passo – uma maneira de coletar informações iniciais – no caminho que levaria à compreensão
de seus diversos níveis de significado.
Para o autor, esta compreensão não é passiva. Ele destaca a importância do espectador
em diversos momentos do livro: a começar por dedicar uma das “categorias de observação” às
perspectivas do observador, onde conclui que obras de Cézanne a Richard Serra definem
nossa relação com uma obra em termos muito pessoais. Falando de Pollock e Johns, escreve:
Ao escolher eliminar vários tipos de referências disponíveis e técnicas ilusórias, estes artistas
podem, à primeira vista, parecer ter respostas limitadas; na verdade, seu reducionismo de
informações abre possibilidades. Ao fazê-lo, eles de fato aumentam o escopo da função do
espectador. [...] Este fenômeno, esta ‘falácia da intenção’, como é conhecida, é em si mesma
uma justificativa para que assumamos a responsabilidade por encontrar significados que nos
parecem adequados. (YENAWINE, 1991: 122)
47
.
Em um capítulo posterior de seu livro, Yenawine chega a afirmar que a arte é
importante demais para que fiquemos de fora do processo de tomada de decisões e que
apesar de devermos respeitar a autoridade artística, não devemos nos valer de uma opinião
apenas. Podemos desafiar a autoridade fazendo perguntas, questionando suposições, e
identificando idéias tendenciosas […] Também podemos confiar em nós mesmos como
capazes de ter idéias úteis e definitivas, se – e somente se – tivermos nos prestado a olhar e
pensar seriamente sobre o que é que os artistas produzem. (YENAWINE, 1991: 144)
48
Portanto, para o autor, “ver a arte moderna” envolve mais do que olhar passivamente;
envolve ver ativamente e pensar seriamente, requer o tipo de negociação entre Olho e
Espectador de que fala O’Doherty. Na verdade, Yenawine defende que a arte sempre
exprimiu idéias e que sem certo background (então toda a arte dependeria de um contexto
discursivo) teríamos uma compreensão incompleta, superficial, do material que vemos. O
problema da compreensão das obras modernas e contemporâneas estaria, para Yenawine, no
fato de que elas nos fornecem menos informações visuais:
O que nos confunde hoje são os meios através dos quais as idéias são expressas. [...] Leonardo
da Vinci e Michelangelo nos davam comparativamente muito o que analisar: sujeitos
reconhecíveis, estados emocionais razoavelmente claros, uma técnica virtuosa, e muitas vezes
elementos narrativos familiares, ou pelo menos discerníveis. Eles utilizavam a linguagem da
arte – cor, linha, composição – além de materiais convencionais empregados de maneiras
previsivelmente razoáveis, mas singularmente maravilhosas. [...] Tal engajamento nem
sempre é tão fácil hoje em dia, em parte porque a arte de hoje geralmente nos dá menos para
analisar. (YENAWINE, 1991: 104)
49
.
47
Tradução nossa. No original, este trecho corresponde a: “In choosing to eliminate various kinds of available references and
illusionary techniques, these artists might at first glance seem to have limited possible responses; in fact, their reduction of
information opens up possibilities. In so doing, they indeed increase the scope of the viewer’s job... This phenomenon, this
‘fallacy of intention’, as it is known, is itself justification for us to assume responsibility for finding meanings that seem right
to us”.
48
Tradução nossa. No original, este trecho corresponde a: “...while we should respect artistic authority, we need not rely
simply on one opinion. We can challenge authority by asking questions, querying assumptions and identifying biases... We
can also trust ourselves to have useful, definitive insights, if – and maybe oly if – we have bothered to look at and think
seriously about what artists produce”.
49
Tradução nossa. No original, este trecho corresponde a: “What confuses us today are the means by which ideas are
conveyed. Leonardo da Vinci e Michelangelo gave us a lot to go on: recognizable subjects, reasonably clear emotional states,