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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ENGENHARIA CIVIL
ADENSAMENTO E SIMULAÇÃO DO PROCESSO DE
ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO DE UMA
BARRAGEM PARA CONTENÇÃO DE REJEITOS DE
OURO
AUTOR: BRASILEU AGNALDO PEREIRA
ORIENTADOR: PROF. DR. ROMERO CÉSAR GOMES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Departamento de Engenharia
Civil da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante
dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Engenharia Civil, área de concentração:
Geotecnia.
Ouro Preto, agosto de 2006.
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II
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III
Dedico esta dissertação de Mestrado aos meus pais,Gerônimo e Maria
Tita, àqueles que tiveram um papel importante para esta vitória e, em
especial, minha digníssima esposa Queila, com quem aprendi a buscar o
melhor de mim, fazendo com que esta trajetória ficasse mais fácil.
“Queremos um significado em nossas vidas. Quando elevamos nossa visão,
lutamos para obter mérito, nos dedicamos às mais altas metas de nossa sociedade,
nos alistamos numa causa antiga e significativa – a luta perene do homem
para realizar o melhor que há nele.”
Jonh W. Gardner
“É a dedicação ao trabalho que
distingue um indivíduo de outro;
Não acredito em talentos.”
Euryclides de Jesus Zerbini
IV
AGRADECIMENTOS
Sempre a Deus.
Aos meus familiares, especialmente aos meus irmãos, sobrinhos, cunhados, tios, etc.
Ao professor e orientador Dr. Romero César Gomes pela paciência e contribuição que
me foi passada e pelos conhecimentos que o pertence.
Ao professor e amigo Saulo Gutemberg pelo apoio, incentivo e contribuição, não
neste trabalho, como também durante todos os momentos que precisei.
Aos professores e amigos Luís Fernando Martins Ribeiro, Waldyr Lopes de Oliveira
Filho, Rodrigo Pelucci e a Profª Milena Sabino Lana pelo apoio, atenção e contribuição
que proporcionaram e vêm proporcionando pelo ótimo trabalho, observado por todos,
na preparação das aulas lecionadas.
Aos amigos Rodrigo Rodrigues, Edmar, Priscila, Helba, Emanuel, Frank, Deilton,
Felipe, Johanna, Júnior (Manjuba) e Róvia.
A CAPES pelo apoio financeiro.
A ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA , na pessoa dos Srs Murilo Costa e
Altair Souza, por permitir a realização deste trabalho, nos enviando as informações
necessárias.
E, em especial, a Fundação Gorceix, que através de seu Presidente Prof. Dr. Cristovam
e sua Superintendente Drª Telma que confiaram em meu trabalho, dando-me uma
oportunidade de somar à equipe desta instituição, mesmo estando no período mais
difícil desta dissertação e mais uma vez aquela que tem contribuído muito em minha
vida... Queila, eu te amo.
V
RESUMO
Em projetos de disposição de rejeitos de mineração por via úmida, as análises da
capacidade de estocagem do reservatório demandam o conhecimento das características
de compressibilidade e adensamento dos resíduos lançados, função primária da natureza
e da granulometria do material. No caso de rejeitos finos, com elevadas proporções de
partículas da fração argila, como ocorrem no caso de rejeitos de ouro, a previsão do
comportamento dos resíduos e a formulação de um modelo deposicional consistente não
podem ser baseados em ensaios convencionais.
No projeto de sistemas de contenção de rejeitos finos (como no caso de minerações de
ouro), um aspecto extremamente relevante é a determinação das propriedades
tecnológicas dos materiais em termos de compressibilidade e adensamento nos
reservatórios, de forma a se quantificar a vida útil de tais empreendimentos. De uma
maneira geral, o material é lançado de forma quase aleatória, o sendo estabelecido
nenhum controle das variáveis que influenciam o processo de deposição. O
conhecimento dos mecanismos de deposição hidráulica resultaria em um maior
entendimento do comportamento destes aterros sob o ponto de vista geotécnico e, desta
forma, poder-se-ia controlar a qualidade do processo construtivo, mesmo que, durante a
construção, as variáveis de descarga e lançamento fossem alteradas
O trabalho consiste na avaliação das propriedades constitutivas do adensamento de
rejeitos de ouro de uma mineração de ouro (Anglogold Ashanti, antiga Morro Velho),
com a utilização do Ensaio de Adensamento Hidráulico (HCT com bomba de fluxo),
disponível no Laboratório de Geotecnia da UFOP. Estes dados subsidiarão análises de
simulação numérica do processo de enchimento da estrutura de contenção destes
rejeitos, mediante a aplicação do programa CONDES0.
VI
ABSTRACT
In projects of disposition of mining tailings for humid road, the analyses of the capacity
of stock of the reservoir demand the knowledge of the compressibility characteristics
and consolidation of the thrown residues, primary function of the nature and of the
granulometry of the material. In the case of fine tailings, with high proportions of
particles of the fraction clay, as they happen in the case of tailings of gold, the forecast
of the behavior of the residues and the formulation of a model consistent depositional
they cannot be based on conventional rehearsals.
In the project of systems of contention of fine tailings(as in the case of minings of gold),
an extremely important aspect is the determination of the technological properties of the
materials in compressibilityterms and consolidationin the reservoirs, in way quantifying
the useful life of such enterprises. In a general way, the material is thrown in an almost
aleatory way, not being established any control of the variables that you/they influence
the deposition process. The knowledge of the mechanisms of hydraulic deposition
would result in a larger understanding of the behavior of these embankments under the
point of view geotechnicaland, this way, the quality of the constructive process could be
controlled, even if, during the construction, the discharge variables and release they
were altered.
The work consists of the evaluation of the constituent properties of the consolidationof
tailings of gold of a mining of gold (Anglogold Ashanti), with the use of the Rehearsal
of Hydraulic Consolidation Test (HCT with flow bomb), available in the Geotechnia
Laboratory of University Federal of Ouro Preto. These data will subsidize analyses of
numeric simulation of the process of stuffing of the structure of contention of these
tailings, by the application of the program CONDES0.
VII
ÍNDICE
página
Lista de tabelas.............................................................................................................X
Lista de figuras............................................................................................................XI
Lista de símbolos....................................................................................................... XV
CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO
1.1 Modelo Deposicional de Rejeitos Finos...................................................................1
1.2 Modelagem Numérica e Experimental do Problema.................................................2
1.3 Justificativa e Objetivos do Trabalho .......................................................................5
1.4 Estrutura da Dissertação ..........................................................................................6
CAPÍTULO 2- MODELAGEM NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DA
DISPOSIÇÃO DE REJEITOS FINOS
2.1 Introdução ...............................................................................................................8
2.2 Formulação da Equação Geral de Fluxo...................................................................9
2.3 Teoria do Adensamento Unidimensional a Grandes Deformações..........................11
2.4 Equação Diferencial do Adensamento a Grandes Deformações..............................15
2.5 Modelos Constitutivos Unidimensionais................................................................19
2.6 Ensaios de Laboratório para a Determinação das Propriedades Constitutivas do
Adensamento...............................................................................................................25
2.6.1 Ensaio de Adensamento Tipo CRD............................................................25
2.6.1.1 Princípios e Equipamentos de Ensaio .................................................25
2.6.1.2 Procedimentos do Ensaio ...................................................................27
2.6.1.3 Metodologias de Análise ....................................................................28
2.6.2 Ensaio de Adensamento Tipo HCT............................................................31
2.6.2.1 Princípios e Equipamentos de Ensaio .................................................31
2.6.2.2 Ensaio de Adensamento por Percolação Induzida...............................38
2.6.2.3 Ensaio de Permeabilidade Saturada ....................................................42
VIII
2.7 Simulação Numérica do Processo de Adensamento Unidimensional a Grandes
Deformações pelo programa CONDES0......................................................................43
2.7.1 Fundamentos e Condições de Contorno do Programa CONDES0 ..............43
2.7.2 Parâmetros de Entrada e de Saída do Programa CONDES0 .......................46
CAPÍTULO 3- CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS
3.1 Introdução .............................................................................................................51
3.2 Amostragem dos Rejeitos ......................................................................................52
3.3 Resultados dos Ensaios de Caracterização .............................................................54
3.4 Resultados dos Ensaios HCT com Bomba de Fluxo...............................................55
3.4.1 Rejeitos de Flotação e em Pasta .................................................................56
3.4.2 Rejeitos de Flotação e de Backfill..............................................................59
3.5 Análises dos Resultados dos Ensaios HCT com Bomba de Fluxo...........................62
3.6 Resultados dos Ensaios Especiais em Rejeitos em Pasta ........................................63
CAPÍTULO 4- ESTUDO DE CASO – BARRAGEM DE CUIABÁ
4.1 Introdução .............................................................................................................67
4.2 Geração de Rejeitos na Planta de Queiroz..............................................................68
4.3 Concepção e Projeto da Barragem de Cuiabá.........................................................72
4.4 Análises da Estabilidade da Barragem de Cuiabá...................................................77
CAPÍTULO 5- ESTUDO SIMULAÇÃO NUMÉRICA DO PROCESSO DE
ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO
5.1 Introdução .............................................................................................................80
5.2 Procedimentos de Calibração do Modelo Numérico...............................................81
5.3 Parâmetros e Premissas da Simulação Numérica....................................................83
5.4 Curvas de Enchimento do Reservatório .................................................................84
5.4.1 Curvas de Enchimento e de Enchimento Nominal......................................85
5.4.2 Curvas de Enchimento Corrigidas..............................................................87
5.5 Simulações Numéricas do Enchimento do Reservatório.........................................88
5.5.1 Enchimento Instantâneo do Reservatório ...................................................89
5.5.2 Enchimento Escalonado do Reservatório ...................................................90
IX
5.5.2.1 Enchimento Escalonado com Curva Nominal Não Corrigida..............90
5.5.2.2 Enchimento Escalonado com Curva Nominal Corrigida .....................93
CAPÍTULO 6- CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
6.1 Introdução ...........................................................................................................105
6.2 Conclusões Principais..........................................................................................106
6.3 Sugestões para Pesquisas Complementares..........................................................109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 110
ANEXO....................................................................................................... 115
X
LISTA DE TABELAS:
CAPÍTULO 1
Tabela 2.1 - Equações usadas na análise do ensaio CRD (Lee et al., 1994) .................30
CAPÍTULO 2
Tabela 2.2 - Tabela para entrada de dados (Yao e Znidarcic, 1997)..............................48
CAPÍTULO 3
Tabela 3.1- Índices físicos dos rejeitos estudados ........................................................54
Tabela 3.2 - Dados de entrada para o programa SICTA ...............................................62
Tabela 3.3 - Parâmetros de compressibilidade e permeabilidade dos rejeitos analisado 63
Tabela 3.4 – Classificação dos rejeitos de flotação da Planta do Queiroz (PCCE, 2004)66
CAPÍTULO 4
Tabela 4.1 – Produção anual de rejeitos da flotação do minério de ouro de Cuiabá ......72
Tabela 4.2 - Parâmetros de resistência dos materiais da barragem (tensões efetivas)....78
CAPÍTULO 5
Tabela 5.1 - Resultados do experimento x simulação numérica (ensaios de proveta)....82
Tabela 5.2 - Resultados do experimento x simulação numérica (ensaios HCT) ............83
Tabela 5.3 - Parâmetros das simulações numéricas por estágio (enchimento escalonado)91
Tabela 5.4 - Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida pela
linearização da curva cotas x volumes .......................................................................100
XI
LISTA DE FIGURAS:
CAPÍTULO 1
Figura 1.1 Estágios de deposição de rejeitos em reservatórios (Imai, 1979 modificado).2
CAPÍTULO 2
Figura 2.1 – Volume elementar sujeito a fluxo nas direções x, y e z...............................9
Figura 2.2 - Coordenadas lagrangeanas e eulerianas: (a) configuração no tempo inicial;
(b) configuração no tempo t.........................................................................................13
Figura 2.3 - Relação entre os sistemas de coordenadas lagrangeanas, eulerianas e
reduzidas: (a) configuração inicial, t=0 e (b) configuração no tempo t.. .......................14
Figura 2.4 - Camada de argila saturada e homogênea para análise do adensamento (Xie
and Leo, 2004, modificado).........................................................................................17
Figura 2.5 – Esquema geral de um equipamento de adensamento tipo CRD.................26
Figura 2.6 - Montagem geral do equipamento tipo CRD..............................................27
Figura 2.7 – Diagrama esquemático do equipamento para realização do ensaio de
adensamento por percolação induzida..........................................................................34
Figura 2.8 – Diagrama esquemático do equipamento para realização do ensaio de
permeabilidade saturada ..............................................................................................34
Figura 2.9 - Representação dos diferentes estágios de enchimento de um reservatório
(Yao e Znidarcic, 1997)...............................................................................................48
CAPÍTULO 3
Figura 3.1- Amostrador utilizado para a retirada do material dos galões ......................53
Figura 3.2- Amostragem dos galões, após a retirada do material via amostrador. .........53
Figura 3.3 - Amostra homogeneizada para a moldagem dos corpos de prova ...............53
Figura 3.4 - Curvas granulométricas para os rejeitos ensaiados....................................54
Figura 3.5 – Esquema convencional do Ensaio HCT com bomba de fluxo...................56
Figura 3.6 - Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação - Fase de
Adensamento...............................................................................................................57
Figura 3.7- Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação
– Ensaio de Permeabilidade.......................................................................57
XII
Figura 3.8 - Resultados do Ensaio HCT para o rejeito em pasta
– Fase de Adensamento..............................................................................58
Figura 3.9 - Resultados do Ensaio HCT para o rejeito em pasta
– Fase de Adensamento..............................................................................58
Figura 3.10 – Esquema modificado do Ensaio HCT com bomba de fluxo....................59
Figura 3.11 – Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de backfill
– Fase de Adensamento...............................................................................60
Figura 3.12 – Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de backfill
– Fase de Permeabilidade.............................................................................60
Figura 3.13 – Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação
– Fase de Adensamento................................................................................61
Figura 3.14 – Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação
– Fase de Permeabilidade.............................................................................61
Figura 3.15 - Curvas de compressibilidade dos rejeitos ensaiados................................64
Figura 3.16 - Curvas de permeabilidade dos rejeitos ensaiados ....................................64
Figura 3.17 – Classificação dos rejeitos totais de flotação............................................65
Figura 3.18 – Classificação dos rejeitos do overflow de flotação .................................66
CAPÍTULO 4
Figura 4.1 – Localização Prevista para a Barragem de Cuiabá (Costa, 2006) ...............67
Figura 4.2 – Fluxograma da Planta Industrial do Queiroz (Costa, 2006).......................68
Figura 4.3 – Vista geral das barragens de Calcinados e de Rapaunha...........................70
Figura 4.4 – ‘Slump Test’ do overflow de flotação ......................................................71
Figura 4.5 – Microfotografia do underflow de flotação................................................71
Figura 4.6 - Alteamentos previstos para a Barragem de Cuiabá (CMEC, 2005)............73
Figura 4.7 – Curva cotas x volumes para a Barragem de Cuiabá (CMEC, 2006)..........73
Figura 4.8 – Sistema de drenagem interna da barragem para os três alteamentos..........75
Figura 4.9 – Dique de contenção de sedimentos...........................................................75
Figura 4.10 – Locação e geometria do vertedor da barragem (CMEC, 2005) ...............75
Figura 4.11 – Sistema de drenagem superficial do talude de jusante ............................76
Figura 4.12 – Instrumentação da barragem (medidores de NA e medidor de vazão).....77
XIII
Figura 4.13 – Posição da Linha Freática para as Análises de Estabilidade....................78
Figura 4.14 – Análise da Estabilidade da Barragem de Cuiabá.....................................79
CAPÍTULO 5
Figura 5.1 - Experimento em proveta para avaliar os parâmetros de compressibilidade e
de adensamento do rejeito: (a) enchimento instantâneo antes do adensamento; (b) após o
adensamento................................................................................................................81
Figura 5.2 - Curva de compressibilidade do rejeito de flotação ....................................83
Figura 5.3 - Curva de permeabilidade do rejeito de flotação ........................................84
Figura 5.4 - Curva cotas x volumes da Barragem de Cuiabá .......................................85
Figura 5.5 – Arranjo geral e alteamentos previstos para a Barragem de Cuiabá............86
Figura 5.6 - Curvas de enchimento e de enchimento nominal do reservatório ..............86
Figura 5.7- Variações das alturas do reservatório considerando enchimento instantâneo89
Figura 5.8 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento com enchimento instantâneo90
Figura 5.9 - Curvas de enchimento e enchimento nominal e curva de nível final dos
rejeitos pós-adensamento (enchimento escalonado sem correção da curva nominal) ....92
Figura 5.10 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento c/ enchimento escalonado 92
Figura 5.11 – Curva cotas x volumes com seções constantes .......................................93
Figura 5.12 – Curva cotas x volumes com geometria qualquer.....................................94
Figura 5.13 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida por
intervalos de tempo .....................................................................................................95
Figura 5.14 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida para os
primeiros 4 intervalos de tempo (primeiros 4 anos da série analisada)..........................96
Figura 5.15 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento para a curva nominal
corrigida por intervalos de tempo ................................................................................97
Figura 5.16 Estágios de enchimento correspondentes à simulação numérica pela
linearização da curva curva cotas x volumes................................................................99
Figura 5.17 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida por
subdivisão em trechos lineares...................................................................................101
Figura 5.18 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida para os
primeiros 5 trechos lineares (primeiro ano de enchimento) ........................................102
Figura 5.19 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento para cada etapa
XIV
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em trechos lineares)102
Figura 5.20 - Perfis dos teores de sólidos pós-adensamento para cada etapa
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em trechos lineares)103
Figura 5.21 – Perfis das poropressões geradas pós-adensamento e para cada etapa
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em
trechos lineares) ........................................................................................................103
CAPÍTULO 6
Figura 6.1 – Correlações entre projeto e simulações numéricas (três alteamentos) .....108
Figura 6.2 – Alternativa de projeto pelas simulações numéricas (dois alteamentos) ...108
XV
LISTA DE SÍMBOLOS:
A área
A parâmetro
a parâmetro
a área do piezômetro
a
v
coeficiente de compressibilidade
B parâmetro
C parâmetro
Cc índice de compressão do solo
c
v
coeficiente de adensamento
D parâmetro
E parâmetro
e índice de vazios
e
i
índice de vazios para o instante i
e
00
índice de vazios para tensão efetiva nula
F parâmetro
G
s
densidade das partículas sólidas
g aceleração da gravidade
H altura
H
f
altura final da amostra
H
o
altura inicial
H
s
altura de sólidos
h carga hidráulica total
h
o
carga total no topo
i gradiente hidráulico
j força de percolação
k coeficiente de permeabilidade
k
o
coeficiente de permeabilidade inicial
k
x
coeficiente de permeabilidade na direção x
XVI
k
y
coeficiente de permeabilidade na direção y
k
z
coeficiente de permeabilidade na direção z
L comprimento na direção do fluxo
LL limite de liquidez
LP limite de plasticidade
M massa
M
s
massa de sólidos
M
w
massa de água
M
x
massa na direção x
M
y
massa na direção y
M
z
massa na direção z
m parâmetro
N parâmetro
n porosidade
P peso de sólidos
p parâmetro
p
atm
pressão atmosférica
Q volume de água que flui através do solo
q vazão de fluxo
r raio do tubo capilar
S grau de saturação
S superfície específica
T
s
tensão superficial
t tempo
t
i
tempo inicial
t
f
tempo final
u poropressão da água
u
0
poropressão estática da água
u
a
pressão de ar
u
b
poropressão na base
u
w
poropressão total da água
XVII
V volume
V
s
volume de sólidos
V
t
volume total
V
v
volume de vazios
V
w
volume de água
v velocidade de descarga ou superficial ou de percolação de Darcy
v
s
velocidade de fluxo dos sólidos
v
z
velocidade de fluxo aparente ou velocidade superficial de fluxo
v
w
velocidade absoluta de percolação da água
v
x
componente da velocidade de fluxo na direção x
v
y
componente da velocidade de fluxo na direção y
z
v
componente da velocidade de fluxo na direção z
x, y e z sistema de coordenadas cartesianas
Z parâmetro
z coordenada reduzida
W
d
peso seco
w teor de umidade
α
parâmetro
α
exp
parâmetro ajustável para o modelo exponencial
α
vg
parâmetro ajustável para o modelo de van Genuchten
H altura do elemento de solo
h perda de carga ao longo da amostra
u poropressão gerada
t intervalo de tempo
∆σ
variação de tensão total
ε
deformação
γ
peso específico
γ
d
peso específico seco
γ
s
peso específico dos sólidos
γ
w
peso específico da água
XVIII
γ
t
peso específico total
γ
´ peso específico submerso
η
viscosidade
η
T
viscosidade na temperatura T
o
C
η
w
viscosidade dinâmica
ξ
sistema de coordenadas euleriano
ψ
carga de pressão
ρ
massa específica
ρ
r
massa específica relativa
ρ
s
massa específica dos sólidos
ρ
w
massa específica da água
σ
tensão total
σ
´ tensão efetiva
σ
b
tensão total na base
σ
´
0
tensão efetiva inicial
σ
´
b
tensão efetiva na base
σ
´
t
tensão efetiva de topo
σ
´
u
tensão efetiva na face não-drenada
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1 – Modelo Deposicional de Rejeitos Finos
As atividades de mineração, em desenvolvimento intenso e crescente, têm propiciado
um aumento expressivo na geração de resíduos (estéreis e rejeitos). Este aumento vem
ocasionando a necessidade de maiores áreas para estocagem e o desenvolvimento de
sistemas de grande porte para a contenção destes resíduos. A exploração de ouro, por
exemplo, demanda o beneficiamento de enormes volumes de materiais para obtenção de
algumas poucas gramas do mineral. Em outra concepção, estes condicionantes críticos
têm demandado a busca por técnicas alternativas de disposição, incluindo o desague
prévio e a produção de rejeitos em pasta.
No Brasil, entretanto, a técnica comumente adotada para a contenção de rejeitos de
mineração consiste na implantação de grandes estruturas na forma de barragens ou
diques. Neste tipo de empreendimento, os rejeitos gerados na planta industrial, sob a
forma de polpa, são transportados, lançados e adensados no reservatório da barragem. A
análise do comportamento de rejeitos de mineração durante o processo de adensamento
assume, portanto, papel fundamental como critério de projeto para a estimativa de
capacidade de estocagem de um reservatório, determinação do tempo de enchimento e
de adensamento final e também para a elaboração do planejamento a longo prazo dos
processos de disposição.
A partir do lançamento dos rejeitos no reservatório, os mesmos são submetidos a fases
distintas de floculação, sedimentação e adensamento (Figura 1.1), sendo as duas
primeiras de ocorrência muito mais rápida que a última, principalmente para materiais
de granulometria mais fina. Para os rejeitos em cuja granulometria predominam as
frações silte e areia, as reduções de volume ocorrem em curto prazo, predominando a
sedimentação sobre o adensamento.
2
Figura 1.1 – Estágios de deposição de rejeitos em reservatórios (Imai, 1979 modificado)
As análises da capacidade de estocagem do reservatório, ao final e ao longo de sua vida
útil, implicam, necessariamente, o conhecimento das variáveis específicas do balanço
hídrico local e a caracterização do modelo de deposição da polpa. Para a formulação do
modelo deposicional, torna-se fundamental conhecer a geometria do reservatório, o
comportamento dos materiais associados ao estudo, os problemas geotécnicos
relacionados ao processo de fluxo e as características do rejeito em termos de
compressibilidade e de permeabilidade.
