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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA E
GEOCIÊNCIAS
ESTUDOS FITOGEOGRÁFICOS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE
OESTE DO RS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Fabiano da Silva Alves
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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3
ESTUDOS FITOGEOGRÁFICOS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE
OESTE DO RS
por
Fabiano da Silva Alves
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e Geociências, Área de Concentração em Análise Ambiental e
Dinâmica Espacial, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Geografia
Orientador: Prof. Dr. Luís Eduardo de Souza Robaina
Santa Maria, RS, Brasil
2008
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A474e Alves, Fabiano da Silva
Estudos fitogeográficos na bacia hidrográfica do Arroio Lajeado Grande
oeste do RS / por Fabiano da Silva Alves. 2008.
106 f. ; 30 cm.
Orientador: Luís Eduardo de Souza Robaina
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
Ciências Naturais e Exatas, Programa de Pós-Graduação em Geografia e
Geociências, RS, 2008
1. Geografia 2. Geografia dos vegetais 3. Fitogeografia 4. Botânica
5. Análise ambiental 6. Bacias hidrográficas 7. Arroio Lajeado Grande - RS
I. Robaina, Luís Eduardo de Souza II. Título
CDU 581.9:556.51(816.5)
Ficha catalográfica elaborada por
Josiane S. da Silva - CRB-10/1858
© 2008
Todos os direitos autorais reservados a Fabiano da Silva Alves. A reprodução de partes ou
do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor.
Endereço: Rua Barão do Amazonas, 850, Bairro Centro, Alegrete, RS, 97542-100
End. eletrônico: [email protected]
_________________________________________________________________________
5
AGRADECIMENTOS
- A toda minha família e em especial aos meus pais Adão e Vera, pelo apoio, compreensão e
sacrifícios que sempre fizeram por mim, para que eu sempre alcançasse meus objetivos
profissionais;
- A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) pela possibilidade de realizar este Curso de
Pós-Graduação com qualidade de ensino e gratuito;
- Ao Professor Luís Eduardo de Souza Robaina, pela amizade, orientação e dedicação nos
trabalhos, contribuindo para o meu crescimento profissional;
- Aos Professores Messias, José Newton, Adriano e Andréia, por se disponibilizarem a avaliar
este trabalho, contribuindo para a sua melhor qualificação;
- Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação, pelos ensinamentos, auxílios e
contribuições;
- Aos colegas do Laboratório de Geologia Ambiental (LAGEOLAM), pela receptividade,
amizade e contribuições;
- Aos amigos e amigas de nosso conviver diário, que direta ou indiretamente contribuíram
para a realização deste trabalho;
- A Paula Guadagnin, pelo companheirismo, carinho e compreensão.
6
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Universidade Federal de Santa Maria
ESTUDOS FITOGEOGRÁFICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO ARROIO LAJEADO GRANDE OESTE DO RS
AUTOR: Fabiano da Silva Alves
ORIENTADOR: Luís Eduardo de Souza Robaina
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 17 de Dezembro de 2008.
Estudos fitogeográficos que buscam a compreensão de como ocorreu a colonização e a
distribuição da vegetação nativa no território gaúcho, remontam desde o final do século XIX.
Entretanto, atualmente, ainda não consenso no que diz respeito às distintas tipologias que
apresenta a vegetação no Estado do Rio Grande do Sul, nem quanto às terminologias a serem
utilizadas de modo mais geral. Ao tratar especificamente das regiões Oeste e Sudoeste, o
tema, "Fitogeografia" reveste-se de extrema importância, pois ainda apresenta pontos não
bem esclarecidos na literatura científica. Frente a tal situação, os Estudos Fitogeográficos na
Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande - Oeste do RS, têm como objetivo principal,
contribuir para o avanço do conhecimento fitogeográfico sul-rio-grandense. Para isto,
inicialmente, foi realizada uma análise nas condições do meio físico, onde foram
reconhecidas e diferenciadas, unidades morfolitológicas, com base nas características do
relevo, do substrato rochoso e solos. Estas unidades foram representadas no mapa
morfolitológico, que serviu de base geográfica à realização do levantamento florístico.
Desenvolvido sob o aspecto fisionômico e ecológico, este levantamento revelou a existência
de distintas tipologias na vegetação nativa. A partir de então, foi desenvolvido um estudo
correlativo entre vegetação e meio físico, de modo a identificar os elementos do meio que
exercem influência na composição florística e na distribuição espacial da cobertura vegetal.
Esta correlação revelou que todas as tipologias, existentes na área em estudo, possuem
estreitas relações com o meio físico, apresentando um “padrão” de distribuição geográfica.
Em certas situações, tais relações são tão acentuadas que duas fanerófitas foram definidas
como espécies “geo-indicadoras” de substrato rochoso. Os resultados obtidos nesta pesquisa
foram representados em mapa fitogeográfico, definido a partir das tipologias de vegetação,
em relação com as unidades morfolitológicas, sendo diferenciadas em: campos em colinas de
arenito, campos com curupis (Sapium haematospermum Müll. Arg. Euphorbiaceae) em
colinas de arenito, campos com butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae) em colinas de arenito, campos em colinas vulcânicas, campos com espinilhos
(Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae) em colinas vulcânicas,
vegetação de cornijas, vegetação de morrotes de arenito, capões de mato e floresta de galeria.
Espera-se que este trabalho sirva de subsídio a futuros estudos e propostas de conservação e
preservação da biodiversidade e das paisagens naturais no Estado do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Fitogeografia; Vegetação; Análise Ambiental; Cartografia; Oeste do RS.
7
ABSTRACT
Dissertation of Master's degree
Program of Master‟s degree in Geography
Federal University of Santa Maria
PHYTOGEOGRAPHICAL STUDIES IN THE BASIN HYDROGRAPHIC
THE STREAM LAJEADO GRANDE - WEST OF THE RS
AUTHOR: Fabiano da Silva Alves
ADVISOR: Luís Eduardo de Souza Robaina
Date and Place of the Presentation: Santa Maria, December 17, 2008.
Phytogeographical studies that seek to understand how was the colonization and distribution
of native vegetation in the territory do Rio Grande do Sul State, back since the end of the XIX
century. However, currently, there is still no consensus with regard to different types shows
that the vegetation in the state, nor about the terminology to be used more generally. When
dealing specifically with the West and Southwest regions, the theme, "Phytogeography" is of
utmost importance, therefore still has no points and clarified in the scientific literature. Facing
this situation, the phytogeographical studies in the basin hydrographic the Lajeado Grande
stream- west of the RS has as its main objective, to contribute to the advancement of
knowledge phyto-geographic South Rio-Grandense. For that, initially, was made an analysis
in terms of the physical environment, where they were recognized and differentiated, morpho-
lithological units, based on the characteristics of the relief, of the substrate rocky and soils.
These units were represented on the morpho-lithological map, which served as a geographical
basis to achieve the floristic survey. Developed under the physiognomic and ecological
aspect, this survey revealed the existence of different types in native vegetation. Since then, a
study was conducted correlative between vegetation and physical environment in order to
identify the factors that influence the environment in floristic composition and spatial
distribution of vegetation cover. This correlation showed that all types, in the area under
study, have close relations with the physical environment, presenting a "pattern" of
geographic distribution. In certain situations, such relationships are so strong that two
“phanerophytas” species were defined as "geo-indicators" of substrate rocky. The results in
this study were represented in phyto-geographic map, defined from the types of vegetation in
relation to the units morpho-lithological, and differentiated into: “campos” (grassland) in
sandstone hills, “campos” with “curupi” (Sapium haematospermum Müll. Arg.
Euphorbiaceae) in sandstone hills, “campos” with “butiá-anão” (Butia lallemantii Deble &
Marchiori Arecaceae) in sandstone hills, “campos” in volcanic hills, “campos” with
“espinilhos” (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae) in volcanic hills,
vegetation of “cornijas” (steps in middle rocky slopes), vegetation of “morrotes” (hills with
slopes) of sandstone, “capão”(forest) of forest and the gallery forest. It is hoped that this work
will serve as an allowance for future studies and proposals for conservation and preservation
of biodiversity and natural landscapes in Rio Grande do Sul state.
Keywords: Phytogeography; Vegetation; Environmental Analysis; Mapping; West of the RS.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 Mapa de localização da área de estudo...............................................................16
FIGURA 2 Mapa Fitogeográfico do Brasil, Martius (1858).................................................18
FIGURA 3 - Mapa da Vegetação Sul-brasileira, Lindman (1892-1894)..................................20
FIGURA 4 - Mapa Fitogeográfico do Rio Grande do Sul, Rambo (1941-1942).....................21
FIGURA 5 - Mapa das Regiões Fitogeográficas do RS, Reitz, Klein e Reis (1988)...............22
FIGURA 6 - Mapa simplificado da Vegetação no Rio Grande do Sul, IBGE (2004)..............23
FIGURA 7 - Mapa de Biomas do Rio Grande do Sul, IBGE e MMA (2004).........................24
FIGURA 8 - Fluxograma de procedimentos metodológicos....................................................40
FIGURA 9 - Quadro com a classificação dos tipos de relevo, IPT (1981)..............................42
FIGURA 10 - Modelo de Ficha Fitogeográfica........................................................................43
FIGURA 11 - Mapa Hidrográfico da Bacia do Arroio Lajeado Grande..................................46
FIGURA 12 - Fotografia do arroio Lajeado Grande................................................................47
FIGURA 13 - Fotografia da Sanga do Graxaim.......................................................................47
FIGURA 14 - Imagem de satélite - Lagoa Parové....................................................................48
FIGURA 15 - Fotografia da Lagoa dos Curupis.......................................................................48
FIGURA 16 - Fotografia da Lagoa Vermelha..........................................................................49
FIGURA 17 - Fotografia da Lagoa Verde................................................................................49
FIGURA 18 - Mapa Morfolitológico do arroio Lajeado Grande.............................................51
FIGURA 19 - Fotografia destacando as ondulações do relevo de colinas..............................52
9
FIGURA 20 - Fotografia das colinas de arenito.......................................................................52
FIGURA 21 - Fotografia mostrando plantio de eucaliptos.......................................................53
FIGURA 22 - Fotografia mostrando o desenvolvimento de processos erosivos......................54
FIGURA 23 - Imagem de satélite areal junto à drenagem principal.....................................54
FIGURA 24 - Fotografia registrando a sobreposição de rocha vulcânica ao arenito...............56
FIGURA 25 - Fotografia destacando o aspecto das colinas vulcânicas...................................56
FIGURA 26 - Fotografia de uma cornija de arenito.................................................................57
FIGURA 27 - Imagem de satélite - ravinas e voçorocas associadas à cornija.........................58
FIGURA 28 - Fotografia de morrote de arenito fluvial - “Cerro da Cascavel”........................59
FIGURA 29 - Fotografia de um morrote de arenito eólico - “Cerro do Parové”.....................60
FIGURA 30 - Fotografia de um morrote de arenito fluvial - “Cerro do Barro”.......................61
FIGURA 31 - Fotografia de morrote vulcânico........................................................................62
FIGURA 32 - Fotografia mostrando afloramento de rocha vulcânica.....................................62
FIGURA 33 - Fotografia mostrando planície de acumulação..................................................63
FIGURA 34 - Fotografia de lavoura de arroz instalada em planície de acumulação...............63
FIGURA 35 - Fotografia expondo o tapete gramíneo-herbáceo rasteiro dos campos..............64
FIGURA 36 - Fotografia do aspecto fisionômico dos campos em colinas de arenito..............66
FIGURA 37 - Fotografia registrando nanofanerófitas em área campestre...............................66
FIGURA 38 - Fotografia de nanofanerófita: araçá-do-campo .................................................67
FIGURA 39 - Fotografia mostrando a dispersão de curupis (Sapium haematospermum Müll.
Arg. Euphorbiaceae).................................................................................................................68
10
FIGURA 40 - Fotografia em detalhe do curupi........................................................................68
FIGURA 41 - Fotografia de um palmar de butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae).................................................................................................................................69
FIGURA 42 - Fotografia destacando os campos em colinas vulcânicas..................................70
FIGURA 43 - Fotografia de um exemplar de quina-do-campo (Discaria americana Gill. &
Hook. Rhamnaceae)...............................................................................................................70
FIGURA 44 - Fotografia da dispersão de espinilhos (Acacia caven (Molina) Molina -
Leguminosae ou Fabaceae).......................................................................................................71
FIGURA 45 - Imagem de satélite - arranjo e distribuição da vegetação nas cornijas ............72
FIGURA 46 - Fotografia da criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. & Schlecht.) G.Don
Ericaceae)................................................................................................................................. 72
FIGURA 47 - Fotografia mostrando associação vegetal, típica de cornijas.............................73
FIGURA 48 - Fotografia de cactáceas associadas às cornijas..................................................73
FIGURA 49 - Fotografia destacando a distribuição da vegetação em morrotes de arenito.....75
FIGURA 50 Fotografia do “Cerro do Parové”, em destaque a vegetação dos morrotes.......76
FIGURA 51 - Fotografia de Froelichia tomentosa (Mart.) Moq., no “Cerro Parové”.............77
FIGURA 52 - Fotografia de Achyrochline marchiorii Deble Asteraceae.............................78
FIGURA 53 - Imagem de satélite- arranjo de um capão de mato............................................79
FIGURA 54 - Fotografia de um capão de mato, à meia encosta de colina vulcânica..............80
FIGURA 55 - Fotografia destacando a floresta de galeria do arroio Lajeado Grande.............81
FIGURA 56 - Fotografia da floresta de galeria do arroio Lajeado Grande..............................82
FIGURA 57 - Fotografia da floresta de galeria do arroio Lajeado Grande..............................83
11
FIGURA 58 Fotografia do molho-rasteiro (Schinus engleri F.A. Barkley
Anacardiaceae)..........................................................................................................................85
FIGURA 59 - Fotografia de um umbu (Phytolacca dioica L. - Phytolaccaceae).....................85
FIGURA 60 - Mapa Fitogeográfico da Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande..........87
FIGURA 61 - Fotografia da pitanga-do-campo (Eugenia pitanga (Berg) Niedenzu
Myrtaceae)................................................................................................................................88
FIGURA 62 Fotografia do butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori Arecaceae)
no topo de um morrote de arenito.............................................................................................89
FIGURA 63 - Fotografia registrando a presença concentrada de curupis (Sapium
haematospermum Müll. Arg. Euphorbiaceae).......................................................................89
FIGURA 64 - Fotografia registrando a ocorrência de espécies típicas de campos em colinas
vulcânicas junto com espécies restritas aos campos em colinas de arenito..............................91
FIGURA 65 - Fotografia de afloramento de rocha vulcânica e a ocorrência em abundância do
espinilho (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae).................................92
FIGURA 66 - Fotografia destacando espécies características da vegetação de cornijas..........93
FIGURA 67 - Fotografia exibindo a distribuição da vegetação em morrote de arenito...........94
FIGURA 68 - Fotografia de um capão de mato a meia encosta de colina vulcânica...............94
FIGURA 69 - Fotografia da conexão entre um capão de mato e a floresta de galeria.............95
FIGURA 70 - Fotografia registrando a conexão da floresta de galeria com a vegetação de
morrotes de arenito...................................................................................................................96
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................13
1 ESTUDOS FITOGEOGRÁFICOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL........17
1.1 Aspectos Fitogeográficos para o oeste do Rio Grande do Sul.....................................26
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO............................................................33
2.1 Geomorfologia e relevo...................................................................................................33
2.2 Geologia............................................................................................................................34
2.3 Clima................................................................................................................................34
2.4 Solos..................................................................................................................................35
2.5 Uso e ocupação do solo....................................................................................................36
2.6 Vegetação.........................................................................................................................37
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................39
3.1 Análise do Meio Físico....................................................................................................39
3.2 Análise da Vegetação......................................................................................................42
3.3 Análise Correlativa: vegetação meio físico................................................................44
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..................................................................................45
4.1 Análise Hidrográfica.......................................................................................................45
4.2 Análise Morfolitológica...................................................................................................49
4.3 Análise da Vegetação......................................................................................................63
4.4 Análise Correlativa: vegetação meio físico................................................................86
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................97
REFERÊNCIAS....................................................................................................................99
13
INTRODUÇÃO
Estudos fitogeográficos, que buscam a compreensão e o entendimento de como
ocorreu a colonização e a distribuição da vegetação nativa no território gaúcho, remontam ao
final do século XIX.
Inicialmente, tais pesquisas eram desenvolvidas em escalas bem abrangentes, pois
havia um ambiente natural ainda pouco transformado pela ação humana à disposição do
pesquisador, passível de observação em escala regional. Certamente, este foi um fator que
contribuiu de forma significativa para a produção de verdadeiras obras primas da ciência
fitogeográfica, revelando situações singulares, por vezes de difícil interpretação na atualidade,
devido à intensa ação antrópica produzida em séculos de ocupação do espaço sul-rio-
grandense.
Na tentativa de compreender a situação atual, ao longo de mais de cem anos de
investigação, diversos pesquisadores desenvolveram abordagens sob diferentes óticas e em
diferentes épocas. Mesmo assim, ainda não consenso no que diz respeito às distintas
tipologias de vegetação no Rio Grande do Sul, nem quanto às terminologias a serem
utilizadas de modo mais geral.
Certas considerações, todavia, são indiscutíveis; é o caso da presença de espécies
florestais e campestres em uma mesma região, caracterizando uma típica área de transição
entre dois contrastes da vegetação. Este fato, muito bem observado por Lindman (1906) e
Rambo (1956), ganha reforço principalmente nos trabalhos de Marchiori (2002, 2004 e 2006),
tornando-se evidente que a vegetação no território gaúcho encontra-se em um estágio de
transição, influenciada, principalmente, pelos novos padrões climáticos estabelecidos a partir
da transição Pleistoceno-Holoceno.
Neste sentido, Marchiori (2004), observa que a vegetação no Estado, composta
essencialmente de campos e florestas, encontra-se em permanente competição no espaço
regional, sob forte influência de fatores ambientais, sobretudo os climáticos. De acordo com o
autor, a vegetação campestre, presente na maior parte do território gaúcho, consiste em
relíctos de um clima pretérito mais frio e seco e tende, gradualmente, a ceder espaço a
espécies florestais, mais bem adaptadas ao clima atual.
14
Este fato, certamente, pode ser apontado como um dos principais responsáveis pela
ocorrência acentuada de interpretações divergentes e a definição de distintas tipologias de
vegetação em meio a formações predominantemente campestres, resultando, não raras vezes,
em verdadeiras contradições terminológicas.
Frente a isto, Marchiori (2004, p. 18) orienta que para interpretar com precisão a
distribuição da vegetação no Estado, torna-se necessário compreender que: “No Rio Grande
do Sul, mais do que aspectos edáficos ou do clima atual, a explicação para a coexistência e o
limite brusco entre florestas e campos deve ser buscada na biologia das plantas
representativas dos respectivos biomas e suas vinculações com o relevo”.
Ao tratar especificamente das regiões Oeste e Sudoeste do Rio Grande do Sul, o tema
“Fitogeografia” reveste-se de extrema importância, pois excetuando os trabalhos citados,
entre outros raros, ainda não foram amplamente desenvolvidos estudos detalhados que
abordassem especificamente a composição, distribuição e vinculações da cobertura vegetal
com o meio físico.
