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VIRGÍNIA MARIA DA SILVA GONÇALVES
CARACTERIZAÇÃO PARASITOLÓGICA DE CRIANÇAS E DA
QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO BAIRRO CALADÃO EM
CORONEL FABRICIANO-MG
CARATINGA
Minas Gerais - Brasil
Agosto de 2008
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade
Mestrado Profissional
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VIRGÍNIA MARIA DA SILVA GONÇALVES
CARACTERIZAÇÃO PARASITOLÓGICA DE CRIANÇAS E DA
QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO BAIRRO CALADÃO EM
CORONEL FABRICIANO-MG
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Meio Ambiente e Sustentabilidade, para
obtenção do título de Magister Scientiae.
CARATINGA
Minas Gerais - Brasil
Agosto de 2008
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade
Mestrado Profissional
ads:
Gonçalves, Virgínia Maria da Silva.
Caracterização parasitológica de crianças e da qualidade da água consumida no bairro
Caladão em Coronel Fabriciano – MG. Virgínia Maria da Silva Gonçalves. ___
Caratinga: UNEC, 2008, 114p.
1 Água.
2 Saúde.
3 Padrão de potabilidade.
4 Parasitores
CDD:
VIRGINIA MARIA DA SILVA GONÇALVES
CARACTERIZAÇÃO PARASITOLÓGICA DE CRIANÇAS E DA
QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO BAIRRO CALADÃO EM
CORONEL FABRICIANO-MG
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Meio Ambiente e Sustentabilidade, para
obtenção do título de Magister Scientiae.
APROVADA:
_________________________________ _________________________________
Prof. Dr. Marcos Alves de Magalhães Prof. Dr. Meubles Borges Júnior
(Orientador) (Co-orientador)
_________________________________ __________________________________
Prof. Dr. Luciano José Minette Prof. Dr. Amaury Paulo de Souza
Dedico a Deus que, apesar dos medos e das limitações, fortificou-me
em direção a um propósito, me fazendo ir à busca da concretização
dos meus sonhos.
Agradeço ao Professor Dr. Marcos Alves de Magalhães e ao Professor Dr. Meubles Borges
Júnior por me mostrarem novas possibilidades, pelas orientações, confiança e pelo apoio.
Agradeço à Aline pela ajuda sem nada cobrar em troca.
À Fernanda por liberar todos os exames que muito enriqueceram o trabalho, bem como o
tratamento de todas as crianças parasitadas.
À Célia e Celina pelas horas dedicadas comigo, cobrindo meus horários e possibilitando a
construção deste trabalho.
À enfermeira Luciana e às Agentes Comunitárias de Saúde do Caladão por facilitarem as
atividades e pela companhia nas visitas.
A todas as pessoas que compartilharam comigo as alegrias e desafios desta etapa da minha
vida.
E em especial, agradeço ao Leo e Lucas pelo apoio, dedicação e carinho e por nunca terem
deixado de acreditar no meu sonho.
Muito Obrigada!
“A água e a saúde da população são duas coisas inseparáveis. A
disponibilidade de água de qualidade é condição indispensável para a
própria vida e, mais do que qualquer outro fator, a qualidade da água
condiciona a qualidade da vida”.
(Organização Mundial de Saúde – Água e Saúde, 1998)
RESUMO
GONÇALVES, Virginia Maria da Silva, Centro Universitário de Caratinga, agosto de 2008.
Caracterização parasitológica de crianças e da qualidade da água consumida no bairro
Caladão em Coronel Fabriciano-MG. Orientador: Dr. Marcos Alves de Magalhães e Co-
orientador Dr. Meubles Borges Júnior.
Tendo em vista que a água é um recurso natural essencial à vida e ao desenvolvimento das
comunidades humanas, a preocupação com a sua qualidade assume importância na medida em
que a mesma é destinada como dessedentação podendo tornar-se um meio importante de
transmissão de doenças. A presente pesquisa analisou a qualidade da água utilizada no bairro
Caladão em Coronel Fabriciano-MG. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quali-
quantitativa. A amostra constituiu-se de 140 crianças, moradoras do bairro em estudo, cujos
domicílios são abastecidos por água de nascente sem tratamento prévio. A coleta de dados foi
realizada através da aplicação de entrevista semi-estruturada aos pais ou responsáveis pelas
crianças buscando informações sobre as fontes de abastecimento de água, armazenamento e
usos, caracterização dos locais de deposição de resíduos, busca de indicadores de saúde de
doenças relacionadas à água, bem como a percepção higiênico-sanitária dos entrevistados
sobre a relação água e saúde. As falas dos entrevistados foram ordenadas utilizando-se o
Discurso do Sujeito Coletivo. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 58
responsáveis pelas crianças, representando 41,42% do total das crianças entre 6 meses e 5
anos de idade cadastradas no Programa Saúde da Família (PSF) Caladão. Simultaneamente
foi realizada análise microbiológica de amostras de água utilizadas nos domicílios e água das
duas nascentes onde é efetuada a captação pela Prefeitura de Coronel Fabriciano para
abastecimento da população como também levantamento parasitológico de fezes destas
crianças. Os resultados revelaram que a água utilizada pelos moradores encontra-se fora do
padrão de potabilidade determinado pela Portaria do Ministério da Saúde (MS) n. 518/2004,
uma vez que apresentou coliformes totais e Escherichia coli em 100% das amostras. O
levantamento parasitológico das 140 crianças que fizeram parte da amostra apresentou índice
de infecção em 62,85% das crianças parasitadas, destacando-se entre os parasitas mais
encontrados o Ascaris lumbricoides, a Giardia lamblia e a Entamoeba histolytica. As
entrevistas mostraram que todos os entrevistados utilizam água de nascente, não realizam
nenhum tratamento prévio desta água e em alguns casos nem mesmo a filtragem é realizada.
O destino do esgoto e lixo é de responsabilidade dos órgãos públicos, mas existe drenagem a
céu aberto de dejetos líquidos e descarte inadequado do resíduo sólido. Os discursos
montados a partir das falas dos entrevistados revelaram que, apesar dos moradores terem
consciência sobre a importância da qualidade da água para a saúde, ainda utilizam a água da
nascente sem nenhum tipo de tratamento. Percebe-se a importância do planejamento de ações,
em conjunto com os profissionais de saúde, os órgãos públicos e a população, que favoreçam
a melhoria das condições de saúde, visando abastecimento de água adequado não para
prevenção de doenças infecto-parasitárias, mas também melhores condições de higiene e bem
estar.
Palavras-chave: água, saúde, padrão de potabilidade, parasitoses.
ABSTRACT
GONÇALVES, Virgínia Maria da Silva, Centro Universitário de Caratinga, August of 2008.
Characterization Parasitológica of Children and of the Quality of the Water Consumed
in the barrow Caladão in Coronel Fabriciano-MG. Guiding: Marcos Alves de Magalhães.
Co-Adviser: Meubles Borges Júnior
Tends in view that the water is an essential natural resource to the life and the human
communities' development, the concern with her quality assumes importance in the measure
in that the same is destined for noble use could become an important way of transmission of
diseases. This study analyzed the condition parasitological of children and her relationship
with the quality of the water consumed in the barrow Caladão in Coronel Fabriciano-MG. It is
treated of a descriptive study with quail-quantitative approach. The sample was constituted of
140 children, residents of the neighborhood in study, that they use East water without
previous treatment. The collection of data was accomplished through the interview
application semi-structured the parents or responsible for the children looking for information
on the sources of water supply, storage and uses, characterization of the places of deposition
of residues, looks for of indicators of health of diseases related to the water, as well as the
interviewees' hygienic-sanitary perception about the relationship water and health. The
interviewees' speeches were ordered being used the Collective Subject's Speech. Interviews
were accomplished semi-structured with 58 responsible for the children, representing 41,42%
of the children's total between 6 months and 5 years of age registered in PSF Caladão.
Simultaneously analysis microbiological of samples of water was accomplished used in the
homes and water of the two East of provisioning besides sample of the water of the canalled
and of the box distribution reservatória to the community. To complete, rising parasitological
of feces was accomplished among the 140 children of 6 months to 5 years of age registered in
PSF of Caladão. The results revealed that the water used by the residents meets had been of
the certain potability pattern for the Law MS n. 518/2004, once it presented total coliformes
and Escherichia coli in 100% of the samples. The 140 children's rising parasitológico showed
an infection index with 62,85% of the sponged children, standing out among the parasites
more found the Ascaris lumbricoides, the Giardia lamblia and the Entamoeba histolytica. The
interviews showed that all the interviewees use East water, they don't accomplish any
previous treatment of this water and in some cases not even the filtrate is accomplished. The
destiny of the sewer and garbage are of responsibility of the public organs, but the researcher
detected drainage to sky open of liquid dejections and inadequate discard of the solid residue.
The mounted speeches starting from the interviewees' speeches revealed that, in spite of the
residents' part to have conscience on the importance of the quality of the water for the health;
they still use the water of the East without any treatment type. We considered important the
planning of actions, together with the professionals of health, the public organs and the
population, that favor the improvement of the conditions of health, seeking appropriate water
supply not only for prevention of infect-parasitic diseases, but also better hygiene conditions
and well to be.
Keywords: water, healt, potability pattern, parasitism.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Aspecto visual do esgoto que escorre a céu aberto em um dos
logradouros do bairro Caladão.................................................................
42
FIGURA 2 Vista parcial do ribeirão Caladão e dos dejetos descartados no leito...... 43
FIGURA 3 Vista parcial do bairro Caladão e aspecto visual da disposição do lixo
no solo......................................................................................................
43
FIGURA 4 Higienização da torneira para coleta de amostra de água....................... 50
FIGURA 5 Coleta de amostra de água de torneira..................................................... 50
FIGURA 6 Visão externa de poço utilizado para a coleta de amostra de água.......... 51
FIGURA 7 Coleta de amostra de água da nascente.................................................... 51
FIGURA 8 Coleta de amostra de água da canaleta de condução à caixa d'água
reservatória...............................................................................................
51
FIGURA 9 Aspecto geral do ribeirão Caladão e da presença de resíduos lançados
no leito.....................................................................................................
61
FIGURA 10 Aspecto geral da presença de animais no leito do ribeirão Caladão ....... 62
FIGURA 11 Recipiente com amostra de água, a cor amarela indica resultado
positivo para presença de organismos do grupo coliformes totais (a) e a
emissão de fluorescência indica resultado positivo para presença de
Escherichia coli (b)..................................................................................
71
FIGURA 12 Vista geral da canaleta de drenagem da água para a caixa reservatória... 74
FIGURA 13 Visão parcial da área próxima à canaleta com deposição de excremento
de animais.................................................................................................
74
FIGURA 14 Vista parcial da caixa reservatória de água que abastece o bairro
Caladão.....................................................................................................
74
FIGURA 15 Vista geral da deposição de resíduos sólidos na área urbana do bairro
Caladão.....................................................................................................
79
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Distribuição percentual dos agentes patogênicos identificados nos
exames parasitológicos de fezes..............................................................
76
GRÁFICO 2 Distribuição e freqüência de mono e poliparasitismo entre as crianças
do bairro Caladão....................................................................................
78
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Interpretação dos resultados do Teste P/A com Colilert® ...................... 53
TABELA 2 Condições de armazenamento da água nos domicílios do bairro
Caladão – Coronel Fabriciano .................................................................
57
TABELA 3 Dados relacionados aos dejetos líquidos e sólidos nos domicílios.......... 60
TABELA 4 Presença de animais domésticos nos domicílios...................................... 63
TABELA 5 Resultado da análise bacteriológica das amostras de água....................... 70
TABELA 6 Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano. 72
LISTA DE ABREVIATURAS
ANA Agência Nacional de Água
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APP Área de Preservação Ambiental
ACS Agente Comunitário de Saúde
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CBH Comitê de Bacias Hidrográficas
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale de São Francisco
COFEn Conselho Federal de Enfermagem
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
CNS Conselho Nacional de Saúde
DEPRN Departamento Estadual de Recursos Hídricos
DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
DNPM Departamento Nacional de Pesquisa Mineral
ETA Estação de Tratamento de Água e Esgoto
FUNASA Fundação Nacional de Saúde
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis
IGAM Instituto Mineiro de Gestão de Águas
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
P/A Presença/Ausência
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PSF Programa de Saúde da Família
SEMAD Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SEGRH Sistema Estadual de Recursos Hídricos
SISEMA Sistema Estadual de Meio Ambiente
SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNGRH Sistema Nacional de Recursos Hídricos
SUS Sistema Único de Saúde
TCRA Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental
UV Ultravioleta
SUMÁRIO
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA ............................................................................ 1
Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade ..................................................... 1
Mestrado Profissional ................................................................................................................................. 1
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA ............................................................................ 2
Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade ..................................................... 2
Mestrado Profissional ................................................................................................................................. 2
RESUMO ............................................................................................................................................... 8
ABSTRACT ........................................................................................................................................... 9
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................... 10
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 12
2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................................................... 15
2.1 Água e saúde ................................................................................................................................................ 15
2.2 Disponibilidade de água no Planeta ............................................................................................................ 18
2.3 Controle de qualidade da água: parâmetros biológicos ............................................................................. 19
2.4 Água e Saúde Pública .................................................................................................................................. 22
2.5 Doenças de veiculação hídrica .................................................................................................................... 23
2.6 Regulamentação dos serviços de água e esgoto .......................................................................................... 27
2.7 A Lei de Recursos Hídricos ......................................................................................................................... 30
2.8 Legislação Relacionada às Nascentes ........................................................................................................ 33
3 OBJETIVOS ....................................................................................................................................................... 39
4. MATERIAL E MÉTODO ............................................................................................................................... 40
4.1 Delineamento do Estudo .............................................................................................................................. 40
4.2 Descrição do cenário ................................................................................................................................... 41
4.3 População amostral ..................................................................................................................................... 44
4.4 Coleta de dados ............................................................................................................................................ 46
- 3ª Fase: Exame coprocitológico ...................................................................................................................... 53
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................................................... 55
5.1 Fatores ambientais relacionados à água ..................................................................................................... 55
5.2 Fatores ambientais relacionados aos dejetos líquidos e sólidos ................................................................. 59
5.3 Fatores Familiares ....................................................................................................................................... 64
5.4 Análise da água ............................................................................................................................................ 70
5.5 Análise parasitológica de amostras de fezes ............................................................................................... 75
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................... 81
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................ 84
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................. 85
ANEXOS ................................................................................................................................................................ 91
ANEXO 1 – Termo de Autorização à Pesquisa .................................................................................................. 91
ANEXO 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................................................................. 92
ANEXO 3 – Formulário de entrevista para levantamento de dados ................................................................ 93
ANEXO 4 - Planilha controle das amostras de água para análise .................................................................... 95
ANEXO 5 - Planilha observação não participante ............................................................................................. 97
ANEXO 6 - Planilha de construção do Discurso do Sujeito Coletivo ............................................................. 100
1 INTRODUÇÃO
A água é essencial a todos os seres vivos e, para o consumo humano, deve ser limpa e
livre de quaisquer patógenos, impurezas e de qualquer tipo de contaminação que cause danos
à saúde. Assegurar a qualidade da água para consumo humano constitui objetivo primordial
das sociedades atuais, devido a sua importância para a saúde e a necessidade de proteger e
promover sua utilização sustentável. Sem dúvida, o melhor método para assegurar água
adequada ao consumo humano consiste em adotar formas de proteção, evitando-se
contaminação por matéria fecal e outros resíduos, pela grande quantidade de bactérias, vírus,
protozoários e helmintos que podem vir a trazer enfermidades como febre tifóide, amebíases,
hepatite e diarréias entre outras (PONTES, 2003).
O controle de qualidade da água destinada ao consumo humano normalmente é
realizado pela empresa responsável pelo saneamento local e monitorada pelas Secretarias
Estaduais de Saúde, de acordo com a Portaria 518 do Mistério da Saúde (BRASIL, 2004).
O abastecimento de água potável tem gerado custos crescentes para a população. As classes
menos favorecidas buscam alternativas de abastecimento em fontes naturais de águas, como
as nascentes, ou em cisternas e poços tubulares em eqüífero não confinado ou livre. Esses
poços têm sido construídos fora dos padrões técnicos preconizados pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT - NBR 12212-2006). Freqüentemente são abertos com pás e
picaretas, próximos à superfície, não oferecendo garantia da qualidade da água. Os poços
rasos são facilmente contaminados pelo escoamento de água que se infiltra, levando junto
material orgânico para as águas subterrâneas. Qualquer dejeto humano ou animal depositado
em local inadequado pode ser carreado pela água da chuva até o lençol freático, expondo os
usuários dessas fontes a riscos de aquisição de doenças (PHILIPPI JR., 2005a).
Nas áreas urbanas, principalmente de regiões densamente povoadas, na maioria das
vezes os poços rasos e nascentes existentes são impróprios para o consumo humano, devido à
contaminação decorrente de esgotos que correm a céu aberto. Mesmo quando existem redes
coletoras de esgotos, pode ocorrer escoamento para cursos d’água e/ou infiltrações,
contaminando o lençol freático, além do agravamento pela deposição inadequada de resíduos
sólidos no solo (MENDES et al., 2002).
De acordo com informações prestadas por funcionário da Companhia de Saneamento
de Minas Gerais (COPASA), em outubro de 2007, 86% da população urbana de Coronel
Fabriciano, cidade localizada no Leste de Minas Gerais, são atendidos com o abastecimento
12
de água tratada pela COPASA. O restante da população ainda utiliza fontes alternativas para o
abastecimento residencial, como forma de economia para eximir - se do pagamento da conta
de água. Além do mais, essas fontes representam o suprimento de água em áreas onde, muitas
vezes, o fornecimento é irregular, sendo este produto utilizado em várias atividades
domésticas, inclusive para uso nobre, na forma como é captada, sem nenhum tipo de
tratamento. O bairro Caladão, localizado na periferia de Coronel Fabriciano, mantém
abastecimento de água em fontes naturais sem nenhum tratamento prévio. A água é captada
em nascentes ou poços escavados e utilizada tanto para dessedentação humana como outros
usos (higiene pessoal e do lar).
Entre os patógenos disseminados em fontes de água, os entéricos são os mais
freqüentemente encontrados. O grupo dos coliformes é o indicador da possível presença de
enteropatógenos (contaminação fecal), principalmente de Escherichia coli, sendo empregado
como parâmetro bacteriológico básico no monitoramento da qualidade da água para consumo
humano. A ocorrência de um número significativo de fontes alternativas de abastecimento
contaminadas por coliformes totais e fecais e as conseqüências desta contaminação sobre a
saúde da população usuária demonstra que é de suma importância o controle de qualidade da
água. No Brasil, a Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano, aprovada na
Portaria 518 de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde, define os valores máximos
permissíveis (VMP) para as características bacteriológicas, organolépticas, físicas e químicas
da água potável (BRASIL, 2004). De acordo com o art. dessa portaria, água potável é a
água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos
atendam ao padrão de potabilidade e que não ofereçam risco à saúde.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004) é de suma importância se
conhecer a qualidade da água sob os aspectos físico, químico e microbiológico. Os riscos
impostos pelas substâncias químicas são de efeito crônico e a longo prazo, por vezes não
muito bem fundamentados do ponto de vista toxicológico. Sob o ponto de vista
microbiológico existem os riscos de transmissão de doenças de efeito agudo e curto prazo,
inquestionáveis e de grande impacto. Em termos gerais, a garantia da qualidade
microbiológica da água deve receber prioridade na avaliação. O esforço do Ministério da
Saúde em estruturar a Vigilância da Qualidade da Água para Consumo humano no país tem
ampliado o interesse por realização de pesquisas sobre a temática da qualidade da água (ANA,
2005). Tais pesquisas têm um papel relevante para aprofundar conhecimentos sobre os fatores
determinantes da deterioração da qualidade da água.
13
Torna-se, assim, necessário conhecer de perto a realidade de uma comunidade que
vive em um local com acesso deficiente aos serviços de saneamento básico, em especial à
água, bem como as soluções alternativas a que essa população recorre para obtenção deste
recurso natural, buscando a elucidação de questões relacionadas com a contaminação
microbiológica da água e seus fatores condicionantes.
As crianças em crescimento constituem-se como os indivíduos mais prejudicados pelo
quadro epidemiológico das doenças parasitárias, levando-os a conseqüências sociais sérias,
como o comprometimento do desenvolvimento psíquico, do crescimento e habilidade para
aprender, principalmente quando associado ao baixo poder aquisitivo, alimentação
insuficiente, habitações inadequadas com falta de água tratada e de esgoto encanado.
Partiu-se do pressuposto de que ausência de infra-estrutura de saneamento básico pode
ser um fator de risco às populações expostas, especialmente à qualidade da água consumida
pela população e, ainda, do compromisso previsto na Agenda 21 de promover a saúde para
populações que habitam as periferias urbanas e que têm sua vida, saúde, valores sociais e
morais transformados. Através deste trabalho, pôde-se conhecer a realidade das pessoas que
moram no bairro Caladão, no município de Coronel Fabriciano, no que diz respeito à
qualidade da água consumida e aos indicadores de saúde de doenças relacionados à água
utilizada pelos moradores do local, visando disponibilizar informações para programar ações
voltadas para a promoção da saúde.
Com a análise da situação do abastecimento de água, preocupou-se com a
disponibilidade e qualidade dos serviços, e também se inteirou de como determinado grupo de
indivíduos, em situação sanitária desfavorável, percebe, interpreta e atua sobre sua realidade.
14
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Água e saúde
Desde remotos tempos registros sobre a forte relação entre problemas de saúde e a
vida em comunidade, destacando-se as questões ligadas à obtenção de água e alimento, bem
como a melhoria do ambiente físico (DIMITROVI, 2000).
A identificação da existência de relação entre a saúde das populações humanas e o
meio ambiente estava registrada nos escritos hipocráticos. No século XIX, essa
identificação foi vital para se pensar na necessidade de melhorias ambientais nos grandes
centros urbanos do mundo desenvolvido (BARRETO, 1998).
Para as antigas civilizações, a água exerceu um papel fundamental na aglutinação e
organização da vida social. As cidades se organizavam, via de regra, em áreas próximas aos
mananciais onde, a partir deles, se desenvolviam técnicas de irrigação, canalizações
superficiais e subterrâneas, construção de diques e outras obras relevantes para a economia de
sobrevivência (PONTES, 2003).
Os elos estabelecidos pela vida em comunidade algumas vezes contribuíram para o
fortalecimento do desenvolvimento e em outras não, pois colocaram os indivíduos diante de
vários fatores externos, como as epidemias, que foram capazes de disseminá-los rapidamente
atingindo toda a comunidade, sendo a partir da sua compreensão que os povos antigos
atentaram para a coletivização dos cuidados com a saúde (REZENDE e HELLER, 2000).
As águas eram utilizadas tal como encontradas na natureza e conduzidas dos
mananciais até as metrópoles imperiais por meio de canais de alvenaria ou de madeira. As
técnicas de melhoria da qualidade da água que se dispunha naquela época somente podiam ser
utilizadas de forma restrita, apenas para o uso de pessoas de destaque sócio-econômico
(PONTES, 2003).
Segundo Heller (1997), havia citações no Velho Testamento sobre a importância do
uso da água pelo povo judeu; a relação da sua qualidade com a saúde; a sua utilização para
higiene pessoal; e medidas de controle da sua poluição, como a garantia da manutenção de
poços tampados, limpos e distantes de árvores.
No ano 47 a.C., quando Alexandria foi conquistada por César, havia um sistema
composto por aquedutos subterrâneos que trazia água do rio Nilo para cisternas, nas quais ela
15
se clarificava por sedimentação e que a antiga cidade de Roma dispunha de grandes
aquedutos e sistemas de esgotos, muitos dos quais sobrevivendo até os dias de hoje
(BATALHA, 1998). Porém, com as invasões bárbaras e a queda do Império Romano foi
desencadeado um processo de desorganização da saúde pública nas cidades européias, o que
levou a um novo período compreendido entre o começo do século V e meados do século XV:
a Idade Média (REZENDE e HELLER, 2002).
No mundo medieval, novas organizações políticas, econômicas e sociais foram
firmadas. A fusão da cultura dos povos do norte da Europa (os invasores bárbaros) com a
herança deixada pelos romanos e a religião cristã, provocou um grande retrocesso sanitário
nesse período (REZENDE e HELLER, 2002), que ficou marcado por duas grandes epidemias:
a peste de Justiniano, em 543, e a Peste Negra, em 1358, sendo que esta última provocou a
morte de um terço da população européia (ROSEN apud REZENDE e HELLER, 2002).
Somente a partir do final da Idade Média, com o surgimento de atividades econômicas
pré-industriais, como a tecelagem, moagem de grãos, tinturaria e curtume, é que a água passa
a exercer papel fundamental para o desenvolvimento econômico. Na Idade Moderna, com a
revolução industrial, nos princípios do século XVIII, a água passou a ser utilizada em novas
técnicas de engenharia hidráulica que, associadas às técnicas de produção de materiais
apropriados, permitiu o fornecimento de água para consumo humano e para atividades
econômicas, propiciando um rápido crescimento de aglomerações humanas, que vinham
sendo impulsionadas pela revolução industrial. É nessa época que a tubulação de ferro
fundido e a utilização da máquina a vapor no acionamento das bombas hidráulicas começam a
ser empregadas em sistemas de distribuição de água. O emprego dessa nova tecnologia
permitiu a captação de água em mananciais próximos aos centros urbanos, às vezes em rios
que cruzavam esses centros, não sendo raro o emprego de águas extremamente poluídas
(LIMA apud PONTES, 2003).
