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Estudo de parâmetros de ativação do sistema imune na neuro-
inflamação em pacientes com diagnóstico clínico de Neuromielite
Óptica
Maria Lúcia Vellutini Pimentel
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Clínica Médica (Neurologia),
Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Medicina
(Neurologia)
Orientadores: Professora Drª Soniza Vieira Alves-Leon
Professor Dr. Ângelo Maiolino
Rio de Janeiro
2007
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Pimentel, Maria Lúcia Vellutini
Estudo de parâmetros de ativação do sistema imune na neuro-
inflamação em pacientes com diagnóstico clínico de Neuromielite Óptica
/ Maria Lúcia Vellutini Pimentel. -- Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de
Medicina, 2007.
xiii, 62 f. : il.; 31 cm.
Orientadores: Soniza Vieira Alves-Leon e Ângelo Maiolino
Tese (doutorado) – UFRJ / Faculdade de Medicina/Clínica
Médica, 2007
Referências bibliográficas: f. 54-62
1. Neuromielite óptica - imunologia. 2. Citocinas - imunologia. 3.
Auto-antígenos - análise. 4. Proteínas básicas da mielina - análise. 6.
Neuromielite óptica- diagnóstico. 7. Humano. 8. Neurologia - Tese. I.
Alves-Leon, Soniza Vieira. II. Maiolino, Ângelo. III. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Neurologia. IV. Título.
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Maria Lucia Vellutini Pimentel
Estudo de parâmetros de ativação do sistema imune na neuroinflamação em
pacientes com diagnóstico clínico de Neuromielite Óptica
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica
(Neurologia), Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Medicina
(Neurologia).
Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2007
Professor Dr. Sergio Augusto Pereira Novis, Professor Titular, Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ)
____________________________________________________________________
Professor Dr. José Ângelo Papi, Professor Titular, Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ)
____________________________________________________________________
Professor Dr. Charles Andre, Professor Adjunto, Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ)
____________________________________________________________________
Professor Dr. Luis dos Ramos Machado, Professor Assistente, Universidade de São
Paulo (USP)
____________________________________________________________________
Professor Dr. Luiz Claudio Santos Thuler, Professor Adjunto, Universidade Federal
do Estado Rio de Janeiro (UNIRIO)
iv
Ao meu marido João, incansável no seu apoio, estímulo e companheirismo
apesar da distância geográfica que nos separa.
Aos meus filhos, Juliana e João que com afeto e carinho amenizaram esta
jornada que me privou de suas companhias por muito tempo.
Aos meus pais, in memoriam, que me ensinaram a perseverar, a enfrentar as
adversidades sem esmorecer.
v
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof
a
Drª Soniza Vieira Alves-Leon, mestre, amiga e
parceira de todas as horas nesta jornada, pelo seu constante estímulo e vibração,
mesmo nos momento mais difíceis.
Ao meu orientador, Dr. Ângelo Maiolino pelo direcionamento preciso e objetivo
nos vários questionamentos surgidos no decorrer deste projeto.
À Prof
a
Thereza Quirico-Santos pelo incentivo, dedicação e, principalmente,
pela fundamental colaboração nas pesquisas laboratoriais sem as quais este
trabalho não poderia ser realizado.
Ao Prof Sergio Augusto Pereira Novis pelo apoio incondicional em todos os
momentos.
Aos colegas do Ambulatório de Neuroimunologia do HUCFF, Dr. Cláudio
Duque Estrada, Drª Fabiola Rachid, Drª Valéria Santa Rosa e Drª Assumcion Liem
pela amizade e colaboração no atendimento aos inúmeros pacientes, em todas as
horas que lá convivemos.
Aos colegas do Ambulatório de Doenças Desmielinizantes da Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro, Drª Alessandra Silva e Silva, com quem iniciamos
este Ambulatório e Dr. Pablo Loureiro pelo constante incentivo e vibração no
atendimento aos nossos pacientes.
À Enfermeira Angélica, elo incondicional entre os pacientes e os médicos,
sempre pronta a nos ajudar e que, com seu sorriso constante, ameniza os momentos
mais tumultuados.
À Gabriele Cerqueira Sant´Anna pela análise das amostras e colaboração no
entendimento dos resultados encontrados.
vi
Ao Prof Antonio Spina-França, mestre e padrinho pelo incentivo constante em
cada momento, ao longo da minha trajetória profissional.
A todos os pacientes que direta ou indiretamente participaram deste projeto
por sua incansável colaboração em cada momento deste estudo.
A todos aqueles, colegas, amigos, parentes, colaboradores que direta ou
indiretamente participaram nas diferentes fases deste projeto, pelo apoio e suporte
ao longo destes anos.
vii
A arte da guerra nos ensina a não confiar na probabilidade de o inimigo não vir, mas
na nossa presteza em recebê-lo; não na chance de ele não atacar, mas, em vez
disso, no fato de que tornamos nossa posição invulnerável.
Sun Tzu
“A arte da guerra”
viii
RESUMO
A neuromielite óptica (NMO) é uma doença inflamatória, desmielinizante do sistema
nervoso central (SNC), caracterizada pela associação de mielite aguda ou subaguda
grave e neurite óptica unilateral ou bilateral. Os pacientes com NMO geralmente
apresentam piora clínica e maiores seqüelas após cada surto, diferenciando-se
daqueles com esclerose múltipla (EM) pela estereotipia sintomática, embora
preencham critérios de McDonald et al para EM. Estudos neuropatológicos
demonstraram a associação das lesões desmielinizantes da NMO com depósito
perivascular de imunoglobulina, ativação local da cascata do complemento e
infiltração eosinofílica. Marcadores humorais estariam, portanto, implicados na
patogênese da NMO. O presente estudo tem como objetivo analisar alguns
parâmetros imunológicos dos pacientes com NMO, dos ambulatórios de doenças
desmielinizantes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) e do Hospital Geral da Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro (HGSCMRJ). O diagnóstico de NMO baseou-se nos
critérios de Wingerchuck et al (1999). Foi usado o método de ELISA para avaliar a
produção de IgG e IgA para antígenos da proteína básica da mielina (MBP), o
proteolipídeo (PLP) 95-116, a glicoproteina associada ao oligodendrócito (MOG) 92-
106 e das citocinas interleucina-4 (IL-4) e interferon-gama (INF-γ). Foram incluídos
28 pacientes com NMO, sendo 21 do sexo feminino e sete do sexo masculino, com
idades entre 25 e 62 anos, e 26 indivíduos saudáveis como grupo controle, sendo 15
do sexo feminino e 11 do sexo masculino, com idades entre 18 e 43 anos. Os
pacientes com NMO apresentaram níveis significativamente elevados de
imunoglobulinas reativas dos isotipos IgG para MOG 92-106 (p<0,0001), PLP 95-116
(p=0,0002) e MBP (p<0,0001) e IgA somente para MBP (p<0,0001). A produção
elevada de IL-4 (p= 0,0084) indica um papel importante na ativação de células
regulatórias Th2 e linfócitos B produtores de IgA. Os níveis de INF-γ (p=0,61) foram
semelhantes aos do grupo controle. Os resultados indicam que a ativação da
imunidade humoral, com produção de imunoglobulinas reativas para determinados
antígenos encefalitogênicos da mielina têm uma participação importante na
fisiopatologia da neuro-inflamação nos pacientes com NMO.
ix
ABSTRACT
Neuromyelitis optica (NMO) is an inflammatory, demyelinating disease of the central
nervous system (CNS) characterized by the association of a serious acute or
subacute myelitis and unilateral or bilateral optic neuritis. NMO patients usually have
a worse clinical presentation and more deficits after each bout, being distinct from
patients with multiple sclerosis (MS) by the symptomatic stereotypy, although fulfilling
the McDonald´s criteria for MS. Neuropathologic studies demonstrated an
association among demyelinating lesions in NMO and peri-vascular deposits of
immunoglobulin, local activation of complement cascade and eosinophilic infiltration.
Humoral markers would be therefore implicated in the pathogenesis of NMO. The
present study aimed to analyze the immunological parameters of NMO patients from
the out-patient unit of demyelinating diseases at Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho, Rio de Janeiro Federal University (HUCFF-UFRJ) and Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Brazil. NMO diagnosis was established
based on Wingerchuck et al (1999) criteria. Production of IgG and IgA antibodies to
antigens of myelin basic protein (MBP), proteolipid (PLP) 95-116, myelin
oligodendrocyte glycoprotein (MOG) 92-106, and the cytokines interleukin-4 (IL-4)
and interferon-γ (INF-γ) were assessed by Elisa assay. The cohort was formed by
twenty-eighth NMO patients, twenty-one females, seven males age ranged from 25
to 62 years old. A control group was formed by twenty-six healthy patients, fifteen
females, eleven males age ranged from 18 to 43 years old. NMO patients had
significant high levels of reactive immunoglobulins of isotypes IgG to MOG 92-106
(p<0.0001), PLP 95-116 (p=0.0002) and MBP (p<0.0001), and solely IgA to MBP
(p<0.0001). Increased production of IL-4 (p= 0.0084) indicates an important role for
this cytokine in the activation of Th2 regulatory cells and of the IgA producers B
lymphocyte. However, INF-γ (p=0.61) levels were similar to healthy controls. Our
results indicate that activation of humoral immunity with increased production of
reactive immunoglobulins for some encephalitogenic myelin antigens play an
important role in the physiopathology of NMO neuroinflammation.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Procedência dos pacientes com NMO incluídos neste estudo.
Figura 2. Distribuição etária do primeiro surto entre os dois grupos étnicos.
Figura 3. Tempo de doença (anos) e etnia.
Figura 4. Número de surtos e etnia.
Figura 5. Distribuição dos pacientes com NMO por EDSS e etnia.
Figura 6. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para MBP nativa em pacientes com
NMO e controles.
Figura 7. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para PLP 95-116 em pacientes com
NMO e controles.
Figura 8. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para MOG 92-106 em pacientes
com NMO e controles.
Figura 9. Níveis plasmáticos de INFγ em pacientes com NMO e controles.
Figura 10. Níveis plasmáticos de IL-4 em pacientes com NMO e controles.