1.2 – Modelagem Numérica e Experimental do Problema
O modelo deposicional para materiais de maior granulometria pode ser interpretado por
meio das teorias clássicas de adensamento, baseando-se nos resultados obtidos em
ensaios convencionais de laboratório ou campo. Entretanto, para materiais de
granulometria fina, onde o processo de deposição não é governado pela lei de Stockes
nem pelos princípios da teoria clássica de Terzaghi, torna-se necessária a utilização de
algumas metodologias especiais. Uma vez que tais materiais são lançados com elevados
índices de vazios, sendo submetidos a grandes deformações, as análises do adensamento
3
devem ser implementadas através de teorias de deformações finitas (Mikasa, 1963;
Gibson et al., 1967).
Segundo Pane (1981), a teoria do adensamento unidimensional de Terzaghi constitui
uma representação unidimensional de um fenômeno tridimensional, que se baseia na
ocorrência de deformações infinitesimais (pequena deformação da camada em relação a
sua espessura), na validade da Lei de Darcy (proporcionalidade entre velocidade de
fluxo e gradiente hidráulico), na hipótese de fluxo unidimensional (válida quando a
espessura da camada em processo de adensamento é muito inferior à sua extensão), na
hipótese de que os coeficientes de permeabilidade e compressibilidade permanecem
constantes durante o adensamento e na linearidade entre a variação das tensões e as
variações volumétricas.
Esta teoria tem mostrado algumas discrepâncias significativas entre a previsão e a
observação experimental devido as hipóteses simplificadoras, as quais são apenas,
aproximadamente, satisfeitas na prática (Schiffman
et al.
, 1984). Além disso, a teoria
clássica de Terzaghi não é adequada para a previsão do comportamento de solos finos
de alta compressibilidade, tais como: rejeitos finos de mineração e materiais dragados,
dos quais são esperadas grandes deformações em relação à espessura inicial da camada
em análise (Carrier III
et al.
, 1983).
É necessário destacar que as teorias de adensamento podem ser divididas em duas
categorias: as teorias de deformação infinitesimal e as teorias de deformação finita,
conforme explicado em detalhes em Schiffman (1980). Ambas as categorias podem
envolver propriedades lineares e não lineares do solo e as relações tensão-deformação
são independentes ou intrinsecamente dependentes do tempo.
Do ponto de vista físico, a teoria das deformações finitas difere da teoria de deformação
infinitesimal, pois esta última assume que a espessura da camada em adensamento
permanece constante por todo o processo, isto é, a deformação da camada para qualquer
tempo, durante o processo, é insignificante quando comparado à espessura inicial da
camada. Por outro lado, a teoria de deformação finita introduz a espessura da camada
4
como uma variável do próprio problema, ou seja, a deformação da camada, para um
determinado tempo durante o processo, é significativa quando comparada com sua
espessura inicial.
A análise de materiais com granulometria fina de alta compressibilidade, onde o peso
próprio tem efeito importante na magnitude das deformações que atingem valores
consideráveis, levou ao desenvolvimento de teorias de adensamento com deformações
finitesimais, distintas e complementares à teoria de adensamento convencional.
O estudo das condições específicas da teoria de adensamento a grandes deformações,
como também é chamada a teoria de adensamento com deformações finitas, tomou
impulso nas últimas décadas através das formulações propostas nos trabalhos de Mikasa
(1963) e de Gibson et al. (1967). A teoria do adensamento a grandes deformações de
Gibson
et al.
(1967) descreve de forma adequada a magnitude e a evolução das
deformações e dos recalques de materiais de granulometria fina e altamente
compressíveis.
O estudo do comportamento de materiais finos de elevada compressibilidade, no
processo de adensamento, deve estar baseado não em uma teoria adequada capaz de
descrever este comportamento, como também em métodos e técnicas de ensaio
apropriadas para a determinação das relações constitutivas envolvidas neste fenômeno:
índice de vazios x tensão efetiva e índice de vazios x permeabilidade.
Os métodos para a determinação dessas propriedades podem ser divididos em dois
grupos: os todos diretos e os métodos indiretos. Nos métodos diretos, essas
propriedades podem ser medidas diretamente nos ensaios. Nos métodos indiretos,
requer-se um modelo matemático capaz de utilizar os dados do ensaio para determinar
as propriedades de adensamento, ou seja, as propriedades do material são retro-
calculadas dos dados medidos nos ensaios, o que é denominado de solução inversa.
Dessa forma, foram desenvolvidos diferentes ensaios objetivando a determinação das
leis constitutivas de solos finos de elevada compressibilidade que permitam a
5
modelagem de seu processo de deposição. Dentre estas novas metodologias, podem ser
citados os ensaios edométricos do tipo CRD (Ensaio de Adensamento com Taxa de
Deformação constante) e ensaios hidráulicos tipo HCT (Ensaio de Adensamento
Hidráulico), ensaios de laboratório, e as sondagens piezométricas (ensaios de campo),
com posterior amostragem de lama através de amostradores especiais diretamente dos
reservatórios de rejeitos.
1.3 – Justificativa e Objetivos do Trabalho
Com a mobilização bastante intensa dos sistemas atuais de disposição de rejeitos de
ouro gerados na Planta Industrial do Queiroz, localizada no município de Raposos/MG,
conjugada com os planos de expansão desta usina de tratamento para atender aumentos
substanciais da produção, a empresa
Anglo Gold Ashanti
(antiga Morro Velho) investiu
na proposta de implantação de um novo sistema de contenção de rejeitos.
Em função da complexidade da planta de tratamento, os rejeitos gerados possuem
naturezas e características diversas e a empresa buscou alternativas de disposição destes
rejeitos sob a forma de polpa e em pasta, priorizando os estudos em relação aos
chamados rejeitos de flotação. Assim, formulou-se inicialmente um contexto geral de
caracterização tecnológica destes diferentes materiais, visando subsidiar as alternativas
e fornecer os parâmetros a serem adotados em projeto, particularmente em termos da
obtenção das relações constitutivas das compressibilidades e permeabilidades dos
mesmos, utilizando-se as técnicas experimentais em laboratório baseadas em ensaios de
adensamento com fluxo induzido (ensaios HCT com bomba de fluxo).
Os estudos realizados, além dos condicionantes específicos das alternativas avaliadas,
invalidaram a proposição dos rejeitos sob a forma de pasta, sendo definido um modelo
deposicional de rejeitos totais (sem ciclonagem) da flotação, em forma de polpa, no
reservatório de uma barragem a ser implantada nas vizinhanças imediatas da Planta do
Queiroz e designada como Barragem de Cuiabá.
A Barragem de Cuiabá constitui uma barragem convencional, projetada e construída em
6
aterro de solo compactado em múltiplas camadas (CMEC, 2005). O projeto contempla
metodologia construtiva por jusante, com três etapas de alteamentos, previstos para
capacidades de armazenamento dos rejeitos para 4, 5 e 3 anos, respectivamente. Com
base no projeto original e nas leis constitutivas dos rejeitos de flotação estudados, foram
implementadas, neste trabalho, simulações numéricas para a estimativa do processo de
enchimento e da vida útil do reservatório.
Estas simulações foram desenvolvidas por meio do Programa CONDES0, desenvolvido
por Yao e Znidarcic (1997), que consiste em um algoritmo numérico para análise de
adensamento unidimensional a grandes deformações, fornecendo a solução de uma
equação de diferenças parciais de segunda ordem não linear. O programa permite,
ainda, a obtenção de soluções unidimensionais transientes, perfis da distribuição dos
índices de vazios, espessuras das camadas de rejeitos adensados e, adicionalmente,
efeitos de ressecamento e dos mescanismos de propagação de trincas.
1.4 – Estrutura da Dissertação
O trabalho foi subdividido em seis capítulos. O primeiro capítulo apresenta uma
introdução geral ao assunto estudado, apresentando o tema, a justificativa e os objetivos
do trabalho, além desta estruturação em capítulos. Nesta introdução, faz-se ainda uma
abordagem do problema geral, enfocando o modelo deposicional de rejeitos finos em
reservatórios de barragens de contenção e os princípios da modelagem numérica e
experimental do problema.
O segundo capítulo apresenta uma revisão bibliográfica das metodologias básicas para a
modelagem numérica e experimental do processo deposicional de rejeitos finos em
reservatórios, caracterizando os princípios da chamada teoria do adensamento a grandes
deformações, os modelos numéricos de análise e os estudos experimentais associados.
O capítulo apresenta também as bases e a formulação do Programa CONDES0 utilizado
nas simulações numéricas.
O terceiro capítulo apresenta os resultados dos ensaios de caracterização tecnológica
7
realizados para os rejeitos de flotação de ouro da Planta do Queiroz da AngloGold
Ashanti, sob a forma de polpa e em pasta. Os ensaios de caracterização englobaram a
determinação dos teores de umidade, pesos específicos dos sólidos, limites de
consistência e as respectivas curvas granulométricas. Além dos ensaios de
caracterização, o programa experimental compreendeu especificamente a determinação
das características de compressibilidade e de permeabilidade destes rejeitos, por meio de
ensaios HCT com bomba de fluxo.
No quarto capítulo, apresenta-se o estudo de caso, descrevendo-se em detalhes o projeto
e a concepção da Barragem de Cuiabá, atualmente em fase de construção e com início
de operação previsto para 2007.
O quinto capítulo sistematiza os resultados das simulações numéricas implementadas
para o estudo do enchimento do reservatório da Barragem de Cuiabá, considerando
diversos tipos de análise: enchimento instantâneo, enchimento escalonado, enchimento
com e sem correções da curva cotas x volumes original.
O sexto capítulo apresenta uma contextualização geral do trabalho, as principais
conclusões obtidas a partir dos resultados experimentais e das simulações numéricas,
além de algumas sugestões e recomendações para trabalhos futuros e complementares
ao tema pesquisado.
CAPÍTULO 2
MODELAGEM NUMÉRICA E EXPERIMENTAL
DA DISPOSIÇÃO DE REJEITOS FINOS
2.1 – Introdução
Em geral, os rejeitos no Brasil são convencionalmente dispostos sob a forma de polpa,
principalmente porque esta condição do resíduo constitui o subproduto natural das
atividades de concentração dos minérios, sempre associadas a grandes demandas de
água. Neste caso, o transporte dos rejeitos é feito comumente por gravidade, através de
canaletas ou por tubulações (mangotes), sendo os rejeitos lançados diretamente em
direção ao reservatório de uma estrutura de contenção.
As análises da capacidade de estocagem do reservatório, ao final e ao longo de sua vida
útil, implicam, necessariamente, o conhecimento das variáveis específicas do balanço
hídrico local e a caracterização do modelo de deposição da polpa. O estudo do
comportamento de rejeitos finos de elevada compressibilidade no processo de
adensamento deve estar baseado não só em uma teoria adequada capaz de descrever este
comportamento, como também em métodos e técnicas de ensaio apropriadas para a
determinação das relações constitutivas envolvidas neste fenômeno: índice de vazios x
tensão efetiva e índice de vazios x permeabilidade (Gomes, 2005).
Uma vez que tais materiais são lançados com elevados índices de vazios, sendo
submetidos a grandes deformações, as análises do adensamento devem ser
implementadas através de teorias de deformações finitas (Mikasa, 1963; Gibson et al.,
1967), com base nas leis constitutivas de compressibilidade e permeabilidade destes
materiais. Estas leis constitutivas são obtidas por técnicas especiais, como os ensaios
edométricos do tipo CRD e ensaios HCT com bomba de fluxo, em laboratório. No
presente capítulo, são expostos os fundamentos da modelagem numérica e experimental
da deposição de rejeitos finos em reservatórios.
9
2.2 – Formulação da Equação Geral de Fluxo
O processo de fluxo em solos é um processo físico descrito matematicamente pela
equação diferencial parcial, deduzida através da equação da continuidade, que descreve
a conservação da massa de fluido, durante o fluxo, no meio poroso. Para a dedução
dessa equação, considere-se um cubo elementar que representa um volume unitário do
meio poroso, sendo submetido a um fluxo nas direções x, y e z (Figura 2.1).
y
vρ
z
vρ
x
vρ
( )
dz
z
v
v
z
z
ρ
+ρ
( )
dx
x
v
v
x
x
ρ
+ρ
( )
dy
y
v
v
y
y
ρ
+ρ
z
x
y
Figura 2.1 – Volume elementar sujeito a fluxo nas direções x, y e z.
Efetuando-se o balanço de massas para a direção x, tem-se que as taxas de fluxo de
massa, de entrada e de saída, através do volume elementar, podem ser expressas por:
dydzvEntrada
x
ρ=
(2.1)
dydzdx
x
)v(
vSaída
x
x
ρ
+ρ=
(2.2)
Logo, a taxa de fluxo de massa resultante na direção x é dada pela equação:
Entrada
x
Saída
xx
t
M
t
M
t
M
=
(2.3)
Levando-se as equações (2.1) e (2.2) na equação (2.3), obtém-se:
dxdydz
x
)v(
t
M
xx
ρ
=
(2.4)
10
Analogamente, obtém-se para as direções y e z:
dxdydz
y
)v(
t
M
yy
ρ
=
(2.5)
dxdydz
z
)v(
t
M
zz
ρ
=
(2.6)
Pelo princípio da conservação da massa, sabendo-se que
M/
t é o termo de
armazenamento, pode-se dizer que:
t
M
t
M
t
M
t
M
z
y
x
=
+
+
(2.7)
Levando-se as equações (2.4), (2.5) e (2.6) na equação (2.7), tem-se, então, a equação
geral de fluxo:
)(
)(
)(
)(
t
M
ddxdydz
z
v
y
v
x
v
z
y
x
ρ
ρ
ρ
=
++
(2.8)
A equação (2.8) relaciona o balanço de massa no campo tridimensional xyz com o
termo de armazenamento (segundo termo da igualdade). Particularizando o problema,
tomando-se o fluido como sendo a água e o meio como sendo um solo, ou seja, um
meio poroso. Assim, pode-se dizer que:
www
VM ρ=
(2.9)
sendo:
M
w
: massa de água;
ρ
w
: massa específica da água;
V
w
: volume de água.
Multiplicando-se e dividindo-se o segundo termo da equação anterior por V
v
(volume
de vazios) e V (volume total) e sabendo-se que V = dx.dy.dz, S = V
w
/V
v
e n = V
v
/V,
tem-se que:
dxdydznSdxdydz
V
V
V
V
M
w
v
v
w
ww
ρ=ρ=
(2.10)
11
O termo de armazenamento pode ser expresso em termos da porosidade do solo (n) e do
grau de saturação (S). Logo, levando-se a equação (2.10) na equação (2.9), obtém-se a
equação geral de fluxo em um meio poroso:
t
S
n
t
n
S
t
Sn
z
)v(
y
)v(
x
)v(
ww
wzw
yw
xw
ρ+
ρ+
∂ρ
=
ρ
+
ρ
+
ρ
(2.11)
Na equação geral do processo de fluxo em solos considerando condições isotérmicas e
grau de saturação constante, as derivadas de
ρ
w
e S na equação anterior o nulas.
Assim, a equação que rege o adensamento será expressa por:
t
n
S
z
)v(
y
)v(
x
)v(
w
zw
yw
xw
ρ=
ρ
+
ρ
+
ρ
(2.12)
Esta é a equação geral para a análise de adensamento a grandes deformações.
Considerando que o fluido é incompressível (
ρ
w
constante), que é válida a Lei de Darcy
(v = k dh/dl onde v é a velocidade de fluxo, k é a permeabilidade e dh/dl é o gradiente
hidráulico) e que o material está saturado, tem-se:
t
n
)
z
h
k(
z
)
y
h
k(
y
)
x
h
k(
x
zyx
=
+
+
(2.13)
A equação (2.13) é a equação que descreve, de forma mais convencional, o processo de
fluxo em solos relacionado ao adensamento. Uma revisão das teorias de sedimentação e
de adensamento acopladas é apresentada por Schiffman
et al
. (1988). A seguir, será
apresentada a teoria do adensamento a grandes deformações e a dedução de sua equação
governadora.
2.3 – Teoria do Adensamento Unidimensional a Grandes Deformações
O estudo das condições específicas da teoria de adensamento a grandes deformações,
como também é chamada a teoria de adensamento com deformações finitas, tomou
impulso nas últimas décadas, através das formulações propostas nos trabalhos de
Mikasa (1963) e de Gibson et al. (1967).
12
A teoria do adensamento a grandes deformações de Gibson
et al.
(1967) descreve de
forma adequada a magnitude e o progresso do recalque de materiais de granulometria
fina altamente compressíveis. Essa teoria é a mais indicada para o estudo do
adensamento destes materiais e é baseada nas seguintes suposições, de acordo com
Schiffman
et al.
(1984):
meio saturado e consistindo de três componentes: as partículas de solo, o esqueleto
de solo formado por elas e os vazios preenchidos com água;
completa interação entre o esqueleto de solo e os vazios preenchidos por água, ou
seja, o princípio da tensão efetiva é válido;
o fluido é Newtoniano;
a Lei de Darcy governa o escoamento do fluido através do esqueleto de solo e é
expressa em termos da velocidade relativa entre a água intersticial e as partículas
sólidas;
assume-se que as partículas de solo e a água que preenche os vazios são
incompressíveis;
as massas das porções sólidas e fluidas do sistema são conservadas separadamente,
o que requer a não existência de interações químicas entre os constituintes.
Segundo Pane (1981), a formulação de Gibson
et al.
(1967) para o adensamento
considera a o linearidade geométrica e a o linearidade física do problema, sendo a
formulação mais geral no âmbito das teorias unidimensionais. A teoria de Terzaghi é,
portanto, um caso particular da teoria com grandes deformações. Um aspecto
importante na formulação da equação da teoria do adensamento a grandes deformações
de Gibson et al. (1967) é o sistema de coordenadas (Xie and Leo, 2004).
A Figura 2.2 mostra uma camada de argila de espessura inicial H sujeita a grandes
deformações, na qual estão relacionados os sistemas de coordenadas lagrangeano e
euleriano. A coordenada lagrangeana
a
e a euleriana
ξ
são orientadas no sentido da
gravidade. A coordenada euleriana
ξ
tem sua origem no topo da camada, o qual é
tomado como plano de referência.
13
Figura 2.2 - Coordenadas lagrangeanas e eulerianas: (a) configuração no tempo inicial e
(b) configuração no tempo t.
A coordenada lagrangeana
a
e o tempo
t
são variáveis independentes, enquanto a
coordenada euleriana
ξ
é uma variável dependente de
a
e
t
, ou seja,
ξ
=
ξ
(a,t). A
relação entre
a
e
ξ
é dada por:
0
e1
e1
a +
+
=
ξ
(2.14)
sendo:
e = e(a,t) o índice de vazios da camada;
e
0
= e(a,o) o índice de vazios inicial da camada;
ξ
e
a
: coordenadas euleriana e lagrangeana, respectivamente, e;
S: recalque dado por S(a,t) =
ξ
- a.
Desta forma, num tempo t, a superfície do topo (contorno superior) e da base (contorno
inferior) da camada de argila podem ser referenciadas por meio das coordenadas
lagrangeanas (a = 0 e a = H) ou eulerianas [
ξ
= S(0,t)] e
ξ
= H. Um outro sistema de
coordenada, também muito usado, é o sistema de coordenada reduzidas ou do material.
Neste sistema, a coordenada
z
de uma partícula é definida como sendo o volume de
partículas sólidas contidas entre um plano de referência, geralmente a base da camada, e
o ponto de coordenada lagrangeana a ser analisado (Botelho, 2001).
14
O volume de partículas sólidas
z
é definido como:
=
a
0
da)]0,a(n1[)a(z
(2.15)
onde n(a,0) representa a distribuição das porosidades.
Este sistema de coordenadas
z
também independe do tempo. Neste sistema, um ponto da
camada fica definido através do volume de sólidos entre este ponto e o plano de
referência e esse volume se constante durante o processo de adensamento, pois as
partículas sólidas são assumidas incompressíveis.
A figura 2.3 mostra a relação entre os sistemas de coordenadas, através de um elemento
de solo formado pelo volume unitário de sólidos e pelo volume de vazios, igual ao
índice de vazios inicial (e
0
) nos tempos inicial e t.
Figura 2.3 - Relação entre os sistemas de coordenadas lagrangeanas, eulerianas e
reduzidas: (a) configuração inicial, t=0 e (b) configuração no tempo t.
Desta forma, a relação entre os sistemas de coordenadas reduzido e lagrangeano pode
ser expressa por:
0
e1
1
a
z
+
=
(2.16)
A relação entre o sistema de coordenada reduzido e eulerianoo pode ser estabelecido
através das relações 2.14 e 2.16, tal que:
e1
1z
+
=
ξ
(2.17)
15
2.4 – Equação Diferencial do Adensamento a Grandes Deformações
Admitindo-se que o fluido e as partículas sólidas são incompressíveis, estabelece-se, a
seguir, a equação do adensamento unidimensional a grandes deformações, de uma
camada de argila saturada, no sistema de coordenadas eulerianas (Xie and Leo, 2004).
i) equação para o equilíbrio da massa sólida:
e1
)eGs(
w
+
γ+
=
ξ
σ
, (2.18)
sendo:
σ
: tensão total; G
s
: densidade das partículas sólidas e
w
γ
: peso específico da água.
ii) equação de equilíbro do fluido:
w
up
γ+
ξ
=
ξ
, (2.19)
sendo:
p : poropressão total e u: excesso de poropressão.
iii) princípio das tensões efetivas (
σ
=
σ
’+ p), sendo
σ
’ a tensão efetiva.
iv) lei de Darcy:
ξγ
=
+
uk
vv
e
e
w
sw
)(
1
(2.20)
sendo:
v
w
e v
s
: velocidades relativas da água nos poros e das partículas sólidas para o plano de
referência, respectivamente e k : coeficiente de permeabilidade do material.
v) equação para continuidade do fluxo da água nos poros:
t
e
e1
1
)]vv(
e1
e
[.
sw
+
=
+ξ
(2.21)
Da combinação entre as relações 2.20 e 2.21, obtém-se a equação diferencial doa
16
densamento a grandes deformações, em coordenadas eulerianas:
t
e
e1
1
)
u
.k(
1
w
+
=
ξ
ξ
γ
(2.22)
A equação geral do adensamento no sistema de coordenadas lagrangeanas é obtida
através da combinação da equação 2.14 e das equações de 2.18 a 2.22, dando:
0
w
e1
)eGs(
a +
γ+
=
σ
(2.23)
w
0
)e1(
)e1(
a
u
a
p
γ
+
+
+
=
(2.24)
a
u
e
ek
vv
w
sw
+
=
.
)1(
0
γ
(2.25)
t
e
e
vv
e
e
a
sw
+
=
+
0
1
1
)](
1
[
(2.26)
t
e
ea
u
k
e
e
a
w
+
=
+
+
0
0
1
1
]
1
1
[
11
γ
(2.27)
A equação geral do adensamento, no sistema de coordenadas reduzido, analogamente, é
obtida através da combinação da equação 2.17 e das equações 2.18 a 2.22, tal que:
e1
1
)e1(z +
=
+
σ
(Gs+e).
γ
w
(2.28)
)e1(
z
u
z
p
w
+γ+
=
(2.29)
z
u
e
k
vv
w
sw
=
.
γ
(2.30)
t
e
vv
e
e
z
sw
=
+
)](
1
[
(2.31)
t
e
z
u
e
k
z
w
=
+
]
)1(
[
γ
(2.32)
Consideremos uma camada de argila homogênea e saturada, submetida à ação de uma
sobrecarga q
p
, aplicada no seu topo (Figura 2.4). O nível da água acima do topo da
17
camada é H
w
. O adensamento tem início quando um incremento de carga q = q(t),
distribuída uniformemente, é aplicada no topo da camada de argila.
Figura 2.4 - Camada de argila saturada e homogênea para análise do adensamento (Xie
and Leo, 2004, modificado).
