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UNIVERSIDADE DO VALE DOS RIOS DOS SINOS UNISINOS
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
CURSO DE MESTRADO EM HISTÓRIA
ADEMIR JOSÉ MACHADO
AVANÇAR, ADAPTAR E PERMANECER: A TRADIÇÃO
TUPIGUARANI NO MÉDIO RIO DAS ANTAS
SÃO LEOPOLDO
2008
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1
ADEMIR JOSÉ MACHADO
AVANÇAR, ADAPTAR E PERMANECER: A TRADIÇÃO
TUPIGUARANI NO MÉDIO RIO DAS ANTAS
Dissertação apresentada à Universidade do
Vale do Rio dos Sinos como requisito parcial
e último para obtenção do grau de mestre em
História na Área de Estudos Históricos
Latino-Americanos
Orientador: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz
SÃO LEOPOLDO
2008
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M149a Machado, Ademir José
Avançar, adaptar e permanecer: a tradição Tupiguarani no médio
Rio das Antas / Ademir José Machado. - São Leopoldo, 2008.
Orientador: Pedro Ignácio Schmitz
Dissertação (mestrado) Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
Programa de Pós-Graduação em História.
1. Tradição Tupiguarani. 2. Povo
amento. 3. Unidade
Habitacional. I. Título. II. Schmitz, Pedro Ignácio.
CDU 911.32
CDD 307
Ficha Catalográfica: Fabiano Couto Corrêa da Silva. CRB: 10/1553
3
ADEMIR JOSÉ MACHADO
AVANÇAR, ADAPTAR E PERMANECER: A TRADIÇÃO
TUPIGUARANI NO MÉDIO RIO DAS ANTAS
Dissertação apresentada à Universidade do
Vale do Rio dos Sinos como requisito parcial
e último para obtenção do grau de mestre em
História na Área de Estudos Históricos
Latino-Americanos
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz (orientador) UNISINOS
Prof. Dr. Jairo Henrique Rogge UNISINOS
Prof. Dr. Sergio Celio Klamt - UNISC
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz pela oportunidade de realizar o trabalho sob
sua orientação. Pela presteza com que analisou os manuscritos, ocupando muitas vezes momentos
de seu descanso, ensinando coisas muito além da Arqueologia.
Ao Fundo Pe. Milton Valente da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pela concessão
da bolsa de estudos, sem a qual não seria possível realizar o trabalho.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Rio dos
Sinos pelos ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Sergio Celio Klamt da Universidade de Santa Cruz do Sul por apresentar-me
à Arqueologia no ano de 1999 e pela cedência dos dados imprescindíveis para o desenvolvimento
do trabalho.
Aos funcionários da Cia. Energética Rio das Antas, pelo profissionalismo com que
atuaram junto à equipe de Arqueologia.
Aos moradores da área de abrangência da pesquisa, pelo respeito e atenção com que
acolhiam nossas visitas. Em especial ao Sr. Hélio Zan e aos irmãos Alberto e Luís Favaretto, pela
atenção dispensada nas longas semanas de escavação em suas propriedades.
Aos colegas do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade de Santa
Cruz do Sul pelo aprendizado e colaboração no desenvolvimento das atividades. Aos ex-colegas
e amigos que participaram como voluntários nos trabalhos de campo.
Aos companheiros de jornada, Luiz Otávio, Mírian e Marlon pela amizade e
companheirismo dos últimos anos.
Aos familiares, pelo apoio de sempre e à Daiana, pela ajuda e paciência.
A todos que, de uma forma ou de outra contribuíram para o desenvolvimento do trabalho.
5
RESUMO
A área de abrangência da pesquisa situa-se junto ao rio das Antas, correspondendo a parte dos
municípios de Bento Gonçalves, Veranópolis e Cotiporã, RS, região que recebe a denominação
de Serra Gaúcha. O trabalho corresponde à interpretação de parte dos dados obtidos no Programa
de Arqueologia, desenvolvido pelo Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade
de Santa Cruz do Sul, durante a instalação do Complexo Energético Rio das Antas, mais
especificamente, a área da UHE 14 de Julho e imediações. No local já havia a indicação da
existência de 02 sítios arqueológicos, sendo que foram descobertos e registrados mais 51 sítios
durante os trabalhos, sendo que o sítio Favaretto Escavação apresentou um bom estado de
conservação e foi cuidadosamente escavado. A partir dos sítios localizados e estudados,
buscamos acrescentar referências sobre a dispersão dos portadores da Tradição Tupiguarani,
caracterizando a ocupação de uma área distante das várzeas dos grandes rios e, paralelamente, a
espacialidade e funcionalidade de um espaço habitacional (sítio Favaretto Escavação). Para o
desenvolvimento do trabalho utilizamos como referência o conceito de sistema de assentamento e
de tradição arqueológica, tendo em vista a especificidade dos dados de que dispúnhamos. O
ambiente da área se mostrou favorável à instalação de grupos ceramistas-horticultores,
principalmente nos locais próximos ao rio, com curvas acentuadas e desembocadura de arroios.
Na área predominam os sítios pequenos (63,27%), seguidos dos médios (32,65%) e mais raros os
sítios extensos (4,08%), sendo que em torno de 76% dos sítios encontram-se em altitudes que
variam entre 170 e 180m, altitudes que conferem às áreas preferenciais de instalação, um padrão
climático semelhante ao da Depressão-Central e da borda do Planalto Rio-Grandense.
Estimamos que o povoamento da área se deu por volta do século XIV até o século XVII,
provavelmente correspondendo a permanência de um único grupo associado à tradição cerâmica
Tupiguarani, deslocando-se em uma área com aproximadamente 20Km de extensão. Quanto à
função dos assentamentos acreditamos que a maioria corresponde a unidades habitacionais e a
minoria a acampamentos temporários. Com os trabalhos de reconstituição das vasilhas cerâmicas
percebemos a repetição de determinadas formas, que provavelmente, indicam a permanência no
espaço habitacional por um período que necessitasse a reposição de vasilhas (ocupação mais
estável). De forma geral, percebemos que os portadores da Tradição Tupiguarani reproduziram
seu modo de vida na área, mantendo os padrões na elaboração da cerâmica, nas formas das
vasilhas, na decoração, na elaboração dos artefatos líticos, na forma e função das habitações.
Entretanto, não aplicaram toda a riqueza de padrões característica das áreas com maior oferta de
recursos.
Palavras-chave: Tradição Tupiguarani; Povoamento; Unidade Habitacional; Vale do Rio das
Antas.
6
RESUMEN
El área de cobertura de la investigación se sitúa en el Río de las Antas, que corresponde a parte
de los municipios de Bento Gonçalves, Veranópolis y Cotiporã, RS, una región que recibe el
nombre de Serra Gaúcha. El trabajo está basado en la interpretación de los datos obtenidos en el
Programa de Arqueología, desarrollado por el Centro para la Enseñanza y la Investigación
Arqueológica de la Universidad de Santa Cruz do Sul, en el momento de la instalación del
complejo de Energía Río de las Antas, más concretamente, en el ámbito de la UHE 14 de Julio y
alrededores. En el lugar había la indicación de existencia de dos (02) sitios arqueológicos, pero
fueron descubiertos y registrados cincuenta y un (51) sitios más durante el trabajo, y el Sitio
Favaretto Excavación mostró un buen estado de conservación y ha sido cuidadosamente
excavado. A partir de los sitios ubicados y estudiados, se busca añadir referencias respeto a la
dispersión de los portadores de la Tradición Tupiguarani, la caracterización de la ocupación de
una zona remota de orillas y llanuras de los ríos principales y, en paralelo, el espacio y la
funcionalidad de una zona residencial (Sitio Favaretto Excavación). Para el desarrollo del trabajo,
se ha utilizado como referencia el concepto de sistema de asentamiento y de la tradición
arqueológica, en vista de la especificidad de los datos que teníamos. El entorno de la zona es
propicio para el establecimiento de grupos de alfareros-jardineros, especialmente en los lugares
cerca del río, con fuertes curvas y aberturas de los arroyos. En la zona predominan los pequeños
sitios (63,27%), seguidos de medianos (32,65%) es poco común la existencia de sitios más
amplios (4,08%), alrededor de 76% de los sitios se encuentran en altitudes que varían entre 170 y
180 metros, en altitudes que confieren a las zonas preferenciales de la instalación, un patrón
climático similar al de la Depressão-Central y al borde del Planalto Rio-Grandense. Según
nuestras estimaciones, la población de la zona ocurrió de mediados del siglo XIV hasta el siglo
XVII, probablemente correspondiendo a la estancia de un solo grupo asociado a la tradición
cerámica Tupiguarani, moviéndose en un área de aproximadamente 20 kilómetros de longitud.
En cuanto a la función de los asentamientos se entiende que la mayoría estuvo formada por
unidades residenciales y la minoría por campamentos temporales. Con los trabajos de
restauración de las vasijas de cerámica se pudo observar la repetición de ciertas formas, que
probablemente indican la permanencia en el espacio habitacional por un período necesario para
reponer las vasijas (ocupación más estable). En general, nos damos cuenta de que los portadores
de la Tradición Tupiguarani han reproducido su forma de vida en la zona, y mantuvieron los
mismos patrones en la preparación de la cerámica, en el formato de las vasijas, en la decoración,
en la preparación de artefactos líticos en la forma y la función de la vivienda. Sin embargo, no se
han aplicado todas las riquezas de los patrones característicos de las zonas con mayor oferta de
recursos.
Palabras clave : Tradición Tupiguarani; Población; Unidad de Vivienda; Valle del Río de las
Antas.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Modelo de Movimentação de uma Aldeia Proposto por Schmitz................................30
Figura 02: Modelo de Movimentação de uma Aldeia Proposto por Noelli...................................31
Figura 03: Esquema da Formação Geológica da Bacia Sedimentar do Paraná.............................49
Figura 04: Neossolo Litólico Distrófico Típico.............................................................................51
Figura 05: Chernossolo Argilúvico Férrico Típico........................................................................51
Figura 06: Chernossolo Háplico Órtico Típico..............................................................................52
Figura 07: Modelo de Relevo e Vegetação Presente na Área........................................................63
Figura 08: Croqui do Sítio 01.........................................................................................................67
Figura 09: Croqui do Sítio 02.........................................................................................................68
Figura 10: Croqui do Sítio 03.........................................................................................................68
Figura 11: Croqui do Sítio 04.........................................................................................................69
Figura 12: Croqui do Sítio 06.........................................................................................................72
Figura 13: Croqui do Sítio 21.........................................................................................................73
Figura 14: Croqui do Sítio 19.........................................................................................................74
Figura 15: Croqui do Sítio 07.........................................................................................................75
Figura 16: Croqui do Sítio 09.........................................................................................................76
Figura 17: Croqui do Sítio 22.........................................................................................................82
Figura 18: Croqui do Sítio 26.........................................................................................................83
Figura 19: Croqui do Sítio 23.........................................................................................................84
Figura 20: Croqui do Sítio 24.........................................................................................................84
Figura 21: Croqui do Sítio 27.........................................................................................................86
Figura 22: Croqui do Sítio 28.........................................................................................................88
Figura 23: Croqui do Sítio 32.........................................................................................................88
Figura 24: Croqui do Sítio 33.........................................................................................................89
Figura 25: Croqui do Sítio 34.........................................................................................................89
Figura 26: Croqui do Sítio 29.........................................................................................................90
8
Figura 27: Croqui do Sítio 31.........................................................................................................91
Figura 28: Croqui do Sítio 35.........................................................................................................93
Figura 29: Croqui do Sítio 41.........................................................................................................94
Figura 30: Croqui do Sítio 37.........................................................................................................96
Figura 31: Croqui do Sítio 42.........................................................................................................99
Figura 32: Croqui do Sítio 43.........................................................................................................99
Figura 33: Croqui do Sítio 44.......................................................................................................100
Figura 34: Croqui do Sítio 48.......................................................................................................103
Figura 35: Croqui do Sítio 49.......................................................................................................104
Figura 36: Croqui do Sítio 52.......................................................................................................105
Figura 37: Modelo do relevo do Vale do Rio Pardo na área do Sítio Candelária I e II................121
Figura 38: Planta baixa do sítio Favaretto Escavação..................................................................135
Figura 39: Croqui do sítio com destaque às áreas de influência das fogueiras fogo....................155
Figura 40: Modelo Topográfico do Sítio Favaretto e Favaretto
Escavação.....................................................................................................................................165
Figura 41: Croqui do sítio com Destaque a Área Hipotética do Espaço Habitacional.................170
9
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 01: Paisagem Característica da Área A..................................................................................66
Foto 02: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área A......................................67
Foto 03: Paisagem Característica da Área B..................................................................................71
Foto 04: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área B.......................................71
Foto 05: Pontas-de-Projétil Associadas à Tradição Umbu Localizadas no Sítio 18......................80
Foto 06: Paisagens Características da Área C................................................................................81
Foto 07: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área C.......................................82
Foto 08: Paisagem Característica da Área D..................................................................................87
Foto 09: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área D……………….......…...87
Foto 10: Paisagens Características da Área E................................................................................92
Foto 11: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área E.......................................93
Foto 12: Paisagens Características da Área F.................................................................................98
Foto 13: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área F.......................................98
Foto 14: Paisagens Características da Área G..............................................................................102
Foto 15: Amostra dos vestígios Arqueológicos Encontrados na Área G.....................................103
Foto 16: Núcleo de Solo Antropogênico (NSA) no Sítio Favaretto Escavação...........................130
Foto 17: Vista Panorâmica do Local da Escavação......................................................................131
Foto 18: Registro Fotográfico da fogueira D................................................................................132
Foto 19: Seixo de Arenito Friável Fragmentado..........................................................................139
Foto 20: Seixo em Basalto com Marca de Uso e Fragmento Cerâmico que
Recebeu Polimento........................................................................................................139
Foto 21: Seixos com Marcas da Ação do Fogo............................................................................141
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01: Gráfico Representando as Dimensões dos Sítios
em suas Respectivas Áreas.......................................................................................107
Gráfico 02: Gráfico com a Incidência do Material Cerâmico
e do Material Lítico...................................................................................................111
Gráfico 03: Gráfico Comparando as Porcentagens de Cerâmica por Área .................................114
Gráfico 04: Gráfico com a Incidência de Matéria-Prima do Material Lítico...............................137
Gráfico 05: Gráfico com a Incidência dos Artefatos Líticos no Sítio..........................................140
Gráfico 06: Distribuição do Material Lítico com Marcas da Ação do
Fogo e sem Marca da Ação do Fogo..........................................................................143
Gráfico 07: Distribuição das Matérias-Primas com Marcas da Ação do Fogo............................144
Gráfico 08: Dispersão dos Seixos com Marcas da Ação do Fogo................................................144
Gráfico 09: Dispersão das Lascas e Núcleos por Matéria-Prima.................................................145
Gráfico 10: Incidência da Decoração Cerâmica por Sítio............................................................150
Gráfico 11: Distribuição das Bordas na Área do Sítio.................................................................152
Gráfico 12: Distribuição das Bases das Vasilhas Cerâmicas.......................................................152
Gráfico 13: Dispersão das Paredes das Vasilhas Cerâmicas........................................................153
Gráfico 14: Distribuição das Massas de Cerâmica.......................................................................153
Gráfico 15: Incidência das Formas por Fogueira/Fogo................................................................156
Gráfico 16: Vasilhas Cerâmicas que Apresentaram Interação entre
as Fogueiras (A, B, D)/Fogo (C)/Espaço Intermediário (I)/Espaço
Revolto (R). Formas Presentes no Espaço Intermediário e no Espaço Revolto.......157
Gráfico 17: Decoração dos Pratos por Fogueira/Fogo.................................................................158
Gráfico 18: Decoração das Tigelas por Fogueira/Fogo................................................................159
Gráfico 19: Decoração das Panelas por Fogueira/Fogo...............................................................159
Gráfico 20: Decoração das Panelas Grandes por Fogueira/Fogo.................................................160
11
Gráfico 21: Decoração dos Recipientes Pequenos por Fogueira/Fogo........................................161
Gráfico 22: Decoração das Vasilhas que Apresentaram Interação
entre as Fogueiras/Fogo............................................................................................161
Gráfico 23: Incidência da Decoração Cerâmica das Formas
Reconstituídas por Fogueira/Fogo............................................................................163
12
LISTA DE MAPAS
Mapa 01: Direções Hipotéticas das Áreas de Colonização dos
Portadores da Tradição Tupiguarani................................................................................27
Mapa 02: Mapa com a Localização dos Municípios
onde Insere-se a Área de Estudo.....................................................................................46
Mapa 03: Mapa com a Inserção da Bacia do Rio Taquari Antas no RS.....................................47
Mapa 04: Mapa com as Altitudes do Estado do Rio Grande do Sul..............................................48
Mapa 05: Mapas com as Variações de Temperatura nas Quatro Estações....................................53
Mapa 06: Mapa com a Média Anual de Precipitação no Rio Grande do Sul.................................54
Mapa 07: Mapa com as Unidades de Vegetação do Rio Grande do Sul (RADAM)......................57
Mapa 08: Mapa com a Localização dos Sítios e a Identificação das Áreas...................................65
Mapa 09: Mapa com os Prováveis Deslocamentos dos Portadores
da Tradição Tupiguarani na Área de Estudo................................................................116
Mapa 10: Mapa com os Prováveis Deslocamentos do Grupo a Partir
da Decoração Cerâmica Presente nos Sítios.................................................................151
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 01: Classificação das Dimensões dos Sítios Associados à Tradição Tupiguarani............32
Quadro 02: Periodização dos Sítios Arqueológicos Associados à Tradição Tupiguarani..............33
Quadro 03: Variações Climáticas Ocorridas no Atual Estado do Rio Grande do Sul....................44
Quadro 04: Quadro Comparando as Aproximações Demográficas do Sítio Candelária I
a partir das Fórmulas de Caselbery e Cook..............................................................123
Quadro 05 Número de Recipientes por Fogueira/Fogo.............................................................164
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Tabela Relacionando as Características dos Sítios,
a Quantidade e a Altitude............................................................................................108
Tabela 02: Tabela com a Incidência dos Tipos de Decoração por Área......................................109
Tabela 03: Tabela Comparando os Padrões de Decoração do
Vale do Jacuí e Pardo com a Área de Estudo..............................................................109
Tabela 04: Exemplo de Tabela Utilizada na Catalogação e
Classificação do Material Cerâmico...........................................................................135
Tabela 05: Exemplo de Tabela Utilizada na Catalogação e
Classificação do Material Lítico..................................................................................136
Tabela 06: Tabela Associando Artefato x Matéria-Prima x Marca de Ação do Fogo.................138
Tabela 07: Tabela Comparando a Incidência das Formas no Vale do Rio Jacuí e Pardo............146
Tabela 08: Tabela Comparando a Decoração dos Sítios do Vale do
Jacuí e Pardo com o Antas..........................................................................................148
Tabela 09: Tabela Comparando as Porcentagens de Decoração
dos Sítios da Área de Estudo.......................................................................................149
15
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................18
1 HISTÓRICO DA PESQUISA, OBJETIVOS, FONTES E METODOLOGIA...................21
1.1 A Pesquisa Arqueológica no Brasil..........................................................................................21
1.2 A Tradição Tupiguarani............................................................................................................24
1.3 Características dos Sítios Arqueológicos Associados à Tradição Tupiguarani........................32
1.4 Histórico da Pesquisa no Médio Rio das Antas........................................................................36
1.5 Objetivos...................................................................................................................................39
1.6 As Fontes..................................................................................................................................39
1.7 Metodologia..............................................................................................................................40
2 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE.....................................................................44
2.1 A Área de Estudo......................................................................................................................46
2.2 A Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas...................................................................................47
2.3 Dados Geológicos.....................................................................................................................49
2.4 Os Solos....................................................................................................................................50
2.5 O Clima.....................................................................................................................................53
2.6 AVegetação..............................................................................................................................56
2.7 A Fauna.....................................................................................................................................58
2.8 Potencial Agrícola....................................................................................................................60
3 OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E A INSERÇÃO NO AMBIENTE.................................64
3.1 Caracterização da Área A......................................................................................................66
3.1.1 Sítios Isolados........................................................................................................................67
3.1.2 Sítios Dispostos em Duplas...................................................................................................69
3.2 Caracterização da Área B......................................................................................................70
3.2.1 Sítios Isolados........................................................................................................................71
3.2.2 Sítios Dispostos em Duplas...................................................................................................73
3.2.3 Sítios Escalonados.................................................................................................................74
3.2.4 Sítios em Grupo.....................................................................................................................75
16
3.3 Caracterização da Área C......................................................................................................81
3.3.1 Sítios Isolados........................................................................................................................82
3.3.2 Sítios Escalonados.................................................................................................................83
3.3.3 Sítios Dispostos em Duplas...................................................................................................84
3.4 Caracterização daÁrea D......................................................................................................86
3.4.1 Sítios Isolados........................................................................................................................87
3.4.2 Sítios Dispostos em Duplas...................................................................................................90
3.4.3 Sítios Escalonados.................................................................................................................91
3.5 Caracterização da Área E......................................................................................................92
3.5.1 Sítios Isolados........................................................................................................................93
3.5.2 Sítios Escalonados.................................................................................................................95
3.6 Caracterização da Área F......................................................................................................97
3.6.1 Sítios Isolados........................................................................................................................98
3.6.2 Sítios em Grupo.....................................................................................................................99
3.7 Caracterização da Área G...................................................................................................102
3.7.1 Sítios Isolados......................................................................................................................103
3.8 O Sistema de Assentamento dos Portadores da Tradição Tupiguarani
no Vale do Médio Rio das Antas...............................................................................................103
3.8.1 Características Gerais dos Sítios Arqueológicos.................................................................105
3.8.2 A Ocupação da Tradição Tupiguarani na Área
de Estudo: cronologia, função e território...........................................................................113
3.8.3 Função dos Assentamentos.................................................................................................117
3.8.4 O território...........................................................................................................................118
4 O SÍTIO FAVARETTO ESCAVAÇÃO...............................................................................120
4.1 Antecedentes.........................................................................................................................120
4.1.1 Candelária I..........................................................................................................................120
4.1.2 Candelária II........................................................................................................................123
4.1.3Wilmuth Röpke.....................................................................................................................125
4.1.4 Fazenda Soares....................................................................................................................127
4.1.5 Balneário Quintão................................................................................................................128
4.2 O Trabalho de Campo e de Laboratório............................................................................129
4.2.1 O trabalho de Campo...........................................................................................................131
4.2.2 O trabalho de Laboratório....................................................................................................135
4.2.3 O Material Lítico.................................................................................................................137
4.2.3.1 Marcas da ação do fogo....................................................................................................140
4.2.3.2 Marcas de uso...................................................................................................................141
17
4.2.3.3 Localização das matérias-primas x artefatos líticos
no espaço habitacional......................................................................................................142
4.2.4 O Material Cerâmico...........................................................................................................146
4.2.4.1 Distribuição dos Vestígios Cerâmicos no Espaço Habitacional.......................................151
4.2.4.2 O Conjunto de Vasilhas por Fogueira..............................................................................155
4.3 Aproximação Demográfica..................................................................................................164
4.4 Inserção do Sítio no Ambiente.............................................................................................165
4.5 O Funcionamento do Espaço Habitacional........................................................................168
5 CONCLUSÃO..........................................................................................................................171
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................175
APÊNDICE A Banco de Dados com Informações Sobre as
Vasilhas Reconstituídas....................................................................................178
APÊNDICE B Exemplos de Vasilhas Reconstituídas a Partir dos
Conjuntos Cerâmicos Reconstituídos em Laboratório ....................................182
APÊNDICE C Amostras da Decoração Cerâmica Presente no Sítio.......................................186
APÊNDICE D Amostras de Outros Materiais Cerâmicos.......................................................187
APÊNDICE E Amostra do Material Lítico..............................................................................188
APÊNDICE F Conjuntos de Vasilhas Representadas em Desenho.........................................189
18
APRESENTAÇÃO
No presente estudo apresentamos a interpretação de parte dos dados arqueológicos
obtidos na área de instalação da UHE 14 de Julho, no Complexo Energético Rio Das Antas
(CERAN). A área situa-se junto ao rio das Antas, correspondendo a parte dos municípios de
Bento Gonçalves, Veranópolis e Cotiporã, RS, região que recebe a denominação de Serra
Gaúcha.
Os dados correspondem aos sítios arqueológicos registrados no Relatório Final do
Programa de Salvamento do Patrimônio Arqueológico no Complexo Energético Rio das Antas,
RS, Brasil (Portaria IPHAN N° 157, de 20 de agosto de 2002 e Portaria IPHAN N° 220, de 17 de
setembro de 2004) e os dados obtidos no trabalho de escavação do sítio Favaretto Escavação.
A área de estudo se mostrava praticamente desconhecida no que tange a ocupação pré-
colonial, contando apenas com referências esparsas. Nesse sentido, o trabalho do Programa de
Arqueologia realizado pelo Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade de
Santa Cruz do Sul trouxe informações inéditas, implementando os trabalhos de interpretação e
contribuindo para o entendimento da ocupação da área no período anterior à chegada do elemento
europeu.
De forma geral, os dados mostraram características distintas. O Relatório Final, com
informações mais gerais sobre os sítios e a escavação do sítio Favaretto Escavação, com uma
referência mais pontual sobre a ocupação da área, compondo dessa forma duas frentes de estudo.
Nesse sentido, conseguimos vislumbrar o povoamento da área a partir de uma perspectiva
diacrônica, representada pela variedade dos sítios dentro de um período mais amplo de ocupação
e sincrônica, através do estudo de um sítio bem conservado, correspondente a uma unidade
habitacional.
Sendo assim, a contribuição do estudo centra-se principalmente no entendimento do
povoamento da área e, no contexto mais amplo, do sistema de assentamento dos portadores da
19
tradição Tupiguarani. Dessa forma, buscamos entender, através do estudo dos vestígios
arqueológicos, o comportamento das populações pré-históricas em uma área com recursos
limitados, tendo como elemento comparativo, às várzeas dos grandes rios (Jacuí, Taquari, Pardo).
De forma simplificada, o problema que abordamos corresponde a quando e como os
portadores da tradição Tupiguarani ocuparam a área. No início do Programa de Arqueologia
desenvolvido pelo CEPA-UNISC, as expectativas apontavam para uma ocupação eventual, sendo
que a partir dos trabalhos de campo, a realidade foi se mostrando diferenciada. A área que parecia
ter recebido incursões eventuais ou correspondendo a um período histórico, passou a apresentar
um número considerável de sítios arqueológicos, indicando uma ocupação mais estável.
Nesse sentido, organizamos o trabalho de forma a contemplar aspectos mais gerais, como
as características da pesquisa desenvolvida na área (arqueologia de contrato), a ocupação da área
pelas populações pré-históricas, com destaque ao período e às características. E aspectos mais
específicos, como o funcionamento de uma unidade habitacional, o tempo de permanência no
local, o número de pessoas, a utilização dos recursos disponíveis, acrescentando novas
referências no estudo da tradição Tupiguarani.
No primeiro capítulo apresentamos o histórico da pesquisa, buscando caracterizar a
pesquisa arqueológica desenvolvida no Brasil e no Rio Grande do Sul, com destaque à
caracterização da tradição Tupiguarani e aos modelos de ocupação, além da caracterização dos
sítios. Apresentamos também um breve inventário dos resultados das pesquisas realizadas na
região na qual se insere nossa área de estudo. A partir dessas referências, destacamos os objetivos
e a metodologia que utilizamos no desenvolvimento do estudo.
No capítulo 2 buscamos caracterizar o ambiente da área, tendo por objetivo comparar com
outras áreas ocupadas pela tradição Tupiguarani, além de fornecer subsídios para a interpretação
do contexto arqueológico, tanto no que diz respeito à distribuição dos sítios, às matérias-primas
disponíveis, às possibilidades de plantio na área, como os recursos utilizados na unidade
habitacional estudada.
20
No capítulo 3 apresentamos a caracterização dos sítios da área, sua relação com o
ambiente, buscando uma periodização para a ocupação da tradição Tupiguarani, com destaque à
cronologia, à função dos assentamentos e ao território ocupado pelo grupo (ou grupos).
No capítulo 4 apresentamos os antecedentes dos sítios escavados associados à tradição
Tupiguarani no RS, tendo em vista a comparação com o Sítio Favaretto Escavação. Além disso,
expomos a caracterização dos materiais presentes na habitação e sua distribuição, na tentativa de
caracterizar o funcionamento da habitação, expresso no número de fogueiras, os materiais
associados a elas, a presença de espaços intermediários, entre outros aspectos.
Por fim, apresentamos as conclusões que conseguimos estabelecer a partir da
interpretação dos dados de que dispúnhamos, sintetizando a ocupação da área pelas populações
portadoras da tradição Tupiguarani a partir da máxima: avançar, adaptar e permanecer, sendo
que o termo avançar corresponde à expansão das populações portadoras da tradição Tupiguarani,
às áreas limítrofes, em um período tardio (A.D. 1300-1500); o termo adaptar corresponde às
modificações verificadas nos padrões característicos da tradição Tupiguarani e o termo
permanecer corresponde à lógica de ocupação da área, mais estável, sendo que o grupo
permaneceu em uma área específica.
21
1 HISTÓRICO DA PESQUISA, OBJETIVOS, FONTES E METODOLOGIA
1.1 A Pesquisa Arqueológica no Brasil
1
A primeira fase da pesquisa sobre os primitivos habitantes do Continente Americano está
marcada pela visão dos cronistas, que registraram através de textos e imagens as primeiras
impressões sobre estes povos. Estas descrições que, num primeiro momento, se mostraram
eventuais e esparsas, a partir do século XIX, ganharam novo fôlego com o trabalho dos
naturalistas, que passaram a registrar as informações de forma mais sistemática. Dentre eles
podemos citar Lund, Saint-Hilaire, Martius, entres outros.
O trabalho dos naturalistas atendia aos mais diferentes interesses, inclusive estatais, mas
não apresentava uma preocupação exclusiva com o registro dos vestígios arqueológicos, o que
não impediu o registro de tais ocorrências, permitindo que num segundo momento, estas
referências servissem de apoio para a implementação de novas pesquisas. Como exemplo,
citamos o caso de Lund com os estudos de ossadas humanas associada a animais extintos nas
Cavernas de Lagoa Santa, Minas Gerais.
Assim, as primeiras discussões giraram em torno da existência ou não de sítios
arqueológicos que remeteriam a ocupação do continente americano a um período remoto
(trabalhos de Lund a partir de 1834) e também a origem artificial dos sambaquis, sendo que no ...
final do século XIX, foram realizadas as primeiras escavações arqueológicas nos sambaquis de
Santa Catarina, por Von den Steinen, e em sítios do Amapá, por Emílio Goeldi.(PROUS, 2006,
p.10).
1
Para apresentar um breve histórico da Pesquisa Arqueológica no Brasil, consultamos as sínteses de Prous (1992;
2006), Funari (2006), entre outras.
22
Podemos destacar também as missões estrangeiras, como os Emperaire (entre outros), que
escavaram sambaquis em São Paulo e Paraná (1954-1956), realizando as primeiras datações com
C14 no Brasil.
Foi preciso esperar até a segunda metade do século XX para que a arqueologia se
implantasse no Brasil, primeiramente sob orientação de pesquisadores franceses e norte-
americanos (durante os anos 1950 e 1960), e, a seguir, com programas independentes
realizados pelos pioneiros formados por esses mestres estrangeiros. (PROUS, 2006, p.
10)
Sendo assim, consolidaram-se duas correntes: a norte-americana interessada na
dispersão dos sítios e rotas de migração e a francesa mais interessada na espacialidade dos
assentamentos.
A partir dos anos 1960, o PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisa Arqueológica),
buscou sistematizar as informações disponíveis, bem como ampliar a área estudada, já que boa
parte do Brasil ainda carecia de informações, compondo assim, o primeiro esboço da pré-história
do Brasil. Nesse trabalho, privilegiou-se o estudo da dispersão dos grupos pré-históricos,
resultando no estabelecimento de diversas tradições e fases arqueológicas. Com o PRONAPA
tivemos também as primeiras iniciativas de padronização metodológica e técnica no Brasil.
Nos anos 1980, observamos um aumento no número de pesquisadores, além da criação
da SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira). Atualmente a Arqueologia é desenvolvida como
atividade de pós-graduação, em geral associada à História, à Antropologia ou outra área afim.
Basicamente apresenta-se em duas áreas: Arqueologia Pré-Histórica e Arqueologia Histórica.
Podemos destacar também o interesse no que tange ao patrimônio, a educação, a pesquisa, entre
outros aspectos.
Dentre os instrumentos legais de preservação e estímulo à pesquisa arqueológica merece
destaque:
- A Lei 3.294, de 1961, que delega ao Poder Público, a guarda e proteção dos
monumentos arqueológicos, bem como regimenta os procedimentos para escavações e demais
diretrizes para gestão do patrimônio arqueológico.
23
- A resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) nº 001 de 1988,
relacionada ao controle de implantação de empreendimentos de grande porte que colocam em
risco a integridade do patrimônio cultural, tornando obrigatório o estudo dos vestígios
arqueológicos em áreas a serem impactadas. A referida resolução implementou o
desenvolvimento da Arqueologia de Contrato em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, no
período de 1995 a 1998 (DIAS, 2001, p. 91) observamos um crescimento na atividade de
pesquisa arqueológica associada à instalação de empreendimentos, tendo seqüência até o
presente.
Nesse sentido, a Arqueologia de Contrato vem despontando como uma realidade de boa
parte da pesquisa arqueológica desenvolvida atualmente no país, onde a partir de projetos de
acompanhamento e salvamento arqueológico em rodovias, linhas de transmissão, barragens, entre
outras, novas áreas são estudadas e/ou revisitadas.
Os trabalhos de Arqueologia de Contrato não estão restritos somente às atividades de
empresas particulares. Muitos centros de pesquisa ligados a universidades realizam atividades
dessa natureza, em muitos casos, como alternativa para a manutenção dos centros, visto que os
recursos disponíveis para a pesquisa arqueológica (Ciências Humanas) são escassos, bem como
boa parte das universidades e faculdades direcionam seus cabedais para outras áreas do
conhecimento, principalmente em função do mercado.