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Principais diferenças entre NMO e EM
Tabela 2. Proposta de critérios diagnósticos para NMO
Tabela 3. Novos critérios diagnósticos de NMO
Tabela 4. História natural da neuromielite óptica
Tabela 5. Avaliação de auto-antígenos encefalitogênicos em diferentes estudos
sobre doenças desmielinizantes
Tabela 6. Análise das características demográficas dos pacientes excluídos
Tabela 7. Características dos pacientes
Tabela 8. Comparação entre pacientes e controles com relação ao gênero, etnia e
idade
Tabela 9. Resultados clínicos: sintomas iniciais e forma de evolução
Tabela 10. Resultados clínicos considerando as diferenças étnicas
Tabela 11. Resultados laboratoriais dos pacientes e controles
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
AQP-4 _______________ aquaporina-4
BOC _______________ banda oligoclonal
DDII _______________ doenças desmielinizantes inflamatórias idiopáticas
EAE _______________ encefalomielite alérgica experimental
EDSS _______________ escala expandida do estado de incapacidade
EM _______________ esclerose múltipla
GFAP _______________ proteína glial fibrilar ácida
IgA _______________ imunoglobulina A
IgG _______________ imunoglobulina G
IgH _______________ imunoglobulina pesada
IGH
MOG
_______________ cadeia pesada de imunoglobulina MOG-específico
IL-4 _______________ interleucina-4
INF-γ _______________ interferon-gama
MBP _______________ proteína básica da mielina
MOG _______________ glicoproteína associada ao oligodendrócito
NMO _______________ neuromielite óptica
NMOR _______________ neuromielite óptica recorrente
OSE _______________ encefalite alérgica experimental óptico-medular
PLP _______________ proteolipídeo
TCR
MOG
_______________ camundongo transgênico TCR MOG-específico
Th1 _______________ células T-helper 1
Th2 _______________ células T-helper 2
xiii
SUMÁRIO
Dedicatória ___________________________________________________iv
Agradecimentos _______________________________________________v
Epígrafe _____________________________________________________ vii
Resumo _____________________________________________________ viii
Abstract _____________________________________________________ ix
Lista de Figuras _______________________________________________ x
Lista de Tabelas _______________________________________________xi
Lista de Abreviaturas ___________________________________________xii
I. Introdução __________________________________________________1
II. Revisão da literatura _________________________________________ 6
II.1. Histórico _______________________________________________ 6
II.2. Quadro clínico ___________________________________________8
II.3. Fisiopatogenia __________________________________________ 14
III. Objetivos __________________________________________________23
IV. Metodologia _______________________________________________ 24
IV.1. Critérios de inclusão ____________________________________ 24
IV.2. Critérios de exclusão ____________________________________26
IV.3. Amostras _____________________________________________ 26
IV.4. Análise estatística ______________________________________ 29
V. Resultados ________________________________________________ 30
V.1. Características dos pacientes ______________________________ 30
V.2. Análise dos resultados laboratoriais _________________________ 37
VI. Discussão _________________________________________________43
VII. Conclusões _______________________________________________ 52
VIII. Perspectivas ______________________________________________53
VIII. Referências bibliográficas ____________________________________54
1
I. INTRODUÇÃO
A neuromielite óptica (NMO), ou Doença de Devic (DEVIC, 1894), é uma
síndrome desmielinizante grave do sistema nervoso central (SNC), caracterizada
principalmente por neurite óptica (NO) e mielite aguda, mas que pode estar
associada a manifestações fora do nervo óptico e da medula espinhal
(WINGERCHUK et al, 2006; PITTOCK et al, 2006). A NMO era considerada doença
monofásica caracterizada por mielite transversa grave e NO bilateral, simultânea ou
seqüencial. Estudos posteriores revelaram casos de menor morbidade, com
acometimento do nervo óptico unilateral, e sintomas separados com variável
temporal de meses ou anos, ou mesmo exacerbações recorrentes. Isto permite sua
inclusão, erroneamente, dentro dos critérios diagnósticos de distribuição no tempo e
no espaço como esclerose múltipla (EM), e outras doenças neurológicas recorrentes
(McDONALD et al, 2001; LUCCHINETTI et al, 2002).
A NMO está associada à presença de imunoglobulina G sérica, que serve
como marcador específico; Lennon et al (2004, 2005) mostraram que a
imunoglobulina associada a NMO (IgG-NMO) se liga seletivamente ao canal de água
aquaporina-4 (AQP-4), um componente do complexo da proteína distroglicana
localizado na membrana do astrócito, envolvido na barreira hemato-encefálica
(LENNON et al, 2004, 2005). A IgG-NMO é encontrada ao redor dos micro-vasos do
SNC, pia, subpia e espaço de Virchow-Robin (LENNON et al, 2004). A alta
prevalência de auto-anticorpos na NMO e a associação com doenças do colágeno
sugerem defeito na imunidade mediada pelos linfócitos B (WINGERCHUK et al,
2003) e a detecção do auto-anticorpo IgG-NMO corrobora esta observação
(WINGERCHUK et al, 2006).
2
A NMO é a primeira doença desmielinizante idiopática do SNC que tem um
marcador biológico específico e pode representar o primeiro exemplo de uma nova
classe de canalopatia auto-imune (LENNON et al, 2004). Através dos canais de
AQP-4, pequenas, mas importantes quantidades de imunoglobulina periférica podem
alcançar o SNC nas regiões vulneráveis da barreira hemato-encefálica
(WINGERCHUK et al, 2006; PITTOCK et al, 2006; LENNON et al, 2004).
A NMO é atualmente reconhecida como uma condição associada a surtos
recorrentes (NMOR) que incluem também o envolvimento do nervo óptico unilateral
e aqueles com eventos índices de NO e mielite com intervalo de semanas ou até
anos (WINGERCHUK et al, 2006). Critérios para o diagnóstico de NMO foram
propostos em 1999 (WINGERCHUCK et al, 1999), e revistos recentemente
(WINGERCHUK et al, 2006) à luz do conhecimento da distribuição dos canais de
AQP-4, no encéfalo e na medula espinhal, justificando as manifestações em regiões
do SNC onde há sua maior concentração (PITTOCK et al, 2006).
A NMO tem maior prevalência na população asiática, diferentemente da EM.
A EM é relativamente incomum no Japão (1,6 a 1,8 /100.000) e em grande parte da
Ásia quando comparada a América do Norte e a países onde a população é de
origem norte européia (WEINSHENKER, 2005). A forma óptico-medular de EM,
caracterizada pelo predomínio de manifestações no nervo óptico e da medula
espinhal, mas com acometimento também de outras regiões do SNC, foi descrita na
população japonesa onde apresenta maior prevalência do que no Ocidente
(OKINAKA et al, 1960; KUROIWA et al, 1967, 1973, 1975; KIRA, 2003). A forma
óptico-medular de EM parece similar à forma recorrente de NMO com relação à
idade de início dos sintomas, achados de ressonância magnética (RM), do líquido
cefalorraquidiano (LCR) e da patologia, com exceção da baixa associação com
3
doenças auto-imunes (SAKUMA et al, 1999). Mais significante ainda é o fato de que
o marcador biológico da NMO, IgG-NMO, foi detectado com a mesma freqüência nas
duas formas, sugerindo que possam ser a mesma doença (WINGERCHUK, 2006;
LENNON et al, 2004)
Estudos neuropatológicos das lesões de NMO mostram depósito perivascular
de imunoglobulina G (IgG), ativação de cascata local de complemento e infiltração
de eosinófilos, sugerindo a participação da imunidade humoral na sua patogênese
(CORREALE & FIOL, 2004). A ausência de resposta IgG1 no LCR em pacientes
com NMOR sugere menor imunidade Th1, o que poderia justificar a raridade da
presença de bandas oligoclonais (BOC) nos pacientes com essa condição
(NAKASHIMA et al, 2004; PAPAIS-ALVARENGA et al, 2002).
Evidências importantes mostram que doenças auto-imunes, desmielinizantes
como a EM estão associadas à participação de linfócitos T e macrófagos ativados
por auto-antígenos (ALVES-LEON et al, 2001); auto-anticorpos ou células T ativadas
contra proteína básica da mielina (MBP), proteolipídeo (PLP), glicoproteína
associada à mielina (MAG) ou glicoproteína associada ao oligodendrócito (MOG)
têm sido descritos em pacientes com EM (ZHANG et al, 1993, CARVALHO et al,
2003). A reação inflamatória com predomínio de linfócitos T CD4+ e marcante
produção de citocinas e quimiocinas geralmente precedem e acompanham a
desmielinização e a citotoxicidade do SNC (CARVALHO et al, 2003). Contudo, a
deposição de imunoglobulinas e componentes da ativação do sistema complemento,
próximos à lesão inflamatória, sugere a participação dos linfócitos B na lesão do
SNC. A participação dos linfócitos B na desmielinização está associada à sua
capacidade de funcionar como célula acessória na apresentação de antígenos
solúveis durante a resposta imune inicial. A resposta da NMO ao tratamento anti-
4
células B com rituximab, um anticorpo monoclonal anti-CD20, e à plasmaferese são
consistentes com a hipótese de que a doença seja mediada por células B e auto-
anticorpos (CREE et al, 2005).
Alguns auto-anticorpos estão aumentados em doenças desmielinizantes
inflamatórias do SNC. Estudos do modelo da encefalomielite alérgica experimental
(EAE) indicam que imunoglobulinas reativas da superfície da bainha de mielina
(MOG, PLP, MBP) exercem papel importante na citotoxidade do oligodendrócito e
contribuem para o desenvolvimento e manutenção da desmielinização em roedores
e primatas (GENAIN et al, 1995; SAOUDI et al, 1995; MYERS et al, 1992). A MBP, o
PLP e a sequência MOG 92-106 da glicoproteína associada ao oligodendrócito são
considerados os principais componentes encefalitogênicos da mielina do SNC,
implicados na patogenia da EM e na indução da EAE (CORREALE et al, 2002;
WAKSMAN et al, 1954, CARVALHO et al, 2003). A observação de que a EAE
poderia ser induzida em animais não imunes pela transferência de células T CD4+
específicas para mielina, e não por anticorpos, levou a conclusão de que a EM seria
uma doença auto-imune mediada principalmente por linfócitos CD4+ do tipo células
T-helper 1 (Th1) (PETTINELLI & MCFARLIN, 1981).
Interferon-gama (IFN-γ) é produzido pelas células Th1 e apresenta entre seus
efeitos imunorreguladores a indução da expressão de MHC classe II e a ativação de
macrófagos e células B (LINK et al, 1994). A NMO não está associada ao haplótipo
DR2 e aos alelos encontrados na susceptibilidade para EM, sugerindo ter
imunopatogênese distinta. Kira et al (1996) descreveram a associação de NMO com
o haplótipo DPB1*0501, região que pertence ao MHC classe II (KIRA et al, 1996).
Em doenças infecciosas, os efeitos do interferon-gama (IFN-γ) são
parcialmente bloqueados por interleucina-4 (IL-4), produzidas por células T-helper 2
5
(Th2) (FOX, 2004). IL-4 é um estímulo importante para as células B e, a auto-
imunidade célula B mielina-específica pode ser o instrumento para a completa
expressão da EAE (MYERS et al, 1992; SOBEL & KUCHROO, 1992).
Considerando a alta prevalência de auto-anticorpos na NMO e sua
associação com doenças auto-imunes mediada pelos linfócitos B (WINGERCHUK et
al, 2003), a descrição de menor imunidade Th1 na NMO (CORREALE et al, 2004) e
a participação de IL-4 no estímulo de células B, associadas a fisiopatogenia da
NMO, passamos a investigar a participação de imunoglobulinas auto-reativas para
componentes da mielina em pacientes com NMO e indivíduos saudáveis
concomitantes à expressão de IL-4 (resposta Th2) e de IFN-γ (resposta Th1).
6
II. Revisão da literatura
II.1. Histórico
Em 1870, Sir T. Clifford Allbutt, MD, chamou a atenção para uma nova
doença que associava mielite e neurite óptica, em relato de caso clínico de mielite
seguida de comprometimento do nervo óptico três meses depois. Em 1879, Erb e
Steffan descreveram dois casos de neurite óptica recorrente seguida de mielite
transversa. Seguin, em 1880, reviu três casos da literatura de mielite transversa
subaguda com neurite óptica e considerou esta uma associação acidental.
Dreschfeld, em 1882, descreveu o primeiro caso de neurite óptica e mielite que foi
autopsiado, revelando alterações inflamatórias na medula e nervos ópticos, sem
comprometimento cerebral. Este foi o primeiro relato de caso sugerindo ser esta
associação uma síndrome clínica (apud FILLIPI et al, 1999).
Somente em 1894, Eugène Devic, médico do Hospital de La Croix-Rousse em
Lyon, relatou o caso de uma paciente feminina de 45 anos que apresentou retenção
urinária seguida três dias após de edema de papila; em uma semana evoluiu para
paraplegia e amaurose bilateral evoluindo para o óbito em um mês (DEVIC, 1894).
Devic influenciou Fernand Gault, seu aluno, a escrever uma tese sobre esta nova
síndrome, analisando 16 casos (apud O´RIORDAN et al, 1996) que denominaram
“neuromyélite optique aiguë” (NMO) (DEVIC, 1894). Desde então, vários casos de
NMO pela definição de Devic e Gault foram relatados (apud FILLIPI et al, 1999).
Entretanto, muitos deles apresentavam alterações patológicas no tronco cerebral e
encéfalo, configurando, naquela época, diagnósticos distintos da NMO, tais como
encefalomielite aguda disseminada (ADEM), EM, e outras patologias de etiologia
infecciosa ou tóxica.