As relações entre a carga total
σ
, a poropressão p, a tensão efetiva
σ
e o recalque S
podem ser estabelecidos da seguinte forma:
i) tensão total:
a tensão total
σ
é dada pela integração da equação 2.23, tal que:
da
e
eGs
tta
a
w
+
+
+==
0
0
)
)1(
)(
(),0(),(
γσσσ
(2.33)
sendo:
σ
(0,t): tensão total no topo da superfície (a=0), dada por:
σ
(0,t) = q
p
+ q +
γ
w
[H
w
+ S(0,t)] (2.34)
ii) poropressão total:
Da equação 2.24, resulta que a poropressão total é:
p = p(a,t) = u + p
w
(2.35)
sendo u = u(a,t): excesso de poropressão e p
w
a poropressão estática dada por:
)],([
)1(
)1(
)],0([),(
0
0
taSaHda
e
e
tSHtapp
ww
a
w
wwww
++=
+
+
++==
γ
γ
γ
(2.36)
18
iii) tensão efetiva:
Combinando-se as equações 2.19, 2.33, 2.34, 2.35 e 2.36,obtém-se a tensão efetiva por:
uqpta +===
0
'),(''
σσσσ
(2.37)
onde, das relações 2.33 e 2.34, a tensão efetiva inicial (
σ
0
) é dada por:
+
+==
a
wp
da
e
Gsqa
0
0
0
)1(
1
)1()0,(''
γσσ
(2.38)
O último termo do segundo membro da equação 2.38 corresponde a tensão efetiva
devido ao peso próprio da camada e o primeiro representa os efeitos da sobrecarga.
iv) recalque
O recalque é obtido da equação S(a,t) =
ξ
- a, tal que:
da
da
d
dadds )1( ==
ξ
ξ
(2.39)
Substituindo-se a equação 2.13 na equação 2.39 e integrando, obtém-se o recalque por:
+
+
==
H
a
da
e
ee
taSS
)1(
)(
),(
0
0
(2.40)
sendo S=0 quando a = H. A tensão total pode ser representada pelas equações 2.35 a
2.39, de forma que:
)],([''
0
taSaHqp
ww
++++=+=
γσσσ
(2.41)
As relações vistas anteriores são, geralmente, aplicadas para qualquer camada
homogênea e saturada de argila até mesmo nos casos onde o esqueleto sólido exibe
efeito intrínseco no tempo (
creep
), ou seja, compressão secundária. Porém, para o
desenvolvimento da solução analítica, na hipótese do esqueleto sólido não apresentar
compressão secundária, a permeabilidade e a tensão efetiva podem ser relacionadas
diretamente com o índice de vazios, tal que k=k(e) e
σ
'=
σ
’(e).
Então, da equação 2.38, resulta que:
19
a
e
de
d
e
Gs
aaa
u
w
+
=
=
'
)1(
)1('
'
0
0
σ
γσ
σ
(2.42)
A equação governadora do adensamento em coordenadas lagrangeanas pode, agora, ser
finalmente obtida pela substituição da equação 2.42 na equação geral 2.27, ou seja:
t
e
ea
e
de
d
e
ek
aa
e
e
k
de
d
Gs
w
+
=
+
+
+
+
)1(
1
]
'
)1(
)1(
[
1
]
)1(
[)1(
0
0
σ
γ
(2.43)
Para a obtenção da equação governadora do adensamento em coordenadas do material,
basta substituir a equação 2.15 na 2.43, a qual resulta em:
t
e
z
e
de
d
e
k
zz
e
e
k
de
d
Gs
w
=
+
+
+
]
'
)1(
[
1
]
)1(
[)1(
σ
γ
(2.44)
Analogamente, para obter a equação governadora do adensamento em coordenadas
eulerianas, basta substituir a equação 2.16 na 2.44, ou seja:
t
e
e
e
de
dke
e
k
de
d
Gs
w
+
=
+
)1(
1
]
'
[
)1(
[)1(
ξ
σ
γξξ
(2.45)
2.5 – Modelos Constitutivos Unidimensionais
As características de compressibilidade e de permeabilidade dos materiais são expressas
comumente pelas relações constitutivas índice de vazios x tensão efetiva e índice de
vazios x permeabilidade. Estas relações devem, portanto, ser modeladas por meio de
funções matemáticas que melhor representem os resultados obtidos experimentalmente.
A seguir são descritos alguns dos principais modelos de compressibilidade propostos na
literatura:
(i) Modelo linear-logarítmico
O modelo linear-logarítmico apresenta a expressão mais simples para a
compressibilidade, na qual se admite que o coeficiente de compressibilidade é
20
constante. A equação deste modelo é descrita por:
σ
σ
=
0
c0
'
'
logCee
(2.46)
sendo:
e
0
: índice de vazios inicial;
σ
´
0
: tensão efetiva inicial;
C
c
: coeficiente de compressibilidade do solo.
Este modelo apresenta como vantagem a facilidade e simplicidade em expressar o
decréscimo da compressibilidade com o acréscimo da tensão efetiva. Algumas
limitações deste modelo são: índice de vazios infinito para tensão efetiva nula, do índice
de vazios negativos para tensões efetivas elevadas e impossibilidade de modelagem do
comportamento de materiais de granulometria fina que exibem uma relação não-linear
entre o índice de vazios e o logaritmo da tensão efetiva.
(ii) Modelo de Koppula e Morgenstern (1982)
Este modelo foi inicialmente proposto por Janbu (1963), na seguinte forma:
p
0
0
'
'
'd
de
'd
de
σ
σ
σ
=
σ
(2.47)
que pode ser integrado para se obter que:
( )
(
)
( )
C
1p
'
'
1
'd
de
e
1p
p
0
0
+
+
σ
σ
σ
=
+
(2.48)
sendo:
p : constante do material;
C : constante de integração.
O primeiro termo à direita da equação representa uma função potencial em termos de
tensão efetiva, que tem sido usada, atualmente, de várias formas em modelos
constitutivos.
(iii) Modelo de Monte e Krizek (1976)
21
É baseado na seguinte função potencial:
(
)
N
D' ε=σ
(2.49)
sendo:
(
)
( )
0
0
'e1
e'e
+
=ε
(2.50)
onde:
D, N: constantes;
ε
: deformação relacionada à variação do índice de vazios;
o
: índice de vazios no limite de fluidez.
O limite de fluidez é definido como sendo o teor de umidade correspondente ao instante
em que as partículas sólidas, sedimentadas a partir de uma suspensão, iniciam a
interação entre elas; neste instante, a resistência ao cisalhamento da mistura é nula.
(iv) Modelo de Butterfield (1979)
Este modelo surgiu da revisão de dados publicados sobre características de adensamento
unidimensional para vários solos. Os solos podem ser modelados com grande eficiência,
através de duas linhas retas em um gráfico do logaritmo do índice de vazios com o
logaritmo da tensão efetiva. A relação funcional tem a forma:
σ
σ
=
+
+
0
c
0
'
'
lnC
e1
e1
ln
(2.51)
sendo C
c
: inclinação do trecho correspondente a região normalmente adensada da
curva; esta constante deve ser substituída por C
s
para a região sobreadensada da curva.
A função proposta também pode ser escrita como:
( )
1
'
'
e1e
c
C
0
0
σ
σ
+=
(2.52)
(v) Modelo de Somogyi (1979)
A função potência proposta por Somogyi (1979) é expressa da seguinte forma:
B
'Ae σ=
(2.53)
sendo A, B constantes do modelo.
22
(vi) Modelo de Carrier III et al. (1983)
A função potência proposta tem a forma:
ε+
σ
α=
β
atm
p
'
e
(2.54)
sendo: p
atm
: pressão atmosférica e
α
,
β
,
ε
são coeficientes empíricos.
(vii) Modelo de Gibson
et al.
(1981) e Cargill (1984)
A função exponencial proposta para modelar o adensamento unidimensional de
materiais de granulometria fina tem a forma:
(
)
(
)
+λσ= e'expeee
00
(2.55)
sendo: e
00
: índice de vazios correspondente à tensão efetiva zero; e
: índice de vazios
correspondente à tensão efetiva infinita e
λ
: constante do material.
Segundo Liu (1990), essa função não apresenta as limitações dos outros modelos e é
adequada na modelagem do comportamento de materiais de granulometria fina,
principalmente para a faixa de baixas tensões efetivas.
(viii) Modelo de Hardin (1989)
Este modelo é proposto para solos coesivos, normalmente adensados, submetidos a um
estado de deformação unidimensional e apresenta a seguinte forma:
p
atmD1i
P
'
S
1
e
1
e
1
σ
+=
(2.56)
sendo: 1/e
i
: intercepto para
σ
igual a zero; p parâmetro do material e S
1-D
: coeficiente
de rigidez adimensional para a deformação unidimensional.
Observa-se que o índice de vazios é bem definido para tensão efetiva zero. Além disso,
uma vez que p é sempre positivo, o índice de vazios é positivo independentemente da
magnitude da tensão efetiva.
(ix) Modelo de Liu (1990)
Este modelo foi obtido pela expansão da função potencial apresentada por Somogyi
23
(1979) adicionando uma constante Z de forma a se evitar o problema da obtenção de um
índice de vazios infinito para tensão efetiva nula. Este modelo contorna as deficiências
relacionadas anteriormente, além de representar a compressibilidade de ambos os
materiais, normalmente adensados e sobreadensados. O modelo apresenta a seguinte
forma:
(
)
B
Z'Ae +σ=
(2.57)
sendo A, B, Z parâmetros do modelo.
O modelo proposto por Liu (1990) tem se mostrado bastante apropriado para modelar a
relação tensão efetiva x índice de vazios (Al-Tabbaa e Wood, 1987; Aiban e Znidarcic,
1990; Abu-Hejleh e Znidarcic, 1992). Através desse modelo, o índice de vazios fica
bem definido para a tensão efetiva nula, independentemente da magnitude da tensão.
A seguir são descritos alguns dos principais modelos de permeabilidade para análises de
adensamento:
(i) Modelo linear-logarítmico
O modelo linear logarítmico, utilizado para modelar a relação índice de vazios x
permeabilidade, apresenta a seguinte forma:
+=
0
10k0
k
k
logCee
(2.58)
sendo C
k
: constante para um dado solo e k
o
: coeficiente de permeabilidade inicial.
(ii) Modelo de Kozeny-Carman (1956)
Este modelo apresenta a seguinte forma:
( )
e1
e
Ck
3
+
=
(2.59)
onde C é função do peso específico e da viscosidade do fluido, do fator de forma dos
poros, da superfície específica por unidade de volume das partículas sólidas e da
tortuosidade do caminho de fluxo.
24
(iii) Modelo de Monte e Krizek (1976)
Os autores propuseram uma relação quadrática da permeabilidade com o índice de
vazios para materiais com granulometria fina. Uma forma linear da função relacionando
k dividido por (1+e) foi usada de acordo com:
( )
e
e1
k
β+α=
+
(2.60)
sendo
α
e
β
constantes do material.
(iv) Modelo de Somogyi (1979)
Uma função exponencial para relacionar a permeabilidade e o índice de vazios foi
proposta sob a forma:
D
Cek =
(2.61)
sendo C e D parâmetros do modelo determinados na análise.
Esta função tem se mostrado bastante apropriada para modelar a relação índice de
vazios x permeabilidade (Al-Tabbaa e Wood, 1987; Aiban e Znidarcic, 1990; Abu-
Hejleh e Znidarcic, 1992).
(v) Modelo de Koppula e Morgenstern (1982)
Este modelo relaciona a permeabilidade dividida por (1+e) à tensão efetiva, sendo que a
permeabilidade pode ser considerada como uma função potencial do índice de vazios na
forma:
( )
q
0
0
'
'
e1
k
e1
k
σ
σ
+
=
+
(2.62)
sendo q uma constante do material.
(vi) Modelo de Carrier III
et al.
(1983)
A permeabilidade é modelada através da seguinte equação:
( )
e1
e
Ek
F
+
=
(2.63)
sendo E e F constantes do material.
25
(vii) Modelo de Carrier e Bromwell (1983)
Este modelo tem a seguinte equação:
(
)
( )
e1
e
k
+
λ
µ=
ν
(2.64)
sendo
µ
,
ν
e
λ
constantes do material.
2.6 Ensaios de Laboratório para a Determinação das Propriedades Constitutivas
do Adensamento
O estudo do comportamento de materiais finos de elevada compressibilidade no
processo de adensamento deve estar baseado não em uma teoria adequada capaz de
descrever este comportamento, como também em métodos e técnicas de ensaio
apropriadas para a determinação das relações constitutivas envolvidas neste fenômeno:
índice de vazios x tensão efetiva e índice de vazios x permeabilidade.
A determinação das relações constitutivas do adensamento pode ser feita por meio de
ensaios de laboratório ou de campo. No presente trabalho, serão descritos apenas os
ensaios de laboratório, uma vez que os ensaios de campo fogem do escopo da proposta.
Em termos dos ensaios de laboratório, serão abordados apenas os ensaios mais
comumente utilizados, que são os ensaios CRD e HCT, descritos a seguir.
2.6.1 – Ensaio de Adensamento Tipo CRD (Consolidation Rate Displacement)
2.6.1.1 - Princípios e Equipamentos de Ensaio
O ensaio de adensamento com taxa de deslocamento constante (ensaio de adensamento
tipo CRD) constitui uma metodologia comumente utilizada para a determinação das
características de compressibilidade e permeabilidade de materiais de consistência mole
em laboratório. A principal incerteza relativa ao ensaio, consiste na definição da
velocidade a ser adotada, de particular influência nos resultados obtidos.
26
O ensaio de adensamento CRD foi desenvolvido com objetivo de contornar as
limitações do ensaio convencional de adensamento: obtenção da curva tensão x
deformação a partir de um número reduzido de pontos e longa duração dos ensaios para
materiais finos de elevada compressibilidade. Os detalhes do ensaio CRD e a análise
empregada na interpretação dos resultados são descritos em Znidarcic et al. (1986). Este
tipo de ensaio foi sugerido como uma tentativa de acelerar o processo de ensaio e testar
o material sob taxas de deformações que se aproximem às de campo.
O equipamento utilizado é bastante simples, sendo constituído, basicamente, por uma
câmara de material rígido (oedômetro) e dispositivos como topo, pistão, anel superior,
anel inferior e base (Figuras 2.5 e 2.6). A amostra de lama é colocada na parte inferior,
sendo submetida a carregamentos contínuos, impostos pela movimentação descendente
do pistão, a uma velocidade constante de deslocamento. A base da célula, onde é
encaixado o anel inferior, possui, na parte central, uma pedra porosa e um transdutor de
pressão. Os excessos de poropressões, geradas na base, são medidos através de um
transdutor de pressão lateral à base. O topo do oedômetro apresenta um furo central, que
serve para permitir a movimentação da base do pistão e dois outros furos, para aplicação
de contra-pressão (caso seja aplicada) e saída de ar durante a saturação do sistema. O
pistão apresenta uma pedra porosa encaixada na sua base e dois furos que permitem a
passagem do excesso de poropressão para o anel superior, durante o adensamento da
amostra.
Figura 2.5 – Esquema geral de um equipamento de adensamento tipo CRD
27
Figura 2.6 - Montagem geral do equipamento tipo CRD
2.6.1.2 - Procedimentos do Ensaio
Inicialmente, satura-se a pedra porosa da base do oedômetro (deixando percolar água
através da mesma) e coloca-se papel filtro para evitar sua colmatação. O anel inferior é
encaixado na base do oedômetro e com uma concha deposita-se lentamente o material
homogeneizado na consistência desejada dentro dele. Após a conexão do sistema anel
superior/pistão/ topo com o anel inferior do oedômetro, fecha-se o sistema com barras
de latão para evitar vazamentos (deve-se colocar papel filtro sobre a pedra porosa da
base do pistão).
Antes de iniciar-se o ensaio, deve-se ajustar o pistão dentro do anel superior de modo
que a pedra porosa da base do pistão fique bem próxima da amostra. Como neste
trabalho não foi utilizada contra-pressão, na etapa seguinte de execução do ensaio,
seleciona-se a velocidade de ensaio desejada e inicia-se o mesmo. Durante o ensaio,
uma das extremidades da amostra permanece parada enquanto a outra é submetida (por
uma prensa com controle de velocidade) a uma taxa de deslocamento (velocidade)
constante. Geralmente, apenas uma das extremidades (normalmente o topo) é drenada.
À medida que o prato da prensa desloca-se para cima, o pistão comprime a amostra,
provocando o seu adensamento.
28
As poropressões são obtidas por meio de um transdutor situado na base do
equipamento, as leituras das tensões axiais são feitas através de um transdutor
conectado no centro da base do oedômetro e os deslocamentos são medidos por um
extensômetro elétrico localizado sobre o topo do sistema. Deste modo, a cada instante,
pode-se estimar a tensão efetiva em ambas as extremidades da amostra.
A principal limitação do ensaio CRD está relacionada à fixação da velocidade do
ensaio. Este fator apresenta influência significativa na determinação dos parâmetros de
compressibilidade e está diretamente relacionado com o tipo de solo. Na escolha da
velocidade mais adequada, deve-se levar em conta os objetivos do ensaio e as limitações
teóricas impostas à análise dos resultados. Na maioria das aplicações, a velocidade é
definida com base na razão entre a poropressão na base e a tensão total aplicada (u
b
/
σ
).
2.6.1.3 – Metodologias de Análise
Alguns dos principais métodos propostos para a análise dos dados do ensaio CRD são
descritos a seguir.
Smith e Wahls (1969)
Essa análise utiliza a formulação a grandes deformações e supõe uma distribuição linear
do índice de vazios com o tempo. São calculadas a tensão efetiva média e o coeficiente
de compressibilidade.
Wissa et al. (1971)
Assumindo deformações infinitesimais, define-se o coeficiente de compressibilidade, a
tensão efetiva média e a deformação média.
Umehara e Zen (1980)
A análise é baseada na teoria do adensamento a grandes deformações, definindo-se a
taxa de deformação R:
(
)
)´log-(log
´log-u)-log(
R
0
0
σσ
σ
σ
=
(2.65)
29
Usando gráficos, o valor do parâmetro c
v
/(vH
0
), correspondente à taxa R, pode ser
obtido. Quando este parâmetro é conhecido, a taxa de recalque nas extremidades do
corpo de prova pode ser obtida de outros gráficos. Logo, o coeficiente de adensamento e
a relação tensão efetiva x índice de vazios são obtidos.
Lee (1981)
O método assume que o coeficiente de adensamento permenece constante durante o
ensaio e define-se o parâmetro
β
por:
v
2
0
c
rH
β =
(2.66)
A análise considera o estado transiente e permanente e a distribuição de deformações é
aproximada por uma função parabólica. Define-se a tensão efetiva média, o coeficiente
de compressibilidade e a deformação nas faces drenada e não drenada.
Znidarcic (1982)
Este método de análise destaca-se dos demais porque, além de supor grandes
deformações, não apresenta o coeficiente de adensamento c
v
constante, nem pressupõe
um comportamento pré-definido para a deformabilidade do material. Znidarcic (1982)
propôs uma análise para retro-calcular as propriedades cujo procedimento é baseado no
cálculo dos parâmetros da teoria, ajustando-se a solução analítica aos resultados obtidos
experimentalmente. A análise consiste em se dividir a duração total do ensaio em
intervalos de tempo, como se cada um deles correspondessem a um teste de curta
duração, admitindo solução com valores constantes da função (g) válida dentro destes
intervalos.
Conhecendo-se as tensões efetivas no topo e na base do corpo de prova durante o ensaio
e assumindo uma relação linear entre tensão efetiva e índice de vazios, é possível
estabelecer um processo iterativo que termina quando as curvas de compressibilidade
obtidas estiverem próximas. Para eliminar as dificuldades no procedimento de análise, a
equação do adensamento a grandes deformações foi simplificada, desprezando-se a
30
parcela de peso próprio f(e) e fazendo g(e) constante. Então:
t
e
z
e
)e(f
z
e
)e(g
z
=
+
(2.67)
t
e
z
e
g
2
2
=
(2.68)
A função (g) é uma função do índice de vazios na forma:
de
'd
)e1(
w
k
g
σ
+γ
=
(2.69)
A relação de compressibilidade é construída através do processo iterativo, assumindo-se
que a relação entre índice de vazios e tensão efetiva para um material homogêneo é
única.
Em seguida, a permeabilidade pode ser calculada para cada incremento de tempo com
valor conhecido da função (g). A hipótese de negligenciar o efeito do peso próprio é
considerada imprópria para o adensamento de materiais finos de elevada
compressibilidade, pois este desempenha papel dominante no processo.
A Tabela 2.1 apresenta as equações características de alguns dos métodos descritos
anteriormente para as análises dos resultados dos ensaios de adensamento tipo CRD.
Tabela 2.1 - Equações usadas na análise do ensaio CRD (Lee et al., 1994).
Smith e Wahls (1959)
Wissa et al.
(1971)
Lee (1981)
Tensão efetiva
(σ´
m
)
=
12
1
r
b
2
1
24
1
r
b
3
1
σσ´
m
u
3
2
σσ´
m
=
u
3
2
σσ´
m
=
Coeficiente de
compressibilidade
(c
v
)
=
12
1
r
b
2
1
ua
rH
c
bv
2
v
=
t
∆σ
2u
H
c
2
0
v
=
t
∆σ´
2u
H
c
d
2
v
31
=
t
∆σ´
2u
H
c
u
2
v
Deformação na
face drenada
(ε
d
)
__________
3
β
εε
md
+=
+=
0
md
H
H
3
β
1
1
3
β
εε
Deformação na
face não
drenada (ε
u
)
__________
6
β
εε
mu
=
=
0
mu
H
H
3
β
1
1
6
β
εε
sendo:
H: espessura do corpo de prova;
H
o
: altura do corpo de prova;
b/r : constante;
u : poropressão;
σ
´
d
: tensão efetiva na face drenada;
σ
´
u
: tensão efetiva na face não drenada;
ε
m
: deformação média do corpo de prova.
2.6.2 – Ensaio de Adensamento Tipo HCT (Hydraulic Consolidation Test)
2.6.2.1 - Princípios e Equipamentos de Ensaio
A determinação experimental das características de compressibilidade e de adensamento
de rejeitos finos, expressos pelas relações índices de vazios x permeabilidades e índices
de vazios x tensões efetivas, é complexa no caso de rejeitos mais finos e os ensaios
convencionais não são convenientes para a sua interpretação, principalmente para
baixos níveis de tensão. Para contornar este problema, propôs-se nesse trabalho o uso de
uma técnica experimental baseada no ensaio de adensamento por percolação induzida,
que emprega uma bomba de fluxo permitindo o controle das vazões de fluxo
empregadas na amostra. É medida a altura final da amostra e calculada a tensão efetiva
32
de base assim que a condição de equilíbrio é atingida. Esta técnica tem se mostrado
muito conveniente na determinação das relações constitutivas e funções desses
materiais, uma vez que reduz, em grande parte, as limitações dos outros métodos.
Neste sentido, esta técnica está atualmente disponível no país, permitindo o estudo do
comportamento de materiais como os rejeitos de mineração, durante o processo de
adensamento, através da montagem e operacionalização do equipamento (conjunto
bomba de fluxo, célula triaxial, sistema de aplicação de pressão e sistema de aquisição
de dados), bem como a implementação e adaptação dos procedimentos de ensaio. O
ensaio de adensamento por percolação induzida pode representar uma contribuição
válida no processo de planejamento de disposição de materiais com granulometria fina
oriundos de operações de mineração e dragagem, representando a viabilização do uso
das teorias de adensamento a grandes deformações.