Os problemas ambientais causadas pelo modelo de desenvolvimento adotado a partir da
revolução industrial foram agravados após o acelerado desenvolvimento tecnológico do pós-
guerra, tornando a água um bem escasso e de qualidade comprometida, cuja disputa pelo seu
uso e controle já aponta para conflitos entre nações (PONTES, 2003).
A água é uma riqueza natural essencial à vida na terra, um bem essencial à saúde da
população. As relações entre quantidade/qualidade da água fornecida e os indicadores de
saúde pública são bastante conhecidas, valendo a pena assinalar a redução da mortalidade
infantil quando existe aumento da população assistida com água tratada. A sua escassez e o
comprometimento de sua qualidade é responsável pela disseminação de uma série de doenças
16
e óbitos, notadamente, da população infantil. Sendo assim, sua qualidade deve ser controlada,
garantida e constantemente aprimorada (REZENDE e HELLER, 2002).
A água está no centro das atenções neste início de século. Recurso mineral essencial
para a existência de vida na Terra, hoje não se diz mais que a água é um recurso inesgotável.
Várias partes do planeta sentem sua falta, seja pela escassez em vários pontos específicos,
seja pelo baixo índice de qualidade para consumo humano. Este recurso foi explorado, até
pouco tempo, sem critério algum – e, em muitos casos, de forma inadequada – como motor do
desenvolvimento de muitos países, seja na agricultura, na geração de energia, na indústria
e/ou outros setores. Atualmente, alguns países têm feito, através de medidas
conservacionistas, um controle rigoroso do consumo de água e de sua contaminação. Estima-
se que 1,5 bilhões de pessoas no mundo sofram com a falta de água e 25 milhões morram por
ano devido às doenças transmitidas por águas poluídas e impróprias para consumo
(MANCUSO e SANTOS, 2005).
Uma das metas assumidas pela comunidade internacional em 2000 e reiterada em
2002 no Rio +10
1
, é a de se reduzir à metade a proporção de pessoas no mundo sem acesso à
água potável e ao saneamento básico. O grande desafio do século XXI será evitar a crise da
água, instaurada pela gestão deste recurso, e criar mecanismos eficientes que combatam
todos os problemas advindos dessa crise, como escassez, qualidade, distribuição
ineficiente, desperdício, conflitos de fronteiras, entre outros. O relatório coordenado pela
Unesco e com participação da ONU a qual subsidia o Fórum Mundial das Águas, realizado
nesses últimos anos recomenda que a exploração e o uso da água sejam tratados de forma
integrada, que nas decisões haja participação conjunta da sociedade, transparência, ética e
prevalência dos direitos dos mais pobres (PHILIPPI JR., 2005b).
A água desempenha um papel essencial em quase todas as funções do corpo humano.
É utilizada para a digestão, para a absorção e para o transporte de nutrientes; serve de meio
para uma série de processos químicos; assume o papel de solvente para os resíduos do corpo e
também os dilui para reduzir sua toxicidade, ajudando no processo de excreção do corpo.
Ajuda ainda a manter estável a temperatura do corpo. A água é necessária à formação de
todos os tecidos do organismo, fornecendo a base para o sangue e todas as secreções líquidas
(lágrimas, saliva, sucos gástricos etc.), que lubrificam os diversos órgãos e juntas
(SALGADO, 2005).
1
Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em
Johannesburgo (África do Sul), para discutir o uso dos recursos naturais sem ferir o meio ambiente no ano de
2002. A primeira Conferência ocorreu no Rio de Janeiro em 1992.
17
A água faz parte do patrimônio do Planeta. Cada continente, cada povo, cada região,
cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável pela sua utilização sustentável. Ela é a
condição essencial de vida e de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos
conceber a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um
dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no art. 30 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (VALENTE, 2002).
2.2 Disponibilidade de água no Planeta
A água, assim como a energia proveniente do sol, é responsável pela vida no planeta.
Nosso planeta é formado em grande parte por águas. Estima-se que 70% da superfície da terra
é composta por água, sendo que deste total, 3% é de água doce e 97% de água salgada. A
água doce, elemento vital para a sobrevivência das espécies animais e vegetais na Terra, é
oriunda do processo de precipitação da evaporação das águas dos mares, lagos e rios. Está
presente nos rios, lagos, geleiras e lençóis subterrâneos (PHILIPPI JR., 2005b).
Por mais abundante que seja, essa reserva é insuficiente para atender a um processo de
demanda infinita, principalmente diante do desperdício e da poluição incontrolada dos
mananciais. A água é reutilizável desde que encontre condições que permitam um equilíbrio
ecológico no meio receptor, pois a capacidade da natureza de autodepuração não é ilimitada,
exigindo em muitos casos que, após sua utilização, a água sofra um prévio tratamento antes de
ser reutilizada (MANCUSO e SANTOS, 2005).
Da água doce utilizada pelo homem, a maior parcela (68,9%) é formada pelas calotas
polares, geleiras e neve eterna que cobrem os cumes das montanhas; o restante é constituído
por águas subterrâneas (29,9%), água doce nos rios e lagos (0,3%) e em outros reservatórios
(0,9%). Metade da água subterrânea encontra-se abaixo de uma profundidade de 800 m e
praticamente, não está disponível. Isso significa que o estoque de água doce do planeta, que
de alguma forma pode estar disponível para uso do homem, é de cerca de 0,3% e se encontra
principalmente nos rios e lagos. A parcela disponível nos cursos de água é a menor de todas;
exatamente de onde retiramos a maior parte para uso nas mais diversas finalidades e onde,
invariavelmente, lançamos os resíduos dessa utilização (PHILIPPI Jr., 2005a).
A água na terra é distribuída, se por um lado existem regiões com abundância
desse recurso, como a América Latina e a Ásia por outro existem regiões com escassez como
18
o Oriente Médio, onde conflitos são gerados em função desse bem tão importante. O Brasil,
por exemplo, detém 12% das reservas de água doce do planeta, porém, a distribuição de água
entre as regiões do país não é ideal. Uma parte do nordeste do Brasil é formada por áreas
secas, com baixa umidade do solo. Outras, com abundância como a região Norte, é também a
menos habitada. Além disso, o país possui problemas de abastecimento, decorrentes da
combinação de crescimento exagerado das demandas localizadas e de degradação acelerada
da qualidade da água. É necessário que a água esteja disponível não apenas em quantidade,
mas em qualidade para consumo humano, dos animais e das plantas. Os condicionantes
específicos de qualidade da água definem-se pelos padrões de potabilidade que, no Brasil, são
estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Grandes centros urbanos, hoje em dia, sofrem não
apenas com a escassez quantitativa como também com a escassez qualitativa da água para
consumo (MANCUSO e SANTOS, 2005).
Reconhecendo a importância crucial dos recursos hídricos para o futuro do Planeta, a
Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou 2003 como o Ano Internacional da Água
Doce, com a intenção de promover a sensibilização da comunidade mundial para que
satisfaçam suas necessidades utilizando a água de forma sustentável (ONU, 2003).
Na média mundial de uso da água, o maior percentual se destina à agricultura, com
67%, seguido pela indústria, com 19%. O uso residencial fica com apenas 9% os quais são
distribuídos de forma absolutamente desequilibrado entre pobres e ricos, sendo que 3 bilhões
de pessoas servem-se de águas contaminadas, sobretudo por poluição biológica, derivada de
descarga de esgotos domésticos diretamente nos rios, sem qualquer tratamento. Na maioria
dos países em desenvolvimento, cerca de 90% dos esgotos são lançados in natura nos cursos
d’água. (PHILIPPI JR., 2005b).
O resultado disso, segundo John (2007), é que mais de 25 milhões de mortes anuais
são ocasionados por doenças de veiculação hídrica e pelo menos ¼ da humanidade permanece
sem água segura e saneamento.
2.3 Controle de qualidade da água: parâmetros biológicos
A desinfecção da água passou a ser utilizada a partir das descobertas da teoria
microbiana com os avanços na compreensão da relação água saúde. Em 1855, o
epidemiologista John Snow, seguindo sua intuição científica, realizou um estudo na cidade de
19
Londres provando que um surto de cólera estava associado às impurezas presentes na água
utilizada para consumo humano, uma vez que a mesma era proveniente de poços
contaminados por esgoto doméstico. Mais tarde, por volta de 1863 e 1883 respectivamente,
Louis Paster demonstrou pela Teoria dos Germes como microrganismos poderiam transmitir
doenças por meio da água e Robert Koch realizou a identificação de microrganismos
patogênicos (FREITAS e FREITAS, 2005).
Foi a partir daí que os cientistas descobriram que a turbidez não estava somente
relacionada a aspectos estéticos, pois o material particulado em água poderia conter
organismos patogênicos e material fecal, transformando-a em veículo de transmissão de
doenças (FREITAS e FREITAS, 2005).
Percebe-se que a preocupação com a qualidade da água se tornou uma questão de
interesse para a saúde pública no final do século 19 e início do século 20, visto que
anteriormente essa qualidade era avaliada essencialmente através das características
organolépticas que esta água apresentava: a cor devia estar límpida; o gosto ser agradável ao
paladar e o odor não apresentar cheiro desagradável (BOM 2002).
No Brasil, a normatização da qualidade da água para consumo humano é iniciada na
década de 1970, com a criação do Decreto Federal 79.367 de 9 de março de 1977, que
estabeleceu que a competência sobre a definição do padrão de potabilidade da água para
consumo humano, a ser observado em todo território nacional cabe ao Ministério da Saúde
(BRASIL, 1977a).
Normas e padrão de potabilidade da água para fins de consumo humano, aprovadas
pela Portaria n. 56, publicada em 14 de março de 1977, constituíram-se na primeira legislação
federal sobre potabilidade de água para consumo humano editada pelo Ministério da Saúde
(BRASIL, 1977b).
A revisão da Portaria 56/1977 foi iniciada em 1990 envolvendo, além de setores
governamentais de saúde e de companhias estaduais de abastecimento de água e órgãos
estaduais de controle ambiental, outros segmentos da sociedade na discussão, fornecendo
subsídios à nova portaria, a 36 GM, publicada em 19 de janeiro de 1990 (BRASIL, 2000).
Em 1999, o Ministério da Saúde iniciou a segunda revisão em parceria com a
representação da Organização Pan - Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial
de Saúde (OMS) no Brasil, dando origem à proposta de Norma de Qualidade da Água para
Consumo Humano. O resultado foi a publicação, em 29 de dezembro de 2000, da Portaria MS
1.469/2000, que estabelece procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e a
vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu padrão de potabilidade, a qual
20
foi substituída pela Portaria MS 518 de 25 de março de 2004, que reproduziu inteiramente
o seu conteúdo (BRASIL, 2005a).
Somente a água potável, isto é, a que não contém agentes patogênicos nem substâncias
químicas além dos limites de tolerância, é própria para consumo humano; por isso o seu uso
deve ser entendido fundamentalmente como fator contributivo no controle de doenças, no
aumento de vida média e, sobretudo na diminuição da mortalidade infantil (ANDRADE;
TORRES, 1996).
Entende-se como água potável, toda água para consumo humano cujos parâmetros
microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não
ofereça riscos à saúde. Por vigilância da qualidade da água para consumo humano entende-se
como o conjunto de ações adotadas continuamente pela autoridade de saúde, para verificar se
a água consumida pela população atende a esta norma e para avaliar os riscos que os sistemas
e as soluções alternativas de abastecimento de água representam para a saúde humana
(BRASIL, 2004).
Os padrões de potabilidade estabelecidos pela portaria 518/GM, define o padrão
microbiológico na água para consumo humano (em toda e qualquer situação, incluindo fontes
individuais como poços, minas e nascentes) como sendo isento de E. Coli, coliformes totais
ou coliformes termotolerantes em 100 mL de água analisada. Para sistemas que analisam 40
amostras ou mais por mês, são tolerados presença de coliformes totais em até 5% das
amostras analisadas. Para sistemas que analisam menos de 40 amostras, é permitida uma
amostra com coliformes totais por mês. Em amostras individuais, procedentes de poços rasos,
minas e nascentes de abastecimento sem distribuição canalizada, toleram-se a presença de
coliformes totais na ausência de E. Coli e/ou coliformes termotolerantes. Nesta situação,
deve-se investigar a origem da ocorrência de contaminação, tomar providências imediatas de
caráter corretivo e realizado nova análise de coliformes (BRASIL, 2005a).
Os coliformes tratam-se de um grupo de bactérias pertencente à família
Enterobacteriaceae, o qual se constitui da maior e mais heterogênea coleção de bacilos gram-
negativos de importância clínica, sendo considerados os principais anaeróbicos presentes no
intestino grosso. O gênero Escherichia consiste de cinco espécies e a Escherichia coli é a mais
comum e clinicamente importante, de origem exclusivamente fecal, utilizada como um
indicador de contaminação da água por fezes de animais e do homem (VERONESI e
FOCACCIA, 2005).
A desinfecção da água para eliminação desses agentes passou a ser utilizada a partir
das descobertas da teoria microbiana. Tem como função, eliminar microrganismos que podem
21
ser patogênicos. A forma mais utilizada é a aplicação de compostos de cloro que, ao
penetrarem a célula, ocasionam reações químicas no seu sistema de enzimas, comprometendo
sua atividade metabólica. Além dessa técnica, a eliminação dos agentes patogênicos também
pode ser feita por morte natural, com armazenamento da água por determinado período antes
e após o tratamento, por meio de agentes químicos oxidantes que têm ação de desinfecção,
como cromo, iodo, prata e ozônio, e por ação da radiação ultravioleta, que pode ser de origem
solar ou artificial.
2.4 Água e Saúde Pública
O principal benefício que a água proporciona à saúde pública é a prevenção das
doenças infecciosas intestinais e helmintíases. Essas doenças são de baixa letalidade, porém
de alta endemicidade, especialmente nas regiões mais pobres do planeta. Por atingir
principalmente as crianças até cinco anos de idade, têm efeito devastador no crescimento e no
desenvolvimento de aptidões, uma vez que levam à desnutrição e a situações de fragilidade
que deixam os organismos dessas crianças sem defesa para outras doenças (NEVES, 2006).
O indicador que permite avaliar o impacto do sistema de abastecimento de água nessas
doenças é a morbidade, por causa do enorme contingente de pacientes que procuram os
serviços de saúde, onerando o setor com despesas que poderiam ser evitadas. Além disso, os
sistemas de abastecimento de água beneficiam também uma grande quantidade de portadores
de enfermidades que não procuram os serviços médicos. Isso por causa das longas distâncias
entre as suas moradias e os hospitais ou centros de saúde, ou em razão do uso de ervas
medicinais. Muitas vezes porque convivem com verminoses (MARTINS e VINHA, 2001).
Conforme estudo de morbidade humana, realizado por meio de pesquisa feita em 1997
em Itabetinga, São Paulo, para cada óbito por doenças infecciosas intestinais e helmintíases
relacionadas à veiculação hídrica, houve 51 internações hospitalares e 1.864 consultas
médicas, cujos diagnósticos apontaram para essas causas (MARTINS e VINHA, 2001).
É importante observar, no entanto, que a cobertura dos serviços de saúde não indica o
estado de saúde, mas a demanda requerida pela população, pois quanto maior a oferta de
serviços, maior a procura e, portanto, maiores os indicadores de morbidade. A contribuição da
disponibilização de água de boa qualidade à melhoria da saúde pública está consubstanciada
na redução dessas consultas médicas, por atuar diretamente na eliminação do fator de risco a
22
que principalmente as crianças estão expostas. Esses benefícios podem ser auferidos pela
melhoria da qualidade de vida da população com conseqüente aumento da expectativa de
vida, melhorias do setor produtivo e melhor aproveitamento escolar. Como conseqüência,
ocorre um significativo alívio orçamentário nos setores saúde e previdenciário, pela redução
de consultas médicas, tratamento medicamentoso e internações hospitalares, no primeiro, e
pela redução de pensionistas na idade economicamente ativa, no segundo (PHILIPPI JR,
2005b).
2.5 Doenças de veiculação hídrica
No Brasil, 65% das internações hospitalares são provenientes de doenças de
veiculação hídrica e ainda, segundo a Organização das Nações Unidas ONU (2003), cerca
de 3 milhões de pessoas estão vivendo, nesse início do século XXI, em locais sem
saneamento, onde não existe nem mesmo um vaso sanitário em condições higiênicas.
A qualidade de vida das populações depende do acesso aos bens necessários à sua
sobrevivência. A água potável, assim como a coleta de esgotos e do lixo, tem fundamental
importância para a diminuição dos índices de mortalidade, pois evitam a disseminação de
doenças vinculadas às más condições sanitárias e de saúde. Águas deterioradas trazem muitos
danos à saúde do homem, como as doenças de veiculação hídrica, que podem ser adquiridas
por ingestão de água contaminada, tais como cólera, disenteria amebiana, febre tifóide,
gastroenterite, giardíase, hepatite, leptospirose, poliomielite e esquistossomose. A água
participa também do ciclo de transformação de insetos que são hospedeiros de doenças que
acometem milhares de pessoas em todo o mundo como dengue, febre amarela e malária,
doenças responsáveis por altos índices de morbidade e mortalidade, principalmente nos países
de clima tropical do planeta (VERONESI e FOCACCIA, 2005).
Os principais agentes biológicos encontrados nas águas contaminadas são os parasitas,
as bactérias patogênicas e os vírus. Os parasitas são seres unicelulares que se alimentam do
sangue de outros seres vivos. Nascem, crescem e se reproduzem em outros corpos
organizados. Em geral são protozoários (ex: amebíase, giardíase, tricomonas, entre muitas
outras), vermes (ex: amarelão, lombrigas, solitárias, esquistossomose, filariose, etc) e fungos
(ex: micoses em geral). As bactérias são parasitas unicelulares que constituem a classe dos
esquizomicetos, e cujos tipos morfológicos fundamentais são os cocos, bacilos e espirilos. As
23
bactérias patogênicas na água e/ou alimentos, constituem uma das principais fontes de
morbidade e mortalidade em nosso meio. São os responsáveis pelos numerosos casos de
enterites, diarréias infantis, doenças epidêmicas com resultados freqüentemente letais.
Exemplos de doenças bastante conhecidas em nosso meio são leptospirose, tifo, febre tifóide,
cólera e difteria entre outras (CIMERMAN e CIMERMAN, 2002).
Os vírus são diminutos agentes infecciosos, invisíveis, que se caracterizam por não
possuírem metabolismo independente e terem capacidade de reprodução apenas no interior de
célula hospedeira viva. São exemplos de doenças viróticas tendo a água com participação
importante na cadeia de transmissão: febre amarela, poliomielite, hepatite e dengue
(VERONESI e FOCACCIA, 2005).
Dos parasitas que podem ser ingeridos através da água, destacam-se a Entamoeba
histolítica e a Giardia lamblia, causadoras da amebíase e da giardíase respectivamente.
Ambas são encontradas, sobretudo em países quentes e em locais onde existem más condições
sanitárias. Protozoários que se locomovem e se alimentam por meio de pseudópodes, podem
ser de vida livre, comensais ou parasitas e causam importante disenteria. São endêmicas no
Brasil, sendo encontradas praticamente em todos os estados. Provocam além da disenteria,
cólicas abdominais, astenia e emagrecimento. Na maioria dos casos não causam doença grave,
porém, nas infecções muito intensas podem levar à morte. É curável, mas deve o tratamento
ser supervisionado e prescrito por profissional especialista. Medidas sanitárias e a ingestão de
água potável são as formas de se evitar a doença (REY, 2001).
A ocorrência de infecção causada pelo protozoário patogênico G. lamblia é freqüente,
particularmente entre crianças em idade pré-escolar. A Organização Mundial de Saúde
(WHO, 1997) estimou que houvesse 200 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo, em
1996. Sullivan et al. (1991) e Ferreira et al. (2000), estimaram que a prevalência da infecção
por G. lamblia varia de 2 a 5% em países desenvolvidos e de 20 a 30% em países em
desenvolvimento.
Diversos fatores influem no sentido de que exista elevada prevalência de parasitoses
intestinais nos países em desenvolvimento, mas saneamento básico deficiente e inadequadas
condições ambientais nas quais vivem inúmeras pessoas constituem, sem dúvida, os mais
proeminentes (CHIEFFI et al., 2001). Sobretudo a partir de sua relação com o saneamento,
uma vez que os seus cistos são muito resistentes, permanecendo viáveis por até dois meses no
ambiente. A cloração da água, bem como o seu aquecimento até 60
o
C, apresenta baixa
eficácia em sua inativação (ORTEGA e ADAM, 1997).
24
A maioria das infecções por G. lamblia é assintomática e ocorre tanto em adultos
quanto em crianças, que muitas vezes podem eliminar cistos nas fezes por um período de até
seis meses. Nos casos sintomáticos, as manifestações podem incluir diarréia líquida e
volumosa; dor abdominal; náusea; vômitos; flatulência; presença de febre baixa ou paciente
afebril; perda ponderal importante devido a uma síndrome desabsortiva; períodos de diarréia
alternados com períodos de constipação intestinal e evacuações normais (NEVES, 2006).
Segundo Cimerman e Cimerman (2002), o exame parasitológico de fezes constitui a
melhor maneira de estabelecer o diagnóstico da infecção pela G. lamblia, sendo que as
principais vias de transmissão deste protozoário são: água contaminada, alimentos
contaminados com cistos e pessoa a pessoa, por meio das mãos contaminadas.
A alta freqüência de episódios de diarréia devido a infecções intestinais é um dos
principais fatores que contribuem para a morbidade e mortalidade em crianças nos paises
tropicais, o que também contribui para o retardo no desenvolvimento na infância (REY,
2001). O Brasil, devido à sua situação geográfica, às condições climáticas e aos graves
problemas sanitários enfrentados por grande parte da população, apresenta índices de
parasitoses elevados.
As doenças parasitárias intestinais apresentam-se como sério problema de saúde
pública em países em desenvolvimento. É verificável que tais índices estão diretamente
relacionados com precariedades em saneamento básico e a conseqüente degradação
ambiental. Nessa problemática assumem relevância também a escolaridade e o conhecimento
sanitário da população exposta. O equacionamento das problemáticas esbarra no custo das
obras de saneamento básico. Também enfrentam a falta de programas educativos capazes de
envolver as comunidades, fundamentais para a mudança de hábitos e crenças que contribuem
para os mecanismos de transmissão dessas doenças e que, muitas vezes, representam fatores
de subdesenvolvimento social (PEDRAZZANI et al., 2000).
As enteroparasitoses humanas constituem-se problema de saúde pública e podem ser
consideradas como indicadores das condições socioeconômicas em que vive uma dada
população (MAGALHÃES JR., 2007).
Apesar da alta freqüência de verminoses e da morbidade causada à população em
geral, inclusive às crianças, ressalta-se a falta de estudos acerca deste problema e ações de
controle. Populações infantis expostas a altos riscos de adquirir verminoses têm a diarréia
como o segundo motivo de consultas em consultórios médicos (NEVES, 2006). A criança tem
se mostrado alvo das infecções parasitaria, e é neste indivíduo que as repercussões das
25
parasitoses tornam-se mais significativas. No Brasil, mais da metade de pré-escolares
encontram-se parasitados (MACEDO e REY, 2000).
As crianças em crescimento são as mais prejudicadas pelo quadro epidemiológico das
doenças parasitarias, levando as várias conseqüências sociais como o comprometimento do
desenvolvimento psíquico, atenção escolar e habilidade para aprender; além do crescimento.
As infecções causadas por parasitos, pelos efeitos nocivos que acarretam ao desenvolvimento
físico e mental, especialmente de crianças menores, podem provocar o agravamento do estado
de nutrição, resultando na debilidade do organismo e retardamento somático e intelectual. Isso
acarreta atraso escolar, perda de concentração, desmotivação e alto índice de morbidade,
influenciando negativamente a economia e o desenvolvimento de um país, constituindo um
problema de ordem social e sanitária (VERONESI e FOCACCIA, 2005).
Dentre as doenças transmissíveis que se propagam pela penetração de parasitas na pele
e mucosas, salienta-se a esquistossomose mansônica, doença esta adquirida através de banhos
nos rios ou qualquer tipo de contato com águas contaminadas pelo Shistossoma mansoni.
Trata-se de uma doença “traiçoeira” que desencadeia graves lesões no organismo, diminuindo
a resistência do indivíduo e reduzindo a sua capacidade de trabalho. Provoca aumento do
fígado, diarréias, complicações pulmonares, cardíacas, hemorrágicas e desnutrição intensa. É
uma doença que em sua evolução para a forma mais grave, pode, na maioria das vezes, se
tornar fatal (REY, 2001).
Importante também, mas felizmente não endêmica no Brasil, é a cólera. Doença
causada pelo vibrião colérico é transmitida pela contaminação fecal da água, alimentos e
outros produtos que vão à boca. Provoca diarréia e vômitos maciços levando a intensa
desidratação. O homem é o único reservatório comprovado e a doença se mantém através do
ciclo de transmissão homem - meio ambiente - homem. Água tratada e saneamento
constituem a principal arma contra esta doença que assola grande número de pessoas em todo
o mundo, sendo estas, habitantes das regiões mais pobres da Terra (MACHADO, 1992).
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), estima-se que
aproximadamente, 1 em cada 6 pessoas não tem acesso à água potável. A falta de saneamento
básico e água potável constituem as principais causas de pobreza e de disparidade crescente
entre ricos e pobres.
