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Carolina Estevam de Pinho A
lmeida
Salvador
2008
MUDANÇAS EVOLUTIVAS DA
ESTRUTURA SOCIAL DE
EQUIMIÍDEOS (RODENTIA) COMO
EXAPTAÇÃO E ADAPTAÇÃO A UM
AMBIENTE SEMI-ÁRIDO
Thrichomys
apereoides
Trinomys iheringi
denigratus
Trinomys
yonenagae
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CAROLINAESTEVAM DE PINHO ALMEIDA
Mudanças Evolutivas da Estrutura
Social de Equimiídeos (Rodentia)
como Exaptação e Adaptação a um
Ambiente Semi-Árido
Dissertação apresentada ao Instituto de
Biologia da Universidade Federal da Bahia,
para a obtenção de Título de Mestre em
Ecologia e Biomonitoramento.
Orientador: Dr. Pedro Luís Bernardo da Rocha.
SALVADOR
2008
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Comissão Julgadora:
______________________________ ______________________________
Prof. Dr. Hilton Ferreira Japyassú Profª. Drª. Patrícia Izar
_________________________________
Prof. Dr. Pedro Luís Bernardo da Rocha
Orientador
DEDICATÓRIA
Dedico o vencimento dessa
etapa tão importante de minha
vida a meu Mestre: Peu.
Sem o seu apoio e crença, eu
jamais teria conseguido chegar
até aqui.
O alcançado foi por você e para
você...
“Tudo posso Naquele que me fortalece.”
(Filipenses 4,13)
AGRADECIMENTOS
Sem dúvidas, o período em que cursei o Mestrado foi um “divisor de águas” em minha vida. Com toda certeza, a Carol que
ingressou nesta Pós-Graduação é muito diferente da Carol que defende esta Dissertação... Outros valores, outros objetivos, outra
forma de se relacionar com a vida. Grandes mudanças, normalmente, o acompanhadas de fases difíceis. E são em fases como
estas que nós, muitas vezes, descobrimos o real valor do que temos à nossa volta.
Gostaria de agradecer imensamente a todos que participaram, “em diferentes intensidades”, desse meu passo evolutivo:
A Deus, que é o meu tudo.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de Mestrado e financiamento
ao Projeto que viabilizou a realização desses estudos.
Ao Programa de Pós-Gradução em Ecologia e Biomonitoramento, pelo esforço em formar pesquisadores de qualidade.
Agradecimento especial à Jussara, por todo apoio e disponibilidade.
Ao Dr. Hilton Japyassú e Drª. Patrícia Izar pela gentileza e disponibilidade em participar da Banca Examinadora e poder contribuir
para um trabalho final de maior qualidade.
À “família LVT”, sempre surpreendendo no altruísmo: Jorge Nei Freitas, Vitor Rios, Érica Neves, Agustín Camacho, Thiago
Serravale, Tatiane Barduke, Albérico Filho, André Mendonça, Diego Canário, Wilton Fahning, Clarissa Machado, Caprice Lima,
Gabrielle Winandy, Mônica Klein e Ana Carina e, evidente, ao grande exemplo disto Pedro Rocha. Agradecimento especial: a
Jorge amigo, colega, companheiro de viagens “coletoras”; a Vitor imprescindível desde os experimentos-piloto!!! OBRIGADA
POR TUDO!!!; a Érica pela eterna disponibilidade, à qualquer momento (mesmo!!); a Thiago e Agus por me socorrerem na minha
aventura pela “Princesinha do Sertão” e a todos que contribuíram para que esse projeto se “projetasse”... Além, é claro, das
queridíssimas “Mammalians”: Aline Borges, Ilai Alves e Alice Torres.
Aos mateiros maravilhosos: Ademir e Huguinho... Não existiria coleta sem vocês...
A Wellington Santos (Wly), pela disponibilidade, imprescindível, em ajudar na coleta dos “yonenagae”.
Aos colegas da turma 2006.1, por tornar esta trajetória mais “leve”: Alice, Aline, Ilai, Alessandra Barreiro, Perimar Moura, Rodrigo
Nogueira, Márcio Assis e Tasso Menezes.
Um agradecimento muito especial às novas, porém, grandes amigas: Ilai, Aline, Alice e Alê... Sem dúvidas, umas das maiores
conquistas que este Mestrado me trouxe. Também dedico a vocês essa minha vitória: pela força, pelo incentivo, por tornar especial
cada momento, ainda que “estressante”, que passamos... Muito obrigada, mesmo!
A Daniel Santiago (“Dani de Aline”) pela disponibilidade (em plena madrugada!) e ajuda valiosa na tradução do Abstract.
À minha terapeuta Vânia Castilho: a força motriz essencial nos momentos de soerguimento.
Agradeço, também, a todos que estiveram “ao meu redor”, contribuindo mesmo sem saber (ou sabendo, né, mãe?)...
Aos meus pais e irmãos, tios, primos, amigos... Juntos “na alegria e na tristeza”, sempre!
A meu pai e Sandra pelo apoio e incentivo; a minha mãe por ser mãe, companheira, colega, motorista, etc., enfim, por ser “100%”!!
A Lubi, por ser muito, muito mais que uma irmã...
A Cleó, por ser essa pessoa tão incrível, tão amada, tão admirada e por “cuidar” de mim, sempre...
Aos meus dindos Du e Rai, por serem verdadeiramente meus “segundos pais”, me dando outra família tão especial...
Às amigas de “longe”, mas que estão sempre tão perto: Amanda, Fau e Ciça.
Aos amigos “antigos”, mas ainda tão amigos e tão amorosos: as Rena´s, Bia, Ester, Nanda, Nena, Gera, Magno, Ivan...
Aos “novos”, mas já tão especiais, amigos: Tim, Karine,
Aline, Ilai, Alice, Alê (de novo!), Zito, Daniel e tantos outros “presentes” que
ganhei nesta fase... Em especial, agradeço à Tia Lícia, por todo carinho, todo amor e atenção em todos os momentos...
E agradeço, de forma muito especial, a João. Embora, talvez, não tenha percebido, para mim não dúvidas de que tenha sido o
grande agente “causador” da seqüência de “passos evolutivos” pela qual passei nestes últimos anos... Se hoje tenho como objetivo
de vida ser cada vez mais humana, em todos os âmbitos possíveis, é porque eu, verdadeiramente, conheci o Amor...
E falando em amor, termino meus agradecimentos direcionando-me a um dos maiores exemplos, não só de amor, mas, também, de
respeito, de ética, de profissionalismo, de amizade, de confiança, de disponibilidade, enfim, um verdadeiro Mestre: Pedro. Não
existem palavras para dizer o que sinto. A você, eternamente, minha admiração, gratidão, respeito, carinho e meu amor. Muito
obrigada...
ÍNDICE
Introdução Geral .................................................................................................................... 08
Referências (Introdução Geral) ............................................................................................ 16
Manuscrito do Artigo ............................................................................................................ 26
Abstract ......................................................................................................................... 28
Resumo ........................................................................................................................ 28
1. Introdução ................................................................................................................. 30
2. Material e Métodos ................................................................................................... 33
2.1. Captura e Manutenção dos Animais ........................................................... 33
2.2. Experimento ................................................................................................ 34
2.3. Coleta de dados .......................................................................................... 35
2.4. Análise dos dados ....................................................................................... 37
3. Resultados ................................................................................................................ 41
4. Discussão ................................................................................................................. 46
Referências ................................................................................................................... 53
Tabela 01 ...................................................................................................................... 60
Tabela 02 ...................................................................................................................... 61
Figura 01 ....................................................................................................................... 62
Figura 02 ....................................................................................................................... 63
Figura 03 ....................................................................................................................... 64
Tabela 03 ...................................................................................................................... 65
Figura 04 ....................................................................................................................... 65
Figura 05 ....................................................................................................................... 66
Conclusões Gerais ................................................................................................................ 67
INTRODUÇÃO GERAL
Comportamento social é qualquer ação direcionada por um indivíduo em relação
a um membro de sua própria espécie. Isto inclui desde interações competitivas (ex.
luta, ameaça, submissão) a interações com alto teor cooperativo (ex. cuidado
aloparental). Todos os mamíferos apresentam comportamento social, por mais
infreqüente que possa ser o contato com outros membros de sua própria espécie,
pois a fertilização interna necessita de acasalamento e a amamentação envolve um
íntimo contato entre mãe e filhote até o desmame (Poole 1985).
Os mamíferos apresentam diversos sistemas sociais (variando desde indivíduos
solitários territoriais até indivíduos eussociais, Poole 1985) influenciados e
modificados por interações entre fatores extrínsecos (ambientais) e intrínsecos
(características da espécie). O maior objetivo do estudo desses sistemas sociais é
elucidar como, através da evolução, esses fatores modelaram a estrutura e a
dinâmica destes sistemas. Tal compreensão tornaria possível predizer como as
mudanças nesses fatores (extrínsecos e intrínsecos) podem afetar as organizações
sociais e as relações entre os indivíduos (Crook et al. 1976).
Diferente de como foi definida por Alexander (1974, p.326): “socialidade significa
viver em grupo”, a socialidade é um fenômeno complexo e difícil de ser definido
(Costa & Fitzgerald 1996). Di Fiore & Rendall (1994), por exemplo, utilizaram 34
diferentes características num estudo para reavaliar a evolução da socialidade em
primatas, através de métodos filogenéticos. Segundo Wey et al. (2008), a
socialidade reflete um número de indivíduos vivendo e/ou interagindo juntos, o que
poderia conduzir ao surgimento de relações e estrutura sociais complexas. Assim, a
socialidade não é uma característica estática nem dicotômica. Dentro das espécies,
indivíduos podem variar entre uma existência solitária e social durante sua vida.
Portanto, “solitário” e “social” são na verdade extremos de um contínuo de
interações espaciais e sociais entre coespecíficos em resposta às condições
ecológicas (Lacey & Sherman 2007).
Um incremento da socialidade numa dada espécie traz custos e benefícios. De
forma geral, considera-se que a socialidade pode ser um benefício quando promove
maior proteção contra predadores (através do incremento da vigilância, do efeito de
diluição e da defesa do grupo), aumenta o sucesso na localização ou manutenção
do acesso a recursos, fornece oportunidades de acasalamento, diminui a
vulnerabilidade ao infanticídio. Ao mesmo tempo, pode significar custos aos
indivíduos quando aumenta a competição por acesso a recursos e oportunidade de
acasalamento, aumenta a exposição a infecções e transmissão de doenças, ou
aumenta a conspicuidade em relação a predadores (Alexander 1974; Krebs &
Davies 1996). Exemplos destes custos e benefícios têm sido discutidos por diversos
autores (p.ex. Clark & Mangel 1986; Carpenter 1987; Travis & Slobodchikoff 1993;
Côté & Poulin 1995; Gompper 1996; Ebensperger & Bozinovic 2000; Schradin 2000;
Blanco & Hirsch 2006; Duval 2007; Silk 2007).
Avaliar a forma e a natureza da socialidade é fundamental para o entendimento
das conseqüências da vida em grupo para os indivíduos. Contudo, como a
socialidade é variável dentro e entre as espécies, definir e medir aspectos do
sistema social permanece um notável desafio (Ruddel et al. 2007). Recentemente,
Kappeler & van Schaik (2002) definiram três componentes da socialidade em
primatas: (a) organização social, que descreve os padrões da distribuição espaço-
temporal dos indivíduos dentro de um grupo; (b) estrutura social, que descreve os
padrões das interações sociais e as relações entre os indivíduos; (c) sistemas de
acasalamento, que descrevem padrões genéticos e sociais da reprodução entre
indivíduos. No entanto, muitas vezes, essas definições são usadas como sinônimos,
e em sua maioria utilizadas para descrever a estrutura social de uma população. A
estrutura social, portanto, envolve tanto as relações ecológicas entre coespecíficos
vizinhos, tais como competição, dominância, forrageio, defesa, transferência de
informação e reprodução (Wilson 1975; Axelrod & Hamilton 1981), como os
aspectos da história de vida dos indivíduos, dentre os quais se destacam as
“decisões” sobre dispersão natal (dispersar ou não), acasalamento (reproduzir-se
ou inibir-se) e cuidado parental (exibir cuidado aloparental ou não) (Cahan et al.
2002). A estrutura social é ainda um importante elemento da biologia de uma
espécie ao influenciar o seu fluxo gênico (Wilson 1975). Sendo assim, o
conhecimento da estrutura social de uma população tem se mostrado importante
para o alcance de objetivos aplicados em estudos de variados grupos (p.ex.
artiodáctilos: Le Pendu et al. 1995; Tear & Ables 1999; carnívoros: Bailey 1974;
Geffen et al. 1996; Kamler et al. 2004a, b; Kitchen et al. 2005; Janecka et al. 2006;
10
Dalerum 2007; Ruddell et al. 2007; primatas: Berman et al. 1997; Gagneux et al.