Com a realização da montagem do equipamento para realização do ensaio de
adensamento por percolação induzida, observou-se uma segunda aplicação deste
equipamento no ensaio de permeabilidade saturada. Segundo Aiban e Znidarcic (1989),
o interesse em se obter medidas acuradas da permeabilidade de solos, especialmente
para solos com granulometria fina, tem aumentado significativamente nos últimos anos.
Este aumento é principalmente devido a necessidade de se prever exatamente o
movimento do fluido através dos solos. Para problemas geotécnicos convencionais, tais
como: estabilidade de taludes, vazamentos em reservatórios e outras análises de
percolação, é freqüentemente suficiente conhecer a permeabilidade dentro de uma
ordem de magnitude ou simplesmente determinar que a permeabilidade não é superior a
um dado valor especificado.
Portanto, o aumento da necessidade de ensaios de permeabilidade e a exigência de
maior acurácia estimularam a reavaliação e a tentativa de melhorias dos métodos de
medida de permeabilidade, com significativos desenvolvimentos de técnicas de
laboratório e de campo nos últimos anos (Araruna et al., 1994). Idealmente, um ensaio
deve ser executado em campo usando um permeâmetro apropriado sujeito a um
gradiente de pressão pré-estabelecido. Isto é difícil e caro devido aos problemas de
33
perturbação associados com a instalação dos equipamentos de ensaio e com o tempo
necessário para se atingir as condições de equilíbrio. Alternativamente, ensaios de
laboratório podem ser executados em corpos de prova representativos. Isto apresenta a
vantagem de se poder variar as condições de contorno, o que permite fazer uma
avaliação da sua influência na permeabilidade.
A técnica da bomba de fluxo desenvolvida por Olsen (1966) para medida de
permeabilidade de solos com granulometria fina consiste em impor uma vazão de fluxo
constante à amostra, por meio da bomba de fluxo, e medir a correspondente diferença de
pressão gerada pela qual o gradiente hidráulico é avaliado. Este é exatamente o conceito
oposto do ensaio convencional de permeabilidade a carga constante, no qual um
gradiente hidráulico constante é imposto através da amostra e a correspondente
quantidade de fluxo é medida.
O uso da bomba de fluxo é igualmente apropriado para solos de baixa e alta
permeabilidade, mas as vantagens são mais aparentes em ensaios com solos de
permeabilidade baixa. O lculo do coeficiente de permeabilidade é feito com o
emprego da Lei de Darcy e a resolução na medida da vazão de fluxo é pelo menos três
ordens de magnitude melhor do que os métodos convencionais.
O sistema para a realização dos ensaios de adensamento por percolação induzida e dos
ensaios de permeabilidade saturada consiste de cinco partes principais: o painel de
controle de pressão, a bomba de fluxo, a célula triaxial, o transdutor diferencial de
pressão, o sistema de carregamento e um sistema de aquisição de dados, que são,
resumidamente, descritos a seguir.
Um diagrama esquemático geral da montagem do equipamento para o ensaio de
adensamento por percolação induzida e de permeabilidade saturada é apresentado na
Figura 2.7. A figura 2.8 mostra o equipamento HCT na sua montagem geral. O sistema
de ensaio é independente e requer somente força elétrica e um suplemento de pressão, o
qual pode ser o sistema de potes de mercúrio (Bishop-Henkel) ou o sistema de ar
comprimido. Este equipamento está disponível no Laboratório de Geotecnia da UFOP.
34
Figura 2.7 – Diagrama esquemático do equipamento para realização do ensaio de
adensamento por percolação induzida e permeabilidade saturada.
Figura 2.8 – Montagem geral do equipamento tipo HCT.
35
a) Painel de controle de pressão
O painel de controle de pressão consiste, basicamente, de uma placa de madeira
(compensado) revestida por fórmica, na qual estão fixados os reservatórios para
aplicação de pressão, os reguladores de pressão, o manômetro digital para leituras de
pressão e as válvulas de controle do fluxo de água e ar. Este painel tem como objetivo
controlar a aplicação de pressão e contrapressão para a saturação da amostra e
realização dos ensaios propriamente ditos.
b) Bomba de fluxo
A bomba de fluxo é o modelo PHD 2000 (
Infuse/Withdraw
da
Harvard Apparatus
) e
consiste de um sistema modificado de infusão/remoção de um êmbolo (seringa) e uma
seringa de aço inoxidável. Essa bomba possui um painel frontal digital que permite a
seleção dos parâmetros necessários à realização do ensaio, quais sejam: o diâmetro da
seringa, o modo de funcionamento (infusão/remoção) e a forma de operação (controle
do volume a ser injetado ou retirado por sucção da amostra ou seleção da vazão de fluxo
do ensaio).
Como o sistema da bomba é digital, ele possui em sua memória várias seringas que são
encontradas no mercado, sendo necessário indicar qual é o tipo da seringa (diâmetro e
material) a ser utilizada. Antes de colocar a bomba em funcionamento é necessário
selecionar o seu modo de funcionamento (infusão/remoção) e a sua forma de operação
(seleção de vazão/controle de volume).
O conjunto bomba-seringa utilizado permite injetar ou fazer a sucção de um total de,
aproximadamente, 20 cm
3
, sendo seu limite inferior a vazão de 0,0523
µ
l/min e seu
limite superior, a vazão de 54,804 ml/mim. Qualquer vazão intermediária pode ser
selecionada, sendo que os limites da vazão dependem do diâmetro da seringa utilizada.
O uso da bomba de fluxo facilita o controle preciso da velocidade de fluxo através da
amostra.
36
c) Câmara triaxial
A mara de ensaio é uma câmara triaxial convencional. Portanto, possui topo e base;
cilindro de acrílico; dois conjuntos de base (removíveis) e ‘top cap’, também de acrílico,
e pedras porosas com diâmetros de 1,4” e 2,8”. Na base da câmara encontram-se as
conexões independentes responsáveis pelo enchimento da câmara com o fluido
confinante e pelo controle da drenagem e medida de diferença de pressão do corpo de
prova. Tais entradas são também usadas para saturação do corpo de prova.
No topo da câmara encontra-se uma válvula para permitir a saída do ar durante o
enchimento da mesma com o fluido confinante. A haste de carregamento tem a
finalidade de aplicação de cargas na amostra durante o ensaio de adensamento por
percolação induzida (fase de carregamento em etapas). o extensômetro é utilizado
para medir a altura da amostra durante este ensaio. Nos encaixes do cilindro de acrílico,
tanto no topo e na base da câmara, o usados anéis de borracha (O-rings) para evitar
vazamentos. A fixação do cilindro no topo e na base é feita através de hastes com
porcas.
Para a realização do ensaio de adensamento por percolação induzida, a base deve ser
substituída por uma base modificada, na qual é possível acoplar um tubo de acrílico.
Nesta base está assentada uma pedra porosa. A amostra é colocada no interior deste
tubo de acrílico que possui um diâmetro de 8,88 cm. Neste ensaio também é utilizado
um pistão plástico com uma pedra porosa cuja finalidade é transferir o carregamento
aplicado para a amostra, durante a fase de carregamento em etapas. Ele tem o mesmo
diâmetro da amostra e seu peso submerso produz um carregamento superficial na
mesma que corresponde a uma tensão de 0,10 kPa.
Para a realização do ensaio de permeabilidade, deve-se utilizar o
top cap
e a base de
acrílico convencionais. A amostra é colocada sobre a base com pedra porosa e papel
filtro, sendo que em seu topo é também colocado papel filtro, pedra porosa e o
top cap
.
37
d) Transdutor diferencial de pressão
Um transdutor diferencial de pressão, fornecido pela Validyne Engineering Corporation,
com um diafragma capaz de medir uma diferença de pressão de a1,25 psi é fixado na
base da célula. Este transdutor é formado por duas câmaras, cada uma possuindo uma
saída de água (pressão) e uma válvula de sangria. Uma das saídas de pressão é
conectada à base da amostra para medir a diferença de pressão gerada durante o ensaio,
enquanto a outra é conectada ao reservatório de pressão para fornecer a pressão de
referência, a partir da qual a diferença de pressão é medida.
Durante todo o ensaio (tanto de adensamento por percolação induzida e de
permeabilidade saturada) a contrapressão deve agir na câmara, desta forma o transdutor
diferencial de pressão mede a diferença de pressão induzida através da amostra. O
transdutor diferencial de pressão é conectado ao sistema de aquisição de dados.
O transdutor diferencial de pressão pode ser calibrado com o auxílio de um sistema de
aplicação de pequenas pressões, tanto positivas quanto negativas, em uma das saídas de
pressão, enquanto a outra saída fica aberta para a atmosfera. Este sistema é um tubo de
PVC perfurado de 5 em 5 cm fixado com concreto a uma base. Neste tubo é acoplada
uma luva de correr ligada a um béquer com água destilada. Um tubo de nylon liga o
béquer com água a uma das saídas do transdutor diferencial de pressão.
Portanto, ao alterar a altura do béquer com água ao longo do tubo de PVC, tendo o
transdutor diferencial de pressão fixo em um determinado referencial, pode-se obter a
leitura da diferença de pressão gerada através do sistema de aquisição de dados. A curva
de calibração do transdutor diferencial de pressão (voltagem x pressão) pode ser traçada
por meio destes dados e a equação de ajuste da curva será a equação de calibração.
e) Sistema de carregamento
Uma das fases do ensaio de adensamento por percolação induzida é o ensaio de
carregamento em etapas. Nesta fase a haste de carregamento é usada para transferir a
38
carga aplicada para a amostra. Um prato é acoplado a extremidade desta haste, no qual
podem ser colocados os
pesos até se atingir o valor carga desejada. Esta carga externa
aplicada é transferida para o pistão através da haste de carregamento da célula triaxial.
Um extensômetro é usado para medir a altura da amostra.
f) Sistema de aquisição de dados
O sistema de aquisição de dados consiste de um dispositivo eletrônico no qual estão
ligados os transdutores diferenciais de pressão e de um computador digital. Por meio de
programa de aquisição de dados (
Lab-View
), instalado no computador, os dados de
diferença de pressão durante o ensaio podem ser monitorados a uma dada freqüência de
leitura. Este programa de aquisição de dados apresenta, simultaneamente, na tela do
computador o gráfico referente à diferença de pressão gerada ao longo do tempo, bem
como a própria leitura da diferença de pressão.
2.6.2.2 – Ensaio de Adensamento por Percolação Induzida
A técnica deste ensaio é baseada na metodologia proposta por Imai (1979) e consiste em
aplicar uma força de percolação descendente imposta pela bomba de fluxo no corpo de
prova, o que provocará fluxo e causará o adensamento por percolação. Aplica-se,
também, um estágio de carregamento na amostra por aplicação de carga e realiza-se o
ensaio de permeabilidade com a bomba de fluxo. A poropressão gerada na amostra é
medida com transdutor diferencial de pressão durante o ensaio. Detalhes da metodologia
são dados em Botelho (2001).
Segundo Abu-Hejleh e Znidarcic (1996), o ensaio de adensamento por percolação
induzida proposto inicialmente por Imai (1979) consiste em, juntamente ao peso próprio
do corpo de prova, aplicar uma força de percolação descendente imposta pela diferença
de carga na amostra, o que provocará fluxo e causará o adensamento por percolação da
amostra. Neste ensaio, aplica-se, também na amostra, um estágio de carregamento
permitindo que ocorra o adensamento por aplicação de carga. A poropressão da água
gerada dentro da amostra, é medida durante o ensaio e a distribuição do índice de vazios
39
pode ser obtida no final do ensaio pelo fatiamento do corpo de prova na sua altura.
Pode-se, também, determinar apenas o índice de vazios final da amostra determinando a
umidade final. Através da obtenção destes dados, as relações de permeabilidade x índice
de vazios e tensão efetiva x índice de vazios do solo podem ser determinadas.
Com a utilização desta cnica de ensaio, é possível determinar o índice de vazios
correspondente a tensão efetiva nula e os dados no nível de tensões altas através da
aplicação de cargas em estágios (possibilitando a obtenção de uma curva de
compressibilidade do solo abrangendo níveis baixos e altos de tensão). Durante este
ensaio a vazão de fluxo, através da amostra, é controlada pela bomba de fluxo e a
diferença de pressão resultante é medida pelo transdutor diferencial de pressão. Além
disso, sua análise envolve um algoritmo iterativo para resolver o problema não linear
associado. Um procedimento de otimização é empregado para encontrar a combinação
ótima (minimizada) dos parâmetros do modelo que correspondem aos resultados das
análises com as quantidades experimentalmente observadas.
O ensaio de adensamento por percolação induzida consiste de quatro fases distintas, as
quais fornecem dados para a análise do ensaio. Estas etapas consistem na determinação
do índice de vazios para a tensão efetiva zero (e
00
), o adensamento por percolação
induzida, propriamente dito, o ensaio de carregamento em etapas e o ensaio de
permeabilidade com o emprego da bomba de fluxo. Sabe-se que este tipo de ensaio é
utilizado para estudo de adensamento de solos moles como, por exemplo, rejeito de
mineração sob forma de lama.
Uma quantidade de lama é completamente misturada a se obter uma consistência
correspondente às características do início da deposição. Para a determinação do índice
de vazios correspondente a tensão efetiva nula, um béquer é cheio com uma camada de
25mm a 50mm da lama que é deixada em repouso por algumas horas. A camada
superficial deste material é coletada para determinação do teor de umidade e, logo do
índice de vazios para tensão efetiva nula.
40
O restante da lama argilosa é colocada dentro do anel de acrílico e o pistão de acrílico é
colocado sobre o topo da amostra, após cerca de duas horas, sendo que entre ele e a
amostra deve-se colocar um papel filtro. A câmara triaxial é cheia com água destilada e
todo o sistema do ensaio é saturado sob uma contrapressão. A amostra de lama é
deixada consolidar durante uma noite sob a ação de seu peso próprio e da tensão efetiva
de topo produzida pelo pistão.
Em seguida, inicia-se o ensaio de adensamento induzido por percolação, propriamente
dito, no qual uma vazão constante é aplicada à amostra pela retirada de água de sua base
usando a bomba de fluxo. Devido ao fluxo descendente a amostra adensa e a diferença
de pressão é continuamente medida e registrada pelo sistema de aquisição de dados. A
mesma vazão é mantida até que se alcance a condição de estado permanente, quando
não ocorre mais o adensamento e a diferença de pressão através da amostra torna-se
constante. A velocidade da água através da amostra, v, é constante no estado
permanente e é calculada como sendo a vazão imposta dividida pela área da amostra A.
Neste estágio, a altura da amostra é medida e a diferença de pressão é usada para
calcular a tensão efetiva na base da mesma através da equação:
(
)
ssswob
PGH ++= 1''
γσσ
(2.70)
sendo:
σ
o
’: tensão efetiva produzida pelo carregamento do pistão;
γ
w
: peso específico da água;
G
s
: densidade dos sólidos;
H
s
: altura de sólidos contidos na amostra calculada como W
d
/ (G
s
.
γ
w
.As);
W
d
: peso seco da amostra;
A
s
: área da amostra;
P
s
: diferença de pressão através da amostra.
Tendo sido alcançadas as condições de equilíbrio, um novo ensaio de percolação
induzida pode ser realizado, agora sob uma vazão maior que a anterior. Isto irá produzir
novas variações no índice de vazios e na tensão efetiva ao longo da amostra. Novos
valores de v,
σ
b
e H
f
são obtidos, mas somente um conjunto de valores é necessário
para a análise dos resultados.
41
Para obter os dados de adensamento e permeabilidade em uma faixa de tensão efetiva
alta, ensaios de carregamento em etapas e permeabilidade são realizados. Na conclusão
do ensaio de adensamento por percolação induzida, a amostra é adensada sob uma
tensão vertical. No final do seu adensamento, a altura da amostra é medida e o
correspondente índice de vazios da amostra adensada é calculado por:
1
1
=
s
l
H
H
e
(2.71)
sendo: e
l
: índice de vazios da amostra adensada;
H
l
: altura final da amostra, após o adensamento por percolação.
Na fase do ensaio de permeabilidade, um pequeno fluxo descendente é imposto à
amostra com a bomba de fluxo e a variação da diferença de pressão é medida. No estado
de equilíbrio esta diferença de pressão é igual a
P
l
e a permeabilidade correspondente
da amostra é igual a (Znidarcic et al., 1986; Aiban e Znidarcic, 1989):
l
wl
l
P
Hv
k
=
γ
..
(2.72)
sendo
γ
w
o peso específico da água.
Os dois ensaios podem ser repetidos várias vezes, aumentando-se o carregamento, com
a finalidade de se obter mais dados, mas somente um conjunto de valores para
σ
ll
, e
l
e k
l
são necessários para a análise. Terminado o ensaio, a amostra é retirada do equipamento
e o peso dos sólidos (W
d
) é determinado.
Uma vez que os dados do ensaio foram obtidos, é preciso realizar a análise. Neste caso,
ela é feita por meio de um programa específico, denominado SICTA (
Seepage Induced
Consolidation Analysis
), desenvolvido por Abu-Hejleh e Znidarcic (1992) para análise
dos resultados dos ensaios, que fornece, após várias iterações, os valores dos
parâmetros A, B, C, D e Z dos modelos utilizados para a obtenção das respectivas leis
42
de compressibilidade (relação índice de vazios x tensão efetiva) e de permeabilidade
(relação índice de vazios x permeabilidade) dos materiais estudados.
2.6.2.3 – Ensaio de Permeabilidade Saturada
De acordo com Aiban e Znidarcic (1989), a vantagem deste ensaio com bomba de fluxo
reside no fato de que é muito mais fácil controlar pequenas vazões de fluxo do que
medi-las exatamente. A medida do gradiente hidráulico imposto não apresenta problema
quando se usa um transdutor diferencial de pressão sensível. Além disso, com a técnica
da bomba de fluxo, as amostras são submetidas a condições de equilíbrio, tal como, no
ensaio de carga constante. Ensaios convencionais podem demandar períodos de a
vinte e quatro horas para a medida de permeabilidade, ao passo que os ensaios com a
bomba de fluxo, publicados por Aiban e Znidarcic (1989), levaram cerca de uma hora.
Nesta metodologia, o coeficiente de permeabilidade (k) é calculado diretamente
utilizando-se a lei de Darcy:
h
A
q
Hk
.
.=
(2.73)
sendo: H: altura da amostra em m;
q: vazão em m
3
/s, estabelecida pela bomba de fluxo;
A: área da seção transversal da amostra em m
2
;
H: diferença de pressão medida pelo transdutor de pressão e calculada pelo
gráfico diferença de pressão x tempo.
O ensaio de permeabilidade saturada com uso da bomba de fluxo consiste de três etapas
bastante distintas. Estas etapas consistem: na moldagem do corpo de prova, na sua
saturação e no ensaio de permeabilidade com a bomba de fluxo, propriamente dito.
Existem muitas maneiras de se moldar o corpo de prova para a realização deste ensaio.
Comumente, a moldagem é feita por meio da cravação de um anel de 2,8” de diâmetro
no bloco indeformado. Segundo Aiban e Znidarcic (1989) é aconselhável a utilização de
amostras menores para reduzir a influência do adensamento induzido por percolação
nos resultados do ensaio.
43
Logo em seguida, a amostra é colocada na célula triaxial e é envolvida por uma
membrana de látex. São colocados o
top cap
e os anéis de vedação na base e no topo da
amostra. A câmara triaxial é preenchida por água destilada e a amostra é submetida a
saturação por percolação por cerca de 12 horas. Em seguida, o método de aplicação de
contrapressão é utilizado para a verificação da saturação total da amostra, no qual o
teste do parâmetro B de Skempton é utilizado para checar esta saturação.
O ensaio de permeabilidade começa quando, tendo sido verificada a saturação da
amostra, uma pressão constante é aplicada no topo da amostra . Após a seleção da vazão
de fluxo, esta irá promover a retirada da água da base da amostra, o que provocará uma
diferença de pressão entre o topo e a base da amostra e irá gerar um fluxo descendente
na mesma. O ensaio continua até que a diferença de pressão gerada, para a respectiva
vazão selecionada, atinja o estado de equilíbrio. Adotam-se, então, outros valores de
vazão (sempre crescentes) e repetem-se os mesmos procedimentos.
2.7 – Simulação Numérica do Processo de Adensamento Unidimensional a Grandes
Deformações pelo programa CONDES0
2.7.1 – Fundamentos e Condições de Contorno do Programa CONDES0
O programa CONDES0 (Yao e Znidarcic, 1997) constitui um algoritmo numérico para
análise de adensamento unidimensional a grandes deformações e ressecamento de solos
finos compressíveis, usando o método de diferenças finitas. Ele é empregado na solução
de equações diferenciais parciais não lineares de segunda ordem que modelam os
processos de adensamento unidimensional e ressecamento de solos em função das
variações de índices de vazios.
Escrito em linguagem de programação FORTRAN, o programa fornece a distribuição
dos índices de vazios ao longo da camada de solo compressível, a diferentes intervalos
de tempo. Adicionalmente, podem ser obtidos os perfis da distribuição das poropressões
geradas, as alturas das camadas de solo ao longo do adensamento, os perfis dos teores
de sólidos presentes e a variação dos valores dos pesos específicos secos médios.
44
O programa é baseado em plataforma DOS, necessitando, para a sua execução de um
arquivo tipo DOSXMF.EXE. Os dados do input do programa (características dos
materiais, condições de contorno, estágios de enchimento, etc) são introduzidos por
meio de um arquivo de dados tipo texto não formatado. As equações gerais do
adensamento são discretizadas espacialmente em uma malha uniforme, sendo adotada
uma forma mista dos métodos das diferenças central e avançada com um esquema de
integração implícito no tempo. Em análises mais refinadas, uma malha não uniforme é
gerada automaticamente pelo programa (Yao e Znidarcic, 1997).
Nas análises de adensamento unidimensional, as simulações numéricas pelo programa
são baseadas na teoria de Gibson et al. (1967) com as seguintes hipóteses:
(i) os materiais finos compressíveis permanecem sempre na condição de saturação até
que o índice de vazios atinja o índice de vazios correspondente ao limite de contração;
(ii) o fluxo é essencialmente vertical, com deformações unidimensionais (verticais);
(iii) solo é homogêneo horizontalmente;
(iv) água e as partículas sólidas são incompressíveis (inexistência de
creep
);
(v) os planos horizontal e vertical são planos das tensões principais durante todo o
processo de adensamento;
(vi) validade da Lei de Darcy.
As relações constitutivas, em termos de compressibilidade e permeabilidade dos
materiais, utilizadas nas simulações pelo programa são:
compressibilidades (modelo de Liu e Znidarcic, 1991):
1
B
11
)Z'(Ae +σ=
(2.74)
45
sendo: e : índice de vazios;
σ
’: tensão efetiva; A
1
, B
1
, e Z
1
: constantes empíricas obtidas
através do ensaio HCT com bomba de fluxo.
permeabilidades (modelo de Somogy, 1971):
D
Cek =
(2.75)
sendo: k: condutividade hidráulica; C e D: constantes empíricas.
A equação governadora na compressão unidimensional é formulada com as funções
velocidade e conservação de massa no sistema de coordenadas lagrangeanas. As
funções velocidade e conservação de massa são introduzidas como:
Função velocidade:
a
e
de
'd
)e1(
)e1(k
e1
)1Gs(k
v
v
w
0
n
σ
+γ
+
+
+
=
(2.76)
Conservação de massa:
t
e
.
e1
1
a
v
0
n
+
=
(2.77)
sendo: t: tempos; a: coordenadas lagrangeanas; e
0
: índice de vazios para tensão efetiva
zero; G
s
: densidade das partículas sólidas; V
n
: função velocidade do fluido no solo e
γ
w
o peso específico da água.