26
2.6 Regulamentação dos serviços de água e esgoto
A primeira experiência brasileira na gestão de recursos hídricos teve início na década
de 30 e estava vinculada à questão agrícola. Em 1933, foi criada a Diretoria de Águas, depois
Serviço de Águas, no Ministério da Agricultura. Logo em seguida, em 1934, esse serviço foi
transferido para a estrutura do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), quando
é editado o Código de Águas, até hoje em vigor. O Código de Águas foi estabelecido pelo
Decreto 24.643, de 10/07/34 e, como outros instrumentos legais que disciplinam as
atividades do setor, provêm de um modelo de gerenciamento de águas orientado por tipos de
uso. Trata-se da etapa da administração dos recursos hídricos no Brasil denominada modelo
burocrático. Nessa fase, a administração pública tinha como objetivo predominante cumprir e
fazer cumprir os dispositivos legais sobre águas. Havia extensa legislação a ser obedecidas,
relativa a concessões e autorizações de uso, licenciamento de obras, ações de fiscalização,
interdição e multa. Nessa etapa, observa-se que a visão do processo de gestão era
fragmentada, o desempenho estava restrito ao cumprimento de normas, havia dificuldade de
adaptação a mudanças internas ou externas, centralização do poder decisório, excesso de
formalismo e pouca importância eram dados ao ambiente externo. A inadequação desse
modelo de gestão tinha como conseqüência o agravamento dos conflitos de uso e de proteção
das águas e a realimentação do processo de elaboração de novos instrumentos legais para
reforçar o esquema legal. Ao final, tinha-se um vasto conjunto de leis e normas, muitas vezes
conflitantes e de difícil interpretação (ASSIS, 1998).
A segunda etapa da gestão dos recursos hídricos brasileiros, denominada modelo
econômico-financeiro, caracterizou-se pelo uso de instrumentos econômicos e financeiros, por
parte do poder público, para a promoção do desenvolvimento nacional ou regional, além de
induzir à obediência das normas legais vigentes. Essa etapa começou com a criação da
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codesvasf), em 1948
(MIYASHITA et al., 1997).
O modelo econômico-financeiro foi marcado, em geral, por duas orientações: as
prioridades setoriais do governo, constituídas pelos programas de investimento em setores
usuários de água como irrigação, geração de energia, saneamento etc., e o desenvolvimento
integral (multissetorial) da bacia hidrográfica - uma diretriz mais difícil de ser aplicada, pois
as superintendências de bacia ficavam vinculadas a ministério ou secretaria estadual setorial,
com atribuições limitadas ao segmento específico de atuação (MACHADO, 2004).
27
A principal deficiência do modelo econômico-financeiro era sua necessidade de criar
um grande sistema para compatibilizar as ações temporais e as espaciais de uso e proteção das
águas. Na prática, foram criados temas parciais que acabaram privilegiando determinados
setores usuários de água, ocorrendo até uma apropriação perdulária por parte de certos
segmentos. Ao final, sem conseguir alcançar a utilização social e economicamente ótima da
água, tinha-se a geração de conflitos entre os setores e até intra-setores, na mesma intensidade
do modelo burocrático de gestão (MACHADO, 2004). Vale salientar que, apesar de
apresentar deficiências, o modelo econômico-financeiro setorialmente orientado permitia, ao
menos, a realização do planejamento estratégico da bacia e a canalização de recursos
financeiros para a implantação dos investimentos planejados. As principais mudanças na
estrutura governamental de gestão dos recursos hídricos, durante essa etapa foram:
Em 1961, o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) passou a integrar o
Ministério das Minas e Energia e, em 1965, o Serviço de Águas, transformado em
Divisão, tomou a configuração de Departamento Nacional de Águas e Energia
(DNAE). Esse mesmo departamento, em 1968, passou a denominar-se Departamento
Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE).
No início dos anos 70, incorporando o movimento ecológico pós-Conferência
Mundial do Meio Ambiente de Estocolmo, em 1972, foi criada a Secretaria Especial
de Meio Ambiente (Sema), vinculada ao Ministério do Interior. O Sema passou a
atuar, ouvindo o DNAEE, na classificação das águas interiores (MACHADO, 2004).
Durante a década de 70, foram efetuados estudos sobre o aproveitamento múltiplo de
cursos d'água e bacias hidrográficas e passaram a ser exigidos sistemas de tratamento de
efluentes em investimentos que derivassem recursos hídricos (ASSIS, 1998).
A partir dos anos 80, começaram as discussões em torno dos pontos críticos da gestão
dos recursos hídricos na Brasil. Verificava-se que o setor de energia era o único que criava
demanda por regulação e, em conseqüência, assumia o papel de gestor dos recursos hídricos,
pois detinha todas as informações disponíveis sobre a água. Em 1984, o DNAEE finalizou o
diagnóstico sobre as bacias hidrográficas e foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA). Também no início dos anos 80, alguns comitês de bacia, a exemplo do
Paranapanema, Paraíba do Sul e Doce, começaram a evoluir. Em 1986, o CONAMA
estabeleceu a classificação das águas doces, salobras e salinas, em todo o território brasileiro,
em nove classes, segundo seus usos preponderantes (MACHADO, 2004).
A partir da promulgação da Constituição de 1988, foram criadas as condições iniciais
para inaugurar a terceira etapa da gestão de recursos hídricos, denominada modelo sistêmicos
28
de integração participativa. A diferença entre um modelo econômico-financeiro e um
sistêmico de integração participativa é que o segundo, além de examinar o crescimento
econômico, também verifica a eqüidade social e o equilíbrio ambiental. A integração desses
objetivos deve dar-se na forma de uma negociação social, ainda no âmbito da unidade de
planejamento da bacia hidrográfica. A Constituição introduziu diversos novos aspectos,
comentados em seguida, relativos à gestão das águas e que vêm ao encontro da visão mais
moderna sobre a administração dos recursos hídricos. com relação ao Código de Águas, a
nova Constituição modificou muito pouco, sendo que a alteração mais importante foi a
extinção do domínio privado da água, previsto, em alguns casos, no código. A nova Carta
atribuiu condição especial aos recursos hídricos. Em seu artigo 20, determina que é
assegurada aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a Órgãos da
Administração Direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás
natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos
minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração (ASSIS, 1998).
Outra determinação importante da Constituição foi a fixação da competência da União
para instituir um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de
outorga de direitos do uso da água (art. 21, inciso XIX). Estabelece, ainda, que a competência
para legislar sobre água é privativa da União, embora União, estados, municípios e Distrito
Federal tenham competência comum para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
uso de recursos hídricos (ASSIS, 1998).
Algumas constituições estaduais, promulgadas em seguida à Constituição Federal,
detalharam e expandiram essa preocupação com o gerenciamento dos recursos hídricos. Além
disso, vários estados detentores de domínios sobre as águas como São Paulo, Ceará, Minas
Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pará e Pernambuco, além do Distrito Federal, têm suas leis de organização administrativa
para o setor de recursos hídricos (PHILIPPI JR., 2005a).
A Constituição Federal estabeleceu ainda, conforme o artigo 20, inciso III, e artigo 26,
inciso I, que os corpos d'água passam a ser de domínio público: o domínio da União para os
rios ou lagos que banhem mais de uma unidade da Federação ou que sirvam de fronteira
interestadual ou internacional; e o domínio dos estados sobre as águas superficiais ou
subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, nesse caso, as decorrentes de
obras da União, no âmbito de seus territórios. Os municípios não são contemplados com
águas próprias (MACHADO, 2004).
29
São exemplos de domínio da União: o Rio São Francisco, que banha mais de um
estado; o Rio Carinhanha, que serve de fronteira entre Minas Gerais e Bahia; e o Rio
Paraguai, que serve de fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Por outro lado, o Rio Paracatu é de
domínio de Minas Gerais, porque tem todo seu curso no interior desse estado. No caso das
águas subterrâneas, seu domínio vai depender das direções dos fluxos subterrâneos e das áreas
de recarga (alimentação) e das obras para sua captação terem sido contratadas pelo governo
federal (ASSIS, 1998).
Em janeiro de 1997 foi, afinal, sancionada a Lei 9.433, que estabelece a Política
Nacional de Recursos Hídricos, que incorpora princípios, normas e padrões de gestão de água
universalmente aceitos e já praticados em diversos países (BRASIL, 2000).
Segundo Philippi Jr, (2005a), a Lei dos Recursos Hídricos vem ao encontro dos
principais aspectos do modelo sistêmico de integração participativa, que requer instrumentos
legais específicos para sua implementação. Nessa etapa, não se pode prescindir do
instrumento da outorga do uso da água, mecanismo pelo quais os governos federal e estadual,
em cujos domínios se encontram as águas, dispõem-se a promover seu uso adequado sob o
ponto de vista da sociedade em geral.
Os investimentos em bacias hidrográficas são geralmente elevados e compreendem
reservatórios, sistemas de abastecimento e de esgotos, sistemas de irrigação, criação e
fiscalização de reservas etc. Portanto, as formas de financiar os investimentos em bacias
hidrográficas são as cobranças pelo uso da água e o rateio dos custos dos investimentos entre
os usuários ou beneficiários. O que se espera com o modelo sistêmico de integração
participativa é a criação de uma vontade política regional que, além de arrecadar recursos,
tenha sucesso na administração pública, promovendo o uso e a proteção das águas (PHILIPPI
JR., 2005a).
2.7 A Lei de Recursos Hídricos
O projeto de lei de recursos hídricos foi longamente discutido durante o período
1995/96, tendo sido encaminhado ao Congresso em junho de 1996. Os principais impasses na
negociação do projeto era o consenso sobre a cobrança pelo uso da água e a subordinação do
setor elétrico à lei. A necessidade de outorga para o uso da água e de outorga para a prestação
do serviço público concedido é comum a diversos setores. O caso do setor de saneamento é
30
ilustrativo, pois os concessionários terão que pleitear a outorga pelo uso da água para o
abastecimento ou para o despejo de efluentes, além de estarem sujeitos à outorga - por parte
do poder concedente, no caso os municípios - relativos à concessão para a prestação do
serviço de saneamento (MACHADO, 2004).
A Lei 9.433, sancionada em 08.01.97, estabelece a Política Nacional de Recursos
Hídricos. Essa lei representa um novo marco institucional no país, pois incorpora princípios,
normas e padrões de gestão de água já aceitos e praticados em muitos países. A expectativa do
governo federal é que ela opere uma transformação na gestão tanto dos recursos hídricos
quanto do meio ambiente. Até hoje, é de difícil implementação o sistema de penalidades ou
restrições para empresas de saneamento, indústrias ou propriedades rurais que despejam seus
resíduos nos corpos d'água. E são os grandes usuários que praticam o uso indiscriminado,
juntamente com o desperdício. Com a lei, o uso da água tem que ser autorizado através da
outorga e será cobrado (MACHADO, 2004).
Entre os princípios internacionalmente aceitos sobre gestão de recursos hídricos,
incorporados à Lei 9.433, estão os fixados na Agenda 21, da Conferência Rio 92, que foram
aprimorados para serem factíveis e passíveis de serem implementados. De acordo com Assis
(1998), a lei brasileira de recursos hídricos, assim como a legislação similar da Argentina,
Chile e México devem servir de exemplo para os países em desenvolvimento que estejam
interessados em criar ou reformular sua regulamentação sobre gestão de águas. Entre os
princípios básicos da lei brasileira estão:
a bacia hidrográfica é a unidade para a implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e para a atividade de gestão desses recursos;
o gerenciamento dos recursos hídricos deve possibilitar sempre o múltiplo uso da
água;
a água é recurso natural limitado e que tem valor econômico;
o gerenciamento dos recursos hídricos deve ser descentralizado e envolver a
participação do governo, dos usuários e das comunidades locais;
a água é propriedade pública;
quando escassez, a prioridade no uso da água é para o consumo humano e dos
animais.
A adoção do princípio dos usos múltiplos termina com o tradicional comando do setor
elétrico sobre o processo de gestão da água e iguala todos os usuários em termos de acesso. O
reconhecimento do valor econômico da água é o indutor ao uso racional desse recurso natural,
31
pois serve de base para a instituição da cobrança pela utilização dos recursos hídricos. Quanto
à gestão descentralizada, pretende-se que os governos regionais e locais tenham a
responsabilidade pela tomada de decisão, retirando-se de Brasília e das capitais estaduais essa
prerrogativa. A gestão participativa tem o objetivo de incluir os usuários e a sociedade
organizada, em geral, no processo decisório (PHILIPPI JR, 2005a). .
Além dos princípios expostos, em acordo com as formulações da Agenda 21, a lei
brasileira tem algumas orientações gerais para a administração dos recursos hídricos: a
integração da gestão dos recursos hídricos com a gestão do meio ambiente; a coordenação do
planejamento de recursos hídricos com os setores usuários e com o planejamento nos níveis
nacional, estadual e municipal; a coordenação da gestão de recursos hídricos com o uso da
terra; e a integração da gestão de bacias hidrográficas com a gestão dos sistemas costeiros e
estuários (PHILIPPI Jr, 2005a).
Os instrumentos que a Lei 9.433 definiu como necessários à boa gestão do uso da
água seguem a tendência da vanguarda mundial na administração dos recursos hídricos:
Plano Nacional de Recursos Hídricos - consolida todos os planos diretores de
recursos hídricos de cada bacia hidrográfica, sendo sua elaboração de
responsabilidade da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), do Ministério do Meio
Ambiente.
Outorga do Direito de Uso dos Recursos Hídricos - instrumento pelo qual o usuário
recebe uma autorização, concessão ou permissão, conforme o caso, para fazer uso da
água. A outorga constitui o elemento central do controle para o uso racional dos
recursos hídricos. Quando a outorga é sobre o direito de uso de águas de domínio da
União, sua concessão é dada pela SRH.
Cobrança pelo uso da água - instrumento necessário para o equilíbrio entre a oferta e
a demanda.
Enquadramento dos corpos d'água em classes de uso - mecanismo necessário à
manutenção de um sistema de vigilância sobre a qualidade da água. A classificação
será feita com base em legislação ambiental.
Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos - compreende a coleta, a
organização, a crítica e a difusão da base de dados referente aos recursos hídricos,
seus usos e o balanço hídrico de cada bacia, para prover os usuários e gestores com
informações para o planejamento e a gestão. A centralização das informações desse
sistema será na SRH (PHILIPPI JR, 2005a).
32
Em termos de estrutura de gerenciamento, estão previstos o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH) e seus equivalentes nos estados e no Distrito Federal, os Comitês
de Bacias Hidrográficas e as Agências de Água. O CNRH é o órgão superior da hierarquia
administrativa da gestão de águas, responsável pelas grandes questões do setor e pela
resolução de contendas maiores. Os Comitês de Bacias Hidrográficas são um tipo novo de
organização no Brasil e contam com a participação de usuários, das prefeituras, de
organizações civis e de representantes estaduais e federais. Os membros do comitê exercem o
papel de um parlamento das águas da bacia, pois é o local de decisões sobre as questões
relativas à bacia. As Agências de Água são o órgão técnico dos respectivos comitês,
destinadas a gerir os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água (MACHADO, 2004).
A Lei 9.984 de 17 de julho de 2000 aprovou a criação da Agência Nacional de Águas
(ANA) atribuindo a esta nova agência a responsabilidade pela definição e implementação da
Política de Recursos Hídricos, além do Sistema de Gerenciamento, com autonomia
administrativa e financeira, vinculada diretamente ao Ministério do Meio Ambiente. As
atividades foram iniciadas em 2001 e a ANA, como um organismo gestor e fiscalizador de
prestadores de serviços públicos e privados de distribuição e fornecimento de água, fez com
que a água deixasse de ser um bem de uso comum e ilimitado, para ser considerada como um
bem de uso controlado (BRASIL, 2000).
Em Minas Gerais o Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM) é responsável pela
concessão de direito de uso dos recursos hídricos estaduais, pelo planejamento e
administração de todas as ações voltadas para a preservação da quantidade e da qualidade de
águas em Minas Gerais. O gerenciamento é feito por meio da concessão de outorga de direito
de uso da água, do monitoramento da qualidade as águas superficiais e subterrâneas do
Estado, dos planos de recursos hídricos, bem como da consolidação de Comitês de Bacias
Hidrográficas (CBHs) e Agências de Bacia. O Instituto tem como diretriz uma administração
compartilhada e descentralizada, envolvendo todos os segmentos sociais (FEAM, 2008).
2.8 Legislação Relacionada às Nascentes
Segundo Lima (2000), a nascente é o afloramento do lençol freático, que vai dar
origem a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios).
Em virtude de seu valor inestimável, deve ser tratado com cuidado todo especial. A nascente
33
ideal é aquela que fornece água de boa qualidade, abundante e contínua, localizada próxima
do local de uso e de topografia elevada, possibilitando sua distribuição por gravidade, sem
gasto de energia. É bom ressaltar que, além da quantidade de água produzida pela nascente, é
desejável que tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de
um mínimo adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não deve funcionar
como um recipiente impermeável, escoando em curto espaço de tempo toda a água recebida
durante uma precipitação pluvial. Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água
através do solo, armazená-la em seu lençol subterrâneo e cedê-la, aos poucos, aos cursos
d’água através das nascentes, inclusive mantendo a vazão, sobretudo durante os períodos de
seca. Isso é fundamental tanto para o uso econômico e social da água - bebedouros, irrigação
e abastecimento público, como para a manutenção do regime hídrico do corpo d’água
principal, garantindo a disponibilidade de água no período do ano em que mais se precisa
dela. Assim, o manejo de bacias hidrográficas deve contemplar a preservação e melhoria da
água quanto à quantidade e qualidade, além de seus interferentes em uma unidade
geomorfológica da paisagem como forma mais adequada de manipulação sistêmica dos
recursos de uma região. As nascentes, cursos d’água e represas, embora distintos entre si por
várias particularidades quanto às estratégias de preservação, apresentam como pontos básicos
comuns o controle da erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de
contenção, minimização de contaminação química e biológica e ações mitigadoras de perdas
de água por evaporação e consumo pelas plantas.
Quanto à qualidade, deve-se atentar que, além da contaminação com produtos
químicos, a poluição da água resultante de toda e qualquer ação que acarrete aumento de
partículas minerais no solo, da matéria orgânica e dos coliformes totais pode comprometer a
saúde dos usuários homem ou animais domésticos. Por fim, deve-se estar ciente de que a
adequada conservação de uma nascente envolve diferentes áreas do conhecimento, tais como
hidrologia, conservação do solo e reflorestamento (RODRIGUES e LEITÃO, 2000).
Segundo a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida Provisória n.º
2.166-67, de 24 de agosto de 2001, as áreas situadas nas nascentes são consideram-se como
Área de Preservação Permanente (APP), ainda que intermitentes e nos chamados “olhos
d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, devendo ter um raio mínimo de
cinqüenta metros de largura preservada. Segundo os Artigos 2.º e 3.º dessa lei, a área
protegida pode ser coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (LIMA, 2000).
34
Ainda segundo Lima (2000), quanto às penalidades, a Lei de Crimes Ambientais
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conforme Artigo 39 determina que seja proibido destruir
ou danificar floresta da área de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-
la infringindo as normas de proteção. É prevista pena de detenção, de um a três anos, ou
multa, ou ambas as penas, cumulativamente. A fim de regulamentar o Art. da Lei
4.771/65, publicaram-se a Resolução 303 e a Resolução 302, de março de 2002. A
primeira revoga a Resolução CONAMA 004, de novembro de 1985, que se referia às APP's
quanto ao tamanho das áreas adjacentes a recursos hídricos; a segunda refere-se às APP's no
entorno dos reservatórios artificiais, determinando que as APP's ao redor de nascente ou olho
d’água, localizada em área rural, ainda que intermitente, ou seja, aparece em alguns
períodos (na estação chuvosa, por exemplo), deve ter raio mínimo de 50 metros de modo que
proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte. Para as nascentes localizadas em
áreas urbanas, que permanecem sem qualquer interferência, por exemplo, de nenhuma
construção em um raio de 50 metros, vale a mesma legislação da área rural. Para aquelas
perturbadas por intervenções anteriores em seu raio de 50 m, por exemplo, com habitações
anteriores consolidadas, na nova interferência, devem-se consultar os órgãos competentes.
Área urbana consolidada é aquela que atende aos critérios de definição legal pelo
poder público e existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra-
estrutura urbana: malha viária com canalização de águas pluviais; rede de abastecimento de
água; rede de esgoto; distribuição de energia elétrica e iluminação pública; recolhimento de
resíduos sólidos urbanos; tratamento de resíduos sólidos urbanos e densidade demográfica
superior a 5.000 habitantes por quilômetro quadrado. Toda intervenção em nascente, bem
como em APP deve ser precedida de consulta e respectiva autorização por parte dos órgãos
competentes de controle, orientação e fiscalização das atividades de uso e exploração dos
recursos naturais. No Estado de Minas Gerais, por exemplo, essas atividades são exercidas
pelo (IGAM) que está vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD). No âmbito federal, o órgão integra o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos
(SNGRH). Na esfera estadual, o IGAM integra o Sistema Estadual de Meio Ambiente
(SISEMA) e o Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SEGRH). Para se obter autorização
para intervenção na APP é necessário que seja protocolado um processo de licenciamento no
IGAM, que tramitará no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) (TABAI, 2002).
35
Ainda, segundo Tabai (2002), a autorização será condicionada ao cumprimento por
parte do interessado de um Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA),
contemplando o reflorestamento da APP da nascente com mudas de árvores de espécies
nativas regionais diversas, adaptadas para cada tipo de ambiente, sobretudo relacionado com
as possíveis ocorrências do curso d’água (enchentes).
A área adjacente à nascente deve ser toda cercada a fim de evitar a penetração de
animais, homens, veículos, etc. Todas as medidas devem ser tomadas para favorecer seu
isolamento, tais como proibir a pesca e a caça, evitando-se a contaminação do terreno ou
diretamente da água por indivíduos inescrupulosos. Quando da realização de alguma obra ou
serviço temporário, deve-se construir fossas secas a 30 m, no mínimo, mantendo-se uma
vigilância constante para não haver poluição da área circundante à nascente. A área
imediatamente circundante à nascente, em um raio de 50 m, é e exclusivamente, uma APP.
A proibição de se fazer qualquer tipo de uso dessa área, é para evitar que, com um cultivo, por
exemplo, a nascente fique sujeita à erosão e que as atividades agrícolas de preparo do solo,
adubação, plantio, cultivos, colheita e transporte dos produtos levem trabalhadores, máquinas
e animais de tração para o local, contaminando física, biológica e quimicamente a água.
Assim, o pasto e os animais devem ser afastados, ao máximo, da nascente, pois, mesmo que
os animais não tenham livre acesso à água, seus dejetos contaminam o terreno e, nos períodos
de chuvas, acabam por contaminar a água. Essa contaminação pode provocar o aumento da
matéria orgânica na água, o que acarretaria o desenvolvimento exagerado de algas bem como
a contaminação por organismos patogênicos que infestam os animais e podem atingir o
homem. A tuberculose bovina, a brucelose, a aftosa é, entre outras, doenças que podem
contaminar o homem, tendo como veículo a água contaminada (DAKER, 1996).
Segundo Castro e Lopes (2001), permitindo-se o acesso dos animais, o pisoteio torna
a superfície do solo próximo a nascente compactado diminui sua capacidade de infiltração,
ficando sujeito à erosão laminar e, conseqüentemente, provocando não a contaminação da
água por partículas do solo, turvando-a, como também, e o que é pior, provoca até mesmo
soterramento da nascente. Quando a água de uma nascente se turva facilmente após uma
chuva, é sinal de que uma deficiente capacidade de infiltração da água na APP ou mesmo
do seu terreno circundante. Dentro da distribuição correta com os animais distanciados, duas
ações complementares são indicadas, sendo a primeira desenvolver um programa de manejo
de pastoreio para se evitar a compactação exagerada do solo da área do pasto e, na segunda,
providenciar bebedouros para os animais. Por outro lado, a cultura de maior utilização de
produtos químicos deve ser a mais afastada, a fim de evitar que na época das chuvas esses
36
poluidores desçam com as enxurradas para as nascentes ou se infiltrem no solo atingindo mais
facilmente o lençol freático. É bom lembrar que os produtos químicos agrícolas não são
eliminados com fervura, cloração ou filtragem.
No aproveitamento de uma nascente, para consumo humano e de animais, recreação,
etc., a primeira providência é a execução de análise química e biológica da água. Para tanto,
deve-se consultar o órgão público responsável pelo abastecimento de água da região. Não
deve ser esquecido que as nascentes são sujeitas à poluição. O aspecto agradável que
apresentam, especialmente quanto à limpidez e a temperatura, fornecem uma falsa sensação
de segurança quanto a sua potabilidade e isenção de germes. Os focos de contaminação
podem se situar próximos ou distantes das nascentes (TABAI, 2002).
As fontes de água que nascem dentro de povoações, pela facilidade de contaminação
por infiltrações de águas de despejos, lavagens, fossas, etc., podem ser consideradas suspeitas,
de antemão. Uma vez considerada a viabilidade de aproveitamento de uma nascente, para
aumentar seu rendimento, pode-se efetuar pequenas escavações ou construírem-se pequenas
estruturas de captação. Essas estruturas são recomendadas, pois a água passa a ser coletada e
protegida contra contaminações superficiais, ou seja, após afloramento. Assim protegida,
pode ser utilizada no local ou canalizada para onde vai ser aproveitada ou armazenada. Um
aspecto que deve ser considerado é referente à função da matéria orgânica oriunda da
vegetação que cerca a nascente ou o córrego de escoamento (CASTRO e LOPES, 2001).