1999; Thierry et al. 2000; Isbell & Young 2002; Robbins et al. 2004; proboscídeos:
Wittmeyer et al. 2005; Vidya et al. 2007; quirópteros: Vonhof et al. 2004; Campbell
et al. 2006; roedores: Randall 1994; Gaylard et al. 1998; Simeonovska-Nikolova
2003; Asher et al. 2004; Shier & Randall 2004; Schradin & Pillay 2005; Cooper &
Randall 2007; Kyle et al. 2007), embora sua descrição seja complexa.
Um importante sistema conceitual para análise de estrutura social foi proposto
por Hinde (1976), envolvendo três aspectos: (a) interações entre os indivíduos,
caracterizadas por tipos de comportamentos; (b) relações entre os indivíduos,
caracterizadas pelo teor, qualidade e padrão de freqüência das interações; e (c)
estrutura social, caracterizada pelo teor, qualidade e padrão das relações. Para
analisar a estrutura social de uma população de acordo com o proposto por Hinde
(1976) é necessária informação detalhada sobre os indivíduos de uma população,
coletada em um período de tempo considerável (Whitehead 1997), o que muitas
vezes não é possível. Talvez esse desafio tenha motivado os pesquisadores para o
desenvolvimento de formas alternativas de descrição da estrutura social.
Interações sociais têm sido freqüentemente medidas por Índices de Associação
(p.ex. Bedjer et al. 1998; Nanayakkara & Blumstein 2003) que descrevem a
proporção de observações nas quais dois indivíduos são vistos juntos (Cairns &
Schwager 1987; Ginsberg & Young 1992; Whitehead 1999, 2008). Outros índices
também são utilizados, aplicados em díades, como o Índice de Socialidade
(equivale à proporção relativa do tempo em que cada indivíduo é o vizinho mais
próximo de qualquer outro animal do grupo, Sibbald et al. 2005); o Índice de
Dominância (baseado em interações agonísticas, pode ser calculado de formas
variadas, para uma revisão ver Bayly et al. 2006; p.ex. Bailey et al. 2000;
Simeonovska-Nikolova 2003; Langbein & Puppe 2004); o Índice Agonístico
(equivale à proporção de comportamentos agonísticos em relação aos
comportamentos sociais não agonísticos; p.ex. Livoreil et al. 1993; Yahyaoui et al.
1995; Mandier & Gouat 1996); o Índice de Afiliação (proporção entre
comportamentos afiliativos e o total de comportamentos sociais, Freitas et al. 2008).
Além das análises entre pares, outras medidas comuns para acessar a
complexidade social são o tamanho do grupo e os sistemas de acasalamento (p.ex.
Côté & Poulin 1995; Geffen et al 1996; Kamler et al. 2004b), embora reflitam
11
indiretamente as relações sociais entre os indivíduos. Mais recentemente, a análise
de redes de interação tem recebido especial atenção em estudos da biologia e
estrutura de populações (May 2006). As redes são compostas por componentes
individuais (que podem ser indivíduos, grupos, etc.) e suas conexões. De acordo
com Wey et al. (2008), a análise de redes sociais fornece um profundo
entendimento da complexidade social através da medida direta das relações
sociais. Esse entendimento, muitas vezes, não é alcançado através dos índices
normalmente utilizados. Um exemplo da aplicação deste tipo de análise em
mamíferos é o estudo de Wolf et al. (2007). Esses autores utilizaram a análise de
redes para investigar os componentes fundamentais da estrutura social numa
sociedade de leões marinhos de Galápagos (
Zalophus wollebaeki). Essa técnica
lhes permitiu detectar a existência de uma hierarquia com três níveis graduais de
relações, com forte influência do sexo e idade dos indivíduos. Assim, ainda que
apresentem limitações, muitas são as técnicas que nos permitem acessar a
estrutura social de um grupo em algum grau.
Estudos comparativos dos aspectos da estrutura social nos permitem entender a
socialidade em um contexto evolutivo. Ou seja, compreender os processos em que
as relações entre os indivíduos tornaram-se mais complexas ou mais simples,
dentro de um grupo taxonômico, como resultado de um incremento ou retrocesso
nas interações sociais.
Neste contexto, os roedores destacam-se como um importante grupo para
estudos de evolução do comportamento social. Constituem cerca de 43% das
espécies de mamíferos (Wilson & Reeder 1993), superando todas as outras ordens
de mamíferos em abundância de indivíduos, bem como em número de gêneros e
espécies. Ocorrem em grande diversidade de hábitats, e o alcance de cenários
ecológicos aos quais são capazes de explorar contribui para notáveis formas de
sistemas sociais, alguns dos quais estão entre os mais complexos conhecidos para
qualquer espécie de mamíferos. Formando a base dessa diversidade está uma
larga variedade de padrões de dispersão, uso de espaço, comunicação, competição
reprodutiva, cuidado parental, e outros aspectos do comportamento social. Como
resultado, os roedores fornecem uma coleção ideal de espécies para a exploração
da biologia social (atributos que influenciam interações sociais entre coespecíficos),
contendo, conseqüentemente, muitos dos sistemas-modelo usados nos estudos do
12
comportamento social, servindo não apenas para testar hipóteses desenvolvidas
para roedores, mas também para outros táxons (Lacey & Solomon 2003; Wolff &
Sherman 2007).
Muitas hipóteses têm sido sugeridas para explicar a origem e manutenção da
sociedade em roedores. Algumas têm sido mais freqüentemente testadas (tais
como: hipótese da defesa mais eficiente de recursos, hipótese da maior eficiência
no forrageio; hipótese do menor risco de predação Ebensperger & Bozinovic
2000; Ebensperger & Cofré 2001; Bozinovic et al. 2005; Schradin 2007), enquanto
as hipóteses que envolvem o possível efeito dos fatores físicos têm recebido menos
atenção (tais como: hipótese da termorregulação social; hipótese do estresse
hídrico; hipótese da distribuição da aridez e alimento Burda et al. 2000;
Ebensperger 2003; Bozinovic et al. 2005). No entanto, nenhuma dessas hipóteses
tem sido rigorosamente testada, e é razoável supor que uma simples explicação
para a evolução da socialidade pareça improvável (Lacey & Sherman 2007). Além
da debilidade em não considerar hipóteses múltiplas de forma simultânea, o
discernimento da importância relativa dos benefícios e restrições particulares
(relativos a essas hipóteses) em relação aos diferentes grupos de roedores
permanece pouco claro. Algumas razões para isso, elencadas por Ebensperger
(2001), são: (a) suporte empírico escasso; (b) quando o suporte empírico existe,
geralmente é resultado de estudos envolvendo a mesma espécie usada para
formulação da hipótese original; (c) a maioria das hipóteses é examinada de forma
isolada ou restrita ao contexto específico de um grupo ou de uma espécie. Embora
os esforços despendidos a essas hipóteses sejam necessários, o primeiro passo
crítico em relação à identificação das pressões seletivas, que têm favorecido a vida
em grupo, é o melhor entendimento da natureza da socialidade isto é, o
entendimento da estrutura social destes animais (Lacey & Sherman 2007).
Pouco se sabe sobre a real ocorrência da socialidade em roedores. Enquanto
algumas linhagens são bem documentadas, especialmente da Eurásia e América
do Norte (destaque para as famílias: Muridae Powell & Fried 1992; McGuire et al.
2002; Galliard et al. 2006; e Sciuridae Barash 1974; Travis & Slobodchikoff 1993;
Allainé 2000), o sistema social de muitos outros táxons de roedores é
desconhecido, especialmente no que diz respeito às espécies tropicais
(principalmente as espécies sul-americanas, ver Tang-Martínez 2003), com exceção
13
para as famílias Bathyergidae (Sherman et al. 1991; Braude 2000) e Ctenomyidae
(Lacey et al. 1997; Lacey & Wieczorek 2003). Essa realidade torna-se bastante
particular para a família Echimyidae, que se destaca entre os histricognatos pela
grande diversidade ecomorfológica e taxonômica. Filogenias têm sido propostas
para elucidar as relações entre os diferentes táxons (Leite & Patton 2002; Carvalho
& Salles 2004; Galewski et al. 2005). Como tendências evolutivas não podem ser
adequadamente sugeridas quando as filogenias dos táxons em foco não estão bem
resolvidas, os equimiídeos formam um grupo promissor para estudos evolutivos.
Os ratos-de-espinho, entre os roedores da família Echimyidae, se destacam por
sua diversidade taxonômica, morfológica e ecológica (Leite & Patton 2002). Os
gêneros
Proechimys, Hoplomys e Trinomys, de locomoção terrestre, habitam desde
florestas tropicais aos ambientes áridos das savanas (Lara & Patton 2000).
Informações da literatura sugerem que as espécies destes gêneros são solitárias
(Emmons & Feer 1997; Eisenberg & Redford 1999), com evidências para existência
de territorialidade entre as fêmeas de
Proechimys e Trinomys (Emmons 1982;
Bergallo 1995; Aguilera 1999). No entanto, dados oriundos do nosso grupo de
pesquisa apontam para uma diversidade de níveis de socialidade em
Trinomys
(Freitas et al. 2003; Freitas et al. 2008; dados não publicados: Neves 2004; Neves &
Rios 2005; Barduke 2008; Saldanha-Filho 2008), com especial destaque para a alta
afiliação da espécie
Trinomys yonenagae, espécie endêmica das dunas do rio São
Francisco (Rocha 1995). Estudos de campo e laboratório indicam a existência de
alta socialidade nesta espécie, através das seguintes evidências: (a) em campo:
sobreposição de áreas domiciliares entre adultos; uso comunal dos sistemas de
galeria por adultos; ausência de territorialidade (Santos 2004, dados não
publicados); (b) em colônias artificiais em laboratório: interações sociais mais
afiliativas do que agonísticas entre indivíduos jovens e adultos; formação de laços
entre díades de adulto do mesmo sexo; ocorrência de cuidado aloparental (Manaf &
Oliveira 2000); (c) interações diádicas induzidas em laboratório: alta freqüência e
diversificação de interações sociais afiliativas e baixa freqüência de agonismo
(Freitas et al. 2003, 2008; dados não publicados: Neves 2004; Neves & Rios 2005).
A alta afiliação em
T. yonenagae tem sido apontada como uma adaptação da
espécie à vida em hábitat semi-árido das dunas (Santos 2004, dados não
publicados; Freitas et al.2008). No entanto, a carência de estudos de outras
14
espécies do gênero ainda não nos permite afirmar se a alta afiliação e a estrutura
social decorrente desta afiliação, em
T. yonenagae, são realmente uma adaptação
ao ambiente árido das dunas onde habitam, ou se essas características
possibilitaram a passagem e o estabelecimento dessa espécie de um hábitat
florestado para um ambiente semelhante a deserto.
As informações sobre afiliação em
Trinomys são, como citadas, em grande
parte, frutos de estudos com interações de díades intra-sexuais induzidas. Para o
entendimento da evolução da estrutura social neste grupo, e a relação do aumento
da socialidade com esta formação, nós fizemos um estudo comparativo entre duas
espécies de
Trinomys (T. iheringi denigratus, além de T. yonenagae) e uma espécie
do gênero
Thrichomys (“punaré”, também um equimiídeo de locomoção terrestre).
T. i. denigratus é uma espécie que ocorre na Mata Atlântica (Eisengerg & Redford
1999) e carece de informações sobre padrão de distribuição, presença de
territorialidade intra- ou interespecífica e estrutura social. Resultados de estudos do
nosso grupo de pesquisa sugerem que essa espécie exibe um padrão
comportamental mais afiliativo do que o encontrado entre a maioria dos ratos-de-
espinho (Freitas et al. 2008; dados não publicados: Barduke 2008; Saldanha-Filho
2008).
Thrichomys apereoides ocorre em ambientes xéricos e rochosos na
Caatinga (Nowak 1999; Reis e Pessoa 2004), os machos não apresentam
sobreposição de áreas domiciliares e, entre as fêmeas, sua ocorrência é mínima
(Streilen 1982). Informações da literatura e do nosso grupo de pesquisa evidenciam
a ocorrência de comportamento intra-específico agressivo nessa espécie (Streilen
1982; Freitas et al. 2008; Saldanha-Filho 2008, dados não publicados). Diante do
monofiletismo bem suportado de
Trinomys (Lara & Patton 2000; Carvalho & Salles
2004; Galewski et al. 2005), testamos a hipótese de que a alta afiliação e uma
possível estrutura social mais complexa é uma apomorfia da espécie
T. yonenagae
e não uma característica do clado ao qual pertence (juntamente a T. i. denigratus,
Lara & Patton 2000). Utilizamos
T. apereoides como grupo externo, baseados na
informação da literatura de que
T. apereoides é filogeneticamente próximo ao
Trinomys (Galewski et al. 2005).
Um aumento ou diminuição de afiliação pode ser acessado através dos diferentes
níveis em que essas interações podem apresentar. A estrutura social pode ser
analisada através de redes de interações de grupos, representadas, por exemplo,
15
por sociogramas em grupos menores. Objetivamos alcançar o nosso propósito, com
base em respostas às seguintes questões: (1) roedores de espécies diferentes
exibem diferentes níveis de agonismo e afiliação em suas interações sociais? (2) o
grau das interações agonísticas e das interações afiliativas dos pares Macho x
Macho, Fêmea x Macho, e Fêmea x Fêmea difere entre espécies diferentes? (3)
como os pares se relacionaram dentro do grupo? Há formação de laços entre
díades?