7
A autópsia do primeiro paciente de Devic mostrava desmielinização grave e
lesões necróticas na medula e nervos ópticos, com infiltrado inflamatório e algumas
paredes de vasos com espessamento importante, e encéfalo macroscopicamente
normal (SCOLDING, 2005). Em 1949, Stansbury descrevendo as alterações
neuropatológicas de 20 pacientes com NMO sugeriu haver estágios distintos das
lesões. A fase inicial caracterizava-se por inflamação aguda com infiltrado
perivascular importante, seguida de destruição tecidual e desmielinização na região
perivascular do foco. Nesta fase, pequenas lesões tornavam-se coalescentes e
observavam-se pequenos focos necróticos na medula e nos nervos ópticos. As
lesões necróticas da NMO já haviam sido descritas anteriormente por outros autores
que chamaram a atenção para o fato de serem achados distintos daqueles
encontrados na EM (apud FILLIPI et al, 1999).
Mais recentemente, Cloys e Netsky (1970), Prineas e McDonald (1997)
mostraram lesões agudas na medula com edema estendendo-se longitudinalmente,
em correspondência a vários segmentos vertebrais, de forma contínua ou irregular
(apud LUCCHINETTI et al, 2002). Nestas lesões, foi observado extenso infiltrado de
macrófagos e eosinófilos associado a desmielinização e perda axonal, além de
necrose da substância branca e cinzenta da medula. As lesões crônicas
apresentavam gliose, degeneração cística, cavitação e atrofia da medula e nervos
ópticos. Mandler et al (1993) descreveram ainda maior número de vasos, com
paredes espessadas e hialinizadas nas áreas necróticas da medula, achados estes
não encontrados na EM, na ADEM e nos infartos medulares (MANDLER et al, 1993).
Os estudos anátomo-patológicos recentes mostraram desmielinização
completa do nervo óptico e pouca inflamação; o encéfalo está geralmente normal e a
medula apresenta na fase aguda edema e cavitação, e na fase crônica atrofia. O
8
estudo de 84 lesões de nove pacientes com NMO mostrou homogeneidade de
alterações caracterizadas por pronunciado depósito perivascular de imunoglobulinas
e componentes de complemento ativado, junto com fibrose vascular e infiltração
eosinofílica, fortemente sugestivos de que mecanismos da imunidade humoral
mediavam a lesão tecidual (LUCHINNETTI et al, 2002; SCOLDING, 2005).
A explicação para o acometimento recorrente dos nervos ópticos e da medula
espinhal foi encontrada recentemente com a descoberta da participação dos canais
de AQP-4 no mecanismo da NMO (LENNON et al, 2004). A partir desses estudos,
Pittock et al (2006) mostraram a maior concentração dos canais de AQP-4 no
encéfalo e na medula espinhal, assim como em outras regiões encefálicas,
explicando a esterotipia sintomática da NMO e justificando a participação de outras
estruturas, como corpo caloso, diencéfalo e tronco cerebral (PITTOCK et al, 2006).
II.2. Quadro clínico da NMO
A NMO caracteriza-se clinicamente pelo comprometimento, principalmente,
dos nervos ópticos e da medula espinhal, por processo inflamatório desmielinizante.
Tipicamente, a NMO tem uma evolução mais grave do que a EM, com recaídas mais
precoces e mais freqüentes (WINGERCHUK et al, 1999, 2003). Cinquenta por cento
dos pacientes com NMO evoluem, em cinco anos, com déficit visual e de marcha e
20% morrem devido à insuficiência respiratória decorrente de mielite cervical
(LENNON et al, 2005). A mielite transversa aguda pode ser a primeira manifestação.
Um ou mais episódios de neurite óptica (NO), unilateral ou bilateral, podem ocorrer
em combinação com mielite, sendo, nestes casos, mais agudos e graves. A
evolução pode ser monofásica ou recorrente, sendo esta última responsável por
9
70% dos casos. O intervalo entre NO e mielite é variável; quando monofásica, é
menor o intervalo de tempo.
A idade de início da forma monofásica ocorre ao redor dos 29 anos enquanto
que a faixa etária na forma recorrente está próxima dos 39 anos (WINGERCHUK et
al, 1999). Em 30% a 50% dos casos é possível detectar-se pródromos virais
(BERGAMASCHI & GHEZZI, 2004).
O diagnóstico para-clínico é feito com base na RM do crânio, da coluna
cervical e do estudo do LCR. A RM do crânio pode ser normal, ou revelar poucas
lesões inespecíficas da substância branca. Na RM da coluna cervical observam-se
lesões medulares extensas, correspondendo a três ou mais segmentos vertebrais.
No LCR, observa-se pleocitose com mais de 50 leucócitos e predomínio neutrofílico,
além de síntese de IgG, a qual é menor do que a encontrada nos casos de EM. As
bandas oligoclonais (BOC) ocorrem em 15 a 35% dos pacientes com NMO. O
diagnóstico de suporte apóia-se na presença de auto-anticorpos em 50% dos casos,
no potencial evocado visual (NO subclínica) e na RM do crânio que pode revelar
captação de gadolíneo no nervo óptico ou quiasma (WINGERCHUK et al, 1999;
BERGAMASCHI & GHEZZI, 2004).
Desde a sua descrição em 1894 a NMO foi considerada uma forma variante
da EM. Os estudos patológicos, o LCR e a RM mostraram evidências de que esta
seria uma doença distinta. Na tabela 1, são apresentadas algumas das principais
diferenças clínicas e laboratoriais, entre a NMO e a EM (WEINSHENKER, 2003;
COX et al, 2005).
10
Tabela 1. Principais diferenças entre NMO e EM
Quadro clínico Neuromielite óptica Esclerose múltipla
Comprometimento clínico além
da medula e nervos ópticos
Raramente Usualmente
Gravidade do surto
RM do crânio
RM da medula
LCR
BOC
Geralmente grave
Normal ou não-específica
Lesões longitudinalmente
extensas com necrose central
Pleocitose nos surtos (>50
células)
Geralmente ausentes
Geralmente moderado
Múltiplas lesões na
substância branca peri-
ventricular
Lesões periféricas,
pequenas e múltiplas
Raramente >25 células
Positivas em >90% dos
casos
Incapacidade permanente
Relacionada ao surto Geralmente na fase tardia
Sexo feminino
80-90% 60-70%
Associação com doenças auto-
imunes
Destruição tecidual e cavitação
medular
Freqüente (30-40%)
Mais comum
Menos comum
Menos comum
RM= ressonância magnética; LCR= líquido cefalorraquidiano; BOC= bandas oligoclonais
Modificado Weinshenker, 2003; Cox et al, 2005
Os primeiros critérios diagnósticos para NMO desde a descrição original de
Devic (DEVIC, 1894) foram estabelecidos somente em 1999, por Wingerchuck et al
e são subdivididos em critérios absolutos, critérios de suporte maiores e de suporte
menores (tabela 2). Dentre os critérios absolutos considera-se a ocorrência de
neurite óptica e mielite, sem o acometimento de outra região cerebral. Dentre os
critérios de suporte maiores incluem-se a RM do crânio normal, a RM da coluna
vertebral com comprometimento medular extenso, correspondendo a três ou mais
segmentos vertebrais e a presença de pleocitose no LCR, com mais de 50 leucócitos
ou mais de cinco neutrófilos. Nos critérios de suporte menores são considerados a
NO bilateral, a NO grave (<20/200 em pelo menos um olho) e a fraqueza muscular
11
grave (força muscular grau 2 ou menor em um ou mais membros). O diagnóstico de
NMO é considerado quando estiverem presentes todos os critérios absolutos e um
critério maior ou dois critérios menores.
Tabela 2. Proposta de critérios diagnósticos para NMO (Wingerchuk et al, 1999)
Critérios absolutos
Critérios de suporte
1. Neurite óptica
1. Principais:
RM crânio normal no início da doença
2. Mielite aguda
LCR com pleocitose, >50 céls/mm
3
, ou
>5 neutrófilos/mm
3
3. Nenhuma evidência de doença fora do nervo
óptico e medula
RM coluna com lesão medular extensa,
correspondendo a três ou mais
segmentos vertebrais
2. Menores:
Neurite óptica bilateral
Neurite óptica grave com acuidade
visual pior do que 20/200 em pelo
menos um olho
Paresia grave em pelo menos um
membro (MRC 2), decorrente de um
surto
Diagnóstico = todos critérios absolutos + 1 principal ou 2 menores
Wingerchuck et al, Neurology 1999
As características clínicas são muitas vezes insuficientes para o diagnóstico.
Os exames de LCR, RM do crânio e de coluna auxiliam na exclusão de outras
enfermidades. A RM da coluna é o marcador mais fidedigno na avaliação
diagnóstica de NMO (RUBIERA et al, 2006). As lesões medulares são extensas,
correspondendo a mais de três segmentos vertebrais, localizadas centralmente e
captam gadolíneo, enquanto que na EM as placas medulares geralmente
correspondem a menos do que um segmento vertebral (WINGERCHUK, 2006; FOX,
2005; WEINSHENKER, 2003). Wingerchuk et al (2006) enfatizaram as
características mais determinantes na diferenciação diagnóstica entre NMO de EM
12
típica como sendo a combinação de RM da coluna mostrando lesão
longitudinalmente extensa e RM do crânio sem critérios para EM. Estes achados
resultariam em 94% de sensibilidade e 96% de especificidade para NMO.
Estes critérios foram adotados por vários autores (PAPAIS-ALVARENGA et
al, 2002; DE SEZE et al, 2003; GHEZZI et al, 2004). Contudo, alguns pacientes com
evolução clínica compatível com NMO também apresentavam lesões fora do nervo
óptico e da medula espinhal. Os critérios de Wingerchuk et al (1999) não incluíam
pacientes com sinais e sintomas neurológicos demonstrando comprometimento de
outras regiões cerebrais que não o nervo óptico e/ou a medula, ou com RM do
crânio revelando lesões semelhantes às da EM (POPPE et al, 2005; PITTOCK et al,
2006), subestimando, portanto, o amplo espectro da doença. Quando Lennon et al
(2004, 2005), descreveram o auto-anticorpo para NMO (IgG-NMO) encontrado no
soro de 73% dos pacientes com NMO e em 58% dos pacientes com a forma óptico-
medular de EM, e ausente nos pacientes com a forma clássica de EM, apresentando
mais de 90% de especificidade para NMO (LENNON et al, 2004, 2005; PITTOCK et
al 2006), o panorama para o diagnóstico da NMO foi pontualmente modificado.
Com base nestes novos conhecimentos, Wingerchuk et al (2006), revisaram
os critérios diagnósticos estabelecidos em 1999: 1. excluíram a restrição ao
acometimento exclusivo da medula e nervo óptico, 2. enfatizaram a especificidade
de lesões medulares longitudinalmente extensas, 3. passaram a não considerar os
achados da RM do crânio como um critério de exclusão, 4. consideraram a
pleocitose no LCR e o déficit motor grave, associados a um surto, característicos da
NMO, mas com um menor valor diagnóstico, 5. incluíram a soro-positividade para
IgG-NMO (tabela 3). Concluíram também que este marcador biológico estaria
fortemente associado ao desenvolvimento de NMO após um primeiro episódio de
13
mielite transversa aguda, idiopática, longitudinalmente extensa (WINGERCHUK et
al, 2006).
Tabela 3. Novos critérios diagnósticos de NMO
NMO definida
Neurite óptica
Mielite
Pelo menos 2 dos 3 critérios de suporte:
1. RM da coluna com lesão medular contígua estendendo-se por 3 ou mais
segmentos vertebrais correspondentes
2. RM do crânio sem critérios diagnósticos para EM
3. IgG-NMO soro-positivo
Wingerchuk et al, Neurology 2006
Estes novos critérios representaram um avanço no diagnóstico da NMO, pois
permitem o diagnóstico diferencial entre NMO e EM nos quadros iniciais de neurite
óptica e mielite, considerando que o marcador IgG-NMO apresenta 76% de
sensibilidade e 94% de especificidade para o diagnóstico final de NMO
(WINGERCHUK et al, 2006).