As condições de contorno utilizadas no programa, para simular o processo de
enchimento de um reservatório, são de dois tipos (Yao et al., 2002), correspondendo a
condições de contorno aplicadas para a base ou topo da camada analisada (condições de
Newman ou de Dirichilet, respectivamente). A primeira é representada pela imposição
da velocidade do fluido, que é convertida em índice de vazios pela equação 2.76. Na
segunda hipótese, impõe-se uma tensão de contorno, sendo esta transformada em índice
de vazios por meio da relação 2.74.
Nas condições de contorno para o topo da camada, podem ser impostas uma dada
sobrecarga (usada para simulações do adensamento) ou uma dada taxa de evaporação
(usada para análises de ressecamento). No processo de estágios de carregamento,
somente a condição de sobrecarga nula é aceitável para a condição de contorno no topo.
46
Para a condição de contorno na base da camada, são possíveis quatro opções: (i) base
impermeável (inexistência de fluxo, com velocidades nulas na fundação da camada); (ii)
condição de velocidades específicas de fluxo na base da camada (retirada de água da
camada a uma fluxo constante). Esta opção deve ser usada com extremo cuidado e
requer muita experiência na interpretação dos resultados; (iii) base permeável (condição
de base drenada, com a carga hidráulica sempre coincidindo com o topo da camada em
análise; (iv) condição de cargas de poropressões específicas na base da camada. Esta
condição considera uma carga arbitrária de poropressão que pode ser positiva ou
negativa, a sua aplicação pode gerar instabilidades se forem impostos valores de
poropressão maiores que a tensão total na base, devido ao peso próprio do material em
análise.
2.7.2 – Parâmetros de Entrada e de Saída do Programa CONDES0
Os parâmetros das relações constitutivas do adensamento, história de enchimento,
geometria e condições de contorno são as informações necessárias que o programa
necessita como dados de entrada para simular o enchimento de um reservatório. A
informação destes dados pode ser feita, basicamente, de duas maneiras: método
interativo ou arquivo de dados.
O primeiro procedimento é realizado em comando DOS; após inicializar o programa, as
instruções de entrada dos dados são solicitadas passo a passo na tela. A segunda forma
é mais conveniente quando se deseja introduzir alterações nos dados em simulações
contínuas. Os procedimentos de execução estão descritos no manual do programa que
será disponibilizado na biblioteca da Escola de Minas da UFOP. A seguir, apresenta-se
uma descrição suscinta dos parâmetros de entrada do programa:
i) Características dos materiais
parâmetros de compressibilidade: (A
1
,B
1
e Z
1
).
As características de compressibilidade unidimensional do material são requeridas
para modelar o processo de adensamento e são introduzidas sob a forma de índice
de vazios versus tensão efetiva (e x
σ
’). A função apresentada na forma da equação
47
2.74, proposta por Liu e Znidarcic (1991), caracterizada pelos parâmetros A
1
,B
1
e
Z
1
, é implementada no CONDES0. Z
1
tem a unidade de tensão, B
1
é admensional e
A
1
tem a unidade de tensão elevado ao inverso do valor de B
1.
parâmetros de permeabilidade: (C, D).
A função dada na equação 2.75 (Somogyi, 1979) é usada para relacionar índice de
vazios versus permeabilidades, por meio de dois parâmetros, C (com unidades de
condutividade hidráulica e D (fator adimensional);
densidade dos sólidos (G
s
);
peso específico da água (
γ
w
);
Índice de vazios mínimo (ME): o índice de vazios mínimo é o índice de vazios
correspondente ao estado limite de contração, a partir do qual não se tem mais
variações de volume, quaisquer que sejam os incrementos de tensão.
ii) Dados de enchimento
A Figura 2.9 ilustra um exemplo dos estágios de enchimento e a Tabela 2.2 mostra os
dados de entrada correspondentes aos mesmos. A descrição do procedimento relativo a
cada dado de entrada é apresentada a seguir:
altura inicial da camada (H
0
): a altura inicial corresponde à altura no tempo t = 0
das análises;
número de estágios de enchimento (NS): este número corresponde ao número de
etapas previstas na simulação do enchimento, sendo estabelecido, a partir de um
gráfico, correlacionando alturas nominais (alturas totais corrigidas pelos índices
de vazios, para representar apenas as alturas correspondentes aos sólidos
presentes na camda do solo compressível) versus tempos (Figura 2.9);
Tempo inicial de enchimento (TBF), tempo final de enchimento (TEF) e taxa de
enchimento ou de variações de alturas (FRH). Com efeito, no caso de um
enchimento instantâneo, os tempos inicial e final são idênticos e a taxa de
enchimento é substituída pela diferença de alturas nominais, correspondentes
aos pontos inicial e final do estágio de enchimento considerado.
48
Figura 2.9 - Representação dos diferentes estágios de enchimento de um reservatório
(Yao e Znidarcic, 1997)
Tabela 2.2 - Tabela para entrada de dados (Yao e Znidarcic, 1997)
estágio TBF TEF FRH tipo de enchimento
1 0 t
1
(h
1
-H
o
)/t
1
Taxa constante
2 t
1
t
2
0 Sem enchimento
3 t
2
t
2
(h
2
-h
1
) Enchimento instantâneo
4 t
2
t
3
(h
3
-h
2
)/(t
3
-t
2
) Taxa constante
5 t
3
t
3
(h
4
-h
3
) Enchimento instantâneo
6 t
3
t
4
(h
5
-h
4
)/(t
4
-t
3
) Taxa constante
Após a entrada de dados, o programa inicia automaticamente os cálculos e será
interrompido quando o índice de vazios atingir o valor mínimo possível ou quando o
estado permanente for alcançado.
49
Com a simulação concluída, são gerados, automaticamente, quatro arquivos de saída,
designados como:
ts.out, tc.out, vd.out e input
. Nos anexos deste trabalho serão
apresentados exemplos dos mencionados arquivos. Nas análises em que o ressecamento
não for estudado, ou seja, somente o adensamento é verificado, o arquivo
tc.out
não é
usado, visto que este apresenta os resultados das análises tridimensionais do
ressecamento. A seguir, serão descritas as informações produzidas por cada arquivo
gerado.
input
: neste arquivo, são apresentados todos os dados de entrada e a distribuição dos
índices de vazios ao final das análises. Este arquivo pode ser usado para continuar o
processo com diferentes condições de contorno e, neste caso, o nome do arquivo deve
ser mudado. Os parâmetros que podem ser alterados nas análises são: condições de
contorno, estado inicial, número de tempos de saída, tempos das saídas, tempo inicial e
altura da camada de solo compressível;
vd.out
: constitui o arquivo geral de saída, contendo o número de nós da malha da
discretização, bem como os dados relativos a elevações, índices de vazios, teores de
sólidos e poropressões, para cada estágio e cada tempo do enchimento, além da
distribuição dos índice de vazios no estado permanente;
ts.out
: arquivo que contém os dados de recalques ao longo do tempo de enchimento do
reservatório, fornecendo também as alturas do material adensado.
É interessante ressaltar que estes arquivos de saída são do tipo texto, não formatado,
exigindo, portanto, sistematização e tratamento gráfico subsequentes, para a elaboração
das correspondentes relações e perfis entre as grandezas estimadas. No presente
trabalho, estes gráficos foram processados com o programa GRAPHER comercialmente
disponível.
Para as análises no Programa CONDES0, é preciso conhecer, previamente, a geometria
e o processo de enchimento do reservatório e as análises podem compreender as
simulações por enchimento instantâneo ou enchimento escalonado (Figura 2.9 e Tabela
50
2.2). A taxa não constante de deposição deve ser aproximada para vários períodos sob
taxas constantes e um máximo de 50 períodos, incluindo a taxa constante de deposição
e a deposição instantânea, são admitidos nas simulações numéricas.
CAPÍTULO 3
CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS
3.1 – Introdução
A priori, cumpre salientar que nos foram enviados três tipos de rejeitos, definidos pela
empresa
AngloGold Ashanti
como sendo: rejeito de flotação, o qual representava o
rejeito total do processo de flotação, o
backfill,
que era o
underflow
do processo da
ciclonagem e o
pasta deep
, sendo este o rejeito na forma de pasta. Posteriormente, após
o início dos trabalhos, a mencionada empresa nos enviou um quarto tipo de rejeito,
denominado flotação, que representava o rejeito total da flotação e o qual, efetivamente,
será gerado no processo de beneficiamento, para ocupação do reservatório da Barragem
de Cuiabá. Com o objetivo de facilitar o entendimento e o estudo dos rejeitos a serem
analisados, passou-se a utilizar as nomenclaturas que se seguem: flotação inicial, que
corresponde o rejeito total da flotação, enviado na primeira remessa,
underflow
que
representa o
backfill
, pasta que é a
pasta deep
e flotação que será o rejeito a ser utilizado
no enchimento do reservatório.
A primeira fase dos estudos implicou a caracterização tecnológica dos rejeitos, visando
determinar suas principais características físicas e as propriedades de compressibilidade
e adensamento destes materiais em reservatórios, de modo a estabelecer parâmetros,
adequados e confiáveis, para as simulações numéricas pretendidas.
Neste capítulo serão apresentados os resultados destes estudos, compreendendo o
processo de amostragem adotado para a preparação dos corpos de prova utilizados nos
ensaios, os resultados de caracterização tecnológica dos rejeitos analisados, bem como
os resultados dos ensaios de adensamento com fluxo induzido por bomba de fluxo
(HCT). Os ensaios de caracterização tiveram como objetivo determinar a granulometria
e o peso específico dos grãos, segundo as normas da ABNT. O ensaio HCT foi
realizado com a finalidade de se determinar as curvas de compressibilidade e
52
permeabilidade dos materiais analisados, leis constitutivas que são utilizadas no
input
das simulações numéricas descritas no Capítulo 5.
3.2 – Amostragem dos Rejeitos
O processo de amostragem de rejeitos de mineração constitui procedimento específico
de suma relevância para o desenvolvimento dos ensaios de caracterização tecnológica e
para a determinação das propriedades de engenharia destes materiais. Assim, técnicas
distintas se aplicam em função da natureza e da metodologia de disposição final destes
materiais. No presente estudo, como ainda não se tinha a definição do sistema de
disposição a ser adotado, a investigação incluiu todos os tipos de rejeitos passíveis de
geração, ou seja, rejeitos em polpa e rejeitos em pasta.
As amostras provenientes dos subprodutos gerados na fase de flotação dos processos de
beneficiamento do minério aurífero na Planta de Queiroz (rejeitos em polpa) foram
obtidas diretamente nos respectivos pontos de descarga, contemplando os rejeitos totais
e a parcela do
underflow
da ciclonagem, utilizado como material de preenchimento
(
backfill
) de minas exauridas. Estas amostras foram coletadas em galões de
aproximadamente 50 litros, duas amostras para cada material. Um cuidado principal na
amostragem foi o de garantir amostras com representatividade do teor de sólidos
presentes.
Por outro lado, as amostras dos rejeitos do
overflow
da flotação, desaguados e na forma
de pasta, foram retiradas diretamente do flume (canal de disposição dos rejeitos após
deságüe) de planta piloto instalada em área do próprio empreendimento. Esta planta
piloto foi utilizada em diversos testes para a geração de rejeitos espessados e estes testes
em escala real invalidaram a adoção do processo, em função de análises de custos e
dificuldades operacionais. Estes rejeitos o designados como ‘rejeitos em pasta’ e as
suas amostras foram também colocadas em galões semelhantes aos utilizados para o
armazenamento dos rejeitos em polpa.
Para a confecção dos corpos de prova, foram utilizados amostradores especiais (Figura
53
3.1) inseridos nos rejeitos, após a retirada de parte da água sobrenadante e tomando-se
os cuidados necessários para se obter uma amostra com uma efetiva distribuição
granulométrica do rejeito coletado (Figura 3.2), sem interferências e/ou alterações por
segregação ao longo do perfil do material depositado nos galões, particularmente, pela
acumulação das frações mais finas dos rejeitos na parte superior da amostra.
Figura 3.1- Amostrador utilizado para a retirada do material dos galões.
Figura 3.2- Amostragem dos galões, após a retirada do material, via amostrador.
Após a retirada da amostra dos galões, a mesma foi quarteada e homogeneizada (Figura
3.3), para composição dos corpos de prova destinados aos ensaios de caracterização.
Figura 3.3 - Amostra homogeneizada para a moldagem dos corpos de prova.
54
3.3 – Resultados dos Ensaios de Caracterização
Os ensaios de caracterização tecnológica foram feitos de acordo com as especificações
normativas da ABNT, compreendendo os ensaios de granulometria completa, índices de
plasticidade e densidade das partículas sólidas. A tabela 3.1 apresenta os valores médios
dos índices físicos, obtidos em seis ensaios executados para cada rejeito (três por galão).
Tabela 3.1- Índices físicos dos rejeitos estudados.
rejeitos pasta underflow
Flotação
inicial
Flotação
w (%) 33,3 38,9 81,8 81,8
G
s
2,92 2,82 2,85 2,87
LL (%) 27 --- 21 21
LP (%) 24 NP 19 19
A Figura 3.4 apresenta as curvas granulométricas dos rejeitos, obtidas de acordo com a
norma NBR 7181. A polpa apresentou variações de pH entre 7,2 e 7,6. O fator de
contração foi nulo para o
underflow
, de 0,5% para os rejeitos totais da flotação e de
1,0% no caso dos rejeitos do
overflow
.
Figura 3.4 - Curvas granulométricas para os rejeitos ensaiados.
55
3.4 – Resultados dos Ensaios HCT com Bomba de Fluxo
Para as simulações numéricas do processo de disposição de rejeitos em reservatórios,
impõe-se o conhecimento prévio das leis constitutivas de compressibilidade (relação
índice de vazios x tensão efetiva) e de permeabilidade (relação índice de vazios x
permeabilidade) dos materiais. A base de dados para a determinação destas relações é
obtida por meio de diferentes técnicas experimentais em laboratório ou campo (Gomes,
2005). O Ensaio HCT é bastante prático e eficiente, apresentando uma grande economia
de tempo, quando comparado com outros ensaios, e permitindo a determinação das
características de adensamento para uma ampla faixa de tensões efetivas.
Como visto, a técnica do ensaio consiste em impor um fluxo descendente ao corpo de
prova, induzindo o processo de adensamento por percolação. Em seguida, submete-se a
amostra a estágios de carregamento e executa-se o ensaio de permeabilidade. A
velocidade de fluxo através da amostra é controlada pela bomba de fluxo e as
poropressões geradas durante o ensaio são medidas por meio de um transdutor
diferencial de pressão (Diniz, 2001). A Figura 3.5 mostra o esquema geral do ensaio
HCT com bomba de fluxo.
Segundo Znidarcic et al (1992), velocidades apropriadas para o adensamento induzido
por percolação são aquelas que produzem geração de pressão diferencial, entre o topo e
a base da amostra, entre 1,5 e 10 kPa. Quando, no estado permanente do ensaio, a
pressão diferencial, através da amostra, for menor que 1,5 kPa, o ensaio deve ser
repetido para uma maior taxa de fluxo. Para diferença superior a 10 kPa, o corpo de
prova deverá ser descartado e o ensaio refeito sob uma menor taxa de fluxo.
Para o estágio de carregamento, cargas entre 10 e 100 kPa são apropriadas e, para a
permeabilidade, velocidades em torno de 10 vezes menores que as utilizadas no
adensamento são as mais indicadas. Os testes de carga e permeabilidade podem ser
realizados na mesma amostra, sob vários incrementos de cargas, porém, somente um
estágio do teste de carga é requerido para as análises no programa SICTA, que constitui
o
software
de análise dos resultados (Znidarcic et al., 1992).
56
Todos os rejeitos analisados (rejeitos totais da flotação, overflow ou em pasta e
underflow ou backfill) foram submetidos a ensaios HCT com bomba de fluxo, no
Laboratório de Geotecnia da UFOP, para a determinação das suas leis constitutivas de
compressibilidade e permeabilidade, sendo os resultados apresentados a seguir.
3.4.1 – Rejeitos de Flotação inicial e em Pasta
No caso dos rejeitos mais finos, adotou-se o arranjo convencional dos ensaios HCT com
bomba de fluxo (Figura 3.5). As figuras 3.6 a 3.9 apresentam os resultados típicos dos
ensaios realizados com os rejeitos de flotação e do
overflow
em pasta, em termos das
poropressões geradas nas fases de adensamento e de permeabilidade, respectivamente.
Figura 3.5 – Esquema convencional do Ensaio HCT com bomba de fluxo
Para as duas amostras, o ensaio de adensamento induzido por percolação foi realizado
com uma taxa de fluxo constante (4,0 ml/min para rejeitos de flotação e 0,25ml/min
para o
underflow
), até a estabilização da poropressão. O carregamento foi realizado em
uma única etapa, submetendo-se a amostra a uma pressão efetiva de 50,79 kPa. Ao
atingir o equilíbrio sob esse estado, realizou-se o ensaio de permeabilidade, aplicando-
se também taxas constantes de fluxo (0,40 ml/min e 0,025 ml/min para os dois rejeitos,
respectivamente), até se atingir, novamente, a estabilização das poropressões.
57
Figura 3.6 Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação Fase de
Adensamento.
Figura 3.7- Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação Ensaio de
Permeabilidade.
58
Figura 3.8 - Resultados do Ensaio HCT para o rejeito em pasta – Fase de Adensamento.
Figura 3.9 - Resultados do Ensaio HCT para o rejeito em pasta – Fase de Adensamento.
59
3.4.2 – Rejeitos de Flotação e de Backfill
Para a amostra mais grossa do rejeito de
backfill
, fez-se necessária a aplicação de
maiores velocidades de fluxo, para garantir poropressões geradas na amostra entre 1,5 e
10 kPa. Tal fato exigiu uma alteração do esquema inicial do ensaio (Figura 3.10),
mediante a utilização de duas seringas (o ensaio convencional utiliza apenas uma
seringa), uma vez que a capacidade nominal de uma seringa era atingida antes do estado
permanente de fluxo correspondente à estabilização das poropressões no corpo de
prova. Para fins de comparação, fez-se um novo ensaio para o rejeito de flotação,
tomando-se a amostra de maior granulometria coletada na amostragem.
Figura 3.10 – Esquema modificado do Ensaio HCT com bomba de fluxo
Para o funcionamento com as duas seringas, procede-se da seguinte maneira: quando a
seringa 1 estiver retirando água do sistema, a seringa 2 estará fazendo o inverso, ou seja,
incorporando água ao sistema. Nesta situação, para que a água seja retirada da base da
amostra, a válvula A deverá estar comunicando as linhas L1 e L3 e a válvula C deverá
manter-se fechada, sendo a válvula B aberta. Na necessidade de uma reversão (seringa 2
passando a retirar água e a seringa 1 fornecendo água ao mesmo), a válvula A deverá
manter a comunicação entre as linhas L1 e L2, fechando-se a válvula B e abrindo-se a
válvula C. Este processo deve ser repetido até que o estado permanente seja alcançado.
60
As figuras 3.11 a 3.14 apresentam os resultados típicos dos ensaios realizados com os
rejeitos de flotação e do
underflow
do
backfill
, em termos das poropressões geradas nas
fases de adensamento e de permeabilidade, respectivamente.
Figura 3.11 Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de
backfill
Fase de
Adensamento.
Figura 3.12 – Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de
backfill
– Fase de
Permeabilidade.
61
Figura 3.13 Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação Fase de
Adensamento.
Figura 3.14 Resultados do Ensaio HCT para o rejeito de flotação– Fase de
Permeabilidade.
62
3.5 – Análises dos Resultados dos Ensaios HCT com Bomba de Fluxo
As análises dos resultados dos ensaios HCT com bomba de fluxo são feitas por meio de
software específico, desenvolvido na Universidade do Colorado por Abu-Hejleh e
Znidarcic (1992). Este programa determina os parâmetros A,B, C, D e Z dos modelos
matemáticos de compressibilidade e permeabilidade propostos por Liu (1990) e
Somogyi (1979), respectivamente (Capítulo 2).
Neste programa os parâmetros B e D são independentes, sendo adotados valores iniciais
e, através de cálculos interativos, são determinados os parâmetros finais A,B, C, D e Z
e, conseqüentemente, são plotadas as curvas de compressibilidade (relação índice de
vazios x tensão efetiva) e as curvas de permeabilidade (relação índice de vazios x
permeabilidade) dos materiais ensaiados. Os dados de entrada do programa constituem
os dados obtidos nos ensaios HCT e estão sistematizados na Tabela 3.2.
Tabela 3.2 - Dados de entrada para o programa SICTA
dados pasta underflow
Flotação
Inicial
flotação
γ
s
(kN/m
3
)
28,626 27,694 27,920 28,125
H
0
(m) 0,046 0,049 0,049 0,063
e
00
0,984 1,037 1,105 1,459
v (m/s) 6,67e-7 2,67e-5 8,00e-6 1,33e-5
H
f
(m) 0,045 0,048 0,047 0,048
σ
'
b
(kPa)
3,828 1,660 2,558 6,692
e 0,820 0,900 0,820 0,764
σ
'(kPa)
50,079 50,016 50,016 50,016
k(m/s) 4,56e-7 3,31e-6 6,27e-7 7,73e-7
Com a aplicação do programa SICTA e, após iterações entre os dados, foram obtidos os
valores dos parâmetros das leis de compressibilidade e de permeabilidade dos rejeitos
ensaiados (Tabela 3.3).
63
Tabela 3.3 - Parâmetros de compressibilidade e permeabilidade dos rejeitos analisados
parâmetros pasta backfill
Flotação
Inicial
flotação
A 1,216 1,098 1,005 1,995
B -0,05 -0,05 -0,05 -0,05
Z 0,01400 3,1240 0,18800 0,00036
C (m/s) 1,26e-7 1,82e-6 1,06e-6 1,997e-7
D 2,901 3,553 3,977 1,996
Com os valores destes parâmetros, ficam estabelecidos os modelos constitutivos de
compressibilidade de Liu e de permeabilidade de Somogyi (Capítulo 2), permitindo o
traçado das respectivas curvas de compressibilidade (Figura 3. 15) e de permeabilidade
(Figura 3.16) dos rejeitos ensaiados.
3.6 – Resultados dos Ensaios Especiais em Rejeitos em Pasta
Embora não se tenha mostrado uma alternativa viável, a possibilidade da disposição dos
rejeitos de flotação sob a forma de pasta demandou uma série de ensaios especiais para
a sua completa caracterização tecnológica. Tais discussões fogem ao escopo do
trabalho, por não terem sido implementados os estudos subseqüentes, mas uma das
análises abordou a caracterização da natureza e do comportamento geotécnico destes
rejeitos para diferentes teores de sólidos presentes. Com efeito, um dado rejeito, sob
diferentes concentrações dos sólidos presentes, pode comportar-se de formas distintas e
apresentar resistências diversas.
64
Figura 3.15 - Curvas de compressibilidade dos rejeitos ensaiados.
Figura 3.16 - Curvas de permeabilidade dos rejeitos ensaiados.
65
Esta análise é estabelecida a partir da representação gráfica das variações de resistência
dos rejeitos (comumente expressa em termos de tensões de escoamento - ‘yield stress’)
em função das respectivas concentrações (tipicamente, em termos do teor de sólidos
presentes, expresso em peso). Com o desaguamento, um acréscimo do teor de sólidos
implica um correspondente aumento da resistência do rejeito.