Além de testar a hipótese por nós levantada, propomos ainda a utilização de
novas variáveis para aferição dos graus de agonismo e afiliação das interações
entre os indivíduos de um grupo (aplicados a um sociograma), através de uma
classificação das interações sociais de acordo com a sua intensidade.
16
REFERÊNCIAS (INTRODUÇÃO GERAL)
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26
MANUSCRITO PARA APRECIAÇÃO
O presente capítulo apresenta o manuscrito intitulado “Mudanças evolutivas da
estrutura social de equimiídeos (Rodentia) como exaptação e adaptação a um
ambiente semi-árido” cuja versão em inglês será submetida para apreciação e
publicação no periódico científico Behavioural Process. Este manuscrito é fruto dos
resultados, discussão e conclusões dos estudos desenvolvidos para a elaboração
desta dissertação. Os critérios de formatação seguem as normas deste periódico,
presentes em anexo.
27
“Mudanças evolutivas da estrutura social de equimiídeos
(Rodentia) como exaptação e adaptação a um ambiente semi-
árido”
Carolina E. de P. Almeida * ¹ & Pedro L. B. da Rocha * ² (autor para
correspondência).
* Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil. Rua Barão
de Geremoabo, s/n – Ondina; Campus de Ondina – Salvador – Brasil
CEP. 40170-290 TEL: 55-71-3283-6559, FAX: 55-71-3283-6513
28
Evolutionary change of echimyid (Rodentia) social structure as
exaptation and adaptation to desert-like environment
ABSTRACT
Different causes for the evolution of sociality have been suggested by competing
models, including changes in ecological pressures operating on the organisms.
Sociality could evolve due to changes in selective regimens, but it could also
represent an exaptive feature that allows populations to invade new environments.
We investigate the changes in social structure that followed the increasing in the
sociality level of a lineage of Neotropical rodents. To do so, we evaluated the social
behaviors in four artificial colonies of four adult individuals each for three rodent
species presenting different levels of sociality:
Trinomys yonenagae (the most social
species, which invaded a desert-like habitat),
Trinomys iheringi denigratus (the
species with intermediary level of sociality that inhabits a wet forest, like most of its
congeners) and
Thrichomys apereoides (the less social species used as an out-
group for the evolutionary analysis of
Trinomys). We evaluated social behaviors
based on their different levels of affiliation and agonism. We found that aggression
between males is reduced and affiliation between male and female is increased in
the primitively silvicolous
Trinomys clade. We suggest increased sociality in the
Trinomys clade is apomorphic for the genus and allowed the conquest of the desert-
like habitat by
T. yonenagae. The evaluation of the status of sociality in a given
lineage, therefore, should be performed based on a phylogenetic framework if one
intends to detect its adaptive or exaptive status.
Key-words: Afiliation, behavior, social evolution, social structure, Trinomys.
RESUMO
Diferentes causas para a evolução da socialidade têm sido sugeridas por diferentes
modelos, que incluem, principalmente, mudanças nas pressões ecológicas que
operam nos organismos. A socialidade pode se desenvolver devido a mudanças
nos regimes seletivos, mas também poderia representar uma característica
exaptativa que permite às populações invadirem novos ambientes. Investigamos as
29
mudanças na estrutura social que seguiram o aumento na socialidade de uma
linhagem de roedores neotropicais. Para fazer isto, avaliamos os comportamentos
sociais de quatro colônias artificiais de quatro indivíduos adultos de três espécies de
roedor, que apresentam diferentes níveis de sociabilidade.
Trinomys yonenagae (a
espécie mais social, que invadiu um hábitat semi-árido),
Trinomys iheringi
denigratus
(a espécie com um nível de sociabilidade intermediário, que habita
florestas úmidas, como a maioria de seus congêneres), e
Thrichomys apereoides (a
espécie menos social, usada como um grupo externo para a analise evolutiva de
Trinomys). Avaliamos os comportamentos sociais baseados em seus diferentes
níveis de afiliação e agonismo. Descobrimos que os níveis de agressão nos machos
é reduzido, e a afiliação ente machos e fêmeas é aumentada no clado silvícola
primitivo de
Trinomys. Sugerimos que a maior sociabilidade no clado Trinomys é
apomórfica para o gênero, e permitiu a conquista do hábitat semi-árido pelo
T.
yonenagae.
A avaliação do status de sociabilidade de uma dada linhagem, portanto,
deveria ser feita baseada em um contexto filogenético para o propósito de detecção
de status adaptativo ou exaptativo.
Palavras-chave: Afiliação, comportamento, evolução social, estrutura social,
Trinomys.
30
1. INTRODUÇÃO
A evolução da socialidade tem sido estudada a partir de diferentes grupos animais
(p.ex. Crook & Gartlan 1966; Alexander 1974; Brattstrom 1974; Di Fiore & Rendall
1994; Rivas & Burghardt 2005; Dalerum 2007; Gromov 2007). Sendo a socialidade
um fenômeno complexo e difícil de ser definido (Costa & Fitzgerald 1996),
pesquisadores têm procurado acessá-la, principalmente, através da descrição da
estrutura social dos grupos. Hinde (1976) propôs um importante sistema conceitual
para análise de estrutura social baseado primariamente em interações entre os
indivíduos. Diferentes técnicas têm sido utilizadas para acessar as interações sociais,
ainda que apresentem limitações, e variam desde índices calculados a partir de
interações diádicas (p.ex.: Índice de Associação - Nanayakkara & Blumstein 2003;
Índice de Dominância - Simeonovska-Nikolova 2003; Índice de Afiliação Freitas et
al. 2008) até as mais recentes redes de interação (May 2006). Estudos comparativos
dos aspectos da estrutura social nos permitem entender a socialidade em um
contexto evolutivo.
Em roedores, diferentes modelos propõem diferentes causas para a evolução da
socialidade, sendo testadas hipóteses que envolvem tanto bases ecológicas (p.ex.
hipótese do menor risco de predação – Ebensperger & Blumstein 2006) como o efeito
dos fatores físicos (p.ex. hipótese da termorregulação social – Scantlebury et al.
2006). No entanto, nem sempre a socialidade significa uma adaptação às pressões
ambientais. Ao contrário, assim como outros caracteres do organismo, ela pode
representar uma exaptação (Larson & Losos 1996) que permitiu o estabelecimento de
um grupo em uma determinada área. Em roedores subterrâneos, por exemplo, a
sobrevivência em ambientes restritos, ecologicamente, parece ter sido viabilizada por
adaptações relacionadas à alta socialidade refletida na vida em grupo (como
escavação comunal de tocas e túneis e suas manutenções) em espécies de
batiergídeos (Sherman et al. 1991; Jarvis et al. 1994). O inverso é verdadeiro para
ctenomiídeos e octodontídeos: nessas espécies, a escavação comunal seria uma
conseqüência da vida em grupo (Ebensperger & Bozinovic 2000; Lacey & Wieczorek
2003).
Pouco se sabe sobre a real ocorrência da socialidade em roedores, especialmente
ao considerarmos as espécies tropicais (principalmente as espécies sul-americanas,
ver Tang-Martínez 2003), com exceção para as famílias Bathyergidae (Sherman et al.
31
1991; Braude 2000) e Ctenomyidae (Lacey et al. 1997; Lacey & Wieczorek 2003). A
família Echimyidae destaca-se entre as demais famílias de roedores histricognatos
pela sua grande diversidade ecomorfológica, e filogenias têm sido propostas para
elucidar as relações entre os diferentes táxons (Leite & Patton 2002; Carvalho &
Salles 2004; Galewski et al. 2005). Como tendências evolutivas não podem ser
adequadamente sugeridas quando as filogenias dos táxons em foco não estão bem
resolvidas, os equimiídeos formam um grupo promissor para estudos evolutivos.
Dentre os equimiídeos, um grupo particularmente interessante para testar
hipóteses evolutivas é o dos ratos-de-espinho neotropicais. Trata-se de um grupo que
reúne a maior diversidade taxonômica, morfológica e ecológica entre os
histricognatos (Leite & Patton 2002). Pouco se sabe sobre os gêneros dessa família,
porém, os gêneros de locomoção terrestre,
Proechimys e Trinomys são um pouco
mais estudados. Estes gêneros habitam desde florestas tropicais aos ambientes
áridos das savanas (Lara & Patton 2000). Estudos recentes, baseados em encontros
induzidos entre díades, sugerem uma diversidade de níveis de socialidade em
Trinomys (Freitas et al. 2003, 2008; dados não publicados: Neves 2004; Neves &
Rios 2005; Barduke 2008; Saldanha-Filho 2008), com especial destaque para a alta
afiliação de
Trinomys yonenagae (Rocha 1995). Trata-se de uma espécie endêmica
da Caatinga em que os indivíduos apresentam sobreposição de área domiciliar,
habitam tocas comunais, vivendo em grupos com grande variação de tamanho e
ausência de territorialidade (Santos 2004, dados não publicados). A alta afiliação em
T. yonenagae tem sido apontada como uma adaptação da espécie à vida em hábitat
semi-árido das dunas (Santos 2004, dados não publicados; Freitas et al. 2008). No
entanto, a carência de estudos de outras espécies do gênero ainda não nos permite
afirmar se a alta afiliação e a estrutura social decorrente desta afiliação, em
T.
yonenagae
, são realmente uma adaptação ao ambiente árido das dunas onde
habitam, ou se essas características possibilitaram a passagem dessa espécie de um
hábitat florestado para um ambiente semelhante a deserto, viabilizando o seu
estabelecimento neste ambiente com altas restrições ecológicas. Neste contexto, este
estudo propõe-se a contribuir para a compreensão e elucidação da evolução da
socialidade em
Trinomys, através da descrição das estruturas sociais em grupos
desse gênero, interpretadas a partir das interações sociais afiliativas e agonísticas
entre os indivíduos de um grupo.
32
Em estudos envolvendo comparação das interações sociais entre espécies
diferentes, torna-se fundamental o controle dos “fatores de confusão”, que podem ser
experiências sociais prévias dos indivíduos estudados ou fatores externos (variáveis
ambientais), visto que essas interações estão susceptíveis a variação desses fatores
(Gromov 2007). Assim, desenvolvemos um estudo comparativo de grupos de
indivíduos adultos desconhecidos em cativeiro, entre duas espécies de
Trinomys (T.
iheringi denigratus
, além de T. yonenagae) e uma espécie do gênero Thrichomys
(“punaré”, também um equimiídeo de locomoção terrestre). T. i. denigratus é uma
espécie que ocorre na Mata Atlântica (Eisengerg & Redford 1999) e carece de
informações sobre padrão de distribuição, ausência de territorialidade intra- ou
interespecífica e estrutura social. Essa espécie exibe um padrão comportamental
mais afiliativo do que o encontrado entre a maioria dos ratos-de-espinho (Freitas et al.
2008; dados não publicados: Barduke 2008; Saldanha-Filho 2008).
Thrichomys
apereoides
ocorre em ambientes xéricos e rochosos na Caatinga (Nowak 1999; Reis
e Pessoa 2004). Os machos desta espécie não apresentam sobreposição de áreas
domiciliares e entre as fêmeas a ocorrência de sobreposição é rara (Streilen 1982).
Há, também, registro de comportamento intra-específico agressivo nesta espécie
(Streilen 1982; Freitas et al. 2008; Saldanha-Filho 2008, dados não publicados).
Diante do monofiletismo bem suportado de
Trinomys (Lara & Patton 2000;
Carvalho & Salles 2004; Galewski et al. 2005), testamos a hipótese de que a alta
afiliação e uma provável estrutura social mais complexa é uma apomorfia da espécie
T. yonenagae e não uma característica do clado ao qual pertence juntamente a T. i.
denigratus
(Lara & Patton 2000). Utilizamos T. apereoides como grupo externo,
baseados na informação da literatura de que
T. apereoides é filogeneticamente
próximo ao
Trinomys (Galewski et al. 2005).
Um aumento ou diminuição de afiliação pode ser acessado através dos diferentes
níveis em que essas interações podem apresentar. A estrutura social pode ser
analisada através de redes de interações de grupos, representadas, por exemplo, por
sociogramas quando os grupos são menores. Objetivamos alcançar o nosso
propósito, com base em respostas às seguintes questões: (1) roedores de espécies
diferentes exibem diferentes níveis de agonismo e afiliação em suas interações
sociais? (2) o grau das interações agonísticas e das interações afiliativas dos pares
Macho x Macho, Fêmea x Macho, e Fêmea x Fêmea difere entre espécies diferentes?
33
(3) como os pares se relacionaram dentro do grupo? formação de laços entre
díades?
Além de testar a hipótese por nós levantada, propomos ainda a utilização de novas
variáveis para aferição dos graus de agonismo e afiliação das interações entre os
indivíduos de um grupo (aplicados a um sociograma), através de uma classificação
das interações sociais de acordo com a sua intensidade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. CAPTURA E MANUTENÇÃO DOS ANIMAIS
A captura e manutenção dos animais ocorreram no estado da Bahia e foram
autorizadas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) órgão federal responsável (Licença nº· 0009/2007
NUFAU/IBAMA/BA, referente ao processo nº· 02006.002120/2005-30).