Com relação à história natural, tradicionalmente o termo NMO aplicava-se a
pacientes que apresentavam um evento monofásico consistente com neurite óptica
bilateral, simultânea e mielite aguda (DE SEZE, 2003). Entretanto, o espectro NMO é
atualmente reconhecido tipicamente como uma doença recorrente (NMOR), na qual
os pacientes podem apresentar neurite óptica unilateral bem como neurite óptica e
mielite com intervalo de semanas ou mesmo anos entre eles, e manifestações fora
dos nervos ópticos e da medula espinhal (WINGERCHUK et al, 2006). Podemos
observar, na tabela 4, as diferenças entre as formas monofásica e recorrente,
14
considerando-se a frequência, sexo, idade de início, associação com doenças auto-
imunes, sintomas iniciais, gravidade, recuperação, evolução para insuficiência
respiratória e letalidade (BERGAMASCHI et al, 2004).
Tabela 4. História natural da neuromielite óptica
MONOFÁSICA RECORRENTE
Freqüência 30% 70%
Sexo (>feminino) 50% 80%
Idade de início (anos) 30 40
HPP Doença auto-imune 4% 33%
Sintomas iniciais
NO ou mielite 50-65% 95%
NO bilateral 48% 8%
NO + mielite 50% 28%
Paraplegia 70% 31%
Gravidade sintomas iniciais Mais grave Menos grave
Recuperação Boa Razoável
Insuficiência Respiratória Rara 1/3
Letalidade 0-10% 13-32%
HPP= história patológica pregressa; NO= neurite óptica
Modificado de Bergamaschi & Ghezzi, Neurol Sci 2004
II.3. Fisiopatogenia:
A NMO é uma doença inflamatória desmielinizante idiopática do SNC cujos
mecanismos que resultam da seletividade dos ataques aos nervos ópticos e a
medula espinhal só agora começam a ser compreendidos, mas os mecanismos
imunológicos ainda não são inteiramente conhecidos (LUCCHINETTI et al, 2002).
Evidências clínicas e sorológicas da auto-imunidade associadas às células B têm
sido observadas em pacientes com NMO (CORREALE et al 2004; LUCCHINETTI et
al, 2002) onde lesões desmielinizantes apresentam depósito perivascular de
imunoglobulina, ativação local da cascata do complemento e infiltração eosinofílica,
15
sugerindo a participação da imunidade humoral na sua patogenia (CORREALE &
FIOL, 2004). Outros mecanismos envolvidos nesta resposta humoral seriam a
produção de anticorpo anti-mielina do oligodendrócito (anti-MOG) e a secreção de
IL-2, uma citocina associada à auto-imunidade mediada pelas células T (NARIKAWA
et al 2004; CORREALE & FIOL, 2004; LUCCHINETTI et al 2002).
Estudo do mecanismo humoral na produção da desmielinização necrotizante
encontrada nos nervos ópticos e na medula espinhal de pacientes com NMO
mostrou presença de cavitações, necrose e patologia axonal aguda tanto na
substância cinzenta quanto na substância branca, com importante perda de
oligodendrócitos dentro das lesões; o processo inflamatório das lesões foi
caracterizado por infiltração de macrófagos associada a um grande número de
eosinófilos e granulócitos perivasculares e raras células T CD3+ e CD8+. As lesões
ativas mostravam profuso depósito de imunoglobulina perivascular, com especial
destaque para IgM e complemento C9neo associado à fibrose e hialinização
vascular nas lesões ativas e inativas. A ativação do complemento, a infiltração
eosinofílica e a fibrose vascular observada na NMO corroboram a participação da
imunidade humoral na sua patogênese (LUCCHINNETI et al, 2004). O espaço
perivascular seria o sítio primário de lesão na NMO, consistente com a localização
no SNC da AQP-4 que está envolvida no desenvolvimento, função e integridade da
interface entre cérebro e sangue e entre cérebro e LCR (PITTOCK et al, 2006).
A base imunológica de diferentes formas de doenças desmielinizantes como
EM e NMO, investigadas experimentalmente (tabela 5), mostra resposta distinta
quando estuda modelos de camundongos transgênicos para auto-antígenos
encefalitogênicos. A imunização com altas doses de solução de MOG e toxina
pertussis induz EAE geralmente fatal, enquanto doses moderadas de MOG,
16
parcialmente agregadas à toxina pertussis, induzem a forma secundariamente
progressiva da EAE. Nestes, o envolvimento do nervo óptico ocorre em 60% dos
camundongos e a medula espinhal em 100 % deles ao mesmo tempo, tanto clinica
quanto patologicamente, sem nenhuma lesão cerebral. Os subtipos clínicos
independem da progressão do processo patológico que é uniforme, caracterizado
por inflamação com desmielinização discreta, seguida de desmielinização importante
com mínima infiltração linfocitária, sugerindo que os estágios avançados são
mantidos por fatores humorais (SAKUMA et al, 2004). Os autores consideram que
esse experimento possa servir como modelo da NMO. Modelos experimentais da
NMO passaram a ter em comum a participação de MOG.
A geração do modelo de camundongo TCR transgênico MOG-específico,
(camundongo TCR
MOG
), também referido como camundongo 2D2, mostrou que um
grande número destes animais desenvolvia espontaneamente neurite óptica isolada
(BETTELLI et al, 2006). O cruzamento do camundongo TCR
MOG
com camundongos
knock-in, para cadeia pesada de imunoglobulina (IgH) MOG-específica, conhecidos
como camundongos IgH
MOG
ou camundongos Th (nos quais um terço das células B
são específicas para MOG), mostrou que 60% dos camundongos TCR
MOG
x IgH
MOG
desenvolveram uma forma grave de EAE caracterizada pela distribuição seletiva das
lesões inflamatórias nos nervos ópticos e na medula espinhal. Os autores mostraram
assim, que antígenos específicos do SNC para células B e T contribuem na indução
de uma forma de EAE com características clínico-patológicas distintas que replica,
de forma muito próxima, a NMO (BETTELLI et al, 2006).
Recentemente, um novo camundongo duplamente transgênico foi
desenvolvido, e ao contrário dos anteriores desenvolveu espontaneamente a EAE
com síndrome neurológica de NMO. Esse modelo foi denominado encefalite alérgica
17
experimental óptico-medular (OSE = óptico spinal encephalytis). Como na NMO, as
lesões desmielinizantes inflamatórias estão localizadas na medula e nos nervos
ópticos poupando o cérebro e o cerebelo, e as lesões mostram semelhança
histológica com a encontrada em seres humanos. O camundongo OSE tem células
imunes recombinantes-competentes que expressam o receptor de célula T alfa-beta
(TCR-alfabeta) específico para proteína da mielina do oligodendrócito no peptídeo
aa 35-55 (MOG 35-55). As células B do camundongo OSE se ligam mesmo com
altas diluições da MOG recombinante, mas nenhum peptídeo da MOG é processado
e apresentado a sua célula T autóloga. Além disso, no camundongo OSE, mas não
no camundongo transgênico único, foi observada mudança no isotipo dos anticorpos
anti-MOG, de IgM para IgG1, um padrão de migração associado à resposta de
células Th2 (KRISHNAMOORTHY et al, 2006).
MBP e PLP, os dois mais importantes componentes da mielina do SNC,
podem ambos, induzir a EAE em cepas de animais susceptíveis, com características
semelhantes à EM (LINK et al, 1994). MBP é, depois do PLP, a mais abundante
proteína da mielina, representando 30% a 40% das isoformas que variam no peso
molecular de 14 - 21,5 kDa em mamíferos, resultante da clivagem diferencial de 11
exons no locus Golli-MBP. A isoforma mais pesada envolvida na manutenção da
estrutura da mielina está posicionada na superfície intracelular da bainha de mielina,
interagindo via pontes de hidrogênio com grupamentos lipídicos. A isoforma 18,5
kDa é a isoforma mais abundante e a mais usada nos estudos imunológicos. Ao
contrário da PLP e da MOG, a MBP é encontrada em grande quantidade no SNC e
no sistema nervoso periférico (SNP) (SEAMONS et al, 2003). A MBP é considerada
um antígeno importante na fisiopatogenia da EM (LINK et al, 1994), mas estudos de
EAE indicam que certos epítopos são mais encefalitogênicos do que outros
18
(CARVALHO et al, 2003). Algumas seqüências da MBP estão relacionadas à
patogenia da doença em grupos de pacientes com a mesma expressão de alelos
HLA classe II (CARVALHO et al, 2003). Berger et al (2006) analisaram anticorpos
anti-MOG e anti-MBP em pacientes com síndrome clínica isolada e verificaram que a
presença destes anticorpos estaria associada a surtos mais precoces e freqüentes
sendo, portanto, um indicador da conversão precoce para EM clinicamente definida
(BERGER et al, 2006).
O PLP corresponde a aproximadamente 50% da proteína do SNC, sendo a
proteína mais abundante do SN conservada entre as espécies. O peso molecular
dessa molécula é de aproximadamente 30 kDa. A sua localização na região mais
externa da bainha de mielina indica um potencial mais encefalitogênico do que a
própria MBP, pois seus sítios de ativação estão mais expostos (SCHMIDT, 1999). A
seqüência humana 95-116 do PLP é considerada um forte indutor de
susceptibilidade a resposta inflamatória auto-imune na EM e seu reconhecimento
está associado ao alelo DRB1*1501 (KROGSGAARD et al, 2000).
Os estudos envolvendo a avaliação do auto-antígenos encefalitogênicos
estão resumidos na tabela 5.
19
Tabela 5. Avaliação de auto-antígenos encefalitogênicos em diferentes estudos
sobre doenças desmielinizantes
Autor Tipo de estudo Objetivo Resultado
Link et al, 1994
Experimental
Verificar os níveis de IL-4 e
INFγ na presença e
ausência de MOG e PLP
EM está relacionada às
respostas Th1 e Th2
Schmidt S, 1999
Experimental Avaliar a resposta das
células T e B contra
diferentes proteínas da
mielina
Diferentes subgrupos de
EM podem refletir a
resposta auto-imune
dominante contra diferentes
componentes do SNC
Krogsgaard et al, 2000 Experimental Detectar anticorpos
específicos contra o
complexo HLA-DR2 em
camundongos imunizados
com MBP 85-99
As moléculas HLA-DR2 nas
lesões da EM apresentam
um peptídeo derivado da
mielina
Carvalho et al, 2003
Humanos Determinar IgG e IgA para
epítopos imunodominantes
da mielina
A intensa resposta das
seqüências
encefalitogênicas de MOG,
MBP e PLP sugere que
mecanismos mediados por
anticorpos sejam
responsáveis por manter a
lesão na EM
Seamons et al, 2003
Experimental Verificar a associação da
EM com a quebra da
tolerância imunológica das
células T específicas para
antígenos da mielina
Revisão dos diferentes
patologias imunes
associadas à EM e os
modelos animais
Correale et al, 2004
Humanos Avaliar as alterações
imunológicas em pacientes
com NMO
NMO está associada a
resposta imune humoral e
ativação eosinofílica
Sakuma et al, 2004
Experimental Analisar as características
clínicas e
imunopatológicasda EAE
induzida por MOG em
camundongos LEW.1AV1
Inflamação inicial com
mínima desmielinização,
seguida de predominante
desmielinização e mínima
infiltração linfocitária (lesão
mantida por fatores
humorais); modelo para
NMO
Berger et al, 2006
Humanos Verificar a relação de
anticorpos anti-MOG e
anti-MBP com a conversão
para EM nos pacientes
com síndrome clínica
isolada
Pacientes com anticorpos
anti-MOG e anti-MBP
apresentaram surtos mais
precoces e mais frequentes
Bettelli et al, 2006
Experimental Analisar o resultado do
cruzamento de
camundongos TCR
mog
e
IgH
mog
na indução
de EAE
As células T e B antígeno-
específicas induzem um
padrão distinto de EAE que
replica a NMO
Krishnamoorthy et al, 2006
Experimental Avaliar a EAE tipo NMO
em camundongos
duplamente transgênicos
(OSE)
Camundongos OSE com
altos níveis de leucócitos
eosinofílicos, células T e
macrófagos
O alelo DRB1*1501, junto aos alelos DQA1*0102 e DQB1*0602, formam o
haplótipo DR2, associados à susceptibilidade genética para EM (CABALLERO et al,
1999). Heterogeneidade genética vem sendo encontrada em estudos populacionais
de EM, com algumas associações alélicas étnico-dependentes em pacientes
brasileiros (ALVES-LEON et al, 2006). Diferentemente dos achados na população
20
ocidental, os alelos DRB1*1501 e DQB1*0602 não estão presentes nos pacientes
com a apresentação óptico-medular (KIRA et al, 1996; ONO et al, 1998). Fukasawa
et al (2000) verificaram que os alelos DPB1*0501 e DPA1*0202 tinham associação
com o fenótipo da apresentação óptico-medular em japoneses (FUKASAWA et al,
2000). O alelo HLA*DPB1*0501 estaria associado à forma óptico-medular, então
considerada variante auto-imune da EM, com grande presença de auto-anticorpos
por disfunção de células B, e com característica étnico-dependente por ser rara em
caucasianos e comum em japoneses (KUROIWA et al, 1975, KIRA et al, 1999).