As Figuras 3.17 e 3.18 mostram estas variações de resistência e de naturezas para os
rejeitos totais de flotação e para os rejeitos do
overflow
, respectivamente. Nota-se,
então, um rápido e substancial acréscimo de resistência a partir de um dado valor de
concentração do rejeito e esta zona de inflexão da curva permite a distinção de três
regiões características do gráfico, correspondentes aos rejeitos em polpa (nenhuma ou
baixos valores de resistência), os rejeitos de elevada densidade e os rejeitos na
consistência de pasta. Tais distinções foram estabelecidas, adotando-se tensões de
escoamento de referência iguais a 10 e 100 kPa (PCCE, 2004). Por estes critérios, torna-
se possível estabelecer uma classificação dos rejeitos de flotação da Planta de Cuiabá,
em função dos teores de sólidos presentes (Tabela 4.4).
Figura 3.17 – Classificação dos rejeitos totais de flotação.
66
Figura 3.18 – Classificação dos rejeitos do
overflow
de flotação.
Tabela 3.4 – Classificação dos rejeitos de flotação da Planta do Queiroz (PCCE, 2004)
polpa rejeito espessado pasta
rejeitos de flotação
0
C
S
66,5% 66,5%
C
S
74,5%
C
S
> 74,5%
rejeitos de
overflow
0
C
S
57,5% 57,5%
C
S
67,4%
C
S
> 67,4%
C
S
: concentração de sólidos em peso
Após esta etapa de caracterização tecnológica dos rejeitos, em polpa e em pasta, a
empresa
AngloGold Ashanti
optou por um processo de disposição convencional dos
rejeitos de flotação, dando início, então, à concepção e ao projeto da Barragem de
Cuiabá (Capítulo 4).
CAPÍTULO 4
ESTUDO DE CASO – BARRAGEM DE CUIABÁ
4.1 – Introdução
A Barragem de Cuiabá constitui o sistema de contenção destinado a receber os rejeitos
de ouro oriundos do projeto de expansão da mina de ouro de Cuiabá, da
AngloGold
Ashanti. A mina está localizada entre os municípios de Sabará e Caeté, sendo o minério
transportado por meio de um teleférico com 15 km de extensão e capacidade nominal
instalada de 830.000 toneladas de minério por ano. O minério é processado na chamada
Planta Industrial do Queiroz, gerando rejeitos que serão armazenados na nova barragem,
com localização prevista nas vizinhanças da planta (Figura 4.1).
Figura 4.1 – Localização Prevista para a Barragem de Cuiabá (Costa, 2006)
68
4.2 – Geração de Rejeitos na Planta de Queiroz
O processo industrial é bastante complexo, envolvendo diferentes etapas e técnicas de
processamento para a extração do ouro do minério bruto, gerando, assim, diferentes
tipos de rejeitos. A produção média mensal da planta (2005) é de 515 kg de ouro, 60 kg
de prata e 12.000 toneladas de ácido sulfúrico.
O processamento industrial do minério bruto compreende três etapas distintas:
Tratamento Mecânico, Hidrometalurgia e Pirometalurgia. O tratamento mecânico inclui
os processos de moagem, concentração gravimétrica, flotação e espessamento. A fase
hidrometalúrgica engloba os processos de lixiviação, filtragem, precipitação, adsorção
com carvão ativado e eluição. A fase final, etapa pirometalúrgica do tratamento, inclui
os processos de ustulação, planta de ácidos e de tratamento de efluentes (Figura 1.2).
Figura 4.2 – Fluxograma da Planta Industrial do Queiroz (Costa, 2006)
A moagem tem a função sica de reduzir o tamanho das partículas do minério. Na
concentração gravimétrica, um conjunto de mesas concentradoras processa o minério
moído oriundo da descarga dos moinhos, obtendo-se um concentrado que é enviado
para fusão e refino; nesta etapa, recuperam-se 25% do ouro alimentado.
69
O rejeito da concentração gravimétrica é submetido a uma etapa de classificação por
hidrociclones que separam o material em
underflow
e
overflow
. O
underflow
é
composto pela fração grosseira de minério que é retornada para os moinhos. O
overflow
dos hidrociclones, que é composto das frações finas dos minérios moídos, é adensado
em espessador e, após adensado em forma de polpa, é enviado para a etapa subseqüente
de flotação.
A etapa de flotação consiste na separação entre os materiais nobres (ouro, sulfetos e
grafite) na forma de um concentrado em que o teor de ouro passa de 7 para 30 ppm e o
teor de enxofre de 6,5 para 32%, obtendo-se uma massa flotada em torno de 20% da
massa alimentada e a separação da ganga, que permanece no rejeito (Murilo, 2006). Os
rejeitos de flotação são, então, ciclonados, sendo a fração grosseira (
underflow
) utilizada
no enchimento (
back–fill
) de galerias e poços da Mina Velha (exaurida) e na construção
do maciço da Barragem de Calcinados e a fração fina (
overflow
) depositada na
barragem de rejeitos de Rapaunha, estruturas de armazenamento de rejeitos atualmente
existentes.
Na etapa de ustulação, o concentrado é submetido ao processo de calcinação. O resíduo
sólido do ustulador que contém o ouro é designado como calcinado que, após resfriado
e sob a forma de polpa, é adensado em um espessador. Na hidrometalurgia, o
underflow
do espessador de calcinado, também na forma de polpa, é submetido a processos de
lixiviação, filtragem, precipitação e adsorção, para recuperação do ouro residual
contido. Após o último tanque de adsorção, os rejeitos dos calcinados são, finalmente,
bombeados e depositados em uma barragem de contenção, cujo nome identifica a
natureza dos rejeitos – Barragem de Calcinados.
Além das barragens citadas de Calcinados e Rapaunha (Figura 4.3), o sistema de
disposição de rejeitos da Planta de Queiroz inclui uma terceira barragem (Cocuruto,
com capacidade de armazenamento de rejeitos completada em 1995) e mais cinco valas
especiais, impermeabilizadas com geomembranas, para a deposição da chamada ‘lama
arsenical’, oriunda da planta de tratamento de efluentes da fase pirometalúrgica da
planta. Este sistema passa a incluir agora a Barragem de Cuiabá, descrita a seguir.
70
Figura 4.3 – Vista geral das barragens de Rapaunha e de Calcinados
Em todas estas alternativas de sistemas de disposição, aplica-se a técnica convencional
de disposição dos rejeitos, sob a forma de polpa em barragens, pelo processo de aterro
hidráulico (Klohn, 1981; Vick, 1983; Kupper, 1991; Gomes, 2005). As barragens de
aterro hidráulico são estruturas construídas para reter os rejeitos e os efluentes oriundos
da planta de beneficiamento e, geralmente, são construídas em duas etapas distintas. A
primeira etapa consiste na construção de um dique de partida, geralmente em solo
compactado, e a segunda etapa corresponde à construção contínua, por alteamentos
sucessivos, comumente utilizando a fração grossa dos rejeitos.
O método do aterro hidráulico é muito atrativo e vantajoso, principalmente pelas
características de produção e transporte dos rejeitos, o que permite praticar custos
baixos quando comparados aos aterros convencionais executados com solo compactado.
A construção pode ser feita, inclusive, pela própria mineradora que define a velocidade
da construção com base em suas necessidades de disposição, o que permite, também, a
diluição dos custos de construção ao longo da vida útil da estrutura. Esta metodologia
71
construtiva permite, também, no decorrer da execução, revisões periódicas no projeto
em função das variações das características do rejeito.
Entretanto, na fase prévia de anteprojeto, a AngloGold Ashanti analisou a possibilidade
da disposição dos rejeitos, oriundos da fase de flotação, sob a forma de pasta. Rejeitos
em pasta consistem em rejeitos submetidos a algum tipo de desaguamento mecânico,
feito comumente em espessadores de grande porte, associado ao emprego de algum tipo
de aditivo químico, tipicamente um agente hidratante, como cimento Portland, por
exemplo (Gomes, 2005).
No estudo destes rejeitos, as propriedades a serem investigadas são: granulometria
(tipicamente a fração de finos), mineralogia do material e análise química da água,
compreendendo medidas de pH, cátions presentes e concentração iônica. Estes estudos
foram implementados na matriz da empresa, na África do Sul, envolvendo os rejeitos
totais da flotação e suas componentes de
overflow
e
underflow
(Figuras 4.4 e 4.5).
Figura 4.4 – ‘Slump Test’ do
overflow
de flotação
Figura 4.5 – Microfotografia do
underflow
de flotação
4.3 – Concepção e Projeto da Barragem de Cuiabá
72
Como visto, após a flotação, o minério concentrado é transportado para a Planta do
Queiroz para processamento, enquanto os rejeitos são encaminhados a um espessador,
para redução dos teores de umidade e para descarte final na barragem. Na barragem, o
lançamento ocorre a montante do reservatório, de forma a manter materiais mais
grossos junto ao ponto de descarga e os materiais de granulometria mais fina mais
próximos à estrutura de contenção, juntamente com a água proveniente da polpa.
No caso de minas de ouro, praticamente todo o minério beneficiado é transformado em
rejeito, já que os teores de ouro são da ordem de algumas gramas por tonelada. Assim,
são geradas grandes quantidades de rejeitos, exigindo estruturas de grande porte para a
sua contenção. A Tabela 4.1 apresenta a previsão dos volumes anuais de rejeitos a
serem gerados durante a vida útil da Mina de Cuiabá.
Tabela 4.1 – Produção anual de rejeitos da flotação do minério de ouro de Cuiabá
volume de rejeitos
anual total
ano
volume médio
mensal (m
3
)
toneladas m
3
m
3
2007 28.428,64 460.544,00
341.143,70 341.143,70
2008 31.208,08 505.571,00
374.497,04 715.640,74
2009 32.930,86 533.480,00
395.170,37 1.110.811,11
2010 33.084,38 535.967,00
397.012,59 1.507.823,70
2011 33.713,95 546.166,00
404.567,41 1.912.391,11
2012 33.768,33 547.047,00
405.220,00 2.317.611,11
2013 33.471,91 542.245,00
401.662,96 2.719.274,07
2014 33.697,41 545.898,00
404.368,89 3.123.642,96
2015 33.549,32 543.499,00
402.591,85 3.526.234,81
2016 33.810,74 547.734,00
405.728,89 3.931.963,70
2017 32.967,22 534.069,00
395.606,67 4.327.570,37
2018 21.123,89 342.207,00
253.486,67 4.581.057,03
73
A Barragem de Cuia constitui uma barragem convencional, projetada e construída
com a mesma tecnologia para barragens de contenção de água, ou seja, em aterro
compactado em múltiplas camadas (CMEC, 2005). O projeto contempla metodologia
construtiva por alteamentos a jusante, em três etapas (Figura 4.6), previstas em termos
das capacidades de armazenamento dos rejeitos para 4, 5 e 3 anos, respectivamente.
Figura 4.6 - Alteamentos previstos para a Barragem de Cuiabá (CMEC, 2005).
Com base no arranjo definido para a barragem e no levantamento topográfico da área,
tornou-se possível estabelecer a curva cotas x volumes para o barramento (Figura 4.7).
Figura 4.7 – Curva cotas x volumes para a Barragem de Cuiabá (CMEC, 2005)
74
Com base na correlação direta dos dados da Tabela 4.1 e a curva cotas x volumes obtida
na Figura 4.7, definiu-se o cronograma de ocupação do reservatório e as cotas dos
alteamentos previstos, levando-se em conta os períodos previstos para a acumulação dos
rejeitos gerados. Assim, considerando-se os volumes a serem armazenados ao longo de
4 anos, 9 anos e 12 anos, correspondentes a volumes acumulados de 1.507.823,70 m
3
,
3.526.234,81 m
3
e 4.581.057,03 m
3
, respectivamente, foram estabelecidas as cotas das
cristas dos três alteamentos como correspondentes às cotas 865m, 878m e 884 m,
respectivamente.
A altura final da barragem foi fixada de forma a atender, simultaneamente, as seguintes
três condições: disponibilidade do reservatório para armazenamento do volume total dos
rejeitos gerados até a exaustão da mina, disponibilidade de um volume de espera no
reservatório para amortecimento de cheia, com recorrência decamilenar e borda livre
suficiente para absorver as ondas provocadas na superfície líquida do reservatório.
Estudos hidrológicos foram feitos para estimar a altura adicional necessária da crista da
barragem para o amortecimento de cheias, obtendo-se valores de 1,36m, 0,87m e 0,73m,
para as três etapas de alteamento, respectivamente. Para uma maior segurança, admitiu-
se uma altura equivalente a 1,5m para amortecimento de cheias para os três alteamentos.
Considerando-se, ainda, uma folga mínima de 1,5m para absorção de ondas superficiais
no reservatório, além da altura adicional de 1,5m para amortecimento de cheias, a crista
da barragem ficou definida na elevação 868,0m na primeira etapa, 881,0m na segunda e
887,0m na etapa final.
O sistema de drenagem interna foi projetado na forma de filtros verticais e horizontais.
Os filtros verticais são compostos apenas por areia, ao passo que o tapete horizontal é
do tipo sanduíche, sendo composto por uma camada de brita entre duas camadas de
areia (Figura 4.8). Adicionalmente, foi prevista, também, a construção de um dique de
contenção de sedimentos a jusante da barragem, para conter as eventuais partículas
sólidas carreadas durante as fases de construção e de operação da barragem (Figura 4.9).
75
Figura 4.8 – Sistema de drenagem interna da barragem para os três alteamentos.
Figura 4.9 – Dique de contenção de sedimentos.
O vertedor proposto para a barragem é do tipo poço, composto por uma galeria sub-
horizontal localizada sob o aterro da barragem, ao longo da ombreira direita e conectada
a uma galeria sub-vertical que se eleva pela ombreira direita acompanhando o de
montante da barragem (Figura 4.10).
Figura 4.10 – Locação e geometria do vertedor da barragem (CMEC, 2005).
76
A galeria do vertedouro, em concreto armado, possui uma seção nima de 1,2 m de
largura por 1,8m de altura e, no seu trecho mais inclinado, possui uma escadaria com
uma laje de fundo, permitindo, assim, inspeções de avaliação de danos e/ou eventuais
defeitos estruturais.
A drenagem superficial é prevista sob a forma de canaletas construídas ao de cada
berma, bem como nas laterais da estrutura (canaletas das ombreiras), como mostra a
Figura 4.11. As canaletas das bermas coletam as águas que escoam dos taludes de
jusante da estrutura da barragem e as conduzem às canaletas das ombreiras, que, por sua
vez, deverão encaminhá-las à zona de dissipação a jusante.
Figura 4.11 – Sistema de drenagem superficial do talude de jusante (CMEC, 2005).
A drenagem superficial será executada por etapas, sendo que, a cada nova etapa a
construir, a anterior será removida para permitir o novo alteamento. O sistema de
drenagem superficial, bem como o plantio de gramíneas, será implantado de acordo com
a evolução dos alteamentos.
Quanto ao controle e monitoramento da barragem, foi prevista a instalação da seguinte
instrumentação: medidores de nível de água, instalados no corpo da barragem; medidor
de vazão, instalado no da barragem e régua para medições dos níveis do reservatório
(Figura 4.12).
77
Figura 4.12 Instrumentação da barragem - medidores de NA e medidor de vazão
(CMEC, 2005).
4.4 – Análises da Estabilidade da Barragem de Cuiabá
A investigação geotécnica das propriedades dos materiais de fundação da barragem e do
vertedouro consistiu na execução de poços de inspeção (com retirada de blocos) e de
sondagens a percussão com medidas de SPT. Com base nestes estudos, constatou-se que
os materiais localizados na área da barragem são constituídos por solos silto-argilosos,
oriundos da decomposição de filitos.
No fundo do vale, os solos presentes variam, em média, entre 1,0 e 3,0m de espessura,
sobrepondo-se a filitos duros, com comportamento geotécnico de rocha alterada. Nas
ombreiras, as camadas de solo tendem a aumentar de espessura e, em toda a área, ocorre
uma camada de solo vegetal com espessura média de 0,30m. A permeabilidade dos
78
materiais da fundação foi estimada com base em ensaios de infiltração
in situ
e variou
entre 10
-5
m/s a 10
-7
m/s.
Para os materiais do aterro, os parâmetros geotécnicos foram obtidos a partir de ensaios
triaxiais em laboratório tipo CIU (análises sob tensões efetivas), com medidas das
poropressões (Geolabor, 2004) e os valores adotados nas análises da estabilidade da
barragem estão indicados na Tabela 4.2. Para os materiais dos filtros e da fundação, os
parâmetros de resistência foram estimados.
Tabela 4.2 - Parâmetros de resistência dos materiais da barragem - tensões
efetivas(CMEC, 2005).
material
ângulo de
atrito ( º )
coesão
(kPa )
peso específico
(kN/m
3
)
aterro saturado 33,0 20 19,5
aterro seco 34,0 10 18,5
areias/britas dos filtros 30,0 0 19,0
fundação 34,0 10 18,5
Tomando-se a seção de altura máxima da barragem como referência, admitiu-se, de
forma bastante conservativa, a posição da linha freática atingindo o filtro superior no
mesmo nível do reservatório (Figura 4.13), desconsiderando-se, portanto, quaisquer
perdas de carga a montante do filtro.
Figura 4.13 – Posição da Linha Freática para as Análises de Estabilidade (CMEC,
2005).
79
Para esta hipótese de fluxo e para a condição de regime permanente e reservatório cheio
(condição mais crítica), as análises da estabilidade (método de Bishop Modificado) da
Barragem de Cuiabá, em termos do projeto proposto, indicaram valores de coeficientes
de segurança maiores que 2,0 (Figura 4.14).
Figua 4.14 – Análise da Estabilidade da Barragem de Cuiabá (CMEC, 2005).
CAPÍTULO 5
SIMULAÇÃO NUMÉRICA DO PROCESSO DE
ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO
5.1 – Introdução
Com base nos estudos preliminares e na consequente decisão pela não aplicabilidade da
técnica de rejeitos espessados, recaiu-se na hipótese de uma disposição convencional em
barramento por aterro hidráulico, com rejeitos sob a forma de polpa. Nesta concepção,
descartou-se também a hipótese de ciclonagem e, assim, os rejeitohfs totais da flotação
passaram a constituir os materiais efetivamente a serem descartados e aramazenados na
estrutura de contenção prevista.
Em sistemas de disposição de rejeitos de mineração por via úmida, é imperativo
estabelecer previamente os mecanismos de sedimentação da polpa (compressibilidade e
adensamento), de forma a quantificar a capacidade de armazenamento do reservatório
ao longo da vida útil do empreendimento. Este modelo deposicional é afetado por um
grande número de fatores, resultando também em um processo de segregação das
partículas, diretamente associado à granulometria dos rejeitos e à sistemática de descarte
destes materiais no reservatório.
Como enfatizado na revisão do problema, a formulação de uma modelagem teórica para
simular o processo deposicional dos rejeitos no reservatório de uma barragem é algo
complexo, por envolver fenômenos acoplados e associados a grandes deformações.
Métodos numéricos têm sido desenvolvidos para a análise do adensamento de rejeitos
em reservatórios, exigindo, na maioria das vezes, a determinação de parâmetros por
meio de ensaios especiais. No presente trabalho, esta simulação foi implementada para
uma barragem de rejeitos de ouro em implantação (Barragem de Cuiabá), utilizando um
programa numérico (programa CONDES0) desenvolvido por Yao e Znidarcic (1977) e
parâmetros obtidos de ensaios HCT com bomba de fluxo.
81
5.2 – Procedimentos de Calibração do Modelo Numérico
Antes de dar início às análises numéricas do processo de enchimento da barragem,
foram feitas duas análises numéricas de calibração do modelo, simulando o enchimento
instantâneo de uma proveta com capacidade de 1.000 ml (Figura 5.1). Para estes
experimentos, foram preparadas amostras com as mesmas características (teor de
sólidos) do rejeito de flotação.
(
a
) (
b)
Figura 5.1 - Experimento em proveta para avaliar os parâmetros de compressibilidade e
de adensamento do rejeito: (
a
) enchimento instantâneo antes do adensamento; (
b
) após
o adensamento.
Estas análises serviram para avaliar os parâmetros de compressibilidade obtidos através
dos ensaios HCT com bomba de fluxo e compreenderam os seguintes procedimentos:
(i) a proveta foi graduada de 1 em 1 cm, até a sua plena capacidade, para uma
uma altura total de 42 cm;
82
(ii) amostras, com as mesmas características do rejeito em polpa a ser lançado na
barragem, foram preparadas e depois lançadas na proveta;
(iii) após o adensamento completo, mediu-se a altura final atingida pelo rejeito;
(iv) simulações numéricas pelo Programas CONDES0 foram feitas, utilizando-se
os parâmetros de compressibilidade e permeabilidade do rejeito obtidos nos
ensaios HCT e os dados relativos ao enchimento da proveta como geometria
do recipiente, condições de contorno e processo de enchimento;
(v) após as simulações numéricas, procedeu-se às correlações dos resultados
previstos com aqueles observados no experimento, dados na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 - Resultados do experimento x simulação numérica (ensaios de proveta).
experimento simulação
análises
H
inicial
(cm) H
final
(cm) H
inicial
(cm) H
final
(cm)
I 34,80 20,00 34,80 19,538
II 42,00 22,40 42,00 23,504
Pela consistência dos resultados, conclui-se que os parâmetros de compressibilidade
obtidos nos ensaios de laboratório HCT são confiáveis e representativos para as análises
da simulação do enchimento da barragem de Cuiabá com os rejeitos totais da flotação
da Planta Industrial do Queiroz.
Um segundo procedimento de calibração do modelo numérico consistiu em simular o
próprio ensaio HCT com bomba de fluxo, de forma a verificar a consistência dos
parâmetros de compressibilidade e permeabilidade obtidos para os rejeitos de flotação
(lembrando que estes parâmetros foram obtidos por outro programa numérico, chamado
SICTA). A tabela 5.2 mostra os resultados desta segunda correlação, obtidos no ensaio
HCT e na simulação numérica.
Na verdade, foram feitas duas avaliações, a primeira considerando apenas o peso
próprio da amostra e a segunda,para uma sobrecarga de 50,02 kgf/cm
2
. Mais uma vez,
os resultados mostram-se bem próximos, ratificando o modelo experimental adotado.
83
Tabela 5.2 - Resultados do experimento x simulação numérica (ensaios HCT).
peso próprio carga de 50,02 kgf/cm
2
alturas
ensaio simulação ensaio simulação
Altura inicial - H
0
(cm) 10,171 10,171 10,171 10,171
Altura nominal - H
n
(cm) 5,88 5,88 5,88 5,88
Altura final - H
f
(cm) 5,363 5,35 5,165 5,16
5.3 – Parâmetros e Premissas da Simulação Numérica
As relações constitutivas do rejeito de flotação da Planta do Queiroz da
AngloGold
Ashanti
foram estabelecidas por meio de ensaios HCT com bomba de fluxo. As bases e
os procedimentos da técnica e sua aplicação aos rejeitos em questão foram discutidos
em detalhes nos capítulos anteriores deste trabalho. As Figuras 5.2 e 5.3 apresentam os
resultados obtidos, em termos das relações constitutivas de compressibilidade (relação
índice de vazios x tensão efetiva) e de permeabilidade (relação índice de vazios x
permeabilidade), respectivamente.
Figura 5.2 - Curva de compressibilidade do rejeito de flotação
84
Figura 5.3 - Curva de permeabilidade do rejeito de flotação
A condição de contorno do topo foi definida como sendo uma condição de sobrecarga
nula, visto que a deposição do rejeito deverá ser feita de forma contínua ao longo de
toda a vida útil da estrutura. Por outro lado, numa condição mais crítica possível, a base
do reservatório foi admitida como sendo impermeável, com o material de fundação
apresentando uma permeabilidade da ordem de 10
-7
m/s.
5.4 – Curvas de Enchimento do Reservatório
A curva de enchimento do reservatório, representada pela evolução das cotas dos
depósitos de rejeitos acumulados ao longo dos anos, foi simulada de duas formas
distintas. Na primeira, a curva foi obtida pela sistemática convencionalmente adotada de
analisar todo o processo globalmente; a segunda forma consistiu na definição da curva
de enchimento levando-se em consideração o adensamento experimentado pelos rejeitos
no decorrer de cada etapa analisada.