Os espécimes foram coletados nos seguintes períodos e localidades:
Trinomys
iheringi denigratus
- agosto de 2007, em áreas remanescentes do bioma Mata
Atlântica, pertencentes à Fazenda Oitinga, município de Jaguaripe (13°00’S;
38°01’O);
Trinomys yonenagae - agosto de 2007, nas dunas do Rio São Francisco,
vila de Ibiraba, município de Barra (10°48’S; 42°50’O), região pertencente ao bioma
Caatinga; e
Thrichomys apereoides - novembro de 2007, na Serra de São José, uma
área do bioma Caatinga caracterizada por afloramentos rochosos, pertencente ao
município de Feira de Santana (12°08’S; 39°01’O).
O procedimento de captura foi o mesmo nas três diferentes localidades de coleta.
Usamos armadilhas do tipo “live-trap” (tomahawk), que foram distribuídas em quatro
áreas diferentes para captura de
T. apereoides e em cinco áreas para captura de T. i.
denigratus
e de T. yonenagae. Essas áreas distaram entre si um mínimo de 300 m,
para garantirmos nossa premissa de ausência de contato prévio entre indivíduos
pertencentes a áreas diferentes (ver abaixo). Considerando as informações
disponíveis na literatura sobre área domiciliar para essas espécies (p.ex. Rocha 1991;
Bergallo 1995; Nowak 1999), julgamos 300 m ser uma distância segura. Em cada
área foram colocadas de 15 a 30 armadilhas, distribuídas de acordo com indícios da
presença dos animais, como restos de alimentos, fezes ou tocas com sinais de
utilização recente; ou distribuídas aleatoriamente na ausência destes indícios. As
34
armadilhas foram iscadas no início da manhã, enquanto fazíamos a verificação para
constatação de capturas, já que essas espécies apresentam hábito noturno. Ao
serem capturados, os animais eram sexados, pesados e avaliados quanto ao estado
aparente de saúde. Apenas indivíduos adultos foram coletados. Após a coleta e até a
realização do experimento em laboratório, os animais foram mantidos individualmente
em caixas de propileno de 30x20x13 cm (durante o período de coleta) e de 41x34x16
cm (após depósito no Biotério do Instituto de Biologia da UFBA), com água e comida
ad libitum. Ao chegarem ao Biotério, os animais receberam uma anilha numerada
para identificação individual. A limpeza das caixas e a pesagem dos animais foram
realizadas semanalmente. A fim de não permitir contato acústico ou olfatório entre
indivíduos de áreas diferentes, mantivemos juntos no mesmo ambiente físico apenas
animais de uma mesma área, tanto no local de hospedagem durante as coletas,
como após serem depositados no Biotério. As normas éticas de manutenção e
realização do experimento foram cumpridas de acordo com as recomendações
sugeridas pelo “Guidelines for the treatment of animals in behavioural research and
teaching” (Animal Behaviour, 1997).
2.2. EXPERIMENTO
Foram formados quatro grupos de cada espécie, constituídos de dois indivíduos de
cada sexo, sendo cada indivíduo oriundo de áreas diferentes. Em cada grupo, três
animais foram marcados com peróxido de hidrogênio (30% H
2
O
2
, Asher et al. 2004)
para possibilitar sua identificação durante a coleta de dados. Essa marcação ocorreu
pelo menos 48 h antes do início do experimento. Os grupos foram constituídos de
indivíduos com peso compatível para evitar que grandes diferenças culminassem em
maior probabilidade de injúrias mais graves, caso ocorressem episódios de luta. Cada
grupo foi mantido durante 15 dias em um espaço físico denominado “colônia”.
Cada colônia consistiu em uma área de 2x1,3 m delimitada por placas de madeira
de 0,5 m de altura. Essa área foi divida em duas arenas de tamanhos iguais, por uma
divisória de 1,3 m de comprimento e 0,5 m de altura, que continha uma abertura de
0,3x0,3 m para permitir a passagem dos animais de uma arena para a outra. Foram
colocadas quatro telhas, duas por arena, fornecendo um abrigo para cada animal. A
colônia foi coberta por tela, para evitar fuga dos animais. O chão foi forrado com uma
35
lona amarela e coberto por maravalha. Água e comida foram disponibilizadas ad
libitum
nas duas arenas e foi mantido o ciclo de claro e escuro de 12/12h (às 6:00h
acendiam-se as luzes, às 18:00h apagavam-se). Antes das luzes serem apagadas,
eram ligadas duas lâmpadas vermelhas de 40w que permaneciam acesas, uma sobre
cada colônia, até a manhã seguinte, a fim de viabilizar a captura de imagens durante
a noite. As colônias foram filmadas continuamente durante os 15 dias do
experimento. Cada arena de uma colônia foi filmada por uma mini-câmera de 3,6 mm
de circuito interno, de baixa luminosidade com sensibilidade de 0,1 lux (TecVoz ®),
que ficava a cerca de 1m de altura da tela de proteção que cobria a colônia. A
temperatura se manteve constante, em 25º C. Ao iniciar-se cada etapa, que consistiu
na filmagem concomitante de duas colônias isoladas acusticamente, os animais eram
postos simultaneamente na colônia e, durante as primeiras horas, observávamos,
através da sala de controle, a ocorrência de lutas. Caso algum animal se
comportasse de forma muito agressiva em relação a outro, retirávamos o indivíduo
agredido a fim de evitar um possível óbito. Não foram repostos animais em qualquer
uma das colônias. Após o experimento, os animais foram retirados e devolvidos às
caixas de propileno individuais. Durante este procedimento, foram pesados e
avaliados quanto à presença de ferimentos.
2.3. COLETA DE DADOS
Com o objetivo de avaliar a estrutura social formada em cada colônia, utilizamos os
graus de agonismo e afiliação expressos na interação entre os possíveis pares de
indivíduos. Analisamos as interações sociais, exibidas durante a fase de atividade dos
roedores (fase noturna), na situação em que as relações entre os indivíduos já
sofreram alguma acomodação. Baseados em observações prévias em experimentos-
piloto e nos dados obtidos neste experimento (as exclusões de animais se deram
sempre nos primeiros dois dias após o início do experimento), partimos da premissa
que, após dez dias, as relações sociais estão estabilizadas. Assim, analisamos as
últimas cinco noites de cada experimento.
Amostramos as interações sociais exibidas em cada colônia a partir da análise de
30 intervalos de 2 minutos por noite, em horários sorteados entre as 18:00 e as
36
06:00h. Dessa forma, o esforço total realizado foi de 60 horas, divididas igualmente
entre as quatro colônias de cada uma das três espécies.
As interações sociais foram classificadas em agonísticas ou afiliativas seguindo a
definição de Freitas et al. (2008), na qual são consideradas agonísticas as unidades
que aumentam a distância entre os indivíduos e podem promover ou evitar injúrias
físicas entre os mesmos; e afiliativas são as unidades que aumentam ou mantêm a
proximidade entre os indivíduos, podendo haver contato físico sem promoção de
injúrias. As interações, em cada classe, foram organizadas em quatro níveis de uma
escala ordinal indicativa do nível de agonismo ou afiliação.
Os níveis progressivamente mais altos de agonismo corresponderam a: nível 1:
exibição de reação motora aversiva à aproximação de outro indivíduo sem que
houvesse locomoção; nível 2: locomoção para ataque e fuga sem contato físico; nível
3: interação com alto teor agonístico sem contato físico (exibições agressivas); nível
4: interação com alto teor agonístico com contato físico (interação agressiva com
contato físico).
A escala da variável para interação afiliativa, por sua vez, foi formada pelos
seguintes níveis: nível 1: tolerância sem contato (proximidade não agressiva sem
contato físico); nível 2: interação potencialmente afiliativa (interação com contato
físico não agressivo predominantemente olfatório); nível 3: interação afiliativa
(interação com contato físico não agressivo efêmero não associado a contato
olfatório); nível 4: interação com alto teor afiliativo (interação com contato físico
baseada na exibição de comportamentos de alolimpeza ou manutenção duradoura de
contato não-agressivo). Esta última subcategoria foi assim definida por nós, pois a
literatura indica que as unidades nela contidas (alolimpeza e repousar em contato)
são usualmente utilizadas para identificar laços entre indivíduos de um grupo, os
quais caracterizam alta afiliação entre os indivíduos (Poole 1985, Bradbury &
Vehrencamp 1998, Manaf 2000). A subcategoria afiliativa “proximidade não agressiva
sem contato físico” inclui as situações onde dois indivíduos estão próximos (distantes
ao máximo 50 cm, o equivalente à metade da diagonal de um quadrante da arena)
em um período de, no mínimo, 10 segundos. Nesta situação, embora não interajam
diretamente entre si, são tolerantes à presença um do outro. Determinamos o mínimo
de 10 segundos para identificarmos a sua ocorrência, pois consideramos que um
tempo menor do que este não caracterizaria uma real tolerância entre os indivíduos.
37
Julgamos importante caracterizar “tolerância”, pois concordamos com Lacey &
Sherman (2007) de que um gradiente de socialidade e, portanto, este seria o mais
baixo nível de interação social afiliativa.
Em cada unidade amostral (intervalo de 2 minutos), registramos o nível de afiliação
ou nível de agonismo do comportamento social exibido na primeira interação entre
cada par. Utilizamos como método de amostragem o “par focal” e como método de
registro a “amostragem um-zero” (Altmann 1974; Martin & Bateson 1993; Lehner
1996). Embora esse método de registro utilize, geralmente, desde o seu
desenvolvimento, intervalos menores (Altmann 1974), julgamos ser adequado o
intervalo de 2 minutos, pois intervalos muito curtos não nos possibilitariam registrar as
interações entre todos os pares da colônia.
Diante do nosso interesse exclusivo em relação às interações sociais, os
comportamentos sexuais não foram registrados e foram identificados nas ocasiões
onde um macho parecia tentar a cópula, ao apoiar as patas dianteiras no lombo de
uma fêmea. Este comportamento sempre causava uma reação de afastamento das
fêmeas, com exceção das ocasiões em que houve cópula.
2.4. ANÁLISE DOS DADOS
Para respondermos a primeira pergunta – Roedores de espécies diferentes exibem
diferentes níveis de agonismo e afiliação em suas interações sociais? – produzimos a
matriz indicativa do total de ocorrências de comportamento sociais associados a cada
um dos quatro graus de agonismo e de afiliação (atributos), em cada uma das 12
colônias (objetos). O valor de cada célula da matriz foi dividido pelo total da linha
(objeto), de modo a se avaliar as proporções de exibição de comportamentos com
diferentes níveis de agonismo e afiliação, e não o total absoluto dessas exibições.
Após o cálculo das proporções, aplicamos uma análise de variância multivariada
(MANOVA) para avaliarmos se houve diferença entre as proporções calculadas, onde
a “espécie” foi o fator e as variáveis dependentes foram os oito níveis de interação
social (4 de agonismo e 4 de afiliação). O nível de significância inicial (0.05) foi
corrigido para 0.025 (correção de Bonferroni, Quinn & Keough 2002), pois aplicamos
duas MANOVA durante nossas análises (ver abaixo). A MANOVA foi seguida pelo
38
teste post hoc de comparação múltipla Games-Howell, que prescinde da premissa de
homocedasticidade.
Para respondermos a segunda pergunta – O grau das interações agonísticas e das
interações afiliativas dos pares Macho x Macho, Fêmea x Macho e Fêmea x Fêmea
difere entre espécies diferentes? produzimos uma matriz com seis atributos e 12
objetos. O atributos representaram os tipos de pares de roedores (MxM, FxM, FxF)
avaliados quanto aos comportamentos afiliativos e agonísticos. Os objetos
representaram as quatro colônias das três espécies. Os valores das células
representaram o valor ponderado dos níveis de agonismo ou de afiliação por tipo de
par. O valor ponderado foi calculado através da multiplicação do total de
comportamentos agonísticos (ou afiliativos) ocorrido entre cada par por seus
respectivos pesos. Esses pesos foram atribuídos de acordo com as diferentes
interações sociais por eles apresentados. Cada nível de comportamento (agonístico
ou afiliativo) recebeu um peso. Os pesos foram 1, 2, 4 e 8 para os respectivos níveis
1, 2, 3 e 4. Determinamos os diferentes pesos baseados na relação entre os
diferentes níveis. Assim, o nível afiliativo 4 “interação com alto teor afiliativo”
equivaleria a oito ocorrências de “tolerância sem contato”, a quatro ocorrências de
“interação potencialmente afiliativa” e a duas ocorrências de “interação afiliativa”. Nas
colônias em que houve mais de um par do mesmo tipo, o valor da célula foi
representado pela média dos comportamentos ponderados desses pares. A matriz foi
então transformada, dividindo-se o valor de cada célula pelo total da linha, de modo a
se obter valores comparáveis entre as colônias. Esses valores representam os graus
relativos de agonismo ou de afiliação ocorridos entre o par, isto é, a proporção entre o
valor ponderado de agonismo (ou afiliação) do par e o valor ponderado do total de
comportamentos da colônia. Testamos a hipótese de que os graus relativos de
agonismo e afiliação entre os pares (variáveis resposta) variou entre as espécies
(fator) usando uma MANOVA seguida pelo teste Games-Howell.