Quanto à metodologia (critérios) aplicada nos trabalhos, percebemos que há certa
heterogeneidade nos procedimentos, sendo que talvez estejamos distantes de um consenso.
Também, a publicação sobre tais trabalhos apresenta-se pouco expressiva, boa parte dos trabalhos
é publicada na forma de resumos e comunicações em eventos, além do relatório encaminhado ao
IPHAN.
Logicamente, devemos enfatizar que o fluxo de publicações muitas vezes não depende
unicamente da boa vontade dos pesquisadores, que além dos trabalhos de Arqueologia de
Contrato (Pesquisa) são responsáveis por ministrar uma série de disciplinas em suas respectivas
universidades. Todavia, são questões que não pretendemos aprofundar nesse trabalho.
24
1.2 A Tradição Tupiguarani
A lista de arqueólogos que estudaram a cerâmica Guarani começou com Ihering, no
Brasil em 1879, e com Ameghino em 1880 na Argentina, e é continuada posteriormente
por tantos estudiosos e pesquisadores que não pode ser detalhada aqui, ...
(BROCHADO, 1989, p. 163)
Por tratar-se de um trabalho eminentemente arqueológico, ou que usa como principal
fonte os vestígios arqueológicos, vamos utilizar a denominação tradição Tupiguarani para definir
os vestígios materiais associados, em grande parte, a populações da família lingüística Tupi-
Guarani. Denominação esta (Tradição Tupiguarani) utilizada pelo PRONAPA para diferenciar os
dados arqueológicos dos lingüísticos.
Conforme Brochado (1973a, p. 8), a cerâmica associada à tradição Tupiguarani é
elaborada a partir da confecção de roletes dispostos em forma espiral, apresentando queima
incompleta, sendo que a técnica de tratamento de superfície pode ser simples, com decoração
plástica ou com decoração pintada.
Los grupos indígenas históricamente conocidos, poseedores de esta tradición, eran
portadores de una cultura tipo amazónica o de Floresta Tropical (Lowie, 1948; Steward,
1949). Eran horticultores de coivara, esto es, praticaban la roza, plantando maíz,
mandioca, tubérculos y raíces, tabaco y algodón, y su ambiente óptimo era la selva
tropical y subtropical húmeda. Vivían en aldeas compuestas de casas grandes
comunales, utilizaban la red para dormir y navegaban en canoas de corteza o troncos de
árbol. Sus armas: maza, arco y flecha, eran de madera. Frecuentemente enterraban los
muertos en urnas. (BROCHADO, 1973a, p. 9)
O mesmo autor destaca a existência de três subtradições no que tange a evolução da
tradição ceramista Tupiguarani: a pintada, mais antiga; a corrugada, intermediária; e a escovada
mais recente.
Partimos do pressuposto de que esta denominação é aceita pela quase totalidade dos
pesquisadores do Brasil e da América do Sul, estando consolidado o uso do termo. Não negamos
a relação dessas populações pré-históricas com seus representantes históricos os Guarani ou
Tupis (entre outros nomes), termos utilizados por uma série de pesquisadores. As línguas tupi,
localizadas geograficamente ao norte do estado de São Paulo e as línguas guarani, ao sul do rio
Paranapanema, corresponderiam a uma subtradição Tupinambá e uma subtradição Guarani. No
entanto, devemos destacar que estas referências estão diretamente relacionadas a populações
conhecidas somente através da arqueologia.
25
Reconhecendo a diferença entre os vestígios arqueológicos das duas regiões, Prous
(2006, p.97) sugere o uso do termo Prototupi e Protoguarani, visto que o termo Tupinambá está
associado a uma tribo específica.
Já Rogge (2004, p. 68-9) referindo-se às subtradições (Pintada, Corrugada e Escovada)
estabelecidas por Brochado a partir de seriações destaca que,
...ficou muito claramente perceptível uma certa diferença na distribuição espacial dessas
subtradições, especialmente das duas primeiras: a Pintada é mais recorrente desde o
Estado de São Paulo para o Norte, principalmente nas áreas litorâneas das regiões
Sudeste e Nordeste, com extensões para o interior até alto rio Araguaia; a Corrugada é
mais recorrente no sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná e Mato Grosso do Sul), além dos países vizinhos como o Uruguai, partes da
Argentina ao longo dos rios Paraná, Uruguai e Prata e o leste do Paraguai; a Subtradição
Escovada possui uma distribuição muito mais restrita, ocorrendo principalmente no Rio
Grande do Sul, nas bacias do rio Uruguai e Jacuí, relacionada à área de estabelecimento
das Reduções Jesuíticas em tempos históricos.
Além do que a forma e função das vasilhas cerâmicas apresentam diferenças marcantes,
principalmente entre a subtradição Pindada e subtradição Corrugada. Merece destaque o fato de
que as duas subtradições ocupam ambientes ecológicos distintos, sendo que esta diferença pode
refletir uma base econômica diferenciada. (ROGGE, 2004)
De forma geral os vestígios associados à tradição Tupiguarani ocorrem desde o Rio da
Prata e Missões, ao Sul, até o Nordeste do Brasil, inclusive com algumas ocorrências pouco
conhecidas no sul da Amazônia. No litoral temos registros desde o Rio Grande do Sul até o
Maranhão, e, em outros países como o Paraguai e terras baixas da Bolívia (PROUS, 2006).
No Rio Grande do Sul, a maioria dos trabalhos sobre a tradição Tupiguarani, está
associado à dispersão dos sítios arqueológicos e sua relação com os fatores ambientais,
geográficos e temporais. Sendo os trabalhos relacionados à distribuição dos vestígios
arqueológicos dentro das aldeias ou habitações ainda restritos, visto que poucos sítios foram
totalmente escavados. No decorrer do trabalho trataremos especificamente desses casos.
De forma geral, os trabalhos relacionam a ocupação dessas populações horticultoras a
áreas de Floresta Úmida desde os tempos mais antigos, sendo que em períodos mais recentes
26
avançou em áreas com vegetação e clima menos favoráveis, no entanto, percebe-se a busca por
áreas apropriadas para a agricultura de coivara.
A partir do estudo de mais de 50 sítios datados, a maioria por C14, Brochado (1973a,
p.16-7) destaca a existência de duas grandes ondas migratórias da tradição Tupiguarani. Sendo
que a primeira teve origem no Alto Rio Paraná, com data de A.D. 500-700, que corresponderia à
subtradição Pintada e a segunda no Alto Rio Uruguai, com data de A.D. 1300, seguindo em
direção as Bacias dos rios Paraná-Paraguai e Uruguai, chegando até o rio da Prata, que
corresponderia à subtradição Corrugada.
Quanto à origem dessas populações, consolidaram-se basicamente dois modelo s: o
proposto por Meggers e o proposto por Lathrap. Meggers elabora um modelo de dispersão a
partir de dados arqueológicos, páleo-ambientais e de estudos de distribuição lingüística.
As rotas principais das migrações proto-Tupi seriam, partindo de uma área core no Alto
Guaporé: uma onda migratória descendo este rio e outros afluentes do Amazonas até seu
médio e baixo curso; em direção sul, outras ondas alcançando o Alto Paraguai, descendo
rio abaixo até o Alto Paraná e daí subdividindo-se para leste até atingir a costa atlântica,
subindo posteriormente para o norte e, para o sul, passando do Rio Paraná aos Rios
Uruguai, Jacuí, Prata e litoral contíguo. (ROGGE, 1996, p. 20).
No modelo de Meggers os fatores que motivaram essas migrações estariam associados a
mudanças climáticas muito intensas, resultando na redução de áreas florestadas, levando
conseqüentemente a busca de novas terras.
Lathrap elabora seu modelo de povoamento para o Leste da América do Sul a partir da
reinterpretação de dados arqueológicos fornecidos por Hilbert. Para Lathrap houve a saída de
séries sucessivas de migrações de uma área entre o Médio e o Baixo Amazonas (ROGGE, 1996,
p. 23), sendo que estas culturas foram geradas neste local.
Rogge (2004, p.74) apresenta o mapa com os desdobramentos da rota migratória no Rio
Grande do Sul, sendo que na região próxima a nossa área de estudo temos datas de c. A. D. 1000
-1200 até o século XVII, sendo que podemos acrescentar a data do sítio Favaretto escavação
1470 A.D., estando perfeitamente encaixada na seqüência, no entanto avançando a ocupação
alguns quilômetros, até a altura do médio Antas, representado pelo ponto vermelho no mapa.
27
Mapa 01: Direções Hipotéticas das Áreas de Colonização dos Portadores da Tradição
Tupiguarani
Fonte: Adaptado de Rogge (2004)
Boa parte das referências sobre a ocupação da tradição Tupiguarani no Rio Grande do
Sul foram conseguidas através da metodologia utilizada pelo Pronapa. Trabalhos direcionados
para os grandes rios (Jacuí e Uruguai, por exemplo), com destaque a busca por rotas de migração
e comunicação.
Nos trabalhos de campo, ênfase na delimitação dos sítios, na coleta de amostras
sistemáticas de cerâmica em espaços delimitados ou nas manchas de terra escura, na busca pelo
mero mínimo de 100 fragmentos para cada amostra (aplicação do método Ford). Realização de
cortes estratigráficos em níveis artificiais buscando a identificação de tendências de atributos de
cerâmica (decoração) e na coleta de material para datação C
14
.
28
A aplicação desta metodologia permitiu o desenvolvimento da pesquisa sobre o
povoamento do Rio Grande do Sul a partir dos primeiros registros, com ênfase à busca por
solucionar os problemas que foram surgindo a partir das primeiras interpretações
2
. Nesse sentido,
a metodologia usada no Pronapa foi o primeiro passo para a implementação das pesquisas.
Vários pesquisadores contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa, agregando
novos dados, testando hipóteses, apresentando problemas, indicando caminhos para os próximos
trabalhos.
Destacamos os primeiros trabalhos ligados ao Pronapa (BROCHADO, 1969), entre
outros, que levantaram as primeiras referências sobre a tradição Tupiguarani no Vale do Jacuí e
posteriormente os trabalhos sobre as migrações dos portadores da tradição Tupiguarani
(BROCHADO, 1973a e 1973b) que apresentou a primeira síntese sobre a tradição Tupiguarani.
Por sua vez, Ribeiro (1991) na tese de doutorado Arqueologia no Vale do Rio Pardo,
Rio Grande do Sul, Brasil, apresenta o estudo de todos os sítios arqueológicos e vestígios neles
encontrados (na referida época), englobando o período de 3.000 A. P. até mais ou menos 100
anos atrás. O objetivo principal foi elaborar uma síntese sobre as várias culturas, com ênfase às
suas respectivas formas de explorar e se adaptar a um ambiente específico, sincrônica e
diacronicamente. A base do trabalho centrou-se no estudo exaustivo do ambiente e sua relação
com as diversas populações que ocuparam o vale.
Já Noelli (1993) apresenta um modelo etnoarqueológico da aldeia e da subsistência para
os portadores da tradição Tupiguarani baseada em um amplo estudo bibliográfico, destacando as
áreas de captação de recursos, a espacialidade das habitações/assentamento, entre outras
referências.
Pela primeira vez no Rio Grande do Sul, Schmitz e outros (1990) apresentam o estudo
de três núcleos de antigas habitações de uma aldeia da tradição Tupiguarani (sítio Candelária I
2
Um exemplo claro desses avanços encontra-se na introdução do trabalho Sítios Arqueológicos do Médio Jacuí, RS
(SCHMITZ; ROGGE; ARNT, 2000), onde os referidos autores apresentam as diversas etapas e a evolução da
pesquisa no vale.
29
ver capítulo 4), apresentando dados relevantes sobre a distribuição dos elementos materiais
dentro da habitação e o funcionamento de um espaço habitacional.
O trabalho de Rogge (1996) Adaptação na Floresta Subtropical: A Tradição
Tupiguarani no Médio Jacuí e no Rio Pardo, estuda a instalação das populações portadoras da
Tradição Tupiguarani nas áreas de mata subtropical (vale do Jacuí como modelo de ocupação
para os vales subtropicais) e a forma que se apropriaram de determinados recursos oferecidos
pelo ambiente, com destaque à questão adaptativa.
Por fim, Klamt (2005) apresenta a movimentação de uma aldeia no vale do Jacuí e a sua
relação com o ambiente, além do registro de uma área de enterramento (cemitério). Trabalho que
veio complementar as diversas sínteses sobre a tradição Tupiguarani, principalmente pela
elaboração do padrão de vasilhas e de decoração cerâmica nos vale dos rios Jacuí e Pardo.
Sendo assim, observamos que os primeiros trabalhos buscavam a localização, a
dispersão e a cronologia dos sítios arqueológicos utilizando principalmente os conceitos de
Tradição, Subtradição, Fase, que se mantêm até o presente, embora novas abordagens foram
incorporadas.
Nesse sentido, o conceito de padrão de assentamento buscando referências sobre
inserção do homem na paisagem e de forma mais complexa o conceito de sistema de
assentamento, buscando o entendimento das inter-relações principalmente, a partir do aspecto
funcional das unidades que compõe o conjunto, alavancaram o estudo sobre os portadores da
tradição Tupiguarani. Da mesma forma o conceito de tradição passou de uma referência a
fenômenos com persistência no tempo, para uma definição mais abrangente, sendo que
Uma tradição mantém com uma fase o mesmo tipo de relacionamento que um gênero
biológico possui com uma espécie. Uma tradição compreende um número variável de
fases que compartilham um conjunto de atributos na cerâmica, artefatos líticos, padrões
de assentamento, subsistência, ritual e demais aspectos da cultura; (MEGGERS;
EVANS, 1985)
Tais abordagens contribuíram relevantemente para o entendimento do povoamento do
Rio Grande do Sul pelas populações pré-históricas, compondo modelos de ocupação. Dentre
esses modelos, destacamos o proposto por Schmitz e outros (1980) indicando que os terraços
próximos ao rio eram os locais preferenciais para a instalação da aldeia, sendo que as terras da
várzea e das encostas menos inclinadas eram utilizadas para as roças. A aldeia era instalada
30
preferencialmente nas proximidades de uma corredeira, próximo a desembocadura de arroio,
sendo que nenhuma aldeia foi instalada nas encostas dos morros.
Schmitz (1991), Rogge (1996), Klamt (2005), apresentam em seus respectivos trabalhos
um modelo de expansão e movimentação de uma aldeia, baseado no domínio de um amplo
território, sendo que a partir do esgotamento dos recursos em um determinado local, uma nova
aldeia era reconstituída em uma área próxima, sendo que a distância permitia o retorno às antigas
roças.
Figura 01: Modelo de Movimentação de uma Aldeia Proposto por Schmitz
Fonte: Schmitz (1990, p.61)
No modelo de ocupação sugerido por Noelli (1999, p.300), o Tekohá tem seus limites bem
definidos e a sua sede (o assentamento) circula dentro deles, porque a ocupação territorial
Guarani é temporal e espacialmente contínua. Nesse sentido, o desdobramento de uma aldeia se
31
daria em função do crescimento populacional ou por dissidência interna, sendo que a nova aldeia
ocuparia uma área externa a área de exploração da primeira aldeia e a segunda se estabeleceria
em um novo território.
O referido autor sugere (com cautela) uma ocupação média (partindo do pressuposto que a
camada de ocupação média dos sítios estaria em torno de 10cm e cada centímetro correspondesse
a 10 anos) de 100 anos para cada sítio. Por outro lado, boa parte dos estudos indica uma
ocupação média de 6 anos.
Noelli (1999, p. 304) assinala que a primeira etapa da expansão das fronteiras seria a
guerra para a conquista territorial. Em um segundo momento a guerra se daria entre os grupos
Guarani, que disputariam ambientes com recursos importantes, visto que o processo de expansão
de fronteiras deixaria para trás os territórios colonizados com uma população estável com
condições de manter e manejar suas terras e desdobrar-se “enxameando” os tributários
menores,...
Figura 02: Modelo de Movimentação de uma Aldeia Proposto por Noelli
Fonte: Modificado de Noelli (1999, p. 300)
O modelo de Noelli (1993) ainda não foi testado especificamente com dados
arqueológicos, no entanto, Schmitz (na argüição da Banca de Mestrado) destacou que no trabalho
32
de Pestana (2007) na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, pela primeira vez
conseguiu visualizar o funcionamento de um Tekohá a partir dos dados arqueológicos.
De forma geral os modelos apresentam muitas semelhanças, no entanto, o estudo do
ambiente, dos recursos disponíveis, da tecnologia usada por essas populações, nos remete a
ocupação de uma área, de um território mais extenso, tendo em vista o modo de vida dessas
populações.
1.3 Características dos Sítios Arqueológicos Associados à Tradição Tupiguarani
Uma tradição cultural caracterizada principalmente por cerâmica policrômica (vermelho
e ou preto sobre engobo branco e ou vermelho), corrugada e escovada, por
enterramentos secundários em urnas, machados de pedra polida, e, pelo uso de tembetás.
(CHMYZ, 1976, p. 146).
De forma geral, os sítios apresentam espessura entre 15 e 30cm, podendo alcançar até
30 a 40cm, sendo que boa parte encontra-se em superfície. Os mais antigos associados à
subtradição Corrugada são mais extensos, principalmente os localizados no interior da Floresta
Úmida, sendo que os mais recentes passam a tamanhos médios e pequenos. Os encontrados nas
áreas limítrofes passam a apresentar dimensões reduzidas. Brochado apresenta a classificação dos
sítios a partir das dimensões e da cronologia.
Quadro 01: Classificação das Dimensões dos Sítios Associados à Tradição Tupiguarani
Classificação dos Sítios Área Exemplo
Muito Extensos De 20mil a 50mil m2 200x100m 500x100m
Extensos De 5mil a 20mil m2 100x50m 200x100m
Médios 1mil a 5mil m2 40x25m 100x50m
Pequenos Com menos de 1mil m2 10x10m 35x20m
Fonte: Brochado (1973b, p. 34)
33
Quadro 02: Periodização dos Sítios Arqueológicos Associados à Tradição Tupiguarani
Período Data
Início da Tradição 0 A.D. 500
Período Antigo A.D. 500-900
Período Médio A.D. 900-1300
Período Tardio A.D. 1300-1500
Período Colonial A.D. 1800-1900
Período Atual A.D. 1800-1900 (atual)
Fonte: Brochado, (1973a, p. 31)
A quase totalidade dos sítios arqueológicos registrados associados à tradição
Tupiguarani apresentou-se em superfície, sendo que a quantidade cerâmica apresenta relação
direta com a dimensão dos sítios: sítios extensos, grande quantidade de cerâmica em superfície.
Quanto ao ambiente preferencial de instalação dos assentamentos dos portadores da
tradição Tupiguarani Brochado (1973b) destaca.
En resumen, se puede decir que los Tupiguaraní ocuparon zonas climáticas com medias
mínimas que pueden llegar desde entre 10-14ºC hasta 24-26ºC. Con todo, la mayor
densidad de sus sitios se concentra en zonas con medias mínimas entre 10-21ºC; donde
las medianas más comunes se hallan entre 14-19º C, o sea, medianas más bajas que 12-
13º C. De esta manera se advierte que ellos presentaron una adaptación progressiva
también al frio, pues solamente en el período tardio se asentaron en zonas con las medias
mínimas limites arriba expresadas. (BROCHADO, 1973b, p. 47)
Conforme Schmitz (1991, p. 38), no Rio Grande do Sul, as primeiras aldeias situavam-se
a noroeste do Estado, eram poucas, espalhadas e afastadas do rio Uruguai, abrigando uma
população reduzida, datam mais ou menos do início da era Cristã. Situavam-se nas áreas limite
entre o mato e o campo.
Quanto à cerâmica apresentavam recipientes fundos e conformados como os da
subtradição Corrugada, no entanto, eram pintados como os da Subtradição Pintada, sendo que as
decorações corrugadas eram praticamente ausentes. Em torno de 700 e 800 d.C., percebe-se que a
subtradição Corrugada já está estabelecida plenamente no Alto Uruguai e Médio Jacuí, já
sinalizando a busca por outras matas para cultivar. (Schmitz, 1991, p.38)
34
Na medida em que a subtradição [corrugada] se consolida, há uma grande expansão
colonizadora, em decorrência de considerável aumento demográfico. Entre os séculos IX
e X começamos a perceber núcleos em todos os vales cobertos de matas e ao longo das
lagoas do litoral. (SCHMITZ, 1991, p. 38)
Nesse sentido Rogge (2005, p. 93-4) assinala que por volta de AD 800/1000,
todas as áreas mais adequadas para a aplicação do modelo socieconômico característico
daquelas populações já haviam sido ocupadas, sem que houvesse ainda a necessidade de
incorporar áreas ecologicamente distintas, cuja maior parte estava sob domínio territorial
de outros grupos, como aqueles relacionados às tradições Taquara e Vieira.
A partir desse momento, provavelmente, essas populações partem para a ocupação de
áreas menos favoráveis, que em regra apresentam um rendimento agrícola baixo; seja pelas
características do solo, seja pela limitação espacial.
O Vale do Rio das Antas enquadra-se nesse modelo, não permitindo o desenvolvimento
de uma população muito densa, e, conseqüentemente, no registro arqueológico não aparecem
referências que permitem associar esses assentamentos às grandes aldeias, seja pelas dimensões
das vasilhas, seja pela dimensão dos sítios e as respectivas quantidades de vestígios.
Na mesma linha de pensamento, Schmitz (1991, p. 41) destaca que as aldeias das
várzeas não apresentavam problemas quanto ao abastecimento, visto que a oferta de matéria-
prima e alimentos não comprometia de forma alguma a sobrevivência do grupo. Já nas áreas de
encosta, havia certa dificuldade para acessar certos bens e esgotados os recursos em determinada
área, a aldeia era reconstituída em local com qualidades semelhantes, dentro de um espaço de
alguns quilômetros.
Por sua vez, Klamt (2005) comparando os sítios das fases Vacacaí, Toropi, Guaratã, a
Aldeia Candelária e o conjunto de sítios por ele estudado no Médio Jacuí, indica que
... onde há várzeas mais largas, coxilhas ou encostas planas, as aldeias formam
aglomerados de duas ou mais casas, umas próximas das outras, afastadas não mais do
que 50,0 metros. Na medida em que se sobe pelo rio, onde as várzeas vão ficando cada
vez mais estreitas e as encostas cada vez mais íngremes, esse padrão não se repete.
Nesse caso, o que acontece são aglomerados nas proximidades da confluência de
afluentes com o rio Jacuí, estando as casas localizadas em seqüência sobre pequenas
elevações paralelas ao rio, e um pouco mais afastadas umas das outras. É um padrão que
se repete em todos os locais onde existe a desembocadura de afluente no rio principal. O
que também se repete são as corredeiras e os depósitos de matéria-prima lítica nas
proximidades dos sítios. (KLAMT, 2005, p. 124)
35
Devemos destacar também a questão dos enterramentos. Conforme Klamt (2005) se
davam fora da área de habitação, mantendo o mesmo padrão locacional dos demais sítios, ou
seja, em diques paralelos e próximos ao rio. No trabalho de Klamt, não foi possível determinar a
qual sítio ou qual conjunto de sítios pertenceriam os enterramentos, mas nos deixa um fator
importantíssimo a considerar: nem todos os sítios correspondem a habitações.
Em um estudo comparativo, Klamt (2005), estabelece o padrão de decoração e o padrão
das vasilhas dos sítios do Jacuí e Candelária. O padrão de decoração apresenta uma variação
média de 5 pontos percentuais, ficando em média: 60% de corrugado + corrugado-ungulado, 30%
de simples + pintada e as demais decorações em torno de 5%.
Quanto ao padrão das vasilhas temos a seguinte situação: 55 a 60% de tigelas, 35 a 40%
de panelas e pratos entre 2 a 6% do total de vasilhas. No caso do diâmetro de boca temos medidas
que vão desde 2 a 42 cm nas tigelas, 12 a 42cm nas panelas e 2 a 30cm entre os pratos. Mas, em
média os diâmetros situam-se entre 18 e 28 cm.
Esses dados são importantíssimos em termos comparativos, visto que pela seqüência de
datas, a tradição Tupiguarani ocupou o Vale do Jacuí, o vale do rio Pardo, o vale do Taquari, até
o médio rio das Antas, entre outros.
A partir do mapa de dispersão da tradição Tupiguarani e Tradição Taquara elaborado por
Rogge (2006), observamos que a região é uma área limítrofe para as duas ocupações, inclusive
em um dos sítios arqueológicos associados à tradição Tupiguarani, foram encontrados fragmentos
de cerâmica associados à tradição Taquara, constituindo o que Rogge (2006) denominou de
situações de contato. Em função do que nos propomos no trabalho, não nos deteremos
especificamente a esta questão.
36
1.4 Histórico da Pesquisa no Médio Rio das Antas
A área que estudo não foi alvo de trabalhos sistemáticos de pesquisa arqueológica até o
ano de 2002. Ano em que foi implementado o Programa de Levantamento e Salvamento do
Patrimônio Arqueológico na UHE 14 de Julho e UHE Castro Alves, contratado pelo Complexo
Energético Rio das Antas CERAN.
O Programa de Arqueologia (Arqueologia de Contrato) foi elaborado pelo coordenador do
Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade de Santa Cruz do Sul, professor Dr.
Sergio Celio Klamt e executado pela equipe do referido Centro, no período de 2002 a 2007.
Na região, os municípios mais próximos da área que apresentam sítios arqueológicos
registrados são: Bento Gonçalves (RS-01, RS-02, RS-05, RS-58), Muçum (RS-03, RS-60, RS-
61), Caxias do Sul (RS-34 a 41, RS-64 a 70, RS-73 a 80, RS-101 a 108, RS-117 a 134) e Flores
da Cunha (RS-71, RS-72, RS-110 a 116). As fichas de sítios encontram-se no Instituto
Anchietano de Pesquisas IAP (GOLDMEIER; SCHMITZ, 1983).
Os sítios localizados nos municípios de Bento Gonçalves e Muçum pertencem à tradição
Tupiguarani, subtradição Corrugada, sendo encontrados em superfície, com estado de
conservação que varia de parcialmente destruído a prejudicado. No município de Bento
Gonçalves foi registrada a presença de um abrigo bem conservado.
Já no município de Caxias do Sul e Flores da Cunha temos a presença de casas
subterrâneas associadas à tradição Taquara, ocorrendo em menor número abrigos com
sepultamento e sítios em superfície.
O Relatório Preliminar de Vistoria Arqueológica conforme Parecer Nº
272/98/12SR/IPHAN realizado por pesquisadores autônomos, acusou a existência de dois sítios
arqueológicos: o RS-HDG-01-40 e o RS-VF-03-G40. Durante a execução do Programa foram
localizados mais 51 sítios, sendo que 52 estão registrados no relatório final encaminhado ao
IPHAN e o sítio Favaretto Escavação
3
será enviado em relatório suplementar.
3
Denominação usada para diferenciar o sítio que consta no Relatório Final, sítio Favaretto (2180) do sítio
escavado (Favaretto Escavação).
37
No plano de trabalho do Programa consta que o objetivo principal seria: executar o
salvamento e estudo do material arqueológico presente na área, possibilitando assim uma visão
mais abrangente da vida das sociedades pré-históricas. Um detalhe importante encontra-se nos
objetivos específicos, onde é proposto o registro e o inventário da totalidade de sítios
arqueológicos existentes na área, sendo o levantamento feito em todos os locais passíveis de
vistoria, salvo casos extremos como as encostas muito íngremes.
Por sua vez, a localização de sítios com bom potencial arqueológico motivaria uma
escavação de vulto, visto que as informações sobre a ocupação pré-histórica da área, até aquele
momento eram escassas.
Conforme o coordenador do Programa
4
, as perspectivas ao iniciar o trabalho não se
mostraram das mais animadoras, visto que, a conformação do relevo, a relativa distância das
grandes várzeas do rio Taquari, coloca a referida área em uma situação pouco atrativa para a
ocupação humana pretérita. Nesse sentido, foi grata a surpresa, a expectativa que não era das
mais animadoras, foi revertida já nos primeiros trabalhos de campo com a localização de vários
sítios arqueológicos, permitindo-nos apresentar dados inéditos da área.
Nesse caso, a metodologia tradicional de localização de sítios mostrou-se bastante
eficiente (método oportunístico e probalístico), aliado a um estudo da paisagem e das
possibilidades de ocupação, renderam informações importantes. Klamt (comunicação pessoal)
informou que num primeiro momento a área foi vistoriada dando preferência a localização de
sítios nas proximidades do rio, e, a partir dessa referência, buscou-se a localização de sítios
relacionados a estes nos mais diversos compartimentos do relevo (várzea, meia-encosta e topo).
Ainda conforme o Projeto, caso fosse necessário, a intervenção nos sítios obedeceria aos
seguintes passos:
a) Demarcação do local da escavação;
b) Levantamento topográfico;
c) Sondagens para definição dos níveis pedológicos e de origem antrópica;
4
Professor Dr. Sergio Celio Klamt
38
d) Escavação por retirada do solo em níveis naturais de deposição com plotagem tridimensional
dos vestígios;
e) Registro de todas as etapas e evidências: fichas, mapas, croqui, foto e VT;
f) Documentação do entorno físico-ecológico;
g) Coleta de material para datações;
h) Conservação de bloco testemunho georeferenciado, como forma de proteção e conservação
para o futuro, na expectativa de utilização de novas técnicas e abordagens.
Por sua vez, os trabalhos de campo foram acompanhados através de registros em:
a) Ficha de registro conforme modelo IPHAN, diário de campo, documentação gráfica,
fotográfica e VT;
b) Localização geográfica via GPS em carta do Ministério do Exército, escala 1: 50.000.
Além da localização de uma série de sítios, dois sítios apresentaram camada de ocupação
bem conservada, permitindo-nos registrar boa parte das atividades desenvolvidas por estas
populações nos espaços habitacionais. Para efeito de estudo da ocupação pré-histórica da área
desconsideramos na contagem o sítio 50 Ferri, por tratar-se de um sítio recente, associado à
imigração italiana, distanciando-se dessa forma do período que estamos estudando. Sendo assim,
dos 53 sítios localizados no projeto, utilizamos 52 para o nosso estudo, sendo um desses sítios o
Favaretto Escavação.
O referido sítio foi escavado no ano de 2006 em várias etapas de campo, sendo que a
proposta inicial de trabalho estava centrada no estudo do espaço habitacional do sítio e a sua
inserção no ambiente. No decorrer do trabalho percebemos que a utilização das referências sobre
os demais sítios da área evidenciaria um contexto mais amplo, permitindo-nos apresentar com
mais segurança a representatividade do referido sítio no contexto de ocupação do vale.
39
1.5 Objetivos
Tendo em vista o entendimento do povoamento da área e sua representatividade para a
história do povoamento do Rio Grande do Sul pelas populações pré-históricas, nossa contribuição
centra-se nas seguintes premissas: a) acrescentar referências sobre a área de dispersão da tradição
Tupiguarani; b) caracterizar a ocupação de uma área distante das várzeas dos grandes rios; c)
estudar a espacialidade e o funcionamento de uma unidade habitacional e a sua relação com os
demais sítios e o ambiente; d) apresentar referências sobre outras tradições arqueológicas que
ocuparam a área e sua relação com os portadores da tradição Tupiguarani.
1.6 As Fontes
Os dados de que dispomos para o trabalho correspondem aos sítios arqueológicos que
constam no Relatório Final do Programa encaminhado ao IPHAN (52 sítios) e os dados
resultantes da escavação do sítio Favaretto Escavação. Nesse sentido, temos dados gerais sobre a
ocupação da área que corresponde aos sítios do Relatório Final e uma referênc ia específica que
seria o estudo da estrutura e funcionamento de uma unidade habitacional.
Tais referências permitem elaborar uma aproximação sobre o povoamento da área a partir
de uma perspectiva diacrônica (representada pela totalidade dos sítios identificados e o período
de ocupação) e sincrônica (com o funcionamento da unidade habitacional).
Devemos ressaltar as limitações das referências de que dispomos, visto que a localização
de sítios em superfície com vestígios relativamente escassos dificulta a interpretação e
comparação com sítios de outras áreas. Mas, colocam em evidência dois aspectos: a característica
de ocupação da área (sítios pequenos) e a conservação dos vestígios (áreas bastante impactadas).
Por outro lado, a participação pessoal como bolsista de iniciação científica nas atividades
de campo e de laboratório, nos colocaram em contato com as diversas etapas do projeto,
inteirando-nos das diversas problemáticas que foram surgindo no decorrer do Programa.
40
1.7 Metodologia
Para a interpretação dos dados obtidas no Programa de Arqueologia e na escavação do
sítio Favaretto, utilizamos como referência o conceito de sistema de assentamento, partindo do
pressuposto que a distribuição dos sítios, a função, a forma, a hierarquia, refletem a organização
de uma determinada população (FORSBERG, 1985) e de tradição arqueológica que permite
comparações e interpretações mais amplas, uma vez que boa parte dos trabalhos apresenta esta
denominação.
Por sua vez, o conceito de sítio arqueológico (ou simplesmente sítio) que utilizamos
refere-se a locais donde son hallados conjuntamente artefactos, construcciones, estructuras y
restos organicos o medioambientales (RENFREW; BAHN, 1993). Nesse sentido, entendemos
cada concentração de vestígios como uma unidade (um sítio arqueológico) e a estudamos com tal,
não de forma isolada, mas como uma unidade mínima de interpretação pertencente a um
conjunto.
Conjunto que não perfaz somente os sítios arqueológicos, suas características e os
materiais. Nesse caso, o conceito de ambiente e de nicho ecológico tem um papel preponderante
no entendimento do sistema de assentamento, visto que cada sítio está inserido em um
determinado local da paisagem, apresenta variações na oferta de recursos, refletindo
conseqüentemente na sua posição em relação aos demais assentamentos.
A elaboração de um estudo detalhado do ambiente nos fornece subsídios para o
entendimento da ocupação de um grupo horticultor, com determinada tecnologia, em uma área
com recursos limitados e como isso reflete na organização do grupo.
Os sítios arqueológicos que constam no relatório do Programa de Arqueologia apresentam
uma série de informações obtidas nos trabalhos de campo que permitem inúmeras comparações.
Sendo assim, referências sobre a localização, altitude, dimensões dos sítios, vestígios
encontrados, entre outras, nos permitem vislumbrar o sistema de assentamento da área para os
portadores da tradição Tupiguarani.