No que diz respeito ao ambiente físico, estas regiões receberam maior atenção dos
pesquisadores a partir da década de 1970, quando começaram os estudos sobre degradação
ambiental, em conseqüência da aceleração e desencadeamento de processos erosivos que
acabaram por originar inúmeros núcleos de arenização e, em alguns casos, formar inclusive
areais de extensões consideráveis, além de expressiva quantidade de ravinas e voçorocas.
A bacia hidrográfica é considerada por Botelho (1998) uma célula natural, onde é
possível reconhecer e estudar as inter-relações existentes entre os diversos elementos da
paisagem e os processos que atuam na sua esculturação. Dessa forma, passa a ser amplamente
utilizada em trabalhos ambientais no campo da geografia física, aparecendo como uma grande
unidade de espaço, passível de divisão em unidades menores.
Dentre muitos trabalhos relevantes que abordam este tema, destacam-se, neste caso, os
mapeamentos geológico-geomorfológico de Paula e Robaina (2001 e 2006), realizados em
bacias hidrográficas da região, e a proposta metodológica elaborada por Trentin e Robaina
(2005) para Mapeamento Geoambiental do Oeste do Rio Grande do Sul.
Os trabalhos de Paula e Robaina (2001 e 2006) concentraram-se na diferenciação de
unidades de relevo, considerando, principalmente, o substrato rochoso e as características
morfográficas de cada unidade.
Trentin e Robaina (2005), ao proporem sua metodologia, utilizam como unidade de
mapeamento a bacia hidrográfica e comentam que o processo de mapeamento geoambiental
15
tem como meta principal a divisão de uma área em unidades, de acordo com a variação de
seus atributos.
Tendo como base estas contribuições e abordagens metodológicas, que tratam da
análise integrada do meio físico, torna-se possível a identificação, a diferenciação e a
caracterização das diferentes unidades de relevo que constituem o modelado do terreno de
uma determinada bacia hidrográfica, fornecendo, assim, uma importante fonte de subsídios a
investigações mais específicas.
Diante de tal situação e com o interesse de contribuir para o avanço do conhecimento
fitogeográfico, alertando sobre a necessidade de conservação e preservação da biodiversidade
e das paisagens naturais no Estado do Rio Grande do Sul, o presente trabalho apresenta os
resultados obtidos a partir do desenvolvimento de Estudos Fitogeográficos na Bacia
Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande Oeste do RS.
Esta bacia hidrográfica apresenta área total de 493,186 km² e se insere entre as
coordenadas geográficas 55° 20‟ 28” a 55° 36‟ 42” de longitude oeste em relação ao
meridiano de Greenwich e 29° 36‟ 20” a 29° 59‟ 52” de latitude sul em relação a linha do
Equador (Figura 1). Localizado na região oeste do Rio Grande do Sul, o arroio Lajeado
Grande é afluente da margem esquerda do rio Ibicuí. Com uma extensão de 61,044 km, parte
de seu curso principal (o baixo curso) faz a divisa entre os municípios de Alegrete e Manuel
Viana.
Tais estudos, realizados de forma sistêmica e integrada, objetivam constatar
principalmente as inter-relações existentes entre a vegetação nativa e o suporte geoecológico
presente em cada unidade morfolitológica da bacia em estudo, definidas a partir da análise
dos aspectos geológicos e geomorfológicos.
Deste modo, este trabalho apresenta, inicialmente, um breve histórico dos estudos
fitogeográficos realizados no estado do Rio Grande do Sul e as principais abordagens
atualmente utilizadas, trazendo também a caracterização geral da área de estudo.
Nos capítulos seguintes são apresentados os procedimentos metodológicos, bem como
a análise e a discussão dos resultados, que expõem a caracterização da rede de drenagem, o
Mapa Hidrográfico, a definição e a caracterização das unidades de relevo, o Mapa
Morfolitológico, a análise e caracterização da vegetação, a correlação: vegetação meio
físico, e o Mapa Fitogeográfico. Por fim, são realizadas algumas observações e considerações,
constatadas durante a realização deste trabalho.
Bacia Hidrográfica do
Arroio Lajeado Grande
Lagoa Parové
Lajeado Grande
Nascente do Lajeado
Lajeado Grande
Lajeado Grande
Sanga da Cruz
Lagoa Verde
Sanga do Graxaim
w55º 40'w55º 44'
Alegrete
BR 290
BR 290
RS 377
Passo Novo
Manuel Viana
Linha Férrea
EAFA
Rio Ibicuí
Rio Ibicuí
Mapa Hidrográfico do
Rio Grande do Sul
Rosario do Sul
RS 377
Figura 1 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande (ALVES, F. S., 2008).
17
1 ESTUDOS FITOGEOGRÁFICOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
Apesar do número significativo de registros dos padres jesuítas descrevendo aspectos
da natureza sul-brasileira, considera-se que foi somente a partir do século XIX, quando o
território do atual Estado do Rio Grande do Sul passou definitivamente ao domínio Português,
que teve início o processo de investigação científica do espaço regional. Isto decorre
principalmente pela vinda da Família Real para o Brasil e o processo de colonização iniciado
nos anos seguintes.
Após a transferência da corte de D. João VI para o Rio de Janeiro (1807),
decorrente da invasão de Portugal pelas tropas Napoleônicas, a situação alterou-se
substancialmente, dando início ao período de “redescobrimento científico” do
Brasil, tarefa de uma notável plêiade de viajantes-naturalistas. É o caso dos
austríacos, alemães e italianos, aqui chegados por ocasião do casamento de Dona
Leopoldina com o príncipe herdeiro (1817), que deixaram inestimáveis
contribuições ao país e à ciência mundial (MARCHIORI, 2002. p. 20).
Dentre os muitos “viajantes-naturalistas” que deram início ao “período de
redescobrimento científico do Brasil”, destacam-se, neste trabalho, as contribuições de Karl
Friedrich Philipp von Martius, Auguste de Saint-Hilaire, Robert Avé-Lallemant, Hermann
von Ihering e Carl Axel Magnus Lindman.
Botânico alemão, Karl Friedrich Philipp von Martius percorreu grande parte do
território brasileiro entre 1817 e 1820. Projetou e organizou inicialmente a Flora Brasiliensis,
obra que, nas palavras de Marchiori (2002):
Permanece ainda hoje como a mais importante para o conhecimento das plantas
brasileiras. Dirigida pessoalmente por Martius, até sua morte, e seguida por Eichler
(até 1877) e Urban, este verdadeiro esteio de nossa Botânica Sistemática levou 66
anos para ser concluída e teve a colaboração de 65 botânicos de diversos países (38
alemães, 7 austríacos, 5 ingleses, 5 suíços, 4 franceses, 2 belgas, 2 dinamarqueses,
1 holandês e 1 húngaro), recrutados entre os mais notáveis especialistas nos
distintos grupos de plantas. Composta por 130 fascículos, reunidos em 40 volumes,
a Flora Brasiliensis encerra a descrição de 22.767 espécies, das quais cerca de
6.000 eram até então desconhecidas (MARCHIORI, 2002, p. 53).
Martius elaborou a primeira classificação fitogeográfica da flora brasileira no ano de
1824. Seu mapa fitogeográfico dividiu o país em cinco províncias e foi anexado ao volume
XXI da Flora Brasiliensis no ano de 1858 (Figura 2). Mesmo não conhecendo pessoalmente a
18
vegetação sul-brasileira, a denominou como Província Fitogeográfica Napaeae
1
, incluindo
nesta província o território dos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
Auguste de Saint-Hilaire, botânico francês que chegou ao Brasil em 1816 e em 1820
adentrou no território gaúcho, registra dados importantes sobre a vegetação rio-grandense em
sua obra “Viagem ao Rio Grande do Sul”. Dentre as muitas descrições de sua passagem pelo
oeste do Estado, Saint-Hilaire (1821, p. 116) registra que “há grande variedade de plantas ao
longo das matas que margeiam o Ibicuí, mas à medida que se distancia o número de espécies
diminui”, complementando que “a região percorrida para vir até aqui é quase chata e oferece
no momento verdejantes pastagens, a perder de vista”.
1
Termo utilizado por Martius, em referência à divindade grega protetora dos vales e dos prados - incluindo neste
caso, os campos e as matas com Araucária.
Figura 2 - Mapa Fitogeográfico do Brasil, elaborado por Karl Friedrich
Philipp von Martius, em 1858. Org.: ALVES, F. S.,2008.
19
Robert Avé-Lallemant, médico alemão, chegou ao Rio Grande do Sul no início do ano
de 1858. Mesmo não sendo um naturalista de profissão, suas contribuições são extremamente
importantes, principalmente pelo registro de areais no sudoeste do Estado e da palmeira-anã,
Butia lallemantii Deble e Marchiori
2
, na localidade de Itapevi, atual divisa entre os
municípios de Alegrete e Rosário do Sul.
Hermann von Ihering, alemão naturalizado brasileiro, chegou ao Brasil no final do ano
de 1880 e residiu no Rio Grande do Sul durante treze anos, onde realizou e publicou vários
estudos, principalmente de cunho zoológico, antropológico e botânico, dos quais se destaca o
artigo “A distribuição de campos e mattas no Brazil”.
Ao longo do século XIX, muitos naturalistas realizaram inúmeras descrições e
abordagens referentes à vegetação sul-brasileira, mas foi somente no final deste século e no
decorrer do século XX que se elaboraram os primeiros esquemas de classificação
fitogeográfica para vegetação sul-rio-grandense.
Lindman (1906)
3
, ao propor a primeira classificação fitogeográfica para o Rio Grande
do Sul, divide o Estado em duas grandes porções, sob o ponto de vista geomorfológico. O
planalto, ao norte, denominado “Cima da Serra”, foi caracterizado como uma região alta,
desigual, ondulada, com inúmeros cursos d‟água e ocupada, em sua maior extensão, por
matas, constituindo-se em uma extensão do planalto dos Estados vizinhos de Santa Catarina e
Paraná. A outra área, situada ao sul e chamada de “Campanha”, consiste em um terreno
levemente ondulado e aberto, com predomínio absoluto de vegetação campestre,
assemelhando-se às características dos países vizinhos a oeste e ao sul, respectivamente
Argentina e Uruguai.
Em um segundo momento, Lindman (1906, p. 8) afirma que o Rio Grande do Sul
encontra-se em uma zona de transição entre os dois grandes contrastes na natureza sul-
americana, “a matta virgem brasileira e os pampas argentinos”. Seu esquema de classificação
fitogeográfica, elaborado a partir de um enfoque ecológico-vegetacional, divide o Estado em
três regiões (Figura 3): a primeira, “areias movediças”, que corresponde ao litoral gaúcho; a
segunda, dita “campos”, localiza-se predominantemente na região da “Campanha”; por
último, “as mattas” situam-se principalmente na região norte, no planalto de “Cima da Serra”.
2
Espécie anteriormente citada como Butia paraguayensis (Barb. Rodr.) Bailey.
3
Carl Axel Magnus Lindman, botânico sueco que durante os anos de 1892 e 1893 investigou detalhadamente a
vegetação sul-rio-grandense, publica em 1900, na Suécia, a obra Vegetationen i Rio Grande do Sul
(Sydbrasilien)”, a qual foi traduzida para o português em 1906.
20
Em 1942, o padre e naturalista Balduíno Rambo
4
, apresenta um esquema de
classificação fitogeográfica, reconhecendo cinco “regiões fisionômicas naturais” para o
Estado: “Litoral Rio-grandense”, “Serra do Sudeste”, “Campanha do Sudoeste”, “Depressão
Central” e “Planalto”. Referindo-se especificamente aos aspectos da vegetação, Rambo
(1956) subdivide as regiões naturais em formações vegetais distintas, de acordo com as
características de cada uma delas (Figura 4).
4
Balduíno Rambo, padre jesuíta, brasileiro, doutor, professor de História Natural, publica no ano de 1942 A
Fisionomia do Rio Grande do Sul Ensaio de Monografia Naturale no ano de 1956 é publicada a segunda
edição revisada e ampliada.
Figura 3 - Mapa da Vegetação Sul-brasileira, elaborado por Lindman 1892-
1894. Org.: ALVES, F. S., 2008.
21
A partir da década de 1980, Reitz, Klein e Reis (1988)
5
estabelecem oito regiões
fitogeográficas para o Estado do Rio Grande do Sul (Figura 5): “Floresta da Encosta
Atlântica”, “Área do Sudeste (Escudo Rio-grandense)”, “Bacia do Rio Ibicuí”, “Área do
Sudoeste (Parque do Espinilho)”, “Bacia do Alto Uruguai”, “Bacia do Rio Jacuí (Depressão
Central)”, “Floresta do Planalto com presença de Araucária” e “Restinga Litorânea”.
A partir dos anos 80, foram publicados outros esquemas nacionais de classificação
fitogeográfica da vegetação brasileira, apresentando estudos detalhados para a região sul.
Dentre estes, destacam-se Veloso e Góes-Filho (1982)
6
, que propõem um sistema nacional
baseado na classificação “Fisionômica-Ecológica da Vegetação Neotropical”. Segundo os
5
Raulino Reitz, Roberto Klein e Ademir Reis publicam no ano de 1983 a primeira edição do Projeto Madeira
do Rio Grande do Sul”. Em 1988, sai a segunda edição.
6
Henrique P. Veloso e Luiz Góes-Filho, ao publicarem “Fitogeografia Brasileira. Classificação fisionômico-
ecológica da vegetação neotropical. Boletim Técnico do “Projeto Radambrasil” em 1982, apresentam um
sistema de classificação fitogeográfico para todo o país, que demorou cerca de 10 anos para ser concluído.
Figura 4 - Mapa Fitogeográfico do Rio Grande do Sul, produzido por
Balduíno Rambo, 1941-1942. Org.: ALVES, F. S., 2008.
22
autores, foram reconhecidas para o Estado do Rio Grande do Sul sete “Regiões
Fitoecológicas” e duas “Áreas Ecológicas Especiais”, sendo que as regiões estão divididas em
unidades menores, ditas “Formações”, definidas a partir de “Parâmetros fitofisionômicos”.
Seguindo este enfoque, as regiões fitoecológicas presentes no território gaúcho são:
“Savana”, “Estepe”, “Savana-Estépica”, “Floresta Ombrófila Densa”, “Floresta Estacional
Semi-decidual”, “Floresta Estacional Decidual”, “Floresta Ombrófila Mista” e as “Áreas
Ecológicas Especiais”, “Área de Tensão Ecológica” e “Área de Formações Pioneiras”.
Mais recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE e o
Ministério do Meio Ambiente MMA (2004), apresentaram a 3° versão do “Mapa de
Vegetação do Brasil”. Elaborado com base no esquema proposto pelo projeto Radambrasil,
visa reconstituir a situação da vegetação original no território brasileiro à época do
descobrimento. Para o Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a ocorrência de sete “regiões
Figura 5 - Mapa das Regiões Fitogeográficas do Estado do Rio Grande do Sul
segundo Reitz, Klein e Reis, 1988. Org.: ALVES, F, S., 2008.
23
fitoecológicas” e duas “áreas ecológicas especiais”, de acordo com o estabelecido por Veloso
e Góes-Filho (1982) (Figura 6).
Com base no Mapa da Vegetação do Brasil (2004), o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE e o Ministério do Meio Ambiente MMA elaboraram o “Mapa de
Biomas do Brasil”, utilizando como conceito de bioma “o conjunto de vida constituído pelo
agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em
uma diversidade biológica própria”. Esta proposta estabelece a existência de seis biomas para
o território brasileiro: “Bioma Amazônia”, “Bioma Cerrado”, “Bioma Caatinga”, “Bioma
Mata Atlântica”, “Bioma Pantanal” e “Bioma Pampa”. Para o Rio Grande do Sul, foram
reconhecidos apenas dois biomas: “Mata Atlântica” e “Pampa” (Figura 7). Este último
Figura 6 - Mapa da Vegetação no Rio Grande do Sul, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE, 2004, com base no Projeto Radambrasil. Org.: ALVES, F.S., 2008.
24
correspondendo praticamente ao território do “Bioma Campos Sulinos”, proposto por Arruda
(2001).
Marchiori (2002, p.7)
7
apresenta em ordem cronológica o avanço do conhecimento
fitogeográfico no Estado do Rio Grande do Sul, desde o período missioneiro até a atualidade.
Comenta que hoje existem vários esquemas de classificação, sendo estes organizados sob
critérios florísticos, vegetacionais ou ecológicos e também baseados na combinação dos
mesmos, por exemplo, ecológico-vegetacionais, vegetacional-florísticos, entre outros. No
entanto, alerta que, “A vegetação sul-rio-grandense, como em toda a parte, reflete a influência
7
José Newton Cardoso Marchiori, professor da Universidade Federal de Santa Maria, doutor em Ciências
Florestais, ao publicar Fitogeografia do Rio Grande do Sul: enfoque histórico e sistemas de classificação”, em
2002, apresenta de forma sistêmica e objetiva como se procedeu a aquisição do conhecimento fitogeográfico no
Estado. Para isto, o autor realiza uma busca de subsídios impressionante, na qual inicia sua abordagem expondo
relatos inéditos, descrições do ambiente natural, contidos em documentos históricos que remontam ao período
missioneiro dos séculos XVII e XVIII. Descreve de forma cronológica e detalhada as contribuições deixadas
pelos “viajantes-naturalistas” durante o século XIX e observa minuciosamente os esquemas fitogeográficos
propostos a partir do século XX.
Figura 7 - Mapa de Biomas do Rio Grande do Sul, produzido pelo Instituto de
Geografia e Estatística IBGE e Ministério do Meio Ambiente - MMA, 2004.
Org.: ALVES, F, S., 2008.
25
do conjunto de fatores ambientais que atuam sobre o estoque de espécies, num processo
dinâmico, por vezes de difícil compreensão”.
Ao observar o esquema de classificação da vegetação mais utilizado atualmente, o
proposto pelo Projeto Radambrasil, Marchiori (2002, p. 92) comenta que “apesar de sua
ampla utilização em publicações recentes, a minuciosa classificação proposta não esconde
algumas impropriedades terminológicas e interpretações inadequadas sobre o espaço gaúcho”
e destacando algumas situações:
A respeito das formações campestres, as designações de “Savana”, de “Estepe” e
de “Savana-Estépica” mostram-se demasiado forçadas ou artificiais no espaço
regional, sobretudo quando consideradas homólogas a vegetações brasileiras muito
distintas, como é o caso do cerrado e da Caatinga. Cabe ainda observar que
“Savana” e “Estepe” são termos fitogeográficos aplicados tradicionalmente a
realidades vegetacionais muito distintas entre si, causando estranheza o
reconhecimento das duas tipologias num espaço relativamente pequeno e
homogêneo, como é o caso das áreas campestres no Rio Grande do Sul
(MARCHIORI, 2002, p. 93).
Ao escrever sobre campos e florestas, Marchiori (2004, p. 11)
8
cita Linnaeus, Natura
in operationibus suis non facit saltun”, reafirmando que “A natureza não costuma dar saltos,
posto que a evolução da vida implica num encadeamento de transformações”, e reconhece a
co-existência, no território gaúcho, de formações campestres e formações florestais:
A vegetação do Rio Grande do Sul, composta essencialmente de campos e
florestas, encontra-se em permanente competição no espaço regional sob forte
influência de fatores ambientais, sobre tudo os climáticos, que sofreram
transformações marcantes ao longo do tempo, notadamente durante o Quaternário.”
(MARCHIORI, 2004, p. 11).
