60
Desde então, Paulo Freire tem sido o grande inspirador de práticas pedagógicas na
perspectiva do enfrentamento das conflitualidades frente às contradições que se
instalam para o agir do professor no mundo contemporâneo. A referência ao autor
tornou-se quase uma unanimidade para aqueles que continuam a defender o ato
educativo como um ato político. Para o intento deste trabalho, importa destacar o
vínculo que Paulo Freire estabelece com a Ética.
Ao definir o ato educativo como um ato político, Paulo Freire, conseqüentemente
vincula Ética e docência, na medida em que é suposto nesse ato a obrigação com a
escolha e só o homem pode escolher. Nessa perspectiva, destaca, logo nas
primeiras linhas de Pedagogia da autonomia, que se acha “absolutamente
convencido da natureza ética da prática educativa, enquanto prática especificamente
humana” (2003, p.17).
Entretanto, a ética à qual Paulo Freire (2003, p.18) se refere não é a ética do
mercado que se curva obediente aos interesses do lucro. Refere-se a uma ética
“enquanto marca da natureza humana, enquanto algo absolutamente indispensável
à convivência humana”.
[...] mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma
presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que,
reconhecendo a outra presença como um “não-eu” se reconhece
como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe
presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz mas
também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que
decide, que rompe. E é no domínio da decisão, da avaliação, da
liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da
ética e se impõe a responsabilidade. (FREIRE, 2003, p.18)
A natureza da ética freireana ancora-se na certeza do inacabamento, na condição
humana de ser um ausente de si mesmo e que, por isso, passa a ser obrigado a
aprender a ser. Segundo Freire (2003, p.52), é impossível existir sem assumir o
direito e o dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. A consciência do
inacabamento é que nos faz seres responsáveis, daí a eticidade de nossa presença
no mundo. É nesse sentido que para o autor
[...] estar no mundo necessariamente significa estar com o mundo e
com os outros. Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser
feito, sem fazer cultura, sem "tratar" sua própria presença no mundo,
sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da