A organização das referências em um Banco de Dados, permitiu-nos realizar uma série de
comparações através do aplicativo Excel, bem como a elaboração de gráficos e tabelas. Também,
41
a elaboração de um mapa com a distribuição dos sítios arqueológicos orientou de forma relevante
as estratégias de interpretação dos vestígios, buscando o entendimento de tais escolhas.
Por outro lado, o estado de conservação dos sítios e a própria dinâmica de ocupação da
área, não permitiu a localização de quantidades significativas de cerâmica (mais de 100
fragmentos por sítio), inviabilizando a aplicação do Método Ford (seriação cerâmica) em todos os
sítios da área.
Como alternativa julgamos pertinente considerar a totalidade de fragmentos cerâmicos por
áreas (somar as quantidades presentes nos sítios de cada área) no intento de comparar as áreas
entre si e com os sítios que apresentaram quantidades consideráveis de cerâmica.
Outra estratégia utilizada para o entendimento da funcionalidade dos sítios foi a separação
dos mesmos a partir de quatro variantes: sítios isolados, sítios dispostos em duplas, sítios em
grupo e sítios escalonados (apresentam-se em um compartimento de relevo diferenciado).
Os sítios que constam no Relatório Final, já haviam passado pelo processo de lavagem,
catalogação e classificação, sendo que tivemos acesso às respectivas fichas de classificação dos
vestígios.
Para o trabalho de laboratório com o sítio Favaretto Escavação foram utilizados como
referência, Guia das Indústrias Líticas do Sul do Brasil, Cerâmica Guarani e Schmitz 1990, com
algumas adaptações, tendo em vista um estudo quantitativo e qualitativo dos vestígios. O estudo
dos materiais presentes na habitação centrou-se na identificação da origem, dos processos de
transformação, de utilização, de descarte e da espacialidade.
No referido sítio cada fragmento oriundo da escavação foi catalogado individualmente,
com referências sobre a localização (coordenadas x, y e z), natureza dos vestígios (lítico,
cerâmica) e classificação a partir das tipologias apresentadas anteriormente. Assim como nos
sítios arqueológicos do Relatório, organizamos um banco de dados com o aplicativo Excel, que
permitiu montar os mapas de distribuição dos mais variados vestígios ou conjuntos de vestígios.
Para efeito de reconstituição das vasilhas cerâmicas, todos os fragmentos foram separados
por decoração e parte do recipiente, com atenção especial às bordas. Dessa forma iniciou-se o
42
trabalho de reconstituição comparando fragmento por fragmento até a exaustão. Os conjuntos
passíveis de reconstituição foram colados com cola lavável e as formas foram desenhadas e
fotografadas.
As bordas tanto das vasilhas que foram reconstituídas como as isoladas foram comparadas
buscando estabelecer um número mínino de vasilhas. Por exemplo, bordas que apresentavam
semelhanças na decoração, no antiplástico, no diâmetro de boca e no perfil, foram consideradas
como um único recipiente, ao passo que, se apresentassem diferenças seriam consideradas como
vasilhas diferentes.
A reconstituição das vasilhas se deu basicamente a partir das bordas, quando não era
possível reconstituir uma parte considerável da vasilha. Levamos em conta as dimensões mínimas
como o diâmetro de boca (MEGGERS; EVANS, 1970) e o perfil da borda, bem como
procuramos harmonizar as formas a partir do conjunto de vasilhas do próprio sítio. Também
observamos o perfil das bases que orientaram algumas reconstituições.
De forma geral, enquadramos as vasilhas em quatro tipos: prato, tigela, panela e
recipientes pequenos. Os pratos correspondem a formas abertas, com base em forma de calota de
esfera, as quais colocadas em uma superfície plana mantêm-se na posição horizontal sem
necessitar anteparos, não apresentando altura superior a 8 cm. As tigelas correspondem a
recipientes abertos ou fechados que apresentam base geralmente cônica ou em forma de calota de
esfera. As panelas são recipientes que apresentam inflexão na borda, apresentando-se nos mais
diferentes tamanhos. Os recipientes pequenos correspondem às mais diferentes formas que se
apresentam com dimensões reduzidas.
Sendo assim, a partir da distribuição dos vestígios estabelecemos critérios para identificar
as áreas de influência de cada fogueira dentro do espaço habitacional. Nos trabalhos anteriores os
pesquisadores localizam as áreas de fogueiras a partir das concentrações de materiais e em alguns
casos as concentrações de bordas. Para o sítio Favaretto Escavação utilizamos as informações
obtidas durante os trabalhos de escavação, aliadas aos mapas de distribuição de diferentes
vestígios, elaborados a partir da classificação do material.
43
Uma vez estabelecida á área de influência de cada fogueira e os espaços intermediários,
procuramos reconstituir o conjunto de utensílios correspondente a cada fogueira, bem como a
relação desses conjuntos entre si e com os espaços intermediários e ou externos ao espaço
habitacional, delineando também os limites do referido espaço. Limites que permitiram estimar o
número de ocupantes da casa bem como a organização do espaço, no que tange a localização de
estruturas e espaços intermediários.
Por fim, o estudo da localização do sítio a partir do preceito de áreas de captação de
recursos (VITA-FINZI; HIGGS, 1970) trouxe informações importantes principalmente para o
entendimento das escolhas como obtenção de matéria-prima, práticas agrícolas, oferta de caça e
pesca, entre outras. Também, a comparação com os demais sítios revelou dados importantes
sobre a funcionalidade dos espaços habitacionais, tempo de ocupação, entre outras referências.
44
2 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
O trabalho de caracterização do meio ambiente de uma determinada área nem sempre é
uma das tarefas mais fáceis. A quantidade de dados disponíveis, as descrições obedecendo aos
mais diversos critérios, nem sempre apresentam com clareza as informações que necessitamos.
Por sua vez, as transformações climáticas ocorridas no período de transição do
Pleistoceno para o Holoceno nos colocam em contato com uma situação ainda mais complexa. O
clima e a vegetação do atual estado do Rio Grande do Sul apresentaram diferenças consideráveis
ao longo do tempo.
Quadro 03: Variações Climáticas Ocorridas no Atual Estado do Rio Grande do Sul
Período anterior a 8.000 A. P.
Situação seca e árida, formações vegetais xerófilas com
cactáceas e paisagem típica de monte. Caça, pesca e coleta.
Megafauna.
A partir de 8.000 A. P.
Alterações com a retirada da Corrente Fria de Falkland,
permitindo a entrada de massas de ar tropicais, trazendo
umidade ao território, aumentando a temperatura
(aquecimento) e as precipitações pluviais. Substituição da
vegetação Estépica pelas áreas florestais. Caça, pesca e
coleta.
A partir de 6.000 A.P.
As características geográficas do Rio Grande do Sul vão
apresentar gradativam ente uma fisionomia semelhante à
atual. Caça, pesca e coleta.
Por volta de 6000 4000 A. P (4.000 2000 a. C.)
Aumento da umidade e temperat ura alcançando níveis
máximos por volta de 4.000 e 2.000 a. C. Rios aumentaram o
volume de águas, a floresta subtropical de folhas caducas
invadiu os campos e os pinheirais tenderam a ocupar o
espaço de agora. Caça, pesca e coleta.
Início da era Cristã
O clima estabilizou-se, mantendo condições semelhantes às
atuais, inclusive em relação à vegetação e à fauna. Período
em que foi introduzido o cultivo e a cerâmica no Rio Grande
do Sul.
Fonte: Elaborado a partir das sínteses de Kern (1991) e Schmitz (1991).
45
A partir da descrição acima, para a área e período em questão, acreditamos que as
referências atuais sobre o meio ambiente são confiáveis, visto que a partir da era Cristã temos
condições climáticas semelhantes às atuais, o que é muito importante, pois teremos uma
infinidade de dados à disposição, que em períodos mais recuados perdem em confiabilidade e
precisão.
Todavia, a complexidade que o meio ambiente apresenta no Planalto Rio-Grandense
dificultou a elaboração de um padrão para o meio ambiente da área, visto que o entendimento do
Planalto como uma unidade sob os mais diversos aspectos se torna inviável. Nesse sentido
Rambo (2000, p.229) destaca que dividir o planalto em regiões de caráter idêntico é
praticamente impossível, pois os caracteres fisionômicos se misturam freqüentes vezes em
trechos relativamente pequenos, realidade que constatamos já nos primeiros trabalhos de campo.
Sendo assim, como estratégia para compormos uma síntese sobre o meio ambiente da
área, utilizamos referências de diversas fontes. Os dados obtidos em campo, principalmente as
referências obtidas a partir do contato com moradores, nos informaram sobre o clima, a vazão do
rio, os solos, os locais propensos a ocorrência de geadas, o rendimento das lavouras, as épocas de
plantio, enfim, uma série de informações que registramos durante o Programa, além da nossa
vivência na área.
Os relatórios do Programa Ambiental do Complexo Energético Rio das Antas CERAN
foram importantes, como contraponto para as informações mais gerais. Também o
acompanhamento do Técnico Agrícola Prof. Paulo Obiraci Machado (UPF/UFSM) em algumas
etapas de campo, nos trouxe a experiência de mais de 35 anos dedicados à agricultura e à
pecuária.
46
2.1 A Área de Estudo
A área de abrangência do estudo corresponde à área de implantação da UHE 14 de Julho e
adjacências, no Complexo Energético Rio das Antas CERAN, abrangendo parte dos municípios
de Bento Gonçalves, na margem esquerda, e, Cotiporã e Veranópolis na margem direita do rio
das Antas.
Mapa 02: Mapa com a Localização dos Municípios onde insere-se a Área de Estudo
Fonte: adaptado pelo autor de www.geolivre-rs.gov.br
A referida área está situada na unidade geomorfológica denominada de Planalto Rio-
Grandense, correspondendo ao trecho médio do rio das Antas, próximo ao Morro do Céu (Morro
dos Baianos), município de Cotiporã, RS, até a ponte Férrea/Túnel, no município de Bento
Gonçalves, RS. Em linha reta a distância entre os dois pontos corresponde em média a 12Km e
seguindo o meandro do rio passa para 20Km aproximadamente.
47
A Usina Hidrelétrica 14 de Julho vai apresentar uma área alagada de 5Km
2 5
, sendo que a
área do Programa de Salvamento do Patrimônio Arqueológico no Complexo estende-se além
desse limite, incluindo também a UHE Castro Alves. A UHE Monte Claro foi alvo de um
trabalho anterior realizado por arqueólogos autônomos que liberaram a área. Conforme os
referidos arqueólogos não foram encontrados vestígios arqueológicos, nem áreas com potencial
que justificassem a implementação de um Programa de Arqueologia.
2.2 A Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas
O rio das Antas compõe a Bacia do Taquari-Antas, que tem suas nascentes nos
municípios de Cambará do Sul, Bom Jesus e São José dos Ausentes e recebe este nome até a
confluência com o rio Guaporé, perfazendo até este ponto 390Km de extensão, onde passa a
denominar-se rio Taquari por uma extensão de 140 Km, até desaguar no rio Jacuí.
Mapa 03: Mapa com a Inserção da Bacia do Rio Taquari Antas no RS
Fonte: adaptado de Sema 2002
5
http://www.ceran.com.br em 27/06/2007
48
A referida bacia compõe a Região Hidrográfica do Guaíba
6
e é caracterizada por litologias
da bacia do Paraná na porção médio-superior, onde se localizam os derramamentos de lava
basáltica (FEPAM, 2005). Conforme Fepam (2005) a diferenciação topográfica confere à Bacia
três áreas com padrões de paisagem distintos.
- altitudes superiores a 700 m: planalto entre as nascentes e a foz do rio Tainhas, o rio
Taquari-Antas caracteriza -se por possuir declividade acentuada (média de 4,8 m/km),
com afluentes encaixados e muitas corredeiras; - altitudes entre 700 m e 200 m: encosta
entre a foz do rio Tainhas e a foz do rio Guaporé, o rio apresenta uma declividade menos
acentuada (média de 1,6 m/km), com vales encaixados e corredeiras; - altitudes
inferiores a 200 m: baixada começa na foz do Guaporé e termina na confluência com o
rio Jacuí, com pouca declividade (média de 0,2 m/km) e raras corredeiras.
A área em questão corresponde ao segundo item, apresentando altitudes entre 700m e
200m, com vales encaixados e corredeiras, sendo que em alguns pontos apresenta áreas
relativamente planas, dispostas em pequenas porções, ora de um lado, ora de outro lado do rio das
Antas, e dificilmente a área apresenta locais planos em ambas as margens.
Mapa 04: Mapa com as Altitudes do Estado do Rio Grande do Sul
Fonte: adaptado de SEMA (2002)
6
O território do RS é formado por 3 grandes bacias hidrográficas: a Bacia do Uruguai, a qual faz parte da Bacia do Rio da Prata e abrange cerca de 57%
da área total do Estado; a bacia do Guaíba com 30% do total e a Bacia Litorânea com 13% do total.
49
A partir da observação do mapa com as altitudes do Estado do Rio Grande do Sul,
percebemos que a área correspondente ao curso dos rios Taquari e Antas, apresenta altitudes
entre 100 e 200m, mantendo o padrão da área de transição entre a Depressão-Central (altitudes de
0 a 100m) e o Planalto Rio-Grandense, embora inserido na unidade geomorfológica denominada
de Planalto Rio-Grandense.
2.3 Dados Geológicos
O escarpamento da Serra Geral e os grandes cânions a ela associados, teve sua formação
iniciada há cerca de 225 milhões de anos atrás, no período geológico denominado de Permiano,
quando os atuais continentes ainda estavam unidos e formavam um supercontinente denominado
Pangea, que mais tarde viria a se subdividir em dois grandes blocos denominados como Eurásia
e Gondwana.
Figura 03: Esquema da Formação Geológica da Bacia Sedimentar do Paraná
Fonte: http://pubs.usgs.gov/publications/text/historical.html
Com o passar do tempo, desenvolveu-se na borda do supercontinente gondwânico, recém
formado, um mar intracontinental que evoluiu para uma vasta bacia sedimentar, com mais de
1.500.000 km
2
, geologicamente conhecida como Bacia Sedimentar do Paraná, correspondendo
atualmente às áreas dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, estendendo seus limites para fora do Brasil e
abrangendo parte do Uruguai, Argentina e Paraguai.
50
A serra gaúcha, com seus quase mil metros de altura, existe graças ao vulcanismo de
fissuras que ocorreu há 190 milhões de anos. A eminente fragmentação do Pangéia,
processo causado praticamente devido à grande quantidade de calor acumulado debaixo
do supercontinente, fraturou e fissurou o terreno em uma linha sinuosa de centenas de
quilômetros de extensão, com vários focos secundários... O vulcanismo produziu lava
numa quantidade tal que cobriu praticamente todo o deserto. (HOLZ, 2003, p. 117-8)
Rambo (2000, p. 232) utilizou o termo melafírico
7
para denominar as rochas oriundas
desse processo. Podemos destacar a grande variedade de cores e composições minerais, resultado
dos mais diferentes derrames e ambientes de solidificação dessas lavas. Quanto às litologias
Rambo (2000, p.232;245) registra a predominância do melafírico e a ocorrência limitada de
arenito
8
que forma o substrato dos sucessivos derrames, raramente aparecendo em superfície. Na
área temos abundância de quartzo microcristalino (pedra de fogo comum, ágata, calcedônia),
quartzo macrocristalino (quartzo hialino e roxo), além de uma variedade incrível de variações do
melafírico (basalto).
2.4 Os Solos
Quanto ao solo, as rochas matrizes interferem diretamente na fertilidade do mesmo, sendo
que: ... os solos oriundos do granito são bastante silicosos, mas de boa fertilidade; os solos
oriundos do arenito são muito silicosos e fracos; os solos oriundos do melafírico, no caso de a
composição ser suficientemente profunda, são os melhores do Estado. (RAMBO, 2000, p.396).
No vale do trecho médio e superior do rio Taquari-Antas, os solos são eutróficos, com
relevo fortemente ondulado. Na área do entorno deste trecho, os solos apresentam
textura argilosa associados à formação Serra Geral, com relevo ondulado a suavemente
ondulado e afloramentos rochosos. No trecho superior dos afluentes, encontram-se os
latossolos com relevo suavemente ondulado, muito utilizado para lavouras mecanizadas
devido à topografia e características físicas adequadas. (Fepam, 2005)
Utilizando a classificação de Strek (2002) temos basicamente duas classes de solo na
região: os Neossolos e os Chernossolos. Os Neossolos são solos de formação recente, variando de
rasos a profundos, encontrados nas mais diversas condições de relevo e drenagem. Na área temos
a ocorrência do neossolo litólico distrófico, geralmente associado ao chernossolo argilúvico
férrico.
7
Classificação de Rosenbusch utilizada por Rambo.
8
Rocha de origem sedimentar, resultante da junção dos grãos de areia através de um cimento natural.
Fonte: Glossário Geológico. Serviço Geológico do Brasil (http://www.cprm.gov.br/Aparados/index.htm)
51
Devido à conformação do relevo fortemente ondulado e montanhoso, os Neossolos estão
associados a afloramentos rochosos, apresentando grande quantidade de pedregulhos. Estes solos
apresentam fortes restrições para culturas anuais, no entanto em área com declividade inferior a
15%, é possível o cultivo mediante práticas de conservação do solo, visto que em inclinações
superiores, os solos são suscetíveis à erosão hídrica.
Figura 04: Neossolo Litólico Distrófico Típico
Fonte: Streck (2002)
Os Chernossolos são solos rasos a profundos, que apresentam uma seqüência de
horizontes A-B-C, com razoáveis teores de material orgânico. Na área temos a ocorrência do
chernossolo argilúvico férrico e o chernossolo háplico órtico.
Figura 05: Chernossolo Argilúvico Férrico Típico
Fonte: Streck (2002)
52
Os chernossolo s argilúvicos férricos ocupam pequenas extensões em relevo ondulado e
fortemente ondulado, oferecendo condições para uso com culturas anuais, fruticultura, entre
outras, embora exijam práticas conservacionistas intensivas.
Figura 06: Chernossolo Háplico Órtico Típico
Fonte: Streck (2002)
Os chernossolos háplicos órticos ocupam as várzeas encaixadas dos rios que drenam a
Encosta Inferior do Nordeste (rio Taquari, por exemplo). Apresentam-se em relevo plano e
suavemente ondulado, nas várzeas dos rios, apresentando alto potencial agrícola, tendo como
restrição para o cultivo o fato de sofrer inundações ocasionais.
Machado
9
informou que as pequenas várzeas próximas ao rio apresentam solos profundos
com excelente potencial agrícola, além do que estas áreas estão protegidas dos ventos mais frios
oriundos do sul e oeste. Nesse sentido ele ressalta que a qualidade do solo pode ser percebida a
partir do porte da vegetação, pois esta se apresenta mais frondosa nas áreas próximas ao rio,
decrescendo em direção ao topo dos morros, onde o solo é menos espesso. Ele destaca que apesar
da restrição espacial, o solo apresenta um excelente potencial agrícola, apresentando bons
rendimentos, mesmo com a aplicação de técnicas primitivas de cultivo.
9
Técnico Agrícola Paulo Obiraci Machado. Comunicação pessoal janeiro de 2006.
53
2.5 O Clima
Conforme o Atlas Socieconômico do Rio Grande do Sul, o clima do Estado é temperado
do tipo subtropical, classificado como mesotérmico úmido. Devido à sua posição geográfica,
apresenta grandes diferenças em relação ao Brasil, principalmente em função da latitude, e a
conseqüente influência das massas de ar oriundas da região polar e da área tropical continental e
Atlântica.
A situação resulta em uma grande variação sazonal, com verões quentes e invernos
bastante rigorosos, inclusive com a ocorrência de geada e até mesmo neve, dependendo das
condições climáticas (umidade x frio). De forma geral as temperaturas variam apresentando
médias entre 15 e 18º C, com temperaturas mínimas de até 10º C e máximas de 40º C.
Mapa 05: Mapas com as Variações de Temperatura nas Quatro Estações.
Fonte: Adaptado de SEPLAG (2008)
O Estado apresenta uma boa distribuição de chuvas durante o ano todo, apresentando, no
entanto, um volume diferenciado. Ao sul, tem precipitação média entre 1.299 e 1.500mm. Ao
54
norte, entre 1.500 e 1.800mm, com um volume maior de chuvas a noroeste do Estado, mais
especificamente na Encosta do Planalto.
Mapa 06: Mapa com a Média Anual de Precipitação no Rio Grande do Sul.
Fonte: adaptado pelo autor de SEPLAG (2008)
Devemos ressaltar que as estações climáticas situavam-se relativamente próximas entre si,
mas apresentaram diferenças consideráveis na leitura das informações, demonstrando as nuances
do clima na área de estudo. Outra questão que merece destaque são as altitudes em que se
encontram as estações, 240m e 597m respectivamente.
Todavia, a quase totalidade dos sítios localizados na área encontra-se na faixa dos 180m e
200m, o que nos faz pensar que os dados fornecidos pelas estações são aproximações do padrão
climático da área. No entanto, a partir da sistematização das informações obtidas no Relatório
Ambiental, aliada à vivência na área e o contato com os moradores, conseguimos estabelecer um
padrão climático para a área.
Ressaltamos primeiramente que as características climáticas de uma região estão
associadas, em parte, com a localização geográfica da mesma, pois os tipos de sistemas
meteorológicos que atuam numa determinada região dependem especialmente da latitude
desta localidade. Em latitudes subtropicais, como é o caso da área em estudo, os
55
principais sistemas meteorológicos responsáveis pelo clima da região são as frentes frias,
massas de ar polar, vórtices ciclônicos, linhas de instabilidade, complexos convectivos
de mesoescala e bloqueios atmosféricos. Todos estes sistemas possuem escala espacial
muito superior à da área em questão, portanto afetam as estações de São Roque e Balsa
ao mesmo tempo, sendo assim o clima em uma localidade e outra deveria ser
praticamente o mesmo. No entanto, outros fatores importantíssimos na determinação do
clima em uma região são as características locais de terreno e cobertura de solo. As
mudanças destes parâmetros são responsáveis por grandes diferenças nos balanços de
energia e de água, fazendo com que o clima de regiões tão próximas apresente
características distintas. (Relatório do Meio Biótico Ceran/2003, p.7)
No clima dois fatores intrínsecos, altitude e acidentação do terreno mostram-se
preponderantes (RAMBO, 2000). Por exemplo, a média anual de temperatura no Planalto (15°C)
é inferior à Depressão Central (20° C) em torno de 5° C. Por sua vez, os vales profundos que não
são acessíveis pelos ventos provindos do sul apresentam invernos mais amenos, como no caso da
área de estudo. Resumidamente temos as seguintes condições na área.
O tipo climático predominante é o subtropical úmido, com duas variedades principais,
segundo o sistema geral de Koeppen: Cfa e Cfb. A primeira, abrangendo altitudes
inferiores a 600 m, caracteriza-se por temperaturas médias compreendidas entre -3°C e
18°C para o mês mais frio e superiores a 22°C para o mês mais quente, com precipitação
bem distribuída durante o ano e total anual em torno de 1400 mm. A variedade Cfb
diferencia-se basicamente pelas temperaturas médias do mês mais quente inferiores a
22°C e precipitação total anual superior a 1600 mm, em conseqüência da altitude, já que
predomina nas áreas com cotas superiores aos 600 m. (FEPAM, 2005)
Segundo a informação do morador Francisco Tres (maio/2005), a incidência de geadas se
dá nas partes mais altas, onde a neblina oriunda do rio não alcança nas primeiras horas da manhã,
sendo que nas áreas próximas do rio dificilmente há formação de geadas. Da mesma forma o
morador De Toni (dezembro 2003) informou que em suas lavouras situadas nas proximidades do
rio, nunca houve a incidência de geadas, inclusive em função do clima (mais ameno) os frutos
tem um ciclo mais precoce.
De forma geral o vale (entendido como as áreas próximas do rio) apresenta características
climáticas mais associadas à Depressão Central, do que ao Planalto, embora esteja inserido
geograficamente nesse sistema.
56
2.6 A Vegetação
Quanto à vegetação a área apresenta basicamente três regiões fitogeográficas associadas a
Mata Atlântica (FEPAM, 2005): a Floresta Ombrófila Mista, a Floresta Estacional Decidual e as
Savanas.
Considerando critérios de altitude, que para a escala do trabalho mostrou-se adequado, a
Floresta Ombrófila Mista estaria originalmente distribuída nas áreas acima de 500 m
(Leite e Klein, 1990) e a Floresta Estacional Decidual em altitudes inferiores a 500 m,
embora na realidade não exista uma transição brusca entre as diferentes formações
vegetais. Existem locais onde a vegetação original encontra-se em bom estado de
conservação, principalmente as encostas íngremes dos vales, de difícil acesso e
impróprios para práticas agrícolas. As savanas, representadas pelos campos, ocupam
áreas de altitudes superiores aos 700 m, com matas de galeria ao longo dos cursos d'água
e remanescentes florestais em estágio de regeneração avançada.
Rambo (2000, p. 255) destaca que um exame superficial da vegetação já nos ensina que
são duas as grandes formações determinantes da fisionomia vegetal: o mato e o campo.
Formações que se misturam em toda parte, ora prevalecendo uma, ora prevalecendo outra.
O referido autor relaciona a incidência do mato associado aos cursos d’água, sendo que
sua incidência e densidade está diretamente associada à oferta de água. Nesse sentido, o campo
estaria associado a áreas mais altas, próximo aos divisores de águas e suas adjacências e o mato
às proximidades dos arroios e rios.
Conforme o Projeto de Levantamento de Recursos Naturais da FIBGE (1986, p.580) a
Floresta Estacional Decidual compõe a maior parte da vertente sul do Planalto das Araucárias
(Serra Geral). Na área em questão ela apresenta-se em dois patamares, situados entre 30 e 400m,
denominada de Floresta Submontana e acima de 400m recebendo a denominação de Floresta
Montana (partes elevadas dos vales dos rios Taquari Antas).
Na Floresta Submontana de forma geral a ocorre o angico, a cabriúva, o louro, o umbu e
nos estratos inferiores a guajuvira, o açoita-cavalo, a canela-preta, a batinga, a canela-guaicá, o
mata-olho, além da laranjeira do mato, o cincho e catinguá, formando um estrato abaixo.
57
Mapa 07: Mapa com as Unidades de Vegetação do Rio Grande do Sul (RADAM)
Fonte: adaptado do projeto RS BIODIVERSIDADE (2008)
Na Floresta Montana de forma geral ocorre o angico, o cedro, a canjerana, o açoita-
cavalo, entre outras, inclusive podendo alcançar as áreas da Floresta Ombrófila Mista.
Quanto à Floresta Ombrófila Mista, e a sua principal representante, a araucária, temos a
seguinte distribuição.
Na sua distribuição geral, o pinheiro é uma função da acidentação do terreno: ocorre,
primeiro, em toda a borda superior livre do planalto, a começar do norte de Santa Maria
até o extremo ângulo nordeste; ocorre, terceiro, em terrenos menos acidentados, nos
espigões entre as fontes dos grandes rios, especialmente do Rio das Antas; ocorre,
quarto, em grupos isolados ou densas sociedades, nos capões disseminados por todo o
planalto; ocorre, quinto, em indivíduos solitários em plenos campo, como se observa a
leste de Cruz Alta; ocorre, sexto, de mistura com a mata virgem do Alto Uruguai, ao
norte de Passo Fundo e Lagoa Vermelha. (RAMBO, 2000, p. 263-4)
Nesse sentido, a ocorrência da araucária nos traz um componente importante, a oferta de
pinhão, que poderia ser um atrativo para a ocupação da área pelas populações Pré-Históricas.
58
Esperamos que o estudo dos carvões oriundos do sítio Favaretto Escavação, onde foram
coletadas amostras significativas de carvões, possibilite o estudo dos tipos de madeiras utilizadas
para combustão no espaço hatitacional (antracologia), compondo dessa forma uma referência
mais confiável no que tange ao uso destes recursos por essas populações.
2.7 A Fauna
Durante os trabalhos de escavação todo solo removido foi peneirado, no entanto, não
foram encontrados restos de alimentação em condições de serem analisados. As referências que
possuímos correspondem a coletas de amostras de solos das fogueiras, além dos restos de
alimentação incrustados na cerâmica, que em um futuro próximo apresentarão uma boa referência
sobre a questão
10
.
No entanto, devemos destacar que a área apresenta um grupo de animais selvagens que
lhe são peculiares, os da mata virgem. (RAMBO, 2000, p. 282). Não pretendemos descrevê-los
de forma minuciosa, visto que outros pesquisadores já o fizeram, e estas informações são
correntes nos mais diversos meios. No entanto, vamos apresentar de forma geral a fauna da área,
seguindo a descrição de Rambo (2000):
- Símios: o bugio, macaco de porte médio, vive nas árvores onde se alimenta de folhas,
geralmente anda em grupo; o mico, macaco de cor escura e movimentos ágeis, andam em bandos
de muitas dezenas, atacam roças de milho, escondem-se nos matos.
- Carnívoros: os felídeos representados pelo jaguar, o puma, a jaguatirica e o gato-do-mato. Os
canídeos representados pelo guarachaim. Os mustelídeos como a lontra, a irara, o furão e
zorrilho. Os procionídeos como o coati podendo ser encontrados em bandos ou solitários, o
guaxinim.
10
Os referidos materiais não foram encaminhados para análise.
59
- Os roedores: os ratos, as preás, o ouriço-caixeiro, o caxinguelê, animais de pequeno porte. A
capivara, a paca, a cutia, os porcos selvagens, a anta, animais de grande e médio porte.
- Os cervídeos: o veado-campeiro, o veado-mateiro, animais de grande porte.
- Os tatus : o tatu-mulita, o tatu-rabo-mole ocorrem nos campos. O tatu-galinha, ocorrendo no
interior da mata.
- Os tamanduás: o tamanduá-bandeira e o tamanduá-colete.
- Os marsupiais: representados pelo gambá.
- As aves: de rapina como o cara-cará; os catartídeos como o urubu; as corujas; pica-paus; os
culinídeos como o anu-branco, o anu-preto; periquitos, araras, papagaios; aves passeiformes
como a gralha-azul; os galináceos representados pela aracuã, jacus, jacutingas, inhandus, jaó,
macuco, uru; os pernaltos como o joão-grande, as garças, os socós, as saracuras, as narcejas, os
quero-queros, a colhereira e o maçarico; os corredores, representados unicamente pela ema,
vivendo em grupos de 10 a 20 indivíduos, produzindo ovos equivalentes a 15 ovos de galinha.
- Os peixes, como a traíra, a piava, o grumatã, o dourado, entre outros.
Como podemos observar a área apresenta uma fauna bem variada, apresentando animais
de pequeno, médio e grande porte, compondo uma importante fonte alimentar para as populações
indígenas.
60
2.8 Potencial Agrícola
Como observamos na descrição dos solos, a área apresenta três tipos de solo, associados a
diferentes compartimentos do relevo, o que resulta basicamente em três estratégias de plantio. Em
área plana, em meia-encosta ou em topo.
Conforme o quadro elaborado por Klamt (2005, p.33) para o Médio Jacuí, tendo por base
os estudos de Hoehne (1937) e Brooks (1985) teríamos a mandioca, o milho, o feijão, o
amendoim, a batata, o cará e a abóbora, como os principais cultivares, todos tendo sua principal
época de plantio de agosto a outubro (após as geadas) e ciclos de maturação, que vão de 2 a 7
meses.
Ainda conforme Klamt (2005) o cultivo que apresenta ciclo mais curto é a batata (2 a 3
meses), seguido da mandioca (3 meses), do feijão e da abóbora (3 a 4 meses), do milho , do cará
(4 a 5 meses) e do amendoim (6 a 7 meses). Resultando na oferta de alimentos durante o ano
todo, visto que a mandioca pode ficar até dois anos no solo e que o feijão e o milho uma vez
secos, podem ser guardados por longo período.
Em suma, os cultivos devem ocorrer no final do inverno e início da primavera. Com
isso, as primeiras colheitas devem acontecer já no final da primavera, durante o verão e
no início do outono. Seria um período de disponibilidade de produtos frescos. Já no final
do outono, e durante o inverno, deve ocorrer uma maior dependência de produtos
estocados de coleta, como por exemplo, o pinhão e o palmito, ou outros produtos que
poderiam ser estocados. (KLAMT, 2005, p. 34)
Já na área de estudo temos que atentar para o seguinte fato: a altitude impõe uma condição
climática diferenciada, o que resultaria no plantio na parte próxima ao rio já no início do mês de
agosto, visto que não há incidência de geada nessa área e, nos meses seguintes, nas demais áreas
mais suscetíveis ao alcance das geadas.
Todavia, devemos ressaltar que as áreas muito próximas ao rio, estão ao alcance das águas
nos períodos de cheia, sendo provavelmente cultivadas espécies com ciclo rápido, como a batata,
por exemplo, estando as plantas com ciclos mais longos como o milho e amendoim em áreas de
meia encosta.
61
No entanto, devemos ressaltar que o plantio depende de muitos fatores. Por exemplo, um
plantio demasiadamente precoce pode incorrer na perda da germinação e florescimento. Vejamos
algumas situações que Machado (comunicação pessoal 2007) destaca.
As condições ideais de plantio para o milho são as seguintes: preferência por solos férteis,
profundos, soltos e de boa permeabilidade à água e ao ar, sendo que os solos encharcados não se
prestam à cultura do milho. Ele salienta que o milho pode ser semeado desde setembro até
novembro, sendo que outubro é o mês mais indicado, visto que o florescimento ocorre em 75 ou
60 dias após a semeadura o que implica no florescimento em uma época com boa oferta de
umidade. O rendimento em grãos encontra-se em torno de 1,5 a 10 toneladas por ha.
Para o cultivo da mandioca os tipos de solo adequados são os porosos, arenosos,
argilosos, evitando-se sempre os solos úmidos e impermeáveis. A época ideal para o plantio
encontra-se entre 15 de agosto a 15 de outubro, sendo a colheita a partir de 7 a 9 meses. O
rendimento médio é de 10 a 15 toneladas por ha no primeiro ciclo
11
(primeiro ano), no segundo
ciclo (segundo ano) pode alcançar de 20 a 30 toneladas por ha.