Ao admitir que campos e florestas são formações pertencentes a climas nitidamente
opostos, Marchiori (2004, p. 18), afirma que “mais do que a aspectos edáficos ou do clima
atual, a explicação para a coexistência e o limite brusco entre florestas e campos deve ser
buscada na biologia das plantas representativas dos respectivos biomas e em suas vinculações
com o relevo.”. Para isto, esclarece que:
As diferenças de comportamento entre árvores e gramíneas favorecem a
interpretação dos campos sulinos como formações relituais, por estes não disporem
de vantagens adaptativas, em relação às florestas, no vigente clima ombrófilo. O
umidecimento e aquecimento do clima, verificados no Holoceno, propiciou a
expansão florestal sobre antigas áreas campestres, tanto a partir de eventuais
8
Fitogeografia do Rio Grande do Sul: campos sulinosbusca esclarecer as diferenças terminológicas e definir
as tipologias de vegetação presentes em meio às formações campestres.
26
refúgios, sobreviventes da longa fase xerotérmica, no último período glacial
pleistocênico, como de áreas florestais situadas mais ao norte, seguindo nesse caso,
duas rotas migratórias: pela via litorânea e pelo interior do continente, ao longo dos
vales dos rios Paraná e Uruguai (MARCHIORI, 2004, p. 19).
1.1 Aspectos fitogeográficos para o oeste do Rio Grande do Sul
Apesar de não ter observado diretamente a vegetação no oeste do Rio Grande do Sul
9
,
Lindman (1906), ao propor o primeiro esquema de classificação fitogeográfica para o Estado,
caracteriza a região como pertencente à região vegetal dos “Campos”.
10
A parte sul (e oéste) do Rio Grande é, pois, especialmente um território baixo que,
sem limites naturaes proprios, é continuado nos paizes vizinhos e, como nelles,
quase que sem mattas, porque mattas continuas comparaveis ás do territorio
colonial existem sómente em alguns pontos nos declives orientaes das serras do
Herval e dos Tapes, onde se acham os ultimos avanços para o sul da grande região
florestal brasileira. No mais, predominam os campos ou pastagens naturaes que
muito participam dos do planalto, mas que nos limites sul e oéste do estado
apresentam traços de maior pobreza, maior esterilidade e de perfeita harmonia com
o caracter dos “pampas”. Pode-se, pois, affirmar com toda a segurança que no Rio
Grande encontra-se uma zona de transição entre os dois grandes contrastes da
natureza sul-americana, a matta virgem brasileira e os pampas argentinos
(LINDMAN, 1906, p.7).
Ao tratar especificamente da “Campanha do Rio Grande”, Lindman (1906, p. 64),
considera como “Campanha” toda a porção campestre abaixo do planalto. O limite norte,
dentro do Rio Grande, é, portanto, o declive do planalto ou a “frauda da serra”,
complementando que “a campanha é em geral bastante plana, especialmente no extremo sul e
sudoeste, e ao longo da Lagoa dos Patos”.
Quanto aos aspectos ecológicos da vegetação campestre, o autor comenta que esta é
predominantemente constituída por gramíneas e outras plantas herbáceas, destacando certas
particularidades encontradas na maioria das espécies, como pilosidade ou tomentosidade,
folhas coriáceas, folhas com formas ou posições modificadas, óleos essenciais com cheiro e
gosto forte, órgãos subterrâneos espessados, flores coloridas ou numerosas aglomerações
capituliformes.
9
O botânico não pode percorrer a região oeste do Rio Grande do Sul, devido à luta armada (Guerra Intestina)
desencadeada entre os partidos políticos naquele período, a partir de 1893.
10
Lindman esclarece que em lugar do nome savana, que nunca se houve no Brasil, Paraguai, Uruguai ou na
Argentina, usa como toda população indígena o termo “campos” para referir-se à região com vegetação
predominantemente campestre.
27
Este conjunto de caracteres confere à vegetação um aspecto xerófilo. Mesmo não
considerando a região dos campos como uma região xerofítica, Lindman (1906, p. 168),
afirma que “o que em todo o caso não pode ser contestado é que os campos sul-brasileiros
mostram uma predominância de modificações xerophilas, quer na planta em sua totalidade,
quer em certas partes do systema vegetativo”.
Ao caracterizar fisionomicamente a região dos campos, observa que estes
indiscutivelmente predominam. Entretanto, apresentam em meio a seu domínio agrupamentos
florestais, que muitas vezes formam “Capões”, isto é, fragmentos florestais de tamanhos
diversos, distribuídos esparsamente pelas áreas campestres, “Matas de anteparo”,
agrupamento florestal associado aos cursos d‟água e, também, “Matinhas” ou “Matta
Paludosa”, formações florestais baixas e ralas, muito comuns na região sul do Estado. Como
complemento, o autor afirma que:
Os campos do Rio Grande, pelo que pude ver, nunca o exclusivamente campos
arbustivos, prados, pastagens, gramados, esteppes ou, em outros termos, nunca são
completamente destituidos de arvores. Seria certamente difficil encontrar uma
milha quadrada em que não entrasse na paizagem um grupo de arvores ou uma
parte florestal (LINDMAN, 1906, p. 115).
A ocorrência de campos com formações vegetais na maior parte adaptados ao clima
seco e de agrupamentos florestais com espécies adaptadas ao clima úmido, dentro de um
espaço tão reduzido, fez com que Lindman (1906, p. 306) se perguntasse: “Si o clima do Rio
Grande é favorável à vegetação florestal, porque cessam as mattas, bruscamente limitadas,
apezar de que nem o clima nem o solo as impedem?”. O autor deixou sua interpretação:
Para a solução deste enigma fica-se quase reduzido a admitir que a vegetação
nestas regiões de mistura do Brasil do sul ainda se acha n‟um estado preparatório,
que os campos ainda em grande parte vegetam n‟um “clima florestal” moderado,
até que a rede das mattas ao longo dos cursos d‟agua tenha tempo para estender-se
sobre uma área maior do paiz... (LINDMAN, 1906, p. 307).
Marchiori (2004, p.16.) comenta que “os campos nativos foram interpretados por
Lindman como relíctos de climas pretéritos mais secos do que o atual, hipótese hoje
amplamente fundamentada em registros palinológicos do final do Pleistoceno e início do
Holoceno”.
Ao tratar especificamente da vegetação presente na região natural da “Campanha do
Sudoeste”, Rambo (1956) comenta que esta apresenta caracteres peculiares e deve ser
estudada, principalmente, sob dois aspectos: a estrutura da flora e suas formas de distribuição.
28
De todas as regiões naturais do Rio Grande do Sul, a Campanha do Sudoeste é a
que mais ostenta o caráter do campo sul-brasileiro, pois a vegetação silvática só na
borda setentrional chega a se constituir em mata virgem, deixando todo o resto á
flora graminácea, sulcada de tênues cordões de galeria RAMBO (1956, p. 122).
Quanto aos aspectos da flora campestre, Rambo (1956), seguindo a mesma abordagem
de Lindman (1906), diz que estas apresentam um grande número de adaptações, incluindo:
denso revestimento de pilosidade; folhas coriáceas; redução de superfície transpiradora;
órgãos subterrâneos espessos; inflorescências muito unidas, capítulos, glomérulos, calatídios
e espigas condensadas; e presença de óleos voláteis com forte cheiro, nas espécies rasteiras,
subarbustivas e arborescentes.
Referindo-se às formas de distribuição da vegetação natural na campanha do sudoeste,
Rambo (1956, p. 126) afirma, de antemão, que “o caráter peculiar da distribuição é a
predominância absoluta do campo gramináceo, em comparação com o qual as outras
formações quase desaparecem na fisionomia da paisagem”. Mas a vegetação da campanha do
sudoeste pode apresentar-se em nove tipos de formações distintas, sendo estas: a “mata
virgem”, presente exclusivamente em uma faixa no limite norte da campanha; os “capões
naturais” ou “ilhotes de vegetação silvática”, intimamente associados a fontes ou trechos de
solos mais profundos, mais raros em direção ao extremo oeste; a “mata arbustiva”, quase
inexistente nos divisores d‟água, mais ao sul da região, mas nas baixadas das demais, os
arbustos começam timidamente a surgir e guarnecer as ribanceiras, avolumando-se até
formar os anteparos; os “cordões de galeria”, consistentes em formações arbóreas restritas às
margens dos cursos d‟água ou zonas de inundação, e compostos por numerosos exemplares
da flora rio-grandense; a “mata palustre”, na maioria dos casos intimamente associada às
matas de galeria, mas sem formar sociedades fechadas, em outros casos aparecem associadas
as grandes lagoas, formando uma espécie de parque palustre, onde em geral indivíduos de
corticeira-do-banhado são separados por extensos juncais; a “vegetação dos tabuleiros de
arenito”, que se desenvolve junto aos morros de arenito, de ocorrência regular em parte da
campanha; os “vassourais”, formados por uma vegetação arbustiva, constituída
essencialmente por Compostas (Asteraceae) de coloração parda, que se espalham sobre
grandes extensões; o “Parque Espinilho”, limitado ao extremo sudoeste do Estado, que
representa uma invasão das formações de parque das províncias argentinas de Corrientes e
Entre-Rios, representados principalmente por duas espécies de leguminosas, o algarrobo
11
11
Trata-se, em verdade, de Prosopis nigra.
29
(Prosopis algarrobilla)
12
e o inhanduvaí (Acacia farnesiana)
13
, deixando o restante a uma
vegetação predominante de gramíneas e outras plantas xerófilas; e, por fim, os “Campos”,
formação predominante na campanha do sudoeste, que se apresenta com muitas variações,
podendo ser observado que:
Constituído essencialmente pelas famílias das gramíneas, compostas e
leguminosas, as diferenciações do seu solo ocasionam tal variedade de formações
locais, que seria empresa balbada tentar uma descrição pormenorizada. a
grandes traços é possível delinear os seus aspectos mais importantes. No topo plano
dos tabuleiros, o tapete campestre é baixíssimo e paupérrimo em espécies; no dorso
das coxilhas, é uniforme, quase sempre cerrado; nos flancos, é rasgado pelos sulcos
das enxurradas e os valos dos cursos de água; nas baixadas, tanto nas pequenas
entre as coxilhas como nas vastas planícies ribeirinhas dos grandes rios, é alto,
muito fechado, entremeado de arbustos e grupos de árvores, com transição para
mata palustre e o juncal pantanoso RAMBO (1956, p. 129).
O Projeto Radambrasil (1982) propõe para a região campestre do Rio Grande do Sul a
ocorrência de três regiões Fitoecológicas: “Savana”, “Estepe” e “Savana Estépica”.
Para a região de “Savana” foram consideradas as formações campestres, muitas vezes
intercaladas por árvores isoladas, capões de mata nativa e matas galeria. Estas condições
permitiram que esta região fosse subdividida em três formações distintas, seguindo
parâmetros fitofisionômicos: Arbórea Aberta, Parque e Gramíneo-Lenhosa, todas
apresentando formações ciliares. A Savana Arbórea Aberta compreende, em grande parte, a
região do Escudo Sul-Rio-Grandense, com sua vegetação típica apresentando aglomerados
arbóreos. A Savana Parque ocorre em duas áreas distintas: os Campos de Cima da Serra e
parte do Escudo Sul-Rio-Grandense, reunindo elementos da Floresta Estacional e da Floresta
Ombrófila Mista, respectivamente. A Savana Gramíneo-Lenhosa ocorre junto ao Planalto das
Araucárias e em parte na região do Escudo, caracterizada sempre pela presença predominante
de gramíneas.
Na região de “Estepe”, compreendendo a área do Planalto da Campanha e as
depressões do rio Negro e Ibicuí, ao sul e oeste do Estado, são reconhecidas duas unidades:
Estepe Parque e Estepe Gramíneo-Lenhosa. Na Estepe Parque, localizada no extremo
sudoeste do Estado, os elementos arbóreos são mais freqüentes, ao passo que na Estepe
Gramíneo-Lenhosa, os elementos arbóreos ocorrem em freqüências menores, restringindo-se
a regiões mais protegidas e terrenos mais acidentados.
12
Atualmente referido como Prosopis affinis.
13
Equívoco de Rambo: o inhanduvaí é Prosopis affinis; Acacia caven (e não Acacia farnesiana) é o espinilho.
30
A “Savana Estépica” situa-se na região da Campanha Gaúcha e apresenta, sob o ponto
de vista fisionômico, as formações Gramíneo-Lenhosa, Parque e Arbórea Aberta. Como
indicado em seu nome, constitui uma área de transição entre as regiões da Savana e da Estepe.
Reitz, Klein e Reis (1988), ao dividir o Estado em oito regiões fitogeográficas,
identificam a ocorrência de duas destas para a região oeste: a “Bacia do Rio Ibicuí” e o
“Parque Espinilho”. Os autores comentam que a “Bacia do Rio Ibicuí” consiste em áreas de
contato entre florestas e campos, predominando a floresta nas partes mais baixas e mais
próximas aos rios, compondo matas de galeria, enquanto que nos divisores de água,
predomina a vegetação campestre.
Recentemente Marchiori (2004), reafirmando as interpretações de Lindman (1906) e
Rambo (1956), comenta sobre a dinâmica de campos e florestas no Estado do Rio Grande do
Sul. Os campos sul-rio-grandenses foram por ele interpretados como formações relituais de
um clima pleistocênico mais frio e seco, observando que, a partir da última mudança
climática (PleistocenoHoloceno), houve modificações marcantes na composição florística e
estrutural das formações campestres, provenientes, principalmente, da maior umidificação e
elevação da temperatura.
Em um segundo momento, analisa criteriosamente as diferentes terminologias
fitogeográficas de “Estepe”, “Savana”, “Savana Estépica” e Pradaria”, adotadas para
designar a vegetação predominantemente campestre ocorrente tanto na região da campanha
quanto no planalto gaúcho. Considera que nenhuma destas se fundamenta na interpretação
real da natureza dos campos nativos e suas respectivas formações, tornando-se, de certo
modo, inadequadas ao espaço regional e forçadas ao encontro de uma terminologia
fitogeográfica internacional. Sendo assim, adota com toda convicção o termo “Campos”, para
designar as áreas constituídas essencialmente por formações campestres entremeadas de
florestas ciliares, capões-de-mato, árvores isoladas e ou arbustos lenhosos, de modo a formar
diferentes tipologias de vegetação.
Na ausência de sólido embasamento, parece preferível a denominação tradicional
campos -, como proposto originalmente por Lindman e adotado por eminentes
estudiosos da vegetação sul-brasileira, incluindo Balduíno Rambo (MARCHIORI,
2004, p. 48).
Ao considerar que os campos ocupam grande extensão territorial no espaço gaúcho e
apresentam um conjunto de aspectos florísticos e vegetacionais próprios, oferecendo-lhes
características peculiares, Marchiori (2004, p. 50) propõe para estes a classificação
31
fitogeográfica de “Província dos Campos Sulinos” e destaca que em uma província ocorrem,
normalmente, feições morfológicas e condições ecológicas variadas, por vezes muito
distintas, tornando necessário o esclarecimento dos conceitos de „província‟ e „bioma‟, com
vistas à consistência do embasamento fitogeográfico”. Para isso, esclarece que:
Quando se fala no “bioma dos Campos Sulinos”, por exemplo, quer se referir,
especificamente, a um tipo de ecossistema terrestre que ocupa grande extensão no
Rio Grande do Sul, apresentando características ecológicas bem mais uniformes e
marcantes do que o compreendido pela província de mesmo nome. O bioma dos
Campos Sulinos, em outras palavras, corresponde aos campos ou pradarias
propriamente ditas, encontradas no sul do Brasil e áreas adjacentes. Extremamente
abrangente, o conceito de província pode englobar ecossistemas muito distintos
entre si, sejam eles terrestres, paludosos, lacustres, fluviais, de pequenas ou de
grandes altitudes, etc. Nem toda a vegetação ocorrente na província dos Campos
Sulinos, por exemplo, pertence, verdadeiramente, ao bioma de mesmo nome: é o
caso das florestas-de-galeria, que acompanham os vales úmidos dos rios, do parque
espinilho, dos capões e parques com pau-ferro, bem como dos demais capões e
manchas florestais associadas a encostas de montanhas ou isoladas na paisagem
campestre (MARCHIORI, 2004, p.50).
Marchiori (2004), ao utilizar estes conceitos para os termos “província” e “bioma”,
considera que a presença do “elemento fanerofítico”
14
em meio as formações campestres é o
principal agente diferenciador fisionômico dos campos nativos e reconhece, a partir deste, a
existência de distintos biomas na Província dos Campos Sulinos.
Para o oeste do Rio Grande do Sul, entre outros biomas, reconhece a ocorrência de
“Floresta de galeria”, também dita mata ciliar: são “formações silváticas associadas à margem
de rios e outros cursos d‟água”, formando uma espécie de faixa longitudinal, com largura e
composição florística variável, de acordo com as características particulares de cada habitat.
Os “Capões”, por sua vez, correspondem a “ilhas de vegetação silvática dispersas em áreas
campestres”, que geralmente se formam em locais favorecidos pela umidade, como “nas
canhadas das coxilhas e encostas de cerros, tais núcleos de vegetação silvática usualmente
estabelecem transição gradual para o campo limpo, mediante a formação de um anel
periférico de arvoretas e arbustos, de origem chaquenha, pampeana ou andina”. Os “Capões e
Parques com pau-ferro”, localizados na região das Missões e áreas adjacentes, constituem-se
em “núcleos silváticos mesclados a formações campestres”, geralmente associados a locais
pedregosos, com a presença característica do pau-ferro (Myracrodruon balansae (Engl.)
Santin)
15
e outras espécies de origem chaquenha. O “Parque Espinilho”, restrito ao extremo
14
O elemento fanerofítico consiste em uma das seis categorias fundamentais de plantas, criadas por Raunkiaer, com base na
posição das gemas foliares durante a estação desfavorável ao crescimento, reunindo plantas com gemas dispostas a mais de
25 cm sobre o nível do solo.
15
Espécie anteriormente citada como Astronium balansae Engl.
32
sudoeste do Estado, tem vegetação com fisionomia de Parque, organizada em dois estratos
distintos: um arbóreo e outro herbáceo-arbustivo. Os “Palmares de butiá-anão”, distribuídos
pelos campos arenosos da bacia do rio Ibicuí, são caracterizados, principalmente, pela
presença do Butia lallemantii Deble e Marchiori. Tais palmares, “constituem uma das
vegetações mais interessantes do sudoeste gaúcho sob os pontos de vista fisionômico e
florístico, contribuindo para a elucidação de pontos obscuros da terminologia fitogeográfica
regional”. Os “Vassourais e Chircais”, presentes com maior freqüência na região sudeste,
reúnem principalmente espécies arbustivas que se distribuem pela periferia dos capões e áreas
florestais, formando capoeiras.
O autor destaca, ainda, a presença de “Árvores solitárias”, que consistem na presença
significativa de elementos arbóreos, distribuídos de forma isolada ou em pequenos grupos em
meio à vegetação campestre; e as “Fanerófitas invasoras”, introduzidas involuntariamente
pelo homem, ou disseminadas pelo cultivo, podendo ocorrer em todas as regiões do Estado,
mas restritas a áreas perturbadas.
