodos
osprojetosrealizadosporPauloBastoscontamcomfartomaterialdisponívelnoseuacervopessoal.Poroutro
ladoa
disponibilidadedePauloBastosemesclarecerosconceitosenarrarsuatrajetóriaconfigurouumafontedepesquisa
queserevelouinfinita.Procurouseporconceitosque,repetidos,confirmamsuaforça,eporoutrosque,semparale
lo,demonstramaamplitudedopensamentodoarquiteto.
Aseleçãodosprojetosmais
significativosfoibaseada emalgunscritérios.Foramselecionados osprojetosque
melhorrepresentamasidéiasdoarquiteto,oqueincluitantoosquepuderamserdesenvolvidosàssuasúltimaseta
pasdeconstruçãoeapropriaçãopelaspessoas,quantoestudosquenãosaíramdopapel.Nessaseleção,ainclusãoou
exclusão
deumdeterminadomaterialdeveriaguardarrelaçãocomoobjetivodotrabalho,queétraçarumpanorama
daobradePauloBastos.Emtodososcasos,aseleçãofoiconfirmadapormeiodeconversascomopróprioarquiteto.
Priorizouseumnúmeromaiorde inclusões,mesmoqueistoimpossibilitasse umadiscussão
maisaprofundada,para
queosobjetivosdetrazeràluzestaproduçãoecriarumavisãodeconjuntonãoseperdessem.
18
Notapessoal
ConheciPauloBastosem1999.Antes,ouvirafalarnoprofessorsérioededicadoqueorientavaostrabalhosfi
naisdegraduaçãonaUniversidadeCatólicadeSantos,ondeestudei.Quandochegouahora,propusmeutemaaele,
queaceitou.Sorteminhapoderteraexperiênciade“trabalhar”comele.
Nãosabia,masesteseriaapenasoprimeiro
anodeconvivência.Terminadaagraduação,veioaincubação,comoconviteparaintegraraequipequetrabalhava,à
época,noprojetoderestaurodaCatedraldaSé.Nós,arquitetos,nascemosprematuramente.Foibomteraprendido
issologocedo.Nãopossodizer
quetenhaterminado.Ointeresseemcontinuar minhaformaçãoseguindoocami
nhoacadêmico mecolocoua oportunidadede desenvolverum trabalhomais aprofundadosobre otema quevinha,
aos poucos, conhecendo. Valentia inconseqüente, tampouco sabia que conhecia tão pouco. O trabalho a cada mo
mentomostravasemaisinteressante.
OtrabalhodoPaulo,e,porconseqüênciaomeu.Sorteminha,denovo, poder
terminarapesquisacomo mesmoentusiasmocomqueacomecei.Elafoiconduzindo acaminhosque,alémdefor
marumpesquisador,formoutambém,podemosdizerassim,humildemente,umarquiteto.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
19
Capítulo1
[Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960]
Iniciativaspioneiras..........................................................................................................................................................21
Consolidação.....................................................................................................................................................................26
Outrosrumos....................................................................................................................................................................39
Chegadaepartida.............................................................................................................................................................43
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
20
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
21
Oinício dosanos1960foi marcadopelaimplantaçãodeBrasília, cidadeconstruídacomo frentedesbravadora
daocupação dointerior doBrasil, levadaa caboporJuscelinoKubitschek como partedeseu PlanodeMetaspara o
desenvolvimentodopaís.Grandiosofeitoparaaarquiteturaeengenhariadopaís,marcouo
pontomáximodoenca
minhamentodalinguagemmodernadesdesuasprimeirasmanifestaçõesnoiníciodoséculo.Maisqueisso,caracteri
zouimportantemarcoemumprocesso histórico,políticoesocial.AformaturadePaulo Bastos,em1959,éo ponto
inicialdessetrabalho,masfazsenecessárioquesevolte
àsprimeirasdécadasdoséculoXXparaaconstruçãodeum
ângulodevisãoquepermitaentenderosprocessosqueculminaramnestemomentoeinfluenciaramseudesenvolv i
mentoposterior.
Iniciativaspioneiras
Aintroduçãodeidéiasfundamentaisparaarenovaçãodaarquiteturabrasileirafrenteaosavançosconsegui
dos na Europa é
devida à publicação deA arquiteturae a estética das cidades, escrito por Rino Levi em1925, e de
Acercadaarquiteturamoderna,manifestodeGregoriWarchavchik,domesm oano.Ambosdefendemanovaarquite
turaemmeioàagitaçãoculturaleàvontadedemudançasquecresciadesdeo
iníciodoséculonoBrasil,catalisadas
em1922pelaSemanadeArteModerna,emSão Paulo.Essafoiumadasvertentesdamodernidadeque seensaiava
noBrasil, apenasparte deum processo complexo emquese entrecruzaramdinâmicasdiferentes. Outroenfoquea
pontaquea introduçãodomodernismona
arquitetura
deve ser encarada pela coerência entre os novos pro
gramas,asnovastécnicasconstrutivasesuaexpressão
estética.Dessemodo,aconstruçãodaestaçãoferr ovi
ária de Mairinque, no Estado de São Paulo, projetada
em 1907 por Victor Dubugras, trazia elementos de
modernidade,peloquefoipioneiranouso
doconcreto
armadoapartirdesuapotencialidadeplástica
1
.
Em fevereiro de 1922, aconteceu a Semana de
Arte Moderna, que tinha como intenção causar o im
pactoderompercomatradiçãoestabelecida.ASe ma
1
LEMOS,C.Arquiteturacontemporânea,inZANINI,Walter(coord.)HistóriageraldaartenoBrasil.SãoPaulo:InstitutoWaltherMoreiraSalles:
FundaçãoDjalmaGuimarães,1983,v.2.
VictorDubugras.EstaçãoferroviáriadeMairinque.1907
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
22
nadestacase,segundoHenriqueMindlin,comopontodereferêncianaformaçãodomovimentoemdireçãoàarqui
teturamodernanoBrasil,porterpropiciadoascondições favoráveisaoseunascimento
2
:“aSemanadeArteModerna
trouxeconsigo ogerme deumautêntico renascimentoque, como tempoiria estabeleceruma relaçãocomos mais
altosvaloresdavidabrasileira,comasfontesdopassado,comaterraecomopovo”.
3
AarquiteturafoirepresentadanaSemanade22comaapresentaçãodedesenhosespeculativosdeumaarqui
tetura de caráter futurista de Antonio Garcia Moya e alguns projetos neocoloniais de Georg Przyrembel. Apesar de
caberaambos,dentrodopanoramamaiordatransformaçãotrazidapelaSemana,aintroduçãodeum
traçoderom
pimento coma convenção,a Semana de22 nãoexerceu grandeinfluência sobre arenovação daarquitetura quese
veriamais tarde.
4
OgrupodaSemanacareciade umverdadeiroprograma.
5
Oprogramaderupturacomopassadoe
2
MINDLIN,Henrique.ArquiteturamodernanoBrasil.RiodeJaneiro,AeroplanoEditora/IPHAN,1999.Mindlincitatambéma“Revoluçãode
1930”,cujainfluênciaseráanalisadaadiante.
3
Id.,Ibid.
4
BRUAND,Yves.ArquiteturacontemporâneanoBrasil.SãoPaulo,EditoraPerspectiva,1991.AimpressãodeBruandpareceserpensamento
consensualentreacrítica.
5
SANTOS,Paulo.QuatroSéculosdeArquitetura.RiodeJaneiro,InstitutodeArquitetosdoBrasil,1981.
GregoriWarchavchik.ResidênciaLuizdaSilvaPrado.1930 GregoriWarchavchik.ResidêncianaRuaSantaCruz.1928
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
23
independência culturalfrenteàEuropatinha caráterdecontestação erevelavaumahesitaçãoquanto aocaminhoa
seguir,principalmentenaarquitetura.
6
Nessecenário,coubeaRinoLevieaWarchavchik,queencontraramemSãoPauloascondiçõesfavoráveispre
paradaspelochoquedaSemanadeArteModernade1922,apontar,emrelaçãoàarquitetura, umpossívelcaminhoa
seguiremdireçãoàrenovaçãopretendida,pordivulgaremlocalmenteasteoriasdavanguarda
arquitetônicaeuropéi
a,e pelarepercussãoquetiveramsuas primeirasobras construídas.RinoLevi, brasileiro,envioude Roma,onde ter
minavaosestudos,omanifestoAarquiteturaeaestéticadascidades,publicadopelojornalOEstadodeS.Paulo,em
15deoutubrode1925.Neste,apontaque“a
arquitetura,comoartemãe,éaquemaisseressentedosinfluxos mo
dernosdevidosaosnovosmateriaisàdisposiçãodoartista,aosgrandesprogressosconseguidosnessesúltimosanos
natécnicadaconstruçãoesobretudoaonovoespíritoquereina[...]”
7
.
Warchavchik,deorigemrussa,haviaconcluídoosestudos noInstitutoSuperiordeBelasArtesdeRoma,onde
tomou conhecimento da agitação causada na Europa pelas idéias revolucionárias de alguns arquitetos audaciosos
lideradosporLeCorbusier.Publicou,em1925omanifestoAcercadaarquiteturamodernanojornalcariocaCorreioda
Manhã,
defendendoque
“Anossaarquiteturadeveserapenasracional,devebasearseapenasnalógicaeestalógicadevemosopôlaaos
queestãoprocurandoporforçaimitarnaconstruçãodealgumestilo.[...]Tomandoporbaseomaterialdecons
truçãodequedispomos,[...],fazendorefletiremsuasobrasasidéias
donossotempo,anossalógica,oarquite
tomodernosaberácomunicaràarquiteturaumcunhooriginal,cunhonosso, [...]. Abaixoasdecoraçõesabsur
dasevivaaconstruçãológica,eisadivisaquedeveseradotadapeloarquitetomoderno.”
8
Defato, foi a casaconstruída em 1928 naRua Santa Cruz,em São Paulo, que permitiu aWarchavchik sair do
planoteóricoeconquistaraatençãodasociedadeparamostrarna práticaossignificadosquepoderiamterseumani
festo.Oprojeto erabaseadonouso exclusivodoânguloreto
enaausênciade elementosdecorativos enodespoja
mentovoluntariamenteprovocador.Aconstruçãosetornouosímbolodaarquiteturaatualizadanoplanointernacio
nalquesebuscava.Écertoqueasinovaçõespropostaslimitavamseaquestõesestéticaseaprimeiracasamodernis
tanãoestava,portanto,totalmentede
acordocomoideáriomodernoecomodiscursorevolucionário.
6
BRUAND,Yves.Op.Cit.
7
LEVI,Rino.Op.Cit.
8
WARCHAVCHIK,Gregori.“Acercadaarquiteturamoderna”,publicadopelojornalCorreiodaManhãemdenovembrode1925,inXAVIER,
Alberto[org.].Arquiteturamodernabrasileira:depoimentodeumageração.SãoPaulo,Pini/Abea/FVA,1987.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
24
Umadas primeiras experiências práticasde umaar quitetura moderna,a casada Rua SantaCruz tevequeen
frentar todas as vicissitudes do atraso da tecnologia local. A aplicação dos preceitos enunciados foi comprometida
pelascondiçõesmateriais,poisnãoseencontravamnomercadocertoselementosnecessáriosaumaconstruçãomo
derna.
Faltavammateriaisindustrializadosemãodeobradispostaaabandonaratécnicatradicional.Acasafoicons
truídacomtijolosrevestidosaoinvésdoconcretoarmadoeacoberturafoifeitaemtelhasdebarro,aoinvésdalaje
planaedotetojardim.“Nãohaviamcondiçõesmateriaisnemgeralmente
culturaisouestéticasquedeterminassemo
aparecimentodaarquiteturamodernanoBrasil.Suaconstrução dependeudeumesforçopessoal”
9
,tendoWarchav
chikdesenhadoemandadoexecutaroselementosnecessários.
A repercussãoda casa da Rua SantaCruz trouxe a Warchavchik outrasencomendas, quelhe permitiram a in
corporaçãogradualdasinovaçõestecnológicasqueiamsurgindorapidamenteedoscinco pontosdaarquiteturadeLe
Corbusier
10
,caminhandoemdireçãoàacentuaçãodocaráterplásticoeàorganizaçãodoprogramaemvolumespris
máticoseabandonandoacomposiçãodesuperfíciesplanas.Tendoaceitoosprincípiosbásicosdateoriacorbusiana,
empenhouseemaplicála,atingindoporaproximações sucessivasoidealaquesepropusera.Apropostacompleta
de
um estilo novo, de acordo com as exigências do século XX aparece efetivamente na Exposição que organizou, em
1930, na residência recém construída no bairro do Pacaembu, em São Paulo, que teve gr ande êxito. Foi mostrado,
então,umconjuntocompletodearquiteturaedecoraçãointerior,commóveisfabricadosde
acordocomasuaarqui
teturaeobrasdepintores,escultoresegravadoresdevanguardanopaís.
Em1930,arevoluçãolideradaporGetúlioVargasimpôsumnovoregimeeumnovoestadodeespírito.Erafru
to de um longo processo marcado pelo anseio por mudanças manifestado em todos os
setores desde 1922. Existia
umavontadeeumaesperançadetransformarcompletamenteopaís,semlimitarseapenasaosistemapolítico,afim
de criar as bases necessárias para o seu crescimento
11
. Nesse panorama, o Estado lançou uma política cultural que
tevecomomarcoinicialacriaçãodoMinistériodaEducaçãoesedesdobrounaformaçãodediversosoutrosórgãos.
Intelectuaisdasmaisdiversasformações ecorrentesparticiparamdesseentrelaçamentoentrecultura epolíticaque
caracterizouosanos1930,ocupandocargosimportantes
naadministração.
9
FERRAZ,Geraldo.WarchavchikeaintroduçãodanovaarquiteturanoBrasil:1925a1940.SãoPaulo,MASP/Habitat,1965.
10
OsCincoPontosparaumaNovaArquiteturaaparecemnasprimeirascasasprojetadaspeloarquiteto,sendoqueapenasnaVillaSavoyeforam
integralmenterealizados.Sãoeles:Pilotis,liberandoetornandopúblicoosolo;Terraçojardim,transformandoascoberturasemterraçoshabi
táveis;Plantalivre,FachadalivreeJanelaemfita,oufenêtreenlongueur,resultadosdiretodaindependênciaentreestruturasevedações.Le
Corbusier.LeCorbusier,191065.W.BoesigereH.Girsberger(ed.).Zurick,Architektur,1967
11
BRUAND,Yves.Op.Cit.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
25
Nos anos 1920, o campo da arte e cultura era
dominado por uma discussão sobre a identidade da
ção. A ideologia revolucionária formulada nos primeiros
anosdaEra Vargasveiorevelarfortes pontosdecontato
com as propostas defendidas por intelectuais como
veiraViana, AzevedoAmaral eFranciscoCampos, que
se
tornou o primeiro ministro da Educação. Coube ao
no centraltomar asrédeas do podere ditaras diretrizes
do desenvolvimento brasileiro. Sua política cultural
volveu a nomeação de intelectuais para postos de
que e a criação de diver s os órgãos capazes de atraílos
para junto do governo. Manuel
Bandeira foi convidado,
em1931, parapresidir do SalãoNacionalde BelasArtes.
Em 1932, o escritor José Américo de Almeida assumiu a
pasta daViação e Obras Públicas.Gustavo Capanema foi
nomeado,em1934,ministroda EducaçãoeSaúdePúbli
ca, e convidou o poeta Carlos Drummond de Andrade
para
chefiarseugabinete.MáriodeAndradeassumiu,em
1935,adireçãodoDepartamentodeCulturadaMunicipalidade deSãoPaulo.Foielequemindicou,juntamentecom
ManuelBandeira,onomedeRodrigoMeloFrancodeAndradeparaorganizaredirigiroServiçodoPatrimônioHistóri
coeArtísticoNacional,principal
instituiçãodeprote çãodosbensculturaisdopaís,criadalogoapósogolpedoEstado
Novo.Aparticipaçãodestesintelectuaisnavidanacio nalrespaldavasenacrençadequeeleseramumaelitecapazde
conduzir opaís aodesenvolvimento, pois estavamsintonizados comas novastendências domundo e atentos
às di
versasmanifestaçõesdaculturanacional.
OarquitetoLúcioCostaeraodiretordaEscolaNacionaldeBelasArtes.Suaatuaçãocomodiretorseestendeu
apenasporalgunsmeses,suficientes,noentanto,paraqueexercesseinfluênciadecisiva.Atéentão,ocursodaescola
era ministrado de forma clássica, e
o ensino da arquitetura era encarado de forma obsoleta. Copiavamse os livros
clássicos,semdireito aqualquer criaçãoouinterpretação.
12
Lucio Costaempreendeu grandereforma eincluiu nae
12
SOUZA,Abelardode.ArquiteturanoBrasil:depoimentos.SãoPaulo,Diadorim/EditoradaUniversidadede oPaulo,1978.
GrupodeintelectuaiseartistasdurantealmoçooferecidoaPorti
nari.Daesquerdaparaadireita:CândidoPortinari(5º),Rachelde
Queirós(9º),MáriodeAndrade(12º),ManuelBandeira(16º)e
RobertoBurleMarx(19º).
RiodeJaneiro,1939
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
26
quipe de professores Warchavchik e Alexander Buddeus, responsáveis por grande revolução.
13
Formouse, então, a
primeirageraçãodearquitetos modernos,comoOscar Niemeyer,CarlosLeão,LuisNunes,JorgeMoreira,Alcides da
RochaMirandaetantosoutrosque,abrindo caminho,iriamdarumgrandeimpulsoàarquiteturaquenascia.
14
Emseu
conjunto,haviamtomadoconsciênciadanecessidadedeabandonaracópiadosestilosdopassado;eosmaisdinâmi
cosnãotardariamemrevelarsepartidáriosdanovaarquitetura,destacandosesignificativamente.
15
Aperspectiva colocadapor GetúlioVargasa partir de1930,paraque opaísassumisse ummodeloeconômico
industrializado em lugar do agrárioexportador vigente, teve rebatimentos práticos quase imediatos. O sentido mo
dernizadordo processode industrializaçãoantecipoualgumas escolhas,principalmente noâmbitoda gestãofederal
da Cultura. Essas
ações pareciam tentativas de difundir
perante a sociedade do Rio de Janeiro, Capital Federal,
àquelaépoca,aimagemdemodernidadequeinteressava
explorar naquele momento, talvez como forma de ala
vancaradesejadaimplantaçãodonovomodeloindustrial
para o país.
16
Com construções como a do Ministério da
Educação e Saúde Pública, procuravase demonstrar a
força e a pujança do regime e, nesse caso, o arrojo do
EstadoNovonaáreacultural.
Consolidação
Em1935foiabertoconcursodeprojetosparaoe
difício do Ministério da Educação. O primeiro
colocado
no concursonão foi oprojetoexecutado.Gustavo Capa
nema, então ministro rodeadode intelectuais modernis
tasemseu gabinete,resolveusolicitarumnovo projetoaLucio Costa,queconvidoupara integrarsuaequipeCarlos
Leão,JorgeMoreira eAffonsoEduardoReidy,alémdeOscarNiemeyereErnaniVasconcelos.O
projetofoiapresenta
doemmaiode1936,comaincorporaçãodeensinamentosteóricosdeLeCorbusier,aquemLucioCostapropôsque
13
SANTOS,Paulo.Op.Cit.
14
SOUZA,Abelardode.Op.Cit.
15
BRUAND,Yves.Op.Cit.
16
THOMAZ,DalvaElias.Artigas:aliberdadenainversãodoolhar;modernidadeearquiteturabrasileira.SãoPaulo,FAUUSP,2005.TesedeDou
torado.
LucioCostaeequipe.
MinistériodaEducaçãoeSaúdePública.RiodeJaneiro,1936
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
27
seconsultassequantoaoresultadofinal,criandoaoportunidadedotrabalhoconjuntoentreaequipe eomestre,no
mêsemquesedesenvolveuotrabalho.AdecisãodeconvidaropróprioLeCorbusierparatrabalharcomoconsultor
doprojetoépartedeumacordoentreLucioCostaeCapanema.O
arquitetochegouentãoaopaísem1936paraas
sessorardiretamenteoplanodoministérioeparaelaboraroprimeiroesboçodaCidadeUniversitáriaquesepreten
diaconstruirnaQuintadaBoaVista,masquenuncasaiudopapel.
LeCorbusiereraconhecidoeinteressavaaosjovenscom
seustextoselucidativosjustificandopasso apasso
seusprojetosfuncionalistas.SuavindaaoBrasilem1929,quandofezduasconferências emSãoPauloeduasnoRio
deJaneiroexpondosuasteorias,foiimportantecatalisadorparaaformaçãodessegrupodejovensarquitetos.Masfoi
emsuasegundavisita,em1936,
quesedimentousuainfluência sobreaarquiteturabrasileira.“Suaspalestrascomos
jovensarquitetosealunosdearquiteturavieramdaraessesumamaiorsegurançanoqueestavamfazendoeumsen
tido certo no caminho da nova arquitetura, constituindo um dos fatos marcantes para o desenvolvimento da nossa
arquitetura.”.
17
Eleteveachancedetransmitirseusensinamentosatravésdasconferênciasqueproferiumasfoi,sobretudo,o
trabalho que desenvolveria junto à equipe formada para realizar o projeto do Ministério da Educação e Saúde que
repercutiudecisivamenteentreosarquitetosbrasileir os.
“AcontribuiçãodeLeCorbusierparaoedifício do ministérioéinegável.Cabenos,entretanto,constatarqueo
terreno cultural achavase como que preparado, dominadopor figuras que puderam valorizar e assimilar com
lucidezaexperiênciaartísticadomestrefrancêsconformandoaaosideaisnacionalistas ereformadoresdaRe
volução
de30”
18
O edifício laminar sobre pilotis com dez metros de altura, liberando o térreo para o uso público conectado à
trama da cidade existente, as soluções de adaptação ao clima do país com o uso do brisesoleil explorado
plasticamente na fachada mais exposta à luz do sol e a integração de
obras de arte ao conjunto arquitetônico
definitivamentecaracterizaramsoluçõesparadigmáticasnocaminhotomadopelaarquiteturanosanosquesesegui
ram.
17
SOUZA,Abelardode.Op.Cit.
18
ARTIGAS,J.B.Asemanade22eaarquitetura.InARTIGAS,J.B.Caminhosdaarquitetura.4.ed.rev.eampl.OrganizaçãodeJoséTavares
CorreiaLiraeRosaArtigasSãoPaulo,Cosac&NaifyEdições,2004.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
28
ApartirdosestudoselaboradosedassugestõesdeLeCorbusier,aequipedesenvolveuoprojetofinal,noqual
sepercebeasuainfluência,masqueevoluiuparaumasoluçãocompersonalidadeprópria,divergentedasconcepções
doconsultor,leveeplasticamentelapidada.
"Estão, de fato, ali codificados, numa execução
primorosaecom apurada modenatura,todosospostu
lados da doutrina assente: a disponibilidade do solo a
pesar de edificado, graças aos pilotis, cuja ordenação
arquitetônica decorre do fato de os edifícios não se
fundaremmaissobreumperímetromaciçodeparedes,
mas sobre
os pilares de uma estrutura autônoma; os
pisossacadosparasuamaiorrigidez;asfachadastrans
lúcidas, guarnecidas‐conforme se orientam para a
sombra ou não‐de quebrasol ou apenas dispositivo
paraamorteceraluminosidadesegundoaconveniência
eahora,emotivadaspelacircunstânciadenãocons
tituir mais a fachada elemento de suporte, senão sim
plesmembranadevedaçãoefontedeluz,oquefaculta
melhor aproveitamento, em profundidade, da área
construída;alivredisposiçãodoespaçointerno,utiliza
do independentemente da estrutura; a absorção dos
vigamentos para garantira continuidadecalma dos te
tos;a
recuperaçãoajardinadadacobertura.”
19
OedifíciodoMinistériomostrouqueatecnologiamoderna
deconstrução,adoconcretoarmado,nãoestabeleciaumconflito
com o repertório formal que mais tipicamente nos representava
emtermosarquitetônicos.“Estadescobertaacalmouumapolêmi
caestilísticaqueduroualgumtempo”
20
,tornandoseobradefun
damentalimportânciadaarquiteturamodernadefeitiobrasileiro.
No Brasil, a introdução da modernidade como uma condição his
19
COSTA,Lucio.SobreArquitetura.PortoAlegre,CEUA,1962.p.194
20
ARTIGAS,J.B.Op.Cit.
LucioCostaeequipe.MinistériodaEducaçãoeSaúde
Pública.RiodeJaneiro,1936
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
29
tórica pôde ser reconhecida junto com o processo de chegada de idéias delineadas a respeito do que fosse uma
arquitetura moderna. Ou seja, a arquitetura moderna fez parte de um processo de modernidade. “Não havia uma
condição de modernidadeanterior que construísseou reclamasse formasculturais e artísticas nasquais
poderiaser
concebidaumaarquiteturamoderna”
21
.OedifíciodoMinistériodaEducaçãoeSaúdeéfrutododesejodeumaadmi
nistraçãoedeumaépoca.Aoadotarmosaarteeaarquitetura modernas,nostornaríamosnaturalmentemodernos,
aptosasermosincluídosnumquadrodemodernidade.SeoBrasilserenovava,aqualidadeprincipaldeseus
edifícios
deveria sera inovação, não como produtodo acaso ou decircunstânciasexcepcionalmente favoráveis,mas a resul
tantedeumesforçoorganizado,valendosedopassado,paraevoluiremdireção aofuturo.
Apolêmica inicialcausada pelosartistas daSemana de1922foi perturbadora.
Originadapelocrescentedescontentamentocom
o“atraso”brasileiroemrelaçãoao
turbilhãodenovidadesquevinhadaEuropa,o movimentointroduziuumquestiona
mento profundo e demandou uma tomada de posição brasileira. Na arquitetura, o
questionamento foisentido elentamente surgiramposiçõesque situariamopaís no
augedavanguardaatravésdarenovaçãoe,principalmente,da
inovaçãodesuaarqui
tetura.Foiumperíododemilitânciaintensaeafeiçãodaarquiteturacomosequeria,
modernaenacional,estavacodificadaem1936comoprojetodoMinistério.
Todavia,o Ministérionãoeraobraisolada,pois“outras,dealtaqualidade, con
cebidas dentro do mesmo espírito eram
concomitantemente construídas, formando
um conjunto que testemunhava a vitalidade da nova arquitetura no país”.
22
Nesse
contexto devem ser destacados o projeto para a Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), elaboradopor Marceloe Milton Robertoantes mesmo doMinistério, introdu
zindo a solução de brises como recurso plástico, e o projeto de Attílio Correia Lima
paraa Estaçãode hidroaviões,tambémnoRio deJaneiro,
orientadopor umprogra
madoqualoarquitetoextraiuefei tosplásticos,cujaexpressãoresultavajustamente
dacoerênciafuncionaledasimplicidadedesuaconcepção.
23