Quanto ao feijão os solos adequados são os soltos, profundos e bem drenados, ricos em
matéria-orgânica. A época de plantio acontece nos meses de agosto a outubro e nos meses de
janeiro e fevereiro, sendo a colheita entre 90 e 110 dias. O rendimento médio encontra-se em
torno de 700 a 900 Kg por ha.
Já para o plantio de batata doce, os solos leves, férteis, arenosos e enxutos, são os
melhores. A época de plantio é de outubro a dezembro e a colheita de 3 a 10 meses. O
rendimento médio encontra-se entre 15 a 20 toneladas por ha.
Por sua vez a batatinha (batata inglesa) prefere solos argilo-arenosos e areno-argilosos,
ricos em matéria-orgânica. A época de plantio encontra-se entre agosto/setembro e
11
É comum deixar para colher a mandioca no segundo ano, sendo que ela fica na terra por este período.
Se a colheita for no primeiro ciclo será necessário o replantio através das ramas e a produtividade
corresponderá novamente a do primeiro ciclo.
62
janeiro/fevereiro. A colheita se dá em 100 dias. O rendimento em torno de 6 a 20 toneladas por
ha.
A abóbora adapta-se a solos argilo-silicosos, profundos, férteis, isolados de ventos fortes,
nem muito secos, nem muito úmidos. A época de plantio é a partir de agosto, sendo que a
colheita se processa de diversas formas. O mais comum é apanhar as maduras e deixar as demais
na planta. As abóboras apresentam propriedades alimentícias consideráveis.
A partir das referências que organizamos em relação à área de estudo, percebemos uma
grande semelhança das áreas próximas ao rio, com o ambiente da Depressão Central. Verificamos
que as práticas agrícolas são viáveis na área, uma vez observados fatores como sazonalidade,
altitude, tipos de solo e características do relevo. Nesse sentido, as áreas que oferecem uma
quantidade significativa de recursos, correspondem aos patamares planos e mais ou menos
planos, próximos ao rio, que apresentam cascalheiras, geralmente tendo nas proximidades a
desembocadura de arroios, que apresentam locais para extração de argila e boa oferta de recursos
vegetais e animais.
Podemos afirmar que a área apresentava condições para o estabelecimento de populações
ceramistas-horticultoras, permitindo reproduzir seu modo de vida, embora com algumas
restrições, principalmente relacionadas ao espaço. Tais restrições conseqüentemente resultaram
em uma forma peculiar de ocupar a área, o que pretendemos apresentar no próximo capítulo.
De forma resumida temos três modelos de relevo na área: a) Modelo A - corresponde ao
vale encaixado em formato de V. b) Modelo B e C - corresponde à presença de pequenos
patamares planos, ora de um lado, ora de outro lado do rio das Antas; c) Modelo D corresponde
a várzeas um pouco mais amplas. (ver esquema abaixo)
63
Figura 07: Modelo de Relevo e Vegetação Presente na Área.
Fonte: Elaborado pelo autor
64
3 OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E A INSERÇÃO NO AMBIENTE
No presente capítulo pretendemos analisar a presença dos vestígios arqueológicos na área
de abrangência do Projeto Programa de Levantamento e Salvamento do Patrimônio Arqueológico
na UHE 14 de Julho, tendo como objetivo principal sistematizar os dados para compormos
referências sobre a ocupação da área.
Como o foco principal do trabalho é a presença dos portadores da tradição Tupiguarani, a
análise dos vestígios se deu com o intuito de caracterizar a ocupação de uma área distante das
grandes várzeas do rio Taquari, tendo em mente as mudanças que podem ser observadas na
cultura material, bem como na implantação dos sítios. Nesse sentido, pretendemos estimar o
tempo de permanência dessas populações na área, a territorialidade do grupo (ou dos grupos),
bem como o tempo médio de ocupação de cada assentamento.
A primeira etapa de análise centrou-se na observação da distribuição dos sítios. A partir
do mapa, dividimos a área em 7 grupos (correspondendo às primeiras 7 letras do alfabeto),
dispostas em ordem crescente no sentido cabeceira do rio foz. O critério para divisão em grupos
foi visual. Os lugares onde apareciam conjuntos de sítios com relativa distância dos demais foram
considerados como pertencentes a uma área. Devemos ressaltar que a divisão tem como único
objetivo separar os conjuntos, facilitando a comparação e análise (semelhanças e diferenças entre
os grupos).
Na segunda etapa apresentamos uma breve caracterização sítio-por-sítio (dentro dos
grupos) e do ambiente onde se encontram, dividindo-os em sítios isolados, em dupla, em grupo e
escalonados. Na terceira etapa analisamos os dados e tecemos considerações sobre o sistema de
assentamento dos portadores da tradição Tupiguarani na área de estudo.
65
A
B
C
D
E
F
G
Favaretto
Escavação
Mapa 08: Mapa com a L
ocalização dos Sít
ios e a Identificação das Áreas
Fonte: Adaptado do Relatório CEPA/UNISC - IPHAN
66
3.1Caracterização da Área A
A área conforma-se em um vale com encostas íngremes em ambas as margens,
formando um “V”, apresentando patamares escassos, geralmente restritos a alguns metros.
Foram localizados 05 sítios arqueológicos, todos associados à tradição Tupiguarani. O
estado de conservação dos vestígios encontra-se em menos de 25% sendo que os fatores de
impactação estão associados às atividades agrícolas, à erosão pluvial, à construção de estradas
e moradias, entre outras.
As dimensões dos sítios estão entre 25 x 15m e 35 x 20m. Quanto à localização, todos
estão situados em áreas de meia-encosta, em patamares mais ou menos planos, distando de 50
a 20m do rio das Antas, em altitudes médias de 180m. Os solos variam de argilo-arenosos a
argilosos, sendo que a área apresenta um potencial agrícola limitado em função da
conformação do relevo.
Foto 01: Paisagem Característica da Área A
Fonte: Relatório CEPA/UNISC - IPHAN
67
Foto 02: Amostra dos vestígios arqueológicos Encontrados na Área A
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.1.1 Sítios Isolados
1 - Sítio Adelqui José Bosi, RS-AN: 22 (Cat.: 2147) está situado na localidade de
Linha Jaboticaba 6ª Seção Rio das Antas, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio
das Antas em área de meia-encosta, em um pequeno patamar mais ou menos plano.
As dimensões são 30m x 20m, totalizando em média 600m
2
, distando 20m do rio das
Antas, com altitude de 180m. O sítio apresenta material cerâmico (1simples, 1pintado, 4
escovado, 6 inclassificáveis) e lítico (03 detritos de basalto), associados à tradição
Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências lito-cerâmicas, dispostas em
forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso.
Apresenta lítico lascado e cerâmica.
Figura 08: Croqui do Sítio 01
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
2 - Zerme Denare, RS-AN: 20 (Cat.: 2145) está situado na localidade de Linha
Jaboticaba 6ª Seção Rio das Antas, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das
Antas em área de meia-encosta, em um pequeno patamar mais ou menos plano.
68
As dimensões são 30m x 20m totalizando 600m
2
, distando 50m do Rio das Antas, com
altitude de 180m. O sítio apresenta somente material cerâmico (1 simples, 2 escovado)
associado à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação p-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de
deposição em superfície, com evidências
cerâmicas, dispostas em forma elipsoidal. O
solo é argilo-arenoso.
Figura 09: Croqui do Sítio 02
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3 -Valmor Brum, RS-AN: 21 (Cat.: 2146) está situado na localidade de Linha
Jaboticaba, 6ª Seção Rio das Antas, Bento Gonçalves, RS, margem esquerda do rio das Antas
em área de meia-encosta, em um patamar mais ou menos plano.
As dimensões são 35m x 20m totalizando aproximadamente 700m
2
, distando 40m do
rio das Antas, com altitude de 180m. O sítio apresenta material cerâmico (1 simples, 1
pintado) e lítico (2 lascas, 1 núcleo, 2 talhadores, 1 peça em confecção, todos em basalto),
associado à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a
uma ocupação pré-histórica, apresentando-se
a céu aberto, sendo o contexto de deposição
em superfície, com evidências lito-cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal, tendo solo
argilo-arenoso. Apresenta material lítico
lascado e cerâmico.
Figura 10: Croqui do Sítio 03
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
69
3.1.2 Sítios Dispostos em Duplas
4 - João Grzeca “B”, RS-AN: 28 (Cat.: 2161) está situado na 4ª Seção Rio das
Antas, Bento Gonçalves, RS, margem esquerda do rio das Antas em patamar mais ou menos
plano.
As dimensões do sítio são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando
40m do rio das Antas, em altitude de 180m. O sítio apresenta material cerâmico (1 corrugado,
2 simples) e lítico (1 lasca, 2 talhadores em basalto e 1 núcleo de riolito), associados à
tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície,
apresentando evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é
argiloso. O material é o lítico lascado e
cerâmico.
Figura 11: Croqui do Sítio 04
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
5 - João Grzeca “A”, RS-AN: 28, (Cat.: 2160) está situado na Linha 4ª Seção Rio
das Antas, Bento Gonçalves, RS, em patamar mais ou menos plano.
As dimensões do sítio são 25m x 15m, totalizando aproximadamente 375 m
2
, distando
50m do rio das Antas, com altitude de 180m. Apresenta vestígio cerâmico (1 corrugado, 1
ungulado, 3 simples) e lítico (2 lascas, 2 raspadores em basalto; 1 núcleo e 1 detrito em
calcedônia; 2 lascas e 1 detrito em cristal de rocha; 1 afiador-em-canaleta em arenito friável),
associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências de lítico e de
70
cerâmica, dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. Os artefatos são lítico lascado,
lítico polido e cerâmico. (Croqui ver sítio 4).
3.2 Caracterização da Área B
Nesse ponto o rio apresenta uma inflexão de mais ou menos 120º. A área apresenta
uma várzea com proporções consideráveis em termos regionais, cerca de 350m de largura. A
partir desse ponto, o rio apresenta áreas mais ou menos planas, ora de um lado, ora de outro
lado do rio.
A área apresentou 16 sítios arqueológicos, sendo 14 associados à tradição
Tupiguarani, 1 multicomponencial (com vestígios associados à tradição Tupiguarani e
tradição Umbu) e um sítio de que não foi possível estabelecer a filiação cultural. O grau de
conservação destes sítios encontra-se em menos de 25 %, sendo que os fatores de impactação
estão associados a atividades agrícolas, construção de estradas, erosão pluvial, entre outras.
As dimensões apresentam grande variação, que vão de 20m x 20m, 30m x 20m até
70m x 30m nos sítios associados à tradição Tupiguarani. Quanto à localização, 10 sítios estão
em área plana, distando de 90 a 30m do rio das Antas, em altitudes que vão de 165m até
180m. Outros 5 estão situados em áreas de meia encosta, com distância do rio que podem
variar de 20m a 70m e altitudes que variam de 170 a 180m. Um sítio está situado em área
mais elevada, distando 500m do rio, em altitude de 240m. Os solos variam de argilo-arenosos
a argilosos, sendo que a área apresenta um excelente potencial agrícola, com uma várzea
ampla onde se concentra a maioria dos sítios.
71
Foto 03: Paisagem Característica da Área B
Fonte: Foto Cedida por Sergio Celio Klamt
Foto 04: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área B
Fonte: Relatório CEPA-UNISC - IPHAN
3.2.1 Sítios Isolados
6 - Ricardo Orsso, RS-AN: 36 (Cat.: 2171) está situado na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, em área de meia-encosta, em patamar mais ou menos plano.
As dimensões do sítio são 30m x 30m, totalizando uma área aproximada de 900m
2
,
distando 20m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta material cerâmico (1
corrugado, 1 ungulado, 12 simples, 9 escovado) e lítico (1 lasca em calcedônia e 1 batedor em
basalto), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências de material lítico e
72
cerâmico, disposto em forma circular. O solo é argilo-arenoso. Apresenta lítico lascado e
cerâmico.
Figura 12: Croqui do Sítio 06
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
8 - Eliane Rustick, RS-AN: 33 (Cat.: 2168) situa-se na localidade de Passo Velho,
Bento Gonçalves, RS, em patamar mais ou menos plano.
As dimensões do sítio são 60m x 20m, totalizando aproximadamente 1200m
2
, distando
20m do rio das Antas, com altitude de 170m. Apresenta vestígio cerâmico (1 corrugado, 8
simples, 1 pintado, 9 escovado) e lítico (1 lasca cortical, 2 talhadores, 2 fragmentos de
implemento, 1 peça em confecção, 1 batedor, 1 seixo em basalto; 1 núcleo em calcedônia; 1
detrito em riolito), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O sítio apresenta lítico lascado e
cerâmica. (Ver croqui sítio 6)
21 - José Colao “C”, RS-AN: 26 (Catálogo: 215) o sítio situa-se na localidade de
Passo Velho, Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas, em área mais ou menos
plana.
As dimensões são 85m x 40m, totalizando aproximadamente 3.400m
2
, distando 70m
do rio das Antas, com altitude de 180m. O sítio não apresenta cerâmica. O material lítico é
composto por 1 lasca em arenito metamorfisado; 4 talhadores, 1 núcleo, em riolito; 2
73
talhadores, 1 batedor, 1 seixo, em basalto, não sendo possível associar com precisão tal
material a uma tradição arqueológica.
De forma especulativa podemos associar os vestígios à tradição Humaitá ou Taquara.
Consultando Miller (1971), percebemos algumas semelhanças do material lítico com os sítios
da Fase Antas (pré-cerâmica) e Guatambu (cerâmica), identificadas na cabeceira do rio das
Antas, próximo ao município de Bom Jesus, RS. Não descartamos a hipótese do sítio estar
associado à tradição Tupiguarani.
Conforme Klamt (comunicação pessoal) é difícil associar o material a um grupo
específico, visto que boa parte deste apresenta características semelhantes, sendo identificados
com mais precisão quando o contexto permite o registro de mais dados.
O sítio é provavelmente
unicomponencial, associado a uma ocupação
pré-histórica, apresentando-se a céu aberto,
sendo o contexto de deposição em superfície,
com evidências líticas dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O
material é o lítico lascado.
Figura 13: Croqui do Sítio 21
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.2.2 Sítios Dispostos em Duplas
19 - José Colao “A”, RS-AN: 26 (Cat.: 2156) situa-se na Localidade de Passo Velho,
Veranópolis, RS, margem direita do rio das Antas em área plana.
As dimensões são 35 x 20m, totalizando aproximadamente 700m
2
, distando 60m do
rio das Antas, com 180m de altitude. O sítio apresenta vestígio cerâmico (1 corrugado-
ungulado) e lítico (1 lasca, 1 biface, 2 talhadores, 1 detrito, 1 batedor em basalto; 2 lascas
corticais, 1 batedor em riolito), associados à tradição Tupiguarani.
74
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas e cerâmicas, dispostas em
forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso.
O material é composto por lítico lascado e
cerâmico.
Figura 14: Croqui do Sítio 19
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
20 - José Colao “B” RS-AN: 26 (Cat.: 2157) situa-se na localidade de Passo Velho,
Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 70m por 30m, totalizando aproximadamente 2.100 m
2
,
distando 60m do rio das Antas, com altitude de 180m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (1
corrugado, 3 simples, 1 escovado) e lítico (1 fragmento de implemento em basalto),
associados à tradição Tupiguarani
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico. (Ver croqui sítio 19).
3.2.3 Sítios Escalonados
7 - Edno Torresan, RS-AN: 46 (Cat.: 2198) situa-se na localidade de Passo Velho,
Bento Gonçalves, RS, em área de meia-encosta, em um pequeno patamar mais ou menos
plano.
As dimensões do sítio são 40m x 30m, totalizando aproximadamente 1200 m
2
,
distando 500m do rio das Antas e 50m de um pequeno córrego, com altitude de 240m. O sítio
75
apresenta vestígio cerâmico (5 simples, 2 escovado) e lítico (1 afiador-em-canaleta em arenito
friável; 1 batedor em basalto), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície,
apresentando evidências cerâmica e lítica,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é
argiloso. O material é o lítico lascado, o
lítico polido e a cerâmica.
Figura 15: Croqui do Sítio 07
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.2.4 Sítios em Grupo
9 - Valdir Rabeschini “D”, RS-AN: 18 (Cat.: 2191) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 20 x 20m, totalizando aproximadamente 400m
2
, distando
90m do rio das Antas e 30m de um pequeno córrego, com altitude de 175m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (2 pintado vermelho interno) e lítico (1 talhador, 1 fragmento de
implemento, 1 batedor, em basalto; 1 lasca de calcedônia), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação p-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma circular. O solo é argilo-arenoso. Os artefatos são lítico lascado e
cerâmico.
76
Figura 16: Croqui do Sítio 09
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
10 - Valdir Rabeschini “E”, RS-AN: 18 (Cat.: 2192) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 25m x 20m, totalizando aproximadamente 500m
2
, distando
90m do rio das Antas e 5m de um pequeno córrego, com altitude de 175m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (1ungulado) e lítico (2 seixos, 3 detritos em basalto; 1 peça em confecção
em riolito), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação p-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
11 - Valdir Rabeschini “F”, RS-AN: 18 (Cat.: 2193) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando
60m do rio das Antas e 10m de um pequeno córrego, com altitude de 180m. O sítio apresenta
77
vestígio cerâmico (2 corrugados, 1 ungulado, 1 simples, 3 pintado vermelho sobre branco
externo, 2 escovado) e lítico (2 seixos de arenito friável e 1 lasca de calcedônia), associados à
tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
12 - Valdir Rabeschini “G”, RS-AN: 18 (Cat.: 2194) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 30m x 25m, totalizando aproximadamente 750m
2
, distando
40m do rio das Antas e 10m de um pequeno córrego, com altitude de 180m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (10 simples, 4 pintados, 9 escovados) e lítico (1 lasca e 1 fragmento de
implemento de basalto), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
13 - Valdir Rabeschini “A”, RS-AN: 18 (Cat.: 2141) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões são 30m x 25m, totalizando aproximadamente 750m
2
, distando 30m do
rio das Antas e 100m de um pequeno córrego, com altitude de 180m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (7 corrugado, 3 corrugado-ungulado, 1 ungulado, 8 simples, 6 pintado, 15
escovado e 1 inclassificável) e lítico (1lasca cortical, 1 peça em confecção, 1 seixo, em
basalto; 1 lasca, 1 lasca cortical, 1 detrito em calcedônia; 2 lascas corticais em riolito),
associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
78
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
14 - Valdir Rabeschini “H”, RS-AN: 18 (Cat.: 2195) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, em uma várzea mais ou menos plana.
As dimensões são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando 75m do
rio das Antas e 30m de um pequeno córrego, com 180m de altitude. O sítio apresenta vestígio
cerâmico (5 corrugado, 12 simples, 4 pintado, 11 escovado, 1 inclassificável) e lítico (1
talhador em basalto; 2 lascas em calcedônia), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
15 - Valdir Rabeschini “I”, RS-AN: 18 (Cat.: 2196) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões são 50m x 30m, totalizando aproximadamente 1500m
2
, distando 30m
do rio das Antas e 5m de um pequeno córrego, com altitude de 180m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (4 corrugado, 11 simples, 4 pintado, 3 escovado, 1 inclassificável) e lítico
(2 lascas, 2 lascas corticais, 1 fragmento de implemento, em basalto; 1 lasca em calcedônia),
associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é lítico lascado e cerâmico.
(Ver croqui sítio 9)
16 - Valdir Rabeschini “B”, RS-AN: 18 (Cat.: 2142) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
79
As dimensões são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando 30m do
rio das Antas e 5 metros de um pequeno córrego, com 175m de altitude. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (1 ungulado, 5 simples, 1 pintado, 2 escovado) e lítico (2 lascas corticais,1
fragmentos de implemento em basalto; 1 lasca de calcedônia), associados à tradição
Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e
cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
17 - Valdir Rabeschini “J”, RS-AN: 18 (Cat.: 2197) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões do sítio são 30m x 25m, totalizando aproximadamente 750 m
2
, distando
75m do rio das Antas e 15m de um pequeno córrego, com 175m de altitude. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (3 corrugado, 2 ungulado, 4 simples, 4 pintado, 7 escovado e 3
inclassificável) e lítico (1 seixo de basalto; 1 detrito em calcedônia; 1 lasca, 1 peça em
confecção, em riolito; 2 lascas em cristal de rocha), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é composto por lítico
lascado e cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
18 - Valdir Rabeschini “C”, RS-AN: 18 (Cat.: 2143) situa-se na localidade de Passo
Velho, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em área plana.
As dimensões são 50m x 40m, totalizando aproximadamente 2.000 m
2
, distando 30m
do rio das Antas e 10m de um pequeno córrego, com altitude de 175m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (3 corrugado, 8 simples, 5 pintado, 12 escovado, 1 inclassificável) e lítico
(9 lascas, 1 lasca com retoque, 3 lascas corticais, 1 biface, 2 talhadores, 1 ponta-de-projétil, 1
núcleo, 2 peças em confecção, 1 alisador em basalto; 15 lascas, 2 lascas corticais, 2 pontas-de-
80
projétil, 1 núcleo, 10 detritos em calcedônia; 1 lasca, 2 lascas com retoque, 1 lasca cortical, 1
ponta-de-projétil, 2 peças em confecção, em riolito; 3 lascas, 1 núcleo, 2 detritos em cristal de
rocha; 2 afiadores em arenito friável). Os artefatos estão associados à tradição Umbu e à
tradição Tupiguarani.
Provavelmente foram ocupações em períodos diferentes. Entretanto, constituem um
indicativo importante de sobreposição de ocupações ou até mesmo de co-habitação em um
determinado espaço. A hipótese de sobreposição de ocupações é reforçada pela presença de
material lítico e matéria-prima (riolito) associada a caçadores-coletores. Já os sítios
associados à tradição Tupiguarani têm no basalto e na calcedônia suas principais matérias-
primas, sendo que o riolito aparece em pequena quantidade, na forma de núcleos e lascas.
O sítio é multicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e
cerâmicas, dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é lítico lascado
e cerâmico. (Ver croqui sítio 9)
Foto 05: Pontas-de-Projétil associadas à tradição Umbu localizadas no Sítio 18
Fonte: Relatório CEPA/UNISC IPHAN
81
3.3 Caracterização da Área C
Na área o relevo apresenta áreas mais ou menos planas de um lado e áreas com
encostas íngremes do outro, sendo que essa característica aparece ora de um lado, ora de outro
lado do rio das Antas.
A área apresenta 7 sítios arqueológicos, todos associados à tradição Tupiguarani. O
grau de conservação dos sítios encontra-se em menos de 25 %, com exceção do sítio
Favaretto Escavação, que apresentou grau de preservação em torno dos 75%. Os fatores de
impactação estão associados a atividades agrícolas, construção de estradas, erosão pluvial,
entre outras.
As dimensões variam de 30m x 30m, até 70m x 85m. Quanto à localização, 6 sítios
estão localizados em áreas mais ou menos planas, distando de 20 a 200m do rio das Antas, em
altitudes médias de 180m. Um sítio está mais afastado do rio, a 400m, em altitude de 250m.
Na área predominam os solos argilosos e argilo-arenosos, sendo que a área apresenta um bom
potencial agrícola, com patamares amplos com espaço para cultivos.
Devemos ressaltar que a área apresenta a desembocadura de 4 córregos, sendo que os
sítios se localizam nas proximidades destes.
Sítio Favaretto Sítio Terezinha Torezan
Foto 06: Paisagens Características da Área C
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
82
Foto 07: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área C
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.3.1 Sítios Isolados
22 - Azir Marin, RS-AN: 19 (Cat.: 2144) está localizado na Linha 3ª Seção Rio das
Antas, Bento Gonçalves, RS, na margem direita do rio das Antas em patamar mais ou menos
plano.
As dimensões do sítio são 40m x 30m, totalizando aproximadamente 1.200m
2
,
distando 50m do rio das Antas, com altitude de 180m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (1
ungulado, 2 simples, 2 escovado) e lítico (1 lasca cortical, 4 talhadores, 1 núcleo em basalto; 1
lasca de calcedônia), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de
deposição em superfície, com evidências
líticas e cerâmicas, dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O
material é o lítico lascado e o cerâmico.
Figura 17: Croqui do Sítio 22
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
26 -Volmir Marin, RS-AN: 24 (Cat.: 2154) situa-se na localidade de Linha Santo
Antônio da 14 de Julho, Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas, em patamar
plano com aproximadamente 150m de largura.
83
As dimensões do sítio são 85m x 70m, totalizando aproximadamente 5.850m
2
,
distando 60 metros do rio e 10 m de um pequeno córrego, com altitude de 170m. O sítio
apresenta vestígio cerâmico (4 simples, 3 escovado) e lítico (1 talhador em riolito), associados
à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a céu
aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico.
Figura 18: Croqui do Sítio 26
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.3.2 Sítios Escalonados
23 - Armindo Poza, RS-AN: 35 (Cat.: 2170) situa-se na localidade de Linha São
João do Nepomuceno, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas, em área
de meia-encosta, em um patamar elevado mais ou menos plano.
As dimensões do sítio são 40x30m, totalizando aproximadamente 1.200m
2
, distando
400m do rio das Antas, com 250m de altitude. O sítio apresenta somente vestígios cerâmicos
(3 corrugado, 1 ungulado, 1 simples, 1 pintado, 1 escovado), associado à tradição
Tupiguarani.
84
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências cerâmicas dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é
somente cerâmico.
Figura 19: Croqui do Sítio 23
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.3.3 Sítios dispostos em Duplas
24 - Terezinha Torezan “A”, RS-AN: 29 (Cat.: 2162) situa-se na localidade de
Santo Antônio da 14 de Julho, Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas em um
pequeno terraço.
As dimensões do sítio são 30m x 25m, totalizando aproximadamente 750m
2
, distando
20m do rio das Antas e 60m de um pequeno córrego, com altitude de 170m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (1 corrugado-ungulado, 1 ungulado, 20 simples, 1 pintado, 9 escovado) e
lítico (3 lascas, 1 lasca com retoque, 3 lascas corticais, 1 talhador, 1 fragmento de
implemento, 2 batedores em basalto; 1 lasca em riolito; 1 esfera de hematita) associados à
tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a
uma ocupação pré-histórica, apresentando-se
a céu aberto, sendo o contexto de deposição
em superfície, com evidências líticas e
cerâmicas dispostas em forma elipsoidal. O
solo é argiloso. O material é o lítico lascado e
o cerâmico.
Figura 20: Croqui do Sítio 24
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
85
25 - Terezinha Torezan “B”, RS-AN: 29 (Cat.: 2188) situa-se na localidade de
Linha Santo Antônio da 14 de Julho, Veranópolis, RS, na margem esquerda do rio das Antas,
em terraço plano.
As dimensões são 30m x 30m, totalizando aproximadamente 900m
2
, distando 20m do
rio das Antas e 15 m de um pequeno córrego, com altitude de 170m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (1pintado, 1 escovado) e lítico (1 alisador, 2 batedores, em basalto; 1
talhador em riolito), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se
a céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma circular. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado, lítico polido e
cerâmico. (Ver croqui sítio 24)
27 - Luiz Favaretto, RS-AN: 42 (Cat.: 2180) o sítio situa-se na localidade de Linha
São João Nepomuceno, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas, em
patamar mais ou menos plano.
As dimensões são 50m x 30m, totalizando aproximadamente 1.500 m
2
, distando 50m
do rio das Antas, e 15 m de um pequeno córrego, com altitude de 170m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (24 corrugado, 2 corrugado-ungulado, 4 ungulado, 26 simples, 14 pintado,
2 escovado, 2 inclassificável) e lítico (1 lasca, 1 detrito de arenito metamorfisado; 1 lasca
cortical, 1 talhador, 2 batedores, 2 seixos em basalto; 7 lascas, 1 detrito em calcedônia)
associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação p-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e polido.
86
Nas proximidades do referido sítio foi localizado um Núcleo de Solo Antropogênico
(Mancha Escura) que foi escavada
separadamente, pois poderia compor uma
ocupação distinta, o que se mostrou
pertinente durante o trabalho de escavação e
no trabalho de laboratório. O NSA
corresponde ao ponto indicado com uma
sondagem no croqui e será apresentado em
capítulo específico com o nome de Sítio
Favaretto Escavação.
Figura 21: Croqui do Sítio 27
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.4 Caracterização da Área D
Nessa área o vale volta a assumir um formato em “V”, com escassas áreas planas. O
vale escavado pelo arroio Sapato também toma forma de “V”, até quase as proximidades onde
encontra o rio das Antas.
A área apresenta 7 sítios arqueológicos, todos associados à tradição Tupiguarani. O
grau de conservação dos sítios encontra-se em menos de 25%. Os fatores de impactação estão
associados a atividades agrícolas, construção de estradas, erosão pluvial, construção de
moradias, entre outras.
As dimensões variam de 10m x 10m, até 70m x 35m. Quanto à localização, 6 sítios
estão em áreas mais ou menos planas, distando de 20 a 80m do rio das Antas, em altitudes
médias de 170m. Um sítio está mais afastado do rio, a 300m, em altitude de 250m. Na área
predominam os solos argilosos nos sítios próximos ao rio e argilo-arenosos no sítio mais
afastado, sendo que a área apresenta potencial agrícola limitado, principalmente em função do
relevo.
87
Foto 08: Paisagem Característica da Área D
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
Foto 09: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área D
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.4.1 Sítios Isolados
28 - Moacir Marin, RS-AN: 45 (Cat.: 2189) o sítio situa-se na localidade de Linha
Nossa Senhora do Rosário, Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas, em pequeno
dique holocênico de aproximadamente 100m de largura.
As dimensões do sítio são 55m x 30m, totalizando aproximadamente 1.650m
2
,
distando 50m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (1
corrugado, 2 simples, 2 pintado) e lítico (1 lasca, 3 lascas corticais, 3 talhadores, 4 fragmentos
de implemento, 2 detritos, em basalto; 1 lasca em riolito), associado a tradição Tupiguarani.
88
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de
deposição em superfície, com evidências
líticas e cerâmicas dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o
lítico lascado e o cerâmico.
Figura 22: Croqui do Sítio 28
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
32 - Paulo Cesar Pitol RS-AN: 43 (Catálogo: 2185) situa-se na localidade de linha
14 de Julho, Veranópolis, RS, na margem direita do rio das Antas, em área mais ou menos
plana.
As dimensões do sítio são 25m x 20m, totalizando aproximadamente 500m
2
, distando
aproximadamente 80m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta vestígio
cerâmico (2 corrugado, 4 corrugado-ungulado, 4 ungulado, 20 simples, 7 pintado, 1 escovado)
e lítico (1 lasca de calcedônia), associado à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação p-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas e cerâmicas dispostas em
forma elipsoidal. O solo é argiloso. O
material é o lítico lascado e o cerâmico.
Figura 23: Croqui do Sítio 32
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
33 - Francisco A. Fagion RS-AN: 39 (Catálogo: 2174) situa-se na localidade de
Capela Natividade, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas em patamar
mais ou menos plano.
89
As dimensões do sítio são 70m x 35m, totalizando aproximadamente 2450m
2
, distando
50m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta somente vestígio cerâmico (2
corrugado-ungulado e 6 simples).
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências cerâmicas dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso.
Figura 24: Croqui do Sítio 33
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
34 - Nelson Núncio, RS-AN: 38 (Cat.: 2173) situa-se na localidade de linha
Natividade, Bento Gonçalves, RS em patamar mais ou menos plano, na margem esquerda do
Rio das Antas.
As dimensões do sítio são 30m x 30m, totalizando aproximadamente 900m
2
, distando
50m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta somente vestígios cerâmicos (6
simples, 2 pintado).
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências cerâmicas dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o
cerâmico.
Figura 25: Croqui do Sítio 34
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
90
3.4.2 Sítios Dispostos em Duplas
29 - Rodrigo Sandrin “A” RS-AN: 44 (Catálogo: 2186) situa-se na localidade de
Linha Natividade, Bento Gonçalves, RS, margem esquerda do rio das Antas, em patamar mais
ou menos plano.
As dimensões do sítio são 10m x 10m, totalizando aproximadamente 100m
2
, distando
20m do rio das Antas e tendo na margem oposta a desembocadura do arroio Retiro, com
170m de altitude. O sítio apresenta vestígio cerâmico (3 corrugado-ungulado, 4 ungulado, 5
simples, 1 pintado) e lítico (1 talhador em basalto), associado à tradição Tupiguarani
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma circular. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e o cerâmico.
Figura 26: Croqui do Sítio 29
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
30 - Rodrigo Sandrin “B”, RS-AN: 44 (Catálogo: 2187) encontra-se na localidade
de Linha Natividade, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas, em
patamar mais ou menos plano.
As dimensões do sítio são 10m x 10m, totalizando aproximadamente 100m
2
, distando
20m do rio das Antas, tendo na outra margem a desembocadura do arroio Retiro. O sítio
apresenta vestígio cerâmico (1 corrugado, 3 corrugado-ungulado, 2 ungulado, 3 simples) e
lítico (1 talhador em basalto e 1 lasca em riolito), associados à tradição Tupiguarani.
91
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação p-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas
dispostas em forma circular. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e o cerâmico.
(Croqui ver sítio 29)
3.4.3 Sítios Escalonados
31 - Ari Citolin RS-AN: 30 (Catálogo: 2163) o sítio situa-se na Linha 14 de Julho,
Veranópolis, RS. Sítio localizado em topo de elevação, em área plana.
As dimensões do sítio são 57m x 45m, totalizando aproximadamente 2.565m
2
,
distando 300m do rio das Antas e 300m do arroio Retiro, na margem direita do rio das Antas,
com 250m de altitude. O sítio apresenta vestígio cerâmico (3corrugado, 16 corrugado-
ungulado, 7 ungulado, 15 simples, 2 pintado, 1 escovado) e lítico (4 talhadores, 1 detrito, 1
seixo, em basalto; 5 lascas, 9 lascas com retoque, 6 núcleos, 14 detritos, em calcedônia; 13
lascas, 2 detritos, em cristal de rocha), associados à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a
uma ocupação pré-histórica, apresentando-se
a céu aberto, sendo o contexto de deposição
em superfície, com evidências líticas e
cerâmicas dispostas em forma elipsoidal. O
solo é argilo-arenoso. O material é o lítico
lascado e o cerâmico.