Considerando que a forma óptico-medular da EM oriental (OSMS) estaria associada
ao marcador biológico para NMO (IgG-NMO), OSMS e NMO seriam a mesma
doença (WEINSHENKER et al, 2006; KIKUSHI et al 2005; LENNON et al, 2004;
KIRA et al, 2003). A NMO não estaria, portanto, relacionada aos alelos DRB1*1501 e
DQB1*0602 e, sim, ao alelo DPA1*0501; essa expressão estaria vinculada à
disfunção de células B e presença de auto-anticorpos.
A resposta a MBP e PLP em pacientes com EM e o aumento de células T,
com número elevado de células mononucleares no sangue periférico, com restrição
HLA classe II reconhecendo MBP e PLP, respondem com secreção de IFN-γ. Esta
citocina, também produzida pelas células T-helper tipo 1 (Th1), possui uma
variedade de efeitos imuno-reguladores, incluindo a indução da expressão de HLA
classe II, da ativação de macrófagos e células B. Nas doenças infecciosas, os
efeitos do IFN-γ são parcialmente antagonizados pela IL-4, uma das citocinas do
espectro das citocinas regulatórias, produzidas por células Th2. A IL-4 é também
importante estimulador de células B e a auto-imunidade de células B, específicas
para mielina, é encontrada na EAE (LINK et al, 1994). Nos pacientes japoneses com
formas óptico-medulares esses níveis estão mais elevados em comparação aos
21
controles e significantemente mais altos em comparação aos pacientes com EM
(ISHIZU et al, 2006).
A MOG representa 0,01-0,05% das proteínas da mielina, e está localizada
nos corpos celulares e processos oligodendrócitos, na camada mais externa da
bainha de mielina. A sua expressão com dois domínios transmembranares, na
superfície externa da mielina e membrana plasmática dos oligodendrócitos, a
transforma em um antígeno alvo. Entre os antígenos não específicos da mielina
estão incluídos a proteína S100beta e proteína glial fibrilar ácida (GFAP), presente
nos astrócitos, embora seu potencial encefalitogênico, na resposta auto-imune,
ainda seja obscuro (ROSBO & BEN-NUM, 1998). A investigação da resposta aos
auto-anticorpos para componentes e epítopos da mielina (MBP, MOG) e antígenos
astrogliais (S100beta) em pacientes com NMO mostrou resposta anti-MOG positiva
em 100% dos casos (um caso com reação a MOG 63-87), de auto-anticorpos para
MBP em 50% dos casos e de anticorpos-S100beta em um caso (25%), o que sugere
predomínio de anti-MOG na NMO, preservando a ativação imune aguda e
importante resposta mediada por células B (HAASE et al, 2001).
As células B e auto-anticorpos encefalitogênicos podem contribuir na
fisiopatogenia da NMO. Um aspecto importante da participação de linfócitos B na
desmielinização refere-se à sua capacidade de funcionar como célula acessória na
apresentação de antígenos solúveis durante a resposta imune inicial. Em modelos
de EAE, imunoglobulinas reativas para proteínas específicas da superfície da bainha
de mielina como MOG e PLP exercem papel importante na citotoxicidade de
oligodendrócitos e contribuem com o desenvolvimento e manutenção da
desmielinização em roedores e primatas (ABDUL-MAJID et al, 2002). Experimentos
in vivo de depleção de células B com anti-IgM e no modelo do camundongo knock-
22
out foram capazes de proteger animais susceptíveis de desmielinização
experimental induzida por MOG (BRUCK & STADELMANN, 2005; LUCCHINETTI et
al, 2002; CORREALE et al, 2002; LASSMANN, 1998).
As evidências de estudos em humanos e experimentais da participação de
MOG, PLP, MBP, IFN-γ e IL-4 na fisiopatogenia da NMO mostram a importância de
sua investigação em pacientes com essas características clínicas.
23
III. OBJETIVOS
Determinar os níveis plasmáticos de imunoglobulinas dos isotipos IgG e IgA
para antígenos encefalitogênicos da proteína básica da mielina (MBP), proteolipídeo
(PLP) 95-116, glicoproteina associada ao oligodendrócito (MOG) 92-106 e das
citocinas regulatórias, interleucina-4 (IL-4) e interferon-γ em pacientes com
neuromielite óptica, comparando-os com controles saudáveis.
24
IV. Metodologia
Os pacientes incluídos neste estudo fazem parte de uma coorte de pacientes
com doenças desmielinizantes inflamatórias idiopáticas (DDII) do SNC
acompanhados nos Serviços de Neurologia do HUCFF-UFRJ e do HGSCMRJ, no
período de julho de 2003 a dezembro de 2005. A avaliação e acompanhamento dos
pacientes foram feitos por dois neurologistas com experiência no diagnóstico
diferencial das DDII do SNC, em centro de referência reconhecido pela Secretaria de
Saúde do Estado do Rio de Janeiro. O estudo laboratorial foi realizado no
Laboratório de Patologia Celular do Departamento de Biologia Celular e Molecular
da Universidade Federal Fluminense (UFF). A técnica desenvolvida para esses
experimentos foi motivo de monografia de bacharelado em pacientes com EM
(SANT´ANNA, 2005) e não foi objetivo desse estudo.
IV. 1. Critérios de inclusão
Foram incluídos 28 pacientes com critérios para NMO de WINGERCHUK et
al, de 1999, atendidos entre os anos de 2003 e 2005, independentemente de sexo,
idade, etnia. Os critérios de Wingerchuk, de 1999, consideram o diagnóstico de NMO
naqueles pacientes com quadro clínico de neurite óptica e mielite transversa, sem
outra manifestação neurológica, que apresentem RM do crânio normal no início da
doença, ou RM da coluna vertebral com lesão medular longitudinalmente extensa,
ou LCR com pleocitose>50 células/ mm
3
, ou ainda neurite óptica bilateral ou neurite
óptica grave em um olho, somada à paresia grave (força grau2) em pelo menos um
membro. Nestes critérios, o diagnóstico se faz quando forem observados os três
critérios absolutos somados a um critério de suporte principal ou a dois critérios de
suporte menores. Dentre os 28 pacientes, apenas uma não se submeteu à RM do
25
crânio devido à claustrofobia. O estudo liquórico foi realizado em 23 dos 28
pacientes (78,5%). Foram consideradas as manifestações clínicas de neurite óptica
e mielite, independentemente do intervalo de tempo entre uma e outra manifestação,
ou da forma clínica, monofásica ou recorrente (tabela 5). A classificação por etnia
considerou como afro-brasileiros pacientes com ancestrais negros até a terceira
geração e caucasianos pacientes que desconheciam na ancestralidade parentes
afro-descendentes. O termo afro-brasileiro foi usado a partir do conceito
antropológico proposto por Ribeiro (RIBEIRO, 1995). Os pacientes foram
classificados quanto à incapacidade neurológica pela escala de Kurtzke (KURTZKE,
1983), escala expandida de incapacidade funcional (EDSS), a qual quantifica o grau
de incapacidade funcional, considerando os diferentes sistemas, piramidal,
cerebelar, de tronco cerebral, sensitivo, vesical, intestinal, visual, mental e outras
funções. A pontuação varia de zero, sem incapacidade, a dez, morte por esclerose
múltipla.
O grupo controle foi constituído de 26 indivíduos saudáveis,
independentemente do sexo, idade ou etnia. Trata-se de grupo de pesquisadores,
estagiários e funcionários do Laboratório de Patologia Celular do Departamento de
Biologia Celular e Molecular da UFF, no exercício de sua atividade profissional.
Todos foram avaliados com relação a marcadores de inflamação e auto-imunidade,
através de exames laboratoriais, os quais apresentaram resultados normais.
Todos os pacientes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. O
projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), com o
registro de número 1265, de 29 de maio de 2000.
26
IV.2. Critérios de exclusão
Foram excluídos os pacientes com quadro clínico de neurite óptica e mielite
concomitante que não preencheram os critérios diagnósticos de NMO de
Wingerchuk, de 1999, e os pacientes com outras doenças auto-imunes com
manifestações neurológicas compatíveis com NMO, tais como S. de Sjögren, doença
de Behçet, lupus eritematoso sistêmico.
Todos os controles, mesmo clinicamente saudáveis, que apresentaram
alterações nos parâmetros de inflamação e auto-imunidade, através da avaliação
laboratorial, foram excluídos.
IV.3. Amostras
Foram coletadas amostras de sangue periférico em dois tubos estéreis sem
anticoagulante e gel-soro (BD do Brasil). Após retração do coágulo, o soro foi
centrifugado a 200xg por 10 minutos em centrífuga clínica de bancada (Sorvall) e
somente amostras límpidas livres de hemólise foram estocadas a -20
0
C em
alíquotas de 200µL até o momento do uso no Laboratório de Patologia Celular do
Departamento de Biologia Celular e Molecular da UFF.
IV.3.1. Antígenos
A MBP, de origem bovina (Sigma Chem. Co, USA), apresentava, de acordo
com o fabricante, grau de pureza>95% após purificação no sistema HPLC. Alíquotas
de 200μl de MBP, na concentração de 1mg/ml, foram estocados a -20ºC.
O PLP 95-116 foi extraído a partir de cérebro de rato Lewis, de acordo com o
método de partição Folch-Pi (WAKSMAN et al, 1954) e protocolo descrito por LEES
et al (1983) utilizando-se mistura de solvente orgânico (clorofórmio-metanol) e
27
purificação por cromatografia, em coluna Sephadex, LH-60, sendo liofilizado para
estoque.
A MOG 92-106, uma seqüência de origem murina indutora de EAE na
linhagem SJL/J (ROSBO et al, 1998), foi sintetizada no Laboratório de Bioquímica de
Proteínas e Peptídeos do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular,
FIOCRUZ, RJ, usando resina 4-metilbenzohidrilamina (United States Biochemical,
USA) ou PAM-t-Boc-L-pro resina (PAM= 4-(oximetil) fenilacetamidometil, t-Boc = t-
butoxicarbonil) em um sintetizador automático de peptídeo (Applied Biosystems
430A, USA), com sistema de fase sólida otimizada, com grau de pureza> 95%,
confirmado em cromatografia HPLC de fase reversa. Alíquotas de 200 μL de cada
antígeno na concentração 1mg/mL foram estocadas à –20
o
C.