21
THOMAZ,DalvaElias.Op.Cit.
22
BRUAND,Yves.Op.Cit.
23
BRUAND,Yves.Op.Cit.
IrmãosRoberto.
EdifíciosededaAssociação
BrasileiradeImprensa.1936.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
30
O projeto para o pavilhão do Brasil na feira
de Nova York, de 1939, marcou o início de uma
nova procura da liberdade formal para a
tura brasileira, em continuidade às idéias
das no prédio do Ministério da Educação. O
cionalismo ortodoxo seria interpretado com mais
liberdade e a procura por
um novo vocabulário
plástico, incorporada ao programa da arquitetura
brasileira. Nessepanorama, Oscar Niemeyerfoi o
responsável por colocar em prática um novo
cionamento para a arquitetura brasileira, com
predomínio da intenção plástica. O conceito foi
difundido por Lucio Costa, responsável por
sentar aoscolegas o problema daqualidadeplás
tica e do conteúdo lírico da obra arquitetônica,
que distinguiria a verdadeira arquitetura da sim
plesconstrução.
OprédiodoMinistériohaviasidoprojetadoem1936,massuaconstruçãoainda nãoestavaterminadaem1939,
quandoopavilhãodoBrasilnafeiradeNovaYork“antecipouasurpresaqueaqueleedifício
provocariamaistarde”.
24
Emconcursorealizado,oprojetoelaboradoporLucioCostaparaopavilhãofoiovencedor,masesteresolveuconvi
daro segundocolocado,OscarNiemeyerparaelaborarem, juntos,outraproposta.Oresultadofoiaconcepçãodeum
pavilhão“simples,atraenteeacolhedor”comoobjetivodeseimporpelas“suas
qualidadesdeharmoniaeequilíbrio
ecomo expressão,tanto quantopossívelpura, dearte contemporânea”
25
,ao invésdete ntarimpressionar pelamo
numentalidadeepela cnica.
Aconstruçãodopavilhãomarcouabuscapor umalinguagemarquitetônicaprópria,comousodecurvas,dire
cionandoseudesenvolvimentoposterior.Retasecurvas,paredescegasefechamentostransparentesouvazadoscon
24
SEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil19001990.SãoPaulo,EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,1997.p.92
25
COSTA,Lucio.“OPavilhãoBrasileironaFeiraMundialdeNovaYorkArquitetosLucioCosta/OscarNiemeyerFilho”,publicadonarevista
ArquiteturaeUrbanismo,RiodeJaneiro,vol.4,mai/jun1939,inSEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil19001990.SãoPaulo,EditoradaUni
versidadedeSãoPaulo,1997.
p.95
LucioCostaeOscarNiemeyer.
PavilhãodoBrasilnaFeiradeNovaYork.1939
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
31
trastavam, fundindose num conjunto unitário e harmonioso. Estava, assim, comprovado que a arquitetura poderia
serlógicaeracionale,aomesmotempo,guardarcaracterísticasformaisricas.“Tratavasedeconvincenteexemplode
novaformadeexpressãoarquitetônica,comcaracterísticasdecriaçãoautenticamentebrasileiras,emsuaflexibilida
deeriquezaplásticas”.
26
OsanosseguintesàconstruçãodoMinistérioforammarcadosporrealizaçõescadavezmaisnumerosasesigni
ficativasseguindoamesmalinhaquehaviasidolançada.Osarquitetoscomeçaramasedestacaremtendênciasdiver
sificadas,masdentrodosprincípioscomuns. Umdessescaminhosfoiatentativadeharmonizaros
valoresdaarquite
turamodernaeosdatradiçãolocal,oquemarcouprofundamenteaarquiteturabrasileira.Nessaépoca,omodernis
mo daSemana de1922 seconsagrara, evoluindopara umenfoque mais críticodo Brasil. Teminícioa procurade
raízesqueiriamarcaraculturabrasileiranosanos
30eaprocurapelaadaptaçãodasidéiasdasvanguardaseuropéias
àrealidadeemqueviviam.Vãoganhandoespaçoostemasnacionalistas,elogoosartistassepreocupa riamemdes
vendaroBrasil,voltandoseparaasquestõesregionaisesociais.
Apublicação,em 1933,deCasagrandeeSenzala,
deGilbertoFreyre,Formação doBrasil Contemporâneo,de
CaioPradoJúnior,RaízesdoBrasil,deSérgioBuarquedeHolanda,eSobradoseMucambos,tambémdeGilbertoFre
yre, este em 1936, caracterizaram uma nova maneira de se pensar o país. As obras representam um momento de
redescoberta,quandopersonagens
danossaculturacomoomestiçoeamassaanônimadetrabalhadoresdocampoe
dacidadeemergemnaexplicaçãodarealidadebrasileiraequestionamaênfasequetinhao papeldosnossosheróis,
individualmente.
Nadécadade1930,houveumdebateintelectualepolíticosobrequalmatrizregionalexpressaria
melhorana
cionalidade.AlémdasociedadenordestinaretratadaporGilbertoFreyre,encontravasenostextosdeCassianoRicar
doadefesada sociedadebandeirantecomomodeloparaademocraciabrasileira.AlceuAmorosoLima,porsuavez,
apontavanasociedademineiraostraçosdoespíritodefamíliaedereligiosidadecomo
osverdadeirosvaloresdacivi
lizaçãobrasileira.ApósaRevoluçãode1930observouseumatendênciadediversificaçãoculturale,aomesmotem
po,deintegraçãopolíticanacional, quepermitiurealizaraspiraçõesformuladasnosanos20.Aculturasebeneficiou
dasmudançasnaeducação,naliteraturaenosestudos
brasileiros,assimcomodamelhoriadaqualidadedolivroedo
crescimentodomercadoeditorial.
27
26
BRUAND,Yves.Op.Cit.
27
http://www.cpdoc.fgv.br,sitedoCentrodePesquisaeDocumentaçãodeHistóriaContemporâneadoBrasil(CPDOC)daFundaçãoGetulio
Vargas.Acessadoem08/06/2007.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
32
LucioCostaliderouessatentativadesíntese naarquitetura,comapublicaçãodeRazõesdaNovaArquitetura,
em1936,eDocumentaçãonecessária,em1937,textosindispensáveisparaaexposiçãodaarticulaçãoentetradiçãoe
modernidade,apontandoumcaminhoquefoiseguidoeaperfeiçoadopormuitos.Estavaligadoaopatrimônioarqui
tetônicobrasileiro eprocuroupreservarseusvaloresautênticoscapazesdeseintegrarnarenovaçãoqueseconstruía.
Apreciava a simplicidade e a pureza na arquitetura
colonialcivil,mostrandoqueseucaráterfuncionale
lógico aproximavaa das aspirações modernas, ten
do logonotado quenaquela arquitetura havia uma
experiência de
três séculos que poderia fornecer
ensinamentos válidos, especialmente os processos
utilizados que poderiam interessar a técnica con
temporânea.
Diferentemente do modernismo internacio
nal, no Brasil foi estabelecida uma ligação entre o
passado e o futuro, devid o à elaboração de Lucio
Costa,aoafirmar,em1936,que
“apesardoambienteconfuso,onovoritmovai,aospou
cos, marcando e acentuando sua cadência, e o velho
espíritotransfiguradodescobrenamesmanaturezae
nasverdades desempre, encanto imprevisto, desconhe
cido sabor, resultando daí formas novas de expressão.
Maisumhorizonteentãosurge,claro,nacaminhadasem
fim.”
28
Nessesentido, a construção doMinist érioofereceu aoportunidade de institucionalização de uma arquitetura
queacolhia o passado,semcopiálo,eseprojetavaaofuturo,quedeveserassociadatambémaoespaçoconquistado
pelafundaçãodoServiçodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional(SPHAN),em1937.Em1936,Máriode
Andrade
atuou na configuração dasbases para a criação de umainstituição nacional de proteção do patrimônio, que estaria
28
COSTA,Lucio.“Razõesdanovaarquitetura”,publicadonaRevistadaDiretoriadeEngenhariada PDF,RiodeJaneiro,jan.1936,inXAVIER,
Alberto[org.].Arquiteturamodernabrasileira:depoimentodeumageração.SãoPaulo,Pini/Abea/FVA,1987.p2627
LucioCosta.ParqueGuinle.1948
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
33
subordinadoao MinistériodaEducação,sendodirigidoporRodrigo MeloFrancode Andrade,indicadopelo ministro
Capanema.
A obra construída de Lucio Costa forma uma unidade com sua construção teórica, influenciada, inicialmente,
porWarchavchik,devidoàassociaçãoentreosdoisparaaconstruçãodealgunsconjuntosdecasasemSãoPaulo,
de
1931a1933,comopodeservistonoprojetodoarquitetocariocaparaacasaRomanBorges,em1934.Apretendida
integraçãoentreaarquiteturacontem porâneaeatradiçãolocalfoisendotrabalhadaemsuasobrasdesdeoprojeto
paraoconjuntoemMonlevade, noqualLucioCostapropôs
aconstruçãoderesidências sobrepilotisporserasolução
maisindicadaparaoterrenoacidentadoequepermitiriaaconstruçãodas paredescomatécnicadopauapiqueiso
ladasdaumidadedosolo,posicionamentomodernocomoaportedetécnicasdopassado.Comoprojetoparaaigreja
doconjunto,incluiapesquisaplástica,atéentãoinédita,noideáriodomodernismoqueseconstruíanopaís.
Nosprojetosparaas casasdeArgemiroHungriaMac hado,BarãodeSaavedraeRobertoMarinho,porvoltade
1943, criase um vocabulário novo que vai se refinando até o projeto para
os edifícios no Parque Guinle, em 1948.
Foramprojetadosparaoconjuntoseisedifíciosindependentes,emblocoslinearescomseispavimentossobrepilotis
liberando o solo para franca relação com o parque, dos quais apenas três foram construíd os. Estava consolidada a
pesquisadeumalinguagemdeconstruçãocommateriaismodernoscomo
oconcretoarmadoeaintroduçãodeele
mentosdaarquiteturacolonialbrasileiracomomuxarabiseoutrosdetalhesqueforamtranspostosenãosimplesmen
tecopiados.
Mesmoadotandopartidofrancamentemoderno,percebesenasplantasdosapartamentosdoParqueGuinleas
características dacasatradicionalbrasileira, peloqueo interior
contacomduasvarandas,asocial,para receber,ea
doméstica,ligadoàsaladejantar,aosquartoseaoserviço.Paraqueosedifíciosusufruíssemdavistadoparque,suas
fachadas principais foram orientadas para o oeste. O problema de insolação foi resolvido com o uso de elementos
vazadoscomo
brisesecobogós, quetinhamcomofunçãofiltraroexcessodeluz,possibilitar avistaparaoexteriore
proteger a privacidade dos apartamentos, sendo que a disposição destes diferentes elementos tradicionais segue a
ortogonalidadedovolumedoedifício.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
34
OscarNiemeyer,desenhistanoescritóriodeLucioCosta,aocolaborarnaequipedoMinistério, tevepapelfun
damentalnoresultadoeimpôssedefinitivamentecomopersonalidadeimportante.UmanoapósoprojetodoMinis
tério, Niemeyer teve a oportunidade de projetar a Creche da Obra do Berço, usando um sistema
de brises vertical
móvelemcomposiçãolevedevolumessimples.MasfoiaconstruçãodoconjuntodaPampulha,emMinasGerais,que
ofereceuaoarquitetoaliberdadenecessáriaparalançarseàpesquisadosefeitosquepoderiaextrairdaplasticidade
doconcreto.
EmPampulh a , OscarNiemeyerlançouumasériedeidéias
quecomporiamocorolárioabsorvidoporseussegui
dores.Pôde orientar seu temperamento artísticoà busca de umaarquitetura parao meio brasileiro, distanciandoa
dosvalores friamenteracionais da tendênciaeuropéia, explorando aomáximo ouso doconcretoarmado e oque o
materialpoderiaofereceràcriaçãoda
arquiteturaqueprocurava.Oconjuntoagrupariaosequipamentosdelazerde
umbairroquesepretendiaconstruirà beiradeumlago,comumcassino,umiateclube,umsalão dedançaspopula
res,umacapelaeumhotel,sendoqueoúltimonãofoiconstruído.Aencomendaincluía,ainda,uma
casa deveraneio
paraoentãoprefeitodeBeloHorizonte,JuscelinoKubitschek.
OscarNiemeyer.IateClube,ConjuntodaPampulha.1942
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
35
Acomplexaorganizaçãointernadocassinofoiatenuadaexternamentecomoequilíbriodacomposiçãodassu
perfíciesdosvolumesplanosecurvosqueseintegramunsaosoutros.Acomposiçãovolumétricaéaquestãoprincipal
noIate clube,nessecaso construindoseumúnicovolumeatravés dajustaposiçãode dois
paralelepípedostrapezoi
daisunidos pelabase menor.Na Casa deBaile, salão paradanças ,não mais adinâmica dacomposição devolumes,
masa curva,tornouseoelementoprincipal.Osalãocircularécobertocomlaj eplanaqueseprolongasinuosamente,
acompanhandoocontornodailhaondeseimplanta.
A
capeladeSãoFranciscodeAssisdiferenciasedoconjunto.Aestruturadelaj esepilaresdeulugaraumaco
berturaemabóbadasparabólicasautoportantesquedefinemaarquiteturadacapela.ApesquisaemPampulhaapon
tou um caminho para a realização brasileira da arquitetura moderna, “rompendo o rígido
vocabulário racionalista e
introduzindonaarquitetur aavariedadeeo lirismoquetinhamsidobanidos”
29
,sendoaperfeiçoadanosanosseguin
tes.AcoleçãodeprojetosfeitaparaaexposiçãoBrazilBuilds,porPhilipGoodwin,eapublicaçãodolivrohomônimo
contribuíramparadifundiraimagemcristalizadadaarquiteturadeformaslivresqueconjugavaatradiçãoantigacom
amodernidade.
29
BRUAND,Yves.Op.Cit.p.114
OscarNiemeyer.Cassino,ConjuntodaPampulha.1942
OscarNiemeyer.IgrejadeSãoFrancisco,ConjuntodaPampulha.1942
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
36
ORiode Janeiro,capitaldo país,eraocentroirradiador dessaarquiteturaprogressistanosanos 1930 e1940.
Emgrandepartepropiciadapelopoderfederal,queatinhaadotadocomo padrãoparasuasconstruções,porrepre
sentaraimagemmodernaqueogovernoGetulioVargasqueria demonstrar.EmSão
Paulo,osarquitetosnãopodiam
contarcomomesmovolumedeencomendaspúblicas,assimoaportedalinguagemmodernafoiproporcionado por
encomendasprivadas.
AarquiteturaemSãoPaulodesenvolviaseporcaminhosumtantodiversosdostomadospelosarquitetoscari
ocas.Apartirdosanos1940,aobradeRinoLevi“transformousenumareferênciaparaosjovens arquitetosedemais
colegasporseucuidadonaelaboraçãodosaspectostécnicoseartísticos,comaanálisedoscondicionamentosfuncio
nais de programas arquitetônicos complexos deforma pioneira no meio profissional.”
30
Era o próprioarquiteto que
elaboravaoscálculosacústicosparaseusprojetosdecinemaseteatros,eassoluçõesparahospitaiseindústriastor
naramse paradigmáticas. Em 1953, o hospital para o Instituto Central do Câncer inaugura uma série de trabalhos
profundamente estudados no plano funcionalem termos das
soluções adotadas pararesolver as exigênciasdo pro
grama.Seusprojetospara residênciasapontaramparaaintegraçãodanaturezacom aarquiteturaeocaráterintro
vertidocomo valoresaseremseguidos. Aplantaera orientadapelalógica distributiva,numageometriade formase
30
SEGAWA,Hugo.Op.Cit.p.139
RinoLevi,InstitutoCentraldoCâncer,1953
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
37
volumespresididamais pelo zoneamento dasfunçõesdo que pelo funcionalismo doespaço interno dascasas tradi
cionais. Oprojeto para acasa de Castor DelgadoPerez sintetiza,em 1958, apesquisa iniciada pelo arquiteto com o
projetoparaasuaresidência,em1944,edepuradanosprojetosparaMiltonGuper,
em1953,ePauloHess,em1955.
VilanovaArtigas,tambémemSão Paulo,iniciasuacarreiraabraçandoosideaisdemocráticosdeexpressãoen
contradosporelenaarquiteturanorteamericanacomoalternativaàhegemoniaeuropéiadospostulados deLeCor
busier.OsprojetosparaascasasdeRobertoLacasse,
em1939,eRioBrancoParanhos,em1944,alémdasuaprópria,
em1942,demonstramumalinhamentocomaarquiteturadeFrankLloydWrightnousodemateriaistradicionais sem
revestimentoemcomposiçõesondevolumesarticuladosfundemsecomapaisagemecoberturasacentuamaslinhas
paralelasaosolo.
Porvolta
de 1945,Artigas procuraa integraçãodentro do racionalismobrasileiro pelaspossibilidades que vis
lumbravadousodastécnicasrevolucionáriasnodesenvolvimentodopaís,tendooptadodecididamentepelosmateri
aismodernos.O projetoparaoedifício Louveira,em1946,atestaoalinhamento comalinguagem carioca.Contrari
ando otradicional
aproveitamento doterreno, Artigas volta empenascegas para a ruaprincipal, faces menores dos
doisblocosparalelosdispostossobrepilotisqueformamentreelesjardimexternoligadoàpraçanafrentedoterreno,
consoantecomacrençanumaarquiteturaparticipantedaconstruçãodoespaçourbano.
RinoLevi.ResidênciaCastorDelgadoPerez.1958
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
38
ARodoviáriadeLondrina,tambémdeArtigas,em1950,temoprojetoorganizadoemformadepavilhão,mar
cadoprincipalmentepelodesenhodacobertura,queassociaoplanoinclinadodasáreasadministrativasedeserviço
comas abóbadasquecobrem aáreadasplataformas. Comprogramade carátereminentemente urbano,a
transpa
rênciados fechamentosdevidroe asformasdenunciamas funçõesqueabrigameenfatizamcertafluência espacial
entreoedifícioeoentornourbano,comonoprojetoparaoEdifícioLouveira.
AintroduçãodalinguagemcariocanocontextodeSãoPaulotambémsedeveaosprojetosde
OscarNiemeyer
nacapi tal,notadamenteoParquedoIbirapueraeoedifícioCopan ambosem 1951.Osedifícioseagrandemarquise
queosune,implantadosnoparqueconstruídoparaascomemoraçõesdoIVcentenáriodafundaçãodacidade,ouas
linhassinuosasdoedifícioconstruídoporinvestidoresprivadosnocentro
dacidadecontribuíramparaaaceitaçãodo
modeloeincorporaçãodesuasidéiasaodesenvolvimentodaarquiteturapaulista.
J.B.VilanovaArtigas.Aolado,EdifícioLouveira.1946
Acima,EstaçãoRodoviáriadeLondrina.1950
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
39
Outrosrumos
Desdeoiníciodosanos 1950,foramfeitascríticasaocaminhodemasiadamenteformalistatomadopelaarqui
tetura,suavinculaçãoaopodereàsclassesdominanteseoconseqüentedistanciamentodarealidadesocialdopaís.A
reivindicação de que os arquitetos se detivessem às necessidades populares passou a ser tema
na ordem do dia. O
povo,enquantocategoriasocial,deveriasubstituirohomemgenéricoeabstratocomoeratratadoantespelaarquite
turamoderna.Tambémdentrodeumpanoramaculturalmaior,opovoestavanofocodeoutrasartes.Na épocasur
giaoCinemaNovo,comNelsonPereirados
SantoseRobertoSantos,comumaestéticaacentuadamentepolitizadae
linguagemdiretaedespojada,quediscutiamtemascomoapopulaçãopobredosmorroscariocas(Rio,40graus)ouos
operáriospaulistanosdobairrodoBrás(OGrandeMomento),cujoscarroschefeeramadenúnciadosubdesenvolvi
mentoea
defesadajustiçasocial.IntegrariamtambémessegrupoGlauberRochaeAnselmoDuarte,comseusfilmes
DeuseoDiabonaTerradoSoleOPagadordepromessas,respectivamente.
OgrupoTeatrodeArenacomeçavaamontarpeçasquemarcaramumnovotipodetrabalhoque,aoabordaros
problemas davida operária, comlingu agem esclarecedora e mobilizadora,voltado para um novopúblico, as classes
populares, levava para todo o Brasil o seu trabalho de criação de uma nova consciência popular. Também o Teatro
Oficina, com aencenação depeças deSartre, por exemplo,estava comprometido com aluta
contra oimperialismo
estrangeiro,consagrandosedefinitivamentecomaencenaçãodePequenosBurgueses,deMaximoGorki.Foiimpor
tanteaindaa atuaçãodoCentroPopulardeCultura(CPC),criadonoRiodeJaneiropelaUniãoNacionaldeEstudantes
(UNE),em19 61,omaiordoscentrosdeculturacoordenadopelaUNE.
OCPCfaziaumaartequeseusmembroscha
mavamderevolucionária epopular,comaproduçãodepeçaseshowsmusicais,ediçãodelivroseexibiçãodefilmes,
causandosensaçãojuntoàmassaestudantilpelapolêmicaedenúnciasocialquelevantava.
Naarquiteturabrasileira,acríticaao rumotomadopor
suavertentemodernateminíciocomOscarNiemeyer,
comoumaformadeautocrítica,dadasuaposição naproadomovimento.Em1946,apenasdezanosapósoprojeto
paraoMinistériodaEducação,ouquatroanosapóssuainauguração,Niemeyerapontaacontradiçãoentreaarquite
turamodernae a
realidadesocial,em termosdaspossibilidades datécnica modernaeasgrandesdebilidadesque a
novatendênciaapresentavanoBrasil,sobretudonoseuaspectosocialehumanopropriamentedito.
31
Em artigo publicado na revista Horizonte em 1951, Demétrio Ribeiro denunci ava que a arquitetura moderna
brasileira, aoservir à classe dominante, não se identificavacom as necessidades e aspirações populares, e defendia
31
NIEMEYER,Oscar.“FormaçãoeevoluçãodaarquiteturanoBrasil”inAMARAL,Aracy.Arteparaquê?:apreocupaçãosocialnaartebrasileira
19301970.SãoPaulo,Nobel,1984.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
40
queo “artistadevia compenetrarsedossentimentosdopovo econhecer as suasexigências estéticas”.
32
Para ele,a
arquiteturaverdadeiramentenovaseriaaquepudessesercompreendidapel asmassas.Aarquiteturamodernacomo
seencaminhava,aoproduzirobrascompletamentediferentes,emsuaaparência,dasqueopovoconhecia,nãoteria
significaçãoestéticaparaele.
Emresposta publicada na mesmarevista, EdgarGraeff,reconhece o valor
do objetivode tornaros arquitetos
conscientesdanecessidadedesefazerumaarquiteturaparaopovoealerta contraosperigosdoformalismo,incenti
vandoosnabuscadeformasexpressivasacessíveisaosentimentopopular:“Poisbem,que edifíciosconheceonosso
povo?Ooperariadonãotemcasasparamorar,
moraembarracos,eapequenaburguesiamoraempardieirosdealu
guel.Nossopovoconhece osedifíciosfeitosparaoslatifundiáriosea burguesia”.
33
Graeffdefendiaasrealizações
dos arquitetos modernos brasileiros, mas reconhecia que essa arquitetura não estava suficientemente relacionada
comaquestãopopular,anãosernaintenção.
Complementando o debate nas páginas da revista, Nelson Souza critica a visão das soluções técnicas apenas
como pretexto para o jogo deformas novas,
apontando que a arquitetura moderna se definia como um estilo, e
não representava os anseios do povo. Assim, propõe a necessidade de um embasamento realista que orientasse a
práticadosarquitetosfrente aosproblemasenfrentados, tendoemvistaas condiçõessociais,o contextonoqual se
desenvolveeopapel
daarquiteturanesseprocesso.
34
Apontavaqueaarquiteturaestavaorientadanumplanoidealis
ta,apoiadaemumhomemabstrato,oqueadeixavasempossibilidadesdedesenvolvimento.Umacolocaçãodeseu
artigo sintetizao momento dequestionamento doscaminhos tomados pelaarquitetura modernadesde oinício dos
anos1950:
“osarquitetosquecrêemqueumaarquiteturasomentepoderáviresedesenvolverquandoserveaosinteresses
dopovo,àssuasidéiaseseusdesejos,seuscostumesesuasaspiraçõesartísticas,semdúvidanãopodemverna
arquitetura moderna brasileira, na forma como se apresenta, a portadora dos elementos de uma
arquitetura
dignadenossopovoecapazderefletirosseusinteresses,seusdesejosesuasaspiraçõesartísticas”.
35
OsdefensoresdeumaarquiteturamodernamaispróximadesuafunçãosocialviramnaobradeAffonsoEduar
doReidyapossibilidadedeumdirecionamento.Tendotrabalhadoquaseexclusivamenteemórgãospúblicosdecons
32
RIBEIRO,Demétrio.“Sobrearquiteturabrasileira”,artigopublicadonarevistaHorizonte,emPortoAlegre,emmaiode1951inAMARAL,A
racy.Op.Cit.
33
GRAEFF,Edgar.“Sobrearquitetura”,artigopublicadonarevistaHorizonte,emPortoAlegre,emjunhode1951,inAMARAL,Aracy.Op.Cit.
34
SOUZA,Nelson.“Sobrearquitetura”,artigopublicadonarevistaHorizonte,emPortoAlegre,emjulhode1951,inAMARAL,Aracy.Op.Cit.
35
SOUZA,Nelson.“Sobrearquitetura”,artigopublicadonarevistaHorizonte,emPortoAlegre,emjulhode1951,inAMARAL,Aracy.Op.Cit.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
41
trução,Reidyconstruiuobrasfreqüente menteorientadasparaumapopulaçãomaispobre,nasquaisfoideterminante
o máximo equilíbrio entre as razões técnicas e as razões plásticas. Em 1950, iniciou a construção do paradigmático
conjuntodePedregulho,emquenãoabdicadaresponsabilidadesocialcontida naencomenda.Oconjuntocontacom
unidades
de apartamentos diferenciadas entre si, visando ao atendimento de famílias mais ou menos numerosas,
implantadas juntoa equipamentoseducativos,de lazere serviços,conformando umconjunto urbano coesoque,ao
mesmotempo,seconectacomacidade.OprojetoparaoconjuntoresidencialnaGávea,em1952,retomaasidéias
aplicadasemPedregulho,porémnãofoicompletamenteexecutado.
No panorama internacional, também surgiram críticas. A notoriedade que a arquitetura brasileira conquistou
atraiuolharesdomundotodo,elogiososounão.CabeaMaxBillteriniciadoamaisrumorosapolêmicaforadoplano
doméstico. Suas opiniões, em conferência realizada na FAU
e publicada na revista Habitat, foram encaradas como
durascríticas“paraumaclassequeapenasseafirmava”
36
,cujaresposta“transformouocasonumaquestãodehonra
nacional”
37
.Apartirdocontextodarealidadebrasileira,advertiuparaoperigodaarquiteturabrasileiracair“nomais
terrívelacademicismoantisocialnoplanodaarquiteturamoderna” ,criticandooabuso daformalivre,quetratacomo
36
AMARAL,Aracy.Op.Cit.
37
Id.,ibid.
AffonsoEduardoReidy. Con
j
untoresidencialdePedregulho.1950.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
42
puradecoração.Suacríticapoderiaservista tantocomo“desmistificadoraemsuafrancaexpressãoeaberturaparaa
autocrítica da arquitetura contemporânea em nosso país”
38
como poderia marcar o início da postura defensiva do
arquiteto brasileiro frente à crítica. Os arquitetosbrasileiros, demaneira geral, preferiram não assimilar asopiniões
contrárias,sufocandoumadiscussãoconstrutiva.
39
No entanto, a mensagem que faziam circular os críticos somente parece ter sido apreendida pelos arquitetos
quandoopróprioNiemeyer,emdepoimentonarevistaMódulo,emfevereirode1958,assumiu“descuidarporvezes
decertosproblemas,eadotartendênciaexcessivaàoriginalidade”,oqueteriaprejudicado“asimplicidadedascons
truçõeseo sentidodelógicaeeconomia.”
40
Oarquite toinícioaumarevisãodesuaobra,apontandoqueotraba
lho dosarquitetos devia, apartir da atençãoaos problemas denossa época,colocarse demaneira decisiva aolado
daquelesquepropõemumprogramajustoeverídico,baseadonasreivindicaçõesmaisessenciaisdopovo.
Vilanova
Artigas também assumiupostura crítica e devido aoseu destaque, em SãoPaulo, sobretudo a partir
dosanos1960,suasidéias tiverammuitarepercussão.Podesedizerquefoiomentordeumaconcepçãodearquite
turacentrada naquestãodasoberanianacionaledalutaantiimperialista.EmLeCorbusiere
oimperialismo,textode
1951,elecontesta asposiçõesideológi casdoarquitetofrancês,identificandoo comosistemacapitalista vigentena
tentativadeserviràpenetraçãoimperialistapormeiodoModulor,sistemaderelaçõesdemedidasquecombinavaos
sistemasmétrico e ode pése polegadas.Em Osca minhos
da arquitetura moderna,do anoseguinte, aponta que“a
arquiteturanãoésimplesmenteumaarte,maisoumenosbemexecutada,éumamanifestaçãosocial”
41
,defendendo
avincula çãoentreoarquitetoeopovo,postoquecabeaoarquiteto“darvidaaosmateriaisdeconstrução, animálos
deumavidaedeumvalorsubjetivos,tornálospartesvisíveis da estruturasocial,infundirlhesaverdadeira vidado
povo,comunicarlhesoquedemelhor
existanopovo.”
42
38
Id.,ibid.
39
SEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil19001990.SãoPaulo,EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,1997.
40
NIEMEYER,Oscar.Depoimento.RevistaMódulo,RiodeJaneiro,fev.1958.
41
ARTIGAS,J.B.V.“Oscaminhosdaarquiteturamoderna”,inAMARAL,Op.Cit.
42
Id.,ibid.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
43
Chegadaepartida
Odesenvolvimentodaarquiteturabrasileiratemimportantepontodeculminâncianoiníciodadécadade1960,
comainauguraçãodanovacapital,Brasília.Operíodode1956a1961foimarcadoporumexpressivocrescimentoda
economiabrasileirapossibilitadopelogovernodeJuscelinoKubitschekque,comolema
"Cinqüentaanosdeprogresso
emcincoanosdegoverno",elaborouumplanocom30metas,quebuscavamestimularadiversificaçãoeocrescimen
todaeconomia,baseadonaexpansãoindustrial.Aesseconjunto foiacrescentadomaisumponto,odatransferência
dacapital para ointerior dopaís, emnova
cidadea seconstruídano planalto central,que sintetizariaos ideais pro
gressistasdaadministração.
Oplano pilotofoiobjetodeconcursoabertoem1956vencidoporLucioCosta,complanobaseadoemdoisei
xosqueorganizavamasquatroescalasprevistas,amonumental,aresidencial,agregáriaeabucólica,
contemplando
tantoacidadecomourbequantocomocivitas,deacordocomorelatórioapresentadonoconcurso.
43
Noeixomonu
mentalestavamdispostososcentroscívicoeadministrativo,ossetorescomerciais,deserviçoseculturais,eaolongo
doeixorodoviárioresidencial,assuperquadrasdeblocosdehabitações.
A Oscar Niemeyer coube a direção geral dos
trabalhosdearquitetura,centralizaçãonecessáriana
busca de uma unidade monumental
aos projetos,
quedemonstrama evoluçãodeseupensamentoem
direção à concisão de composições compactas e pu
ras, no qual a significação simbólica ganhou espaço.
Oprojetodosprincipaisedifíciosaseremconstruídos
lhe forneceu o terreno ideal para aplicar a pesquisa
formal das possibilidades do concreto que vinha de
senvolvendo desde a construção do conjunto da
Pampulha. Explorando as possibilidades plásticas do
concretoarmadotrazidas pelodesenvolvimentotec
nológico, sua arquitetura em Brasília denota expres
sãoformalcomgrandedosede autonomia,marcada
43
COSTA,Lucio.RelatóriodoPlanoPilotodeBrasília.Brasília,GovernodoDistritofederal,1991.
Brasíliaemconstrução,cartãopostaldaépoca
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
44
pelavariedadeea riquezadeformasepeladespreocupaçãocomaeconomia,desenvolvendosemaisnadireçãodo
aspectoformal,deondederivaaautenticidadedoseuvocabulárioplásticopoético.
Aofinaldos anos1950,aarquiteturamoderna haviaobtidobastante sucessoetornara sea linguagemcor
rente.
A linguagem que consagrou a arquitetura moderna brasileira estava codificada, com o uso de brises e panos
contínuos de vidro, pilotis e colunas bem desenhadas em formato de “V”. No entanto, estava também banalizada,
tornandose“camisasdeforçatantoparaosarquitetosqueparticiparamdainstauraçãodessalinhagemarquitetônica
quantoparaosjovensseguidores.”
44
Consideravaseque“oprestígiodessasformaseoseuabusosonegamaconside
raçãojustadosproblemasquerealmentesão propostospelotratomaisconsentâneodanossa arquitetura,ficandoa
eficiência profissional comprometida,muitas vezes, pela intençãomodernistae acadêmica, em detrimento da exce
lênciadotrabalho”.
45
AconstruçãodaCapitalrepresentou,noplanointernacional,aimagemdoBrasilcomopaíscapazdegrandesi
niciativas.AlinguagemarquitetônicaeralevadaporOscarNiemeyeraumimportantepontonamaturaçãodopercur
soempreendidodesdeaconstruçãodoMinistério,em1936.Ousodoconcretoarmado,antescomo
suporteparaa
formadiferente,levado aomáximodassuaspotencialidadespassouadesafiaroscalculistasdeestruturas.Eaestru
turapassou a sera protagonistada arquitetura. No entanto,a materializaçãodo ideário arquitetônico amadurecido
nasdécadas anteriores na escalaque demandavaa construção deuma cidade inteiramente
novaexpôs os limitese
contradiçõesquetraziaomodeloaplicado.Nessesentido,Brasíliaofereceuaconstataçãodaimpossibilidadedecon
cretizaçãodoidealdesociedadequerepresentava.“Foi,realmente,otérminodeBrasília,ocairdasmáscaras,ofim
do sonho frente à dura realidade.”
46
O que marca esse momento, portanto, é a profunda revisão do modo como a
arquitetura eravista e produzida até então. Oinício da circulação de visõescontrárias acontece simultaneamente à
afirmaçãoeconsolidaçãodeumalinguagemarquitetônica,esetornaprementeanecessidadedeencontrarcaminhos
alternativos.
Namesma
época,emSãoPaulo,VilanovaArtigastambémseguiaalinhadeumpensamentocríticoesetornou
mestre de umageração de arquitetos por apresentar decididamente a proposta de um caminho para o desenvolvi
mentodaarquiteturaapartirdesuaobraedaevoluçãodeseupensamento,sendoque“o
fatormaispalpávelparaa
materializaçãodeumaarquiteturaformalmenteidentificávelcomo‘paulista’deveuseaoseucaráterdecontinuidade
44
SEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil19001990.SãoPaulo,EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,1997.
45
SAIA,Luís.ibid
46
AMARAL,Aracy.Op.Cit.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
45
àlinhacarioca”
47
,pelaatuaçãodeArtigas,quetambémfezecoaremSãoPaulo aautocríticadeNiemeyer.Aocomen
tar,notextoRevisãocrítica deNiemeyer,odepoimentodoarquitetocarioca,aponta“tratarsededocumentoricode
sugestõesparaaanálisedaatualetapadodesenvolvimentodaarquiteturabrasileira”
48
.Foiimportanteonovopapel
que a estrutura assumiria, como apontado por Niemeyer, ao dizer que “dentro dessa arquitetura, procuro orientar
meus projetos caracterizandoos, sempre que possível, pela própria estrutura”
49
, na configuração de uma das mais
importantes características da arquitetura que passou a fazer escola, agora, a partir de São Paulo, quese tornara o
maiorcentroindustrialdopaís.
Artigas,ao correlacionarsuas teses comrealizações arquitetônicas concretas,buscava elevara questãoda ar
quiteturaàdimensãodaética
políticaesocial.Oalcanceconquistadoporsuasidéiascontoucomascondiçõesfavorá
veisemqueseencontravamaspossibilidadesdediscussãoeaçãodasesquerdasatéoGolpede1964.Nessecenário,
as editoras progressistas publicavam obras de Lênin, Marx, Engels e Mao Tsétung. Uma parte das
publicações em
revistasabriaespaço paraquasetodo oespectroda esquerdadiscutirequestionara situaçãonacional,na tentativa
de penetrar a fundo na realidade brasileira, como as revistas Brasiliense, Anhembi, Estudos Sociais, publicada pelo
PartidoComunistadoBrasil(PCB),eSenhor,umadasquesurtiumaiorimpactonaépoca,
alémdosjornaissemanaise
quinzenaiselivrosderomanceepoesiatambémengajados.Omundofaziaumarevisãocríticadosvaloresculturais.
Surgiaumpensamentonovo,quesemanifestavanojornalismo,napublicidade,na músicapopular,naarquiteturae
nasartes.Noiníciodosanos1960,aintelectualidade brasileira
estavaempenhadaemrealizarumtrabalhodepartici
paçãoativana mudançadasociedade. Nessaperspectiva,passousea valorizarasmanifestaçõesculturais vindasdo
povo,amisériadeixoudeserfolclore,tornandosedenúnciadeumaetapaasersuperarada,eosoprimidospassaram
aserencaradoscomoagentesda
construçãodeumaordemsocialmaisjusta.
SimonedeBeauvoir,SartreeErichFrommeramalgunsdosídolosdajuventudenosanos60,quediscutiaacalo
radamenteaimportânciadaexperiênciacubanadeFidel.Algunsestavamfiliadosapartidospolíticos,outrosatuavam
em entidades estudantis. A leitura era fundamental para
o jovem, para poder participar das discussões altamente
intelectualizadas. O sentimento predominante era o da solidariedade na construção de uma nova ordem social, na
qual se resgataria o papel de importância de personagens como o trabalhador, o operário e o camponês. Entre os
maisjovensestavanamodaoexistencialismoe
seumaiorexpoenteera JeanPaulSartre,paraquemacondiçãohu
mananãodependeriadanatureza,esimdacondiçãohistórica.Ohomemseriaumsernomundo,condenadoàliber
47
SEGAWA,Hugo.Op.cit.p.147
48
ARTIGAS,J.B.V.RevisãocríticadeNiemeyer,publicadonarevistaAcrópole,inXAVIER,Alberto[org.].Op.Cit.
49
NIEMEYER,Oscar.Depoimento.RevistaMódulo,RiodeJaneiro,fev.1958.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
46
dadeeadecidirosrumosdesuavida.Distodecorreriaanoçãoderesponsabilidadequealiberdadetrazia.Aexistên
ciadeumhomem,assim,ganhariasentidonamedidaemqueeleagissepelaconstruçãodeummundomelhor,eque
levasseemcontaosoutroshomens.
Artigas,posteriormente,em
textode1967,sistematizouasidéiasquevinhadesenvolvendoarespeitodaarqui
tetura,emestudosobreapalavradesenho,cujaintençãoeramostrarcomonahistóriadodesenvolvimentoeconômi
cosocialbrasileiroelahaviaperdidopartedeseusignificado,odedesígnio,projeto.Dessemodo,atravésdareconci
liação
entreasduasacepções dapalavradesenho,adedesen ho,propriamente,eadedesígnio,buscavarecuperarse
acapacidadedeinfluirsobreasociedade,conferindoàpalavraosentidodeprojeto,delançarseàfrentemovidopor
umapreocupação.Colocava se,então,paraosarquitetos,aresponsabilidadede
setransformaroprojetoemprojeto
social.FormouseumpensamentocoletivoemtornodasrecémemancipadasescolasdearquiteturaedoIABSP,ca
talisadopeloideáriotransmitidoinformalmenteporArtigasacolegasealunos,quefoiassociadoàproduçãodoautor
edejovensarquitetosformadosnofinal
dadécadade1950.
Asformulações ideológicaseteóricasdogrupoqueseformouàvolta deArtigasdefendiamautopiadeseele
varaquestãodaarquiteturaàdimensãodaéticapolíticaesocial, materializadaemobrascomlinguagem claraeforça
ideológicacontidanosconceitosdeprojetoe
desenho.Aspalavraséticaeestéticaestariamparasempreligadasnas
discussões sobre a arquitetura brasileira após os anos 1960. Para Artigas, a arquitetura se engajaria no desenvolvi
mentodopaí sdandoexpressãoao conhecimentotécnicoecientíficoetendooprojetocomo desígniodeumanova
realidade.Asidéias
exploradasemsuasobrasassumiramposiçãomarcantenaarquiteturapaulista,juntamentecoma
valorizaçãodosencargospúblicos,pelaperspectivaqueabriaaosarquitetosdeserviraopovo,comoproduçãoútilà
atividadecoletiva.
Nesse ideário, não uma doutrina arquitetônica propriamente dita, mas depreendese a idéia de uma arte
emancipada
eevoluída,comusodetecnologiaavançada.Oprincipalmotedaarquiteturaengajadaeraaexpressãoda
capacidadetecnológica dopaís,nocaso atecnologiadoconcretoarmado.Deste modo,aarquitetura quebuscavaa
expressãodaculturabrasileiraevoluiuparaaqueexpressavadecididamenteodesenvolvime ntotecnológiconacional.
Não
queotrabalhodospioneiroscariocasnãotivessedeman dadoeexpressadoo desenvolvimentotecnológico,eles
apenasnão contavamaindacom estaquestão nocerne desuas intenções.Comuma arquiteturainovadora tecnica
menteforamresolvidososprogramaseafunçãocotidiana, eoproblemaespecíficodecadasoluçãoarquitetônicafoi
suplantado
porumafunçãomaiselevadanalutapelasoberaniana cional.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
47
A construção teórica de Artigas foi associada a uma produção ar
quitetônicacujas soluçõesformaisassumiramsimbolicamenteumsignifi
cadomaioreumsentido deintegraçãosocial, comavalorizaçãodos es
paçoscoletivosdeinterioresunificadosesembarreirasentreopúblicoe
o privado, a defesa do despojamento e
a valorização do conhecimento
tecnológiconacional.SãodesseperíodoasobrasdeArtigasquerefletem
seu pensamento através de soluções radicais e de oposições francas e
pesadas. Como não havia a possibilidade de criar a arquitetura popular
que defendia, passou a tratar os projetos de uma maneira combativa e
comunitária,
oquepodeserpercebidonousodoconcretoaparenteeno
espaço interno unificado. Em seus projetos para as casas José Taques
Bittencourt (1956), Olga Baeta e Rubens Mendonça (1958), é possível
perceberoensaiodessasidéias.
Seu projeto para a casa Olga Baeta, com espaço único encerrado
porduas
lâminascegasdistribuídoemmeiosníveis,asalacomdireito
duplo,oestúdioameioníveleosquartosacimainauguraomodeloque
teve mais versões na arquitetura paulista.
50
Na residência José Taques
Bittencourt, projetada independente das divisas do lote e elaborada em
funçãodeumespaçointernopróprio,nacasaIvoVitorito,comoespaço
principal encerrado por vigasempena que, apoiadas em quatro pilares,
sustentam a laje de cobertura, podemos ter elencados os preceitos se
guidos por
seus discípulos. Nas palavras do próprio mestre sobre a casa
IvoVitorito,
“num certo momento essa casa serviu de padrão para
laboraçãodeumasériedeoutrascasasquemeuscolegas
arquitetos viram algumas soluções que nós podíamos
transformaremsoluçãoparaacasapaulista.”
51
50
BRUAND,Yves.ArquiteturacontemporâneanoBrasil.SãoPaulo,EditoraPerspectiva,1991.
51
MIGUEL,JorgeM.C.Pensarefazerarquitetura.Tesededoutoramento.SãoPaulo,USP,1999.
J.B.VilanovaArtigas.ResidênciaOlgaBaeta. 1958
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
48
Nasescolasconstruídas porArtigasemItanhaém e
Guarulhos, o grande volume resultante da incorporação
dosespaços livressobacoberturainvertearelaçãousual
entredimensõeshorizontais everticais.Apesquisainicia
da nas escolas é sintetizada no projeto para o prédio da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade
deSãoPaulo,em1961,ondeo contrasteentreovolume
pesado do paralelepípedo de faces cegas e os delgados
pilares trapezoidais que, aparentemente, o sustentam, é
aumentado comomeiode expressãosubstitutodo tradi
cional conceito de leveza que caracterizava a arquitetura
brasileira.
52
Tanto nas casas como nas escolas, o espaço
internoé unificadoefluido, espelhandoumideal devida
comunitária materializado numa arquitetura que facilita
riaoscontatoshumanos.
52
BRUAND,Yves.Op.cit.
J.B.VilanovaArtigas
Acima,GinásiodeGuarulhos.1961
Abaixo,FaculdadedeArquiteturaeUrbanismo‐UniversidadeSão
P
au
l
o
.1
96
1
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
49
CarlosMillan,formado em1951,éumdosprimeirosarquitetosdeumageraçãosurgidaapartirdoscursosde
arquiteturacomodisciplinaautônoma.Começouacarreiradocentena FAUUSPem1958,aproximandosedeArtigase
dogrupoquetentavacriaremSãoPauloumanovaarquitetura.Autilizaçãode
materiaisnoestadobrutoeorigordas
soluções técnicas apresentadas pelo trabalho de Artigas o impressionaram, sendo levada a um plano mais radical,
ignorandoasponderaçõespuramenteestéticasereduzindooselementosconstrutivosaomínimonecessárioparasua
função,comopodesepercebernosprojetosparaascasasRobertoMillan
eNadyrdeOliveirade1960.
Tratasedeumcontextoemqueseconfiguravamcaminhosalternativosparaaarquitetura.Entretanto,uma
brusca interrupção neste movimento no momento em que o termo social passava a adjetivar a arquitetura. Com a
renúnciadeJânioQuadros,apresidênciacaberiaaovice
JoãoGoulart.Porém,osgrupos deoposiçãomaisconserva
dores,representantesdaselitesdominantesedesetoresdasForçasArmadas,nãoaceitaramqueJangotomassepos
se, sob a alegação de que ele tinha tendências políticas esquerdistas. Não obstante, setores sociais e políticos que
apoiavamJangoiniciaramummovimentoderesistência.
Em31demarçode1964,tropasmilitaresdesencadearamo
movimentogolpista. Em poucotempo,comandantesmilitares de outrasregiões aderiramao movimentode deposi
çãodeJango.OmovimentoconspiradorquedepôsJangodapresidênciadaRepúblicareuniuosmaisvariadossetores
sociais,temerososdequeoBrasilcaminhasse
paraumregimesocialista.
Ao contrário das outras intervenções militares na
política ocorridas em momentos de crises institucionais
vivenciadas pelo país, desta vez os militares assumiram
diretamenteogoverno.Napolítica,operíodofoimarca
do pelo fortalecimento do poder Executivo Federal, que
exerceu amplo controle sobre os poderes Legislativo e
Judiciário. Foram também estabelecidas rígidas regras
parao exercício da oposição política eeleições indiretas
paraoscargosdegovernadorepresidentedaRepública.
Oregime quese instaurou sobrea égidedos mili
tares foi se radicalizando a ponto de se transformar nu
ma ditadura altamente repressivaque avançou
sobre as
liberdades políticas e sobre os direitos individuais dos
CarlosMillan.ResidênciaNadyrdeOliveira.1960
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
50
cidadãos.Ogoverno CostaeSilvase caracterizoupelo avançodoprocesso deinstitucionalização daditadura.Oque
era um regime militar difuso, transformouse em uma ditadura violenta que eliminou o que restava das liberdades
públicas e democráticas. Costa e Silva assumiu a presidência da República e imediatamente foi intensificando
a re
pressãopolicialmilitarcontratodososmovimentos,gruposefocosdeoposiçãopolítica.
Um dos focos deoposição era composto por políticos influentes. O presidentedeposto, João Goulart, e o ex
presidente Juscelino Kubitschek articularam o movimento de oposição chamado de Frente Ampla. Outro foco era
compostopor
váriosgruposeorganizaçõespolíticasdeesquerda.Apósogolpemilitarde1 964,oPartidoComunista
Brasileiro,(PCB),sofreuumasériededissensõesdandoorigemainúmerosoutrosgruposeorganizaçõesdeesquerda.
EnquantooPCBdefendiaocaminhopacíficoparaaimplantaçãodosocialismonopaíspormeiodereformas
estrutu
rais, os grupos e organizações de esquerda dissidentes defendiam o emprego da guerra revolucionária, ou seja, a
chamada"lutaarmada",paraderrubaraditaduramilitareemseguidaimplantarosocialismo.Asesquerdasarmadas
constituíramnúcleosguerrilheirosurbanosepassaramaatuarpormeiodeatoscomoseqüestros,atentados
eassal
tosabancos.Nadécadade1960,aprogressivaexpansãodosistemadeensinosuperiorblicoocasionouoaumento
dasvagasnasuniversidadese,conseqüente,ocrescimentodonúmerodeestudantesuniversitários.
Organizados,osestudantesuniversitáriosbrasileirosconstituíramumimportantemovimentoestudantilquein
fluenciouo cenáriodapolítica
nacional. Asliderançasestudantiseramadepta sdasideologias deesquerdae, depois
do golpe militar de 1964, o governo desarticulou e colocou na ilegalidade a mais importante entidade estudantil, a
União Nacional dos Estudantes (UNE). A UNE atuou na coordenação e direção do movimento estudantil em âmbito
nacional.Mesmona
ilegalidade,asliderançasestudantismantiveramainstituiçãoemfuncionamentoetentaramre
organizaromovimento.
Aatuaçãodosgruposoposicionistaschegouaoaugenoanode1968.AFrenteAmplapromoviacomícios,pas
seatasereuniõeseàquelaalturahaviaampliadosuasbasesdeapoio,conseguindoadesãoatémesmodesetores
das
ForçasArmadas.Osestudantespromoveraminúmerosatoseprotestospúblicos.Comrelaçãoàsesquerdasarmadas,
aproliferaçãoeatuaçãodosgruposeorganizaçõesguerrilheirasnosgrandescentrosurbanosatraíramaatençãodos
militaresradicaisquepressionaramogovernoparatomarmedidasrepressivasmaisostensivas.OpresidenteCostae
Silva
reagiuatodasessaspressões oposicionistasfechandooCongresso NacionaleeditandooAtoInstitucional 5
(AI5), em de zembro de 1968, institucio nalizando a ditadura militar. Instrumento jurídico que suspendeu todas as
liberdadesdemocráticasedireitosconst itucionais,pe rmitiu queapolíciaefetua sseinvestigações,perseguiçõesepri
sõesdecidadãossem
necessidadedemandatojudicial.
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
51
VilanovaArtigas,ementrevistade1984,afirmaque,“depoisdogolpe,ascoisasficarammuitodifíceis.Acensu
raatingiutodososaspectosdavidaculturalbrasileira.[...]Oqueogolpefez,comacensura, foinosdispersar.Perde
mosnossaunidade.”
53
Considerado subversivo,Artigasfoiafastadodoensino,mascontinuouatuandonaprancheta,
novamentecarregandoalanternaailuminarocaminhodos jovensseguidores,aopostularaquestãocrucial nomo
mento:“Esperarporumanovasociedadeecontinuarfazendooquefazemos,ouabandonarosmisteresdearquiteto,
que
eles se orientam numa direção hostil ao povo e lançarnos na luta revolucionária completamente?”
54
Para a
soluçãodoimpasse,Artigaspropunhaaligaçãocomasmassaspopulares,embora“mesmoqueoarquitetotente,ou
queira,searticularcomasnecessidadespopulares,sendoasuaarte,umfazerutilitário,comoconseguirsuaconcreti
zação,senãoapoiadospelocapitaloupelosmeiosgovernamentaisquefinanciamesse
tipodeprojetos,amenosque
elespossaminteressálos?”
55
Estafoiumadasquestõesmaisimportantesnaarquiteturanaépocadogovernomilitar.ParaArtigas,osarqui
tetosdeviam asseguraruma posiçãocríticaao seescolherumcaminhode atuação,pois nãoseriapossível lutarpor
umanovaarquiteturasemfazernenhuma.Coubeaeleaproposiçãodamudança
eoapontamentodosrumostoma
dos pelas gerações seguintes, caracterizada por expressões diferentes para preocupações concernentes à maioria,
identidadequenãoseencontrasomentenasimilaridadeformalqueaobradealgunsarquitetospossacompartilhar,
mastambémnospressupostoscomuns.
“Mesmo distante de qualquer transformação redentora da sociedade brasileira, a
arquitetura deveria ensaiar
modelosdeespaçosparaumasociedadedemocrática”
56
.PartedadiscussãosobreosrumosdaarquiteturanoBrasil
encontrou caminhos de viabilização nessa época. Passou a existir uma linha hegemônica na arquitetura brasileira,
expressaemconcretoarmadoecomgrandeproeminênciadasoluçãoestrutural.
“Osarquitetosnovos,preparadosnestatradiçãocujapreocupaçãofundamentaleramasgrandesnecessidades
coletivas, desde 60 aproximadamente, no início da atual crise, sentiam o afastamento crescente entre sua
formaçãoeexpectativaseaestreitezadastarefasprofissionais.Seustrabalhosdirigiamse,ainda,paraasmes
masfinalidades.Entretanto,as
oportunidadesde realização diminuíam, fechavamseasperspectivas.Ora,suas
propostas continuavam as mesmas e não havia o que acrescentar: em tese, os instrumentos necessários para
organizaroespaçodeumoutrotempodemodomaishumanoestavamprontos, sebemqueseucaráteranteci
53
ARTIGAS,J.B.1984.InARTIGAS,J.B.Caminhosdaarquite tura.4.ed.rev.eampl.OrganizaçãodeJoséTavaresCorreiaLiraeRosaArtigasSão
Paulo,Cosac&NaifyEdições,2004.p.179
54
inAMARAL,Aracy.Op.Cit..p.295
55
AMARAL,Aracy.Op.Cit..p.295
56
SEGAWA,Hugo.Op.cit..p.151
Aarquiteturamodernabrasileiraaté1960
52
patórionãopermitissesenãoumaformulaçãomaisabstrata.Osnovosarquitetosasrepetiam.Mas,aconsciên
ciadesuainevitávelfrustraçãoimediataedodesmoronamentodo‘desenvolvimentismo’começouatingilasde
umaagressividademaioreadestruiroequilíbrioeaflexibilidadeque possuíam enquantose acreditavamexe
qüíveis.Ao
adiamentodesuaesperançareagiram,emumprimeiroinstante,comaafirmaçãorenovadaeacen
tuadadesuasposiçõesprincipais.”
57
57
FERRO,Sérgio.ArquiteturaNova.PublicadoemTeoriaePrática1,1967erepublicadoemEspaçoeDebates40.SãoPaulo,Núcleode
estudosRegionaiseUrbanos,1997.
Residências
53
Capítulo2
[Residências]
01.CasadePraiaJ.C.Pellegrino.......................................................................................................................................55
02.ResidênciaAécioArouche...........................................................................................................................................58
03.ResidênciaArthurAfonsodeSouza............................................................................................................................60
04.ResidênciaWalterRicchetti........................................................................................................................................63
05.ResidênciaPauloBastos..............................................................................................................................................65
06.ResidênciaVictorForoni.............................................................................................................................................67
07.ResidênciaJosefHitz
...................................................................................................................................................71
08.ResidênciaOscarFerreira...........................................................................................................................................73
09.CasadeCampoDennisGiacometti.............................................................................................................................74
Residências
54
Residências
55
AarquiteturaresidencialdePauloBastosencerraumuniversodepesquisarelativamentepequenoerevelauma
linhaderaciocíniocoesa.São dezesseisprojetos,sendocincosituadosnocampoounolitoraleonzedecasasurbanas.
“Naverdade, sempretivepoucos clientesparticular es eos trabalhosque eu tiveforam
trabalhospara conhecidose
amigos.Issoporquedesdeocomeço,quandoeuganheioconcursodoQuartelGeneral,fuiconvidadoafazerprojetos
públicos.”
59
CasadePraiaJ.C.Pellegrino
Itanhaém‐SP,1963[300m²]
A residência de praia de J. C. Pellegrino, em Itanhaém, São Paulo, foi o
primeiro projeto de Paulo Bastos, em 1963, que começou a projetar quando
aindatrabalhavanoescritóriodeCarlosMillan.
“Éumacasatérrea,temospilaresdoArtigas,umacaixad’águasolta,
umapérgula.EucomeceiaesboçarnoMillan.Depoiseusaíepasseia
trabalharsozinho.EuficavadesenhandonoescritóriodaMajorSertó
rio.”
60
Aestrutura deconcreto pintadadebrancoé marcadapelo desenhodos
pilares com seção que diminui ao se aproximar do piso, revelando o
alinhamento com a linguagem de Artigas. A casa é marcada pelo desenho da
cobertura e pelo contraste entre esta e os fechamentos verticais. Os quartos
são voltados
para a rua, fechados por caixilhos de madeira, e os espaços de
estar eserviços, através degrandes planos de vidro,para o fundo do terreno,
ondeestáapiscina.
O projetofoi publicado naedição de julho de1969 da revistaA casa de
Claudia.
59
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia22denovembrode2006.
60
Idem
ResidênciadepraiadeJ.C.Pellegrino
Imagemacervodoarquiteto
Residências
56
Em todos os projetos constâncias que revelam não somente uma linha de raciocínio do arquiteto, mas
também um certo modo de fazer da época. As residencias urbanas são marcadas pelo zoneamento das funções
concentradassobumame smacobertura.Sãofechadaslateralmenteporduasempenascegasdeconcreto,paredes
de
cargaapoiadasemquatropontosquesustentamacoberturaeencerramumespaçoúnicoarticuladoemmeiosníveis,
quasesempreligadosporrampas.
“Essaquestãodasempenaslateraisfechadasnopavimentosuperioremaisoumenosabertasnotérreoéuma
fórmuladesecriarumespaçoricointernamente,semainterferêncianegativadoexterior,queécaótico,emge
ral,emSãoPaulo.Porisso,osserviçosbloqueiamacasadaruae
elaseabreparaosfundos.Ouseja,seusufrui,
porexemplo,defundosdeterrenoondesepodeorganizarumapaisagemedeumespaçointeriorquetambém
podeser organizado, esses vaziosinternos que secria,ou tem mobiliárioou tem jardim,sãopaisagensque se
controla. No
caso da cidade totalmente caótica, ruim dese ver, é umavisão mais urbanística, dese organizar
umapaisagemprópria,diferenciadadessacoisainóspitadapaisagemurbana.”
61
61
Idem
ResidênciadepraiadeJ.C.Pellegrino
Imagensacervodoarquiteto
Residências
57
Os projetos para casas serviam de laboratório, como referência para outros desenhos. Em seus projetos resi
denciais,PauloBastosdemonstraessabuscaporumnovoarranjodapaisagemurbanaatravésdecomposiçãodeseus
edifícios.Nessecaso,negandoapaisage mexistenteemdetrime ntodeumaoutrarecriadainternamente.
As plantas têm
generosa distribuição espacial, com ambientes ligados física e visualmente em inter iores
abertos,voltadosparajardinsinternosouparajardinsnofundodolote,propondoumanovarelaçãodointeriorcom
oexterior,umanovarelaçãocomacidade.“Eupropusespaçosondeasvisuaisfossemdesimpedidaseosmoradores
pudessem,
então, gozar das coisas que quisessem, dos quadros, do mobiliário, do que fosse. O que eles quisessem
pôr,teriamumespaçoadequadoparafazerisso.”
62
ParaPauloBastos,oprojetodeumacasaenvolvemaisdoqueaorganizaçãodosespaços,envolvetambémuma
previsãodaformadeseusar,vivereusufruirdaqueleespaço.
“É assim em qualquer obraque você estejafazendo, sejacasa ounão. Euestava interessadoem propiciar um
espaçoquedesseumacertadimensãodeliberdade.Liberdadevisualeliberdadeespacial,poisoespaçonãoes
contido,elevemfluindo,easduassejuntam,avisualidadedetodos
osespaçosestáligadaàfluênciadesses
mesmosespaços.“
63
Podesedizerque,porvolta de1950,passadaafaseinicialdasiniciativaspioneirasdomodernismo,asociedade
começouaaceitaraspropostasprogressivas,abrindosecampopara aatuaçãodosarquitetos.EmSão Paulo,aconso
lidação da linguagem moderna na arquitetura doméstica se deu a partir na década
de 50. Percebiase nos projetos
residenciais um movimento em direção à compactação do programa em um único volume: os recuos tornaramse
extensãodos espaçosinternoseoedifíciofoiintegradoaoterrenoatravésdosjardins.Observamse,ainda,aapropri
açãodoquintalcomojardim,apriorizaçãodos
espaçosdeconvíviosocialeaperdadocarátermonumentaldafacha
da dafrente, como podem servistos nos projetos paraa casa Olga Baeta,de Vilanova Artigas,e para a casaCastor
DelgadoPeres,deRinoLevi.
Aplantapassavaaserorientadapelalógicadistributiva,presididamaispelo
zoneamentodoprogramadoque
pelofuncionalismodoespaçointernodas casastradicionais.Passavaaserimaginada emfunçãodeumespaçointerno
próprio,comopátio,ojardiminternoouovaziocentral,criandoumapaisageminterioridealaoconvíviocomunitário,
62
Idem
63
Idem
Residências
58
núcleoorde nadordeespaçosconectadossobumúnicovão,comonascasasJoséTaquesBittencourteIvoVitorito,de
Artigas,eRobertoMillan,deCarlosMillan.
Oprojeto deArtigas paraa casa OlgaBaeta, como espaçoúnicodistribuído emmeiosníveis eencerradopor
duaslâminascegas,asala
comdireitoduplo,oestúdioameioníveleosquartosemcima,tevegrandeinfluência.
ComoprojetoparaaresidênciaJoséTaquesBittencourt,projetadaindependentedasdivisasdoloteeelaboradaem
funçãodeumespaçointernopróprio,eoprojetoparaacasaIvoVitorito,com
oespaçoprincipalencerradoporvigas
empenaque,apoiadasemquatropilares,sustentamalajedecobertura,podemostercaracterizadoopontodeparti
daparaodesenvolvimentodaarquiteturaresidencialpelosarquitetosdas geraçõesseguintes.“Numcertomomento,
essacasaserviudepadrãoparaelaboraçãodeumasériedeoutras
casasquemeuscolegasarquitetosviramalgumas
soluçõesquenóspodíamostransformaremsoluçãoparaacasapaulista.”
64
Anoçãodequeacidadeprecedeaarquitetura,porserconsideradaalgomaiorqueasomadosedifícios,foiim
portante ponto de união na obra dos mestres Artigas eRino Levi e influenciou o trabalho de seus admiradores.
65
A
cidadedeveriaservistacomoespaçodemocrático,deconvivência,eosolourbanodeveriaserdetodos.Mesmoem
programassimpleshaviaabuscadeumsentidomaisamplo,coerentecomospressupostosnorteadoresdotrabalho
deste grupo. Acasa converteuse, nos anos1970, no espaço genérico que
a qualquer tempo poderia abrigaroutras
atividades.Noaugedo"milagrebrasileiro",comodinheiroorientadoparaaconstruçãocivilecomamãodeobrae
osmateriaisbaratos,surgiufinalmenteaoportunidadedeensaiar,nacasa,oedifíciopúblico.
66
ResidênciaAécioArouche
SãoPaulo‐SP,1968[300m²]
NoprojetoparaaresidênciaAécioArouche,emSãoPaulo,de19 68,oprogramaseadaptoudeformanaturalàs
condiçõesdolotecomfortedeclividade,sendodistribuídoemtrêspavimentossuavizadospordesníveisdemeiopiso.
Oprojetofoipublicado
pelarevistaCasaeJardimnaedição264,dejaneirode1977.
Aonível daruaestão oabrigodecarros eo depósito.O acessoao térreoseatravés daescadaem espiral,
64
Artigas,J.B.inMiGUEL,JorgeM.C.Pensarefazerarquitetura.Tesededoutoramento.SãoPaulo,USP,1999.
65
DepoimentodeJúlioKatinskyemArquiteturaBrasileiraapósBrasíliaDepoimentos.LuizPauloConde,JúlioKatinskyeMiguelAlvesPereira.
RiodeJaneiro,IABRJ,1978.
66
Acayaba,MarleneMillan.ResidênciasemSãoPaulo19471975.SãoPaulo,Projeto,1986.
Residências
59
quelevaao jardim,oupela escadaprincipal, lateral,queconduzàentradasocial. Umpavimentoacima,naparteda
frentedacasa,estãoacozinha,osserviçoseasaladejantar.Emais meionívelacima,asaladeestar.Adistribuiçãose
fazdemaneiraaprivilegi ar a
áreasocial, quepermaneceisoladado barulhoemovimen todarua, abrindoseparaa
grande áreados jardins nos fundos ena lateral da casa,esse maior porcausa da grande frentedo terreno. Sobre a
cozinhaestãoostrêsquartoseseusrespectivosbanheiros.Nosegundopavimento,observam
seosbrisesdefibroci
mentoquevedamasjanelas dostrêsdormitórios,usadosemlugardevenezianasconvencionaisparacontrolar alu
minosidadeeaventilaçãointernaseseconfiguramcomoelementosplásticosnafachada.
ResidênciaAécioArouche
Desenhodoarquiteto
Residências
60
ResidênciaArthurAfonsodeSouza
SãoPaulo‐SP,1970[300m²]
Aresidência Arthur Afonso deSouza, que teveparticipação na premiaçãoBienal doIABem 1970/ 1971e foi
publicada na revista "Casa e Jardim" n. 276, de janeiro de 1978, indica que,
“neste projeto seu autor está muito
próximodospartidosarquitetônicoscriadosporArtigas,tendoconseguido,comgrandemaestria,umasolu
çãoque,seindicainfluências,tambémmostragrandeautonomiadeprocedimento.”
67
Oprogramaé
distribu
ídoemquatroníveis,ligadosporrampasquesedesenvolvemaoladodojardiminternosobreovolumedeserviços.
Sãotrêsquartos, sendouma suíteemaisum banheiroisolados nopavimentosuperior, estúdioemmeionívelentre
estazonaíntimaeasocial,porsuavezcontandocom
salasdeestarejantareligadaàzon a deserviço,comcozinha,
áreadeserviço,quartoebanheirodeemprega da.Oscômodosdazonaíntima,nopavimentosuperior,abremsepara
orecuotraseiro.Exceçãodeveserfeitaàsuíte,queseabreparaojardiminterno,parao
qualtambémseabreoestú
dio.
67
XAVIER,Alberto.Arquiteturamodernapaulistana.SãoPaulo,Pini,1983.
ResidênciaArthurAfonsodeSouza
Corte‐Desenhosdeexecuçãodigitalizadosdecópiasheliográficas
Residências
61
“Aúnica coisaque eleme pediufoi umquartobem grandee tranqüiloonde elepudessetomar chá.Algumas
coisassãoespecificidades destacasa,orestovaitranscorrendo normalmentecomumaorganizaçãofuncionaleespa
cialqueeuqueestoupropondoeclienteestáaceitando.”
68