Figura 27: Croqui do Sítio 31
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
92
3.5 Caracterização da Área E
Na área o vale conforma-se em formato de “V”, no entanto, apresenta patamares
planos, principalmente nas proximidades do arroio Leão, onde encontra-se a maioria dos
sítios arqueológicos.
Foram localizados 7 sítios, 5 associados à tradição Tupiguarani, um com filiação
cultural não definida (Humaitá?) e um multicomponencial associado à tradição Umbu e
tradição Tupiguarani. O grau de conservação dos sítios encontra-se em menos de 25%, com
exceção do sítio Cavalli, que apresenta grau de conservação em torno de 75%. Os fatores de
impactação estão associados a atividades agrícolas, construção de estradas, erosão pluvial,
construção de moradias, entre outras.
As dimensões variam de 30m x 20m, até 85m x 40m. Quanto à localização, 4 sítios
estão localizados em áreas mais ou menos planas, distando de 30m a 70m do rio das Antas,
em altitudes médias de 180m e 3 sítios mais afastados do rio, distando de 250m a 300m do
rio, em altitude que vão de 240m a 320m. Predominam os solos argilosos nos sítios próximos
ao rio e argilo-arenosos nos sítios mais afastados, sendo que a área apresenta um bom
potencial agrícola, principalmente em função do relevo, onde os patamares apresentam áreas
próprias para cultivo, embora limitadas espacialmente.
Foto 10: Paisagens Características da Área E
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
93
Foto 11: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na área D
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.5.1 Sítios Isolados
35 - Celso Cavalli, RS-AN: 27 (Catálogo: 2159) situa-se na localidade de Nossa
Senhora da Natividade, Bento Gonçalves, RS, na margem esquerda do rio das Antas, em área
de encosta mais ou menos plana.
As dimensões são 40m x 20m, totalizando aproximadamente 800m
2
, distando 30m do
rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (7 corrugado, 1
corrugado-ungulado, 31 ungulado, 78 simples, 8 pintado, 22 escovado, 4 inclassificável) e
lítico (1 lasca e um afiador em canaleta, em arenito friável; 1 detrito, 1 alisador, 2 batedores,
em basalto; 1lasca, 1 núcleo, em calcedônia; 2 lascas, 1 seixo em riolito), associados à
tradição Tupiguarani. O referido sítio apresentou camada de ocupação com bom estado de
conservação, e está em fase de escavação, sendo que as referências acima são resultado de
uma coleta superficial.
O sítio é unicomponencial
12
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas e cerâmicas, dispostas em
forma elipsoidal. O solo é argilo-arenoso. O
material é o lítico lascado, lítico polido e
cerâmico.
Figura 28: Croqui do Sítio 35
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
12
Durante os trabalhos de escavação foi localizado um fragmento de cerâmica pertencente à tradição
Taquara.
94
41 - Adolfo Colli, RS-AN: 34 (Cat.: 2169) situa-se na localidade de Linha
Natividade, Bento Gonçalves, RS, em patamar mais ou menos plano, na margem esquerda do
Rio das Antas.
As dimensões do sítio são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando
50m do rio das Antas, com altitude de 170m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (2
corrugado, 4 simples, 1 escovado) e lítico (1 talhador, 1 batedor em basalto; 1 núcleo de
calcedônia), associado à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de
deposição em superfície, com evidências
líticas e cerâmicas, dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o
lítico lascado e o cerâmico.
Figura 29: Croqui do Sítio 41
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
39 - Francisco Tres “A” RS-AN: 25 (Catálogo: 2155) situa-se na localidade de
Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, localizado em elevação paralela ao rio mais ou menos 40 m
acima do nível da água, próximo ao entroncamento do arroio Leão, com o rio das Antas, na
margem direita.
As dimensões são 85m x 50m, totalizando aproximadamente 4250m
2
, distando 70m
do rio das Antas e 10m do arroio Leão, com altitude de 180m. O sítio apresenta vestígio
cerâmico (3 corrugado, 1 corrugado-ungulado, 5 ungulado, 26 simples, 6 pintado, 11
inclassificável) e lítico (1alisador em arenito friável; 2 lascas, 2 lascas corticais, 1 talhador, 1
fragmento de implemento, 1 seixo, em basalto; 2 lascas de calcedônia). (Ver Croqui Sítio 37).
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
95
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e cerâmico.
(Ver Croqui sítio 37)
40 - Francisco Tres “B”, RS-AN: 25, (Catálogo: 2181) situa-se na localidade de
Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas em elevação paralela ao
rio.
As dimensões do sítio são 85m x 50m, totalizando aproximadamente 4250m
2
,
distando 50m do rio das Antas e 5m do arroio leão, com altitude de 175m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (4 corrugado-ungulado, 1 simples, 3 pintado, 1 escovado) e lítico (13
lascas, 2 lascas com retoque, 6 lascas corticais, 5 talhadores, 11 fragmentos de implemento, 2
núcleos, 1 peça em confecção, 4 detrito, 2 alisadores, 6 batedores, 5 seixos, em basalto; 2
microlascas, 5 lascas, 1 lasca cortical, 1 núcleo, em calcedônia; 1microlasca, 3 lascas, 2 lascas
com retoque, em riolito), associados à tradição Umbu e tradição Tupiguarani.
O sitio apresenta características semelhantes ao Sítio Rabesquini “C” e mais uma vez
constatamos a presença de riolito associado à produção de lasca, lasca com retoque e
microlasca. Nesse sentido trabalhamos com a hipótese de reocupação e/ou co-habitação.
O sítio é multicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e
cerâmicas, dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e
cerâmico. (Ver Croqui sítio 38)
3.5.2 Sítios Escalonados
37 - Francisco Tres “E”, RS-AN: 25 (Catálogo: 2184) situa-se na localidade de
Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas em área de meia-encosta
mais ou menos plana, paralela ao rio.
As dimensões do sítio são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando
300m do rio das Antas e 200m do arroio Leão, com altitude de 200m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (1 corrugado-ungulado, 6 ungulado, 4 simples, 5 pintado) e lítico (1
talhador, 1 peça em confecção em basalto), associados à tradição Tupiguarani.
96
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica, apresentando-
se a céu aberto, sendo o contexto de
deposição em superfície, com evidências
líticas e cerâmicas, dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o
lítico lascado e cerâmico.
Figura 30: Croqui do Sítio 37
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
38 - Francisco Tres “D”, RS-AN: 25 (Cat.: 2179) situa-se na localidade de Linha 14
de Julho, Cotiporã, RS, margem direita do mesmo rio das Antas em área mais ou menos
plana no topo de uma elevação.
As dimensões do sítio são 30m x 30m, totalizando aproximadamente 900m
2
, distando
250m do rio das Antas e 200m do arroio Leão, com altitude de 200m. O sítio apresenta
somente vestígios de lítico lascado (1 lasca, 2 talhadores em basalto), sendo que não
possuímos subsídios para relacionar o material com uma tradição arqueológica.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas, dispostas em
forma circular. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado. (Ver Croqui sítio 37)
36 - Francisco Tres “C” RS-AN: 25 (Catálogo: 2182) situa-se na localidade de
Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita rio das Antas em topo de elevação, em
área mais ou menos plana.
As dimensões do sítio são 50m x 30m, totalizando aproximadamente 1.500m
2
,
distando 300m do rio das Antas e 200m do arroio Leão, com altitude de 230m. O sítio
apresenta vestígio cerâmico (4 corrugado, 1 corrugado-ungulado, 5 ungulado, 9 simples, 1
pintado, 1 escovado) e lítico (2 seixos de arenito friável; 1 machado polido, 1 lasca, 6
97
talhadores, 1 batedor, em basalto; 1 lasca de calcedônia; 2 lascas, 1 peça em confecção em
riolito), associado à tradição Tupiguarani.
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado, lítico polido e
cerâmico. (Ver croqui sítio 37)
3.6 Caracterização da Área F
Na área o vale conforma-se em “V”, no entanto, apresenta patamares planos,
principalmente nas proximidades de arroios. Por sua vez, nas áreas mais altas (topo) o relevo
apresenta-se levemente ondulado.
A área apresenta 6 sítios arqueológicos, 5 associados à tradição Tupiguarani e um
associado à tradição Umbu. O grau de conservação dos sítios encontra-se em menos de 25%.
Os fatores de impactação estão associados a atividades agrícolas, construção de estradas,
erosão pluvial, construção de moradias, entre outras.
As dimensões variam de 10m x 10m até 100m x 60m. Quanto à localização, 4 sítios
estão localizados em áreas mais ou menos planas, distando em média 60m do rio das Antas,
em altitudes médias de 180m e 2 sítios mais afastados do rio, distando aproximadamente
500m do rio das Antas, em altitudes que vão de 380m a 400m. Na área predominam os solos
argilosos.
98
Foto 12: Paisagens Características da Área F
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
Foto 13: Amostra dos Vestígios Arqueológicos Encontrados na Área F
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.6.1 Sítios Isolados
42 - Antônio Wons, RS-AN: 31 (Cat.: 2166) situa-se na localidade de Linha 14 de
Julho, Cotiporã, RS, situado em área de topo, margem direita do rio das Antas.
As dimensões do sítio são 100m x 60m, totalizando aproximadamente 6000 m
2
,
distando 500m do rio das Antas, com 400metros de altitude. O sítio apresenta vestígio
cerâmico (23 simples, 3 pintado, 4 escovado, 1 inclassificável) e lítico (1 talhador, 1 seixo, em
basalto; 1 lasca em riolito)
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e cerâmico.
99
Figura 31: Croqui do Sítio 42
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
43 - Luiz Romanatto, RS-AN: 40 (Catálogo: 2175) situa-se na localidade de Capela
São Casemiro, Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas, em área
de topo.
As dimensões do sítio são 30m x 20m, totalizando aproximadamente 600m
2
, distando
500m do rio das Antas, com altitude de 380m. O sítio apresenta somente vestígios de lítico
lascado (2 lascas, 1 lasca com retoque, 1 peça-em-confecção, em basalto; 1 lasca em riolito).
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas, dispostas em forma
elipsoidal. O solo é argiloso. O material é
o lítico.
Figura 32: Croqui do Sítio 43
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.6.2 Sítios em Grupo
44 - Onildo Roque Frizon “C”, RS-AN: 41, Catálogo: 2178. Situa-se na localidade
de Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas, em patamar mais ou
menos plano, próximo da foz de um pequeno arroio no rio das Antas.
100
As dimensões do sítio são 20m x 20m, totalizando aproximadamente 400m2, distando
60m do rio das Antas, e 5m de um pequeno córrego, com altitude de 160m. O sítio apresenta
somente vestígios cerâmicos (20 corrugado, 5 corrugado-ungulado, 1 ungulado, 6 simples, 1
pintado).
O sítio é unicomponencial
associado a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências cerâmicas, dispostas em forma
circular. O solo é argiloso. O material é o
cerâmico.
Figura 33: Croqui do Sítio 44
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
45 - Onildo Roque Frizon “B” RS-AN: 41 (Catálogo: 2177) situa-se na localidade
de linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas, em patamar mais ou
menos plano, próximo à foz de um pequeno córrego.
As dimensões do sítio são 15m x 10m, totalizando aproximadamente 150m
2
, distando
60m do rio das Antas e a 25m de um pequeno córrego, com altitude de 160m. O sítio
apresenta somente vestígio cerâmico (1 corrugado-ungulado, 1 ungulado, 1 simples).
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências cerâmicas, dispostas
em forma elipsoidal. O solo é argiloso. O material é o cerâmico. (Ver croqui sítio 44)
46 - Onildo Roque Frizon “A” RS-AN: 41 (Catálogo: 2176) situa-se na localidade
de linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas, em patamar mais ou
menos plano, próximo a um pequeno córrego no rio das Antas.
101
As dimensões do sítio são 10m x 10m, totalizando aproximadamente 100m
2
, distando
do rio das Antas 60m e 55m de um pequeno córrego, com altitude de 160m. O sítio apresenta
vestígio cerâmico (2 corrugado, 2 corrugado-ungulado, 3 simples, 1 pintado, 8 escovado) e
lítico (1 detrito).
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma circular. O solo é argiloso. O material é o lítico lascado e o cerâmico.
(Ver croqui sítio 44)
47 - Onildo Roque Frizon “D” RS-AN: 41 (Catálogo: 2179) situa-se na localidade
de Linha 14 de Julho, Cotiporã, RS, na margem direita do rio das Antas em patamar mais ou
menos plano.
As dimensões do sítio são 10m x 10m, totalizando aproximadamente 100m
2
, distando
70m do rio das Antas e 40m de um pequeno córrego. O sítio apresenta somente vestígios
cerâmicos (1 corrugado, 1 simples, 1 pintado).
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências cerâmicas, dispostas
em forma circular. O solo é argiloso. O material é o cerâmico. (Ver croqui sítio 44)
102
3.7 Caracterização da Área G
Na área o vale apresenta-se com patamares mais ou menos planos nas duas margens
do rio, sendo que a partir desse ponto há um aumento considerável nas dimensões das várzeas,
apresentando em muitos casos dimensões que ultrapassam os 100m/150m de largura.
A área apresenta 4 sítios arqueológicos, todos associados à tradição Tupiguarani. O
grau de conservação encontra-se em menos de 25%. Os fatores de impactação estão
associados a atividades agrícolas, construção de estradas, erosão pluvial, construção de
moradias, entre outras.
As dimensões variam de 15m x 20m até 90m x 45m. Quanto à localização, todos os
sítios estão em patamares planos, distando em média 20m do rio das Antas, em altitudes de
180m. Na área predominam os solos argilo-arenosos, apresentando um bom potencial
agrícola, com espaços consideráveis se comparados aos demais descritos anteriormente.
Foto 14: Paisagens Características da Área G
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
103
Foto 15: Amostra dos vestígios arqueológicos encontrados na Área G
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.7.1 Sítios Isolados
48 - Mário Possamai, RS-AN: 09 (Cat.: 2118) situa-se na localidade de 3ª Seção do
Rio das Antas Capitel de São Luiz, Bento Gonçalves, RS, situado em pequena área plana
junto à margem esquerda do Rio das Antas.
As dimensões são 20m x 15m, totalizando aproximadamente 3000m
2
, distando do rio
das Antas 20m, com altitude de 180m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (16 corrugado, 9
simples) e lítico (1 detrito de arenito friável; 2 talhadores em basalto).
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas e cerâmicas, dispostas em
forma elipsoidal. O solo é areno-argiloso. O
material é o lítico lascado e o cerâmico.
Figura 34: Croqui do Sítio 48
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
49 - Rui Belizke, RS-AN: 08, Cat.: 2171. Situa-se na localidade de Linha 14 de
Julho, Cotiporã, RS, em pequena área plana junto à margem direita do Rio das Antas.
104
As dimensões são 90m x 45m, totalizando aproximadamente 4.050m2, distando 20m
do rio das Antas, com 180m de altitude. O sítio apresenta vestígios cerâmico (94 corrugado, 4
corrugado-ungulado, 17 ungulado, 63 simples, 30 pintado, 29 escovado, 4 inclassificável) e
lítico (2lascas, 1 lasca cortical, 4 detritos, 1 talhador, 1 batedor, 1 lâmina de machado polida,
2 peças em confecção em basalto; 1 esfera
de hematita.
O sítio é unicomponencial associado
a uma ocupação pré-histórica,
apresentando-se a céu aberto, sendo o
contexto de deposição em superfície, com
evidências líticas e cerâmicas, dispostas em
forma elipsoidal. O solo é areno-argiloso. O
material é o lítico lascado, lítico polido e o
cerâmico.
Figura 35: Croqui do Sítio 49
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
51 Gava I (sítio já cadastrado no IPHAN), RS-HDG-01-40 (Cat.: 2115) o sítio
apresenta 16 fragmentos de cerâmica (4 corrugado, 4 ungulado, 7 simples, 1 pintado) 2 lascas
de calcedônia.
52 - Gava II, RS-AN: 10 (Cat.: 2116) situa-se na localidade de Linha 14 de Julho,
Cotiporã, RS, em pequena área com inclinação entre 30° e 45° em direção ao leito do rio.
As dimensões do sítio são 30m x 25m, totalizando aproximadamente 750m
2
, distando
20m do rio das Antas, com altitude de 180m. O sítio apresenta vestígio cerâmico (3
corrugado, 28 simples, 3 pintadado, 2 escovado) e lítico (1 lasca cortical em basalto).
O sítio é unicomponencial associado a uma ocupação pré-histórica, apresentando-se a
céu aberto, sendo o contexto de deposição em superfície, com evidências líticas e cerâmicas,
dispostas em forma elipsoidal. O solo é areno-argiloso. O material é o lítico lascado e o
cerâmico.
105
Figura 36: Croqui do Sítio 52
Fonte: Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
3.8 O Sistema de Assentamento dos Portadores da Tradição Tupiguarani no Vale
do Médio Rio das Antas
3.8.1 Características Gerais dos Sítios Arqueológicos
A partir da documentação produzida, destacamos que o ambiente na área de estudo era
favorável a instalação de grupos ceramistas-horticultores, mas com restrições, principalmente
de ordem econômica, visto que não temos a oferta de recursos presente nas grandes várzeas
da Depressão-Central.
Conseqüentemente esta relativa escassez de recursos se reflete na cultura material e na
organização do grupo. Como exemplo, podemos citar as dimensões dos sítios, a quantidade de
cerâmica, a ausência de grandes vasilhas, o acabamento nas vasilhas cerâmicas (rudimentar),
entre outros fatores.
Por outro lado, a distribuição dos sítios arqueológicos apresentou-se de forma bem
marcada. Conseguimos identificar regularidades, principalmente em relação à altitude, a
distância do rio e a preferência pela instalação em determinadas áreas. As dimensões dos
sítios e a quantidade dos vestígios apresentaram-se bem variadas, provavelmente indicando
variações no tempo de permanência e no número de ocupantes dos assentamentos.
106
Considerando a classificação das dimensões dos sítios apresentada por Brochado
(1973b), temos na área sítios com dimensões que vão desde 100m
2
a 6.000m
2
,
correspondendo a sítios extensos (5.000 a 20.000 m
2
), médios (1.000 a 5.000m
2
) e pequenos
(menos de 1.000m
2
).
Se pensarmos na quantidade de cerâmica, tendo como referência os sítios escavados,
na área de estudo (vale do rio das Antas) temos o sítio Favaretto Escavação, que corresponde
a uma unidade habitacional que apresentou 1.772 fragmentos de cerâmica. No vale do rio
Pardo, temos o sítio Candelária I, que corresponde a um conjunto de três unidades
habitacionais, situadas em uma várzea ampla, apresentou 36.000 fragmentos de cerâmica. No
vale do Jacuí, temos o sítio Röpke A, que corresponde a uma unidade habitacional, situada em
uma várzea mais estreita, apresentou 1.787 fragmentos.
Como tendência
13
para os portadores da tradição Tupiguarani, temos o predomínio dos
sítios pequenos (63,27%), seguido dos sítios médios (32,65%) e mais raros os sítios extensos
(4,08%). Em relação à localização, os sítios situados rio acima apresentam dimensões
menores (áreas A e B), nas áreas a jusante temos sítios médios e pequenos (áreas C, D, E, G)
e extensos (áreas C e F). A área F apresentou uma peculiaridade, os sítios pequenos
encontram-se próximos do rio e o sítio extenso (nº 42) encontra-se em área de topo, distante
do rio. Já a área C, apresentou um sítio extenso próximo do rio (nº26).
13
Para a elaboração do gráfico consideramos as dimensões de todos os sítios do Banco de Dados.
Para efeito de calculo descartamos os sítios nº 21 e 43.
107
Gráfico 01: Gráfico Representando as Dimensões dos Sítios em suas Respectivas Áreas
Fonte: Elaborado pelo autor
Quanto à forma temos o predomínio dos sítios em forma elipsoidal (39 sítios), seguido
da circular (10 sítios), sendo que outras formas não foram identificadas. Estruturas como áreas
de descarte, áreas de enterramento ou com funcionalidade que não fossem acampamentos ou
unidades habitacionais mais estáveis não foram identificadas na área.
Dos 52
14
sítios, 40 (76,93%) encontram-se em altitudes que variam entre 170 e 180m,
com distâncias que variam entre 20 e 90 m do rio, no entanto, boa parte dos sítios situa-se a
distância de 20 a 50m do rio. Outros 8 sítios (15,38%) situam-se em altitudes entre 240 e
400m, estando mais afastados do rio (meia encosta - topo) com distâncias entre 250 e 500m.
Somente 4 (7,69%) apresentaram-se em altitudes inferiores a 170m, com distâncias que
variam entre 60 e 90m do rio, correspondendo a áreas suscetíveis a cheias.
Quanto às concentrações de sítios, temos a preferência por locais onde o rio apresenta
curvas acentuadas e levemente acentuadas (exceção área F). Tal situação se deve
principalmente às características do revelo, que apresentam geralmente áreas planas,
14
51 sítios que constam no Banco de Dados , mais o sítio Favaretto Escavação. Descartamos o sítio
50 Ferri.
108
corredeiras, desembocadura de arroios, sendo que nos locais onde o rio apresenta uma
trajetória retilínea, geralmente o vale é bastante encaixado.
A partir do critério que utilizamos para dividir os sítios dentro das áreas (ver tabela
abaixo), percebemos uma incidência maior de sítios isolados em altitude de 170 a 180m, que
correspondem a áreas próximas do rio. A única exceção foi o sítio Antônio Wons (nº42) que
situa-se em altitude de 400m, conseqüentemente distante do rio. Os sítios em grupo e em
duplas apresentaram-se em altitude de 165 a 180m. Já os sítios escalonados apresentaram-se
em altitudes de 240 a 380m.
Tabela 01: Tabela Relacionando as Características dos Sítios, a Quantidade e a Altitude.
Característica dos Sítios Quantidade Porcentagem Altitude
Sítios Isolados 20 38,47% 170 a 180m
Sítio Isolado 1 1,92% 400m
Sítios em Dupla 10 (5duplas) 19,23% 170 a 180m
Sítios em Grupo 14 26,92% 165 a 180m
Sítios Escalonados 7 13,46% 240 e 380m
Fonte: Elaborado pelo autor
A quantidade de material arqueológico presente nos sítios não permitiu a elaboração
de seriações cerâmicas que contemplassem todos os sítios, bem como a ausência de
estratigrafias bem conservadas (com exceção do sítio Favaretto Escavação e o sítio Cavalli),
não permitiram realização de datações absolutas para um número significativo de sítios. Não
optamos pela realização de datas com termoluminescência em função da discrepância dos
dados em relação às datas com C
14
.
Dessa forma, para estabelecer referências sobre a temporalidade dos sítios,
consideramos o total de fragmentos de cerâmica (menos o sítio Favaretto Escavação), numa
tentativa de compor o padrão de decoração cerâmica para a área. Dos 1187 fragmentos,
18,53% são corrugados, 4,97% corrugado-ungulado, 8,59% ungulado, 39,18% simples,
10,95% pintado, 14, 83% escovado, 2,95% outros.
109
Tabela 02: Tabela com a Incidência dos Tipos de Decoração por Área
Fonte: Elaborado pelo autor
Comparando com o padrão do vale do Jacuí e Pardo elaborado por Klamt (2005),
observamos uma diminuição considerável na presença de corrugado, corrugado-ungulado, um
aumento no simples mais pintado (principalmente o simples) e outros, com destaque ao
escovado e ungulado (ver tabela abaixo).
Tabela 03: Tabela Comparando os Padrões de Decoração do Vale do Jacuí e Pardo com a
Área de Estudo
Vale Corrugado+Corrugado-
Ungulado
Simples + Pintado Outros
Padrão Vale
Jacuí e Pardo
+ ou 60% + ou 30% + ou 5%
Padrão Área
de Estudo
23,50% 50,13% 26,37%
Fonte: Elaborado pelo autor
Tendo em mente a expansão da tradição Tupiguarani através das rotas sugeridas por
Brochado (1973a), a área de estudo estaria associada a uma ocupação tardia (A.D. 1300 e
1500). Nesse sentido, a presença do escovado e ungulado com boa representatividade e a
diminuição do corrugado são indicativos de uma ocupação recente. Por sua vez, a data que
possuímos na área para o sítio Favaretto Escavação confirma a hipótese.
O material lítico mostrou-se pouco representativo nos sítios associados à tradição
Tupiguarani, sendo que os sítios unicomponenciais (45 sítios) apresentam de 3 a 16 artefatos
líticos (com exceção do sítio 31 Ari Citolin com 55 artefatos). Dos 45 sítios 21
Decor.
Grupo
Corrugado Corrugado-
Ungulado
Ungulado Simples Pintado Escovado Outros Total
Frag.
A 8,00%
0,00%
4,00%
32,00% 8,00% 24,00% 24,00%
25
B 10,85%
1,60%
2,81%
34,94% 14,05% 32,94% 2,81%
249
C 21,90%
2,34%
5,45%
42,19% 12,50% 14,06% 1,56%
128
D 5,60%
22,40%
13,60%
45,60% 11,20% 1,60% 0,00%
125
E 6,25%
4,70%
18,35%
46,10% 8,98% 9,76% 5,86%
256
F 26,80%
9,30%
2,32%
39,50% 6,97% 13,95% 1,16%
86
G 36,80%
1,25%
6,60%
33,65% 10,70% 9,75% 1,25%
318
110
apresentaram ao menos um talhador, geralmente em basalto. Comum também a presença de
lascas de diversas matérias-primas com destaque a calcedônia (lascamento bipolar). Os
machados polidos e afiadores-em-canaleta são raros.
Os sítios multicomponencias (2 sítios) associados à tradição Tupiguarani e tradição
Umbu, apresentaram entre 66 e 77 artefatos líticos, com destaque à presença de lascas,
microlascas, pontas-de-projétil, núcleos, talhadores, etc, sendo possível separar com alguma
segurança o que é característico da tradição Umbu e da tradição Tupiguarani.
Dessa forma, ponderamos que anteriormente à ocupação dos portadores da tradição
Tupiguarani, a área apresentou sítios arqueológicos associados a outras filiações culturais. A
partir dos dados de que dispomos temos um sítio (nº43) associado à tradição Umbu na área
“F”, distante do rio. Dois sítios multicomponenciais (nº40 e nº18) associados à tradição Umbu
e tradição Tupiguarani nas área “E”, situados nas proximidades do rio e dois (nº 21 e nº 38)
com filiação cultural não definida (Humaitá/Taquara?) nas áreas “B” e “E”, sendo que o
primeiro está situado próximo ao rio e o segundo mais distante em área de meia-encosta.
Nesse sentido, não possuímos elementos seguros para comprovar ou descartar a
hipótese de uma ocupação sincrônica nos sítios multicomponenciais. No entanto, o que nos
parece mais plausível é que os sítios associados à tradição Umbu e tradição Tupiguarani
correspondem a momentos diferentes.
Esta afirmação está amparada principalmente nas características dos sítios, onde a
presença de riolito é mais representativa em relação aos sítios da área. Também, quantidade
de lítico e os artefatos produzidos apresentaram diferenças consideráveis em relação aos
demais (ver gráfico abaixo sítio 18 e 40), além do que as dimensões dos sítios (2.000 e
4.230m
2
), não dão muita segurança para falarmos em uma ocupação sincrônica.
Da mesma forma, as opções de instalação, em tese, são restritas em função da
conformação do relevo, não sendo difícil, grupos distintos terem ocupado as mesmas áreas em
momentos diferentes. Por outro lado, a territorialidade das diferentes populações pré-
históricas, pode ter propiciado a ocupação de espaços contíguos, com movimentos de avanços
e retrocessos dentro de uma área determinada.
111
Gráfico 02: Gráfico com a Incidência do Material Cerâmico e do Material Lítico
Fonte: Elaborado pelo autor
Klamt (comunicação pessoal), informou que na região a ocupação por grupos da
tradição Umbu, deve ter sido mais intensa nos abrigos rochosos encontrados em áreas
relativamente distantes do rio das Antas, sendo que a área provavelmente estaria inserida nas
áreas de captação de recursos desses grupos, sendo as incursões na área eventuais ou sazonais.
Por outro lado, não descartamos a hipótese de que os sítios correspondam à interação
entre esses grupos, no entanto, somente com escavações onde os contextos de deposição dos
materiais possam ser identificados
15
, vamos ter uma referência mais significativa. O fato é que
materiais pertencentes a tradições distintas encontram-se próximas no contexto que
denominamos de sítio arqueológico.
Partindo do pressuposto que os sítios com filiação cultural não definida estão
associados à tradição Humaitá ou Taquara
16
, temos uma ocupação bastante esparsa, ora
15
Atualmente o sítio 35- Cavalli, encontra-se em processo de escavação, sendo que em uma
determinada área foi registrada a presença de cerâmica associada à tradição Taquara.
16
A utilização dos termos se dá de forma especulativa e não afirmativa. O Prof. Dr. Jairo H. Rogge
informou, em conversa informal, que os achados dessa natureza, provavelmente correspondem a
determinada tecnologia que tem se mostrado recorrente em vários pontos do estado, não compondo
exatamente uma tradição arqueológica, mas uma tecnologia comum a vários grupos, que em
determinadas circunstâncias pode ser utilizada.
112
próxima ao rio ora distante. Da mesma forma isso acontece se pensarmos que o sítio
associado à tradição Umbu e os sítios multicomponenciais como ocupações anteriores à
tradição Tupiguarani, teríamos da mesma forma uma ocupação esparsa, o que não é de se
estranhar pensando na territorialidade dos grupos caçadores-coletores.
A partir das referências de Rogge (2004), pressupomos que a região onde se insere,
nossa área de pesquisa, corresponderia em determinado momento, a um espaço intermediário
entre as ocupações dos portadores da tradição Taquara e portadores da tradição Tupiguarani.
As referências de que dispomos indicam que predominou a ocupação Tupiguarani. Podemos
pensar também que a área, a partir da ocupação Tupiguarani, passou a ser um ponto de
atração para outras populações (ROGGE, 2004) e, conseqüentemente passou a ser um local de
interação, entre os grupos.
Em relação aos caçadores-coletores, no vale Jacuí temos uma situação semelhante, as
datas indicam que os sítios de caçadores-coletores são contemporâneos aos sítios ceramistas-
horticultores, mantendo-se em áreas periféricas, mas relativamente próximas. Todavia, ainda
não temos subsídios para entender tal relação.
Na mesma linha de pensamento podemos especular a respeito dos padrões de
decoração da cerâmica Tupiguarani para a área. Constatamos um aumento significativo na
incidência do escovado, ungulado e simples e, a diminuição no corrugado corrugado-
ungulado e pintado, ficando em aberto os fatores que motivaram tal transformação.
Ponderamos que a temporalidade e as necessidades impostas pelas características do ambiente
motivaram tal mudança.
3.8.2 A Ocupação da Tradição Tupiguarani na Área de Estudo: cronologia, função e
território
113
Como a maioria dos sítios está associada à tradição Tupiguarani, julgamos pertinente
ressaltar que a área talvez não fosse muito atrativa para outros grupos, ou a necessidade de
ocupar a área não tivesse se colocado de forma categórica.
Estimamos em um período de 200 a 300 anos a ocupação da área pelas populações
portadoras da tradição Tupiguarani. O início do povoamento provavelmente se deu por volta
do século XIV até o século XVII, sendo que após este período a ocupação foi cedendo lugar à
expansão das colônias de imigrantes, se colocando cada vez mais em direção ao planalto até
desaparecer em circunstâncias historicamente conhecidas.
Provavelmente, alguns sítios foram ocupados por mais tempo e também por um
número maior de pessoas. Dos sítios bem conservados, o sítio Cavalli parece ter uma
ocupação em um período posterior ao sítio Favaretto Escavação, apresentando também
dimensões e quantidades de vestígios mais expressivas. Da mesma forma, podemos comparar
os sítios em superfície, visto que, apresentaram diferenças consideráveis nas dimensões e na
quantidade de materiais.
Por outro lado, podemos supor que a área pode ter sido ocupada em determinados
períodos e posteriormente abandonada, resultando em ciclos de ocupação. No entanto,
somente com a ampliação da área de estudo, do registro de novos sítios e do implemento do
número de datações, chegaremos a estimativas mais seguras e completas.
Partindo do pressuposto de que a presença significativa da decoração corrugada e
pintada indica um período mais antigo e a presença significativa da decoração simples,
ungulada e escovada indicam um período mais recente, organizamos os dados em um gráfico,
destacando o grupo de sítios, as porcentagens de decoração e total de fragmentos por área.
114
Gráfico 03: Gráfico Comparando as Porcentagens de Cerâmica por Área
Fonte: Elaborado pelo autor
Observando o gráfico, percebemos que a área G, provavelmente foi a primeira a ser
povoada, visto que apresenta uma quantidade considerável de cerâmica com decoração
corrugada, em relação às demais áreas, além do que, está mais próxima das várzeas mais
extensas do rio Taquari. Os sítios ocupam compartimentos bem marcados no relevo, com
destaque ao sítio Belizke, que apresentou uma quantidade de cerâmica expressiva e material
lítico polido (1 machado).
Quanto aos sítios situados a jusante da área G, não temos referências próximas
(somente os municípios de Bento Gonçalves e Muçum Catálogo de sítios do Instituto
Anchietano), no entanto, presumimos que os sítios porventura localizados em trabalhos
futuros, terão forte relação com a área G. Inclusive, em função das características da área,
podemos pensar que o local corresponde ao limite do território de outro grupo que ocupou
uma área a jusante, sendo que a partir do aumento da população, dividiu-se.
Um grupo provavelmente continuou ocupando os locais já estabelecidos, enquanto o
novo grupo se lançou à montante da área G, perfazendo um novo território de ocupação.
Outro dado que corrobora para esta hipótese encontra-se no capítulo I Histórico da Pesquisa,
onde os sítios associados à tradição Tupiguarani nos municípios de Bento Gonçalves e
Muçum, correspondem à subtradição-Corrugada, indicando uma ocupação anterior.
115
As áreas F e C apresentaram semelhanças em quase todas as porcentagens, parecendo
pertencer a um mesmo momento. No entanto, se observarmos os sítios separadamente,
percebemos que o sítio nº 27 Luiz Favaretto e nº 44 Onildo Roque Frizon C, apresentam
porcentagens consideráveis de corrugado, o que inevitavelmente nos faz pensar na relação
temporal entre os sítios e também com a área G. Essa relação provavelmente reforça a
caracterização de deslocamentos de pequena e longa distância. Área G F C.
