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em lugares despovoados aliado a um movimento de expansão industrial apresentando
carência de mão-de-obra, e como ponto de chegada o ‘transbordamento’ da vila operária que
passa a ser apenas o núcleo original de uma cidade maior. “(LOPES,1979, p.59)
Em 1980, a cidade já tem outras características diferentes do modelo ideal proposto na
década de 1940. A cidade que se tem em 1980 já não mais expressa os ideais pensados na sua
criação, que foi, ao longo do tempo, descaracterizado, tanto no aspecto físico como no social.
No aspecto físico, a cidade foi se reorganizando em função das crises políticas e econômicas.
A agropecuária havia sido praticamente extinta no município, ocupando, em 1980,
apenas 0,6% da população economicamente ativa, contra uma participação de 32,9% da
indústria de transformação, 19,3% da chamada indústria de construção e 46,3% do comércio e
das atividades de serviço.(LOPES,2001, p.154)
Áreas são ocupadas, iniciando-se a luta pela posse das terras. Cabe destacar, que
somente são invadidas algumas poucas áreas particulares e em especial áreas públicas, e
nunca áreas de propriedade da CSN, pois estas estavam, permanentemente, sob vigilância.
Uma das instituições importantes na cidade foi a Igreja, que ocupou um espaço
considerável na cidade com sua pedagogia política, através das Comunidades Eclesiais de
Base - CEBs, com ênfase nos movimentos de bairros e periferia. A administração municipal,
permanentemente tensionada, iniciou um estudo técnico para a questão da terra.
Em 1984, foi aprovada a lei “Política Municipal de Desfavelamento e Atuação em
áreas Públicas Ocupadas”, sob protestos,
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considerada, pelos posseiros,
uma lei autoritária.
Os protestos se referiam à forma como o projeto de lei fora aprovado, sem colocar em
discussão as emendas de interesse popular.
As favelas, denominadas pelo governo municipal de “Núcleos de Posse” ocuparam,
principalmente a área norte do município; este fato se deve primeiramente pelo afluxo de
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O interesse do movimento de posseiros, consubstanciado nas emendas apresentadas ao Projeto de Lei,
orientava-se em torno de três questões centrais: 1) quanto aos instrumentos de execução da política, deveria
caber aos posseiros a escolha entre a concessão de direito real de uso e o título de propriedade; a concessão
deveria ser feita gratuitamente e por um prazo de 90 anos; a venda da terra pela prefeitura, no caso desta opção
pelo posseiro, deveria se fazer a preço simbólico e sem interferência da COHAB-VR, isto é, o ato de compra
e venda se faria diretamente entre prefeitura e posseiros; 2) quanto às áreas passiveis de urbanização, isto é,
aquelas em que a ocupação seria reconhecida oficialmente, os posseiros pretendiam a inclusão nos benefícios
da lei, todas as áreas públicas municipais, exceto aquele em que o risco físico fosse comprovado permitindo a
remoção dos moradores. na lei “as áreas públicas de preservação paisagística e ecológica, de interesse do
desenvolvimento econômico e social e as destinadas a equipamento público de educação e saúde que não
possam ser substituídas por outras que atendam a mesma finalidade” (artigo 2º estavam excluídas das
políticas; 3) quanto à participação popular, os posseiros pretendiam estar envolvidos em todas as decisões,
através de representantes que eles mesmos elegeriam; estes comporiam uma equipe de acompanhamento,que,
na emenda, substituía a “equipe de apoio” prevista pela lei. (SOUZA,1992,os.168-169)