DeacordocomXavier,
temcomonotainteressanteerealmenteinéditaopátioajardinadointerno,so
breotetodacozinhaeque,providodepérgula,parcialmentecobertaporplacasdeplásticotranslúcido,ilu
minaasrampaseasdependências.”
69
Elefalaqueéumaformainusitadaderesolver,eéumpouco.Ojardiméemcimadacozinha,eessasrampas
fazemfluir tudo. Entãoacasaé muito surpreendente,sobesse aspecto.É uma visãodeirdesenrolandoesses
espaços,porqueoplano,assim,deumavezé
umdiscursomonótono.Éumaformadeseliberarespacialmente,
vocêchegaaummeiopisoecompoucospassosestáemoutroespaço,emaisumpouco,emoutro.”
70
68
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia22denovembrode2006
69
XAVIER,Alberto.Arquiteturamodernapaulistana.SãoPaulo,Pini,1983.
70
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia22denovembrode2006
ResidênciaArthurAfonsodeSouza
Vistalateral‐Desenhosdeexecuçãodigitalizadosdecópiasheliográficas
Residências
62
ResidênciaArthurAfonsodeSouza
Plantasdospavimentostérreoesuperior‐Desenhosdeexecuçãodigitalizadosdecópiasheliográficas
Residências
63
ResidênciaWalterRicchetti
SãoPaulo‐SP,1970[300m²]
Tambémnoanode1970,Pau
lo Bastosprojetou a residênciaWal
terRicchetti,quenãofoiconstruída.
No nível de acesso, estão as depen
dênciasdeserviçoeasaladejantar.
A sala de estar está em pavimento
intermediário, voltada
para o fundo
do terreno, e tem direito mais
alto possibilitado pela inclinação da
cobertura em laje nervurada. Meio
piso acima, estão os três quartos,
com asjanelas voltadas paraa fren
tedoloteeligadosatravésdeambi
entevaranda à sala e ao jardim in
terno,
iluminado por pérgula. A cir
culação entre os pavimentos é feita
por rampas, que também se desen
volvem ao lado do jardim interno
sobreovolumedeserviços.
ResidênciaWalterRicchetti
Vistaecorte‐Desenhosdeexecuçãodigitalizadosdecópiasheliográficas
Residências
64
ResidênciaWalterRicchetti
Plantasdospavimentosinferior,térreoesuperiorDesenhosdeexecuçãodigitalizadosdecópiasheliográficas
Residências
65
ResidênciaPauloBastos
SãoPaulo‐SP,1970[250m²]
O terreno em que está implan tada a residência projetada para sua família, construída em 1970, era
originalmente plano. O pavimento de acesso, elevado em relação à rua, foi criado como parte do projeto, por
aterramento.estáovolumedasdependênciasde
serviço,delimitandooespaçodasaladejantaredojardiminter
no.Meiopisoabaixoestãoasaladeestareoescritório,quevisualmenteprolongamseatéavaranda,separados pelo
volumecurvo dolavabo eordenados pelossofás,mesas eestantes deconc reto. Meiopiso acima,estão
osquartos.
Observamse,nessecaso,algumassoluçõesempregadasanteriormenteemoutrosprojetosresidenciais.Deproje
çãoquadrada,acoberturaencerraespaçomaiscompacto,ondealigaçãovisualentreosambientesacontecedema
neiramaisimediata.
ResidênciaPauloBastos‐SãoPaulo,SP
Desenhosdoaquiteto
Residências
66
“Elatemalgoquenascasasparaosclientesnãoseriaaceito.Aoseabriraportadeentrada,todaacasapodeser
vista,comexceçãodacozinhaedaáreadeserviços.seasaladejantare,dependendo,oestúdio,asalade
estar,ojardim,a
passagemdosquartos.Issotrazumasensaçãoenormedeliberdade.Vocênãoestáenjaulado,
asuavistapodeatravessartudo.E,normalmente,sabequemadora?Ascrianças.Isso,eu seibem,porquetenho
cincofilhoseseisnetos.Acriançaquerterliberdade,querterespaço,quertersurpresa,subir
ecairdevezem
quando.”
71
Ojardiminterno,nopavimentodeacesso,éiluminadoporpergolado,quedeveria,originalmente,ficardesco
berto.
“Euachavaquepodia deixaraberto.quenodiaemquenosmudamos,deuumvendavalenormequetrouxe
muitopó.Entãoessautopia,essacoisasonhadoradequeopergoladoiaficaraberto,épossívelondenãoventa,
ondenãochove,masjustonaquelediaasfadasresolveramse
unirparamemostrarqueaquiloeraumabestei
ra,queeutinhaquefechardealgumaforma.”
72
71
Idem
72
Idem
ResidênciaPauloBastos
Imagensacervodoarquiteto
Residências
67
ResidênciaVictorForoni
SãoPaulo‐SP,1974[350m²]
AresidênciaVictorForoni,projetadaem1974,temadisposição dosambientessemelhanteàdePauloBastos.
Noníveldarua,estãoacozinha,alavanderiaeasaladejantar,sendo queosquartoseobanheirodeempregada,a
adega
eaoficinaestãoparcialmenteenterradossobessepavimento.Aáreade estarestámeiopisoabaixoea área
dosquartos,meiopisoacimadopavimentodeacesso.Nãosepodefalar, nessecaso,simplesmenteemsala deestar,
poissetemumaárea ampla organizada pelos volumesde
concretoqueencerramaáreadeestar,dolavaboedobar,
dispostosemtornodejardinsinternosligados,porsuavez,aosjardinsexternosnofundodolote.
Osquartosvoltamseparaosul,entãoumsistemadecaptaraluzemshed,comsistemadevenezianas.“Se
riamelhorvoltarosquartosparafrente,eventualmente,porqueénorte.Maseupreferiisso,porqueoterrenoabria
umpoucomaisparaofundo,ecaptaraluz,nãoporumasimplesiluminação,masporuma‘insolação’zenital.”
73
73
Idem
ResidênciaVictorForoni
Corte‐Desenhodoarquiteto
Residências
68
ResidênciaVictorForoni
Plantasdospavimentosinferioresuperior‐Desenhodoarquiteto
Residências
69
Ovolumeda residênciaéencerradonasua parte
superiorpelasempenasdeconcretoe,nonívelda
área de estar, um fechamento sinuoso de vidro
faz a conexão com os jardins externos. No pavi
mentosuperior,osbanheirossãoacondicionados
em volumes escultóricos, solução também em
pregadaanteriormente.
“Essaconcepçãodeseterumaestrutura
independente, com as alvenarias inde
pendentes da estrutura, é uma coisa
bem antiga no sentido da afirmação es
trutural e dá,justamente, parase traba
lharassim,queécomoeugosto,depas
searumpoucocomaforma,masnão
com
aforma,comadefiniçãodoespaço
comqueseestátrabalhando.”
Oqueescapa daorganização daplanta étratado
escultoricamente, para se contrapor. As portas,
porexemplo,cortaminteiramenteaparedeetêm
umabandeiraparanãoconfundirosplanos.Estão
semprerecuadas,paradestacarosvolumes.
“Issoéumacoisafundamental,umplano
éumplano.Aí,começaaserumvolume,
que então deve ser tratado como tal.
Vaise fazendo essa leitura volumétrica
da casa, que não é simplesmente um
planoque sevairiscando.Então esse
carátervolumétrico.”
74
74
Idem
Residências
70
ResidênciaVictorForoni
Imagensacervodoarquiteto
Residências
71
ResidênciaJosefHitz
SãoPaulo‐SP,1979[435m²]
AresidênciaJosefHitz,projetadaem1979,seriaimplantada emterrenodeesquinacomacentuadadeclividade.
“Hitzfoioúnicoclientequeeunãoconhecia,queveioaquiebateunaportadoescritório,umsuíço,quenãoconstru
iua
casa.Foifeitooprojetointeiro,maselenãoconstruiuacasa.”
75
O extenso programa é distribuído em três pavimentos sobrepostos, não meiosníveis. O acesso se pela
rualateralaovestíbuloqueconectaasaladeestaraoacessoàcozinhaeaopavimentosuperior.Asaladeestartem
fechamentosinuosoemalvenaria,sendodivididaemdoisambientes
pelalareiraeseabreparaoterraço,bemcomo
asaladejantar.Estatambémseconecta àcozinhapelacopa.Aentradadeserviçoéindependentedovestíbulo,de
onde,porescadaexclusivaparaessafinalidade,setemacessoàsdependênciasdeempregados,nopavimentosupe
rior.Atravésde
escadaencerradaemvolumedeconcreto,quemarcaverticalmenteaconstrução,chegaseaovestí
buloíntimonopavimento superior,quedistribuiacirculação.Acoberturafoiaproveitada paraasaladeestaríntima,
cobertacomestruturametálicaindependente,queacessoparaavarandaeparaosoláriocom
piscina.
75
Idem
ResidênciaJosefHitz
Vista‐ Desenhodo ar
q
uiteto
Residências
72
ResidênciaJosefHitz
Plantasecorte‐Desenhodoarquiteto
Residências
73
ResidênciaOscarFerreira
SãoPaulo‐SP,1979[348m²]
Ainda em 1979, Paulo Bastos projetou a casa de Oscar Ferreira, com agenciamento interno enxuto, onde os
cômodossão ligadosporescadas, comona residênciaJosef Hitz.Estão presentesasmesm as questõese osmesmos
partidosusadosemoutrasresidências.Para
ofundodolote,estãovoltadosasáreasdeestareosquartos.Asdepen
dênciasdeserviço,emumpatamarintermediário,voltamsepararua.
ResidênciaOscarFerreira
Plantas,corteevistafrontal‐Croquisdoarquiteto
Residências
74

CasadecampoDennisGiacometti
ChácaraColinasdeSãoPedroSapucaíMirim‐
MG,1982[800m²]
Dennis Giacometti havia sido aluno de Paulo
Bastos na Faculdade de São José dos Campos, mas
nãoseguiuna profissão.Ocontatotrouxe oconvite
paraoprojeto dacasanaSerradaMantiqueira,
em
1982.
“Há essa característica, de ter muito vi
dro e muito sol dentro,porque émuito
frio, lá. Então tem quecaptar o sol, co
monocasodapiscina,ondeagentefez
os sheds para captar o sol na posição
adequada.”
76
Primeiramentefoiconstruídaumacasadeca
seiro,simples,detijolo,ondeafamíliasehospedava
enquantoacasaeraconstruída.Acasatemalgumas
particularidades e não possui as mesmas condicio
nantes que as casas urbanas.“Acabou ficando inte
ressante,porqueagentenãoestavacondicionadoa
umterrenocomona
cidade.”
77
Porserumacasadecampo,oprogramapôde
serdistribuídomaislivrementepeloterrenocoberto
dearaucárias.
76
Idem
77
Idem
ResidênciaDennisGiacometti
Croquisdoarquiteto
Residências
75
“Elemelevou paraescolherolugar.Oterrenoeraacidentado,tinhaumvale,umacolinae algunsremansos
deplatô.Euescolhiumdelesqueficavaacavaleirodovale.Amataeracheiadearaucárias,comalgunsvazios.
Entãoeuescolhiesselugareoprojetodacasa
éespalhadoassimparaficarenvolvidapelamata.”
78