IV 3.2. Dosagem de Citocinas
A determinação no soro de citocinas (IFN-gama, IL-4) seguiu o protocolo de
ELISA quantitativo descrito pelo fabricante (PeproTech INC, Rocky Hill, NJ). Os
resultados expressos em pg/mL foram calculados a partir de uma curva-padrão
obtida por calibradores das citocinas recombinantes. Os experimentos foram
realizados em microplaca de 96 poços (Corning, USA), recobertas com 100 μL dos
anticorpos de captura na concentração 0,5μg/mL por poço. Para se evitar ligação
inespecífica, foram adicionadas uma solução de PBS 1x pH 7,4 com 1% de gelatina.
As amostras utilizadas na diluição ótima (1:100) previamente determinada, foram
aplicadas em um volume de 100μL/poço. Todos os experimentos foram feitos em
triplicata e os resultados representam a média dos valores obtidos.
28
IV.3.3 Anticorpos:
Para a dosagem de IgG e IgA foram utilizados os anticorpos anti-IgG e anti-
IgA humanos não marcados e marcados com peroxidase (Southern Biotechnology
Associates, USA). Para a utilização da curva-padrão, foram utilizados IgG e IgA não
marcadas (Caltag Laboratories, CA, USA).
IV.3.4. ELISA (enzima imunoensaio):
Foi utilizado o método de ELISA para identificação de anticorpos anti-mielina.
Os experimentos foram realizados em microplaca de 96 poços (Corning, USA),
recobertas com 50µL dos diferentes antígenos, na concentração de 10µg/ml, em
tampão PBS (pH 8,0). As placas foram incubadas em câmara úmida, por 18 horas, a
4ºC. Posteriormente, o material não adsorvido foi desprezado e adicionado PBS (pH
7,4), contendo 1g% de gelatina, durante uma hora, a 37ºC, para bloqueio das
interações inespecíficas. Em seguida, as placas foram lavadas três vezes com PBS
(pH 7,4) e foram adicionados 50µL da amostra diluída a 1:100, em PBS-gelatina,
contendo 1% de Tween 20 (Merck, Brasil). As placas foram incubadas em câmara
úmida, a temperatura ambiente, por uma hora e, depois, a 4ºC, por mais uma hora.
Após este período, as placas foram lavadas cinco vezes, com PBS 0,05% Tween 20
e incubadas com 50µL/poço do conjugado anti-IgG ou anti-IgA HRP, a 4ºC, durante
18 horas. Finalmente, as placas foram novamente lavadas cinco vezes, com PBS-
Tween 20 (Sigma Chem Co, USA) e a reação enzimática desenvolveu-se após a
adição a 100µL/poço de um dos cromógenos: tetra metil di-hidrocloreto de benzidina
(TMB, Sigma, USA) contendo H
2
O
2
, em tampão citrato pH 4,0 (Merck, Brasil), ou
orto-fenileno diamino (OPD, Sigma, USA), contendo 0,1% H
2
O
2
, em tampão citrato
pH 5,6 (Merck, Brasil). A reação foi finalizada com a adição de 100µL/poço de H
2
SO
4
29
4N e a densidade ótica (D.O.) foi medida à 450nm para o uso de TMB e 492nm para
o uso de OPD. O background foi obtido pelo valor de D.O. correspondente ao
anticorpo conjugado sem amostra e estes valores foram subtraídos do valor total
obtido. Todos os ensaios foram feitos em triplicatas.
IV.4. Análise estatística:
Para a análise estatística dos dados, foram utilizadas médias e proporções
conforme a indicação do Programa GraphPad Prism (USA), sendo utilizados os
testes não paramétricos, teste T e ANOVA (avaliação de variáveis). Foram
considerados estatisticamente significativos somente os valores de p<0,05.
Foi utilizado o programa Epi Info 6.0 para análise das variáveis demográficas
e clínicas, com a finalidade de se comparar, nos pacientes, o EDSS com as variáveis
de tempo de doença, intervalo entre os surtos e frequência dos surtos.
30
V. Resultados
V.1. Características dos pacientes incluídos
Foram avaliados 267 pacientes, dos ambulatórios de doenças
desmielinizantes, do HUCFF-UFRJ e, 50 pacientes do HGSCMRJ, no período de
julho de 2003 a dezembro de 2005. Deste total, 59 foram diagnosticados como NMO
pelos critérios de Wingerchuk et al, de 1999, sendo 45 pacientes do HUCFF e 14
pacientes do HGSCMRJ. Destes 59 pacientes, 28 participaram do presente estudo,
sendo 24 do HUCFF-UFRJ e quatro do HGSCMRJ, independentemente do sexo,
idade e etnia (figura 1).
Figura 1. Procedência dos pacientes com NMO incluídos neste estudo
HUCFF-UFRJ= Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro; HGSCMRJ= Hospital
Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro; NMO= neuromielite óptica
.
A não inclusão dos 31 pacientes deveu-se ao não comparecimento para
reavaliação, dentro do prazo estipulado para o término do experimento laboratorial.
A análise dos 31 pacientes excluídos do estudo quanto ao sexo, etnia e idade não
TOTAL DE PACIENTES
317
HUCFF-UFRJ
267
SCMRJ
50
PACIENTES COM NMO
45
PACIENTES COM NMO
14
PACIENTES INCLUIDOS
24
PACIENTES EXCLUIDOS
21
PACIENTES INCLUIDOS
4
PACIENTES EXCLUIDOS
10
31
demonstrou ter significado estatístico que influenciasse os resultados encontrados. A
idade variou de 21 a 63 anos. Na tabela 6 podemos observar estes dados.
Tabela 6. Análise das características demográficas dos pacientes excluídos
F M
p
CA AB
p
HGSCMRJ
Incluídos (4)
Não incluídos (10)
4
7
0
3
0,21
2
4
2
6
0,73
UFRJ
Incluídos (24)
Não incluídos (21)
17
18
7
3
0,23
13
9
11
12
0,24
F= feminino, M= masculino, p= valor p, CA= caucasiano, AB= afro-brasileiro
As características dos pacientes incluídos com relação ao sexo, etnia, idade
no momento da inclusão no estudo, tempo de doença, idade do primeiro surto,
intervalo entre o 1º e 2º surtos, nº total de surtos e EDSS atual podem ser
observadas na tabela 7.
32
Tabela 7. Características dos pacientes
Casos Nome Registro Sexo Etnia Idade Tempo
doença
(anos)
Idade
surto
1º surto Intervalo
1º e 2º
surtos
(meses)
Nº total
surtos
EDSS
atual
1
ABS
353612 F AB 26 11 15 NO 12 3 2,0
2
ABB
000086 F CA 27 13 14 NO 132 4 1,0
3
CDA
426780 M CA 38 13 25 NO 36 9 0,0
4
DVS
184548 F AB 62 18 44 Mielite 3 5 2,0
5
DLS
396918 F AB 35 6 29 NO bil. 12 8 3,0
6
DFO
360817 F AB 41 8 33 Mielite 3 12 6,0
7
EPG
366009 F CA 47 7 40 NMO 7 3 1,0
8
FBS
328708 M CA 57 16 41 Mielite** 60 2 5,0
9
HVFJ
337923 M CA 50 19 30 NO 36 3 3,0
10
JFLA
000216 F AB 41 5 36 NO bil. 12 9 7,0
11
JMA
323457 F AB 43 9 34 NMO 0 3 3,5
12
JHSM
192164 M CA 44 18 26 NO bil. 84 2 2,0
13
LSO
318249 F CA 24 15 8 NMO 48 5 6,5
14
LHSC
225636 M CA 44 29 15 Mielite 168 5 2,0
15
MGF
332150 M CA 39 9 28 NMO** 0 1 3,0
16
MNS
354930 F CA 46 18 28 NO 24 15 5,0
17
MRMG
419211 F AB 42 7 35 NMO 12 5 6,5
18
MCF
383082 F CA 55 9 46 NO 36 3 3,0
19
NOP
002151 F AB 47 2 45 NO 5 4 3,0
20
PSC
371537 M CA 63 25 38 Mielite 228 2 2,0
21
RCO
358221 F AB 28 7 21 Mielite 3 14 3,0
22
RMB
160227 F AB 38 20 18 NO 12 2 2,0
23
RMM
236442 F CA 49 16 33 NMO 36 5 2,0
24
RLB
432838 F CA 44 3 41 NO 12 6 1,0
25
SCG
328971 F AB 38 14 24 Mielite 60 9 3,0
26
TCOF
376838 F AB 27 7 20 NMO 12 2 4,5
27
VRS
422061 F AB 26 13 13 Mielite 108 8 4,0
28
VLNE
001950 F AB 50 9 41 NO 12 11 6,0
AB = afro-brasileiro; CA = caucasiano; EDSS = escala de incapacidade funcional expandida; NO=neurite óptica; NO bil.=
neurite óptica bilateral; NMO = neuromielite óptica; **forma monossintomática
Dentre os 28 pacientes com NMO, 21 eram do sexo feminino (75%) e sete do
sexo masculino (25%). Segundo a etnia, 14 pacientes (50%) eram afro-
descendentes e 14 caucasianos (50%). O grupo controle foi constituído de 26
indivíduos saudáveis, independentemente do sexo, idade e etnia, caracterizados
pela seguinte distribuição: 15 (58%) do sexo feminino e 11 (42%) do sexo masculino,
com idade entre 18 e 43 anos, sendo 21 (81%) brancos e cinco (19%) afro-
brasileiros.
Na tabela 8 observamos as características de gênero, etnia e idade dos
pacientes comparadas aos controles.
33
Tabela 8. Comparação entre pacientes e controles com relação ao gênero, etnia e
idade
Pacientes
(28)
Controles
(26)
Sexo
Feminino
Masculino
75% (21)
25% (7)
58% (15)
42% (11)
Etnia
Caucasianos
Afro-brasileiros
50% (14)
50% (14)
81% (21)
19% (5)
Idade (anos)
No momento da
inclusão
No início dos
sintomas
24 a 62
8 a 46
18 a 43 anos
A idade de início dos sintomas foi de 8 a 46 anos (média = 27 anos), sendo
21,4% abaixo de 20 anos, 32,1% entre 20 e 30 anos e 46,5% acima de 30 anos
(figura 2).
Figura 2. Distribuição etária do primeiro surto entre os dois grupos étnicos
3
3
5
3
6
8
0
2
4
6
8
10
12
14
< 20 anos 20 - 30 >30 anos
afro-brasileiro
caucasiano
idade
34
Com relação ao quadro clínico do primeiro surto, encontramos, como principal
manifestação, a neurite óptica, acometendo 46,4% dos pacientes (13 pacientes).
Destes, dois apresentaram neurite óptica bilateral, perfazendo 15,4% das neurites
ópticas deste estudo. A mielite transversa foi encontrada em oito pacientes (28,6%).
As apresentações concomitantes de neurite óptica e mielite no primeiro surto
ocorreram em sete pacientes (25,0%).
A forma recorrente da NMO (NMOR) foi a prevalente (92,8%). Dos dois
pacientes com NMO monofásica, um apresentou neurite óptica concomitante à
mielite transversa (paciente 15) e o outro apresentou intervalo de cinco anos entre a
neurite óptica e a mielite (paciente 8). Os eventos índices para o diagnóstico de
NMO, nos pacientes com NMOR, tiveram intervalo de três a 228 meses, e foram
concomitantes em sete casos.
Do total de 28 pacientes, três (10,7%) apresentavam até cinco anos de
doença e 25 (89,3%) apresentavam a doença há mais de cinco anos, com média de
tempo de doença de 17,5 anos (variação de 6 a 29 anos) (figura 3). Na nossa
casuística não ocorreram óbitos.
35
Figura 3. Tempo de doença (anos) e etnia
1
1
2
8
3
3
6
2
2
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
<5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 30 anos
afro-brasileiro
caucasiano
Tempo de doença
A média do número total de surtos das formas recorrentes foi de 8,5 (2 a 15
surtos), sendo que sete pacientes (25%) apresentaram mais do que um surto anual,
todos afro-brasileiros (figura 4). Durante os surtos, todos os pacientes foram
submetidos a pulsoterapia com metilprednisolona EV, 1g/dia/3 dias consecutivos,
pelo período de 3 a 5 semanas.