As quatro estatísticas mais comuns utilizadas para avaliar a significância de
MANOVA são Pillai’s Trace, Wilk’s Lambda, Hotelling’s Trace e Roy’s largest root
(Muller & Peterson 1984). Embora Wilk’s Lambda seja mais largamente utilizada,
Pillai’s Trace é considerada a estatística mais robusta em relação às violações das
premissas e mais desejável para uso geral (Zar 1999; Magnusson & Mourão 2003).
Entretanto, em casos onde os quatro testes estatísticos não indicarem a mesma
39
conclusão sobre a hipótese nula, Zar (1999) sugere um exame minucioso dos dados,
através, por exemplo, de uma matriz de similaridade de dispersões. Uma correlação
entre as variáveis sugere uma maior confiança na conclusão da estatística Pillai’s
Trace; uma ausência de correlação indica a escolha pela estatística Roy’s largest
root. Seguimos essas sugestões durante as interpretações dos resultados das
MANOVA. Para avaliar se o teste detectou diferença entre as espécies em relação a
cada variável, ajustamos o nível de significância de acordo com as indicações de
Quinn & Keough (2002). Estes autores sugerem o uso da “Seqüência de Bonferroni” a
partir de um nível de significância superior a 0.05, a fim de que, ao se evitar a
ocorrência do erro do Tipo I, não aumentemos demasiadamente a probabilidade de
ocorrência do Tipo II. Como decidimos ser cautelosos em relação ao erro do Tipo I, o
nosso nível de significância inicial na “Seqüência de Bonferroni” foi de 0.05, que
mantivemos 0.025 para cada MANOVA. Usamos o software SPSS 13.0 para
Windows para a realização destes testes.
Para respondermos a terceira pergunta Como os pares se relacionaram dentro
do grupo? formação de laços entre díades? construímos um sociograma para
cada colônia, no qual representamos as interações entre os pares de roedores, a
partir de quatro variáveis, cujos valores variam entre 0 e 1. As três primeiras variáveis
comparam o ocorrido entre o par com o ocorrido nas interações entre todos os pares
da colônia: (a) freqüência relativa de interação, calculada como a proporção entre o
número de interações ocorridas entre o par e o número total de interações da colônia,
(b) grau de agonismo da interação, calculado pela proporção entre o agonismo total
do par e o agonismo total da colônia [
∑(número de comportamentos agonísticos do
par x peso do comportamento)/∑(número de comportamentos agonísticos de todos os
pares da colônia x peso do comportamento)] e (c) grau de afiliação da interação, com
o mesmo modo de cálculo do grau de agonismo da interação, mas substituindo-se os
comportamentos agonísticos pelos afiliativos. Esta última variável foi utilizada, em
conjunto com a freqüência relativa de interação, para identificar a ocorrência de laços
entre díades de indivíduos. Esses laços foram caracterizados pela ocorrência do valor
mais alto da variável “grau de afiliação da interação” entre pares que apresentaram
maior freqüência relativa de interação social. A quarta variável, (d) índice de afiliação
(Freitas et al. 2008), representa uma proporção entre os comportamentos afiliativos e
o total de comportamentos sociais exibidos por um determinado par. Este índice é
40
usado para caracterizar a natureza das interações diádicas: valores mais próximos de
0 indicam interações predominantemente agonísticas e valores próximos de 1
indicam interações predominantemente afiliativas. As variáveis “grau de agonismo da
interação” e “grau de afiliação da interação” diferem do índice afiliativo, pois o índice
considera apenas o número de comportamentos e não o quanto esses
comportamentos são agonísticos ou afiliativos. Como o nosso objetivo é identificar o
quanto as interações são agonísticas ou afiliativas nos seus diferentes níveis,
desenvolvemos essa variável que nos permite diferenciar dois pares que possam ter
a mesma quantidade de comportamentos afiliativos, mas, no entanto, diferirem
significantemente no grau desta mesma afiliação. Um exemplo disto seria se no
primeiro par os comportamentos fossem predominantemente de tolerância e no
segundo par, predominantemente, de alolimpeza. O mesmo é verdadeiro para os
diferentes níveis de agonismo.
O sociograma pode ser definido como uma rede de interação onde: a largura das
setas que ligam dois indivíduos indica a freqüência de interações sociais ocorridas
entre eles; e os valores indicam a natureza dessas interações (proporcionalmente
mais afiliativas ou mais agonísticas, indicadas pelo Índice de Afiliação I.A.) e o
quanto cada interação diádica foi afiliativa ou agonística em relação às demais
interações afiliativas ou agonísticas ocorridas na colônia (indicados respectivamente
pelas variáveis “grau de afiliação da interação” e “grau de agonismo da interação”).
As interpretações evolutivas fundamentaram-se nas séries de transformações
identificadas, através do método da polarização dos caracteres, com base no grupo-
externo (Harvey & Pagel 1993) e nas filogenias da família Echimyidae e do gênero
Trinomys apresentadas por Lara & Patton (2000), Carvalho & Salles (2004) e
Galewski et al. (2005). Consideramos o estado de um caráter como plesiomórfico
para uma espécie de
Trinomys, quando ele era compartilhado com o grupo externo
(
T. apereoides). O estado alternativo (i.e., significantemente diferente do grupo
externo) foi considerado apomórfico. Consideramos o estado de um caráter como
sinapomorfia do clado
Trinomys, quando as duas espécies do gênero diferiram do
grupo externo, mas não entre si. Estados que não diferiram entre as três espécies
foram considerados plesiomórficos para o clado
Thrichomys + Trinomys.
41
3. RESULTADOS
Em todas as quatro colônias de Thrichomys apereoides (colônias de número 1, 2, 3
e 4) um macho foi retirado em conseqüência de injúrias graves provocadas pelo outro
macho. Isto aconteceu, sempre, durante as primeiras seis horas do experimento.
Assim, durante o período de análise, as quatro colônias abrigavam três animais: um
macho e duas fêmeas. Na colônia 4, uma fêmea procriou dois filhotes, que foram
retirados logo após seu nascimento. Isto ocorreu no primeiro dia do experimento.
Em uma colônia de
Trinomys iheringi denigratus (colônia 6), um macho também se
comportou de forma agressiva em relação ao outro e procedemos da mesma
maneira. No entanto, os ferimentos mais graves foram causados pelo próprio animal
(automutilação), que iniciou esse comportamento durante a segunda noite do
experimento. Uma outra colônia, também, abrigou um animal a menos (colônia 5), em
virtude do óbito de uma fêmea durante os primeiros dias do experimento, sem que o
motivo fosse por nós detectado (não houve indícios de ferimentos provocados por
outros animais). As duas outras colônias (de números 7 e 8) permaneceram com o
número original de animais.
As colônias de
Trinomys yonenagae (colônias 9, 10, 11 e 12) não apresentaram
alterações em relação à composição original.
A análise das três espécies nos permitiu a identificação de 16 comportamentos
agonísticos e 15 comportamentos afiliativos. Os comportamentos de ambas classes
(agonística e afiliativa) apresentaram diferentes níveis de intensidade, o que nos
permitiu classificá-los nas duas escalas progressivas de interação social por nós
definidas. A escala da variável para interação agonística foi composta pelos seguintes
comportamentos: nível 1: evitação de contato, reação à aproximação sem luta,
reação ao contato sem luta; nível 2: afastar-se, afastar-se com vigor, avançar,
esconder-se, perseguir; nível 3: encarar, encarar bípede, levantamento parcial,
levantamento total; nível 4: empurrar com as patas, golpear região rostral, morder
região caudal, pular em ataque. Os seguintes comportamentos compuseram a escala
da variável para interação afiliativa: nível 1: proximidade não agressiva sem contato;
nível 2: contato naso-auricular, contato naso-nasal, contato rostro-anal, contato
rostro-caudal, contato rostro-lombar, contato rostro-rostral; nível 3: apoiar a cabeça no
outro, apoiar as patas anteriores sobre o outro, ficar em baixo, parar em contato,
42
passar em contato corporal; nível 4: alolimpeza, permanecer em contato, repousar em
contato. As Tabelas 01 e 02 apresentam cada um desses comportamentos, suas
respectivas descrições e o nível da escala da variável de interação social ao qual
pertence.
Os diferentes níveis de comportamentos agonísticos ocorreram
predominantemente na espécie
T. apereoides, com expressiva variação entre as
colônias, sendo apenas o nível 1 exibido mais homogeneamente. Em relação aos
comportamentos afiliativos, o nível 1 foi ligeiramente menos exibido por
T.
apereoides
, enquanto o nível 2 não apresentou diferença marcante entre as espécies.
O nível 3 foi perceptivelmente menos exibido por
T. apereoides e com variação em T.
i. denigratus
. O nível 4, também, foi exibido menos freqüentemente por T. apereoides
e foi mais freqüente em T. i. denigratus. As proporções de exibição destes diferentes
níveis de interação social foram utilizadas na verificação de diferença nas exibições
entre as espécies, através da MANOVA. Os resultados das quatro estatísticas não
indicaram a mesma conclusão (Pillai’s Trace: F = 2.684, df = 16, p = 0.114; Wilk’s
Lambda: F = 8.097, df = 16, p = 0.028; Hotelling’s Trace: F = 16.955, df = 16, p =
0.057; Roy’s Largest Root: F = 100.552, df = 8, p = 0.001). Geramos, então, uma
matriz com 28 gráficos de dispersão entre os pares de variáveis dependentes e
observamos um padrão de associação apenas entre os níveis 3 e 4 de afiliação, e os
níveis 2 e 4, também de afiliação. A ausência de correlação nos indicou a escolha
pela estatística Roy’s largest root (Zar 1999). Concluímos, portanto, que a MANOVA
detectou diferença entre as espécies. Com base nos níveis de significância
relacionados ao nível ajustado pela “Seqüência de Bonferroni” (Quinn & Keough
2002) e na análise dos gráficos de dispersão correspondentes, verificamos diferença
nos seguintes níveis: Agonismo 1 (p < 0.001,
T. apereoides é diferente de T. i.
denigratus
e T. yonenagae); Agonismo 2 (p = 0.011, T. apereoides é diferente de T. i.
denigratus
e T. yonenagae); Afiliação 3 (p = 0.005, T. apereoides é diferente de T.
yonenagae
); e Afiliação 4 (p = 0.006, T. apereoides é diferente de T. i. denigratus)
(Figura 01).
Para realizarmos a análise de variância multivariada, a fim de verificar se o grau
relativo de comportamentos agonísticos e afiliativos dos pares (Macho x Macho,
Fêmea x Macho, Fêmea x Fêmea) difere entre as espécies, foi necessário gerar
valores para os pares MxM de
T. apereoides, um par MxM de T. i. denigratus e um
43
par FxF de T. i. denigratus para os quais o cálculo a partir dos dados coletados no
período analisado foi impossibilitado, devido à ausência dessas informações (em
virtude da retirada dos indivíduos das colônias). Para o cálculo das proporções entre
MxM de
T. apereoides, consideramos a média das interações sociais entre os pares
da colônia como a quantidade de interações entre os dois machos. Já que a interação
entre eles foi completamente agonística, julgamos que, se mantivéssemos sempre
dois machos na colônia, o resultado seria interações agonísticas durante todo o
tempo. Assim, classificamos todas as interações sociais entre machos como
interação agonística de nível 4 (exibição de agressividade com contato físico). Não
consideramos as duas possíveis interações entre macho e fêmea (conseqüentes da
presença de outro macho), pois, em situações em que os machos estão exibindo
agressividade, o macho agredido não interage com outros animais, apenas foge do
animal que o ataca (observações pessoais). Não utilizamos este mesmo
procedimento para o cálculo do par MxM da colônia de
T. i. denigratus, pois ao
contrário do que aconteceu em
T. apereoides, a ocorrência de alta agressividade
entre machos desta espécie foi um acontecimento atípico. Um cálculo como
procedemos com
T. apereoides geraria valores muito diferentes em relação às
demais colônias da espécie, o que não nos permitiria identificar padrões genuínos.
Dessa forma, para a realização da MANOVA, decidimos substituir as proporções para
a colônia 6 (colônia onde houve a retirada do macho) pela média das proporções das
demais colônias de
T. i. denigratus. Para calcularmos as proporções entre FxF
(colônia 5), primeiro simulamos valores, para todos os pares possíveis, formados com
essa fêmea que estava ausente. Esses valores foram calculados, a partir da média
entre as interações das colônias 7 e 8 (colônias que mantiveram o número original de
indivíduos). Em seguida, procedemos ao cálculo de acordo como fizemos para todos
os pares.
Os graus relativos mais altos de agonismo ocorreram entre os pares da espécie
T.
apereoides
, com destaque para o marcadamente alto agonismo entre os pares MxM.