Osblocosforamsendodefinidospelo agrupamentodosquartos, serviços,estarea piscinacoberta,queapro
veita o desnível do terreno. As ligações entre os blocos foram pensadas como galerias de vidro dos dois lados, por
ondesepassariaeveriaostroncos dasárvores.Podesedizerqueo
sistemadeconstruircomumalajedeconcretoe
pilaresdema deiraéumainfluênciadeArtigasedacasaElzaBerquó,construídadestemodo.“Euestavainteressado
emchecaressaformadefazerevercomoficaria”
79
.Nesseprojetoaintençãoeraqueospilares demadeiradessem
continuidade, internamente, à mata. Foram usados troncos de aroeira, madeira dura e de excelente aplicação, do
pontodevistaestrutural.
78
Idem
79
Idem
ResidênciaDennisGiacometti
Planta‐ Croquisdoarquiteto
Residências
76
“Foiumpoucodurodeconvencer,masagentetinhasidoantecedido porgentemuitoboa,quetinha ganho,
um pouco, a opinião pública a respeito do concreto aparente. Nenhum cliente discutiu todo aquele concreto, todo
aqueleespaço,aempena,agrandeestrutura.Quandoagentefez,haviauma
linguagemaceita.”
80
Entretanto,Paulo
Bastosreconheceque“essahistóriadequeoconcretoéforte,resistente,quedeviaaparecerenãoficarescondido,
depoisagenteveioaperceber,eraumaenormebesteira.Oconcretoé péssimomaterial,éótimocond utor decalor,
quandoestáquenteficaquente,quandoestáfrio,você
perdecalordedentroeficafrio.”
81
Estascasasforamfeitasemumaépocaemque aconstruçãoera,maisbarata.PauloBastosobservaquehoje,
comraríssimasexceções,nãoseconseguiriafazercasasdessetipo:
“Setomarmos a minhacasacomo exemplo, queméqueiria aceitar,hoje,umacasa com concretoapa
rentedentroefora,cerâmicapretanochãoetijoloaparentenalaje?Comumacara,assim,entrerústica,deum
lado,edeoutrolado,comumpisodeumaperfeiçãofenomenal,
queéaquelepisopretodaSãoCaetano,que
eles faziam. Noentanto, aidéia éque a vista repouse nas superfícies que ela e aluz, nasombra. Estessão
sempreelementosdetranqüilidadevisualemental,nãodemateriaiscomotambémdeorganizaçãodacasa.
Isso,
paramim,éfundamental.”
82
80
Idem
81
Idem
82
Idem
Educação
77
Capítulo3
[Educação]
Educaçãoformal
10.GrupoEscolarVilaBrasília..........................................................................................................................................79
11.CentroEducacionaldeCorumbá................................................................................................................................84
12.GrupoEscolardeRubiácea .........................................................................................................................................91
13.CentroEducacionaldeMacedônia.............................................................................................................................93
14.EscolaMunicipaldeVilaEspanhola............................................................................................................................97
15.EscolaMunicipaldeAmericanópolis..........................................................................................................................99
16.
EscolaMunicipalJardimRobru.................................................................................................................................101
17.ColégioAugustoLaranja...........................................................................................................................................102
18.EEPGJardimAlpino...................................................................................................................................................109
19.EEPGJardimLeonor..................................................................................................................................................111
20.EEPGJardimdaRepresa...........................................................................................................................................111
Educaçãoinformal
21.AnteprojetodoEspaçoCriança.................................................................................................................................114
22.PraçaObservatóriodeAraras,anexaà
EEPGProfªJudithLegaspe.........................................................................116
23.MuseuMunicipaldePeruíbeeinstrumentosdeobservaçãoastronômicaedapaisagem.....................................119
24EstudopreliminardeorganizaçãodasáreasdebrinquedodoSESCItaquera..........................................................123
Atuaçãocomoprofessordearquitetura........................................................................................................................125
Educação
78
Educação
79
Educaçãoformal
Paulo Bastos elaborou diversos projetos de encargos públicos, como escolas, agências bancárias, hospitais,
quartéisparabombeiroseparaapolícia, entreoutros.Osprojetosparaescolasencomendadospelosdiversosórgãos
públicos, responsáveis por atender à demanda sempre crescente, revelam o desenvolvimento no modo como os
programas de construções escolares
foram abordados. Mais que isto, revelam especial interesse do arquiteto pelo
tema da educação, levando, para além dos edifícios escolares, as possibilidades de projetos de arquitetura
contribuíremparaaaçãoeducativa.AsescolasdeVilaBrasíliaeCorumbáforamfeitascomgrandeliberdadequanto
aoprogramaarquitetônico.Alémdaoportunidade
queofereceramaojovemarquitetodetrabalharemumprojetode
edifício público com grande liberdade criativa, estas podem ser consideradas as escolas onde foram lançados os
conceitosprincipaisdaproduçãosubseqüentedePauloBastosnestaárea.
GrupoEscolarVilaBrasília
SãoBernardodoCampo‐SP,1966[2.500 m²]
O
projeto para o Grupo Escolar de Vila Brasília, elaborado em 1966, a pedido da Diretoria de Obras da
PrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,contacom12salasdeaula,sendo10nopavimentosuperioreduas
nopavimentointermediário,alémdasinstalaçõesdesanitários,daadministraçãoedeserviços
ecozinha.Oprograma
foidecomposto,destamaneira,edispostoaolongodeumeixoprincipaldecirculaçõesemvolumesindividualizados,
compondo umedifício que, se volumetricamente fragmentado, guardaindefectível noção de objeto, ea articulação
dosespaçosabertosecobertospossibilitamafluidezentreoespaçoescolarea
cidade.
A escola ocupa o terreno com uma grande cobertura de projeção retangular disposta perpendicularmente à
rua.Nopavimento deacesso,1,50mabaixodonível darua,encontramse duasdas salasdeaulaeas dependências
administrativas,dispostasemvolumesindependentessemtocar acoberturaeparcialmenteforadesua
projeção,em
cujascoberturasforamprojetadosjardins.Atravésderampachegase,1,20macima,aocorredordassalasdeaula,e
1,30mabaixodoníveldeentrada,aogalpãocoberto,sanitáriosecozinha,estaemsituaçãoparcialmenteenterrada.O
terrenotemdeclividadeapartirdoníveldarua,edo
galpãoabertonaslateraistemsefartavista dacidade.Éespaço
autônomoecomplementardaedificação.Contíguas aogalpãoestãoasáreasderecreiodescoberto.
Darua,aescolaémarcadopelasdimensõesdafachadaqueindicamumedifíciopequeno,elevandose4mdo
nível da rua, e pelas escala
dos volumes sob a cobertura, em continuidade com o entor no, na escala da rua e da
Educação
80
criança.Nessaempenaumasériedeaberturas,atravésdasquaispode
se antecipar o que acontece dentro, antes de entrar, que a luz do sol
entra lateralmente, dos dois lados. Vista da cidade, ao fundo, a escola
elevase mais, o que confere certa monumentalidade ao equipamento.
Caminhase
numa progressão de ampliação dos espaços ao descer, ou de
concentração,aosubirparaosespaçosmaisfechadosdassalasdeaula.
A estrutura não é o que caracteriza o edifício. Os elementos
portantes,ospilares,setornamelementossecundários,sendoreduzidosà
seção e forma estritamente necessários ao cumprimento
de sua
responsabilidade estrutural. A grande cobertura emlaje grelha, que conta
comdomosdeiluminação,cobreosespaçosdaescola,definindooportee
as características plásticas do edifício. Acoplados a ela, livremente, com
estruturaprópria eemdiferentes níveis,estãoosvolumes queabrigamas
funções do programa, com
as vedações, alvenarias e caixilhos articuladas
entresi,sempreindividualizados.
Emboranosistemaadministrativobrasileiroasconstruçõesescolares
e a manutenção do ensino coubessem predominantemente aos estados,
algumas municipalidades participaram da obra educacional numa
proporção bem maior que a mínima delas exigida, em alguns casos,
mantendo ensino municipal de alto
padrão e, em outros, construindo às
suas expensas e cedendo ao estado ótimos prédios escolares em áreas
urbanas.
83
Este foi o caso do Grupo Escolar de Vila Brasília. O projeto foi
contratado pela prefeitura de São Bernardo do Campo que, beneficiada
pelos impostos que recebia por causa do parque industrial que passara a
abrigar,construíaescolas,alémdeoutrosedifícios.
Apartirdoesboçodoprograma,eraelaborado
umanteprojetopara
umterrenoescolhidocomacolaboraçãodoarquiteto,queeraapresentado
àequipedeplanejamento.
83
FECE.Aexecuçãodoprogramadeconstruçõesescolares.SãoPaulo,S.N.,1963.
Educação
81
“Oprojetoeraelaboradoeeraimediatamentecolocadoemlicitaçãoeconstruído.Entreoconviteaoarquitetoe
a conclusão da obra, passavase um ano e meio, às vezes até menos. São Bernardo do Campo pode ser
consideradaumrepositóriodeobrasdearquiteturadessemomento,noqualmuitos
arquitetosestavamsendo
chamadosparafazerasobraspúblicas.”
84
84
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia28demarçode2007.
GrupoEscolarVilaBrasília
Fotosdoedifíciorecémconstruído. Acervodoarquiteto
Educação
82
Educação
83
GrupoEscolarVilaBrasília
Páginaoposta:Plantadopavimentoinferiorepavimentointermediário,corte
longitudinalecortetransversal
Nestapágina:pantadopavimentosuperior(comvaziosobreointermediárioevista)
Fonte:Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
84
CentroEducacionaldeCorumbá
Corumbá‐MT,1966[6.000m²]
Processo semelhante envolveu a contratação do projeto para o Centro Educacional de Corumbá,elaborado a
pedido do governo do estado de Mato Grosso. O governador Pedro Pedrossian, ao assumir o governo, percebeu a
necessidade de realizar uma série de obras de
infraestrutura. Podese dizer que ainda não havia arquitetos em
númerosuficientenointeriordopaís,sendopioneiraaatuaçãodeOscarArine,coautor,juntocomPauloBastos,do
projeto para os Quartéis Generais do II Exército, no ano anterior
85
. Arine havia migrado para o Mato Grosso e era
funcionário do governo do estado. Neste cargo, organizou a realização de uma série de obras para o governo que
estavaseinstalando,alémdeencomendarprojetosparaosarquitetos deSãoPaulo.ÀPauloBastoscoubeatarefade
realizaro
projetoparaestaescolacompleta,queabrigariaasatividadesdoprimárioatéoginásio.
Partido semelhante ao de Vila Brasília foi empregado no projeto em Corumbá, também com elevado grau de
liberdade, desde a definição do programa. Em terreno plano com duas esquinas, lançase a cobertura de projeção
85
Sobreesteprojeto,consultarocapítulo4
CentroEducacionaldeCorumbá
Fotodamaquete.Acervodoarquiteto
Educação
85
retangular que caracteriza o edifício, paralelamente ao lado maior do terreno. Se em São Bernardo do Campo o
edifíciodestinavase aum grupoescolar,em Corumbáo programado centroeducaciona ldeveria abrigartambém o
préprimário,aoqualforamdestinadastrêssalasdeaula,eo primário,comcinco
salas,alémdasdezsalasdoginásio.
Os espaçospara estas atividades foramconcentrados naedificação principal, organizados de modoa separar, tanto
quanto possível, os fluxos e atividades das diferentes faixas etárias. Em volumes autônomos ligados à edificação
principalpormeiodemar quisesestãoaquadradeesportes,coberta
comarcos,eoauditório.
Peloladomaiordoterreno,atravésderampa,chegaseaonível1,25mabaixo,porondesetemacesso,apartir
do galpão do préprimário, às três salas de aula, à sala da coordenação e a uma pequena cozinha, além do recreio
descoberto do pré
primário. De um dos lados menores, temse o acesso aos galpões do primário e do ginásio.
Novamente,oquecaracterizaasoluçãoformaléagrandecobertura,queemCorumbátemshedsparailuminaçãodas
salas de aula, localizadas no pavimento superior nas duas extremidades, enquanto que os galpões
têm direito
duplo.
Aconcepçãodessasduasobras,emSãoBernardodoCampoeCorumbá,“foiassimpresidida,emcadainstante,
pela intenção de pesquisa das relações extremamente dinâmicas dos espaços e volumes criados, constantemente
modificadas pela incidência da luz que, pela própria característica desses espaços, não encontra obstáculos à
penetração.”
86
.OCentroEducacionaldeCorumbárecebeuoprimeiroprêmiodacate goria“ProjetosdeEdifíciospara
fins Educacionais” daPremiação Bienaldo IABem 1969,e oGrupo Escolar VilaBrasília recebeumençãohonrosa na
categoriade“ObraConstruídadeEdifíciosparaFinsEducacionais”damesmapremiação.
86
Grupoescolar.RevistaAcrópole.SãoPaulo,359,mar.1969.
CentroEducacionaldeCorumbá
Cortetransversal.Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
86
CentroEducacionaldeCorumbá
Plantadopavimentotérreo.Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
87
CentroEducacionaldeCorumbá
Plantadopavimentosuperior.Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
88
CentroEducacionaldeCorumbá
Plantadopavimentosuperior.Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
CentroEducacionaldeCorumbá
Fotosdaé
p
ocadaconstru
ç
ão
(
abaixo
)
Educação
89
Aconstrução dasescolas noestado deSão Pauloestavaa cargodoFundo Estadualde ConstruçõesEscolares,
FECE. O fundo foi criado em 1959, como parte do Plano de Ação do governo Carvalho Pinto, para ser o órgão
responsávelpeloplanejamentoecusteiodeconstruçõesescolares,inaugurandoumaépoca
emqueaconstruçãode
escolas estaria a cargo de órgãos específicos. A expansão demográfica decorrente das transformações sociais,
econômicaseculturaisqueopaísatravessavaeascrescentesreivindicaçõesdapopulaçãodemandavamaadoçãode
medidaspara,rapidamente,aumentaracapacidadedeofertadevagas.
No início, o FECE contou
com a experiência do Departamento de Obras Públicas, DOP, e do Instituto
Previdenciário deSão Paulo,IPESP, que vinham colaborandocom ogovernona construção deobraspara a infra
estrutura do estado. A ação do IPESP foi particularmente significativa. O Instituto foi responsável pelo regime de
contrataçãode
escritóriosdearquiteturaparticularesparaarealizaçãodeprojetos,queatéentãoficavama cargode
funcionáriospúblicos.Muitosarquitetosforamcontratados,algunsrecémformadose
“a necessidade de uma unidade em torno do problema da escola atraiu as atenções em torno do tema, seus
problemas,implicaçõessociais,estéticas,técnicaseressaltouaimportânciadarevisãodosplanoseprogramas.
Naverdadeconstituiuseumverdadeirogrupodetrabalhoedetrocadeinformaçõeseosprojetos
resultantes
revelamumnotávelavançogeral,napráticaprofissionalnonossomeio.”
87