Figura 4. Número de surtos e etnia
8
5
5
6
0
3
1
0
0
2
4
6
8
10
12
14
1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 20 surtos
afro-brasileiro
caucasiano
Nº de surtos
36
Com relação ao EDSS, nove pacientes (32,14%) apresentavam, no momento
da inclusão no estudo, EDSS 4. Destes, seis eram afro-descendentes (66,66%) e
três brancos (33,34%) (figura 5).
Figura 5. Distribuição dos pacientes com NMO por EDSS e etnia
11
8
3
6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
<4 4
EDSS
afro-brasileiro
caucasiano
Nas tabelas 9 e 10, podemos observar, de forma sintetizada, os resultados
anteriormente relatados.
Tabela 9. Resultados clínicos: sintomas iniciais e forma de evolução
Total de pacientes
(% e nº)
Sintomas iniciais
NO
MT
NO + MT
46,4% (13)
28,6% (8)
25,0% (7)
Forma clínica (NMO)
Monofásica
Recorrente
7,2% (2)
92,8% (26)
NO= neurite óptica; MT= mielite transversa; NMO= neuromielite óptica
37
Tabela 10. Resultados clínicos considerando as diferenças étnicas
AB
(nº de pacientes)
CA
(nº de pacientes)
Idade do 1º surto (anos)
< 20
20 – 30
> 30
3
3
8
3
5
6
Tempo de doença (anos)
< 5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
20 – 30
1
8
3
2
0
1
2
3
6
2
Nº de surtos
1 – 4
5 – 9
10 – 14
15 – 20
5
6
3
0
8
5
0
1
EDSS
< 4
4
8
6
11
3
AB= afro-brasileiro; CA= caucasiano; EDSS= escala expandida do estado de incapacidade
V.2. Análise dos resultados laboratoriais
Na tabela 11 podemos observar os resultados laboratoriais encontrados no
grupo controle e nos pacientes com NMO, bem como o significado estatístico destes
achados. O teste utilizado foi o teste Mann-Whitney, um teste não paramétrico que
compara dois grupos não pareados. Este teste foi escolhido porque foram realizadas
as médias dos valores de densidade ótica do grupo de pacientes e do grupo
controle. As amostras de plasma de cada paciente e de cada controle foram
analisadas três vezes.
38
Tabela 11. Resultados laboratoriais dos pacientes e controles
CASOS / média
CONTROLES / média valor p
IgG (DO)
MBP
PLP 95-116
MOG 92-106
17 – 836
77 – 540
117 – 954
100 – 218
24 – 225
53 – 287
p< 0,0001
p< 0,0002
p< 0,0001
IgA (DO)
MBP
PLP 95-116
MOG 92-106
162 – 639
88 – 441
28 – 325
24 – 122
35 – 449
67 – 247
p< 0,0001
p< 0,0423
p< 0,2168
IL-4 (pg/ml)
378 – 2047 342 – 719 p< 0,0084
INF-γ
149 – 1274 125 – 446 p< 0,6109
DO= densidade ótica; valor p= estimativa quantitativa da probabilidade de que diferenças observadas nos
resultados poderiam ter ocorrido somente pelo acaso
Analisando os níveis séricos dos anticorpos IgG e IgA para MBP nativa dos
pacientes com NMO em relação aos controles (figura 6), encontramos valores
significativamente mais elevados nos pacientes com NMO (p< 0,0001).
Figura 6. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para MBP nativa em pacientes com
NMO e controles
IgG anti- MBPnativa
NOM Controles
0
250
500
750
1000
pg/mL
p< 0,0001
39
Os níveis séricos de IgG para PLP 95-116 também apresentaram valores
significativamente mais elevados (p = 0,0002) nos pacientes com NMO em relação
aos controles. Entretanto, os níveis de IgA para PLP 95-116 apesar de se mostrarem
estatisticamente mais elevados (p = 0,0423) quando comparamos pacientes com
NMO e controles (figura 7).
Figura 7. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para PLP 95-116 em pacientes com
NMO e controles
IgA anti- MBPnativa
NOM Controles
0
250
500
750
pg/mL
IgG anti- PLP 95-116
NOM Controles
0
250
500
750
pg/mL
p< 0,0001
p = 0,0002
40
Os pacientes com NMO apresentaram aumento significativo (p< 0,001) dos
níveis plasmáticos de anticorpos IgG para a sequência MOG 92-106. Entretanto,
com relação aos níveis de anticorpos IgA, para a mesma sequência, não
encontramos valores estatisticamente significativos (p= 0,2168) (figura 8).
Figura 8. Níveis séricos de anticorpos IgG e IgA para MOG 92-106 em pacientes
com NMO e controles
IgG anti- MOG 92-106
NOM Controles
0
250
500
750
1000
pg/mL
IgA anti- PLP 95-116
NOM Controles
0
100
200
300
400
500
pg/mL
p = 0,0423
p < 0,0001
41
A avaliação dos níveis plasmáticos de IFN-γ não mostrou elevação
significativa nos pacientes com NMO (p= 0,6109) (figura 9). Entretanto, os níveis
plasmáticos de IL-4 foram significativamente mais elevados (p= 0,0084) nos
pacientes com NMO (figura 10) quando comparados aos controles.
Figura 9. Níveis plasmáticos de INFγ entre pacientes com NMO e controles
IgA anti- MOG 92-106
NOM Controles
0
100
200
300
400
500
pg/mL
IFN-gam a
NOM Controles
0
500
1000
1500
pg/mL
p = 0,2168
p = 0,6109
42
Figura 10. Níveis plasmáticos de IL-4 entre pacientes com NMO e controles
IL-4
NOM Controles
0
1000
2000
3000
pg/mL
p = 0,0084
43
VI. Discussão
Os últimos anos revolucionaram a classificação de uma condição
considerada, até há bem pouco tempo, uma variante da EM. A descoberta do
primeiro marcador biológico altamente sensível e específico para NMO
(LUCCHINETTI et al, 2002; LENNON et al, 2004), direcionou claramente a
classificação dessa doença como condição nosológica distinta da EM
(WINGERCHUK et al, 2005, 2006; KIKUCHI & FUKASAWA, 2005; LENNON et al,
2004, 2005; DE SEZE et al, 2003).
A compreensão dos possíveis mecanismos associados a NMO e a busca de
elementos imunológicos que a distinguissem da EM passou a ser o foco dos últimos
estudos, desde que os critérios de Wingerchuk et al (1999) estabelecerem as
características clínico-radiológicas para esse primeiro diagnóstico diferencial objetivo
(WINGERCHUK et al, 1999; LUCCHINETTI et al, 2002).
O presente estudo teve início em 2003, e usamos, como critério de inclusão
de pacientes com NMO, a proposta de Wingerchuk et al, considerando a estereotipia
sintomática de neurite óptica e mielite transversa, a ausência de manifestações de
outros sistemas funcionais e os exames de RM da coluna vertebral revelando lesão
medular desmielinizante extensa, correspondendo a mais de três corpos vertebrais,
com RM de crânio normal (WINGERCHUK et al, 1999). Após a inclusão dos nossos
pacientes no final de 2005, foi proposta, em 2006, a inclusão da dosagem do
anticorpo para AQP-4 nos critérios diagnósticos para NMO (WINGERCHUK et al,
2006), o que não pudemos considerar nesse estudo que teve como objetivo e
critério de inclusão a classificação de 1999.
Considerando a coorte de pacientes atendidos no Serviço de Neurologia do
HUCFF-UFRJ, encontramos uma freqüência de NMO de 16,8%. Não consideramos
44
a freqüência de NMO no Serviço de Neurologia da HGSCMRJ, em função do
número ainda pequeno de pacientes acompanhados e da possibilidade de viés de
encaminhamento, já que a autora, responsável pelo ambulatório de DDII do
HGSCMRJ está envolvida com a avaliação de pacientes com NMO e
encaminhamentos direcionados de outros serviços ocorreram. A nossa freqüência
de 16,8% de pacientes com NMO é maior do que a encontrada por Pirko et al
(PIRKO et al, 2004) que acharam 12,5% de casos de NMO, mas esse estudo
considerou a conversão para NMO a partir do diagnóstico de NO com cinco anos de
acompanhamento, e não de um total de pacientes atendidos. Esses autores também
observaram maior freqüência de mulheres do que homens convertendo para o
diagnóstico de NMO. Os outros estudos descritivos de casos de NMO não
consideraram sua freqüência dentro da casuística de pacientes acompanhados com
DDII do SNC.
Nos 28 pacientes com NMO incluídos em nosso estudo, encontramos
freqüência de 75% do sexo feminino (3:1), resultado semelhante ao observado por
Bergamaschi & Gezzi, Papais-Alvarenga et al, Cree et al e O´Riordan et al,
(BERGAMASCHI & GHEZZI, 2004; PAPAIS-ALVARENGA et al, 2002; CREE et al,
2002; O´RIORDAN et al, 1996;). Encontramos freqüência de 50% de afro-
descendentes, um pouco menor do que encontrado por Papais-Alvarenga et al
(2002), que observaram 58% de afro-descendentes. Outros autores (WINGERCHUK
et al, 2006; BERGAMASCHI & GEZZI, 2004; CREE, 2002; WINGERCUK et al, 1999;
O´RIORDAN et al, 1996) encontraram também características clínicas e
demográficas semelhantes, com predomínio de mulheres e não-caucasianos dentre
pacientes com NMO. A freqüência de afro-descendentes, aqui observada, pode ser
45
resultado da miscigenação racial brasileira, em particular na região sudeste do Brasil
(ALVES-LEON et al, 2006).
Poser e Vernant (1993) estudaram casos de NMO associada à endocrinopatia
na Martinica, sugerindo tratar-se de condição nosológica distinta; os pacientes
apresentavam evolução grave, atribuída a etnia. O conhecimento atual de que o
diagnóstico topográfico de NMO está associado à distribuição dos canais de
aquaporina no SNC mostrou que os pacientes com NMO podem apresentar
síndromes endócrinas pelo comprometimento diencefálico, o que provavelmente
aconteceu com os pacientes da Martinica afro-descendentes (POSER & VERNANT,
1993; VERNANT et al, 1997). Nenhum dos nossos pacientes com NMO apresentava
endocrinopatia.
A NMOR predominou sobre a forma monofásica da doença (92,8% dos
casos). Esses resultados também foram semelhantes aos de Rubiera et al (2006)
que, em 23 pacientes com NMO, encontraram 95,6% de formas recorrentes, e de
Papais-Alvarenga et al (2002) que encontraram 91,6% de formas recorrentes, de
Wingerchuk et al (1999) que, avaliando 71 pacientes com NMO encontraram 67,6%
de formas recorrentes (RUBIERA et al, 2006; PAPAIS-ALVARENGA et al, 2002;
WINGERCUK et al, 1999).