Mesmo sem consenso na terminologia fitogeográfica do Estado, entende-se que todas
as contribuições à Fitogeografia do Rio Grande do Sul são válidas e de extrema importância,
pois revelam informações de diferentes óticas, obtidas em diferentes épocas, servindo como
fundamento a novas propostas de estudos, com vistas à compreensão e ao entendimento de
como se procedeu a ocupação e a distribuição da vegetação nativa no território sul-rio-
grandense.
33
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Localizada no oeste do Rio Grande do Sul, a área de estudo insere-se na bacia
hidrográfica do rio Ibicuí, numa região marcada pela ocorrência de importantes processos
erosivos, caracterizados pelo desenvolvimento de ravinas, voçorocas e formação de areais.
Neste item são apresentadas, de modo sistêmico, as características gerais da área em estudo.
2.1 Geomorfologia e relevo
Seguindo a proposição de Müller Filho (1970) para a geomorfologia do Rio Grande do
Sul, a bacia hidrografia do arroio Lajeado Grande encontra-se entre a Depressão Periférica e o
Planalto, onde se insere na unidade geomorfológica denominada Cuesta de Haedo”, mais
precisamente no seu front.
A Cuesta de Haedo é a definição de uma unidade particular no grande conjunto
geomorfológico. Embora litologicamente se assemelhe ao Planalto, apresenta diferenças
altimétricas, estruturais e de drenagem, que permitem sua distinção. Tal unidade apresenta
litologia típica do triássico superior, arenito botucatu e basalto, caracterizando-se com um
relevo homoclinal dissimétrico com front voltado para leste, e cujo reverso suave decai em
direção ao Rio Uruguai. a Depressão Periférica se caracteriza pelas declividades amenas e
as ondulações do relevo, apresentando, de modo muito característico, amplas planícies
aluviais e extensas colinas sedimentares.
Paula e Robaina (2006) comentam que, quanto ao aspecto do relevo, esta área,
apresenta baixa energia, destacando-se as formas mamelonares, conhecidas regionalmente por
coxilhas, e morrotes de forma tabular, conhecidos como cerros. As amplitudes das vertentes
são inferiores a 100 metros e as declividades mais freqüentes ocorrem entre o intervalo de 4%
a 8%.
Em complemento, Ab‟Saber (1970, p.), observa que as coxilhas são “expressão de
grande significação morfoclimática, pois traduz os efeitos mamelonares dos processos
subtropicais úmidos que, por último, agiram na fisionomia do relevo regional”.
34
2.2 Geologia
De acordo com mapa geológico do Estado, elaborado por Carraro (1974), a área em
estudo situa-se sobre a província arenítico-basáltica, onde as rochas encontradas são
principalmente vulcânicas e sedimentares. As rochas vulcânicas constituem a Formação
Serra Geral e são formadas por derrames originários do vulcanismo fissural, ocorrido na bacia
do Paraná durante a Era Mesozóica. As seqüências sedimentares, por sua vez, foram
mapeadas inicialmente por Carraro et al (1974) e posteriormente por Santos et al (1986),
como pertencentes à Formação Botucatu.
Mais recentemente, Scherer et al. (2002) definem algumas seqüências de arenitos
finos e conglomeráticos de origem fluvial como pertencentes à Formação Guará, de idade
Mesozóica, provavelmente com sedimentação no final do Jurássico. Esta formação pode
aflorar na região oeste da Depressão Periférica, em uma faixa que se estende desde o
município de Jaguari até o município de Santana do Livramento.
Em estudo realizado especificamente na bacia do Lajeado Grande, Paula e Robaina
(2006) determinaram a presença de arenitos eólicos da Formação Botucatu, de rochas
vulcânicas da Formação Serra Geral e também a ocorrência de arenitos fluviais da Formação
Guará e arenitos/siltitos da Formação Sanga do Cabral, ocorrendo na base do arenito Guará
em contato discordante.
2.3 Clima
O clima em todo o sudoeste do Rio Grande do Sul é definido, por Ab‟ Saber (1970) e
por Nimer (1977), como subtropical e descrito como mesotérmico brando super-úmido,
caracterizado pela presença de invernos frios, verões quentes e inexistência de estação seca.
As precipitações anuais indicam que a região possui condições de umidade que ultrapassam
os valores anuais de climas áridos, com médias superiores a 1.400 mm, enquanto uma zona
árida é definida por precipitações inferiores a 200 mm anuais. As chuvas ocorrem o ano todo,
predominando períodos super-úmidos, com pequenos períodos úmidos ou de estiagens. A
temperatura média, no inverno, é de 14,3° C, e de 26,3° C no verão.
35
De acordo com Cabral e Maciel Filho (1991), os ventos de sudoeste, predominantes
nesta região, ocorrem com velocidade média de 2m/s durante os meses de julho, agosto e
setembro. Todavia, podem ocorrer ventanias frias, o dito “vento minuano”.
Segundo Berlato e Fontana (2003), o Estado do Rio Grande do Sul sofre importante
influência dos fenômenos El Nino e La Niña. Tais fenômenos, que historicamente ocorrem
em alternância com períodos neutros, provocam alterações na circulação atmosférica regional,
influenciando diretamente nos valores hídricos e térmicos, o que resulta em períodos bem
marcados por estiagens e ou muita precipitação.
O El Niño caracteriza-se por abundantes precipitações pluviais, superiores à média,
concentrando as chuvas principalmente na primavera e no início do verão, no ano inicial do
fenômeno, com repique ao fim do outono e início do inverno do ano seguinte. As
temperaturas, durante El niño, apresentam forte tendência a superar as médias mínimas dos
anos neutros, especialmente no outono e início do inverno. Quando em La Niña, as frentes
frias têm passagem rápida, com tendência de diminuir significativamente a ocorrência de
chuvas, deixando a precipitação pluvial abaixo da média, especialmente na primavera do ano
de início, com repique no outono e início do inverno do ano seguinte. Sob influência deste
fenômeno, as temperaturas ficam abaixo da média mínima, principalmente na estação
primaveril (outubro e novembro), quando as anomalias negativas chegam atingir 1,5° C de
diferença.
Berlato e Fontana (2003) ainda observam que, tanto em El Niño como em La Niña, a
alteração mais expressiva na temperatura se na média mínima, com desvios iguais ou até
maiores que 1°C, em vários meses do ano. Nas médias máximas, esses desvios, na maioria
dos meses, não passam de 0,5°C.
2.4 Solos
Com base no Mapa de Solos do Rio Grande do Sul, elaborado por Brasil (1973) e
atualizado por Streck et al. (2002), com escala 1:750. 000, foram identificados as seguintes
classes de solos para a região da bacia do arroio Lajeado Grande: Latossolos Vermelho-
Escuro textura argilosa (LE) e textura média (Lem); Argissolo Vermelho-Escuro textura
argilosa (PE) e média/grossa (PEm); Cambissolos (C); Planossolos; Gleissolos e Neossolos
Quartzarênicos (NQ).
36
Em complemento, Paula e Robaina (2006) destacam a ocorrência de afloramentos
rochosos e areais. Os Afloramentos Rochosos (Af) surgem geralmente na meia encosta de
colinas, sendo formados principalmente por rochas areníticas, com maior coesão, devido à
ocorrência de cimentos ferruginosos e silicosos. Os areais (A) constituem áreas degradadas,
sujeitas à erosão eólica e hídrica, ocorrendo geralmente em forma de núcleos.
Klamt e Schneider (1995) explicam que os Latossolos desta região são profundos,
bem drenados, friáveis, ácidos, com teores baixos e médios de matéria orgânica. Duas
unidades de Latossolos Vermelho-Escuro ocorrem na região, uma de textura argilosa (LE),
formada a partir da alteração do basalto da Formação Serra Geral, e a outra de textura média
(Lem), originária do arenito Botucatu.
Os Argissolos ocorrem associados ao substrato arenítico e vulcânico. Diferenciam-se
dos latossolos por apresentarem gradiente textural, ou seja, incremento no teor de argila em
profundidade, porém similares nas demais características. São solos frágeis muito suscetíveis
aos processos erosivos. a associação Cambissolos (C) - Solos Litólicos, oriundos de rocha
vulcânica, ocorrem em áreas mais dissecadas, apresentando pedregosidade e pouca
profundidade.
Os Planossolos e Gleissolos apresentam gradiente textural abrupto entre os horizontes
superficiais e sub-superficiais, profundidade média e drenagem imperfeita. Os Neossolos
Quartzarênicos (NQ), originados a partir da alteração de arenitos, são profundos e
excessivamente drenados, de textura arenosa à franca em todo o perfil e com baixa
consistência. Apresentam baixos teores de matéria orgânica, pequena capacidade de retenção
de umidade e cobertura vegetal rarefeita, o que os torna suscetíveis à erosão hídrica e eólica.
Para Streck et al (2002), os Gleissolos são pouco profundos, muito mal drenados e de
cor acinzentada ou preta. São aptos para o cultivo de arroz irrigado e, quando drenados,
tornam-se aptos a outras culturas. Quanto aos Neossolos, de formação muito recente, comenta
que podem ser rasos ou profundos e não devem ser sobrecarregados no uso, pois podem
facilmente desenvolver processos erosivos.
2.5 Uso e ocupação do solo
Como praticamente em todo o oeste e sudoeste do Estado, o uso e a ocupação do solo
no município de Alegrete estão historicamente associados à prática da pecuária e agricultura.
37
A mais antiga atividade de produção instalada na região é a pecuária, que remonta ao
período missioneiro (séculos XVII e XVIII). A partir dos anos 40 e 50, do século XX,
todavia, grande parte das propriedades rurais começou a intensificar as atividades agrícolas,
inicialmente com utilização de instrumentos movidos à tração animal.
Somente a partir dos anos 60 e 70 é que surgiram incentivos e financiamentos por
parte do governo, visando aumentar a produção agrícola, principalmente de soja. Desde então,
a agricultura tornou-se mecanizada, utilizando maquinários agrícolas e produtos químicos
importados, com a finalidade de aumentar a produtividade. Este período, conhecido como o
“ciclo do soja”, resultou no endividamento e na falência econômica de muitos produtores
rurais, bem como no desenvolvimento de sérios problemas ambientais, em sua maioria
decorrentes de processos erosivos.
Atualmente, a agricultura e a pecuária, mesmo com modificações, ainda permanecem
consorciadas nas propriedades rurais da região, caracterizando o que se chama atividade
agropecuária.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2006), a pecuária no
município de Alegrete ainda se baseia na criação de bovinos, ovinos e eqüinos, compondo um
rebanho de aproximadamente 540.000 cabeças. Na agricultura, destaca-se a produção de
arroz, embora outros produtos, como milho, soja, trigo, mandioca, batata, melancia, hortaliças
e outros, também mereçam destaque.
De acordo com Prefeitura Municipal de Alegrete (2008), os principais produtos
agrícolas do município são: arroz, milho, soja, melancia, mandioca, trigo, batata, melão,
abóbora e hortifrutigranjeiros, além de pastagens forrageiras, como aveia, azevém, braquiária
e milheto, cultivadas em períodos de entressafras, para a utilização na pecuária como áreas de
pastejo. A Prefeitura Municipal também informa que a silvicultura, atividade antes restrita a
pequenos bosques de eucaliptos para uso da propriedade, ou utilizada como barreiras de
contenção em áreas erodidas, surge, hoje, como uma nova proposta de produção para o
município e já apresenta mais de dez mil hectares plantados.
2.6 Vegetação
De acordo com o primeiro mapa fitogeográfico do Estado, exposto por Lindman
(1906), a bacia do arroio Lajeado Grande insere-se na região dos Campos, onde apresenta
38
uma vegetação predominantemente campestre, constituída principalmente por gramíneas e
algumas herbáceas. Ao destacar a presença de caracteres xerófilos na vegetação destes
campos, o autor observa que a região não é puramente campestre, sendo comum a presença de
elementos arbóreo-arbustivos em certas situações.
Neste mesmo sentido, Rambo (1956) reconhece o predomínio absoluto dos campos
em relação a outras tipologias de vegetação e frisa que quanto mais em direção oeste, tal
situação torna-se mais visível.
Seguindo a proposta do Projeto Radambrasil (1982), esta área insere-se na região de
Savana-Estépica, por situar-se especificamente na região de transição entre Savana e Estepe,
apresentando um conjunto florístico diversificado.
Com base no esquema de Reitz, Klein e Reis (1988), esta bacia localiza-se nas áreas
de contato entre florestas e campos, predominando as matas de galeria mais próximas aos rios
e a vegetação campestre nos divisores de água.
Marchiori (2004), ao considerar que os campos ocupam grande extensão territorial no
espaço gaúcho e apresentam um conjunto de aspectos florísticos e vegetacionais próprios,
propõe, para estes, a designação fitogeográfica de “Província dos Campos Sulinos”.
Esclarecendo que a presença do elemento fanerofítico, em meio às formações campestres, é o
principal diferenciador fisionômico, reconhecendo a existência de distintas tipologias da
vegetação.
Reconhecida praticamente de forma consensual entre pesquisadores como uma região
predominantemente campestre, constituída principalmente por gramíneas, herbáceas, mas
nunca totalmente desprovida de elementos arbóreos ou arbustivos, esta vegetação recebe
terminologias diferentes, conforme o tipo de abordagem.
Atualmente, grande parte da vegetação nativa vem sendo retirada e substituída por
áreas agrícolas ou florestas plantadas, o que, em certos locais, descaracteriza completamente a
paisagem natural. Mesmo assim, Marchiori (1995) afirma que, embora substancialmente
alteradas na atualidade, as paisagens do Rio Grande do Sul ainda permitem reconhecer com
bastante precisão o seu estado original, tal como foi encontrado pelos primeiros europeus.
39
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho, desenvolvido na Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande,
iniciou com a realização de um intenso levantamento bibliográfico, na busca de informações
específicas ao tema abordado, bem como orientação teórico-metodológica, com a finalidade
de embasar teoricamente o estudo e organizar os procedimentos operacionais. Cabe ressaltar
que este levantamento foi realizado de forma contínua, paralelamente ao andamento do
trabalho, servindo de apoio durante a execução de cada procedimento e contribuindo no
desenvolvimento sistêmico das atividades, fazendo com que fossem gradualmente alcançados
todos os objetivos propostos.
Por tratar-se de uma abordagem fitogeográfica interdisciplinar, que exige conceitos e
métodos de áreas distintas, os procedimentos metodológicos foram divididos em três etapas.
A primeira consistiu na análise e mapeamento do meio físico; a segunda centrou-se na
análise, na interpretação e no mapeamento da vegetação nativa; a terceira, no cruzamento de
informações e na elaboração do mapa fitogeográfico.
A seqüência de procedimentos e etapas desenvolvidos para a realização do presente
estudo fitogeográfico encontra-se representada, de modo sintético, no fluxograma exposto na
Figura 8.
3.1 Análise do meio físico
Estes estudos são realizados a partir da unidade “bacia hidrográfica”, considerada por
Botelho (1998) uma célula natural onde é possível reconhecer e estudar as inter-relações
existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos que atuam na sua
esculturação. O processo de análise do meio físico baseou-se na possibilidade de dividir a
área em unidades, em função de suas características geológicas e geomorfológicas.
Para isto, utilizaram-se como bases metodológicas a proposta de Trentin e Robaina
(2005), para Mapeamento Geoambiental no Oeste do Rio Grande do Sul; os procedimentos de
Paula e Robaina (2001 & 2006), para os mapeamentos geológico-geomorfológicos de bacias
hidrográficas; bem como as concepções de Lollo (1996 e 1998), para a análise e a
diferenciação das formas do relevo landforms; as orientações de Rodrigues e Pejon (1998),
40
sobre os elementos que constituem as landforms; e as abordagens do IPT
16
, utilizadas na
elaboração de cartas de atributos ou parâmetros.
Segundo as observações de Lollo (1996), o terreno pode ser avaliado sob o enfoque da
paisagem e o enfoque paramétrico. Sendo que o enfoque da paisagem consiste na delimitação
de diferentes feições do terreno, com base no conjunto de observações fotointerpretativas e
visualizadas em campo. Enquanto o enfoque paramétrico visa praticamente o mesmo
objetivo, contudo, faz a delimitação por intermédio da medida de parâmetros representativos
da geometria das landforms, tais como extensão, altitude e declividade, entre outros.
16
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Abordagem metodológica utilizada na elaboração de
cartas de atributos ou parâmetros, pela qual avalia as características geotécnicas e/ou geológicas do terreno.
Interpretação de
mapas e imagens
Análise
Hidrográfica
Trabalhos de Campo
Análise
do Relevo
Mapa Fitogeográfico
Levantamento
Bibliográfico e
Cartográfico
Identificação
das litologias e
solos
Levantamento
Florístico
Mapa
Morfolitológico
Análise da
Vegetação
Georreferenciamento da
Bacia Hidrográfica e
análise das Cartas
Topográficas
Figura 8 - Fluxograma demonstrando de forma sistêmica a seqüência de procedimentos e etapas
desenvolvidas. Org.: ALVES, F. S., 2008.
41
A proposta de Trentin e Robaina (2005), elaborada principalmente com base na
metodologia PUCE
17
, na sistemática ZERMOS
18
, nas abordagens do IPT, nos trabalhos de
Suertegaray (1995 e 2001) e Verdum (1993 e 1997), traz também as concepções de Ross
(1992) e Lollo (1996) para análise das formas do terreno e esclarece que o processo de
mapeamento tem como rotina fundamental a divisão da área em unidades, de acordo com a
variação de seus parâmetros.
Frente a estas orientações metodológicas, os trabalhos iniciaram com a definição dos
limites da bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande, utilizando como base cartográfica as
cartas topográficas da Diretoria do Serviço Geográfico DSG do Exército Brasileiro, Passo
Novo: SH.21-X-C-VI-2, Manuel Viana: SH.21-X-D-IV-1, Rincão dos Costa Leite: SH.21-X-
D-IV-3 e Arroio Caverá: SH.21-X-C-VI-4, disponíveis em escala 1:50.000.
Em seqüência, o polígono que delimita a bacia em estudo, bem como as informações
contidas nas cartas topográficas, referentes à hidrografia, ao relevo, entre outros, foram
georreferenciados e digitalizados, utilizando-se o software GPS TrackMaker Professional
GTM PRO, versão 4.1, desenvolvido por Odilon Ferreira Júnior, gerando, a partir daí, um
“mapa base” de informações.
Com este “mapa base” e o auxílio de imagens de satélite, ETM LANDSAT e Google
Earth, a rede de drenagem foi digitalizada por completo e analisada através do levantamento
de dados morfométricos, identificando, assim, o padrão de drenagem, a hierarquia fluvial, a
densidade e a forma.
Tendo como estrutura a malha hidrográfica e as curvas de nível digitalizadas no “mapa
base” e as imagens de satélite, iniciou-se a análise das características do relevo - análise
geomorfológica, a partir do levantamento de índices morfométricos como, altitude, amplitude,
comprimento de rampa e declividade. Para a definição e a classificação das principais formas
de relevo, foi utilizada como base a proposição do IPT (1981) (Figura 9).
Nos trabalhos de campo, as interpretações feitas a priori foram confirmadas e/ou
corrigidas em detalhe, através da realização de perfis de campo, concluindo, assim, a
identificação e a definição das unidades de relevo existentes na bacia do arroio Lajeado
Grande.
Iniciada também em laboratório, através da interpretação de imagens de satélite e dos
mapas geológicos-geomorfológicos produzidos anteriormente por Paula e Robaina (2006), a
17
PUCE (Pattern, Unit, Component, Evaluation): utilizada nos Estados Unidos e na Suíça, esta metodologia é centrada na
divisão da área em classes, a partir de características geológicas-geomorfológicas, do uso do solo, e geotécnicas.