São Paulo contava com a atuação de arquitetos como Rino Levi, Oswaldo Bratke e Vilanova Artigas, mas a
aplicaçãodeconceitosmodernosemobrasdearquiteturaestavacircunscritaaobrasparticulares.
“Carvalho Pinto tinha ido à Brasília, onde se encontrou com Juscelino, que lhe mostrou o trabalho dos
arquitetos.Ele entendeu essefenômeno.Se quisesseter o mesmoresultado, serianecessário usar osquadros
quetinhaemSãoPaulo.Foiumaépocamaravilhosa.Osarquitetos,derepente,tiveramdesepreparar
paraum
novomomento,queseiniciavacomaconstruçãodefóruns,escolasetc.”
88
ParaPaulo Bastos, “foiuma épocamuitointeressante porque éramoschamados etínhamostrabalho, eraum
trabalho diuturno, de projetossignificativos executados com certos critérios ecom grau de liberdade relativamente
grande.”
89
87
ROCHA,PauloMendesda.Edifíciosescolares:comentários.RevistaAcrópole,377,set.1970
88
SANOVICZ,Abrahão.Depoimento.RevistaArquiteturaeUrbanismo,17,1988
89
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia28demarçode2007.
Educação
90
Embora a encomenda a escritórios visasse à solução dos problemas quantitativos, os projetos realizados,
usando o recurso das novas tecnologias, cada vez mais acessíveis, criaram formas renovadoras que pretendiam
revolucionar o conceito deescola, na tentativa de transformálas em parte integranteda sociedade, em um espaço
que integrasse as atividades
escolares à vida da comunidade. Revelavam um ideal de sociedade na qual a escola
figurariademaneiradiferenteeformariapessoasdiferentes,maisdoqueumidealdeensino,quepermaneciasendo
comosempre.
“Podesedizerqueessasescolas,tomadasemconjunto,sãoresponsáveisnãoapenasporprocurarresponderà
demanda educacional de bairros periféricos e carentes da capital paulista, e de cidades deficientes de
equipamentos escolares no estado, mas também por constituir, em pouco tempo, um expressivo acervo de
construçõesmodernasemSão
Paulo.”
90
Vários projetos, como os Ginásios de Itanhaém e Guarulhos, de Artigas, alteraram a concepção do espaço
escolare tornaramsemodelos aoexpandir as áreasde convívio,valorizando odiálogo e atroca deconhecimentos,
com um mínimo de fronteiras entre professores e alunos e entre a escola e a comunidade.
Foram estas escolas as
responsáveisportornarexplícitooquestionamento dosestereótiposquebaseavamodesenhodosedifíciosescolares.
As alterações significativas na linguagem arquitetônica das escolas deram testemunho não apenas da política
educacional,mastambémdastransformaçõesecontradiçõessociais,políticaseeconômicas dasociedadebrasileira.
Os arquitetos modernos
viram, na construção de edifícios escolares, a possibilidade de ampliar o alcance de suas
propostas de renovação da sociedade, ou seja, as escolas estiveram no centro da discussão acerca do poder da
arquiteturaemproporatransformaçãodasociedade.
90
WISNIK,Guilherme.Oprogramaescolareaformaçãoda‘escolapaulista’.In: FERREIRA,AvanyDeFrancisco(org)eMELLO,MirelaGeigerde
(org).Arquiteturaescolarpaulista:anos1950e1960.SãoPaulo,FDE,2006
Educação
91
GrupoEscolardeRubiácea
Rubiácea‐SP,1966[600m²]
ParaoFECE,PauloBastosprojetouasescolasdeRubiácea,em1966,eMacedônia,em1969.Oprojetoparaa
primeiracontava comquatrosalas deaula, dependênciasadministrativas,biblioteca egalpão coberto.Asatividades
foramdistribuídas emumparalelepípedodispostoparalelamente
àrua.Oacessolevaaogalpãocoberto,quesevolta
paraofundodoterreno.Ossanitários,emvolumeparcialmenteforadaprojeçãodacobertura,fechamoladovoltado
paraarua.Dogalpãosaemoscorredoresparaassalasdeaula,deumlado,0,50macimadonível
dogalpão,eparaa
administração, do outro, 1,00m acima, em cada extremidade do volume, e acessíveis por escada, com topografia
criada paradelimitar as funções.A posição do galpão torna oespaço comunitário, articulador das circulações, e,
ainda, a possibilidade de fechamento dos acessos às salas e à administração,
liberandoo para atividades fora do
períodoletivo.
Este projeto diferese das escolas citadas anteriormente por não apresentar semelhante riqueza formal.
Embora o despojamento de materiais e formas estivesse presente anteriormente por opção, na escola de Rubiácea
seu uso se faz de maneira mais pragmática, por orientação do órgão
solicitante. Os brises foram substituídos por
elementos vazados de concreto. Os caixilhos de ferro demonstram, externamente, através de seu desenho
diferenciado, as funções que se desenvolvem no seu interior. As salas de aula contam com amplas janelas voltadas
paraaruaeasdependênciasadministrativas,comaberturasmenoresrecuadasdoplano
dafachada.
O FECE evitou grande diversidade nos programas das edificações. Embora os projetos de cada obra tivessem
sidoelaboradosindividualmente,osprogramas padronizadosforamrespeitadosemcada projeto.Nessesprogramas
incluíramse todasasdependênciasletivas, administrativaserecreativas deumaescola. Entretanto,foram excluídas
doprogramainicial e
reservadasparaumasegundaprioridadetodasasdepe ndênciasquenãoerami mprescindíveis
paraofuncionamentodaunidadeescolar,taiscomoauditórios,piscina,quadrasdeesportecobertas,casadezelador,
etc.
91
91
FECE.Aexecuçãodoprogramadeconstruçõesescolares.SãoPaulo,S.N.,1963.
Educação
92
CentroEducacionaldeRubiácea
Planta,vistasecorteslongitudinaletransversal
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
93
CentroEducacionaldeMacedônia
Macedônia‐SP,1966e1969[2.500m²]
Nomesmoanode1966,PauloBastosprojetouaescoladeMacedônia,complanosemelhanteaodeRubiácea.
E,em1969,foiconvidadoparaprojetarasuaampliação,oqueacrescentariaumagrandeáreaconstruídaaoedifí cio.
Aconstruçãoexistente
foiadaptadaparareceberassalasdeauladopréprimário.Foiprojetadoumoutroedifício,em
doispavimentoseligadoaoedifícioexistenteporumamarquise,paraabrigarasdezsalas doginásioeassetesalas
do primário, e suas respectivas dependên cias. No pavimento térreo encontramse
o pátio de recreio coberto do
ginásio e o do primário, cada um com seu respectivo conjunto de sanitários e vestiários, além da sala de artes
industriais.Contíguosnoespaçodescobertoentreosdoisedifícios,foramdispostasaquadra,oanfiteatroeapartedo
terrenoreservadaàsaulasdepráticas
agrícolas.Nopavimentosuperiorestãoassalasdeaula.
CentroEducacionaldeMacedônia
Fotosacervodoarquiteto
Educação
94
CentroEducacionaldeMacedônia
Plantadoprimeiroprédioconstruído,cortesevistasdaampliação
Páginaaolado:Plantasdospavimentostérreoesuperior(ampliação)
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
95
Educação
96
Em1970,emtemporelativamentecurto,PauloBastosprojetoutrêsescolasparaaComissãodeConstruções
EscolaresdaPrefeituradeSãoPaulo,aseremimplantadasemJardimRobru,AmericanópoliseVilaEspanhola.Nestes
projetoshouveliberdadetantoquantoaoprogramaarquitetônico,quantoàsquestõesconstrutivas.
“Foiempossadonovodiretor,queprecisavaelaborarumprogramadeconstruçõesescolaresemecontratou
nummêsdejaneiroparafazertrêsescolas.Trêsprojetosaomesmotempo,haviaurgência.Foramfeitosos
projetoscompletos.existia,evidentemente,onúmerodesalasquesedesejava,umpátio,ummínimode
programa.
Assoluçõescriadasforamdiretoparaalicitaçãoe,asescolas,construídas.Gostomuitodesses
projetosporquehouveliberdade,nãoconstrutiva,masestética”
92
.
As três escolas são marcadas pelo lançamento de uma grande cobertura sob a qual desenvolvemse os
ambientesemvolumesmaisoumenosindependentes.OtemapropostonasescolasdeVilaBrasília eCorumbáagora
é tratado de forma mais comedida, por um lado, sendo que os volumes chegam até a
laje, e muitas vezes são
formadosapenaspeloavançoourecuodos planosdefechamentodosambientes.Poroutrolado,algunsvolumessão
explorados de forma plasticamente mais marcante. A implantação das sa las de aula, ocupando quase todo o
pavimentosuperior,fazcomque acom posição seassemelhemaisa
umprismaelevadodoque,propriamente,auma
coberturaindependentedosambientesquecobre.
“Essevolume das salasde aulaé quecaracteriza aescolacomouma grandecobertura, depoisosvolumes são
todostrabalhados.Chegamaténalaje.Essaleituravolumétricaetambémdetransparência,porquenãoencosta
nalaje,aquinãoapareceporforçadoprograma.Issorepresentaamesmabusca,atravésde
soluçõesdiferentes,
epertenceàmesmafamíliadepreocupaçõesdopontodevistaestético,volumétricoe,sobretudo,espacial.”
93
Astrêsescolastêmprogramassemelhantes,abrigam12salasdeaulaeasrespectivasfunçõesadministrativase
de serviço. As condicionantes do terreno, diferentes em cada caso, são apenas ponto de partida para a criação dos
trêsprojetos.Emboraelaboradossimultaneamente,compartidosemelhantee,coma aplicaçãodasmesmassoluções
dedesenho,comoparaa caixilharia, porexemplo,elesdiferenciamseumdooutro,revelandoumextensivoconjunto
deraciocíniosprojetuaisederesultadosformais.
Nastrêsescolas,grandesshedsproporcionamàssalasdeaulaamplailuminaçãozenital,que,emconjuntocom
asoluçãodeventilação,caracterizamasuanota
particular.Comoumailuminaçãouniformeégarantidapelossheds,
osfechamentoslateraiscontamapenascomodelicadodesenhodeseteirasedafaixadevidroquecorreaextensão
detodososambientes,naalturaquepermitisseaumacriança,sentada,teravisãodoexterior.
92
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia28demarçode2007.
93
Idem
Educação
97
“De pé, a criança não mais. Mas quando senta, na altura dela descortinase a vista. Ela tem a visão da
paisagemexterna,masatravésdealgunselementos.Atentativaeradenãoseprecisarusarmuitaluzartificial.
As janelas das escolas voltadas para fora têm um problema
que é o barulho exterior ou o barulho da própria
escola, e isso perturba enormemente. Isso aqui é uma tentativa de se ter uma certa concentração na aula,
concentraçãonotrabalho,semestarprivadodeolharapaisagemenquadradatantopelalinhacorridahorizontal
quantopelasseteiras,paraquenão
sesintaenclausurado.”
94
EscolaMunicipaldeVilaEspanhola
SãoPaulo‐SP,1970[2.100m²]
EmVilaEspanhola,oedifíciofoiimplantadoperpendicularmenteàrua.Umcaminholevaosalunosàcirculação
principal,paraondesevoltamasdependênciasadministrativas,asdependênciasdeserviço,asescadasdeacessoao
pavimento superior e o galpão
coberto. Este tem fechamento de grandes planos de vidro e acesso ao recreio
descoberto.Nestepavimentoinferior,adisposiçãodosambientessegueindependentedamodulaçãoestruturaleno
segundo,asparedesdassalasdeaulacoincidemcomoseixosdospilares.
94
Idem
EscolaMunicipalVilaEspanhola
Vistasecorteslongitudinaletransversal
Pro
j
etoexecutivodi
g
italizadode
p
iahelio
g
ráfica
Educação
98
EscolaMunicipalVilaEspanhola
Plantasdospavimentostérreoesuperior
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
99
EscolaMunicipaldeAmericanópolis
SãoPaulo‐SP,1970[2.300m²]
EmAmericanópolis, oterreno emLcondicionoua implantaçãodo galpãoemvolume autônomoda edificação
principal, no qual estão as dependências de serviços e a cozinha. um acesso para os alunos, em área coberta,
porém aberta, e daí
ao galpão, fechado por grande planos de vidro nos vãos entre os pilares. Estes, por sua vez,
marcamexternamenteoritmodasfachadas.Outroacessoconduzaoblocoprincipal comdoispavimentosvalendose
da condição de esquina para separar as circulaçõe s. Neste, as funções administrativas se desenvolvem com certa
regularidade,
comfechamentorecuadoemrelaçãoaopavimentosuperior,sendoquenasextremidades,osvolumes
do almoxarifado e o dos sanitários têm tratamento plástico diferenciado. No pavimento superior estão as salas de
aula,com corredor centrale acessívelpelas escadas localizadas emumadas extremidades.A circulaçãovertical fica
acondicionada em
volume autônomo, articulador dos fluxos e que se eleva para caracterizar um marco vertical,
contrapontoàhorizontalidadedosvolumesqueconecta.
EscolaMunicipalAmericanópolis
Vistasecorteslongitudinaletransversal
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
100
EscolaMunicipalAmericanópolis
Plantasdospavimentostérreoesuperior
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
101
EscolaMunicipalJardimRobru
SãoPaulo‐SP,1970[2.800m²]
EmJardimRobru,oterrenomaiorpermitiurecuosmaisgenerososeatopografia,comacentuadodeclivedesde
arua,condicionouaimplantaçãoempatamares,demodo que,aoníveldarua,aconstru çãopareça quaseenterrada.
Uma rampaliga o
acessoúnico ao galpão, 5mabaixo do nívelda rua que,nesta escola, aparecemais integrado aos
demaisambientes,earticulaoscorredoresquelevamàsdependênciasadministrativas,1,50mabaixodogalpãoeàs
salasdeaula,1,60macimadeste.
EscolaMunicipalJardimRobru
Vistasecorteslongitudinaletransversal
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
102
EscolaMunicipalJardimRobru
Plantasdospavimentostérreoesuperior
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
Educação
103
ColégioAugustoLaranja
SãoPaulo‐SP,1984[6.300m²]
Único projeto privado para uma escola aqui apresentado e um dos poucos entre todos elaborados por Paulo
Bastos, oColégio Augusto Laranja, de 1984,tem o partido da implantação verticalizado, condicionado pelo terreno,
pequenoparacontertodoo programa.Embloco
comquatropavimentosdispostoemângulode45°comaruaque
acessoàescola, estãodispostasas salas deaulae,nas extermidades,volumesprismáticosabrigam asdependências
administrativaseasescadas.Agrandedeclividadedoterrenocondicionouaimplantaçãosemienterradadobloco.No
primeiropavimento, as salas
dopréprimário abremsepara jardinscom fechamentos semicirculares.No pavimento
acima,aberto, está opátio coberto e, acimadele, estãoas salasde aulado ginásio edo colegial. Aligação entre os
pavimentos é feita por rampas abertas dipostas perpendicularmente ao bloco principal, o que, “sendo uma
escola
privada,foiabsolutamentenotávelofato dealgumproprietárioprivadoaceitarconstruiraquelasrampasparaforada
escola,comonósfizemos.Ninguémhojeaceitariaconstruirumaestruturatodacomoessaparafazerarampa.Hoje
seriaassim:euponhoumelevador,umaescadaevamospararporaí.”
95
Ovolumeverticalquecontémacaixad’águaeraumelementoimportantedacomposiçãovolumétrica,masfoi
alteradoduranteaobrapelo engenheiro,quediminuiusuaalturaemudouodesenho.
“Eufiqueiunstemposmeiochateado,tantoquenuncafuiveressaescola.Depoiselesvoltaramamecontatar,
pois queriam dar continuidade ao projeto. Quando voltei, o jardim estava formado e me dei conta de que,
apesar do que tinha acontecido, as outras coisas eram mais importantes do que
aquele detalhe que não me
agrada. Vou e não gosto daquela coisa como está. Mas acontece que ficou agradável pelo abertura que a
escolatem, pelaexistênciadas rampasedo espaçoqueelasformam entre siecom o concursodavegetação,
queentracomoelementotridimensionale
potencializaaindamaisoespaço.”
96
95
Idem
96
Idem
Educação
104
ColégioAugustoLaranja
Nestapágina
Implantaçãoeplantascotasdenível93,20(préescola)
e97,00(páteocoberto)
Aolado
Plantasnascotasdenível102,80(primeirograu)
e105,65(segundograu),cortesevistas
Pro
j
etoexecutivodi
g
italizadode
p
iahelio
g
ráfica
Educação
105
Educação
106
Educação
107
ColégioAugustoLaranja
Fotosacervodoarquiteto
Educação
108
Em1971,foiimplementadaareformaquecriouoprimeiroesegundograusdeensino,extinguindoadivisão
anterior(grupoescolar,ginásioecolegial).Quatroanosdepois,ogovernoestadualcriouaCompanhiadeConstruções
Escolaresde SãoPaulo(CONESP), emsubstituição aoFECE.O novoórgãofixouparâmetr os para
apadronizaçãodos
componentes e elementos da edificação, com o objetivo de tentar obter maior rapidez no projeto por meio da
redução do número de soluções e de alternativas. Pretendiase racionalizar os sistemas de quantificação, medição,
supervisão e controle de qualidade da obra. A CONESP editou suas normas de forma
organizada, em catálogos que
abrangiamcomponentes,serviços,conjuntosfuncionaiseseusambientes,alémdapadrõesparaaapresentaçãodos
projetos.
“Na época do FECE, tudo isso era incipiente. Quando foram instituídas essas normas, elas acabaram
esterilizando a possibilidade arquitetônica, embora tenham sido adotadas com a intenção de tornar a obra
mais
barata,controlável,uniformenosentidodaproduçãodesseselementospelaindústriadaconstrução”
97
.PauloBastos
projetou,em1986,trêsescolasparaaCONESP:nosjardinsdaRepresa,AlpinoeLeonor.Estesprojetosreceberamo
primeiroprêmiodacategoria“Edificações‐Projetos”naPremiaçãoAnualIAB/SP,em1989.
Buscando uma linguagem volumétrica e espacial rica, que dignificasse e destacasse o edifício escolar como o
importante
marcocomunitárioqueeleéeusandocomomateri ais básicosoconcretoeostijolosdebarroaparentes,
estes projetos tiveram a firme intenção de conseguir plena identificação da população usuária com sua escola, ser
vista,entendidaeutilizadacomoumbemculturalcoletivoenãocomoeventualsímbolode
afirmaçãodeeficiência ou
poderdogovernantedomomen to.Osprojetosparaastrêsescolas,demaneirageral,propuseramaimplantaçãodo
programa, organizando os grupos funcionais de salas de aula, administração e serviços em blocos isolados, porém
interligados,oquepermitiriaofechamentodasáreasinternasdaescolaquandohouvesse
umautilizaçãocomunitária
foradoperíodoletivo.
DentrodospadrõesdaCONESP,asescolasforamconstruídascomsistemadealvenariasportantesdetijolosde
barrodeixadosaparente nosblocoscomumpavimentoeestruturadeconcretoarmadoemblocoselevadosoucom
maisdeumpavimento.Comosoluçãoparaas
condiçõestopográficasdosterrenos,osprojetosenvolveramacriação,
aolongodascurvasdenível,demeiospisosparasuavizarosdesníveis.Osterrenosparaaconstruçãodeescolassão
sempremuitoacidentadoseestecritériofoiusadocomointuitodeassentarosedifíciosusandoaseufavorosdesní
veisdosterrenos.
97
OLIVEIRA,NildoCarlos.Oqueosestadosestãoprojetandoeconstruindo.SãoPaulo,RevistaProjeto87,maio1986.
Educação
109
“Asescolassãoelementosimportantesparaacomunidadepeloslocaisemqueelasestão,especialmente
quandonãoexistiamepassamaexistir.Daíseviadelongeereconheciaaquelepadrãoruim.Issoparamimaca
bou sendo interessante porque fiz essas escolas como uma espécie de desafio, o de
realizar um trabalho que
procurousuperarasrígidaslimitaçõesmodulareseconstrutivasaqueestevesubmetidooplanodeconstruções
escolares emSão Paulo. Quis fazer uma escoladiferenciada do ponto de vista da volumetria. Quer dizer, essa
decomposiçãovolumétricaqueseteméaintençãodeensaiarumaforma
deusaraquelacoisatãoamarrada.
resultaramessasescolas.”
98
EEPGJardimAlpino
CapeladoSocorro,SãoPaulo‐SP,1986[2.100m²]
Oprojeto para aescola noJardim Alpino foiimplantado emtrêspatamares. No patamarsuperior, as funções
administrativas,assalasdeusomúltiploeasdeaulaspráticasforamacomodadaslinearmentedeumdosladosdeum
corredorfechadocomelementosvazadosdeconcretodooutro.Trêsmetrosabaixo,estãoopátiocobertoeaberto,
comacessopróprioemcotainferior,ossanitários,acozinhaeasdemaisdependênciasdeserviço.Empatamarmais
inferior, a quadra. Sobre o pátio, um bloco elevado de dois pavimentos, com
setesalas de aula em cada um. As
escadas ligam os dois blocos em volumes autônomos, sendo que sobre um deles foi disposta a caixa d’água,
compondooelementovertical,marcodaimplantação.As condicionantesconflitantesdaorientaçãosolar,daposição
maisindicadaparaospatamareseascondiçõesde
vistaàpaisagemforamequacionadascomaimplantaçãodobloco
de salas de aula voltado para o sul, respeitando a condição topográfica mais favorável e garantindo a vista para o
entorno. A falta de insolação foi solucionada com a defasagem dos dois pavimentos de salas de aula, permitindo,
assim,acaptação
daluzdosolporaberturassobreoscorredores,comdireitomenor.
98
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia28demarçode2007.
Educação
110
EEPGJardimAlpino
Implantação,plantapavimentosuperior,vistas,corteeperspectiva
Projetodigitalizadodematerialparaparticipaçãoemconcurso
Educação
111
EEPGJardimLeonor
Jaraguá,SãoPaulo‐SP,1986[1.350m²]
NaescolaparaoJardimLeonor,oacessoéfeitopelacotamaisaltadoterrenoe,pormeiodeescada,chegase
ao patamar que contém, de um lado do acesso, as dependências administrativas e, do outro, quatro salas de
aula.
Dois metros abaixo, estão o pátio de recreio e as respectivas dependências de serviços, e sobre este, está o bloco
elevado, com mais quatro salas de aula. O desnível de meio piso entre os blocos permitiu a articulação através de
rampas,queconectamospavimentosemvolumeautônomo.Deste
conjuntodeblocosdestacamseovolumevertical
da caixa d’água e a casa do zelador, que neste caso não está acoplada às dependências administrativas, mas sim
ocupandovolumeautônomo,maisaosul.
EEPGJardimdaRepresa
JardimdaRepresa,SãoBernardodoCampo‐SP,1986[2.100m²]
Noprojetoda
escolanoJardimdaRepresa,oacessodealunosseemcotainferiordoterrenoeopátioéo
articulador dosespaços. A configuração éfeita em dois blocos,separados pelo volume das escadas.Um bloco, com
doispavimentos,abriga dezsalasdea ula, sendocinco emcada
um.Assalas sãovoltadasparao sul,ficando,assim,
resguardadas da perturbação das atividades nas quadras. Outro bloco, horizontal, com cobertura em duas águas
assimétricas,abriga,deumlado,asdependênciasadministrativasnoprimeiropavimento,esalasdeusomúltiploede
aulaspráticas nopavimento superior,dooutro, ao
níveldopátio, eos sanitários eas dependênciasadministrativas .
Fechado pelas dependências de serviço, pela administração e do lado para a rua lateral, o pátio é aberto para as
quadras.Ofechamentoécompensadopelaaberturadeiluminação zenitalsobreojardim.
Neste projeto, a realidade impôs que se
fizesse um novo prédio no mesmo terreno onde funcionava uma
escola,semqueaantiga,emfuncionamentoecomgrandenúmerodealunos,parassedefuncionar.
“Por essa imposição, houve uma ruptura do padrão que eles tinham porque não havia outra forma de fazer,
senãooqueeuacabeifazendo.Construirumblocoverticalizadoedaídemolirumaparte,passarosalunospara
essas salas, ainda com a administração antiga, cozinha antiga, pátio antigo. Daí faziase
novo pátio e nova
administração,e entãoaúltimaetapa, quando se implantariaas quadras. A escolanão parou detrabalhareo
diferencialéqueesseprédioémaisvertical,umpoucoforadopadrão,porforçadessacondição,oqueacabou
trazendoumacertaoportunidadederomperessa
essacoisatãocondicionadacomoestava.”
99
99
Idem
Educação
112
EEPGJardimLeonor
Implantação,plantapavimentosuperior,vistas,corteeperspectiva
Projetodigitalizadodematerialparaparticipaçãoemconcurso
Educação
113
EEPGJardimdaRepresa
Implantação,plantapavimentosuperior,cortes,vistaseperspectiva
Projetodigitalizadode materialparaparticipaçãoemconcurso
Educação
114
Educaçãoinformal
Paulo Bastos elaborou diversos projetos nos quais pôde explorar o tema da educação informal, em
diferenciação e, freqüentemente, em complementação à educação formal oferecida nas escolas. Em projetos de
equipamentos que poderiam expandir as possibilidades da ação educativa, como de parques, praças ou museus,
combinouaspossibilidadesde
brincareaprender.
AnteprojetodoEspaçoCriança
SãoPaulo‐SP,1989[7.000m²]
O Espaço Criança, projetado em 1989, seria um centro de educação informal. As crianças teriam várias
atividades, como plantar, colher, acompanhar o d esenvolvimento das plantas, fazer objetos, brinquedos e cenários.
Teriamtambémumasériedeatividadesrecreativas,
numprocessoinformal,dirigidopor coordenadores.Aocupação
inadequada do terreno da favela Nova República, na Zona Sul de São Paulo, por barracos construídos em áreas de
encostas, provocou uma tragédia em outubro de 1989, quando 14 crianças morreram soterradas. O fato motivou a
PrefeituradeSãoPauloapromoverum
projetoatípicoparaolocal.AentãoprefeitaLuízaErundinachamouumgrupo
de arquitetos, composto por Júlio Neves, Eduardo Longo, Paulo Montoro e Paulo Bastos e explicou que pretendia
fazer uma homenagem às crianças. Foram apresentadas várias sugestões e Paulo Bastos teve papel importante na
formataçãoda idéia de
projetarum espaço paraa educaçãoinformal. Estaseria a melhorforma dehomenageálas,
comganhoparatodos.
Cadaarquitetofezumapropostaqueseriaexpostaedepoistodos trabalhariamnodesenvolvimentodamelhor
delas. A proposta apresentada por Paulo Bastos foi a escolhida. Formouse a equipe para elaborar
o programa da
intervenção, coordenado por Mayumi de Souza Lima, que contou também com a museóloga Waldiza Camargo
Guarnieri, entre outros. “A partir daí surgiu o projeto: Haveria uma mistura das crianças, as crianças ricas e as
faveladas.Aidéiaerajuntarascriançasqueaindanãotêmessasbarreiras
criadasentresiparaseunirememtornode
umaatividadequefariamcoletivamente.”
100
100
Idem
Educação
115
O projeto teria, também, caracterís tica museológica: os trabalhos feitos seriam expostos, para que outras
crianças e adultos vissem e discutissem o resultado destas experiências, e que poderiam, eventualmente, ser
estendidoeampliado paraoutroslugares.“Seriaumprojetocomagrandezadonívelderespostaqueagentedeveria
darpara
amagnitudenegativadeumatragédiacomoaquetinhaacontecido.”
101
O Espaço Criança, como foi batizado, previa a criação de um misto de parque com centro cultural e de
convivência, numa área de 60 mil m², com a valorização do que antes era considerado ponto negativo: a própria
topografia em declive do terreno. O projeto consiste em lâminas escalonadas que,
assentandose na topografia,
abremseumasobreaslajesdaoutras,multiplicandoosespaços.Aimplantaçã osedariacomescalahorizontalenão
vertical,emcontrastecomaocupaçãoexterna,comumgrandeanfiteatroparaasrepresentaçõeseumlago.
“Todas as utopias que a equipe partilhava estão colocadas aí, mas o projeto não foi executado. Havia uma
grandeafinidadedessasidéias:ológicodeumladoeoeducacionaldooutrolado.Elanãoéumaescolaformal,
temumadiscussãoespecial,simbólicainclusive.Ficouperdidanotempoemfunção
dopragmatismomuitomais
estreitodoqueagenteimaginava.”
102
101
Idem
102
Idem
AnteprojetodoEspaçoCriança
Croquisdoarquiteto
Educação
116
ProjetodaPraçaObservatóriodeAraras,anexaàEEPGProfªJudithLegaspe
Araras‐SP,1990[7.280m²]
No iníciodos anos 1990,Paulo Bastosprojetou uma série deequipamentos para asPraçasobservatório, uma
implantadaemAraraseoutra, emPeruíbe.Emboraascondiçõesdeimplantaçãofossemdiferentes,ambaspartiram
deumamesmapremissa,o distanciamentodohomem urbanodoseu ambientenaturalea alienaçãoemrelação às
mudanças à sua volta, no tocante às transformações cíclicas da paisagem e aos fenômenos celestes, enquanto
registrosdapassagemdotempo.TendocomopontodepartidaasexperiênciasdoetnoastrônomoMárcioCampos,
no
Observatório a Olho Nu da Universidade de Campinas (Unicamp), o objetivo destes equipamentos é propiciar ao
usuário, de forma dirigida e direta, através da a implantação de construções simples, a identificação de elementos
marcantesdapaisagem,asposiçõesdosoledasestrelasesuascorrelaçõescomasmudan ças
doclima,davegetação
edocomportamentoanimal.
A partir da idéia de que esses elementos poderiam ser
implantados nas escolas como elemento participante da
educação das crianças, esse projeto foi apresentado a Paulo
Freire, então secretário da educação, que se interessou em
implantálo.
“Do ponto de vista educacional da criança, é
importante porque ela não ia ver no livro que isso
acontece,ela teriacotidianamentedemedir,perceber
essasalteraçõesatravésde algunsinstrumentosque a
gentecriasse.”
103
O projeto da Praçaobservatório de Araras localizase em
área remanescente da escola de ensino estadual de grau
implantado em 1985, Judith Legaspe, ocupando parte de um
grande terreno e elaborado dentro da disciplina rígida da
Fundação para o Desenvolvimento da Educação, FDE. Na escola
103
Idem
PraçaObservatóriodeAraras
Imagensacervodoarquiteto
Educação
117
para a qual Paulo Bastos projetava, na época, uma ampliação, o projeto da Praça foi
implantadoexperimentalmente,masnãohouvecontinuidade.
A implantação da praça valeuse das condições de observação da paisagem de
canaviaisapartir doterrenosituadonapartecentraldoloteamentodebóiasfrias.Foram
projetados quatro
equipamentos principais, com solução construtiva de alvenaria de
tijolos e concreto armado. São elementos para orientação das pessoas em geral, mas a
intenção era que se começasse pela criança, pelo reconhecimento da situação dela no
espaço,localenotempo.
Foiprojetado umpequenoanfiteatro,quecontémumarosados
ventosdesenhada
no piso, para auxiliar na localização de pontos de interesse da paisagem. O marco ou
gnomo possibilita verificar as trajetórias do sol, variando mais ao norte ou mais ao sul
entreossolstíciosdeinvernoeverão.Umtroncodepirâmide,orientadosegundoalinha
nortesulgeográfica,é
outroequipamento.Umdeseus lados,comamesmainclinaçãodo
eixo polar celeste, acomoda um relógio solar. Na face oposta está instalada a esfera
armilar, globo metálico que indica as constelações do zodíaco. O último equipamento é
formado por um conjunto de paredes concêntricas com algumas aberturas e mastros,
organizadosaoredordepisocircular.Quando umobservador,
situado no centro deste piso, se orientasse pelas direções,
datas e horas nele assinaladas, veria determinada estrela
atravésdasaberturasounaspontasdosmastros.
Cadaequipamentoprojetadotambémpodeserutilizado
ludicamentepelascrianças,parabrincar,escorregar,esconder
seou,no
casodasparedes,percorrerumlabirinto.Acadaum
deles está associado um caráter simbólico e de mistério,
abrindoparaaimaginaçãoinfantil edosusuários asportasde
um novo universo. O projeto paisagístico levou em
consideração vegetação escolhida segundo o tipo de floração,
frutificação ou perda de folhas
para assinalar claramente as
estaçõesdoano.
Educação
118
PraçaObservatóriodeAraras
Emsentidohorário:Paredesobservatório,Esferaarmilar,Marco/GnomoeMarcodosventos(Croquisdoarquiteto)
Educação
119
MuseuMunicipaldePeruíbee instrumentosdeobservaçãoastronômicaedapaisagem
RuínasdoAbarebebê,Peruíbe‐SP,1992[1.195m²]
Uma segunda Praçaobservatório foi implantada como parte dos trabalhos de pesquisa multidisciplinar
desenvolvidos pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, em Peruíbe, ao qual Paulo
Bastos
também forneceu orientação técnica para a consolidadação das ruínas do Abarebebê. As pesquisas se
iniciarampormeiodostrabalhosdeprospecçãoarqueológicaevisouàrecuperaçãodosremanescentes,comvistasà
integraçãoentreestepatrimônioculturalea comunidade,partindodaconsolidação dosvestígiosarqueológicos,esua
análiseintegradaao
estudodeestruturasarquitetônicasedadocumentaçãohistórica.Anecessidadedepreservação
das ruínasno estadoem quese encontravamtornaram necessária a elaboração deum projeto de consolidação ea
execuçãodasrespectivasobras,impedindoaprogressãodesuadecadência.
Aevoluçãodostrabalhosdaequipemultidisciplinarlevouàcriação
doMuseudaPaisagem.Seuobjetivo básico
seria constituir na região um centro de pesquisa, de referência e divulgação do conhecimento acerca das relações
entre homem emeio. Assim, o acervo de objetos do museucompreenderia, além do material obtido nas pesquisas
arqueológicas,as própriasruínasconsolidadas eosvestígios
doaldeamento indígena,juntamente comuma enorme
diversidadedeelementos extramurosdopatrimôniopaisagístico,históricoeambientaldaregião.Poroutrolado,foi
concebida como um dos elementos inaugurais desse acervo a implantação de um conjunto de instrumentos de
observaçãoastronômica a olhonu, aPraçaobservatório, destinada apropiciar ao
usuário do complexoa percepção
de sua situação no espaço e no tempo, como parte importante da compreensão da relação dos habitantes com o
ambienteemquevivem.Essafoiaúnicaetapaimplementada,tendosidoposteriormentedemolida.
A concepção geral e a implantação das intervenções no sítio das ruínas,
o edifício do museu e a praça
observatório, procuraram preservar livre o entorno imediato das ruínas, mantendoas visualmente desi mpedidas. O
edifício do museu foi projetado como um corpo térreo, alongado, implantado sobre a depressão do terreno e
parcialmente envolvido por um bosque existente. Desta forma, ficaria mantida a evidência do
outeiro e das ruínas
neleassentadas,principalmarcodereferênciadolocal.Autilizaçãodecoberturadetelhasdebarrosustentados por
estruturasdemadeira,capazesdepropiciargrandesvãosinternos,atenderiaàsnecessidadesfuncionaisdomuseueà
intençãodeintegrara construção aoentornodocasarioexistentee
àsprópriasruínas.Noblocoanexodoauditório,
dadasascaracterísticasdovolumeedosvãos,foiutilizadaestruturametálicaparaacobertura,tambémdetelhasde
barro.Aarquiteturaprocurouexpressarosobjetivosdomuseudevoltarseparaoacervoextramuro,abrindose,em
suasáreasdeexposição,para
oexterioratravésdasvarandas,tambémlocaisdeexibiçãodepeçasdoacervo.
Educação
120
Educação
121
A praçaobservatório, composta de peças leves de
caráter escultórico, tem seus elementos distribuídos em
umpercursoquealigaaomuseueàsruínas.Oprimeiro
desses instrumentos é o marco dos ventos. A figura
giratória no topo do mastro mantémse na direção do
sopro principal do vento,
que pode ser estabelecida por
comparação com a orientação dos pontos cardeais
contidanarosadosventosexistentenabase.Osegundo
elemento é o relógio solar. A esfera armilar (de armilas,
braceletes, anéis), terceiro elemento da praça, é a
representação da esfera celeste com os seus círculos do
equador,
dos trópicos e do meridiano local. As paredes
observatório, o quarto elemento, são constituídas de
paredes de planta circular, concêntricas. Através de
furos, fendas e mastros alinhados, poderiam ser vistos,
por um observador colocado no centro, vários eventos
estelares que assinalam o início das estações e,
conseqüentemente, das festas populares a
elas
associadas(SãoJoão,Nataletc.).Umconjuntodejanelas
circulares alinha as visuais para as ruínas, enquadrando
as. As direções de visada, com data e hora dos eventos,
estão assinaladas no chão, referenciadas à rosados
ventos. Os demais elementos da praçaobservatório são
pertencentes ao conjunto das paredes
observatório, os
marcos dos solstícios e equinócios portam símbolos dos
eventosindicadospeloSol.
Aolado
EstudopreliminardoMuseuMunicipalnaáreadasRuínasdoAbarebebê
Vistadoconjunto,implantação,plantaecortesdoedifíciodomuseu.Croquisdoarquiteto
Abaixo
Instrumentosdeobservaçãoastronômicaedapaisagem‐MarcodosVentos
Croquisdoarquiteto eequipamentoimplantado
Educação
122
Instrumentosdeobservação
astronômicaedapaisagem
Paredesobservatório(aolado)
Relógiosolar(abaixo)
Esferaarmilar(abaixo,àesquerda)
Croquisdoarquitetoeequipamentos
implantados
Educação
123
EstudopreliminardeorganizaçãodasáreasdebrinquedodoSESCItaquera
SãoPauloSP,1991
Em1991,PauloBastoselaborouoEstudoPreliminardeOrganizaçãodasÁreasdeBrinquedodoSESCItaquera,
quenãofoiexecutado,juntamentecomMayum i WatanabedeSouzaLima,.Paraasáreasdestinadasàrecreação,que
se encontravam fragmentadas no interior de ocupação densamente construída, foram propostas soluções que
buscaramumacertaunidadedetratamentoearticulação,demodoanãocriaroutroselementos depoluiçãovisualna
paisagem.Osespaçoseasinstalaçõeslúdicasfariampartedeumaconcepçãoqueconsideraobrincaremseusentido
abrangentedeaprender,divertir,descobrir,inventar,fantasiar,estimulareaperfeiçoarodomíniodacriançaemsuas
relações com o mundo e com as dem ais pessoas‐crianças e adultos. Os brinquedos buscam, também, formas de
sensibilizar a criança para os elementos da natureza e do universo, através do uso da luz,
da sombra, do som, das
coresetc
104
.Assim, osbrinquedosprojetadosnão seriamsimplesobjetoslúdicospois, tambémofereceriammaiores
possibilidadesdedesenvolvimentodemúltiplasexperiênciasparaacriança.
Osbrinquedosdeveriampermitiraaçãoautônomadascrianças,atravésdeelementosdeleiturasimplesquese
repetem e, ao mesmo tempo, se compõem diferentemente, oferecendo a máxima
flexibilidade de organização
espacialeformal,bemcomoousointencionaldomeioambientenaturalnestascomposições.Nestesentido,todas as
áreasforamabordadasapartirdealgumasidéiasbásicas,comoamodelagemeusodoterreno,deseurevestimento
vegetaledoselementos naturaiscomocomponentesdoespaço/brinquedoproduzido.
Apropostafoicriarumatrilha
deligaçãoeintegraçãoentreasáreas.Oespaçodecadaumafoidefinidocomautilizaçãodearcoscomooelemento
básico comum, que, em suas diferentes formas compositivas, atuaria como fator de unidade e caracterização dos
espaçoslúdicos,alémdesuportarmúltiplosequipamentos.
104
LIMA,MayumiWatanabedeSouza.Arquiteturaeeducação;coordenaçãodeSérgiodeSouzaLima.SãoPaulo,Nobel,1995.
Educação
124
EstudoPreliminardeOrganizaçãodasÁreasdeBrinquedo‐SESCItaquera
Cro
q
uisdoar
q
uiteto
Educação
125
Atuaçãocomoprofessordearquitetura
na época em que era aluno da FAUUSP, Paulo Bastos se mostrava preocupado com a questão do ensino‐
tanto que participou, e foi uma das principais lideranças, da primeira greve da faculdade de arquitetura, iniciada
quando os alunos não aceitaram o nome de Luis de Carvalho Franco, sócio do então professor da FAU Roberto
CerqueiraCésar,comoseuassistente.Oqueseseguiuforamdiasemqueosestudantesacamparam,literalmente,no
prédiodauniversidade:dormindoemcolchonetes ecozinhandoemfogãoqueelespróprioslevaramdecasa.
VilanovaArtigas foiuma grandeinfluência no
caminhode PauloBastos rumoàssalas deaula.“O contatocom
Artigas,o arquitetoque tinhao conhecimento,ainteligência, asensibilidade ea obrapara saciar nossa curiosidade,
mostroucomotudoestavamuitoruim.Então,começamosabrigar,discutimoseacaboudandonisso:agentesaiada
escolamuitocom
aquestãodoensinonacabeça.”
105
Passados os anos da graduação, o arquiteto Alfredo Pisani convidou Paulo Bastos para ser seu assistente na
cadeira decomposição I no cursoda Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie. O anoera 1964 e Paulo
Bastos teve uma experiênciarelâmpago como professor. Admitido em março, foi demitido no mês
seguinte.“Nesse
meiotempohouveogolpemilitar.Enquantoagentedavaaula,oComandodeCaçaaosComunistas,CCCentravana
sala de aula para pegar as metralhadoras, que ficavam guardadas no Mackenzie em função da proximidade com a
USP,naruaMariaAntonia.”
106
Porsuaorientaçãopolítica,foidemitido.Entretanto,nosegundosemestreretomaram
o curso e convidaram Ubirajara Ribeiro para a cadeira de Comunicação Visual. Podendo escolher três assistentes,
Ubirajara indicou Israel Sancovski, Maurício Nogueira Lima e Paulo Bastos. “Eu fui recusado pela escola, mas o Bira
saiuemminhadefesae
aquestãoacabougerandoumacriseegrevedosestudantes.Eelesmeaceitaram.”
107
Até o ano de 1968, com o AI5 e a pressão sobre Salvador Candia, então diretor da faculdade, para que
demitisse Paulo Bastos, os anos foram tranqüilos.“Voltei a dar aula numa época muito interessante e prazerosa. A
equipeeramuitoboa,nossosalunosganharamdoisprêmiosdecomunicaçãovisual,
sendoqueumaalunaganhouo
concursoparaosímbolodaRedeFerroviáriaFederal.”
108
Às vésperas de 68, o ensino piorara e Paulo Bastos apresentou uma proposta de melhoria a seus colegas.
“SalvadorCandiaassumiuadiretoriadafaculda de.Eleeraumarquitetorespeitadoededireita.Oensinoestavamuito
105
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10dedezembrode2007.
106
Idem
107
Idem
108
Idem
Educação
126
ruimefizumapropostadereestruturação,apoiadaportodososprofessorescomoDaviOtoni,TelésforoCristofanie
outros.Masem68veiooAI5eoCandiatevequemedemitir.”
109
Ainda ligadoà questãoda educação, masnessemomentofora da salade aula,Paulo Bastosfoiindicadopelo
IABparaintegraracomissãodereestruturaçãodoInstitutoCentraldeArtesdaUnBereabriraFAU,deterioradospela
ação de resistência dos estudantes à epoca do golpemilitar, quando
200 professores foramdemitidos. Ao seulado
estavam Miguel Pereira, Neudson Braga e Paulo Mendes da Rocha. Não havia abertura política ideal para a
reestruturação, e o trabalho rendeu a Paulo Bastos um convite, que não foi aceito, para trabalhar na universidade.
Isso,nomesmoanoqueemhaviasidodemitido
daoutrauniversidadejusta menteporsuasposiçõespolíticas.
Além do projeto, os membros da comissão tiveram de fazer a interface entre a reitoria e os estudantes, por
exigência dos próprios alunos rebelados. “Os estudantes disseram para o reitor que aceitavam discutir com uma
comissão do Instituto [IAB]. E quem
foi na comissão? Eu. Todo mundo sabia que eu era comunista.”
110
Este foi um
trabalhocon turbado,fiscalizadopelovicereitorparaoServiçoNacionaldeInformação,SNI,ecommomentostensos.
“Umahoravocênãopodiaentrarporqueaáreaestavacercadaportanques.Outrahoravocêtinhaqueesconderas
liderançasestudantisdentrodoarmárioporcausadapolíciaque
estavaentrandoparaprendêlos.”
111
Aindacomaexperiência deBrasíliabastanteviva,PauloBastosfoiprocuradoporVicenteBicudoem1970para
participardogrupoquemontariaocursodearquiteturadaFaculdade deSãoJosédosCampos,ligadaàFundaçãodo
ValeParaibanodeEnsino,queviriaaserumaimportanteexperiênciano
campodoensinodearquitetura.
“AperspectivaabertapelapolíticaeducacionaldoMECfoirecebidaem1969comoaoportunidadetãoesperada
de se ampliar o número de cursos de arquitetura e urbanismo no país. Os ‘pioneiros’ vislumbravam a
possibilidadedecriarcursosexperimentais,ondefossepossívelporempráticapropostasemodelosdeensino
mais
avançados.”
112
Paulo Bastosfoi professor titular da faculdade entre 1970e 1973, e chefe do departamento deprojeto entre
1971e1973.Suaidéiaparaocursoeramostrarqueouniversodacriaçãoartísticaeramultifacetadoequeoensino
doestudantedearquiteturadeveriaenvolvertodososseusaspectos.
109
Idem
110
Idem
111
Idem
112
Osurgimentodasnovasescolas.‐DocumentodaFAUSJC,apresentadonoEncontroNacionalsobreEnsinodeArquiteturaem1976.InLIMA,
MayumiWatanabedeSouza.Arquiteturaeeducação;coordenaçãodeSérgiodeSouzaLima.SãoPaulo,Nobel,1995.
Educação
127
“Chamei o Damiano Cozzela, que era maestro e compositor, o Ricardo Ohtake e o cineasta JeanClaude
Bernardet. Foi um trabalho multiprofissional. O primeiro projeto que fizemos foi um audiovisual para mobilizar o
esquemamentaldaspessoasqueentravam.Agentedavaumcursorápidodefilmageme fotografiae
elesformavam
equipes e saiam pela cidade para captar um aspecto que eles achassem interessantes e significativos. Isso seria
resgistrado através de fotos, filmes, desenhos, depoimento oral, e seria montado um material audiovisual. Ou seja:
captararealidadeeexpressálaatravésdecinema,fotos,slides,textos.”
113
A experiência na FAUSJC teve vida efêmera. Constantes desentendimentos entre a coordenação do curso e a
mantenedora da faculdade demissões e greves, até que diferenças ideológicas desmotivaram Paulo Bastos, que
decidiudeixarocurso em1973.
Aosairdaprisãoemmeadosde1976,PauloBastosfoiconvidadoaser
oosecretáriogeraldoIXCongressode
Arquitetos, o que representou uma afirmação política da classe dos arquitetos. Nessa oportunidade, retomou uma
sériede contatosefoi convidadoa irparaSantos, em1978,paradar aulanaUniversidade Católicade Santoscomo
professor da cadeira de Edificação III e
IV. As aulas em Santos ofereceram campo para Paulo Bastos continuar
envolvido no processo do ensino, e foram sua última experiência em sala de aula até dedicarse à orientação de
trabalhos de graduação. Recentes reformulações nas exigências quanto à carga de trabalho dos professores não
foramacitaspeloarquiteto,
quedeixouafaculdadeem2006,após28anos.
113
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10dedezembrode2007.
Educação
128
ProjetosInstitucionais
129
Capítulo4
[ProjetosInstitucionais]
25.PostodeSementesdeCampinas....................................................................................................................132
26.SededoSindicatoNacionaldosAeronautas..................................................................................................135
27.QuartéisGeneraisdeSãoPaulo.....................................................................................................................135
28.QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo........................................140
29.ConjuntodoCorpodeBombeirosde
MogidasCruzes..................................................................................147
30.EdifíciosdaSuperintendência RegionaldaCompanhiaPaulistadeForçaeLuz............................................149
31.HospitalMunicipaldeSão JosédosCampos..................................................................................................151
32.ClubePaineirasdoMorumby.........................................................................................................................158
ProjetosInstitucionais
130
ProjetosInstitucionais
131
Os projetos institucionais elaborados por Paulo Bastos constituem um conjunto que, além do interesse
especificamente arquitetônico, apontam para questões importantes na histó r ia do país. Predominam encomendas
públicas com relação aos projetos para o setor privado, o que revela um encaminhamento circunstancial. “Eu
trabalheimaiscomopoderpúblicoporumaquestão
deoportunidade,poisabriumaiorpossibilidadedetrabalhodo
que junto a particulares.”
114
Quando Paulo Bastos se formou, em 1959, abriase enorme campo de trabalho para
arquitetoscomavisibilidadetrazidaparaaprofissãopelaconstruçãodeBrasília.
Após sua formatura, o primeiro trabalho que teve foi na construtora Alfredo Mathias, onde permaneceu por
cercadeummês.Emseguida,foitrabalhar
comJorgeZalszupin,queàepocaelaboravamuitosprojetosdedesenho
deinteriores,ondeteveaoportunidadedeaprendermaissobreodetalhamentodesoluçõescommateriaisvariados.
Em1962,Paulo Bastosinicioutrabalhocom CarlosMillan,queconheceuquando estagiavanoescritóriodeJoaquim
Guedes,ànoite, poisasaulas
naFAUduravamodiainteiro.Guedes eMillaneramsócios, naépoca,ePauloBastosse
encontravacomGuedesnofinaldatardeparadiscutirosprojetos .
Entretanto,tevemaiorconvivênciacomCarlosMillan,quetrabalhavanalojaBrancoePreto
115
duranteodiae
noescritório ànoite. Quandoterminou aexperiência comZalszupin,Paulo Bastosinicioutrabalhocom Millan,onde
teve a oportunidade de colaborar no detalhamento do Clube Paineiras do Morumby e da casa D’Elboux, último
trabalhorealizadoantesque,em1963,decidisseabrirseupróprioescritório,em
umacasanaRuaMajorSertório,em
SãoPaulo.
Contavacomapenasumprojeto,odaresidênciadepraia deJoséCarlosPelegrino,seuamigo,alémdealguns
estudosepropostas paraaparticipaçãoemconcursos.Marca operíodooiníciodotrabalhonoInstitutodeArquitetos
doBrasil,IAB, como
Suplente EleitodaAssembléiaNacionalnobiênio 1961/1962.Em1963,PauloBastosintegroua
comissão deredação da tesebrasileira do IAB Nacional para oVII Congresso da União Interrnacional de Arquitetos,
UIA,queseriarealizadoemHavana.
Em1968,PauloBastosfoieleitomembroefetivodaAssembléiaNacionale
em1970tornusemembrotitulardo
ConselhoSuperiorporSãoPaulo.ExerceuocargodevicepresidentedaDiretoriaExecutivaentre1970e1971eode
primeirovicepresidentedoDepartamentodeSãoPauloentre1978e1979.Entre1980e1991,atuoucomo membro
titulardoConselhoSuperior.
114
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10deagostode2007.
115
Lojadogrupoformadonoanode1952pelosarquitetosMiguelJorge,JacobRuchti,GalianoCiampaglia,PlínioCroce,RobertoAflaloeCarlos
Millan,responsávelpelacriaçãodeumpadrãodereferênciaparaodesenhodemobiliáriomoderno.
ProjetosInstitucionais
132
“Foiumacoisafebril.Faziamsedebates,leiturasdepoesiasediscutiasepolíticae,claro,arquitetura.”
116
Aatu
açãojuntoao IABsealinhavacom osideaisderenovação queàépocacompartilhavam grandepartedossetores da
culturabrasileira. ParaPaulo Bastos,pormeio deuma entidadecomoo IAB,secontribuiria paramelhorar ascondi
çõesdopaís.
“Isso secaracteriza por uma discussão de questões urbanas, questões da habitaçãoe questões dodesenvolvi
mentodaculturabrasileira.Eramquestõesdealtonível,quesediscutiamnosníveisestadualenacional.Odire
tório de São Paulo era muito importante.Então teveessa etapa dese cumprir um determinado
papel, queeu
achoqueagentefezumesforçograndeecumpriu.AcontribuiçãodoIABfoidealtonívelefoimuitoimportan
te,nosentidodeajudarnoentendimentodarealidade.”
117
PostodeSementesdeCampinas
Campinas‐SP,1963[10.000m²]
Em1963,PauloBastosfoiconvidadopelaSecretariadaAgriculturapara elaboraroprojetoparaaimplantação
de dois postos desementes, unidades voltadas para a produção de sementesmelhoradas, com laboratórios e silos.
Um projeto, elaborado em 1963, seria
construído em Campinas, e o outro, elaborado em 1973, em Araçatuba. Em
Campinas, o projeto construído foi outro, alterado pela equipe da secretaria. O de Araçatuba não foi construído. O
relacionamentocomaSecretariadaAgriculturae,emespecial,comBernardo CasteloBranco,renderiaaPauloBastos,
em1969,oconvite
paraoprojetodoedifíciosededoServiço Florestal,noHortoFlorestal,emSãoPaulo,tambémnão
executado.
OsdesenhosdoprojetoparaCampinasrevelamaspectosqueforamdesenvolvidosdepois,emoutrosprojetos.
O programa contava com dependências administrativas, de atendimento ao público e laboratórios, agrupadas em
edificaçãocomdois
pavimentos,algumasunidadeshabitacionaisemoutraedificação,eumarmazémparasementes.
Esteúltimo,comestruturadevigasepilaresdeconcretoecoberturadetelhascanaletadefibrocimento,foiprojetado
semi enterrado em relação à edificação principal, aproveitando o desnível do terreno. As dependências
administrativas,deatendimentoaopúblicoe
laboratóriosforamabrigadasemedifíciodedoispavimentoseprojeção
retangular,caracterizado pelocontrasteentreovolumefechado dopavimentosuperior eofechamentorecuado de
vidrodo pavimentoinferior,deixando àmostra ospilares. Osambientespara asatividades delaboratórios nãotêm
116
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10deagostode2007.
117
Idem
ProjetosInstitucionais
133
janelas para o exterior, são iluminadas por domos na cobertura, caracterizando a feição de volume fechado do
pavimentosuperior
Neste pavimento, apenas os ambientes de trabalho administrativo têm aberturas, que, por sua vez, são
resguardadas por brises de aletas verticais em concreto, espaçadas irregularmente. O pavimento inferior abriga as
atividadesde
expedienteeatendimentoaopúblicoemambientesfechadoscomgrandescaixilhosdevidrorecuados
emrelaçãoaopavimentosuperior.Aintegração,tantoverticalquantohorizontalmente,sepelovaziodaescadae
pelo saguão. Uma terceira edificação com um pavimento completa o conjunto, abrigando alojamentos em três
volumes,unidospelos
terraçosdeserviçoecaracterizadospelosfechamentosverticaisinclinados.
PostodeSementesdeCampinas
Plantas,corteevistasdoedifíciodehabitações
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
ProjetosInstitucionais
134
PostodeSementesdeCampinas
Vistageral,vistadaedificaçãoprincipal,plantasdospavimentostérreoe
superiorecortetransversal
Pro
j
etoexecutivodi
g
italizado de
p
iahelio
g
ráfica
ProjetosInstitucionais
135
SededoSindicatoNacionaldosAeronautas
SãoPaulo‐SP,1964[600m²]
No fim de 1963, Paulo Bastos foi convidado a elaborar o projeto para a Sede do Sind icato Nacional dos
Aeronautas.Orelacionamentocomasdiretoriasdesindicatoscomunistascomoelelhetrouxeoconvite.Entretanto,
com oGolpe Militar
em1964, o projetonão passou do estudo.Fato curioso é que,logo após o golpe,Paulo Bastos
haviasomenteelaboradoumestudoefoiprocuradoclandestinamente,nomeiodanoite,peladiretoriadosindicato
para queassinasse o contrato, comuma via paracadauma das partes, alémdos
respectivos recibosreferentes aos
serviços contratados, sem receber a quantia. O sindicato havia sacado o dinheiro do caixa para que não fosse
apropriado pelos militares. Algum tempo depois, Paulo Bastos, recebeu uma intimação do interventor responsável
pelosindicato.Deveriacomparecer,logonodiaseguinte,paraprestaresclarecimentosaocomandante,a respeito
de
tais recibos. Paulo Bastos e sua equipe, então, em uma noite, desenharam o anteprojeto a partir dos croquis dos
estudos. No dia dos esclarecimentos, Paulo Bastos, munido de cópias do anteprojeto e dos documentos assinados,
compareceuàsededosindicatoe,aoserquestionadoarespeitodosrecibos,disse
quehaviaumcontratoassinado,e
que havia trabalhado no projeto, apresentando as cópias ao comandante, que ficou constra ngido com a
“desorganização”dosindicato,quenãotinhacópiasdosdocumentosnempoderiahonrarorestantedocontrato.
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Ibirapuera,SãoPaulo‐SP,1965[16.000m²]
Aproposta daequipe compostapor LeoBomfimJunior, OscarArine ePaulo
Bastos para os Quartéis Generais de São Paulo foi a vencedora do concurso de
anteprojetos promovido pelo então Ministério da Guerra com a colaboração do
InstitutodeArquitetosdoBrasil.Oresultadodoconcursoeaconstruçãotrouxeram
reconhecimento para Paulo Bastos e novos trabalhos para seu escritório recém
implantado.Foioconcurso paraosQuartéisGeneraisdeSãoPauloqueofereceua
Paulo Bastos a possibilidade de trabalhar em uma escala maior e acompanhar a
execuçãodeumgrandeprojetopúblico.OsdesenhosforamexecutadosporEurico
Prado Lopes, Haron Cohen, Raimundo de Pascoal e Laonte Clava, alunos do
Mackenzienaépoca.
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Maquetedeconcurso
Fotoacervodoar
q
uiteto
ProjetosInstitucionais
136
Não deixa de ser curioso que uma equipe de (jovens) arquitetos comunistas
tivessesidoavitoriosa,oquecertamentenãopassoudesapercebido.
“Agenteganhou oconcursoesoubemosdepoisqueumdosconcorrentesfoi
aoAmauryKruel,ocomandantedoentãoIIExército,edissequenãopodiam
daro projeto para umaequipedecomunistas. oKruelperguntou,elessão
arquitetos? São.Eles ganharamo concursode arquitetura?Ganharam. Então
elesvãofazeroprojeto.”
118
A equipe foi então convidada, honrosamente, para a elaboração do projeto
executivo, com “protestos de consideração e apreço” através de ofício do General
AmauryKruel.“NósrecebemosoprêmiodoCostaeSilva.Quandoeleolhouparamim,
disse, espantado: ‘O senhor é muito ’jovem!’
119
A relação entre os arquitetos, os
comunistasemespecial, eo governomilitarnãodeixa desercontraditória. Porém,se
por um lado para os arquitetos havia a necessidade de trabalho, por outro havia a
necessidade do governo de construir bons projetos, até por uma questão de
visibilidadeeafirmação
política.
Oproblemadaconcepçãoarquitetônicalevantouaquestão acercadaexpressão
plástica do edifício, da fisionomia que resultaria do agenciamento do programa.
Tratavasedeumedifíciopúblicodiferentedosdemaiseoprojetoconsiderouquedele
deveriaemanaramonumentalidadeespecíficadesuafunção,demodoa caracterizálo
comclareza.Considerandoqueaáreanaqualseriaimplantadooedifícioeraumamplo
espaço aberto, em prolongamento do parque do Ibirapuera, com perspectivas
desimpedidas e parcialmente ocupado pelos prédios da Assembléia Legislativa e do
ginásiodeesportes,oprojeto adotouasolução desecriarum blocolinear
baixo,que
sedestacassepelahorizontalidade. Asatividadesforamdivididasemdoispavimentos,
com as funções de comando e as administrativas no superior e, no térreo, as de
atendimentoaopúblicoedemaisserviçosgerais.
Asnecessidadesdeintroversãoeresguardodasatividadesforamgarantidascom
118
Idem
119
Idem
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Ofícioconviteparaelaboraçãodoprojetoexecutivo
Acervodoar
q
uiteto
ProjetosInstitucionais
137
a implantação do pavimento térreo em nível semienterrado, como que em uma
trincheirae comofechamento dopavimento superiorcom placasdeconcreto,pré
moldadas e colocadas com intervalos irregulares, criando varandas ajardinadas
cobertas com pergolado. Além da função prática, estes recursos caracterizaram
expressãoplásticadoedifício. Aimplantação
doblocojuntoàruaaofundodaáreae
a criação de um monumento definiram a criação de uma praça pública para as
solenidades militares que, assim, poderiam ser assistidas pela população. Os
ambientesabremseparajardinsnasvarandasdopavimentosuperiorouparajardins
impantadosnointerior
doedifício.
No entanto, logo após a inauguração, houve um atentado. Um carro com
explosivosfoilançadocontraoedifícioeexplodiunosaguão.Istolevantouaquestão
sobre a segurança do edifício ou sobre sua vulnerabilidade a ataques e,
conseqüentemente, sobre a possibilidade de se murar o complexo. Foi construído,
então, um muro no lado voltado para o fundo, mais próximo da rua, e a frente foi
mantidaaberta.
“Foi ponto pacífico,para todo o júri, que o fatorsegurança deumQuartel
General deveria ser entendido em outro nível, pois que se tratava não de
fortificação,mas, antesdetudo, da sededo podermilitar no Estado,aser
inseridaemumconjuntocívicoqueoedifíciodaAssembléia
Legislativaeos
demaisdeIbirapueradefiniam.Aoconceitodesegurança,ligavase,pois,
odaprópriaexpressãoqueoedifíciodeveriaassumir.Havia,poroutrolado,
algunsbonsprojetos,queenfrentavamoproblemaporesteângulo.Dentre
eles,destacavaseumpeloequilíbrioehabilidadecomqueenfocava
otema
sob todos os seus aspectos, do relacionamento com o espaço urbano em
torno e com os edifícios circunvizinhos às soluções construtivas.
Transpareciaemtodootrabalhaumaclarezadeconcepçãoquerevelavaa
clarezadepensamentodeseusautores.”
120
120
Sancovski,Israel.DepoimentoRevistaAcrópolenº351,p14.
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Fotosacervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
138
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Fotosacervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
139
QuartéisGeneraisdeSãoPaulo
Implantação,plantasdospaviemntostérreoesuperiorecortes
Croquisdoarquiteto
ProjetosInstitucionais
140
O projeto no Ibirapuera trouxe para Paulo Bastos, através da comissão de obras do exército, convites para
outrosprojetos,comoodareformadaresidênciaoficialdoajudantedeordensdocomandantedoIIExércitoeparao
edifício de apartamentos para oficiais do exército, em São Paulo, em 1966, o
plano diretor da área de esportes e
projeto do conjunto aquático da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, em 1981, parcialmente
executado, além da participação em concurso fechado de propostas para a Academia Militar de Agulhas Negras, a
convite da Comissão Regional de Obras do Exército, em 1985.
Não foi isso. O relacionamento com a equipe da
comissãodeobrasfoiimportantevetorquandoPauloBastosfoiseqüestradoepreso,em1970,nasualocalização.Foi
umadasfontesqueseupaiusouparaencontrarseuparadeiro.
QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSão
BernardodoCampo
SãoBernardodoCampo‐SP,1965[3.2 00m²]
A partir de então, por conta da repercussão da obra dos Quartéis Generais, Paulo Bastos foi convidado pela
prefeitura de São Bernardo do Campo para elaborar alguns projetos para a cidade, como o Grupo Escolar de Vila
BrasíliaeosQuartéis
doCorpodeBombeiros,demaiordestaque,alémdoprojetodeumapraça,doEstádioDistrital
deVilaPlanaltoedoPostodePuericultura,em1974,sendoqueestesdoisúltimosnãoforamconstruídos.
Em 1965, Paulo Bastos projetou o conjunto dos Quartéis do Corpo de Bombeiros e Batalhão
Policial, a ser
executado pela prefeitura e operado pelo Governo do Estado. O terreno, com duas frentes, foi ocupado com um
prédio para a polícia militar e outro para os bombeiros paralelos às ruas e ainda um pátio de exercícios. Com a
crescenteinstalaçãodeindústriasnascidadesdaregiãodo
ABCpaulista,aquestãodosocorroaacidentestornouse
maiscomplexa,exigindo,alémdeoutrascoisas,uma sedeadequadapara osquartéis.Oprojeto,desdeasolicitação
desuaconstruçãoeadefiniçãodoprogramadearquitetura,pôdecontarcoma ajudadoentãocapitãoCelestino,que
também foi
oidealizador do pátiode exercícios eda torrede salvamento, prédioconstruído para otreinamento de
resgates que reproduzia os obstáculos que poderiam ser encontrados nas edificações. “Para fazer a torre, eles me
levaram no quartel e passaram os incêndios do Joelma e do Andraus, que eles haviam filmado,
aquela coisa
tremenda.Eufuiobrigadoaverofilme,opessoalcaindo,queimando...”
121