Nas espécies de
Trinomys, por sua vez, os graus relativos de afiliação foram mais
altos: destacadamente em relação aos pares MxM e de forma mais discreta para os
pares FxM. Não houve diferença entre as espécies em relação à afiliação entre
fêmeas.
44
Consideramos que o resultado da MANOVA (Figura 02) detectou diferença
significativa entre as espécies, pois o resultado para a estatística Pillai’s Trace foi
marginalmente significativo (F = 3.218, df = 12, p = 0.037) e as demais estatísticas
(Wilk’s Lambda, Hotelling’s Trace e Roy’s Largest Root) indicaram diferença
significante (p < 0.001). O teste de comparação entre as variáveis detectou diferença
significativa em cinco das seis variáveis, e, somado ao resultado do teste de
comparação múltipla, indica a existência de dois grupos distintos:
T. apereoides com
valores dos níveis de agonismo mais altos e valores dos níveis de afiliação mais
baixos (exceto para o par FxF, p = 0.606) e
T. i. denigratus + T. yonenagae com
valores dos níveis de agonismo mais baixos e valores dos níveis de afiliação mais
altos (p < 0.001 para agonismo entre MxM, FxF e para afiliação entre MxM, FxM; p =
0.005 para agonismo entre FxM). Não houve diferença no nível de afiliação entre os
pares FxF porque duas colônias de
T. apereoides (colônias 1 e 3) apresentaram alta
afiliação entre as fêmeas (0.17 e 0.25, respectivamente).
Os resultados das MANOVA nos permitem sugerir, através do método da
polarização dos caracteres com base no grupo-externo (Harvey & Pagel 1993), um
cladograma indicando quais os caracteres parecem ser apomórficos para
Trinomys
(ver Figura 03). Considerando que as características exclusivas de Trinomys podem
ser sinapomorfias, sugerimos que o teor muito acentuado de agonismo entre MxM e o
alto agonismo entre FxM e FxF sofreram decréscimo durante a evolução deste clado.
A marcante baixa afiliação entre MxM e a menor afiliação entre FxM, por sua vez,
parecem ter sofrido aumento de intensidade na evolução do clado supracitado. Uma
afiliação mais alta entre FxF parece ser uma característica plesiomórfica. Os
resultados sugerem ainda um acréscimo na afiliação de nível 3 para
T. yonenagae e
um acréscimo na afiliação de nível 4 para
T. i. denigratus, podendo estas serem
autoapomorfias, respectivamente, para essas espécies.
A estrutura social formada em cada colônia foi representada por nós, através de
um sociograma. A Tabela 03 traz os valores das freqüências relativas de interação
entre as díades de cada colônia. Estes valores estão representados pela largura das
setas nos sociogramas. A Figura 04 ilustra os sociogramas que representam as
estruturas sociais formadas nas colônias de
T. apereoides. Em duas colônias, houve
formação de laço entre duas fêmeas (colônias 1 e 3), e em uma colônia, houve
formação de laço entre o macho e uma fêmea (colônia 2). A colônia 4 não nos
45
permitiu identificar laços entre os indivíduos, embora uma fêmea (Fêmea 2) tenha
apresentado um nível de afiliação alto em relação ao macho (0.47). Nas colônias
onde ocorreu laço entre as fêmeas, uma das fêmeas apresentou uma maior afiliação
em relação ao macho, enquanto a outra fêmea manteve interação
predominantemente agonística (I.A. = 0.45 e I.A. = 0.42, colônias 1 e 3,
respectivamente). Na colônia 2, a fêmea que não manteve interação afiliativa com o
macho manteve interação predominantemente agonística com a outra fêmea também
(I.A. = 0.28). Em três colônias (colônias 1, 2 e 3), o par que apresentou maior
interação obteve o maior grau de afiliação, enquanto o menor grau de afiliação
ocorreu entre o par que apresentou menor interação. Em três colônias (colônias 1, 3 e
4), o maior grau de agonismo, também, ocorreu entre o par que apresentou maior
interação. Em três colônias (colônias 2, 3 e 4), o menor grau de agonismo ocorreu
entre o par que obteve menor interação. Em três colônias (1, 2 e 3), o maior grau de
agonismo ocorreu entre as fêmeas e o menor grau de afiliação ocorreu entre um par
de macho e fêmea. Nas quatro colônias, o menor grau de agonismo e a menor
interação ocorreram entre um par de macho e fêmea. Não houve demais tendências
detectadas.
A Figura 05 (A) ilustra os sociogramas que representam as estruturas sociais
formadas nas colônias de
T. i. denigratus. Nas colônias 5 e 6 (colônias com três
indivíduos), não foi possível detectar a formação de laços. Nas demais colônias, os
dados sugerem formação de laços entre macho e fêmea, inclusive dois pares
distintos de macho e fêmea formaram-se na colônia 8. Nas quatro colônias, o maior
grau de agonismo ocorreu entre o par que apresentou maior interação social. Em três
colônias (colônias 5, 7 e 8), o maior grau de afiliação ocorreu entre um par de macho
e fêmea. Na colônia 6 o maior grau de afiliação ocorreu entre as fêmeas. Nas quatro
colônias, o maior grau de agonismo e a maior interação ocorreram, também, entre um
par de macho e fêmea. Não houve demais tendências detectadas.
A Figura 05 (B) ilustra os sociogramas que representam as estruturas sociais
formadas nas colônias de
T. yonenagae. Nas quatro colônias, houve formação de
laços, isto é, o par que apresentou maior grau de afiliação foi o mesmo par que mais
interagiu socialmente. Em três colônias (colônias 9, 10 e 11), esse par foi composto
por um macho e uma fêmea. Na colônia 12, o laço ocorreu entre as duas fêmeas. Em
três colônias (colônias 9, 10 e 12), o maior grau de agonismo ocorreu entre um par de
46
macho e fêmea, o que também aconteceu em relação ao menor grau de afiliação. Em
três colônias (colônias 9, 11 e 12), o menor grau de agonismo ocorreu entre um par
de macho e fêmea. Não foi possível detectar outras tendências.
4. DISCUSSÃO
O objetivo deste trabalho foi avaliar como se alterou a estrutura social de espécies
progressivamente mais afiliativas de uma linhagem de roedores neotropicais da
família Echimyidae, com base em uma abordagem filogenética explícita. Nossas
interpretações evolutivas fundamentaram-se nas filogenias propostas por Lara &
Patton (2000), Carvalho & Salles (2004) e Galewski et al. (2005). Lara & Patton
(2000) sugerem a existência de três grupos (clados) monofiléticos em
Trinomys: clado
1 inclui (
T. iheringi iheringi + T. dimidiatus) + (T. iheringi gratiosus + T. iheringi
bonafidei
); clado 2 inclui (T. iheringi eliasi + T. iheringi paratus) + [(T. iheringi
denigratus
+ T. setosus setosus) + T. yonenagae]; e clado 3 inclui T. albispinus. O
monofiletismo de
Trinomys foi corroborado pelos demais trabalhos supracitados. Para
alcançar tal objetivo, procuramos responder a três perguntas: (1) Roedores de
espécies diferentes exibem diferentes níveis de agonismo e afiliação em suas
interações sociais? (2) O grau das interações agonísticas e das interações afiliativas
dos pares (Macho x Macho, Fêmea x Macho, Fêmea x Fêmea) difere entre espécies
diferentes? (3) Como os pares se relacionaram dentro do grupo? formação de
laços entre díades?
Em relação à primeira pergunta, nossos resultados demonstram que
T. apereoides
não apenas se comportou de forma mais agonística em relação às espécies de
Trinomys, como houve diferença significativa na proporção de ocorrência dos níveis 1
e 2 de agonismo (“exibição de reação motora aversiva à aproximação de outro
indivíduo sem que houvesse locomoção” e “locomoção para ataque e fuga sem
contato físico”, respectivamente) entre esses gêneros. Esses dados são corroborados
pelos resultados de Streilen (1982) que indicam que o aspecto geral dos encontros de
díades de
T. apereoides é de evitação de contato, ao invés de defesa ativa.
Indivíduos desta espécie apresentam baixa sobreposição intra-sexual de área
domiciliar, sendo estas relativamente exclusivas entre machos e muito pouco
sobrepostas entre fêmeas, embora ocorra sobreposição intersexual (Streilen 1982).
47
Este mesmo autor sugere que, sob condições naturais, é provável que encontros
violentos apenas ocorram em contatos iniciais (ver adiante), enquanto uma
subseqüente evitação resulte em áreas domiciliares exclusivas. Assim, a alta
freqüência dos níveis 1 e 2 indica um constante estado de “alerta” entre os indivíduos,
sempre prontos a reagir à aproximação de um outro indivíduo, seja por ataque ou por
fuga. No que diz respeito à afiliação, detectamos diferença em relação ao nível 3
(“interação com contato físico não agressivo efêmero não associado a
reconhecimento olfatório”) entre
T. apereoides e Trinomys yonenagae. T.i. denigratus
apresentou valores intermediários, embora mais próximos a T. yonenagae. Os
comportamentos que compõem esse nível estão associados a um incremento na
afiliação de
T. yonenagae (Saldanha-Filho 2008, dados não publicados). São
comportamentos que, embora efêmeros, denotam uma alta tolerância e socialidade
entre os indivíduos. Houve diferença significativa entre
T. apereoides e T. i.
denigratus
em relação ao nível 4 de afiliação. T. yonenagae apresentou valores
intermediários, no entanto, mais próximos a
T. i. denigratus. Esses resultados podem
ter sido influenciados, em parte, pela alta atividade de
T. yonenagae. Como esse
nível é composto principalmente por unidades que exigem uma menor atividade
(permanecer em contato e repousar em contato), os resultados podem ter sido
influenciados pelo padrão de atividade contínuo, durante a noite, de
T. yonenagae
(corroborado por Marcomini & Oliveira 2003), enquanto T. i. denigratus apresentou
padrão intermitente, onde os períodos de repouso foram caracterizados pela
ocorrência constante de “repousar em contato” e “alolimpeza”.
As espécies, também, diferiram quanto ao grau relativo de comportamentos
agonísticos e afiliativos dos pares (Macho x Macho, Fêmea x Macho, Fêmea x
Fêmea). Com exceção do grau relativo de afiliação entre fêmeas, todas as demais
variáveis diferiram significativamente entre as espécies, indicando dois grupos
distintos:
T. apereoides e T. i. denigratus + T. yonenagae. A maior diferença ocorreu
entre os pares MxM em relação a ambos os graus relativos (agonismo e de afiliação),
com destaque para
T. apereoides. Como supracitado, Streilen (1982) sugere que os
contatos iniciais sejam violentos e isso foi verificado em todas as colônias de
T.
apereoides
, resultando na retirada, por nós, de um dos machos durante o primeiro dia
de experimento. Embora tenha ocorrido um agonismo mais elevado entre os machos
da colônia 6 de
T. i. denigratus, acreditamos que este seja um fato isolado, pois, nas
48
demais colônias, não registramos qualquer indício de ocorrência deste tipo. Inclusive,
em duas colônias, o menor grau de agonismo ocorreu entre os machos. Portanto,
uma diminuição significativa no grau de agonismo (especialmente entre machos) e
um aumento no grau de afiliação (com exceção para FxF) parecem representar
apomorfias do clado composto por
T. i. denigratus e T. yonenagae. Essa proposição é
suportada pelos resultados encontrados por Freitas et al. (2008). Estes autores
avaliaram a evolução da socialidade em três espécies de
Trinomys (T. minor, T. i.
denigratus
e T. yonenagae), através do Índice de Afiliação, e encontraram baixos
valores para
T. minor espécie que apresenta uma maior freqüência de
comportamentos agonísticos –, especialmente para as díades de machos. Esses
resultados assemelham-se aos resultados por nós encontrados em relação a
T.
apereoides
e, juntamente com informações sobre ausência de sobreposição de áreas
domiciliares entre fêmeas de
T. iheringi (Bergallo 1995), sugerem que o incremento
na afiliação e a perda de agonismo podem ser características do clado supracitado, e
não do gênero
Trinomys.
Houve uma considerável variabilidade intra-específica, em todas as espécies,
quanto às estruturas sociais formadas nos grupos, no entanto, padrões foram
identificados. Em
T. apereoides, por exemplo, ficou evidente o territorialismo dos
machos desta espécie, caracterizado pela impossibilidade da manutenção de dois
machos em uma mesma colônia. Fica evidente, ainda, a associação positiva entre
freqüência de interação e grau de afiliação, e freqüência de interação e grau de
agonismo. Isto sugere uma ausência no padrão das interações sociais (mais
afiliativas ou mais agonísticas) entre as díades que apresentaram maior interação.
Isto é, uma díade pode apresentar alta interação social e esta ser predominantemente
agonística, assim como outra díade igualmente apresentar alta interação, no entanto,
esta sendo predominantemente afiliativa. Essas características indicam que
realmente essa espécie deve apresentar um padrão de organização solitário na
natureza. Como as áreas domiciliares dos machos sobrepõem as áreas das fêmeas e
indícios de poliginia para essa espécie (Tang-Martínez 2003), a baixa ocorrência
de laços entre macho e fêmea pode ser, portanto, compreendida. Houve ocorrência,
inclusive, de gravidez das fêmeas de uma mesma colônia.