18
ZERMOS (Zonas Expostas ao Movimento de Solos): Sistemática de Cartas adotadas pelo Serviço Geológico Francês.
42
caracterização da litologia e dos solos presentes nas unidades de relevo previamente definidas
desenvolveu-se a partir de observações e descrições em campo.
Realizados através de perfis ao longo da área da bacia, os estudos litológicos foram
feitos mediante a análise “in loco” de afloramentos rochosos, descrições detalhadas, coleta de
amostras petrográficas e registro dos principais tipos de solos derivados. Todos os pontos de
amostragem foram registrados pelo aparelho de posicionamento global GPS, tornando
possível localizar com precisão as áreas amostradas e organizar o processo de mapeamento.
Posteriormente, em laboratório, todas as informações levantadas foram compiladas e
somadas, resultando, assim, na definição e caracterização das unidades geológico-
geomorfológicas existentes na bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande.
Consequentemente, com o uso do software GTM PRO para a integração dos dados e do
software Corel DRAW 12
19
para a edição gráfica, foi elaborado o Mapa Morfolitológico, com
a localização e definição das distintas unidades de relevo e seus respectivos substratos.
3.2 Análise da vegetação
Para a análise florística nas distintas tipologias de vegetação nativa utilizou-se, como
referência metodológica, a proposta de Durigan (2006) para a amostragem da vegetação, a
partir da definição de “pontos amostrais”.
19
Software desenvolvido pela Corel Corporation, 2003.
Amplitude Local
Gradiente Predominante
Formas de Relevo
< 100m
< 5%
Rampa
5% a 15%
Colina
> 15%
Morrote
100m a 300m
5% a 15%
Morro com encosta suave
>15%
Morro
Figura 9 - Quadro com a classificação dos tipos de relevo, segundo o IPT (1981). Esquema
adaptado do modelo original exposto por FENDRICH (1998). Org.: ALVES, F. S., 2008.
43
Tendo como base geográfica o mapa morfolitológico e com o objetivo de estudar não
a composição, mas também a distribuição geográfica da vegetação, o levantamento
florístico iniciou através do percorrimento por toda a bacia hidrográfica e a seleção de
unidades morfolitológicas que apresentam um mínimo de intervenção antrópica e representam
o conjunto de porções constituintes da bacia como um todo.
Em cada unidade selecionada foram definidos transectos, onde foram determinados,
de acordo com aspectos fisionômicos e ecológicos da vegetação, os “pontos amostrais”.
Todos os pontos amostrais foram registrados com o aparelho de posicionamento global
GPS, para posterior georeferenciamento.
Para cada ponto amostral aplicou-se uma ficha de Inventário Fitogeográfico, adaptada
do modelo original proposto por Bertrand (1966), exposto em Passos (2003) (Figura 10).
Nesta ficha foram registradas informações de caráter identificatório, vegetacional e
geográfico, a fim de correlacionar estas informações e constatar possíveis relações de
interação entre o meio biótico e o meio físico, o que em condições muito específicas, podem
revelar a ocorrência de espécies vegetais características, raras e/ou endêmicas.
A identificação das espécies vegetais existentes em diferentes estratos da vegetação
(gramíneas, herbáceas, arbustos, arvoretas e árvores) ocorreu diretamente in natura,
encerrando cada amostragem à medida que se estabeleceu a curva do coletor. Para espécies
FICHA FITOGEOGRÁFICA
Ponto Amostral
N°____ Coord. geográfica: ____________
Província Fitogeográfica:
Data:
Bacia Hidrográfica:
Pesquisador(es):
_______________________________________
_______________________________________
Unidade morfolitológica:
Tipologia da Vegetação:
Espécie
Forma
de Vida
Relevo /
ponto
Altitude
Litologia
Solo
Din.
Superficial
Fator
Antrópico
Rara /
endêmica
01
02
03
04
05
Observações: __________________________________________________________________
Figura 10 - Modelo de Ficha Fitogeográfica utilizada nos trabalhos de campo.
Org.: ALVES, F. S., 2007.
44
não passíveis de identificação em campo, foi coletado o material vegetativo e/ou reprodutivo
para posterior análise e classificação em laboratório, utilizando material especializado e
chaves de identificação, como também orienta Durigan (2006).
Para o preenchimento das informações de caráter fitogeográfico foram adotadas as
proposições de Marchiori (2004) e para as geográficas locais e vegetacionais foram utilizados
os dados obtidos durante a realização do respectivo trabalho, exceto para o item “Forma de
vida”, que foi preenchido de acordo com o sistema de classificação proposto por Raunkiaer
20
.
A análise da cobertura vegetal iniciou ainda em laboratório, com a interpretação de
informações contidas na base cartográfica e de imagens de satélite, do tipo LANDSAT e
Google Earth. Pelo fato de existir imagens com alta definição abrangendo esta área, foi
possível, neste estudo inicial, definir de modo geral, a presença e a localização das distintas
tipologias da vegetação quanto aos aspectos fisionômicos.
Somados a este estudo inicial, os resultados obtidos a partir dos trabalhos de campo
levantamentos florísticos, possibilitaram a caracterização e a definição precisa das distintas
tipologias que apresenta a vegetação nativa na bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande,
considerando sempre os aspectos fisionômicos e ecológicos.
3.3 Análise correlativa: vegetação - meio físico
Concluída a análise da vegetação, efetuou-se a correlação entre as tipologias
vegetacionais e suas respectivas unidades geológicas-geomorfológicas, possibilitando a
caracterização fitogeográfica da bacia em estudo.
Esta caracterização, somada à base cartográfica do Mapa Morfolitológico, às
interpretações cartográficas e de imagens de satélite, bem como ao georeferenciamento de
áreas amostradas em campo, possibilitou, a partir da utilização do software GTM PRO e
Corel DRAW 12, a elaboração do Mapa Fitogeográfico da Bacia Hidrográfica do Arroio
Lajeado Grande.
20
Sistema amplamente utilizado para classificar a vegetação, baseado na posição das gemas dormentes durante
sua estação de repouso (inverno ou estação seca). O grau de ocultamento ou de proteção das gemas dormentes de
uma planta mostra sua adaptação a condições extremas. As diferentes formas de vida, em ordem crescente de
proteção de gemas, são epífitas, fanerófitos, caméfitos, hemicriptófitos, criptófitos (com freqüência divididos em
geófitos, hidrófitos e halófitos) e terófitos. (ART. H.W. 1998, p. 245)
45
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Análise Hidrográfica
A bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande possui uma área superior a 49.000
hectares, com altitudes variando entre 77 metros, na calha, e 260 metros a montante.
Apresenta forma alongada e padrão retangular-dendrítico, caracterizando-se como uma
hierarquia fluvial de ordem, de acordo com as proposições de Strahler (1974), conforme
exposto no Mapa Hidrográfico (Figura 11).
Afluente da margem esquerda do rio Ibicuí, o arroio Lajeado Grande possui uma
extensão pouco superior a 61 km, com orientação sudeste-noroeste no alto e médio curso,
onde sofre uma inflexão no baixo curso, redirecionando-se no sentido sul-norte até sua foz
com o Ibicuí (Figura 12). Sua rede de captação não é muito extensa, sendo seus principais
afluentes a Sanga da Cruz e a Sanga do Graxaim (Figura 13).
Segundo Paula e Robaina (2006), a distribuição da rede de drenagem do arroio
Lajeado Grande e de outros arroios paralelos permite identificar a ocorrência do “Alto do
Parové”, localizado a montante desta bacia. No Alto do Parové está localizada a Lagoa
Parové
21
(Figura 14), um lago natural, com área alagada de aproximadamente 45 hectares. É
uma das principais nascentes do arroio Lajeado Grande e, quando transborda, torna-se
também uma das nascentes do arroio Jacaquá.
Ao longo desta bacia, além da Lagoa Parové, existem outros inúmeros lagos naturais,
porém de tamanhos mais reduzidos. Dentre os tantos, citamos: a Lagoa dos Curupis (Figura
15), a Lagoa Vermelha (Figura 16) e a Lagoa Verde (Figura 17).
Frequentemente vinculados a afloramentos de rocha arenítica, tais lagos se formam
principalmente nos topos planos de colinas. Excetuando a Lagoa Parové, nenhuma outra,
ultrapassa 2 hectares de área alagada e as profundidades, em geral, são pouco superiores a 1
metro.
21
De acordo com Sampaio (1973) este topônimo, de origem indígena Tupi-Guarani, significa: “lagoa do sabor
amargo”, em referência à grande quantidade de lágrimas derramadas pela índia Ponain, após a morte de seu
grande amor.
Lagoa Parové
Lajeado Grande
Nascente do Lajeado
Lajeado Grande
Lajeado Grande
Sanga da Cruz
Sanga do Graxaim
Legenda:
Áreas alagadiças
Lagos naturais e/ou artificiais
Cursos d’água
Lagoa Vermelha
Lagoa dos Curupis
Lagoa Verde
Figura 11- Mapa Hidrográfico da Bacia do Arroio Lajeado Grande (ALVES, F. S., 2008).
MAPA HIDROGRÁFICO DA BACIA DO ARROIO LAJEADO GRANDE
47
Figura 12 - Fotografia mostrando o aspecto do arroio Lajeado Grande, em seu médio curso, após
concentrar as águas que drenam da Lagoa Parové e da Nascente do Lajeado, além de outros afluentes
de menor porte (ALVES, F. S., 2008).
Figura 13 - Fotografia da Sanga do Graxaim, um dos principais afluentes do arroio Lajeado Grande,
em seu baixo curso. Ao fundo, próximo ao encontro das águas, o “Cerro do Graxaim
(ALVES, F. S., 2007).
48
Figura 14 - Imagem de satélite, mostrando a forma e dimensão da Lagoa Parové, com o cerro de
mesmo nome na parte superior. Fonte: Google Earth, 2008.
Org.: ALVES, F. S., 2008.
Figura 15 - Fotografia mostrando a Lagoa dos Curupis, localizada no topo de uma colina com
substrato arenítico e vinculada a afloramentos rochosos (ALVES, F. S., 2008).
49
4.2 Análise Morfolitológica
A análise morfolitológica da bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande baseou-se
na possibilidade de identificar e dividir a área em unidades, utilizando como parâmetros as
Figura 17 - Fotografia da Lagoa Verde, destacando sua localização no topo de uma colina arenítica
e a vinculação com afloramentos rochosos (ALVES, F. S., 2008).
Figura 16 - Fotografia expondo ao centro, a pequena Lagoa Vermelha, localizada no topo de uma
colina de arenito em meio a um palmar de butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae) (ALVES, F. S., 2008).
50
características geomorfológicas e geológicas do terreno. Para isto, o terreno foi inicialmente
avaliado sob o aspecto morfométrico e, consequentemente, as formas do relevo foram
definidas e caracterizadas. Em um segundo momento, foram registradas as litologias
presentes em cada unidade de relevo, resultando, então, na caracterização geológico-
geomorfológica das diferentes unidades de terreno.
As distintas unidades morfolitológicas encontram-se expostas na Figura 18, que
apresenta o Mapa Morfolitológico, sendo estas, listadas e caracterizadas em detalhe, a seguir:
4.2.1 Colinas
Unidades morfolitológicas mais abundantes na bacia hidrográfica em estudo, as
colinas, conhecidas regionalmente por coxilhas
22
, ocupam cerca de 90 % da área total e
caracterizam-se como elevações do terreno de formas mamelonares, com altitudes
relativamente baixas e declives suaves, conferindo à paisagem um aspecto suavemente
ondulado (Figura 19).
Neste caso específico, essas feições do relevo diferenciam-se, de acordo com as
características do substrato rochoso, em colinas de rochas areníticas e colinas de rochas
vulcânicas.
4.2.1.1 Colinas de arenito
Unidades mais representativas da bacia, as colinas de arenito possuem substrato
rochoso constituído, predominantemente, por arenitos fluviais característicos da Formação
Guará e arenitos eólicos da Formação Botucatu (Figura 20). Ocorrem principalmente no
médio e alto curso da bacia, apresentando amplitudes médias em torno de 10 metros,
declividades entre 4% e 8% e altitudes variadas, com mínimas de 80 metros no baixo curso e
máximas ultrapassando 200 metros, no alto curso.
22
Termo de origem espanhola (cuchilla’, refere-se à lâmina de uma faca), usado regionalmente para
caracterizar as formas onduladas do relevo na região dos campos sul-brasileiros e uruguaios.
Lagoa Parové
Lajeado Grande
Nascente do Lajeado
Lajeado Grande
Lajeado Grande
Sanga da Cruz
Lagoa V
erde
Sanga do Graxaim
246
x
129 x
244 x
229
x
191
x
185
x
x 193
x 198
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
200
100
100
100
100
100
100
100
100
MAPA MORFOLITOLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE
Cerro da Cascavel
Cerro do Parové
Cerro do Barro
Cerro do Graxaim
Figura 18 - Mapa Morfolitológico da Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande.
Lagoa Vermelha
Lagoa dos Curupis
Legenda:
Colinas de arenito
Colinas vulcânicas
Morrotes de arenito
Morrotes vulcânicos
Planície de acumulação
Cornijas de arenito
Areais e áreas em processo de arenização
Lagos naturais e/ou artificiais
Cursos d’água
52
Estas unidades sempre apresentam solos arenosos quartzosos, com baixo conteúdo
orgânico, podendo ser classificados como Latossolos arenosos e ou Neossolos Quatzênicos,
em situações que o conteúdo de argila é extremamente reduzido.
Figura 20 - Fotografia exibindo as características geomorfológicas das colinas de arenito, destacando,
ao centro, a existência de processos erosivos atuantes (ALVES, F. S., 2007).
Figura 19 Fotografia mostrando o aspecto ondulado da paisagem de colinas, típicas da bacia do
arroio Lajeado Grande (ALVES, F. S., 2008).
53
O uso e ocupação destas unidades está associado à prática da pecuária extensiva,
notadamente a criação de bovinos, ovinos e eqüinos, e à atividades agrícolas, como o cultivo
de soja, milho, trigo, mandioca, melancia, além do plantio de gramíneas forrageiras de
inverno, como aveia e azevém, e de verão, como braquiária e milheto. Recentemente tiveram
início atividades silviculturais, representadas principalmente pelo plantio de extensas áreas
com eucaliptos para a fabricação de celulose e plantio de pinus para produção de madeira
serrada (Figura 21).
Registra-se, com muita freqüência nestas unidades, a presença de areais de dimensões
significativas e de inúmeras áreas em processo de arenização. Áreas em processo de
arenização apresentam ravinas, voçorocas
23
e pequenos núcleos de arenização
24
, (Figura 22),
que se desenvolvem geralmente associados à cabeceira de drenagem, junto à base dos
morrotes de arenito e ou vinculados a degraus rochosos presentes à meia encosta. Isto
certamente ocorre devido à intensificação do escoamento superficial na área de contato entre
o arenito silicificado exposto e o arenito friável presente no interior das colinas. Os areais de
23
Características erosivas permanentes nas encostas, possuindo paredes laterais íngremes e, em geral, fundo
chato, ocorrendo fluxo de água no seu interior durante os eventos chuvosos. Algumas vezes, as voçorocas se
aprofundam tanto, que chegam a atingir o lençol freático (Cunha e Guerra, 2001).
24
Processo de retrabalhamento de depósitos arenosos pouco ou não consolidados que acarreta, nestas áreas, uma
dificuldade de fixação da cobertura vegetal, devido à intensa mobilidade dos sedimentos pela ação das águas e
dos ventos (Suertegaray, 1987).
Figura 21 - Fotografia registrando prática da silvicultura, através do plantio em grande escala de
eucaliptos para futura produção de celulose (ALVES, F. S., 2008).
54
maior extensão formam-se principalmente associados à base dos morrotes de arenito e junto
ao vale da drenagem principal, (Figura 23).
Figura 23 - Imagem de satélite, destacando a presença de um grande areal, junto à drenagem
principal. Fonte Google Earth, 2008. Org.: ALVES, F. S., 2008.
Figura 22 - Fotografia mostrando ao fundo o desenvolvimento de ravinas, voçorocas e a formação de
pequenos núcleos de arenização, associados a degraus de rochas areníticas (ALVES. F. S., 2008).
55
Paula e Robaina (2006) explicam que a origem destes areais está associada,
inicialmente, ao processo erosivo que ocorre pela ação das chuvas intensas em um solo
arenoso, muito friável, com baixa cobertura vegetal, gerando a exposição dos horizontes.
Posteriormente, o vento persistente na região movimenta e espalha a areia, formando os
„campos de areia‟, constituídos por areias quartzosas com grânulos de sílica, concreções e
nódulos de ferro, associando-se a depósitos coluviais no sopé das colinas e dos morrotes,
gerados a partir da remoção das partículas de menor granulometria e da concentração do
material arenoso.
Os aspectos litológicos, pedológicos e da cobertura vegetal observados indicam que
estas colinas apresentam alta suscetibilidade natural ao desenvolvimento de processos
erosivos. Esta vulnerabilidade própria, muitas vezes associada ao mau uso do solo, através de
práticas de produção inadequadas, faz com que sejam desencadeados e/ou intensificados estes
processos de degradação ambiental.
4.2.1.2 Colinas vulcânicas
Este compartimento está representado por um substrato rochoso, constituído por
rochas vulcânicas de composição básica, originadas a partir de derrames provenientes da
atividade do vulcanismo fissural
25
, ocorrido na bacia do Paraná durante a Era Mesozóica. Tais
rochas estruturam-se em camadas delgadas, não ultrapassando o limite máximo de 20 metros
de espessura, sempre sobrepostas ao arenito Botucatu, muitas vezes revelando camadas de
arenito intertrápico
26
(Figura 24).
As colinas vulcânicas têm ocorrência mais significativa no baixo curso da bacia,
próximo à foz com o rio Ibicuí e no divisor oeste. Em geral, formam solos do tipo Latossolos
Vermelho-Escuro textura argilosa, associados às porções de topo e base dos derrames com
horizontes frequentemente bem desenvolvidos, ou Cambissolos-litólicos com casos em que
ocorrem o afloramento de lajes ou pequenos blocos rochosos, nos topos e encostas (Figura
25).
25
Consiste na saída, através de uma fenda, de material magmático vindo do interior da crosta terrestre.
Extravasamento de lava em estado líquido, solidificando-se à superfície (Guerra, 1998).
26
Prefixo inter significa “entre” e Trape é um termo utilizado antigamente para designar tipos de rochas
basálticas (ART, 1998). Logo, intertrápico significa „em meio às camadas de basalto‟.
56
O uso e ocupação está relacionado, principalmente, à prática da pecuária, com a
criação de bovinos, ovinos e eqüinos, e à atividades agrícolas, através do cultivo de cereais
como soja e milho e o plantio de pastagens forrageiras como aveia, azevém, braquiária e
Figura 25 - Fotografia destacando colinas vulcânicas com afloramento de pequenos blocos rochosos a
meia encosta, caracterizando uma associação de solos do tipo Cambissolo-litólico e afloramentos de
rocha (ALVES, F. S., 2008).
Figura 24 - Fotografia registrando em detalhe a sobreposição da rocha vulcânica ao arenito eólico da
Formação Botucatu (ALVES, F. S., 2007).