Segundo Lima (2000), a mata ciliar abastece continuamente o rio ou córrego com
matéria orgânica de folhas, galhos e até troncos caídos. Esse material orgânico, para cumprir
sua função nutricional para a biota aquática, deve ser retido no corpo d’água, retenção
exercida, por exemplo, pela própria rugosidade das margens, criando zonas de turbulência e
velocidade diminuída, favorecendo o processo de decomposição de partículas e sedimentos,
criando também micro habitats favorável para alguns microrganismos aquáticos. Assim,
deve-se ter ciência de que a degradação da matéria orgânica no corpo d’água e conseqüente
proliferação de microrganismos é um processo natural, parte do equilíbrio ecológico do
sistema aquático, desejável, portanto, nas nascentes cujo destino da água seja qualquer outro
que não o consumo humano e de animais. Nesse, a matéria orgânica pode causar o aumento
dos coliformes totais comprometendo sua qualidade como “água de beber”.
A estrutura protetora das nascentes tem como objetivo evitar a contaminação,
sobretudo da água de beber, em sua origem, quer por partículas de solo, quer por matéria
orgânica oriunda das plantas circunvizinhas, insetos e outros. Em sua condição mais
favorável, ou seja, quando as fontes brotam em encosta, a tarefa se resume na construção da
37
caixa de captação ou depósito que, preferencialmente, deve ser revestida e sempre coberta. O
revestimento tem por objetivo evitar a imediata contaminação da água pelas próprias
partículas do solo, provenientes de desmoronamento das paredes da caixa e, a cobertura, para
evitar a contaminação com trazido pelo vento, restos vegetais, ejeções de animais
silvestres, desenvolvimento de algas na presença de luz, etc. O desenvolvimento de algas,
apesar de promover maior oxigenação da água, ao morrer entra em decomposição e podem
conferir mau cheiro à água (RODRIGUES e LEITÃO, 2000).
38
3 OBJETIVOS
Geral:
Avaliar a qualidade microbiológica da água consumida pela população residente no
bairro Caladão e a prevalência de enteroparasitoses entre crianças de 6 meses a 5 anos
residentes nesse mesmo bairro, na cidade de Coronel Fabriciano-MG
Específicos:
Identificar a origem da água consumida pela população em estudo, as formas de
captação, armazenamento e o uso da mesma.
Analisar a qualidade microbiológica da água consumida pela população residente no
bairro Caladão.
Identificar, nos moradores, a percepção dos riscos à saúde, relacionados ao consumo da
água.
Analisar as condições ambientais no bairro Caladão quanto aos fatores de contaminação
das fontes de abastecimento.
Analisar a condição parasitológica de amostras de fezes de crianças, na faixa etária de 6
meses a 5 anos de idade, residentes no bairro Caladão visando identificar a prevalência
das enteroparasitoses de veiculação hídrica.
39
4. MATERIAL E MÉTODO
4.1 Delineamento do Estudo
Optou-se em desenvolver a pesquisa descritiva exploratória, de natureza quali-
quantitativa, buscando uma melhor compreensão da realidade da área de estudo, uma vez que,
segundo Serapioni (2000), pode ocorrer uma complementaridade entre métodos qualitativos e
quantitativos, possibilitando uma integração para a prática da investigação, principalmente na
área de saúde.
O método qualitativo possibilita que o estudo possa generalizar e agrupar diversas
estratégias que apresentem características em comum, facilitando a compreensão dos
comportamentos a partir das perspectivas dos sujeitos da investigação. De acordo com
Minayo (2000), esse método trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores, representações, hábitos, opiniões e atitudes, correspondendo ao que não pode
ser reduzido à quantificação. a investigação quantitativa atua em níveis de realidade e tem
como objetivo trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis. As experiências das
pesquisas de campo, baseadas em uma perspectiva mais formal, sugerem que da combinação
das duas abordagens é possível obter ótimos resultados. O valor do método deve ser
relacionado à sua capacidade de se aproximar da realidade estudada (SERAPIONI, 2000).
Na presente pesquisa a metodologia quali-quantitativa foi viabilizada por meio dos
seguintes procedimentos:
Informe à Secretaria Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano os objetivos da
pesquisa, e obtenção de autorização, por meio de assinatura do termo de consentimento
à pesquisa (ANEXO 1).
Visitas ao Bairro Caladão para manter contato com moradores, esclarecer a proposta
dos objetivos da pesquisa e conhecer a realidade do mesmo “in loco”.
Levantamento de todas as crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos cadastradas na
Unidade de Saúde da Família do bairro Caladão em Coronel Fabriciano – MG.
Realização de entrevistas com pais ou responsáveis das crianças na faixa etária
relacionada anteriormente. As entrevistas deram início após assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 2). Foram garantidos o sigilo e o
40
anonimato dos entrevistados, bem como, o respeito à privacidade quanto aos dados
confidenciais e a liberdade de desistir da participação a qualquer momento, sem
nenhum prejuízo ou dano decorrente da pesquisa. A Resolução 196/96 do Conselho
Nacional da Saúde (CNS) foi inteiramente respeitada durante a realização da mesma. A
entrevista foi dividida em dois tópicos, sendo o primeiro relacionado aos fatores
ambientais e o segundo relacionado a fatores familiares (ANEXO 3).
Levantamento epidemiológico de amostras de fezes de crianças na faixa etária de 6
meses a 5 anos de idade, residentes no bairro Caladão visando identificar a prevalência
das enteroparasitoses.
Definição dos pontos de coleta de água para analise microbiológica, levando-se em
consideração o cadastro existente no PSF da Unidade Caladão. Para avaliar a qualidade
microbiológica da água consumida pelas crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos de
idade foram coletadas amostras de água e analisadas segundo o método Colilert®
(APHA, 1998).
4.2 Descrição do cenário
O estudo foi realizado no bairro Caladão, localizado na cidade de Coronel Fabriciano
cuja área está inserida na macrorregião de planejamento do Rio Doce, entre as coordenadas
geográficas de 19º 31’ 07” de latitude Sul e 42º 37’ 44” de longitude Oeste de Greenwich. No
contexto de macrorregião, Coronel Fabriciano está localizado na área que corresponde à
região metropolitana do Vale do Aço e fica a 198 km de Belo Horizonte. Fundado em 1948,
Coronel Fabriciano destaca-se principalmente por seu elevado grau de urbanização. No ano de
2004 a população do município era 103.588 habitantes, residentes numa área de 222,08 Km²,
alcançando uma densidade populacional de 432,72 hab km
-
². A renda per capita em Coronel
Fabriciano alcança a R$ 3.031,00 (IBGE, 2004).
Com atividade econômica voltada para os setores secundários e terciários, Coronel
Fabriciano localiza-se numa região internacionalmente conhecida em virtude de grandes
empresas de mineração e de celulose, com crescente volume de produtos exportados,
dispondo de boa infra-estrutura e serviços públicos. Entretanto, o bairro Caladão não condiz
desta realidade, com população de 3.400 habitantes, formada na maioria por pessoas de baixa
renda (PSF do Bairro Caladão, 2007), dispõem de infra-estrutura e serviços públicos
41
deficitários, problemas de segurança, saneamento básico e saúde. A urbanização do bairro é
horizontal, constituída predominantemente por casas de alvenaria, de madeira e placas de
muro. apenas duas avenidas com pavimentos asfálticos, as demais avenidas e ruas laterais
são sem pavimentação. Existe uma escola pública municipal de atendimento em horário
integral, uma Unidade de Saúde da Família, pequeno comércio de gêneros de primeira
necessidade e igrejas de vários cunhos religiosos.
A despeito da cidade de Coronel Fabriciano ser abastecida por água potável da
COPASA, no bairro Caladão somente 9 famílias são abastecidas pela COPASA, conforme
informação prestada pelo funcionário desta empresa à pesquisadora, durante visita realizada a
Estação de Tratamento de Água (ETA), em outubro de 2007.
Apesar de somente 9 famílias do bairro Caladão serem abastecidas de água potável da
COPASA, existem 750 famílias residentes no bairro cadastradas no PSF do bairro. Essas
famílias utilizam água de nascentes ou de poços escavados, tanto para dessedentação humana
como outros usos (preparo de alimentos, higiene pessoal e do lar). Na maioria das casas
rede de esgoto, porém, em algumas ruas as casas possuem fossas ou o esgoto escorre a céu
aberto (FIGURA 1), comprometendo, provavelmente a qualidade da água das nascentes e dos
poços escavados.
FIGURA 1 - Aspecto visual do esgoto que escorre
a céu aberto em um dos logradouros do bairro
Caladão.
Algumas das nascentes que percorrem o bairro Caladão são represadas e em seguida
são conduzidas por gravidade, em canaletas, ate uma caixa reservatória comunitária e não
recebe nenhum tipo de tratamento. Salienta-se que a partir desta caixa é feita a distribuição da
água para a comunidade através de canos de PVC (policloreto de vinila). De acordo com
42
depoimentos de alguns moradores do bairro freqüentemente ocorre falta de água na
comunidade e muitos recorrem ao uso de água de poço escavado no quintal, como forma de
suprir suas necessidades.
O ribeirão Caladão que corta todo o bairro constitui em local de diversão para as
crianças tomarem banho, entretanto, o mesmo encontra-se poluído, pois, recebe a rede geral
de esgotos.
A coleta de lixo é realizada pelo serviço público duas vezes por semana, mas a
presença de grande quantidade de resíduo sólido espalhado pelas ruas compromete este
serviço (FIGURAS 2 e 3).
FIGURA 2 Vista parcial do ribeirão
Caladão e dos dejetos descartados no
leito.
FIGURA 3 - Vista parcial do bairro Caladão e aspecto visual da disposição do lixo no solo.
43
4.3 População amostral
Pelo cadastro das residências das famílias registradas no Sistema de Informação da
Atenção Básica do PSF do Caladão (banco de dados do ano 2007), existem 192 crianças
cadastradas na faixa etária de 6 meses a 5 anos em um total de 141 residências. O número de
residências é menor porque algumas famílias possuem mais de 1 criança dentro da faixa etária
pesquisada. Realizou-se inicialmente um estudo piloto onde 52 crianças dentro dessa faixa
etária foram examinadas parasitologicamente. O resultado dos exames identificou 54% de
casos positivos para algum tipo de microorganismo entre as 52 crianças analisadas. Realizou-
se o estudo piloto com a intenção de identificar o dimensionamento amostral. Visto que a
população anterior era de 192 crianças, e que 52 delas foram utilizadas para o teste piloto, a
amostra restante para o objetivo deste trabalho é de 140 crianças.
A população amostral foi constituída por crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos.
Os pais ou responsáveis por estas crianças foram convidados a participar de entrevistas para
coleta de informações sobre a origem da água consumida, as formas de captação,
armazenamento e o uso da mesma. Identificou-se, entre os entrevistados, a percepção dos
riscos à saúde relacionados ao consumo da água bem como se analisou as condições
ambientais quanto aos fatores favoráveis à contaminação das fontes de abastecimento de água.
O processo de seleção do tamanho ideal da amostra requer que o pesquisador
determine uma margem de erro, ou seja, um intervalo de confiança (95% = 5% de chance de
erro ou 99% = 1% de chance de erro) devido às restrições de tempo e custo do estudo.
O tamanho da amostra está diretamente relacionado à precisão da média da amostra
como estimativa da média da população real, que existe uma importante relação inversa
entre o tamanho da amostra e o erro padrão, sendo que, quanto menor a amostra, maior é o
risco de se obter um resultado incorreto e quanto maior a amostra, maior serão as inferências
feitas sobre a população inteira, e então menor o risco de erro e maior a precisão da média da
amostra.
Sendo assim, a equação que foi utilizada para a determinação do tamanho da amostra
de crianças que foram visitadas em sua residência para aplicação da entrevista aos pais ou
responsáveis é a equação do programa Diman 1.0:
44
( )
qZnpE
NqZ
n
×+××
××
=
22
2
1
Onde:
n = número de crianças avaliadas
Z
2
= Grau de confiança: 95%
q = 0,46% (referente ao piloto de crianças não parasitadas)
N = número total de crianças que são 192 cadastradas.
E
2
= precisão com a qual se quer trabalhar = 0,5%
p = 0,54% (referente ao piloto positivo de crianças parasitadas)
O tamanho da amostra de crianças visitadas para aplicação do formulário de entrevista
ao responsável legal da mesma foi de 168 crianças. No final foram entrevistados 58 pais ou
responsáveis que corresponderam a 41,4% do total de crianças.
Realizou-se também teste piloto para definição do número de amostras de água para
avaliação microbiológica que deveriam ser colhidas. Para isso, foram realizadas 13 análises
microbiológicas nas residências das crianças que participaram do teste piloto para exames de
fezes, anteriormente citados. As casas foram sorteadas pelo número de cadastro no PSF. No
teste piloto, verificou-se que 92% das amostras de água apresentaram resultado positivo tanto
para colifomes totais como para Escherichia coli, sendo impróprias para o uso humano.
Somente uma casa era abastecida pela COPASA, o restante era abastecido por água de
nascente.
Para o cálculo das casas onde foram coletadas amostras de água também foi utilizado
a mesma equação, onde as variáveis foram:
p = 0,92% (referente ao número de amostras de água positivas na pesquisa piloto)
q = 0,08% (referente ao número de amostras de água negativas na pesquisa piloto)
N = total de casas cadastradas (141 casas)
O tamanho da amostra de água a ser coletada nas casas foi calculado em 69 amostras,
sendo que todas as fontes de água utilizadas em cada casa foram analisadas, incluindo poço,
onde houvesse e água da torneira que abastece a residência. Foram realizadas 75 análises de
água nas residências sendo que 69 amostras representaram as coletas de torneiras, duas
representaram os poços encontrados nas casas e foram incluídas ainda análise de duas
nascentes, uma análise da água da canaleta e outra da água da caixa reservatória de
45
distribuição à comunidade. A decisão de incluir as nascentes, a canaleta e a caixa reservatória
ocorreu após análise das amostras anteriores onde os índices de contaminação representavam
100%.
Foram feitos sorteios para escolha das casas onde as entrevistas foram aplicadas e as
fontes de água analisadas, utilizando os números de cadastros das residências das famílias
registradas no Sistema de Informação da Atenção Básica do PSF do Caladão. O banco de
dados do ano 2007 serviu como base a todo o estudo. A análise das amostras de água foram
realizadas em todas as residências sorteadas.
4.4 Coleta de dados
Este procedimento foi dividido em três etapas distintas:
- 1ª Etapa: Fase Exploratória
Em agosto de 2007, realizou-se contato pessoal com a Secretaria Municipal de Saúde
de Coronel Fabriciano onde os propósitos da Pesquisa foram expostos e a partir desse
momento recebemos autorização para realização da pesquisa. Fomos encaminhados para
contato com pessoas que poderiam intermediar nossa aproximação com os moradores do local
selecionado.
O contato com o gerente, enfermeira e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da
Unidade de PSF do Caladão proporcionou um estreitamento de relações, permitindo a
elaboração e execução da pesquisa em conjunto, facilitando as atividades a serem
desenvolvidas. A participação em várias atividades junto à comunidade de ações promovidas
pela Unidade de PSF, antecedendo a coleta de dados, proporcionou uma maior integração
com os moradores do local, além de facilitar a construção dos instrumentos a serem utilizados
para a coleta de dados.
- 2ª Etapa: Fase de Coleta de dados
Após aplicação da pesquisa piloto e ajustes dos instrumentos a serem utilizados para a
coleta de dados, foi iniciada a etapa das entrevistas, seguida da coleta de amostras de água
46
para análise microbiológica (ANEXO 4) e da entrega dos recipientes para a coleta das
amostras de fezes das crianças. Na oportunidade foi prestado orientações sobre a coleta das
fezes e local de entrega das amostras.
A aplicação dos formulários de entrevistas com questões semi-estruturadas foi
realizada em companhia das ACS durante visita às casas sorteadas.
A Observação não Participante foi também utilizada como técnica pelo pesquisador
sendo as principais impressões anotadas em diário de campo. Segundo Lakatos e Marconi
(2002), na Observação não Participante o pesquisador permanece de fora do fenômeno, não
participando dele; ele executa um papel de expectador não interferindo no fenômeno
investigado. Assim o pesquisador pode identificar, mapear, fotografar e avaliar a salubridade
das fontes de água utilizadas pela população. Nestas ocasiões foram identificados, por meio
da observação, os locais, a composição e as reais condições de deposição dos resíduos sólidos.
Foram observados ainda, o comportamento e as práticas sanitárias dos usuários em relação ao
armazenamento da água (ANEXO 5).
a) Aplicação das Entrevistas
Antes das entrevistas, cada participante recebeu orientação a respeito da finalidade da
pesquisa, tendo sido esclarecido aos entrevistados que se tratava de uma atividade acadêmica,
evitando-se uma interferência negativa por parte dos moradores, que pudessem relacionar a
pesquisa com alguma ação advinda de órgãos públicos. Os entrevistados também foram
instruídos sobre a importância da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
o qual foi elaborado em linguagem acessível possibilitando o entendimento dos participantes
(ANEXO 2).
Todo esse procedimento foi realizado contemplando os aspectos éticos necessários,
em conformidade com as normas locais e nacionais, adotados pelo Comitê de Ética do
Unileste-MG, no sentido de garantir aos participantes o anonimato quanto à entrevista, bem
como a utilização das informações somente para fins acadêmicos e de divulgação científica.
Foram realizadas entrevistas com um roteiro composto por perguntas semi-
estruturadas (ANEXO 3) visando colher informações sobre as fontes de água
utilizadas (fonte, disponibilidade, armazenamento e tratamento), os resíduos sólidos
produzidos (deposição, recolhimento e destino), existência de rede de esgotos ou
fossa séptica, presença de animais no convívio com os indivíduos bem como a
percepção dos usuários sobre o abastecimento de água e seus reflexos sobre a saúde.
47
Foi adotada a comunicação verbal e escrita em linguagem simples para facilitar o
entendimento das perguntas mediante aplicação de formulário de entrevista
b) Ordenação dos dados
1)Análise das entrevistas
A ordenação do material obtido com as entrevistas teve início com a leitura minuciosa
de cada um dos depoimentos, extraindo-se as informações, questões e problemas referidos
pelos informantes.
A primeira parte da entrevista composta por questões estruturadas que correspondem
às questões 1, 2 e 3 relacionadas aos fatores ambientais, foi organizada e lançada no programa
Excel. Os resultados foram apresentados com número absoluto e porcentagem, sendo,
posteriormente discutidos, analisados e destacados os pontos mais relevantes, de acordo com
os objetivos propostos.
Ao sintetizar os depoimentos das entrevistas semi-estruturadas da segunda parte do
formulário, visávamos elaborar um “discurso síntese” dos vários discursos individuais,
utilizando a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC (LEFÈVRE et al., 2000),
que permite resgatar um “pensar” ou a representação social de indivíduos ou grupos, por meio
de trechos de discursos individuais.
As entrevistas foram organizadas da seguinte forma:
Foram extraídas de cada depoimento as diferentes (porém complementares)
expressões chave e suas respectivas idéias centrais. Segundo Lefèvre et al. (2000), as
expressões chave são transcrições literais de partes dos depoimentos e permite extrair
a essência do conteúdo discursivo; as idéias centrais são expressões que descrevem o
conteúdo discursivo explicitado pelos sujeitos durante as entrevistas.
Posteriormente foram identificadas (com letras do alfabeto) as idéias centrais iguais ou
equivalentes, as quais foram agregadas discursivamente.
Por último foram montados os discursos do sujeito coletivo, de acordo com as
expressões chave identificadas.
A organização foi feita para as questões: O que você acha da água que usa em casa?
Como seria para você uma água ruim? Você acha que a água pode provocar alguma doença?
Você acha que alguém, aqui na sua casa, ficou doente por causa da água? Quem adoeceu?
48
Que sintomas ele apresentou? Qual é a doença mais comum entre as crianças aqui em sua
casa? O que você faz quando alguém fica doente?
A ordenação dos dados coletados com as entrevistas encontra-se no Anexo 4. As
questões foram analisadas separadamente, iniciando pela primeira questão aberta que no
formulário refere-se à de número um do tópico sobre fatores ambientais. Todas as questões
um de todos os sujeitos entrevistados foram analisadas. A seguir passamos a analisar a
questão dois, e assim sucessivamente. O primeiro passo foi copiar, na íntegra, as informações
contidas nas respostas de cada questão e anotá-las na coluna de expressões chave. O segundo
passo foi identificar e sublinhar as expressões chave das idéias centrais. O terceiro passo foi
identificar as idéias centrais a partir das expressões chave, colocando-as na coluna
correspondente. Feito isso, as idéias centrais foram identificadas e agrupadas, utilizando-se
letras do alfabeto em maiúsculo. Finalmente, foi criada uma idéia central que sintetiza, da
melhor forma possível, todas as idéias centrais que apresentam o mesmo sentido, facilitando a
construção do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE et al., 2000).
Para organizar as entrevistas, dividiram-se os Discursos do Sujeito Coletivo em
categorias. A categoria 1 corresponde à percepção dos entrevistados sobre a água estando
dividido em duas sub-categorias onde na primeira, avaliou-se a percepção dos entrevistados
sobre a água que se usa em casa e na segunda sub-categoria, qual era a percepção dos
entrevistados sobre o que seria uma água ruim. Na categoria 2 avaliou-se o conhecimento dos
entrevistados sobre a água enquanto veiculador de doenças. Esta categoria foi dividida em 4
subcategorias sendo distribuídas da seguinte forma: a água como causa de doença, familiares
que adoeceram por causa da água e suas manifestações clínicas, principal causa de doença nas
crianças, o que fazer quando algum membro da família está doente.
Após a ordenação dos dados e montagem dos Discursos do Sujeito Coletivo, iniciou-
se com a análise das entrevistas sobre os fatores familiares, informações essas contidas nas
falas dos moradores.
Vale enfatizar que os Discursos do Sujeito Coletivo foram elaborados com trechos
selecionados dos depoimentos individuais, aos quais foram acrescentados os conectivos e
realizada as correções de erros gramaticais grosseiros; ações admitidas nesta metodologia.
c) Coleta e Análise de Amostras de Água
Foram coletadas 69 amostras de água da torneira nas casas sorteadas (FIGURA 4 e 5),
dois poços presentes nas casas visitadas e que são utilizados na falta de água da torneira foram
49
também amostrados (FIGURA 6), além de mais 4 amostras que incluíram uma em cada
nascente num total de duas, outra na canaleta de condução à caixa reservatória e outra na
própria caixa reservatória de distribuição à comunidade (FIGURA 7 e 8), perfazendo um total
de 75 análises de água. Ressalta-se que das nove casas referidas pela COPASA como
abastecidas de água canalizada e tratada nenhuma foi sorteada para visita.
FIGURA 4Higienização da torneira para coleta de
amostra de água.
FIGURA 5 – Coleta de amostra de água de torneira
50
FIGURA 6 Visão externa de poço utilizado para a
coleta de amostra de água
FIGURA 7 – Coleta de amostra de água da nascente.
FIGURA 8 – Coleta de amostra de água da canaleta de
condução à caixa d’água reservatória
51
A coleta das amostras foi registrada em uma planilha (ANEXO 4) e o material foi
devidamente identificado e transportado ao laboratório.
O método utilizado para avaliação da qualidade microbiológica da água foi por meio
do Teste P/A (Presença ou Ausência) com utilização do Colilert®. Este produto é um meio de
cultura destinada à detecção qualitativa e quantitativa de coliformes totais e Escherichia coli
na água. O grupo coliforme é considerado um indicador de contaminação da água, assim, sua
detecção na amostra permite considerar esta como imprópria para consumo humano. O
presente teste permite detectar a presença de coliformes em 24 horas. As amostras foram
coletadas em recipientes estéreis de vidro e transportadas em caixa térmica entre 2 e 8 °C até
o laboratório de microbiologia do Unileste, em seguida inoculadas no meio por 24 horas a 35
°C. A turvação do meio indica crescimento, a mudança de cor para amarelo é característica do
grupo coliforme, e a emissão de fluorescência caracteriza a Escherichia coli. A sensibilidade
da metodologia é a partir de 1,1 UFC 100 mL
-1
de amostra. O Colilert® é um meio em pó,
composto por nutrientes, ONPG (ortonitrofenol-beta-galacto-piranosideo) e MUG (methyl-
umbelipheril-glucuronid) apresentado em frasco para diluir 100 ml de amostra. As limitações
do método estão principalmente ligadas a fatores de amostras, devendo ser observados os
cuidados preconizados para coleta e transporte das mesmas (APHA, 1998). Os padrões de
avaliação foram baseados nos definidos pela portaria 518 de 25 de março de 2004 do
Ministério da Saúde.
d) Procedimento para Teste P/A com Colilert®
Após a chegada das amostras coletadas ao laboratório, foi adicionado o conteúdo de
um frasconete de Colilert ® a cada frasco de água, contida em vidros transparentes. Logo
após, os vidros foram vedados, agitados delicadamente até dissolver completamente o
reagente e em seguida incubados a uma temperatura de 35 °C por 24 horas. O procedimento
de diluição era realizado em Capela de Fluxo Laminar, desinfetada com álcool 70% e luz UV
acesa por 15 minutos, com o objetivo de evitar eventuais contaminações pelo meio externo, o
que poderia ocasionar erros nos resultados.