Por sua vez a área D representa ser uma ocupação intermediária (para a área de
estudo), entre os sítios mais antigos e os mais recentes, principalmente em função do sítio 31
Citolin. O referido sítio encontra-se mais afastado do rio, apresentando cerâmica com boa
porcentagem de corrugado-ungulado, pouco escovado e uma quantidade acima da média de
material lítico.
A relativa distância do rio pode estar associada à ocupação do vale do arroio Sapato e
Retiro. Os referidos arroios têm suas nascentes em áreas onde já aparece com bastante
intensidade a floresta ombrófila mista, além do que, os tributários do rio das Antas nos
parecem os prováveis caminhos de circulação na área, bem como áreas passíveis de serem
ocupadas, mesmo estando em direção a áreas com altitude mais acentuadas.
A área E, por sua vez parece corresponder a um período posterior de ocupação se
comparada aos demais grupos descritos até agora, principalmente em função da incidência
discreta do corrugado e uma presença de destaque do ungulado e do escovado. Por sua vez, a
presença de dois sítios multicomponenciais (tradição Umbu/tradição Tupiguarani - tradição
Tupiguarani/tradição Taquara
17
) e de um sítio, provavelmente, associado à tradição
Humaitá/Taquara, evidencia a variabilidade de ocupação da área.
Quanto às características físicas, a área apresenta semelhanças com a área D. Nesse
sentido, as áreas D e E nos parecem as mais suscetíveis para o contato das populações
portadoras da tradição Tupiguarani com as portadoras da tradição Taquara, principalmente em
função da origem dos tributários do rio das Antas que deságuam nas referidas áreas.
17
Julgamos pertinente acrescentar que durante os trabalhos de escavação no Sítio 35 Cavalli foi
encontrado um fragmento de cerâmica pertencente a tradição Taquara. Os dados que utilizamos na
descrição do sítio correspondem à coleta superficial realizada nas primeiras etapas de campo.
116
Já as áreas B e A parecem ter uma ocupação recente, com porcentagens consideráveis
de escovado e a diminuição acentuada do corrugado. A partir dos dados que possuímos,
verificamos um aumento da porcentagem de decoração escovada rio acima e a diminuição da
porcentagem de corrugado e corrugado-ungulado. Observamos também que em determinados
sítios rio abaixo o escovado é recorrente, indicando prováveis movimentos de retorno às
antigas áreas ocupadas.
M
apa 09: Mapa com os Prováveis Deslocamentos dos Portadores da Tradição Tupiguarani na
Área de Estudo
Fonte: modificado pelo autor a partir do Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
117
3.8.3 Função dos Assentamentos
Os sítios associados à tradição Tupiguarani têm uma ocupação mais expressiva na
área. A preferência por locais planos próximos das junções do rio com arroios, onde o rio
apresenta curvas e corredeiras, sendo que, os assentamentos mantém uma distância segura do
rio (a salvo das enchentes), aproveitamento também de áreas de meia-encosta e topo, além é
claro da concentração das ocupações em determinadas áreas onde há uma disponibilidade
maior de recursos (ver mapa distribuição dos sítios), entre outros fatores.
Acreditamos que nem todos os sítios constituíam espaços habitacionais, visto que a
quantidade, os artefatos encontrados, a inserção na paisagem, induzem-nos a pensar em uma
ocupação rápida, para a execução de uma tarefa específica, por exemplo, o cultivo de uma
roça, a derrubada da mata, um acampamento de caça, ou até mesmo uma instalação prévia em
determinada área. Por outro lado, não podemos descartar que o impacto das atividades
agrícolas, construção de estradas, moradias, terraplanagens, possam interferir no registro a
ponto deste apresentar diferenças significativas.
As áreas que apresentaram sítios em grupo (B e F) parecem ter uma ocupação mais
intensa, principalmente no caso da área B. A presença de uma várzea extensa, aliada a áreas
passíveis de serem ocupadas nas imediações, configura uma área atrativa, com excelente
potencial para instalação de grupos ceramistas-horticultores.
A partir dos materiais presentes nos sítios (área B), na localização, nas dimensões,
pensamos na ocupação sincrônica de pelo menos duas unidades habitacionais. A presença de
sítios em locais passíveis de ser atingidos por enchentes, em áreas de meia-encosta (sítios
escalonados), a presença de sítios dispostos em duplas em locais próximos denota que a área
foi explorada com certa freqüência.
Os sítios com dimensões reduzidas, provavelmente constituíam ocupações temporárias
de exploração. Da mesma forma, a presença de sítios dispostos em dupla (tendo o caso do
sítio Favaretto e Favaretto Escavação como referência) denota a movimentação dessas
populações, avançando e retrocedendo dentro de determinado território, retornando às áreas
anteriormente exploradas e/ou iniciando a exploração de uma nova área.
118
Na área F temos uma situação diferente da área B. Os sítios em grupo parecem
representar ocupações distintas, sendo uma unidade habitacional mais estável próxima de
outras ocupações menos estáveis. Nessa área merece destaque a presença de um sítio isolado
em altitude de 400m. O referido sítio parece compor um assentamento bastante estável (sítio
extenso), estando às ocupações próximas ao rio provavelmente relacionadas a este sítio.
De forma geral, os sítios escalonados (área B, C, D, E) parecem apresentar funções
diferenciadas dos demais, visto que na maioria dos casos eles estão próximos de áreas com
boa oferta de recursos, no entanto, situam-se em um compartimento de relevo diferenciado.
Embora classificados como sítios escalonados, os sítios presentes nas áreas D e E (nº31 - Ari
Citolin, nº 36 - Francisco Tres C e nº 37 - Francisco Tres E) parecem ser assentamentos
estáveis, embora localizados em compartimentos de relevo diferenciados.
Já os sítios isolados apresentaram-se principalmente em pequenos patamares próximo
ao rio (exceção do sítio Antônio Wons) como nas áreas A, B, C, D, E, e, em locais bem
marcados na paisagem, em espaços amplos como na área G e C (sítio Volmir Marin) sendo
que as dimensões dos sítios diminuem quanto mais encaixado o vale se apresenta e aumentam
nos locais onde o vale apresenta espaços planos mais amplos.
Por outro lado, em áreas de topo os sítios podem apresentar dimensões consideráveis,
como na área F (sítio Antônio Wons), denotando a potencialidade de ocupação dessas áreas.
Todavia, nos parece serem raros estes casos.
3.8.4 O Território
De forma geral, os locais de instalação dos sítios denotam claramente o domínio da
área, principalmente em função da instalação em lugares com ofertas consideráveis de
recursos, sendo que os limites, provavelmente, estendem-se até onde os recursos
proporcionam condições para a reprodução do modo de vida dos portadores da tradição
Tupiguarani.
As semelhanças dos sítios no que tange a filiação cultural, a cerâmica, o lítico, e, a
diferença nas dimensões dos sítios, na inserção no ambiente, nos faz pensar na ocupação da
área por um único grupo, oriundo provavelmente do vale do rio Taquari. Embora a área não
119
apresente os recursos disponíveis nas grandes várzeas, mas recebeu uma população pequena,
no entanto estável.
Ponderamos que o modelo de ocupação proposto por Schmitz (1985, 1990) é o que
mais se adéqua aos dados arqueológicos e ao contexto da área. Dessa forma, estimamos que a
ocupação se deu por um grupo que ao longo de 250 300 anos ocupou a área, adaptando-se
às nuances do clima, da vegetação e do relevo, mantendo um território amplo para busca de
recursos e que em determinado momento teve contato com outras populações pré-históricas e
interagiu com elas.
A sistemática de implantação dos sítios na paisagem é resultado, provavelmente, da
estratégia de domínio do território e do manejo ambiental utilizado, sendo que os
deslocamentos de pequena, média e longa distância permitiram a manutenção do grupo na
área por um período de aproximadamente 300 anos. As áreas abandonadas provavelmente
foram reocupadas, após um período de pousio, necessário para o reestabelecimento da
vegetação e da fertilidade dos solos, reforçando o vínculo do grupo com um determinado
território.
120
4 O SÍTIO FAVARETTO ESCAVAÇÃO
4.1 Antecedentes
Como havíamos mencionado no Histórico da Pesquisa, os trabalhos que contemplam a
espacialidade dos sítios arqueológicos associados à tradição Tupiguarani estão restritos a
menos de uma dezena no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, torna-se pertinente apresentar
uma breve síntese de algumas publicações, apresentando de forma mais enfática as referências
sobre o vale do rio Pardo (1 aldeia e 1 sítio) e o vale do Jacuí (1 sítio), principalmente em
função da proximidade com nossa área de estudo, e, de forma complementar, as referências
do Litoral Central (1 sítio) e do Litoral Sul (1 sítio).
4.1.1 Candelária I
O sítio Candelária I localizado no município de Candelária, RS, situa-se a 2Km da
sede do município e a 1 Km do rio Pardo, margem esquerda. Conforme Schmitz (1990, p.8),
a nascente do rio Pardo encontra-se no Planalto Rio-Grandense. No seu curso inicial, o rio
apresenta-se em um canyon escavado nos paredões de basalto. Na altura dos municípios de
Passa Sete e Vale do Sol, RS, o rio começa a formar um vale, no início com 1, depois com 2,
3 e 4Km de largura, sendo que logo abaixo do sítio, abandona a moldura do Planalto e se
alarga, conformando uma paisagem típica da Depressão Central, com várzeas alagadiças e
banhados, que se estendem por vários quilômetros.
Quanto à vegetação temos três situações: presença de mata latifoliada subtropical
18
no
vale, na encosta e no topo, sendo que neste último temos a transição para a mata subtropical
com Araucária
19
, e, na parte situada a jusante do sítio, temos a região de campos. O relevo
apresenta cotas de 40 e 60m, com áreas de várzeas, coxilhas e nos pontos mais altos, relevo
tabular falhado.
18
Também conhecida como Mata Atlântica. Calcula-se que existam 10 mil espécies de plantas. Nela
se encontram jabuticabas, ingás, guabirobas. Plantas como orquídeas, bromélias, samambaias,
palmeiras, pau-brasil, cabreúva, ipês, palmito, etc.
19
Também conhecida como Mata dos Pinhais (araucária), é uma floresta subtropical típica da região Sul do
Brasil (estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
121
Figura 37: Modelo do relevo do Vale do Rio Pardo na área do Sítio Candelária I e II
Fonte: elaborado pelo autor
As chuvas apresentam-se bem distribuídas por todo o ano, sendo mais acentuadas nos
meses de julho, agosto e setembro. A temperatura média anual encontra-se entre 18 e 20° C.
Em média 10 dias por ano ocorre a formação de geadas.
As características do relevo, da vegetação e do clima, correspondem ao ambiente ideal
de ocupação para grupos ceramistas-horticultores, além de compor, a partir da proximidade de
áreas de campo e pinhais, uma área de transição de formações vegetais (mato e campo),
aumentando dessa forma as opções de captação de recursos. A área encontra-se na formação
vegetal, chamada por Brochado (1973) de Floresta Úmida, associada às várzeas dos grandes
rios, sendo que nessa formação encontram-se os sítios maiores e mais antigos da tradição
Tupiguarani no Rio Grande do Sul.
O sítio corresponde a uma aldeia de tamanho médio, com data relativa entre os séculos
X e XII, correspondendo ao final do clímax da subtradição Corrugada (SCHMITZ, 1990, p.
12). Foi escavado pela equipe do Museu do Colégio Mauá, nos anos de 1968 a 1974, em
várias etapas de campo. O registro foi realizado de metro em metro (m
2
). Era composto por
três núcleos de solo antropogênico (NSA - Terra Preta), entremeados de grande quantidade de
material arqueológico, que foram escavados praticamente na íntegra.
Os núcleos apresentavam as seguintes dimensões: 20m x 10m, 12m x 6m e 20m x 9m.
O NSA apresentou uma espessura média de 30 a 40 cm, com espaços intermediários, que
provavelmente indicariam ocupações sucessivas ou abandono temporário. Quanto à
estratigrafia o material foi separado em dois níveis: um que sofreu a intervenção dos
implementos agrícolas e o outro que se manteve a salvo da ação dos implementos.
Como objetivos para a interpretação dos dados Schmitz (1990, p.14) destaca:
122
- a definição do conteúdo completo, preservado, das habitações; - a distribuição dos
diferentes elementos no espaço das habitações e com isso a determinação dos locais
ocupados pelas atividades desenvolvidas dentro das habitações; - a proveniência dos
diferentes elementos recuperados, usados no abastecimento da aldeia; - a maneira
como os diversos elementos preservados do abastecimento foram transformados
pelos habitantes ou usados diretamente; - o cálculo estimativo do número de
habitantes das habitações e da aldeia, usando como índice o espaço efetivamente
ocupado; - a comparação das informações conseguidas com as da etnografia do
Guarani do tempo da Conquista.
A cerâmica do sítio é típica da tradição Tupiguarani, com predomínio do corrugado,
sendo o tratamento de superfície escovado bastante raro. As diversas formas de acabamento
da superfície podem ser encontradas tanto em vasilhames de tamanho pequeno, como médio
e grande, havendo, entretanto, certa regularidade de formas e de acabamento. (SCHMITZ,
1990, p. 39). Para a construção das vasilhas provavelmente usaram sedimentos da várzea do
rio, não sendo possível identificar adições intencionais de antiplástico.
Conforme Schmitz (1990), o núcleo A apresenta, provavelmente, duas áreas de
cocção, situados nos extremos da habitação, com variações na quantidade de material. O
núcleo B apresenta somente uma área de cocção em área mais central e o núcleo C apresenta
duas áreas de cocção, com restos ósseos distribuídos de forma definida, áreas estas
concentradas nos extremos das casas. Os restos faunísticos encontrados na escavação
correspondem a animais de médio a grande porte, que provavelmente eram trazidos inteiros
para a aldeia.
O material lítico foi estudado a partir do tipo de matéria-prima, da tecnologia de
produção, da presença de marcas de uso do instrumento ou retoque e da espacialidade. Como
resultados, podemos destacar que a matéria-prima provinha em sua maioria de locais
próximos, escolhida a partir dos artefatos a serem produzidos. Destaque também para a
grande incidência de pedras-de-fogão e os seixos. Pouca presença de lâminas de machado
polidas ou lascadas. Presença de arenito friável com forma pouco arredondada, com marcas
de fogo.
Podemos destacar a ocorrência de seixos inteiros, rachados e quebrados, além de
percutores, seixos intermediários e núcleos ao redor da área de fogo. Também os alisadores-
em-canaleta e polidores encontram-se na área periférica à área de cocção.
123
A aproximação demográfica para as habitações se deu a partir de dois modelos, sendo
que o primeiro considera a área de maior concentração de material e o segundo a área de
dispersão da mancha escura. A partir dos dois critérios de aproximação demográfica, temos
uma média de 37 a 67, o que corresponderia a uma aldeia pequena (SCHMITZ, 1990).
Quadro 04: Quadro comparando as Aproximações Demográficas do Sítio Candelária I a partir
das Fórmulas de Caselbery e Cook
Núcleo Área em m
2
Caselbery (nº de pessoas) Cook (nº de pessoas)
A 80/180 13-14/30 13/24
B 50/70 8-9/11-12 11/12
C 80/160 13-14/26-27 13/21-22
Média 34-37/67-69 37/57-58
Fonte: elaborado pelo autor a partir de Schmitz (1990, p.108-9)
4.1.2 Candelária II
De acordo com Rogge (1996), o sítio Candelária II localizado na margem direita do
arroio Tibiri, margem esquerda do Rio Pardo, distando aproximadamente 5Km da sede do
município de Candelária, RS. O registro e a escavação do sítio também foram realizados pela
equipe do Colégio Mauá de Santa Cruz do Sul (1968 1974), onde uma mancha de terra preta
foi escavada parcialmente.
A mancha considerada parte de uma unidade habitacional, apresentava cerca de
13x4m, da qual foram removidos 28,5m
2
, em quadrículas de tamanhos variados. Como no
sítio Candelária I os espaços externos não foram testados. O clima, a vegetação e relevo são
semelhantes aos do Sítio Candelária I, não sendo necessário mencioná-los novamente.
A classificação do material cerâmico centrou-se nas formas do vasilhame, sendo a
classificação essencialmente descritiva, procurando identificar classes de vasilhas, nas quais
fosse possível visualizar a variação das formas.
O acabamento da superfície interna é sempre o alisado, com melhor ou pior
qualidade, dependendo do acesso que a oleira tem a este lado da vasilha. Na face
externa, temos uma variedade bem maior de modos de acabamento, cujo aspecto
final caracterizará a decoração. (ROGGE, 1996, p. 84)
124
Do total de 9.357 fragmentos, a maior parte possui acabamento plástico (64,37%), a
decoração pintada (15,20%) e o alisamento externo (10,98%). O restante do material cerâmico
corresponde a restos de argila, provavelmente refugos da manufatura das vasilhas,
denominados de massas (3,13%), além de fragmentos residuais (6,32%).
A cerâmica com decoração pintada geralmente apresenta um engobo branco e em
alguns casos, vermelho. Sobre o engobo são aplicados os motivos decorativos, em
vermelho ou preto, ou em branco, quando o engobo é vermelho, os pigmentos são
quase sempre de origem mineral. (ROGGE, 1996, p. 85)
Quanto aos motivos decorativos, destacamos a presença de padrões geométricos,
ocorrendo em faixas delimitadas ou em campos mais amplos. Diferentes padrões podem estar
associados em uma mesma vasilha, ocupando segmentos estruturais diferentes.
A reconstituição gráfica das vasilhas se deu a partir de bordas e bases selecionadas
entre os fragmentos, obedecendo a certas relações dimensionais entre as unidades
componentes de cada peça, como diâmetro máximo, diâmetro de abertura de boca,
profundidade.
Quanto ao material lítico, a análise se deu a partir de três etapas. A primeira referente à
caracterização da matéria-prima utilizada; a segunda referente à caracterização da técnica de
produção aplicada; a terceira referente à caracterização da indústria lítica produzida.
A partir da análise foram identificadas diferentes categorias de rochas e minerais
utilizados como matéria-prima, dentre eles basaltóides, arenito, arenito silicificado, sílica
microcristalina. Esses materiais encontram-se a pouca distância do sítio, com exceção do
siltito que pode ser encontrado a alguns quilômetros ao sul e o xisto a distâncias maiores, já
que é típico de áreas do escudo cristalino (os dois últimos com incidência pouco
representativa).
A indústria lítica do sítio Candelária II foi dividida em duas categorias: não funcional
e funcional. Registrou-se no espaço interior da habitação uma grande quantidade de seixos
naturais inteiros, bastante padronizados no que se refere à forma e tamanho.
125
Quanto aos restos faunísticos foram encontradas seis classes de animais, com
predomínio dos mamíferos. A caça, em Candelária II, parece ter ocorrido tanto com animais
de médio porte, como os porcos-do-mato, bugios, roedores e carnívoros diversos, como com
animais de grande porte, como as antas e, principalmente, os veados. (ROGGE, 1996, p.
122)
4.1.3 Wilmuth Röpke
Soares (2005) apresenta o resultado da análise do sítio arqueológico RS-JC-56 [Röpke
A Trincheira] e RS-JC-57 [Röpke B Lixeira], denominado de sítio Wilmuth Röpke,
pertencentes à tradição Tupiguarani. Conforme o autor trata-se de uma área de “descarte”
localizada na barranca do rio e um espaço habitacional localizado nas proximidades em área
plana.
Soares (2005, p.14) destaca que o referido estudo procura analisar a distribuição dos
testemunhos em uma visão sincrônica, buscando compreender a forma ou o uso que o espaço
teria no momento anterior ao abandono, sem preocupação de abordar as relações entre
sociedade e o meio, bem como a exploração ou manuseio do ambiente.
O autor salienta que não foram encontradas fogueiras delimitadas por pedras, no
entanto, foi evidenciada uma cavidade com características associadas a uma área de
combustão. Destaca também a diferença entre fogueira, fogos e fogões, sendo que a fogueira
seria o local onde se realizam fogos de maior extensão, podendo ser utilizada para a cocção ou
não. Os fogões estariam relacionados às atividades de cozinhar, com presença de cerâmica em
seu interior e dimensões proporcionais ao número de recipientes utilizados. Os fogos teriam a
função somente de aquecer, sem a presença de material cerâmico ou lítico.
A cerâmica foi interpretada a partir da funcionalidade das vasilhas, estabelecida a
partir do perfil das bordas e a distribuição dos fragmentos no espaço. O autor destaca a
presença de pouco material lítico acabado dentro da área de habitação. Quanto à distribuição
dos testemunhos brutos (blocos de basalto e arenito), verificou-se a presença de blocos de
basalto associados às fogueiras. Os blocos de arenito estão dispersos por toda a área da
escavação.
126
Na distribuição dos testemunhos modificados pela ação do calor, observou-se a
presença de blocos de basalto e seixos associados à mancha escura. Por sua vez, os
testemunhos manufaturados (arenito, calcedônia, cerâmica) estão dispostos nas proximidades
das fogueiras, onde provavelmente se realizaria a maioria das atividades dentro do espaço
doméstico. De forma geral, as matérias-primas foram compartilhadas pelas três unidades
domésticas (fogueiras, fogões, fogos).
Todavia, Klamt (2005), através da utilização de métodos tradicionais de análise
arqueológica apresenta os referidos sítios como habitações distintas, principalmente em
função dos materiais encontrados, que apresentam características semelhantes. Esta
constatação foi reforçada por Bona (2006), que a partir do estudo da assinatura química da
cerâmica de diversos sítios da área, concluiu que os sítios Röpke_L (seria o Röpke B ou
Röpke Lixeira) e Röpke_T (seria o Röpke A ou Trincheira), apesar de terem assinaturas
químicas semelhantes não apresentaram interações, apontando a necessidade de estabelecer
datas para os referidos sítios, afim de identificar se são contemporâneos ou correspondem a
ocupações distintas.
De acordo com Klamt (2005) o sítio Röpke A apresentou 1.787 fragmentos de
cerâmica, que foram classificados de acordo com sua espessura e decoração plástica. O sítio
apresentou 905 (51%) fragmentos com decoração corrugada, 451(25%) simples, 226 (12,6%)
corrugado-ungulado, 200(11%) pintado e 7 (0,4%) ungulado. Sendo assim 971 (54%)
fragmentos apresentaram espessura de até 1,0cm; 630 (35%) fragmentos apresentaram
espessura entre 1,0 cm e 1,5 cm e 186 (11%) dos fragmentos apresentaram espessura acima de
1,5cm.
Quanto ao material lítico temos a presença de basalto (55,8%), utilizado para a
confecção de implementos maiores (talhadores, lâminas polidas, pedras-de-fogão), a
calcedônia (38,2%) utilizada provavelmente para elaboração de utensílios de corte, o arenito
metamorfisado (0,15%) provavelmente utilizado na mesma função.
A técnica de lascamento está representada principalmente pelo lascamento unipolar e
retalhamento bipolar, com raros casos de retoque ou polimento, sendo que a calcedônia
apresenta sinais de submissão ao fogo para retalhamento. Também, a presença de seixos
rolados sem função aparente foi constatada nos dois sítios.
127
No que se refere à aproximação demográfica Klamt (2005) através da utilização das
fórmulas de Casselbery e Cook, apresenta a habitação com uma área de 120m
2
, apresentando
dessa forma 20 pessoas para o primeiro caso e 17 pessoas para o segundo, sendo que o espaço
seria ocupado por duas famílias, cada uma com seu fogão.
Quanto à datação do sítio há controvérsias, nesse sentido optamos por apresentar a
data sugerida por Klamt (2005, p. 66) Cal AD 1400 to 1490 (Beta: 181184), que conforme o
referido autor é mais compatível com a periodização do vale do Jacuí.
4.1.4 Fazenda Soares
Carle (2002) apresenta o trabalho de interpretação dos vestígios do sítio RS RG 002
Fazenda Soares, situado na localidade de Povo Novo, Rio Grande, RS. Sítio associado a
horticultores Guarani pré-coloniais. Segundo a autora, o sítio está inserido dentro de uma
morfologia e função de acampamento, ou aldeia...., representando a ocupação da área em
questão (op. Cit. p. 16).
Quanto à inserção no ambiente, a área localiza-se na bacia sedimentar com depósitos
marinhos e lacustres, estando situada a cotas altimétricas em torno de 5 metros. Na referida
área há o predomínio de duas grandes restingas: a de São José do Norte e de Rio Grande.
De forma geral os sítios situam-se em terraços, onde provavelmente, existiam áreas
com mata, que permitiu a reprodução do sistema de plantio, sendo a fertilidade dos solos de
média a baixa, o que resultaria na constituição de estruturas familiares pequenas na
composição da aldeia.
O total de reconstituições que puderam ser efetuadas foi de 101 vasilhas através de
suas bordas mais significativas. O que conseguimos notar é que estas reconstituições
mostraram que as vasilhas eram pequenas não ultrapassando a diâmetros maiores
que 38cm de abertura de boca, salvo algumas exceções onde aparece um cambuchí
com diâmetro de boca de 48 e um yapepó de diâmetro de 44cm de abertura de boca,
isso nos leva a crer que este grupo não era muito grande, pois não possuíam panelas
grandes para o cozimento de alimentos. (CARLE, 2002, p. 60)
128
4.1.5 Balneário Quintão
Conforme Rogge (2006), o sítio RS-LC-80, localizado na borda sul da Lagoa da
Porteira, litoral central do Rio Grande do Sul, apresenta aproximadamente 150 m
2
, onde
foram escavados 68m
2
, resultando em 844 fragmentos de cerâmica associados à tradição
Tupiguarani e 26 fragmentos da tradição Taquara. A decoração predominante é o corrugado,
seguido do corrugado-ungulado, sendo menos comum o ungulado, o simples e o pintado.
O sítio apresenta data de 280 ± 50 A.P. (Beta-202366) e corresponde a uma unidade
habitacional, com piso de ocupação bem definido, indicando ser um assentamento mais
estável do que outros localizados nessa área, (ROGGE, 2006), apresentando também buracos
de esteio.
Quanto à organização do espaço, o sítio apresenta fogueiras fora da área que
corresponderia ao entorno do espaço habitacional, zona de maior densidade de material.
Percebe-se o predomínio das vasilhas de tamanho pequeno a médio, com capacidade para
reter até 20 litros em média, além da ausência dos grandes recipientes que poderiam indicar
um grau de permanência no assentamento mais prolongado.
Tal ausência deve indicar que o assentamento não possuía um grau de permanência
alto, ou seja, sua ocupação não deve ter sido demasiadamente prolongada. Por outro
lado, a ocorrência de panelas grandes, usadas para preparação de alimentos, bem
como a reprodução de uma gama relativamente variada de tipos cerâmicos,
incluindo os pintados, parece indicar que o assentamento não era simplesmente um
acampamento transitório e que possuía alguma estabilidade, diferentemente do que
ocorre em outros sítios da área. (ROGGE, 2006, p. 186)
129
4.2 O Trabalho de Campo e de Laboratório
O sítio Favaretto foi localizado durante o Programa de Salvamento do Patrimônio
Arqueológico no Complexo Energético Rio das Antas, RS. Na primeira etapa, no ano de
2002, foi identificada, em um pequeno patamar plano, a presença de cerâmica e material
lítico. O local foi georeferenciado para a realização de trabalhos posteriores, sendo coletada
uma pequena amostra dos vestígios arqueológicos.
Em maio de 2005 foram realizadas novas intervenções, agora com coleta superficial,
delimitação da área do sítio e realização de sondagens (ver descrição do sítio 27 Favaretto),
tanto na área de dispersão dos vestígios como nos barrancos que correspondem aos declives
associados à calha do rio das Antas e aos pequenos arroios que margeiam o sítio. Com a
realização das sondagens, não foi identificada estratigrafia associada à ocupação humana
pretérita, nem indicativos de áreas de descarte nas proximidades do sítio.
No entanto, em um pequeno patamar na margem direita do córrego que passa nas
imediações do sítio, o Prof. Dr. Sergio Celio Klamt, vistoriando o barranco do pequeno
córrego, identificou uma camada de ocupação (NSA) com espessura média de 10cm, estando
a aproximadamente 15 cm de profundidade. Com a realização de sondagens no local,
estimou-se que a área do NSA corresponderia a 15m x 6m.
A referida camada de ocupação apresentou fragmentos de cerâmica e vestígios de
carvão. Uma amostra de carvão foi enviada para datação no Laboratório Beta Analytic Inc,
Miami, EUA, resultando em uma data de Cal AD 1470 (Beta: 205841). Nesse sentido, a data
confirmou nossas expectativas, pois em função da localização dos sítios, das dimensões, dos
vestígios encontrados, nossa hipótese de trabalho centrava-se em uma ocupação tardia, a
partir do ano 1.200 - 1400 d. C., representando o momento anterior à chegada do elemento
europeu.
Devemos ressaltar que a área, conforme Klamt
20
, seria um dos últimos pontos onde
são registrados os vestígios associados à tradição Tupiguarani na região. Sendo que o limite
estaria posto a partir do Túnel Ferroviário na Linha Jaboticaba, Bento Gonçalves, RS, onde os
20
Comunicação pessoal, novembro de 2006.
130
vestígios se apresentam bastante escassos, até desaparecerem alguns quilômetros acima.
Ainda conforme Klamt, a área parece ser o limite extremo de ocupação dos portadores da
tradição Tupiguarani na região do médio rio das Antas, sendo que no restante do percurso, os
assentamentos estão associados a outras filiações culturais. Nesse caso, a tradição Umbu
estaria associada à ocupação de abrigos, a tradição Taquara nas áreas de topo associada à
floresta de araucárias e também em abrigos. A tradição Humaitá até o momento não tem um
padrão para a área em questão.
A partir dos dados preliminares, concebeu-se o projeto de escavação do sítio, com o
objetivo principal de registrar o maior número de informações possíveis. Para fins de
relatório, na ficha de sítio (Sítio Luis Favaretto, catálogo 2180 CEPA-UNISC) foi registrado
em croqui o local com a presença do NSA, sendo o material registrado separadamente, visto
que acreditamos ser o NSA uma ocupação distinta da primeira concentração de vestígios
localizada.
Na oportunidade solicitamos ao Prof. Dr. Sergio Celio Klamt, coordenador do
Programa de Arqueologia, a utilização do sítio para a elaboração do projeto de pesquisa que
foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos. Quando o projeto foi apresentado ao Programa o sítio ainda não havia sido
escavado, sendo que contávamos somente com algumas sondagens.
Foto 16: Núcleo de Solo Antropogênico (NSA) no Sítio Favaretto Escavação
Fonte: Registro fotográfico de Sergio Celio Klamt
131
4.2.1 O trabalho de Campo
A partir da localização do sítio, da realização das sondagens e de um estudo prévio, foi
implementado o trabalho de escavação em janeiro e fevereiro de 2006. A escavação foi
organizada da seguinte forma:
a) Utilizou-se como referência (ponto zero) o local onde o pequeno córrego passa sob a
estrada (vértice bueiro x estrada), distando do início do local escavado exatos 22m.
Procuramos desta forma “plotar” todo o material da escavação em um único
quadrante, onde foram registradas, peça por peça, em uma pequena ficha, as
coordenadas “x”, “y” e “z”, além de constar a identificação do sítio, número de
catálogo e quadrícula. A referida ficha foi embalada e colocada juntamente com o
material arqueológico. Na parte externa das embalagens (sacos plásticos) foi
registrado o número de catálogo, o nome do sítio e a quadrícula de origem. Dessa
forma, procuramos realizar o registro de forma segura para que as referências não se
perdessem nas demais etapas de trabalho.
Foto 17: Vista Panorâmica do Local da Escavação
Fonte: Registro Fotográfico Sergio Celio Klamt
b) A primeira etapa da escavação correspondeu à abertura de trincheiras no sentido norte-
sul e leste-oeste, com o objetivo de delimitar a área do NSA e sua profundidade,
adotando os mesmos procedimentos de escavação e registro que se deram nas etapas
posteriores;
c) A partir da identificação da dispersão do NSA, procedeu-se à segunda etapa na qual a
área selecionada foi totalmente escavada. Para tal, foi utilizada uma mescla de técnicas
132
de escavação, privilegiando o registro de informações tanto em relação à
horizontalidade como à verticalidade. Foram usados sachos para remover as camadas
estéreis e espátulas e pincéis para evidenciar o material arqueológico;
d) A coleta de amostras de solo se deu em vários locais, dentro e fora do NSA. Além das
amostras de carvão para datação, foram coletados todos os carvões passíveis de serem
resgatados, constituindo uma boa amostragem para estudos posteriores, como a
identificação dos tipos de madeiras utilizadas para queima (antracologia), etc.
e) Todas as etapas foram registradas através de croquis, fotografias e anotações;
Com a escavação verificamos a descontinuidade do NSA, que foi evidenciado em
quatro locais específicos. Locais que se apresentaram de forma clara em alguns casos
(Fogueira A e D e fogo C) e, em outros, somente com os trabalhos de laboratório, de estudo
dos registros fotográficos e anotações, foi possível visualizar com clareza a existência de
determinas estruturas (Fogueira B).
Foto 18: Registro fotográfico da fogueira D
Fonte: Foto do autor
Parte dos vestígios estava em uma área com declividade acentuada, em direção ao
pequeno córrego, correspondendo a 1 ou 2m do total da largura do sítio. No entanto, o
restante da camada de ocupação apresentou-se na horizontal, com um pequeno grau de
declividade em direção ao córrego.
Nesse sentido, a dinâmica da escavação não permitia uma visualização de toda área
escavada. Por exemplo: Eram selecionadas determinadas quadrículas onde o material era
133
evidenciado, registrado e fotografado, sendo que até o final do dia toda a quadrícula era
escavada e o material acondicionado em embalagens específicas. No dia seguinte eram
selecionadas novas quadrículas que passavam pelo mesmo procedimento.
Os referidos procedimentos adotados na escavação, não permitiram em um primeiro
momento a visão ampla das estruturas presentes no sítio. No entanto, no trabalho de gabinete,
com a consulta dos registros realizados durante a escavação, foi possível visualizar com
clareza e comprovar a existência das fogueiras e do fogo.