57
milheto. Em alguns pontos específicos são registradas pequenas jazidas de extração mineral,
de onde é retirado material como brita, cascalho e argila.
4.2.2 Cornijas de Arenito
Em certas colinas de arenito podem ocorrer exposições de rocha à meia encosta,
formando nítidos degraus, de tamanhos e formas variadas, que caracterizam as cornijas
27
.
Interpretadas como estágio inicial na formação dos morrotes de arenito, tais cornijas são
formadas por afloramentos em blocos de arenito fluvial ou eólico, altamente coesos, devido,
principalmente, à presença de um revestimento de óxido de ferro e/ou pela alta cimentação
dos grânulos, a partir da concentração de sílica (Figura 26).
Em geral, nestas cornijas o uso do solo é restrito. Em muitas destas, observa-se que
os processos erosivos são mais atuantes, gerando ravinas e voçorocas de tamanhos
27
Do italiano Corniche = coroa. Forma abrupta saliente, de dimensões variadas, em geral capeada por uma
camada de rocha dura (Guerra, 1998).
Figura 26 - Fotografia registrando cornija de arenito, com degraus íngremes (ALVES, F. S., 2008).
58
significativos, conferindo à paisagem um aspecto de degradação, caracterizando-as, nestes
casos, como típicas áreas em processo de arenização (Figura 27).
4.2.2 Morrotes
Conhecidos regionalmente como “Cerros”, os morrotes são caracterizados, sob o
ponto de vista geomorfológico, como elevações do terreno, superiores às colinas, com
encostas relativamente íngremes.
Na área de estudo, os morrotes foram também diferenciados com base nas
características do substrato rochoso, em morrotes de arenito e morrotes vulcânicos.
4.2.2.1 Morrotes de arenito
Os morrotes de arenito são unidades formadas a partir da resistência da rocha frente
aos processos de intemperismo. Isto ocorre devido à alta coesão de grânulos, resultante da
Figura 27 - Imagem de satélite revelando o desenvolvimento de ravinas e voçorocas, associadas às
cornijas de arenito. Fonte: Google Earth, 2008. Org.: ALVES, F. S. 2008.
59
cimentação de porções do arenito, a partir da concentração de óxido de ferro ou sílica, o que
confere maior resistência à rocha frente à ação erosiva (Figura 28).
Sempre dispostos na parte superior de colinas areníticas, estas unidades possuem
amplitudes médias entre 20 e 30 metros e vertentes com elevadas declividades, formando
escarpas rochosas com o topo frequentemente reto e aplainado.
Com formas típicas de cerros tabulares
28
, localizam-se principalmente junto às
cabeceiras de drenagem, na porção leste do médio e alto curso, salvo exceções. São
constituídos predominantemente por arenitos fluviais, típicos da Formação Guará. Em certos
casos, quando formados pelo arenito eólico da Formação Botucatu, é comum encontrar nos
topos destas unidades fragmentos de rocha vulcânica (Figura 29).
Na maioria dos casos, o topo consiste em uma área aplainada, predominantemente
rochosa, com inúmeras fendas. Em certos casos, o topo apresenta uma camada de solo mais
desenvolvida e uniforme, sempre conservando, todavia, o caráter arenoso. A encosta
concentra um acúmulo de blocos e detritos rochosos de tamanhos variados, originados a partir
do desprendimento da rocha que forma a escarpa.
28
Cerros tabulares ou tabuleiros de arenito são termos utilizados por Rambo (1956) para caracterizar uma das
formas típicas de cerros existentes na campanha do sudoeste gaúcho.
Figura 28 - Fotografia destacando morrote de arenito fluvial, conhecido regionalmente como “Cerro
da Cascavel” (ALVES, F. S., 2008).
60
O uso e ocupação destas unidades é bastante restrito, sendo utilizados apenas os raros
topos de morrotes com camada de solo mais desenvolvida e de fácil acesso. Mesmo assim, a
utilização ocorre somente através da prática da pecuária.
Processos geomorfológicos relacionados à erosão são identificados, com muita
frequência, na base destes morrotes, na área de contato com a colina. Tais processos, uma vez
desencadeados, resultam na formação de ravinas, voçorocas e, até mesmo, areais de
proporções consideráveis (Figura 30).
Embora os morrotes de arenito representem área pouco expressiva nesta bacia, estes
merecem atenção especial, pois apresentam características muito particulares quanto ao
substrato rochoso, ao relevo e, principalmente, à vegetação, além de grande parte destes
permanecerem relativamente inalterados pelo fator antrópico.
4.2.2.2 Morrotes vulcânicos
Unidades de menor expressão na bacia, os morrotes vulcânicos recebem esta
designação por apresentarem substrato constituído por rochas vulcânicas de composição
básica. Identificados regionalmente como “cerros redondos”, tais morrotes apresentam
Figura 29 - Fotografia de um morrote de arenito: o “Cerro do Parové”. Localizado junto à lagoa de
mesmo nome, está estruturado em arenito eólico e apresenta pequenos fragmentos de rocha vulcânica
em seu topo (ALVES, F. S., 2007).
61
elevações superiores às colinas vulcânicas, amplitudes ao redor de 20 metros, encostas
íngremes e topos nitidamente arredondados (Figura 31).
Os solos neles desenvolvidos são do tipo neossolos litólicos e cambissolos, com
horizontes muito reduzidos ou inexistentes, apresentando, geralmente, pequenos afloramentos
de rocha na forma de lajes fraturadas e/ou blocos arredondados de tamanhos reduzidos
(Figura 32). Nestes morrotes vulcânicos, assim como nas colinas de mesmo substrato, não são
evidenciadas ocorrências de processos erosivos, geradores de degradação ambiental. O uso
destes morrotes está associado à prática da pecuária, constatando-se, todavia, alguns pontos
de extração mineral.
4.2.3 Planície de Acumulação
A planície de acumulação representa uma área plana, que acompanha o curso principal
da bacia hidrográfica e alguns afluentes de maior porte. Esta unidade atinge proporções
consideráveis no médio e baixo curso, a partir da cota 120 metros. Formada a partir da
deposição alúvio-colúvio, concentra tanto material erodido das regiões de interflúvio,
Figura 30 - Fotografia de um morrote de arenito fluvial, denominado “Cerro do Barro”. Localizado
no divisor leste da bacia, apresenta em sua base o desenvolvimento de inúmeras ravinas e voçorocas
(ALVES, F. S., 2008).
62
transportados pela ação das águas superficiais, bem como sedimentos aluviais, depositados
em períodos de transbordamento dos canais de drenagem. Grande parte desta planície
constitui-se em várzeas, com solos férteis e hidromórficos, principalmente dos tipos
planossolos e/ou gleissolos, apresentando baixa capacidade de infiltração e drenagem. Estas
áreas são frequentemente utilizadas na agricultura, através do cultivo do arroz, sendo que, em
períodos de descanso agrícola, estas várzeas são utilizadas na prática da pecuária como áreas
de pastejo (Figuras 33 e 34).
Figura 31 - Fotografia destacando o aspecto de um morrote vulcânico, situado próximo à foz do
arroio Lajeado Grande com rio Ibicuí (ALVES, F. S., 2007).
Figura 32 - Fotografia registrando afloramento de blocos de rocha vulcânica à meia encosta de um
morrote (ALVES, F. S., 2008).
63
4.3 Análise da Vegetação
Tendo como base geográfica o Mapa Morfolitológico, a análise da vegetação realizou-
se através de levantamentos florísticos detalhados, desenvolvidos nas diferentes unidades
Figura 33 - Fotografia expondo área da planície de acumulação no baixo curso da bacia. Terreno
encharcado apresentando solo hidromórfico típico (ALVES, F. S., 2008).
Figura 34 - Fotografia registrando lavoura de arroz, instalada em planície de acumulação, no médio
curso da bacia (ALVES, F. S., 2007).
64
morfolitológicas, considerando sempre os aspectos fisionômicos e ecológicos próprios da
vegetação.
As distintas tipologias apresentadas pela vegetação nativa na bacia hidrografia do
arroio Lajeado Grande são definidas e caracterizadas a seguir:
4.3.1 Campos
Os campos
29
nativos, principal tipo de vegetação existente na bacia hidrográfica (mais
de 90 % da área total), constituem um tapete gramíneo-herbáceo rasteiro, cobrindo
principalmente as colinas de substrato arenítico e vulcânico, bem como parte dos morrotes e
da planície de acumulação (Figura 35). Embora pareçam compor um conjunto florístico
homogêneo sob o aspecto fisionômico, os campos apresentam diferenças marcantes,
permitindo a divisão em dois grupos principais: campos em colinas de arenito e campos em
colinas vulcânicas.
29
Lindman (1906) esclarece que este termo, de origem indígena, é usado pelo americano do sul (Brasil - Rio
Grande do Sul, Argentina e Uruguai) para caracterizar todo território sem mata, independente do terreno ou da
vegetação.
Figura 35 - Fotografia expondo tapete gramíneo-herbáceo rasteiro, tipologia predominante na bacia
hidrográfica do arroio Lajeado Grande (ALVES, F. S, 2008).
65
Cabe observar que tais formações nunca são completamente puras, sendo freqüente a
presença de fanerófitas
30
em meio à vegetação. Representadas por subarbustos, arbustos,
arvoretas, árvores, lianas e suculentas, na maioria das vezes organizadas em associações
complexas, tornam-se esta, as principais responsáveis pelo reconhecimento de distintas
tipologias da vegetação.
4.3.1.1 Campos em colinas de arenito
Os campos em colinas de arenito consistem na formação vegetal mais abundante,
cobrindo cerca de 70% de toda a bacia. Esta denominação justifica-se porque a vegetação,
predominantemente campestre, está intimamente vinculada às colinas de substrato arenítico
que, em muitos casos, desenvolvem o processo de arenização.
A flora destes campos está representada principalmente por gramíneas, como a grama-
missioneira (Axonopus fissifolius Raddi Poaceae), as barbas-de-bode (Aristida circinalis
Lindman, Aristida filifolia (Arechav.) Herter Poaceae), o capim-das-pedras (Gymnopogon
spicatus (Spreng.) O. Kuntze - Poaceae) e o capim-rabo-de-burro-miúdo (Schizachyrium
spicatum (Spreng.) Herter - Poaceae) (Figura 36). Espécies que, frequentemente, ocorrem
junto a Amarantáceas (Froelichia tomentosa (Mart.) Moq., Pfaffia tuberosa (Spreng.)
Hicken), Asteráceas (Gochnatia cordata Lessing, Lucilia nitens Lessing, Vernonia saltensis
Hieronymus), o tremoço (Lupinus albescens Hook. et Arn. - Fabaceae), o trevo-azedo (Oxalis
eriocarpa DC. Oxalidaceae), o fruto-de-perdiz (Margyricarpus setosus Ruiz et Pavon
Rosaceae) e a tuna-bola (Echinocactus muricatus K. Schum. - Cactaceae).
Em meio à vegetação campestre, são também registradas nanofanerófitas
31
, como as
guavirovas-do-campo (Campomanesia aurea Berg, Campomanesia hatschbachii Mattos
Myrtaceae), as pitangas-do-campo (Eugenia arenosa Mattos, Eugenia pitanga (Berg)
Niedenzu - Myrtaceae), os araçás-do-campo (Psidium incanum (Berg) Burret, Psidium
luridum (Sprengel) Burret Myrtaceae) e o pessegueiro-do-campo (Hexachlamys humilis O.
Berg - Myrtaceae), de ocorrência abundante na região (Figuras 37 e 38). Situações
30
Termo utilizado pelo botânico Raunkiaer, em seu Sistema de „Classificação das Formas de Vida‟, para
caracterizar a categoria das plantas lenhosas que mantém a posição das gemas (brotos de hibernação) a mais de
25 centímetros acima do nível do solo, durante a estação desfavorável ao crescimento (inverno ou estação seca),
revelando suas adaptações a condições extremas.
31
Nanophanerophyta, grupo das fanerófitas que incluem sub-arbustos e arbustos, os quais mantêm as gemas
foliares posicionadas entre 25 centímetros e 2 metros acima do solo (Marchiori, 2006, p. 8).
66
particulares são os campos com curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg. -
Euphorbiaceae) e os campos com butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori -
Arecaceae).
Figura 36 - Fotografia destacando o aspecto fisionômico dos campos em colinas de arenito: tapete
baixo e ralo, com presença de gramíneas cespitosas do gênero Aristida, (barbas-de-bode)
(ALVES, F. S., 2008).
Figura 37 - Fotografia registrando grupos de nanofanerófitas em meio ao campo, compondo uma
“nanofloresta” (ALVES, F. S., 2007).
67
4.3.1.1.1 Campos com curupis em colinas de arenito
Em situações específicas, geralmente onde a ação antrópica não é tão intensa, é
comum a presença do curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg. Euphorbiaceae) em
meio à vegetação campestre, principalmente em declives suaves das colinas e morrotes de
arenito, na maioria das vezes dispersando-se a partir das cercas divisórias de propriedades e
potreiros ou então vinculados a pequenos blocos de rocha dispersos no campo (Figura 39).
Nestes casos, é também comum a presença da tuna (Cereus hildmannianus K. Schum.
Cactaceae), associada ao curupi (Figura 40).
4.3.1.1.2 Campos com butiá-anão em colinas de arenito
Os campos com presença do butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae), espécie endêmica
32
do oeste e sudoeste gaúcho, ocorrem em colinas de substrato
32
Endêmico, refere-se à espécie nativa, de ocorrência restrita em uma determinada área geográfica.
Figura 38 - Fotografia destacando nanofanerófita nos campos em colinas de arenito: araçá-do-campo
(Psidium incanum (O. Berg.) Burret Myrtaceae) (ALVES, F. S., 2008).
68
arenítico, de maneira descontínua, formando manchas isoladas de poucos hectares, que não se
conectam, mas que, na maioria dos casos, constituem verdadeiros palmares. Não raro, nestes
campos, é a presença da tuna (Cereus hildmannianus K. Schum. Cactaceae), espécie muito
freqüentemente consorciada à palmeira-anã (Figura 41).
Figura 39 - Fotografia expondo a dispersão de curupis (Sapium haematospermum Müll. Arg.
Euphorbiaceae), junto à cerca divisória de uma propriedade rural (ALVES, F. S., 2008).
Figura 40 - Fotografia registrando um exemplar de curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg.
Euphorbiaceae), junto à cerca, em associação com a tuna (Cereus hildmannianus K. Schum.
Cactaceae), uma suculenta típica da região (ALVES, F. S., 2008).
69
4.3.1.2 Campos em colinas vulcânicas
Esta formação campestre ocorre vinculada a colinas e morrotes de substrato vulcânico,
apresentando como espécies mais características: a grama-forquilha (Paspalum notatum
Flüegge - Poaceae ou Gramineae), o capim-caninha (Andropogon lateralis Nees - Poaceae), o
alecrim-do-campo (Vernonia nudiflora Less. Asteraceae ou Compositae), a carqueja-
amarga (Baccharis trimera (Less.) DC. Asteraceae), o mio-mio (Baccharis coridifolia DC. -
Asteraceae), o espinho-caraguatá (Eryngium sp. - Umbelliferae ou Apiaceae) e,
eventualmente, a quina-do-campo (Discaria americana Gill. e Hook. Rhamnaceae) (Figura
42).
4.3.1.2.1 Campos com espinilhos em colinas vulcânicas
Muito comum neste tipo de campo nativo é a presença do elemento fanerofítico,
representado pelo espinilho (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae),
Figura 41 - Fotografia registrando um palmar de butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae) em meio aos campos em colinas de arenito e a ocorrência em consórcio da tuna (Cereus
hildmannianus K. Schum. Cactaceae) (ALVES, F. S., 2008).
70
espécie que, não raras vezes, distribui-se de modo uniforme, conferindo à paisagem uma
fisionomia de Savana-Parque (Figura 43 e 44)
Figura 42 - Fotografia mostrando o tapete gramináceo denso, característico dos campos nativos em
colinas vulcânicas. Destaca-se, neste caso, a presença abundante da grama-forquilha (Paspalum notatum
Flüegge - Poaceae ou Gramineae) e do capim-caninha (Andropogon lateralis Nees - Poaceae)
(ALVES, F. S., 2008).
Figura 43 - Fotografia registrando em primeiro plano, afloramento de rocha vulcânica; ao centro, um
exemplar de quina-do-campo (Discaria americana Gill. & Hook. Rhamnaceae), espécie típica destes
campos; ao fundo exemplares de espinilhos (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae)
(ALVES, F. S., 2008).
71
4.3.2 Vegetação das Cornijas de Arenito
A vegetação das cornijas, de modo geral, concentra inúmeras microfanerófitas
xerófilas e plantas suculentas, sempre associadas a degraus rochosos sobressalentes à meia
encosta de colinas com substrato arenítico (Figura 45).
A criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. & Schlecht.) G. Don Ericaceae) é a espécie
mais característica, ocorrendo, não raras vezes, associada ao jasmim-catavento
(Tabernaemontana catharinensis DC. Apocynaceae), ao curupi (Sapium haematospermum
Müll. Arg. Euphorbiaceae), ao tarumã-preto (Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke
Lamiaceae ou Verbenaceae), ao chá-de-bugre (Casearia sylvestris Sw. - Salicaceae ou
Flacourtiaceae), à figueira-do-mato (Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. Moraceae) e à
japecanga (Smilax campestris Griseb. - Liliaceae ou Smilacaceae). Dentre as suculentas,
destacam-se a tuna (Cereus hildmannianus K. Schum. Cactaceae), a arumbeva (Opuntia
Arechavaletai Speg. - Cactaceae), a tuna-bola (Echinocactus muricatus K. Schum. -
Cactaceae) e o cravo-das-pedras (Tillandsia lorentziana Gris. Bromeliaceae) (Figuras 46, 47
e 48).
Figura 44 - Fotografia mostrando a distribuição de espinilhos (Acacia caven (Molina) Molina -
Leguminosae ou Fabaceae), nos campos em colinas vulcânicas, conferindo à paisagem um aspecto de
savana-parque (ALVES, F. S., 2008).
72
Figura 45 - Imagem de satélite, mostrando o arranjo e a distribuição da vegetação nas cornijas de
arenito. Fonte Google Earth, 2008. Org.: ALVES, F. S., 2008.
Figura 46 - Fotografia destacando em primeiro plano, a criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. &
Schlecht.) G.Don Ericaceae), espécie característica da vegetação de cornijas. Ao fundo outra
associação do tipo cornija (ALVES, F. S., 2008).
73
Em alguns locais, tais associações podem ainda incluir a pixirica (Miconia hyemalis
A. St.-Hil. & Naudin - Melastomataceae), a aroeira-brava (Lithraea molleoides (Vell.) Engl.
Figura 47 - Fotografia mostrando associação vegetal típica de cornijas. Em destaque, a presença de
cactáceas dos gêneros Cereus e Opuntia, junto a exemplares de tarumã (Vitex megapotamica (Spreng.)
Moldenke Lamiaceae ou Verbenaceae) (ALVES, F. S., 2007).
Figura 48 - Fotografia registrando a ocorrência de suculentas junto às cornijas. Neste caso, grande
concentração de tuna (Cereus hildmannianus K. Schum. Cactaceae) (ALVES, F. S., 2007).