121
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10deagostode2007.
ProjetosInstitucionais
141
O prédio dos bombeiros desenvolvese sob uma grande cobertura, em níveis que separam as funções. No
térreo,semienterrado,estãoasdependênciasadministrativaseacirculaçãoaberta,porémresguardadapelotalude.
Meiopisoacima,estãoasgaragens,enopavimentosuperior,osalojamentos,agrupadosnocentrocomas
circulações
na periferia do edifício. Partiuse da concepção de se fechar o edifício por fora com vidros e os alojamentos,
internamente, com venezianas de madeira. A estrutura de concreto aparente comparece plasticamente com o
elaborado desenho das lajes nervuradas de apoio do pavimneto superior e dos pilares, de secção retangular
e
acentuadochanfropróximoaoencontrocomopiso.Oedifícioéaberto,apartirdagaragem,comsoluçãosemelhante
à empregada nos quartéis de São Paulo, de se entrincheirar o pavimento térreo para seu resguardo. As circulações
verticaissãoabertas,emcadaextre midadedoedifícioeacaixilhariade
vidrotambémconcorreparaafeiçãoaberta
doedifício,quemanteve aprivacidadedasatividadesinternaspormeio dorecuocomrelaçãoàsfachadas.Nopátio
foramprojetadosdiversosequipamentosparatreinamentodosbombeiros,alémdeequipamentosesportivos.
QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo
Vistadoconjunto
Fotoacervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
142
ProjetosInstitucionais
143
O prédio da polícia militar foi projetado sem maior acompanhamento do órgão. Com partido semelhante,
um diálogo interessante com o edifício dos bombeiros. Neste caso, o pavimento térreo es no nível do acesso e o
pavimento superior ocupa toda a projeção do edifício, com acesso por escada em volume fora
da projeção da
cobertura.Os alojamentos, nopavimento superior, estãovoltados parao exterior, resguardadospor brisesnos dois
lados maiores. Em São Bernardo, ainda foi projetada por Paulo Bastos a ala de recreação do edifício do Corpo de
Bombeiros,em1973,pequenaconstruçãocomplementaraoedifí cio.
“Assucessivasgeraçõesdecomandantesmantiveramtudoemótimo estado, não se mexeu nunca. Eu usei um
cimentadocoloridonochãoeaquiloeramantidoenceradocommuitoesmero.Passadocertotempo,rompeuse
essa corrente de pessoas que haviam convivido com o Celestino, que tinham vivido todo esse processo e
se
evolvidonaobra,emodificaçõesviolentasforampromovidas.”
122
122
Idem
QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo
Páginaaolado:vistasexternaseinternasedifíciodoCorpodeBombeiros
Nestapágina:vistasexternasdoedifíciodoBatalhãoPolicial
Fotosacervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
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QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo
Implantaçãoevista
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
ProjetosInstitucionais
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QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo
Plantasdospavimentossuperioretérreo,cortesevistadoCorpodeBombeiros
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
ProjetosInstitucionais
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QuartéisdoCorpodeBombeiroseBatalhãoPolicialdeSãoBernardodoCampo
Plantasdospavimentossuperioretérreo,cortesevistadoBatalhãoPolicial
Pro
j
etoexecutivodi
g
italizadode
p
iahelio
g
ráfica
ProjetosInstitucionais
147
ConjuntodoCorpodeBombeirosdeMogidasCruzes
MogidasCruzes‐SP,1972[1.000m²]
A colaboração entre o arquiteto e o comandante dos bombeir os levou à solicitação de mais outros dois
quartéis, umem Mogi das Cruzes, em1972, e outroem Santo André,em 1974, ambos parcialmente
construídos. O
primeirofoiprojetadocombasenoprogramadeSãoBernardo,masemSantoAndréoobjetivoeracriarumcentrode
treinamento,poresforçodoCapitãoCelestino,quedesenvolveuumcursonoqualpoderiamserformadosbombeiros
aptosatrabalharcomsituaçõesdecrescentecomplexidade.Paratanto,oprograma
contou,alémdopróprio quartel
do destacamento de bombeiros, com um centro de adestramento, um ginásio coberto, um pátio e uma torre de
exercícios e oficinas de manutenção. Foi parcialmente executado pois, sem poder contar com o esforço pessoal do
capitão,quehaviasidopromovidoapatentesmaisaltas,as
intençõesperderamse.
EmMogidasCruzes,oprogramasemelhanteaocontempladoemSãoBranardolevouaumpartidosemelhante,
em dois pavimentos. No térreo concentramse as atividades administrativas, com as circulações na periferia do
edifício. Um metro acima , com direito alto, localizase a garagem e no pavimento
superior, os alojamentos,
voltados para o exterior e acessíveis por um corredor central iluminado por domos. As escadas situamse nas
extremidadesdocorredor,umaéaberta,levandoatéagaragem,eaoutra,emvolumecilíndrico,foradaprojeçãoda
cobertura. O desenho da estrutura concorre para o resultado
plástico. Os pilares de sustentação do pavimento
superior têm tratamento diferenciado, escultórico, os pilares da garagem tem secção retangular, chegando ao chão
em chanfro acentuado, e no pavimento superior, marcam a fachada, descendo da laje de cobertura até o nível dos
peitorisdasjanelas.
ProjetosInstitucionais
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ConjuntodoCorpodeBombeirosdeMogidasCruzes
Plantasdospavimentossuperioretérreo,cortelongitudinalevistas
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
ProjetosInstitucionais
149
Em1967,PauloBastosparticipoudoconcursoparaoprojetodasededaPetrobras,
no Rio de Janeiro, e por ter se classificado entre os cinco primeiros colocados, foi
convidado a participar de um segundo concurso. Desta vez em terreno localizado na
recémcriada Esplanada de Santo Antônio, uma equipe
de profissionais do escritório de
arquitetura ForteGandolffi Associados foi a vencedora. Neste mesmo ano Paulo Bastos
também projetouo CentroTelefônico de Cruzeiro,e foia elaboraçãodo projeto dasede
socialdoClubePaineirasdoMorumby,comoveremosadiante,quemobilizouaequipedo
escritório.
EdifíciosdaSuperintendê ncia
RegionaldaCompanhiaPaulistadeForçaeLuz
Araraquara‐SP,1973[5.000m²]
Em 1973, Paulo Bastos fez dois projetos para os conjuntos de edifícios da
superintendência regional da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL ), um em Bauru e
outroemAraraquara,estadodeSão Paulo.Nenhumfoiconstruído.Ambos
têmamesma
concepçãoeomesmoprograma.Opartidoésemelhanteaoempregadoemoutrasobras:
uma grande cobertura sob a qual está abrigado o programa, com fechamentos
independentesdecaixilhosdevidro.Anotadiferencialdestesprojetosestánodesenhoda
cobertura, em arcos de concreto. Configuram o
edifício duas fileiras de arcos nos lados
externos que chegam até o chão e, no interior, quando dois arcos se encontram,
descarregamascargasempilarespiramidais.
ConjuntodeEdifíciosdaSuperintendênciaRegionaldaCompanhiaPaulistadeForçaeLuzemAraraquara
Plantasecortetransversal
Projetoexecutivodigitalizadodecópiaheliográfica
ProjetosInstitucionais
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Em1972,PauloBastosprojetouoanteprojetodoTerminaldeônibusurbanosdoJabaquarajuntamentecomo
escritóriodeJerônimoBonilhaeIsraelSancovski,contratadoparaoprojeto.OcontatocomSancovskidesdeaépoca
emque foramprofessores daFaculdade de Arquiteturado Mackenziepropi ciou o convitea Paulo
Bastos,que pôde
desenvolver o projeto com certa autonomia. Situado em frente ao terminal do metrô e ao terminal de ônibus
intermunicipais o projeto foi basicamente composto por uma cobertura sobre as plataformas de ônibus e demai s
dependências. A idéia erase ter umacobertura solta que falassemais pelo desenho
daestrutura, composta de laje
nervuradaemângulosde45°formandotriângulosequiláteros.
Em1975,PauloBastosfoiclassificadoemterceirolugarnoconcursoparaoCentroCívicoeCulturaldeOsasco,
complexoquecontariaaindacomaCâmaraeoPaçoMunicipais.Oarquitetoprojetou,em1976,umhotel
emSanta
RitadoPassaQuatro,quenão foiconstruído,apedidodoórgãodeFomentodeUrbanizaçãoeMelhoriadasEstâncias
(FUMEST),criadoem1968pelogovernodoEstadode SãoPauloparadesenvolveriniciativasparaosetorturístico.
CentroCívicoeCulturaldeOsasco
Maquete,fotoacervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
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HospitalMunicipaldeSãoJosédos Campos
SãoJosédosCampos‐SP,1979[14.000m²]
Em 1979, PauloBastos foi vencedor, juntamente com os arquitetos Rosendo Mourão, Romeu Simi Jr. e Fábio
Goldman,daqualificaçãotécnicaparaelaboraçãodoprojetodoHospitalMunicipaldeSãoJosédosCampos,oquelhe
rendeu convite para elaboração do projeto executivo. Foi projetado um edifício horizon tal, com tios internos de
iluminação e ventilação,executadoparcialmente, tendo sido construídas somente as instalações do pronto socorro.
Esseprojetoaproveitouaexperiênciaadquiridacom outroelaboradoparaoHospitalGeraldoInstitutodePrevidência
dosServidoresdo
EstadodePernambuco,IPSEP,quando,em1964,PauloBastosvenceuo concursopromovidopelo
governodeMiguelArraesparaa construçãodeumhospitalemRecife.Este foiextensamentepublicado,mascoma
intervençãono Estado,o concursofoicanceladoe oprêmio nãofoipago. Posteriormente,foiconstruído comoutro
projeto.
HospitalMunicipalSãoJosédosCampos
Croquisdoarquiteto
ProjetosInstitucionais
152
Agênciasbancárias
Paulo Bastos projetou uma série de agências bancárias a partir dos anos 1960. Parao Banco do Brasil, foram
projetadasem São Pauloas agênciasda Luz,em 1966, ede Indianópolis,em 1973,além da agênciaem Nhandeara,
interiordoestado,em1969.ParaaCaixaEconômica
Estadualforamprojetadasdezoitoagências,nascidadesdeAssis,
em 1975; Lins, Bernardino de Campos, Paraibuna, Itanhaém, Monte Aprazível, Bariri, São Manoel, Ribeirão Preto,
Pitangueiras,SantaCruzdoRioPardo,Itaporanga,Junqueiropólis,CachoeiraPaulista,ItapecericadaSerraeSocorro,
em1977,GarçaeItajobi,em1978.ParaoBanespa,projetouas
agênciasdePresidenteEpitácio,em1980,RioClaro,
em1981,NovaCantareira,em1983,eIpiranga,em1987,essasduasúltimasnacidadedeSãoPaulo.
Até os anos 1960, os bancos prestavam serviço a uma clientela de comerciários e industriários, além de um
pequeno grupo de clientes particulares muito
abastados. Com a riqueza crescente no estado, aumentouse a
demanda pela implantação de redes de agências bancárias no interior do estado. Isso trouxe consigo mudanças no
mododeseconceberaarquite turadasagências,oque, aliadoàscaracterísticasdanovaparceladapopulaçãoaser
atendida foiresponsável pela
disseminação deuma arquitetura de vanguarda peloestado, procurandose a fixação,
atravésdaimagem,deconceitosdeausteridadeesolidezeaforçadocapitalfinanceiro.
123
Asagênciasdeveriamsedestacarnascidades,levandoumaarquiteturamarcante.Estãopresentes osespaços
amplos,aintegraçãoespacialevisual,ariquezanotratamentodoespaçointerno,odesafioestruturaleoempregodo
concretoarmadoconcorrendoparaumaarquiteturaexuberante,permitidopelomodeloeconômicodomilagre’.“Se
as
casas haviamsido o grande laboratório dos arquitetos atéos anos 60, os bancos exerceram essepapel nos anos
70.”
124
Asagênciaspassaramaserprojetadascommaiorabertura, atravésdegrandesplanosdevidro,mante ndoa
imagemdelojaabertaaopúblico,prontaparareceberanovaclientelaheterogênea.
Para Paulo Bastos , o desafio proposto constituiuse em resolver uma questão contraditória. Por um lado, era
solicitado que as
agências fossem implantadas com certo destaque em relaçã o ao contexto urbano. Por outro, era
necessário inserir o edifício na trama urbana de modo a não perturbar o relativo equilíbrio de volumes e espaços
urbanos nas cidades, principalmente no interior do Estado. Com programa relativamente simples, as agências eram
basicamente compostas por
um amplo salão de atendimento ao público, no qual se concentravam as demais
atividades. Freqüentemente eram projetados mezaninos. Em todos os projetos se percebe uma implantação
123
OLIVEIRA,NildoCarlos.Asfaceseasfasesdeumaarquiteturaparaocapital.RevistaProjeto109,abrilde1988,p6066
124
ZEIN,RuthVerde.Muitaconstrução,muitaarquitetura.RevistaArquiteturaeUrbanismo95,janeirode1987,p4755
ProjetosInstitucionais
153
cuidadosa,sejapormeiodorespeitoaogabaritodoentornooupelapreservaçãooucriaçãodeeixosdecontinuidade
visual.
A integração volumétrica das agências ao contexto urbano consolidado rendeu episódio curioso quando da
implantação da agência da Caixa em Paraibuna, cidade com cerca de 20 mil habitantes, de construções antigas
e
gabaritohomogêneo.PauloBastosprojetouumedifíciocomcoberturarespeitandoaalturadasconstruçõesvizinhas,
alinhadacom arua. Sobacobertura, recuada,estáa entrada.O terrenoemdeclive condicionouodesenvolvimento
dos níveis intermediários em direção ao fundo, em nível abaixo ao da rua. Essa postura modesta
mobilizou uma
comissão de moradores a procurar a Caixa e reclamar do menosprezo com relação à cidade. Queriam uma agência
queaparecesseevalorizasseacidade,umprédiomodernodetrêsouquatropavimentos.
125
125
EntrevistaPauloBastos.
AgênciadaCaixaEconômicaEstadual
BernardinodeCampos
Plantasdospavimentostérreoe
mezanino,vistafrontal,cortee
perspectiva
Cro
q
uisdoar
q
uiteto
ProjetosInstitucionais
154
Na agência de Bernardino de Campos, a implantação
ocupatodaalarguradoloteestreito,compilaresnoslimites
laterais, criando um espaço único ao longo do eixo
desimpedido desde o acesso até a parede dos fundos, que
encerra os arquivos, cofres e sanitários, no pavimento
superior. De um lado
da circulação, os balcões para
atendimento do público, com direito menor, edooutro,
jardins. O pavimento superior, apoiado nos pilares de um
dosladoseatirantadoàlajedecobertura,projetasesobrea
metade do pavimento inferior no sentido longitudinal,
abrindose para o jardim iluminado por aberturas
semicircularesnalajedecobertura.Ofechamentoemvidro
da fachada é recuado em relação à empena testeira e
destacase ovolume curvo dagerência. Partidosemelhante
foiempregadonaagênciadeItaporanga.
AgênciadaCaixaEconômicaEstadualItaporanga
Plantasdopavimentotérreo,vistafrontalecorte
Croquisdoarquiteto
ProjetosInstitucionais
155
As agências da Caixa Econômica não contariam
com sistemas de condicionamento de ar, o que
demandava estudo cuidadoso, na concepção do
projeto, das condições ambientais em cada cidade. Na
agência projetada para Itanhaém, por exemplo, a
aberturadovãodecirculaçãoverticalfunciona também
como duto para saída do ar
quente por abertura na
cobertura,porconvecção.Oselementosdetomadade
ar, mais baixos, e a saída do ar por aberturas em
posição mais elevada ou por sheds em coberturas
geralmente inclinadas, criam a diferença de pressão
necessária, como nas agências de Pitangueiras,
Junqueirópolis e Cachoeira Paulista. Em Ribeirão Preto
e Monte Aprazível, são os jardins sombreados por
pérgulas formadas por vigotas prémoldadas dispostas
emângulode45°,nafrenteeaofundo daconstrução,
que funciona m para o condicionamento natural do ar,
alémdetirarpartidodatramadeluzesombravariável
durante o dia. Nessa última,
a condição de acesso a
cavaleirodoespaçointerno,meionívelabaixodonível
da rua, concorre para transmitir uma sensação de
simplicidade e aconchego, importantes no contato da
Caixa com sua clientela, constituída de população de
condiçãohumilde.
AgênciadaCaixaEconômicaEstadual
Decimaparabaixo,Pitangueiras,JunqueirópoliseCachoeiraPaulista
Corteslongitudinais
Croquisdoarquiteto
ProjetosInstitucionais
156
NasagênciasdeSãoManoeleCachoeir aPaulista,situadasemlotesdeesquina,aaberturaaoespaçourbanoao
nível e escala do pedestre é favorecido tanto pelo grande recuo da caixilharia de vidro quanto pela quebra do que
seria o ângulo da esquina, através de outra concordância das paredes laterais
e frontais. A agência de Socorro,
também em terreno de esquina, tem volumetria mais forte, com o fechamento frontal inclinado do pavimento
superioreatexturadaempenalateralmarcadapelousodefôrmasdesarrafosestreitosepelopórticoesculpido.
Nestapágina,AgênciadaCaixaEconômicaEstadualSão
Manoel
Plantasdospavimentossuperior,térreoesubsolo,vista
lateralecorte.
Páginaaolado,AgênciadaCaixaEconômicaEstadual
Socorro
Plantasdospavimentossuperior,térreoesubsolo,corte,
vistaslateralefrontaleperspectiva
Croquisdoarquiteto
ProjetosInstitucionais
157
PauloBastosestevepresoduranteoprimeirosemestrede1976,masobteveumalicençaparapodertrabalhar
nosseusprojetos,entreosquaisalgunsparaoClubePaineiraseagênciasbancáriasdaCaixaEconômicaEstadual.
“A Caixa fazia contratos com o escritório, mesmo enquanto estive preso. Eles estavam sabendo e não deram
importânciaparaisto,continuaramcomasencomendas.Estasagências,eufizdentro.”
126
126
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia10deagostode2007.
ProjetosInstitucionais
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ClubePaineirasdoMorumby
Os projetos para o Clube Paineiras do Morumby configuram um grupo distinto
no panorama da obra do arquiteto Paulo Bastos por ser um dos poucos projetos
privadosepeloportedesuascaracterísticas.Oprojetooriginalfoielaboradonoinício
dos anos 1960 por Carlos Millan
para um grupo de associados que se formava. Paulo
Bastos,eracolaboradornoescritóriodeMillannaépocaetevegrandeparticipaçãono
detalhamentodosprojetosexecutivos.
Após a morte de Millan, Paulo Bastos foi convidado pelo Clube para dar
continuidade ao projeto, cujas solicitações, constantemente em transformação,
demandaram uma série
de outros projetos que têm sido elaborados pelo arquiteto
desdeentão.Oprofundoconhecimentodoprojetooriginalproporcionouosucessodas
soluçõesdecontinuidadeedaintegraçãoentreosnovosprojetosfeitoseosantigos
construídoserevelamalutaparamanteraessênciadopartido.
PauloBastostem
conseguido,pormeiodeesforçopessoal,mantercertopadrão
decontinuidadetantodoprojetooriginalquanto dosseuspróprios.Nãosãopoucasas
situações de projetos feitos por outros profissionais para intervenções pontuais no
clube.Uma delaséoginásio construídopróximoà plataformadaspiscinas,ienquanto
PauloBastosestavapreso.
Doprojetooriginal,foramexecutadasaplataformadaspiscinasedosvestiários,
oedifíciodasaunaeaplataformadetênis,masfaltavaasedesocial.Opartidodeim
plantaçãodoconjuntoelaboradoporMillanfoiseguidoporPauloBastos.Comooter
renotem grandedeclividadeem direção
aovale,a implantação assentaospatamares
deacordocomascurvasdenível.“AsoluçãodopartidodoMillanétãoricaetãobem
colocada, que eu fui simplesmente seguindo ele. É uma continuidade da obra de
Millan,comomáximoderespeitoporela.”
127
127
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,emvisitaaoClubePaineiras,gravadaemfitacassetenodia10dejaneirode2008.
ProjetosInstitucionais
159
PauloBastosfoichamadoparaprojetaroconjuntodasedesocialem
1967. A compra do terreno adjacente ao do clube solicitou a revisão do
jetoelaboradoanteriormente.Comestenovo,oarquitetoprocuroumanter
a essência do partido adotado, de adaptação natural aos desníveis do
terreno,fluência dosespaços
ecirculaçãoatravésdegrandes rampas,além
da transparência do edifício de modo a manter desimpedidas as visuais da
plataformadapiscina.
Darua,podeservistoocorpoelevadodosalãosocialesuasrespecti
vasvarandas,cobertoporumagrandelaje eabertovisualmenteatravésde
grandes fechamentos
de vidro, para os lados da rua e do vale. O edifício,
apesardoportedoprogramaqueabriga,elevaseemescalacondizentecom
o entorno, essencialmente residencial. Uma grande laje é lançada ao nível
darua,sobaqualsedesenvolvemem doispavimentosalgumasdependên
ciasdoclube,
voltadasparaovale.Oquecaracterizaoedifícioésuarenún
ciaaelevarsecomoblocoautônomoedominanteemdetrim ento doparti
do adotado, a partir do qual o edifício parece ‘brotar’ da encosta em que
estáassentado.
Antesqueoprojetodanovasedesocialestivesse
concluído,asobras
formainterrompidasefoisolicitadaaPauloBastosarevisãoeampliaçãodo
projeto que estava sendo implantado.Foi proposto o prolongamento da
plataforma em um dos patamares que estava previsto e a implanta ção
sobreacoberturadeduascúpulasgeodésicasde tamanhosdiferentes para
abrigarumaboate
eumrestaurante.
O projeto para o clube é marcado pelo peso do concreto armado
deixado aparente e utilizado não estruturalmente, mas também como
vedação e até como material para algumas peças de mobiliário, com era
caroaosarquitetosnaquelaépoca,emgeraleaPauloBastos,emparticular.
Oquechamaaatenção,noentanto,équeodetalhamentodassoluçõesde
projeto é pensado de modo que o que ressalte aos olhos seja
surpreendentementeaesbeltezdaspeçasdedelicadodesenho.
ClubePaineirasdoMorumby
Sedesocial.Fotos:Acervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
160
Em 1971, Paulo Bastos projetou uma plataforma complementar à da
piscina, com parque e piscinas infantis de grande apelo lúdico. As piscinas,
por sua vez, reúnem chafarizes e pequenas ‘poças‘ de água pintadas com
tonsdiferentesdeazulparasecriarailusãodeprofundidadesdiferenciadas.
O prédio do berçário e
escola maternal, projetados em 1978, é
marcado pela estrutura de vigas da cobertura que se prolongam até
encontrarotalude,criandopergoladoquecomplementao volumetérreoda
escola. No platô remansecente, foi implanta do, em 1983, a Plataforma
Infantil,comcuidadosodesenhodeequipamentospararecreação.
Omaisrecenteprojeto
deporteparaoClubefoioGinásiodoVale, em
1983,quecontemplavaaconstruçãodeumcomplexoesportivoemencosta
acidentada. A solução foi a criar platôs para adaptação ao terreno das
funções previstas, complementada por patamares em balanço, sob grande
coberturaespacialqueacompanhaoescalonamentodospisos.
ClubePaineirasdoMorumby
GinásiodoVale.Fotosecorte(croqui):Acervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
161
ClubePaineirasdoMorumby
Cortesdoberçárioeescolamaternal(acima).Croquidoarquiteto.
Piscinasinfantis(abaixo)ePlataformainfantil(aolado).
Fotos:Acervodoarquiteto
ProjetosInstitucionais
162
Restauro
163
Capítulo5
[Restauro]
33.EEPGProf.JúliodeMesquita..........................................................................................................................168
34.CasarãodaRuadoCarmo,198.......................................................................................................................170
35.IgrejadeSãoCristovão...................................................................................................................................172
36.CatedralMetropolitanadeSãoPaulo(Sé).....................................................................................................174
Restauro
164
Restauro
165
OenvolvimentodePauloBastoscomaquestãodorestaurodopatrimônioconstruídocomeçouquandodasua
nomeaçãocomoconselheirodoConselhodeDefesadoPatrimônioHistórico,Arqueológico,ArtísticoeTurístico,Con
dephaat,nosanosde1986e1987,representandoo Instituto deArquitetosdoBrasil,IAB.
“Foiumagestãomuitointeressante.Euentreidecabeçanosproblemasdecomoseprotegeropatrimônioea
quelavisãoqueeutinhadaquestãourbanacomeçouaseconsolidarcommuitaclarezaarespeitodecomose
temnão edifícios isoladamente, mas contextosurbanosimportantes. NesteConselho
é que discutimose a
provamosotombamentodobairrodoJardins,queeraumtombamentosuigeneris,decaráterurbanístico.”
128

Antesdisso,porém,oassuntopassaraafazerpartedocotidianodePauloBastosquandosuaesposa,Lucilena
WhitakerdeMello Bastos,tambémarquiteta,passouaintegraroquadrodefuncionáriosdoCondephaatatravésde
aprovaçãoem concurso público.“A partirdaí, elacomeçou a trazerpara casa,para a gente
discutir, as questõesdo
patrimônioeassituaçõesqueelaestavaenfrentando.”
129
PauloBastosdestacacomoduasaçõesimportantesdasquaisfezparteadiscussãoarespeitodotombamento
daCasadasRosaseodasindústriasMatarazzo,situadosemSãoPaulo.Nessecaso,apósolevantamentoeelaboração
de hipóteses para o tombamento e o aproveitamento da área das indústrias e
a discussão com os interessados da
famíliaMatarazzo,oconjuntofoiapenasparcialmentetombadoeorestante,demolidoarbitrariamente.“Foiumde
sastre. Isto é um registro de como o processo de devastação e agressão ao patrimônio ocorre, em níveis diferen
tes.”
130
NaquestãodaCasadasRosas,quehaviasidotombadajuntamentecomograndeterreno,
“mepedirampara estudar eemitirumparecersobreaconstruçãodeumprédionoremanescentedoterreno.
Euestudeieacheiquepoderiaserfeito,dentrodedeterminadascondiçõesurbanísticas.Oparecerfoidiscutido
eaprovadopeloConselhoe,atéhoje,éumacoisamuitofaladacomoexemplo.Aminha
propostadediretrizes
previaum edifíciosobre pilotis.A hipótese erapodertransitar livrementepela áreapública.Isto foi cumprido.
Tambémrestauraramepuseramemusopúblicoacasa,maspoderiatersidobemmelhor.Dequalquerforma,
achoqueéumbomexemplo.”
131

128
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia20demaiode2007.
129
Idem
130
Idem
131
Idem
Restauro
166
No biênio seguinte, Paulo Bastos foi novamente indicado como representante do IAB junto ao Condephaat,
quandofoiconvidadoparapresidir oórgão.Houveumamovimentaçãoindicandoseunomeparapresidência eBete
Mendes,àépoca,secretáriadeculturadogovernodoestadodeSãoPaulo,lhefezoconvite.
“Eununcaquisaceitarumcargopúblico,masaquestãodopatrimônioestavatãointeressantequeaceitei,mas
esclareciàsecretáriaqueelaestavaconvocandoumaencrencaparaasuagestão.EufuiparaoCondephaatpara
fazercumprirasdiretrizesealegislaçãodepreservaçãoeistosignificaconflito,tanto
naesferaprivadacomona
governamental.”
132
Defato houve conflitos,eantes de completar o mandatofoi demitido,por conta disso.Enquanto presidente,
PauloBastosagiunarepressãoàviolaçãodasleispertinentes,processandoaprefeitura deSãoPauloalgumasvezes,
porconstruirsemconsultaoCondephaat.“Foiumasaiajustageneralizadaparacolocarascoisasnos
eixos.”
133
OprimeiroprojetoderestauroelaboradoporPauloBastosfoiodaEEPGProf.JúliodeMesquita,localizadaem
Itapira,SãoPaulo,porencomendadaFDE,quenãofoiexecutado.Aoportunidadedeagirmaisefetivamenteveioem
1992,comaencomendadoprojetoderestaurodaIgrejadeSão
Cristóvão.
Ostrabalhos,demodogeral,partemdaidéiainicialdequeodesenvolvimento deumprocessodeconstante
transformação do objeto, desde o início da concepção arquitetônica até sua materializa ção em obra construída e,
depois,durantesuautilização.Nãoumobjetomaterialaserreconstituídotalcomoeraantes,
poisa idéiainicialé
modificada pelainterferência do processode construção,pelo envelhecimento epor particularidades desua utiliza
ção.Assim,oquesepodepreservarsãoascaracterísticasfundamentaiscomoasrelaçõesespaciaisinterioreseodiá
logocomoexterior,avolumetria,asproporçõeseaspeculiaridades
doselementos constitutivosdeumedifício.Par
tindo dorespeito aessasca racterísticas,o restauroe, porextensão, areciclagem ouadaptaçãodo edifícioàs novas
necessidades de uso constituem intervenção no processo de vida do edifício, passando a fazer parte deste mesm o
processo.
Deste modo, Paulo Bastos reconhece que o
trabalho de restauro deve recuperar características essenciais da
concepçãoor iginal, manteralterações ouacréscimosque seconsiderehistóricae culturalmenteincorporados, re
constituirpartesdanificadase,fundamentalmente,comoselementosevidenciadospelarestauraçãoeoacessopúbli
coàsinformaçõesrecolhidasnoprocesso,socializaroconhecimentoadquiridoemrelação
aobemculturalabordado.
É considerada como parte significativa do processo de restauro a extração de informações contidas no testemunho

132
Idem
133
Idem
Restauro
167
materialrepresentado pelo edifício,juntamente comos registrosorais, escritoseiconográficos quepuderemser le
vantados.Assim,orestaurotornasepartedoprocessodeconhecimentodar ealidadequeproduziuetr ansformou o
conjuntoedificado.
Oselementosquerepresentamobstáculosà utilizaçãoadequadaouquesejamprejudiciaisaela
sãorevistosde
modoacompatibili zarosrequisitosdapreservaçãocomasnecessidadesdeadequação aouso.Orestaur o , dessemo
do,contacomasensibilidadedoarquiteto,responsávelpeloequacionamentodessasquestões,queporsuavez,deve
ter por base referencial as recomendações das cartas internacionais de preservação, como a
carta elaborada pelos
arquitetosreunidos emVenezanoIICongressoInternacionaldeA rquitetoseTécnicosdeMonumentosHistóricos,em
maiode1964.
Aoapontarque “aconservaçãodosmonumentosésemprefavorecida porsuadestinação aumafunção útilà
sociedade”
134
,aCartadeVenezaindicaquetodotrabalhodeadequação
“reconhecidocomoindispensávelporrazõesestéticasoutécnicasdestacarseádacomposiçãoarquitetônicae
deveráostentaramarcadonossotempo.(...)Oselementosdestinadosasubstituiraspartesfaltantesdevemin
tegrarseharmoniosamenteaoconjunto,distinguindose,todavia,daspartesoriginaisafimdequea restaura
ção
nãofalsifiqueodocumentodearteedehistória.”
135

“Eu acho muito importante um bem restaurado poder ser usado e talvez o mais importante seja, através do
trabalhoderestauro,socializaroconhecimentoqueseobtevesobreaquiloqueserestaurou.Tudooquetenhofeito,
especialmentenestaárea,euvejocomumaposturamuseológicaearqueológica.”
136
PauloBastosreconhecequeesta
visãodeveseaoseucontatocomWaldi s aRussoGuarnieri,dequemfoiamigoecomquemcompartilhouaexperiên
ciadetrabalhonoprojeto doEspaçoCriança,em1989.Trabalharamjuntosemoutrasoportunidades,comonaequipe
formada paraelaboração do queseria chamado
Museu daPaisagem e queabrigaria o acervo ambientaldaBaixada
Santista,emBertioga.Nãochegouaserexecutado,emboraemPeruíbetenhasidoretomadoesseconceitodentrodo
processodearqueologiadoqualoPauloBastosparticipou.