O evento índice da NMOR nos nossos pacientes ocorreu na faixa etária acima
de 30 anos (46,5%), achado semelhante aos relatos da literatura (RUBIERA et al,
2006; BERGAMASCHI et al, 2004; DE SEZE et al, 2003; WINGERCHUK et al,
1999). Dentre os sintomas neurológicos iniciais encontramos: neurite óptica
unilateral (39,3%) ou bilateral (7,1%), mielite (28,6%) e concomitância de neurite e
mielite (25,0%). O predomínio de neurite óptica unilateral iniciando o quadro também
foi observado em outros estudos (BERGAMASCHI et al, 2004; WINGERCHUK et al,
46
1999). O intervalo de tempo entre o primeiro evento índice e o segundo, de neurite
ou mielite, nas formas recorrentes, variou de três a 228 meses, o que diverge dos
relatos encontrados em outros estudos. Wingerchuck et al (2006) avaliando 96
pacientes com NMO, sendo 84,4% (81 pacientes) com a forma recorrente,
encontraram um intervalo de tempo menor, de 4 a 48 meses (WINGERCHUCK et al,
2006). Outros autores também consideraram um intervalo de tempo de meses na
caracterização da recorrência (DE SEZE et al, 2003; BERGAMASCHI et al, 2002;
LUCCHINETTI et al, 2002; CREE, 2002). Entretanto, Wingerchuk et al (1999)
consideraram que este intervalo de tempo pudesse ser de anos, sem especificar o
número de anos (WINGERCHUK et al, 1999) e Ghezzi et al (2004) consideraram
que pudesse ser de um a 120 meses (GHEZZI et al, 2004), o que ainda configura
um intervalo de tempo menor do que o encontrado nos nossos resultados. Porem, se
considerarmos que outros três pacientes apresentam intervalo de tempo entre 108 e
168 meses, nossos resultados concordariam com aqueles encontrados por Ghezzi et
al (2004).
Na NMO monofásica, um paciente apresentou neurite óptica concomitante à
mielite transversa (paciente 15) e o outro apresentou intervalo de cinco anos entre a
neurite óptica e a mielite (paciente 8).
No presente estudo, a maioria dos pacientes (89,3%) apresentou 17,5 anos
como média de tempo de doença e não ocorreram óbitos. Esse resultado mostra
maior longevidade do que os relatos na literatura em que a taxa de mortalidade é de
30% em cinco anos (WEINSTOCK-GUTTMAN et al, 2006; CREE et al, 2005; DE
SEZE et al, 2003; WINGERCHUK et al, 1999).
A morbidade elevada observada em outros estudos, onde 50% dos pacientes
estão amauróticos uni ou bilateralmente e deambulando com auxílio após cinco anos
47
(SCOLDING, 2005) não foi observada por nós; durante o período de
acompanhamento dos nossos pacientes somente cinco deles (17,8%) apresentaram
EDSS final 6,0.
O EDSS final também não teve relação com o intervalo de tempo entre o
primeiro e o segundo surtos, como descreveram Ghezzi et al (2004) que observaram
incapacidade grave (EDSS6,0) nos pacientes com maior intervalo de tempo entre o
primeiro e segundo surtos (GHEZZI et al, 2004; BERGAMASCHI & GHEZZI, 2004).
Estes autores caracterizaram as seguintes variáveis como prognóstico de
incapacidade grave (EDSS6): EDSS residual 3 no início do quadro, maior intervalo
de tempo entre o primeiro e segundo episódios e alto índice de recaídas nos dois
primeiros anos de doença. Na nossa casuística não encontramos relação do EDSS
com o tempo de doença, número total de surtos ou com o intervalo de tempo entre o
primeiro e segundo surtos, que podem sugerir características evolutivas distintas das
demais populações de outros estudos.
Encontramos níveis elevados de todos os auto-anticorpos investigados nos
pacientes deste estudo. Os níveis de MOG 92-106, PLP 95-116 e MBP foram
significativamente mais altos do que nos controles, os quais podem estar associados
à ativação policlonal do sistema imune humoral, como sugerido por Hasse e Schmidt
(HASSE & SCHIMIDT, 2001). A participação de MBP no modelo de EAE é bem
estudada, mas modelos de EAE recentes investigam a participação de outros auto-
antígenos como MOG e PLP. A busca de marcadores prognósticos de evolução da
EM feita por Berger (BERGER et al, 2003) mostrou que pacientes com síndromes
clínicas isoladas (SCI) como neurite óptica, mielite, síndrome de tronco cerebral ou
síndrome cerebelar, associadas à presença de anticorpos para MOG e MBP
apresentavam níveis significativos de conversão para um segundo surto, definindo a
48
doença em até 12 meses. Esse estudo não mencionou o tipo de evolução, mas
aponta para a possibilidade de investigação inicial de pacientes com neurite óptica
e/ou mielite isolada, com anticorpo para MOG e MBP, observando sua participação
na conversão para NMO. Esses estudos podem vir a ter implicação na estratégia
terapêutica.
A atenção para a participação de auto-antígenos encefalitogênicos nas DDII
do SNC nasceu do modelo animal de EAE para EM. Outros modelos observaram
que a EAE pode ser induzida pela imunização de animais susceptíveis com
antígenos da mielina como MOG, MBP e PLP (BETELLI et al, 2006). Estes autores
descreveram um modelo de EAE no qual células B e T foram específicas para o
mesmo auto-antígeno MOG, desencadeando EAE espontânea e grave com
preponderância de lesões inflamatórias na medula e nervos ópticos dos
camundongos afetados, padrão típico da NMO humana. Os vários modelos de EAE
e os estudos imuno-patológicos de pacientes com EM sugerem que a resposta
imuno-mediada pelas células T seja crucial na deflagração do processo inflamatório
e que a resposta auto-reativa destas células seja insuficiente para explicar a
destruição seletiva da mielina (SCHMIDT, 1999). Outros estudos (LUCCHINETTI et
al, 2002) enfatizam a importância de mecanismos imunes humorais na EAE,
demonstrando que a administração de anticorpos monoclonais anti-MOG induzem
desmielinização extensa sem relação com a especificidade das células T
encefalitogênicas. Portanto, indicam que a resposta das células T contra qualquer
proteína do SNC é potencialmente patogênica, considerando que a ela se segue
uma resposta adequada das células B (LASSMANN & VASS,1995). No nosso
estudo investigamos a presença de anticorpos para MOG, MBP e PLP com relação
49
à expressão de níveis elevados de IL-4 e IFN-γ, moléculas mediadas por células
Th1/Th2.
Encontramos níveis significativamente elevados de IL-4 (p= 0,0084) nos
nossos pacientes ao contrário dos níveis de IFN-γ. Os efeitos do IFN-γ estão
parcialmente bloqueados nas doenças infecciosas por IL-4, uma citocina produzida
por células Th2 que estimula células B e a auto-imunidade de células B mielina-
específica (MYERS et al, 1992; SOBEL & KUCHROO, 1992). De fato, a produção
elevada de IgA para proteína básica da mielina, sugere maior participação de células
regulatórias/Th2 e linfócitos B do que Th1 na série de pacientes estudados nessa
série. Não devemos, porém, desconsiderar o fato de termos no estudo afro-
descendentes, que sabidamente apresentam padrão imune do tipo Th2 (regulatório),
talvez induzido por MBP. Neste contexto, seria interessante analisar, de modo
seqüencial, nos pacientes com diferentes etnias, uma possível mudança no perfil da
resposta neuro-inflamatória durante a evolução clínica da NMO, ou seja, mudança
de isotipo IgM para IgG e/ou IgA, configurando um quadro mais inflamatório (IgM,
IgG; ativação do sistema complemento, IFN gama) ou regulatório (IgG, IgA, IL-4,
TGFbeta).
Os níveis elevados de MOG 92-106 na nossa série de pacientes estão de
acordo com a participação de MOG nas DDII, em especial na NMO. MOG
representa um antígeno alvo encefalitogênico do SNC, indutor de uma potente
resposta imune mediada por anticorpo e complemento; a participação desse
mecanismo na NMO explicaria nossos resultados, já que MOG está localizada na
superfície da mielina de oligodendrócitos e, portanto, accessível ao reconhecimento
imune, diferentemente da MBP e PLP que se localizam no interior da mielina
(ROSBO & BEM-NUM, 1998). Resultados semelhantes aos nossos foram
50
encontrados por Correale et al (2004) ao mostrarem que anticorpos anti-MOG são
indicativos da resposta imune humoral na NMO. Em contraste com anticorpos anti-
MBP e anti-PLP, os anticorpos anti-MOG são capazes de causar destruição da
mielina (STORCH et al, 1998; GENAIN et al, 1995). A sequência 92-106 é um
epítopo imuno-dominante, bastante imunogênico e por isso utilizada como antígeno
indutor de EAE na linhagem SJL/J (KROEPFL et al, 1996). Essa foi a seqüência
utilizada em nossos estudos e, seus níveis significativamente elevados corroboram a
participação de MOG na NMO.
Avaliamos, neste estudo, o perfil da produção de imunoglobulinas reativas
dos isotipos IgG e IgA para moléculas nativas (PLP, MBP) e a sequência de
aminoácidos MOG 92-106 associados a desmielinização nos seres humanos e em
modelos experimentais, nos pacientes com NMO comparados com controles sadios.
Observamos um aumento significativo (p< 0,0001) nos níveis séricos de IgG, para
MOG, PLP e MBP nos pacientes com NMO quando comparados aos controles
sadios. Entretanto, a produção de IgA associada ao perfil de citocinas Th2 foi mais
elevada para MBP. Estes resultados indicam que na população de pacientes com
NMO estudados a MBP nativa parece ser um auto-antígeno com ação relevante na
regulação da resposta auto-imune do tipo Th1.
Nossos resultados podem contribuir na busca e determinação de marcadores
biológicos associados a NMO e sua evolução. Considerando que o perfil de auto-
reatividade aqui encontrado sugere resposta humoral Th2 mediada por linfócitos B,
mais do que células Th1, os níveis de IFN-γ e IL-4 podem representar instrumento
de medida da resposta terapêutica aos anticorpos monoclonais, como o rituximab,
durante tratamento de pacientes com NMO. Outra abordagem terapêutica para
NMO é a plasmaferese. Considerando a elevada expressão de auto-anticorpos para
51
MOG 92-106, PLP 95-116 e MBP nos pacientes com NMO observada nesse estudo,
os níveis dessas moléculas poderiam ser usados como marcadores de prognóstico
de evolução ou de recorrência, ou mesmo de gravidade da doença, antes e após a
plasmaferese.
Como limitação deste estudo, apontamos o número relativamente pequeno de
pacientes que não nos permitiu estabelecer correlação de parâmetros demográficos
e clínicos de morbidade da NMO com os níveis plasmáticos de IL-4, IFN-γ, MOG 92-
106, PLP 95-116 e MBP. A estratificação dos nossos pacientes em grupos com
diferentes tipos de morbidade não contribuiria para conclusões com algum
significado estatístico e será motivo de outro estudo incluindo casuística maior.
52
VII. Conclusões
1. Os pacientes com NMO apresentaram níveis significativamente elevados de
imunoglobulinas reativas dos isotipos IgG para MOG (p<0,0001), PLP
(p=0,0002) e MBP (p<0,0001).
2. O aumento na produção de IgA (p<0,0001) somente para MBP, indica um
papel regulador da proteína básica da mielina, enquanto os antígenos MOG e
PLP estariam mais envolvidos com ativação da imunidade humoral.
3. Não foi observada diferença significativa na produção de interferon-γ (p=0,61),
uma citocina com característica pró-inflamatória associada à ativação de
células Th1.
4. O aumento significativo (p= 0,0084) na produção de IL-4 indica um papel
importante desta citocina na ativação de células regulatórias/Th2 e
amplificação de linfócitos B produtores de IgA.
5. Os resultados indicam que a ativação da imunidade humoral com produção
de imunoglobulinas reativas para determinados antígenos encefalitogênicos
da mielina tem uma participação importante na fisiopatologia da neuro-
inflamação nos pacientes com NMO
53
VIII. Perspectivas
1. Avaliar um grupo maior de pacientes com NMO, considerando os novos
critérios de Wingerchuck et al, 2006, com os níveis séricos de IgG-NMO
2. Acompanhar a mudança no perfil da resposta neuro-inflamatória na NMO, ou
seja, mudança de isotipo IgM para IgG e/ou IgA, configurando um quadro
mais inflamatório (IgM, IgG; ativação do sistema complemento, IFN-γ) ou
regulatório (IgG, IgA, IL-4, TGFbeta), nos pacientes com diferentes etnias.
3. Utilizar os níveis dessas moléculas como marcadores prognósticos de
evolução, recorrência ou gravidade da doença, antes e após a plasmaferese.
54
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