74
Anacardiaceae), o molho (Schinus polygamus (Cav.) Cabrera Anacardiaceae), o coentrilho
(Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. Rutaceae), a mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium
Lam. Rutaceae), o camboatá-vermelho (Cupania vernalis Cambess. Sapindaceae), o
camboatá-branco (Matayba elaeagnoides Radlk. Sapindaceae), o cocão (Erythroxylum
microphylum A.St.-Hil. Erythroxylaceae), o fumo-bravo (Solanum mauritianum Scop.
Solanaceae), o aguaí-vermelho (Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk.
Sapotaceae), o guamirim (Myrceugenia glaucescens (Cambess.) D. Legrand & Kausel
Myrtaceae), a canela-preta (Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Lauraceae), a
capororoca (Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. Myrsinaceae) e a cancorosa (Maytenus
muelleri Schwacke Celastraceae).
4.4.3 Vegetação dos Morrotes de Arenito
Esta tipologia reúne um conjunto de nanofanerófitas e microfanerófitas
33
xerófilas
34
,
em grande parte representadas por espécies de ocorrência endêmica, bem como algumas
plantas suculentas
35
(Figura 49).
Na encosta dos morrotes, na região do tálus
36
, dispersas entre blocos de rochas, de
modo a formar um anel periférico de vegetação, salientam-se, sob o ponto de vista
fisionômico: a criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. & Schlecht.) G. Don Ericaceae), o
jasmim-catavento (Tabernaemontana catharinensis DC. Apocynaceae), o curupi (Sapium
haematospermum Müll.Arg. Euphorbiaceae), a tuna (Cereus hildmannianus K. Schum.
Cactaceae), o tarumã-preto (Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke Lamiaceae ou
Verbenaceae), a figueira-do-mato (Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. Moraceae), a pixirica
(Miconia hyemalis A. St.-Hil. & Naudin - Melastomataceae), o chá-de-bugre (Casearia
sylvestris Sw. - Salicaceae ou Flacourtiaceae), o aguaí-vermelho (Chrysophyllum marginatum
33
Microphanerophyta, grupo das fanerófitas que incluem arbustos e árvores pequenas, as quais mantêm as
gemas foliares entre 2 e 8 metros de altura. (Marchiori, 2006, p. 8).
34
Neste caso, refere-se ao grupo de plantas adaptadas a sobreviver em ambientes onde a umidade é bastante
escassa (xerófitas).
35
Succulentia, categoria das fanerófitas, representada por plantas arbustivas ou arbóreas que em geral
apresentam caules áfilos, suculentos e escassamente lignificados (Marchiori, 2006, p. 8).
Plantas que tem folhas ou caules grossos ou carnosos, adaptados a armazenagem da água. A maior parte das
suculentas são xerófitas, plantas que preferem climas secos, como os cactos (ART, 1998, p. 410).
36
Superfície inclinada do terreno, na base de um morro, onde se encontra um depósito acumulado de detritos,
oriundos da escarpa. Este material, em geral é transportado pelo efeito da gravidade, formando um depósito de
talude (Guerra, 1993).
75
(Hook. & Arn.) Radlk. Sapotaceae), as guavirovas-do-campo (Campomanesia aurea Berg,
Campomanesia hatschbachii Mattos Myrtaceae), as pitangas-do-campo (Eugenia arenosa
Mattos, Eugenia pitanga (Berg) Niedenzu - Myrtaceae), os araçás-do-campo (Psidium
incanum (Berg) Burret, Psidium luridum (Sprengel) Burret Myrtaceae), o pessegueiro-do-
campo (Hexachlamys humilis O. Berg - Myrtaceae), o fumo-bravo (Solanum mauritianum
Scop. Solanaceae) e a japecanga (Smilax campestris Griseb. - Liliaceae ou Smilacaceae)
(Figura 50).
Outras espécies, como o butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae), o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Arecaceae ou
Palmae), a murta (Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg Myrtaceae), a aroeira-brava
(Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Anacardiaceae), o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii
Klotsch ex Endl. - Podocarpaceae), a caúna (Ilex dumosa Reissek - Aquifoliaceae), o
camboatá-vermelho (Cupania vernalis Cambess. Sapindaceae), o pessegueiro-bravo
(Prunus myrtifolia (L.) Urb. - Rosaceae), o coentrilho (Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. -
Rutaceae), a mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium Lam. - Rutaceae), o guamirim
(Myrceugenia glaucescens (Cambess.) D. Legrand & Kausel Myrtaceae), o chal-chal
Figura 49 - Fotografia do “Cerro da Cascavel”, com a vegetação típica dos morrotes de arenito. À
esquerda salienta-se um exemplar de coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman
Arecaceae ou Palmae) (ALVES, F. S., 2008).
76
(Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess.& A. Juss.) Radlk. Sapindaceae), o cocão
(Erythroxylum microphyllum A St.-Hil. Erythroxylaceae) e os garupás (Aloysia gratissima
(Hook.) Tronc., Aloysia chamaedryfolia Cham.- Verbenaceae), também podem ser
encontradas, com significativa freqüência, nesta formação vegetal.
Nos topos de morrotes, registram-se frequentemente espécies de menor porte, como
Amarantáceas (Froelichia tomentosa (Mart.) Moq., Pfaffia tuberosa (Spreng.) Hicken),
Asclepiadáceas (Oxypetalum campestre Dcne., Oxypetalum erectum Mart. & Zucc.),
Asteráceas (Achyrocline marchiorii Deble, Baccharis pampeana An. S. de Oliveira, Deble &
Marchiori, Baccharis riograndensis Malag. & J. E. Vidal, Gochnatia cordata Lessing,
Lessingianthus macrocephalus (Less.) H. Rob., Porophyllum lineare DC., Tagetes ostenii
Hicken, Vernonia brevifolia Lessing), Euforbiáceas (Bernardia multicaulis Müll. Arg.,
Jathropha isabellei Müll. Arg., Jatropha pedersenii Lourteig, Sebastiana serrulata (Mart.)
Müll. Arg.), Leguminosas (Mimosa cruenta Benth., Chamaecrista flexuosa (L.) Greene),
além de Macrosiphonia petraea (St.-Hil.) K. Schumann (Apocynaceae), Prunus subcoriacea
(Chod. et Hassl.) Koehne (Rosaceae), Galium megapotamicum Spreng. (Rubiaceae),
Scoparia plebeja Cham. et Schlecht. (Scrophulariaceae), Petunia axillaris (Lam.) Britt.
(Solanaceae), Waltheria communis St.-Hil. (Sterculiaceae), Hypericum connatum Lamarck
Figura 50 - Fotografia mostrando um exemplar de criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. & Schlecht.)
G. Don Ericaceae), na encosta rochosa de um morrote de arenito (ALVES, F. S., 2008).
77
(Clusiaceae), Mentha sp. (Lamiaceae), Echinocactus muricatus K. Schum. (Cactaceae) e
Tillandsia lorentziana Gris. (Bromeliaceae) (Figura 51).
Cabe salientar que algumas Asteráceas (Achyrochline marchiorii Deble, Baccharis
pampeana An. S. de Oliveira, Deble & Marchiori), muito conspícuas nestas unidades
morfolitológicas, são endêmicas da região oeste do Rio Grande do Sul e restritas a morrotes,
como o cerro Cascavel e o Cerro do Tigre (Figura 52).
4.3.4 Capões de mato
Capões de mato
37
são núcleos florestais de pequena extensão, dispersos em meio à
vegetação campestre, que apresentam composição florística muito semelhante à floresta de
galeria. Encontram-se arranjados à meia encosta de colinas e morrotes de substrato vulcânico,
37
O termo “capão”, de origem indígena (Tupinambá), deriva de “caa-apoam” e significa mata circular. É
utilizado regionalmente para caracterizar ilhas de vegetação silvática dispersas em áreas campestres. Este termo
foi registrado pelos portugueses com a corruptela “capão de mato” (Marchiori, 2004).
Figura 51 - Fotografia registrando a presença de Froelichia tomentosa (Mart.) Moq., espécie
abundante no topo do “Cerro Parové” (ALVES, F. S., 2008).
78
geralmente associados a drenagens de primeira ou segunda ordem, em locais de declividades
acentuadas e ou amplitudes relativamente elevadas (Figuras 53 e 54).
Na composição dos capões, salientam-se, como espécies características, a aroeira-
brava (Lithraea molleoides (Vell.) Engl. Anacardiaceae), o branquilho (Sebastiana
commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs Euphorbiaceae), o camboatá-vermelho
(Cupania vernalis Cambess. Sapindaceae), a carne-de-vaca (Styrax leprosus Hook. & Arn.
Styracaceae), o coentrilho (Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. Rutaceae), a mamica-de-cadela
(Zanthoxylum rhoifolium Lam. Rutaceae), o pessegueiro-bravo (Prunus myrtifolia (L.) Urb.
- Rosaceae) e o chal-chal (Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess.& A. Juss.) Radlk. -
Sapindaceae).
Em alguns capões-de-mato, outras espécies de ocorrência eventual chegam a ter
freqüência significativa: é o caso do tarumã-de-espinho (Citharexylum montevidense
(Spreng.) Moldenke - Verbenaceae), do angico-vermelho (Parapiptadenia rigida (Benth.)
Brenan - Leguminosae ou Fabaceae), do açoita-cavalo (Luehea divaricata Mart. & Zucc.
Malvaceae ou Tiliaceae), da capororoca (Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. - Myrsinaceae),
Figura 52 - Fotografia registrando a ocorrência de Achyrochline marchiorii Deble Asteraceae,
espécie endêmica frequente entre blocos rochosos de morrotes de arenito como, o Cerro da
Cascavel” (ALVES, F. S., 2008).
79
do cambará (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera - Asteraceae), da figueira-do-mato
(Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. - Moraceae), do guabijú (Myrcianthes pungens (O.Berg) D.
Legrand - Myrtaceae), da murta (Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg - Myrtaceae), do
camboatá-branco (Matayba elaeagnoides Radlk. - Sapindaceae), do esporão-de-galo
(Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. - Loganiaceae), da canela-preta (Nectandra
megapotamica (Spreng.) Mez - Lauraceae), da canela-guaicá (Ocotea puberula (Rich.) Nees.
- Lauraceae), da canela-lajeana (Ocotea pulchella (Nees) Mez - Lauraceae), do branquilho-
leiteiro (Sebastiana brasiliensis Spreng. - Euphorbiaceae), do coqueiro-gerivá (Syagrus
romanzoffiana (Cham.) Glassman - Arecaceae), da laranjeira-do-banhado (Citronella
gongonha (Mart.) R.A. Howard. Cardiopteridaceae ou Icacinaceae) e da corticeira-do-
banhado (Erythrina cristagalli L. - Leguminosae ou Fabaceae).
Como pequenos núcleos avançados de floresta em meio ao campo, os capões reúnem
uma quantidade expressiva de arbustos, lianas e árvores pioneiras heliófilas, em sua orla,
destacando-se, neste caso, o espinilho (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou
Figura 53 - Imagem de satélite, mostrando capão-de-mato, arranjado em encosta íngreme de colina
vulcânica e associado à drenagem de primeira ordem. Fonte: Google Earth, 2008.
Org.: ALVES, F. S., 2008.
80
Fabaceae), o garupá (Aloysia gratissima (Hook.) Tronc. - Verbenaceae), o molho (Schinus
polygamus (Cav.) Cabrera Anacardiaceae), a coronilha (Scutia buxifolia Reiss.
Rhamnaceae), a cancorosa (Maytenus muelleri Schwacke Celastraceae), a taleira (Celtis
iguanea (Jacq.) Sarg. - Cannabaceae ou Ulmaceae), a viuvinha (Chomelia obtusa Cham. &
Schltdl. - Rubiaceae), o veludinho (Guettarda uruguensis Cham. & Schlecht. - Rubiaceae), a
pitangueira (Eugenia uniflora L. Myrtaceae), o chá-de-bugre (Casearia sylvestris Sw.
Salicaceae ou Flacourtiaceae), a embira (Daphnopsis racemosa Griseb. - Thymelaeaceae) e a
japecanga (Smilax campestris Griseb. - Liliaceae ou Smilacaceae). De ocorrência eventual,
salientam-se a aroeira-cinzenta (Schinus lentiscifolius Marchand. - Anacardiaceae), a tuna
(Cereus hildmannianus K. Schum. - Cactaceae), a anacauíta (Schinus molle L. -
Anacardiaceae), o aguaí-vermelho (Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. -
Sapotaceae), a timbaúva (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong - Leguminosae ou
Fabaceae) e a guajuvira (Cordia americana (L.) Gottschling & J.E.Mill. Boraginaceae).
Figura 54 - Fotografia destacando a localização de um capão-de-mato à meia encosta de colina
vulcânica, associado à drenagem de primeira ordem (ALVES, F. S., 2008).
81
4.3.5 Floresta de Galeria
A floresta de galeria
38
, principal formação florestal na bacia em estudo, sempre ocorre
na planície de acumulação, vinculada à drenagem principal e aos afluentes de maior porte.
Distribui-se como uma faixa longitudinal, com largura e composição florística variável, de
acordo com as particularidades locais. Possui mais de 60 quilômetros de extensão, junto ao
arroio Lajeado Grande, ramificando-se em certos locais a partir de alguns afluentes (Figura
55). Em pontos específicos, junto a tais afluentes, esta faixa florestal encontra-se interrompida
e/ou segmentada, exibindo visíveis sinais de ação antrópica.
Em contato direto com a água, salienta-se, no grupo das reófitas
39
, o sarandi
(Sebastiania schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. Euphorbiaceae), que pode ocorrer
38
Também chamadas ciliares, ripárias ou ripícolas, são formações silváticas associadas a margens de rios e
outros cursos d‟água (Marchiori, 2004).
Rodrigues e Leitão-filho (2000) comentam que o termo „Floresta de galeria‟ deve ser usado em regiões onde a
vegetação de interflúvio não é florestal.
39
Espécies vegetais adaptadas morfologicamente para suportar as severas condições da margem dos cursos
d‟água, suportando a submersão temporária e a força das enchentes (Marchiori, 2000, p. 229).
Figura 55 - Fotografia destacando a Floresta de galeria do arroio Lajeado Grande e de um de seus
afluentes, distribuindo-se sinuosamente sobre a planície de acumulação, em meio à formação
campestre e áreas de cultivo (ALVES, F. S., 2007).
82
juntamente com o sarandi-vermelho (Phyllantus sellowianus (Klotzsch) Müll.Arg.
Phyllanthaceae ou Euphorbiaceae), o sarandi-mata-olho (Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk.
Sapotaceae), o angiquinho (Calliandra tweedii Benth. - Leguminosae ou Fabaceae), o
salseiro (Salix humboldtiana Willd. Salicaceae) e, por vezes, o juquiri (Mimosa incana
(Spreng.) Benth. Leguminosae ou Mimosaceae) (Figura 56).
Na floresta propriamente dita, as espécies mais características são: o coqueiro-gerivá
(Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Arecaceae ou Palmae), o branquilho
(Sebastiana commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs Euphorbiaceae), o branquilho-
leiteiro (Sebastiana brasiliensis Spreng. Euphorbiaceae), a corticeira-do-banhado
(Erythrina cristagalli L. - Leguminosae ou Fabaceae), a murta (Blepharocalyx salicifolius
(Kunth) O. Berg Myrtaceae), a pitangueira (Eugenia uniflora L. Myrtaceae), o
pessegueiro-bravo (Prunus myrtifolia (L.) Urb. Rosaceae), o chal-chal (Allophylus edulis
(A.St.-Hil., Cambess.& A. Juss.) Radlk. Sapindaceae), o camboatá-branco (Matayba
elaeagnoides Radlk. Sapindaceae), o camboatá-vermelho (Cupania vernalis Cambess.
Sapindaceae), o tarumã-preto (Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke - Lamiaceae ou
Verbenaceae), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan - Leguminosae ou
Figura 56 - Fotografia da floresta de galeria do arroio Lajeado Grande. Em contato com a água, o grupo
das reófitas, representadas principalmente pelos sarandis, (Sebastiania schottiana (Müll.Arg.) Müll.Arg.
Euphorbiaceae, Phyllantus sellowianus (Klotzsch) Müll.Arg. Phyllanthaceae ou Euphorbiaceae e
Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. Sapotaceae) (ALVES, F. S., 2008).
83
Fabaceae), o açoita-cavalo (Lueha divaricata Mart. & Zucc. - Malvaceae ou Tiliaceae), o
camboim (Myrcia selloi (Spreng.) N. Silveira Myrtaceae), o marmeleiro-do-mato
(Ruprechtia laxiflora Meisnn. Polygonaceae), o taquaruçu (Guadua trinii (Ness) Ness ex.
Rupr. Poaceae ou Gramineae), o coentrilho (Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. - Rutaceae), a
mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium Lam. Rutaceae), a carne-de-vaca (Styrax
leprosus Hook. & Arn. Styracaceae), o guamirim (Myrcia palustris DC. Myrtaceae), a
capororoca (Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. Myrsinaceae), a canela-preta (Nectandra
megapotamica (Spreng.) Mez Lauraceae), a canela-lageana (Ocotea pulchella (Nees) Mez
Lauraceae), além de outras canelas (Ocotea sp. - Lauraceae). Formando o sub-bosque da
mata, destaca-se, por sua abundância, a embira (Daphnopsis racemosa Griseb.
Thymelaeaceae) (Figura 57).
Ao longo de sua extensão, registra-se ainda, nesta formação ciliar, a ocorrência
eventual de outras espécies, como o sucará (Xylosma tweediana (Clos.) Eichler Salicaceae
ou Flacourtiaceae), as capororocas (Myrsine coriacea (Sw.) R.Br., Myrsine lorentziana (Mez)
Arechav. Myrsinaceae), a guabiroba-do-mato (Campomanesia xanthocarpa O.Berg
Myrtaceae), o guamirim (Eugenia uruguayensis Cambess. Myrtaceae), o araçá-do-mato
Figura 57 - Fotografia da floresta de galeria do arroio Lajeado Grande, em seu médio curso, com
destaque para o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Arecaceae ou Palmae),
espécie muito característica desta formação (ALVES, F. S., 2007).
84
(Myrcianthes cisplatensis (Cambess.) O.Berg. Myrtaceae), a laranjeira-do-banhado
(Citronella gongonha (Mart.) R.A. Howard. - Cardiopteridaceae ou Icacinaceae), a congonha
(Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard. - Cardiopteridaceae ou Icacinaceae), o esporão-
de-galo (Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. Loganiaceae), o pau-de-junta (Coccoloba
cordata Cham. Polygonaceae), o araticum-folha-de-salso (Annona neosalicifolia (Schlecht.)
Rainer Annonaceae) e o araticum-quaresma (Annona emarginata (Schlecht.) Rainer
Annonaceae).
De modo geral, a orla da floresta de galeria reúne um conjunto de arbustos e árvores
pioneiras heliófilas
40
, salientando-se a aroeira-brava (Lithraea molleoides (Vell.) Engl.
Anacardiaceae), o molho (Schinus polygamus (Cav.) Cabrera Anacardiaceae), a cancorosa
(Maytenus muelleri Schwacke Celastraceae), o veludinho (Guettarda uruguensis Cham. e
Schlecht. Rubiaceae), o aguaí-vermelho (Chrysophyllum marginatum (Hook. e Arn.) Radlk.