Após o período de incubação, eram feitas as leituras dos resultados. Para Coliformes
Totais, observava-se mudança de cor para amarelo e para a observação de Escherichia coli era
utilizada uma lâmpada Ultravioleta (UV) de 6 W de potência e 365nm de comprimento de
onda, para a confirmação de fluorescência.
52
Juntamente com o Kit para provas Colilert®, um quadro interpretativo para a
leitura dos resultados (TABELA 1).
TABELA 1 – Interpretação dos resultados do Teste P/A com Colilert®
Indicador
Coloração da amostra
Incolor Amarelo Fluorescência
Coliformes Totais negativo positivo Positivo
Escherichia coli negativo negativo Positivo
O Colilert® utiliza a tecnologia de substrato definido, ou seja, à medida que os
coliformes se reproduzem no substrato, eles utilizam β-galactosidase para metabolizar o
indicador de nutriente ONPG (o-nitrofenil β-d-galactopiranosídeo) liberando o o-nitrofenol
que apresenta a coloração amarela. O Escherichia coli utiliza β-glucuronidase para
metabolizar MUG (4-methil-umbeliferil-β-d-glucoronídeo) liberando o 4-methil-umbeliferona
que, quando exposto à luz ultravioleta (UV), apresenta fluorescência. As bactérias não
pertencentes ao grupo coliformes que têm estas enzimas são seletivamente suprimidas pela
matriz especificamente formulada do Colilert®. Esta abordagem diminui a incidência de
falso-positivos e falso-negativos.
Após leitura das amostras, os resultados foram lançados em uma planilha (ANEXO 4)
com informações sobre local da coleta, captação, armazenamento na moradia, presença ou
ausencia para Coliformes totais e E. Coli. Posteriormente foram analisados e os resultados
apresentados na forma de tabela.
- 3ª Fase: Exame coprocitológico
Foram convidadas as 140 criança restantes para realização dos exames parasitológicos,
onde os pais ou responsáveis pela criança foram informados sobre os objetivos da pesquisa e
orientados sobre o procedimento durante a coleta do material para exame. Todas as crianças
convidadas tiveram autorização dos pais ou responsáveis para participarem. Cada responsável
pela criança recebeu o recipiente devidamente identificado para coleta de fezes, bem como
recebeu instruções sobre o local de entrega das amostras. Os responsáveis foram orientados a
colherem as amostras e encaminharem imediatamente à Unidade de Saúde. Os pais foram
orientados para que as crianças evacuassem em recipiente limpo e a responsável proceder a
coleta, utilizando a que vem anexa ao frasco, escolhendo amostras das laterais das fezes.
Esta conduta facilita encontro de ovos de helmintos e cistos de protozoários, porque os
53
mesmos se mantêm na parede do intestino. No processo de eliminação do bolo fecal, eles são
eliminados aderidos à lateral do excremento.
Após a entrega das amostras de fezes na Unidade de Saúde, as mesmas foram
acondicionadas em recipiente resfriado e encaminhadas ao laboratório da Prefeitura
Municipal de Coronel Fabriciano, para análise de ovos e larvas de helmintos e cistos de
protozoários, com análise por sedimentação espontânea pelo método de Hoffman, Pons e
Janer (NEVES, 2006). Os procedimentos utilizados são considerados eficazes para detecção
da maioria dos helmintos e protozoários, incluindo: Ascaris lumbricoides, Trichiuris
trichiura, Entamoeba histolytica e Giardia lamblia. Os resultados dos exames foram
liberados pelo laboratório após a análise e encaminhados para a Unidade Básica de Saúde do
PSF do Caladão, onde a pesquisadora teve acesso às informações.
54
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Fatores ambientais relacionados à água
De acordo com as declarações dos entrevistados (58 pessoas) quando questionados
sobre a origem da água utilizada para consumo humano na área em estudo, todos declararam
que utilizam água da nascente. Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático, que
vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões
e rios) (PHILIPPI JR., 2005a).
Salienta-se que a nascente a que os entrevistados se referem trata-se do ribeirão
Caladão, curso d'água que nasce nas adjacências do bairro que recebe o mesmo nome e
percorre todo o núcleo urbano.
É neste ribeirão que a Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano capta água para
abastecer a comunidade e efetua a distribuição para parte da comunidade, sem nenhum custo
direto para os consumidores. A água distribuída, de acordo com a comunidade, não recebe
nenhum tipo de tratamento, entretanto, o funcionário da Prefeitura que trabalha como
vigilante da caixa d'água informou que “joga cloro na caixa d´água” e pelo que foi observado
não há nenhum critério para realizar este procedimento, tanto no que diz respeito à quantidade
como à periodicidade.
Durante visita a área de estudo observou-se que a qualidade do ribeirão Caladão
encontra-se em acelerado estado de degradação causado tanto pelo lançamento de esgoto e de
lixo, como da presença de animais (bovinos, caprinos, suínos, cães e outros animais) que
utilizam o Ribeirão Caladão para dessedentação.
Dois dos entrevistados declararam que além de serem abastecidos pela água do ribeirão
Caladão possuíam também, poços escavados nos quintais de suas residências, alternativa para
suprir a demanda de água quando ocorre interrupção no abastecimento.
Em um deles a água é removida com uma corda e um balde e o outro possui bomba
para captar a água. Os dois poços possuem 4 metros de profundidade, tendo sido perfurados
manualmente. Segundo Philippi Jr. (2005a), o manancial subterrâneo constitui importante
reserva estratégia para suprimento de água. Geralmente essa água não precisa de tratamento
para consumo, devido ao processo natural de filtragem do subsolo, incluindo poços rasos e
profundos, as nascentes e as galerias de infiltração. Entretanto, considerando que parte da
55
comunidade do Caladão lança o esgoto superficialmente ou em fossa negra, é bem provável
que a infiltração tenha contaminando o lençol freático, que neste caso localiza-se a uma
profundidade de 4 m.
Salienta-se que para o aproveitamento de uma nascente e/ou água subterrânea para
consumo humano e de animais, a primeira providência é a execução de análise química e
biológica da água, que ambas estão sujeitas à contaminação. Entretanto, esta não tem sido
uma prática observada pelo órgão público responsável pelo abastecimento de água da
comunidade.
Apesar de parte dos entrevistados, terem declarado que a água da nascente do ribeirão
Caladão apresenta aspecto visual agradável “fresquinha, limpinha e natural”, salienta-se que o
aspecto agradável que apresentam, especialmente quanto à limpidez e a temperatura, geram
uma falsa sensação de segurança quanto a sua potabilidade e isenção de germes, pois os focos
de contaminação podem se situar próximos ou distantes das nascentes. As fontes de água que
nascem dentro de povoações, pela facilidade de contaminação por infiltrações de águas de
despejos, lavagens, fossas, etc., podem ser consideradas suspeitas, de antemão. Na construção
do poço raso ou freático devem-se tomar medidas para evitar a extração de água contaminada,
respeitando-se a distância mínima entre o poço e a fossa. Em relação a outros focos de
contaminação como chiqueiros, valões de esgoto, galerias de infiltração e presença de
resíduos em solo, esta preocupação também precisa ser observada. O poço deve ser
devidamente protegido contra infiltração, escoamento de água da superfície e entrada de
objetos contaminados. Após a construção, a água deve ser desinfetada antes de ser consumida,
sendo os desinfetantes mais utilizados o hipoclorito de cálcio, cloreto de cal e hipoclorito de
sódio. Dejetos humanos ou de animais lançados em local inadequado com risco de ser
carreado pela água da chuva para cursos d’água e/ou infiltrar no solo contaminam o lençol
freático, expondo os usuários dessas fontes a riscos de aquisição de doenças.
Na maioria das áreas urbanas muitas vezes as fontes de água existentes são impróprios
para o consumo humano, devido à contaminação decorrente de esgotos que correm a céu
aberto. Mesmo quando existem redes coletoras de esgotos, podem ocorrer escoamentos para
cursos d’água e/ou infiltrações, contaminando o lençol freático, além do agravamento pela
deposição inadequada de resíduos sólidos no solo (MENDES et al. 2002). Na Finlândia, no
período de 1980 a 1992, ocorreram 24 surtos de doenças relacionadas à água. Cerca de 7.700
pessoas foram atingidas. Aproximadamente 90% dos sistemas utilizavam água de poços e
minas que não recebiam desinfecção. A maioria dos surtos ocorreu pela contaminação da
água nesses sistemas (LAHTI e HIISVIRTA, 2003 apud PHILIPPI JR., 2005b).
56
No local de estudo foi observado que existe grande quantidade de resíduos sólidos
espalhados pelas ruas, no entorno das residências, juntamente com esgoto que escorre a céu
aberto podendo infiltrar pelo solo facilitando a contaminação do lençol freático. A prática de
criar animais no entorno, bem como dentro do bairro é comum entre os moradores, sendo
detectado pela pesquisadora chiqueiros e criação de animais de grande porte (bovinos e
eqüinos). Um curral foi encontrado durante as visitas pelo bairro, estando o mesmo localizado
dentro do bairro, próximo à margem do córrego, ficando os dejetos dos animais amontoados,
podendo ser carreados pela água da chuva.
As condições da água nos domicílios do bairro Caladão quanto à freqüência de
abastecimento, atitude adotada pela comunidade com relação à água antes de consumi-la,
existência ou não de caixa d'água, e aqueles que a dispõe se a mesma tem ou não tampa e se é
feito a limpeza periódica da caixa d'água são apresentados na Tabela 2.
TABELA 2 - Condições da água nos domicílios do bairro Caladão, Coronel Fabriciano, 2008.
Variáveis
Freqüência
Número de declarações %
Irregularidade no abastecimento
Sempre 41 70,6
Periodicamente 11 19,0
Raramente 6 10,4
A água que se bebe é
Filtrada 32 55,2
Torneira 25
43,1
Fervida 1 1,7
Caixa d’água
Sim 49 84,6
Não 9 15,5
Caixa d’água com tampa
Sim 45 91,8
Não 3 6,1
Não sabe informar 1 2,1
Limpeza da caixa d’água
Não realiza 58 100
Verificou-se que todos os entrevistados declararam que falta água no bairro Caladão.
Destes 70,6% responderam que falta sempre, 19,0% responderam que periodicamente e
10,4% entrevistados responderam que raramente falta água. A irregularidade no fornecimento
de água para a população tem comprometido as atividades de banho, preparo de alimentos,
limpeza do ambiente e inclusive a necessidade humana básica, que é a de saciar a sede,
57
principalmente para as famílias que não possuem caixa para armazenamento de água.
Quando abordadas sobre o tratamento que a água recebe antes de ser consumida, 55,2%
responderam que filtram; 43,1% declararam que a falta de filtro na residência é a razão pela
qual usavam a água direto da torneira e apenas 1,7% declarou que ferve a água somente para a
filha antes de beber. Todos os filtros presentes nas residências são de cerâmica comum e a
irregularidade de limpeza e troca do filtro foi referida por todos os entrevistados. A vela é
trocada quando se apresenta desgastada ou quando não filtra mais.
Apesar da maioria dos entrevistados declararem que filtram a água antes de beber é
preciso salientar que o filtro deve ser lavado semanalmente e sua vela de filtragem substituída
periodicamente, oferecendo assim maior segurança no processo.
Quando questionados sobre caixa d`água reservatória no domicílio, 15,5% dos
entrevistados informaram não possuir caixa d’água reservatória, utilizando água direto de
uma única torneira e transportadas em latas para múltiplos usos. Uma entrevistada informou
que a torneira fica em um ponto abaixo da residência, pois a mesma se localiza em barranco e
a pressão da água não permite que ela caia na caixa. Sendo assim, é obrigada a carregar água
para os múltiplos usos. Em 91,8% das residências, os entrevistados informaram possuir caixa
d`água reservatória de água devidamente tampada. Nas residências que dispõe de caixa
d`água reservatória 6,1% declararam que as mesmas não estão tampadas.
Apesar da grande maioria dos entrevistados (91,8%) que possuem caixa d’água, declarar
que dispõe de caixa com tampa, foi observado que algumas dessas tampas foram
improvisadas, tendo sido usados alguns materiais para fazer a vedação, a exemplo de pedaços
de plásticos, madeira ou pedaços de metais. Sendo assim, a vedação em alguns casos foi feita
de forma inadequada ou mesmo a cobertura da caixa foi comprometida pela ação do tempo.
Segundo Philippi Jr. (2005a) a caixa d'água tem a função de suprir a interrupção do
abastecimento de água e constitui ponto sujeito à contaminação, quando não mantida de
forma adequada, devidamente tampada e com limpezas regulares. Além disso, a falta de
tampa na caixa d’água torna a mesma um meio propício para a proliferação de vetores, como
o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela. Quanto ao processo de
sanitização visando melhorar a qualidade da água, nenhum entrevistado informou realizar
algum tipo de tratamento da água, conforme dados apresentados na Tabela 2.
Os reservatórios são muitas vezes superdimensionados, por temor à falta de água, e
com isso essa água fica “estocada”, sem grande renovação por muito tempo, fazendo com que
o residual de cloro seja quase zero, facilitando a proliferação de microorganismos. O ar está
“carregado” de microorganismos (germes, fungos, algas, bactérias) alguns deles até benignos
58
por fazerem a “limpeza” natural, biodegradando resíduos, mas microorganismos em geral,
principalmente na água para consumo humano, provocam inúmeras doenças como, por
exemplo, disenterias e diarréias. A contaminação também pode se dar por coliformes fecais e
ocorre pela proximidade de esgotos ou por algum contato com animais de sangue quente.
Fendas, rachaduras, “boca de visita” baixa e mal fechada, tudo isso permite a contaminação
(por esgoto próximo, animais, água da chuva caída de telhados infestados por pombos e
outros animais, alagamento carregando fezes de ratos, etc.). Por isso, é tão necessário
construir os reservatórios nos locais mais altos dos terrenos, longe de fossas ou tubulações de
esgoto, com “bocas de visita” altas, com tampa e sobre-tampa e perfeitamente
impermeabilizados. Águas de poço, rio e de outras fontes naturais sem tratamento prévio
localizados em áreas urbanas, requerem atenção redobrado. É sempre aconselhável, além da
análise bacteriológica, fazer análises físico-químicas para verificar se não contaminação
por metais pesados, se os níveis de sílica (areia) e teores de sais estão dentro dos parâmetros
aconselháveis, inclusive os de cálcio e magnésio, se não despejos próximos de sabões e
desengraxantes industriais, agrotóxicos, etc. Em épocas de chuvas podem contaminar o lençol
d’água, rio, etc. É bom lembrar que os produtos químicos agrícolas não são eliminados com
fervura, cloração ou filtragem. A preservação da qualidade da água durante o período de sua
permanência nos reservatórios depende de boas condições físico-sanitárias. Em geral, os
consumidores não estão informados da necessidade de manutenção, limpeza e higienização
dos reservatórios e, quando utilizam águas de outras fontes como complemento, não
conhecem as limitações e a possibilidade de estar contaminada.
5.2 Fatores ambientais relacionados aos dejetos líquidos e sólidos
A análise do tema relacionado aos dejetos líquidos e sólidos está apresentada na
Tabela 3.
59
TABELA 3 - Dados relacionados aos dejetos líquidos e sólidos nos domicílios
Variáveis
Freqüência
Número de entrevistados %
Destino dos resíduos sólidos
Coleta pública
57
98,3
Enterrado ou queimado 1 1,7
Destino do resíduo líquido
Rede pública
58
100
Fossa 4 6,9
De acordo com o relato de 98,3% dos entrevistados o lixo descartado das residências
tem como destino final a coleta realizada pela Prefeitura duas a três vezes por semana. Estes
dias não estão bem definidos e a população não sabe informar com precisão sobre os dias e
horários de coleta. Está imprecisão causa comportamento inadequado de acumular lixo nas
ruas ou descartar em lotes vagos.
O acondicionamento do lixo é feito predominantemente em sacos plásticos e, apenas
1,7% dos entrevistados declarou que o lixo é enterrado ou queimado. Foi observado que
muitas vezes o lixo fica exposto nas ruas e lotes vagos, visto que a coleta não é regular,
contribuindo para a o acúmulo de resíduos que podem conter restos de alimentos e que
chegam ao despejo geralmente sendo consumidos por populações de agentes de
decomposição. Do lixo doméstico podem vir agentes patogênicos que perduram no meio
como ovos ou cistos de parasitas presentes em excrementos humano. Os sacos são destruídos
pelos animais e acumulados nas ruas. O mesmo acontece quando os lixos são deixados
expostos, sem serem enterrados profundamente. Os resíduos sólidos mal gerenciados
facilitam a proliferação de ratos e artrópodes, que podem invadir habitações circunvizinhas.
No lixo, esses animais encontram recursos em termos de alimentação e espaço para procriar e
se abrigar. Podem-se estabelecer cadeias ecológicas detrimentosas à saúde. Ratos, baratas,
escorpiões, moscas, mosquitos podem proliferar nessas situações. De certa forma, mosquitos
como o Aedes aegypti, com potencial de transmissão da Dengue, pode se desenvolver em
recipientes que acumulam água nesses locais. Em áreas como o Caladão, onde o
gerenciamento dos resíduos não é regular, a população se insere em biocenoses,
compartilhando o mesmo ambiente com animais reservatórios de diversas doenças, vetores
mecânicos e biológicos, e um número variável de agentes patogênicos que contaminam o
meio. Vetores mecânicos carregam uma diversidade de microrganismos, que se desenvolvem
nos restos de alimentos depositados no lixo, como salmonelas, estreptococos, estafilococos,
bacilo do tétano, entre outros, colocando a população sobre risco de diversas doenças
60
Atualmente está demonstrada de forma clara a relação entre a proliferação de certas doenças e
o manejo inadequado de resíduos sólidos (PHILLIP JR., 2005b).
Diversos fatores influem no sentido de que exista elevada prevalência de parasitoses
intestinais nos países em desenvolvimento, mas saneamento básico deficiente e inadequadas
condições ambientais nas quais vivem inúmeras pessoas constituem, sem dúvida, os mais
proeminentes (CHIEFFI et al., 2001). Sobretudo a partir de sua relação com o saneamento,
uma vez que os seus cistos são muito resistentes, permanecendo viáveis por até dois meses no
ambiente.
Quanto aos dejetos líquidos, em todas as casas pesquisadas, o destino do esgoto é a
rede pública. Cabe ressaltar que de todos os domicílios, 6,9% dos entrevistados declararam
que além da residência estar servida pela rede coletora de esgoto, possuíam também fossa,
este último construído para receber os dejetos do banheiro. Estas construções já existiam antes
da implantação da rede de esgoto pública e foram mantidas pelos moradores para receber a
água do banheiro. Nenhum entrevistado soube responder por que mantém estas fossas. Foi
observado que parte do bairro Caladão os dejetos líquidos escorrem a céu aberto, afetando
diretamente toda a comunidade. Vale salientar que ainda não existe nenhum tratamento de
esgoto no bairro Caladão, sendo este lançado in natura no ribeirão Caladão. O aspecto é
desolador, além do odor fétido há presença de embalagens plásticas flutuando nas margens do
córrego (FIGURA 9).
FIGURA 9 - Aspecto geral do ribeirão Caladão e da
presença de resíduos lançados no leito.
Durante o desenvolvimento da pesquisa freqüentemente foi observado a presença de
61
animais no leito do ribeirão Caladão (FIGURA 10).
FIGURA 10 - Aspecto geral da presença de animais no
leito do ribeirão Caladão.
Não havendo o tratamento adequado de esgotos, as preocupações que se levantam são
sobre os possíveis impactos ao ambiente e os conseqüentes riscos à saúde humana. Núcleos
urbanos desprovidos de rede coletora ou com cobertura deficiente acabam por eliminar
resíduos líquidos em fossas ou valas, indo o conteúdo diretamente para o ambiente. A
infiltração no solo, dependendo das características desse, pode atingir o lençol, contaminando-
o. Com o esgoto escorrendo na superfície, a massa de resíduo orgânico pode acumular na
margem do fluxo, e entre o gradiente seco-líquido surge matéria de consistência pastosa.
Nessas condições, além da emanação de odor, o conteúdo atua servindo como hábitat de
proliferação de moscas, que na fase alada podem agir como vetor mecânico, dispersando
agentes patogênicos sobre a população. Não como evitar o contato entre o homem e o
hábitat contaminado. A faixa etária infantil coloca-se em condição de elevado risco de
contaminação, pois acaba por usar esses sítios como área de lazer. Esses ambientes conferem
à paisagem urbana aspecto desolado e estão geralmente associados a condições sociais
precárias (PHILLIP JR., 2005a).
O quadro geral visualizado no bairro Caladão, bem como na cidade de Coronel
Fabriciano apresenta similaridade com o quadro descrito pelo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2000), com base na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
(PNSB) realizada em 2000, que apontou situação preocupante dos municípios brasileiros, pois
apesar de aproximadamente 98% desses municípios disporem de serviços de abastecimento
d'água e quase 100% com coleta de lixo, somente 52% deles tinham coleta de esgotos e uma
62
minoria de 20% ofereciam algum tipo de tratamento ao esgoto, sendo que 90% dos
municípios brasileiros lançam seus esgotos in natura, sem nenhum tipo de tratamento no leito
dos rios, lagos e córregos.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA, 2005), no que se refere ao tratamento
de esgotos, a cobertura não passa de 23%, para o meio urbano, e de 18% quando se toma o
conjunto dos meios urbano e rural. Com isso, é possível afirmar que 82% dos esgotos
descartados sobre as massas líquidas servem para poluir as correntes de água, dificultando
ao extremo a seqüência do ciclo do saneamento, que prevê a captação de água em mananciais,
ora contaminados, para tratamento e distribuição no próprio meio urbano.
O problema é grave em relação aos esgotos, pois grande parte da população nem
sequer toma conhecimento do que se passa depois que os dejetos são lançados no esgoto. E é
justamente a falta de uma defesa em favor da necessidade do tratamento de esgotos e da falta
de conhecimento da população, que favorece um índice de cobertura desse serviço ainda tão
baixo.
A presença da carga orgânica no leito do córrego demonstra a necessidade de melhoria
da cobertura sanitária no bairro Caladão quanto à coleta e tratamento efetivo dos esgotos
sanitários gerados, bem como dos resíduos sólidos. A falta de eficiência destes serviços gera a
necessidade da sua disposição local, comprometendo direta ou indiretamente a qualidade das
águas dos mananciais superficiais (FIGURA 9 e 10).
No questionamento sobre presença de animais no convívio com as famílias, todos os
domicílios visitados tinham animais domésticos, sendo que em 3,3% existiam mais de um. A
presença de animais domésticos pode contribuir para a disseminação de parasitas,
constituindo fator de risco para a população (TABELA 4).
TABELA 4 Presença de animais domésticos nos domicílios
Atualmente, algumas famílias criam animais com hábitos muito próximos das pessoas
63
Variável Freqüência
Animais domésticos n. %
Gato 8 13,3
Cachorro 41 68,4
Galinha 7 11,6
Outros 4 6,7
Total 60 100
da casa, e esta proximidade aumenta o risco de transmissão de doenças. Segundo Driemeier
(2006), em pesquisa realizada no Setor de Patologia Veterinária (SPV) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, foi encontrado em 6098 animais necropsiados, sendo 2832
cães e 435 felinos, 96 cães com diagnóstico de doenças de caráter zoonótico. Destes, um total
de 70 animais (72,92%) estavam acometidos pela leptospirose, que segundo Veronese e
Focáccia (2006), é uma doença de distribuição mundial, de notificação obrigatória, com maior
prevalência em países tropicais e subtropicais. A contaminação do homem se através da
água e contato com a urina de animais infectados. Os cães são considerados reservatórios
domésticos, pois mantém a bactéria nos rins e a eliminam através da urina, e os ratos
reservatórios permanentes. Com o crescimento da população urbana do bairro Caladão e a
carência de saneamento, observa-se que locais onde animais domésticos dividem espaço
com roedores, elevando o risco de contaminação e propagação da bactéria. A segunda doença
com maior número de casos depois da leptospirose foi a verminose, diagnosticado em 23,96%
dos cães e em 77,78%, em um total de 9 gatos.
Percebeu-se que a quantidade de animais no convívio com a população em estudo, bem
como a precariedade em saneamento básico expõe esta população a maior risco de contrair
doenças.
5.3 Fatores Familiares
Os resultados das entrevistas sobre os fatores familiares foram ordenados de acordo
com a proposta do Discurso do Sujeito Coletivo. Sendo:
Categoria 1: A percepção dos entrevistados sobre a água
As entrevistas (ANEXO 3) referentes às questões “O que você acha da água que usa
em casa?” e Como seria para você uma água ruim?”, nos revelam, através da fala de uma
parcela dos entrevistados de que a água da nascente apresenta características de cor e sabor
agradáveis. A população ouve falar que pode estar contaminada, mas não tem certeza. Outra
parcela informa que a água está contaminada e suja sugerindo que não é uma água adequada
para uso humano. Com isso, apresentamos dois discursos diferentes, sendo o primeiro
64
referindo-se à água da nascente como adequada e o outro como a água estando inadequada
para uso.
Sub-categoria 1: A percepção dos entrevistados sobre a água que se usa em casa
Discurso do Sujeito Coletivo 1
Idéia Central: “A água é limpa, boa e gostosa sendo agradável ao paladar”.
DSC 1: “A água do Caladão é gostosa, fresquinha, muito boa, natural, não tem cloro. Falam
que tem bicho morto e muito caramujo em cima, mas eu não acho que é verdade. Ela é
muito gostosa, precisa ser tratada. Nunca deu problema. Na época da chuva ela fica suja,
mas depois limpa de novo. A nossa é boa, se põe cloro fica ruim”.