No trabalho de escavação verificamos que a quase totalidade dos artefatos encontrava-
se na posição horizontal, o que corrobora para a hipótese que o sítio apresenta um bom
coeficiente de preservação, além do que, a partir da dispersão dos fragmentos, registramos
concentrações de material principalmente nas extremidades do sítio. De forma geral, o espaço
habitacional está dividido em duas grandes áreas, apresentando semelhanças com o sítio
Candelária I (exceção da casa B).
A partir da evidenciação das fogueiras foi possível observar in loco a dispersão do
NSA, além dos materiais associados diretamente a elas e ao seu entorno. Todavia, nos
trabalhos de escavação não foram identificados negativos de esteios/estacas de sustentação da
cobertura da habitação.
Sendo assim, nossa primeira hipótese de trabalho centrava-se na existência de três
fogueiras (A, C, D do croqui abaixo), evidenciadas com clareza já nos trabalhos de escavação.
A área da Fogueira B parecia ser o resultado de processos pós-deposicionais, visto que a área
apresentou material cerâmico, lítico e terra escurecida (NSA), muito próximo do declive em
direção ao arroio, parecendo estar associada à Fogueira A. No primeiro momento não
consideramos a referida estrutura como uma fogueira, sendo que, somente na seqüência dos
trabalhos, com os critérios adotados, foi possível afirmar que a área corresponde a uma
fogueira.
De forma geral, o sítio parecia ser uma ocupação rápida (um acampamento
temporário), já que em outras situações como no sítio Röpke (entre outros) o NSA
apresentou-se com certa uniformidade, distribuindo-se por uma área ampla, correspondendo a
134
toda área de dispersão dos vestígios. No caso do sítio Favaretto Escavação a ocorrência do
NSA estava restrita a determinadas áreas.
Com os dados obtidos na escavação e na análise dos vestígios em laboratório, foram
surgindo novas hipóteses de trabalho. A primeira diz respeito à caracterização e localização
das fogueiras e a segunda quanto à funcionalidade do sítio.
As três fogueiras que identificamos em campo mostraram-se bem claras, no caso da
fogueira A e D, confirmando os dados de campo. No entanto, a estrutura C, apresentou-se
diferente das demais, pois percebemos que as dimensões do NSA e a quantidade de vestígios
associados, eram inferiores às das outras fogueiras (A, B e D), constituindo o que chamamos
de fogo, que provavelmente teve um uso diferenciado das outras estruturas, em caráter
temporário, visto que, encontra-se em uma área de circulação dentro da habitação.
Por sua vez, o que denominamos posteriormente de Fogueira B, parecia ser uma
estrutura ligada à Fogueira A, no entanto, se mostrou como um conjunto cerâmico e lítico
diferenciado das demais, sendo que passamos a considerá-la como uma fogueira também. A
partir dos dados que organizamos o sítio passou a contar com três fogueiras e um fogo.
Quanto à funcionalidade do sítio, que num primeiro momento parecia estar associada a
um acampamento temporário, se mostrou, a partir dos vestígios encontrados e do número de
vasilhas reconstituídas, como um assentamento mais estável, constituindo o que
denominamos de espaço habitacional.
135
Figura 38: Planta baixa do sítio Favaretto Escavação
Fonte: Adaptado dos manuscritos e planta baixa elaborada em campo
4.2.2 O Trabalho de Laboratório
Em laboratório o material da escavação foi cuidadosamente lavado, peça-por-peça,
catalogado e classificado, sendo que cada fragmento recebeu um número, que na etapa de
reconstituição foi importantíssimo, pois permitiu que comparássemos livremente os
fragmentos de cerâmica e do material lítico, sem a preocupação com a perda das informações
registras em campo. Foram elaborados dois modelos de fichas de catalogação e classificação:
um para o material cerâmico e outro para o material lítico. Outros materiais que porventura
ocorreram no sítio foram classificados separadamente de acordo com sua natureza (corantes,
por exemplo).
Tabela 04: Exemplo de Tabela Utilizada na Catalogação e Classificação do Material
Cerâmico
Fonte: Elaborado pelo autor
Quad. X
Y
Z
Decoração
Parte
Espessura
Técnica
de
Confeção
Pasta
Queima
Engobe
Antiplástico
Fratura
Obs.
136
Tabela 05: Exemplo de Tabela Utilizada na Catalogação e Classificação do Material Lítico
Quadrícula X Y Z Material Tipo de Rocha Obs.
Fonte: Elaborado pelo autor
Uma vez realizado o trabalho de catalogação e classificação, passamos para a
reconstituição do material cerâmico e do material lítico. O primeiro passo foi separar o
material por decoração ou tipo. Por exemplo: todos os fragmentos corrugados ou todas as
lascas e núcleos. Na seqüência tentamos agrupar o maior número possível de fragmentos na
busca da reconstituição das formas originais. Uma vez localizados os fragmentos passíveis de
reconstituição eram colados com cola lavável. O trabalho foi realizado à exaustão, sendo que
este processo foi realizado por mais de uma pessoa.
Na cerâmica apareceram dois conjuntos: o primeiro com grupos de fragmentos que
apresentaram bordas ou até mesmo vasilhas praticamente inteiras (Ver Apêndice B) e o
segundo com grupos de fragmentos que não apresentavam bordas, sendo compostos
basicamente por paredes de vasilhas e em menor número de bases (Ver Apêndice D).
Tendo como referência o conjunto de vasilhas praticamente inteiras do sítio, à forma
das bordas, das paredes e das bases, iniciamos o trabalho de desenho das formas, tendo como
referência principal o diâmetro de boca, conseguido a partir da comparação da borda com
círculos impressos.
Os desenhos foram feitos em escala 1:2 em papel milimetrado sendo que
posteriormente foram digitalizados e organizados no aplicativo Corel Draw, sendo reduzido
novamente em função da apresentação em folha A4, resultando em uma escala de 1:4.
Optamos por utilizar o conjunto do próprio sítio como referência para as reconstituições. (Ver
Apêndice F)
A reconstituição do material lítico não foi muito produtiva, sendo que somente poucos
artefatos foram passíveis de reconstituição. A remontagem de núcleos se mostrou inexeqüível,
sendo que os encaixes em nenhum momento se mostraram de forma segura, embora
137
percebamos semelhanças no aspecto físico das rochas. Sendo assim, preferimos utilizar com
cautela essas referências. (Ver Apêndice E)
4.2.3.1 O Material Lítico
De forma geral o conjunto lítico apresenta-se de forma bem discreta, principalmente
no que tange aos artefatos bem acabados. Para análise do material lítico utilizamos
basicamente 4 critérios: a matéria-prima, os artefatos produzidos, marca da ação do fogo/uso e
a localização no espaço. No sítio foram localizados 307 artefatos líticos, sendo que 207 são de
basalto, 54 de calcedônia, 28 de arenito friável, 11 de riolito, 5 de cristal de rocha, 1 de giz, 1
outros.
Gráfico 04: Gráfico com a Incidência de Matéria-Prima do Material Lítico
Fonte: Elaborado pelo autor
Tendo o gráfico como referência, constatamos uma incidência considerável de basalto
(67,42%), seguido de calcedônia (17,59%), de arenito friável (9,12%) e, em menores
proporções, riolito (3,58%), cristal de rocha (1,63%), giz (0,33%) e outros (0,33%). O
predomínio do basalto está associado principalmente à oferta, visto que é encontrado em
abundância nas corredeiras do rio das Antas, embora apresente limitações no que tange ao
lascamento.
138
Pressupondo a relação entre matéria-prima e artefato lítico, elaboramos uma tabela
com o objetivo de verificar a tendência de utilização das matérias-primas x artefatos.
Acrescentamos também o número de artefatos que apresentaram marcas da ação do fogo, na
tentativa de estabelecer a relação destes com as fogueiras/fogo.
Acreditamos que a comparação destas referências com os mapas de distribuição dos
vestígios fornecerá informações importantes sobre a movimentação e localização desses
materiais dentro do espaço habitacional, além de informações sobre a utilização de matérias-
primas dentro do espaço habitacional.
Tabela 06: Tabela Associando Artefato x Matéria-prima x Marca da Ação do Fogo
Matéria-
Prima/
Artefato
Arenito
Friável
Basalto Calcedônia Cristal
de
Rocha
Giz Riolito Outros Total
Bloco 1 (1) 4 (2) 0 0 0 0 0 5
Seixo 2 (1) 122 (23) 30 (1) 1 1 1 0 157
Núcleo 0 2 (1) 1 0 0 1 0 4
Batedor 0 2 0 0 0 0 0 2
Lasca 5 (5) 14 (3) 11 (1) 2 0 7 0 39
Lasca
Cortical
1 (1) 12 0 0 0 0 0 13
Lasca com
retoque
0 0 1 0 0 0 0 1
Estilha 1 2 (1) 0 0 0 0 0 3
Polidor 3 (1) 0 0 0 0 0 0 3
Alisador 2 (2) 0 0 0 0 0 0 2
Detritos 13 (7) 49 (4) 11 2 (1) 2 1 78
Total 28 (18) 207 (34) 54 (2) 5 (1) 1 11 1 307
Entre parênteses na cor vermelho, o número de vestígios que apresentaram marca da ação do fogo.
Fonte: Elaborado pelo autor
A partir da observação da tabela, constatamos que o arenito friável está associado a
funções de alisar e polir, apresentando-se na forma de blocos e seixos onde provavelmente é
lascado/fragmentado, até atingir um tamanho adequado ao uso.
139
Foto 19: Seixo de Arenito Friável Fragmentado
Fonte: Foto do autor
Quanto ao basalto destacamos o predomínio dos seixos, muitos deles apresentando
marcas da ação do fogo e marcas de uso (principalmente vestígios de polimento). Tal fato se
deve, em tese, à utilização dos pequenos seixos de basalto para dar acabamento a algumas
vasilhas cerâmicas, no momento em que elas atingem o ponto de couro
21
. Destacamos
também a presença de núcleos, batedores e lascas, além da grande quantidade de detritos,
resultado provavelmente do uso e/ou dificuldade de lascar essa matéria-prima.
Foto 20: Seixo em Basalto com Marca de Uso e Fragmento Cerâmico que Recebeu Polimento
Fonte: Foto do autor
21
Ponto de couro corresponde a uma etapa da secagem da argila em que se dá o acabamento final à
peça.
140
Já a calcedônia parece ter uma utilidade específica: a produção de lascas. Atribuímos
tal escolha às propriedades físicas da rocha que, quando lascada apresenta excelente gume.
Assim como nas demais matérias-primas observamos a presença do que poderíamos chamar
de estoque de matéria-prima, composto por blocos, seixos, etc., sendo que somente uma lasca
apresentou retoque.
O cristal de rocha, o riolito e o giz, têm presença pouco significativa, no entanto, não
podemos deixar de registrar que o riolito parece ter uma finalidade semelhante à calcedônia: a
produção de lascas. Os materiais corantes aparecem em pequena quantidade, totalizando
apenas três fragmentos de hematita, que serão analisados com o material cerâmico.
Quanto aos artefatos temos o predomínio dos seixos, seguido dos detritos, lascas,
lascas corticais, blocos, núcleos, polidores, alisadores, estilhas, entre outros.
Gráfico 05: Gráfico com a Incidência dos Artefatos Líticos no Sítio
Fonte: Elaborado pelo autor
4.2.3.1 Marcas da Ação do Fogo
Dos 307 artefatos líticos, 55 (17,37%) apresentaram marcas de exposição ao fogo (18
de arenito friável, 32 de basalto, 2 de calcedônia, 1 de cristal de rocha). Em termos
comparativos constatamos que proporcionalmente à quantidade, o arenito friável foi a
matéria-prima mais exposta ao fogo, ou, que utilizou-se material carbonizado no contato.
141
Observando a tabela constatamos que em quase todas as etapas a referida matéria-prima está
em contato com o fogo, seja de forma direta, como indireta.
Foto 21: Seixos com Marcas da Ação do Fogo
Fonte: Foto do autor
Em relação ao basalto temos basicamente duas situações: a primeira são blocos e
seixos de maiores dimensões, que se encontram bastante oxidados em função do contato com
o fogo, esses artefatos provavelmente serviram como apoio para as vasilhas ao fogo; o
segundo seriam as marcas de fogo em seixos de dimensões menores.
4.2.3.2 Marcas de Uso
Para determinar a presença de marcas de uso utilizamos primeiramente o contato
visual sem auxílio de aparelho ótico. Em caso de necessidade a peça foi observada com uma
lupa simples. Nesse sentido foram registrados 9 artefatos com vestígios de uso,
principalmente na atividade de polimento. Temos 7 seixos de basalto; 1 seixo de calcedônia; 1
lasca em calcedônia; 3 polidores e 2 alisadores em arenito friável.
Devemos ressaltar que os seixos de basalto, que apresentam marcas de uso, não foram
considerados polidores ou alisadores, embora possam desenvolver uma função semelhante.
Tal procedimento se deve ao fato do polimento da cerâmica (técnica utilizada por vários
ceramistas até o presente) ser realizado com uma rocha que apresenta granulometria mais fina
como o basalto, e, portanto, se adapta melhor ao trabalho. Acreditamos que o arenito friável
142
seja utilizado para o trabalho com material lítico, ósseo e vegetal e os seixos de basalto para o
polimento da cerâmica.
4.2.3.3 Localização das Matérias-Primas x Artefatos Líticos no Espaço Habitacional
Tendo como base a localização das fogueiras/fogo (ver croqui escavação acima)
procuramos estabelecer a relação dos vestígios líticos com estas estruturas, através da
elaboração de mapas de distribuição dos vestígios.
A presença dos vestígios líticos com marca de fogo apresenta-se com maior
intensidade nas áreas próximas das fogueiras e/ou imediatamente no seu entorno, indicando
que boa parte das atividades relacionadas à manipulação do material lítico, se dava próximo
das mesmas. Já o material sem marca de fogo, apresenta uma dispersão mais ampla, mas
ainda assim relacionada às fogueiras.
Percebemos também que os vestígios com marca de fogo, não apresentam distribuição
uniforme no entorno das fogueiras, sendo que geralmente estão concentrados em uma das
faces da fogueira. O fogo C não apresentou vestígios com marcas de fogo, o que reforça a
hipótese de que este espaço apresentou uma função diferenciada em relação às outras
fogueiras. Os demais espaços apresentaram uma presença discreta de vestígios com marca de
fogo.
Das matérias-primas que sofreram ação do fogo temos a seguinte situação: presença de
basalto, arenito friável e calcedônia nas fogueiras A e B; a presença de basalto, arenito friável
e cristal de rocha na fogueira D e o fogo C não apresentou vestígios com marca da ação do
fogo.
Observando a dispersão do material lítico e a relação com as fogueiras/fogo
delimitadas no croqui da escavação, percebemos que as fogueiras A e B apresentam forte
presença de vestígios líticos, a fogueira D uma presença média, estando os vestígios mais
concentrados e o fogo C com presença discreta de material lítico.
143
Gráfico 06: Distribuição do Material Lítico com Marcas da Ação do Fogo e sem
Marca da Ação do Fogo
Fonte: Elaborado pelo autor
Pensando na relação das matérias-primas com marcas da ação do fogo e sua relação
com determinada fogueira ou fogo, observamos que é bem variada. De forma geral o arenito
friável e o basalto estão presentes em todas as fogueiras tanto na área que corresponde
diretamente ao fogo (fogueira A e D), como nas áreas imediatamente próximas às fogueiras
(fogueira A, B e D).
As demais matérias-primas como a calcedônia, apresentou-se em locais mais afastados
das áreas centrais das fogueiras (fogueira A e B) e o cristal de rocha em área central da
fogueira (fogueira D). Dessa forma, as referências que possuímos indicam a presença de
material lítico de diversas matérias-primas tanto dentro das fogueiras como nas áreas em seu
entorno, sendo que não apresentam distribuição uniforme. Praticamente todas as matérias-
primas foram expostas ao fogo, em maior ou menor intensidade.
De forma geral os seixos com marca de fogo apresentaram-se nas áreas próximas às
fogueiras e não diretamente nelas, com exceção da fogueira D. Tal fato nos leva a pensar que
estes artefatos eram levados ao fogo e posteriormente retirados. Realidade de boa parte dos
artefatos líticos que apresentaram marcas da ação do fogo.
144
Gráfico 07: Distribuição das Matérias-Primas com Marcas da Ação do Fogo
Fonte: Elaborado pelo autor
Gráfico 08: Dispersão dos Seixos com Marcas da Ação do Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
O arranjo das lascas e núcleos apresenta certas regularidades, principalmente no caso
da fogueira A, onde os núcleos de calcedônia e riolito estavam próximos das lascas. Nas
145
fogueiras B e D, apresentaram lascas nas proximidades, no entanto, sem a presença de
núcleos. Mais uma vez a estrutura C, apresentou diferenças consideráveis em relação às
demais.
Assim como os vestígios que apresentaram marcas da ação do fogo a presença de
núcleos e lascas não se mostrou uniforme no entorno das fogueiras, no entanto, mantiveram
certo padrão, ocupando basicamente uma face da fogueira, geralmente situada no lado oposto
à área central do espaço habitacional.
Gráfico 09: Dispersão das lascas e núcleos por matéria-prima
Fonte: elaborado pelo autor
4.2.4 O Material Cerâmico
146
A cerâmica do sítio está associada à tradição Tupiguarani, sendo o modo de produção
acordelado (roletado) o mais popular, aparecendo de forma discreta o modelado. Quanto à
pasta temos o predomínio da argilo-arenosa com 60,16%, seguida da areno-argilosa com
33,18%, da argilosa com 3,72% e da arenosa com 2,94%.
A espessura dos fragmentos apresentou uma variação de 0,5 a 2,3cm, sendo que a
maior incidência se deu nas medidas de 1 a 1,5cm (51,54 %), seguida das medidas 0,4 a
0,9cm (45,70%) e com menor incidência das medidas 1,6 a 2,3cm (2,76%). Klamt (2005, p.
49) relacionando a espessura dos fragmentos de cerâmica com as dimensões das vasilhas,
considera que as vasilhas pequenas tem espessura de até 1cm, as de tamanho médio de 1,0 a
1,5cm e as grandes acima de 1,5. No caso do sítio Favaretto Escavação, associando a
espessura dos fragmentos de cerâmica às dimensões das vasilhas, teríamos o predomínio de
vasilhas de tamanho médio a pequeno, sendo os recipientes grandes mais raros.
Quanto às formas temos o predomínio das panelas (41,6%), seguidas das tigelas
(38,4%), dos recipientes pequenos (14, 4%) e dos pratos (5,6%). As vasilhas não
apresentaram um acabamento muito elaborado, sendo que as bordas invariavelmente
apresentam imperfeições percebidas até nos olhares menos atentos, que em alguns casos
comprometem a simetria da vasilha. As vasilhas com decoração pintada parecem ter recebido
atenção especial na elaboração.
Para efeito de comparação com o padrão do vale do rio Jacuí e Pardo elaborado por
Klamt (2005) vamos desconsiderar os recipientes pequenos para efeito de calculo.
Tabela 07: Tabela Comparando a Incidência das Formas no Vale do rio Jacuí e Pardo
Prato Tigela Panela
Vale do Jacuí e Pardo 2 a 6% 55 a 60% 35 a 40%
Sítio Favaretto
Escavação
6,54% 44,86% 48,60%
Fonte: elaborado pelo autor
Tendo como referência para comparação o padrão de vasilhas do vale do Jacuí e
Pardo, percebemos uma situação bem parecida em relação aos pratos, sendo que o número de
147
tigelas e panelas apresenta distinções. As panelas foram poucos pontos percentuais mais
representativas que as tigelas, mantendo uma diferença inferior a 5%. No vale do Jacuí e
Pardo prevalecem as tigelas sobre o número de panelas, numa ordem de 15 a 20%.
Em relação à decoração temos a presença de 174 (10,10%) fragmentos corrugado, 74
(4,30%) de corrugado-ungulado, 227 (13,18%) de escovado, 215 (12,49%) de pintado, 739
(42,92%) de simples, 60 (3,48%) de ungulado, 43 (2,50%) de composta, 190 (11,03%)
correspondendo a outras decorações ou objetos que não correspondem a vasilhas.
Os fragmentos pintados se mostraram bem variados dentro do padrão de decoração da
cerâmica da tradição Tupiguarani, logicamente não reproduzindo toda a riqueza de motivos
como nos sítios Candelária I e Candelária II.
A presença de decoração composta apareceu de forma discreta, em locais bem
determinados nas vasilhas, assim como a pintura
22
. Embora com pequena incidência temos:
12 fragmentos de escovado mais simples, 8 fragmentos de ungulado mais simples, 6
fragmentos de corrugado mais simples, 4 fragmentos de corrugado mais escovado, 2
fragmentos de corrugado-ungulado mais escovado, 2 fragmentos de corrugado ungulado mais
impresso, 2 fragmentos de ungulado mais escovado, 1 fragmento de corrugado ungulado mais
vermelho interno, 1 fragmento de corrugado-ungulado mais simples, 1 fragmento de
corrugado-ungulado mais ungulado, 1 fragmento de escovado mais corrugado ungulado, 1
fragmento de escovado mais simples mais ungulado, 1 fragmento de escovado mais ungulado
e 1 fragmento de escovado mais vermelho interno.
Os que enquadramos na classificação anterior como outros correspondem a massas de
cerâmica, fragmentos em que não foi possível identificar a decoração, 1 fragmento com a
presença do inciso, 1 cachimbo, corantes (hematita), entre outros.
Tabela 08: Tabela Comparando a Decoração dos Sítios do Vale do Jacuí e Pardo com o Antas
Sítio /
%
Corrugado + Corrugado-
Ungulado
Simples + Pintado Outros
22
Os fragmentos que apresentaram pintura em determinadas áreas, aparecendo o acabamento
simples nas demais, foram consideradas pintados.
148
Padrão Vale do Jacuí /
Vale do Rio Pardo
+ou- 60 + ou - 30 + ou - 5
Cavalli 5,3
56,96
37,75
Belizke 40,66
38,59
20,74
Tres A 7,69
61,54
30,77
Favaretto 35,13
54,06
10,81
Rabesquini A 23,81
35,72
40,47
Citolin 43,18
38,64
18,18
Favaretto Escavação 14,40
55,41
30,19
Obs: sítios a partir de 44 fragmentos de cerâmica.
Fonte: elaborado pelo autor
Podemos observar na tabela acima, que os sítios na área em questão apresentam
diferenças significativas em todos os padrões de decoração, evidenciando ser algo distinto do
que ocorre no vale do rio Jacuí e Pardo (Padrão elaborado por KLAMT, 2005).
Os sítios que apresentaram percentuais mais próximos aos do vale do Jacuí são o sítio
Belizke, o sítio Citolin, e, mais distante o sítio Favaretto. Se pensarmos na presença do
corrugado e do escovado como elementos inversamente proporcionais para o estabelecimento
de dada temporalidade, provavelmente, esses sítios são os mais antigos da área, visto que o
sítio Favaretto Escavação apresentou percentuais de corrugado, corrugado-ungulado distintos
do seu par, confirmando a hipótese de que se trata de uma ocupação diferenciada.
Podemos especular a partir dessa referência que os sítios dispostos em duplas,
provavelmente são ocupações em períodos distintos, que, frente à oferta de recursos na área,
motivou o estabelecimento de um novo assentamento nas proximidades.
A partir dessa referência, temos um pequeno esboço do manejo ambiental na área
expresso na circulação dentro de uma área específica (território), em que o mesmo grupo
ocupa ora um lugar, ora outro, baseado suas escolhas principalmente na oferta de recursos e
nas condições físicas do local, permitindo a reprodução do seu modo de vida. Logicamente
que a questão não é tão simples assim, outros fatores podem influenciar nessa dinâmica, como
o esforço para manter e/ou conquistar/explorar determinada área.
Utilizando mais atributos da decoração cerâmica para comparar os sítios percebemos
contrastes interessantes. Devemos ressaltar que, boa parte dos sítios, apresenta menos de 100
fragmentos de cerâmica, não permitindo a expressão de dados mais confiáveis
estatisticamente, no entanto, podemos identificar algumas tendências.
149
Tabela 09: Tabela Comparando as Porcentagens de Decoração dos Sítios da Área de Estudo
Sítio /
%
Corrugado Corrugado-
Ungulado
Ungulado Simples Pintado Escovado Inclass/
Outos
Área
no
Mapa
35 - Cavalli 4,64 0,66 20,53 51,66 5,30 14,57 2,65 E
49 - Belizke 39,00 1,66 7,05 26,14 12,45 12,03 1,66 G
39 - Tres A 5,77 1,92 9,62 50,00 11,54 0,00 21,15 E
27 - Favaretto 32,43 2,70 5,41 35,14 18,92 2,70 2,70 C
13 -
Rabesquini A
16,67 7,14 2,38 19,05 16,67 35,71 2,38 B
31 - Citolin 6,82 36,36 15,91 34,09 4,55 2,27 0,00 D
Favaretto
Escavação
10,10 4,30 3,48 42,92 12,49 13,18 13,53 C
Obs.: sítios com mais de 42 fragmentos.
Fonte: elaborado pelo autor
A partir da tabela acima constatamos que, novamente, o sítio Belizke (G), Favaretto
(C) e Citolin (D) apresentam-se de forma distinta dos demais, principalmente em função da
presença do corrugado e do corrugado-ungulado e da incidência discreta do escovado no caso
do sítio Citolin e do Favaretto. Os referidos sítios parecem ser os mais antigos na área, tendo
provavelmente forte relação com os sítios que por ventura possam existir a jusante da área G.
Os sítios Cavalli (E), Francisco Tres A (E) e Favaretto Escavação (C), apresentaram
porcentagens bem próximas, podendo indicar certa contemporaneidade. O sítio Favaretto
Escavação parece ser uma ocupação anterior ao sítio Tres A e ao Cavalli. O sítio Rabesquini
A (B) se mostrou diferente dos demais, apresentando grande porcentagem de escovado,
indicando ser um sítio mais recente em relação aos demais.
Como os sítios Cavalli e Francisco Tres A encontram-se na mesma área as
semelhanças na decoração podem caracterizar um deslocamento de pequena distância ou até
mesmo a ocupação simultânea, visto que os referidos sítios situam-se em margens opostas do
rio das Antas, além de apresentarem contato visual.
Da mesma forma, constatamos novamente a diferença no percentual de decoração do
sítio Favaretto e Favaretto Escavação, confirmando nossa hipótese de trabalho, que apresenta
os sítios como ocupações distintas.
150
Gráfico 10: Incidência da decoração cerâmica por sítio
Fonte: elaborado pelo autor
O deslocamento que propomos, a partir da análise da decoração cerâmica dos grupos
corresponde à seqüência: G F CDE A B (Ver mapa Capítulo 3). Tendo em mente
unicamente os sítios que dispomos no gráfico e na tabela acima, elaboramos a seguinte
seqüência de deslocamentos por área: G C D C E B. Comparando os dois mapas
percebemos que tanto a análise por grupos como dos sítios em si indicam os deslocamentos
obedecendo a uma seqüência semelhante.
Logicamente, a seqüência considerando a decoração cerâmica presente nos sítios e nas
áreas é um esboço do que foi a movimentação do grupo na área, a realidade deve ter sido bem
mais complexa. Nesse sentido, os dados que possuímos limitam as inferências sobre a
contemporaneidade de algumas ocupações, o contato com outras populações e até mesmo o
tempo de permanência das populações na referida área.
151
Mapa 10: Mapa com os Prováveis Deslocamentos do Grupo a partir da Decoração Cerâmica
Presente nos Sítios.
Fonte: modificado pelo autor a partir do Relatório CEPA-UNISC/IPHAN
4.2.4.1 Distribuição dos Vestígios Cerâmicos no Espaço Habitacional
A primeira questão que se colocou em relação à distribuição dos materiais foi o
número de fogueiras e as dimensões do espaço habitacional. Como mencionamos
anteriormente, durante as atividades de campo e laboratório, identificamos 3 fogueiras e um
fogo, que receberam a denominação “A”, “B”, “C” e “D”.
Nesse sentido, utilizamos os seguintes critérios para reforçar a presença das referidas
fogueiras e do fogo e delimitar a área do espaço habitacional: a) dispersão das bordas; b)
dispersão das bases; c) dispersão das paredes das vasilhas; d) dispersão das massas de
cerâmica; e) dispersão dos seixos com marca de fogo (pedras-de-fogão ver material lítico).
Todos esses critérios reforçam em maior ou menor grau, a presença de 03 fogueiras e um fogo
no sítio.
152
Gráfico 11: Distribuição das Bordas na Área do Sítio
Fonte: elaborado pelo autor
Gráfico 12 : Distribuição das Bases das Vasilhas Cerâmicas
Fonte: elaborado pelo autor
153
Gráfico 13: Dispersão das Paredes das Vasilhas Cerâmicas
Fonte: elaborado pelo autor
Gráfico 14: Distribuição das Massas de Cerâmica
Fonte: Elaborado pelo autor
154
Com base na dispersão dos vestígios e sua relação com os espaços originais das
fogueiras/fogo buscamos estabelecer as áreas hipotéticas de influência das fogueiras
23
.
Realizamos várias tentativas, a partir dos mais diversos critérios. O método que se mostrou
mais eficiente foi a plotagem de um círculo com aproximadamente 2m de raio no centro das
estruturas que correspondem às fogueiras.
Esta divisão surgiu a partir da disposição das fogueiras A e B. Como nossa proposta é
apresentar os conjuntos de vasilhas correspondentes a cada Fogueira, surgiu a necessidade de
estabelecer a que fogueira pertence cada vasilha. Nesse sentido, a divisão que propomos se
mostrou bastante eficiente, visto que as vasilhas e os conjuntos reconstituídos não
apresentaram interação entre as duas fogueiras. Todavia, acreditamos que em função da
proximidade haja interação, no entanto, deve ser bem discreta.
A partir da plotagem dessas áreas no croqui, consideramos as demais como espaço
intermediário
24
, que corresponde ao espaço entre as áreas de influência das fogueiras e o
espaço revolto, que corresponde à área do sítio situada em direção ao pequeno córrego
próximo ao sítio. Nesse sentido, buscamos estabelecer a partir dos fragmentos o conjunto de
utensílios associado a cada fogueira/fogo, a relação destes entre si e a sua representatividade
no conjunto.
Nos dados preliminares que coletamos durante a escavação apresentamos as
dimensões de 15m por 6m, totalizando aproximadamente 90 m
2
. Em função das áreas de
influências das fogueiras e da concentração dos vestígios estabelecemos as medidas: 15m por
7m, totalizando aproximadamente 105 m
2
.
23
Corresponde a uma área hipotética em forma circular com aproximadamente 2m de raio, tendo
como centro as áreas com NSA identificadas em campo. O fogo recebeu uma medida proporcional a
sua área.
24
Corresponde ao espaço entre as áreas de influências das Fogueiras e do Fogo.
155
Figura 39: Croqui do Sítio com Destaque às Áreas de Influência das Fogueiras/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
4.2.4.2 O Conjunto de Vasilhas por Fogueira
A partir da reconstituição das vasilhas e da espacialidade vamos apresentar o conjunto
correspondente às áreas de influência das fogueiras/fogo, ao espaço intermediário, ao espaço
revolto e as interações que foram passíveis de identificação. Na reconstituição verificamos
que três panelas apresentaram dimensões acima da média, sendo que receberam a
denominação de panela grande tendo em vista a diferenciação das demais. Devemos ressaltar
que as panelas grandes não correspondem às urnas funerárias ou similares, que apresentam
dimensões maiores do que as vasilhas que foram registradas no sítio.
Os pratos apresentaram uma variação de 18 a 24cm no diâmetro de boca e na altura de
7 a 10cm. As tigelas apresentaram uma variação de 14 a 34cm no diâmetro de boca e na altura
de 7 a 18cm. As panelas apresentaram uma variação de 9 a 42cm no diâmetro de boca e na
altura de 9 a 35cm. Os recipientes pequenos apresentaram uma variação no diâmetro de boca
de 8 a 16cm e na altura de 3 a 12cm.
156
Gráfico 15: Incidência das Formas por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
A fogueira A apresentou um conjunto de vasilhas mais expressivo contando com 2
pratos (1,6%), 19 tigelas (15,2%), 20 panelas (16%), 1 panela grande (0,8%) e 2 recipientes
pequenos (1,6%). A fogueira B apresentou um conjunto de 3 pratos (2,4%), 11 tigelas (8,8%),
14 panelas (11,2%) e 8 recipientes pequenos (6,4%). Na referida fogueira não foi registrada a
presença do que denominamos de panelas grandes. O fogo C apresentou um conjunto bem
limitado de recipientes contando somente com 2 tigelas (1,6%) e 1 panela (0,8%). A fogueira
D apresentou um conjunto bem variado, assim como a fogueira A, no entanto, menos
expressivo em termos de quantidade, contando com 1 prato (0,8%), 9 tigelas (7,2%), 10
panelas (8%), 2 panelas grandes (1,6%) e 3 recipientes pequenos (2,4%).
Os referidos conjuntos reforçam a questão da bipolaridade do espaço
habitacional, sendo que somente nas fogueiras localizadas nos extremos foi registrada a
presença de vasilhas maiores, além do que todas as formas estão representadas. Nas áreas de
influência das fogueiras constatamos a presença de 86,4% das vasilhas, reforçando a hipótese
da concentração dos vestígios nessas áreas. As demais vasilhas apresentaram-se no espaço
intermediário, no espaço revolto ou apresentaram interações entre as fogueiras.
157
Por outro lado, as fogueiras A e B têm uma quantidade de vasilhas mais expressiva
que a fogueira D, provavelmente indicando um número maior de indivíduos ligados a esta
área da casa. Em função da quantidade de vasilhas, pressupomos que o conjunto que
apresentamos não tenha sido usado de forma simultânea.
A partir das referências citadas por Mello (1996), estima-se que as vasilhas utilizadas
para cozinhar, com uso diário teriam uma vida útil de 3 a 6 meses. As vasilhas que não são
levadas ao fogo, teriam uma vida útil de 7 a 17 meses e as usadas com freqüência menor e
com dimensões maiores teriam uma vida útil de 1,5 a 5 anos.
Estimando-se a vida útil média das panelas grandes em torno de 3,5 anos, partindo do
pressuposto de que a fogueira A apresenta uma e a fogueira D duas, e que este conjunto é
contemporâneo, teríamos uma ocupação média de 7 anos (tempo médio de duração de duas
panelas grandes).