85
5.4.1 – Curvas de Enchimento e de Enchimento Nominal
Nesta concepção, a curva de enchimento nominal do reservatório foi obtida de acordo
com os seguintes procedimentos:
i) com base nos dados da Tabela 3.1 (cronograma de ocupação do reservatório
pelos rejeitos gerados), foram estimados os volumes acumulados ao longo
dos anos;
ii) com a entrada dos dados dos volumes acumulados na curva cota x volume
do reservatório (Figura 5.4), foram obtidas as cotas correspondentes do
depósito de rejeitos;
Figura 5.4 - Curva cotas x volumes da Barragem de Cuiabá
iii) a partir do arranjo inicial e dos alteamentos previstos (Figura 5.5) e com as
cotas relativas aos volumes anuais de rejeitos dispostos na barragem, as
alturas de rejeitos depositados ficam definidas pela diferença de cotas entre a
elevação relativa a cada ano e a cota de referência da base da barragem,
determinando-se, assim, a curva de enchimento do reservatório (Figura 5.6).
86
Figura 5.5 – Arranjo geral e alteamentos previstos para a Barragem de Cuiabá
Figura 5.6 - Curvas de enchimento e de enchimento nominal do reservatório.
A curva de enchimento representa a disposição geral dos rejeitos, sob a forma de polpa,
no reservatório da barragem. A chamada
curva de enchimento nominal
representa a
condição teórica de um arranjo envolvendo, exclusivamente, o teor de sólidos presentes
nos rejeitos lançados (mantendo-se a condição saturada dos rejeitos e desconsiderando-
se quaisquer efeitos de adensamento). Nesta condição, a curva de enchimento nominal
(Figura 5.6) fica, então, definida pela seguinte relação:
87
H
e
e
H
n
0
00
1
1
+
+
=
(5.1)
sendo:
e
00
: índice de vazios para tensão efetiva nula;
e
0
: índice de vazios inicial;
H
n
e H : alturas nominal e total do depósito de rejeitos, respectivamente.
5.4.2 – Curvas de Enchimento Corrigidas
A segunda forma utilizada para a definição da curva de enchimento do reservatório da
Barragem de Cuiabá levou em consideração os efeitos do adensamento experimentado
pelos rejeitos previamente depositados, mediante correções periódicas das curvas de
enchimento e de enchimento nominal. Desta forma, a curva de enchimento corrigida
incorpora os efeitos do adensamento ocorridos nos rejeitos previamente depositados e
os efeitos do lançamento das etapas em análise. Esta curva de enchimento corrigida, que
afeta as curvas de enchimento e de enchimento nominal, foi obtida por meio dos
seguintes procedimentos (somente possível na fase das simulações numéricas):
(i) com base nos dados da Tabela 3.1 (cronograma de ocupação do reservatório
pelos rejeitos gerados), foram estimados os volumes acumulados ao longo
dos anos;
(ii) com a entrada dos dados dos volumes acumulados na curva cota x volume
do reservatório (Figura 5.4), foram obtidas as cotas correspondentes do
depósito de rejeitos;
(iii) a partir do arranjo inicial e dos alteamentos previstos (Figura 5.5) e com as
cotas relativas aos volumes anuais de rejeitos lançados na barragem, as
alturas de rejeitos depositados (curva de enchimento do reservatório) em
cada etapa fica definida pela diferença de cotas entre a elevação relativa a
esta etapa e a cota de referência da base da barragem;
(iv) estima-se a altura nominal dos rejeitos acumulados na primeira etapa da
simulação do enchimento através da equação 5.1;
88
(v) faz-se a simulação do enchimento do reservatório para esta primeira etapa
(altura inicial igual a zero, estágio de enchimento igual a 1, tempo inicial
(TBF) igual a zero, tempo final (TEF) igual ao tempo de lançamento de
rejeito desta etapa e taxa igual à altura nominal dividida pelo intervalo de
tempo, que é a diferença entre os tempos final e inicial da etapa em análise);
(vi) após a simulação, obtém-se a altura de rejeito adensado após a etapa
analisada que, somada à elevação da base da barragem, fornece a elevação
correspondente aos rejeitos adensados ao final da primeira etapa da análise;
(vii) substituindo-se o valor desta elevação do rejeito adensado na curva cota
volume, obtém-se o volume de rejeitos adensados dispostos no reservatório;
(viii) somando-se o volume determinado no item anterior com o volume a ser
lançado na próxima etapa e levando este somatório à curva cotas x volumes,
determina-se a elevação que será alcançada após esta etapa sem considerar o
adensamento desta, ou seja, após o adensamento da(s) etapa(s) anterior(es)
mais a parcela correspondente ao lançamento de rejeito desta nova etapa;
(ix) a altura de rejeito lançada nesta etapa fica definida através da diferença entre
as elevações de rejeitos obtidas nos itens (vii) e (v);
(x) a altura nominal desta etapa do enchimento fica definida através da equação
5.1, com H correspondendo à altura encontrada no item anterior;
(xi) faz-se a simulação para a nova etapa de enchimento, considerando a altura
inicial de rejeitos igual à altura atingida após a simulação da etapa anterior,
repetindo-se estes procedimentos até a última etapa prevista do enchimento.
5.5 – Simulações Numéricas do Enchimento do Reservatório
As análises foram feitas considerando dois casos. No primeiro, considerou ‘enchimento
instantâneo’, ou seja, o material foi depositado num intervalo de tempo muito curto. No
segundo, o material foi depositado seguindo a programação de produção do rejeito na
planta (enchimento escalonado). Na hipótese de enchimento escalonado, as análises
contemplaram a simulação pela curva de enchimento nominal e a simulação pela curva
corrigida, levando-se em consideração o processo de adensamento dos materiais
lançados previamente.
89
5.5.1 – Enchimento Instantâneo do Reservatório
Na simulação de ‘enchimento instantâneo’ do reservatório, admitiu-se que todo o rejeito
produzido, durante a vida útil do empreendimento, fosse lançado no reservatório da
barragem num pequeno intervalo de tempo. Conforme exposto previamente, o
input
da
simulação numérica do enchimento do reservatório, pelo programa CONDES0, é
baseado na curva de enchimento nominal. Como, neste simulação, não se aplicaram as
correções das curvas (item 5.4.2), adotou-se diretamente a curva de enchimento nominal
indicada na Figura 5.6.
Nesta hipótese, o programa é baseado, não na curva propriamente dita, mas na altura
nominal máxima (35,20m), obtida a partir do valor de H máximo (60,80m) da curva de
enchimento prevista (Figura 5.6). Com base nos parâmetros de compressibilidade e de
permeabilidade dos rejeitos obtidos nos ensaios HCT e nas condições de contorno
assumidas, procedeu-se à simulação numérica para as condições de ‘enchimento
instantâneo’ e curva de enchimento nominal não corrigida. Os resultados das análises
estão apresentados nas Figuras 5.7 e 5.8, em termos das alturas pós- adensamento e os
perfis dos índices de vazios dos rejeitos depositados, respectivamente.
Figura 5.7- Variações das alturas do reservatório considerando enchimento instantâneo.
90
Figura 5.8 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento com enchimento instantâneo.
É importante salientar que uma análise desta natureza tem o enfoque de avaliar apenas
uma hipótese limite, não tendo, evidentemente, representatividade prática. Nota-se que a
consolidação dos rejeitos é muito rápida, com a estabilização das alturas finais
ocorrendo para um período de aproximadamente 40 dias.
5.5.2 – Enchimento Escalonado do Reservatório
Para este tipo de enchimento, convencionalmente adotado na prática da disposição de
rejeitos em barramentos, o reservatório deverá acumular os rejeitos de acordo com a sua
geração na planta industrial. Nesta simulação, foram realizadas análises com as curvas
de enchimento nominal com e sem correção.
5.5.2.1 – Enchimento Escalonado com Curva Nominal Não Corrigida
Neste caso, a simulação pelo programa CONDES0, foi baseada também na curva de
enchimento nominal da Figura 5.6. Esta curva foi subdividida em vários trechos
lineares, definindo-se o número de estágios de enchimento do reservatório, bem como
os tempos inicial (TBF) e final (TEF) e a taxa de enchimento para cada estágio.
91
Neste processo de linerização da curva de enchimento nominal do reservatório da
Barragem de Cuiabá, foram definidos sete estágios. A tabela 5.4 mostra os parâmetros
de entrada, característicos de cada estágio de enchimento, para as simulações numéricas.
Tabela 5.3 - Parâmetros das simulações numéricas por estágio (enchimento escalonado)
N TBF
(anos)
TEF
(anos)
Hn
(m)
Taxa
(m/ano)
1 0 3 22,35 7,45
2 3 5 4,00 2,00
3 5 7 3,18 1,59
4 7 10 3,93 1,31
5 10 11 1,16 1,16
6 11 12 0,57 0,57
7 12 20 0,00 0,00
N corresponde ao número de estágios de enchimentos, TBF e TEF os tempos inicial e final dos
estágios, respectivamente e Hn, a altura nominal.
A Figura 5.9 apresenta as curvas de enchimento, de enchimento nominal e a curva de
nível final dos rejeitos adensados (curva das alturas finais do rejeito pós- adensamento),
obtida pela simulação numérica implementada. A diferença entre as duas curvas
superiores representa a espessura da lâmina d’água após a sedimentação do material
lançado e a diferença entre as duas curvas inferiores expressa o recalque total por
adensamento do depósito de rejeitos.
Desta forma, conclui-se que a altura da barragem necessária para armazenar os rejeitos
gerados durante a operação da mina é da ordem de 30,16 m, sem levar em consideração
a altura para o amortecimento de cheias e absorção de ondas.
92
Figura 5.9 - Curvas de enchimento e enchimento nominal e curva de nível final dos
rejeitos pós-adensamento (enchimento escalonado sem correção da curva nominal).
Nota-se que uma boa concordância dos resultados obtidos nesta simulação e na anterior,
para o caso de enchimento instantâneo, evidenciando a consistência da análise (alturas
finais de rejeitos iguais). A Figura 5.10 mostra o perfil de índices de vazios para a
condição de enchimento escalonado, que se mostra também muito consistente com o
perfil de índices de vazios obtido na hipótese de enchimento instantâneo.
Figura 5.10 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento c/ enchimento escalonado.
93
5.5.2.2 – Enchimento Escalonado com Curva Nominal Corrigida
Devido ao fato das análises das simulações numéricas serem unidimensionais, é
importante salientar que, nestas condições, o parâmetro mais importante a ser levado em
consideração é a altura de material lançado. Desta forma, o lançamento do material deve
ser bem analisado.
Em reservatórios que apresentam seções horizontais constantes e curva cotas x volumes
linear (Figura 5.11), independentemente da etapa de lançamento de uma determinada
quantidade de material, ter-se-á sempre uma mesma altura de material lançado. Nos
reservatórios em geral, em que a curva cotas x volumes tende a ser qualquer, tem-se
que, a mesma diferença entre cotas superiores demandam volumes muito maiores de
deposição que a mesma diferença para cotas inferiores do reservatório, ou seja, a curva
tende a ser muito íngreme na etapa inicial de lançamento e apresentar um abatimento
moderado a longo prazo (Figura 5.12).
Figura 5.11 – Curva cotas x volumes com seções constantes.
94
Figura 5.12 – Curva cotas x volumes com geometria qualquer.
Por outro lado, a operação da barragem implica a necessidade de reutilização contínua
da água armazenada na mesma e, assim, o volume de rejeitos depositados será reduzido
em virtude do adensamento e da retirada de parte da água sobrenadante. Desta forma, os
volumes subsequentes dos rejeitos lançados tenderão a ocupar, inicialmente, os espaços
deixados pelos volumes reutilizados de água e aquele oriundo do adensamento ocorrido
para os rejeitos lançados anteriormente.
Neste contexto, uma análise mais rigorosa e mais representativa das condições reais da
barragem deve incorporar estas influências no processo de enchimento do reservatório
e, neste sentido, as simulações numéricas foram refeitas, admitindo-se a correção da
curva de enchimento nominal.
Dois tipos de análises foram feitas para a hipótese da correção da curva de enchimento
inicial. Na primeira análise, a correção foi feita em termos de tempos de enchimento
(avaliando-se o processo de enchimento em estágios anuais) e na segunda abordagem, a
correção foi feita em termos da linearização da curva cotas x volumes (avaliando-se o
processo de enchimento por trechos lineares da curva).
95
Curva Nominal Corrigida por Intervalos de Tempo
Nesta análise, as premissas e os parâmetros de entrada do programa foram os mesmos
usados para as análises anteriores, à exceção da curva de enchimento nominal que foi
corrigida, para se levar em consideração os efeitos acoplados do adensamento em
múltiplos estágios. Os procedimentos adotados para a correção da curva nominal foram
aqueles descritos no item 5.4.2, sendo os estágios de enchimento definidos, neste caso,
em função de períodos de tempos anuais.
A Figura 5.13 mostra as curvas de enchimento nominal por períodos anuais (total de 12
estágios anuais, compreendendo o período entre 2007 e 2019), as correspondentes
curvas de nível final dos rejeitos pós-adensamento para cada etapa considerada nesta
abordagem e a curva de nível final dos rejeitos após o adensamento no período anual
avaliado e após o adensamento acumulado nos estágios anteriores (‘adensamento no
estado permanente’), obtendo-se uma altura máxima de 42,6m.
Figura 5.13 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida por
intervalos de tempo
96
A diferença entre as curvas superiores indica os recalques por adensamento ocorridos
em cada etapa e, analogamente, a diferença entre as duas curvas inferiores representa o
recalque acumulado das etapas anteriores devido ao lançamento dos novos rejeitos na
etapa em questão. A diferença entre as curvas limites representa, por sua vez, o recalque
total dos rejeitos no decorrer do tempo de lançamento, durante a etapa em análise.
A Figura 5.14 representa um detalhamento da Figura 5.13, considerando apenas os
primeiros 4 estágios (4 anos) da série, para uma melhor visualização das curvas
mencionadas. No caso particular do primeiro estágio de enchimento (primeiro ano do
processo), as curvas de nível final dos rejeitos para a etapa e final acumulada são,
naturalmente, coincidentes.
Figura 5.14 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida para os
primeiros 4 intervalos de tempo (primeiros 4 anos da série analisada)
Os resultados das simulações numéricas para o caso da curva nominal corrigida por
intervalos de tempo incluíram ainda a determinação dos perfis dos índices de vazios dos
rejeitos depositados, após cada ano de lançamento (Figura 5.15).
97
Figura 5.15 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento para a curva nominal
corrigida por intervalos de tempo.
Curva Nominal Corrigida pela Linearização da Curva Cotas x Volumes
Na análise anterior, a correção por intervalos de tempos iguais (períodos anuais) não
contempla a não uniformidade das variações da curva cotas x volumes ao longo do
tempo, que tendem a ser substancialmente maiores nos primeiros estágios do
enchimento. Neste sentido, procedeu-se a uma segunda abordagem de análise, em
termos de volumes de rejeitos acumulados no reservatório baseados na decomposição
da curva cotas x volumes em trechos lineares.
O primeiro estágio de enchimento, correspondente ao trecho linear inicial da curva, foi
fixado para os três primeiros meses do lançamento e disposição dos rejeitos. Adotando-
se as mesmas premissas e parâmetros de entrada do programa CONDES0 das análises
anteriores e com a curva nominal corrigida pela linearização da curva cotas x volumes
(que corresponderam a uma subdivisão do processo de enchimento do reservatório em
19 estágios), esta nova simulação numérica que foi implementada obedeceu os seguintes
procedimentos (resultados apresentados na Tabela 5.5):
98
i) a elevação final dos rejeitos correspondente ao primeiro estágio da simulação
(três meses de lançamento) foi determinada, considerando-se o volume total
de rejeitos gerados no mesmo período (igual a 85.285,93 m
3
, valor estimado
como sendo igual a 3 vezes a média mensal obtida para o ano de 2007) e
levando-se este valor na curva cotas x volumes. A altura total dos rejeitos,
após o primeiro estágio do enchimento (valor igual a 15,4543m), foi obtida
subtraindo-se, do valor da elevação final, a elevação da base do reservatório.
A altura nominal dos rejeitos (valor igual a 8,9483m) foi estimada com base
na relação 5.1. Assim, tem-se os parâmetros de
input
para a simulação
numérica referente ao primeiro estágio de enchimento, ou seja, tempo inicial
igual a zero, tempo final igual a 0,25 anos, taxa anual de disposição de
rejeitos no reservatório igual a altura nominal dividida por 0,25 (valor igual a
35,7931 m/ano). A altura final dos rejeitos obtida pela simulação numérica,
ao final do primeiro estágio, foi igual a 8,0059m;
ii) somando-se este valor da altura final de rejeitos, correspondente ao primeiro
estágio do enchimento, ao valor da elevação da base do reservatório e
superpondo-se esta altura sobre a curva cotas x volumes, obtém-se a cota do
nível dos rejeitos no reservatório da barragem após 3 meses de lançamento e
adensamento dos rejeitos depositados;
iii) a partir do ponto da curva correspondente à cota obtida no item anterior
(Figura 5.16), definiu-se um novo trecho linear sobre a curva cotas x
volumes (segundo estágio de enchimento);
iv) com a definição do ponto limite do segundo estágio de enchimento, torna-se
possível estabelecer os correspondentes valores do volume (64.430,00 m
3
),
da altura total (7.4484m) e da altura nominal (4,3127m) de rejeitos a serem
lançados no segundo estágio de enchimento;
v) dividindo-se o volume total dos rejeitos pelo valor do volume médio mensal
correspondente ao período (ano) analisado (eventualmente englobando anos
distintos), obtém-se o intervalo de tempo correspondente ao segundo estágio
99
de enchimento (0,1889 anos) e a taxa de anual de disposição dos rejeitos
(22,8350 m/ano). A altura final dos rejeitos, obtida pela simulação numérica,
ao final do segundo estágio, foi igual a 11,654m;
vi) repete-se a sistemática da análise para os demais estágios de enchimento (3 a
19), de acordo com os mesmos procedimentos aplicados para o segundo
estágio de enchimento (itens iii a vi).
Figura 5.16 – Estágios de enchimento correspondentes à simulação numérica pela
linearização da curva cotas x volumes.
A Tabela 5.5 apresenta os resultados obtidos para os estudos de simulação numérica do
enchimento do reservatório da Barragem de Cuiabá da
AngloGold Ashanti
, por meio da
subdivisão da curva cotas x volumes da barragem em 19 trechos lineares, conforme
procedimentos descritos anteriormente, correspondentes a 19 estágios de enchimento.
Os resultados indicam que, para um volume total de 4.581.057,03 m
3
depositados no
reservatório da barragem, ao longo de 12 anos, a altura final dos rejeitos seria igual a
46,47m.
Tabela 5.4 - Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida pela linearização da curva cotas x volumes.
tempo (anos) volume (m
3
) alturas (m)
etapas
simples
acumulado
simples acumulado total nominal
taxa
(m/ano)
H
Final
(m)
0,2500 0,2500 85.285,93 85.285,93 15,4543
8,9483 35,7931 8,0059
0,1889 0,4389 64.430,00 149.715,93 7,4484 4,3127 22,8350 11,654
0,2401 0,6790 81.920,00 231.635,93 6,1226 3,5451 14,7632 14,635
0,1483 0,8273 50.580,00 282.215,93 3,3140 1,9189 12,9420 16,228
0,1574 0,9846 58.927,78 341.143,70 3,1935 1,8491 11,7513 17,758
0,1620 1,1466 60.650,00 401.793,70 2,8601 1,6560 10,2256 19,135
0,1953 1,3418 73.130,00 474.923,70 3,0152 1,7458 8,9404 20,575
0,1807 1,5225 67.670,00 542.593,70 2,4606 1,4247 7,8847 21,751
0,2422 1,7648 90.710,00 633.303,70 2,9162 1,6885 6,9711 23,15
10ª 0,3816 2,1463 146.250,00 779.553,70 3,9162 2,2675 5,9423 25,094
11ª 0,4473 2,5936 176.750,00 956.303,70 3,8430 2,2252 4,9749 26,936
12ª 0,4674 3,0611 185.580,00 1.141.883,70
3,3260 1,9258 4,1199 28,522
13ª 0,6846 3,7457 271.790,00 1.413.673,70
4,1293 2,3909 3,4925 30,484
14ª 0,7493 4,4950 303.150,00 1.716.823,70
4,2611 2,4672 3,2926 32,506
15ª 0,6559 5,1509 265.800,00 1.982.623,70
3,5669 2,0653 3,1486 34,203
16ª 1,5956 6,7465 640.890,00 2.623.513,70
6,2921 3,6432 2,2833 37,184
17ª 2,1185 8,8650 855.090,00 3.478.603,70
7,5160 4,3519 2,0542 40,724
18ª 1,8029 10,6679 724.560,00 4.203.163,70
5,8360 3,3791 1,8743 43,4546
19ª 1,3321 12,0000 377.893,33 4.581.057,03
6,4554 3,7378 2,8059 46,471
TOTAL 12,0000
----- 4.581.057,03
----- 95,93 55,54 ----- -----
101
A Figura 5.17 mostra as curvas de enchimento nominal obtidas pela subdivisão da curva
cotas x volumes em trechos lineares (total de 19 estágios, compreendendo o período
entre 2007 e 2019), as correspondentes curvas de nível final dos rejeitos pós-
adensamento para cada etapa considerada nesta abordagem e a curva de nível final dos
rejeitos após o adensamento no período correspondente a cada trecho linear considerado
e após o adensamento acumulado nos estágios anteriores (‘adensamento no estado
permanente’).
Figura 5.17 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida por
subdivisão em trechos lineares.
A Figura 5.18 representa um detalhamento da Figura 5.17, considerando apenas os
primeiros 5 estágios (primeiro ano do enchimento do reservatório) da série, para uma
melhor visualização das curvas mencionadas. Mais uma vez, no caso particular do
primeiro estágio de enchimento (período de três meses), as curvas de nível final dos
rejeitos para a etapa e final acumulada são, naturalmente, coincidentes.
102
Figura 5.18 Resultados da simulação numérica para a curva nominal corrigida para os
primeiros 5 trechos lineares (primeiro ano de enchimento)
Os resultados das simulações numéricas para o caso da curva nominal corrigida pela
linearização da curva cotas x volumes, em termos dos perfis dos índices de vazios dos
rejeitos depositados após cada etapa de lançamento, estão indicados na Figura 5.19.
Figura 5.19 - Perfis dos índices de vazios pós-adensamento para cada etapa
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em trechos lineares).
103
Adicionalmente, as simulações implementadas permitiram também estabelecer os
correspondentes perfis dos teores de sólidos e das poropressões geradas no depósito de
rejeitos (Figuras 5.20 e 5.21).
Figura 5.20 - Perfis dos teores de sólidos pós-adensamento para cada etapa
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em trechos lineares).
Figura 5.21 – Perfis das poropressões geradas pós-adensamento e para cada etapa
(curva nominal corrigida pela subdivisão da curva cotas x volumes em trechos lineares).
104
Cabe enfatizar que as curvas dos perfis dos índices de vazios também podem ser usadas
para avaliar a altura do material adensado em cada etapa. Esta altura corresponde ao
ponto ximo da curva, ou seja, o ponto do índice de vazios máximo, que é o valor do
índice de vazios para tensão efetiva nula (e
00
). Como estas alturas foram essencialmente
iguais àquelas obtidas nas curvas de adensamento final, ratifica-se, mais uma vez, a
consistência dos resultados.