Sapotaceae), o cambará (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Asteraceae), as taleiras
(Celtis iguanea (Jacq.) Sarg., Celtis ehrenbergiana (Klotzsch) Liebm. - Cannabaceae ou
Ulmaceae), a unha-de-gato (Acacia bonariensis Gill. ex Hook. et Arn. - Leguminosae ou
Fabaceae), a pixirica (Miconia hyemalis A. St.-Hil. e Naudin Melastomataceae), a viuvinha
(Chomelia obtusa Cham. & Schlecht. Rubiaceae), o chá-de-bugre (Casearia sylvestris Sw. -
Salicaceae ou Flacourtiaceae), a sete-sangrias (Symplocus uniflora (Pohl) Benth.
Symplocaceae), a japecanga (Smilax campestris Griseb. - Liliaceae ou Smilacaceae) e a
embira (Daphnopsis racemosa Griseb. Thymelaeaceae). Outras espécies, como a aroeira-
cinzenta (Schinus lentiscifolius Marchand. Anacardiaceae) e a tuna (Cereus hildmannianus
K. Schum. Cactaceae), podem também ocorrer, eventualmente.
4.3.6 Fanerófitas Solitárias
Em meio aos campos, não são raras as fanerófitas solitárias. Entre outras pioneiras
heliófilas, salientam-se, neste caso: o umbu (Phytolacca dioica L. - Phytolaccaceae), a
coronilha (Scutia buxifolia Reissek - Rhamnaceae), o molho (Schinus polygamus (Cav.)
Cabrera - Anacardiaceae), o molho-rasteiro (Schinus engleri F.A. Barkley - Anacardiaceae), a
taleira (Celtis iguanea (Jacq.) Sarg. - Cannabaceae ou Ulmaceae) e o sucará (Xylosma
40
Plantas exigentes de luz, capazes de ocupar áreas desnudas (Marchiori, 2007).
85
tweediana (Clos.) Eichler - Salicaceae ou Flacourtiaceae) (Figuras 58 e 59). Cabe destacar
que a ocorrência destes indivíduos arbóreos de forma isolada não apresentou relação direta
com as características do meio físico.
Figura 59 - Fotografia destacando um exemplar de umbu (Phytolacca dioica L. - Phytolaccaceae),
espécie arbórea de ocorrência solitária na bacia do arroio Lajeado Grande (ALVES, F. S., 2008).
Figura 58 Fotografia registrando a ocorrência do molho-rasteiro (Schinus engleri F.A. Barkley -
Anacardiaceae), espécie encontrada no alto curso da bacia hidrográfica (ALVES, F. S., 2008).
86
4.4 Análise Correlativa: Vegetação Meio Físico
Na análise correlativa interpretativa, percorre-se o caminho inverso do desenvolvido
durante a execução do trabalho. Tendo como ponto de partida a vegetação, é realizado um
estudo correlativo, relacionando cada tipologia com o suporte geoecológico oferecido pelo
meio físico em diferentes unidades morfolitológicas.
As distintas tipologias da vegetação, definidas e caracterizadas no capítulo anterior,
bem como sua distribuição geográfica na bacia do arroio Lajeado Grande, estão representadas
no Mapa Fitogeográfico, exposto na Figura 60.
A seguir, são apresentadas e discutidas sistematicamente algumas constatações de
relevante interesse, observadas no presente estudo.
4.4.1 Campos em Colinas de arenito
Estes campos foram assim denominados por constituírem um tapete gramíneo-
herbáceo rasteiro e contínuo, recobrindo com predominância absoluta as colinas de substrato
arenítico e também pequenas porções da planície de acumulação, especialmente onde a
floresta de galeria foi retirada pela ação humana, cedendo assim, espaço à invasão dos
campos existentes nas colinas adjacentes.
Os estudos florísticos realizados nestes campos revelaram que eles possuem um
conjunto florístico próprio e que em situações singulares, apresentam o elemento fanerofítico
ocorrendo de modos diferentes, permitindo, assim, a sua subdivisão em: “Campos com butiá-
anão em colinas de arenito” e “Campos com curupis em colinas de arenito”.
Os campos em colinas de arenito, formação campestre mais abundante na bacia em
estudo, exibem, de forma muito significativa, um conjunto de nanofanerófitas, sobretudo de
Mirtáceas, que apresentam ampla dispersão junto às colinas de arenito, ocorrendo igualmente
nos campos com curupis e nos campos com butiá-anão (Figura 61).
MAPA FITOGEOGRÁFICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE
Lagoa Vermelha
Lagoa dos Curupis
Lagoa Verde
Lagoa Parové
Figura 60 - Mapa Fitogeográfico da Bacia Hidrográfica do Arroio Lajeado Grande.
Legenda:
Campos em colinas de arenito
Campos com curupis em colinas de arenito
Campos com butiá-anão em colinas de arenito
Campos em colinas vulcânicas
Campos com espinilhos em colinas vulcânicas
Lagos naturais e/ou artificiais
Cursos d’água
Vegetação de cornijas e/ou morrotes de arenito
Capões de mato em morrotes e colinas vulcânicas
Floresta de galeria em planície de acumulação
88
4.4.1.1 Campos com butiá-anão em colinas de arenito
De ocorrência restrita, o butiá-anão (Butia lallemantii Deble e Marchiori Arecaceae)
constitui verdadeiros palmares de extensões reduzidas. Sempre vinculado às colinas de
substrato arenítico, confere um aspecto de savana à vegetação campestre.
Cabe observar, todavia, que no „Cerro Cascavel‟, um morrote de arenito fluvial, esta
espécie encontra-se não apenas nas colinas de arenito adjacentes, mas também na vegetação
de meia encosta e no topo do morrote, crescendo entre fendas rochosas (Figura 62).
4.4.1.2 Campos com curupis em colinas de arenito
Com uma distribuição muito ampla nestas colinas, o curupi (Sapium haematospermum
Müll. Arg. Euphorbiaceae) apresenta em certos locais maior concentração, conferindo à
paisagem um aspecto fisionômico de Savana-Parque (Figura 63).
Figura 61 - Fotografia destacando a pitanga-do-campo (Eugenia pitanga (Berg) Niedenzu Myrtaceae),
nanofanerófita muito característica dos campos em colinas de arenito (ALVES, F. S., 2008).
89
Estudos detalhados de correlação entre vegetação e meio físico, indicam que esta
fanerófita pode ser considerada uma espécie geo-indicadorade substrato rochoso, pois em
100% dos casos analisados, o curupi cresce em campos com substrato constituído por rochas
areníticas dos tipos fluvial, eólico e até mesmo intertrápico.
Figura 62 - Fotografia registrando a ocorrência do butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae), no topo rochoso do “Cerro da Cascavel” (ALVES, F. S., 2007).
Figura 63 - Fotografia expondo a concentração de curupis (Sapium haematospermum Müll. Arg.
Euphorbiaceae), em meio aos campos em colinas de arenito, conferindo à paisagem uma fisionomia
de Savana Parque (ALVES, F. S., 2008).
90
De modo muito particular, o conjunto florístico destes campos em colinas de arenito
apresenta caracteres visivelmente xeromórficos
41
, tais como: sistema subterrâneo muito
desenvolvido (xilopódio
42
); folhas reduzidas, coriáceas, brilhantes e/ou revestidas por
indumento; e tomentosidade acentuada, em órgãos de determinadas espécies. De acordo com
Marchiori (1995, p. 87), tais aspectos da vegetação testemunham a ocorrência de fases
xerotérmicas no período quaternário, atestando um caráter relitual aos elementos desta flora.
Em complemento a esta observação, Medeiros et al. (1995, p. 63) explica que a região
das colinas de arenito é caracterizada por uma paisagem bastante frágil, que advém de um
paleoambiente semi-árido ou semi-úmido estepário que, mais recentemente, sofreu
umidificação insuficiente para mascarar ou eliminar a influência do período anterior na
paisagem moderna.
4.4.2 Campos em colinas vulcânicas
Estes foram assim definidos por formarem um tapete gramíneo-herbáceo denso e
contínuo, constituindo um conjunto florístico praticamente sem relação com a flora dos
campos em colinas de arenito. Recobrem exclusivamente as colinas vulcânicas e parte dos
morrotes de mesmo substrato, como também pequenas porções da planície de acumulação,
em pontos que ação antrópica os favorece.
Pelo fato das colinas vulcânicas estarem em grande parte estruturadas em camadas
extremamente delgadas, verifica-se que algumas destas apresentam tapete gramináceo-
herbáceo composto também por espécies da flora dos campos em colinas de arenito (Figura
64). Isto ocorre quando as camadas vulcânicas sobrepostas ao arenito possuem espessura
muito reduzida, desintegrando-se com certa facilidade e incorporando-se com rapidez ao solo.
Nestes casos, é bastante comum encontrar resíduos de rochas vulcânicas no topo destas
unidades, em meio ao solo, enquanto a base é constituída por arenitos eólicos ou intertrápicos.
41
Advém do termo xeromorfia, o qual se aplica ao desenvolvimento ou adaptações que habilitam as plantas a
reter água para que sobrevivam em ambientes carentes de água doce. A xeromorfia pode incluir um
espessamento da camada externa protetora (epiderme), a redução do tamanho da folha ou até alterações do
caminho normal para a fotossíntese (metabolismo ácido crassulaceano) Metabolismo resistente à seca (ART,
H.W. 1998, p.544).
42
Xylopodium significa “pé de madeira”, diz-se do tipo de caule subterrâneo, tuberoso, lignificado, considerado
como um órgão que guarda e tenazmente retém uma certa quantidade de água (Lindman, 1906).
91
4.4.2.1 Campos com espinilhos em colinas vulcânicas
De ampla dispersão e extremamente vinculado às colinas e aos morrotes de substrato
vulcânico, o espinilho (Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae) ocorre
com maior intensidade em áreas específicas. Assim como o curupi (Sapium haematospermum
Müll. Arg. Euphorbiaceae), esta fanerófita pode ser também considerada uma espécie geo-
indicadorade substrato rochoso, uma vez que sempre encontra-se associada a unidades com
substrato constituído por rochas vulcânicas (Figura 65).
4.4.3 Vegetação das cornijas de arenito
Nas cornijas formadas por afloramentos de rocha arenítica à meia encosta de colinas, a
vegetação campestre cede espaço a uma associação arbustiva-arbórea, composta
principalmente de cactáceas, arbustos e algumas árvores xerófilas.
Figura 64 - Fotografia registrando a ocorrência de espécies típicas de campos em colinas vulcânicas como
grama-forquilha (Paspalum notatum Flüegge - Poaceae ou Gramineae) junto com as barbas-de-bode
(Aristida circinalis Lindman, Aristida filifolia (Arechav.) Herter Poaceae), espécies restritas aos campos
em colinas de arenito, destacando as áreas de contato (ALVES, F, S., 2008).
92
Intimamente vinculada aos blocos de rocha, esta tipologia apresenta como espécies
mais características a criúva (Agarista eucalyptoides (Cham. & Schlecht.) G. Don
Ericaceae), seguida pelo jasmim-catavento (Tabernaemontana catharinensis DC.
Apocynaceae) e pela tuna (Cereus hildmannianus K. Schum. Cactaceae), entre outras,
(Figura 66).
4.4.4 Vegetação dos morrotes de arenito
Apresentando um conjunto florístico muito semelhante ao das cornijas, a vegetação de
morrotes de arenito reúne também uma grande quantidade de ervas e arbustos, algumas de
ocorrências raras e ou endêmicas como o butiá-anão (Butia lallemantii Deble & Marchiori
Arecaceae) e as Asteráceas Baccharis pampeana An. S. de Oliveira, Deble e Marchiori e
Achyrochline marchiorii Deble.
A distribuição da cobertura vegetal, nesta unidade, ocorre de modo muito particular. O
topo, embora apresente na maioria dos casos áreas de solo raso alternadas com rocha exposta,
de modo geral, reúne um conjunto de gramináceas, herbáceas, bromeliáceas, cactáceas e até
Figura 65 - Fotografia registrando em primeiro plano, afloramento de rocha vulcânica à meia encosta de
colina, seguido pela ocorrência em abundância de espinilho (Acacia caven (Molina) Molina -
Leguminosae ou Fabaceae), fanerófita típica dos campos em colinas vulcânicas (ALVES, F. S., 2008).
93
pequenos arbustos. Com aspecto fisionômico muito diferenciado, a vegetação da encosta
concentra, além de gramíneas, ervas, cactos e bromélias, um conjunto de arbustos, arvoretas e
árvores, arranjadas em todo o entorno do morrote, de modo a formar um círculo de vegetação
arbustivo-arbórea (Figura 67).
4.4.5 Capões de mato
Estruturando-se em pequenos núcleos florestais constituídos por espécies típicas da
floresta de galeria, estes organizam-se exclusivamente à meia encosta íngreme de colinas e
morrotes de substrato vulcânico, associados principalmente a drenagens de primeira ou
segunda ordem e exposição frequentemente sul/sudeste.
Em capões de mato, onde a camada vulcânica do substrato é extremamente delgada,
torna-se frequentemente comum aflorar à meia encosta rochas areníticas. Tal situação
observada influencia diretamente na composição florística destes capões, que podem
apresentar espécies típicas da vegetação de morrotes ou de cornijas de arenito, em meio a seu
conjunto florístico próprio (Figura 68).
Figura 66 - Fotografia destacando exemplares de jasmim-catavento (Tabernaemontana catharinensis
DC. Apocynaceae) e tuna (Cereus hildmannianus K. Schum. Cactaceae), espécies características
da vegetação de cornijas (ALVES, F. S., 2008).
94
Figura 68 - Fotografia de um capão-de-mato à meia encosta de colina vulcânica com camada muito
reduzida, contribuindo assim para a ocorrência de espécies atípicas ao conjunto florístico desta
tipologia (ALVES, F. S., 2008).
Figura 67 - Fotografia mostrando a distribuição da vegetação arbustiva-arbórea, associada ao tálus em
morrote de arenito (ALVES, F. S., 2008).
95
4.4.6 Floresta de galeria
Principal formação florestal da bacia hidrográfica, destacando-se significativamente
sob o aspecto fisionômico, encontra-se intimamente associada à planície de acumulação,
estendendo-se desde a montante a jusante, sempre acompanhando a drenagem principal e
alguns afluentes de maior porte.
Em áreas com planície de acumulação reduzida, a floresta de galeria pode conectar-se
a capões-de-mato localizados à meia encosta de colinas ou morrotes vulcânicos, bem como à
vegetação de cornijas ou de morrotes de arenito (Figuras 69 e 70). Tal contato pode contribuir
com diferentes espécies na composição florística desta formação, em especial entre os
elementos que constituem a orla da floresta.
Cabe também observar que, quando a floresta de galeria faz contato direto com as
formações campestres, a orla desta floresta abriga o espinilho (Acacia caven (Molina) Molina
- Leguminosae ou Fabaceae) e o garupá (Aloysia gratissima (Hook.) Tronc. Verbenaceae)
em áreas onde as colinas ou morrotes adjacentes à planície de acumulação possuem substrato
Figura 69 - Fotografia mostrando a conexão entre capão-de-mato, arranjado na encosta de uma colina
vulcânica, e floresta de galeria, presente na planície de acumulação (ALVES, F. S., 2008).
96
vulcânico. Quando as colinas são de substrato arenítico, estas espécies são praticamente
substituídas pelo curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg. Euphorbiaceae) e pelo
jasmim-catavento (Tabernaemontana catharinensis DC. Apocynaceae).
Figura 70 - Fotografia registrando a conexão da floresta de galeria com a vegetação característica dos
morrotes de arenito - Cerro do Graxaim” (ALVES, F. S., 2007).
97
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente proposta de estudo fitogeográfico interdisciplinar, elaborada e aplicada
com base em conceitos, métodos e procedimentos de áreas distintas, envolvendo ciências
como a Geografia e a Biologia, desenvolveu-se de modo sistêmico e sincronizado, permitindo
a correlação de informações e a realização de interpretações precisas no que diz respeito à
cobertura vegetal nativa e suas vinculações com o suporte geoecológico, na bacia hidrográfica
do arroio Lajeado Grande. Tal proposta, fundamentada na possibilidade de extrair
informações a partir do estudo da biologia de plantas representativas de cada tipologia da
vegetação e suas vinculações com o meio físico, buscou inicialmente definir e caracterizar as
diferentes unidades do relevo, bem como interpretar, com precisão, a composição e
distribuição espacial da cobertura vegetal.
Com a divisão e caracterização do espaço físico em unidades homogêneas, definidas a
partir de aspectos geológicos e geomorfológicos do terreno, criou-se uma base de dados
fundamental, uma vez que este estudo define, com clareza, as formas predominantes do
relevo (landforms), suas respectivas composições litológicas e principais tipos de solos
derivados, bem como a distribuição completa da rede hidrográfica. Com estas informações,
foi produzido o “mapa morfolitológico” da bacia, que expõe cartograficamente tais
resultados.
A análise da composição florística, orientada a partir de critérios fisionômicos e
ecológicos próprios da vegetação, foi sistematizada com bases geográficas detalhadas em seis
unidades morfolitológicas previamente definidas. Este levantamento resultou no
reconhecimento e na caracterização de dez tipologias distintas de vegetação, que foram
definidas principalmente pela presença do elemento fanerofítico, ocorrendo em diferentes
situações: ora dispersos em meio à vegetação campestre, conferindo à paisagem um aspecto
de “savana”; ora formando associações arbustivo-arbóreas complexas, com espécies
apresentando visíveis caracteres xeromórficos. E também, em certos casos, constituindo
típicas estruturas florestais.
A partir da definição das tipologias que apresenta a vegetação e a identificação de suas
respectivas espécies características, o estudo correlativo entre vegetação e meio físico foi
desenvolvido de modo a identificar, com precisão, os elementos do meio que exercem
influência direta na composição florística e na distribuição espacial da cobertura vegetal.
98
Esta correlação revelou que todas as tipologias, presentes na área em estudo,
apresentam estreitas relações com o meio físico, em especial com a disposição dos recursos
hídricos, com o relevo (amplitude e inclinação de vertentes), com as litologias e solos
derivados, com a exposição à luz solar e também com o clima, pois se atribui, principalmente
às condições climáticas atuais, a ocorrência de espécies típicas de clima ombrófilo e espécies
características de clima xerófilo, neste reduzido espaço geográfico.
Durante esta análise, certas vinculações mostraram-se tão acentuadas que duas
fanerófitas, o curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg. Euphorbiaceae) e o espinilho
(Acacia caven (Molina) Molina - Leguminosae ou Fabaceae), típicas de formações
campestres distintas, foram reconhecidas como espécies geo-indicadoras de substrato
rochoso, pois mostraram-se extremamente seletivas quanto às condições lito-pedológicas do
ambiente.
Frente a estas constatações, torna-se importante esclarecer que a terminologia adotada
para designar as distintas tipologias da vegetação advém dos resultados obtidos no processo
de correlação: vegetação - meio físico, no qual o cruzamento de informações revelou que
todas as tipologias existentes na bacia do arroio Lajeado Grande, com exceção das Fanerófitas
Solitárias, estão intimamente associadas às condições do meio físico, apresentando sempre
um “padrão” de distribuição geográfica. Este resultado encontra-se representado no “mapa
fitogeográfico”, que apresenta cartograficamente a distribuição da vegetação e suas
vinculações com o suporte geoecológico, presente nas distintas unidades morfolitológicas.
Por fim, espera-se que este estudo venha a contribuir com o avanço do conhecimento
fitogeográfico sul-rio-grandense, em especial para a região oeste do Rio Grande do Sul, onde
ainda existem situações não bem esclarecidas na literatura científica.
99
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