Gráfico 16: Vasilhas cerâmicas que apresentaram interação entre as fogueiras(A, B, D)/fogo
(C)/espaço intermediário (I)/espaço revolto (R). Formas presentes no espaço intermediário e
no espaço revolto.
Fonte: elaborado pelo autor
158
No espaço intermediário temos a presença de 1 prato (0,8%), 1 tigela (0,8%) e 1
panela (0,8%). O espaço revolto apresentou 1 prato (0,8%), 1 tigela (0,8%), 2 panelas (1,6%)
e 2 recipientes pequenos (1,6%). Das formas que apresentaram interação entre as fogueiras
temos entre a fogueira B e o fogo C 1 tigela (0,8%); entre a fogueira B e a fogueira D 2 tigelas
(1,6%); entre o fogo C e a fogueira D 1 recipiente pequeno (0,8%); entre a fogueira A e a
fogueira D 1 tigela (0,8%); entre a fogueira A e o espaço intermediário 1 recipiente pequeno
(0,8%); entre a fogueira B e o espaço intermediário 1 tigela (0,8%); entre o espaço
intermediário e o espaço revolto 1 tigela (0,8%).
Das formas que apresentaram interação temos o predomínio das tigelas representando
4,8% do total das vasilhas, seguido dos recipientes pequenos com 1,6% do total de vasilhas.
Quanto à decoração optamos por enfatizar a presença ou ausência de determinado
atributo nas fogueiras ou no fogo, buscando comparar as fogueiras A e B e D.
Gráfico 17: Decoração dos pratos por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
A decoração dos pratos não se mostrou muito variada apresentando corrugado e o
composto na fogueira A, o escovado e o simples na fogueira B, e o simples na fogueira D.
159
Gráfico 18: Decoração das tigelas por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
Em relação às tigelas o pintado e o simples apresentaram-se em todas as fogueiras e no
fogo; o corrugado nas fogueiras A, B e D; o ungulado somente na fogueira A; o escovado na
fogueira A e B e a decoração composta na fogueira A e B. Nesse sentido, a fogueira D se
mostrou com uma variabilidade menor em termos de decoração das tigelas se comparada com
as fogueiras A e B, apresentando somente o corrugado, o simples e o pintado.
Gráfico 19: Decoração das Panelas por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
160
Em relação às panelas o simples apresentou-se em todas as fogueiras e no fogo; as
fogueiras A e D apresentaram a decoração corrugada, sendo que o corrugado ungulado
apareceu somente na fogueira A; o ungulado e o pintada apareceram na fogueira A, B e D; o
escovado somente na fogueira B, e o composto na fogueira A e B.
Gráfico20: Decoração das Panelas Grandes por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
As panelas grandes apresentaram duas situações, somente corrugado na fogueira D e
somente simples na fogueira A, sendo que as dimensões se mostraram semelhantes.
161
Gráfico 21: Decoração dos Recipientes Pequenos por Fogueira/Fogo
Fonte: elaborado de autor
Quanto aos recipientes pequenos temos a presença do simples na fogueira A e B; do
pintado na fogueira B e D e composto na Fogueira B.
Gráfico 22: Decoração das Vasilhas que Apresentaram Interação entre as
Fogueiras/Fogo
Fonte: elaborado pelo autor
162
Das vasilhas que apresentaram interação entre as fogueiras temos as tigelas com
decoração pintada, escovada e composta e os recipientes pequenos com pintura.
De forma geral observamos que o espaço intermediário e o espaço revolto apresentam
poucas vasilhas, reforçando nossa hipótese de trabalho, que apresenta dois núcleos de
ocupação no espaço habitacional, correspondendo aos extremos da casa. Em função da
proximidade e dos materiais encontrados acreditamos que a fogueira A e B foram utilizadas
simultaneamente, compondo um núcleo e a fogueira D compondo outro. Já o fogo (C) parece
ter sido utilizado em determinado momento e depois abandonado, visto que mostrou algo
bastante pontual, além do que situa-se em áreas de provável circulação dentro do espaço
habitacional.
A interação entre as fogueiras e o fogo se mostrou bastante discreta, com o predomínio
do deslocamento das tigelas, sendo que somente um recipiente pequeno apresentou interação.
Realidade que foi constatada também no material lítico.
Em função da quantidade de vasilhas o núcleo correspondendo às fogueiras A e B
parece ter uma ocupação mais intensa, provavelmente com um número maior de indivíduos,
do que o núcleo correspondendo à fogueira D.
Comparando as porcentagens de decoração por fogueira/fogo associada às vasilhas
reconstituídas, observamos que nas fogueiras A e B estão representados todos os tipos de
decoração. Já a fogueira D não apresentou vasilhas com decoração: corrugado-ungulado,
escovado e composto. As panelas e tigelas foram os recipientes que apresentaram uma
variação maior no tipo de decoração.
163
Gráfico 23: Incidência da decoração cerâmica das formas reconstituídas por Fogueira/Fogo
Fonte: elabordo pelo autor
164
4.3 Aproximação Demográfica
Utilizando a fórmula de Casselberry (SCHMITZ, 1990, p.108), que considera o
número de habitantes na proporção entre a área quadrada do piso dividido por 1/6, a casa
apresentaria uma população (105m
2
) em torno de 17/18 indivíduos. Pensando na divisão da
casa em dois núcleos (extremos) teríamos uma média de 8/9 pessoas em cada núcleo. Se
dividíssemos pelo número de fogueiras (3) teríamos uma média de 6 pessoas por fogueira,
conseqüentemente no núcleo correspondente às fogueiras A e B teríamos a presença de 12
indivíduos e no núcleo correspondente à fogueira D 6 indivíduos.
Usando como referência a quantidade de vasilhas presente nas áreas de influência das
fogueiras A e B, em relação à fogueira D, percebemos uma proporção na ordem de 3 para 1.
De cada 3 vasilhas presentes nas áreas de influência das fogueiras A e B, temos em média 1
representada na fogueira D. Se acrescentarmos as formas presentes no fogo C à fogueira D, os
números ficam ainda mais próximos dessa proporção. A única exceção corresponde às
panelas grandes.
Quadro 05 Número de recipientes por fogueira fogo
Fogueira/Fogo - Forma Fogueira A e B Fogo C Fogueira D
Prato 5 0 1
Tigela 30 2 9
Panela 34 1 10
Panela Grande 1 0 2
Recipientes Pequenos 10 0 3
Fonte: elaborado pelo autor
Já a fórmula de Cook (SCHMITZ, 1990, p.108), considera que casas com área do piso
superior a 50m
2
, são provavelmente moradias multifamiliares, sendo que as primeiras 6
pessoas necessitam de 13,92m
2
(2,32m
2
por pessoa). Cada pessoa adicional necessita de mais
9,29m
2
. Nesse caso a população da casa estaria em torno de 15/16 pessoas, uma média de 7/8
pessoas por núcleo familiar. Pensando na divisão por número de fogueiras teríamos 5 pessoas
por fogueiras, com 10 indivíduos no núcleo correspondente às Fogueiras A e B e 5 indivíduos
no núcleo correspondente à fogueira D.
165
A primeira vista parece um número exagerado pensando nas condições da área, no
entanto, a manutenção de uma casa maior com um número considerável de pessoas, nos
parece uma solução viável para aproveitamento dos recursos. O número de pessoas, a
dimensão da casa e o número de fragmentos apresentam semelhanças com o sítio Röpke no
vale do Jacuí, demonstrando que o padrão da habitação tem pouca variação, mesmo que
inserido em um ambiente diferenciado.
4.4 Inserção do Sítio no Ambiente
O sítio está situado em um patamar mais ou menos plano, distando aproximadamente
25m do rio das Antas, e a 4m de um pequeno córrego, que em períodos de estiagem seca.
Assim como a maioria dos sítios encontrados na área, está situado em altitude de 180m,
correspondendo ao primeiro patamar plano em relação ao rio. Nos trabalhos de levantamento
topográfico verificamos que o sítio encontra-se a 14m em relação ao nível atual do rio das
Antas.
Figura 40: Modelo Topográfico do Sítio Favaretto e Favaretto Escavação
Fonte: Levantamento Topográfico CEPA-UNISC
Nesse ponto o rio apresenta patamares mais ou menos planos, ora de um lado, ora de
outro lado do rio. A matéria-prima para a indústria lítica é abundante, principalmente nas
166
corredeiras próximas ao sítio, onde há uma oferta considerável de basalto, e, em menor
quantidade de calcedônia, de riolito e de arenito friável.
Acreditamos que o arenito friável encontra-se com maior facilidade a jusante da foz do
rio Carreiro, embora possa ocorrer esparsamente na área. (Ver capítulo meio ambiente). Os
corantes de origem mineral como o óxido de ferro também são encontrados com certa
facilidade nas cascalheiras do rio.
Em relação à matéria-prima para a produção de cerâmica, temos uma boa oferta, visto
que, todos os solos nas proximidades do sítio se prestam a tal fim, inclusive o substrato
encontrado no próprio sítio, onde através de um experimento, constatamos que é possível
elaborar uma cerâmica com características semelhantes à encontrada no sítio. Nos trabalhos
de escavação quando ocorriam chuvas, percebemos que o solo úmido apresentava
características bastante plásticas, inclusive proporcionando várias quedas aos transeuntes
desavisados.
Como já descrevemos no capítulo do meio ambiente, a área apresenta solos férteis
próximos ao rio, solos medianamente férteis nas encostas (com condicionantes) e novamente
solos férteis em algumas áreas de topo. A vegetação apresenta-se bastante abundante, com
várias espécies de madeiras próprias para construções, além de espécies frutíferas, entre
outras.
Se pensarmos em áreas de captação de recursos (VITA-FINZI; HIGGS, 1970), temos
em um raio de 2Km, matéria-prima para elaboração de cerâmica, de artefatos líticos; madeira
e fibras para a construção das habitações, além de áreas propícias para o plantio com áreas
planas e de meia-encosta, embora com restrições espaciais em função do relevo.
Por sua vez a circulação de animais estaria associada às proximidades dos cursos
d’água, dessa forma encontraríamos na área próxima ao rio animais de grande, médio e
pequeno porte, além do que as áreas de cultivo poderiam atrair determinados animais,
principalmente na época da colheita.
Em um raio de 5Km teríamos a ocorrência esparsa de araucárias nas partes mais altas
em torno de 500-650m. Mais além, em um raio de 10Km teríamos a ocorrência da Floresta
167
Ombrófila Mista, além de matérias-primas como o arenito-friável com maior abundância. O
rio e seus afluentes deveriam ter forte influência nos padrões de circulação da área, pois boa
parte dos assentamentos encontra-se em suas proximidades.
Frente às características da área (relevo, recursos hídricos, solos e vegetação),
principalmente no que tange a concentração de recursos, concluímos que as áreas próximas ao
rio forneceriam meios suficientes para a subsistência de grupos horticultores, que através do
manejo dos diversos recursos, conseguiram reproduzir seu modo de vida. Se pensarmos na
distribuição dos sítios na área, vamos verificar que a grande maioria dos sítios está próxima
ao rio. Todavia, a busca por recursos específicos como o pinhão poderiam motivar o
deslocamento a distâncias maiores.
A partir dos dados obtidos no estudo da distribuição dos sítios, observamos que a
movimentação do grupo se dava dentro de uma área ampla, com deslocamentos de pequena,
média e longa distância. O sítio Favaretto Escavação provavelmente representa a ocupação
em um período intermediário, não muito antigo, correspondendo às primeiras incursões na
área; nem muito recente, correspondendo ao período final de ocupação.
Os critérios para a instalação se mostraram os mesmos da maioria dos sítios da área,
ou seja, a uma distância segura das enchentes, em patamares planos ou mais ou menos planos,
próximo a pequenos córregos ou arroios, com locais passíveis de serem cultivados nas
proximidades. A presença do sítio Favaretto, ocupado provavelmente em um período anterior,
indica que o assentamento corresponde ao retorno a uma área já explorada, reforçando a
hipótese de circulação do grupo dentro de uma área ampla.
Por outro lado, não descartamos a possibilidade de interação (ROGGE, 2004) entre
grupos associados à tradição Tupiguarani e tradição Taquara, sendo que a ocupação dos
portadores da tradição Tupiguarani funcionaria como um ponto de atração para outros grupos
instalados em áreas próximas. Inclusive localizamos em um sítio arqueológico evidências de
contato. No momento o professor Dr. Sergio Celio Klamt está trabalhando na questão e
oportunamente publicará os resultados
168
4.5 O Funcionamento do Espaço Habitacional
O espaço habitacional correspondente ao sítio Favaretto Escavação, apresentou uma
divisão bipolar, com concentrações de materiais nos extremos da habitação, percebendo-se
claramente a existência de um espaço intermediário, que provavelmente era utilizado para
permanência ou descanso dentro da habitação, além de constituir uma área de circulação.
As fogueiras apresentam vestígios de várias atividades que se davam em espaços
distintos no seu entorno. As matérias-primas eram conseguidas nas proximidades do sítio,
talvez com um pouco mais de dificuldade para a obtenção do arenito friável.
Nos mapas de distribuição dos materiais, observamos que o material lítico e cerâmico
tende a apresentar-se do lado oposto a área de circulação (espaço intermediário), realidade de
boa parte dos vestígios. Os materiais que apresentaram marcas da ação do fogo parecem ter
sido colocados no fogo e posteriormente retirados (seixos, por exemplo) apresentando uma
posição semelhante aos demais vestígios, dispostos no entorno das fogueiras (área de
influência).
Provavelmente, as atividades de preparo de alimentos e cerâmica estão diretamente
associadas às fogueiras, nesse sentido nos parece bastante provável que essa atividade se
concentrasse nesses locais, e, o consumo dos alimentos (posição dos pratos) se desse numa
área um pouco mais afastada. Pelas referências que possuímos parte das tigelas foram
compartilhadas pelos dois núcleos da casa, sendo as demais vasilhas restritas as suas
respectivas áreas dentro da habitação.
Em relação aos espaços de circulação pressupomos que a entrada da casa estaria
orientada na posição leste, principalmente por que nessa área os vestígios apresentaram-se
mais escassos.
Na porção Sul, correspondendo às fogueiras A e B, ocorre um número maior de
vasilhas, correspondendo a relação 3 por 1, se comparada com a porção Norte, onde localiza-
se a fogueira D e o fogo C. Nesse sentido, acreditamos que a porção Sul apresentou um
número maior de indivíduos. Apesar das fogueiras A e B não apresentarem interação na
169
reconstituição das vasilhas, em função da proximidade, pressupomos que os ocupantes dessa
porção possuíam uma relação bastante estreita.
Por outro lado, na porção Norte, pensando na relação da fogueira D com o fogo C,
poderia estar em andamento um processo de divisão/ampliação semelhante ao ocorrido na
porção Sul do espaço habitacional. Todavia, em função da localização dessa estrutura na área
de circulação, a hipótese mais provável, é que o referido fogo tenha sido utilizado de forma
eventual.
Quanto às formas das vasilhas as duas porções (Norte-Sul) apresentaram padrões
semelhantes, no entanto, a decoração se mostrou distinta, sendo que a porção Norte não
apresentou a decoração escovada e a porção Sul teve pouca representatividade nas vasilhas
pintadas. No espaço intermediário apareceu uma vasilha carenada (vasilha nº 107 Apêndice
B e F) com decoração simples, que em função da forma, provavelmente desempenharia uma
função semelhante às vasilhas pintadas
Nas atividades de campo do Programa de Arqueologia não foi identifica a presença de
áreas de descarte, sendo que foram realizadas sondagens com o objetivo específico de
evidenciar tais áreas. Nesse sentido, acreditamos que os materiais uma vez inutilizados,
permaneciam nos locais próximos aos do uso (exemplo fogueiras), ocorrendo deslocamentos
eventuais (vasilhas utilizadas em enterramentos).
Quanto às atividades realizadas dentro do espaço habitacional verificamos em função
da presença ou ausência de materiais, que a matéria-prima para a elaboração do material lítico
era depositada dentro do espaço habitacional, sendo exposta ao fogo com maior ou menos
intensidade, sendo também processada nesses locais. O mesmo ocorrendo com as vasilhas
cerâmicas.
A partir dos materiais identificados e da sua disposição podemos afirmar com certeza
que o sítio Favaretto Escavação corresponde a um espaço habitacional, que representa a
ocupação da área em um período intermediário. Não foi possível estabelecer a
contemporaneidade com outros assentamentos, embora possa ter ocorrido.
170
O sítio encontrado nas imediações, o sítio Favaretto, provavelmente foi ocupado em
um período anterior, sendo que o sítio Favaretto Escavação representa o retorno a uma área
anteriormente ocupada, revelando o padrão de circulação na área. As roças ocupavam,
provavelmente, espaços próximos à habitação, no entanto, frente à escassez de locais planos,
poderiam localizar-se a distâncias maiores. Como observamos no capítulo que trata da
distribuição dos sítios, alguns nos pareceram ter uma função diferenciada.
Quando mencionamos os fatores de perturbação dos sítios não apontamos as
ocupações pré-históricas. Nesse sentido, o manejo ambiental das populações indígenas pode
ter impactado os sítios anteriormente ocupados, entretanto de forma menos drástica.
Figura 41: Croqui do Sítio com Destaque a Área Hipotética do Espaço Habitacional
Fonte: elaborado pelo autor
171
5 CONCLUSÃO
O ambiente da área de estudo se mostrou favorável à implantação de grupos
ceramistas-horticultores, principalmente nas proximidades do rio, visto que esses locais
apresentam condições climáticas semelhantes às da Depressão-Central, permitindo a
reprodução do modo de vida dessas populações, embora com restrições de ordem espacial. Os
sítios têm uma relação direta com o rio das Antas e seus afluentes, denotando a importância
dos cursos d’água e dos recursos localizados nessas áreas para as populações pré-históricas.
Registramos a presença de sítios arqueológicos associados à tradição Umbu e à
tradição Tupiguarani, sendo que as demais tradições arqueológicas não apresentaram
subsídios suficientes para uma caracterização mais segura. Todavia, pressupomos que os
sítios que apresentamos como tradição arqueológica não definida, podem estar associados à
tradição Taquara, à tradição Humaitá ou até à tradição Tupiguarani.
Os sítios associados à tradição Umbu e os com tradição arqueológica não definida,
parecem ter uma presença discreta na área. Com as referências que possuímos não
conseguimos estabelecer relações dessas populações com os portadores da tradição
Tupiguarani. No entanto, trabalhamos com duas hipóteses: a primeira diz respeito a uma
ocupação anterior e em dado momento contemporânea; a segunda diz respeito a uma
ocupação posterior, resultado da atração proporcionada pela ocupação da tradição
Tupiguarani na área.
De forma geral estimamos que o início do povoamento da área se deu por volta do
século XIV da era Cristã, primeiramente de forma esporádica e depois de forma mais intensa
até o desaparecimento das populações indígenas já em um período histórico. Acreditamos que
os sítios presentes na área correspondem à ocupação de um mesmo grupo. Provavelmente o
manejo ambiental e o domínio do território, impunha a necessidade de deslocamentos de
pequena, média e longas distâncias, com retorno às áreas anteriormente ocupadas.
Quanto à funcionalidade, a maioria dos sítios arqueológicos tem características de
habitações, seja pela localização na paisagem, seja pelos materiais que apresenta. No entanto,
172
alguns assentamentos parecem ter uma ocupação esporádica, para a realização de uma
determinada atividade, sendo posteriormente abandonados. Áreas de enterramento e áreas de
descarte não foram localizadas. Frente à ausência das grandes vasilhas pressupomos que os
enterramentos secundários, em vasilhas menores, podem ter substituído os enterramentos
primários em urnas.
Na área houve o predomínio dos sítios pequenos (63,27%), seguido dos sítios médios
(32,65%) e mais raros os sítios extensos (4,08%), denotando as dificuldades impostas pelo
meio, não permitindo às populações associadas à tradição Tupiguarani reproduzir toda sua
riqueza cultural. Outro exemplo encontra-se nas vasilhas cerâmicas, visto que a quase
totalidade das formas, apresenta deformidades, seja pelo acabamento, seja pela simetria.
Nesse sentido, entendemos que os portadores da tradição Tupiguarani tiveram que se
adaptar às condições da área, provavelmente em função do crescimento da população que
impunha a busca por novas áreas para ocupar. Dessa forma, uma área que poderia ser ocupada
esporadicamente, frente à necessidade, passou a ser ocupada de forma definitiva, acolhendo
populações de áreas mais densamente povoadas (o que parece ser o caso da área de estudo).
Nesse sentido, a lógica de ocupação da área parece ter sido: avançar, adaptar e permanecer.
Devemos ressaltar que o grupo provavelmente ocupou uma área relativamente
extensa, em torno de 20Km, seguindo o curso do rio das Antas, mantendo em média a
extensão da área identificada por Schmitz (1985) para o vale do rio Jacuí (20Km em média
considerando a presença de uma aldeia). Lembramos que o vale do Rio das Antas apresenta
recursos mais escassos se comparado à área do vale do rio Jacuí, por isso entendemos que o
território deve ter sido ampliado, tendo em vista a exploração dos recursos.
O sítio Favaretto Escavação corresponde a uma ocupação intermediária, não
representando os sítios mais antigos, nem aos mais recentes da área. Observando as
dimensões dos sítios e a periodização que estabelecemos, percebemos que os sítios mais
antigos apresentam dimensões consideráveis, sendo que no período intermediário (sítio
Favaretto Escavação) passaram a ter dimensões ligeiramente menores, sendo que no período
mais recente (sítio Cavalli) passaram a apresentar dimensões maiores novamente. A
impressão que temos é que o grupo foi crescendo, necessitando dessa forma espaços mais
amplos na habitação, bem como a exploração de uma área maior (meia-encosta e topo, por
exemplo).
173
O sítio Favaretto Escavação mostrou muitas semelhanças com os sítios escavados
associados à tradição Tupiguarani, principalmente os situados nos vales do rio Jacuí e Pardo.
Embora situado em um ambiente diferenciado dos demais, a organização do espaço
habitacional, as dimensões e o número de fogueiras, se mostraram recorrentes. Da mesma
forma a utilização de recursos disponíveis nas proximidades do sítio, o acúmulo de seixos
dentro da unidade habitacional, são semelhantes aos demais sítios já escavados.
A diferença, no entanto, está na disposição dos materiais. Já nos trabalhos de campo
foi possível identificar in situ as áreas das fogueiras, inclusive com a estratigrafia. A partir
disso conseguimos determinar a área de dispersão dos materiais e sua relação com as
fogueiras, o que denominamos de áreas de influência das fogueiras, correspondendo a um
círculo com raio de aproximadamente 2m, a partir do centro da fogueira registrada em campo.
Nesse espaço, constatamos a presença dos mais diversos materiais, tanto de cerâmica
como do material lítico, indicando que boa parte das atividades domésticas se dava ali, sendo
que os outros locais eram utilizados para circulação e permanência dentro da habitação.
Com os trabalhos de reconstituição das vasilhas percebemos a repetição de
determinadas formas e dimensões, indicando provavelmente a substituição dos utensílios, o
que faz pensar na ocupação do sítio por um período considerável. Da mesma forma, a
presença de duas fogueiras e de um número maior de vasilhas na porção Sul da habitação,
indica a presença de um número maior de indivíduos nesse espaço. Por sua vez, a diferença
nos padrões de decoração pode reforçar a diferenciação dos mesmos.
As tigelas e os recipientes pequenos foram as formas que apresentaram interação entre
as fogueiras, ou seja, fragmentos da mesma vasilha foram encontrados em áreas de influência
de diferentes fogueiras ou fogo. As demais formas não apresentaram deslocamentos
consideráveis, sendo que boa parte dos fragmentos reconstituídos encontrava-se na mesma
quadrícula ou em quadrícula próxima.
A partir do estabelecimento das áreas de influência das fogueiras percebemos que as
fogueiras A e B não apresentaram interação passível de registro. No entanto, entendemos que
em função da proximidade deve ter ocorrido.
De forma geral, percebemos que os portadores da tradição Tupiguarani reproduziram
seu modo de vida na área, mantendo os padrões na elaboração da cerâmica, nas formas das
vasilhas, na decoração, na elaboração dos artefatos líticos, na forma e função das habitações,
174
embora não reproduzindo todos os padrões característicos das áreas com maior oferta de
recursos.
175
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1-3.
178
APÊNDICE A Banco de Dados com Informações Sobre as Vasilhas Reconstituídas
Vasilha
Tipo
Foguei
ra/Fog
o
Quadrícula Decoração
Altura
(cm)
Diâmetro
Boca (cm)
Número no Banco
de Dados*
1
tigela
A h27 Pintado 7
14
145
2
prato A h25 Corrugado 8
22
22
3
tigela
A i28 Pintado 8
20
442
4
tigela
B e32 Pintado 8
16
1183
5
tigela
C g34 Simples 8
18
1509
6
tigela
D g37 Simples 9
20
1686 , 1685
7
tigela
B d33 Escovado 12
24
1295,13
8
tigela
B f28
Corrugado-
Ungulado 8
26
259
9
tigela
B e31 Pintado 12
22
1028, 1022
10
tigela
A i27
Composta
(Escovado +
Simples)
8
22
209
11
tigela
D g37 Pintado 8
14
1692
12
tigela
B d33 Simples 8
20
1304
13
tigela
R a30 Simples 8
16
772
14
prato R a30 Simples 7
18
771
15
tigela
A f29 Simples 8
16
589
16
tigela
B,D d33, g38 Escovado 11
24
1295,1296,1293,13
05,1307,1838,1839
17
tigela
D,A h37, j28, i28 Pintado 8
20
1775, 501, 144
18
tigela
D h37 Simples 14
22
1743
19
tigela
B d33 Pintado 14
24
1290
20
tigela
B e30 Simples 8
18
877
21
tigela
D g38 Simples 8
16
342
22
prato A f29, g30
Composta
(Corrugado +
Escovado) 8
24
597,596,967
23
prato B e30 Simples 10
24
901
24
prato D h35 Simples 6
22,5
1595, 1598, 1597,
1596
25
tigela
B e31 Simples 8
19
1033,1
26
tigela
C h34 Pintado 10
22
1536
27
prato B g30,f32,e31 Escovado 8
22
966,1024b,1041,12
05
28
tigela
A h30 Pintado 10
20
979
29
tigela
B g31,d32
Composta
(Corrugado +
Simples)
8
26
1110, 1154, 1112
30
prato B g32 Escovado 8
22
1222
31
tigela
A g30 Escovado 10
18
962
32
tigela
A f29 Corrugado 8
18
548
33
tigela
B d30 Corrugado 10
22
801
34
tigela
A i28 Corrugado 8
22
447,436,435
35
tigela
B,C e34,e31
Composta
(Corrugado +
Simples)
8
22
1471,1470,1019
36
tigela
A g28 Simples 14
24
323
37
tigela
A h27 Simples 10
24
144
38
tigela
A i25 Escovado 8
20
42,3
39
tigela
A i27 Corrugado 8
18
206
40
tigela
A h29 Corrugado 12
31
662,661
41
tigela
A f28 Corrugado 10
22
256
42
tigela
D h38 Simples 12
26
1931
43
tigela
D g37 Corrugado 18
34
1703
44
tigela
A h29
Composta
(Corrugado-
ungulado +
Escovado)
8
20
698
45
tigela
A f29 Pintado 8
20
573
179
46
panel
a
B d33 Escovado 11
14
1306 , 1320
47
panel
a
B f30 Simples 14
17
927,908,911,909,91
0,912,914
48
panel
a
R c34 Simples 12
18
1434
49
panel
a C g34 Simples 16
18
1524
50
panel
a D i39 Corrugado 13
16
1970
51
panel
a B e33 Simples 11
16
1325
52
panel
a A j26 Simples 14
24
132
53
panel
a
B e31 Simples 14
18
1036
54
panel
a B f31,e31 Ecovado 16
20
1086, 1029
55
panel
a B d30
Composta
(Corrugado +
Ungulado) 12
16
809
56
panel
a
A g30 Simples 18
20
971
57
panel
a
B f30 Simples 14
16
937
58
panel
a B f30 Escovado 16
26
907
59
panel
a A f29 Simples 16
17
568
60
panel
a A f29 Simples 14
18
569
61
panel
a
A j26 Ungulado 10
14
117
62
panel
a
A j26 Corrugado 22
24
111
63
panel
a A i27 Pintado 10
9
205
64
panel
a A j26 Pintado 14
18
120
65
panel
a A g28 Corrugado 13
19
319
66
panel
a A i29 Ungulado 15
20
750
67
panel
a
A i30 Corrugado 14
18
986
68
panel
a A g28 Pintado 10
12
309
69
panel
a B f33 Escovado 12
14
1346
70
panel
a I i33 Corrugado 13
22
1397
71
panel
a B e29 Pintado 10
16
533
72
panel
a
A h29, i29 Ungulado 9
14
722,759
73
panel
a B d33 Simples 12
16
1288
74
panel
a R c30 Corrugado 13
14
791
75
panel
a B h31,e30,f30
Composta
(Escovado +
Ungulado +
Simples)
16
20
863,2013,2007,201
2,2006,2004,2008,2
005,2010,917,919,9
20
76
panel
a D g38 Simples 14
16
1883
77
panel
a A f28
Composta
(Corrugado +
Simples) 14
18
258
78
panel
a
D h37 Ungulado 17
22
1977
79
panel
a A i27 Ungulado 10
19
235
80
panel B d30 Ungulado 14
22
800
180
a
81
panel
a
D i39 Corrugado 14
18
1972
82
panel
a D f39 Simples 18
23
1943
83
panel
a B d31 Ungulado 12
20
1009
84
panel
a D f37 Simples 14
13
1674
85
panel
a D g38,g39 Corrugado 35
42
1833, 1960, 1956
86
panel
a
D h38 Corrugado 35
40
1927
87
panel
a A f29 Simples 30
22
550
88
panel
a D g37 Ungulado 12
14
1796
89
panel
a D e38 Ungulado 14
16
1827
90
panel
a A f28 Simples 11
16
250,282
91
panel
a
D h37 Ungulado 12
21
1757
92
panel
a A h28 Ungulado 16
21
357,355
93
panel
a A i27
Corrugado-
Ungulado 12
15
158
94
tigela
A i28 Ungulado 12
20
476,471
95
tigela
I d34
Composta
(Pintado +
Ungulado +
Simples)
10
20
1445,14
96
panel
a A h28
Corrugado-
Ungulado 10
14
360
97
tigela
A i27 Pintado 8
16
225
98
tigela
B e30 Pintado 12
22
868
99
panel
a A f28 Inciso Geométrico 11
14
266
100
tigela
A h24
Corrugado-
Ungulado 11
22
17
101
tigela
D g38 Simples 16
32
1893
102
tigela
I,B d34, e30 Pintado 11
23
1468 , 840
103
panel
a D g38 Pintado 15
23
1898,19
104
tigela
B,D d30,h38 Pintado 8
22
810,1923,815
105
tigela
D g37,h38 Pintado 18
24
1690,1691,1908,17
41,1680
106
tigela
D e37 Pintado 8
22
1649
107
panel
a
I,R d34,c34,a32,a33
Simples 26
28
1450, 1449,
1447,1465,1418,14
21,1424,1428,1423,
1420,1419,1422,11
38,1266,1265,1262
108
pequ
enos B e33 Pintado 8
14
1329
109
pequ
enos B d32 Simples 6
9
1151
110
pequ
enos D h38 Pintado 12
8
1926
111
pequ
enos I,A h33,i27,i25 Pintando 6
11
1387,1390,207,24
112
pequ
enos
D g38 Pintado 8
13
1832
113
pequ
enos R a34 Pintado 6
13
1403
114
pequ
enos B f30
Composta
(Corrugado +
Simples) 7
13
916
115
pequ
enos
D g38,g37 Pintado 8
13
1905,1705,1706
181
116
pequ
enos
R b32 Simples 5
10
1142
117
pequ
enos
B g31 Simples 9
8
1088,1097,1108,11
09,1089
118
pequ
enos
B d31 Simples 6
10
1014
119
pequ
enos C,D h35,g38 Pintado 5
11
1570,1571,1899
120
pequ
enos I d35
Corrugado-
Ungulado 3
12
1552
121
pequ
enos B e32 Pintado 6
16
1174
122
pequ
enos A h29 Simples 3
9
723
123
pequ
enos
B G30 Pintado 6
13
951
124
pequ
enos B e31 Pintado 5
12
1027
125
pequ
enos A j29 Simples 6
12
769
*O banco de dados com as referências sobre os fragmentos de cerâmica e o material lítico não
foi apresentado em função da quantidade de páginas que iria ocupar. Optamos por apresentar
as informações diretamente no texto, através de gráficos, tabelas, etc.
182
APÊNDICE B Exemplos de Vasilhas Reconstituídas a Partir dos Conjuntos Cerâmicos
Reconstituídos em Laboratório (desenhos sem escala)
183
184
185
186
APÊNDICE C Amostras da Decoração Cerâmica Presente no Sítio (Fotos do autor)
Variações do Ungulado Variações do Pintado
Variações do Escovado Variações do Simples
Variações do Corrugado (A e B) e Corrugado-Ungulado (C)
A
B
C
187
APÊNDICE D Amostras de Outros Materiais Cerâmicos (Fotos do autor)
Massas de Cerâmica
Cachimbo de Cerâmica
Base em Forma de Calota de Esfera Base Plana Modelada
188
Rolete de Cerâmica Recipiente com Base Plana
APÊNDICE E Amostras do Material Lítico (Fotos do autor)
Seixos de Basalto Alisador em Arenito Friável
189
Núcleo de Riolito Lasca de Calcedônia (esq.) e Riolito (dir.)
APÊNDICE F - Conjuntos de Vasilhas Representadas em Desenho
25
.
25
Separamos os conjuntos (vasilhas reconstituídas em desenho) em função de sua localização nas fogueiras, no
fogo, no espaço intermediário, no espaço revolto, bem como os conjuntos que apresentaram interação entre esses
espaços, tendo em vista a visualização do conjunto total de vasilhas presente em cada espaço. Distribuímos os
conjuntos a partir das formas das vasilhas: tigelas, pratos recipientes pequenos e panelas, tendo em vista a
variabilidade dos conjuntos.
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
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