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
6.1 – Introdução
Em projetos de disposição de rejeitos de mineração por via úmida, as análises da
capacidade de estocagem do reservatório demandam o conhecimento das características
de compressibilidade e adensamento dos resíduos lançados, função primária da natureza
e da granulometria do material.
No caso de rejeitos finos, com elevadas proporções de partículas da fração argila, como
ocorrem no caso de rejeitos de ouro, a previsão do comportamento dos resíduos e a
formulação de um modelo deposicional consistente, não podem ser baseados em ensaios
convencionais, exigindo metodologias específicas de ensaio e parâmetros geotécnicos,
obtidos a partir de ensaios especiais. Adicionalmente, as relações constitutivas, obtidas
a partir destes ensaios, permitem estabelecer metodologias de simulação numérica do
enchimento dos reservatórios das barragens de contenção de rejeitos e a estimativa da
vida útil de tais empreendimentos.
O presente trabalho buscou aplicar estes princípios para o caso de um empreendimento
real, representado pela Barragem de Cuiabá, estrutura projetada para a contenção de
rejeitos de ouro gerados na Planta Industrial do Queiroz, em implantação no município
de Raposos/MG. Nos estudos numéricos, utilizou-se do Programa CONDES0,
desenvolvido por Yao e Znidarcic (1997), para análises do adensamento unidimensional
a grandes deformações de solos finos, usando método de diferenças finitas.
Os parâmetros de
input
das simulações são baseados no conhecimento das leis
constitutivas de compressibilidade e de permeabilidade dos materiais, expressos pelas
relações índices de vazios x tensões efetivas e índices de vazios x permeabilidades.
Estas relações foram obtidas para os rejeitos da flotação de ouro da Planta do Queiroz, a
106
partir de séries de ensaios HCT com bomba de fluxo, realizados em laboratório.
Importante salientar que, os resultados obtidos e as conclusões expostas, foram
definidos a partir do material estudado, ficando, portanto, as responsabilidades dos
resultados encontrados a mercê das características do material. Desta forma, qualquer
alteração observada, no rejeito lançado, deverá ter novas análises, a partir destes
lançamentos e de acordo com as modificações do material.
6.2 – Conclusões Principais
Em relação aos Ensaios HCT com Bomba De Fluxo
Os ensaios HCT com bomba de fluxo mostraram-se bastante práticos e consistentes
para a determinação das características de adensamento dos rejeitos de flotação
estudados, tanto sob a forma de polpa como na forma de pasta. Adicionalmente, os
ensaios forneceram uma boa repetibilidade, sendo a eficiência dos resultados
diretamente relacionada aos cuidados prévios adotados na preparação das amostras.
Durante a realização dos ensaios, pôde ser observado que, quanto maior a
compressibilidade do rejeito, maiores os tempos decorridos para a estabilização das
poropressões. Um fator crítico para se obter resultados consistentes com a metodologia
HCT é a adequada definição das velocidades de ensaio nas etapas de carregamento e de
permeabilidade saturada, garantindo-se que as pressões diferenciais entre o topo e a
base das amostras ensaiadas fiquem sempre limitadas à faixa entre 1,5 e 10 kPa, como
recomendado por Znidarcic et al. (1992).
Em relação às Simulações Numéricas
As análises numéricas implementadas para o enchimento do reservatório da Barragem
de Cuiabá contemplaram diferentes abordagens (enchimento instantâneo e enchimento
escalonado, curvas cotas x volumes com e sem correções).
107
Com base nos resultados obtidos, pode-se dizer que as metodologias adotadas para as
hipóteses de enchimento instantâneo e enchimento escalonado, sem considerar a
correção da curva de enchimento, não foram representativas das condições reais do
problema analisado. No primeiro caso, a simulação constitui mera hipótese, resultando
em uma consolidação dos rejeitos muito rápida, em um período de aproximadamente 40
dias. No segundo caso, a simulação é falha por não incluir os efeitos significativos do
adensamento dos rejeitos previamente lançados no reservatório da barragem, obtendo-se
uma altura final irrealista de 30,16m para o depósito dos rejeitos adensados.
Na análise por enchimento escalonado com a correção da curva de enchimento por
intervalos de tempos (períodos anuais), a simulação não contemplou a não uniformidade
das variações da curva cotas x volumes ao longo do tempo, que tendem a ser
substancialmente maiores nos primeiros estágios do enchimento. Assim, embora com
resultados bastante consistentes e qualitativamente representativos do problema real
(evolução do adensamento e perfis dos índices de vazios dos rejeitos ao longo do
tempo), esta solução foi, ainda, inadequada em termos da quantificação do processo de
enchimento do reservatório (altura final igual a 42,6m).
Finalmente, analisando-se o enchimento do reservatório por meio da sistemática da
decomposição da curva cotas x volumes em trechos lineares (‘linearização da curva
cotas x volumes’), os resultados da simulação mostraram-se bastante consistentes e, na
conclusão do autor deste trabalho, representa, efetivamente, a tendência de evolução do
processo de enchimento do reservatório da Barragem de Cuiaao longo dos 12 anos
previstos para a vida útil deste empreendimento. A simulação contemplou um total de
19 estágios de enchimento e os resultados indicaram que, para um volume total de
4.581.057,03 m
3
depositados no reservatório da barragem ao longo da sua vida útil, a
altura final dos rejeitos adensados seria igual a 46,47m.
Assim, a altura final da estrutura para armazenar os rejeitos totais gerados, levando em
consideração o adensamento transiente e a reutilização da água sobrenadante, deverá ser
de 46,5 m. Considerando as mesmas alturas adicionais de 1,5 m, adotadas no projeto
original, para amortecimento de cheias e de borda livre para absorção de ondas ao longo
108
do reservatório, a altura final prevista para a barragem deverá ser de 49,5 m.
Estes resultados podem, então, serem confrontados com o projeto original. Numa
primeira correlação, admitiu-se a manutenção de três alteamentos, tal como propostos
no projeto da barragem (Figura 6.1). Neste contexto, a previsão original definiu as
alturas de 44, 57,2 e 63,2 m para os alteamentos, visando a contenção dos rejeitos
gerados após 4, 9 e 12 anos de disposição dos rejeitos na barragem de Cuiabá,
respectivamente. Nas simulações deste trabalho, as alturas destes alteamentos deveriam
ser iguais a 34, 44 e 49,5 m, respectivamente.
Figura 6.1 – Correlações entre projeto e simulações numéricas (três alteamentos).
Estas correlações iniciais mostram, portanto, que, a rigor, apenas dois alteamentos
seriam suficientes para atender às estimativas dos volumes de rejeitos gerados durante a
vida útil do empreendimento. Neste caso, as alturas finais destes alteamentos deveriam
ser iguais a 44 m e 49,5 m, respectivamente (Figura 6.2).
Figura 6.2 – Alternativa de projeto pelas simulações numéricas (dois alteamentos).
109
6.3 – Sugestões para Pesquisas Complementares
Conforme visto, a Barragem de Cuiabá encontra-se em implantação com início de
operação em 2007. Desta forma, recomenda-se o monitoramento contínuo dos rejeitos
depositados no reservatório (batimetrias periódicas ao longo do reservatório) para
correlação destes dados com os resultados simulados neste trabalho.
Neste contexto, outras simulações poderiam ser realizadas, incluindo-se, diferentes
condições de contorno (por exemplo, considerando diferentes condições de
permeabilidade da fundação da barragem) para ajustes e calibração do modelo numérico
à realidade do problema em análise.
Durante o processo de enchimento do reservatório, ensaios de sondagem piezométrica
serão de grande valia para a obtenção das leis de compressibilidade e de permeabilidade
dos rejeitos
in situ
e comparação com os resultados obtidos em ensaios de laboratório
tipo HCT com bomba de fluxo.
Os ensaios HCTs com bomba de fluxo, mesmo tendo uma duração menor que outros
ensaios, requerem um período de, no mínimo, três dias, conforme destacados nas
metodologias apresentadas por Botelho (2001) e Znidarcic et al. (1992). Como na
maioria dos ensaios a amostra se encontra saturada, o tempo sugerido para aplicação
da contrapressão pode ser desconsiderado. Desta forma, um trabalho visando a obtenção
dos parâmetros do adensamento, com e sem a aplicação de contrapressão, seria
interessante para verificar a comparação relativa destes resultados.
Uma sugestão final seria a de implementar uma interface gráfica de saída ao Programa
CONDES0, uma vez que, na versão atual, todos os resultados são obtidos em quatro
arquivos de texto (tabelas), exigindo, portanto, um trabalho adicional de processamento
gráfico dos mesmos. Tal procedimento, propiciaria uma maior agilidade das análises
para extrapolação a outras barragens e outros empreendimentos de mineração.
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Boulder, EUA.
ANEXO
ANEXO I:
Modelo de Arquivos de Saídas do Programa CONDES0.
input
1,1909 -,0500 33,301 2,6202 ,33962 A1,B1,C,D,Z1
2 3-D DESSICATION STATUS
2,8680 SPECIFIC GRAVITY OF SOLIDS
9,8070 UNIT WEIGHT OF WATER
23,150 INITIAL HEIGHT OF SOIL
1 STAGE FILLING STATUS
1 NUMBER OF FILLING STAGES
1,7648 2,1464 6,1269 BEGINNING TIME,ENDING TIME,HEIGHTS OR
RATES
2 TOP BOUNDARY CONDITION
,00000 TOP BOUNDARY CONDITION VALUES
1 BOTTOM BOUNDARY CONDITION
,50000 MINIMUM VOID RATIO
1,7648 STARTING TIME
10 NUMBER OF OUTPUT FILES
1,8029 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
1,8411 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
1,8793 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
1,9174 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
1,9556 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
1,9937 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
2,0319 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
2,0700 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
2,1082 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
2,1464 SPECIFIED TIME FOR OUTPUT
,40000E-01 MAXIMUM TIME INTERVAL
1 INITIAL STATUS
51 NUMBER OF NODAL VOID RATIO-ELEVATION
1,256972083417129 25,094312764089540
1,106260898517868 24,634336207817810
1,068109016090964 24,131719108708100
1,046306280215232 23,629020087968950
1,031075984651016 23,126289801939680
1,019402381492708 22,623545165554820
1,009956552155599 22,120793587514080
1,002035575107067 21,618038769374510
9,952228251609449E-001 21,115282698173950
9,892512158827227E-001 20,612526479742590
9,839393767915310E-001 20,109770734280180
9,791585827486575E-001 19,607015801483820
9,748142187916153E-001 19,104261853976720
9,708347352111119E-001 18,601508963102870
9,671647335758525E-001 18,098757138485520
9,637604596178537E-001 17,596006352454070
9,605867635914868E-001 17,093256555418380
9,576149902084462E-001 16,590507685666430
9,548214769466045E-001 16,087759675645540
9,521864619075325E-001 15,585012455984990
9,496932742523578E-001 15,082265958047890
9,473277238882282E-001 14,579520115515380
9,450776343844970E-001 14,076774865330800
9,429324806388370E-001 13,574030148219320
9,408831043488311E-001 13,071285908927290
9,389214880919853E-001 12,568542096277900
9,370405741202760E-001 12,065798663108720
9,352341176687656E-001 11,563055566135450
9,334965671906494E-001 11,060312765772080
9,318229658066813E-001 10,557570225927640
9,302088696209196E-001 10,054827913793280
9,286502795590831E-001 9,552085799628282
9,271435841336067E-001 9,049343856550964
9,256855111022924E-001 8,546602060337548
9,242730864150115E-001 8,043860389230996
9,229035991708606E-001 7,541118823760389
9,215745715617820E-001 7,038377346570867
9,202837329763640E-001 6,535635942263474
9,190289975928041E-001 6,032894597244003
9,178084449129325E-001 5,530153299579601
9,166203027869728E-001 5,027412038861783
9,154629325570731E-001 4,524670806074322
9,143348160109538E-001 4,021929593464465
9,132345438881215E-001 3,519188394415791
9,121608057229703E-001 3,016447203321000
9,111123808432204E-001 2,513706015452881
9,100881303703375E-001 2,010964826831614
9,090869900918741E-001 1,508223634086551
9,081079640950092E-001 1,005482434310535
9,071501190667384E-001 5,027412249047147E-001
9,062125793123613E-001 0,000000000000000E+000
25,094 FINAL HEIGHT OF SOIL
2,1464 STOPPING TIME
ts.out
AVERAGE CUMULATED CUMULATED
SOIL DRY OUTFLOW OUTFLOW CRUST
-TIME- -HEIGHT- -DENSITY- -TOP- -BOTTOM- -THINKNESS-
.1765E+01 .2315E+02 .1437E+02 .0000E+00 .0000E+00 .0000E+00
.1803E+01 .2332E+02 .1438E+02 .9002E+00 .0000E+00 .0000E+00
.1841E+01 .2352E+02 .1438E+02 .1859E+01 .0000E+00 .0000E+00
.1879E+01 .2372E+02 .1438E+02 .2819E+01 .0000E+00 .0000E+00
.1917E+01 .2392E+02 .1438E+02 .3778E+01 .0000E+00 .0000E+00
.1956E+01 .2412E+02 .1439E+02 .4740E+01 .0000E+00 .0000E+00
.1994E+01 .2430E+02 .1439E+02 .5699E+01 .0000E+00 .0000E+00
.2032E+01 .2452E+02 .1439E+02 .6659E+01 .0000E+00 .0000E+00
.2070E+01 .2470E+02 .1440E+02 .7621E+01 .0000E+00 .0000E+00
.2108E+01 .2489E+02 .1440E+02 .8581E+01 .0000E+00 .0000E+00
.2146E+01 .2509E+02 .1440E+02 .9538E+01 .0000E+00 .0000E+00
THE TOTAL HEIGHT OF SOIL SOLID IS 12.861342919329820
Obs.: Neste anexo será mostrado apenas parte do arquivo vd.out,
correspondente aos dois primeiros tempos de saída. Para os demais tempos,
segue-se o mesmo formato desse último.
vd
.out
TIME = 1.765
INITIAL STATE STEADY STATE
VOID SOLID WATER VOID
-NODE--ELEVATION- -RATIO- -CONTENT- -PRESSURE- -ELEVATION- -RATIO-
51 .2315E+02 .1257E+01 .6953E+00 .0000E+00 .1000E-19 .1257E+01
50 .2269E+02 .1104E+01 .7220E+00 .4274E+01 .1000E-19 .1257E+01
49 .2222E+02 .1069E+01 .7284E+00 .8779E+01 .1000E-19 .1257E+01
48 .2176E+02 .1049E+01 .7323E+00 .1331E+02 .1000E-19 .1257E+01
47 .2130E+02 .1034E+01 .7350E+00 .1785E+02 .1000E-19 .1257E+01
46 .2083E+02 .1023E+01 .7372E+00 .2240E+02 .1000E-19 .1257E+01
45 .2037E+02 .1013E+01 .7389E+00 .2694E+02 .1000E-19 .1257E+01
44 .1991E+02 .1006E+01 .7404E+00 .3149E+02 .1000E-19 .1257E+01
43 .1945E+02 .9988E+00 .7417E+00 .3604E+02 .1000E-19 .1257E+01
42 .1898E+02 .9929E+00 .7428E+00 .4058E+02 .1000E-19 .1257E+01
41 .1852E+02 .9876E+00 .7438E+00 .4513E+02 .1000E-19 .1257E+01
40 .1806E+02 .9829E+00 .7448E+00 .4968E+02 .1000E-19 .1257E+01
39 .1759E+02 .9786E+00 .7456E+00 .5422E+02 .1000E-19 .1257E+01
38 .1713E+02 .9746E+00 .7464E+00 .5877E+02 .1000E-19 .1257E+01
37 .1667E+02 .9710E+00 .7471E+00 .6332E+02 .1000E-19 .1257E+01
36 .1620E+02 .9676E+00 .7477E+00 .6787E+02 .1000E-19 .1257E+01
35 .1574E+02 .9644E+00 .7484E+00 .7241E+02 .1000E-19 .1257E+01
34 .1528E+02 .9615E+00 .7489E+00 .7696E+02 .1000E-19 .1257E+01
33 .1482E+02 .9587E+00 .7495E+00 .8151E+02 .1000E-19 .1257E+01
32 .1435E+02 .9560E+00 .7500E+00 .8605E+02 .1000E-19 .1257E+01
31 .1389E+02 .9535E+00 .7505E+00 .9060E+02 .1000E-19 .1257E+01
30 .1343E+02 .9512E+00 .7509E+00 .9515E+02 .1000E-19 .1257E+01
29 .1296E+02 .9489E+00 .7514E+00 .9969E+02 .1000E-19 .1257E+01
28 .1250E+02 .9468E+00 .7518E+00 .1042E+03 .1000E-19 .1257E+01
27 .1204E+02 .9447E+00 .7522E+00 .1088E+03 .1000E-19 .1257E+01
26 .1157E+02 .9428E+00 .7526E+00 .1133E+03 .1000E-19 .1257E+01
25 .1111E+02 .9409E+00 .7530E+00 .1179E+03 .1000E-19 .1257E+01
24 .1065E+02 .9391E+00 .7533E+00 .1224E+03 .1000E-19 .1257E+01
23 .1019E+02 .9373E+00 .7537E+00 .1270E+03 .1000E-19 .1257E+01
22 .9723E+01 .9357E+00 .7540E+00 .1315E+03 .1000E-19 .1257E+01
21 .9260E+01 .9341E+00 .7543E+00 .1361E+03 .1000E-19 .1257E+01
20 .8797E+01 .9325E+00 .7546E+00 .1406E+03 .1000E-19 .1257E+01
19 .8334E+01 .9310E+00 .7549E+00 .1451E+03 .1000E-19 .1257E+01
18 .7871E+01 .9295E+00 .7552E+00 .1497E+03 .1000E-19 .1257E+01
17 .7408E+01 .9281E+00 .7555E+00 .1542E+03 .1000E-19 .1257E+01
16 .6945E+01 .9267E+00 .7558E+00 .1588E+03 .1000E-19 .1257E+01
15 .6482E+01 .9254E+00 .7560E+00 .1633E+03 .1000E-19 .1257E+01
14 .6019E+01 .9241E+00 .7563E+00 .1679E+03 .1000E-19 .1257E+01
13 .5556E+01 .9228E+00 .7566E+00 .1724E+03 .1000E-19 .1257E+01
12 .5093E+01 .9216E+00 .7568E+00 .1769E+03 .1000E-19 .1257E+01
11 .4630E+01 .9204E+00 .7570E+00 .1815E+03 .1000E-19 .1257E+01
10 .4167E+01 .9193E+00 .7573E+00 .1860E+03 .1000E-19 .1257E+01
9 .3704E+01 .9181E+00 .7575E+00 .1906E+03 .1000E-19 .1257E+01
8 .3241E+01 .9170E+00 .7577E+00 .1951E+03 .1000E-19 .1257E+01
7 .2778E+01 .9160E+00 .7579E+00 .1996E+03 .1000E-19 .1257E+01
6 .2315E+01 .9149E+00 .7581E+00 .2042E+03 .1000E-19 .1257E+01
5 .1852E+01 .9139E+00 .7584E+00 .2087E+03 .1000E-19 .1257E+01
4 .1389E+01 .9129E+00 .7586E+00 .2133E+03 .1000E-19 .1257E+01
3 .9260E+00 .9119E+00 .7588E+00 .2178E+03 .1000E-19 .1257E+01
2 .4630E+00 .9109E+00 .7589E+00 .2223E+03 .1000E-19 .1257E+01
1 .0000E+00 .9100E+00 .7591E+00 .2269E+03 .1000E-19 .1257E+01
TIME = 1.803
VOID SOLID WATER ALPHA
-NODE--ELEVATION- -RATIO- -CONTENT- -PRESSURE- -VALUES-
51 .2332E+02 .1257E+01 .6953E+00 .0000E+00 .1000E+01
50 .2286E+02 .1101E+01 .7226E+00 .3987E+01 .1000E+01
49 .2239E+02 .1067E+01 .7289E+00 .8453E+01 .1000E+01
48 .2192E+02 .1047E+01 .7326E+00 .1298E+02 .1000E+01
47 .2146E+02 .1032E+01 .7353E+00 .1753E+02 .1000E+01
46 .2099E+02 .1021E+01 .7374E+00 .2210E+02 .1000E+01
45 .2053E+02 .1012E+01 .7392E+00 .2667E+02 .1000E+01
44 .2006E+02 .1004E+01 .7406E+00 .3125E+02 .1000E+01
43 .1959E+02 .9978E+00 .7419E+00 .3584E+02 .1000E+01
42 .1913E+02 .9920E+00 .7430E+00 .4042E+02 .1000E+01
41 .1866E+02 .9868E+00 .7440E+00 .4501E+02 .1000E+01
40 .1819E+02 .9821E+00 .7449E+00 .4960E+02 .1000E+01
39 .1773E+02 .9779E+00 .7457E+00 .5419E+02 .1000E+01
38 .1726E+02 .9739E+00 .7465E+00 .5878E+02 .1000E+01
37 .1679E+02 .9703E+00 .7472E+00 .6336E+02 .1000E+01
36 .1633E+02 .9669E+00 .7479E+00 .6795E+02 .1000E+01
35 .1586E+02 .9638E+00 .7485E+00 .7254E+02 .1000E+01
34 .1539E+02 .9609E+00 .7490E+00 .7713E+02 .1000E+01
33 .1493E+02 .9581E+00 .7496E+00 .8172E+02 .1000E+01
32 .1446E+02 .9555E+00 .7501E+00 .8630E+02 .1000E+01
31 .1400E+02 .9530E+00 .7506E+00 .9089E+02 .1000E+01
30 .1353E+02 .9507E+00 .7511E+00 .9548E+02 .1000E+01
29 .1306E+02 .9484E+00 .7515E+00 .1001E+03 .1000E+01
28 .1260E+02 .9463E+00 .7519E+00 .1046E+03 .1000E+01
27 .1213E+02 .9442E+00 .7523E+00 .1092E+03 .1000E+01
26 .1166E+02 .9423E+00 .7527E+00 .1138E+03 .1000E+01
25 .1120E+02 .9404E+00 .7531E+00 .1184E+03 .1000E+01
24 .1073E+02 .9386E+00 .7534E+00 .1230E+03 .1000E+01
23 .1026E+02 .9369E+00 .7538E+00 .1276E+03 .1000E+01
22 .9797E+01 .9352E+00 .7541E+00 .1321E+03 .1000E+01
21 .9330E+01 .9336E+00 .7544E+00 .1367E+03 .1000E+01
20 .8864E+01 .9320E+00 .7547E+00 .1413E+03 .1000E+01
19 .8397E+01 .9305E+00 .7550E+00 .1459E+03 .1000E+01
18 .7931E+01 .9291E+00 .7553E+00 .1505E+03 .1000E+01
17 .7464E+01 .9277E+00 .7556E+00 .1550E+03 .1000E+01
16 .6998E+01 .9263E+00 .7559E+00 .1596E+03 .1000E+01
15 .6531E+01 .9250E+00 .7561E+00 .1642E+03 .1000E+01
14 .6065E+01 .9237E+00 .7564E+00 .1688E+03 .1000E+01
13 .5598E+01 .9224E+00 .7566E+00 .1734E+03 .1000E+01
12 .5132E+01 .9212E+00 .7569E+00 .1779E+03 .1000E+01
11 .4665E+01 .9200E+00 .7571E+00 .1825E+03 .1000E+01
10 .4199E+01 .9188E+00 .7574E+00 .1871E+03 .1000E+01
9 .3732E+01 .9177E+00 .7576E+00 .1917E+03 .1000E+01
8 .3266E+01 .9166E+00 .7578E+00 .1962E+03 .1000E+01
7 .2799E+01 .9155E+00 .7580E+00 .2008E+03 .1000E+01
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