134
CartadeVeneza,inInstitutodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional.Cartaspatrimoniais.Brasília,IPHAN,1995.
135
Idem
136
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia20demaiode2007.
Restauro
168
EEPGProf.JúliodeMesquita
Itapira‐SP,1991[1.324m²]
PauloBastoselaborou,em1991,oprojeto derestauroeampliaçãodaEEPGProf.JúliodeMesquita,projetode
Victor Dubugras datado de 1895, em Itapira, SP. Antes do início do projeto, foi realizada uma pesquisa histórico
iconográficaquereuniu
adocumentaçãoexistentesobreaconcepçãoeascaracterísticasdeusodaescolaaliadasao
desenvolvimentodosplanoseducacionais.Foramrealizadostambémlevantamentométricoarquitetônicoeprospec
ção das pinturas para informação sobre a época e as características das intervenções ocorridas, com o objetivo de
caracterizaraobrainicialmenteexecutadae
eventuaisreformaseacréscimos.
As pesquisas indicaram que a construção original, terminada em 1900, compunhase do bloco principal e um
galpãocoberto,ligadoàedificaçãoprincipalporumacoberturacomestruturademadeira.Em1940houveacréscimo
dequatrosalasdeaula àsoitoexistentes,ampliaçãoqueseguiuo
mesmoestilodoprédioantigo,alémdaconstrução
deoutro galpãocoberto.Entre1964e1969foiconstruídaumanovacoberturaemconcretoligandoaedificaçãoprin
cipalaogalpãooriginaleforamsubstituídososcaixilhosdemadeiraoriginaisporoutrosdeferro.
Opartidodaintervençãopropostapor PauloBastos
considerouascoberturasdosgalpõescomoetapaconsoli
dadadavidadoedifícioprincipalefoipropostaademoliçãodealgunsacréscimossobestas,queabrigavamsanitários
edepósitos, consideradosporele comoincompatíveiscom avolumetria eosespaços originalmenteconcebidos.Foi
então projetado um bloco anexo ao galpão
onde seriam instala das as atividades que seriam despejadas com estas
demolições.Esteblocoteriadimensõesmenoresetratamentoneutro,comdesenhomarcadamenteatual, demodoa
manteremdestaqueoperfildogalpãoantigo.Nasáreasdescobertas,foipropostaaimplantaçãodeumapraça,que
permitiria melhoruso dosespaços abertos,
quese encontravam fragmentadosem diversos níveis etratamentos de
piso.
Foiproposta,ainda,ademoliçãodacoberturadeconcreto,consideradapeloarquitetocomointerferênciane
gativa.Emsubstitui ção foiprojetadauma estruturalevede açocobertacom chapas devidro,procurando lembraro
desenho da cobertura original e que
se apresentaria com clareza como intervenção atual, além da substituição dos
caixilhospor novos,comrecomposiçãodo desenhooriginal.Internamente,forampropostas areconstruçãodealgu
masparedesdemolidaseademoliçãodeparedesacrescidasouasubstituiçãodestaspordivisóriasleves.
Restauro
169
Coma“intençãodefazerdorestauroumregistrodostemposvividospeloconjuntoedificado”
137
,PauloBastos
propôso usodo porãocomomuseu. Esteteria afunçãode abrigaras informaçõessobreo edifício,englobandosua
concepção,suastransformações esuasrelações com aevoluçãoda cidade,alémdeinformaçõessobrea históriada
educação.Foientãoproposto orebaixamentodo pisodo porão
eoutrasintervençõespara ainstalaçãodas funções
necessáriasaodesempenhodomuseu,semprecomocuidadoderespeitaraconfiguraçãoexistente.Estecomponen
temuseológicoserádesenvolvidonostrabalhossubseqüentesdoarquitetonaáreadorestaurodopatrimôniocons
truído,comoveremosadiante.

137
Memorialdoprojeto.Fonte:acervodoarquiteto.
EEPGProf.JúliodeMesquita
Àesquerda,coberturadaentradaprincipalnoprojetooriginal,asituação
encontradaeodesenhoproposto
Nocentro,implantaçãoeplantadopavimentotérreo,dopavimentosupe
rioreinferior
Abaixo,perspectivadobloconovoproposto,vistaapartirdaquadra
Croquisdoarquiteto
Restauro
170
CasarãodaRuadoCarmo,198
SãoPaulo‐SP,1992[1.244m²]
Em 1992, Paulo Bastos elaborou a proposta de revitalização do Casarão da Rua do Carmo, localizado em São
Paulo,queofoiimplantada.Oprojetoenglobou,alémdarestauraçãodafachadaedareciclageminterna,oprojeto
de
umedifícioparahabitaçãodeinteressesocialnoterrenoremanescente.OCasarãoera,então,ocupadoporcortiço
com36famílias,quasetodasorigináriasdamesmacidadedaBahia.
Noiníciodostrabalhos,constatousequeaparteinternadaresidênciaapresentavadiversoselementosdeinte
resse,emboraapenasafachadae
avolumetriadoCasarãofossemtombadas.Grandepartedesuasparedesetelhado
estavapreservada,alémdeamostrasdeforrosedotratamentopictóricooriginaldasparedesreveladoemprospec
çõesrealizadas ecomsatisfatóriascondiçõesdepreservação.ApropostadePauloBastosconsiderouqueseuvalore
possibilidadede
recuperaçãojustificavamasuacompletarestaur ação.
Foipropostaaconstruçãodeumbloco novoparahabitaçõesnoterrenoremanescente,queabrigariaamaioria
dasunidadeshabitacionaisparaatendimentodasfamíliasmoradoras.OCasarãoseriareformadoeampliado.Foipro
postaarecuperaçãodosespaçosoriginaisdopisosuperior,parareceberalgumas
habitações,eosdotérreo,aosquais
sedariausodecarátercoletivo,comoreuniõesdacomunidade,saladeaulasedetrabalhosartesanais,alémdavisi
taçãopública.Osaguãotérreoeopátiocontíguoconfigurariamespaçosdetransiçãoentreocasarão eobloconovoe
poderiamser
utilizadoscomoáreasdeatividadescoletivas.
Assoluções adotadasforamdiscutidas comos moradores,quecompreenderam seusignificado eapoiaramas
idéias de preservação e de uso do conjunto propostas. A liberação do térreo restaurado do Casarão para visitação
públicamonitoradapelosprópriosmoradorestrariaarrecadaçãoaserempregadanamanutenção
dorestauro.Desse
modo,eles poderiamparticiparna responsabilidadede preservaçãodo patrimônioarquitetônico que seriacolocado
sobsuatutela.
Restauro
171
CasarãodaRuadoCarmo198
Plantas,vistafrontal,corteeperspectiva
Croquisdoarquiteto
Restauro
172
IgrejadeSãoCristovão
SãoPaulo‐SP,1993[1.325m²]
Aoportunidadedeagir maisefetivamentecomumaobraderestauroveioem1992,comaencomendadopro
jetoparaaIgrejadeSãoCristóvãoComeste,PauloBastospôdeiralémdaspropostasnãoimplantadasedeumplano
maisteórico deatuação institucional,para aatuação concreta,se envolvendodiretamente com questõessuscitadas
porumaobraderestauro.
“Uma coisaé sefalar nopatrimônio e fazerteorias, outra coisa éenfrentarconcretamente umprojeto e uma
obra.Émuitodifícil distinguiro projetodaobraderestauro,fazserelativamentepoucacoisanoescritórioeé
naobraondeaparecemosproblemasquetêmqueserresolvidossem
quesepercaaperspectivadocritériode
restauroqueestásendoseguido.”
138
O conjunto da Igreja de São Cristovão, construído em São Paulo no ano de 1851, foi dedicada inicialmente a
NossaSenhora da ImaculadaConceição. Foicapela doPrimeiro SeminárioEpiscopal, que formouimportantes mem
brosdocleroepropicioualeigosoaprofundamentodosestudosemmatemáti ca,físicaequímica.O
conjuntocome
çouamudardefeiçãoededestinaçãocomasaída,em1940,doseminárioeademoliçãodeumadesuasalasparaa
abertura da Rua 25de Janeiro, além de sua declaração como paróquia ea mudança depadroeiro, que agora é São
Cristovão.
Em
umprimeiromomento,em1993,foramaprovadosocusteiodosprojetoseobras deemergência,pormeio
deleimunicipaldeincentivoàcultura.Oprojetoderestaurodefinitivo,aprovadonoiníciodoanoseguinte,foicarac
terizadopelorecursoàrecomendaçãocontidanaCartadeVenezadeque,“quandoas
técnicastradicionaisserevela
reminadequadas,aconsolidaçãodomonumentopodeserasseguradacomoempregodetodasastécnicasmodernas
deconservaçãoeconstrução.”
139
Oandartérreohaviasidoconstruídoemtaipaeosuperiorcom estruturademadeirapreenchidadeadobea
poiada nas paredes do pavimento inferior. Internamente, as paredessão de taipa francesa e pauapique. As torres
sineirasforam construídas posteriormenteem tijoloe vigasde trilhosde aço.
Aestrutura dotelhado, compostapor
vigas, treliças e tesouras, substituiu o sistema original de caibros armados. Os problemas de estabili dade estrutural
causados pela demolição de uma das alas, pela vibração do pesado tráfego do entorno e pelo ataque de cupins às

138
Idem
139
CartadeVeneza,inInstitutodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional.Cartaspatrimoniais.Brasília,IPHAN,1995.
Restauro
173
peças de madeira acarretaram, em 1982, o desabamento da parede lateral da Rua 25 de Janeiro e rachaduras nas
torressineiras.Osescoramentoe fechamentoqueforamrealizadosnãoimpediramadegradaçãodasáreasinternas
adjacentesnemdeoutrossetoresinternoscomoosalãosuperior,ocoroeospassadiços,
porexemplo.
Namedida emquese desenvolveramasobras iniciaisde reforçoeconsolidação, acompanhadasdasprospec
çõespara descupinização,revelouse averdadeiraextensão dosdanos eoriscode desabamentodo conjunto.Alem
disso,revelaramseasverdadeirasdimensõesdodesafioquesecolocavaparaPaulo Bastose
paraaequipeenvolvida.
DadasascaracterísticasconstrutivasdaIgreja,aeventualretiradaesubstituiçãodaspartesdanificadascolocariamem
riscoaprecáriaestabilidadedoconjunto.
“Arestauraçãoconstituiuse,portanto,emverdadeirodesafio namedidaemqueasobrasrevelaramedeman
darammúltiplassoluçõesparagraveseinsuspeitados
problemasdeestabilidadenastorres,nacúpulaenasparedes
laterais, pondo à provaa unidade e consistência doscritérios de restauro”.
140
O projeto contou coma utilização de
estruturasdeaçoparasustentaçãodosarcosdemadeiradacúpulaeoempregodepilaresevigasdeaçoouconcreto
paraconsolidaçãodasparedesoriginais,aliviandoasdesuaresponsabilidadedesustentação.ParaPauloBastos,este
trabalho constituiu experiência importante na
tomada de decisões quanto ao que ecomo sepreservar, adotando o
critériodedeixar,emtodososcasos,testemunhosintactosdossistemasconstrutivosoriginais,evidenciadosatravés
deaberturasemalgunspontosdorevestimentodasalvenarias.
Aprospecçãodaspinturasrevelouumadiversidadedefragmentosdepadrões distintos,semquea
equipepu
desseapreenderumcritériodefinidoemsuautilização.Nasparedesinternasfoipropostaapinturacomumacorcla
ra, deixando, em cada aposento, testemunhos das pinturas originais no estado em que foram encontrados, devida
menteconsolidados eprotegidos.Foi propostaa pinturadas paredesexternas comum
tomde corocre claro,dea
cordocomacamadaoriginalrevelada,eautilizaçãodeumagradaçãomaisescuranosornatos,frisosecornijascomo
objetivodedestacarestaornamentação.
Osconceitosenvolvidosnoscritériosderestaurolevaramàpropostadeinstalaçãodeum museuocupandoos
três
pisosdovolumeagregadoaosfundosdaIgreja,queteriamacessoatravésdoterrenodosfundos,aserincorpo
rado à Igreja eurbanizado como uma praça. A proposta, não executada,visava à utilização do conjunto edificado e
seus detalhes construtivos e pictóricos, além do registro das intervenções e das
informações históricas levantadas

140
PauloBastos,memorialdoprojeto.
Restauro
174
comoobjetosmuseológicos.DessaformaseestenderiaoconhecimentoobtidosobreaIgrejaparaumpúblicomaior,
deformadiretaeacessível,extrapolandoointeressesomentereligiosoparaaquelemaisamplodecarátercultural.
IgrejadeSãoCristovão
Vistafrontal,vistadanave,janeladeixadanaalvena
riaedetalhesdassoluçõesderestauro
Fotosacervodoarquiteto
Restauro
175
CatedralMetropolitanadeSãoPaulo(Sé)
SãoPaulo‐SP,2000/2002[6.700m²]
Podesedizerqueoprojetoderestauroecomplemen
taçãodaCatedraldaSé,elaboradoporencomendadaarqui
diocesedeSãoPauloem2000,foiomaiorprojetoelaborado
porPaulo Bastosnessecampo.Oinéditodesafio
determinar
a construção de uma catedral ini ciada 1913 com linguagem
estilísticagóticafoienfrentadoporPauloBastoscomaarticu
lação deconceitos de restauro ede adequação de usoscom
peculiaridadesquemesmoàluzdas normasinternacionaisde
preservação tiveram que encontrar soluções específicas. As
simpoderia
serampliadoseupapelcomo referênciaurbana,
religiosa,políticaeculturalimpostoporsuaprópriahistória.
Deumlado, teriamdeserrealizadas obrasdeestabili
zaçãoeconsolidaçãodeelementosconstrutivos,recuperação
doacervoartísticoeadaptaçãodealgunsespaços paranovas
funções. Nestes casos, o procedimento técnico adotado foi
claramentedefinido,eoapresentoudúvidasquantoàme
todologiaaserseguidaparaoarquitetoeaequipeenvolvida.
PauloBastoscontou,paraostrabalhosespecíficosdorestau
rodevitrais,peçasdecobre,pinturaseobrasdearte,coma
participaçãodediversosespecialistas,alémdaconsultoriade
engenheiros e museólogos. “O trabalho na foi de uma
complexidade que, hoje quando olho, eu questiono como é
queagenteconseguiufazertudoaquilo.”
141

141
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia20demaiode2007.
CatedralMetropolitanadeSãoPaulo
Plantadecoberturaevistas‐Torreõesexecutados
DesenhoAcervodoarquiteto
Restauro
176
Poroutrolado,aconcepçãooriginaldoconjuntoestavaincompletaefaltavamelementossignificati
vos de sua composição volumétrica, sendo que outros posteriormente executados, como as torres princi
pais, haviam sido grandemente simplificados. A Catedral foi projetada pelo arquiteto Maximiliano Hehl e
inaugurada em 1954, como parte das comemorações do
Quarto Centenário da cidade de São Paulo. Foi
construídacomalvenariasdetijolosdebarrorevestidosexternamentecompeçaslapidadasdegranito,mas
14torreões,dedesenhoetamanhodiferenciados,nãoforamconstruídos.Dessemodo,aquestãodacom
plementação da Catedral envolvia o resgate, com a construção deste conjunto de
torreões, da concepção
volumétricaoriginalqueosesboçosdisponíveisdelineavam.
Oedifício apresentavase,portanto,volumetricamenteincompletoealteradoemdiversosdetalhes
ornamentaisantesprevistos.Ascaracterísticasdavolumetriadoedifícioreveladaspeladocumentaçãodis
ponívelindicavamqueastorresfrontaishaviamsidoexecutadasdemaneirasimplificada,semvitrais
eorna
tosprevistosoriginalmente.Indicavamtambémquefaltavamelementossignificativoscomoostrêstorreões
nabasede cadaumadastorres principais,quatrotorres nabasedacúpula dacobertura,dois torreõesao
ladodecadaumadasportaslaterais,diversasagulhasnosarcosbotanteseparapeitosnacobertura.
Levando
em conta estas questões, em 2000, Paulo Bastospropôs a complementação da volumetria
previstacomelementosdeproporçõesquecumprissemestepapel,semtentarreproduzirumaornamenta
çãogótica,pornãosedispordedocumentaçãosuficienteeporacreditarquedeveriaficarclaraacontem
poraneidadedasintervençõesqueseriam
realizadas.Aintençãoeraestudararecomposiçãovolumétricado
conjunto com a manutenção das posições e configuração geral dos elementos não executados, mas com
novodesenhoeoempregodenovosmateriais,comvolumesexecutadosemaçoevidrolaminado.
Apropostanãofoiaceita,pois aCúriaMetropolitanaorientavaque
seterminasseaconstruçãodaCa
tedraldeacordocomaconcepçãooriginal,oquepressupunhacontarcomum abasedocumentalconsisten
teque, desde1954,nãoeraencontrada.Duranteostrabalhos,foramachados,poracaso,osesboçosorigi
nais, oque forneceu diretrizes para o trabalho dereconstituição do
projeto. Tendo como referênciaa lin
guagemutili zadanaspartesconstruídas,foifeitaainterpretaçãodaconcepçãoinicialparaaelaboraçãodos
desenhos de sua complexa geometria e para a escolha dos métodos construtivos contemporaneamente
adequadosàsuaexecução.
CatedralMetropolitanadeSãoPaulo
Propostadetorreõesdevidro
Acervodoarquiteto
Restauro
177
CatedralMetropolitanadeSãoPaulo
Torreõesconstruídos
Desenhoacervodoarquiteto
Restauro
178
Nessemomentofoicolocadaaquestãoapartirdopontodevistadoscritériosdeconcepçãogeométricaees
truturaledométodoconstrutivoaserutilizadonaconstruçãodostorreões.Nestecontexto,eseguindoocritériode
seresgatar o desenho originalmenteconcebido, inclusive comseus detalhes decorativos,foram
utilizados peçasem
argamassaarmadaproduzidasforadaobra,moldadasdeacordocomosrelevos,juntas,frisosedemaisdetalhesde
corativosprevistos noprojetodeMaximilianoHehl.Estasforamfixadasemumnúcleoestrutural,deconcretoouaço,
comaresponsabilidadedesuportedoconjunto.
ACatedraléumdos
maisimportantesreferenciaisurbanosdeSãoPaulo,englobandoumconjuntodevalorese
significadosqueultrapassaocaráterexclusivamente religioso.Emtemposdeditaduramilitar,sobressaiuafigurado
cardealarcebispoD.PauloEvaristoArns,queseesforçounocombateàrepressão,denunciandooscrimesecedendo
aCatedralpara
manifestaçõespolíticaseecumênicaspelosdesaparecidospolíticos.D.Paulo celebrouamissade
timodiadamortedeAlexandreVannucchi,militantedaAçãoLibertadora Nacional,quandomuitosestudantesparti
ciparamdacelebraçãoeoutrosmilharesficarampresosouforamdetidosnasinúmerasblitzesrealizadaspelarepres
são para impedir o
acesso à catedral. O fato tornouse uma das primeiras manifestações públicas contra o regime
militar.
A questão da amplitude do uso dos espaços colocouse para Paulo
Bastosdesdeoinício dasreflexõessobre aintervenção.Osespaços daCa
tedral deveriam propiciar, além da atividade religiosa, visitação ao
seu a
cervoartísticoeabrigodeoutroseventosdecarátercultural. Paraisso,foi
propostaaimplantaçãodeummuseucomaimplantaçãodeáreasespecifi
camente equipadas para abrigar as informações históricoiconográficas
sobreaCatedrale seupapelnaformação doCentro,alémdaquelas dere
gistrodas
atividadeseobrasderestauração.
“Nadanelas [nas obrasderestauro da Catedral]foifácile
simples, em face de seu caráter impositivamente artesanal, da
enormeescaladoselementosarestaurareaconstruiredogigan
tismodas alturas aeleválos, contrapostaà exigüidadedosespa
çosdisponíveisparaseutransporteeacessibilidade.Profissionais
de alta qualificação e dedicação, nas diversas áreas de trabalho,
desde a complexa coordenação das obras e sua execução, pas
sando por detalhadaspesquisase testesde desempenho dema
Restauro
179
teriais,pela produçãodepeçasprémoldadasde composição dos torreõesedelumináriasespeciais,atéo cui
dadosoeparticularmentepreciosotrabalhoderestaurorealizadonoacervodeelementosartísticosagregadosà
arquitetura,estatuária,talhas, vitrais, ornatosdecobre emuitosoutros,articulados comgrandecoerênciaem
ummesmo critério
geral derestauro. Assim, de modo contemporâneo,conseguiusequase revivero processo
decriaçãocoletivadasantigascatedrais,fazendodaSé,otestemunhosensíveldocarinhoedotrabalhodesu
cessivasgeraçõesnasuaconsolidaçãocomoumdosprincipaissímbolosdopovopaulistanoedesuacidade”
142

142
PauloBastos,memorialdoprojeto.
CatedralMetropolitanadeSãoPaulo
Torreõesconstruídos
Fotosacervodoarquiteto
Restauro
180
Urbanismo
181
Capítulo6
[Urbanismo]
37.ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú.........................................................................................................183
38.PlanodeUrbanizaçãodas FavelasJardimFloresta,JardimPousoAlegre,Santa.RitaIIeImbuiasI.............188
39.ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru.............................................................................................................195
40.AvenidaÁguaEspraiada.................................................................................................................................198
41.EstudopararevitalizaçãodaCracolândia.......................................................................................................201
42.
ProjetodeRevitalizaçãodaRuadoGasômetro.............................................................................................203
Urbanismo
182
Urbanismo
183
Osprojetosdeurbanismo dePauloBastosnãosãonumerososmascompreendemumavariedadegrandedea
tuaçãodentrodadisciplina.Significarampoderpartirdoplanocríticoparaumaaçãomaisconcreta,naescaladacida
de,nãoestudandoepropondoalternativasparacadacasoespecífico,mastambémdandoalguns
passosnorumo
daorganizaçãodadiscussãosistemáticadessetipodeproblema.Tratavasedelutarparaqueosprocessosderenova
çãoeevoluçãourbanasconstituíssemalgopassíveldedebatesporpartedosmaioresinteressados,apopulação.
143
“Naminhaformação,ourbanismoeratratadocomooresultadodocálculodeíndices,dedemandasededemo
grafia;nãoeratratadodopontodevistadodesenhourbano,daconcretudedoplanonosespaçosurbanos,co
mofuncionam,comosefruiecomoseviveemrelaçãoaisso.
Issopermaneceu.Houvemuitaênfaseemproje
tosdearquiteturaenenhumaparaprojetosurbanísticos.Estesnãoeramconsiderados,aquinoBrasil,comota
refasdearquiteto.Eramtarefasdeengenheiros,quefaziamoplanejamentoeoscódigosdeobrasnospoderes
públicosmunicipais.Issomarcouaminhageraçãoe
váriasoutrasquesesucederamcomumavisãounilaterale
estreitadaarquiteturaedoobjetoarquitetôniconacidade.”
144

ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú
SãoPaulo‐SP,1978
Em1991,foilançadoconcursopúblicoparaformulaçãodeplanopreliminarparaoconjuntourbanísticodoVale
doAnhangabaú,emSãoPaulo.Deacordocomoeditaldoconcurso,asoluçãodeveria“resultaremumaproposta de
caráter abrangente, envolvendo circulação
viária e de pedestres, uso dos espaços públicos, equipamentos em nível
localemetropolitano,disciplinaeregulamentaçãodeusodosoloedasedificações,valorizaçãodeedifíciostombados
pelospoderespúblicosouconsideradosdezonaespecialedemaisaspectosqueoconcorrentejulgarpertinentes”.
145
ApropostadaequipedePauloBastos,daqualparticipouSiegbertZanettiniecujoobjetivoprincipalerarecuperaro
espaçopúblicoparaopedestreecriarumespaçodecongregaçãocívica,foiaterceiracolocadanoconcurso.
143
RevistaAConstrução,SãoPaulo,ano34,número1751,de21deagostode1981,p.18.
144
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia12dejulhode2007.
145
RegulamentodoconcursopúblicoorganizadopelaPrefeituradoMunicípiodeSãoPaulo,pelaEmpresaMunicipaldeUrbanização(EMURB)e
peloInstitutodeArquitetosdoBrasil.
Urbanismo
184
Oconcursocatalisouadiscussãosobreocentrodacidadee,emespecial,oValedo
Anhangabaú, que na época estava extrapolando o meio técnico e se tornando consenso
nasociedadedequealgodeveriaserfeitopararesolverosconflitosexistentesequalificar
oespaçoparausodapopulação.O
quadroquecaracterizavaoValeeradedesarticulação,
comproblemascausadospelacalhaviáriadegrandetráfegoqueocupavaofundodovale,
gerando graves conflitos entre o trânsito de pedestres, veículos parti culares e de
tecoletivo,queseagravariamcomaconclusãodasobrasdometrônaregião.Também
a
situaçãodocórregodoAnhangabaúeraprecária,poishaviasidocanalizadoenãodava
maisvazãoàáguadaschuvas.
“AprimeiraoportunidadequesurgiuparamimfoioconcursodoAnhangabaú,pe
loqualeumeinteresseimuito.Foiumconcursomuitobemmontado,foiforneci
da uma documentaçãoextensiva a respeito dacidade. Foi precedidopor discus
sõesorganizadassobreosprojetosanterioresparaoVale,emsemináriospúblicos
ondeopessoaldiscutiuoquedeveriaserfeitoemobilizoumuitagente,nãoos
arquitetos.Foiumtrabalhodeentusiasmar,eagentepôdeoperaremumaes
calaurbanadeporte.”
146
Oprojetodaequipeparaaáreapartiudopontoprioritáriodereaverosespaçosur
banospúblicos.Aintençãofoicriarespaçosdeconcentraçãocívicaporaquiloquesignifica
comopontodereferência,pelaqualidadearquitetônicaepaisagísticaepelaricavarieda
dedeatividades desenvolvidasali.Aquestãoda
ligaçãonorteesuldacidade,ocupandoo
valecomumaavenidacomcalhaquefoisealargandocomotempo,nãofoitomadapela
equipe como a principal questão a ser resolvida e sim subordinada à questão maior da
retomada da utilização dos espaços urbanos pela população.Formulouse
a proposta de
tornar subterrânea a circulação de veículos no espaço entre os viadutos do Chá e Santa
Ifigênia.OcentrodacidadeseriareafirmadocomoCentro,criando,assim,melhorescon
diçõesparaousoqueapopulaçãofaziadele.
146
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia12dejulho de2007.
ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú
Perspectivadoprojeto,detalhedepranchadoconcurso
Acervodoarquiteto
Urbanismo
185
O projeto reconhece que seriam necessárias atitudes que,
trapolandooslimitesdodesenho,ajudariamafomentar,oucriar,as
condições desejadas de uso. A proposta da equipe previu que a
questãodagerênciaseriaresolvidacomumaefetivaprogramaçãoa
ser promovida pelo poder público, reconhecendo que seriam ne
cessárias
atitudes efetivas e que não bastava a simples provisão de
espaçolivreparaqueelasacontecessem.
Foiefetuadaumaanálisedoespaçoemtermosdotraçadodas
ruasedosusosqueapopulaçãofaziadessatrama,datipologiaeda
volumetriadosedifícios,alémdos pontosdereferênciae
visuaisque
deveriam ser ressaltados. De acordo com o memorial do projeto,
mesmo abordando uma cidade autofágica como São Paulo, era in
dispensávelquesuamassaconstruídafossevistacomoumpatrimô
nio de alto custo social, que deveria ser aproveitado em todas as
suas possibilidades de uso
147
. “O concurso me propiciou descobrir
uma São Paulo que eu desconhecia. Quando você começa a andar
pelocentrocomoolhardefotografarevercomosãoascoisas,você
descobreprédioseespaçosurbanoslindíssimos”.
148
Aequipepercebeuqueavocaçãodecadasetorserevelava
comcertaclareza,distingu indoquatroeixosa partirdos quais aes
truturado centrosearticulava.Para oprimeiro,formadopelas ruas
Direita e Barão de Itapetininga e que liga os pólos e República
através do
Viaduto do Chá, foi proposta a abertura à circulação de
pedestres, dando continuidade ao fluxo da Galeria Prestes Maia. A
implantaçãodeumapraçacívica,abertaelivre,recuperariaoanfite
atronaturaleconfigurariao Valecomoespaçodeencontroemani
festação,refazendoaligaçãorompidapelaspistasde
tráfego.
147
Memorialdoprojetoconstantedaspranchassubmetidasaojulgamentodoconcurso.
148
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia12dejulhode2007.
ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú
EsquemadeleituradoValeeimplantação,detalhesdepranchadoconcurso
Acervodoarquiteto
Urbanismo
186
OsegundoeixoeraformadopelasruasBoasVistaeSantaIfigênia.Paraele,aequipepropôsutilizaroterreno
vago vizinhoà Estação São Bento comoligação entre asruas Líbero Badaróe Prestes Maia,integrando oespaço ao
restantedaáreadaPraçaPedroLessaerecuperandoavocação
deparquequeadensaarborizaçãolheconferia.
ConstituídopelaRuaQuinzedeNovem b ro epelaAvenidaSãoJoão,oterceiroeixoerafundamentalecentrode
gravidade daestrutura, quereunia muitas atividades e eracaracterizado por umaseqüência de espaços estreitos
queconfluíamnoVale.Aproposta
foicriar,nessaárea,umlugardeestarqueuniriaapraçacívicaaoparque,depleno
domíniodopedestre.ImportantetravessiadoVale,oquartoeixoeraformadopeloLargodaMemóriaePiques.Nesse
caso, foi proposta uma travessia subterrânea para pedestres sob a Avenida Nove de Julho e
uma passarela sobre a
AvenidaVinteeTrêsdeMaio,soluçãoquecomprometeriaomenospossívelessaconturbadaárea.
Nomemorialestãocolocadasasdiretrizesparaapreservaçãodopatrimôniolevantado.Aintervençãoproposta
pressupunhaumanovalegislação,quedeverialevaremcontaapreservaçãodosconjuntosidentificados,a
ordenação
dapublicidadeealiberaçãodasfachadasrecobertasporpainéis.Comrelaçãoaosusos,anovalegislaçãodeveriapro
porumestudoaprofundado,incentivandoatividadesdesejáveisedelimitandoaexpansãodeatividadesnocivas.
Alémdosespaçospúblicosabertos,constatouseaexistênciadeumagrandequantidadedeáreasfechadasno
centro,subutilizadasoudesativadas, ondedeveriamserprogramadasatividadesculturaisquepermitissemaidentifi
caçãodapopulaçãocomoCentro,comoaimplantaçãodeummuseuderua,exposiçõesfixasouitinerantes,painéis
informativos entreoutras. Os edifícios pertencentes aopoder público deveriam tersuas funções adaptadas a novos
usos,dentrodeumprogramaderevitalizaçãodaáreacentral.
Historicamente,osespaçospúblicoselivresdascidadessempreseconfiguraramapartirdosedifíciosque,por
suavez,definiamolote.Quandoosedifíciosmodernosseretiraramdestaresponsabilidade, criouseanecessidadede
seelaborarprojetosdeáreaspúblicas.
Osarquitetosmodernistasreunidosno8
º
CongressoInternacionaldeArquite
tura Moderna, CIAM, realizado em 19 51, reconheciam os limites do zoneamento funcionalista e que os espaços de
encontroediscussãopúblicadeviamterumlugarnascidades,quepassariamaserencaradas,novamente,comoum
localdeencontroparaoscidadãos.Osensodecomunidadeé
expressoemváriosgrausdeintensidadeemdiferentes
escalas,dafamíliaàmetrópole,eacriaçãodeumambientefísicoénecessáriatantoparaserpalcodaexpressãodes
sesensoquantocomoarealexpressãodele.
Urbanismo
187
Aproposição deque a cidadedeveria servista como espaçodemocrático de convivênciae queo solourbano
deveriaserdetodosestápresentenapropostaparaoValedoAnhangabaú,tantonaescalalocal,comaprevisãode
espaçosdeestarparaapopulaçãoque diariamentecirculapela
área,quantonaescalada cidade,comapropostade
criaçãodeumamploespaçodeassembléia.
AinfluênciadomodelopropostonaCartadeAtenaseasvisõesracionalistasdeLeCorbusiereramsensíveis no
urbanismobrasileiromas,aospoucos, umaoutraposturanotratamentodascidadespodeserdetectada,
introduzin
do questões comoa identidade da população ea participaçãodo usuário, postura deaproximação coma realidade
mais cotidiana. Raciocínio semelhante aoaplicado no projetopara o Vale pode ser encontrado no projeto de Paulo
BastosparaasfavelasdoprogramadeSaneamentodaBaciadoGuarapiranga.O
prêmioExAequodaIVBienalInter
nacional de Arquitetura, recebido em 2000, de certo modo é o reconhecimento desta postura de consideração da
realidadeexistenteedetentativadecriaçãodeidentidadeentreousuárioeaarquitetura,comoveremos.
ReurbanizaçãodoValedoAnhangabaú
Corte,detalhedepranchadoconcurso
Acervodoarquiteto
Urbanismo
188
PlanodeUrbanizaçãodasFavelasJardimFloresta,JardimPousoAlegre,Santa.RitaIIeImbuiasI
Guarapiranga,SãoPaulo‐SP,1995[195.000m²]
PauloBastosvenceu,em1995,ocertamerealizadopeloBancoInteramericanodeDesenvolvimento,BID,pela
propostatécnicaapresentadaparaaurbanizaçãodefavelaspaulistanas.Naocasião,esclareceu:
“Senhores,eunãovoufazerumprojetodeengenhariasanitária,euvoufazerumprojetourbanísticoondeestão
contidososoutrosprojetos.Entãonãoseestaráfazendomeramenteosaneamento.Euvouintervir,enãoépa
rareconstruirafavela, nósvamosdotaresseassentamentodascondiçõesnecessárias, sanitáriase
tambémde
convíviosocial.Primeiro,éisso.Osegundoéquenósqueremosfazeraconcepçãodoprojeto,aimplantação,o
monitoramentodessaimplantaçãoeagestãodoespaçocomacomunidade.”
149
Foramfeitososprojetosdeurbanizaçãodequatrofavelas,JardimPousoAlegre,Santa.RitaII,JardimFlorestae
ImbuiasI, osquaisnão foramexecutadosintegralmente. Nestaúltima,partindo dapremissade transformaro curso
d’água em eixo principal da urbani zação, o projeto propôs sua canalização em canal fechado criando, assim,
uma
gaesplanadadeconvivênciadacomunidade,agregadaàsáreasremanescentesdedemolições.
149
Idem
ImbuiasI
Corte
,
cro
q
uidoar
q
uiteto
Urbanismo
189
Osprojetosconsideraramarealocaçãodealgumasfamíliasporcontadoredesenhodotraçadoviário
oudacriaçãodefaixasdeservidãoparacaptaçãodeesgotoslançadosirregularmente.Oimpactonasáreas
particularesfoicuidadosamenteestudado e arealocaçãodas famílias,paracasasnovas commetragemse
melhante,tevecomobase
minuciososlevantamentosplanialtimétricosesociais,alémdanegociaçãocoma
comunidade. A tipologia implantada teve como diretriz a oferta de unidades com área semelhante à das
unidadesde molidas,emáreaslivresdentrodopróprioconjunto,demodointegrado,semchocarvisualmen
te.Asnovashabitaçõesprojetadasforamdetrêstipos
padrão,cadaumcomumavariantedesoluçãopara
implantaçãoemtérreooupavimentosuperior,oucomdesníveisinternosparaumamelhoracomodaçãoàs
diversassituaçõestopográficas.
Aoseresolveraquestãodosaneamento,oprojetodeurbanizaçãopôdepassaraseroprojetodano
vaurbanidadeproposta.EmImbuias
I,combinandotrechoslinearesepraçascomequipamentosurbanos,a
esplanadasobre o córregoconstituise como centrode convivência dacomunidadeA via principaldocon
junto,sem circulaçãopermanente deveículos mas coma possibilidadedeacesso deveículos deserviçose
de assistênciaemergencial, foi delimitadae
sinalizada compavimenta ção diferenciada. As calçadasque la
deiam os eixos de circulação, de largura variável, funcionam em conjunto com eles como um calçadão. A
tramadevielassecundáriasexistentesecriadasuneseaessecalçadão,nabuscapelaintegraçãointernada
proposta,comaequalizaçãodediferençasdenível
atravésderampaseescadas.
ImbuiasI
Situaçãopréurbanização.
Fotoacervodoarquiteto
Abaixo,implantaçãoproposta
Desenhoacervodoarquiteto
Urbanismo
190
Juntamentecomequipesdeassistentessociaisforamlocalizadasiniciativasemergentesdeorganizaçãodemo
radores,maisoumenosincipientes,eimediatamentefoiestabelecidoodiálogo,afimdediscutirasnecessidadesda
populaçãoeassoluçõespropostas.“JardimFlorestaéaquetinhaapopulaçãomaisorganizada.Tinhaumasede
onde
pudemosdiscutirosprojetos.EmSantaRita,agentediscutianarua,colavaopapelnaparedeeopessoalficavasen
tadonochão.Agentediscutiuassim,sobosol.”
150
Emumperíodoemqueo modelocentraldesenvolvimentistavinhaconsolidandosedesde1964,marcadopor
grandesinvestimentosemconjuntoshabitacionaisquevisavam apenasaresponderaodéficithabitacional,aestraté
giapropostapeloBancoNacionaldaHabitação,queretiravaasfamíliasdeassentosmarginaiseascolocavaemcon
juntosimplantadosnaperiferia,desconectadosdacidade,imperoupormuitosanos.Acreditavasequeomodelocen
tralizadortraria assoluçõesadequadas que,no entanto,nãoconsideravamaopinião dousuáriofinal, apostandono
150
Idem
ImbuiasI
Es
p
a
ç
o
p
úblicocriado
,
acervodoar
q
uiteto
Urbanismo
191
crescimentohorizontal desenfreado,comaimplantação deumaarquitetura semrelaçãocomo entorno,freqüente
menteemregiõesperiféricas.
Umanovaposturaprojetualcomeçouaseresboçadanoiníciodosanos1990,baseadanadescentralizaçãodo
poder de de cisão, com a participação popular, na forma de grupos organizados, fazendo parte ativa
da busca pelo
direitoàcidade,emummomentodeesvaziamentodopoder publico,comasubstituiçãodoestadointerventor.Ga
nhaênfaseaparticipaçãocomunitárianodesenvolvimentodenovasformasdegestãodacidadeedomeioambiente.
Apromulgaçãodaconstituiçãode1988,quede uaosmunicípiosmais
recursoseautonomia,propiciandoosurgimen
todepolíticaspúblicasespecíficasapa rtirdoiniciodosanos 90,permitiuqueopodermunicipalpassasseaagircomo
articuladordeprogramaseprojetoscomintervençõesfísicasligadasaprogramassociais.Opodermunicipalassumiu
o papel antes federal por meio da institucionalização
de novos caminhos de participa ção popular, em conselhos de
gestão urbana de modo que, ao assumir a gestão garante também um novo tipo de inserção na luta por melhores
condiçõesdevidaurbana,acrescentandoaocaráterreivindicatórioumaperspectivapropositiva.
Oproblemadahabitação,porinativida de dogoverno,tornarase
insolúvel.Acidadeinformalteria desersubs
tituídapor umaoutra,oquedemandariauma quantidadede recursos indisponíveis.Assim,surgiram alternativasde
atendimentoapopulaçãocombaixocustounitário,atravésdeprogramasderegularizaçãofísicaefundiáriadeassen
tamentosprecários.Eramprogramasqueprocuravamcompatibilizar ocrescimentoe
aocupaçãocomarecuperação
da questão ambiental e do desenvolvimento sustentável, através de uma solução que se propõe flexível, desenvol
vendoparacadasituaçãoumtipopróp riodeinterve nçãobaseadaemdiretrizescomuns.
se,assim,onascimentodeumapolíticapúblicaelaboradacombaseemnovosconceitos,com
aparticipação
maior das comunidades envolvidas nos processos decisórios, com a urbanização de áreas ocupadas irregularmente
por meioda implantação de serviçosbásicos e da conseqüente melhoria da qualidade de vida. Esta políticavem da
constataçãodeque,alémdapobrezaedacarênciadeserviçosbásicos,havianasperiferias
umacertasensibilidadena
aplicação de detalhes construtivos, no emprego dos materiais, nas formas e nas estruturas, em um claro desejo de
qualificareidentificarseusespaços.
Reconheceseopapelprivilegiadoqueacidadedesempenhaemrelação aodesenvolvimentosocial,econômico
eculturaldahumanidade.Surgeumaposturadepromoção
daqualidadedosespaçosconstruídos,pormeiodainte
graçãoentreasáreasperiféricasedegradadasdacidadeilegaleosespaçosurbanosdacida deformalregulamentada,
oquesignificareconhecerquepertenceràcidadepassapelaconquistadodireitoàcidadania.Destaforma,seriapos
Urbanismo
192
sívelcriarumprojetodefuturovinculadonãoàconstrução demoradiasdignas,mastambémàsuperação deum
conjuntodedéficitsrelacionadosàinfraestrutura,acessibilidade,equipamentoseserviçospúblicos.
Fazpartedesteprogramaaprocurapelaexploraçãodamorfologiaurbanaexistente,dascondiçõestopográficas
edosterrenosdisponíveis
paracriarumtodo articulado,apartirdaidentificaçãodascaracterísticas,demandaseex
pectativasdosmoradores,promovendoaarticulaçãodeespaços eequipamentospúbicosdeformaapropiciaráreas
deconvivênciasocial.Nãomaissebuscava aremoçãocompulsóriaeaerradicaçãodasfavelas,mas simsuaintegra
ção
urbanísticacomosuportebásicoparaodesenvolvimentosocialeparaamelhoriadascondiçõesdehabitabilidade.
JardimFloresta
Implantação,acervodoarquiteto
Urbanismo
193
a preocupaçãocom aqualificação dosespaçospúblicosde mo
doaassegurarorespeitoàspreexistênciasambientaiseculturaise
a diluição das fronteiras urbanísticas e simbólicas, o que constitui
partedeumnovométododeelaboraçãodoprojeto,comconstan
tesmediçõesereadequações,equeconsideraa
diversidadecultu
raldascomunidadescomo fator relevanteparaadefiniçãodepar
tidos, visando à criação de uma rede referencial de espaços públi
cos.
O objetivo era propiciar a cidadania como o sentido de per
tencer,compartilharmemórias, interesseseexperiências, sentirse
parte de uma ampla coletividade e
criar terreno onde se formaria
umaidéiadecomunidadePertenceraumaclasseougrupoépossu
ir uma localização no mapa social, ou seja, ter uma posição social
reconhecidacomo legítimaesituarsenumespaço físicocomparti
lhado:sem domicíliooureferencias pessoaisnão seéreconhecido
comomembro
plenodacoletividade.
Os direitos sociais não se restringem à possibilidade de in
formarse,instruirse,expressarseapartirdelugaressociaisimpli
citamente postulados como fixos ou de compartilhar um conjunto
bem delimitado e universal de direitos, mas incluem, necessaria
mente,odireitodeconstruirereordenar
diferenças,identidadese
identificações e o direito de mudar, rejeitar ou reinventar tradi
ções.
151
Passaramavirdosarquitetosiniciativasdecriarmecanismosdefomentodaidentidadeculturaldascomunida
despor meioda valorizaçãoda imagemcoletiva edas especificidades decada favela,reconhecendo arelevânciada
participaçãodoatorsocialnoprocessodeprojeto,quando, reconstruindoseuhabitat,ascomunidadesestariamcons
truindosuaprópriacidadania.
151
ARANTES,AntonioA.Paisagenspaulistanas:transformaçõesdoespaçopúblico.Campinas,EditoradaUnicamp,SãoPaulo,ImprensaOficial,
2000.
JardimFloresta
Modelodehabitaçãoproposto,acervodoarquiteto
Urbanismo
194
Ousodosespaçoslivresnafavelaémuitopeculiar,tendoaruacomoespaçodasrelaçõessociaisedelazer,de
manifestaçõesculturais,encontrosebrincadeirase,considerandoaconvergênciasocialcomopontochavedavida,os
projetosbuscaramaintegraçãointerna,criandopontosdeencontro,centrosdebairro locais
deintegraçãoepontos
dereferência.
152