Discurso do Sujeito Coletivo 2
Idéia Central: “A água é suja, contaminada”.
DSC 2: “É péssima, cheia de micróbios. Não é tratada. Não é totalmente limpinha na chuva.
Ruim. Péssima. Época de chuva ela vem muito suja. Eles falam que tem muito caramujo.
Boa ela não é não. Eles encontram muitas coisas nela como lacraia, caramujo, cavalo morto...
Acho que ela deve ter algum verme, pois não é tratada nada! Acho que ela está cheia de
micróbio. É uma água sem tratar.
Sub-categoria 2: A percepção dos entrevistados sobre o que seria uma água ruim
Idéia Central: “Água suja, com gosto ruim. A água da COPASA”.
DSC : “Água suja. Água que não pode contar para a saúde da família. Tem gosto ruim. Não
serve para lavar roupa branca. Não tenho coragem de beber. Água que causa doença. A água
da COPASA que tem gosto e cheiro ruim, parece que põe remédio. A água da casa de minha
irmã que vem da COPASA. A que põe remédio”.
Diante da leitura dos discursos, foi observado que a aceitação da água para o consumo
humano depende dos parâmetros físicos como cor, odor e sabor, e estes são considerados
importantes na qualidade da água para consumo. Obtivemos um discurso que representa a
opinião de quem acredita consumir água de boa qualidade, onde os parâmetros físicos são
65
suficientes para considerá-la assim e enfatizaram que “... ela é boa porque é natural e
fresquinha”.
Foi observado ainda na fala dos entrevistados que a água também é considerada boa,
em decorrência do não apresentar gasto financeiro onerado, não precisando pagar por ela.
Neste caso, não há nenhuma relação com a qualidade e sim com o fato dos usuários não terem
custos pelo abastecimento de água. Esta é uma questão importante no bairro Caladão, já que a
maioria dos moradores apresenta baixa renda: “... nós a temos de graça. Esta é nossa. Ela é
boa, nós não pagamos por ela”.
Segundo Tundisi (2003), populações carentes em diversos países chegam a despender
até 20% de seus rendimentos com água. Como exemplo pode-se citar Gana, país onde 50% da
população ganha menos de um dólar por dia, aproximadamente 40% estão abaixo da linha da
pobreza e onde o preço da água mais que dobrou nos últimos cinco anos. Um estudo realizado
em 2003 pelo Centro de Desenvolvimento Social Integrado (CDSI) mostrou que na capital,
Accra, famílias despendem de 18 a 20% de seus rendimentos com água (AMENGA-ETEGO,
2004).
Além disso, populações de baixa renda em geral não têm acesso aos equipamentos
economizadores de água, que esses custam de 6 a 7 vezes mais que os modelos
convencionais, nem recebem informações e educação sobre o assunto. Esse quadro mostra-se
um tanto perverso, que o combate ao desperdício para essas populações teria duplo
significado: a contribuição para a conservação do recurso e para a possível melhoria da
qualidade de vida dessas famílias, uma vez que qualquer economia nos gastos com água
poderia ser utilizada para outros fins.
No contexto do bairro Caladão cuja população é, em geral, de baixa renda, a mesma
não dispõem de recursos financeiros para ter acesso aos equipamentos economizadores de
água. Durante o período em que foi desenvolvida a pesquisa não foi identificado nenhuma
campanha informativa e educativa no bairro sobre este assunto para, entre outros objetivos,
reduzir desperdício de água, fato constatado in loco.
A resistência à utilização de outra fonte de abastecimento que não seja da nascente do
ribeirão Caladão aparece na fala de um entrevistado, morador antigo do bairro Caladão: “...
falam que a água é suja e causa doença. Nunca ninguém mostrou um atestado de morte escrito
que foi por causa da água. Nunca vi escrito”.
A fala deste morador questiona se realmente a água pode causar doença de veiculação
hídrica quando imagina que o atestado de óbito traria escrito que a causa foi a água. Não é
claro para ele que doenças como leptospirose, esquistossomose, hepatite A, cólera,
66
verminoses entre outras são frequentemente registradas nos atestados de óbito, principalmente
entre as populações mais pobres e que matam milhões de pessoas no mundo diariamente. No
Brasil, 65% das internações hospitalares são provenientes de doenças de veiculação hídrica e
ainda segundo John (2007), mais de 25 milhões de mortes anuais é ocasionado por doenças de
veiculação hídrica e pelo menos ¼ da humanidade permanece sem água segura e saneamento.
Por outro lado 17,2% dos entrevistados referem-se à água do Caladão como não
tratada, podendo estar contaminada ou poluída, contendo organismos patogênicos ou
substâncias químicas capazes de causar doenças ao homem, sendo estas denominadas doenças
de veiculação hídrica.
Quando questionados sobre o que seria para eles uma água ruim, as respostas
evidenciaram que seria água suja, pois se torna inútil para a lavagem de roupa e para os
demais afazeres domésticos. A água tratada da COPASA também foi referida como de
qualidade, uma vez que o uso do cloro no tratamento da água altera o seu sabor dando a ela
“gosto de remédio” tornando-a imprópria para beber. “... água que possui remédio, que
gosto”; “... água que possui sujeira e gosto ruim de cloro”; “... água da COPASA, que possui
gosto e cheiro ruim”; “... água branca de cloro”; “... antes, onde eu morava, o caminhão trazia
a água e estava com cloro, ardia o olho, faz mal para o cabelo. Talvez eu não seja acostumada
com a água da COPASA”.
Com base nestas falas pode-se observar que a água tratada, que atende os parâmetros
físico-químicos e microbiológicos é referida como água ruim, enquanto que a da nascente que
abastece praticamente todo o bairro e não recebe tratamento, é considerada apesar disto água
adequada ao consumo humano.
Categoria 2: A água enquanto veiculador de doença
Com relação às questões “Você acha que a água pode provocar alguma doença?
Qual?”, “Você acha que alguém, aqui na sua casa, já ficou doente por causa da água? Quem?”
e “Que sintomas ele apresentou?” a maioria das respostas revela que os moradores sabem que
a água pode transmitir verminoses quando contaminada e revelam conhecimento sobre a
relação água e saúde. Alguns acham que principalmente as crianças adoecem pelo uso de
águas contaminadas. A diarréia é referida como principal causa de doença entre as crianças.
Sub-categoria 1: A água pode causar doença?
Idéia Central: “Sim, transmite verme”.
67
DSC: “Eu acho que sim, transmite verme. Se beber a água quente dor de barriga. Sim, se
não filtrar. Transmite solitária, verme em geral. Acho que verme, lombriga. diarréia.
ouvi falar, mas não lembro. Dor de barriga, micose. mancha no corpo. Doenças do
intestino. Doença de urina do rato”.
Sub-categoria 2: Alguém na família adoeceu por causa da água? Quais foram as
manifestações clínicas apresentadas?
Idéia Central: “Sim, as crianças ficam com diarréia”.
DSC: “Sim, meu filho ficou internado com infecção intestinal. Teve muita diarréia e vômitos.
O médico falou que é por causa da água. As crianças ficam com diarréia, febre, cor ruim. Meu
menino ficou com barriga inchada. A minha menina teve verme com muita diarréia. Quando
chegamos aqui, minha menina desandou e meu marido empolou”.
Idéia Central: “Ninguém aqui em casa pegou verme”.
DSC: “Não, por causa da água, não. Nunca ouvi falar que foi por causa da água a doença da
minha menina. Não, ninguém nunca ficou doente por causa da água. Ela é bem limpinha.
Não”.
Sub-categoria 3: Qual é a principal causa de doenças nas crianças?
Idéia Central: “Diarréia”.
DSC: “Diarréia. Caganeira. Desando” e gripe. Gripe e diarréia. Vomita muito. Alergia. Dor
de barriga. Cólica e diarréia”.
Dos entrevistados, 89,6% acreditam que a água pode provocar doenças quando se
apresenta suja. Já foram informados também pelo médico, enfermeira e Agentes Comunitários
de Saúde da Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano sobre doenças transmitidas pela
água. Também nos foi revelado discursos de moradores que não acreditam que a água cause
doença, mesmo sendo informados por profissionais da área da saúde.
Observa-se negação na fala de 74,1% dos entrevistados quando afirmam que seus
familiares não adoecem por causa da água. Verminoses são referidas por 12% entrevistados
como doenças apresentadas entre as crianças e que poderiam ter sido causadas pela água.
68
Uma entrevistada informa que seu filho foi internado com infecção intestinal, referindo-se a
água como fator causal.
Ainda relacionado às crianças, a diarréia assumiu o primeiro lugar nas informações
sobre principal doença apresentada. O emprego de expressões populares para referir diarréia é
usada entre a maioria dos entrevistados. Uma entrevistada informou que o filho não apresenta
verminose, mas logo a seguir questiona se é comum a criança eliminar “lombriga pelo nariz”,
pois isto tem ocorrido com freqüência com sua filha. Outra entrevistada informou que a
principal causa de adoecimento das crianças é a gripe. Logo a seguir completa: “Ele tosse,
tosse, enquanto não vomita a lombriga, ele não para de tossir”.
É importante lembrar que a verminose provoca a disenteria, como sintoma mais
importante, além de cólicas abdominais e emagrecimento. Todos estes sintomas são referidos
como causa de doença entre as crianças. Segundo Veronesi e Focaccia (2006), no ciclo
evolutivo do Ascaris lumbricoide ocorre uma fase no intestino e outra pulmonar, onde ao
serem ingeridos na água ou alimentos, os ovos atravessam a parede do intestino e caem na
corrente sangüínea, invadem o fígado e dois a três dias depois chegam ao coração direito. Pela
veia pulmonar chegam ao pulmão e em seguida, migram pela árvore brônquica até a faringe,
de onde podem ser eliminados pela tosse ou deglutidos. Quando deglutidos vão para o
intestino delgado, transformando-se em adultos. Em infecções maciças encontram-se lesões
pulmonares e hepáticas. Nos pulmões ocorrem pontos hemorrágicos ou edemaciação dos
alvéolos, manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia, simulando um quadro gripal.
Os problemas respiratórios referidos nas falas dos responsáveis poderiam estar associados ao
ciclo pulmonar da ascaridíase.
Além disso, por atingir principalmente as crianças até cinco anos de idade, têm efeito
devastador no crescimento e no desenvolvimento de aptidões, uma vez que levam à
desnutrição e a situações de fragilidade que deixam os organismos dessas crianças sem defesa
para outras doenças (NEVES, 2006).
As infecções causadas por parasitos, pelos efeitos nocivos que acarretam ao
desenvolvimento físico e mental, especialmente de crianças menores, podem provocar o
agravamento do estado de nutrição, resultando na debilidade do organismo e retardamento
somático e intelectual. Isso acarreta atraso escolar, perda de concentração, desmotivação e
alto índice de morbidade, influenciando negativamente a economia e o desenvolvimento de
um país, constituindo um problema de ordem social e sanitária (VERONESI e FOCACCIA,
2005).
69
Sub-categoria 4: O que fazer quando algum membro da família está doente?
Idéia Central: “Coisa simples trata em casa”.
DSC: “Quando é coisa simples, trato em casa. Às vezes trato em casa. vou ao posto se for
coisa importante. Coisa simples, eu mesma faço chá em casa. Trato eu mesma em casa. Coisa
grave levo no hospital. Muitas vezes o chá caseiro resolve mais que o remédio. Faço chá de
quitoco, poeja, favaca, hortelã, de semente de abóbora. Resolve bem. Aprendi com minha
mãe”.
Todos os entrevistados revelam o conhecimento adquirido das mães e avós na prática
da medicina natural e caseira. Procuram a Unidade de Saúde somente quando os chás não
apresentaram os efeitos desejados. O saber tradicional passado de mãe para filha é colocado
como primeira ação diante do adoecimento. Deixando para atendimento especializado apenas
questões não resolvidas em casa.
Além disso, uma grande quantidade de portadores de enfermidades não procura os
serviços médicos por causa das longas distâncias entre as suas moradias e os hospitais ou
centros de saúde, além da razão do uso de ervas medicinal (MARTINS e VINHA 2001).
5.4 Análise da água
A análise das 75 amostras de água coletadas em 69 domicílios sendo dois com duas
coletas por possuir poços e mais 4 amostras de água coletadas de abastecimento da
comunidade que correspondem às duas nascentes, canaleta de drenagem e caixa d'água
reservatória, revelou a presença de Coliformes Totais e Escherichia coli em todas as análises
realizadas.
TABELA 5 - Resultado da análise bacteriológica das amostras de água
Número de amostras
Resultado da análise bacteriológica
Coliformes Totais Escherichia coli
75 75 75
70
A Figura 11 apresenta os recipientes contendo amostras de água, a cor amarela indica
resultado positivo para presença de organismos do grupo coliformes totais (a) e a emissão de
fluorescência indicam resultado positivo para presença de Escherichia coli (b).
a b
FIGURA 11 - Recipientes com amostras de água, a cor amarela indica resultado positivo para presença de
organismos do grupo coliformes totais (a) e a emissão de fluorescência indica resultado positivo para
presença de Escherichia coli (b).
As análises das amostras de água utilizadas para consumo humano no bairro Caladão
indicam contaminação da água por coliformes totais e Escherichia coli em 100% das
amostras. Portanto, segundo a legislação vigente, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), Portaria do Ministério da Saúde (MS) 518/2004, pode-se afirmar que a água
utilizada pela população em estudo encontra-se fora dos padrões de potabilidade, uma vez que
essa portaria estabelece em seu Capítulo 4, Art. 11, como padrão de potabilidade a ausência
de coliformes totais e Escherichia coli em amostras de 100 mL, conforme descrito na Tabela
6.
Murray (2000), afirma que a presença de coliformes, bactérias da família
Enterobacteriaceae, na água é relativamente comum e que as mesmas podem ser responsáveis
por uma variedade de doenças, principalmente as infecções intestinais.
De acordo com Silva e Junqueira (2001), o grupo dos coliformes, bactérias em forma de
bastonetes, gram-negativas, aeróbias ou anaeróbias facultativas, são os indicadores biológicos
mais comumente empregados ao estudo da qualidade de água, pois são amplamente
distribuídos uma vez que estão presentes em grande quantidade nas fezes do ser humano e de
outros animais homeotermos, constituindo assim um dos principais indicadores de
contaminação fecal. O indicador patogênico de origem fecal mais importante é a Escherichia
71
coli, desprovida de vida livre no ambiente. Quando presente na água indica que o meio está
contaminado por fezes.
TABELA 6 - Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano
PARÂMETRO VMP
(1)
Água para consumo humano
(2)
Escherichia coli ou coliformes termotolerantes
(3)
Ausência em 100mL
Água na saída do tratamento
Coliformes totais Ausência em 100mL
Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)
Escherichia coli ou coliformes termotolerantes
(3)
Ausência em 100mL
Coliformes totais
Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por
mês: ausência em 100mL em 95% das amostras
examinadas no mês.
Sistemas que analisam menos de 40 amostras por
mês: apenas uma amostra poderá apresentar
mensalmente resultado positivo em 100mL.
Notas: (1) valor máximo permitido, (2) água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo
fontes individuais como poços, minas, nascentes, dentre outras, (3) a detecção de Escherichia coli deve ser
preferencialmente adotada.
FONTE: Brasil, 2005
Barcellos et al. (2000), em pesquisa realizada na área periurbana de Lavras, Minas
Gerais, avaliaram trinta fontes de água utilizadas no consumo doméstico. Nas análises de água
realizadas, constatou-se que 93% das amostras apresentaram número de coliformes totais
acima do padrão de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde, desqualificando a
utilização dessas águas para uso doméstico sem tratamento prévio. Assim como Barcellos, no
bairro Caladão, a água também apresenta características microbiológicas semelhantes, sendo a
mesma não recomendada para uso doméstico.
Segundo Mormul et al. (2006), a qualidade da água é uma necessidade universal, que
exige atenção por parte das autoridades sanitárias e consumidores em geral, principalmente no
que se refere aos mananciais como poços, minas e nascentes destinados ao consumo humano,
visto que sua contaminação por excretos de origem humana e animal podem torná-las um
veículo de transmissão de enfermidades. Com o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa
o autor avaliou as condições microbiológicas e a potabilidade da água de três nascentes
localizadas na Favela São Francisco na cidade de Campo Mourão no Paraná sendo utilizada a
técnica de tubos múltiplos. Foi realizado teste presuntivo e confirmativo para bactérias do
grupo coliformes totais e teste para presença de coliformes termotolerantes. Os resultados
mostram que as águas provenientes das amostras das três nascentes avaliadas estavam fora do
72
padrão de potabilidade determinado pelo Ministério da Saúde. As famílias que utilizam essas
águas estão sujeitas as enfermidades, razão pela qual é importante alertar as autoridades
competentes quanto à necessidade da implantação de rede de água e esgoto na Favela São
Francisco. A ação antrópica, quando feita de forma irresponsável ou sem os devidos cuidados
pode ocasionar até mesmo contaminação em nascentes e demonstra como precisamos ter mais
zelo com o meio ambiente e com nossa própria vida.
Assim como a pesquisa realizada em Lavras e na favela de São Francisco Mourão, os
resultados encontrados no bairro Caladão demonstram que o homem enquanto ser racional
precisa ter mais responsabilidade e cuidado com o habitar o planeta terra. Sociedade e
Governo precisam estar trabalhando de forma mais integrada, de modo que medidas simples
de educação ambiental e de saúde possam trazer mais conhecimento para as populações
menos esclarecidas.
As duas nascentes analisadas que formam o ribeirão Caladão, manancial onde é feito
a captação de água que abastece o bairro Caladão, possui uma canaleta aberta para drenar
água até a caixa reservatória com proteção precária em vários pontos ou não tem proteção.
Algumas proteções são feitas apenas com pedaços de placas de plástico ou de madeira
removidas com facilidade. Esta precariedade na proteção da canaleta permite dentre outras
coisas, o escorrimento de águas superficiais e sedimentos para o seu interior.
Na área em estudo, a captação é feita da água aflorando na superfície, correndo a céu
aberto e represado em uma barragem feita de pedras e solo compactado, sem nenhum tipo de
proteção. Presença de excremento de animais foi visualizada no entorno da barragem, bem
como próximo da canaleta já que a represa por falta de isolamento tem sido utilizada inclusive
pelos animais para dessedentação (Figuras 12, 13 e 14).
FIGURA 12 - Vista geral da canaleta de drenagem da
água para a caixa reservatória.
73
FIGURA 13 - Visão parcial da área próxima à canaleta
de drenagem da água com deposição de excremento de
animais.
FIGURA 14 - Vista parcial da caixa reservatória de
água que abastece o bairro Caladão.
Philippi Jr. (2005 a) afirma que a água deve ser captada antes de brotar na superfície,
através de um sistema fechado. Entretanto, em nenhuma das nascentes do ribeirão Caladão
visitadas, a água era captada antes de brotar na superfície. Em todas elas, a água é
transportada em canaletas, até o reservatório e depois distribuída à população através de tubos
de PVC. Segundo a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida
Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, as áreas situadas nas nascentes são
consideradas como Área de Preservação Permanente (APP), ainda que intermitentes e nos
chamados “olhos d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, devendo ter um raio
mínimo de cinqüenta metros de largura preservada. Segundo os artigos 2.º e 3.º dessa lei, a
área protegida pode ser coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
74
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas
(LIMA, 2000). Medidas de controle e preservação das nascentes bem como a forma de
captação da água visando diminuir a contaminação poderiam ser feitas pela Prefeitura
independente da comunidade aceitar ou não a água tratada pela COPASA.
Durante as entrevistas, os moradores referem que a água da nascente fica suja no
período das chuvas, Segundo Lima (2000), quando a água de uma nascente se turva
facilmente após uma chuva, é sinal de que uma deficiente capacidade de infiltração da
água na APP ou mesmo do seu terreno circundante. Dentro da distribuição correta com os
animais distanciados, duas ações complementares são indicadas, sendo a primeira desenvolver
um programa de manejo de pastoreio para se evitar a compactação exagerada do solo da área
do pasto e, na segunda, providenciar bebedouros para os animais. No Caladão os animaism
livre acesso às fontes de água e nenhum cuidado é feito para manter os animais afastados do
terreno que circunda a nascente e nenhum bebedouro foi visualizado na área.
Sobre os dois poços avaliados nas residências de dois entrevistados e utilizados
quando falta água no sistema de abastecimento da Prefeitura, ambos se apresentavam em
péssimas condições de conservação, um não possuía proteção da cavidade perfurada,
utilizando com coberturas restos de madeira e o outro possuía tampa de alvenaria e remoção
da água com bomba, mas a tampa estava sendo utilizada como depósito de materiais velhos e
entulhos. A presença de resíduos e de animais no entorno desses poços foi verificado em
ambas as casas. O aspecto de apresentação da água de cor escura e com depósitos foi
visualizado e referido pelos entrevistados, dificuldade para utilização da mesma.
Segundo Philippi Jr. (2005), os poços rasos são facilmente contaminados pelo
escoamento de água que se infiltra, levando junto material orgânico para as águas
subterrâneas. Qualquer dejeto humano ou animal depositado em local inadequado pode ser
carreado pela água da chuva até o lençol freático, expondo os usuários dessas fontes a riscos
de aquisição de doenças. A proteção adequada com tampas bem vedadas e o entorno limpo,
livre de resíduos, animais e matéria orgânica, garante melhor qualidade da água.
5.5 Análise parasitológica de amostras de fezes
75
Em relação ao levantamento parasitológico de fezes realizado em 140 crianças na
faixa etária de 6 meses a 5 anos residentes nos domicílios visitados do bairro Caladão,
verificou-se que 62,8% apresentaram resultado positivo nos exames parasitológicos de fezes
para algum tipo de parasita.
Este percentual de crianças com parasitoses é um reflexo da deficiência do saneamento
básico do bairro Caladão (incluindo água de nascente e poços, drenagem de esgoto in natura
nos cursos d'água e deposição inadequada de resíduos em solo) sobre os níveis de transmissão
das infecções intestinais.
As espécies mais prevalentes foram: Ascaris lumbricoides 31,4%, Giardia lamblia
16,4%, Entamoeba histolystica e Emtamoeba coli 14,3% respectivamente, Enterobius
vermiculares 1,3% Endolimax nana 0,7% (GRAFICO 1).
31,4%
16,4%
14,3%
1,3%
0,7%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Ascaris
lumbricoides
Giardia
lambia
Entamoeba
histoystica e
Entamoeba
coli
Enterobius
vermiculares
Endolimax
nana
Agentes patológicos
Porcentagem
GRÁFICO 1 Distribuição percentual dos agentes patogênicos identificados nos exames
parasitológicos de fezes.
Os quadros de parasitoses apresentam maior incidência entre populações de baixo
poder aquisitivo, alimentação insuficiente, subempregos, habitações inadequadas com falta de
água tratada e de esgoto encanado. O tratamento de água, tanto para ingestão como para
higiene, é essencial para o controle dessas parasitoses, assim como o tratamento de esgoto e
melhoria nas práticas de higiene pessoal e comunitária (NEVES, 2006; REY, 2001).
Com relação a Ascaris lumbricoides, os seres humanos são infectados por meio da
ingestão de ovos encontrados na água e alimentos contaminados. Os ovos eclodem e as larvas
76
presentes no intestino delgado transformam-se em vermes adultos, retirando os nutrientes dos
alimentos ingeridos pela pessoa infectada, contribuindo para a subnutrição, especialmente em
crianças. Segundo Neves (2006), a contaminação por este parasita é comum nos países
tropicais, onde milhões de pessoas são infectados e considera que a eliminação apropriada das
fezes pode prevenir a ascaridíase.
Os maiores índices de Giardia lamblia e Ascaris lumbricoides, já foram observados em
alguns levantamentos parasitológicos, que demonstraram que a giardíase é uma das principais
parasitoses intestinais entre crianças brasileiras (NEVES, 2006). No Brasil, a freqüência de
infestação por Giardia lamblia varia de acordo com a população e a região estudada. No qual,
aproximadamente 10% a 15% da população mundial estão infestadas com esses parasitas,
enquanto que no Brasil a prevalência varia de 9% a 50%, especialmente em crianças com
menos de cinco anos de idade. Surtos de giardíase não são raros, especialmente entre
escolares e em populações de baixa renda com deficiências em saneamento básico. Quanto ao
Ascaris lumbricoides, diversos estudos realizados em pré-escolares e escolares mostraram
elevada prevalência dessa parasitose intestinal. A disseminação das helmintíases no país está
em estreita dependência com a umidade do solo, que os seus ovos embrionados quando
liberados no solo pelas fezes do hospedeiro definitivo, não possuem capacidade de infecção,
mas podem contaminar água e alimentos. Uma vez que a região do Vale do Aço apresenta um
clima úmido e superúmido com verões quentes e chuvosos, o que pode favorecer a
proliferação destes parasitos. Além de apresentar áreas cujas condições sanitárias são
precárias, podendo constituir um importante indicador do estado de saúde de uma população.
A melhoria do saneamento básico é uma das principais medidas adotadas que levam a alto
impacto sobre algumas importantes doenças humanas, incluindo ascaridíase e giardíase.
Analisando a distribuição e freqüência de poli e monoparasitismo, observou-se que
22,85% se encontravam infestadas com mais de um tipo de parasito intestinal estando uma
infestada com 4 parasitas diferentes e 40,0% com monoparasitismo (GRÁFICO 2).