As colônias de
T. i. denigratus apresentaram pouco padrão, ou, talvez, os padrões
não foram detectáveis em virtude dos incidentes que causaram diferença na
49
composição das colônias durante a análise (duas colônias com três animais e duas
com quatro animais). Podemos identificar laços entre fêmea e macho como um
possível padrão para a espécie. A associação entre maior grau de agonismo e maior
freqüência de interação foi evidente nas quatro colônias e ocorreu entre um par de
macho e fêmea. Essa relação remete à associação encontrada em
T. apereoides, no
entanto, é importante ressaltar que a ocorrência de agonismo foi muito baixa em
comparação a esta espécie. Esses resultados sugerem que, talvez, a presença de
fêmeas possa diminuir ainda mais um possível baixo agonismo entre os machos,
anteriormente detectado em trabalhos com díades (dados não publicados: Barduke
2008; Saldanha-Filho 2008). Os valores do Índice de Afiliação e da proporção de
exibição do nível 4 de afiliação indicam que
T. i. denigratus é uma espécie que
apresenta alto grau de afiliação entre os indivíduos, diferente do grau “intermediário”
entre
T. yonenagae e T. minor sugerido por Freitas et al. (2008). Talvez um maior
agonismo possa ocorrer durante os primeiros contatos (representados por encontros
de 40 minutos, utilizados para análise por esses autores) entre indivíduos
desconhecidos. Se essa hipótese for verdadeira, podemos supor que essa espécie
apresenta uma alta capacidade de afiliação que pode ser explorada ou não em seu
hábitat. A escassez de informações sobre a ecologia dessa espécie restringe a
formulação de hipóteses relacionadas à alta afiliação por nós detectada.
A estrutura social de
T. yonenagae foi caracterizada pela formação de laços em
todas as colônias, isto é, a alta freqüência de interação esteve relacionada a um alto
grau de afiliação nas quatro réplicas. Predominou o laço entre macho e fêmea
(ocorreu em três colônias) o que poderia ser considerado um possível padrão para o
clado 2. A variação nessa espécie, no entanto, chama atenção: ao mesmo tempo em
que o maior grau de afiliação ocorreu, na maioria das colônias, entre um par FxM, o
menor grau de afiliação também ocorreu em um par desse tipo. Esta tendência é,
também, verdadeira para o grau de agonismo entre FxM. Manaf (2000) também
encontrou variação em seu estudo com colônias de
T. yonenagae, em cativeiro. O
autor utilizou Índice de Associação e identificou tanto valores mais altos como mais
baixos, numa mesma colônia, para pares FxM. Seus resultados também apontam
para capacidade de formação de laços entre indivíduos do mesmo sexo. Em relação
às interações agonísticas, o autor encontrou grande variação entre as colônias, com
ocorrência, inclusive, de expulsão de indivíduos durante o estabelecimento das
50
mesmas. Carmo (2008, dados não publicados) encontrou notável variação no número
de tipos de emissões sonoras e suas freqüências entre grupos artificiais em cativeiro,
durante o estabelecimento das relações sociais dos indivíduos (período de 15 dias).
Esta flexibilidade social tem sido relatada em estudos com outros roedores (Schradin
& Pillay 2005; Cooper & Randall 2007; Kyle et al. 2007) e, assim como em outros
mamíferos, geralmente estão relacionadas à variação ambiental (Lott 1984; Kamler et
al. 2004). Esse, porém, não parece ser o padrão para
T. yonenagae, que esta é
uma espécie endêmica das dunas do Rio São Francisco. A alta variação nessa
espécie não está restrita às interações sociais. Marconato (2003, dados não
publicados) também observou diferença nos comportamentos de escavar e enterrar
alimento entre e dentro de colônias em cativeiro. Esse autor (assim como Carmo
2008) sugere que essas diferenças devem estar relacionadas a uma plasticidade
fenotípica entre os indivíduos dessa espécie. Estudos com díades intra-sexuais
apontam para uma apomorfia de
T. yonenagae em relação à afiliação, não relatando
diferenças nessa afiliação entre os sexos (Freitas et al. 2003, 2008; dados não
publicados: Neves & Rios 2005, Saldanha-Filho 2008). No entanto, nossos resultados
sugerem que o padrão intraespecífico de menor interação, menor grau de agonismo e
menor grau de afiliação entre FxM, observado em
T. apereoides, foi modificado no
clado 2 para uma maior interação, maior grau de agonismo e maior grau de afiliação
entre FxM. Essa modificação pode ter sofrido um incremento, no que diz respeito à
variação, em
T. yonenagae, refletindo uma plasticidade fenotípica. Esta mesma
plasticidade também tem sido observada quanto à organização social, na natureza,
onde são encontrados em um determinado sistema de galerias, desde indivíduos
solitários, passando por casais, grupos de um único sexo, até grupos estendidos com
múltiplos (até 11 indivíduos jovens e adultos) machos e fêmeas (Santos 2004, dados
não publicados). Dentre as informações disponíveis, não indícios de dominância
reprodutiva para essa espécie, o que sugere que
T. yonenagae, talvez esteja no
“meio do caminho” em relação a uma alta complexidade social, já que o desvio
reprodutivo é uma característica notável, entre os grupos altamente complexos (Jarvis
1991; Blumstein & Armitage 1997; Allainé 2000; Lacey 2000). No entanto, estudos em
campo estão sendo realizados para avaliar o padrão de parentesco genealógico dos
indivíduos em diferentes grupos, acompanhando os padrões de dispersão e filopatria,
o que poderá esclarecer se de fato não essa dominância (Santos, comunicação
pessoal).
51
Considerando que agonismo intra-específico está relacionado à aquisição e defesa
de recursos, que podem ser parceiro reprodutivo, alimento, espaço ou aquisição de
um status superior que pode levar à prioridade no acesso a esses recursos (Scott
1966; Poole 1985; Lacey et al. 1991); e que afiliação está relacionada à tolerância,
prevenção de agressão, manutenção de laços e coesão do grupo (Poole, 1985;
Bradbury & Vehrencamp 1998; Manaf & Oliveira 2000), podemos supor um cenário
evolutivo para
Trinomys.
O alto grau de agonismo de
T. apereoides (e que é compartilhado por T. minor,
Freitas et al. 2008) sugere que o ancestral dos equimiídeos apresentava baixo grau
de afiliação, o que é corroborado por informações para espécies de
Proechimys
(agressividade intra-específica: Everard & Tikasingh 1973; Lusty & Seaton 1978;
ausência de sobreposição intra-sexual de áreas domiciliares: Emmons 1982; Aguilera
1999). Esse ancestral, provavelmente habitante de floresta (Galewski et al. 2005), era
solitário, apresentando interações sociais intersexuais incomuns, talvez limitadas ao
período de reprodução. Em um dado momento, houve um incremento na capacidade
afiliativa do ancestral silvícola do clado ao qual pertencem
T. i. denigratus e T.
yonenagae
. Esta deve ter se expressado por uma maior tolerância a coespecíficos,
especialmente de sexos diferentes, e tal tolerância pode ser caracterizada tanto por
um baixo grau de agonismo como por um maior grau de afiliação refletido,
principalmente, em um contato mais próximo e continuado entre os indivíduos,
inclusive entre machos. Com a passagem de um ambiente florestado para um
ambiente de áreas abertas com maior pressão de predação e aridez, o maior grau de
afiliação entre os indivíduos deve ter sofrido um novo incremento (talvez um pouco
mais sutil) em conseqüência das vantagens da vida em grupo escavação comunal,
por exemplo, como sugerido por Freitas et al. (2008). Neste cenário, Freitas et al.
(2003) sugerem que alta afiliação em
T. yonenagae, inclusive entre indivíduos de
grupos distintos, deve ser decorrente da ausência de pressão seletiva associada à
competição por recursos, em conseqüência da estocasticidade da precipitação na
Caatinga. Esta ausência de competição é corroborada pela redução da territorialidade
apontada por Santos (2004, dados não publicados). Assim, a socialidade estaria
relacionada ao padrão de uso de recursos em área aberta. Esta hipótese parece ser
corroborada pelas características apresentadas por
T. minor, táxon que passou para
área aberta independentemente. O padrão de uso dos recursos nessa espécie parece
52
estar baseado em uma exploração solitária dos recursos localmente concentrados.
Dessa forma, houve manutenção do caráter plesiomórfico de baixa socialidade
(Freitas et al. 2008; Saldanha-Filho 2008, dados não publicados). Rocha et al. (2007)
encontraram diferença na locomoção de
T. minor e T. yonenagae, sugerindo que o
padrão apresentado por esta última é vantajoso para escape de predadores. Uma alta
eficiência na locomoção permite um maior sucesso na exploração de áreas de forma
cooperativa, promovendo a ocorrência de socialidade e novos incrementos. Esses
incrementos podem ser expressos em unidades comportamentais de contato
efêmero, que, entretanto, sugerem alta freqüência de interação sócio-positiva e
tolerância entre indivíduos de um grupo.
Dessa forma, sugerimos que um alto grau de afiliação, expresso principalmente
pela redução da agressividade entre machos e aumento da afiliação entre machos e
o par fêmea e macho, é uma característica do clado 2 de
Trinomys. Essa
característica provavelmente viabilizou o estabelecimento de
T. yonenagae no
ambiente das dunas do Rio São Francisco, refletido, principalmente, nos benefícios
da escavação comunal. Para
T. yonenagae, as limitações impostas pelo ambiente de
dunas (maior exposição a predadores, além do ambiente árido) podem ter
influenciado a composição dos grupos e suas relações: filopatria de ambos os sexos
(sugerida por Santos 2004, dados não publicados) aumenta a variabilidade das
interações afiliativas. Assim, a socialidade mais elevada seria tanto uma exaptação
como uma adaptação às dunas, a depender do grau de socialidade referido. No
entanto, estudos ecológicos enfocando
T. i. denigratus e T. i. eliasi (também
pertencente ao clado 2) e exemplares dos clados 1 e 3 (
T. iheringi gratiosus, por
exemplo, e
T. albispinus) são fundamentais para um esclarecimento sobre em que
momento a vida em grupo surgiu: antes ou depois da passagem para o ambiente de
dunas. Caso esta característica seja uma apomorfia do clado 2, a flexibilidade social
em
T. yonenagae talvez esteja relacionada às restrições ecológicas do ambiente,
diferente do que tem sido apontado em outras espécies, onde essa flexibilidade está
relacionada às variáveis ecológicas (isto é, diferenças na distribuição e abundância
de alimento; nível de competição por alimento; nível e tipo de pressão de predação;
nível de densidade populacional; e saturação do habitat – Lott 1984).
A estrutura social pode ser acessada de diferentes maneiras. No entanto,
acreditamos que o método, por nós proposto, possibilitou a identificação de uma
53
importante sinapomorfia do clado 2 de Trinomys, antes considerada autapomorfia
para
T. yonenagae. Certamente, esta identificação traz importantes implicações na
compreensão e elucidação da evolução da socialidade nesse notável grupo de
equimiídeos terrestres.
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Tabela 01. Repertório comportamental da classe “Interação Social Agonística” obtido através de interações entre díades de indivíduos das espécies
Thrichomys apereoides, Trinomys iheringi denigratus e T. yonenagae, em situação artificial de grupo em cativeiro. “Nível de agonismo” refere-se à
classificação progressiva das diferentes intensidades dos comportamentos agonísticos. O “peso” refere-se ao valor associado a cada nível, de
acordo com a intensidade do comportamento exibido: quanto maior a intensidade, maior o peso. Os comportamentos seguiram definições obtidas
em trabalhos publicados por Streilen (1992) e Manaf & Oliveira (2000), e em trabalhos não publicados de Manaf (2000) e do nosso grupo de
pesquisa (Albérico Saldanha-Filho, Diego Souza, Érica Neves e Tatiane Barduke). As unidades comportamentais redescritas neste trabalho estão
indicadas com um asterisco (*).
Comportamento Descrição Nível de Agonismo (Peso) Origem da descrição
Evitação de contato
Um animal inclina o corpo em direção oposta a outro animal que se aproxima para um
contato físico, evitando este contato
Reação aversiva sem locomoção (1) Este trabalho
Reação à aproximação
sem luta
Um animal volta-se bruscamente para um outro animal que se aproxima dele, sem
agredi-lo
Reação aversiva sem locomoção (1) Este trabalho
Reação ao contato sem
luta
Um animal volta-se bruscamente para um outro animal que o tocou, sem agredi-lo Reação aversiva sem locomoção (1) Este trabalho
Afastar-se* Um animal se afasta quando outro animal se aproxima ou o toca Locomoção para ataque e fuga (2) Manaf; este trabalho
Afastar-se com vigor Um animal se afasta com vigor quando outro animal se aproxima Locomoção para ataque e fuga (2) Manaf
Avançar Um animal se locomove bruscamente em direção a outro animal Locomoção para ataque e fuga (2) Manaf & Oliveira
Esconder-se Um animal se esconde sob o abrigo quando outro animal se aproxima Locomoção para ataque e fuga (2) Este trabalho
Perseguir Um animal segue outro em alta velocidade Locomoção para ataque e fuga (2) Neves
Encarar
Um animal se aproxima lentamente da cabeça do outro e pára a uma distância de
menos de 1 corpo do outro animal, com o focinho direcionado para a região rostral da
cabeça do outro animal
Exibição de agressividade sem contato
físico (4)
Saldanha-Filho
Encarar bípede Um animal fica frente a frente com o outro, em postura totalmente bípede
Exibição de agressividade sem contato
físico (4)
Freitas et al.