“Nessecontexto,dopontodevistaconceitual,agenteestariatrabalhandonaorganizaçãodacomunidadeeno
resgatedorepertórioculturaldogrupooudosgruposquecompunhamessacomunidade,paraassociaraorga
nizaçãodoespaçodelescomautilizaçãodessesespaçoscomoabrigodassuasmanifestaçõesculturais.Atender
a
essaspopulaçõesélutarparareestruturálasnanovaetapadevida,queémorarnumacidadecomoSãoPaulo
sem perder suas raízes. A idéia eraque, através do trabalho paralelo de uma equipe de assistentes sociais, se
começariaainvestigarouniversoculturaldapopulaçãoe,juntocom
eles,fazerumprogramadeusodosespa
çospúblicosqueseestácriandonoprojeto.”
153

152
DUARTE,C.R.,SILVA,O.L.eBRASILEIRO,A.(orgs.)Favela,umbairro:propostasmetodológicasparaintervençãopúblicaemfavelasnoRio
deJaneiro.SãoPaulo,Proeditores,1996.
153
EntrevistaconcedidaporPauloBastosaoautor,gravadaemfitacassetenodia12dejulho de2007.
JardimFloresta
Pro
j
etoim
p
lantado
,
acervodoar
q
uiteto
Urbanismo
195
ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru
SãoPaulo‐SP,1998
Em1999,aparticipaçãonoconcursodepro
jetos para a reurbanização da área do Carandiru,
em São Paulo, ofereceu a Paulo Bastos e a uma
grande equipe multidisciplinar a oportunidade de
propor uma intervenção u r bana para responder à
questão da liberação de área pública com impor
tantememória negativa,em localizaçãoecom dis
ponibilidade de infraestrutura privilegiadas, com
área verde significativa e patrimônio construído
qualificado. O episódio ocorrido em 2 de outubro
de1992,quandoaTropadeChoquedaPolíciaMili
tarinvadiuaCasadeDetenção
paraporfimauma
rebelião, matando 111 detentos, deu início à dis
cussãosobreadesativaçãodocomplexodoCaran
diru.
Oprojetodaequipe,premiadocomosegun
do lugar entre as 58 propostas participantes, pro
pôs a abordagem da questão a partir da escala
urbana mais abrangente,
criando condições de
expansão para toda a cidade do desenvolvimento
urbanísticoeeconômicodaregião.
ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru
Naparteinferior,CentrodeEventosculturaisedenegócios,queocupariaosedifíciosdaantigaPenitenciáriacom
umCentrodeConvençõeseumHotelEscola
Napartesuperior,CentrodeQualificaçãodeRecursosHumanos,abrigadonoconjuntodaantigaCasadeDetenção
Croquisdoarquiteto
Urbanismo
196
“Anossapropostaincluiuaquestãodacontextualizaçãodo papeldessaárea,nãoisoladamente,esim quando
comparececomumaoutrafunção,reequipandoacidade,poistemumasériedecondiçõesparaisso,edecomo
seagregaadimensãosimbólicaaessaquestão,paranãosedeixarfugira
memóriadopassado,queestácarre
gadodesímbolosimportantesdesemanter.”
154
Apartirdavisãodeseencararoespaçopúblicocomoelementoprimordialdeumconjuntourbano qualificado,
dinâmicoemultifuncional,foipropostaaimplantaçãodeumparquequeconteriaearticulariaosdemaisespaçosde
umCentro deEventos,um HotelEscola eumCentro deQualificaçãodeRecursos Humanos.
As demoliçõesque fos
sem realizadas configurariam o parque, cujos elementos principais, a massa arbórea existente e o córrego, seriam
complementadoscomvegetação.Haveria,ainda,aimplantaçãodeumlagoapartirdainterceptaçãodocórrego,além
deumcentroesportivoeummirante.
154
Idem
ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru
Croquisdoarquiteto
Urbanismo
197
OCentrodeEventos,culturaisedenegócios,ocupariaosedifíciosdaantigaPenitenciária,implantadanoinicio
dosanos1920comprojetodeSamueldasNevese,maistarde,reformuladoporRamosdeAzevedo,comumCentro
deConvençõeseumHotelEscola.Estesatuariamcomopólodeaprendizagemprática
deprofissõesligadasaoturis
moeàhotelaria.Oespaçoseriacomplementadocomaimplantaçãodeumapraçaparagrandeseventosnopátiode
fundosdapenitenciária.
OconjuntodaantigaCasadeDetençãosofreriaalteraçãomaiorparaabrigaroCentrodeQualificaçãodeRecur
sos Humanos, que reuniria o
ensino e a aplicação de formas de trabalho novas e tradicionais em uma estrutura de
profissionalizaçãovoltadaparaosetorterciário.Ficariammantidosapenasosquatropavilhõesmaiores,configurando
umapraça,comaconstr uçãodeumnovo edifíciocomsalasdeaulaedemaisdependênciasligadasaoensinoprático
do
HotelEscola.Doisdestespavilhõesseriamadaptados paraaimplantaçãodeoficinas,aproveitando seamodulação
estruturalecriandosegaleriasdecirculaçãoabertas paraopátiocentral.Umpavilhãoteriaademoliçãocompletada
sua parte interna e a construção de um grande espelho d’água e o outro abrigaria um
museu do sistema prisional,
incluindoumespaçotestemunhaldascelasoriginais.
ReurbanizaçãodaáreadoCarandiru
Croquisdoarquiteto
Urbanismo
198
AvenidaÁguaEspraiada
SãoPaulo‐SP,2001[7,20km²]
Oconvitepar aoprojetodecomplementaçãodaAvenidaÁguaEspraiadaproporcionouaPauloBastoseàequi
peencarregadaapossibilidadedeumadiscussãomaisamplasobreorumoquedesejariadaraodesenvolvimento das
cidades.Oprojetourbanísticopassou
aserofocoprincipal,noqualestácontidoumprojetoviário, enãooinverso.
Elaboradoem2001 apedidoda PrefeituraMunicipaldeSão Paulo,pormeiodaEmpresa Municipalde Urbanização,
EMURB,nãofoiimplementadoainda.Otrabalhoenvolveuaproposta,juntamentecomaparticipaçãodasentidades
civiseempresariais,dediretrizesurbanísticasparaqualificaçãodotrechoexecutadodaentãoAvenidaÁguaEsprai
ada (hoje Avenida Jornalista Roberto Marinho), entre a Marginal doRio Pinheiros ea Avenida Washington Luiz, e o
projetoparaaexecuçãodotrechoquefaltavaparacontinuaçãoatéaRodoviadosImigrantes.
AvenidaÁguaEspraiada
Croquisdoarquiteto
Urbanismo
199
“Odesafioeraterminarumaobrainútil,enquantoinacabada,comtodososcritériosdesequalificarosbairros,
urbanizarazonadefavelaseautoconstruçãoerequalificaraquelecontexto,contemplandoosinteressesmerca
dológicoseempresariaismastambémosinteressesdaspessoasqueestãoemáreaderisco,demodoa
fazero
processochegaràsclassesmaisdesfavorecidas”.
155
A concepção do projeto prevê a implantação de uma avenida expressa ligando a Marginal do Rio Pinheiros à
RodoviadosImigrantes,semainterrupçãodetravessias,privilegiandootráfegodetransportecoletivoeautomóveis.
Assim,todasastransposiçõesdeumlado
para outro da Avenida seriam elevadas,
dividindose em ligações
viárias estrutu
rais,locaisecalçadõesdepedestres,eos
acessosàAvenida,oudelaparaosistema
viário da cidade, seriam feitos apenas
pelas vias estruturais principais, sendo
queasligaçõesbairroabairronãoteriam
acessodiretoàAvenida.
A Avenida seria dotada de vias
marginais com a
função de acessar o sis
tema interno das áreas de intervenção.
Estas seriam separadas da avenida por
canteirosarborizadosenãoconstituiriam
alternativas de circulação contínua à da
Avenida. As faixas de arborização central
e laterais ao longo de todo seu percurso
caracterizariama ambiência daimplanta
ção.Naconcepção do
projetopara o no
vo trecho, foi prevista que, a partir da
AvenidaLinodeMoraisLeme,emdireção
à Rodovia, o córrego seria retirado do
155
Idem
AvenidaÁguaEspraiada
ImplantaçãodoprojetoeáreadaOperaçãoUrbana
Urbanismo
200
centrodaAvenida,passando acorrerparaleloaelaaolongode ParqueLineardecercade4km,atendendo aregião
completamentedesprovidadeáreasverdes,deesporteelazer.
“Isso,compondoumcenárioque,sefossepercorreressetúneldeárvoresporumaavenidaexpressa,que não
temcruzamentoemnível,haveriaumasucessãode‘obrasdearte’[aidéiaerasefazerumdesenhoqualificado
paraesseconjuntodepontes].Aomesmotempo,napartenova,ocórregoseria
desviadoparaumparqueline
ar. Então imagine o percursoque vocêiria passar. Você está num túnelde arborização, vocêvai desvendando
acessoselevadosmuitobonitos, leveseiluminadosdeumaformaadequada,temcalçadaslargase,derepente
começaaterumparquelinearcom4,5km,comum
lagoeumriofazendopartedopaisagismo.Opróprioatode
trafegardecarroseriaumatodeobservaçãoefruiçãourbanística,mesmonavelocidadeemque ocarropode
estar.”
156
156
Idem
AvenidaÁguaEspraiada
Cortesdaproposta,acervodoarquiteto
Urbanismo
201
OprojetoincluiuaindaaconcepçãodaOperaçãoUrbanaque,considerandoavendadetítulosdepotencialadi
cionaldecons truçãoou demudança deuso, além dodimensionamento e a distribuição deestoques de áreas,con
formeprojetourbanísti co,serviriaparaocusteiodasintervençõespelainiciativaprivada.Dessemodo,
dentrodope
rímetrodaoperação,seriacriadaumafaixaondepoderiamserrealizadosempreendimentoscomodevidoequilíbrio
entreosíndicesdeocupação eaproveitamentoparaevitarexcessivadensidadeeampliarasáreasverdes.
“Haviaumprojetoanterior,comperímetromaior.Eureduzioperímetrodaoperaçãoatrêsquarteirõesdecada
lado,para quea faixa daintervenção tivesse aescala do bairroe ao mesmotempofizesse transiçãodo bairro
paraaavenida.Entãoumafaixaondeépossívelseverticalizar,com
pequenaocupaçãodoterreno,configu
randoumafaixadearborizaçãoqueisolavaobairrodaavenidaecriavaumgrandeespaçoverde.”
157
EstudopararevitalizaçãodaCracolândia
Centro‐SãoPaulo‐SP,2003
O estudo solicitado pela Secretaria de Habitação da Pre
feitura Municipal, SEHAB, para a áreado centropaulistano co
nhecidacomoCracolândia,abordouumaregiãodacidadecom
estadodedegradaçãoelevado,devidoaotráficodedrogasede
prostituição,
abrigando moradores encortiçados, alojados em
casarões listados para preservação por seu valor como patri
mônio cultural da cidade. A principal constatação contida no
estudo é que,apesar de ser dotada de farta infraestrutura de
redes públicas e cercada por importantes avenidas do centro,
esta área, de baixo valor imobiliário,
é um exemplo de sub
utilização,pelaexistênciadeváriosedif ícioseterrenosabando
nadosequesofredegrandecarênciadeespaçospúblicos.Pau
loBastos,combasenasinformaçõesdisponíveis, elaborouuma
proposta radical, predominante mente de redesenho urbano.
Acreditavaqueaqualificaçãourbanaindispensávelpara acida
157
Idem
EstudopararevitalizaçãodaCracolândia
Situaçãoproposta
Croquidoarquiteto
Urbanismo
202
de não poderia ser promovida apenas por providências de maquiagem, re querendo, em vários casos, intervenções
maisprofundas.Aidéia geralfoiadedesapropriaredemolirtodasasconstruções existentesemduasquadras,com
exceção dos imóveis listados para tombamento, dos edifícios predominantemente verticais existentes e aqueles a
bandonadospassíveis de
reabilitação adequadapara reassentamentodas famíliashabitantes deruae decortiços. A
escolhadestasquadrasbaseousenasituaçãodecentralidadedecadaumadelasenoseubaixoíndicedeverticaliza
ção,oquebarateariaoscustosdedesapropriação.Asedificaçõesaserempreservadasseriamrestauradaserequalifi
cadaspara usohabitacionalouabrigariamunidadesinstitucionais,decaráterculturalounão,complementaresaouso
habitacional.
As áreas resultantes seriam transformadas
em praças públicas arborizadas, dotada s dos equi
pamentos necessários, incorporando áreas sub
utilizadasemmiolos dequadra. Paulo Bastosacre
ditavaqueoimpactorevitalizadordaaberturades
te
tipodeespaçopúblico arborizado,emáreacen
traltãodegradadaedesprovidadevegetaçãoseria
muitopoder o so ecriariacondições deatratividade
parausosmaisqualificados,inclusiveemtermosde
edifícios de apartamentospara classe média, além
daqueles par a habitação de interesse social. Seria
incentivada a implantação de novos
usos, com a
localizaçãoeocaráterpropíciosàs chamadasativi
dades 24 horas, incluindo, equipamentos culturais
eesportivosfechadoseacéuaberto.
Acreditavase que a execução do empreen
dimento seria viável com a arrecadaçãoprévia dos
custos envolvidos, negociada com os proprietários
dos terrenos dos quarteirões lindeiros às
praças,
em função da possibilidade de valorização propici
ada pelasintervenções propostas. Aspropriedades
EstudopararevitalizaçãodaCracolândia
Situaçãoproposta
Acervodoarquiteto
Urbanismo
203
componentesdosquarteirõesdeentornoimediatodasquadras,valorizadasdiretaeindiretamente,dev eriamcustear
asdesapropriaçõeseimplantaçãocomopagamentomajoradodeIPTU,impostodecontribuiçãodemelhoriaeoutros
instrumentosdisponíveis, recuperandopartesubstancialdaconsiderável valorizaçãoimobiliáriaque ocorreriacoma
criaçãodestaspraças,ajardinadaseequipadas,com
cercade10.000cadauma.
ProjetodeRevitalizaçãodaRuadoGasômetro
SãoPaulo‐SP,2003[22.500m²]
OPlanoderevitalizaçãourbanísticadaRuadoGa
sômetro foi elaborado para a Associação Cultural de
Revitalização e Recuperação do Brás, em 2003, e ainda
nãofoiimplementado.Oplanocompreendepropostade
desenho urbano a partir
do estudo das questões confli
tantes presentes nesta rua de intensa atividade comer
cial,compreendidaentreachegadadoViadutoGasôme
troeaRuadaFigueira.Apropostavisouàampliaçãodos
espaços públicos para o pedestre por meio do alarga
mento significativo das atuais calçadas, ganhando área
substancial
de espaço público arborizado, de estaciona
mento linear ou a 45 e baias de carga e descarga em
cadaquarteirão.
EstudopararevitalizaçãodaRuadoGasômetro
Situaçãoproposta,acervodoarquiteto
Urbanismo
204
EstudopararevitalizaçãodaRuadoGasômetro
Acima,situaçãoatual,eabaixo,proposta.Acervodoarquiteto
Urbanismo
205
Aintençãofoiproveraregiãodeespaçosdeestarpúblico,dotadosdeequipamentosurbanos,ajardinamentoe
arborizaçãogenerosos, alémdo estacionamento deveículos echegada de transportepúbliconecessários àsativida
desdecomércioeserviçosqueexistemaolongodavia.Asáreasdecalçadasteriampavimentaçãodepainéis
decon
cretocomjuntasdegranitooudegrama,conformefossemdetrânsitodepedestresoucomponentes dosespaçosa
serempaisagisticamentetratados.
Oconjuntodastravessiasdepedestrescontariacomumsistemadesemáforosedeelementosdeacessibilida
deparadeficientesecarrinhosdecompras.Oselementos
decomunicaçãovisualdeveriamserrestritosaospainéisde
identificação dos estabelecimentos e a um mínimo de elementos de sinalização viária de tráfego. Pretendiase que
todaafiaçãodesistemaselétricospassasseasersubterrânea.
Aesta concepçãoestavamagregadas,também,aspropostasdetransformaçãoemcalçadãodaRuaMonsenhor
Andrade,queladeiaa IgrejadoBomJesusdoBrás,bemcomodarecuperaçãodacalçadafrontaldestaigreja(seuadro
original)atéoalinhamentocomaAvenidaRangelPestana,criandoseumconjuntopedestrianizadoondepoderiaser
recuperadooespaço de festividadesreligiosas oucomunitárias,características do antigoBrás,
articuladamentecom
asdemaisáreasrevitalizadasdoGasômetro.
Urbanismo
206
Consideraçõesfinais
207
Consideraçõesfinais
AobradoarquitetoPauloBastosécaracterizadapelaproduçãoabrangentedediferentesprogramasarquitetô
nicosnosvárioscamposdeatuaçãopossívelemarquitetura.DesdesuaformaturapelaFAU,em1959,atéomomen
to, são quase 50 anos e mais de 200 projetos para residências, escolas, edifícios institucionais,
obras de restauro e
projetosurbanos.Apesquisateveoobjetivodeestudarmaisaprofundadamenteumaobraqueaindacareciadeum
olharmaisatento,comadevidaênfasenoobjetodescortinado.Apartirdovastomaterialdisponíveledacolaboração
doarquiteto,pôdeserelaboradoorelatodeuma
importantecontribuiçãoaopercursonaarquiteturabrasileiraapós
1960.
Aorganizaçãoe análisedomaterial disponívelrecaíram sobreuma combinaçãodos programasarquitetônicos
enfrentados, as características de sua contratação e a destinação final que teriam. Isso de tornar evidentes, por
comparaçãooucontraste,osfioscondutoresdotrabalhodo arquiteto,entretanto
aprocurapelosconceitos empre
gadoseexplicitadosnasobrasrevelousetarefacomplexa.Buscousecorrelacionarlinhasdepensamentoaeixospro
gramáticos, mas muitas vezes, afora as determinantes específicas de cada encomenda, as mesmas motivações são
encontradasemdiferentesprogramas.Éjustamenteestaconstânciaqueconfereforçaa
essesconceitos.
Chamamàatenção,naproduçãodoarquiteto,algunsprincípiosgerais.Freqüentementeseoedifícioserre
solvido em um únicobloco, caracterizado poruma grandecoberturaque abrange oespaço construído. Sobesta, os
ambientessão projetadoslivrementeapartirdabuscaporumariquezaespacial nointerior
epelarelaçãodecontinu
idadedosespaçosinterioreseexteriores.
Aarquiteturamodernabrasileiraconfigurousecomoummovimentodegrandesproporçõesdesdeseuperíodo
inicial,comoprofundoquestionamentopropostopelosartistasdaSemanade1922.OprojetodoMinistériodaEdu
cação,em1936,catalisouumasérie
deaçõesquesituariamopaísemumaposiçãodevanguardapormeiodainova
çãode sua arquitetura.O início dosanos 1950marcou oiníciodareflexão sobreo encaminhamentodaarquitetura
brasileira pela circulação de algumas visões que apontavam uma excessiva preocupação formal e seu conseqüente
distanciamentoda
realidadesocialdopaís.JuntamentecomareflexãopropiciadapelarealizaçãodoplanoparaBrasí
lia,em1960conduziramaarquiteturabrasileiraaumimportantedesenvolvimento.
Neste,importantecaracterísticaéoalinhamentodosideaisdaarquiteturabrasileiracomaquelesmaisaltosda
sociedade,noâmbitodeumprojetoquesedelineava
paraopaís,baseadonaconjugaçãodainovaçãoedavaloriza
Consideraçõesfinais
208
çãodo patrimôniocultural brasileiroqueeracompartilhado nãosomentepelos arquitetos,mastambémpor muitos
outrossetores eporgrande parteda população.Noiníciodos anos1960,a intelectualidadebrasileira estavaempe
nhadaemrealizarumtrabalhodeparticipaçãoativanamudançadasociedade,enquantoaarquiteturabuscavaelevar
asuaatuaçãoàdimensãodaéticapolíticaesocial.
Semdesconsideraradi mensãoculturaldaproduçãoarquitetônicaearesponsabilidade doarquiteto,PauloBas
tosnãofazdistinção entreseupapelsocialesua açãoindividualouprofissional.Percebesenasuaobraacoragemea
forçacriadora
deumfazerdiligenteque,poroutrolado,revelaanaturalidadedecertahumildade.Nãoaintenção
de fazer uma obraprima pessoal e os projetos que fez não aspiravam a um grande feito a priori, embora muitos o
tenhamatingido.
PauloBastos,formadonaquelemome nto,absorveuesteclimacom
adisposiçãodepôraarquiteturaemlugar
demaiordestaqueentreassuaspreocupaçõesetomandoadentrodeumpanoramadeaspirações sociaismaisam
plas,comoumaimportanteferramentanalutapelaatualizaçãodosideaisquetambémcompartilhava.Énatural,por
tanto,queocaminho traçadopelos
arquitetosqueatuavammaistempotenha sidoseguidoporPauloBastos,po
rémdeveserconsiderada acomplexatramadefatoresquesempreconcorrememmomentosdegrandeimportância
histórica.A proximidadecoma linguagemarquitetônica querepresentava estepensamentonão deveserentendida
meramente como um prosseguimento acrítico e
a obrade Paulo Bastos deve ser devidamente considerada por sua
contribuiçãonopanoramaarquitetônicodesde1960.
Após a construção de Brasília e por causa das constatações possibilitadas pela materialização dos ideais que
continha, cresceu,a partir deSão Paulo,um movimento dentro daarquiteturamoderna quese posicionoumarcan
tementenoseudesenvolvimentosubseqüente.Épossívelaidenti ficaçãodaobradePauloBastoscomotrabalhoque
vinhasendodesenvolvidoemSãoPauloporarquitetoscomoVilanovaArtigaseCarlosMilllan,decontinuidadeere
novação da arquitetura brasileira, mais pelo compartilhamento de pressupostos comuns do que pela similaridade
formal.
Podese falar que Paulo Bastos partilha de uma identidade paulista pois absorveu como influência as ferra
mentasdelinguagemqueestavamcodificadas,emboraastenhatomadocomopontodepartida,nãosemumacons
ciênciacríticaeumacapacidadedeexplorarsuasvariadaspossibilidades.
Dizer que foi um modelo
rigidamente seguido é uma simplificação que desconsidera a capacidade criativa do
arquiteto. No conjunto produzido por Paulo Bastos, percebese uma variedade de pesquisas e resultados que pode
Consideraçõesfinais
209
comprovarqueentreatécnicaconstrutivaesuarespectivalinguagem,tomadas combase,eosresultadosalcançados
vãose muitas horas na prancheta, demonstrando posicionamentos pessoais e caminhos particulares que um olhar
maisdetidoacadaumpermitiriaumaclassificaçãoquelevasseemcontatodasassuasnuances.
Nosprojetos
queelaboroupararesidências,emumprimeiromomentopodeseperceberoalinhament ocoma
linguagemcorrentenaépoca.Aintençãodeprojetarespaços bloqueadosdoexteriorcaóticopormarcantesempenas
deconcreto,queemprestamdolatimpinnaaacepçãodemuralha,equeoferecesseminternamenteambientesagra
dáveiséuma
constanteemsuaproduçãonessecampo.Entretanto,umolharmaisatentodenunciaque,aforaques
tõesformais,oprincipalcompromissoemcadaprojetosecomacriaçãodeumaespacialidade ricaeinteressante.
Oscompromissosqueosprojetosassumemcomaformaeovolumeestãosempreàdisposição
doespaço.Esteapre
sentaseconcentradosobumamesmacoberturaecomgenerosadistribuiçãoespacialdosambientesligadosfísicae
visualmenteeminterioresabertos,voltadosparajardinsinternosouexternos.
Percebeseoesforçoparaquecadaprojetocontenhaaspreocupaçõesestéticas,alémdassuascondicionantes
específicas. Em suas obras
podemos perceber a sensibilidade e a preocupação com a criação de um todo capaz de
englobaroprogramaarquitetônicoeasponderaçõesintelectuaiseestéticas.Écomum,apartirdosanos60,acarac
terizaçãodaproduçãoarquitetônicapelavalorizaçãodasestruturasengenhosascomosua maiorfontedeinspiração.
Porém,
nãosepercebe,nostrabalhosdePauloBastos,tantoaexploraçãododesenhodaestruturaquantoavaloriza
çãodoessencialedonecessárioque,porsuavez,nãodesconsideraaintençãoplástica.Muitasvezesapareceoapon
tamentodeliberadodocontrasteentreaesbeltezdospilareseacargaque
sustenta.Osresultadosnãochamamaten
çãopelagrandiosidade,nempeloarrojodegrandesfeitos,massimporcadapequenapartedeumtodo indivisível.
Odetalhamentodassoluçõesélevadoàsmenorespartes,oque,maisdoqueindicarconhecimentoecompe
tência no fazer profissional, tornamse parte
do processo criativo, muitas vezes concorrendo para o resultado final.
Mesmo grandesprojetos, nos quais cada detalherecebe a atençãode umd esenho levee delicado, caracterizamse
pelaintençãodeseconferirqualidadeacadaarrematenomesmonívelquepresidiuopensamentoglobal.
Os diversos projetoselaborados por Paulo
Bastos paraobras públicas dão conta dos complexos meandros da
burocracia estatal. Muitos foram executados, mas outros criam uma coleção de realizações inicialmente plenas de
intenções que não foram concretizadas. Foram elaborados diversos projetos de encargos públicos, como escolas,
Consideraçõesfinais
210
agênciasbancárias,hospitais,quartéisparabombeiros,entreoutrosparaórgãosdogoverno.Quandoo arquitetose
formou,em1959,eragrandeademandapelotrabalhodearquitetosporcontadavisibilidadetrazidaparaaprofissão
pelaconstruçãodeBrasília,momentoquedurariaatéosanos70,comocrescimentoeconômiconos
anos1970.
Arelaçãodecausaeefeitoentreaarquiteturaeasaspiraçõessociaisepolíticasabalousecomainstauraçãodo
regimemilitar.OcrescimentoeconômicodaépocadochamadoMilagregeroumuitasoportunidadesparaaconcreti
zação da arquitetura brasileira sem que houvesse, no entanto, a possibilidade
de discussão sobre os rumos de seu
desenvolvimento.Nãohaviamaisaconsistênciadoprojetonacionaldeantes,eoperíodoficoumarcado pornumero
saproduçãoeporpoucacrítica.Arelaçãoentreosarquitetos,emespecialoscomunistascomoPauloBastos,eogo
vernomilitarpodeservista
comoincoerente.Porém,seporumladoparaosarquitetoshaviaanecessidadedetraba
lho,poroutrohaviaanecessidadedogovernodeconstruirbonsprojetos.
Osprojetosparaescolas,alémdoprimordialatendimentoaoprograma,combinamaatençãodedicadapeloin
teresse particular do arquiteto pelo tema, particularmente,
e a diligência com que foram abordadas todas as enco
mendas, num plano geral. Configuram uma vertente em sua obra que tem acentuado seu caráter propositivo
manifestadopelaexpansãodasáreasdeconvívio,valorizandoodiálogo,comummínimodefronteirasentreaescola
e a comunidade. Sua arquitetura é, em
princípio, uma afirmação cujo discurso provém de uma consciência coletiva
nãodeliberadamenteimpostaacadaprojeto.Desdeoprojeto paraoGrupoEscolardeVilaBrasília,em1966,caracte
rizadoportergraudeliberdaderelativamentegrande,atéosprojetosmaisrecentes,elaboradosdentrodasnormas
dosórgãosresponsáveis,as
escolasprojetadasporPauloBastosconstituemconjuntoquetestemunhonãoapenas
dapolíticaeducacional,mastambémdastransformaçõessociais,políticaseeconômicasdasociedadebrasileira.
Talvez a característica mais importante na obra de Paulo Bastos seja a consideração urbanística presente em
cada objeto arquitetônico. De modo geral, todos os trabalhos
partem deuma leitura do ambiente urbano, de onde
extraem,decididamente, condicionantes dopartido aser adotado.Os projetos paracasas serviramcomo referência
paraoutros desenhos.Nestes,Paulo Bastos demonstraa busca poruma relaçãocom o arranjoda paisagemurbana
atravésdacomposiçãodeseusedifícios.Nessecaso,
negandoapaisagemexistenteemdetrimentodeoutrarecriada
internamente,propondoumanovaarticulaçãodointeriorcomoexterior,umanovarelaçãocomacidade.
AatuaçãonoâmbitodacidadetornarasealgoexcepcionalparaageraçãodePauloBastos.Mesmocontidano
cernedoprojetomoderno,asquestõesrelativas
àscidadesnãotiveramoportunidadederealização.ParaPauloBas
Consideraçõesfinais
211
tos,osprojetosdeurbanismoforamoportunidadessurgidas,namaturidade,paraaimplantaçãodasidéiaslatentes
que anteriormente eram trabalhadas em programas de edificações. Nestes pôdese, finalmente, propor na escala
urbanaosidea isdemocráti cosecomunitáriosdereavera cidadeparaaspessoas,atravésdeumdesenhourbanoque
consideraaescalahumanacomopontodepartida.
Percebeseaolongodesuaatuaçãoumaevolução,contingencial,paraprogramasdiversos.Osprojetosparao
restaurodopatrimônioconstruídopassaramaconfigurarumnovocampodetrabalhoparaPauloBastosdesdeoiní
cio dos anos 1990, revelando o mesmo
rigor de pensamento e cuidado com o detalhe que antes eram aplicados a
obrasnovasequepassaramaconstituirrepertórioparaoenfrentamentodasquestõesmuitasvezescomplexasque
estestrabalhossuscitam.
Porfim,emtodosostrabalhosdePauloBastosoquemaisseevidenciaéo“discursobem
encadeado”
i
comque
constrói ouenriquece os espaços e o profundo conhecimento da “palavra”
ii
que caracteriza as geometrias que cria,
paraqueestascontinuemamanifestaropoderdoespíritoeaservilo.

i
VALÉRY,Paul.Op.cit.p93
ii
Idemibidem.
Consideraçõesfinais
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