77
22,85%
40,0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Poliparasitismo Monoparasitismo
Infestação poli e monoparasitismo
Porcentagem
GRÁFICO 2 Distribuição e freqüência de mono e poliparasitismo entre as
crianças do bairro Caladão
Estes índices de poliparasitismo podem ser ocasionados pelo consumo de água e
alimentos contaminados por formas transmissíveis de enteroparasitas em diversos momentos,
desde o preparo até o consumo dos alimentos, e o uso da água contaminada. Neste sentido,
observou-se que um número significativo dos indivíduos avaliados neste estudo consumia
água de torneira sem nem mesmo utilizar a filtragem em filtros tradicionais, fator que pode
constituir importante meio de disseminação de cistos, ovos e larvas de enteroparasitas.
Sanchez-Pérez et al. (2000) apud Julião (2003) em pesquisa realizada no México com
populações de zonas periféricas, observaram que dentre os principais parasitas detectados em
amostras de fezes de crianças, destacava-se a contaminação por Ascaris lumbricoides, devido
a uma maior tendência de parasitar pessoas que vivem em condições precárias de saneamento,
onde a fonte de água é de má qualidade.
No Brasil, Heller et al. (2004), em um estudo da demanda laboratorial em Viçosa-MG,
avaliando 3.463 exames parasitológicos de fezes, encontraram 10,6% de exames positivos
para Giardia lamblia, resultando em uma prevalência de 2,8%. A prevalência de
enteroparasitas concentrou-se na faixa etária de 1 a 14 anos e em bairros com precária
qualidade de vida e de infraestrutura de saneamento, logo, na população de mais baixa renda
de Viçosa. Comparando a prevalência de exames positivos para protozoários intestinais
segundo diferentes condições de saneamento, verificou-se que demonstram maior proteção os
indivíduos que residem em casas com reservatório tampado domiciliar de água para consumo
em relação aos que possuem ligação direta da rede, e os que residem em casas que dispõem
seus esgotos em rede ou córrego em relação aos que utilizam fossas.
78
Um estudo epidemiológico realizado em favelas de Belo Horizonte, que comparou três
áreas com diferentes condições de saneamento, segundo indicadores de saúde de crianças
entre um e cinco anos, mostrou prevalência da giardíase de 25%, revelando o risco de
exposição da população amostrada em função das condições precárias de saneamento
(AZEVEDO, 2003).
Assim como a pesquisa desenvolvida no México, a maior contaminação das crianças
envolvidas nesta investigação, foi por Ascaris lumbricoides, seguida da contaminação por
Giardia lamblia e Entamoeba histolytica e coli, revelando a relação direta com os problemas
de saneamento, higiene e abastecimento de água existente no bairro Caladão. Foi observado
também que a maioria das residências apresentava condições de conservação e higiene
inadequados tanto internamente como também no entorno. Muitas destas residências estão
localizadas em áreas de difícil acesso, e enquanto se utiliza escadas escavadas no barranco
para subir até a casa, ao lado descartam lixo barranco (FIGURA 15).
FIGURA 15 Vista geral da deposição de
resíduos sólidos na área urbana do bairro
Caladão.
Dos parasitas que podem ser ingeridos através da água, destacam-se a Entamoeba
histolítica e a Giardia lamblia, causadoras da amebíase e da giardíase respectivamente.
Ambas são encontradas, sobretudo em países quentes e em locais onde existem más condições
sanitárias. Protozoários que se locomovem e se alimentam por meio de pseudópodes, podem
ser de vida livre, comensais ou parasitas e causam importante disenteria. São endêmicas no
Brasil, sendo encontradas praticamente em todos os estados. Provocam além da disenteria,
cólicas abdominais, astenia e emagrecimento. Na maioria dos casos não causam doença grave,
79
porém, nas infecções muito intensas podem levar à morte. É curável, mas deve o tratamento
ser supervisionado e prescrito por profissional especialista. Medidas sanitárias e a ingestão de
água potável são as formas de se evitar a doença (REY, 2001).
A alta freqüência de episódios de diarréia devido a infecções intestinais é um dos
principais fatores que contribuem para a morbidade e mortalidade em crianças nos países
tropicais, o que também contribui para o retardo no desenvolvimento na infância (REY,
2001). O Brasil, devido à sua situação geográfica, às condições climáticas e aos graves
problemas sanitários enfrentados por grande parte da população, apresenta índices de
parasitoses elevados.
As doenças parasitárias intestinais apresentam-se como sério problema de saúde
pública em países em desenvolvimento. É verificável que tais índices estão diretamente
relacionados com precariedades em saneamento básico e a conseqüente degradação
ambiental. Nessa problemática assumem relevância também a escolaridade e o conhecimento
sanitário da população exposta. Também enfrentam a falta de programas educativos capazes
de envolver as comunidades, fundamentais para a mudança de hábitos e crenças que
contribuem para os mecanismos de transmissão dessas doenças e que, muitas vezes,
representam fatores de subdesenvolvimento social (PEDRAZZANI et al., 2000).
As enteroparasitoses humanas constituem-se problema de saúde pública e podem ser
consideradas como indicadores das condições socioeconômicas em que vive uma dada
população (MAGALHÃES JR., 2007).
A criança tem se mostrado alvo das infecções parasitarias, e é neste indivíduo que as
repercussões das parasitoses tornam-se mais significativas. No Brasil, mais da metade de pré-
escolares encontram-se parasitados (MACEDO e REY, 2000)
Vale ressaltar aqui que todas as crianças submetidas aos exames e que apresentaram
resultado parasitológico positivo, foram submetidas a tratamento medicamentoso conforme
Resolução 01/2005, que estabelece o protocolo sobre a intervenção do Enfermeiro na
prevenção e tratamento das doenças no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) da
Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano (PMCF, 2005) e respeitando a Lei do Exercício
Profissional 7.498 de 25 de junho de 1986 e regulamentada pelo Decreto 94.406 de 8 de
junho de 1987 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) pela Enfermeira responsável
pelo PSF do bairro Caladão com ajuda da pesquisadora. As mães que tiveram os filhos
examinados participaram de grupos de reuniões sobre Educação em Saúde onde receberam
informações sobre as enteroparasitoses e aprenderam formas de se evitar novas infecções.
80
6 CONCLUSÃO
O presente estudo abordou a qualidade microbiológica da água utilizada para
consumo humano e a incidência das parasitoses de veiculação hídrica em crianças de 6 meses
a 5 anos de idade, considerando a percepção dos entrevistados sobre os riscos à saúde pelo
uso da água bem como as formas de captação, armazenamento, usos, deposição de resíduos
sólidos e líquidos.
Os resultados obtidos mostraram que a água proveniente da nascente e utilizada na
comunidade é imprópria para consumo, uma vez que apresentou coliformes totais e
Escherichia coli, em 100% das amostras coletadas, confirmando assim, a vulnerabilidade da
população estudada em relação aos riscos de adoecimento por doenças de veiculação hídrica,
através do consumo de água contaminada.
Essa observação nos leva a crer na possibilidade de ser, este, um dos principais, se não
o principal motivo dos resultados das análises parasitológicas de fezes entre as crianças bem
como das queixas de doenças mais comuns contidas nas falas dos moradores. Os resultados
apresentaram índices importantes de parasitismo.
Para todos os parasitas detectados nos resultados dos exames, a transmissão ocorre por
ingestão ou contato da pele com ovos e larvas infectante presentes na água, alimentos e solo
contaminados, mantendo maior prevalência em locais de condições sanitárias precárias.
Sendo recomendado como forma de prevenção a melhoria das condições sanitárias, com
eliminação adequada do esgoto, boa higiene pessoal, dos alimentos e do ambiente, além do
uso de calçados para evitar exposição ao solo contaminado.
Os resultados confirmam a vulnerabilidade da população estudada em relação aos riscos
de adoecimento por doenças parasitárias devido o uso de água contaminada ou pela precária
situação de saneamento ambiental. É clara a necessidade de investimento para melhorar as
condições de vida da população, visando atender as propostas da Agenda 21, baseadas em
ações que incluem a saúde, a sociedade e o meio ambiente, através da promoção da saúde
para moradores das periferias urbanas.
Quanto à percepção de riscos à saúde, relacionados à água, os entrevistados
demonstraram saber que a água pode ser fonte de transmissão de doenças, mas as falas dos
moradores aparecem confusas sobre os conceitos de água adequada ao consumo e água não
adequada. A água tratada parece pouco agradável ao paladar dos usuários, enquanto a água da
nascente, sem nenhum tratamento, parece mais adequada ao consumo, baseando apenas nas
81
características físicas e organolépticas. Somente os parâmetros visuais, gustativos e olfativos
são utilizados pela maioria dos moradores para classificação da água. Parâmetros
microbiológicos e químicos não são levados em consideração, provavelmente por não serem
aspectos do dia-a-dia.
A não aceitação, por parte dos entrevistados, da alteração no sabor da água em função
da utilização de produtos como o cloro pode limitar o uso e criar dificuldades de implantação
de rede pública de abastecimento que é um produto largamente utilizado para produção de
água potável.
Seria fácil afirmar que os moradores não têm informações suficientes e adequadas
quanto aos riscos de exposição à água contaminada; no entanto, a partir da observação local,
identificou-se que a utilização desta água seja talvez a solução encontrada por elas para
atendimento das necessidades básicas que o produto é utilizado por todos sem nenhum
custo adicional.
Formas alternativas de tratamento da água poderiam ser propostas, num primeiro
momento, minimizando com isto os riscos de parasitoses que afetam esta população
permanentemente a custos mais acessíveis à maioria dos moradores.
Também foi possível concluir que a condição social bem como moradia e higiene têm
relação direta com os resultados dos exames, que a situação econômica colabora bastante
para a suscetibilidade às parasitoses.
Tudo isto aponta para a necessidade de investimento na melhoria das condições de vida
desta comunidade, através de ações que incluam principalmente saneamento e educação para
a saúde.
Desenvolver instrumentos que buscam trabalhar, de forma integrada, as questões
relativas ao saneamento (água, esgoto, lixo e drenagem), consolidando uma prática de
educação ambiental voltada não apenas para a questão ambiental, mas, sobretudo, para a sua
relação com a saúde e com a melhoria da qualidade de vida da população.
Buscando a motivação e sinalizando sobre a importância de se descobrir caminhos
coletivos para a mudança de valores, hábitos e comportamentos, pôde-se estimular no
Caladão um processo participativo de compartilhamento do ensinar e aprender, através de
uma comunicação mais aberta e confiante das ações públicas, em que a credibilidade do
Serviço Público possa ser assegurada, através da reelaboração dos conceitos sobre o
saneamento e a sua relação direta com a saúde.
Considerando os aspectos avaliados, pode-se perceber que a falta de informação sobre
a qualidade da água na população estudada, a coloca em risco de contrair doenças. Essa falta
82
de informação, certamente não é por desinteresse dos moradores, mas sim, por falta de uma
política de saúde mais abrangente, que não seja focada somente no assistencialismo, com
tratamento médico-hospitalar e distribuição gratuita de alguns medicamentos, entre eles,
antiparasitários, para tratar o que poderia ser evitado, e sim, uma política que, realmente,
proporcione condições para que os indivíduos mantenham sua saúde, através de ações
conscientes, críticas e reflexivas sobre o que deve ou não ser feito.
83
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel importante desempenhado por esta investigação disponibiliza informações
sobre a necessidade de orientar os moradores sobre a qualidade da água utilizada e os riscos
impostos à saúde dos usuários, recomenda medidas urgentes que minimizem o problema.
Formas alternativas de tratamento da água, a baixo custo e acessíveis a todos devem ser
estudas para diminuição dos índices de parasitoses encontrados entre as crianças. O
fornecimento de água tratada pela empresa de saneamento local também seria alternativa, mas
esta não parece ser a medida mais aceita por todos, que isto acarretaria custos para uma
população que possui restrições de recursos financeiros.
Além disso, essas informações podem ser reforçadas pela equipe da Unidade Básica
de Saúde durante visitas domiciliares ou nas consultas médicas e de enfermagem realizadas na
referida unidade de saúde.
A proposta de educação em saúde, como medidas mitigadoras aplicando treinamentos
às crianças e aos Agentes Comunitários de Saúde da UBS da área de referência deve ser
considerada como uma forma de colaborar diretamente com o início de ações que favoreçam
a melhoria das condições de saúde e higiene dos moradores do bairro Caladão como
multiplicadores de informações.
Acredita-se que um trabalho articulado com os profissionais de saúde que atuam na
unidade de referência e com a escola municipal do bairro, possa contribuir com o
planejamento e execução de ações, as quais devam considerar as condições de vida, os valores
culturais, as crenças e os hábitos de vida da população alvo. Esta articulação tornará possível
a construção de material educativo sobre medidas simples que possam minimizar os
problemas decorrentes com o consumo de água e proteção dos mananciais através da melhoria
do saneamento ambiental.
A recuperação da área das nascentes e melhoria da qualidade da água também é
alternativa que pode mobilizar as autoridades sanitárias e a comunidade, em atividades
integradas e participativas. A questão da água deve buscar soluções que incorporem os
princípios de integração dos componentes social, econômico e ambiental. Dessa forma, é
necessária a busca de tecnologia apropriada de saneamento para essa comunidade que possui
densidade demográfica alta e com capacidade financeira mais limitada, entre outras
características socioculturais.
84
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89
ANEXOS
ANEXO 1 – Termo de Autorização à Pesquisa
De: Virgínia Maria da Silva Gonçalves
Para: Rubéns de Almeida Castro – Secretário Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano
Assunto: Solicitação
Ipatinga, 21 de Junho de 2007,
Prezado Senhor,
Na condição de mestranda do curso de Pós-graduação stricto sensu do Programa Pós-
Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade - Mestrado Profissional do Centro
Universitário de Caratinga-UNEC, desenvolvendo o projeto de pesquisa “Condição
Parasitológica de Crianças e sua Correlação com a Qualidade da Água Consumida no Bairro
Caladão em Coronel Fabriciano MG” que tem como objetivo geral conhecer a qualidade
microbiológica da água consumida pelos moradores do local e a prevalência de
enteroparasitoses entre crianças do bairro, venho por meio deste, solicitar a autorização de
V.Sª para desenvolver a pesquisa sob minha responsabilidade.
A escolha por desenvolver esta pesquisa no referido bairro, deve-se ao fato de que o
mesmo apresenta uma população de baixa renda e precariedade quanto às condições de
saneamento básico. Analisar a qualidade da água consumida, perceber o grau de
conhecimento sanitário por parte da população e identificar a prevalência de enteroparasitoses
remetem ao contexto regional ao qual a área de estudo se insere. A participação da Secretaria
Municipal de Saúde será também de fornecer os exames parasitológicos a serem realizados
entre as 140 crianças cadastradas no PSF do Caladão.
Cabe ressaltar que se trata de um trabalho de pesquisa para obtenção de título de
mestre e está sob orientação do professor Dr. Marcos Alves de Magalhães. Certo de contar
com os préstimos desta secretaria, declaro distinta consideração, colocando-me à disposição
pelos contatos: 3826-3695 ou 8717-3695 e pelo e-mail [email protected].
_____________________________________
Virginia Maria da Silva Gonçalves
Enfermeira
90
ANEXO 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu__________________________________________________________ concordo
em participar bem como autorizo meu filho a também participar da investigação que será
realizada pela pesquisadora Virgínia Maria da Silva Gonçalves, aluna do Programa Pós-
Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade - Mestrado Profissional do Centro
Universitário de Caratinga-UNEC, desenvolvendo o projeto de pesquisa “Condição
Parasitológica de Crianças e sua Correlação com a Qualidade da Água Consumida no Bairro
Caladão em Coronel Fabriciano MG”. A mestranda é orientanda do Professor Dr. Marcos
Alves de Magalhães e co-orientada pelo Professor Dr Meubles Borges Jr e tem como objetivo
conhecer a qualidade da água consumida pelos moradores do local, a percepção de riscos dos
usuários e realização de exames parasitológicos nas crianças de 6 meses a 5 anos. Minha
colaboração se dará através de uma entrevista individual com a pesquisadora, na qual relatarei
minha experiência cotidiana como moradora (o) no local bem como a realização da coleta de
fezes de meu filho para posterior exame parasitológico.
Estou ciente de todo projeto da pesquisa em tela, incluindo a justificativa, os objetivos
e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, os desconfortos na coleta das fezes e os
benefícios esperados, isto mediante esclarecimentos que a discente pesquisadora prestou-me.
O sigilo que assegura a minha privacidade e a de meu local de moradia quanto aos
dados confidenciais envolvidos na pesquisa foi-me garantido pela responsável, assim como a
liberdade de eu desistir da minha participação a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou
dano decorrente da pesquisa.
Foi assegurado a mim que o desenvolvimento desta pesquisa respeitará, a todo
instante, a Resolução n°196/96 do CNS - Conselho Nacional de Saúde (Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos), e toda legislação vigente em
nosso país, assegurando todos os meus direitos como cidadão.
Ipatinga, _______ de __________________________ de 20_____.
____________________________ _____________________________
Assinatura da Pesquisadora Assinatura do Entrevistado
Tel. 3826-3695
91
ANEXO 3 – Formulário de entrevista para levantamento de dados
QUESTIONÁRIO nº:__________
ENDEREÇO: _____________________________________________________________
Código da moradia: _______________ Total crianças entre 6 meses a 5 anos____________
FATORES AMBIENTAIS
A) Relacionados à água:
1. De onde vem a água da casa?
( ) Encanada ( ) Nascente ( ) Poço
2. Costuma faltar água na sua casa?
( ) Sim ( ) Não
3. Com que freqüência?
( ) Sempre ( ) Periodicamente ( ) Raramente ( ) Nunca
4. A água que se bebe em casa é?
( ) Fervida ( ) Filtrada ( ) Torneira
Se filtrada, lava-se o filtro com qual periodicidade?
( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) não lava ( ) não tem periodicidade
Troca a vela com qual periodicidade:
( ) mensalmente ( ) anualmente ( ) quando está desgastada ( ) não troca ( ) não sabe informar
ou não filtra mais.
5. A casa tem caixa d’água?
( ) Sim ( ) Não
6. A caixa d’água é mantida tampada?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe
7) É feito limpeza na caixa d'água? ( ) Sim ( ) Não
Com qual periodicidade?
( ) a cada 6 meses ( ) a cada ano ( ) raramente ( ) nunca ( ) não sei informar
8. Procedimento utilizado para sanitização:
( ) Somente água ( ) Água sanitária
( ) Cloro ( ) Nenhum
B) Relacionados aos dejetos líquidos e sólidos:
1. Como é coletado o lixo?
( ) Saco plástico ( ) Latão
92
( ) Enterrado ( ) queimado
Outros: ___________
2. A Coleta do lixo é realizada:
( ) Não é feito coleta ( ) 1x/semana
( ) 2 ou + x/semana
3 .Para onde vai o esgoto da casa?
( ) Fossa ( ) Rede pública ( ) outros:_____________
4. Tem animais em casa? ( )Sim ( ) Não
( ) Gato ( ) Cachorro
( ) Galinha ( ) Nenhum
( ) Outros: ___________
C) Fatores familiares
1. O que você acha da água que usa em casa?______________________________________
__________________________________________________________________________.
2. Como seria para você uma água ruim?_________________________________________
__________________________________________________________________________.
3. Você acha que a água pode provocar alguma doença?_____________________________
___________________________________________________________________________
Qual?______________________________________________________________________
4. Você acha que alguém, aqui na sua casa, já ficou doente por causa da água?____________
___________________________________________________________________________
Quem?_____________________________________________________________________
5. Que sintomas ele apresentou? _________________________________________________
___________________________________________________________________________
6.Qual é a doença mais comum das crianças aqui em sua
casa?_______________________________________________________________________
7. O que você faz quando alguém fica doente?
( ) Procura Unidade de Saúde ( ) Procura o hospital ( ) Trata você mesma em casa.
Como aprendeu?_____________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Como trata? ________________________________________________________________
93
ANEXO 4 - Planilha controle das amostras de água para análise
PLANILHA CONTROLE DAS AMOSTRAS DE ÁGUA PARA ANÁLISE
Local da coleta Captação
Armazenamento na
moradia
Resultados
Coliformes
Totais
Escherichia coli
CASA 01 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 02 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 03 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 04 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 05 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 06 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 07 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 08 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 09 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 10 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 11 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 12 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 13 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 14 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 15 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 16 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 17 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 18 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 19 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 20 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 21 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 22 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 23 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 24 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 25 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 27 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 28 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 29 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 30 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 31 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 32 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 33 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 34 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 35 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 36 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 37 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 38 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 39 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 40 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 41 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 42 torneira caixa d’água positivo positivo
94
CASA 43 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 44 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 45 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 46 T
torneira
caixa d’água positivo positivo
CASA 47 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 48 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 49 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 50 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 51 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 52 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 53 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 54 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 55 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 56 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 57 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 58 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 59 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 60 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 61 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 62 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 63 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 64 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 65 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 66 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 67 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 68 torneira não possui caixa d'água positivo positivo
CASA 69 torneira caixa d’água positivo positivo
CASA 70 poço 1 - positivo positivo
CASA 71 poço 2 - positivo positivo
CASA 72 nascente 1 - positivo positivo
CASA 73 nascente 2 - positivo positivo
CASA 74 canaleta - positivo positivo
CASA 75 caixa geral - positivo positivo
95
ANEXO 5 - Planilha observação não participante
Casa Higiene da moradia Resíduos em solo Armazenamento água
Casa 01 Casa limpa, higienizada.
Piso lavável, paredes mal
conservadas. Banheiro
precário.
Presença de dejeto de animais
na área externa da moradia.
Poucos resíduos sólidos em
solo.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 02 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar.Banheiro precário.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mal odor.
Caixa d’água com
tampa inadequada
Casa 03 Casa com higiene
precária, desordem na
disposição de objetos.
Presença de resíduos em solo,
bem como fezes de animais.
Não possui caixa d'água
Casa 04 Casa limpa e organizada.
Banheiro com piso e
paredes azulejadas.
Pouco espaço externo. Sem
resíduos em solo
Caixa d’água
Tampa inadequada
Casa 05 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar. Banheiro
precário.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 06 Casa com higiene
deixando a
desejar.Banheiro
precário.Sem piso e
paredes mal conservadas.
Presença de resíduos em solo.
Área externa grande. Muitos
objetos amontoados.
Não possui caixa d'água
Casa 07 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Banheiro precário.
Grande quantidade de resíduos
em solo. Difícil acesso,
precariedade na conservação.
Resíduos em área de barranco.
Não possui caixa d'água
Casa 08 Casa limpa e organizada Sem presença de resíduos.
Plantas como flores e verduras.
Presença de animais próximo
aos canteiros.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 09 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Presença de resíduos em solo Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 10 Casa limpa e organizada. Área externa relativamente
limpa.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 11 Casa limpa e organizada. Área externa relativamente
limpa.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 12 Casa relativamente
organizada. Higiene
satisfatória
Área externa com acúmulo de
objetos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 13 Casa limpa e organizada.
Bem conservada.
Área externa muito
organizada.
Caixa d’água
tampa adequada
96
Casa 14 Casa relativamente
organizada. Higiene
satisfatória
Área externa relativamente
limpa.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 15 Casa limpa e organizada.
Bem conservada.
Área externa muito
organizada.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 16 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar. Banheiro
precário.
Área externa com acúmulo de
objetos. Presença de fezes de
animais.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 17 Casa limpa, mas pouco
organizada.
Em fase de obras.
Muitos objetos amontoados.
Presença de poucos resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 18 Casa relativamente
organizada. Higiene
satisfatória
Área externa relativamente
limpa.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 19 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar
Área externa relativamente
limpa.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 20 Casa desorganizada,
higiene deixa a desejar.
Não tem área externa. Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 21 Casa em momento de
arrumação. Piso grosso
encharcado com água.
Banheiro sem ventilação
e sem piso adequado.
Área externa relativamente
limpa. De difícil acesso.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 22 Casa desorganizada, com
higiene a desejar.
Presença de resíduos em solo Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 23 Casa com higiene a
desejar. Precária na sua
estrutura física.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Não possui caixa d'água
tampa inadequada
Casa 24 Casa limpa e organizada.
Estrutura precária de
paredes e pisos.
Área externa limpa, mas com
acúmulo de objetos
empilhados.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 25 Casa desorganizada e
higiene precária.
Área externa com resíduos em
solo. Presença de muitos
animais (galinhas e cachorros).
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 27 Casa limpa e organizada. Área externa limpa, mas com
acúmulo de objetos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 28 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Presença de resíduos em solo
na entrada da rua e no quintal.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 29 Casa limpa e organizada. Área externa limpa Caixa d’água
tampa adequada
Casa 30 Casa com, organização Área externa com acúmulo de Caixa d’água
97
precária, higiene deixa a
desejar. Banheiro
precário.
objetos. Presença de fezes de
animais.
tampa inadequada
Casa 31 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 32 Casa limpa e organizada. Área externa limpa Caixa d’água
tampa adequada
Casa 33 Casa limpa e organizada. Área externa limpa Caixa d’água
tampa adequada
Casa 34 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar.
Área externa limpa Caixa d’água
tampa adequada
Casa 35 Casa limpa e organizada. Área externa limpa Caixa d’água
tampa adequada
Casa 36 Casa com, organização
precária, higiene deixa a
desejar.
Muito resíduo em solo. Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 37 Casa com higiene a
desejar. Precária na sua
estrutura física.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Caixa d’água
tampa inadequada
Casa 38 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Muito resíduo em solo. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 39 Casa desorganizada com
higiene a desejar.