Levantamento parcial*
Um animal fica frente a outro que está próximo, em postura parcialmente bípede, com
as patas anteriores esticadas, próximas ao tórax. Muitas vezes o outro animal se
posiciona da mesma forma
Exibição de agressividade sem contato
físico (4)
Streilein; este trabalho
Levantamento total*
Um animal fica frente a frente com o outro, em postura totalmente bípede, com as patas
anteriores esticadas, próximas ao tórax, a cauda pode estar totalmente esticada. Muitas
vezes o outro animal se posiciona da mesma forma
Exibição de agressividade sem contato
físico (4)
Streilein; este trabalho
Empurrar com as patas Um animal empurra outro com uma ou duas patas dianteiras em postura bípede.
Exibição de agressividade com contato
físico (8)
Este trabalho
Golpear região rostral
Um animal bate com uma ou ambas as patas anteriores na região rostral de outro
animal
Exibição de agressividade com contato
físico (8)
Barduke
Morder região caudal Um animal morde a região caudal de outro
Exibição de agressividade com contato
físico (8)
Souza
Pular em ataque
Um animal pula agressivamente sobre outro animal, provocando, muitas vezes, uma
reação agressiva
Exibição de agressividade com contato
físico (8)
Este trabalho
61
Tabela 02. Repertório comportamental da classe “Interação Social Afiliativa” obtido através de interações entre díades de indivíduos das espécies
Thrichomys apereoides, Trinomys iheringi denigratus e T. yonenagae, em situação artificial de grupo em cativeiro. “Nível de afiliação” refere-se à
classificação progressiva das diferentes intensidades dos comportamentos afiliativos. O “peso” refere-se ao valor associado a cada nível, de acordo
com a intensidade do comportamento exibido: quanto maior a intensidade, maior o peso. Os comportamentos seguiram definições obtidas em
trabalho publicado Manaf & Oliveira (2000), e em trabalhos não publicados de Manaf (2000) e do nosso grupo de pesquisa (Érica Neves, Ilai Alves e
Vitor Rios).
Comportamento Descrição Nível de Afiliação (Peso) Origem da descrição
Proximidade não agressiva sem
contato
Um animal está próximo (distância máxima de 50 cm) ao outro sem ocorrência de
interação social entre eles, em um período de no mínimo 10 segundos
Tolerância sem contato (1) Este trabalho
Contato naso-auricular
Um animal introduz o focinho dentro da orelha do outro com movimentos vigorosos da
cabeça
Interação potencialmente afiliativa (2) Manaf & Oliveira
Contato naso-nasal Um animal encosta o focinho na região do focinho do outro animal Interação potencialmente afiliativa (2) Neves & Rios
Contato rostro-anal Um animal encosta a boca ou focinho no ânus do outro animal Interação potencialmente afiliativa (2) Neves & Rios
Contato rostro-caudal
Um animal encosta a boca ou focinho em qualquer parte da cauda do outro, que não seja
a sua base
Interação potencialmente afiliativa (2) Alves
Contato rostro-lombar Um animal encosta a boca ou focinho no lombo do outro animal Interação potencialmente afiliativa 2) Neves & Rios
Contato rostro-rostral
Um animal encosta a boca ou focinho na boca, focinho ou qualquer região da face do
outro animal (quando não é possível fazer distinção da região)
Interação potencialmente afiliativa (2) Neves & Rios
Apoiar a cabeça no outro
Um animal apóia a cabeça sobre o outro animal, geralmente apoiando também as patas
anteriores
Interação afiliativa (4) Manaf & Oliveira
Apoiar as patas anteriores
sobre o outro
Um animal apóia as patas anteriores na cabeça ou tórax do outro Interação afiliativa (4) Neves & Rios
Ficar em baixo
Um animal enfia a cabeça embaixo da cabeça ou tórax do outro, ficando por alguns
instantes nessa posição
Interação afiliativa (4) Neves & Rios
Parar em contato
Um animal pára em contato corporal com o outro, muitas vezes em sentido antiparalelo,
podendo ou não realizar outras ações durante este contato. Duração mínima de 5
segundos
Interação afiliativa (4) Neves & Rios
Passar em contato corporal Um animal passa rente ao outro animal, esfregando a lateral do focinho ou do corpo Interação afiliativa (4) Manaf
Alolimpeza Um animal penteia a região da cabeça ou do pescoço do outro animal Interação com alto teor afiliativo (8) Manaf & Oliveira
Permanecer em contato
Um animal permanece em contato a outro por tempo continuado, geralmente em sentido
paralelo, podendo realizar outras ações durante este contato. Duração mínima de 30
segundos
Interação com alto teor afiliativo (8) Este trabalho
Repousar em contato Um animal repousa em contato com o outro animal Interação com alto teor afiliativo (8) Este trabalho
62
Fig. 01: Comparação entre as espécies Thrichomys apereoides (APE), Trinomys iheringi denigratus
(DEN) e T. yonenagae (YON), quanto à proporção de exibição dos diferentes níveis de agonismo
(esquerda) e afiliação (direita) ocorridos em suas interações sociais, em situação artificial de grupo em
cativeiro. O nível de cada interação social (1 a 4 de cima para baixo) refere-se à classificação progressiva
das diferentes intensidades pelas quais os comportamentos podem ser expressos. A proporção de
exibição de um nível é representada pela razão entre o total de comportamentos deste nível e o total de
comportamentos sociais, ambos ocorridos na colônia.
63
Fig. 02: Comparação entre as espécies Thrichomys apereoides (APE), Trinomys iheringi denigratus (DEN) e
T. yonenagae (YON), quanto aos níveis de agonismo e afiliação relativos dos pares Macho x Macho, Fêmea x
Macho, Fêmea x Fêmea, em situação artificial de grupo em cativeiro. O nível de agonismo de um par é
representado pela proporção entre o valor ponderado de agonismo do par (total de comportamentos
agonísticos ocorridos entre o par multiplicados por seus respectivos pesos) e o valor ponderado de
comportamentos da colônia (total de comportamentos sociais ocorridos na colônia multiplicados por seus
respectivos pesos). O nível de afiliação de um par é calculado seguindo o mesmo critério, substituindo-se os
comportamentos agonísticos pelos comportamentos afiliativos. Os valores para os pares FxM foram
representados pela média destes pares em suas respectivas colônias
.
64
Figura 03: Cladograma baseado nas diferenças de caracteres encontradas entre as
espécies
Thrichomys apereoides, Trinomys iheringi denigratus e T. yonenagae, em
situação artificial de grupo em cativeiro, quanto à proporção de exibição dos diferentes
graus de agonismo e afiliação ocorridos em suas interações sociais e quanto aos
níveis de agonismo e afiliação relativos dos pares Macho x Macho (MM), Fêmea x
Macho (FM), Fêmea x Fêmea (FF). As setas direcionadas para cima significam uma
alta intensidade para a interação em questão, assim como setas direcionadas para
baixo significam um baixo valor. Setas mais espessas representam maior intensidade
nestas interações. O sinal “+” caracteriza um incremento em determinado caráter.
“AGO I” representa “Nível 1 de Agonismo”, “AFF III” representa “Nível 3 de Afiliação”, e
assim, sucessivamente. “AGO MM” significa “Grau de Agonismo no par MxM”, assim
como “AFF FF” significa “Grau de Afiliação no par FxF”. Consideramos como caráter
plesiomórfico para uma espécie de
Trinomys, o caráter compartilhado com o grupo
externo (
T. apereoides). Um caráter significantemente diferente do grupo externo foi
considerado apomórfico.
65
Tabela 03: Freqüências relativas das interações sociais ocorridas entre as díades das espécies
Thrichomys apereoides (colônias de 1 a 4), Trinomys i. denigratus (colônias de 5 a 8) e T.
yonenagae
(colônias de 9 a 12), em situação artificial de grupo em cativeiro. A freqüência relativa
equivale à proporção entre o número de interações ocorridas entre o par e o número total de
interações da colônia. A largura das setas nos sociogramas é proporcional à esta freqüência.
COLÔNIA M I x F I M I x F II M I x M II F I x M II F II x M II F I x F II
1 0,23 0,34 0,00 0,00 0,00 0,43
2 0,49 0,22 0,00 0,00 0,00 0,29
3 0,14 0,39 0,00 0,00 0,00 0,47
4 0,44 0,26 0,00 0,00 0,00 0,30
5 0,35 0,00 0,32 0,33 0,00 0,00
6 0,32 0,35 0,00 0,00 0,00 0,33
7 0,14 0,18 0,17 0,15 0,20 0,16
8 0,17 0,18 0,17 0,18 0,15 0,14
9 0,22 0,14 0,14 0,18 0,14 0,18
10 0,16 0,21 0,12 0,14 0,16 0,21
11 0,20 0,15 0,18 0,17 0,15 0,16
12 0,17 0,19 0,16 0,16 0,15 0,17
Figura 04: Sociogramas representando a estrutura social formada em cada uma das colônias de
Thrichomys apereoides. A largura das setas é proporcional à quantidade de interação social que
ocorreu entre cada par. Os valores que estão na parte interna do sociograma indicam o Índice de
Afiliação. Os demais valores representam: afiliação relativa da interação (assinalados com “+”) e
agonismo relativo da interação (assinalados com “-“). O quadro na parte inferior da ilustração
indica o total de comportamentos afiliativos e agonísticos identificados durante a análise.
66
Figura 05: Sociogramas representando a estrutura social formada em cada uma das colônias de Trinomys iheringi denigratus (A) e T. yonenagae
(B). A largura das setas é proporcional à quantidade relativa de interação social que ocorreu entre cada par. Os valores que estão na parte interna
do sociograma indicam o Índice de Afiliação. Os demais valores representam: grau de afiliação da interação (assinalados com “+”) e grau de
agonismo da interação (assinalados com “-”). O quadro na parte inferior da ilustração indica o total de comportamentos afiliativos e agonísticos
identificados durante a análise.
67
CONCLUSÕES GERAIS
1. Valores mais altos para os níveis de agonismo em Thrichomys apereoides, e
não compartilhados por
Trinomys i. denigratus e T. yonenagae, corroboram a
hipótese de que esse caráter é plesiomórfico em
Trinomys.
2. A associação positiva, entre freqüência de interação e grau de afiliação, e
freqüência de interação e grau de agonismo, em
T. apereoides, reflete uma
instabilidade social nesta espécie. Isto indica, portanto, um padrão de
organização solitário na natureza.
3. Indícios de poliginia para
T. apereoides (p.ex. gravidez das fêmeas de uma
mesma colônia) parecem explicar a baixa ocorrência de laços entre macho e
fêmea.
4. Os baixos valores da variável “grau de agonismo”, para os pares de machos
de
T. i. denigratus e T. yonenagae, indicam uma redução da agressividade
nesses pares como apomorfia para o clado 2.
5. Os altos valores da variável “grau de afiliação”, para os pares de machos e
de fêmea e macho de
T. i. denigratus e T. yonenagae, indicam um aumento
da afiliação nesses pares como apomorfia para o clado 2.
6.
T. i. denigratus apresentou valores para o Índice de Afiliação tão altos quanto
T. yonenagae. Laços entre fêmea e macho parecem ser um possível padrão
para essas espécies. Conseqüentemente, alta afiliação e laços entre fêmea e
macho parecem ser características do clado 2 de
Trinomys.
7.
T. yonenagae parece apresentar um incremento na socialidade, refletido em
uma maior freqüência de interações afiliativas de contato efêmero que
sugerem uma alta tolerância e socialidade entre os indivíduos.
8. Os resultados deste trabalho, em conjunto com as informações disponíveis
pra
Trinomys, sugerem que a socialidade estaria relacionada ao padrão de
uso de recursos em área aberta. Essa socialidade mais elevada seria tanto
uma exaptação como uma adaptação às dunas, a depender do grau de
socialidade referido.
68
9. A plasticidade fenotípica de T. yonenagae, documentada em estudos de
campo e laboratório, foi refletida nas diferentes estruturas sociais formadas
nos grupos. Tal plasticidade, talvez esteja relacionada às restrições
ecológicas do ambiente, diferente do que tem sido apontado em outras
espécies de vertebrados, onde essa flexibilidade está relacionada às variáveis
ecológicas.
10. O método, por nós proposto, para acessar estrutura social, parece ser
frutífero, já que possibilitou a identificação de uma importante sinapomorfia do
clado 2 de
Trinomys, antes considerada autapomorfia para T. yonenagae.
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