93
Portanto, não tem constrangimentos. Existem alguns cuidados do tipo
ninguém chama o MST de invasor, isso está no manual de ética da RBS.
Eu acho que eles já devem ter tomado algum processo por isso. Mas,
existem alguns cuidados que você tem que tomar que são cuidados
éticos para qualquer matéria que tu for fazer. Agora, não existe essa
estória, esse monstro que se cria: tu já sai com uma ideia e tem que
escrever sobre isso. Isso não existe! Eu trabalho há tempos na empresa,
já trabalhei na Central do Interior, já trabalhei lá dentro da ZH, já
trabalhei aqui e eu nunca tive em nenhuma matéria que eu fiz ou que eu
produzi uma orientação do tipo tu tens de escrever X, ou tu tens de
editar X. Acho que é muito da cabeça dos repórteres, porque no
momento em que tu tens um repórter que é ético, nenhum editor
consegue sacanear ele. Porque a pessoa vai sentar, escrever e ponto
(JORNALISTA 3).
Um comentário interessante sobre a questão deriva da análise das falas do Jornalista 4
sobre a questão. Segundo ele, mesmo que a empresa disponibilize o manual de ética a todos
os seus colaboradores, o verdadeiro manual do repórter é o seu editor, que por ser mais
experiente tem essas regras entronizadas. Aponta ele: “na verdade, o manual do repórter,
assim, diariamente, está muito no editor, ele segue as orientações do editor”. Segundo ele o
fato de o manual proibir determinadas práticas é um pouco mito. “No meu trabalho nunca
ninguém me disse assim – não, tu não vai dar isso, tu não vai dar desse jeito, principalmente
em relação ao MST. Em relação ao MST não tem nenhuma orientação”.
Aqui, quando eventualmente pauto e passo a fazer a cobertura, não tem
nada que diga assim: você vai tratar a notícia dessa forma! A gente vai
lá para noticiar o fato por todos os lados, noticiar o que está
acontecendo e simplesmente ser o reflexo do que está acontecendo. E
não tem nenhuma diretriz assim, você vai fazer isso, você não ouve
aquilo, você dá mais atenção para isso. Até porque a gente mesmo se
pauta, a gente mesmo sabe o enfoque que a gente tem que dar. Não tem
nenhuma orientação tipo a Zero Hora disse que tem de ser assim
(JORNALISTA 4).
“A gente tem um manual e tudo, temos regras que dizem olha, a gente tem que ser
equilibrado, tratar pessoas com isonomia, a gente não pode obter favores pessoais, porque tu é
jornalista”. Conforme a Jornalista 5, são essas as orientações gerais que devem ser seguidas
pelos profissionais, mas, segundo ela, essas não são regras especiais, muito menos
constrangimentos. São regras da vida, apenas adaptadas e aplicadas à prática jornalística. A
jornalista 5, no entanto, reconhece a configuração de mecanismos para se proteger
profissionalmente e para proteger o leitor de um direcionamento agudo. Porém, segundo ela,
É claro que a gente escolhe, faz escolhas diariamente, só que a gente
não recebe orientações diárias, de como tem que fazer; nem eu me sinto
uma figura, uma representante da RBS para passar orientações diárias
para os repórteres, de como é que tem que ser. A única coisa que eu
procuro dizer é para eles se cuidarem, para eles não cometerem