Muito resíduo em solo. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 40 Casa com higiene a
desejar. Precária na sua
estrutura física.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Não possui caixa d'água
Casa 41 Casa com higiene a
desejar. Precária na sua
estrutura física.
Muito resíduo em solo,
presença de esgoto a céu
aberto e mau odor.
Caixa d’água
não visualizado tampa
da caixa
Casa 42 Casa limpa e organizada. Área externa limpa, mas com
acúmulo de objetos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 43 Casa limpa e organizada. Área externa limpa. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 44 Casa relativamente limpa.
Organização deixa a
desejar.
Área externa limpa. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 45 Casa relativamente limpa.
Organização deixa a
desejar.
Área externa limpa. Caixa d’água
não visualizado tampa
Casa 46 Casa relativamente limpa. Área externa limpa. Caixa d’água
98
Organização deixa a
desejar.
tampa adequada
Casa 47 Casa limpa e organizada. Área externa limpa. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 48 Casa relativamente limpa.
Organização deixa a
desejar.
Área externa limpa. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 49 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
objetos. Presença de fezes de
animais e de resíduos em solo.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 50 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 51 Casa com higiene
precária e organização
deixa a desejar.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 52 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Não possui caixa d'água
Casa 53 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 54 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
objetos. Presença de fezes de
animais e de resíduos em solo.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 55 Casa limpa e organizada. Área externa limpa. Caixa d’água
tampa adequada
Casa 56 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 57 Casa com higiene
precária.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
tampa adequada
Casa 58 Casa relativamente
higienizada, mas com
desorganização dos
objetos.
Área externa com acúmulo de
resíduos.
Caixa d’água
não visualizado tampa
99
ANEXO 6 - Planilha de construção do Discurso do Sujeito Coletivo
O que você acha da água que usa em casa?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC - Acho ela boa. Água muito boa A água é boa (A)
RRS - Acho boa pra consumo Boa para consumo (A)
AFR – Acho ela boa, tem que estar boa, ela sai
limpinha.
Boa porque é limpa (A)
LMS – Só não é tratada. Não é totalmente limpinha
na chuva.
Não é tratada, por isso não é totalmente
limpa (B).
LMB – Acho ela boa e não precisa pagar. É de
graça. A água que a COPASA põe é a mesma, só
que precisa pagar.
Não tem custo (A)
JARN – Não é bem tratada. Prá beber é boa. Boa mas não é tratada (B)
EPCJC – Ela é boa, a água é boa. Apesar de suja na
chuva ela é boa. Quando limpa ela é boa.
Suja na época da chuva, mas é boa (B)
COL – Ela é boa. Melhor que a da COPASA. A da
COPASA tem gosto forte.
Boa porque não tem gosto bom, a da
COPASA tem gosto (A)
LP – Acho ela boa. Não tem gosto. A água da
COPASA, pelo amor de Deus...
Boa porque não tem gosto. Copasa tem
gosto (A)
JCL – Acho boa, não tem gosto ruim, acho mais
saudável.
Boa porque não tem gosto (A)
CGAS – Acho ela gostosa e muito boa. Boa porque não tem gosto (A)
CCCB – Acho que ela precisa só de tratamento. Precisa ser tratada (B)
BES – Ela é boa, só falta tratar ela mesmo. Precisa ser tratada (B)
NRS – Acho ela boa, mas precisava tratar. Precisa tratar (B)
ESMS – Acho que a água é boa. Nunca deu
problema.
Boa (A)
MHM – Boa. Boa (A)
GVSC – Ela é boa, apesar de que ficamos sabendo
que lá em cima tem animal morto e muito
caramujo.
Boa mas pode conter objetos
indesejáveis (B)
NMA – Ela é uma água boa. Só não é tratada. Precisa tratar (B)
CFFC – Acho ela boa. O gosto é melhor que a da
COPASA.
Boa por causa do gosto (A)
MAS – Boa, pois não tem gosto ruim. Boa por causa do gosto (A)
MLCF – Acho ela boa porque ela é natural. É
fresquinha.
Boa por que é natural (A)
100
1
JC – Moro aqui há 60 anos e bebo dessa água.
Nunca tive nada. Ninguém já morreu por causa
dela. Vou te falar: Falam que a água é suja e causa
doença. Nunca ninguém mostrou um atestado de
morte escrito que foi por causa da água. “Nunca vi
escrito.”
Boa (A)
LSC – Ruim. Péssima. Ruim (B)
CAS – Ás vezes ela é suja e amarela. Outras vezes
vem limpinha.
Suja (B)
EL – Época de chuva ela vem muito suja. Eles
falam que lá tem muito caramujo.
Suja (B)
AFA – Suja. Suja (B)
ACV – Boa ela não é não. Eles encontram muitas
coisas nela como lacraia, caramujo, cavalo morto...
Tem verme (B)
MAS – Acho que ela deve ter algum verme, pois
não é tratada nada!
Tem verme (B)
LCO – Acho que ela está cheia de micróbio. Cheia de micróbio (B)
ESN – É boa, mas quando chove ela vem suja. Boa (A)
CC – Não é tratada não, né? Vem com cisco. A
caixa é lodo puro. Mas quando ta limpa ela é muito
boa.
Não é tratada(B)
ALSS – É uma péssima água. RUIM (B)
MHFA – É uma água sem tratar. Não é tratada (B)
RRA– Ela é uma água boa só não tem tratamento. Boa (A)
ACA – Acho que ela pode não ser boa, mas não
tenho dinheiro para pagar água boa.
Não é boa (B)
JF - A água do Caladão é gostosa, fresquinha,
muito boa.
Boa (A)
ACR - Natural, não tem cloro. Natural (A)
NM - Na época da chuva ela fica suja, mas depois
limpa de novo.
Suja na época da chuva, mas é boa (A)
JRF - A nossa é boa, se põe cloro fica ruim. Boa, sem cloro (A)
NPS - É gostosa, fresquinha. Gostosa (A)
PC - Nunca deu problema. Sem problema (A)
JL - Boa, se põe cloro fica ruim. Sem cloro (A)
EASS – Ela é boa, só falta muito. Tem dia que não
tem.
Água boa (A)
MA – Água boa. Sempre usei. Não dá problema
nenhum.Melhor ainda porque a gente não paga a
COPASA.
Boa porque não é paga. (A)
101
AO – Á água é muito boa. Tem muita água aqui. Água boa (A)
IJS – Ela é boa. Se a COPASA vem, é a mesma
água. Só que vai ter de pagar.
Água boa (A)
AMS – Muito gostosa. Sem nenhum gosto. Água boa (A)
LS - É boa. Se não faltasse tanto, era melhor ainda. Água boa (A)
ICO – Ela é muito boa. Serve para beber, lavar
roupa. Serve para tudo.
Água boa (A)
MAS - Boa porque é de nascente. Não tem
remédio. Se puser remédio fica ruim.
Boa porque não é tratada. (A)
VMR – É boa porque é natural, de nascente. Água boa porque é natural. (A)
GS – É da nascente. Criei meus filhos aqui com
essa água.
Água boa (A)
AMS - É boa, fica suja nas chuvas. Água boa (A)
JRC - Muito boa mesmo. Falam que não é mas eu
não acredito.
Água boa (A)
CMM – Ela não é tratada... Não é tratada (B)
ASC - Ela é boa. Eu acho. Água boa (A)
LP - Falam que não é não. Eu não sei. Acho ela
boa.
Água boa (A)
BAS – Ela é gostosa... Água gostosa (A)
LPO – Acho essa água péssima. Sem tratamento. RUIM (B)
O que é para você uma água ruim?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC - Com gosto ruim. Gosto ruim (A)
RRS– Água suja. Água suja (B)
AFR – Que dá espuma e é suja. Água suja (B)
LMS – Sem tratamento, suja. Sem ser tratada (C)
LMB – Suja de barro. Suja (B)
JARN – Com sujeira. Suja (B)
EPCJC – Que não foi tratada. Sem ser tratada (C)
COL – Água que causa doença. Que causa doença (C)
LP – Cor escura. Que não dá pra lavar roupa branca. Cor (B)
JCL – Suja, que não é tratada. Sem ser tratada (C)
MMSC - Água que não pode contar para a saúde da
família.
Sem ser tratada (C)
102
CCCB – Que provoca alguma doença. Sem ser tratada (C)
BES – Essa nossa é boa. Se coloca cloro fica ruim. Tratada (D)
NRS – Acho que é a que dá verme. Sem ser tratada (C)
ESMS – Acho que a possui remédio que dá gosto. Tratada (D)
MHM – A da COPASA, que possui remédio e dá
gosto e cheiro ruim.
Tratada (D)
GVSC – Água suja, cheia de bichinho. Suja (B)
NMA – Antes, onde eu morava, o caminhão trazia e a
água estava com muito cloro. Ardia os olhos e fazia
mal para o cabelo. Talvez eu não seja acostumada com
a ága da COPASA.
Tratada (D)
CFFC – Suja e que faltasse sempre. Suja (B)
MAS – Que tem gosto ruim. Com gosto (A)
MLCF – Não tem água ruim. Ela tem que ser tratada. Sem ser tratada (C)
JC – Água da COPASA. Tratada (D)
LSC Seria aquela que eu não teria coragem de beber. Cor (B)
CAS – Água que dá mancha Sem ser tratada (C)
EL – Água amarela, perto de rede de esgoto. Cor (B)
AFA – Água com gosto; a da COPASA. Tratada (D)
ACV – Que possui sujeira. Suja (B)
MAS – Aquela que não é tratada. Que tem sujeira e
gosto ruim.
Sem ser tratada (C)
LCO – A água que tomei na casa de minha irmã. É da
COPASA, é ruim.
Tratada (D)
ESN – Mau gosto e sem tratar. Gosto (A)
CC – Com gosto de remédio. Como a da COPASA. Gosto (A)
MNSS – Amarelada Cor (B)
MHFA – Água com cloro. Tratada (D)
RRA, MM – Água com gosto de ferrugem. A da
COPASA. Com gosto.
Tratada (D)
ACA – Essa água cheia de cloro. Tratada (D)
JF - Quando está com muito cheiro de cloro. Tratada (D)
ACR – Água poluída. Sem ser tratada (C)
NM – Água amarela, com sinal de sujeira. Suja (B)
JRF – Água suja com cheiro de remédio. Tratada (D)
NPS - Água que possui gosto e possui cor. Gosto e cor (A e B)
PC - Água contaminada. Sem ser tratada (C)
JL – Água suja com gosto. Suja e com gosto (A e B)
103
EASS – Água que eu não bebo. Suja (B)
MA – Água com sujeira. Suja (B)
AO – Aquela que não serve para beber. Suja (B)
IJS – Acho que é a agua que não dá para beber. Suja (B)
AMS – Com sujeira? Com cisco? Suja (B)
LS – Água suja, amarela. Que não serve. Suja (B)
ICO – Água que causa doença. Que causa doença (C)
MAS - A que põe remédio, a da COPASA. Tratada (D)
VMR - Que tem gosto ruim. Gosto (A)
GS – Água com gosto. Suja. Gosto e cor (A)
AMS - Acho que é uma água suja. Suja (B)
JRC - Cheia de bicho e sujeira. Suja e contaminada (A e C)
CMM – Água muito suja, com lodo e ciscos. Suja (B)
ASC – Com sujeira. Não serve. Suja (B)
LP - Acho que água suja. Eu acho. Suja (B)
BAS - Que não serve para beber. Suja (B)
LPO – Água suja. Suja (B)
Você acha que a água pode provocar alguma doença? Qual?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC - Acho que sim. Vermes. Verminoses (A)
RRS – Acho que pode Verminoses. Verminoses (A)
AFR – Acho que pode causar dengue. Dengue (B)
LMS – Já ouvi falar. Acho que esses vermes
bravos.
Verminoses (A)
LMB – Acho que pode dar verme nas crianças. Verminoses (A)
JARN – Acho que causa vermes. Muitas doenças
nas crianças.
Verminoses (A)
EPCJC – Acho que causa vermes, lombrigas,
manchas na pele.
Verminoses (A)
COL – Doença com bactéria. Verminoses (A)
LP – Sim, acho que verme. Verminoses (A)
JCL – Se beber a água quente dá dor de barriga.
Sim, se não filtrar.
Dor(C)
MMSC - Transmite solitária, verme em geral. Verminoses (A)
104
CCCB – Não sei não. Acho que não. Transmite? Não sabe (D)
BES – Dá diarréia. Verminoses (A)
NRS – Já houvi falar, mas não lembro. Não sabe (D)
ESMS – Acho que água dá verme. Verminoses (A)
MHM – Dor de barriga, micose. Dá mancha no
Corpo.
Micoses (E)
GVSC – Doenças do intestino. Verminoses (A)
NMA – Doença de urina do rato. Verminoses (A)
CFFC – Não dá não. Água não. Acha que não (E)
MAS – Acho que dá mancha e vermes. Verminoses (A)
MLCF – Acho que dá alergia. Eu estava coçando aí
“cismei” que era a água. Me falaram que tinha um
boi morto na água da nascente.
Micoses (E)
JC – Acho que verminose. Verminoses (A)
LSC Sim, verminose. Verminoses (A)
CAS – Sim, verminose. Verminoses (A)
EL – Acho que esses vermes. Verminoses (A)
AFA – Acho que sim. As lombrigas. Verminoses (A)
ACV – Não entendo muito disso não. Não sabe (D)
MAS – Acho que micoses e vermes. Verminoses (A)
LCO – Transmite micoses e verminoses. Verminoses (A)
ESN – Acho que transmite manchas e vermes. Verminoses (A)
CC – Sim. Doença de urina de rato que escorre com
a água.
Verminoses (A)
MNSS – Sim. Doenças relacionadas com o
intestino.
Verminoses (A)
MHFA – Não sei não. Não sabe (D)
RRA, MM – Não. Água não. Outras coisas sim. Acha que não (E)
ACA – Não sei. Acho que doença de pele. Micoses (D)
JF - Não. Doença não. Nunca ouvi falar. Acha que não (E)
ACR – Sim. Muitos vermes. Verminoses (A)
NM – Acho que diarréia. Verminoses (A)
JRF – Não sei isso não. Pode manchar? Micoses (D)
NPS - Não sei. Acho que pode dar doença na
barriga.
Verminoses (A)
PC - Sim. Se não filtrar. Verminoses (A)
JL – Sim. Os vermes. Verminoses (A)
105
EASS – Já ouvi falar, mas não lembro. Pode
manchar.
Micoses (D)
MA – Sim. Muitos vermes. Verminoses (A)
AO – Sim. Vermes. Verminoses (A)
IJS – Acho que a água dá verme. Verminoses (A)
AMS – Sim. Verme. Verminoses (A)
LS – Doença nos rins, micose. Verminoses (A)
ICO – Sim. Solitária. Vermes em geral. Verminoses (A)
MAS - Sim. Vermes. Verminoses (A)
VMR – Sim, manchas. Micoses (D)
GS – Não. Acho que não. Não acredita (E)
AMS - Sim. Muitas micoses e manchas. Micoses (D)
JRC - Sim. Muita dor de barriga, vomita e diarréia. Verminoses (A)
CMM – Sim. As verminoses. Verminoses (A)
ASC – Sim. Diarréia. Verminoses (A)
LP - Sim, verminose e micose. Verminoses (A)
BAS - Sim. Por causa dos mosquitos. Verminoses (A)
LPO – Sim verminoses, amebíase. Verminoses (A)
Você acha que alguém, aqui na sua casa, ficou doente por causa da água? Quem? Quais
foram os sintomas?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC- Não ninguém nunca ficou
doente por causa da água. Ela é bem
limpinha.
Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
RRS– Aqui nunca ficou doente por causa
da água, não.
Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
AFR – Ninguém ficou por causa da água. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LMS – Nunca ouvi falar que foi por
causa da água a doença da minha
menina.
Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LMB – Não. Ninguém não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
JARN – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
EPCJC – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
COL – Nunca não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LP – Nunca ouvi falar. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
106
JCL – Não. Aqui em casa não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MMSC - Não. Ninguém. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
CCCB – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
BES – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
NRS – Adoecer não, mas verme já
pegou. Dor de barriga, “caganeira”.
Acredita que a água seja causa de doença na
família. (B)
ESMS – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MHM – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
GVSC – Não. Doença não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
NMA – Sim, meu filho. Teve muita dor
de barriga. O médico tratou.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
CFFC – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MAS – Não. Aqui não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MLCF – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
JC – A minha menina teve verme. Teve
muita diarréia. Dor de barriga.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
LSC Minha menina teve verme.
Colocou quatro lombrigas mês passado.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
CAS – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
EL – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
AFA – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
ACV – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MAS – Não. Meu filho não. Eu filtro a
água.
Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LCO – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
ESN – Ninguém. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
CC – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MNSS – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
MHFA – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
RRA, MM – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
ACA – Sim. Se beber água quente dá dor
de barriga.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
JF - Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
ACR – Quando mudamos prá cá, minha
filha desandou e meu marido empolou.
Encaroçou tudo. Pensei que pode ser a
água.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
NM – Sim. As crianças e os mais velhos. Acredita que a água seja causa da doença na
107
família. (B)
JRF – A minha moça. Deu manchas no
corpo.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
NPS - As meninas da minha vizinha sim.
Foi berriga inchada e dor de barriga.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
PC - Sim. Meu filho. Incha a barriga e
vomita.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
JL – Meu filho não pega verme. Ele toma
dessa água e não pega.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
EASS – Eu e meu marido. Tenho cólica
e ele manchas.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
MA – Não. Aqui não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
AO – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
IJS – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
AMS – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LS – As crianças. Tem dor de barriga,
diarréia, cor ruim.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
ICO – Sim. Meu filho ficou internado
com infecção intestinal. Teve vômito,
diarréia, vomitou sangue. O médico falou
que foi por causa da água.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
MAS - Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
VMR – Sim. A Benedita. Teve coceira e
manchas no corpo.
Acredita que a água seja causa da doença na
família. (B)
GS – Aqui não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
AMS - Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
JRC - Aqui em casa não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
CMM – meu menino não adoece. Graças
a Deus.
Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
ASC – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LP - Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
BAS - Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
LPO – Não. Não acredita que a água seja causa da doença. (A)
Qual a doença mais comum apresentada pelas crianças aqui na sua casa?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC- Alergia na pele. Alergia (A)
RRS– Anemia e gripe. Gripe (B)
108
AFR – Febre, tosse, diarréia. Alergia e diarréia (C)
LMS – Gripe. Gripe (B)
LMB – Gripe, dor de barriga. Gripe e diarréia (C)
JARN – Diarréia, dor de barriga. Diarréia (D)
EPCJC – Dor de barriga e gripe. Diarréia (D)
COL – Gripe e dor de barriga. Gripe e diarréia (C)
LP – Diarréia e anemia. Diarréia (D)
JCL – Diarréia, gripe e dor de barriga. Gripe e diarréia (C)
MMSC - Gripe e alergia. Gripe e alergia (E)
CCCB – Disando, dor de barriga. Diarréia (D)
BES – Alergia, dor de barriga, gripe. Gripe e diarréia (C)
NRS – Diarréia. Diarréia (D)
ESMS – Gripe. Gripe (B)
MHM – Tosse, diarréia, vomita. Gripe e diarréia (C)
GVSC – Diarréia. É o mais comum. Diarréia (D)
NMA – Gripe, diarréia. Essas coisas a toa. Gripe e diarréia (C)
CFFC – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
MAS – Gripe. Gripe (B)
MLCF – Diarréia. Diarréia (D)
JC – “Caganeira”. Diarréia (D)
LSC Diarréia. Diarréia (D)
CAS – Gripe e dor de barriga. Gripe e diarréia (C)
EL – Acho que mais gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
AFA – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
ACV – “Cocô mole”, dor de barriga. Diarréia (D)
MAS – Diarréia. Diarréia (D)
LCO – Diarréia. Diarréia (D)
ESN – Diarréia. Diarréia (D)
CC – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
MNSS – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
MHFA – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
RRA, MM – Só diarréia. Diarréia (D)
ACA – Ele pouco adoece. Só diarréia e dor
de barriga às vezes.
Diarréia (D)
JF - Gripe. Gripe (B)
ACR – Gripe e diarréia. Diarréia (D)
109
NM – Diarréia. Diarréia (D)
JRF – Gripe e diarréia. Diarréia (D)
NPS - Gripe e diarréia. Diarréia (D)
PC - Gripe. Gripe (B)
JL – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
EASS – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
MA – Diarréia Diarréia (D)
AO – Dor de barriga. É normal criança por
lombriga pelo nariz?
Diarréia (D)
IJS – Gripe e diarréia. Gripe e diarréia (C)
AMS – Dor de barriga. Diarréia (D)
LS – Cólica. Diarréia (D)
ICO – Diarréia, infecção intestinal. Diarréia (D)
MAS - Dor de barriga. Diarréia (D)
VMR - Dor de barriga. Diarréia (D)
GS – Diarréia, cólica. Diarréia (D)
AMS - Dor de barriga. Diarréia (D)
JRC - Diarréia e gripe. Gripe e diarréia (C)
CMM – Gripe. Gripe (B)
ASC – Gripe. Gripe (B)
LP - Gripe. Gripe (B)
BAS - Alergia e bronquite. Alergia (A)
LPO – Gripe. Ele tosse tosse, enquanto não
vomita a lombriga, ele não para de tossir.
Gripe (B)
O que você faz quando alguém fica doente? Se trata em casa, como aprendeu?
EXPRESSÕES CHAVE IDÉIA CENTRAL
MMSC- Coisa simples, trato em casa. Aprendi
com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
RRS– Quando é coisa simples, trato em casa.
Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
AFR – Às vezes trato em casa.Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
LMS – Só vou ao posto se for coisa
importante. Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
LMB – Coisa simples, eu mesma faço chá em Trata em casa pequenos incômodos (A)
110
casa. Aprendi com minha mãe.
JARN – Trato eu mesma em casa. Minha vó
tratava assim.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
EPCJC – Coisa grave levo no hospital. Trata em casa pequenos incômodos (A)
COL – Muitas vezes o chá caseiro resolve mais
que o remédio. Faço chá de quitoco, poeja,
favaca, hortelã, de semente de abóbora.
Resolve bem. Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
LP – Sempre levo no posto médico. Leva ao posto médico (B)
JCL – Dou chá. Aprendi com minha mãe. Trata em casa pequenos incômodos (A)
MMSC - Coisa simples dou cha.Minha mãe
fazia.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
CCCB – Faço chá de tudo. Tenho tudo
plantado. Todo mundo ensina.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
BES – Dou chá. Aprendi com os mais velhos. Trata em casa pequenos incômodos (A)
NRS – Coisas como diarréia, dou chá. Minha
mãe faz.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
ESMS – Gripe, diarréia, coisas assim... dou
chá.Aprendi com minha mãe, avó.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
MHM – Às vezes vou ao posto. Só coisa mais
séria. Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
GVSC – Levo no posto ou no hospital coisa
séria. Dou uma dipirona. Tenho em casa.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
NMA – Coisa a toa dou chá. Trata em casa pequenos incômodos (A)
CFFC – Trato em casa. Só vou no posto
quando é importante.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
MAS – É mais fácil dar um chá. Se não
melhora, levo no posto. Tenho remédio em
casa
Trata em casa pequenos incômodos (A)
MLCF – Diarréia dou um chá. Gripe também.
Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
JC – Coisa simples dou chá. Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
LSC Coisas sem importância faço chá.
Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
CAS – Às vezes levo no posto. Leva ao posto médico (B)
EL – Coisa comum trato em casa. Dou chá,
dipirona. Aprendi com minha vizinha.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
AFA – Trato em casa coisa simples.Dou
remédio.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
ACV – Só coisa grave levo no posto. Trata em casa pequenos incômodos (A)
111
RRA, MM - LPO - BAS - LP - ASC - CMM -
Coisa simples, trato em casa. Minha mãe me
ensinou.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
ACA – Trato eu mesma em casa.Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
JF - Às vezes trato em casa.Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
ACR – Quando é coisa simples, trato em casa.
Aprendi com minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
NM – Trato eu mesma em casa. Aprendi com
minha avó.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
JRF – Quando é coisa simples, trato em casa. Trata em casa pequenos incômodos (A)
NPS - Coisa simples, trato em casa. Minha avó
ensina.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
PC - Trato eu mesma em casa.Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
JL – Coisa simples, trato em casa. Trata em casa pequenos incômodos (A)
EASS – Coisa simples, trato em casa. Aprendi
com as pessoas.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
MA – Trato eu mesma em casa.Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
AO – Levo no posto se é grave. Minha avó,
mãe, as visinhas ensinam.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
IJS – Dou um chá. Todo mundo sabe. Trata em casa pequenos incômodos (A)
AMS – Coisa séria levo no posto. Essas coisas
como gripe e caganeira, dou um chá. Minha
mãe ensina.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
LS – Trato em casa coisa simples. Dou uma
dipirona, chá. Minha mãe ensinou.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
ICO – Trato em casa com chá. Trata em casa pequenos incômodos (A)
MAS - Diarréia dou soro. Aprendi no posto. Trata em casa pequenos incômodos (A)
VMR - Trato em casa coisa comum. Aprendi
com minha vizinha. Ela tem muita planta.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
GS – Dou chá, quando é grave, vou lá no posto
e o médico olha.Minha mãe me ensinou a fazer
chá.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
AMS - Trato eu mesma em casa. Aprendi com
minha mãe.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
JRC - Trato quando é uma febre ou diarréia.
Dou dipirona.
Trata em casa pequenos incômodos (A)
112
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